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CAMARA Jr., Joaquim Mattoso. História da linguística. Petrópolis: Vozes, 1975 (nova
edição revista 2021).
Paradigma: palavra grega que equivale a “modelo”. Ainda para Rosa (2018:90), o
paradigma “funciona, descritivamente, como uma espécie de molde, ou, se preferirmos,
como uma fronteira para gerar formas do paradigma”. Refere-se a um inventário de
formas flexionadas da mesma palavra, portanto assinalando propriedades
morfossintáticas, dispostas verticalmente, paradigmaticamente, à maneira de uma lista de
itens. Veja os exemplos do português:
BONITO AMAR
Bonito Amo
Bonita Amas
Bonitos Ama
Bonitas ...
Basílio (1980:25) apresenta um sumário a respeito dos modelos de análise gramatical: “ao
contrário do modelo tradicional “Palavra e Paradigma”, na gramática de Panini as palavras
são analisadas em termos de sua estrutura interna; formas flexionadas são descritas por
meio de listas ordenadas de regras que se aplicam a formas subjacentes estruturadas em
termos de raízes e afixos. Assim, podemos dizer que a gramática de Panini está na fonte
de ambos os modelos “Elemento e Arranjo” e “Elemento e Processo”, que caracterizam,
respectivamente, o modelo estruturalista e o modelo gerativo transformacional na
linguística americana do século XX”. Note-se, porém, que em análises estruturalistas já se
opera com a noção de “formas teóricas”, subjacentes, como propõe Camara Jr.
Veja Camara Jr, Joaquim Mattoso. Princípios de linguística geral. Rio de Janeiro:
Padrão, 1967, a respeito de vocábulo/ palavra nos planos fonológico, formal e semântico.
Morfologia: termo criado no século XIX, tendo em vista elementos gregos. Morf(o) greg.
morphé, “forma”, e –lógos, greg. “estudo, palavra, razão ou conhecimento”. Ensina Rosa
(2018:64), que o poeta, dramaturgo, homem de estado e cientista Johann Wolfgang von
Goethe (1749-1832) cunhou, “em 1796, no âmbito da Biologia e não no da Gramática, a
palavra alemã Morphologie, para que denominasse ‘a formação e a transformação da
natureza orgânica”. Por sua vez, August Schleicher (1821-1868), “introduziria o termos
morfologia no que ele denominava Ciência da Linguagem ou Glótica, para ele uma
ciência natural”, na perspectiva de Rosa (2018:64). Fundava-se, assim, a concepção de
língua como um “organismo natural”, “vivo”, aplicando-se o conceito de evolução na
concepção de Charles Darwin, constituída de elementos formativos menores ou órgãos.
Sob uma perspectiva sincrônica, já no início do século XX, para Ferdinand de Saussure, a
Morfologia irá tratar das diversas espécies de classes de palavras e respectivas formas de
flexão, embora não separado da Sintaxe. Defende o autor, no Curso..., II, 7, § 1, p.157,
que “a morfologia não tem objeto real e autônomo; não pode constituir uma disciplina
distinta da sintaxe”, na avaliação de Rosa (2018:70). No texto “Morfologia e sintaxe”,
publicado no livro Dispersos, Camara Jr. defende a divisão e pertinência dos campos e,
consequentemente, uma morfologia mais autônoma.
Morfema: termo criado em fins do século XIX, em 1895, pelo linguista Jan Baudouin de
Courtenay (1845-1929): “parte de uma palavra dotada de vida psíquica autônoma e, por
esta mesma razão, não mais divisível. Este conceito abrange, portanto: raiz (radix), todos
os possíveis afixos (sufixos, prefixos), terminações que servem como expoentes de
relações sintáticas” apud Rosa (2018:65). No caso, -ema se trata de sufixo que, no âmbito
da linguística, faz referência a uma “menor unidade formal”. Cf. fonema, grafema, lexema,
morfema, prosodema.
Leonard Bloomfield, em Language. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1933 [1961].
No capítulo 9, “Significado”, Bloomfield ressalta: “a determinação de significados é
portanto o ponto fraco (weak point) no estudo da linguagem, e permanecerá sendo até
que o conhecimento humano progrida muito além do seu estado atual. Na prática,
definimos o significado como uma forma linguística, sempre que podemos, em termos de
alguma outra ciência”.p.140. Propõe que o morfema pode ser descrito (deixando-se de
lado a noção problemática de “significado”) como um “conjunto de um ou mais fonemas
num determinado arranjo”, em termos rigorosamente distribucionais. Acrescenta Rosa
(2018:72), citando o linguista Martin Joos (1966): “o significado de um morfema é ‘o
conjunto de probabilidades condicionais de sua ocorrência em relação a todos os outros
morfemas’ “.
i.-e. *ster (o asterisco, na diacronia, indica uma forma hipotética, no caso em indo-
europeu): "estrela". Na descrição do proto-indo-europeu, proposta por J. P. Mallory e D.
Q. Adams (2009), a representação é a seguinte: *h2stér (o símbolo h2 indica uma laringal
sonora).
Etimologia de estrela, segundo J. Pedro Machado, Dicionário etimológico da língua
portuguesa, Lisboa, Confluência, 1967: “do lat. stella, (...), mas através de um lat. vulgar
*stēlla, resultante do cruzamento de *stēla com stĕlla; quanto ao –r-, não se pode
continuar a admitir a influência de astro”.
Camara Jr. propõe a análise da palavra estrela nas dimensões sincrônica e diacrônica.
Para Camara Jr. (1972:4), os planos (sincrônico e diacrônico) não têm paralelos: “foi a
convicção dessa possibilidade, ou antes, dessa necessidade que constituiu uma das
grandes contribuições de Saussure nos seus cursos (...). É, não obstante, o ponto de vista
teoricamente certo. Antes de tudo, há a circunstância de que os falantes de uma língua
nada sabem espontaneamente da história dela e a manejam apesar de tudo”.
Sobre a “revolução” proposta por Saussure (Curso de linguística geral. São Paulo:
Cultrix, 2014. p. 123-4) e o reconhecimento da sincronia: “a primeira coisa que surpreende
quando se estudam os fatos da língua é que, para o indivíduo falante, a sucessão deles
no tempo não existe: ele se acha diante de um estado. Também o linguista que queira
compreender esse estado deve fazer tabula rasa de tudo quanto produziu e ignorar a
diacronia. Ele só pode penetrar na consciência dos indivíduos que falam suprimindo o
passado”. A seguir acrescenta: “após ter concedido um lugar bastante grande à História, a
Linguística voltará ao ponto de vista estático da Gramática tradicional, mas com um
espírito novo e com outros processos”.
No século XIX, a perspectiva histórica era a única admitida como científica. Cf. PAUL,
Hermann. Princípios fundamentais de história da língua. Lisboa: Calouste Gulbenkian,
1983. p. 28, o maior teórico do tempo: “Objectaram-me que há outro método científico de
estudar a língua, além do histórico. Tenho que negar isto. Aquilo que se considera como
um método não histórico, e contudo científico, de estudar a língua, não é no fundo mais
do que um método histórico incompleto, incompleto em parte por culpa do observador, em
parte por culpa do material de estudo. Mal ultrapassamos a pura verificação de
pormenores, mal tentamos abranger a conexão, compreender os fenómenos, penetramos
em terreno histórico, embora talvez sem plena consciência disso”.
9.
Martinet, André. Elementos de linguística geral. Lisboa: Sá da Costa, 1964.
Fases Gênero
___________________________________
Criança – homem homem - mulher
Gatinho – gato gato - gata
10.
Cf. o número em português para Camara Jr.: mar - *mare - mares (apenas –s).
“Profissão de fé” estruturalista: a uma variação superficial (-s, -es, -is) corresponde
sempre uma invariabilidade profunda (-s) na língua.
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 2ªed. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
Morfologia: -pho- 1858. Do al. Morphologie, voc. criado por Göthe, em 1822, através do
francês.
Morfologia: Do alemão Morphologie (em Goethe), pelo fr. morphologie (em 1841), de
morfo- + -log (o)- + -ia. Em 1873, D. V. (Domingos Vieira)
Morphologia: (do Gr. morphê, fórma, estructura, e logos, descrição). Historia das fórmas
de que a materia póde ser revestida. § Goethe, em historia natural serviu-se d'este
vocabulo, na significação de formação e transformação dos corpos orgánicos.
Morphologia: (Do grego morphê, fórma, e logos, tratado). Historia das fórmas que póde
tomar a matéria.
AULETE, Caldas. Diccionario contemporaneo da lingua portugueza. Lisboa: Imprensa
Nacional, 1881.
Morphologia: (mor-fu-lu-gi-a) a parte da physiologia que se ocupa das formas de que nos
seres organizados se póde a materia revestir. // (Ling.) A formação das palavras; as
diversas transformações por que ellas podem passar (...)
O thema é constituido pela raiz simplesmente, ou pela raiz com um ou mais suffixos” (p.
34)
Exercícios:
In: ANDRADE, Carlos Drummond. Nova reunião. Rio de Janeiro: BestBolso, 2010. v. 1.
p.160-1.
4) A partir dos exemplos cores, ruas e fiéis, comente a posição de Camara Jr. quanto
à formação do plural. Leve em conta esta visão de Camara Jr. (1972:15): “a
complexa variabilidade na superfície corresponde sempre na língua uma
invariabilidade profunda”.
7) Considere os seguintes dados da língua Ganda (Uganda), citados por Gleason Jr.,
Henry Allan, Workbook in descriptive linguistics, New York: Holt, Rinehart and
Winston, Inc., 1955: