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Universidade Federal de Alagoas

Campus A. C. Simões
Faculdade de Letras
Curso de Licenciatura em Letras Português

NATHALIA BARROS DA SILVA

RESUMO
A palavra e a sentença, de Ronaldo de Oliveira Batista

Maceió/AL
2023
O livro “A palavra e a sentença”, de Ronaldo de Oliveira Batista, aborda a linguagem
de forma abrangente, dividindo-se em três partes. A primeira enfoca lexicologia, morfologia
e classes de palavras, enquanto a segunda explora conhecimento da língua, sintaxe,
predicados e propósitos comunicativos. A terceira parte oferece exercícios relacionados a
palavras e sentenças.
Na introdução, Batista discute concepções linguísticas, destacando a dupla articulação
da língua em fonemas e morfemas. Ele destaca a decomposição e distribuição como
princípios fundamentais da análise linguística, enfatizando os eixos de observação:
paradigma e sintagma. Características das línguas naturais, como arbitrariedade,
independência de espaço/tempo, produtividade, gramaticalidade e divisão analítica em
componentes, são exploradas. O autor também analisa a linguagem sob a perspectiva de
seleção e combinação, ressaltando a importância da competência linguística. Além disso,
aborda a estrutura da língua, desde sons até níveis sintáticos, morfológicos e textuais. Destaca
que a língua é usada em processos comunicativos, influenciada por léxico, gramática e
funções pragmáticas. A forma linguística é moldada pela intencionalidade discursiva,
enquanto as funções da linguagem, como referencial, expressiva, conativa, metalinguística,
poética e fática, são analisadas.
Na seção dedicada ao léxico e à noção de palavra, o autor explora as ciências do
léxico, dividindo seu estudo em diversas dimensões analíticas. Ele aborda a terminologia,
focando em termos específicos de campos de conhecimento e destacando a lexicografia, que
se dedica à composição, organização e definição de elementos do dicionário. A lexicologia é
apresentada como a disciplina que estuda o léxico de uma língua, composto por unidades de
diferentes naturezas. O autor discute a mente como um depósito de palavras, conceituando o
léxico interno e externo, relacionando-os à competência lexical. Ele enfatiza a abertura do
léxico, destacando a capacidade de receber novas unidades e descartar as obsoletas.
Batista explora a formação de unidades lexicais, distinguindo morfemas lexicais,
gramaticais, derivacionais e dêiticos. Ele introduz a distinção entre lexema, vocábulo,
gramema e afixos, enfatizando a mutabilidade do lexema na produção discursiva e sua
conexão com os gramemas e afixos. O léxico contém informações sobre classes de palavras e
é crucial para a formação de sequências gramaticais no português. O autor destaca a
importância da palavra como a unidade central da reflexão linguística, evidenciada na fala
holofrástica das crianças durante a aquisição da língua materna. Diferentes definições de
palavra são apresentadas, incluindo abordagens que consideram sua estrutura, significação,
materialidade sonora e função morfossintática. O autor também discute a proposta de
Mattoso Jr., que categoriza palavras como formas livres, formas dependentes e formas presas,
levando em conta seu funcionamento morfossintático.
Na seção dedicada à estrutura morfológica, Ronaldo explora a organização das
palavras, abordando conceitos fundamentais da morfologia. Ele destaca que a morfologia
estuda a estrutura, formação, flexões e classificações das palavras, buscando compreender
seus elementos básicos e regras de combinação. O autor introduz o “teste de comutação”, um
método comparativo que visa identificar as unidades significativas na estrutura das palavras.
Destaca que as palavras podem ser divididas em morfemas, unidades menores com
significado intrínseco, que colaboram para compor o significado final de uma palavra. A
relação entre morfema e composicionalidade é explorada, ressaltando que o significado de
uma palavra é obtido pela combinação dos morfemas. A classificação dos morfemas em
livres, presos, gramaticais e lexicais é apresentada, destacando suas funções na estrutura das
palavras. O conceito de radical, como um morfema básico que indica o significado
fundamental de uma unidade complexa, é introduzido. Afixos, como prefixos e sufixos, são
discutidos como elementos que adicionam significados ou informações gramaticais à base de
uma palavra. Batista aborda a variação dos morfemas, chamados alomorfes, que apresentam
diferentes formas condicionadas por razões fonológicas ou morfológicas. Ele também explora
o morfema zero, que possui significado, mas não significante, e o morfema vazio, que
apresenta significante, mas não significado.
A distinção morfológica de número é relacionada à concordância com o determinante,
e o autor destaca a presença de morfemas alternativos, evidenciando o plural metafônico. Ele
explora a presença de desinências nas palavras em português, responsáveis por exprimir os
acidentes das palavras. As categorias gramaticais nominais, como número e gênero, são
discutidas, assim como as categorias gramaticais verbais, incluindo tempo-modo e
número-pessoa. Desinências e sufixos são diferenciados, sendo as primeiras elementos
obrigatórios e os segundos elementos opcionais na formação de novas palavras.
A estrutura morfológica da língua é apresentada, destacando o radical, vogal temática,
tema, afixos e desinências nominais e verbais. O autor explora a classificação das vogais
temáticas, tanto nominais quanto verbais, e menciona as formas atemáticas. Ele propõe duas
classificações para os morfemas, destacando o significante e a função. Ademais, diferencia
morfemas aditivos, subtrativos, alternativos, reduplicativos, de posição, zero, cumulativos e
vazios, explorando suas funções morfológicas. A morfologia flexional e lexical é introduzida,
evidenciando a relação entre morfologia e sintaxe. Oliveira destaca a obrigatoriedade da
flexão, que indica a sistematização coerente da língua, estabelecendo paradigmas flexionais.
A flexão verbal é caracterizada por desinências que indicam modo, tempo, número e
pessoa. O autor destaca as mudanças no paradigma flexional e pronominal do português
brasileiro, incluindo a substituição de formas e o emprego de expressões alternativas. O autor
explora os processos de formação de palavras, como composição e derivação, e aborda o
fenômeno dos neologismos, reveladores de transformações socioculturais. Ele categoriza os
neologismos em fonológicos, sintáticos, por conversão, semânticos e por empréstimos.
Na seção dedicada às classes de palavras, Batista aborda a generalização de
conhecimentos sobre essas classes por meio de regras. Ele começa destacando que palavras
após determinantes são substantivos, ressaltando a necessidade de um substantivo
acompanhando um determinante em uma sequência. Os substantivos, em termos semânticos,
designam seres, eventos ou entidades, e sua estrutura morfológica inclui flexões de gênero e
número. Os adjetivos, por sua vez, ocorrem após substantivos, sendo flexionados por
informações gramaticais destes. O autor destaca a propriedade dos adjetivos em caracterizar
elementos substantivos da língua e a importância da concordância com os substantivos em
número e gênero. Os verbos, que têm relação com estados, ações, eventos e processos na
língua, apresentam flexões de tempo, modo, número e pessoa, constituindo um rico
paradigma flexional. Eles ocupam papel central nos predicados, selecionando ou não a
presença de complementos, embora essa característica não se aplique a verbos de ligação e
auxiliares. Advérbios, como palavras invariáveis, modificam verbos, adjetivos e sentenças,
indicando modalizações em relação às informações veiculadas. Representam indicações de
circunstâncias.
O autor destaca a distinção entre classes abertas e fechadas do português. Classes
fechadas consistem em itens gramaticais que relacionam elementos em sequência, sendo
limitadas em número, enquanto classes abertas, como substantivos e verbos, são mais
expansíveis. Palavras funcionais, como pronomes, conjunções, preposições, determinantes,
relativos e quantificadores, pertencem às classes fechadas. Numerais, divididos em cardinal,
ordinal, multiplicativo e fracionário, e pronomes, subdivididos em pessoais, possessivos,
demonstrativos, indefinidos, interrogativos e relativos, são explorados.
As conjunções atuam como conectores entre orações equivalentes sintaticamente, e
introduzem constituintes essenciais ou acessórios de sentenças. O autor ressalta mudanças nas
preposições, indicando processos de gramaticalização. Elementos gramaticais, como artigos,
preposições e conjunções, têm significação gramatical, e ele destaca três critérios para
classificar palavras em classes abertas: semântico, morfológico e sintático. Além disso,
enfatiza a importância da observação das propriedades de flexão e a possibilidade de
processos de derivação na definição de classes de palavras. Processos de formação de
palavras determinam quais afixos podem aparecer em diferentes classes.
A divisão tradicional de palavras em substantivo, adjetivo, verbo, pronome, numeral,
artigo, conjunção, preposição, advérbio e interjeição é apresentada. Além disso, o autor
discute uma divisão por função comunicativa, levando em conta a capacidade das palavras de
organizar a experiência conceitual em modos de significar, resultando em categorias como
designação, modificação, predicação, indicação, quantificação, conectivos e transpositores, e
determinação.
Batista conclui que as classes de palavras devem ser definidas considerando critérios
distribucionais, propriedades de flexão e processos de derivação, destacando que o uso em
contextos comunicativos pode alterar a classificação de palavras. Ele ressalta a importância
de uma abordagem mais flexível, levando em conta protótipos que podem passar por
alterações classificatórias dependendo de seu emprego nas trocas comunicativas.
Na segunda parte do livro, dedicada ao estudo da sentença, o autor explora, na
primeira seção, a competência linguística dos falantes, um saber internalizado sobre a língua
portuguesa. Destaca-se a falta de limitação quantitativa do inventário sintático, evidenciando
a capacidade criativa da linguagem humana. O princípio da recursividade permite aumentar
indefinidamente o tamanho de uma sentença inicial, mas a comunicação pode se tornar
menos adequada à medida que a sentença se torna mais extensa. A gramaticalidade,
característica específica de unidades em línguas naturais, indica a possibilidade de uma
unidade em uma língua específica. A boa formação engloba os componentes sintático,
fonológico e semântico. O autor destaca a necessidade de evidências empíricas para estudos
científicos sobre línguas, especialmente na sintaxe, que explora mecanismos de formação de
sentenças.
O texto aborda aspectos do componente sintático, incluindo a estrutura de
constituintes, a noção de predicados e argumentos. Sentenças não são apenas sequências
lineares de palavras, mas sim unidades formais e de sentido organizadas em torno de núcleos.
Os constituintes da sentença são sintagmas, que podem ser nominais, verbais, adjetivais,
adverbiais e preposicionais.
O autor destaca a importância dos testes sintáticos para confirmar a existência e
caracterização dos constituintes. A ambiguidade, causada por diferentes fatores, é discutida,
incluindo ambiguidade lexical, no uso da preposição, de escopo, semântica e na atribuição de
funções semânticas.
A análise sintática fornece evidências para confirmar intuições, apresentando regras
como substituição, movimento, fragmentos de sentenças, elipse e formação de clivadas. Os
constituintes desempenham funções sintáticas nas sentenças, como sujeito, predicado,
complemento e adjunto. A relação sintática básica entre sujeito e predicado indica
independência estrutural entre sintagma nominal e verbal, destacando a concordância entre
eles. O texto explora a predicação verbal, abordando diferentes tipos de verbos e
complementos. Verbos de ligação desempenham funções funcionais, não sendo núcleos de
sintagma. A presença de termos essenciais na oração é discutida em relação à independência
estrutural entre sintagma nominal e verbal. A concordância entre o sujeito e o verbo é
destacada como uma propriedade relevante do português.
O autor enfatiza que a análise sintática vai além de sequências lineares de palavras,
considerando a organização hierárquica e as relações sintáticas básicas. Conclui ressaltando a
importância de uma abordagem empírica na análise linguística, utilizando testes e evidências
para compreender a estrutura e funcionamento da língua portuguesa.
Na seção dedicada a predicados, argumentos e papéis temáticos, o autor destaca a
composição das sentenças em línguas por dois tipos de itens lexicais: aqueles que fazem
exigências impondo a presença de outros itens e aqueles que satisfazem exigências de
determinadas categorias.
Os verbos são categorias que fazem exigências sintáticas, demandando a presença de
outros itens lexicais nas construções em que são palavras principais. No entanto, os verbos de
ligação não fazem exigências sintáticas; sua função é informar sobre categorias gramaticais.
Os adjetivos também determinam a presença de itens que devem ocorrer com eles,
expressando propriedades atribuídas a seres ou eventos. As preposições são categorias que
determinam a presença de outros itens, especialmente aquelas que encabeçam adjuntos
adverbiais.
As categorias que fazem exigências sintáticas e semânticas são chamadas de
predicado ou predicador, enquanto os itens que satisfazem essas exigências são chamados de
argumentos. As categorias que fazem exigências de ambos os tipos são verbos, nomes,
adjetivos e preposições.
O texto introduz a distinção entre argumentos internos, que pertencem ao mesmo
sintagma do predicado, e argumentos externos, que não pertencem ao mesmo sintagma.
Adjuntos, por outro lado, fornecem informações adicionais às sentenças, não sendo parte
integrante dos argumentos das categorias lexicais. A relação entre predicados e argumentos
revela aspectos sintáticos e semânticos dos papéis temáticos. Estes representam uma interface
entre os estudos sintáticos e semânticos e incluem papéis como agente, paciente, tema, alvo,
instrumento, beneficiário, locativo, experienciador, objeto extrativo, fonte e causa.
O autor enfatiza que apenas a observação das relações estruturais sintáticas não é
suficiente para compreender fenômenos que envolvem sintaxe e semântica. Mesmo com
distintas posições e funções sintáticas, sentenças podem ser sinônimas devido a elementos
que mantêm o mesmo papel temático em diferentes ocorrências.
Na seção dedicada à análise da sentença e do uso da língua, o autor empreende uma
classificação das sentenças, considerando critérios formais e a entonação característica da
produção das frases. Esse enfoque permite uma compreensão mais abrangente da variedade
linguística presente na comunicação. Dentre os tipos de sentença, destaca-se a imperativa,
que se caracteriza pelo uso do modo imperativo, denotando ordens ou pedidos. Nesse
contexto, a ausência de um sujeito marcado como elemento independente e a entonação
específica reforçam a natureza imperativa da sentença. Outro tipo abordado é a sentença
interrogativa aberta, que evidencia elementos interrogativos. A disposição desses elementos
na estrutura da sentença, juntamente com a presença de pontuação específica na escrita e
entonação particular, contribuem para a compreensão da intenção comunicativa, destacando o
elemento mais saliente na troca convencional.
Batista também diferencia a sentença interrogativa fechada, marcada pelo ponto de
interrogação e entonação ascendente, da sentença interrogativa-eco, na qual o elemento
interrogativo recebe entonação especial e não inicia a sentença, a menos que se refira ao
sujeito. Essa distinção aponta para nuances importantes no processo comunicativo. A
sentença exclamativa, estruturalmente semelhante à interrogativa, é destacada pela pontuação
e entonação, enquanto a sentença declarativa, caracterizada pela ausência das características
de outros tipos, expressa declarações afirmativas ou negativas sobre diversos temas. A
sentença optativa, que apresenta verbo no modo subjuntivo e expressa desejos ou exortações,
é marcada pela expressividade e pode receber sinal de exclamação na escrita, além de
entonação especial na oralidade.
O autor ressalta que as sentenças desempenham diferentes propósitos comunicativos,
situados em diversas intenções, o que caracteriza a interação verbal como um jogo de
propósitos veiculados de formas variadas, explícitas ou implícitas. Ao abordar a distinção
conceitual entre sentença, enunciado e proposição, eçe destaca a sentença como a unidade
linguística considerada pelo aspecto formal, o enunciado como uma sentença situada
contextualmente, e a proposição relacionada ao significado de uma sentença declarativa,
descrevendo um estado de coisas específico.
A linguagem é apresentada como uma ferramenta de ação, onde o ato de asserção
ocorre quando um falante anuncia uma sentença declarativa, assumindo responsabilidade e
compromisso com seu interlocutor. Além disso, são introduzidos os conceitos de enunciados
performativos e constatativos, explorando a ideia de que a linguagem pode ser usada para
realizar ações. A teoria dos atos de fala é introduzida, destacando os atos locucionários,
ilocucionários e perlocucionários, que revelam a escolha de elementos linguísticos, a intenção
comunicativa e os resultados alcançados por meio da linguagem, respectivamente.
Batista conclui abordando a estrutura informacional da sentença, que envolve a
organização de temas e remas para transmitir informações de maneira eficaz no processo
comunicativo. Destaca a importância do contexto específico de uso da língua e enfatiza que a
estrutura informacional só pode ser compreendida considerando o momento da troca verbal.
No âmbito dessa estrutura, são explorados os conceitos de tópico, foco e tema/rema,
evidenciando como esses elementos são determinados pela relação entre informação
conhecida e nova.
Em suma, a análise de Ronaldo Batista sobre sentença e uso da língua proporciona
uma compreensão aprofundada das nuances linguísticas e das diversas intenções
comunicativas subjacentes à diversidade de estruturas sentenciais.

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