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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

Perturbações Relacionadas com Substâncias e Perturbações Aditivas na população


clínica: Contributos do PID-5 e do PID5BF+M

Sofia Silva Pedrosa

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Área de especialização em Psicologia Clínica e da Saúde – Psicologia Clínica Dinâmica


2021/2022

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

Perturbações Relacionadas com Substâncias e Perturbações Aditivas na população


clínica: Contributos do PID-5 e do PID5BF+M

Sofia Silva Pedrosa

Dissertação orientada pelas Professoras


Rute Pires e Ana Sousa Ferreira

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Área de especialização em Psicologia Clínica e da Saúde – Psicologia Clínica Dinâmica

2021/2022
AGRADECIMENTOS

i
Resumo e Abstract

Palavras-chave:

ii
Índice

Índice de quadros

Anexos

iii
Possível poema ou escrita de arte sobre perturbações aditivas!!!

“Still saw addiction as a human passion such smoking, gambling, greediness for profit, sexual
excesses, etc” - Levenstein (Berridge and Edwards, 1981: 142-143)

A resiliência é desenvolvida pela adversidade e não apesar dela, porque as


dificuldades podem extrair o melhor das pessoas, quando estas enfrentam os desafios.
Walsh, 1998

“A droga não é o problema principal do toxicodependente. O consumo de droga é somente uma


resposta falaciosa à falta de sentido positivo da vida.”
João Paulo II, Do desespero à esperança.

O consumo de drogas tinha então um claro significado social, dando suporte às teorias que as
entendiam como um fator causador de desordem social e de insegurança: “é a droga que faz o
toxicodependente” e, portanto, se é a substância que faz o mal, é a ela que se deve fazer a
guerra.

iv
INTRODUÇÃO

Ao longo do Século XX, o estudo da dependência em relação a substâncias sofreu


modificações ao nível da terminologia e da visão que se tinha dela. O consumidor de
substâncias psicoativas era percecionado como um problema e um incómodo para a
população geral, era um “viciado” que, não tinha controlo sobre os seus impulsos, era um ser
fraco e isso traduzia-se em comportamentos marginais e antissociais, que na perspetiva da
justiça e da sociedade deveriam ser castigados como tal. Com a mudança do conceito, as
perturbações relacionadas com substâncias e as perturbações aditivas assumem uma
dimensão de saúde publica, o indivíduo começa a ser encarado como alguém doente que, pela
especificidade da própria doença, requer um tratamento multidisciplinar, uma vez que a
doença tem implicações negativas no indivíduo.

Os comportamentos de dependência nas perturbações relacionadas com substâncias


são o resultado da combinação de uma substância e um meio ambiente. Esta relação é
modelada por diversos fatores incluindo a cultura, sociedade, religião e crenças, psicologia
individual (personalidade), pensamentos, neurobiologia e a genética. A complexidade
etiológica dos comportamentos aditivos é ilustrada pelas constantes mudanças de opiniões
sociais e médicas. Tem sido comum depararmo-nos com atitudes opostas em relação à sua
definição (alargada a dependências sem substâncias ou mais restrita), à sua legalização (uso
livre ou proibido), à resposta a realizar (punição ou tratamento) e à sua responsabilidade
(individual ou da sociedade) (Crocq, 2007).

Este estudo centra-se no fator da personalidade em relação às perturbações


relacionadas com substâncias e perturbações aditivas. Como tal, o Modelo Dimensional dos
Traços, apresentado no DSM-5, é de grande relevância, sendo este modelo o alicerce para a
análise dos traços de personalidade. Em 1980, o DSM-III introduz uma distinção formal entre
os traços de personalidade e as perturbações de personalidade. Sem que o pretendesse, chama
à atenção da comunidade científica para as limitações carência dos sistemas categoriais de
classificação (Coolidge & Segal, 1998). Estas limitações, e juntamente com o acumular de
suporte empírico relativamente às potencialidades do modelo dos Cinco Factores (Five
Factor Model: FFM; Costa & Widiger, 2012) em termos da compreensão da personalidade
normal e patológica, contribuíram para a mudança de paradigma, introduzida pelo DSM-5
(APA, 2013; Haigler & Widiger, 2001).

v
NEeste Modelo Alternativo para as Perturbações de Personalidade convergem
características dos modelos dimensionais e dos modelos categoriais (APA, 2013). Neste
modelo existem dois critérios inovadores: o Critério A, correspondente aos défices no
funcionamento da personalidade e o critério B, operacionalizado pelo Inventário da
Personalidade para o DSM-5 (PID-5; Krueger et al., 2012) para avaliar traços de
personalidade maladaptativos. Este modelo avalia cinco domínios da personalidade, que
correspondem aos polos desadaptativos do Modelo dos Cinco Fatores da Personalidade, e
vinte e cinco facetas específicas (APA, 2013). Diversos os estudos indicam que ambos os
modelos funcionam de forma similar (e.g., Krueger & Markon, 2014; Suzuki, Griffin, &
Samuel, 2017). Evidenciam correlações onde a Afetividade Negativa, o Desprendimento, o
Antagonismo e a Desinibição, são similares, respetivamente, ao Neuroticismo e aos extremos
patológicos da Extroversão, Amabilidade e Conscienciosidade, descritos no Modelo dos
Cinco Fatores da Personalidade (FFM) (Krueger & Markon, 2014; Sleep et al., 2017).

Além do DSM-5, existe outro sistema de diagnóstico:, a Classificação Internacional


de Doenças (ICD-11). Atualmente na é a 11ª edição, é de oum sistema global de
categorização de doenças físicas e mentais publicado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS). Categoriza doenças já conhecidas, condições médicas e perturbações de saúde mental
e é usadoa para fins de codificação dos sistemas de classificação médica, para rastreamento
estatístico de doenças e como uma ferramenta de categorização global da saúde que pode ser
usada em vários países e em diferentes idiomas (World Health Organization, 2019).

Estes dois sistemas servem para diagnosticar perturbações da saúde mental, sendo que
o DSM-5 é usado principalmente nos Estados Unidos, enquanto o ICD-11 é usado
internacionalmente. Estudos recentes documentaram a validade convergente de ambos os
sistemas (Oltmanns & Widiger, 2019), mas também apontam para potenciais insuficiências
(Bach et al., 2020). Uma sincronização de ambos os sistemas pode ser útil para a beneficiar a
utilidade clínica (Mullins-Sweatt et al., 2016), fornecendo uma cobertura diagnóstica mais
completa (Bach et al., 2018) e permitindo uma conceituação de caso mais personalizada e
uma abordagem de tratamento subsequente.

Recentemente, uma medida combinando ambas as conceituações foi


desenvolvida a partir do pool de itens do PID-5 e usando algoritmos de otimização
(Kerber et al., 2022). Assim, o Inventário de Personalidade resultante para o DSM-5,
Formulário Breve Plus (PID5BF+) foi posteriormente adaptado para também capturar

vi
facetas de traços do domínio Anankastia relativo ao ICD-11, aparecendo o Inventário
de Personalidade Modificado para DSM-5—Formulário Breve Plus [PID5BF+M; (Bach
et al., 2020)].

A pertinência da presente investigação advém da escassez de estudos empíricos,


nacionais e internacionais, que utilizam esta versão breve plus (PID5BF+M). Os objetivos
deste trabalho prendem-se com a categorização e a análise dos traços de personalidade de um
grupo de participantes com perturbações relacionadas com substâncias e perturbações
aditivas (PSPA) através do PID5BF+M e do PID-5. Deste modo pretende-se averiguar a
relação entre as dimensões dos instrumentos adotados. Além disto, contribuir para a produção
de literatura científica, em Portugal, no que diz respeito ao comportamento da Versão
Modificada do PID5BF+ (PID5BF+M), bem como validar esta e a versão portuguesa do PID-
5. Por último, compreender as potencialidades e limitações destes instrumentos na
caracterização de pessoas com diagnóstico de Perturbações Relacionadas com Substâncias e
Perturbações Aditivas (PSPA).

A presente dissertação está organizada em cinco capítulos. O Enquadramento Teórico


(Capítulo 1) revê a literatura pertinente para a temática em estudo. No Capítulo 2 são
elaborados os objetivos e hipóteses para a investigação. No Método (Capítulo 3) procede-se à
caracterização dos participantes, descrição dos instrumentos de medida, definição do
procedimento de recolha da amostra e definição do procedimento estatístico. O Capítulo 4
(Resultados) apresenta os resultados obtidos no estudo, relativos às dimensões (domínios e
facetas) do PID-5 e do PID5BF+M, à comparação entre os dois grupos em estudo (PSPA e
outros diagnósticos (OD)), e as correlações de Pearson e de Spearman entre ambos os
instrumentos. No Capítulo 5 discutem-se os resultados obtidos, expõem-se os contributos do
estudo e sugerem-se futuras investigações. É, ainda, desenvolvida uma Conclusão onde se
sumariza o presente trabalho.

vii
1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.1 Perturbações Relacionadas com Substâncias e Perturbações Aditivas

As definições são necessárias para impor limites teóricos sobre um assunto, apesar da
sua incompletude e da sua tendência parade mudar ao longo do tempo. Isto aplica-se às
definições sobre a adição, as substâncias e o seu uso. Antigamente, a maioria dos médicos
definia a adição como um hábito ou um vício. Apenas no século 20 é que os médicos
começaram a se preocupar e designaram esta condição como uma doença.

De modo geral, as perturbações aditivas, dentro das quais se encontram as


perturbações relacionadas com substâncias, integram um conjunto de fenómenos
comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após a experienciação
repetida a estímulos psicoativos que produzem estados emocionais positivos (sentidos como
agradáveis/recompensadores). Estes estímulos podem ser desencadeados por substâncias ou
por atividades que deem prazer como os jogos, internet, sexo, etc. (NIDA, 2018).

A adição é definida pela abstinência (withdrawal), que é a combinação das


consequências físicas e mentais que uma pessoa experimenta depois de parar de usar ou
reduzir a ingestão de uma substância, como álcool e medicamentos prescritos, e craving, ou
seja o desejo de usar mais uma substância ou atividade (por exemplo, drogas ou sexo)
consistindo num desejo de experimentar os efeitos eufóricos (ou outros), bem como o desejo
de evitar os aspetos da abstinência (inserir referência relativa à definição de withdrawal e
craving). O sentimento subjetivo de desejo, como um estado apetitivo ou compulsivo, pode
ser considerado parte desse processo multidimensional, com módulos em diferentes níveis de
consciência e expressão (Peele, 1987). À medida que existe uma utilização continua da
substância, o organismo necessita cada vez mais de quantidades maiores para que se obtenha
o mesmo nível inicial do seu efeito, aumentando a tolerância, que é a diminuição de um efeito
após repetidas administrações.

Quando o individuo apresenta sintomas de abstinências e craving perante uma ou


várias substâncias, o termo da dependência / adição de substâncias psicoativas é realçado. É a
definição utilizada para definir o estado psíquico e às vezes físico, resultante da interação de
um organismo com uma substância, caraterizado por um conjunto de respostas

viii
comportamentais que incluem a compulsão de consumir a substância de forma continuada
como forma de experienciar os seus efeitos psíquicos ou de evitar a sensação desagradável
que a sua falta provoca (Socidrogalcohol, 2018), tornando o individuo “preso” neste ciclo
representado na figura 1. Envolvendo a perda do domínio sobre o próprio comportamento,
défices ao nível do controlo inibitório, das capacidades de planeamento e de tomada de
decisão e de regulação dos afetos (Peele, 1987).

Os reforços positivos e negativos no uso de drogas é a confirmação de que a adição


perante o uso de drogas tem aspetos simultaneamente de perturbação do controlo dos
impulsos e de compulsão (Koob & Volkow, 2010). As perturbações de controlo dos impulsos
são caracterizadas pela sensação gradual de ânsia antes de cometer um ato impulsivo e

satisfação no momento de cometer o ato. Estas perturbações estão grandemente associadas


com mecanismos do reforço positivo (APA, 2013).

Por outro lado, as perturbações compulsivas são caracterizadas por ansiedade e stress
antes de cometer um comportamento compulsivo acontecer repetitivo e alívio do stress pela
realização do comportamento compulsivo (APA, 2013). Perturbações compulsivas estão
fortemente associadas a mecanismos de reforço negativo e de automatismo (Koob & Volkow,
2010). Finalmente, o comportamento aditivo busca tanto a obtenção de prazer como a
redução dos estímulos dolorosos sendo assim motivado tanto pelo reforço positivo como
negativo (Goodman, 2008).

A utilização de substâncias produz um efeito de recompensa na pessoa através da


libertação de dopamina. A libertação de dopamina, que é transmitida até às estruturas
límbicas e do córtexfrontal, são ativados em resposta a estímulos de reforço natural ou
primário, que são aqueles que têm importância para o individuo ao nível da sobrevivência. A
libertação de dopamina para os estímulos primários, desenvolve rápida tolerância e
habituação, no entanto para as substâncias psicoativas têm um efeito diferente, podendo fazê-
lo de maneira crescente. Provoca no individuo um efeito insaciável e apelativo com
incentivos que levam a pessoa a ter um desejo amplificado quando desenvolve uma
sensibilidade ao nível do sistema dopaminérgico. Com a exposição repetida a uma substância,
as células dopaminérgicas deixam de ser ativadas em resposta ao consumo, passando a ser
ativadas de forma antecipada (estímulo condicionado) (Volkow, Koob & McLellan, 2016).

A ativação direta do sistema de recompensa do cérebro produzido pelo consumo


excessivo de substâncias é de tal forma intensa que provoca a negligência das atividades
ix
normais. A pessoa deixa progressivamente de experienciar bem-estar através de estímulos
naturais mais humanizados como as relações, o trabalho ou os hobbies (Vetulani, 2001). A
resposta de fuga aos sintomas de privação e ao afeto negativo subjacente perpeétua este ciclo,
conduzindo à subavaliação das consequências a médio-longo prazo da recaída, dos riscos
inerentes à saúde e de outros associados ao não cumprimento de um conjunto de normas
morais que regem o funcionamento social (por vezes totalmente negligenciadas face à
necessidade de obtenção da substância).

Figura 1

Ciclo de perturbações aditivas e relacionadas com substâncias

Uso de drogas e reforço


significativo
(Binge/Intoxication)

Dependência e
Abstinência (Withdrawal) e
Intensificação (Craving e
recaída
Tolerância)

Segundo Peele (1987), existem imensos critérios para a adição em si, sendo
considerados universais e comuns, no entanto o comportamento de pessoas com algum tipo
de adição é bem mais variado do que a noção convencional transparece. Esta universalidade
advém da visão biológica de que comportamentos complexos como o withdrawal e craving
são reações físicas às drogas. Devemos considerar que o comportamento aditivo, tal como
todos os sentimentos e ações humanas, estão sujeitos à influência social e cognitiva. Portanto,
a adição em si não acaba no consumo de drogas, a adição é o ajustamento de cada indivíduo
ao seu ambiente, apesar de ser autodefensivo. Uma defesa ineficaz a longo prazo, mas que
o indivíduo é capaz de modificar com mudanças das circunstâncias da vida e
psicológicas, além de respostas biológicas (caráter bio-psico-social).??? Assim, a
dependência é considerada uma problemática complexa, envolvendo aspetos individuais e
sociais que experienciam a sua variabilidade clínica.???

A experiência de craving ou de withdrawal envolve as expectativas, valores e


autoconceito das pessoas, bem como a noção de outras possibilidades de gratificação. A

x
adição compreende as perceções subjetivas, valores culturais e individuais, noções de
autocontrolo e diferenças relacionadas com a personalidade (Peele, 1987).

Segundo a literatura é possível haver um controlo sobre a adição, tal como acontece
com o uso do álcool na nossa sociedade (Caliendo & Hennecke, 2022). No entanto, em
relação às drogas a sociedade descarta este controlo. Waldorf (1983) descobriu que aditivos
que pararam por vontade própria acabam por usar drogas de novo, mas de uma forma
controlada, não voltando a ficarem aditivos (as cited in Peele, 1987). No entanto, os media
não querem que estes dados se divulguem de modo a continuar com a propagação de que o
uso de substâncias é negativo de todas as formas, obscurecendo fatores sociais e de
personalidade que realmente distinguem os estilos do consumo de qualquer tipo de droga.

O DSM-5 (APA, 2013) reconhece que as perturbações relacionadas com as


substâncias abrangem 10 classes distintas de substânciasdrogas: álcool; cafeína; cannabis;
alucinógenos (fenciclidina e outros alucinógenos, como LSD); inalantes; opióides; sedativos,
hipnóticos ou ansiolíticos; estimulantes (incluindo substâncias do tipo anfetamina, cocaína e
outros estimulantes); tabaco; e outras substâncias ou desconhecidas. A classificação
reconhece que nem todas as pessoas são automaticamente ou igualmente vulneráveis ao
desenvolvimento de perturbações relacionadas com substâncias. Algumas pessoas têm níveis
mais baixos de autocontrolo que as predispõe a desenvolver problemas se forem expostas a
substâncias.

Ao longo da última década, houve uma diversificação das drogas disponíveis nos
mercados. Além das substâncias tradicionais à base de plantas (cannabis, cocaína e heroína),
atualmente testemunha-se a expansão de um mercado dinâmico de drogas sintéticas e do uso
não prescrito de drogas farmacêuticas. As drogas de hoje são mais potentes e a sua crescente
disponibilidade e uso consecutivo ou sequencial entre os usuários ocasionais ou regulares
representam um desafio ainda maior em relação ao passado para a prevenção do uso de
drogas, tratamento das perturbações relacionadas com substâncias e resposta às
consequências adversas para a saúde. Neste estudo, as substâncias são matérias psicoativas
com capacidade aditiva que farmacologicamente ativam o Sistema Nervoso Central, que
quando introduzidas no organismo produzem? alterações ao nível da consciência, funções
psíquicas básicas e comportamentais, processos do pensamento e senso-percetivos
(Socidrogalcohol, 2018). Neste grupo de substâncias incluem-se as drogas ilegais, como
também o álcool, tabaco e outros fármacos (psicofármacos). Ou seja, é uma substância ????

xi
em que os efeitos mentais são suficientemente agradáveis, interessantes ou úteis que
algumas pessoas utilizam para aliviar um mal específico (Fehrman et al., 2019).

Devido à situação inigualável do COVID-19, os dados mais completos e seguros são


os relativos a 2020. Para além de que existe uma dificuldade em estabelecer conclusões sobre
a evolução da estatística das drogas e do seu uso nos últimos anos. Apesar destes aspetos
podemos retirar várias conclusões sobre a evolução da estatística das drogas? ao longo dos
anos e de como o COVID-19 afetou as tendências.

O uso de drogas introduz perigo em vários níveis da vida. É um importante factor que
aumenta o risco de pior saúde, com uma mortalidade e morbilidade mais recentes, e têm
consequências significativas para a sociedade. Apesar do uso de drogas ser argumentado
como um problema de escolha individual, os efeitos de uma pessoa que use drogas, como
pior funcionamento individual ou a maior mortalidade, sugerem efeitos sociais e
interpessoais nos indivíduos que não escolheram usar drogas por si próprios (Sutin et al.,
2013). As dependências e os comportamentos aditivos não são apenas problemáticos para o
indivíduo e familiares, mas também para a sociedade como um todo, com enormes
repercussões sociais, económicas e de saúde pública, interferindo com uma ampla série de
recursos e serviços na sociedade.

Em 2020, mundialmente, cerca de 284 milhões de pessoas com idades entre os 15 e


64 anos, a maioria homens, usaram uma droga nos últimos 12 meses. Isto corresponde a
aproximadamente 1 em cada 18 pessoas nesta faixa etária, e representa um aumento de 26%
em relação a 2010, quando o número estimado de pessoas que usaram drogas foi de 226
milhões. Ao analisar estes dados devemos considerar o crescimento da população global. No
entanto, dos estimados 284 milhões de pessoas que usaram drogas, estima-se que
aproximadamente 13,.6% sofreram de perturbações relacionadas com substâncias.
Significando que este uso foi prejudicial ao ponto de eles ficarem dependentes de substâncias
e/ou necessitarem de tratamento. Isto corresponde a uma prevalência de perturbações pelo
uso de drogas de 0.,76% da população global de 15 a 64 anos (UNODC, 2022).

A percentagem anual da prevalência de perturbações relacionadas com substâncias na


população global parece ter permanecido relativamente estável nos últimos 15 anos. Não
esquecendo o efeito do crescimento da população global combinado com a melhoria da
qualidade dos dados sobre a prevalência.???? O número total estimado de indivíduos com
perturbações relacionadas com substâncias aumentou de cerca de 27 milhões em 2010 para

xii
cerca de 38.,6 milhões em 2020. Apesar desta aparente neutralidade ????da situação, os
dados mostram que, em muitos países, a geração atual de adolescentes experimenta um nível
de drogas mais alto em comparação com o relato das gerações anteriores (Jalal et al., 2020).
Embora existam limitações metodológicas espera-se que à medida que os adolescentes atuais
vão envelhecendo, ocorra um aumento na prevalência do uso de drogas ao longo da vida
entre as populações em geral.

O UNODC (referência) abordou o impacto dao COVID-19 apresentando estudos que


confirmam aumentos gerais no consumo de álcool, tabaco, anfetaminas e cannabis,
especialmente durante os primeiros confinamentos. Embora o número de pessoas que usam
cannabis tenha permanecido estável em países onde os dados de 2019 e 2020 estão
disponíveis (por exemplo, Austrália, Canadá, Chile e alguns países europeus), os volumes de
consumo cresceram devido ao aumento da frequência de uso (Doherty et al., 2021) e das
quantidades usadas (EMCDDA, 2021), com evidências significativas para o uso de cannabis.
O uso de opioides permaneceu estável na maioria dos países que participaram no estudo?
Informaram.? A pandemia parece ter alterado a tendência anteriormente crescente de
cocaína e drogas do tipo “ecstasy”, possivelmente devido ao fecho obrigatório de instalações
de entretenimento (UNODC, 2022).

Segundo a EMCDDA (2021), apareceu um desenvolvimento preocupante em alguns


países europeus havendo um aumento na disponibilidade e uso de crack. Relatos crescentes
de cannabis adulterada com agonistas sintéticos de receptores canabinóides (SCRAs)
surgiram em 2020, bem como surtos documentados de danos agudos e mortes associadas a
estas substâncias. Também se observou um aumento no uso não prescrito de sedativos, como
benzodiazepínicos, tranquilizantes e outros medicamentos psiquiátricos (Gili et al., 2021).

Os homens são mais propensos do que as mulheres a usar a maioria das drogas e os
jovens são mais propensos a usar qualquer tipo de droga (referência? E mais uma vez:
estamos a falar de que substâncias? Drogas, álcool?). Embora o uso geral de drogas
permaneça menor entre as mulheres do que entre os homens, as diferenças entre os sexos
variam substancialmente por região e, até certo ponto, pelo tipo de droga (referência). Por
exemplo, de acordo com os dados disponíveis mais recentes de pesquisas domiciliares em 64
países, menos de um terço das pessoas que usam cannabis ou cocaína mundialmente são
mulheres. No entanto, isto pode variar substancialmente por região, provavelmente
relacionado a oportunidades, papéis culturalmente definidos e a outros fatores sociais

xiii
(UNODC, 2018; McHugh et al., 2018). As mulheres apresentam prevalência semelhante de
uso de alguns grupos de substâncias e podem superar os homens. Isto geralmente é verdade
em relação ao uso não prescrito de medicamentos, principalmente opióides, sedativos e
tranquilizantes (McHugh et al., 2013). O uso indevido destas substâncias geralmente está
associado ao auto-tratamento da dor, ansiedade, sintomas de depressão, tensão e problemas
de sono, todos estes mais comuns nas mulheres do que nos homens (Albert, 2015).

Dentro do número total de mortes atribuídas ao uso de substâncias, há uma distinção


importante: mortes diretamente causadas por relacionadas a perturbações relacionadas com
substâncias, principalmente overdoses, e mortes indiretamente relacionadas com substâncias,
por exemplo, cancro do fígado ou cirrose devido a hepatite ou HIV, ou automutilação
associada ao uso de drogas. Tanto a mortalidade direta quanto a indireta variam
substancialmente com opelo tipo de droga, região, idade e outros fatores. Os dados mais
abrangentes e oportunos sobre mortes globais atribuídas ao uso de drogas são produzidos
pelo Global Burden of Disease Study (referência), que estimou que houve 494.000 mortes
relacionadas com substâncias em 2019. A série temporal mais recente indica um aumento
geral no total de mortes atribuídas a drogas de 17,.5% entre 2009 e 2019.

Em 2020, o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas


Dependências (SICAD) realizou um inquérito online sobre Comportamentos Aditivos em
Tempos de Covid-19, o qual evidenciou ter havido alterações nos padrões de consumo de
álcool com o confinamento e o distanciamento social (no período entre março e maio de
2020), e que essas alterações variaram em função dos padrões prévios dos consumos e de
múltiplos fatores no plano individual e social, nomeadamente os relacionados com a vivência
da pandemia. Na amostra do estudo, maioritariamente com um padrão prévio de consumo de
álcool não problemático, foram mais os que diminuíram (42%) do que os que aumentaram
(21%) os consumos durante o período de março a maio de 2020 (SICAD, 2021).

Todavia, este padrão de evolução não ocorreu em todas as idades, sendo de destacar
como tendências menos positivas, o aumento do consumo recente (primeira vez a consumir)
nos 15-16 anos, do consumo atual e da embriaguez recente e atual nos 16 anos, e o aumento
do consumo binge (consumo de 5 ou mais bebidas alcoólicas numa única ocasião; consumo
excessivo) nos mais velhos (16-18 anos). Contrariamente à tendência de diminuição das
prevalências dos consumos recentes e atuais nos dois quadriénios anteriores (2011-2015 e

xiv
2007 -2011), entre 2015 e 2019 ocorreu um aumento do consumo recente (de 66% para
69%), sendo mais ténue no caso do consumo atual.

No serviço publico de tratamento ambulatório dos comportamentos aditivos e


dependências estiveram 12 757 utentes inscritos como utentes com problemas relacionados
com o uso de álcool em 2020. Em 2020, iniciaram o tratamento 3 505 utentes, 1 050 eram
utentes readmitidos e 2 455 novos utentes. Foi quebrada a tendência de acréscimo contínuo
desde 2009 (exceto 2018) no número de utentes em tratamento ambulatório, representando
uma descida de -8% face a 2019 (ano com o valor mais elevado da década). Provavelmente
relacionado com a pandemia do COVID-19 e com as suas consequências nos consumos e nas
intervenções. Após a tendência de estabilidade entre 2017-2019 na quantidade de
internamentos por problemas relacionados com o uso de álcool em Unidades de
Alcoologia/Unidades de Desabituação houve uma descida acentuada em 2020 (-58% face a
2019), possivelmente relacionada com a pandemia. Também ao nível das Comunidades
Terapêuticas houve um decréscimo no número destes internamentos (-12% face a 2019),
quebrando a propensão de aumento progressivo e contínuo desde 2013 (sendo que o valor
mais alto foi em 2019).

Segundo o SICAD (2021), através do INE, em 2019 registaram-se em Portugal 2 507


óbitos por doenças atribuíveis ao álcool (2 497 residentes, 10 não residentes), valor próximo
ao do ano anterior (+0,6%) e o segundo valor mais alto dos últimos sete anos. Entre 2015 e
2019 veio a aumentar o número de vítimas mortais de acidentes de viação sob influência do
álcool, com o valor de 2019 a ser o valor mais elevado desde 2013. É de admitir que a
importante quebra em 2020 (-32% face a 2019) se deva, em grande parte, às restrições da
circulação impostas pela pandemia.

Em 2020, segundo o SICAD, estiveram em tratamento 23 569 utentes com problemas


relacionados com o uso de drogas no ambulatório da rede pública. Em 2020, 2 740 utentes
iniciaram tratamento, 1 376 eram readmitidos e 1 364 eram novos utentes. Em 2020 houve
um decréscimo de utentes em ambulatório pelo quarto ano consecutivo, com uma quebra
relevante dos que iniciaram tratamento no ano (-21%) – maior nos novos utentes do que nos
readmitidos -, possivelmente devido à pandemia do COVID-19. A descida de novos utentes
(o valor mais baixo da década) surge após subidas nos dois anos anteriores e, a diminuição de
readmitidos ocorre pelo segundo ano, após os aumentos em 2017 e 2018. Os valores de 2016-

xv
2020 foram inferiores aos do anterior quinquénio, seja do conjunto dos utentes em
ambulatório, seja dos que iniciaram tratamento.

No que respeita à mortalidade relacionada com o consumo de drogas, segundo o INE,


em 2019 ocorreram 72 mortes de acordo com o critério do Observatório Europeu da Droga e
da Toxicodependência (OEDT) (+31% do que em 2018), representando o valor mais elevado
da década. Destes, 60 (83%) foram atribuídos a intoxicação. Em 2020 foram registadas 63
mortes, sendo a maioria da faixa etária 40-64 anos. As prevalências de consumo de qualquer
droga têm vindo a aumentar desde 2015, resultado do acréscimo contínuo do consumo de
canábis (ainda que com estabilização entre 2018 e 2019), uma vez que as prevalências do
consumo de outras drogas que não canábis se têm mantido relativamente estáveis. Quanto ao
consumo recente e atual de canábis, entre 2015 e 2019 verificou-se uma diminuição em quase
todas as idades (mais relevante no consumo atual), exceto o consumo recente nos 13 e 16
anos, que registou um aumento.

Em 2020, no serviço público de tratamento ambulatório dos comportamentos aditivos


e dependências estiveram em tratamento 23 569 utentes, inscritos como utentes com
problemas relacionados com o uso de drogas. Nesse ano, 2 740 utentes iniciaram tratamento,
1 376 eram utentes readmitidos e 1 364 eram utentes novos. Entre 2019 e 2020 houve um
decréscimo de utentes em tratamento em ambulatório com problemas relacionados com o uso
de drogas (-7%), registando-se nos últimos três anos os valores mais baixos da década.
Apesar de ser o quarto ano com descidas consecutivas, foi o ano que registou a maior
diminuição (um pouco superior à de 2018), muito provavelmente relacionado com a
pandemia do COVID-19 e seus reflexos nos consumos e nas intervenções.

O relatório publicado pela Direção Geral de Saúde (DGS) e Institute for Health
Metrics and Evaluation (IHME)(2018), relativamente aos resultados apresentados no Global
Burden Disease 2016 respeitantes a Portugal, prova que embora as políticas face às drogas
estejam a perder a sua preponderância no panorama nacional, o consumo de substâncias
continua a ter um elevado impacto na saúde dos portugueses. É de salientar que é a principal
causa atribuível de anos de vida vividos com incapacidade, sendo também o principal fator de
risco para a mortalidade prematura em 2016.

Atualmente colocam-se novos desafios aos profissionais de saúde bem como à


política. Os padrões de consumo estão a mudar e observa-se cada vez mais o policonsumo de
substâncias, mas também o consumo de novos estimulantes e novas substâncias que estão a

xvi
causar uma sucessão de danos graves. Tais como o aumento do risco de intoxicações graves e
fatais, e o risco acrescido de exposição acidental. Averigua-se o aparecimento de novos
surtos psicóticos de difícil identificação e tratamento. Incitando preocupações agudas em
relação à saúde e tratamento destes indivíduos, como também com a segurança e saúde
pública (Socidrogalcohol, 2018).

O consumo abusivo de álcool, na população adulta, surge com grande frequência


durante e após eventos de stress como o divórcio, dificuldades financeiras ou ser vítima de
crimes (Jose et al., 2000). Paralelamente também se verifica que pessoas que abusam da
ingestão de álcool estão sujeitas ao aumento de situações stressantes (O’Doherty, 1991,
citado por Gordh, & Soderpalm, 2011). O uso de substâncias encontra-se associado a:
problemas escolares (faltas excessivas às aulas, reprovações, dificuldades na aprendizagem);
sociais (prática de atividades antissociais, relacionamento com outros consumidores);
determinadas características da personalidade (agressividade, impulsividade, intolerância à
frustração, desinibição); desordem psiquiátrica; e problemas familiares (conflitos familiares)
(Malbergier, Cardoso, & Amaral, 2012). Segundo Wit e Phillips (2012), os efeitos positivos
das substâncias podem levar a um aumento do consumo e posteriormente ao abuso. No
entanto, também se verifica que os efeitos negativos (e.g. ressaca, dores de cabeça) podem
servir como fator inibidor para a repetição do consumo.

Apesar das pessoas dependentes de substâncias terem algumas características em


comum, diferem bastante umas das outras, no que se refere à estrutura de personalidade, àhá
presença ou não de psicopatologia (Perturbações da personalidade de cluster B mais
relacionadas com a dependência), de doenças físicas, meio social (baixo estatuto
socioeconómico e pressão social) e do grau de dependência. Feita esta ressalva, através do
DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais) da APA (2013) é
definida a Perturbação do Uso de Substâncias. Para que o uso das substâncias seja
considerado dependência, devem estar presentes, durante um período de 12 meses, pelo
menos 2 dos 11 critérios definidos, que são os seguintes:

1. Reforço da quantidade ou do período de consumo da substância, superior ao


pretendido pela pessoa;

2. Desejo de reduzir ou terminar o consumo, mas sem sucesso na sua concretização;

3. Ocupa a maioria do seu tempo pessoal com a procura da substância e dos efeitos do
seu consumo;

xvii
4. Craving;

5. Disfunção social;

6. Continuidade do consumo, apesar de originar problemas;

7. Abandono das suas atividades essenciais, como o trabalho e relacionamento social


ou familiar, com o objetivo de consumir;

8. A utilização da substância em circunstâncias fisicamente perigosas;

9. Apesar da consciência das consequências problemáticas físicas ou psicológicas que


advém do consumo de substâncias, mantém esse comportamento;

10. Efeito de tolerância;

11. Abstinência.

Para organizar estes critérios podemos considerar os agrupamentos gerais: baixo


controlo, deterioração social, uso arriscado e critérios farmacológicos. Os critérios 1-4 são
referentes ao baixo controlo. O prejuízo social está entre os critérios 5-7. Os critérios 8 e 9
demonstram o uso arriscado da substância, em que existe o fracasso do individuo em abster-
se do uso da substância apesar das consequências difíceis. Os últimos critérios são os
farmacológicos.

Existem dois grupos de perturbações relacionadas com substâncias: perturbações por


uso de substâncias e perturbações induzidas por substâncias. As perturbações por uso de
substâncias são padrões de sintomas resultantes do uso de uma substância que continua a
tomar, apesar de ter problemas que advém disso. As perturbações induzidas por substâncias
incluem a intoxicação, abstinência e outras perturbações mentais induzidas por
substâncias/medicamentos.

As perturbações relacionadas com substâncias também se encontram descritas na


International Classification Diseases (ICD-11), pela OMS (2019), sendo similar à definição
da DSM-5. Define a perturbação como um conjunto de fenómenos fisiológicos,
comportamentais e cognitivos que com o aumento do consumo da substância, esta torna-se
mais relevante face a outros comportamentos, que previamente assumiam um papel essencial
na pessoa. É caraterizada pelo desejo exacerbado pelo consumo da substância, havendo
evidência de que uma recaída nos consumos (após um período de abstinência) causa um
aparecimento mais rápido dos sintomas da síndrome de dependência, o que não se verifica

xviii
em indivíduos não dependentes. Neste caso, para que seja realizado o diagnóstico devem ser
verificados no indivíduo, no ano anterior, pelo menos 3 dos seguintes critérios:

1. Desejo excessivo e compulsividade na procura da substância de consumo;

2. Dificuldade em gerir o consumo;

3. Presença de sintomatologia de privação;

4. Existência do efeito de tolerância;

5. Desinteresse em realizar atividades que forneciam prazer;

6. Permanência do consumo apesar dos seus efeitos prejudiciais observados.

Resumindo, a existência de evidência subjetiva de comportamentos compulsivos


dirigidos ao consumo de droga; o desejo de parar o consumo, mas sem sucesso; a presença de
comportamentos disruptivos; a evidência de neuro adaptação com fenómenos de tolerância e
abstinência; predomínio dos comportamentos na procura/obtenção de drogas negligenciando
outras ações prioritárias; e facilidade de recaída e consumo compulsivo após um período de
abstinência. No entanto, se apenas as pessoas com todos os três critérios forem consideradas
com perturbações relacionadas com substâncias, apenas aquelas na extremidade de grave da
dependência serão diagnosticadas, aumentando o limiar para o diagnóstico. Isto pode ter
implicações no tratamento dos pacientes.

A introdução da categoria 'episódio único de uso nocivo' pode melhorar o diagnóstico


e a intervenção precoce para problemas do uso de substâncias entre indivíduos vulneráveis,
como sujeitos que sofreram acidentes sob o efeito do álcool. No entanto, apenas danos físicos
e mentais são considerados. Aqueles com complicações sociais, ocupacionais ou legais, que
não correspondem aos critérios da perturbação não terão diagnóstico na ICD-11, mesmo que
haja consequências negativas e necessidade de resposta (OMS, 2019). Na intoxicação por
substâncias, a classificação de gravidade foi dada apenas para o álcool (Figura 2), mas não
para outras substâncias como os opióides, onde poderia ajudar na intervenção precoce e
redução de mortes por overdose. Resumindo, a ICD-11 oferece vantagens no diagnóstico e
tratamento de perturbações aditivas, com a inclusão dos episódios únicos de uso nocivo. No
entanto, a categoria de dependência de substâncias da ICD-11 pode aumentar o limiar para o
diagnóstico.

Figura 2

xix
O espectro do uso e abuso de álcool e perturbações relacionadas ao consumo repetitivo de
álcool.

Nota: Retirado de Saunders et al., 2019 tendo sido adaptado de Paton et al., (1981).

2. OBJETIVOS E HIPÓTESES – 2 páginas

2.1 Objetivos

1. Caracterizar um grupo de pacientes com Perturbações Relacionadas com


Substâncias e Perturbações Aditivas (denominado grupo PSPA) e diferenciá-lo de
um grupo de pacientes com outras perturbações psiquiátricas (denominado grupo
OD), através do PID-5, que operacionaliza o critério B do Modelo Alternativo do
DSM-5 para as perturbações de personalidade;
2. Caracterizar um grupo de pacientes com Perturbações Relacionadas com
Substâncias e Perturbações Aditivas (denominado grupo PSPA) e diferenciá-lo de
um grupo de pacientes com outras perturbações psiquiátricas (denominado grupo
OD), através do PID5BF+M, instrumento derivado do PID-5 que procura
harmonizar a classificação de PP proposta pelo DSM-5 e o ICD-11;
3. Estudar as relações entre as PSPA e os traços de personalidade medidos através do
PID-5 e do PID5BF+M;
4. Contribuir para a validação da versão portuguesa do PID-5 e do PID5BF+M e
para a compreensão das suas potencialidades e limitações na caracterização de
pessoas com diagnóstico de Perturbações Relacionadas com Substâncias e
Perturbações Aditivas (PSPA);
5. Contribuir, sob o ponto de vista teórico-prático, para a produção de literatura
científica, em Portugal, no que diz respeito ao comportamento da Versão

xx
Modificada do PID5BF+ (PID5BF+M), em relação ao qual existem poucos
estudos publicados.

2.2 Hipóteses

Com base na revisão de literatura são levantadas as seguintes hipóteses:

H1: Esperam-se relações diretas entre os domínios e facetas do PID-5 com os


domínios e facetas do PID5BF+M;

H2: Espera-se que o grupo com PSPA tenha resultados médios mais elevados no
domínio Afetividade Negativa do PID-5 do que o grupo com outros diagnósticos
psiquiátricos;

H3: Espera-se que o grupo com PSPA tenha resultados médios mais elevados no
domínio Antagonismo do PID-5 do que o grupo com outros diagnósticos psiquiátricos;

H4: Espera-se que o grupo com PSPA tenha resultados médios mais elevados no
domínio Desinibição do PID-5 do que o grupo com outros diagnósticos psiquiátricos;

H5: Espera-se que o grupo com PSPA tenha resultados médios mais elevados no
domínio Psicoticismo do PID-5 do que o grupo com outros diagnósticos psiquiátricos;

H6: Espera-se que o grupo com PSPA tenha resultados médios mais elevados no
domínio Afetividade Negativa do PID5BF+M do que o grupo com outros diagnósticos
psiquiátricos;

H7: Espera-se que o grupo com PSPA tenha resultados médios mais elevados no
domínio Antagonismo do PID5BF+M do que o grupo com outros diagnósticos psiquiátricos;

H8: Espera-se que o grupo com PSPA tenha resultados médios mais elevados no
domínio Desinibição do PID5BF+M do que o grupo com outros diagnósticos psiquiátricos;

H9: Espera-se que o grupo com PSPA tenha resultados médios mais elevados no
domínio Psicoticismo do PID5BF+M do que o grupo com outros diagnósticos psiquiátricos.

3 MÉTODO

3.1 Participantes

xxi
O estudo contou com a participação de 502 participantes, utentes de instituições de
saúde mental de ambos os sexos e com idades compreendidas entre os 18 e os 77 anos (Midade
= 44.93, DP = 12.73) que responderam a um protocolo enquadrado no projeto de
investigação “Personalidade e Psicopatologia III: Estudos de validação do Modelo
Alternativo do DSM-5 para as Perturbações de Personalidade na população portuguesa”.

A amostra de 502 participantes é equilibrada na variável sexo, sendo constituída por


47.2% mulheres e 52.8% homens. Quanto à variável nível de escolaridade, 55.4% da amostra
tem o 12º ano ou habilitações superiores e 44.6% tem o 9º ano de escolaridade ou
habilitações inferiores, refletindo a predominância da elevada escolaridade (Quadro 1). No
que diz respeito aos diagnósticos principais, a perturbação depressiva é a preponderante
(34.1%), seguindo-se as PSPA (22.5%) (Quadro 2).

Quadro 1. Caracterização sociodemográfica da amostra total (N = 502)


Omissões M DP Mínimo Máximo
Idade (anos) 9 44.93 12.73 18 77
Sexo Frequência Percentagem (%)
Masculino 265 52.8
Feminino 237 57.2
Nível de Instrução 2
¿ 4 º ano 40 8.0
4º ano 14 2.8
6º ano 56 11.2
9º ano 113 22.5
12º ano 152 30.3
Licenciatura ou mais 125 24.9

Quadro 2. Diagnósticos principais na amostra total.

Diagnóstico Frequência Percentagem (%)


Anorexia Nervosa (Tipo Purgativo) 9 1.8
Anorexia Nervosa (Tipo Restritivo) 17 3.4
Perturbação de Ingestão Compulsiva 1 .2

xxii
Perturbação Espetro do Autismo 1 .2
Perturbação Obsessivo-Compulsiva e Perturbações 9 1.8
relacionadas
Perturbações Bipolares e Perturbações Relacionadas 72 14.3
Perturbações da Personalidade
Perturbação Antissocial da Personalidade 3 .6
Perturbação da Personalidade sem Outra Especificação 1 .2
Perturbação Dependente da Personalidade 3 .6
Perturbação Esquizotípica da Personalidade 1 .2
Perturbação Estado-Limite da Personalidade 60 12.0
Perturbação Evitante da Personalidade 3 .6
Perturbação Narcísica da Personalidade 4 .8
Perturbação Obsessiva-Compulsiva da Personalidade 5 1.0
Perturbação Paranoide da Personalidade 2 .4
Perturbações de Ansiedade 24 4.8
Perturbações Depressivas 171 34.1
Perturbações Disruptivas, do Controlo dos Impulsos e do 1 .2
Comportamento
Perturbações Relacionadas com Substâncias e Perturbações 113 22.5
Aditivas
Trauma e Perturbações Relacionadas com Stress 2 .4

De forma a alcançar os objetivos do estudo, os participantes foram divididos em dois


grupos, o grupo de participantes com diagnóstico de Perturbações Relacionadas com

Substâncias e Perturbações Aditivas (PSPA) (n = 161) e o grupo de participantes com outros


diagnósticos de perturbações psiquiátricas (OD) (n = 341). O grupo de participantes com
PSPA inclui todos os sujeitos da amostra total que apresentam este diagnóstico como
diagnóstico principal (n = 113) ou em comorbilidade (n = 48). Na amostra, os diagnósticos
que mais surgem associados às PSPA são as perturbações depressivas (12.4%) e as
perturbações estado limite da personalidade (10.6%).

No grupo PSPA, os sujeitos têm idades entre os 18 e os 67 anos (Midade = 44.33, DP =


10.38). O sexo masculino é predominante, constituindo 77% de homens e 23% de mulheres.

xxiii
O nível de escolaridade do 12º ano é o mais frequente (26.3%), como pode ser observado no
Quadro 3.

Quadro 3. Caracterização sociodemográfica do grupo PSPA (n = 161).

Omissões M DP Mínimo Máximo


Idade (anos) 5 44.33 10.38 18 67
Sexo Frequência Percentagem (%)
Masculino 124 77.0
Feminino 37 23.0
Nível de Instrução 1
¿ 4 º ano 24 14.9
4º ano 8 5.0
6º ano 24 14.9
9º ano 39 24.2
12º ano 42 26.1
Licenciatura ou mais 23 14.3

O grupo OD engloba os restantes 341 participantes com idades compreendidas entre


os 18 e os 77 anos (Midade = 45.21, DP = 13.68). É um grupo equilibrado na variável do sexo,
tendo 41.3% homens e 58.7% mulheres. De novo, o 12º ano é o nível de escolaridade mais
frequente (32.4 %) (Quadro 4).

Quadro 4. Caracterização sociodemográfica do grupo OD (n = 341).

Omissões M DP Mínimo Máximo


Idade (anos) 4 45.21 13.68 18 77
Sexo Frequência Percentagem (%)
Masculino 141 41.3
Feminino 200 58.7
Nível de Instrução 1
¿ 4 º ano 16 4.7
4º ano 6 1.8

xxiv
6º ano 32 9.4
9º ano 74 21.7
12º ano 110 32.3
Licenciatura ou mais 102 29.9

Relativamente ao grupo de participantes com outras perturbações psiquiátricas (n =


341) predominam como diagnósticos principais as perturbações depressivas (44.3%),
seguidas da perturbação bipolar e suas relacionadas (19.1%). As perturbações de
personalidade são as comorbilidades mais evidenciadas (7.0 %).

3.2 Instrumentos e medidas

Todos os sujeitos foram avaliados através de um protocolo, este correspondente ao


projeto em que o atual estudo está inserido, que integra diversos questionários.

Dos questionários aplicados, são relevantes para esta investigação o questionário


sociodemográfico que foi utilizado para caracterizar os participantes e o Inventário de
Personalidade para o DSM-5 – Adultos (PID-5, Krueger et al., 2012; versão portuguesa de
Pires et al., 2017), a partir do qual se obteve a Versão Modificada da Forma Breve Plus do
Inventário de Personalidade para o DSM-5 - Adultos (PID5BF+M, Bach et al., 2020).

3.2.1 Questionário Sociodemográfico

O Questionário Sociodemográfico teve como objetivo a recolha de informações


sociodemográficas relativas a cada um dos participantes, de modo a caracterizar globalmente
a amostra em estudo. Os itens abordam questões acerca do próprio (e.g. sexo, idade,
nacionalidade, residência, nível de ensino, estado civil, situação laboral e económica).

3.2.2 Inventário da Personalidade para o DSM-5 – Adultos (PID-5)

O PID-5 (Krueger et al., 2012) é um inventário de autorrelato constituído por 220


itens que se destina a pessoas com idade igual ou superior a 18 anos. O objetivo do
instrumento é avaliar a presença e severidade de traços maladaptativos da personalidade,
conforme descritos no Critério B apresentado no Modelo Alternativo para as Perturbações de

xxv
Personalidade (AMPD) (APA, 2013). Para esse efeito são medidas 25 facetas que definem os
5 domínios da personalidade (Afetividade Negativa, Desprendimento, Antagonismo,
Desinibição e Psicoticismo), que representam os extremos patológicos dos traços do Modelo
dos 5 fatores (FFM, Costa e McCrae, 1992). Cada faceta integra um número de itens variável
entre 4 e 14. As respostas aos itens são dadas através de uma escala de Likert de 4 pontos, de
0 (Muito Falso ou Frequentemente Falso) a 3 (Muito Verdadeiro ou Frequentemente
Verdadeiro).

No PID-5 as facetas agrupam-se em 5 grandes domínios: a Afetividade Negativa, o


Desprendimento, o Antagonismo, a Desinibiçao e o Pisocticismo.

A Afetividade Negativa é composta pelas facetas de labilidade emocional, ansiedade,


insegurança de separação, submissão, hostilidade, perseveração e afetividade restrita. Este
domínio corresponde à experiência intensa e frequente de emoções negativas (como a
ansiedade, raiva e depressão) e as suas manifestações comportamentais e interpessoais.

O Desprendimento contém as facetas de afastamento, evitamento de intimidade,


anedonia, depressividade e suspeição. No seu todo caracteriza o evitamento de relações
interpessoais, sensibilidade à crítica e a constrição afetiva, com nuances mais depressivas ou
de desconfiança.

O Antagonismo abarca as facetas de manipulação, falsidade, grandiosidade, procura


de atenção e insensibilidade. Engloba os comportamentos que colocam o indivíduo em
conflito com terceiros como, por exemplo, a exagerada valorização de si, antipatia e
insensibilidade em relação aos outros.

A Desinibição é composta pelas facetas de irresponsabilidade, impulsividade,


distratibilidade, falta de perfecionismo rígido e envolvimento em comportamentos de risco.
Compreende a procura de uma gratificação ou valorização imediata que pode originar
comportamentos impulsivos, sem ter em consideração aprendizagens anteriores ou as
consequências posteriores.

E o Psicoticismo contém as facetas de crenças e experiências incomuns,


excentricidade e desregulação cognitiva e percetual. Representa a exibição de
comportamentos e cognições estranhas, bizarras e excêntricas, muitas vezes incongruentes
com a cultura em que se inserem (Krueger et al., 2012; Pires et al., 2018).

xxvi
Existem várias versões deste instrumento que estão adaptadas para a população
portuguesa (Pires et al., 2017; Pires et al., 2018), sendo que neste estudo foi utilizada a versão
longa. A adaptação portuguesa da forma longa do PID-5 mostrou-se, sob o ponto de vista
psicométrico, robusta e próxima do instrumento original (Krueger et al., 2012; Pires et al.,
2017). Em termos de precisão, a escala revelou estabilidade temporal (com um intervalo de
quatro semanas entre aplicações). Ao nível dos domínios, os coeficientes de precisão teste-
reteste variaram entre um mínimo de rs = .79 (p < .01) para a desinibição e um máximo de rs
= .92 (p < .01) para a afetividade negativa (Pires et al., 2017).

Relativamente à consistência interna, para os domínios obtiveram-se os seguintes


valores: .89 (Antagonismo); .91 (Afetividade Negativa e Desinibição); .93 (Desprendimento);
.94 (Psicoticismo). Quanto às facetas os valores de alfa variaram entre .70
(Irresponsabilidade) e .95 (Excentricidade). Sendo estes resultados satisfatórios em
comparação com os valores do alfa de Cronbach no estudo original de Krueger et al. (2012),
em que para cada domínio se obteve: .84 (Desinibição); .93 (Afetividade Negativa); .95
(Antagonismo); .96 (Desprendimento e Psicoticismo). Quanto às facetas, os valores variaram
entre .72 (Grandiosidade) e .96 (Excentricidade).

3.2.3 Versão Modificada da Forma Breve Plus do Inventário de Personalidade para o


DSM-5 - Adultos (PID5BF+M)

O Inventário de Personalidade para o DSM-5 (PID-5) foi construído para operacionalizar o


critério B do AMPD. Posteriormente, várias formas e escalas foram desenvolvidas a partir do
conjunto de itens do PID-5, incluindo formas abreviadas (Maples et al., 2015). Recentemente
foi desenvolvido um algoritmo para conciliar o AMPD do DSM-5 e o modelo de traços
subjacente à classificação das perturbações da personalidade proposta no ICD-11, designado
de Inventário de Personalidade para DSM-5 – Forma Breve Plus (PID5BF+) (Kerber et al.,
2020). Este engloba todos os domínios de traços do AMPD do DSM-5 e o domínio
anankastia do modelo de traços proposto no ICD-11. Inclui 17 das 25 facetas do PID-5, com
o total de 34 itens.

No PID5BF+, o domínio anankastia, equivalente ao domínio de compulsividade


excluído do AMPD por questões de parcimónia, é cotado a partir das facetas de perseveração
e perfecionismo rígido do DSM-5 (Bach & First, 2018). Para capturar melhor as
características do domínio anankastia do ICD-11, Bach et al. (2020) desenvolveram uma

xxvii
versão modificada do PID5BF+, o PID5BF+M, em que a faceta perseveração, que contribui
para o domínio de afetividade negativa, foi excluída e as subfacetas ordenação, rigidez e
perfeccionismo foram adicionadas, estas advindas da faceta original do perfeccionismo
rígido. Estas três novas facetas da anankastia estão de acordo com a versão inicial de 37
facetas do modelo de traço do DSM-5 que inclui o domínio de compulsividade. Assim, na
presente investigação será estudada a versão modificada de 36 itens do PID5BF+, o
PID5BF+M (Bach et al., 2020).

O PID5BF+M é constituído por uma seleção de itens do PID-5 (Bach et al., 2020), em
que para além dos 5 domínios que o PID-5 caracteriza, o instrumento permite também
caracterizar a anankastia. E assim possibilita a aproximação entre o DSM-5 e o ICD-11 no
que diz respeito à classificação da personalidade e suas perturbações. Cada domínio é
composto por 3 facetas, de modo a que todos os domínios sejam representados por um
número igual e comparável de indicadores de traços. Esta versão modificada do PID5BF+
compreende 36 itens avaliados numa escala de Likert de 4 pontos, de 0 (Muito Falso ou
Frequentemente Falso) a 3 (Muito Verdadeiro ou Frequentemente Verdadeiro), permitindo a
caracterização das 18 facetas da personalidade, representadas por 2 itens cada. Neste
instrumento quanto maiores os resultados maior a disfunção numa faceta ou domínio de traço
específico.

Os domínios do PID5BF+M têm a mesma definição dos domínios do PID-5, no


entanto, contêm diferentes facetas e um novo elemento (anankastia). Explicitando, o domínio
de Afetividade Negativa é composto pelas facetas de labilidade emocional, ansiedade e de
insegurança de separação; o Desprendimento engloba as facetas de anedonia, afastamento e
evitamento de intimidade; o Antagonismo consiste nas facetas de manipulação, falsidade e
grandiosidade; a Desinibição é constituída pelas facetas de irresponsabilidade, distratibilidade
e impulsividade; o Psicoticismo é formado pelas facetas de crenças e experiências incomuns,
excentricidade e de desregulação cognitiva e perceptual; e a Anankastia que integra as facetas
de perfeccionismo, rigidez e ordem, e que caracteriza a tendência para o foco nos seus
próprios padrões de perfeição, de certo e errado, controlando o seu próprio comportamento e
o dos outros) (World Health Organization, 2019).

Como referido anteriormente, na presente investigação utilizou-se o PID5BF+M


(Bach et al., 2020), instrumento recente e ainda pouco estudado empiricamente. Apenas um
estudo português foi, até à data, publicado com o instrumento (Pires et al., 2021), no qual se

xxviii
investigou a utilidade dos domínios de traços propostos no ICD-11 e no DSM-5 na
diferenciação de pacientes com perturbações de personalidade e com outras perturbações
mentais. Neste estudo, a consistência interna dos seis domínios do PID5BF+M foi moderada.
Na amostra de pacientes com perturbações de personalidade, os coeficientes alfa variaram
entre .65 (desprendimento) e .76 (psicoticismo). Na amostra de pacientes com outros
diagnósticos psiquiátricos, os coeficientes alfa variaram entre .66 (afetividade negativa) e .77
(psicoticismo). A menor consistência interna deste instrumento em relação à consistência
interna do PID-5 dever-se-á possivelmente ao facto de os domínios do PID5BF+M serem
constituídos por poucos itens, o que pode afetar a sua precisão.

3.3 Procedimento

Como anteriormente referido, o presente estudo integra-se num projeto de


investigação, o projeto de “Personalidade e Psicopatologia III: Estudos de validação do
Modelo Alternativo do DSM-5 para as Perturbações de Personalidade na população
portuguesa”. Este enquadra-se tanto na população geral como na população clínica, sendo a
última o alvo deste estudo. O protocolo para a recolha de dados é constituído por cinco
instrumentos (questionários de autorrelato), sendo utilizados apenas dois no presente
trabalho, o PID-5 e o questionário sociodemográfico.

A participação dos sujeitos para responderem ao protocolo obedeceu a critérios de


inclusão - os participantes deviam ser utentes de uma instituição de saúde mental e ter um
diagnóstico realizado pelo médico que os acompanhava, assim como ter uma idade igual ou
superior a 18 anos – e de exclusão – a presença de diagnóstico de esquizofrenia (incluindo a
perturbação esquizoafetiva), de deficiência mental ou de demência. No entanto, a eventual
existência de sintomas psicóticos transitórios não foi motivo de exclusão. As aplicações
foram realizadas consoante as características das instituições e a situação clínica do paciente,
sendo algumas das aplicações individuais e outras coletivas. Em algumas situações o
protocolo foi aplicado em mais do que uma sessão e noutras os participantes responderam
sem a presença do psicólogo, devolvendo posteriormente o protocolo. Os participantes
tiveram uma participação consentida e informada, tendo sido apresentado, lido e assinado um
consentimento. Foi garantido o anonimato dos participantes e a confidencialidade das suas
respostas através da atribuição de um código a cada indivíduo. O contacto telefónico e

xxix
eletrónico das investigadoras foi disponibilizado aos participantes, no sentido do
esclarecimento de eventuais dúvidas relativas à investigação.

Os dados recolhidos foram inseridos numa base de dados. Os resultados do


instrumento PID-5 e do questionário sociodemográfico, bem como os resultados do
PID5BF+M obtidos através da seleção de itens do PID-5, foram integrados no presente
estudo e analisados através do software estatístico IBM SPSS Statistics 27 (IBM, 2020).

O design deste estudo tem uma metodologia quantitativa correlacional e diferencial. A


amostra é independente e não aleatória. Consequentemente considerou-se testes estatísticos
específicos para avaliar as hipóteses previamente consideradas. Nomeadamente a estatística
descritiva univariada, através do cálculo de frequências e percentagens, da determinação das
medidas de tendência central (médias) e da dispersão (desvios-padrão); a normalidade da
distribuição das variáveis; os coeficientes de precisão (α de Cronbach); os coeficientes de
correlação, de modo a explorar o grau de associação entre as dimensões dos instrumentos e os
testes estatísticos para a comparação de resultados serão analisados. Considerando
estatisticamente significativos os efeitos para p-values ⩽.05.

4 RESULTADOS

4.1 Estudo metrológico

De modo a analisar com confiabilidade os resultados procurou-se estudar as


características psicométricas dos instrumentos utilizados (PID-5 e PID5BF+M), procedendo-
se à análise descritiva e à caracterização da consistência interna destes instrumentos na
amostra total.

O estudo de precisão foi realizado através do coeficiente alfa de Cronbach, que foi
calculado para cada domínio e faceta do PID-5 e para cada domínio do PID5BF+M. Com o
propósito de perceber o poder discriminativo de cada item observou-se as correlações item-
total corrigidas assim como, o efeito da exclusão de qualquer item do domínio ou faceta a que
pertence.

Para escolher os procedimentos e técnicas estatísticas adequadas para testar as


hipóteses colocadas, foi analisada a normalidade das distribuições de cada variável em
estudo. Os critérios considerados foram: os coeficientes de assimetria e curtose, os testes de

xxx
ajustamento de Kolmogorov-Smirnov (N > 50) e as representações gráficas Q-Q plots.
Quando estes indicadores conduziam a diferentes decisões acerca da normalidade da
distribuição, foi usada a regra da maioria.

4.1.1 Inventário da Personalidade para o DSM-5 – Adultos

Procedeu-se à análise do alfa de Cronbach para o PID-5 mediante comparação dos


resultados obtidos com os do estudo original Krueger e colaboradores (2012) numa amostra
geral (PG) e com o estudo pioneiro português Pires et al. (2019) numa amostra clínica (PC).
O Quadro 5 demonstra que os resultados da consistência interna deste instrumento (PID-5)
são adequados.

Relativamente aos domínios, os resultados de consistência interna foram adequados


tendo-se registado valores do alfa de Cronbach entre .87 e .94, valores semelhantes aos
encontrados nos estudos de Krueger et al. (2012) e Pires et al. (2018). Os domínios
apresentam uma boa consistência interna, variando entre .87 (Afetividade Negativa) e .94
(Psicoticismo). Nos resultados correspondentes às facetas, o intervalo dos valores é maior,
sendo o valor mais baixo .65 (Suspeição) e o mais alto .92 (Excentricidade). Apenas dois
valores dos coeficientes alfa de Cronbach se encontram abaixo de .70, sendo estes os valores
obtidos na faceta da Afetividade Restrita (α = .69) e na faceta da Suspeição (α = .65). Estes
resultados podem ser devido à amostra utilizada neste estudo ser clínica e pouco homogénea,
com uma grande variedade de diagnósticos, o que pode ter afetado a consistência das
respostas ao teste. O facto de as facetas compostas por um menor número de itens (i.e.,
Suspeição, Irresponsabilidade, Submissão) terem consistências internas baixas tem sido
reconhecido em vários estudos (Krueger & Markon, 2014; Pires, et al., 2017; Pires et al.,
2018). Nove facetas encontram-se entre .70 e .79, doze entre .80 e .89 e duas acima de .90.

Verificou-se que os valores do alfa não sofreram alterações relevantes por via de
exclusão de itens, exceto no domínio Antagonismo em que aumentaria de .90 para .94, caso o
item 142R fosse excluído. E nas facetas de Ansiedade, que aumentaria de .78 para .82 caso o
item 96R fosse retirado, e de suspeição em que aumentaria de .65 para .68 caso o item 177R
fosse eliminado.

xxxi
Quadro 5. Coeficientes de precisão (Alfa de Cronbach) e medidas descritivas
(Mínimo, Máximo, Média e Desvio-Padrão) dos domínios e facetas do PID-5 na amostra
total (N = 502)

Krueger Pires
et al. et al. Presente estudo
(2012) - (2019)
PG - PC
α α α Min. Max. M DP
Afetividade Negativa .93 .87 .87 .19 2.90 1.64 .53
Labilidade Emocional .89 .82 .80 .00 3.00 1.68 .68
Ansiedade .91 .77 .78 .22 3.00 1.86 .60
Ansiedade de Separação .85 .73 .75 .00 3.00 1.38 .68
Submissão .78 .58 .70 .00 3.00 1.14 .70
Hostilidade .89 .82 .82 .00 2.90 1.21 .62
Perseveração .88 .76 .77 .00 3.00 1.29 .57
Afetividade Restrita .73 .72 .69 .00 2.71 1.14 .59
Despreendimento .96 .88 .89 .04 2.96 1.20 .55
Afastamento .93 .85 .86 .00 3.00 1.21 .67
Evitamento de .84 .79 .79 .00 3.00 .98 .76
Intimidade
Anedonia .88 .77 .81 .00 3.00 1.42 .66
Depressividade .95 .90 .91 .00 3.00 1.21 .71
Suspeição .73 .50 .65 .00 2.86 1.47 .55
Antagonismo .95 .90 .90 .00 2.62 .84 .55
Manipulação .81 .77 .78 .00 3.00 .89 .69
Falsidade .85 .82 .83 .00 2.60 .72 .56
Grandiosidade .72 .74 .74 .00 2.83 .90 .64
Procura de Atenção .89 .86 .87 .00 3.00 1.08 .74
Insensibilidade .91 .81 .82 .00 2.43 .63 .49
Desinibição .84 .90 .89 .00 2.71 1.19 .54
Irresponsabilidade .81 .75 .76 .00 2.71 .83 .62
Impulsividade .77 .80 .81 .00 3.00 1.39 .70
Distratibilidade .91 .83 .82 .00 3.00 1.36 .62
Perfecionismo Rígido .90 .84 .83 .10 3.00 1.48 .62
Envol. em Comport. de .85 .84 .85 .00 2.93 1.33 .59

xxxii
Risco
Psicoticismo .96 .95 .94 .00 2.82 1.03 .61
Crenças e Experiências .83 .79 .79 .00 3.75 .95 .67
Incomuns
Excentricidade .96 .92 .92 .00 3.00 1.12 .74
Desr. Cognitiva e .86 .86 .85 .00 2.83 1.00 .62
Percetual

4.1.2 Versão Modificada da Forma Breve Plus do Inventário de Personalidade para o


DSM-5 - Adultos (PID5BF+M)

O mesmo procedimento foi adotado para a análise do alfa de Cronbach dos domínios
do PID5BF+M, ou seja, os valores obtidos no presente estudo foram comparados com o do
estudo de Pires et al. (2021) numa população clínica. Os resultados obtidos constam no
Quadro 6.

Relativamente aos domínios, os resultados de consistência interna foram moderadamente


adequados tendo-se registado valores do alfa de Cronbach entre .67 e .77, valores
semelhantes aos encontrados no estudo de Pires et al. (2021). Os domínios apresentam uma
consistência interna moderada, variando entre .67 (Despreendimento) e .77 (Psicoticismo).
Nos resultados correspondentes às facetas, o intervalo dos valores é maior e os valores menos
adequados, sendo o valor mais baixo .46 (Evitamento de Intimidade) e o mais alto .81
(Ansiedade). Apenas quatro valores dos coeficientes alfa de Cronbach se encontram acima de
.70, sendo estes os valores obtidos na faceta da Ansiedade (α = .81), no domínio de
Antagonismo (α = .74), no domínio do Psicoticísmo (α = .77) e no domínio da Anankastia (α
= .73). Estes baixos valores de precisão podem ser devido, mais uma vez, à amostra utilizada
neste estudo ser clínica e pouco homogénea, com uma grande variedade de diagnósticos, o
que pode ter afetado a consistência das respostas ao teste. O facto de as facetas e domínios
serem compostos por um menor número de itens faz com que as consistências internas
baixem, tendo sido reconhecido em vários estudos (Krueger & Markon, 2014; Pires, et al.,
2017; Pires et al., 2018). Este facto é enaltecido pela ausência de calculo dos alfas de
Cronbach no estudo original do PID5BF+M de Bach et al. (2020).

Verificou-se que os valores do alfa de Cronbach não sofreram alterações relevantes


por via de exclusão de itens.

xxxiii
Quadro 6. Coeficientes de precisão (Alfa de Cronbach) e medidas descritivas
(Mínimo, Máximo, Media, Desvio Padrão) dos domínios e facetas do PID5BF+M na
amostra total (N = 502)

Pires et
al. (2021) Presente estudo
- PC
α α Min. Max. M DP
Afetividade Negativa .67 .69 .00 3.00 1.67 .63
Labilidade Emocional .61 .00 3.00 1.69 .87
Ansiedade .81 .00 3.00 1.92 .89
Ansiedade de .57 .00 3.00 1.40 .88
Separação
Despreendimento .65 .67 .00 3.00 1.10 .63
Afastamento .64 .00 3.00 1.13 .84
Evitamento de .46 .00 3.00 .97 .86
Intimidade
Anedonia .62 .00 3.00 1.19 .84
Antagonismo .71 .74 .00 3.00 .82 .62
Manipulação .63 .00 3.00 .58 .76
Falsidade .56 .00 3.00 1.05 .80
Grandiosidade .50 .00 3.00 .83 .80
Desinibição .72 .69 .00 3.00 1.26 .60
Irresponsabilidade .61 .00 3.00 .73 .78
Impulsividade .59 .00 3.00 1.46 .82
Distratibilidade .54 .00 3.00 1.59 .78
Psicoticismo .76 .77 .00 3.00 .95 .68
Crenças e Experiências .56 .00 3.00 1.11 .87
Incomuns
Excentricidade .63 .00 3.00 1.02 .86
Desr. Cognitiva e .60 .00 3.00 .73 .78
Percetual
Anankastia .70 .73 .00 3.00 1.45 .63
Rigidez .52 .00 3.00 1.84 .75

xxxiv
Perfecionismo .58 .00 3.00 1.47 .85
Ordem .47 .00 3.00 1.04 .81

4.2 Análise da normalidade das distribuições das variáveis

A análise da normalidade das distribuições foi realizada para todos os domínios e


facetas do PID-5 e do PID5BF+M. Uma vez que este estudo teve o objetivo de comparar dois
grupos, o grupo de participantes com Perturbações Relacionadas com Substâncias e
Perturbações Aditivas e o grupo de participantes com outros diagnósticos psiquiátricos, foi
testada a normalidade das distribuições para ambos os grupos.

Relativamente aos domínios do PID5, a afetividade negativa, o despreendimento e a


desinibição tiveram uma distribuição normal para ambos os grupos. O psicoticismo e o
antagonismo apenas apresentaram distribuição normal no grupo PSPA. Em relação às facetas,
a labilidade emocional, a perseveração e a distratibilidade tiveram uma distribuição normal
para ambos os grupos. As facetas de crenças invulgares, a depressividade, a insensibilidade, o
evitamento de intimidade, a desregulação cognitiva e percetiva, a submissão e a
grandiosidade não tiveram distribuição normal em ambos os grupos. Por fim, as facetas de
afastamento, afetividade restrita, ansiedade, anedonia, ansiedade de separação,
comportamentos de risco, excentricidade, hostilidade, impulsividade, irresponsabilidade,
manipulação, procura de atenção, perfecionismo rígido e suspeição apenas tiveram
distribuição normal no grupo PSPA.

Relativamente aos domínios do PID5BF+M, apenas o psicoticismo, afetividade


negativa e o antagonismo é que tiveram distribuição normal no grupo PSPA. O resto dos
domínios obteve distribuição normal em ambos os grupos. Em relação às facetas, nenhuma
faceta teve uma distribuição normal em ambos os grupos. As facetas de labilidade emocional,
ansiedade, anedonia, impulsividade, distratibilidade, excentricidade, perfecionismo e rigidez
tem distribuição normal apenas no grupo PSPA. E, finalmente, a faceta de ansiedade de
separação, afastamento, evitamento de intimidade, manipulação, falsidade, grandiosidade,
irresponsabilidade, crenças invulgares, desregulação cognitiva e percetiva e ordem não tem
distribuição normal em ambos os grupos.

4.3 Coeficientes de correlação entre o PID-5 e o PID5BF+M

xxxv
De forma a corroborar ou a rejeitar a primeira hipótese utilizou-se o coeficiente de
correlação de Pearson ou o de Spearman, de acordo com a distribuição das variáveis em
análise, sendo que as variáveis em estudo são quantitativas e continuas. Assim, foi aplicado o
coeficiente de correlação de Pearson (teste paramétrico) quando as variáveis em estudo
apresentaram distribuição normal. Nos casos em que, pelo menos uma das variáveis em
estudo não apresentou distribuição normal, foi aplicado o coeficiente de correlação de
Spearman (teste não paramétrico). No Quadro 7 e 8 é apresentado as correlações entre os
domínios e facetas do PID-5 e os seus compatíveis do PID5BF+M na amostra total.

Quadro 7. Correlações entre os domínios e a faceta de Perfecionismo Rígido do PID-


5 e os domínios correspondentes do PID5BF+M, na amostra total.

Afetividade Despreen- Antago Desinibição Psicoticismo Perfecio-


negativa dimento -nismo nismo
rígido
Afetividade .892**
negativa
Desligamento .887**
Antagonismo .908**
Desinibição .892**
Psicoticismo .904**
Anankastia .950**
**p¿ .01

Nota: De acordo com o estudo da normalidade, os valores dos coeficientes em itálico


correspondem ao coeficiente de correlação ordinal de Spearman. Os restantes valores foram
obtidos com o coeficiente de correlação de Pearson.

No quadro 7 verifica-se que apenas relações fortes, diretas e significativas entre os


domínios do PID-5 e os domínios correspondentes do PID5BF+M. Em relação aos domínios
pode-se confirmar a hipótese 1. Averigua-se ainda a presença de uma relação forte, direta e
significativa entre a faceta do PID-5, o perfecionismo rígido, e o domínio do PID5BF+M, a
Anankastia. Assim enaltece como a Anankastia transmite o perfecionismo Rígido, apesar de
não haver esta faceta no PID5BF+M.

xxxvi
Quadro 8. Correlações entre as facetas do PID-5 e as facetas correspondentes do
PID5BF+M, na amostra total.

Afastamento Anedonia Ansiedade Ansiedade de Crenças e


Separação Experiências
Incomuns
Afastamento .800**
Anedonia .775**
Ansiedade .782**
Ansiedade de .834**
Separação
Crenças e .783**
Experiências
Incomuns

Quadro 8. Correlações entre as facetas do PID-5 e as facetas correspondentes do


PID5BF+M, na amostra total (continuação).

Distratibilidade Desr. Ev. Excentricidade Falsidade


Cognitiva Intimidade
e Percetual
Distratibilida .733**
-de
Desr. .735**
Cognitiva e
Percetual
Ev. .814**
Intimidade
Excentricida- .844**
de
Falsidade .797**

Quadro 8. Correlações entre as facetas do PID-5 e as facetas correspondentes do


PID5BF+M, na amostra total (continuação).
xxxvii
Grandiosi- Impulsi- Irresponsa- Lab. Manipu Perfecionis-
dade vidade bilidade Emocional -lação mo Rígido
Grandiosi- .798**
dade
Impulsivi- .866**
dade
Irresponsa .761**
-bilidade
Lab. .841**
Emocional
Manipu- .811**
lação
Perfecio- .801**
nismo
**p¿ .01

Nota: De acordo com o estudo da normalidade, todos os valores apresentados na tabela


foram obtidos com o coeficiente de correlação de Spearman.

No quadro 8 observa-se que entre as facetas do PID-5 e as facetas


correspondentes do PID5BF+M existe apenas relações diretas, fortes e significativas, sendo a
relação com valores mais elevadas a da faceta de impulsividade. Assim pode-se confirmar
por completo a hipótese 1 visto que se encontra relações diretas entre os domínios e facetas
do PID-5 com os domínios e facetas correspondentes do PID5BF+M.

4.4 Testes de significância para a comparação dos resultados nas duas populações

Para testar as hipóteses 2 a 9 recorreu-se ao teste de igualdade de valores médios para


amostras independentes (estatística t de Student) e ao teste não-paramétrico de Wilcoxon-
Mann-Whitney, em função da distribuição das variáveis em estudo.

Nos casos em que a variável em análise apresentou uma distribuição normal em


ambos os grupos, foi aplicado o teste paramétrico t de Student. Nos casos em que a variável
não apresentou uma distribuição normal em pelo menos um dos grupos, recorreu-se a um
teste não paramétrico (Teste de Wilcoxon-Mann-Whitney). No Quadro 9, são apresentados os

xxxviii
resultados do teste de igualdade de valores médios para amostras independentes, recorrendo à
estatística t de Student, nos domínios e facetas do PID-5.

Quadro 9. Comparação entre o grupo com Perturbações Relacionadas com


Substâncias e Perturbações Aditivas e o grupo com outras perturbações psiquiátricas
(Médias, Desvios-Padrão, estatística t, valor-p e respetiva dimensão do efeito) relativamente
aos domínios e facetas do PID-5.

Grupo PSPA Grupo OD


M DP M DP t p d
Afetividade 1.59 .48 1.66 .55 - 1.621 .053
Negativa
Lab. Emocional 1.56 .68 1.74 .67 -2.753 .003 -.263
Perseveração 1.29 .55 1.29 .59 - .028 .489
Despreendimento 1.08 .47 1.26 .58 -3.785 ¿ .001 -.338
Desinibição 1.30 .52 1.14 .54 3.022 .0015 .289
Distratibilidade 1.32 .60 1.38 .63 - .980 .164

Os resultados dos testes não-paramétricos (Teste de Wilcoxon-Mann-Whitney)


efetuados para comparar a tendência central das facetas e domínios do PID-5 que não têm
uma distribuição normal, em pelo menos um dos grupos, estão apresentados no Quadro 10.

Quadro 10. Comparação entre o grupo com Perturbações Relacionadas com


Substâncias e Perturbações Aditivas e o grupo com outras perturbações psiquiátricas
(Médias, Desvios-Padrão, estatística z, valor-p e respetiva dimensão do efeito) relativamente
aos domínios e facetas do PID-5.

Grupo PSPA Grupo OD


M das Ordens M das Ordens z p r
2

Ansiedade 221.32 265.75 - 3.21 .001 .03


Ansiedade de 268.48 243.48 - 1.81 .071 .02
Separação

xxxix
Submissão 245.60 254.29 - .630 .528
Hostilidade 268.37 243.53 - 1.79 .073 .02
Afetividade 263.46 245.85 - 1.27 .203
Restrita
Afastamento 235.88 258.87 - 1.66 .097 .01
Ev. de Intimidade 229.85 261.72 - 2.30 .021 .02
Anedonia 216.58 267.99 - 3.71 ¿ .001 .04
Depressividade 218.05 267.29 - 3.55 ¿ .001 .04
Suspeição 271.43 242.09 - 2.12 .034 .03
Antagonismo 309.65 224.05 - 6.17 ¿ .001 .24
Manipulação 308.17 224.74 - 6.05 ¿ .001 .23
Falsidade 317.33 220.42 - 7.00 ¿ .001 .30
Grandiosidade 289.97 233.34 - 4.10 ¿ .001 .10
Procura de 293.51 231.67 - 4.47 ¿ .001 .12
Atenção
Insensibilidade 308.06 224.80 - 6.01 ¿ .001 .22
Irresponsabilidade 309.50 224.12 - 6.17 ¿ .001 .24
Impulsividade 273.60 241.07 - 2.35 .019 .03
Perfecionismo
Rígido 229.72 261.78 - 2.31 .021 .02
Envol. em
Comport. de 291.71 232.51 - 4.27 ¿ .001 .11
Risco
Psicoticismo 264.83 245.21 - 1.42 .157
Crenças e
Experiências 267.59 243.90 - 1.71 .087 .02
Incomuns
Excentricidade 259.77 247.60 - .88 .380
Desr. Cognitiva e 263.33 245.92 - 1.26 .209
Percetual

Ao analisar os quadros 9 e 10 podemos observar que os dados vão contra a segunda


hipótese. O domínio Afetividade negativa não apresenta uma diferença significativa entre os

xl
grupos em estudo, e além de que a diferença existente é contraria à hipótese elaborada (t = -
1.621, p = .053). A afetividade negativa tem resultados médios menores no grupo com PSPA
do que no grupo OD.

Em relação à terceira hipótese os dados comprovam a mesma. O domínio


Antagonismo apresenta uma diferença significativa entre os grupos elaborados em que existe
resultados mais elevados no grupo com PSPA do que no grupo OD (z = - 6.17, p =
¿ .001). De modo a entender a dimensão do efeito desta diferença, o mesmo foi calculado (r 2
= 𝑧⁄n1 /2 = .24). Assim sendo este efeito pode ser interpretado como médio (0.5 ≤ r^2 < 0.1).
Ou seja, podemos considerar com uma fiabilidade média que esta diferença existe na população
clínica.

Relativamente à quarta hipótese reparamos que o domínio Desinibição efetivamente


tem valores significativamente mais elevados no grupo PSPA em comparação com o grupo OD (t
= 3.022, p = .002). De forma a analisar o tamanho de efeito desta diferença foi utilizado o d de
Cohen (d = 0.289) em que demonstra ser um efeito médio (0.2-0.5).

A quinta hipótese é rejeitada pois no domínio do Psicoticismo a diferença existente não é


significativa, apesar de os resultados médios serem mais elevados no grupo com PSPA do que no
grupo OD (z = - 1.42; p = .157).

A mesma análise foi efetuada para as facetas e domínios do PID5BF+M. No Quadro


11, são apresentados os resultados do teste paramétrico, recorrendo à estatística t de Student,
e no quadro 12 são apresentados os resultados do teste não paramétrico, recorrendo ao Teste
de Wilcoxon-Mann-Whitney.

Quadro 11. Comparação entre o grupo com Perturbações Relacionadas com


Substâncias e Perturbações Aditivas e o grupo com outras perturbações psiquiátricas
(Médias, Desvios-Padrão, estatística t, valor-p e respetiva dimensão do efeito) relativamente
aos domínios e facetas do PID5BF+M.

Grupo PSPA Grupo OD

M DP M DP t p d

Desinibição 1.40 .61 1.19 .58 3.646 ¿ .001 .349


Anankastia 1.38 .60 1.48 .65 - 1.673 .048 - .160

xli
Despreendimento 1.04 .58 1.13 .65 - 1.420 .078

Quadro 12. Comparação entre o grupo com Perturbações Relacionadas com


Substâncias e Perturbações Aditivas e o grupo com outras perturbações psiquiátricas
(Médias, Desvios-Padrão, estatística z, valor-p e respetiva dimensão do efeito) relativamente
aos domínios e facetas do PID5BF+M.

Grupo PSPA Grupo OD


M das Ordens M das Ordens z p r
2

Afetividade 231.16 261.11 - 2.17 .015 .01


Negativa
Lab. Emocional 224.92 264.05 - 2.86 .002 .02
Ansiedade 215.14 268.67 - 3.94 ¿ .001 .05
Ansiedade de 267.19 244.09 - 1.69 .046
Separação
Afastamento 237.21 258.25 - 1.54 .062
Ev. De Intimidade 251.92 251.30 - .05 .482
Anedonia 240.59 256.65 - 1.18 .12
Antagonismo 309.35 224.19 - 6.17 ¿ .001 .24
Manipulação 312.31 222.79 - 7.00 ¿ .001 .30
Falsidade 292.75 232.02 - 4.46 ¿ .001 .12
Grandiosidade 287.90 234.31 - 3.98 ¿ .001 .10
Irresponsabilidade 297.86 229.61 - 5.11 ¿ .001 .16
Impulsividade 277.22 239.35 - 2.78 .003 .05
Distratibilidade 255.26 249.73 - .406 .343
Psicoticismo 270.42 242.57 - 2.01 .022 .03
Crenças e
Experiências 268.50 243.47 - 1.83 .034 .02
Incomuns
Excentricidade 263.39 245.89 - 1.29 .099
Desr. Cognitiva e 271.35 242.13 - 2.19 .014 .03
Percetual

xlii
Rigidez 230.32 261.50 - 2.29 .011 .02
Perfecionismo 244.81 254.66 - .720 .236
Ordem 243.00 255.51 - .919 .179

Ao analisar os quadros 11 e 12 conseguimos reparar que os valores do Domínio


Afetividade Negativa são maiores no grupo OD em comparação com o grupo PSPA (z = -
2.17, p = .015). Ou seja, a hipótese 6 é rejeitada averiguando-se o resultado oposto.

Em relação à sétima hipótese, os dados confirmam que no Domínio Antagonismo os


resultados são mais elevados no grupo PSPA do que no grupo OD (z = - 6.17, p =
¿ .001). De modo a entender a dimensão do efeito desta diferença, o mesmo foi calculado (r 2
= 𝑧⁄n1 /2 = .24). Assim sendo este efeito pode ser interpretado como medio (0.5 ≤ r^2 < 0.1).

Relativamente à oitava hipótese podemos corroborá-la, os valores do Domínio


Desinibição são superiores no grupo PSPA em comparação com o grupo OD (t = 3.646, p =
¿ .001). De forma a analisar o tamanho de efeito desta diferença foi utilizado o d de Cohen (d =
.349) em que demonstra ser um efeito médio (0.2-0.5).

O Domínio do Psicoticismo apresenta resultados mais elevados no grupo PSPA do


que no grupo OD (z = - 2.01, p = .022), a nona hipótese é confirmada. A dimensão desta
diferença é significativa tendo um efeito pequeno (0.1 ≤ r^2 < 0).

5 DISCUSSÃO

6 CONCLUSÃO

6.1 Limitações e investigações futuras

- Contributos

6.2 Implicações clínicas

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Tabela 1
Família de substâncias e matéria-prima (Lyman, & Petter, 1991).
Família Produto

Estimulantes
Tabaco/Nicotina
Café/cafeína
Coca/Cocaína Crack
Anfetaminas (inibidor de apetite)

l
Depressivos
Álcool
Barbitúricos (calmantes)

Alucinogénios
LSD
Peyote/Mescalina
PCP/feniclidina

Cannabis Sativa
Marijuana
Haxixe

Narcóticos
Ópio/Morfina e Heroína

Inalantes
Éter
Acetona
Cola de Sapateiro

Designer Drugs MDMA (Ecstasy)


Ice
China white

As drogas ainda podem ser divididas em duas classes principais relativamente aos
seus níveis de ativação: depressoras e estimulantes (Gleitman, Fridlund, & Reisberg,
2007). As depressoras reduzem a atividade de todos neurónios do sistema nervoso
central e incluem os sedativos (e.g. barbitúricos), álcool e os opiáceos (ópio, heroína e
morfina). Durante o consumo, e com o seu aumento, estas drogas afetam a atenção,
memória, movimento corporal, descoordenação da linguagem, podendo a pessoa ficar
completamente incapacitada e perder a consciência (Gleitman, Fridlund, & Reisberg,
2007). As drogas estimulantes conduzem ao aumento da ativação e incluem a nicotina,
cafeína, cocaína e anfetaminas. Os possíveis efeitos causados por estes produtos são:
batimentos cardíacos acelerados, aumento da pressão sanguínea, insónia, redução de
apetite, e elação do humor.

li
lii

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