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Enquadramento:
Substâncias:
Ao longo da última década, houve uma diversificação das drogas disponíveis no
mercado. As drogas de hoje são mais potentes e a sua crescente disponibilidade e uso
consecutivo ou sequencial entre os usuários ocasionais ou regulares representam um
desafio, ainda maior em relação ao passado, para a prevenção do uso de drogas,
tratamento das Perturbações Relacionadas com Substâncias e resposta às consequências
adversas para a saúde (Acebedo et al., 2018; United Nations Office on Drugs and Crime
[UNODC], 2022). Nesta dissertação serão consideradas substâncias, as matérias
psicoativas com capacidade aditiva, que quando introduzidas no organismo produzem
alterações ao nível da consciência, das funções psíquicas básicas e comportamentais,
dos processos do pensamento e senso-percetivos (Acebedo et al., 2018).
Em 2020, mundialmente, cerca de 284 milhões de pessoas com idades compreendidas
entre os 15 e 64 anos usaram uma substância nos últimos 12 meses, destes a maioria
eram indivíduos do sexo masculino. Isto corresponde a aproximadamente 1 em cada 18
pessoas nesta faixa etária, e representa um aumento de 26% em relação ao ano 2010.
Das estimadas 284 milhões de pessoas que usaram sustâncias, aproximadamente 13.6%
foram diagnosticadas com Perturbações Relacionadas com Substâncias. Isto
corresponde a uma prevalência de perturbações pelo uso de drogas de 0.76% na
população mundial de 15 a 64 anos (UNODC, 2022). A UNODC (2021) estimou
494.000 mortes relacionadas com substâncias em 2019 e um aumento geral no total de
mortes atribuídas a substâncias de 17.5% entre 2009 e 2019.
Segundo o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
[SICAD] (2022), em 2020, registaram-se, em Portugal, 2 554 óbitos por doenças
atribuíveis ao álcool, valor próximo ao do ano anterior (+19%) e o valor mais alto dos
últimos quatro anos. No que respeita à mortalidade relacionada com o consumo de
drogas (causa primária), em 2020, ocorreram 63 mortes, representando o segundo valor
mais elevado dos últimos quatro anos. As prevalências de consumo de qualquer droga
têm vindo a aumentar desde 2012, resultado do acréscimo contínuo do consumo de
canábis (SICAD, 2022).
Em Portugal, o número de utentes que iniciaram tratamento do consumo de drogas em
2021 aumentou +18% face a 2020. Os 1538 utentes readmitidos aproximam-se dos
valores pré-pandémicos (1603 em 2018) (SICAD, 2022).
O consumo de álcool caminha na mesma direção. Em 2021, o número dos que iniciaram
tratamento aumentou +28% face a 2020. E o aumento de novos utentes foi próximo ao
de readmitidos (+26%) (SICAD, 2022).
Apesar do uso de drogas ser descrito por alguns autores como um problema de escolha
individual, o consumo de drogas por um individuo tem repercussões ao nível social,
económico e interpessoal nos indivíduos distantes desta realidade, interferindo com uma
ampla série de recursos e serviços na sociedade. (McLellan, 2017; Sutin et al., 2013).
Atualmente colocam-se novos desafios aos profissionais de saúde. Os padrões de
consumo estão a mudar e observa-se cada vez mais o policonsumo de substâncias, mas
também o consumo de novas substâncias por vezes desconhecidas para os profissionais
de saúde, que estão a causar uma sucessão de danos graves. Exemplos destes danos são
o aumento do risco de intoxicações graves e fatais e o risco acrescido de exposição
acidental (Vázquez, 2010). Além disto, o aparecimento de surtos psicóticos com
características clínicas diferentes das habituais torna difícil a sua identificação e
tratamento. Deste modo têm se desenvolvido preocupações agudas em relação à saúde e
tratamento destes indivíduos, como também com a segurança e saúde pública (Acebedo
et al., 2018; Santos et al., 2022).
Instrumento
DSM-5 define as características de Anankastia / Compulsividade através de uma baixa
Desinibição. No entanto, não há correlações negativas significativas entre a Desinibição
e a Anankastia, o que demonstra o incorreto uso da extremidade inferior da Desinibição
como medida da Anankastia, conforme sugerido na proposta do DSM-5. Não é
incomum que uma perturbação da personalidade complexa seja caracterizada por
Compulsividade e Desinibição, o que, portanto, requer que estas 2 características
possam ser especificadas, enaltecendo a necessidade de uma nova medida (Gecaite-
Stonciene et al., 2021; Gutiérrez et al., 2021).
Além disto, a diferença existente sobre o domínio do Psicoticismo entre o ICD-11 e o
DSM-5 trazem diagnósticos diferentes. Ou seja, num continuum, o DSM-5 captura
características da Esquizotipia que estão mais próximas da normalidade, caracterizadas
por Aparência Excêntrica ou alguma Desorganização Cognitiva. Enquanto no ICD-11, a
classificação da perturbação de personalidade não fornece nenhum código para a
Esquizotipia ou Psicoticismo, pois a Esquizotipia é entendida como uma variante da
Esquizofrenia em vez de uma perturbação de personalidade. De certa forma, o ICD-11
abarca somente os aspetos de rutura com a realidade (Bach et al., 2020; Gutiérrez et al.,
2021).
Outra diferença é a inexistência de facetas específicas dentro dos domínios mais amplos
no ICD-11, como acontece no DSM-5 (Bach et al., 2020).
Uma sincronização de ambas as classificações pode ter a utilidade clínica, fornecendo
uma cobertura diagnóstica mais completa e permitindo uma conceituação de caso mais
personalizada e uma abordagem de tratamento subsequente (Bastiaens et al., 2022).
Recentemente, uma medida combinando estas classificações foi desenvolvida a partir
do pool de itens do PID-5, o Inventário de Personalidade para o DSM-5 – Versao Breve
Plus [PID5BF+] (Kerber et al., 2022). Este foi posteriormente adaptado para também
capturar facetas do domínio Anankastia explicito no ICD-11, originando o Inventário de
Personalidade para o DSM-5 - Versão Breve Plus Modificada [PID5BF+M] (Bach et al.,
2020).
Até onde sabemos, qualquer pessoa que consuma substâncias pode eventualmente
desenvolver uma Perturbação Relacionada com Substâncias e Perturbação Aditiva
(PSPA), incluindo profissionais de saúde especializados em tratamento de dependências
(Baldisseri, 2007). No entanto, vários fatores parecem tornar alguns indivíduos mais
suscetíveis ao desenvolvimento de PSPA, incluindo fatores de risco genéticos, de
personalidade e ambientais (Prom-Wormley et al., 2017). A hereditariedade pode
representar uma ampla responsabilidade genética para perturbações externalizantes
(junto com traços de personalidade relacionados com o pobre controlo dos impulsos e
com a insaciável busca de sensações (Acheson et al., 2021; Kendler et al., 2012)). Esta
evidência sugere que os traços de personalidade são em parte um antecedente do uso de
substâncias. A literatura está a convergir para um perfil de personalidade de usuários de
substâncias. Estes são mais propensos a emoções negativas, tendem a ser desconfiados e
manipuladores, não confiáveis e indisciplinados (Elkins et al., 2006; Fodstad et al.,
2022; Kornør & Nordvik, 2007; Terracciano et al., 2008). Embora estas evidências
sugiram que a personalidade é uma vulnerabilidade que existe antes do início do uso de
substâncias, as substâncias alteram a química do cérebro. Como tal, o seu uso pode
mudar a personalidade ao longo do tempo
Definição do PID5BF+M
Objetivos e hipóteses:
Objetivos:
A maioria dos estudos atuais tem como foco a versão original do PID-5 (Krueger et al.,
2012). Face a isto, o presente trabalho teve como objetivo contribuir para a produção de
literatura relativa ao Inventário de Personalidade para o DSM-5 - Versão Breve Plus
Modificada (PID5BF+M) (Bach et al., 2020).
O presente estudo propôs-se investigar as PSPA e as suas relações com os traços de
personalidade medidos através de dois inventários de personalidade, o PID-5 e o
PID5BF+M. Este último é um instrumento recente que apresenta a vantagem única de
aproximar duas classificações nosológicas, o DSM-5 e o ICD-11. No âmbito dos
estudos de adaptação para a versão portuguesa deste instrumento, analisou-se a sua
precisão, mediante a comparação com a do PID-5, e a sua validade, através da sua
capacidade para discriminar grupos com diagnósticos distintos, em comparação com o
PID-5, e da sua convergência com o PID-5 (estudo correlacional).
Caracterizar um grupo de pacientes com Perturbações Relacionadas com Substâncias e
Perturbações Aditivas (denominado grupo PSPA) e diferenciá-lo de um grupo de
pacientes com outros diagnósticos psiquiátricos (denominado grupo OD), através do
PID-5, que operacionaliza o critério B do Modelo Alternativo do DSM-5 para as
Perturbações de Personalidade;
Caracterizar um grupo de pacientes com PSPA e diferenciá-lo do grupo OD, através do
PID5BF+M, instrumento derivado do PID-5 que procura harmonizar a classificação de
PP proposta pelo DSM-5 e o ICD-11;
Estudar as relações entre as PSPA e os traços de personalidade medidos através do PID-
5 e do PID5BF+M;
Contribuir para a validação da versão portuguesa do PID-5 e do PID5BF+M e para a
compreensão das suas potencialidades e limitações na caracterização de pessoas com
diagnóstico de PSPA;
Contribuir, sob o ponto de vista teórico-prático, para a produção de literatura científica,
em Portugal, no que diz respeito ao comportamento do PID5BF+M, em relação ao qual
existem poucos estudos publicados.
Hipoteses:
Caracterizar a amostra total muito rápido, outras são semelhantes! Dar enfase apenas
aos diagnósticos
Resultados e Discussão:
Conclusão:
Limitações – instrumentos; amostra; método de recolha da amostra; variáveis
não controladas; sugestões futuras
Ao nível dos instrumentos, uma das limitações é o uso de autorrelatos. Neste tipo de
instrumentos devemos atentar à questão da desejabilidade social, isto é, à atribuição de
conceitos socialmente aceitáveis a si mesmo, que nos faz questionar a veracidade das
respostas que fazem referência a certos aspetos clínicos (Vesely & Klöckner, 2020).
Este fator leva à ponderação de que os resultados possam não traduzir a realidade
clínica dos participantes. Estes resultados podem ser manipulados pelos sujeitos, de
modo a agravar ou a atenuar a doença mental da qual o indivíduo questionado é
portador (Anghel et al., 2019). O estudo da severidade da perturbação através de
informantes (isto é, família, empregadores e pares), e não exclusivamente através de
instrumentos de autorrelato, poderá servir para esclarecer se os indivíduos que
apresentam valores elevados nos traços, no PID-5 e no PID5BF+M, são ou não, capazes
de reconhecer a severidade da sua perturbação. Pesquisas futuras devem incorporar
projetos longitudinais, de modo a abordar a estabilidade temporal dos traços de
personalidade nos indivíduos com PSPA.
Outra limitação foi o método de recolha da amostra. O facto de a recolha de dados não
ter sido realizada de forma uniforme para todos os participantes impediu o controlo de
variáveis estranhas que podem ter tido influência nos resultados, como a extensão do
protocolo de recolha de dados. Isto porque, como o protocolo requer algum tempo e
disponibilidade para a resposta, os dados podem ser enviesados: instrumentos
respondidos em dias diferentes estão sujeitos a estados emocionais e perceções
diferentes, o que pode suscitar padrões de resposta diferentes.
Contributo do estudo