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REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA

ANO 5 / N. 8 / 2020 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS - MULTIDISCIPLINAR

PRINCIPAIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ENTRE


ANTIDEPRESSIVOS, ANSIOLÍTICOS E ANTIPSICÓTICOS
Andressa Kansog Andrade Pinto1
Iasmin Borges de Oliveira2
Jaqueline Gleice Aparecida de Freitas3
Daniela Araújo Cunha Passos4
Zelcimar Salvador Lemos5

RESUMO
A interação medicamentosa é a resposta provocada pela ingestão de dois ou mais
medicamentos simultaneamente, podendo aumentar a eficácia no tratamento, ou
ocasionar uma toxicidade ao indivíduo. O objetivo deste estudo foi identificar as
principais interações medicamentosas e os riscos e efeitos entre as classes
antidepressivas, ansiolíticas e antipsicóticas. Foi realizada uma revisão da literatura
narrativa, com busca de dados do período de 1998 a 2020, selecionando artigos que
apresentavam apenas interações medicamentosas do tipo medicamento-
medicamento. Através do estudo foi possível identificar as principais interações
medicamentosas entre amitriptilina, fluoxetina, imipramina, clorpromazina, carbonato
de lítio, haloperidol, fenobarbital, fenitoína, carbamazepina, fenotiazinas e
benzodiazepínicos apresentando os seus efeitos toxicológicos ou anulações dos
efeitos terapêuticos. O estudo apresentou interações medicamentosas graves como
depressão respiratória, alterações cardiovasculares e até o coma, exigindo o
acompanhamento do profissional da saúde nas avaliações das prescrições para
evitar riscos ao paciente e garantir a qualidade de vida e tratamento.

Palavras chave: farmacoepidemiologia, interação de medicamentos, psicotrópicos.

INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de 2017,


322 milhões de pessoas no mundo possuíam algum tipo de Transtorno Mental (TM).
Esses TM são doenças que se caracterizam por manifestações psicológicas
relacionadas com algum comprometimento funcional, prejudicando o desempenho
do indivíduo na vida familiar, social ou pessoal. Os TM podem ser causados por
fatores genéticos, alterações de funcionamento cerebral, condições de convívio e/ou
1 Discente do Curso de Farmácia do Centro Universitário UNIVERSO Goiânia.
2 Discente do Curso de Farmácia do Centro Universitário UNIVERSO Goiânia.
3 Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário UNIVERSO Goiânia. Doutora em Ciências

da Saúde pela Universidade Federal de Goiás (2014).


4 Docente do Curso de Farmácia da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), Campus

Goiânia.
Mestra em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás (2000).
5 Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário UNIVERSO Goiânia. Mestrado em Biologia

Geral Área de Morfologia Animal pela Universidade Federal de Goiás (2002).


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situações diárias de estresses (ONU, 2017; SANTOS e SIQUEIRA, 2010).


Os psicotrópicos são considerados métodos alternativos para tratamentos de
TM, essa classe de medicamentos possui substâncias químicas que agem
principalmente no Sistema Nervoso Central (SNC), ocasionando alterações
comportamentais, cognitivas e mentais temporárias, que estimula ou deprime o
SNC. Os psicotrópicos podem provocar Interações Medicamentosas (IM)
principalmente em pacientes que utilizam outros medicamentos psicotrópicos
associados, acarretando possíveis riscos para a saúde do indivíduo em tratamento
(OPAS, 2018; BRASIL, 1998).
As IM induzem respostas farmacológicas quando dois ou mais
medicamentos são utilizados concomitantemente, gerando efeitos diferentes
daqueles que seriam causados se administrados separadamente ou quando são
administrados com outras substâncias, como alimentos, bebidas e agentes químicos
ambientais. Estas IM possuem a capacidade de diminuir ou elevar os efeitos
medicamentosos, podendo ser desejados ou surgir como Eventos Adversos
Medicamentosos (EAM) (BRASIL, 2010). De acordo com Prado, Francisco e Barros
(2017), as classes de psicotrópicos que mais são relatados IM são os
antidepressivos, seguido dos ansiolíticos e logo após os antipsicóticos.
Os antidepressivos são medicamentos utilizados no tratamento da
depressão, doença caracterizada por uma tristeza ou vazio e alterações cognitivas e
motoras. A ansiedade caracteriza-se por preocupações rotineiras excessivas, medo,
pressentimentos de ameaças futuras, ocasionando quadros de perturbações
comportamentais, cujo tratamento é feito com uso de ansiolíticos. Já os transtornos
psicóticos são caracterizados por anomalias nas áreas de delírios, alucinações,
confusão mental, desorganização excessiva do sistema somático e sintomas
negativos, utilizam-se os antipsicóticos, medicamentos que possuem características
sedativas e psicomotoras (DSMV, 2014).
Nos últimos anos claramente foi possível identificar um desenvolvimento
expressivo no diagnóstico dos chamados TM, o que gerou um aumento da utilização
de medicamentos indicados para seus tratamentos e controles. O aumento de
números de diagnósticos de TM levam ao aumento de números de prescrições de
psicotrópicos, consequentemente essas prescrições múltiplas de medicamentos
provocam interações, causando riscos ao paciente (LOPES, 2020). Portanto, o
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objetivo desse trabalho foi descrever as principais interações medicamentosas entre


os fármacos antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos.

2 METODOLOGIA

Tratou-se de uma revisão da literatura de caráter narrativa, sendo que a


busca foi realizada na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), onde foram pesquisadas
as bases de dados da Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), além da utilização de
documentos oficiais, como Ministério da Saúde (MS), Agencia Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Pan-
Americana de Saúde (OPAS), Conselho Federal de Farmácia (CFF) e repositórios
de universidades.
A busca foi realizada no intervalo de fevereiro a outubro de 2020, utilizando
estudos publicados no período entre 1998 e 2020, esse corte temporal foi para
incluir uma legislação de 1998 que aprova o regulamento técnico sobre substâncias
e medicamentos sujeitos a controle especial, ainda vigente atualmente. Foi
pesquisado os seguintes Descritores em Ciência da Saúde (DeCS)
(http://decs.bvs.br/) da BVS: “farmacoepidemiologia”, “interação de medicamentos”,
“psicotrópicos".
Utilizando as bases de dados LILACS e SciELO foram encontrados 2.680
artigos, após o critério de exclusão (artigos não disponíveis na íntegra, artigos em
outros idiomas que não em português e artigos fora do período estudado) restaram
755 artigos. Com os critérios de inclusão foram pesquisados artigos disponíveis
envolvendo psicotrópicos, interações medicamentosas e farmacoepidemiologia e
restaram 123 artigos. Em seguida com a leitura dos resumos permaneceram apenas
42 artigos. Com a leitura íntegra dos artigos foram selecionados apenas artigos que
apresentavam interações medicamentosas do tipo medicamento-medicamento e que
apresentavam interações medicamentosas entre antidepressivos, ansiolíticos e
antipsicóticos, sendo possível a inclusão de 12 artigos e 18 documentos oficiais no
estudo.
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3 RESULTADOS

2.1 Transtornos mentais

As condições de vida atual, o crescente sedentarismo da população em


geral e a elevação dos casos de transtornos depressivos tem ocasionado
comorbidades, e consequentemente, o tratamento com vários medicamentos. Há
também uma grande variedade e disponibilidade de medicamentos na indústria
farmacêutica que buscam sanar tais doenças relacionadas como os TM (BRASIL,
2012).
Cada indivíduo apresenta diferentes sinais e sintomas em um TM,
entretanto, os mais comuns são, ansiedade, alucinações, delírios, tristeza e
comportamentos agressivos. Nessa perspectiva a pessoa com TM necessita de um
recurso terapêutico contínuo, que vão desde ao apoio psicológico até às terapias
medicamentosas que com sua eficácia traz melhoras ao indivíduo (DSMV, 2014).
O tratamento medicamentoso quando feito da forma adequada, tende a
reduzir os sinais e sintomas provenientes desses TM, aumentando a adesão ao
tratamento em virtude da sua eficácia. Portanto, a escolha desses recursos
terapêuticos é aplicada para a melhora do indivíduo, para a sua convivência social,
para o seu bem-estar mental e sua melhora autonômica (ALCÂNTARA et al., 2018).
Os medicamentos empregados para o tratamento dos TM são os
psicotrópicos, medicamentos que agem temporariamente no SNC de forma sedativa
ou estimulante, ocasionando modificações no temperamento, caráter, consciência,
sabedoria, hábitos e costumes do indivíduo. É possível observar que o uso de
psicotrópicos cresce constantemente e apresenta uma gama de categorias, tais
como antidepressivos, ansiolíticos, antiepilépticos e antipsicóticos (Figura 1)
(ALMEIDA, LIMA, MORAIS, 2018; DUARTE, 2016; SANDES, 2015).
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Figura 1: Representação ilustrativa dos sítios de ação dos antidepressivos,


antipsicóticos e ansiolíticos.

Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44461999000100012.


Acesso em: 10/12/2020.

2.2 Interações medicamentosas

As IM são eventos farmacológicos que se originam através da associação de


dois ou mais medicamentos, ingeridos precocemente ou simultaneamente. As IM do
tipo medicamento-medicamento são respostas farmacológicas, que podem ser
farmacocinéticas (alteração nos parâmetros de absorção, distribuição, metabolismo
e excreção), e/ou farmacodinâmicas, podendo ocasionar ações do tipo sinérgico,
quando o efeito da IM pode ser maior que a administração individual de um
medicamento, ou antagônico, resultando na diminuição ou anulação do efeito do
medicamento isolado (LEÃO, MOURA, MEDEIROS, 2014; BRASIL, 2010).
As interações podem ser positivas ou negativas. São positivas quando a
associação medicamentosa aumenta a eficiência do tratamento. Já as interações
negativas podem diminuir ou anular o efeito desejado para o tratamento ou até
mesmo causar uma intoxicação, prejudicando a saúde do indivíduo. As IM possuem
graus de riscos e estão associados às atividades que abalam os sistemas do corpo
humano, e os medicamentos que atuam no SNC tendem a provocar com maior
facilidade os EAM, prejudicando o tratamento estimado (PASQUALOTTO et al.,
2018; MELGAÇO et al., 2011).
De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (2017), o estresse
causado pela vida moderna, com o intuito de cumprir vários compromissos ao
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mesmo tempo, vem contribuindo de forma significativa para o aumento dos TM.
Dessa forma, tem ampliado o uso de medicamentos, em especial das classes
ansiolíticos, antidepressivos e antipsicóticos despertando as IMs. Efeitos como
depressão respiratória, alterações cardiovasculares e coma, comprometem o
desempenho do tratamento, como sequela oferece riscos ou até a morte do
indivíduo (OPAS, 2018; BALEN et al., 2017; HCUFG, 2011).

2.3 Antidepressivos e suas interações medicamentosas

Os antidepressivos são medicamentos empregados no tratamento da


depressão, doença caracterizada por tristeza, baixa autoestima, sentimento de
culpa, falta de concentração, perda de interesses, cansaço, alteração no sono e
apetite, no qual tende a prejudicar o desempenho do indivíduo no dia-a-dia em seu
meio social e profissional. Os antidepressivos também podem ser utilizados no
tratamento de ansiedade e dores persistentes (OPAS, 2018; FILHO et al., 2014).
Após a Segunda Guerra Mundial, houve um aumento no uso de
medicamentos industrializados. Ao se utilizar o medicamento iproniazida, da classe
dos Inibidores da Monoaminaoxidase (IMAO), para tratar a tuberculose, notou-se a
melhora do humor em relação a pacientes com traços de depressão. Na mesma
época, ocorriam investigações relacionadas às fenotiazinas, que após cinco décadas
acabou dando origem a diversos derivados, no qual a imipramina foi descoberta,
provindo a classe dos Antidepressivos Tricíclicos (ADT) (BITTENCOURT, CAPONI,
MALUF, 2013).
As classes dos antidepressivos são (FROZI et al., 2013):
• IMAO, que tem como objetivo aumentar a quantidade e permanência dos
neurotransmissores serotoninérgicos, noradrenérgicos e dopaminérgicos.
• Os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina e Norepinefrina
(ISRSN), que aumentam os níveis de serotonina e norepinefrina.
• Os Inibidores Seletivos da Recaptação de Dopamina (ISRD), que são
responsáveis por aumentar os níveis de dopamina.
• Os Inibidores da Recaptação de Serotonina e Antagonista alfa-2 (IRSA), que
inibem a captação de serotonina e norepinefrina.
• Os Inibidores Seletivos de Recaptação de Norepinefrina (ISRN) voltados
apenas pelo aumento da norepinefrina.
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• Os Antidepressivos Noradrenérgico e Específico Serotoninérgico (ANES), que


têm em sua ação o aumento das atividades noradrenégicas e serotonérgicas.
Uma das IM mais frequentes entre medicamentos psicotrópicos ocorre entre
os Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRS), que tem como ação o
bloqueio seletivo da recaptação de serotonina (Figura 1), e os ADT, que agem
bloqueando a recaptação de monoaminas (Figura 1), interagindo entre si, ou com
demais medicamentos psicotrópicos, como descritos na Tabela 1 (BALEN et al.,
2017; NOIA et al., 2012).

Tabela 1 – As principais interações medicamentosas dos antidepressivos.


Interações Risco/Efeitos
Amitriptilina x Fluoxetina Cardiotoxicidade (prolonga intervalo QT*,
parada cardíaca), xerostomia, iscúria,
sedação
Amitriptilina x Imipramina Cardiotoxicidade (prolonga intervalo QT*,
parada cardíaca, arritmia)
Amitriptilina x Clorpromazina Cardiotoxicidade (prolonga intervalo QT*,
parada cardíaca)
Amitriptilina/ Fluoxetina x Carbonato de Diminuição ou aumento dos níveis séricos
Lítio do Carbonato de Lítio
Fluoxetina x Clorpromazina Cardiotoxicidade (prolonga intervalo QT*,
parada cardíaca)
Fluoxetina x Haloperidol Aumento da toxicidade do haloperidol
(pseudoparkinsonismo, acatisia, rigidez) e
aumento no risco de cardiotoxicidade
Fluoxetina x Imipramina Aumento da toxicidade dos ADT
(xerostomia, iscúria, sedação) e aumento
no risco de cardiotoxicidade
FONTE: Adaptado de PASQUALLOTO et al., 2018.
*QT: Intervalo de tempo que corresponde à sístole ventricular.

Os ADT, como a amitriptilina, são uma das classes que mais apresentam
interações como, por exemplo, com a fluoxetina, podendo ocasionar um grande
aumento na concentração plasmática dos ADT, ocasionando toxicidade, além dos
riscos e efeitos, como cardiotoxicidade, xerostomia, sedação e iscúria. Já a interação
com a imipramina, por fazerem parte da mesma classe, pode aumentar os efeitos
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adversos, devido à duplicidade terapêutica, provocando arritmias, cardiotoxicidade


ou até mesmo uma parada cardíaca (PASQUALOTTO et al., 2018).
A fluoxetina que faz parte da classe dos ISRS, também pode ter seus efeitos
alterados quando administrada com outras medicações, como descrito na Tabela 1.
Dessa forma, pode-se observar que, dessas interações, a que ocorre com maior
frequência é a cardiotoxicidade, que consiste no comprometimento das funções
cardíacas. Além de outros efeitos como, tremores, boca seca, problemas urinários,
aumento dos sinais causados pelo TM, provocando pouca adesão do indivíduo ao
tratamento (BORGES et al., 2015).

2.4 Antipsicóticos e suas interações medicamentosas

As psicoses são transtornos mentais, caracterizados por delírios,


alucinações e distorções no comportamento, fala, convicção e percepção, nesse tipo
de transtorno são usados medicamentos como os antipsicóticos ou neurolépticos,
que atuam na inibição das funções psicomotoras e amenizam os distúrbios
neuropsíquicos. Os antipsicóticos agem de forma geral inibindo os receptores
dopaminérgicos (Figura 1), e podem ser divididos em três tipos (OPAS, 2018;
FERNANDES et al., 2012):
• Antipsicóticos sedativos, que têm como efeito a sedação;
• Antipsicóticos incisivos, que se caracterizam pela eliminação das alucinações
e delírios;
• Antipsicóticos atípicos, que possuem diversas ações, em especial nos casos
de intolerância aos efeitos colaterais extrapiramidais.
As interações mais comuns entre antipsicóticos e outros psicotrópicos
(Tabela 2), ocorrem com o haloperidol, um neuroléptico incisivo, cujo desempenho é
diminuído pelo fenobarbital, fenitoína ou carbamazepina, que são antiepiléticos. Do
mesmo modo, o haloperidol também sofre interações com a fluoxetina, carbonato de
lítio e os ADT, aumentando sua efetividade e consequentemente seus efeitos
adversos (BURQUE et al., 2015).
As fenotiazinas, como a clorpromazina e a levomepromazina, são
antipsicóticos sedativos, que podem interagir com os ADT, que tem seus
desempenhos elevados, e o carbonato de lítio que aumenta os efeitos
extrapiramidais. Os antipsicóticos incisivos e sedativos podem ainda demonstrar
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reações extrapiramidais, administrados separadamente ou associados (MENEZES e


MARIZ, 2012; FERNANDES et al., 2012).

Tabela 2 – As principais interações medicamentosas dos antipsicóticos.


Interações Riscos/Efeitos
Haloperidol x Fenobarbital/ Fenitoína/ Ação do haloperidol diminuída
Carbamazepina
Haloperidol x Fluoxetina Aumenta ação do haloperidol e efeitos
adversos
Haloperidol/ Fenotiazinas x Carbonato de Aumento de reações extrapiramidais
Lítio (disartria, tremores, tontura e possível
neurotoxicidade)
Haloperidol x ADT Aumento da frequência cardíaca, tremores,
confusão e dificuldade de respirar
Fenotiazinas x ADT Ação dos ADT aumentada
FONTE: Adaptado de MENEZES e MARIZ, 2012; FERNANDES et al., 2012.

2.5 Ansiolíticos e suas interações medicamentosas

A ansiedade se caracteriza por demonstração de medo após uma


excitabilidade aumentada, cautela e nervosismo associada a uma tensão muscular,
identificam-se a doença devida essas características rotineiras e persistentes. Os
medicamentos empregados nesse tratamento são os ansiolíticos e a classe que
mais se ressalta são os benzodiazepínicos (BZD). Os BZD são mais suscetíveis às
interações, pois agem de forma depressora no SNC (Figura 1), otimizando a ação
inibitória do neurotransmissor ácido gama-aminobutírico (GABA) (MELO, 2014;
DMSV, 2014).
Entre os anos de 1970 e 1980, os BZD ganharam espaço no mercado e
ocorreu um aumento no seu uso, em função da descoberta da eficiência dos seus
efeitos em doenças como a ansiedade, e sintomas como convulsões e insônias.
Dessa forma, trouxe uma confortabilidade tanto para os médicos quanto para a
população, quando relacionado ao seu uso (AZEVEDO, ARAÚJO, FERREIRA,
2016).
A ação dos BZD agregados com os antipsicóticos (Tabela 3) duplica a ação
de depressão no SNC, provocando limitação da atividade motora e elevando o risco
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de depressão respiratória. Já a associação com antidepressivos e antiepiléticos


(Tabela 3), age elevando a concentração plasmática dos benzodiazepínicos,
propagando a depressão respiratória e coma, com exceção da carbamazepina que
acelera o processo de metabolização dos BZD, diminuindo sua ação (VIEL et al.,
2014).
Tabela 3 – As principais interações medicamentosas dos ansiolíticos.
Interações Riscos/Efeitos
Benzodiazepínicos x Antipsicóticos Aumento da probabilidade de depressão
respiratória
Benzodiazepínicos x Antidepressivos Depressão respiratória
Benzodiazepínicos x Antiepiléticos Depressão respiratória e coma
Benzodiazepínicos x Carbamazepina Diminuição da ação dos benzodiazepínicos
Benzodiazepínicos x Carbonato de Lítio Ataxia e disartria
FONTE: Adaptado de VIEL et al., 2014.

Os medicamentos que mais se destacam entre os BZD são, o clonazepam,


o diazepam e o alprazolam. Eles podem apresentar interações significativas tanto
entre eles quanto entre os antipsicóticos, mas principalmente com os
antidepressivos. Visto que, podem apresentar tonturas, sonolência, confusão como
riscos/efeitos dessas interações. Assim sendo, isso ocorre devido às múltiplas
prescrições e dispensações com combinações de diferentes classes
medicamentosas (AGUIAR et al., 2016).

CONCLUSÃO

Tornou-se possível observar diversas IM de grande potencial de EAM entre


os antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos. Essas interações entre os
medicamentos apontados apresentaram riscos e efeitos, como a cardiotoxicidade,
depressão respiratória, diminuição da ação do medicamento, aumento do efeito de
uma medicação sobre a outra, podendo causar uma toxicidade.
Alguns tratamentos requerem associações medicamentosas para se ter um
bom sinergismo e uma melhora na eficácia. Por outro lado, essas associações
podem se tornar antagônicas referentes ao tratamento, já que aumentando a
quantidade de medicamentos, aumenta-se a margem para EAM. Recomenda-se
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monitoramentos rigorosos de um profissional como o farmacêutico, que irá avaliar as


prescrições e identificar as possíveis IM, evitando os efeitos terapêuticos e
toxicológicos do medicamento no paciente, resultando em uma melhor qualidade de
vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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REVISTA ELETRÔNICA DE TRABALHOS ACADÊMICOS - UNIVERSO/GOIÂNIA
ANO 5 / N. 8 / 2020 - PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS - MULTIDISCIPLINAR

MENEZES, F. G.; MARIZ, L. C. V. Interações medicamentosas e efeitos


adversos que ocorrem em prescrições do SUS com medicamento fluoxetina no
Distrito de São Paulo, Zona Norte. Rev. Eletrônica de Farmácia, v. 9, n. 1, p. 1-17,
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NOIA, A. S. et al. Fatores associados ao uso de psicotrópicos por idosos


residentes no Município de São Paulo. Rev. Esc. Enferm., São Paulo, v. 46, p. 38-
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de depressão em todo o mundo; no Brasil são 11,5 milhões de pessoas.
Fevereiro, 2017. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/oms-registra-aumento-de-
casos-de-depressao-em-todo-o-mundo-no-brasil-sao-115-milhoes-de-
pessoas/>.Acesso em: 28 abril 2020.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAUDE (Brasil). Folha informativa:


Transtornos mentais. Abril, 2018. Disponível em:
<https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5652:fol
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PASQUALOTTO, A. et al. Interações entre medicamentos sujeitos a controle


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INFARMA Ciênc. Farm., Rio Grande do Sul, v. 30, n. 3, p. 146-151, 2018.

PRADO, M. A. M. B.; FRANCISCO, P. M. S. B.; BARROS, M. B. A. Uso de


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SANDES, J. A. Uso racional de medicamentos psicotrópicos pela população do


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SANTOS, G. E.; SIQUEIRA, M. M. Prevalência dos transtornos mentais na


população adulta brasileira: uma revisão sistemática de 1997 a 2009. J. Bras. de
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VIEL, A. M. et al. Interações medicamentosas potenciais com


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