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Autor de correspondência
Lauren Ingrid S. M Conceição, Rua: Cancioneiro popular, Bairro: Chácara Santo
Antônio, São Paulo. Telefone: (11)55864084 e-mails: lauren.conceicao@aluno.unip.br
Os autores declaram não haver qualquer potencial conflito de interesse que possa
interferir na imparcialidade deste trabalho científico.
São Paulo
2022
“Assim como se lamenta a perda de um ser
querido, o deprimido lamenta a perda do seu
próprio “eu”.
(Sigmund Freud)
RESUMO
1.1 Farmacogenética
A depressão é uma doença grave que afeta cerca de 120 milhões de pessoas
no mundo, sendo um dos fatores de risco para suicídio, projetando ser uma das
maiores causas de morte até 2030. O tratamento da depressão não é algo objetivo,
culminando na demora para evolução e na identificação de um tratamento assertivo
para indivíduos nesta condição.1
Todos os organismos possuem suas singularidades, isso se deve a carga
genética que cada um carrega, portanto, os estímulos recebidos serão respondidos
de formas diferentes de organismo para organismo. Partindo desse princípio, existe
uma relevância significativa em uma avaliação genética personalizada, bem como a
inserção da avaliação farmacogenética; pois, assim como as respostas de estímulos
são distintas para cada indivíduo, as formas de metabolização dos fármacos também
são, e isso implica diretamente no resultado que o fármaco deveria oferecer ao
paciente.2
Deve ser levado em consideração a atenuação de algumas doenças, quando
submetidas a uma análise farmacogenética, pois a partir da informação obtida, o
profissional médico terá melhores condições para a tomada de decisões .2
Ainda não é uma avaliação padrão devido algumas barreiras, como a
padronização de painéis de testes genéticos. Os painéis genéticos são feitos para
analisar regiões codificantes de vários genes relacionados a condições específicas,
ou seja, é um sequenciamento que vai cruzar a frequência dos genes em determinada
doença/condição.3
A farmacogenética é uma área que direciona o melhor tratamento
farmacológico para cada indivíduo, e indica sua dosagem específica analisando os
marcadores ou genes que podem acelerar ou diminuir a absorção do fármaco, sendo
ele, portanto, usado para diagnóstico e tratamento. 4
Os principais genes avaliados na farmacogenética para tratamento direcionado
a depressão são: CYP2D6 e CYP2C19. Estes genes produzem as enzimas citocromo
4
P-450, que fazem metabolização dos psicotrópicos, que são indicados conforme a
avaliação do subtipo do transtorno.4, 5
Os genes CYP2D6 e CYP2C19 apresentam muitos polimorfismos, logo, vão
ter alta variabilidade genética e isso prejudica o tratamento, pois se há muita
variabilidade uns vão metabolizar o fármaco rapidamente, lentamente ou
normalmente, causando a prescrição de medicamento por tentativa e erro, e assim,
apenas 60% das pessoas que fazem uso de psicotrópicos, passados por seus
médicos de acordo com sua conduta, respondem bem ao tratamento.5
De acordo com dados da OMS no Brasil há cerca de 11,5 milhões de pessoas
com depressão, e isso representa 5,8% da população brasileira, acometendo duas
vezes mais as mulheres.5
Na psiquiatria já são realizados alguns tipos estudos genéticos, porque há uma
dedicação entre os pesquisadores investigando a possibilidade de o indivíduo
acometido já ter predisposição genética para tal condição. O que se sabe é que, essa
condição advém de uma disfunção neuroquímica, logo, seus neurotransmissores são
proteínas que são codificados pelo código genético, os genes. 6
Já existem estratégias para avaliar componentes genéticos e, são classificadas
em: genético-epidemiológicas e genético molecular, ou seja, é correlacionado as
variantes genicas e o desfecho clínico do paciente em uso do medicamento,
observando a resposta terapêutica e aparecimento de efeitos colaterais.6
Os tipos de estudos genético-epidemiológico incluem: estudo com familiares,
estudos com gêmeos, estudo com adotados, análise de segregação, estudo de
genética molecular, estudos de ligação, estudo de associação, análise de
desequilíbrio e transmissão.6
De uma forma simplificada, esses estudos identificam possíveis causas dessa
doença, onde ela se manifesta e como se apresenta fenotipicamente.6
5
2. OBJETIVO
3. MATERIAIS E MÉTODOS
6
4.DESENVOLVIMENTO
4.1 A depressão
7
O tratamento para a depressão pode ser feito como atividade física e terapia
cognitivo-comportamental, ou farmacológico, com os psicotrópicos, sendo prescritos
de acordo com o subtipo do transtorno, porém, embasado em tentativa e erro.4
Há outros fatores além da genética que também podem estar relacionados com
o efeito terapêutico de fato, como: idade, gênero, massa corpórea, funcionamento
renal e hepático, terapia concomitante, natureza da doença e etnia.8
Fonte: Prado(2009)8
8
fármacos consegue se ligar em algumas proteínas (receptores) que estão na
superfície celular, e a partir dessas ligações ocorre o efeito terapêutico. As proteínas
capazes de receber o fármaco, se ligar a ele e levar a uma alteração na célula são:
proteínas estruturais, proteínas transportadoras, canais iônicos e receptores
farmacológicos.9, 12
A partir dessas interações, ocorre uma cadeia de eventos químicos e
bioquímicos que resultam nos efeitos biológicos assim esperados.9
9
frequentemente nos produtos quimicamente mais reativos, sendo então mais tóxicos
que o princípio ativo.11
A catalização acontece pelas superfamílias das enzimas P450(CYPs) e outras
enzimas.11
Essas enzimas que pertencentes à fase 1, introduzem grupos funcionais para
que seja aumentada a lipossolubilidade dos compostos para tornarem as moléculas
inativas ou para que as moléculas originalmente inativas se transformem ativas, estes
são chamados de pró-fármacos. 11
As enzimas de fase 1, também são conhecidas como monooxigenases, são
responsáveis pelas principais reações enzimáticas da família CYP, sendo elas: C e O
- oxidação, desalquilação e outras reações. Por meio dessas reações os fármacos
sofrem alterações.8
O metabolismo de fase 2 envolve outras enzimas que, em geral catalisam
reações de conjugação, resultando em produtos inativos, à exemplo temos a UDP-
glucuronosiltransferases (UGTs). Para que a fase 2 ocorra habitualmente precisa-se
que o substrato tenha átomos de oxigênio, nitrogênio ou enxofre, essas reações de
oxidação são realizadas pelas enzimas de fase 1, que tanto adiciona os grupos
funcionais quanto os expõem, para que assim aconteça a fase 2 (figura 2).11
Moleculas hidrofóbicas
aderem a bicamada lipidica Efeito terapeutico
da celula(hepatocitos)
Substratos conjugados
transportados pela
membrana do canal biliar
para a bile , eliminação no
intestino ou via renal
10
No mercado há mais de trinta tipos de antidepressivos, que fazem parte da
classe de psicotrópicos, mas são também utilizados para outros fins, como: dores
crônicas, obesidade, ejaculação precoce, síndrome de tensão pré-menstrual,
transtorno disfórico pré-menstrual, nevralgias, antidiurético e estresse pós-
traumático.8
Seguindo a teoria monoaminérgica da depressão, que é a diminuição das
amoaminas biogênicas no sistema nervoso central, foram desenvolvidas três
principais classes de antidepressivos, divididos em: primeira e segunda geração. Os
antidepressivos de primeira geração são os tricíclicos ou tetracíclicos (ADTs), eles
agem inibindo a recaptação pré-sináptica de monoaminas; e os antidepressivos
inibidores da monoaminoxidase (IMAOs), atuam na atividade da enzima, a inibindo e
evitando a degradação das monoaminas. Os antidepressivos de segunda geração são
os inibidores seletivos da receptação de serotonina (ISRS).8
11
antidepressivos podem ser classificados de acordo com a estrutura química,
farmacofóro ou propriedades farmacológicas. 8
São utilizados antidepressivos e psicotrópicos para controle dos sinais e
sintomas da depressão.11
Nos últimos anos tem-se usado mais os fármacos de segunda geração, seus
mecanismos são relacionados ao bloqueio dos canais iônicos, fazendo a serotonina
ficar por mais tempo na fenda sináptica.9
12
Os fármacos dessa classe são inibidores não seletivos da MAO que se ligam
de forma irreversível tanto na MAO-A quanto à MAO-B . A redução na atividade destas
enzimas resulta em aumento na concentração das monoaminas nos locais de
armazenamento no SNC, este fato se relaciona à sua ação terapêutica, e no sistema
nervoso simpático, é o que está relacionado ao desenvolvimento de efeitos adversos
potencialmente graves. 9
Hoje existem inibidores reversíveis e seletivos dessas enzimas que, em
consequência desse novo mecanismo, estão relacionados à menor incidência de
efeitos adversos, como a moclobemida que é usada no tratamento da depressão e
a selegilina, e devido à ação dessa enzima sobre a dopamina, é usada no tratamento
da doença de Parkinson, pois nessa doença os níveis da dopamina do indivíduo estão
diminuídos.9,12
13
Figura 5 – Mecanismo de ação dos antidepressivos tricíclicos.
Tabela1 – Classes e medicamentos que são metabolizados pelas enzimas CYP2C19 CYP2D6
15
Essa análise farmacogenética tem em vista o seu código genético, e isso pode
proporcionar uma melhor utilização dos fármacos, sendo uma auxiliadora tanto no
âmbito da psiquiatria quanto no tratamento oncológico e outros.2
Na psiquiatria, os dados mostram que há uma dificuldade em acertar a
dosagem correta para os indivíduos acometidos pela depressão, e isso pode
acontecer pela grande variabilidade genética do grupo de metabolizadores dessa
classe medicamentosa.2
Quando se trata dos genes que codificam o grupo citocromo, há alta
variabilidade desses genes devido os polimorfismos e, como consequência, gera
respostas individuais para cada organismo, mesmo que seja receitada a mesma
dosagem do fármaco, fazendo-o ineficaz ou toxico.4
No metabolismo de antidepressivos e antipsicóticos estão envolvidos dois
genes de suma importância que codificam as enzimas do citocromo P450(CYP), o
CYP2D6 e CYP2C19.4
16
com atividade intermediaria. (UM) metabolizadores ultrarrápidos, ou seja,
metabolizam o fármaco de forma rápida, reduzindo a concentração e diminuindo a
resposta. (PM) Metabolizadores fracos ou pobres, é o fenótipo potencialmente toxico,
por ser um metabolizador lento, aumenta a concentração do fármaco no organismo. 4
17
organizar e disseminar conhecimento sobre a implicação da variação genética
humana na resposta aos medicamentos.16,18
Como é mostrado na tabela, esse gene possui 12 alelos diferentes, sendo: *1,
*2, *3, *4, *5, *6, *9, *10, *17, *29, *41 e XN.12/13 *1, *2 são os alelos funcionais. *3, *4,
*5, *6, são os alelos não funcionais. *9, *10, *17, *29, *41, XN são os alelos com
funções reduzidas. Os alelos *4, 5* e *10 são os alelos mais importantes não
funcionais. 8
18
O polimorfismo no alelo *4 causa defeito de splicing levando a não formação
da proteína, já no alelo 5*, causa deleção total do gene. Os polimorfismos mais
comuns estão no *10, *17 e *41, que sofreram um defeito no splicing8,20
Figura 6 - Imagem 3D da enzima CYP2D6 com polimorfismo. A) Representa a superfície molecular
da CYP2D6 e o B) representa o modelo de fita da CYP2D6.22
A enzima CYP2C19 é decodificada por esse gene, sendo ela responsável pela
metabolização de medicamentos como: inibidores da bomba de prótons (IBPs) e
alguns antidepressivos. Por ser um gene altamente polimórfico possuindo 21
variações alélicas, isso pode acabar impactando na metabolização desses fármacos8.
As variações alélicas desse gene são: *1, *2, *3, *17 que geram os fenótipos
EMs e PMs. O alelo *1 é funcional, *2 e *3 são não-funcionais e *17 tem a atividade
aumentada. 8,16
Os indivíduos acometidos podem ser categorizados por esse fenótipo gerado,
como: EM, PM ou UM para CYP2C19. Esses fenótipos são sabidos com base na
metabolização (S)-mefenitoína ou outras drogas sonda.8
Os EMs heterozigotos, às vezes também são chamados de MIs, possuem pelo
menos um alelo funcional. A maioria dos PMs são portadores dos alelos variantes *2
e *3, que são alelos de perda de função, gerando uma proteína inativa. A variante *17
é um alelo de ganho de função, que está associado ao aumento da atividade.16
19
Tabela 3-Genótipos associados aos fenótipos do gene CYP2C19
20
Porém, a exemplo, o Teste AmpliChip TM CYP450 (Roche Molecular Systems,
Inc.) que, em 2005, se tornou o primeiro teste farmacogenético clinicamente disponível
com base na tecnologia de microarray a ter aprovação pela Food and Drug
Administration (FDA) na genotipagem de CYP2D6 e CYP2C19 .23
Este é um método de hibridização de microarray de oligonucleotídeos que foi
desenvolvido pela Roche Molecular Systems e Affymetrix 16
CYP2D6 (33 alelos)” e CYP2CI9 (3 alelos) são associados a diferentes
fenótipos de metabolização. Como o CYP2D6 é uma enzima importante envolvida no
metabolismo antipsicótico, o Teste AmpliChip™ CYP450 pode ser útil no manejo
clínico de distúrbios psiquicos.23
O AmpliChip é baseado em cinco processos principais: O DNA é extraído de
uma amostra de sangue periférico, é submetido à amplificação por PCR e purificado,
marcação do produto amplificado, hibridação do produto amplificado marcado com um
microarray e coloração dos produtos ligados, varredura do microarray e interpretação
do fenótipo por software usando um algoritmo.16, 24
21
Omeprazol é o teste de sonda preferido para fenotipagem CYP2C19
extrometorfano foi a sonda de escolha para avaliação da atividade do CYP2D6.16
Há uma variação deste método que é a verificação da taxa metabólica no 30
plasma.8
Outro estudo realizado em janeiro de 2018 nos estados unidos seguiu uma
abordagem prospectiva, randomizada, cega ao sujeito e ao avaliador, envolvendo 685
pacientes de provedores clínicos especializados em Psiquiatria, Medicina Interna,
Obstetrícia e Ginecologia e Medicina de Família. Foi usado o teste
NeuroIDgenetix ® que possui um painel de variantes genéticas de dez genes,
juntamente com medicamentos concomitantes para fazer sugestões de
gerenciamento de medicamentos, com base nas interações gene-droga, e
medicamento-medicamento para mais de 40 medicamentos usados no tratamento de
depressão e ansiedade. Teste farmacogenético foi feito na visita de triagem inicial e
as avaliações iniciais dos pacientes foram determinadas usando a Escala de
22
Avaliação de Hamilton para Depressão (HAM-D17), de 17 itens, e a Escala de
Avaliação de Hamilton para Ansiedade (HAM-A).2
Foi comparado os escores HAM-D17 entre os grupos experimental e controle
em 4, 8 e 12 semanas de acompanhamento, para determinar se o tratamento guiado
por teste farmacogenético pode melhorar os resultados para pacientes diagnosticados
com depressão.2
As taxas de remissão nas 8 semanas para pacientes experimentais com
depressão grave foram de 25%, enquanto as taxas de remissão do grupo controle
foram de 9% (gráfico 2). Na visita de 12 semanas, as taxas de remissão para
pacientes experimentais com depressão grave foram de 35%, IC de 95% [21%, 52%],
e para controle as taxas foram de 13%, IC de 95% [5%, 25%], p = 0,02, OR: 3,54
(1,27-9,88), NNT = 4,6.2
Gráfico 3- Taxa de remissão de pacientes que fizeram o tratamento guiado por farmacogenética em
comparação com pacientes que fizeram uso do tratamento habitual por 12 semanas. Como resultado
tivemos 35% de taxa de remissão dos pacientes que utilizaram do teste farmacogenético. 2
23
5. CONCLUSÃO
24
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