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A UTILIZAÇÃO DE PSICOFÁRMACOS PARA O ENVENENAMENTO

INTRODUÇÃO
A toxicologia é a área da ciência relacionada com os efeitos nocivos causados por
substâncias químicas em um organismo vivo. Em especial, a Toxicologia Forense (TF)
diz respeito à identificação de substâncias e esclarecimento dos fatos relacionados ao
interesse médico-legal. Sendo assim, diversas áreas do conhecimento fazem parte do
que é necessário para a correta interpretação das mais diversas circunstâncias que levam
à intoxicação e posterior identificação de agentes tóxicos ou xenobióticos, nas mais
variadas matrizes biológicas. Dentro este contexto, a TF desempenha um importante
papel da materialização do crime, fornecendo subsídios para a investigação criminal e
aplicação da lei (OLIVEIRA et al., 2018).
Os medicamentos que recebem a designação de psicofármacos são aqueles utilizados
para tratar problemas relacionados a saúde mental além disso, patologias psiquiátricas
(Wanderley, et al., 2013). Estes podem possuir origem tanto sintética quanto natural e
atuam ativando mecanismos de ação no organismo. Com um uso prolongado destes
medicamentos, observa-se casos de dependência seja ela física ou psíquica (Oliveira et
al., 2021).
Porém, a aquisição destes fármacos sofre exigência de prescrição médica. Entretanto,
muitas vezes esta exigência não é respeitada, levando em consideração que alguns
indivíduos fazem o uso de psicofármacos sem a prescrição. Este ato por sua vez, traz
diversos problemas para a saúde dele, como por exemplo a overdose, que no pior dos
casos, pode acarretar a morte do indivíduo. podendo ser causada pela quantidade de
medicamento ingerida e o tempo de ingestão de uma dose para a outra. (Costa et al.,
2021).
Contudo, os psicofármacos apresentam resultados satisfatórios, específicos (a depender
do tipo de fármaco) e desejados de acordo com a necessidade de cada paciente. Todos
os efeitos desses fármacos dependem de alguns fatores, como: dose, via de
administração, tempo e tipo de fármaco. Os efeitos colaterais apresentados pelo uso
destes, podem variar entre: redução da libido, força muscular e memoria, perda de foco
e atenção, além de dependência ao fármaco (Moraes filho et al., 2019)
O alto risco de overdose está altamente relacionado a taxa terapêutica destes
medicamentos, considerando que a dose terapêutica e a dose letal (considerada veneno),
podem ou não ser muito próximas. Fato esse que traz ainda mais complexidade
preocupação aos prescritores ao receitar estes medicamentos para determinados
indivíduos, já que estes podem fazer o uso intencional destes psicofármacos para cessar
a própria vida. Junto aos fatores externos expostos anteriormente, alguns fatores
internos também devem ser considerados, como: idade, dieta, tabagismo/uso de drogas,
condições de saúde, fatores genéticos e consumo de álcool (Zanetti et al., 2017).
A classe desses medicamentos que mais sofre prescrição de psiquiatras são os
benzodiazepínicos, sendo calmantes e/ou tranquilizantes, como: Diazepam,
Bromazepam Rivotril, Alprazam, Fluxetina, Bupropiona entre outros. O uso destes
causa uma adaptação do cérebro com o medicamento e quando utilizado por longas
datas, há a possibilidade de causar dependência ou tolerância. Apesar de os pacientes
apresentarem melhora significativa com o uso dos psicofármacos, seja ele de qualquer
classe, ao cessar o seu uso, o paciente pode voltar ao estado mental anterior (Santos &
Machado, 2021).
Contudo, estes são definidos de acordo com a sua função no organismo, podendo ser:
antidepressivos, ansiolíticos, benzodiazepínicos, neurolépticos. Os antidepressivos são
utilizados para tratar os sintomas da depressão, os ansiolíticos por sua vez, são
utilizados para tratar os sintomas da ansiedade, os benzodiazepínicos podem ser
utilizados para tratamentos variados como o tratamento de ansiedade, crise do pânico
epilepsia entre outros, os neurolépticos são antipsicóticos utilizados para tratar psicoses
como esquizofrenia, além disso também são utilizados como anestésico (Freitas et al.,
2018).
O suicídio é considerado o último estágio do transtorno mental conhecido como
depressão. Segundo dados da OMS aproximadamente 700 mil pessoas cometem
suicídio por ano, além das tentativas que contabilizam um número disparadamente
maior (OMS, 2021). A vista disso, foram desenvolvidos os psicofármacos conhecidos
como antidepressivos, que como foi exposto anteriormente, trata os sintomas da
depressão. Porém, além do efeito terapêutico positivo apresentado nos pacientes,
apresenta também o risco de comportamentos suicidas (Khan et al., 2018). Esse risco
está presente na própria bula destes medicamente, entretanto, não sobrepõe os efeitos
benéficos apresentados pelo uso deste psicofármaco (Michel, 2021).
Normalmente o suicídio por psicofármacos é causado por uma intoxicação através de
uma superdose administrada. As classes mais comuns utilizadas para este fatídico ato
são os tranquilizantes e antidepressivos. Por este motivo, antes de receitar um
psicofármaco faz-se necessário uma análise minuciosa do estado emocional e psíquico
do paciente, considerando que este grupo de fármacos apresenta alto risco toxicológico
(Da Silva et al., 2019).
A TF permite determinar as causas de uma intoxicação, as quais podem ser acidentais,
em função de erros médicos, exposição ocupacional, uso inadequado de drogas de abuso
durante o uso recreacional, bem como intencionais, em casos de suicídios, por exemplo.
Como consequência dos exames proporcionados pela TF, é possível relacionar a
presença de compostos tóxicos no organismo com a causa da morte, estabelecer se os
compostos tóxicos encontrados são capazes de causar alterações comportamentais e
identificar se a presença de um composto tóxico se deve à exposição legítima
(prescrição médica) ou não, determinando o curso do processo judicial. Sendo assim, o
presente trabalho tem como objetivo apresentar aspectos relevantes da TF, bem como
discutir e apresentar alguns casos reais onde as análises toxicológicas foram
fundamentais para a elucidação e esclarecimento dos fatos analisados (OLIVEIRA et
al., 2018).
Os efeitos causados durante uma intoxicação dependem, em grande parte, da toxicidade
dos xenobióticos, a qual é classificada em leve (sintomas desaparecem após o término
da exposição), moderada (danos causados no organismo são reversíveis) ou severa
(provocam danos permanentes, podendo levar à morte) (SPRADA, 2013). Além da fase
de exposição, que representa o contato do organismo com o agente toxicante, a
intoxicação também está relacionada com outras duas fases de grande importância, que
são a distribuição (toxicocinética) e interação (toxicodinâmica) com o organismo. Na
TF a análise de materiais biológicos fluidos como o sangue, humor vítreo, conteúdo
estomacal, bile, fluido cérebro-espinhal, tecidos como cérebro, fígado, ossos, músculo
esquelético, pulmões e outros como baço e rins e tecidos queratinizados, como cabelo e
unhas, são utilizados em casos posts mortem de acordo com a especificação de cada
situação (DRUMMER, 2007).
As análises toxicológicas desempenham papel essencial na identificação de drogas para
comprovação do ocorrido fatal. A interpretação adequada do resultado das amostras
revela se ocorreu uma exposição crônica ou aguda à substância, um possível tratamento
com administração de drogas terapêuticas e até mesmo o período de abstinência, caso
exista. Essas análises são direcionadas de acordo com o histórico médico, exame
médico-legal e investigações policiais. Considerando a relevância e o importante papel
que uma prova pericial desempenha em todo o curso legal relacionado a um
determinado evento, faz-se necessário que exista um controle rígido em todo o processo
de identificação e coleta de evidências em um local de crime, qualquer que seja a sua
natureza, relacionado à TF ou não. Ademais, o transporte e o processamento das
evidências, até a sua apresentação para o sistema judiciário, também devem estar
regidos pelos mesmos controles, de modo que se tenha a garantia da qualidade e
confiabilidade dos resultados obtidos ao final do processo, o que recebe o nome de
Cadeia de Custódia (VELHO et al., 2013).
REFERÊNCIAS
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