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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Gustavo Loiola Gomes Castro1 Cintia Maria Melo Mendes2 Adriana Cronemberger Rufino Pedrini3 Danielle
Silveira Macêdo Gaspar4 Francisca Cléa Florenço de Sousa5
RESUMO
Este estudo objetiva realizar uma revisão sistemática da literatura, abrangendo a epidemiologia, a caracterização
comportamental dos usuários contínuos de medicamentos controlados e o tratamento dos pacientes portadores de
distúrbios psíquicos. A pesquisa foi realizada a partir das bases de dados on-line, como SCIELO e PUBMED, no período
de 2008 a 2012, buscando abranger consequências negativas do uso abusivo, da dependência, da farmacovigilância e da
farmacoepidemiologia da automedicação de benzodiazepínicos. Os benzodiazepínicos estão entre as drogas mais
prescritas no mundo. São utilizados como ansiolíticos e hipnóticos, além de possuir ação miorrelaxante e
anticonvulsivante. Sabe-se que esses medicamentos promovem altas taxas de dependência, o que leva,
respectivamente, ao aumento da dose necessária para o mesmo efeito terapêutico e tem sido um grande problema de
cunho social, abrangendo pessoas de diversas classes sociais e faixas etárias. Conclui-se queaautomedicação apresenta-
se como uma doença que só pode ser superada com parcimônia. Além de encorajamento dos dependentes de
benzodiazepínicos a buscarem um tratamento. Descritores: Automedicação. Contra-Indicações. Efeitos adversos
ABSTRACT
This study aims to conduct a systematic review of the literature, covering epidemiology, behavioral characterization of
continuous users of prescription drugs and the treatment of patients with mental disorders.The survey was conducted
from databases online, as SCIELO and PUBMED, in the period from 2008 to 2012, seeking to cover the negative
consequences of abuse, dependence, pharmacovigilance and pharmacoepidemiology of self-medication of
benzodiazepines. Benzodiazepines are among the most prescribed drugs in the world. They are used as anxiolytics and
hypnotics, besides possessing anticonvulsant and muscle relaxant action. It is known that these drugs promote high
rates of dependence, leading, respectively, to the increase of the dose required for the same therapeutic effect and
has been a major social issue, embracing people from different social classes and age groups. Self-medication presents
itself as a disease that can be overcome only sparingly. Besides encouraging the dependents of benzodiazepines to seek
treatment. Descriptors: Self medication. Contraindications. Adverse effects
RESUMEN
Este estudio tiene como objetivo realizar una revisión sistemática de la literatura, que abarca la epidemiología, la
caracterización del comportamiento de los usuários continuos de medicamentos recetados y el tratamiento de los
trastornos mentales con Pacientes. El estudio se llevó a cabo a partir de bases de datos en línea, la SCIELO y PUBMED,
en el período comprendido entre 2008 y 2012, tratando de cubrir las consecuencias negativas del abuso, dependencia,
farmacoepidemiología y farmacovigilancia de la automedicación de las benzodiacepinas. Las benzodiazepinas están
entre los medicamentos más recetados en el mundo. Se utilizan ansiolíticos e hipnóticos ellos, además de relajante
muscular y anticonvulsivo pose eracción. Se conoce estos fármacos que promueven altos índices de dependencia, lo
que lleva, respectivamente, para el aumento de potencia de la dosis requerida para el mismo efecto terapéutico y ha
sido un tema importante del desarrollo social, que abarca a personas de diferentes clases sociales y grupos de edad. La
automedicación se presenta como una enfermedad que se puede superar solo con moderación. Además de alentar a las
personas a cargo de las benzodiazepinas a buscar tratamiento. Descriptores: Automedicación. Contraindicaciones.
Efectos Adversos
1
Graduando em Medicina pelo Centro Universitário – UNINOVAFAPI. g_c103@hotmail.com. 2Mestre em Farmacologia Clínica pela
Universidade Federal do Ceará (UFC). Docente do curso de Medicina do Centro Universitário de Saúde – UNINOVAFAPI.
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cintiamendes@uninovafapi.edu.br. 3Mestre em Farmacologia Clínica pela Universidade Federal do Ceará (UFC) Coordenadora de
Ensino do Centro Universitário – UNINOVAFAPI. apedrini@uninovafapi.edu.br. 4Doutora em Farmacologia pela Universidade Federal
do Ceará (UFC), professora adjunta do Curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará e Professora Orientadora do Programa de
Pós-Graduação em Farmacologia do Departamento de Fisiologia e Farmacologia Universidade Federal do Ceará (UFC)
daniellesilmacedo@gmail.com. 5Doutor em Farmacologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) Professora Associada do
Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, Bolsista de Produtividade
do CNPq, nivel1. cleaflorenco@yahoo.com.br
lógica de mercado que favorece a prática da feita de forma segura e eficaz pelo indivíduo.
automedicação (BORTOLON et al., 2008). Deve-se selecionar o medicamento, a dose exata,
Segundo Naves et al. (2010), quanto às conhecer as contraindicações e interações
motivações para a automedicação.As pessoas medicamentosas, além dos efeitos adversos.
buscam tratamento nas farmácias,devido à Contudo, no Brasil, a má qualidade da oferta de
insatisfação com o atendimento recebido nos medicamentos, o não cumprimento da
serviços de saúde. Normalmente, a maior obrigatoriedade da apresentação da receita
ocorrência de procura é justificada pela má médica e a carência de informação e instrução na
qualidade e pela demora, no atendimento, no população em geral justificam a preocupação com
sistema de saúde, com longo tempo de espera e a qualidade da automedicação. Em nosso país,
filas. Em geral, é feita uma associação com a pelo menos 35% dos medicamentos adquiridos pela
facilidade de acesso ao atendimento nas população são feitos através de automedicação,
farmácias. Observa-se, assim, a busca de serviços sendo que cerca de 80 milhões de pessoas são
de saúde em situações que exigem solução adeptas dessa prática (CHAVES et al., 2009).
imediata. Contrapondo-se à dificuldade de
Segundo Chaves et al. (2009), a atendimento no sistema de saúde, a farmácia se
automedicação é influenciada por vários fatores: apresenta como uma opção sem barreiras para o
condições socioculturais, falta de acesso aos acesso, o que, somado à insatisfação com os
serviços de saúde, grande disponibilidade de serviços de saúde, coloca as farmácias como locais
medicamentos no mercado, angústia mais viáveis para a resolução, de forma rápida,
desencadeada por sintomas, falta de programas dos problemas de saúde. Ou seja, serve apenas
educativos sobre os riscos da automedicação e pra agravar o problema da automedicação.
publicidade farmacêutica. É possível que tais Já, quanto à qualidade das orientações
fatores também expliquem a prática da recebidas nas farmácias, percebe-se que, se por
automedicação por inúmeras pessoas, sobretudo, um lado a farmácia aparece como solução rápida e
mulheres. de fácil acesso, os pacientes relatam que o
A maioria dos pacientes se manifesta com fornecimento de medicamentos nas farmácias não
insatisfação pela má qualidade das orientações se faz acompanhar de orientações educativas ou
recebidas durante o atendimento de saúde, até preventivas de qualidade. No entanto, diante
mesmo na rede particular. Com isso, a grande dessa expectativa a obtenção de medicamentos de
maioria das pessoas acredita que a consulta se forma rápida, a farmácia parece satisfazer as suas
resume a relatar sintomas e o médico identificar o necessidades. Na verdade, os balconistas das
medicamento mais adequado para queixa. O farmácias falam qualquer coisa para que o cliente
exame clínico, a anamnese detalhada, as leve a maior quantidade de medicamentos, mesmo
orientações educativas não são associadas ao tipo sem necessitar. Com isso, o paciente torna-se um
de atendimento que muitas pessoas afirmam mero cliente que retorna ao estabelecimento para
receber. Alguns manifestam sua insatisfação com comprar mais fármacos. O que quiser comprar é
a ausência de esclarecimentos sobre o seu vendido com facilidade. Mas, informação e
problema de saúde ou sobre suas queixas, orientação sobre o uso adequado do composto
prejudicando o tratamento (NAVES et al., 2010). químico são insignificantes ou inexistentes (NAVES
No intuito de evitar tais consequências, a et al., 2010).
OMS recomenda que a automedicação deva ser
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sociais tradicionalmente atribuídos às mulheres, também é muito importante, uma vez que pode
entre eles o de prover a saúde da família. ocorrer depressão respiratória grave e fatal pelo
A maior probabilidade de uso de sinergismo do efeito depressor. Outra
medicamentos com risco de efeitos adversos sobre característica relevante deste tipo de
o lactente ou a lactação, quando usados por medicamento é o aparecimento da tolerância e
automedicação, alerta para a necessidade de dependência. O efeito da dependência deve ser
orientação sobre a forma adequada de sua prática amplamente prevenido pelo médico através do uso
e também sobre o uso e riscos dos medicamentos de dosagens mínimas e por períodos de
para a saúde da mulher e da criança e para a tratamento o mais curto possível e pela seleção
lactação. A divulgação das normas estabelecidas cuidadosa do paciente, evitando prescrever esse
pela OMS é uma medida útil. As consultas no pré- tipo de medicamento a pacientes com história ou
natal ou de puericultura são momentos ideais para propensos à drogadição (AUCHEWSKI et al., 2004).
divulgar tais informações pelos profissionais de O retorno do paciente ao médico
saúde, que devem estar bem informados sobre a periodicamente é um fator de importância para o
segurança dos medicamentos para uso durante a monitoramento da dose, avaliação dos efeitos
amamentação. Outro mecanismo é a divulgação de colaterais e da resposta terapêutica. A prescrição
informações científicas para as nutrizes, acerca do racional de benzodiazepínico deve ser encorajada
uso e da segurança de medicamentos de venda e feita em condições apropriadas, com
livre. Nesse sentido, as bulas dos medicamentos monitoramento cuidadoso, sempre objetivando
poderiam ser importantes instrumentos na estabelecer um bom vínculo com o paciente. Com
orientação sobre o uso de medicamentos por esse tipo de abordagem, é possível minimizar os
automedicação durante a amamentação (CHAVES efeitos colaterais e evitar o desenvolvimento de
et al., 2009). dependência (AUCHEWSKI et al. 2004).
Devido a isso e outros fatores, embora os Segundo Nordon et al. (2009) foi
benzodiazepinicos serem drogas, relativamente, encontrada uma associação estatisticamente
seguras, restrições à sua utilização têm sido cada significativa entre analfabetismo e maior uso de
vez maiores, devido à incidência dos efeitos benzodiazepínicos, mas não entre menor renda e
colaterais relacionados à depressão do sistema maior uso, o que pode ser explicado pela baixa
nervoso central.Dentre eles, os principais são a renda em geral da população estudada, não sendo
diminuição da atividade psicomotora, o prejuízo significativa a amostra de maior renda. O estudo
na memória, a desinibição paradoxal, a tolerância também encontrou uma associação entre menor
e dependência e a potencialização do efeito renda e escolaridade, e maior uso. Isso demonstra
depressor pela interação com outras drogas uma correlação perigosa, em que pessoas menos
depressoras, principalmente o álcool. Além disso, informadas e com menor poder aquisitivo acabam
a depressão e a distimia podem ocorrer recorrendo a um uso de medicamentos para,
consequentemente ao uso de alprazolam e muitas vezes, resolver problemas psicossociais que
clonazepam (AUCHEWSKI et al., 2004). poderiam ser resolvidos de outra forma.
A ingestão desregrada prolongada de Segundo os mesmo autores acima, a alta
benzodiazepínicos, mesmo em doses baixas, induz incidência de tentativas de interrupção do uso dos
a prejuízos persistentes nas funções cognitivas e BZD pode ser um reflexo do próprio motivo de uso:
psicomotoras. A orientação médica sobre a a queixa de ansiedade, que é a segunda mais
interação com o álcool, dado seu intenso uso, prevalente (39,5%), algo relativamente controlável
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