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Revista Textura

https://doi.org/10.22479/texturav14n1pXX_ZZ

Automedicação nos estudantes de Medicina de uma faculdade

particular no estado da Bahia

Self-medication in medical students at a private college in the state of Bahia

Resumo
Esse trabalho objetiva evidenciar e discutir os dados descritos na literatura acerca da
automedicação entre os universitários do curso de medicina, bem como analisar os fatores que
contribuem para essa prática. Nesse estudo foi realizada uma coleta no PubMed®, Google
Acadêmico®, Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde e Science Direct, utilizando
os descritores, automedicação e estudantes. Após o refino da busca e aplicação dos critérios
de inclusão, foram compilados nessa revisão artigos que fizeram referência ao tema desse
estudo. Observou-se que 45,5% dos estudantes do curso de medicina fazem uso de
medicamentos sem prescrição médica, mesmo possuindo total conhecimento dos riscos que
podem trazer para saúde. Dentre as principais classes de medicamentos utilizadas,
destacaram-se os anti-inflamatórios 88,1% e analgésicos 92,9%. Os fatores que estão
atrelados à prática de automedicação dos universitários são a acessibilidade para adquirir
medicamentos sem prescrição médica, demora nos atendimentos do sistema de saúde pública,
a grande disponibilidade de informações existentes na internet e a influência dos familiares.
Esse comportamento de se automedicar pode desencadear o surgimento de dores crônicas.
Visto que ao utilizar um medicamento específico de maneira frequente, seu efeito deixa de ser
percebido, fazendo com que o indivíduo passe a ingerir doses maiores. Diante disso, conclui-
se que é necessário que seja implantando nas universidades métodos educativos,
principalmente entre os acadêmicos do curso de medicina. Utilizando estratégias que
conscientizem os mesmos e crie uma abordagem sobre o uso racional de medicamentos em
disciplinas transversais ao longo da graduação.
Palavras chave: automedicação, prescrição médica, estudantes de medicina.

Abstract
This work aims to highlight and discuss the data described in the literature about self-
medication among medical students, as well as to analyze the factors that contribute to this
practice. In this study, a collection was performed in PubMed®, Google Scholar®, Latin
American Literature in Health Sciences and Science Direct, using the descriptors self-

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medication and students. After refining the search and applying the inclusion criteria, articles
referring to the subject of this study were compiled in this review. It was observed that 45.5%
of medical students use drugs without a medical prescription, even though they are fully
aware of the risks they can bring to health. Among the main classes of drugs used, anti-
inflammatory drugs (88.1%) and analgesics (92.9%) stood out. The factors that are linked to
the practice of self-medication by university students are the accessibility to purchase drugs
without a medical prescription, delay in the public health system, the wide availability of
information on the internet and the influence of family members. This self-medicating
behavior can trigger the onset of chronic pain. Since when using a specific medication
frequently, its effect is no longer perceived, causing the individual to start ingesting larger
doses. Given this, it is concluded that it is necessary to implement educational methods in
universities, especially among medical students. Using strategies that make them aware and
create an approach on the rational use of drugs in transversal disciplines throughout
graduation.
Keywords: self medication, prescriptions, students medical
1. Introdução
Automedicação é definida como uso de medicamentos sem a prescrição, orientação e/ou
acompanhamento de um médico ou odontólogo, conforme prescrito na Portaria de número
3.916 de 30 de outubro de 1988, do Gabinete de Ministro do Ministério da Saúde (GM/MS)
(BRASIL, 1988). A prática de se automedicar está relacionada a fatores como: políticos,
culturais e econômicos dos indivíduos que se submetem a tal prática (FILHO et al.,2002).
Para além dos fatores elencados acima, a indústria farmacêutica tem contribuído com a
prática de automedicação, estimulando-a por meio de estratégias de marketing e propagandas
veiculadas a meios de comunicação de grande alcance (televisão, por exemplo), com vistas a
aumentar a comercialização dos seus respectivos fármacos (NAVES et al., 2010). Este
contexto favorece a formação das chamadas “farmácias caseiras”, caracterizadas como o
acúmulo de medicamentos, geralmente os isentos de prescrição, nas residências. A formação
destas farmácias caseiras oferece riscos à saúde humana, devido a probabilidade de
aparecimento de efeitos adversos, tais como hepatite medicamentosa (ZAMUNER, 2006).
Vale destacar que nenhuma substância farmacologicamente ativa é inócua ao organismo,
portanto existe um risco intrinsecamente associado à sua ingestão ou administração. As
interações dos tipos: (i) medicamento-medicamento, (ii) medicamento-alimento e (iii)
medicamento-droga lícitas e ilícitas potencializa agravos a saúde, interferem no metabolismo
ou ainda podem causar quadros de intoxicação e hipersensibilidade nos indivíduos (CEMED).
Somado a isso, o acesso restrito aos serviços de saúde, assim como as eventuais
dificuldades e/ou demora na execução e entrega de resultados de exames geram insatisfação e
contribui para o uso indevido dos fármacos (NAVES et al.,2010). O estilo de vida e as
atividades educacionais ou profissionais dos indivíduos também colaboram para que a
automedicação se torne uma prática comum (NASCIMENTO et al., 2003).

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Nesse viés, a graduação no curso de Medicina é uma das mais procuradas dentre os
processos seletivos universitários, a dedicação daqueles que desejam seguir essa carreira
concorrida começam cedo, antes mesmo do início da faculdade. Ao final do ensino médio,
muitos estudantes se mudam para a capital, em busca de uma qualidade de ensino melhor. A
etapa do cursinho, demanda de uma grande disciplina e bom psicológico para enfrentar os
desafios do dia a dia. Sendo assim, o estilo de vida dos graduandos de Medicina não começa
assim que fazem a matricula na universidade e sim, desde a sua trajetória até chegar na
esperada aprovação. Em vista desse cenário, muitos estudantes buscam a automedicação antes
mesmo de ingressar no curso, a título de exemplificação tem-se a procura por
psicoestimulantes (anfetaminas), antidepressivos, ansiolíticos e entre outros, prática que é
potencializada durante a jornada acadêmica. Os estudantes ao ingressarem na faculdade, ainda
despreparados, têm que enfrentar realidades complexas e diversas, na qual apresentam muitas
dificuldades em comum, incluindo falta de tempo e exaustão nos primeiros períodos de
intenso estudo, insegurança e tristeza além do convívio com o sofrimento e a dor que
acompanham o processo de adoecimento e morte dos pacientes (FEODRIPPE et al.,2013).
Destarte, a prática de automedicação em graduandos de Medicina tem um alto índice de
recorrência e se manifesta de maneira significativa, justificando a realização deste trabalho,
cujo objetivo é identificar a prática de automedicação em graduandos de Medicina de uma
faculdade particular no interior da Bahia.

2. Material e Métodos
O presente trabalho foi um estudo transversal quantitativo realizado no ano de 2022, no
qual 42 alunos matriculados no curso de Medicina da Ages de Irecê Bahia participaram da
pesquisa. O instrumento realizado para a coleta de informações, foi um questionário online
auto aplicado, realizado pela plataforma do Google Forms e disponibilizado pela rede social
WhatsApp, com base em dados sociais e acadêmicos (sexo, idade, estado civil, etapa do curso
– segunda, quarta e quinta etapa – graduação e renda familiar) e sete questões relacionadas a
automedicação e bases farmacológicas.
O objetivo da pesquisa é conhecer o perfil dos acadêmicos, as principais classes de
medicamentos consumidos sendo eles controlados ou não, se teve orientação ou receita
médica/aconselhamento farmacêuticos ou influência externa (mídia, amigos, família
balconistas de farmácia) e motivos do uso (dor, dificuldade para dormir, problemas de
concentração, ansiedade e outros). O período utilizado no estudo foi o espaço temporal
compreendido desde o ingresso no curso de graduação em Medicina até o momento atual da
pesquisa, ou seja, os entrevistados forneceram informações referentes à automedicação desde
o início da graduação.
3. Resultados
Com relação ao perfil sociodemográfico dos entrevistados, 30 participantes eram do sexo

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feminino (71,4%) e apenas 12 do sexo masculino (28,6%). Já com relação a faixa etária,
houve maior número de acadêmicos entre 18 e 25 anos (n=38). No tocante ao estado civil, o
solteiro foi predominante com 92,9% dos participantes. Ademais, 81% (n=34) apresentou uma
renda familiar maior que um salário mínimo (Tabela 1).
Tabela 1. Perfil sociodemográfico dos acadêmicos de Medicina.

Em referência ao período de estudo, 54,8% (n=23) são estudantes da segunda etapa, 16,7%
(n=7) da quarta etapa e 28,6% (n=12) quinta etapa. Além disso, 35 acadêmicos (85,7%)
afirmaram ser a sua primeira graduação.
Dos 42 participantes, n=38 (90,5%) afirmaram ter feito uso de medicamentos no último ano.
Desses, 35 (92,1%) não faz uso de medicamentos controlados. Ademais, 54,5% dos
participantes afirmaram ter feito o uso de medicamentos por meio de prescrição médica e
45,5% por automedicação. 100% (n=42) dos entrevistados afirmaram ter conhecimento dos
riscos da automedicação.
Com relação ao meio que influenciou a automedicação, uma boa parte dos acadêmicos
(65%) afirmaram ter tido uma maior influência dos familiares (Figura 1).

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Figura 1. Meios que influenciaram na prática da automedicação.


Já com relação aos motivos da automedicação, em primeiro lugar ficaram empatados dor e
outros motivos, com 47,6% (n=20) e em segundo lugar a ansiedade com 26,2% dos
participantes. Dificuldade para dormir e de concentração ficaram em terceiro lugar, com
11,9% (Figura 2).

Figura 2. Motivos da prática da automedicação.


A respeito dos medicamentos mais utilizados, a classe dos analgésicos e antitérmicos foram
os mais consumidos (92,9%). Já a classe dos anti-inflamatórios foi a segunda mais citada
pelos participantes, com 88,1%. Os antigripais ficaram em terceiro lugar, com 73,8% (Figura
3).

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Figura 3. Classes de medicamentos mais utilizadas.


4. Discussão
O estudo mostrou que a utilização de medicamentos no último ano entre os acadêmicos de
medicina da Faculdade AGES Irecê foi de 90,5%. Pesquisa semelhante realizada por Xavier e
Silva (2021) mostrou que a prevalência da automedicação é de 87% entre os estudantes de
Medicina da Universidade Federal do Sul da Bahia, Campus Sosígenes Costa. Entretanto, os
resultados dos estudos da Faculdade AGES afirmaram que 54,5% usaram medicamentos por
meio de prescrição médica e apenas 45,5% foi por automedicação, o que ilustra que essa
prática é uma realidade comum dentro do ambiente acadêmico tanto público como privado.
Ainda nesse viés, alunos de medicina da Universidade de Ribeirão Preto declararam se
automedicar, indicando que não é prática adquirida no decorrer do curso, mas ocorre desde a
1ª etapa do curso, na qual o estudo em questão apontou que 54,8% praticam na segunda etapa,
16,7% na quarta etapa e 28,6% na quinta etapa (SILVA. et al, 2012).
Nossos achados indicam que os analgésicos e antitérmicos estão em primeiro lugar na lista
de preferência dos entrevistados (92,9%). Estudo semelhante feito por Aquino et al. em uma
universidade pública no município de Recife, também apresentou os analgésicos como
prioridade dos estudantes (24,0%). A segunda classe medicamentosa mais utilizada pelos
acadêmicos da Faculdade Ages, foi a dos anti-inflamatórios (88,1%). Outra pesquisa,
realizada com estudantes de Medicina da UNAERP, obtiveram resultados semelhantes aos
nossos (85,3%), mostrando que os anti-inflamatórios também foram a segunda classe
medicamentosa mais utilizada pelos acadêmicos (SILVA. Et al, 2012). Isso mostra que, a
propaganda em massa, a busca do alívio imediato e a facilidade de acesso a esses
medicamentos contribuem bastante para a prática da automedicação.
Com relação aos motivos que levaram os estudantes à prática da automedicação, nossa
pesquisa apontou a dor como o principal motivo (47,6%). No estudo feito por Xavier e Silva
(2021), apontou a dor como o maior incentivo da utilização de medicamentos, onde todas as
expressões clínicas de dor somaram 45,0%. Desse modo, a alta incidência da automedicação
leva a um tratamento paliativo, retardando um diagnóstico e tratamento adequado o que pode
agravar o quadro da dor causando um fator crônico.
No presente estudo, a família foi o meio que mais influenciou no uso de medicamentos sem

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prescrição médica (65,0%), com os farmacêuticos e balconistas ficando empatados em último


lugar, com 20,0% dos entrevistados. Outros estudos feitos por Vilarino et al. e Xavier e Silva
(2021), mostraram que a utilização de medicamentos por indicação de terceiros teve um maior
índice do que por prescrição médica, e este segundo, mostrou que apenas 2% dos
entrevistados fizeram uso de medicamentos por influência de farmacêuticos e balconistas.

5. Referências

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