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Gestão Autônoma da Medicação na Atenção à Saúde das Pessoas que Usam

Drogas
Autonomic Management of Medication in Health Care for People who use Drugs
Gestión Autónoma de Medicamentos em la Atención Sanitaria de Personas que Consumen Drogas

Francisco Valberdan Pinheiro Montenegro


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil

Juliana Vieira Sampaio


Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE, Brasil

Resumo

Ante ao consumo excessivo e desinformado de psicotrópicos por usuários dos serviços de


saúde mental, algumas abordagens têm emergido neste campo, como a Gestão Autônoma da
Medicação (GAM) que propõe uma discussão sobre o papel da medicação na vida daqueles
que a utilizam. Na atenção à saúde das pessoas que consomem drogas o uso da GAM é um
movimento recente a ser mapeado. Assim, este estudo objetivou analisar a produção
acadêmica sobre a utilização da GAM no contexto da atenção à saúde das pessoas que
consomem drogas. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura que buscou publicações
dos últimos 5 anos nas plataformas BVS e SciELO. Selecionamos 7 artigos nos quais
identificamos 3 eixos temáticos: contexto histórico da GAM no Brasil e aspectos
metodológicos; GAM e especificidades AD e; crítica à medicalização. Os estudos analisados
elucidam especificidades, desafios e potencialidades do trabalho com a GAM no âmbito do
consumo de drogas. O reduzido número de publicações sobre essa temática, entretanto, sugere
serem necessários mais estudos para explorar a interface aberta pela inserção da GAM nesse
contexto.

Palavras-Chave: Gestão autônoma da medicação; Saúde mental; Drogas.

Abstract

In response to the problem of excessive and uninformed use of psychotropic drugs among
users of mental health services, approaches have emerged in this field, such as the case of
Autonomous Medication Management (MMA) which proposes a discussion about the place
occupied by medication in the lives of those who use it. In the health care for people who
abuse drugs, the use of MMA is a recent movement to be mapped. Thus, this study analyzes
the academic production about the use of MMA in the context of health care for people who
abuse drugs. It is an integrative literature review that searched for publications referring to the
last 5 years in the BVS and SciELO databases. The search resulted in the selection of 7
articles from which we identified 3 relevant themes: historical context of MMA in Brazil and
methodological aspects; GAM and specificities AD and; critical of medicalization. The
analyzed articles elucidate the specifics, challenges and potential of working with MMA in
the context of drug abuse. However, the small number of publications found on this theme
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suggests further studies are needed to explore the interface opened by the insertion of MMA
practices in this context.

Keywords: Autonomous medication management; Mental health; Drugs.

Resumen

Ante el uso excesivo y desinformado de psicofármacos por parte de los usuarios de los
servicios de salud mental, han surgido algunos enfoques en este campo, como el Manejo
Autónomo de Medicamentos (GAM) que propone una discusión sobre el papel de la
medicación em la vida de quien es úselo. Em el cuidado de la salud de las personas que
abusan de las drogas, el uso de GAM es um movimiento reciente que debe ser mapeado. Así,
este estudio tuvo como objetivo analizar La producción académica sobre el uso de GAM em
el contexto de la atención a lasalud de las personas que consumen drogas. Es una revisión
integradora de la literatura que buscópublicaciones de los últimos 5 añosenlas plataformas
BVS y SciELO. Se seleccionaron 7 artículos de los cuales identificamos 3 ejes temáticos: el
contexto histórico del GAM en Brasil y aspectos metodológicos; GAM y especificidades AD
y; crítica de la medicalización. Los estudios analizados aclaran las especificidades, desafíos y
potencialidades de trabajarcon GAM enel contexto del abuso de drogas. Sin embargo, el
pequeño número de publicaciones sobre este tema sugiere que se necesitan más estudios para
explorar la interfaz abierta para la inserción de GAM en este contexto.

Palabras clave: Gestión autónoma de medicamentos; Salud mental; Drogas

Introdução modelo biomédico (Ferreira; Feitosa &


Amorim, 2020).
A expansão global da prescrição e
Nesse cenário, é preciso destacar
do uso continuado de medicamentos
que o investimento neurocientífico e a
psicotrópicos configuram uma questão
psicofarmacologia tornam-se elementos
urgente para o campo da saúde mental,
cada vez mais influentes na constituição
pois suscitam questionamentos sobre o
dos modos de vida contemporâneos (Rose,
risco de incorrer no crescente movimento
2013). Entre as facetas dessa realidade é
de medicalização da vida. No contexto da
notável o crescimento da população
atenção à saúde das pessoas que usam
medicada, bem como a sua medicalização,
drogas, além das especificidades da relação
isto é, a conversão de qualquer evento
dos usuários com as substâncias, a questão
cotidiano em objeto de intervenção da
é atravessada pelas recentes alterações nos
medicina (Onocko-Campos; Passos; Leal;
marcos político-normativos da política
Palombini & Serpa, 2012b). No âmbito das
brasileira sobre drogas que têm endossado
práticas de atenção à saúde mental,
tratamentos cada vez mais baseados no
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segundo Onocko-Campos et al. (2012a), passado, em Quebec, no Canadá. Essa


essa realidade se traduz em problemas abordagem objetiva oferecer às pessoas
como consumo excessivo de que consomem psicotrópicos um processo
medicamentos (em quantidade e duração) e de reflexão sobre sua qualidade de vida,
pouca autonomia das pessoas em relação sobre seu tratamento e sobre o lugar
ao próprio tratamento, com escassa ocupado pela medicação em sua vida
apropriação de informações e concentração (Rodriguez del Barrio &Poirel, 2007).
do poder decisório nos profissionais de Segundo Rodriguez del Barrio e
saúde, principalmente os prescritores. Poirel (2007), as discussões críticas
Desse modo, o consumo pouco instauradas pelo movimento de saúde
informado de psicotrópicos é uma mental alternativa do Quebec resultaram
realidade cotidiana nos serviços de saúde na elaboração de instrumentos de
mental. Segundo Onocko-Campos et al. intervenção pautados na autonomia e
(2012a), a falta de espaços formais de informação para as pessoas que consomem
comunicação e informação aos usuários psicotrópicos, estendendo-se aos serviços
sobre a medicação tem sido naturalizada públicos de saúde mental posteriormente.
nos serviços de saúde mental, por usuários, Desse modo, a GAM se materializou na
equipes e gestores. Nesse contexto, elaboração de um guia de gestão e
percebemos que a apropriação das cuidados compartilhados no uso de
informações sobre o uso de medicamentos medicamentos psiquiátricos, que, embora
psicotrópicos, além de um desafio seja pessoal, implica um trabalho com
assistencial, é uma problemática a ser grupos constituídos por usuários e
discutida no campo da saúde mental. trabalhadores dos serviços de saúde mental
Em face aos problemas do consumo (Ferreira, 2019; Onocko-Campos et al.,
excessivo, desinformado e acrítico de 2012b; Passos et. al., 2013).
drogas psicotrópicas, algumas discussões e A GAM foi inicialmente construída
abordagens têm emergido no campo da e pesquisada, tanto no Canadá, quanto no
saúde mental, como é o caso da Gestão Brasil, com participantes aos quais se
Autônoma de Medicação (GAM). A havia atribuído algum diagnóstico e/ou
proposta da GAM foi desenvolvida tratamento para transtornos mentais,
inicialmente a partir dos movimentos contudo, o processo de pesquisa
sociais de saúde mental no final do século multicêntrica e implementação da
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estratégia a partir da Rede de Atenção especificidades da atenção à saúde das


Psicossocial do país (RAPS) ao longo da pessoas em consumo de drogas e o tímido
última década têm resultado na número de pesquisas com a GAM em
experimentação e expansão da GAM em contextos distintos daqueles no qual ela se
direção a outras populações (Ferrer; desenvolveu, justificam a urgência de
Palombini & Azambuja, 2020). estudos que contribuam para a discussão
Nesse cenário, emergem pesquisas sobre a operacionalização e inserção da
com outras populações e serviços como o estratégia nos diferentes âmbitos do
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) cuidado em saúde mental. Nesse sentido, o
Infantojuvenil (Chaves &Caliman, 2017) e principal intuito deste estudo foi analisar a
o CAPS AD (Ferreira, 2019). A inserção literatura disponível sobre a inserção das
da GAM nesses outros contextos, estratégias e práticas GAM no campo da
entretanto, é bastante recente e precisa ser atenção à saúde das pessoas que
aprofundada. No âmbito da atenção à consomem drogas.
saúde das pessoas que buscam atendimento
por questões relacionadas ao consumo de Trajeto metodológico
drogas, a inserção da GAM é uma
realidade a ser mapeada, pois a produção Trata-se de uma pesquisa de
acadêmica sobre o tema é, ainda, um revisão integrativa da literatura com o
movimento emergente. Além disso, o intuito de abordar a produção acadêmica
estado de arte desse tema é um território a brasileira sobre a inserção GAM no
ser explorado, pois até a redação final contexto da atenção à saúde das pessoas
deste artigo não identificamos a existência em consumo de álcool e outras drogas. De
de outros estudos de revisão sobre a GAM acordo com Baptista; Camatta; Filippon e
no contexto da atenção à saúde das pessoas Schneider (2020), o propósito geral de uma
que consomem drogas. pesquisa dessa natureza consiste em
A GAM cresce a cada nova mapear, sistematizar e analisar os
pesquisa, no entanto, seu escopo teórico é conhecimentos produzidos sobre
constituído por um conjunto de trabalhos determinado tópico de interesse para um
ainda reduzido, pois a metodologia é uma determinado campo de práticas e saberes.
elaboração relativamente nova no campo A operacionalização de uma
da saúde mental. Para Ferreira (2019), as pesquisa como esta engloba alguns
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procedimentos metodológicos básicos, a Além dos procedimentos


saber: formulação de uma questão metodológicos previamente estabelecidos
norteadora; identificação e seleção da na construção da estratégia de busca, sua
literatura pertinente; coleta ou mapeamento operacionalização exigiu adaptações tendo
dos dados a partir da leitura dos artigos e; em vista as particularidades dos recursos
análise e discussão dos resultados (Baptista de busca disponíveis em cada indexador.
et al., 2020). Nesse sentido, este estudo Devido à inexistência de descritores
buscou se operacionalizar a partir de um (DeCS) específicos ou exatos para o tema
conjunto de procedimentos metodológicos proposto, optamos pela pesquisa por meio
que constituem as suas estratégias de do assunto do estudo. Desse modo, a
busca. incursão nas plataformas de publicações
acadêmicas se deu a partir da busca
Estratégias de busca simultânea pelos termos “gestão autônoma
da medicação” e “drogas” ou “substâncias
Com o intuito de atender ao psicoativas”, com acessos na data de 4 de
objetivo proposto, a pesquisa foi norteada novembro de 2020. A busca filtrou artigos
pela seguinte pergunta: quais discussões publicados entre os anos de 2015 e 2020,
têm sido feitas no âmbito da literatura que contivessem algum dos termos
acadêmica sobre a utilização da GAM no buscados em seu título ou resumo e cujo
contexto do consumo de álcool e outras texto completo estivesse disponível em
drogas? Foram consultados os seguintes meio digital.
indexadores de publicações científicas ou A partir dessa busca foi encontrado
bases de dados: Biblioteca Virtual de um total de 50 (cinquenta) publicações.
Saúde (BVS) e ScientificElectronic Após a exclusão de artigos repetidos
Library Online (SciELO). Essas bases de (indexados nas duas plataformas) ou
dados foram escolhidas pela sua duplicados, restaram 29 (vinte e nove)
abrangência, tendo ampla indexação de publicações a partir das quais
publicações na área da saúde, bem como selecionamos o material de análise por
de estudos multidisciplinares e meio da aplicação dos critérios de inclusão
interdisciplinares (Oliveira; Oliveira- e exclusão.
Cardoso; Silva & Santos, 2020). Considerando o recorte temático e
o objetivo do estudo, bem como a pergunta
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norteadora definimos como critérios de Após a aplicação dos critérios de


inclusão: a) artigos sobre GAM no inclusão e exclusão na leitura dos resumos
contexto da atenção à saúde das pessoas dessas publicações, identificamos que
em consumo de drogas; b) artigos que apenas 7 (sete) trabalhos atendiam ao
abordassem direta ou indiretamente GAM recorte da pesquisa. Com efeito, os 7 (sete)
e consumo de drogas; c) publicados nos artigos que atenderam aos critérios de
últimos cinco anos, em português e; d) seleção compõem o material analisado
disponíveis online com texto na íntegra. nesta pesquisa. A Figura 1 mostra um
Definimos como critério de exclusão: fluxograma que sintetiza as etapas
publicações que não abordassem o tema da seguidas e dos procedimentos
pesquisa ou que não fizessem qualquer metodológicos adotados para obter a
referência ao consumo de drogas, ainda amostra final.
que tratassem da GAM em outros
contextos.

Figura 1
Fluxograma das estratégias de busca

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Os artigos selecionados para fazer Resultados e discussões


parte desta revisão foram incorporados ao
software gerenciador de referências A análise qualitativa dos conteúdos
Mendeley, para leitura e extração dos encontrados resultou na identificação das
dados mais relevantes ao estudo. Na categorias e/ou eixos temáticos capazes de
sequência, os 7 (sete) artigos selecionados ilustrar os tópicos de interesse para esta
foram mapeados por meio de uma planilha revisão. O Quadro 1 apresenta uma síntese
no programa Excel® a partir da qual foram das informações extraídas ao longo do
extraídas as seguintes informações: ano de processo de revisão da literatura.
publicação, título, objetivos, método e
principais resultados de interesse para a
revisão.

Quadro 1
Publicações selecionadas para análise

PUBLICAÇÕES SELECIONADAS
ANO TÍTULO OBJETIVOS MÉTODO RESULTADOS

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2019 Gestão Autônoma Discutir a construção de Pesquisa- Na narrativa dos participantes a


da Medicação dispositivos para a apoio pesquisa identificou que, além
(GAM) como produção de atenção do uso crônico e indiscriminado
dispositivo de psicossocial, que são de psicotrópicos, havia a venda
atenção baseados na proposta de das medicações no comércio de
psicossocial na Gestão Autônoma da drogas ilícitas. Com relação à
atenção básica e Medicação, voltados para GAM, a pesquisa apontou que a
apoio ao cuidado pessoas em uso de grupalidade e o
em saúde mental medicação psicotrópica. compartilhamento cogestivo
produziram uma rede de
proteção com potencial de
redução de danos e ampliação de
autonomia na relação com o uso
de drogas.
2019 Redução de danos e Cartografar a experiência Cartografia Partindo de um resgate
gestão autônoma da de um acadêmico de genealógico, o artigo
medicação: Psicologia em um encontro problematiza práticas e discursos
cartografando a na cidade de Santa sobre o uso de drogas, vindo a
experiência de um Maria/RS, com a temática concluir que há algo de novo
acadêmico em de Redução de Danos entre RD e GAM: o uso de
psicologia (RD) e Gestão Autônoma medicamentos vem se tornando
da Medicação (GAM). um problema tão importante
quanto o consumo de drogas não
prescritas.
2020 Articulações GAM Apresentar uma Pesquisa- Constatou uma conexão entre os
em Santos e a partir experiência formativa na participativa princípios da GAM e da
de Santos cidade de Santos e a Reforma Psiquiátrica Brasileira.
articulação de um Identificou especificidades da
Observatório Internacional GAM no contexto AD, como
de Práticas de Gestão diferentes padrões de uso e
Autônoma da Medicação relação com as substâncias.
(GAM), com vistas à Concluiu pela necessidade de
produção de estratégias aproximar o debate e manejo do
emancipatórias e uso de medicamentos e outras
libertárias em saúde drogas.
mental.
2020 GAM, apoio e Discutir o processo de Pesquisa- Constituição de um campo de
cuidado em CAPS capilarização da estratégia apoio investigação em que o
AD GAM derivado de uma pesquisador é também apoiador
pesquisa em que dos trabalhadores que realizam a

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trabalhadores e usuários moderação dos grupos GAM.


foram convidados à Identificou um deslocamento da
investigação e gestão da medicação para a
experimentação da GAM gestão do uso de substâncias
na atenção especializada psicoativas associando-se à
no campo de álcool e Redução de Danos.
outras drogas.
2020 Gestão autônoma Apresentar experiência de Pesquisa- A pesquisa identificou que,
da medicação: uma equipe que articula intervenção diante da pouca visibilidade e
estratégia territorial pesquisa, ensino e oferta de cuidado na
de cogestão no extensão num território AtençãoBásica quanto às
cuidado sanitário do município de demandas decorrentes do uso
São Paulo, tendo como drogas, a GAM pode instalar:
eixo de intervenção o uma crítica à medicalização
cuidado em saúde mental e (principalmente sobre a
a GAM como estratégia. separação entre drogas lícitas e
ilícitas); uma radicalização da
perspectiva da Reforma
Psiquiátrica e; um regime de
afetabilidade/partilha entre os
participantes. Suas análises
concluem que a inseparabilidade
entre as drogas lícitas e ilícitas
na experiência dos usuários
sinaliza a importância de
ampliar o guia GAM-Brasil.
2020 Gestão autônoma Analisar a GAM enquanto Pesquisa- Implantação da GAM em um
de medicação dispositivo grupal e suas intervenção CAPS AD por meio de uma
(GAM) como potencialidades para pesquisa-intervenção que
dispositivo grupal: produção de considerou singularidades
uma experiência de transformações da regionais e da clínica AD. Ao
pesquisa- realidade social no longo da intervenção a pesquisa
intervenção processo de pesquisa- identificou movimentos
intervenção, a partir do micropolíticosco-
referencial da análise gestionáriospotencializadores da
institucional. produção de autonomia. A
pesquisa apontou, ainda, a
lacuna produzida pela
inexistência de um guia GAM
construído especificamente a

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partir das problemáticas relativas


ao consumo de drogas.
2020 Uma composição Apresentar uma pesquisa Pesquisa- Composição de uma versão
experimental do desenvolvida em um participativa experimental do Guia GAM, a
guia GAM: CAPS AD, na cidade de GAM@, com base nas
favorecendo vidas Fortaleza (CE), que buscou especificidades da atenção à
pulsantes construir uma versão saúde das pessoas em uso de
experimental do Guia drogas. Elaboração de oficinas
GAM. temáticas para trabalhar a
GAM@ junto aos profissionais
de um CAPS AD.

Conforme retratado no Quadro 1, as GAM no Brasil: contexto histórico e


publicações selecionadas se concentram aspectos metodológicos
entre os anos de 2019 e 2020, este último
reunindo a maioria das publicações. Entre A GAM chegou ao Brasil no início
as hipóteses explicativas possíveis para da última década quando grupos de
essa concentração estão o relativo pesquisa vinculados a universidades
ineditismo das intervenções com a GAM brasileiras (UNICAMP, UFRGS, UFRJ e
no contexto do consumo de drogas e o UFF), juntamente com trabalhadores e
lançamento de dossiês ou edições especiais pessoas assistidas em serviços da rede de
para marcar os 10 anos da GAM no país atenção psicossocial, iniciaram uma
(Ferrer et al., 2020). Os artigos encontram- pesquisa multicêntrica que resultou na
se distribuídos entre os seguintes tradução e adaptação do Guia da Gestão
periódicos: Barbarói (1); Polis e Psique (5) Autônoma da Medicação (GGAM-BR) ao
e; Saúde e Sociedade (1). Quanto ao contexto brasileiro (Ferreira et al., 2020).
delineamento dos estudos, observamos que De acordo com Surjus, Linhares, Pereira,
predominaram as abordagens qualitativas. Lauria e Thomé (2020), esse esforço
O conjunto de informações levantado a inicial permitiu que outros coletivos
partir desta revisão pode ser sintetizado em pudessem entrar em contato com a GAM,
três eixos temáticos de maior relevância tanto por meio da publicação das primeiras
que abordaremos nos próximos tópicos. pesquisas quanto pela disponibilização
pública dos guias na internet.

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A atual versão brasileira consiste autonomia como princípios norteadores do


em um material escrito no qual são trabalho com a GAM (Passos et al., 2013;
abordadas diferentes temáticas (qualidade Ferreira, 2019).
de vida, autonomia, direito à saúde, Outra diferença importante é que o
psicotrópicos, etc.) de modo que cada GGAM-BR não inclui o tópico da versão
participante pode registrar no seu guia canadense que propõe uma progressiva
pessoal os diversos aspectos relacionados à redução no uso dos medicamentos, pois os
sua experiência com o uso dos participantes brasileiros têm apontado a
medicamentos (Méllo; Sampaio; Barros; importância da medicação no tratamento, a
Lima & Veras, 2020). O GGAM-BR é dificuldade de acesso aos medicamentos e
composto por duas partes que se dividem a carência de informações sobre o próprio
em seis passos: 1) Conhecendo um pouco tratamento como aspectos mais
sobre você; 2) Observando a si mesmo; 3) significativos na sua experiência com o uso
Ampliando a sua autonomia; 4) da medicação (Onocko-Campos et al.,
Conversando sobre medicamentos 2012b; Ferreira et al., 2020).
psiquiátricos; 5) por onde andamos e; 6) De acordo com Lindenmeyer,
Planejando nossas ações (Onocko-Campos Diello e Azambuja (2019), o fato de o
et al., 2012b). A experiência brasileira tratamento farmacológico ser amplamente
produziu ainda o Guia GAM de apoio para privilegiado para enfrentar os problemas
moderadores, o qual detalha aspectos de saúde mental é um problema apontado
conceituais e metodológicos da estratégia. pelos usuários canadenses que persiste
No processo de contextualização da também no Brasil. Em solo brasileiro,
GAM ao cenário brasileiro emergiram entretanto, diferente do Quebec, onde a
particularidades e diferenças que marcam a estratégia surgiu a partir de movimentos
versão brasileira do guia. Além de incluir sociais exteriores ao aparato estatal, a
falas de usuários brasileiros a respeito da GAM se desenvolveu a partir da
experiência com a medicação, o material universidade pública em interface com os
construído na província canadense foi serviços da rede pública de saúde mental
traduzido e adaptado para a realidade (Passos et al., 2013; Méllo et al., 2020).
brasileira contemplando o contexto da Sendo assim, a participação dos
reforma psiquiátrica e os direitos dos usuários na configuração brasileira da
usuários em seu conteúdo. Nesse sentido, o GAM tem tido lugar, sobretudo, por meio
guia brasileiro inclui a cogestão e a do emprego das metodologias

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participativas de pesquisa e intervenção. metodológicas como a pesquisa-apoio,


As metodologias cogestivas têm pesquisa-intervenção e pesquisa
caracterizado o trabalho com a GAM desde participativa.
as primeiras experiências realizadas com Na pesquisa-apoio, o pesquisador,
essa estratégia no país (Onocko-Campos et além de estudar a construção da GAM,
al., 2012b; Passos et al., 2013) e também apoia trabalhadores, gestores e
prevalecem até as pesquisas mais recentes usuários por meio da participação nas
(Ferrer et al., 2020). A cogestão como reuniões, nas oficinas de apoio com
aspecto metodológico é uma discussão trabalhadores e nos grupos GAM (Caron;
constituinte da história da GAM, pois o Feuerwerker, 2019; Caron; Feuerwerker;
próprio GAM é uma construção coletiva Passos, 2020). Já a pesquisa-intervenção
que contou com a participação decisiva dos parte da indissociabilidade entre a
usuários que integraram a primeira dimensão política e o processo de pesquisa
pesquisa multicêntrica com a estratégia no para recusar a dicotomia entre sujeito e
país (Passos et al., 2013). objeto, pois entende que todos os
As pesquisas posteriores à envolvidos participam na sua construção
implantação da GAM no Brasil são, de (Ferreira et al., 2020; Rosa; Vicentin;
acordo com Ferrer et.al. (2020), Avarca& Sereno, 2020). Méllo et al.
“experiências de trabalho e de pesquisa (2020), por sua vez, optaram por empregar
que seguem pautadas pelos mesmos o termo pesquisa-participativa, em vez de
princípios que orientaram a pesquisa “intervenção”, por entender que o primeiro
original: democracia, cidadania, termo descreve melhor os projetos
autonomia, participação” (2020, p. 2). emancipatórios e autogestionários das
Nesse sentido, observamos que apenas um pesquisas com a GAM. Desse modo,
dos sete trabalhos analisados nesta revisão depreendemos que os aspectos
não recorreu às metodologias participativas metodológicos de caráter participativo têm
para a sua realização. Todos os demais sido um traço comum às experiências de
trabalhos adotaram metodologias trabalho e pesquisa com a estratégia GAM
participativas em algum grau, ainda que no Brasil.
apenas dois deles empreguem o termo Atualmente a GAM experimenta
“pesquisa-participativa” explicitamente. uma franca expansão espalhando-se pelo
Não obstante, participação e cogestão país nas diversas experiências envolvendo
aparecem sob a forma de variações o seu uso em diferentes estados brasileiros.

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Se inicialmente o trabalho com a GAM se implementação da estratégia na Rede de


restringiu ao eixo sul-sudeste do país, Atenção Psicossocial têm conduzido a
agora, além de alcançar outros estados experimentações recentes em outros
dentro desse eixo, a estratégia também contextos no âmbito da saúde mental,
avança nas regiões norte e nordeste (Ferrer como a clínica infantojuvenil e a atenção à
et al., 2020). Os dados desta revisão saúde no contexto do consumo de drogas.
corroboram essa descentralização das
práticas GAM, pois, mesmo em uma GAM e especificidades AD
amostra pequena como a analisada aqui,
foi possível identificar pesquisas A operacionalização das práticas
desenvolvidas em estados de diferentes GAM no contexto da atenção à saúde das
regiões como Ceará, Rio Grande do Norte, pessoas que consomem drogas é um
Rio Grande do Sul e São Paulo. experimento recente na trajetória dessa
Soma-se a isso a constituição de um estratégia. Caron et. al. (2020), por
Observatório Internacional de Práticas de exemplo, sublinham o impacto da escassez
Gestão Autônoma da Medicação, com a de publicações sobre o uso da GAM no
finalidade de implementar uma rede de campo de álcool e outras drogas para a sua
cooperação para formação, fomento, pesquisa com a implantação de grupos
implantação e avaliação das práticas de GAM em um CAPS AD na periferia da
GAM no Brasil, Canadá e Espanha (Rosa cidade de São Paulo, iniciada em 2017.
et al., 2020; Surjus et al., 2020). No Brasil, Desse modo, considerando que a
segundo Surjus et al. (2020), integram essa GAM foi originalmente desenvolvida no
rede multilateral instituições de Alagoas, campo dos ditos transtornos mentais, sua
Ceará, Bahia, Espírito Santo, Goiás, inserção no contexto do consumo de
Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, drogas se depara com as especificidades
Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São que o constituem. O estudo de Ferreira
Paulo. Assim, notamos um movimento de et.al. (2020) destaca a lacuna deixada, até a
descentralização das práticas GAM no data de sua publicação, pela inexistência
país. de um Guia GAM construído
Além disso, não é apenas especificamente a partir das problemáticas
geograficamente que a GAM se expande, relativas ao consumo de drogas, nas quais
pois, de acordo com Caron e Feuerwerker “se presentifica não apenas o consumo de
(2019), o processo de pesquisa e medicamentos psicotrópicos prescritos

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mas, sobretudo, o consumo de múltiplas 2020, p. 236). Tal guia, entretanto, não
substâncias (prescritas, lícitas, ilícitas, etc.) chegou a ser aplicado com os usuários
que aponta para a urgência da ampliação porque as atividades da pesquisa foram
da GAM nesse campo” (2020, p. 223). suspensas em função da pandemia do novo
Em face a essa lacuna, as pesquisas coronavírus.
discutem a criação de adaptações que Outras pesquisas enfatizam
surgem na medida em que as adaptações e reconfigurações mais
especificidades desse campo se impõem ao imediatas, como a adaptação de perguntas
trabalho com a GAM. O estudo de Méllo do guia já existente e a inclusão de termos
et al. (2020), por exemplo, consistiu na da semântica álcool e drogas para ampliar
composição de um GGAM experimental o alcance de experiências do GGAM.
voltado para pessoas com demandas de
saúde relacionadas ao consumo de drogas e No CAPS-AD, percebemos que a
na realização de oficinas sobre a GAM utilização das perguntas modificadas
com os trabalhadores de um CAPS AD, na tem incluído ainda mais os usuários,
cidade de Fortaleza. A composição, na medida em que se desloca a
intitulada “Gam@”, aposta na autonomia e conversa para uma questão que lhes
no cuidado de si para demover a é mais familiar: o uso de outras
centralidade dos fármacos nos tratamentos múltiplas substâncias e não somente
de saúde mental (Méllo et al., 2020). das medicações. Percebemos que tal
Segundo os pesquisadores, o guia ampliação tem permitido maior
tentou considerar aspectos singulares do deslocamento dos usuários entre os
contexto de álcool e outras drogas, como, dois temas, produzindo interlocuções
por exemplo, a inclusão de conteúdos no grupo sobre usos, abusos e
sobre Redução de Danos, expandindo a prazeres advindos dessas
GAM para além de uma discussão composições, por exemplo: no local
medicamentosa (Méllo et al., 2020). Além onde se fala em “medicação”,
disso, houve redução do conteúdo escrito, acrescenta-se “e outras substâncias”
pois “as pessoas atendidas no CAPS-ad (Rosa et al., 2020, p. 88).
onde estamos desenvolvendo a pesquisa e
nos CAPS-ad de forma geral, em Ao analisar os artigos selecionados
Fortaleza, estão em situação de rua e/ou percebemos que a relação entre as
lêem pouco ou quase nada” (Méllo et al., substâncias prescritas e as substâncias

Rev. Polis e Psique, 2021; 11(3): 100 - 124 113


Gestão Autônoma da Medicação na Atenção à Saúde das Pessoas que Usam Drogas
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proscritas também emerge como uma entre medicação e substâncias


questão específica e elementar na interface psicoativas, sobretudo em relação ao
que a GAM inaugura ao se inserir no álcool, como é o caso do usuário que
campo do consumo de drogas. Segundo relatou ter feito essa junção e quase
Rodrigues (2014), as substâncias proscritas ter morrido. “Eu vi a morte de perto.
(banidas pela sociedade) são aquelas que, Mas eu gosto de misturar. Se alguém
ao contrário das substâncias prescritíveis me ofereceu eu não recuso não.
(medicamentos, por exemplo), são Tomo o remédio a noite e já durmo
qualificadas como ilícitas em razão de sua com o meu corote no lado da cama”
proibição. Como sabemos, prossegue o (Rosa et al., 2020, p. 86).
autor, essa proibição utópica jamais
impediu a existência das experiências de Esse foco de experiência, que

consumo das drogas consideradas ilícitas envolve o consumo de drogas prescritas e

(Rodrigues, 2014). drogas proscritas, prescinde das

Baseando-se na experiência de sua controversas classificações das drogas nas

pesquisa, Surjus et al. (2020), afirmam que sociedades ocidentais (medicinais,

há uma necessidade de aproximar as recreativas, lícitas, ilícitas, etc.) e precisa

discussões sobre o manejo do uso de ser considerado entre os efeitos

medicamentos ao campo das outras drogas. iatrogênicos nas condutas medicamentosas

O estudo de Caron e Feuerwerker (2019), nos serviços de saúde mental (Caron et.al.,

por sua vez, aponta que muitos usuários 2020).

interrompiam a medicação por temer o uso Nesse cenário, os problemas contra

simultâneo de psicotrópicos e outras os quais as práticas GAM se insurgem,

substâncias psicoativas. Nesse contexto, como a comunicação insuficiente (ou sua

existem modos de relação com as total ausência) de informações sobre o

substâncias psicoativas em que a droga tratamento medicamentoso e o baixo poder

farmacológica não é exclusividade, mas de negociação dos pacientes na relação

coexiste com o consumo de outras drogas com os prescritores, tornam-se ainda mais

que não aparecem na receita: evidentes:

Não são raros, ao longo dos grupos [fala de um participante] eles nos

GAM-AD, relatos de risco, inclusive entregam o saco com os remédios,

de óbito, associado a essa associação todos sem bula, e a gente não sabe
bem pra que serve. Tomo o
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Montenegro, F. V. P. & Sampaio, J. V.
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comprimido laranjinha pra dormir e (misturas, substituições e permutas)


um outro branquinho que eu não sei produziu um efeito de cuidado importante,
para que serve. Acho que é para tirar pois implicou a equipe de saúde na
a ‘deliração’. A gente sabe que não produção de planos de cuidado que
pode usar medicação e usar considerassem os arranjos reais feitos
substância junto, mas a gente usa pelos usuários; para além do ideal ditado
(Rosa et al., 2020, p. 86). nos protocolos (Rosa et al., 2020).
A dimensão coletiva e contratual da
Para Rosa et al. (2020), essa GAM também aparece como aspecto de
inseparabilidade entre as drogas lícitas e implicações significativas para o trabalho
ilícitas na experiência dos participantes das com a estratégia no campo do consumo de
intervenções GAM-AD sinaliza a drogas. De acordo com Caron et.al. (2020),
necessidade de ampliar o guia GAM- não se trata de uma gestão individual do
Brasil. Essa perspectiva ecoa em outros uso da medicação, mas de uma prática
estudos analisados nesta revisão, como o cogestiva em que trabalhadores de saúde,
de Caron et.al. (2020), que interrogam participantes e pesquisadores constroem
sobre as possibilidades de experimentar a práticas GAM em um processo que é
autonomia na relação com as drogas a coletivo. Nesses termos, a GAM tem
partir da GAM, sem necessariamente repercutido diretamente no processo
focalizar o uso da medicação. De acordo terapêutico de seus participantes, pois
com esses autores, poderia haver um outro fomenta a produção de novos
ângulo “derivado da proposta GAM em engajamentos e laços entre os atores que o
questão neste campo do consumo de constituem.
substâncias: o da gestão autônoma da Ao inserir a proposta da GAM em
droga” (Caron et al., 2020). um CAPS Álcool e Drogas, Caron e
Ainda nessa linha de investigação, Feuerwerker, perceberam que o
Rosa et al. (2020) destacam as narrativas compartilhamento cogestivo contribuía
dos usuários sobre os modos de gerir os para a “formação de uma rede de proteção
prazeres e os riscos inerentes à mistura das com potencial de redução de danos e
substâncias psicoativas com as medicações ampliação de autonomia na relação com o
prescritas. De acordo com os resultados de uso de substâncias psicoativas (2019, p.
sua pesquisa, o fato de os participantes 22). Nesse sentido, a GAM se aproxima de
poderem falar abertamente sobre os modos uma outra estratégia de cuidado às pessoas
particulares de consumir as substâncias
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Gestão Autônoma da Medicação na Atenção à Saúde das Pessoas que Usam Drogas
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que consomem drogas, a estratégia de autônoma da medicação têm apresentado


Redução de Danos. novos repertórios para transformar as
racionalidades e práticas de atenção à
Na acepção mais próxima do sentido saúde através da valorização da cogestão,
original do termo “redução de da autonomia e do respeito ao direito dos
danos”, o dispositivo GAM auxilia a usuários (Lindenmeyer; Diello&
invenção de modos de reduzir danos Azambuja, 2019).
produzidos pelo uso de
medicamentos psiquiátricos e outras Crítica à medicalização
drogas. As discussões propostas no
Guia da GAM e as práticas de O questionamento da centralidade
cogestão situam um campo político terapêutica dos fármacos ou da hegemonia
de constituição de um poder de da resposta farmacológica no campo da
contratualidade destes usuários, saúde mental é uma pauta fundamental
primeiramente em relação aos para a GAM. Segundo Caron e
direitos na área da saúde. Mais Feuerwerker (2019), a GAM constitui uma
adiante, esse campo político se estratégia de cuidado baseada na
estende à constituição de uma construção de espaços dialógicos em rede
cidadania que inclui a defesa de questionando, portanto, a crescente
direitos humanos frente ao estigma, a medicalização no campo da saúde mental.
segregação social e abusos físicos e Ao analisar as falas de médicos
morais. (Caron; Feuerwerker, 2019, prescritores participantes de seu estudo,
p. 22). Rosa et al., concluíram que “a estratégia
GAM instala uma experiência crítica à
Ainda nessa linha de argumentação, medicalização, visível na produção de uma
Ferreira (2019), observa que ao ler o relação conflitiva com o ato de prescrição
GGAM percebeu diversos pontos de e dá lugar a uma inseparabilidade na
convergência com as estratégias e experiência de muitos usuários entre uso
metodologias da redução de danos de drogas prescritas, proscritas e lícitas.”
(autonomia, cogestão, acesso a (2020, p. 84).
informações sobre medicamentos e A medicalização designa um
proposta de gestão compartilhada de conjunto de práticas sociais que adquiriram
psicotrópicos). Sendo assim, tanto a cada vez mais relevância desde que o
redução de danos quanto a gestão
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Montenegro, F. V. P. & Sampaio, J. V.
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termo foi empregado por Michel Foucault Em linhas gerais, o termo


(2014) para caracterizar determinadas medicalização é aqui entendido
formas de investimento político da como a usual e hegemônica prática
vitalidade humana na modernidade. de tentar explicar o modo de ser, de
Segundo Zorzanelli e Cruz (2018), o viver, de sentir e agir, em uma
conceito foucaultiano, empregado para relação majoritariamente causal
analisar os modos como a vida tem sido biomédica, em detrimento de outros
experimentada e compreendida por meio aspectos que compõem uma analítica
dos discursos e práticas do saber médico, da produção da saúde (Galindo;
tem dois sentidos principais. Lemos; Vilela & Garcia, 2016, p.
O primeiro significado se refere ao 347).
histórico da medicalização como prática
social de sanitarização (urbanização, Muito embora, conforme sabemos
higiene pública, controle de natalidade, por Zorzanelli e Cruz (2018), atores não
etc.) e o segundo caracteriza o fenômeno médicos desempenhem papéis importantes
contemporâneo de medicalização nos processos de medicalização, no Brasil,
indefinida, marcado pelo apagamento das historicamente a figura do médico têm
fronteiras entre o saber médico e a vida protagonizado eventos decisivos nesta
como um todo (Zorzanelli& Cruz 2018). seara. Além do exclusivo poder de
Atualmente, este último tem sido alvo de prescrição detido pela categoria médica,
maior interesse no campo da saúde mental, recentemente a Associação Brasileira de
pois descreve o processo de ampliação e Psiquiatria (ABP) propôs a substituição da
hegemonia do campo das intervenções atenção psicossocial por um modelo de
médicas questionadas por movimentos assistência ambulatorial semelhante ao dos
sociais pelo direito à saúde como o sistemas de saúde privados (Folha de São
movimento de saúde mental alternativa do Paulo, 2020).
Quebec, precursor da GAM. Para Galindo et al. (2016),
Nessa perspectiva, a medicalização atualmente o fenômeno da medicalização
pode compreender também determinadas também envolve o complexo da indústria
práticas que se pretendem de atenção à farmacêutica e o consumo indiscriminado
saúde, bem como as teorias e de psicotrópicos, configurando o que os
racionalidades que as embasam: autores chamam de um processo de
farmacologização da vida em que os

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Gestão Autônoma da Medicação na Atenção à Saúde das Pessoas que Usam Drogas
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medicamentos adquirem um papel central. Ao colocar o participante no centro


Desde a sua gênese a GAM tem do tratamento, como sujeito de direitos
problematizado essa centralidade da ativo, a GAM, segundo Caron e
medicação e os efeitos das tendências Feuerwerker, ajuda a desestabilizar o
medicalizantes no campo das práticas de estatuto estigmatizante do sofrimento
atenção à saúde mental, pois surge da mental e do consumo de drogas
inquietação de pessoas que se perceberam promovendo, assim, “uma redução de
hipermedicadas (Lindenmeyer et al., danos iatrogênicos produzidos pelas
2019). relações no campo da medicalização da
A crítica operada pela GAM, saúde e da vida” (2019, p. 22). Desse
todavia, não nega a importância dos modo, a estratégia GAM tem sido
medicamentos no processo terapêutico, apontada não apenas como compatível
mas fomenta uma reflexão sobre “o lugar com o paradigma da atenção psicossocial,
que os medicamentos têm ocupado nas mas como dispositivo capaz de revitalizar
nossas vidas e os seus significados em os princípios que têm animado a reforma
nossas subjetividades, quando os em saúde mental no Brasil:
aceitamos como única e inevitável opção
de combate às dificuldades de viver” Podemos pensar que a estratégia
(Galindo et al., 2016, p. 357). GAM atualiza princípios básicos do
Nessa perspectiva, o que se propõe SUS e da Reforma, como a
com a GAM é um olhar menos participação social, o protagonismo
reducionista capaz de ultrapassar os do usuário nas decisões sobre seu
determinismos e a visão do tratamento processo de cuidado, servindo como
farmacológico como terapêutica ferramenta para a invenção e
privilegiada no âmbito da saúde mental formação em tecnologias leves, da
(Ferreira, 2019). Ainda sobre este tópico, arte da conversação, da escuta, do
Rosa et al. (2020), argumentam que a acolhimento, suportes para
GAM pode produzir desestabilizações no construção de redes de apoio, laços
poder prescritor dos profissionais de saúde sociais e maior autonomia (Rosa et
(de medicação e de modos de vida) quando al., 2020, p. 80).
os usuários questionam as práticas
automatizadas de cuidado a partir de sua A análise dos artigos mostrou que a
experiência com o guia. problemática da medicalização da vida é,

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Montenegro, F. V. P. & Sampaio, J. V.
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antes de tudo, uma discussão comum às potencializa tanto a crítica à medicalização


pesquisas e intervenções que têm a GAM nas práticas assistenciais quanto a
por escopo. Nesse sentido, a GAM se transformação dessas práticas a partir da
inscreve no mesmo ethos que têm construção de outros modos de relação
movimentado tanto o processo histórico da com as substâncias psicoativas (prescritas
atenção psicossocial brasileira ou não). Nesse sentido, as práticas GAM
(movimentos de luta antimanicomial, no contexto da atenção psicossocial à
reforma sanitária e reforma psiquiátrica), saúde das pessoas que consomem drogas,
quanto as estratégias de redução de danos. além de coadunar os princípios do
paradigma psicossocial, oferecem
A GAM-BR aposta na autonomia ferramentas para efetivar o modelo de
como cogestão, como gestão atenção integral à saúde preconizado no
partilhada da experiência da Sistema Único de Saúde (SUS) enquanto
medicação. Promover dispositivos política de Estado.
para a colocação em debate de um
tema proscrito no cotidiano de Considerações finais
grande parte das instituições de
saúde mental, qual seja, a À guisa de conclusão, voltamos ao
experiência vivida pelos próprios tema do consumo crescente de
usuários que fazem uso de psicotrópicos, nosso ponto de partida, para
psicotrópicos prescritos, é uma sublinhar que, embora a luta contra o
direção do trabalho com a Gestão manicômio e demais práticas excludentes
Autônoma da Medicação. E, nesse permaneça como pauta prioritária no
ponto, o paradigma do cuidado na campo da saúde mental, é necessário
GAM se aproxima ao da RD, naquilo discutir a emergência de outros fenômenos
que ambos valorizam: a reintrodução como a medicalização da vida,
do fora, das experiências proscritas, especialmente por vias farmacológicas. Se
no centro do debate (Rodrigues, a medicação se mantém como prática não
2014, p. 181). reformada no campo da saúde mental
brasileira, precisamos investir em
Desse modo, a GAM, seja pelas pesquisas e metodologias que
problemáticas que aponta ou pelos problematizem o papel da medicação no
resultados de sua implementação,

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Gestão Autônoma da Medicação na Atenção à Saúde das Pessoas que Usam Drogas
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processo terapêutico (Surjus et al., 2020; drogas (prescritas e proscritas) são


Kimati Dias; Muhl, 2020). substâncias cujas diferenças não são
A literatura analisada nesta revisão essenciais, por isso seu estatuto é definido
demonstra que a GAM tem se inserido, nas práticas sociais historicamente
cada vez mais e de forma cada vez mais situadas.
ampla, no esforço de construir estratégias Não obstante, as pesquisas
e/ou metodologias capazes de discutir o analisadas trazem evidências de que a
uso dos medicamentos psicotrópicos a inserção da GAM no contexto da atenção à
partir de uma perspectiva da integralidade saúde das pessoas que usam drogas é
e da autonomia. A perspectiva possível e necessária. Em um contexto
metodológica da cogestão ou gestão marcado pela hegemonia da resposta
compartilhada atravessa a história da farmacológica, em que as portarias que
construção da GAM desde a sua origem sustentam a política nacional de saúde
nos movimentos sociais canadenses até a mental são ameaçadas de revogação (Folha
sua chegada ao Brasil, onde tem sido de São Paulo, 2020), essas publicações
reconfigurada ao sabor das nossas atestam o papel ético e político adquirido
diferenças e singularidades. No campo da pela GAM através do seu compromisso
atenção à saúde das pessoas em consumo com a crítica às práticas e tendências
de drogas, a empreitada de realizar essa medicalizantes. Além disso, a vigente
discussão por meio da GAM é pandemia têm deixado “ainda mais
complexificada pelas especificidades evidente o papel dos medicamentos como
próprias a esse campo da atenção mediadores de crenças e de expectativas
psicossocial. sobre o futuro, e a relevância de
Nesse sentido, as pesquisas reexaminar papéis desempenhados pelas
analisadas desenham um cenário em que, substâncias em nossa cultura” (Zorzanelli,
além de lidar com as singularidades da 2020, p. 2).
clínica AD, o campo da GAM precisa Ainda nessa perspectiva, embora
aprofundar a compreensão da interface não tenham aparecido em nossa busca, os
entre GAM e atenção à saúde das pessoas trabalhos de Frei e Lomonaco, (2019) e
que consomem drogas (medicamentosas ou Rodrigues e Passos (2017), também
não). Essas pesquisas nos recordam o que a argumentam a convergência da ética de
utopia disciplinar de uma sociedade sem cuidado nas composições da gestão
drogas ignora obstinadamente: que as autônoma da medicação com a estratégia

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Montenegro, F. V. P. & Sampaio, J. V.
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redução de danos, bem como sua recusa à a GAM no âmbito da clínica de álcool e
separação entre drogas prescritas e outras drogas. O reduzido número de
proscritas enquanto efeito da política de publicações encontradas sobre essa
guerra às drogas. temática, contudo, sugere que são
Incluir o consumo de outras drogas, necessários mais estudos para explorar a
aquelas que não aparecem no receituário interface aberta pela inserção das práticas
de controle especial, nas discussões sobre a GAM no contexto da atenção à saúde das
GAM é fundamental, pois, conforme pessoas em consumo de drogas.
observam Adamy e Silva (2017),
historicamente a temática das drogas Referências
esteve de forma secundária no processo de
Adamy, P., & Silva, R. N. (2017).
Reforma Psiquiátrica, sendo pouco Redução de Danos e Linhas de
Cuidado. In S. D. Torossian, S.
discutida na elaboração e implantação do
Torres, & D. B. Kveller (Eds.),
modelo de atenção psicossocial. Nesse Descriminalização do Cuidado:
Políticas, Cenários e Experiências em
interstício tentam se instalar diversas
Redução de Danos. Rede
práticas de exceção como a banalização da Multicêntrica.
internação involuntária e as comunidades
Baptista, J. Á., Camatta, M. W. Filippon,
terapêuticas (Adamy& Silva, 2017). P. G., & Schneider, J. F. (2020).
Singular therapeuticproject in mental
As publicações analisadas nesta
health: anintegrativereview. Revista
revisão efetuam discussões sobre o Brasileira de Enfermagem, 73(2),
e20180508. doi:10.1590/0034-7167-
desenvolvimento dessa estratégia cogestiva
2018-0508
de cuidado em nosso país, sobre as
Caron, E., &Feuerwerker, L. C. M.
especificidades, diferenças ou
(2019). Gestão Autônoma da
singularidades do trabalho com a GAM no Medicação (GAM) como dispositivo
de atenção psicossocial na atenção
contexto da atenção à saúde das pessoas
básica e apoio ao cuidado em saúde
que consomem drogas, bem como uma mental. Saude e Sociedade, 28(4), 14–
24. doi:10.1590/s0104-
crítica à crescente medicalização da vida
12902019190697
em nossa sociedade. Ao reportar os
Caron, E., Feuerwerker, L. C. M., &
resultados de suas pesquisas sobre a GAM
Passos, E. H. (2020). GAM, apoio e
e o consumo de drogas, os artigos cuidado em CAPS AD. Rev. Polis
Psique, 10(2), 99–121.
analisados ajudam a compreender as
doi:10.22456/2238-152X.103408
especificidades, os desafios e as
Chaves, F. A. M., &Caliman, L. V.
potencialidades do emergente trabalho com
(2017). Entre Saúde Mental e a

Rev. Polis e Psique, 2021; 11(3): 100 - 124 121


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ORCID: http://orcid.org/0000-0001-5770-
244X

Submissão: 12/03/2021

1º avaliação: 06/10/2021

2º avaliação: 13/10/2021

Aceite: 19/10/2021

Rev. Polis e Psique, 2021; 11(3): 100 - 124 124

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