Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AMARAL, Aruana Do - A Divisão de Números No Ensino Fundamental Sob o Olhar de Uma Professora
AMARAL, Aruana Do - A Divisão de Números No Ensino Fundamental Sob o Olhar de Uma Professora
2018
Nome do Autor
divisão no Ensino Fundamental, dos saberes pedagógico e de conteúdo,
OLHAR DE UMA PROFESSORA: da
Título
da formação matemática de professores e do uso do Material Dourado
no ensino de matemática. compreensão dos saberes
Orientador: Luciane Mulazani dos Santos
matemáticos e pedagógicos à
proposta de material interativo.
ARUANA DO AMARAL
JOINVILLE, 2018
Joinville, 2018
ARUANA DO AMARAL
JOINVILLE-SC
2018
RESUMO
This research was developed in the area of Mathematics Education for the
development of an educational product on the teaching of the division in Basic
Education. The study dealt with the possibilities and challenges of teaching the
division for primary school students and the mathematical and pedagogical
knowledge of teachers who teach mathematics in this context. The developed
educational product takes the form of a division teaching toolbox in a proposal that
teachers can use the material in different ways according to their intentions. Its
content includes: printed sheets explaining concepts, algorithms and problems; a set
of golden material as a suggestion of interactive feature that can be used in teaching
division. The research questions are described and justified in the perspective of the
discussion about the division teaching in Elementary School, the pedagogical and
content knowledge, the mathematical training of teachers and the use of the Golden
Material in the teaching of mathematics.
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10
2 A PESQUISA......................................................................................................... 12
2.1 DESCRIÇÃO, JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA ......................................... 12
2.2 OBJETIVOS ................................................................................................. 13
2.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................... 13
2.4 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 16
2.4.1 O saber docente...................................................................................... 16
2.4.2 Divisão e Teoria dos Números................................................................ 24
2.4.3 O Ensino de Divisão................................................................................ 28
3 O PRODUTO EDUCACIONAL .............................................................................. 64
3.1 Prática docente compartilhada no Ensino Superior ...................................... 65
3.2 Conteúdo e apresentação ............................................................................ 68
3.2.1 O significado da divisão...........................................................................68
3.2.2 Divisão exata e inexata........................................................................... 70
3.2.3 Introduzindo a divisão..............................................................................72
3.2.4 Métodos de resolução da operação de divisão....................................... 75
3.2.5 Material Dourado..................................................................................... 84
4 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 87
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 90
10
1 INTRODUÇÃO
Lembro-me que fazer a escolha do curso de graduação não foi uma tarefa
fácil. No último ano do Ensino Médio, ainda não havia decidido que profissão
escolher: estava entre Letras e Licenciatura em Matemática. A princípio, pela
afinidade com as disciplinas, mas também por sempre gostar de ajudar/ensinar os
colegas. Letras, porque eu sempre gostei muito de leitura e Licenciatura em
Matemática, claro, por me identificar com os cálculos. Então, o gosto pela
licenciatura vem desde o colégio. Como nunca apresentei dificuldades na vida
escolar, sempre me voluntariava a ajudar os amigos e colegas com conteúdos de
difícil compreensão. A questão era: qual licenciatura seguir? Joinvilense e com
pretensão de continuar morando em minha cidade natal, tive que decidir e resolvi
aceitar o desafio de cursar a UDESC, uma universidade pública, na área de exatas.
Durante toda a graduação da Licenciatura em Matemática, me engajei em
projetos voltados à Educação Matemática e compreendi que, nessa área, somos
eternos aprendizes, o que foi uma das razões que me levou a cursar o mestrado
profissional na pós-graduação.
Hoje, atuo como professora que ensina matemática na Educação Básica, o
que me faz querer sempre buscar mais aprendizado e mais saberes, uma vez que
“ensinar inexiste sem aprender e vice-versa”. (FREIRE, 1996, p. 12).
Durante um período do meu curso de graduação, eu não questionava muito
sobre as estratégias que iria adotar na minha prática profissional, uma vez que o
senso comum era forte e, muitas vezes, me fez acreditar que ser professor é um
dom, ou seja, que eu naturalmente saberia como lidar com as situações de sala de
aula, mesmo as inesperadas já que, a princípio, possuía aptidão para tal. Entretanto,
quando cursei o estágio curricular e tive as minhas primeiras experiências com a
regência na sala de aula, comecei a perceber que eu não estava preparada para
lidar com algumas situações. Após a conclusão da graduação, quando entrei em
sala de aula como professora, me deparei com as dificuldades reais da profissão,
aquelas com as quais ninguém te ensina a lidar quando você está no processo de
formação inicial. Foi aí que percebi o quanto seria benéfico, para professores e
alunos, se compartilhássemos nossos esforços, nossos erros, nossos acertos com
outros professores. Mas, geralmente, guardamos essas situações para nós mesmos,
11
quando poderíamos compartilhá-las para que algum outro professor menos
experiente fizesse um bom uso das informações preciosas que construímos.
Dessa forma, agora cursando um mestrado profissional, percebi a importância
de desenvolver um produto educacional que possa servir de auxílio para os
professores, um material que apresente e discuta estratégias pedagógicas sobre um
tema ligado ao cotidiano do professor de matemática – nesse caso, o ensino de
divisão no Ensino Fundamental. Escolhi trabalhar com o conteúdo de divisão
porque, na minha experiência profissional, percebi quantos desafios há no ensino
desse conteúdo e na sua compreensão por parte dos alunos. Portanto, desenvolver
um produto educacional que auxilie o professor a ensinar esse conteúdo me pareceu
pertinente, já que é possível que outros professores percebam essa dificuldade e
queiram sugestões de atividades que ajudem nesse processo.
12
2 A PESQUISA
2.2 OBJETIVOS
Geral:
Específicos:
1
Cabe ressaltar que todas as citações de Shulman indicadas são referentes ao texto
traduzido e publicado em 2014. E, além disso, que quando forem indicadas somente as páginas de
onde foram retiradas as citações, subentenda-se que se referem, todas, a Shulman (2014).
17
2014, p. 205). Essa citação evidencia seu interesse e preocupação em discutir os
seguintes aspectos relativos ao saber docente para o exercício da profissão de
professor: as fontes do conhecimento, as categorias de base do conhecimento
e os aspectos do raciocínio pedagógico.
A. Fontes de conhecimento
Pode ser definido, de forma geral, como a habilidade que o professor precisa
ter para ensinar, ou seja, conhecimento sobre “ações e representações” que “se
traduzem em jeitos de falar, mostrar, interpretar ou representar ideias, de maneira
que os que não sabem venham a saber, os que não entendem venham a
compreender e discernir”. (SHULMAN, 2014, p. 205).
Além disso, há lugar importante, no processo, para a estrutura curricular
envolvida com a prática do professor, o que leva, também, à necessidade de
construção de conhecimento a respeito do currículo.
Para encontrar seu caminho por meio do ato de ensinar, o professor deve
pensar no caminho entre o conteúdo que entendeu e as mentes e
motivações dos alunos. Transformações, portanto, requerem alguma
combinação ou ordenação dos seguintes processos, cada um dos quais
emprega algum tipo de repertório: (1) preparação (dos dados materiais de
texto), incluindo o processo de interpretação crítica; (2) representação das
ideias na forma de novas analogias, metáforas e assim por diante; (3)
seleções instrucionais num leque de métodos e modelos de ensino; e (4)
adaptação dessas representações para as características gerais dos jovens
em sala de aula. (SHULMAN, 2014, p. 217).
Instrução “envolve o desempenho observável de vários atos de ensino”.
(SHULMAN, 2014, p. 219). De acordo com o autor, ela
Pró-Letramento
2
Link do programa:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=6003-fasciculo-
mat&category_slug=julho-2010-pdf&Itemid=30192
40
parceria de Universidades que compõem a Rede Nacional de Formação Continuada
além da adesão de escolas públicas dos Estados e Municípios. É oferecido para as
áreas de Matemática e Alfabetização/Linguagem, e funciona na modalidade
semipresencial, dispondo de materiais impressos e vídeos para compor suas
atividades (presenciais e a distância). Nesses materiais são disponibilizadas
atividades de práticas pedagógicas de diferentes assuntos do currículo escolar,
proporcionando um material de apoio pedagógico aos professores. Os objetivos
desse material são:
3
Link do programa:
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/gestar/aaamatematica/mat_aaa2.pdf
44
• na ação pedagógica da direção e do corpo docente, favorecendo a
construção coletiva e compartilhada de uma visão fundamentada do
processo de ensino e aprendizagem que resulte em benefícios para a
implementação, o acompanhamento e a avaliação;
• na reflexão sobre as representações acerca do magistério, do seu papel
social e das competências que dele são exigidas. (BRASIL, 2007a, p. 10).
Dentro da proposta do programa, há cadernos de Atividades de Apoio à
Aprendizagem (AAA), que consistem em um apoio à prática do professor, nesse
caso, o de Matemática, “para ajudá-lo a desenvolver o trabalho, em sala de aula, ao
rever, aprofundar e/ou ampliar a aprendizagem de conceitos, procedimentos,
atitudes, relativas a essa área de conhecimento.” (BRASIL, 2007b, p. 9).
O segundo material de apoio (AAA2) do programa traz diferentes abordagens
para as quatros operações básicas, seja nos conceitos ou nas técnicas operatórias.
No que diz respeito ao processo de divisão, os autores optam por iniciar com
atividades que explorem os conceitos presentes na divisão para, posteriormente,
abordar as técnicas operatórias do processo.
Desse modo, no segundo material de atividades de apoio à aprendizagem
(AAA2) está contemplado o conteúdo de divisão, onde os autores introduzem as
atividades com alguns problemas de divisão não igualitária. Esses problemas
buscam trazer ao aluno questões que estejam ligadas ao seu meio, já que nem
todas as operações de divisão que fazemos no cotidiano são feitas em partes iguais.
Sendo assim, os alunos conseguem enxergar um significado para a operação,
possibilitando um melhor entendimento do conceito matemático que virá
posteriormente.
Na sequência, as atividades trazem questionamentos sobre questões
cotidianas em que há a possibilidade de realizar divisões igualitárias, levando os
alunos a explorarem aos poucos essa possibilidade. Nessas atividades, o material
propõe que os alunos realizem a divisão de diversas formas, inclusive com a
possibilidade de sobra (resto), não limitando a uma resposta correta. Quando o
material aborda os processos operatórios da divisão, na sequência do material, se
reforça (e explora) que a divisão nos problemas matemáticos envolvem o conceito
de divisão igualitária. Então, é iniciado o algoritmo da divisão.
No problema inicial é apresentada uma situação onde há a divisão (igualitária)
de uma quantia em dinheiro, R$ 363,00, entre três pessoas, sendo esse um
problema de partição. No desenrolar da resolução do problema é questionado,
inicialmente, quantas notas de R$100,00 cada pessoa receberá, para em seguida
45
questionar quantas notas de R$10,00 cada pessoa ganhará e, por fim, quantas
notas de R$1,00 cada um receberá. Esse método de divisão pela centena, dezena e
unidade, separadamente, possibilita que o aluno compreenda mais facilmente o
valor que corresponderá ao resultado. Pois, assim, ele percebe que o valor recebido
por cada pessoa consistirá em um valor na casa das centenas (nesse caso). Muitas
vezes quando os alunos realizam o processo operatório da divisão, eles acabam não
verificando se a resposta faz sentido de acordo com o problema proposto, ou seja,
se é um valor proporcional ou não ao que deveria ser encontrado. Sendo assim, a
forma apresentada proporciona que o aluno perceba que conforme vai realizando a
divisão, os resultados vão fazendo sentido até compor a resposta final. Isto é, desse
modo apresentado, há a possibilidade de diminuição da incidência de erros, uma vez
que o processo é realizado passo a passo e com questionamentos que fazem
sentido para o aluno.
A segunda atividade proposta no material busca explorar o conceito de
medição, ou seja, “quantas vezes cabe”. O problema consiste em, dispondo de 48
livros, determinar quantas caixas serão necessárias sabendo que em cada uma
foram colocados 4 livros. Então, é sugerido que se formem grupos de quatro em
quatro livros, utilizando figuras. Os alunos acabam concluindo que é possível formar
12 grupos, ou seja, serão necessárias 12 caixas. Após a proposta com figuras, o
problema traz o algoritmo da divisão explorando o conceito de “quantas vezes cabe”.
Dessa forma, o primeiro questionamento é: quantas vezes o 4 cabe dentro do 48?.
Sabemos que caberá, pelo menos, 10 vezes, pois 4 vezes o 10 resulta em 40. Então
no quociente é colocado o 10. Depois sobram 8 livros e é questionado: quantas
vezes o 4 cabe dentro do 8?. E então se apresenta o resultado 2, pois 4 vezes o 2
resulta em 8. Portanto, o resultado será a soma das vezes que couberam, ou seja,
10+2, que é igual a 12. Então, a conclusão é que são necessárias 12 caixas para
esse problema.
No terceiro problema, é explorado o uso do material dourado com o conceito
do primeiro problema, divisão por partição, em que a divisão é separada em
centena, dezena e unidade. A atividade propõe dividir 488 livros em 4 caixas e
busca descobrir a quantidade de livros que será distribuída em cada caixa, de forma
igualitária. Para isso, são utilizados 4 blocos de centena do material dourado, mais 8
fileiras de dezena e também 8 cubinhos de unidade, totalizando o valor 488. Então,
é solicitado que o aluno realize a divisão das peças, igualmente, para a centena, a
46
dezena e a unidade apresentadas. Desse modo, o resultado consiste em 1 bloco de
centena, duas fileiras de dezena e dois cubinhos de unidade em cada caixa, isto é,
122 livros serão distribuídos em cada caixa. Após a exploração do material dourado,
a atividade propõe que o aluno resolva a divisão utilizando o algoritmo para
verificação/confirmação do resultado. O método da resolução do algoritmo não é
especificado, ficando, então, de opção do aluno a forma de resolução.
Essa atividade, utilizando o material dourado, inspirou a utilização do mesmo
no produto educacional da pesquisa, pois esse material possibilita uma outra
maneira de trabalhar a divisão, trazendo ao professor mais uma forma de explorar
com seu aluno a operação, onde essa se diferencia dos algoritmos usuais.
Na quarta atividade, são propostas quatro divisões para os alunos
resolverem, sendo todas elas exatas (sem resto) e com objetivos semelhantes às
exploradas anteriormente. Não há orientação quanto aos processos que devem ser
utilizados nessa atividade, ficando livre a opção do aluno pelo método de resolução
que julgar mais conveniente. E essas divisões não consistem em problemas, mas
sim em contas, diretamente, provavelmente buscando aprimorar os métodos
abordados nos problemas anteriores.
Na última atividade, o material explora a divisão por 10, 20 e 40, sugerindo a
utilização do material dourado ou de cédulas para efetuar os processos. As divisões
sugeridas são: 200 por 10, depois 200 por 20 e, por último, 200 por 40. Essa quinta
atividade é contextualizada, utilizando como problemática uma empresa de ônibus
que cobra R$200,00 para uma excursão e, dependendo da quantidade de alunos, o
valor pago por aluno irá aumentar ou diminuir realizando a divisão igualitária entre os
alunos. Assim, as possibilidades de quantidades de alunos participantes da
excursão são 10, 20 ou 40.
Na sequência do material, há um problema proposto em que o tipo de divisão
é diferente dos explorados nas cinco atividades trabalhadas anteriormente. Nesse
caso, se propõe a divisão de R$75,00 em 3 pessoas. É diferente, pois quando for
verificado “quantas vezes cabe” o 3 em 70, por exemplo, haverá uma sobra. Mesmo
utilizando outro processo como separar em dezena e unidade, haverá sobra em um
primeiro momento, não no resultado, mas sim, no processo. Então, inicialmente, o
material sugere dividir as 7 notas de R$10,00 (no problema é assim apresentada a
composição do dinheiro, em notas de R$10,00, não com combinações de R$20,00,
por exemplo) entre as 3 pessoas e questiona o que acontece. No caso, cada um
47
receberá R$20,00 e sobrará R$10,00. Após a verificação de sobra, a atividade
sugere compor os R$10,00 que sobraram em 10 notas de R$1,00. Em seguida,
esses R$10,00 em notas de R$1,00 são juntados aos R$5,00 que ainda haviam dos
R$75,00. Dessa forma, sobraram R$15,00 para serem divididos entre as 3 pessoas,
ficando R$5,00 pra cada um. No final, então, cada pessoa recebeu os R$20,00 mais
os R$5,00, totalizando R$25,00 para cada pessoa. Depois de fazer todo esse
processo, com todas essas considerações, a atividade sugere a resolução pelo
algoritmo da divisão, com o método do problema 1 (dividindo dezenas e depois
unidades, separadamente).
Finalizando no material a parte de divisão, são propostas mais quatro
atividades, todas com orientações, para praticar os processos trabalhados em todas
as outras questões anteriores. O foco dessas últimas atividades é a prática dos
processos já diretamente com os algoritmos, sem o auxílio dos materiais
manipuláveis (cédulas e material dourado).
Nesse caderno de Atividades de Apoio à Aprendizagem (AAA2), é
demonstrado o cuidado ao introduzir o conteúdo de divisão, uma vez que os
problemas são apresentados em progressão de níveis de dificuldade e
entendimento. As questões iniciam com problemas de divisões não-igualitárias e
com respostas abertas, para, então, introduzir a divisão igualitária, com questões
simples, até chegar nas divisões mais abstratas que envolvem resto durante o
processo e, por isso, necessitam de uma atenção maior. Ainda, em todas as
atividades são apresentadas orientações e sugestões, proporcionando ao professor
mais segurança e confiança no trabalho com o educando. Portanto, esse caderno
compõe um apoio pedagógico com potencial para a melhoria do ensino de divisão,
bem como para a aprendizagem do aluno.
Esse livro didático pertence à uma edição anterior à aprovada no PNLD 2017
(a 2ª edição, de 2011, foi aprovada no PNLD 2013 e para o PNLD 2017 foi aprovada
a 3ª edição, de 2014). Porém, a escola que disponibilizou esse livro o utilizava no
ano de 2017 e como o livro é da mesma coleção, acreditamos não impactar na
análise do conteúdo sobre divisão.
No início do livro há uma parte destinada apenas à versão do livro do
professor, onde os autores destacam os objetivos de cada capítulo, bem como
estratégias de encaminhamento para esses capítulos. No capítulo 6, que é o
capítulo específico da divisão, os autores elencam como os objetivos do material:
Esse livro didático, assim como aquele da mesma coleção analisado para o 4º
ano, pertence à uma edição anterior à aprovada no PNLD 2017 (a 2ª edição, de
2011, foi aprovada no PNLD 2013 e para o PNLD 2017 foi aprovada a 3ª edição, de
2014), porém a escola que disponibilizou esse livro, também o utilizava no ano de
2017 e como o livro é da mesma coleção, acreditamos não impactar na análise do
conteúdo.
Deste modo, assim como o outro livro didático da mesma coleção, há uma
parte do livro destinada apenas ao professor (presente apenas no manual do
55
professor), com atividades, objetivos e sugestões para cada capítulo do livro
didático. No caso desse livro, os autores exploram os encaminhamentos para as
operações de multiplicação e divisão em conjunto, onde o capítulo que trata dessas
operações traz os seguintes objetivos:
Partição: “D. Maria fez 15 doces para dividir igualmente entre três bandejas.
Quantos doces serão colocados em cada bandeja?”
Quotição: “D. Maria fez 15 doces e quer arrumar esses doces colocando
três doces em cada bandeja. De quantas bandejas ela vai precisar?”
(SCHLIEMANN e CARRAHER, 1998, p. 97).
Já Centurión (2002, p. 192), exemplifica a ideia de repartir dizendo “distribua
igualmente 42 folhas de sulfite para 7 alunos. Depois outra, e outra, até que se
acabem as folhas. Cada criança recebe, no final, 6 folhas.” E para a ideia de medir
prossegue “temos 42 folhas de papel sulfite para distribuir, para cada criança, em
pacotes de 6 folhas. Quantos pacotes serão formados? Quantas crianças receberão
6 folhas?”. Nesse segundo caso, Centurión (2002) reforça que o que se faz é a
distribuição de 6 folhas por vez até que se acabem todas as folhas e, assim,
descobriremos a quantidade de crianças que receberá 6 folhas.
Há diferentes formas de resolução do processo operatório, tanto para
problemas de partição ou de medição. Além disso, pode-se trabalhar com grandezas
discretas ou grandezas contínuas. “Na divisão de grandezas contínuas, o resto pode
ser subdividido sem alterar o significado das partes que resultarão da divisão”.
(CENTURIÓN, 2002, p. 206). Desse modo, quando trabalhamos com grandezas
contínuas estaremos lidando com grandezas (massa, tempo, comprimento etc.) de
coisas que podem ser subdivididas como, por exemplo: uma barra de chocolate, o
terreno de uma fazenda, a duração de um jogo de futebol etc. “Numa divisão de uma
quantidade discreta pode sobrar um resto, mas não haveria sentido em subdividi-lo”.
(CENTURIÓN, 2002, p. 206). As grandezas discretas representam grandezas que
não podem ser subdivididas, ou seja, referente a coisas que, no contexto do
problema, não faz sentido serem subdivididas. Por exemplo: pessoas, animais,
bolas, canetas, livros etc.
Nesta pesquisa, trabalhamos com grandezas discretas, uma vez que o foco
do trabalho está no processo da divisão. Quando, então, houver um resto, diferente
de zero em um problema sobre uma grandeza discreta, é importante apresentar ao
aluno as interpretações possíveis para o resto de acordo com os problemas
apresentados. Por exemplo:
4
Nascida em 1870, em Chiaravalle, Itália, foi uma pedagoga, pesquisadora e médica italiana.
Autora do “Método Montessori” voltado ao ensino da Educação Infantil.
85
5
(em madeira) por Hélène Lubienska de Lenval . Atualmente, seu formato consiste
em um conjunto formado por: cubinhos de madeira representando as unidades,
barrinhas com dez cubinhos representando as dezenas, uma placa com 100
cubinhos (10x10) – ou dez barrinhas – representando a centena e, por fim, um cubo
gerado pela composição de 1000 cubinhos (10x10x10) – ou dez placas –
representando a unidade de milhar, como pode ser observado na Figura 3.12:
Figura 3.12 – Material Dourado
5
Nascida em 1895, em Roma, Itália. Pedagoga, seguidora de Maria Montessori.
86
apresentados, à facilidade de aquisição (muitas escolas, inclusive, já dispõem desse
material em sala) e à oportunidade de exploração das potencialidades do mesmo.
Ainda,
Depois de ter concluído a minha pesquisa, percebi que quase sempre que se
fala em conhecimento necessário para que o professor atue com eficácia na sua
prática profissional, o primeiro conhecimento a ser mencionado é o conhecimento do
conteúdo. O professor deve estar preparado para ensinar de diferentes formas e,
para isso, é preciso que ele saiba o conteúdo que está ensinando com diferentes
perspectivas. A partir daí, podemos elencar outros tipos de conhecimento que se
fazem tão necessários quanto o domínio do conteúdo, uma vez que ao conhecer um
assunto não se cria automaticamente um professor, tais como: conhecimento
pedagógico, conhecimento pedagógico do conteúdo, conhecimento dos alunos e
suas características etc.
Também é necessário que o professor disponha de habilidade para
estabelecer a relação entre a pedagogia e conteúdo específico da sua disciplina,
que é o que o torna apto para o exercício docente. E é nessa relação que fica clara a
distinção de um professor para o restante dos profissionais que tenham apenas o
conhecimento do conteúdo.
Ainda, é possível ressaltar a necessidade de o professor conhecer o contexto
educacional no qual está inserido, pois, assim, definirá os recursos necessários para
atender aos alunos, se adaptará à linguagem social a ser utilizada, bem como
buscará ferramentas pedagógicas disponíveis (ou necessárias) para concretizar um
ensino eficaz naquela comunidade. Dessa forma, a necessidade de o professor
conhecer todas essas características consiste em tomar conhecimento da forma que
seus alunos aprendem para, então, preparar a sua aula de acordo com as
necessidades dos mesmos. Também, o professor possui um papel de destaque na
estrutura educacional e é importante que compreenda o valor de suas ações visto
que refletirá no processo de educação como um todo.
Outro conhecimento que contribui para a atuação do docente se refere à
prática didática, pois “toda teorização se dá em condições ideais, e somente na
prática serão notados e colocados em evidência certos pressupostos que não
podem ser identificados teoricamente.” (D’AMBROSIO, 2012, p. 73). Ainda, essa
prática não precisa ser, necessariamente, oriunda da própria experiência do
professor, mas, sim, pode ser trabalhada por meio da troca de experiências entre
professores. Shulman (2014) comenta que:
88
Uma das frustrações do ensino como ocupação e profissão é a extensa
amnésia individual e coletiva, a consistência com que as melhores criações
dos educadores são perdidas por seus pares tanto contemporâneos como
futuros. [...] O ensino é conduzido sem a audiência de seus pares. Carece
de uma história da própria prática. (SHULMAN, 2014, p. 212).
Isto é, os procedimentos didáticos deveriam ser explorados e divulgados,
dado que contribuem para o aprimoramento da prática pessoal do professor.
Por isso, aqui nessa pesquisa, há o compartilhamento de um produto que visa
essa troca de experiência, dado que a ideia da pesquisa surgiu a partir da minha
percepção em sala de uma problemática no ensino e aprendizagem do conteúdo de
divisão no 6º ano do Ensino Fundamental. As dificuldades apresentadas nesse
conteúdo se dão, desde a compreensão do conceito matemático da divisão, até a
compreensão dos algoritmos utilizados na resolução da operação e podem ser
observadas desde a introdução do conteúdo, no 4º ano do Ensino Fundamental.
Essa problemática foi corroborada pelas experiências compartilhadas e pelos
estudos bibliográficos realizados – seja dos materiais didáticos ou de formação e
pesquisas relacionadas ao tema. Assim, percebeu-se a relevância de trabalhar o
conteúdo da divisão de forma mais aprofundada, explorando os conceitos e métodos
presentes nessa operação. Apesar de o algoritmo da divisão não ser,
necessariamente, a parte mais importante do conteúdo, exploramos suas variedades
de resolução, uma vez que o algoritmo se fará presente no decorrer do processo
escolar, ou seja, além do Ensino Fundamental. Ainda,
CARVALHO, Ana Márcia Tucci de; PIRES, Magna Natália Marin; GOMES, Marilda
Trecenti. Fundamentos Teóricos do Pensamento Matemático. Curitiba: IESDE
Brasil S.A., 2005.
MILIES, Francisco César Polcino; COELHO, Sônia Pitta. Números: Uma Introdução
à Matemática. 3ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
SOARES, Rosalina Mariana Rathlew et. al. Ensino fundamental: 5º ano. Curitiba:
Positivo, 2013.
SOUZA, Joamir Roberto de; PATARO, Patricia Rosana Moreno. Vontade de saber
matemática, 6º ano. 3ª ed. São Paulo: FTD, 2015.