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HEGEL, Georg Willhelm Friedrich

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Tradução de Antônio Pinto de Carvalho

Extraído da Coleção Os Pensadores, Editora Abril, 1985.

Hegel em seu discurso inaugural em Heidelberg em 28 de outubro de 1816, afirma:

[§1.0] “(...), parece chegado o momento em que na filosofia se cravam as atenções e


simpatias. Depois de ter emudecido, se assim me é lícito exprimir, logra esta ciência de
novo erguer a voz, na esperança de que o mundo, anteriormente surdo aos seus
brados, volte a dar-lhe ouvido. Por um lado, a instabilidade dos tempos atribuiu
excessiva importância aos vulgares e banais interesses da vida cotidiana: por outro
lado, os elevados interesses da realidade e as lutas em torno deles travadas trouxeram
à liça as potências do espírito e os meios externos: a mente não pôde conservar-se
livre do exercício da vida interior e superior, nem na esfera da mais pura
espiritualidade, de sorte que as naturezas mais bem prendadas se quedaram em parte
prisioneiras daqueles interesses e por eles foram sacrificadas.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§1]:

1) Filosofia é ciência?
2) 1816 – Tempos de instabilidade (Fim das Guerras Napoleônicas – Santa Aliança
– Congresso de Viena)!
3) Elevados interesses da realidade? Quais são?
4) Potências do espírito? Qual conceito de Espírito Hegel usa?
5) Resposta (achada ao se estudar o verbete racionalismo) Algo transcendente, ou
seja, que está além da matéria. Necessita ainda ser mais complementado.
6) Meios externos? Quais?
7) Potências do espírito e meios externos foram trazidas à liça (à baila, à conversa
ou combate) devido aos elevados interesses da realidade e as lutas em torno
deles travadas? É preciso conceituá-los
8) Vida interior e superior cuja mente não pôde conservar-se livre destes
exercícios interiores e superiores? Logo a mente conserva-se presa na vida
exterior e inferior?
9) Esfera mais pura da espiritualidade? Qual é essa esfera?
10) Naturezas mais bem prendadas? Que ou o que seriam essas naturezas?
Quedaram em parte prisioneiras daqueles interesses (Quais? Seriam os
elevados interesses da realidade, que por sinal ainda não sabemos quais são?)
[§2.0] Nestes últimos tempos, o espírito do mundo, em demasia ocupado com a
realidade física, ficara inibido de se concentrar e de refletir sobre si mesmo.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§2.0]:

1) O que é o Espírito do Mundo?


2) Estaria ocupado com a realidade física, esta realidade seria o contexto
histórico?
3) A inibição de concentrar-se e refletir sobre si mesmo, é o ato filosófico?
4) Por isso no §1 é dito: “Depois de ter emudecido, se assim me é lícito exprimir,
logra esta ciência de novo erguer a voz, na esperança de que o mundo,
anteriormente surdo aos seus brados, volte a dar-lhe ouvido”.
5) Seria esse tal “espírito do mundo” a somatória das mentalidades? Já que o
mundo estava surdo à filosofia?

[§2.1] Agora que o fluxo da realidade sofreu uma interrupção, agora que a nação
alemã principia a tomar consciência de si própria, agora que o povo alemão salvou a
sua nacionalidade, fundamento de toda a vida viva, é lícito esperar que, ao lado do
Estado, que absorvera todos os interesses, também a Igreja venha soerguer-se, e que
além do reino do mundo, em torno do qual até o presente se tinham congregado os
pensamentos e os esforços, se volte de novo a pensar no Reino de Deus. Por outras
palavras, é lícito esperar que, a par dos interesses políticos ligados à trivial realidade,
floresça uma vez mais a ciência, o livre e racional mundo do espírito.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§2.1]:

1) Fluxo da realidade? Se a realidade é fluída ela deixa se interromper? Ou seriam


os fatos históricos que tornaram momentaneamente mais tranquilos? A nação
alemã toma consciência de si própria, quem da nação, todos? Os intelectuais?
As classes dominantes? Quem seria o todo para Hegel?
2) Afinal, qual o conceito de nação para Hegel?
3) E o conceito de povo? Em que diferencia de nação em Hegel?
4) Por que o povo salvou sua nacionalidade? Em que se baseia Hegel para fazer tal
afirmação? Convém lembrar que a Alemanha neste período ainda não tinha
sido unificada, o que só irá acontecer após 1870!
5) Por que para Hegel a nacionalidade é o fundamento de toda a vida viva.
Existiria para Hegel vida morta? Hegel exagera nas comparações e metáforas?
6) Qual seria a consciência de si própria da nação alemã?
7) Qual o conceito de Estado que Hegel utiliza? (Ver Filosofia do Direito de Hegel e
sua crítica por Marx). Seria o Estado uma vida morta? (Abstração?)
8) Quais seriam os interesses absorvidos pelo Estado? A Guerra contra Napoleão?
A diplomacia nos tratados da Santa Aliança? A tentativa de barrar os ideais
liberais da Revolução Francesa e da burguesia? Ideais estes espalhados por
toda a Europa por Napoleão?
9) Como Hegel vê a Igreja? Mais materialista que metafísica? Que trocou o reino
de Deus pelo mundanismo terreno? De qual Igreja está Hegel falando, da
católica ou das protestantes?
10) De quais interesses políticos se refere Hegel?
11) A qual trivial realidade esses interesses políticos estão ligados?
12) Por que esperar? E por que é lícito?
13) Trivial = que é do conhecimento de todos, corriqueiro, vulgar, que não revela
maiores qualidades, ordinário.
14) O florescimento da ciência, do livre e racional mundo do espírito? O que Hegel
quer dizer com mundo do espírito que deve florescer, assim como a ciência?
15) E mais é o racional mundo do espírito?
16) Talvez haja a necessidade de ler: Fenomenologia do Espírito de Hegel, talvez
possa encontrar vários conceitos que ele fala aqui.
17) O filósofo Herbert Marcuse (1898 – 1979) afirma que: “a filosofia clássica
alemã (Kant, Fichte, Schelling, Hegel) construiu grandes sistemas ‘em resposta
ao desafio vindo da França (Revolução Francesa e princípios liberais espalhados
na Europa pelas tropas napoleônicas) à reorganização do Estado e da sociedade
em bases racionais, de modo que as instituições sociais e política se ajustassem
à liberdade e aos interesses do indivíduo”. Ainda, segundo Marcuse, entre
esses sistemas, o de Hegel constitui ‘a última grande expressão desse idealismo
cultural, a última grande tentativa para fazer do pensamento o refúgio da razão
e da liberdade”. (Os Pensadores, Hegel, p. VIII, retirado de MARCUSE, Herbert.
Razão e Revolução. Editora Saga, Rio de Janeiro, 1969).

[§2.2] Ver-se-á, na história da filosofia, como nas demais regiões da Europa, onde as
ciências e a cultura do intelecto se exercitaram com o zelo e êxito, da filosofia, a não
ser o nome, desapareceu qualquer vestígio; ou, se conservou, foi esta apenas uma
característica peculiar da nação alemã.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§2.1]:

1) Uma incrível afirmação Hegeliana onde propõe que a Europa embora tenha
tratado com zelo e êxito as ciências e a cultura do intelecto deixou de fazer
filosofia!
2) Quais são os dados para essa afirmação? Onde estariam?
3) Segundo Hegel, só na Alemanha (que nem um país integral ainda é) existe
filosofia?
4) De onde Hegel tira tanta arrogância?

[§3.0] Recebemos da natureza a missão de sermos os guardas deste fogo


sagrado, do mesmo modo que aos Eumólpidas de Atenas foi confiada a conservação
dos mistérios eleusinos e aos habitantes da Samotrácia a de um culto mais puro, do
mesmo modo que o espírito universal concebera ao povo de Israel o altíssimo encargo
de fazê-lo sair, renovado, do seu seio.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§3.0]:

1) Muitíssimo interessante Hegel afirmar que os alemães receberam sua missão


da Natureza, sendo mais materialista que metafísico. Por que ele não coloca a
responsabilidade de receber o fogo sagrado (metáfora para a filosofia) no
Espírito Universal?
2) Por sinal Espírito Universal aqui usado só pode ser Deus?
3) Sair renovado do seio de Deus é um encargo ou um privilégio?
4) Bem-aventurados os alemães, pois só eles receberam o fogo sagrado!
5) Sendo assim possuem um culto mais puro, ou seja, a filosofia alemã é mais fina
e apurada que a do resto da Europa e do mundo.
6) Agora é possível entender porque Marx na “Introdução à Crítica da Filosofia do
Direito de Hegel” ironiza tanto a capacidade idealista alemã!
7) Os Eumólpidas não eram atenienses e sim uma família de sacerdotes da polis
grega de Elêusis (que estava situada na península da Ática) que mantiveram os
mistérios Eleusinos durante a antiguidade grega. Como hierofantes, eles
popularizaram o culto e permitiram que muitos fossem iniciados nos segredos
de Deméter e Perséfone. Um hierofante é uma pessoa que traz congregantes
religiosos à presença daquilo que é considerado sagrado. Como tal, um
hierofante é um intérprete de mistérios sagrados e princípios arcanos. No
sacerdócio grego da região Ática, Hierofante era o título do sacerdote chefe dos
Mistérios de Elêusis. Era um aedo que herdou dentro dos genos Philaidae e
Eumólpidas. Os cargos de Hierofante e de Alta Sacerdotisa ou Emolpidae
tinham o mesmo status quo. A Alta Sacerdotisa personificava os papéis de
Deméter e Perséfone na encenação durante os Mistérios (incorporação).
8) Arcanos = Esotéricos – uma gama de tradições filosóficas ocidentais sob o
termo esoterismo desenvolveu-se na Europa durante o final do século XVII.
Várias definições para o termo têm sido debatidas, a saber, 1) visão que adota
uma definição de certas escolas esotéricas do pensamento, tratando o
“esoterismo” como uma tradição interior oculta e perene. 2) Uma segunda
perspectiva vê o esoterismo como uma categoria de movimentos que abraçam
uma visão de mundo “encantada” em face do desencanto crescente. 3) Uma
terceira vê o esoterismo ocidental como englobando todo o “conhecimento
rejeitado” da cultura ocidental que não é aceito nem pela instituição científica
nem pelas autoridades religiosas ortodoxas.
9) A legendária genealogia dos Eumolpidae os lançou como descendentes de
Eumolpus, um dos primeiros sacerdotes de Deméter em Elêusis, por meio de
seu segundo filho, Herald-Keryx. Eumolpus, “imaculado pela culpa” é citado
entre os líderes arcaicos de Elêusis no Hino Homérico a Deméter 149 a 156. Por
meio de Eumolpus eles eram supostamente parentes de Poseidon ou Hermes.
O último hierofante legítimo em Elêusis, pouco antes da extinção dos mistérios
foi da época da Invasão de Alarico em 396 d.C. A outra família com um
sacerdócio hereditário de Elêusis eram os Kerykes. Os únicos requisitos para a
iniciação nos mistérios eram a ausência de “culpa de sangue”, ou seja, nunca
ter cometido assassinato e não ser um bárbaro (capaz de falar grego). Homens,
mulheres e até escravos foram admitidos.
10) Demeter – na antiga religião grega e mitologia é a deusa olímpica da colheita e
da agricultura, presidindo os grãos e a fertilidade da terra. Era citada como
deusa da ordem divina da lei não escrita “Law-Bringer”, como marca da
existência da sociedade agrícola. Tinha como um dos seus símbolos a
Cornucópia. Embora Deméter seja frequentemente descrita simplesmente
como a deusa da colheita ela também presidia a lei sagrada e o ciclo da vida e
morte. Ela e sua filha Perséfone foram figuras centrais dos Mistérios de Elêusis,
uma tradição religiosa que antecedeu o panteão olímpico e que pode ter suas
raízes no período micênico cerca de 1400 – 1200 a.C. Démeter foi
frequentemente considerada a mesma figura da deusa da Anatólia Cibele, e ela
foi identificada com a deusa romana Ceres.
11) Perséfone (também chamada de Kore ou Kora) – filha de Zeus e Deméter. Ela
se tornou a rainha do submundo através de seu sequestro por Hades, o deus
do submundo, com a aprovação de seu pai, Zeus. O mito de sua abdução
representa sua função como a personificação da vegetação, que brota na
primavera e se retira para a terra após a colheita, portanto, ela também está
associada à primavera e também à fertilidade da vegetação. Mitos semelhantes
aparecem nos cultos dos deuses masculinos como Attis, Adonis e Osiris, e na
Creta minóica. Perséfone como deusa da vegetação e sua mãe Deméter foram
figuras centrais dos mistérios de Elêusis, que prometiam aos iniciados uma
perspectiva mais agradável após a morte. As origens de seu culto são incertas,
mas foi baseado em antigos cultos agrários de comunidades agrícolas.
Perséfone era comumente adorada junto com Deméter e com os mesmos
mistérios. Somente a ela foram dedicados os mistérios celebrados em Atenas,
no mês de Antesterion. Na arte grega clássica, Perséfone é invariavelmente
retratada com uma túnica, muitas vezes carregando um feixe de grãos. Ela
pode aparecer como uma divindade mística com um cetro e uma pequena
caixa, mas ela foi principalmente representada no processo de ser carregada
por Hades.
12) Hades – Deus dos mortos e o rei do submundo, com o qual o seu nome tornou-
se sinônimo. Hades era o filho mais velho de Cronos e Reia, embora o último
filho regurgitado por seu pai. Ele e seus irmãos, Zeus e Poseidon, derrotaram a
geração de deuses de seu pai, os Titãs, e reivindicou o governo do cosmos.
Hades recebeu o submundo, Zeus o céu e Poseidon o mar, com a terra sólida, e
a província de Gai, ficou disponível para todos os três simultaneamente. Hades
era frequentemente retratado com seu cão de guarda de três cabeças,
Cerberus.

Fonte dos itens 7 a 12 – Site Strigfixer. Disponível em:


https://stringfixer.com/pt/Demeter. Acesso em: 25 de mar. 2022.

Deméter Perséfone Hades e Cerbérus

13) Samotrácia – é uma ilha grega do norte do mar Egeu, na sua zona conhecida
como mar da Trácia entre as ilhas de Imbros e Tasos, perto da costa da Trácia.
Faz parte do arquipélago das ilhas Egeias do norte.

[§4.0] Mas a necessidade do tempo e o interesse dos importantes


acontecimentos mundiais, a que já nos referimos, impediram igualmente entre nós o
estudo sério e profundo da filosofia, e desta desviaram a geral atenção.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§4.0]:


1) Porque a conjuntura haveria de atrapalhar os filósofos? Por que estes
gastariam tempo nos acontecimentos mundiais e não na filosofia?
2) Hegel não cuidou dos interesses importantes dos acontecimentos mundiais,
por que então não filosofou neste período?
3) O que seria para Hegel o “estudo sério e profundo da filosofia”.
4) Kant nascido na Prússia em 1724 e falecido em 1804, não teria feito filosofia?
Estaria Kant gastando tempo nos interesses importantes dos acontecimentos
mundiais?

[§4.1] O resultado foi que os homens de talento se aplicaram aos problemas de ordem
prática e só os espíritos apoucados e superficiais elevaram a voz e pontificaram no
campo da filosofia.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§4.1]:

1) Kant não era um homem de talento para Hegel?


2) Qual a opinião de Hegel sobre Kant?
3) Era a filosofia clássica alemã com Kant, Fichte, Schelling e o próprio Hegel,
espíritos apoucados e superficiais? Kant teria pontificado no campo da filosofia
como apoucado e superficial? Assim como, Fichte e Schelling?
4) O que exatamente quer dizer Hegel com espíritos apoucados e superficiais?
5) Quem seriam os filósofos alemães apoucados e superficiais?
6) Quem seriam os homens de talento preocupados com os problemas de ordem
prática?
7) Filosofar não pode acontecer no campo da prática?
8) Prática e teoria não são complementares?

[§5.0] Pode-se dizer que, desde que a filosofia despontou no solo alemão,
nunca foi, nunca foi tão descurada como no momento presente; nunca, como em
nossos dias, a vaidade e a presunção se manifestaram e comportaram em face da
ciência com a arrogância de quem julga ter nas mãos a vara do poder.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§5.0]:

1) Quando a filosofia despontou no solo alemão?


2) Descurada = Que não está ou foi cuidada, desleixada.
3) Por que foi tão desleixada a filosofia na Alemanha? Hegel colocaria Kant neste
desleixo? Hegel também não teria culpa por esse desleixo?
4) Acima Hegel deu a entender que a culpa deste desleixo foram: a necessidade
do tempo e o interesse dos importantes acontecimentos mundiais.
5) Vaidade e presunção! Por parte de quem? Hegel não cita possíveis nomes para
o desleixo e para a vaidade e presunção!
6) Quem se comporta com arrogância em face da ciência?
7) Quem julga ter nas mãos a vara do poder? O que seria vara do poder? Seria
igual a uma varinha mágica?

[§6.0] Consideramo-nos chamados pelo espírito mais profundo do tempo a


reagir contra tal superficialidade e a cooperar com seriedade e probidade germânicas
na obra de retirar a filosofia da solidão onde se refugiara.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§6.0]:

1) A quem considera Hegel os chamados pelo espírito mais profundo do tempo?


Os alemães? Os intelectuais? As classes dominantes? Aos professores e alunos?
2) Se Hegel chama a uma reação contra a superficialidade, quem seria os
superficiais e quem seriam os reagentes?
3) Seriedade e probidade germânicas, se já existia isso, por que deixaram a
filosofia cair neste buraco negro?
4) Retirar a filosofia alemã da solidão? Por que ela está solitária? Por que se
refugiou na solidão? Seria só recursos estilísticos do discurso?

[§6.1] Saudamos ao mesmo tempo a aurora de uma era mais esplendorosa, em que o
espírito, violentado para o exterior, possa voltar a si próprio e conquistar o território
onde estabeleça o seu reinado, onde os ânimos se alteiem por sobre os interesses do
momento e se tornem capazes de acolher o vero, o eterno, o divino, de contemplar e
de compreender o que mais sublime existe.

1) Por que haveria de ser uma aurora de uma era mais esplendorosa?
2) “(...) o espírito, violentado para o exterior” – por que violentado? Não seria um
erro de tradução, onde a palavra que mais caberia seria “voltado para o
exterior?
3) O que significa mais exatamente “voltar a si próprio”? Se não estava em si, o
espírito, onde ele estava neste denominado exterior? Seria na Revolução
Francesa, nas Guerras Napoleônicas?
4) Território (do espírito) onde pode estabelecer seu reinado?
5) Vero = Verdadeiro, real, autêntico.
6) O ânimo e o espírito, ou do espírito, devem acolher a verdade, o eterno, o
divino, e compreender o que mais sublime existe. O que de mais sublime que
existe? Como acolher a verdade, o eterno, o divino, se são conceitos bastante
abstratos?
7) Categoria: cada uma das classes em que se dividem as ideias, os termos, sendo
uma divisão ou subdivisão de um determinado sistema.
8) Para uma diferenciação de conceito e categoria ver o texto: BERNARDES,
Antônio. Quanto às Categorias e aos Conceitos. Revista Formação Online, n.º
18, volume 2, p. 39 – 62, jul./dez., 2011. Disponível em:
https://eduintegral3.webnode.com/_files/200000580-4811b490ea/Conceitos
%20e%20categorias%20geogr%C3%A1ficas%20II.pdf. Acesso em 25 de março
de 2022.

[§7.0] Nós, os velhos, que nos fizemos homens em meio das tempestades da
época podemos reputar-vos felizes, a vós, que estais na flor da juventude e, por isso
mesmo, vos encontrais em condições de consagrá-la toda à ciência e à verdade.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§7.0]:

1) Tempestades da época? Necessidade de reler uma biografia de Hegel para


situar-se melhor no contexto em que se dá essa época de tempestades!
2) Flor da juventude dos anos 1816 (28 de outubro de 1816).
3) Suponhamos que estes jovens a quem Hegel se dirige, tenham de 18 a 30 anos,
isso quer dizer que nasceram de 1786 a 1798, ou seja, alguns passaram pela
Revolução Francesa, quando tinham de 3 a 15 anos e viram Napoleão cair em
1812, com 14 a 26 anos, ou seja, estiveram dentro do período de invasão
napoleônica da Europa, de fato devem ser tempos mais felizes.
4) Teriam os jovens a que Hegel está se dirigindo melhores condições de
consagrar sua juventude a toda ciência e a verdade (aqui talvez como filosofia)?
5) Estaria ele falando aos jovens hegelianos?

[§8.0] Dediquei toda a minha vida à ciência e regozijo-me por ter alcançado
uma posição que me faculta poder elaborar doravante, em medida mais alta e em
mais vasto campo de ação, em difundir e reavivar o entusiasmo pela cultura científica
superior, e antes de tudo em ateá-la em vós.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§8.0]:

1) Hegel diz que alcançou uma posição de destaque na pesquisa científica. Mas
ele não seria um dos que apequenaram a filosofia em detrimento as questões
externas daquela conjuntura?
2) Por que só agora ele pode elaborar em medida mais alta a cultura científica?
Por que não o fez antes? Seria aqui também uma questão de retórica apenas?
3) Qual seria o vasto campo de ação? A ciência? Qual das tantas? A filosofia?
Sabemos que Hegel escreveu muito sobre direito, filosofia e estética!
4) De qual forma, didaticamente falando, Hegel pretende atear a cultura científica
superior nos jovens? Conseguiu? Os jovens hegelianos são prova deste incêndio
filosófico-cultural?

[§9.0] Espero que hei de merecer e conquistar a confiança de todos. De início,


uma só coisa exijo: confiai na ciência e em vós mesmos. A coragem da verdade, a fé no
poder do espírito é a condição primordial da filosofia. O homem, por ser espírito, pode
e deve julgar-se digno de tudo quanto há de mais sublime. Da grandeza e do poder do
seu espírito nunca pode formar um conceito demasiado altivo, e animado por esta fé
não se negará a desvelar o seu segredo.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§8.0]:

1) Exigência de Hegel aos jovens alunos: 1) Confiar na ciência; 2) Confiar em si


mesmo. Dois pedidos que não revelam bastante amplos!
2) Condições primordiais da filosofia, segundo Hegel: 1) Coragem da verdade; 2)
Fé no poder do espírito. Qual espírito? Qual seria o conceito de espírito de
Hegel? Por que ele alega que o homem é espírito? Não é matéria, então?
3) Por que o homem pode julgar-se digno de tudo que é sublime? Todos os seres
humanos estão incluídos aí? Se for por ser espírito todos o são! Se não for para
todos, significa que alguns não têm espírito? Hegel não assinala a parte
material por seu idealismo?
4) Para Hegel é o pensamento que faz a matéria, ou é a matéria que leva o
homem ao pensamento?
5) O que é o sublime para Hegel?
6) Por que da grandeza e poder do espírito não se pode formar um conceito
altivo?
7) Ao dizer, animado com esta fé, qual fé Hegel está querendo referir-se?
8) Quem não se negará a desvelar o seu segredo? Por que se mantêm um
segredo? Seria a filosofia, a ciência?

[§9.1] A essência do universo, a princípio oculta e encerrada, não dispõe de força capaz
de resistir à tentativa de quem pretenda conhecê-la; acaba sempre por se desvendar e
patentear a sua riqueza e profundidade, para que o homem dela desfrute.

Dúvidas, questionamentos e comentários sobre o [§9.1]:

1) Por qual motivo a essência do universo está oculta e encerrada?


2) Que essência do universo é esta?
3) Por que não dispõe de força capaz de resistir à tentativa de quem pretende
conhecê-la? Seria aqui o desconhecimento da ciência? E cabe ao homem
desvendá-la? Quais seriam esses homens? Os filósofos?
4) Desvendar e patentear a essência do universo e sua riqueza e profundidade?
5) De que homem fala Hegel? Todos e Todas? De alguns? Uma classe social?
HEGEL

VIDA E OBRA

Consultoria de Paulo Eduardo Arantes

Extraído da Coleção Os Pensadores, Editora Abril, 1985.

HÖLDERLIN Amigos de Hegel no Seminário de Teologia


SCHELLING (protestante) de Tübingen.

Estado de espírito de Hegel quando escreveu Fenomenologia do Espírito


(1807). Neste livro, em seu prólogo, declara seu rompimento com Schelling:

“No dia 13 de outubro de 1806, Napoleão anexou Jena e o


acontecimento causou profunda impressão em Hegel: ‘Vi o
imperador – esta alma do mundo – cavalgar pela cidade, em
visita de reconhecimento: suscita, verdadeiramente, um
sentimento maravilhoso a visão de tal indivíduo, que abstraído
em seu pensamento, montado a cavalo, abraça o mundo e o
domina”. (p. IX)

Hegel foi nomeado professor titular da cadeira de filosofia da Universidade de


Heidelberg e em 28 de outubro de 1816 profere seu discurso inaugural, acima
analisado.

Cenário Filosófico (p. X – XI)


Racionalismo idealista alemão. “Os conceitos básicos constituem ao mesmo
tempo, uma culminação de toda a tradição filosófica ocidental”. Lukács afirma que:

“A filosofia racionalista moderna, partindo da dúvida metódica,


do cogito ergo sum [Penso, logo existo] de Descartes, passando
por Hobbes, Espinosa, Leibniz, perfaz ‘um caminho de
desenvolvimento retilíneo, cujo motivo decisivo, presente em
múltiplas variações, é a ideia que o objeto do conhecimento
pode ser compreendido por nós e na medida em que for
produzido por nós mesmos’”. (p. X).
O racionalismo estabelece também que esse conhecimento é necessário e
universal.

Conhecimento básico
Conceitos Necessário Universal
Adjetivo Adjetivo de 2 gêneros
Absolutamente preciso; Comum, relativo ou
essencial, indispensável. pertencente ao universo
Que se não pode evitar; inteiro. Que diz respeito ou
imprescindível, inevitável, é aplicável a todas as
forçoso. coisas. Absoluto, cósmico,
ecumênico, geral, global,
ilimitado, mundial. Este
adjetivo se estende a tudo
ou a todos; aplicado a
tudo; geral. Que provém
de todos. Que a todos
pertence. Que tem
aptidões para tudo;
conhecimento de tudo,
exemplo: espírito
universal.
Problema
Hebert Marcuse: “Seria possível construir-se uma ordem racional universal, fundada
na autonomia do indivíduo?”
Resposta
Idealismo Alemão: Sim

O individualismo alemão visava a um princípio unificador que


preservasse os ideais de uma sociedade individualística e não sucumbisse
a seus antagonismos.

Antagonismo Forte oposição de ideias, sistemas, grupos sociais, etc.;


Substantivo masculino incompatibilidade, rivalidade. Força, princípio ou tendência
contrária; oposição.

Racionalismo Alemão (Idealista) Empirismo Inglês


x
 A unidade e a universalidade não  Demonstração que nem sequer
podiam ser encontradas na um único conceito ou lei da razão
realidade empírica, pois não poderia aspirar à universalidade;
eram fatos;  A unidade da razão era apenas
 Se o homem não conseguir criar uma unidade conferida pelo
a unidade e a universalidade por hábito ou pelo costume;
meio de sua razão autônoma,  Esta unidade aderia aos fatos
teria de expor sua existência sem jamais os governar.
intelectual, como também sua
existência material, às pressões e
processos determinados pelo
tipo de vida empírica dominante;
 Reconheceram as manifestações
históricas concretas do
problema, ligando a razão teórica
à razão prática.

Marcuse afirma que:


“Há uma transição necessária, entre a análise da
consciência transcendental, em Kant, e sua exigência
de comunidade de um Império Mundial; entre o
conceito do ‘Eu Puro’ de Fichte e sua construção de
uma sociedade totalmente unificada e regulada; e,
finalmente, entre a ideia de razão, de Hegel, e sua
definição do Estado como união dos interesses comuns
e individuais, como a realização da razão”.

Ou seja:

Kant Exigência de comunidade de um Império Universal;

Fichte Conceito de “Eu Puro” e a construção de uma sociedade totalmente


unificada e regulada;

Hegel Ideia onde o Estado é uma união de interesses comuns e individuais


com a realização da razão.

A razão idealista foi atacada em seus fundamentos pelo empirismo


que confinou o homem àquilo que é dado, à ordem existente nas coisas e
acontecimentos.
Kant (a partir dos ataques dos empiristas) parte do princípio de que
todo o conhecimento humano tem início na experiência, fonte da matéria,
para os conceitos da razão.
O conhecimento estaria sempre voltado para as impressões,
coordenadas pelas formas a priori da sensibilidade.
Experiências  Conhecimento  Impressões  Sensibilidade
(Sentidos)

Kant concluiu:
“Não é possível conhecer-se o fundamento daquelas
expressões, isto é, não se conhece como são, ou o que
são as ‘coisas em si’, que produziram as impressões”.
Não é possível conhecer as coisas em si que produzem as
impressões.
Hegel considera essa proposição de Kant como um elemento cético
da sua filosofia que invalidaria a tentativa de defender a razão contra os
ataques empiristas.
Para Hegel, enquanto as “coisas em si” estiverem fora do alcance da
razão, esta continuará a ser o principio subjetivo, privado de poder sobre a
estrutura objetiva da realidade. O mundo se separa em duas partes:

A SUBJETIVIDADE A OBJETIVIDADE
Pensamento Existência

Se o homem não conseguisse reunir as partes separadas de seu


mundo, e trazer a natureza e a sociedade para dentro do campo de sua
razão, estaria para sempre condenado à frustração.
Hegel, então, argumenta:

“A necessidade da filosofia surge quando o poder da


unificação desapareceu da vida dos homens, e quando
as contraposições (críticas) perderam sua relação e
sua interação viva”.
Para Hegel a forma verdadeira da realidade é a razão. Onde todas
as contradições sujeito-objeto se integram, constituindo uma unidade e
uma universalidade.
Na revolução francesa: “A ausência de uma comunidade racional
era a responsável pela busca filosófica da unidade e da universalidade na
razão.”
Hegel parece dar uma resposta para os impasses filosóficos
originários na história e na filosofia.

A verdade política
Bourgeois afirma: “a filosofia de Hegel coloca a filosofia como sendo
a verdade da política”.
(BOURGEOIS,B. La Pensée Politique de Hegel, Presses Universitaires de
France, 1969). (Pensadores p. XI).

Dois momentos da reflexão hegeliana:


1º Momento  Jovem Hegel (até 1807)  Marcado pela nítida predominância da
política sobre a filosofia; publicação de
“Fenomenologia do Espírito”.

2º Momento  1807 até 1821  Marcada pela subordinação da política à


especulação filosófica.

Interpretações diversas sobre o período da maturidade de Hegel:


Lukács Bourgeois
Considera que a reflexão hegeliana da Discorda de Lukács, afirmando: “o que
maturidade não seria mais que uma conduz Hegel à vida filosófica como
compensação idealista oriunda da solução absoluta não é a impossibilidade
decepção política, porque o mundo sócio- de uma solução política alemã, mas a
político alemão não oferecia para que se insuficiência da solução política do
concretizasse o projeto político hegeliano problema que o preocupa”.
da juventude. “Assim, não teria sido o caráter negativo
da realidade política alemã que remeteu
Hegel do interesse pela política para a
vida especulativa, mas ao contrário, a
presença nele de um projeto que
somente a vida filosófica poderia
satisfazer é que deveria levá-lo a
compreender que, mesmo em sua
positividade cumprida, a esfera política
era negativa quanto à possibilidade de
realizar esse projeto”.

Para Bourgois o projeto de Hegel é: “projeto do homem total” e


“deve realizar-se em todas as dimensões da vida humana e, portanto,
também na dimensão estritamente política; não se trata, inclusive, da
realização desse projeto senão na medida em que essas diversas
dimensões perdem sua independência, umas em relação às outras... e são,
por conseguinte, integradas em uma totalidade orgânica da existência”.

Definição de Hegelianismo para Bourgois: “a intenção e a realização


de uma vida racional”. “A vida que interessará sempre a Hegel não é a
vida da interioridade subjetiva, fechada sobre si mesma, do formalismo
psicológico, mas a vida enquanto ela é a contradição entre a vida
substancial e a subjetividade do vivente guiada e conduzida pela primeira,
a vida do mundo”.

Anti-subjetivismo profundo.
Hegel
Recusa ao psicologismo prático, com a mutilação do “Eu”
eliminando a preocupação com o Universo.

Para Hegel a objetividade efetiva era o mundo político.


Hegel, quando jovem, almejava a instauração de um mundo político
com a vitalidade análoga à da polis grega. A cidade antiga era para ele
modelo para a realização de seu ser, total e harmoniosamente.
Cronologia
1770 Em Stutgart, a 27 de agosto, nasce Georg Wilhelm Friedrich Hegel
1776 Proclamação da Independência dos Estados Unidos da América do Norte;
1788 Inicia seus estudos no seminário de teologia protestante de Tübingen.
Entre seus companheiros de estudos estavam Schelling (1775 a 1854) e
Hölderlin (1770 a 1843).
1789 Com a Tomada da Bastilha, eclode a Revolução Francesa;
1790 Hegel obtém o grau de Magister Philosophiae no Seminário Teológico de
Tübingen;
1795 Publica “A Vida de Jesus”;
1797 Schelling publica as “Ideias para uma Filosofia da Natureza”;
1804 Napoleão torna-se o primeiro imperador dos franceses;
1805 Recomendado por Goethe, Hegel é nomeado professor extraordinário em
Jena;
1806/1807 Publicação da “Fenomenologia do Espírito” de Hegel;
1811 Casa-se com Marie Von Tucher;
1816 É nomeado para a cátedra de filosofia da Universidade de Heidelberg;
1817 Publica a “Enciclopédia das Ciências Filosóficas”;
1818 Torna-se catedrático de filosofia na Universidade de Berlim. Nasce Karl
Marx;
1819 Surge “O Mundo como Vontade e Representação”, de Schopenhauer;
1820 Nasce Friedrich Engels;
1821 São publicados os “Princípios da Filosofia do Direito”, de Hegel;
1826 Mendelssohn compõe “Sonho de uma Noite de Verão”;
1830 Queda de Carlos X; Luís Filipe é o novo rei da França;
1831 Acometido de cólera, morre Hegel.

HEGEL, George Wilhelm Friedrich. Coleção “Os Pensadores”. 3ª Edição. Consultoria Paulo Eduardo
Arantes. Traduções de Henrique Cláudio de Lima Vaz, Orlando Vitorino e Antônio Pinto de Carvalho.
Abril S/A Cultural. São Paulo, 1985 – pp. VIII – XX.

Textos contido nesta obra:

1. A Fenomenologia do Espírito; 1806/1807


2. Estética – A Ideia e o Ideal;
3. Estética – O Belo Artístico ou o Ideal;
4. Introdução à História da Filosofia.

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