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ONDE NASCEM OS VALENTES

“Estes são os nomes dos valentes que Davi teve...” (2Sm 23.8-23; 1Cr 11.10-23; 12.2-22)

A seleta guarda pessoal de Davi era formada por homens valentes, a tropa de elite, com habilidades bélicas das mais
avançadas da época. Eram hábeis no uso do arco e flecha, usavam a mão direita e esquerda para atirar pedras; soldados
com essas técnicas, no período dos juízes, eram capazes de acertar um fio de cabelo sem nunca errar (Jz 20.16). Tinham
uma resistência incomum nas batalhas, quando lutavam, mesmo cansados, não soltavam suas armas, ficavam com a mão
pegada à espada até tombar o último inimigo. Incríveis! Invencíveis! Verdadeiros supersoldados, exterminando não
apenas homens, mas também feras e gigantes. Em alguns casos, a proporção era de um valente para trezentos, até
oitocentos homens da linha inimiga – um dos capitães de Davi se opusera a oitocentos e os feriu de uma vez. Soldados
ligeiros como corças e com o aspecto mais de leões do que de homens. Somava-se – porque não dizer a razão de todos
esses feitos? – a essas habilidades titânicas, a presença soberana do SENHOR, o qual sempre operava grande livramento.
Mas quem realmente eram esses gladiadores israelitas? Quais suas origens antes das épicas batalhas davídicas?
Foram sempre vencedores e colecionadores de troféus? Será que nunca tiveram medo, fraquezas, dificuldades? Onde,
como e por quem foram forjados para alcançarem tão glamorosas vitórias e proezas, a ponto de serem laureados nos anais
sagrados da galeria dos heróis-guerreiros de Israel? Enfim, quais suas origens, onde nasceram esses valentes?
Não se forja um valente nas brisas suaves das campinas melancólicas da vida. Os valentes – guerreiros, vencedores,
homens de fé, pessoas de sucesso e vidas solidificadas – são resultados de resistência em muitas provações, tentações e
tribulações, como disse Paulo: “...possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes” (Ef 6.13).
A origem dos valentes de Davi não foi diferente. Tiveram, também, uma vida de superação, partindo de um passado
obscuro de opressões, pobrezas, dívidas, perseguições e depressão. Eram homens que talvez ninguém acreditasse em sua
recuperação e que um dia seriam tão bem-sucedidos, ainda mais no campo de batalha. No entanto, suas dívidas, conflitos
emocionais e frustrações não foram suficientes para barrar a busca de um recomeço. Iniciaram com o desprendimento das
cadeias psicológicas de inferioridade que os atormentavam; soltas as amarras, levantaram-se e fizeram uma viagem rumo
ao sucesso. As crises existenciais que os oprimiam foram, na verdade, combustíveis que os levaram para um lugar não tão
óbvio, uma caverna. Ali suas vidas seriam mudadas para sempre, ou melhor, eles nasceriam de novo – agora como
valentes!
Tudo começou sim, em uma caverna. Davi, ao fugir de Saul, refugiou-se na caverna de Adulão (1Sm 22.1,2). Ali, se
viu solitário e, em um dado momento, ele próprio sentiu-se desvalorizado; clamou pelo Senhor, queixando-se que
ninguém se interessava em cuidar dele (Sl 142.4), mal sabia que ele mesmo era quem cuidaria de um exército vitorioso.
Logo, sua família, todo homem que se achava em aperto, todo homem endividado e todo homem de espírito desgostoso
juntaram-se a ele, totalizando uns quatrocentos homens (1Sm 22.2). Foi em Davi que aqueles homens encontraram
inspiração e uma liderança para o sucesso, os quais retribuiriam com fidelidade devocional irrestrita (2Sm 21.17).
O próprio Davi, enquanto sozinho se achava, desacreditava acerca de uma possível superação da perseguição que
estava sofrendo. Chegou a confessar para Deus, naquela gélida caverna, que estava muito fraco (Sl 142. 6). Mas, ao ver a
determinação daqueles homens, chegando a ele naquele estado – superando suas frustações e buscando ajuda –, entendo
que isso o motivou de tal maneira que ele próprio se fez chefe deles (1Sm 22.2). Foi na caverna de Adulão que os valentes
começaram travar suas primeiras batalhas, não com armas, mas com a mente; sem armaduras, mas com a emoção
inspirada pelo trovador de harpas; sem exércitos, mas com o Senhor dos exércitos que os confortava através das respostas
dos clamores de seu futuro líder (Sl 142.5).
Davi legou a estes homens princípios de vida – resultado de um relacionamento pessoal entre ele e Deus – que os
tornariam valentes – os Valentes de Davi! (2Sm 23.8-23). Estes não seriam simplesmente vencedores, porque vencedores
buscam vitórias, mas quando perdem oprimem-se; valentes, tanto ganhando como perdendo, continuam lutando;
vencedores buscam prêmios, valentes buscam sobrevivência; vencedores querem conquistar o pódio mais alto, valentes
conquistam superação; vencedores são apenas vencedores, valentes são mais que vencedores (Rm 8.37).
A tão admirada e respeitada história de vida ministerial que você, caro pastor, a cada dia vem construindo e,
atualmente, já é reconhecido e laureado, talvez ofusque o início de onde e como tudo começou, impossibilitando o
vislumbre de sua origem – provações e superações – indesejada por aqueles que almejam somente ser, mas nunca
vivenciar o real nascimento como valente! Porque muitos não esperam – ou não querem – passar pelo “deserto de Midiã”,
pelo “calabouço do Egito”, pela “cova dos leões” ou mesmo pela “caverna de Adulão” para tornarem-se valentes!
Os valentes não nascem em jardins arborizados e deleitosos regados por rios, como Adão; mas em quarentena de
desertos, sombreados por tentações e provações, como Jesus. Não nascem nos afagos e preferências da casa paterna, mas
em covas e calabouços, como José. Valentes não nascem em cortes correligionadas de reis e súditos, mas em cortes
constituídas de espias, invejosos, cova de leões e fornalhas, como Daniel, Misael, Azarias e Ananias. Eles não nascem em
faculdades e palácios reais, mas em desertos cuidando de ovelhas e ouvindo a voz inconfundível de Deus, como Moisés.
“E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de
Samuel, e dos profetas, os quais, pela fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas
dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram,
puseram em fugida os exércitos dos estranhos. As mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos; uns foram
torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição” (Hb 11.32-35).
Pr. Cícero Araújo
AD Barroquinha.

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