Você está na página 1de 6

ARAÚJO, Eliany Alvarenga; OLIVEIRA, Marlene de.

A produção de conhecimentos e a
origem das bibliotecas. In: OLIVEIRA, Marlene de (Coord.). Ciência da informação e
Biblioteconomia: novos conteúdos e espaços de atuação. Belo Horizonte: UFMG, 2008. (Coleção
Didática. 12). Cap. 2, p. 24-36.

RESUMO

Explicita conceitos de conhecimento e o surgimento das bibliotecas no quadro


histórico. Cita sobre motivos que levaram ao surgimento das bibliotecas de acordo com suas
respectivas funções. Menciona os vários conceitos de conhecimento e associando com a
relação concomitante do surgimento das bibliotecas vistas como unidades de informação.
Mostra o surgimento das bibliotecas no Brasil em diversos períodos históricos da nossa
história. Ressalta a importância da educação e principalmente das Universidades Federais
nesse panorama de mudanças. O papel da classificação e os modelos mais utilizados de
implantação de classificação de conhecimento, informação e documentação.
Palavras chave: Biblioteca; Conhecimento; Classificação

Conhecimento é algo que denota o que foi processado e sistematizado pelo


pensamento. Os tipos de conhecimento são: Filosófico - É um tipo de conhecimento de
caráter mais geral e reflexivo, que busca os princípios que tornam possível o próprio saber
com objetivo de investigar pressupostos, consciência de limites e de crítica da ciência e da
cultura. Religioso: que se apóia em doutrinas que contêm proposições sagradas é um
conhecimento sistemático do mundo que acredita possuir a verdade sobre as questões
fundamentais do homem, mas apoiando-se sempre numa fé ou crença. Senso comum: É
reflexivo, porém falível e inexato. Constitui-se num conjunto de opiniões e valores
característicos daquilo que é correntemente aceito em um meio social determinado.
Científico: É um conjunto de conhecimentos, sistemático, pedagógico formando um sistema
de teorias. Objetiva explicar racional e metodicamente a realidade. p. 25
Na Ciência da Informação e na Biblioteconomia conhecimento de forma concreta são
os produtos gráficos e objetos materiais. A origem das bibliotecas é desconhecida, porém
considera seu surgimento na era histórica com início da escrita, quando tem início a
preservação de registros. No contexto de bibliotecas, a linguagem escrita tornou-se a forma
mais comum para registrar conhecimentos. O pressuposto de que a produção de
conhecimentos conduz à criação de bibliotecas é porque onde houve grande evolução de
conhecimentos aparecerão grandes bibliotecas ou unidades de conhecimento.
Os pré-requisitos principais para o aparecimento de bibliotecas são: Condições
econômicas: Quando existe um excedente de riqueza em um país ou região, aumenta a
disponibilização de recursos para o incentivo à produção cultural, aqui se incluindo a
produção de conhecimentos e de bibliotecas. p. 25
Condições sociais: o aparecimento de grandes centros urbanos que, em suas
atividades múltiplas e cada vez mais complexas, produzem inúmeros registros e requerem
sofisticados sistemas de informação. Por exemplo, um sistema formal de educação
necessita tanto de registros de conhecimento e sua conservação quanto de bibliotecas para
participar e dar apoio ao sistema educacional.
Condições políticas: Aparecem em dois níveis, o primeiro diz respeito ao clima
de tranqüilidade política e social de uma nação,as bibliotecas florescem geralmente em
sociedades onde prevalece a prosperidade econômica, a população é instruída e o
comércio livreiro é bem organizado. Já o segundo nível as bibliotecas e toda produção de
conhecimentos, necessitam de políticas governamentais para seu estímulo e crescimento.
O surgimento e desenvolvimento dos conhecimentos dessas condições são observadas
desde a antiguidade. As grandes bibliotecas da Antigüidade Clássica eram formadas por
grandes conquistadores ou se localizavam em cidades que exerciam poder econômico e/ou
político. Dentre elas a Biblioteca de Nipur, na Babilônia (com registros em tábuas de argila e
em escrita cuneiforme); a Biblioteca de Assurbanipal (na cidade de Nínive e contava com
milhares de tabletes de argila com transcrições e textos sobre os mais variados assuntos do
reino); E a mais famosa biblioteca da Antigüidade ficava em Alexandria, no Egito. Na Idade
Média, as igrejas e mosteiros foram os grandes guardiões dos ricos acervos das antigas
bibliotecas. p. 26
Desde a Antigüidade até o final da Idade Média foram utilizados diferentes suportes
como base para o registro de conhecimentos, mas com a invenção da imprensa por
Guttenberg, em 1452 ocorreu um rompimento do monopólio que a Igreja exercia na geração e
guarda dos conhecimentos. Até então, consulta a biblioteca era um privilégio da elite.
A criação de Gutenberg e o processo de fabricação do papel facilitaram, aos poucos, a
democratização dos conhecimentos e do livro. Esses eventos permitiram maior produção de
registros impressos e elevaram a biblioteca a uma condição de maior importância à época.
Burke (2003) ao usar a expressão “geografia do conhecimento” para mapear a
produção de conhecimento, distingue a distribuição espacial do conhecimento desde os locais
onde foi produzido nos séculos XVI, XVII e XVIII onde os centros tradicionais eram os
mosteiros, que guardavam grandes bibliotecas, assim como as universidades e os hospitais.
Esse mapeamento do conhecimento exemplifica a visão do autor de que o conhecimento é
visto na sua forma plural e não só como atividade científica.
Burke (2003) percebeu a existência de conhecimentos também em ambientes de
comércio onde os habitantes dos portos se dirigiam ao cais para conversar com marinheiros de
embarcações recém-chegadas. O autor cita também Veneza como a mais importante agência
de informações dos primórdios do mundo moderno, por sua posição intermediária entre
o Ocidente e o Oriente. p. 27
Burke (2003) ao falar de localização cita a Itália e a França, Roma hospeda bibliotecas
de diversas ordens religiosas, além da Biblioteca do Vaticano. Paris superava Roma em
quantidade de bibliotecas, principalmente no século XVII.
Um guia de Paris, datado de 1692, arrola 32 bibliotecas onde se permitia que os
leitores entrassem para consulta em suas coleções fato coincide com o início da formalização
da atividade de pesquisa. Com o aparecimento dos Estados Nacionais e a estruturação da
pesquisa científica, os conhecimentos produzidos no mundo passaram a crescer
significativamente. Mais recentemente, com o surgimento da Internet, a divulgação de
conhecimentos tornou-se mais rápida, agilizando os serviços das bibliotecas.

Bibliotecas no Brasil

As primeiras bibliotecas criadas no Brasil foram por ordens religiosas. Em 1549, a


Companhia de Jesus organização que objetivava catequizar índios e colonos. Os padres
criavam bibliotecas que, aos poucos, se tornaram as melhores, mais numerosas e as consultas
eram possíveis a qualquer pessoa que justificasse o pedido. Com a expulsão da Companhia de
Jesus do Brasil, pelo Marquês de Pombal o conhecimento produzido por brasileiros e
estudiosos daqueles colégios ficou perdido. pp. 28-29.
A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil alterou as condições políticas, econômicas e
sociais da Colônia. Foi uma transformação radical no Rio de Janeiro, sua população cresceu
consideravelmente. Esse fato ocasionou novas necessidades na cidade e, em conseqüência,
transformou a situação do livro e das bibliotecas. Junto com os tesouros do Estado Português
vieram também arquivos das repartições públicas, manuscritos da Coroa e do Infantado e a
Biblioteca Real da Ajuda. A partir daí, a biblioteca desenvolveu-se recebendo também
doações e, principalmente, através da obrigação do depósito legal, pela qual a biblioteca
passou a receber um exemplar de tudo o que é publicado em território nacional.
Com o advento da Independência, a biblioteca ficou subordinada a uma repartição
pública e passou a denominar-se Biblioteca Nacional. A Biblioteca Pública da Bahia foi a
primeira a ser fundada com essa característica de não contar com recursos do governo, mas a
experiência não deu certo e o governo passou a dar subsídios e outras bibliotecas públicas.
No período republicano, no Rio de Janeiro, funcionavam vários institutos de estudos
superiores criados pelo governo. Essas organizações estabeleciam em seus estatutos a criação
de bibliotecas. p. 29. Com o desenvolvimento do sistema educacional brasileiro, a criação de
agências de fomento e principalmente das Universidades Federais, o crescimento do
conhecimento no Brasil expandiu-se consideravelmente Contudo, o número de bibliotecas
ainda é insuficiente para atender toda a sociedade. O país não conta com estatísticas sobre os
diferentes tipos de bibliotecas existentes, mas é possível calcular o número de bibliotecas em
instituições de nível superior em torno de 62.
As teorias e conceitos que embasam grande parte das atividades das bibliotecas são
oriundos da Ciência da Informação, a biblioteca é uma coleção de documentos bibliográficos
organizada e administrada para formação, consulta e recreação de todo o público ou de
determinadas categorias de usuários. p. 30.
As bibliotecas se dividem em: Nacionais; Públicas; Universitárias; Escolares; Infantis;
Especiais; Biblioteca ambulante ou Carro-biblioteca ou Bibliobus; Popular ou comunitária. A
biblioteca ou outra unidade de informação pressupõe atividades bem características, por
trabalhar a informação. Isso faz com que esse tipo de instituição ou serviço ofereça serviços e
produtos particularizados. p. 31. A biblioteca como uma organização pressupõe três grandes
funções: a primeira Função gerencial – (administração e organização) pressupõe gestão e
políticas para a biblioteca/unidade de informação para buscar o seu melhor desempenho.
Conforme Guinchat e Menou (1994), a gestão é o processo que dirige as competências e a
energia dos indivíduos com a finalidade de atingir um determinado objetivo É também um
conjunto de técnicas que permitem tomar decisões racionais e colocá-Ias em prática para que
todos os recursos do organismo sejam empregados da melhor forma possível, visando a
sua eficácia. As políticas são princípios gerais que ajudam a traduzir os objetivos em ações,
para preparar as regras de conduta que serão adotadas no momento da tomada de decisões e
da execução das atividades. p. 32.
A segunda grande função é a função organizadora: aglutina atividades muito
especializadas do profissional de informação: selecionar materiais para aquisição,
catalogar, classificar e indexar aqueles materiais.
Seleção e Aquisição - a seleção é uma atividade intelectual importante que deve ser
realizada com o responsável pelo tema tratado, com a participação dos usuários.
Catalogação - pode ser entendida como o trabalho de descrever a estrutura física dos
objetos ou documentos que fazem parte de um acervo ou coleção. Se apresentam sob a
forma de listas onde são registrados e descritos fisicamente os documentos conservados
em uma Biblioteca ou Unidade de Informação. Geralmente são organizados
alfabeticamente.
Classificação ou ato de classificar pode ser entendido como um processo mental, por
meio do qual se dá a reunião de objetos em classes ou grupos que apresentam, entre
si, certos traços de semelhança ou, ainda, de diferença (Souza, 1950, p. 3) Na
Biblioteconomia, a classificação é a tarefa de descrever o conteúdo de um documento de onde
é extraído o assunto principal. A Biblioteconomia e a Ciência da Informação lidam,
mais comumente, com a classificação dos conhecimentos que estão registrados nos mais
diversos suportes. p. 33.
Ao longo da história, surgiram vários modelos de sistemas de classificação. Os mais
estudados são a Classificação Decimal de Dewey - CDD, a Classificação Decimal Universal -
CDU e a Classificação Facetada de Ranganathan, entre outras. Como já foi mencionado, na
história do surgimento da CDU, as classes da Classificação Decimal de Dewey foram
utilizadas na sua construção, assim, ambas carregam a mesma filosofia. Esse último é
dividido em dez classes decimais, o que permite a inclusão de temas e subtemas
(Generalidades; Ciências e conhecimento; Organização, Informação etc.; Filosofia.
Psicologia; Religião. Teologia; Ciências Sociais Direito, Administração etc; Vaga;
Matemática e ciências naturais; Ciências aplicadas, Medicina, Tecnologia; Arte, Belas Artes,
Recreação, Diversões, Esportes; Linguagem, Lingüística, Literatura; Geografia, Biografia,
História). p. 34.
Indexação: é uma das principais atividades desenvolvidas numa Biblioteca ou
Unidade de Informação. Consiste na descrição dos conteúdos dos documentos e possui
como principal objetivo a recuperação a informação desejada pelo usuário.
A função divulgação é uma atividade fundamenta nas unidades de informação e, por
isso, deve ser sua principal preocupação. Ela consiste em comunicar ao usuário as
informações de que ele necessita e dependendo do procedimento, antecipar-se à pesquisa do
usuário. A Biblioteca é um organismo vivo a serviço da comunidade; nela, obtemos respostas
às nossas mais diversas indagações. O lugar de destaque que ela ocupa no mundo atual
decorre da importância que a informação tem para cada sociedade. Assim, a biblioteca
participa do aprimoramento intelectual, humanístico, técnico e científico de todos os
segmentos sociais. p. 35.

Você também pode gostar