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Essas mudanças de significação histórica para diferentes agentes não

foram automáticas e nem ao menos consecutivas. Elas coexistiram num


mesmo contexto histórico e se modificavam durante o longo processo de
interação e contatos entre portadores de lógicas culturais distintas. Uma
trama complexa em que as tradições, o ímpeto pelo enriquecimento ilícito
e a ideologia missioneira perpassavam suas ações e escolhas, acordos e
defecções; enfim, uma gama de possibilidades cuja incerteza parece ser a
única ligação possível nesse emaranhado de experiências coloniais.

Na primeira metade do século XVIII quando a região de Ibiapaba era


considerada uma fronteira – no sentido empregado por Boccara, isto é,
como um espaço sob um processo de domínio e integração ao império
português – aos grupos indígenas eram concedidas, como vassalos úteis,
prerrogativas militares da maior relevância; tanto na capitania do Ceará
quanto nas capitanias vizinhas, cujo raio de ação objetivava a manutenção
da posse real e ajuntamento de novos vassalos.

Pelo menos foi com esses objetivos que o padre Ascenso Gago, superior
da aldeia de Ibiapaba e procurador das missões do Brasil e o padre
Antônio de Sousa Leal elaboraram, juntos, uma consulta ao Conselho
Ultramarino acerca de se não permitir que a aldeia tivesse sua jurisdição
mudada para a capitania do Piauí, pois, não apenas “se arruinaria a aldeia,
como se privaria o Ceará dos seus defensores, ficando em risco as
fazendas dos seus moradores”. Assim, “além de ficar aquela fronteira
[Piauí e Ceará] segura, poderiam, com a faculdade de conceder paz, atrair
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ao domínio del-Rei muitos vassalos”
As terras de Ibiapaba eram dos índios, não há aqui qualquer negação. De
fato, o que estava em jogo era a integração de um domínio (dominium)
que se dizia d’El Rei embasada há muito nas Bulas papais; para tanto,
contudo, a vassalagem (imperium) ou domínio de homens era outro
dispositivo que correspondia ao mesmo feixe legal para a criação e
manutenção de uma dominação completa. É necessário enfatizar que o
reconhecimento da soberania dos índios – aliás, como ocorrera também
nos domínios de Castela – era condição essencial para o estabelecimento
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do vínculo de vassalagem, “fator constitutivo da essência imperial” .

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