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EDITORIAL

SUMÁRIO
JORNADA
JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023/03

DA ESPERANÇA
O Logo da JMJ 2023
exprime a juvenilidade pró-
pria da sua idade, caracte-
rística de quem ainda não
foi mãe, mas carrega em
si a luz do mundo.
Foto: Imagens da JMJ 2023

E
 INTENÇÃO MISSIONÁRIA-----------------------------03
Julho/Agosto/Setembro
sta edição da revista Missões está rica de con- Stephen Kawuki
teúdo, com destaque especial para a Jornada  ESPECIAL JMJ 2023-------------------------------------04
Mundial da Juventude 2023, realizada em Lisboa, Participamos da JMJ 2023
Portugal no início de agosto. Um grupo de 16 Márcio e Jerusa Moreira
pessoas representou a Juventude Missionária da  ESPECIAL JMJ 2023-------------------------------------06
Jornada da Esperança para o futuro
Consolata nesta JMJ. O casal Márcio e Jerusa Moreira, Josky Menga
além do padre Josky Menga, imc, acompanharam essa  FÉ EM AÇÃO---------------------------------------------08
juventude em ação, e por isso, trazemos sob as rubricas O modo como tratamos o planeta nos denuncia
Gilberto Natalini, Eduardo Jorge e Marcus Oliveira
Especial – JMJ 2023 e Destaque, os depoimentos de
quem lá esteve e vivenciou esse momento importante  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
Graça e Missão a serviço do Reino
da Igreja, com a presença animadora do papa Francisco. Paulo Mzé
Outro destaque da edição é o texto de Gilberto  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
Natalini, Eduardo Jorge e Marcus Eduardo de Oliveira Grande privilégio
Blanca Yolanda Mancera Lombana
refletindo sobre a crise socioambiental pela qual o
mundo passa, denunciando que o modo como tratamos  SÉRIE SOBRE A FOME----------------------------------14
Segurança alimentar e hídrica - parte 3
o planeta nos incrimina. Roberto Malvezzi (Gogó)
Na rubrica Espiritualidade, padre Paulo Mzé nos  MISSÃO EM CONTEXTO-------------------------------16
convida a aprofundar o tema do Ano Vocacional, “Vo- Agentes de Pastoral refletem sobre cuidado
Líbia Lopez
cação: Graça e Missão”, e o lema “Corações ardentes,
 FAMÍLIA CONSOLATA-----------------------------------17
pés a caminho”, recordando os discípulos de Emaús, Corresponder à vocação
fazendo um paralelo com o Documento de Aparecida, Redação
a vocação segundo o papa Francisco e o evangelho de  MISSÕES RESPONDE-----------------------------------21
O tradicionalismo e o novo Sínodo
Marcos (Mc 3,13-19). Edson Luiz Sampel
Publicamos ainda a terceira parte do artigo de Roberto  ÁFRICA - 100 ANOS DE ETIÓPIA---------------------22
Malvezzi sobre a Fome, assim como a segunda parte Os comerciantes da Providência - parte 2
Marco Bello
da história dos missionários da Consolata na Etiópia,
onde estão há 100 anos.  DESTAQUE ESPECIAL JMJ 2023 ----------------------24
O que cada um trouxe na bagagem
Por fim, na rubrica Entrevista publicamos o testemunho Márcio Moreira
do novo Superior Geral dos Missionários da Consolata,  CIDADANIA-----------------------------------------------26
padre James Bhola Lengarin, queniano, no qual afirma Eucaristia e Ecologia
Fátima Bazeggio
que continua sonhando com uma Igreja descentralizada,
 BÍBLIA------------------------------------------------------27
voltada para as periferias do mundo, inclusiva em sua A hora de despertar
governança e ativamente envolvida com os leigos no Mauro Negro
cuidado pastoral. Uma Igreja missionária!   ENTREVISTA-------------------------------------------------28
Fogo que acenderá outros fogos!
Bernard Obiero

2 JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES


Intenção Missionária
Julho: Por uma vida eucarística.
Rezemos para que os católicos ponham no
centro da vida a celebração da Eucaristia,
que transforma em profundidade as relações
humanas e dispõe ao encontro com Deus e
com os irmãos.

Agosto: Pela Jornada Mundial da Juventude.


Rezemos para que a Jornada Mundial da
Juventude em Lisboa ajude os jovens a pôr-
se a caminho, testemunhando o Evangelho
com a própria vida.

Setembro: Pelas pessoas marginalizadas.


Rezemos para que as pessoas que vivem à
margem da sociedade, em condições de vida
desumanas, não sejam esquecidas pelas
instituições e jamais sejam consideradas
descartáveis.

de Stephen Kawuki É imperativo que direcionemos nossos corações e


mentes para aqueles que vivem à margem da socie-
dade, enfrentando condições de vida desumanas.

A
intenção missionária de julho exortou os cató- Este é um apelo à nossa consciência e um convite
licos a colocar a celebração eucarística como à ação. O papa nos chama à reflexão sobre um dos
centro da vida cristã. A de agosto motivou a desafios mais prementes de nossa sociedade atual.
que todos rezassem pelos jovens e pela Jornada Em um mundo onde o progresso econômico e tec-
Mundial da Juventude que foi realizada em nológico parece avançar a passos largos, é crucial
Lisboa, Portugal. A presença do papa nesse evento lembrarmos que a verdadeira medida de uma socie-
motivou milhões de jovens a seguir Jesus. dade justa e compassiva reside em como cuidamos
Conforme dados das Nações Unidas, mais de 700 dos mais vulneráveis entre nós e da casa comum.
milhões de pessoas, mais de três vezes a população Rezemos para que, como sociedade, possamos
brasileira, vivem em situação de pobreza extrema, nos unir para enfrentar os desafios da marginaliza-
com dificuldade para satisfazer as necessidades ção e trabalhar em prol de um mundo mais justo
mais básicas, como saúde, educação e acesso à e compassivo. Que possamos todos juntos buscar
água e saneamento. Além disso, não podemos soluções para os problemas da marginalização e
esquecer os refugiados e deslocados internos que trabalhar para construir um mundo onde cada ser
fogem de conflitos e perseguições. Eles muitas vezes humano seja valorizado e respeitado. Que a nossa
enfrentam condições desumanas em campos de compaixão seja nossa força motriz na busca por um
refugiados superlotados, onde a falta de recursos futuro mais justo e inclusivo para todos.
básicos é alarmante. A falta de apoio internacional “Para nós, discípulos do Abandonado, ninguém
e a apatia de algumas nações em relação a essas pode ser marginalizado, ninguém pode ser deixado
crises humanitárias agravam ainda mais o sofrimento a si; porque - recordemo-lo - as pessoas rejeita-
dessas pessoas marginalizadas. das e excluídas são ícones vivos de Cristo”. (papa
Diante esta situação, o papa Francisco nos con- Francisco) 
vida a lembrar as pessoas marginalizadas para que
nos solidarizemos com elas, rezemos por elas e que Stephen Kawuki, imc, é estudante da Consolata cursando 4º ano de teologia e
jamais sejam pessoas descartadas pela sociedade. comunicação.

JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES 3


ESPECIAL - JMJ 2023

Participamos
da JMJ 2023 Testemunho de casal de Leigos Missionários
da Consolata (LMC) que participou da Jornada
Mundial da Juventude.

de Márcio e Janusa Moreira solata (LMC) Janusa e Márcio, da teria 16 na ocasião. Superado este
Comunidade São Paulo. O convite entrave, a família toda poderia ir,
feito ao casal para fazer parte da ocupando quatro das vagas des-

E
ra uma tarde de setembro de equipe de organização da JMJ tinadas ao Brasil. A coordenação
2022 e, após um telefone- (Jornada Mundial da Juventude) geral havia disponibilizado 150
ma do padre Josky Menga, – Lisboa 2023 teve logo de início vagas para toda a Congregação,
imc, iniciou-se um processo a primeira dificuldade: o limite de sendo 58 para América Latina,
revolucionário na família idade de 18 anos aos participantes, a serem divididas entre México,
dos Leigos Missionários da Con- sendo que um dos filhos do casal Venezuela, Colômbia, Argentina e

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Brasil. Logo de início, em função
do alto custo, México desistiu de
A Jornada da tarde, uma visita à cidade de
Nazaré. Ao final do dia, o grupo
participar. Argentina e Venezuela Mundial da chegou à Santa Casa da Misericór-
reduziram seu número de partici- dia da Amadora, local parceiro do
pantes pelo mesmo motivo, o que Juventude Instituto Consolata. Os peregrinos
não significou um baixo custo para
a delegação do Brasil e Colômbia. começa agora, foram recebidos com muito cari-
nho e afeto, permanecendo este
A busca pelos jovens ficou a
cargo dos dois Institutos e tam-
na comunidade tratamento durante toda estadia.
A partir do dia 1º de agosto
bém dos LMC. Uma dificuldade de cada iniciou-se a Jornada propriamente.
Em breves palavras, papa Francis-
foi encontrar JMC - Jovens Missio-
nários da Consolata. Por exemplo, peregrino. co disse aos peregrinos que Deus
o grupo do Jardim Consolata, em quer cada um de nós do jeito que
São Paulo, está inativo com encon- quase todos os peregrinos, no somos. A estrutura organizada
tros presenciais desde o início da dia 23 de julho. Parte do grupo contou com três espaços: Cidade
pandemia. Então, chegou-se ao de São Paulo ficou hospedado na da Alegria destinada à vivência
número de cinco jovens de São Casa Regional dos missionários, de experiências de vida e alegria
Paulo, três de Manaus e uma de em São Paulo. Neste momento, cristã com confissões, adoração
Feira de Santana. Com a desistência cabe um agradecimento especial ao Santíssimo e stands das co-
dos outros países, o convite foi aos padres pela hospedagem e às munidades religiosas; Festival da
ampliado para outros que não missionárias MC pelo transpor- Juventude, que era um conjunto
estavam diretamente vinculados te e aos dois Institutos do Brasil de eventos culturais, religiosos e
à Congregação, acrescentando ao pelo apoio, inclusive financeiro, e esportivos, espalhados por mais de
grupo mais duas jovens e um padre incentivo. Os peregrinos tiveram 100 lugares pela cidade, e eventos
da região de Porto de Sauípe, BA. dois encontros por duas noites centrais, sendo a missa de aber-
Desta forma, a delegação do Brasil ainda em São Paulo para refinar tura, acolhimento do papa e via
ficou com um total de 16 pessoas. os detalhes da viagem. Sacra, na Colina do Encontro, mais
Feita a estruturação básica da E, após um longo período com a Vigília e Missa de Encerramento,
peregrinação, o grupo entrou no dúvidas, alegrias, medos, discus- no Campo da Graça. Coube ao
processo de formação catequética, sões, incertezas, inseguranças, seminarista Ricardo Paes, imc, ser
com encontros preparatórios dos mas por outro lado fé em Deus o anjo protetor do Brasil, o qual
seguintes temas propostos pela para seguir em frente, o grupo se empenhou em dar a cada um
organização da JMJ: 1) Ecologia embarcou para Lisboa no dia 25 de do grupo o mimo de um Pastel de
Integral (Laudato Si); 2) Amizade julho. Na manhã seguinte, padre Belém. Ricardo é um “brazuca”
social (Fratelli Tutti); 3) O grande Augusto, imc, aguardava o grupo nascido em Portugal.
anúncio do amor de Deus. Os en- no aeroporto e o conduziu até Se for perguntado o que cada
contros foram via plataforma Meet Fátima para a pré-jornada. Agra- um trouxe na bagagem, as res-
e não ficaram restritos somente decimenrtos à Família Consolata postas girarão em torno de expe-
aos peregrinos, mas a todos os IMC, MC, LMC e JMC de Portugal, riência e vontade de fazer muita
jovens que quisessem participar. nas pessoas da organização ge- coisa; que foi impressionante viver
Desta forma, os benefícios da ral: padres Álvaro, Simão Pedro com 1,5 milhões de pessoas de
jornada ampliaram-se para outros e Bernard, pela organização e diversos lugares do mundo com
interessados, independentemente infraestrutura. um mesmo propósito; que voltar
da ida ou não para Lisboa. Nes- O grupo ficou em Fátima de de uma Jornada Mundial da Ju-
te sentido, um aspecto sempre 26 a 31 de julho. A casa da Con- ventude abre uma perspectiva de
salientado foi: não eram os 16 gregação fica a cinco minutos a atuação dos LMC dando suporte
peregrinos que iriam para a Jor- pé do Santuário e muito próxima para o desenvolvimento dos JMC.
nada, mas sim que todos iriam à do vilarejo em que Jacinta, Fran- Na realidade, a JMJ foi o evento
JMJ representados pelos 16. cisco e Lúcia viveram. Assim, os para parar, olhar, refletir e dar
Assim, a reunião com todos peregrinos puderam experienciar os próximos passos. Em suma, a
da América Latina e também a toda a atmosfera do lugar. Jornada começa agora na comu-
catequese formativa começou Na manhã de 31 de julho, o nidade de cada peregrino! 
a introduzir o grupo na vibração grupo foi para Lisboa. O dia foi
da Jornada. E esta sintonia ficou programado com missa campal Marcio e Janusa Moreira são LMC da Comunidade
mais refinada com a chegada de no caminho e almoço. No período São Paulo.

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ESPECIAL - JMJ 2023

Jornada da Esperança
para o futuro

de Josky Menga especialmente o acolhimento e a de peregrinos. Muitos passaram


organização local, desde a semana a noite nas estradas circundantes

A
Jornada Mundial da Ju- da pré-jornada, em Fátima, até aos que davam acesso ao evento. Ou-
ventude – JMJ Lisboa 2023 dias da JMJ, em Amadora. tros seguiram os acontecimentos
superou todas as expecta- a partir dos ecrãs instalados nas
tivas: não só porque mais Expectativa principais praças de Lisboa.
de um milhão e meio de A Jornada Mundial da Juven- Como já sabemos, a Jornada
peregrinos se juntaram na capital tude 2023, que foi realizada em Mundial é um evento que por si
portuguesa, passando pela presen- Lisboa, Portugal, de 1º a 6 de agos- só se intitula mundial, onde junta-
ça e liderança carismática do papa to, chegou ao fim, mas a missão -se a juventude do mundo inteiro,
Francisco, que durante cinco dias continua. Segundo os meios de e é sem dúvida, um dos grandes
cumpriu uma agenda carregada comunicação social portugueses, eventos organizados pela Igreja
sem perder a energia como se o pico de participação registrou-se Católica a nível internacional. Em-
fosse um jovem de tenra idade nos últimos dois dias, com cerca bora o convite fosse para todos,
e deixando sempre palavras im- de 1,5 milhões de peregrinos. Francisco destacou aqueles que,
pactantes, mas também porque De fato, os espaços da Vigília de devido à guerra ou outros conflitos,
a organização foi apreciada por sábado, 5 de agosto e a missa não estiveram presentes, como é
todos. Os cerca de 140 jovens de 17 de envio de 6 de agosto (Campo o caso dos jovens do Sudão do Sul,
países ligados à Família Consolata da Graça, Parque do Tejo) não que por sua vez organizaram este
apreciaram o evento e agradecem foram suficientes para o número evento localmente.

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Um papa para os jovens
As expectativas foram crescen- "Jovens, não o responsável por “acordar” os
peregrinos que pernoitaram de
do, desde o anúncio de que o papa
participaria da Jornada Mundial da
tenhais medo. sábado para domingo no Campo da
Graça. Os primeiros sons de uma
Juventude. Todos ouviram, aplaudi- A juventude é batida bem ritmada começaram a
ram e repetiram com gosto as suas ouvir-se às 7h da manhã. E a música
palavras, que a ninguém deixou o presente da invadiu aquele espaço único que
indiferente. Já não eram só os cris-
tãos católicos. Em cada palavra que Igreja, não o unia dois territórios: dos municípios
de Lisboa e Loures – o Campo da
falava expressava a esperança para
os jovens com os gritos em línguas
futuro". Graça (Parque Tejo), separados pelo
rio Trancão. O sol iluminava cada
diferentes “essa é a juventude do um dos peregrinos que tinham
PAPA” Juventude sem medo, com os cânticos dos jovens à passagem passado a noite em vigília, e com
as vozes fortes cheias de alegria e de Francisco. Cânticos que, na pre- o seu calor preparava-os para a
esperança! Sentir realmente esse sença de Jesus no Santíssimo Sacra- celebração eucarística de envio e
papa presente próximo é para mento, exposto para adoração, se encerramento da JMJ 2023, com
nós uma esperança, e Francisco transformaram em silêncio e que início às 9h. As notas do cântico
olhava e dizia “essa é a juventude silêncio! O momento que só quem de entrada abriram a celebração
de CRISTO”. Nas TVs ouviam-se estava ali sentiu-se na presença do presidida pelo Santo Padre, acom-
comentadores agnósticos e ateus Senhor: adorar no silêncio. panhado pelo Patriarca de Lisboa
confessos rendidos ao seu carisma Perante um milhão e meio de e por várias centenas de bispos e
e à sua mensagem. pessoas na Vigília, Francisco pediu milhares de sacerdotes. Na sua
Como disse Francisco na missa que ninguém se permita cair na homilia, inspirada no Evangelho
de envio, a JMJ Lisboa 2023 deixará agonia, na falta de esperança e da Transfiguração, Francisco pediu
no coração de cada jovem “a se- que ajude os outros a levantar-se, aos jovens que levassem nas suas
mente que Deus quis lançar neles, e a exemplo de Maria, a pôrem-se memórias estes três verbos: brilhar,
e só Ele mesmo sabe disso”. Esta a caminho com alegria porque “a escutar e não temer.
semente foi fecundada por diferen- alegria é missionária”. Essas pa- “BRILHAR, porque hoje preci-
tes propostas como: catequeses lavras nos animam a não perder samos de um clarão de luz que é
diárias, expo-carismas, confissões, a alegria na nossa vida e manter esperança para enfrentar tantas
concertos, eventos desportivos e, sempre esse foco. Continuar a ser derrotas cotidianas, para enfrentá-
sobretudo, os eventos presididos jovens da alegria, no local onde -las com a luz da ressurreição de
pelo sucessor de Pedro, como a cada um se encontra. Jesus”.
Via-Sacra, a Vigília e a Missa de Exortou também a não olhar ESCUTAR, ou seja, apurar o ou-
encerramento ou de envio. Durante para ninguém com desprezo, ma- vido para não errar no caminho.
a Via-Sacra, Francisco sublinhou nifestando rejeição. O papa disse: Estar atento à voz do Pai que diz:
que “a cruz é o sentido maior do “A única vez que é lícito olhar para “Este é o meu Filho muito amado,
maior amor, aquele amor com que uma pessoa de cima para baixo é escutai-o”.
Jesus quer abraçar a nossa vida”. para a ajudar a levantar-se”. Uma NÃO TEMER: como Jesus pede,
Recordou também que “Jesus, com frase que rapidamente viralizou esta mensagem dirige-se aos jovens
a sua ternura, enxuga as nossas nas redes sociais. E como é natural que, não vendo realizados os seus
lágrimas escondidas”. É por isso no discurso do papa aos jovens, sonhos, desanimam, ou aos jovens
que “Jesus caminha para a Cruz, recordou-lhes que não devem es- que, tentados pelo desânimo, per-
morre na Cruz, para que a nossa quecer as suas raízes, lembrando dem a esperança. Francisco insiste:
alma possa sorrir”. Por isso não aqueles que iluminaram o caminho “não tenhais medo”.
podemos ter medo de sofrer e nem de cada um deles, referindo-se Enfim, a alegria do encontro,
de chorar porque Jesus está no especialmente às pessoas mais a cultura, cor e raça de todos os
mesmo barco conosco e Ele sabe velhas, aos idosos, aos avós. lugares vindo do sul, do norte, do
o que estamos passando. A madrugada de 6 de agosto já oeste e do leste, várias preocupa-
fazia prever um dos dias mais quen- ções invadiram os nossos corações
A alegria é missionária tes da semana em Lisboa. Previa-se e fizeram surgir muitas perguntas
Na noite da Vigília, no Campo que a temperatura chegasse aos 41 olhando para essa multidão da
da Graça, o cenário não podia ser graus. O padre Guilherme Peixoto, juventude. 
melhor: um pôr do sol de verão sacerdote e DJ, fez subir ainda mais
refrescado pela brisa do rio Tejo e a temperatura ambiente. Foi ele Josky Menga, imc, coordenador de AMJV no Brasil.

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FÉ EM AÇÃO

O modo como
tratamos o planeta
nos denuncia
“Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra
social; mas uma única e complexa crise socioambiental”.
(Papa Francisco, Laudato Si’, LS, 139)
de Gilberto Natalini, Eduardo Jorge e Marcus Eduardo de Oliveira

R
espeitando o olhar da está aqui, entre nós, e estamos vez mais influente e dominante)
ciência, não há como cada vez mais próximos de um de que a tecnologia pode levantar
esconder mais uma ver- ponto de não retorno. uma economia sem limites, dobra-
dade inconveniente: Resposta óbvia: na tarefa de mos nossa pegada ecológica. Ago-
estamos promovendo a cuidar do planeta, temos sido ra, “viciados em modernidade”,
mais avassaladora destruição da um fracasso espetacular. Não por como gosta de dizer Aílton Krenak,
natureza, da biodiversidade, dos acaso, no meio ambiente passou “transformamos” o mundo num
ecossistemas, do clima. Estamos a ser lugar-comum, decerto, re- gigantesco hipermercado repleto
contaminando cursos de água, in- ferência imediata do nosso jeito de bugigangas. O resultado não
toxicando os solos com pesticidas. antropocêntrico – antropocen- poderia ser outro: a humanidade
Eliminamos em massa espécies trismo dominador. já excede em 50% a capacidade
animais e vegetais. Já alteramos De modo simples e direto, de regeneração e absorção do
70% da superfície terrestre da temos irresponsabilidade ambien- planeta.
Terra. A temperatura global da tal, algo que, vale reconhecer,está No horizonte crítico, isso tem
atmosfera bate recorde. Há um na base da vida social conhecida. um significado claro: para susten-
acúmulo de evidências trágicas. Não por acaso, em pouco mais de tar o peso da produção huma-
Sintetizando, a crise climática 50 anos, diante da crença (cada na (massa antropogênica talvez

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seja o termo mais adequado), cause certa surpresa é a lentidão somente os negacionistas (ad-
a atividade humana já explora dos humanos, especialmente das versários da ciência e da vida)
num ritmo insustentável mais classes mais ricas, em atenuar, fazem questão de objetar, Da-
de 100 bilhões de toneladas de conter e mitigar os efeitos do vid Attenborough, melhor que
materiais (areia, pedra, cimento, desajuste planetário. ninguém, levanta uma sentença
biomassa, materiais metálicos Reconhecidamente, a elite emblemática: “o mundo natural
e assim por diante) a cada ano. dominante, em larga medida, está desaparecendo”.
São 13 toneladas por habitan- é a causadora de boa parte do Conceito fechado, isso tudo
te do planeta. Quase a metade problema. O motivo principal? pede uma resposta firme voltada
disso se transforma em habita- Deixemos essa boa explicação a vencer elementares desafios,
ções, prédios comerciais, meios com a Oxfam em parceria com o tais como: enfrentar a Era do
de transporte; enfim, produção Stockholm Environment Institute: Antropoceno e suas transfor-
para uso da sociedade humana. as emissões per capita de alguém mações geridas pela sociedade
Por tal razão, aceleramos o que faz parte do 1% mais rico são pós-industrial (ameaças ecoló-
planeta em direção ao desastre. 100 vezes maiores do que as de gicas); efetuar a transição da
Agora mesmo, está em avançado alguém que faz parte dos 50% era fóssil para a economia de
curso uma gravíssima crise de mais pobres e 35 vezes maiores baixo carbono (imperativo de
recursos hídricos – a crise da água do que a meta estabelecida para primeira ordem que determina,
no mundo atual, ou o problema 2030. Desde 1990, os 5% mais sobretudo, o futuro ecológico
da escassez de água potável, um ricos foram responsáveis por mais e que requer o enfrentamento
entre os dez maiores impactos de um terço do crescimento das da poderosa indústria dos com-
que o planeta enfrenta. De igual emissões totais. Os 1% mais ricos bustíveis fósseis que movimenta
modo, aceleramos o aumento foram responsáveis por mais do mais de 5 trilhões de dólares
de gases estufa cem vezes mais que toda a metade mais pobre por ano); repensar as atividades
rápido do que em qualquer outro da população. humanas, a organização social,
momento da evolução humana. Trocando em miúdos, faz tem- o estilo e comportamento de
Poluição, de todos os tipos, po que o conhecimento científico vida cotidianos, e mesmo essa
se tornou prática comum. A cada nos informa que milhões de mor- atual e deprimente sociedade de
ano, 14 milhões de toneladas de tes no mundo estão relacionadas descarte e consumo excessivos,
plástico, assim relata a União In- à crise climática provocada pela hoje, como ontem, localizados na
ternacional para a Conservação ação humana no planeta. Como chamada economia plastificada
da Natureza (IUCN, na sigla em atestou em relatório a Organiza- que não cessa de aumentar.
inglês), terminam nos oceanos, ção Pan-Americana para a Saú- Fazendo um recorte específico
ameaçando, sobretudo, a vida de (OPAS), não é de hoje que a e enfatizando o trivial, ao fim,
marinha. São100 mil animais ma- sociedade humana convive com é sempre assim: o nosso real e
rinhos levados à morte, todos os uma “tripla crise planetária”: a imediato compromisso com o
anos, repita-se. mudança climática, a perda de futuro é o de construir um mundo
biodiversidade (fenômeno global) sustentável para nós, agora; para
Risco de extinção e a poluição. as gerações futuras, no amanhã;
Com efeito, nessa mesma li- e para os outros seres vivos, hoje,
nha de ameaça à vida animal, Processo de destruição amanhã e sempre.
segundo o Fundo Mundial para a A título de informação, a in- Em suma, fundar um novo agir
Natureza (WWF), a partir da de- sustentabilidade ambiental daí é, sim, a missão maior que nos
gradação ambiental dos habitats decorrente tende a se consolidar espera. 
pela atividade humana, um terço diante de nossos olhos. Em outros
das espécies de mamíferos corre termos, estamos falando de um (*)GILBERTO NATALINI é médico cirurgião, vereador
risco de extinção até a metade mesmo e abrangente problema por cinco mandatos na Câmara Municipal de São
do século. multidimensional: o processo de Paulo. Foi secretário municipal do Verde e do Meio
Não surpreende, portanto, destruição da própria natureza, Ambiente (2017).
que tudo o que estamos aqui re- nosso fundamental sistema de (**) EDUARDO JORGE é médico sanitarista. Por duas
latando, ainda que resumidamen- suporte da vida. Inquestionavel- vezes foi secretário municipal de saúde e secretario
te, tenha nomes e sobrenomes mente, esse é o nervo central da do meio ambiente.
conhecidos: crise socioecológi- questão. (***) MARCUS EDUARDO DE OLIVEIRA é economista e
ca, descompasso climático em De particular contexto, para ativista ambiental. Mestre em Integração da América
avançado estágio. O que talvez entender essa verdade que Latina pela Universidade de São Paulo – USP (2005).

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ESPIRITUALIDADE

Graça e Missão a
serviço do Reino
Com sete objetivos
específicos, o Ano
Vocacional tem como
objetivo “promover
a cultura vocacional
nas comunidades
eclesiais, nas
famílias, e na
sociedade, para que
sejam ambientes
favoráveis ao
despertar de todas
as vocações, como
graça e missão a
serviço do Reino de
Deus”.

de Paulo Mzé

O
3º Ano Vocacional nos con- a assumir sua vocação de Povo condição de vida, são chamados a
vida a refletir e aprofundar de Deus que se coloca a caminho participar da vida bem-aventurada
o tema: “Vocação: Graça rumo à salvação. A vocação no de Deus. A vocação no Vaticano II é
e Missão”. O lema, “Cora- Vaticano II é entendida como um entendida como um dom – sermos
ções ardentes, pés a cami- chamado a todos e está ligada à santos – mas também como um
nho” (Cfr. Lc 24,31-33), faz recordar consciência missionária, sendo uma compromisso com a vontade divina,
os discípulos de Emaús. Enquanto a resposta que conduz à santidade. manifestado a todos, no próprio ser-
graça faz o coração arder, a missão Jesus Cristo é o grande modelo na viço. O Vaticano II também chama
faz os pés estarem a caminho, em vivência da vocação. A santidade atenção para o caráter comunitário
movimento. O Vaticano II é um proposta por Jesus como caminho da graça, pois a vocação não é vi-
convite a todos os cristãos leigos, de vida favorece a compreensão de vida de maneira isolada afastada
ministros ordenados, consagrados que todos, independentemente da do mundo ou das pessoas (GS, 24).

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A espiritualidade do Vaticano II é Jesus e à Santidade. O testemunho é estar com Cristo e acompanhá-
de comunhão. A santidade é um do papa Francisco tem oferecido a -lo, para compartilhar de sua vida
chamado a todos e o batismo é a chave hermenêutica para a com- e ser enviado a testemunhar essa
fonte das vocações. O Vaticano II preensão de uma Igreja ministe- experiência.
nos dá a oportunidade de trazer rial, reforçando e valorizando o Para melhor compreendermos
a compreensão de santidade para papel da hierarquia no serviço de a narrativa de Mc 3, 13-19, é im-
próxima de nós. A vocação é dom, proximidade aos cristãos leigos, portante localizar a perícope em
é graça. A compreensão de voca- conservando a Tradição Apostólica seu contexto literário. Mc 3,13 nar-
ção nos documentos do Vaticano no que concerne ao serviço que é ra que Jesus “subiu à montanha”,
II supera a dicotomia de pensar o próprio dos ministros ordenados avisando que algo importante iria
caminho para o qual Deus chama e colocando em prática o espírito acontecer. Em seguida nos diz que
e a resposta para Deus. conciliar de valorização dos minis- Jesus “chamou os que ele mesmo
térios laicais. quis”, e que esses “foram até ele”.
Documento de Aparecida Neste pequeno trecho é possível
O Documento de Aparecida Evangelho de Marcos perceber o ministério do chamado
nos possibilita um olhar profundo O discipulado missionário é de Deus unido ao ministério da aco-
sobre a realidade vocacional de um tema que perpassa todo o lhida humana. Acontece um milagre
toda a Igreja. Deus, em sua infinita Evangelho de Marcos. No entanto, que é ao mesmo tempo felicidade,
misericórdia, ama e chama a cada há alguns trechos que enfatizam comunhão. A voz divina, por meio
um de seus filhos a se tornarem essa temática, por exemplo, a daqueles que Ele chamou poderá
membros do corpo místico de Jesus instituição dos doze (Mc 3, 13- ecoar nos corações, na comunidade
Cristo, pela salvação da humani- 19). O Evangelho de Marcos tem e no mundo. “Jesus (...) chamou os
dade. Perpassando o Documento como pano de fundo três ques- que ele mesmo quis, e foram até
de Aparecida, compreendemos tões. Quem é Jesus? Qual é a ele. Então constituiu doze para es-
que este chamado lança-nos ao sua missão? Como ser seguidor? tarem com ele e para enviá-los (...)”
amor-serviço, a entrega na doação Para respondê-las é necessário (Mc 3, 13). Toda vocação é dom e
de si mesmo, a ponto de fazer se perguntar: Onde está Jesus? graça. Dom de Deus, que chama
do homem e da mulher pessoas De fato, ao localizarmos onde mulheres, homens, jovens para
eucarísticas, chamadas com Cristo Jesus está, com quem convive, o seguirem Jesus. Graça por ser um
a se alimentar para a vida e a ser que realiza, podemos entender chamado gratuito, para permanecer
alimento para a vida de cada se- sua identidade messiânica e sua com Jesus e, com Ele, sair para as-
melhante. Aparecida nos mostra missão. Por conseguinte, onde o sumir o Reino e compartilhar dom
que nenhum chamado de Deus discípulo é chamado a estar. O e talentos recebidos gratuitamente
poderia mover nossa ação missio- último lugar será a Cruz, quando do Pai, pelo Espírito. No tempo de
nária e discipular ao presunçoso Jesus se revela como o Messias Jesus, já havia “Rabis” ou “Mestres”.
fechamento e autocentralidade. A esperado (Mc 15, 39) e desvela A grande novidade é que Jesus
Virgem Maria nos ensina a viver o quem somos chamados a ser ao escolhia seus discípulos: “Vinde
discipulado missionário e participa optarmos por segui-Lo. após mim, e eu vos farei pescado-
de nosso percurso formativo rumo A vocação e a missão dos doze res de homens” (Mc 1, 17). “Não
ao nosso total sacrifício de vida, discípulos escolhidos por Jesus nos fostes vós que me escolhestes, fui
juntamente com Cristo. Maria, ajudam a refletir sobre a vida cristã eu que vos escolhi (...)”. (Jo 15, 16).
Mãe da Igreja nos reúne como e a dinâmica que envolve nossas E os escolhia para “estarem com
irmãos em uma mesma família. escolhas pessoais, o sentido de ele” (Mc 3, 14b).
Confirma-nos na comunhão e na nova vida, do viver em comunidade Nossa vocação se concretiza na
fraternidade e direciona-nos ao e o fundamento de nossa missão. comunidade plural: leigos, con-
seu Filho Amado. Percebe-se que o seguimento nasce sagrados, diáconos, presbíteros.
de um chamado, que acontece na Somos chamados na intimidade
A vocação em Francisco normalidade da vida, pois ninguém pessoal a permanecer com Ele
Temos a graça do pontificado está preparado. Todos são surpre- na montanha onde se concretiza
do papa Francisco, que tem im- endidos. São chamados a deixar o nossa vocação no cotidiano, so-
pulsionado a dimensão ministerial que estão realizando, a obedecer a bretudo com seus preferidos, os
da Igreja, fazendo crescer cada Palavra de Cristo Jesus e a percorrer mais pobres. 
vez mais a consciência da voca- o seu caminho em uma total con-
ção batismal, na qual todos são fiança. De fato, o discipulado não Paulo Mzé, imc, é Superior Regional dos Missionários da
chamados à vida, à amizade com consiste em aderir a uma pessoa, Consolata e diretor da revista Missões.

JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES 11


TESTEMUNHO

Grande privilégio
Missionária da Consolata afirma ser grande
privilégio viver a serviço do Reino de Deus.
de Blanca Yolanda Mancera Lombana nessa família, feliz de responder irresistível que o Amor de Jesus
com generosidade e entregar toda fez superar qualquer obstáculo.

S
ou Blanca Yolanda, nascida a minha vida a serviço da Missão.
em 4 de março de 1962 em Enamorei-me profundamente por Na Venezuela
uma pequena cidade no Jesus e pelo seu Reino e percebi Os três anos de formação inicial
centro da Colômbia, chama- que Nossa Senhora Consolata me passaram muito depressa e eu me
da Quetame. Aos 18 anos, conduzia delicadamente por suas encontrei de repente na Missão
quando tinha apenas terminado o mãos. entre os povos originários Wayú
Ensino Médio em Bogotá, respondi Não foi fácil deixar a minha fa- da Venezuela. Quanta felicidade
ao chamado de Deus e ingressei mília à qual sentia-me fortemente experimentei enquanto ainda jo-
na Família das Missionárias da apegada, minha mãe era tudo para vem, de ter a oportunidade de
Consolata. mim; deixava três irmãos pequenos estar junto às pessoas pobres e
Desde o início percebi que este e o meu pai bastante desiludido da simples. Mas, para viver melhor esta
era o meu lugar e que Jesus tinha minha escolha, pois tinha planos desafiadora aventura, as minhas
planos estupendos para o meu futuros para mim. Mas, aquele superioras quiseram que me pre-
futuro. Eu me sentia feliz de estar divino chamado foi tão forte e parasse, estudasse, e fizesse uma

12 JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES


experiência de fraternidade univer- sionária, o Bem-aventurado José escutá-los quando procuram com
sal, vivendo em uma comunidade Allamano. Vivi intensamente este quem desafogar as suas angústias,
internacional com irmãs de várias serviço, interessando-me de todo compreendê-los nas escolhas que
culturas: argentinas, polonesas, o andamento das Missões, mas, fazem e, tudo isto, porque che-
italianas, portuguesas, quenianas, novamente a graça da Obediência gando em uma cidade que pouco
tanzanianas, ugandesas. Aprendia me levou para uma nova Missão. ou nada se interessa pelos povos
a acolher a diversidade. originários, devem ajustar-se sozi-
De volta à Venezuela nhos e viver como “não-indígenas”,
No Brasil Hoje vivo a Missão na Venezuela devem esquecer suas origens, a
Quando terminei este período entre os Povos Originários da Ama- sua língua e cultura, permanece-
de preparação, recebi como presen- zônia. Cheguei aqui em 2015, mes- rem calados quando violentados
te a ‘destinação missionária’ entre mo quando o país encontrava-se em seus direitos humanos. Diante
o povo Yanomami do Brasil. Vivi na crise mais aguda de sua história, desta realidade, em nosso Projeto
com eles 10 anos, que considero devido à situação política e social Missionário lhes oferecemos um
os mais ricos, férteis e especiais criada por causa da guerra pelo ambiente seguro e sereno onde
da minha vida! Amei estar com poder. Novamente senti a alegria podem reunir-se, celebrar segundo
eles, gostava de sentar-me por de ter sido ‘predileta’ de Deus por a sua cultura, falar a sua língua.
terra ao seu lado para escutá-los, oferecer-me a oportunidade de ser Temos cuidado com os mais frá-
aprender a sua cultura e língua; era um pequeno sinal de consolação geis, sobretudo, as crianças, anciãos
muito bonito e emocionante sair entre os mais vulneráveis, os po- e mulheres grávidas com uma boa
de casa e adentar-me na floresta bres, as crianças, os indígenas... alimentação. Favorecemos peque-
fechada de árvores e viver as mais posso condividir os sofrimentos, nos projetos no sentido de aprender
incríveis aventuras, colher os frutos as angústias, os medos das pes- alguma profissão que lhes garanta
silvestres, pescar nos pequenos rios soas. Vivo junto com duas irmãs algum sustento. Cuidamos da sua
usando o método de adormecer os vida espiritual, aproximando-os da
peixes com uma substância natural Palavra de Deus, aos sacramentos,
e depois pegá-los com as mãos e Estamos com eles às celebrações religiosas. Estamos
colocá-los nos cestos; era tão bonito
viver com eles as festas religiosas
nos momentos em com eles nos momentos em que
têm maior necessidade, visitando
próprias de sua cultura. Eu amava que têm maior constantemente as suas famílias.
as reuniões, as assembleias com necessidade. Sobretudo, abrindo as portas da
os anciãos, mulheres e jovens e o nossa casa e dos nossos corações
quanto aprendiam reciprocamen- todas as vezes que buscam alguma
te. Para mim foi muito difícil sair também elas muito empenhadas ajuda.
desta Missão. Mas, a obediência no serviço amoroso a quem mais Diante deste panorama, po-
me tirou desta terra e me pediu um necessita segundo a metodologia de-se compreender porque sou
outro serviço. A Virgem Consolata e o carisma do nosso Fundador. assim tão fascinada pela minha
que me levara para viver entre os Estou em Puerto Ayacucho, lugar vocação missionária e como me
Yanomami, ela mesma me levava que faz fronteira com a Colômbia. sinto bem em estar na cidade de
para outro lugar e com Ela eu seguia Mas, posso dizer que não é um Puerto Ayacucho! Como sou feliz
confiante e sem nenhuma dúvida. único povo, mas são tantos povos de doar a minha vida dia por dia,
numa única terra. Aqui estão po- entre os povos originários também
Na Casa Geral vos originários: Wuotthuja, Hoti, com poucos recursos humanos e
Por um período de 10 anos Baré, Neengatú, Tukano, Yekwana, materiais. No meu coração tenho
fui viver na Casa Geral do meu Yanomami, Wayú, Jivi, Warequena. muita gratidão e até quando Deus
Instituto em Nepi, Itália. Este é Todos provenientes das suas Comu- quiser estarei à Sua disposição e
um ambiente de ‘escritórios’. Eu nidades, vindos à cidade em busca rezo para que muitas jovens te-
pensava que não seria capaz de de melhores oportunidades, e não nham a coragem de responder
desenvolver ali um bom trabalho, querem mais sair daqui, também ao chamado de Jesus, sem medo,
mas ao invés, a Providência Divina se ainda têm parentes na floresta. porque oferecer a própria vida a
deu-me a serenidade e a alegria Eis o nosso desafio no trabalho serviço dos irmãos é “um grande
de servir à minha Família Religio- missionário, na pastoral indíge- privilégio”. 
sa e a conhecer melhor, de estar na urbana: acompanhá-los nas
mais próxima dos ensinamentos suas dificuldades, estar perto nos Blanca Yolanda Mancera Lombana, MC, é missionária
do Fundador desta família Mis- momentos de alegria e de luto, na Venezuela.

JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES 13


SÉRIE SOBRE A FOME

Segurança
alimentar
e hídrica
de Roberto Malvezzi (Gogó)
Terceiro artigo da série sobre a fome,
escrito por Roberto Malvezzi (Gogó) reflete

F
undamental na segurança e
na soberania alimentar são
sobre a importância dos territórios e
os territórios das comuni- a segurança hídrica para a soberania
dades tradicionais, como
as indígenas, quilombolas,
alimentar.
fundos e fechos de pasto na Bahia,
e outros. O território é um espaço outras comunidades, sua matriz vidades extrativistas pressupõem
de vida, não só de produção. Ali cultural e civilizacional, seu res- a floresta em pé, a Caatinga em
estão as habitações, as pessoas, peito e conexão direta com a na- pé, o Cerrado em pé, a Amazônia
os cemitérios, as tradições, a cul- tureza. Os espaços comunitários, em pé etc. Assim, são também
tura, com sua religião e também o de produção e reprodução da preservadores do meio ambiente,
espaço de produção e reprodução vida, não cabem na mentalidade são guardiães ambientais, que
da vida. É também o espaço de fechada e individualista da socie- prestam serviços a toda sociedade
liberdade das comunidades. Elas dade ocidental. Por isso, para essa humana e à natureza, ajudando
são soberanas em seus territórios. mentalidade, essas comunidades preservar o ciclo das águas, do
Acontece que a soberania terri- representam o atraso, o obstáculo carbono, a amenidade do clima e a
torial das comunidades é sempre a ser derrotado para implantarem biodiversidade específica de cada
agredida pelos interesses do capi- seus projetos monoculturais e bioma. A agricultura camponesa
tal, com sua propriedade privada predadores. pressupõe a aliança com a natu-
de tipo capitalista, que mira a Esses territórios que produ- reza, o agronegócio pressupõe a
terra como espaço exclusivo de zem alimentos, clima, biodiver- guerra contra a natureza. Por isso
produção e lucro, quando não sidade, chuvas, culturalidades, uma preserva, a outra destrói,
de mera reserva financeira. As peixes, alimentos, extrativismo ainda que o discurso seja sempre
mentes dominadas pela lógica de sustento da vida, precisam ser de atividades ambientalmente
capitalista não têm elasticidade protegidos e incentivados. Nem sustentáveis de ambas.
para compreender, e respeitar, sempre é produzir, muitas vezes Então, como diz o mundo capi-
a concepção de mundo dessas é extrair. Ainda mais, certas ati- talista, por que essas comunidades

14 JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES


são tão pobres? Aí depende mais (um pouco variável conforme as Nordeste de 30 anos atrás ainda
uma vez da leitura de mundo. circunstâncias), 7 litros para usos se morria mais de sede que de
Sônia Guajajara, ao criticar um como beber e cozinhar, 50 litros por fome, embora se morresse de
discurso preconceituoso de uma dia para todos os usos domésticos, ambas. Hoje, com essa rede de
senadora, lhe disse: “nós somos 1 mil m3/ano para todos os usos, microtecnologias implantadas no
assim porque queremos ser assim. inclusive os agrícolas e industriais, pé da casa, o fenômeno social das
Nós queremos estar na terra”. Em instala-se a insegurança hídrica. migrações, da fome, da sede, da
outras palavras, o jeito de entender Se essa água não tem qualidade, miséria, das frentes de emergên-
a vida e vive-la é de outra ordem quantidade e regularidade, instala- cia, da mortalidade infantil, dos
cultural e civilizacional e as mentes -se a insegurança hídrica. saques, é página virada da história
dominadas pela unicidade cultural Acontece que a demanda de (Malvezzi, 2007).
não têm como compreender e água dos nossos corpos humanos Porém, para realizar esse con-
respeitar esses povos. é sempre urgente. No máximo junto gigantesco de microobras,
A vida simples, integrada à dois dias sem água, no terceiro foi necessário o aporte financeiro
natureza, dos que “mamam na os órgãos começam a entrar em do Estado brasileiro, tanto em
terra” (Krenak) quer seu lugar colapso. Já a ausência de alimentos nível federal como estadual. O
em pleno século XXI. Não são o em nossos corpos pode suportar que, no início, era uma iniciativa
passado, mas um outro modo de por mais dias, o que também é de igrejas e organizações da socie-
entender e viver a vida. Crescem variável conforme cada organis- dade civil, baseada na cooperação
as vozes desses povos, a reivin- mo e conforme as circunstâncias. mútua, ou com financiamentos do
dicação de seu lugar ao sol, o Jesus teria feito um jejum de 40 exterior, ganhou escala com os
resguardar suas diferenças cul- dias no deserto e dizem que São governos Lula e Dilma. Quando
turais e civilizacionais. Eles não veio o golpe de Estado, a partir
querem nosso mundo, mas querem do governo Temer, seguido pelo
conviver conosco guardando seu governo Bolsonaro, os programas
próprio lugar histórico, cultural e de construção dessas microobras
civilizacional. A simplicidade não hídricas foi desativado, em prejuízo
significa miséria, falta de comida, de milhões de pessoas que ainda
alimentação cotidiana. Eles sabem esperam por elas.
prover sua própria alimentação, Com essas obras hídricas, ofer-
desde que seus territórios sejam tando água tanto para o consumo
respeitados. humano como para a produção,
a sede (água de comer) e a fome
Insegurança e sede diminuíram significativamente no
Assim como o ser humano – e Semiárido Brasileiro.
os animais – precisam de segurança Claro que essas não foram as
alimentar, assim também precisam únicas medidas governamentais
de segurança hídrica, inclusive os que ajudaram a superar os índices
vegetais. A água, o ciclo da água desumanos de fome e sede na re-
em cada ser vivo, é fundamental Francisco fazia três jejuns desses gião. Junto veio o salário-mínimo
para a preservação da vida. por ano. E sobreviviam. dos aposentados rurais com a
Entende-se segurança alimentar Então, toda luta pela água, Constituição de 1988, o Posto de
como ter alimentos em quantida- tanto para humanos como para os Saúde da Família, o Bolsa Família,
de, qualidade e ritmo contínuo. Se animais, assim como também para a internet, a telefonia, a energia
não há alimentos em quantidade, as plantas, faz parte do combate elétrica, a melhoria no transporte,
qualidade e regularidade, instala- à fome e à sede, ou seja, a água nas estradas, programas habita-
-se a insegurança alimentar. Se não de comer. Esse é o trabalho her- cionais, enfim, uma lista de inicia-
atingir entre 1800 a 2500 calorias cúleo da Articulação no Semiárido tivas governamentais que chegou
por dia, instala-se a fome crônica! Brasileiro (ASA) que conseguiu dentro da casa das famílias mais
Assim também podemos falar construir 1 milhão de cisternas vulneráveis e elevou efetivamente
da segurança hídrica. É preciso ter para abastecimento humano e sua qualidade de vida.
água em qualidade, quantidade e 200 mil replicações de tecnolo- (CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO)
regularidade para não se instalar a gias sociais para oferecer água
sede. Se as pessoas não ingerirem para a produção de alimentos ou Roberto Malvezzi (Gogó) é ativista ambiental e membro
pelo menos 2 litros de água ao dia dessedentação dos animais. No da Comissão Pastoral da Terra.

JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES 15


MISSÃO EM CONTEXTO

Agentes de Pastoral
refletem sobre cuidado
“que todos estão unidos como partes de um corpo”
Semana de Formação para assim destacou a Irmã Valdiza Carvalho na orientação
Agentes de Pastoral reflete das atividades. O trabalho conjunto permite que ideias
sobre missão de cuidado e sejam compartilhadas, experiências sejam trocadas e
solidariedade, em Boa Vista, RR. soluções criativas sejam encontradas para os desafios
que surgem no caminho.
Por Libia Lopez
Eucaristia
A eucaristia celebrada em honra à Virgem del Valle

N
a sede da Pastoral dos Migrantes, diocese foi um momento emocionante durante a semana de ati-
de Boa Vista, RR, os Agentes de Pastoral vidades. Os padres Fabiano de Oliveira (Orionita) e Juan
se reuniram durante a semana de 5 a 8 de Carlos Greco (imc) oficiaram a cerimônia, que incluiu um
setembro para uma intensa programação de ato simbólico de entrega da Virgem aos representantes
formação e reorganização de atividades. Esse das comunidades Nossa Senhora dos Migrantes e José
período foi marcado por reflexões profundas sobre Allamano. Esse gesto simbolizou a devoção e a proteção
o papel vital que desempenham na acolhida e apoio que Nossa Senhora oferece aos migrantes, tornando-a
aos migrantes que chegam com suas dificuldades em um farol de esperança em suas jornadas.
busca de uma nova vida. O período foi marcado por Durante a missa, foi feito um convite caloroso a toda a
reflexões profundas sobre o papel vital que desem- comunidade para participar das celebrações eucarísticas
penham na acolhida e apoio aos migrantes. que ocorrerão mensalmente. Essa é uma oportunidade
Um dos principais temas abordados durante a não apenas de celebrar a fé, mas também de fortalecer
formação foi o cuidado constante que os Agentes de os laços de solidariedade entre os membros da pastoral.
Pastoral devem exercer em si mesmos. Reconheceram Os agentes reforçarão seu compromisso de fornecer
a importância de manter o próprio bem-estar físico, informações atualizadas através das redes sociais. O
emocional e espiritual para que possam continuar objetivo é manter a população informada sobre as
sendo uma fonte de apoio eficaz para aqueles que últimas notícias e desenvolvimentos relacionados à
buscam refúgio na comunidade. Foi ressaltada a missão da Pastoral, bem como sobre oportunidades
necessidade de autocompaixão e autorreflexão de engajamento e apoio.
como ferramentas fundamentais para o exercício A semana de formação e reorganização de ativida-
de sua missão. des dos Agentes de Pastoral fortaleceu ainda mais o
Além disso, a semana de formação destacou o compromisso desta comunidade em oferecer apoio e
valor inestimável do trabalho em equipe. Os Agentes cuidado aos migrantes que enfrentam dificuldades em
de Pastoral compreenderam que a colaboração e a sua jornada. 
comunicação eficaz são essenciais para oferecer um
suporte mais abrangente e eficiente aos migrantes, Libia Lopez é repórter da Rádio Monte Roraima.

16 JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES


Corresponder Família
à vocação “Exorto-vos, pois, que leveis
uma vida digna da vocação à
consolata

qual fostes chamados”. (Ef 4,1)

da Redação

N
ão basta ser chamado; não
basta responder ao chama-
mento; nem mesmo partir
para as missões; é preciso
corresponder plena, gene-
rosa e constantemente à graça da
vocação. Nem todos os chamados
perseveram porque nem todos
correspondem. Judas, com certeza,
foi chamado pelo próprio Jesus a
ser apóstolo, no entanto perdeu
a vocação.
Ai de quem não corresponde à
vocação! Afastando-se do caminho
ao qual haviam sido chamados, no terra, e sabe tirar das próprias pe- dem, mas com pouca generosidade
qual Deus semeara para eles nume- dras verdadeiros filhos de Abraão. estudam e trabalham, porém, não
rosíssimas graças de santificação A graça da vocação que alguém se quebram os ossos; obedecem,
e salvação, encontram-se agora recusa ou perde, não volta a Deus mas até certo ponto; rezam, mas
na situação de que já falamos: infrutuosa; ele a dará a outro que o puro necessário. Afinal, conten-
só podem contar com as graças a faça frutificar cem por cento. tam-se em ser bons, não aspiram
suficientes para se salvar. Seriedade, portanto. Devemos à santidade. Fazem parte ainda
Perseverar na vocação, não corresponder e corresponder bem, desta categoria, os inconstantes.
esqueçam, é um dever, quando da melhor maneira possível!Cada São fervorosos enquanto tudo vai
aceitamos livremente um estado um deve assumir a sua parte. bem, mas na hora da luta e das
e a ele nos vinculamos com pro- dificuldades, afrouxam ou mesmo
messas solenes. É um dever para Como corresponder param.
com Deus, a quem fizemos voto; é Podemos classificar os indiví- À terceira categoria os que têm
um dever para conosco mesmos, duos em três categorias: perfeita pureza de intenção. Tratam
em vista da desagradável situação A primeira é a dos que conhe- de corresponder generosamente
em que nos colocaríamos, caso cem o valor da vocação e conhe- à graça de Deus e usam todos os
não perseverássemos. Quantos cem, outrossim, os meios para lhe meios para alcançar a santidade.
indivíduos se perderam por aban- corresponder, portanto, sabem o São almas generosas, fortes, cons-
donarem a vida religiosa, movidos que devem fazer, mas não o fazem. tantes, tendo-se proposto um fim
pela falsa ideia de melhorar seu Por isso não correspondem, não bem delineado, isto é, a santifica-
próprio estado! usam os meios, ou usam-nos mal; ção, avançam sem parar, repletos
Não nos iludamos; Deus não basta ver os resultados no campo de confiança em Deus, apesar de
precisa de ninguém. Ele não con- da perfeição e da santidade. cercados pelas provações. 
sidera o número, porque com doze À segunda categoria pertencem
pobres pescadores mudou a face da os que têm vocação e correspon- Extraído do livro A Vida Espiritual, páginas 52 a 56.

JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES 17


Programa para irmãs anciãs
tem como título “Retorno à Belém
ARQUIVO MC

– A Casa do Pão” orientado para


irmãs idosas que percorreram um
longo caminho missionário. No
início do mês de julho, irmã Luz
Mery desenvolveu este programa
com as Irmãs de Casa Consolación
de Buenos Aires, Argentina; depois
ainda no mês de julho esteve em São
Paulo nas Comunidades do Jardim
Consolata na Vila Nova Cachoei-
rinha e na Comunidade da Casa
Allamano em São Miguel Paulista.
Em agosto esteve com um grupo
de irmãs de várias Comunidades
da Colômbia e se encontraram
no Centro de Espiritualidade em
de Luz Mery Restrepo e Benildes Clara Capellotto
Bogotá, Colômbia.
Este programa, desenvolvido
nestes Encontros é um percurso

E
m Castel Nuovo Dom Bosco semanas de Retiros Espirituais, personalizado e comunitário que
- ao norte da Itália, está a para as irmãs que retornam das favorece às irmãs participantes
casa onde nasceu o Bem- Missões e que desejam renovar-se de abrirem-se com confiança e
-aventurado José Allamano, espiritualmente. serenidade aos dons que o Se-
Fundador dos Missionários Esta atividade, porém, não fica nhor reserva a cada uma nesta
e das Missionárias da Consolata. circunscrita a este espaço, mas se etapa vital da idade madura na
Esta Casa é uma referência histó- estende numa prestação de serviço certeza de que estes “são anos
rica seja para nós, missionários e às diversas Regiões Missionárias que devem ser vividos com um
missionárias da Consolata, como do nosso Instituto. Assim, irmã Luz sentido de confiante abandono
também para os moradores do Mery Restrepo, colombiana, e que nas mãos de Deus, Pai providente
lugar e de toda aquela região. Nós, faz parte desta Equipe de Formação e misericordioso; um período que
missionários a conservamos e ve- de Castel Nuovo Dom Bosco reali- deve ser vivido em modo criativo
neramos, e muitos de nós têm a zou nestes meses de julho e agosto em vista de um aprofundamen-
graça de a conhecer, visitar e ali uma série de encontros com irmãs to da Vida Espiritual, através da
participar de celebrações religiosas. anciãs em Comunidades de países intensificação da oração e o em-
Ao lado desta casa-relíquia está da Região América. Irmã Luz Mery penho de dedicação aos irmãos
uma outra, onde reside uma Co- já atuou nas Missões de Moçambi- na caridade” (Papa João Paulo II,
munidade de Irmãs Missionárias da que por alguns anos e foi enquanto carta aos anciãos, 1999). 
Consolata que presta um serviço estava ali que lhe foi pedido este
muito valioso de formação perma- serviço na área de formação. Luz Mery Restrepo, MC e Benildes Clara Capellotto, MC
nente para as irmãs, com programas Este serviço faz parte dos progra- são missionárias da Consolata, na Colômbia e no Brasil,
específicos para as diversas idades: mas oferecidos em Castel Nuovo e respectivamente.

QUER
QUERSER MISSIONÁRIO?
SER MISSIONÁRIO? QUER
QUERSER MISSIONÁRIA?
SER MISSIONÁRIA?
TEL.: (11) 2238.4599 TEL.: (11) 2233.9330
E-mail: amv@consolata.org.br E-mail: mc@consolata.org.br

18 JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES


FOTO: JÚLIO CALDEIRA

Belo documento
Missionários da Consolata realizaram XIV Capítulo Geral no primeiro
semestre de 2023, em Roma, Itália.

de Paulo Mzé Aliado a isto, desafiados por A presença dos Missionários


alguns fenômenos globais que ca- da Consolata no mundo quer
racterizam o nosso tempo, ricos e assumir desafios e tentar dar

P
pobres, os conflitos, as guerras, o respostas em sintonia com a iden-
ara nós, Missionários da tráfico de armas e de seres huma- tidade do Instituto, colocando-se
Consolata, depois do XIV nos, os migrantes e refugiados, a nos vários rostos do Ad Gentes
Capítulo Geral (realizado pandemia da Covid-19 com as suas encarnados em diferentes re-
no primeiro semestre de consequências, desafiam-nos a nós alidades onde o Instituto está
2023), o desafio é acolher e e à Missão. presente, uma vez que nossa
integrar em nossa vida as mudanças Dois pilares caracterizam os Atos família missionária possui uma
de época presentes no mundo e Capitulares. Primeiro, o específico organização própria que visa al-
no Instituto, sem perder de vista do nosso Ad Gentes. Segundo, a for- cançar eficazmente o objetivo e
o atual contexto sociopolítico e mação e o cuidado do missionário. promover a vida e as atividades
econômico da humanidade bem O primeiro, a ser vivido cada vez dos seus membros.
retratada na Encíclica Fratelli Tutti mais radicalmente, e o segundo a
do papa Francisco, sobre a frater- ser realizado ao longo da vida do Paulo Mzé, imc, é Superior Regional dos Missionários da
nidade e a amizade social. missionário. Consolata e diretor da revista Missões.

JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES 19


Atitudes de profeta
de Fátima Bazeggio baseados na confiança que tinham
na Palavra de Deus.
A atitude de Abraão, hoje reco-

O
amor de Deus se manifes- nhecido como pai de uma grande
ta em cada ser humano nação, foi decisiva dentro da his-
com um chamado para tória da salvação.
uma missão, que traz sen- O relato de fé da mulher Ca-
tido à existência, sem, naneia, que pediu a cura de sua que o curso da história seja con-
contudo, desrespeitar a liberdade filhinha e teve uma atitude de ex- taminado pelos contra valores e
da resposta a esse chamado. É trema humildade para convencer a instalação da cultura da morte.
necessário coragem para sair do Jesus: “Senhor, também os cachor- Somos mensageiros de vida e de
comodismo e responder ao cha- rinhos comem as migalhas que esperança, não só com palavras,
mado através do testemunho de caem da mesa de seus donos” (Mt mas principalmente em gestos e
verdadeiro discípulo missionário, 15,21-28). Ela não desistiu diante ações. Todo o que é nascido de
no meio da família e da sociedade. da dificuldade de se aproximar Deus vence o mundo. E esta é
Desde o Antigo Testamento de Jesus. E hoje, qual é a nossa a vitória que vence o mundo, a
temos o relato de como homens atitude diante das adversidades? nossa fé (1 Jo 5, 4). 
e mulheres responderam ao cha- Ser discípulos missionários de
mado e tiveram atitudes de fé Jesus é saber se posicionar e ter Fátima Bazeggio, é Leiga Missionária da Consolata,
para sair rumo ao desconhecido, atitudes de profetas para impedir Comunidade São Paulo.

Ajude-nos e venha
fazer parte desta obra
Missões é o veículo de comunicação do Instituto Missões Consolata e retrata o trabalho missionário
de levar a consolação aos que sofrem, aos que andam tristes, aos que estão sem esperança.
Torne-se um missionário membro da família Consolata, mantendo o nosso trabalho,
contribuindo financeiramente.

Veja como é fácil:


DEPÓSITO BANCÁRIO

AG.: 545-2 AG.: 0355 AG.: 0386-7


C/C: 38163-2 C/C: 17759-3 C/C: 945-8

CHAVE: redacao@revistamissoes.org.br
Envie o Comprovante, junto com seu Nome,
Data de Nascimento, CPF, Endereço, Telefone e E-mail para:

Rua Dom Domingos de Silos, 110 - 02526-030 - São Paulo - SP - Telefax: (11) 2238.4595 - E-mail: redacao@revistamissoes.org.br

20 JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES


MISSÕES RESPONDE

O tradicionalismo
e o novo Sínodo
Francisco nomeia
leigos com direito a
voto para participarem
do Sínodo dos Bispos.

de Edson Luiz Sampel uma vez que salvaguarda os valores do Evangelho.


No entanto, o tradicionalismo, máxime o alavanca-

G
do por certos grupos da Internet, quer “inventar a
esta-se um novo Sínodo dos Bispos! Desta roda” e defende o perfil de uma Igreja que jamais
feita, o papa Francisco avançou sobremaneira, existiu. Além disso, utiliza métodos selvagens, quase
a ponto de nomear leigos com direito a voto. sempre desrespeitando os bispos e não raramente
Algo absolutamente inédito numa assem- insultando-os.
bleia de bispos. Sem embargo, providência Um exemplo da empáfia tradicionalista é sua ob-
cabalmente consentânea com a doutrina católica e sessão pela missa em latim, a despeito da legislação
o Direito Canônico. Não se lanha um ponto sequer emanada pelo papa Francisco na Traditionis Custodes
dos dogmas. (julho de 2021), que praticamente baniu essa forma
Os passos alvissareiros do atual Sumo Pontífice se extraordinária de rito litúrgico. Os tradicionalistas
alumiam a partir da benfazeja constituição “Pregai o abertamente se insurgem contra as ordens do papa.
Evangelho”, lei que, desde junho de 2022, disciplina Patente a insipiência teológica dos tradicionalistas,
a cúria romana, espargindo efeitos em todo o orbe já que Jesus não disse a primeira missa em latim
católico. Deveras, o papa Francisco equacionou a in- (expressou-se em aramaico), nem tampouco o idioma
trincada questão do governo na sociedade eclesiástica, de Cícero se observou nas missas rezadas até a me-
explanando que o exercício do poder não se encontra tade do segundo milênio. Na verdade, atrás da missa
exclusivamente a cargo dos clérigos (padres e bispos), tridentina homizia-se a repulsa ao caráter vinculante
mas os leigos devem também assumir papéis diretivos. do Concílio Vaticano II. Sim, os tradicionalistas ousam
Neste diapasão, por exemplo, Sua Santidade alçou contestar o vigésimo primeiro Concílio Ecumênico!
mulheres, freiras ou não, a postos-chaves na Igreja. O Sínodo da Sinodalidade decerto não debelará o
Não levará muito tempo para que um leigo ocupe a tradicionalismo nem outras heresias contemporâneas.
função de prefeito de um dos dicastérios romanos. O joio deve medrar ao lado do trigo! (Mt 13, 29). O
A Igreja que Cristo fundou há dois mil anos com- Sínodo ora preparado, todavia, restituirá a clérigos
porta essa maleabilidade do ordenamento jurídico. e leigos a responsabilidade de juntos, lado a lado
No essencial não se toca! Nada obstante, o “dragão (sentido do vocábulo “sínodo”), descobrirem novas
do tradicionalismo”, nas sábias palavras de dom Or- e saudáveis veredas para a Igreja Católica. Afinal de
lando Brandes, inculca nos católicos incautos a ideia contas, os leigos, padres e bispos são membros da
de que o atual Sucessor de São Pedro visa demolir sociedade que Cristo erigiu, igualados pelo sacramento
a Igreja, derribando as estruturas básicas. Ledo en- do batismo. O padre não é superior ao leigo! Como
gano! Francisco quer mesmo lancetar o clericalismo escreveu alhures o papa Francisco, uma mulher,
e incentivar o protagonismo dos leigos, ao lume do Maria, a mãe de Jesus, está acima de bispos, papas
Concílio Vaticano II. e de quaisquer autoridades humanas. 
Não resta dúvida de que o tradicionalismo constitui
uma das piores heresias, porquanto nega o desenvolvi- Edson Luiz Sampel é advogado. Presidente da Comissão Especial de Direito Canônico
mento orgânico e harmonioso das instituições. Difere da 116ª Subseção da OAB-SP. Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade
visceralmente do conservadorismo. Este não é ruim, Lateranense, do Vaticano. Professor do Instituto Superior de Direito Canônico de Londrina.

JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES 21


ÁFRICA

Os comerciantes
da Providência - parte 2
FOTOS: SANDRO DALANORA

Fazer missão na Etiópia era um sonho de Allamano. Dando


continuidade à história de 100 anos de presença no país,
publicamos a segunda matéria sobre a questão. A primeira
encontra-se na edição anterior (abr/mai/jun 2023).
de Marco Bello nas) perto do mercado e depois existem invasores que infestam
constróem uma casa e abrem um algumas áreas. Os missionários
negócio. É esta a primeira missão- encontram pressão local e não
-agência comercial da Consolata quem os ajudem ou protejam.

E
m 15 de outubro de 1971 na Etiópia. Um ano depois, padre Percorrem assim 430 km em cerca
chegam em Addis Abeba, Giovanni Emilio Toselli abrirá uma de 22 dias.
do Quênia, padre Delfino missão em Billo, sempre no Kaffa. Com relação ao Quênia, a Eti-
Bianciotto e irmão Carlo An- A viagem de Addis a Ghimbi ópia é outro mundo. O modo de
grisani. Com uma caravana, é uma aventura. Não obstante fazer missão é bem diferente: não
acompanhada do senhor Gullino, tivessem permissão, numerosos se pode agir abertamente, por
entram na zona de Kaffa, chamada são os bloqueios no território de causa da hostilidade dos padres
Leka, e se instalam em Ghimbi chefes e líderes e os impostos para coptas. O risco de serem denun-
(hoje Gimbi). Eles vestem roupas pagar para passar, correndo o risco ciados e expulsos é grande. Trata-
civis e alugam três “tucul” (caba- de ter que se virar. Além disso, -se de um apostolado oculto e o

22 JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES


será por muito tempo. Barlassina
permaneceu na capital, pois podia
Missionários são por causa do risco de denúncia.
A nível de ações, as missões-
contar com o apoio de Allamano, expulsos do país -agências de comércio se ocupam
com o qual tinha proximidade e em 1941/42, mas de assistência médica (sobretudo
compreensão. Frequentes e deta- graças às irmãs), de escolas, de
lhados são os relatórios do novo o sonho continua. preferência primárias e técnicas,
prefeito ao Fundador. e depois, de catecumenato.
Padre Bianciotto estuda quais adotar. Nasce assim a Conferência Importante é a escola volun-
são os comércios possíveis para de Umbi, em janeiro de 1925. tária de Blas e a de padre Luigi
ajudar as missões. Pele de animal, Enquanto isso, em Blas, no fim Santa, na capital. Muitas ativida-
cereais, fabricação de sabonete, de 1923, é obrigatória a vinda de des, porém são comerciais, o que
fiação do algodão, agricultura e irmãs e as primeiras chegam em permite aos missionários entrar
tecidos. Os padres ficam impres- março de 1924. Três destinadas em contato com pessoas de dife-
sionados com o comércio dos ao interior e três em Addis Abeba rentes origens e credos.
escravos que floresce no interior tem a utilíssima qualificação de São construídos moinhos, plan-
do país. E estes serão os primeiros enfermeiras. tações de chá e café, fazendas.
a receber a atenção dos missioná- Na Conferencia se discute as Uma outra característica pe-
rios, enquanto são os últimos na Normas e recomendações para a culiar é que as missões são em
escala social. Ocorre a coragem prefeitura de Kaffa, junto com as muitos dias de caravana uma da
dos profetas e a prudência dos regras para os missionários. Além outra, e as viagens são úteis para
pastores. disso, as prioridades de ações são descobrir católicos enrustidos.
delineadas.
A Consolata se expande Particular atenção se dá aos Ordens superiores
Em 1925 se podem contar sete católicos escondidos, procuran- Em 1933, monsenhor Gauden-
missões no Kaffa e atividade em do dar a eles trabalho e fazendo zio Barlassina é chamado à Itália
Addis Abeba: Andreaccia-Irgalem, com que as famílias vivam perto para ser Superior Geral do IMC, em
Umbi-Saio, Magi, Ciaha, Comto da missão, para dar coragem e substituição a monsenhor Perlo,
(Lechemti), Bonga e Addis Abeba. fazê-los participar do culto nor- que por sua vez havia sucedido à
Billo foi fechada em 1920. Barlas- malmente. Em segundo lugar, os Allamano. Relutantemente deve
sina, que em 1904 participou da fiéis de religiões tradicionais (ditas deixar a Etiópia, mas obedece e o
Conferência de Muranga no Quênia pagãs) são os favoritos, também balanço de seu trabalho é muito
decide que é tempo de reunir porque são os mais desprezados. positivo.Como prefeito é nomeado
os irmãos para refletir sobre que Com os coptas ocorre ao contrário, padre Luigi Santa, inicialmente
metodologia missionária devem há necessidade de muita atenção com padre Mario Borello no co-
mando do Ministério Público de
Addis Abeba.
Em 1935 as tropas italianas
invadem a Etiópia sem declara-
ção de guerra. Os missionários,
tornam-se inimigos, são expulsos.
Retornam depois dos invasores,
em 1936, com o surto da segun-
da Guerra Mundial e a vitória
dos ingleses. Os missionários da
Consolata são expulsos definitiva-
mente no fim de 1941 e início de
1942. O último a partir é o próprio
monsenhor Santa.
Das 43 missões abertas só duas
ficam ativas, geridas por dois sa-
cerdotes etíopes. Mas o sonho da
Etiópia continua vivo. (CONTINUA
NA PRÓXIMA EDIÇÃO) 

Padre José Ruiz Martín, imc, em missão na Etiópia. Marco Bello é jornalista.

JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES 23


DESTAQUE

O que cada um
trouxe na bagagem
de Márcio Moreira Ana Rita Soares de Brito – 36 anos todos os rostos e nações. Nela
– Porto de Sauipe – BA – mestranda não há melhor nem pior, nem
em Crítica Cultural – Letras pela menos e nem mais, somos todos

V
iver uma Jornada Mundial UNEB: importantes para Deus. As palavras
da Juventude é uma expe- A JMJ-2023 como todas as do Santo Padre Papa Francisco
riência difícil de se mate- outras foi cheia de surpresas, deram mais ênfase a face da nos-
rializar em palavras. Nesta cansaço, amizades, encontros, sa Igreja e o desejo que exala do
última edição em Lisboa oração e muito amor. Eram rostos coração de Deus; "Há lugar para
foram, segundo a organização, e rostos que mesmo diferentes todos. Todos juntos, cada um na
cerca de 1,5 milhões de pessoas ou parecidos demonstravam uma sua língua... cada um na sua língua
dos mais diversos países, unidos conotação; a alegria de ser de repita comigo: todos, todos, todos.
em paz e harmonia para ouvir as Deus e o amor por ser da Igreja Não consigo ouvir, repitam: todos,
palavras do papa Francisco. Católica Apostólica Romana. Eram todos, todos. E esta é a Igreja, a
Pedimos para alguns jovens da muitos e sendo únicos, sentindo mãe de todos. Há lugar para todos."
delegação Consolata Brasil que as emoções em conjunto, porém (JMJ- 03.08.2023 papa Francisco).
respondessem à pergunta: O que cada coração batendo a sua pró- Agora é hora de fazer transbordar
você jovem trouxe da JMJ 2023 na pria emoção e contentamento. Na o que vivemos, ouvimos e sentimos
bagagem e como aplicar na vida Jornada percebemos o quanto a na JMJ-Lisboa, pondo em prática
prática? Vejamos suas reflexões: Igreja Católica é imensa e abraça nas Paróquias e/ou comunidades.

24 JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES


Elma Santos Santana Gomes – 32 Raphaela Gomes Alves – 23
anos – Porto de Sauipe – BA:
A JMJ provoca uma anos – São Paulo – SP – estudante
O que eu trago na bagagem é marca profunda de enfermagem São Camilo:
a certeza que o jovem da Igreja na personalidade. A JMJ foi um evento inexplicável
Católica não está sozinho, por que trouxe milhões de sentimentos
diversas vezes podemos passar Após esta vivência, por estar reunida com milhares
por momentos complicados no
meio da instituição religiosa da
a pessoa nunca de jovens de todo o mundo com
um único propósito que é a fé em
qual fazemos parte, e até achar mais volta a ser Deus. A juventude católica neste
que não temos o incentivo e apoio
para continuarmos no caminho
a mesma, uma encontro com o papa Francisco,
mostrou como a Igreja precisa ser
do Senhor, porque sabemos que vez que ela é acolhedora e nós precisamos ser
é realmente difícil lidar com a sensibilizada no testemunhas do amor de Deus.
maneira de pensar e viver da Ju-
ventude. Mas com esses eventos íntimo da alma. Samuel Lopes Quintão – São Paulo
de grande proporção tomamos – SP – 25 anos:
noção de quão grande é o nosso Vivenciar a Jornada Mundial da
grupo. celebração ou apenas conseguir Juventude é sempre algo inexpli-
alimentar-se, o outro foi o meu cável, ainda mais quando compar-
Felipe Costa Moreira – 16 anos – suporte e, com toda certeza, tam- tilhado com a Consolata e jovens
São Paulo – SP: bém consegui ajudá-lo. Ser cristão de diversos países. Ficamos unidos
Eu trago na bagagem entusias- é isso: reconhecer que o próximo durante duas semanas, juntamente
mo; ainda tem como mudar o mun- é importante para o minha vida, com a Família Consolata, todos
do, não seria uma mudança rápida, visto que somos seres sociais por com o mesmo carisma. Como o
mas a longo prazo, nós jovens quan- natureza. papa disse em um dos nossos en-
do queremos conseguimos fazer o contros, "a Igreja é para todos",
que queremos, só precisamos de Lucas Gabriel Fernandes da Silva sem distinção. Que possamos levar
um pingo de vontade. – 19 anos – Manaus – AM – es- essa Igreja para todos os lugares.
tudante: Assim, estes jovens trouxeram
Juliana Máximo de Almeida – 29 Nesta bagagem existe muito em suas bagagens vida nova e
anos – São Paulo – SP: amor e alegria e muito aprendiza- sementes de alegria, fé e espe-
Após a Jornada, o que fica forte do. Eu aprendi muita coisa ali com rança a serem plantadas em cada
em meu coração é um lembrete de aqueles jovens. O que eu vivenciei comunidade que vivem e atuam.
que sim, a Igreja é una!! Em toda a foi incrível. Eu vou aplicar aquela Com isso, poderemos colher já
sua diversidade, ela é una!! Sejam felicidade, aquela alegria na minha num futuro próximo, os frutos da
religiosos, padres, leigos, cada um vida. E tudo o que eu aprendi eu paz, justiça e fraternidade.
com seu carisma e sua vocação, nunca vou esquecer, sempre ser A JMJ provoca uma marca pro-
somos uma só Igreja de Cristo, que acolhedor. Sempre estar ao lado funda na personalidade. Após esta
deve seguir de mãos dadas um da pessoa pra conversar quando vivência, a pessoa nunca mais volta
único caminho: o de Jesus. precisar. Sempre ajudar. É esse a ser a mesma, uma vez que ela é
aprendizado que eu vou levar. sensibilizada no íntimo da alma.
Karynne Victoria Pereira Xavier – Caso você pense que isto é um
20 anos – Manaus – AM – estudante Murilo Costa Moreira – 19 anos exagero, pergunte para quem já
de Letras – UEA: – São Paulo – SP – estudante de foi, independentemente do ano.
A Jornada Mundial da Ju- Educação Física – FMU: Desta maneira, para que tudo
ventude deixou-me inquieta. As Vindo de uma jornada enri- isto seja solidificado, é necessário
experiências que tive durante o quecedora, trago comigo uma não somente o apoio dos padres
processo de preparação e rea- realidade de que o jovem não e das irmãs, mas também de toda
lização do evento tornaram-me está sozinho, isso porque o mun- a comunidade a fim de que estes
mais solícita com o próximo. Pude do inteiro está com ele, algo que jovens se desenvolvam na plenitude
reconhecer que o outro necessita deve ser colocado em prática, seja daquilo que Deus tem reservado
do meu apoio, pois Cristo está em montando um grupo de jovens ou para a vida de cada um deles. 
mim como está nele também! colocando em prática os ensina-
Sendo assim, em meio a tantas mentos do Santo Padre em suas Márcio Moreira é Leigo Missionário da Consolata,
adversidades de chegar até uma comunidades. Comunidade São Paulo.

JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES 25


CIDADANIA

Eucaristia e Ecologia
“Bendito sejais, Senhor Deus do Universo, pelo pão e pelo vinho que
recebemos, frutos da terra e do trabalho do homem e da mulher e que
para nós vão se tornar pão da vida e cálice da salvação”.

de Fátima Bazeggio de forma consciente uma eucaristia que não atende


os preceitos do Mestre que ordena que o pão seja

O
s elementos usados nos ritos dos sacramentos partido e repartido?
se transformam em força sobrenatural que nos Por que não podemos comungar ao invés de consumir
fortalecem e nos elevam a Deus. Desta vez (J.Y.Leloup) e dessa forma colaborar para proteger a
vamos parar e analisar o caso dos elementos fragilidade do ecossistema do planeta que nos abriga?
usados na eucaristia, o pão e o vinho. Vamos Se perdemos a capacidade de nos indignar com
pensar no amplo cenário, que vai desde o preparo do as imensas desigualdades que existem na sociedade
solo, passando pelo plantio e a produção, que envolve atual, porque não podemos comungar ideais que não
homens e mulheres em um trabalho que vai além do permitem nenhuma forma de violência, injustiça ou
produto final, mas também nas relações humanas ao exclusão? “A criação encontra a sua maior elevação
longo de todo o processo de produção do pão e do na Eucaristia. A graça, que tende a manifestar-se de
vinho. O solo onde crescem o trigo e a videira tem modo sensível, atinge uma expressão maravilhosa
muitas vezes uma história de posse e de mau uso com quando o próprio Deus, feito homem, chega ao ponto
os agrotóxicos e seus efeitos para a natureza. de fazer-Se comer pela sua criatura”. (LS 236)
Devemos ter presente que o pão que é levado Somos capazes de comungar a ideia de que a
ao altar para ser consagrado é o mesmo que temos natureza é uma herança comum, cujos frutos devem
em nossa mesa, no nosso cotidiano. E se o pão não beneficiar a todos? Podemos comungar na busca de
for partido e partilhado, não haverá fraternidade e soluções para a complexa crise socioambiental em que
justiça. A eucaristia sendo fonte da missão vem com vivemos em vista do combate à pobreza, devolvendo
o comprometimento de acolher ao redor da mesa, a dignidade aos excluídos e ao mesmo tempo cuidar
irmãos e irmãs, para que o sacrifício de Cristo que se da natureza? (LS 139)
doa na mesa eucarística, seja transformado em vida, Quando nos aproximamos de Cristo na Eucaristia
e vida em plenitude. e compartilhamos também o significado ecológico do
que estamos recebendo, estamos nos comprometendo
Comunhão universal com a natureza, como graça divina recebida para o
A exploração desenfreada consome os recursos bem da família humana.
naturais pelas grandes corporações que em nome Peçamos à Mãe de Jesus que nos ajude a olhar toda
da produtividade envenena e esgota o solo, para a criação com olhos cheios de bondade e sabedoria,
atingir as metas do mercado. Se a desigualdade para em comunhão cuidar da nossa casa comum. 
existente em nossa sociedade não permite o acesso
das pessoas ao fruto do seu trabalho, como celebrar Fátima Bazeggio é Leiga Missionária da Consolata, Comunidade São Paulo.

26 JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES


BÍBLIA

A hora de
despertar
Já chegou a hora de acordar,
pois nossa salvação está mais
próxima agora do que quando
abraçamos a fé. (Romanos 13,11)
de Mauro Negro

P
aulo foi um dos que anunciaram e ensinaram
o Evangelho na cidade de Roma. Esta cidade
era o centro cultural da antiguidade, junto à
influência grega, formando o que se chama
de cultura greco-romana. No Novo Testa-
mento esta realidade é indicada, no seu conjunto, de
“gentios”, palavra e conceito que vêm de “nações”,
em contraste com Israel. Havia este povo e todos os
outros, além de Israel, formam os gentios, onde o Roma era caótico, conflitivo, violento e autodestrutivo,
modo de ser e viver grego e romano são a identidade. Paulo vê tudo isso como o iminente final da história.
A presença da fé em Cristo chegou neste mundo Sendo assim, a Fé em Cristo era o auge da vida e era
com o judaísmo, mas rapidamente teve uma expres- urgente estar “despertado” para isso, certos de que
são própria, visto que grande parte dos judeus não os fatos e situações fossem definitivos.
aceitaram Jesus como o Cristo. Na carta de Paulo aos A afirmação sobe a “hora de despertar” tem esta
romanos é possível perceber este conflito entre judeus carga de certezas e expectativas que formavam a
e gentios. Ele afirma que os judeus não aceitaram o percepção de uma terra nova que surgia, seja neste
Mistério de Deus na história por meio de Jesus, mas mundo seja em outro, sem muita clareza nisto. Mas
que os gentios estão aceitando, e isso muda tudo: era algo novo e esta novidade é o traço dominante
modo de sentir, pensar e viver. da adesão a Jesus como Cristo, e causava um enorme
Neste ponto é que Paulo faz a afirmação sobre a impacto em quem a vivenciava. Hoje é até difícil com-
“hora de despertar”. É preciso, para ele, perceber o preender isso, pois felizmente o Cristianismo formou
momento da sociedade, do pensamento, das reações em grande parte a Cultura ocidental. Contudo, ainda
humanas e fazer escolhas decisivas, que dão sentido é forte e impactante o que isso comporta: um modo
à vida. Embora fossem poucos anos que a fé em Jesus novo de perceber a si mesmo e a sociedade, uma
como Cristo houvesse chegado a este mundo greco- maneira diferente de se relacionar e de entender a
-romano, já era possível perceber mudanças e o que vida, tudo baseado na novidade de Cristo Jesus. É
isso iria trazer. Parece até que, para Paulo, o fim da este o “despertar”! 
história estaria próximo, o que era um pensamento
muito comum entre os judeus. E visto que o mundo de Mauro Negro, OSJ Biblista, PUC São Paulo - mauronegro@uol.com.br

JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES 27


ENTREVISTA

Fogo que acenderá


outros fogos! FOTOS: JÚLIO CALDEIRA

de Bernard Obiero sionários da Consolata em 1990.

P
Por que escolheu a vida reli-
adre James Bhola Lenga- giosa e missionária?
rin, originário do Quênia, Decidi ser missionário da Con-
foi eleito em 12 de junho solata porque tinha um forte de-
deste ano como o novo sejo de deixar meu povo, minha
Superior Geral dos Missio- cultura e minha nação para teste-
nários da Consolata. Essa escolha munhar a Palavra de Jesus Cristo
inédita marca a primeira vez que a outros povos. Meu desejo de
um sacerdote africano assume a ajudar e acompanhar aqueles
liderança do Instituto, fundado que precisam sempre me impe-
em 1901 pelo Bem-aventurado liu a ir além de mim mesmo e a
José Allamano. Nesta entrevista, abrir espaço para os outros. Os
compartilha sua trajetória como missionários da minha paróquia
Missionário da Consolata. sugeriram que eu permanecesse
na diocese, mas eu estava deter-
Você poderia nos contar bre- minado a deixar meu país.
vemente sua história?
Nasci em 15 de abril de 1971 Você se lembra de algum epi-
em Maralal, no Quênia. Sou filho sódio significativo de sua vida
de Lapus Leaburia e Naiduri Lea- missionária?
buria. Infelizmente, nunca conheci Dois episódios me marcaram
meu pai, pois ele foi morto por profundamente. Quando concluí
um elefante alguns meses antes meu treinamento em Roma, pedi
de eu nascer. Cresci como um ao meu orientador um período
menino pastor nômade da minha de 40 dias de retiro na Certosa di
tribo Samburu. Costumava cuidar Pesio. Ele me disse: “Acho que você
das ovelhas, vacas e camelos da não precisa dessa experiência!”.
minha família. Cresci junto com No entanto, eu estava determi-
outras crianças da aldeia e adorava nado a realizar esse retiro antes
convidar as pessoas para virem da minha ordenação. Durante
comer em nossa casa. No dia em esses dias de silêncio absoluto,
que ninguém vinha, eu pergunta- imerso na Palavra de Deus, algo
va: “Por que hoje ninguém veio significativo aconteceu na cape-
comer conosco?”. Essa memória la de adoração. Uma voz suave
ficou comigo como uma semente e clara me disse: “Torne-se um
de acolhimento, compartilhamen- fogo que acenda outros fogos”.
to, solidariedade e abertura para Essa frase sempre esteve comi-
aqueles que não têm o que comer. go desde então, mas eu nunca a
Entrei na comunidade dos Mis- compartilhei com ninguém até

28 JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES


12 de junho, quando fui eleito lhecendo, e as novas vocações
Superior Geral, e novamente a para o ministério ordenado estão
frase ecoou em minha mente. O diminuindo, especialmente no
segundo episódio ocorreu quando Ocidente. Precisamos considerar
eu era pároco em Nairóbi e visi- as implicações dessa diminuição
tei a favela Deep Sea. Naquela e também enfrentar seriamente
área, cerca de dez mil pessoas o abuso sexual de menores.
viviam em condições precárias;
as crianças não iam à escola, e os Quais são seus sonhos para a
pais trabalhavam o dia todo para Igreja e o Instituto?
voltar exaustos à noite. Chorei ao Continuo sonhando com
ver essa disparidade e decidi fazer um futuro cheio de esperança,
algo. No domingo seguinte, após construindo-o em colaboração
celebrar quatro missas, compar- com todos os membros da Igreja,
tilhei minha experiência com a dentro e fora dela. Meu primeiro
Congregação e pedi apoio para sonho é baseado na convicção
as famílias de “Mar Profundo”. de que a Igreja de Deus sempre
Alguém se levantou e disse: “Padre mudaram na Igreja e no Instituto. existirá, embora talvez não seja
James, vamos fazer isso agora”. Estamos enfrentando uma crise composta por grandes multidões.
de identidade, pertencimento, Visualizo uma Igreja descentrali-
Você é o primeiro Superior gerenciamento do tempo e do zada, voltada para as periferias
Geral de origem africana na Con- espaço. O que significa ser um do mundo, mais inclusiva em sua
solata. Como chegou a liderar o missionário Ad Gentes para os governança e ativamente envol-
Instituto? não-cristãos e viver longe de casa vida com os leigos no cuidado
Fiquei surpreso quando meus por toda a vida? Quem são os ver- pastoral. John Allen, em seu livro
colegas missionários me elegeram, dadeiros destinatários da missão The Future Church (2009), afirma
pois tinha outros planos para minha Ad Gentes? Nós, Missionários da que o catolicismo do futuro será
vida missionária. Queria trabalhar Consolata, também passamos significativamente diferente. A
com nativos americanos, algo que por mudanças: dos 905 missio- Igreja futura não será ocidental,
sempre esteve em meu coração. Fi- nários que compõem o Instituto nem predominantemente branca
quei em silêncio por alguns minutos, hoje, 518 são africanos, 249 são ou rica. Ela se oporá à guerra e
com lágrimas nos olhos, enquanto europeus, 131 são americanos e ao capitalismo de livre mercado.
todos esperavam. Foi um momento 7 são asiáticos. Será mais sensível e evangélica em
difícil, mas entre soluços, respondi: relação a questões culturais, iden-
“Sim, com a ajuda de Deus e dos Quais você considera serem tidade e pluralismo religioso. Nos
confrades”. Na verdade, nem me os desafios da missão hoje? seminários de hoje, precisamos de
ocorreu que eu era africano. Isso Uma Igreja em constante mu- uma formação revitalizada e de
só me veio à mente depois, quando dança ainda precisa se preocupar equipes compostas por homens
ouvi outros comentando que eu era com o número de batizados, pra- e mulheres que acompanhem os
o primeiro africano em 122 anos ticantes, sacramentos e compro- seminaristas como uma família.
e o décimo sucessor do Fundador. misso com a missão. No entanto, Para meu instituto religioso,
O que me deu confiança foi o fato há outros aspectos a considerar: sonho com uma comunidade,
de que, nos seis anos anteriores a Igreja, como Corpo de Cristo, como desejava nosso fundador,
como Vice-Geral, conheci muitos deve estar sempre pronta para o Bem-aventurado José Allama-
confrades, visitei todos os países responder às mudanças que os no. Uma comunidade de pessoas
onde trabalhamos e compreendi sinais dos tempos nos apresen- consagradas à missão Ad Gentes
as diversas culturas entre as quais tam. Em 1962, o papa João XXIII e dispostas a viver suas vidas
vivemos nossa missão. Isso me en- abriu as portas e janelas da Igreja nas periferias; missionários que
corajou e, ao mesmo tempo, me ao convocar o Concílio Vaticano cultivam a comunhão fraterna e
assustou um pouco. II, com o objetivo de “atualizar” têm Maria como modelo e guia. 
a vida da Igreja. Ainda hoje, pre-
Como você interpreta os 122 cisamos viver o espírito desse *Entrevista publicada na revista Fátima Missionária,
anos de história do Instituto? Concílio para enfrentar os desafios da Congregação dos Missionários da Consolata em
Os paradigmas da missão e a do nosso tempo. Por exemplo, Portugal, agosto/setembro 2023, editada para a
forma como a missão é realizada muitos sacerdotes estão enve- revista Missões.

JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2023 MISSÕES 29


Vitória dos
Povos Indígenas
O Supremo Tribunal Federal (STF) en- contra os direitos indígenas, seguiu o voto
cerrou no dia 21 de setembro de 2023, do ministro Dias Toffoli, apresentado ontem
quinta-feira, a votação do julgamento do (20), também contrário ao marco temporal.
caso que discute o marco temporal para Além deles, posicionaram-se contra o
a demarcação de terras indígenas. A tese marco temporal os ministros Alexandre
foi derrotada por 9 votos a 2 pela Suprema de Moraes, Cristiano Zanin e Luís Roberto
VOLTA AO BRASIL

Corte, que reafirmou o direito originário dos Barroso. Os únicos ministros que se posi-
Povos Indígenas às suas terras e confirmou cionaram a favor da tese ruralista foram
a inconstitucionalidade do marco temporal. Kássio Nunes Marques e André Mendonça.
“Eu fico muito feliz do STF tomar essa Além da decisão positiva para o conjunto
decisão, porque na verdade é uma opor- dos povos indígenas do Brasil, o povo Xokleng
tunidade de demonstrar que reconhece o também saiu vitorioso no mérito do processo,
direito dos Povos Indígenas, e também do tendo garantido seu direito de posse sobre
povo brasileiro, até porque o trabalho que a Terra Indígena Ibirama La-Klãnõ.
fizemos na área de meio ambiente não é O clima era de festa do lado de fora
só para o Povo Indígena, mas para todos os do STF, onde cerca de 600 indígenas de
povos do Brasil e todo o povo do mundo”, diversas regiões acompanhavam a sessão,
celebra Brasílio Priprá, liderança do povo mobilizados contra o marco temporal e em
Xokleng, cujo território está no centro da defesa de seus direitos.
disputa em análise pelo STF. Outros pontos que compõem a discus-
Na sessão, o ministro Luiz Fux acom- são e que devem integrar o texto final da
panhou o voto do relator Edson Fachin, decisão serão analisados na próxima sessão
assim como a ministra Cármen Lúcia e a do STF. 
presidenta da Corte, Rosa Weber. O ministro
Gilmar Mendes, apesar de longa arguição Fontes: Portal TSE, Uol

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