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SUMÁRIO
FÉ, CONSCIÊNCIA OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2023/03
E COMPROMISSO
N
esta edição, a Revista mergulha em temas
que ecoam a riqueza da experiência religiosa
e social, convidando-nos a refletir sobre a in-
terseção entre fé, consciência e compromisso
comunitário.
A XXVII Romaria Nacional da Pastoral Afro-brasileira,
realizada em Aparecida, iluminou o início das comemo- Na simplicidade da família,
rações do Dia da Consciência Negra, em novembro. Um encontramos a divina
essência do amor.
encontro que não apenas celebrou a fé, mas também
Foto: Freepik
reafirmou a importância da pluralidade étnica e do res-
peito à diversidade, convidando todos a honrar a história
e as contribuições da comunidade afrodescendente.
O terceiro Ano Vocacional brasieiro nos desafiou ATUALIDADE----------------------------------------------03
Pastoral Afro e a Mãe Negra Aparecida
a reavivar em nossos corações o chamado de Cristo, Jacques Kwangala Mboma
convidando-nos a mergulhar mais profundamente no ESPECIAL -------------------------------------------------04
seu Mistério. Foi uma oportunidade de reflexão sobre Entre os indígenas da Venezuela
nossa aceitação e compromisso com os ensinamentos Juan Carlos Greco
e valores que Ele nos oferece. JUVENTUDE----------------------------------------------06
Quer uma Igreja jovem? Jovem, seja Igreja!
Refletimos também sobre a fome estrutural, tema Héctor Elias e Fabricio Garcia
crucial em nossa sociedade. No último artigo da série, FÉ EM AÇÃO---------------------------------------------08
Roberto Malvezzi destacou o papel fundamental do Pensamentos de Natal
Márcio Mariano Moreira
Movimento Sem Terra e seus assentamentos de Reforma
Agrária na luta contra essa realidade. É um lembrete ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
Vocação e adesão ao Mistério de Cristo
poderoso de que a justiça social é um componente Mauro Negro
essencial da vivência cristã. TESTEMUNHO-------------------------------------------12
O mistério do Natal ressoa neste momento, mais Catequista e Mistagogo
Giuseppe D'Aleo
significativo do que nunca. Enquanto celebramos o
nascimento de Jesus, Ele representa a fé e a esperança SÉRIE SOBRE A FOME----------------------------------14
Importância dos movimentos sociais - final
para aqueles cujas vidas foram abaladas por catástrofes Roberto Malvezzi (Gogó)
ou que enfrentam fronteiras fechadas ao fugir de sua INTENÇÃO MISSIONÁRIA-----------------------------16
terra natal. É a lembrança da presença divina em meio Outubro/Novembro/Dezembro
Redação
às adversidades, sendo refúgio e salvação para aqueles
FAMÍLIA CONSOLATA-----------------------------------17
que buscam abrigo e consolo em Deus. Sobre o Natal
Honramos os 110 anos da presença da Consolata Redação
na Etiópia, testemunhando o compromisso contínuo MISSÕES RESPONDE-----------------------------------21
Quem é católico?
dos missionários nesse país. No último artigo da série, Edson Luiz Sampel
Marco Marini oferece um retrato dos últimos anos do ÁFRICA - 100 ANOS DE ETIÓPIA---------------------22
trabalho missionário naquele país. O retorno na ponta dos pés - final
Marco Marini
E finalmente, a Campanha Missionária 2023, "Ide!
Da Igreja local aos confins do mundo", inspirada na DESTAQUE ----------------------------------------------24
Campanha Missionária 2023
passagem bíblica dos discípulos de Emaús, convoca-nos Redação
a transcender fronteiras, levando a mensagem do amor CIDADANIA-----------------------------------------------26
e da fé a todos. É um chamado à ação, convidando-nos Vigilância e Esperança
Fátima Bazeggio
a estender a mão para além de nossas comunidades
BÍBLIA------------------------------------------------------27
locais, abraçando o chamado missionário que nos de- Vocação e eleição
safia a ser agentes transformadores. Mauro Negro
Feliz Natal a você, leitor, e a toda sua família! ENTREVISTA-------------------------------------------------28
Pastoral Afro na prática
Maria Emerenciana Raia
C
omunidades negras vindas de vários estados comemorações do Dia
do Brasil se reuniram no Santuário Nacional
de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, da Consciência Negra.
SP, para celebrar a Eucaristia e relembrar a
memória de seu líder, Zumbi dos Palmares. de Feira de Santana, BA, referencial da Pastoral Afro
Para o povo negro, Zumbi é a marca viva e presente junto à CNBB, que presidiu a Santa Missa destacou
da resistência negra no Brasil. a importância da Igreja ser acolhedora aos mais ne-
O tema da XXVII Romaria foi a “Mãe Negra Apare- cessitados e aos excluídos, mostrando que são eles,
cida, leve o clamor do seu povo ao seu Filho Jesus”. negros e quilombolas que chegaram ao Santuário com
Este tema recorda a Campanha da Fraternidade de tambores e pandeiros para expressar a sua vivência
de fé em Jesus Cristo.
ARQUIVO PESSOAL
Entre os indígenas
da Venezuela
Juan Carlos Greco, missionário da Consolata argentino,
trabalhou durante nove anos entre os Warao, povo indígena do
Delta Amacuro, na Venezuela.
S
ei que ser um jovem cristão,
que assume ser discípulo
de Cristo, e ousa ser sal da
terra e luz do mundo (Mt
5, 13-14) neste século que
relativiza o certo e o errado, o que
é ou não ético, talvez seja um dos
seus maiores desafios. Mas creia
no que digo: você não está sozinho,
pois a Igreja entende e sabe que
necessita de você pra continuar a
Pensamentos
de Natal
Uma relação entre a Jornada Mundial da Juventude (JMJ)
e a sensação de ser um morador de rua.
de Márcio Mariano Moreira fome e me deste de comer, ou com navio da Itália para o Quênia. Não
sede e me deste de beber; eu era se aborda sobre religião enquanto
estrangeiro e me recebestes em não houver um mínimo de infraes-
Q
uem, entre o final de casa; eu estava nu e me vestistes. trutura. Não se fala de Deus antes
novembro e início de Todas as vezes que não fizerdes de providenciar condições básicas
dezembro, nunca ouviu a um desses pequeninos, foi a no que tange à fome, sede e ves-
falar ou foi convidado para mim que não o fizestes” (Mt 25, timenta. Maslow apontou isto em
contribuir com uma cesta 35-36.46a). suas hierarquias de necessidades.
de Natal ou uma sacolinha Suprir as necessidades bási- Cabe ressaltar que grande parte da
para vestir uma criança? Esta ação cas precede qualquer projeto de população sobrevive sem a garan-
está em sintonia com a leitura do evangelização. Assim foi a primeira tia destas condições e até podem
Evangelho de Mateus da Solenidade missão do Instituto Missões Conso- conseguir atingir a autorrealização
de Cristo Rei “pois eu estava com lata (IMC) levando uma serraria em pregada pela teoria. Contudo, isto
FOTOS: FILIPA TRAQUEIA
em outro ponto de distribuição, sacolinha com itens para criança Assim, o olhar cristão precisa ser
associado ao cansaço, mais calor são importantes e devem continu- dirigido a esta população não so-
de 40 graus. Aos que ficaram nos ar sendo realizadas. No entanto, mente nas datas comemorativas
setores “B”, “C” ou “D” tiveram não podemos parar nelas, uma e sim assumi-los como predileção
como local de acampamento um vez que elas acabam camuflando nas ações pastorais.
solo cheio de pedregulhos, logo, e escondendo uma desestrutura Que a chegada do Menino Deus
absolutamente desconfortável para social, gerando uma falsa sensação neste Natal seja inspiração de um
dormir, mesmo com os equipamen- de dever cumprido, protegendo, novo ardor missionário voltado aos
tos para acampamento. Na praça por conseguinte, a falta de políticas mais necessitados.
havia refletores espalhados por públicas governamentais voltadas
todos os lados, o que atrapalhava a um programa de retirada desta Márcio Mariano Moreira é psicólogo e doutor em ciências
muito para dormir, acrescido do população da linha de pobreza, pela UNIFESP, Leigo Missionário da Consolada na Comu-
barulho constante das pessoas. a qual depende de ações não nidade São Paulo e Ministro Extraordinário da Comunhão.
Vocação e adesão
ao Mistério de Cristo
O Ano Vocacional
nos convidou a
reavivar o desejo de
Cristo a aceitação e
o mergulho no seu
Mistério.
de Mauro Negro
U
ma afirmação comum:
“vocação é um mistério”.
Por quê? Sobretudo por-
que entra no projeto de
Deus junto ao seu povo.
Também porque não é uma opção
lógica, muitas vezes não contex-
tual, isto é, porque ela surge em
situações em que não é esperada;
oportunamente, porque vem por
caminhos e tem influências sur-
preendentes. Mas, sobretudo, a
vocação é um Mistério porque é
um fato ligado à fé. Ela é, sempre,
um Mistério no sentido de que é Ele dizem respeito e nele encon- sequência da vocação. O Mistério
uma ação de Deus, que é, em si, “O tram sentido. Estas virtudes são da vocação é anterior a isso. Está
Mistério”. O Mistério da vocação a Fé, a Esperança e a Caridade. em entrar na vida da fé, em mer-
é que ela é um dom que vem de Isso parece, à primeira vista, gulhar em um mundo diferente,
Deus, que vai além da vontade algo muito simples, talvez até ób- com valores, com sentimentos,
da pessoa e de sua inteligência e vio, mas nem sempre é. O fato da com uma visão de mundo distinta.
afeto, e a envolve totalmente. Ela vocação é relacionado a assumir Simplificando, vocação não é fazer
ultrapassa os cálculos humanos, um caminho, ter uma conduta, algo ou realizar funções, mas ser,
ela está relacionada, diretamente, viver um papel na Igreja, seja este experimentar, “mergulhar” em
às virtudes que se chamam de papel o de Religiosa, de Religioso, um mundo diferente.
“teologais”, de “Theós”, Deus na de Presbítero, ou um Ministério, E este mundo não é o imedia-
língua grega. Elas vêm de Deus, a uma Missão etc. Mas esta é a con- to, aquele em que vivemos, com
Catequista
e Mistagogo
O leigo italiano Giuseppe D’Aleo dá seu
testemunho de vida e demonstra sua alegria por
pertencer a uma comunidade e ser atuante.
de Giuseppe D’Aleo
M
pela primeira vez a Eucaristia.
eu nome é Giuseppe Comecei também neste ano meu
D’Aleo sou atualmente caminho como coroinha na cidade
catequista da iniciação de Messina na Sicília, iniciando
cristã, batismo, colabo- meus primeiros passos de ser-
ro na Pastoral Familiar, viço a Jesus, na Paróquia Santo
Pastoral do Dízimo, Pascom como Antônio.
fotógrafo e coordeno a liturgia da Em 1970 houve uma grande
missa dominical das 10 h na Paró- mudança na minha vida, pois, em-
quia São Benedito, bairro Jaçanã, barquei num navio em Napoli na
São Paulo. Itália rumo à cidade de Santos,
Nasci numa ilha chamada Sicí- para morar em São Paulo.
lia na capital Palermo, Itália, por Isso mudou meu caminho, novo
coincidência cidade onde também mundo, nova língua, grandes de-
nasceu São Benedito, santo muito safios para eu realizar.
querido por mim, por sua humil- Com a idade de 13 anos, vivendo
dade, profundo conhecedor da na cidade de São Paulo e falando
Bíblia, sendo da ordem franciscana. ainda pouco o português me en-
Nasci no ano de 1958 e fui gajei como coroinha na Paróquia
batizado com apenas 20 dias de São João Evangelista no bairro da
vida pelos meus avós. Poucos anos Casa Verde.
depois, em 1962 o papa João XXIII Em 1976 cheguei no bairro
faria da Igreja Católica um navio de Vila Gustavo, e na igreja São
em viagem, iniciando o Concílio Camilo de Lelis participei do grupo
Vaticano II, fazendo a Igreja ca- de jovens, formado por 80 parti-
minhar com leigos e catequistas cipantes, sendo eu responsável
numa evangelização popular. Abriu pela evangelização e impressão
portas para eu ser um catequista e do jornal da comunidade, escrevia
mistagogo (encarregado em guiar). artigos sobre a atuação dos jovens
Importância
dos movimentos
sociais No último artigo da série sobre a
Fome, Malvezzi analisa a importância
do Movimento Sem-Terra e seus
assentamentos de Reforma Agrária no
combate à fome estrutural do país.
de Roberto Malvezzi (Gogó)
O
FOTOS: DIVULGAÇÃO
s movimentos sociais que
lutam pela Reforma Agrá-
ria no Brasil, caso especial
do Movimento Sem-Terra
(MST), têm se dedicado
ostensivamente à produção de
alimentos sadios. O MST se tornou
o maior produtor de arroz orgânico
da América Latina. Porém, esse tem
sido um longo caminho de lutas e
de muita aprendizagem.
No início o lema era “ocupar,
resistir, produzir”. A ideia de ocupar
era em função de propriedades
de terra improdutivas nesse país,
tidas apenas como reserva de valor.
Então, o MST as ocupa para que
elas possam cumprir sua função ir para o mercado. O MST criou danosos ao meio ambiente e à
social, além de assentar famílias uma rede de cooperativas e agora saúde humana.
sem-terra em terras imobilizadas. de espaços de comercialização de Porém, o MST avançou na sua
O resistir vinha da sabida rea- seus produtos. Dessa forma, além leitura de mundo. Além de produzir,
ção de seus pretensos donos que, de alocar as famílias, de produzir incorporou o cuidado com terra,
mesmo sem produzir, fazem ques- para seu sustento, tornou-se efe- com as águas, com a biodiversidade,
tão de garantir essas terras como tivamente uma forma de ganhar entrando por uma produção agro-
patrimônio familiar ou empresarial. a vida a partir de uma agricultura ecológica e cooperativista. Não é
Finalmente, o produzir, como saudável. Os assentamentos do só uma questão de produção, mas
tantas vezes os dirigentes têm dito, MST nos dizem que uma agricultura de solidariedade e distribuição.
é em primeiro lugar para saciar as baseada na produção familiar e
necessidades básicas alimentares coletiva é possível, com alimentos Alimentos saudáveis!
das famílias – tantas vezes a fome sadios, sem utilização intensiva Alimentar-se, do ponto de vista
– e depois, produzindo excedentes, de agrotóxicos e outros insumos nutricional, não significa empan-
O
Paulo dirige aos Romanos: "Alegres na esperança"
papa com a intenção de outubro exorta todos (Rm 12,12). O texto deu início a um ciclo de dois
os católicos que compõem a Igreja a rezar e anos de mensagens dirigidas aos jovens, ligadas
vivenciar a unidade e a comunhão na cons- pelo fio condutor da esperança que é o tema do
trução e manutenção da paz. Uma Igreja Jubileu de 2025: “Peregrinos de esperança”. Es-
sinodal é aquela que caminha unida e firme, sas mensagens acompanharão os jovens em seu
dividindo a responsabilidade de anunciar Jesus Cristo caminho para celebrar o Jubileu dos Jovens em
ressuscitado, presente na vida de toda a humanidade. Roma em 2025.
O papa se solidariza com os pais que choram a Em mensagem, o Papa Francisco lembra aos
morte de um filho ou filha, pedindo que as comu- jovens que eles são "a alegre esperança de uma
nidades cristãs apóiem essas pessoas nos momen- Igreja e de uma humanidade sempre em caminho";
tos de dor. O Espírito Santo é portador de paz. A propõe que meditem juntos sobre a alegria e a
Ele devemos rezar para que console as vítimas da esperança, que brotam do mistério pascal; lembra
violência, das guerras e do desamor. que essa esperança "não é um otimismo fácil e
A mensagem do Papa Francisco aos jovens para nem uma panaceia para os simplórios: é a certeza,
a XXXVIII Jornada Mundial da Juventude, que foi enraizada no amor e na fé, de que Deus nunca nos
celebrada nas Igrejas particulares de todo o mundo deixa sozinhos".
o Natal
consolata
“Exorto-vos, pois, que leveis
uma vida digna da vocação à
qual fostes chamados”. (Ef 4,1)
FREEPIK
de Redação
N
osso Senhor, certa feita,
fez a seguinte revelação
a Santa Gertrudes: reuni-
ria todas as homenagens
que se lhes oferecessem
na novena e teceria uma coroa
de pedras preciosas, para com ela
cingir a cabeça de seus devotos, no
dia de Natal. Nós não necessitamos
de uma revelação especial; apren-
demos a amar este mistério desde
pequenos. Com que entusiasmo
fazíamos a novena de Natal!
O Natal, não é uma festa so-
mente para crianças, mas também
para nós. Para entrar no reino dos
céus é mister tornar-se pequeno.
Que espera de nós a Igreja na
novena? O mistério de Natal é todo
mistério de amor.
O amor, porém, reclama corres-
pondência de amor. Santo Agosti-
nho afirma que o divino Redentor
“quis nascer Menino porque quer
ser amado. São Bernardo, por sua
vez, assim se exprime: Jesus se fez Animemo-nos todos, queiramos como as faltas de correspondências
pequeno, para se tornar amável. Por bem ao Menino Jesus para sermos aos apelos e às graças de Deus.
isso, São Francisco de Assis, grande amados por ele. Façamos tudo por Em terceiro lugar praticar atos de
e autêntico devoto do Menino seu amor. virtude, utilizar-se dos sacrifícios;
Jesus, alegrava-se por ter nascido A novena de Natal serve para durante o dia há ocasião de fazê-
ele também num estábulo, e repe- exprimirmos o nosso amor a Jesus. -los numerosos, numerosíssimos!
tia: Amemos o Menino de Belém, Como amá-Lo? Com muitos suspi- E em quarto lugar: exercitemo-nos
amemos o Menino de Belém!” ros no coração, não só quando à nas virtudes específicas do santo
Portanto, o céu quer que o ame- noite cantamos as lindas antífonas, Menino: simplicidade e humildade.
mos. A Igreja também; os santos mas repetindo-as também durante Assim, viveremos um feliz e san-
nos dizem que Jesus veio mendigar o dia. Em segundo lugar, é preciso to Natal todos os dias do ano!
o nosso amor; e nós permanecere- remover os obstáculos, que são
mos frios como gelo? Oh! Isso não! os pecados, também pequenos, Extraído do livro A Vida Espiritual, páginas 428 a 431.
A
equipe de Animação Mis-
sionária Vocacional iniciou
um novo modo de fazer
missão neste terceiro ano
vocacional da Igreja do
Brasil com o lema: “Corações ar- Batismo, somos catequistas por cristãos, mas alguém precisa tomar
dentes e pés a caminho”. Ir. Maria excelência e missionários. Foi um a iniciativa e lançar-se! Responder
Schmitz, Missionária da Consolata momento muito rico e de espe- ao chamado de Jesus e anunciar a
e o casal Janusa e Márcio Moreira, rança para a Igreja local. todos que Jesus é o grande Con-
Leigos Missionários da Consolata, Além disso, os missionários solador enviado do Pai.
Comunidade São Paulo, estiveram estiveram presentes em todas Não diferente de toda missão,
de 28 de setembro a 6 de outu- as celebrações eucarísticas como a equipe missionária retornou
bro de 2023 em Santa Efigênia também visitaram as diversas co- enriquecida, trazendo na baga-
de Minas, região de Governador munidades rurais. gem muita troca de experiência
Valadares, MG, a convite do pá- Foram ainda visitadas mais com a comunidade local e, felizes
roco local, padre Marcos Romão, de 40 famílias da paróquia. Com pela linda parceria realizada em
para anunciar o Evangelho com o elas partilharam a fé, celebraram comunhão entre as Missionárias e
carisma da Consolata. a vida e se confraternizaram. Um Leigos Missionários da Consolata
A equipe missionária, acompa- dos missionários do grupo, ao e a Paróquia de Santa Efigênia na
nhada também da jovem Janaina, final de cada encontro, fazia uma diocese de Governador Valadares.
visitou quatro escolas, um lar para oração apresentando a Deus as Rezemos a Deus sob a interces-
idosos e participou de um momen- necessidades e situação da famí- são de Nossa Senhora Consolata
to especial com a juventude da lia, suplicando à Mãe Consolata e dos nossos Bem-aventurados
catequese de Primeira Eucaristia e Santa Efigênia intercessão e José Allamano, Irene Stefani e
e da Crisma. Neste encontro, foi consolo para todos. Leonella Sgorbati para que esta
dado reinício ao grupo de jovens Ao concluir a visita missionária parceria seja frutífera.
na Paróquia. da Paróquia de Santa Efigênia, na
Outro momento importante foi Diocese de Governador Valadares, Márcio Mariano Moreira é Doutor em Ciências pela
o encontro com os Ministros Extra- deixaram o grande desafio mis- UNIFESP e Leigo Missionário da Consolata – Comunidade
ordinários da Sagrada Comunhão e sionário: ide da Igreja local até os São Paulo.
com os catequistas. Foi ressaltado confins do mundo; a responsabi- Ir. Maria Schimitz é Missionária da Consolata atualmente
neste encontro que todos, pelo lidade missionária é de todos os em Dourados, MS.
QUER
QUERSER MISSIONÁRIO?
SER MISSIONÁRIO? QUER
QUERSER MISSIONÁRIA?
SER MISSIONÁRIA?
TEL.: (11) 2238.4599 TEL.: (11) 2233.9330
E-mail: amv@consolata.org.br E-mail: mc@consolata.org.br
E
ntre os dias 21 e 24 de no- Michelangelo Piovano, Matews sinodais da Igreja”.
vembro, os missionários Odhiambo, Juan Pablo de los
da Consolata estiveram Ríos e Erasto Mgalama. Como Projeto Missionário
reunidos na Casa Regio- membros da família Consolata O Projeto Missionário Conti-
nal, São Paulo, SP, para participaram as irmãs missioná- nental dos Missionários da Con-
a Assembleia Pós-Capitular do rias da Consolata Gabriela Bono solata na América foi elabora-
Continente América, sob o lema: e Maria da Graça, superiora e do na Assembleia Pré-Capitular
“Effathá: A missão na mente, na administradora da Região Améri- realizada em 2017 em Bogotá
boca e no coração”. ca, e o leigo missionário Márcio e aprovado pelo XIII Capítulo
Participaram da Assembleia Moreira. Geral (maio-junho 2017), com a
representantes dos missionários, O principal objetivo da As- finalidade de partilhar o caminho
missionárias e leigos missionários sembleia Continental foi oferecer de continentalidade e orientar a
provenientes de cinco circuns- uma vivência sinodal “em espírito vida e a missão do Instituto no
crições da América: Argentina, de família”, como Missionários da Continente.
Brasil, Canadá-Estados Unidos- Consolata, para que “possamos Foram definidas como opções
-México, Colômbia-Equador-Peru discernir juntos como projetar o missionárias prioritárias: Ama-
e Venezuela. próximo sexênio (2023-2029), zônia, Jovens, Povos Indígenas,
Ajude-nos e venha
fazer parte desta obra
Missões é o veículo de comunicação do Instituto Missões Consolata e retrata o trabalho missionário
de levar a consolação aos que sofrem, aos que andam tristes, aos que estão sem esperança.
Torne-se um missionário membro da família Consolata, mantendo o nosso trabalho,
contribuindo financeiramente.
CHAVE: redacao@revistamissoes.org.br
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Data de Nascimento, CPF, Endereço, Telefone e E-mail para:
Rua Dom Domingos de Silos, 110 - 02526-030 - São Paulo - SP - Telefax: (11) 2238.4595 - E-mail: redacao@revistamissoes.org.br
P
artamos de um fato concreto, para explicarmos
como se processa a pertença de uma pessoa
à Igreja Católica. Por ocasião do conclave de
2005, que elegeu o papa Bento XVI, um repórter
perguntou ao cardeal Scheid, do Rio de Janeiro,
se Lula era católico. Respondeu jocosamente o prelado:
“Lula não é católico, é caótico”. Dias depois, inquirido
pela imprensa com o mesmo questionamento, dom
Hummes, de São Paulo, replicou: “Lula é católico sim, a
seu modo”. Esclareçamos que dom Scheid, eclesiástico
assaz culto, não se referia ao liame jurídico-canônico
que liga o presidente Lula à Igreja Católica; o purpurado
do Rio de Janeiro quis tão somente frisar seu ponto Na verdade, para alguém deixar de ser católico
de vista acerca do modo como Lula pratica a religião. (Deus nos livre e guarde!), não é nada fácil. É mister
Assim, dom Hummes enfatizou o aspecto canônico, manifestar tal desejo por escrito à autoridade ecle-
afirmando, categoricamente, que Lula é um membro siástica competente. Explana a professora Maria J.
da Igreja Católica e, como qualquer católico, vive o Roca: “Requer-se que o ato (de abandono da Igre-
catolicismo com algumas peculiaridades (sentido da ja) seja manifestado pelo interessado por escrito,
expressão teológica “a seu modo”). Acalmem-se os diante da autoridade competente da Igreja, isto é,
bolsonaristas! Conforme registrado no título deste o ordinário (bispo) ou pároco, que deve julgar sobre
artigo, o ex-presidente Bolsonaro também é católico, a autenticidade do referido ato de vontade, com
isto é, integra ele a Igreja Católica. averbação no livro de batizados, a teor do cânon,
Devemos deitar por terra a odiosa rotulação 535, §2º, com a expressão explícita de que ocorreu
dos fiéis. Católico “praticante”, por exemplo, é uma a defectio ab Ecclesia catholica actu formali (defec-
fórmula que pode implicar a acepção de pessoas, ção da Igreja católica por ato formal)” (Diccionário
atitude proscrita no Novo Testamento (Tg 2, 9). Ir de General de Derecho Canónico, Universidade de
à missa todo domingo é essencial, mas não torna Navarra, vol. I, p. 67).
necessariamente quem vai melhor de quem não vai. Os portugueses mimosearam-nos com o maior
Todo católico, em primeiríssimo lugar, necessita ser dos tesouros: a religião católica. Leigos e clérigos in-
praticante das boas obras. tegramos a Igreja que Cristo fundou há dois mil anos.
Como alguém se torna católico? Exatamente Aprendamos a respeitar as idiossincrasias de cada
como os presidentes da república citados acima se um (não existe, neste mundo, um católico perfeito!).
tornaram católicos: através da recepção do batismo Esforcemo-nos por edificar uma sociedade em que
na Igreja Católica (cânon 96). Ambos provavelmente haja vida abundante para todos os brasileiros, com a
receberam o augustíssimo sacramento quando crian- extirpação da fome e da miséria, prenúncio do reino
ças, em tenra idade. de Deus.
Posto isto, exemplificando, o indivíduo dado à
frequência esporádica do espiritismo ou candomblé, Edson Luiz Sampel é advogado. Presidente da Comissão Especial de Direito Canônico
juridicamente falando, é católico. Católico incoerente, da 116ª Subseção da OAB-SP. Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade
porém, ainda assim católico. Lateranense, do Vaticano. Professor do Instituto Superior de Direito Canônico de Londrina.
O retorno na
ponta dos pés
Na última matéria da série sobre os 110 anos de presença
da Consolata na Etiópia, o jornalista Marco Marini relata o
trabalho atual e mais recente dos missionários naquele país.
FOTO: SABINA
M
esmo com a expulsão dos superior geral, padre Mario Bianchi, 250 mil fiéis de religiões tradicionais,
missionários da Conso- encontra o vigário apostólico de 50 mil coptas, 2.500 protestantes
lata do país, conforme Harrar, monsenhor Urbani Marie e apenas 150 católicos.
vimos nas matérias ante- Person, para firmar um acordo so- Em 1975 os missionários da Con-
riores, o sonho do Bem- bre a presença dos missionários solata são 10, coordenados pelo
-aventurado José Allamano pela da Consolata em Meki, no meio padre De Marchi, e trabalham em
Etiópia continua vivo e em 1970 do caminho entre Addis Abeba e Meki, Addis Abeba, em Shashe-
eles retornam com discrição, sob Awasa. Os padres combonianos mane, aberta em 1972 e em 1973
o nome de Fatima Fathers (pais estão trabalhando naquela área. em Gambo (missão com leprosário
de Fatima), assumindo algumas Pelas negociações, é indicado que hospeda outros 100 leprosos)
FOTO: ARQUIVO MC
crianças com poliomielite).
Tempos difíceis
O trabalho missionário na Etiópia
não é fácil, também pela exigência
e contínuo controle do governo, o
qual, mais do que de missionários,
necessita de pessoas espertas em
promoção humana e impõe uma
pesada burocracia.
Em Meki, a missão dedicada a
Nossa Senhora de Fátima é bem
iniciada e organizada, com casas
para os padres e para as irmãs, Irmã Luisa Filipe missionária da Consolata moçambicana em missão na Etiópia.
capela, escola, laboratório técnico,
carpintaria e hospital. para a formação da comunidade São 15 os missionários da Con-
Em 1980 em Meki criam uma cristã. solata de origem etíope. Oito jovens
nova prefeitura apostólica, que vem seminaristas estão estudando teo-
confiada ao Instituto. É nomeado O grupo hoje logia nos vários seminários interna-
administrador padre Giovanni Bon- Hoje, os missionários da Con- cionais do IMC e serão ordenados no
zanino e não obstante seja destinado solata que trabalham na Etiópia próximo ano. No seminário prope-
a se tornar bispo, os missionários são 17, dos quais dez etíopes, três dêutico de Modjo são dez jovens em
favorecem um padre local, e assim italianos e quatro quenianos. discernimento vocacional e outros
Yohannes Woldegiorgis se torna o Como de costume, a atividade tantos no seminário de Addis Abeba
primeiro bispo de Meki (1981). missionária compreende o cuidado que estão estudando filosofia.
A Prefeitura apostólica de Meki pastoral da comunidade cristã, com
abrange uma área de 156 mil km2 atividades de desenvolvimento so- Falta de unidade
(a metade da Itália) com uma po- cial e humano. A Etiópia é um país rico de re-
pulação de mais de três milhões de Os missionários, em colaboração cursos naturais e humanos, com
habitantes, oito mil católicos. Os com duas congregações femini- tradições e cultura milenares, não
missionários da Consolata são 19, nas, trabalham com dois asilos, obstante raramente tem havido
dos quais só um é etíope, e ocupam em Modjo e Shambu, e duas clí- períodos de paz nos últimos cem
nove missões. nicas médicas com maternidade, anos.
Alem da evangelização, se de- em Weragu e Modjo. Em Modjo ao Como em qualquer situação
dicam ao serviço dos mais pobres: lado do seminário propedêutico, os humana, muitos dos problemas
em Gambo gerenciam um hospital missionários administram um cen- deste país referem-se à pobreza
e um centro de controle de lepra; tro de animação e espiritualidade de suas lideranças. Não existe uma
em Gighessa e em Assella cuidam missionária, muito apreciado para consciência nacional enquanto na-
de dois Centros para crianças com retiros ou convenções. ção. As tensões são muito fortes
problemas físicos e mentais; em Uma das características dos mis- entre os vários grupos étnicos. O
Shashemane dirigem uma escola sionários da Consolata no país é maior desafio para os políticos do
para cegos, leprosos e desabilitados. sua presença em zonas habitadas presente e do futuro é criar um senso
Em Meki dirigem uma pequena com predominância da popula- de unidade nacional. A corrupção,
escola técnica a nível acadêmico. ção de fé muçulmana e pequenas como em tantos outros países do
A concessão agrícola em Gambo, comunidades de católicos. Esse é continente é bastante ativa.
propriedade da diocese é coloca- um desafio grande, seja do ponto Embora com tantos desafios,
da à disposição da missão para o de vista da evangelização, quanto os missionários da Consolata con-
sustento de todas as atividades. O financeiro. Não obstante a gene- tinuam presentes em sua missão,
terreno agora é em grande parte rosidade da comunidade cristã, o tentando proporcionar um futuro
floresta e somente 100 hectares exíguo numero e pobreza dos seus melhor, seja para o país, como para
são cultiváveis. membros, é difícil o auto-sustento a Igreja.
Os missionários operam entre das missões. Sem ajuda proveniente
dois setores: o social, que carac- dos benfeitores da Itália e de outros Marco Marini é jornalista. Matéria editada e traduzida da
teriza sua presença e o pastoral países, é impossível gerir-se. revista Missioni Consolata, edição junho de 2023.
Campanha
Missionária 2023
Ide! Da Igreja local aos
confins do mundo.
de Redação o lema bíblico permaneceu em A construção da arte
sintonia com a realização do 3º “Corações ardentes, pés a
Ano Vocacional que a Igreja do caminho” foi o lema da mensa-
"I
de! Da Igreja local aos con- Brasil celebrou. gem do papa Francisco para o
fins do mundo” foi o tema No ano passado, foi celebrado Dia Mundial das Missões. O texto
da Campanha Missionária o Ano Jubilar Missionário que ani- focaliza a atenção sobre o encon-
de 2023, cuja inspiração mou a caminhada missionária da tro com Jesus Ressuscitado como
bíblica, baseada no texto Igreja do Brasil. Em 2023 as ações a motivação central do ser e agir
dos discípulos de Emaús foi “Cora- missionárias foram voltadas para a missionários. Os pés dos discípu-
ções ardentes, pés a caminho” (cf. preparação do 5º Congresso Mis- los – fincados em uma realidade
Lc 24,13-35). Após três anos refle- sionário Nacional, que aconteceu bem determinada – se põem a
tindo sobre a natureza missionária em Manaus nos dias 10 a 15 de caminho somente porque antes,
da Igreja e sobre o “ser missão”, novembro de 2023, tendo como os corações se inflamaram no
o tema deste ano ajudou a apro- horizonte o 6º Congresso Missio- encontro com Jesus que os ouviu,
fundar a relação entre Igreja local nário Americano (CAM6) que será caminhou com eles, explicou-lhes
e a missão Ad Gentes, enquanto realizado em Puerto Rico em 2024. a Escritura e ficou com eles para
Vigilância e Esperança
Vamos despertar do sonambulismo espiritual e vigiar nestes tempos tão
cheios de significado, para seguir rumo à meta de encontrar o Senhor.
A
o se aproximar as festas de fim de ano, são esperança?
frequentes o envio de mensagens esperanço- “Movo-me na esperança enquanto luto e se luto
sas, com votos de paz, saúde e prosperidade. com esperança, espero” (Paulo Freire)
O desejo expresso nos votos que enviamos e “Por que não olhar para os sinais de esperança do
recebemos tem enfrentado cada vez mais apelos universo habitado e dessa forma alimentar em nós
e desafios na realidade atual. A capacidade humana uma atitude de vigilância e de conversão? É fácil ouvir
para alimentar e manter a esperança, independente o barulho do carvalho que cai e porque não ouvimos
da cultura ou da crença religiosa é determinada pelo o ruído da floresta que brota?” (J. Yves Leloup)
esforço de trazer sentido às vidas vividas em um tempo O tempo de Advento chega pondo à prova a nossa
e espaço cada vez mais fragilizados. capacidade de continuar esperando além de toda e
Este século teve início com acontecimentos históri- qualquer expectativa, pela chegada do Emanuel, Deus
cos sem precedentes, que afetaram e ainda afetam a conosco.
vida humana, social, política, econômica e ecológica. Este tempo litúrgico vem nos convidar a silenciar e
A crise da pandemia da Covid-19 no início parecia ter olhar com atenção o nosso interior e além dos muros
reorientado a humanidade, para diante da fragilidade que nos cercam, as marcas de ódio e de dor, para levar
da vida, aplicar os bons e velhos valores. E agora o que inspiração, esperança e perdão.
percebemos na atualidade? Vamos despertar do sonambulismo espiritual e
Vivemos cenários de guerras e crises geradas com vigiar nestes tempos tão cheios de significado, para
finalidades lucrativas que buscam atender interesses seguir rumo à meta de encontrar o Senhor que vem
de grande corporações e potências mundiais em uma salvar o seu povo.
insana corrida pela dominação e poder. A natureza Queremos seguir e perseguir a nossa vocação de
colapsa diante da desenfreada exploração de seus resistir e avançar, em busca de novas saídas, de com-
recursos naturais e não se tem tempo para escutar bater a estagnação e sair para transformar, a partir de
os gemidos da Criação, porque a cultura do consumo nós mesmos, o mundo que necessita ser humanizado
corre solta, adentrando o mais íntimo de cada pessoa para esperar a chegada do Ser divino que se fez Homem
como se não houvesse outra saída. por amor.
Junto aos desastres naturais que estão aconte-
cendo, surgem vozes querendo interpretar o livro do Fátima Bazeggio é Leiga Missionária da Consolata, Comunidade São Paulo.
Vocação
e eleição
Irmãos, procurai com mais gera um sentimento de conforto psicológico frente
ao sofrimento econômico e sanitário. Então, nossa
diligência consolidar a vossa sociedade aceita a ação da Igreja como ajuda aos
vocação e eleição… (2 Pedro 1,10) sofredores, mas não a proposta de um modo de ser e
viver a partir do Evangelho e suas consequências. Ora,
isso é a vocação: o chamado a um modo novo de ser.
Pedro une dois conceitos importantes: a vocação,
de Mauro Negro
que é o chamado, e a eleição, que é a escolha. É um
modo diferente de indicar uma máxima evangélica
A
segunda Carta de Pedro apresenta expressões apresentada na parábola do banquete nupcial, em
interessantes, próximas do pensamento de Mateus 22,1-14. A ideia é “Muitos são chamados,
Paulo que estava ligado à vida com os valores mas poucos são escolhidos” (versículo 14). Muitos
cristãos em uma sociedade que se opunha recebem a vocação, ouvem o chamado, mas poucos
a isso. Vemos a Fé em Jesus como Cristo escolhem o seguimento, ou são tomados por ele, por
crescendo e se confrontando com todo tipo de con- este modo de ser e viver.
tradição, o que deveria causar muitas dificuldades, Isso tem implicações práticas, sendo a primeira o
como medos, inseguranças e até isolamentos sociais. fato de que os discípulos do Cristo nunca serão uma
Mas os primeiros cristãos entendiam que isso era maioria real. Podem ser uma maioria convencional, pois
parte da vocação ou chamado. Talvez não seja tão é fácil “ir na onda” do momento, e se a Fé em Cristo
evidente tal situação para nós, hoje, mas conside- é o forte, então embarca-se nela. Mas uma decisão
ramos a nossa “sociedade líquida”, como se diz. Ela clara, intensa e consequente apresenta dificuldades
não aceita os valores objetivos do Cristianismo, mas e desafios nem sempre fáceis de ser assumidos. A
apenas os convencionais como a filantropia, o que eleição, então, é uma resposta numérica menor do
que a vocação.
DIGITALSKILLET
Pastoral Afro
na prática
A
Pastoral Afro foi instalada
na arquidiocese de Feira
de Santana, BA, em 2021
a partir de um curso de
formação nacional. Padre
Ibrahim Muinde Musyoka, mis-
sionário da Consolata ordenado
em 2022, começa seu trabalho na
Paróquia São Roque de Matinha
dos Pretos no mesmo ano e entre
o diálogo com a comunidade e a
arquidiocese, estrutura a pastoral. des católicas em Maringá sobre A visão que os negros trazem
Em São Paulo, para participar a Pastoral Afro. Isso me ajudou do Sagrado. Não houve incultu-
da XXVII Romaria Nacional da a compreender a opção do IMC, ração no processo de escravidão.
Pastoral Afro-brasileira ao San- pela Pastoral Afro. Tanto em São A Pastoral tenta resgatar isso?
tuário de Aparecida, realizada Paulo, quanto no trabalho do con- Padre Ibrahim e Francisca
no dia 4 de novembro de 2023, tinente. Manifestei meu desejo Fonseca - É um estudo integral,
padre Ibrahim concedeu entrevis- de trabalhar com essa pastoral. completo, de como vivenciar essa
ta à revista Missões, juntamente A questão da pastoral é o existir realidade. Nos anos 80 do século
com Cássia Patrícia, quilombola, realmente, colocar em prática, não passado, temos articulação do
secretária da Pastoral na Paróquia apenas a teoria. É uma pastoral movimento negro, uma articu-
São Roque de Matinha e com difícil, que em si desafia a fé da lação externa, civil, forte, pelos
Francisca Fonseca, quilombola, pessoa, é uma proposta da Igreja direitos dos negros. Os negros
desde 2021, agente da Pastoral. que muitas vezes não é entendida. têm direitos, voz e vez. Esse mo-
A Pastoral Afro-brasileira é uma vimento negro surge pelo fim da
Uma das opções do Instituto resposta do bom pastor à realida- ditadura civil e militar. A Igreja
Missões Consolata (IMC) é tra- de do negro e da negra no Brasil. também acolhe esse movimento.
balhar com a Pastoral Afro. Você Não é uma criação, uma atividade Com a Constituição de 88, nasce
teve uma preparação para isso? para quem não tem o que fazer. a Pastoral Afro de acordo com a
Como começou seu trabalho? É uma busca, um olhar para a Campanha da Fraternidade “ouvi
Padre Ibrahim - No seminário realidade, não se compara com o clamor desse povo”. Surge a
em São Paulo fiz meus estudos de outras. O negro está à margem, é pastoral no contexto do Brasil. Não
teologia e fui trabalhar em São excluído da participação na Igreja, é desligada do processo social.
Miguel Paulista, SP. Em quatro fisicamente e espiritualmente. Em 1988 se celebra o cente-
anos passei por muitos momen- A Pastoral Afro está fazendo um nário da “suposta abolição da
tos e experiências... participei da trabalho de resgate dessa história. escravidão”. A Igreja não está
primeira conferência das entida- É o Evangelho para todos. alheia ao processo sócio-histórico
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OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2023 MISSÕES 31