Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CURITIBA
2021
ALLEXANDRA SILVA DE MIRANDA
CURITIBA
2021
ALLEXANDRA SILVA DE MIRANDA
Orientador: _________________________________
Prof. Ms. Luiz Gustavo de Andrade
________________________________
Prof. Membro da Banca
Curitiba, de de 2021.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos os negros que aqui fizeram sua morada e deram
seu sangue para hoje poderem ser vangloriados como reis e rainhas, assim como
sempre foram.
Dedico a todos os meus ancestrais, tanto afro descentes quanto indígenas que
sem os quais não poderia expressar o que penso nem o que sou.
Dedico a minha mãe de cabeça Yemanjá que sempre me deu coragem,
esperanças e forças para a luta do cotidiano.
Dedico a todos os Orixás: Oxalá, Nanã, Xangô, Ogum, Oxum, Iansã, Oxóssi,
Ibeji, Omolú e Exu que de alguma maneira abençoaram e iluminaram meus caminhos,
para que tudo fosse possível.
Dedico a todos aqueles que não possuem vergonha em dizer que são de Axé.
Dedico a minha mãe Sandra Maria da Silva, mulher negra e guerreira que
sempre tive como inspiração e que amo imensamente.
Dedico ao meu pai Almir Cordeiro de Miranda, que nunca me deixou faltar estudo
de qualidade, o que me motivou sempre a querer saber mais sobre minhas origens.
Dedico as minhas melhores amigas Bárbara Louise Moreira e Kamila de Oliveira
por sempre estarem ao meu lado, em todos os momentos com palavras de conforto e
motivação.
Dedico ao meu namorado João Paulo Kaucz Ferreira e a toda sua família que
me acolheu da melhor maneira me dando todo afeto sendo compreensiva.
Dedico a todos meus familiares e amigos que de alguma forma contribuíram para
que este trabalho acontecesse.
Dedico ao meu professor-orientador Luiz Gustavo Andrade, que foi excelente,
atencioso e cuidadoso com tudo que se relacionava o projeto.
“Quando uma mulher, de certa tribo da África, sabe que está grávida, ela segue para a
selva com outras mulheres e juntas rezam e meditam até que surge a ‘canção da
criança’.
Quando nasce a criança, a comunidade se junta e cantam a sua canção.
Logo, quando a criança começa sua educação, o povo se junta e canta sua canção.
Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e canta.
Quando chega o momento do seu casamento, a pessoa escuta a sua canção.
Finalmente, quando sua alma está para ir-se deste mundo, a família e amigos
aproximam-se e, como em seu nascimento, cantam a sua canção para acompanhá-lo
na viagem.
Nesta tribo da África há outra ocasião na qual os homens cantam a canção. Se em
algum momento da vida, a pessoa comete um crime ou um ato social aberrante, levam-
no até o centro do povoado e a gente da comunidade forma um círculo ao seu redor.
Então todos cantam a sua canção.
A tribo reconhece que a correção para as condutas antissociais não é o castigo; é o
amor e a lembrança de sua verdadeira identidade.
Quando reconhecemos nossa própria canção, já não temos desejos nem necessidade
de prejudicar ninguém.
Os amigos conhecem a tua canção e a cantam quando a esqueces.
Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes ou as
escuras imagens que mostras ais demais.
Eles recordam tua beleza quando te sentes feio; tua tonalidade quando estás quebrado;
tua inocência quando te sentes culpado e teu propósito quando estás confuso.”
(TOLBA PHANEM)
“Ser negro é ser violentado de forma constante, contínua e cruel, sem pausa nem
repouso, por uma dupla injunção: a de encarnar o corpo e as ideias de Ego do sujeito
branco e a de recusar, negar e anular a presença do corpo negro.”
(SOUZA,1983)
RESUMO
This work aims to demonstrate the importance of the need for Africanization of religious
freedom. It also denotes freedoms as fundamental rights, both as freedom of worship
and of religious expression. It directly points out the STF's position on religion and how
the state protects these freedoms, even though it is secular. It also conveys how the
african-based religions were formed here in Brazil and all their characteristics along with
the cultural baggage they brought, even being included as black heritage in some
places. It is noteworthy that afro religions have always been targets of intolerance and
religious discrimination, which can cause both psychological and social damage to those
who are affected, distorting the entire constructed identity of practicing groups. In
addition to these damages, disrespect and attacks propel them into a social and
recognition struggle, as there are generated feelings that provide the basis for social
struggles to happen. The movements that refer to the re-africanization as efforts
attempted by followers who claim to be afro-descendants, of a rescue of each rooted
african value that was lost in time, for the construction of traditions that can accurately
express the identity of the black who needs it to affirm itself as a society and being. An
investigation of these events is proposed here, as a strategy of struggle and positive
social impact.
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................10
2 LIBERDADE DE RELIGIÃO ENQUANTO DIREITO FUNDAMENTAL...............12
2.1 LIBERDADE DE RELIGIÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: LIBERDADE DE
CULTO E DE MANIFESTAÇÃO RELIGIOSA.................................................................12
2.2 RELIGIÃO SEGUNDO O STF..............................................................................19
2.3 PROTEÇÃO A LIBERDADE DE RELIGIÃO E ESTADO LAICO..........................29
3 AS RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS.....................................................39
3.1 ELEMENTOS CARACTERIZADORES.................................................................39
3.2 FORMAÇÃO DAS RELIGIÕES AFRICANAS NO BRASIL...................................73
3.3 RELIGIÕES AFRICANAS E O PATRIMONIO CULTURAL NEGRO NO
BRASIL............................................................................................................................77
4 MATRIZES AFRICANAS E INTOLERÂNCIA RELIGIOSA.................................92
4.1 INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E OPRESSÃO HISTÓRIA: EXPRESSÃO
RELIGIOSA DE GRUPOS DOMINADOS.......................................................................92
4.2 O SACRIFÍCIO DE ANIMAIS NA EXPRESSÃO RELIGIOSA AFRICANA:
ANALISE DO RE 494601/STF......................................................................................105
4.3 AFRICANIZAÇÃO DA LIBERDADE DE RELIGIÃO NO BRASIL.......................113
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................120
REFERÊNCIAS.............................................................................................................123
10
1. INTRODUÇÃO
1 AFONSO, Nathália. Dia da Consciência Negra: números expõem desigualdade racial no Brasil. FOLHA
DE SÃO PAULO, Rio de Janeiro, 20 nov. 2019. Disponível em:
<https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2019/11/20/consciencia-negra-numeros-brasil/>. Acesso em:
25/03/2021.
2 PORTAL GELEDÉS. 83% dos presos injustamente por reconhecimento fotográfico no Brasil são
negros. Disponível em: <www.geledes.org.br/83-dos-presos-injustamente-por-reconhecimento-
fotografico-no-brasil-sao-negros/>. Acesso em: 25/03/2021.
11
3 MIGALHAS. Negros são vítimas de condenações que tem foto como prova, afirma juiz: Projeto
"Justiça para os inocentes" da OAB/RJ mostra que 70% dos acusados injustamente por falhas no
reconhecimento fotográfico são negros. Disponível em: <www.migalhas.com.br/quentes/336217/negrps-
sao-vitimas-de-condenacoes-que-tem-foto-como-prova--afirma-juiz>. Acesso em: 25/03/2021.
12
Dessa forma, a escola não poderá reprovar aluno pelo fato de não frequentar a
aula de ensino religioso, já que este será de matrícula facultativa e, a nosso ver,
mui-to embora o texto fale apenas em “escola pública”, em razão da natureza
do ensino, entendemos que essa interpretação também poderá ser aplicada às
particulares.9
podem ocorrer desde que cumpram com as regras do programa normativo geral,
ocorrendo pacificamente, sem armas, em lugares abertos com autorização ou não,
desde que seja com fins lícitos. A privacidade em matéria religiosa também é
constitucionalmente protegida no artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal 20.
Vale a pena destacar que o Estado por ser laico, ou seja, não adotar nenhuma
posição sobre religiões, sendo também indiferente com relação às confissões religiosas
deve ser manter neutro, aplicando o princípio da impessoalidade da administração
pública. Apesar de não se posicionar com as religiões, está atento aos limites tolerados
dessas organizações religiosas. Discorrer e escolher determinadas posições religiosas,
diz respeito apenas aos cidadãos que devem ser amparados com proteções contra
abusos e garantias institucionais que são tarefas estatais 21.
A título de exemplo, elenca-se a deliberação do Supremo Tribunal Federal, que
por maioria acolheu a procedência ao pedido de inconstitucionalidade, referente ao
artigo 91, parágrafo 12, da Constituição do Rio de Janeiro, que designava um Pastor
Evangélico para atuar nas Corporações Militares daquele estado 22. O caso em tese
ofende diretamente a liberdade religiosa, daqueles que não cultuam a religião exigida,
por isso é primordial que tá liberdade seja zelada, vejamos:
do Supremo Tribunal Federal salientou em sua decisão que se houvesse a tal fixação a
neutralidade estatal ficaria em jogo por não favorecer a todos. Baseado nos fatos
acima, temos a decisão:
Além dos recursos acima, também possui a discussão em torno dos símbolos
religiosos utilizados nas salas de aulas, como exemplo o crucifixo, ou até mesmo o
estresse gerado no mesmo ambiente escolar pelo uso do véu. Referente ao primeiro
atributo, o crucifico podemos atribuí-lo a uma religião em específico, a cristã 35.
Esse objeto do cristianismo é adorado e possui um sentimentalismo religioso
imenso em torno dele, sendo uma expressão essencial de sua convicção pela
libertação do homem do pecado, com a vitória de Cristo sobre o diabo e a morte. Uma
fez fixada a cruz em alguma sala de aula, em qualquer edifício ou local, remeteria ao
reconhecimento sentimental de um símbolo da religião cristã, para os adeptos da
religião.
Porém, é um assunto delicado quando explorado no ambiente estudantil por ser
apelativo, uma vez que os estudantes que ali frequentam, ainda estão em formação e
desenvolvendo, podendo deixar levar e ser influenciados de certa maneira, com relação
as suas capacidades cognitivas, afetivas e emocionais 36.
Ressalta-se, pendurar um crucifixo numa parede, prédio ou exibir a imagem do
mesmo em locais públicos, de modo algum reprime, coage ou limita a liberdade que as
pessoas possuem de se manifestar e de se expressar.
Segue abaixo a conclusão do Conselho Nacional de Justiça sobre o julgamento
dos quatro pedidos de providência (1344, 1345, 1346 e 1362), que questionavam a
presença de crucifixos em dependências de órgãos do Judiciário. Foi indeferido o
pedido, por entenderem que os objetos seriam símbolos da cultura brasileira e que de
maneira alguma iriam interferir na imparcialidade e universalidade do Poder Judiciário.
[...] isso é mais uma questão religiosa do que médica. tanto o Velho como o
Novo testamento claramente nos ordenam a nos abster de sangue (Gênesis
9:4; Levítico 17:10; Deuteronômio 12:23; Atos 15:28, 29). Além disso, para
Deus, o sangue representa a vida. (Levítico 17:14). Então, nós evitamos tomar
sangue por qualquer via não só em obediência a Deus, mas também por
38
respeito a ele como Dador da vida.
a lei nº 228 foi editada proibindo o porte de qualquer coisa que apresentasse uma
adesão a qualquer religião, a fim de que atingisse seu objetivo de ser menos
discriminatória. O véu neste caso, assim como o kippa ou até mesmo o crucifixo,
entraria como um fundamentalismo radical de determinada religião, e pela busca da
neutralidade frente à religião a opção imposta o seria o mais viável 42.
De outro modo, elencando a imunidade tributária, que se encontra no artigo 150
da Constituição Federal, versando sobre a impossibilidade da cobrança de impostos
sobre tempos de qualquer culto, em seu inciso VI, temos a decisão do Supremo
Tribunal Federal classificando a maçonaria, como um ente não religioso. Apesar de a
maçonaria ser religiosa, pois reconhece a existência de um ser supremo que criou o
universo, ela é apenas considerada como uma “ideologia de vida”, não uma religião em
si, como afirmou Ricardo Lewandowski quando rejeitou o pedido de imunidade
tributária. Segue abaixo o recurso:
tributária, que esta descrita no artigo 150, VI, alíneas “b e c” da Constituição Federal. O
caso em tela buscava o reconhecimento da isenção do pagamento de IPTU, jus pela
imunidade tributária, de vários imóveis que tinham como a atividade fim diretamente
relacionada ao cunho religioso. Destaca-se que os bens que possuem relações diretas
com as instituições religiosas atingem suas finalidades, logo prédios, terrenos e
pertences das instituições alem de servirem como abrigo àqueles que cultuam a
religião, tornam viáveis as suas atividades:
17
44 BRASIL . Tribunal de Justiça de Santa Catarina. TRIBUTÁRIO - EXECUTIVO FISCAL - EMBARGOS
DO DEVEDOR - IPTU - TEMPLOS RELIGIOSOS - IMUNIDADE TRIBUTÁRIA - CF, ART. 150, VI, B E §
4º - EXTENSÃO AOS BENS QUE SERVEM ÀS FINALIDADES ESSENCIAS DAS INSTITUIÇÕES
RELIGIOSAS - LEI MUNICIPAL - ISENÇÃO CONDICIONAL - ADCT, ART. 41, § 1º -
INAPLICABILIDADE. TJ-SC - AC: 17160 SC 2003.001716-0. Relator: Luiz Cézar Medeiros.
Florianópolis, 19 de maio de 2003.
45 GABRIEL, José Luciano. Liberdade Religiosa e Estado Laico Brasileiro. Rio de Janeiro: Gramma,
2018. p. 11-12.
30
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[…]
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o
livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
locais de culto e a suas liturgias;
noções de publico e privado, além de doarem espaços de suas próprias casas, para
que pudessem continuar desenvolvendo as opiniões públicas em união, mesmo que de
maneira restrita71.
Dessa maneira, reexaminando a análise de José Luciano Gabriel da perspectiva
das consagrações habermesianas, é possível notar a consumação de suas teorias em
face do entendimento da democracia brasileira, adequando apenas aos seus elementos
típicos, por possuir um contexto diferente da original europeia, como, por exemplo,
ampliação dos atores que a compõe considerando sua tamanha diversidade, a fim de
obterem maiores possibilidades nas questões sociais 72.
Na Europa era comum as pessoas cederem espaços de suas casas para que os
debates ocorressem, aqui no cenário brasileiro, eles acontecem de forma distinta põe
associação de moradores, participação de pais em conselhos escolares, organizações
sem partido, manifestações contra ou a favor do governo e outra. Os espaços públicos
eram aqueles de viabilizavam de modo igualitário a participação das pessoas que os
compunham73.
Outra vertente importante que é elencado pelo autor José Luciano Gabriel sobre
Habermas é que ele traz a discussão, para que as relações estatais, laicidade e
reliberdades sejam compreendidas, conceituando assim a ação comunicativa e
consenso. O modo referente a interligação delas, permite a compreensão da maneira
correta que devem se estipular as relações das pessoas nos espaços públicos. Porém
há uma preocupação em como estabelecer os critérios para a garantia da verdade e
validade dos entendimentos relacionados ao mundo físico e social. Muitos filósofos ao
longo do tempo desenvolveram técnicas, princípios, regras para que a verdade absoluta
fosse alcançada74.
Com o discernimento sobre a teoria da ação comunicativa, de que a
racionalidade entre as comunicações coletivas assegura a validade dos estudos
Uma vez cumpridas as regras, todos terão a mesma possibilidade de fala para
que os demais se posicionem frente a opinião declarada, constituindo assim uma
verdade baseada nos conceitos de todos, respeitando os princípios da igualdade e
liberdade, sem hierarquia entre os membros
Todo esse conceito em torno da esfera pública, ação comunicativa e consenso
se formaram a partir da análise da relação estatal e a religiosidade. Segundo o que
constata as indicações do filósofo alemão, é necessário o respeito e considerações a
cerca das religiões quando debatidas nos temas de interesse social. Outrossim,
também alega sobre a necessidade do Estado se posicionar de tal maneira que supere
as rivalidades existentes somadas aos possíveis conflitos de opiniões divergentes a
respeito da religião e também sobre a divergência entre o saber e a fé 79.
83 SILVA, Vagner Gonçalves da. Camdomblé e Umbanda: Caminhos da Devoção Brasileira. 5. ed. São
Paulo: Selo Negro, 2005. p. 26-28.
84 SUPER ABRIL. 12 religiões afro que se espalharam pelas Américas. Disponível em:
<https://super.abril.com.br/historia/12-religioes-afro-que-se-espalharam-pelas-americas/>. Acesso em:
22/05/2020.
85 WIKIPÉDIA. Santería. Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/214078792/Santeria>. Acesso em:
22/05/2020.
40
primeiro momento por negros africanos, a população branca - mais familiarizada com os
colonizadores da região e as tradições cristãs - são os maiores praticantes90.
Para a iniciação do ritual, é necessário ser cultuado em casa, não podendo ser
homossexual e passar por uma cerimônia, para ver se os espíritos aceitam ou não a
participação. Em seus rituais, praticam sacrifícios de animais como oferendas, em torno
de seus propósitos. O mecanismo central é em volta de um caldeirão, repleto de
elementos como ossos, ervas, árvores, terras e entre outros, que facilitam a
comunicação espiritual, este é denominado “Prenda, que contém o guia de quem inicia
o ritual. Além disso, possui uma hierarquia espiritual em que Nsambi é a divindade
suprema, Nkitas são espíritos elementares das árvores, Mfumbe os mortos
antepassados, Eggun ancestrais com grandes influências e os Mpungos/Nkisi
equivalentes aos orixás da Santéria91.
Alogbwe, Ayizan, Dan Ayido Hwedo, Ezi-Akur, Gbade, Ge, Gu, Heviossô, Kundê,
Legba, Loko, Mami Wata, Minoma, Naité, Nana Bulunki, Skpata, Zaka e outros. Essa
religiosidade era dotada como um jeito de resistência frente aos colonizadores
franceses na época da escravidão, pois muitos escravos fugitivos se reuniam frente a
ideais e energias comuns para inspirar rebeliões. O culto religioso é a mescla entre a
religião católica com o espiritismo das regiões centrais e ocidentais africanas. Ressalta-
se que mesmo junto a tantos preconceitos contra os métodos nada convencionais
dessa religião, pode-se afirmar que a atuação dela é voltada para a saúde, priorizando
que o corpo físico depende da alma, eixo central para que ele funcione93.
A religião possui muitos adeptos na África, em sua crença a deusa suprema
Mawu, possui destaque, pois acreditam que ela criou a Terra e tudo há nela. Quando
concebidos em terra, os espíritos voduns são concebidos como forças vindas da
natureza, podendo vir no sexo feminino ou masculino. Dentro da tradição, as famílias
são pilares que definem por agrupamento os voduns que pertencem ao grupo céu,
terra, mar, rios e montes e assim por diante 94.
Em seus cultos, realizam oferendas, o sacrifício de animais, porém em situações
mais específicas, ademais empregam orações, cantigas por meio das percussões,
possuem roupas próprias de cada entidade, além das danças que fazem parte do ritual.
Destaca-se que a religião é comandada por mulheres, que fica a frente desses rituais,
liderando-os. Os visitantes espirituais - tido como entidades - chegam à terra por
incorporações de médiuns, que podem dar orientações àqueles que necessitam 95.
Curiosidades a respeito do vodu: 1) voltado para a cura da comunitária; 2) é uma
forma de expressão espiritual, com traços africanos, espíritas, animismo, magia e
xamanismo; 3) palavra Vodu se originou do Fon Gbé e significa entidade espiritual; 4)
religião monoteísta com o Deus central de nome “Bon Dieu”; 5) os sacrifícios são
realizados com o intuito de liberar a energia vital dos animais, que são transferidas a
entidades menores, os Iwa que possuem relação com as forças da natureza, dão
93 PEIXOTO, Gualter. O Grimório Voodoo: Daomé (Benin), Haiti e New Orleans. 1. ed. 2016. p. 18-19;
52-53; 74-85. Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/386139077/O-Grimorio-Voodoo-pdf>.
Acesso em: 22/05/2020.
94 Ibid. Acesso em: 22/05/2020.
95 Ibid. Acesso em: 22/05/2020.
43
como alguém importante capaz de modificar e melhorar a vida de quem o procura, por
ser um ouvinte digno e por trazer a prosperidade 99.
A sociedade enxerga aquele que possui o dom de ser um Obeah, como um
curador, com habilidades únicas, fitoterápicas, sensitivos, capazes de darem a proteção
necessária, seja com suas aptidões ou por meio de objetos especiais, contra algo
maligno ou que faz o mal na vida das pessoas 100.
A conexão com a vida após a morte era muito intensa, uma vez que os escravos
antigamente viam-se diante de situações que poderiam levar a essas situações. A
religião em si confortava seus adeptos, sendo libertador essa conexão espiritual, uma
vez que da perspectiva africana os processos de vida são envolvidos perpetuamente
com os processos de morte101.
Fonte: Amino102
Fonte: REGGAESPOTLIGHTS103
características naturais, para que não sejam pegos de surpresas, caso tenham que
sofrer alguma punição por algum inconveniente.
Os deuses cultuados são divididos pelos elementos naturais (ar, fogo, terra-
Gron e água - Watra, céu – Tapu, florestas - Busi Gado’s) que representam uma
posição central personificada, tendo a necessidade de corresponderem a um deus
supremo de nome Keyaman Kedyanpon. Quando esses deuses se conectam com o ser
humano, sua consciência é desatrelada do seu ser.
Fonte: CNNBA104
Fonte: La1ere105
Quando você mistura as suas raízes a algo que não é sua herança, você perde
o vínculo com a religião porque você está que- brando com a tradição e
desrespeitando aqueles que lutaram e lutam para preservar as nossas raízes
africanas. É por isso que na nossa casa não é permitido entrar elementos que
não sejam os que vieram com os nossos ancestrais africanos, e em outras
casas, isso é permitido, por isso que o nosso nagô é puro, porque preservamos
as nossas raízes, aquilo que os nossos ancestrais nos deixaram para que a
gente desse continuidade do mesmo jeito que eles deram. 107
usam, com referência direta a cor do orixá cultuado conhecido como Iansã ou da
própria religião de Santa Barbara (vermelho e branco)108.
Importante destacar que o quesito para as mulheres integrarem a esse grupo é
serem virgens (não é destinado a todos, as rainha Taieiras não precisam seguir esse
quesito), não optando mais seguir esse fato, deixam de participar do grupo. A maioria
pertencente à religião é de descendência negra, assim como na época da escravidão,
situação que trouxe vários africanos para a região.
No Rio Grande do Sul, conforme Dante de Laytano (1984, p. 198) batuque não
é apenas uma dança nem deve ser reduzido a uma festa ou “simplesmente
uma cerimonia coreográfica”, mas pode ser usado como sinônimo de “religião
Fonte: PORTACURTAS114
111 COSTA apud GOMES, Flavio. Religiões Negras No Brasil: da escravidão à pós emancipação. São
Paulo: Selo Negro, 2016. p. 296.
112 BRASIL ESCOLA. Batuque Gaúcho. Disponível em:
<https://brasilescola.uol.com.br/religiao/batuque-gaucho.htm>. Acesso em: 14/06/2020.
113 SPERONI. Acesso em: 14/06/2020.
114 PORTACURTAS. Batuque Gaúcho. Disponível em:
<http://portacurtas.org.br/filme/?name=batuque_gaucho>. Acesso em: 14/06/2020.
50
115 RAFAEL SOL. Cabula, uma palavra morta por representar a religião africana. Disponível em:
<https://rafaelsol.wordpress.com/2014/05/14/cabula-uma-palavra-morta-por-representar-o-religiao-
africana/>. Acesso em: 14/06/2020.
116 ISSU. Edição 66 do jornal Aldeia de Caboclos. Disponível em:
<https://issuu.com/jornalaldeiadecaboclos/docs/janeiro_2018_28_pags-issuu>. Acesso em: 14/06/2020.
51
Ilustração 10 – Cabula, Espiro Santo. Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina.
Fonte: AMINOAPS118
O Candomblé, uma das religiões mais antigas, tem seu nome originário de um
termo muito falado em uma nação, a Bantu, tem como significado a palavra batuque, ou
também como o clima de festividades seja de cunho religioso ou não, realizado nas
senzalas, em momentos de folga como descontração.
É uma herança cultural africana, trazida pelos escravos que aqui se
estabeleceram na época da escravidão. Aqui no Brasil a religião que cultua as
divindades (inquices, orixás e vuduns) precisou ser readequada para ser aceita e
mesmo com as mudanças não perdeu seus conceitos, fundamentos tradições e
liturgias.
119 MAURICIO, George. O Candomblé bem Explicado: Nações Bantu, Iorubá e Fon. Rio de Janeiro:
Pallas, 2011.
53
Fonte: AMINOAPS120
121 WILGES. Irineu. Cultura Religiosa: As religiões no mundo. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2014. p.129.
55
existência dos fluidos conhecidos como vibrações, que influenciam os seres vivos
sendo eles bons, ruins, negativos e positivos.
A religião acontece por meio de um ritual de feitios, que estão presentes os
sacrifícios, oferendas e obrigações aos orixás, espíritos e exus, tanto para pedir quanto
para agradecer.
122 MATRIZ AFRICANA. Lançamento da primeira Associação de Umbanda da Bahia acontece nesta
semana em Salvador. Disponível em: <https://matrizafricana.com.br/index.php/2019/09/04/lancamento-
da-primeira-associacao-de-umbanda-da-bahia-acontece-nesta-semana-em-salvador/>. Acesso em:
14/06/2020.
56
Fonte: PINTEREST123
Não só aqueles que iniciam no Candomblé, recebem esse status, mas sim
aquele que através de moral, evoluções e conhecimentos adquiriu a chave da porta
eterna.
Os seus ritos são direcionados aos homens que foram figuras importantes,
quando vivos, para a sociedade que cultua a religião e continua sendo para aqueles
presentes. A morte é a forma de manter sua individualidade e sua importância perante
a sociedade. Ressalta-se que apenas a figura masculina faz aparições, pois apenas os
homens possuem o privilégio da individualidade, para as mulheres é negado tanto o
atributo quanto o fato de participar diretamente do culto.
Os Eguns são cultuados socialmente, por meio de rituais em locais apropriados,
como templos, conduzido por um sacerdote conhecido como Ojé, que porta um cajado
(ixã), que quando tocado algumas vezes na terra, combinado a palavras, cantigas e
gestos, é invocado da morte para a vida, diferente do que ocorre com os orixás. Além
disso, ressalta-se que existem várias qualificações de um Egum.
A sua figura aparecem em torno de um mistério, assim como mostram as
imagens acima, sempre cobertos de panos que formam a roupa conhecida como eku,
com tiras coloridas, búzios, espelhos, bordados, de modo que a pessoa que está em
baixo dos panos fique irreconhecível, causando um impacto visual grande.
O culto de Ifá é originário das religiões africanas, mais específico a iorubá. Com
o tráfico negreiro, consequentemente essas culturas foram transportadas para o Brasil e
Caribe e junto com elas, sacerdotes conhecidos como babalaô e bokono, ligados ao
Candomblé e Santeria.
Quando cultuado há um rígido e complexo sistema, que se relaciona com a
conduta moral de quem pratica, onde surgem os dezesseis mandamentos de ifá. Esses
mandamentos se relacionam em como os sacerdotes precisam se portar baseado na
ética e boa-fé.
Possuindo três sistemáticas diferentes (Opelê, Ikins e Merindilogun), é destinada
para decisões de cunho religioso ou social. O nome Ifá é referente a um oráculo
africano, sendo um sistema de adivinhações originário da áfrica, comum entre os
iorubaś.
O jogo de Ikin é utilizado de forma obrigatória, variando de cada babalawo,
compondo 16 nozes de dendezeiro ikin, manipuladas com a finalidade de s configurara
o signo do Odú a ser interpretado e transmitido a diante. A determinação é dada pelo
número de ikin que sobra na mão esquerda, em que será transcrito a Opon Ifá sobre o
pó Iyerossún, determinando o signo de Odu da pessoa.
O Opele-Ifá é um colar feito de palha-da-costa ou fio de algodão, contendo oito
metades de fava de opele, sendo um instrumento divino dos sacerdotes tradicionais de
Ifá. Já o jogo de Opele-Ifá é o mais realizado por ser o mais ágil e simples, para que
num único lançamento do rosário, apareçam as figuras necessárias para que o Odú
seja formado.
O Meridilogun é conhecido como um método diferente de jogo de búzios,
ocorrendo a interpretação das caídas dos búzios por Odú de acordo com a mitologia
dos iorubás. Antes do arremesso o Ifá é intermediário, a partir do momento que eles
caem o Exu Elegbá, que o acompanha sempre, assume o papel. As caídas são lidas e
respondidas e transmitidas a partir dos búzios abertos e fechados resultantes dos
arremessos.
59
Fonte: AMINOAPS125
As entidades caboclas mais antigas foram as inimigas na época em que não ser
cristão era ser herege e que apenas o catolicismo era tido como religião oficial.
É comum ter na encantaria personagens, principalmente dos folclores das mais
diversas regiões, sendo brasileiros como boto, curupira, saci ou não. Também há
relatos de experiências sobre encantamentos, de pessoas que experimentaram a
morte, para conseguirem em vida se encantarem na flor da jurema. Ou ainda que da
mesma maneira que os encantados podem fazer o bem, podem fazer o mal na mesma
proporção.
O culto é baseado em divindades que encarnam em terra, do mesmo modo dos
deuses africanos, para quem pratica e cultua a religião o encantado não é um Egum,
por exemplo, humano que faleceu e perdeu seu corpo físico, mas sim aquele presente
entre nós de outra forma ou maneira, sendo por meio de um animal, pela fauna ou flora
e entre outros meios imperceptíveis.
Para os indígenas, os encantados possuem o papel de cura, não acreditam que
seja alguém morto, mas sim que se transformou para um bem maior e social. Um
encantando conhecido entre os indígenas é o Avati, herói Guarani, que se transformou
em milho salvando sua nação da fome.
Fonte: G1126
126 G1. Cultos à encantaria são celebrados com festas para as caboclas Herondina e Mariana.
Disponível em: <https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2018/10/01/cultos-a-encantaria-sao-
61
Omoloko, palavra de origem iorubá, que possui o significado Omo igual a filho
Oko referente a fazenda/zona rural (de culto) ou a outro fato interessante que seria ao
Orixá Okô, muito cultivada antigamente, deusa da agricultura. A religião afro-ameríndia
brasileira surgiu como uma ritual no Brasil na época da escravidão. Assim como outros
rituais religiosos do mesmo tempo, por conta da sincretização ocorrida, apresenta
características que unem aspectos indígenas e africanos aos santos católicos, pois a
religião católica naquele tempo era obrigatória a todos 127.
Relata-se que os ritos eram realizados nas matas ou em locais mais complexos,
justamente para que os donos das fazendas não os encontrassem ou que houvesse
alguma repressão policial pela prática, que sob os olhos da sociedade era ilegal 128.
Destaca-se que o uso do nome dos Orixás é em iorubá, inclusive tudo que se
relaciona a ele. Tudo isso é feito através do jogo de búzios ou ifá. Suas cerimônias
eram feitas normalmente em noites de lua cheia em baixo de uma árvore frutífera bem
farta129.
Segundo o próprio organizador do culto Tancredo Da Silva Pinto, a religião
chegou ao Brasil do sul da Angola, onde era praticado por um grupo conhecido como
Lunda-Quiôco que ficava as margens de um rio que lhes provia alimentos nos período
das cheias130.
Tancredo, também conhecido como Tata Ti Inkice ou como seu nome religioso
Folkétu Olórofe foi um dos defensores do direito de reunião, daqueles que são
pertencentes a religiões afro-brasileiras. Além de criar várias festas destinadas aos
orixás em locais diferentes, em suas viagens pela Federação dos umbandistas, também
criou a primeira sociedade que defenderia os direitos de culto dos afro-brasileiros131.
Fonte: G1134
135 FERRETTI1, Mundicarmo. Cura e Pejelança em terreiros do Maranhão (Brasil). Disponível em:
<https://pt.scribd.com/doc/32949928/Cura-e-Pajelanca>. Acesso em: 25/03/2021.
136 Ibid. Acesso em: 25/03/2021.
137 ARENZ, Karl Heinz. São e salvo: a pejelança da população ribeirinha do Baixo Amazonas como
desafio para a evangelização. Quito: ABYA YALA, 2003. p. 49-52. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/document/477018828/Heinz-Sao-e-salvo-Pajelanca-em-Amazonas>. Acesso em:
25/03/2021.
138 ARENZ, loc. cit. Acesso em: 25/03/2021.
139 ARENZ, loc. cit. Acesso em: 25/03/2021.
64
pela doença, tudo feito a partir de um ritual sagrado, por meio de um processo
terapêutico conjuntamente com uma experiência mística 140.
Os encantados possuem várias categorias e vivem nas florestas e rios. Os mais
conhecidos são o curupira, anhagá e o boto. Um tipo de doença que é muito temido
entre eles é a panema, que gera uma incapacidade temporária em grávidas ou
mulheres menstruadas141.
Todas as entidades são respeitadas e cultivadas para que não interfiram de
forma negativa, na vida daqueles que praticam a religião, pois os espíritos agem de
acordo com as intenções que são depositadas neles 142.
O pajé visto como especialista religioso, quando lida com os encantados, conta
com a ajuda de alguns companheiros chamados de cavalheiros ou caruans para
controlar a desordem e toda doença143.
Destaca-se que Pajelança é herança negra e precisa ser estudada e analisada a
partir desse ponto em diante. Outro fato interessante é que a intensa repressão levou
os curandeiros a se afastarem das cidades grandes, se atrelando ao tambor de mina ou
umbanda, escondendo suas próprias identidades. O movimento negro que
supervalorizou tanto a cultura quanto a religião, meio em que os pajés e curadores
estão sendo reconhecidos, mais valorizados e bem vistos. Procedimentos como a
sabedoria popular, por exemplo, que são muito utilizados nesses rituais pelos negros,
que também não eram bem vistos, quando compatíveis com a ciência também
obtiveram louvor144.
Nesse ritual o que mais se destaca é a composição de 95% (noventa e cinco por
cento) ser composto pelo sexo feminino. Os 5% (cinco por cento) do sexo masculino
são destinados aos tambores, abatazeiros, atividades do próprio culto como sacrifício
de animais de quatro patas ou transporte de obrigações. É raro, mas algumas casas
podem ser dirigidas por alguém do sexo masculino com a presença de homens nas
rodas dançantes150.
A Casa das Minas é única, seguem cânticos da própria língua jeje e só recebem
divindades voduns. Já os terreiros de tambor de mina possuem realizações de festas
da cultura popular, que muitas vezes são requisitadas pelas entidades que gostam de
celebrar Bumba-meu-boi, Divino Santo Espírito, Tambor de Crioula e outras. Além
disso, são comuns outros grupos se juntarem as tais atividades para homenagear os
voduns, para pedir proteção e participar das danças 151.
Os toques são feitos com cabaças e três tambores de madeira, com couro e
batidos com aguidavis. O culto é organizado e dirigido por mulheres, cada vudunis só
recebe uma entidade e todos dançam com roupas parecidas 152.
Em São Luís, os terreiros construídos na época da escravidão a Casa das Mina
Jeje que consagram o vodum Zomadonu e a Casa de Nagô que consagram o orixá
(além de outros orixas, voduns, gentis, fidalgos, caboclos, tobossis, meninas
personagens do folclore maranhense) Xangô uma e outra continuam em atuação 153.
A Casa Nagô possui pequenas diferenças da casa das Minas, o culto é
organizado e dirigido também por basicamente por mulheres, porém cada uma recebe
duas ou mais entidades, suas vestimentas são parecidas com as da Casa das Minas.
Cantam em jeje, nagô e em português acompanhados de dois atabás tocados sobre
cavaletes e também por cabaças, em algumas casas pode haver um tabor longo de
madeira com couro em um dos lados apenas (comum nos terreiros do Maranhão) 154.
Esse modelo de Casa Nagô foi se difundindo nos terreiros de São Luís, surgindo
outros semelhantes e derivados dele. Ressalta-se que em ambas as casas há uma
presença forte do catolicismo, e as entidades são organizadas em famílias 155.
Fonte: AMINOAPS156
A nação Xambá residia na região norte dos Ashanti e também nos limites da
Nigéria com Camarões, até serem trazidos como escravos para o Brasil. Em meados de
1920 o chefe espiritual Arthur Rosendo Pereira por perseguição policial precisou sair da
cidade onde vivia, passando a morar em Recife onde reiniciou suas atividades como
zelador de orixás158.
Com as atividades em dia passou a iniciar vários filhos de santo, os quais
inclusive estavam aptos até para abrir terreiros. No meio deles estava Maria das Dores
da Silva que fez sua iniciação em 1927 com Arthur e acabou assumindo o terreiro
ficando conhecida como Maria Oyá159.
Por conta de uma severa repressão policial em 1938 a casa de Xambá precisou
fechar e no ano seguinte Maria Oyá faleceu devido a uma depressão muito forte, porém
o terreiro continuou suas atividades até meados de 1950 160.
Apenas um ano depois dos acontecimentos, na estrada do Cumbe, a Mãe Biu
abre um terreiro, no Portão do Gelo em Olinda o qual permaneceu dirigido pela mesma
por 54 anos até seu falecimento em 1993. Após sua morte o terreiro foi sucedido por
Donatila Paraíso do Nascimento, conhecida por mãe Tila até 2003, que também faleceu
e por último pelo Pai Ivo (filho de Mãe Biu), que permanece na direção da casa até
hoje161.
Segundo o Portal da Cultura Pernambucana houve a criação de um memorial a
Mãe Biu, após sua morte devida sua importância para religião e também para o
conhecimento populacional, com acervo histórico e documental da casa. O próprio Pai
Ivo relata, quando entrevistado após ter ganhado o título de Patrimônio Vivo de
Pernambuco:
Paraíso da Silva – Mãe Biu). A ideia foi minha, mas Antônio Albino, Hildo Leal e
João Monteiro (seus filhos de santo) foram quem organizaram tudo.162
No memorial estão reunidas mais de 800 fotos com todas as festividades dos
anos 20/30 aos anos 90 do terreiro e também da vida particular da Mãe Biu, além dos
documentos como atas, registros de filiados, obrigações religiosas, nomes de Orixás,
artigos de jornais, revistas e outros que complementam a coleção dedicada
carinhosamente a ela163.
O herdeiro do terreiro de Xambá ainda reflete sobre o quão importante foi a
caminhada da sua mãe em ter cultivado a cultura do Xambá:
Fonte: XAMBA167
passar do tempo foi se espalhando pela região e os demais estados como o reflexo da
cultura afro nordestina. Após seu falecimento a casa passou por seus vários filhos que
mantiveram as tradições170.
Essa religião é considerada uma nação por uma característica simbólica em seus
cultos aos Orixás, onde ocorre a sucessão de regência das casas, nos rituais de Bori e
Yaô em que os filhos novatos precisam passar e também pela presença de cargos que
ajudam as atividades da casa171.
Os terreiros em sua maioria são regidos por zeladores, mas se salienta que as
casas mais tradicionais são fundadas por mulheres. Os papeis de ambos os sexos
masculinos e femininos são bem definidos no culto, porém os primeiros possuem mais
espaço e as segundas vem logo atrás acompanhando 172.
Percebe-se muita semelhança do Xangô de Recife com o Ketu, onde a nação
mantém as mesmas formas de cultos ensinados por antepassados permanecendo a
tradição. Os instrumentos mais utilizados são os ilús e a diferença entre seus rituais são
como os orixás se manifestam e dançam durante a roda do xirê 173.
Além dos orixás tradicionais como Exu, Ogum, Odé, Obaluayê, Oxumaaré, Nanã,
Ewá, Obá, Oxum, Yemanjá, Xangô Oyá, Oxalá ainda se cultua Iroko e Logum Edé174.
Fonte: AMINOAPS175
serviços do Rei, que pensava mais em patrimônios do que garantir paz àqueles que
encontrassem a graça nos céus com Deus 178.
Na época, a atividade principal em destaque, foi o cultivo da cana-de-açúcar que
logo se expandiu e necessitou de um controle mais intenso. Na experiência de uma
administração mais efetiva dos impostos houve a criação do Governo-geral com sede
na capital da Bahia, fundando-se Salvador179.
Nesse período também chegaram as primeiras missões jesuíticas que
contribuíram para o surgimento do primeiro bispado no Brasil, ou seja, fora instituído
com efetividade e em definitivo o catolicismo no Brasil colônia180.
A produtividade de açúcar ficou tão intensa que a mão de obra deixou a desejar,
insuficiente. Houve a necessidade de escravizar os índios, tarefa essa difícil, mas
necessária também para servirem as grandes fazendas. Com o passar do tempo, mas
especificamente no início do século XVI, essa escravização indígena foi substituída
pela do negro africano, uma vez que Portugal já era especializado no tráfico negreiro
mesmo antes de colonizar o Brasil181.
Dessa maneira, até o final do século XIX em que o Brasil se tornou República e
houve a abolição da escravatura, os portugueses se beneficiaram da mão de obra
escrava negra com fins econômicos 182.
Para elencar a origem das religiões afro-brasileiras, é necessário apresentar o
encontro de três tipos de religiões que entraram em contato nesse tempo de
descobrimento descrito acima. Primeiramente a religião católica do colonizador, a
crença dos que aqui já habitavam que eram os indígenas e também a bagagem cultural
e religiosa trazida com aqueles que foram obrigados a se instalarem no país como
escravos vindo de todos os cantos da África183.
Ressalta-se que os colonizadores portugueses foram considerados os maiores
dos impérios negreiros, durante o tempo que perdurou o escravismo na America.
Estima-se que no mínimo quatro milhões de africanos foram traficados para o Brasil,
mas que esse número era muito maior quase cinco vezes mais, tendo em vista que
eram trazidos escondidos para não pagarem impostos, sem contar do número de
crianças nascidas em cativeiro184.
Era extremamente comum estupro cometido contra escravas, pelos senhores de
engenho e por escravos reprodutores quando obrigados pelos mesmos. As crianças
que nasciam, geravam em torno de quarenta a cinquenta escravos a mais, que
basicamente já estavam condenados desde o ventre de suas genitoras 185.
A violência extrema imperava para que esses escravos trazidos de longe
virassem católicos ou protestantes. Precisaram se adequar ao meio fazendo com que
suas divindades africanas se enquadrassem também, mesmo que escondidas nos
santos do catolicismo, assim como suas festas africanas que foram aparentemente
confundidas com as do calendário cristão. O negro criou suas formas de resistência e
identidade no Brasil camuflado no cristianismo, que era a religião obrigatória da
época186.
Os africanos arrastados obrigatoriamente para a portuguesa eram de nações e
civilizações diferentes, com culturas, tradições, línguas, hábitos, religiões totalmente
diferentes, a única coisa em comum que possuíam era a dor da submissão aos seus
senhores, expatriamento, erradicação de seus países e consequentemente a
escravidão sofrida187.
A nação banto que vieram de Congo, Mina, Cabinda e Angola trouxeram consigo
o culto aos seus ancestrais, dos espíritos da natureza que são conhecidos como nkices
e também dos espíritos dos mortos. Essa nação era muito perspicaz, habilidosa e com
grande inclinação artística, foram criadores da capoeira e do famoso samba 188.
Já os sudaneses possuíam influencia do grupo iorubá, jeje e fon e junto deles
trouxeram o culto da ancestralidade a Egungun e Gelede. A parte do grupo jeje possui
como tradição do culto aos voduns e a do grupo iorubá as divindades da natureza,
184 DOMEZI, Maria Cecilia. Religiões na História do Brasil. São Paulo: Paulinas, 2005. p. 73-76.
Disponível em: <https://pt.scribd.com/read/405701160/Religioes-na-Historia-do-Brasil>. Acesso em:
26/03/2021.
185 DOMEZI, loc. cit. Acesso em: 26/03/2021.
186 DOMEZI, loc. cit. Acesso em: 26/03/2021.
187 DOMEZI, loc. cit. Acesso em: 26/03/2021.
188 DOMEZI, loc. cit. Acesso em: 26/03/2021.
76
denominadas orixás. O culto iorubá foi o que acabou tendo mais adesão entre todas as
etnias189.
Destaca-se que era praticamente inconcebível os negros criarem laços entre si,
pois a distribuição dos mesmos foi pensada para que a comunicação falhasse. Porém
em alguns lugares houve contatos mais fortes, que escapavam da vigilância dos
senhores. Que foi o caso da Bahia, onde havia um maior número de negros bantos,
mas com o tempo o cenário mudou e foram aglomerando jejes e iorubás, mas a religião
local acabou sendo respeitada e seguida por aqueles que iam se instalando. Esses
grupos se uniram por laços religiosos, formando o que podemos chamar hoje de
candomblé190.
Em tempos de colônia holandesa na cidade de Pernambuco, escravos quando
possuíam folgas praticavam suas danças que eram consideradas sagradas ao seu
povo, ao toque de atabaques, chocalhos, cabaças, reco-reco era a religião conhecida
como Xangô. A dança acompanhada de música era uma forma de exercitar seus ritmos
e também de cultuar a própria religião 191.
Outra cerimônia praticada pelos negros escravizados ao escurecer, era o
calundu. Os escritores, curiosos, poetas chamavam de baile de bárbaros. Evidencia-se
que os batuques eram encontros de negros com cantos, danças e tambores que ficam
o mais distante possível da esfera pública por conta da repressão Estatal e da Igreja,
mas sabe-se que sempre encapou a observação dos brancos. Mesmo assim, não
demorou muito para as perseguições contra os praticantes se disseminarem por medo
de união e revolução contra os senhores e alta classe social 192.
Era por meio dessas reuniões que os negros recriavam, mesmo que no contexto
brasileiro que precisavam se adequar, suas tradições e as praticas do vasto e intenso
universo cultural e religioso africano. Junto deles participava também a parte branca
paupérrima da sociedade193.
Por volta de 1768 a situação ficou mais tensa, os batuques e tudo de cunho
religioso fora proibido, a mando de um governador pernambucano e seguido pelo
ministro, o qual considerava desonesto àquele que tocasse o instrumento ou praticasse
qualquer dança que ele mesmo declarava como supersticiosa194.
Os negros para não terem uma identidade esquecida, agarraram-se na ideia de
aproveitarem os dias e festas dos santos católicos, para cultuarem seus deuses. Após
muita insistência da Igreja para que todos fossem liberados aos domingos e em dias de
santos, que eram pequenos lapsos no calendário, conseguiram com que nascessem os
reisados, mais conhecidos como reinados do Congo (conhecidos também como
congadas, afoxé, taieira, reinado, maracatu, cucumbi, cabinda, moçambique e
outros)195.
200 MENEZES, Suelen. A força da cultura negra: Iphan reconhece manifestações como patrimônio
imaterial. Disponível em:
<www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1232:reportagens-
materias&Itemid=39>. Acesso em: 26/03/2021.
201 ABADIA, 2010. p. 45. Acesso em: 26/03/2021.
202 COSTA, 2015.
203 CULTURA. Patrimônio cultural: o que é? Disponível em: <www.cultura.al.gov.br/politicas-e-
acoes/patrimonio-cultural/principal/textos/patrimonio-cultural-o-que-e>. Acesso em: 26/03/2021.
204 Id. Acesso em: 26/03/2021.
79
211 SANTOS, Joel Rufino dos (Org.) Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Nº 25,
1997. p. 6-10. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/RevPat25_m.pdf>. Acesso
em: 26/03/2021.
212 SANTOS, loc. cit. Acesso em: 26/03/2021.
213 SANTOS, loc. cit. Acesso em: 26/03/2021.
214 SANTOS, loc. cit. Acesso em: 26/03/2021.
215 SANTOS, loc. cit.. Acesso em: 26/03/2021.
82
liberdade através da formação de quilombos, que eram locais afastados como serras ou
em florestas, onde se reuniam negros fugitivos de localidades próximas 225.
Esses quilombos existem em várias localidades do Brasil, abrigando
afrodescendentes que passavam a ter a vida organizada a sua maneira. Um dos mais
conhecidos foi o Quilombo dos Palmares, mesmo sem muitas informações de sua
organização interna, localizado em Pernambuco, ocupando uma área grande226.
O quilombo dos Palmares é o que se tem mais informações cujo era mais
desenvolvido também, conta-se que por mando do Governador da época, fizeram uma
busca contra os negros da Guiné que se escondiam nesse quilombo, pois cometiam
assaltos e correrias na região. Houve grandes invasões contra o quilombo, a última em
1694 derrotou os quilombolas e destruiu o quilombo dos Palmares 227.
Esse não foi o único quilombo no território alagoano, mas sim o mais importante.
Também há relatos de inúmeros quilombos na Bahia, talvez pela enorme quantidade de
entrada de escravos pelo local. Em Minas Gerais, Mato Grosso, também se
expandiu228.
As condições de escravo não permitiam o negro ascender, uma vez porque não
possuíam meio nem acesso para melhorarem suas situações ou as de seus
consanguíneos. A ascensão poderia ocorrer se o senhor apoiasse ou emancipasse o
escravo, que era raríssimo, mas foi o caso de André Rebouças e de Juliano Moreira, na
época do Brasil República229.
O primeiro se tornou engenheiro, tendo suas obras nos salões sociais acolhidos
da melhor maneira, apesar da sua pele escura. O segundo virou cientista, médico, um
dos primeiros a dar assistência aos doentes mentais, com significativo reconhecimento
nos nomes mais relevantes da medicina brasileira230.
Outra mestiça notável por seus estudos sobre os negros no Brasil, fora Nina
Rodrigues, pois a partir de seus estudos na área da medicina legal, passou a se
desenvolver pesquisas sobre inúmeras contribuições de afro-brasileiros231.
Mesmo que sua obra seja marcada por alguns preconceitos que eram comuns
na sua época, seus estudos eram extremamente relevantes e ainda são para a cultura
negra. Ainda no campo científico temos Tobias Barreto que tentou projetar a influência
germânica no pensamento brasileiro232.
Já nas letras, ainda contemplado até a atualidade, temos Machado de Assis,
mesmo que em toda a sua obra tenha projetado esquecer suas origens, pelo meio
cultural em que vivera233.
Neste mesmo campo, fora mais frequente o número de negros presentes como
Luís Gama e Cruz e Souza filho de escravos, reconhecido como um dos maiores
poetas do seu tempo, que homenageou sua genitora em uma de suas poesias de nome
“a mais linda pretinha”. Relata-se que nem todos os poetas descreviam seu cotidiano
ou dedicavam seus versos a suas origens, muito deles faziam relatos de gente branca e
de mulheres desejadas de pele bem clara, como Caldas Barbosa, Silva Alvarenga e
Teixeira e Souza234.
Essa situação explica o processo de tentativa de inserção do negro africano e de
seus herdeiros na sociedade brasileira. Esse tipo de situação é comum até hoje em que
o negro se relaciona com pessoas brancas para enfim se sentir inserido socialmente.
Ademias, por mais astuto que o negro seja o branco sempre exercerá um ar ou senso
de inferioridade sobre ele, essa maneira foi articulada melindrosamente, mexendo
profundamente com o psicológico dos mesmos, para que o eles permanecesse ainda
dentro da ordem colonial do branco235.
Poetas ou escritores de cor foram José Patrocínio com destaque na campanha
abolicionista, Gonçalves Crespo, Lima Barreto, Laurindo Rabelo, Gonçalves Dias,
Manuel Querino, B Lopes e outros. Os poetas brancos que em grande maioria se
voltam ao negro e ao seu sofrimento, com exceção de Jorge Lima o que mais retratou o
elemento negro no meio social brasileiro236.
Destaca-se Carolina Maria de Jesus, romantista, ex-catadora, que descreve sua
vivência na favela, que na data de 25/02/2021 aclamada por unanimidade, no conselho
universitário da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) ganhou o título póstumo
de doutora honoris, pela obra Quarto de Despejo. A honraria Honoris Causa é o mesmo
que “por causa de honra” é dada àquela(e) independente da sua formação educacional,
devido ao destaque por suas virtudes, méritos ou atitudes 237.
A época do barroco em Minas Gerais, Pernambuco, Maranhão, Bahia e em
outros locais mesmo que de forma menor, foi onde o negro encontrou a oportunidade
de revelação do seu espírito criativo. A figura do Aleijadinho, chamado Antônio
Francisco Lisboa, Valentim da Fonseca e Silva, Miguel da Cunha 238.
Na contemporaneidade esse caminho se estreita apenas alguns nomes
aparecem como Heitor dos Prazeres pintor e músico, Ana ceramista, José Maria de
Souza pintor e gravador, Deoscorides Maximiliano de Sousa escritor e escultor, Agnaldo
Manoel dos Santos escultor, Hélio de Oliveira xilogravor, o que não exclui vários outros
representantes. Nem sempre os artistas apresentam sua obra ou trabalho direcionado
ao negro em si, mas sempre contribuem expressando elementos negros 239.
No campo musical pode-se elencar que desde o tempo colonial, haviam
escravos que compunham o grupo de bandas musicais, é o que se conhece sobre
Felisberto Caldeira Brant, Thomas Lindley que possuíam bandas compostas por
negros. Outro exemplo é a composição da banda de negros e índios localizada no Rio
de Janeiro, avistada pelo viajante Martius em 1817. Essas pessoas eram treinadas por
pessoas que já tinham conhecimento na área há muito tempo 240.
alfabetização e iniciação cultural para negros, seminário com grupo terapia, curso de
artes plásticas e outras252.
O teatro folclórico brasileiro fundado por Solano Trindade e Haroldo Costa
originou o grupo Brasiliana, composto por negros e mulatos, convertido depois em
ballet, que entrou em tournée pela América do Sul, África do Norte e Europa. Já o
Teatro Popular Brasileiro levou seu grupo com seus espetáculos fenomenais à Polônia
e a Tcheco Eslováquia no Festival de Varsóvia253.
Santos de Morais ainda realçou o negro como tema principal na sua peça “Rei
Zumbi”, que traz a narração do quilombo dos Palmares e sua destruição, além da
trágica morte do chefe Zumbi. Por fim temos Tereza Santos e Eduardo de Oliveira que
apresentam no Teatro do Museu de Arte de São Paulo, “E agora Falamos de Nós”,
contando a história da vida do negro brasileiro, desde a vinda da África até os dias
atuais254.
O negro teve sua glória no cinema após 1960, mas infelizmente não houve uma
saga de filmes ou um cinema direcionado a ele. A sua participação teve três fases,
primeiro acompanhando os padrões americanos, em que o negro ficava em segundo
plano, quase sempre ausente. A segunda fase o negro até surge como um sujeito, mas
do ponto de vista do branco, sendo aquele de pele escura, mas de alma branca, esse
período é marcado por “Grande Otelo” com suas comédias na música. E por último,
mas não menos importante, filmes direcionados a adversidades relacionadas aos
negros com a intenção de vasculhar a essência desses problemas 255.
No cinema brasileiro apenas o que se conhece são atores, mas nenhum técnico
especialista em si capaz de realizar grandes filmes. É curta a relação de filmes de
negros ou sobre negros, temos “Moleque Tião” de 1943, “A escrava Isaura” de 1949
(primeira versão de 1929), “Também Somos Irmãos” de 1949, “Rio 40 Graus” e “Rio
Zona Norte” de 1955 e 1957, “Sinhá Moça” de 1953, “Orfeu de Carnaval” de 1959,
“Aruanda” de 1960, “Barravento” de 1962, “Ganga Zumba” de 1963, “Bahia de Todos os
juntavam para resistir em cumprir com as condições impostas por intolerância religiosa.
Muitos associavam o ensino da cultura indígena e afro-brasileira a pratica do culto de
tais religiões, por isso também não se sentiam confortáveis em passar os conteúdos
impostos, criando assim um embate entre gestores e professores 261.
Destaca-se que o conhecimento dessas culturas e o incentivo das
mesmas abririam caminhos vastos para muitos autoconhecimentos, pois várias pessoas
ainda possuem dificuldades de se encontrarem socialmente, de autodeclararem sua
própria cor, origem e outras questões mais profundas 262.
263 Campanha em Defesa da Liberdade de Crença e Contra a Intolerância Religiosa. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/document/27671573/cartilha-contra-intolerancia>. Acesso em: 26/03/2021.
264 Ibid. Acesso em: 26/03/2021.
265 Ibid. Acesso em: 26/03/2021.
93
266 Campanha em Defesa da Liberdade de Crença e Contra a Intolerância Religiosa. Acesso em:
26/03/2021.
267 Ibid. Acesso em: 26/03/2021.
268 Ibid. Acesso em: 26/03/2021.
269 Ibid. Acesso em: 26/03/2021.
270 Ibid. Acesso em: 26/03/2021.
271 Ibid. Acesso em: 26/03/2021.
272 Ibid. Acesso em: 26/03/2021.
94
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o
livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
locais de culto e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas
entidades civis e militares de internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em
lei.273
manifestação religiosa. Limites excedidos. Recurso ordinário não provido. RHC 146303 - Recurso
Ordinário em Habeas Corpus. Relator: Edson Fachin. Brasília, 06 de março de 2018. Disponível em:
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur388361/false>. Acesso em: 26/03/2021.
275 Campanha em Defesa da Liberdade de Crença e Contra a Intolerância Religiosa. Acesso em:
26/03/2021.
276 BRASIL15. Supremo Tribunal Federal. HABEAS-CORPUS. PUBLICAÇÃO DE LIVROS: ANTI-
SEMITISMO. RACISMO. CRIME IMPRESCRITÍVEL. CONCEITUAÇÃO. ABRANGÊNCIA
CONSTITUCIONAL. LIBERDADE DE EXPRESSÃO. LIMITES. ORDEM DENEGADA. HC 82424 –
Habeas Corpus. Relator: Moreira Alves. Brasília, 17 de setembro de 2003. Disponível em:
<https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?base=acordaos&pesquisa_inteiro_teor=false&sinonimo=tru
e&plural=true&radicais=false&buscaExata=true&page=1&pageSize=10&queryString=hc%2082424&sort=
_score&sortBy=desc>. Disponível em: 26/03/2021.
277 Ibid. Disponível em: 26/03/2021.
278 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL1. HABEAS CORPUS 82.424-2 RIO GRANDE SO SUL. Disponível
em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=79052>. Acesso em:
27/04/2021.
96
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão, nos termos da lei;289
constitucionais para os que praticam esses delitos, que é total repulsividade tanto social
quanto nacional296297298.
No Brasil, nos últimos vinte anos aproximadamente, manifesta-se uma irritação
por parte das igrejas neopentecostais contra religiões afro-brasileiras. Processo esse,
que tem se intensificado para países latino-americanos, como Uruguai e Argentina para
onde o candomblé e a umbanda têm se expandido 299.
Esses ataques ocorrem por inúmeros motivos, disputas de adeptos, o tipo de
cruzada que as igrejas adotam com investimentos em alta nos meios de comunicações
e também pelo fato de não aceitarem o jeito que os rituais se desenvolvem votados
para entidades300.
Antes esses casos de intolerância eram sem repercussões, hoje com o grande
volume ganham visibilidade área pública conforme vão se espalhando pelas mídias. A
reação dos mesmos também era tímida e resguardada, atualmente se fazem processos
criminais que vão adiante tanto por pessoas físicas como instituições públicas 301.
Para um aprofundamento com relação a esses ataques, foram recolhidos
informações dos últimos anos, com base em informações coletadas na empresa e
também na literatura acadêmica302.
Os ataques realizados no local das praticas de rituais das igrejas
neopentecostais e de seus meios de divulgação e de proselitismo possui a iniciativa de
que o gerador de todos os males presentes no nosso mundo pode ser devido à
presença do demônio que é associado aos deuses de outras religiões 303.
Segundo os próprios fiéis, caberia somente a eles, dar prosseguimento a obra
que fora iniciada por Jesus Cristo, de combater esses demônios. O alvo principal
desses ataques é o panteão afro-brasileiro, em sua linha de Exu que por ignorância é
atrelada ao demônio304.
Dentro das igrejas neopentecostais, é comum a prática de exorcismo ou como
também pode ser chamada de descarrego pela Igreja Universal do Reino de Deus
(IURD). Entidades são chamadas para que haja uma incorporação, em seguida são
enxotadas como maneira de liberação do próprio fiel 305.
Esses ataques não ficam apenas nos locais de culto, também se entendem para
programas religiosos televisivos como Show da Fé, Fala Que Te Escuto e outros. É
comum em vários desses programas, dramatizações com usos de símbolos e
elementos de religiões afro-brasileiras, que são utilizados de forma errônea, retratando
que esses meios espirituais possuem fins maléficos para amarrações, destruição de
lares e relações amorosas, proliferação de doenças e outros 306.
O que são bastante comum também nesses programas, testemunho de pessoas
que eram de religiões afro, confirmando a maldade em volta dos cultos praticados e
hoje se convertendo para Iurd. A rede de comunicação não para só no meio televisivo,
incluem ainda programas de rádio, sites na internet e materiais com divulgação voltada
para a religião307.
Envolvidos por essa crença, os neopentecostais invadem terreiros com a
finalidade de quebrar altares e imagens, exorcizar os praticantes que ali se encontram o
que quase sempre termina em agressão física. Umbandistas frequentadores do Centro
Espírita Irmãos Frei da Luz, localizado no Rio de Janeiro foram alvos de apedrejamento
por participantes de uma Iurd situada ao lado. Uma aderente da Tenda Espírita de
Antônio de Angola, no bairro Irajá no Rio, foi mantida em cárcere privado por dois dias,
numa igreja evangélica com o objetivo de que a mesma renunciasse sua religião e se
convertesse obrigatoriamente ao evangelismo308.
A capital da macumba, como é conhecida Salvador ou Sodoma e Gamorra da
Magia Negra, pelo neopentecostais uma mãe de santo teve sua casa invadida, por
adeptos da Igreja Internacional da Graça de Deus que jogaram sal grosso e enxofre
tanto no local, quanto nas pessoas e em seus automóveis que ali se encontravam
durante a cerimônia309.
Na capital maranhense, São Luís tivera notícia que fiéis da Assembleia de Deus
que residiam no mesmo bairro que o terreiro Justino, acusaram os integrantes de
sequestro, de um filho de um casal que frequentava a igreja. Acreditavam que o bebê
teria sido pego para oferenda ou sacrifícios de rituais do terreiro. A polícia foi chamada
e mesmo sem mandado judicial vasculhou cada centímetro do templo, incluindo as
instalações dos iniciados, geladeira e carros estacionados no quintal. A investigação só
não foi adiante, pois os sequestradores da criança foram encontrados 310.
Muitos pastores possuem ainda a estratégia de se instalarem em bairros que os
terreiros são em quantidades significativas para estabelecerem prazos do fechamento
desses. No bairro Engenho Velho situado em Salvador, possui cerca de dezenove
terreiros de candomblé que são famosos por suas tradições, porém o confronto com os
evangélicos vem sendo ardente. As igrejas evangélicas organizam passeatas para
intimidar os seguidores que consideram ser do satã, em resposta o povo de santo sai
as ruas vestindo branco que é a cor de Oxalá (Jesus Cristo) e da paz311.
Outro meio que vem sendo frequente são ataques que dificultem as atividades
dos terreiros. Na Cidade de Tiradentes-SP, uma mãe de santo reclamou de um carro de
som, contratado por uma igreja neopentecostal que rondava suas imediações
exatamente na hora de seus cultos. O carro parava na frente ou circulava
insistentemente no local para anunciar as sessões de descarrego realizadas em sua
própria igreja312.
Quando as festas de orixás, oferendas, procissões são realizadas em locais
públicos, os seguidores dessas ficam ainda mais expostos a ataques que vão de
entrega de panfletos aos presentes com propagandas contra esses cultos até a
tentativa forçada de interromper o que estão fazendo. No meio de uma devoção a
Yemanjá no Rio de Janeiro, neopentecostais pregaram contra a homenagem a rainha
dos mares, por meio de alto-falantes e destruíram todas as oferendas a ela. O mesmo
aconteceu na Quintana da Boa Vista, quando neopentecostais quebraram imagens
além de terem queimado roupas de santo 313.
Os símbolos das religiões afro colocados em locais públicos podem ser
atacados. A revitalização do Dique de Tororó rendeu várias criticas de igrejas
evangélicas, pois incluiu instalação de esculturas de orixás, que condenaram tal ação
ao culto de uma religião entrelaçada ao mal, diabólica. Fora argumentado que as
imagens de orixás pertencem a cultura baiana, antes de serem associadas às religiões
afro, assim como possuem outras figuras espalhadas por edifícios, ruas e praças,
sendo seus nomes utilizados para identificar estabelecimentos culturais e comerciais 314.
A oposição é tão intensa, que a diretora de uma escola no bairro Stella Maris,
precisou mandar pintar a figura artística que representava um orixá que tinha naquele
edifício por pressão dos pais, que pertenciam a religião evangélica cujos filhos
frequentavam a escolinha. Em São Paulo, na Praia Grande a escultura de Yemanjá
recebeu várias tentativas de depredação, quando fora agredida e se tem registro 315.
Todo e qualquer símbolo do patrimônio africano brasileiro, mesmo que não
tenham vínculo com a religiosidade, mas que de alguma maneira aludam as religiões
afro-brasileiras são condenados e dizimados. No Rio de Janeiro, houve um
esvaziamento da bateria mirim da Toca o Bonde, por influência direta das igrejas
neopentecostais. As crianças foram retiradas da ONG, pois seus pais alegaram que o
samba estaria vinculado ao culto do satanás e a escola de samba pertenceria ao
capeta316.
Outro lado, que desqualifica esses símbolos são as incorporações que as
praticas evangélicas exercem, apartando-os de suas relações com as religiões afro-
brasileiras. Dessa forma surge a capoeira de Cristo, gospel ou evangélica, com o tema
direcionado para Deus, possuem até encontros nacionais de capoeiristas evangélicos.
Nota-se que há conexão direta entre Deus como ancestral que está ligado ao
candomblé. Mais um exemplo é o acarajé do Senhor feito por mulheres evangélicas,
que tentam dissociar o alimento das imagens das baianas em Salvador, conhecidas
nacionalmente pelo comércio do acarajé como tradição, com suas vestimentas brancas
e seus colares de conta317.
A mais recente decisão do Ministério da Educação aderiu a inclusão da História e
Cultura Afro-Brasileira nas escolas de ensino, como meio de inclusão social, cultural e
histórica. Porém quando colocado livro de religiões africanas ao lado de livros de
religiões hegemônicas tem gerado protestos, não só por aqueles que possuem
preconceitos em dar a aula, por pertencer a religião evangélica, mas também chegou a
Câmara da cidade de Pato Branco-PR, em que um vereador, e pastor evangélico
denominou a obra como livro de lúcifer. Ressalta-se que o livro fora avaliado pelo Guia
do Plano Nacional do Livro Didático318.
Há uma crescente de candidatos evangélicos ou de aliados a mesmas igrejas,
igual no exemplo acima, que se aproveitam do poder e influência que possuem para
articularem ações contra o campo religioso afro. No estado do Rio Grande do Sul, por
intensa pressão desses políticos junto à sociedade protetora dos animais, com o código
de proteção desses, tentam coibir os sacrifícios ritualísticos do candomblé. Frente a
esses ataques, as reações de religiosos afro-brasileiros e seus seguidores eram
praticamente insignificantes, apesar de hoje em dia os movimentos contra terem
crescido, ainda estão longe de baterem de frente com algo articulado e preciso frente à
organização dos evangélicos, que se empenham cada vez mais de ocuparem lugares
estratégicos nos meios de comunicação e poderes legislativo e executivo 319.
O ponto inicial da reação começou com protestos realizado por Átila Nunes,
deputado estadual e umbandista que solicitou providências ao ministro da justiça em
1981. Edir Macedo fora processado por vilipêndio, calunia e difamação, ocasionando
um breve alívio e contentamento nos anos de 1990 320.
Mas não durou muito, a Iurd ao vivo num programa televisivo em meados dos
anos 90, agrediu a imagem de Nossa Senhora Aparecida, colocando a igreja
neopentecostal em uma posição horrível, tal episódio ficara conhecido como “chute na
santa”321.
Esse ataque serviu para demonstrar que quando é direcionada ao catolicismo a
sua eficácia é reduzida, fato que não ocorre com ataques as religiões afro-brasileiras
que necessitam ir a justiça para tentar conseguir o mínimo de respeito 322.
Na Bahia é onde se concentram o maior número de registro de reações, nos
últimos anos foram cerca de duzentas reclamações e processos por atacarem terreiros,
seus membros, por afirmarem em rede serem religiões atreladas ao mal, distribuírem
folhetos sobre e outros fatores. O Ministério Público tem uma atuação importante,
mesmo com a lentidão dos processos brasileiros e mesmo com tais dificuldades os
resultados têm sido favoráveis aos adeptos das religiões afro-brasileiras. Outra
estratégia de resistência dos afro-brasileiros tem sido buscar amparo no movimento
ecumênico, colocando em pauta que os ataques neopentecostais são dirigidos a outras
religiões também, sobretudo a católica323.
Ainda que recente a união de religiosos afro-brasileiros, movimento negro,
ONG’s, acadêmicos, pesquisadores, políticos, advogados, promotores e outros, aposta
mais uma vez na garra e capacidade de resistência e reação desses assédios
criminosos com muito mais eficácia324.
O foco seria o planejamento de luta contra esses ataques com o próprio modelo
adotado, usando seu armamento de acordo com seus princípios e principalmente com a
maior visibilidade possível principalmente na mídia, dentro da política melhorando tanto
sua imagem quanto sua legitimidade socialmente 325.
Expondo a palavra tolerância nota-se a ligação intensa e profunda que a mesma
tem com a liberdade religiosa, uma vez que uma de suas direções tem a analise da
liberdade religiosa em grande amplitude, dizendo respeito a outrem. A Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, conhecida também como
qualquer ato que seja discriminatório com intenções religiosas, terá como consequência
a reclusão de um a três anos e multa 330.
Outro fator significativo foi a inclusão do parágrafo terceiro ao crime relacionado
a injúria, acrescentando uma figura discriminatória ou preconceituosa que possui o
objetivo de ofender a honra daquele que possui uma religião específica, por meio de
elementos utilizados em seus cultos 331.
Não obstante, a intolerância pode chegar a níveis de extremas evidências, como
por exemplo, o genocídio, com dolo de dizimar determinado grupo religioso, se não
todo, mas em parte, sendo enquadrado na lei nº 2.889/56332.
A liberdade religiosa teve uma grande conquista, evoluindo conforme a
sociedade, mesmo com as imposições governamentais de diferentes ideologias. Em
seu conceito mais simplório traz consigo toda sua luta contra toda intolerância,
clamando respeito para seus próprios direitos e para os alheios, independente de qual
religião seja, pois o respeito deve permanecer mutuo entre todas as religiões. A maior
busca é da harmonia, reprimindo todo preconceito pelo caminho, para que os
extremismos não se sobreponha aos direitos constitucionalmente garantidos 333.
330 BRASIL5. Lei Nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989. Define os crimes resultantes de preconceito de
raça ou de cor. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm>. Acesso em:
27/04/2021.
331 FERREIRA. Acesso em: 27/04/2021.
332 BRASIL4. Acesso em: 27/04/2021.
333 FERREIRA, op. cit.. Acesso em: 27/04/2021.
106
E ainda argumenta:
A ligação do demônio por pessoas com essas religiões, além de ser uma
oposição ao sacrifício também é um preconceito com determinado sistema de crenças.
Manifesta acima de tudo falta de estudos e conhecimentos, pois todas as religiões
antigas possuem esse enraizamento, que fora praticado em algum momento da
história. Independente da religião, todas devem ser respeitadas e a partir desse
conceito, devem buscar soluções plausíveis para que o sacrifício seja aceito ou
regulamentado, de acordo com as leis em harmonia com as religiões 342343.
O sacrifício normalmente é praticado por quase todas as religiões de matrizes
africanas, exceto pela Umbanda em que essa prática é raramente encontrada. Há uma
troca intensa de energias do praticante da religião com o animal, que funciona como um
descarrego quando o bicho vem a óbito. Existe outro tipo de sacrifício quando o animal
é sacrificado como oferenda para o Orixá. Cada orixá possui seu animal, o pato, por
exemplo, pode ser ofertada a Yemanjá, galinha para Exu (após o ritual o animal pode
ser consumido pelos devotos e seu couro utilizado para confecção de instrumentos
musicais)344.
Esse tipo de oferenda é realizada apenas em regra uma vez ao ano na festa do
próprio Orixá, repleta de flores, frutas, frutos e outros meio para que se possa
descarregar uma pessoa. No candomblé, por exemplo, o sangue não significa apenas
vida, mas uma energia elementar, no caso dos animais sacrificados, o sangue e as
vísceras possuem o papel de produzirem axé, energia vital 345.
O animal pode ser sacrificado apenas por aquele que possui a permissão do seu
próprio Orixá para tal, normalmente é o sacerdote, porém o mesmo pode buscar auxílio.
Quando um sacerdote sacrifica um animal, ele está em transe, o que facilita para que o
mesmo não agonize gritando, como se ele soubesse e aceitasse seu destino. Os
animais mais utilizados são os de cativeiro346.
Art. 2º - É vedado:
I - ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de
experiência capaz de causar sofrimento ou dano, bem como as que criem
condições inaceitáveis de existência;
II - manter animais em local completamente desprovido de asseio ou que lhes
impeçam a movimentação, o descanso ou os privem de ar e luminosidade;
III - obrigar animais a trabalhos exorbitantes ou que ultrapassem sua força;
IV - não dar morte rápida e indolor a todo animal cujo extermínio seja
necessário para consumo;
V - exercer a venda ambulante de animais para menores desacompanhados
por responsável legal; VI - enclausurar animais com outros que os molestem ou
aterrorizem;
110
VII - sacrificar animais com venenos ou outros métodos não preconizados pela
Organização Mundial da Saúde - OMS -, nos programas de profilaxia da
raiva.347
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em
animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem
recursos alternativos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. 349
347 RIO GRANDE DO SUL. Lei Estadual Nº 11.915 de 21 de maio de 2003. Institui o Código Estadual
de Proteção aos Animais, no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul. Disponível em:
<www.ufrgs.br/bioetica/11915an.htm>. Acesso em: 26/03/2021.
348 RIO GRANDE DO SUL. Decreto nº 43.252 de 22/07/2004. Regulamenta o art. 2º da Lei nº 11.915,
de 21 de maio de 2003, que institui o Código Estadual de Proteção aos Animais. Disponível em:
<www.legisweb.com.br/legislacao/?id=154525>. Acesso em: 26/03/2021.
349 BRASIL8. Lei Nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
111
Depois dessa decisão, fora interposto pelo Ministério Publico do Rio Grande do
Sul o RE 494.601, distribuído a instância do Supremo Tribunal Federal. O julgamento
fora iniciado em 09 de agosto de 2018, até que foi suspenso pelo pedido de vista do
Ministro Alexandre de Moraes. O relator deu seu voto parcial pelo provimento do
354 LIMA, Mathias Cavalari de. A legalidade do sacrifício de animais em cultos religiosos. 64 f.
Monografia (Graduação) – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais, Universidade Regional do
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí, 2019. Disponível em:
<https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/bitstream/handle/123456789/6519/Mathias%20Cavalari%20d
e%20Lima.pdf?sequence=1&isAllowed=y#:~:text=Finaliza%20analisando%20o%20Recurso%20Extraordi
n%C3%A1rio,permite%20o%20sacrif%C3%ADcio%20ritual%20de>. Acesso em: 26/03/2021.
355 SACRIFICIO DE ANIMAIS EM RITUAIS RELIGIOSOS: Comentários a Jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal. Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/393310306/Sacrificio-de-Animais-em-
Rituais-Religiosos>. Acesso em: 26/03/2021.
114
são particulares para cada família, cidade e região, possam ser cultuados. O chefe
mora com sua mulher principal e os filhos da mesma nos aposentos principais e as
demais esposas moram com seus filhos. As áreas comuns são a cozinha, para lazer,
trabalho artesanal e armazenamento. A família cultua o orixá do chefe masculino,
divindade que ele herda e que é o orixá principal de todos os filhos. Cada esposa cultua
o orixá da família do seu pai que é o segundo orixá de seus filhos. Cada reunião é
diferente, pois os orixás podem não ser os mesmos, devido à herança materna. A
família possui culto comum a Exu, que estabelece comunicação entre os planos deste
mundo e dos deuses. Cultuam orixás que protegem a cidade, que são os da família do
rei, os orixás do mercado, centro econômico e de sociabilidade da cidade.
O chefe da família é o chefe do culto, iniciando entre os membros da família que
devem receber a divindade em transe. O mesmo acontece com os orixás secundários.
O candomblé brasileiro possui a mesma estrutura que a família iorubá, o culto é
dirigido por um chefe, masculino ou feminino, que possui a máxima autoridade e o orixá
dele é o comum da comunidade que frequenta. São construídos templos ou quartos
destinados para cada um dos orixás ou famílias de orixás e a hierarquia é copiada da
família iorubá em que s mais jovens devem respeito aos mais velhos.
Práticas como raspagem da cabeça para o ingresso da passagem iniciática na
religião, ou ingresso de meninas na puberdade, o uso de escarificações de origem tribal
e familiar, são costumes do cotidiano africano, que foram incorporados no Brasil. São
considerados como fundamentos sagrados que não devem ser esquecidos nem
mudados, assim como dormir em esteiras, comer com as mãos, dançar descalço,
prostra-se para cumprimentar mais velhos e outros.
Quando reconstruído, o candomblé fez com que não houvesse separação de
aspectos familiares, sociais, simbólicos que antes eram totalmente ausentes por
imposição do branco. Esta herança baseada em família passou a ser a crença de cada
um sendo descendente de um orixá de herança paterna, que era adivinhado pelos
chefes do terreiro, acompanhado da ideia de um o segundo orixá que era a
representação da herança materna.
Toda essa representação criada foi aproximadamente durante um século e hoje é
tomada como a referência mais completa para o negro brasileiro.
115
[…] tem uma coisa de história pra gente principalmente, a gente não está no
livro de história oficial e o candomblé e uma maneira incrível da gente se
conhecer. Então eu não acho que todos os pretos do mundo precisam ser
adeptos do candomblé, mas ele tem que ter um respeito muito grande pela
religião, principalmente como uma das únicas narrativas que não foram
destruídas pela escravidão. Que foram interrompidas, mas que foram
reconstruídas devido a força ancestral que elas tem. Então eu olho muito para o
candomblé também como um livro de história aberto, aonde você tem todos os
Orixás e aquilo fala muito de pluralidade pra mim. Aquilo fala muito o porque o
candomblé na África é outra coisa, na Nigéria é outra coisa, em Cuba é outra
coisa, nos Estado Unidos praticamente não existe, porque o tambor também foi
crime lá durante muito tempo.356
O candomblé se alastrou num fluxo grande e rápido por todo o país, deixando de
ser exclusivo dos negros, a música baiana se consumiu nacionalmente, a comida
baiana ou feita nos terreiros foi para todos os lugares e mesas e assim
sucessivamente357.
A Bahia felizmente não bastou para os curiosos, que tiveram a ideia de voltarem
a África em busca de novas fontes, mais originais que as já vistas e preservadas por
aqui por aqueles que descenderam de negros escravos. Se antes símbolos e
características que faziam a cultura brasileira ser o que ela é, eram tachados de
exóticos, primitivos, pejorativos neste momento passou a ser incorporado como
habitual, próximo e cotidiano358.
Inclusive a música popular brasileira que era branqueada, passou a incorporar as
batidas que se aproximavam da percussão dos terreiros de candomblé. As escolas de
samba desfilavam inúmeras vezes os orixás nas avenidas, a televisão tanto na notícia
quanto na ficção direcionava suas notícias aos deuses vistos em giras, aos jogos de
búzios e tudo que e relacionava a cultura que passou de minoria para consumo
social359.
Essa valorização cultural negra veio junto com a formação de movimentos
negros, avivando a questão da origem e identidade negra, que se questionam e são
questionados sobre sua condição africana e afrodescendente, mesmo depois de
séculos de miscigenação e branqueamento tanto físico quanto cultural. Os artistas
possuem um pouco mais de facilidade para incorporar em seus trabalhos a África
brasileira, mas a grande maioria se interessa em delinear a sua própria origem negra 360.
A problematização é que o negro no começo focou em sobreviver e precisou
aceitar as condições do colonizador branco europeu, isso consequentemente fez com
que esquecesse suas origens. Só depois da abolição da escravatura que teve um
357 PRANDI, Reginaldo. De africano a afro-brasileiro: etnia, identidade, religião. REVISTA USP, São
Paulo, n.46, junho/agosto, 2000. p. 8-14, Disponível em:
<https://pt.scribd.com/document/241187611/identidade-afro-brasileira-pdf>. Acesso em: 26/03/2021.
358 Ibid. Acesso em: 26/03/2021.
359 Ibid. Acesso em: 26/03/2021.
360 Ibid. Acesso em: 26/03/2021.
117
movimento efetivo, mesmo que os negros cultivassem seus deuses a traves das
imagens dos santos católicos, muito se foi perdido 361.
O poeta estadunidense Steven White, nos últimos anos estudou a poesia
brasileira produzida por negros como Oliveira Silveira, Edimilson de Almeida Pereira,
Ricardo Aleixo, Lepe Correia e outros e relatou a imensa procura dos mesmos pela
identidade negra, africana, que acaba por necessidade tendo que ser reinventada
através da própria religião, sendo fonte brasileira por memórias das origens africanas. O
que orienta a construção dessa identidade para o autor seria a própria cultura brasileira
reinventada e não a que se perdera devido a circunstancias.
Ressalta-se que é comum em países com histórias marcadas por genocídio e
extrema violência ter a conservação da narrativa das vítimas acompanhado da
existência de museus para que a história não se repita. Aqui a sociedade brasileira age
de forma totalmente diferente, museus pegam fogo assim como ocorreu em 2018
quando o Museu Nacional fora tomado por um incêndio e tudo se transformou em
cinzas.
Ruas, Avenidas e escolas homenageando escravistas, torturadores da ditadura
militar. O Brasil é um país que esquece, de maneira rápida e profundas histórias
importantes como as das etnias africanas e indígenas que carregaram o nosso país nas
costas, e sempre nos é oferecido migalhas em troca.
O fato narrado diz respeito à cultura do esquecimento, que contribui para que a
sociedade não construa senso crítico, se mantendo do jeito que sempre foi achando
que tudo está bem. Percebemos no próprio dia a dia quando tudo que aprendemos
sobre a África remete a escravidão e que os que aqui permaneceram aceitavam as
condições que viviam.
Foi decretado, após muitos anos de discussões e reivindicações de movimentos
negros brasileiros, a lei 10.639/03 que está em vigor há 18 anos, obrigando o ensino
público e privado, incluírem no seu currículo oficial, “a história da cultura afro-brasileira
e africana” nas escolas362.
O racismo, ao longo dos séculos, têm criado estratégias para manter os negros
brasileiros à margem dos direitos devidos a todos os cidadãos, sobretudo os
negros que se reconhecem descendentes de africanos, que se negam deixar
assimilar por ideias e conhecimentos depreciativos de tudo que vem da
sabedoria construída a partir de suas raízes. Infelizmente, pessoas e
instituições ignorantes das civilizações e culturas africanas continuam
fomentando e renovando atitudes, posturas racistas e desigualdades entre
negros e não-negros. Por isso, foi necessário que se estabelecesse uma
política pública com o intuito de corrigir disparidades, começando por garantir a
todos os brasileiros, igual direito a sua história e a cultura.
Não se trata apenas de oferecer conteúdos “referentes à participação do negro
para o desenvolvimento da sociedade brasileira”. O Parecer CNE/CP3/2004
esclarece com precisão que a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura
Afro-brasileira e Africana não visa tornar os brasileiros mais eruditos, mas
reeducar as relações étnico-raciais a fim de que todos – descendentes de
europeus, asiáticos, africanos e povos indígenas – valorizem a identidade, a
cultura e a história dos negros que constituem o segmento mais desrespeitado
da nossa sociedade.364
não aguentando. Sua filha após os acontecimentos, moveu uma ação contra a Igreja
Universal do Reino de Deus(Iurd), por danos morais, e uso indevido de imagem,
ganhando a causa366367.
Em homenagem, foi instituído o Dia Nacional de Combate A Intolerância
Religiosa se comemora na data do seu falecimento, 21 de janeiro, dando visibilidade a
luta pelo respeito a todas as religiões 368369.
Destaca-se que fora colocado tais palavras chaves como “intolerância religiosa”
e “africanização” nas buscas dos tribunais nacionais, encontrando apenas 6 resultados
no STF, de modo a demonstrar que o direito não é mecanismo de aparato para
africanizar a liberdade religiosa brasileira.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
370 CATANA, Thiago Oliveira; AMARAL, Sergio Tibiriçá. Liberdade religiosa e seus conflitos. Acesso
em: <https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/direitos-humanos/1550/liberdade-religiosa-seus-
conflitos>. Acesso em: 27/04/2021.
371 Ibid. Acesso em: 27/04/2021.
122
da morte cruel, a morte que decorre de práticas levianas. Como não há nenhuma lei
que proíba o sacrifício de animais para alimentação humana ou o simples sacrifício de
animais domésticos (sem meios cruéis) pode-se, com base no princípio da legalidade
assegurado no art 5º, II, da CF/88, defender o sacrifício ritual de animais domésticos ou
domesticados criados para este fim, finaliza o professor 372373374375.
REFERÊNCIAS
COSTA, Haroldo. Arte e cultura Afro-brasileiras. 1. ed. São Paulo: Novas Direções,
2015.
DOMEZI, Maria Cecilia. Religiões na História do Brasil. São Paulo: Paulinas, 2005.
Disponível em: <https://pt.scribd.com/read/405701160/Religioes-na-Historia-do-Brasil>.
Acesso em: 26/03/2021.
G1. Cultos à encantaria são celebrados com festas para as caboclas Herondina e
Mariana. Disponível em: <https://g1.globo.com/pa/santarem-
regiao/noticia/2018/10/01/cultos-a-encantaria-sao-celebrados-com-festas-para-as-
caboclas-herondina-e-mariana-em-santarem.ghtml>. Acesso em: 14/06/2020.
LEITE, Thiago. Não chuta, que é macumba: o que o STF decidiu acerca do sacrifício
de animais em rituais religiosos? Disponível em:
<https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/nao-chuta-que-e-macumba-o-que-o-stf-
decidiu-acerca-do-sacrificio-de-animais-em-rituais-religiosos>. Acesso em: 27/04/2021.
LEMOS, Walter Gustavo. Uma análise da decisão da ADI 4983/CE sob a perspectiva
do Bem Viver. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/59552/uma-analise-da-
decisao-da-adi-4983-ce-sob-a-perspectiva-do-bem-viver>. Acesso em: 27/04/2021.
MAURICIO, George. O Candomblé bem Explicado: Nações Bantu, Iorubá e Fon. Rio
de Janeiro : Pallas, 2011.
MIGALHAS. Negros são vítimas de condenações que tem foto como prova, afirma
juiz: Projeto "Justiça para os inocentes" da OAB/RJ mostra que 70% dos acusados
injustamente por falhas no reconhecimento fotográfico são negros. Disponível em:
<www.migalhas.com.br/quentes/336217/negrps-sao-vitimas-de-condenacoes-que-tem-
foto-como-prova--afirma-juiz>. Acesso em: 25/03/2021.
PALO MAYOMBE. The tales of the Palo Mayombe and the Santeria. Disponível em:
<www.palomayombe.org/the-tales-of-the-palo-mayombe-and-the-santeria/>. Acesso
em: 22/05/2020.
PEIXOTO, Gualter. O Grimório Voodoo: Daomé (Benin), Haiti e New Orleans. 1. ed.
2016, p. 18-19; 52-53; 74-85. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/document/386139077/O-Grimorio-Voodoo-pdf>. Acesso em:
22/05/2020.
PINHEIRO, Maria Cláudia Bucchianeri. O respeito, pelo poder publico, aos dias de
guarda religiosa: a realização de exames de vestibular, concursos públicos e provas
escolares em dias sagrados de descanso e orações. in MAZZUOLI, Valério de Oliveira;
SORIANO, Aldir Guedes (coords). Direito a liberdade religiosa: desafios e
perspectivas para o século XXI. Belo Horizonte: Fórum, 2009, p. 276. apud GABRIEL,
2018.
RODRIGUES, Luiz Otávio Pereira; OLIVEIRA, Ingrid Santana; REIS, Maria Clareth
Gonçalves. Desafios na implementação do art. 26-a da LDB 9.394/96 na educação
infantil. Disponível em: <http://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/42422>. Acesso
em: 27/04/2021.
RAFAEL SOL. Cabula, uma palavra morta por representar a religião africana.
Disponível em: <https://rafaelsol.wordpress.com/2014/05/14/cabula-uma-palavra-morta-
por-representar-o-religiao-africana/>. Acesso em: 14/06/2020.
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição, 5. ed. São Paulo:
Malheiros, 2008, apud LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São
Paulo: Saraiva, 2014.
SUPER ABRIL. 12 religiões afro que se espalharam pelas Américas. Disponível em:
<https://super.abril.com.br/historia/12-religioes-afro-que-se-espalharam-pelas-
americas/>. Acesso em: 22/05/2020.
Educa%C3%A7%C3%A3o-Ci%C3%AAncia-e-Cultura/declaracao-de-principios-sobre-a-
tolerancia.html>. Acesso em: 27/04/2021.
UOL. 'Soul' é um filme racista? Pixar faz história com seu 1º protagonista negro.
Disponível em: <www.uol.com.br/splash/noticias/2020/12/27/soul-e-um-filme-racista-
pixar-faz-historia-com-seu-1-protagonista-negro.htm>. Acesso em: 26/03/2021.
WILGES. Irineu. Cultura Religiosa: As religiões no mundo. 20. ed. Petrópolis: Vozes,
2014.