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AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS:
PARAIBANO
PATOS – PB
2007
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me alcançado com sua graça infinita e tido misericórdia de
anos de Seminário.
orações, seja por palavras de apoio e incentivo e que me fizeram conseguir chegar
até este degrau em minha escalada cristã. Meu MUITO OBRIGADO e que Deus
“Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho
ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem
agoureiro, nem feiticeiro; 11 nem encantador, nem
necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos;12
pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR;
e por estas abominações o SENHOR, teu Deus, os lança de
diante de ti. (Deuteronômio 18:10-12)
RESUMO
Este trabalho investiga as origens e desenvolvimento do que hoje
denominamos de “Religiões Afro-brasileiras”. Como surgiram, em que são
fundamentadas, qual o percentual - em relação às demais religiões - de pessoas que
fazem parte dessas religiões, como influenciaram e foram influenciadas pelas
demais culturas que compõem a diversidade cultural do povo brasileiro, e, em
conclusão, como a prática desse credo religioso influencia a religiosidade do sertão
paraibano-brasileiro.
ABSTRACT
This study investigates the origins and development of what we denominate today as
"Afro-Brazilian Religions". How did they commence, what are they based upon, how
do their statistics compare with other religions, how have the diverse Brazilian
cultures affected them and how have they affected these cultures, and finally, how
has the practice of this religious crede influenced the religiosity of the Brazilian
Paraiban backlands.
INTRODUÇÃO
1.1 HISTÓRICO
aos elementos nela presentes. Diversas divindades africanas foram tomando força
na terra dos brasileiros.
Nesse contexto histórico-cultural, surgem, então, as chamadas religiões afro-
brasileiras, que eram, na verdade, novas religiões, diferentes das que praticavam na
África, pois, aqui no Brasil, foram misturadas as tradições de diversas culturas
africanas com os ingredientes do catolicismo romano.
Os trezentos anos da história da escravidão do negro no Brasil, atestam
acima de tudo, a resistência, a organização dos negros. A cultura africana
sobreviveu para o negro através de sua crença, de sua religião. O que se acredita,
se deseja, é mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação limite. A
religião, sua organização em terreiros (roças), foi como muito já se escreveu, a
resistência negra. Resistiu-se por haver organização. A organização consigo
mesmo. Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve, um farol, um guia, um orixá
protetor.
No meio dos objetos traficados (os escravos) haviam “jóias” raras:
Babalorixás e Iyalorixás. Estes sacerdotes, inteiros nas suas crenças, criaram a
África no Brasil. Esta mágica, esta organização reestruturante só é possível de ser
entendida se pensarmos no que é a iniciação , todo processo que implica e
estabelece. A cana de açúcar do Senhor de Engenho era plantada por Iaôs recém
saídos das camarinhas, dos roncós.
A força se espalhou, o axé cresceu e apareceu na sociedade sob a forma dos
terreiros de candomblé. Era coisa de negros, portanto escusa, ignorante, desprezível
e rapidamente traduzida como coisa ruim, coisa do diabo, bem e mal, certo e errado,
branco e preto. Antagonismos opressores, sem possibilidades alternativas.
Havia, de parte dos senhores, das autoridades e da Igreja, um zelo natural
pela conversão dos africanos ao catolicismo, sendo considerado um dever cristão
receberem os mesmos a doutrina, serem batizados e levados à prática da religião
católica. O negro resolveu tentar agir como se fora branco, para ser aceito. Ele
dizia:” - meu Senhor, a gente tá tocando para Senhor do Bonfim, seu Santo, nhô!
Não é para Oxalá, quer dizer, Oxalá é o Pai Nosso, é o mesmo que Senhor do
Bomfim”. Assim se estabeleceu o Sincretismo no Brasil.
Com o objetivo de evitar choques com as autoridades, sem deixar de
preservar na prática do seu culto, os africanos dissimulavam seus otás colocando
sempre à frente deles a imagem de um santo católico que mais se aproximasse -
segundo interpretações individuais - das características do Orixá cultuado. Nasceu,
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com isto, um grande sincretismo dos Orixás com os santos da Igreja. A falta de
sistematização com que se realizou esse ajustamento muito concorreu para que
surgissem as discrepâncias hoje constatáveis. Assim é que diferentes santos da
Igreja são sincretizados num mesmo Orixá.
Muito se perdeu, a terra africana reduziu-se a pequenos torrões, porém o
candomblé era eficaz: o senhor procurava a negra velha para fazer um feitiço, para
que lhe desse um banho de folha, lhe desse um “patuá”.
Em tupi, “patuá” quer dizer caixa, caixão, designando-se com essa palavra
todas as modalidades de magia que dão sorte. Patuás são igualmente os
amuletos "de santos ou do diabo", os primeiros, na maioria, trabalhados
pelos italianos, assim os de Santa Lúcia contra a vista fraca, coração de
Jesus, os do Espírito Santo contra todos os males, e a "figa" contra o mau-
olhado. (CASCUDO, Luís da Câmara. Antologia do folclore brasileiro, p.106-
109).
Assim, de geração para geração, seus rituais vêm sendo adaptados à nossa
cultura, na medida da necessidade. E, ao longo do tempo, ganharam adeptos dentre
os brasileiros de outras raças, conquistando parcela, de certa forma, até expressiva
em nossa população. O fetiche, marca registrada de muitos cultos praticados na
época, associado à luta dos negros pela libertação e sobrevivência, à formação dos
quilombos e à toda a realidade da época acabaram impulsionando a assimilação e a
formação de religiões muito praticadas atualmente - a Umbanda, a Quimbanda e o
Candomblé, as quais têm forte penetração no país, especialmente em São Paulo, no
Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e na Bahia.
seu caráter trickster), Santo Antônio no Rio de Janeiro, São Pedro no Rio Grande do
Sul (aqui entendido como porteiro e mensageiro dos deuses).
Proliferação de terreiros. Massificação, turismo, folclore. Dinheiro.Sincretismo.
Tudo isso, reunidos, formam interessantes “Fenômenos SOCIOLÓGICOS”, que
influenciam, direta ou indiretamente, na vida do povo brasileiro.
Jorge, Cosme e Damião, Iemanjá). "Talvez, a própria missa católica - 7º dia, etc. - já
esteja situando-se, de modo impreciso, entre a 'convenção social' pura e um confuso
'ritual' passivo e não compreendido".
Não se deve esquecer, porém, de que tanto as igrejas pentecostais quanto o
espiritismo têm a vantagem de contar com estruturas acentuadamente aliviadas do
peso hierárquico-piramidal, com a conseqüente homogeneização das classes. Daí
resulta a crescente aproximação entre membros e lideranças. Soma-se a isso a
efetiva rede assistencial que tais organizações têm em mãos, e que fazem
estrepitoso sucesso em meio aos milhões de doentes, abandonados pelos órgãos
públicos (ir-)responsáveis.
Por isso, ser católico e ser brasileiro, apesar do anticlericalismo explícito da
República Velha (1889-1930), praticamente permaneceu como sinônimo. E, com
exceção de solitárias vozes no deserto, a sociedade religiosa instaurada perdeu a
oportunidade de ser “Evangelion”. Não foi uma Boa Notícia para os povos cujos
cuidados assumiram. Não foi, portanto, igreja para eles.
Conforme o censo realizado em 2000, vemos que 73,8% dos brasileiros são
católicos, 15,4% são evangélicos e logo a seguir vêm os sem religião, com 7,3% de
auto-declaração. Somando-se estas três principais religiões, chegamos a um total de
96,5%. Com isso, concluímos que as demais religiões ocupam apenas 3,5% da
população brasileira.
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2.1 O CANDOMBLÉ
templo de sua religião na Bahia, conhecida como Ylê Yá Nassó, casa da mãe
Nassó. (Nassó seria o título de princesa de uma cidade natal da costa da África).
Seria o primeiro terreiro resistindo às opressões católicas. Da casa da mãe Nassó se
originam outros que sobrevivem até hoje, e que fazem parte do grande
CANDOMBLÉ DA BAHIA: o Gantóis, cuja ilustre dirigente foi mãe menininha do
gantóis (falecida em 1986), e o Axé Opô Afonjá, em São Gonçalo do Retiro, que, por
sua vez, deram origem a muitas outras, em cada canto de Salvador, das principais
cidades do interior e de outros estados brasileiros.
2.2 A UMBANDA
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benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a
condição social, não podendo haver ambicioso, vaidoso, mistificadores, pois estes,
mais cedo ou mais tarde, são afastados da Umbanda pelos espíritos de luz. Por tais
razões, os “atendimentos” na Umbanda são totalmente gratuitos.
O sacrifício de animais (oferenda de sangue) nunca foi, não é e nem será
ritual de Umbanda. Não cobrar, não matar, usar o branco, evangelizar e utilizar as
forças da natureza são rituais de Umbanda.
O chefe da casa é conhecido como Pai de Santo e seus filiados são os filhos
ou filhas de santo. O Pai de Santo principia a cerimônia com o encruzamento e a
defumação dos presentes e do local. Seguem-se os pontos, cânticos sagrados para
formar a corrente e fazer “baixar o santo”.
Muitos são os orixás invocados na cerimônia de Umbanda, entre eles Ogun,
Oxóssi, Iemanjá, Exú, entre outros. Também se invocam pretos velhos, índios,
caboclos, ciganos.
A Umbanda absorveu das religiões africanas o culto aos Orixás e o adaptou à
nossa sociedade pluralista, aberta e moderna, pois só assim um culto ancestral
poderia renovar-se no meio humano, sem que a identidade básica dos seus deuses
fosse perdida. A Umbanda é definida pelos umbandistas como “um movimento
mágico religioso”, genuinamente brasileiro, e a sua finalidade primordial como
religião é a de “despertar anseios de espiritualidade na criatura humana”. Para que
esse despertamento se faça, torna-se necessário “um permanente estado de
religiosidade, onde toda vivência é baseada na compreensão e plena sensibilidade
(não sentimentalismo), para com tudo e todos que nos cercam e compõem a
humanidade”.
A umbanda considera o universo povoado de entidades espirituais, que são
chamados de “guias”, os quais entram em contato com os homens por intermédio de
um iniciado (o médium), que os incorpora. Tais guias se apresentam por meio de
figuras como o caboclo, o preto-velho e a pomba-gira. Os elementos africanos
misturam-se ao catolicismo, através do que conhecemos como “sincretismo
religioso”, criando a identificação de orixás com santos. Outra influência sofrida pela
umbanda é do espiritismo kardecista, que acredita na possibilidade de contato entre
vivos e mortos e na evolução espiritual após sucessivas vidas na Terra. Incorpora
ainda, a umbanda, ritos indígenas e práticas mágicas européias.
Na Umbanda o Exú é uma Entidade (alma) que cuida da Segurança da casa
e de seus médiuns.A reunião de Exú ou Gira de Exú tem como finalidade
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É por isso que, muitas vezes, essas entidades solicitam cigarros, bebidas,
alimentos. Cada item pedido corresponde a determinados elementos naturais. Veja
os exemplos:
Água e bebidas não-alcoólicas: Servem para a cura, pois simbolizam a
força, o remédio e o poder gerador.
Bebidas alcoólicas: Pertencem ao elemento Fogo e permitem transmutar as
energias.
Cachimbo, charuto ou cigarro: Une o Fogo, a Água, a Terra e o Ar,
sintetizando, assim, os elementos de todas as linhas.
Sacrifícios – Os sacrifícios de aves e animais é totalmente alheio à
Umbanda.
Agogô - Sineta de ferro dupla, que é acionada pelo alabê para dar início à
cerimônia.
Atabaques (rum, rumpi e lé) - Instrumentos musicais tocados durante as
cerimônias por filhos de santo designados especificamente para essa função.
Barracão - Grande sala, onde ocorrem os rituais, inclusive as cerimônias
abertas ao público.
Camarinha - Pequenos "quartinhos" espalhados pelo terreiro, dentro dos
quais os filhos e filhas de santo se recolhem por ocasião de sua iniciação.
Peji - Altares das Divindades. Nos pejis são depositadas as oferendas.
Alabê - Responsável pelos atabaques e pelo toque do agogô, que marca o
início dos trabalhos.
Axoguns - São os filhos-de-santo encarregados de executar os serviços
sacrificiais. Trabalham sempre sob a supervisão do babalorixá ou da ialorixá
responsável pela casa.
Babalorixá - Chamado também de zelador do terreiro ou pai-de-santo, é o
dirigente dos trabalhos. É sobre ele que recai a responsabilidade pelos trabalhos
espirituais realizados na casa. Aplica-se essa expressão somente para o sexo
masculino.
Ekede - É uma espécie de "monitora". Durante os rituais, ela conduz as iaôs
incorporadas até seus respectivos pejis, e as paramenta com as roupas e as armas
correspondentes ao orixá incorporado.
Ialorixá - Exatamente a mesma coisa que babalorixá, só que neste caso,
trata-se de alguém do sexo feminino. Também é chamada de "mãe-de-santo" ou
zeladora.
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2.3 A QUIMBANDA
2.4 O CATIMBÓ
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2.5 O XANGÔ
2.6 O BABACUÊ
Tem sua origem entre os negros do Daomé (atual Benin) e se baseia em dois
pilares principais: a incorporação dos próprios deuses pelos fiéis e a invocação dos
espíritos dos antepassados, com o objetivo de se fazer consultas oraculares.Essa
crença se disseminou largamente no Haiti, onde ganhou os contornos de uma
religião afro-cristã repleta de mitos supersticiosos e demonstrações exageradas de
força e poder.
No Brasil, esse culto não é tão popular quanto o Candomblé e a Umbanda,
mas conta com um bom número de adeptos, sobretudo na região de São Luis do
Maranhão. Foi lá que, em 1796, foi fundado o culto Mina Jeje, pelos negros fons,
originários de Abomey (à época, capital do Daomé). A família real Fon trouxe
consigo o culto às divindades (voduns, equivalentes aos orixás) e à Serpente
Sagrada, denominada Dan (correspondente ao orixá Oxumaré).
No Maranhão, a sacerdotisa - que equivaleria à mãe-de-santo do Candomblé
- é chamada de “Noche”. Quando o homem ocupa este cargo, recebe a
denominação de “Toivoduno”.
A mais famosa “Noche” da História do culto vodu maranhense foi Mãe
Andresa. Acredita-se que tenha sido a última princesa de linhagem direta da família
real Fon. Morreu em 1954, aos 104 anos de idade.
do Pai Orixá a que está vinculado, de origem natural, o qual rege seu destino.
Os Orixás incorporam nos médiuns (iaôs) sob a condição vibratória. Chama-se esse
transe “virar para o santo”. A primeira vez que ocorre com uma pessoa, denomina-se
“bolar para o santo”.
A incorporação do Orixá, sendo vibratória, não transmite mensagens orais,
como sucede com a incorporação de espíritos desencarnados (chamados, no
Candomblé, de eguns) e com os encantados.
O culto, no Candomblé, é feito exclusivamente aos Orixás.
Quanto à origem dos orixás, uma das lendas mais populares diz que
Obatalá (o céu) uniu-se a Odudua (a terra), e desta união nasceram Aganju (a
rocha) e Iemanjá (as águas). Iemanjá casou-se com seu irmão Aganju, de quem
teve um filho, chamado Orungã. Orungã apaixonou-se loucamente pela mãe,
procurando sempre uma oportunidade para possuí-la, até que um dia, aproveitando-
se da ausência do pai, violentou-a. Iemanjá pôs-se a fugir, perseguida pôr Orungã.
Na fuga Iemanjá caiu de costas, e ao pedir socorro a Obatalá, seu corpo começou a
dilatar-se grandemente, até que de seus seios começaram a jorrar dois rios que
formaram um lago, e quando o seu ventre se rompeu, saíram a maioria dos orixás .
Por isto Iemanjá é chamada “a mãe dos orixás”.
Mas há controvérsias. Em outra versão encontramos que Iemanjá teve três
filhos: Ogum, Exú, Oxóssi. Como os três abandonaram o seu reino, ela foi ficando
sozinha e cada vez mais sozinha e resolveu percorrer o mundo. Chegando em
Okerê, foi admirada por todos do reino por sua beleza e meiguice. Até que o rei se
apaixonou por ela e a quis como sua esposa. Iemanjá negou e fugiu do rei. O rei
colocou seu exército para persegui-la. Na corrida, já estando exausta, Iemanjá cai e
corta os seios criando assim os mares e rios.
dos orixás. Existem muitas lendas que tentam explicar o surgimento dos deuses do
panteão africano, e estas histórias variam de um terreiro para o outro e até de um
pai-de-santo para o outro. Não há possibilidade de se fazer uma verificação
científica ou arqueológica; não há uma fonte autoritativa que leve a concluir se os
fatos aconteceram mesmo ou se trata somente de mitologia, sendo difícil uma
avaliação histórica dos eventos relatados.
ele iria provocar a discórdia, a doença e a morte em geral. Orunmilá determinou que
toda obrigação feita pelos homens a algum orixá, seja dedicada uma parte à Exú e
que esta deve ser servida antes para ele não se irar e causar a discórdia.
Nem precisa ser adepto do Candomblé para vestir roupas brancas na sexta-
feira. Esta já é uma tradição na Bahia, em homenagem ao deus Oxalá que, no
sincretismo, representa Jesus Cristo. A visita ao candomblé, como a qualquer
outro templo religioso deve ser feita com seriedade e respeito, seguindo-se algumas
regras básicas: não trajar bermuda ou roupa de banho; não tirar fotos, gravar ou
filmar os cultos. E muitos outros costumes, trazidos com essa religião afro, já se
incorporaram ao dia-a-dia dos baianos, de todas as raças e classes sociais. A
seguir, destacamos alguns desses exemplos.
Ser baiana de acarajé significa muito mais do que ser uma vendedora
ambulante, com seu tabuleiro, oferecendo os deliciosos quitutes da culinária afro-
baiana. A maioria delas faz esse trabalho como “obrigação de santo”, reverenciando
os orixás que guiam suas cabeças – inicialmente apenas Iansã – e, em troca, tiram
daí o seu sustento e o de suas famílias.
A cada dia, ela está vestida com as cores do santo daquele dia e exibe no
pescoço as guias de contas na cor do santo de sua cabeça e outros orixás dos quais
gosta (ou os quais precisa) reverenciar. A roupa, de origem africana, já se
transformou em marca registrada: a roupa de baiana, com saia rodada, blusa
rendada, pano da costa, turbante, sandália fechada na frente e aberta atrás.
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No início do século, uma jovem freqüentadora do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá,
em Salvador, caminhava em direção a um culto de candomblé quando
percebeu que a polícia a perseguia. Apesar de conhecer bem o caminho, a
moça fingiu estar perdida e rodou a noite inteira a esmo. Despistou os
policiais e evitou que entrassem no terreiro para destruí-lo. Isso aconteceu
com Cantulina Pacheco, mais conhecida pelos baianos como Tia Cantu.
Cantulina nasceu em 1900 e viveu boa parte de sua vida professando o
candomblé às escondidas. Os tempos agora são outros: há duas semanas,
o terreiro que a polícia queria destruir foi tombado como patrimônio nacional,
e sua principal autoridade, uma filha de Oxóssi, é reverenciada como a mãe-
de-santo mais influente do país.
Mãe Stella, desde 1976 a ialorixá suprema no Ilê Axé Opô Afonjá, é
apontada hoje como uma liderança espiritual da estatura de Mãe Menininha
do Gantois. Todos se curvam para beijar as mãos da velha senhora.
Enfermeira aposentada, Maria Stella de Azevedo Santos, 74 anos, é a
quinta matriarca do terreiro. Sob seu comando, o Axé cresceu, ganhou uma
escola onde se ensina a língua iorubá e um museu religioso. "Majestade" - é
assim que os filhos da casa se referem a Mãe Stella. "Desde a morte da
Menininha do Gantois, a importância dessa ialorixá só fez crescer",
reconhece o escritor baiano Ildásio Tavares, autor do livro Nossos
Colonizadores Africanos. É também um dos seguidores do Ilê Axé.
No final de novembro, Mãe Stella comemorou 60 anos de "iniciação" - a
introdução nos ritos do candomblé. O aniversário foi comemorado com o
tombamento do terreiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan). Os festejos não pararam por aí. Na semana passada, sua
"Majestade" foi homenageada com o lançamento do livro Faraimará - O
Caçador Traz Alegria - Mãe Stella 60 Anos de Iniciação. É uma coletânea de
textos sobre a religião e a mulher que fez do Axé uma das casas-de-santo
mais concorridas do país. Entre os freqüentadores, constam o compositor
Gilberto Gil e o escritor Jorge Amado. Entre os simpatizantes, a atriz Sônia
Braga e a cantora Elza Soares. O terreiro já alcançou fama internacional.
Mãe Stella advoga idéias polêmicas, que contrastam com a linha de conduta
de outros terreiros famosos da Bahia, como o Gantois. Ela é contra o
sincretismo religioso - associação entre santos católicos e santos do
candomblé. "O sincretismo enfraquece os dois lados", adverte. A ortodoxia
de Mãe Stella tenta reverter uma tendência detectada a partir dos anos 80: a
diminuição do contingente de seguidores. Entre 1980 e 1991, segundo o
IBGE, os cultos afro-brasileiros não só deixaram de acompanhar o aumento
populacional como perderam cerca de 30mil adeptos.
Uma parte daqueles que freqüentavam terreiros migrou para as igrejas
evangélicas.(grifamos) O fluxo foi medido em pesquisa realizada pelo
Instituto de Estudos da Religião: na primeira metade dos anos 90, 16% dos
adeptos das igrejas pentecostais no Rio de Janeiro haviam migrado dos
terreiros. Segundo Ricardo Mariano, doutorando na Universidade de São
Paulo e estudioso do pentecostalismo, esses números refletem as
pregações constantes de pastores evangélicos contra o candomblé, nas
rádios e TVs. "Os pentecostais acreditam que os orixás são forças
demoníacas. Eles não negam sua existência, mas os combatem", diz
Ricardo Mariano. Evaldo Miranda, um baiano de 27 anos, vive a condição de
neo-convertido. "Meu tio é pai-de-santo e eu era o segundo na hierarquia do
terreiro", conta. Desde 1993, freqüenta a Igreja Batista Lírio dos Vales.
"Encontrei a verdade", acredita.
Mãe Stella ainda espera uma ofensiva do candomblé. Para ela, foi-se o
tempo em que os filhos-de-santo deveriam ficar confinados em terreiros.
"Para que a tradição não morra, é preciso viagens, palestras, estudos e
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todos os bancos se dirigem para o centro, em forma de mandala, são as leigas que
dão a comunhão aos monges. A comunidade também é atípica: duas mulheres hoje
convivem com os monges e, entre esses, há nada menos do que um ex-abade de
Tournay, o irmão Guido de la Chappelle, todos vivendo com total simplicidade.
Honra do Partido dos Trabalhadores (PT) e hoje Presidente eleito da República, Luiz
Inácio LULA da Silva e do então declarado candidato à Prefeitura Nélson Pellegrino.
Paralelo aos festejos religiosos, há ainda a festa "profana", marcada pela
presença de barracas de comidas típicas e bebidas, desde o alto da Colina Sagrada.
A partir de 1998 a parte carnavalesca da festa sofreu uma intervenção imposta pela
Prefeitura Municipal e pela Arquidiocese de Salvador que, numa tentativa de
defender as tradições históricas da comemoração, promoveram um afastamento dos
trios elétricos e caminhões de blocos alternativos que acompanhavam o cortejo
desde a Avenida Contorno, muitas vezes sequer chegando à metade do percurso e
de uma certa forma desviando e desvirtuando o caráter religioso do dia, promovendo
um mini-carnaval com direito a todos os excessos que lhe são peculiares. Mesmo
com as restrições determinadas pela organização da festa, no ano de 2000 a
EMTURSA estimou a presença de 300 mil pessoas nas ruas, acompanhando os
festejos.
Ao contrário do que se pode pensar, a Festa do Bonfim historicamente
sempre teve um cunho profano escandaloso. Assim escreveu Pierre Verger em seu
livro “Noticias da Bahia - 1850, p.30: "O caráter expansivo e alegre dos habitantes da
Bahia, brancos e pretos, se revela nesta lavagem, provocando muitas vezes
excessos de entusiasmo que são às vezes objeto de vivas censuras por parte do
clero". E VERGER cita, na obra, Wanderley Pinho: "Gritos de estimulo surgem entre
os assistentes e o entusiasmo cresce tanto que - o álcool ajudando a combater os
efeitos nocivos da umidade - ao cabo de pouco tempo é uma verdadeira bacanal, da
qual, no dia seguinte, os jornais se queixam e as altas autoridades se indignam".
Por ocasião dessa intervenção, em 1998, falou-se muito que a motivação
para a separação das partes religiosa e profana da festa era devido à postura
conservadora e intransigente de Dom Lucas Moreira Neves, na época Cardeal e
Arcebispo Primaz do Brasil, muito pouco tolerante com os excessos e desvirtudes
que transformavam a tradicional comemoração religiosa num grito de carnaval, num
evento plenamente lucrativo para as empresas do ramo festivo. Muito se comentou
também que era justamente devido a este lucro, que muito pouco capitalizava,
efetivamente, para a evangelização e o comprometimento religioso, que a Igreja se
voltara. Aos poucos a festa perdia o seu caráter religioso, sobretudo para os jovens
da classe média, e esse poderia se tornar um processo irreversível...
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Enquanto isso, a festa cada vez mais envolve a sociedade, atraindo turistas
para Salvador. Por oportuno, vejamos como o jornal CORREIO DA BAHIA, em sua
edição de 13.01.2005, noticiou o evento:
Igreja do Bonfim passa por últimos retoques para receber hoje devotos
e turistas
Dentro do coração do Senhor do Bonfim e de Oxalá não cabem apenas
católicos e adeptos do candomblé. Os braços do Senhor da Colina, hoje,
vão abrigar representantes do islamismo, do judaísmo e das igrejas
evangélicas num ato inter-religioso pela vida e pela paz. A celebração, que
começa às 8h, no adro da Igreja da Conceição da Praia, dá a largada para o
cortejo que reúne milhares de fiéis até o alto da Colina Sagrada, para lavar a
escadaria da igreja erguida há 250 anos.
A programação começa às 7h30, quando cerca de 400 atletas percorrem os
8km que separam a Conceição do Bonfim, na Corrida Sagrada. Logo após o
início da corrida, tem o culto inter-religioso, presidido pelo pároco da
Conceição da Praia, Gilson Magno dos Santos. "A idéia é aproveitar esta
data para orar pela paz. É importante ressaltar que não se trata de um culto
ecumênico, que só reuniria religiões cristãs, mas sim de um ato inter-
religioso", destaca o coordenador da arquidiocese de Salvador, padre
Manoel Filho.
Depois da celebração, os fiéis serão saudados por uma queima de fogos na
rampa do Mercado Modelo. É quando começa a procissão, que reúne 400
baianas, autoridades estaduais e municipais, e o afoxé Filhos de Gandhy.
Uma hora após o início do cortejo, outras bandas e carroças, além de
grupos, como o Grupo Folcórico do Sesc, passam a integrar o percurso, ao
lado dos baianos e visitantes que cultuam o Senhor do Bonfim como um
verdadeiro pai.
Este ano, os pacientes com distúrbios mentais, funcionários e colaboradores
do Centro de Atenção Psico-Social do Subúrbio (Caps Nzinga) vão integrar
o cortejo. São mais de 400 participantes, que desfilarão usando batas
bordadas com motivos afro-brasileiro, confeccionadas pelos próprios
pacientes. Uma banda de sopro e percussão também acompanha o grupo,
numa iniciativa de promover a socialização dos pacientes com transtornos
mentais.
Por volta do meio-dia, quando a multidão chega à Colina Sagrada, é hora de
tomar banho de alfazema e lavar, com a água-de-cheiro preparada pelas
mães e filhas de santo, a escadaria do templo, que fica fechado durante
toda a quinta-feira. Também é hora de agradecer as graças alcançadas e
pedir os mais variados favores ao Jesus Crucificado e a Oxalá.
(http://www.correiodabahia.com.br/2005/01/13/noticia.asp?link=not000104298.xml - acessado em
25.11.2006, 9h30m)
Festa de São Lázaro: 25 de janeiro. Além de ser uma festa popular, é uma
manifestação de origem católica que acontece na Igreja de São Lázaro e no largo
em frente à igreja. A festa une o sincretismo do catolicismo que realiza missa, tríduo
e procissão em louvor ao santo e o candomblé, que homenageia o Orixá Omolú –
deus protetor das doenças de pele no candomblé -, com lavagem da escadaria da
igreja, oferta de velas acesas em torno do cruzeiro no Largo de São Gonçalo da
Federação, banhos de pipoca no povo e a animação profana nas barracas de
comidas e bebidas.
Festa da Pituba: data móvel, costuma ser a última festa de largo antes do Carnaval.
Apresenta duas versões quanto à sua origem: para alguns, a devoção à Nossa
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Senhora da Luz começou em 1580 e, para outros, em 1889, ano em que foi
construída uma capela em seu louvor. A festa tem duração de dez dias, terminando
na segunda-feira que antecede o Carnaval. Durante os festejos, celebram-se
novenas, missas e duas procissões, sendo uma terrestre no domingo e uma
marítima organizada pelos pescadores, na segunda-feira. A maior atração é a
lavagem da escadaria da igreja na quinta-feira, precedida de cortejo que parte do
Largo da Amaralina em direção à Igreja de Nossa Senhora da Luz. Durante as
comemorações, realiza-se a festa de largo.
Carnaval: data móvel, é a maior profusão de alegria dos baianos. A festa, que
envolve na sua organização a participação direta de 25 mil pessoas, tem dimensões
gigantescas e acontece com uma média de 2 milhões de pessoas em 25 quilômetros
de ruas, avenidas e praças. O Carnaval é realizado em três circuitos oficiais (Dodô,
Osmar e Batatinha), com a presença de mais de 200 entidades, divididas entre
blocos de trio, afros, índios, infantis e alternativos, afoxés, e trios independentes. A
festa acontece também no Pelourinho - com a apresentação de diversas bandas e
grupos - e em bairros da cidade, onde são montados palcos para apresentações
musicais. Salvador recebe, em média, 800 mil visitantes vindos de municípios
localizados a menos de 150 quilômetros de distância e de diversos Estados
brasileiros e países do mundo. O evento começa na noite de quarta-feira (circuito
Dodô, antigo Barra-Ondina) e só termina no final da manhã de quarta-feira de
Cinzas, com o encontro de trios elétricos na Praça Castro Alves e os famosos
arrastões iniciados por Carlinhos Brown na Barra. Os maiores blocos carnavalescos
de Salvador são Camaleão, Cheiro de Amor, Crocodilo, Eva, Pinel, Olodum,
Internacionais, Araketu, Ilê Aiyê, Timbalada, Filhos de Ghandy, Nana Banana,
Cocobambu, Bizú e Acadêmicas. "Com tudo isso, Salvador se tornou uma cidade
maníaca onde todo mundo tem de ser alegre para alimentar a economia do
simbólico", analisa o escritor Antonio Risério. Para ele, o que se faz não é arte, e sim
diversão. "Mas não há dúvida que rende muito dinheiro e emprega muita gente."
Para se ter uma idéia, no Carnaval de 2005 foram gerados cerca de 300 mil
empregos diretos e indiretos e gerados negócios da ordem de R$ 1.400 milhões.
Tratado durante muito tempo com discrição e segredo, o culto dos exus e
pombagiras, identificados erroneamente como figuras diabólicas, veio recentemente
a ocupar na umbanda lugar aberto e de realce. Era tudo de que precisava o
neopentecostalismo, capitaneado pela IURD: agora o diabo estava ali bem à mão,
nos terreiros adversários, visível e palpável, pronto para ser humilhado e vencido.
O neopentecostalismo leva ao pé da letra a idéia de que o diabo está entre
nós, incitando seus seguidores a divisá-lo nos transes rituais dos terreiros. Pastores
da Igreja Universal do Reino de Deus, em cerimônias fartamente veiculadas pela
televisão, submetem desertores da umbanda e do candomblé, em estado de transe,
a rituais de exorcismo, que têm por fim humilhar e escorraçar as entidades
espirituais afro-brasileiras incorporadas, que eles consideram manifestações do
demônio (Almeida, 1995; Mariano, 1999).
A umbanda e o candomblé, cada qual a seu modo, são bastante valorizados
no mercado de serviços mágicos e sempre foi grande — e não necessariamente
religiosa — a sua clientela, mas ambos enfrentam hoje a concorrência de
incontáveis agências de serviços mágicos e esotéricos de todo tipo e origem, sem
falar de outras religiões, que inclusive se apropriam de suas técnicas, sobretudo as
oraculares. Concorrem entre si e concorrem com os outros. Por fim foram deixados
em paz pela polícia (quase sempre), mas ganharam inimigos muito mais decididos e
dispostos a expulsá-los do cenário religioso, contendores que fazem da perseguição
às crenças afro-brasileiras um ato de fé, no recinto fechado dos templos como no
ilimitado e público espaço da televisão e do rádio.
7 O SINCRETISMO E O ECUMENISMO
7.1.1 Limites
De acordo com o padre Arnaldo Lima, essa relação acontece de forma tensa
para alguns e de forma libertadora para outros: Outras pessoas abjuram o passado,
tentam esquecer uma religião que foi socialmente desprezada e teologicamente,
“demonizada”, escondem suas crenças maiores”, afirma o padre.
(Fonte: soteropolitanosdocentrohistorico.wordpress.com/2007/08/31/por-tras-do-veu-do-sincretismo/ - 24k, acessado em
08.10.2007, às 09h06s)
vai ter uma confusão de conceitos. Em termos de fé, é preciso haver clareza
e definições. Daí porque é impossível ser ao mesmo tempo católico e
espírita, católico e evangélico, católico e mulçumano. Pode-se respeitar um
evangélico e ter muitas idéias semelhantes. Pode-se respeitar um espírita e
ter muitas idéias semelhantes. Pode-se discordar totalmente noutras, mas,
daí a viver o catolicismo de maneira espírita é impossível. Não vemos a
morte e a vida do mesmo jeito.
O sincretismo é uma atitude errada de quem acha que a religião é como
fruta. Se misturar vai dar um suco gostoso. Que cada religião preserve a
pureza da sua fé, e que cada seguidor respeite profundamente a fé do outro.
Porque é possível juntar várias flores no mesmo jardim - e até no mesmo
canteiro - e o jardim será bonito. O difícil será pedir que a rosa se comporte
como lírio e o lírio se comporte como açucena. Juntos podem fazer um belo
buquê, mas que cada um conserve a pureza do que é. (Artigo: Ecumenismo e
Sincretismo, Pe.Zezinho, em http://www.casadehon.org/especiais/ecumenismo_02.htm,
acessado em 08.10.07, às 09h18m).
Fundado em 1980. Localizado à Rua Lima Campos, s/nr., bairro das Placas,
Patos (PB).
Mãe-de-Santo: Maria do Carmo (Neta).
Enfermidade aparente: feridas que nunca cicatrizam na perna.
Como ingressou na Umbanda: enfermidade que ninguém conseguia curar.
Obteve a “cura” daquela doença com a condição de passar a servir às entidades
espirituais.
Religião oficial: católica não praticante.
Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: quartas e sextas feiras (“gira”)
Freqüência: média de 15 a 20 pessoas por “gira”.
Consultas de atendimento pessoal: média de 3 a 5 pessoas por dia.
Valor da consulta: R$ 15,00 (quinze reais).
Observações: Dona Neta, a dirigente, não freqüenta outra igreja, porém
considera-se católica. Afirmou trabalhar exclusivamente para o BEM. Mostrou-nos as
dependências do templo, onde pudemos constatar que existe um salão maior onde
as giras são realizadas e o atendimento pessoal também é feito ali. Porém, mostrou-
nos alguns quartos da casa, os quais, segundo Da.Neta, seriam os “quartos dos
santos”. Ela crê que o “santo” passou a residir ali, em sua casa, e habita naquele
quarto. Quando amanhece o dia, ela sai batendo de porta em porta,
cumprimentando respeitosamente os “santos”, os quais ela acredita que dormiram
ali, naqueles quartos.
Relatou, com um misto de orgulho e satisfação pessoal, que após muitos
anos de lutas, havia conquistado, finalmente, o direito de ter “seu” “santo” habitando
permanentemente no templo. Deu a entender, com isso, que em outros templos há a
72
possibilidade de que o “santo” ainda não habite em definitivo, como acontece com o
templo dirigido por ela. Acreditamos, portanto, que tal situação é encarada como
uma espécie de status no meio umbandista: os que tem e os que não tem um santo
habitando permanentemente no local.
Foi questionada com relação ao MAL, ou seja, se fosse procurada por alguém
para fazer o mal para outro, se ela faria. Categoricamente afirmou que NÃO. Que só
trabalhava para o bem. Todavia, mostrando as dependências do templo, mostrou-
nos um quarto que ela disse pertencer à entidade conhecida pelo nome de “Zé
Pelintra”. Neste quarto, vimos vestígios de sangue em uma panela, imagens de
entidades com aspecto demoníaco, espadas, facas de vários tipos e tamanhos,
navalha, uma garrafa de bebida suporte montado em cascos de boi... Enfim, um
ambiente diferente do outro quarto, que possuía imagens de aparência normal.
Novamente foi questionada com relação a QUIMBANDA e, percebendo que
não éramos totalmente leigos sobre o assunto, admitiu finalmente que, se
necessário, recorreria a Quimbanda (ou seja, magia negra) para resolver algum
problema mais grave, como dependência de drogas ou bebidas.
Fundado em 1988. Localizado à Rua Pedro Firmino, bairro das Placas, Patos
(PB).
Mãe-de-Santo: Alcenira (conhecida por “Sena”).
Enfermidade aparente: notamos que sofre de alguma enfermidade que a
deixa com dificuldade para respirar e até mesmo falar, como alguém asmático.
Como ingressou na Umbanda: enfermidade que ninguém conseguia curar.
Obteve a “cura” daquela doença com a condição de passar a servir às entidades
espirituais.
Religião oficial: Afirma ser hoje católica praticante. Vai sempre a missa,
confessa-se e recebe a hóstia.
Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: quintas-feiras (“gira”).
Freqüência: média de 25 pessoas por “gira”.
Consultas de atendimento pessoal: média de 2 a 3 pessoas por dia.
Valor da consulta: R$ 20,00 (vinte reais).
Observações: Em sua juventude, era evangélica em Brasília (DF), onde
participou ATIVAMENTE da IPB - Igreja Presbiteriana do Brasil, por cerca de 5
(cinco) anos. Relatou, emocionada, que pregava a Palavra de Deus por onde quer
que andasse -- nas ruas, em cultos campais, hospitais, etc. Gostava muito de
evangelizar e disse conhecer a Bíblia. A esta altura de seu relato, quando falou na
Bíblia, desatou em um choro convulsivo, demorando a voltar a falar. Até o final de
75
Religião oficial: Afirma ser hoje católica praticante. Vai sempre a missa,
confessa-se e recebe a hóstia.
Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: quintas-feiras (“gira”).
Freqüência: média de 20 pessoas por “gira”.
Consultas de atendimento pessoal: média de 5 pessoas por dia. Trabalha
com cartas (baralho), búzios e tarô.
Valor da consulta: R$ 20,00 (vinte reais).
Observações: Realiza, anualmente, uma festa para as crianças (alusiva aos
“santos” Cosme e Damião) que reúne cerca de 1.000 (mil) crianças dos bairros
vizinhos ao bairro das Placas, e que isso tem atraído para si muita inveja dos demais
dirigentes umbandistas, com os quais não consegue ter bom relacionamento.
É uma senhora que já é até avó. Chama a atenção o fato de ser
excessivamente magra, com praticamente a pele sobre os ossos. Tossia muito
durante a entrevista e aparentou ser uma pessoa perturbada emocionalmente, pois
chorou em vários momentos enquanto conversávamos, sem nenhuma razão
aparente para chorar.
Reside e trabalha em uma casa extremamente humilde, inserida em um beco
dentro de um dos bairros mais pobres da cidade, o bairro das Placas. Ao que
pudemos perceber, aparenta enfrentar, também, dificuldades financeiras e materiais.
Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: sábados e domingos (“gira”).
Freqüência: média de 20 a 25 pessoas por “gira”.
Consultas de atendimento pessoal: média de 5 pessoas por dia. Búzios.
Valor da consulta: R$ 15,00 (quinze reais).
Observações: O Sr. Gilvan é o presidente da “Federação dos Umbandistas” local, a
qual, por sua vez, é ligada a Federação de João Pessoa (PB).
Em seu templo, pudemos constatar apenas a realização de trabalhos de
umbanda. Ausência total de objetos característicos da quimbanda, tais como
espadas, navalhas, facas, etc. Apenas um altar, com imagens características do
“bem” (Iemanjá, preto-velho, São Jorge, Cosme e Damião, etc.) Nas paredes, fotos
de festas realizadas, com os participantes vestidos em trajes típicos (roupas
brancas, colares, turbantes, etc.)
Questionado sobre trabalhos de quimbanda, negou veemente que realizasse
tais trabalhos. Disse que em suas consultas trata apenas de casos como
reconciliação nos relacionamentos, cura de enfermidades, problemas de emprego,
etc.
Todavia, ao ser questionado sobre os motivos que o levavam a permanecer
realizando tais trabalhos, deixou transparecer que teme ameaças recebidas do
“mundo espiritual”, de que, se porventura abandonasse aqueles trabalhos, algo
grave lhe aconteceria. Nas suas atitudes e hesitações, passava a sensação de que,
se tivesse a certeza de que nada de mal lhe aconteceria, abandonaria aquela vida.
Não se mostrou muito feliz com o tipo de vida que leva há tantos anos.
Observações: O Sr. Luis Gonzaga estava ausente e fomos atendidos por sua
esposa. Eles residem em uma casa em frente ao templo, que, olhando de fora,
pareceu-nos ser o maior dentre os visitados.
O Sr. Gilvan declarou que não tem ao certo o número de templos federados,
girando em torno de 60 a 70 templos, dentre os 80 a 100 (número estimado) que
existem em nossa cidade.
O valor para a inscrição é de R$ 50,00 (cinqüenta reais) e a mensalidade para
funcionamento é de R$ 10,00 (dez reais).
Esse dinheiro, pelo que entendemos, destina-se ao próprio Sr. Gilvan. Ele
declarou que o dinheiro arrecadado serve para despesas de deslocamento quando
tem que resolver algum problema em um templo.
Perguntamos que tipo de problemas a federação resolve. Ele respondeu que,
praticamente, os problemas são de reclamações por parte dos vizinhos dos templos
quanto ao horário de encerramento das “giras”. Como as “giras” envolvem o uso de
atabaques (causando o chamado “batuque”), evidentemente fazem barulho e muitas
vezes os vizinhos reclamam junto às autoridades competentes e aí o Sr. Gilvan é
chamado para intervir e moralizar o templo infrator.
Todavia, ao conversarmos com os dirigentes por nós entrevistados, eles não
vêem a necessidade de pagarem tais importâncias para a Federação, pois, na
prática, a mesma em nada os auxilia.
Perguntamos ao Sr. Gilvan se a Federação teria poderes para fiscalizar os
templos quanto ao correto uso e aplicação das normas doutrinárias da umbanda, a
exemplo do que sabemos que a Federação Espírita Paraibana atua junto aos
centros kardecistas. Ele respondeu que, na prática, não consegue exercer tal
controle, pois cada pai-de-santo atua conforme deseja. E isto tem provocado,
segundo o Sr. Gilvan, a divisão de muitos templos e a abertura de novos templos a
cada dia, gerando graves problemas, brigas, dissensões e fazendo com que o
umbandismo caia no descrédito.
Templo 2 - 22 5
Templo 3 - 20 5
Templo 4 - 25 3
Templo 5 - 20 5
Templo 6 - 25 5
Templo 7 - 70 3
Templo 8 - 120 3
Templo 9 - 60 5
Totais - 382 38
10 CONCLUSÃO
santo", dizem, assim "indicando que o filho tem uma perspectiva equivocada da
religião, quando a imagina capaz de preservá-lo de todos os dissabores cotidianos.
Ainda mais, quando imagina 'o santo' como 'algo' que lhe seja exterior ou estranho".
Portanto, a mixagem e a busca mágica do sobrenatural desconcerta ambos
os sistemas religiosos. Parece que, tanto para o cristianismo católico quanto para o
candomblé, a separação entre o mágico e o mí(s)tico seja feita por um fio
demasiadamente tênue. Em suma, uma constante antropológica que certamente
alimentará, ainda por longo tempo, muitas discussões teológicas vindouras.
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REFERÊNCIAS
PIERUCCI, Antônio Flávio & PRANDI, Reginaldo. A realidade social das religiões
no Brasil. Hucitec, São Paulo, 1996.
http://www.portalbrasil.net/religiao_religioes_afrobrasileiras.htm - Acessado em
11.08.2007
http://www.umbandavirtual.byhost.com.br/consulta.php?id=375, acessado em
23.11.2006).,
http://www.correiodabahia.com.br/2005/01/30/noticia.asp?link=not000105284.xml,
acessado em 25.11.2006 , às 10h25m
http://www.correiodabahia.com.br/2005/01/13/noticia.asp?link=not000104298.xml -
acessado em 25.11.2006, 9h30m
http://www.sinaisdostempos.org/novaera/conspiracao_aquariana_nova_era.htm,
acessado em 08.10.07, às 10h57m.
http://www.bahia.com.br/site/atracoes/religiao.asp?cd_tipo=64 - Acessado em
25.11.2006
http://www.adital.org.br/site/noticias/2026.asp?cod=2026&lang=PT - Acessado em
25.11.2006
http://www.girasdeumbanda.com.br/umbanda_origem.asp - Acessado em
24.11.2006
http://www.sabedoriamistica.com.br/materias/civilizacoes_misticas/africana/.htm-
Acessado em 24.11.2006
http://soteropolitanosdocentrohistorico.wordpress.com/2007/08/31/por-tras-do-veu-
do-sincretismo/ - Acessado em 08.10.07, às 9h6m.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000300015,
acessado em 06.10.2007, às 17h38m
http://www.estadao.com.br/agestado/nacional/2000/ago/16/148.htm, acessado em
26.11.2006, 11h15m
http://www.agirbrasil.org/Seitas/Candomble/Candombl%E9.html, acessado em
07.10.2007, às15h42m.
http://revistaseletronicas.pucrs.br/civitas/ojs/index.php/civitas/article/viewFile/108/104
, acessado em 08.10.2007, às 11h27m
“Temos que ter muito claro que para falarmos de ética dentro de uma
determinada religião o primeiro impulso que devemos ter é de fazermos uma
separação entre o que se entende por bem e mal. Ao falarmos da religião de
Umbanda e das religiões Afro-brasileiras ou afro-descendentes como preferem
alguns, não podemos nos envolver com conceitos cristãos de pecado, haja visto não
fazer parte de nosso universo religioso.
Estas religiões, desde que existem, têm normas que lhes norteiam mas que
nem sempre são do conhecimento e observância de seus sacerdotes, pois cada
Babalorixá /Iyalorixá ou Dirigente Espiritual cuida de colocar suas próprias normas
dentro de suas Casas. Isto ocorre até porque não temos um único Mandatário
Supremo, todos são supremos em seus Axés. Porém, isto não impossibilita que
todos se unam para zelar pelos "Códigos de Ética" que sempre existiram, muito
embora a idéia é que só agora estamos criando essas normas.
Ocorre que para isto todos somos chamados a observar e cumprir com essas
posturas, passarmos para nossos filhos e simpatizantes aí já estaremos ajudando e
muito para que a religião tenha seu lugar de respeito e credibilidade. Como disse,
tenta-se por no papel aquilo que na prática já existe e só precisa ser observado.
Vejamos pois que normas, que códigos devemos observar:
1. É imperativo que dentro da Umbanda e dos Cultos Afro-brasileiros, todos estejam
preocupados em manter a tradição religiosa e cultural de seu grupo, sem misturas e
enxertos, sem junções e adições absurdas e desastrosas e que estas mesmas
religiões deixem de se preocupar apenas com a parte litúrgica, para também se
dedicarem ao bem-estar das pessoas, da comunidade como um todo, do país, do
mundo, e também que esteja sempre presente a preocupação na preservação do
meio ambiente, lembrando que somos uma religião ecológica por excelência.
2. Precisamos aprender a respeitar a nação do outro, pois todos os segmentos têm
origem em comum na Mãe África, cultuam Orixá, Vodun, Nkissi, Bacuro, Encantados
e Guias que são muito queridos e amados por seus adeptos. O desrespeito à liturgia
e ao ritual de cada um incorre num grande mal para toda a comunidade afro-
brasileira.
3. Precisamos ter respeito com os mais velhos, com os Agba da religião, com
nossos ancestrais. Vê-se hoje em dia pessoas novas chamando a atenção e
querendo ensinar os mais antigos. Se os mais velhos não souberem nada, o que
diremos dos novos? Pensamos que se precisa de entendimento e muito diálogo
entre as gerações a fim de se tirar o melhor proveito. Mas tudo com seriedade e
dignidade.
4. Em todos os grandes eventos (Congressos, Seminários, Encontros etc.), deve-se
ter um Cerimonial adequado para se ver "quem é quem", dando-se as devidas
precedências e evitando-se constrangimentos ao se destacar, por exemplo, um filho
em detrimento de seu pai. É anti ético.
5. Nas festas religiosas (Toques), devemos nos preocupar com nossos convidados e
dar-lhes a atenção devida, também fazendo com que todo o Egbé saiba se portar e
respeitar. É desagradável chegarmos a lugares onde muitos torcem a cara e
ignoram aqueles que com carinho ali estão para prestigiar e participar.
Urge que conversemos com nossos Sacerdotes e adeptos para que não
confundam religião com "questões sexuais". Graças à Avievodum, Olodumare,
90
Zambiapongo, temos uma religião liberal que não nos castra. Entretanto, muitos se
aproveitam de seus cargos e postos para desfilarem frustrações sexuais e
travestirem nossa Religião colocando-nos em descrédito perante às autoridades e à
própria sociedade.
Devemos lutar pela união sincera e verdadeira das pessoas interessadas na
preservação dos nossos segmentos religiosos. A discórdia, a desunião, a intriga só
enfraquece a própria religião. Cada um deve fazer sua parte, com critérios, com
seriedade, com dignidade. Não devemos nos ver como concorrentes mas como
membros unidos de um mesmo corpo. Precisamos acabar com a idéia de que um é
melhor que o outro. Para nossos Deuses somos todos iguais. Será, por exemplo,
que meu Vodum Toy Azonce só gosta de mim e não gostará de outros seus filhos?
Será que Odé, Oxósse, Águè só ama um filho e esquece os outros? Não,
certamente que não, o problema é individual, é pessoal, é falta de boa formação, de
bom berço.
Vamos lutar para que os Congressos sejam fórum de grandes decisões, de
momentos de verdadeiras reflexões, de congraçamentos, de bons e felizes
reencontros e não que deixemos nossos lares para nos virmos nos digladiar.
Não devemos confundir pontos de vista diferentes com geração de ódio. Isso não é
ético; Vamos valorizar com toda sinceridade as diferentes formas tradicionais dos
cultos afros. Lutemos por uma união e não por uma unidade. Daí o lema da
INTECAB que é a "união na diversidade".
Resgatemos a língua de cada culto e devemos usar nossos títulos
corretamente. Jamais se deve estimular o absurdo, a invencionice, títulos
inadequados. Por exemplo: não é ético chamarmos uma Sacerdotisa de Umbanda
de Iyalorixá pois esta não foi iniciada e nem inicia ninguém. Seu grande valor está
em ser uma Dirigente Espiritual, uma digna Babá de Umbanda sem nenhum
demérito de seu potencial espiritual e material; Todos temos o dever de recusar a
efetivação de rituais religiosos que firam sua tradição de origem e sejam contrários
aos ditames de sua consciência; É de suma importância zelar pela dignidade da
tradição e cultura Afro-brasileira em todos os seus níveis de desdobramentos, sendo
este o papel preponderante de todos os verdadeiros Sacerdotes; Somos todos
tradicionalistas: da Umbanda, do Kêtú, do Mina Jêje, do Ifon, da Angola, do Jêje
Mahi, do Omolocô, do Nagô Egbá, do Alakêtú, do Mina Nagô, da Encantaria, da
Tradição de Orixá ou do Fanti-Ashanti, desde que sigamos nossos rituais e
costumes legados por nossos antepassados. Esta é uma postura ética que precisa
ser levada em conta.
A exploração que alguns sacerdotes fazem com seus filhos é imoral, antes de
ser ética, e precisa de grandes reflexões. Tenta-se criar a idéia de que quanto mais
dinheiro, mais axé, e assim torna-se comércio. Cobrar "salva" ou chão" é entendido
como axé, mas exploração é caso de polícia. Outro tema polêmico e delicado diz
respeito a quebra de tabus religiosos, incluindo-se nestes os relacionamentos
sexuais entre pais e filhos de uma mesma casa. Comete-se o incesto.
Finalizamos abordando a questão do "Jogo de Búzios" antes exercido
somente por grandes e sábios sacerdotes e sacerdotisas, de forma extremamente
sagrada, e hoje feito em praças públicas, viadutos, feiras esotéricas, shoppings, sem
falar no "disque búzios" e "0900", que tanto entristecem os tradicionalistas”.
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as cinzas do incenso e lave o prato para usá-lo só para rituais. Por fim, guarde a
pedra no seu local de trabalho ou consigo.
Amuleto do Jogador (Ju-Ju) - Este é um amuleto Wanga que possui bastante força
e atrai a riqueza. Tome uma noz-moscada e faça um pequeno furo na região onde
ficava o talo, até atingir a profundidade de meia noz. Coloque no orifício uma gota de
mercúrio, feche a noz com cera de uma vela vermelha (que deve ser acessa no
início da operação). Unte a noz com óleo de sândalo (emanando pensamento de
riqueza para você ou para quem for o Ju-Ju), coloque-o em um saquinho de tecido
vermelho. Guarde-o dentro da bolsa ou carteira.
OBSERVAÇÃO: O resultado é no prazo de no máximo 01 mês. Se o Ju-Ju cair no
chão por algum motivo (ou a bolsa e carteira que esta com ele dentro), você deve
abrir o saquinho e despachar tudo em um jardim e confeccionar outro Ju-Ju. Nunca
deixe que o Ju-Ju encoste o chão.