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EDSON POUJEUX GONÇALVES

AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS:

ORIGENS, DESENVOLVIMENTO E INFLUÊNCIAS NO BRASIL E NO SERTÃO

PARAIBANO

Monografia apresentada ao SEP -


Seminário Evangélico de Patos, como
instrumento parcial para a obtenção do
título de “Bacharel em Teologia”.

ORIENTADOR: Prof. Pr. Irinaldo Caetano


Marques

PATOS – PB
2007
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À minha esposa, Adalmira Leandro da


Cruz Gonçalves, como gratidão por seu
amor e incansável apoio, incentivo,
compreensão e, principalmente, tanta
paciência e tolerância para comigo nos
momentos em que enfrentei as maiores
dificuldades, até conseguir chegar até
aqui.
4

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me alcançado com sua graça infinita e tido misericórdia de

mim, libertando-me das trevas em que me encontrava em mais de trinta anos

servindo ao espiritismo, trazendo-me para a maravilhosa luz do Seu amor;

A minha esposa, Adalmira, e filhas Edna e Evila, pelo apoio, estímulo,

compreensão, tolerância e, principalmente, por seu amor sempre presente;

Aos pastores e professores do SEP pelos ensinamentos que me repassaram

e, principalmente, pelo maravilhoso convívio proporcionado ao longo desses cinco

anos de Seminário.

Aos amados colegas de classe, pelo carinho, amizade, zelo, preocupação,

apoio, incentivo, troca de experiências e, principalmente, pela paciência que sempre

tiveram para comigo;

A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram comigo, seja por

orações, seja por palavras de apoio e incentivo e que me fizeram conseguir chegar

até este degrau em minha escalada cristã. Meu MUITO OBRIGADO e que Deus

esteja abençoando a todos, em nome de Jesus!


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“Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho
ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem
agoureiro, nem feiticeiro; 11 nem encantador, nem
necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos;12
pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR;
e por estas abominações o SENHOR, teu Deus, os lança de
diante de ti. (Deuteronômio 18:10-12)

“... e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (João


8:32)
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RESUMO
Este trabalho investiga as origens e desenvolvimento do que hoje
denominamos de “Religiões Afro-brasileiras”. Como surgiram, em que são
fundamentadas, qual o percentual - em relação às demais religiões - de pessoas que
fazem parte dessas religiões, como influenciaram e foram influenciadas pelas
demais culturas que compõem a diversidade cultural do povo brasileiro, e, em
conclusão, como a prática desse credo religioso influencia a religiosidade do sertão
paraibano-brasileiro.

Palavras-Chave: CANDOMBLÉ - UMBANDA - QUIMBANDA - CATIMBÓ - XANGÔ -


BABACUÊ - CULTO VODU - ORIXÁS - ENTIDADES.

ABSTRACT
This study investigates the origins and development of what we denominate today as
"Afro-Brazilian Religions". How did they commence, what are they based upon, how
do their statistics compare with other religions, how have the diverse Brazilian
cultures affected them and how have they affected these cultures, and finally, how
has the practice of this religious crede influenced the religiosity of the Brazilian
Paraiban backlands.

Key Words: Candomblé - Umbanda - Quimbanda - Catimbó - Xangô - Babacuê -


Voodoo - Orixás - Entities
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INTRODUÇÃO

O que são, na verdade, as religiões denominadas de “Afro-brasileiras”? Como


surgiram? Em que são fundamentadas? Qual o percentual em nossa sociedade, em
relação às demais religiões, de pessoas que fazem parte das religiões denominadas
“afro-brasileiras”? Qual o reflexo na sociedade brasileira e, em paralelo, em nossa
realidade local, da prática desse credo religioso? Como o sincretismo religioso
influencia a economia em algumas regiões de nosso país? Quais as diferenças entre
sincretismo e ecumenismo? Como tem se comportado a população sertaneja no
tocante à religiosidade?
Nosso objetivo ao longo deste trabalho é apresentar respostas às perguntas
acima formuladas e a outras que certamente surgirão.
Justificamos a realização deste trabalho percebendo a necessidade de,
enquanto alunos do curso Bacharel em Teologia, do Seminário Evangélico de Patos
- SEP, conhecermos e entendermos a influência dessas religiões em nossa
sociedade, como forma até mesmo de melhor nos prepararmos para receber, em
nossa atividade pastoral, pessoas oriundas dessas religiões e estarmos capacitados
para entendê-las e bem orientá-las na sã doutrina.
Utilizamos, para a coleta de dados em geral, vários livros de diversos autores,
bem como diversos textos recolhidos na Internet, conforme explicitado ao final deste
trabalho, na seção bibliografia. E, para a coleta de dados locais, realizamos visitas e
entrevistas aos líderes de templos de umbanda.
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1 ORIGENS DAS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS

1.1 HISTÓRICO

No início do século XV, período da colonização brasileira, mais de quatro


milhões de negros africanos cruzaram o Atlântico para tornarem-se escravos na
colônia portuguesa. Oriundos de diferentes regiões da África, entravam no país,
através de navios negreiros, principalmente pelos portos do Rio de Janeiro, de
Salvador, do Recife e de São Luís do Maranhão, trazendo na bagagem a cultura
africana.
A maior parte desses negros era proveniente da costa Oeste da África, onde
predominavam dois grandes grupos: os Sudaneses e os Bantos.
Os sudaneses vêm da região do Golfo da Guiné, onde se situam hoje a
Nigéria e o Benin. Pertenciam às nações Haussais, Jeje, Keto e Nagô, e foram os
principais precursores do Candomblé.
Os bantos agregam as nações de Angola, Benguela, Cabinda e Congo.
Dessas nações, herdamos, entre outros elementos culturais, a capoeira e a
congada.
O negro foi arrancado de sua terra e vendido como uma mercadoria,
escravizado. Aqui ele chegou escravo, objeto; de sua terra ele partiu livre, homem.
Na viagem, no tráfico, ele perdeu personalidade, representatividade, mas sua
cultura, sua história, suas paisagens, suas vivências vieram com ele. Estas
sementes, estes conhecimentos encontraram um solo, uma terra parecida com a
África, embora estranhamente povoada. O medo se impunha, mas a fé, a crença - o
que se sabia - exigia ser expresso. Surgiram os cultos (onilé – confundidos mais
tarde com o culto do Caboclo, uma das primeiras versões do sincretismo), surgiu a
raiva e a necessidade de ser livre. Apareceram os feitiços (ebós), e os quilombos.
Para evitar que houvesse rebeliões, os senhores brancos agrupavam os
escravos em senzalas, sempre evitando juntar os originários de mesma nação. Por
esse motivo, houve uma mistura de povos e costumes, que foram concentrados de
forma diferente nos diversos estados do país. Os escravos possuíam suas próprias
danças, cantos, santos e festas religiosas. Aos poucos, eles foram misturando os
ritos católicos presentes com os elementos dos cultos africanos, na tentativa de
resgatar a atmosfera mística da pátria distante. O contato direto com a natureza
fazia com que atribuíssem todos os tipos de poder a ela e que ligassem seus deuses
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aos elementos nela presentes. Diversas divindades africanas foram tomando força
na terra dos brasileiros.
Nesse contexto histórico-cultural, surgem, então, as chamadas religiões afro-
brasileiras, que eram, na verdade, novas religiões, diferentes das que praticavam na
África, pois, aqui no Brasil, foram misturadas as tradições de diversas culturas
africanas com os ingredientes do catolicismo romano.
Os trezentos anos da história da escravidão do negro no Brasil, atestam
acima de tudo, a resistência, a organização dos negros. A cultura africana
sobreviveu para o negro através de sua crença, de sua religião. O que se acredita,
se deseja, é mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação limite. A
religião, sua organização em terreiros (roças), foi como muito já se escreveu, a
resistência negra. Resistiu-se por haver organização. A organização consigo
mesmo. Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve, um farol, um guia, um orixá
protetor.
No meio dos objetos traficados (os escravos) haviam “jóias” raras:
Babalorixás e Iyalorixás. Estes sacerdotes, inteiros nas suas crenças, criaram a
África no Brasil. Esta mágica, esta organização reestruturante só é possível de ser
entendida se pensarmos no que é a iniciação , todo processo que implica e
estabelece. A cana de açúcar do Senhor de Engenho era plantada por Iaôs recém
saídos das camarinhas, dos roncós.
A força se espalhou, o axé cresceu e apareceu na sociedade sob a forma dos
terreiros de candomblé. Era coisa de negros, portanto escusa, ignorante, desprezível
e rapidamente traduzida como coisa ruim, coisa do diabo, bem e mal, certo e errado,
branco e preto. Antagonismos opressores, sem possibilidades alternativas.
Havia, de parte dos senhores, das autoridades e da Igreja, um zelo natural
pela conversão dos africanos ao catolicismo, sendo considerado um dever cristão
receberem os mesmos a doutrina, serem batizados e levados à prática da religião
católica. O negro resolveu tentar agir como se fora branco, para ser aceito. Ele
dizia:” - meu Senhor, a gente tá tocando para Senhor do Bonfim, seu Santo, nhô!
Não é para Oxalá, quer dizer, Oxalá é o Pai Nosso, é o mesmo que Senhor do
Bomfim”. Assim se estabeleceu o Sincretismo no Brasil.
Com o objetivo de evitar choques com as autoridades, sem deixar de
preservar na prática do seu culto, os africanos dissimulavam seus otás colocando
sempre à frente deles a imagem de um santo católico que mais se aproximasse -
segundo interpretações individuais - das características do Orixá cultuado. Nasceu,
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com isto, um grande sincretismo dos Orixás com os santos da Igreja. A falta de
sistematização com que se realizou esse ajustamento muito concorreu para que
surgissem as discrepâncias hoje constatáveis. Assim é que diferentes santos da
Igreja são sincretizados num mesmo Orixá.
Muito se perdeu, a terra africana reduziu-se a pequenos torrões, porém o
candomblé era eficaz: o senhor procurava a negra velha para fazer um feitiço, para
que lhe desse um banho de folha, lhe desse um “patuá”.
Em tupi, “patuá” quer dizer caixa, caixão, designando-se com essa palavra
todas as modalidades de magia que dão sorte. Patuás são igualmente os
amuletos "de santos ou do diabo", os primeiros, na maioria, trabalhados
pelos italianos, assim os de Santa Lúcia contra a vista fraca, coração de
Jesus, os do Espírito Santo contra todos os males, e a "figa" contra o mau-
olhado. (CASCUDO, Luís da Câmara. Antologia do folclore brasileiro, p.106-
109).

Assim, de geração para geração, seus rituais vêm sendo adaptados à nossa
cultura, na medida da necessidade. E, ao longo do tempo, ganharam adeptos dentre
os brasileiros de outras raças, conquistando parcela, de certa forma, até expressiva
em nossa população. O fetiche, marca registrada de muitos cultos praticados na
época, associado à luta dos negros pela libertação e sobrevivência, à formação dos
quilombos e à toda a realidade da época acabaram impulsionando a assimilação e a
formação de religiões muito praticadas atualmente - a Umbanda, a Quimbanda e o
Candomblé, as quais têm forte penetração no país, especialmente em São Paulo, no
Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e na Bahia.

1.2 A COMPLEXIDADE DO SINCRETISMO

Compreende-se sincretismo numa visão complexa, como analisa Sergio


Ferretti . Ele localiza cinco tendências ou fases nos debates sobre o sincretismo
religioso afro-brasileiro.
A primeira foi a teoria evolucionista, sistematizada por Nina Rodrigues, que a
denominou "a ilusão da catequese".
A segunda, de Arthur Ramos e Herskovitz, é a culturalista - o sincretismo
como aculturação incluindo conflitos, acomodação e assimilação.
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A terceira, de Roger Bastide e seguidores. Um deles, Juana Elbein dos


Santos, acredita na capacidade do negro de "digerir" diversos elementos ou
africanizar as contribuições sem "embranquecer".
Uma quarta tendência (anos 70-80 até hoje), da qual Peter Fry é um dos
conceptores, analisa a "nagocracia" (predomínio do modelo nagô-ketu) entre os
terreiros e o sincretismo é uma construção que nasce da disputa de poder e
prestígio.
A quinta, mais atual, elaborada principalmente a partir da década de 80 critica
a idéia de sincretismo como "máscara colonial para escapar a dominação ou
estratégia de resistência"; também não aceita a justaposição ou a "colcha de
retalhos". Em síntese, Ferretti propõe a complexidade do termo sincretismo, seus
múltiplos sentidos que se aplicam às religiões afro-brasileiras, e as variadas
combinações de significados que pode apresentar conforme o contexto estudado
(FERRETI, 1995).
É esta complexidade que consideramos como pressuposto, como assinala
BRAGA (1995, p.18):
Certo é que o negro soube criar e soube valer-se de situações sociais e
culturais que lhe permitiram, de alguma maneira, alcançar resultados
práticos, necessários à consolidação de alguns de seus interesses
fundamentais... Toda vez que interessou aos propósitos de suas
reivindicações sociais o negro soube, com extrema competência aproveitar-
se da situação social em que vivia. Conduziu seu projeto maior de ascensão
social com habilidade, sabendo negociar, aproveitando das raras ocasiões
favoráveis, para sedimentar bases sólidas que ainda servem de substrato às
diferentes frentes de lutas...

Por outro lado, outros autores assim interpretam e entendem o


SINCRETISMO:
O processo sincrético, observado do ponto de vista do negro escravizado, se
aproxima muito daquilo que L. Maldonado chama, positivamente, de sincretização: a
releitura dos significantes originários enriquecendo-os de outros novos, para que o
significado não seja perdido. Se não fosse assim, como explicar a presença em seus
cultos de somente alguns símbolos católicos? Por que existem estátuas de alguns
santos nos templos de vodu e nos terreiros de candomblé, e faltam, em vez, outros
símbolos diretamente ligados à missa católica, por exemplo?
Para R. Bastide (1971), o chamado sincretismo resulta de três modalidades
de relação: estrutural, cultural e sociológica. O africano lê o panteão católico,
transbordante de santos e virgens-marias, a partir da relação entre os orixás
intercessores e Olorum, deixando de lado, no entanto, a ideologia católica do "sofre
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aqui para gozar no além". Portanto, sincretismo significa a religião africana a


purificar o catolicismo quando aceita o culto aos santos.
Bastide não vê o cristianismo como compensação para a desgraça dos
escravos, ou sublimação de seus sofrimentos. Explicar dessa forma o complexo
fenômeno do sincretismo afro-brasileiro "só tem cabimento para a mentalidade dos
brancos e somente é possível aos negros alienados". A leitura (cultural) dos santos
como aqueles que presidem diversas atividades humanas facilita a aproximação
com os orixás, também esses dirigentes de um determinado setor da natureza
(Xangô, os relâmpagos e trovões; Oiá-Iansã, os ventos e tempestades; Oxum, a
água doce) ou protetores das profissões (como Ogum, que protege todos aqueles
que trabalham o ferro).
Enfim, a prática católica das irmandades, com as suas disputas e rivalidades,
propicia um espaço adequado a fim de que se mantenha certa emulação dentre as
diversas etnias africanas, contribuindo indiretamente com sua sobrevivência. Assim,
conforme P. Verger, um angolano ou um congolês residentes no Brasil se inscreve
na Ordem Terceira de Nossa Senhora do Rosário dos Homens de cor do Pelourinho;
um daomeano jeje, na Irmandade de Bom Jesus dos Necessitados e da Redenção
dos Homens Negros; um nagô-iorubá, na Irmandade de Nossa Senhora da Boa
Morte, e assim por diante.
Portanto, não há tão-somente uma aproximação entre orixás e santos, mas
antes a participação dos membros do candomblé na vida da igreja católica. E isso a
tal ponto que, se alguém não for católico, não poderá tomar parte num terreiro.
Assim, e com um leve toque de imaginação, os escravos encontram nos santos
católicos algo que os remete a seu panteão. Por exemplo, para a analogia entre
Oxalá e Jesus Cristo basta a aproximação externa entre a bengala de Oxalá velho e
a figura do Bom Pastor com seu cajado.
Com procedimentos desse gênero, os negros reinterpretam inúmeras festas
católicas: Exu é festejado no dia de São Bartolomeu; Xangô, no dia de São João;
Ogum divide as comemorações com São Jorge; Omolu, com São Sebastião; os
Ibejis (orixás da infância), na festa de Cosme e Damião; Oxalá brilha nos festejos do
ano novo (na Bahia, na festa do Senhor do Bonfim); e Iansã, no dia de Santa
Bárbara. Mas, as datas e as correspondências santo-orixá não são iguais para todas
as regiões do Brasil. Xangô é São Jerônimo na Bahia, o Arcanjo São Miguel no Rio
de Janeiro, e São João em Alagoas. Exu é o diabo na Bahia (talvez, por causa de
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seu caráter trickster), Santo Antônio no Rio de Janeiro, São Pedro no Rio Grande do
Sul (aqui entendido como porteiro e mensageiro dos deuses).
Proliferação de terreiros. Massificação, turismo, folclore. Dinheiro.Sincretismo.
Tudo isso, reunidos, formam interessantes “Fenômenos SOCIOLÓGICOS”, que
influenciam, direta ou indiretamente, na vida do povo brasileiro.

1.3 O CENSO DO IBGE E AS RELIGIÕES DOS BRASILEIROS

1.3.1 A decadência da hegemonia católica

Há algumas décadas, Ribeiro de Oliveira constatava o fenômeno da mistura


religiosa sincrônica, verificada nas diversas camadas da população brasileira. Para
ilustrar a singularidade do fenômeno, o autor apresentava os resultados dos
recenseamentos oficiais em relação à religião declarada. Ali se percebia, de fato,
que, em 1950, 93,48% dos brasileiros se professa católico; vinte anos mais tarde, a
cifra mantém-se em 91,77%. Durante o mesmo período, o número daqueles que se
declaravam espíritas chegou até a baixar: de 1,59% em 1950 cai para 1,27% em
1970.
Tais dados maravilhavam o referido pesquisador, uma vez que o crescimento
dos movimentos religiosos autônomos e do assim chamado "baixo espiritismo" é
claríssimo. É o que já indicava, por exemplo, o seguinte quadro, tirado de uma
pesquisa realizada há mais de três décadas numa favela carioca:

Tabela 1 - A DECADÊNCIA DA HEGEMONIA CATÓLICA


1937 1500 habitantes 1 capela 2 centros
católica espíritas

1952 4513 habitantes 1 capela 1 Igreja protestante 4 centros


católica espíritas

1967 30702 1 capela 9 igrejas 18 centros


habitantes católica protestantes espíritas.
Fonte: http://www.pucsp.br/rever/rv3_2002/t_soares.htm - acessado em 07.10.07, às 07h09m

Sem dúvida, a agressividade apologética dos decênios anteriores ao Concílio


Vaticano II sofreu um grave revés. Nada mais fez senão apavorar as pessoas e inibi-
las socialmente – o que explicaria porque existe a tendência difusa de se esconder a
segunda religião. Segundo Ribeiro de Oliveira, os fatores da ortodoxia tiveram,
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então, de se render à mistura ritual, a fim de não perder a hegemonia na sociedade


civil.
Todavia, como foi possível este “revival” explícito, sobretudo após a década
de sessenta, de heranças simbólico-religiosas consideradas praticamente
desaparecidas? M. C. Azevedo, 1986, sugere quatro fatores que poderiam explicar o
recente "fenômeno espírita": (Comunidades Eclesiais de Base e Inculturação da fé,
p. 140-144):

Nas últimas décadas verificou-se uma notável reaproximação de populações


de origem africana dos cultos e elementos subjacentes à sua cultura. Os
portões foram escancarados após a perda da estrutura rural que sustentava
a religiosidade popular católica. Contemporaneamente, foi intensificado o
processo de descriminalização das expressões culturais afro-brasileiras.
O espiritismo responde, além do mais, à necessidade popular do
maravilhoso, que uma vez impregnara o catolicismo rural, e que provinha
basicamente de determinadas fontes africanas e indígenas. A paróquia
católica urbana - CEBs incluídas - não vinha satisfazendo mais esse
aspecto.

Segundo M. C. Azevedo, 1986, com exceção da linha kardecista, os demais


espiritismos não têm uma grande bagagem de conteúdos mentais que promovam a
pessoa mediante novos conhecimentos - como, por exemplo, faz a Bíblia. Oferecem,
em vez, um novo espaço à sensibilidade e à afetividade que supre suficientemente a
dimensão lúdica do catolicismo festivo. O caso é que nem todos os clientes do que
Azevedo chama, genericamente, de espiritismo estão dispostos a enfrentar o longo
e exigente caminho iniciático.
Por fim, o espiritismo, nesse sentido lato usado por Azevedo, representaria
uma verdadeira ruptura contra dois elementos decididamente caros à igreja: a
palavra (Bíblia) e os sacramentos. Todavia, isso não requer - como fazem, em geral,
os movimentos religiosos pentecostais - um distanciamento institucional. O católico
que o freqüenta não se sente no dever de abandonar a igreja, e procura manter as
duas pertenças, uma vez que ambos se complementam na resposta a suas
necessidades religiosas.
A alternativa espírita atrai sempre mais o apelo religioso das pessoas. Os ritos
católicos de integração da biografia individual já vêm sendo repetidos sem muita
clareza e convicção, deixando progressivamente o espaço ao espiritismo. Uma
tendência que, no parecer de M. C. Azevedo, poderá reduzir ou eliminar a
ambigüidade da prática religiosa das pessoas. O Autor vislumbra a lenta passagem
de um catolicismo popular festivo para um espiritismo popular festivo. O espiritismo
ritual já deve ter ultrapassado o catolicismo ritual (velas, despachos, devoções a São
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Jorge, Cosme e Damião, Iemanjá). "Talvez, a própria missa católica - 7º dia, etc. - já
esteja situando-se, de modo impreciso, entre a 'convenção social' pura e um confuso
'ritual' passivo e não compreendido".
Não se deve esquecer, porém, de que tanto as igrejas pentecostais quanto o
espiritismo têm a vantagem de contar com estruturas acentuadamente aliviadas do
peso hierárquico-piramidal, com a conseqüente homogeneização das classes. Daí
resulta a crescente aproximação entre membros e lideranças. Soma-se a isso a
efetiva rede assistencial que tais organizações têm em mãos, e que fazem
estrepitoso sucesso em meio aos milhões de doentes, abandonados pelos órgãos
públicos (ir-)responsáveis.
Por isso, ser católico e ser brasileiro, apesar do anticlericalismo explícito da
República Velha (1889-1930), praticamente permaneceu como sinônimo. E, com
exceção de solitárias vozes no deserto, a sociedade religiosa instaurada perdeu a
oportunidade de ser “Evangelion”. Não foi uma Boa Notícia para os povos cujos
cuidados assumiram. Não foi, portanto, igreja para eles.

A seguir, fomos buscar dados estatísticos e encontramos o seguinte:

1.3.2 Os dados do censo brasileiro

Conforme mostra a Tabela 1, abaixo, o pequeno contingente de afro-


brasileiros declarados representava em 1980 apenas 0,6% da população brasileira
residente. Em 1991 eles eram 0,4% e agora, em 2000, são 0,3%. De 1980 a 1991 os
afro-brasileiros perderam 30 mil seguidores declarados, perda que na década
seguinte subiu para 71 mil. Ou seja, o segmento das religiões afro-brasileiras está
em declínio. Principalmente se levarmos em conta que, nesse interregno, a
população do país aumentou consideravelmente.Vejamos os dados comparativos:
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Tabela 2 - religiões declaradas nos censos do Brasil em 1980, 1991 e 2000


(população não residente)

Religião 1980 1991 2000


Católicos 89,2 83,3 73,8
Evangélicos 6,6 9,0 15,4
Espíritas 0,7 1,1 1,4
Afro-brasileiros 0,6 0,4 0,3
Outras religiões 1,3 1,4 1,8
Sem religião 1,6 4,8 7,3
TOTAL (*) 100,0% 100,0% 100,0%
(*) Não inclui religião não declarada e não determinada.
Fontes: IBGE, Censos demográficos.
http://revistaseletronicas.pucrs.br/civitas/ojs/index.php/civitas/article/viewFile/108/104, acessado em 08.10.2007, às 11h27m

Tabela 3 - As religiões afro-brasileiras nos censos de 1980, 1991 e 2000

Religião 1980 1991 2000 Incremento em %


1980-1991 1991-2000

Religiões afro- 678.714 648.475 571.329 - 4,5% - 11,9%


brasileiras 0,57% 0,44% 0,34%
(candomblé +
umbanda)
+ 31,3%
Candomblé (*) 106.957 139.328 (*)
0,07% 0,08%

Umbanda (*) 541.518 432.001 (*) - 20,2%


0,37% 0,26%

População total 119.011.052 146.815.788 169.799.170 + 23,4% + 15,7


do Brasil 100% 100% 100%

Candomblé (*) 16,5% 24,4%


sobre o total de
afro-brasileiros
em %
Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 2003. (*) Dado não disponível.
http://www.fflch.usp.br/sociologia/prandi/seguidor.doc., acessado em 08.10.2007, às 11h29s

Conforme o censo realizado em 2000, vemos que 73,8% dos brasileiros são
católicos, 15,4% são evangélicos e logo a seguir vêm os sem religião, com 7,3% de
auto-declaração. Somando-se estas três principais religiões, chegamos a um total de
96,5%. Com isso, concluímos que as demais religiões ocupam apenas 3,5% da
população brasileira.
17

Todas as outras modalidades religiosas que não as católicas e evangélicas se


acotovelam nessa faixa, que é estreitíssima. Claro que são muitas as outras
religiões citadas pelos entrevistados, e o Censo as discerne nominalmente, mas
nelas se congregam populações muito pequenas, para não dizer ínfimas.
Os espíritas kardecistas comparecem com apenas 2.337.432 adeptos, ou
1,38% da população. Mas estão crescendo. Todavia, é importante avaliarmos os
resultados obtidos no Censo do IBGE: recentemente, quando Chico Xavier morreu,
(ícone brasileiro do kardecismo) seus seguidores afirmavam que existiam 10 milhões
de espíritas no Brasil. Porém, de acordo com o censo, como vimos acima, são 2,3
milhões.
Mas, ao contrário dos kardecistas, as religiões afro-brasileiras -- objeto deste
trabalho -- estão diminuindo: no Censo 2000 seus seguidores são apenas 571.329,
ou apenas 0,34% dos brasileiros. Nesse número, os umbandistas são pouco mais
de 430 mil e os candomblecistas não chegam a 140 mil em todo o país.
Podem ser muitas as razões do descenso afro-brasileiro, mas certamente
elas estão associadas às novas condições da expansão das religiões no Brasil no
contexto do mercado religioso. A oferta de serviços que a religião é capaz de
propiciar aos consumidores religiosos e as estratégias de acessar os consumidores
e criar novas necessidades religiosas impõem mudanças que nem sempre religiões
mais ajustadas à tradição conseguem assumir. É preciso, sobretudo, enfrentar-se
com os concorrentes, atualizar-se.
Para religiões antigas, podem ocorrer mudanças que mobilizam apenas um
setor dos líderes e devotos, como, por exemplo, ontem, a fração das Comunidades
Eclesiais de Base e, hoje, a parcela da Renovação Carismática do catolicismo
(Prandi, 1997). Isso vale para os grandes grupos de religiões congêneres. No caso
dos evangélicos, avançam os renovados pentecostais, mas declinam algumas das
denominações históricas, tradicionais.
Certamente, o sincretismo católico, que por quase um século serviu de
guarida aos afro-brasileiros, não deve mais lhes ser tão confortável. Quando o
próprio catolicismo está em declínio, a âncora sincrética católica pode estar pesando
desfavoravelmente para os afro-brasileiros, fazendo-os naufragar. Por outro lado, é
sabido como muitas igrejas neo-pentecostais têm crescido à custa das religiões afro-
brasileiras, sendo que para uma de suas mais bem sucedidas versões, a Igreja
Universal do Reino de Deus, o ataque sem trégua ao candomblé e a umbanda e a
seus deuses e entidades é constitutivo de sua própria identidade (Mariano, 1999).
18

No interior das religiões afro-brasileiras, o pequeno candomblé foi crescendo.


Mostra a Tabela 2 acima, que, em 1991, o candomblé já tinha conquistado 16,5%
dos seguidores das diferentes denominações de origem africana. Em 2000, esse
número passou a 24,4%. O candomblé cresceu para dentro e para fora do universo
afro-brasileiro. Seus seguidores declarados eram cerca de 107 mil em 1991 e quase
140 mil em 2000, o que representa um crescimento de 31,3% num período em que a
população brasileira cresceu 15,7%. Por outro lado, a umbanda, que contava com
aproximadamente 542 mil devotos declarados em 1991, viu seu contingente
reduzido para 432 mil em 2000. Uma perda enorme, de 20,2%. E porque o peso da
umbanda é maior que o do candomblé na composição das religiões afro-brasileiras,
registrou-se para este conjunto nada mais nada menos que um declínio de 11,9%
numa só década. Na década anterior, as religiões afro-brasileiras já tinham sofrido
uma perda de 4,5%, declínio que não somente se confirmou como se agravou na
década seguinte. Em suma, o conjunto encolheu, mas o candomblé cresceu.

2 AS PRINCIPAIS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS

2.1 O CANDOMBLÉ

Religião afro-brasileira que cultua os orixás, deuses das nações africanas de


língua Yorubá dotados de sentimentos humanos como ciúme e vaidade, e que tem
suas origens no Bantu, Nagô e Yorubá.
O candomblé chegou ao Brasil entre os séculos XVI e XIX com o tráfico de
escravos negros da África Ocidental. Sofreu grande repressão dos colonizadores
portugueses, que o consideravam feitiçaria.
É a religião que mais conservou as fontes do panteão africano, servindo como
base para o assentamento das divindades que regeriam os aspectos religiosos da
Umbanda. É conhecido e praticado, não só no Brasil, como também em outras
partes da América Latina onde ocorreu a escravidão negra - a Santería -- similar
cubana, por exemplo, é muito famosa.
Em seu culto, para cada Orixá há um toque, um tipo de canto, um ritmo, uma
dança, um modo de oferenda, uma forma de incorporação, um local próprio e uma
saudação diferente. A autoridade suprema no Candomblé, o mestre, guia e chefe de
19

um terreiro, encarregado de dirigir o culto aos orixás, é chamado Babalorixá, pai-de-


santo, babá ou babalaô.
A palavra candomblé é sinônimo de religião africana. Sempre foi e é usada
ainda neste sentido. O Candomblé propriamente dito, é uma dança religiosa, de
origem africana, na qual os iniciados reverenciam ou rezam para seus Orixás. A
dança é, portanto, uma invocação. É praticada principalmente por pessoas do sexo
feminino, chamadas “sambas”. Homens também podem participar da dança, mas o
bailado das “sambas” tem maior efeito invocador.
As reuniões são realizadas em barracões rústicos e erguidos de acordo com
certos preceitos: o feitio do barracão é retangular, com telhado coberto de palmas e
ao seu redor são construídas casinholas para assentos dos santos.
Os deuses do Candomblé têm origem nos ancestrais africanos divinizados há
mais de 5000 anos. Muitos acreditam que esses deuses eram capazes de manipular
as forças naturais, por isso, cada orixá tem sua personalidade relacionada a um
elemento da natureza.
As cerimônias são realizadas com cânticos, em geral, em língua nagô ou
yorubá. Os cânticos em português são em menor número e refletem o linguajar do
povo. Há sacrifícios de animais (galo, bode, pomba) ao som de cânticos e danças. A
percussão dos atabaques constitui a base da música. O despacho exige azeite de
dendê, farofa, cachaça e outras oferendas, variando conforme a necessidade.
Os filhos de santo são os sacerdotes dos orixás e nem todos são preparados
para receber os santos. Existem os que sacrificam animais, os que cuidam dos guias
quando os espíritos baixam e ainda os que tocam o atabaque e os que preparam a
comida a ser oferecida. A síntese de todo o processo seria a busca de um equilíbrio
energético entre os homens e a energia dos seres que habitam o orum, o suprareal
(que tanto poderia localizar-se no céu - como na tradição cristã - como no interior da
Terra, ou ainda numa dimensão estranha a essas duas).
No Brasil, existem diferentes tipos de Candomblé, o Queto, na Bahia, o
Xangô, em Pernambuco, o Batuque, no Rio Grande do Sul e o Angola, em São
Paulo e Rio de Janeiro. Eles se diferenciam pela maneira de tocar os atabaques,
pela língua do culto, e pelo nome dos orixás. A zona de maior propagação dessa
religião encontra-se nos arredores de Salvador, Bahia.
O mais antigo terreiro de Candomblé da Bahia nasceu há 450 anos. É
conhecido como Engenho Velho ou Casa Branca, e fica na avenida Vasco da Gama,
em Salvador. Por volta de 1830 três mulheres negras conseguiram fundar o primeiro
20

templo de sua religião na Bahia, conhecida como Ylê Yá Nassó, casa da mãe
Nassó. (Nassó seria o título de princesa de uma cidade natal da costa da África).
Seria o primeiro terreiro resistindo às opressões católicas. Da casa da mãe Nassó se
originam outros que sobrevivem até hoje, e que fazem parte do grande
CANDOMBLÉ DA BAHIA: o Gantóis, cuja ilustre dirigente foi mãe menininha do
gantóis (falecida em 1986), e o Axé Opô Afonjá, em São Gonçalo do Retiro, que, por
sua vez, deram origem a muitas outras, em cada canto de Salvador, das principais
cidades do interior e de outros estados brasileiros.

2.1.1 Generalidades do Candomblé

Caboclo - Existem os chamados "Candomblés de Caboclo", típicos dos cultos


trazidos pelos negros de Angola. Nessas cerimônias, as filhas e os filhos de santo
incorporam não apenas os orixás (que jamais conversam com os presentes), mas
também os espíritos de "caboclos", que seriam entidades de luz da corrente
indígena.
No Candomblé, “o caboclo” é o dono da terra. Em Salvador há uma festa
anual que dura três dias em sua homenagem. Os caboclos, na sua maioria, são
espíritos de índios, exceto o Boiadeiro, que é vaqueiro; o Martin Pescador, que como
o nome já diz, é pescador; o Marujo que é marinheiro e alguns outros. Os caboclos
de maior popularidade são: Oxossí, Tupinambá, Tupiniquim, Sete flechas, Pena
Branca, Sultão das Matas, Sete Serras, Serra Negra, Pedra Preta (este ultimo teria
sido o espirito do famoso pai de santo Joãozinho da Gomeia), Erú, Rompe Mato,
Raio do Sol, Rompe Nuvem e outros. Na Bahia os Candomblés são em maioria
caboclos, são um misto de Keto e Angola.
Vodum - A religião dos orixás entre os Iorubás-nagôs (Nigéria/Benin) e dos
voduns entre evê-fon (Togo/Benin), no Brasil conhecido como Jejes ou Minas, está
ligada à nação de família numerosa originária de um mesmo antepassado que
engloba os vivos e os mortos. Em principio seria um ancestral divinizado que em
vida estabelecera vínculos que lhe garantiam um controle sobre as forças da
natureza, como o trovão, as águas, o vento ou a possibilidade de exercer atividades
como a caça, trabalho com metais e o conhecimento de propriedades das plantas e
sua utilização.
21

Mavu Lissa - A mais importante divindade dos voduns. Lissa simboliza o


principio masculino, o sol e é representado pelo camaleão. Mavu simboliza o
principio feminino, a lua, considerada mãe de todos os sexos. São representados
por duas metades de uma cabeça embranquecida. Mavu e Lissa exprime a unidade
do mundo concebido em termos de qualidade, na nação Keto é Olorum.
Xapanã/Sapatá - Divindade da varíola e das doenças contagiosas. Xapanã é
chamado Obaluaê ou Omolu, e o vodum Sapatá é o dono da terra e rei das pérolas.
Seu dia é segunda-feira.
Egun - Alma dos mortos cultuada nas famílias. Os Eguns recebem as peças e
oferendas dos seus descendentes e proferem em reciprocidade, benção e votos de
felicidades.
Tambor - Tambor das Minas ou tambor de Mina. Um dos nomes do culto Jeje
de Candomblé no Maranhão, já que as cerimônias eram marcadas pelo toque de
tambores.
Terreiro - Uma casa de santo pode existir em qualquer espaço, desde que
tenha ligação com a terra, neste espaço existem pontos, instalados pelo pai ou mãe
de santo, que todo terreiro deve ter. Sendo uma religião iniciática, o acesso a certos
espaços do terreiro, como por exemplo, pejis, roncó, cozinha, está vinculado ao
conhecimento da religião que o indivíduo tem. Apenas os ebomis transitam
livremente por todos estes espaços.
O candomblé ainda necessita de outros espaços para realização de seus
rituais e por ser também uma religião tribal, originária de sociedades agrárias, sua
relação com a natureza, do ponto de vista dos rituais se encontra bastante
prejudicada em grandes cidades como São Paulo, por exemplo.Tornam –se
necessárias adaptações, substituições, muito lamentadas pelos sacerdotes.

Cerimônias Públicas - Festa ou Toque é o nome que se dá, genericamente,


à cerimônia pública de candomblé. O objetivo principal é a presença dos orixás entre
os mortais. Sendo a música uma linguagem privilegiada no diálogo dos orixás, a
festa pode ser entendida como um chamado ou uma prece, pedindo aos deuses que
venham estar junto a seus filhos, seja por motivo de alegria ou necessidade.
Tratando-se de uma festa,todo o terreiro é enfeitado com folhas na parede e
no chão e os três atabaques (RUM, RUMPI, LÉ), considerados aqueles que chamam
os orixás juntamente com EXÚ, recebem comidas e são enfeitados com laços na cor
do orixá ao qual foram consagrados. Todas as festas acontecem no espaço do
22

terreiro denominado barracão, onde se encontram os atabaques, à frente dos quais


canta e dança o povo- de- santo, separado ( ainda que dentro de um mesmo
ambiente ) da assistência. Um toque comum começa, geralmente, pelo ritmo dos
atabaques chamando a roda - de- santo (filhos de santo organizados em círculo),
respeitando a hierarquia do terreiro. As roupas costumam ser muito bonitas, fazendo
alusão ao orixá individual do adepto. São usadas as contas dos orixás, os brajás
(colar de contas feito em gomos , símbolo do conhecimento e poder) e as faixas na
cintura, símbolos de ebomis e tudo o que identifique o status religioso.
A roda entra dançando e estando no barracão, os atabaques param, o pai-
de-santo saúda EXÚ e tem início o padê, que tem por finalidade “despachar” EXÚ
(através da oferenda de farinha com dendê e gim), seja porque se acredite que ele
possa causar perturbações ao toque, seja porque se acredite que é ele o principal
mensageiro,que abrirá os caminhos para vinda os orixás. Fim do padê, prossegue o
xirê que é uma estrutura seqüencial de cantigas para todos os orixás cultuados na
casa ou mesmo pela Nação começando por EXÚ e indo até OXALÁ. A palavra xirê
significa brincar, dançar, e mostra o tom alegre da festa onde os Orixás vêm à terra
para dançar e brincar com seus filhos. Seja qual for a seqüência, privilegiando os
vínculos de parentesco e de nação, ela costuma ser fixa para cada casa, dirigindo os
acontecimentos da festa, fazendo com que os filhos-de-santo identifiquem, através
das cantigas e ritmos, os momentos apropriados ao cumprimento da etiqueta
religiosa.
Durante os rituais, são entoados cânticos de louvor aos orixás. Geralmente,
as letras dessas cantigas ressaltam as características de cada divindade, e destina-
se a invocá-las. Costuma-se entoar de três a sete cânticos para cada uma delas.
Quando a entidade finalmente "desce", incorpora-se nas filhas-de-santo a elas
consagradas. Assim, as filhas de Iansã "recebem" Iansã, as de Oxalá, incorporam o
próprio, e assim por diante. Depois de todas as filhas (e filhos) de santo estarem
incorporadas e devidamente paramentadas, elas dançam em roda no barracão, ao
som as cantigas e dos atabaques, e dessa maneira os orixás asseguram sua
proteção a seus descendentes.

2.2 A UMBANDA
23

Religião afro-brasileira que mistura crenças e rituais africanos com


europeus. As raízes umbandistas encontram-se em duas religiões trazidas da África
pelos escravos: a cabula, dos bantos, e o candomblé, da nação nagô. Cavalcante
Bandeira reporta-se aos mestres do idioma africano, citando o vocábulo umbanda
como: “Arte de curar”, “Magia”, “Faculdade de curar por meio da medicina natural ou
sobrenatural”; ou ainda “Os sortilégios que, segundo se presume, estabelecem e
determinam a ligação entre os espíritos e o mundo físico”. O vocábulo “Umbanda” só
pode ser identificado dentro das qualificadas línguas mortas. Assim, a palavra
"UMBANDA" é oriunda do Sânscrito, que se pode traduzir por “DEUS AO NOSSO
LADO” ou “AO LADO DE DEUS”.
Uma das religiões afro-brasileiras mais praticadas no Brasil, com maior
propagação na Bahia e no Rio de Janeiro, a Umbanda brasileira começou a ser
formada por volta de 1530, com a mistura de concepções religiosas trazidas pelos
negros da África, na época da escravidão.
Todavia, o primeiro terreiro foi fundado somente em 15 de novembro de 1908,
através de Zélio Fernandino de Moraes. Na época com 17 anos, Zélio, que fazia
parte de uma família tradicional de Niterói, RJ, incorporava o chamado “Caboclo das
Sete Encruzilhadas” e foi o responsável pela formação de sete tendas que acabaram
difundindo a Umbanda. Todas as tendas funcionavam sob o lema: "manifestação do
espírito para a caridade" e usavam rituais simples com cânticos baixos e
harmoniosos.

2.2.1 Aspectos Característicos da Umbanda

A Umbanda é uma doutrina espiritualista como o Espiritismo, o Catolicismo, o


Esoterismo, etc... o que não impede de haver entre elas diferenças essenciais que
lhe dão características próprias. É resultante natural da fusão espiritual das raças
branca, índia e negra. A Umbanda incorpora os adeptos dos deuses africanos como
caboclos, pretos velhos, crianças, boiadeiros, espíritos das águas, eguns, Exús, e
outras entidades desencarnadas na Terra, sincretizando geralmente as religiões
católica e espírita.

Fundamento básico – É a crença ou culto aos espíritos evoluídos. Sua lei


principal é resumida numa só palavra: CARIDADE – no sentido do amor fraterno em
24

benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a
condição social, não podendo haver ambicioso, vaidoso, mistificadores, pois estes,
mais cedo ou mais tarde, são afastados da Umbanda pelos espíritos de luz. Por tais
razões, os “atendimentos” na Umbanda são totalmente gratuitos.
O sacrifício de animais (oferenda de sangue) nunca foi, não é e nem será
ritual de Umbanda. Não cobrar, não matar, usar o branco, evangelizar e utilizar as
forças da natureza são rituais de Umbanda.
O chefe da casa é conhecido como Pai de Santo e seus filiados são os filhos
ou filhas de santo. O Pai de Santo principia a cerimônia com o encruzamento e a
defumação dos presentes e do local. Seguem-se os pontos, cânticos sagrados para
formar a corrente e fazer “baixar o santo”.
Muitos são os orixás invocados na cerimônia de Umbanda, entre eles Ogun,
Oxóssi, Iemanjá, Exú, entre outros. Também se invocam pretos velhos, índios,
caboclos, ciganos.
A Umbanda absorveu das religiões africanas o culto aos Orixás e o adaptou à
nossa sociedade pluralista, aberta e moderna, pois só assim um culto ancestral
poderia renovar-se no meio humano, sem que a identidade básica dos seus deuses
fosse perdida. A Umbanda é definida pelos umbandistas como “um movimento
mágico religioso”, genuinamente brasileiro, e a sua finalidade primordial como
religião é a de “despertar anseios de espiritualidade na criatura humana”. Para que
esse despertamento se faça, torna-se necessário “um permanente estado de
religiosidade, onde toda vivência é baseada na compreensão e plena sensibilidade
(não sentimentalismo), para com tudo e todos que nos cercam e compõem a
humanidade”.
A umbanda considera o universo povoado de entidades espirituais, que são
chamados de “guias”, os quais entram em contato com os homens por intermédio de
um iniciado (o médium), que os incorpora. Tais guias se apresentam por meio de
figuras como o caboclo, o preto-velho e a pomba-gira. Os elementos africanos
misturam-se ao catolicismo, através do que conhecemos como “sincretismo
religioso”, criando a identificação de orixás com santos. Outra influência sofrida pela
umbanda é do espiritismo kardecista, que acredita na possibilidade de contato entre
vivos e mortos e na evolução espiritual após sucessivas vidas na Terra. Incorpora
ainda, a umbanda, ritos indígenas e práticas mágicas européias.
Na Umbanda o Exú é uma Entidade (alma) que cuida da Segurança da casa
e de seus médiuns.A reunião de Exú ou Gira de Exú tem como finalidade
25

descarregar os médiuns e os consulentes. Unindo suas energias eles são capazes


de entrar em contato e orientar mais facilmente com almas que ainda não
encontraram um caminho. Estas almas vivem entre os encarnados, prejudicando-
os, obsedando e até mesmo trazendo-lhes um desequilíbrio tão grande que estes
são considerados loucos.
Os Exús são almas que riem, fazem troça, mas não brincam em serviço,
segundo os entendidos da umbanda. Cada pessoa que entra em uma casa de
Umbanda traz consigo seu “saco de lixo” cheio (são seus pensamentos, suas raivas,
suas desilusões...) e são os Exús os trabalhadores encarregados de juntarem todos
estes sacos para descarregar, dando a cada um a oportunidade de diminuir o seu
lixo e facilitando as próximas limpezas.
Os Exús são considerados pelos umbandistas como “a polícia espiritual das
casas de Umbanda” e trabalham ligados às falanges das Sete Linhas de Umbanda,
que trabalham nos Templos.
Os Exú e a Pomba Gira são tidas pelos umbandistas como aquela polícia
que guarda e toma conta das ruas, obedecendo sempre uma hierarquia de
comando, que é o Exú chefe do Terreiro, e acima dele os guias chefes da Casa. Os
Exús são vistos, também, na umbanda, como aqueles lixeiros alegres que passam
pelas ruas recolhendo toda a “sujeira”. Vêm com brincadeiras e algazarras, mas
fazem um trabalho enorme em benefício da sociedade. E as Pombas-gira seriam
as “margaridas” -- mulheres que trabalham também na limpeza das ruas e da
cidade, exercendo a sua profissão com presteza e determinação. Os Exús e
Pomba-gira prestam obediência ao Chefe da Casa.
Outra curiosidade na Umbanda diz respeito, hoje, ao uso generalizado de
atabaques nessa religião. Quando o “Pai Zélio Fernandino de Moraes” registrou em
cartório a primeira tenda Umbandista em 1908, sua própria casa, a Tenda de
Umbanda Nossa Senhora da Piedade não tocava atabaques, mas estes
instrumentos do Candomblé foram incorporados a religião e hoje é difícil encontrar
um terreiro de Umbanda que não os possua em seus rituais.
As práticas existentes dentro dos terreiros de Umbanda variam muito. Alguns
demonstram uma ligação mais forte com o Espiritismo, outros se aproximam mais do
Candomblé. Em comum, têm a força dos rituais, denominados “giras”, em que os
filhos e filhas-de-santo entoam cânticos e dançam ao som dos atabaques. As
cerimônias geralmente acontecem à noite e se estendem madrugada adentro. Os
espíritos que "descem" incorporam-se nos fiéis que estão participando da gira.
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Aqueles que "recebem" os espíritos são chamados de “cavalos”. Durante a


incorporação, o "cavalo" permanece inconsciente, e quem fala através dele é seu
"guia", ou seja, a entidade espiritual a ele associada. Para auxiliar os “cavalos”,
existem os “cambonos”, que ocupam papel relevante na hierarquia do terreiro. Mas a
posição mais elevada cabe à mãe ou ao pai-de-santo, que é a pessoa responsável
pelos trabalhos espirituais.
Nos terreiros umbandistas, o ponto focal é o “congá”, altar profusamente
enfeitado com flores, velas acesas e colares de contas coloridas, que simbolizam os
diferentes santos e orixás. No congá, imagens de Jesus, Nossa Senhora e santos
católicos dividem espaço com estatuetas de preto-velhos, caboclos, ciganos,
marinheiros e outras entidades espirituais.
Para a umbanda, seu Mestre Supremo é Jesus, considerado como o Filho de
Deus.
Eles acreditam que “Os mentores da Umbanda, sediados na “Aruanda”
(cidade localizada no plano astral), já determinaram sabiamente o procedimento
normativo, religioso para os setenta anos vindouros, 1979/2049, como sendo o
período de Afirmação Doutrinária. Obviamente, a doutrina de Umbanda ficará como
ponto essencial para a estabilidade e perpetuação desse movimento, na forma
digna, ensejada pelo estudo constante, a par do esforço sincero de cada devoto, no
sentido de conduzir a Umbanda, no plano físico, a um merecido status de religião
organizada, a serviço da comunidade religiosa nacional”.
Vejamos, a seguir, algumas outras características da Umbanda:
Jogo de Búzios - Oráculo usado como canal de comunicação entre os
homens e os deuses. É comandado por Ifá, o orixá da adivinhação.
Quizilas - Coisas que desagradam aos orixás. Nesse grupo, se incluem
certos tipos de alimentos, além de cores, perfumes e uma infinidade de elementos.
Por exemplo: O sangue é a quizila de Xangô.
Obrigações - De tempos em tempos, o adepto do Candomblé tem o dever de
prestar certas homenagens e de fazer oferendas para seus orixás, de modo que
possa contar sempre com seus favores e sua proteção.
Oferendas - Quando as entidades que compõem as diferentes falanges estão
incorporadas, elas se prestam a aconselhar seus consulentes e a realizar alguns
rituais. Nestas ocasiões, utilizam-se dos quatro elementos básicos da Natureza - ou
seja, AR, TERRA, FOGO e ÁGUA.
27

É por isso que, muitas vezes, essas entidades solicitam cigarros, bebidas,
alimentos. Cada item pedido corresponde a determinados elementos naturais. Veja
os exemplos:
Água e bebidas não-alcoólicas: Servem para a cura, pois simbolizam a
força, o remédio e o poder gerador.
Bebidas alcoólicas: Pertencem ao elemento Fogo e permitem transmutar as
energias.
Cachimbo, charuto ou cigarro: Une o Fogo, a Água, a Terra e o Ar,
sintetizando, assim, os elementos de todas as linhas.
Sacrifícios – Os sacrifícios de aves e animais é totalmente alheio à
Umbanda.
Agogô - Sineta de ferro dupla, que é acionada pelo alabê para dar início à
cerimônia.
Atabaques (rum, rumpi e lé) - Instrumentos musicais tocados durante as
cerimônias por filhos de santo designados especificamente para essa função.
Barracão - Grande sala, onde ocorrem os rituais, inclusive as cerimônias
abertas ao público.
Camarinha - Pequenos "quartinhos" espalhados pelo terreiro, dentro dos
quais os filhos e filhas de santo se recolhem por ocasião de sua iniciação.
Peji - Altares das Divindades. Nos pejis são depositadas as oferendas.
Alabê - Responsável pelos atabaques e pelo toque do agogô, que marca o
início dos trabalhos.
Axoguns - São os filhos-de-santo encarregados de executar os serviços
sacrificiais. Trabalham sempre sob a supervisão do babalorixá ou da ialorixá
responsável pela casa.
Babalorixá - Chamado também de zelador do terreiro ou pai-de-santo, é o
dirigente dos trabalhos. É sobre ele que recai a responsabilidade pelos trabalhos
espirituais realizados na casa. Aplica-se essa expressão somente para o sexo
masculino.
Ekede - É uma espécie de "monitora". Durante os rituais, ela conduz as iaôs
incorporadas até seus respectivos pejis, e as paramenta com as roupas e as armas
correspondentes ao orixá incorporado.
Ialorixá - Exatamente a mesma coisa que babalorixá, só que neste caso,
trata-se de alguém do sexo feminino. Também é chamada de "mãe-de-santo" ou
zeladora.
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Laôs - Filhas-de-santo, que entoam os cânticos de louvor aos orixás e


dançam em roda, durante os trabalhos. Em geral, são entoadas de três a sete
cantigas para cada orixá. Quando este "desce", incorpora-se nas iaôs
correspondentes. Vale ressaltar que as iaôs dividem todas as atividades realizadas
no terreiro, inclusive limpeza, preparação das oferendas, etc.
Ogans - Filhos-de-santo encarregados de garantir a manutenção do terreiro,
por meio de contribuição financeira ou de algum benefício obtido por meio de seu
prestígio pessoal. São sempre designados pelo responsável da casa. Cabe ao
Conselho de Ogans garantir a subsistência material do terreiro.
Pai-pequeno (ou mãe-pequena) - Assistente direto do babalorixá ou da
ialorixá.

2.2.2 MANTRAS DE UMBANDA


Um mantra ou ponto cantado, é uma série de sílabas que invocam a energia
dos Orixás ou de Entidades espirituais durante as sessões através da energia
mental.
A relação entre a fala, a respiração e o mantra podem ser mais bem
demonstrados através do método pelo qual o mantra funciona. Como vimos, um
mantra é uma série de sílabas cujo poder reside em seu som; através da
pronunciação repetida, pode-se obter controle sobre uma determinada forma de
energia. A energia do indivíduo está fortemente ligada à energia externa, e uma
pode influenciar a outra. É possível influenciar a energia externa, efetuando os assim
chamados "milagres". Tal atividade é realmente o resultado de se ter controle sobre
a própria energia, através do qual se obtém a capacidade de comando sobre
fenômenos externos.

2.2.3 O sincretismo da umbanda com outras religiões

Além do sincretismo clássico entre a herança religiosa africana e o


Catolicismo, a Umbanda absorveu elementos do Espiritismo kardecista, de modo
que, no decorrer dos rituais, o fiel se comunica com espíritos desencarnados. O
sincretismo entre orixás e santos católicos é muito forte. Vejamos as principais
correspondências:
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Euá - Nossa Senhora das Neves.


Iansã - Santa Bárbara.
Ibejis - Cosme e Damião.
Iemanjá - Virgem Maria, principalmente Nossa Senhora da Conceição e
Nossa Senhora dos Navegantes.
Logum - São Miguel Arcanjo e Santo Expedito.
Nanã - Santa Ana, mãe de Maria.
Obá - Santa Catarina, Santa Joana D´Arc e Santa Marta.
Obaluaiê - São Lázaro e São Roque.
Ogum - Santo Antonio e São Jorge.
Oxalá - Jesus.
Oxóssi - São Jorge e São Sebastião.
Oxum - Nossa Senhora das Candeias e Nossa Senhora Aparecida.
Oxumaré - São Bartolomeu.
Xangô - São Francisco de Assis, São Jerônimo, São João Batista e São
Pedro.

2.3 A QUIMBANDA

Terceira maior religião afro-brasileira, a Quimbanda, por sua vez, diferencia-


se das outras acima citadas, pois suas influências não são somente Bantu, Nagô e
Yorubá. Também abrangem em larga escala vários aspectos da Religião Indígena,
Católica, o Espiritismo moderno (kardecismo), a alquimia, o estudo da natureza
fundamental da realidade e Correntes Orientais.

A formação da Quimbanda teve uma forte influência dos escravos e índios


que sincretizaram Exú com o Diabo, por este ser “inimigo dos brancos” e por não
aceitarem os Santos Católicos, identificando-se assim mais uma vez com o Diabo.
Com o advento da Umbanda começou o trabalho de Quimbanda em Terreiros de
Umbanda, o que deu sustentação firme aos trabalhos com os “Compadres” e Exús e
assim formatou-se o atual culto da Quimbanda. Na verdade pode-se dizer que a
Quimbanda, como a conhecemos atualmente, nasceu juntamente com a Umbanda,
em 15 de novembro de 1908, pois uma Linha completa a outra.

A Quimbanda, também conhecida pelos leigos como macumba, é uma


ramificação da umbanda que pratica a magia negra. Embora cultuem os mesmos
30

Orixás e as mesmas entidades, se sirvam das mesmas indumentárias, e tenham em


seus terreiros semelhanças muito marcantes, tais como a presença de um congá
(altar) repleto de imagens dos santos católicos simbolizando os orixás, caboclos e
pretos velhos, existem entre as duas religiões diferenças fundamentais e decisivas.
Uma delas é que na Quimbanda são realizados despachos com animais como galos
e galinhas pretas por exemplo, pólvora, objetos da pessoa a quem se quer
prejudicar, dentes, unhas ou cabelo de pessoas ou animais. Estes despachos
costumam-se realizar a meia-noite em locais como encruzilhadas e cemitérios.

Outra prática bastante freqüente da quimbanda e que também se encontra


presente no vodu haitiano sob o nome de “paket”, é o envultamento. Este, diz
respeito à construção de um boneco de pano ou qualquer outro material, desde que
pertencente à pessoa a quem quer se prejudicar, e a seguir alfinetes ou pregos são
utilizados para transpassar o corpo da imagem.
Uma das práticas mais conhecidas da Quimbanda é a Gira dos Exús, ou
Enjira dos Exús, cerimônia realizada, via de regra à meia noite, na qual diversos
Exus incorporam nos médiuns e passam a dançar, beber, fumar, utilizando-se de
uma linguagem bastante grosseira.

A Quimbanda está organizada hierarquicamente em sete grandes reinos, que


compõem as Sete Linhas da Quimbanda, sendo que na Quimbanda também é
Oxalá quem manda. O “Sr. Omolu” é o Rei, coroado por Oxalá, e este delega os
poderes aos Exús Chefes de Falange.

Assim como há as sete linhas que regem e organizam as forças existentes


dentro da Umbanda, dentro da Quimbanda o mesmo acontece e processa, pois
conforme eles definem, "tudo que há em cima, há em baixo".

Um dado muito interessante, colhido na realização deste trabalho, foi a


seguinte informação, prestada pelo “Xangô Damião Preto - Trabalho 33 - Grau 01,
no dia 07/11/2005:

O Reino de Exu é composto em sua totalidade por um povo de


18.672.577 Exus, divididos em 7 linhas, onde estas linhas compreende
1.111 legiões, o que se entende que há 2401 Exus distribuídos nas
falanges, sem contar os Kiumbas existentes e transitórios na Linha
Mista. (Extraído do site http://www.umbandavirtual.byhost.com.br/consulta.php?id=375,
acessado em 23.11.2006).,
31

De se perguntar, como curiosidade, como foi que chegaram a esse número


existente de Exus!

Por outro lado, encontramos esta explicação também assaz interessante, do


Sr. Ronald Sanson Stresser Junior, o qual se diz entendido na quimbanda, e reside
em Salvador - BA:

É importante lembrar que quando o Exú, qualquer um deles, estiver


incorporado no Pai de Santo, no dirigente dos trabalhos, ele está
trabalhando com a Coroa e por este motivo é o Chefe dos trabalhos da Gira
de Quimbanda, tendo liberdade de movimento entre os Reinos através do
contato com os outros Exús presentes no trabalho. Trabalhar com os
"compadres" Exús requer muito respeito e consideração por parte dos
dirigentes, médiuns e consulentes pois são entidades muito poderosas, de
muito Axé.

(Extraído de http://www.ruadasflores.com/quimbanda/ , acessado em 07.10.2007, às 8h25s).

As entidades que constituem a Quimbanda são denominadas Exús, Pombas-


gira e Exús-mirins. Têm missão cármica definida e trabalham no sentido de evoluir
no plano espiritual, exatamente como os integrantes de todas as outras falanges.
Os Exús são responsáveis pelos trabalhos de proteção, além de terem
energia vitalizadora e promoverem a desagregação de energias maléficas. Existe
ainda um outro papel, muito delicado, que cabe aos integrantes desta hierarquia: é o
de liberar o consciente e o inconsciente do fiel que estiver se preparando para
desenvolver um trabalho mais ativo no terreiro. As entidades de Quimbanda podem
trazer à tona os traumas e os segredos reprimidos - conscientemente ou não - pelo
"filho de fé".
Sendo assim, pode acontecer de os "cavalos" que estejam incorporando
essas entidades de Esquerda usar linguajar torpe ou adotarem comportamentos
duvidosos. Nestes casos, deve-se entender que aquele não é o procedimento da
entidade em si - na verdade, pode tratar-se de uma "faxina" no inconsciente do
próprio médium.
Seus adeptos entendem que “a natureza complexa da missão confiada aos
espíritos da Quimbanda os torna bem mais difíceis do que as demais entidades.
Sendo assim, é necessário ter muito CONHECIMENTO e, principalmente,
DISCERNIMENTO, para lidar com essas forças”.

2.4 O CATIMBÓ
32

Culto estudado como uma das manifestações afro-brasileiras que começou


sob forma de um ritual de origem indígena, com o tempo foi assimilando elementos
do Candomblé, tornando-se uma manifestação cultural independente, cultuado ate
hoje. Entretanto é mais conhecido por ser uma das correntes formadoras do
sincretismo umbandista brasileiro. O culto básico é simples, resume-se no transe
mediúnico do pajé, que atende as consultas dando orientação médica, prevendo o
futuro, e resolvendo questões práticas. Aqui sua função se aproxima a do
Babalorixá, já que ambos são pessoas que conhecem as folhas que curam ou
provocam doenças, bem como aqueles que exercem ou orientam a nação para
através do astral conseguirem o que lhes é negado pelo mundo material. O termo
Catimbó originalmente se refere ao cipó que o indígena utilizava para entontecer os
peixes e apanhá-los com maior facilidade. No catimbó, não são os deuses que se
incorporam, mas os espíritos dos antepassados, o que influenciou claramente as
linhas mestras do ritual umbandista.

2.5 O XANGÔ

Cultos de origem nagô ou cultos sincréticos por eles fortemente influenciados,


na região nordestina, especialmente em Pernambuco e Alagoas. Também pode ser
encontrado o termo, designando um culto semelhante ao Candomblé de caboclo.
Essa extensão do nome de um orixá à totalidade do culto é originada no grande
numero de devotos de Xangô entre os escravos que se fixaram na área.

2.6 O BABACUÊ

Culto brasileiro da Amazônia, especialmente de Belém do Pará. Tem muito da


Umbanda em seus ritos, sendo formado pelo sincretismo entre o Candomblé, cultos
indígenas nativos e informações cristãs em geral.

2.7 O CULTO VODU


33

Tem sua origem entre os negros do Daomé (atual Benin) e se baseia em dois
pilares principais: a incorporação dos próprios deuses pelos fiéis e a invocação dos
espíritos dos antepassados, com o objetivo de se fazer consultas oraculares.Essa
crença se disseminou largamente no Haiti, onde ganhou os contornos de uma
religião afro-cristã repleta de mitos supersticiosos e demonstrações exageradas de
força e poder.
No Brasil, esse culto não é tão popular quanto o Candomblé e a Umbanda,
mas conta com um bom número de adeptos, sobretudo na região de São Luis do
Maranhão. Foi lá que, em 1796, foi fundado o culto Mina Jeje, pelos negros fons,
originários de Abomey (à época, capital do Daomé). A família real Fon trouxe
consigo o culto às divindades (voduns, equivalentes aos orixás) e à Serpente
Sagrada, denominada Dan (correspondente ao orixá Oxumaré).
No Maranhão, a sacerdotisa - que equivaleria à mãe-de-santo do Candomblé
- é chamada de “Noche”. Quando o homem ocupa este cargo, recebe a
denominação de “Toivoduno”.
A mais famosa “Noche” da História do culto vodu maranhense foi Mãe
Andresa. Acredita-se que tenha sido a última princesa de linhagem direta da família
real Fon. Morreu em 1954, aos 104 anos de idade.

2.8 O TERMO “MACUMBA”

É a gíria popular para freqüentadores dos terreiros, independente da sua


função - que são chamados de “macumbeiros”.É originalmente o nome africano de
um instrumento musical. O termo é usado genericamente pelos leigos para designar
a totalidade dos cultos afro-brasileiros, num sentido pejorativo como sinônimo de
feitiçaria primitiva. Serve também para indicar os diversos alquidares e despachos
encontrados na rua. Geralmente denota uma postura no mínimo mal informada e
preconceituosa que joga na mesma vala manifestações culturais e teológicas
bastante distintas reduzindo os cultos a meras manifestações.

3 AS RELIGIÕES E SUAS LITURGIAS


Em resumo, o Candomblé, a Umbanda, a Quimbanda, o Catimbó, etc., são
práticas espíritas, vinculadas ao espiritismo pagão, ou baixo espiritismo.
34

Mas quem são os orixás? Que são essas entidades a quem os


candomblecistas prestam culto e adoram? Vejamos alguns conceitos:
A liturgia do candomblé reverencia a memória dos orixás, praticada por
aqueles que se acreditam seus descendentes, como forma de trazer seus espíritos
de volta ao convívio dos vivos pela reencarnação durante o culto. O nome orixá se
aplica às divindades trazidas ao Brasil pelos negros escravizados da África
ocidental. Entre os escravos, orixá foi traduzido por santo, em analogia com os
santos católicos, expediente destinado a proteger culto contra a intolerância oficial.
As cerimônias de invocação aos orixás se realizam nos terreiros.
Cada orixá é reverenciado com suas cores, insígnias e comidas
características, danças e gritos de saudação.
Reginaldo Prandi, professor do Departamento de Sociologia da Universidade
de São Paulo (USP) e que estuda há 15 anos as religiões afro-brasileiras, autor do
livro "Mitologia dos Orixás", assim se refere:
A mitologia dos orixás fala do cotidiano dos deuses e de sua interação com
os homens, de uma época em que havia trânsito entre homens e deuses,
como, aliás, em todas as mitologias. Os orixás são as divindades
predominantes nas religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a
umbanda, e serviram de modelo para deuses de outras nações negras. (
http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v16n46/a13v1646.pdf, acessado em 08.10.07, às 11h20m)

3.1 QUEM SÃO OS ORIXÁS

De acordo com o Dicionário de Cultos Afro-Brasileiros de Olga Cacciatore,


os orixás são divindades intermediárias entre Olorum (o deus supremo) e os
homens. Na África eram cerca de 600. Para o Brasil vieram talvez uns 50, que estão
reduzidos a 16 no Candomblé, dos quais só 8 passaram para à Umbanda. Muitos
deles são antigos reis, rainhas ou heróis divinizados, os quais representam as
vibrações das forças elementares da natureza: raios, trovões, tempestades, água;
atividades econômicas, como caça e agricultura; e ainda os grandes ceifadores de
vidas, as doenças epidêmicas, como a varíola, etc Orixá, portanto, é uma força de
criação divina e uma manifestação de Olorum. Olorum, o Criador, é tudo: não tem
representação nem fetiches. É infinito. É o Pai da criação universal. Corresponde,
pois, à idéia de Deus.. A palavra Orixá significa “Ministro de Olorum”.
Todos os seres humanos nascem da natureza, num determinado lugar, dia e
hora, sob o comando de um Orixá. Assim, claro está que receberam a influência
desse Orixá e, portanto, cada um terá em toda a sua vida as vibrações e proteção
35

do Pai Orixá a que está vinculado, de origem natural, o qual rege seu destino.
Os Orixás incorporam nos médiuns (iaôs) sob a condição vibratória. Chama-se esse
transe “virar para o santo”. A primeira vez que ocorre com uma pessoa, denomina-se
“bolar para o santo”.
A incorporação do Orixá, sendo vibratória, não transmite mensagens orais,
como sucede com a incorporação de espíritos desencarnados (chamados, no
Candomblé, de eguns) e com os encantados.
O culto, no Candomblé, é feito exclusivamente aos Orixás.

3.2 ORIGEM MITOLÓGICA DOS ORIXÁS

Quanto à origem dos orixás, uma das lendas mais populares diz que
Obatalá (o céu) uniu-se a Odudua (a terra), e desta união nasceram Aganju (a
rocha) e Iemanjá (as águas). Iemanjá casou-se com seu irmão Aganju, de quem
teve um filho, chamado Orungã. Orungã apaixonou-se loucamente pela mãe,
procurando sempre uma oportunidade para possuí-la, até que um dia, aproveitando-
se da ausência do pai, violentou-a. Iemanjá pôs-se a fugir, perseguida pôr Orungã.
Na fuga Iemanjá caiu de costas, e ao pedir socorro a Obatalá, seu corpo começou a
dilatar-se grandemente, até que de seus seios começaram a jorrar dois rios que
formaram um lago, e quando o seu ventre se rompeu, saíram a maioria dos orixás .
Por isto Iemanjá é chamada “a mãe dos orixás”.
Mas há controvérsias. Em outra versão encontramos que Iemanjá teve três
filhos: Ogum, Exú, Oxóssi. Como os três abandonaram o seu reino, ela foi ficando
sozinha e cada vez mais sozinha e resolveu percorrer o mundo. Chegando em
Okerê, foi admirada por todos do reino por sua beleza e meiguice. Até que o rei se
apaixonou por ela e a quis como sua esposa. Iemanjá negou e fugiu do rei. O rei
colocou seu exército para persegui-la. Na corrida, já estando exausta, Iemanjá cai e
corta os seios criando assim os mares e rios.

3.3 A QUESTÃO HISTÓRICA: VERDADE OU MITO?

Enfim, ao analisarmos os cultos afros, uma das primeiras coisas que


observamos é a impossibilidade de se fazer uma avaliação objetiva sobre a origem
36

dos orixás. Existem muitas lendas que tentam explicar o surgimento dos deuses do
panteão africano, e estas histórias variam de um terreiro para o outro e até de um
pai-de-santo para o outro. Não há possibilidade de se fazer uma verificação
científica ou arqueológica; não há uma fonte autoritativa que leve a concluir se os
fatos aconteceram mesmo ou se trata somente de mitologia, sendo difícil uma
avaliação histórica dos eventos relatados.

3.4 PRINCIPAIS ENTIDADES DOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS

Ogum é a divindade dos que trabalham ou utilizam o ferro. Manifesta-se


como um guerreiro que dança com a espada. Conhecido no Brasil como deus
guerreiro, foi uma das primeiras figuras do candomblé a ser incorporada por outros
cultos. Quando irado é vingativo e, quando apaixonado, é sensual. Seu dia da
semana é terça-feira, e suas contas são azul-escuras. Recebe sacrifícios de bodes e
galos e gosta de inhame assado com azeite. É sincretizado com santo Antônio, na
Bahia, e com são Jorge, no Rio de Janeiro. Seu grito de saudação é "Ogum iê!
Oxóssi é o deus dos caçadores, muito popular na Bahia. Recebe sacrifícios
de porcos e bodes. Sua comida é axoxô (milho branco cozido com lascas de coco).
Corresponde na Bahia a são Jorge e no Rio de Janeiro a são Sebastião. Seu grito
de saudação é "Okê arô! O elemento principal de apetrecho de Ogum é o ferro, que
lembra sua condição de ferreiro e metalúrgico, fazendo dele uma divindade da
defesa e do ataque, que luta com prazer e que tem sede de conquista do poder.
Dono da espada e da faca, está presente com sua simbologia em todas as
cerimônias e no cotidiano da vida.
Omolu, ou Obaluaiê, é a divindade das doenças contagiosas. Recebe
sacrifícios de bodes e porcos. Gosta de pipoca e aberém (massa de milho branco
assado em folhas de bananeira). Identifica-se, no catolicismo romano, com São
Lázaro e São Roque. Sua saudação é "Atotô!"
Oxumaré é a cobra e o arco-íris, e simboliza a riqueza e o dinamismo dos
movimentos. É sincretizado em São Bartolomeu. Recebe homenagens especiais no
dia 24 de Agosto, o seu dia. Usa colares de búzios enfiados em forma de escamas
de cobra, e come guguru (mistura de feijão fradinho com milho, cebola, azeite e
camarão) e caruru sem caroços de quiabo. Recebe sacrifícios de galos. Quando
dança, leva na mão uma cobra de ferro. Sua saudação é "Aô boboi!"
37

Iemanjá é a divindade associada à água salgada no Brasil, mas na África


apenas ao rio Ogum (que não tem nenhuma relação com o orixá Ogum). Originária
do rio Ogun, na Nigéria, tem seus domínios nas profundezas das águas, de onde
emerge para atender seus devotos, principalmente as mulheres que atribuem a ela
poderes que favorecem a fertilidade e a fecundidade. É maternal, sempre pronta
para amamentar as crianças sob seu domínio, mas também sabe ser belicosa,
mantendo-se de espada em punho para defender seus filhos e seus direitos.É a mãe
dos outros orixás. Seu nome significa mãe dos filhos-peixes. Geralmente é
representada sob a forma de sereia: cabeça, tronco e busto femininos e apêndice
caudal de peixe. Sincretizada com Nossa Senhora da Conceição, das Candeias, do
Carmo ou da Piedade, recebe oferendas rituais levadas ao mar por embarcações.
Seus alimentos sagrados são o pombo, a canjica, o galo e o bode castrado, e o seu
dia da semana é sábado. Dança vestida de azul, imitando o movimento das ondas
do mar. Festejada na Bahia em 2 de fevereiro, e em 31 de dezembro, no Rio de
Janeiro. Sua saudação é "Odô-iá!".
Xangô é a divindade que domina trovões, raios e tempestades, simbolizada
por machados de pedra num alguidar de madeira. É sincretizado em São Jerônimo.
Recebe sacrifícios de carneiros, galos e cágados. Come amalá (quiabo com
camarão ou carne) e begiri (quiabo com azeite, camarão, inhame, sal e cebola). É o
representante da justiça espiritual e o mais solicitado nas pendências judiciais. Tido
como herói divinizado, Xangô é ambicioso e tem obsessão pelo poder. Seu alvo é
castigar os mentirosos e os malfeitores, não admitindo a contestação de suas
atividades. A saudação que se dirige a ele é "Kawô kabiecilê!".
Iansã, uma das esposas de Xangô, é o orixá dos ventos e das tempestades.
É sincretizada com Santa Bárbara. Recebe sacrifícios de cabras, dança com mímica
guerreira, e come acarajé. Sua saudação é "Epa hei!".
Oxum, também mulher de xangô, representa na Bahia a água doce.
Oxum era a mais bela e desejada. A todos encantava por sua meiguice e
inteligência. Certa vez, quis aprender a ler o futuro e pediu a Orunmilá que a
ensinasse. Mas o cargo de Oluô (dono dos segredos) só era ocupado por homens.
Então, Oxum seduz Exú e pede que este peça a Orunmilá para ensiná-lo e depois
repassar para ela. Este assim o faz, e mais tarde aprendendo, se vê obrigado a
ensinar a Oxum e entregar os 16 búzios (tornando assim as mulheres capazes de
jogar os búzios e dando a qualidade de bons videntes a todos os seus filhos).
38

É sincretizada com Nossa Senhora das Candeias e também com Nossa


Senhora de Aparecida e Nossa Senhora da Conceição.
Come mulucu (feijão fradinho com cebola, sal e camarão) e adum (fubá de
milho com mel e aceite). Sua dança é faceira, mas ocasionalmente também
belicosa. É saudada com o grito "Ora Iêiê ô!".
Oxalá, ou Obatalá, é a divindade que preside a procriação. Aceita sacrifícios
de pombas, cabras e galinhas. Criador dos homens, obstinado e independente, é
identificado, no Brasil, como Jesus Cristo mas sincretizado na Bahia, com o Senhor
do Bonfim, sendo cultuado como o senhor de todas as coisas e do universo. Oxalá,
que é visto como o senhor do silêncio, do vácuo frio e calmo, no qual as palavras
não podem ser ouvidas, está ligado a todas as etapas da vida, desde a criação até a
morte. Lento como caramujo, todo de branco, como seu ritual exige, é conhecido
como Oxalufan. Enérgico e guerreiro, de colar branco com azul real, é Oxaguian. Em
todas as versões é Orixanlá e em todas as situações é Obatalá, rei do pano branco.
É saudada com o grito "Êpa-babá".
Erê é um orixá filho de Xangô. Manifesta-se por meio de linguagem infantil e
se comporta como criança".
Exú - De personalidade considerada atrevida e agressiva, o Exú, é o senhor
dos caminhos que levam e trazem, fazendo as pessoas se aproximarem ou se
distanciarem. Cada um tem seu próprio Exú, assim como todo o terreiro, que usa
essa figura para proteger e zelar pela segurança da casa, do pai de santo e dos
freqüentadores da entidade. O Exú não deve ser subestimado, pois se presta ao
papel de servo em nome de uma recompensa que pode ser dinheiro, bebida
alcoólica ou animais sacrificados. Ele representa o símbolo máximo da sensualidade
e da voluptuosidade desenfreada. Com muito senso de humor, brinca e possibilita
prazeres aos seres humanos, quebrando com suas próprias normas, os tabus de
nossa sociedade. Tudo isso faz com que ele seja tanto amado quanto odiado.
A lenda diz que Exú era insaciável, e que ele conseguiu comer todos os
animais de sua aldeia. Começou então a comer árvores, pedras e tudo o que estava
em sua frente. Orunmilá chegou a previsão de que se Exú continuasse dessa forma
iria comer os homens, o mar e até o céu. Solicitou então que, Ogum (irmão de Exú)
impedisse o seu irmão de continuar dessa forma. Ogum tentou de várias formas e só
conseguiu depois de matar Exú. Mesmo com a morte de Exú, tudo começou a
ressecar, a morrer, perdendo vida. Então um Babalaô disse que era o espírito de
Exú que estava insaciável e pedia para ser saciado e que se isso não acontecesse
39

ele iria provocar a discórdia, a doença e a morte em geral. Orunmilá determinou que
toda obrigação feita pelos homens a algum orixá, seja dedicada uma parte à Exú e
que esta deve ser servida antes para ele não se irar e causar a discórdia.

3.5 UMA CURIOSIDADE - O SÍMBOLO DE EXÚ

O símbolo de Exu é o Ogó (um falo, um pênis), representando a fertilidade e


virilidade deste orixá, que caminha levando as preces dos homens aos Orixás e
trazendo as dádivas dos Orixás aos homens, já que Exú é dono do movimento, do
som, conhecido como o Mensageiro.
SINCRETISMO: Geralmente é assemelhado ao diabo ou a imagens na
umbanda vermelhas, com chifres e corpo descoberto. No candomblé simbolizado
por carrancas ou falos.

4 AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E SEU RELACIONAMENTO


COM DEUS

Um fato que devemos considerar é a posição tradicionalmente dada aos


orixás nos cultos afros como intermediários entre o deus supremo (Olorum) e os
homens. (Note-se que no Catolicismo Romano, Maria também recebe o título de
intermediária). Além disso, os filhos-de-santo, uma vez comprometidos com os
orixás, vivem em constante medo de suas represálias e punições. Note um trecho de
uma entrevista no livro de Reginaldo Prandi, citado no artigo “Desvendando os
Segredos do Candomblé, de Joaquim de Andrade e Dr. Paulo Romeiro:

O Pesquisador - Gostaria de perguntar só o seguinte: desde que há regras,


quando a regra é quebrada, quem pune essa ação?
Mãe Juju  - O próprio santo, ou a mãe-de-santo : Olha você não venha mais
aqui, não venha fazer isto aqui que esta errado, quando você estiver
bêbado, ou quando você estiver bebendo, não venha mais dar santo aqui,
não venha desrespeitar a casa.
O Pesquisador - Como é a punição do orixá? Será que eu poderia resumir
assim: doença, morte, perda de emprego, perder a família, ficar sem nada
de repente e sem motivo aparente, enlouquecer, dar tudo errado, a própria
casa-de-santo desabar, isto é, todo mundo ir embora...?
Todos - Isso.
Extraído de http://www.agirbrasil.org/Seitas/Candomble/Candombl%E9.html, acessado em
07.10.2007, às15h42m.
40

Assim, além do constante medo de punições em que vive o devoto do orixá,


ele deve ainda submeter-se a rituais e sacrifícios nada agradáveis a fim de satisfazer
os seus deuses.

4.1 O SACRIFÍCIO ACEITÁVEL

De acordo com Cacciatore, ebó é a oferenda ou sacrifício animal feito a


qualquer orixá. Às vezes é chamado vulgarmente de “despacho”, um termo mais
comumente empregado para as oferendas a Exú (um dos orixás, sincretizado com o
diabo da teologia cristã), pedindo o bem ou o mal de/para alguém.
Extraído de http://www.agirbrasil.org/Seitas/Candomble/Candombl%E9.html, acessado em 07.10.2007, às15h42m.

4.2 ENCARANDO A MORTE

Basta dialogar com os adeptos dos cultos-afros - principalmente do


Candomblé - para alguém se cientificar de que os orixás têm medo da morte (quem
menos tem medo da morte é Iansã). Então, quando um filho ou filha-de-santo está
próximo da morte, seu orixá praticamente o abandona. Esta pessoa já não fica mais
possessa, pois seu orixá procura evitá-la.

4.3 A SALVAÇÃO E A VIDA APÓS A MORTE

Nestas religiões o assunto de vida após a morte não é bem definido. Na


Umbanda , devida à influência kardecista, é ensinada a reencarnação. Já o
Candomblé não oferece qualquer esperança depois da morte, pois é uma religião
para ser praticada somente em vida, segundo os seus defensores. Outros pais-de-
santo apresentam idéias confusas, tais como: “quando morre, a pessoa vai para a
mesa de Santo Agostinho ” ou “vai para a balança de São Miguel.”
41

4.4 - A AUSÊNCIA DA LIBERDADE: O MEDO DAS CONSEQÜÊNCIAS

Freqüentemente, as pessoas têm medo de deixar os cultos afros para buscar


uma alternativa. Foi-lhes dito que se abandonarem seus orixás (ou outros “guias”) e
não cumprirem com suas obrigações, terão conseqüências desastrosas em suas
vidas.

5 AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E SUA INFLUÊNCIA NO


COMPORTAMENTO

Nem precisa ser adepto do Candomblé para vestir roupas brancas na sexta-
feira. Esta já é uma tradição na Bahia, em homenagem ao deus Oxalá que, no
sincretismo, representa Jesus Cristo. A visita ao candomblé, como a qualquer
outro templo religioso deve ser feita com seriedade e respeito, seguindo-se algumas
regras básicas: não trajar bermuda ou roupa de banho; não tirar fotos, gravar ou
filmar os cultos. E muitos outros costumes, trazidos com essa religião afro, já se
incorporaram ao dia-a-dia dos baianos, de todas as raças e classes sociais. A
seguir, destacamos alguns desses exemplos.

5.1 A INFLUÊNCIA NA CULINÁRIA

5.1.1 A Baiana do acarajé

Ser baiana de acarajé significa muito mais do que ser uma vendedora
ambulante, com seu tabuleiro, oferecendo os deliciosos quitutes da culinária afro-
baiana. A maioria delas faz esse trabalho como “obrigação de santo”, reverenciando
os orixás que guiam suas cabeças – inicialmente apenas Iansã – e, em troca, tiram
daí o seu sustento e o de suas famílias.
A cada dia, ela está vestida com as cores do santo daquele dia e exibe no
pescoço as guias de contas na cor do santo de sua cabeça e outros orixás dos quais
gosta (ou os quais precisa) reverenciar. A roupa, de origem africana, já se
transformou em marca registrada: a roupa de baiana, com saia rodada, blusa
rendada, pano da costa, turbante, sandália fechada na frente e aberta atrás.
42

5.1.2 Menos pimenta, mais dinheiro

A comida de Iansã era, antigamente, preparada só por filhas-de-santo,


seguindo um ritual religioso. Os tempos mudaram, mas a aura continua. A forma
como se faz a massa, o tamanho dos bolinhos, a variedade de recheios, tudo isso
conta. A disputa alimenta a briga por pontos de venda e enche as baianas de
dinheiro, hoje não contando mais se são ou não adeptas do candomblé. Na onda do
acarajé, toda a comida baiana se populariza. Com menos pimenta e contida no
dendê, é bem verdade.
Um outro atestado de que existe reverência religiosa aos orixás do
candomblé, na atividade de baiana de acarajé, são os pequenos acarajés fritos
antes da primeira fritura comercial, dedicados aos orixás meninos, os ibêje.

5.2 DOMINGO É DIA DOS ORIXÁS

Para os baianos, domingo é dia de todos os Orixás. Circulam na Internet, em


folhetos, em mensagens de rádio, enfim, orientações para que as pessoas procurem
identificar-se com um dos orixás e, tão logo identificados, rezem para ele, pedindo
proteção, saúde e paz acima de tudo.

5.3 AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E A MÍDIA

Destacamos a relevância que a mídia, em geral, dá para as religiões afro-


brasileiras. Estão tão impregnadas no dia-a-dia do brasileiro, que dificilmente se
abre uma revista, jornal (principalmente baiano), programas televisivos e
radiofônicos, sites na Internet, que não tragam alguma notícia ou referência a
acontecimentos que envolvem tal cultura.
Como ilustração, mostramos, abaixo, duas reportagens estampadas na
Revista Época, colhidas em seu site na Internet, que nos exemplificam muito bem a
relevância dada pela mídia a tudo que envolve tais religiões. Como podemos ver,
vários aspectos são mostrados nas reportagens ou artigos: as opiniões de
“personalidades” daquele meio, o envolvimento de políticos famosos, artistas idem,
43

perseguição religiosa, idolatria a mães-de-santo, migração para outras religiões, etc.


Vejamos:
A filha de Oxóssi

Crítica do sincretismo, Mãe Stella prega a fidelidade ao rito e se consolida


como a mãe-de-santo mais influente do país

No início do século, uma jovem freqüentadora do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá,
em Salvador, caminhava em direção a um culto de candomblé quando
percebeu que a polícia a perseguia. Apesar de conhecer bem o caminho, a
moça fingiu estar perdida e rodou a noite inteira a esmo. Despistou os
policiais e evitou que entrassem no terreiro para destruí-lo. Isso aconteceu
com Cantulina Pacheco, mais conhecida pelos baianos como Tia Cantu.
Cantulina nasceu em 1900 e viveu boa parte de sua vida professando o
candomblé às escondidas. Os tempos agora são outros: há duas semanas,
o terreiro que a polícia queria destruir foi tombado como patrimônio nacional,
e sua principal autoridade, uma filha de Oxóssi, é reverenciada como a mãe-
de-santo mais influente do país.
Mãe Stella, desde 1976 a ialorixá suprema no Ilê Axé Opô Afonjá, é
apontada hoje como uma liderança espiritual da estatura de Mãe Menininha
do Gantois. Todos se curvam para beijar as mãos da velha senhora.
Enfermeira aposentada, Maria Stella de Azevedo Santos, 74 anos, é a
quinta matriarca do terreiro. Sob seu comando, o Axé cresceu, ganhou uma
escola onde se ensina a língua iorubá e um museu religioso. "Majestade" - é
assim que os filhos da casa se referem a Mãe Stella. "Desde a morte da
Menininha do Gantois, a importância dessa ialorixá só fez crescer",
reconhece o escritor baiano Ildásio Tavares, autor do livro Nossos
Colonizadores Africanos. É também um dos seguidores do Ilê Axé.
No final de novembro, Mãe Stella comemorou 60 anos de "iniciação" - a
introdução nos ritos do candomblé. O aniversário foi comemorado com o
tombamento do terreiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan). Os festejos não pararam por aí. Na semana passada, sua
"Majestade" foi homenageada com o lançamento do livro Faraimará - O
Caçador Traz Alegria - Mãe Stella 60 Anos de Iniciação. É uma coletânea de
textos sobre a religião e a mulher que fez do Axé uma das casas-de-santo
mais concorridas do país. Entre os freqüentadores, constam o compositor
Gilberto Gil e o escritor Jorge Amado. Entre os simpatizantes, a atriz Sônia
Braga e a cantora Elza Soares. O terreiro já alcançou fama internacional.
Mãe Stella advoga idéias polêmicas, que contrastam com a linha de conduta
de outros terreiros famosos da Bahia, como o Gantois. Ela é contra o
sincretismo religioso - associação entre santos católicos e santos do
candomblé. "O sincretismo enfraquece os dois lados", adverte. A ortodoxia
de Mãe Stella tenta reverter uma tendência detectada a partir dos anos 80: a
diminuição do contingente de seguidores. Entre 1980 e 1991, segundo o
IBGE, os cultos afro-brasileiros não só deixaram de acompanhar o aumento
populacional como perderam cerca de 30mil adeptos.
Uma parte daqueles que freqüentavam terreiros migrou para as igrejas
evangélicas.(grifamos) O fluxo foi medido em pesquisa realizada pelo
Instituto de Estudos da Religião: na primeira metade dos anos 90, 16% dos
adeptos das igrejas pentecostais no Rio de Janeiro haviam migrado dos
terreiros. Segundo Ricardo Mariano, doutorando na Universidade de São
Paulo e estudioso do pentecostalismo, esses números refletem as
pregações constantes de pastores evangélicos contra o candomblé, nas
rádios e TVs. "Os pentecostais acreditam que os orixás são forças
demoníacas. Eles não negam sua existência, mas os combatem", diz
Ricardo Mariano. Evaldo Miranda, um baiano de 27 anos, vive a condição de
neo-convertido. "Meu tio é pai-de-santo e eu era o segundo na hierarquia do
terreiro", conta. Desde 1993, freqüenta a Igreja Batista Lírio dos Vales.
"Encontrei a verdade", acredita.
Mãe Stella ainda espera uma ofensiva do candomblé. Para ela, foi-se o
tempo em que os filhos-de-santo deveriam ficar confinados em terreiros.
"Para que a tradição não morra, é preciso viagens, palestras, estudos e
44

entrosamentos", afirma. Enquanto viver, brigará por isso. Filha de Oxóssi, o


santo da caça, não medirá esforços para trazer de volta o rebanho
desgarrado.
(http://epoca.globo.com/edic/19991213/soci2.htm- acessado em 25.11.2006, 8h10m)

O Gantois aguarda o veredicto dos orixás

Processo sucessório no terreiro já dura mais de ano

Ainda o centro de candomblé mais conhecido do país, o terreiro do Gantois


continua de luto. Desde agosto do ano passado seus integrantes choram a
perda da ialorixá Cleusa Millet, aos 67 anos. Cleusa era filha da lendária
Maria Escolástica Conceição Nazaré, a Mãe Menininha, que reinou no
Gantois por mais de 60 anos. O processo sucessório está em curso.
Mãe Menininha foi a mais venerada ialorixá de todos os tempos. Filha de
Oxum, uma deusa das águas do rio, ela soube como ninguém popularizar o
terreiro. Figura forte, Mãe Menininha foi cantada em verso e prosa pelo
compositor Dorival Caymmi, cativou admiradores famosos, como Caetano
Veloso, e não poupou conselhos a políticos, entre eles o senador Antonio
Carlos Magalhães.
Faleceu aos 92 anos, em agosto de 1986, e desde então o terreiro não teve
outra mãe-de-santo à altura de seu magnetismo. Mãe Cleusa, também
respeitada pelos baianos, reinou de maneira discreta e silenciosa. Agora, é
tempo de aguardar por sua sucessora.
Como numa monarquia, a alternância do poder se dá por laços sanguíneos.
Hoje o terreiro vive em compasso de espera. Seus "filhos" esperam o
veredicto dos orixás. As candidatas mais cotadas seriam Carmem, irmã de
Cleusa, ou sua filha, Monica. O processo é lento e admite adiamentos.
Quando Cleusa morreu, os santos disseram que em um ano a sucessão
estaria consumada. Não aconteceu. É bem provável que as divindades não
tenham chegado a um consenso.
(http://epoca.globo.com/edic/19991213/soci2.htm- acessado em 25.11.2006, 8h10m)

5.4 ALGUNS ARTISTAS DE EXPRESSÃO NACIONAL, IDENTIFICADOS COM AS


RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS

5.4.1 Dorival Caymmi

Nasceu em Salvador, Bahia, em 30 de abril de 1914, filho de Durval Henrique


Caymmi e Aurelina Soares Caymmi - cantor, compositor brasileiro e pintor. Adepto
do candomblé, em 1968 foi consagrado Obá de Xangô no Axé Apó Afonjá. Foi filho
de santo de Mãe Menininha do Gantois, para quem escreveu em 1972 a canção em
sua homenagem: "Oração de Mãe Menininha", gravado por grandes nomes como
Gal Costa e Maria Bethânia. Caymmi é filho de Xangô e Iemanjá, e vive
intensamente o sincretismo religioso baiano.

5.4.2 Jorge Amado, sincretismo e candomblé: duas travessias


45

Jorge Amado, um dos mais afamados escritores do Brasil, em muitas de suas


obras focalizou o culto afro-brasileiro do candomblé e sua prática na Bahia. Pode-se
mesmo dizer que, em grande medida, as idéias mais generalizadas a respeito do
candomblé da Bahia devem-se às obras de Jorge Amado, transformadas algumas
em novelas televisivas, e sua ampla difusão por todo o mundo.
Evidentemente a apresentação que Jorge Amado faz desse culto em suas
novelas não equivale a um documentário, a uma etnografia. Sua interpretação do
sistema simbólico do candomblé merece consideração antropológica, e em particular
o seu envolvimento pessoal com este mundo religioso é um dado a ser ponderado
antropologicamente. Embora Jorge Amado se definisse como um ateu, ele tomou
posição de modo firme como defensor do sincretismo entre o culto afro-brasileiro e o
católico, especialmente em duas de suas novelas: Tenda dos milagres e O sumiço
da santa.

5.5 EXTREMOS DO SINCRETISMO: UM MONGE CRISTÃO E ZEN

O monge beneditino Marcelo Barros é um monge polêmico, carismático e que


exerce o ecumenismo e o sincretismo diariamente. No seu mosteiro, em Goiás
Velho, as celebrações católicas ganham tons indígenas e afro-brasileiros.
Conhecedor da Umbanda e freqüentador do Candomblé, ele debruça seu olhar
sobre as pessoas com generosidade e compreensão. Em tempos de "guerra santa",
busca a paz santa, assumindo por missão o diálogo entre as diversas religiões.

O monge Marcelo Barros é um dos coordenadores do Mosteiro da


Anunciação. O Mosteiro da Anunciação é uma comunidade de monjas, monges e
leigos que seguem a Regra de São Bento. Foi fundada em Curitiba, Paraná (Brasil)
em 1960, pela Abadia de Tournay, mosteiro da província francesa da Congregação
de Subiaco da Ordem de São Bento. Em 1977 transferiu-se para a cidade de Goiás-
GO, onde está inserida na periferia urbana. Diferentemente de muitas comunidades
beneditinas, o mosteiro não enfatiza o Canto Gregoriano.

No Mosteiro da Anunciação do Senhor não há clausura: as portas ficam todas


abertas, das cinco da manhã às dez e meia da noite, para quem quiser entrar. E a
participação dos leigos é intensa. Na missa de domingo, celebrada na igreja onde
46

todos os bancos se dirigem para o centro, em forma de mandala, são as leigas que
dão a comunhão aos monges. A comunidade também é atípica: duas mulheres hoje
convivem com os monges e, entre esses, há nada menos do que um ex-abade de
Tournay, o irmão Guido de la Chappelle, todos vivendo com total simplicidade.

Disse o Monge Marcelo Barros, em entrevista a Rede Vida (TV):


"Cada dia oramos especialmente em comunhão com uma religião diferente.
Oramos como cristãos, mas em comunhão com os outros. Na segunda é com as
religiões orientais (Budismo, Bramanismo), a gente canta mantras, ouve textos
sagrados, faz as orações que eles nos ensinam. Esses ensinamentos entram
também na nossa vida, como na postura da não-violência. Na terça, a comunhão é
com as religiões afro-brasileiras; na quarta, com grupos espiritualistas. Procuramos
aprender o que Deus nos diz através das outras religiões. No começo de setembro,
um grupo de Dança Sagrada ficou hospedado no mosteiro. A Mãe Estela, de Oxossi
passou uma semana conosco. E temos por teologia que, na hora de celebrar, não
existe discriminação entre padre e leigo: todos podem falar, propor cantos, tudo
muito livremente. Quem vem aqui deve se sentir em casa".
- Você já teve experiências místicas? (pergunta feita pelo entrevistador)
A resposta do Monge Marcelo Barros foi a seguinte:
"No final de um encontro sobre Candomblé, na Bahia, uma pessoa sugeriu fazer
uma invocação a Oxossi, para homenagear o Dia das Mães. O pessoal afastou as
cadeiras, buscaram os atabaques; ali nem era um ambiente de culto, mas deu uma
energia diferente, tão diferente que emendaram com o chamamento a Iansã. Foi
quando uma senhora recebeu a divindade. Aquilo me tocou de uma maneira muito
especial. Foi uma experiência fora do comum". (Fonte: Mosteiro da Paz http://empaz.org/index.html,

conforme http://www.sinaisdostempos.org/novaera/conspiracao_aquariana_nova_era.htm, acessado em 08.10.2007, às


10h57m)

5.6 FESTAS POPULARES QUE ENVOLVEM AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS

5.6.1 - A “Lavagem” do Senhor do Bonfim na Bahia


A Lavagem do Bonfim, praticada pelas baianas adeptas do candomblé,
deixou de ser apenas uma festa religiosa de grande apelo popular local para ser
manchete nos principais telejornais do Brasil e um atrativo freqüente nos pacotes
turísticos. E como o caráter da cidade de Salvador é turístico, tem uma estruturada
47

indústria de captação de recursos e difusão da sua imagem, não é de bom grado


mostrar manifestações onde prevaleçam uma idéia de desordem e desconforto.
Este pensamento é atestado pela própria BAHIATURSA (Empresa de
Turismo da Bahia), um órgão oficial de âmbito estadual, ao declarar a sua arquivista
fotográfica, Rita Barreto, que "não é interessante passar uma imagem de povão. Isso
assusta o turista", seja ele regional, nacional ou estrangeiro.
Chega-se a ponto de criar cordões de isolamento (supervisionados pela
Polícia de Choque!) para conter a multidão que não só deseja se aproximar da
imagem sagrada do Senhor do Bonfim e se molhar da sua água de cheiro, mas
cumprimentar os políticos que acompanham orgulhosamente o cortejo, sob um sol
de quase 35o C.

Historicamente, a Festa do Bonfim é uma das mais autenticas manifestações


da religiosidade e da expressão popular do povo baiano. Um fato muito curioso e
que só enfatiza a importância da "imagem" (a superficial, decerto) desta grandiosa
manifestação popular é a "representação" da lavagem da escadaria da Igreja para
câmeras de TV locais, com difusão nacional. É como se para o observador do outro
lado do país bastasse essa "impressão" de lavagem. Chega a ser excessivamente
asséptica a disposição das baianas, suas indumentárias impecáveis e um sorriso
que está muito mais para o cênico.

Fotografias de Pierre Verger, tomadas entre as décadas de 1940 e 1950,


mostram o adro da Igreja quase vazio. Isso se deve, em parte pelo fato da
realização da Lavagem naquela época se dar ainda dentro da Igreja (por parte das
tradicionais baianas), sendo o adro ocupado por pessoas comuns que literalmente
lavavam com vassouras e água de cheiro o pátio da Basílica.
O que se verifica hoje é a concentração do grande público nas áreas mais
externas ao templo (sendo muito bem guardados pela Policia de Choque...), as
escadarias são ocupadas por profissionais da imprensa e o adro tomado por
autoridades, seus assessores, baianas e outros "turistas" de ocasião. Às pessoas
comuns é vedado o acesso às proximidades da grande festa.
A Festa do Bonfim sempre teve um certo cunho político-partidário. A recepção
às autoridades do Governo é sempre um termômetro de sua aceitação, desde a
saída na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Na festa do ano de 2000,
mais uma vez, o governo de situação foi ovacionado pelo povo. Membros da
oposição também participaram da caminhada, a exemplo do então Presidente de
48

Honra do Partido dos Trabalhadores (PT) e hoje Presidente eleito da República, Luiz
Inácio LULA da Silva e do então declarado candidato à Prefeitura Nélson Pellegrino.
Paralelo aos festejos religiosos, há ainda a festa "profana", marcada pela
presença de barracas de comidas típicas e bebidas, desde o alto da Colina Sagrada.
A partir de 1998 a parte carnavalesca da festa sofreu uma intervenção imposta pela
Prefeitura Municipal e pela Arquidiocese de Salvador que, numa tentativa de
defender as tradições históricas da comemoração, promoveram um afastamento dos
trios elétricos e caminhões de blocos alternativos que acompanhavam o cortejo
desde a Avenida Contorno, muitas vezes sequer chegando à metade do percurso e
de uma certa forma desviando e desvirtuando o caráter religioso do dia, promovendo
um mini-carnaval com direito a todos os excessos que lhe são peculiares. Mesmo
com as restrições determinadas pela organização da festa, no ano de 2000 a
EMTURSA estimou a presença de 300 mil pessoas nas ruas, acompanhando os
festejos.
Ao contrário do que se pode pensar, a Festa do Bonfim historicamente
sempre teve um cunho profano escandaloso. Assim escreveu Pierre Verger em seu
livro “Noticias da Bahia - 1850, p.30: "O caráter expansivo e alegre dos habitantes da
Bahia, brancos e pretos, se revela nesta lavagem, provocando muitas vezes
excessos de entusiasmo que são às vezes objeto de vivas censuras por parte do
clero". E VERGER cita, na obra, Wanderley Pinho: "Gritos de estimulo surgem entre
os assistentes e o entusiasmo cresce tanto que - o álcool ajudando a combater os
efeitos nocivos da umidade - ao cabo de pouco tempo é uma verdadeira bacanal, da
qual, no dia seguinte, os jornais se queixam e as altas autoridades se indignam".
Por ocasião dessa intervenção, em 1998, falou-se muito que a motivação
para a separação das partes religiosa e profana da festa era devido à postura
conservadora e intransigente de Dom Lucas Moreira Neves, na época Cardeal e
Arcebispo Primaz do Brasil, muito pouco tolerante com os excessos e desvirtudes
que transformavam a tradicional comemoração religiosa num grito de carnaval, num
evento plenamente lucrativo para as empresas do ramo festivo. Muito se comentou
também que era justamente devido a este lucro, que muito pouco capitalizava,
efetivamente, para a evangelização e o comprometimento religioso, que a Igreja se
voltara. Aos poucos a festa perdia o seu caráter religioso, sobretudo para os jovens
da classe média, e esse poderia se tornar um processo irreversível...
49

Enquanto isso, a festa cada vez mais envolve a sociedade, atraindo turistas
para Salvador. Por oportuno, vejamos como o jornal CORREIO DA BAHIA, em sua
edição de 13.01.2005, noticiou o evento:
Igreja do Bonfim passa por últimos retoques para receber hoje devotos
e turistas
Dentro do coração do Senhor do Bonfim e de Oxalá não cabem apenas
católicos e adeptos do candomblé. Os braços do Senhor da Colina, hoje,
vão abrigar representantes do islamismo, do judaísmo e das igrejas
evangélicas num ato inter-religioso pela vida e pela paz. A celebração, que
começa às 8h, no adro da Igreja da Conceição da Praia, dá a largada para o
cortejo que reúne milhares de fiéis até o alto da Colina Sagrada, para lavar a
escadaria da igreja erguida há 250 anos.
A programação começa às 7h30, quando cerca de 400 atletas percorrem os
8km que separam a Conceição do Bonfim, na Corrida Sagrada. Logo após o
início da corrida, tem o culto inter-religioso, presidido pelo pároco da
Conceição da Praia, Gilson Magno dos Santos. "A idéia é aproveitar esta
data para orar pela paz. É importante ressaltar que não se trata de um culto
ecumênico, que só reuniria religiões cristãs, mas sim de um ato inter-
religioso", destaca o coordenador da arquidiocese de Salvador, padre
Manoel Filho.
Depois da celebração, os fiéis serão saudados por uma queima de fogos na
rampa do Mercado Modelo. É quando começa a procissão, que reúne 400
baianas, autoridades estaduais e municipais, e o afoxé Filhos de Gandhy.
Uma hora após o início do cortejo, outras bandas e carroças, além de
grupos, como o Grupo Folcórico do Sesc, passam a integrar o percurso, ao
lado dos baianos e visitantes que cultuam o Senhor do Bonfim como um
verdadeiro pai.
Este ano, os pacientes com distúrbios mentais, funcionários e colaboradores
do Centro de Atenção Psico-Social do Subúrbio (Caps Nzinga) vão integrar
o cortejo. São mais de 400 participantes, que desfilarão usando batas
bordadas com motivos afro-brasileiro, confeccionadas pelos próprios
pacientes. Uma banda de sopro e percussão também acompanha o grupo,
numa iniciativa de promover a socialização dos pacientes com transtornos
mentais.
Por volta do meio-dia, quando a multidão chega à Colina Sagrada, é hora de
tomar banho de alfazema e lavar, com a água-de-cheiro preparada pelas
mães e filhas de santo, a escadaria do templo, que fica fechado durante
toda a quinta-feira. Também é hora de agradecer as graças alcançadas e
pedir os mais variados favores ao Jesus Crucificado e a Oxalá.
(http://www.correiodabahia.com.br/2005/01/13/noticia.asp?link=not000104298.xml - acessado em
25.11.2006, 9h30m)

Em 1999, no dia seguinte, após a festa daquele ano, assim noticiou o


renomado site UOL - UNIVERSO ON LINE:
Bahia arrasta 1 milhão para lavagem do Bonfim
SALVADOR - Mesmo sem a presença de trios elétricos, cerca de um milhão
de pessoas, segundo estimativas da Polícia Militar, participaram ontem, em
Salvador, da lavagem do Bonfim, segunda maior festa popular da Bahia,
depois do Carnaval. Até 1996, quando a Prefeitura de Salvador proibiu a
participação dos trios a pedido da Igreja Católica, pelo menos 30 entidades
carnavalescas acompanhavam os fiéis durante o cortejo.
O cortejo saiu às 10h da igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia,
uma das mais famosas da cidade, para percorrer oito quilômetros até a
colina sagrada, no bairro do Bonfim. No adro da igreja do Bonfim, filhos e
filhas de santo aguardavam a chegada do cortejo para iniciar o ritual de
lavagem da escadaria. Vestidas de baianas, as filhas de santo levaram
jarros com água perfumada na cabeça e cantaram o hino do Senhor do
Bonfim durante todo o cortejo.
50

O ministro dos Esportes e Turismo, Rafael Greca, o governador da Bahia,


César Borges (PFL), e o prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy (PFL),
acompanharam o cortejo a pé. Também estiveram presentes a cantora Baby
do Brasil e o compositor Carlinhos Brown, acompanhado de 50 timbaleiros
vestidos de muçulmanos.
Freqüentador assíduo da festa em anos anteriores, o presidente do Senado,
Antonio Carlos Magalhães (PFL/BA), presenciou o evento pela TV. ACM
permaneceu em Brasília para acompanhar o desenrolar das medidas
econômicas adotadas, anteontem, pelo presidente Fernando Henrique.
(http://www2.uol.com.br/JC/_1999/1501/br1501h.htm, acessado em 25.11.2006, 10h10m)

5.6.2 Festa de Iemanjá - Uma manifestação de fé unindo dois mundos

A festa de Iemanjá é uma oferenda prestada a mãe dos orixás no culto da


Umbanda. A sua comemoração atrai pessoas de toda a parte e mensageiros do
mundo espiritual que incorporam em seres humanos como forma de prestigiar a
homenageada. A festa é realizada na cidade de Salvador- Bahia na praia do Rio
vermelho e é símbolo da cultura deste.
As homenagens à mãe das águas ocorrem em duas datas: 31 de dezembro
(último dia do ano) e no dia 02 de fevereiro. No dia 31 de dezembro (reveillon)
Iemanjá junto com seus filhos orixás recebem presentes de seus devotos que lhes
agradecem as conquistas do ano que findou e fazem novos pedidos para o ano
vindouro. No dia 02 de fevereiro, data oficial de Iemanjá, os presentes e os pedidos
são direcionados somente a ela. Os presentes são colocados em cestos de palha
junto com pedidos escritos em forma de bilhete para que sejam entregues no mar.
Em Salvador, a festa foi criada por volta de 1920 por uma iniciativa da colônia
de pescadores Z-1 do Rio Vermelho. Diz a lenda que devido a um ano de fraca
pescaria resolveu recorrer à tradição da Umbanda pedindo ajuda aos santos
africanos trazidos à Bahia pelos escravos negros. Na época, com o auxílio da mãe
de santo Júlia do Bogun, organizaram a lista do material necessário para a sua
execução e aprenderam como realizar o preceito. No primeiro momento, a festa foi
batizada como “Presentes da Mãe d’água” e a partir do ano de 1960 passou a ser
conhecida como “Festa de Iemanjá”.
A Casa do Peso (1919) - onde se pesa o pescado e se guarda as ferramentas
de trabalho dos pescadores - serve até hoje de local para recebimento dos
presentes dos devotos. Estes se organizam em filas para entregar os seus
presentes que são arrumados em cestos de palha, transportados para os barcos de
pesca para que, em determinado horário, sejam levados para o mar em oferenda a a
Iemanjá.
51

Tudo começou na praia do rio vermelho, passando a ocupar o largo de


Santana e, atualmente, todo o bairro do Rio Vermelho - tomado por moradores,
comerciantes e visitantes - ocupa-se da festa que passou a constar do calendário
oficial de comemorações de Salvador atraindo visitantes de toda parte do mundo.
Na areia da praia os espíritos africanos manifestam-se em plena multidão
mostrando respeito e subordinação a sua mãe. São mensageiros espirituais
trazendo paz e transmitindo força e coragem aos devotos na sua caminhada de vida.
Os orixás incorporam em filhos de santo presentes a festa e que servem de ponte
entre o mundo terreno e o espiritual. Uma vez materializados os santos participam
da festividade dançando, cantando e transmitindo energia através do toque das
mãos e abraços calorosos.
Os terreiros de Santo (local onde se pratica a umbanda durante o ano)
prestigiam o evento comparecendo com sua comunidade formada de Pais de Santo
(Babalorixás), Mães de Santo (Ialorixás), dentre outros, assim como freqüentadores
dos terreiros. Seus integrantes comparecem vestidos com toda a indumentária
necessária ao culto dos santos. Cada santo é conhecido por determinada cor, assim
como pelos objetos sagrados que carregam.
A festa tem início na alvorada, mas é por volta das 10:00hs que o público
apresenta-se em maior quantidade, onde todos dançam, cantam e colocam seus
presentes na água do mar ao som dos atabaques e cantos afro.
As homenagens não se resumem a entrega de presentes. Diversos grupos
culturais comparecem e se misturam à festa tornando-a um grande espetáculo
cultural ao ar livre. São capoeiristas que comemoram através da prática da capoeira
e da expressão sonora de seus berimbaus. A participação de grupos carnavalescos
tradicionais a exemplo dos Afoxés filhos de Gandhi é notória.
A cada ano novos grupos artísticos e culturais comparecem formando um
verdadeiro cordão artístico no meio do povo que os acompanham dançando e
mostrando que a festa de Iemanjá, além de ser tradicional no respeito aos seus
preceitos, é também democrática encontrando-se aberta às diversas manifestações
deste criativo povo baiano.
A festa de Iemanjá é, portanto, uma manifestação de fé e esperança que
reúne milhares de pessoas, negros e brancos, ricos e pobres, locais e estrangeiros
em um mesmo local onde todos, curvando-se em reverência a mãe dos orixás,
buscam o mesmo propósito: crescimento e proteção espiritual.
52

5.6.3 Outras festas populares

No item manifestações populares e cultos, as festas populares de Salvador


merecem um destaque especial, já que incrementam o calendário turístico da Bahia
e levam milhares de pessoas às ruas todos os anos. Dentre elas, destacam-se:

Boa Viagem e Procissão do Bom Jesus dos Navegantes: 1° de janeiro. Tradição


que remonta a meados do século XVIII, a festa é uma das mais bonitas
manifestações populares de Salvador e acontece na virada do ano, quando o povo
dá continuidade às comemorações do Ano Novo na praia da Boa Viagem. A
diversão é garantida a partir da meia-noite por músicas e danças nas barracas que
servem comidas e bebidas típicas, indo até a chegada da Procissão do Bom Jesus
dos Navegantes na praia de mesmo nome. A procissão marítima que segue a
Galeota Gratidão do Povo com a imagem do Bom Jesus dos Navegantes sai na
manhã do dia 1º de janeiro do cais do Comando do 2º Distrito Naval, em frente à
Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, passa pelas proximidades do Farol
da Barra e termina na praia da Boa Viagem, em frente à Igreja de Nossa Senhora da
Boa Viagem. Normalmente, o cortejo é acompanhado por centenas de embarcações
dos mais diversos tipos.

Festa da Lapinha ou de Reis: 6 de janeiro. Tradição de origem católica, simboliza a


visita dos Reis Magos ao Menino Jesus. Em Salvador, à meia-noite do dia 5 de
janeiro, os ternos, ranchos e pastores de reis percorrem as ruas do Centro Histórico,
com suas roupas de tecidos vistosos ornamentados com miçangas, e seguem os
Reis Magos até um presépio ornamentado pelos fiéis na Igreja da Lapinha, no largo
de mesmo nome. Lá chegando, eles se apresentam em um palco durante a festa,
que ocorre simultaneamente com música nas barracas que servem comidas e
bebidas típicas no largo em frente à igreja.

Festa da Ribeira: primeira segunda-feira depois da Lavagem do Bonfim. Uma típica


manifestação popular realizada no bairro da Ribeira, na Cidade Baixa, que é
promovida pelos comerciantes que trabalharam na Lavagem do Bonfim. A festa
acontece com música, barracas que servem comidas e bebidas típicas e atrações
folclóricas.
53

Festa de São Lázaro: 25 de janeiro. Além de ser uma festa popular, é uma
manifestação de origem católica que acontece na Igreja de São Lázaro e no largo
em frente à igreja. A festa une o sincretismo do catolicismo que realiza missa, tríduo
e procissão em louvor ao santo e o candomblé, que homenageia o Orixá Omolú –
deus protetor das doenças de pele no candomblé -, com lavagem da escadaria da
igreja, oferta de velas acesas em torno do cruzeiro no Largo de São Gonçalo da
Federação, banhos de pipoca no povo e a animação profana nas barracas de
comidas e bebidas.

Como ilustração, reproduzimos, abaixo, na íntegra, matéria do jornal Correio


da Bahia, edição de 30.01.2005, relatando a festa daquele ano:

Devotos renovam as promessas de fé em São Lázaro


Fiéis participam de procissão em reverência ao santo sincretizado
como Omolu no candomblé
Julia Lima
Ele era pobre, doente, solitário e vivia nas ruas, como tantos mendigos das
grandes cidades. Símbolo do sofrimento e da humildade, São Lázaro
perambulou pelas ruas à procura de ajuda, e só encontrou consolo na
amizade dos cachorros abandonados. Hoje, sua triste história é retratada no
evangelho segundo Lucas, transformando-o em santo curador das chagas e
dos males da alma. Alguns dos seus devotos são católicos, outros são
membros do candomblé, mas todos prestigiaram ontem a crença no santo
sofredor, percorrendo as ruas do bairro da Federação durante a XXI
Lavagem da igreja de São Lázaro.
Sincretizado no candomblé como Omolu, o santo foi reverenciado por
baianas vestidas a caráter, que carregaram pipocas, flores, vassouras e
água-de-cheiro, saindo da estrada de São Lázaro com destino ao largo da
igreja, por volta das 13h. Acompanhando o cortejo, um grupo de oficiais da
polícia Militar (PM) e duas carroças com palhas de coqueiro e algumas
baianas devidamente paramentadas. Próximo a elas, o som dos pandeiros e
atabaques do grupo Primeira Linha animavam os membros da Associação
de Moradores da Colina de São Lázaro, comunidade pertencente ao bairro
da Federação. "É um apoio que a gente dá às pessoas que são devotas",
conta a moradora Jesuína Santana, 51 anos, uma das poucas pessoas que
eram devotas do santo.
A fé em São Lázaro, cuja imagem é a de um homem cheio de feridas com
cães aos seus pés, fez com que muitos fossem agradecer às graças
concedidas por ele. Por causa de uma promessa, dona Aída Conceição, 73
anos, faz o trajeto desde o início, embora já esteja andando com a ajuda de
muletas há quatro anos. Amparada pela amiga, a velha senhora carregava
muitas camadas de panos, colares e turbantes que compõem as roupas de
baiana, e com uma pequena toalha enxugava o suor do rosto. "Só vou
deixar o cortejo quando morrer", conta ela, devota de Omolu e Obaluaê, o
São Roque dos católicos.
De fato, as muletas e outros aparelhos não foram obstáculos para a
devoção; contrariando a máxima de que "quem tem fé, vai a pé", eles
mostraram que também é possível percorrer o caminho da crença sobre
rodas. Devota do "orixá" São Lázaro, Ione Paixão da Silva, 44 anos, recebeu
a ajuda de um menino para empurrar sua cadeira de rodas, seguindo o
cortejo graças à solidariedade tão pregada pelo santo. "Eu venho muito
aqui", conta ela, diante do santuário.
Próximo à igreja, o cortejo recebeu uma chuva de pipocas das baianas na
carroça, acompanhada pelos batuques de músicas africanas. Ao redor,
alguns turistas acompanhavam a caminhada com os olhos e as lentes de
54

máquina fotográfica. Chegando ao Santuário de São Lázaro, as baianas e


moradores subiram a escadaria da igreja, equilibrando vasos brancos com
água-de-cheiro e flores, enquanto os homens traziam baldes cheios de
água, com os quais eles refrescavam os marchadores num dia quente de
sol. Os vasos foram derramados nas cabeças, na escada, e as vassouras
terminaram por lavar a escadaria da igreja. Hoje o Santuário de São Lázaro
realiza missas com o tema Da eucaristia brota a cultura da paz e
solidariedade, às 7, 9, 11 e 16h. Após a última missa festiva, acontecerá
uma procissão carregando a imagem do santo pelas ruas do bairro da
Federação.
(Fonte: http://www.correiodabahia.com.br/2005/01/30/noticia.asp?link=not000105284.xml,
acessado em 25.11.2006 , às 10h25m)

Ainda mais interessante foi a matéria veiculada pelo jornal O estado de


S.Paulo, que nos relata a participação de um padre católico na Festa de São Lázaro,
em 2000:

Padre participa de rito do candomblé


Salvador - Um padre católico se juntou a centenas de adeptos do
candomblé e tomou "banho de pipoca" em frente à Igreja de São Lázaro, um
dos símbolos do sincretismo baiano. Na tradição dos adeptos de Omolu, o
orixá que representa São Lázaro, o "banho de pipoca" serve para "limpar o
corpo" de mau olhado e todo tipo de problema. "É preciso fazer, na religião
da Bahia, o resgate da cultura da fé desse povo, unindo padres e baianas
em sinal de adoração a Deus e Oxalá", disse o padre Marcos Lázaro, da
Paróquia da Piedade, centro de Salvador.
Ele aproveitou o dia de São Roque - cujo correspondente no candomblé é
Obaluaê - para visitar a Igreja de São Lázaro (onde também se cultua São
Roque) e, nas suas próprias palavras, "inaugurar um novo sincretismo" na
cidade. "Como diz o compositor Gerônimo, em Salvador todo mundo é de
Oxum e o padre Marcos Lázaro também", disse, sendo aplaudido por várias
pessoas que presenciavam a cena, transmitida ao vivo para todo o Estado
pelo noticiário de meio-dia da TV Bahia.
Padre Marcos, da ala carismática da Igreja Católica de Salvador, disse que,
a partir de agora, estará na Igreja de São Lázaro toda semana, para cantar
com sua banda "Dom de Deus" nessa cruzada pela união das duas
religiões. "Há um documento do papa que reconhece o monoteísmo do
candomblé e a Igreja Católica da Bahia não pode negar os fatos: o
sincretismo daqui está na raiz da cultura do povo dessa terra", repetiu padre
Marcos, conhecido por posições que lhe renderam várias advertências. Ele
tentou, no inicio do ano, lançar um bloco carnavalesco formado só com
paroquianos, mas foi impedido pela Arquidiocese.
Na hierarquia da Igreja na Bahia, ninguém quis comentar essa nova
investida do religioso, alegando que ele não é subordinado à Cúria e sim à
ordem dos frades capuchinhos da Piedade.
(fonte: http://www.estadao.com.br/agestado/nacional/2000/ago/16/148.htm, acessado em
26.11.2006, 11h15m)

Lavagem da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Itapuã: data móvel, entre


a Festa de Iemanjá e o Carnaval. Manifestação religiosa do candomblé, onde Nossa
Senhora da Conceição é sincretizada como Iemanjá, com as baianas, os
pescadores e o povo participando de missa, procissão e da lavagem com água
perfumada da escadaria da igreja de mesmo nome, na praia de Itapuã.

Festa da Pituba: data móvel, costuma ser a última festa de largo antes do Carnaval.
Apresenta duas versões quanto à sua origem: para alguns, a devoção à Nossa
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Senhora da Luz começou em 1580 e, para outros, em 1889, ano em que foi
construída uma capela em seu louvor. A festa tem duração de dez dias, terminando
na segunda-feira que antecede o Carnaval. Durante os festejos, celebram-se
novenas, missas e duas procissões, sendo uma terrestre no domingo e uma
marítima organizada pelos pescadores, na segunda-feira. A maior atração é a
lavagem da escadaria da igreja na quinta-feira, precedida de cortejo que parte do
Largo da Amaralina em direção à Igreja de Nossa Senhora da Luz. Durante as
comemorações, realiza-se a festa de largo.

Carnaval: data móvel, é a maior profusão de alegria dos baianos. A festa, que
envolve na sua organização a participação direta de 25 mil pessoas, tem dimensões
gigantescas e acontece com uma média de 2 milhões de pessoas em 25 quilômetros
de ruas, avenidas e praças. O Carnaval é realizado em três circuitos oficiais (Dodô,
Osmar e Batatinha), com a presença de mais de 200 entidades, divididas entre
blocos de trio, afros, índios, infantis e alternativos, afoxés, e trios independentes. A
festa acontece também no Pelourinho - com a apresentação de diversas bandas e
grupos - e em bairros da cidade, onde são montados palcos para apresentações
musicais. Salvador recebe, em média, 800 mil visitantes vindos de municípios
localizados a menos de 150 quilômetros de distância e de diversos Estados
brasileiros e países do mundo. O evento começa na noite de quarta-feira (circuito
Dodô, antigo Barra-Ondina) e só termina no final da manhã de quarta-feira de
Cinzas, com o encontro de trios elétricos na Praça Castro Alves e os famosos
arrastões iniciados por Carlinhos Brown na Barra. Os maiores blocos carnavalescos
de Salvador são Camaleão, Cheiro de Amor, Crocodilo, Eva, Pinel, Olodum,
Internacionais, Araketu, Ilê Aiyê, Timbalada, Filhos de Ghandy, Nana Banana,
Cocobambu, Bizú e Acadêmicas. "Com tudo isso, Salvador se tornou uma cidade
maníaca onde todo mundo tem de ser alegre para alimentar a economia do
simbólico", analisa o escritor Antonio Risério. Para ele, o que se faz não é arte, e sim
diversão. "Mas não há dúvida que rende muito dinheiro e emprega muita gente."

Enquanto a Bahia for sinônimo de alegria vai-se enchendo o cofre. Daniela


Mercury, Ivete Sangalo e outras estrelas transformam o ano inteiro em Carnaval. Os
blocos se tornaram grandes organizações. O Olodum tem hoje uma linha de
produtos que vai de roupas a cosméticos. Seus cursos de percussão, teatro e dança
criam uma nova geração de artistas. O mesmo acontece com a banda feminina
Didá, que também tem oficinas para preparar novos componentes. Com um
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ambiente tão propício, os adolescentes na Bahia sonham com o estrelato como se


fosse uma vocação natural, uma herança que receberam só por nascerem onde
nasceram. O que Dorival Caymmi dizia, e que hoje é repetido pelo publicitário Nizan
Guanaes, continua mais válido do que nunca: "Baiano não nasce, estréia."

Para se ter uma idéia, no Carnaval de 2005 foram gerados cerca de 300 mil
empregos diretos e indiretos e gerados negócios da ordem de R$ 1.400 milhões.

A força do mercado não consegue, porém, padronizar tudo. Blocos de afoxé


como os Filhos de Gandhy e o Ilê Aiyê não se afastam do conceito que os norteou
no início. Nascidos em terreiros de candomblé, ambos surgiram como um enclave da
cultura africana. "Nós surgimos como bloco carnavalesco, mas a idéia é que o
Carnaval se torne só o alicerce para nosso trabalho pedagógico e de formação
profissional da comunidade negra", explica Antônio Carlos Vovô, fundador do Ilê.

Presente de Iemanjá: 8 de março. Manifestação religiosa do candomblé em que as


baianas e o povo levam suas oferendas, presentes e pedidos à rainha das águas
salgadas na Ponta do Humaitá, no Mont Serrat – um dos lugares mais bonitos,
tranqüilos e bucólicos da capital baiana.

Festa de São Roque: 16 de agosto. Manifestação católica de origem portuguesa, é


uma festa de forte participação do candomblé, em que São Roque é sincretizado
como o Orixá Omolú e tem os seus festejos na porta da Igreja de São Lázaro, no
bairro da Federação, com banhos de pipoca e festa nos terreiros.

Festa de São Cosme e São Damião: 27 de setembro. Manifestação católica de


origem portuguesa, acontece com missas nas igrejas e com a oferta de caruru pelos
adeptos do candomblé. A comida é feita com quiabo cortado e cozido no azeite de
dendê, sendo acompanhada de iguarias típicas da culinária baiana e servida
inicialmente a sete crianças.

Dia da Baiana: 25 de novembro. Festa que homenageia a baiana do acarajé –


símbolo da simpatia e hospitalidade do povo baiano – e acontece com missa católica
na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, manifestações
culturais em outros pontos do Centro Histórico e uma programação de
comemorações que abrem oficialmente o ciclo de festas em Salvador.
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Festa dos Pescadores: 27 a 30 de novembro. Manifestação religiosa do candomblé


realizada pela Colônia de Pescadores da Boca do Rio, que acontece com a lavagem
da Pedra de Iemanjá, na praia da Boca do Rio, e procissão para a entrega de
presentes no mar em agradecimento ou em devoção à princesa do mar. A primeira
parte da festa ocorre durante à tarde; à noite, a animação acontece com música e
nas barracas que servem comidas e bebidas típicas.

Celebração da Herança Africana: data móvel, geralmente acontece no final do


mês de novembro. O evento é uma mostra internacional de arte e cultura das
manifestações regionais de origem africana espalhadas pelo mundo, incluindo
palestras, exposições literárias e artísticas, feiras, shows musicais, espetáculos
cênicos, danças, culinária e artesanato. A festa – organizada inicialmente na
segunda maior cidade do mundo em população negra, Salvador, onde 85% dos
habitantes têm descendência africana – acontece nas ruas e praças do Centro
Histórico.

Festa de Santa Bárbara: 4 de dezembro. A santa é madrinha do Corpo de


Bombeiros e padroeira dos mercados. No candomblé, é Iansã, santa guerreira,
senhora dos raios, dos ventos e trovões. As homenagens duram três dias e iniciam-
se com uma missa na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, onde está a
imagem da santa, sendo seguida de uma procissão que percorre as ruas do Centro
Histórico, passando em frente ao quartel do Corpo de Bombeiros. Durante a
procissão, as imagens de N. Sra. da Guia, São Lázaro e São Nicodemus
acompanham a imagem de Santa Bárbara. Com o encerramento da festa religiosa,
ocorre a distribuição do tradicional caruru, preparado por voluntários e servido
gratuitamente, acompanhado de muita bebida e animação.

5.7 A UTILIZAÇÃO DA BÍBLIA

Em nossa pesquisa, encontramos orientações aos adeptos daquelas


religiões, quanto à utilização de alguns salmos bíblicos e sua utilidade, no site
http://www.magiadosmagos.hpg.ig.com.br/rituais_e_pequenas_magias.html.,
acessado em 06.10.2007, às 09h40m.
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Salmos e suas utilizações


Os Salmos são muito úteis para vários tipos de situação em nossa vida. Veja
a sua situação e reze por 07 dias ou com urgência do seu pedido, reze 07 vezes em
01 dia:
Salmos:
06 e 07 - Para socorro rápido
12 - Para pessoa que pensa em suicídio
17 - Para vitória
25 - Para pessoa que desapareceu
30 - Para afastar calúnias e espíritos negativos
33 - Para aprender facilmente
102 - Para se adaptar em uma nova situação ou ambiente
113 - Para pedir prosperidade
118 - Para arrumar emprego e progresso
120 - Para fazer uma viagem segura
91 - Serve para TUDO
97 - Para reconciliação conjugal

6 A PERSEGUIÇÃO ÀS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS

6.1 A PERSEGUIÇÃO DO ESTADO

A perseguição ou a discriminação da religião afro-brasileira não é e nunca foi


uniforme, e geralmente foi maior na cidade do que nas periferias e na área rural. Em
alguns períodos foi mais forte e mais abrangente. Em outros foi mais leve, mais
localizada e mais específica.
Entre 1876 e 1886, por exemplo, essa repressão foi bastante forte em São
Luís e seus arredores (FERRETTI, 2000, p. 272), pois várias foram as prisões de
curadores e chefes de culto noticiadas em jornais e citadas por diversos
pesquisadores (FREITAS, 1884; SANTOS e SANTOS NETO, 1989, conforme
FERRETI, 2000, p.272).
59

Em 1876 a imprensa maranhense, noticiando a prisão de uma "curadeira",


anunciou o surgimento em São Luís de uma nova religião, denominada Pajé, o que
foi retransmitido em Jornal de São Paulo localizado pela pesquisadora Liana
Trindade (USP).
Em 1934, quando foi realizado em Recife o primeiro "Congresso Afro-
Brasileiro", era obrigatório o registro dos terreiros na polícia e, como foi denunciado
naquele evento, as "macumbas" e "catimbós" eram perseguidas como crime e
anomalia. Embora essa obrigatoriedade tenha caído há mais tempo na Bahia e em
outros Estados, no Maranhão vigorou até mais ou menos 1988. Os terreiros de São
Luís e de outros Estados eram obrigados a pedir licença à Polícia para realizar suas
festas, pois eram cadastrados não como "casas de culto" e sim como "casas de
diversão", não só porque costumam fazer várias festas de santo durante o ano, mas
também porque a religião afro-brasileira não tem o mesmo "status" do catolicismo e
do protestantismo, cujos templos, certamente, não eram cadastrados na mesma
categoria.
Embora a acusação de feitiçaria, quando não substituída por "magia negra",
esteja caindo em desuso e haja atualmente uma certa valorização de práticas
terapêuticas de terreiros como "sabedoria popular na área de saúde", elas tendem a
ser encaradas pela classe dominante e seus representantes mais como "crendice"
do que como "medicina alternativa".
Embora existisse uma tendência a se poupar os terreiros fundados por
africanos da acusação de curandeirismo e magia, apresentado-os como uma
espécie de "reserva cultural africana" ou como religião africana pura ou autêntica -
pois alguns, como a Casa das Minas, de São Luís (MA), conseguiram chegar aos
nossos dias continuando muitas tradições africanas e preservando muitos aspectos
da língua, culto, mitologia, música, dança e tantos outros elementos da cultura de
seus ancestrais africanos -, eles também enfrentaram problemas com a Polícia
(FERRETTI, S.,1996).
A liberdade de culto, afirmada na Constituição brasileira de 1891, não garantiu
a liberdade dos terreiros de religião afro-brasileira e de lá para cá, embora muita
coisa tenha mudado, a religião afro-brasileira continua encarada com desconfiança
por muitos. Basta haver um crime com mutilação de cadáver ou o desaparecimento
do corpo de um morto para eclodir uma onda de suspeitas direcionadas para o "povo
de santo". Mesmo quando o criminoso é considerado "louco", os elementos de seu
depoimento que sugerem uma possível ligação com a religião afro-brasileira é logo
60

destacado e encarado como prova de realização de ritual de "magia negra" que, na


concepção de muitos jornalistas, é praticada pelas diversas denominações religiosas
afro-brasileiras. E, como existe hoje maior consciência dessa discriminação e maior
organização dos afro-brasileiros, as ações judiciais contra os agressores têm se
multiplicado e muitas delas têm sido estimuladas ou encorajadas por redes de
discussão sobre Umbanda e religião afro-brasileira na INTERNET.

6.2 A PERSEGUIÇÃO DO NEO-PENTECOSTALISMO

Tratado durante muito tempo com discrição e segredo, o culto dos exus e
pombagiras, identificados erroneamente como figuras diabólicas, veio recentemente
a ocupar na umbanda lugar aberto e de realce. Era tudo de que precisava o
neopentecostalismo, capitaneado pela IURD: agora o diabo estava ali bem à mão,
nos terreiros adversários, visível e palpável, pronto para ser humilhado e vencido.
O neopentecostalismo leva ao pé da letra a idéia de que o diabo está entre
nós, incitando seus seguidores a divisá-lo nos transes rituais dos terreiros. Pastores
da Igreja Universal do Reino de Deus, em cerimônias fartamente veiculadas pela
televisão, submetem desertores da umbanda e do candomblé, em estado de transe,
a rituais de exorcismo, que têm por fim humilhar e escorraçar as entidades
espirituais afro-brasileiras incorporadas, que eles consideram manifestações do
demônio (Almeida, 1995; Mariano, 1999).
A umbanda e o candomblé, cada qual a seu modo, são bastante valorizados
no mercado de serviços mágicos e sempre foi grande — e não necessariamente
religiosa — a sua clientela, mas ambos enfrentam hoje a concorrência de
incontáveis agências de serviços mágicos e esotéricos de todo tipo e origem, sem
falar de outras religiões, que inclusive se apropriam de suas técnicas, sobretudo as
oraculares. Concorrem entre si e concorrem com os outros. Por fim foram deixados
em paz pela polícia (quase sempre), mas ganharam inimigos muito mais decididos e
dispostos a expulsá-los do cenário religioso, contendores que fazem da perseguição
às crenças afro-brasileiras um ato de fé, no recinto fechado dos templos como no
ilimitado e público espaço da televisão e do rádio.

6.3 A PERSEGUIÇÃO TAMBÉM DO PENTECOSTALISMO


61

Não foi um ato isolado e gratuito o discurso do pastor fluminense Samuel


Gonçalves, da Assembléia de Deus, um dos apoiadores do candidato evangélico
Anthony Garotinho à presidência da república, em que afirmou que “uma das “três
maldições” do Brasil é a religião africana” (Folha de S. Paulo, 30/07/2002, p. A6).
Pouco antes do primeiro turno das penúltimas eleições presidenciais, o Painel
da Folha de S. Paulo deu a seguinte notícia, com o intertítulo de “Guerra santa:
Panfletos distribuídos por evangélicos reclama que Brasília ‘está se transformando
em um terreiro de candomblé’, pois estátuas de orixás foram colocadas em um
parque. Para mudar isso, diz o documento, só há uma solução: (eleger) Garotinho
para presidente e Benedito Domingos (PPB-DF) para governador” (Folha de S.
Paulo, 24/09/2002, p. A4).
Na opinião de PRANDI,
Se se confirma esse novo horizonte político-partidário, em que os
evangélicos se fazem presentes até mesmo numa candidatura como a de
Lula à presidência da república, na espantosa coligação entre o PT e o PL,
em parte controlado pela Igreja Universal do Reino de Deus, não há de ser
muito alvissareiro o futuro das religiões afro-brasileiras. Nos tempos atuais,
a perseguição sofrida pelas religiões afro-brasileiras passou de órgãos do
Estado para instituições da sociedade civil.
(Fonte: www.fflch.usp.br/sociologia/prandi/seguidor.doc, acessado em 06.10.2007, às 17h31m)

6.4 ORGANIZAÇÃO E CONCORRÊNCIA DAS PRINCIPAIS RELIGIÕES AFRO-


BRASILEIRAS COM AS DEMAIS RELIGIÕES

Candomblé e umbanda são religiões de pequenos grupos que se congregam


em torno de uma mãe ou pai-de-santo, denominando-se terreiro cada um desses
grupos. Embora se cultivem relações protocolares de parentesco iniciático entre
terreiros, cada um deles é autônomo e auto-suficiente, e não há nenhuma
organização institucional eficaz que os unifique ou que permita uma ordenação
mínima capaz de estabelecer planos e estratégias comuns na relação da religião
afro-brasileira com as outras religiões e o resto da sociedade. As federações de
umbanda e candomblé, que supostamente uniriam os terreiros, não funcionam, pois
não há autoridade acima do pai ou da mãe-de-santo.
Além disso, os terreiros competem fortemente entre si e os laços de
solidariedade entre os diferentes grupos são frágeis e circunstanciais. Não há
organização empresarial e não se dispõe de canais eletrônicos de comunicação.
Sobretudo, nem o candomblé em suas diferentes denominações nem a umbanda
têm quem fale por eles, muito menos quem os defenda.
62

Muito diferente das modernas organizações empresariais das igrejas


evangélicas neopentecostais (IURD, IGREJA INTERNACIONAL DA GRAÇA DE
DEUS,etc.) que usam de técnicas modernas de marketing, que treinam seus
pastores-executivos para a expansão e prosperidade material das igrejas, que
contam com canais próprios e alugados de televisão e rádio, e com representação
aguerrida nos legislativos municipais, estaduais e federal.
Mais que isso, a derrota das religiões afro-brasileiras é item explícito do
planejamento expansionista pentecostal: há igrejas evangélicas neo-pentecostais
em que o ataque às religiões afro-brasileiras e a conquista de seus seguidores são
práticas exercidas com regularidade e justificadas teologicamente. Por exemplo, na
prática expansiva da IURD, fazer fechar o maior número de terreiros de umbanda e
candomblé existentes na área em que se instala um novo templo é meta que o
pastor tem que cumprir.
Grande parte da fraqueza das religiões afro-brasileiras advém de sua própria
constituição como reunião não organizada e dispersa de grupos pequenos e quase
domésticos, que são os terreiros.
Num passado recente, entre as décadas de 1950 e 1970, as religiões de
conversão se caracterizavam pela formação de pequenas comunidades, em que
todos se conheciam e se relacionavam. A religião recriava simbolicamente relações
sociais comunitárias que o avanço da industrialização e da urbanização ia deixando
de lado. Tanto no terreiro afro-brasileiro como na igreja evangélica, o adepto se
sentia parte de um pequeno e bem definido grupo. Ao contrário disso, a religião
típica da década de 1980 em diante é uma religião de massa. Hoje, as reuniões
religiosas são realizadas em grandes templos, situados preferencialmente nos
lugares de maior fluxo de pessoas, com grande visibilidade, que funcionam o tempo
todo — algumas 24 horas — e que reúnem adeptos vindos de todos os lugares da
cidade, adeptos que podem freqüentar a cada dia um templo localizado em lugar
diferente. Os crentes seguem a religião, mas já não necessariamente se conhecem.
O culto também é oferecido dia e noite no rádio e na televisão e o acesso ao
discurso religioso é sempre imediato, fácil. Os pastores são treinados para um
mesmo tipo de pregação uniforme e imediatista.
No catolicismo carismático, por sua vez, a constituição dos pequenos grupos
de oração teve que se calçar na criação dos grandes espetáculos de massa das
missas dançantes celebradas pelos padres cantores (Souza, 2001).
63

Em síntese, nesses vinte anos, mudou muito a forma como a religião é


oferecida pelos mais bem-sucedidos grupos religiosos. São mudanças a que o
candomblé e a umbanda não estão afeitos. Não são capazes de se massificar,
mesmo porque a vida religiosa de um afro-brasileiro se pauta principalmente pelo
desempenho de papéis sacerdotais dentro de um grupo de características
eminentemente familiares. Não é à toa que o grupo de culto é chamado de família-
de-santo. Mais que isso: as cerimônias secretas das obrigações e sacrifícios não
são abertas sequer a todos os membros de um terreiro, havendo sempre uma
seleção baseada nos níveis iniciáticos, não sendo concebível a sua exposição a
todos, muito menos sua divulgação por meio televisivo.
Além de se constituírem em pequenas unidades autônomas, reunindo em
geral não mais que 50 membros, os terreiros de candomblé e umbanda usualmente
desaparecem com o falecimento da mãe ou pai-de-santo, tanto pelas disputas de
sucessão como pelo fato bastante recorrente de que os herdeiros civis da
propriedade e demais bens materiais do terreiro, tudo propriedade particular do
finado chefe, não se interessam pela continuidade da comunidade religiosa. A não
ser em uma dúzia de casas que se transformaram em emblemas de importância
regional ou mesmo nacionais para a religião, dificilmente um terreiro sobrevive a seu
fundador. Tudo sempre começa de novo, pouco se acumula.
Fragmentada em pequenos grupos, fragilizada pela ausência de algum tipo
de organização ampla, tendo que carregar o peso do preconceito racial que se
transfere do negro para a cultura negra, a religião dos orixás tem poucas chances de
se sair melhor na competição — desigual — com outras religiões.
A realidade é que, hoje, a base social do candomblé, por exemplo, mudou, e
mudou muito. Grande parte, talvez a maioria ainda, é de gente pobre, com muitas
dificuldades para arcar com os gastos financeiros impostos pela exuberância e
complexidade dos ritos, tendo que, além de se responsabilizar pelas despesas com
as oferendas votivas, paramentos, objetos rituais e sua manutenção no terreiro nos
períodos de clausura, pagar a “mão de chão”, o pagamento feito ao pai ou mãe-de-
santo pelo serviço religioso por ocasião das obrigações iniciáticas.
Mas a classe média, branca e escolarizada, já está no terreiro, muitas vezes
competindo com os negros pobres, que evidentemente, pela sua condição de afros-
descendentes, se sentem com freqüência os legítimos donos das tradições dos
orixás. Disputam cargos, regalias e posições de mando e de prestígio no intrincado
jogo de poder dos terreiros. Levam consigo valores, costumes e aspirações próprios
64

de sua condição social. O hábito de leitura, o gosto pelo estudo, o prazer do


consumo descortinam um mundo de novidades a serem buscadas nos livros, nas
revistas, na internet, nas atividades universitárias, no mercado de artigos religiosos.
No terreiro aprendem o quanto é valorizado o saber religioso. Há tesouros a
descobrir em termos da mitologia e dos ritos, segredos perdidos a recuperar.
Todavia, freqüentemente vem a decepção: os segredos são de polichinelo,
acrescentam pouco ou quase nada ao que se sabia e praticava antes. Pior que isso:
mais saber religioso não confere necessariamente mais poder, seja o poder de
mando seja o de manipulação mágica.
Diante de tudo isso é que hoje assistimos a um verdadeiro massacre das
religiões afro-brasileiras. Sem um projeto novo de expansão e de reorientação num
quadro religioso que se tornou extremamente complexo e competitivo, a umbanda
talvez tenha menos recursos que o candomblé para enfrentar a nova conjuntura. Os
dados dos censos mostram que é da umbanda que vem o encolhimento
demográfico do segmento religioso afro-brasileiro, e o vigor do novo candomblé não
tem sido suficiente para compensar as perdas. Nem seus líderes, em grande parte
pouco escolarizados, têm sabido como reagir ou como se organizar, mais
preocupados que estão em garantir o funcionamento de seus terreiros.
Por sua vez, a umbanda tem menos de cem anos de idade e parece não
conseguir se adaptar às novas demandas que a sociedade apresenta. Já o
candomblé, que é pelo menos um século mais antigo que a umbanda, porém
renovado pelas mutações que vem sofrendo em sua expansão, tem se mostrado
mais ágil para se adequar aos novos tempos. Enfim, na avaliação dos escritores
adeptos de tais religiões, entendem que tudo isso “é mais uma demonstração de que
a religião que não muda, morre”.
(Expressão de PRANDI, em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000300015, acessado em
06.10.2007, às 17h38m).

7 O SINCRETISMO E O ECUMENISMO

7.1 AS CONSEQUÊNCIAS DO SINCRETISMO NO BRASIL

Conforme o dicionário Aurélio, sincretismo significa:


1. Tendências à unificação de idéias ou de doutrinas diversificadas e,
por vezes, até mesmo inconciliáveis.
65

2. Amálgama de doutrinas ou concepções heterogêneas.


3. Fusão de elementos culturais diferentes, ou até antagônicos, em um
só elemento, continuando perceptíveis alguns sinais originários.

7.1.1 Limites

“Apesar de o sincretismo religioso ter se mostrado como fonte de


sobrevivência da religião afro, parte dos católicos e dos praticantes do candomblé
acreditam que deva existir um limite na relação entre as duas religiões. Fato que
pode ser visto na Lavagem da Igreja do Senhor do Bonfim, onde o ritual foi
modificado e somente as escadarias passaram a ser lavadas enquanto a igreja se
mantém de portas fechadas abrindo-se somente na realização da missa por
considerar a festa um ato profano.
Membros da Renovação Carismática, movimento eclesial dentro da Igreja
Católica que procura resgatar os valores da igreja, costumam ser mais radicais
quando se trata do sincretismo religioso. Maria de Lucia Ferreira, 35 anos, há 12
fazendo parte da Renovação Carismática, acha que deve existir uma separação
entre as religiões, pois se tratam de práticas diferentes e os católicos não devem
freqüentar outras práticas religiosas que não sejam as da igreja católica. “Cada qual
é cada qual. E a Renovação Carismática é fechada à prática de outras seitas
religiosas”, disse Maria Lucia. (Fonte: soteropolitanosdocentrohistorico.wordpress.com/2007/08/31/por-tras-do-

veu-do-sincretismo/ - 24k, acessado em 08.10.2007, às 09h06s)

De acordo com o padre Arnaldo Lima, essa relação acontece de forma tensa
para alguns e de forma libertadora para outros: Outras pessoas abjuram o passado,
tentam esquecer uma religião que foi socialmente desprezada e teologicamente,
“demonizada”, escondem suas crenças maiores”, afirma o padre.
(Fonte: soteropolitanosdocentrohistorico.wordpress.com/2007/08/31/por-tras-do-veu-do-sincretismo/ - 24k, acessado em
08.10.2007, às 09h06s)

O líder em evidência atualmente na Igreja Católica, conhecido por Pe.


Zezinho, assim se manifesta quanto ao sincretismo religioso:
Suco de frutas é coisa boa, mas depende das frutas e até da saúde da
pessoa. Nem todo suco de frutas faz bem para todas as pessoas. Algumas,
por exemplo, não toleram abacaxi.
Sincretismo é uma expressão, a princípio, bonita. O suco pode ser muito
gostoso, e com sabor bem diferente do sabor original de cada fruta. Se você
quiser utilizar todas as cores na pintura de uma parede, pode ser que o
resultado seja uma cor totalmente diferente de qualquer cor conhecida. Se
misturar várias bebidas, de repente vai descobrir um novo licor.
Com religião, a coisa é bem diferente. Quando você mistura todas as
crenças, o que vai ter é uma tremenda confusão. Quando mistura doutrinas,
66

vai ter uma confusão de conceitos. Em termos de fé, é preciso haver clareza
e definições. Daí porque é impossível ser ao mesmo tempo católico e
espírita, católico e evangélico, católico e mulçumano. Pode-se respeitar um
evangélico e ter muitas idéias semelhantes. Pode-se respeitar um espírita e
ter muitas idéias semelhantes. Pode-se discordar totalmente noutras, mas,
daí a viver o catolicismo de maneira espírita é impossível. Não vemos a
morte e a vida do mesmo jeito.
O sincretismo é uma atitude errada de quem acha que a religião é como
fruta. Se misturar vai dar um suco gostoso. Que cada religião preserve a
pureza da sua fé, e que cada seguidor respeite profundamente a fé do outro.
Porque é possível juntar várias flores no mesmo jardim - e até no mesmo
canteiro - e o jardim será bonito. O difícil será pedir que a rosa se comporte
como lírio e o lírio se comporte como açucena. Juntos podem fazer um belo
buquê, mas que cada um conserve a pureza do que é. (Artigo: Ecumenismo e
Sincretismo, Pe.Zezinho, em http://www.casadehon.org/especiais/ecumenismo_02.htm,
acessado em 08.10.07, às 09h18m).

Razão assiste ao Pe. Zezinho. Ele demonstra entender, corretamente, o


significado não só da palavra sincretismo, como também das implicações que tal
envolvimento que mistura religiões e culturas tão diferentes causa na vida das
pessoas.
Todavia, o sincretismo religioso é um fato histórico, presente na vida do povo
brasileiro e que hoje, inobstante os brados de revolta de ambos os lados, torna-se
praticamente impossível erradicar de seu convívio esses remanescentes culturais
sincretistas. O sincretismo entre o candomblé e a religião católica foi uma forma de
defesa visando a preservação da religião proibida pelos escravocratas.
A religião católica foi impregnada, ao longo da história de nosso país, com os
costumes afro-brasileiros. E a recíproca é verdadeira. Permitiram, conviveram,
aceitaram-se mutuamente, valeram-se disso por longo tempo, mas hoje percebem
que foi um erro. Tentam consertar, mas parece-nos uma missão “quase” impossível.
Nesse interregno, surge nova palavra, nova filosofia, chamada “ecumenismo”
e que vem sendo implementada pelo catolicismo romano, provavelmente como uma
tentativa de neutralizar o sincretismo. E tal idéia vem sendo absorvida por outros
segmentos religiosos, incluindo aí os representantes das religiões afro-brasileiras e
até mesmo líderes evangélicos de nosso país. Vejamos como o acima citado, Pe.
Zezinho, aborda esta questão, do sincretismo x ecumenismo:
O sincretismo não é uma boa idéia quando se fala de sincretismo religioso.
O ecumenismo é uma bela idéia. Até porque, uma coisa é sincretismo e
outra coisa é ecumenismo.
Sincretista foi o gesto daquele padre que, tentando agradar a comunidade
negra, celebrou uma missa inteira copiando todos os ritos do grupo negro
que foi lá. De repente, o padre quis mostrar boa vontade e deturpou a missa
católica. Praticou sincretismo e, com isto, não agradou nem a sua Igreja,
nem ao grupo que foi à festa.
A missa não pode ser nunca uma cópia do candomblé, da mesma forma de
que um ritual de candomblé não pode copiar uma missa católica. Se um
babalaô ou babalorixá copia a missa católica, ele está praticando
sincretismo. Ou se um padre copia os ritos de terreiro, ele está praticando
sincretismo. Seria diferente se aquele padre, ao celebrar a missa,
67

convidando os irmãos africanos ou afro-brasileiros, - que praticam o


candomblé - para o encontro, tivessem feito um culto ecumênico, onde o
padre orasse como católico pelos irmãos de outros grupos religiosos, e seus
irmãos da sua maneira, falassem com Deus em favor dos católicos,
teríamos ali um encontro e até um culto ecumênico. Mas, pegar a missa e
celebrá-la como se estivéssemos fazendo um momento de umbanda ou de
candomblé, é sincretismo.
A Igreja condena o sincretismo. Seria como celebrar a missa com
cachaça e charuto, para agradar algum pai de santo que, às vezes, utiliza
isso no seu culto. Tudo tem jeito, mas tudo tem o seu limite!. (grifo nosso)
(Artigo: Ecumenismo e Sincretismo, Pe.Zezinho, em
http://www.casadehon.org/especiais/ecumenismo_02.htm, acessado em 08.10.07, às 09h18m).

Concordamos com o entendimento de Pe.Zezinho sobre as diferenças entre


sincretismo e ecumenismo. E destacamos sua afirmativa de que “A Igreja condena o
sincretismo”.
Curioso é que o sincretismo igualmente também não é bem visto por líderes
do candomblé, umbanda, etc. O candomblé Ilé Axé Opó Afonjá, conduzido por Mãe
Stella, localizada no bairro de São Gonçalo, também não é adepto do sincretismo
religioso, apesar de respeitar todas as religiões e dar liberdade aos seus praticantes
de exercer a prática. A mãe de santo deixou claro sua posição contra o sincretismo
religioso em um documento de 1983, assinado por várias outras Yalorixá (nome
também utilizado para mãe de santo), que tenta promover a separação total das
práticas do candomblé com as católicas, por acreditar que o sincretismo leva ao
consumo e a profanação da religião africana. Vejamos, abaixo, a opinião da
“famosa” “Mãe” Stella, de Salvador-BA, a respeito do sincretismo religioso:
Mãe Stella advoga idéias polêmicas, que contrastam com a linha de conduta
de outros terreiros famosos da Bahia, como o Gantois. Ela é contra o
sincretismo religioso - associação entre santos católicos e santos do
candomblé. "O sincretismo enfraquece os dois lados", adverte.
(http://epoca.globo.com/edic/19991213/soci2.htm - Acessado em 06.08.2007, 9h32m)

Maria Thereza Lemos de Arruda Camargo, em seu trabalho “MITO, RITO E


TRADIÇÃO E O CANTAR DAS FOLHAS: UM ESTUDO DE CASO” , diz que:

Atualmente, os terreiros de candomblé estão procurando impetrar um


processo de reafricanização, os quais buscam na África suas raízes para
aqui se organizarem tal como lá ocorre. Se em períodos anteriores a
reafricanização conviveu ao lado do sincretismo, o mesmo não ocorreu em
épocas mais recentes, quando algumas das principais lideranças do
candomblé se engajaram num movimento concentrado em afastar as
influências católicas e ameríndias do culto dos orixás, entendendo que a
tradição africana é a tradição africana no Brasil, como se, apagando no
presente as marcas da dominação católica e de outras misturas no
candomblé, surgisse a África aqui em seu estado puro, tal qual teria sido
trazida pelos escravos no passado."A dessicretização acompanha a
reafricanização visando uma volta a um africanismo primitivo que
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atualmente se expande pelo Brasil, ocorrendo muitas vezes uma verdadeira


guerra santa de combate ao sincretismo.

(http://www.aguaforte.com/herbarium/mitos.html, acessado em 08.10.07, às 11h41m)

PRANDI, 1999,p.106, já citado neste trabalho, diz que:

A africanização é também uma invenção de tradições, não sendo, pois uma


volta ao original primitivo, mas a ampliação do espectro de possibilidades
religiosas para uma sociedade moderna, em que a religião é também
serviço e, como serviço, se apresenta no mercado religioso, de múltiplas
ofertas, como dotada de originalidade, competência e eficiência”.
(http://www.aguaforte.com/herbarium/mitos.html, acessado em 08.10.07, às 11h41m)

Hoje, tanto os líderes da Igreja católica quanto os das demais religiões


envolvidas, talvez, em suas cúpulas, podem até condenar o sincretismo. Entretanto,
impossível deixar de concluir que, ao longo da história, “criaram uma cobra para
serem picados por ela”.

7.2 POR TRÁS DO SINCRETISMO

Ao caminhar no Pelourinho, quem passa em frente à Igreja do Rosário dos


Pretos e escuta batuques de atabaques, ritmos africanos e vê a batina do padre
incrementada com desenhos afros pode duvidar que trata-se realmente de uma
missa católica. Mas é o que acontece todas as terças-feiras, às 18h, na realização
de uma missa que une o catolicismo com elementos da cultura africana. Essa missa
é um exemplo do sincretismo que uniu duas das religiões mais praticadas no Brasil:
o candomblé e o catolicismo. Evidentemente, existindo pessoas que o apóie e que o
recrimine.
A Igreja do Rosário dos Pretos lota as terças-feiras. Muitos fiéis assistem a
missa de pé e são vários os que vão especificamente a essa celebração por seus
diferenciais. O sincretismo pode ser visualizado desde a homilia do padre que faz
referências aos povos afros, até as músicas religiosas, que são acompanhadas
pelos batuques dos atabaques, entre outros instrumentos africanos.
A freqüentadora da igreja a cerca de dois anos, Jacir Macedo, 33 anos, acha
a missa interessante por gostar e se identificar com os elementos do candomblé:
“Me sinto muito bem aqui, essa missa me transmite uma paz, tranqüilidade e muita
fé”. (http://soteropolitanosdocentrohistorico.wordpress.com/2007/08/31/por-tras-do-veu-do-sincretismo/ - Acessado em
08.10.07, às 9h6m).
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Para o padre Arnaldo Lima, 60 anos, professor da Universidade Católica do


Salvador (UCSAL), a relação sincrética do catolicismo com a religião afro baiana
acontece de forma diversificada. “Para algumas pessoas essa relação é de forma
suave, como o nadar no rio da cidade onde nascemos. E Salvador teve a felicidade
de acolher a religião dos africanos, na grande infelicidade da escravidão”.
(http://soteropolitanosdocentrohistorico.wordpress.com/2007/08/31/por-tras-do-veu-do-sincretismo/ - Acessado em 08.10.07, às
9h6m).

O hibridismo religioso existente entre os católicos e os praticantes do


candomblé é explicitado entre os que freqüentam as duas religiões de forma
harmônica e aqueles que são praticantes de uma delas e em alguns momentos
dirige-se a outra, seja numa missa ou num ritual do candomblé. A equede (nome
dado no candomblé a aqueles que cuidam dos orixás) Sandra, do terreiro Ilé Axé
Opó Afonjá, diz ser batizada numa igreja. Atualmente não se considera católica, mas
vai à missa em certas ocasiões: “Aprendi muitas coisas freqüentando a igreja, cada
um tem a sua cabeça e aqui existe liberdade para cada um segui-la”.
(http://soteropolitanosdocentrohistorico.wordpress.com/2007/08/31/por-tras-do-veu-do-sincretismo/ - Acessado em 08.10.07, às
9h6m).

O Babalorixá Bel do Oxum, nome também utilizado para pai de santo,


considera que “devido ao sincretismo todos nós devemos ser batizados na igreja
católica” . De acordo com o pai de santo, a relação existente entre as duas religiões
é quase que perfeita, existindo muitos padres que celebram missas nos terreiros e
que vão até lá para comer o caruru de São Cosme.“Nunca houve uma discriminação
grande, sempre existiu o misticismo”, declara Bel. De acordo com as convicções do
padre Arnaldo Dias, “o sincretismo é uma benção na cidade de Salvador”.
(http://soteropolitanosdocentrohistorico.wordpress.com/2007/08/31/por-tras-do-veu-do-sincretismo/ - Acessado em 08.10.07, às
9h6m).

8 AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E SUAS INFLUÊNCIAS NO


SERTÃO DA PARAIBA

8.1 A PESQUISA EM PATOS (PB)

Com o propósito de observar, conhecer e comparar a realidade brasileira,


amplamente demonstrada ao longo deste trabalho, no tocante às religiões afro-
70

brasileiras, com a realidade em nossa região, realizamos entrevistas com os


dirigentes de 09 (nove) templos umbandistas na cidade de Patos (PB).
Inicialmente, identificamos que praticamente todos os templos umbandistas
atuam de duas maneiras:
a) Atendendo as pessoas que os procuram diariamente para consultas ditas
espirituais, pelas quais cobram certa importância em dinheiro além da solicitação de
ingredientes para complementarem os “trabalhos” (aguardente, charutos, velas,
galinhas, bodes, etc).
b) Realizando reuniões, chamadas de “GIRA”, em determinados dias da
semana, os quais variam de templo para templo. Nas “giras”, há o “toque” de
atabaques, a ingestão de bebidas, a realização de sacrifícios de animais, a
“incorporação” dos espíritos e o relacionamento com estes, onde as entidades
espirituais, incorporadas nas pessoas apresentam suas exigências, dão orientações,
exigem pactos, etc.
Em TODOS os templos visitados, seus dirigentes afirmam fazerem parte da
Umbanda e negam, veementemente, serem adeptos da Quimbanda. Todavia,
vimos mais acima, nas definições e diferenças entre um ramo e o outro do ocultismo,
que:
a) Os “atendimentos” na Umbanda são totalmente gratuitos.
b) O sacrifício de animais (oferenda de sangue) nunca foi, não é e nem
será ritual de Umbanda.
Com apenas uma exceção, dos nove templos visitados, oito COBRAM pelos
atendimentos e oito realizam sacrifícios de animais.
Assim, podemos concluir, logo de início, que em Patos, ou existe um desvio
dos preceitos da Umbanda ou os dirigentes visitados adaptaram uma corrente à
outra, criando uma simbiose entre elas; ou ocultaram a verdade para não assumir
que praticam a Quimbanda -- pois todos sabem que a Quimbanda é voltada para o
MAL e, evidentemente, não querem ter seus nomes e templos vinculados
abertamente a essa situação.
Despertou-nos a atenção um fato comum entre os entrevistados:
praticamente todos foram atraídos para o espiritismo em função de alguma doença
tida por incurável pelos médicos. E que, ao serem “curados” no espiritismo, sempre
lhes foi colocada a questão de que teriam mediunidade a ser desenvolvida, pois
tinham uma missão aqui na terra, que seria a de servir às entidades espirituais sob
pena de coisas mais graves lhes acontecer ao longo da vida.
71

Outro aspecto deveras marcante foi o fato de que TODOS os


entrevistados admitiram que são CATÓLICOS. Tal fato confirma o que já
comentamos acima, no tocante a “segunda religião” sincretizada.

9 TEMPLOS DE UMBANDA VISITADOS

9.1 TEMPLO DE “IANSÃ NITA”

Fundado em 1980. Localizado à Rua Lima Campos, s/nr., bairro das Placas,
Patos (PB).
Mãe-de-Santo: Maria do Carmo (Neta).
Enfermidade aparente: feridas que nunca cicatrizam na perna.
Como ingressou na Umbanda: enfermidade que ninguém conseguia curar.
Obteve a “cura” daquela doença com a condição de passar a servir às entidades
espirituais.
Religião oficial: católica não praticante.
Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: quartas e sextas feiras (“gira”)
Freqüência: média de 15 a 20 pessoas por “gira”.
Consultas de atendimento pessoal: média de 3 a 5 pessoas por dia.
Valor da consulta: R$ 15,00 (quinze reais).
Observações: Dona Neta, a dirigente, não freqüenta outra igreja, porém
considera-se católica. Afirmou trabalhar exclusivamente para o BEM. Mostrou-nos as
dependências do templo, onde pudemos constatar que existe um salão maior onde
as giras são realizadas e o atendimento pessoal também é feito ali. Porém, mostrou-
nos alguns quartos da casa, os quais, segundo Da.Neta, seriam os “quartos dos
santos”. Ela crê que o “santo” passou a residir ali, em sua casa, e habita naquele
quarto. Quando amanhece o dia, ela sai batendo de porta em porta,
cumprimentando respeitosamente os “santos”, os quais ela acredita que dormiram
ali, naqueles quartos.
Relatou, com um misto de orgulho e satisfação pessoal, que após muitos
anos de lutas, havia conquistado, finalmente, o direito de ter “seu” “santo” habitando
permanentemente no templo. Deu a entender, com isso, que em outros templos há a
72

possibilidade de que o “santo” ainda não habite em definitivo, como acontece com o
templo dirigido por ela. Acreditamos, portanto, que tal situação é encarada como
uma espécie de status no meio umbandista: os que tem e os que não tem um santo
habitando permanentemente no local.
Foi questionada com relação ao MAL, ou seja, se fosse procurada por alguém
para fazer o mal para outro, se ela faria. Categoricamente afirmou que NÃO. Que só
trabalhava para o bem. Todavia, mostrando as dependências do templo, mostrou-
nos um quarto que ela disse pertencer à entidade conhecida pelo nome de “Zé
Pelintra”. Neste quarto, vimos vestígios de sangue em uma panela, imagens de
entidades com aspecto demoníaco, espadas, facas de vários tipos e tamanhos,
navalha, uma garrafa de bebida suporte montado em cascos de boi... Enfim, um
ambiente diferente do outro quarto, que possuía imagens de aparência normal.
Novamente foi questionada com relação a QUIMBANDA e, percebendo que
não éramos totalmente leigos sobre o assunto, admitiu finalmente que, se
necessário, recorreria a Quimbanda (ou seja, magia negra) para resolver algum
problema mais grave, como dependência de drogas ou bebidas.

9.2 TEMPLO “CABOCLO PENA VERDE”

Fundado em 2001. Localizado à Rua José Francisco da Silva, bairro Dona


Milindra, Patos (PB).
Mãe-de-Santo: Maria das Neves (Nevinha).
Enfermidade aparente: notamos que sofre de alguma enfermidade que a
deixa com dificuldade para respirar e até mesmo falar, como alguém asmático.
Como ingressou na Umbanda: enfermidade que ninguém conseguia curar.
Obteve a “cura” daquela doença com a condição de passar a servir às entidades
espirituais.
Religião oficial: católica praticante. Vai sempre a missa, confessa-se e recebe
a hóstia.
Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: segundas e quartas feiras (“gira”).
Freqüência: média de 20 a 22 pessoas por “gira”.
Consultas de atendimento pessoal: média de 5 pessoas por dia.
73

Valor da consulta: R$ 10,00 (dez reais).


Observações: Não nos mostrou as dependências do templo. Questionada
sobre a questão da Quimbanda, declarou que trabalha para o bem, mas se for
PARA DEFESA pode recorrer ao mal. Afirma que nunca usaria suas atividades para
fazer o mal para quem quer que seja.
Perguntamos se ela, uma vez que é católica praticante, teria relatado ao
padre, no confessionário, as suas atividades espirituais. Disse que sim, mas que o
padre teria lhe dito que não tinha problema algum, que aquilo era uma missão que
ela teria trazido para a terra e a aconselhou a sempre praticar o bem, pois, assim,
estaria agradando a Deus.

9.3 TEMPLO “OXUM TALADEMIM”

Fundado em junho de 2006. Localizado à Rua José Francisco da Silva, bairro


Dona Milindra, Patos (PB).
Pai-de-Santo: Rondinaldo Morais - (Jovem, com apenas 18 anos de idade)
Enfermidade aparente: não notamos nenhuma enfermidade aparente.
Como ingressou na Umbanda: enfermidade que ninguém conseguia curar.
Obteve a “cura” daquela doença com a condição de passar a servir às entidades
espirituais.
Religião oficial: católico praticante. Vai sempre a missa, confessa-se e recebe
a hóstia.
Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: terças feiras (“gira”).
Freqüência: média de 20 pessoas por “gira”.
Consultas de atendimento pessoal: média de 5 pessoas por dia.
Valor da consulta: R$ 20,00 (vinte reais).
Observações: Foi iniciado em outro centro de umbanda, porém entendeu que teria
que abrir o seu próprio templo, razão pela qual o templo é de fundação recente,
junho deste ano. Não pudemos entrar na área do templo, porém avistamos espadas
que estavam colocadas ao lado de uma espécie de móvel encoberto por uma lona
plástica, o qual acreditamos tratar-se do “altar”, que contém as imagens e outros
objetos.
74

Despertou-nos a atenção o fato de o dirigente ser muito jovem (apenas 18


anos). Atendeu-nos com ares de mistério. Calado, disposto a ouvir, só falava o
mínimo necessário, limitando-se apenas a responder às nossas perguntas.
Comunicava-se com as outras pessoas lá presentes com gestos que nos
pareceram estar determinando certas providências que deveriam ser tomadas pelos
demais. Apesar de jovem, era tratado com muita reverência e respeito pelos demais,
demonstrando claramente que era ele realmente quem detinha o controle do local.
Na saída, convidou-nos a voltar lá outras vezes...

9.4 TEMPLO “ALIXÊ DE IANSÔ

Fundado em 1988. Localizado à Rua Pedro Firmino, bairro das Placas, Patos
(PB).
Mãe-de-Santo: Alcenira (conhecida por “Sena”).
Enfermidade aparente: notamos que sofre de alguma enfermidade que a
deixa com dificuldade para respirar e até mesmo falar, como alguém asmático.
Como ingressou na Umbanda: enfermidade que ninguém conseguia curar.
Obteve a “cura” daquela doença com a condição de passar a servir às entidades
espirituais.
Religião oficial: Afirma ser hoje católica praticante. Vai sempre a missa,
confessa-se e recebe a hóstia.
Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: quintas-feiras (“gira”).
Freqüência: média de 25 pessoas por “gira”.
Consultas de atendimento pessoal: média de 2 a 3 pessoas por dia.
Valor da consulta: R$ 20,00 (vinte reais).
Observações: Em sua juventude, era evangélica em Brasília (DF), onde
participou ATIVAMENTE da IPB - Igreja Presbiteriana do Brasil, por cerca de 5
(cinco) anos. Relatou, emocionada, que pregava a Palavra de Deus por onde quer
que andasse -- nas ruas, em cultos campais, hospitais, etc. Gostava muito de
evangelizar e disse conhecer a Bíblia. A esta altura de seu relato, quando falou na
Bíblia, desatou em um choro convulsivo, demorando a voltar a falar. Até o final de
75

nossa visita interrompeu diversas vezes a entrevista, voltando a chorar, muito


emocionada.
Todavia, teria sido acometida por uma enfermidade (não especificou qual)
que ninguém conseguia curar. Então, acabou procurando ajuda na umbanda, onde
imediatamente obteve a “cura” daquela doença, soa a condição de ter que passar a
servir às entidades espirituais até o fim de sua vida, sob pena de lhe acontecer algo
mais grave.
Declarou que, então, nunca mais teve coragem de entrar em uma igreja
evangélica, passando a buscar a religião católica. Porém, ficou muito claro para nós
que aquela mulher ficou traumatizada por ter abandonado o Evangelho. Ela afirmou
categoricamente, até com muita ênfase, que “por conhecer a Bíblia, SÓ REALIZA
“TRABALHOS” PARA O BEM”. Disse que já a teriam procurado diversas vezes,
oferecendo altas somas em dinheiro, para “fazer o mal” para outras pessoas:
desmanchar casamentos, prejudicar financeiramente alguém e até mesmo ocasionar
algum acidente que vitimasse alguém. Todavia, afirmou que SEMPRE rejeitou tais
ofertas e que só pratica, mesmo, o bem, como reatar casamentos, livrar pessoas de
vícios e promover a cura de alguma doença.
Saímos daquela entrevista muito impressionados com o que vimos e ouvimos,
pois ficou muito patente a ação demoníaca na vida de uma pessoa, da forma como
aquela mulher aparenta estar escravizada. Disse que cura outras pessoas, mas não
consegue obter a cura de suas próprias doenças. Vive em uma casa extremamente
modesta e deixou-nos a impressão de estar até enfrentando necessidades materiais.

9.5 TEMPLO “AXÊ MARÉ” (deusa das águas)

Fundado em (?) . Localizado em um beco no bairro das Placas, Patos (PB).


Mãe-de-Santo: Francisca Coelho (conhecida por “Pituca”).
Enfermidade aparente: notamos que sofre de alguma enfermidade que a
deixa com dificuldade para respirar e até mesmo falar, como alguém asmático.
Tossia muito.
Como ingressou na Umbanda: enfermidade que ninguém conseguia curar.
Obteve a “cura” daquela doença com a condição de passar a servir às entidades
espirituais.
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Religião oficial: Afirma ser hoje católica praticante. Vai sempre a missa,
confessa-se e recebe a hóstia.
Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: quintas-feiras (“gira”).
Freqüência: média de 20 pessoas por “gira”.
Consultas de atendimento pessoal: média de 5 pessoas por dia. Trabalha
com cartas (baralho), búzios e tarô.
Valor da consulta: R$ 20,00 (vinte reais).
Observações: Realiza, anualmente, uma festa para as crianças (alusiva aos
“santos” Cosme e Damião) que reúne cerca de 1.000 (mil) crianças dos bairros
vizinhos ao bairro das Placas, e que isso tem atraído para si muita inveja dos demais
dirigentes umbandistas, com os quais não consegue ter bom relacionamento.
É uma senhora que já é até avó. Chama a atenção o fato de ser
excessivamente magra, com praticamente a pele sobre os ossos. Tossia muito
durante a entrevista e aparentou ser uma pessoa perturbada emocionalmente, pois
chorou em vários momentos enquanto conversávamos, sem nenhuma razão
aparente para chorar.
Reside e trabalha em uma casa extremamente humilde, inserida em um beco
dentro de um dos bairros mais pobres da cidade, o bairro das Placas. Ao que
pudemos perceber, aparenta enfrentar, também, dificuldades financeiras e materiais.

9.6 TEMPLO DE “IEMANJÁ DODÊ”

Fundado em 1986. Localizado à Rua Antonio Félix, bairro da Vitória, Patos


(PB).
Pai-de-Santo: Gilvan Araújo.
Enfermidade aparente: não notamos nenhuma enfermidade aparente.
Como ingressou na Umbanda: enfermidade que ninguém conseguia curar.
Obteve a “cura” daquela doença com a condição de passar a servir às entidades
espirituais.
Religião oficial: católico praticante. Vai sempre a missa, confessa-se e recebe
a hóstia.
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Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: sábados e domingos (“gira”).
Freqüência: média de 20 a 25 pessoas por “gira”.
Consultas de atendimento pessoal: média de 5 pessoas por dia. Búzios.
Valor da consulta: R$ 15,00 (quinze reais).
Observações: O Sr. Gilvan é o presidente da “Federação dos Umbandistas” local, a
qual, por sua vez, é ligada a Federação de João Pessoa (PB).
Em seu templo, pudemos constatar apenas a realização de trabalhos de
umbanda. Ausência total de objetos característicos da quimbanda, tais como
espadas, navalhas, facas, etc. Apenas um altar, com imagens características do
“bem” (Iemanjá, preto-velho, São Jorge, Cosme e Damião, etc.) Nas paredes, fotos
de festas realizadas, com os participantes vestidos em trajes típicos (roupas
brancas, colares, turbantes, etc.)
Questionado sobre trabalhos de quimbanda, negou veemente que realizasse
tais trabalhos. Disse que em suas consultas trata apenas de casos como
reconciliação nos relacionamentos, cura de enfermidades, problemas de emprego,
etc.
Todavia, ao ser questionado sobre os motivos que o levavam a permanecer
realizando tais trabalhos, deixou transparecer que teme ameaças recebidas do
“mundo espiritual”, de que, se porventura abandonasse aqueles trabalhos, algo
grave lhe aconteceria. Nas suas atitudes e hesitações, passava a sensação de que,
se tivesse a certeza de que nada de mal lhe aconteceria, abandonaria aquela vida.
Não se mostrou muito feliz com o tipo de vida que leva há tantos anos.

9.7 TEMPLO “CIDADE DE BOIADEIRO”

Fundado em 2000. Localizado à Rua Projetada, s/nr, bairro Monte Castelo,


Patos (PB).
Pai-de-Santo: Gilberlândio.
Enfermidade aparente: traços de homossexualidade.
Como ingressou na Umbanda: enfermidade que ninguém conseguia curar.
Obteve a “cura” daquela doença com a condição de passar a servir às entidades
espirituais.
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Religião oficial: católico praticante. Vai sempre a missa, confessa-se e recebe


a hóstia.
Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: sábados (“gira”).
Freqüência: média de 60 a 70 pessoas por “gira”.
Consultas de atendimento pessoal: média de 3 pessoas por dia.
Valor da consulta: R$ 25,00 (vinte e cinco reais).
Observações: Trata-se de um rapaz, aparentando cerca de 30 anos de idade.
Solteiro, possui uma fábrica de produtos de limpeza, localizada em frente ao templo.
Afirmou que sobrevive da fábrica e não do templo, pois o dinheiro que consegue
arrecadar com as “consultas” gasta integralmente com bebidas, pois “as entidades
bebem muito durante a noite”, nada sobrando para ele.
Informou que já conta com 28 “filhos de santo”, ou seja, pessoas que foram
“preparadas” e desenvolvidas por ele.
Diferentemente dos demais, afirmou que só atende as consultas
“incorporado”, razão pela qual só consegue atender cerca de três pessoas ao dia.
Declarou orgulhosamente que resolve cerca de 80% dos casos que lhe são trazidos.
Não demonstrou estar muito realizado com o trabalho que faz, muito ao
contrário, demonstrou estar infeliz, sentindo-se prisioneiro de algum pacto que teria
feito, sem coragem de romper por temer as conseqüências.
Ao concluirmos a entrevista, ele encerrou com um desabafo esclarecedor:
Não se sentia satisfeito, pelo fato de estar ali diariamente resolvendo os problemas
dos outros mas sem conseguir resolver os seus próprios problemas pessoais.

9.8 TEMPLO “RELIGIÃO MATRIZ AFRICANA ILÊ-AXÊ OYA-GBALE”

Fundado em 1990. Localizado no Bairro do Jatobá, em Patos (PB).


Pai-de-Santo: Luiz Gonzaga.
Religião oficial: católico praticante. Vai sempre a missa, confessa-se e recebe
a hóstia.
Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: segundas-feiras (“gira”).
79

Freqüência: média de 100 a 120 pessoas por “gira”.


Consultas de atendimento pessoal: média de 2 a 3 pessoas por dia. Búzios.
Valor da consulta: (Existe uma tabela de preços)
a) Búzios - RS 20,00
b) Cartas - R$ 20,00
c) Incorporação: R$ 40,00 + material necessário

Observações: O Sr. Luis Gonzaga estava ausente e fomos atendidos por sua
esposa. Eles residem em uma casa em frente ao templo, que, olhando de fora,
pareceu-nos ser o maior dentre os visitados.

9.9 TEMPLO “IARI AXÊ OXUM APARÁ”

Fundado em 1992. Localizado no Loteamento Santa Clara, rua projetada,


s/nr., Patos (PB).
Pai-de-Santo: Joselito Medeiros.
Enfermidade aparente: traços de homossexualidade.
Como ingressou na Umbanda: cursava um seminário católico em Recife (PE),
mas tinha a influência de sua mãe, que era umbandista e a mesma tinha visões a
seu respeito, onde ele aparecia servindo às entidades espirituais. Começou, durante
viagem de férias, a freqüentar centros de umbanda em Campina Grande (PB) e
acabou sendo desligado do seminário católico. Passou a residir em Patos (PB),
como auxiliar do Pe. Jair, na Paróquia de N.S. de Fátima. Paralelamente,
freqüentava centros de umbanda, até que foi dispensado pelo Pe. Jair e ficou
perambulando pelas ruas, pois seu pai não aceitava sua inclinação para a umbanda.
Foi auxiliado por amigos e acabou se firmando, tendo conseguido abrir seu
próprio templo, onde permanece até o presente.
Religião oficial: católico praticante. Continua “amigo” de alguns padres locais.
Acredita que serve a quem: a Deus. Entende seu trabalho como uma
“missão”.
Trabalhos: quartas-feiras (“gira”).
Freqüência: média de 60 pessoas por “gira”.
Consultas de atendimento pessoal: média de 5 pessoas por dia.
80

Valor da consulta: GRÁTIS. As pessoas, entretanto, deixam suas ofertas aos


pés de uma imagem de Iemanjá.
Observações: Dentre todos os entrevistados, concluímos ser, provavelmente, o
mais culto. Tem avançado em conhecimento, estando preparado para viajar para
Recife, (PE), em janeiro/2007, onde deverá participar da última etapa de um
treinamento que o fará graduado no último grau existente para pais-de-santo. Tal
treinamento tem um custo de R$ 12.000,00 (doze mil reais). Ele declarou que o
dinheiro já está preparado, apesar de não cobrar nada pelas consultas. Como se
depreende, as pessoas que o procuram são bastante generosas em suas ofertas.
Apesar de estar localizado em um bairro considerado distante na cidade, demonstra
sinais de progresso em seu trabalho. Comprou um terreno ao lado e está planejando
a expansão do tempo, que deverá ser duplicado de tamanho.
Ao nos mostrar o templo, bateu na porta de um quarto que se encontrava
fechado, e cumprimentou com muita reverência o “santo” que estaria lá habitando.
Contou que já tem 6 templos filiais e já preparou 93 filhos-de-santo. Afirmou
trabalhar apenas com curas através de ervas medicinais. Para tanto, vive se
atualizando através de pesquisas constantes na Internet e deverá realizar no
próximo ano uma viagem ao exterior com o fim de se atualizar ainda mais.
Aparentemente, vive bem, sua casa é bem arrumada e conta com móveis
novos e eletrodomésticos sofisticados. Possui uma motoneta BIZ nova e, de todos
os visitados, foi o único que se mostra satisfeito com o que faz.
No templo, não constatamos a presença de objetos de quimbanda. Nas
paredes, fotos de festas realizadas e, dentre elas, uma chamou a nossa atenção: o
pai-de-santo foi retratado travestido de mulher, em trajes de baiana, todo maquiado
e alegre. A foto, na verdade, esclareceu os trejeitos afeminados do rapaz.

9.10 FEDERAÇÃO PARAIBANA DE UMBANDA

Constatamos a existência de uma entidade que tenta congregar e normatizar


todos os templos de umbanda locais: a Federação Paraibana de Umbanda.
Tem como presidente o Sr. Gilvan Araújo (acima citado) e os demais
membros da atual diretoria, estranhamente, são todos integrantes de seu próprio
templo umbandista. Ou seja, na verdade, não significam uma representação dos
demais templos.
81

O Sr. Gilvan declarou que não tem ao certo o número de templos federados,
girando em torno de 60 a 70 templos, dentre os 80 a 100 (número estimado) que
existem em nossa cidade.
O valor para a inscrição é de R$ 50,00 (cinqüenta reais) e a mensalidade para
funcionamento é de R$ 10,00 (dez reais).
Esse dinheiro, pelo que entendemos, destina-se ao próprio Sr. Gilvan. Ele
declarou que o dinheiro arrecadado serve para despesas de deslocamento quando
tem que resolver algum problema em um templo.
Perguntamos que tipo de problemas a federação resolve. Ele respondeu que,
praticamente, os problemas são de reclamações por parte dos vizinhos dos templos
quanto ao horário de encerramento das “giras”. Como as “giras” envolvem o uso de
atabaques (causando o chamado “batuque”), evidentemente fazem barulho e muitas
vezes os vizinhos reclamam junto às autoridades competentes e aí o Sr. Gilvan é
chamado para intervir e moralizar o templo infrator.
Todavia, ao conversarmos com os dirigentes por nós entrevistados, eles não
vêem a necessidade de pagarem tais importâncias para a Federação, pois, na
prática, a mesma em nada os auxilia.
Perguntamos ao Sr. Gilvan se a Federação teria poderes para fiscalizar os
templos quanto ao correto uso e aplicação das normas doutrinárias da umbanda, a
exemplo do que sabemos que a Federação Espírita Paraibana atua junto aos
centros kardecistas. Ele respondeu que, na prática, não consegue exercer tal
controle, pois cada pai-de-santo atua conforme deseja. E isto tem provocado,
segundo o Sr. Gilvan, a divisão de muitos templos e a abertura de novos templos a
cada dia, gerando graves problemas, brigas, dissensões e fazendo com que o
umbandismo caia no descrédito.

9.11 CONSOLIDAÇÃO DE DADOS

Considerando a freqüência máxima por “gira” e a média de consultas diárias dos


centros pesquisados, temos o seguinte quadro:

Quadro 1 - Consolidação de Dados


“Gira” Consultas
Templo 1 - 20 4
82

Templo 2 - 22 5
Templo 3 - 20 5
Templo 4 - 25 3
Templo 5 - 20 5
Templo 6 - 25 5
Templo 7 - 70 3
Templo 8 - 120 3
Templo 9 - 60 5
Totais - 382 38

Contatamos que temos, acima, os dados de 9 centros, ou seja, cerca de 10%


do total de templos umbandistas existentes nesta cidade. Em termos estatísticos,
este percentual é um bom percentual para se avaliar a amostragem obtida, gerando
números provavelmente próximos à realidade. Principalmente se considerarmos, na
amostragem, que dos 9 templos visitados, 6 apresentam números próximos (cerca
de 20 a 25 freqüentadores por “gira”) e 3 templos destacam-se, variando de 60 a
120 freqüentadores, ou seja, nossa amostragem revela uma realidade, pois
contempla tanto templos pequenos quanto templos médios e grandes.
Por outro lado, ficamos com uma incógnita quanto às consultas.
Teoricamente, quem busca tais consultas? Os freqüentadores das giras?Se forem
estes, já estão computados entre os freqüentadores.
Ou seriam curiosos eventuais, membros de outras religiões -- em especial a
católica, pelo que nos foi revelado pelos entrevistados?
Baseados na informação, então, dos entrevistados, queremos considerar os
que “consultam” apenas como visitantes e não como freqüentadores habituais.
Nossa proposta, então, é que se exclua da projeção o número de visitantes de
consultas e se considere, nos freqüentadores das “giras”, uma margem de 20%, a
exemplo do que fizemos no kardecismo.

Assim, teríamos o seguinte quadro:


Total de freqüentadores das “giras” = 382
Margem de 20% de acréscimo = 76
Total = 458

Portanto, se nossa amostragem revela 10% do total existente, temos:


83

458 x 10 = 4.580 freqüentadores da umbanda em Patos (PB)

No cenário nacional, os freqüentadores dessas religiões alcançavam, no


censo de 2000, apenas 0,34% da população brasileira.
Todavia, conforme nossa pesquisa, constatamos que, para uma população
em Patos (PB) estimada segundo o IBGE local, em torno de 100.000 habitantes,
temos, portanto, 4,58% da população patoense, hoje, adepta do umbandismo.

10 CONCLUSÃO

Se a igreja católica, ao longo da história do Brasil - e independentemente da


boa vontade dos indivíduos - foi pouco evangélica e/ou evangelizadora, como se
confrontar hoje com o povo "católico-de-candomblé" que a circunda? Como
reapresentar hoje, num contexto de mixagem religiosa, a sua "necessária função
salvífica" ?
Admitindo que seja a igreja local o agente evangelizador do povo sincrético,
quem seriam os parceiros concretos neste diálogo: os teóricos de tais religiões, os
testemunhos do fiel comum (católicandomblezeiro) ou os arrazoados dos teólogos
cristãos? Ou todos os três?
De fato, não é o mesmo pedir explicações aos intelectuais da emergente
umbanda e depois escutar a palavra de seus adeptos. Existe continuidade e
descontinuidade entre os dois níveis - e ainda um terceiro nível abrange os clientes
ocasionais. E é justamente esse fenômeno que permite o tráfego de um sistema
religioso a outro. Tanto as respostas umbandistas quanto as católicas - em princípio
descontínuas entre si – acomodam-se a certo esquema mental e o reforçam. Na
prática, porém, este não é substancialmente modificado (ao menos, não a ponto de
tornar plausível uma conversão propriamente dita).
Se alguém continua a freqüentar a missa e os sacramentos sem abdicar dos
passes contra malefícios e dos despachos nas encruzilhadas, isso pode significar
que a sua leitura pragmática reconhece a eficácia de ambos os rituais, o católico e o
do candomblé, por exemplo. Tal atitude deixa perplexos os próprios mestres-
dirigentes do candomblé. A percepção instrumental da religião, freqüente nos
clientes e, às vezes, notada mesmo entre os abiyan (os futuros filhos de santo), é
reiteradamente censurada pelas mães e pais-de-santo. "Isso não é problema de
84

santo", dizem, assim "indicando que o filho tem uma perspectiva equivocada da
religião, quando a imagina capaz de preservá-lo de todos os dissabores cotidianos.
Ainda mais, quando imagina 'o santo' como 'algo' que lhe seja exterior ou estranho".
Portanto, a mixagem e a busca mágica do sobrenatural desconcerta ambos
os sistemas religiosos. Parece que, tanto para o cristianismo católico quanto para o
candomblé, a separação entre o mágico e o mí(s)tico seja feita por um fio
demasiadamente tênue. Em suma, uma constante antropológica que certamente
alimentará, ainda por longo tempo, muitas discussões teológicas vindouras.
85

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11h29s
89

ANEXO A - ÉTICA NAS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS

(Palestra apresentada no 1º Congresso de Cultura Afro-Brasileira, Uberlândia, MG, - Set./1999 - por


Toy Vódunnon Francelino de Shapanan) Fonte: http://wara_olode.vilabol.uol.com.br/comp.htm#006, acessado em
06.10.2007, às 15h57m

“Temos que ter muito claro que para falarmos de ética dentro de uma
determinada religião o primeiro impulso que devemos ter é de fazermos uma
separação entre o que se entende por bem e mal. Ao falarmos da religião de
Umbanda e das religiões Afro-brasileiras ou afro-descendentes como preferem
alguns, não podemos nos envolver com conceitos cristãos de pecado, haja visto não
fazer parte de nosso universo religioso.
Estas religiões, desde que existem, têm normas que lhes norteiam mas que
nem sempre são do conhecimento e observância de seus sacerdotes, pois cada
Babalorixá /Iyalorixá ou Dirigente Espiritual cuida de colocar suas próprias normas
dentro de suas Casas. Isto ocorre até porque não temos um único Mandatário
Supremo, todos são supremos em seus Axés. Porém, isto não impossibilita que
todos se unam para zelar pelos "Códigos de Ética" que sempre existiram, muito
embora a idéia é que só agora estamos criando essas normas.
Ocorre que para isto todos somos chamados a observar e cumprir com essas
posturas, passarmos para nossos filhos e simpatizantes aí já estaremos ajudando e
muito para que a religião tenha seu lugar de respeito e credibilidade. Como disse,
tenta-se por no papel aquilo que na prática já existe e só precisa ser observado.
Vejamos pois que normas, que códigos devemos observar:
1. É imperativo que dentro da Umbanda e dos Cultos Afro-brasileiros, todos estejam
preocupados em manter a tradição religiosa e cultural de seu grupo, sem misturas e
enxertos, sem junções e adições absurdas e desastrosas e que estas mesmas
religiões deixem de se preocupar apenas com a parte litúrgica, para também se
dedicarem ao bem-estar das pessoas, da comunidade como um todo, do país, do
mundo, e também que esteja sempre presente a preocupação na preservação do
meio ambiente, lembrando que somos uma religião ecológica por excelência.
2. Precisamos aprender a respeitar a nação do outro, pois todos os segmentos têm
origem em comum na Mãe África, cultuam Orixá, Vodun, Nkissi, Bacuro, Encantados
e Guias que são muito queridos e amados por seus adeptos. O desrespeito à liturgia
e ao ritual de cada um incorre num grande mal para toda a comunidade afro-
brasileira.
3. Precisamos ter respeito com os mais velhos, com os Agba da religião, com
nossos ancestrais. Vê-se hoje em dia pessoas novas chamando a atenção e
querendo ensinar os mais antigos. Se os mais velhos não souberem nada, o que
diremos dos novos? Pensamos que se precisa de entendimento e muito diálogo
entre as gerações a fim de se tirar o melhor proveito. Mas tudo com seriedade e
dignidade.
4. Em todos os grandes eventos (Congressos, Seminários, Encontros etc.), deve-se
ter um Cerimonial adequado para se ver "quem é quem", dando-se as devidas
precedências e evitando-se constrangimentos ao se destacar, por exemplo, um filho
em detrimento de seu pai. É anti ético.
5. Nas festas religiosas (Toques), devemos nos preocupar com nossos convidados e
dar-lhes a atenção devida, também fazendo com que todo o Egbé saiba se portar e
respeitar. É desagradável chegarmos a lugares onde muitos torcem a cara e
ignoram aqueles que com carinho ali estão para prestigiar e participar.
Urge que conversemos com nossos Sacerdotes e adeptos para que não
confundam religião com "questões sexuais". Graças à Avievodum, Olodumare,
90

Zambiapongo, temos uma religião liberal que não nos castra. Entretanto, muitos se
aproveitam de seus cargos e postos para desfilarem frustrações sexuais e
travestirem nossa Religião colocando-nos em descrédito perante às autoridades e à
própria sociedade.
Devemos lutar pela união sincera e verdadeira das pessoas interessadas na
preservação dos nossos segmentos religiosos. A discórdia, a desunião, a intriga só
enfraquece a própria religião. Cada um deve fazer sua parte, com critérios, com
seriedade, com dignidade. Não devemos nos ver como concorrentes mas como
membros unidos de um mesmo corpo. Precisamos acabar com a idéia de que um é
melhor que o outro. Para nossos Deuses somos todos iguais. Será, por exemplo,
que meu Vodum Toy Azonce só gosta de mim e não gostará de outros seus filhos?
Será que Odé, Oxósse, Águè só ama um filho e esquece os outros? Não,
certamente que não, o problema é individual, é pessoal, é falta de boa formação, de
bom berço.
Vamos lutar para que os Congressos sejam fórum de grandes decisões, de
momentos de verdadeiras reflexões, de congraçamentos, de bons e felizes
reencontros e não que deixemos nossos lares para nos virmos nos digladiar.
Não devemos confundir pontos de vista diferentes com geração de ódio. Isso não é
ético; Vamos valorizar com toda sinceridade as diferentes formas tradicionais dos
cultos afros. Lutemos por uma união e não por uma unidade. Daí o lema da
INTECAB que é a "união na diversidade".
Resgatemos a língua de cada culto e devemos usar nossos títulos
corretamente. Jamais se deve estimular o absurdo, a invencionice, títulos
inadequados. Por exemplo: não é ético chamarmos uma Sacerdotisa de Umbanda
de Iyalorixá pois esta não foi iniciada e nem inicia ninguém. Seu grande valor está
em ser uma Dirigente Espiritual, uma digna Babá de Umbanda sem nenhum
demérito de seu potencial espiritual e material; Todos temos o dever de recusar a
efetivação de rituais religiosos que firam sua tradição de origem e sejam contrários
aos ditames de sua consciência; É de suma importância zelar pela dignidade da
tradição e cultura Afro-brasileira em todos os seus níveis de desdobramentos, sendo
este o papel preponderante de todos os verdadeiros Sacerdotes; Somos todos
tradicionalistas: da Umbanda, do Kêtú, do Mina Jêje, do Ifon, da Angola, do Jêje
Mahi, do Omolocô, do Nagô Egbá, do Alakêtú, do Mina Nagô, da Encantaria, da
Tradição de Orixá ou do Fanti-Ashanti, desde que sigamos nossos rituais e
costumes legados por nossos antepassados. Esta é uma postura ética que precisa
ser levada em conta.
A exploração que alguns sacerdotes fazem com seus filhos é imoral, antes de
ser ética, e precisa de grandes reflexões. Tenta-se criar a idéia de que quanto mais
dinheiro, mais axé, e assim torna-se comércio. Cobrar "salva" ou chão" é entendido
como axé, mas exploração é caso de polícia. Outro tema polêmico e delicado diz
respeito a quebra de tabus religiosos, incluindo-se nestes os relacionamentos
sexuais entre pais e filhos de uma mesma casa. Comete-se o incesto.
Finalizamos abordando a questão do "Jogo de Búzios" antes exercido
somente por grandes e sábios sacerdotes e sacerdotisas, de forma extremamente
sagrada, e hoje feito em praças públicas, viadutos, feiras esotéricas, shoppings, sem
falar no "disque búzios" e "0900", que tanto entristecem os tradicionalistas”.
91

Anexo B - RITUAIS E ALGUMAS MAGIAS UTILIZADAS NAS RELIGIÕES AFRO-


BRASILEIRAS

Por considerarmos curioso, anexamos, pelo presente, este interessante


material, utilizado pelos adeptos das religiões afro-brasileiras:

Banho de Oxalá - 08 folhas de caju, 08 folhas de alecrim, 08 folhas de saião, 08


rosas brancas, 08 gotas de seu perfume, 02 colheres de sopa de mel (ou açúcar).
Tome este banho pedido purificação, limpeza astral em uma sexta-feira ou domingo.
Também é recomendado para limpar a energia de um lugar, passando um pano pelo
local com esta água.
Pedido de Misericórdia, Paz e Prosperidade à Oxalá - Passar um pombo branco
no corpo, colocar mel na boca do pombo e soltar o pombo fazendo assim o pedido à
Oxalá.
Ganhar causa judicial com as forças de Ogum - Escrever o número do processo
num papel, enterrar na praia, colocar em cima 03 espadas de São Jorge cruzadas,
entorne cerveja branca rodeando as "espadas" e acenda 01 vela branca ao Sr.
Ogum Beira-Mar.
Pedido a Santo Expedito - Ogum de Oxum para proteção nos negócios -
Ofereça 01 batata doce cozida, 01 prato branco, 04 velas brancas e faça seu pedido.
Aipô de Iemanjá - Canjica com dendê, camarão refogado. Coloque em 01 tigela e
faça junto com isso (02 manjares, 01 doce e 01 salgado). Coloque dentro de uma
vasilha (INOX) e ofereça com uma vela azul à Iemanjá.
Agrado a Oxossi - Cozinhe 07 espigas de milho e depois arrume em uma bandeja,
jogando azeite doce sobre as espigas. Acenda uma vela verde e agradeça.
Mesa para Oxóssi e Caboclos - Vá em uma mata e sobre os pés de uma árvore
bem frondosa, coloque uma toalha verde (+- 1,5m) no pé da árvore o arrume sobre
esta toalha: 04 velas brancas, 04 velas verdes, 01 charuto (com uma fita verde
amarrada), 01 abóbora de gomo vermelho, 01 vinho tinto doce, 01 pedaço de fumo
de rolo, 07 moedas correntes, 06 bananas prata, 02 maçãs, 03 laranjas, 03 pêras,
01 Kg de milho de galinha cozido, 02 goiabas, 01 coité (para colocar o vinho).
Depois de acessa as velas, faça o pedido e derrame o mel (lembrando que deve
fazer isso em pé) sobre toda a obrigação. Agradeça pelo pedido já ouvido por
Oxóssi.
Pedido de Justiça a Xangô - Numa Quarta-Feira às 12:00 horas, vá a uma pedreira
e abra uma cerveja preta e rode-a sobre a cabeça 07 vezes pedindo Justiça a Xangô
e na última rodada quebre a garrafa na pedreira. Saia do local sem olhar para trás.
Ibeté de Oxum - 01 Kg de inhame cozido, amassar e misturar com dendê, cebola
ralada, 05 gemas de ovo cru, enfeite com galinhos de avenca.
OBSERVAÇÃO: Quando estiver fazendo esta obrigação não se deve falar com
ninguém.
Pedir a Oxum que olhe por seu pedido - Acenda uma vela branca (ou azul),
coloque em um prato branco açúcar e sobre o açúcar coloque 02 gemas de ovos no
prato como se fossem olhos sobre o prato. Peça a Oxum que olhe pelo seu pedido.
Logun-Edé (pedido ou agrado) - São 02 pratos: 01 com feijão fradinho, camarão e
03 ovos cozidos e outro com milho de galinha cozido com rodelas de coco por cima.
Obrigação a Ossãe - Corte 01 abacate no meio, encha as cavidades com
amendoim descascado e fumo de rolo desfarelado ou coloque dentro fumo de rolo
desfarelado com cachaça.
Obrigação a Oxumaré - Cozinhe 01 batata doce, espere esfriar. Amasse a banana
e em 01 alguidar de barro pequeno, coloque o seu pedido e faça com a banana
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pequenas cobrinhas e enfeite os corpos das cobrinhas com moedas (separe 14


moedas correntes) e coloque por cima do pedido. Jogue por cima mel e azeite doce.
Faça a saudação à Oxumarê (ARROBOBOI) e acenda 06 velas (sendo de 02 em 02
formando um triângulo ao redor da obrigação).
Agrado a Nanã - Cozinhe feijão preto com camarão salgado e coloque 01 ovo no
meio. Ofereça a Nanã e faça seu pedido.
Invocação e Agrado a Obaluaê, Omulu e todo o Povo do Cemitério - Na entrada
do cemitério, entre arrastando os pés (o peito dos pés) no chão e pronuncie
pausadamente e alto IKÚ BALÉ e vá andando pelo cemitério. Quando tiver certeza
(através de um sinal) que você foi ouvido, coloque sobre a cruz do Cruzeiro 01 L de
água mineral, 07 velas brancas, 07 velas pretas, 07 moedas correntes, 07 pães, 01
peixe com escama em 01 prato de papelão, 01 punhado de pipoca, 01 punhado de
sal grosso. Faça seu pedido e peça proteção ao povo do cemitério.
Agrado a Cosme e Damião (Ibejis - Crianças) - Em 01 prato grande de papelão,
arrume 03 maria-moles, 03 suspiros, 21 balas sortidas, 03 batons de chocolate, 03
bombons, 03 guaranás pequenos, 03 copos plásticos (com guaraná). Acenda 01
vela branca, 01 vela azul, 01 vela rosa e derrame 01 Kg de açúcar fino em todo o
prato.
Pedido a Pombagira dos Amantes para abrir o caminho no Amor - Numa
Segunda-Feira, as 23:00 horas, em 01 encruzilhada coloque (com a mão esquerda)
01 garrafa de champanhe e 03 rosas vermelhas. Peça que ela abra o seu caminho
no amor.
Agrado a Exú-Rei - Leve em 01 encruzilhada 01 garrafa de cachaça, 01 charuto e
01 folha de mamona com 03 bifes de fígado cru com cebola por cima.
Óleo de Lua Cheia - 1/2 L de óleo mineral (ou óleo de azeite), 02 colheres de sopa
de pétalas de rosas (de jardim), 01 colher de sopa de pétalas de jasmim. Guarde em
um local seco e escuro. Se der bolor jogue fora sem utilizar. Passe no corpo para
uma melhor sintonia com a energia lunar.
Óleo a Deusa Hécate - 1/2 L de óleo minera (ou óleo de azeite), 02 colheres de
sopa de pétalas de rosas (de jardim), 01 colher de chá de casca de limão (ralada),
01 colher de chá de semente de erva-doce. Passe na nuca, testa e mãos quando for
realizar um ritual a grande deusa Hécate.
Incenso para consultar Oráculos (bola de cristal, búzios, baralho, etc...) -
Coloque para queimar em 01 incensário a mistura de: 10 g de folhas de patchouli, 10
g de canela em pó, 10 g de sândalo em pó.
Trazer segurança em uma casa - Enterre em 01 canto da casa, uma quartinha com
água e mel e jogue dentro 03 dentes de alho, 03 pregos virgens, 01 azougue, 01 obí
roxo. Se for apartamento, coloque em 01 canto escondido da casa e sempre coloque
água quando secar.
Magia Astrológica para prosperidade - Esta magia Cigana Oriental é feita da
seguinte forma: Coloque em 01 bandeja grande redonda sal grosso ao redor, em
seguida coloque 09 velas brancas ao redor, em seguida coloque 06 velas azuis ao
redor e no centro 01 vela dourada. Cada vela que acender diga: "Trindade do sol,
Júpiter em órbita, trazendo dinheiro para mim". Aguarde o resultado.
Magia do Tarô para obter Sucesso - Na lua crescente, colocar as cartas do Tarô nº
10, 19 e 21 em forma de triângulo. No meio delas colocar 01 vela amarela acesa
dentro de um prato. Em seguida acenda um incenso na carta 10, um copo d'água na
carta 19 e 01 pirita dourada ou citrino amarelo sobre a carta 21. Pegue uma casinha
de cera e esfregue-a bastante com a mão. Coloque-a junto com a vela no prato para
ambas derreterem e misturarem. Fale em voz alta: "Peço aos elementais da água,
do fogo e do ar que me ajudem a atingir meus objetivos, dentro do meu
merecimento, sem prejudicar o meu semelhante". No outro dia, enterre num jardim
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as cinzas do incenso e lave o prato para usá-lo só para rituais. Por fim, guarde a
pedra no seu local de trabalho ou consigo.
Amuleto do Jogador (Ju-Ju) - Este é um amuleto Wanga que possui bastante força
e atrai a riqueza. Tome uma noz-moscada e faça um pequeno furo na região onde
ficava o talo, até atingir a profundidade de meia noz. Coloque no orifício uma gota de
mercúrio, feche a noz com cera de uma vela vermelha (que deve ser acessa no
início da operação). Unte a noz com óleo de sândalo (emanando pensamento de
riqueza para você ou para quem for o Ju-Ju), coloque-o em um saquinho de tecido
vermelho. Guarde-o dentro da bolsa ou carteira.
OBSERVAÇÃO: O resultado é no prazo de no máximo 01 mês. Se o Ju-Ju cair no
chão por algum motivo (ou a bolsa e carteira que esta com ele dentro), você deve
abrir o saquinho e despachar tudo em um jardim e confeccionar outro Ju-Ju. Nunca
deixe que o Ju-Ju encoste o chão.

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