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A CULTURA DO

PALCO
SÉCULO XVII – ANTIGO REGIME
1618 (INÍCIO DA GUERRA DOS TRINTA ANOS) – 1714 (FIM DO
REINADO DE LUÍS XIV)

Grande século ou crise generalizada?

- dissidências religiosas (reforma e contra-reforma)


- absolutismo vs parlamentarismo
- desenvolvimento de práticas capitalistas (mercantilismo)
- permanência de sociedade de ordens
- convivência de opostos: entre a liberdade e a proibição na produção cultural, artística, científica
e técnica.
*REFORMA E CONTRA-REFORMA

A Reforma Protestante foi a grande transformação religiosa da época moderna, pois rompeu
a unidade do Cristianismo no Ocidente. No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero fixou
na porta da igreja do Castelo as 95 teses que criticavam certas práticas da Igreja Católica.
Atualmente, luteranos de todo mundo comemoram neste dia o "Dia da Reforma Protestante".
Em 2017, a Reforma Protestante fez 500 anos.
A Contrarreforma, também chamada de Reforma Católica, foi um movimento de
reestruturação da Igreja Católica que culminou em 1545 com o Concílio de Trento (Santo
Ofício ou Inquisição, Index (lista de livros proíbidos) ). Seu objetivo era reformar a própria Igreja
Católica e dar uma reposta ao protestantismo que estava ocorrendo no Sacro Império Romano
Germânico.
EUROPA DA CORTE.
MODELO DE VERSALHES.

• corte: casa/palácio de grandes e poderosos reis, príncipes, bispos


e aristocratas
• surge a corte-régia (“corte estado”), ex: Luís XIV. Tinha por
finalidade regulamentar as dependências sociais da aristocracia
através de um código de comportamentos e de etiquetas e
orientá-la para a obediência e até para o culto à pessoa do rei.
• “Tem que se ver Versalhes como um espetáculo posto num palco,
onde tudo converge para a glória do Rei: arquitetura, pintura,
escultura ornamentação, mobiliário, jardins e a população que o
serviu.”
OS PALCOS: CORTE/ IGREJA/
ACADEMIAS

• Corte (ex. Versalhes)


“as grandes festas não servem tanto
para prazer dos convidados mas são
manifestações de grandeza do
anfitrião”
• Igreja
Palco da Igreja: enquanto instituição e da sua luta contra o protestantismo (contrareforma)
Palco do Rei: cujo poder divino e absoluto lhe é dado por Deus. Acabam por ser a
autoridade máxima da Igreja
As artes são, neste período, colocadas ao serviço da Igreja e da Religião:
- mais apelo à perceção sensorial e imaginativa
- menos apelo às faculdades intelectuais
• Academias – influenciadas pelos princípios do Classicismo (ordem/ unidade/ harmonia) por
oposição aos ideais barrocos.
Exemplos:
Academia Real de Pintura e Escultura de Paris (1648)
Academia Real de Dança (1661)
Academias de Ciências *

• Teatros/ Óperas
ACADEMIA REAL DE ESCULTURA E PINTURA DE PARIS
* REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

(associada ao surgimento das academias)


- ciência enquanto prática profissional
- razão + experimentação + conhecimento objetivo
- desenvolve-se o método de investigação nas ciências:

Bacon: método experimental


Descartes: método dedutivo científico
ARTE BARROCA
CARACTERÍSTICAS GERAIS

Panorama variado que reflete profundas contradições sociais, económicas e morais:

- Pintura das cortes decora palácios, embeleza igrejas, enriquece coleções reais vs. Génios
solitários como Caravaggio, Rembrandt, Vemeer, La Tour
- Descartes e Galileu (revolução cientifíca) vs. Inquisição e Contra-Reforma
• Todas as formas de arte se destinavam a uma dupla função: fascinar pelos sentidos (retórica)+ veicular uma forte mensagem ideológica

• Dirige-se ao grande público e destina-se a persuadir e a estimular emoções através de:

- Movimento curvilíneo

- Assimetria

- Jogo ostentatório de luz e sombra

- Busca do infinito, do teatral, do fantástico; em suma, busca do cenográfico.

• O racionalismo não comanda, mas sim a emoção, afetividade e o misticismo - Pathos

PATHOS: temo grego que se refere à exteriorização das emoções e sensibilidades latentes no indivíduo: comovente, tocante ou
enternecedor, excitando nos outros, sentimentos e afetos de que estamos possuídos.
ARQUITECTURA BARROCA

• contexto religioso: Contra-Reforma (diretrizes do Concílio de Trento – expansão)


• contexto político: Antigo Regime – Absolutismo (régio, de origem divina)
• fundamentalmente urbana
• consolidação da associação Arte e Poder
• a arquitetura barroca pode ser definida por:
Libertação espacial
Fim da estaticidade e da simetria
Busca da fantasia e de movimento
Antítese entre espaço interior e exterior
ARQUITECTURA
RELIGIOSA
• Expoente máximo da arquitetura barroca
• “O poder papal e o poder real
preocupam-se em erigir luxuosas
igrejas”

• Plantas: grande diversidade formal tendo


por base formas geométricas curvas,
elípticas e ovais. Tendencialmente plantas
de nave única.
(CONT.)

• Paredes: concavas e convexas


(paredes ondulantes). No
interior estão cobertas por
pinturas e talha dourada.
• Imagem: Igreja de S. Carlos
das Quatro Fontes, Roma -
Borromini
(CONT.)

• Cobertura: abóbadas + cúpula


colossal (representa o céu)
• (imagem: Capela do Santo
Sudário. Turim. )
(CONT.)

• Fachadas: grande frontão que acentua


a verticalidade. Formas ondulantes.
• Portal Principal: grande acumulação
de ornamentação: esculturas, cartelas,
frontões, colunas, … Grande ênfase.

• (Imagem: Igreja de São Carlos das


Quatro Fontes. Roma)
ARQUITECTURA
CIVIL
Palácios

• Relacionam-se com a
paisagem e espaço envolvente
através dos jardins
• Planta em forma de U
• Fachada colossal

Palácio Barberini. Roma.


(CONT.)

Villas

• Pertenciam a reis,
pontífices, nobres e alta
burguesia
• Expressam um poder
absolutista e capitalista
• Seguem os princípios
renascentistas de diálogo com
a natureza
Villa Doria Pamphilli. Roma
(CONT.)

Jardins

• Enriquecidos com bosques,


grutas artificiais, pavilhões e
labirintos
• Espaços de ostentação e luxo
• “jardim à francesa”

Jardins do Palácio de Versalhes. Paris


(CONT.)

Praças
• Elemento central do urbanismo barroco

Fontes
• Elemento predileto do urbanismo barroco.
• Presente em todas as praças.
• Ornamentadas com figuras mitológicas e
jogos de água, em cascata ou repuxo.
Fonte dos Quatro Rios na Piazza Navona. Roma
CIDADE BARROCA. URBANISMO

“O barroco existiu para fascinar e deslumbrar através dos jogos de luz e sombra, das volumetrias e da decoração.
Sendo uma arte urbana, as cidades possuíram neste tempo, ruas e avenidas retas, largas praças, jardins luxuosos e
fontes extravagantes. As surpreendentes fachadas dos palácios e as suas escadarias ritmadas revelam e são
propícias ao “espetáculo do barroco”. A sociedade barroca era festiva e a festa acontecia com o casamento, o
nascimento, a chegada ou a morte de um rei, rainha ou príncipe, ou com procissões, canonizações, autos-de-fé e
representações de mistérios que impunham pompa e circunstância para a cidade e para o Homem Barroco.
A este modo de entender a vida aliou-se a teoria absolutista que fez surgir um novo tipo de cidade-capital do
Estado – um espaço racionalmente planificado a “régua e compasso” onde predominou a preocupação com um
urbanismo integrado, que teve como protótipo Roma Santa. Nesta, o poder era do Papa enquanto nas outras era
do Rei, tomando a simbologia papal.
Para que a nova cidade surgisse foram destruídas vastas áreas medievais, criando-se grandes praças. “
Fonte de Trevi. Roma. Fonte dos Quatro Rios na Piazza Navona. Roma
ESCULTURA
BARROCA
ESCULTURA BARROCA

• “A primeira característica reconhecível e típica da escultura barroca é a sua


omnipresença.” Flávio Conti.

• arte mais praticada e mais difundida neste período


• porquê? Porque permitia com eficácia concretizar os grandes objetivos da arte barroca:
- comunicação instintiva e intuitiva das mensagens pelas emoções e sentimentos
- provocar surpresa e deslumbramento
- era intencionalmente didática e simbólica
• grandes encomendadores da época: Igreja; Monarcas; burgueses.
CARACTERÍSTICAS TÉCNICO-
FORMAIS DA ESCULTURA
BARROCA

• rigor da execução técnica (exigida pelo


realismo formal e naturalismo)
• perfeição das formas
• exploração das capacidades expressivas
(dramaticidade)
• preferência da representação de posições
em movimento
• utilização de panejamentos volumosos,
agitados e descompostos (contraste de
texturas e jogo luz/sombra)

Êxtase de Santa Teresa de Ávila. Bernini


(continuação)

• composições livres e soltas


que formavam grupos
escultóricos
• Registo da ação - instante
fotográfico (interesse pelas
narrativas)

David. Miguel Ângelo David. Bernini. (barroco)


(renascimento)
(continuação)

• sentido cénico das obras (teatralidade +


enquadramento)

Apolo e Dafne. Bernini


CATEGORIAS DA ESCULTURA BARROCA

A escultura barroca divide-se em duas grandes categorias:

• escultura monumental ou ornamental: destinava-se a ornamentar a arquitetura


religiosa ou civil enquadrando-se nos cenários por ela criados
• escultura independente: com carácter alegórico, honorífico ou comemorativo, que
pode também ter cumprido funções urbanísticas.
ESCULTURA MONUMENTAL OU ORNAMENTAL

É um complemento imprescindível da arquitetura barroca

- usada para rematar as construções e para as decorar

- usou dois tipos de trabalho escultórico:

• Relevos: sobretudo funções decorativas.


Gramática formal típica: volutas, brasões, cartelas, vasos, troféus, festões,
coruchéus, fogaréus, etc..que decoravam entablamentos, frontões, frisos,
portas e janelas.
• Escultura de vulto redondo: funções estruturais, honoríficas, alegóricas e simbólicas. Usada em:
• Nichos, consolas ou mísulas, nas fachadas das igrejas e mosteiros (e também paredes
interiores) honrando santos ou heróis.
• Filas horizontais sobre os parapeitos das pontes e dos áticos dos edifícios; em
escadarias e colunatas; ou sobre muros de jardins. As estátuas eram colocadas espaçadamente recortando,
evidenciando o seu alto perfil.
• Estátuas-colunas, sustentando tetos e entablamentos. Função estrutural. (figuras
masculinas - atlantes; figuras femininas – cariátides. Influência Clássica)
• Monumentos escultóricos (misturavam estatuária, relevos e elementos
arquitetónicos): baldaquinos, púlpitos, retábulos e mausoléus.
Baldaquino Basílica de São Pedro. Bernini Colunata de são Pedro. Bernini
ESCULTURA INDEPENDENTE

Tipologias e programas
iconográficos:
• monumentos comemorativos, figuras
alegóricas, retratos, túmulos, passos
processionais e fontes.
• preferência por grupos escultóricos (em
detrimento da estatuária individual): mais
dinâmico e dramático.

Santa Cecília. Stefano Maderno


(CONT.)

• temáticas escultóricas frequentes: nasce na contra-reforma e tem na Igreja as principais


encomendas, por isso reflete a nova mística a que a Igreja aderira, inspirada na Bíblia e no
Novo Testamento, e também nos escritos dos grandes místicos da Contra-Reforma como o
Santo Inácio de Loyola (jesuítas) e Santa Teresa de Ávila.
• nova iconografia sacra: vidas de santos e mártires canonizados no séc. XVII; a Sagrada Família
e Imaculada Conceição; Cristo no Calvário e Via Sacra; Virtudes Cristãs; valorização da figura
do Papa como uma espécie de herói cristão. Todos estes temas cumpriam funções didáticas e
de auto-afirmação da Fé e do poder da Igreja Católica.
• escultura laica (adaptação da iconografia sacra), sendo o poder real o principal encomendador:
retratos individuais/ mausoléus/ figuras ou grupos mitológicos (raiz clássica):
Busto de Gabrielle Fonseca.
Médico do Papa Inocêncio X. Túmulo do Papa Alexandre VII. Bernini
Bernini
BERNINI

Gian Lorenzo Bernini (1598-1680) foi um escultor e arquiteto italiano considerado a maior
expressão do barroco. Grande parte de sua obra está espalhada nas cidades de Roma e do
Vaticano.
Embora seja mais conhecido pelo seu trabalho de arquiteto e escultor, Bernini foi um
artista múltiplo. Ele também produziu desenhos, pinturas e ainda, foi produtor de
espetáculos.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA OBRA DE
BERNINI

Estilo excessivamente expressivo


Realismo chocante
Detalhes das expressões faciais conforme a emoção da personagem
Ao observador é possível imaginar que a obra possa falar, gritar, alegrar-se e sofrer
Corpos alongados e gestos expressivos
Na arquitetura: colunas retorcidas, jogos de luz, entre outros
Ilusão de movimento de corpos, cabelo e tecido
ÊXTASE DE SANTA TERESA
BERNINI
A obra onde Bernini alcançou maior efeito cenográfico foi a
Capela Cornaro, um exemplo de integração de todas as artes
para formar um todo unitário. Numa fusão da ficção com a
realidade, Bernini assume livremente a arte como um
espetáculo, ao ponto de representar a capela como o palco
de um teatro, com as respetivas galerias laterais onde a
família Cornaro contempla o Êxtase de Santa Teresa.
Sintonizada com a Contra-Reforma, a literatura mística
constituía uma fonte de inspiração barroca, aproximando os
fiéis das experiências físicas e espirituais de Cristo e dos
santos.
ÊXTASE DE SANTA TERESA (CONT)

Aqui, Bernini representou o sucedido tal como o descreveu a própria santa: um anjo trespassa
continuamente o seu coração com uma flecha, fazendo-a sentir uns “acessos de morte”, nos quais prazer e
dor se confundem até fazê-la desfalecer de emoção.
Santa Teresa surge sobre uma nuvem no momento do êxtase, praticamente desfalecida, o corpo coberto
por um hábito de inúmeras pregas que geram múltiplos movimentos e acentuam os efeitos expressivos.
Esboçando um delicado sorriso, o anjo levanta suavemente as vestes da santa, preparando-se para desferir
novos golpes. Arrebatada pelo êxtase divino, a santa evoca toda a energia da arte barroca: contrastes
violentos entre a rugosidade dos rochedos e a agitação dos panejamentos, a integração do espaço real
numa dimensão mística, tudo contribuindo para o acesso ao mundo celeste através da comoção e do
deslumbramento. A exacerbação expressionista e o pathos intenso foram recursos muito caros à retórica
dos sentidos, preconizada pela estética barroca.
APOLO E DAFNE

A escultura em tamanho real é uma


alusão à perseguição do deus grego
Apolo à ninfa Dafne. A obra
demonstra o exato momento em que
Dafne vira um loureiro como forma
de se proteger de Apolo.
PLUTÃO E PROSERPINA

Considerada uma das mais fantásticas obras de Bernini,


esculpida quando o artista tinha 24 anos.

Na mitologia grega, Proserpina é Perséfone, filha de


Deméter, que é raptada por Plutão e levada para o
submundo. Vale lembrar que Plutão corresponde a
Hades na mitologia grega.

Bernini eleva a escultura ao máximo do realismo,


mostrando os dedos de Plutão abarcando a pele de
Prosérpina. O medo é estampado na face, bem como
as tentativas de defender-se do algoz. Essa obra
encontra-se na Galleria Borghese, em Roma, Itália.
BEATA LUDOVICA
ALBERTONI
TÚMULO

Proposta de análise: comparer


com a escultura do túmulo de
Santa Cecília e com o Êxtase de
Santa Teresa.

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