EDITORIAL

SUMÁRIO
... É MARAVILHOSO!
MARÇO/ABRIL 2022/02

E
m um ano em que a Campanha da Fraternidade
(CF 2022) é dedicada à Educação, fazemos o uso
deste espaço lembrando a fala de Fátima Vieira.
A professora disse em entrevista que “mesmo
que a arte de ensinar necessite de caminhos
longos, difíceis, embora gratificantes, trabalhar na
Educação é maravilhoso!”
No mesmo ensejo, a presente edição traz o trabalho Esforçai-vos por alcançar
da Casa Santa Olímpia, hoje no bairro Parque Peru- as coisas do alto, onde
está Cristo. (Cl 3, 1-4)
che, SP, que é uma resposta concreta ao carisma das Foto: shutterstock.com/Amanda Carden
irmãs Dominicanas da Beata Imelda. As dominicanas
exercem sua missão na educação da fé, principalmente
no atendimento às crianças, adolescentes e jovens
através de serviços sociais, serviço que as Missionárias
da Consolata também exercem no CCNSA, Jardim Peri,
zona norte de São Paulo.
O padre Gianfranco faz uma breve radiografia dos  MISSÃO EM CONTEXTO-------------------------------03
Casa Santa Olímpia
nove anos, completados neste ano, do pontificado do Marilene Bonfim
papa Francisco. Um pontificado que tem sido inten-
 ATUALIDADE----------------------------------------------04
so e eivado de muitas atividades de âmbito pastoral Nove anos de governo petrino
e missionário, tendo em conta a evangelização do Gianfranco Graziola
mundo de hoje.  ESPECIAL--------------------------------------------------06
Tesouro ameaçado
A reflexão sobre a água vai além de 21 de março, Jean-Claude Bafutanga
quando se celebra o dia da conscientização da sua  INTENÇAO MISSIONÁRIA------------------------------08
importância. Padre Jean-Claude Bafutanga relata Maria Emerenciana Raia
que os Povos Indígenas, especialmente os Yanomami  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
convivem hoje com a poluição de seus rios por conta Ensinar com amor
Paulo Mzé
do garimpo ilegal, o que vem trazendo consequências
 TESTEMUNHO-------------------------------------------12
desastrosas na saúde daqueles povos. A vida para a Missão
O lema da CF 2022 resgata a importância do Livro Inês Regina de Lima
dos Provérbios em nossa vida. Ao mesmo tempo que  FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------14
nos lembra a importância da filosofia da observação Ensinamos com amor?
Olímpia Vargas
presente em muitas culturas. A rubrica faz jus à coleção
 FÉ EM AÇÃO---------------------------------------------16
de coleções. O lema da CF 2022 faz parte do final de Resistência: uma forma de viver
todo o Livro dos Provérbios. Nei Alberto Pies
A educadora Olímpia Vargas em seu artigo afirma  FAMÍLIA CONSOLATA-----------------------------------17
Allamano e o estudo
que a Igreja consegue levar aos menos favorecidos a Redação
educação com sabedoria e amor, tendo em conta o  MISSÕES RESPONDE-----------------------------------21
indivíduo, a família e a escola. A Igreja Católica tem uma Constituição? (2a. parte)
Padre Alfredo Gonçalves traz a memória do massacre Edson Luiz Sampel

acontecido em 21 de março de 1960, em Sharpeville,  ÁFRICA----------------------------------------------------22

Novo berço de católicos
na África do Sul, onde aproximadamente 7 mil pessoas Júlio Caldeira
se manifestaram por seus direitos fundamentais. Pelo  DESTAQUE------------------------------------------------24
acontecimento foi instituído o Dia Mundial de Comba- Dia Mundial de Combate ã discriminação Racial
Alfredo J. Gonçalves
te à Discriminação Racial. A realidade tem mostrado
 ENTREVISTA-----------------------------------------------28
que ainda é preciso lutar contra o racismo e outras Revivendo a experiência
formas de preconceito, discriminação e xenofobia. Benildes Capelotto
Boa leitura!   VOLTA AO BRASIL-----------------------------------------30
Folha de S.Paulo

2 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES


Casa
Santa
Olímpia
“Tudo aquilo que se faz por
amor, tem sempre escondido
o bálsamo da alegria”.
Venerável Padre Giocondo
Lorgna, fundador das Irmãs
Dominicanas da Beata Imelda.
de Marilene Bonfim
P
odemos mencionar que a Ação Missionária
das Irmãs Dominicanas da Beata Imelda está
centralizada na Eucaristia, sendo a missão
específica anunciar o Mistério Eucarístico,
com palavras e ações, sempre e em todos
os lugares.
O lema dominicano Contemplata allistradere –
Contemplar e irradiar o contemplado, foi traduzido
pelo Fundador, Padre Giocondo Lorgn com as palavras
“Amar e fazer amado Jesus Eucaristia”, missão essencial
da Congregação que se concretiza na Educação da Fé,
por meio das obras educativas e Pastoral Paroquial
, sobretudo em favor das crianças, adolescentes e
jovens. Neste sentido apresentamos a Casa da Criança
Santa Olímpia, no contexto de Obras Sociais.
A Casa nasceu no município de São Paulo, no
bairro Jardim Paulistano, no ano de 1964, e tinha
na ocasião o objetivo geral de atender e fortalecer
a educação de crianças e adolescentes, sendo esses
filhos de mulheres que trabalhavam como empregadas
domésticas e não tinham onde deixar as crianças no
período de trabalho.
MISSAO EM CONTEXTO
Em 1988, foi transferida para o bairro do Parque
Peruche/Casa Verde, zona norte da cidade de São
Paulo, pois passou a atender com parâmetros da As-
sistência Social, crianças e adolescentes em situação
de vulnerabilidade social e risco pessoal.
A Existência da Casa Santa Olímpia se justifica assim,
pelo seu atendimento preventivo prestado ao público
alvo, moradores do bairro da Casa Verde, visando
minimizar demandas associadas a vulnerabilidades
sociais, situação socioeconômica, intelectual (níveis
baixos de escolaridade), profissional (alto índice de
subempregos) e habitacional, situação de pobreza.
Os beneficiários são crianças e adolescentes de
ambos os sexos, na faixa etária dos 6 aos 14 anos e
onze meses, em situação de vulnerabilidade social
e risco pessoal, bem como suas respectivas famílias.
Nosso objetivo é atender a todos com excelência,
favorecendo a dignidade humana e seus direitos
como protagonistas de sua história pessoal e familiar.
Promovemos atividades de lazer, cultura espor-
tes, artes, eventos sociais para o fortalecimento dos
vínculos comunitário e a socialização das crianças e
adolescentes.
O nosso espaço é referência na região, favorecendo
o convívio grupal, comunitário e social no desenvol-
vimento de relações de afetividade, solidariedade e
respeito mútuo.
A Campanha da Fraternidade desse ano tem como
lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor”. Podemos
afirmar que conforme o nosso Carisma de Amar e tornar
Jesus Conhecido, o amor é o essencial da missão das
Irmãs Dominicanas da Beata Imelda, através da promoção
humana de acolher cada criança e adolescente, contri-
buindo na formação de valores, tendo sempre como pano
de fundo a “Verdade”. Como Ordem Dominicana, somos
conhecidas com o lema: Veritas – Verdade, educando
nos valores cristãos da solidariedade, justiça e partilha,
pois as construções desses valores se alicerçam no dia
a dia através da convivência com as Irmãs, educadores
e colegas de sala. 
Marilene Bonfim é Irmã Dominicana da Beata Imelda, São Paulo, SP.
MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 3
 ATUALIDADE

Nove anos
de governo petrino
logo se notou uma cor mais cla-
de Gianfranco Graziola ra, até não ter mais dúvida que
era branca quando se ouviu a voz
dos sinos da Basílica anunciando
que Roma tinha um novo bispo.

E
stá ainda vivo na minha me-
mória aquele entardecer do
dia 13 de março de 2013,
quando me encontrando por
coincidência na casa da mi-
nha mãe na Itália, já se passavam
19 horas e nada de fumaça sair da
chaminé colocada no telhado da
Capela Sistina. Tinha seguido, ao
meio-dia, a fumaça negra cuspida
com certa rapidez anunciando que,
as primeiras duas votações não
tinham elegido o novo bispo de
Roma. Mas, algo dizia dentro de
mim que, não teria passado o dia
sem termos uma resposta positiva
às expectativas do povo cristão. Eu
cheguei a comentar isso com meu
irmão mais novo que, contraria-
mente a mim afirmava e acreditava
que o resultado teria demorado
alguns dias para sair, tanto mais
que a renúncia de Bento XVI tinha
deixado certa preocupação nos
ambientes da cúria romana em
relação às expectativas de ter um
sucessor que lhe daria um rumo
diferente tirando alguns privilégios
e mordomias construídas ao longo
de mais de 30 anos e dois ponti-
ficados bastantes conservadores
em termos de doutrina e atitude.
Bispo do fim do mundo
Às 19h06, a fumaça voltou a
sair da chaminé de forma calma e
tranquila e, mesmo na penumbra
da noite que já envolvia a colunata
do Bernini e a Praça São Pedro,
Alguns minutos de curiosidade e
especulações sobre quem seria
o eleito, extintas prontamente
pelo Habemos Papam do cardeal
Proto-diácono Jean-Louis Pierre
Tauran pronunciando o nome de
Jorge Mário Bergoglio, arcebispo
de Buenos Aires e sua escolha de
se chamar Francisco.
Um papa diferente
Agora uma curiosidade a mais,
como seria o novo papa e porque
o nome de Francisco. A resposta
não demorou muito a ser dada e foi
para o povo da Praça e pelo mundo
inteiro uma surpresa. Quando se
abriram as cortinas da sacada da
Basílica aparecendo logo a figu-
ra de um homem simplesmente
vestido de branco, saudando com
um simples e convencional “Boa
noite”, agradecendo a acolhida do
povo de Roma, brincando sobre
sua escolha, convidando a cami-
nhar juntos e pedindo a oração do
povo sobre seu pastor, e depois
da bênção à cidade e ao mundo,
desejar um bom descanso e se
despedir com um “até amanhã”.
Não menos surpreendentes foram
alguns gestos dos dias seguintes,
como o ir pagar pessoalmente a sua
conta na pensão onde costumava
hospedar-se durante suas idas a
Roma, ou enfiar-se no ônibus com os
restantes cardeais deixando ocioso
a berlina papal, além de anunciar
que, mesmo depois do solene início
Papa
Francisco
completa
nove anos
à frente da
Igreja, como
seu líder
maior.
do ministério petrino continuaria
morando no simples e sóbrio quar-
to com um pequeno escritório da
Casa Santa Marta. Essa escolha não
foi novidade por quem o conhecia
desde Buenos Aires, andando de
metrô nos vários pontos da cidade,
e tendo como diria logo mais: “o
odor das ovelhas”.
Retomando a caminhada
Não foi necessário muito tempo
para compreender que novos ven-
tos sopravam dentro dos palácios
vaticanos e que pela primeira vez
a Igreja estava deixando a sua au-
torreferencialidade para se abrir às
realidades do mundo, e colocar-se
na escuta e no discipulado, caminho

4 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES

traçado pela Conferência Latino-
-Americana e do Caribe realizada
em maio de 2007 no Santuário
Mariano de Aparecida, em São
Paulo, e da qual Francisco tinha
sido o relator.
Os sinais de Francisco
O primeiro grande sinal veio
no dia 8 de julho de 2013, quando
Francisco perante as mais de 300
mortes de refugiados no Mediter-
râneo, visita de uma forma sóbria a
ilha de Lampedusa, onde encontra
os migrantes e celebra uma missa na
qual “chora os mortos que ninguém
chora” e desperta as consciências
para combater “a globalização da
indiferença”.
Não menos importantes são os
sínodos convocados por Francisco,
começando em outubro de 2013
com a família, refletindo em duas
Papa Francisco em Lampedusa.
etapas os desafios pastorais que
ela vive no contexto da evange-
lização e tendo como resultado
a exortação apostólica “Amoris
Laetitia”, que pela primeira vez
fala da alegria do amor. Em 2016,
é a vez do sínodo dedicado aos
jovens com o tema Os jovens, a
fé e o discernimento vocacional.
Seguindo a mesma metodologia do
anterior, Francisco dá um ulterior
passo convocando a Roma 300
jovens em março de 2018 para a
elaboração do texto base. Além
deles outros 15 mil participaram
pelo Facebook divididos por países
de origem. A síntese dos trabalhos
foi a Exortação Apostólica “Christus
Vivit”, Cristo Vive, organizada em
três partes: realidade juvenil; fé e
discernimento vocacional; e ativi-
dade pastoral. Em 15 de outubro
de 2017 Francisco convoca, após
a canonização de 30 mártires do
Rio Grande do Norte, o Sínodo para
a Amazônia, que terá seu epílogo
em Roma em 2019. Nele um ulte-
rior passo é dado no processo da
sinodalidade com a escuta. 87 mil
pessoas indígenas, quilombolas,
ribeirinhas, pescadoras e demais
comunidades amazônicas foram
consultadas para a Igreja saber
quais caminhos seguir. A parte
celebrativa resulta no documento
final “Amazônia: Novos Caminhos
para a Igreja e para uma Ecolo-
gia Integral”, que foi entregue ao
papa e logo publicado. Seis meses
depois Francisco publica a Exorta-
ção Apostólica Querida Amazônia,
apresentando as ressonâncias que
nele provocou o processo de escuta
e discernimento resumindo-o em
quatro sonhos: social, cultural,
ecológico, eclesial.
Contrariamente a quanto os
teólogos pensam, Francisco tem
um rico e profundo magistério que
passa por vários meios, desde as
homilias, passando pelas cateque-
ses das quartas-feiras tendo sido
codificado na Exortação Apostóli-
ca “Evangelii Gaudium”, sobre o
anúncio do Evangelho no mundo
atual, em novembro de 2013, e as
duas encíclicas “Laudato Si”, sobre
o cuidado da Casa Comum, 2015 e
“Fratelli Tutti”, sobre a fraternidade
e amizade social, 2020.
Um processo contínuo
O processo que Francisco tem
iniciado, está apesar de não ter efei-
tos imediatos, colocando a Igreja
toda em estado de missão. A Igreja
© CNS/L'OSSERVATORE ROMANO
em saída, enlameada, hospital de
campo, a Igreja sonhada pelo Vati-
cano II é a Igreja de Francisco que
nos propõe uma economia e uma
educação a serviço da coletividade
e que o tempo se encarregará de
consolidar e fortalecer. 
Gianfranco Graziola, imc, Assessor Teológico da Pasto-
ral Carcerária Nacional.
MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 5
 ESPECIAL
Tesouro
ameaçado
de Jean-Claude Bafutanga
M
undialmente, comemo-
ra-se o Dia Mundial da
Água em 21 de março.
Uma boa oportunida-
de para refletir sobre a
questão das águas da Amazônia e
sua importância na vida dos Povos
Indígenas e ribeirinhos, sobretudo,
a poluição que o garimpo ilegal
vem criando nessas águas, trazen-
do consequências desastrosas na
saúde dos povos originários.
A água para os Povos Indígenas da
Amazônia, como também para qual-
quer ser humano e para os animais,
é de importância vital. Necessária
para beber, cozinhar, lavar roupas,
se banhar etc. No caso do rio, serve
também como caminho para se
6 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES
deslocar de uma aldeia para outra
usando barco (canoa). Essa reflexão
me faz lembrar um antigo artigo que
tinha escrito sobre “Wakatha u”
que é uma denominação Yanomami
atribuída ao Rio Catrimani. Esse
rio é de importância capital para o
povo Yanomami, morador da região
da Missão Catrimani, onde traba-
lham os missionários da Consolata.
Pegando como exemplo “beber”,
na língua Yanomami é “koaɨ”, afir-
mando em Yanomami;“mauyama
u koaɨmaotëhëyamakɨamixi” tradu-
zido em português como “quando
não bebemos a água, temos sede”,
entendido ao mesmo tempo como:
“bebe-se a água para matar a nossa
sede”.
Nesses últimos tempos, com a
invasão dos garimpeiros na Amazô-
nia, a água do Rio Catrimani como
A água é vida
para todos os
povos. Garimpo
ilegal ameaça esse
bem precioso,
principalmente os
rios próximos ao
Povo Yanomami, em
Roraima.
também dos outros rios na região
ficaram sujas, criando problemas
de saúde aos povos originários,
indígenas e ribeirinhos por cau-
sa da contaminação do mercúrio
que vem sendo feita pelo garimpo
ilegal, causando danos na saúde
dos moradores que dependem
das águas dos rios e igarapés para
sua sobrevivência. Bebendo con-
tinuamente nas águas desses rios
poluídos surgem doenças que eram
raras nas aldeias indígenas devido
ao aumento da quantidade enor-
me deste metal no sangue. Por
exemplo: câncer, dores contínuas
de estômago, impotência sexual,
crianças nascendo com má forma-
ção, mortes precoces sem saber o
motivo claro etc. Outra consequ-
ência que o garimpo ilegal vem
causando é a morte dos seres que
os habitam, os peixes, jacarés etc.
Também esses peixes vêm sendo
contaminados e quando são pes-
cados e consumidos, aumentam os
problemas de saúde das pessoas.
Poluição
O garimpo ilegal além de poluir
os rios e igarapés, fere também a
natureza, destruindo árvores, au-
mentando o desmatamento, que
influencia na mudança climática.
Os galhos e as árvores cortadas
são queimados e a temperatura
aumenta cada vez mais na Amazô-
nia. Às vezes esses galhos de árvore
cortados são jogados dentro da
água, o que além de poluir o rio,
dificulta a passagem das canoas,
barcos que os Povos Indígenas
usam como meio de transporte
para se deslocar de uma aldeia,
ou seja, comunidade, à outra. Os
garimpeiros, num espaço de pouco
tempo, invadem a área reservada
desses povos para destruir, fazendo
o trabalho deles da mineração.
Ultimamente na Terra Indígena
Yanomami aconteceu que os ga-
rimpeiros invadiram até o Posto de
Saúde para fazer dele um local de
acampamento. Houve denúncias na
“Hutukara”, associação Yanomami
e Yekuana.
O povo Yanomami é um povo
feliz, bem organizado, vive na união,
mas nota-se que a presença dos
garimpeiros cria conflitos e desor-
dens nas suas organizações sociais
e comunitárias. O conflito é criado
tanto em nível comunitário como
em nível individual. Uma vez na
Terra Indígena Yanomami em Pa-
liniu, chegaram os garimpeiros à
beira do rio, encontraram o povo
indígena daquela aldeia brincando,
se banhando, curtindo a natureza
e começaram a atirar sobre o povo
sem razão; porque justamente
queriam ocupar o local para fazer
a exploração de minério.
Outro conflito criado pelos ga-
rimpeiros para dividir os membros
de uma determinada comunida-
de: nota-se que alguns membros
apóiam o garimpo com influências
e interesses dos próprios garim-
peiros que os enganam, dando a
eles alguns presentes extorquidos
para que aceitem o garimpo. De
outra parte, há outros indígenas
que não apóiam a exploração, em
nome do respeito e o cuidado do
meio ambiente e com o acordo da
convivência comunitária que têm
feito são mal vistos, atacados pelos
outros indígenas que ao contrário
apóiam o garimpo, mas claro como
sublinhamos, pela influência dos
próprios garimpeiros. A maioria
dessa classe que se deixa enganar
facilmente para apoiar o garimpo
é jovem; porque, com a realidade
atual, é atraída pelas várias coisas
que a sociedade oferece como a
globalização querendo ter dinheiro
facilmente e rápido para comprar
seus pertences; entre outros, ce-
lular, roupas etc. Isso leva muitos
jovens a aceitar propostas dos
homens da mineração, inclusive
caminhar com eles, carregando os
seus equipamentos de trabalho, às
vezes até trabalhando junto com
eles. Não são todos os jovens em
geral que agem assim, mas alguns
sim. Esse comportamento não se
nota muito nos velhos, ou seja,
lideranças antigas que, ao contrá-
rio, são aqueles que valorizam o
espaço, preservando a natureza,
negando a extração de mineração
nas áreas indígenas.
A reflexão sobre o Dia Mundial
de Água nos leva a pensar sobre a
água na Amazônia, que se encontra
cada vez mais numa situação pre-
cária, poluída pelo garimpo ilegal.
Hoje em dia com a aprovação do
PL 191 de 2020 (Projeto de Lei)
que libera a mineração nas terras
indígenas, pode-se esperar um
grande desastre, sobretudo, com
a poluição das águas. Queremos
água boa, limpa, para todos terem
uma vida digna e saudável, vida
em abundância. 
Jean-Claude Bafutanga, imc, é missionário da Conso-
lata em Roraima, RR.
MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 7

Vaticano
Praedicate Evangelium
A Constituição Apostólica Praedicate
Evangelium sobre a Cúria Romana publicada
VOLTA AO MUNDO
no dia 19 de março de 2022 sistematiza um
caminho de reformas originadas no debate
do pré-conclave de 2013, já implementado
ao longo dos últimos nove anos. Trata-se
de um texto que aprofunda e torna eficazes
as orientações do Concílio Vaticano II, que
tinha como objetivo original precisamente a
resposta à grande questão de como procla-
mar o Evangelho numa época de mudanças
que mais tarde se revelaria – como salienta
frequentemente Francisco – uma mudança
de época. Como podemos testemunhar a
beleza da fé cristã às novas gerações que
não falam ou não compreendem as velhas
linguagens? Como podemos assegurar que
o fermento do Evangelho volte a levedar
tanto a massa das sociedades que outrora
foram cristãs, como a das sociedades que
ainda não conhecem Jesus Cristo? A Igreja
que se torna diálogo para evangelizar tem o
leitmotiv dos recentes pontificados e agora
este aspecto também está sendo mais enfa-
tizado na estrutura da Cúria Romana. A Cúria
não é um organismo de direito próprio, um
“poder” de governo sobre as Igrejas locais,
mas uma estrutura ao serviço do ministério
do bispo de Roma, que atua em seu nome,
sob as suas instruções, exercendo um poder
“vicário” ao do Vigário de Cristo.
Um segundo elemento significativo da
nova Constituição é o desenvolvimento de
um desejo presente nos textos conciliares
relativamente ao papel dos leigos. Francis-
co recorda no Preâmbulo que “o papa, os
bispos e outros ministros ordenados não
são os únicos evangelizadores na Igreja...
Cada cristão, em virtude do Batismo, é um
discípulo missionário na medida em que
8 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES
encontrou o amor de Deus em Cristo Jesus”.
Disto deriva o envolvimento de leigos e de
leigas nos papéis de governo e de responsa-
bilidade. Se “qualquer fiel” pode presidir a
um dicastério ou órgão da Cúria, “tendo em
conta a sua competência particular, poder de
governo e função”, é porque cada instituição
da Cúria atua em virtude do poder que lhe
foi confiada pelo papa. Esta passagem, que
já está em curso, insere-se na teologia do
Concílio sobre os leigos. A declaração con-
tida na nova Constituição apostólica deixa
claro que um prefeito ou um secretário de
um dicastério que são bispos não têm au-
toridade como tais, mas apenas na medida
em que exercem a autoridade que lhes foi
conferida pelo bispo de Roma.
Estados Unidos
1ª juíza negra na Suprema Corte
No dia 7 de abril, Ketanji Brown Jackson
teve a aprovação para se tornar juíza da Supre-
ma Corte americana. Indicada por Joe Biden
em fevereiro, Jackson, 51, foi alvo de muitas
críticas dos republicanos. Tomará posse no
segundo semestre, quando começa o novo
ano judiciário. Jackson ficará com a vaga do
liberal Stephen Breyer, 83, que se aposentou.
Nascida em Washington, em 1970, Jackson
é filha de pais que estudaram em escolas
segregadas. Depois, cursaram universidades
voltadas para negros e começaram a carreira
como professores na rede pública de Miami.
Quando ela era pequena, seu pai, Johnny
Brown, decidiu mudar de profissão: estu-
dou direito, tornou-se advogado e inspirou
a filha a seguir o mesmo caminho. Cursou
direito em Harvard, universidade na qual
foi subeditora da publicação Harvard Law
Review. Nos anos 2000, alternou períodos
como advogada e defensora pública, em que
atendia pessoas sem dinheiro. Assim, ela é
também a primeira ex-defensora pública a
chegar à Suprema Corte. Em 2009, Jackson
foi indicada pelo presidente Barack Obama
para ser vice-presidente da US Sentencing
Comission, órgão federal que busca padro-
nizar sentenças. Com Jackson, a corte quase
terá paridade de gênero, com cinco homens
e quatro mulheres, pela primeira vez em 233
anos de história. 
Fonte: Folha de S.Paulo, L`Osservatore Romano.
 Intenção Missionária
Março: Pela resposta cristã aos
desafios da bioética. Rezemos para
que nós, cristãos, diante dos novos
desafios da bioética, promovamos
sempre a defesa da vida com a
oração e a ação social.

Abril: Pelo pessoal da saúde.

Rezemos para que o compromisso
do pessoal da saúde na assistência
às pessoas doentes e aos idosos,
sobretudo nos países pobres, seja
apoiado pelos governos e pelas
comunidades locais.

de Maria Emerenciana Raia to e a indiferença pela vida pode se tornar tênue, se

levarmos em consideração o “poder” que pode ser

U
m dos conceitos que definem Bioética (“ética
da vida”) é que esta é a ciência “que tem como
objetivo indicar os limites e as finalidades da
intervenção do homem sobre a vida, identificar
os valores de referência racionalmente propo-
níveis, denunciar os riscos das possíveis aplicações”.
Bioética é o estudo transdisciplinar entre Ciências
Biológicas, Ciências da Saúde, Filosofia e Direito que
investiga as condições necessárias para uma adminis-
tração responsável da vida humana, animal e ambiental
Em 1979, Tom Beauchamp e James Childress apre-
sentam, pela primeira vez, os quatro princípios bioé-
ticos: Beneficência, Não Maleficência, Autonomia e
Justiça. A autonomia é o único dos princípios bioéticos
que não é contemplado no Juramento de Hipócrates,
escrito no século V a.C.
O Santo Padre, ao se referir aos desafios da bioética,
entende que no mundo contemporâneo, a intervenção
humana sobre a vida tem se mostrado invasiva e às
vezes, poderosa e persuasiva. O limite entre o respei-
alcançado ao se tratar da vida humana.
A bioética envolve a discussão sobre assuntos po-
lêmicos como aborto, clonagem, engenharia genética,
eutanásia, fertilização in vitro, uso de células-tronco,
uso de animais em experimentos e suicídio..
Como cristãos, precisamos nos posicionar sempre
a favor da vida, não hesitar em defendê-la, seja em
qual estágio for, pessoa humana, animal, natureza.
Rezando ou agindo, de preferência, as duas coisas, a
vida sempre deve estar em primeiro lugar. Jesus Cristo
foi taxativo: eu vim para que todos tenham vida e vida
em abundância.
A intenção de abril reforça a questão da nossa ora-
ção, pelos profissionais a saúde, que trabalham com
a questão da vida também. Em tempos de pandemia,
esses profissionais ganharam relevância, pois estiveram
e ainda estão na linha de frente. Rezemos para que
tenham sabedoria e coragem, paciência e saúde para
tratar das pessoas que estão a seus cuidados. 
Maria Emerenciana Raia é editora da revista Missões.

MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 9

 ESPIRITUALIDADE
Lema da Campanha da Fraternidade
“Fala com sabedoria, ensina com
amor” (cfr. Pr. 31,26)
de Paulo Mzé
O
antigo Oriente Próximo era
uma sociedade mais tradi-
cional do que a sociedade
moderna e encontram-se
provérbios em todas as
civilizações antigas, quase sempre
apresentados anonimamente, como
lições de gerações passadas para os
jovens de hoje. Israel compartilhava
totalmente esse modo de ver, e esse
fato, aliado à tradição comum de
expressão poética, valores culturais
e idêntica experiência de lutar para
sobreviver em geografia similar,
faz os provérbios de Israel mais
parecidos com os provérbios do
Egito, da Suméria, e de Babilônia,
algo que muitos judeus e cristãos
atuais gostariam.
Provérbios numéricos semelhan-
tes aos da Bíblia foram conhecidos
em coletâneas que remontam a
meados do terceiro milênio a.C.
Há boas razões para supor que a
monarquia de Israel e Salomão
estabeleceu escolas que seguiriam
o modelo das academias sapienciais
do Egito, e em menor proporção,
as da Mesopotâmia.
10 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES
Assim, podemos identificar pelo
menos três importantes etapas na
formação do Livro dos Provérbios.
A primeira coletânea de provérbios
curtos usada no ensino tradicional
dos jovens, quase no ambiente
familiar, quer no do povoado ou
da tribo. Uma segunda etapa im-
portante foi a escola da corte e do
Templo fundada segundo modelos
egípcios do período monárquico.
Uma terceira etapa é representada
pelas adições e expressões que
relacionaram esses ensinamentos
especificamente ao Senhor como
único abonador da ordem e da
justiça universais e como doador
da sabedoria aos seres humanos.
O nível de síntese e a redação final
do Livro deve provavelmente datar
de pouco depois do Exílio, cerca de
500 a. C., pois agora harmoniza-se
bem com o ensinamento geral do
Deuteronômio sobre o caminho
certo da vida e com a afirmação
do poder criativo vital de Deus, tão
evidente no profeta do tempo do
Exílio, o Segundo Isaías.
O que logo nos impressiona,
naturalmente, é que este Livro é
uma coleção de coleções. É consi-
deravelmente diferente da maioria
dos outros livros da Bíblia, por causa
da concisão de suas unidades singu-
lares. A seção de 10,1 a 22,16, por
exemplo, contém 375 provérbios
distintos.
Dois tipos de material
Há dois tipos de material no
Livro dos Provérbios. O primeiro é
o provérbio propriamente dito e o
segundo é a instrução. Outras formas
literárias também estão presentes
aqui e ali, mas subordinadas às duas
principais.
A palavra para “provérbios” no
título do Livro “Provérbios de Sa-
lomão” vem de mashal, a palavra
hebraica para “semelhança” ou
“comparação”. Todavia, na Bíblia, a
palavra “mashal” tem um significado
muito mais amplo do que apenas
“provérbios”.
No entanto, a interpretação
do termo usado como título para
todo o Livro de Provérbios pode-
ria ser “paradigma”, “modelos” ou
“exemplos”, o que muitos autores
sugerem, mas sempre como obra
de arte. O “mashal” é produto de
habilidade do poeta e tem aceitação
por causa do uso agradável que faz
da linguagem e das imagens.
 O principal estratagema artís-
tico é, claro, a boa comparação.
As imagens são, com frequência,
tiradas da natureza ou da vida em
família. O objetivo é encontrar a
metáfora ou analogia certa, tirada
da experiência comum para captar
a extraordinária lição no provérbio.
Enquanto a Torá e os Profetas
ressaltam a fé e a obediência, a
sabedoria, em especial, o Livro dos
Provérbios, ressalta o entendimento
e a obediência. Os dois polos dentro
dos quais a sabedoria se movimenta
são claramente o intelectual e o
ético. Como os antigos israelitas
consideravam o coração a sede
do pensamento e do raciocínio e
também da decisão, ao coração
que se dirige o ensinamento dos
Provérbios.
Os capítulos pertencentes ao gê-
nero de Instrução (1-9 e 22,17-24,22)
são quase inteiramente lições didá-
ticas, enquanto que as coletâneas
de provérbios gerais, nos capítulos
10-22 e 25-29 contêm um número
muito maior de provérbios familiares
ou folclóricos e também provérbios
que contêm uma lição social geral
que pode ou não originar-se de
uma aula convencional.
Os capítulos 1-9; 22,17-24, 23;
e talvez 31, 10-31 podem ser com-
parados a bem conhecida forma
sapiencial egípcia chamada “ins-
trução”, quase sempre articulada
como o legado de um pai para o
filho incluindo ordens e proibições
bem como as razões pelas quais
devem perceber atenção (a mo-
tivação para obedecer). Também
são encaixados alguns provérbios
e advertências simples.
Lema da CF 2022
O lema da CF 2022 faz parte do
final de todo o Livro dos Provérbios
que termina com o poema acrósti-
co de 22 versos, o que torna uma
criação altamente artística, mas
impressionante, talvez, do que ri-
gorosamente lógica em sua ordem
de pensamento. A boa esposa é
tema importante em todo o Li-
vro dos Provérbios e assim não é
surpreendentemente que o Livro
termine com o exemplo de uma
mulher como a pessoa sábia ideal.
O ensinamento da mulher con-
siste em sabedoria e misericórdia
(“ensina amavelmente”, no v.26).
Supera todas as outras virtudes
que lutamos para alcançar (v.29) e
pode bem combinar os ideais de
profeta e sábia em um só, já que a
“misericórdia” é o conceito central
da teologia da aliança dos profetas.
Se pudéssemos levar adiante essa
mera animação, o capítulo 31 cor-
responde perfeitamente à mistura
de ensinamentos e exortação pro-
fética encontrada nos capítulos 1 e
9, de modo que o começo e o fim
se equilibram mutuamente.
O propósito da sabedoria pro-
verbial de Israel pode ser resumi-
do em uma só palavra: educação.
Muitos provérbios originaram-se
na educação familiar e tribal dos
jovens, talvez muito antes que Israel
surgisse como nação.
Todavia, outros provérbios são
produtos da educação formal, orien-
tada para carreiras profissionais em
cargos administrativos ou no ensino.
O ensinamento religioso dos
Provérbios reflete um longo pe-
ríodo de desenvolvimento. Entre
os valores duradouros inculcados
pelos materiais mais primitivos es-
tão os ideais da vida familiar e do
dever filial e o lugar absoluto da
justiça na sociedade. A honestida-
de, a veracidade e, acima de tudo,
a integridade, são ensinados em
dezenas de formas diferentes. A
preocupação pelos pobres e des-
validos e o valor do trabalho árduo
são ambos apresentados ao leitor
como bons. O autodomínio e o
controle dos desejos e das paixões
são um tema comum. Além disso,
o contraste entre o justo e o ímpio
é analisado repetidas vezes. Há
a constante convicção de que o
mal não fica sem castigo na ordem
divina das coisas, embora na sabe-
doria mais antiga, Deus nem sempre
seja citado como aquele que traz
justiça. Nesse ponto, os Provérbios
estão em harmonia com a teologia
do Deuteronômio, que promete
bênção pela fidelidade ao Senhor,
mas maldição pela infidelidade. De
muitas maneiras, esse nível mais
antigo de ensinamento, o Livro dos
Provérbios pode ser resumido como
manual para o sucesso na vida,
considerada bênção divina.
Toda a sabedoria é agora con-
siderada lição prática que nos põe
em um relacionamento apropriado
com Deus e também com nossos
concidadãos. A redação final dos
Provérbios provou ser uma grande
realização porque uniu a sabedoria
comum do antigo Oriente próximo
com as intuições peculiares de Israel
sobre o Deus realmente presente
e zeloso nas questões da vida co-
tidiana. 
Paulo Mzé, imc, é diretor da revista Missões.
MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 11
FOTO JAIME C. PATIAS
TESTEMUNHO
Centro de saúde que as MC tinham em Caracas, Venezuela.
de Inês Regina de Lima
S
ou Irmã Inês Regina de Lima,
paranaense, portanto bra-
sileira de nascimento, mas
com um coração missionário
(perdoem a ousadia) maior
que o nosso Brasil.
Na aventura desta vivência como
Missionária da Consolata há 39
anos, dos quais 34 fora do nosso
“Verde e Amarelo”, três foram os
continentes que me deram a opor-
tunidade de partilhar a Missão
como Consolação: vivi na Europa
onde pude beber da fonte do Ca-
risma Missionário da Consolata,
na mesma casa e lugares onde
viveu e trabalhou o Pai Fundador,
o Bem-aventurado José Allamano e
tendo a graça de estar presente em
Roma no dia de sua Beatificação;
vivi na África- Moçambique, onde se
experimenta o valor do Ad Gentes,
12 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES
A vida para
a Missão
Missionária da
Consolata na
Venezuela dá
testemunho de
felicidade em meio
aos desafios.
dom tão próprio do Carisma das
Missionárias da Consolata, que
busca encarnar-se na realidade de
outros povos que vivem, em muitos
aspectos de sua riqueza cultural,
um mesmo Evangelho. Esta busca
de encarnar-se na realidade requer
da missionária muita doação, mas
ao mesmo tempo enriquece-a com
a diversidade de uma cultura viva,
dinâmica que proporciona o cres-
cimento da fé.
Mas a maior parte do tempo de
minha vida missionária o vivi em
nosso próprio continente América,
no país com um “plus”: a enigmática
Venezuela, comentada hoje não
mais pela riqueza petrolífera ou
pelas mulheres bonitas com tantas
“miss” (Miss Latina, Miss Terra, Miss
Mundo), senão como o país pobre,
com grande violência, com grande
migração na busca desesperada
por sobrevivência. E, num lugar
onde muitos se vão, deixam para
trás tudo, poderia ser também
esta a opção dos missionários, até
mesmo pelos entraves e dificulda-
des que o próprio governo coloca
para a obtenção e atualização de
documentos para os estrangeiros.
Mas, nós, Missionários e Mis-
sionárias da Consolata, decidimos
permanecer, em virtude da for-
ça do Carisma, que se faz muito
atual numa realidade de pobreza
extrema onde, anunciar o Evange-
lho, se traduz em Consolação, e a
Consolação se traduz num prato de
comida, de sopa, ou um remédio
para mitigar a carência extrema do
mínimo necessário e seguir com a
 Esperança de que logo aconteça
uma mudança e que seja para o
melhor. Contar o que se vive na
Venezuela pode parecer “exagero”,
mas a verdade é que o que se diz
não é nem a metade do que vivemos
diariamente. É muito difícil viver
quando não se tem expectativa
de futuro.
Com ou sem pandemia
A pandemia de Covid-19 pode
ter-nos ensinado a viver o “hoje”,
mas lá, com ou sem pandemia, a
gente tem que viver um ditado que
se cristalizou: amanheceremos e
então veremos... pois pode ser
FOTO ARQUIVO
que ao amanhecer não haja luz,
não haja internet e como conse-
quência não se consegue o ticket
para efetuar compra alguma nem
mesmo do alimento, já que não
existe a moeda “física”. Quando isso
acontece surgem os aproveitadores
que vendem, mas com pagamento
em dólares, arrancando as últimas
reservas dos venezuelanos. É difícil
pensar que sendo a Venezuela um
país com grandes reservas de petró-
leo, as filas para conseguir gasolina
comecem às 3h da madrugada e
nem sempre se consegue obtê-la,
pois, o abastecimento acontece
somente uma vez por semana,
segundo o número de placa do
carro. Diante de tantos e tão varia-
dos obstáculos, pensemos então
como fica limitado o processo de
evangelização; pensemos como é
complicado viajar para lugares de
Missão indígena quando uma dis-
tância de cinco ou seis horas pode
chegar a 12 ou 15 horas em razão
dos controles feitos por militares
(guarda nacional), não só para ver
documentos, senão para inspecio-
nar tudo e na maioria das vezes
retirar boa parte dos pertences dos
passageiros para eles, os militares.
Pensemos, amigos leitores, e re-
zemos para que os missionários não
percam a paciência, antes evangeli-
zem aceitando estas humilhações e
assumindo a atitude de Jesus “Pai,
perdoa-os”, agem assim porque o
sistema obriga. Não obstante, no
meio de tantas injustiças há gestos
de solidariedade: pobres ajudan-
do os mais empobrecidos. Quanto
ânimo dá, que lindo ver unirem-se
os quilos de algum alimento para
a grande “sopa” comunitária onde
muitos recebem a sua porção nu-
triente do dia, sendo as paróquias
o lugar da partilha.
A vida missionária não existe para
coisas fáceis. Existe para amenizar
as coisas difíceis... Agradeço a Deus
e a Consolata por ser feliz, vivendo
esta missão desafiadora. 
Inês Regina de Lima, MC, é missionária na Venezuela.
MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 13
 FORMAÇÃO

Ensinamos
Lema da Campanha
da Fraternidade 2022
lembra a importância
da sabedoria e do
amor na Educação.

com amor?
Um país que não prioriza a
Educação faz do seu “povo” massa
de manobra em todos os âmbitos,
principalmente no político.
Por isso, nós católicos, temos
que exercer o poder da evange-
lização e da missão posta nas
obras sociais das nossas Institui-
de Olímpia Vargas forma inter-religiosa em todos os ções. Temos que viver a missão
campos sociais. de educar com sabedoria e amor
Vivemos num país onde a sempre. Não podemos perder o

C
omo já sabemos, a Cam- Educação não é prioridade. Com foco principal da missão que são
panha da Fraternidade o avanço da pandemia, o fosso os menos favorecidos e também
deste ano tem como tema social, cultural e intelectual ficou não devemos desfocar o olhar
a Educação e como lema ainda maior. Jovens e crianças para o capital.
“Fala com sabedoria e en- excluídos e deixados à própria A Igreja consegue levar aos
sina com amor”. (Pr 31,26) sorte, sem acesso às condições menos favorecidos a Educação
A importância da Igreja Cató- mínimas de educação, alimenta- com sabedoria e amor, porque ela
lica no desenvolvimento de um ção e saneamento básico, fez com tem identidade filosófica.
trabalho ecumênico de grande que os privilegiados conseguissem Hoje diante dos temores vi-
alcance social se faz presente de aumentar seu campo de ação. venciados e das agruras huma-
FOTOS: FUNDAÇÃO NAZARÉ DE COMUNICAÇÃO

Abertura Solene da Campanha da Fraternidade 2022 (CF 2022), no ginásio do Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré, na capital do Pará, Belém.

14 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES

nas, houve uma inversão total de
valores e algumas famílias sem
saber lidar com dores, frustrações
e sentimentos delegam para as
escolas os seus papéis.
Três pilares
Educar com sabedoria e amor
envolve e sempre envolverá três
pilares: o indivíduo, a família e
a escola. Hoje é muito difícil ser
educador de fato no Brasil. Coloca-
ram responsabilidades familiares
numa educação terceirizada às
escolas pelas famílias.
Claro que temos pais que par-
ticipam efetivamente da vida dos
filhos, mas aqui não se trata de
falar de pai ou mãe, mas do papel
de cada um.
A tecnologia potencializada na
pandemia afastou ainda mais as
pessoas, o convívio humano deu
espaço a ações pautadas em res-
postas imediatas não formadoras,
mas deformadoras.
Hoje todo mundo tem acesso
à informação instantânea, mas
poucos possuem conhecimento e
fazem diferença na vida do outro
ou em projetos sociais, comuni-
tários e educacionais.
O professor recebe na maioria
das vezes formação acadêmica
precária e não consegue entender
o significado da missão. Pelo seu
poder mobilizador, a Igreja, através
da Campanha da Fraternidade
consegue trazer luz a alguns pontos
importantes, como por exemplo:
retomar o real significado da Edu-
cação e colocar o capital num
plano que não seja o prioritário.
Muito difícil no dia a dia de
um mundo mercantilista não nos
curvarmos às questões do capital,
contudo, precisamos resistir!! Res-
gatar nossa missão com sabedoria
e amor.
Quem mais precisa de tudo?
Ora, os necessitados! Os excluídos
que vivem à margem do analfa-
betismo funcional e os milhões
de jovens que abandonam anu-
almente as escolas.
Atuei num projeto de fome
e miséria no sertão nordestino
e sei bem o tamanho da sede
e a fome do nosso povo. Como
ensinar uma criança com fome?
Somente com amor e persistência,
para que através do acesso ao
conhecimento ela rompa o ciclo
que lhe foi imposto pelo Estado.
Quando a criança vai para a
escola em busca da única refeição
diária, ela precisa ser ensinada
com amor e sabedoria para que
pense além do chão onde pisa. A
Igreja chega em todas as mazelas
sociais e atua com bravura, mas
não podemos esquecer e desvir-
tuar a missão.
Nossa missão é servir, e o ser-
viço deve estar para o bem, para
projetos de vida, para a humani-
dade, no sentido pleno da palavra.
Educar sempre foi e será um
ato de amor e conhecimento.
Um ato fraterno!!! Nisso sempre
estaremos à frente. 
Olímpia Vargas, educadora, é coordenadora do Ensino
Médio no Colégio Sagrado Coração de Jesus, SP.
MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 15
 FÉ EM AÇÃO
Resistência:
uma forma de viver
A ideologização funciona porque a
sociedade, as famílias e as escolas
estão (estamos) deixando de estimular e
incentivar pensantes mentes brilhantes.
de Nei Alberto Pies
V
ivemos tempos onde ocorrem sucessivas
avalanches políticas e sociais, eventos que
destroem, sem pudor e sem piedade, tudo
o que dignifica as humanidades e o que
promove humanização. Por isso, urge que
sejamos Resistência, sempre e em todo lugar, em toda
e qualquer circunstância em que seja possível afirmar
a dignidade, a criatividade e a liberdade humanas.
O sistema, o mundo, tenta destituir, ao máximo,
a ideia de que todos somos Sujeitos. Sujeitos são
aqueles que promovem ou organizam a sua ação.
Por mais que os ambientes e contextos sejam hos-
tis, carregados de arrogância, uivados de medos e
de repressão, os sujeitos se insurgem, se impõem,
mesmo que não apareçam, imediatamente, seus
protagonismos. Os sujeitos agem, mesmo à margem
dos caminhos traçados. Trata-se de uma teimosa e
corajosa resiliência, que estes alimentam para não
sucumbir e não morrer, a partir da negação da dig-
nidade, liberdade, criatividade e criticidade.
Uma das estratégias mais bem elaboradas que
se vê por aí é transformar os sujeitos em manada,
em bando, em seguidores, em meros reprodutores
de informação. Nada de pensar, de organizar, de
questionar, de perguntar.
16 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES
Sujeitos se tornam fortes e mais perigosos quando
organizados, quando somam-se em diferentes lutas e
causas, quando se juntam a outros para demonstrar
o poder e a capacidade que têm as suas ideias. Mais
do que nunca, as sucessivas avalanches sociais e cul-
turais destituíram e deslegitimaram todas as formas
de organização social.
Nada, ou muito pouco do que se anuncia por aí,
tem essência libertadora. Tudo é muito manipulado,
maquiado, pré-estabelecido. As humanidades ainda se
impõem, apesar do sutil e sofisticado patrulhamento
ideológico. A ideologização funciona porque a socie-
dade, as famílias e as escolas estamos deixando de
estimular e incentivar pensantes mentes brilhantes.
Por que resistem, os sujeitos têm sua existência
sempre questionada. E são severamente temidos
e combatidos. Apesar de tudo, entretanto, muitos
sujeitos agem nas sutilezas e brechas do sistema.
Até quando existirão sujeitos? Até quando os mais
sensatos, sábios e destemidos lutarem por eles. Até
quando eles próprios não cansarem de resistir e lutar
pela sua existência.
O sistema é cruel e a resistência tornou-se uma
nova forma de viver. Quem viver, verá! 
Nei Alberto Pies é professor da rede pública no Rio Grande do Sul
e ativista ambiental.
Allamano
e o estudo
da Redação
A
Tradição mostra com cla-
reza a necessidade da
instrução. Papas, Concí-
lios, Santos Padres, todos
sempre declararam que
os sacerdotes devem ser pessoas
instruídas. São Francisco de Sales
chama a ciência de oitavo sacra-
mento. O mesmo santo não duvi-
dava em afirmar que um sacerdote
ignorante, talvez, é mais nocivo às
almas do que um sacerdote mau.
Não devemos esperar pela ci-
ência infusa, como sucedeu com
os apóstolos, os quais, todavia,
frequentaram a escola de Jesus
durante três anos; só depois deste
tirocínio é que o Espírito Santo su-
priu as suas deficiências. Acredite:
realizareis muito ou pouco bem,
ou também mal, segundo o grau
de cultura que tiverdes adquirido
ou não. Um missionário despro-
vido de ciência é uma lâmpada
apagada. Há santos que nivelam o
estudo à piedade. Bem conheceis
a afirmação de Santa Teresa: en-
tre um confessor douto e menos
santo, e outro mais santo, porém,
menos douto, teria escolhido, para
tranquilidade de consciência, o
mais douto.
Matérias de Estudo
Considerando que sois missio-
nários, a bagagem dos vossos co-
nhecimentos deve ser mais ampla:
literária para os jovens; filosófica e
teológica para os clérigos e sacer-
dotes; para todos – a eclesiástica
e a profissional – abarcando todas
aquelas matérias e conhecimentos
que vos podem ajudar a realizar
maior bem nas missões.
Lembrai-vos do ditado: “as coisas
repetidas ajudam”. É mister rever
os temas já estudados. Quando
se estuda uma coisa pela primeira
vez, é para recitá-la; na segunda –
começa-se a digeri-la; na terceira
– saboreia-se a verdade. O que se
aprende com facilidade se esquece.
Recomendo-vos particularmen-
te, o estudo e o exercício das línguas,
a fim de que possais falar e expor
com clareza as verdades que deve-
reis ensinar. Um respeitável autor,
Família
Se Allamano fosse
vivo, estaria em linha
consolata
com a Campanha da
Fraternidade 2022,
pois considerava
a Educação, item
essencial na vida
dos sacerdotes
missionários.
discorrendo sobre as matérias que
um sacerdote deve estudar, afirma
que a primeira coisa é a língua na
qual deverá exercer o ministério;
deve conhecê-la bem, para depois
ter condições de escrever e de falar
convenientemente.
O estudo das línguas indígenas
não exclui o de outros idiomas,
como inglês, francês e outros que
podemos aprender. O estudo da
gramática, porém, não é tudo: é
preciso fazer exercício de conver-
sação.
Deve-se estudar com humilda-
de, energia, moderação e piedade.
(continua na próxima edição) 
Extraído do livro A Vida Espiritual, páginas 154 a 160.
MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 17
 Irmãs em Intercapítulo
O Intercapítulo é um encontro, que
envolve todo o Instituto, e que acontece
ao meio de uma Gestão Diretiva entre um
Capítulo Geral e outro.
de Benildes Clara Capellotto
O
Intercapítulo das missio-
nárias da Consolata teve
início em 13 de feverei-
ro e foi encerrado em
23 de março, em Nepi,
Itália, muito próximo de Roma,
com participação das irmãs dos
continentes africano, americano,
asiático e europeu.
A programação teve como Tema
Central “O Tesouro do Carisma” ou
seja, a Graça que identifica as mis-
sionárias como Religiosas na Vida e
ARQUIVO MC
QUER
QUERSER MISSIONÁRIO?
SER MISSIONÁRIO?
TEL.: (11) 2238.4599
E-mail: amv@consolata.org.br
18 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES
Missão “Aos Povos”da Igreja.
Os três primeiros dias foram de
introdução ao caminho intercapitu-
lar, passados num clima de oração
comunitária e pessoal, e iluminados
por símbolos muito significativos:
o crucifixo do qual brotava aquele
“fio vermelho” que passava por
Nossa Senhora Consolata, chegava
ao Pai Fundador, Bem-aventuradas
Irene Stefani e Leonella Sgorbatti,
que estavam presentes nas relíquias
expostas na sala do encontro, e
chegava até as irmãs. Outro sím-
bolo muito significativo foi o manto
de Nossa Senhora Consolata no
QUER
QUERSER MISSIONÁRIA?
SER MISSIONÁRIA?
TEL.: (11) 2233.9330
E-mail: mc@consolata.org.br
qual estavam aplicados pedaços
de tecidos trazidos pelas irmãs
que vieram dos vários continentes.
Também muito importante e sig-
nificativa para as participantes do
encontro foi a presença de padre
Giacomo e Irmã Renata Conti que
relataram os passos já feitos para
o reconhecimento do milagre de
Allamano, que devolveu a vida e a
cura completa ao índio Yanomami,
Sorino, atacado por um jaguar na
floresta amazônica.
Em 17 de fevereiro, Mons. Pa-
olo Bizzeti bispo do Vicariato de
Anatólia, Turquia, apresentou a
realidade deste território muito
vasto, equivalente a duas vezes
o tamanho da Itália, que ocupa a
parte oriental da Turquia e acolhe
quatro milhões de refugiados, pro-
venientes do Iraque, Afeganistão,
Síria etc. Os católicos representam
0,015% da população distribuídos
em seis paróquias.
Os dias do In-
tercapítulo con-
tinuaram, com a
partilha de relató-
rios das Missões,
sobretudo, os que
evidenciam a incul-
turação do Carisma
na convivência di-
ária com os Povos
Originários (Indíge-
nas) ou em regiões
majoritariamente
muçulmanas. 
Benildes Clara Capellotto, MC,
é missionária
em São Paulo, SP.
Visita canônica: o que é?
A visita canônica é um evento de graça para todos, uma passagem do Senhor
que vem visitar o seu povo para justificar e trazer a salvação.
de Redação
de controle, mas um evento de Ao longo da visita, padre Stefano
graça para todos, uma passagem terá a oportunidade de dialogar, em

D
e 7 de maio a 4 de junho
de 2022 realiza-se a visita
canônica à Região Bra-
sil dos missionários da
Consolata. A visita será
promovida pelo Superior Geral
da Congregação, padre Stefano
Camerlengo, e é amparada pelo
código do direito canônico e pelas
constituições da Congregação.
Padre Stefano em carta enviada
aos missionários no Brasil disse
que “tal visita não é simplesmente
uma prática formal, nem um ato
do Senhor que vem visitar o seu
povo para justificar e trazer a sal-
vação”.
Por conta da visita do padre
Stefano, que deve ser acompa-
nhado pelo Conselheiro Geral para
a América, padre Jaime Carlos
Patias, a Direção Regional do
Brasil, representada pelo padre
Luiz Carlos Emer, apresentou aos
demais missionários uma vasta e
extensa programação dos dias 7
de maio até o dia 4 de junho do
ano em curso.
clima de fraternidade, com todos
os missionários. Ao mesmo tempo
que se encontrará com lideranças
de comunidades, participará de
encontros e presidirá celebrações
com o povo dos lugares onde traba-
lham os missionários da Consolata.
Nos últimos dias da visita, os
missionários da Consolata se reuni-
rão em Assembleia, quando devem
eleger o Superior Regional para os
próximos anos. 
Paulo Mzé, imc, é diretor da revista Missões.

CLEBER PIRES

Padre Stefano Camerlengo e missionários da Consolata em Assembleia na Região Brasil.

MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 19

 Sentes Compaixão?
de Fátima Bazeggio volta a necessidade urgente de vidaseacumulararmas,esquecendo-
conversão para a compaixão. -nos que somos guardiões do nosso

E
ntre 14 de setembro e 14 de
novembro de 2021 realizou-
-se a V Jornada Mundial dos
Pobres, que veio revelar o pa-
noramaemquevivemmilhões
de pessoas ao redor do mundo.
A pergunta “Sentes Compaixão?”
vemdesafiarumolhararealidadecom
sentimentos nobres de dignidade,
de justiça e de promoção humana
e não só de assistencialismo. Toda a
Sagrada Escritura contém passagens
que mencionam a misericórdia e
a compaixão de um Deus que vê a
aflição de seu povo e vem para fazer
justiça, ao pobre e desamparado.
Método apostólico
O cenário de guerra em que o
mundo se encontra hoje traz de
Durante a celebração penitencial
de 25 de março de 2022 o papa
expressou as insanidades que pro-
vocam a guerra entre a Rússia e a
Ucrânia e tantas outras que estão
acontecendo ao redor do mundo.
"Esquecemos a lição das tragé-
dias do século passado, o sacrifício
de milhões de mortos nas guerras
mundiais. Descuidamos os compro-
missosassumidoscomoComunidade
das Nações e estamos a atraiçoar os
sonhos de paz dos povos e as espe-
ranças dos jovens. Adoecemos de
ganância,fechamo-noseminteresses
nacionalistas, deixamo-nos ressequir
pela indiferença e paralisar pelo
egoísmo. Preferimos ignorar Deus,
conviver com as nossas falsidades,
alimentar a agressividade, suprimir
próximo e da própria casa comum."
“Sentes compaixão?” Refletir
para responder essa pergunta de-
safiadora em um mundo marcado
pela violência e morte, nos leva a
deixar de lado antigos conceitos e
preconceitos, ideias e julgamentos
pré-concebidos, abandonar atitudes
de isolamento e fechamento em nós
mesmos e sermos compassivos com
os que sofrem. Deus que é Pai, em
sua essência é: proximidade, com-
paixão e ternura, sendo que a nossa
responsabilidade é de colaborar
com as obras de salvação, dando
testemunho do grande amor de
Deus por toda a criação. 
Fátima Bazeggio é Leiga Missionária da Consolata, LMC,
São Paulo.

Ajude-nos e venha
fazer parte desta obra
Missões é o veículo de comunicação do Instituto Missões Consolata e retrata o trabalho missionário
de levar a consolação aos que sofrem, aos que andam tristes, aos que estão sem esperança.
Torne-se um missionário membro da família Consolata, mantendo o nosso trabalho,
contribuindo financeiramente.

Veja como é fácil:

DEPÓSITO BANCÁRIO

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20 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES


A Igreja Católica
tem uma Constituição?
Segunda e última parte do
artigo publicado na edição de
janeiro/fevereiro de 2022.
de Edson Luiz Sampel
C
onforme prometi no artigo passado, gosta-
ria de aprofundar um pouco a temática da
Constituição (a lei jurídica máxima) da Igreja
Católica. Para tanto, quero destacar alguns
direitos constitucionais. Tal como no Estado,
sociedade perfeita (isto é, acabada), a Igreja, também
sociedade perfeita, vale dizer, capaz de atingir seu fim
por si só, igualmente reconhece aos seus membros
alguns direitos fundamentais, exigíveis erga omnes
(contra todos). A maioria, se não a totalidade desses
direitos, embasa-se no chamado direito natural. Desta
feita, por exemplo, o direito à intimidade é salvaguar-
dado assim na Constituição da República como na
Constituição da Igreja Católica. Com efeito, reza o artigo
5º, inciso X da Constituição Federal: "são invioláveis
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação." No
código canônico, exatamente no rol dos direitos cons-
titucionais dos fiéis, encontramos dispositivo bastante
similar. De fato, preceitua o cânon 220: "A ninguém
é lícito lesar a boa fama de que alguém goza, nem
violar o direito de cada pessoa a defender a própria
intimidade (tradução)".
Importante frisar que os membros da Igreja não
são apenas os padres e bispos. Muito pelo contrário, a
maioria dos membros são leigos, vale dizer, os católicos
enfronhados visceralmente nas realidades do mundo,
aperfeiçoadas e animadas com o espírito do Evangelho
(cânon 225, §2º). A propósito, o papa Francisco aca-
ba de promulgar a nova normativa da cúria romana,
denominada "Pregai o Evangelho", a qual confere
aos leigos a possibilidade até mesmo de presidirem
qualquer dicastério ou organismo da Santa Sé. Acerca
deste assunto expenderemos oportunamente nesta
seção da revista.
MISSÕES RESPONDE
FOTO: ANDRÉIA BRITTA/CANCAONOVA.COM
A partir do cânon 208, temos o elenco dos direitos
constitucionais de todos os fiéis, leigos e clérigos. Diz-se
que o referido elenco comporia parte da Lex Fundamen-
talis, projeto malogrado de constituição escrita, sobre
o qual aludi no último artigo. Começando pelo cânon
224, catalogam-se os direitos constitucionais dos leigos:
direito-dever ao apostolado, independentemente de
autorização do bispo ou do pároco (cânon 225); direito
de educar os filhos e trabalhar pela evangelização como
família (cânon 226); direito à liberdade nos assuntos
temporais (cânon 227); direito a assumir certos ofí-
cios eclesiásticos (cânon 228); direito à aquisição de
conhecimento mais profundo da fé (cânon 229)... Eis
alguns exemplos!
O relevante é frisar que o Código Canônico em
vigor deu base jurídica ao Concílio Vaticano II. Existe
entre os membros da Igreja, clérigos e leigos, perfeita
igualdade, em virtude do sacramento do batismo. To-
dos se encontram vocacionados a proclamar dalgum
modo a boa nova de nosso Senhor Jesus Cristo, cada
qual segundo sua função própria. Os direitos consti-
tucionais devem ser sempre respeitados, porquanto,
em última análise, todos esses direitos defluem da
vontade fundacional de Jesus Cristo. 
Edson Luiz Sampel Professor-doutor do Instituto Superior de Direito Canônico de Lon-
drina. Membro da Sociedade Brasileira de Canonistas (SBC). Traduziu o livro "A Virgem
Maria e os sacramentos". https://www.livrarialoyola.com.br/produto/a-virgem-maria-e-
-os-sacramentos-679051
MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 21
 ÁFRICA
Novo berço de católicos
O continente africano é o
terceiro em número de católicos
no mundo, 18,7%
de Júlio Caldeira
D
e acordo com dados publicados pela Santa Sé
em 2021, o continente africano é o terceiro em
número de católicos no mundo, totalizando
18,7%, atrás da América (48,1%) e Europa
(21,2%). Entretanto, é o que mais cresce em
termos de número de católicos (3,4% em 2020 até
2021) e também de sacerdotes, que aumentaram
3,45% no mesmo período.
Dados apresentados
Os principais elementos apresentados nas pu-
blicações são a população do país, porcentagem
de católicos romanos, circunscrições eclesiásticas e
episcopado, paróquias, centros pastorais, agentes
pastorais (presbíteros, diáconos, irmãos religiosos,
religiosas, catequistas) e religiões predominantes
em cada um dos países. Alguns fatos interessantes
sobre cada país também são apresentados: breve
história da presença da Igreja Católica, cardeais,
FOTO: ©AUTRE PRESSE PAR DR
22 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES
participantes do Concílio Vaticano I e II, recentes
mártires e santos ou bem-aventurados.
De acordo com os dados gerais, a República De-
mocrática do Congo tem o maior número de pessoas
que se declaram católicas, 48.073.200, seguidas pela
Nigéria, Uganda e Tanzânia. Em porcentagem dos cató-
licos, a Guiné Equatorial lidera com 87% da população
declarando-se católica, seguida pelas ilhas da Reunião
(79%) e Seychelles (76%), Burundi (67,2%) e São Tomé
e Príncipe (65,8%). A porcentagem mais baixa de
católicos está na Somália e na Argélia, com 0,0001%
da população. Esses países são repúblicas islâmicas.
Estatísticas gerais
Os católicos na África representam 20,8% da po-
pulação total de 1.216.000.000.000 de pessoas no
continente, ou seja, mais de 253 milhões de habitantes
que se declaram católicos. Um fato significativo é a
diversidade cultural presente no continente, onde
cerca de 3.000 idiomas diferentes são falados nos
57 países ou territórios ultramarinos.
A Igreja Católica está organizada em 542 circunscri-
ções eclesiásticas, incluindo arquidioceses, dioceses,
vicariatos e prelaturas. Existem 15.600 paróquias e
89.883 centros de atendimento pastoral. O clero é
composto por 781 bispos, 40.890 sacerdotes e 415
diáconos. Há 68.991 irmãs religiosas, 9.582 irmãos
religiosos e 406.478 catequistas.
Próxima etapa: Ásia
O professor Fernando Altemeyer com-
pilou esses dados, num compromisso
assumido com o portal Consolata América,
dos missionários da Consolata (www.con-
solatamerica.com.br) que desde 2020 vem
apresentando um percurso semanal com
dados estatísticos sobre a Igreja de cada
país do mundo. Esse caminho começou
com os países da América Latina e do
Caribe, seguido pelo continente africano.
A partir da primeira semana de abril,
o percurso continua com os 50 países
da Ásia, começando com o Afeganistão
e terminando em março de 2023 com o
Iêmen. 
Júlio Caldeira, imc, é coordenador de comunicação da REPAM
(Rede Eclesial Pan-Amazônica).

Educação
comprometida
Centro Comunitário Nossa
Senhora Aparecida, das
Missionárias da Consolata,
realiza trabalho socioeducativo
com todas as faixas etárias.
de Lilian Duda
O
Centro Comunitário Nossa Senhora Apareci-
da (CCNSA), localizado no bairro do Jardim
Peri, Zona Norte de São Paulo, SP, realiza
um trabalho socioeducativo, através das
parcerias com as Secretarias Municipais
de Educação e da Assistência e Desenvolvimento
Social. Em todas as ações realizadas pelos serviços:
CEI – Centro de Educação Infantil, CCA – Centro Para
Criança e Adolescente, CJ – Centro Para Juventude,
NCI – Núcleo de Convivência dos Idosos, SASF – Serviço
de Assistência Social à Família, MSE/MA – Serviço de
Medida Socioeducativa em Meio Aberto e o MOVA
– Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos,
o trabalho é realizado em favor da vida humana sem
críticas e/ou julgamentos, mas através da educação
como meio de garantia de direitos e promoção do
conhecimento e da dignidade humana.
Uma educação comprometida com novas formas
de economia, de políticas públicas e de progresso
verdadeiramente a serviço da vida humana, em
especial, dos mais vulneráveis. Através de cada ativi-
dade planejada e executada para algumas centenas
de atendimentos diários realizados em cada um dos
serviços, a educação se faz presente tanto para com
os usuários tanto para as suas famílias, colaboradores
e comunidade.
Quando analisamos à luz do conhecimento o lema
da Campanha da Fraternidade deste ano “Fala com
sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26), identifica-
mos que cada serviço do CCNSA realiza essa prática
diariamente. Através de cada roda de conversa re-
alizada com os adolescentes, por meio das oficinas
proporcionadas às famílias, em todos os momentos
EXTRA
FOTO: CCNSA
de ludicidade com as crianças e com os idosos nos
processos cognitivos. Ainda de acordo com o que o
papa Francisco nos solicita, via Pacto Educativo Global,
o CCNSA vem realizando o seu trabalho por meio dos
serviços, nessa linha de pensamento e ações.
O propósito do CCNSA, através de todos os serviços
que atendem a nossa comunidade, é fazer de cada
atendido o protagonista de sua história por meio
da educação social e humana. As nossas crianças e
adolescentes são instigados e motivados para serem
protagonistas e multiplicadores de conhecimento,
são seres potentes dentro da comunidade e socie-
dade para a transformação, quebra de mitos, tabus
e paradigmas.
O primeiro contato social e educacional acontece
por meio do seio familiar, os primeiros aprendizados
e ensinamentos são realizados através dos seus prin-
cipais cuidadores/familiares, indo ao encontro dos
pilares trabalhados pela instituição, o fortalecimento
dos vínculos familiares. A entidade vem trabalhando
para que os colaboradores a cada atendimento reali-
zem um acolhimento com excelência para os nossos
atendidos, com vista ao atendimento humanizado e
fortalecedor. Incentivando a ampliação e enriqueci-
mento sociocultural para potencializar a comunidade
para lutar por seus direitos e trabalhando juntos para
a garantia dos mesmos. 
Lilian Duda é Psicóloga e Gerente de Serviços do CJ Eucaliptos (CCNSA).
MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 23
 DESTAQUE
Dia mundial
de combate à
discriminação racial
No calendário, a
data já ficou para
trás! Mas não a
necessidade de lutar
com todas as forças
contra o racismo
e outras formas
de preconceito,
discriminação e
xenofobia.
de Alfredo J. Gonçalves
N
a data de 21 de março
de 1960, em Sharpeville,
Africa do Sul, uma multidão
de aproximadamente 7 mil
pessoas se manifestava por
seus direitos fundamentais. Direitos
que eram sistematicamente nega-
24 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES
dos aos negros, nesse país em que,
embora a população negra fosse e
continue sendo maioria, vigorava
a ferro e fogo o “apartheid racial”,
o que, vale lembrar, conduz em
geral ao “apartheid social”. No
confronto com as forças policiais,
em frente à delegacia, uma brutal
violência resultou em cerca de
250 vítimas, das quais em torno
de 30 eram crianças. Ao todo, 69
pessoas foram mortas, enquanto
que ao redor de outras 200 se
viram insultadas pela cor de sua
pele e de suas condições de vida.
Desse trágico massacre, origina-
-se o Dia Mundial de Combate à
Discriminação Racial.
Certo, no calendário do ano
em curso, a data já ficou para
trás! Mas não a necessidade de
lutar com todas as forças con-
tra o racismo e outras formas
de preconceito, discriminação e
xenofobia. Aliás, datas como “Dia
do Trabalhador”, “Dia da Mulher”,
“Dia do Migrante”, “Dia do Indíge-
na”, “Dia do refugiado”, “Dia dos
Direitos Humanos”, entre tantas
outras, sempre acabam por se
revelar como uma faca de dois
gumes. Sem dúvida, tais formas
de celebração podem reforçar
os esforços e mobilizações para
resgatar os direitos e a dignidade
humana de cada pessoa, povo ou
nação. Mas podem, igualmente,
levar a um reducionismo das ati-
vidades em favor desse próprio
combate. Corre-se o risco de rea-
lizar alguma manifestação no dia
correspondente, e depois cruzar
os braços durante o restande do
ano. O mais importante consiste
em dar-se conta que o verdadeiro
compromisso para com a defesa
dos direitos humanos deve ser
renovado a cada dia e a cada mo-

mento, especialmente onde a vida
esteja mais ameaçada.
De qualquer forma, a data ce-
lebrativa torna-se relevante na
medida em que nos convida a uma
reflexão sempre crítica e atualizada
sobre o racismo estrutural de nossas
sociedades, que se denominam
ocidentais e democráticas. Nos anos
mais recentes, com a ascendência
Não ao
quanto o comportamento racista.
Comportamento que, diga-se de
passagem, se dá e se reforça no
cotidiano do trabalho e da dife-
rença de salário, da moradia e do
transporte, da educação e dos
sistemas de saúde, do convívio e
do lazer, e assim por diante.
Neste ano em que a Campanha
da Fraternidade da CNBB refle-

de representantes da extrema-
-direita ao poder em diversas partes
do planeta, temos visto emergir
das sombras da história atitudes de
franco rechaço aos migrantes, às
mulheres, aos indígenas, aos negros
e seus movimentos organizados,
bem como a tantos outras pessoas
e/ou grupos já por si vulneráveis
e marginalizados. Rechaço que,
ao mesmo tempo, traz do lixo dos
tempos determinadas ideologias há
muito sepultadas pela civilização.
Crescem assustadoramente grupos
de neofascistas e neonazistas, ao
lado de franco-atiradores que, uti-
lizando a Internet e em especial as
redes sociais, nos bombardeiam
diariamente com fake news. Não
tem sido raro constatar, inclusive,
uma defesa aberta e descarada da
ditadura e da tortura. Desneces-
sário acrescentar que a pandemia
veio escancarar e, em muitos casos,
agravar o retorno dessas práticas
abusivas.
ismo
Rac
te sobre a Educação, nada mais
oportuno do que educar-nos a
nós mesmos, e a todas as pessoas,
famílias e grupos para o direito de
todo os seres humanos, no sentido
de oportunidades iguais, justas,
fraternas e solidárias, na linha do
que recomenda com insistência o
papa Francisco. E com referência ao
mesmo tema, o grande educador
Paulo Freire nos alerta para a im-
portância de começar justamente
a partir do dia a dia e do nosso
entorno. 
Alfredo J. Gonçalves, cs, é vice-presidente do Serviço de
Proteção ao Migrante, SPM.

Campanha da Fraternidade
Semelhantes atitudes de hos-
tilidade, de ódio, de ataque e de
provocação constante costumam
vitimizar sobretudo as catego-
rias mais frágeis e vulneráveis.
No caso específico da população
afro-americana em geral, histórica
e estruturalmente submetidas à
escravidão e às mais diversas for-
mas de humilhação, datas como
o 21 de março e o 13 de maio,
ademais de momentos decisivos
para resgatar a memória viva de
resistência, servem para pontuar
uma luta que, no fundo, ocorre a
cada minuto e hora, a cada dia e
ano. A luta permanece tão acesa

MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 25

 CIDADANIA
Profetas da Consolação
Leigos Missionários da Consolata
(LMC) devem ser portadores da
verdade em Cristo.
de Márcio Mariano Moreira
S
e Jesus voltasse hoje, qual seria a nossa atitude?
Provavelmente, colocaríamos seu nome em um
site de busca. Depois, verificaríamos se era “fato
ou fake”, boato ou verdade. Ou, dependendo da
fonte ou de quem nos dissesse a respeito d’Ele,
nem questionaríamos. Simplesmente, tomaríamos
nossas decisões baseados nesta referência e pronto.
Se a pessoa não chega com holofote, brilho, pompa,
logo desconfiamos e, se não agradar, aplicamos a atual
“teoria do cancelamento”.
DIVULGAÇÃO
Curiosamente, faz mais de 2000 anos que estamos
fazendo isso. Infelizmente, nossa sociedade continua
repetindo os mesmos erros desde os tempos de Jesus
aqui na terra. Em Lucas 4, 21ss, quando Jesus começou
a ensinar na sinagoga, as pessoas começaram a ques-
tionar: mas não é este o filho de José? Enão aceitam
seu discurso e tentaram jogá-lo no precipício, ou seja,
a teoria do cancelamento nos seus primórdios.
A humanidade sempre é atingida por uma série
de apelos proféticos. O cuidado é para não agirmos
26 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES
como um inseto que, por não possuir raciocínio lógi-
co, voa em direção ao brilho da luz e morre. Temos
diversas pessoas que se auto-intitulam como oráculos
da verdade, atribuem para si titulação acadêmica,
arregimentam seguidores e os conduzem para uma
negação da realidade. Não podemos ficar na postura
infantilizada. Uma criança confia plenamente em quem
cuida dela. Se é dito a ela pule, ela pulará. Contudo,
“Quando eu era criança, falava como criança, pensava
como criança, raciocinava como criança. Quando me
tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança”.
(1Cor 12, 11)
Profetas da atualidade
João Batista foi um profeta compromissado com
a verdade, o que lhe custou sua vida. Ele preparou
o caminho do Senhor, batizou Jesus no rio Jordão e,
no dia seguinte “fixou o olhar em Jesus que passava
e disse: Eis o Cordeiro de Deus. Os
dois discípulos ouviram dizer isso
e seguiram Jesus”. (Jo 1, 36-37) Os
profetas da atualidade estão apon-
tando àquele que tira o pecado do
mundo? E trazendo para atuação
profética enquanto leigo missionário
da Consolata, ela está aplainando
os caminhos do Senhor levando
a consolação, princípio de nosso
carisma Allamaniano? Enquanto
profetas LMC (Leigos Missionários
da Consolata) devemos ser por-
tadores da verdade em Cristo. O
vocacionado LMC é um profeta da
consolação e sua atuação é uma
forma de substancialização deste
chamado. Padre Jaime Patias, imc,
em sua homilia de 20 de fevereiro
disse que nossa missão é amar, ben-
dizer, fazer o bem e rezar. E padre
Luiz Hermann, imc, na homilia de 13 de março nos
ensinou que quanto mais nos aproximamos de Jesus,
mais nos humanizamos e mais nos divinizamos. Estas
são pistas para nossa atuação profética.
Respondendo à pergunta inicial, Jesus volta no mo-
mento em que nos colocamos a serviço d’Ele levando
consolação ao próximo. 
Márcio Mariano Moreira é Leigo Missionário da Consolata, psicólogo com doutorado em
Ciências Médicas.

Reiniciar sempre!
“Eis que faço novas todas as
coisas”. (Apocalipse 21, 5)
de Mauro Negro
A
passagem do ano é um tempo interessante e
fértil. Há alegria, alívio, esperança, dúvidas,
desejos e tantas coisas que são sentidas e
desejadas. Já as primeiras semanas do ano
colocam as pessoas na realidade: os preços
aumentaram, o clima está confuso, as dores das costas
continuam, muitos propósitos não serão cumpridos,
e por ai vai! Mas para a pessoa de fé deve existir
um horizonte diferente, não marcado pelas alegrias
superficiais, geradas nas bebidas, comidas e exage-
ros típicos do fim de ano. Este horizonte nasce da
proximidade com a Graça do Cristo Senhor.
No livro do Apocalipse encontram-se muitas ima-
gens e ideias fortes, que às vezes assustam os leito-
res menos preparados. Ali também estão palavras e
imagens de esperança, alegria e fé que encantam os
que estão dispostos a entender. Em 21, 5 se lê: “O que
está sentado no trono declarou então: ‘Eis que eu faço
novas todas as coisas’.” Quem está sentado é o próprio
Deus. Seu trono é a história na qual Ele se manifesta,
ainda que de modos difíceis de serem compreendidos
de imediato. E as coisas, que parece estariam no fim,
estão apenas começando. Todas as coisas renovadas!
BÍBLIA
Jesus Cristo: ontem, hoje e para sempre
Em Hebreus 13, 8 se lê:“Jesus Cristo é o mesmo,
ontem e hoje; ele o será para a eternidade!” Isto
relaciona o leitor da Bíblia, fiel na Palavra de Deus,
a Cristo, o Senhor. A história que é feita, dia após
dia, nos anos que se sucedem, tem sentido quando
os olhos estão voltados para o Senhor. Embora as
contradições da vida, os problemas políticos, as
injustiças sociais, econômicas e humanas existam,
embora se encontrem enfermidades e dores, deve
haver Esperança. A história não terminou ainda, ela
tem futuro. Ela se encontra na Pessoa e na Missão
de Jesus Cristo.
Toda a Bíblia, Antigo e Novo Testamento, tem
o seu centro na Pessoa de Jesus Cristo. A história
teológica caminha para Ele. A Revelação é sobre Ele
e Nele tudo tem sentido. Os leitores da Bíblia não
podem buscar nela soluções pontuais para proble-
mas reais, mas encontram o sentido para dar na
vida e na história.
O mundo não acabou! A história continua! As
coisas se renovam, se recriam, renascem. Sim, um
dia terminarão, morrerão. Mas agora é tempo de
crescer, animar e progredir. Perfeição não existe,
mas possibilidades sim. “Eis que faço novas todas as
coisas!” Que cada um possa ser renovado em Cristo,
o mesmo ontem, hoje e sempre! 
Mauro Negro, OSJ Biblista, PUC São Paulo mauronegro@uol.com.br
MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 27

FOTO: NATÁLIA VIEIRA RODRIGUES
ENTREVISTA
de Paulo Mzé
O
tema da Campanha da
Fraternidade deste ano
faz refletir sobre a Educa-
ção. Entrevistamos Fátima
Vieira, educadora há 46
anos, com vasta experiência na
área. Fátima trabalhou por 42 no
Colégio Consolata e atualmente
está no Instituto Madre Mazzarello,
ambos localizados na zona norte da
cidade de São Paulo, SP.
Rubem Alves dizia que o tempo
presente não permite vocações,
porque as pessoas procuram fazer
ou procuram trabalhar no que lhes
dá mais dinheiro. Toda a sua vida é
uma dedicação à educação. Conte-
-nos como você descobriu a vocação
de trabalhar pela educação?
28 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES
Amor
to de
Fátima Vieira relata sua
experiência de 46 anos
no Magistério.
Desde criança desejei ser pro-
fessora e brincava constantemente
de dar aulas. Quando estudava no
Colégio Consolata, eu tinha muito
carinho e admiração por minhas
professoras e com elas aprendi a
ser professora, em especial Irmã
Miranda e Irmã Myriam Depiné,
Missionárias da Consolata. Tenho
enorme gratidão por todos os edu-
cadores que fazem parte de minha
vida e que me auxiliam neste meu
processo de formação intelectual
e profissional, reforçando e incen-
tivando minha vocação.
O Magistério é uma das profis-
sões mais bonitas e gratificantes
que existem com recompensas pra-
zerosas como conhecer os alunos,
transmitir e receber conhecimen-
tos (troca constante), criar laços e
contribuir para o desenvolvimento
do aluno através de uma educação
humanizada, crítica e reflexiva. Po-
rém, apesar de todo o empenho e
dedicação, o Magistério ainda é uma
das profissões mais desvalorizadas
do Brasil; não só com relação à re-
muneração, mas quanto ao estigma
social. Não há incentivo para que
um brasileiro se torne professor;
dificilmente se ouve “Puxa, que
bacana que você é professor!”, o
sentimento é sempre de pena. Só
se opta pelo Magistério quando
não se consegue outra opção, triste
realidade!
Este ano é terceira vez que a
CNBB propõe a educação como
tema de Campanha da Fraternida-
de. Olhando a realidade de hoje,
você acha que foi uma escolha
acertada por parte da CNBB e o
tema vem ao encontro dos anseios
da sociedade de hoje?
Sim. A proposta da Campanha
da Fraternidade de 2022 é estimular
igrejas, famílias e escolas a terem
momentos de reflexão e debate so-
bre novas formas de educar, em uma
perspectiva humanista, conforme
a orientação do Papa Francisco. A
Educação começa na família, com o
amor acima de tudo, mas também
requer comprometimento de toda
a sociedade. Foi excelente esta ini-
ciativa da CNBB, especialmente em
um momento em que os estudantes
retornam às salas de aula depois de
um período de isolamento causado
pela pandemia da Covid-19. Educar
sob a perspectiva católico-cristã
deve ser objeto de reflexão nesta
Campanha. Com uma educação de
excelência e espírito humanizador,
à luz do Evangelho de Jesus Cristo,
alcançaremos uma educação in-
tegral em todas as dimensões do
ser humano, sobretudo solidária
e inclusiva.
Outra vez Rubem Alves disse
que somos o intervalo entre os
nossos desejos e os desejos dos
outros. E mais, quando se pensa em
educação se deve pensar em um
conjunto que vai além da sala de
aula. O que é para você trabalhar
na educação, muitas vezes, fora da
sala de aula?
A Educação vai além da sala de
aula quando constrói novas formas
de ver e pensar realidades. Como
diz o educador José Pacheco “a
aprendizagem só acontece quando
ela é significativa”. Em minha experi-
ência como educadora, percebi isto
claramente, não somente nas disci-
plinas convencionais na sala de aula,
mas também nas atividades extras,
das quais fui responsável durante
vários anos no Colégio Consolata.
Nestas atividades: Coral, Banda,
Orquestra, Dança, Teatro, Esportes
e outras, percebi o quanto os alunos
podem através delas demonstrar e
desenvolver habilidades artísticas,
ampliando as habilidades cognitivas,
emocionais e sociais, estimulando a
criatividade, iniciativa, pensamento
crítico, flexibilidade, persistência,
autoconfiança, autonomia e outras.
Trabalhar na Educação é maravilho-
so! A arte e ensinar requer caminhos
longos, difíceis e gratificantes.
"Para educar uma criança pre-
cisa de toda uma aldeia", diz um
provérbio africano. O que você
diria hoje a alguém que almeja o
Magistério como projeto funda-
mental de vida?
Como dizia Vygotsky “O homem
não nasce humano, ele se huma-
niza”, ou seja, nenhuma pessoa
se desenvolve e aprende apenas a
partir dos valores de sua família, mas
também pelos valores adquiridos na
comunidade em que vive. Educar é
preparar as crianças e adolescentes
a partir da vida e para a vida, e este
se torna o principal papel da escola.
Ser professor é mais que um
trabalho, é um ato de amor e além
de transmitir conhecimentos, tam-
bém desenvolvemos a função de
educadores, ou seja, educamos
para a vida.
Em meus 46 anos na Educação,
destes 42 anos no Colégio Consolata,
em seguida no Colégio CERMAC
e atualmente no Instituto Madre
Mazzarello, só tenho que agradecer
a Deus por tudo que vivi e aprendi
nos vários setores das escolas. Com
tantos anos é comum reencontrar
ex-alunos e é muito gratificante
quando dizem que aprenderam
algo comigo ou até mesmo matri-
culando seus filhos na escola em
que estudaram; é neste momento
que tenho a noção de que fiz parte
da vida de alguém e contribuí de
alguma forma para sua formação
e realização.
Falta mais valorização dos nossos
educadores para que possamos ter
um país melhor, já que tudo começa
na educação. Mas, de qualquer
forma eu acredito na Educação e
de que podemos dar um futuro
melhor para nossos estudantes.
Como disse Rubem Alves “Ensi-
nar é um exercício de imortalidade.
De alguma forma continuamos a
viver naqueles cujos olhos apren-
deram a ver o mundo pela magia da
nossa palavra. O professor, assim,
não morre jamais." 
Paulo Mzé, imc, é diretor da revista Missões.
MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES 29
 Denúncias de racismo no Procon
O Procon (Fundação de Proteção e Defesa
do Consumidor) inaugurou em 22 de março de
2022 um espaço físico para o seu braço espe-
cializado em denúncias de racismo: o Procon
Racial, iniciativa em parceria com a Universidade
Zumbi dos Palmares. O serviço, anunciado em
novembro de 2021, ainda não contava com um
local próprio. Antes, era preciso fazer a denúncia
emqualquerunidadedoProconousitedoórgão,
em uma aba específica. Agora, será possível ir
até sua sede, localizada na instituição de ensino
parceria, na Avenida Presidente Castello Branco,
zona central de São Paulo. Denúncias pelo site
continuam sendo aceitas. A inauguração da
unidade ocorre após diversos ataques a pessoas
negras em estabelecimentos comerciais – casos
que geraram destaque e protestos. Em novem-
bro de 2020, na véspera do Dia da Consciência
VOLTA AO BRASIL
Negra, João Alberto Silveira Freitas, 40, foi es-
pancado e morto por dois seguranças de uma
unidade do supermercado Carrefour em Porto
Alegre. O homem negro foi morto sob as vistas
de testemunhas. O vídeo do seu assassinato
correu o país e motivou uma onda de protestos.
Outro caso recente ocorreu em uma unidade da
Zara em Fortaleza, onde a delegada Ana Paula
Barroso, que é negra, foi expulsa da loja. Para
ela, a motivação foi racista – a empresa nega.
A iniciativa do Procon Racial faz parte de uma
série de medidas promovidas pela universida-
de e unificadas no projeto Racismo Zero. Uma
delas é a plataforma Acolhe Empresarial, que
permitirá àqueles que procurarem o Procon
Racialcontatocompsicólogos,assistentessociais
e advogados por meio de inteligência artificial.
Outra das medidas é uma carta de princípios
que poderá ter adesão de empresas de qual-
quer tamanho. Elas precisarão cumprir etapas
de formação para, ao final, receber um selo de
lugar seguro contra o racismo. A ideia, diz o reitor
da Universidade de Zumbi dos Palmares, José
Vicente, é ir além das ações pelos agredidos e
convocar as empresas a fazer parte do esforço.
Ataques à imprensa avançam
Um relatório da Abert (Associação Brasi-
leira de Emissoras de Rádio e Televisão) sobre
violações à liberdade da expressão mostra
aumento de profissionais de imprensa vítimas
de atentados, agressões, ameaças, ofensas e
intimidações em 2021, na comparação com o
ano anterior. Pelo menos 230 profissionais e ve-
ículos de comunicação sofreram algum ataque,
22% a mais do que em 2020. O principal autor
30 MARÇO/ABRIL 2022 MISSÕES
das ofensas ao longo de 2021 foi o presidente
Jair Bolsonaro (PL). O relatório, divulgado no
dia 22 de março lista 46 ofensas à imprensa por
parte do chefe do Executivo. Já apoiadores do
presidente foram responsáveis por oito episó-
dios de agressão, cinco de ameaça e cinco de
intimidação, o que é compreendido como uma
resposta a estímulos por parte de Bolsonaro.
A entidade espera um aumento dos ataques
em 2022, em razão da disputa eleitoral. Isto
deve ocorrer tanto em relação à disputa pre-
sidencial quanto nas guerras políticas travadas
nos estados. O levantamento da Abert sobre
violações à liberdade de expressão é feito há
dez anos. O relatório referente a 2021 aponta a
ocorrência de 4.000 ataques virtuais por dia à
imprensa, ou 167 ataques por hora, quase três
por minutos. O relatório identificou 1,5 milhão
de postos pejorativos, com palavras de baixo
calão e expressões depreciativas. Em relação
a 2020, houve redução de 54% nos ataques
virtuais. Oito profissionais de comunicação
foram vítimas de atentados em 2021, o dobro
do registrado em 2020. O relatório não registra
assassinatos de jornalistas em 2021. Isto só não
ocorreu também em 2019, diz a Abert. No caso
de agressões, 61 profissionais foram vítimas
de chutes, pontapés, socos ou tapas, aumento
de 3% em relação ao ano anterior. Equipes de
TV foram as mais agredidas. Houve menos
casos de ofensas, mas uma maior quantidade
de vítimas em 2021: 89 profissionais e veícu-
los de comunicação. O aumento foi de 31%.
Também houve mais jornalistas intimidados. O
relatório registra que 43 profissionais tiveram
o trabalho interrompido ou foram recebidos
aos gritos em coberturas, um incremento de
43% em relação ao ano anterior. Outros 15
foram ameaçados ao levantamento feito em
2020. O relatório registra ainda episódios de
censura e de mobilização na justiça como forma
de intimidação à imprensa. A Abert mapeou
29 decisões judiciais referentes ao trabalho
jornalístico, das quais 14 foram contrárias á
imprensa. Parte foi revertida na segunda ins-
tância da Justiça em 2022, segundo a entidade.
O documento lembra que, pela primeira vez
em 20 anos, o Brasil passou para a “zona ver-
melha” do ranking de liberdade de imprensa,
da Repórter sem Fronteiras. O país caiu quatro
posições em 2021, passando de 107ª para
111ª, a pior posição em 20 anos. 
Fonte: Folha de S.Paulo.
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