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EDUARDO LUIZ DE MEDEIROS

TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO

1ª edição

2019
Curitiba-PR
Editora São Braz
Palavra do Professor-autor

Olá, estudante!
A disciplina Teologia do Antigo Testamento é de suma importância para
o seu conhecimento teológico. Por meio de uma análise de todos os livros do
Antigo Testamento você irá aprofundar seus conhecimentos a respeito dela.
Esta análise será teológica, além de apontarmos elementos históricos e
culturais para orientar nossa jornada pelo AT. Como teólogo, o conhecimento e
aprendizado do método de análise dos textos bíblicos propostos, serão de
fundamental importância em seus estudos, aulas, palestras, mensagens à
Igreja, enfim, em todas as áreas do trabalho teológico.
Gostaria de reiterar a importância e a necessidade de seu envolvimento
com todas as atividades propostas para seu aprendizado. Como instituição,
primamos por disciplinas de qualidade com conteúdo relevante para sua
caminhada acadêmica. Mas, apenas isto não basta para que você conclua esta
(e por que não dizer todas as demais disciplinas que você terá até o fim deste
curso!). Você precisa participar dos fóruns, interagir com seu tutor, realizar
todas as atividades propostas. O resultado de seu estudo pessoal com a
presença constante e focada no ambiente virtual é a chave para sua vitória!
Sem mais delongas convido todos os senhores e senhoras para juntos
iniciarmos mais uma jornada rumo ao conhecimento bíblico e teológico!
Preparados? Vamos lá!

Professor Doutor Eduardo Luiz de Medeiros


Aula 1 - Introdução à teologia do antigo testamento

O estudo do Antigo Testamento (AT) é fundamental para aqueles que


desejam conhecer mais a fundo a História do povo de Israel e a progressiva
revelação de Deus na História. Sem essa compreensão o entendimento do
Novo Testamento para os cristãos ficará falho e raso, pois todo o subsídio
necessário para esse entendimento se encontra no AT. É por meio desse
estudo que conheceremos a criação do mundo, a origem de Israel como nação
e o progresso desse povo diante de nações muito superiores em todos os
aspectos, mesmo assim prevalecendo e permanecendo ativo nessa fascinante
história.
Além da importantíssima questão histórica. O Antigo Testamento trata
de questões existenciais atemporais para o ser humano como o pecado, a
morte, o sofrimento, o arrependimento, o perdão, a ira humana, as
consequências desse pecado, entre tantas outras questões importantes para o
convívio do homem com Deus, consigo mesmo e com seus pares. Some-se a
essas questões, a maravilhosa descrição da relação entre Deus e o Homem
descrita ao longo do Antigo Testamento. Nela podemos perceber que Deus
cuida daquele que está fraco, cura aquele que está sofrendo, fortalece aquele
que está oprimido, julga o ímpio e realiza qualquer obra para demonstrar seu
amor pela humanidade.
Poderíamos encontrar outras razões para justificar uma disciplina que
tem como objetivo aprofundar o conhecimento dos elementos fundamentais
sobre uma parte considerável da Bíblia Cristã.

1.1 Desafios estudo da teologia do AT

Antes de iniciarmos o estudo propriamente dito desta disciplina, é


necessário entender e perceber quais são as dificuldades que podemos
encontrar ao longo dela, conforme veremos a seguir:
I. a primeira barreira visível é a histórica. Como um livro que tem como
elemento primordial a relação entre Deus e a nação de Israel, um
conhecimento prévio do contexto ao qual a narrativa se desenrola é necessário
para que erros de interpretação das Escrituras sejam evitados. Uma
compreensão razoável do pano de fundo histórico ajudará e muito na análise
do Antigo Testamento. Isso porque, entre outras razões, está o fato de que os
livros não apresentam uma ordem cronológica em sua escrita.
b) a segunda dificuldade para o estudo do Antigo Testamento é literária.
Existem diferentes tipos de escrita dos livros e, cada uma delas precisa ser
analisada a partir desse estilo literário. Para o público leigo, os textos narrativos
são mais simples de serem compreendidos, por exemplo, Genesis, Josué ou
Reis. Por outro lado, os livros poéticos e a literatura profética possuem uma
outra estrutura literária, como: alegorias e figuras de linguagem que precisam
ser compreendidas em seu contexto próprio.
c) o terceiro desafio para o estudante do Antigo Testamento, está nas
barreiras teológicas que a estrutura dos livros apresenta. Existem aparentes
paradoxos difíceis de serem esclarecidos de maneira satisfatória, por exemplo,
a relação entre o Amor e a Ira de Deus, de que maneira o Novo Testamento
está relacionado ao Antigo, qual a relevância desse texto tão antigo para a
sociedade pós-moderna entre tantas questões teológicas que são levantadas e
precisam de respostas.
d) a quarta barreira é a cultural. Um texto voltado para uma cultura
oriental antiga com mais de 4000 anos de existência não é simples de ser
compreendido. De maneira especial, por não estarmos (ocidentais do século
XXI), ambientados com essa cultura tão distante de nós. Compreender a
cultura hebraica com todas as suas peculiaridades é um desafio que começa
com a língua, muito distinta das línguas com raízes latinas, como o português,
além dos costumes e práticas que já não existem mais na atualidade, nem
mesmo para os israelenses.
e) quinta e última dificuldade para esta introdução do AT, é a acadêmica.
Não existe consenso entre os teólogos que defendem diferentes posições a
respeito dos elementos. Neste sentido, o estudante de Teologia do AT não
pode basear suas pesquisas apenas em determinado autor sob o risco de ter
uma visão limitada ou de determinado grupo de teólogos ou denominações
cristãs. Uma leitura ampla de diferentes autores se faz necessária para ampliar
a visão dos que efetuam esta análise.
Outros desafios poderiam ser elencados aqui neste espaço, porém o
objetivo é demonstrar as dificuldades que uma disciplina como esta apresenta
aos seus estudantes.
1.3 – Teologia do antigo testamento: definições

Com tantos desafios, é previsível que não exista apenas uma definição
para esta disciplina, pois elas variam de acordo com a linha teológica adotada
para esse trabalho.
Para Bruce K. Waltke em sua Teologia do Antigo Testamento: uma
abordagem exegética, canônica e temática seria:

O Antigo Testamento é mais que uma história religiosa da


nação de Israel. É mais que um álbum de retratos de
heróis da fé. É mais ainda que um ponto de partida
teológico e profético para o Novo Testamento. Muito mais
que tudo isso, o Antigo Testamento é a revelação
inspirada da própria natureza e do caráter de Deus, bem
como do significado da história

Crabtree define a Teologia do Antigo Testamento, como: o estudo dos


atributos de Deus e sua ação na história e na vida do povo de Israel, de acordo
com a doutrina da revelação divina dos livros sagrados deste povo.
Para Harrison (ano de publicação), a Teologia do AT esforça-se para
expor, do modo mais ordenado possível, as grandes declarações da verdade
divina que ocorrem nesses escritos.
Para Porta (ano de publicação?), a Teologia Bíblica do Antigo
Testamento tem a missão de descobrir uma mensagem comum para todos os
livros do Antigo Testamento, que aponte para o caminho apresentado no NT.
Esses são apenas três exemplos de que existem diferentes visões e
conceitos a respeito do papel da Teologia do AT. Uma visão ampla da questão
poderia referir-se a esse conceito como o estudo da Revelação Progressiva de
Deus ao longo do Antigo Testamento. O método de estudo estabelecido busca
pelas verdades contidas nos 39 livros a respeito de Deus e as organiza de
maneira didática. O fato mais fascinante nesse estudo, é que o papel do
homem não é descobrir ou desvendar Deus. O papel do teólogo é apenas
perceber o que Deus já revelou a Seu próprio respeito por meio das Escrituras
Sagradas. Esse caráter Divino está descrito desde Gênesis até o Livro de
Apocalipse.
1.3 Importância da teologia do Antigo Testamento

Por muito tempo na igreja cristã, o foco de estudos foi o Novo


Testamento. Toda a instrução para a fé cristã é oriunda dos Evangelhos que
apontam para o Messias prometido. Nesse sentido, a disciplina acadêmica da
Teologia do Antigo Testamento é relativamente recente, possuindo cerca de
200 anos de existência. A pesquisa dessa disciplina tem o objetivo de analisar
o que Deus revelou a respeito de si mesmo, por exemplo, Seu Caráter, Seus
atributos etc. A geografia estabelece o território onde será estabelecido como o
Reino de Israel como o palco principal para o desenrolar dessa história e o
relacionamento entre Deus e os hebreus como um povo particular, para por
meio deles estabelecer uma aliança com a humanidade por meio da Salvação
vindoura por meio de Cristo.
Outra importância muito grande para uma análise mais aprofundada do
conteúdo do Antigo Testamento está na presença de diversas alianças que
Deus estabeleceu com o homem por meio de indivíduos em diferentes
períodos dessa história, como, Adão, Noé, Abraão, Moisés, Davi, com a Nação
de Israel.
Uma terceira fonte de relevância para o estudo desta disciplina está na
base para as doutrinas bíblicas estarem presentes no Antigo Testamento.
Apenas nos é possível entender os conceitos de Salvação, Perdão,
Julgamento, Santidade, Arrependimento, entre tantos outros, a partir de sua
análise nos livros do AT.
Outra razão para estudarmos esta disciplina, está na conexão entre os
dois testamentos. Existe uma relação de interdependência entre eles e nenhum
dos dois deve ser negligenciado por aqueles que querem desenvolver uma
teologia equilibrada e sadia em seu ministério.
O AT explica, complementa e fundamenta o Novo Testamento sendo
fundamental sua análise e estudo. Poderíamos citar diversas outras razões
para justificar esse trabalho e esta jornada pelo conhecimento bíblico, mas
permaneceremos com estas.

1.4 O ponto de partida para a teologia do AT


Como será visto ao longo da disciplina, não existe consenso por parte
dos teólogos pesquisadores que adotam diferentes pontos de partida para suas
análises sobre esta teologia. Para alguns estudiosos, deve-se estudar Teologia
do AT a partir do próprio texto Bíblico, pois existem muitas referências internas
a outras passagens contidas no AT. O entendimento destas passagens e sua
pesquisa ajudam a entender de que maneira esta teologia ocorre internamente
ao texto sagrado. Um exemplo deste método de análise seria Michael
Fishbane.
Outro ponto de vista para analisar este conteúdo seria a maneira como o
Novo Testamento enxerga o AT. É um conteúdo bastante rico, ao
mensurarmos que o AT era a Bíblia disponível para os escritores do Novo.
Porém, como bem alerta Paul House, em sua Teologia do Antigo Testamento,
esta análise é bastante perigosa, na medida em que os escritores sabiam que
seus interlocutores também possuíam conhecimento das Escrituras presentes
em seu tempo. O caminho correto, segundo House, seria em primeiro lugar
estar ambientado com o AT para então analisar o Novo:

Começar por aqui é, no entanto, colocar o carro na frente dos bois.


Os autores do NT conheciam as Escrituras Hebraicas em
profundidade e esperavam que seus leitores estivessem igualmente
familiarizados com elas. Hoje em dia, a maioria dos leitores precisa
examinar a totalidade do AT e assimilar seu conteúdo teológico antes
de empreender o estudo do relacionamento entre os Testamentos.

Uma terceira linha de análise para a Teologia do Antigo Testamento,


seria avaliar seus escritos a partir do ponto de vista dos teólogos da Igreja,
desde os chamados pais da igreja, os teólogos medievais e enfim, os
reformadores. A partir dessa interpretação, seria possível compreender o
impacto do Antigo Testamento na formação da Igreja cristã e com ela muito da
sociedade europeia que deu origem ao Ocidente conhecido, com sua filosofia,
metodologias, enfim, sua estruturação a partir desse posicionamento com
relação ao AT. Uma dificuldade para essa abordagem está no fato de que para
esses teólogos, o centro de suas análises está relacionado, em grande medida,
com os Evangelhos e Epístolas neo testamentários, não encontrando material
que aponte intencionalmente para uma teologia do Antigo Testamento com
mais de dois séculos de existência. O que os teólogos que se aventuram por
esses
caminhos buscam, é entender a visão que esses proeminentes estudiosos
possuíam do Antigo Testamento, por meio de seus sermões ou de outros
materiais que indiretamente apontem para a visão de seu tempo a respeito
desse tema.
Um quarto ponto de início para a discussão de onde começar a Teologia
do Antigo Testamento e onde buscar subsídios para o trabalho, está na análise
de obras rabínicas que datam da conclusão do Canon do AT, a partir da
formação das Sinagogas após a Diáspora Judaica de 70 d.C. Esta visão seria
bastante pertinente, porém com limitações analíticas, em especial para a
separação das diferenças teológicas entre judeus e cristãos que deveriam ser
levados em conta e, esse é um desafio bastante presente e contemporâneo
dentro do cristianismo: a existência de um diálogo inter-religioso entre Cristãos
e Judeus, onde o equilíbrio deve ser a palavra de ordem entre as lideranças e
pensadores desses grupos que possuem sua convergência exatamente no
Antigo Testamento.
Na próxima aula, conheceremos um pouco da história dessa disciplina
em seus dois séculos de existência. Uma das características dos diversos
autores é sua grande diversidade de estilo, conteúdo, abrangência destas
propostas de criar uma Teologia do Antigo Testamento. Porém o mais
importante para você, caríssimos e caríssimas estudantes de nossa disciplina é
conhecer os pontos de conexão entre as diferentes obras sobre este assunto
tão fascinante.
Em primeiro lugar, todas as obras possuem a intencionalidade de
analisar a teologia do AT, partindo do próprio Antigo Testamento. Antes disso,
sua função era simplesmente explicar o Novo Testamento, tendo como base
sempre a explicação da doutrina cristã. Quando pensamos que quando da
escrita do AT, o Novo Testamento não existia, essa análise anacrônica
(quando avaliamos o passado pelos olhos do presente e não de seu próprio
tempo) pode ter sua importância religiosa, mas historicamente perde muito de
sua compreensão metodológica. Sempre que efetuamos uma análise do
passado, precisamos buscar entender seu contexto, para que então possamos
chegar o mais próximo possível das de como o texto foi recebido pelos seus
interlocutores originais.
Dentre as tentativas anteriores ao surgimento da Disciplina podemos
citar as Institutas de Calvino ou a Suma Teológica de Tomás de Aquino. Em
ambos os exemplos, porções do AT aparecem como base de apoio de um
sistema mais amplo, integrado à necessidade de explicar o cristianismo. Os
precursores da Teologia do AT, partem do princípio de que como não havia
nem cristianismo, ou NT quando os livros foram escritos, é necessário que se
deixe o Novo de lado para procurar por elementos que unifiquem e possam
auxiliar na explicação do AT pelo próprio AT, sem levar em consideração os
elementos do Cristianismo. Mesmo que diversos textos apontem para a vinda
do Messias, seus autores não tinham a visão do cumprimento dessas
profecias, por isso a mudança na maneira de estudar o AT ser tão recente no
âmbito da academia teológica.
Outro ponto importante para os teólogos do AT está na pesquisa
histórica apurada. Como pesquisam o contexto original em que os livros foram
escritos, atribuem uma grande importância à história, geografia bíblica e
arqueologia bíblica. Mesmo que não exista consenso quanto as diversas
descobertas e maneiras de abordar o assunto, é muito importante que esta
pesquisa aprofundada pelo contexto histórico bíblico esteja presente nos
estudos teológicos, pois a Bíblia foi escrita por pessoas reais, em um lugar real
para pessoas reais. O grande desafio que pastores e teólogos enfrentam é
como manter este texto relevante para a vida das pessoas nos dias de hoje,
sem desvirtuar seu sentido original.
O último ponto importante que os estudiosos deste tema apresentam em
sua maioria é a relação entre o AT e a igreja. Mesmo sendo tão diferentes em
sua estrutura, o Antigo testamento era a Bíblia utilizada pela igreja que
chamamos primitiva. Neste sentido, a grande maioria deles concorda que esta
teologia deve ser incorporada à vida do cristão de maneira integral, sendo um
grande desafio como fazer isso na contemporaneidade. Podemos perceber de
maneira prática esta análise por exemplo, na questão dos Sacrifícios rituais
realizados no Tabernáculo. Como inserimos a questão sacrificial no contexto
da igreja? Associando o sacrifício vicário de Cristo ao sacrifício definitivo aceito
por Deus, não sendo desta maneira, necessário manter o sistema de sacrifícios
na era da Igreja.
Para encerrar nossa introdução à disciplina, gostaria de citar a
discordância de boa parte dos teólogos do AT, como veremos na próxima aula
divergem em diferentes pontos quanto ao contexto histórico, o que a Igreja
deve aprender com o AT, entre diferentes pontos de vista que transformam a
Teologia do AT em um campo acadêmico muito rico, mas que deve manter
você estudante, bastante alerta com relação a sempre avaliar diferentes
autores para formar sua visão sobre este assunto. Queremos resumir os
grandes nomes da disciplina e suas vertentes teológicas para que possa servir
de subsídio para suas pesquisas futuras.
Esta é tônica deste trabalho: mostrar diferentes pontos de vista para que
você, estudante possa receber o máximo de informações e visões para mostrar
que a Teologia é dinâmica e controversa muitas vezes, da mesma forma que a
Igreja Cristã também o é. Mesmo com problemas, divisões e discussões, ela
continua caminhando rumo ao propósito para o qual foi destinada: fazer
discípulos de todas as nações até a volta de Cristo!

Síntese

Nesta aula abordamos alguns aspectos importantes da disciplina de


Teologia do Antigo Testamento, como os desafios e as barreiras que ela impõe
ao que se debruça sobre ela para a estudar, além de algumas definições
possíveis no meio acadêmico para Teologia do AT, sua importância para a
contemporaneidade. Analisamos juntos algumas opções para o ponto de
partida da disciplina, para verificar qual seria a abordagem da abordagem de
nossa disciplina, a qual construiremos juntos.
Na próxima aula faremos um estudo da historiografia da Teologia do AT,
ou seja, de que maneira a disciplina se desenvolveu ao longo de seus dois
séculos de existência. Preparados? Nos encontramos lá!
Aula 2 - Historiografia da Teologia do Antigo Testamento

Em nossa aula introdutória, você ficou sabendo que a Teologia do AT é


uma disciplina de certa forma jovem com cerca de 200 anos de existência. Na
aula de hoje, você vai conhecer, de que maneira ela se desenvolveu ao longo
destes dois séculos de caminhada estruturante. Esse tipo de análise recebe o
nome de Historiografia, que é a disciplina que analisa e estuda a História de
disciplinas, como: a História, Geografia e a Teologia enquanto ciência
desenvolvida por homens e mulheres ao longo do tempo. É muito interessante
perceber que todas elas mudam ao longo do tempo, de acordo com o contexto
em que seus pensadores viviam. Estudar a história da Teologia do AT então, é
estudar o contexto com o qual seus pensadores estavam preocupados
conforme a desenvolviam. Aprenderemos muito sobre este contexto, o que nos
auxiliará nas demais aulas de nosso estudo.
O primeiro elemento que o estudante deve estar atento é a diferença
que existe no meio acadêmico entre a Teologia do AT e do Novo Testamento
(NT). Enquanto a primeira data do século XVIII, a segunda é estudada desde o
século
II de nossa Era. Esse fato demonstra que o AT sempre esteve em segundo
plano em detrimento do Novo Testamento, conforme analisamos na aula
introdutória. Por muito tempo, a Igreja leu o Antigo Testamento apenas como
um apanhado de profecias que apontavam para a vinda de Jesus Cristo, o
Messias. Além disso, a cultura oriental e o ambiente semita em que o AT foi
gerado dificultava a compreensão por parte de cristãos ocidentais. O
cristianismo acabou se desenvolvendo em um ambiente ocidental, no entorno
do Mar Mediterrâneo o que foi gradativamente distanciando da cultura oriental
do Antigo Testamento.
Para dar início a esta história da Teologia do AT, é importante conhecer
o contexto desse século XVIII na Europa para então compreendermos as
diferentes correntes filosóficas que nortearam o desenvolvimento de nosso
objeto de estudo.
2.1 Século XVIII: contexto

Caríssima ou caríssimo estudante, você deve estar ciente de que no


século XVIII a filosofia predominante nos ambientes acadêmicos europeus era
o racionalismo e gradativamente, fé e ciência foram tomando rumos distintos,
devido a uma filosofia cada vez mais laica envolvendo os governos e esferas
de poder agora “Iluminados” pela filosofia iluminista que relegou tudo o que
veio antes dela como “Trevas” que deveriam ser combatidos e deixados de
lado.
Por muito tempo todo o saber medieval foi encarado pela comunidade
acadêmica e até mesmo teológica como uma Idade das Trevas, devido a essa
espécie de propaganda iluminista.
Não é nosso objetivo analisar o Iluminismo, apenas citar que seus mais
proeminentes pensadores tinham como base, a crítica religiosa como um
período de cegueira intelectual e, que era seu dever, portanto, libertar-se
dessas amarras que dominaram os mil anos em que a Igreja Cristã Medieval
havia dominado não apenas o campo espiritual, mas, também influenciando a
política, as artes e a sociedade de maneira geral. Podemos citar entre eles
John Locke para quem o homem desenvolvia seu conhecimento por meios das
experiências empíricas, ou seja, o homem aprende e se desenvolve ao longo
do tempo, conforme passa por diferentes experiências. Isso ocorre
individualmente e também coletivamente enquanto grupo social. Voltaire
acreditava que o homem deveria ter liberdade de pensamento, sendo nesse
sentido um grande crítico ao pensamento da Igreja. Podemos citar ainda
Montesquieu, Rousseau e Diderot como expoentes do Iluminismo europeu, em
especial o francês.
É possível imaginar, que a Teologia não permaneceu imune à influência
desses pensadores e, o que era tido como dogma e doutrina por séculos,
passou a ser questionado por teólogos influenciados pelo racionalismo
intelectual que esteve presente na base da estruturação da Teologia do Antigo
Testamento. Por essa razão há duas grandes correntes de teólogos que
elaboraram seus estudos de acordo com a linha de pesquisa que mais se
aproximavam de seus interesses acadêmicos. De um lado, surgiram aqueles
que basearam seus estudos no pensamento moderno, introduzindo conceitos
racionalistas no estudo da teologia. Esses são conhecidos como Liberais e
conheceremos um pouco melhor seus pensadores. Por outro lado, um grupo
de pensadores contrários à onda liberal que varreu parte da Europa, se
levantou para elaborar estudos que mantinham Deus como o centro da
Teologia. Esses são conhecidos como os conservadores. Esse embate entre
os dois grandes grupos ainda está longe de terminar.
O que devemos aprender desse contexto, é que os teólogos não estão
imunes àquilo que os historiadores alemães costumam chamar de Zeitgeist (“o
espírito do tempo ou da época”). Nesse sentido, o que lemos de seus estudos é
um retrato da maneira como a sociedade em que ele viveu estava discutindo
sobre Deus e sobre a Teologia em si. Essa é uma informação importante que
pode nos ajudar a entender muitos elementos do período em que a Teologia do
AT foi escrita.

2.2 Os Liberais

Geralmente existem alguns marcos que os historiadores utilizam para


delimitar, de alguma maneira, no espaço e no tempo, grandes eventos
históricos. Geralmente, considera-se como primeira tentativa de distinguir a
teologia dogmática, da teologia bíblica, a palestra ministrada pelo professor
Johann Philipp Gabler na universidade de Altdorf, Alemanha. Até então ambas
eram vistas como uma única disciplina. Nesse sentido, a palestra de Gabler
seria o início da disciplina de Teologia Bíblica do Antigo Testamento de que
temos notícia. A partir dele, vários outros teóricos desenvolveram seus estudos
partindo dessa premissa: existe uma teologia bíblica preocupada em analisar o
conteúdo, contexto, público e autor originais para os quais o livro foi escrito e
uma teologia dogmática que procura manter, adaptar e reorganizar esse
propósito original do livro bíblico para o contexto contemporâneo da Igreja. O
problema de Glaber em sua palestra é o mesmo problema de toda a escola
liberal: é a sua ênfase no racionalismo que o levou a não tratar de tudo aquilo
que foge aos sentidos e à explicação humana, o que é uma porção
considerável das Escrituras.
Essa palestra foi sem sombra de dúvidas um grande marco no início da
disciplina, pois separou a análise do contexto original do AT de sua aplicação
prática ao presente. Logo após a repercussão dos estudos de Glaber, temos o
que pode ser considerada uma das primeiras obras de Teologia do AT, escrito
por Bauer, no ano de 1796 intitulada Theologie des Alten Testaments. Ele em
seu livro, pautado pelo racionalismo, rejeitou toda e qualquer experiência de
cunho sobrenatural nas Escrituras, atribuindo a elas uma explicação racional.
Essa abordagem reduziu significativamente as porções do AT que, segundo
Bauer poderiam ser utilizadas como finalidade de evidenciar fatos
historicamente precisos na Bíblia. A obra aponta para uma oposição entre fé e
intelecto.
A partir da obra inicial, diversos outros teólogos da escola liberal ou
racionalista continuaram a desenvolver as teses apresentadas pelos primeiros
expoentes da disciplina. Wilhelm de Wette, por exemplo, apoiava a opinião
racionalista com relação ao sobrenatural, milagres e acontecimentos
inexplicáveis segundo a mera razão humana contidas no AT, como seus
antecessores, porém não os rejeitava ou excluía de sua análise. Para ele,
todos esses acontecimentos, são considerados “míticos” pois se aplicam à
maneira como aquele que escrevia o texto original conseguia expressar suas
experiências com Deus. Para de Wette, tudo aquilo que o Antigo Testamento
possui que não pode ser explicado segundo a razão humana, faz parte da
maneira como o escritor explicava sua percepção sobre Deus. Não
correspondem à realidade existencial, porém faz parte do imaginário de sua
época.
Perceba os caminhos que a teologia do século XVIII estava tomando: a
partir dos racionalistas, a estrutura da Bíblia como verdade para pautar o
cristianismo, estava sendo desfeita por um relativismo bastante presente neste
período. Uma vez que o sobrenatural bíblico não corresponde necessariamente
à realidade, mas uma adaptação da realidade do escritor, colocava-se em
cheque toda a estrutura que manteve a Bíblia Coesa por todos esses séculos.
Gradativamente outros racionalistas reverberaram esse discurso
radicalizando o mesmo. Wilhelm Vatke, por exemplo, influenciado pelo filósofo
Hegel, escreveu em 1835 a obra: “Teologia bíblica, cientificamente
demonstrada, a religião do Antigo Testamento”. Algum tempo depois Julius
Wellhausen chegou à conclusão de que na medida em que Deus não poderia
ser conhecido cientificamente ou comprovada. Sua existência também não
poderia ser comprovada a partir de parâmetros estritamente racionais e
práticos, então a Teologia não poderia ser desenvolvida a partir desses
pressupostos filosóficos. Assim, ele propõe o fim da Teologia Bíblica para que
dê lugar à História da Religião de Israel conforme Werner Smith em sua obra A
fé do Antigo Testamento. (SMITH, 2004, p.31). Os relatos sobrenaturais fariam
parte de uma mitologia hebraica e, portanto, deveriam ser entendidos a partir
de relatos míticos como a mitologia grega ou egípcia por exemplo.
Após o que expus, você deve estar se perguntando se essa vertente
teórica da teologia do século XVIII foi recebida sem que houvesse alguma
crítica ou expressão contrária à linha Liberal. Para sanar essa dúvida, o século
seguinte foi o século dos conservadores e vamos analisar esses pensadores e
suas obras a partir de agora!

2.3 Os conservadores

Hegel não foi o único filósofo que influenciou as Ciências Humanas,


como, a Teologia. Podemos citar também Soren Kierkegaard, que rejeitava o
pensamento hegeliano. Para ele, não é possível analisar Deus partindo de
apenas uma visão humana estritamente racional. Nesse sentido, o que se
conhece a respeito de Deus é aquilo que Ele permitiu que fosse conhecido,
pois o homem não pode conhecê-Lo por si mesmo. Assim, a Bíblia seria o
relato histórico fidedigno dessa revelação progressiva de Deus para a
humanidade.
Demorou cerca de cinco décadas desde a palestra de Glaber para que
as primeiras reações conservadoras fossem escritas e discutidas. A demora
em adotar uma postura abertamente contrária ao liberalismo teológico possui
duas razões principais. Primeiro, porque o ato de elaborar uma Teologia do
Antigo Testamento nos moldes estabelecidos necessitava efetivar uma
distinção entre a Teologia Sistemática e a Teologia Bíblica, que os
conservadores não estavam dispostos a realizar. Segundo, dividir as análises
na elaboração de uma Teologia do Antigo Testamento e do Novo Testamento
poderia sugerir uma fragmentação na coesão e unidade da Bíblia cristã como
um todo.
O primeiro teólogo de vertente conservadora a redigir uma Teologia do
AT foi Ernst Wihelm Hengstenberg. Sua obra, Cristologia do Antigo Testamento
e comentários sobre as profecias messiânicas. Essa obra ajudou muito a
estabelecer parâmetros com relação ao Antigo Testamento como uma obra
coesa literária, teológica e histórica.
Um dos alunos de Hengstenberg, Havernick continuou os estudos de
seu mestre, aproximando novamente a Bíblia da História, determinando que é
impossível desvincular um do outro. A História é fundamental para entender o
pano de fundo no qual o texto bíblico foi escrito e desenvolvido. Existe um
desenrolar da progressiva revelação divina por meio da história. Cabe ao
teólogo, portanto, entender a história para identificar essa revelação. Sua maior
contribuição é sem dúvidas, atrelar o contexto histórico à escrita do texto
bíblico para que possa ser melhor compreendido pelo estudante desta
fascinante disciplina.
Outro reacionário aos liberais foi J. Christian K. von Hoffmann. Ele
procurou uma relação entre o AT e o Novo Testamento e encontrou essa ponte
entre ambos através de um binômio profecia e cumprimento. Dessa forma, ele
relacionava e apontava para a conexão entre os dois Testamentos e justificava
a escrita de uma Teologia do AT como expectativa de explicar o cumprimento
do plano de Salvação divino a humanidade.
O teólogo conservador Gustav Oehler foi um dos maiores nomes da
teologia do AT em sua linha de pesquisa. Para Oehler a Teologia do AT:

Como ciência histórica, ela se baseia nos resultados da exegese


gramatico-histórica, cujo propósito é reproduzir o conteúdo dos livros
bíblicos de acordo com as regras da língua, com a devida atenção
para as circunstâncias históricas em que os livros se originaram e as
circunstâncias históricas dos autores sagrados. (HOUSE, 2005, p.
27).

Ele defendia que história e teologia estão em constante alinhamento, por


essa razão, demanda do teólogo uma apreciação da História na qual os livros
bíblicos foram escritos. Quando analisamos esse ambiente de intensos
debates, críticas e antagonismo intelectual, podemos extrair que a demora
digamos
assim, da reação conservadora, se deu na medida em que faltava encontrar
um propósito para o estudo em separado de ambos os testamentos.
O debate intelectual entre teólogos liberais e conservadores mostrou a
necessidade da busca por elementos que trouxessem pontos de convergência
entre ambos os grupos. Essa necessidade apontou para a Teologia do AT que
seria produzida no século XX.

2.4 Aproximação

O século XX trouxe consigo um ambiente muito mais favorável para o


desenvolvimento da Teologia do AT e a razão pode parecer um tanto quanto
inesperada para isso. O advento da Primeira Guerra Mundial mostrou os
grandes problemas morais da humanidade como um todo. Centenas de
milhares de soldados foram mortos em uma carnificina sem precedentes na
história da Humanidade por meio da criação de novas armas de destruição em
massa. Nesse sentido, muitos perceberam que não adiantava estudar as
Escrituras sagradas apenas pelo viés histórico, mas que havia uma urgência
latente nas diferentes sociedades cristianizadas de que era necessário
descobrir um sentido contemporâneo a esses textos tão antigos. Outras
consequências para uma avalanche de estudos sobre Teologia do AT nesse
período são: uma descrença gradativa nas ideias evolucionistas, devido em
grande parte às consequências da guerra diante da humanidade.
Entre os nomes que o momento histórico levantou, é possível citar a
figura de Karl Barth que voltou seus olhos para a Bíblia e sua relação com a
Igreja. Para formar sua base teórica, Barth não procurou pelos pensadores
próximos a ele como seus antecessores haviam feito. Ele buscou sua
inspiração nos reformadores, Lutero, Calvino entre outros. A grande
contribuição de Barth foi na aproximação entre Teologia e História uma vez
mais. Podemos citar nomes como Eduard Konig e Otto Eissfeldt por exemplo,
que fazem parte dessa escola originada por Barth, que procura entender a
Teologia a partir do prisma Histórico.
Eles abriram caminho para um dos maiores nomes da Teologia do AT no
século XX, Gerhard von Rad que propôs uma aproximação entre História e
Teologia. Os artigos que vieram após a escrita de sua Teologia do AT
publicada
em dois volumes entre 1957 e 1960 mostra sua importância e a aceitação de
parte da comunidade acadêmica de que história e teologia não devem ser
dissociadas em sua abordagem.
Mas, nem tudo foi homogêneo no século XX, em especial na segunda
metade desse século. Brevard Childs, por exemplo, decretou a “morte” do
movimento da Teologia do AT, por entender que não haveria mais nada a se
descobrir e que a disciplina estava concluída. Smart por outro lado, entendeu
que o problema era de ordem hermenêutica e que seus teólogos deveriam
entender a Bíblia a partir de uma natureza dupla: histórica e teológica sem que
fosse possível abordar de maneira separada cada uma delas.
O próprio Childs propõe uma mudança em seu pensamento e
abordagem teórica. Para ele, a Teologia do AT deve ser estudada a partir de
seus próprios pressupostos, deixando de lado o Novo Testamento até que se
tenha um resultado das pesquisas. A partir desses resultados, o NT será
avaliado e analisado para que exista uma abordagem que seja o mais próximo
da realidade proposta. Nessa avaliação, o AT deveria ser estudado partindo de
sua divisão original, a hebraica e não pela divisão bíblica cristã tradicional.
Essa era uma maneira de se evitar “cristianizar” o AT, da preservação das
características próprias de seu contexto.
Toda essa explanação teve como objetivo mostrar a você caríssima ou
caríssimo estudante de nossa graduação em Teologia, que depois de 200 anos
de história, a Teologia do AT ainda não está definida e que sua jornada ainda
está em construção intelectual. Se um dia existirá um consenso entre as
diferentes escolas que se debruçaram sobre o problema, não é possível saber
no atual nível dos estudos. É possível perceber, porém, que este período
trouxe uma maturidade acadêmica para o debate que reforça a necessidade de
continuar com as pesquisas nesta área tão fascinante da Teologia.
Nesta aula você conheceu as diferentes escolas filosóficas que
procuraram escrever uma Teologia do Antigo Testamento. Aprendeu que a
escola racionalista, também conhecida como Liberal foi quem iniciou a
discussão acadêmica sobre o tema, seguido, com cinco décadas de atraso,
pelas reações da escola conservadora. O século XX trouxe consigo a
perplexidade com em revelar a barbárie humana através de duas Guerras
Mundiais que mataram milhões de pessoas em todo o mundo e com ela, uma
tentativa de aproximação
entre as duas linhas tão distintas e a Teologia do AT floresceu com uma maior
maturidade acadêmica ao apresentar teólogos que procuraram novas
respostas para os problemas de interpretação das escrituras. A discussão
ainda não está encerrada pois a segunda metade do século XX apresentou
diferentes pontos de vista que permanecem até o momento, delimitando a
necessidade da continuidade dos estudos sobre a Teologia do Antigo
Testamento.
Aula 3 - Metodologia de estudo para a teologia do AT

A Disciplina de Teologia do Antigo Testamento, é por demais fascinante e


demanda a adoção, por parte do teólogo que se propõe analisa-la, de uma
metodologia. Você pode imaginar que tantas abordagens teológicas distintas,
como visto na última aula, geraram diferentes maneiras de se examinar esta
disciplina. Esta será nossa missão nesta terceira aula: analisar os diferentes
métodos de estudo da disciplina. Essa abordagem é importante, na medida em
que mostra diferentes maneiras de se organizar a Teologia do AT e, apontará
para a escolha do método que será utilizado nas próximas aulas da disciplina.
Já vimos muitas diferenças de abordagem teológica entre os diferentes
teólogos estudados. Antes de estudarmos os métodos, uma rápida abordagem
dos pontos de aproximação se faz necessário para um melhor aproveitamento
da aula.
Dentro de tudo o que já foi visto nesta disciplina podemos elencar alguns
princípios básicos que caracterizam a Teologia do AT.

3.2 Características da teologia do AT

Em primeiro lugar, ela deve ter uma base histórica. Nesse sentido, a
análise histórica é fundamental para a existência de uma Teologia do AT
saudável e sustentável teoricamente.
Em segundo lugar, ela deve explicar o que o próprio AT aponta, não o
que os sistemas históricos ou teológicos já estabelecidos dizem a respeito dos
livros do AT. Assim, o que realmente importa são as informações contidas nos
próprios livros, não as construções posteriores que complementam ou explicam
o Antigo Testamento, como o Novo Testamento, a caminhada da Igreja Cristã
ou correntes filosóficas contemporâneas. Todas essas ferramentas, embora
úteis
não ajudam a entender o AT a partir de seu contexto original, que é um dos
objetivos elementares desta disciplina. O Novo Testamento é muito importante
para o entendimento do Novo, porém metodologicamente, deve ser deixado de
lado para que o Antigo fale por si mesmo. Uma vez concluída essa análise, faz
parte da teologia cristã associar os dois testamentos para atribuir-lhe propósito
de coesão e senso de propósito.
Em terceiro lugar, quando a Teologia do AT é escrita e faz parte da
Teologia de cunho cristão, de alguma forma, ela terá que se relacionar com o
Novo Testamento. Esse cuidado deve ser tomado quando você estudante ler
ou estudar algum livro de Teologia do AT. É importante saber quem é o autor e
qual linha teológica ele segue em sua abordagem.
Em quarto lugar, quando os dois testamentos são unidos para a
formação da Teologia Bíblica, é possível dividir o AT em categorias e assuntos
específicos para auxiliar sua explanação mais didática. Algumas obras sobre o
AT dividem a obra em assuntos, ao invés de trabalharem a análise em
separado livro por livro. São duas maneiras de se abordar o tema que devem
ser escolhidos de acordo com a profundidade e amplitude da obra.
Em quinto lugar, a teologia do AT revela a vontade divina sobre a
natureza e, portanto, estabelece normas sobre determinados comportamentos.
Nesse sentido, muito além de estabelecer simples dados informativos a
respeito de Deus, ela estabelece normativas que devem ser seguidas por
aqueles que se consideram cristãos. Note a importância da disciplina para além
do simples recolhimento de dados e curiosidades sobre os tempos bíblicos.

3.3 Métodos para estudo da teologia do AT

No tocante à elaboração de uma metodologia para examinar a teologia


do Antigo Testamento, Gerhard Hasel estabeleceu uma famosa lista que
apresenta onze metodologias distintas para a disciplina. Essa lista aparece na
obra já citada de Paul House, Teologia do Antigo Testamento, páginas 68 e 69.
São elas:
a. O método dogmático-didático, que organiza a teologia do AT de acordo com
o esquema da teologia sistemática: Deus, o homem, o pecado, o mundo e a
escatologia. Tem como deficiência, a possibilidade de uma imposição
sistemática sobre os dados do AT acarretar o risco de alterar o significado
dos textos originais mediante a alteração de seu contexto.

b. O método genérico-progressivo, que identifica e acompanha o crescimento


da fé de Israel na História. A Lei apresenta exigências que Deus colocou
diante de Israel como consequência de sua eleição e condição da aliança.
Os Profetas ressaltam a promessa, tanto de esperança quanto de dor. Pelo
fato dos Profetas olharem para frente e para trás da história humana e de
Israel, esses livros servem como uma ponte entre os Escritos e o Novo
Testamento.

c. O método de corte transversal, que emprega um tema único, para explicar


conteúdo do AT. Entre diversos temas possíveis de serem encontrados ao
longo de todo o Antigo Testamento, Eichrodt encontrou o tema da Aliança
entre Deus e a humanidade, ao passo que Kaiser tenha encontrado o tema
Promessa em sua análise. O problema desse método é que não engloba
todos os dados do Antigo Testamento. Os livros sapienciais (livros poéticos)
não trabalham como o tema da Aliança, por exemplo.

d. O método tópico, que se concentra nas ideias principais, sem se importar


com sua origem histórica ou sua capacidade de unificar o AT;

e. O método diacrônico, que mapeia o uso de tradições básicas no AT,


dependendo do método histórico-traditivo de interpretação proposto por
Gerard von Rad. Esse método procura pelas diferentes tradições culturais
recitadas nas Escrituras e reconstitui o crescimento da fé de Israel ao longo
do tempo. Von Rad alegou que o Hexateuco (uma abordagem que insere o
livro de Josué ao Pentateuco) apresenta os elementos básicos dessa
tradição de Israel: o chamado dos patriarcas, o êxodo e a promessa da
posse da terra. Como essa metodologia relata a história da salvação de
Israel, os livros sapienciais não são considerados nela.

f. O método de “formação da tradição”, que vai além dos argumentos de Von


Rad e afirma que uma série de tradições unifica os dois Testamentos. Essa
metodologia leva o NT em consideração para encontrar um eixo temático
comum para ambos os grupos textuais. Esse método tende a ser subjetivo,
pois o AT não indica quando ou como essas tradições são reinterpretadas.
Utilizar esse método apresenta o perigo de se tentar gerar conclusões a
partir dos conhecimentos históricos existentes. A partir da existência de um
Novo Testamento em nosso presente existe a tentação de tentar observar o
AT a partir do Novo Testamento, gerando anacronismos ou tentativas de
encaixar uma cosmovisão cristã para interpretar o AT.
g. O método temático-dialético, que organiza o estudo em torno de ideias
“opostas”, como presença / ausência, livramento / benção e legitimação da
estrutura / inclusão da dor. Essa teoria está baseada em pressupostos
sociológicos e de ciências políticas.

h. Métodos “críticos” recentes, que segundo, Hasel, são a categoria dos


estudiosos questionadores até mesmo da possibilidade da teologia do AT.

i. O método da nova teologia bíblica ou teologia canônica, que procura


relacionar os Testamentos entre si; o principal proponente desse método é
Childs, que aborda canonicamente a teologia bíblica. Para ele, é possível
realizar uma Teologia do AT e do NT em separado para então juntá-las. Ele
insiste que apenas a forma final do texto bíblico no cânon que temos agora
é a Escritura autorizada. Paul House, um dos autores que compõe a
bibliografia de sua disciplina, apresenta essa metodologia em sua obra
traduzida para o português: Teologia do Antigo Testamento.

j. Método Lexicográfico ou “palavra-chave”: Esse método estuda algumas


palavras chave do Antigo Testamento observando a etimologia das
palavras, sua utilização na cultura e sua semântica no hebraico. O problema
é que não proporciona um alinhamento direto ou necessário entre os
padrões do vocabulário bíblico e a estrutura da teologia Bíblica.

k. O método multíplice de teologia canônica do AT, proposta do próprio Hasel


para a disciplina (consistindo em quatro pontos principais: o estudo das
Escrituras canônicas em vez da abordagem no estilo de história das
religiões, o resumo dos conceitos e temas do cânon, a utilização de mais de
um esquema metodológico e a análise de blocos de material sem seguir
ordem específica do cânon hebraico.

Esta lista, segundo House, demonstra tanto possibilidades, quanto


desafios para a estruturação da Teologia do AT. Muitos teólogos adotaram
apenas um método de análise, quando os estudos mais recentes adotam
múltiplos métodos para elaborar sua estrutura. Dentro de tantas opções
possíveis e já experimentadas, podemos definir alguns parâmetros para auxiliar
nossa análise. Em primeiro lugar, a teologia do AT que deve buscar se
aproximar do cânon hebraico, pois essa era a Bíblia que os escritores do Novo
Testamento conheciam. Quando o NT cita o AT é a esse conjunto de livros a
que eles se referem, com essa distribuição e divisão interna: Lei, Profetas,
Escritos.
Em segundo lugar, ao seguir essa ordem canônica, atribui a relevância
do contexto histórico do AT. Nesse sentido a estrutura conservadora em termos
de autoria dos livros será a utilizada na análise dos livros nas próximas aulas.
Em terceiro lugar, alguns estudos procuram como resultado de suas
pesquisas, encontrar um eixo principal que norteie todas as Escrituras do AT,
como uma espécie de tema único para toda a Bíblia. Esse tema é evidenciado
como a existência e a necessidade da adoração ao único Deus, como Smith
por exemplo. Outra análise possível é perceber ao longo do AT a necessidade
da vinda de um Mediador entre o homem e Deus. Note que esse segundo tema
central, digamos assim, já leva em conta o NT, enquanto o primeiro sobre a
adoração a Deus, está levando em consideração apenas a revelação contida
no AT.
Com essas considerações fechamos o arco de elementos teóricos do
estudo da Teologia do AT. A partir da próxima aula efetivamente trataremos de
uma breve análise do conteúdo teológico dos livros do AT que possam auxiliar
nessa jornada.
A estrutura adotada será a da Bíblia Hebraica que possui uma divisão
distinta das bíblias modernas. Enquanto essas apresentam a conhecida
divisão: Pentateuco, Livros Históricos, Livros Poéticos e Livros Proféticos, a
Bíblia Hebraica apresenta a seguinte divisão: Lei, Profetas, Escritos. Antes de
iniciarmos a análise livro a livro, é importante comentarmos alguns pontos a
respeito dessa estrutura literária que difere bastante daquela a qual estamos
acostumados.

3.4 Estrutura da Bíblia Hebraica

JJ preciso distinguir a estrutura da bíblia hebraica que será a base para


a análise dos livros que iniciaremos na próxima aula para que você entenda, as
diferenças entre a sua Bíblia e as Escrituras hebraicas.
Nessa estrutura os livros estão distribuídos em três divisões principais:
Lei, Profetas e Escritos. Essa divisão que compõe o cânon hebraico foi
finalizada no Concílio rabínico farisaico de Jâmnia que ocorreu em 95 d.C.,
aproximadamente.
A Lei corresponde ao nosso Pentateuco: Genesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio.
Os Profetas apresentam duas subdivisões: Profetas Anteriores: Josué,
Juízes, Samuel e Reis. A segunda divisão dos Profetas são os Posteriores que
englobam Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Profetas Menores.
Os Escritos também são divididos em duas subcategorias: Sapienciais e
Históricos. Os Sapienciais equivalem aos livros Poéticos e correspondem aos
livros de Salmos, Provérbios, Jó, Ester, Cantares de Salomão, Rute,
Lamentações e Eclesiastes. Os Históricos correspondem aos livros de Daniel,
Esdras, Neemias e Crônicas.
Na Bíblia Hebraica não existem as subdivisões entre 1 e 2 Samuel, 1 e 2
Reis e 1 e 2 Crônicas.
Vamos abordar mais a fundo essa estrutura quando estudarmos
individualmente cada um desses grupos, por hora é importante que você saiba
a diferença entre os Profetas Anteriores e Posteriores. O primeiro grupo é
chamado assim por serem considerados profetas não escritores, anteriores à
escrita do texto. Eles não receberam a orientação divina de escrever suas
mensagens proféticas, o que aconteceu com o grupo dos Profetas Posteriores,
que são conhecidos como profetas literais, escritores ou profetas clássicos.
Essa divisão pode causar certa estranheza naqueles que estão
acostumados a entender a história de Israel dissociada do discurso profético. A
divisão hebraica aponta para essa aproximação entre História e Profetismo em
Israel para o povo judeu. Ambas as narrativas serviam para o entendimento da
revelação progressiva do Deus monoteísta que esse povo particular servia e
adorava.
Você conseguiu perceber como adotar a estrutura hebraica pode nos
ajudar a nos aproximarmos mais das intenções e pensamento, de como o povo
manipulava os livros e como os entendia? É por essa razão que adotaremos
essa divisão nas próximas aulas. Começaremos com os livros da Lei,
falaremos dos profetas anteriores e dos posteriores, dos livros sapienciais e
dos livros históricos, encerrando esse ciclo da Teologia do AT, porém, esta é
uma discussão inicial, mas espero que você seja instigado a continuar sua
jornada pelo universo da Teologia do AT quando concluirmos esta disciplina.
Nesta aula aprendemos a respeito de algumas características da
Teologia do AT, bem como da explanação de onze métodos possíveis para a
elaboração da disciplina. Nesta análise frisamos os pontos altos e baixos de
qualquer um destes métodos e a necessidade de alinhar mais de um método
para que a pesquisa seja mais profícua. Verificamos juntos que será utilizada a
estrutura da bíblia hebraica para a divisão e análise dos livros do AT.
Explicamos esta estrutura e porque na Bíblia Hebraica existe a Lei, os Profetas
e os Escritos.
Aula 4 - Os livros da Lei

Nas aulas anteriores, estudamos juntos todo o embasamento teórico que


permeia o estudo e a análise da Teologia do Antigo Testamento e, percebemos
que ela é uma parte da Teologia Bíblica que se completa ao somar-se à
Teologia do Novo Testamento. A partir desta aula, vamos exemplificar a
análise de uma Teologia do AT possível. Vamos elencar, de maneira breve os
livros do Antigo Testamento a partir da canonicidade hebraica para sua divisão,
com algumas subdivisões didáticas para nos auxiliar nessa tarefa. A divisão
como já abordamos anteriormente é Lei, Profetas e Escritos, começaremos
com o grupo de livros que formam a Lei ou a Toráh de Israel.

4.2 Genesis

Genesis é o primeiro livro tanto do Pentateuco como da Toráh hebraica.


Como livro que introduz toda a teologia do AT, é ele quem vai apresentar Deus,
Israel e sua importância para e de maneira especial, o estabelecimento de uma
aliança entre Deus e o homem por meio de diversas promessas apresentadas
a Adão, Noé e Abraão.
Diferente de outros relatos criadores de outros povos que adotavam o
politeísmo como prática religiosa, como os sumérios, assírios e babilônios, para
citar povos com influência direta ao ambiente de Israel, Genesis descreve um
Deus único, o Criador de todas as coisas, que não depende da humanidade ou
de qualquer outro auxílio para atuar e realizar Sua vontade. Veremos que,
embora o ápice de todo o AT seja o Êxodo do povo de Israel do Egito por meio
do maior líder que o povo de Israel teve, Moisés, Genesis aponta para as
bases para os problemas que causaram a separação entre Deus e o homem,
por meio do pecado da humanidade e de que maneira Israel seria fundamental
para a resolução desse conflito. Além de todas essas informações
fundamentais, a descrição de um Deus amoroso e sereno que criou todas as
coisas e governa sem a necessidade de auxiliares, é uma inovação teológica
em meio a tantos
relatos politeístas que aproximam os deuses dos sentimentos humanos como
raiva, luxúria, vingança, entre outros. Nesse sentido, Genesis é um texto
bastante complexo e exclusivo, pois difere de outros textos semelhantes,
inclusive do famoso épico de Gilgamesh.
Teologicamente é possível dividir esse livro em algumas categorias para
facilitar o estudo didático.

Genesis 1 e 2 nos apresentam a ideia central das escrituras de que o


Deus descrito é o único Criador de todas as coisas e esta ideia é o principal
elemento de distinção entre os hebreus dos demais povos circunvizinhos.
Genesis 3 a 6:4 apresenta o Deus que julga e protege seu povo. A
inserção do pecado na narrativa aponta para a necessidade de punição ao
pecador, mas como Deus protetor, Ele protege os homens de si mesmos e de
outras pessoas.
Genesis 6:5 a 11:19 mostra Deus como o Senhor, aquele que castiga e
renova. Nesse trecho o pecado da humanidade é apresentado, porém o
Senhor recomeça a humanidade a partir de sua semelhança.
Genesis 11:20 a 25:18, um personagem fundamental na estrutura
teológica do livro é introduzido: Abraão. Essa porção apresenta o Deus que
chama e promete. As promessas concedidas a Abraão serão relembradas ao
longo de todo o AT, pois relaciona a promessa com a posse da terra prometida.
A partir dele haveria uma grande nação com uma porção de terra para que dali
fossem um instrumento de Deus diante das demais nações ao redor.
Genesis 25:19 a 28:9, mostra que as promessas de Deus são
atemporais, elas não dependem da existência de Abraão, mas serão mantidas
por meio de sua descendência. A importância de uma dinastia e da sucessão
familiar na narrativa bíblica se faz presente nesses versículos.
Genesis 28:10 a 36:43 revela a história de Jacó apontando para a
eleição de Deus por determinadas pessoas, Jacó foi escolhido por Deus em
detrimento de Esaú e, assim o protegeu durante toda sua jornada na terra.
Genesis 37 a 50, o livro termina com a história dos filhos de Jacó que
deram início às doze tribos de Israel e que nenhuma adversidade pode frustrar
os planos de Deus para cumprir Suas promessas, nem a fome, nem inimigos
puderam, nem poderão acabar com a descendência de Abraão.
Por narrar a Criação de todas as coisas, esse livro é o que apresenta o
maior número de controvérsias, críticas e discussões teológicas que envolvem
adeptos do criacionismo, do evolucionismo e diferentes correntes intelectuais
que ainda hoje discutem a veracidade de seu relato.
Como um resumo, Genesis revela quem Deus é e suas características.
Ele não possui rivais, não teve um começo e apenas Ele criou, cria e julga e
protege Seu povo. A humanidade também é retratada nesse livro, embora
feitas
É imagem de Deus, mas o pecado mostra que essa posição privilegiada no
contexto de toda a Criação Divina não é suficiente. O pecado tira a inocência
da humanidade, introduzindo o orgulho, a cobiça, a inveja, a violência e a
imoralidade. A esperança está em determinados personagens que diferem da
realidade ao seu redor e que por meio da fé nas promessas divinas, podem
vislumbrar um futuro melhor. A humanidade encontra seu ápice quando está
vivendo de acordo com as promessas de Deus. Como as promessas ainda não
se cumpriram, o livro de Genesis abre as possibilidades para os livros
seguintes que continuarão a narrativa desse Deus que é a única esperança da
humanidade, abençoando em primeiro lugar a linhagem de Abraão, para que a
partir dela, toda a humanidade fosse abençoada.

4.3 Êxodo

Esse livro continua a narrativa iniciada em Gênesis, além de introduzir


uma série de outros elementos fundamentais para a Teologia do AT. Deus
permanece como o Senhor criador, mantendo sua promessa a Abraão agora a
partir da proteção e libertação de um povo inteiro, descendência e fruto dessa
promessa. Todas as premissas analisadas no livro anterior são válidas aqui.
Portanto é importante verificar quais os novos elementos que a narrativa de
Êxodo vai trazer para o estudante da Lei.
Os personagens anteriores, Abraão, Isaque e Jacó ainda são citados ao
longo do texto para que o povo do presente seja lembrado dos grandes feitos
do passado. Além dessa lembrança, o grande líder de Israel, Moisés surgiu
nesse livro para mostrar que o Deus de Israel é o grande libertador e aquele
que cuida de seu povo.
Existem acaloradas discussões teológicas a este respeito nos dias de
hoje como por exemplo quem é o povo verdadeiro de Deus, a quem pertence a
Palestina, são questões bastante pertinentes quando pensamos na região do
atual Oriente Médio. Além disso quando se busca entender a Lei Divina em
Êxodo, e como esta deve ser aplicada à Teologia Cristã, as vozes não são
uníssonas, mas dissonantes em diferentes sentidos.
O tema central de Êxodo continua girando em torno da exclusividade do
Deus de Israel enquanto único Deus sem concorrência ou adversários. O
mesmo Deus que Criou o Universo, fez uma aliança com Abraão e é fiel para
manter sua palavra mesmo que centenas de anos se passem e Seu povo
esteja oprimido por um governo poderoso aos olhos das sociedades
contemporâneas.
Esse mesmo Deus declara a falência de todas as demais divindades
existentes e ordena que apenas Ele seja adorado por aqueles que O
conhecem. Em uma realidade pluralista e politeísta, essa é uma declaração
ousada e inédita que reforça a singularidade do Canon Hebraico diante de
outros textos sagrados de povos contemporâneos. Não existe paralelo entre o
culto instituído em Êxodo com outras expressões religiosas de seu tempo. A
subdivisão didática do livro aponta para as seguintes porções.
Êxodo 1 – 18 - narra a libertação de Israel do Egito. Deus lembra das
promessas do passado e está próximo à situação presente de Seu povo;
Êxodo 19 – 24 - descreve o estabelecimento da aliança entre Deus e o
povo. Esse foi o evento mais importante no contexto do Antigo Testamento,
pois foi o gancho que devolveu a esperança ao povo nos muitos momentos de
escuridão que enfrentaram.
Êxodo 25 – 31 - o texto concentra seus esforços para descrever o
Tabernáculo e sua função no sacerdócio levítico.
Êxodo 32 – 34 - o escritor relata o incidente com o bezerro de ouro.
Mostrando o tempo extremamente curto para que Israel se afaste da Presença
de Deus. Mesmo errando, quebrando as regras de adoração recém-criadas, o
texto mostra Deus presente, próximo e pronto para perdoar e renovar Seu
povo.
Êxodo: 35 – 40 - o perdão de Deus ao arrependimento do povo tem um
poder extraordinário, na medida em que ele é imerecido. A Graça divina fica
evidenciada na restituição do Povo ao culto a Deus após o episódio do bezerro
de ouro.

Esse livro apresenta ao leitor o conceito de Aliança, que é fundamental


para toda a base dos livros proféticos, pois a obediência aos preceitos dessa
aliança é estabelecida no livro de Êxodo. Em Gênesis essa aliança estava
implícita às promessas de Deus a Adão, Noé e Abraão. Aqui a aliança é de
certa maneira institucionalizada após a grande libertação do Egito. Esse é um
conceito ímpar, na medida em que não se tem notícia de outra sociedade que
tenha em seu sistema religioso deuses que façam alianças com seu povo. Essa
novidade religiosa torna a narrativa de Êxodo ainda mais impressionante. A
descrição do Tabernáculo foi associada ao ministério de Cristo a partir do
escritor de Hebreus, com uma clara junção da Teologia do AT com a do NT.
Porém, se dependermos apenas do conteúdo veterotestamentário, as
informações que envolvem essa construção apresentam na maioria das vezes
em que é citado, sua construção e operacionalidade no sistema de sacrifícios.

4.4 Levítico

Esse livro tem sido um grande desafio para os teólogos. Na medida em


que Êxodo explica e esclarece boa parte das questões teológicas em respeito a
Deus, nesse livro existe uma tendência de deixar Levítico em segundo plano,
ou com uma análise menor. Autores como Smith e House apontam para a
necessidade de uma análise canônica da obra. Essa abordagem entenderá o
livro a partir de sua relação com os demais livros do Pentateuco e de que
maneira seus ouvintes originais o utilizavam. O cerne desse livro é sem sombra
de dúvidas, a santidade de Deus e de que maneira Seu povo eleito pode
também ser declarado santo ou separado dos demais sistemas religiosos
existentes. Como a santidade está associada à adoração a Deus, esse livro
aborda a adoração do povo de Israel por meio do trabalho sacerdotal da tribo
de Levi. Ao tentarmos um esboço de Levítico podemos utilizar o seguinte
esquema:
Levítico 1 – 7 - descreve o sistema sacrificial para o perdão dos
pecados do povo. Em um primeiro momento podemos achar que o sacrifício
seja o foco da descrição, porém ela enfatiza o Deus perdoador para todos
aqueles que por meio da fé se achegam até Ele com os sacrifícios exigidos.
Levítico 8 – 10- descreve a separação dos primeiros sacerdotes que
trabalharão no Tabernáculo. A ideia de santidade está presente uma vez mais,
tendo em vista que esses sacerdotes foram separados dos demais para um
estilo de vida diferente daquela levada pelo restante do povo.
Levítico 11 – 15 - revela a possibilidade de o povo permanecer puro e
se achegar à Presença de Deus. Mostra a mudança de estilo de vida e de
culturas através do conceito de santidade.
Levítico 16 - mostra o sacrifício que expia os pecados de toda a nação
anualmente, revelando a misericórdia de Deus e Sua bondade.
Levítico 17- 27 apresenta diversos estatutos para aqueles que desejam
buscar a este Deus santo. Se Deus é santo, é digno que Seu povo busque
também a santidade intencionalmente por meio das escolhas de permanecer
afastados dos deuses estrangeiros.

Levítico apresenta vigorosa e minuciosamente a noção de


que um único Deus existe e de que este Deus estabelece
padrões específicos e misericordiosos para as pessoas
seguirem. O fato de seres humanos obedecerem ou não
estes padrões, determina sua condição perante essa
divindade. Pelo seu pecado os homens não podem culpar
um Deus sem pecado. Assim, eles são culpados por suas
ações. Ou são condenados por sua rebelião ou
graciosamente abençoados por sua obediência. A decisão
está verdadeiramente em suas mãos. (House, 2009, p.
162)

A conclusão teológica sobre Levítico, é que o único Deus continua


exigindo fidelidade de Seu povo. Israel deve evitar outros deuses e rejeitar
práticas dos povos estrangeiros. Apenas o Deus de Israel é capaz de salvar e
revela os reais padrões que os homens devem seguir.

4.5 Números
Toda a preparação para conquista da terra prometida a Abraão estava
concluída. A liderança de Israel está estabelecida, bem como um código de leis
para sua condução enquanto sociedade que revela como devem viver de
maneira distinta dos demais povos e ainda, uma nova identidade como povo
escolhido por Deus e um propósito de conquistar a Terra Prometida a Abraão.
Conhecem Seu Deus de maneira básica, sabem o que os afasta Dele e o que
leva à punição e quais são os métodos para alcançar a misericórdia e o perdão
desse Deus.
Porém, todas essas características que apontam para a vitória iminente
foram adiadas por uma geração inteira pela recusa humana em crer na Palavra
de Deus. Essa é a história de Números: a peregrinação de uma geração que
morreu no deserto para que a próxima possa usufruir e desfrutar do
cumprimento da promessa.
Em termos de estrutura o livro está assim distribuído:
Números 1 – 9 - um dos momentos cruciais de Israel acontece nessa
porção quando Deus entrega a Lei a Moisés no monte Sinai. Deus fornece uma
nuvem para que o povo saiba como e quando caminha, além de diversas
diretrizes para o povo.
Números 10 – 12 - o povo é convidado a marchar em direção ao
cumprimento da promessa divina, rumo a Canaã. Javé providencia auxílio para
o líder Moisés por meio dos anciãos ao mesmo tempo em que corrige a
murmuração do povo, em especial de Arão e Miriã.
Números 13 - 20:13 - esse é o ponto central do livro. Ao mesmo tempo
em que o cumprimento da promessa abraâmica é iminente, ela encontra a
descrença do povo no momento crucial de sua história. Uma vez que a geração
do Êxodo se recusa a crer que Deus honrará suas promessas, Deus castigará
essa geração, ao mesmo tempo em que renovará as promessas diante da
próxima geração. Nem as rebeliões que ocorrem podem fazer com que as
promessas de Deus se cumpram.
Números 20:14 – 22:1 - mesmo renovando as promessas para uma
nova geração, Deus continua protegendo, suprindo o povo rebelde. A nova
geração se erguerá em meio ao cuidado de Deus para com Seu povo.
Números 22:2 – 36:13 - revela uma vez mais a ação renovadora de
Deus que mantém Suas promessas. Deus é revelado nesse livro como o
Cumpridor de Promessas. Esse é outro ponto de divergência com a religião e
cultura vigentes até então. Enquanto falsos profetas, sacerdotes e até mesmo
outros deuses são conhecidos por suas trapaças e traições, o Deus de Israel é
impecável, santo e justo. Antes da entrada em Canaã, Ele já distribui as terras
às tribos, demonstrando que o resultado é conhecido e não deve haver temor
entre o povo conquistador.

Esse livro apresenta dois sentimentos ambivalentes em sua estrutura.


Ao mesmo tempo em que a esperança renovada nas promessas, mostra a
fidelidade inabalável de Deus, o uso canônico de Números pelos demais
autores será de alerta pelo exemplo da rebeldia do povo. A geração do Êxodo
será usada posteriormente como um exemplo de como o povo não deve se
comportar diante de Deus. Uma nova geração celebrou nas Terras a muito
prometidas a um homem. O momento é chegado, mas antes da conquista, é
preciso relembrar da aliança.

4.6 Deuteronômio

Esse é sem sombra de dúvidas um dos livros mais importantes do cânon


hebraico. Como último livro da Lei, ele encerra o ciclo da trajetória de Israel em
busca da Terra Prometida e abre um novo ciclo para os profetas anteriores. Por
ser um livro tão importante, existem diferentes teorias a respeito de sua autoria.
Gostaria de citar uma delas em especial antes do término da aula, pois
gerou muita reverberação acadêmica que é a teoria da História
Deuteronomista. Em 1943, o teólogo Martin Noth defendeu que um autor único
escreveu Deuteronômio 1 – 4, editou o restante do livro e usou diversas fontes
existentes para escrever Josué, Juízes, Samuel e Reis, em aproximadamente
550 a.C. Essa teoria da História Deuteronomista teve algum impacto no meio
acadêmico da época. Estamos citando essa teoria, para exemplificar a
importância unânime que é atribuída ao livro por todos que estudam Teologia
do AT.
Estamos utilizando a tese de autoria Mosaica para o Pentateuco nessa
disciplina. Com certeza a influência de Deuteronômio nos livros que o
sucederão
l. notória. A teoria de Noth serve para explicar essa importância.
Existirão tantas referências ao contido nesse livro que a hipótese de um
único editor para os profetas Anteriores foi cogitada por Noth.
m. A estrutura do livro pode ser didaticamente resumida em três
discursos de Moisés ao povo:

Deuteronômio 1 – 4 - Moisés faz uma avaliação da História de Israel


até aquele momento, resumindo todo o conteúdo teológico existente até então.
Esse fato é teologicamente muito importante, pois é a primeira reflexão sobre o
material já existente dos livros anteriores. Moisés estava utilizando os
acontecimentos passados para extrair dela uma conclusão que o ajudassem a
instruir, corrigir e edificar o povo. Essa será uma prática constante ao longo do
cânon do AT. Outro aspecto importante é que a partir de Deuteronômio, inicia-
se um processo de análise do presente do povo de Israel partindo do conceito
de aliança. Isso ficou conhecido nos Profetas Anteriores que continuamente
associavam sua situação à fidelidade à Aliança Divina.
Deuteronômio 5 – 28 - após contar a História de Israel até aquele
momento, Moisés passa a falar sobre a parte do povo em relação a essa
Aliança estabelecida no Sinai. Séculos de história e relacionamento entre Deus
e o povo tem como objetivo criar uma comunidade santificada, separada dos
demais povos. As sucessivas falhas em obedecer aos mandamentos divinos
por parte do povo, mostraram o agir amoroso de Deus que com paciência
buscou moldar o caráter de Israel.
Deuteronômio 29 – 32 - Com o fim da jornada de Moisés próxima, ele
conclui seus discursos com um vislumbre do futuro que teriam, caso
nobrecessem a Deus, pois a Aliança não seria quebrada. Agora a nova
geração tem todas as informações necessárias para uma jornada de
conquistas na Terra Prometida.
Encerramos aqui uma análise teológica dos livros do Pentateuco e sua
existência. Esses livros contam a Criação de todas as coisas, mas atribuem
uma importância maior no conceito da Aliança do único Deus Criador de todas
as coisas e a humanidade, por meio da eleição de um povo particular que seria
o exemplo de uma comunidade santa, separada das práticas comuns de
grupos contemporâneos. A Aliança não será quebrada ou desfeita, mas
demandaria fidelidade, obediência e amor de Israel para com Deus. A
desobediência retardaria e postergaria o cumprimento das promessas. A
decisão da maneira como o povo caminharia dependia apenas deles.
Aulas 5 - Profetas Anteriores

Na aula de hoje abordaremos os livros considerados pelo cânon


hebraico como Profetas Anteriores. Já falamos anteriormente sobre as
diferenças entre a Bíblia moderna e a Hebraica nesta divisão. Na aula de hoje,
para iniciarmos a discussão e análise dos livros que compõe este grupo, da
mudança do enfoque que a divisão de livros desta forma apresenta na
interpretação do sentido dos livros.
Quando trata de livros como Josué, Juízes e Reis como literatura
profética, os organizadores do cânon estão associando os profetas com a
história de Israel. É impossível dissociar o contexto histórico que levantará os
profetas para relembrarem o povo da Aliança e de seu papel para uma vida
abençoada e os problemas do afastamento de Deus.
Embora muitas vezes os profetas foram rejeitados, a presença dos livros
proféticos daqueles que escreveram seus relatos mostra o reconhecimento por
parte da própria comunidade de que eles falavam por Deus em meio a sua
geração.
De maneira geral, os profetas anteriores apresentam algumas
características especiais que auxilia no entendimento do contexto deste grupo
de livros que serão analisados um a um na aula de hoje.
Os profetas anteriores avaliam o passado a partir da base da aliança.
Sempre que profecias são preditas, eles avaliam o passado a partir das
bênçãos ou maldições que ocorreram e tentam mostrar como fazer para ser
bem-sucedido no projeto de conquista. O livro de Juízes é um excelente
exemplo desta metodologia. Os personagens da História de Israel são
avaliados a partir de sua capacidade de auxiliar ou atrapalhar a conquista da
Terra Prometida. O livro de Reis mostra essa realidade da maneira como os
reis serão retratados. Por fim, os escritores destes livros encorajam o leitor a
escolher a benção e se voltar a Deus, baseado em Deuteronômio 27 e 28. Este
livro será uma influência sempre presente nos livros proféticos.

5.2 Josué
O livro de Josué não pode ser lido de maneira isolada diante do restante
do cânon devido à questão da guerra santa que é introduzida aqui. Ao ler
Josué apenas, é possível que o leitor entenda que existe uma falta de
moralidade por parte de Deus que permite que todos os inimigos de Israel
sejam executados sem qualquer misericórdia. Quando inserimos o livro no
Pentateuco, percebemos que os cananeus passaram séculos recebendo da
misericórdia divina que aguardou 400 anos para uma mudança de atitude que
não aconteceu conforme Genesis 15:16. Levítico 18:24-30 fala sobre as
práticas cananeias. Portanto, quando inserimos Josué no restante do AT,
verificamos que o povo de Israel foi um instrumento humano utilizado por Deus
para castigar o povo de suas práticas constantes.

A estrutura do livro de Josué é a seguinte:

Josué 1 – 12: Conquista de parte da terra conforme as promessas divinas.


Deus é aquele que cumpre Suas promessas, o Deus de Israel e de toda a
terra.

Josué 13 – 21: Divisão da terra prometida. Depois de cumprir Sua promessa,


Deus dá o descanso a seu povo. Ainda existem territórios a serem
conquistados, então a fidelidade e obediência à Aliança deve ser contínua.

Josué 22 – 24: Permanecer e expandir a terra. Josué faz um pronunciamento


diante do povo estabelecido em suas porções de terra para que renovem as
cerimônias e não se esqueçam das tradições.

O livro de Josué mostra o cumprimento das promessas divinas e


apontam para a necessidade de manutenção da fidelidade do povo mesmo
após este momento crucial. As conquistas deveriam continuar se estendendo
após a morte de Josué em cada uma das tribos que deveriam alargar suas
fronteiras. A não obediência à Aliança faria com que perdessem aquilo que
haviam conquistado. O livro de Juízes mostrará que o temor de Josué descrito
no fim do livro era muito real.
5.3 Juízes

Este livro mostra a dura realidade do povo que abandona a Aliança com
Deus. Diferentes ciclos que repetem a fórmula: obediência provisória,
afastamento de Deus, opressão estrangeira, clamor a Deus, Deus levanta um
Juiz, e o ciclo reinicia na sequência. Esta leitura é possível, mas ainda assim
bastante simples. É preciso analisar cada ciclo para perceber que cada queda
do povo de Israel o leva para mais longe dos limites protetores da Aliança de
Deuteronômio. Os limites morais são rompidos gradativa e repetidamente, o
autor enfatiza o declínio moral do povo diante de Deus e dos homens. É um
livro sombrio, que mostra talvez o pior momento de Israel. Lido canonicamente,
ou seja, inserindo o livro no todo até aqui analisado, é possível perceber que o
autor procura associar os relatos de Juízes a Deuteronômio 27, enquanto
Josué é um exemplo claro de Dt 28.

A divisão de Juízes é a seguinte:

Juízes 1 – 3:6: Os leitores são lembrados que estão em Canaã por causa da
fidelidade de Deus e como não conseguem permanecer longe da idolatria,
serão testados pelos povos que permaneceram na terra.

Juízes 3:7 – 16:31: O declínio de Israel, é descrito através de uma série de 12


juízes com maior ou menor relevância no livro levantados pelo Deus fiel à
Aliança de Deuteronômio. Os juízes são respostas de Javé aos clamores do
povo, mesmo mantendo os opressores para castigar a idolatria de Israel. Este
trecho mostra que Deus é fiel à aliança, mesmo que Israel não experimente
essa fidelidade em todo o tempo.

Juízes 17:1 – 21:25: O fundo do poço. Israel chega ao ápice de Depravação


moral e espiritual realizando atos impensáveis ao povo da aliança. Neste
sentido, percebe-se que o distanciamento espiritual de Israel de Javé é
explícito pela ausência completa de uma liderança, pois todos faziam o que
bem entendessem. Os problemas espirituais culminam com problemas políticos
ao povo escolhido que será uma das razões para a instituição da monarquia
como sistema de governo em Israel.
O ponto central na teologia de Juízes está nas consequências do
distanciamento do povo da aliança do monoteísmo ritual. Em cada um dos
ciclos de Juízes é a idolatria que gera o desagrado em Deus com relação ao
povo. A razão para a idolatria ritual ser punida de maneira tão enfática neste
livro, está no fato de que os adoradores de ídolos se separam da teologia
monoteísta instituída, impedindo assim a manutenção do relacionamento com o
único Deus. Neste sentido, o juízo é a única medida possível visando o
abandono das práticas e o retorno ao monoteísmo.
Com o fim de Juízes, algumas questões teológicas ficam evidentes ao
leitor que ouviu estes relatos.
Em primeiro lugar, quando Israel se envolve na idolatria ritual dos seus
vizinhos, o princípio do pacto estabelecido na aliança deuteronomista é
quebrado. Com isso os limites toleráveis do pecado são ultrapassados de
maneira contínua.
Em segundo lugar, o caráter da identidade nacional de Israel enquanto
nação santa está ameaçado. Na medida em que cometem os mesmos delitos e
adotam as mesmas práticas dos povos circunvizinhos a eles, perdem o
diferencial moral que faz de Israel uma nação santa.
Em terceiro lugar, a partir do contido em Deuteronômio 27 e 28 Israel
estava muito próximo de deixar a Terra Prometida e caminhar para o Exílio.
Todo o trabalho realizado pelos antecessores que lideraram o povo rumo ao
cumprimento da promessa estava ameaçado pelo pecado presente. O legado
estava em risco.
Em quarto lugar, a liderança exigida pela lei não aparece em Juízes.
Deuteronômio capítulo 17 e 18 descreve o padrão para reis e profetas
respectivamente. Os juízes, líderes temporários e regionais de maneira
nenhuma apresentam os requisitos para bons líderes segundo o padrão
estabelecido no livro base para os profetas anteriores.
Em quinto lugar, a base da teologia que foi revelada até o presente
momento no cânon hebraico é a fé e a obediência. Ambos são negligenciados
por grande parte do povo de Israel, mas ainda persiste uma minoria temente a
Deus. É esta minoria que mantém acesa a esperança na continuidade das
conquistas e que um novo ciclo de relacionamento com Deus seja iniciado a
cada clamor do povo por libertação. Em todo o livro, Israel é lembrado que a
adoração a deuses estrangeiros é a razão pela qual exércitos opressores são
enviados para despertar novamente a fé e a obediência a Deus. O monoteísmo
II. o grande critério teológico que será utilizado para julgar o período
monárquico que dará sequência aos relatos dos profetas anteriores.

5.4 Samuel

O livro de Samuel é central no cânon hebraico, pois apresenta uma


transição entre a narrativa sombria de Juízes e o início da monarquia com Saul
e Davi. Por esta razão ele é muito importante para o desenvolvimento do
restante do Antigo Testamento. Embora todas as premissas teológicas
anteriores continuem sendo importantes aqui, uma nova variável será
introduzida em Samuel: a promessa de um reino eterno a partir da linhagem de
Davi. Esta é uma novidade teológica e profética que surge neste livro e que
continuará sendo utilizada pelos demais autores dos livros que o sucederem. O
reinado de Davi será a medida dos demais reinados quanto á sua eficácia e
sucesso.
Samuel revela que mesmo após os acontecimentos de Juízes, o povo
permanecerá em Canaã por cerca de quinhentos anos. Isto só é possível
devido
f) fidelidade do Deus que tem uma aliança com Israel. O autor do livro deixa
claro que é Deus que protege, abençoa e apresenta misericórdia do povo e de
seus líderes. Este, bem como os demais Profetas Anteriores apresentam uma
série de debates com relação à autoria, tempo em que foram escritos. Por esta
razão uma escolha possível é enfatizar o conteúdo do livro ao invés destes
detalhes que não apresentam consenso.
Alguns atribuem ao Deuteronomista conforme já foi comentado nas
aulas anteriores, outros atribuem ao próprio Samuel boa parte de seu
conteúdo, com a conclusão por um de seus discípulos.
Outro aspecto importante, no cânon hebraico não existe a subdivisão em
dois livros tanto para Samuel, quanto para Reis e Crônicas que existe nas
bíblias modernas. Usaremos a nomenclatura que utilizamos para facilitar o
entendimento
Quanto à estrutura, o livro apresenta a seguinte subdivisão:
1 Samuel 1 – 7: O Deus de Israel protege a própria honra ao proteger o povo
de seus inimigos. Desta forma, a monarquia terá uma oportunidade de superar
o passado sombrio narrado no fim de Juízes.

1 Samuel 8 – 12: Descreve a instituição da monarquia em Israel. Este trecho é


muito importante para a teologia do Antigo Testamento, pois apresenta uma
nova identidade para o povo que deste momento em diante terá um Reino,
uma estrutura que acompanhará a formação de uma corte, com recolhimento
de impostos, a formação de um exército institucionalizado e remunerado pela
monarquia, entre outros custos que serão cobrados a partir deste momento. O
primeiro monarca escolhido por Yahweh será Saul.

1 Samuel 13 - 15: Mostra que o rei, mesmo sendo escolhido por Deus, deve
prestar contas de suas atitudes, pois será testado por este mesmo Deus para
que então seja aceito ou rejeitado. A rejeição de Saul é um alerta teológico
para os monarcas posteriores que terão sua permanência ou não no trono
dependerá de sua obediência aos princípios estabelecidos em Deuteronômio.

1 Samuel 16 – 2 Samuel 5: A maior divisão do livro descreve o reinado de


Davi. Ele será o modelo de reinado que os demais tomarão como base para
seus reinados. Davi encontra graça aos olhos de Javé que o protegerá, e
manterá sua coroa. Neste trecho é apresentada a iniciativa divina de manter
uma aliança eterna com Davi, que envolve a sucessão do trono, em um
aspecto temporal e a promessa messiânica em um aspecto profético.

2 Samuel 6 – 2 Samuel 7: A aliança é estabelecida, onde Deus é apresentado


como aquele que acaba com as guerras, traz a paz e descanso ao Reino
estabelecido. Uma vez mais as promessas dadas a Abraão são retomadas aqui
em uma analogia a Davi.

2 Samuel 8 – 20: Apesar de ser o escolhido de Javé, Davi mostra-se um líder


imperfeito que comete erros muito graves que o levam a ser punido por Deus,
porém a aliança estabelecida leva ao perdão e à proteção do rei arrependido.
Este é outro conceito teológico importante na estrutura canônica, o
arrependimento não retira a punição pelo pecado ou a consequência pelos atos
pecaminosos, mas oferece o perdão e a proteção de Deus com relação ao
pecador.

2 Samuel 21 – 24: Após toda a jornada, o rei Davi procura estabelecer honra
ao Deus que o protegeu durante toda sua vida. Seu desejo de estabelecer um
Templo físico digno de Javé será seu objetivo neste trecho. Ele não construirá
o Templo, mas receberá todos os recursos necessários para que seu sucessor
possa realizar a tarefa.

Samuel possui uma relação direta com o sucesso descrito no livro de


Josué na permanência do povo na Terra Prometida, na medida em que
continua a expandir os territórios dados por Deus a Israel em Deuteronômio.
Os reis agora possuem dois parâmetros para suas ações: a vitória através da
obediência como ocorrido em Josué, ou a derrota da idolatria em Juízes. Davi é
descrito como o homem segundo o coração de Deus, mesmo estando bastante
aquém da liderança descrita por Moisés. Porém sua capacidade de
arrependimento e retorno ao Deus de Israel fazem com que ele seja objeto de
uma Aliança eterna com Deus, que promete um reinado eterno através de sua
dinastia.

5.5 Reis

O último dos livros dos Profetas Anteriores, mostrará o ápice dos


eventos apresentados em Josué, Juízes e Samuel. As consequências da
obediência e da fidelidade, bem como da idolatria serão expostos pelo autor do
livro. Reinados serão exaltados, outros cairão, dependendo do posicionamento
do rei a respeito da aliança. O apogeu da monarquia israelita acontecerá com o
sucessor direto de Davi, Salomão que expandirá as fronteiras do Reino para
uma posição ainda não alcançada por nenhum de seus antecessores. Porém
sua diplomacia implicará em alianças profanas com princesas estrangeiras que
farão com que caia na idolatria de suas muitas esposas. Esta estratégia política
para evitar a guerra mostra-se catastrófica a nível teológico e a sua
consequência será a divisão do Reino.
Após seu reinado, porém, o Reino será dividido por problemas políticos
entre a dinastia de Davi e a rebelião do exército e a partir de então ambos os
reinos: Judá ao sul e Israel ao norte, caminharão rumo à invasão estrangeira e
ao cativeiro assírio ao norte e babilônio ao sul.
Em relação à sua estrutura, o livro apresenta a seguinte divisão:

1 Reis 1 e 2: Relatam o reinado de Salomão com todo seu esplendor. O autor


do livro enfatiza as fronteiras alcançadas por ele para fazer uma relação direta
às fronteiras do Reino apresentadas em Deuteronômio. O Templo em honra a
Deus é concluído e consagrado, gerando um ponto de convergência entre
todas as tribos de Israel. O autor mostra que a paz durante o reino de Salomão
é obra de Javé, não de outras fontes.

1 Reis 3 – 11: Salomão procura pela paz através de casamentos com filhas de
outros monarcas, trazendo para a corte de Israel a idolatria que o próprio
Salomão adotará no fim de sua vida. Como foi detalhado em Juízes, as
consequências da idolatria são bastante conhecidas, por esta razão, o Reino
será dividido. Mais uma vez o autor mostra que a instabilidade política interna e
a rebelião do general Jeroboão acontecem com a permissão de Deus. O autor
de Reis apresenta o processo de morte da nação de Israel neste ponto, mesmo
levando mais de três séculos para que o juízo definitivo viesse a Israel através
das potências da época: Assíria e Babilônia.

1 Reis 12 – 16: o sincretismo religioso é abominado, é nítido a oposição de


Deus a toda e qualquer iniciativa de substituir o monoteísmo característico de
Israel.

1 Reis 17 – 2 Reis 1: Nesta porção do livro o enfoque está no combate à


religião cananeia através da pregação dos profetas, ilustrando uma vez mais a
necessidade de restauração do culto monoteísta que diferencia Israel dos
demais povos que combatem. Sem essa obediência para com a aliança
mosaica de Deuteronômio, o povo escolhido por Deus rapidamente começa a
decair espiritualmente em primeiro lugar, moralmente em segundo lugar.

2 Reis 2 – 13: Deus opera milagres diante de seus servos fiéis. Mesmo em
tempos difíceis como o contexto no qual este livro foi concebido, Deus mantém
um remanescente através dos quais Seu poder será manifesto para auxiliar
Seu povo em sua jornada. Os profetas são a personificação dos servos fiéis de
Javé por quem sofrerão perseguições por dizerem a verdade e apontarem para
as diretrizes da aliança que estava sendo repetidamente transgredida pelo
povo e por seus líderes.

2 Reis 14 – 25: O livro termina com a destruição do Reino dividido. Assíria


destrói Israel conhecido como Reino do Norte e a Babilônia destrói Judá, o
Reino do Sul. Israel não será restaurado, ao passo que Judá como portador da
promessa de Deus a seu servo Davi, de governo eterno retornará do cativeiro
recuperado do problema da idolatria de uma vez por todas, após 1500 anos de
sucessivas quedas em função da idolatria.

O autor de Reis cita repetidas vezes as três fontes principais para a


compilação de seus escritos. Elas são importantes para demonstrar a
importância que o autor atribui para a História de Israel e em relatar a
veracidade dos fatos narrados e descritos.
Embora o título do livro seja Reis, os profetas são os personagens
principais deste relato. Por esta razão a História é tão importante para os
profetas anteriores: é a reflexão sobre os acontecimentos do passado que leva
a enxergar melhor o presente, através da comparação com os fatos que já
ocorreram.
Aula 6: Profetas Posteriores

O Arco iniciado em Josué e concluído em Reis mostrou os benefícios da


obediência à Aliança estabelecida no Pentateuco, bem como a questão da
consequência da quebra da Aliança por parte do povo de Israel. O leitor dos
Profetas Anteriores foi introduzido às promessas davídicas a respeito de um
reinado sem fim sobre a Terra, demonstrando a soberania de Deus não apenas
sobre Israel, mas também sobre todas as nações. Os profetas neste arco do
Canon Hebraico mostram a preocupação de Deus com os caminhos do povo
na medida em que são enviados para advertir e instruir o povo e os reis. A
transição de um governo teocrático sob a liderança de Josué e Juízes para a
monarquia descrita em Samuel e Reis, aponta para uma porção muito
importante do Antigo Testamento e é neste universo que os profetas
posteriores transitarão.
Os profetas Anteriores introduzem a contribuição política dos profetas. O
próximo conjunto de Livros, os Posteriores, composto por Isaías, Jeremias,
Ezequiel e os Doze (falaremos mais a respeito deles em momento oportuno
nesta aula) vai mostrar a importância literária destes personagens para o
conjunto do Antigo Testamento. Vários teólogos do AT procuram um núcleo
comum de temas tratados por eles. Bunnyan Dave por exemplo, limita os
temas centrais da teologia dos profetas em sete fundamentos:

1 – Eles afirmam que suas palavras e ações são inspiradas por Deus
2 – Os profetas refletem a respeito da eleição de Israel.

3 – Eles alegam que Israel tornou-se rebelde quando quebrou a aliança com
Deus;
4 – A quebra a aliança levará Javé a julgar o povo, de acordo com a Lei do
Pentateuco, em especial Levítico 26 e 27.

5 – O juízo nunca é a palavra final, pois Deus é misericordioso e bondoso;


6 – O castigo sempre é uma oportunidade de renovação e retorno aos termos
da Aliança.

7 – Esta renovação não permanecerá restrita a Israel, mas será estendida para
todas as nações da Terra. (Extraído de MUELLER, Ênio R. Isaías 1 a 12.
Curitiba: Encontrão Editora, 1992. P. 75 – 82. Série Em diálogo com a Bíblia).

Os profetas posteriores vão testificar e legitimar os argumentos da


rebelião de Israel diante de Deus para justificar os rumos que a nação tomou. A
rebeldia do povo sempre gerará o juízo, mas sempre haverá esperança para a
nação através da fidelidade de Deus.
O grande diferencial entre os dois grupos, é que nos profetas
posteriores, de maneira explicita, existe um olhar não apenas para o passado
de Israel, mas também para o futuro, a partir da interpretação dos atos
passados, avaliam o que acontecerá. Como os profetas falam em nome de
Deus alguns acontecimentos serão previstos como o Exílio por exemplo.

6.2 – Isaías

Não existe concordância entre os estudiosos quanto à autoria de Isaías.


Críticos e Conservadores tem apresentado um debate acalorado sobre o
assunto a quase dois séculos que ainda não foi resolvido. Mesmo não havendo
um consenso entre os estudiosos sobre se o próprio Isaías escreveu o livro
todo ou apenas partes dele, sendo complementado mais tarde por outro
profeta, o conteúdo teológico do livro apresenta certo consenso de que o tema
central do texto profético é a Santidade de Deus.
Os comentaristas concordam com esta premissa, onde teólogos como
John Oswalt, Christopher North e John Skinner apontam para a Santidade de
Deus ser a base para o monoteísmo hebraico, o que acaba com qualquer
tentativa de adoração ou da existência de outros deuses que não Javé. (House,
2009, p. 348.) Esta é uma premissa importante dentro da teologia de Isaías,
pois se existe apenas um Deus, Ele é o criador de todas as coisas. Todas as
vezes
que Israel duvida da proteção e do cuidado de Javé por seu povo ao abraçar
outros cultos pagãos, compele o Senhor a julgá-los. O profeta sempre fará um
retorno ao passado de Israel para lembra-los de todas as obras fantásticas
efetuadas por Deus para proteger e manter Sua aliança com o povo.
Entre estes temas fantásticos de análise, um em especial aparece com
bastante intensidade nas páginas de Isaías: o Messias vindo da linhagem de
Davi. Este será um assunto muito retratado por parte dos autores deste grupo
de livros do cânon hebraico. Quem é este Salvador que é retratado em alguns
momentos como um glorioso rei, em outros como um servo sofredor, norteará
os escritos proféticos que refletem uma expectativa futura ao povo. As
consequências da rebelião de Israel virão e não mostrarão um presente muito
promissor. O que resta ao povo é vislumbrar um futuro eterno em que essa
separação momentânea entre o povo e seu Deus possam encerrar de maneira
definitiva.
Lembrando que estamos analisando o Antigo Testamento desvinculado
do Novo Testamento para nossa análise. Através do Novo, recebemos a
notícia maravilhosa de que Jesus Cristo cumpre as profecias anteriores. Porém
em Isaías o que existe é a promessa e a fidelidade divina de cumprir no tempo
determinado e conhecido apenas por Deus.
Na estrutura teológica do livro, procurando encontrar os temas centrais,
a distribuição do livro é a seguinte:

Isaías 1 – 12: O chamado e ministério profético. Este trecho apresenta a


infidelidade do povo que será julgada por Deus, o chamado de Isaías através
da experiência sobrenatural do capítulo 6. Outro tema importante que este
texto apresenta é o Dia do Senhor, um dia de juízo e julgamento que deve ser
temido pelos homens.

Isaías 13 – 27: Este texto aponta para Javé como o Deus que julga e castiga
nações orgulhosas. Da mesma forma como Israel é uma nação insubmissa e
orgulhosa que acaba sendo oprimida pelas nações próximas, essas mesmas
nações impiedosas serão também julgadas. Mais uma vez o controle divino
sobre toda a criação está presente, não se restringindo a Israel apenas, mas a
todas as nações proeminentes do tempo de Isaías, que iniciou seu ministério
em 739 a.C., no ano da morte do rei Uzias.
Isaías 28 – 39: O juízo contra os ímpios continua, este cenário sombrio de
julgamento é contrabalançado com a esperança futura de redenção. Não será
no presente, mas Deus guardará um remanescente fiel para manter sua
promessa diante daqueles que permanecerem firmes diante do mundo
depravado e amoral, que abomina as práticas de santidade propostas por Deus
em sua Lei.
Isaías 40 – 55: A ideia de esperança futura é reforçada através da descrição
do servo sofredor. Alguém que será enviado pelo próprio Deus para se oferecer
como sacrifício pelas abominações de Israel. A identidade deste servo é uma
das maiores questões que tentará ser respondida pelos teólogos do AT
inclusive após os eventos descritos nos Evangelhos.
Isaías 56 – 66: Toda a criação será renovada por Deus. A última porção de
Isaías descreve um futuro maravilhoso criado por Deus que está baseada na fé
em Seu poder e em Suas promessas. Estes eventos apontam para a Salvação
não apenas de Israel, mas de todas as nações da terra.

Interessante que neste livro, Deus é descrito como o único deus que
existe de fato. Todos os demais ídolos das teologias assíria, sumeriana entre
outras seriam apenas perda de tempo, pois Deus não está competindo com
outros deuses para provar sua superioridade, fato este muito presente em
religiões de cunho politeísta O que Isaías e os profetas declaram abertamente
é que existe um Único Deus e seu nome é Javé.
Desprezar esta verdade para o cânon hebraico é trazer o juízo para si
mesmo, ao passo que abraçá-la traz a esperança do livramento ao
remanescente, uma minoria que permanecerá atenta a estas verdades
proclamadas pelos profetas em especial Isaías.
A contribuição de Isaías ao Cânon Hebraico está na amplitude que o
livro apresenta. Ele consegue conectar os eventos passados, extrair dela os
princípios sobre o monoteísmo divino e a partir de então expandi-los no tempo
e no espaço. O profeta não fala apenas do passado ou do futuro, mas começa
a
falar também de um futuro que acontecerá com resultados dependentes das
atitudes do povo de Israel.

6.3 – Jeremias

O segundo livro dos profetas posteriores é de difícil compreensão e até


mesmo encadeamento de sua sequência de escrita, mesclando presente e
futuro, escrita narrativa e poesia. Um ponto de conexão para o livro está em
nos princípios morais que o regem estarem estreitamente relacionados com os
escritos de Deuteronômio e dos profetas anteriores.
A mensagem central de Jeremias é o chamado do povo ao
arrependimento com a consequência de arcar com o juízo caso não voltem a
Deus. O profeta tem como argumento a resistência do povo de Judá como
justificativa para a queda de Jerusalém e o exílio babilônio.
Para analisar o argumento profético em Jeremias e nos escritos
anteriores, Moshe Weinfeld extraiu nove temas teológicos contidos ao longo de
Deuteronômio e os profetas anteriores.

1 – A luta contra a idolatria;


2 – A centralização do culto;
3 – Êxodo, aliança e eleição;
4 – Credo monoteísta;
5 – Observância da lei e a lealdade à aliança;
6 – Herdar a terra;
7 – Retribuição e motivação material;
8 – Cumprimento da profecia;
9 – a eleição da dinastia davídica1

No livro de Jeremias, estes temas aparecem condensados pelo tema da


aliança do povo à Javé. Este será o foco da pregação do profeta ao longo de
seu vasto ministério. As referências a outros livros do AT em suas pregações,

KK FRETHEIM, Terence E. Jeremiah. Macon, Georgia: Smyth &


Helwys Publishing, 2002. P.132 - 137. Bible Comentary. Tradução do autor.
apontam para Jeremias com um grande compilador de textos antigos que
trouxe um significado mais contemporâneo aos seus ouvintes.
Em Jeremias é possível perceber uma informação bastante importante
citada por Brevard Childs para quem:
Um aspecto muito significativo da formação do cânon está na íntima
relação estabelecida entre a lei e os profetas. (HOUSE, 2009, p. 382)

O livro de Jeremias apresenta o profeta como um profundo conhecedor


e aplicador da Lei em sua vida, o que gera a autoridade de sua pregação
contra a quebra e a apostasia do povo. A estrutura canônica de Jeremias é a
seguinte:

Jeremias 1 – 1:19: O chamado do profeta, através do próprio Deus.


Jeremias 2 – 6: O profeta é instruído por Deus que o informa sobre a natureza
e o teor de seu ministério, bem como os desafios e dificuldades que serão
encontradas por ele ao longo de sua jornada.
Jeremias 7 – 10: Conhecendo seu chamado, ele inicia sua pregação pública
contra a adoração vazia. Deus não busca orações repetidas, mas sim a
aplicação da Palavra na vida diária.
Jeremias 11 – 20: O profeta luta para manter sua fé em um Deus que permite
que o fiel sofra;
Jeremias 21 – 29: Revela Deus como aquele que defende os profetas
verdadeiros e que consola os que sofrem;
Jeremias 30 – 33: Faz o anúncio de uma nova aliança futura, a salvação de
um remanescente fiel protegido e mantido por Deus;
Jeremias 34 – 45: Com as promessas de um futuro melhor garantidas, o
profeta anuncia a queda de Jerusalém e o exílio de Jeremias no Egito. Esta
afirmação mostra que fiéis sofrem não por negligência de Deus, mas sim pela
maldade dos ímpios.
Jeremias 46 – 51: Reforça a condenação das nações poderosas do tempo do
profeta, o que Isaías já havia feito anteriormente;
Jeremias 52: Afirma que mesmo no exílio, Deus protegerá seu povo. A derrota
não é o fim, mesmo depois do exílio Yahweh restaurará Seu povo.

Jeremias reforça diversos pontos levantados por Isaías e vai um pouco


mais além com mais detalhes da nova aliança futura, que mudará o quadro
sombrio e terrível de seu presente. Ao afirmar isso, o profeta afirma também de
maneira categórica que Deus governa o passado, o presente e o futuro, sendo
portanto o Senhor do Tempo. Os personagens principais permanecem
importantes aqui: A aliança com Abraão não pode ser quebrada portanto o
povo não sucumbirá durante o Exílio. A Lei de Moisés precisa ser lembrada ao
povo constantemente para que saibam e entendam a razão do juízo que
recebem. A dinastia de Davi deve permanecer pois é dela que surgirá o Rei
Salvador, o Servo Sofredor e o renovo de Israel.
O detalhe importante para a análise dos livros que restam é como eles
complementarão as informações até aqui levantadas.

6.4 – Ezequiel

O tema central de Ezequiel é a Presença de Deus. Ao entendermos o


contexto de sua pregação, é possível perceber a relevância do tema. O profeta
ministrou durante o Exílio de Judá, por esta razão a questão da Presença de
Deus era tão importante.
O entendimento teológico das divindades estava associado à
territorialidade. Javé era o Deus de Judá, mas não da Babilônia, onde
imperavam os ídolos de Marduque e Bel. Os exilados tinham consigo essa
questão da relevância de seu Deus em uma terra estrangeira. O contraponto
deste aparente paradoxo estava na razão para a queda de Jerusalém: a
rebeldia do povo que flertava com os deuses estrangeiros. Neste sentido,
mesmo estando longe do Templo ou de Judá, os exilados precisavam
obedecer os preceitos e os desígnios da Lei. Este foi um período crucial para a
teologia do AT, pois foi
necessária uma reformulação de todo o entendimento do agir de Deus que eles
não tinham até então.
O conceito de revelação progressiva de Deus se apresenta aqui de uma
maneira bastante intensa. A partir de Ezequiel, é entendido por parte dos
contemporâneos do profeta que a Presença de Deus não se restringe a um
local determinado, mas que acompanha a jornada de Seu povo onde quer que
ele esteja. Este será um elemento bastante utilizado pela Teologia do Novo
Testamento para explicar a ausência de um Templo feito por mãos humanas,
mas para templos espirituais no interior de cada fiel que desejar isso.
Embora tenhamos poucos detalhes a respeito de Ezequiel, sabemos que
era sacerdote, esta razão ajuda a explicar sua preocupação com o Templo,
com a santidade e com o ritual religioso. Algumas visões recebidas por Deus,
foram traduzidas digamos assim como atos simbólicos ao longo do livro, onde
através de algumas encenações públicas, mostravam os princípios que Deus
queria mostrar ao povo.
A estrutura do livro é distribuída da seguinte maneira:

Ezequiel 1 – 3: Deus chama o sacerdote Ezequiel para cumprir seu chamado


mesmo no exílio. A teologia deste texto mostra que Deus está presente em
todos os lugares para abençoar Seu povo.
Ezequiel 4 – 24: Mostra Deus como aquele que está pronto para julgar.
Ezequiel descreve Deus se retirando do templo para o monte das Oliveiras
observando Seu povo, talvez aguardando por arrependimento, mas preparando
o juízo que está sempre associado à desobediência.
Ezequiel 25 – 32: Revela a presença de Deus que julgará as nações da terra.
Ezequiel 33 – 48: Mostra a presença de Deus que renovará a criação. O
Espírito do Senhor enche a nação morta de Judá trazendo a cura. A ênfase na
restauração do culto em Jerusalém para um novo tempo de paz e vida
abundante. O quadro presente é contrabalançado com um futuro onde a
aliança será obedecida e respeitada pelo povo que enfim desfrutará dos
benefícios da obediência descritos em Deuteronômio.
As alegorias, imagens e repetições transformam Ezequiel em um livro
difícil de ler. Desta forma, sua teologia também é complexa. De maneira geral,
podemos extrair que Deus está muito acima dos homens, porém ele não os
abandona, e se preocupa com eles. Um Deus poderoso, mas amoroso é
revelado ao longo dos capítulos deste livro.

6.5 – O livro dos Doze

Uma das grandes diferenças entre o cânon hebraico e a Bíblia em


português está no conjunto de livros denominado o livro dos Doze. Em nossa
Bíblia ele corresponde aos Profetas Menores. Um livro dividido em doze partes
que devem ser lidos como uma coletânea que faz parte do mesmo conjunto,
não como livros independentes.
Esta análise tem como objetivo aproximar nosso estudante do cânon
original do AT e de que maneira ele se relaciona com o restante dos livros da
Bíblia hebraica. Um único livro todo interdependente ou Doze livros
independentes apresenta nuances que precisam ser conhecidas por aquele
que resolve estudar o AT em profundidade como estamos propondo nesta
disciplina.
Existem diversas teorias a respeito dos Doze: alguns teóricos creem que
foram editados de maneira individual, outros que um único editor deve ter
compilado dos escritos de todos os livros. Talvez, e esta é a posição adotada
por teólogos como Smith e House por exemplo, a análise teológica dos Doze
livros, quando vistos em conjunto pelo Cânon, apresentam uma coerência que
não deixa nada a dever para os três livros que o precederam: Isaías, Jeremias
e Ezequiel.
Quando o estudo acontece desta forma, considerando os profetas
menores como um só livro, algumas conclusões interessantes podem surgir.
Em primeiro lugar os temas principais destes livros são respectivamente: O
Deus que cumpre promessas, o Deus que pune e julga o pecado e o Deus que
renovará a terra em um futuro distante. Javé continua sendo Deus que mantém
um remanescente para herdar as promessas da aliança.
O Livro dos Doze cobre um período de 300 anos associando história e
profecia, mostrando que para o cânon hebraico, realidade e literatura profética
não podem ser dissociadas. A estrutura do Livro dos Doze é a seguinte:

Oséias: A aliança divina continua sendo um dos elementos teológicos chave


para a literatura profética. A fidelidade de Deus está presente através da
analogia do casamento do profeta com uma prostituta. Este simbolismo entre o
casamento real e a situação espiritual de Israel como nação idólatra, percorre
todo o livro.
Joel: A apatia do povo leva ao juízo divino. A analogia central do livro, uma
nuvem de gafanhotos que traz fome e devastação para a nação de Israel. Após
o acontecimento, Deus sente compaixão pelo povo. Este fato mostra o amor e
cuidado de Deus com Seu povo. O Espírito do Senhor trará a restauração
através do arrependimento genuíno do remanescente de Israel.
Amós: O resumo da teologia de Amós está em consonância com os relatos
dos Profetas Anteriores e posteriores. Israel caminha para a destruição porque
quebra a aliança, não ouve os profetas enviados e não aceita o arrependimento
como meio de restauração espiritual.
Obadias: Deus julga o orgulho de seu povo em particular, mas também exorta
as nações vizinhas.
Jonas: Deus envia o profeta para Nínive, umas das maiores cidades de seu
tempo. Conhecendo bem o povo assírio, e conhecendo o poder de seu Deus,
Jonas procura ir ao oposto do centro da vontade de Deus, tentando se
esconder do Deus Onisciente com relação ao pecado.
Miquéias: Mantém a estrutura existente, condenando o pecado de Israel e de
nações estrangeiras, ordenando o juízo mas mantendo um remanescente fiel
que desfrutará de uma nova era de paz e alegria.
Naum: Deus decreta a falência e destruição da Assíria. Deus é o deus de toda
a Terra. A iniquidade será condenada e trará consequências severas com os
transgressores, neste caso a descrição de Naum contra um povo estrangeiro
auxilia na base teológica já apresentada para o comportamento de Deus para
além das fronteiras de Israel.
Habacuque: O tema centra de Habacuque é a esperança em tempos de crise.
Não importa o presente sombrio, Deus trará a libertação e uma direção ao
povo. Sofonias: O profeta repete muitas questões já tratadas anteriormente,
porém o que se destaca é que em meio à crise, o julgamento virá de maneira
iminente. Ao mesmo tempo, Deus prepara um remanescente para si, mantendo
sua palavra imutável.
Ageu: Entre as profecias de juízo declaradas por Ageu, o profeta anuncia a
reconstrução do templo. A maior glória está dentro de cada cristão, não fora
deles. Esta é uma grande mudança teológica no discurso que demonstra a
progressiva revelação de Deus ao longo do cânon. O Templo sempre foi um
elemento fundamental na teologia hebraica desde o tabernáculo móvel no
deserto durante a liderança de Moisés. A ideia de que Deus teria um local para
habitar na terra era algo muito importante para a teologia hebraica. Ageu está
apresentando uma inflexão no que foi visto até então. A beleza física e
arquitetônica da “Casa de Deus” sempre foi algo muito ligado à “Glória de
Deus”. Quanto maior a beleza do templo, maior o poder e a glória de Deus. O
Segundo Templo não possuía as mesmas características de seu antecessor,
pois era muito mais singelo. Neste sentido, o profeta fala em nome de Deus
que apesar do novo Templo, Sua Presença seria muito maior do que até então
havia sido. Deus estaria com Seu povo e os benefícios seriam muito maiores.
Ageu apresenta uma nova proposta de que a Presença de Deus independe dos
templos humanos, mas sim do interior dos que creem. Esta pequena alteração
teológica terá um forte impacto na Teologia Proposta no Novo Testamento,
onde esta proposta sofrerá nova inflexão, pois Paulo declarará que Deus não
habita em templos feitos por mãos humanas.
Zacarias: Deus renovará a cidade de Jerusalém como Sião. O tema central da
profecia de Zacarias é Jerusalém. Ele foi contemporâneo de Ageu, então é
natural que a reconstrução do templo seja um tema em comum para ambos.
Porém esta é a única semelhança entre os dois. O estilo literário deste livro
apresenta uma proximidade ao estilo de Ezequiel, através de diversas visões a
respeito do futuro de Israel. Mais uma vez o tema do renovo de Israel, com
ênfase na cidade de Jerusalém aparece, enquanto toda a terra estiver em juízo
divino, Jerusalém será restaurada e renovada com o templo ao centro da
cidade. A promessa do salvador oriundo da linhagem davídica é apresentada a
partir da figura do justo pastor (Zc 9 – 14). Este pastor é descrito como justo,
mas será castigado por Deus, a partir de sua morte, o perdão divino será
derramado sob a humanidade. Este texto será bastante reproduzido pelos
autores do Novo Testamento.
Malaquias: A restauração do povo é o tema central do último livro que encerra
o grupo dos profetas posteriores. Sete décadas após as profecias de Ageu e
Zacarias, Malaquias ministrou em Jerusalém. O templo realmente havia sido
reconstruído, mas a adoração era mecânica, religiosa. Neemias havia
reconstruído os muros e buscar renovar a aliança. Tanto tempo de opressão
resultou em um desânimo nacional nos campos da economia, da política e da
sociedade judaica. É neste contexto que Malaquias atuará procurando mostrar
que o Israel que retornou do exílio vai prosperar quando a mente do povo for
renovada pela visão do Amor de Deus através de uma nova consagração a
Ele.

A teologia profética concluída em Malaquias está alicerçada a partir dos


pilares estabelecidos no Pentateuco. Neste sentido os eventos históricos são
interpretados a partir dos pressupostos da Lei. Ela será a vara de medir que os
profetas terão ao seu dispor para avaliar um rei, líder ou comportamento
nacional.
As palavras de juízo estão pautadas em Levítico 26 e Deuteronômio 27 e
É Ao mesmo tempo em que a misericórdia divina será relembrada e colocada
como razão para a continuidade do cumprimento das promessas dadas por
Deus no passado de Israel.
O pecado do povo será abordado e o pedido de retorno aos padrões da
Aliança serão solicitados. Uma vez mais é importante reforçar a relação que a
literatura profética apresenta com a história concreta de Israel, não sendo
possível dissociar uma da outra.
Aula 7 - Escritos Parte 1: Livros Sapienciais

Olá! Sejam bem-vindos, bem-vindas, à sétima aula da disciplina de


Teologia Bíblica do Antigo Testamento. Durante esta aula, você conhecerá
o último grupo de livros do AT denominados de “Escritos”, formados pelos
livros poéticos e parte dos livros históricos. Eles são fundamentais para sua
formação teológica.

Fonte: https://image.freepik.com/fotos-gratis/jude_21344257.jpg

Para melhor distribuição didática da parte final do AT, dividiremos os


“Escritos” em duas aulas, sendo que, na primeira, abordaremos os poéticos,
que
no cânon hebraico são conhecidos como Sapienciais e, na segunda aula,
falaremos sobre os livros restantes, na sequência em que aparecem nas
Escrituras hebraicas.

Glossário
Cânon: decreto, regra que diz respeito à fé, à disciplina religiosa; Conjunto dos
livros que se considera de inspiração divina; Regra, modelo a ser seguido (o
cânon da beleza clássica).

Dessa forma, procuraremos verificar como a distribuição original pode


nos ajudar na compreensão teológica do AT.
Todos os estudiosos entendem o termo “literatura sapiencial”, quando
aplicado ao Antigo Testamento em Hebraico, como uma referência aos livros
de Jó, Provérbios e Eclesiastes e Salmos. Nesta lista caberiam também alguns
livros considerados apócrifos, como “Eclesiástico” e “Sabedoria de Salomão”,
porém não serão abordados em nosso estudo.
Para o estudo presente, será inserido também o livro de Cantares de
Salomão. Então, vamos dar início à análise individual de cada uma das obras
citadas?
O livro de Jó se encaixa, junto com Provérbios, Eclesiastes e Cântico
dos Cânticos, naquilo que conhecemos como literatura de sabedoria no Antigo
Oriente Próximo. Esse estilo literário, bem como seu conteúdo, não foi criado
por Israel, mas adaptado da vasta produção egípcia, babilônica e de outras
nações ao longo dos séculos.
Da mesma forma, Moisés não criou a estrutura literária para redigir a Lei
contida no Pentateuco, mas adaptou-a à realidade divinamente inspirada de
seus escritos, à literatura e à cultura existente em seu tempo.

Glossário
Pentateuco: a palavra vem de “penta”, cinco, e “teuxos”, volume ou livro, o
que significa obra de cinco tomos ou livros.
Segundo House, “eles adaptaram as formas existentes de comunicação
para expressar suas considerações sobre o que constitui o viver sábio ou tolo”.
(HOUSE, 2009, p. 544.)
De maneira geral, o objetivo da literatura de sabedoria é ensinar a como
viver bem, viver de maneira próspera. Quem conseguir agir de maneira correta
diante dos desafios da vida diária, de acordo com o estabelecido nessa
literatura, será considerado sábio. Aqueles que não conseguirem essa proeza,
serão tolos.
Para esses autores, a sabedoria não é instantânea, mas acontece de
acordo com um processo de aprendizado, erros e acertos. Ela não depende de
classe social, nação, raça ou outras categorizações preestabelecidas. O livro
de Reis comprova essa tese, na medida em que muitos reis foram
considerados tolos por não viverem segundo a aliança preestabelecida com
Deus.
Nesse sentido, nobreza não é sinônimo de sabedoria, devendo ser
ensinada de geração em geração para garantir a prosperidade da nação como
um todo, partindo de indivíduos que evidenciem um viver sábio.
Mesmo apresentando uma semelhança literária com outras escolas de
sabedoria de seu tempo, existem importantes diferenças entre a sabedoria
hebraica e a literatura dos demais povos nos seguintes pontos: em primeiro
lugar, a literatura de sabedoria israelita insere o elemento fé na prática
cotidiana da vida comum. Para os escritores, o temor do Senhor é a base de
toda a sabedoria humana.
Em segundo lugar, Israel declara abertamente que Yahweh é o único
Deus e, por esta razão, qualquer pretensão humana de obter sabedoria passa,
e é concedida, por Ele. O homem por si mesmo não consegue obter sabedoria
por meio dos parâmetros da sociedade, pois ela não pode ser dissociada da fé
em Deus.

Glossário
Yahweh: a maioria dos estudiosos entende que esse nome vem do verbo
hayah, que significa “ser”, “existir” e “vir a ser”.
Assim, a literatura de sabedoria é amplamente utilizada ao longo do cânon
hebraico. De maneira geral, o conjunto dessa literatura apresenta os seguintes
elementos-base para seu entendimento teológico:
I. o temor do Senhor é o único caminho para a sabedoria;
II. honrar a Deus é o passaporte a uma vida honesta;
III. a vida honesta oferece condições para que a aliança com Deus seja
mantida pelo povo;
IV. uma vida insensata resulta na quebra da aliança com Deus;
V. o cumprimento da promessa messiânica será mostrará a personificação
da sabedoria;
VI. a vida próspera consiste na manutenção destes princípios.

Individualmente, os livros trarão mais elementos pontuais, mas podemos


apontar esses seis elementos como a base da literatura de sabedoria hebraica.

Livro de Jó

Este livro suscita o debate filosófico ao mesmo tempo que traz muito dos
questionamentos humanos a respeito de sua relação com Deus. A grande
questão que permeia toda a obra parece ser se Deus é realmente digno de ser
servido pela humanidade. Tanto em sua estrutura literária única, quanto nas
questões abordadas, é talvez o livro que mais influencia a literatura popular em
nosso tempo.
A partir dessa perspectiva, sugerimos uma divisão estrutural do livro. Ela
uma das muitas que podem ser apresentadas como válidas, sendo necessário
avaliar qual o viés teológico que essa divisão procura atender.
A seguir, apresentamos a referida proposta de divisão do livro:

Jó 1 e 2: apresenta um Deus que permite que o fiel seja provado. O


objetivo de tal provação tem como objetivo verificar se Jó servirá a Deus,
mesmo não tendo nenhum benefício para isso. Ele continuará adorando-
O sem receber nada em troca? A resposta a esta questão é bastante
complexa.

Jó 3 - 37: sequência complexa que revela Deus como aquele que pode
ser questionado. Muitas questões sérias são levantadas a respeito da
natureza divina. O texto leva seus leitores a considerarem que Deus é
Yahweh e, tão importante quanto, se Ele é digno de amor, serviço e
cuidado.
Jó 38 – 42:6: Deus é apresentado como aquele que responde ao fiel.
Ele se apresenta diretamente a Jó.
Jó 42:7 – 17: sequência final do livro, mostra que Deus restitui o fiel,
exaltando Jó e repreendendo seus amigos. A tônica do livro é que o
único Deus que prova o fiel, é o único capaz de ouvir as orações e
mudar a realidade daquele que O busca. Deus defende a fé dos que O
servem, sem desfrutar de uma vida livre de dor.

A síntese teológica de Jó está na restituição e na honra que Deus concede


através da postura honrada daqueles que O servem. Jó não foi o único, nem o
primeiro, pois muitos inimigos de Israel puderam perceber que Deus honra
aqueles que O honram, em uma grande lista de nomes no Antigo Testamento.
A beleza de Jó está na humanidade do relato e na fé do personagem que dá o
nome ao livro que, embora seja uma fé imperfeita, foi sincera em suas
convicções a respeito de Yahweh.

Você sabia?
O livro mais antigo da Bíblia não é o Gênesis, mas Jó. Acredita-se que Moisés
o escreveu, quando esteve durante 40 anos no deserto de Midiã.

No livro de Jó é possível perceber que tanto Jó quanto seus amigos


apresentam um grande esforço para parecerem sábios em seus discursos,
adotando falas eloquentes que tentavam superar aqueles que falaram
anteriormente. Porém, o fim do livro mostra que, em última instância, apenas
Deus é o possuidor da verdadeira Sabedoria. No ser humano, a sabedoria
carece da revelação divina para ser completa. Sem essa revelação vinda do
próprio Deus, Jó continuaria sem respostas, seus amigos continuariam
achando que triunfaram filosoficamente, e os leitores teriam dúvidas sobre a
natureza de Yahweh.
Já os provérbios são fontes de sabedoria. A aplicação prática dos
provérbios, associada à revelação da fonte e origem da sabedoria que é Deus,
oferecem uma vida bem-sucedida àquele que lê os Provérbios.
O ambiente desse livro é a vida cotidiana, com o objetivo de auxiliar o
povo a passar da imaturidade para a maturidade espiritual. Mesmo sendo um
assunto de certa forma secular, como diríamos hoje, a novidade teológica que
Provérbios apresenta ao visto até aqui, é que o homem não obtém sabedoria
por si mesmo, mas apenas por intermédio do auxílio divino, isso é possível.

Glossário
Secular: que possui muito tempo; caráter daquilo que é muito antigo; que não
diz respeito aos dogmas da igreja; leigo.

De maneira magistral, assuntos comuns e vividos por todos ganham


aspectos e uma base teológica, através da inserção da orientação divina nessa
vida cotidiana.

Glossário
Magistral: que tem a marca da superioridade, da excelência; irrepreensível,
perfeito.

Teologicamente falando, a seguinte estrutura é apresentada para se


compreender os Provérbios:

Provérbios 1 – 9: o livro é apresentado e as principais ideias também.


Deus é descrito como aquele que chama os homens a buscarem a
verdadeira sabedoria. Neste contexto, o temor ao Senhor é o princípio
dessa busca. A sabedoria é definida como uma criação divina e o
homem simples e comum é instigado a procurar por ela.
Provérbios 10 – 24: o foco desta parte do livro é mostrar como o
homem íntegro deve agir, utilizando para isso os escritos de Salomão e
outros sábios. Aos homens é pedido que sigam a Deus para que
encontrem a sabedoria.
Provérbios 25 – 31: na conclusão do livro, a ênfase está no agir dos
líderes, sejam eles reis ou homens sábios. A teologia desse trecho é a
mesma das demais partes analisadas: o temor ao Senhor deve ser a
base de toda a teologia de provérbios.

Você sabia?
Os provérbios são mensagens curtas que se encontram em toda a Bíblia.
Eram comuns nos tempos de Jesus e usados frequentemente no ensino.

“Provérbios” é um livro bastante direto e prático, e isso é maravilhoso, pois


ao mesmo tempo que Deus é o criador de todas as coisas, governa sobre
todos os reinos da terra e sustenta Seu povo, é o mesmo Deus que está
preocupado com a jornada de cada indivíduo em sua busca por sabedoria.
Este é o grande diferencial teológico entre aquele livro e outros escritos de
sabedoria.

Livro do Cântico dos Cânticos

Este livro, junto com “Ester”, apresenta desafios teológicos no sentido de


não mencionar em nenhum momento o nome de Deus, o que é desafiador para
teólogos do Antigo Testamento. Uma maneira de trabalhar com esse desafio é
perceber de que maneira o cânon trata este livro no contexto da literatura de
sabedoria hebraica.
Ao analisarmos o “Cântico dos Cânticos” dessa maneira, é possível
perceber que Deus é descrito nele, como aquele que vigia as relações
humanas. Mesmo não sendo citado de maneira explícita no livro, Deus é o
soberano, pois o Cântico trata da continuação na busca por sabedoria, através
da existência de um amor sábio.
A teologia nunca pode ser analisada em separado do contexto histórico
dos autores e do público no Antigo Testamento. Isso é importante, pois associa
os indivíduos ao texto, ou seja: Quem escreveu, para quem foi escrito
originalmente, e quais serão os próximos leitores do livro.
Neste sentido, a realidade histórica e o desejo de fazer uso das
Escrituras, são parte importante da reflexão teológica.
Ao mesmo tempo, a análise teológica precisa permanecer presente
quando existe a tentativa de estabelecer uma suposição de que o referido livro
é atemporal ou não-histórico, retratando apenas as relações entre um homem e
uma mulher.
Essa abordagem procura aproximar o conteúdo do texto com a literatura
erótica egípcia ou cananeia, descrevendo o amor entre um homem e uma
mulher.
Embora existam semelhanças nesse gênero literário e as relações entre
o casal sejam bastante pertinentes, é necessário associar o texto às premissas
teológicas do restante do cânon.
Dessa forma, é notória a importância dada à monogamia no livro de
Provérbios, a partir do amor pela esposa e das advertências constantes para
que o sábio permaneça longe das mulheres pecaminosas, concluindo com a
descrição de uma mulher virtuosa em Provérbios 31.
Lidos em sequência, é possível entender que os Cânticos encerram o
ciclo desses provérbios (31), mostrando o amor livre e apaixonado entre um
homem e uma mulher, enquanto “Eclesiastes”, que aparece na sequência, vai
mostrar que o amor humano não pode de maneira nenhuma substituir o
respeito e o amor do ser humano por Deus.
O sentimento descrito no “Cântico dos Cânticos” pode ser entendido de
duas formas. A primeira delas, como literatura de sabedoria, como exemplo de
como o homem deve se portar em sua relação entre seus pares e Deus. A
partir dessa base, o exemplo de amor descrito seria o modelo para todo
homem e mulher que estejam em comunhão com Deus, um modelo a ser
imitado.
A segunda forma, que menciona a descrição do amor puro e fiel, é uma
contraposição ao amor espiritual adúltero de Israel com seu Deus, conforme a
analogia de Oséias.
De maneira estrutural, é possível analisar o livro da seguinte maneira:
Cânticos 1 – 2.7: o amor sábio é descrito através das declarações de
amor de ambos;
Cânticos 2:8 – 3:5: o amante sábio deseja estar próximo da pessoa
amada;
Cânticos 3:6 – 5:1: o casal fica comprometido com o casamento;
Cânticos 5:2 – 6:3: o desejo de ambos é estar juntos. A separação não
é aceita com facilidade;
Cânticos 6:4 – 8:4: quando o casal está junto exalta as qualidades um
do outro;
Cânticos 8:5 – 14: o casamento iniciado deve permanecer até a morte,
pois este é o padrão estabelecido na literatura de sabedoria, como o
padrão divino para o matrimônio.

Como síntese canônica, o livro analisado expressa o modelo de como os


relacionamentos devem ocorrer à maneira de Deus, mostrando o casamento
como uma estrutura sustentável e prazerosa.

Livro de Eclesiastes

Um dos objetivos da literatura sapiencial do AT, é encontrar ordem,


propósito e sentido para a vida. Provérbios e Jó consideram Deus como o
único que revela as verdades que permitem aos homens uma vida sábia em
um mundo em ordem.
Para esses livros, o respeito por Deus é a base para o processo de
busca da sabedoria, encontrada apenas por meio de uma busca profunda, que
só pode ser alcançada em sua plenitude através da revelação divina.
Nenhum desses livros indica que o mundo seja um lugar utópico, onde
tudo funcione de maneira harmônica, pois existem dificuldades, injustiças,
desobediência ao Deus criador do Universo. O que os escritores fazem, é
verificar na revelação divina apresentada, como lidar com os problemas
complexos da humanidade.
O que acabamos de descrever será o contexto no qual Eclesiastes deve
ser entendido, pois seu denso conteúdo pode gerar diferentes interpretações,
como, por exemplo, um tratado existencialista, uma avaliação pessimista da
vida, reflexões de um grande pensador da sabedoria cética.
Na perspectiva do contexto da literatura Sapiencial Hebraica, o livro
pode ser compreendido como uma evidência de que a sabedoria é essencial
ao desenvolvimento de uma espiritualidade saudável.
A leitura do livro pode assustar um pouco o leitor desavisado, pois seu
tom é sombrio. O escritor possui uma habilidade para analisar a natureza
humana.
Esse clima sombrio apresenta sua justificativa a partir de seu
entendimento de que o sentido da vida não pode ser determinado apenas
através da experiência da observação.
O livro de Eclesiastes parte da tese de que é Deus quem define o
sentido da vida, não o homem, mesmo que esta informação traga incômodo ou
desconforto. O fato de não gostarmos de algo não quer dizer que aquilo não
exista.
Em termos estruturais o livro pode ser distribuído da seguinte maneira:

Eclesiastes 1: o autor apresenta um início bastante duro quando afirma


que tudo é inútil, sem sentido. Essa tese está pautada pelo princípio de
que é inútil ao homem buscar, por seus próprios esforços, a sabedoria.
Eclesiastes 2 – 6: apresenta experiências e observações sobre a vida.
Deus é mostrado pelo autor como o Provedor do trabalho,
conhecimento, sabedoria, conhecimento e felicidade.
Eclesiastes 7 – 8: Mostra Javé como o Deus Todo-Poderoso que
domina a história da humanidade, que compartilha deste conhecimento
para ajudar outras pessoas em suas jornadas pessoais e individuais.

Nesse sentido, até mesmo a sabedoria humana pode ser considerada uma
dádiva, pois ninguém consegue entender o que o Senhor está operando no
mundo.

Glossário

Javé: do hebraico Yahveh ou Yehovah, significa "Eu sou quem sou", "Deus"
ou "aquele que traz à existência a tudo que existe".
Eclesiastes 9: 1-12: descreve o Senhor como Aquele que tem o
domínio sobre a morte. Todos, sem distinção, sejam sábios ou tolos,
morrerão no fim. Assim, o autor apresenta os benefícios da vida e pede
para seus leitores que usufruam enquanto podem, pois chegará o dia
em que não será mais possível aproveitar as pequenas alegrias do dia a
dia.
Eclesiastes 9: 13 – 11:6: mais um conjunto de experiências que
apontam para o domínio de Deus na História. Um bloco semelhante ao
capítulo 7 e 8.
Eclesiastes 11:7 – 12:8: retoma a questão da morte. Apenas Deus é
capaz de cessar a vida do indivíduo. Quando alguém entra em óbito, seu
espírito retorna a Deus, que foi quem deu o espírito ao homem. Deus é
aquele que criou o homem, quem oferece a ele a juventude e a idade
avançada e quem pode fazer da morte uma realidade.
Eclesiastes 12:9 – 14: o livro se encerra com uma análise da vida do
escritor da obra por um pupilo que avalia questões importantes, como a
soberania de Deus, por exemplo.

Esse livro precisa ser analisado a partir do restante do cânon hebraico, e


não de maneira isolada. Uma grande preocupação da literatura sapiencial é
traduzir os livros de uma maneira que seja compreensível por parte de seus
interlocutores.

Livro de Salmos

O livro de Salmos é peculiar dentro do cânon do AT. Sua estrutura não


se repete em nenhum outro lugar, sendo um livro singular, por esta razão
precisa ser analisado dentro desta perspectiva.
Praticamente todos os temas tratados pelos livros anteriores são
abordados em Salmos, tanto no que concerne aos atributos de Deus
(Santidade, Proteção, Juiz, Restaurador, Aquele que estabelece Alianças com
Seu povo, entre outras), como aos acontecimentos históricos desde a Criação,
o Êxodo, a
conquista de Canaã e o Reino estabelecido. Todos eles são elementos
abordados pelos Salmos.
Um livro tão amplo como esse apresenta alguns desafios para sua
análise teológica. Desta forma, Deus é apresentado como Senhor da história e
de todas as coisas, um tema central do livro seria o Governo de Javé.
Na estrutura dos Escritos, é Salmos que inicia esta seção das Escrituras
e a abrangência de temas ajuda a entender porque Salmos está inserido no
início do último conjunto de livros do AT hebraico.
Por muito tempo, os Salmos foram analisados pelos estudiosos, em
especial durante a Idade Média, como alegorias que levavam a Jesus Cristo.
Apenas a partir dos estudos de Lutero e Calvino é que a análise dos Salmos,
em seu contexto histórico e social, começou a ser efetivada. Ainda hoje, as
diferentes escolas teológicas debatem sobre diversos detalhes dos Salmos e
maneiras distintas de abordar o tema.
Para os limites de nosso estudo, apresentamos uma divisão de cunho
conservador da estrutura de Salmos, que apresenta o livro da seguinte
maneira:

Salmos 1 – 41: o enfoque está no poder que Deus possui de libertar e


instruir seu povo;
Salmos 42 – 72: apresenta Javé como o Deus que firma e dá
maturidade espiritual;
Salmos 73 – 89: mostra Deus como aquele que repreende e ensina
através da História e da Aliança;
Salmos 90 – 106: retrata Deus como aquele que não se esquece de
Sua Aliança e a sustenta;
Salmos 107 – 150: Revela o Deus que traz renovação e restaura todas
as coisas.
Salmos apresenta uma releitura do que consta na Lei e nos Profetas.
Ele apresenta Javé como o único Deus Criador, que fala, ouve, age na história
e opera em favor do povo escolhido e repreende a quebra da aliança com Ele,
que perdoa, salva e renova. Aborda ainda o Salvador da linhagem de Davi que
governará no futuro e renovará toda a Criação, trazendo juízo sobre os que
praticaram o mal e não aceitaram a aliança divina.

Você sabia?
O livro dos Salmos é feito para qualquer situação. Eles são fontes poderosas
de inspiração para quem está perdido. Dizem que quem abre um salmo e o lê
em voz alta, invoca uma força divina e proteção para todos os momentos da
vida. Esteja onde estiver a oração chega ao alto imediatamente.

Nesta aula referimos a necessidade de se fazer uma leitura dos livros


aqui abordados, tendo por base o contexto em que eles foram escritos, a
análise da História de Israel e os temas principais abordados, bem como a
forma como os escritores percebiam a revelação progressiva de Deus a Israel
e à humanidade como um todo.
AULA 8 – Escritos: Parte 2

Olá! Seja bem-vindo, bem-vinda, à última aula da disciplina de Teologia do


Antigo Testamento. Durante esta última aula, você conhecerá os restantes livros do
grupo dos Escritos. Vamos, então, iniciar este estudo?

Alguns dos livros do Antigo Testamento não estarão na sequência em


que se encontram na Bíblia Hebraica. Quando isso ocorrer, diremos em que
lugar do cânon ele está inserido para o auxiliar na compreensão de como os
leitores originais entenderam o texto.
Então, vamos caminhar pelas ruínas de Jerusalém, quando os judeus
retornaram do cativeiro babilônio e tiveram que reconstruir tudo o que um dia
havia sido glória e esplendor!

Livro de Rute

Este livro está inserido logo após o livro de Provérbios no cânon hebraico.
A razão para essa disposição dos livros pode estar associada ao final de
Provérbios, que termina com a descrição da mulher virtuosa, no capítulo 31.
Nesse sentido, Rute e Noemi seriam dois exemplos de mulheres
virtuosas na prática, não apenas no sentido espiritual. O livro de Rute também
aborda o sofrimento de maneira similar a outros livros de literatura sapiencial,
contudo com grande ênfase na alegria do resgate proposto por Javé. Todo o
sofrimento presente não pode ser comparado à alegria da redenção final e
futura de todo o povo escolhido de Deus.
Desse modo, a estrutura de Rute é a seguinte:
Rute 1:1 – 22: o desafio de Rute e sua sogra Noemi é apresentado na
introdução do livro. Duas mulheres viúvas buscam Deus para
permanecerem firmes, além do companheirismo mútuo.
Rute 2:1-23: Boaz é apresentado como uma possibilidade de mudança
na vida de Rute e Noemi. O texto aborda a fé em Javé que oferece
novos começos para aqueles que O buscam. O fato de Rute ser uma
estrangeira, apresenta o elemento universal da misericórdia divina.
Rute 3:1-18: Boaz é apresentado às condições para o casamento com
Rute e, desta forma, ele também conhece Deus como aquele que
resgata o perdido e oferece misericórdia ao arrependido, mesmo aos
estrangeiros. Aqui, a questão da eleição de Israel fica em segundo
plano, para dar espaço ao elemento da fidelidade em seguir o Senhor.
Assim, no contexto deste livro, a fé e a fidelidade na Aliança com Deus
são mais importantes que a nacionalidade, que será uma tônica ao
longo do cânon.
Rute 4:1 – 22: Rute e Boaz se casam e têm um filho, encerrando o ciclo
que deu início ao livro. Os últimos versos apontam uma genealogia que
insere Davi na linhagem de Rute e Boaz, mostrando que mesmo sendo
estrangeiros, a misericórdia de Deus oferece a salvação e o resgate
para todo Israel, pois inseriu os personagens do livro na linhagem
messiânica de Davi.

Você sabia?

A configuração do Livro de Rute começa no país pagão de Moabe (região


nordeste do Mar Morto) e então se muda para Belém. Este relato verdadeiro
ocorre durante o Período dos Juízes, período marcado por dias sombrios de
fracasso e rebelião dos israelitas.

Este pequeno livro apresenta os resultados da fé em Deus e da


obediência às Alianças tratadas no passado que ainda valem no presente.
Dessa forma, a lei é respeitada, os estrangeiros alcançam misericórdia e são
inseridos no plano de salvação universal de Deus.
Com certeza, vale a pena uma nova leitura a partir desta abordagem!
Livro das Lamentações

Este livro refere as razões que levaram Judá para o Exílio, em 587 a.C.
e aborda o período mais sombrio da história de Israel, que será lembrado pelo
restante do cânon hebraico.

Glossário
Exílio: também chamado de Cativeiro Babilônico, é o nome geralmente usado
para designar a deportação em massa e o exílio dos judeus do antigo Reino de
Judá para a Babilónia, por Nabucodonosor II.

O ponto de partida para explicar as causas do Exílio são os textos da Lei


em Levítico 26 e Deuteronômio 27 e 28. Ele tratará da questão abordada pelos
demais Escritos até aqui sobre o sofrimento humano. O escritor apresenta duas
linhas de análise para seu texto:
1) Lamentações avalia a condição terrível em que Jerusalém se
encontra, ao mesmo tempo que comunica que a justiça e a retidão de Deus
permanecem intocáveis;
2) As causas para a queda de Jerusalém estão relacionadas com as
escolhas do povo e de seus líderes que, por muito tempo, foram inúteis em
seus trabalhos de conduzir o povo de volta à adoração genuína.

Livro de Ester

O livro das Lamentações informa sobre as condições de Jerusalém,


após o exílio babilônico. Ester descreve as condições dos judeus que
permaneceram na Pérsia, após os decretos que permitiram o retorno dos
exilados ao Reino de Judá. Os próximos livros vão apresentar a proteção de
Deus, após este evento muito importante para o futuro do remanescente de
Israel.
Ester é o segundo livro, junto com o Cântico dos Cânticos, que não
menciona Deus de maneira direta. Esse fato traz consigo desafios de ordem
teológica em sua abordagem. O livro trata das experiências de Israel, após a
ruína/exílio.
Essa ambientação persa dos exilados que permaneceram na Pérsia está
de acordo com o contexto de Neemias e Esdras. Os acontecimentos contidos
no livro dão conta do período aproximado de 487 – 465 a.C.
Embora não tenhamos referências ao autor do livro, porém diversos
autores mais recuados no tempo, como Flávio Josefo, que no século I inseria
Ester como parte das Escrituras, nos leva a analisar esse livro como parte do
cânon mais antigo.
Diversos autores apresentaram o livro com propósitos teológicos, pois
não existe consenso nesta questão. De maneira geral, podemos entender Ester
como a descrição da proteção de Deus ao Seu povo, mesmo em terras
estrangeiras. A alegria de Ester, por meio da vitória que salva seus
compatriotas, é o contraponto ao lamento pela derrota no livro das
Lamentações.
De maneira teológica, podemos estruturar Ester da seguinte maneira:

Ester 1:1 – 4:17: Deus permite que seu povo enfrente desafios durante
o exílio;
Ester 5:1 – 9:19: o Senhor salva e resgata seu povo da morte certa;
Ester 9:20 – 10:3: uma nova festa é criada por Deus, o Purim, cujo
objetivo é relembrar às próximas gerações que o que foi cometido pelos
exilados não será repetido no futuro. O povo precisa se lembrar dos
erros, para não os cometer novamente.

Você sabia que?


No livro de Ester e também no livro de Cantares não aparece a palavra Deus.
Ester 8:9 é o mais comprido versículo da Bíblia.

Os últimos livros do Cânon Hebraico começam a mostrar um ponto


interessante na teologia bíblica. A partir de agora, os textos mostrarão que
Deus protegerá o povo Dele, independentemente do local onde estiverem
dispersos. A localização geográfica e o apego à terra prometida, embora ainda
seja muito importante, não será mais fundamental para a certeza de que o
Senhor continua cuidando e protegendo Israel. Esta mudança no discurso será
muito utilizada pelos autores do Novo Testamento.

Livro de Daniel

Este livro continua a narrar a situação dos exilados na Babilônia. Daniel


também está em terra estrangeira, e o livro descreve os desafios que ele
enfrenta diante de uma cultura hegemônica colossal, sendo monoteísta e
inserido em um universo politeísta. Daniel foi levado para a Babilônia durante o
governo de Nabucodonosor, por volta de 605 a.C.
Mesmo diante de muitos desafios, os fiéis exilados aprendem que Deus
continua cuidando deles, independentemente do local onde estiverem. A
diferenciação literária deste livro tem causado muita discussão teológica, talvez
como nenhum outro livro no AT, por diversas razões que, de forma breve,
vamos apontar em seguida.
Um primeiro diferencial, que não existe em nenhum outro livro do AT, é
que esse livro está escrito em duas línguas. Daniel começa em hebraico (1:1 –
2:4 a), continua em aramaico (2:4b – 7:28), a língua oficial do império persa e
termina sua escrita em hebraico (8:1 – 12:13). Outro elemento que atribui
complexidade à análise teológica do livro é a linguagem apocalíptica que
abrange boa parte de Daniel, em especial nos capítulos 7 – 12.
Entre os elementos que caracterizam essa literatura de cunho
apocalíptico, podemos citar:

o uso de uma elevada linguagem simbólica; a periodização da história futura do


mundo; a ênfase na soberania de Deus; o uso de anjos e visões para revelar o
futuro; a vitória final de Deus e do povo de Deus sobre as forças do mal.
(HOUSE, 2009, p. 636.)
Não vamos abordar, aqui, detalhes históricos do livro, pois nosso intuito
é analisar a teologia contida nos livros do AT. A posição do livro no cânon
hebraico é importante para nossa análise.
Como Daniel está inserido no final da lista dos livros que compõem o AT,
a linguagem apocalíptica e a narrativa que mostra o cuidado de Deus com os
exilados, reforçam a teologia que existe ao longo de todo o Antigo Testamento,
desde Gênesis e a aliança com Abraão.
Os relatos de libertação sobrenatural em que os amigos de Daniel são
atirados na fornalha, descrita no capítulo 3, ou a presença do próprio Daniel na
cova dos leões, no capítulo 6, mostram a preocupação em descrever o Deus
de Israel como aquele que protege e guarda quem é fiel.
Tal descrição apresenta um apanhado de ideias já estabelecidas com
relação à teologia do AT. Contudo, Daniel vai mais além com a introdução de
novos conceitos relacionados à literatura apocalíptica, contida em seu livro, que
não encontramos na literatura profética.
Portanto, estruturalmente um livro tão rico pode ter diferentes
interpretações e divisões diferentes de acordo com a linha teológica. No caso
do nosso estudo, a linha mais simples será a mais eficaz.
Nesse sentido, dividimos o livro em duas partes principais para nos
ajudar na análise.

Daniel 1 – 6: Apresenta uma estrutura bastante semelhante ao livro de


Ester, no qual conta a vida que os exilados levaram na Babilônia com o
foco em Daniel e seus amigos. Existe uma preocupação em descrever
os desafios e aflições que os judeus passaram em seu exílio.
Independentemente das aflições, Deus protege Seu povo.
Daniel 7 – 12: Daniel descortina o futuro e mostra o Deus que revela o
futuro e governa todos os eventos dos homens. O livro como um todo
aponta Javé como aquele que protege, governa e revela.

O Senhor é o Todo-Poderoso para exaltar os humildes, humilhar os


poderosos e ressuscitar os mortos. É neste Deus que a esperança, em um
futuro após o exílio, deve ser depositada por parte daqueles que estão na
Babilônia.
Esse parece ser o recado de Daniel para seus contemporâneos, e também
para aqueles que creem no mesmo Deus em nossos dias.
Na medida em que os exilados se portam como o povo escolhido de
Deus, há possibilidade de retorno e do cumprimento da profecia de Jeremias a
respeito dos 70 anos de cativeiro.
Vale notar que a profecia, em si, não é sinônimo de libertação, mas sim
a correspondência do agir deste povo conforme a profecia é que os capacita a
verem o cumprimento do tempo exato profetizado anteriormente. Os últimos
livros vão ajudar a entender a teologia do retorno desses exilados para casa.

Livro de Esdras e Neemias

A Bíblia hebraica, que temos chamado de Cânon Hebraico, sempre


tratou Esdras e Neemias como um único livro. Daniel termina com uma
expectativa de melhora no ambiente político, religioso e social de Israel. O livro
de Esdras e Neemias vai narrar a reconstrução e restauração de Judá.
Alguns profetas do Livro dos Doze já haviam falado sobre essa
restauração como Ageu, Zacarias e Malaquias. A descrição a partir de um
ponto de vista sacerdotal, que acontece aqui, aponta a ênfase dos livros na
cidade de Jerusalém e na reconstrução do templo e do culto nacional.
A razão para a unidade de Esdras – Neemias precisa ser analisada para
uma melhor compreensão de seu conteúdo. Em primeiro lugar, os dois
personagens são contemporâneos e trabalharam juntos, conforme descrito em
Neemias 8:1-18. O trabalho dos dois foi fundamental para a restauração da
aliança de Israel com Seu Deus.
Em segundo lugar, os dois livros abrangem praticamente o mesmo
período de tempo sendo complementares, pois ambos servem ao imperador
Artaxerxes I, entre 464 – 444 a.C. O trabalho de ambos será feito quando
Jerusalém estiver tomada por não judeus que tentam a todo custo impedir que
os remanescentes consigam ter êxito em seus objetivos de restaurar o culto e a
infraestrutura, para que o povo volte a habitar na terra.
Em terceiro lugar, ambos os livros apresentam temas semelhantes.
Esdras trata a restauração da fé pública, através da renovação do culto e da
ordem sacerdotal, enquanto Neemias relata a reconstrução dos muros da
cidade.
Dessa forma, ambos são complementares por apresentarem uma única
preocupação com a reconstrução, a partir de pontos de interesse distintos. A
mensagem parece mais coesa e forte quando apresentada em conjunto, como
o cânon hebraico sugere.
A estrutura teológica desse livro é a seguinte:

Esdras 1 – 6: apresenta a história de Israel a partir do decreto de Ciro,


em 539 a.C., que permite o retorno dos judeus à sua terra. Deus é
descrito como o Senhor que restaura o remanescente fiel.

Esdras 7 – 10: mostra que a restauração não deve se resumir à


reconstrução do Templo ou ao culto, mas também ao comportamento do
povo. A pureza será exigida com o fim do exílio.

Neemias 1 – 7: revela que o Senhor, em última instância, é o


reconstrutor de Jerusalém. Os remanescentes precisam trabalhar para
realizar essa obra, mas precisam de recursos materiais e de um líder
que os ajude na tarefa. Mais uma vez, o padrão teológico é mantido.
Desde o Êxodo, durante a Conquista e a Monarquia, a existência de
líderes segundo o coração de Deus é de fundamental importância para o
sucesso do trabalho.

Neemias 8 – 13: Aponta Deus como aquele que inspira a renovação da


aliança. O doloroso processo do exílio mudou a mentalidade de Judá
com relação a Deus e a seu papel na aliança com o Senhor. Seu retorno
à terra prometida, aos patriarcas, converteu o coração do remanescente
ao Deus que os restaurou do centro da promessa divina.

Com o fim do livro, muito ainda precisa ser feito para que as profecias
dos profetas posteriores sejam vislumbradas em sua plenitude. Porém, a
esperança foi renovada. Deus mantém suas promessas mesmo depois de mais
de mil anos
do Êxodo. Portanto, o povo deve manter a fé no Senhor e continuar
trabalhando para que se torne uma nação santa e separada.
Mesmo ainda não atingindo o cumprimento das profecias de Isaías, por
exemplo, Israel pode crer que o Deus que os protegeu até aqui continuará
cuidando deles por toda a História.

Crônicas

O último livro do cânon hebraico é erroneamente confundido com a


descrição de Reis, no qual muitos leitores acabam confundindo seu conteúdo e
acreditando que o mesmo é apenas uma repetição do livro que o antecede na
bíblia moderna.
Encarar o livro de Crônicas (que mais uma vez não apresenta divisões
entre 1 e 2), nos ajuda a entender seu propósito teológico. O livro conta com
uma série de genealogias que iniciam em Adão e terminam no governo persa.
Para essa tarefa, foram utilizadas diversas fontes disponíveis na época,
documentos esses que desconhecemos, além de diversas partes do AT. O fato
do autor citar as fontes de sua pesquisa, demonstra seu interesse em ser
preciso em suas informações.
Uma descrição sacerdotal da história de Israel pode ser percebida nas
páginas de Crônicas, pois o cronista entende que Deus é o senhor da História
e, por isso, seus leitores precisam segui-Lo para que o futuro dos judeus seja
mais brilhante do que a história contada mostrou a eles.
A estrutura teológica do texto é a seguinte:

Crônicas 1:1 – 9:34: uma grande genealogia mostra que Deus escolheu
Israel como uma nação eleita para ser um povo santo e separado. Por
essa razão o cronista inicia seu trabalho na criação de Gênesis.
Crônicas 9:35 – 29:30: nesta parte, o personagem principal é Davi, pois
aliança davídica será muito importante a partir deste ponto da narrativa.

Glossário
Davídico: pertencente ou relativo a Davi, segundo rei

Crônicas 1 – 9: a fidelidade de Deus à aliança com Davi colocará seu


filho Salomão no trono, e ele realizará o desejo de seu pai de construir
uma casa para Deus, um Templo nos moldes do tabernáculo de Moisés.

Crônicas 10 – 36: os altos e baixos da monarquia mostram que o povo


que quebra a aliança será castigado por Deus. O castigo tem o objetivo
de uma repreensão de um pai amoroso que não deseja que seus filhos
sejam feridos, por não seguirem de acordo com sua segurança. O
mesmo Deus que pune também restaura e promete a restauração ao
remanescente fiel.

Teologicamente, Crônicas apresenta uma tentativa de interpretar no


presente o resultado de todo o cânon do AT. Sua presença no fim dos livros do
AT, no contexto hebraico, reforçam a ideia de que este é o livro que sintetiza
tudo o que veio antes. Estudá-lo nesse contexto seria de grande ajuda para a
compreensão do AT como um todo.
Assim sendo, nesta aula vimos que o fracasso de Israel em obedecer
aos parâmetros da aliança do homem, faz com que Deus trace planos
diferenciados para o futuro, aumentando os limites do conceito de povo para
além de Israel.
Isso fica claro ao longo das profecias que mostram a restauração
completa não apenas de Israel, mas de todas as nações da terra. Nos escritos
há exemplos de estrangeiros que experimentam a graça e a misericórdia
divina, como descrito em Rute, e a gradativa inserção de judeus em outras
culturas, fruto do exílio babilônio, mostram que Deus se preocupa não apenas
com Israel, mas que toda a humanidade está inserida nos planos redentores de
Deus
Bibliografia

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WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo:
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Currículo do professor - autor

Eduardo Luiz de Medeiros

Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná (2015), possui


graduação em História pela mesma instituição (2006). Especialista em Teologia
Bíblica pela Universidade Mackenzie de São Paulo. Atua em instituições de
Ensino Superior na área de Ensino à Distância e Pós-Graduação em Docência
do Ensino Superior. Autor de livros nas áreas de História e Teologia, bem como
manuais para cursos EAD em âmbito nacional. Gravação de DVD's didáticos
para auxílio a alunos do sistema de ensino à distância. Gravação de aulas de
cursos de Teologia na modalidade EaD em diversas instituições de ensino.
Tem experiência na área de História, com ênfase em História Antiga e
Medieval, atuando principalmente nos seguintes temas: Cristianismo, Política
Medieval, Monarquia, Heresias, História da França, Judaísmo, Cruzada,
Ecumenismo e Islamismo.

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