Você está na página 1de 8

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

CIRCUITOS ELÉTRICOS III

Prof. José Nilton Cantarino Gil

1- Introdução aos Circuitos de Corrente Alternada- Potência em C.A.

Em um circuito CC, como o mostrado na figura 1(a), a potência fornecida


à carga é simplesmente o produto da tensão pela corrente que circula na carga. Já
a figura 1(b) mostra uma fonte de tensão alternada monofásica que fornece energia
a uma carga que atrasa a corrente em  graus. O ângulo da impedância Z é positivo
em  graus e isso fará com que a corrente fique atrasada em relação à tensão.

A tensão aplicada a essa carga é: 𝑣(𝑡) = √2 ∗ 𝑉 ∗ cos 𝜔𝑡(eq.1), sendo que enquanto
V é o valor eficaz ou RMS da tensão, o fator √2 ∗ 𝑉 equivale ao valor de pico da
mesma.
Figura 1: Alimentando uma carga com corrente contínua e alternada
Fonte: Chapman (2013)

A corrente resultante no circuito da figura 1(b) é dada pela equação 2 a


seguir:

𝑖(𝑡) = √2 ∗ 𝐼 ∗ cos(𝜔𝑡 − 𝜃) (eq;2)

Sendo I o valor eficaz da corrente, e assim com a tensão, o valor √2 ∗ 𝐼 equivale


ao valor de pico da corrente. Não nos esqueçamos que os valores RMS (ou eficazes)
são os valores normalmente medidos pelos instrumentos que utilizamos.

A potência instantânea fornecida à carga no instante t é:

𝑝(𝑡) = 𝑣(𝑡) ∗ 𝑖(𝑡) = 2 ∗ 𝑉 ∗ 𝐼 ∗ cos 𝜔𝑡 ∗ 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 𝜃) (eq.3)

Se aplicarmos identidades trigonométricas a essa equação, poderemos


manipulá-la chegando a uma expressão da forma:

𝑝(𝑡) = 𝑉 ∗ 𝐼 ∗ cos(1 + 𝑐𝑜𝑠 2𝜔𝑡 ) + 𝑉 ∗ 𝐼 ∗ 𝑠𝑒𝑛 𝜃 ∗ 𝑠𝑒𝑛 2𝜔𝑡 (eq.4)

O primeiro termo da equação 4 representa a potência fornecida à carga pela


componente da corrente que está em fase com a tensão, ao passo que o segundo
termo representa a potência fornecida à carga pela componente da corrente que está
defasada 90º em relação a tensão. As componentes dessa equação estão plotadas na
figura 2.
Observe que o primeiro termo dessa expressão é sempre positivo, apesar de
produzir pulsos de potência em vez de um valor constante. Já o segundo termo é
positivo na metade do tempo e negativo na outra metade, sendo sua potência média
zero, porque representa a potência que primeiramente é fornecida à carga e em
seguida é retornada da carga para a fonte. O primeiro termo é conhecido como
potência ativa(P) e o segundo termo como potência reativa(Q).
Figura 2: Componentes da Potência C.A.

Fonte: Chapman (2013)


A potência ativa P é dada em watt e P= V* I* cos() e a potência reativa Q
será calculada em volt-ampere-reativo (var) e Q=V*I*sen(). A potência reativa
representa a energia que primeiro é armazenada e depois é liberada do campo
magnético de um indutor ou do campo elétrico de um capacitor. Por convenção o
valor de Q será positivo para cargas indutivas e negativo para cargas capacitivas,
assim como os ângulos de defasagens de suas respectivas reatâncias.
A potência aparente (S) fornecida a uma carga é definida como o produto da
tensão pela corrente caso ignorarmos os ângulos de defasagem entre elas, usa a
unidade volt-ampere (VA), para quantificar a potência que “parece” ser fornecida
à carga, segundo Chapman (2013):

S=V*I (eq.5)

P = S * cos () (eq.6)

Q= S * sen () (eq.7)

Formas alternativas das equações de potência

Se uma carga possuir impedância constante, a lei de Ohm poderá ser usada e
poderemos utilizar expressões alternativas para as potências ativa, reativa e
aparente que são fornecidas a carga.

V = I*Z (eq.8)

Substituindo nas equações 5, 6 e 7, teremos:

S = I2*Z (eq.9)

P = I2*Z*cos() (eq.10)

Q=I2*Z*sen() (eq.11)

Onde Z é o módulo da impedância da carga, |Z|.

Como a impedância da carga pode ser escrita como

Z=R+jX (eq.12)

Z = |Z|*cos() + j|Z|*sen() (eq.13)


R = |Z|*cos() (eq.14)

X=|Z|*sen() (eq.15)

E se substituirmos R e X nas equações 10 e 11 chegaremos a

P = I2* R (eq.16)

Q= I2*X (eq.17)

Onde R é a resistência e X é a reatância da carga Z.

Potência complexa

Segundo Chapman (2013), para simplificar os cálculos em computador, as


potências ativa e reativa são representadas em conjunto na forma de uma potência
complexa S em que:
S = P + jQ (eq.18)

e S fornecida à carga pode ser calculada a partir da equação

S = VI* (eq.19)

Onde o asterisco representa o operador de conjugado complexo.

Obs: Dado um número complexo 𝑧 = 𝑎 + 𝑏𝑖 ( em que a, b ℝ), chama-se conjugado


de z ao número complexo tal que 𝑧̅ = 𝑎 − 𝑏𝑖. Assim, 𝑧 𝑒 𝑧̅, são complexos
conjugados se têm, respectivamente, partes reais iguais e partes imaginárias
simétricas, segundo o site www.infopedia.pt/$conjugado-de-um-complexo, visitado
em 30/08/2021.

Na prática, para se obter o conjugado de um número complexo, trocamos o sinal do


coeficiente da parte imaginária. Geometricamente, podemos observar que
dois números complexos conjugados têm, respectivamente, partes reais iguais e
partes imaginárias simétricas.

Assim para compreendermos essa equação vamos supor que V = V  e a


corrente através da carga I= I , e assim:

S = VI* = (V  )(I -) = VI  (-)=VI cos (-)+jVI sen (-) (eq.20)

Se considerarmos que  é o ângulo da impedância da carga e que  = -, a equação


20 reduz-se a
S = VI cos() + jVI sen() (eq.21)
S = P + jQ (eq.22)

Relações entre ângulo de impedância, ângulo de corrente e potência

Para uma carga com ângulo  positivo, isto é, uma carga com característica
indutiva, podemos escrever que:

Segundo Chapman (2013), uma carga indutiva como a representada no circuito da


figura 3, produz uma corrente atrasada e consome potência ativa P e potência
reativa Q da fonte.

Figura 3 – Carga Indutiva

Fonte: Chapman (2013)

Já uma carga capacitiva, que provoca uma corrente adiantada da tensão, irá
consumir potência ativa P da fonte e fornecer potência reativa Q para a fonte,
conforme afirma Chapman (2013), conforme representada na figura 4.

Figura 4 – Carga Capacitiva

Fonte: Chapman (2013)


As relações de potência podem ser representadas por um triângulo, conhecido
como triângulo de potência, como o representado na figura 5. A relação entre a
potência ativa e a potência aparente é conhecida como fator de potência FP.

FP = cos() (eq.23)

Figura 5 – Triângulo de potência

Fonte: Chapman (2013)

Para finalizar vamos resolver o problema representado no circuito da figura abaixo,


calculando as potências Ativa, Reativa e Aparente, além do fator de potência da
carga.

A corrente fornecida à carga, será:

𝑉 120 ∠0𝑜
𝐼= = 𝑜
= 6∠30𝑜 𝐴
𝑍 20∠ − 30

O triângulo de potência é:
O fator de potência da carga:

FP = cos() = cos(-30)= 0,866 adiantado

Obs: carga é capacitiva pois o ângulo é negativo e a corrente está adiantada


da tensão

P = V*I*FP =120*6*0,866 = 623,5 W

Q= V*I*sen()=120*6*-0,5= -360 var

S= V*I = 120*6= 720 VA

A potência complexa fornecida à carga será:

S = VI*

𝐒 = (120∠0𝑜 )( 6∠30𝑜 𝐴)∗

S = (1200o V).(6-30o A) = 720 -30o VA

S = 623,5 – j360 VA

Exercícios de fixação:

1) (Problema 1.18, Chapman) Assuma que a tensão aplicada à uma carga


V=208-30º e que a corrente que circula na carga é I=220º A.
(a) Calcule a potência complexa S consumida por essa carga.
(b) Essa carga é indutiva ou capacitiva?
(c) Calcule o fator de potência dessa carga.

2) (Problema 1.19, Chapman) A figura abaixo mostra um sistema de potência


CA monofásico simples com 3 cargas. A fonte de tensão é V=2400o e as
impedâncias das 3 cargas são:
Z1=1030º , Z2=1045º , Z1=10-90º .
Responda às seguintes questões sobre esse sistema de potência:
(a) Assuma que a chave mostrada na figura está inicialmente aberta.
Calcule a corrente I, o FP e as potências Ativa, Reativa e Aparente
fornecidas pela fonte.
(b) Quanta potência ativa, reativa e aparente é consumida por cada carga
com a chave aberta?
(c) Agora suponha que a chave mostrada na figura seja fechada. Calcule
a corrente I, o FP e as potências ativa, reativa e aparente que são
fornecidas pela fonte.
(d) Quanta potência ativa, reativa e aparente é consumida por cada carga
com a chave fechada?
(e) O que aconteceu com a corrente que fluía da fonte quando a chave foi
fechada? Por quê?

Referências Bibliográficas:
CHAPMAN, Stephen, J. Fundamentos de Máquinas Elétricas, 5 ed., Bookman
McGraw Hill, Porto Alegre, 2013

Você também pode gostar