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Introdução aos Fenômenos de Transporte


1 – Mecânica dos Fluidos
Élcio Nogueira
1 Introdução
Trata-se de uma visão particular da disciplina Fenômenos de Transporte, uma vez que o
objeto de estudo desta disciplina é muito vasto. Fenômenos de Transporte abrange
conteúdos relacionados com Termodinâmica, Mecânica dos Fluidos, Transferência de
Calor e Massa. Os conteúdos citados tratam de difusão de massa, difusão de quantidade
de movimento, difusão de energia e leis da termodinâmica. Este é o motivo por existirem
na literatura diversos textos com conteúdos abrangentes em uma das áreas e incipientes
em outras, quando abordadas.
A abordagem adotada nesta síntese inicial engloba, de certa forma, as três grandes áreas,
com conteúdos restritos em cada uma delas. Trata-se, de fato, de uma abordagem baseada
na experiência do autor como docente da disciplina por mais de 25 anos de atividade
docente no ensino superior.
1.1 Princípios de Conservação da Natureza e Leis da Termodinâmica
Os princípios de conservação, e suas leis, encontram-se no cerne dos conteúdos abordados
pela disciplina de Fenômenos de Transporte. Neste sentido, iniciamos nosso texto
enumerando-os.
- Leis de Newton;
- Princípio de Conservação da Massa;
- Princípio de Conservação da Quantidade de Movimento;
- Princípio de Conservação da Energia (1ª Lei da Termodinâmica);
- 2ª Lei da Termodinâmica.
Quando os conteúdos da disciplina são associados aos princípios de conservação as
equações, e as consequências advindas, possuem sentido e encontram-se englobadas a um
contexto mais abrangente.
1.1.1 1ª Lei de Newton
“Todo sistema tende a permanecer no seu estado de equilíbrio.”
- Equilíbrio Estático (repouso em relação a um referencial);
- Equilíbrio Dinâmico (movimento retilíneo uniforme – MRU em relação a um
referencial;
1.1.2 Lei da Inércia
Inércia é a resistência que um sistema exerce quando instado a sair do equilíbrio.
“Massa é a quantificação da inércia.”

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1.1.3 2ª Lei de Newton


A segunda Lei de Newton é a quantificação da inércia de um sistema.
A força é a “ação” associada à quebra do equilíbrio de um sistema. A quantificação da
força está associada à variação da quantidade de movimento do sistema, ou seja:

 d P
F= (1.1)
dt
onde,
 
P = mV (1.2)

m → é a massa do sistema e V → é a velocidade

Logo,

  dm dV
=F V +m (1.3)
dt dt
1.2 Derivação do Teorema dos Transporte ou Teorema de Reynolds
V Velocidade

m Massa

m
∆m1
V ∆m1 = ρ1∆V1 ρ1 =
∆V1

∆m2
∆m2 = ρ 2 ∆V2 ρ2 =
∆V2

∆V
m = ∆m1 + ∆m2 + ∆m3 + ... + ∆mk
k k
m= ∑ ∆mi =
i
∑ ρ ∆V
i
i i k → ∞ → ∆V → dV → m = ∫ ρ dV
V

Para corpos uniformes


= ρ cons tan te
= ∫ dV ρV
→ m ρ=
V

Definições:
Grandeza Extensiva: é uma grandeza física qualquer associada à massa de um corpo
(sistema).
Exemplos: quantidade de movimento; energia; entalpia; força; etc.

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Grandeza Intensiva: grandeza física não associada à massa do corpo (sistema).


Exemplo: temperatura; pressão. Etc.
N grandeza extensiva qualquer

V
∆V1
m
∆m1

∆V2
N
∆m2

∆VK
∆mK

∆N1 ∆N1
η1 = = → ∆N1 =η1∆N1 =η1 ρ1V1
∆m1 ρ1V1

∆N 2 ∆N 2
η2 = = → ∆N 2 =η 2 ∆N 2 =η 2 ρ 2V2
∆m2 ρ 2V2

∆N k ∆N k
ηk = = → ∆N k =η k ∆N k =η k ρ kVk
∆mk ρ kVk
k k
N = ∆N1 + ∆N 2 + ∆N 3 + ... + ∆N k = ∑ ∆N i = ∑ηi ρi ∆Vi
i i

k → ∞ → ∆V =
→ dV → N ∫=
ηρ dV ; dV
V
dxdydz

Caso particular:
∆N ∆m
N = m →η = = = 1 → N = m = ∫ ρ DV
∆m ∆m V

Definições:
Sistema: é uma quantidade fixa de matéria (massa; exemplo: bexiga cheia de ar).
Volume de controle: região do espaço que contém uma grandeza extensiva e na qual
fixamos a atenção ao longo do tempo. O contorno do volume de controle é denominado
superfície de controle. A grandeza extensiva pode atravessar a superfície de controle ao
longo do tempo de observação.

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I
V.C III

II

𝑡𝑡 𝑡𝑡 + ∆𝑡𝑡

A grandeza N no instante t é dada por:

=Nt ∫ ηρ dv
I t + ∫ ηρ dv
II t

A grandeza N no instante t +∆t é dada por:

=N t +∆t ∫ III
ηρ dv t +∆t + ∫ ηρ dv
II t +∆t

∆N N t +∆t − N t
=
∆t ∆t

∆N
=
( ∫
III
ηρ dv t +∆t + ∫ ηρ dv
II t +∆t ) − ( ∫ ηρ dvI t + ∫ ηρ dv
II t )
∆t ∆t

lim∆t →0
∆N
lim∆t →0
( ∫ III
ηρ dv t +∆t + ∫ ηρ dv
II t +∆t ) + lim ( ∫ ηρ dv I t + ∫ ηρ dv
II t )
∆t → 0
∆t ∆t ∆t
Lembrando:
df f ( t + ∆t ) − f ( t )
= lim∆t →0
dt ∆t
Como,

( ∫ ηρ dv t +∆t − ∫ ηρ dv t +∆t )= ∂
∂t ∫V .C .
lim∆t →0 II II
ηρ dv
∆t
e,

( ∫ ηρ dv t +∆t − ∫ ηρ dv t +∆t )=  
∫ ηρV .d A
III I
lim∆t →0
∆t S .C

tem-se que:
dN ∂  
dt ∂t ∫V .C . ∫ S .C .d A
= ηρ dv + ηρ V

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A equação acima é a representação integral dos princípios de conservação, denominada


de Teorema dos Transportes ou Teorema de Reynolds.
1.3 Princípio de Conservação da Massa
Considere
N = m →η = 1

Logo, temos
dm ∂  
dt ∂t ∫V .C . ∫ S .C .d A
= ρ dv + ρ V

A equação acima representa o princípio de conservação da massa.


Suponha que a massa do sistema permanece constante durante o intervalo de tempo de
observação:
Neste caso, tem-se que:
dm ∂  
0 → ∫ ρ dv + ∫ ρV .d A =
= 0
dt ∂t V .C . S .C

Se não há variação de massa com o tempo (regime permanente!):


∂  


∂t V .C .
0 → ∫ ρV .d A =
ρ dv =
S .C
0

A equação acima é denominada de “equação da continuidade”. A equação da continuidade


pode ser interpretada por: “O que entra de massa no volume de controle, ao longo do
tempo, é igual ao que sai do volume de controle.”
Considere o seguinte volume de controle:
 
V1 d A1
 
V 1 . d A1 = V1dA1 cos 180º = −V1dA1
  
d A3 V 2 . d A2 V=
= 1dA1 cos o
º
V2 dA2
 
3 dA3 cos 90
º
V 3 . d A3 V=
= 0
V.C

 
V2 d A2

Logo,
 
∫ S .C
− ∫ ρ1V1dA1 + ∫ ρ 2V2 dA2 =
ρV .d A =
I II
0

Supondo valores médios para as grandezas nas superfícies de entrada e saída de massa:

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− ρ1V1 ∫ dA1 +ρ 2V2 ∫ dA2 =


0 → ρ1V1 A1 =
ρ 2V2 A2 ( Equação da Continuidade )
I II

A equação acima é válida para líquido, vapores e gases.


Observe que:
kg m 2 kg
[ ρVA]
= = m ( vazão em massa )
m3 s s
Se o fluido é incompressível (válido para líquidos a pressões não muito elevadas):
ρ1 =ρ 2 → V1 A1 =V2 A2

m 2 m3
[VA=] m
= → ( vazão em volume )
s s
1.4 Princípio de Conservação da Energia
Suponhamos
=N E ( Energia
= ) → η e ( energia específica ou energia por unidade de massa )

J
[ e] =
kg

Pelo Teorema dos Transportes temos:


dE ∂  
= ∫

dt ∂t V .C .
eρ dv + ∫ eρV .d A
S .C

Pela primeira lei da termodinâmica sabemos que a variação de energia só ocorre através
de duas grandezas físicas que atravessam a superfície de controle, Calor e Trabalho, ou
seja:
DE ∂Q ∂τ
= − ( primeira lei daTer mod inâmica )
Dt ∂t ∂t
onde,
∂Q
é a responsável pela variação de energia na forma de calor
∂t
e
∂τ
é a responsável pela variação de energia na forma de trabalho.
∂t
Logo,
∂Q ∂τ ∂  
∂t ∂t ∂t ∫V .C . ∫ S .C .d A
=− e ρ dv + e ρ V

A equação acima representa, em termos gerais, o princípio da conservação da energia na


forma integral.

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O trabalho efetuado pode ser decomposto em três formas básicas:


τ = τ eixo + τ P + τ vis cos o

τ eixo representa o trabalho efetuado por um eixo que atravessa a superfície de controle.

τ P representa o trabalho efetuado pelas forças de pressão na superfície de controle.

τ vis cos o representa o trabalho efetuado pelas forças viscosas.

Logo, temos
∂Q ∂τ eixo ∂τ P ∂τ vis cos o ∂  
∂t ∫V .C . ∫ S .C .d A
− − − = e ρ dv + e ρ V
∂t ∂t ∂t ∂t
Para solução aproximada de grande número de problemas que ocorrem na engenharia
podemos admitir hipóteses simplificadoras. As soluções aproximadas, apesar de
incompletas, podem lançar luz sobre problemas complexos, de difícil solução. As
soluções aproximadas de problemas são muito utilizadas na área de ciência exatas.
Hipóteses simplificadoras:
∂Q
= 0 → não há troca de energia na forma de calor pela fronteira do sistema (sistema
∂t
adiabático).
∂τ eixo
= 0 → não há troca de energia associado a um eixo que atravessa a superfície.
∂t
∂τ vis cos o
= 0 → não há troca de energia na forma de trabalho associada a forças viscosas.
∂t
A terceira hipótese leva a uma solução que contraria a 2ª Lei da Termodinâmica e, por
isto, o sistema onde é admitida denomina-se de “Sistema Ideal”. A segunda lei da
termodinâmica está associada à Entropia, grandeza física que “mede” o grau de desordem
de um sistema. A 2ª Lei pode ser enunciada de várias maneiras diferentes, cada uma
envolvendo um grau de conhecimento associado ao problema analisado:
- Todo processo natural é irreversível;
- Todo processo natural dissipa energia na forma de calor;
- Não existe máquina (sistema que troca energia, principalmente na forma de trabalho)
cujo rendimento seja 100%;
- A Entropia do universo está aumentando;
- O grau de desordem de um sistema ocorre naturalmente (Exemplo: sala de aula).
Como se pode constatar, um sistema ideal é muito restritivo, principalmente por não
considerar a ação de forças viscosas. Entretanto, as forças viscosas podem levar a
soluções muito complexas.
A partir das três hipóteses assumidas acima temos:

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∂τ ∂  
∂t ∫V .C . ∫ S .C .d A
=
− P e ρ dv + e ρ V
∂t
O trabalho efetuado pelas forças de pressão através da superfície de controle pode ser
determinado a partir da expressão abaixo (vide a obtenção da equação no livro de Fox &
Macdonald “Introdução à Mecânica dos Fluidos):
∂τ P  
= ∫ pV . d A
∂t S .C .


∂t ∫V .C .
Se considerarmos regime permanente ( eρ dv = 0 ) temos:

   
− ∫ pV . d A = ∫ e ρ V .d A
S .C . S .C

ou
   
∫ S .C .
pV . d A + ∫
S .C
eρV .d A =
0

ou
p  
∫S .C
(e+
ρ
)ρV .d A =
0

A energia específica e, denominada energia mecânica, pode ser subdividida em três


formas distintas, ou seja:

V2
e =u + + gz
2
onde,
u → energia int erna por unidade de massa

V2
→ energia cinética por unidade de massa
2
gz → energia potencial gravitacional por unidade de massa

z → posição relativa do sistema

Logo, temos

V2 p  
∫
S .C
(u +
2
+ gz + )ρV .d A =
ρ
0

Para exemplificação de aplicação da equação acima iremos considerar um sistema


simples, associado ao escoamento de um fluido em um tubo.

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 
V1 d A1
 
V 1 . d A1 = V1dA1 cos 180º = −V1dA1
  
d A3 V 2 . d A2 V=
= 1dA1 cos o
º
V2 dA2
 
3 dA3 cos 90
º
V 3 . d A3 V=
= 0
V.C

 
V2 d A2

V12 p   V2 p   V2 p  


∫ S .C
( u1 +
2
+ gz1 + 1 )ρ1V1 .d A1 + ∫ ( u2 + 2 + gz2 + 2 )ρ 2 V2 .d A2 + ∫ ( u3 + 3 + gz3 + 3 )ρ3 V3 .d A3 =
ρ1 S .C 2 ρ2 S .C 2 ρ3
0

Portanto,

V12 p V2 2 p
∫ S .C ( u1 + 2 + gz1 + ρ11 )ρ1V1 dA=1 ∫ S .C ( u2 + 2 + gz2 + ρ22 )ρ2V2 dA2
Supondo grandezas físicas médias em cada uma das seções retas:

V12 p1 V2 2 p
( u1 + + gz1 + )ρ1V1 A1 = ( u2 + + gz2 + 2 )ρ 2V2 A2
2 ρ1 2 ρ2

Veja que:
ρ1V1 A1 = ρ 2V2 A2 pelo princípio de conservação da massa

Para sistemas isotérmicos (sem variação de temperatura, u = 0 ), temos:

V2 2 p V2 p
+ gz2 + 2 = 1 + gz1 + 1
2 ρ2 2 ρ1

A equação acima é denominada “princípio de conservação da energia mecânica” (ao


aplicar a equação acima na solução de problemas deve-se ter em mente todas as
simplificações admitidas a partir do Teorema dos Transportes). O princípio de
conservação da energia mecânica, denominado Equação de Bernoulli, como derivado
acima, é muito utilizado para soluções de problemas simples.
Exemplo prático associado a um sistema de tubos de calor (heat pipes) aletados usado em
ar-condicionado:
DESEMPENHO TÉRMICO EM TROCADOR DE CALOR DE TUBOS DE CALOR ALETADOS
PARA AR-CONDICIONADO EM SALAS CIRÚRGICA

(Apresentado no 1º Fórum de Inovação de Resende RJ)

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Figura: a. Conjunto dos Tubos de Calor Aletados Figura b. Disposição dos Tubos de Calor no
Sistema

Figura: Modelo para teste experimental

Pergunta: O Princípio de Equação da Energia Mecânica, representado pela equação


abaixo, pode ser aplicado para solução de problema de troca de calor acima? Se sim, diga
onde. Por quê? Discuta.

V2 2 p V2 p
( + gz2 + 2 = 1 + gz1 + 1 )
2 ρ2 2 ρ1

Exemplo 1: Considere um corpo em repouso a uma altitude h, em relação à superfície do


local. Determine a Equação de Bernoulli para determinar a velocidade de queda, ou seja,
a velocidade que o corpo chega ao solo.
z1 = h1 z2 = 0
p1 = patm p2 = patm V2 2 p V2 p
+ gz2 + 2 = 1 + gh1 + 1 → V2 = 2 gh1 Equação deTorricelli
v1 = 0 v2 = ? 2 ρ2 2 ρ1
ρ1 = ρ ρ2 = ρ

h1

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Aplicação 1: Medidor Placa de Orifício


A placa de orifício é utilizada para determinar vazão de fluido em um duto, geralmente
circular.
Considere o esquema abaixo, onde se representa uma Placa de Orifício concêntrica
instalada em um duto de diâmetro igual a D1 e o diâmetro da placa igual a D2. Suponha
que o fluido é incompressível e que a V1 na entrada do duto é conhecida (ou medida). A
pressão na entrada do tubo é igual a p1 . O duto encontra-se na vertical.

Placa de Orifício Concêntrica (Fonte: Internet)

Placa de Orifício em um duto com medidor de pressão diferencial em U

(Fonte: Internet)

V2 2 p2 V12 p
+ gz2 + = + gz1 + 1 Equação de Bernoulli
2 ρ2 2 ρ1

V1 < V2 ; p1 > p2 ; D2 < D1 ; z1 =


z2 ( tubo na horizontal )

p1 V2 2 V12 ∆P V2 2 V12
p2
− = − → = − ; ∆P= p1 − p2
ρ1 ρ 2 2 2 ρ 2 2

Da lei da continuidade, temos que


A2
V1 A1= V2 A2 → V1= V2
A1

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π D22
V1 A1= V2 A2 → V1= 4 V → V= ( D2 )2 V
2 1 2
πD 1
2
D1
4
O fator geométrico da placa de orifício é estabelecido pela razão entre os diâmetros:
D2
β= → V12 = β 4V22
D1

Logo,

∆P V2 2 V2 2 β 4 ∆P 1 β4
= − → = V2 2 ( − )
ρ 2 2 ρ 2 2

Finalmente, temos:

2∆P
V2 =
ρ( 1 − β 4 )

2∆P
Q= V1 A1 → Q= A1β 2V2 → Q= A1β 2 (Vazão Ideal )
ρ(1 − β 4 )

Como a vazão ideal é superior à vazão real, define-se um parâmetro de ajuste


denominado coeficiente de descarga, ou seja:
Qreal
=Cd ; Cd ≤ 1.0
Qideal

A expressão para a vazão real para o escoamento no duto é obtida através da seguinte
expressão:

2∆P
Qreal= Cd Qideal → Qreal= Cd A1β 2
ρ(1 − β 4 )

Figura: Curva para determinação do Coeficiente de Descarga em função do número de Reynolds

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Observe que o coeficiente de descarga tende para um 0.5 quando o número de Reynolds
é maior que 104. A maioria dos escoamentos da natureza está associada à número de
Reynolds acima de 104. De acordo com vários autores o coeficiente de descarga para
número de Reynolds acima de 104 corresponde a 0.61 (neste curso iremos utilizar este
valor). O coeficiente de descarga pode ser obtido em laboratório, e este será um dos
experimentos que iremos realizar.
O número de Reynolds é o número adimensional mais importante na mecânica dos
fluidos, pois através dele podemos distinguir os regimes de escoamento. Quando o
número de Reynolds se encontra abaixo de 2400 em dutos circulares dizemos que o
escoamento se encontra em regime laminar. Quando o número de Reynolds se encontra
entre 2400 e 10.000 dizemos que se encontra em regime de transição. Acima de 10.000
classificamos o escoamento como regime turbulento. Acima de 100.000 denominamos de
completamente turbulento.
O número de Reynolds é definido por:
ρVD VD VD
Re = = → Re =
µ µ υ
ρ
µ é a viscosidade absoluta, ou dinâmica, associada ao fluido.
υ é a viscosidade cinemática.
Observações sobre as Placas de Orifício:
- são baratas;
- de fácil confecção;
- custo operacional elevado (aproximadamente 40% da energia útil no escoamento é
dissipada; só utiliza aproximadamente 60% da energia total)
Aplicação 2: Tubo de Venturi

Figura: Representação esquemática de Tubo de Venturi (Fonte: internet)

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O tubo de Venturi é um dispositivo utilizado para medir vazão indiretamente. Seu equacionamento é
idêntico ao da Placa de Orifício, destoando apenas com relação ao coeficiente de descarga.

Figura: Número de Reynolds – Re (Fonte Internet)

O coeficiente de descarga para o Venturi tem valor muito elevado para número de
Reynolds na faixa de Regime completamente turbulento, ou seja, Re>105. Na prática,
utilizamos o valor de 0.96 para o coeficiente de descarga quando o número de Reynolds
se encontra acima de 105.
Observações sobre o Tubo de Venturi:
- custo inicial elevado;
- difícil confecção;
- custo operacional baixo (apenas 0.4% da energia útil no escoamento é dissipada).
Determinação do fator geométrico do medidor ( β ):

2∆P
( Qreal )2 = ( Cd A1β 2 )2
ρ(1 − β )
4

2∆P Cd 2 A12 2∆P 4


Qreal 2 Cd 2 A12 β 4
= → Qreal
2
− β
= 4
Qreal
2
β → Qreal 2 − β=
4
Qreal 2 Cte β 4
ρ(1 − β 4 ) ρ
Logo:
1/ 4
 Qreal 2 
β = 2 
 Qreal + Cte 
O diâmetro do medidor, D2, pode ser obtido através do fator geométrico:
D2 = β D1

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Aplicação 3: Tubo de Pitot


O Tubo de Pitot é utilizado para medir velocidade em escoamentos. É um instrumento
que interfere de forma insignificante no escoamento, em função de sua diminuta
dimensão. O Tubo de Pitot geralmente vem acoplado a um manômetro em U. Abaixo
temos duas ilustrações de tubo de Pitot. A primeira Figura abaixo representa um tipo mais
simples de tubo de Pitot, onde a pressão estática é medida a partir da parede da tubulação.
A segunda Figura mostra um tubo de Pitot mais elaborado, com duas saídas para medida
de pressão no próprio dispositivo.

Figura: Tubo de Pitot (Fonte: internet)

Figura: Tubo de Pitot (Fonte: internet)

Figura: Equacionamento Tubo de Pitot

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O Tubo de Pitot pode ser utilizado para determinar vazão a partir da velocidade no
escoamento, como se pode constar através do procedimento descrito abaixo.
Da Equação de Bernoulli, temos,

V12 p1 V2 2 p2 V12 p2 p1 ∆P
+ gz1 + = + gz2 + → = − =
2 ρ1 2 ρ2 2 ρ ρ ρ

V12 ∆P p2 − p1
= =
2 ρ ρ

V12 ( patm + ρ gH 2 ) − ( patm + ρ gH1 ) ρ g( H 2 − H1 )


= =
2 ρ ρ
Logo,

V1 = 2 gh

O tubo de Pitot é instalado geralmente com o ponto de estagnação no centro da tubulação,


onde a velocidade do fluido é máxima. Neste caso, temos,

Vmáx = 2 gh

A vazão em volume é obtida através do produto da velocidade média pela área de seção
reta do escoamento, ou seja:

Q =VA

Na prática utilizamos um procedimento iterativo para obtenção da velocidade média em


função da velocidade máxima, e utilizamos a seguinte expressão:
m
V= Vmax
m +1
onde, a grandeza m é um parâmetro determinado através de uma equação empírica, a
partir da velocidade máxima obtida através do tubo de Pitot. Logo,
1/ 6
 Re 
m= 1+  
 50 
Na prática, se Re ≤ 2400 , ou seja, se o regime de escoamento for laminar, m → 1.0 .
Logo,
1 Vmax
=V = Vmax
1+1 2
Para número de Reynolds maiores que 104, utilizamos o procedimento iterativo abaixo
preconizado:

1 – faça V 1 = Vmáx ;

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V 1D
2 – determine o número de Reynolds associado a V 1 , ou seja, calcule Re1 = ;
υ
Re1 1/ 6
3 – determine o primeiro valor para o parâmetro m, ou seja, calcule m1 = 1 + ( ) ;
50
4 – determine o valor para a segunda velocidade média através da seguinte expressão:
m1
V2 = Vmax
m1 + 1

5 – volte ao passo 2 e determine o número de Reynolds associado à velocidade V2 ;


6 – continue o procedimento até a diferença de velocidades atinja uma precisão pré-
estipulada, ou seja:

V N − V N −1 Pr ecisão definida → STOP


=

Aplicação 4: O Conceito de Pressão e as Escalas de Pressão


O conceito de pressão foi intuído pelo Filósofo, Matemático e Pesquisador Blaise Pascal,
a partir da observação da natureza. Ele solicitou que pessoa próxima realizasse um
experimento que havia idealizado O experimento consistia encher um tubo de ensaio com
mercúrio e emborcar o conteúdo em um recipiente aberto, ao nível do mar. Uma
representação esquemática do experimento encontra-se na Figura abaixo.
Ao nível do mar a altura do mercúrio, h, na cuba é igual a 760 mm de Hg (mercúrio)

Figura: Experimento de Pascal

Em função da altura observada de mercúrio na cuba uma unidade de pressão passou a ser
admitida, ou seja:
760 mm Hg →1 Atmosfera ( Atm )

Pela equação de Bernoulli temos:

V2 2 p2 V12 p
+ gz2 + = + gz1 + 1
2 ρ Hg 2 ρ Hg

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Logo,
patm
= gz2 − gz1 = g( z2 − z1 ) → patm = ρ Hg g ∆h
ρ Hg

Considerando que:
Kg m
ρ Hg 13600 =
= 3
; ∆h 76010−3 m
; g 9.81 2=
m s
Tem-se que:
N
patm = ρ Hg g ∆h → patm = 13600 x 9 ,81 x 76010−3 → patm = 1.01 105
m2
ou seja,
N
1 atm ≡ 1.01105 ≡ 1.01105 Pascal ( Pa ) ≡ 1.01 bar
m2
Pergunta: Qual seria a altura de coluna de água?
Pergunta: A coluna de mercúrio seria maior ou menor se o experimento ocorresse em
um local elevado? Por quê?
A pressão atmosférica, ao nível do mar, é considerada como pressão de referência, assim
como o vácuo absoluto (apesar de não existir; apenas aproximadamente!).
Observe o seguinte diagrama abaixo, onde representamos as pressões atmosférica e
absoluta:

Figura: Diagrama de Pressões

As pressões absolutas podem ser obtidas através das seguintes expressões:

patm − p1' ; p2 =
p1 = patm + p'2

Podemos, portanto, escrever que:


pabsoluta
= patm + prelativa

Observação: os manômetros (medidores de pressão) medem pressões relativas.

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19

Em muitas situações práticas queremos determinar a diferença de pressão e não


necessariamente a pressão em um determinado ponto. Considere, por exemplo, uma placa
de orifício instalada em um duto onde escoa água, e um tubo em U utilizando mercúrio.

Figura: Placa de Orifício com Tubo em U (Adaptado da internet)

Já determinamos que a vazão pode ser obtida utilizando uma placa de orifício através da
seguinte expressão:

2∆P
Qreal = Cd A1β 2
ρ(1 − β 4 )

Veja que devemos determinar a queda de pressão entre dois pontos no escoamento, antes
e depois da placa. Isto pode ser obtido através de um medidor denominado medidor em
U, que utiliza um fluido manométrico de densidade superior ao fluido que escoa. Por
exemplo, se temos água escoando utilizamos o mercúrio como fluido manométrico. Se o
fluido que escoa é o ar podemos utilizar a água como fluido manométrico.
A diferença de pressão é obtida por:
∆p = p1 − p2

onde,
p1 + ρ H 2O gH1 =p2 + ρ H 2O gH 2 + ρ Hg g ∆h

Logo,
− ρ H 2O gH1 + ρ H 2O gH 2 + ρ Hg g ∆h
p1 − p2 =

Pode-se escrever, portanto, que:


− ρ H 2O g( H1 − H 2 ) + ρ Hg g ∆h =
∆p = − ρ H 2O g ∆h + ρ Hg g ∆h

Finalmente, tem-se que:


∆p = g ∆h( ρ man − ρ H 2o )

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20

Exemplo 1:
Em um experimento no laboratório de hidráulica, utilizando uma placa de orifício, os
alunos obtiveram os seguintes parâmetros:
Kgf Kgf Kg
−0.08 2 ; ρ =
0.24 2 ; p2 =
p1 = 103 3
cm cm m

m3 −3
=Q 2=
.6110 ; D1 50.8 mm
s
Determine o diâmetro D2 da placa de orifício.

Observação:
Kgf 10 N Kgf N
1 =2 −2 2
→1 = 2
105 2
cm ( 10 m ) cm m

Solução:
Kgf
p p1 − p=
∆= 2 0.24 − ( −0.08=
) 0.24 + 0.08
= 0.32
cm 2
Sabemos que:
1/ 4
 Qreal2

β = 2  ( demonstre!)
 Cte + Qreal 
onde

Cd 2 A12 2∆p 0.612 4.110−6 2 0.32105


Cte
= = →
= Cte 9.7610−5
ρ 10 3

Logo,
1/ 4
 ( 2.6110−3 )2 
=β  =
−5 −3 2 
→ β 0.5
 9.7610 + ( 2.6110 ) 

Sabemos que:
D2 = β D1 → D2 = 0.5 50.8 → D2 = 25.4 mm

Exemplo 2:
Água escoa através de uma placa de orifício de 3’’ de diâmetro, instalada em uma
tubulação de 6’’ de diâmetro interno. A vazão é igual a 0.0819 m3/s. Determine a diferença
de pressão ∆p .

Solução:
∆p é obtida através da seguinte expressão:

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21

Q2 ρ( 1 − β 4 )
∆p = ( demonstre!)
2Cd 2 β 4 A12

Logo,

Q 2 ρ ( 1 − β 4 ) ( 0.0819 )2 103 ( 1 − 0.54 ) N


=∆p = = → ∆p 3.38105 2
2Cd β A1
2 4 2 2 4
2 0.61 0.5 4.010 −4
m

Exemplo 3:
Uma placa de orifício, de diâmetro igual a 120 mm, é instalada em uma tubulação de 191
mm, por onde escoa água. Um medidor de pressão diferencial indica ∆h = 30 mmHg .
Determine a vazão em massa no escoamento.
Solução:
Kg Kg 120
ρ=
H O 103 3
; ρ=
Hg β = 0.63
13600 3 ;=
2
m m 191
N
∆p = g ∆h( ρ man − ρ ) = 9.813010−3 ( 13600 − 1000 ) → ∆p = 3.710−3
m2

2 3.7103 −2 m
3
=Q 0.610.632=
0.03 → Q 2. 1510
103 ( 1 − 0.634 ) s

Pergunta: Existe, na solução apresentada, alguma hipótese adotada que não foi
confirmada? Qual? Como confirmar? Se sim, apresente a solução numérica necessária
para justificar os cálculos.
Exemplo 4:
No centro do tubo de pressão de um ventilador mede-se, por meio de um Tubo de Pitot,
a velocidade do escoamento, resultando em 22 m/s. Considerando que o diâmetro da
tubulação corresponde a 400 mm, determine:
a) A velocidade média do escoamento;
b) A vazão do ar no duto.
Dados:

m Kg m2 Re 1/ 6
Vmax = 22 ; D = 0.4m; ρ ar = 1.23 3 ; υar = 10−4 ; m= 1+ ( )
s m s 50
Solução:

V 1D 22 0.4
Re1 = ; assuma V 1 = Vmax → Re1 = = 88000
υ 10−4
88000 1/ 6 m 4.47 m
1 (
m1 =+ ) =4.47 → V 1 = 1 Vmax = 22 =17.98
50 m1 + 1 5.47 s

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22

17.98 0.4 71920 1/ 6 4.43 m


Re2 = −4 = 71920 → m2 =+
1 ( ) = 4.36 → V 2 = 22 =17.89
10 50 5.36 s
17.89 0.4 71560 1/ 6 4.43 m
Re3 = −4 = 71560 → m2 =+
1 ( ) = 4.36 → V 2 = 22 =17.89
10 50 5.36 s
Portanto:
m
V = 17.89
s
A vazão em volume no escoamento é dada por:

π ( 0.4 )2 m3
Q = V A = 17.89( ) → Q = 2.25
4 s
A vazão em massa é dada por:
Kg
m = ρ Q = ρV A → m = 1.232.25 = 2.77
s

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1

Introdução aos Fenômenos de Transporte


1 – Mecânica dos Fluidos
Élcio Nogueira

1 Escoamentos reais em dutos (Perda de Carga distribuída)


Em termos reais, o que se tem é uma desigualdade, ou seja:

V12 p V2 p
+ gz1 + 1 ≠ 2 + gz2 + 2
2 ρ1 2 ρ2

A energia mecânica vai se desvanecendo ao longo do escoamento, quer dizer, ela vai se
dissipando e a principal responsável pela dissipação é devido à atuação das forcas
viscosas. Aquela força viscosa que admitimos não realizar trabalho anteriormente.
Portanto, para que possamos tratar de alguns problemas reais iremos assumir que há uma
parcela de energia associada às forças viscosas, que designaremos por E p . Logo,
escrevemos:

V12 p1 V2 2 p
+ gz1 + = + gz2 + 2 + E p
2 ρ1 2 ρ2

A igualdade acima admite que parte da energia mecânica do escoamento se dissipa em


função da energia viscosa. A dimensão dos termos da equação acima é dada por:

V12  m 2
 2  = s2
 
Se multiplicamos e dividimos pela massa do sistema temos:

V12  Kg m 2 Kg m m m m V12  N m
  = 2
= = Kg →   = Kg
 2  Kg s Kg s 2 s 2 Kg  2 
Ou seja,

V12  J
 2=  → Energia por unidade de massa
  Kg
Em grande número de aplicações práticas de engenharia a energia por unidade de massa
não é utilizada. Costumou-se a utilizar outra grandeza relacionada com a dissipação
viscosa, ou seja, costuma-se a utilizar o que se denomina Perda de Carga, representada
por hp . A perda de carga em um escoamento geralmente está associada a queda de
pressão em um escoamento quando o escoamento ocorre na horizontal, z1 = z2 , e quando
a seção reta do escoamento permanece constante, V 1 = V 2 . Neste caso temos,

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2

V12 p V2 p p p
+ gz1 + 1 = 2 + gz2 + 2 + E p → 1 − 2 = E p
2 ρ1 2 ρ2 ρ1 ρ 2

Para escoamento incompressível, ρ=


1 ρ=
2 ρ . Logo,

p1 − p2 E p p − p2 p1 − p2
Ep
= ou = 1 hp
→=
ρ g ρg γ
Logo,
E p ∆P
hp
= = γ ρ g é o peso específico
; onde=
g γ
A dimensão de hp é dada por:

∆P( N / m 2 )
[ hp ] ≡ ≡m
γ ( N / m3 )

A energia por unidade de peso, representada por hp, tem dimensão de comprimento. Na
prática, quando o fluido utilizado como referência é a água, dizemos “metro de coluna
d’água’.
Pode-se demonstrar que, em escoamentos em duto circular de raio R, a velocidade média
pode ser obtida por:

dp / dz R 2
V=

De forma aproximada, temos que:


dp ∆p
≅ e ∆z =L( comprimento do duto )
dz ∆z
Logo,

∆p R 2 ∆p 8 LµV 8 L µV
V
= → = → hp
=
8∆z µ ρg R ρg
2
R2 ρ g

Assim, temos,

8 LµVQ 2 8 LµVQ 2 8 LµVQ 2 8.16.LQ 2


hp
= →
= hp →
= hp →
= hp
2 π D
2 4
Q2 R2 ρ g (V A )2 R 2 ρ g ρV D 3 D 2 2
V ( )R 2 ρ g D( )π g
16 µ 2

ρV D
A expressão = Re representa o número de Reynolds. Logo,
µ

8.4.16.LQ 2 64 L Q 2 L Q2
=hp = 8 = 8f 5 2
Re D 5π 2 g Re D 5 π 2 g D π g

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3

onde,
64
f = é o coeficiente de atrito para regime la min ar em duto circular
Re
O escoamento em regime laminar em duto circular se caracteriza por ter o número de
Reynolds menor que 2400, ou seja:

ρV D
Re = ≤ 2400 → regime la min ar
µ
Para regime turbulento podemos utilizar o Diagrama de Moody para determinação do
coeficiente de atrito (também denominado na literatura de “fator de fricção”). O digrama
de Moody é uma representação atualizada do diagrama original apresentado por
Nikuradse em sua tese de doutorado nos anos 30 do século passado.

Figura: Diagrama de Moody (Fonte: internet)

A seguinte expressão empírica, denominada de equação de Moody, é utilizada para


determinar o fator de Atrito em regime turbulento para número de Reynolds acima de 104
. A equação é mais precisa para maiores números de Reynolds, ou seja, para escoamentos
completamente turbulentos. Assim, temos

 e 106 1/ 3 
f =0.0055 1 + ( 20000 + )  ; e ≡ rugosidade da sup erfície
 D Re 
Existem muitas expressões para determinação de fator de atrito em dutos. A equação de
Moody é uma equação simples de solução direta, mas muitas outras são equações, mais
precisas, são denominadas equações transcendentais, pois exigem solução iterativa. Uma
das equações mais utilizadas para determinação de fator de atrito é a Equação de
Colebrook, que usa o método iterativo para cálculo.

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4

1  ε 2.5 
−2.0 log 
= + 
f  3.7 Re f 
A equação acima é a Equação de Colebrook. A equação de Colebrook é uma equação
transcendental e sua solução impõe procedimento iterativo. Entretanto, apresenta uma
precisão para o fator de atrito com precisão aproximada de 1.0% em relação aos
e
experimentos existentes. O fator ε = é denominado rugosidade relativa.
D
Observação: Existem 4 tipos de situações práticas associadas ao conceito de perda de
carga.
1 – dados: L;D;Q→hp=?
2 – dados: hp;D;Q→L=?
3 – dados: L;D;Hp→Q=?
4 – dados: L;hp;Q→D=?
As duas primeiras situações têm solução direta, as duas últimas requerem soluções
iterativas (soluções indiretas).
Exemplo: Um escoamento de água deve ter vazão igual a 200 l/s através de 3 Km de
tubo, com uma perda de carga equivalente a 25 m.c.a. O tubo deve ser de ferro
fundido, com rugosidade absoluta e=0,260 mm.
a - Determine o diâmetro da tubulação para as condições enunciadas.
b – Determine a velocidade média do escoamento.
c – Determina a potência dissipada no escoamento.
Dados:

m3
= / s 20010−3 m3 / s →=
Q 2000 l= Q 2 =; L 3000 m;=
hp 25 m;
= e 0.26010−3 m
s
Solução:
a – Como o diâmetro não foi fornecido a solução é iterativa. Para determinação do
primeiro valor do fator de atrito vamos considerar que o tubo é liso (e=0) e
completamente turbulento (Re≫105), ou seja,

e 106
=f 0.0055( 1 + ( 20000 + )→
= f1 0.0055
D Re
1/ 5 1/ 5
L Q2  L Q2   3000 22 
=hp 8 f 5 2= → D 8 f1 → D1 8.0.005
=
D π g  hp π 2 g   25 π 2 9.81 
→ D1 =0.74m

4Q 4.2
Re1
= ( Demonstre!) =
→ Re1 = 3.44106
π D1υ π .0.74.10−6

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5

Logo,

 0.26010−3 106 
=f 2 0.0055 1 + ( 20000 −3
+ 6
)1/ 3  →
= f 2 0.016
 74010 3 .4410 
1/ 5
 3000 22 
=D2 8.0.016 = → D2 0.91 m
 25 π 2 9.81 

4.2
=Re2 = 2.8106
π .0.91.10 −6

 0.26010−3 106 1/ 3 
=f3 0.0055 1 ( 20000
+ −3
+ 6
) →=f3 0.015
 91010 2. 810 
1/ 5
 3000 22 
=D3 8.0.015 = → D2 0.90 m ( convergiu !)
 25 π 2 9.81 

b – A vazão em volume é igual a:


4.Q 4.2 m
Q = V A →V = →V = → V = 3.14
πD 2
π 0.90 2
s
Observação: velocidades entre 0,5 e 4.0 m/s de água em tubos são denominadas de
velocidades econômicas. Velocidade média igual a 3.14 m/s é relativamente elevada,
mas encontra-se dentro do intervalo de velocidades econômicas.
c – A potência dissipada é obtida através da seguinte expressão:
=P γ=
Qhp ρ gQhp

N m3 Nm J
[ P] ≡ 3
m → [ P] ≡ ≡ ≡ Watts
m s s s

=P 103.9.81
= .2 25 490500
= 490.5 KW

Exercício: Um determinado fluido escoa em um duto de diâmetro igual a 0.1 m, com uma
vazão igual a 767 m3/dia. Sabendo-se que a viscosidade cinemática do fluido corresponde
m2
a υ = 7.710−5 .
s
4ρQ 4Q
a) Demonstre que:
= Re =
π D1µ π D1υ

b) Determine o regime do escoamento.


Exercício: Um líquido escoa em um tubo de seção reta circular do tipo aço comercial,
com diâmetro interno igual a 4 cm e comprimento igual a 100 m. A vazão de água é de
15 l/s. Determine a perda de carga no escoamento usando a equação de Colebrook, com
precisão igual a 0.001, e a potência dissipada devido as perdas de energia associadas ao
atrito.
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6

m N
Dados:
= .8 ; υ 1.510−6
Dr 0= 2
γ H 2O 104 =
;= ; e 0.046 mm
s m3
Observações:
ρ
1 - Dr = é a densidade relativa do fluido que escoa
ρH O
2

2 – Uma estimativa inicial para o coeficiente de atrito pode ser avaliada através da
−2
  ε 5.74  
equação f 1 0.25 log 
= + 0.9   .
  3.7 Re  
Resposta: f = 0.0211 ( com precisão de milésimos usando Colebrook )
=hp 383
= m ; Potência 45.13 KW

Compare com solução obtida através da equação de Moody.


Exercício: Água circula em uma tubulação de aço, com rugosidade igual a e = 0.6 mm e
800 m de extensão, com uma vazão igual a 264 m3/h, a uma temperatura igual a 15ºC.
Determine a perda de carga unitária (perda de carga por unidade de comprimento)
sabendo que o diâmetro interno mede 25 cm e que a viscosidade cinemática da água na
m2 hp
temperatura especificada vale υ = 1.127 . Observação: J = .
s L
Problema: Um sistema de proteção contra incêndio é abastecido por um reservatório
elevado e por uma tubulação vertical de 80 ft de altura. O comprimento horizontal do
sistema de tubos mede 600 ft e é constituído de ferro fundido com 20 anos de uso. O
diâmetro da tubulação é de 4’’. Determine a vazão de saída, desprezando as perdas
localizadas.

Figura: Esquema de um sistema para combate de incêndio

Solução: Utilizando a equação da energia temos:

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7

V12 p V2 p
+ gz1 + 1 = 2 + gz2 + 2 + E p
ou 2 ρ1 2 ρ2

V12 p V2 p
+ h1 + 1 = 2 + h2 + 2 + hp
2g ρ g 2g ρg

h1 80
= = ft 24.384 m ;=
h2 0 =
; L 600
= ft 182.88 m

Observe que
V1  V2 pois A1  A2

De fato, temos
V2 Atubulação
V1 Areservatório
= V2 Atubulação=
→ V1
Areservatório

Após as simplificações, tem-se que:

V22 V22 L V2
2
V2 L V2
2

=h1 − hp → =h1 − f → 2 +f =h1


2g 2g D 2g 2g D 2g

ou,

 1 L 1  2 gh1 2 gh1
V22  + f  = h1 → V22 = → V2 =
 2g D 2g   L  L
1 + f  1 + f 
 D  D

O fator de atrito é dependente da rugosidade relativa e do número de Reynolds, e a


rugosidade absoluta do tubo aumenta com o passar dos anos.
De acordo com a literatura, a rugosidade pode ser expressa em função do tempo, a partir
de uma rugosidade da tubulação nova conhecida, ou seja:
e= e0 + α t

onde,
t é o tempo em anos de funcionamento; e0 é a rugosidade da tubulação nova e α é um fator
experimental que depende do fluido.
A tubulação de aço (depende do aço!) tem uma rugosidade relativa igual a 0.003, ou seja
e
ε = 0.003 . Vamos supor que após passado 20 anos a rugosidade relativa tenha
=
D
aumentado o dobro, ou seja, façamos ε = 0.006 . Além disso, vamos supor que o
escoamento é completamente turbulento (Re≫105; confirme!). Neste caso podemos
introduzir uma simplificação e obter o coeficiente de atrito através da equação
incompleta, ou seja:

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 e   0.006 1/ 3 
=f 0.0055 1 + ( 20000 )1/ 3  =
→ f 0.0055 1 + ( 20000 )
= 0.032
 D   0.1016 

Logo,

2 gh1 29.8124.38 m
=V2 = = 2.67
 L  207.18  s
1 + f  1 + 0.032 
 D  0.1016 

Observe que o sistema de fornecimento de água está muito bem dimensionado, ou seja, é
economicamente viável, uma vez que a velocidade se encontra no intervalo de
velocidades econômicas.
Finalmente, a vazão no escoamento é dada por:

π D2 m3
Q= VA= V → Q = 2110−3
4 s
Problema: A pressão disponível na boca de recalque de uma bomba corresponde a 22
m.c.a. O líquido a ser bombeado é querosene, com densidade relativa igual a 0.813. A
tubulação de recalque encontra-se na horizontal e tem um comprimento de 1850 m.
Considerando apenas as perdas distribuídas, qual o diâmetro da tubulação de aço e a
velocidade, supondo uma vazão de querosene igual a 30 l/s?

Figura: Esquema simples de uma bomba hidráulica


Solução: Utilizamos a equação da energia para equacionar o problema na tubulação de
recalque. Logo, temos:

V12 p1 V2 2 p
+ z1 + = + z2 + 2 + hp
2g ρg 2 ρg

p1 p ρ H 2O 1
hp = − 2 = 22 m H 2O → hp = 22 = 22 → hp = 27 m.c.querosene
ρg ρg ρ querosene 0.813
3
−3 m
Dados:
= Q 3010= ; L 1850
= m; e 0.3 mm (sup ondo aço ligeiramente enferrujado );
s

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9

m2
υQ = 2.310−6 .
s
Já deduzimos que:
1/ 5
 L Q2 
D = 8 f 2 
 hp π g 

 e 106 1/ 3 
=f 0.0055 1 + ( 20000 + ) → =f1 0.0055
 D Re 
Tubo liso e escoamento completamente turbulento.
Logo,
1/ 5
 ( 3010−3 ) 
2
1850
=D1 80.0055  → D1 ≅ 0.123 m
 27 π 2 9.81 
 

4Q 4 3010−3
Re1= = → Re1 ≅ 135103
π D1υ π 0.1232.310 −6

 0.310−3 106 1/ 3 
=f 2 0.0055 1 + ( 20000 + ) →
= f 2 0.0265
 0.123 135000 
1/ 5
 ( 3010−3 ) 
2
1850
=D2 80.0.0265  → D2 ≅ 0.168 m
 27 π 2 9.81 
 

4Q 4 3010−3
Re2 = = → Re2 ≅ 98000
π D1υ π 0.168 2.310−6

Após mais um passo no procedimento iterativo, obtemos:


D2 = 0.167 m ( confirme )

Pergunta: Após o cálculo do diâmetro devemos buscar o diâmetro comercial mais


conveniente. O qual o diâmetro comercial a ser escolhido? O maior ou menor diâmetro
em relação ao calculado? Analise o problema resolvido antes de responder.

4.Q 4.3010−3 m
Velocidade: V= → V= → V= 1.37
πD 2
π 0.167 2
s
Exercício: Pretende-se bombear 72000 litros/h de gasolina em uma tubulação nova de
aço, com 220 m de comprimento. A temperatura é de 20ºC. Determine o diâmetro do
escoamento e a perda de carga.
Sugestão: Suponha velocidade econômica para o escoamento de gasolina igual a 1.5 m/s.

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10

Justifique os valores utilizados na solução.


2 Perda de Carga Localizada
Elementos hidráulicos acoplados às tubulações de um sistema hidráulicos, tais como
curvas, válvulas, medidores etc., dissipam energia e, portanto, causam uma “Perda de
Carga”. A perda de carga produzida por elementos isolados na linha de tubulação é
denominada de perda de carga localizada, para diferenciar da perda de carga distribuída,
que ocorre durante escoamento interno em uma tubulação. A perda de carga produzida
por um elemento isolado pode ser determinada a partir de um coeficiente empírico
determinado por coeficiente de perda. O coeficiente de perda, representado pela letra K,
é obtido através de medidas efetuadas geralmente por empresas que atuam com
tubulações. Um exemplo de valores de coeficientes de perdas se encontra na tabela
abaixo.

Figura: Coeficiente de perda localizada para diversos dispositivos (Fonte: internet)

A energia dissipada em um elemento isolado pode ser obtida pela expressão:


2
V
hpi = K i ; o índice i está associado a um elemento localizado na linha
2g

A Figura acima apresenta valores característicos para diversos dispositivos utilizado em


uma instalação hidráulica.
Entretanto, a perda de carga em uma tubulação de comprimento L, e diâmetro D, pode
ser obtida através da seguinte expressão, como se pode demonstrar:
2
LV
hp = f
D 2g

Neste caso, podemos, arbitrariamente, estabelecer a seguinte igualdade:

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2 2
V L V Ki D
K i= f i →
= Li
2g D 2g f

A última expressão acima indica que se pode atribuir a um elemento isolado, localizado,
um comprimento equivalente. O comprimento equivalente indica, associa, a dissipação
de energia que o elemento produz em relação ao comprimento da tubulação. Este método
de associação é muito conveniente em termos práticos e as empresas passaram a fornecer
tabelas convertidas em “Comprimentos Equivalentes” de componentes hidráulicos e
pneumáticos. As tabelas abaixo, na forma de Figuras, apresentam os comprimentos
equivalentes para diversos dispositivos hidráulicos. A primeira tabela está associada a
tubulações de aço galvanizado e ferro fundido. A segunda Tabela está associada a
canalizações de PVC rígido.

Figura: Comprimentos Equivalentes para aço galvanizado e ferro fundido (Fonte: internet)

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Figura: Comprimentos Equivalentes PVC rígido (Fonte: internet)

A Figura abaixo ilustra, exemplifica, como um registro hidráulico pode corresponder, em


termos de dissipação de energia, a um determinado comprimento de tubulação.

Figura: Comprimento equivalente de um registro de diâmetro igual a 20 mm (Fonte: internet)

Problema: Uma tubulação lisa de 100 metros está conectada a um grande reservatório.
Que profundida h deve ser mantida para que a vazão na tubulação seja de 0.03 m3/s de
água? Considere que o diâmetro interno dos tubos seja de 75 mm, e que a tubulação seja
de ferro fundido. Suponha que a água esteja descarregada a nível da atmosfera.

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Figura: Perda de carga localizada em borda viva

Kg Kg
Dados:
= ρ 999
= 3
; µ 10−3 ; suponha a perda na borda igual a k=0.5.
m ms

4.Q 4 0.03 m
Observe que: V= = → V= 6.79
π D π 0.075
2 2
s
2
LV
A perda de carga distribuída é dada por: hp = f
D 2g
2
V
A perda de carga localizada é dada por: hpi = K i
2g

Logo,
2 2
LV V
hptotal f
= + Ki
D 2g 2g

Portanto, podemos escrever:


2 2
V12 p V2 p LV V
+ z1 + 1 = 2 + z2 + 2 + f + Ki ;V1  V2
2g ρ g 2g ρg D 2g 2g

Logo,
2 2
V2 LV V V2  L 
h= 2 + f
2g D 2g
+ Ki = 2
2g 2g 1 + f D + K i 

Pela equação de Moody, temos:

 e 106 1/ 3   106 1/ 3 
=f 0.0055 1 + ( 20000 + ) = → f 0.0055 1 + ( ) 
 D Re   Re 

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4ρQ 4999 0.03


Re= = → Re= 509295
π Dµ π 0.07510−3

Logo,

 106 1/ 3   106 1/ 3 
=f 0.0055 1 + ( = )  0.0055 1 + ( ) = → f 0.012
 Re   509295 

Assim, finalmente temos,

6.792  100 
=h 1 + 0.012 + 0.5=→ h 41 m
29.81  0.075 

Perguntas:
a) O que pode ser feito para que a altura determinada seja inferior ao valor
determinado, sem alterar a vazão de saída?
b) Se a rugosidade fosse incluída na análise o que deveria ocorrer com a altura?
Maior, ou menor do que a altura calculada? Por quê?

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