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Equações de Conservação

Teorema do Transporte de Reynolds


Massa, Energia, Momentum

Departamento de Engenharia Mecânica


Escola de Minas
Universidade Federal de Ouro Preto
Prof. Luiz Joaquim Cardoso Rocha
Teorema do Transporte de Reynolds

A maioria dos princípios da mecânica dos fluidos são adotados da mecânica dos sólidos, na qual as
leis da física que tratam de taxas de variação no tempo de propriedades extensivas são expressas
para sistemas. Na mecânica dos fluidos, em geral é mais conveniente trabalhar com volumes de
controle e, portanto, existe a necessidade de relacionar as variações em um volume de controle com
as variações em um sistema. A relação entre as taxas de variação no tempo de uma propriedade
extensiva para um sistema e para um volume de controle é expressa pelo teorema de transporte de
Reynolds (TTR), que oferece a ligação entre as abordagens de sistema e o volume de controle. O
nome TTR é uma homenagem ao engenheiro inglês, Osborne Reynolds (1842-1912), que fez muito
pelo avanço de sua aplicação na mecânica dos fluidos.

A forma geral do teorema de transporte de Reynolds pode ser deduzida considerando-se um sistema
com uma forma arbitrária e interações arbitrárias, mas a dedução é bastante complicada. Para ajudá-
lo a entender o significado fundamental do teorema, primeiro ele é deduzido de maneira direta usando
uma geometria simples e, em seguida, generalizamos os resultados.
Teorema do Transporte de Reynolds

Considere o escoamento da esquerda para a direita através de


uma parte divergente (em expansão) de um campo de
escoamento como esboçado na Figura. Os limites superior e
inferior considerados são linhas de corrente do escoamento, e
consideramos o escoamento uniforme através de qualquer
seção transversal entre essas duas linhas de corrente.
Escolhemos o volume de controle como fixo entre as seções
(1) e (2) do campo de escoamento. Tanto (1) quanto (2) são
normais à direção do escoamento.
Teorema do Transporte de Reynolds
Em algum instante inicial t, o sistema coincide com o volume de controle e, portanto, o sistema e o
volume de controle são idênticos (a região sombreada da Figura). Durante o intervalo de tempo Dt, o
sistema se movi­menta na direção do escoamento com velocidades uniformes V1 na seção (1) e V2 na
seção (2). O sistema neste último instante é indicado pela região hachurada. A região descoberta pelo
sistema durante esse movimento é designada como seção I (parte do VC) e a região nova coberta
pelo sistema é designada como seção II (não é parte do VC). Assim, no instante t + Dt, o sistema
consiste no mesmo fluido, mas ocupa a região VC - I + II. O volume de controle é fixo no espaço e,
portanto, permanece como a região sombreada, marcada VC, em todos os instantes.

Seja B uma propriedade extensiva qualquer (como massa, energia ou momento) e seja b = B/m a
propriedade intensiva correspondente. Observando que as propriedades extensivas são aditivas, a
propriedade extensiva B do sistema nos instantes t e t + Dt pode ser expressa como

B sis , t =B vc , t
B sis , t + Δt =B vc ,t + Δ t −B I , t + Δ t + B II ,t + Δ t

Subtraindo a primeira equação da segunda e dividindo por Dt temos:

B sis , t + Δ t −B sis ,t B vc , t + Δ t −B vc ,t B I , t + Δt B II ,t + Δ t
= − +
Δt Δt Δt Δt
Teorema do Transporte de Reynolds
No limite quando Dt → 0

DB sis ∂ B vc B B
= −lim I , t +Δ t + lim II ,t +Δ t
Dt ∂t Δt →0 Δt Δ t →0 Δt

Mas

dB=b dm=b ρ d V =b ρ dA L=b ρ dA (V n Δ t )=b ρ V n dA Δ t

Então:
B
lim =∫ b ρ V n dA
Δ t →0 Δt A

e
B I ,t + Δ t B II , t +Δ t
lim =∫ b ρ V n dA lim =∫ b ρ V n dA
Δ t →0 Δt 1 A Δ t →0 Δt 2 A
Teorema do Transporte de Reynolds
Agora, considere uma vazão de massa para dentro ou fora do volume de con­trole através de uma
área diferencial dA na superfície de controle de um volume de controle fixo. Seja n o vetor unitário na
direção da normal exterior dA e seja V a velocidade do escoamento em dA em relação a um sistema
de coordenadas fixo. Em geral, a velocidade pode cruzar dA com um ângulo q em relação à normal da
dA, e a vazão de massa é proporcional ao componente normal da velocidade Vn = V cosq , que pode
variar entre o valor máximo de saída V para q = 0⁰ (o escoamento é normal a dA) até um mínimo de
zero para q = 90⁰ (o es­coamento é tangente a dA) e até um valor máximo de entrada V para q = 180⁰
(o escoamento é normal a dA, mas na direção oposta). Utilizando o conceito do produto escalar entre
dois vetores, a magnitude do componente normal da velocidade pode ser expressa como:

V n =V cos θ= V⋅n
⃗ ⃗

B I ,t + Δ t B II , t +Δ t
lim =∫ b ρ V
⃗ ⋅⃗n dA lim =∫ b ρ V n dA
⃗ ⋅⃗
Δ t →0 Δt 1A Δ t →0 Δt 2 A

Levando os termos na mesma expressão:

DB sis ∂ B vc
= −∫ b ρ V
⃗⋅⃗n dA +∫ b ρ V
⃗⋅⃗n dA
Dt ∂t A1 A 2
Teorema do Transporte de Reynolds
Como o volume de controle pode possuir várias entradas e saídas através da superfície de controle
DB sis ∂ B vc
= +∫ b ρ V⋅⃗
⃗ n dA
Dt ∂ t sc
Reescrevendo o termo de variação da propriedade B dentro do VC:
∂ B vc ∂
= ∫b ρd V
∂t ∂ t vc
Finalmente o teorema do Transporte de Reynolds pode ser escrito como:

DB sis ∂
= ∫ b ρ d V +∫ b ρ V⋅⃗
⃗ n dA
Dt ∂ t vc sc
Conservação da massa
Para um sistema a massa não pode variar e portanto:
Dm sis
=0
Dt
Utilizando o teorema de transporte de Reynolds fazendo B = m → b = 1

Dm sis ∂
= ∫ ρ d V +∫ ρ V
⃗ ⋅⃗n dA
Dt ∂ t vc sc

O princípio de conservação de massa para um volume de controle pode ser expresso como: a taxa de
variação da massa dentro do volume de controle somada ao fluxo líquido de massa através da
superfície de controle é igual a zero.

d
∫ ρ dV +∫ ρ V⋅⃗
dt vc
⃗ n dA =0
sc
Conservação da massa
Vazões em massa e volume

A quantidade de massa que escoa através de uma seção transversal por unidade de tempo é
chamada de vazão em massa e é indicada por ṁ . O ponto sobre um sím­bolo é usado para indicar a
taxa de variação no tempo. Um fluido escoa para dentro ou para fora de um volume de controle,
geralmente através de tubos ou dutos. A vazão em massa diferencial que escoa através de um
pequeno elemento de área dAc. de uma seção transversal do tubo é proporcional à própria à
densidade do fluido r e ao componente da velocidade do escoa­mento normal a dAc indicado por Vn e
é expressa como

δ ṁ=ρ V n dA c
ṁ=∫ ρ V⋅⃗
⃗ n dA
A
Conservação da massa
Embora a Equação anterior seja sempre válida (na verdade ela é exata), nem sem­pre é útil para as
análises de engenharia por causa da integral. Em vez disso, gostaríamos de expressar a taxa do
escoamento de massa em termos de valores médios sobre uma seção transversal do tubo. Para um
escoamento geral compressível, r e Vn variam através do tubo. Em muitas aplicações práticas, porém,
a densidade (ou massa específica) é essencialmente uniforme ao longo da seção trans­versal do tubo,
e podemos colocar r fora da integral. A velocidade, porém, nunca é uniforme ao longo de uma seção
transversal de um tubo, devido à condição de não-escorregamento nas paredes. Em vez disso, a
velocidade varia de zero nas paredes até algum valor máximo no eixo central do tubo ou perto dele.
Definimos a velocidade média Vméd como o valor médio de sobre toda a seção transversal do tubo.
1 ⃗
V̄ med = ∫ V ⋅⃗n dA
A A
Então, para o escoamento incompressível ou mesmo para o escoamento compressível onde r seja
uniforme ao longo de A.

ṁ=ρ V̄ med A

Supondo propriedades constantes

A vazão volumétrica, V̇
V̇ =V̄ A
Conservação da massa
Um fluido incompressível escoa de modo permanente através do duto com duas saídas. O perfil de
velocidades é reto nas seções 1 e 2, porém é parabólico na seção 3. Calcule a velocidade V 1 .
A1 = 3 m2 ; A2 = 2 m2 ; A3 =1 m2 ; V2 =1 m/s ; Vmax,3 =4 m/s
Hipóteses:
-Regime permanente
-Escoamento uniforme nas seções 1 e 2
-Propriedades constantes
-O perfil de velocidade em 3:

(
V 3 =V max ,3 1− 2
R )
Equação de conservação da massa
d
∫ ρ dV +∫ ρ V⋅⃗
dt vc
⃗ n dA =0
sc

Aplicando as hipóteses: R3

0−ṁ 1 + ṁ2 +∫ ρ V⋅⃗
A3
⃗ n dA =0
0
(
0−(ρ V A)1 +(ρ V A )2 +ρ ∫ V max ,3 1−
R )
2
2 π r dr=0

A 2 V max ,3 A 3 2 4 1 4
V 1=V 2
( )
A1
+
2 ( )
A1
V 1=1 () ()
+ = m/ s
3 2 3 3
Conservação da energia
Para um sistema a taxa de varição da energia só pode acontece se houver transferência de calor ou
de trabalho:
DE sis
=δ Q̇−δ Ẇ
Dt

Utilizando o teorema de transporte de Reynolds fazendo B = E → b = e


DE sis ∂
= ∫ e ρ d V +∫ e ρ V
⃗⋅⃗n dA
Dt ∂ t vc sc

O princípio de conservação da energia para um volume de controle pode ser expresso como: a taxa
de variação da energia dentro do volume de controle somada ao fluxo líquido de energia através da
superfície de controle é igual a diferença entre a taxa de transferência de calor e a potência que
atravessam a superfície de controle.

∂ e ρ d V + e ρ V⋅⃗

∂ t vc
∫ ⃗ n dA =∫ (δ q̇−δ ẇ )dA
sc sc
Conservação da energia
Explicitando a potência de fluxo:

p ⃗
Ẇ fluxo=∫ ρ ρ V n dA
⋅⃗
sc

Introduzindo o termo de perda de potência devido ao efeito viscoso (atrito) Ḣ total


²
p V
∂ eρd V +

∂ t vc

sc
ρ (
+u+ +gz ρ V
2 A
)
⃗⋅⃗n dA =∫ (δ q̇−δ ẇ)dA− Ḣ total

Onde htotal= Ḣ total / ṁ g [m] perda de carga

Supondo propriedades constantes e fluxo uniforme através da SC

²
∂ e ρ d V + p +u + V +gz

∂ t vc (
ρ 2 )∫ ρ V⃗⋅⃗n dA =∫(δ q̇−δ ẇ)dA− Ḣ
sc A
total

d
∫ ρ dV +∫ ρ V⋅⃗
⃗ n dA =0
dt vc sc
Conservação da energia
Supondo uma entrada e uma saída, num escoamento em regime permanente, sem troca de calor,
isotérmico
² ²
p V p V
( ) (
0+ ρ + +gz (− ṁe )+ ρ + + gz ( ṁ s )=−Ẇ sc − Ḣ total
2 e 2 s
)
Eq. da Continuidade

0−ṁ e + ṁ s =0 ṁ e = ṁ s = ṁ

Sem trabalho e desprezando atrito


² ²
p s −p e V s −V e
0+ ρ + ( 2 )
+g ( z s − z e ) ( ṁ)=−Ẇ sc − Ḣ total

² ²
p V p V
( +
ρ 2 + gz = ) (
ρ + 2 + gz
e
)
s

²
p V
Mesma formulação da equação de Bernoulli ( ρ + 2 + gz =Cte )
Conservação da energia
A bomba de um sistema de distribuição de água é alimentada por um motor elétrico de 15 kW cuja
eficiência é de 90%. A vazão de água através da bomba é de 50 L/s. Os diâmetros dos tubos de
entrada e saída são iguais, e a diferença de elevação através da bomba é desprezível. Se as
pressões na entrada e na saída da bomba são medidas como 100 kPa e 300 kPa (abso­luta),
respectivamente, determine (a) a eficiência mecânica da bomba e b) a elevação de temperatura da
água à medida que ela escoa através da bomba de­vido à ineficiência mecânica.
d
Hipóteses: ∫ ρ dV +∫ ρ V⋅⃗
⃗ n dA =0
dt vc
-Regime permanente sc

-Porpiedades constantes ∂ e ρ d V + p +u + V +gz ρ V


²

-Escoamento uniforme através da SC


-Não há troca de calor com o ambiente

∂ t vc ρ ( 2 )∫
sc
⃗⋅⃗n dA =∫ (δ q̇−δ ẇ)dA− Ḣ total
A

-Desprezar o atrito Ẇ eixo Ẇ fluido


ηmotor = ηbomba =
Ẇ elétrica Ẇ eixo
0−ṁ 1 + ṁ 2=0
p p
( )
1 2
( )
0+ ρ (− ṁ)1 + ρ ( ṁ)2=−Ẇ B Ẇ B = ṁ ( p −ρ p )=Ẇ
1 2
fluido

a) p1 − p2
ηbomba =
ṁ (ρ )
ηmotor Ẇ elétrica
Conservação da energia
b) Energia perdida na bomba ;Δ Ẇ =Ẇ eixo − Ẇ fluido Δ Ẇ = ṁ c Δ T

Δ Ẇ
ΔT=
ṁ c
Apliocando valores

a)
3

ηbomba =| 1000 x 50 x 10 −3
(
0,9 x 15 x 10
(100−300) x 10
1000
3 |
) =
10.000
13.500
Ẇ fluido=10 kW
Ẇ eixo =13,5 kW

ηbomba =74,1 %
b)

Δ Ẇ =13.500−10.000=3.500 W

3.500
ΔT= −3
=0,0167 o C
1000 x 50 x 10 4.187
Logo o bombeamento pode ser considerado isotérmico.
Conservação da quantidade de movimento
Para um sistema a taxa de varição da energia só pode acontece se houver
transferência de calor ou de trabalho:
D (m V )sis
=F
Dt
Utilizando o teorema de transporte de Reynolds fazendo B = mV → b = V
D (m V )sis ∂
= ∫ V ρ d V +∫ V ρ V n dA
⃗ ⋅⃗
Dt ∂ t vc sc

O princípio de conservação da quantidade de movimento para um volume de


controle pode ser expresso como: a taxa de variação da quantidade de
movimento dentro do volume de controle somada ao fluxo líquido da quantidade
de moviemento através da superfície de controle é igual às forças que
atravessam superfície de controle.

∂ V ρ d V + V ρ V⋅⃗
⃗ n dA=∫ d F

∂ t vc

sc sc

d
∫ ρ dV +∫ ρ V⋅⃗
⃗ n dA=0
dt vc sc
Conservação da quantidade de movimento
Um jato de água sai de um bocal com velocidade uniforme V = 3,05 m/s, atinge a superfície plana de
um defletor e é desviado em um ângulo θ. Determine a força de ancoragem necessária para manter o
defletor parado, em função de θ.

HIPÓTESES: ∂ V ρ d V + V ρV
∫ ∫ ⃗⋅⃗n dA =∫ d F
Regime permanente; ∂ t vc sc sc
Água é incompressível (ρ = 1000 kg/m3 ); d
A pressão é a atmosférica em todo o V.C. ∫ ρ dV +∫ ρ V⋅⃗
⃗ n dA =0
dt vc sc

Da continuidade: 0−ṁ1 + ṁ 2=0 ṁ 1= ṁ2= ṁ

Quantidade de movimento – direção x: 0+u1 (− ṁ)1 +u 2( ṁ)2 =( p A cos θ)1 −( p A cos θ)2 + F Ax

Quantidade de movimento – direção y: 0+ v 1(− ṁ)1+ v 2( ṁ)2=( p A senθ)1−( p A sen θ)2 + F Ay

u e v são os componentes do vetor velocidade nas direções x e y


Conservação da quantidade de movimento
Como a pressão atmosférica age em todo o VC não existem forças devido à pressão
Não existe componente na direção y na entrada (1)

Assim:
ṁ(u2−u1 )=F Ax

v 2 ṁ=F Ay

Reescrevendo as equações em função do módulo da velocidade V e do ângulo de saída do anteparo

ṁ(V cos θ−V )= F Ax

V sen θ ṁ=F Ay

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