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ENIGMAS DO ROSTO
Episódio: Eu vou ler a sua alma!

Rafael Bronísio

3 Saberes Publicações

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Copyright © setembro / 2020 Rafael Moraes Bronísio

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é
coincidência e não é intencional por parte do autor.

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada


ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio
eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a
permissão expressa por escrito pelo autor da obra.

Apoio Editorial: 3 Saberes Produções

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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO - Pág. 5

TOMEM SEUS ASSENTOS... VAI COMEÇAR! - Pág. 7

O ESTUDO DE CASO... - Pág. 10

NO DIA SEGUINTE... - Pág. 21

DE VOLTA AO AUDITÓRIO... - Pág. 33

EU AQUI... - Pág. 45

CONCLUSÃO - Pág. 53

SOBRE O AUTOR - Pág. 54

PRINCIPAIS ATIVIDADES DESTE AUTOR - Pág. 56

LIVROS DESTE AUTOR - Pág. 57

CURSOS ONLINE DESTE AUTOR - Pág. 58

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APRESENTAÇÃO
É com enorme prazer e alegria que apresento a você, caro leitor,
essa obra onde procurei pôr ficção e vida real de mãos dadas.
Trata-se do primeiro episódio de uma série que terá como pano
de fundo contextos reais de Psicologia, Neurociência, Linguagem
Corporal, Leitura Fria e tudo que envolva as emoções humanas.
O cerne sempre estará em torno dos códigos e mistérios do
rosto. Cada episódio é independente, para garantir que sua
experiência de leitura seja completa. Neste episódio, o Doutor
Salomão, especialista em leitura de rosto foi convidado para
apresentar a misteriosa Fisiognomonia em um famoso
Congresso Carioca e deu um verdadeiro show! Sugiro que você
dê uma especial atenção às partes de análise facial, porque
apesar do enredo contar com uma estrutura fictícia, o conteúdo
abordado é totalmente real, conforme minha experiência
prática de mais de uma década, bem como, o que aperfeiçoo e
ministro em meus cursos presenciais e online. Divirta-se
comparando as características observadas no livro com os seus
conhecidos da vida real.

Prometa-me que não se assustará com os fantásticos resultados!

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Uma excelente leitura, digo, viagem!

Um fraterno abraço!

Rafael Moraes Bronísio, o Autor.

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TOMEM SEUS ASSENTOS... VAI COMEÇAR!
Era um dia agradável, em frente a orla de Copacabana, no Rio de
Janeiro. Este é o décimo primeiro Congresso da Academia
Intelectual do Rio de Janeiro - CAAIRJ. Se tornou um evento
anual muito desejado por toda a comunidade científica nacional
e internacional. As instalações de altíssimo nível, confortável,
paredes revestidas com um fino acabamento de vermelho,
detalhes dourados com requinte de pompa imperial. O público é
nitidamente de capital intelectual estratosférico.
Indiscutivelmente um evento para a célebre nata da inovação e
pesquisa. Estamos no dia de abertura, quarta-feira, porém o
evento se estenderá até sexta-feira. Agora, dez e trinta da
manhã. É o horário em que se inicia a segunda apresentação.
Promete polêmica por conta de um confronto entre os mistérios
de uma milenar tradição chinesa e o ceticismo da moderna
geração científica e tecnológica. Não foi à toa que essa
apresentação consagraria a edição do evento como “O
Memorável Congresso”. O palestrante já se ajeitou detrás do
púlpito, testou um tímido “alô” no microfone. A acústica
impecável do ambiente, tanto quanto a agradável climatização.
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Após o teste do áudio e um ligeiro olhar por todo o auditório
iniciou então sua fala:

– Senhoras e senhores, bom dia! É com muita alegria que


agradeço a oportunidade de apresentar esse estudo de caso
sobre a psicologia do rosto e poder participar com um público
multidisciplinar, apaixonado por conhecimento. Este momento
é indescritível para mim! Também agradeço ao doutor Edvânio
Muniz pelo convite. Apesar de nos esbarrarmos pelas estradas
acadêmicas por tanto tempo, acredito que ele também se
surpreenderá com este assunto de hoje. É a primeira vez que
apresento tal tema publicamente em um ambiente científico.
Sempre o guardei comigo, apenas para uso próprio e acreditem,
já me livrei de muitas enrascadas na vida! – todos riram
empaticamente. Ele continuou:

– Trata-se de um tipo de conhecimento muito restrito, pessoal.


Poucos no Brasil sequer ouviram falar e meu objetivo é divulgar
o estudo para torná-lo mais acessível e popular. Nosso rosto
realmente entrega informações preciosas e como um livro, pode
ser lido, revelando o mais profundo da nossa alma, entretanto,
é preciso que se conheça tal “idioma”. Caso contrário, seria

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apenas como um brasileiro tentando entender a pronúncia de
dois chineses conversando entre si. Meu nome é Osnir Salomão,
mas todos me chamam de doutor Salomão - mesmo não sendo
Rei. – todos riram novamente.

– Eu Sou antropólogo e estou em fase de conclusão do meu pós-


doutorado em um viés de multicomunicação. Sempre me
interessei em estudar a fundo os diversos modos desenvolvidos
pelos seres humanos para se expressarem consciente ou
inconscientemente. O tema que trago hoje também aborda uma
forma singular e profunda na arte da comunicação intra e
interpessoal. Apresentações feitas, vamos ao que interessa
porque daqui a pouco a fome para o almoço começará a bater.

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O ESTUDO DE CASO...
– Iniciarei falando sobre um menino com infância de origem
paupérrima, que mesmo sofrendo suas severas limitações, se
manteve idôneo aos princípios aprendidos em seu humilde seio
familiar. Agora, já com os seus vinte anos, portando habilidades
fantásticas das quais muitos que o conhecia, chegavam acreditar
que ele era possuidor de poderes sobrenaturais, pois conseguia
misteriosamente “adivinhar” particularidades sobre a vida das
pessoas, suas tendências, aspirações... Seria ele um agraciado
pelos deuses? Um dotado de mediunidade? Não, senhores! Ele
não “adivinhava”. Ele conseguia ler as pessoas apenas
observando seus rostos, através da técnica milenar utilizada por
egípcios, indianos, chineses e outras culturas das quais pouco ou
nada sequer ouvimos falar. Dificilmente ele revelava como
conseguia saber tantas coisas, até porque sua timidez não
facilitava sua autopromoção ou exibição das habilidades –
Observando que o auditório estava atento e curioso, doutor
Salomão continuou em um tom de desabafo:

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– Hoje, esse conhecimento é cercado por conceitos errôneos,
superficiais e muitas vezes empoderado por
"pseudoespecialistas", charlatões ou por meia dúzia de
acadêmicos, os quais acabam sendo ridicularizados devido aos
seus embasamentos duvidosos e evidências inconsistentes. Por
esse motivo, tal conhecimento chegou a ser rotulado de
pseudociência. Me refiro à Fisiognomonia, a arte de conhecer o
caráter humano por meio das feições e morfologia do rosto. –

Os participantes do Congresso, atentos já começavam a esboçar


suas anotações no belíssimo caderno com capa de couro que
todos ganharam como brinde do evento. Após desabafo, ele
retomou ao relato do caso:

– Foi em um dia meio chuvoso e esquisito que aquele rapaz em


posse de uma espécie de seu carrinho de mão que utilizava para
recolher materiais recicláveis, conforme rotina de
aproximadamente três anos, resolveu fazer o que futuramente
chamaria de loucura. Estava na Praça dos Estudantes, local bem
conhecido no centro de Nilópolis. Essa cidade é situada na
Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Desde as primeiras horas do
dia sem pôr uns míseros farelos no estômago. Avistou um

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executivo em passos largos e chamativos. Ele era alto, magro,
bem branco, aparentava uns quarenta anos de idade, vestido
com um belo terno e acabara de sair da Luz SA, empresa de
fornecimento de energia elétrica da região. Notando que aquele
homem se direcionava ao ponto de TAXI, o rapaz interrompeu o
seu caminho dizendo: “Senhor! Senhor!” O executivo a princípio
se assustou, mas diminuiu os largos passos. O local era sempre
bem movimentado, não havia risco algum. Enquanto isso o
ousado rapaz parou em sua frente, mantendo certa distância,
pois seus conhecimentos de linguagem corporal diziam que se
ele tocasse ou chegasse perto demais, poderia invadir a zona
íntima do executivo e disparar suas defesas instintivas, conforme
estudos sobre Proxemia do Dr. Edward T. Hall. Com um sorriso
tímido acenou com a mão: “Olá! Desculpe-me por interromper
o seu trajeto. Quando o desespero bate, precisamos sair da
nossa ‘caixinha’! Estou desde cedo sem comer. Olha ali o meu
carrinho... Hoje o dia não me favoreceu. Talvez seja esse
chuvisco que não para. Infelizmente não consegui nada e já me
sinto um pouco fraco. Estou precisando de umas moedas para
fazer um lanche, mas não gosto de pedir a troco de nada, por

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isso vou me virando e obviamente roubar desmoronaria toda a
educação e dignidade que aprendi com meus pais...” ainda
falando, o rapaz foi interrompido: “Fica pra próxima! Estou com
muita pressa e não tenho moedas aqui”. Ele respondeu com um
semblante cético e continuou caminhando. O rapaz já fora da
sua ‘caixinha’, ousou a segurar suavemente o cotovelo do
executivo e dizendo:

“Pague um lanche para mim e em troca eu vou ler a sua alma!”


“Como é, rapaz?” Esbravejou o executivo “Só me faltava essa!
Estou até o pescoço de problemas, cheio de coisas para resolver
e você me para pra falar asneiras? Se você tivesse ao menos uma
caixa de engraxate poderia ler o nome na fivela dos meus
sapatos, mas pelo visto, nem para isso você está servindo!”
esbravejou. Por um momento ele refletiu e percebeu que pegou
pesado com aquele rapaz. Esse ímpeto de falar sem pensar fazia
parte da sua personalidade. O que mais o deixou intrigado foi a
abordagem serena, educada e a forma impecável com a qual o
rapaz se expressava. Mal sabia o executivo que, semelhante um
"scanner", esse mesmo rapaz já havia analisado essa sua
tendência impulsiva e tantas outras no momento em que se

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olharam. Então o rapaz foi tomado por uma coragem atípica e
com uma voz mais impostada, gesticulando disse ao executivo:
“Senhor, suas energias estão sendo consumidas. Suponho que já
esteja há alguns meses assim, inclusive levando brigas e
desarmonias para dentro de sua casa. Acredito que o senhor
esteja fazendo o que não gosta ou talvez não esteja dando conta
das atribuições por estar em uma atividade não condizente com
o seu perfil profissional! Se continuar dessa forma poderá
culminar em uma estafa ou criar danos profissionais
irreversíveis” disse confirmando com a cabeça. O rapaz
percebeu os olhos do executivo se arregalarem, que respirando
fundo soltou um berro: “Some daqui seu imbecil pretensioso!” e
saiu igual a um furacão. Após cadenciar alguns passos, ele parou
e olhou para trás. O rapaz ainda estava parado no mesmo lugar
olhando em sua direção. Ele não resistiu. Respirou fundo e
voltou ao garoto. “De onde você tirou essas coisas, rapaz? Você
está mal vestido, cabelo e barba por fazer... mas seu linguajar
não condiz com o que estou presenciando. Isso é uma
pegadinha?”.

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“Obrigado pelo elogio, senhor...” “Aluísio, é meu nome!”
interrompe o executivo.

“Senhor Aluísio, respondendo sua pergunta, sou um autodidata.


Terminei o ensino médio e infelizmente a vida ainda não sorriu
para mim, mas eu aguardo confiantemente apreciar a beleza
desse dia.” filosofou.

Agora com uma postura mais relaxada, Aluísio novamente


perguntou ao rapaz: “Como você me disse tudo aquilo? Parece
que conhece minha rotina de trabalho”.

“Então Seu Aluísio, na verdade eu apenas deduzi. Sei que parece


loucura. Não sou de fazer isso com as pessoas, mas o estômago
falou mais alto. Não foi legal o que eu fiz. Na verdade, eu sei ler
rostos. A partir das características da face e dos traços
fisionômicos consigo capturar informações profundas sobre a
forma como a pessoa se expressa no mundo. Daí com um
pouquinho de conhecimento de psicologia fica muito fácil
chegar em camadas profundas da essência humana”.

“Cara, de onde você saiu!” o rapaz riu.

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“Então você é quase um Sherlock Holmes?” deu uma gargalhada
“Mas como é isso?”

“Do senhor foi muito fácil. Seus olhos são muito pequenos e bem
próximos um do outro. Isso me diz com clareza que o senhor é
pouco influenciável. Sua mente é forte e fluida. As vezes não
consegue desligar os pensamentos. O senhor não é de expressar
seus sentimentos. É muito comedido e solitário, o que faz com
que tenha poucos amigos. É detalhista e lida bem com coisas
minuciosas. É focado e atento. Isso faz com que seu senso crítico
seja muito alto, se tornando exigente demais com os outros e
consigo mesmo. Essas características podem aprisionar o senhor
em uma melancolia e consequentemente solidão, se não se
atentar”.

“Impressionante! Sou assim mesmo!” riu “Você viu tudo isso aí


só nos meus olhos?” perguntou com ar de confuso.

“Sim, senhor! Nossos olhos são importantes portas de entrada


do nosso “armazém” cerebral. Eles alimentam nossos
pensamentos e simbolicamente representam a forma como o
indivíduo enxerga o mundo. Por isso as características óticas

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falam com clareza sobre nossos intercâmbios emocionais com o
mundo externo. Não é à toa que são conhecidos como as janelas
da alma” enquanto falava, apontava para seus próprios olhos.

“Continue seu raciocínio” disse Aluísio tomado de curiosidade.


“Suas orelhas são bem pequenas, seu queixo é quase
imperceptível, suas bochechas são retas e magras. Esses seriam
alguns sinais confiáveis de falta de vigor e força de liderança. Isso
me mostra que se o senhor for posto em cargo de liderança,
sentirá fortemente no corpo o desgaste. São habilidades que
precisam ser desenvolvidas para que o senhor viva de forma
mais prazerosa, caso contrário o trabalho o engolirá vivo. Não
quer dizer que não possa ser líder. Apenas sentirá mais o peso
da responsabilidade porque suas habilidades apontam para
outra direção. Suas sobrancelhas são retas, que me revelam seu
forte lado racional e ausência de sentimentalismo Seus lábios
finos confirmam isso. É lógico e tem forte foco no processo, e
nem sempre no resultado. Pelo fato de suas sobrancelhas serem
finas, evidencia de novo a pouca energia nas suas ações. Mostra
a dificuldade que o senhor tem nas tomadas de decisões e em
lidar com muitas coisas ao mesmo tempo. Isso o deixa

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extremamente irritado! Por esse motivo ficou claro para mim o
seu esgotamento, que se confirma também quando vejo essas
suas olheiras escuras”.

“Uau! Eu estou de boca aberta! Nunca vi isso na minha vida!


Você acertou tudo! Tudo mesmo! E olha que sou muito cético. É
muito difícil me fazer acreditar em algo. A princípio pensei que
fosse leitura fria, mas você foi certeiro! Agora entendi porque
falou que “leria a minha alma”. Eu pensei que era algo místico
por causa da palavra ‘alma’. É chocante isso!”

“Sim, Seu Aluísio. Já ouviu falar em "Psiquê"? Essa é a palavra


que os antigos gregos utilizavam para exprimir alma e o espírito
humano. Inclusive, na Psicologia mais contemporânea, a palavra
Psiquê também ganhou o conceito de “ego”, “eu”, “mente” ...
justamente para separar da ideia de mitologia e espiritualidade.
As áreas profissionais da família “Psi”, como Psiquiatria,
Psicanálise, Psicologia... carregam esse termo indicando que nas
suas atribuições profissionais lidam com a alma humana”.

“Nem sei o que dizer!” consentiu Aluísio “Infelizmente meu


tempo é curto. Já estou atrasado. Segura estes duzentos Reais.

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Vou esperar você para uma entrevista comigo amanhã às dez e
meia. Ali mesmo na Luz AS” falou apontando o dedo.
“Providencie roupas e barbas feitas. Vou deixar a recepção
informada. Traga também um currículo. Chegando ali, basta
entregar esse meu cartão aqui que vão te conduzir à minha sala.”
e se foi.

O rapaz ficou extremamente emocionado com a inesperada


atitude do executivo. Geralmente nessas condições a pessoa é
ignorada ou maltratada. Por um dado momento nem conseguiu
sair do lugar. O que aquele jovem não sabia é que, enquanto se
via como um pobre conformado e como alguém que se deixou
levar pelas vicissitudes negativas da vida, o executivo já
vislumbrava nele um homem diferenciado e de futuro brilhante,
que apenas ocupava um papel errado naquele momento da vida.
Talvez por falta de uma boa oportunidade. Enquanto o executivo
se afastava nos seus largos passos a uma distância de seis metros
aproximadamente, o rapaz o chamou:

“Seu Aluísio, só mais uma coisa, não deixe de beber água.


Presumo que seu organismo esteja precisando.”

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“Gente!” diz Aluísio “eu nem sou de beber água mesmo. Isso
está me assustando, cara! Até amanhã então!”

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NO DIA SEGUINTE...
O rapaz se apresentou um pouco antes do horário combinado,
mas a entrevista não demorou muito tempo por conta de outros
compromissos do executivo. Dessa vez ele se apresentou com
um calçado de couro preto, blusa social clara e calça Jeans
novinha. Estava bem barbeado e cabelo caprichado. Impecável!
Nem parecia o mesmo desleixado do dia anterior.

“Entre, entre, Moreno adivinhão!” brincou Aluísio. “Gostei


desse seu cavanhaque bem feitinho. Está mais parecendo
‘calvanhaque’. Espero que não tenha molhado o queixo no caldo
de feijão.” Riram. “Cadê aquele mendigo que falou comigo
ontem lá em baixo hein?” brincou Aluísio.

“Não fale assim, Seu Aluísio. Muita gente sofrendo de verdade


nas ruas. Eu estava recolhendo materiais recicláveis. Acabo
mexendo nos lixos. Não convém me arrumar para esse fim”.

“Você está certo. Me desculpa!... Rapaz, você é muito maior do


que isso aí, sabia? Não desmerecendo os demais, mas existe
entranhado em você o hábito da necessidade e pobreza. Só pode

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ser isso! Com esse nível de conhecimento que tem... Você nem
imagina o quanto me ajudou ontem. Eu estava tão mergulhado
nos problemas que nem conseguia observar algo tão óbvio.
Parece que suas poucas palavras abriram meus olhos sobre o
que eu me recusava a enxergar sobre minha própria vida. Sou
muito teimoso e ontem houve uma quebra total de padrão. Nem
dormi direito refletindo. Suas palavras caíram como uma ficha
para mim. Apesar de que hoje é tudo com cartão telefônico né”
riram.

“Então” continuou Aluísio “Você tem bom discernimento, é


educado, inteligente, tem bom senso, esforçado... O que falta
para você deslanchar na vida?”

“Seu Aluísio, tudo tem seu tempo, como já dizia o Rei Salomão”.
“Você estudou sobre o rei Salomão também”?

“Não só sobre Salomão. Saber mais sobre esse nome me fez ler
a Bíblia toda!”

“O que? Você já leu a Bíblia toda?” perguntou Aluísio com


espanto”.

O rapaz achando engraçada a reação do executivo, respondeu:

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“De capa-a-capa!”

“Para tudo! Para tudo! Então o Moreno é vidente e também


beato?”

“Não, Seu Aluísio. Não tenho religião, mas acredito em Deus”


afirmou.

Aluísio mais uma vez brincou: “Eu sou ateu, graças a Deus!”

A essa altura Aluísio já conversava como se estivesse diante de


um amigo de longas datas, tendo em vista que o executivo quase
não tinha amigos.

“Moreno!” disse Aluísio “Já está quase na hora da minha


próxima reunião. Vai ser ‘ardida’! Mas antes estou super curioso
para saber como você aprendeu aqueles truques de ontem. Ah,
e já estou bebendo bastante água! Sou viciado em café e
praticamente substituo um pelo outro.” riu.

“Eu também sou viciado em café, seu Aluísio. Inclusive eu nem


iria ficar chateado se o senhor me oferecesse.” também riu.

“Eita! Verdade! Nem te ofereci um cafezinho. Só um minuto”


pegou o telefone:

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“Paula, traz dois cafezinhos pra nós por favor. Valeu!”

“Seu Aluísio” continuou o rapaz “Respondendo a sua pergunta,


o que eu aprendi não se trata de truque. A leitura de rosto é uma
técnica milenar dos orientais. Já em tempos imemoráveis eles
aprenderam a detectar disfunções orgânicas, aspectos do
caráter e até prever de forma muito assertiva possíveis
consequências na vida das pessoas. Isso tudo analisando marcas
de expressões, protuberâncias, dimensões de regiões específicas
da face, enfim, detalhes minuciosos que eu conto para o senhor
outro dia com calma para não confundir sua cabeça. Os antigos
já estudavam até as leis da probabilidade mesmo antes da
própria probabilidade ser oficialmente conhecida no mundo
acadêmico.”

“Por falar em acadêmico isso é comprovado cientificamente?”


perguntou Aluísio.

Sinceramente não sei. Só posso dizer que, conforme o senhor


viu, o resultado é espantoso. Até hoje, não me lembro de ter
errado a leitura de um rosto, apenas alguns detalhes” afirmou.

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Nessa época o rapaz conhecia a prática, mas não tinha muita
noção das bases do estudo. Futuramente que ele se
aprofundaria ao ponto de se tornar um aguçado especialista.

“Muito interessante!” exprimiu Aluísio. “E como você aprendeu


isso?”

“Seu Aluísio, o senhor não vai acreditar, aliás, ninguém acredita


nisso. Já faz mais de dois anos. Foi no portão de uma senhora
que tudo começou. Ela sempre guardava latinhas de cervejas
para mim. Certo dia, enquanto eu a esperava em seu portão
buscar as latas, corri os olhos na lixeira dela porque geralmente
encontro algo lá para vender. Na época essa lixeira ficava no lado
de fora da casa, em um suporte de alumínio alto por causa dos
cachorros da rua. (Somente os gatos se davam bem ali). Então
notei caído no chão um livro velho, grande de capa marrom.
Como gosto de livros, fui ver. Estava aberto em uma página com
desenhos de vários tipos de narizes. Meus olhos bateram em um
nariz justamente parecido com o meu, bem pequeno. Aquilo me
chamou a atenção por estar escrito: ‘Esse é o nariz de pessoas
reservadas. Geralmente inibidas ou tímidas. São de pouca força
de vontade, não priorizam poder e conquistas na vida devido à

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pouca ambição. São caprichosas e exigentes e precisam se
atentar com tendências ao egocentrismo e impaciência.
Geralmente se conformam facilmente com o que tem...’, enfim,
fiquei espantado porque era ‘completamente eu’! Então peguei
o livro botei para dentro daquele carrinho de mão que o senhor
viu ontem. Esse livro esteve diariamente comigo por um bom
tempo. Enquanto não dominei o assunto, não o abandonei. Seu
título era algo como “O Rosto Fala - De Della Porta a Lavater”.
Mais tarde descobri na biblioteca que aqueles dois nomes
diferentes se tratavam de dois teóricos antiquíssimos da
fisiognomonia. Lá encontrei um outro livro que estudei por um
bom tempo sobre Morfopsicologia. Notei que esse nome era
diferente, mas seu assunto era bem parecido com o do meu
livro. O nome desse autor era Louis Corman. Se não me falha a
memória, foi um Psiquiatra. Na verdade, esse livro eu tive um
pouco de dificuldade porque era em espanhol. Eu frequento
regularmente a biblioteca porque esse conteúdo não se acha em
qualquer lugar. Até na biblioteca encontro escassez desse
assunto”.

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“Este nosso inusitado encontro daria um livro, Moreno! Você é
muito habilidoso com as palavras. Percebe-se que você lê
bastante. Só não concordei muito com a questão do ‘Egocêntrico
e impaciente...’. Seu nariz é bem pequeno, realmente, mas não
percebo você assim” duvidou.

“Pois é, Seu Aluísio. O senhor só me conhece há dois dias. Se


soubesse ler rosto, não precisaria conviver muito tempo para
deduzir melhor.” Riu. “Óbvio que o ambiente em que a pessoa
vive, a educação... vão moldando nossa personalidade. Mesmo
que a pessoa tenha determinada predisposição, ela poderá se
adaptar às novas realidades distintas de sua tendência natural.
Por isso não podemos julgar pela cara! Apenas discernir,
deduzir”.

“Nunca julgar! Verdade!” confirmou Aluísio. “Bom, ficaria horas


apreciando sua maravilhosa história, mas vamos ao que
realmente interessa para você. Aqui na Luz SA temos diversas
empreiteiras grandes trabalhando para nós. Eu consegui um
emprego decente para você. Só espero que você não tenha
problemas em trabalhar um pouquinho distante. Amanhã antes

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das oito, você vai procurar o Toninho na Luz SA de Vila de Cava.
No endereço descrito nesse encaminhamento. Conhece?”

“Sim, Seu Aluísio. Esse é um bairro de Nova Iguaçu”.

“Exatamente!... Moreno, não sei quando nos veremos de novo,


mas você foi um anjo divino na minha vida. Isso é o mínimo que
eu poderia fazer por você. Já conversei com o Toninho para te
dar uma atenção especial. Você vai ter salário decente,
benefícios, e horários regulares de trabalho. Sua inteligência é
muito desenvolvida para você se reduzir a trabalhar nas ruas
inspecionando lixeiras. Procure estudar alguma coisa. Faz um
curso técnico para melhorar as oportunidades lá dentro, enfim,
não se acomode. E... Me dá um abraço aqui.” se abraçaram
emocionados.

Esse momento foi muito inusual porque o executivo não tinha o


hábito de demonstrar suas emoções publicamente. Apesar de
ser divertido, sempre interagia com as pessoas com muito
sarcasmo, ceticismo e incredulidade.

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“Seu Aluízio, foi tudo tão rápido. De um dia para o outro a minha
vida dá uma viravolta dessa. Eu só queria algo para comer e...
Não tenho palavras para o agradecer!”

“Moreno, eu que não tenho palavras. Se você fosse um “bonzão,


estudado, intitulado”... Talvez eu nem te ouviria, mas você
conseguiu dar um nó em meu cérebro, sem ser nada disso”.

“Seu Aluísio, quem sou eu para o aconselhar, mas permita-me


apenas mais um humilde conselho. Eu sugeriria que o senhor
procure uma terapia urgente porque muitas coisas daqui da
empresa ficam engasgadas em sua garganta. O senhor não tem
com quem conversar. É de poucos amigos. Um profissional, com
certeza irá orientar o senhor tecnicamente como proceder
mental e emocionalmente. Se uma simples conversa já foi o
suficiente para deixar o seu semblante mais leve, imagine um
acompanhamento mais específico ao seu caso, onde o senhor
poderá se abrir sem ser julgado e nem colocar sua autoridade
empresarial em vulnerabilidade?”

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“Mais uma vez você mandou muito bem, Moreno. Foi meu guru
por um dia. Aliás, dois dias. Ontem e hoje.” riu. “Mas eu também
gostaria de te dar um conselho, aceita, Moreno?”

“Com certeza!” respondeu o rapaz.

“Ok!” prosseguiu Aluísio “Você falando do grande Rei Salomão,


me fez recordar de um provérbio em que ele disse: ‘Assim como
você imagina em sua alma, assim você é!’, ou seja, você é aquilo
que pensa ser. Da mesma forma com a qual você se vê, assim
também você será visto pelos outros. Sua história de vida te
moldou uma pessoa inteligente e dedicada, mas se você não
acreditar que pode romper com essa precariedade financeira,
nada vai mudar. Quando Salomão fala: ‘Imaginar’, isso é o
mesmo que ‘criar imagem’. Sendo assim, se veja como um
campeão! Se veja como um vitorioso. Crie imagens, Moreno. A
qualidade das imagens que você cria, pode ditar o seu caminho
e destino. Esse é o significado da palavra fé que você já leu na
Bíblia. É ver com os olhos àquilo que ainda não aconteceu no
mundo físico”.

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Por um momento pôde-se observar as lágrimas nos olhos do
rapaz, que sem sucesso tentou enxugá-las no próprio ombro.
Mais uma vez o agradeceu e com ar de surpreso, tentando
disfarçar, disse:

“O senhor está escondendo jogo, seu Aluísio. Também conhece


a Bíblia”.

Respondeu Aluísio:

“Sim, conheço. Frequentei uma igreja Batista por muito


tempo...”

Enquanto respondia, Aluísio tirou de sua gaveta um antigo livro


e o estendeu para o jovem, dizendo:

“Segura este presente aqui. Este livro eu guardo com muito


carinho. Me ajudou muito! Ele vai despertar em você isso que
acabei de falar. O poder do Subconsciente, de Joseph Murphy.
Estou te dando porque sei que você vai ler. E acredito que você
só apareceu na minha vida por conta de coisas deste livro que
coloquei em prática. Agora desapareça daqui porque chefe não
pode chorar”. Novamente ambos se emocionaram “Quero te ver
no topo hein, Moreno!”

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Enquanto o jovem ainda tentava secar as lágrimas se
aproximando da porta para sair, Aluísio novamente o chamou:

“Moreno! Antes de ir, só me responda mais uma coisa: Como


você sabia que eu bebia pouca água?”

“Seu Aluísio, Eu não sabia, ou melhor, não poderia afirmar. Foi


apenas mais um discernimento, conforme eu o expliquei há
pouco. Na medicina oriental, as olheiras se localizam em uma
região reflexa dos rins. A pele dessa região é muito fina, muito
próxima do osso, deixando mais evidente o congestionamento
dos vasos capilares dessa região. Logo, as olheiras podem com
muita frequência evidenciar cansaço, noites mal dormidas,
excesso de sol, alergia, envelhecimento... Pelo contexto eu
deduzi desidratação. Óbvio que se ela perdurar sem que haja
motivos, o ideal é procurar um médico para um exame
detalhado”.

“Entendi, ‘doutor’ Moreno.” Riu. “Obrigado, viu! Vai lá, rapaz!”

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NO AUDITÓRIO...
– ...Caros congressistas, essa breve história que acabei de contar
para vocês foi para ambientar nosso estudo de caso. Antes de
continuarmos, vejo alguns dedos se levantando. Agora darei um
espaço para as perguntas. Na sequência eu retomarei ao
assunto. Vou pedir alguém que me ajude a levar o microfone até
as pessoas... ah... ok doutor! O doutor Edvânio acabou de me
informar que a Assistente Silviane vai nos ajudar. Obrigado,
querida. Acho que aquele colega ali ao lado esquerdo levantou
a mão primeiro.

– Bom dia a todos! Eu sou Ovaldo Nazário, professor de Filosofia


da Unicentro. Ao meu lado esquerdo está minha adorável
esposa, Débora Nazário, psicanalista, que veio conhecer o
congresso comigo. Este já é o terceiro que participo. Vamos à
pergunta: só faltou chorarmos de emoção. Se Hollywood
conhecer essa história, vai contratá-lo para produzir um filme.
Sinceramente não vi nada de lógico, não vi embasamento
científico e muito menos utilidade nisso, exceto aos astrólogos

33
ou candidatos à picaretagem. Mas acredito que aqui não seja
ambiente para este tipo de gente. –

O auditório se assustou com o comentário, pois ninguém o


esperava.

– Para simplificar – continuou Ovaldo - não tem como acreditar


nessas coisas. Será que isso aconteceu mesmo? Quem garante
que você não alterou os “fatos” para impressionar? Pelo que
consta, faltou embasamento simples como um pseudônimo para
o seu personagem principal, enfim, minha pergunta é: quanto
tempo falta para você concluir essa “Verborragia flácida para
acalantar bovinos”? –

Mais uma vez o auditório pasmou.

– Prezados congressistas, não precisam ficar com essa feição de


espanto. Já estou acostumado ao tamanho ceticismo. Inclusive,
fui convidado para um caloroso debate no próximo dia vinte e
oito de outubro, com um pesquisador de Harvard. Ele é
especialista em linguagem das emoções e microexpressões
faciais. Segundo anda dizendo nas redes sociais, vai desmascarar
essa falácia de Fisiognomonia. Nem sei como me descobriram,

34
mas alguém me indicou à produção do programa “Tarde Show”.
Perguntaram se eu aceitaria o convite. Mesmo sabendo da
polêmica que vai dar, eu aceitei o desafio. Se quiserem me ver
“apanhando”, – todos riram – não percam esse “Talk show”.
Para quem não sabe, esse programa acontece sábado às
dezessete horas, na TVI.

Então, caro Ovaldo – continuou doutor Salomão – te agradeço


pela pergunta porque ela me dá a oportunidade de explicar
como a coisa funciona. Primeiramente informo que a omissão de
um pseudônimo foi proposital para dinamizar mais a
apresentação. Essa história que vocês viram, pessoal, é da minha
própria vida! É minha própria história! Eu sou o “Moreno” do
caso contado! –

Nesse momento ficou nítido que o doutor tentava conter suas


emoções. Houve um misto de sentimentos no ambiente. Todos
se surpreenderam com a revelação feita. Alguns se alegraram
com o desfecho, por causa da aparente arrogância do filósofo,
outros se emocionaram pela identificação com o sofrimento.
Poucos ainda permaneceram céticos e na expectativa para saber
aonde iriam chegar. Doutor Salomão retomou:

35
– Pessoal! Um dos maiores benefícios da análise de rosto para
mim, foi a capacidade de prever e entender as ações do outro e
compreender como este funciona, como se expressa, como
expõe suas verdades... E sinceramente, está tudo ok se for de
forma diferente da minha. Vou dar um exemplo para vocês. Uma
pessoa não deve se reprimir só porque o outro queira. A não ser
que haja consenso, entendimento ou vontade de assim fazer.
Tendemos a achar que quem age diferente de nós, está fora do
que é correto, pelo simples fato da nossa visão de mundo ser
diferente. O que fala pouco vai rotular o outro de tagarela, que
por sua vez, vai chamar esse seu opositor de “boca-travada”.
Compreendem? Precisamos entender que cada um funciona de
forma diferente e imprime na vida suas características
comportamentais próprias. O rosto apenas revela “quem é
quem”. E está tudo bem! Cabe a nós respeitarmos o “não igual”!
Vou tomar a liberdade de mostrar isso na própria morfologia da
face do professor Ovaldo. Pode ficar tranquilo, professor. Não
vou expor sua intimidade, afinal, sou um “vidente” muito ético!
– Os congressistas riram novamente. Dessa vez acompanhado
de aplausos.

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– Suas sobrancelhas são tão expressivas, professor, que
sinceramente nem precisarei forcar em outro ponto. Somente
elas já são suficientes para que eu leia sua alma com muita
precisão. O correto é analisar o todo, mas vejamos se eu vou
errar... Elas são bem grossas e quase coladas uma à outra. São
retas e ligeiramente ascendentes. Para que todos entendam, na
análise de rosto as sobrancelhas representam energia. A energia
que dispomos para colocarmos nossas ideias em atividade. Elas
falam da nossa sensibilidade energética e disposição para
fazermos algo acontecer. Alguns teóricos dizem que elas
expressam o formato da nossa mente. Na fisiognomonia
chinesa, em geral revelam reflexamente o fígado. O órgão que
se correlaciona à raiva e se olharmos de uma forma mais
positiva, a raiva é a emoção que nos impulsiona à desobstrução
de obstáculos. Por isso não me espanta (e nem me chateia) a sua
irritação e agressividade nas palavras. Eu te compreendo e te
respeito do jeito que o senhor é, professor Ovaldo! Presumo que
todos os que se opõem às suas ideias devam sofrer as mesmas
manifestações enérgicas de sua parte. Suas sobrancelhas são
bem retas, praticamente horizontais. Isso me mostra, professor,

37
sua forte orientação para fatos. Semelhante a Tomé. “É ver para
crer!”. Talvez isso fortaleça seu aspecto de frio e distante. O fato
de serem grossas me revelam que o senhor é “mil em um”. Capaz
de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Precisa de detalhes das
coisas para se convencer daquilo e pautar suas decisões. Tem
ótima memória, é muito responsável com suas atribuições e lida
bem com responsabilidades. É muito criativo e absurdamente
apaixonado pelos seus ideais. Se seu time for o “A”, terá seu
arsenal de defesa e valentia em prol desse time (espero que o
time dele seja o Flamengo, pessoal!) o mesmo se sucede para
política, religião, ou qualquer tipo de paixão que o senhor tenha
na vida. O que mais me preocupa – continuou doutor Salomão –
é o fato de suas sobrancelhas serem próximas demais. Isso, em
conjunto com o já mencionado, mostra que o senhor acaba
afastando as pessoas por onde passa. Poucos compreendem sua
tolerância zero, e como disse há pouco, interpretam-na como
arrogância. O fato de o senhor não gostar de ouvir conselhos,
reforça e confirma tudo. O senhor se irrita e se ofende
facilmente, na mesma velocidade em que retém os rancores.
Apesar de vê-lo hoje pela primeira vez, eu não tenho dúvida

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nenhuma de que o senhor seja um grande filósofo, e não apenas
por título. Digo com muita certeza porque esse perfil de
sobrancelhas é de pessoas com muita força de vontade e
perfeccionismo para fazer as coisas acontecerem. Quando as
coisas não fazem sentido em sua cabeça, dispara um alarme,
porque foge ou sai da trilha forte e indestrutível que o senhor
criou. Eu teria muito mais coisas para falar, mas acho inútil
porque até aqui já foi o suficiente para que todos vejam que não
se trata de brincadeirinha irresponsável. A coisa funciona na
prática! –

Nesse momento a esposa do filósofo discretamente se retirou


do auditório pela porta lateral. Mesmo com sua discrição, foi
impossível não notar que estava em prantos. Professor Ovaldo
manifestou feição de desprezo retorcendo nariz, sorriso
debochado e ao contrário do que todos pensaram, sentou-se
sem retrucar, apenas meneando a cabeça. Enquanto isso, uma
mulher do canto oposto do auditório levantou o seu dedo.

– Silviane! – alertou o doutor Salomão – Uma colega ali


precisando do microfone para falar!...

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– Bom dia pessoal! Sou a doutora Vera de Camargo, psicóloga e
docente da UNIRJ. Não sei o que está acontecendo aqui. Só sei
que estou impressionada! Enquanto o colega falava das
características das sobrancelhas, me remeti a duas pessoas
próximas que são exatamente conforme as descrições faladas. E
tudo bate! O que foi contado no estudo de caso também mexeu
muito comigo. Realmente preciso conhecer mais sobre esse
assunto. Eu discordo do filósofo Ovaldo. Se de fato, os
fundamentos desse estudo forem dissociados de misticismos e
religiosidade conforme demonstrados aqui, acredito que possa
ser de grande valor na vida pessoal e profissional sim! Imaginei
no meu caso, em uma sessão terapêutica, mesmo o cliente
omitindo coisas de si, que é comum, principalmente no início do
processo terapêutico, devido aos seus mecanismos de defesa,
poderemos fazer perguntas mais estratégicas e focais ao cliente.
Isso otimizaria o tempo e aceleraria os resultados. –

Alguém da plateia interrompeu:

– Isso seria muito perigoso, doutora, porque você afirmar para o


cliente que percebeu sua personalidade por causa de aspectos

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do rosto... Nem imagino o que o Conselho de Psicologia
pensaria... –

A psicóloga retomou o assunto, explicou:

– Acredito que não me fiz entender ou pensei muito lá na frente.


Não seria certo “adivinhar” a vida da pessoa no consultório pelo
rosto. Isso seria apenas massagem do ego do terapeuta em
testar suas habilidades. Obviamente essas perguntas deveriam
ser intrínsecas ao processo terapêutico e não um empurrão
goela a dentro de que a pessoa tenha determinado jeito. Esse
conhecimento pode ajudar a fazer com que as perguntas feitas
ao cliente sejam mais inteligentes e “cirúrgicas”, pois
previamente já teria uma boa base de como aquela pessoa
funciona. Vejo com clareza que poderia ser apenas uma
ferramenta a mais e nada de substitutivo no processo
terapêutico. Vejam só pessoal, não houve nada planejado aqui!
Se ficássemos só no estudo de caso que ele apresentou, até faria
sentido o que o colega filósofo falou há pouco, mas pudemos ver
sua performance em tempo real.

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– Doutora Vera! Olha que interessante – Diz doutor Salomão –
só em olhar para seu rosto, já sei pelos seus traços que a senhora
está na profissão correta! Nessa hora o auditório já estava
completamente envolvido no assunto. Ninguém ousava ao
menos piscar. Talvez só reclamassem a ausência de pipoca e
refrigerante no recinto. A doutora se ajeitou para ouvir
atentamente.

– Por falar bastante em sobrancelhas – retomou doutor Salomão


– veja as sobrancelhas dela, pessoal! São bem arqueadas. Isso
mostra o seu lado receptivo. As pessoas não se intimidam de se
aproximarem dela, como geralmente acontece com quem têm
as sobrancelhas com ângulos mais acentuados, por
apresentarem aspecto mais intimidador. Ela é uma pessoa
acessível! Mostram também que ela é focada em
relacionamento humano. Por enfatizar os sentimentos, ela
tende a conectar-se muito bem e facilmente com as pessoas. Sua
testa é arredondada na linha do cabelo. Isso revela o quanto sua
imaginação é fértil. Essa habilidade é muito importante para
quem trabalha com o que é subjetivo e simbólico.
Principalmente por trazer para o concreto e palpável todo o

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material reprimido das pessoas, que é totalmente abstrato e
inconsciente. Você é criativa e artística. Trabalhar com muitas
planilhas, procedimentos e controles em demasia poderiam
sufocar o seu senso criativo, conforme já disse. Vejo que o
improviso acaba sendo importante para a senhora! Seu queixo
confirma tudo que falei até agora. O fato de ser pequeno mostra
que os bens materiais também não são a sua prioridade na vida.
Olhe para o meu, também é miudinho, bem parecido com o seu!
Como seu queixo é bem arredondado, reforça seu lado artístico,
bondoso, conciliador, flexível, sentimental e que faz colocar suas
reservas energéticas em prol do outro. Acho que nem preciso
continuar, não é mesmo, doutora? –

Nesse momento ouviam-se algumas vozes falando entre os


dentes uns com os outros coisas do tipo “Interessante!”,
“continua!”, “como ele sabe isso!”... A doutora estava
paralisada com os olhos arregalados, boca entreaberta, a palma
das duas mãos apoiando o queixo e as bochechas. Era
simplesmente inacreditável para ela! O ceticismo ia diminuindo
no ambiente. Alguns mais resistentes buscavam argumentos
como: “isso não é comprovado cientificamente, ele deve estar

43
com ponto eletrônico,... isso é leitura fria...”. Outros estavam tão
curiosos ao ponto de pedirem para participar da experiência,
mas o tempo da palestra não favoreceu para que isso
acontecesse. Doutor Salomão passou algum tempo explicando
os fundamentos da técnica, porém o mais surpreendente e
inacreditável ainda estava para acontecer.

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EU AQUI...
Foi quando um homem alto, branco com aparência de uns
cinquenta e cinco anos, no fundo do auditório levantou o dedo
e pediu a vez para falar. Silviane prontamente foi em sua direção
e entregou o microfone. Ele estava com nítido embargo vocal de
quem havia chorado.

– Bom dia a todos! Sei que já batemos o horário de almoço, mas


não posso deixar de falar, rapidamente. Na verdade, eu iria falar
com o palestrante ao término da apresentação, mas diante de
tantas coisas acontecendo, me vi na obrigação de falar para
todos, mesmo não sendo muito fácil para mim uma exposição
pública. Esse homem aí mudou o rumo da minha história!... –
Pausou por conta dos embargos vocais e das lágrimas que
corriam sem acanhamento pelo seu rosto. Após respirar fundo,
retomou a fala e trouxe a seguinte revelação:

– Eu sou o Aluísio desse estudo de caso! –

Nessa hora foi nítida a confusão de todos. Novamente um alto


pico de emoções tomou o auditório. Doutor Salomão à distância,

45
cerrando o olhar para enxergar melhor, aos poucos foi
remontando na mente e relembrando a fisionomia, pois já havia
mais de duas décadas que não se viam. Doutor Salomão também
chorou copiosamente. Tudo acontecendo muito rapidamente. E
de forma inacreditável. Aluísio retomou a fala no microfone:

– Eu poderia processar você por relatar minha história e nem ao


menos mudar o nome – riu, chorou e riu. Todos riram
simultaneamente. O auditório estava vidrado e vibrante.

– Concordo com o professor Ovaldo. Isso daria um filme. Nunca!


Nunca! Nunca imaginei na vida que isso pudesse acontecer um
dia. Depois da última vez que eu o vi, marquei uma consulta com
uma psicóloga organizacional muito famosa de Nova Iguaçu,
lugar que moro com minha família até os dias de hoje. Me
lembro como se fosse ontem. Em sete sessões, ela trabalhou
comigo minhas competências, habilidades, investigou minha
personalidade... fiz alguns testes complementares e tudo
corroborou com o que aquele rapaz havia me dito. Na época eu
estava tão submerso que nem procurei saber seu nome. Depois
da última vez que nos vimos que fui olhar no currículo. Pude me
recordar que eu o chamei de “Moreno” Muito tempo se passou.

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Eu só lembrava do jovem Osnir que se tornou essa “fera” que
pudemos presenciar hoje. Eu era extremamente infeliz no que
estava fazendo. Isso eu também me lembro como se fosse
ontem. Já trabalhava há aproximadamente seis meses como
gerente de departamento. O diretor havia percebido meu
compromisso e profundo conhecimento na integração entre os
sistemas que utilizávamos. Naquela época era tudo mais
rudimentar. Com isso, ele me tirou do meu posto de trabalho
para eu então assumir a gerência da equipe de relacionamento
com o cliente. Como eu era “o cérebro” do sistema, imaginou
que eu seria a pessoa certa para a função. Naquela época não
existia essas coisas de capacitação de líderes, aperfeiçoamento
de relacionamento interpessoal... essas “modinhas” eram muito
improváveis. A verdade é que se criou dois problemas. Um
buraco no setor de sistema por eu ter saído (e eu era feliz lá!) e
outro problema foi na liderança, porque como Salomão bem
disse na época, e eu me recusei a aceitar, eu não era um bom
líder.

A princípio me envaideci com o cargo, porém em menos de um


mês eu simplesmente já odiava aquela rotina! Falsidade entre

47
pessoas, um querendo tomar o lugar do outro, brigas e
picuinhas... Definitivamente resolver esses conflitos não era
para mim. Até que me inscrevi para uma oportunidade de
emprego com sistemas. Era uma empresa terceirizada da Petro-
Brasil. Rapidamente fui contratado. Sem falsa modéstia, o meu
currículo era invejável. Me achei rapidamente no novo serviço
(mesmo tendo o salário bem menor do que na Luz SA). Prestei
concurso para esta potente estatal Petro-Brasil, onde estou até
hoje trabalhando no centro da cidade do Rio de Janeiro como
diretor nacional de tecnologia submarina. Por esse motivo estou
aqui. A empresa tem um pesado planejamento de qualificação
continuada para os funcionários em todos os graus hierárquicos.
Hoje respondo diretamente à presidência da companhia, que
está abaixo apenas do presidente da República. Hoje não apenas
sou líder. Sou líder de líderes. Agora eu lidero da forma correta,
treinada e aperfeiçoada pelos meus últimos vinte anos de
carreira. Eu sou o cara mais realizado profissionalmente que
conheço. Minha satisfação está além de cargo e salário. Apenas
me sinto plenamente no lugar em que eu realmente deveria
estar! Este aqui ao meu lado é o André, Gerente de operações.

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Veio comigo. Eu o deixei super preocupado porque há tempo
não estou conseguindo conter as lágrimas daqui da minha
poltrona e ele sem saber de nada perguntando o tempo todo se
estou passando mal. E não é para passar mal, pessoal? – falou
com a voz bem motivacional.

Mais uma vez uma torrente de aplausos e risos tomaram o


auditório.

– E quero estar lá na plateia do “Tarde Show” – Continuou Aluísio


– Vamos ver se você vai levar essa surra do “nerd de Harvard”!
Novamente todos riram. Nesse momento o doutor Edvânio
solicitou o microfone do púlpito e pediu para que todos
acalmassem seus ânimos, dizendo:

– Uau! Prezados congressistas, há onze anos temos esse evento.


Eu participei de todos e nos últimos quatro como presidente da
casa. Nunca presenciei um momento tão atípico como este.
Sinceramente não sei se o que foi abordado aqui tem a ver com
ciência, com vidência, ou, seja lá o que for. O que nossos olhos
viram acontecendo é realmente intrigante e digno de
investigação. Como explicar? Pretendíamos que essa

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apresentação fosse apenas um estudo de caso, fomentando o
interesse por pesquisas das ditas “Práticas Integrativas e
Complementares” abordadas pela Organização Mundial de
Saúde. De repente tomou-se essa força toda. Peço desculpas a
todos mas vamos ter que concluir agora porque já passamos
trinta e cinco minutos do horário do almoço e no retorno
teremos a apresentação da nossa queridíssima doutora Emiliene
Gurgel, PhD, abordando “Os mitos modernos da Física
Quântica”. Ela visa desconstruir a ideia de “Coach Quântico”.
Segundo ela, esse termo não tem nenhum vínculo com a Física
Quântica científica. Vocês concordam que esse tema sobre
análise facial entre na pauta para novos estudos? Acredito que
conseguiríamos dar mais amplitude para potencialização das
pesquisas aqui na academia e na busca por artigos mundiais
sobre o tema. Poderemos distinguir e separar o “pseudo”, do
técnico, do artístico, enfim, quem concorda levante a mão, por
favor!... Ok... sinceramente não esperava que cem por cento
levantariam a mão, mas o senhor sim, me surpreendeu,
professor Ovaldo. Não imaginei que o senhor levantaria a sua
mão também. – Todos riram. – Declaro concluído o primeiro

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horário. Nos veremos às treze e trinta. Por favor não se atrasem
– encerrou.

O pessoal já se preparando para sair, doutor Salomão


rapidamente sacou de sua bolsa um livro velho e em tom de
gracejo falou em alta voz, mesmo sem o microfone:

– Aqui pessoal! Aqui está a prova do crime! – ergueu o livro


enquanto ria e olhando na direção do Aluísio, que tentava driblar
o congestionamento do pessoal saindo para alcançar a tribuna e
abraçar seu velho amigo. Uma enorme fila já se formava para
falar com doutor Salomão. Os que estavam mais próximos
puderam ler o título do livro que ele havia erguido: “O poder do
Subconsciente”.

Em seguida a Débora, esposa do professor Ovaldo veio correndo


e segurou no braço dele e dizendo:

– Doutor Salomão, muito obrigada por ter dito aquelas coisas.


Foi libertador esse momento! Incrível! Há anos eu falo
exatamente tudo o que o senhor disse, mas ele é muito cabeça
dura. Deixou o analista doidinho, quando propus que fizesse
análise. Não chegou nem na segunda sessão. Pelo menos alguém

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de fora falando, e de forma tão incontestável, pode ser que ele
agora caia na real. –

– Obrigado pelo feedback – disse doutor Salomão, com feição de


realização e feliz em saber.

– O senhor pode me passar seu contato? Quero conhecer seus


materiais, suas redes sociais porque é do meu interesse
aprender essas habilidades. Penso que posso ajudar muitas
pessoas na comunidade filantrópica em que faço parte. Ah! Não
vou perder o debate do dia vinte e oito por nada. Já até anotei
na minha agenda. Mais uma vez obrigada! O senhor realmente
leu as almas!

***

"Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao


tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana"

– Carl Jung

***

52
CONCLUSÃO
Espero que você tenha gostado do primeiro episódio. Se tiver
alguma sugestão ou ideias criativas dentro desse contexto, deixe
nos comentários da plataforma ou pelas minhas redes sociais.
Quem sabe, vire tema dentro das próximas tramas! E caso poste
algo referente a essa leitura, não esqueça de me marcar. Terei o
prazer em repostar nas minhas redes sociais também.

Minhas principais redes de relacionamento são:

YouTube, Instagram e Facebook. @rafaelbronisio

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SOBRE O AUTOR
Rafael Moraes Bronísio

Psicanalista, formado em Teologia e em Pedagogia. Possui


especialização em Pedagogia Empresarial e em Qualidade,
Segurança, Meio Ambiente e Saúde Ocupacional (QSMS). Seu
mestrado (2013) tem ênfase em comunicação não verbal.

Possui diversas qualificações nacionais e internacionais em


Fisiognomonia (ou Fisiognomia), Morfopsicologia e Visagismo.
Em 2017, foi intitulado pelo Miesperanza University como
Doutor honoris causa por disseminar a importância da
psicanálise nos ambientes organizacionais. Clinicou em Macaé
(RJ) até o ano de 2014 e se ocupa das atividades voltadas à
segurança e saúde do trabalhador por mais de 15 anos.

Atualmente, é CEO do Instituto 3 Saberes Formação Profissional,


é docente de pós-graduação nas áreas das ciências humanas,

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instrutor de treinamentos empresariais e destacado palestrante
de congressos e eventos corporativos por todo o Brasil.

É autor do livro “DESAFIE-SE!”, já chegando à marca dos 30 Mil


leitores.

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PRINCIPAIS ATIVIDADES DO AUTOR

Principais cursos e seminários presenciais do autor


Comunicação não verbal (linguagem corporal)
Fisiognomonia (Análise de rosto)
Influência e persuasão
Gestão inteligente do tempo
Oratória de impacto
Formação de instrutores

Principais workshops presenciais do autor


Temas específicos dos meus livros
Temas de Inteligência e Saúde Emocional
A química do amor com bases científicas
Aconselhamento e gestão emocional
E muito mais...

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LIVROS DESTE AUTOR
DESAFIE-SE! O caminho para o crescimento pessoal e
profissional

Estamos sempre tão aflitos para encontrar a felicidade que nem


percebemos que a verdadeira causa da angústia que sentimos
são algumas de nossas próprias atitudes. Mas como enfrentar o
medo e sair da zona de conforto?

Rafael Bronísio nos convida a encontrar "um paraíso em nosso


caos" em 16 encontros, estrategicamente estruturados para
encorajar e respeitar o tempo de cada leitor.

Com objetividade e clareza, o autor propõe desafios para que o


leitor possa mudar sua forma de lidar com as dificuldades,
encontrar equilíbrio emocional e melhorar a qualidade de vida.

EDITORA LABRADOR

https://amzn.to/2LXy41u

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CURSOS ONLINE DESTE AUTOR
Análise de Rosto

http://3saberes.com/analisederosto/

Análise Proxêmica

http://3saberes.com/proxemica/

***

POR FIM...

Não deixe de qualificar com as estrelas para nos ajudar neste


projeto. Isso fará com que a automatização da plataforma
entenda que este livro é relevante e merece ser oferecido para
mais pessoas.

Se cuide! Te encontro no próximo episódio!

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