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Universidade Estadual de Goiás

Departamento Pós Graduação – Unidade Formosa


Disciplina: Literatura e Cinema
Professora: Emile
Aluno: Hans Donner Gomes da Mota

Os Sete Samurais, Akira Kurosawa. 1954

Akira Kurosawa e um dos diretores mais aclamados do mundo do cinema e até


hoje é reverenciado por suas criações, e inúmeras contribuições no que diz respeito de
técnicas de filmagens e efeitos visuais. É ídolo de grandes cineastas como George Lucas
e Steven Spielberg e já recebeu um Oscar honorário pelos seus feitos no cinema
No filme Os Sete Samurais de Akira Kurosawa, vemos um Japão do sec. XVI na
era Sengoku, um período instável na história nipônica com vários conflitos e guerras
civis. Nesse contexto uma aldeia de lavradores, como era comum na época sofria
constantes ataques de ladroes em busca de sua produção de alimentos. O filme narra
como os aldeões buscam se defender destes ladroes, sabendo que iriam ser atacados
depois da próxima colheita. A saída encontrada foi contratar samurais para lhe
ensinarem a lutar em troca da única riqueza que tinha: o arroz. Uma missão difícil achar
alguém para lutar por uma coisa tão básica como alimento, ainda samurais que eram
considerados superiores na historia do Japão, por dominar a arte da guerra e serem
cultos.
Os lideres da aldeia são incumbidos de ir até a cidade para achar guerreiros para
essa difícil tarefa. Quase desistindo por não achar ninguém disposto, avistam Kambei
(Takeshi Shimura), um samurai mais velho que salva uma criança sequestrada por um
ladrão se fantasiando de monge, e raspa seu cabelo em uma grande demonstração de
humildade, pois o cabelo e a aparência dos samurais era algo extremamente valorizado.
Ter cortado o cabelo impactou o personagem, durante o resto do filme em varias cenas
ele passa a mão na cabeça raspada como uma espécie de tic. Kambei aceita a proposta
dos aldeões e os ajuda a recrutar mais seis samurais para defender a aldeia. Kambei é
introduzido na história com um acontecimento que não tem nada a ver com o resto do
filme, nem se que sabemos o nome da criança que ele salvou. Esse tipo de introdução de
personagens e muito comum em filmes posteriores como Indiana Jones e 007.
O gênero do filme permeia o drama, a comedia, aventura e ação. Conseguir
combinar tantos elementos em um filme é algo bastante difícil, principalmente para
época em que não se tem tantas referencias filmográficas como hoje, Kurosawa faz isso
muito bem, consegue harmonizar os momentos de tensão e riso e apesar do filme ter
mais de 3 horas de duração não é cansativo. O filme se divide em três partes muito
claras: a primeira e a busca pelos samurais, a segunda e a interação deles com os
aldeões e por ultimo o embate contra os ladroes.
Vemos samurais sujos e sem muito dinheiro ou prestígios, sem estarem presos a
algum tipo de código ou lei de conduta (bushido) bem diferente do que estamos
acostumados a ver, guerreiros detentores de senso de justiça que lutam contra o mal,
retratado em vários filmes e desenhos. Na época descrita pelo filme, o Japão era instável
e descentralizado politicamente, tinham muitos samurais desempregados e muitos
ronins (samurais sem mestre). Essa situação ruim em que se encontravam os samurais
ajuda a entender por que aceitaram trabalhar para camponeses em troca de comida,
provavelmente em outras épocas esta situação não seria possível, mas nesse contexto a
narrativa é extremamente plausível.
Kurosawa estava presente em vários campos da produção do filme, desde o
roteiro ate a edição. Ele administra os recursos cinematográficos para passar sua ideia,
da maneira mais brilhante possível. Usa diversos recursos que para época são
considerados inovadores como a morte em câmera lenta, hoje dificilmente um
personagem no cinema morre no tempo normal ou natural. Sua agonia, sofrimento e dor
são prolongados para dar ênfase no que se passa. O posicionamento nas cenas também
chama muito a atenção, a composição dos diálogos e das situações acontece de maneira
bem fluida, de fácil compreensão e o posicionamento dos atores nas cenas ocorre de tal
maneira que ninguém fica sem ser visto mesmo que esteja atrás de outros personagens:
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Nos frames acima, vemos como os personagens chegam um por um, olhando
para frente enquanto a câmera os filma de perfil. Quando todos chegam, nota-se que
ninguém teve o rosto sobreposto por outro personagem demonstrando uma sensibilidade
fotográfica muito aguçada. Em varias cenas podemos observar essa preocupação com a
estética das cenas juntamente com o posicionamento simbiótico dos atores com o
cenário.
Outro personagem que tem grande importância na história e o Kikuchiyo vivido
pelo grande ator Tochiro Mifune. Kikuchiyo alega ser um
Frames
samurai tem uma Katana enorme, é beberrão e retirados do extremamente
caricato. usa uma identificação de samurai filme Sete roubada e é
Samurais.
facilmente desmascarado. Mesmo depois dos Minuto aldeões e
Kambei saberem que ele não é samurai ele segue 00;19. o grupo ate a
aldeia insistindo em participar da missão. Chegando à
aldeia os samurais se sentem hostilizados, ninguém vem recebe-los todos temem pela
honra de suas filhas. O ancião da vila explica que os membro da aldeia são ignorantes e
não sabem com que realmente tem que se preocupar. Logo depois o sinal de intrusos da
vila toca e todos os aldeões clamam pela ajuda dos samurais para interceder por eles,
após um breve momento de desespero se descobre que foi um alarme falso dado por
Kikuchiyo para que todos saíssem de casa para interagir com os samurais. Depois deste
ato ele é visto como um samurai e aceito pelo grupo
A forma com que Kikuchiyo age, estabanado e impulsivo nos faz dar boas
risadas, mas apesar do seu caráter cômico na trama, este personagem funciona como
uma espécie de elo entre os samurais e os aldeões por ter sua origem em um vilarejo
semelhante ao que defendia. Em todo filme vemos a relação estreita que cria com os
membros da vila sendo uma espécie de celebridade principalmente para as crianças.

Os outros samurais descobrem que os aldeões possuíam armaduras de samurais


assassinados por eles e ficam furiosos. Ao ser hostilizado por usar armaduras de
samurais mortos por camponeses Kikuchiyo faz um
discurso sobre as interações entre samurais e aldeões de Kikuchiyo se lembra
de sua infância de
maneira geral. Ele enxerga os aldeões não apenas como aldeão ao socorrer
vitimas são “astutos, avarentos, mesquinhos e chorões...” 1 uma criança que
acabara de ficar órfã
e farejam batalhas para atacar os derrotados, escondem
alimentos e saque no subsolo de suas casas. E ainda completa dizendo que o que tornou
os aldeões desprezíveis foram os samurais que por ser superiores na escala social
considerados como uma casta de guerreiros, cometem uma serie de abusos em desfavor
dos aldeões; tomam suas terras, suas mulheres, os forçam a trabalhar e os matam se
resistirem. Sua fala e extremamente perspicaz e nos faz enxergar que as relações sociais

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OS SETE Samurais. Direção Akira Kurosawa. Produção: Sojiro Motoki. Japão 1954. Fala de Kikushiyo:
01:29:50
no Japão feudal são muito mais complexas do que se pensa, e os excessos cometidos
pelos samurais são justamente o que faz com os aldeões se tornem mesquinhos,
avarentos e chorões. Esta cena tensa, pesada e carregada de sentido é protagonizada por
um personagem que ate então era visto apenas como o brincalhão do grupo. O que nos
faz perceber que os personagens de Akira Kurosawa vão muito além dos estereótipos de
vilão e mocinho, sério e brincalhão e inteligente e estupido que estamos acostumados a
ver em filmes campeões de bilheteria.
Samurais e aldeões que são pertencentes a duas classes diferentes na historia do
Japão, dificilmente se aliariam por qualquer motivo. O filme relata essa união mutua e a
barreira social aos poucos vai caindo a media que ambas as partes vão convivendo e se
conhecendo cada vez mais, entendendo o ponto de vista uns dos outros. No decorrer do
filme os samurais comovidos com a fome e a pobreza do vilarejo começam a dividir seu
alimento com crianças e uma senhora viúva. Outro aspecto que indica uma relação mais
vertical e o fato do samurai mais jovem do grupo Katsushiro Okamoto (Isao Kimura) se
relacionar com a filha de um dos aldeões. Um romance que nasce que iria contra
qualquer convecção social da época.
Depois de se preparem muito aldeões e samurais estão prontos para resistir à
invasão dos bandidos. No embate vários aldeões são mortos, e dos sete sobram apenas
três samurais, mas saem vitoriosos da batalha. As táticas de guerra usadas sobre a
orientação de Kambei são muito efetivas, e obviamente os bandidos não esperavam uma
aldeia preparada para um ataque. Nas cenas finais do filme vemos os aldeões alegres
plantando arroz e cantando. Constatando com esta alegria, estão os samurais
sobreviventes tristes pelo fim da batalha por ter perdido tantos companheiros, e por não
terem mais serventia naquele ambiente com seu serviços militares. “novamente fomos
derrotados” é o que Kambei diz no inicio de sua ultima fala no filme.
Análise do frame retirado da hora: 01:37:34:14

No frame acima vemos um recurso chamado de profundidade de foco, em que se


vê duas camadas, no caso acima o samurai Kyuzo observando de longe Katsushiro junto
com uma camponesa com que inicia um romance. Nesta cena vemos um recurso usado
largamente hoje em dia e nos da à sensação de estarmos observando junto com o
personagem sentindo-se sorrateiro e furtivo como a cena sugere.

Bibliografias.

OS SETE Samurais. Direção Akira Kurosawa. Produção: Sojiro Motoki. Japão


1954. 208 minutos.
https://www.youtube.com/watch?v=pCJIrJ792Q8 acessado em 07/09/2016
http://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Sete_Samurais acessado em 07/09/2016
http://mkmouse.com.br/sinopses/OsSeteSamurais-Akira-Kurosawa1954.pdf

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