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INSTITUTO DE LETRAS
DISCIPLINA DE LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL
Acadêmica: Roberta Passos dos Santos 00113923
O livro Guerra de Gueixas foi publicado entre os anos de 1916 e 1917 no jornal
literário japonês de Bunmei, foi escrito pelo autor, dramaturgo e ensaísta Nipônico
Nagai Kafu. Em todos os seus livros Kafu retratou com ousadia e de forma
revolucionária, para a sua época, a vida dos habitantes de bairros boêmios da
Tóquio do início do século XX, com Guerra de Gueixas não foi diferente e para além
da ousadia, também fica evidente uma vontade de mostrar a figura da Gueixa de
forma mais realista, deixando de mostrar-la como essa artista e acompanhante
perfeita, para ser vista como uma mulher de carne e osso com seus defeitos e
limitações.
Para os leitores atuais e até mesmo para os leitores ocidentais da época em que
foi lançado (no formato de folhetim) o livro não parece ser polêmico, mas sua estréia
se deu em um momento delicado para a população Japonesa, sendo assim, foi
censurado pelo seu conteúdo erótico e só foi publicado integralmente nos anos 60.
A Tóquio do início do século XX era uma cidade em expansão, pois uma grande
quantidade de bairros haviam sido anexados ao seu território, o metrô estava
chegando e os contatos com o mundo ocidental eram cada vez mais presentes.
Mesmo sem saber, a tradição da Gueixa estava se desintegrando de forma gradual,
e é justamente um dos principais tópicos que Nagai Kafu retrata em seu livro: a luta
para deter a decadência das Gueixas.
No quinto episódio, intitulado Um Sonho à Luz do Dia, Komayo insiste para que
Yoshioka à leve para uma sede campestre de uma das mais famosas casas de chá
de Tóquio, mesmo que a Gueixa não se sinta interessada na proposta do cliente,
ela sabe que pode tirar mais algum proveito antes de revelar que não tem intenção
de ser uma de suas mulheres. Quando já estão na Shanshun’en Yoshioka tem um
imprevisto e volta para a cidade, deixando Komayo sozinha, confusa e entediada. A
protagonista decide passear pelo campo, mas quando sai do quarto esbarra no ator
Isshi Segawa, um famoso ator japonês que interpretava personagens femininos
(omnagata), os dois já se conheciam e param para conversar. Assim que a conversa
se inicia Komayo já se sente interessada pelo ator e não disfarça sua intenção de
mantê-lo por perto, os dois passam o dia juntos e ali a obsessão de Komayo se
desenvolve.
“- Você aqui?- disse Komayo, feliz por ser ele. Por um instante, ficou
parada, sem conseguir entrar no cômodo. Dois dias antes, em plena luz
do dia, num corredor deserto da Shanshun’en, ela vivera um sonho de
felicidade. Não sabia dizer quem tomara a iniciativa, ou o que
acontecera exatamente, mas, como ele era um ator famoso, Komayo
pensava que seria só aquela vez, uma aventura de um dia” (página 75)
Em Suplícios de Travesseiro, Komayo tem que interromper um de seus
encontros apaixonados com Segawa porque é chamada para atender o novo cliente
na Taigtsu. Chegando lá se depara com o “Monstro Marinho”, um empresário de
aparência horrenda que só sente prazer relacionando-se com as mulheres que o
desprezam. Assim que ele vê a protagonista, fica muito interessado e promete
patrociná-la e ser seu benfeitor, a proposta é irrecusável para Komayo, que vê
nesse cliente uma oportunidade de viver uma vida tranquila com Isshi Segawa. Ela
mantém a relação com o Monstro Marinho, mesmo sentindo uma enorme repulsa,
pois tem em mente que sempre terá o seu ator para ampará-la após o comprimento
dos deveres com o desprezível novo cliente.
Após ter a sua teia de relacionamentos montada, Komayo vai vivendo o seus dias
resolvendo seus conflitos internos e externos ao mesmo tempo que os outros
personagens do livro, direta ou indiretamente relacionados a ela, também
atravessam seus conflitos diante da sociedade Japonesa clássica e ao mesmo
tempo em processo de modernização.
Guerra das Gueixas é um livro que vale a pena ser lido não só pelo conteúdo do
romance em si, mas por mostrar outro lado das quase míticas Gueixas. Mulheres
reais que lutavam para alcançar um nível artístico e de aparência próximo da
perfeição. É muito interessante acompanhar a desconstrução desse mito através de
Komayo, um ser humano que vive e tem suas questões como qualquer outro. O livro
do início ao fim nos lembra de que independente da cultura e da época, as relações
cotidianas estão sempre presentes e podem render belíssimas histórias.
“Komayo telefonou para a massagista, botou o carvão no fogareiro e se
sentou em silêncio diante do altar. De repente, sentiu uma emoção
forte, não sabia se de alegria ou tristeza, e por algum tempo
permaneceu imóvel, com o rosto escondido nas mangas do quimono”