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Destiny

Posted originally on the Archive of Our Own at http://archiveofourown.org/works/29269770.

Rating: Mature
Archive Warning: Graphic Depictions Of Violence, Underage
Category: F/M
Fandom: 鬼滅の刃 | Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba (Anime), 鬼滅の刃 |
Kimetsu no Yaiba (Manga)
Relationship: Kochou Shinobu/Tomioka Giyuu, Kochou Shinobu & Tomioka Giyuu
Character: Tomioka Giyuu, Kochou Shinobu, Uzui Tengen, Uzui Tengen's Wives,
Iguro Obanai, Kanroji Mitsuri, Shinazugawa Sanemi, Himejima
Gyoumei, Muzan, Hashibira Inosuke, Kanzaki Aoi (Kimetsu no Yaiba),
Kochou Kanae
Additional Tags: Protective Tomioka Giyuu, Hurt Tomioka Giyuu, Tomioka Giyuu Needs
a Hug, GiyuShino Week, giyushino - Freeform, Minor Kochou
Shinobu/Tomioka Giyuu, Kochou Shinobu & Tomioka Giyuu Friendship,
alternative universe, Story, Fate & Destiny, Destiny, Alternate Universe
- Soulmates, Romantic Soulmates
Language: Português brasileiro
Stats: Published: 2021-02-07 Completed: 2021-12-19 Chapters: 18/18 Words:
73471

Destiny
by WisTeria1

Summary

Após a I grande guerra entre os reinos do oriente, tudo que restou foi caos e destruição.
Muitas cidades foram devastadas e muitas crianças perderam suas famílias. Como uma
forma de apaziguar a situação, após um acordo provisório de paz, vários órfãos foram
levados para um templo, onde seus ferimentos seriam cuidados e eles poderiam, enfim,
recomeçar suas vidas. Uma dessas crianças era o pequeno Giyuu Tomioka, filho do
imperador do reino do oeste. Mesmo temeroso em relação à sua nova vida em um lugar
estranho, tudo ficaria mais fácil com a chegada de Shinobu Kochou, uma garotinha tagarela
e muito corajosa, que apesar de ter vivenciado os horrores da guerra, ainda tinha esperança
de que tudo um poderia mudar um dia. E assim, uma amizade inesperada surgirá em meio à
turbulência.

Notes

Olá! Bem essa é uma fic Giyushino que ocorre em um universo alternativo! Os dados são
todos originais, sem estar correlacionado a nenhum fato histórico específico. Os nomes e os
acontecimentos são todos de ficção, certo?
Será que o amor sobrevive em meio à guerra?

Inspired by Destiny by _SourCandy


Prólogo

A 1ª grande guerra entre os quatro reinos orientais.

O que deveria ser uma pacífica reunião entre os quatro reinos orientais, Mizu, Kaze, Ji e Ho,
transformou-se em um verdadeiro pandemônio. O líder de Ho, o imperador Muzan, aproveitou-se
de seu encontro com os outros três líderes para pôr seu plano em prática: tomar o controle de todos
os reinos e ser o grande imperador da região. Ele assassinou os líderes dos outros três reinos ao
causar uma grande explosão no grande salão do palácio do imperador Ubuyashiki, do reino de Ji, o
local que havia sido escolhido para a reunião. Caos, medos e incertezas se espalharam pelos
vilarejos.

Com a morte de seus líderes, os habitantes e seus reinos ficaram à mercê da sorte. Mercenários,
ditadores e conquistadores não perderam a oportunidade, e desafiando a vontade de Muzan,
inúmeras batalhas por conquista de novos territórios surgiram. Isso deu início a um dos maiores
conflitos já registrado na história daquele mundo: a I grande guerra dos quatro reinos orientais.
Como resultado dos conflitos, Muzan tomou o controle supremo dos quatro reinos, porém designou
quatro representantes para organizá-los em seu nome.

Foram intermináveis batalhas. A cor vermelha se espalhou pelo solo de cada um daqueles lugares.
Alguns vilarejos foram completamente destruídos, outros foram dominados e poucos conseguiram
resistir aos inúmeros ataques. E com isso, várias crianças ficaram desabrigadas, que ficaram sem
família e sem um lar. O novo imperador do reino do Ji, Shinjuro Rengoku, sentiu uma grande
responsabilidade cair em seus ombros, pois ele não poderia deixar esses jovens desamparados. Ele
desejava lhes dar alguma esperança, um futuro ou algo parecido, ao menos. E assim, ele criou um
novo vilarejo para acolher os visitantes dos nove reinos: a pacata Hashira.

Gyomei Himejima, o novo pacífico líder de Kaze, ainda ofereceu sua ajuda ao novo imperador de
Ji para essa trabalhosa tarefa. Os vilarejos foram visitados por soldados desses reinos e as crianças
e jovens abandonados começaram a ser recolhidos. Os grupos depararam-se inúmeras vezes com
grandes entraves em alguns locais, já que mercenários perigosos haviam transformado crianças em
verdadeiros soldados. Mesmo diante das dificuldades, várias crianças órfãs foram levadas ao
grande templo de Hashira.

Algumas das crianças encontradas eram hostis e agressivas. O pequeno Giyuu Tomioka,
remanescente do reino de Mizu, era uma dessas crianças. Ele era um menino de cabelos escuros e
olhos azuis, que foi encontrado em uma caverna, enquanto devorava a carne de um animal
selvagem. Ao seu lado, um bebê dormia tranquilamente, enrolado em um pano sujo de sangue. Os
discípulos do senhor Himejima tentaram se aproximar tranquilamente dele, mas ele era violento,
tanto que machucou vários homens rapidamente e deixou alguns quase mortos. Não tiveram
escolha além de sedá-lo.

Por outro lado, os soldados também encontraram crianças dóceis e amáveis na sua busca. A
pequena Shinobu, remanescente do reino de Kaze , foi encontrada sentada em uma pedra, com
uma boneca de pano nas mãos e uma espécie de espada na outra. Ela cantarolava e balançava as
pernas, como se estivesse alheia aos acontecimentos. Quando um dos homens do Shinjuro a
abordou, ela levantou a arma com um olhar intimidador. Notando que se tratava de uma pessoa
amiga, ela deu um sorriso e foi saltitante até ele. Shinobu era a mais empolgada com o novo lar.
Nunca foi vista triste desde que chegou à cidade de Hashira. E assim, essa história começa.
Capítulo I
Chapter Summary

Hey, mina-san! Mais um capítulo de Destiny!


Como expliquei, essa é a versão não censurada, então pode ser que tenham cenas mais
pesadas!
Se você for mais sensível, sugiro que busque a versão do spirit!
Kisuuus!

“Uma grande e inesperada explosão nos atingiu. Eu havia sido um tolo por acreditar que a vitória
estava garantida… Nem sei quantos morreram ao meu redor, visto que a minha visão estava
sumindo. Ah… Então, esse será meu fim? Vou morrer assim, de forma tão vergonhosa?! Foi o que
pensei enquanto sentia meu corpo flutuar. Dizem que quando chega sua hora de lidar com a
morte, um resumo da sua vida passa diante de seus olhos. Naquele momento, em que eu via
apenas o brilho vermelho das chamas ao meu redor, eu me lembrei de tudo o que eu vivi. Sem
dúvida alguma, eu sabia que entre todos os momentos da minha simplória vida, nenhum havia
sido tão importante quanto aquele dia em que encontrei você. Eu não sabia se seria um adeus, mas
desejava que o senhor supremo ouvisse minhas preces e me deixasse vê-la, nem que fosse pela
última vez...”

~ Reino de Mizu ~ Ano indeterminado.

Eu era apenas um garoto de dez anos quando tudo mudou na minha vida. Naquela manhã, eu
retornava da minha longa viagem de férias. Eu voltava do castelo do meu tio, que me fazia
companhia na carruagem com seus dois filhos: Makomo,que era um pouco mais velha do que eu e
Sabito que era apenas um bebê na época. Eu visitava o castelo onde meu tio morava todo verão,
pois eu me sentia muito solitário no meu próprio lar. Eu era filho único, pois meu pai não quis
mais se casar após a morte da minha mãe, que ocorreu durante meu nascimento. Aliás, meu pai, o
imperador de Mizu, estava sempre muito ocupado para me dar atenção. Eu não ficava chateado
com ele, porque eu entendia que a função de líder de uma nação exigia grande responsabilidade.
Entretanto, era difícil viver tão isolado e eu até cogitava se ele não me culpava pela morte da
minha mãe e por isso preferia não encarar meu rosto com frequência.

Diferente de meu pai, meu tio era bem atencioso e carinhoso comigo. Eu imaginava que a razão
desse afeto seria o fato dele sempre dizer que eu lembrava muito a minha mãe, a irmã por quem
meu tio teve grande apreço. Deste modo, ir até seu castelo sempre me deixava muito animado e era
naquele lugar que eu me sentia verdadeiramente feliz. No entanto, como filho do imperador, eu
tinha muitas obrigações e infelizmente sempre chegava a hora de retornar ao meu castelo.

Naquela semana, eu ficaria novamente sozinho no castelo, visto que ocorreria a grande reunião
anual dos imperadores no reino de Ho. Para que a paz fosse mantida, era essencial que tudo
ocorresse bem naquele encontro, por isso meu pai manteria seu foco apenas para aquele assunto,
independente do que acontecesse ao seu redor. Meu tio ficou muito preocupado com minha
segurança e resolveu me acompanhar. Meu primos não deveriam nos acompanhar nessa viagem,
mas devido a perda da mãe deles por uma febre no começo do ano, meu tio não teve escolha, além
de trazê-los conosco.
O castelo em que eu vivia era grande e majestoso. Havia um grande salão de festas, uma biblioteca
com as publicações mais atuais da época e um jardim de se vangloriar, com todos os mais
diferentes tipos de flores. Entretanto, havia apenas um problema: era um lugar muito solitário. Era
tão vazio e silencioso. Por ser filho de quem era, os empregados tinham medo de falar comigo e
muitos até fugiam diante da minha presença. No entanto, para minha sorte ou azar, eu tinha muitas
obrigações agendadas, o que tornava tudo menos entediante: treinava postura, leitura, equitação,
lutas… Para ser sincero, eu achava tudo aquilo muito chato, no entanto era melhor do que não ter
nada para fazer naquele lugar.

Eu pensava que aquele seria mais um fim de verão alegre, já que era época em que eu poderia
acompanhar a colheita e voltar a tomar banho de rio, porém eu estava enganado. Quando nos
aproximamos do meu lar após aquela breve viagem, eu olhei pela janela e senti meu coração
estremecer. O castelo estava em chamas. Fiquei aterrorizado.

— Fogo! Tem fogo no castelo! Tio, veja isso! — eu gritei.

— Como assim?! — meu tio ficou confuso com meu grito.

Meu tio mandou a carruagem parar, colocou a cabeça para fora e gritou:

— Mas que diabos está acontecendo?!

Assim que entramos no vilarejo, nos deparamos com um cenário de destruição. Corpos para todo
lado, mulheres e crianças gritavam desesperadamente. De repente, meu tio fez uma expressão de
surpresa e pediu para que nos escondêssemos embaixo dos bancos da carruagem, que eram como
baús de madeira por baixo das almofadas e ordenou que ficássemos quietos. Ele desceu da
carruagem e eu ouvi uma voz grossa gritar com ele.

— Daqui não poderão passar! Passem todos seus pertences!

— Nunca! — meu tio gritou.

Acho que pude escutar as espadas se chocarem naquele momento. A carruagem tremeu um pouco
depois de certo tempo e as passadas pesadas subiram as escadas. Pensei que era meu tio e eu
pretendia ver o que estava acontecendo, mas Makomo me deteve e fez sinal de silêncio.

— Nada aqui. Vamos! Peguem o que tiver de ouro e de valor! — disse a voz de um homem.

Depois de alguns minutos, apenas o silêncio. Makomo mandou eu esperar e saiu. Fiquei com
Sabito em meus braços. Eu o invejei por conseguir dormir naquela situação. Makomo retornou
rapidamente.

— Vem, temos que sair daqui! Rápido! Vamos pegar os cavalos e voltar ao vilarejo! Temos que
voltar para o meu castelo! — disse Makomo, que tinha uma expressão assustada.

— Makomo, o que aconteceu?! — eu perguntei, ainda aturdido.

— Psiu... Depois, eu te explico tudo... Vem, segura bem o Sabito e não olha para trás quando
descer – ela determinou.

Ela pegou uma das bagagens que tinha comida e água, colocou no ombro e desceu da carruagem.
Eu a segui e notei que ela olhava para os lados, apreensiva. Makomo foi até um dos cavalos da
frente e o soltou da carruagem. Ela jogou a sacola no lombo do animal, montou em cima dele e me
pediu Sabito. Eu o entreguei e em seguida montei em sua garupa. Makomo me entregou seu irmão
novamente e bateu com os pés no cavalo, mudou ele de direção e saímos em disparada. Quando
passamos por trás da carruagem, o corpo do meu tio estava estirado no chão.

— Makomo, o tio está alí! Temos que ajudá-lo! Makomo, o que está havendo?! Makomo!! — eu
gritei, desesperado.

— Cala a boca, Giyuu! Não está vendo!? Papai está morto! O reino do seu pai foi destruído!
Temos que sair daqui, antes que nos matem! E fica quieto, senão o Sabito vai acordar! — gritou
Makomo.

— O reino... destruído?! — eu repeti, confuso e perdido. Pensei em tudo que eu tinha no castelo e
tive alguma esperança de poder recuperar alguma coisa depois, entretanto, quando virei para trás,
apenas via chamas saírem de todos os lados da construção. Lágrimas começaram descer por
minhas bochechas. Tudo o que eu era, tudo o que eu tinha estava destruído. Pensei no meu pai.
Será que ele estava bem?

Por sorte, o castelo onde meu tio vivia não era muito longe e após algumas horas de viagem, nós o
avistamos. Todavia, havíamos chegado tarde, já que chamas estavam começando a se formar em
algumas partes do lugar.

— Ah, não! Eles já estão aqui! – gritou Makomo, irritada. — Iá! — Ela fez o cavalo disparar. Nos
aproximamos de seu castelo pela frente, mas a entrada estava tomada por homens que lutavam uns
contra os outros. E de repente, o cavalo tombou no chão e caímos os três. Sabito sacou dos meus
braços, bateu a cabeça no chão e começou a berrar.

— Merda! Anda! Levanta! — gritou Makomo, que pegou Sabito nos braços e me puxou. O cavalo
havia sido acertado por uma flecha bem na cabeça. De repente, ouvi gritos que vinham em nossa
direção. Makomo me entregou seu irmão e a sacola que pegou da carruagem.

— Giyuu, corra para o mais longe que conseguir! Não temos para onde ir ou onde conseguir ajuda.
Fuja, sobreviva! Tenho certeza que logo nos encontraremos. Proteja Sabito, como se ele fosse seu
próprio irmão! Adeus, primo amado... — disse Makomo, que se distanciou de mim, caminhando
de costas. — Corra, Giyuu! — ela gritou, virou de costas para mim e logo vi dois homens se
aproximarem dela.

Pensei em ajudá-la, mas Sabito parecia muito assustado. Decidi correr o mais rápido que podia.
Desviava de chamas, de flechas, de lanças. O cenário era o pior possível. De repente, senti algo
agarrar meu pé e caí, derrubando a sacola e Sabito mais uma vez. Comecei a ser arrastado para trás
e quando virei de frente, um estranho me puxava, enquanto segurava um punhal.

— Aonde vai com tanta pressa, garoto!? Venha, é a hora de sua morte! — gritou o homem.

Comecei a tatear o chão e minha mão alcançou uma pedra. Rapidamente me virei, a joguei em sua
testa e ele caiu. Corri até ele e o vi me lançar um olhar furioso. Peguei a pedra novamente e fiz o
que fui treinado a fazer: sobreviver. Eu o acertei várias vezes, até ouvir o som de seu crânio se
partir. Eu estava com todo o sangue dele em minhas mãos e em meu corpo. Senti um entalo na
minha garganta. Foi a primeira vez que eu matei alguém, apesar de desde cedo ter sido criado para
matar meus inimigos. Senti o desespero tomar conta de mim e comecei a gritar, enquanto o
vermelho do sangue se destacava aos meus olhos. Logo ouvi Sabito chorar, ato que me tirou de
meu choque. Limpei as mãos na roupa, me levantei, segurei a sacola, peguei Sabito em meus
braços e corri. Não lembro por quanto tempo, mas corri bastante.

Me embrenhei por uma floresta, por onde fiquei perdido até encontrar uma caverna. Matei um urso
pequeno que habitava nela, que estava adormecido na hora e o deixei como alimento. Sabito
começou a chorar. Deveria ser fome. E ele fedia. O cheiro era insuportável, mas era noite e eu não
pude fazer muita coisa sem água. Peguei um pedaço de fruta que achei na sacola, mordi, dei para
ele chupar e torci para ele não incomodar mais. Por sorte, ele dormiu, mas eu mal fechei os olhos,
temendo que alguém nos encontrasse e nos matasse. No dia seguinte, encontrei um lago bem ao
lado. Arranquei as roupas dele e joguei fora. Levei- o até a água e o limpei. Também aproveitei
para tomar um banho necessário.

— Bem melhor agora, seu sujinho! — eu disse a ele, enquanto Sabito me olhava com atenção. O
garotinho sorriu para mim e eu o abracei. A pobre criatura nem sequer imaginava o tipo de
pesadelo em que estávamos naquele momento.

Olhei ao redor e só haviam árvores altas. Alguns pássaros cantavam dos galhos, o que trazia um
pouco de som naquele silêncio tão intenso. Mesmo apavorado com toda aquela situação, decidi
que sobreviveria a qualquer custo. Com os conhecimentos que adquiri com meus mestres no
castelo, eu consegui me virar muito bem no começo. Consegui frutas que deixavam Sabito feliz,
tinha madeira para fazer uma fogueira e parecia um lugar pouco convidativo, o que passava uma
falsa sensação de segurança. Entretanto, assim que passaram-se quinze dias, eu só me perguntava:
E agora?! Para onde iria?! O que seria do meu reino? Meu pai estava vivo? Me senti atormentado
por inúmeros pensamentos.

Em uma certa manhã, eu comia um pedaço de um coelho que encontrei pela mata e Sabito
chupava uma fruta, quando subitamente pessoas estranhas apareceram e começaram a dizer coisas
que eu não entendia. Elas se aproximaram de mim lentamente e fizeram movimentos esquisitos
com as mãos. Quem eram!? Eram confiáveis?!

Quando eles se aproximaram de Sabito e tentaram o pegar nos braços, eu parti para cima deles. Ele
era minha responsabilidade. Makomo o confiou a mim e eu tinha que protegê-lo. Utilizei uma
adaga que havia encontrado na sacola, avancei no primeiro deles e deferi uma facada em seu
pescoço. Ainda consegui ferir outros dois deles, perfurando suas barrigas. O problema era que eles
eram muitos. Por alguma razão eles não estavam me atacando, o que me deixava ainda mais
intrigado. Em uma das tentativas de derrubá-los, senti uma fisgada nas costas e minha vista
embaçou. Senti minha respiração faltar e a última coisa que vi foram os homens se aproximarem de
mim.

Quando acordei, estava em um lugar escuro. O lugar todo rodava e eu sentia como se algo
revirasse em meu estômago. Aquela era mesmo uma sensação desconfortável. Virei a cabeça para
o lado e logo avistei uma janela. Estiquei o braço para tentar alcançá-la, porém meus olhos
pesaram e simplesmente voltei a dormir. Nem sei por quanto tempo eu dormi, porém assim que
despertei novamente, eu ouvi o choro de Sabito, que era embalado por um homem estranho. Eu me
assustei e me arrastei rapidamente contra a parede e o homem se assustou e correu até a porta.

Eu sentia como se meu coração pudesse sair pela boca. Quem ele era? O que ele iria fazer com
Sabito. Eu palpei a cama, na tentativa de encontrar alguma coisa que me ajudasse a lutar contra ele,
mas aquele lugar estava completamente vazio. De repente, o homem sorriu para mim e falou
comigo. Eu simplesmente não consegui entender coisa alguma do que ele disse. Provavelmente,
ele deveria ser de outro reino do oriente.

Mesmo desconfiado, eu decidi baixar um pouco a guarda. O adulto se aproximou de mim, sentou-
se na beira da cama, me encarando com seus olhos acinzentados e estendeu os braços, o que trouxe
Sabito em minha direção. Eu segurei meu primo gentilmente e inevitavelmente, as lágrimas de
alívio vieram. Eu vi que o adulto estendeu a mão e a levou em direção à minha cabeça. Por reflexo,
eu a estapeei e me arrastei com Sabito para longe dele. Ele sorriu novamente, acenou para mim e
deixou o quarto, sem tirar os olhos de mim. Senti que ele também deveria ter medo de mim.
Tentei abrir a porta para tentar fugir, porém ela estava trancada. Olhei para as janelas, porém
haviam grades em todas elas. No fim das contas, nós dois havíamos nos tornamos prisioneiros e
provavelmente estávamos em um reino desconhecido. Exausto, faminto e desnorteado, não
consegui pensar em nada. Apenas me deitei na cama, enquanto observava Sabito dormir
tranquilamente. Nada podia fazer, além de esperar.

~~ Salão principal~~

— Bom dia a todos. Eu sou Tamayo, a mestre principal do templo de Hashira. Sejam todos bem-
vindos! Receio que sejam tempos difíceis e vocês estejam assustados, mas aqui é o lugar de um
novo recomeço! Sintam-se à vontade. — disse a garota de longos cabelos e uma vestimenta
azulada, que falava com outros adultos. — Por favor, procurem seus aposentos! Amanhã teremos
muitas crianças para receber!

Enquanto os outros se afastaram, o mesmo homem que havia visitado Giyuu em seu quarto se
aproximou da mestre do templo.

— Mestre Tamayo, tem certeza que vai dar certo deixar as crianças misturadas?! Elas mal
conseguem se entender! Todos têm uma língua distinta... — disse Yushiro, seu assistente, que
coçava a cabeça, preocupado, enquanto notava os olhares confusos.

— É por isso que ensinaremos uma língua única a todos, para que se entendam e se harmonizem.
— disse Tamayo, tranquilamente.

— E enquanto às crianças violentas? Algumas são incontroláveis! — ele comentou.

— Deixem eles comigo... — pronunciou-se um homem de longos cabelos escuros.

— O que faz aqui, Kaigaku?! Não deveria estar bajulando seu chefe?! — gritou Yushiro, furioso.

— Ora... Eu não trabalho mais para ele, como já deve saber... Agora, sirvo ao Senhor Muzan. Ele
me encaminhou até aqui para conter as crianças mais… incontroláveis. — disse Kaigaku, que
esticou um chicote em suas mãos.

— Eles não são animais! Eles são crianças, seu monstro! — gritou Yushiro, furioso.

— Quer discutir isso com senhor Muzan? — questionou Kaigaku, em tom de deboche.

— Calma, Yushiro... Bem, usaremos isso apenas temporariamente, até que os mais nervosos se
acalmem e aprendam nossa língua. Entretanto, isso será provisório! Em breve, não aceitarei que
mais que ninguém o use, me ouviu bem, Kaigaku? — perguntou Tamayo, que o encarou com um
olhar firme.

— Como queira, senhora Tamayo. — disse o homem, com um sorriso de satisfação no rosto.

~~ “Cela” ~~
De repente, a porta se abriu. Pensei que aquela seria uma boa oportunidade para fugir. Um homem
alto de cabelos escuros surgiu e eu inocentemente pulei da cama, e corri em sua direção. Ele me
acertou com um soco. Doeu. Doeu muito. Ele me agarrou pela perna e me suspendeu. De repente,
ele me jogou com força no chão. Aquele asqueroso balbuciava algumas coisas e de repente, meu
corpo se contorcia com dor. Pelo som, deveria ser um chicote. O mesmo que meu pai usava para
castigar seus servos desobedientes.

Eu não conseguia pensar, nem gritar, apenas sentia como se a pele em minhas costas tivesse sido
cortada ao meio. Perdi as forças dos membros e caí duro no chão após tanta dor. Apenas ouvi o
berro de Sabito, enquanto ele era levado por aquele homem que havia nos visitado da primeira vez,
que me lançava um olhar de pena. Aquilo doeu muito. Doeu até mais que a chicotada que tomei. O
filho do imperador de Mizu foi reduzido a um grande animal enjaulado e maltratado. Nunca pensei
que viveria tanta humilhação.

Após três dias vivendo em isolamento, eles decidiram finalmente me soltar. Cansado de apanhar e
aflito por estar longe de Sabito, resolvi não revidar e me comportar. Me levaram para uma sala,
com outras crianças e me deram vários livros. Estavam escritos na língua de minha terra e
ensinavam uma outra língua. Talvez, queriam que todos seus mini escravos falassem a mesma
língua para que dessem menos trabalho.

Agarrei os livros para arremessa-los ao chão, mas aquele homem asqueroso me olhou e mostrou
seu controle de tortura. Bufei e tentei me concentrar naqueles papéis. Queria estar em casa, queria
meu pai, queria minha vida de volta, mas acabei me confortando, lembrando que voltar para casa
seria apenas um sonho sem chance de acontecer.

Em um certo momento, eu fui sentar no chão de madeira e olhei para o lado. Havia um garoto
estranho sentado perto de mim. Ele tinha olhos de tom lilás, cabelos curtos e escuros, e um sorriso
irritante. Ele usava uma vestimenta branca bem esquisita. Asqueroso. Como podia rir, se ele era
um prisioneiro?! Fiz uma careta feia para assustá-lo e virei o rosto. Notei de canto de olho que ele
ficou um pouco confuso. Me diverti muito com aquilo.

À medida que fui aprendendo a ler durante aquela semana, as coisas deixaram de ficar tão
confusas. Entretanto, eu ainda tinha muita dificuldade para falar. Durante as atividades, eu me
esforçava, mas nada saía. Talvez porque eu me sentisse tão preso naquele lugar, que não sentia
nem vontade de forçar a garganta.

Naquele dia, depois do lanche no refeitório, que era a melhor área daquele lugar, decidi caminhar
um pouco. Logo, vi um carinha de cara boa com Sabito. Corri até ele e ele saltou assustado para
trás. Apontei para o bebê e disse:

— Sabito. Irmão. Giyuu. — era o máximo que conseguia naquela língua nova.

Ele sorriu e acenou com a cabeça. Entendi como um sinal para me aproximar. Sentei ao seu lado e
ele entregou Sabito nos meus braços. Aquele bebê era um grande boboca, com aquele sorrisinho
irritante no rosto. Na minha língua, falei a ele:

— Sabito, seu merda, para de sorrir! Você é um prisioneiro, não um hóspede!

Entretanto, o boboca continuou a sorrir. Fazer o quê? Ele era pequeno demais ainda. Me abracei ao
meu primo com força, já que ele era a minha única ligação com o que um dia foi meu lar. O cara
bonzinho inclinou a cabeça enquanto nos observava e depois sorriu. Devolvi Sabito a ele, já que
pelo visto ele lhe dava comida naquela hora. Ele tentou me tocar, mas estapeei a mão dele
novamente. Nem demorou dois segundos e já senti aquela sensação cortante nas minhas costas e
fui ao chão por causa da dor. Aquele maldito homem do chicote se divertia me vendo sofrer.
O cara bonzinho gritou com ele, mas ele apenas gargalhou. De repente, aquele mesmo garoto que
vi na sala de aula correu até mim, aos prantos. O cara bonzinho gritou algo como “pare”,
“maldade” e o bastardo do chicote parou de me torturar. O garotinho me ajudou a levantar e me
puxou pela mão, para que saíssemos correndo, enquanto o bonzinho brigava com o cara mal.
Chegamos embaixo de uma macieira, soltei minha mão da dele e bufei. Fiz uma careta para ele,
mas o garoto sorriu na minha cara. Debochado. Isso que ele era. E ele falou algo do tipo “Eu”,
“Shinobu”. Conclui que seu nome era Shinobu. E eu disse o meu:

“Eu, Giyuu.”

“Giyuu” — ele repetiu meu nome, com aquela sua vozinha irritante. — Amigo, Giyuu? — ele
estendeu a mão para mim.

Cruzei os braços e o encarei. Eu que não ia ser amigo de uma garoto boboca. Virei o rosto e sai,
deixando-a a ver lagartos desfilarem. Depois, virei para espiar a divertida cara de tristeza que ele
deveria ter, mas o miserável estava sorrindo. Maldito. Ele ia ver só. Voltei à minha cela e comecei
a focar nos livros. Minha melhor alternativa para sobreviver ali seria aprender a conviver no meio
deles.
Capítulo II

As primeiras noites naquele lugar foram infernais para mim, um garoto da nobreza, criado em meio
ao luxo e à riqueza. Enfrentar o desconforto em meio a tantas incertezas tornou aquela experiência
ainda mais desagradável. A cama era rígida, o lugar era mal iluminado, além de ser sujo e fedido.
Nunca achei que sentiria tanta falta do meu quarto, aquele que um dia eu havia considerado como a
pior prisão do mundo.

Meu único alívio era saber que Sabito estava bem e fora de perigo. O homem bonzinho sempre o
alimentava, o limpava e o deixava ficar comigo na hora de dormir. Na verdade, eu estava com
muita inveja dessas regalias que ele tinha. Ser um bebê e não ter com que se preocupar era um
grande privilégio em meio a tantas dificuldades.

A rotina naquele lugar era sempre a mesma. Cedo da manhã, eu era acordado por um dos
funcionários do templo, era obrigado a tomar um banho gélido, depois recebia roupas limpas e era
levado ao que parecia um refeitório. Depois disso, éramos levados até uma área em aberto, onde
uma mulher esquisita nos estimulava a aprender uma nova língua. Depois disso, éramos obrigados
a sentar embaixo de uma árvore, fechar os olhos e ficar em silêncio.

Claramente, isso era uma missão quase que impossível para mim, já que meus pensamentos
pareciam mais enlouquecidos a cada momento. Então, inevitavelmente, eu abria os olhos e prestava
atenção às pessoas ao meu redor. Engraçado como o Shinobu não parecia ter dificuldade alguma
em desligar. Eu sempre o observava, com sua expressão serena e tranquila. Ficava pensando se a
vida dele também havia mudado tanto quanto a minha. No entanto, eu recebia um olhar de
advertência do cara bonzinho e voltava a me concentrar no exercício.

Depois desse tempo parados no meio do nada, nós comíamos novamente e éramos levados aos
quartos, onde deveríamos nos dedicar aos estudos até a hora do jantar. Depois da última refeição,
eles nos deixavam caminhar um pouco no jardim. Era um lugar até bonito, porém a presença
daquele homem do chicote, que nos observava com sua sede, o tornava um pouco aterrorizante. Eu
fazia o possível para ficar longe dele.

O homem bonzinho me trazia Sabito e eu brincava com ele até a hora que ele ficava cansado.
Enquanto eu ficava com ele em minhas pernas, eu gostava de observar os outros ao meu redor. As
crianças, no geral, pareciam ter a mesma idade que eu. No entanto, era perceptível o quanto éramos
diferentes. Provavelmente, o choque de tantas culturas tornava aquele lugar uma bagunça. Eu não
me sentia muito seguro entre tantos estranhos, então eu preferia ficar um pouco isolado.

Diferente de mim, Shinobu parecia bem mais sociável. Por algum motivo, ele gostava de ficar perto
de mim. Eu não odiava a aproximação dele, mas ele era um serzinho irritante. Ele falava pelos
cotovelos, mesmo sem ter certeza que eu o entendia, corria por todo lado entregando comida aos
outros, abraçava os adultos… Acho que ele não entendia bem a situação em que se encontrava.

No fim do dia, nós éramos recolhidos para os quartos. Eu deitava Sabito ao meu lado e o ficava
observando adormecer tranquilamente, enquanto esperava que algum resquício de sono aparecesse.
Como eu sentia saudade de casa naquela hora. Mesmo que eu fosse estar sozinho no meu quarto,
seria bem melhor do que estar jogado naquele fim de mundo.

Após alguns dias, decidi me focar em aprender aquela língua nova o mais rápido possível. Eu
ficava horas lendo, tentando escrever e até comecei a arriscar dizer algumas palavras. Aos poucos,
as coisas tornaram-se menos complicadas e assustadoras para mim. Claro, eu ainda enfrentaria o
desafio de conviver com pessoas de costumes tão diferentes dos meus.
Em poucos dias, fomos transferidos para uma espécie de dormitório, onde eu teria que conviver
com outros garotos. Me deram umas roupas esquisitas, lençóis, travesseiros e uma cama bem
próxima da janela. Era um lugar todo feito em madeira, com poucos ornamentos.

— Esse é seu novo lar. — disse o homem bonzinho, que me conduziu para dentro do quarto.

Eu pensei em correr imediatamente dali, mas eu não podia simplesmente deixar Sabito para trás.
Respirei fundo, engoli seco e criei coragem de onde não tinha. Assim que entrei, me deparei com
garotos esquisitos. Eles me olharam de forma surpresa em minha direção e se afastaram um pouco.
Assim que olhei para trás, notei que o cara do chicote nos observava com atenção. Senti um grande
arrepio quando o vi por ali. Ele sorriu e se afastou.

— Vou deixá-lo se acomodar. Levarei Sabito para dar banho nele e logo o trarei para você.

Acenei positivamente com a cabeça. Provavelmente, o homem bonzinho deveria ser de Mizu, mas
como ele sabe que eu o entendo? Será que ele estava com os outros quando me encontraram?
Enquanto atravessei o quarto, alguns garotos me observaram com atenção. Eles se aproximaram de
mim em seguida, começaram a rir e a falar comigo. Me irritei, pois não entendia o que eles diziam.

— "Esquisito!" — foi o que entendi quando um garoto com uma cicatriz na boca falou.

— Hahahaha. — um garoto loiro começou a gargalhar.

— Ei, garoto... — um garoto com o corpo cheio de cicatrizes pelo corpo e cabelo platinado disse
algo que não compreendi.

Eu dei de ombros, os ignorei e continuei a organizar minhas coisas.

O garoto da cicatriz na boca se aproximou e tocou no meu ombro. No susto, eu estapeei sua mão e
me afastei. O garoto da cicatriz na boca pareceu confuso. O loiro se aproximou também e eu o
empurrei. Por alguma razão, eu senti como se fossem me atacar e me posicionei para a briga. O
platinado se aproximou com suas mãos esticadas, eu o empurrei e ele se bateu contra a parede. O
loiro gritou alguma coisa e eles avançaram em minha direção.

Fiquei nervoso e decidi atacar. Chutei o bumbum do primeiro, o que fez rolar para frente e para
bem longe, dei uma rasteira no loiro, o que fez ele bater a cabeça contra o chão e torci o braço do
cabelo prateado e o fiz gritar de dor. O garoto da cicatriz começou a gritar, como se quisesse avisar
alguma coisa. Não demorou para que meu opressor aparecesse no quarto. Ele me puxou pelo
braço, me jogou no chão e logo senti o fio do chicote cortar minha pele. Os outros garotos tentaram
pará-lo, porém tiveram o mesmo destino que eu.

Maldito cara do chicote! Ser seu alvo preferido tornava tudo ainda mais infernal. Ele deu uma
gargalhada ao ver nossos corpos machucados e saiu. Fiquei estirado no chão, sentindo dor e os
outros garotos se encolheram, encostados na parede. Foram chutes, socos, pontapés. Quando
recuperei meus sentidos, eu me levantei, com o sangue escorrendo pelo meu rosto. Eu estava
furioso, mas estava triste. Eu fiz aqueles garotos sofrerem por causa do meu medo.

Tomado pela dor e pela culpa, eu perdi a razão e pulei a janela. Corri como um louco e me escondi
atrás de uma árvore. Felizmente, eu já havia aprendido que aquele chicote não funcionava à
distância. Alguns minutos depois, ouvi alguns passos. Eu saltei e me preparei para socar quem
quer que fosse, mas era o Shinobu. Ele veio em minha direção, com algo nas mãos. Fechei os
punhos e me preparei para bater nele, mas ele jogou algo gelado em meu rosto antes. Água. Ele
jogou água na minha cara.
Shinobu se aproximou, se aproveitou que eu estava de olhos fechados e passou um pano no meu
rosto. Na verdade, ele veio me limpar. Fiquei com vergonha de ter pensado em bater nele e virei o
rosto de lado. Ele resmungou, segurou meu queixo e me fez encarar seus olhos de cor violeta. Eles
eram bonitos, duas grandes esferas brilhantes. Me senti estranho ao vê-lo tão de perto. Ele terminou
de passar o pano e sorriu. Eu me afastei dele e virei de costas.

— O.. bri... ga... do... — tentei agradecer. Eu entendia regularmente bem, mas não conseguia falar
direito ainda.

— “Obrigado”. Você deve unir as sílabas! — ele disse para mim.

— Obriugado…— repeti, em seguida.

— Muito bem! Aquele monstro! Olha o que ele fez! — ele disse, ficando emburrado.

Senti as minhas costas coçarem um pouco. Isso sempre acontecia após as chicotadas. Shinobu falou
alguma coisa, porém só entendi uma única palavra:

— Dor?

Eu acenei positivamente com a cabeça.

Shinobu começou a se aproximar e dei alguns passos para trás. O que ele queria?

— Calma! Ajuda! — ele disse, com um tom de voz brando. — A camisa!

Fiquei receoso por alguns instantes, olhei para minha camisa e o encarei de volta. Ele se aproximou
de mim e tentou tocar no tecido. Me afastei rapidamente. Shinobu deu um tapa na testa e depois
levou a mão até a própria camisa e a puxou para cima até a metade da barriga.

"Será que ele quer que eu tire a camisa?" — pensei na hora.

Bem, se ele tivesse a intenção de fazer alguma gracinha, eu correria imediatamente. Deste modo,
decidi arriscar e tirei a camisa. Shinobu deu outros passos em minha direção e ficou de frente para
mim. Ele estendeu a mão e a direcionou ao meu rosto. Inclinei a cabeça para trás com os olhos
arregalados de medo.

— É rápido! Confie em mim! — ele disse.

Eu virei o rosto para o lado e fechei os olhos. Senti que ele tocou na minha bochecha devagar e
depois voltou sua atenção até minhas costas, onde passou algo de maneira delicada. Aquele toque
gentil me fez lembrar do meu tio e uma certa nostalgia tomou de conta de mim.

A pomada foi um grande alívio para minha dor. Quando olhei para aquele garoto, ele estava
sorrindo para mim. Na euforia de ter uma recordação feliz da minha vida, eu lhe dei um abraço.
Ele pareceu surpresa, mas senti suas mãos tocarem de leve em meus ombros. Quando percebi que
eu abraçava um garoto estranho, eu o soltei rapidamente, com a cara mais vermelha que uma
chama ardente.

Aquele garoto estava com aquele sorriso irritante no rosto, que parecia ter crescido de tamanho. O
problema é que me ajudar não deixaria o homem malvado nada satisfeito com ele. O homem do
chicote veio atrás de mim, com aquela cara sádica de sempre. Diferente das outras vezes, assim que
ele jogou o chicote em minha direção, eu decidi revidar e agarrei a ponta daquela borracha com
força. O malvado arregalou os olhos quando viu que eu não deixaria que ele me torturasse mais.
Ele ficou furioso. O homem partiu em minha direção para me bater, porém Shinobu entrou na
minha frente. Aquele foi seu grande erro.

— Já chega! — ele gritou, furioso.

Ele o pegou pelo braço e o puxou, o encarando de perto.

— Maldita!— ele disse, além de outras coisas que não compreendi.

Corri até ele para tentar salvá-lo, mas o chicoteador me acertou com um chute. Caí no chão e
enquanto o mundo girava, eu pude ouvir os gritos de medo do Shinobu. Foi algo desesperador.
Tudo que pude fazer foi torcer para que o maldito homem não o matasse. Não vi mais Shinobu
naquele dia.

À noite, voltei para quarto. Quando cheguei, os garotos me viram, fizeram um olhar apavorado e se
esconderam embaixo dos lençóis. Eu não os julguei, já que haviam apanhado por minha culpa. Me
joguei no colchão duro e comecei a admirar o céu que conseguia ver pela janela.

“Saudades de casa.” — pensei.

No entanto, tudo que eu comecei a pensar foi no Shinobu.

“Tomara que esteja vivo! Tomara que esteja...” — pensei.

No dia seguinte, segui todos os protocolos para evitar problemas: arrumei a cama, tomei banho,
limpei os dentes, coloquei roupas limpas e fui comer. Comer, meditar, estudar. Era tudo o que se
fazia por lá. E nesse meio termo, Shinobu não apareceu.

No intervalo, comecei a andar pelo jardim, atrás de algum sinal dele. Rodei em todos os lugares e
terminei na mesma árvore do dia anterior. Ele estava lá, mas não tinha o mesmo maldito sorriso no
rosto de sempre. Ele estava chorando. Nunca o havia visto chorar desde que eu havia o conhecido.
Ele tinha as pernas dobradas, os braços em cima das pernas e a cabeça em cima dos braços. Ouvia
seu choro forte. Agachei para vê-lo de perto.

— Shinobu... — eu tentei chamar seu nome.

— Giyuu, é você? — ele respondeu e quando seu rosto veio até a luz, entrei em choque.

Roxo, vermelho, amarelo. Eram as cores espalhadas pelo rosto dela. Inúmeros hematomas, um
lábio cortado e o corpo marcado. Aquele maldito homem havia o espancado por me ajudar. Pela
primeira vez, chorei naquele lugar.

Eu abracei o Shinobu e pedi desculpas tantas vezes, que ele deve ter ficado cansada. No entanto, a
partir daquele momento, a dor virou raiva. Aquele homem do chicote havia ido longe demais. Era
hora de mostrar para aquele homem um pouco do que eu aprendi no castelo e por que razão eu
havia sido treinado desde muito jovem. Tudo o que eu pensava naquele momento era como eu iria
me vingar.

Eu abracei o Shinobu e pedi desculpas tantas vezes, que ele deve ter ficado cansada. No entanto, a
partir daquele momento, a dor virou raiva. Aquele homem do chicote havia ido longe demais. Era
hora de mostrar para aquele homem um pouco do que eu aprendi no castelo e por que razão eu
havia sido treinado desde muito jovem. Tudo o que eu pensava naquele momento era como eu iria
me vingar.

Eu fiquei apenas quieto, enquanto ouvia os soluços de Shinobu. Quando ele se acalmou um pouco,
eu alisei seus cabelos e dei uma leve batida no topo de sua cabeça. Eu me levantei devagar e não
olhei para trás. Ainda pude ouvir Shinobu me chamar, porém eu estava tão tomado pelo ódio que
simplesmente tive que ignorá-lo. Naquela hora, a maioria estaria distraído no refeitório, então
aquela seria uma boa oportunidade para o que eu pretendia fazer.

Discretamente, caminhei pelo refeitório e fui em direção ao local onde a comida era preparada.
Havia apenas um homem que estava distraidamente colocando mais lenha no fogo. Entrei na ponta
dos pés e fui em direção à uma faca, que estava ao lado de um grande pedaço de carne. Sem fazer
um barulho sequer, peguei a faca e a escondi dentro da minha calça. Saí rapidamente, passando
despercebido pelos demais e corri até o quarto. Deitei na cama, me cobri e escondi a faca embaixo
do travesseiro. Daquele momento em diante, eu só precisaria da chance perfeita e de sorte. Eu
esperaria apenas a noite chegar para fazer o que pretendia.
Capítulo III

Durante o jantar, eu fiquei sentado ao lado de Shinobu e o ajudei a comer, já que o lábio cortado o
incomodava muito. O homem bonzinho, que ajudava a servir as outras crianças, se aproximou de
nós, se abaixou, segurou no queixo de Shinobu e olhou seu rosto com atenção. Seus olhos se
arregalaram em horror e ele imediatamente olhou ao redor, em busca de alguém. Não demorou
muito para que ele imediatamente fosse até o miserável do chicote, que estava nos vigiando
naquele momento. O cara bonzinho o puxou pelo braço e o tirou do refeitório. Talvez ele fosse
reclamar pelo o que ele tinha feito com o Shinobu, já que o cara bonzinho era muito apegado ao
meu novo amigo. Quando voltaram, o homem bonzinho parecia enraivecido, enquanto o maldito
do chicote gargalhava. Em um certo momento, ele me encarou, me deu um olhar malicioso e
lambeu os lábios. Eu senti muito nojo, porém o encarei sem pestanejar, visto que estava tomado
pelo ódio e ele mudou sua expressão para uma mais séria. Nossa guerra estava oficialmente
declarada naquele exato momento.

Um pouco mais tarde, coloquei Sabito para dormir na minha cama e esperei que todo lugar ficasse
silencioso. Antes de sair pela janela, conferi se meus colegas estavam realmente dormindo, pois
tudo o que eu menos precisava era de alguma testemunha. Com tudo ocorrendo como esperado,
peguei a faca debaixo do travesseiro, pulei a janela e comecei a me esgueirar entre as casas de
madeira.

De repente, ouvi alguns sussurros e decidi verificar de quem se tratava. O homem do chicote
conversava com um dos homens do templo. Os dois pareciam estar em um clima de diversão, o
que era muito suspeito. Eu apertei o cabo da faca com força entre meus dedos, tentando controlar
minha raiva. Em seguida, ele saiu em direção ao depósito de cereais, local em que ele costumava
dormir. Eu sabia disso, pois era o único momento em que ele parava de nos atormentar.

Esperei que ele entrasse e deixei alguns minutos passarem, pois queria um tempo para observar o
local. Eu precisava conhecer e escolher uma rota de fuga, para caso algo desse errado no meu
plano de execução. Notei que as janelas eram altas demais e concluí que eu só teria a porta de
entrada do depósito. Eu não tinha alternativa além de não falhar. Um erro seria fatal e significaria
meu fim, provavelmente o de Shinobu também. No entanto, uma voz veio à minha cabeça. Era o
que meu mestre de espadas costumava dizer durante os treinamentos no castelo:

— “Nunca desperdice uma chance de ouro de eliminar o inimigo. Pode ser a única e a última.”

O reino de Mizu era um reino de guerreiros. Desde muito jovens, os homens eram testados e
separados em grupos. Os mais fortes tornavam-se soldados, enquanto os demais, em conjunto com
as mulheres, seriam produtores, os responsáveis por sustentar e trazer riqueza ao reino. Eu passei
por um teste muito árduo por ser o herdeiro direto do trono. Quase morri para passar, mas como eu
consegui sobreviver, meu pai decidiu que eu seria treinado para ser um guerreiro exemplar. Na
verdade, ele me criou para ser o futuro comandante das forças de Mizu. Com apenas nove anos, eu
já havia ido para meu primeiro campo de batalha.

Fui preparado para sobreviver a qualquer situação, já que o reino de meu pai vivia entre duelos
entre irmãos, traições e guerras. Matar já não seria uma novidade para mim, pois eu já havia
sujado minhas mãos. Mesmo assim, eu estava receoso, embora tomado de tanta coragem naquele
momento. Apenas a lembrança das lágrimas de Shinobu fazia meu sangue ferver e uma ira tomar
conta de mim. Esperei o tempo que achei necessário e lentamente abrir uma brecha na porta. Eu de
imediato avistei o maldito em pé, enquanto guardava seu chicote. Ele tirou algo do bolso e foi até
uma lamparina que estava perto dele. Em pouco tempo ele usava algo na boca, era um negócio que
soltava um ar fedorento e estava distraído. Ele parecia estar sozinho naquela hora e aquele pareceu
o momento perfeito.

Caminhei silenciosamente, tentando me orientar pelas luzes escassas, até a direção daquele
monstro. Ele estava de costas e balbuciava alguma coisa. Enquanto ele tirava as roupas, eu dei
mais algumas passadas e ergui a faca. De repente, eu ouvi um choro baixo. Fiquei congelado
naquele momento. Havia uma garota ali, talvez mais velha do que eu pelo tamanho. Ela estava
despida e tinha os braços amarrados. Os lábios dela estavam amordaçados. O homem abaixou as
calças e gargalhou. Ele se aproximou e ela começou a se debater, enquanto tentava gritar
inutilmente. Aquela cena acendeu ainda mais o ódio em meu coração.

“A hora é agora...” — pensei.

Caminhei sorrateiramente, com os passos mais suaves possíveis. Saltei de uma vez em suas costas
e acertei um golpe certeiramente em seu pescoço, depois outro e mais outro. Com o negócio fedido
na boca, ele não conseguiu gritar. A garota se arrastou para trás, quando o viu cair. Eu rolei pelo
chão, mas voltei até ele. Eu fiz como se preparasse o corte de um grande animal selvagem. Eu
cobri o chão com o vermelho do corpo dele. Eu dei um sorriso de satisfação e enxuguei o suor da
testa. Eu fui até a garota, que parecia em choque, soltei suas mãos e lhe devolvi suas roupas, que
estavam espalhadas. Ela se vestiu como pode e correu para o lado de fora. Eu faria o mesmo,
porém assim que cheguei na porta, fui surpreendido pelo cara bonzinho. Ele parecia confuso com
minha presença ali.

— Giyuu, o que você fez? — ele perguntou e segurou minha mão. Eu ainda estava com a faca,
toda manchada com o sangue daquele monstro e minhas roupas tinham um vermelho evidente.

O homem bonzinho foi até Kaigaku e verificou se ele respirava. Ele tirou a mão rapidamente e
virou-se para mim. Se eu pudesse ver melhor naquela hora, provavelmente ele teria uma expressão
de pavor no rosto.

— Ele mereceu. — eu apenas disse, sem pensar.

O homem bonzinho ficou em silêncio por alguns instantes, voltou até mim, tomou a faca da minha
mão e disse:

— Giyuu, vá até a lagoa, jogue as roupas fora e se limpe. Pode deixar que eu mesmo tomarei conta
disso aqui. Eu sei que é errado te dizer isso, mas não se preocupe. Esse será o nosso segredo. Eu
estava vindo fazer o mesmo com esse porco, como castigo por maltratar vocês. Eu assumirei a
culpa por você. Agora, vá, pequeno. Rápido — ele acenou com a mão me indicando a saída.

Corri até a lagoa que ficava a poucos metros dali. Joguei a camisa fora, mergulhei na água gelada e
me limpei como pude. Voltei ao quarto me tremendo de frio, verifiquei se Sabito estava bem e me
encolhi embaixo do lençol. Não consegui dormir naquela noite, ainda tomado pela tensão daquele
momento, mas me senti muito aliviado.

No dia seguinte, assim que sai do meu quarto com Sabito em meus braços, Shinobu veio em minha
direção e me abraçou. Eu fiquei todo envergonhado, já que os outros garotos estavam nos olhando
e dei apenas algumas tapinhas nas costas dele. Eu o afastei e sussurrei no ouvido dele.

— Shinobu, livre! — eu disse, dando umas tapinhas na cabeça dele.

— O quê?! — ele perguntou.

— Está tudo bem! Livre! — eu disse e dei umas tapinhas na cabeça dele. Acho que ele ficou sem
entender, mas Shinobu sorriu e me abraçou de novo. Sabito aproveitou para agarrar o cabelo dele e
começou a gargalhar.

— Não! Sabito! — eu disse, enquanto tentava salvar Shinobu de suas garras.

Shinobu começou a sorrir e pela primeira vez, eu me senti aliviado naquele lugar. Fiquei com
esperanças de que as coisas poderiam enfim começar a dar certo. O homem bonzinho ainda me
chamou para conversar no fim da tarde. Nós caminhamos um pouco e nos sentamos em frente a um
grande lago. Diferente da lagoa próxima ao templo, esse lugar tinha uma água límpida e várias
árvores ao redor.

— Homem bonzinho, o que foi? — perguntei a ele.

Ele virou para mim e sorriu.

— Homem bonzinho? É assim que você me chama?

— Sim… Eu não sei seu nome… — confessei, envergonhado.

— Eu me chamo Yushiro, meu jovem Giyuu. Por que não senta ao meu lado? — ele sentou-se na
margem do lago e bateu com a mão na grama.

— Yushiro… — eu fiz assim como ele pediu e fiquei em silêncio, apenas esperando o que ele
tinha a dizer.

— Giyuu, você me entende, não é?

— Sim…

— Então, você realmente deve ser da região de Mizu. Sabe, quando eu lhe encontrei naquela
caverna, eu pensei que você dificilmente se adaptaria a esse lugar…

Como eu havia pensado, Yushiro estava com aquele grupo que me resgatou naquela noite. Ele
continuou a falar:

— Mas eu vejo que você é um bom garoto, na verdade. — ele disse e sorriu para mim. — Eu sei
que eu deveria ter tomado uma iniciativa em relação aquele miserável do Kaigaku, pois assim você
não teria que chegar nesse extremo de matá-lo. Sinto muito por você ter que passar por isso…

Ele ficou entristecido e olhou para o lago. Eu apenas o observei em silêncio por um tempo, até que
decidi falar alguma coisa.

— Tudo bem. Eu fiz porque ele merecia.

Yushiro me encarou e eu vi que algumas lágrimas desceram por seus olhos.

— Mas você não merecia! Nenhuma criança merecia passar por isso! Desculpe por eu ter sido
covarde e consentido com o que ele fazia com vocês! Eu deveria protegê-los e não o contrário! —
ele começou a chorar, em desespero.

Fiquei surpreso ao vê-lo chorar. Me senti até estranho por ver um homem adulto como ele tão
vulnerável, mas pensei que talvez ele tivesse sofrido algo parecido e por isso estava tão
sensibilizado. Senti um pouco de pena dele, me arrastei para perto e lhe dei umas batidinhas na
cabeça dele. Ele me encarou, confuso e depois começou a rir.

— Como eu sou ridículo! Eu que deveria estar te consolando… — ele secou as lágrimas. —
Obrigado por isso, Giyuu. Você é um garoto muito gentil. — ele levou a mão em minha direção.
Mesmo com medo, eu deixei que ele tocasse na minha cabeça. Foi até um afago confortável. Eu
me senti até um pouco feliz com aquilo. — Bem, mas eu quero que me prometa uma coisa.

— O quê?

— Que não vai mais tomar esse tipo de decisão sozinho. Você não vai poder matar todo mundo
que não gosta! — disse Yushiro.

— Nem se ele me bater ou tentar me matar? — questionei.

— Antes de qualquer decisão desse tipo, converse comigo, certo?

— Certo…

— Bem, vamos voltar! Está escurecendo! — Yushiro se levantou, limpou as vestimentas e esticou
a mão para mim.

Eu fiquei um pouco constrangido, mas aceitei retribuir e apertei sua mão com a minha. Enquanto
nós caminhávamos, eu podia sentir o calor da mão dele e senti uma sensação reconfortante. Eu
nem sabia que sentia tanta falta de ter um contato físico e afetuoso com alguém. Após uma breve
caminhada de volta ao templo, finalmente fui até o refeitório, onde Shinobu dava de comer a
Sabito. Eles me receberam com seus sorrisos irritantes de sempre e eu senti meu peito ficar
aquecido.

Depois que o tal Kaigaku sumiu, ouvi rumores de que a mestra impediu a vinda de novos homens
do imperador Muzan. Por alguma razão, aquele nome me deixava de estômago revirado e me dava
arrepios. Eu não sabia como era o rosto daquele homem, mas só de ouvir seu nome e as expressões
das pessoas ao redor, eu poderia facilmente dizer que ele deveria ser o demônio em pessoa. Desse
dia em diante, a mestra criou seu próprio grupo de monitores, que seriam seus olhos e braços para
quando ela estivesse ocupada.

Finalmente, estávamos aliviados porque teríamos um pouco mais de liberdade para viver e sem
sentir dor por isso. Enfim livres daquele monstro, Shinobu e eu nos tornamos muito próximos.
Claro que eu não era daquele tipo de pessoa muito afetuosa, daqueles que gostava de ficar muito
agarrado, mas eu comecei a acompanhá-lo de perto.

Shinobu era muito inteligente. Ele me deixava impressionado com sua capacidade de aprender.
Bem, ele também me deixava um pouco confuso, principalmente quando começava a tagarelar por
horas. No entanto, com isso, minha escuta começou a ficar bem refinada, apesar de ainda manter
minhas limitações para falar. Ele me ajudou até com isso. E o cara bonzinho, ou melhor, Yushiro
virou nosso guardião, desde então.

Yushiro foi muito importante para nós. Além de cuidar muito bem de Sabito, ele nos orientava, nos
contava boas histórias, nos dava bons conselhos e até nos ensinava a cozinhar. Ele sempre acabava
se encrencando por nossa causa, mas eu nunca o vi nos dar um olhar de ódio em nossa direção. Ao
invés disso, quando nós aprontávamos, ele nos abraçava e nos explicava o porquê daquilo ser
errado. Eu passei a admirá-lo e a querer ser justo e correto como ele. E foi assim que tivemos,
finalmente, um pouco de paz.

No outono, outras pessoas começaram a chegar no templo. A sua maioria era composta por
monges, sobreviventes de diferentes reinos que vinham na esperança de ter um lugar para
recomeçar. Mestre Tamayo decidiu que eles também colaborariam na nossa criação, nos ensinando
o que deveríamos aprender sobre a vida. Naquela manhã, eu estava saindo do refeitório quando
notei Shinobu distraído embaixo de uma árvore. Ele tinha algo nas mãos, que só consegui
identificar quando me aproximei. Mesmo com os poucos meses naquele lugar, eu finalmente
comecei a me comunicar melhor e a minha vida se tornou menos complicada

— Prontinho, filhinha! Eu já preparei sua sopa! Agora, come tudinho! — dizia Shinobu, enquanto
segurava aquele pedaço de pano estranho nas mãos.

— Hahahaha. Como se essa coisa feia fosse comer mesmo!Aliás, como é o nome disso? E por que
você está falando com algo sem vida, afinal?

— Não liga para ele, Kanao... Ele é um bobão! — ele disse, balançando a junção de trapos nos
braços. — Para sua informação, o nome disso é boneca...

— E onde você arranjou isso?!

— Um dos monges me deu! Não é linda? — ele perguntou.

— Arg! Ela é feiosa!

— Feioso é você! E sai daqui, que eu estou brincando! — disse Shinobu, que me deu língua.

— Brincando? — perguntei, confuso.

— O que?! Você não sabe o que é brincar?! – ele perguntou, assustado.

— Claro que sei! Só não sei porque está perdendo tempo com isso...

— Por que perder tempo? Vocês não brincavam no seu reino? — ele perguntou.

— Nós éramos guerreiros, não mariquinhas! Nós aprendemos a lutar desde cedo e vivemos para
lutar! Não temos tempo para bobagens como ficar criando mundos imaginários...

— Pois não sabe o que está perdendo! Brincar é muito legal! Dá para brincar de muita coisa! —
disse Shinobu.

— Quanta bobagem...

— Ai, Kanao... Seu pai é um cabeça dura, não é?! Mas nós vamos ensinar a ele o que é brincar,
não vamos? — Shinobu disse, olhando para a boneca.

— Pai?! Você deve estar maluco! Se você acha que eu vou ser pai de um trapo velho desses, pode
esquecer!

— Oh! Seu atrevido! Você fez ela chorar! — disse Shinobu, irritado.

— Ah, tá! Ela não tá chorando coisa nenhuma...

— Tá sim! Olha só! Pega ela pra ver! — disse Shinobu, que começou levar a boneca para as
minhas mãos.

— Shinobu... — resmunguei.

— Toma! — ele enfiou a boneca nos meus braços e eu não tive outra opção senão ficar olhando
para a cara dela. E como ela era feia!

Olhei em seguida para a cara de Shinobu, que parecia irritado. Comecei a achar estranho o fato
dele ter interesse nessas coisas mais delicadas, coisas de meninas, porém imaginei que deveria ser
a diferença cultural entre nossos reinos. Que garotinho esquisito que ele era!

— Fala com ela ou ela vai chorar para sempre!

— Humpf...

— Anda! Ela está chorando alto e está doendo meus ouvidos! — disse Shinobu, levando as mãos
às orelhas.

— Para de chorar, senão eu te jogo em um poço de crocodilos!

— Aaaah! O choro piorou! Você a deixou assustada! Você devia dar um abraço nela para que ela
pare de chorar! — disse Shinobu.

— O que?!

— Vai logo ou eu vou te beliscar! — disse Shinobu, em um tom ameaçador.

— Não, não precisa apelar... Pronto, pronto, bonequinha! Eu não vou te jogar mais para os
bichos... — eu disse, dando tapas nas costas da boneca.

— Hihihihi. Tá vendo, Kanao? Papai não é tão ruim assim! Conta uma história para ela, Giyuu...
— ele disse, com aquele sorrisinho insuportável.

— Ah, fala sério...

— Giyuu... — Shinobu começou a deslizar o dedo no meu braço.

— Ai ai... Então... Você quer ouvir uma história?

— Ela disse que quer sim! — disse Shinobu.

— Bem... Era uma vez um nobre imperador. Ele era um homem sério, honesto, porém rodeado de
muita solidão. Um certo dia, ele encontrou-se com uma vendedora de flores de belos olhos azuis e
seu coração disparou. Ele decidiu visitá-la todos os dias, até que a bela moça se encantou por ele. E
mesmo com a desaprovação dos nobres, eles se casaram e construíram um casamento feliz. Além
disso, eles tiveram um filho forte e saudável. No entanto, no dia do nascimento do segundo filho…
— minha memória trouxe de volta o triste fim da minha mãe e eu decidi terminar por ali. Me
arrependi um pouco de ter lembrado da história dos meus pais. — Ah... A história acaba aí
mesmo...

— Nossa! Que história linda! A Kanao disse que gostou muito, Giyuu! Ela até está batendo
palmas. — disse Shinobu, que começou a mexer nos braços da boneca.

— É sério?!

— Sim! — disse Shinobu, alegre.

— Eu posso te contar outras histórias do seu avô, boneca!

— É Kanao! O nome da boneca é Kanao!

— Tá… Kanao, minha prima Makomo sempre me contava muitas histórias antes de eu ir dormir.
Como ela era bem mais velha do que eu, ela sabia de muitas coisas! — e quando dei por mim, eu
estava conversando com boneca e contei a ela mais duas ou três histórias.
— Eu acho que ela dormiu! Melhor eu colocá-la na cama! — disse Shinobu. Eu entreguei a
boneca a ele, que logo balançou o trapo de tecidos nos braços. — Viu só, isso é brincar!

— Contar histórias?

— Não. Usar a imaginação, Giyuu. — ele respondeu.

Naquele dia, ele ainda me ensinou sobre algumas brincadeiras de sua terra natal. Ora, brincar não
era tão ruim assim, afinal. Mesmo assim, brincar não era algo que um garoto de Mizu teria tempo
para fazer. Haveriam outras coisas que eu aprenderia perto daquele garoto do sorriso irritante.
Capítulo IV

Naquela manhã, estranhamente recebemos a visita de alguns soldados. Em geral, a mestra recebia
apenas alguns mensageiros, desde que ela decidiu expulsar os homens de Muzan do templo.
Naquele momento, eu estava ajudando Shinobu na coleta de frutas e assim que ouvimos o alvoroço
ao redor, nós corremos até o centro do templo. Shinobu agarrou-se a mim. Seu corpo estava
trêmulo.

— O que foi, Shinobu?

— Esses homens me dão medo… — ele sussurrou.

— Tudo bem. Fica calmo! Se eles tentarem alguma coisa, eu vou te proteger! — eu disse,
confiante.

Ele me encarou com um olhar um pouco incrédulo, mesmo assim não me soltou de forma alguma.
O mais forte entre os soldados foi em direção a mestre Tamayo, que já o aguardava na entrada,
acompanhada de alguns homens do templo.

— Ora, temos visitas! Os que o trazem aqui? Estão muito longe de Kaze. — ela questionou e eu
notei o símbolo do lugar estampado em seus braços.

— Perdoe-nos o atrevimento. Imagino que seja a líder desse lugar. — disse o homem.

— Exatamente. Me chamo Tamayo. Como posso ajudá-los?

— Estávamos a caminho de Mizu quando fomos atacados por um grupo de mercenários.


Conseguimos fugir, entretanto ficamos sem comida e água. Encontramos esse lugar por acaso.
Precisamos de suprimentos para seguir nossa viagem. — explicou o homem.

"Espera, ele disse Mizu?!" — Até aquele momento, eu imaginava que tudo havia sido destruído, já
que nunca se falava sobre a guerra ou coisas do tipo no templo, mas saber que ainda existia um
sinal de vida do meu reino me deixou agitado.

— Bem, se suas intenções são pacíficas, poderão conseguir alimento e água por aqui. Entretanto, se
pretendem algo além disso, recomendo que saiam imediatamente. Temos homens bem treinados
por aqui. — ela disse.

— Não temos a intenção de gerar conflito. Estamos apenas de passagem. Agradeceríamos se


pudesse nos dar água e alimento. — disse o homem.

— Tudo bem. Rapazes, por favor, acolham nossos visitantes. — disse Tamayo.

Alguns dos homens do templo se aproximaram dos homens de Kaze e os conduziram ao redor. Não
demorou para que eles fossem servidos pelos monges, que lhes deram comida e bebida. Eu notei
que o líder deles acompanhou Tamayo até sua sala e eu fiquei muito curioso com tudo aquilo. Me
senti motivado a investigar mais sobre eles.

— Shinobu, quer ouvir o que eles estão dizendo?

— Na-não! Vamos nos encrencar! — ele disse, nervoso.

— Então, você fica aqui! Eu vou!


— Giyuu,você vai arranjar problemas!

— Vai ficar tudo bem! Enquanto isso, vai para seu quarto e fique seguro! — alisei a cabeça dele.

— Você adora arrumar encrenca! — ele me deu um soquinho no ombro. — Vê se toma cuidado!

— Pode deixar! — eu o observei correr até seu dormitório e então decidi fazer a minha
investigação.

Sem que notassem, fui até a parte de trás da casa de Tamayo. Me esgueirei até a porta mais
próxima e me sentei perto dela. Eu conseguia ouvir a voz da mestra claramente.

— Ainda estou intrigada. O que vieram fazer tão longe de casa? — ela questionou.

— Nós viemos escoltar a volta de nosso chefe, que é um famoso comerciante do nosso império. No
entanto, não pudemos nos encontrar com ele e os outros soldados, já que fomos pegos por uma
tempestade no meio caminho. Após toda confusão, ainda fomos atacados e perdemos muitos dos
nossos mantimentos. A situação está cada vez mais descontrolada por essa região… — ele disse.

— Isso é o que eu mais temo… E como está a situação política de seu reino? — ela perguntou.

— Não sei se é correto dizer isso, mas vejo que o novo imperador parece não ter consciência da
situação. Não custará para que se torne um novo império sem regente, assim como Mizu.

"Mizu… Sem regente?" — pensei.

— Entendo…

— Parece que esse lugar vai muito bem. Ganharão muitos soldados no futuro. — comentou o
homem.

— Creio que nem todos terão aptidão para a luta. No entanto, teremos vários jovens que servirão
ao novo imperador de alguma forma. No momento, nós estamos deixando que eles se habituem ao
lugar. Depois, veremos se serão úteis ou não. — explicou Tamayo.

"Como assim, 'ser útil'? Do que ela está falando?!" — pensei.

— Certo, certo! Você deve estar exausto! Faça uso do que precisar aqui. Peço apenas para que
mantenha seus soldados na linha ou terei que expulsá-los. — ela disse.

— Conte com isso.

Decidi me afastar rapidamente daquele lugar e corri até o centro do templo. Eu não entendi muito
bem aquela informação, porém comecei a pensar que aquela história de acolher órfãos por piedade
não era tão verdadeira assim. No entanto, como eu não tinha muita opção naquele momento, nem
muito menos um lar para ir, eu ficaria naquele lugar enquanto ele permanecesse seguro.

Depois de três dias, os soldados foram embora e um novo grupo de monges chegou ao templo.
Assim como os outros, eles eram bem alegres, gostavam de cultivar plantas medicinais e sempre
estavam dispostos a passar um tempo conosco. Eu achava a companhia deles bem tranquilizadora.

— Eu me chamo Giyuu, tenho dez anos! Gosto de comer, de nadar no lago e de treinar.

— Olha só, muito bom! Muito prazer em conhecê-lo! — disse um dos muitos monges

— Eu me chamo Shinobu, tenho nove anos e eu vim de uma terra distante. Gosto de ler, estudar e
descobrir coisas novas, mas o que eu mais gosto é de fazer bons amigos.

— Excelente, Shinobu! É um prazer estar em sua companhia! Bem, eu tenho alguns afazeres. Nos
encontraremos na hora do almoço.

— Certo!

— Muito prazer, senhor — Shinobu acenou para o homem. — Nossa! Que calor! — ele disse,
enquanto secava a testa

— É verdade! Está muito abafado! Acho que vou até o lago.

— Lago? Que lago? — perguntou Shinobu.

— Me segue! Eu vou te levar até lá!

O lago Kokyu era largo e tinha uma água límpida e azulada. Durante a noite, as luzes brilhantes do
céu reluziam dentro dele e até parecia que as estrelas tinham vindo parar dentro d’água. Desde que
Yushiro me levou até ele, eu passei a frequentá-lo quando eu queria parar para pensar um pouco e
comecei a banhar nele com mais frequência no verão. Eu o mostrei para Shinobu pela primeira vez
naquele dia.

— Nossa! Que lugar bonito! Então, era para cá que você fugia toda vez? Eu gostei! — disse
Shinobu, que levou as duas mãos para as costas e começou a olhar ao redor. — Eu realmente gostei
daqui!

— Aqui é bem legal, não é? Vamos! Vamos mergulhar!

— Ah, você vai entrar na água? Oba! Eu também vou! — ele disse e começou a tirar a roupa.

— Certo… — dei de ombros.

Tirei minhas roupas, corri até o lago e dei um super pulo. A água estava bem agradável, como de
costume. Notei que Shinobu estava parado, como se estivesse pensando em alguma coisa.

— Vem logo, Shinobu! — eu gritei.

— E-eu já vou! — ele respondeu.

Ele veio com a camisa nas mãos, a dobrou e a colocou na margem. Ele levou a mão até a calça,
tirou-a devagar e fez o mesmo. No entanto, quando ele tirou a roupa de baixo, eu descobri algo
muito importante sobre meu melhor amigo.

— Shi-Shinobu?!

— O que foi?!

— Cadê o seu…? Não espera! Tem algo errado com você!

— Comigo?! O quê?! O que é?! — ele olhou para seu corpo, confuso. — Você está vendo coisas,
Giyuu!

Na verdade, eu não estava vendo uma coisa muito importante.

— Não, é sério! Você nasceu com defeito! — comentei, na minha inocência.


— Hã?! Como assim?! Eu tenho tudo o que uma garota tem, ora! — ele gritou.

Fiquei congelado por um tempo e fiquei sem raciocinar por alguns instantes. Depois que voltei à
realidade, eu finalmente entendi que estava enganado sobre meu melhor amigo todo esse tempo.

— Shi-Shinobu?! Vo-você é… uma garota?!

— Sim, ora! Não é óbvio?!

— Fala sério! — eu disse, surpreso.

— Ara, você não sabia?!

— Na-não!

— Como você é tonto, Giyuu! Como não percebeu o óbvio?!— ela começou a rir da minha cara de
espanto.

— A culpa é sua! Você tem o cabelo curto e só usa roupa de menino! — resmunguei.

— Humpf! Eu só queria ter um visual novo, por isso cortei! E eu não gosto de usar vestido! Só
isso! Agora, sai da frente que eu vou pular!

Eu fiquei bem desconcertado com aquela revelação. Me achei bem idiota de não ter percebido
desde o começo que Shinobu se comportava de uma forma estranha demais para um garoto. E
agora eu tinha uma melhor amiga e não sabia se as coisas mudariam entre nós. Passado o susto
inicial, eu decidi tentar deixar aquilo de lado e foquei apenas em me divertir na água. Afinal de
contas, éramos muito pequenos para ter qualquer malícia naquela época. E nós mergulhamos,
pulamos dentro da água várias vezes e voltamos algumas horas depois, antes que dessem por nossa
ausência. E aquele virou nosso lugar secreto.

Com o passar dos meses, Shinobu e eu nos tornamos muito próximos. Nós nos dávamos bem,
brincávamos, contávamos histórias de nossas terras, nossos pais, nossas dores. Eu não precisava de
mais ninguém, além de Sabito e dela. E em todas as noites de lua cheia, nós fugíamos para o lago
Kokyu, já que o caminho até ele ficava mais iluminado e as estrelas brilhavam mais no céu.

O tempo passou mais rápido do que eu esperava e depois de um ano, nós tivemos nosso primeiro
festival da paz. A mestre Tamayo achou que deveríamos celebrar o período de harmonia que nos
aguardava no futuro. Nós todos estávamos vestidos com roupas coloridas. Confesso que achei
desnecessário ter que usar aquelas roupas estranhas, cheias de panos transpassados e uma faixa na
cintura, porém a comida compensou o estresse. Também fiquei muito feliz, pois naquele dia Sabito
caminhou pela primeira vez. Imaginei que Makomo ficaria que nem um boba de tão orgulhosa do
irmão.

— Por que nós temos que usar essas roupas humilhantes?! Nunca que eu vestiria um trapo
desses... — eu resmungava, insatisfeito com aquele tecido que mais lembrava um saco de carvão.

— Giyuu, essas são roupas de celebração! Nós a usamos em honra e memória de nossos
ancestrais. E só porque é colorida, não quer dizer que é feia. — disse Yushiro, que nos
acompanhava até a praça, onde ocorreria uma grande apresentação de dança. Shinobu iria
participar dela, junto com as outras garotas.

— Nhiu! Nhiu! — gritava Sabito, que se equilibrava entre ficar em pé e tentar subir as calças
folgadas que haviam lhe arranjado.
— Vamos, Sabito! Se perdermos a apresentação da Shinobu, ela vai nos degolar e dar de comer aos
tigres! — eu disse a ele. Na verdade, eu queria ver a tal da roupa que ela havia falado durante o
mês inteiro.

Chegamos na praça, que já estava lotada e começamos a nos esgueirar entre as pessoas. Logo, eu vi
Obanai e Sanemi ao longe. Eles acenaram para mim e indicaram que haviam lugares vazios nos
esperando na frente.

— Que baita sorte!

— Gomiu! Gomiu! — gritou Sabito, que havia ficado perdido bem no começo da multidão. Eu
revirei os olhos, bufei e voltei até ele.

— Você vai nos fazer perder a apresentação! — eu gritei, irritado.

Sabito abriu o berreiro e eu me senti culpado. Afinal, ele ainda era bem pequeno e eu não podia
me irritar por ele ainda ter dificuldades para resolver coisas simples. Eu o peguei nos braços e ele
deitou a cabeça no meu ombro. Dei algumas tapinhas em suas costas.

— Tá! Tá! Para de ser um bebê chorão! Eu não estou zangado. Me desculpe por gritar com você.

— Senhoras e senhores, boa noite! — disse uma voz em cima do palco.

— Olha, vai começar. Limpa o rosto! Se Shinobu ver você chorando ela vai querer me bater...

— Nobu! Nobu!.. — disse Sabito, que começou a secar os olhos e a sorrir.

— É, né... O nome dela você sabe...

E para evitar perder mais tempo, eu corri com Sabito em meus braços e cheguei do lado dos outros
garotos.

— Olha só! Bem na hora! — disse Obanai

E a apresentação já estava começando.

— Com vocês, as jovens flores do templo Hashira! — disse um dos monges.

E as garotas começaram a entrar no palco.

— Nobu! Nobu! — disse Sabito, que mexeu as mãos de forma inquieta.

E quando enfim localizei Shinobu no palco, meu coração disparou. Ela não era mais aquela menina
pequena, magricela e indefesa. Ela havia crescido um pouco. Ela esbanjava cabelos longos,
enfeitados com algumas flores rosadas. Seu rosto tinha uma pintura estranha para meu gosto, mas
isso não a deixou feia. Ao contrário, ela estava... linda! De repente, meu rosto ardeu e eu fiquei
bem inquieto.

“Por que eu estou sentindo como se minha cabeça fosse explodir?! E por que estou ofegante?! Eu
nem fiz algum exercício... E por que meu coração está batendo tão forte?! Estranho...” — eu
pensava, atordoado.

E quando ela começou a dançar, eu senti como se ela jogasse um pó mágico, pois eu não conseguia
ver mais ninguém. Era só ela. A menina mais linda de todas. E eu abri um sorriso bobo e me deixei
vulnerável para as brincadeiras dos outros.
— Fecha a boca! A baba está escorrendo! — disse Obanai, que empurrou minha mandíbula, que
realmente se abriu automaticamente.

— Cala a boca...

E quando olhei para Sabito, os olhos dele brilhavam, mas não era para Shinobu que ele olhava. Era
para Mitsuri, uma menina de cabelos rosados. Ela não estava mesmo feia, porém Shinobu era de
longe a mais linda. Disso eu tinha certeza. E quando a apresentação acabou, Shinobu desceu e
correu até nós, com um sorriso que parecia maior até que seu rosto.

— Giyuu! Sabito! Vocês gostaram? — perguntou Shinobu, empolgada.

—Mimi! Mimi! — disse Sabito, em sua inocência, quando viu a outra garota se aproximar e falar
com Obanai.

— Como é?! Sabito, seu falso! E eu? — ela gritou, furiosa.

— Nobu! Inda! — ele disse.

— Humpf… E você, Giyuu, o que achou? — ela me perguntou, com aqueles malditos olhos
violeta que brilhavam para mim como duas fontes de felicidade plena.

— Nada mal. — eu respondi.

— Agr... Vocês são uns grossos insensíveis! — gritou Shinobu. Ela fez menção de sair, mas
segurei seu punho.

— Você... estava... linda. Pronto, é isso. — eu disse, desajeitado.

— Você acha mesmo? — ela disse, ficando com o rosto corado.

— Sim... — eu disse, envergonhado.

E de repente, Obanai e os outros subiram no palco. Era hora da música tocar e a festa começar.
Uma música alegre foi iniciada.

— Ah! Música! Vem, vamos dançar! — disse Shinobu, empolgada.

— O que?! Dançar?! Não sou homem de dançar...

— E quem disse que você é homem? Você é um garoto ainda! É menor do que eu, até... Se eu
fosse como as outras, eu nem te chamaria para dançar... — ela disse, desdenhando.

— Ora, por quê?!

— Porque você não sabe nada de dança. — ela disse, me provocando.

— Ah, é?! Vamos ver quem não sabe! Ora essa! — e ela sempre conseguia me tapear para fazer o
que bem entendia. Aquela garota era terrível!

Eu puxei Shinobu pela mão e a levei para o centro da praça, onde algumas pessoas já dançavam.
Eu a puxei para perto, envolvendo sua cintura e segurei sua outra mão, como se eu soubesse
realmente o que estava fazendo. E a música começou devagar e logo estávamos girando e girando.
E enquanto eu estava desesperado, tentando não detonar os pés dela, ela simplesmente sorria e se
divertia. Por que aquele maldito sorriso era tão lindo? As outras garotas cochichavam nos
observando e davam risadas.
“Malditas! Eu sei que vocês estão morrendo de inveja. ” — foi o que pensei.

Em um certo momento nos descolamos e ficamos unidos por uma mão só. Ela se enrolou pelo meu
braço, até se aproximar do meu rosto. Ela piscou o olho para mim e me deixou ruborizado. Ela se
soltou novamente e começou a dançar livremente. E eu parei para admirá-la. Ela segurava a ponta
de sua saia e a movimentava de forma encantadora. E ela ondulava sua saia, seguindo as batidas
alegres dos tambores, rodopiava, mexia as mãos com uma delicadeza e destreza invejável.

Eu ainda consegui prestar atenção para alguns detalhes, mas eu me perdia, porque ela mantinha seu
olhar para mim enquanto dançava. E eu senti meu coração acelerar. Por que estava tudo tão
estranho? Por que aquelas sensações? Por que ela estava mexendo comigo de uma forma diferente?
E próximo ao fim da música, ela deu um último giro, se aproximou de mim e fez uma reverência.
Tudo que consegui foi manter minha cara de idiota e sentir como se um planeta inteiro explodisse
em meu peito. Eu podia não entender bem, mas acho que aquilo era o que se chamavam de "se
apaixonar".

Para meu azar, alguém mais havia reparado naquilo. Sanemi, o garoto da cicatriz no peito, se
aproximou dela e lhe entregou uma flor. Shinobu a recebeu e ficou meio abobalhada. Eu senti uma
pontada esquisita no meu peito, porém decidi não meter. Eu segurei Sabito no colo e o levei até a
entrada principal do templo. Não demorou para que a chuva de fogos de artifício começasse.

— Veja, Sabito, não é bonito?

Eu observei que ele mal piscava os olhos, encantado pelo jogo de luzes. Lembrei que no castelo
sempre havia uma chuva de fogos sempre no dia de aniversário da minha mãe. Senti saudades de
casa. De repente, senti uma dor no meu braço.

— Ai!

— Por que não me esperou?! — Shinobu apareceu e ela estava bem emburrada.

— Você parecia ocupada com seu amiguinho…

— Hã?! — Shinobu ficou confusa, porém sua ficha caiu instantes depois. — Hahahaha! Não
acredito que você está com ciúmes do Sanemi!

— Ciúmes, eu?! Humpf… Até parece…

— Ah, Giyuu! Não se preocupa! Você ainda é o meu preferido! — ela se agarrou em meu braço e
deitou a cabeça em meu ombro. — Você é o mais precioso entre todos eles! Meu melhor e mais
rabugento amigo!

— Se você diz…

Naquele momento, eu senti meu rosto arder novamente. Eu não entendia nada do que aquilo
significava, apenas ficava feliz em saber que eu poderia ver algo tão bonito como a minha melhor
amiga. Aquele foi um dia muito feliz e dificilmente esqueceria dele. Eu acho que foi a primeira vez
que sorri de verdade desde que havia chegado naquele lugar.

Havia música, dança, comida e fogos coloriram o céu no fim da noite. Eu compartilhei isso tudo
com Shinobu ao meu lado e ver o sorriso dela me deu um certo conforto. Além disso, ver a
expressão de encantamento de Sabito me deu esperança. Pensei que talvez, só talvez, poderíamos
recomeçar as nossas vidas e sermos felizes de novo. Com o tempo, Hashira virou uma forma de
lar. Com o passar dos anos, novas crianças vieram, o templo de Hashira cresceu e nós também
crescemos mais um pouco.
Capítulo V

Depois de três anos, Hashira cresceu e se desenvolveu, pois a chegada dos monges trouxe uma
nova organização para o lugar. Começamos a cultivar hortaliças, plantamos muitas sementes de
árvores frutíferas, tínhamos um pequeno rebanho de caprinos e outros pequenos animais. A mestre
Tamayo também decidiu que passaríamos a nos exercitar diariamente, para que fôssemos jovens
saudáveis. Pelo menos, era isso que ela queria que nós pensássemos.

Em uma certa manhã de treinos, ela decidiu reunir os mais velhos para contar um pouco sobre a
história dos quatro reinos, pois acreditava que era hora de nos informarmos sobre o que nos havia
levado para aquela realidade. Nos reunimos em uma área do jardim e ela nos contou sobre o dia da
reunião dos líderes dos quatro reinos orientais. Senti meu estômago revirar na hora. Meu pai estava
morto e foi por isso que ninguém nunca me procurou durante os anos que estive no templo. Meu
pai, o brilhante e orgulhoso imperador de Mizu, havia sido traído e miseravelmente assassinado
por Muzan, o atual supremo imperador dos quatro reinos. Confesso que senti muita raiva ao saber a
forma humilhante como meu pai havia morrido. Fiquei muiti mal ao saber sobre aquilo e nem
consegui ouvir nenhuma outra palavra sequer.

Enquanto caminhava de forma solitária pelo jardim, veio em minha memória os raros momentos
que tive ao lado do imperador. Mesmo sendo ausente por conta de suas funções, eu ainda o amava
e o respeitava. Meu pai era um homem justo e admirado por todos do nosso reino. Ele merecia um
final mais digno do que aquele. De repente, senti uma grande vontade de vingar sua morte. Claro
que eu sabia que seria algo impossível na condição que eu estava. O que um garoto de quatorze
anos poderia fazer sozinho contra quatro reinos inteiros?

Após uma breve caminhada, me sentei debaixo da macieira, a árvore preferida da Shinobu. Decidi
me encostar nela e relaxar um pouco. Fiquei imaginando como estava o reino sem um líder para
guiá-lo. Será que ainda existia algum resquício de Mizu, afinal? Quem seria o novo líder? Que tipo
de pessoa ele era? Eram perguntas cujas respostas eu teria apenas se eu fosse diretamente até lá.
No entanto, eu nem sabia exatamente onde estava naquele momento, muito menos como
sobreviveria longe do templo. Senti minha cabeça doer um pouco, porém meus pensamentos foram
interrompidos.

— Mano! Mano! O que está fazendo aqui? — perguntou Sabito, que se aproximou de mim.

— Sabito?! Você não deveria estar com o Yushiro agora? — perguntou Giyuu.

— Você disse que ia levar o Sabito para nadar, então eu vim!

— Ah! Sim! Eu vou levar, mas não agora! Volta lá! Você não pode fugir das atividades! Vá de
uma vez!

— Eu não vou! Eu vou ficar aqui com você! — ele cruzou os braços e fez beicinho. — Você não
gosta mais do Sabito? — ele perguntou.

— Não seja bobo!— eu o abracei e ele retribuiu.

— O Sabito só quer brincar com o mano, porque o Sabito gosta muito de você!

— Eu também gosto muito de você! Você é meu irmãozinho, não é? — eu acariciei os cabelos
dele.

— Sim, eu sou…
— Então, você quer ir mergulhar com seu irmãozão?

— Sim!

— Eu prometo que vamos mais tarde, depois da sua atividade com o senhor Yushiro, certo?

— Tá… Mano, você quer assistir a atividade comigo?

— Eu tenho outras tarefas, Sabito…

— Por favor! Sabito quer ficar com você! — ele choramingou.

— Tu-tudo bem! Não comece a chorar! Eu vou com você!

— Ebaaa! — ele comemorou.

Sabito era um garotinho muito inteligente, comunicativo, porém ele era muito carente e sensível.
Anos atrás, eu passava um bom tempo do meu dia com ele. No entanto, com tantas tarefas para
cumprir, eu não tinha a mesma disponibilidade de antes, o que fez Sabito se sentir solitário e a
fazer birra por tudo.

Segurei em sua mão e fui em direção ao pátio onde Yushiro educava as outras crianças. Enquanto
me aproximava, olhei para o lado e notei que Shinobu aprendia a costurar na companhia de outras
garotas. Resolvi ir em sua direção e quando me aproximei, as outras garotas começaram a
cochichar.

— Oi, Shinobu! — eu a cumprimentei.

— Mana Shinobu! — gritou Sabito, que correu até ela.

— Ah, oi pessoal!— ela disse, sem emoção.

Sabito a abraçou e ela deu apenas umas tapinhas nas suas costas. Shinobu andava muito estranha
naquele tempo. Eu me abaixei e sussurrei ao seu ouvido

— Nós vamos mais tarde até o lago. Quer ir com a gente?

— Sério?! — ela disse, animada. No entanto, ela olhou para as garotas ao seu redor. — É que… eu
não vou poder… Eu tenho tarefas para fazer…

— Ah! Vamos, mana! Vai ser legal! — Sabito puxou o braço dela. Ela soltou seu braço e afastou
Sabito um pouco.

— Não posso. Desculpa.

— Ah, fala sério! Só por meia hora! Nem vai ser por tanto tempo… — eu insisti.

— Não quero! Me deixa em paz! — Shinobu gritou, se levantou, nos deu as costas e foi em direção
às outras garotas. Elas riram e se afastaram.

Sabito ficou triste, eu o peguei no colo e ele se abraçou a mim.

— A mana Shinobu me odeia? — ele perguntou.

— Claro que não! Ela só… está ocupada… Vem! Vamos até o Yushiro! Depois da sua atividade,
nós vamos até o lago, certo?!
— Tá bem…

Nem eu mesmo entendia o que estava acontecendo com Shinobu. Desde que ela havia crescido
mais um pouco e se aproximado mais das outras garotas, ela apenas decidiu se afastar de mim. Eu
estava preocupado com ela, mas ao mesmo tempo, eu resolvi que lhe daria um espaço. Talvez eu
apenas não fosse mais necessário para ela e estava tudo bem, desde que ela estivesse feliz com
isso. Pelo menos, era disso que eu tentava me convencer.

Esse foi o momento em que me aproximei mais dos outros garotos e que um mundo novo se abriu
para mim: eu descobri coisas que eu nem sequer imaginava. Os garotos do templo eram bem
divertidos. Meus amigos eram um pouco mais velhos do que eu e tinham personalidades
peculiares.

Obanai era um garoto muito inteligente. Ele tinha dezessete anos e era o mais velho entre nós. Ele
gostava de escrever coisas o tempo todo e usava palavras muito bonitas. Ele fazia inúmeras cartas
para uma garota, que também escrevia muito para ele. Eu não sabia quem ela era, só haviam me
dito que eles namoravam em segredo desde que haviam chegado ao templo. Por ser um pouco mais
velho e ser experiente, ele tirava algumas dúvidas bobas que eu tinha sobre ser um homem. Já
Sanemi tinha dezesseis anos. Passamos a nos dar bem com a convivência, porém eu não conseguia
confiar muito nele. Talvez fosse pelo seu excesso de gentileza dele com a Shinobu, o que me
deixava bem incomodado. Por que eu era completamente ignorado por ela e ele tinha o direito de
ficar ao seu lado?! E por fim, Kyojuro, que era da minha idade, era o mais alegre e maluco deles.
Eu sempre achei que ele fosse um pouco surdo, já que ele só falava de forma escandalosa e ele
adorava conversar batendo nos outros, o que era um hábito bem irritante.

A vida no templo nem sempre era fácil, por isso ter amigos tornavam as coisas mais leves. Eu me
sentia bem melhor quando eu compartilhava meus problemas com eles. A única coisa que eu nunca
havia contado era sobre meus sentimentos pela Shinobu. Eu tinha medo de que isso fizesse o
Sanemi querer tomar alguma iniciativa e eu morreria se por acaso a Shinobu preferisse ficar com
ele no final.

Assim como eu, Kyojuro também havia encontrado seu local favorito e nós decidimos ir nos
aventurar. Fomos até uma cachoeira que ficava um pouco distante do templo, o que levava alguns
minutos de caminhada. Como já tínhamos idade suficiente para explorar, as pessoas não se
queixavam mais das nossas saídas. Tínhamos apenas que retornar na hora do toque de recolher.

No dia que fomos dar uma volta pela cachoeira, eu preferi deixar Sabito no templo, pois temi que o
lugar fosse perigoso para ele. Além disso, havia coisas das quais conversávamos que um garoto da
idade dele não deveria saber ainda.

— Caramba! Esse lugar é incrível! — eu disse, admirado ao olhar a água ĺimpida na nossa frente

— Não é? Eu o achei por acaso, enquanto caçava com alguns monges. — disse Kyojuro.

— Bem, o que estamos esperando? Vamos pular! — gritou Sanemi.

Nós escalamos algumas pedras, chegamos até o alto da cachoeira e decidimos pular. A sensação
durante o salto era empolgante e me deixava super animado. Era um sentimento de liberdade
incrível. Nós realmente repetimos os saltos inúmeras vezes, até que cansamos e decidimos parar
um pouco. Nós nos sentamos na beira da lagoa.

— Isso que é vida! — Sanemi levou os braços para trás da cabeça e deitou de barriga para cima.

— Esse lugar é bem legal. Tenho certeza que minha namorada adoraria vir aqui comigo! — disse
Obanai.

— E que milagre foi esse dela deixar você vir? — brincou Kyojuro.

— Ela disse que eu deveria ter um tempo com meus amigos também, mas eu sei que por dentro ela
ficou chateada. — disse Obanai.

— Então, vocês está mesmo junto de uma garota? — perguntei, surpreso.

— Sim! Ela é minha namorada! — Obanai ficou com o rosto todo vermelho.

— E aí? Vocês já se tocaram ou algo assim? — perguntou Sanemi.

— Eu não sei se devo contar algo assim… — ele ficou mais vermelho ainda.

— Ah, fala sério! Não tem nada demais nisso! — disse Sanemi.

— Claro que tem! Ela pode ficar chateada… — disse Obanai.

— Por quê? Você já pegou nos peitos dela ou algo assim? — perguntou Kyojuro.

— Cala boca, Kyo! — Obanai deu um tapa na cabeça dele.

— Aiaiai!

— Ora! Não tem nada demais em pegar nos peitos de uma garota! São tão redondinhos e macios!
Vai, Obanai, conta para a gente! Vocês já se tocaram?

O garoto ficou um pouco relutante, porém resolveu revelar seu segredo.

— Si-sim!

— Olha aí, nosso garanhão! — brincou Kyojuro.

— Não saiam espalhando por aí ou eu quebro a cara de vocês! — ele advertiu.

— Prometo! — disse Sanemi.

— Eu também! — disse Kyo.

— Eu também! — eu disse.

— Bem, no começo, ela ficava com muita vergonha e me batia quando eu passava do limite… Não
que eu fosse um cara desrespeitoso, mas sabe… quando a gente se aproxima de uma garota, parece
que nosso corpo pega fogo e a mão perde o controle.

— Sério?! — perguntei, curioso.

— Sim! E quando a gente percebe, nossa mão quer apertar todo o corpo dela… — ele contou,
envergonhado.

— E ela também toca em você? — perguntei.

— Ei, Obanai, ela já pegou no seu… você sabe… — perguntou Sanemi.

Obanai ficou calado e cobriu o rosto.


— Aaaah! Vocês já foram tão longe assim?! — Sanemi questionou.

— Que rápido, Obanai! — brincou Kyo.

— Cala boca! — ele ficou envergonhado.

— E como foi? Como é a sensação? — questionei.

— Quando ela me toca lá, eu fico bem duro… e quando eu toco nela, ela fica molhada… É uma
sensação muito gostosa! E da última vez que ficamos sozinhos, nós… nos tornamos marido e
mulher.— ele contou.

— Não acredito! Então, vocês… deitaram juntos?! — disse Sanemi, admirado.

— Caramba! Você se tornou o marido dela agora! E como foi a sensação? — perguntou Kyojuro.

— Foi muito boa! Nós fugimos para o antigo celeiro, onde eu já havia organizado para ficarmos a
sós. E entre os beijos, surgiu a vontade e aconteceu. Só fiquei assustado, porque ela perdeu um
pouco de sangue! Pensei que ela estava machucada, mas ela me disse que é o que acontece com as
garotas quando se deitam com um homem pela primeira vez… Foi um sufoco ir até o lago lavar o
lençol sem que ninguém percebesse! Eu só sei que depois dessa vez, eu fico com vontade de fazer
isso com ela toda hora!

— Deve ser difícil! Eu tenho que massagear o meu de vez em quando! — disse Sanemi.

— É bem chato acordar com ele para cima também. — contou Kyo.

Naquele ponto, eu estava em choque e intrigado ao mesmo tempo. O que era ser marido e mulher?
Massagear o quê? Do que eles estavam falando?! Eu ainda não tinha me desenvolvido, ainda tinha
o corpo e a mente de um garotinho, então tudo aquilo parecia coisa de outro mundo para mim.

— E você, Giyuu? Você já pegou em uma garota? — perguntou Kyo.

— Quê?!

— Fala sério! Você só vivia grudado com a Shinobu e quer dizer que nunca tocou nela? —
perguntou Kyojuro.

— Claro que não! E ela nem fala mais comigo mesmo! — eu disse, irritado.

— Hahahaha. Calma! Não precisa ficar nervoso! — disse Kyojuro.

— Mas você gosta dela? — perguntou Sanemi.

— É que…

— Ah, então não sabe? Já que é assim, não tem problema se eu der uma pegadinha nela, né? Eu
posso pedir a Shinobu para ser minha mulher? — perguntou Sanemi.

Me senti enraivecido quando ouvi isso, perdi o controle, me levantei de uma vez e gritei:

— Não! Você não pode!

— E por que não?

— Se você tocar nela… — eu fiquei tão furioso do nada, que os outros garotos arregalaram os
olhos em espanto. Depois de alguns segundos, eles começaram a rir.

— Eu sabia! Você gosta mesmo dela! — disse Sanemi.

— Eu…

— Mas você já disse pra ela que gosta dela? — perguntou Sanemi.

— Para ela me bater? Ela nem sequer quer falar comigo! Agora ela só fica com aquelas garotas
irritantes… — resmunguei.

— Ah! Relaxa! Logo ela volta a falar com você! Minha namorada teve a mesma fase! Garotas
precisam se sentir aceitas no grupo e algumas delas têm aquela besteira de não falar com os rapazes
para chamar atenção e blábláblá… Depois isso passa!— contou Obanai.

— Mas olha, se você demorar muito… eu vou tomá-la se você, Tomioka! — Sanemi falou em um
tom provocativo.

Eu senti vontade de socá-lo naquela hora, porém Kyojuro me segurou pelo punho e me deu um
olhar de reprovação. Eu me sentei e tentei me controlar. Eu nem imaginava que só em pensar em
algo como aquilo me deixaria tão nervoso.

— Sim, sim! Vamos voltar ao assunto! Obanai, conta mais! Eu quero aprender tudo sobre como é
virar marido e mulher! — disse Kyojuro, curioso.

— Acho que você pode descobrir sobre o assunto por conta própria…

— Ah, vai! Está todo mundo curioso, né pessoal? — insistiu Kyojuro.

Com todos os olhos sobre ele, Obanai se viu sem saída e nos falou um pouco sobre o assunto.
Acho que parte da minha inocência se perdeu naquele dia.

— Certo! Chega! Eu não quero parecer um sem vergonha! Vamos voltar! Temos que levar as caças
para o templo. — Obanai se levantou e se espreguiçou.

Claramente, eu não estava muito conformado só com aquelas informações e fiquei cheio de
curiosidade. Eu ainda perturbaria os outros algumas vezes para tirar as milhares de dúvidas que
pairavam na minha cabeça. Eu era um jovem que se preparava para o futuro, que fazia suas
primeiras descobertas sobre a adolescência e que tinha uma mente muito fértil.

Ainda naquele mês, a mestra Tamayo decidiu nos preparar para a vida adulta, já que nem todos se
conformariam com o destino de viver como um monge no templo. Com isso, ela procurou por
diferentes mestres para nos ensinar habilidades variadas: pescaria, caça, artesanato, artes marciais,
medicina… Muitas eram as possibilidades. Claramente, eu me interessei para aquilo que já estava
acostumado.

O mestre de artes marciais era o senhor Urodaki. Ele nos ensinava o manejo da espada e a defesa
pessoal. Ele era muito rigoroso, talvez até um pouco demais. Ele nos fazia alongar até a quase
morte, nos fazia repetir os movimentos de forma exaustiva e ainda nos atingia sem piedade. No
entanto, eu me sentia feliz com tudo isso. Me sentia mais perto de casa daquele jeito. Ele dizia que
os melhores de nós serviríamos ao exército da paz no futuro, que era um grupo de soldados que
mantinham a ordem nos reinos.

Diferente de mim, Shinobu preferiu as aulas de medicina da mestre Tamayo, então nós nos víamos
cada vez menos. Ela passava horas mexendo com plantas, aprendendo a fazer remédios e outras
coisas, enquanto eu treinava exaustivamente. Eu até queria falar com ela sobre as coisas que ela
estava aprendendo, mas ela me ignorava toda vez que eu tentava perguntar alguma coisa. Aquilo
virou algo tão irritante, que foi minha vez de não querer mais falar com ela. Nos tornamos
estranhos. Por mais que doesse muito em mim ficar longe dela, eu ainda tinha um resquício de
orgulho a zelar.

E todo dia eu observava Shinobu de longe, enquanto treinava com a minha katana de madeira. Eu
sentia meu peito doer um pouco, pois eu sentia muita saudade de estar com ela. Como me irritava
ver Sanemi e ela sorrindo, enquanto eu ficava de escanteio. Decidi descarregar toda essa fúria nos
treinamentos. Eu ia até meu limite, todos os dias, até estar cansado demais para sequer pensar. Em
oito meses, eu me tornei o melhor guerreiro daquele lugar, tão bom que até consegui arrancar uma
vitória do mestre Urodaki.

Daquele ponto em diante, eu resolvi superar um pouco o distanciamento de Shinobu e eu direcionei


toda minha atenção para Sabito. Começamos a passar mais tempo juntos, eu o ensinava a lutar, ele
me contava sobre suas descobertas. De certo modo, eu estava feliz por ele ter a chance de viver
uma vida de paz. Sabito também sofreu com o distanciamento de Shinobu, mas ele resolveu focar
em outras coisas, já que havia todo um mundo novo para ele descobrir como criança. Por alguma
razão, ele passou a seguir a Mitsuri o tempo todo, talvez porque ela o tratasse de maneira afetuosa e
ele sentisse falta de ter uma irmã. Isso me deixava até um pouco aliviado, pois como ela estava
quase sempre perto de Obanai, já que ela nos acompanhava com os treinamentos com a espada e
ele a corrigia, isso indicava que o Sabito estaria em segurança enquanto eu estivesse ocupado.

No entanto, ele subitamente parou de segui-los por alguns dias e isso me deixou um pouco
intrigado. Ele ficava mais tempo comigo e quando Mitsuri aparecia, ele corria de forma
desesperada. Eu fiquei curioso com aquilo e decidi perguntar para ele o que estava acontecendo
antes de dormir. Enquanto eu ajeitava a cama para que ele deitasse, ele pulava de forma animada.

— Maninho! Maninho! Você vai mesmo me levar para pescar amanhã?

— Amanhã eu vou caçar com os adultos, Sabito. Vamos depois de amanhã, certo? E vamos pescar
um peixe enorme e assá-lo!

— Oba! Oba! Oba...nai! — Quando o outro entrou no quarto, Sabito se abraçou a mim e começou
a sussurrar. — Coitadinho, coitadinho…

Eu fiquei ainda mais confuso com aquilo e decidi perguntar o que estava acontecendo afinal.

— Sabito, por que o Obanai é um coitadinho?

O garoto me puxou pelo pescoço e sussurrou ao meu ouvido:

— Maninho, ele perdeu o piupiu dele!

— Quê?!

— Xiiii! Não pode falar! — disse Sabito, que ficou nervoso.

— Como assim, Sabito? Como ele perdeu o piupiu?! — sussurrei.

— A Mitsuri comeu ele! — ele sussurrou de volta.

— Co-comeu?!

— Sim, Sabito viu! Ela colou o piupiu dele na boca e comeu! Coitadinho dele!
Eu até tentei ficar sério naquele momento, porém eu caí na gargalhada. Obanai, que estava por
perto, resolveu se aproximar.

— E aí, Tomioka? Parece que estão se divertindo aí! — ele brincou.

Os olhos de Sabito encheram-se de lágrimas, ele começou a chorar e se abraçou a Obanai.

— Tá doendo, tá? Coitadinho! Coitadinho! — ele disse.

— Hã?! Como assim?! — Obanai me olhou com uma expressão perdida e foi minha vez de
explicar a situação.

— Obanai, acho que o Sabito viu você e sua namorada… como marido e mulher…

O rosto de Obanai ficou tão branco, que eu achei que ele iria desmaiar.

— Sa-Sabito…. — Obanai se abaixou para encará-lo. — Conta para mim o que você viu, tá?

Depois que o garotinho contou o que havia visto, Obanai se viu em um beco sem saída, mesmo
assim, ele conseguiu sentar Sabito em seu colo e conversar com ele. Ele ainda teve que inventar
uma explicação bem sem sentido, que por sorte foi aceita por Sabito.

— Então, ele cresce de novo se for com a garota que você gosta? E a mana Mitsuri não vai morder
o meu, né? — perguntou.

— Isso! E não, ela não vai mexer no seu!

— Ufa!! — Sabito se jogou na cama e bocejou.

— Agora, você promete que não vai mais espionar os outros? — perguntei.

— Sim! Pode deixar! Boa noite, mano Giyuu! Mano Obanai!

— Boa noite, Sabito! — disse e acariciei os cabelos dele.

Obanai e eu fomos até o lado de fora do dormitório e nos sentamos para ver as estrelas. Os outros
garotos se juntaram a nós e resolvemos deitar na grama.

— Amanhã, vamos caçar no lado sul do templo! — disse Obanai.

— Nós nunca fomos até lá! Será que existem muitas feras selvagens por lá? — questionou Sanemi.

— Provavelmente! Por isso devemos ficar atentos! — comentou Obanai.

— Estão animados para suas primeiras caçadas com a gente, Giyuu e Kyo?

— Sim! Vai ser demais! — disse Kyojuro.

— Espero que fique tudo bem… — disse.

— Relaxa! Vai dar tudo certo! Qualquer coisa, é só correr! — disse Sanemi.

— Isso não me deixou menos preocupado… — resmunguei e os outros sorriram.

Continuamos deitados por um tempo e depois decidimos ir dormir para acordarmos bem
descansados. No dia seguinte, meu grupo e eu partimos para a caçada. Antes de sair, ainda ouvi
uma voz familiar me chamar, para meu espanto.
— Gi-Giyu…

— Shinobu… — meu coração disparou com tudo quando a vi de perto. Só aquela rápida
aproximação já foi suficiente para que eu sentisse os efeitos da falta que ela me fazia. Foi a
primeira vez que notei que seus cabelos estavam mais longos.

— Olha, já que vão caçar, eu fiz esses remédios para vocês! Esse é para passar no corpo e espantar
os insetos, esse para febre e esse para dar energia.

— Ah, valeu… — eu recebi os produtos de suas mãos.

— E… tomem cuidado… — ela levou uma mecha de cabelo para trás da orelha.

— Tá…

— Shinobu, veio se despedir? — Sanemi disse.

— Si-sim!

— Você não deixaria de se despedir do seu belo namorado, né?

— Cala boca!

— Ah! Para com isso! Eu sei que você gostou do meu beijo de ontem!

— Sa-Sanemi!

Quando eu ouvi aquilo, não sei o que aconteceu com minha mente. Como se tudo tivesse virado
um breu, eu simplesmente me virei e corri o mais rápido possível. Acho que ainda a ouvi gritar
meu nome, porém eu realmente não queria saber dela ou de qualquer outra pessoa. Meu peito
parecia que havia rachado e eu senti uma grande vontade de chorar. No entanto, eu não deixaria
Sanemi sair vitorioso, então segurei as lágrimas o quanto pude.

Durante as caminhadas e as buscas, tentei ficar longe dele o máximo possível, pois a minha
vontade era usar o fio da minha espada nele. Busquei me acalmar, já que estávamos chegando na
mata fechada e seria preciso mais atenção do que nunca. O terreno era mais instável, com algumas
áreas de barranco. Sanemi deu muita sorte de não passar na minha frente em nenhum momento.
Adentramos mata adentro e nossa busca começou. Encontramos muitas aves de caça e pequenos
mamíferos, dividimos a carga entre nós e decidimos pegar o caminho de volta.

Já era fim de tarde quando finalmente pegamos o caminho de volta para o templo. O céu estava
nublado e temíamos que uma chuva viesse. Decidimos pegar um atalho para tentar evitá-la.

— Nossa! Foi uma ótima caçada! Conseguimos muita coisa! — comemorou Obanai.

— É verdade! Pareceu fácil até demais! — comentei.

— Pelo menos, poderemos descansar por uns três dias! — comemorou Sanemi.

— Que beleza! Mal vejo a hora de poder comer tudo isso! — disse Kyojuro.

De repente, um dos arbustos chacoalhou e nós entramos em estado de alerta.

— Não se mexam! — disse Obanai.

— Essa não… — fiquei bem tenso com aquela situação.


Nós ajeitamos nossas espadas e aguardamos o animal aparecer. Um grande felino saltou, rugiu e
veio em nossa direção.

— Droga! Corram! — gritou Obanai.

Nós iniciamos nossa fuga do animal. Corríamos o máximo que podíamos, porém o animal era
muito rápido. Decidimos nos separar para despistá-lo. Por azar, ele continuou atrás de mim. Pensei
em subir em alguma árvore, porém não tive tempo, já que logo fui derrubado pela fera. Me arrastei
para pegar minha faca que havia sacado da minha mão com a queda e quando virei de frente, senti
as presas dela invadirem meu ombro. Foi uma dor terrível. Com a mão livre, eu segurei a faca e
atingi o animal algumas vezes, até que a força da mordida diminuísse. Uma flechada certeira
atingiu a cabeça do animal, que caiu em cima de mim.

— Giyuu! Giyuu! Você está bem?! — gritou Obanai.

— Giyuu! Fica acordado! Vamos te levar de volta! — disse Sanemi.

— Ai… Isso está doendo muito!

De repente, senti algumas gotas de água caírem no meu rosto. Uma chuva forte começou a cair na
floresta. Meus olhos ficaram pesados e estava difícil mantê-los abertos.

— Merda! Uma chuva numa hora dessas! Giyuu, aguenta ai! Vamos te levar até o templo. —
Obanai gritou, rasgou um pedaço da sua vestimenta e fez uma pressão no meu ombro. As coisas já
estavam ficando embaçadas e eu imaginei que minha hora havia chegado. Com esse pensamento
em mente, tudo que pensei foi que eu não queria morrer sem ver a Shinobu uma última vez. Um
último relance do sorriso dela, uma dor insuportável e eu simplesmente apaguei. Seria aquele meu
fim?
Capítulo VI

Quando finalmente despertei e abri meus olhos, eu percebi que estava de volta ao meu dormitório.
Olhei ligeiramente pela janela e notei que era noite. Eu não sabia o que havia acontecido, nem por
quanto tempo havia ficado apagado. A última coisa de que lembrava era de ouvir a minha mente
repetir o nome da Shinobu inúmeras vezes. Assim que olhei para o lado, eu me surpreendi, pois ela
estava adormecida ao lado da minha cama. Eu tentei sentar, porém senti muita dor e gemi um
pouco alto, o que fez ela acordar.

— Hã… — ela sussurrou, ainda sonolenta. — Giyuu?! Giyuuu! Você acordou! Ah, que alívio! —
Ela me abraçou e apertou um pouco meu ombro.

— Aiaiai!

— Ah! Desculpa! Não quis te machucar! — ela levou a mão até minha testa. — Sua febre ainda
não passou! É melhor eu pegar um remédio!

Eu apenas a observei de forma incrédula, pois de todas as pessoas, a última que eu esperava estar
ali era ela. Mesmo assim, eu fiquei aliviado por ver o rosto da Shinobu outra vez.

— Aqui, beba! — ela me trouxe uma espécie de xarope em um copo, me ajudou a sentar e eu bebi.

— Arg! Que amargo! — resmunguei.

— É um pouco ruim, mas vai ajudar a ficar bom mais rápido! — ela disse e sorriu.

Meus olhos começaram a ficar pesados e eu bocejei. Eu me deitei de novo na cama com a ajuda
dela e ela me cobriu com uma manta.

— Agora, descanse! Eu já volto! — ela disse.

Eu dormi novamente e quando acordei, o céu já estava claro. Não tentei me levantar rapidamente
como da outra vez, já prevendo a dor que sentiria e fiz isso bem devagar. Assim que sentei, notei
que Shinobu estava ao lado e que ela preparava alguma coisa. Ela virou-se e notou que eu havia
acordado.

— Ah! Bom dia! Se sente melhor? — ela se aproximou de mim e colocou a mão na minha testa. —
Que bom que sua febre baixou!

— Acho que estou bem… — eu disse, desajeitado.

— Giyuu, o que aconteceu? Você chegou todo machucado e desmaiado! Foi uma mordida muito
feia!

Eu ainda estava achando estranho o fato dela estar tão falante, porém achei que deveria respondê-
la.

— Nós… fomos atacados por uma fera. Por acaso, ela resolveu fazer de mim seu almoço, eu lutei
contra ela, ela me mordeu, eu a matei e eu apaguei. Foi isso...

— Oh! Isso foi muito perigoso! — ela disse, com os olhos arregalados.

Por mais que eu estivesse feliz por Shinobu estar ali do meu lado, eu me senti um pouco estranho,
já que fazia muito tempo desde que ficamos só os dois juntos. Eu estava um pouco sem graça.
— Shinobu, não precisa se preocupar comigo, você deve ter coisas mais importantes para fazer…
Pode ir… Eu me viro.

— Hã? Eu não vou te deixar assim, Giyuu! Eu estou aqui com você desde de que você chegou e
vou cuidar de você até que fique melhor!

— Mas… estar comigo não é um incômodo para você?

— Hã?! Por que diz isso?

Mordi os lábios um pouco, porém não consegui me controlar.

— Ah, não é melhor estar com o Sanemi, que é seu namorado? — disse, em um tom irônico.
Aquilo me doía mais do que a própria mordida, pois eu ainda estava amargurado com o que havia
escutado.

Naquela hora, eu vi Shinobu mudar de cor e sua expressão calma mudou para uma extremamente
furiosa.

— Ele não é meu namorado, nem nunca vai ser! — ela gritou.

— Ah… — eu fiquei desnorteado com a reação dela. — Mas então por que você só anda com ele?
Por que prefere ficar do lado dele e não do meu?! Por que deixou ele te beijar?! — foi minha vez
de ficar irritado.

— Não é nada disso! Você entendeu errado! Eu não prefiro ele! E ele não me beijou! É tudo
mentira! — ela gritou.

— Ah, sei… Você só está querendo me enganar!

— Estou dizendo a verdade!

— Humpf… — resmunguei.

— Eu vou te provar que estou dizendo a verdade! Fica quieto aí! — ela gritou.

Shinobu saiu batendo os pés pequenos no chão e mesmo chateado, eu tive vontade de rir, porque
me lembrou de quando nos conhecemos. Pelo menos, algumas coisas nunca mudam.

— Vejo que nosso garoto está bem! Que grande susto! — Tamayo apareceu na porta do quarto,
veio até mim, sentou na beira da cama e alisou minha cabeça.

— Mestra… — fiquei surpreso com a presença dela, pois ela era muito ocupada e eu dificilmente
conseguia vê-la.

— Você tem sorte! Encontrou uma super cuidadora! Apesar de que ela saiu como um tigre raivoso
pela porta… Vocês estão brigados?

— Não sei! Eu pelo menos não estou…

— Entendo…

Eu pensei em deixar o assunto morrer, porém eu senti uma grande necessidade de desabafar.

— É só que... a Shinobu só me ignora! Eu estou cansado! Mas eu também não vou implorar por
atenção! Só que… eu também quero atenção dela! — resmunguei.
— Hahahaha. Vocês jovens têm dilemas engraçados. Quer que eu conte um segredo sobre as
garotinhas?

— Talvez…

— Às vezes, quando uma garota muda de comportamento com você é porque ela quer chamar sua
atenção e quer que você vá atrás dela. Talvez Shinobu queria saber se você se importava com ela
de verdade!

— Claro que me importo! Mas quando ela me ignora, isso me machuca…

— Se ela é tão importante, por que você não diz isso a ela?

Eu me virei para encarar a mestra e notei que ela parecia bem cansada. Deveria ser exaustivo
cuidar de tantas pessoas naquele lugar.

— Ela me bateria…

— Não me diga que logo você que é um verdadeiro guerreiro tem medo de apanhar de uma
garotinha?!

— Quê?! Eu não tenho medo da Shinobu!

— Ou será que você tem medo de ficar sem ela e por isso está irritado? — ela me questionou e eu
não soube dar uma resposta. — Sabe, Giyuu, a Shinobu chorou o dia todo quando você chegou
machucado e ficou esses três dias cuidando de você! Eu acho que ela se importa muito com você!
Então, eu acredito que vocês devam resolver esse mal entendido entre vocês.

— Será que dá para resolver?

Tamayo sorriu e alisou meu rosto.

— Para tudo na vida há um jeito, menos para a morte. Converse com ela e verá que tudo ficará
bem. Certo! Eu venho verificar como você está mais tarde, Giyuu. Tenho algumas tarefas
inadiáveis a fazer. — ela disse

— Tudo bem! Obrigado por vir, mestra…

Alguns instantes depois da saída dela, Shinobu entrou no quarto puxando Sanemi pela orelha.

— Aiaiai! Me solta, sua maluca!

— Não vou soltar até você dizer a verdade! — gritou Shinobu.

— Sanemi?! — fiquei surpreso com aquela cena.

— Fala para ele a verdade! Diz que a gente não tem nada!

— Ai! Para com isso, garota! Tá tá! Me solta! — Shinobu soltou Sanemi que alisou a orelha. —
Que doida! — ele voltou sua atenção para mim. — Ah! Que bom que acordou, Giyuu! Você
passou por uma boa! Pensei que ia morrer!

— Sim… Também achei...

Shinobu deu um tapa na nuca de Sanemi e ameaçou dar um soco nele.


— Já entendi, Shinobu! Que droga! Então, Giyuu, eu sinto muito pela brincadeira…

— Que brincadeira?

— Quando eu disse que tinha beijado a Shinobu… Eu só queria saber como você ia reagir… Foi
mal! Eu nunca a beijei!

— Quê?! Mas vocês não estão namorando?!

— Hahahaha. Como você é lerdo! Quando eu falei que ela tinha ido falar com o namorado, eu
estava falando de você, seu idiota! Era uma piada, mas você é muito tapado para entender!

— O quê?!

— Viu, só?! Eu não estava mentindo! — gritou Shinobu.

— Ah… — fiquei bem envergonhado, pois no fim eu me deixei levar pelas minhas emoções.

— Posso ir agora?! Tá feliz?! — perguntou Sanemi.

— Não estou nada feliz, mas isso basta! Sai daqui! Giyuu precisa descansar!

Sanemi se espreguiçou e disse:

— Se recupera logo aí, parceiro! Precisamos de você nas caçadas! — disse Sanemi, que deu um
soquinho leve no meu ombro sadio.

— Ta certo…

— Fui! — ele acenou para mim e saiu.

Shinobu cruzou os braços e me encarou com uma expressão séria. Ela revirou os olhos, de forma
impaciente e suspirou. Ela relaxou de sua postura inicial e disse:

— Giyuu, eu vou trocar seu curativo agora, tá? Pode incomodar um pouco...

— Tá…

Enquanto Shinobu retirava as ataduras, eu tentava não encará-la. No entanto, foi um pouco
inevitável, pois eu realmente queria olhar para ela. Ela me encarou com seus olhos de tom violeta
e eu criei coragem para dizer o que queria.

— Shinobu…

— O que foi?

— Você está brava?

— Sim! Estou furiosa!

— Desculpa… Ah, mas quer saber? Issoé tudo culpa sua, tá?

— Minha?! Por quê?!

— Você que deixou de falar comigo para andar com aquele… aff…

— Eu não estava andando com ele. Ele que estava atrás de mim, porque queria ajuda com uma
coisa.

— Uma coisa?!

— Ele queria que eu o ajudasse a conquistar uma garota…

— Hã?!

— E ele me perturbou esse tempo todo, mas agora ele descobriu que ela tem namorado.

— E por que ele escolheu você para ajudar?

— Eu sei lá! Ele é doido! Você não percebeu, Giyuu?

— Ah…

— Mas a culpa é sua também! Você nunca se importou comigo! Eu fiquei longe esse tempo todo e
esperei você vir atrás de mim e você nem ligou!

— Tem certeza que eu nunca fui atrás de você?! Quantas vezes você me rejeitou? Quantas vezes
você rejeitou o coitado do Sabito?

— É que… Bem…você tem razão...

— Eu sempre te ajudei em tudo, Shinobu! Sempre fizemos tudo juntos! Sempre fomos uma
família! Você que decidiu ser uma garota irritante e se afastou de mim e do Sabito! Sabe o quanto
ele ficou triste com isso?! Sabe quantas noites ele chorou porque achava que você o odiava? Você
acha mesmo que eu ia aguentar isso por muito tempo e que ia correr eternamente atrás da amizade
de alguém que nem se importa com os meus sentimentos e o do meu irmãozinho?

Os olhos de Shinobu se abriram um pouco e ela abaixou a cabeça em seguida. Ela começou a
soluçar baixinho.

— Mas o pior de tudo isso, é que apesar de você nos tratar assim, mesmo depois de tudo isso, eu…
eu ainda sinto sua falta! — confessei.

— Giyuu… — ela me encarou com uma expressão surpresa, com os olhos cheios de lágrimas.

— Eu sei que você tem novas amigas, que você quer ser parte de um grupo, mas eu realmente
queria que você voltasse a falar com a gente. É muito doloroso quando você me ignora e me
machuca ver o Sabito triste por causa disso… Eu quero que você volte a ser a Shinobu de sempre!
A Shinobu que Sabito e eu amamos. — confessei.

De repente, ela começou a chorar bem alto, se abraçou a mim, meio que se esquecendo do meu
ombro e disso:

— Uaaah! Me desculpa! Me desculpa, Giyuu!

— Aiaiai!

— Quando você chegou todo ferido, eu senti meu peito doer! Eu fiquei com medo de você morrer!
E só a ideia de um mundo sem você me fez ficar muito triste! E eu me senti muito culpada, pois eu
fui uma pessoa horrível com vocês! Eu sou uma péssima pessoa!

Eu senti meu rosto arder e toquei as costas dela com uma das mãos.
— Não seja boba! Claro que eu não vou morrer assim! E você não é má pessoa. Eu conheço você,
Shinobu. Você é uma boa garota. — eu disse.

Shinobu chorou por um bom tempo abraçada a mim. Acho que escolhi a hora errada para tocar no
assunto. Ela disse, em seguida:

— Desculpa! Sou uma péssima amiga! É que… eu queria ser amiga das meninas e elas… me
disseram para não falar com garotos… Me desculpa! Eu só não queria ser rejeitada por elas! Eu
sei que fui burra por aceitar isso!

— Você não é burra, Shinobu! Talvez um pouco boba… — eu disse.

— Giyuu, você pode me perdoar?! Eu quero ser sua amiga de novo! Eu também quero estar sempre
perto do meu irmãozinho Sabito! Eu quero que nós sejamos uma família para sempre! — ela disse.

Eu enxuguei as lágrimas de uma das bochechas dela com uma das mãos.

— Eu te perdôo, Shinobu! Mas você tem que prometer que não vai parar de falar comigo de
repente! E também vai ter que pedir desculpas ao Sabito!

— Está bem! Eu prometo! — ela sorriu e me abraçou, dessa vez sem me machucar.

Mesmo um pouco envergonhado, aproximei minha cabeça com a dela e levei minha mão até as
costas dela. Eu realmente estava com saudades de sentir o cheiro dela.

— Ah! Nossa! Olha o que você faz comigo! Devo estar com o rosto horrível! — ela começou a
enxugar o rosto.

— Não seja boba! Não tem como você ficar feia! — falei sem pensar.

Ela deu uma risadinha e disse:

— Agora fica quietinho, pois vou ajeitar seu curativo!

— Tá bem… — eu disse, desajeitado.

Nesse mesmo momento, Sabito entrou no quarto. Ele chorava muito.

— Maninho, maninho! — ele correu, pulou na cama e se jogou em mim.Será que eu estava
pagando alguma dívida e por isso que todo mundo acertava meu ombro?

— Aaaai!

— Sabito! Cuidado! — gritou Shinobu.

— Uaaaah! Que bom que você não morreu! Sabito ia morrer de tristeza!

— Ei! Ei! Está tudo bem! Seu irmãozão está bem! — eu disse, acariciando seus cabelos.

— Uaaaah!

— Ele vai ficar bem, Sabito.

O garotinho olhou para Shinobu, fez uma careta e virou o rosto para o outro lado.

— Sabito não quer falar com você! Você deixou o Sabito! — ele disse.
— Me desculpa, Sabito. Eu sei que está magoado comigo! — disse Shinobu.

— Sabito tá zangado! Shinobu não ama mais o Sabito!

— Mas eu te amo! Eu te amo muito! — ela disse e começou a chorar.

Ele olhou para ela e começou a soluçar.

— Shinobu ama o Sabito? Ama mesmo?!

— Muito! Me desculpa por ter sido má com você! Eu prometo que nunca mais vou te deixar!

Ele se agarrou a mim e me encarou. Eu acenei positivamente com a cabeça.

— Tá… Mas só se contar uma história para o Sabito dormir como você fazia antes. — ele
determinou.

— Tá bom! Vou escolher a história mais bonita de todas! Posso… te dar um abraço? — disse
Shinobu.

Sabito ficou pensativo, porém se levantou, foi até Shinobu e a abraçou. Ela retribuiu e eu apenas os
admirei. Enfim, estava tudo em paz. Demorou um tempo para que a ferida cicatrizasse, então eu
preferi ficar mais quieto do que de costume. No entanto, eu não estava mais com raiva da Shinobu.
Ela virou minha cuidadora durante todo o tempo que precisei de ajuda. Ela mudava meus
curativos, me fazia companhia nos horários que tinha livre e até queria me dar banho, algo que
certamente não deixei. Yushiro decidiu me ajudar com essa tarefa. Nós voltamos a ser amigos com
o tempo e tudo voltou ao normal no templo. Bem, quase isso.

Alguns meses depois, quando finalmente pude retornar para meus amados treinos, estávamos todos
balançando nossas espadas, quando Mitsuri caiu de repente no chão.

— Mitsuri! Mitsuri o que foi?! — gritava Obanai, preocupado.

— O que aconteceu?! — perguntei ao me aproximar.

— Ela estava treinando comigo, quando simplesmente apagou! — ele disse.

— Vamos levá-la para o quarto! — disse mestre Urodaki.

Obanai a pegou nos braços e ela não demorou a acordar.

— O-Obanai…

— Mitsuri, você está bem?

— Sim… Foi só uma tontura…

— Vou te levar até seu quarto.

— Tá bem.

— Continuem movendo suas espadas! — gritou Urodaki.

Naquele dia, Obanai e ela não apareceram para o jantar. Eu ouvia algumas garotas murmurarem e
aproveitei para perguntar à Shinobu o que estava acontecendo, já que ela acompanhou a mestra
Tamayo no quarto de Mitsuri.
— É que… Bem, eu não sei, mas.. — ela aproximou sua boca do meu ouvido e sussurrou. —
parece que é um bebê!

— O quê?! — eu disse bem alto, o que a fez me bater.

— Shiii! Não seja escandaloso!

— Caramba! Por essa eu não esperava.

— Parece que ela está de três meses! É o tempo que ela parou de sangrar! — contou Shinobu.

— Sa-Sangrar?! Ela está morrendo?!

— Não seja tonto, Giyuu! Para preparar a barriga para os bebês, as mulheres sangram alguns dias
do mês! E quando o bebê chega, a mulher não sangra por nove meses, que é quando o bebê nasce!

— Shinobu, você também… sangra?

— Sim! Eu sou uma garota, ué!

— Vocês garotas são esquisitas! Sangram e não morrem!

— Não seja bobo! — Shinobu deu outro tapa no meu braço. — Será mesmo que vamos ter um
bebezinho aqui? Vai ser tão fofo!

— Não sei! Mas vai ser legal para o Sabito ter um amiguinho.

No dia seguinte, os dois apareceram. Mitsuri parecia feliz, mas Obanai estava com uma feição
preocupada. Eles se juntaram a nós durante o café da manhã. Sabito correu até Mitsuri e a abraçou.

— Mana Mitsuri, você está melhor?! — ele perguntou.

— Sim, estou sim, meu amorzinho! — ela alisou o rosto dele.

— Está tudo bem, Sabito! — Obanai bagunçou os cabelos dele.

— Mitsuri, como você está? O que aconteceu? — perguntou Shinobu.

— Bem, foi apenas um desmaio. Dizem que é normal quando estamos assim. — ela levou a mão
até a barriga.

— Não! Você está mesmo…?!

— Sim! Eu estou esperando um bebê! — ela disse, sorridente.

— Esperando um bebê?! E de onde ele vem? — perguntou Sabito.

Todos ficamos em silêncio, pois não sabíamos como explicar sobre aquilo para Sabito. Obanai
logo encontrou a história perfeita para a ocasião:

— Nós pedimos para uma cegonha trazer, Sabito!

— Ah! Que legal! Maninho, você quer pedir um bebê para ser meu irmãozinho também? Quero
alguém para brincar! — Sabito pediu para mim.

— Quê?! Ainda é um pouco cedo para eu pedir um filho! — eu cocei a cabeça.


— Ah, não! Eu queria um irmãozinho! — resmungou Sabito.

— Quando o bebê chegar, você pode ganhar um irmãozinho ou uma irmãzinha! Você vai ser o
irmão mais velho dele e vocês serão grandes amigos! — disse Mitsuri.

— Legal! Espero que a cedonha chegue logo!

— Cegonha, Sabito! — eu o corrigi.

Kyojuro, que ouvia toda conversa, ficou confuso e falou bem alto:

— O quê?! A Mitsuri vai ter um bebê?!

Todos viraram para olhar para ela e um verdadeiro burburinho começou ao redor.

— Valeu mesmo, Kyo! — Obanai deu um tapa na cabeça dele.

— Fo-foi mal! — disse o garoto.

— Um filho?! Vocês são doidos?! Como vão criar uma criança numa situação dessas?! Nós nem
sabemos para onde vamos quando ficarmos adultos! E se passarem fome?!— disse Sanemi.

Mitsuri ficou apreensiva, porém Obanai a abraçou e beijou sua testa.

— Nós vamos dar um jeito, não se preocupe. — ele disse a ela.

— Eu sei que vai dar tudo certo! — ela sorriu e o abraçou de volta.

Não demorou para que várias garotas viessem abraçá-la, enquanto os rapazes parabenizavam
Obanai ou lhe desejavam boa sorte. A confirmação da gravidez da Mitsuri causou uma grande
agitação entre os jovens do templo. Preocupada que a curiosidade tomasse de conta de tantos
jovens e principalmente com o possível aparecimento de novos bebês, a mestre Tamayo decidiu
que os mais velhos deveriam receber ensinamentos diferenciados, que foram nomeados como
educação para reprodução saudável.

Nesse momento, nós aprendemos sobre o ciclo da vida, as diferenças entre os corpos de homem e
mulher, como os bebês eram feitos… Além disso, recebemos uma grande recomendação da
mestra, ou advertência, para que nós esperássemos pelo casamento antes de pensar em fazer
qualquer coisa. Acho que ela já imaginava que todos estariam bem curiosos sobre o assunto. Pelo
menos, eu estava.

Shinobu e eu acompanhamos a gravidez de Mitsuri bem de perto, já que a mestra sempre estava
muito ocupada e Obanai tinha suas tarefas a cumprir. A cada mês, a barriga dela parecia maior e
maior. Na verdade, eu temia que a barriga dela explodisse em algum momento. Eu nunca havia
visto uma criança vir ao mundo, então tudo era uma novidade para mim e eu achava aquilo
interessante. Assim como eu, outros resolveram auxiliar os dois durante esses meses. Com a ajuda
dos outros garotos, Obanai conseguiu construir uma casa simples para que eles pudessem morar
juntos, enquanto as garotas davam conta das tarefas de Mitsuri, para que ela não se esforçasse.
Obanai continuava com a caça, porém ia com menos frequência que antes, já que ele queria que a
casa ficasse pronta antes da chegada do bebê. A casa foi terminada a tempo, os dois decidiram sair
dos dormitórios e passaram a morar juntos. Nesse meio tempo até o dia que o bebê chegou, Obanai
ainda pediu Mitsuri em casamento no meio do jantar e todos ficaram felizes em vê-los tão alegres.

A barriga de Mitsuri já estava bem avantajada quando a primeira cerimônia de união, o primeiro
casamento do templo finalmente aconteceu. Foi um dia bem bonito! Obanai estava vestido numa
roupa tradicional preta, muito bacana por sinal. Ele estava em uma espécie de altar e aguardava por
Mitsuri na companhia da mestra, que realizaria a cerimônia. Mitsuri apareceu acompanhada de
outras garotas, que espalhavam pétalas de flores ao redor. Ela tinha uma coroa de flores na cabeça e
vestia uma roupa tradicional branca, com algumas flores pintadas nas mangas. Acho que nunca
tinha visto algo como aquilo antes.

Haviam flores ao redor, os monges tocavam seus instrumentos e cantavam alegremente alguns de
seus hinos, e a mestre disse algumas belas palavras para os dois, que falavam de amor e fidelidade.
Obanai e Mitsuri pareciam felizes, já que eles sorriam um para o outro como se estivessem apenas
os dois. O mais engraçado foi ver todas as garotas suspirarem ao presenciar aquela cena, enquanto
os garotos, como Sanemi, pareciam bem entediados. Uma leve brisa balançou os galhos das
árvores e algumas flores caíram. Estávamos no auge da primavera. De repente, eu senti Shinobu
segurar meu braço e quando eu a encarei, ela me encarou com um sorriso bem bonito. Com meu
coração batendo forte dentro do peito, eu apenas desejei ter um dia lindo como aquele para poder
dizer à Shinobu as mesmas palavras de amor que ouvi naquela cerimônia.

Ao fim dos nove meses, o dia do parto chegou e provocou um grande alvoroço no templo. Mestre
Tamayo pediu para que algumas garotas a auxiliassem e Shinobu foi uma das escolhidas. Obanai
também entrou para acompanhar tudo de perto. Ficamos do lado de fora, todos bem preocupados
com o que deveria estar acontecendo. Demorou certo tempo e depois de muitos gritos da mãe,
finalmente ouvimos o choro do bebê. Mestre Tamayo saiu do quarto, com a roupa toda
ensanguentada e disse:

— É um menino! Ele é forte e saudável!

Todos comemoramos, aliviados por tudo ter saído bem. Eu notei que Shinobu saiu com vários
lençóis nas mãos e parecia chorar. Mesmo temendo que ela me mandasse sair de perto, eu decidi
segui-la. Ela foi em direção ao tanque onde lavava-se os panos e enquanto esfregava as roupas, ela
chorava.

— Shinobu, o que foi? — eu perguntei, enquanto me aproximava.

— Giyuu... Não é nada…

— Vai, me conta! — eu me abaixei e alisei os cabelos dela.

— É que… foi tão lindo! Ver uma vida vir ao mundo é tão especial! — ela disse.

— Mesmo?

— Sim! Faz a gente perceber o quanto a vida é preciosa!

— E é por isso que está chorando?! Você é sempre tão sensível, Shinobu. Acho isso fofo em você!
— comentei.

Shinobu me encarou com uma expressão surpresa.

— Você… me acha fofa?

— Sim..?! — respondi com medo de ter dito alguma besteira. Ela deu uma risadinha e disse:

— Você também é fofo, Giyuu…

— Ah… Obrigado, eu acho. — cocei a cabeça, me sentindo um pouco confuso. — Ah, Shinobu!
Me conta! Como o bebê saiu?
— O bebê?! Bem, você quer mesmo saber?

— Sim! Quero sim!

— Giyuu, ele saiu pela vagina dela! da!

— Va-vagina?! E como passa por lá?!

—Ela colocou muita força, saiu sangue, ai saiu a cabeça do bebê, ela colocou ainda mais força, ele
saiu por inteiro e depois até um negócio esquisito! É até um pouco nojento, porém o bebê é a coisa
mais linda! Depois vai lá olhar ele!

Acho que fiquei um bom tempo horrorizado com aquela descoberta. Mulheres realmente eram
seres estranhos.

Sabito foi um dos que ficou mais feliz pela chegada do novo bebê, apesar de ter se chateado por
não ter visto a cegonha passar. Ele praticamente virou o assistente de Mitsuri e Obanai. Quando ele
saía para caçar, Sabito fazia companhia para ela e lhe buscava de tudo: comida, água, roupas, até
mesmo quando ela não precisava de nada disso. Ele adorava cantar para ver o bebê dormir, assim
como Yushiro cantou para ele quando ele era pequeno e brincava com o pequeno nos momentos
que ele estava acordado. Acho que Sabito realmente havia assumido o papel de irmão mais velho.

Aos poucos, a vida voltou à normalidade. Voltei aos treinos com a mesma intensidade de sempre,
Shinobu continuou a estudar sobre ervas e Sabito permanecia sendo o garoto curioso de sempre. Já
que Obanai havia se tornado pai de família, eu passei a me aventurar apenas com Kyojuro e
Sanemi. Ainda exploramos algumas cachoeiras, lagoas e caçamos muitos animais naquela região.
Por fim, minha inimizade com Sanemi acabou e nos tornamos bons amigos.

— Tomioka, para onde quer ir quando fizer 18 anos? — perguntou Sanemi.

— Não sei. Qualquer lugar parece bom! E você?

— Eu quero ir para bem longe! Quero voltar para meu reino. Espero encontrar alguém da minha
família vivo. — ele disse.

— Ah…

— Pois eu quero me juntar a um grupo de mercadores e fazer muito dinheiro! Quero ter várias
garotas me alisando! — ele disse.

— Hahahaha. Você é mesmo sem jeito! — comentei.

— Vocês não sentem falta de suas famílias? — perguntou Sanemi.

— Meu povo deve estar espalhado por Ho, mas não tenho vontade de voltar para lá. Eu tinha que
trabalhar na lavroura e era cansativo. — contou Kyojuro.

— Sabito é a única família de sangue que me restou depois da guerra. Eu não tenho mais a quem
procurar… — contei.

— Sério? Mas você gostaria de reencontrar alguém se pudesse? — questionou Sanemi.

— Eu queria ter conhecido minha mãe… — disse a ele.

Ficamos em silêncio por um tempo, enquanto admirávamos o lago. Por um breve momento, tive
esperança de que pelo menos Makomo tivesse sobrevivido. No entanto, era algo muito difícil de
acreditar. Havia se passado muito tempo e eu não tinha qualquer sinal dela. Reencontrá-la seria
mesmo um grande milagre.

— Chega desse assunto triste! Vamos voltar para casa! — Sanemi levantou da beira do lago.

— Que tal uma corrida?! Quem perder lava a roupa dos outros por uma semana! — disse Kyojuro.

— Eu topo! Já! — Saí em disparada.

— Ei! Isso é roubo, Giyuu! — gritou Sanemi.

— Voltem aqui!! — gritou Kyojuro.

Mais um período de tranquilidade se estabeleceu em Hashira, e eu apenas esperava que aquela paz
durasse o máximo possível.
Capítulo VII

Depois de dois anos, o templo tornou-se o centro de um vilarejo. Com a estabilidade entre os reinos
enfim se restabelecendo, mais pessoas vieram viver pelos arredores. Em sua maioria, mercadores e
vendedores, que serviam aos viajantes que passavam com frequência naquela região. Assim, a
vigilância ao redor da entrada e saída do templo foi reforçada, por questão de segurança. Aos
poucos, alguns dos jovens viraram adultos e resolveram partir em busca de uma vida nova. Nesse
meio tempo, meu corpo enfim mudou, eu fiquei mais alto, mais forte, minha voz engrossou e eu
passei a entender os dilemas que um garoto de dezesseis anos passava. Não era fácil ser um
adolescente e manter as emoções sob controle.

Eu permaneci nos meus treinos de artes marciais e com a espada, já que era algo que eu tinha
grande aptidão. Eu sempre treinava no jardim, por ter mais espaço, e aproveitava o descanso dos
treinos para observar o que acontecia ao meu redor. Havia uma árvore bem antiga e de um caule
grosso, que sempre ficava bem florida em uma específica época do ano no centro do templo. Ela
dava flores rosadas e cheirosas. Quando o vento batia em seus galhos, as pétalas se soltavam no ar
e faziam uma majestosa dança entre as outras árvores. Aquela árvore era o recanto da Shinobu.

Ela também havia amadurecido e estava diferente. Tinha os cabelos longos e apesar de não ter
crescido muito, seu corpo estava mudado. Por alguma razão, ela estava mais atraente que o normal.
Nós sempre andávamos juntos, acompanhados por Sabito. Nós conversávamos sobre várias coisas,
nos divertíamos nas horas vagas e nos ajudávamos nas tarefas do templo. Nós não conseguíamos
mais nos separar. Shinobu passou a usar uma espécie de caderno, que ela nunca me deixava ler.
Ela me disse que aquilo se chamava diário e que era algo confidencial. Eu já tinha aprendido que
garotas adoravam ter segredinhos e não a perturbava muito com isso.

Por alguma razão, naquele dia, ela havia sumido na hora do café da manhã. Eu não a havia visto
em lugar algum. Eu estava preocupado e resolvi procurá-la. Por sorte, não demorei a encontrá-la,
encolhida embaixo da árvore.

— Shinobu! Até que enfim te achei! Por que está escondida aqui? — perguntei, enquanto me
aproximava.

— Giyuu, posso ficar sozinha um pouco? — ela disse, num tom irritado.

— Ué... O que foi que fiz?! — eu perguntei, confuso.

— Nada! Só… preciso de espaço! — ela disse, mantendo a cabeça enfiada entre os braços.

— Tch... Nada disso! Não vou deixar você aqui sozinha! E se algum espertinho tentar se
aproveitar? Vem, vamos logo tomar café da manhã! — eu disse e estendi a mão para ela.

— Não vou! Eu quero ficar aqui! Eu não quero ficar no meio daquelas meninas! Vai, Giyuu, pode
ir! Eu vou ficar aqui! — disse Shinobu.

— Pois, se é assim, eu vou ficar aqui também, ora. — Eu me joguei no chão e me deitei ao seu
lado, colocando as mãos atrás da cabeça.

— Agrrr! Garotinho teimoso! — ela gritou, virou o rosto e cruzou os braços. Notei vários papéis
vacilando e os peguei sem ela notar. Comecei a lê-los em voz alta:

— Meu amigo diário, hoje eu senti meu coração bater mais forte. Eu estou um pouco confusa com
meus sentimentos. Ele deveria ser como um irmão para mim, mas eu simplesmente não me
imagino em um mundo em que ele não esteja e... — vi estrelas piscando por todos os lados. —
Aiai! Que doida! Quer afundar minha cabeça? — eu reclamei, deslizando a mão no centro da
cabeça.

— Aaaah! Giyuu! Quem deixou você ler!? Me dá isso, agora! — ela me tomou os papéis e notei
que o rosto dela estava vermelho.

— E precisava tanta violência?!

— É para você aprender a não mexer no que não é seu! — disse Shinobu, furiosa.

— Ora! Se não quer que leiam, faça uma trava. Simples assim. — eu disse, ainda indignado.

— Uma trava... Ah... Boa ideia! Assim, ninguém vai mais ler e rir de mim... — disse Shinobu.

— Ah... Era por isso que estava chateada?! Quem foi que te perturbou?! Eu vou já tomar
satisfação!

— Não! Não precisa perder tempo com isso! Na verdade, eu estou mais triste por outra razão... —
disse Shinobu.

— Se você diz… E qual o problema, Shinobu?

— É que... eu sinto falta da minha mãe... — ela disse, entristecida.

— Ah... Eu nem conheci a minha, então não sei como é sentir falta dela… Desculpa não poder te
ajudar nisso.

— Eu entendo… Sabe, Giyuu, estou crescendo e tem coisas que eu não entendo. Eu tenho certeza
que ela me ajudaria com isso tudo! Me daria conselhos, me ajudaria a costurar roupas novas, me
falaria sobre ser mulher, daria dicas sobre rapazes... E eu simplesmente não tenho nada disso! A
guerra me tirou a chance de ter uma vida normal e isso me deixa muito triste! Você me entende?
— ela me perguntou. Por acaso, eu fiquei preso em outro pedaço da conversa.

— Dica sobre rapazes? O que você quer saber? Eu sou um rapaz, ué. É só me perguntar... Dãa...

— Hahahaha. — Ela começou a dar uma gargalhada alta.

— Qual a graça?

— Giyuu, você não saberia me tirar as dúvidas que eu tenho. Disso eu tenho certeza! No entanto,
obrigada por me fazer rir! — ela disse.

— Se tem tantas dúvidas assim, porque não conversa com a mestra Tamayo? Aquela velha deve
saber de alguma coisa, além de fazer aquela cara de paisagem...

— Giyuu! — disse Shinobu, me repreendendo.

— O que é? Eu só disse a verdade!

— Você não tem jeito! Na verdade, é até uma boa ideia! Obrigada de novo! — e ela me deu um
beijo no rosto. — Você é o melhor...

— Humpf... Claro que sou. — eu disse, todo orgulhoso.

De repente, ela sorriu e se jogou nas minhas pernas.


— Ei, o que tá fazendo? — perguntei, surpreso.

— Giyuu, alisa meus cabelos? Minha mãe costumava fazer isso... — ela disse, enquanto se
acomodava de maneira confortável.

— Hã?! Ah, Shinobu, fala sério! — eu estava envergonhado.

— Por favorzinho, Giyuu! — e ela me fez aquela sua cara pidona irresistível.

— Tá,tá! Fica quieta... — e eu lentamente comecei a deslizar a mão nos seus finos fios de cabelo.
Eles eram macios e sedosos.

Quando dei por mim, ela dormia tranquilamente abraçada com os papéis. O vento sacudiu os
galhos e as pétalas caíram. Se pudesse descrever a palavra paz, aquele seria o momento ideal.
Minutos depois, eu a acompanhei em seu sono e adormeci com ela em meu colo. Despertei com os
gritos escandalosos de Mitsuri e eu já sabia o que poderia ser. Sabito havia se tornado um garoto de
quase seis anos e agora tinha mais energia do que eu poderia controlar. Além disso, ele tinha uma
forma peculiar de chamar a atenção das pessoas.

— Sai daqui com esse bicho! Minori não pode brincar com isso!— gritava Mitsuri.

— Mas eu peguei para ele ver! — ele dizia, quando me aproximei.

— O que está acontecendo?!

— Mano! Olha, eu peguei esse bicho bem maneiro!

— Sabito, isso é um marimbondo! Solta isso já! — eu tentei evitar o pior, porém foi tarde demais.
O inseto o ferroou e minutos depois de muito choro, finalmente pude controlá-lo.

— Maninho, isso doeu muito! — ele choramingava.

— Eu já não disse para você não pegar bichos no mato?!

— É que eu achei que o Minori iria gostar… — ele disse.

— Sabito, eu já te expliquei que o Minori é um bebê ainda! Ele não sabe o que é certo ou errado!

— Então, eu vou dar presentes para a mana! Ela sim me entende! — ele pulou do meu colo e
correu até algumas borboletas que voavam próximo de algumas flores vermelhas.

— Lá vamos nós de novo…

Eu o fiquei observando, para ver se ele não acabaria se machucando com algum outro inseto com
ferrão. Ele pegou uma das borboletas dentro das mãos e a prendeu, sem machucá-la. Ele correu até
Shinobu, que vinha em nossa direção.

— Shinobu! Olha o que achei! — gritou Sabito.

— O que foi, Sabito?

— Eu... peguei algo para você, olha! – disse Sabito, que abriu as mãos, revelando a borboleta, que
voou lindamente em direção à ela.

— Ah! Que linda! — ela disse e sorriu.


— Ei! Não deixa ela ir embora! — gritou Sabito, que tentou pegar a borboleta novamente, porém
não a alcançou.

— Pode deixá-la ir, Sabito. — disse Shinobu.

— Mas era para você… — disse Sabito, triste.

— Eu sei! Eu agradeço muito, mas acho que ela vai ser mais feliz sendo livre na natureza! — ela
notou que ele ficou com os olhos cheios de lágrimas. — Pronto, pronto! Não precisa chorar! —
ela disse, alisando os cabelos dele. — Eu fiquei feliz de ter recebido seu presente, tá?

— Se fosse um presente do mano você teria guardado com você! — ele resmungou.

— Sabito, não é isso, é que… — ela dizia, quando ele a interrompeu.

— Mas é isso mesmo! A mana só quer saber do irmãozão! Escreve só o nome dele no caderno de
segredos e desenha um monte de coração!! A mana não liga para o Sabito!

— Sabito! — ela cobriu o rosto, envergonhada.

Fiquei com o rosto vermelho e desviei o olhar para o lado. Desde que nós crescemos um pouco, o
clima entre nós havia ficado estranho. Ficar ao lado dela não era tão simples como antes. Eu sentia
meu coração acelerar, eu ficava suado e também… havia algo estranho acontecendo com meu
corpo. Eu não sabia e nem entendia qual era o efeito que a proximidade de Shinobu estava
causando em mim.

— Senhor Sabito, volte já para cá! Qual a parte de que estamos em aula você ainda não entendeu,
rapazinho? — disse Yushiro, que veio buscá-lo.

— Ah! É! A aula! Sim, mestre Yushiro! Estou indo! Até mais, irmãzona. — disse Sabito, que
acenou para Shinobu e correu para segurar a mão de Yushiro. Os dois voltaram para a árvore.

Mesmo desconcertado, eu queria ter certeza de que aquilo não era fruto da imaginação do Sabito.
Além disso, provocar Shinobu era muito divertido.

— Então… é isso mesmo? Corações?

— Então o quê? Isso o quê? Não sei de nada! — ela se afastou um pouco e não me encarou. —
Vem, vamos fazer nossas tarefas.

— Tá… — eu ficaria apenas de incertezas, afinal.

Shinobu cresceu antes de mim. Quando notei, não só seu corpo estava diferente, como sua
personalidade parecia mais séria que antes. Eu comentei uma vez que os seios dela haviam
crescido e desde então ela não quis mais mergulhar comigo e Sabito tornou-se meu novo colega de
mergulho. Apesar de muito esperto, Sabito ainda era só o garotinho bobo, que engolia água ao
mergulhar, na maioria das vezes. No entanto, ele virou o meu confidente para as coisas que eu não
conseguia mais contar para Shinobu. Se bem que ele era um grande linguarudo e não era lá o mais
confiável para guardar segredos. No fim daquele dia, ele me acompanhou mais uma vez até o lago
e ficamos aproveitando a tranquilidade do lugar. Ao passo que eu estava parcialmente mergulhado,
Sabito resolveu sentar ao meu lado, depois de pular e sair da água várias vezes, e perguntou:

— Irmãzona está zangada com você, mano? — perguntou Sabito, enquanto tentava boiar na água.

— Hã? Não! Por quê?


— Porque ela deixou de vir ao lago com você...

— Não, Sabito. Ela só acha que não pode mais vir ao lago comigo. Coisas de garotas!

— Garotas são bobonas! — disse Sabito.

— É... Talvez, você tenha razão...

— Mano, você ama a Shinobu?

— O quê?! — eu quase me afoguei com isso. — De onde veio essa pergunta?

— Da minha cabeça? — ele disse.

— E você sabe o que é amor?

— Yushiro disse que amor é quando a pessoa é tão especial para você que o mundo ficaria triste
sem ela! — ele disse.

— Bem, se é assim... Shinobu é muito especial para mim… — eu respondi, envergonhado.

— Então, você a ama! — ele concluiu.

Escutei as palavras dele e senti meu coração bater mais rápido. Eu ainda não entendia coisas sobre
o amor, mas Sabito me despertou para algo que eu não tinha parado para pensar. Talvez todas as
esquisitices do meu corpo fossem por causa disso. Talvez eu realmente a amasse.

Com o passar dos meses, eu fiquei bem mais alto e meu corpo esbanjava mais músculos definidos,
como consequência dos treinos de artes marciais. Eu sentia que tanto meu corpo, quanto meu órgão
íntimo estavam mais sensíveis, eu tinha certos desejos estranhos e eu tinha pensamentos indecentes
com mais frequência. Imaginei que aquilo tivesse relação com a tal da puberdade. Quando meu
corpo finalmente mudou e após as aulas sobre reprodução saudável, eu entendi o porquê
da Shinobu e eu não podermos mais mergulharmos juntos sem roupa. No fundo, eu esperava que
Shinobu me aceitasse como seu companheiro um dia. Eu queria ser aquele a quem ela entregaria
seu coração. No entanto, eu ainda não sabia se diria isso a ela, pois temia que ela ficasse com raiva
e me desse um dos seus socos certeiros. Isso não me machucava muito, pois ela era fraquinha, mas
a mão dela ficava doendo e eu não queria que ela reclamasse a minha culpa era minha.

Alguns meses depois, no meu décimo sétimo aniversário, Yushiro e meus amigos fizeram uma
festa para mim. Não tive nada de esplendoroso, mas foi divertido ouvir música e comer bastante.
Shinobu até me parabenizou, porém ela ficou um pouco calada naquela noite. Eu senti uma certa
estranheza com aquilo, mas apenas deixei para lá. Eu apenas queria que aquele dia fosse
tranquilo. Depois da comemoração, levei Sabito até sua cama e fui para o lado de fora. Era uma
noite estrelada de lua cheia e eu senti vontade de aproveitar algum tempo sozinho. Fui até o lago e
na ausência de qualquer sinal de vida ao redor, me permiti ficar bem à vontade, e fui nadar. Eu
decidi gastar um pouco de energia, para tentar controlar meus pensamentos. Depois de mergulhar
algumas vezes, decidi flutuar de forma distraída, quando ouvi o som de alguém mergulhando na
água. Olhei para os lados e não avistei ninguém. De repente, meu corpo foi puxado para baixo. Me
debati um pouco assustado e subi de novo para a superfície.

— Hahahaha. Te peguei! — era a voz da Shinobu, rindo atrás de mim.

— Shinobu! Está maluca?! — gritei, enraivecido e a encarei.

— Ora, como você é medroso! Não acredito que você estava com medo de uma dama tão linda
quanto eu! — ela disse, se gabando.

— Humpf... E o que faz aqui? Eu achei que tomar banho no lago era coisa de criança...

— E claro que é, mas hoje é o seu aniversário e eu sei o quanto você gosta desse lugar. Eu vim
porque… eu queria ficar com você... — ela disse, se aproximando.

— Você queria... ficar comigo? — eu me aproximei dela e a vi desviar o olhar.

— Sim, eu... — e eu a afundei, como forma de me vingar e logo a deixei subir.

— Hahahaha.

— Giyuuuu! — ela soltou um grito e eu saí nadando para me livrar da fúria dela. Ela nadou atrás
de mim, tentou me dar uns tapas e eu segurei as mãos dela e a puxei para encostá-la em mim, a
prendendo em meus braços. — Agr... Seu moleque...

— Hahahaha. Te peguei, Shinobuzinha!

— Bobo! — nós ficamos rindo um pouco e nos encaramos. — Feliz aniversário, Giyuu! Que você
tenha uma vida muito feliz! — Shinobu me abraçou, eu correspondi e eu notei que estávamos os
dois sem roupa.

— Shi-Shinobu! Onde está sua roupa?! — eu toquei nas costas dela.

— Eu não queria molhar meu vestido novo! — ela logo notou que eu também não estava vestido.
— E cadê as suas?! Despudorado!

— Eu deixei na margem! Eu não estava esperando companhia!

— Ah! Que vergonha! — ela me abraçou com mais força e desviou seu olhar do meu.

E de repente, eu senti sua pele tocar a minha. Minhas mãos deslizaram em suas costas e eu senti
seus dedos deslizarem pelas minhas. O toque suave das mãos dela me trouxeram uma sensação
maravilhosa de conforto e carinho, mas me provocou um intenso arrepio. Eu a apertei com mais
força e com uma das mãos acariciei seus cabelos. Seus cabelos molhados brilhavam à luz da lua.
Shinobu levantou a cabeça e me encarou. Seus olhos eram bonitos e os lábios dela eram
incrivelmente chamativos. Com meu coração quase pulando no peito, aproximei meu rosto do dela
e senti a respiração quente dela tocar no meu rosto. Ainda um pouco desnorteado, eu beijei sua
bochecha.

— Eu senti falta do seu abraço, Shinobu. Por que você estava tão distante de mim hoje?

— Giyuu… É que… tem tanto que eu queria te dizer, mas eu não sabia como… e eu fico nervosa
perto de você…

— Eu sei, Shinobu. Eu me sinto nervoso quando você está por perto. Mesmo assim, eu quero que
eu fique ao meu lado! Então, você pode dizer qualquer coisa que eu vou te ouvir!

— É que… eu tenho que… eu quero dizer que…

Senti a respiração dela bater no meu rosto e a ponta do nariz dela tocar a minha. Nossos olhos se
encontraram e meu coração acelerou.

— Giyuu… — ela levou as mãos até meu rosto. — Eu acho que… te mostrar será melhor.
Eu acho que o céu soltou faíscas quando eu notei que meus lábios estavam grudados com os dela.
Aquilo foi inesperado, porém aquela sensação foi incrível. Nosso primeiro beijo, em uma bela
noite enluarada. E quando terminamos aquilo, eu encarei Shinobu e meu coração palpitou quando
aquelas palavras saíram de seus lábios.

— Eu te amo, Giyuu.

Fiquei abobalhado por alguns instantes, o que fez Shinobu ficar incomodada.

— Bem, talvez você não sinta o mesmo…

Sem conseguir expressar com palavras, foi minha vez de apoiar seu rosto com minhas mãos e
beijá-la. Shinobu se abraçou comigo e eu fiz o mesmo. Quando nossos lábios se separaram
novamente, finalmente eu consegui dizer o que eu queria há muito tempo.

— Eu também te amo, Shinobu.

Ela não disse nada. Apenas me beijou mais uma vez. Na verdade, nos beijamos várias vezes,
nossos corpos estavam colados, nossas respirações em sincronia, porém nesse meio tempo, surgiu
um probleminha: as forças da natureza começaram a agir e Shinobu percebeu.

— O que é... isso? — ela disse e se afastou assustada.

— É que… ele fica assim, às vezes... — eu disse, envergonhado.

— Então, é isso que acontece quando um homem gosta de uma mulher? Que nem disseram na
aula? — disse Shinobu, com um sorriso tímido no rosto.

— Eu acho que sim, porque aconteceu quando você me beijou...

— E como... isso passa? — ela perguntou. Eu já tinha feito essa pergunta aos meninos mais
velhos, entretanto como eu iria explicar isso a ela sem parecer um verdadeiro pervertido?

— Digamos que... Bem, um dia eu te conto...

— Nós meninas não temos isso. Nós apenas ficamos úmidas... — ela disse, desviando o olhar.

— Úmidas?!Garotas são estranhas...

— Vocês garotos que são! Quem já viu! Sair crescendo desgovernado?! — ela disse, zangada.

— Ué... É a natureza...

Shinobu ficou pensativa um pouco e deu uma risadinha de vergonha.

— O que foi?

— Isso é muito estranho! – ela perguntou

— Hã?!

— Falar sobre essas coisas com você! — ela disse.

— Nos livros têm isso...

— Eu sei, seu tonto... — ela disse, revirando os olhos. — Mas não é a mesma coisa!
— Bem, desenhos são apenas desenhos no fim das contas!

Shinobu me encarou e cobriu os lábios com a mão.

— Escuta, Giyuu, você, por acaso, já viu o corpo de uma mulher de verdade?

— Não! Eu nunca vi!

— Ainda bem! — ela disse, aliviada.

— Ainda bem? Por quê?!

— Porque eu ia ficar triste se você tocasse em outra garota… — ela disse e deitou a cabeça no meu
ombro.

— E você? Já viu… o de um homem de perto?

— Não…

— Isso me deixa feliz. Não quero que toque em outro garoto também. — eu a abracei. — Bem, se
você quiser, eu deixo você ver o meu, Shinobu…

— O quê?! Giyuu! Não seja um sem vergonha! — ela resmungou.

— Ué?! Você que começou!

— Não é isso! É que… eu quero ser a única garota para você! Em todos os sentidos! Giyuu,
promete! Promete que eu vou ser a única?!

— Você é a única para mim, Shinobu. Eu… também posso ser o único garoto para você?

— Você sempre foi o único, Giyuu.

Nós nos beijamos mais uma vez, de forma demorada. Claramente, a natureza estava enlouquecida.

— Giyuu, isso está me cutucando…

— Desculpa… Olha, você não quer sair antes? Eu vou tentar acalmar as coisas aqui! — ele disse.

— Eu posso ver?! — ela perguntou.

— Shinobu?! — eu fiquei bastante surpreso. — Claro que não!

—Aff! Eu só estou curiosa!

— Depois eu te mostro! Anda! Sai primeiro e não olha para trás!

— Tá bom! Também não vale me olhar saindo do lago! — ela determinou.

— Pode deixar!

Eu meio que não aguentei e a espiei saindo do lago. O corpo dela era perfeito! A pele clara dela
ficou ainda mais bonita com o brilho da lua iluminando as gotas de água em seu corpo. Claro, eu
tive que focar em relaxar, senão ficaria ali por um bom tempo. Depois de alguns minutos, eu sai da
água, me cobrindo como dava e me vesti, enquanto ela estava de costas.

— Eu não entendi! Você só ficou ali parado esse tempo todo!


— Eu estava pensando em algo feio. Yushiro ensinou isso para a gente.

— E em que você pensou?! — ela perguntou.

— No Sanemi de vestido!

Nós caímos na gargalhada, nos vestimos e quando o frio veio, resolvemos voltar para o templo.
Depois do nosso primeiro beijo, Shinobu e eu começamos a nos encontrar com mais frequência nas
noites de lua cheia. Era difícil ter um tempo sozinhos, já que o templo estava ainda mais cheio,
então aquele tornou-se nosso lugar preferido. Nós conversávamos sobre nosso dia, nos beijávamos
e ficávamos abraçados, enquanto deixávamos o tempo passar. Eu me sentia cada dia mais ligado a
ela.

Uma certa noite, o céu parecia mais cheio de estrelas que o normal. Caminhávamos de mãos dadas
em direção ao lago, enquanto conversávamos sobre as coisas que haviam acontecido naquele dia.

— Sério, Giyuu, Sabito está terrível! Ele jogou uma carcaça de pombo na cama do Minori e ainda
jogou algumas flores por cima, dizendo que eles iam fazer o enterro do animal! O quarto ficou
muito fedido! Ele ainda deixou um bilhete, que estava escrito errado dizendo que era a mensagem
para o falecido! Você tem que conversar com ele! — disse Shinobu, em um tom preocupado.

— Ele fez o que?! Hahahaha.

— E você fica rindo?! Giyuu! Isso é sério! Ele está passando dos limites!

— Ele é só um garoto, Shinobu…

— Isso não quer dizer que pode fazer o que bem quiser!

De repente, ouvi uma agitação entre os arbustos, puxei Shinobu para trás e peguei minha faca.

— Giyuu, o que foi?

— Shii, pode ser um animal selvagem.

Foi quando algo caiu bem na nossa frente. Shinobu gritou e se agarrou a mim.

— Ajuda… ajuda… — uma voz dizia no chão.

— É uma garota! — disse Shinobu.

— Nós temos que ajudá-la! — me abaixei para verificar o estado dela. — Ei, consegue me ouvir?

— Vamos levá-la conosco! Assim posso tentar ajudá-la. — sugeriu Shinobu.

Coloquei a garota em minhas costas e nós voltamos para o templo. Fomos direto para a enfermaria.
Eu a deitei na cama e logo notei um brilho prateado em seu pescoço.

— Giyuu, chama a mestra, por favor! Eu vou ver o que posso fazer. — disse Shinobu.

Corri até onde Tamayo estava e ela não demorou a chegar na enfermaria. Resolvi deixá-las à
vontade. Algum tempo depois, Shinobu saiu e me deixou a par da situação.

— Ela tinha alguns cortes nos braços e um bem grande nas costas. Fizemos os curativos e ela deve
acordar amanhã. Ela deu sorte de ter nos encontrado, senão poderia ter morrido.
— Que sorte a dela, então!

— Poxa, nosso passeio teve que ser cancelado! — Shinobu fez beicinho.

— Não tem problema! Podemos ir amanhã! — eu a abracei e ela retribuiu. Nós unimos nossos
lábios e esquecemos que não estávamos sozinhos.

— Caham! Shinobu, Giyuu!

— Yu-Yushiro!

— Vejo que… os dois estão bem próximos…

— É que… — ficamos desajeitados.

— Talvez seja hora de termos uma conversa. Me acompanhem.— ele disse.

— Sim…

"Ah, droga! Lá vem o sermão!"

Nós fomos até um dos cantos do jardim e ele nos fez sentar na sua frente.

— Bem, desde quando vocês estão… assim?

— Assim… como?

— Assim, tão íntimos...

— Faz pouco tempo… — disse Shinobu.

— Hum… Entendo… Certo, como sabem, o amor é um compromisso muito importante e a partir
do momento que você decide se unir a alguém, você deve lembrar que assume uma grande
responsabilidade. Além disso, vocês lembram das consequências de trocar fluidos corporais de
maneira displicente, certo?

— Sim…

— Ótimo! Espero que tenham o bom senso de esperar até após o casamento para consumar a
relação de vocês! — ele complementou.

— Sim. Nós já ouvimos isso durante as aulas… — disse Shinobu.

— Giyuu, eu sei das urgências de um corpo de um homem, porém cabe a você preservar a
dignidade de uma dama da Shinobu. Espero que se comporte!

— Pode deixar…

— Shinobu, também caia na lábia do Giyuu! Homens fazem de tudo para enganar donzelas
inocentes!

"Que tipo de pessoa ele pensa que eu sou?!"

— Não se preocupe! Está tudo sobre controle! Eu não vou deixar que ele me engane! — ela disse.

— Ei, que história é essa?!


— É isso mesmo! Não adianta bancar o espertinho comigo! — ela disse e eu cruzei os braços,
incrédulo do que estava ouvindo.

Depois de quase duas horas de sermão sobre responsabilidade, trabalho, compromisso, casamento,
filhos e mais, ele finalmente nos deixou ir para nossos quartos.

— Aff… Quanta ladainha! Só por causa de um beijo!

— Mas o que ele disse é importante! Tem relação com o nosso futuro! Não podemos nos
precipitar! — falou Shinobu.

— Eu sei, mas… eu acho que é um pouco de exagero!

— São as normas, Giyuu. E… por que você disse para ele que íamos nos casar quando tivéssemos
18 anos?

— Porque nós vamos!

— Eu não concordei com isso!

— Então, você não quer se casar comigo?

— Sim, mas…

— Então, está combinado!

— Giyuu, não banca o espertinho! — ela me estapeou no ombro. — Só me caso com você se me
pedir de uma forma especial!

— Forma especial?! Como?!

— Descubra você mesmo! E olha, hora de dormir!

— Ah, tá cedo! Vamos conversar mais um pouco!

— Giyuu, você quer arranjar mais problemas?! É melhor eu ir!

— E o meu beijo?!

— Que garotinho mais teimoso! Vamos nos encrencar e … — não a deixei terminar a frase, a
puxei pela cintura e a beijei.

— Boa noite, Shinobu!

— Bo-boa noite! — ela disse, desconcertada.

Eu pretendia manter essa promessa de me casar com ela, porém não tinha certeza de que
conseguiria esperar até esse dia para fazer amor com ela, já que estava cada vez mais difícil conter
meus desejos.

Assim que o dia nasceu, eu decidi verificar como estava a mulher que havíamos socorrido no dia
anterior. Eu bati na porta, porém ninguém me respondeu e decidi entrar no quarto. A mulher estava
na cama mais próxima da janela. Decidi caminhar em sua direção e verificar como ela estava.
Assim que me aproximei, vi algo brilhar na mesa que estava ao lado dela. Fui até aquele material,
o peguei e quando eu o olhei de perto, eu fiquei em choque.
— Mas, como… Isso é… Será possível se… ela é… — Quando olhei para o lado, a mulher me
encarava de forma espantada. Aquela feição, aqueles olhos, não tinha como eu estar errado. —
Não… acredito… É você… É você mesmo?! Makomo?!
Capítulo IX

Aquele colar apenas me confirmou o que eu acreditava ser improvável. O pingente no formato de
uma flor, com uma bela pedra vermelha no centro, havia sido um presente do meu pai em
comemoração aos dez anos dela. Ao encarar aqueles olhos tão familiares, perdi o controle do meu
corpo e comecei a me tremer um pouco.

— Ma-Makomo?

— Você… me conhece? Como? — ela questionou e me encarou, surpresa.

— Sou eu! O Giyuu!

— Giyuu…? — os olhos dela se arregalaram. — Não pode ser… — ela se sentou na cama
devagar.

— Ca-calma! Vai se machucar! — eu me abaixei um pouco.

Ela levou a mão até meu rosto e o alisou, enquanto seus olhos encheram-se de lágrimas.

— Eu morri? É isso? — ela sussurrou.

— Não! Você está viva! Nós estamos vivos! — eu disse e toquei no dorso de sua mão.

— Ah… Giyuu! — ela me abraçou e eu ouvi seus soluços. — Isso é um milagre!

Eu mal pude conter a emoção que senti ao encontrá-la e a abracei. Um pedaço do meu passado
estava de volta. Um misto de emoções tomou conta de mim.

— Giyuu, Giyuu! Eu mal posso acreditar!

— Nem eu acredito…

— Como? Como sobreviveu? Eu pensei que havia perdido Sabito e você para sempre! — ela dizia,
enquanto as lágrimas desciam por suas bochechas.

— Eu dei sorte… e terminei aqui nesse lugar.

— Eu… Aiaiai! — ela gemeu.

— Você precisa descansar. Deite-se. — eu a ajudei e mantemos nossas mãos unidas. — Podemos
conversar depois que você se recuperar.

— Tudo bem...

De repente, eu ouvi a porta abrir e após alguns instantes, ouvi a voz de Shinobu

— Giyuu? O que está fazendo aqui?

Eu me afastei um pouco de Makomo e me virei para encarar Shinobu, que tinha as mãos na cintura
e um olhar confuso.

— Shinobu! Vem aqui, por favor! — eu disse.

Ela se aproximou de mim e segurei na sua mão.


— O que foi, Giyuu?

— Lembra que eu te contei sobre a minha prima, a irmã mais velha do Sabito?

— Sim! Eu lembro!

— Então, aqui está ela! — direcionei a mão para a cama.

— O quê?! É sério?

— Sim!

— Muito prazer! Eu bem que queria estar em condições de lhe cumprimentar agora. Me chamo
Makomo.

— Eu me chamo Shinobu. Muito prazer. — as duas deram as mãos.

— Você que cuidou das minhas feridas ontem?

— Sim, isso mesmo!

— Muito obrigada! Devo minha vida à você! — agradeceu Makomo.

— Ah, que isso! Fiz apenas o que era preciso! — disse Shinobu.

— A Shinobu é muito boa com curativos. — eu disse e a envolvi com meu braço.

Makomo nos observou e sorriu.

— Você está mesmo crescido, Giyuu! Pelo visto, você até encontrou uma boa moça!

Shinobu e eu ficamos um pouco envergonhados.

— Sim. É verdade!

— Que maravilha! Aiaiai. — Makomo levou a mão até a ferida.

— Oh! Você deveria estar descansando! — disse Shinobu, que a ajeitou na cama.

— É verdade! Descanse! Eu venho mais tarde. — disse Giyuu.

— Tudo bem. Acho que preciso mesmo dormir um pouco…

— Vou lhe dar um xarope agora. — disse Shinobu.

Saí do quarto, ainda um pouco desnorteado e não demorou para que Shinobu logo aparecer.

— Nossa, Giyuu! Parece mentira! A sua prima está viva!

— Sim! Isso é muito estranho! Parece que estou sonhando!

— Ah! O Sabito! Como será que ele vai reagir quando souber da irmã?

— Eu não sei! Espero que ele não fique muito assustado!

Um pouco mais tarde, eu pedi para que Sabito me acompanhasse até a enfermaria.
— E o que foi? — ele perguntou.

— Eu preciso te apresentar para alguém, Sabito. Essa pessoa quer muito te ver. — expliquei.

— Quer ver o Sabito?! Quem?

— É uma pessoa da nossa família! Logo você saberá.

— Tá!

Entramos na enfermaria e fomos até Makomo, que permanecia deitada. Me aproximei dela e disse:

— Makomo, trouxe alguém para te ver!

Sabito olhou para ela e escondeu-se atrás de mim.

— E quem é esse garotinho atrás de você? — questionou Makomo.

— Ah! Sabito, você não lembra, mas essa é sua irmã mais velha! O nome dela é Makomo!

— Sabito?! Meu irmãozinho?! — ela fez uma expressão assustada.

— Sim! Isso mesmo! Esse é seu irmão, Makomo.

— Você está vivo! Vem, vem! Preciso te ver de perto! — disse Makomo, que sentou na cama com
dificuldade, abriu os braços e ficou com os olhos cheios de lágrimas. Diferente do seu eu de
costume, Sabito agarrou minha calça e começou a chupar o dedo.

— Não precisa ter medo, Sabito. Ela é sua irmã. Vai até ela, pois Makomo deve querer muito te
ver de perto.

— Eu tenho outra irmãzona? — perguntou Sabito.

— Sim, Sabito. Eu sou sua irmãozona Makomo. Venha! Venha aqui!

Sabito caminhou timidamente até ela, Makomo o pegou nos braços e eu pude ver algumas lágrimas
escorrerem.

— Meu irmãozinho! Eu rezei tanto para que você estivesse vivo! — ela começou a chorar com
ele em seus braços e Sabito ficou um pouco assustado.

— Ma-Maninho! — ele disse, me encarando.

— Me perdoa, Sabito! Eu estou tão feliz em te ver, que me empolguei! — ela disse, colocou
Sabito no seu colo e o encheu de beijos, o que fez Sabito sorrir, envergonhado. — Como cresceu!
Como está lindo! Ah! Nem acredito!

— Hihihihi. Faz cócegas! — ele disse.

Fiquei tão feliz ao ver aquele reencontro, que mal pude conter as lágrimas. Foi como estar em casa
novamente.

— Maninho, por que você está chorando? — perguntou Sabito.

— Não é nada! Não se preocupe. — eu tentava secá-las, mas não conseguia controlá-las.

— Bom dia! Vejo que temos uma visitante por aqui. — disse Tamayo, que se aproximou.
— Olá! — Makomo a cumprimentou.

— Me chamo Tamayo. Vim verificar como você está.

— Hum! Você é a senhorita Tamayo do templo do sul. Então, finalmente pude lhe conhecer. —
disse Makomo.

— Vejo que ouviu falar de mim. De onde veio?

— Do templo do leste. — disse Makomo.

— Oh! Entendo. Giyuu, Sabito, podem me deixar a sós com nossa convidada? — ela questionou.

— Claro! Vem, Sabito.

— Irmãzona, você já vai embora? — perguntou o garoto.

— Eu vou ficar por alguns dias. Não se preocupe. — disse Makomo.

— Tá bom! — disse Sabito.

— Vem, Sabito! As duas precisam conversar. — peguei meu irmãozinho no colo e saímos. Admito
que fiquei curioso, mas resolvi não ouvir a conversa.

Assim que chegamos no lado de fora, Shinobu veio rapidamente em nossa direção.

— Sabito, como foi conhecer sua irmã? — perguntou Shinobu.

— Mana Shinobu, eu conheci a mana Makomo! Ela é tão linda! — contou Sabito, empolgado.

— Ah! Verdade?

— Sim! Ela tem olhos da cor do céu! — ele contou.

— Que legal! Vejo que deu tudo certo, Giyuu.

— Sim, foi melhor do que eu esperava.

Nos dias seguintes, Sabito e eu continuamos a visitar Makomo e a auxiliá-la em sua recuperação.
Acho que Shinobu ficou enciumada, pois eu tinha menos tempo para passar com ela e ela parecia
sempre irritada quando ela se encontrava comigo. Depois de alguns dias, Makomo finalmente se
recuperou e pudemos conversar um pouco mais sobre tudo o que aconteceu. Estávamos sentados
embaixo da árvore preferida da Shinobu. Sabito estava abraçado à Makomo, que acariciava seus
longos cabelos ruivos.

— Então, lhes trouxeram para esse lugar e vocês vivem aqui desde então? — ela questionou.

— Sim, aqui é nosso novo lar desde que chegamos.

— Que sorte! Você acabou no templo ao sul de Mizu! Nem é tão longe assim da nossa antiga casa!
— disse Makomo.

— Mizu?!Oh! Então, eu estava em Mizu todo esse tempo!

— Sim!

— Nossa antiga casa? — perguntou Sabito.


— Bem, meu maninho, nós morávamos em outro lugar quando você era bebê! Era um reino tão
lindo, tão cheio de cor! No entanto, tudo foi destruído durante a guerra.

— E por que moramos no templo se nós temos uma outra casa? — perguntou Sabito.

— Os templos foram uma forma de diminuir a culpa em cima dos novos líderes. Era mais fácil
acolher crianças, que poderiam ser úteis como mão de obra posteriormente. No entanto, eles não
imaginavam que eles serviriam para outros objetivos...

— Outros objetivos? — questionei.

— Ah, Sabito, pode me trazer um pouco de água?

— Sim! Eu vou pegar! — Sabito se levantou e se afastou.

— Bem, eu não sei se deveria lhe contar isso dessa forma… — Makomo olhou ao redor. — Mas
acho que é algo que você deve saber.

— O quê? O que eu devo saber?

— Os líderes dos templos, na verdade, pertencem a um grupo de rebeldes. O objetivo dos templos
é recrutar o máximo de pessoas possíveis para a grande revolução.

— A grande… revolução?!

— Existe um grande movimento que se juntará na luta para derrubar Muzan. Mesmo com todo seu
poder, nem todos ficaram felizes com as atitudes dele, nem mesmo alguns de seus aliados. Desse
modo, as comunidades dos templos se reunirão em breve e iremos para guerra. O objetivo final é
tirá-lo do poder.

— Fala sério… — fiquei sem reação naquele instante. Eu já suspeitava que havia algo de estranho
no templo, mas não imaginava que aquele lugar fazia parte de um plano maior. Então, naquele dia,
toda a história de servir a Muzan que Tamayo falou era mentira.

— Aliás, eu sou uma das líderes do templo do norte. Eu estava a caminho daqui quando fui
atacada por uma fera. Caí do barranco e por isso estava machucada. Meu grupo, que partiu depois
de mim, chegará aqui em breve..

— Nossa… Então, quer dizer que uma guerra está vindo?

— Sim. Haverá uma segunda guerra, Giyuu. Devemos estar preparados.

Nos encaramos em silêncio, quando Sabito apareceu.

— Aqui, água! — disse Sabito.

— Obrigada, meu amorzinho! — ela deu um beijo no rosto dele.

Fiquei um pouco receoso com aquela notícia, pois temia pela segurança de todos. Não queria ver
as pessoas que eu amava em perigo.

— Ah! Estou tão feliz em ter vocês aqui! Como nos velhos tempos! — Makomo me puxou pelo
pescoço e me apertou. Ela abraçou Sabito com o outro braço.

Shinobu apareceu, me encarou com uma expressão emburrada e correu.


— Makomo… — me soltei do aperto dela. — Eu já volto, ok?

— Ah! Tudo bem! Eu vou ficar com Sabito mais um pouco aqui. — ela começou a fazer cócegas
nele e ele gargalhou.

Levantei-me e corri na mesma direção que Shinobu. Como imaginei, ela foi até o lago onde nos
encontrávamos quando éramos mais jovens. Eu a encontrei sentada de frente a ele e logo me juntei
a ela.

— Oi…

— O que você quer? — ela perguntou.

— Eu vim te ver… — eu me aproximei e passei meu braço pelo ombro dela.

— Ah… Não precisava vir atrás de mim! Você deveria ter ficado com sua prima… — ela virou o
rosto para o outro lado.

— Shinobu, você não está com ciúmes, está?

— Humpf… Até parece… Só porque você passa o tempo todo com ela e nem me dá atenção? Eu
não sou tão carente.

Fiquei com vontade de rir. Ela estava mesmo morrendo de ciúme. Eu puxei Shinobu para mim e a
trouxe para meu colo.

— Sai! Não quero!

— Vem! Fica aqui comigo!

— Não… — ela fez uma certa resistência.

— Por favor…

Espalhei meus beijos pelo pescoço dela e logo alcancei seus lábios. Trocamos alguns beijos e ela
encostou-se no meu peito.

— Não precisa ficar preocupada. A Makomo é como minha irmã mais velha.

— Eu sei… Não me preocupo com isso, é só que… não passamos muito tempo juntos
ultimamente…

— Isso é verdade. Desculpa por isso.

— Tudo bem! Deve ter sido uma semana muito agitada! Encontrar alguém do seu passado deve
ter sido um choque!

— E dos grandes! — eu acariciei os cabelos dela e me lembrei de algo importante. Eu não havia
contado a Shinobu quem eu era de verdade. E caso Makomo trouxesse isso à tona sem querer, eu
temia que Shinobu ficasse chateada por eu não ter contado. — Sabe, eu tenho algo para te contar.
É um segredo que só você vai saber.

— Um segredo?! — ela virou de frente para mim e me encarou.

— Sim! Sobre quem eu sou de verdade. — Eu gentilmente ajeitei os cabelos dela atrás da orelha.
— E quem você é de verdade?

— Eu… sou filho do ex-imperador de Mizu, Tomioka I.

Os olhos dela se arregalaram um pouco.

— Você… é filho de um dos ex-imperadores?

— Sim…

— Está de brincadeira, né?

— Claro que não! Estou dizendo a verdade!

— Caramba! Eu nunca imaginaria isso! — ela disse, surpresa.

— Como eu tinha medo que me descobrissem e fizessem mal ao Sabito e a mim, mantive isso em
segredo por todo esse tempo. Me desculpa.

— Não tem problema! Eu te entendo. Eu também teria medo. Bem, então isso quer dizer que seu
pai… foi assassinado por Muzan.

— Sim…

— Sinto muito por isso, Giyuu! — ela acariciou minhas bochechas.

— Está tudo bem. Não tem mais jeito…

— Então, quer dizer que se tudo tivesse ficado como era antes, você seria o próximo imperador de
Mizu? — ela perguntou.

— Sim! Se a linha de sucessão ainda existisse, eu seria o novo líder e você seria minha
imperatriz!

— Hihihihi. Até parece! Você não casaria com uma filha de um ferreiro! Você seria esposo de uma
princesa ou algo assim!

— Não seja boba! Claro que eu me casaria com você! — Eu levei as mãos até as bochechas dela e
a beijei.

— Giyuu, eu também tenho algo que não te contei ainda…

— Verdade? E o que seria?

— Eu tenho uma irmã mais velha.

— Sério? E onde ela está?

— Quando nosso reino foi atacado, ela fugiu com meu pai e eu com minha mãe. No entanto,
minha mãe morreu quando foi tentar me proteger e eu não sei o que aconteceu com eles…

— Oh! Então, eles podem estar vivos por aí!

— Sim! Eu ainda tenho esperança de encontrá-los um dia!

— E como sua irmã se chamava?


— Kanae! Kanae Kochou.

— Entendi. Quando formos adultos, nós vamos procurar por ela, está bem?

— Obrigada! Eu ficaria ainda mais feliz se a encontrasse! Ah, mudando de assunto, sabia que as
garotas estão desconfiando de nós dois?

— Ah, é?

— Elas disseram que já perceberam que estamos de paquera!

— Paquera?

— Você não sabe o que é? Hihihihi. É quando o rapaz e a moça passam muito tempo juntos!
Quando eles trocam algum contato físico ou estão sempre conversando! É como você faz, quando
me provoca do nada, ou quando prende violetas nos meus cabelos, ou até mesmo quando sua mão
sem vergonha desliza pela minha perna...

— Hey, a minha mão não é sem vergonha, até porque ela é ligada em mim e eu não sou um
desses!

— Ah, não? E por que você gosta de me apertar quando a gente se beija, hein? Ou porque sua
mão se prende no meu bumbum? — ela disse, em um tom provocador.

— Bem, minha mão se prende a você do jeito que ela acha melhor e enquanto a apertar, eu… eu
tento evitar, mas é mais forte do que eu! No entanto, isso não quer dizer que eu seja um sem
vergonha! Eu faço isso apenas com você! E aliás, eu não sou o único com dedos ligeiros aqui... —
eu disse, a encarando.

— Hahahaha.Eu não sei de nada disso!

— Ah, é? Não foi você que disse que queria ver minhas coisas um dia desses?

— Eu? Claro que não!

— Shinobu?! — eu a encarei e cruzei os braços, o que a fez dar uma risadinha tímida.

— É que eu estou curiosa, sabe? E eu quero que você também me toque, mas eu fico com
vergonha! Não quero que pense que eu sou uma oferecida ou algo do tipo... — ela disse, cobrindo
o rosto.

— Hahahaha. Claro que eu não vou achar isso de você! E sabe, para que você não fique mais
preocupada com isso, que tal nós fazermos um juramento?

— Um juramento?! Você quer dizer... casar?! — ela disse, nervosa.

— Bem, podemos chamar isso de um acordo antes do casamento. É quando selamos nosso
compromisso até o dia em que finalmente nos casarmos. Eu lembro que um soldado do meu pai fez
algo assim com sua parceira. Lembro de algumas coisas da cerimônia. Uma pena que ele morreu
em missão antes disso acontecer...

— Oh... Isso é muito triste… Certo, mas como se faz esse juramento? — questionou Shinobu.

— Bem, primeiro, nós unimos nossas linhas sanguíneas...

— Hã?! Sangue?! Você vai se cortar e vai me cortar?! Ai, que horror! Não quero! — disse
Shinobu, assustada.

— Hahahahaha. Claro que não, boba! É algo bem mais simples. Primeiro você me dá sua mão
esquerda.

— Assim? — ela esticou a mão e colocou em cima da minha.

— Isso! Precisamos agora de algo para, é... como era mesmo... Ah, amarrar nossas mãos!

— Não temos corda por aqui... — disse Shinobu, desanimada. Olhei para os lados e parei ao
olhar uma fita vermelha que prendia seu cabelo longo.

— A sua fita deve servir!

— Ah, é? Pode pegar, então. — disse Shinobu.

Eu desfiz o laço em seus cabelos e puxei o tecido, o que fez seus cabelos soltarem-se de forma
graciosa, e amarrei a fita em volta das nossas mãos.

— Nesse momento, firmo meu compromisso de ser seu parceiro e prometo manter-me fiel a você,
Shinobu, até o dia em que selarmos nossa união eterna.

— Ah, que lindo!! E agora? Eu devo dizer isso também? — ela perguntou.

— Claro que sim, né?! Quem já viu só uma pessoa fazer a promessa?!— resmunguei.

— Hahahaha. Eu sei, seu idiota! Eu queria só te provocar. Caham... Nesse momento, selo meu
compromisso de ser sua parceira e manter-me fiel a você, Giyuu, até o dia em que selarmos nossa
união eterna. E agora?! — perguntou Shinobu.

— Agora nós somos parceiros! E precisaremos selar apenas nossa união em frente a um
representante futuramente.

— Então, nós somos como noivos?! Oh! As meninas vão morrer de inveja! Hihihihi! — disse
Shinobu, com sua risada gostosa. Revirei os olhos, já que essa mania de competição das garotas era
bem irritante.

— Sim, você é minha linda noiva linguaruda! — brinquei com ela.

— Eu não sou linguaruda! Eu só quero contar o quanto estou feliz!

Eu ri e abracei.

— Eu também estou feliz por estar com você.

— Sabe… Até que você conseguiu mesmo fazer um pedido de forma especial! — disse Shinobu,
que se aproximou de mim, entrelaçando seus dedos com os meus e unimos nossos lábios.
Trocamos um longo e delicioso beijo. — Quando eu virar adulta, eu quero ser sua mulher, Giyuu.

— Tudo bem! Eu também quero ser seu homem! Vou ser o seu marido e você minha esposa.
Vamos ter uma casa linda, cheia de crianças!

— Parece um bom plano para o futuro! — ela disse e deitou a cabeça em meu ombro.

Daquele momento em diante, nossos destinos estavam entrelaçados, assim como aquela fita que
prendia nossas mãos. Definitivamente, eu amava Shinobu e queria passar o resto dos meus dias ao
lado dela. Sabito e ela eram as pessoas por quem eu daria minha própria vida se fosse
necessário. Eu queria ter o poder de manter Makomo em segurança também, no entanto ela tinha
seus próprios planos em mente. Ela estava envolvida com um grande propósito, o de libertar os
reinos do poder de Muzan. Apesar de achar tudo aquilo uma verdadeira loucura, cabia a ela decidir
seu próprio destino.

Com seu corpo parcialmente recuperado, Makomo pode sair do quarto e conviver com as pessoas
do templo. Apesar de estar fisicamente mudada, com um corpo forte e algumas cicatrizes, sua
personalidade cativante não havia se alterado. Deste modo, com pouco tempo ela conseguiu
conquistar a atenção de muitos, principalmente dos rapazes. Por alguma razão, Kyojuro pareceu
muito interessado nela e os dois conversavam bastante. Numa certa manhã, eu estava treinando
com a espada quando ela se aproximou.

— Uau! Você realmente melhorou muito, Giyuu! Você mal segurava a espada quando
treinávamos. — ela brincou.

— O quê?! Que mentira! Eu era bem melhor do que você! Não lembra que eu até te salvei uma
vez?

— Ah, é?! Não lembro nada disso!

— Como não?! Você chorou que nem uma garotinha! — eu a provoquei.

— Ah, isso foi a muito tempo atrás, Giyuu! Eu sou uma mulher agora! Duvido muito que consiga
me vencer! — ela se aproximou do suporte de madeira e puxou uma das espadas. — Que tal a
gente treinar um pouco?

— Está maluca?! Você mal se recuperou!

— Está com medo de mim, Giyuu? — ela disse e deu um sorriso malicioso.

— Medo?! Até parece!

— Então, vamos!

Makomo veio rapidamente em minha direção. Ela ergueu sua espada e logo eu contive seu ataque.

— Ótimo reflexo! Será que você tem boa técnica?!

Makomo começou a avançar, enquanto movimentava seu braço rapidamente. Eu apenas bloqueava
todos seus ataques, pois temia machucá-la. No entanto, ela não parecia muito preocupada com
isso. Ela me deu uma rasteira e veio a toda velocidade com a espada em direção ao meu peito. Eu a
rebati, rolei para o lado e me ergui.

— Makomo, eu não quero te machucar!

— Que boa técnica você tem! E força?

Makomo segurou o cabo da espada com as duas mãos e fez investidas mais agressivas em minha
direção. As pessoas se reuniram ao nosso redor para assistir. As espadas se chocavam com força, o
que criava algumas faíscas.

— Vamos, Giyuu, mostre o seu melhor! — gritou Obanai.

— Vai, Makomo! Acaba com ele! — gritou Rengoku.


A velocidade dos nossos movimentos aumentou, nossas espadas se encontravam com mais força.
Makomo havia se tornado uma espadachim esplêndida, no entanto eu não estava disposto a perder
para ela. Em seu último movimento, ela investiu um ataque contra meu abdômen, eu balancei a
minha espada debaixo para cima, atingindo a lâmina da espada dela, o que a fez perder o domínio
da arma. A espada dela sacou para longe e terminei com a minha apontada para seu pescoço. As
pessoas ao redor comemoraram e aplaudiram.

— Isso aí, Giyuu! — gritou Sanemi.

— Ah, Makomo… — lamentou Rengoku.

Minori aplaudia empolgado nos braços de Sabito, enquanto Shinobu, que apareceu bem no final da
luta, estava abobalhado, como se não entendesse bem o que estava acontecendo.

— Que incrível! Você realmente está muito habilidoso! — elogiou Makomo.

— Valeu!

— Mano! Mano! Eu quero aprender a usar a espada também! O Minori também! — disse Sabito,
empolgado.

— Quando você for mais velho, Sabito. — determinou

— Ah, não! Vamos ter que esperar muito, Minori! — Sabito ficou desapontado.

Shinobu se aproximou de nós dois e gritou:

— Vocês estão loucos?! Querem se machucar?!

— Ah… Foi mal, Shinobu…

— E você?! Nem se recuperou ainda! Quer voltar para a cama?! — reclamou Shinobu com
Makomo.

— Hahahaha. Desculpa por te preocupar. Aliás, você sabe lutar, Shinobu? — questionou Makomo.

— E-eu?! Claro que não! Eu só lido com ervas!

— Shinobu, você tem que aprender a usar a espada também! Toda mulher deve saber como se
defender! Com os tempos que vêm por aí, quanto mais souber, melhor!

— Hã? Como assim? O que vem por aí?

— Nunca se sabe o amanhã! Pode chegar a hora que você precise se defender! Eu vou te ensinar o
básico! Assim poderá se virar quando o Giyuu não estiver por perto.

— Mas será que eu consigo? Eu sou tão fraca! — ela disse.

— O poder vem da mente! Acreditar que você consegue é o primeiro passo. Eu sei que você é
capaz! E eu vou te deixar bem preparada! — Makomo a motivou.

— Eu vou fazer o meu melhor! — disse Shinobu.

— O quê?! Tem certeza, Shinobu?! Isso é um pouco pesado! — questionei.

— Não custa nada tentar! — ela disse.


Fiquei imaginando o quanto seria perigosa aquela combinação de Shinobu e uma espada, mas com
uma suposta guerra a caminho, aquilo seria o certo a fazer. Makomo resolveu engajar mais
mulheres ao treinamento e logo todos estavam no mesmo ritmo. Parecia mesmo que estávamos nos
preparando para uma longa batalha. Tudo permaneceu em paz por três semanas, até que recebemos
a visita inesperada de um grupo desconhecido, formado por 20 pessoas, aproximadamente. O
pessoal do templo ficou em alerta.

— Obanai, quem são essas pessoas? — perguntou Mitsuri.

— Não faço ideia, Mitsuri. Se algo começar a parecer perigoso, saia com o Minori daqui. — disse
Obanai, que estava com o arco nas mãos.

— Está bem! — ela pegou Minori no colo.

— Quem diria! Temos mais visitas! — disse Rengoku, admirado.

— Estranho… — Sanemi parecia desconfiado.

Tamayo se aproximou, acompanhada de outros homens e eu decidi segui-los. O líder do grupo, um


homem de cabelos ruivos, com uma marca na testa e de expressão serena, se aproximou em sua
égua branca. Ele interrompeu a cavalgada e acenou para o restante de seu grupo, que parou. O
homem desceu e foi em direção a Tamayo. Ela ficou em silêncio até ele encará-la de perto. A
mestra do templo sorriu para ele, que também retribuiu o sorriso.

— Bons ventos o trazem, meu estimado Tanjiro.

— É um prazer revê-la, senhorita Tamayo.

Os dois trocaram um abraço de cumprimento e não demorou para que Makomo se aproximasse do
grupo.

— Quanta demora! Achei que haviam se esquecido de mim!

— Jamais deixaríamos nossa líder perdida por aí! — disse um homem de cabelos loiros e olhos
dourados.

— Sejam bem-vindos ao templo do sul! — disse Tamayo.

— Obrigado. — disse Tanjiro.

— Bem, devem estar cansados depois da longa viagem. Desçam e se acomodem. — disse Tamayo.

O grupo desmontou dos animais, nós os conduzimos para a área com cercado, onde os equinos
foram soltos e depois os homens seguiram até o nosso refeitório. Pela alegria no rosto de Makomo,
deveriam ser pessoas muito preciosas para ela. Os homens e mulheres se organizaram nas mesas e
começamos a servi-los. Minha prima me puxou pela mão e me levou até o ruivo.

— Tanjiro, quero que conheça o Giyuu, meu amado primo! — ela disse, com um sorriso no rosto.

— Ah! Muito prazer! — Tanjiro estendeu a mão para mim e eu o cumprimentei.

— O prazer é meu.

— Sente-se conosco! Adoraria conhecê-lo melhor. — disse o ruivo.

— Tudo bem… — mesmo desconfiado, decidi me unir a eles.


— Bem, Giyuu, permita-me apresentar meus companheiros de viagem. Esse é Inosuke — ele disse
ao apontar para um rapazes de olhos verdes — Zenitsu — o rapaz loiro de olhos dourados — Aoi e
Kanao — ele disse ao apontar para duas garotas que os acompanhavam.

— Olá! — eu acenei para elas, que deram algumas risadinhas.

— Tanjiro é um velho amigo meu! Nos encontramos no templo do leste. Ele é uma pessoa
formidável! — disse Makomo.

— Não é para tanto! — disse Tanjiro, desajeitado. — Bem, não vamos deixar a comida esfriar!

A refeição foi bem agitada, com muita conversa e sorrisos. Aquele grupo era muito interessante,
tão diferente de nós. Durante à noite, eles resolveram nos agradecer a gentileza com música,
cantoria e dança. Enquanto eu os observava, acompanhado de Shinobu, notei que Rengoku dançava
de forma muito animada com a Makomo.

— Sua prima é mesmo muito popular com os rapazes! — comentou Shinobu.

— Parece que sim!

— Ela tem um jeito tão delicado! Nem parece que maneja a espada tão bem!

— Bem, como eu te contei, em Mizu todos os capacitados são treinados para a guerra, homens e
mulheres. Como éramos parentes do imperador, desde jovens nós fomos preparados para defender
o reino caso fosse necessário.

— Entendi… Não deveria ser fácil para vocês! Imagina só, treinar desde criança! Isso era muita
maldade, na verdade! — disse Shinobu.

— Bem, era nossa forma de viver, afinal.

— Que jeito mais estranho! — debochou Shinobu.

— Ei! — eu resmunguei.

— Hahahaha. Brincadeira! Sabe, no meu reino, nós vivíamos da agricultura, da caça, da pesca…
Meu pai me contava sempre que nosso reino era pacífico, onde todos podiam viver em paz. De lá,
as pessoas também se aventuravam para o mar, em busca de aventuras.

— O mar?! Acho que eu nunca o vi…

— É tão lindo! Quem sabe um dia não possamos ver o mar juntos?

— Seria bem legal, na verdade!

A música continuou até tarde e eu resolvi ir dormir, pois o dia seguinte seria de muito trabalho.
Deixei Shinobu no seu dormitório e quando fui até o meu, me deparei com Makomo, que
conversava de maneira animada com Kyojuro. Quando ela me avistou, ela acenou para mim e eu
me aproximei deles.

— Já está tarde. Vocês deveriam ir dormir!

— Ah, que isso! Não somos mais criancinhas que precisam dormir com as galinhas. — disse
Kyojuro.

— A Makomo pode não ser, mas você ainda é. Lembra também que temos que ir caçar amanhã?
— Ah, relaxa, Giyuu! Só estamos nos divertindo! Mas você deveria dormir. Teremos um grande
anúncio para amanhã. — disse Makomo.

— Anúncio?! De quê?! — perguntou Kyojuro.

— É uma surpresa! — Makomo sorriu e deu algumas tapinhas na cabeça dele. — Amanhã você
saberá de tudo! Bem, eu vou dormir! Boa noite, rapazes!

— Boa noite, Makomo! — disse Kyojuro.

— Boa noite…

Eu fiquei bem preocupado com a tal notícia, pois depois de tudo que descobri, tudo indicava que
seria o anúncio do ataque contra Muzan. Quanto mais o dia de uma possível guerra se aproximava,
mas eu ficava temeroso. Na manhã seguinte, fui acordado por Obanai, que veio chamar todos os
garotos no dormitório. Quando saí do quarto, notei que havia uma grande reunião do lado de fora.
Me juntei a Shinobu, que já estava por lá.

— Giyuu, bom dia!

— Bom dia, Shinobu!

— O que será que está acontecendo, tão cedo da manhã? — ela questionou.

— Não faço ideia…

De repente, Tamayo apareceu, acompanhada por Tanjiro, Makomo e os demais. Eles foram até a
frente do grupo e a mestra começou a falar:

— Meus amados membros desse templo. Há muitos anos que convivemos aqui nesse lugar,
rodeados de harmonia e felicidade. No entanto, existem outros irmãos espalhados pelo reino que
estão sofrendo e precisamos ajudá-los. E para isso, Makomo e Tanjiro vieram trazer uma
mensagem a todos nós. A situação está cada vez mais crítica nos reinos. Pessoas passam fome, são
vítimas de taxas abusivas, são expulsas de seus lares, têm seus corpos abusados… Tudo isso é obra
de Muzan, que resolveu trair a aliança dos imperadores e tomar o poder para si. Não podemos mais
ficar de braços cruzados. E é por isso que Makomo e Tanjiro estão aqui hoje.

— Irmãos de Mizu, é chegada a hora de nos rebelarmos! Devemos nos unir e destituir Muzan do
poder! Os outros 19 templos já estão conosco nessa missão, resta saber de vocês, membros do
templo do sul de Mizu, se nos emprestarão sua força para a batalha. — disse Tanjiro.

— Batalha?! — disse Mitsuri.

— O que isso quer dizer?! — perguntou Kyojuro.

— Quer dizer que há uma guerra se aproximando… — eu disse.

Os membros do templo ficaram agitados. Alguns pareciam assustados, outros confusos e irritados.

— Sei que parece que estamos pedindo demais, mas isso será pelo bem de todo império. Queremos
saber se existem voluntários entre vocês para se unirem a nós! — complementou Makomo.

Um grande falatório começou. Tamayo, Tanjiro, Makomo e os outros não esboçaram qualquer
reação, enquanto os demais entravam em conflito. Ao observar o alvoroço no templo, Makomo
decidiu falar novamente:
— Peço que não se desesperem. Vocês ainda têm tempo para decidir. Meu grupo e eu estamos de
partida. Daremos a vocês dois meses para pensar sobre o futuro, mas lembrem-se que independente
de estarem conosco ou não, a guerra será inevitável. E vocês devem imaginar que com apenas a
força que vocês tem, será mais difícil de se combater o império de Muzan. Pensem com bastante
cautela sobre o destino de vocês.

— Bem, estão dispensados. Voltem a seus afazeres. — disse Tamayo.

Todos ficaram em silêncio e reflexivos após a fala dela. No refeitório, nenhuma palavra era sequer
trocada. Talvez, todos estivessem congelados de medo. Após o café da manhã, fui me sentar com
Shinobu embaixo da sua árvore preferida, já que o grupo de caçadores havia desistido de sair
naquele dia.

— Oh, Giyuu, e agora?! Se uma nova guerra começar, como vamos sobreviver? — disse Shinobu.

— Eu não sei… Teremos que nos virar como pudermos.

— Você vai se juntar a eles? — ela me questionou.

— Eu… eu não sei…

— Não faça isso! Eu não quero perder você para a guerra também! — ela agarrou minha camisa e
me encarou de perto.

— Calma. Não sofra por antecedência. Vamos ver o que acontece durante os dois meses que
temos.

— Eu estou com medo, Giyuu.

— Vai ficar tudo bem, Shinobu.

Shinobu me abraçou e eu a envolvi em meus braços. Minha mente estava bem confusa naquele
instante, então qualquer raciocínio seria impossível naquele momento. Tudo o que eu pensava era
em manter Shinobu e Sabito a salvo, e se por sorte eu conseguisse, que eu continuasse vivo.

O grupo de Makomo então se organizou para partir. Sabito acordou naquele momento e correu até
a irmã, que ajustava a cela do cavalo.

— Maninha, aonde você vai? — perguntou Sabito, choroso.

— Oh, meu amor! Eu estou de partida! Preciso visitar alguns amigos! — ela disse.

— Hã?! Você vai deixar o Sabito para trás?! — ele perguntou e seus olhos encheram-se de
lágrimas.

— Eu prometo que vou voltar logo! Eu queria te levar comigo, mas estou em uma situação
perigosa. Você ficará melhor aqui com o Giyuu. No entanto, não esqueça: eu te amo! — ela o
pegou no colo, o abraçou e o beijou várias vezes no rosto.

— Sabito também ama a maninha. — ele retribuiu o abraço.

— Makomo, tem certeza de que vai embora? — perguntei.

— Sim, Giyuu! Eu tenho uma missão a cumprir, você sabe. E peço que você fique bem atento. As
coisas não estão tão tranquilas quanto aparentam. E quando se sentir pronto, quero que se junte a
nós. Sua habilidade com a espada poderá nos ajudar na luta pela liberdade. — disse Makomo.
— Estarei pronto caso minha ajuda seja necessária.

Makomo me abraçou e sussurrou:

— Caso não nos vejamos mais, desejo que tenha uma vida feliz!

— Não diga isso! Nos veremos de novo! — reclamei.

— Assim espero! — ela acariciou meu rosto, foi em direção a um cavalo, montou e se despediu.
— Até breve, minha amada família! Shinobu, cuida bem deles para mim!

— Pode contar comigo! — ela acenou para Makomo, que retribuiu.

Demorou muito tempo para que o sentimento de inquietação aliviasse um pouco no templo, porém
era nítida a preocupação de todos. O grupo durante os treinos aumentou consideravelmente,
começamos a fazer reserva de cereais e de água, a produção de novas armas aumentou. Mesmo sem
darem uma resposta de imediato, eu sabia que a guerra nos afetaria de qualquer modo e por isso
todos nós resolvemos nos precaver. Mesmo assim, resolvi desfocar um pouco daquele assunto e
tentei retomar uma rotina normal. Claro que isto não seria mais possível a partir desse ponto.
Capítulo x

A notícia de uma guerra fez com que surgissem novas questões para mim. Ao mesmo tempo que
eu queria ter a liberdade de viver uma vida de paz, havia um conflito se aproximando. Eu queria
poder evitar esse momento a qualquer custo, no entanto eu não teria para onde fugir com Shinobu e
Sabito. Além disso, achei que seria arriscado ir para uma região desconhecida, sem saber como
estava a situação atual dos arredores do templo. Com isso, decidi continuar treinando e me
aprimorando, para o caso de algum momento de luta inesperado.

— Você é muito habilidoso, Giyuu. Você tem um grande futuro como guerreiro.

— Obrigado, mestre. — Nesse momento, Shinobu passou por mim e acenou, o que me tirou minha
atenção. Eu acenei de volta para ela e não demorou para que eu sentisse a fúria de Urokodaki.

— Ai mestre! — reclamei da gravetada que tomei na cabeça. Ele costumava nos “disciplinar” com
leves batidinhas com um fino graveto para chamar a atenção.

— Preste atenção ao seu treinamento! — ele reclamou.

— Perdão, mestre.

— Hohohohoho. Os jovens e o amor! Lembro bem dessa época em que o amor floresceu dentro do
meu peito. Tempo magnífico!

— Deve fazer muito tempo, né? Aaaaai!

— Não seja inconveniente. Eu ainda estou no auge da minha idade. Só por causa disso, mil
flexões.

— Ah, droga!

Assim que encerrei o treinamento, eu fiz uma reverência e me despedi dele. Quando comecei a me
afastar, Shinobu me esperava com os braços cruzados e com cara de poucos amigos e ao seu lado,
Sabito “plantava” bananeiras e caminhava com as pernas para o ar. Ele era um garotinho de sete
anos e sua energia havia duplicado. Já Shinobu nem de longe lembrava aquela garotinha que eu
conheci. Shinobu havia se tornado uma linda mulher.

— Foi mal! Ele me obrigou a fazer ainda mais exercício!

— Desculpa, eu te distraí, não foi?

— Está tudo bem! É minha culpa não resistir a uma distração tão linda! — eu acariciei o cabelo
dela e ela sorriu.

— Uhhh! Giyuu e Shinobu, em cima de uma árvore, b-e-i-j-a-n-d-o, muah muah. — disse Sabito,
que começou a juntar os dedos das duas mãos e a fazer barulhos com a boca. — Oh, Giyuzinho, eu
quero ser sua esposa!. — ele dizia, debochando.

— Agr! Sabito, seu chato! — disse Shinobu, que deu uma puxada na orelha do garoto.

— Aiai! Doeu! — ele reclamou.

— Fica quieto, garotinho! Vai para sua aula de linguagem e você, mocinho, temos trabalho agora.
Vem! — disse Shinobu, que saiu nos puxando pelas mãos. Ela sabia ser bem mandona, às vezes,
mas eu não me incomodava com aquilo.

O dia passou de forma tranquila, porém a noite seria turbulenta para nós. Assim que saí do
refeitório, notei que Shinobu falava com mestra Tamayo. Quando a conversa acabou, eu vi Shinobu
sair com uma expressão preocupada.

— Shinobu, o que foi? O que aconteceu?

— Giyuu... — ela sussurrou meu nome e me abraçou com força.

— Shinobu, aconteceu alguma coisa? Fala comigo, por favor! — eu estava muito apreensivo com
a reação dela.

— Giyuu, eu vou ter que partir! — ela perguntou e eu senti como se um punhal tivesse perfurado
meu peito.

— Partir?! Como assim “partir”?

— Mas... eu não quero me separar de você... — algumas lágrimas desceram pelas bochechas dela.

— Mas, por que? Por que temos que nos separar? Do que está falando?

— A mestre Tamayo me pediu para acompanhá-la em uma viagem. Eu não sei quanto tempo vou
ficar fora.

— Shinobu… — Não consegui raciocinar coisa alguma naquele momento. Só o que fiz, foi
abraçá-la, o mais forte possível.

— Beba um pouco de água e se acalme. Nós poderemos falar sobre isso mais tarde. — eu disse e
acariciei seu rosto.

— Tudo bem, Giyuu.

Naquela noite, nós fugimos novamente para o lago. Shinobu deitou nas minhas pernas e eu alisei
seus cabelos. Ela parecia mais tranquila do que antes, mas não menos preocupada.

— Então, ela quer que você a ajude no tratamento de uma amiga dela? — perguntei.

— Sim… Ela disse que se eu quero me aprofundar de verdade em medicina, se esse for mesmo
meu sonho, eu tenho que buscar casos diferentes para tratar.

Shinobu sentou-se, me encarou, levou as mãos até meu rosto e deslizou os dedos.

— Mas eu não quero ficar longe de você, não mesmo!

— Por que você fala como se eu não pudesse ir junto?! — questionei, intrigado.

— Giyuu, o lugar para onde eu vou é um templo só de mulheres. Você não poderia entrar mesmo
que fosse...

— O quê? Como assim?

— A mestra Tamayo disse que é um lugar onde outras mulheres estudam medicina e que não são
permitidas distrações. Então, mesmo que você fosse, nós não ficaríamos juntos. E além disso, a
mestra não chamou você para nos acompanhar.
— Entendi…

Senti um aperto tão forte no peito. A ideia de ficar longe da Shinobu me fez ficar muito triste.

— Não se preocupa comigo. Se você tem essa oportunidade, você deve ir. — eu disse.

— Giyuu, mas...

— Eu vou estar aqui te esperando, Shinobu. Nem vai demorar muito… Ou vai?

— Acho que uns dois meses… Ah, Giyuu! É muito difícil me imaginar longe de você! — ela disse
e voltou a chorar.

— Mesmo distantes… — eu segurei a mão dela — eu sempre estarei com você.

Ela sentou em meu colo e me abraçou. Não pensei que sentiria tanta dor quanto senti naquele
momento, até imaginei que estávamos sendo dramáticos demais. No entanto, eu não conseguia
evitar todo aquele sentimento dentro do meu peito. Tenho certeza que ela sentia o mesmo medo
que eu, porém decidi ser um homem que a apoiaria em todos os seus sonhos. Mesmo assim, eu
estava preocupado com a segurança dela. Só mesmo Tamayo para inventar algo assim com os
reinos prestes a entrar em guerra. Nos beijamos em seguida e senti meu rosto ser molhado pelas
lágrimas dela.

— Esse lugar fica muito longe? — questionei, enquanto secava as lágrimas do rosto dela.

— Fica a três dias daqui…

— Ah, nem é tão longe! Não vai levar muito tempo, certo? Vai passar rápido! Com toda certeza!
— eu disse tentando a consolar. Ela me encarou de forma incrédula — O que foi?

— Nunca pensei que você me faria chorar assim! — ela debochou.

— Não seja boba! — eu disse, secando os olhos. Ela se jogou nos meus braços e me abraçou.

— Promete que você vai me esperar?! — ela perguntou.

— Prometo! Para sempre!

— Eu te amo tanto, Giyuu!

— Eu também te amo, Shinobu!

Dois dias depois, Shinobu completou dezessete anos. Mestra Tamayo recebeu uma encomenda de
um mercador: uma caixa com pedras preciosas de cores diferentes. Ela queria nos ensinar sobre
algumas das riquezas da região. Ela nos deixou escolher uma pedra para dar de presente para um
amigo.

— Uma pedra da estrela? É uma pedra bonita para se trabalhar, senhorita Shinobu. — disse
Tamayo.

— Com a pedra da estrela, mesmo com a noite mais escura, as estrelas nunca deixarão de brilhar
no céu. — explicou Shinobu.

— Oh! Isso foi encantador! E enquanto a você, Giyuu? Que pedra escolheu?

— Ametista!
— Alguma razão para escolher essa em especial? — perguntou Tamayo.

— Bem, é uma pedra bonita e ela me lembra os olhos de alguém...

— Você está certo! É mesmo bem bonita. Humm! Pretende dar essa pedra para alguma garota
especial? — sussurrou Tamayo, que piscou um olho para mim.

— S-s-i-m... — ela conseguiu me deixar constrangido.

— Magnífico! Bom trabalho. Continue aprimorando os detalhes. Tenho certeza que sua candidata
ficará feliz em recebê-lo. — ela disse e saiu.

Shinobu olhou para mim e fez uma expressão de surpresa.

— Então, essa pedra é para... uma garota? — ela perguntou, curiosa.

— Sim! É para uma garota que eu gosto muito. — respondi, esperando a reação dela.

— E... quem seria? — ela me questionou, com cara de poucos amigos.

— Na hora certa você vai saber. Eu prometo. — eu disse, para deixá-la nervosa.

— Humpf... Só o que faltava! Você está todo cheio dos segredos... — ela disse, ficando
emburrada. Acho que ela pensava que era para qualquer outra garota, mas aquele era seu presente
de aniversário. E eu trabalhei quase todo o resto da tarde para colocar aquela pedra em um anel.

Eu havia organizado um momento especial para nós dois à noite e assim que todos foram dormir,
eu decidi pôr em prática o plano que havia bolado naquele dia.

— Giyuu, eu não posso ir? — perguntou Sabito, enquanto eu o cobria com o lençol.

— Não, você não pode. Dessa vez, é apenas Shinobu e eu. Prometo que depois vamos dar uma
volta e tomar banho no lago, só nós dois. Reunião dos garotos, está bem?

— Tá legal! — disse Sabito, animado.

— Agora, vai dormir, cabecinha oca! — eu disse, apertando o nariz dele de leve.

— Hahahaha. — Sabito sorriu, deitou de lado e fechou os olhos. — Te amo, irmãozão!

— Eu também amo você, meu irmãozinho.

— Giyuu, barra limpa! Yushiro foi dormir! — disse Kyojuro.

— Valeu! Bem, me cubram se algo de errado acontecer!

— Ah, a gente vai dar conta. Você vai ver! — disse Sanemi.

— Obrigado, pessoal. — eu saltei a janela, carregando uma caixa e comecei a andar lentamente,
em direção à janela do quarto das garotas. A cama da Shinobu era como a minha, próxima da
janela, porque isso facilitava nossas escapadas. Eu comecei a jogar pedrinhas na janela e logo ela
abriu.

— Giyuu?! — ela estava confusa.

— Vem comigo. Eu planejei algo para nós. — eu disse, esticando a mão para ela.
— Hihihihi. A Shinobu vai ter um encontro! — uma das garotas disse.

— Hihihihi. — um coral de risadinhas começou dentro do quarto.

— Psiu! Fiquem quietas! Eu volto daqui a pouco. — Shinobu saltou da janela e segurou na minha
mão. Fomos correndo até o lago. Chegando lá, eu abri a caixa, tirei um pano de dentro dela e
estendi na beira do lago. Tirei uma garrafa de essência de cereja, um pequeno bolo improvisado,
que aprendemos a fazer com o Yushiro e também retirei uma pequena caixa de madeira, que eu
mesmo construí. Eu a entreguei para Shinobu.

— Para mim? — ela disse, surpresa.

— Sim! Feliz aniversário, Shinobu! — eu disse e a fiquei admirando enquanto ela abria seu
presente.

— Oh, que lindo!

Eu me aproximei dela e disse:

— Essa é a ametista! Pelo que Tamayo disse, ela traz sabedoria e equilíbrio. Além disso, achei que
a cor dela combina com seus olhos, por isso eu a escolhi para dar para você.

— Oh, Giyuu! Eu nem sei o que dizer... É tudo tão lindo! Obrigada, Giyuu! Por tudo! Pelo anel,
pelo bolo e por me proteger, todo esse tempo! — ela me abraçou com força.

Eu a abracei de volta, a envolvendo entre meus braços. Ela colocou o anel e o ficou admirando,
enquanto descansava a cabeça do meu ombro.

— Eu me sinto tão feliz! Ainda bem que eu tenho você comigo, Giyuu!

— Eu também estou feliz em tê-la comigo, Shinobu.

— Sabe, você merece um presente também!

Shinobu levantou sua cabeça do meu ombro, virou-se em minha direção e me fez deitar de costas
no chão. Ela subiu em cima de mim e me beijou. Minhas mãos foram automaticamente para as
costas dela. Pela primeira vez, nossas línguas se encontraram e eu senti meu corpo fervilhar como
nunca antes.

— Shi-Shinobu…

— Isso é… bom? — ela perguntou.

— Si-sim!

— Você quer que eu faça de novo?

— Quero.

Quando nossas línguas se encontraram novamente, meus dedos se prenderam nas costas de
Shinobu e eu a apertei contra mim. Eu me sentei com ela em meu colo e meus beijos desceram por
seu pescoço, enquanto minhas mãos deslizaram automaticamente para o os seios dela. Eu senti
como se tivesse perdido completamente o juízo e estivesse controlado por um forte desejo. As
alças do vestido dela caíram um pouco, o que deixou sua pele mais exposta e quando tirei a mão,
eu pude ver seus seios. Eles eram tão lindos, com os mamilos de tom rosado. Eu direcionei as
mãos até os seios dela e notei que ela havia fechado os olhos, enquanto mordia o lábio inferior. Eu
os toquei com minhas mãos e senti meu corpo arrepiar por inteiro. Deslizei meus polegares pelos
mamilos dela e eles estavam rígidos. Eu os acariciei por um tempo e por um impulso, fechei meus
olhos e levei minha boca em direção a um deles. Eu deslizei a língua pelo biquinho rígido e o
chupei devagar.

— Ummm! Giyuu! — Shinobu gemeu e eu senti uma empolgação crescer em mim. Eu o chupei
mais um pouco, enquanto ela apertava meus ombros com as mãos. A pele dela era tão macia e
quentinha.

A força da natureza resolveu se manifestar, o que fez Shinobu ficar um pouco assustada e aquilo
me tirou do transe. Eu fiquei bem desajeitado por ter ido tão longe.

— Shi-Shinobu! Des-desculpa! Eu não queria passar dos limites!

— Tu-tudo bem… Eu estou bem, não se preocupe. — ela levou as mãos até o vestido e cobriu-se
de novo.

— Você vai… ficar com raiva de mim por isso? — perguntei.

— Não estou com raiva, é só que… É estranho para mim, sabe? Porque é gostoso, mas ao mesmo
tempo parece que estamos fazendo algo errado...

— Tu-tudo bem, é só que… eu te desejo muito! É difícil de me controlar, às vezes.

— Eu também te desejo! Quero experimentar tudo com você! No entanto, eu quero esperar pelo
nosso casamento!

— Tudo bem… — Ao mesmo tempo que me senti frustrado, fiquei aliviado por não chateá-la com
isso.

A primeira vez que eu pude sentir o calor do corpo dela foi incrível para mim. Depois daquele
momento, nos deitamos na grama, ela se abraçou comigo e ficamos admirando o céu, enquanto as
estrelas passeavam de um lado para o outro. Depois, ela provou do bolo que eu fiz e ficou feliz que
eu não o tinha deixado queimar dessa vez. Bebemos do suco e deitamos de barriga para cima, com
as mãos dadas, para admirar as estrelas.

— Giyuu, o que quer quando alcançar seus 18 anos? Vai virar monge? — perguntou Shinobu.

— Eu não sei... Ainda não parei para pensar nisso! Você já pensou em alguma coisa?

— A mestre Tamayo disse que se eu quiser, eu posso acompanhá-la para ganhar experiência com
tratamento de feridas e manipulação de remédios. Ela disse que tenho muita habilidade. Eu acho
que eu me daria bem nessa área, mas... — ela disse e parou.

— Mas? — eu questionei.

— Aí eu teria que ficar longe de você e do Sabito várias vezes... E eu... não quero que isso
aconteça! Eu não quero ficar longe de você, Giyuu! — disse Shinobu, que apertou minha mão.

— Nós nunca vamos nos separar, Shinobu. Tenho certeza que o destino sempre dará o jeito para
nos unir. — eu disse, apertando sua mão. — Se você tem um sonho, você deve ir atrás dele, custe
o que custar! Eu estarei te esperando aqui até você voltar.

— Você promete?
— Eu te fiz um juramento. Um homem jamais deve quebrar suas promessas. Eu vou sempre
esperar por você. Sempre! — eu disse, confiante.

Deitei de lado, ficando de frente a ela, que se virou para mim e se aconchegou em meu peito. E
pareceu até que o tempo congelou naquele momento. Apenas ela, eu e as estrelas. Já estava quase
amanhecendo, quando eu a levei de volta para seu quarto.

— Giyuu, espera! Eu tenho algo para você também! — ela disse, pulou a janela, entrou em seu
quarto e depois voltou com uma sacolinha na mão. — Me dá sua mão e fecha os olhos.

— O que é isso? — questionei.

— Vamos, fecha logo! — ela disse, enraivecida.

— Tá... Tá bom... — fechei os olhos e senti algo cair na minha mão.

— Agora, você pode abrir. — ela disse.

Quando abri o olho, vi que tinha a pedra da estrela em minha mão, preso em um barbante.

— Aonde quer que esteja, lembre-se que eu estarei sempre com você. — ela disse, com um sorriso
de orelha a orelha.

— O-obrigado! — eu fiquei realmente surpreso naquela hora. — Vou guardar com carinho.

E dali em diante, decidi usar o colar todo tempo, já que era um presente especial da garota que eu
amava. Para minha tristeza, Tamayo e Shinobu decidiram partir em viagem uma semana depois.
No dia da despedida, Sabito chorava bastante, já que ele ficou com medo de que ela não voltasse.
Ela lhe deu um pequeno boneco, que ela mesma construiu durante as aulas. Ela disse que ele
parecia um animal de estimação que ela tinha, um peixe dourado, e que aquilo o faria companhia.
Depois, ela abraçou suas amigas e por fim o nosso abraço.

— Vai ficar tudo bem. Vá lá e aprenda o máximo que puder. Eu estarei aqui quando você voltar.
Te amo muito.

— Eu também te amo muito, Giyuu. Eu logo estarei de volta.

Não pudemos nos beijar na frente dos demais, pois seria inadequado aos olhos da mestra e
podíamos ficar encrencados. Ela subiu em uma das carroças e eu apenas observei sua figura sumir
pela estrada. E aquele foi nosso adeus temporário. Senti meu coração partir ao meio, porém pelo
menos eu ainda tinha Sabito ao meu lado, meu único resquício de família que estava presente. A
viagem de Shinobu me deixou tão desnorteado, que até havia esquecido sobre a guerra ou sobre
qualquer outra coisa. Decidi me focar nos treino e na caça, na expectativa de manter minha mente
distraída. No entanto, nada parecia tirá-la dos meus pensamentos.

Um mês pareceu uma eternidade sem ela e ainda havia mais um por vir. Após alguns dias bem
difíceis por conta da saudade, resolvi relaxar um pouco e voltei a me aventurar com Sanemi e
Kyojuro. Decidi levá-los até o lago onde eu costumava ir com Shinobu.

— Uau! Que lugar incrível! — disse Rengoku.

— Porra, Giyuu! Você estava escondendo esse lugar todo esse tempo? — questionou Sanemi.

— Eu não estava escondendo nada! Ele sempre esteve aí! — resmunguei.


— Então, é aqui que você traz as garotinhas que você engana com essa cara de lesado? — disse
Kyojuro.

— Eu não tenho várias garotinhas! Eu só tenho uma!

— É?! Olha aí, finalmente resolveram se acertar! — comentou Sanemi.

— Si-sim! Shinobu e eu estamos juntos! E é melhor você não mexer com ela! — resmunguei.

— Hahahaha. Relaxa! Não tem perigo! Ela não faz nada meu tipo! — disse Sanemi.

— Ei, Giyuu, será que sua prima ainda volta? — perguntou Kyojuro.

— Acho que sim! Ela disse que voltaria. Por quê?

Kyo coçou a cabeça e olhou para o lado.

— É que… eu acho que estou… sentindo.. falta dela..

— O quê?! Da Makomo?! Você sabe que ela é mais velha do que a gente , né?

— Sim, mas… ela é tão linda e é inteligente! Eu fiquei muito interessado nela.

— Hum! Sabia que alguma coisa estava acontecendo!

— Pode ser que eu esteja só me iludindo mesmo, porém acho que eu estou apaixonado! — ele
levou a mão até o peito.

— Bem, boa sorte! A Makomo é uma moça muito durona e não vai ser fácil conquistá-la. — disse
Sanemi.

— Ah, tenho certeza de que ela vai aceitar um cara charmoso como eu! — Kyojuro deslizou a mão
pelos cabelos.

— Sei… — não aguentei ouvir aquilo e comecei a gargalhar.

— Mudando de assunto… — Kyojuro se aproximou de mim e bateu seu ombro com o meu. — E
aí, garanhão? Já chegou lá com a Shinobu?

— Quê?! Na-não! O que está dizendo?! Não aconteceu nada disso.

— Ficou nervosinho, hein?! Mas você está com vontade, não está? — o loiro questionou.

— Bem, vontade eu sinto, mas eu prometi que só faríamos alguma coisa depois de casados.

— Ai, como você é burro! Como faz uma promessa dessas! — debochou Sanemi.

— Ora, isso é o certo a se fazer!

— Hahahaha. Que garoto mais certinho! Deve ser por isso que é o único virgem entre nós! —
disse Kyojuro.

— Hã?! Como assim o único?! Quando foi que você…?

— Bem, não faz muitos dias… — ele coçou a cabeça.

— Espera! Não me diga que aconteceu algo a mais entre a Makomo e você?!
— É que… aconteceu! Simples assim! Ela me convidou para ir até o quarto dela e então… nós
fizemos. Na verdade, ela que fez tudo!

Fiquei em choque ao saber sobre aquilo, pois eu não havia me tocado de que minha amada prima
já havia mesmo se tornado uma mulher adulta.

— Bem, e o que vai fazer se ela tiver um filho seu?

— Nós vamos criá-lo juntos! Eu vou ser um bom pai para ele! — ele disse, animado.

— Um idiota que nem você? Coitada da criança! — debochou Sanemi.

— Idiota é você! Eu vou ser um pai incrível! — o loiro falou, animado.

— Caramba…

— Então, Giyuu, é melhor você se mexer ou vai ser um virgem de trinta anos daqui a pouco! —
debochou Sanemi.

— Eu não estou preocupado com isso! Assim que a Shinobu fizer dezoito anos, nós vamos nos
casar e então poderemos fazer o que quisermos.

— Já vão casar?! Você é maluco?! Eu não vou me prender a ninguém tão cedo! Eu tenho uma vida
inteira pela frente! — afirmou Sanemi.

— Acredito que todos podemos ser felizes do nosso jeito.

De repente, Kyojuro se agachou, assustado.

— O que foi, Kyo?

— Psiu! — ele levou o dedo indicador até os lábios. — Estão ouvindo?

Ficamos em silêncio por um tempo e ouvimos o relinchar de alguns cavalos.

— Há pessoas por aqui!

— Vamos! Vamos olhar mais de perto! — sugeriu Sanemi.

Nós nos esgueiramos entre as árvores e ficamos atrás de um arbusto. De repente, uma grande
quantidade de homens montados em cavalos começaram a se aproximar. Eles tinham vestimentas
de cores estranhas e carregavam algumas bandeiras que eu nunca havia visto antes. Ficamos o
máximo possível em silêncio, até que todo grupo se dissipasse.

— Quem são esses caras?! Eu nunca vi aquela bandeira por aqui antes!

— Eu também não! Que estranho! — disse Kyojuro.

— Talvez nós devêssemos voltar para o templo o mais rápido possível. Eles estão indo na mesma
direção. — comentou Sanemi.

— Sim! Acho melhor!

Nós três corremos de volta para o templo utilizando o atalho mais curto. Assim que chegamos, as
pessoas do lugar faziam suas tarefas normalmente. Fui até Yushiro, que parecia meditar de forma
relaxada.
— Yushiro! Yushiro!

— Oh! Olá, Giyuu! Como posso lhe ajudar hoje?

— Mestre, há um grupo de cavaleiros se aproximando do templo! Eles tem uma bandeira estranha!

— Hum… Cavaleiros… Entendo… Reúnam os jovens rapazes na entrada do templo. Peçam para
que eles se armem o quanto antes.

— Sim! Como quiser!

Reuni todos os homens possíveis, nós pegamos nossas katanas e as couraças que tínhamos e fomos
até a entrada do templo.

— O que está havendo? — questionou Obanai, que carregava um cesto de frutas, acompanhado de
Mitsuri, Minori e Sabito.

— Alguns homens de bandeiras estranhas estão se aproximando do templo. O mestre pediu para
nos reunirmos aqui. — expliquei.

— Entendi. Mitsuri, esconda-se com o Minori e o Sabito em casa. Não saia até eu avisar que está
seguro. — ele disse.

— Ah, não! O que será que vai acontecer?! — ela disse.

— Vai ficar tudo bem. — eles trocaram um beijo rápido e ela ia se afastar, porém Sabito correu.

— Sabito! Volta! — ela disse.

— Mano, mano! O que está acontecendo? — Sabito veio até mim e me abraçou. Eu o peguei no
colo.

— Sabito, tem um grupo de pessoas estranhas vindo para cá. Como não sabemos se são amigos,
estamos nos preparando para recebê-los.

— Eles vão matar a gente? — ele perguntou, nervoso.

— Não se preocupe! Ficará tudo bem! Quero que fique com a Mitsuri, ok?

— Maninho… — ele me abraçou com força e eu retribui.

— Vai ficar tudo bem. Agora, vá de uma vez. — eu o coloquei no chão e ele correu até Minori e
segurou na sua mão. Mitsuri levou os dois para sua casa.

Meia-hora depois, ouvimos alguns cavalos relincharem. O grupo de estranhos se aproximava do


templo. Yushiro pediu para que guardassemos as nossas espadas e que nós apenas observássemos.
Assim que se aproximaram do templo, um homem de rosto estranho saltou de um dos cavalos e
veio em direção ao mestre.

— Boa tarde, nobre visitante. A que devemos a honra de sua visita? — disse Yushiro.

— Sou o general Gyutaro, das forças do imperador Muzan. Estou em missão de reconhecimento.
Quero saber onde está a líder do templo, a mulher chamada Tamayo.

— Nossa líder está em viagem. — disse Yushiro.


— Entendo. — o homem olhou ao redor e nos observou com atenção. Ele deu alguns passos e veio
em minha direção. Fiquei bem tenso, porém o mestre me advertiu pelo olhar para que eu não
reagisse. — Vejo que tem jovens bem fortes por aqui. — ele levou a mão até meu queixo e abriu a
minha boca à força. — Belos dentes. Bons músculos. Eles seriam bem úteis para o nosso império.
— eu o encarei sem medo e ele abriu um sorriso malicioso.

— Por certo, temos jovens bem cuidados por aqui. No entanto, o destino deles deverá ser decidido
por eles mesmos. — disse Yushiro.

— Humpf! — ele finalmente me soltou e olhou para os outros ao redor. — O imperador é o único
que decide nossos destinos. Ele é o ser supremo de todos reinos. Suas ordens são soberanas.

Observei que Sanemi levou a mão até a bainha da espada e que Rengoku franziu o rosto. Outras
pessoas também pareceram ficar na defensiva. Ele voltou até o cavalo, abriu uma espécie de bolsa
e tirou um papel de dentro. Ele foi até Yushiro e o entregou.

— A partir desse momento, o templo virou uma área confiscada pelo imperador. Mensalmente,
viremos cobrar impostos. Além disso, separem seus vinte melhores rapazes. Viremos buscá-los
para que eles façam parte do nosso exército. Aliás, eu faço questão que aquele garoto esteja entre
eles. — determinou Gyutaro que apontou para mim e logo subiu em seu cavalo. O general abriu
um sorriso malicioso no rosto e disse: — Estamos aqui para verificar a lealdade de vocês ao
imperador. Caso pensem em traí-lo, esse lugar será destruído. Façam o exigido ou acabaremos
com vocês, um por um. Guardem esse aviso. Voltaremos em breve. — O homem bateu as pernas
no lombo do cavalo, deu a volta e partiu acompanhado de seus soldados.

Um verdadeiro alvoroço começou entre os jovens que estavam presentes.

— Isso é um absurdo! Como ele pode exigir algo assim? Eu não vou me unir a eles! Não mesmo!
— disse Sanemi.

— Isso é terrível! — disse Obanai.

Mitsuri que observava tudo de longe se aproximou, acompanhada de Minori e Sabito.

— Papai! — Minori agarrou nas pernas de Obanai e ele pegou o filho nos braços.

— O que aconteceu? O que eles disseram?! — perguntou Mitsuri.

— Eles querem que paguemos impostos! E ainda quer que nós nos ofereçamos como soldados…
— explicou Kyojuro.

— Oh! Que horror! — Mitsuri levou as mãos até a boca.

— Maninho! Maninho!

Sabito veio em minha direção e eu o abracei.

— Pronto! Pronto! Está tudo bem! — eu me levantei com ele nos meus braços.

— Quem eram aqueles homens feiosos? — ele perguntou.

— Soldados do imperador Muzan.

— Eles vieram para matar a gente?! — ele perguntou.

— Não exatamente….
— E agora?!! Não viram o quanto isso é sério?! Nós vamos virar escravos do imperador! — disse
Sanemi, nervoso.

— E o que vamos fazer?! — perguntou Kyojuro.

Uma grande confusão se formou entre os jovens e Yushiro finalmente interveio:

— Calma! Não vamos nos desesperar. Deverá haver uma solução para isso… Se ao menos
Tamayo estivesse aqui…

— Mas ela só volta daqui um mês!

— Não poderemos esperar tudo isso! Terei que buscá-la onde ela está. Giyuu, Sanemi, vocês irão
me acompanhar.

— Como quiser.

— Tudo bem. — concordou Sanemi.

— Os demais ficarão aqui para proteger o templo. Fiquem atentos a partir de agora. Mestre
Urokodaki será seu líder enquanto Tamayo e eu estivermos ausentes. — determinou Yushiro.

— Se é seu desejo, eu o acolho de bom grado. — disse o homem.

— Giyuu, Sanemi, partiremos ao amanhecer. Organizem suas coisas. E os demais, tentem


descansar um pouco. — disse Yushiro.

Claramente, aquela notícia foi grande demais para que nós conseguíssemos descansar. Nós nos
reunimos ao redor de uma grande fogueira e começamos a conversar:

— Quem diria que após tanto tempo, Muzan viria finalmente nos atormentar… — disse Sanemi.

— Bem, os boatos sobre os rebeldes devem ter se espalhado. Muzan não ficaria de braços
cruzados.

— E o que faremos?! Vamos simplesmente nos entregar assim?! Eu não quero ser um soldado! —
disse Rengoku.

— Eu não posso deixar a minha família aqui. — Obanai envolveu Misturi com um dos braços.

— Eu não quero que você vá, meu amor! — ela se agarrou a ele com força.

— Eu não quero ir embora também…

— Tem que haver uma solução… — disse Kyojuro.

— Acho que a nossa única alternativa é nos unirmos aos rebeldes. — eu disse e todos direcionaram
seus olhares para mim.

— Acredito que será nossa melhor alternativa. Temos que tomar uma decisão o quanto antes! Não
sei quanto tempo temos! — disse Sanemi.

— Tragam a mestra Tamayo o mais rápido possível. — falou Obanai.

— Faremos nosso melhor. Por favor, cuidem do Sabito enquanto eu estiver fora. — eu disse a ele.
— Não se preocupe, ele ficará bem cuidado conosco. — disse Mitsuri.

O sol nem sequer havia surgido no céu, quando Yushiro, Sanemi e eu partimos de viagem.
Decidimos ir à cavalo, já que uma carruagem levaria bem mais tempo para chegar em nosso
objetivo. Eu estava eufórico, pois seria a primeira vez que eu verdadeiramente viajaria para um
lugar distante do templo.

— Bem, rapazes, estejam atentos a qualquer movimentação estranha, certo? — recomendou


Yushiro.

— Sim, mestre! Pode deixar. — disse Sanemi.

— Conte com isso.

E assim, começamos uma nova jornada e quando chegamos ao nosso destino, um verdadeiro
tormento iniciou-se na minha vida.
Capítulo XI

Naquele momento, eu dei um último abraço forte em Giyuu, mesmo que minha real vontade fosse
beijá-lo. Infelizmente, certos comportamentos poderiam nos gerar graves consequências e eu não
queria ter problemas com a mestra Tamayo durante a viagem. Enquanto estava a caminho do nosso
destino, meus pensamentos ficaram distantes. Lembrei das coisas que já havia passado. Eu havia
perdido meus pais, minha casa, meus amigos, meus sonhos... Tudo que eu mais amava havia
destruído pela ganância de Muzan. Entretanto, pelo menos, tive a sorte de ser encontrada por
pessoas bondosas que me acolheram e me deram um bom lar. Além disso, encontrei alguém a
quem amo de verdade.
Eu me lembro bem do dia em que Giyuu chegou ao templo. Eu havia sido resgatada um mês antes
dele, então quando ele chegou, eu já estava bem acostumada com aquele lugar. Me recordo que
assim que o grupo de guerreiros retornou de sua última missão daquele mês, eles levavam algumas
crianças em seus cavalos. No entanto, quem me chamou atenção foi um bebê de cabelos ruivos,
que dormia tranquilamente no braço de um deles. Ele tinha uma expressão calma e tranquila. Ao
lado dele, havia um garoto um pouco maior, que estava adormecido e que tinha os braços
amarrados. Imaginei que ele deveria ter dado muito trabalho.
Assim que chegaram, eles levaram o novo grupo de crianças para algumas cabanas mais distantes.
Como eu estava curiosa, eu decidi segui-los, discretamente. As janelas das cabanas eram um pouco
altas, mesmo assim, eu empilhei algumas caixas e as subi. Estava com muita vontade de conhecer
meus futuros novos amigos. Eu vi que eles haviam deixado um menino deitado em um colchão e
que saíram com o bebê ruivo nos braços. Eu fiquei triste ao ver aquele garotinho todo sujo e
machucado. Senti muita vontade de me aproximar dele e de cuidar daquelas feridas tão feias.
Tentei entrar escondida no quarto, mas Yushiro, o instrutor, me encontrou e recomendou que eu
deveria ficar longe, pois aquele menino era muito agressivo. Fiquei confusa, pois para mim, ele era
apenas um garotinho. Nos dias que o deixaram trancado no quarto, eu o observava em segredo pela
janela, enquanto ele gritava, arranhava as portas e se encolhia em um canto, sozinho. Eu ficava
triste por ele. Ele deveria estar assustado, assim como eu fiquei quando eu cheguei. Eu queria me
aproximar dele, conversar com ele, dizer que ele não precisava ter medo, porém eu tinha certo
receio de que ele me machucasse ou até mesmo me matasse. Tudo o que fiz foi observar.
Quando ele finalmente saiu do quarto, já limpo e vestido em roupas normais, eu fiquei muito
surpresa. Aquele garoto era muito bonito, na verdade. Tinha cabelos escuros e lisos, olhos azuis
como o céu, e apesar da expressão vazia, ele tinha um rosto muito harmonioso. Com os dias, ele
pareceu mais calmo, porém era sempre atormentado por um homem malvado, que o agredia com
um chicote diariamente. Aliás, eu senti na pele o quanto aquilo doía.
Quando finalmente aquele homem desapareceu, Giyuu pôde viver em paz e nossa amizade
começou. Naquela época, ele sabia mesmo me tirar do sério. Ele era um garoto inquieto, que
gostava de me provocar e me irritar boa parte do tempo. No entanto, por alguma razão, eu me
sentia mais segura ao seu lado e até achava certa graça nas coisas que ele fazia. E junto com ele
veio Sabito. Ele era um garotinho atrapalhado, mas era muito gentil e carinhoso. Nos tornamos
como uma família. À medida que fomos crescendo, nós fomos nos tornando mais próximos. Um
dia descobri que ele tinha um esconderijo secreto, que era um grande lago por trás do templo.
Demorava um pouco para chegar até lá, mas era um lugar bem acolhedor e bonito. E por acaso, eu
descobri que ele achava que eu era um garoto. Onde já se viu? Uma garotinha tão linda como eu,
ser confundida com um menino? Giyuu era um pouco tapado, às vezes.
E eu também encontrei um lugar aconchegante para me esconder: uma grande e frondosa árvore,
onde nasciam belas flores rosadas em uma certa época do ano. Ainda é o meu lugar preferido do
templo. E eu sempre me sento debaixo dela e escrevo no meu diário. Eu o tinha recebido de
presente da minha mãe, antes de toda aquela confusão de guerra. Giyuu sempre me perturba para
ler o que eu escrevo, mas é tudo segredo. Ele ficaria convencido se soubesse o que escrevo sobre
ele.
Ainda pensando sobre nós dois, à medida que os anos passaram, eu comecei a vê-lo de outra forma.
Eu sentia meu coração acelerar, meu rosto arder e minha respiração ficava mais rápida toda vez
que eu me aproximava dele. O sorriso dele parecia mais bonito, suas mãos mais quentes e tocá-lo
fazia meu corpo arrepiar. Eu percebi que estava apaixonada por ele e não sabia o que fazer. Eu
também cresci antes dele e como meu corpo ficou diferente, então eu passei a ter vergonha de ficar
perto dele. Nos afastamos um pouco, desde então. Nada era como antes e eu me senti triste por
isso. Por sorte, esse tempo infeliz não durou por muito tempo.
Assim como eu, Giyuu amadureceu. Ele ficou mais alto, mais forte e seus ombros estão mais
largos. Ele virou um homem tão lindo! E depois do nosso primeiro beijo, eu descobri que ele
também me ama e eu me sinto muito feliz por isso! E desde então, nós estamos descobrindo juntos
sobre o amor. Eu amo muito o Giyuu, de todo coração e mal posso esperar para ter meus dezoito
anos para começarmos nossa família. Eu ainda não disse isso a ele, pois ele é muito ansioso e
ficaria me perturbando com isso.
— Ah, espero que dois meses não demorem muito para passar…
— Não se preocupe, Shinobu, logo estaremos de volta. — disse Tamayo.
Depois de uma longa viagem, nós finalmente chegamos ao templo. Era um lugar bem menor do
que onde eu morava, porém era bem cuidado e limpo. Ao chegarmos, fomos recebidas pela líder,
conhecida por todas como "mãe'', com olhos azuis e longos cabelos brancos. A mãe do templo era
uma velha conhecida de Tamayo e sua neta era a mulher doente que teríamos que tratar. No
começo, a minha adaptação naquele lugar não foi muito fácil. Haviam muitas normas e regras de
conduta, e para alguém que fazia o que bem entendia, aquilo não era muito agradável. As mulheres
que estavam por lá eram ligeiramente hostis e eu mantinha distância delas. No entanto, quando
percebi que deveria aproveitar a oportunidade para aprender, eu decidi mudar de postura, e
finalmente fui bem acolhida por elas.
Enquanto eu estava lá, eu pensava Giyuu todos os dias e me senti um pouco angustiada por não
poder falar com ele. Resolvi escrever sobre tudo o que estivesse fazendo naquele lugar no meu
diário, como se escrevesse uma carta para ele. Parecia uma coisa boba, mas era o suficiente para eu
me sentir um pouco aliviada durante a semana, mesmo tendo que lidar com a distância. Com os
dias se passando, eu fui aprendendo com as outras garotas um pouco sobre ser mulher. Tirei boa
parte de minhas dúvidas e aprendi coisas que me deixaram bem chocada. Era natural para quem
havia recebido apenas uma orientação básica sobre a vida.
Faltava um mês para retornar para o templo. Eu já havia escrito muita coisa no meu diário, mas eu
simplesmente só conseguia pensar em como eu queria abraçar o Giyuu. Eu queria sentir seu corpo
quente novamente, queria beijá-lo, queria ouvir sua risada gostosa… Como é difícil ficar longe da
pessoa que você ama! Era uma tarde ensolarada, eu estava no dos salão de estudos. De repente, a
mestre Tamayo apareceu. Ela tinha uma expressão apreensiva no rosto.
— Shinobu, organize suas coisas. Estamos de partida.
— Hã? Como? Pensei que ficaríamos mais tempo por aqui!
— Não tenho como explicar agora. Arrume-se o quanto antes e vá para o portão de entrada.
— Tudo bem…
Assim como ela me pediu, organizei minhas coisas, me despedi das mulheres que encontrei e
assim que o portão se abriu, eu tomei um grande susto.
— Giyuu?!
— Shinobu!
Sem pensar muito, eu soltei minhas coisas no chão e fui até ele, enquanto que Giyuu pulou do
cavalo, correu em minha direção e me pegou no seu colo. Nos abraçamos com força e eu me senti
muito feliz por sentir o calorzinho dele de novo. No entanto, eu estava confusa, pois não era para
ele estar tão longe do templo.
— O que está acontecendo? Por que estão aqui? — perguntei, desnorteada.
— Bem, é uma longa história! Te conto no caminho de volta.
Quando olhei para o lado, vi que Yushiro estava acompanhado de Sanemi, que levava uma garota
em sua garupa. Ela estava coberta com um manto e não pude ver seu rosto direito.
— E quem é aquela garota?
— É que… acho que você a conhece muito bem, Shinobu.
— Como assim?

~~ Dias antes - caminho do templo das mulheres ~


Após algumas horas na estrada, minha euforia se transformou em ansiedade e eu já não estava me
divertindo tanto. Eu estava contando as horas para ver Shinobu de novo e a distância estava contra
mim naquele momento. Fizemos nossa primeira parada em um vilarejo. Decidimos passar à noite
em uma velha estalagem, já que a floresta não era muito confiável naquele horário.
Nós decidimos comer alguma coisa antes e ficamos na área onde as pessoas se alimentavam e
bebiam. Assim que sentamos, uma garota bem magra e de cabelos longos se aproximou de nós. Ela
tinha uma expressão triste no rosto. Olhei para o lado e notei que Sanemi estava boquiaberto.
— Po-posso serví-los com um pouco de ensopado? — ela perguntou.
— Claro, por favor. Três ensopados! — disse Yushiro.
A garota saiu e Sanemi a acompanhou com o olhar. Eu dei uma discreta cotovelada nele.
— Ei! O que está fazendo?
— Ah! Foi mal! É que… ela é bonita, né. Não pude evitar! — disse Sanemi, desajeitado.
A garota voltou com uma bandeja nas mãos, porém ela tropeçou e derramou tudo no chão. Um
homem forte se aproximou, a puxou pelos cabelos e gritou:
— Você é burra, Kanae? Não sabe fazer nada?! Eu sabia que eu devia ter deixado você passando
fome na rua! Lixo!
— Aaaah! Desculpa, desculpa! — ela começou a chorar e o homem levantou a mão contra ela.
Sanemi se levantou da mesa de uma vez, o que espantou Yushiro.
— Sa-Sanemi, onde você vai?
Ele foi até o homem que gritava com a garota, o segurou pelo punho e o encarou.
— Um homem não deve bater em uma mulher. — ele disse.
— O que você quer, garoto? Não se meta! — gritou o homem.
— Deixa ela! Não vê que ela é sensível e que vai machucá-la?! — disse Sanemi.
A garota ficou nervosa e disse:
— Tu-tudo bem! Foi culpa minha! Eu vou limpar e trazer um novo ensopado para vocês. — disse a
garota.
Fiquei desnorteado por um tempo com a cena, até que eu fixei o nome da garota em minha mente.
"Espera, Kanae?! De onde eu já ouvi esse nome?"
A garota sumiu de nossas vistas, enquanto o homem ficou resmungando no canto da taberna.
Sanemi voltou para a mesa e sentou-se, em silêncio. Depois de pensar um pouco, eu me levantei de
uma vez da mesa, o que causou espanto em Yushiro.
— Giyuu?! O que foi?!
— E-eu preciso conferir uma coisa! — eu saí da taberna e dei a volta, na tentativa de alcançar os
fundos do lugar. Encontrei a garota chorando do lado de fora, agachada e abraçada com suas
pernas. Me aproximei devagar e falei com ela. — Ei!
A garota me encarou com um olhar assustado e secou as lágrimas rapidamente.
— Se-seu ensopado já está chegando… Desculpe a demora… — ela se levantou e voltaria para a
taberna, porém eu corri e segurei seu punho. — Aaaah! O que você quer?!
— De-desculpa! Eu não quis te assustar. — eu a soltei e cocei a cabeça. — Sabe, parece um pouco
invasivo o que vou te perguntar, mas… por acaso, você não tem uma irmã?
— Uma… irmã? Vo-você sabe de alguma coisa sobre ela?! Sabe onde ela está? — ele arregalou os
olhos e me agarrou pelos braços.
— É que… por acaso, ela se chama Shinobu?
— Shinobu?! Você sabe onde ela está?! — gritou a garota, que se aproximou ainda mais de mim.
— Então, é verdade! Você é a irmã da Shinobu!
— Você a conhece?! Onde ela está?! Ela está viva?! — Kanae voltou a chorar.
— Calma, calma! Ela está bem! Na verdade, nós estamos indo buscá-la agora mesmo.
— É sério?! Ai, nossa! Eu quero muito vê-la, mas… eu não posso sair daqui…
— Ora, por que não?
— É que… eu estou devendo dinheiro a esse homem e ele disse que não vai me deixar sair daqui
enquanto eu não pagar.
— É muito dinheiro?!
— Sim… — ela disse, preocupada.
— Hum… Não se preocupe! Nós vamos dar um jeito de te tirar daqui!
— Verdade?! — ela segurou minhas mãos e me encarou.
— Sim! Vou pensar num plano!
— Obrigada! Obrigada! — ela me abraçou e eu fiquei estático. Eu rapidamente me soltei dela,
pois veio em minha mente uma Shinobu irritada.
— Me encontra aqui fora quando a taberna fechar. Eu vou dar um jeito de te esconder. — eu disse,
mesmo sem ter certeza do que estava fazendo.
— Certo! Obrigada!
Eu decidi retornar para a taberna. Yushiro já ia se levantar, quando me aproximei da mesa.
— Onde você estava?! Eu já estava indo te procurar!
— Calma, está tudo bem! É que, eu descobri uma coisa importante sobre aquela garota.
— Você foi dar em cima da garota?! Vou contar tudo para a Shinobu, está ouvindo? Que o
namoradinho dela se aproveita que ela está longe para paquerar com desconhecidas!
— Não seja idiota! Não é nada disso! É que… aquela garota é a irmã perdida da Shinobu! —
sussurrei.
— A Shinobu tem uma irmã?! — Yushiro e Sanemi disseram ao mesmo tempo.
— Isso mesmo! No caso, é aquela garota!
— Então, vamos levá-la com a gente! — disse Sanemi.
— Ela disse que está devendo muito dinheiro! Não tem como aquele homem a deixar sair. —
expliquei para eles.
— Hum… Vamos tirá-la daqui, então. — disse Sanemi.
— Pessoal, acham mesmo que é uma boa ideia nos metermos em confusão?! Nós vamos precisar
de um lugar para dormir na volta também… — disse Yushiro.
— A gente dá um jeito! Se ela é a irmã da Shinobu, eu tenho que ajudá-la! — disse com
determinação.
— Ai, nossa! Vamos fazer o seguinte: vamos comer, descansar um pouco e depois partiremos antes
do amanhecer. Vamos torcer para que o homem não nos encontre… — disse Yushiro.
— Ótimo.
Quando Kanae se aproximou da mesa para entregar os ensopados, contei a ela o nosso plano.
— Tudo bem! Eu estarei pronta!
Assim como planejado, antes do amanhecer, nós nos organizamos, deixamos o dinheiro no balcão
e fomos até o lado de fora. Kanae já nos aguardava, coberta com uma manta escura.
— Estou aqui! — ela acenou.
— Então, vamos nessa!
Fomos até o estábulo, pegamos nossos cavalos e montamos, porém a garota parecia receosa.
— Temos mesmo que montar num cavalo? — ela questionou.
— Sim! É a única forma de sairmos daqui.
— Mas eu tenho medo! — ela falou.
— Você pode ir comigo, se você quiser! — disse Sanemi, meio desajeitado.
— Oh! Obrigada! — disse Kanae.
— Eu te ajudo a subir! — eu me aproximei dela e a ajudei a montar na garupa de Sanemi.
— Obrigada!
— Você pode se segurar em mim, se ficar com medo… — disse Sanemi.
Sem pensar muito, Kanae se agarrou a ele, o que fez o rosto dele ficar bem vermelho. Acho que foi
a primeira vez que vi Sanemi tão envergonhado.
— Certo! Vamos de uma vez! — disse Yushiro.
Em alguns minutos, já estávamos distantes do local e a caminho do templo. Fiquei imaginando a
cara do dono da Taberna quando ele acordasse e percebesse que Kanae havia ido embora.
Seguimos em viagem, fizemos algumas paradas e finalmente conseguimos chegar no templo.
Assim que eu vi Shinobu, meu coração disparou e eu nem pensei muito. Apenas saltei do cavalo,
corri em sua direção e a peguei no colo. Depois de abraçá-la com força, eu a deixei tocar o chão e
ela me perguntou:
— O que está acontecendo? Por que estão aqui? — perguntei, desnorteada.
— Bem, é uma longa história! Te conto no caminho de volta.
Eu notei que ela olhou para o lado, em direção a Sanemi. Fiquei imaginando que tipo de reação ela
teria quando soubesse que aquela é a sua irmã perdida.
— E quem é aquela garota?
— É que… acho que você a conhece muito bem, Shinobu.
— Como assim?
— É que ela é a sua… — antes que eu terminasse a frase, Tamayo apareceu e disse:
— Vamos! Não podemos perder tempo! O templo pode estar em perigo!
— Senhorita Tamayo, estamos prontos. — disse um dos homens que guiou a carroça durante a ida.
— Eu vou na frente com o pessoal, leve o seu tempo. Vamos, Yushiro! Giyuu, Shinobu, vamos!
— Certo! — eu voltei ao cavalo, montei e ajudei Shinobu a subir. Ela se abraçou a mim e encostou
sua cabeça em minhas costas.
— Senti saudades! — ela disse.
— Eu também! — eu acariciei a mão dela.
— E o que está acontecendo?! Por que vieram nos buscar?
— Shinobu, estamos com problema no templo…
Durante a viagem, eu expliquei toda a situação que havia ocorrido.
— Oh, não! Ele queria te levar?! Não, não pode ser!
— Isso mesmo! Eles disseram que voltariam e levariam alguns jovens para servir ao exército de
Muzan.
— Oh! Nossa! E o que vamos fazer?! Isso não pode acontecer! — ela disse.
— Não sei! Por isso, viemos buscar a mestra! Temos que encontrar uma solução o quanto antes!
Prosseguimos com a viagem e decidimos descansar pela floresta, pois não queríamos ficar muito
tempo parados. Notei que Shinobu não tirava os olhos da outra garota montada no cavalo junto
com Sanemi e aproveitei que estávamos parados para finalmente contar a ela quem havíamos
encontrado no caminho.
— Shinobu, tem alguém que você procurou por muito tempo e que encontramos por acaso durante
nossa viagem.
Eu segurei a mão dela e a levei em direção à garota, que logo desmontou do cavalo. Assim que ela
desmontou, ela tirou o capuz e revelou seu rosto. Shinobu parou de caminhar e as duas ficaram se
encarando.
— Shi-Shinobu?! É você?
— Hã? Vo-você me conhece?
— É que, se você for mesmo quem eu estou pensando, eu conheço sim…
— Como é seu nome?
— Eu me chamo Kanae.
— Ka-Kanae?! — Shinobu se aproximou um pouco e me encarou. Ela seguiu e se aproximou da
garota. — Eu tinha uma irmã com seu nome.
— E eu tinha uma irmã com o seu…
Elas ficaram frente a frente e Kanae disse:
— Por acaso, você se lembra o que nossa mãe fazia todas as noites antes de dormir?
— Eu… eu me lembro! Ela penteava nossos cabelos por um tempo, deitava entre nós duas e
cantava uma canção… Eu não me lembro bem…
— Era algo como " dorme menina, que as estrelas virão iluminar teu sono"... — cantarolou Kanae.
— Sim! Isso mesmo! Kanae! — Shinobu começou a chorar e abraçou a garota, que retribuiu o
abraço.
— Que bom que ainda está viva! — disse Kanae.
Fiquei apenas observando a cena e Sanemi se emparelhou ao meu lado.
— Então, elas são mesmo irmãs!
— Sim! Que bom que puderam se reencontrar!
— Será que… ela vai ficar com a gente?
— Não sei…
Olhei para o rosto de Sanemi e vi uma expressão diferente da carrancuda de sempre. Cruzei os
braços e encarei, até que ele percebeu.
— O que é?!
— De repente, você está bem interessado na moça nova, né?!
— O quê?! Cala a boca, cara de peixe morto! — ele resmungou. — Vamos procurar madeira para
fazermos uma fogueira.
— Tá! — fiquei com vontade de sorrir, já que ele ficou desajeitado e o segui.
Encontramos alguns pedaços de madeira e fizemos uma fogueira. Aproveitamos para caçar algum
animal pequeno ao redor e garantimos o jantar. Shinobu e Kanae ficaram conversando o tempo
todo, enquanto eu fiquei apenas observando de longe. Na hora de dormir, elas ficaram juntas,
enquanto eu tive que me consolar em ficar perto do Sanemi.
No dia seguinte, Shinobu ainda exigiu que eu desse o cavalo para ela e no caminho de volta, fui na
pior situação possível.
— Isso é humilhante!
— E você acha que eu gosto de ter um cara na minha garupa?! — resmungou Sanemi.
— Aff…
— Por que não disse para Shinobu ir com você?
— Ela me obrigou a descer do cavalo, porque queria passar um tempo com a irmã dela… Fazer o
quê! Elas precisam desse tempo mesmo…
Ainda fizemos mais duas paradas até finalmente nos aproximarmos da região do templo. Para mim,
foi muito interessante conhecer mais dos arredores, porém fiquei um pouco chateado por não ter
tido muito tempo ao lado da Shinobu, apesar de saber que a irmã dela merecia ser sua prioridade
naquele momento. Assim que avistamos os arredores do templo, notamos algo suspeito.
— Quanta fumaça! — comentou Shinobu.
— Isso está estranho, senhorita Tamayo. — disse Yushiro.
— Tenho um mau pressentimento quanto a isso… — disse Tamayo
Capítulo XII

À medida que nos aproximávamos do templo, a quantidade de fumaça aumentava e ao finalmente


chegarmos no portão de entrada, o pavor foi inevitável. O local inteiro estava em ruínas. Eu custei
a acreditar no que estava vendo.

— O templo! O templo está em chamas! — gritou Yushiro.

— Oh, céus! O que está havendo? — disse Tamayo.

— Que horror! — Shinobu levou as mãos até a boca.

O cenário era caótico. Várias casas foram destruídas, coisas estavam espalhadas pelo chão e um
rastro vermelho cobria parte da areia. Algumas pessoas tentavam deter as chamas, outras gritavam
ou choravam em horror, enquanto algumas tentavam socorrer os feridos. Daquele ponto em diante,
eu concluí que não haveria mais paz para nós.

— Shinobu, temos que ajudar aos feridos! Yushiro, verifique se ainda tem algum lugar para onde
possamos levá-los! Giyuu, Sanemi, ajudem a conter o fogo!

— Certo!

— E-eu posso ajudar com alguma coisa?! — perguntou Kanae.

— Sabe tratar feridas?

— Sei um pouco…

— Então, venha comigo! — determinou Tamayo.

Corri até onde havia uma concentração de pessoas. Elas tiravam a água de um poço e a levavam
até as casas. No entanto, deixei Sanemi ir na frente, pois eu imediatamente preferi encontrar meu
irmão antes de qualquer coisa.

— Sabito…

Comecei a correr pelo templo e a gritar seu nome, porém não obtive resposta. Um certo desespero
tomou conta de mim, até que eu lembrei que ele havia ficado com Obanai e Mitsuri. Corri até a
casa deles e quando me aproximei, vi que Obanai segurava Mitsuri em seu colo.

— Obanai, o que aconteceu?

— Giyuu?! Graças aos céus que eles não encontraram com vocês pelo caminho!

— O que houve?! O seu olho direito! Por que está assim?!

— Fomos atacados por um grupo de soldados do imperador. Eles vieram buscar dinheiro e
homens! Tentaram até mesmo levar as crianças, porém nós reagimos e eles colocaram fogo em
tudo! Tivemos uma breve batalha. Como eles estavam em menor número, desistiram. No entanto,
eles devem voltar em breve.

— Não acredito! Aquele…

— Obanai…
— Calma, meu amor. Eu vou encontrar ajuda para você. Giyuu, onde está a mestra? Preciso levar
Mitsuri até ela.

— O que aconteceu com ela?

— Alguns homens tentaram levar o Minori, porém Sabito o protegeu. Um dos guardas bateu nele,
porém Mitsuri avançou para evitar o pior. Ela protegeu o Sabito e o Minori, porém levou um corte
no peito. Eu consegui matar o infeliz que os machucou, porém estou preocupado com a ferida.

— Oh! Misturi, obrigado por proteger o Sabito! Vou ficar em dívida com você! E onde ele está
agora?

— Eu mandei eles se esconderem dentro de casa, porém acho melhor tirá-los de lá. As chamas
estão se aproximando. — disse Obanai.

— Obanai, a mestra deve estar no salão principal. Pode levá-la, eu vou buscar os garotos.

— Tudo bem. Conto com você!

Ele saiu com a esposa no colo e eu corri em direção à sua casa. Eu entrei rapidamente e comecei a
gritar por Sabito. De repente, eu o vi sair debaixo da cama, acompanhado de Minori, que parecia
desnorteado e chupava um dos polegares.

— Sabito!

— Maninho! — ele correu em minha direção e me abraçou. — Uaaaah! Fiquei com medo! — Eu
o abracei com força e depois olhei para seu rosto. Havia uma mancha roxa em sua bochecha.

— Está tudo bem. Eu estou aqui! Calma! — Eu acariciei os cabelos dele. — Olha o que eles
fizeram com você! Desculpa, eu não devia ter te deixado para trás!

— Eles disseram que iam me levar embora! Eles machucaram a minha mãe por minha culpa! E
agora?

— Mãe?

— Minha mãe Mitsuri!

Provavelmente, Sabito resolveu finalmente adotá-los como seus pais devido a influência do
Minori.

— Não foi sua culpa, Sabito! Você apenas quis defender o Minori.

— Uaaah!

— Pronto! Pronto! Eu estou aqui com você!

Minori veio até mim, segurou na minha calça e disse:

— Mamãe! Quero a mamãe!

— Calma, Minori. Sua mãe vai ficar bem!

— Cadê a mamãe? Papai! Quero o papai!

Eu segurei Minori no colo e tentei consolá-lo um pouco. O menino me abraçou e Sabito me


agarrou pela cintura. Eu fiquei sem saber o que fazer naquele momento e tudo que fiz foi tentar
manter a calma como podia. De repente, uma parte do telhado caiu. As chamas já haviam
alcançado aquele lugar. Saí rapidamente de dentro da casa, deixei os garotos no salão principal e
voltei para tentar apagar o fogo. Infelizmente, não conseguimos salvar a casa do Obanai. Aquele
dia de terror pareceu o mais longo da minha vida. Horas depois, com as chamas controladas,
conseguimos nos organizar para cuidar dos feridos. Kyojuro estava com um corte no braço, porém
superficial, para meu alívio.

— Kyo, eu trouxe um pouco de comida.

— Valeu, Giyuu… Cara, foi um verdadeiro inferno! Eu achei que todos nós morreríamos! Por
sorte, estávamos em maioria!

— Entendo… Sinto muito por não estar aqui para ajudar…

— Não se culpa, cara! Não tinha muito o que fazer! Infelizmente, nem todos escaparam… —
olhamos para a pilha que era reunida ao lado.

— É uma pena… Bem, vou ficar com o Sabito e o Minori agora. Me avisa se precisar de algo. —
eu toquei de leve no braço dele e fui até o salão principal, onde os feridos eram atendidos. Sabito e
Minori estavam com Obanai. Os três acompanhavam Mitsuri, que dormia naquela hora. Eu me
aproximei, Sabito correu até mim e me abraçou.

— Sabito, vamos cuidar desse rosto!

— Tá bom.

— Obrigado por cuidar do Sabito, Obanai.

— O Sabito protegeu o Minori, eu que sou muito grato a ele.

Sabito foi até o amiguinho e alisou a cabeça dele.

— Minori, eu vou com meu irmãozão agora. Depois, eu venho brincar com você.

— Tá bom… — disse o garotinho. Ele logo foi para os braços de Obanai, sentou no colo dele e
alisou a atadura em seu olho. — Papai, tá dodói!

— Logo vou ficar bem. Foi só um corte na pálpebra. — ele explicou.

— Um… Obanai, Minori, onde estão? — murmurou Mitsuri.

— Estamos aqui. Pode ficar relaxada. — Obanai segurou na mão dela.

Eu decidi dar espaço para eles e levei Sabito até Shinobu, que secava a testa, depois de fazer mais
um curativo.

— Shinobu, preciso de uma ajudinha com o Sabito.

— Oh, não! Sabito o que aconteceu com você? — ela se aproximou dele e olhou seu rosto de perto.
— Que horror! Como fizeram isso com você! Que absurdo!

— Mana, você voltou! — ele a abraçou.

— Sim, meu amor! Estou de volta! — ela retribuiu o abraço. — Agora, deixa eu cuidar desse
rosto, tá bem?
Shinobu começou a passar uma pomada no rosto dele e Sabito começou a gemer de dor.

— Calma, logo vai passar. — eu disse.

Após terminar de cuidar do rosto dele, ela sentou em uma cadeira. Shinobu parecia exausta.

— Mana, tá cansada? — perguntou Sabito.

— Está tudo bem… — ela disse.

— Descansa um pouco, Shinobu…

Eu me aproximei dela e ela se abraçou à minha cintura. Eu acariciei os cabelos dela.

— Eu nunca imaginei que voltaria a viver tudo isso de novo… — ela comentou.

— Nem eu… Infelizmente, parece que a paz acabou…

Sabito ficou olhando para nós dois e deu uma risadinha.

— O que foi, Sabito?

— Vocês parecem casados, assim abraçados!

— Sabito, você ia gostar, se eu me casasse com a Shinobu? — ela me encarou e depois encarou
Sabito.

— Sim! Vocês seriam felizes e Sabito seria feliz também!

— Ah! Como você é fofo, Sabito! Vem cá! — Shinobu abriu seus braços e Sabito foi até ela. Eles
se abraçaram e Sabito abriu um dos braços, como se me chamasse para me unir a eles. Eu me
aproximei e ficamos abraçados por um tempo.

— E quando você vai casar com a irmãzona? — ele perguntou.

— Em breve, Sabito! — eu acariciei os cabelos dele.

— Quando eu fizer meus dezoito anos. — ela disse.

— Eba!! — comemorou Sabito.

De repente, nós ouvimos alguém chamar a Shinobu.

— Estou aqui! — ela disse.

— Shinobu, é que… Ah, olá! — Kanae apareceu e parou quando nos viu. — É que… eu terminei
com os curativos e vim ver como você está.

— Estou apenas cansada. Você está bem, Kanae?

— Sim! Não se preocupe!

— Quem é essa moça bonita? — perguntou Sabito. Kanae deu uma risadinha.

— Ah! Sabito, essa é minha irmã! O nome dela é Kanae.

— Irmãzona tem uma irmãzona?! — ele ficou confuso.


— Ela é minha irmã de sangue, Sabito. Fala oi para ela. — disse Shinobu.

— Olá! Como vai? — Kanae acenou para ele.

— Oi! — ele se escondeu atrás de mim e deu uma risadinha.

— Que cabelo mais bonito que você tem! Todo laranjinha! — Kanae aproximou-se e abaixou-se
para vê-lo de perto. Ele saiu de trás de mim e se aproximou dela. Ela entendeu as mãos para ele e
foi correspondida. — Você é muito lindinho, sabia? Eu queria ter um irmãozinho lindo como
você!— disse Kanae.

Sabito ficou envergonhado e deu uma risadinha.

— Você gostou dela, Sabito? — perguntou Shinobu.

— Uhum! — ele disse.

— Ela pode ser sua nova irmãzona, se você quiser! — disse Shinobu.

— Uma irmãzona nova?! Legal! Eu quero! — ele disse.

— Pois agora, eu vou ser sua irmãzona também! — disse a garota, que o abraçou.

— Pessoal, vamos nos reunir no centro do templo. A mestra quer falar conosco. — disse Sanemi.

— Tudo bem. Sabito, você deve ficar perto de mim, certo?

— Sim! — ele segurou na minha mão.

Assim que nos reunimos, notamos uma movimentação estranha na entrada do templo.

— São cavalos! Um grupo de aproxima! — gritou um dos membros que veio correndo em nossa
direção.

— Droga! De novo não! — disse Obanai, que se levantou, com Minori nos braços.

— Papai! — o garotinho se agarrou a ele.

— Essa não!

— Peguem suas armas! — gritou Yushiro.

Uma grande correria começou. Não conseguíamos ver por conta do resquício de fumaça ao redor,
então não podíamos identificar se eram aliados ou inimigos que se aproximavam. Sabito se agarrou
a mim e começou a gritar, nervoso.

— Não deixa eles levarem o Sabito! Não deixa!

— Calma, eu não vou deixar que te levem!

— Por favor, maninho, não deixa! — ele começou a chorar.

— Giyuu, o que faremos agora?! — perguntou Shinobu.

Eu me abaixei para encarar Sabito de perto e segurei seus ombros.

— Sabito, vai ficar tudo bem! Eu vou te proteger! Agora, quero que saia daqui com a Shinobu. Eu
vou atrás de vocês logo.

— Maninho…

— Mas, Giyuu… — foi a vez de Shinobu ficar nervosa. Eu me levantei e apoiei as mãos em seus
ombros.

— Shinobu, fique na enfermaria com o Sabito. Leve a Kanae com você. Arranje uma espada, o que
for.

— Você vai ficar bem?! — ela perguntou.

— Farei o meu melhor! Eu vou me encontrar com vocês em seguida!

— Giyuu… — nós nos abraçamos rapidamente.

Obanai veio acompanhado de Sanemi e Kyojuro.

— Shinobu, leva o Minori com você! Se puder, fique perto da Mitsuri, ela ainda está muito ferida.
— ele pediu.

— Papai… — o garotinho se agarrou a ele.

— Minori, você tem que ficar para proteger a mamãe. Eu vou ficar bem. — ele beijou o filho no
rosto. — Shinobu recebeu Minori dos braços dele.

— Vai, Shinobu! E não saia de lá até que eu apareça. — recomendei.

— Tudo bem! Vem, Sabito! Kanae! — ela saiu com os outros três.

— Obanai, você deveria ir descansar também. — disse.

— Acho que quanto mais ajuda, melhor.

Sacamos nossas espadas e logo vimos as bandeiras do império presas nos cavalos. Como esperado,
os inimigos ainda não estavam satisfeitos.

— Vocês traíram a vontade do imperador Muzan. Vocês deverão pagar por seus crimes! — gritou
um dos homens

Eu desembainhei minha espada e logo estávamos cercados. Pessoas lutavam por todo lugar. Os
gritos de dor, os choques das lâminas, a cor vermelha que voltava a colorir o chão. O cenário
rapidamente tornou-se caótico.

— Morra, maldito! — gritou um dos homens, que veio em minha direção.

Eu girei minha espada e o atingi em cheio no peito. Depois, contive o ataque de outro e o acertei
com um chute no estômago. Ele revidou e eu cortei sua garganta. Fazia tempo que não sentia
aquela sensação terrível de quando se perfura a carne de alguém. Os outros ao meu redor também
lutavam bravamente. Kyojuro conseguia cortar vários rapidamente, enquanto Sanemi apoiava
Obanai, que estava com mais dificuldade para lutar com um dos olhos cobertos. De repente, notei
que estávamos em completa desvantagem e que boa parte das pessoas do templo começava a cair.

— Droga! O que vamos fazer agora? — gritou Kyojuro.

— Temos que proteger o templo! Não temos escolha! — gritei.


A luta continuou de forma intensa e subitamente a desvantagem tornou-se nítida. Pessoas
começavam a ser derrubadas, desarmadas ou feridas. Mesmo com toda minha habilidade, eu notei
que logo não conseguiria conter os ataques que vinham de todos os lados. Os outros já estavam
feridos e logo sucumbiriam. Eu estava no meu limite também. Após um corte no meu braço, eu
desequilibrei e caí com as costas no chão. O inimigo me perfurou no ombro com sua lança, porém
uma flecha acertou sua cabeça e o derrubou.

— Giyuu! — eu ouvi alguém gritar e quando eu olhei para o lado, percebi que a sorte havia sorrido
para nós. — Giyuu! — Makomo apareceu montada num cavalo, acompanhada por Tanjiro e os
outros.

— Makomo!

Ela rapidamente saltou do cavalo, acompanhada dos demais e veio em minha direção. Uma nova
luta começou e com a chegada de mais pessoas, nós viramos à batalha em nosso favor. Makomo
me ajudou a levantar e perguntou:

— Giyuu, o que diabos estava havendo aqui?

— Os homens de Muzan tentaram levar alguns de nós, inclusive o Sabito. Como reagimos, esse
ataque é uma represália. — resumi.

— O Sabito?! E onde ele está agora? — ela perguntou, nitidamente preocupada.

— Está com a Shinobu na enfermaria. — eu disse.

— Certo! Então, é hora de botar os ratos do Muzan para correr daqui! — ela disse.

A luta continuou por certo tempo, porém com nossa vantagem numérica, os soldados de Muzan
sobreviventes decidiram abandonar o templo e fugir. Vitoriosos, só nos restou comemorar e
descansar. Assim que o tumulto acabou, eu fui rapidamente até a enfermaria.

— Sabito, Shinobu, onde estão?

— Aqui! — Shinobu apareceu, acompanhada do meu irmãozinho. Eles correram até mim e nós
nos abraçamos. — Vocês estão bem?

— Sim! Estamos todos bem! — ela disse. — Makomo?!

— Oi, Shinobu! Que bom que nada aconteceu com você! — elas se abraçaram e Makomo logo
abraçou o Sabito. — Meu irmãozinho querido, que bom que não está machucado.

— Irmãzona, você também voltou! — ele disse e se agarrou a ela.

— Sim! Vim te ver, meu amor! — disse Makomo.

— Pessoal, estão todos bem? — Kyojuro apareceu e seus olhos se arregalaram. — Ma-Makomo?

— Oi, Kyojuro! — ela disse e correu para abraçá-lo. — Sentiu saudades?

— Claro! — ele retribuiu ao abraço.

— Bem, eu preciso conversar com a Tamayo agora. Eu já volto. Vem comigo, Kyojuro. — disse
Makomo.

— Tá bem!
Obanai apareceu em seguida e foi até Mitsuri, que estava adormecida com Minori ao seu lado.
Kanae resolveu sair do canto em que estava e se juntou a nós.

— Você está bem, Kanae?

— Sim, só um pouco assustada. — ela disse e segurou no braço de Shinobu.

— Não se preocupe, estamos bem agora, só não sei por quanto tempo. — expliquei.

— Giyuu, me deixa eu cuidar desses cortes! Vem aqui. Kanae, fica com o Sabito, está bem? —
disse Shinobu.

— Sim, pode deixar! — ela disse.

— Vocês não vão embora sem mim, hein? — disse Sabito.

— Eu não vou te deixar para trás de novo, Sabito. Pode confiar! — disse a ele.

— Tá bom…

Shinobu me levou até uma das camas da enfermaria, fechou a cortina e pediu para que eu tirasse a
camisa. Enquanto ela colocava a pomada no meu ombro, aproveitei para acariciar os cabelos dela.
Ela me encarou com seus olhos violeta.

— Shinobu, eu estava com saudades…

— Eu também, Giyuu! Foi muito chato sem você lá.

— Você aprendeu muitas coisas?

— Sim! Muitas coisas importantes para cuidar dos outros e também… — ela mordeu o lábio
inferior. — coisas de esposa…

— Coisas de esposa?

— Sim! Coisas que uma mulher casada pode fazer… — o rosto dela ficou vermelho e eu não
contive a risada.

— Então, você estudou coisas especiais para usar comigo?

— Si-sim!

— E por que não me mostra agora? — eu a puxei para a cama e depois me posicionei por cima
dela.

— Giyuu!! — ela ficou ainda mais vermelha. — Agora não é a hora! Olha só como está esse
ombro!

— Então, mal vejo a hora de você me mostrar! — eu a beijei com entusiasmo e ela me envolveu
com seus braços. Nós ficamos naquele beijo por um tempo. Quando nossos lábios se separaram, eu
sorri e disse:

— Te amo, Shinobu!

— Eu também te amo, Giyuu! — ela acariciou meu rosto e disse: — Fico aliviada que você não
tenha se machucado muito. Eu estava preocupada! No entanto não é o momento errado para dizer
algo assim?!

— Eu não podia perder a oportunidade de dizer isso!

— Bobo! — ela acariciou meu rosto. — Giyuu, você acha que ficará tudo bem?

— Não faço ideia! Por enquanto, está tudo bem. Foi um pouco complicado no início, mas a
Makomo apareceu com reforços e deu tudo certo. Mesmo assim, eu temo que eles voltarão com
ainda mais força…

Ela aproximou sua testa na minha.

— Giyuu, eu estou com medo. Não quero te perder, nem quero que as pessoas que eu gosto fiquem
machucadas.

— Vai ficar tudo bem, Shinobu! Nós vamos dar um jeito. Vamos sobreviver a essa guerra também.
— eu a beijei novamente e me sentei ao lado dela na cama. — Acho melhor verificarmos como as
coisas estão lá fora.

— Sim! É melhor! — Ela concordou.

Assim que saímos da enfermaria, nos deparamos com Sanemi.

— Pessoal, vamos nos reunir no pátio. Mestre Tamayo quer conversar conosco. — avisou.

— Certo.

Fomos até o pátio e nos sentamos perto um dos outros. Sabito veio até mim e sentou nas minhas
pernas.

— Maninho! — ele se abraçou a mim e eu retribui.

— Está tudo bem, Sabito?

— Os homens malvados! Eles queriam levar o Sabito!

— Não se preocupe! Ninguém vai te levar para lugar algum enquanto eu estiver aqui.

Mestra Tamayo veio até o centro do grupo e disse:

— Meu caros, a fúria do Muzan atingiu nosso amado templo. Temo que isso é apenas o anúncio de
uma guerra que se aproxima. Como nosso lar não é mais seguro, receio que teremos que partir.

— Como é?! — disse Sanemi.

— Partir?! Para onde?! — disse Obanai.

— O que faremos agora? — Shinobu parecia assustada.

— Peço que me escutem com atenção. — disse Makomo. — Como já dissemos antes, a guerra está
a caminho e sozinhos vocês ficarão indefesos. Nosso grupo tem um local próprio e nós temos
moradias onde vocês podem ficar, mesmo que temporariamente. Temos água, comida e podemos
lhe arranjar roupa ou o que quer que precisem. Antes que ainda mais soldados voltem, peço que
considerem essa opção.

— Eu sei que será difícil deixar tudo para trás, porém não temos mais escolha. O templo não é
mais seguro para nós. Por favor, peço que reúnam seus pertences mais importantes e se organizem.
Sairemos em duas horas.

— O quê?!

Eu confesso que fiquei desnorteado com a notícia e muitas outras pessoas do templo também. No
entanto, não tínhamos alternativa e decidi apenas aceitar ao que elas haviam sugerido. Eu não tinha
realmente muita coisa para levar, já que o fogo havia destruído o meu dormitório, então tentei
recolher o máximo de coisas da enfermaria. Consegui algumas cobertas, mantas, comida, remédios
e esteiras para que nós pudéssemos ter onde dormir. Shinobu já teve mais sorte e conseguiu roupas
para ela e sua irmã.

Organizamos as coisas numa carroça e assim como assinalado, grupos de moradores do templo
começaram a partir. Obanai conseguiu posicionar Mitsuri de maneira confortável na carroça e
Minori foi deitado ao lado dela. Kanae e Sanemi foram com eles, pois na carroça em que eu estava
já haviam muitos remédios e materiais. Sabito e Shinobu vieram comigo, e ficaram sentados na
carroceria, enquanto eu conduzia o cavalo. Dei uma última olhada no templo e senti um aperto no
peito. Era a segunda vez que eu perdia um lar. Era hora de recomeçar. Pelo menos, dessa vez, eu
não estava sozinho.
Capítulo xiii

A viagem foi mais longa do que eu imaginava. Acredito que passamos quatro noites pela estrada
até finalmente conseguirmos ver os primeiros sinais do nosso novo lar. Durante o percurso, eu pude
ter uma noção do caos que estava instalado ao redor. Pelos vilarejos onde passamos, havia fumaça
e destruição. Em alguns lugares, não havia mais ninguém, o que até nos deu a oportunidade de
pegar alguns mantimentos. À medida que nós nos distanciavamos do templo e encaravamos a
realidade, eu ficava cada vez mais preocupado. Seria aquele nosso destino no fim das contas? Viver
sem um lar fixo pelo resto da vida?

Fizemos algumas paradas para que os cavalos descansassem e nesses momentos, aproveitavamos
para comer e esticar as pernas. Apesar de toda aquela mudança, Sabito parecia animado com a
história de ter uma casa nova e junto com Minori, ele passava várias horas brincando de forma
despreocupada, o que me deixou mais aliviado e até um pouco com inveja. Queria eu não ter
nenhuma preocupação naquele momento. Mitsuri conseguiu se recuperar um pouco e já se
alimentava sozinha, porém Obanai sempre estava perto dela. Kyojuro estava sempre de conversa
com Makomo, enquanto Shinobu fazia companhia à sua irmã. Restava a Sanemi e a mim ajudar na
caça e na pesca.

— Cara, eu não faço ideia do que vai acontecer daqui em diante… Será que vamos sobreviver a
essa guerra? — comentava Sanemi.

— Espero que sim! Já foi difícil sobreviver a uma delas. Quero poder me casar com a Shinobu e ter
uma família com ela.

— E eu espero poder voltar ao meu reino… Falando na Shinobu, aquela irmã dela… Ela é bem
bonita, sabe…

— Hã?

— É que… eu gostei de conversar com ela. Ela é muito legal e fofa.

— Hum?! Está interessado na Kanae?

— Talvez?! Será que daria algum problema se eu me aproximasse dela?

— Nada, ué! Faz o que você quiser! Mas você sabe que a Shinobu vai te matar se você magoar a
irmã dela, né?

— Sei! Já sei como é a fúria da sua namorada… — ele disse e alisou a própria orelha.

— Ainda bem que você sabe!

— Ah, mas a Kanae é a irmã mais velha. Ela deve fazer o que bem entender e acho que não tem
problema se a gente se conhecer melhor… — falou Sanemi.

— Bem, você tem razão. Faz o que você achar melhor! Pode ser que a gente nem esteja vivo
amanhã mesmo, então porque ficar esperando?! — eu dei um tapa no ombro dele.

— Isso foi para me motivar, por acaso?! — resmungou Sanemi.

Na última noite que passamos pela floresta, ficamos reunidos ao redor de uma grande fogueira.
Organizamos alguns tapetes de bambu no chão para tentar dormir e nos dividimos em grupos.
Enquanto alguns dormiam, outros ficavam na vigilância. Eu estava encostado numa árvore,
observando o sono tranquilo de Sabito, de Minori, que estavam no meio de Obanai e Mitsuri,
quando Shinobu, que havia ido acompanhar a irmã em um local próximo, se aproximou de mim.

— Shinobu, está sem sono?

— Um pouco… — ela sentou-se ao meu lado. — Na verdade, eu queria te fazer companhia.

Eu abri a manta que estava sob meus ombros, deixei espaço para que ela entrasse, a puxei para
perto e nos cobri. Eu coloquei minha mão em sua cintura.

— Melhor companhia eu não poderia ter!

Ela abriu um sorriso tímido, levou a mão até meu rosto e acariciou minha bochecha. Ela
aproximou sua cabeça da minha e ficamos pertinho um do outro.

— Desculpa, te dei pouca atenção, né? Nós passamos um mês separados e nem tivemos tempo
para ficarmos juntinhos. Além disso, eu tenho que dar atenção também para a Kanae.

— Ah, mas não tem problema. Você deveria ter muitas coisas para falar com sua irmã!

— Sim! Passamos por muitas coisas diferentes, enquanto estávamos separadas. Pena que nos
reencontramos nessa situação!

— Não está nada fácil mesmo…

Shinobu entrelaçou sua mão com a minha e me encarou com seus olhos de tom lilás.

— Giyuu, eu estava pensando sobre nós…

— Hã? Como assim?

— É que… eu antes estava pensando em me casar com você apenas depois de ter feito algumas
coisas na vida, mas agora isso mudou… — ela disse.

— Mudou?! Por quê?! — eu fiquei um pouco apreensivo.

— É que… antes eu queria esperar mais tempo, no entanto agora eu não desejo esperar mais. Eu
quero me casar com você, o quanto antes! — ela disse.

— Sério?!

— Sim! Se vamos viver uma guerra, eu quero ter certeza de que fomos um do outro e que ninguém
vai poder nos separar mesmo após a morte! — ela me encarou com convicção e senti seus dedos
apertarem os meus com força.

— Mo-morte?! E quem disse que nós vamos morrer?! Não diga isso!

— É que…

— Eu prometo que vou te proteger, custe o que custar! E eu vou ficar vivo, pois quero ficar com
você até nossos últimos dias de vida.

— Giyuu… Você sabe que essa é uma promessa difícil de cumprir. Não tem como prevermos o
futuro…
— Ei, confia em mim! Vai ficar tudo bem! Mas, se você quiser casar antes, eu não vou achar ruim!
Até porque… — eu levei a boca até a orelha dela e sussurrei — eu quero ser seu marido logo,
porque assim poderemos fazer amor.

— Gi-Giyuu!

— Eu quero meu corpo coladinho com o seu, Shinobu…

— E-eu também…

Eu aproveitei a manta para cobrir nossas cabeças, aproximei meu rosto ao dela e a beijei. Ela
passou os braços pelo meu pescoço e eu a apertei pela cintura. Trocamos um beijo demorado, até
que ouvimos alguém gritar:

— Hora da troca de turno!

Eu tirei a manta de cima de nós rapidamente e fingimos que nada estava acontecendo. Shinobu e eu
nos encaramos, e começamos a conter a risada.

— Shinobu, vem dormir comigo.

— Mas a Kanae não está aqui. Ela pode acordar e ficar assustada! — ela disse.

— Ah, mas o Sanemi está perto dela. Ela vai ficar bem.

— Hã?! O que o Sanemi tem a ver com isso?!

— Ah, nada! É que ele é forte, né? Pode deixá-la protegida e talvez…

— Giyuu, você está me escondendo algo! — ela puxou a minha orelha. — Vamos, fala de uma
vez!

— Aiaiai! Eu não tenho nada a declarar!

— Giyuu…

— Ah! Tá, tá! É que eu acho que ele está interessado na sua irmã!

— O quê?! Aquele garoto… Ela nem chegou e ele já quer se aproveitar dela!

— Shinobu, não diga isso! O Sanemi é uma pessoa legal agora! Ele não faria algo assim! Eu
acho…

— Hum! Vou ficar de olho nele!

Eu a puxei para perto e a abracei.

— Você tem que olhar é para mim! Eu que sou seu noivo!

— Hahahaha. Seu bobo! Eu sempre estou olhando para você! — ela disse e me abraçou de volta.

— Os pombinhos aí não vão dormir não? — debochou Obanai, que se levantou do chão.

— Você tem como fazer a vigilância, Obanai? Está bem?

— Eu vou ficar bem. Eu vou ficar perto de você e te chamo para ajudar se for preciso. Descansa
um pouco. — ele disse.
— Tudo bem.

Shinobu e eu resolvemos nos deitar ao lado de Sabito. Nós trocamos mais um beijo, nos abraçamos
e nos cobrimos. Obanai ficou ao nosso lado, com o arco e a flecha nas mãos. Passado algum
tempo, acordei com a movimentação das outras pessoas ao redor, que já se organizavam para
partir. Sabito pulou em cima de mim e disse:

— Bom dia, maninho! Levanta, temos que ir viajar!

— Ah, bom dia, Sabito! Parece que está animado! — alisei os cabelos dele.

— Eu quero chegar na casa nova logo!

— Um… O que está havendo? — Shinobu acordou um pouco desnorteada.

— Bom dia!

— Bom dia, Giyuu. — ela deu um sorriso tímido, se aproximou de mim e beijou meu rosto.

— Ei, e o Sabito? — reclamou o garoto.

— Bom dia, meu irmãozinho mais lindo! — Shinobu o puxou para o colo dela e o beijou no rosto.
— Você dormiu bem, meu amor?

— Sim! Dormi! — ele disse.

Shinobu acariciou a bochecha roxa dele e sua expressão feliz mudou para uma entristecida.

— O que foi, irmãzona?

— Nada, Sabito! Está tudo bem! Acho que nós temos que organizar nossas coisas para a viagem.
— ela disse e se levantou.

— Sim, é verdade. Vamos nos organizar. — eu também me levantei.

Organizamos os tecidos nos quais nos deitamos, levamos as coisas para as carroças e retornamos
para a estrada. Shinobu decidiu ir com Kanae dessa vez e fui acompanhado por Sanemi e Kyojuro.
Enquanto seguíamos a estrada, eles resolveram puxar assunto:

— Algum dia vocês imaginaram que estaríamos tão longe do templo como agora? — perguntou
Kyojuro.

— Eu me imaginava bem longe do templo, porém não nestas circunstâncias… — disse Sanemi.

— Eu pensei que teria uma vida pacífica…

— Como será esse lugar para onde estamos indo? — perguntou Kyojuro.

— Não faço ideia… Só espero que fique tudo bem por lá…

— Hey, Kyojuro, não deveria estar com sua adorada Makomo? — brincou Sanemi.

— Ela está um pouco ocupada… — olhamos para frente e notamos que ela estava conversando
com Tanjiro e Tamayo. — Ela é uma líder. Ela tem muito o que fazer.

— E você, Sanemi? Fez algum progresso com a Kanae? — perguntei.


— Ah… Acho que sim! Conversamos bastante durante a viagem. Acho que posso dizer que a
conheço melhor… — ele ficou desajeitado como nunca o vi antes.

— Bem, espero que dê certo entre vocês! Assim, vamos ser uma família só, nós três! — brinquei.

— O quê?! Eu que não vou ser familiar desse idiota aí! — Sanemi deu um tapa na cabeça de
Kyojuro.

— É o quê? Saiba que ser meu parente é um grande privilégio, ok? — resmungou Kyojuro.

— Conta outra! — debochou Sanemi.

— Pessoal, acham mesmo que temos chance contra Muzan? — questionou Kyojuro.

— Não tenho certeza, porém se eu tiver que proteger o Sabito e a Shinobu, eu não vou pensar duas
vezes e vou lutar.

Enfim, após algumas outras horas, finalmente chegamos ao nosso destino. Aquele era um local
amplo, com várias casas e pessoas. Haviam vários animais de criação, árvores frutíferas e flores.
Diferente do nosso cenário caótico, as pessoas pareciam felizes por ali. Haviam outras crianças,
que corriam de forma animada por entre os adultos. Enfim, nós pudemos parar as carroças e todos
descemos. Makomo se aproximou de nós e disse:

— Bem-vindos ao seu novo lar! Eu sei que é muita novidade para absorver, mas espero que fiquem
à vontade. O que precisarem, basta me pedir.

— Certo.

— Irmãzona Makomo, têm crianças aqui! — Sabito disse, empolgado.

— Sim! Aqui, você poderá fazer vários amigos! — ela afirmou.

— Eba! — ele comemorou.

Um grande grupo de pessoas se aproximou para nos recepcionar.

— Bem-vindos! Podem ir chegando!

— Fiquem à vontade!

— É com muita alegria que os recebemos!

Depois de vários comprimentos, nós fomos encaminhados para algumas casas que ficavam perto da
entrada do vilarejo.

— Bem, Giyuu, essa é a minha casa! Sabito, Shinobu e você podem morar comigo! — ela disse.

— Bem, eu tenho que perguntar para Shinobu primeiro, pois ela deve querer ficar com a irmã
dela.

— Essa parte, eu deixo com você! — disse Makomo.

A casa era bem simples, com alguns quartos pequenos. Pelo menos, teríamos futons para usar.
Sabito logo começou a correr de um lado para o outro.

— Olha, que legal! Nossa casa nova! — ele comemorou.


— Você gostou, Sabito? — perguntei.

— Sim! Nós vamos ser felizes aqui! — ele disse, em sua inocência.

Shinobu apareceu em seguida, acompanhada da Kanae.

— Shinobu, Makomo disse que podemos ficar aqui na casa dela.

— Ah! Que ótimo! Será que a Kanae pode ficar aqui conosco?

— Bem, acho que vocês podem ficar juntas no mesmo quarto.

— Ah! Que maravilha! Vamos poder conversar sobre muitas coisas! — comemorou Kanae.

— Sim! Verdade! — comemorou Shinobu.

— Maninho, eu quero ver o Minori! — pediu Sabito.

— Eu já te levo até ele, ok?

— Tá bom!

Eu organizei algumas coisas na casa e depois sai de mãos dadas com Sabito. Assim que cheguei do
lado de fora, notei que Minori estava sentado no colo de Mitsuri, que estava sentada numa cadeira
de balanço na varanda da casa ao lado. Sabito soltou da minha mão e correu até ela.

— Espera, Sabito! — ele nem sequer me deu atenção.

— Mãe Mitsuri, você está bem? — perguntou Sabito e a abraçou devagar.

— Oi, meu benzinho! Estou melhor! — ela alisou as costas dele.

— Desculpa! Mãe se machucou por culpa do Sabito!

— Claro que não, meu amorzinho! Você protegeu o Minori! O mínimo que eu podia fazer era te
proteger! — ela disse.

— Mitsuri, muito obrigado mesmo por proteger o Sabito. Eu fico te devendo uma! — eu me
aproximei e fiz uma reverência.

— Ah, que isso! Não precisa me agradecer! — ela disse.

— Ah, fala sério! Não acredito que vou ter que aguentar vocês na minha casa! — resmungava
Obanai, que saiu para a varanda com os braços cruzados.

— Mas, Obanai, temos poucas casas aqui! Temos que dividir o espaço entre nós! — dizia Kyojuro,
que o acompanhava.

— É isso! Você vai ter que se consolar por enquanto! Além do mais, basta fazer pouco barulho de
madrugada! — debochou Sanemi.

— Barulho?! — perguntou Sabito.

— Cala a boca, Sanemi! — resmungou Obanai, que arregalou os olhos para ele. Sabito correu até
ele e o abraçou. — Você está bem, Sabito?

— Estou sim, pai! — ele disse e sorriu. — Seu olho está doendo? — perguntou Sabito.
— Não muito! Eu vou ficar bem. — ele disse e acariciou a cabeça dele.

Minori pulou do colo de Mitsuri e se agarrou a outra perna de Obanai.

— Abito, brincar! — ele disse.

— Sim! Vamos brincar, Minori!

— Sabito, não quero que você vá muito longe. Ainda não conhecemos esse lugar direito. Brinque
dentro de casa com o Minori, por enquanto, certo? — recomendei.

— Tá legal! Vem, Minori! — ele o segurou pela mão e levou o garotinho para dentro.

— Pelo menos, as crianças podem se divertir, mesmo em meio a tantos problemas… — comentou
Kyojuro.

— Pois é…

— Bem, estamos no nosso novo lar. Teremos muito o que aprender por aqui. — disse Sanemi.

— Vamos conversar com a Makomo e ver no que podemos ser úteis. Temos que ajudar em alguma
coisa. — disse Obanai.

— Certo. Acho que é o certo a se fazer.

Depois de devidamente instalados, nos apresentaram a área dos banhos termais. Aproveitei para
tentar relaxar um pouco. Os homens se reuniram por lá e ficamos passando o tempo jogando
conversa fora.

— Caramba, se não fosse essa confusão toda, esse seria um passeio incrível! — comentou
Kyojuro.

— Esse lugar é bem legal, na verdade. — disse Obanai.

— Eu ainda acho que dificilmente haverá um lugar como o templo…

— O templo se foi, Giyuu. É hora de deixá-lo para trás e tentar sobreviver… — disse Sanemi.

— Eu sei, mas não é tão simples deixar toda uma vida para trás.

— Não tem mais jeito, infelizmente teremos que nos acostumar com uma vida totalmente nova. —
disse Sanemi.

— Nem me fala… E logo agora que vamos ter mais um filho… — disse Obanai.

— O quê?! Misturi está grávida de novo?

— Sim! Descobrimos um mês antes de toda essa confusão. — contou Obanai.

— Nossa! Parabéns! — Kyojuro o cumprimentou.

— Bem, a família está crescendo! Você vai ter mais trabalho agora! — Sanemi estapeou as costas
dele.

— Com certeza! Muito mais trabalho! — disse Obanai.

— Espero que o bebê venha com saúde e que vocês possam ter uma vida feliz!
— Obrigado, Giyuu. — Obanai me cumprimentou.

— Bem, falando em família, quando vai finalmente deixar de ser um garotinho, Giyuu? —
debochou Kyojuro.

— Lá vem você com essa de novo… Não seja inconveniente, Kyo! — reclamei.

— Hahahaha. Ela não está facilitando muito para você, não é? — disse o loiro.

— Eu não estou preocupado com isso.

— Bem, recomendo que esperem mesmo. Ser pai tão jovem não é uma vida fácil. É um caminho
cheio de desafios, apesar de ter muitas alegrias. — contou Obanai.

— E agora com três filhos, né? — brinquei.

— Três?! — Obanai ficou confuso.

— O Sabito adotou você como pai dele agora, então vocês terão três. — disse.

— Hahahaha. Sabito é um garotinho incrível. Ele e o Minori se dão muito bem. Ele é mesmo como
seu irmão mais velho. Aliás, ele te admira muito, Giyuu. Só fala de você quando não está por perto.

— Eu tenho muito orgulho do meu irmãozinho e eu espero que ele tenha a chance de crescer e ser
feliz.

— Ah! Fala sério! Não vejo a hora de ter filhos! — disse Kyojuro, de forma aleatória.

— Melhor esperar um pouco, levando em conta que estamos em guerra.

— Aff… Será que nós vamos sobreviver? — Kyojuro olhou para o céu e se encostou na pedra.

— Eu espero que sim!

— Claro que vamos, seu trouxa! Vamos ficar velhos e rabugentos, e contar histórias da guerra. —
disse Sanemi.

— Tomara… — disse Obanai.

Enquanto eles continuavam conversando, fiquei imaginando o que estaria acontecendo no banho
das garotas.

~ xx ~

— Ah, gente, que maravilha! Eu precisava mesmo de um banho desses! — disse Mitsuri.

— Depois de uma viagem tão longa, não tem nada melhor. — disse Shinobu.

— Acho que é a primeira vez que venho para um lugar assim! É tudo tão bonito! — disse Kanae.
— E a Makomo? Ela não quis vir?

— Ela ficou com o Sabito e o Minori. Ela disse que queria passar um tempo com eles. — disse
Shinobu.

— Ah, entendi. — disse Kanae.

— Sabe, eu estou um pouco preocupada com essa história de guerra. Eu só quero que meus filhos
possam crescer e serem felizes. — ela deslizou a mão pela barriga.

— Filhos?! Mitsuri, você… está grávida de novo? — perguntou Shinobu.

— Sim! Estou! — ela disse e sorriu.

— Ah! Parabéns! Que venha com muita saúde! — Shinobu segurou as mãos dela.

— Obrigada!

— Ah! Você vai ter um bebê! Que maravilha! — Kanae ficou encantada com a notícia.

— Eu também estou preocupada com essa guerra. Já sofremos demais por conta das batalhas de
anos atrás. Eu só queria viver uma vida normal e feliz ao lado do Giyuu. — disse Shinobu.

— Irmãzinha, você não me contou ainda sobre ele!

— Ah! Então, eu conheci o Giyuu no templo. Nós logo nos tornamos amigos e passamos muito
tempo juntos. E assim que crescemos, percebemos que sentíamos algo além de amizade e desde
então estamos juntos. Fizemos uma promessa de nos casarmos quando eu alcançasse meus dezoito
anos, porém acho que é melhor que nos casemos de uma vez.

— Aah! Você vai se casar?! — disse Kanae, surpresa.

— Sim! Eu vou me casar com ele! — disse Shinobu.

— Ah! Mamãe ia adorar ver esse momento! — Kanae abraçou a irmã.

— Tenho certeza que sim! — disse Shinobu.

— Vou fazer um vestido bem bonito para você, Shinobu! — disse Mitsuri.

— Obrigada! Vai ficar lindo, com certeza! — disse Shinobu. — Mas enquanto esse dia não chega,
vamos cuidar de você, Mitsuri! Vou preparar algumas ervas para te ajudar!

— Fico grata por isso!

~xx ~

Após o banho, nós fomos convidados a nos reunir com os demais moradores daquele lugar. Tanjiro
veio à frente e disse:

— Meus caros, os nossos irmãos do templo do sul foram atacados por Muzan e perderam seu lar.
Diante desta situação, decidimos trazê-los para viver conosco. Eles também unirão forças com
nossos guerreiros na luta contra o imperador. Os recebam com cordialidade e respeito, assim como
recebemos nossos outros irmãos.

Makoko veio à frente e disse:

— Com as forças de Muzan em movimento, provavelmente não levará muito tempo para que eles
ataquem outros vilarejos como o nosso. Por isso, devemos estar prontos para a luta. Vamos dividir
as tarefas entre todos, pois assim ganharemos tempo. Todos, até mesmo as crianças, devem
aprender a se defender, pois os soldados de Muzan são impiedosos. Preparem-se, pois o pior está
por vir.
Sabito se abraçou a mim nessa hora e eu retribui. Eu fiquei preocupado, pois eu não queria que ele
ficasse afetado com aquela situação, mas eu sabia que seria impossível. Como eu queria que ele
não tivesse que passar por tudo isso. Depois da reunião, nós fomos distribuídos em grupos e
designados a tarefas diferenciadas. Makomo me incubiu a treinar aqueles com dificuldade no
manejo com a espada.

— Acredito que você possa ajudar outras pessoas com seu talento na espada. Eu também quero te
pedir para que treine o Sabito, mesmo ficando com meu coração apreensivo. Se bem que se
estivéssemos ainda no reino, ele já teria aprendido alguma coisa de qualquer forma. — ela disse.

— Sim, certamente ele já estaria treinando… Bem, eu fico preocupado com o Sabito, mas talvez
seja melhor que ele aprenda a se defender, afinal de contas. Pode contar comigo, vou transformá-lo
num bom espadachim.

— Confio integralmente em você, primo! — disse Makomo.

Com as tarefas distribuídas, tratei de organizar o grupo que eu treinaria. Haviam algumas mulheres,
crianças, jovens, Shinobu, Kanae e Sabito. Não achei que seria uma tarefa tão complicada.

— Shinobu, atenção na empunhadura. Kanae, olha a postura. Sabito, o que diabos está fazendo?!

— Eu quero ver se acerto nessa folha! — ele pulava de frente de uma árvore e tentava acertar um
dos galhos com a boken, a espada de madeira.

— Ai, caramba… — eu não tinha certeza se teria paciência para aquilo por muito tempo.

Após um mês da nossa chegada, nada pareceu mudar, nem recebemos qualquer ameaça da chegada
das tropas de Muzan. Os treinamento seguiram em frente e até notei certa melhora no meu grupo.
Algumas pessoas do acampamento se uniram a mim para me auxiliar no treino.

— Aoi, você acha que eu estou fazendo certo? — perguntou Kanae.

— Sim! O balanço está correto, só segure direito na espada. — disse a mulher.

— Vamos, garota, balança essa espada! — gritou Inosuke.

— Estou tentando! Estou tentando! — disse Shinobu.

— Giyuu, você é mesmo um bom mestre! Tem muito talento! — uma garota se agarrou ao meu
braço.

— Obrigado, eu acho…

— Com certeza, você seria um ótimo partido! — outra garota se aproximou e segurou no meu
outro braço.

— Ah, valeu… — eu me soltei delas e me afastei um pouco. — Voltem ao treinamento. Não


temos tempo a perder.

Elas se encararam, fizeram cara feia e se afastaram. Desde que eu cheguei ao novo lar, percebi que
comecei a chamar a atenção das mulheres mais do que eu desejava e aquilo estava deixando
Shinobu bem irritada, mesmo que não fosse necessariamente minha culpa. Notei que ela parecia
mais desconcentrada do que antes.

— Certo. Quero um duelo com cada um de vocês. Vamos ver o quanto aprenderam. Sabito, você
primeiro.

— Tá legal! — ele disse, empolgado.

Sabito levantou a boken e correu em minha direção de forma destrambelhada. Ele tropeçou numa
pedra no caminho e deu de cara do chão.

— Uahh! Isso doeu! — ele reclamou

— Ai, Sabito! Você morreu antes mesmo de começar. — dei um tapa na minha testa.

— Vem, Sabito, tudo bem! Na próxima, dará certo! — Shinobu o ajudou a levantar.

— Proxima pessoa… — eu disse e Kanae veio em minha direção.

Ela me atacou com golpes desajeitados, porém com boa força. No entanto, com a pegada fraca, eu
a fiz perder a espada, que voou para bem longe. Eu a acertei no ombro.

— Mais força na hora de segurar a espada! Você perdeu um braço e vai morrer de hemorragia,
provavelmente. Próximo!

Uma das garotas que havia me agarrado veio em minha direção, começou a girar a espada de um
lado para o outro de forma desengonçada. Desviei facilmente e acertei a cabeça dela devagar.

— Você morreu. Próximo!

— Ah! Que porcaria! Eu queria tanto te impressionar! — ela disse e fez beicinho.

"Não passou nem perto." — pensei.

A outra garota que havia agarrado meu braço veio em minha direção e eu rapidamente a fiz perder
a espada e também acertei a cabeça dela.

— Lerda. Você morreu. Próximo.

— Ai, não! — ela resmungou.

Depois de lutar com várias pessoas e ficar mais preocupado do que nunca com o baixo
desempenho deles, chegou a vez da Shinobu. Pela expressão que ela tinha no rosto, ela não viria
para brincadeira.

— Não vou pegar leve com você, Shinobu. Prepare-se.

— Quem disse que preciso que pegue leve comigo?! — ela disse.

Shinobu avançou em minha direção com velocidade, provavelmente por ser de baixa estatura. Ela
conseguiu me surpreender um pouco na hora, mas me concentrei em seguida. Começamos a trocar
golpes rápidos e enquanto eu aliviava a força, ela me atingia com tudo que tinha. Certo momento,
eu afrouxei a pegada na espada de propósito e deixei que ela a arrancasse. Shinobu deu um
sorrisinho vitorioso e quando ela achou que me acertaria com a espada, eu segurei o punho dela, a
puxei pela cintura e a trouxe para perto de mim.

— O inimigo nem sempre tem apenas a espada como arma, por isso treinar a força do corpo
também é importante. — e como eu já queria me livrar das garotas incômodas, eu aproveitei que
Shinobu estava nos meus braços e a beijei com vontade. Um verdadeiro alvoroço começou ao
redor e assim que meus lábios se separaram dos dela, a espada dela caiu no chão e o rosto dela
ficou vermelho. — Bom trabalho, você me desarmou completamente.

— Aaaaah! Giyuuu!— ela disse, envergonhada.

— Bem, estão dispensados por hoje. — eu disse e o grupo começou a dispersar.

— Giyuu, que vergonha! O que vão dizer de nós?! — disse Shinobu.

— Vão dizer que a gente se ama e que eu só tenho olhos para você.

— Ai, nossa! — ela segurou a minha camisa e escondeu o rosto no meu peito.

As duas garotas que me agarraram anteriormente fizeram careta para mim e se afastaram.

— Mano, mano! O que é isso que você fez?! — Sabito se aproximou de nós.

— Isso o quê?!

— Você colocou sua boca junto com a da mana! Por que você fez isso?! — ele perguntou.

— É que… É… um beijo, Sabito!

— Um beijo?! E por que vocês fizeram um beijo?!

— Porque… eu sou o noivo da Shinobu, então... noivos podem trocar carinho…

— Ah! Então, se eu tiver uma noiva, eu posso beijar na boca dela?! — ele perguntou.

— Shinobu, me ajuda aqui… — eu disse, um pouco encurralado pelas perguntas.

— Hihihi. — ela se soltou de mim e se abaixou para falar com ele. — Sabito, existem várias
formas de demonstrar afeto, uma delas é o beijo. Existem vários tipos. O que eu sempre dou em
você na bochecha é beijo de carinho, porque você é meu irmãozinho. O beijo que o Giyuu me deu
é de amor, porque a gente se ama, como homem e mulher.

— Ah… E como é que sabe quando se pode dar um beijo de amor? — ele perguntou.

— Você saberá. Você vai sentir aqui no peito. — ela tocou no peitoral dele.

— Ah… Tá bem…

De repente, eu notei que estávamos sendo observados pela mestra Tamayo. Eu fiquei um pouco
estático e logo Shinobu também percebeu o mesmo. A mestra se aproximou de nós, acompanhada
por Yushiro, que estava com a mão na testa.

— Vejo que você tem trabalhado muito, Giyuu. Tem treinado seus alunos com muito entusiasmo…

— É que…

— E você, Shinobu? Desde quando você resolveu esconder segredos de sua mestra?

— Mestra Tamayo, é que… Bem… Como pode ver, Giyuu e eu estamos juntos… E nós também
estamos noivos! — ela disse.

— Entendo… — ela levou a mão até o queixo e ficou pensativa. — Certo. Já que estão noivos,
creio que deveríamos fazer o casamento de vocês de uma vez. Com a guerra a caminho, não
sabemos o que o futuro reservará. Na verdade, acredito que um casamento coletivo seria ideal!
Temos muitos jovens no templo que sonham com isso e acredito que devemos permitir que eles
tenham essa oportunidade.

Os olhos de Shinobu brilharam e ela disse:

— Sim! Eu quero! Quero muito!

Eu fiquei surpreso com a empolgação dela e ao mesmo tempo animado.

— Eu também! Quero me casar com a Shinobu o quanto antes! — disse.

— Então, teremos casamento! Bem, eu acho que preciso conversar com o líder primeiro… Eu
converso com vocês depois! — disse Tamayo.

— E lembrem-se: castidade em primeiro lugar! — disse Yushiro. Me controlei para não revirar os
olhos.

Quando os dois se afastaram, Shinobu abraçou-se a mim e disse:

— Nós vamos mesmo nos casar! Parece até mentira! Estou feliz por nós!

— Eu também!

E depois de uma tarde de treinamento intenso e muitos afazeres, finalmente a noite chegou. Depois
de muita insistência, Sabito me convenceu a deixá-lo dormir com o Minori, Kanae foi dormir bem
cedo, pois estava exausta do treinamento e Makomo praticamente não dormia em casa, então
Shinobu e eu ficamos acordados até tarde. Depois de comermos alguma coisa, Shinobu se levantou
para ir até seu quarto, porém eu gentilmente segurei sua mão.

— Você devia dormir comigo hoje, Shinobu.

— Gi-Giyuu, mas eu… não sei se é certo…

— Ah! O que tem? Você é minha noiva! — eu disse, me levantei e a segurei pela cintura. — A
gente não vai fazer nada demais!

— Então, tá… Mas só vou ficar um pouco no seu quarto! Vou ficar até você dormir! — ela
determinou.

— Tudo bem por mim! — Eu aproveitei a distração dela, a segurei no colo, a coloquei no meu
ombro e a levei até meu quarto.

— Gi-Giyuu!

— Psiu! Não faça barulho!

Eu entrei no quarto, me abaixei, coloquei Shinobu deitada no meu futon e deitei ao lado dela.

— Logo vamos poder dormir juntos de verdade! Você está animada com isso, Shinobu?

— Sim, estou! Estou muito ansiosa, na verdade!

— Vai ficar tudo bem! Nós vamos ser felizes no futuro, mesmo com essa guerra pelo caminho.
Tenho certeza.

— Eu estou com medo, Giyuu…


Eu me aproximei dela, levei a mão até seu rosto e o acariciei.

— Eu sei que dá medo, mas vamos acreditar que vai ficar tudo bem. Não adianta nada ficarmos
desesperados.

— Você tem razão… Vou tentar não pensar nisso agora.

— Que tal a gente pensar em algo melhor?

— Em que, por exemplo? — ela perguntou.

— Que tal… No quanto eu quero te beijar agora?

— Hummm! E quanto é?!

— O que você acha?!

— Você eu não sei, Giyuu, mas eu quero te beijar muito agora!

— Que bom que pensamos iguais!

Quase de forma automática, nossos lábios se encontraram, juntamente das nossas línguas.
Enquanto nossas respirações quentes se encontravam, nossos corpos se aproximavam e podíamos
sentir o suave contato das nossas peles. Nossos lábios se afastaram um pouco, nós nos encaramos
rapidamente e por mais que eu quisesse resistir a tudo aquilo para não desobedecer aos pedidos de
Yushiro, eu não consegui me conter. Logo estávamos nos beijando novamente. A alça do vestido
da Shinobu havia caído um pouco para o lado e seu decote ficou exposto. A parte de baixo do
tecido também havia sido negligenciada, exibindo suas pernas grossas. Enquanto nossas línguas
deslizavam uma conta a outra, minhas mãos passaram a acariciar o corpo de Shinobu de maneira
descontrolada, variando entre suas costas e seu bumbum. Nossas respirações ofegantes, nossos
corpos quentes e de repente, nossos quadris deslizaram um contra o outro. Aquela sensação era
diferente de tudo que já havia sentido antes.

— Umm! Giyuu!

Fiquei nervoso com o gemido dela, imaginando que ela poderia estar incomodada e eu parei de
mexer minhas mãos um pouco. Eu fiquei nervoso, pois aquela havia sido a minha primeira
aproximação real com a Shinobu desde seu aniversário. Lentamente, eu comecei a alisar o braço
dela e sussurrei:

— Está tudo bem, Shinobu? Eu passei do limite?

— Sim, está sim. Está tudo bem!

— Desculpa se eu fui abusado…

— Você não foi… — ela deu uma risadinha. — Você pode pegar onde quiser.

— Shi-Shinobu?!

— Você é meu noivo! Eu confio em você!

Ela parecia um pouco envergonhada, mas eu fiquei muito empolgado com isso.

— Então, eu… posso pegar neles? — disse apontando para os seios dela.
Ela ficou em silêncio e apenas disse:

— Uhum…

Fiquei bem animado e rapidamente minhas mãos foram até os seios dela. Eu os massageei por um
bom tempo por cima do tecido, depois segurei as alças do vestido e as desci pelo braços dela, o
que revelou seus seios completamente para mim. Eles eram lindos, redondinhos e macios! Eu os
acariciei devagar, levei minha boca até um deles e o suguei com força, o que fez Shinobu reclamar.

— Giyuu! Devagar! — ela disse. Senti que ela tremia um pouco.

— Des-desculpa! — me afastei um pouco.

Shinobu me encarou e mordeu o lábio inferior. Senti que ela estava bem envergonhada.

— Está tudo bem mesmo?

— Sim, é só que… eu fico arrepiada quando você me toca!

— Você quer que eu pare?

— Não precisa parar… Eu quero… experimentar isso com você… — ela sussurrou.

— Então, posso… tocar aqui também…? — eu apontei para o meio de suas pernas.

— Po-pode..

Eu desci minha mão pela barriga dela e alcancei o lugar e timidamente, eu comecei a deslizar a
mão sobre aquela região. Shinobu se contorceu um pouco e prendeu os dedos nos meus braços.
Meus dedos alcançaram uma parte mais interna e eu a vi abrir as pernas devagar. Como ela era
quente e molhada.

— Isso é bom? — eu perguntei para ela.

— Sim! É uma sensação engraçada, mas é tão… gostosa…

Shinobu suspirou bastante enquanto eu dava carinho para ela. Ver aquela expressão no rosto dela
me deixou mais animado do que eu esperava. Uni nossos lábios novamente, enquanto brincava
com meus dedos na entrada dela. Eu lhe acariciei por um bom tempo, até que ela gemeu e senti
meus dedos ficarem ainda mais molhados. Ela ficou um tempo ofegante e em seguida acariciou
meu rosto com sua mão.

— Gi-Giyuu! Eu… quero te tocar também… — ela pediu, envergonhada.

— Sou todo seu, Shinobu.

Eu abaixei a calça que usava e me exibi completamente para ela. Shinobu ficou surpresa a
princípio e levou a mão até ele. Shinobu segurou com uma força exagerada.

— Ai, Shinobu! Assim você vai quebrar!

— Des-desculpa! Vou mais devagar.

Comecei a sentir uma sensação estranha, porém prazerosa. Ela deslizava de uma maneira mais
lenta e gostosa, e eu uni nossos lábios de novo. Quando dei por mim, nos tocávamos com mais
intensidade. Não sabia que o prazer poderia chegar naquele nível. Já tomado pelo desejo, me
coloquei por cima de Shinobu e nossas intimidades começaram a deslizar uma contra a outra. Eu
fiquei muito ansioso, já que seria a nossa primeira vez concretizando o ato e me descontrolei,
porque Shinobu gemeu meu nome. Fiquei um pouco frustrado, mas decidi não pensar muito sobre
isso.

—Giyuu! — ela disse ao olhar para a barriga. — O-o que é isso?!

— Desculpa! É que estava muito bom e eu não aguentei… Isso é… você sabe! Os homens fazem
isso para que os bebês sejam feitos… — eu cocei a cabeça.

— Ah! Não! Agora você vai achar que eu sou uma sem vergonha! — Shinobu escondeu o rosto
com as mãos.

— Mas você pode ser sem vergonha comigo! — eu brinquei.

— Giyuu, era para você negar! — ela reclamou e me estapeou no braço.

Eu ri e acariciei o rosto dela em seguida.

— A única coisa que eu penso é como eu te amo e como eu quero ser seu homem.

Os olhos dela brilharam e ela sorriu para mim.

— Eu também te amo, Giyuu. Eu quero ser sua mulher também.

— Você... quer que eu te faça minha mulher hoje? — perguntei.

— Eu-eu quero muito, mas… eu quero fazer as coisas do jeito certo! Eu quero ser sua esposa, antes
de ser sua mulher! — ela disse.

— E por que a gente não casa amanhã?! — eu perguntei.

— Hihihi. Não vai demorar, Giyuu! Logo vamos poder nos amar à vontade! — ela disse, confiante.

— Se é assim que você deseja, assim será!

— Agora, acho melhor limpar isso aqui… — ela disse, envergonhada.

— Vem! Eu te ajudo!

Depois de limpá-la, ela dormiu abraçada comigo e eu tive que meditar muito para não perder o
controle. De manhã, meio que nos acariciamos de novo e experimentamos mais um pouco daquela
sensação prazerosa. Conclui que eu precisava casar o quanto antes ou não teria como manter a
minha promessa por muito tempo. Eu a desejava muito e estava difícil para conter meus
sentimentos. Para meu azar, ainda levaria um tempo para nos casarmos, pois a guerra não estava
afim de nos ajudar.
Capítulo xIV

Depois de mais um mês no novo lar, quando eu finalmente achei que me casaria com Shinobu, nós
tivemos que sair em viagem para o reconhecimento do território inimigo, pois as tropas de Muzan
começaram a se aproximar do vilarejo. Mesmo comigo sendo totalmente contra, Shinobu e Kanae
decidiram nos acompanhar, já que elas seriam úteis na hora de prestar socorro aos feridos caso
fosse preciso. No entanto, meu grande dilema foi saber o que fazer com o Sabito, já que não queria
deixá-lo para trás.

— Deixa ele vir com a gente! Ele pode ficar com a Shinobu, a Kanae e as outras garotas que
sempre ficam nos acampamentos. — disse Makomo.

— Está maluca?! O Sabito é uma criança! Ele vai ficar muito assustado se ele presenciar as
pessoas serem mortas. Definitivamente não vamos levá-lo. E na verdade, eu acho que a Shinobu
deveria ficar também!

— A gente já conversou sobre isso, Giyuu! Eu também quero ser útil, então eu vou com vocês! —
determinou Shinobu.

— Aff…

— Maninho, não vai não! Fica aqui! — pediu Sabito, que me abraçou.

— Sabito, eu preciso ajudar a Makomo. Não posso deixá-la na mão. — expliquei.

— Giyuu, o Sabito pode ficar comigo e o Minori. Eu prometo que vou protegê-lo. — disse Mitsuri.

— Mesmo assim, eu fico preocupado…

— Eu vou ficar com eles. Farei o possível para mantê-los em segurança. — disse Obanai.

— Poxa, desculpa por deixar essa responsabilidade com vocês mais uma vez….

— Se é a única forma de vivermos um futuro de paz, eu não me importo. Além disso, o Sabito é
meu filho agora, então eu tenho que cuidar dele. — disse Obanai, que alisou a cabeça dele.

Eu me abaixei e abracei Sabito com força. Ele me abraçou de volta. Eu o segurei pelos ombros e o
encarei.

— Eu prometo. Prometo que venho te buscar. Enquanto isso, tente sobreviver, custe o que custar.

— Eu prometo! Eu vou esperar você vivo! — ele disse e eu o abracei novamente. — Por favor,
Obanai, Mitsuri, cuidem dele para mim! Eu prometo que vou retribuir toda ajuda de vocês um dia.

— Fica tranquilo. Nós estaremos aqui te esperando. — disse Obanai.

Antes de sairmos, mestra Tamayo e Yushiro se aproximaram. Eles tinham uma expressão
nitidamente preocupada, mas acho que eles não quiseram falar sobre isso. A mestra me abraçou e
segurou meu rosto com as duas mãos.

— Sei que você é forte, porém fugir não é covardia. Não tente resolver tudo sozinho. Volte vivo e
traga minha aprendiz de volta, e viva. — disse Tamayo.
— Não se preocupe, eu vou proteger a Shinobu, custe o que custar.

Yushiro também me abraçou e segurou nos meus ombros.

— Boa sorte! Sejam fortes! — ele disse.

— Por favor, fique de olho no Sabito. Não deixe ele fazer besteira. — pedi.

— Ora, não se preocupe! Eu o deixarei andando na linha! — ele disse e sorriu.

Os demais se despediram de mim e dos viajantes, e partimos de viagem em seguida. Quantas vezes
eu teria que me despedir de um lar por conta de Muzan e da guerra? Após horas de viagem, nosso
grupo se uniu a outro, liderado por Uzui. Eu estava sentado num dos cavalos, com Shinobu na
minha garupa, quando ele se aproximou de nós.

— Giyuu, como está crescido! Você se tornou mesmo um homem parecido com seu pai! Pelo
menos, seus olhos são os mesmos. — ele disse.

— Bem, se você diz…

— E parece que você também tem o mesmo bom gosto! A moça que lhe acompanha é tão bela
como sua mãe era. — ele comentou.

— Essa é Shinobu, minha noiva. — eu disse.

— Muito prazer, senhor! — ela acenou para ele.

— O prazer é todo meu! Bem, vai ser uma honra lutar ao lado de alguém da realeza de novo. —
disse Uzui.

— Agora, sou apenas um garoto qualquer. — ressaltei.

— Um nobre nunca perde sua nobreza, Giyuu! — Uzui piscou o olho e se afastou.

— Quem é esse homem, Giyuu? — perguntou Shinobu.

— Um dos homens de confiança do meu pai…

— Entendi! Ele devia viver no seu castelo! — ela comentou.

— Isso mesmo.

— Você deve sentir falta do seu antigo lar, não é mesmo? De ter uma vida luxuosa, uma cama
confortável para dormir…

— Na verdade, faz tanto tempo que mal me lembro da sensação. Para dizer a verdade, estou feliz
assim como estou. Claro, eu estaria mais feliz se não existisse uma guerra a caminho. Eu não
preciso de mais nada além de ver Sabito e você felizes. — ela me abraçou com força e disse.

— Eu quero ser feliz ao seu lado, Giyuu.

— Nós vamos ser felizes, pode acreditar.

Depois do que Uzui disse, eu fiquei pensando no meu antigo lar e tive uma breve lembrança, com
um dos raros momentos em que pude conversar com meu pai.
~~xx~~

— Papai, quando eu crescer, eu vou poder ser um guerreiro como você?

— Claro, pequeno Giyuu. Quando você crescer, você poderá ter tudo o que quiser em suas mãos.

— Legal! Eu vou derrotar qualquer um!

— Hahahahaha. Giyuu, quando você for o próximo imperador, eu quero que você não esqueça
disso que vou lhe ensinar...

— O que é, papai?

— Lembre-se que além de guerreiro, você tem a responsabilidade de manter seu povo em
segurança. Quem dá vida ao reino é o povo. Sem eles não há colheita, não há mão de obra, não há
economia, não há desenvolvimento. Muitos tentarão lhe dominar por causa do poder que você tem
ou até mesmo tentarão lhe comprar. Se isso for causa a infelicidade de muitos, rejeite, por mais
tentadora que seja a proposta. Não suje suas mãos de sangue por ganância. Não vale a pena.

— Um... Acho que não entendi...

— Hahahahaha. Você entenderá quando chegar a hora.

~~xx~~

— Giyuu, Giyuu…

— Hã? Ah, oi, Shinobu.

— O grupo irá descansar um pouco. Eu quero aproveitar para organizar algumas ervas que eu
trouxe, certo? — ela avisou.

— Claro, tudo bem. Quer que eu te ajude?

— Sim, por favor! — ela disse.

Enquanto ela separava algumas ervas, eu decidi prestar a atenção ao redor e notei que Sanemi e
Kanae pareciam mais próximos do que eu esperava.

— Parece que teremos mais um casamento em breve! — comentei.

— Parece que sim! Ela me falou que ele se declarou para ela nesse meio tempo. — contou
Shinobu.

— Fala sério! Como ele é rápido!

— Pelo menos, poderemos fazer um casamento duplo! O que acha?

— Eu não me importo muito com os detalhes, eu só quero me casar com você! — eu acariciei o
rosto dela.

— Eu também! Quero muito me casar com você! Assim que voltarmos para o acampamento,
quero me casar imediatamente! — ela disse.

— Então, assim faremos!


Seis meses se passaram. Não tivemos muita evolução na nossa tentativa de deter Muzan, nem em
encontrar seus rastros. Seus guerreiros eram canalhas muito espertos e estavam sempre a um passo
à frente. É como se eles sempre soubessem nossas próximas escolhas. Eu comecei a suspeitar que
havia um traidor entre nós. Desse modo, decidi investigar se existia um delator dentro do grupo.

— Giyuu, você acha mesmo que existe um traidor? Isso não é uma loucura da sua cabeça? —
perguntou Makomo, que estava sentada na minha frente.

— Makomo, não teria como alguém saber exatamente a hora que vamos atacar! Como o grupo de
soldados de Muzan sempre foge antes da nossa chegada sem que alguém esteja fornecendo
informações? Tenho certeza! Há um traidor entre nós! Precisamos apenas encontrá- lo.

— Certo. Nós recebemos novos guerreiros voluntários assim que começamos nossa viagem.
Talvez, nós devêssemos investigar mais a fundo sobre eles. — disse Makomo.

Por sorte, mais templos começaram a colaborar com soldados e estávamos ficando mais fortes.
Tínhamos homens e mulheres determinados, armamento e comida suficientes. Porém, por alguma
razão, parecia que o inimigo estava sempre ciente do que iríamos fazer.

— Pode deixar comigo. Eu vou colocar meus homens para investigar. Certo! Certo! Vamos parar
no próximo vilarejo. Vamos nos abastecer com comida e mantimentos, e ir em direção ao próximo
acampamento de Muzan.— disse Makomo.

— Entendido.

O próximo vilarejo era famoso por ser ponto de encontro de contrabandistas, ladrões e prostitutas.
Conseguiríamos muitos recursos facilmente por lá. Encontramos um campo aberto e conseguimos
montar acampamento. Aquele lugar imundo ainda por cima era muito frio. Beber era a melhor
opção para se manter aquecido. Lógico que um pelotão embriagado não era o que eu tinha em
mente naquele momento, mas Makomo os deixou relaxar um pouco. Eles já tinham pressão demais
nas costas, além da morte à espreita. Além disso, estávamos muito longe de casa e querendo ou
não, alguns homens pareciam estar enlouquecendo, já que eram poucas as mulheres em nosso
grupo e muitas delas já tinham maridos. Superar as necessidades mundanas não era um processo
fácil para todos, então foi uma oportunidade para liberá-los para fazer o que bem entendessem.

E logo, estávamos cercados por contrabandistas, que tentavam vender bugigangas inúteis, joias e
qualquer artefato vindo dos vilarejos aniquilados. Resquícios de vidas que se perderam nas guerras.
Com uma velha, eu vi uma boneca, muito parecida com uma que Shinobu tinha quando eu a
conheci e resolvi comprar para ela. O frio estava massacrante. Me vesti com uma pele bem grossa
e me afastei do grupo. Entrei na barraca, em seguida, com a boneca nas mãos e Shinobu sorriu.

— Ah, eu não acredito! Onde você achou isso?! — ela perguntou.

— Uma velha estava vendendo. Lembrei que você tinha uma igual. Comprei para você!

— Hahahaha. Giyuu, que fofo da sua parte! Obrigada!

— Quando eu a vi, lembrei de quando você era aquela garotinha tagarela que gostava de me bater!

— Você apanhava porque era um garotinho terrível! Me deixava louca! — ela riu e depois encarou
a boneca de novo. — Me deu até um pouco de saudades de casa agora…

Eu sentei ao lado dela e acariciei os cabelos dela.

— Um dia, nós iremos até seu reino e poderemos ir até sua antiga casa, se você ainda lembrar onde
ela fica.

— Deve estar tudo diferente, mas não acho ir até lá uma ideia ruim.

Depois daquele tempo apenas explorando a região e recrutando novos guerreiros, Makomo
resolveu que deveríamos retornar para o acampamento pela última vez antes da batalha final.
Muzan havia recolhido seus soldados e provavelmente planejava algo grande. Voltar para casa
daria um ânimo a mais para a batalha.

Assim que chegamos, eu fui logo atrás de Sabito, que me recebeu com um grande sorriso.

— Maninho, que bom que voltou! — ele pulou nos meus braços e me agarrou.

— Opa! Voltei sim, irmãozinho! Vamos passar alguns dias juntos! — eu o segurei nos meus braços
e o apertei.

— Oba!

— Sabito!

— Mana Shinobu! — ele pulou do meu colo e a abraçou.

— Que saudades! — disse Sabito.

— E o meu abraço? — disse Makomo.

— Ah! Quantos irmãos o Sabito tem agora! Uma família bem grande! — ele disse e abraçou a
irmã.

— Pessoal! Que bom que voltaram! — disse Mitsuri, que apareceu com um bebê nos braços.

— Oh! Seu bebê já nasceu!

— Eu já estava com a gestação avançada quando descobri e vocês estão há quase um ano fora
daqui, lembra? — disse Mitsuri.

— Nossa! Mal vi o tempo passar! — comentei.

— A minha irmãzinha é linda, não é? — disse Sabito, que se aproximou da menina e acariciou a
bochecha dela.

— É sim, Sabito! — falou Shinobu.

— Giyuu, não esperava que retornassem tão cedo! — disse Obanai, que tinha Minori em seus
ombros.

— Nem eu, mas a Makomo achou que seria importante recarregarmos as forças perto dos nossos
entes queridos.

— Bem, Shinobu e você devem estar cansados. Entrem, tomem um banho e descansem. — disse
Mitsuri.

Depois de uma semana tranquila, Tamayo resolveu que deveríamos celebrar o festival anual da
fartura, como fazíamos todos os anos.

— O povo precisa de um pouco de alegria, Giyuu. Nem só de dor e sofrimento nós podemos viver,
não é mesmo? — disse Makomo.

— Você tem toda razão. Aliás, falando em alegria, parabéns! Soube que vocês terão um filho, não
é mesmo? Fico feliz por vocês!

— Sim! Eu não estava preparada, na verdade, nem pretendia ter um filho no meio de uma guerra,
porém aconteceu. — disse Makomo, que coçou a cabeça.

— Como não?! Hahahaha. Vocês não se desgrudaram em tempo algum.

— Hahahaha. Bem, sabe como é... É difícil resistir a mim. — ela disse, em tom de deboche. —
Bem, eu vou verificar como estão os últimos ajustes. Nos vemos mais à noite, primo! — disse
Makomo, que me reverenciou em tom de brincadeira e saiu.

Por fim, os preparativos para o festival terminaram e o vilarejo ficou colorido com flores,
decorativos e pequenos pontos luminosos, espalhados pelos telhados, portas e janelas. Todos se
reuniram na grande praça central. Ocorreram algumas danças locais, um pequeno torneio de lutas
entre os mais jovens e um pouco de música. Realmente, me senti na minha infância vendo tudo
aquilo. Foi também naquele momento, que eu finalmente pude me casar com Shinobu. Kanae e
Sanemi resolveram nos acompanhar e também se casaram. Eu imaginava que Makomo pretendia
fazer o mesmo, porém Kyojuro e ela apenas observaram naquela noite.

Nem preciso dizer o quanto Shinobu estava linda! Ela usava uma roupa tradicional branca e seus
cabelos estavam adornados por uma coroa de flores. Ela parecia ainda mais radiante do que todos
os outros dias. Eu também vesti uma roupa preta tradicional e ainda tive que prender meus cabelos,
pois estavam longos demais. Após algumas palavras da mestra Tamayo e do Yushiro, finalmente
eu pude dizer o grande sim que eu esperava desde sempre. Depois da cerimônia, a música
começou. Shinobu e eu dançamos durante toda à noite e até decidimos experimentar álcool pela
primeira vez. Eu me arrependi imediatamente, pois o sabor era horrível. Makomo e Uzui
resolveram interpretar uma antiga lenda do nosso reino. Queria que Sabito tivesse assistido, porém
ele foi um dos primeiros a dormir depois do casamento. Como eu precisava da casa para Shinobu e
para mim naquela noite, eu o levei para dormir com Minori, que também já havia apagado desde
cedo.

Shinobu e eu resolvemos ir para casa. Ela me pediu um tempo para se preparar e eu decidi deixá-la
à vontade. Tomei um banho quente, vesti um roupão e fui até o quarto, onde um futon grande já
estava estendido. Havia apenas um lampião aceso no quarto, quando Shinobu apareceu pela porta.
Pela meia luz, pude notar que ela estava vestida num robe parecido com o meu. Ela se aproximou
devagar, sentou-se ao meu lado, pigarreou e disse:

— Caham… Bem, a hora finalmente chegou, não é mesmo

— Sim! Agora somos marido e mulher!

— Bem, então… É isso! — ela levou a mão até o rosto e desviou o olhar, nitidamente nervosa.
Como eu estava um pouco tonto de álcool ainda, eu não consegui conter a risada. — Po-por que
está rindo, Giyuu?

— Eu quase nunca te vejo tão nervosa assim, Shinobu!

— É que… Ah! É a primeira vez que finalmente vamos fazer amor! Eu estou um pouco assustada!
— ela resmungou.

— Não é a primeira vez que fazemos amor…


— Hã?! Claro que é!

— Todas as vezes que nos tocamos, nós já estávamos fazendo amor… — eu disse e me aproximei
dela.

— Mas…

— Quando nós nos beijamos, quando nos abraçamos, quando nós tocamos nos corpos um do outro,
nós já estávamos fazendo uma forma de amor. — eu disse.

— Eu… não tinha parado para pensar nisso…

— E se nós já sentimos tantas formas de amor, você não tem mais porque ter medo— Eu a envolvi
com meu braço e a aproximei de mim. — Está tudo bem. Eu não vou fazer algo que não queira.
Confia em mim. — ela me encarou e levou a mão até meu rosto.

— Eu confio em você, com toda certeza.

Shinobu fechou os olhos e logo senti sua respiração quente se aproximando. Senti um toque suave
em meus lábios. Eu envolvi seu corpo em meus braços e ela me abraçou de volta. Os lábios dela
eram tão macios, e aquela sensação era gostosa e envolvente. Devagar, eu inclinei meu corpo em
sua direção e a fiz deitar de costas no futon. Eu me coloquei por cima dela e levei a minha mão até
seu rosto. Eu acariciei suas bochechas e quando nossos lábios afastaram-se rapidamente, nossos
olhares se encontraram.

— Eu sonhei por este momento por inúmeras noites. Sonhei com o dia em que estaria em meus
braços como minha amada esposa. — sussurrei.

— Eu também esperei muito por este momento. — ela sussurrou.

— Você é tudo para mim, Shinobu. — sussurrei

— Eu digo o mesmo. — ela sussurrou.

Nós nos beijamos novamente e nossas línguas timidamente se encontraram. Nos abraçamos e
permanecemos unidos por um certo tempo. Decidi espalhar meus beijos pelo pescoço da minha
esposa, enquanto minhas mãos tocavam suavemente em seus seios, o que fez Shinobu gemer
baixinho. Deslizei minha língua por sua orelha e senti seu corpo se arrepiar. Eu a toquei sem
pressa, provocando mais e mais arrepios no corpo dela. Lentamente, segurei a nuca dela e a fiz
gentilmente inclinar a cabeça para trás, enquanto meus lábios marcavam toda a região de seu
pescoço, o que a fez morder os lábios com a sensação.

— Shinobu, você é tão linda! Tão perfeita! — sussurrei no ouvido dela.

— Giyuu! Eu te amo! — ela disse.

— Eu também te amo, Shinobu.

Nós entrelaçamos nossos dedos.

— Vou estar sempre ao seu lado e te proteger. Eu prometo.

— Eu também quero estar ao seu lado para sempre, Giyuu!

Enquanto nós nos beijamos, eu desamarrei o nó da fita que prendia seu robe e o abri, o que deixou
o corpo de Shinobu todo exposto para mim. Eu deslizei minha mão devagar por suas curvas e
acariciei todo seu corpo.

— Seu corpo é tão macio… — sussurrei, entre nossos beijos.

— Eu gosto de quando você toca nele… — ela sussurrou.

Levei minhas mãos novamente aos seios dela, os acariciei por um tempo e segurei seus mamilos
com meus dedos e ela gemeu baixinho. Após acariciar gentilmente os seios dela, eu levei minha
boca até um deles e o chupei com certa vontade. Enquanto isso, uma das minhas mãos desceu pela
barriga dela e deslizou devagar sobre suas coxas e apertei a pele entre meus dedos. Lentamente,
Shinobu abriu as pernas para mim. Eu me ajoelhei no futon e arranquei meu roupão, o que a fez
morder o lábio inferior.

Ela se ajoelhou na minha frente e deslizou a mão pelo meu peitoral, o que fez meus pelos se
eriçarem. Shinobu começou a beijar meu pescoço com vontade e mordiscou um dos meus lábios.
Eu passei a mão pelos cabelos dela, e enquanto eu a beijava, meus dedos invadiram suas madeixas
e eu a segurei pela nuca. Enquanto a beijava com entusiasmo, direcionei minha mão até sua
intimidade. Eu a invadiu devagar os dedos, enquanto nossas línguas faziam um encontro fervoroso.
Shinobu soltou alguns gemidos, ao passo que nossos lábios estavam unidos, até que nossas bocas
se separaram e ela gemeu bem alto, enquanto eu sentia meus dedos serem apertados entre as coxas
dela.

— Giyuu… — ela gemeu e levou a mão até minha rigidez. Ela começou a acariciá-la de forma
gostosa e eu voltei atenção até sua intimidade novamente. Enquanto beijávamos de maneira
sensual, meus dedos penetravam devagar e saíam cada vez mais molhados, enquanto eu sentia
minha rigidez aumentar com os carinhos dela. Eu a fiz deitar na cama novamente e posicionei
minha genitália bem na sua região sensível. Comecei a deslizar meu corpo contra o dela
lentamente, o que trazia uma sensação incrível.

— Shinobu, quero te fazer minha!

— Eu quero ser sua para sempre! — ela disse.

Sem pensar mais em nada, eu a penetrei devagar. Shinobu se agarrou em mim e gemeu um pouco.
Senti suas unhas entrarem na pele das minhas costas.

— Uh! Giyuu

— Logo passará. Tenta relaxar um pouco. — eu a beijei novamente e seu gemido de dor ficou
abafado em meus lábios. Lentamente, nossos corpos foram se conectando até que a ligação se deu
por completo. Eu parei de me movimentar um pouco

— Você está bem, Shinobu?

— Doeu um pouco! — ela disse, enquanto as lágrimas desciam por suas bochechas.

— Desculpa por isso…

— Está tudo bem! Eu estou feliz! Agora somos um do outro para sempre! Sou sua esposa e
mulher! — Eu sequei as lágrimas dela e nos beijamos por um tempo, até que eu notei que ela
estava mais tranquila. — Posso... me mexer novamente? Você está bem?

— Sim… Estou bem. Eu quero sentir mais do seu amor.

Nossos corpos ficaram suados, o quarto mais quente que o normal, nossos lábios não queriam mais
se separar. Com a dor inicial dissipada, o prazer tomou conta de nossos corpos. Aquela conexão
era incrível. O corpo da minha esposa me trouxe sensações únicas e parecia que todos os nossos
sentimentos transbordavam naquele momento. Ambos ficamos em êxtase. Quando já não
aguentava mais de tesão, eu gemi e meu líquido se derramou dentro dela. Não sei descrever o quão
bom foi aquele momento.

— Você está bem, meu amor? — perguntei, ofegante, enquanto eu a aconcheguei em meus braços.

— Sim! Eu estou bem! — ela disse.

— Eu te amo, minha amada esposa!

— Eu te amo, meu amado marido!

A nossa lua de mel foi mais intensa e ativa do que eu imaginava. Foi uma noite incrível. Fazer
amor era mais gostoso do que eu imaginava. Depois que nos casamos, nós nos tornamos mais
animados do que eu pensei e passamos a fazer amor com muita frequência, tanto que Sabito
reclamou que queria poder voltar para casa. Tivemos que aprender a controlar a empolgação.

Duas semanas se passaram e resolvemos nos organizar para voltarmos para a batalha. Uma boa
parte do grupo havia partido na frente e apenas um pequeno grupo iria depois, com mantimentos e
medicamentos. Sabito estava sentado na carroça e sacudia as pernas de forma agitada.

— Maninho, você tem mesmo que ir?

— Sabito, eu já te expliquei que sim…

— Poxa, você devia ficar aqui. Eu quero que você fique comigo! Não quero que se machuque! —
ele disse.

— Logo vamos poder ficar juntos e viver em paz. Eu vou ficar bem! Eu prometo.

Eu estava organizando alguns mantimentos, quando, de repente, ouvi um ruído estranho que vinha
do céu. Eu olhei com atenção para o alto, mas não havia coisa alguma. Subitamente, fomos
surpreendidos com um grande feixe de luz vermelho que desceu do céu em direção à praça.

— Cuidado!

Uma grande quantidade de fogo atingiu o chão, o que causou uma grande correria. Enquanto eu
tentava me recompor, uma chuva de flechas começou a cair do céu. O desespero começou a tomar
de conta das pessoas. Uma correria para todos os lados, gritos, pessoas caindo no chão atingidas
pelos disparos. Sabito estava congelado bem próximo de mim., enquanto olhava para as flechas
sem entender nada. Corri até ele rapidamente e o puxei pela mão.

— O que está acontecendo?!

— Estamos sendo atacados! Rápido, Sabito, se esconda em algum lugar!

— Mas, maninho!

— Rápido, Sabito!

Ele correu em direção à nossa casa e eu busquei alguma arma rapidamente, para que eu pudesse
me defender. Alguns soldados começaram a sair dos arbustos e vieram em minha direção.
Começamos uma luta corporal. Makomo e Kyojuro apareceram, vestidos com roupas comuns.
— Estamos sob ataque! — eu gritei

— Droga! Vamos! Vamos ajudar as pessoas! — gritou Makomo e os dois foram em direção a
alguns civis que pareciam desnorteados.

As flechas continuaram a cair do céu por alguns minutos. Enquanto nosso reforço chegava, notei
que Makomo estava cercada, mas Kyojuro se aproximou dela antes de mim. Enquanto eles
lutavam, vi que nossos homens e mulheres começaram a aparecer, e fiquei confiante de que
conseguiríamos detê-los. E após uma nova leva de flechas, a batalha recomeçou de forma árdua.
De repente, eu ouvi a voz de Shinobu e quando olhei para o lado, ela tentava proteger o Sabito,
enquanto empunhava uma espada.

— Deixa ele em paz!

— Shinobu!

Corri em direção a ela, porém vários soldados me cercaram. Tentei me manter focado, pois eu não
teria muito tempo para salvá-la. Quando finalmente me livrei da metade dos homens, notei que a
mestra Tamayo apareceu com uma espada e acertou o soldado com uma pedra. Eu me desvenciliei
dos outros homens e corri até os três.

— Shinobu, Sabito, vocês estão bem?

— Giyuu!

— São muitos deles! Temos que fugir! — disse a mestra.

— Mas não podemos fugir sem nada! — eu disse.

— Não teremos outra alternativa, eu acho que… — ela dizia, quando vi a ponta de uma espada
perfurar seu peito.

— Aaaaah! — Sabito gritou e cobriu os olhos.

— Não! Mestra Tamayo! Não! — gritou Shinobu.

Tamayo cuspiu sangue pela boca e a espada em seu peito foi puxada para trás. Um soldado saiu de
trás dela e antes que nos atacasse, Yushiro o acertou com alguns golpes da sua espada.

— Lady Tamayo! Não! — gritou Yushiro, que a segurou nos braços.

O caos estava instalado ao redor e de repente, ouvi o soar do que parecia um berrante. Eu vi o
rosto de um homem de pele esbranquiçada, um sorriso debochado e um olhar sedento de sangue.
Aquele homem era um verdadeiro demônio.

— Ora, ora! Os boatos eram verdadeiros! E vocês conseguiram passar anos longe da minha
vigilância?! Vejam, agora eu vim aqui tomar a posse do que é meu de direito. — disse o homem.

— Quem é você?! O que você quer?! — gritou Makomo, que era levada pelos soldados presa
pelos braços. Eu tentei intervir, mas Sabito me agarrou. Rengoku estava jogado no chão naquela
hora.

— Magnífico! Você deve ser uma das líderes! Uma honra conhecê-la finalmente, senhorita... — e
o ser indigno fez uma reverência — Eu sou Muzan, o primeiro e único imperador de todo o reino.
— disse.
— Muzan?! — eu murmurei, em choque. Era a primeira vez que eu via o rosto do homem que
destruiu minha vida mais de uma vez e tudo que eu senti foi muito ódio.

— Você nunca será respeitado, Muzan! Você é um pedaço de lixo! Eu vou te matar — gritou
Makomo. Ela se soltou dos guardas, roubou uma das espadas e foi em direção a Muzan. Antes que
ela o acertasse, uma adaga foi lançada diretamente em seu tornozelo e ela tropeçou. Quando olhei
para o lado, Rui, um dos voluntários, estava com outra adaga nas mãos. O maldito Muzan
gargalhou.

— Os plebeus estão cada vez mais abusados… — ele pegou a espada dela que caiu no chão e se
aproximou de Makomo. Eu tentei me aproximar, porém fui bloqueado por vários guardas. O
maldito imperador se aproximou dela, a puxou pela roupa e a fez encará-lo de perto.

— É uma pena… Você é uma moça tão bonita, daria uma bela concubina para o meu harém… —
ele a encarou de perto e ela cuspiu na cara dele.

— Vai pro inferno! Eu prefiro a morte do que ter meu corpo tocado por você! — ela gritou.

— Hahahahaha. Bem, se esse é seu desejo…

Tudo o que pude fazer foi abraçar o Sabito para que ele não visse aquela cena. Shinobu se abraçou
a mim e tudo que ouvi foram os gritos de Kyojuro, em pleno desespero.

— Não! Makomo! Makomo!

— Matem o resto e queimem tudo. — determinou Muzan, que nos deu as costas e se afastou.

— Shinobu, ache um lugar seguro para você e o Sabito. — eu disse.

— Mas, Giyuu!

— Agora! Vai! — eu gritei e os afastei de mim.

Mais pessoas do nosso lado apareceram e após a saída de Muzan, uma nova batalha se iniciou.
Sanemi e Obanai se uniram a nós na luta, enquanto notei que Mitsuri estava mais atrás com o arco
e flecha, acompanhada de Kanae, que carregava Mina nos braços, enquanto tinha Minori atrás de
si. Depois de algum tempo, conseguimos derrotar parte dos soldados e eu finalmente pude me
aproximar de Makomo, que estava nos braços de Kyojuro.

— Makomo! — eu gritei.

— Ela perdeu muito sangue, não vamos conseguir salvá-la! — Kyojuro disse, enquanto as lágrimas
desciam pelas bochechas.

— Giyuu… — Eu me aproximei dela, me abaixei dela e segurei suas mãos. — Me perdoa…

— Não precisa pedir perdão de nada!

— Por favor… Liberte Mizu… e cuide de Sabito por mim…

Ela fechou os olhos e eu senti uma forte dor no meu peito. Os gritos de Kyojuro começaram a
ecoar aos meus ouvidos e ao mesmo tempo que senti uma grande tristeza, uma raiva incontrolável
tomou conta de mim. Eu peguei um arco e flecha nas proximidades, corri até um cavalo, montei
nele e saí em disparada.

— Giyuu, espera!! — gritou Shinobu.


Cavalguei o mais rápido que pude, porém Muzan já havia se distanciado. Do alto da colina, eu o
observei montado em seu cavalo, mirei a flecha em sua direção e a atirei. Um vento forte assanhou
meus cabelos e notei que a flecha desviou a rota, atingindo apenas a orelha de Muzan. Ele olhou
para trás, com um olhar furioso e eu o encarei.

— Não adianta fugir, Muzan, eu vou te matar! Eu vou destruir você e tudo o que você tem! Você
não perde por esperar. — eu gritei, furioso.

Naquele momento, eu apenas pensava em vingar minha família e eliminar aquele maldito da face
da terra. De repente, notei a presença de alguém se aproximando rapidamente e quando desviei, vi
Rui passar na minha frente.

— Então, você era o traidor no fim das contas.

Tomado pela raiva como eu estava, eu nem sequer pensei muito e apenas fiz o que tinha que fazer.
O fio da minha espada atravessou seu pescoço. Pelo menos, teríamos um traidor a menos a partir
de então. Decidi voltar o mais rápido possível, pois Shinobu e Sabito ainda estavam em perigo. Por
sorte, a luta estava terminada e ainda tivemos muitos sobreviventes. Caminhei um pouco e
encontrei os dois, que estavam sentados na frente da nossa casa, que estava parcialmente destruída.
Eles se levantaram quando me viram e se aproximaram.

— Aaaah! Você está cheio de sangue! Não morra, maninho! — gritou Sabito.

— Essa não, Giyuu! Vamos, temos que fazer um curativo o quanto antes!

— Esse sangue não é meu… — eu fui até a porta da nossa casa, me sentei e levei as mãos até a
cabeça.

— Uaaaah! Maninho, que bom que está bem! — Sabito chorava de um lado.

— Giyuu, meu amor, que bom que não está ferido! — Shinobu chorava do outro.

— Vai ficar tudo bem… — tentei dizer a mim mesmo em voz alta.

Eu os abracei e fiquei em silêncio por um tempo. Depois da luta encerrada, não tínhamos muito
tempo para nos despedir direito das pessoas que havíamos perdido. Teríamos que partir o quanto
antes ou o grupo que havia partido na frente seria eliminado facilmente sem os mantimentos.
Depois de tudo ficar mais calmo, acompanhamos Kyojuro até um local no topo da colina e
enterramos a Makomo e Tamayo por lá.

— Maninho, por que a mana Makomo está aí? Ela não vai voltar?— perguntou Sabito.

— Não, Sabito, ela não voltará… — eu disse.

— Mas, por quê? Eu queria que ela ficasse aqui com a gente! Maninho, me fala! Maninho! — ele
perguntava insistentemente.

— Sabito, ela morreu! Pessoas não voltam do mundo dos mortos! — eu gritei.

Ele se assustou comigo e começou a chorar. Shinobu o abraçou e me encarou com uma expressão
de reprovação.

“Ah, ótimo…Agora ela vai ficar brava comigo… ” — pensei.

— Desculpa, não fica zangado… — ele disse, em meio aos soluços.


Eu suspirei, na tentativa de controlar o meu nervosismo, o peguei do braços de Shinobu e o
coloquei no meu colo. Ele me abraçou e eu o fiz deitar a cabeça no meu ombro.

— Sabito, eu não estou zangado com você. É só que... a Makomo lutou para nos proteger, porém o
destino achou que era a hora dela partir… Depois que as pessoas morrem, elas vão para outro lugar
misterioso e de lá elas cuidam da gente… Ela vai cuidar de você de longe agora… — eu disse, no
tom mais brando possível.

— Mas eu queria ela perto… — ele continuava a soluçar.

— Eu sei, eu também queria. Mas não fique triste ou ela também vai ficar! Você tem que sorrir e
viver uma vida feliz, era isso que ela desejava para você. — eu disse.

— Tá bom… — ele me abraçou com mais força.

Depois de nos despedirmos de todos nossos companheiros, resolvemos partir em viagem o mais
rápido possível. Com os homens desanimados, Kyojuro me sugeriu que eu falasse alguma coisa, já
que eu era o guerreiro mais habilidoso entre eles no momento.

— Eu sei que os últimos dias têm sido torturantes, exaustivos e de muitos receios. Mas, peço para
que vocês se apeguem a qualquer gota de esperança. Ainda temos uma chance, mesmo que remota.
Vamos mostrar a Muzan que ele jamais será capaz de controlar nossos corpos e nossas almas. No
dia de amanhã, ele conhecerá o poder do orgulho dos rebeldes. Essa noite, descansem, porém,
amanhã, levantem-se e lutem, como se fôssemos viver pela eternidade. Pelo orgulho do Reino de
Mizu! — gritei.

Os sobreviventes ergueram seus punhos ao céu e soltaram um urro estrondoso. Esperei que aquilo
tivesse sido bom o suficiente para que eles não desistissem da batalha árdua que viria a seguir.
Capítulo XV

A viagem de encontro ao grupo de Tanjiro foi silenciosa. Estávamos todos devastados e


desorientados. Além disso, com o risco de que novos soldados surgissem, todos os sobreviventes
tiveram que abandonar seus lares e nos seguir. Voltamos mais uma vez à estaca zero.

— O que faremos agora, Giyuu? — perguntou Sanemi, que me acompanhava no seu cavalo.

— Vamos nos encontrar com os demais e ver o que acontece. É o que nos resta.

— Estou preocupado com o Kyojuro. Ele não parece nada bem. — comentou Sanemi ao olhar para
o rapaz cabisbaixo.

— Eu sei… Não deve ser fácil perder uma pessoa valiosa para você, imagina duas ao mesmo
tempo. Eu acho melhor falarmos com ele.

— Certo. — Sanemi concordou.

Nós alinhamos os cavalos na direção de Kyojuro e nos emparelhamos com ele. Ele tinha o olhar
distante e mal percebeu nossa aproximação.

— Kyojuro, como você está se sentindo?

— Ah, oi, pessoal… Não sei dizer… Eu me sinto perdido agora… — ele disse.

— Eu sei que não deve ser nada fácil, amigo. Se precisar de algo, nos diga. — disse Sanemi.

— Tudo o que eu quero no momento é vingar a Makomo e nosso filho. Eu quero que Muzan pague
pelo que fez. — disse Kyojuro.

— Não se preocupe. Ele não ficará impune por isso. Vamos acabar com ele.

Enquanto cavalgávamos, eu olhei para trás. Shinobu, Kanae e Sabito estavam sentados lado a lado
na carroça. Shinobu estava abraçada a Sabito, que não parecia muito bem. Ele ficou impressionado
com o enterro da Makomo e parecia muito nervoso. Eu conversei com ele um pouco, porém ele
não entendia bem tudo o que estava acontecendo. Já Shinobu estava brava comigo desde o dia do
enterro e como eu estava evitando conflito com ela, pois eu não queria descontar minha frustração
nela, preferi ficar um pouco mais afastado. Naquele momento, era tudo doloroso demais para
aguentar e eu temia que fosse desabar em algum momento, no entanto me mantive forte o tempo
que consegui. Quando finalmente encontramos com o grupo de Tanjiro e repassamos as más
notícias a todos, a indignação foi geral. Ocorreu uma grande reunião entre os líderes naquele dia e
me chamaram para colaborar.

— Chegamos no nosso limite. Não podemos mais deixar Muzan ficar impune. Makomo era uma
grande amiga e o mínimo que eu posso fazer é realizar seu sonho de deixar o reino em paz. Não
vamos mais perder tempo. Vamos liquidar com Muzan de vez! — determinou o ruivo.

— Isso mesmo! Temos que vingar a morte de Makomo e de todas as pessoas que ele matou. Não
vamos deixar que as coisas fiquem assim. — disse Kanao.

— Eu concordo! Não vamos mais esperar! Vamos agir! — disse Aoi.

— Então, pelo que soubemos, Muzan está muito confiante de que eliminará os rebeldes com
facilidade. Então, ele abaixou um pouco a guarda. Poderemos cercá-lo nas montanhas. — disse
Tanjiro.

— Concordo. Acho que teremos uma boa chance de derrotá-lo. Só temos que torcer para que não
tenhamos chuva ou o terreno ficará pesado demais para subirmos. — expliquei.

— Isso é verdade, Giyuu. O fator ambiente pode determinar nossa vitória ou derrota. — disse
Inosuke.

— Apenas a vitória é aceitável. — disse Tanjiro. Ele se levantou e foi até o desenho de um mapa,
onde começou a emparelhar alguns bonecos. De repente, Sabito entrou na barraca com uma
expressão assustada.

— Mano, mano! Vem logo! Vem logo!

— O que foi, Sabito? Estamos em reunião! — eu disse.

— A mana Shinobu não está bem! Vem! Vem!

Senti um aperto no peito na hora e nem pensei duas vezes: apenas saí da tenda e corri em direção à
barraca. Assim que entrei, Shinobu estava deitada no futon. Ela estava toda encolhida e tinha uma
das mãos na barriga. Eu rapidamente fui até ela e me abaixei.

— Shinobu, você está bem? O que houve? — perguntei e a puxei para meu colo.

— Me sinto mal… — ela disse.

— O que você tem? — levei a mão até a cabeça dela e verifiquei se havia febre. — Você não está
quente. Está com dor em algum lugar?

— Eu estou um pouco enjoada, desde ontem… — ela disse.

— Tem algo que eu possa fazer por você?

— Pode preparar um pouco de chá? — ela pediu.

— Claro que sim. Espera um pouco. — eu a deitei confortavelmente, fui até o lado de fora e
consegui um pouco de água quente com um dos homens que estavam preparando o almoço. Eu
preparei um chá e entreguei para ela. — Beba devagar.

— Obrigada...— ela tomou do chá e ficou deitada. Eu me deitei ao lado dela, a puxei para perto e
fiquei acariciando seus cabelos por um tempo.

— Vamos partir daqui a pouco, certo?

— Sim, só fica comigo um pouco… — ela encostou no meu peito e eu a acolhi dentro dos meus
braços.

— Ficarei aqui o tempo que quiser. — eu disse.

— Desculpa, eu deveria estar te apoiando agora, mas eu fiquei um pouco assustada quando você
resolveu sair daquela forma atrás de Muzan. Você nem sequer pensou na dor que causaria no
Sabito e em mim se você morresse?!

— Desculpa, eu fui tomado pelas emoções do momento. Realmente, eu não pensei direito naquela
hora.
— Também fiquei chateada ao ver você gritar com o Sabito. Você sabe que ele nunca passou por
nada disso, nem que ele nunca havia visto alguém morrer até agora… — ela disse.

— É… Eu sei que eu fui um idiota… No entanto, você também deveria saber que eu estava
sofrendo naquela hora. Como espera que eu consiga raciocinar direito quando eu estou enterrando
uma parte do que restou da minha família?!

Shinobu ficou calada por um tempo e me abraçou com força.

— Desculpa, eu sou mesmo uma péssima esposa! Não te dei a atenção que você merecia! É que…
eu estou tão nervosa e com tanto medo! E eu estou me sentindo muito mal hoje! São coisas demais
para absorver! — ela disse.

— Não está fácil para ninguém mesmo… Então, que tal apenas ficarmos abraçados assim? Assim
eu consigo ficar um pouco mais calmo e cuidar melhor de você.

— Tudo bem por mim.

Passados alguns minutos, Shinobu começou a vomitar e decidi chamar a Kanae para me ajudar.
Nessa hora, senti muita falta da mestra Tamayo e de sua inteligência médica.

— Irmãzinha, aconteceu alguma coisa? — perguntou Kanae, que apareceu na entrada da tenda.

— Estou um pouco enjoada… — ela disse.

— En-enjoada?! — Kanae fez uma cara de espanto.

— Sim…

— Ah… Me deixa medir seu pulso… — ela disse.

— Tá bom…

Kanae levou a mão até o punho dela e seus olhos se abriram.

— Oh! — ela sussurrou.

— O-o que foi, Kanae? — perguntou Shinobu.

— O que está acontecendo?! É algo grave?! — eu perguntei.

— Ah, não! Não é nada grave! Na verdade, é algo maravilhoso! — Kanae sorriu e ficamos
confusos.

— Fala de uma vez, Kanae! — pediu Shinobu.

— Irmãzinha, você vai ser mamãe! Parabéns! — disse Kanae.

Levei algum tempo para absorver aquela informação, até que veio um estalo na minha mente.

— Espera! Vo-você disse… mamãe?

— Sim! Isso mesmo! Shinobu está esperando um bebê! — ela falou.

Confesso que minhas pernas faltaram quando eu soube da notícia. Eu levei a mão até a boca e por
alguma razão algumas lágrimas desceram pelas minhas bochechas. Shinobu também ficou em
choque. Eu me abracei a ela e disse:

— Nós vamos ter um filho!

— Ah! Isso é tão fofo! Eu vou ser titia! Bem, vou deixar um pouco de espaço para vocês! — disse
Kanae, que se levantou e saiu.

Shinobu retribuiu o abraço e eu comecei a chorar feito um idiota, pois eu ainda não havia
desabafado toda a tristeza que eu estava sentindo desde a morte da Makomo e ao mesmo tempo, eu
estava muito feliz com a notícia.

— Tudo bem, meu amor. Deixa tudo isso sair. Vai te fazer bem! — ela disse e acariciou minhas
costas.

Depois de um tempo, eu finalmente consegui controlar minhas lágrimas. Eu apoiei o rosto de


Shinobu com minhas mãos e a beijei.

— Obrigado por esse presente, meu amor!

— O nosso presente! — ela levou as minhas mãos até a barriga dela e eu a acariciei. — Ah,
nossa! Eu nem acredito que vamos ter um bebê!

Acho que foi a sensação mais incrível que já senti na vida. A vinda de uma criança representava a
esperança de um futuro melhor. Fiz Shinobu deitar novamente para descansar e enquanto
acariciava seus cabelos, ela disse:

— Amor, se o bebê for um menino, eu quero que tenha seu nome! — disse Shinobu.

— E você vai aguentar dois Giyuu na sua vida?!

— Hahahaha! Claro que sim! É o nome que eu mais amo no mundo todo. — ela sorriu e eu a beijei
carinhosamente. — Bem, e se o bebê for uma menina, nós podemos chamá-la de Makomo. O que
acha? — sugeriu Shinobu.

— Vo-você tem certeza?

— Sim, assim o Sabito vai achar que ela voltou para ser a irmã dele de novo. — disse Shinobu. Eu
a abracei e a beijei várias vezes, até que ela começou a rir, toda envergonhada. — Chega, amor!

— Obrigado! Isso significará muito para o Sabito e para mim.

— Eu sei que sim! — ela disse.

Depois de um tempo, saímos da barraca e quando chegamos ao local do almoço, contei a novidade
ao grupo e todos ficaram alegres e empolgados. Eles resolveram brindar à vinda do nosso filho e
começaram a se divertir com algumas garrafas de bebida quente. O problema é que eles tinham se
empolgado até demais com as bebidas e estavam em um grau exagerado de animação e eu só pude
orar para que nenhum grupo de soldados de Muzan nos encontrasse por lá naquele momento.

Como Shinobu não estava muito bem e o ambiente ficou um pouco impróprio para o Sabito,
resolvemos voltar para nossa barraca. Talvez deixar os homens à vontade demais tivesse sido uma
péssima ideia. Passamos pela barraca de Inosuke e ouvimos os gemidos altos de uma mulher. Com
a barraca entreaberta, vi que Aoi rebolava em seu colo. Shinobu pareceu chocada e eu rapidamente
tapei os olhos de Sabito e voltamos a caminhar.
— Maninho, o que eles estavam fazendo? Ela parecia estar chorando! Ela estava de castigo, é? —
perguntou Sabito.

— É que… Sim! Talvez ela foi uma menina má… — desconversei e Shinobu controlou a risada.

Assim que chegamos na barraca, contamos para Sabito a novidade:

— Sabito, nós vamos ter um filho! Isso não é incrível?! — Shinobu disse, enquanto acariciava a
barriga dela.

— Hã?! Vocês vão ter um bebê?! — perguntou Sabito.

— Isso mesmo! Logo você ganhará mais um irmãozinho ou irmãzinha! — ela disse.

— Ah! Que legal! A cegonha que vem deixar?! — perguntou Sabito.

— Sim, isso mesmo! A cegonha! — eu disse.

— Oba! Oba! Vou contar para o Minori que vou ter mais um irmãozinho! — ele disse e correu
para fora da barraca. — Minori! Minori! Escuta só!

— Eu sabia que ele ia ficar feliz. — Shinobu me abraçou e eu retribui.

— Shinobu, como vamos fazer? É muito perigoso ficar por aqui.

— Eu pretendo ficar aqui até quando puder. Quero apoiar as pessoas, depois eu acho que devemos
achar um local seguro para ficar

— Sim, vamos procurar um vilarejo tranquilo para fazer uma casa. Um bem longe dos olhos de
Muzan.

— Ah! Aquele vilarejo próximo ao rio que passamos no mês anterior parecia muito bom!

— Ah! Aquele que tem a mansão borboleta, o lar de um dos amigos de Tanjiro? — questionei.

— Isso mesmo!

— Parece um ótimo lugar. Eu fico preocupado com você no meio dessa guerra, mas acho um bom
plano. Enquanto não vamos até lá, quero que fique sempre perto de mim também, para que eu
possa te proteger.

— Tudo bem.

Enquanto os meses passavam, eu observava de perto a barriga de Shinobu crescer. Mesmo que ela
estivesse desconfortável com o novo corpo em alguns momentos, minha esposa parecia cada dia
mais linda aos meus olhos e eu a admirava ainda mais pela sua força e coragem, num momento tão
delicado. Mesmo em meio à guerra, nós conseguimos curtir alguns momentos de tranquilidade.
Certa manhã, nós encontramos um banho quente num dos vilarejos que visitamos e resolvemos
aproveitar para relaxar um pouco. Na verdade, ainda nos cansamos um pouco, já que era raro
termos um tempo sozinhos e resolvemos aproveitar para nos amar um pouco. Depois disso,
ficamos sentados num dos batentes, com ela sentada em meu colo e sua cabeça deitada no meu
ombro, enquanto eu acariciava sua barriga. O bebê já chutava com certa força.

— Ele não para de mexer!

— O bebê gosta muito de você! Sempre que você se aproxima, ele chuta ou se mexe. Parece que
ele ama sua voz. — comentou Shinobu.

— Claro que ele ama o papai! Não é, bebê? — eu acariciei a barriga dela e ele chutou com força.
— Ele realmente parece agitado hoje. Será que está brigando, porque a gente fez uma baguncinha
hoje?

— Talvez ele tenha ciúmes da mãe dele e está brigando com o papai!

— Será que ele está com ciúmes do papai aqui? Desculpa, bebê, mas a mamãe é minha! — eu
disse e beijei Shinobu várias vezes, até que ela deu uma risadinha.

— Aproveita, pois depois que o bebê nascer, você vai ter que me dividir com ele! — ela brincou.

— Só se ele derrotar o papai numa luta!

— Luta… — Shinobu logo mudou de expressão e ficou um preocupada. — Amor, até quando acha
que vamos viver assim? Quando será que essa guerra vai acabar?

— Não sei, Shinobu. Espero que logo. Eu quero que nosso filho tenha uma vida tranquila e eu
quero que nós possamos viver como uma família feliz.

— É o que mais desejo! Uma vida em paz!

O passar dos meses e o crescimento da barriga de Shinobu ainda nos obrigou a ter uma conversa
constrangedora com Sabito sobre de onde realmente vinham os bebês e como nosso filho realmente
iria nascer. Ele ficou um pouco confuso com tudo aquilo, no entanto, e para nossa sorte, ele não
quis se aprofundar no assunto.

Durante os meses que seguiram, tivemos muitas batalhas e baixas. As coisas começaram a ficar
complicadas, porém com a chegada de mais voluntários, conseguimos certa vantagem sobre Muzan
e finalmente o encurralamos. Shinobu já estava no seu nono mês nesse momento e decidimos que
ela deveria se afastar do acampamento. Eu não conseguiria me concentrar em nada com ela e o
bebê por perto. Mesmo apreensivo, eu não teria outra alternativa, se quisesse deixá-la em
segurança.

Fizemos uma viagem curta até onde seria nosso novo lar temporário. Conseguimos uma casa ao
lado do lar de Obanai e Sanemi, que também vieram para ajudar na escolta de suas famílias. Uma
semana depois, recebemos uma mensagem por pombo correio, falando da necessidade do nosso
retorno. No entanto, eu decidi que eu apenas viajaria após a chegada do bebê, pois não queria
deixar minha esposa sozinha num momento tão delicado. Três dias depois, o momento tão
esperado chegou.

Era madrugada quando ouvi Shinobu gemer bem alto. Quando abri os olhos, eu vi que ela estava
sentada na cama.

— Giyuu, eu acho que a bolsa estourou faz alguns minutos. E agora… Ahhh! — ela gemeu de dor.
— As contrações estão mais curtas. Nosso bebê deve estar chegando.

Fiquei desnorteado na hora e fiquei rodando no quarto que nem um louco.

— E agora?! E agora?! O que eu faço?!

— Urrrg! — ela segurou na barriga e gemeu de dor. — Amor, chama a Mitsuri e a Kanae, rápido.
— Aaaah!
— O que está acontecendo?! — Sabito correu até nosso quarto.

— Sabito, chama a Mitsuri e a Kanae, por favor! O bebê está nascendo!— eu gritei.

— Aaaaah! O bebê está vindo! O bebê está vindo! — Sabito correu e eu ouvi seus gritos do lado
de fora.

— Giyuu, eu estou com medo! Está doendo muito! — gritou Shinobu. Eu corri até a cama e
segurei a sua mão.

— Calma, meu amor! Vai ficar tudo bem!

— Fica do meu lado, por favor! — ela pediu.

— Eu vou ficar sim!

Demoraram algumas horas para que o bebê finalmente viesse ao mundo e eu fiquei ao lado de
Shinobu, mesmo me sentindo angustiado e verdadeiramente assustado. Não sabia que um parto era
tão complicado. Finalmente, depois de muito suor, sangue, lágrimas e dor, eu ouvi o choro do bebê
pela primeira vez. Shinobu começou a chorar, já que estava exausta e eu a apoiei em meu corpo.

— Bom trabalho, meu amor! Você foi ótima!

— Nosso bebê! Nosso bebezinho! — ela sussurrou.

— Você foi muito bem, maninha! — disse Kanae, que organizava os panos sujos ao lado.

Mitsuri a segurou no alto e disse:

— É uma menina!

— Nossa Makomo nasceu, meu amor! — disse Shinobu.

Depois que a limpou e cortou o cordão em seu umbigo, Mitsuri a envolveu num pano e a entregou
para mim.

— Aqui! Sua linda garotinha! — ela disse.

Eu fiquei com medo de segurá-la, porém Mitsuri me posicionou bem. Eu olhei para aquele
serzinho tão pequeno nos meus braços e foi inevitável não cair no choro.

— Oi, minha filha, bem-vinda a esse mundo. Papai está muito feliz em te conhecer. Seu nome será
Makomo e você será uma garota corajosa como sua tia foi.

A minha garotinha acalmou-se e parou o choro, e eu acariciei o rostinho dela por um tempo, até
Shinobu se sentir bem para segurá-la. Logo ela mamava no peito da mãe e Shinobu tinha um
grande sorriso no rosto. Sabito, Minori e Mina ficaram encantados com a bebê e viraram seus
protetores. Eles passavam boa parte do tempo fazendo companhia para Shinobu, enquanto eu fazia
a comida e cuidava do que eu podia em casa. Eles foram de grande ajuda, com toda certeza.
Depois de um mês e de receber inúmeras cartas, decidi que era hora de voltar e acabar de vez com
a guerra.

Obanai, Sanemi e eu organizamos nossas coisas, e nos despedimos de nossas famílias antes de
partir.

— Meu amor, tenha cuidado. Volte vivo para mim e para nosso bebê. — disse Shinobu.
— Eu prometo que vou voltar para vocês assim que essa viagem terminar. Eu te amo.— eu disse.

— Eu te amo, Giyuu.

Eu a abracei e a beijei por um tempo, depois segurei minha filha nos braços por um tempo e a
beijei na testa.

— Papai vai voltar para você. Eu prometo.

Depois de entregar Makomo para Shinobu, eu me despedi de Sabito.

— Maninho, eu te amo! Volta vivo! — ele me abraçou.

— Cuida da Shinobu e da Makomo para mim, Sabito.

— Tá bom…

Do nosso lado, Mitsuri, Minori e Mina choravam agarrados a Obanai.

— Uaaah! Você tem que voltar para mim, Obanai! Promete que não vai morrer?

— Prometo. Eu vou voltar para casa vivo.

— Papai! Não vai! Fica! — disse Minori.

— Eu tenho que ir, meu filho. Mina, o papai já vai! Eu não demorarei a voltar! — ele beijou a
bochecha da garotinha que estava agarrada ao seu pescoço.

Já Kanae e Sanemi faziam uma despedida mais silenciosa, com ambos abraçados por um longo
tempo.

— Você se cuide. Estarei te esperando. — disse Kanae.

— Eu voltarei o mais rápido possível. — ele disse e os dois beijaram-se com entusiasmo.

Feitas as despedidas, nós montamos em nossos cavalos e começamos a nos afastar. Eu ainda virei o
rosto para trás e olhei para os rostos da minha família mais uma vez. Eu só desejava que tudo
ficasse bem e que eu logo pudesse estar em casa. No entanto, era hora de focar na batalha final
contra Muzan.
Capítulo XVI

Quando eu ouvi o relinchar dos cavalos, eu nem pensei direito e corri o mais rápido possível para o
lado de fora. Eu fiquei empolgada e busquei por Giyuu, porém assim que meu olhar encontrou-se
com o de Tanjiro, a expressão que ele fez já me dizia tudo. Eu me aproximei dele com Makomo
em meus braços e perguntei:

— Tanjiro, onde o Giyuu está?

— Shinobu… Bem… — o ruivo desviou o olhar e eu senti um aperto no peito.

— Shinobu… — Kyojuro desceu do seu cavalo, segurou suas rédeas e se aproximou de mim. —
Eu… sinto muito…

— Kyojuro, o que aconteceu? Onde o Giyuu está?

— Shinobu, depois que derrotamos Muzan, um dos seus soldados entrou em batalha física com o
Giyuu e os dois caíram dentro do rio. Fizemos várias buscas por lá, passamos um mês procurando
por ele, mas… não o encontramos.

— Não! Não! Não pode ser! — Eu senti uma forte dor no meu peito e comecei a chorar. Eu não
poderia aceitar que o Giyuu tivesse morrido daquela forma. Eu abracei nossa filha contra meu
peito. — Giyuu, não pode ser!

— Shinobu, eu prometo que assim que me recuperar, eu vou continuar procurando por ele. Se ele
estiver vivo, nós vamos encontrá-lo. Tenha fé! — ele segurou nos meus ombros e falou com
confiança.

— Não, Giyuu…

Fui consolada por Kanae e os demais membros do exército rebelde. A parte mais difícil seria dar a
notícia para Sabito, porém preferi dizer que ele ainda demoraria para voltar, pois estava resolvendo
algo importante. Foi tão doloroso mentir para ele, porém eu não teria como consolá-lo com a dor
que eu sentia naquele momento. No fim, mesmo com meses de buscas, eles não conseguiram
encontrá-lo. Mesmo assim, todo dia eu rezava para que ele voltasse para casa em segurança. Eu
tive que me reerguer para conseguir cuidar de Makomo e de Sabito, porém a angústia nunca saiu
do meu peito. E assim, dois anos se passaram.

~~xx~~

— Ei, velho, ele está recobrando a consciência... — eu ouvi uma voz agora dizer ao meu lado.

— Senhor, consegue me ouvir?

“Onde eu estou?"

Tentei ver, mas estava tudo escuro. Tentei me levantar, mas meu corpo estava pesado. As vozes
começaram a se perder novamente.

— Calma! Mantenha a calma! Você não deve se mexer agora! — dizia uma voz próxima.
Mesmo após inúmeras tentativas de me mexer, senti minhas forças irem embora e simplesmente
apaguei de novo. Não sei por quanto tempo dormi, mas acordei totalmente desnorteado. Comecei a
sentir como se meu corpo retornasse de um sono profundo. O mundo ainda girava, minhas costelas
doíam e minha cabeça parecia que explodiria. Consegui sentir a ponta dos meus dedos dos pés.
Dobrei minhas falanges e ouvi uma voz ao meu lado.

— Se consegue ouvir minha voz, peço que tenha calma. O senhor está na minha casa. Meu
assistente e eu o encontramos no meio da estrada. Seu corpo tem machucados severos, então não
deve fazer nenhum movimento brusco. Movimente-se bem devagar.

Apenas consenti com a voz estranha e mexi a ponta dos dedos dos pés, porém havia algo estranho
com um dos lados. Eu não conseguia movê-lo direito. Tentei abrir os olhos, mas eles pareciam
bem inchados e doloridos, e tudo estava escuro. Decidi ficar imóvel por um tempo.

— Ótimo. Bem, eu me chamo Himejima. Você está sob os cuidados de Genya e eu agora.
Provavelmente, você caiu do barranco e bateu com a cabeça. Antes que fique nervoso, seus olhos
estão cobertos por bandagens. Você passará alguns dias com baixa acuidade visual, pelo tamanho
do inchaço. E tem mais uma coisa que você precisa saber...

“Então... É por isso que está tudo escuro... E o que mais eu preciso saber?” — pensei.

— Por favor, tente mexer as pernas... — ele disse, em um tom receoso.

E eu comecei a mexer os dedos dos pés novamente, mas um dos lados estava... diferente.

— Você quebrou uma das pernas, então talvez demore para que você possa nadar novamente.
Como eu sou médico e herbalista, eu cuidarei de você até que melhore. Por enquanto, peço que
colabore conosco e fique quieto o máximo possível. Se for possível, pode me dizer seu nome?

“Meu nome… Meu nome é… Qual é meu nome?!”

De repente, tudo ficou em branco na minha mente e eu não sabia nem ao menos quem eu era. Meu
corpo estava quebrado, minha mente vazia e eu estava aos cuidados de dois estranhos. O que
poderia ser pior do que aquela situação?

Não sei por quanto tempo ainda dormi, mas quando eu finalmente recobrei minha consciência, eu
tive que lidar com uma situação muito inusitada.

— Espera, quer dizer que esse maluco bateu a cabeça em algum lugar e perdeu a memória? —
disse o homem de longos cabelos escuros.

— Genya, tenha modos! Não vê que a situação dele é delicada?

— Só mesmo o senhor para perder tempo com gente que nem conhecemos! — reclamou o garoto.

— A missão de um médico é salvar vidas! Aqui não importa cor, aparência ou origem. Agora, pare
de resmungar e trabalhe. Eu irei atender outro paciente agora. — disse o médico.

— Aff… Tudo bem… — disse seu assistente.

Como eu ainda não conseguia ficar em pé, nem sabia onde eu estava, nem muito menos quem eu
era, eu decidi apenas ficar quieto e observar o que acontecia ao meu redor.

— Vai ficar tudo bem, meu bom homem. Vamos cuidar de você! — disse Himejima, que me deu
uma tapinha no ombro. Eu ouvi suas pegadas se afastarem.
Eu percebi um pequeno feixe de luz acessar minha venda. Provavelmente, eu estaria próximo a
alguma janela. O lugar tinha um cheiro estranho, como se tivesse permanecido fechado por muito
tempo. Um sinal de luz surgiu à minha direita e eu senti uma brisa entrar. Uma outra janela aberta,
provavelmente.

— Tch! Que saco! Já não bastava ter que dividir a casa com meu tio, agora ainda temos que
cuidar de um estranho! Tio Himejima e suas ideias sem sentido! — resmungou Genya, que
apareceu no quarto. — Bem, eu vou pegar os medicamentos para você tomar, senhor estranho!

— Obrigado... — eu sussurrei de volta.

— Ah! Já está conseguindo falar?! Que bom! Então, por que não me diz seu nome?

— Eu… eu não sei…

— Hã?! Você não sabe o seu nome?

— Não…

— Hum… Pelo estado que lhe encontramos, você deve ter batido com a cabeça em algum lugar…
Bem, talvez com o tempo ela volte. Enquanto isso, preocupe-se em se recuperar logo.

— Tá…

E aquele dia foi insuportável. A cada duas horas, ela tinha que beber uma bebida estranha, que me
causava vertigens, ânsias. Desmaiei no meio do processo. Quando recobrei a consciência, o feixe
de luz havia sumido e tudo era breu. E minha cabeça latejava, como se meus olhos estivessem
queimando. Comecei a dar um grito rouco e levei as mãos à cabeça. No desespero, tentei me
levantar mais uma vez, já que para variar, eu ainda sentia como se a minha perna estivesse lá. Caí
de cara no chão e tudo que senti foi o gosto do sangue tocar a minha língua.

— Senhor estranho! O que pensa que está fazendo?! Está louco?! — gritou Genya.

“Estou limpando o chão com a língua, idiota!” — eu pensei.

— Ai, que merda! E agora?! Me espera aí! Eu vou pedir ajuda!

Eu apoiei os cotovelos no chão, me empurrei para trás e sentei. Levei os dedos até o rosto, onde eu
sentia uma espécie de gosma sair do meu lábio superior. De repente, senti uma dor excruciante na
perna e comecei a gritar de dor.

— É aqui! Me ajuda a levantar ele, por favor. — disse Genya a outra pessoa.

Assim que eles me colocaram na cama, Genya agradeceu ao homem e depois que ele saiu, ele
começou a gritar comigo.

— Olha aqui, você ficou maluco, por acaso?! E agora?! Eu não posso deixar você aqui sozinho e
eu tenho muito o que fazer!

— Humpf...

— E não me venha com resmungado! Você agiu de forma imprudente e ponto final! — gritou
Genya. — Aff… Não tem problema… Eu sei que é complicado para você, mas colabora comigo,
tá? Uma queda dessas pode prejudicar sua perna quebrada de vez e aí você nunca mais vai andar!
Eu agora tenho que organizar algumas coisas. Pode ficar quieto aí por um tempo?
— Sim…

— Òtimo! Eu volto daqui a pouco.

Eu adormeci novamente, não sei por quanto tempo fiquei apagado e quando despertei, ouvi a voz
de Himejima ao meu lado.

— Bem, agora vamos lhe dar um banho para tirar todo esse sangue do seu rosto! — ele disse.

E minutos depois, eu havia retirado a venda dos olhos. Eu conseguia enxergar sem muita nitidez,
mas as cores haviam voltado. E o lugar estava claro e eu conseguia ver apenas o contorno fraco de
sua estrutura. E enfim senti as gotas d’água tocarem meu rosto e um alívio inicial, mas depois que a
água começou a tocar minha perna, tudo se resumia a dor. Deslizei os dedos lentamente até ela,
porém minha perna estava extremamente sensível. Quando eu aproximava o dedo, sentia como se
recebesse inúmeras agulhadas. Dei um gemido alto, mas ainda assim, tentei ajudar a lavar o local,
mesmo com dificuldade. Genya perguntou se eu não queria ajuda, mas eu preferi preservar o resto
de dignidade. Aquela água gelada fez surgir na minha mente uma espécie de lago e na frente dele,
havia uma garota de costas.

— Um lago… — sussurrei.

— Lago?! — Himejima perguntou.

— Sim, eu acabei de ver um…

— Oh! Então, suas memórias não devem demorar a voltar! Ficará tudo bem em breve! Viu mais
alguma coisa?! — ele perguntou.

— As costas de uma garota…

— Oh! Talvez seja sua esposa! — disse Genya.

— Esposa?

— Sim! Quando nós o encontramos, você tinha uma aliança no dedo! Então, o senhor deve ser
casado! — ele falou.

— Entendi…

— Espera! — Genya saiu e depois voltou. — E além do anel, você tinha esse colar. É uma pedra
estrela! Talvez ela tenha lhe dado de presente também!

Ele me entregou os dois objetos e mesmo com a vista um pouco embaçada, eu consegui ver o
brilho do anel dourado.

— Coloque sua aliança no quarto dedo da mão esquerda. É onde ela deve ficar. — recomendou
Himejima..

— Tudo bem…

Assim que eu a coloquei, eu senti meu coração acelerar no peito. Talvez, eu realmente tivesse
alguém me esperando em algum lugar e que pudesse me dizer quem eu era. No entanto, eu não
fazia ideia de como encontrar essa pessoa. Quando terminei o banho, resolvi fazer um teste. Tateei
a parede e encontrei um ponto de apoio e fiz força para levantar, mas senti uma pontada tão forte
na perna, que me joguei novamente na cadeira que eu estava usando. Me senti mais frustrado do
que antes. A jornada ainda nem tinha começado, mas eu já estava ficando irritado com aquilo.

Minha visão se recuperou no dia seguinte, porém eu demoraria muito tempo para voltar a andar.
Foram meses de muita dor, de lágrimas e de frustração. Depois de mais de um ano, eu consegui
caminhar com a ajuda de uma bengala e finalmente pude conhecer os arredores de onde eu estava.
O senhor Himejima era o médico da região. Como ele era muito requisitado, sua cabana ficava
mais isolada, na parte mais distante do vilarejo. Ele contou que apenas assim ele conseguia ter
algumas horas de sono. Por lá, eles viviam do cultivo de hortaliças e pequenos animais, e sempre
cedo da manhã, ele saía para a cidade e só retornava à noite. Era um lugar muito tranquilo e
silencioso. Nas horas livres por lá, eu ficava lendo seus inúmeros livros, o que me trazia uma
sensação nostálgica.

E de repente, dois anos haviam se passado num piscar de olhos. Eu já estava bem habituado com a
vida naquele lugar, porém eu tinha uma certa inquietude no meu peito, que aumentava a cada flash
de memória que aparecia. O rosto da garota estava mais nítido e eu sentia que tinha que ir atrás
dela. Do seu nome, eu só lembrava do final "nobu". Eu realmente precisava saber quem ela era. Eu
só sabia que precisava ver aquele sorriso de novo. Às vezes, eu também via o rosto de um
garotinho que me chamava de “maninho” e eu ficava imaginando se ele seria meu irmão.

Depois de tanto tempo preso naquele lugar, Himejima resolveu me levar com ele até o vilarejo,
pois ele acreditava que poderíamos conseguir alguma informação sobre quem eu era. Ele contou
que um grande grupo de pessoas havia chegado por lá e estava em busca de um homem
desaparecido chamado Giyuu, e Himejima suspeitava que eu fosse essa pessoa. Subi na carroça,
mesmo com dificuldade e o acompanhei até lá. Quem sabe, eu não fosse a pessoa a quem eles
estavam procurando?

O vilarejo era um pouco mais agitado do que onde eu estava. Haviam várias barraquinhas
espalhadas ao redor , muitas passando de um lado para o outro. Himejima e Genya resolveram
parar em frente a um restaurante.

— Bem, foi aqui que eu ouvi alguém perguntar sobre um homem, que tinha características
parecidas com a do senhor estranho. — disse Genya.

— Meu rapaz, espere um pouco aqui fora. Nós vamos buscar mais informações. — disse
Himejima.

— Certo…

Eles entraram e aproveitei para olhar os produtos ao redor. Haviam muitos tecidos de cores
interessantes, iguarias de outros reinos, especiarias. Tudo parecia bem diferente da calma e pacata
casa da zona rural. Decidi prestar atenção à conversa de dois homens, enquanto olhava alguns
produtos.

— Pois, é, rapaz! Depois que o Muzan morreu, os reinos ficaram uma bagunça! E para completar,
o descendente direto ao trono de Mizu está desaparecido. Estamos sem regente até agora. Sorte que
o senhor Uzui está organizando tudo por essa região.

— E isso é muito perigoso, pois Akasa já começou a avançar pelo oeste. No entanto, eu duvido
que ele passe por Ho e Kaze. Os novos imperadores têm mesmo muitos homens. Estou aliviado,
pois agora que a paz chegou, finalmente podemos vender com tranquilidade, sem nos preocupar
com impostos! Hohoho. — comemorou o velho.

De repente, eu ouvi o choro de uma criança nas proximidades. Quando olhei ao redor, vi uma
garotinha, que segurava algo de pano nos braços. Como os outros a ignoravam ou até mesmo
esbarravam nela, resolvi me aproximar para ajudá-la. Assim que cheguei perto dela, eu me abaixei
um pouco e a encarei. Ela tinha olhos azuis como os meus e cabelos escuros.

— Oi, garotinha, por que está chorando?

— É que… eu me perdi da mamãe… — ela disse.

— Sua mãe? E onde você a viu pela última vez quando se perdeu dela?

— Um… — ela olhou ao redor e apontou para uma das barracas, que ficava mais na entrada do
vilarejo.

— Bem, se você quiser, eu posso te levar até lá e podemos esperar que ela apareça. O que você
acha? — perguntei.

— Tá bom! — ela disse e agarrou minha mão.

Começamos a caminhar em direção à barraca e quando mais pessoas ela via, com mais força ela
apertava a minha mão.

— Qual seu nome, garotinha?

— Makomo…

— Você sabe sua idade?

Ela fez o número dois com os dedos.

— Você parece muito inteligente para sua idade, sabia?

— Olha, eu tenho uma boneca! — ela mostrou para mim. — Meu pai me deu de presente!

— Seu pai? E onde ele está?

— Ele sumiu! — ela disse.

— Hã? Como assim?

Assim que chegamos na barraca, ouvi algumas vozes que chamavam pelo nome dela.

— Makomo! Makomo!

— Mamãe! — ela soltou da minha mão e correu.

— Ei, espera! — Eu a observei correr e de repente, ela se abraçou a uma mulher, que logo se
abaixou para envolvê-la em seus braços. Ao lado dela, havia um menino de cabelos alaranjados
muito familiar por alguma razão. A garotinha apontou para a minha direção e quando eu
finalmente pude ver o rosto de sua mãe, eu senti meu coração acelerar dentro do peito. Ela era
igual à mulher que sempre aparecia nas minhas memórias. O garoto olhou para minha direção e
parecia assustado.

— Ah, você está aí! Que bom que te achamos! — disse Himejima, que tirou minha atenção.

— Acho que encontramos alguém para nos dizer se você é a pessoa que estão procurando ou não,
senhor estranho! — disse Genya.
— Venha, venha por aqui! — Himejima apontou para o outro lado, porém antes que eu pudesse
sair, eu senti alguém puxar o meu braço e quando me virei, o garotinho dos cabelos ruivos me
segurava.

— Espera! Giyuu! — ele gritou.

Quando fixei meu olhar no rosto dele, tive um flash de memória. Me veio o rosto e o nome daquele
garoto.

— Sa-Sabito! — eu disse.

— Giyuu! Giyuu! É você mesmo! — ele gritou e me abraçou.

— Sabito! É, seu nome é Sabito! Oi!— eu disse.

— Oh! Então, você conhece ele, garoto?! — Himejima ficou admirado.

— Sim! Ele é meu maninho Giyuu! — ele disse.

— Ufa! Finalmente, o senhor estranho encontrou alguém que ele conhece! — disse Genya.

— Maninho, onde você estava?! O que estava fazendo?! Por que está de bengala?! E por que não
voltou logo para casa?! — Sabito começou a me encher de perguntas.

— Hahahaha. Calma, calma! Talvez ele não vai conseguir te responder tudo de uma vez! Ele
perdeu a memória! — disse Himejima.

— Perdeu a memória?! — Sabito pareceu confuso.

— Sim! Tem mais alguém com você? Algum adulto?! — perguntou Himejima.

— Sim, a minha mana! Ela é a esposa do meu maninho! — ele apontou para o lado e a mulher
estava se aproximando de nós.

— Espera seus irmãos são casados?! Que tipo de família depravada é essa? — Genya ficou
assustado.

— Não! Eles não são irmãos de verdade! São meus irmãos de coração! — disse Sabito.

A mulher ficou bem de frente a mim. Nós nos encaramos por um tempo, os olhos dela se
encheram de lágrimas. Ela tocou meu rosto, o acariciou e me abraçou.

— Giyuu... Finalmente, eu te encontrei, meu amor! — ela disse e começou a chorar.

Eu senti meus batimentos acelerarem e o cheiro dela me pareceu muito familiar. Ela ficou abraçada
comigo por um tempo. Eu fiquei desajeitado, sem saber como reagir, e Himejima decidiu intervir
por mim.

— Calma, senhora! Está tudo bem agora! — ele acariciou as costas dela. — Permita que eu me
apresente: sou Himejima, médico da região. Eu estava cuidando do seu marido.

— Sério?! Obrigada por cuidar dele! — ela o reverenciou. — Eu também sou médica.

— Oh! Não precisa de tanta formalidade! Fico feliz em encontrar uma colega de profissão! Bem,
há algo que eu preciso lhe contar sobre seu esposo.
— Tem algo errado? — ela perguntou.

— Seu esposo perdeu a memória. — ele disse.

— Perdeu… a memória? — ela me encarou.

— Nós o encontramos quase morto na beira do rio. Ele tinha um corte na cabeça e estava
desacordado. Quando ele despertou, ele não sabia mais quem era.

— Oh! Que horror!

— Você terá um pouco de trabalho com ele… Bem, vamos comer e conversar um pouco, tudo
bem?

— Tudo bem! — ela disse e me encarou por um tempo, o que me deixou um pouco desajeitado.

Himejima resolveu convidá-los até um restaurante para que conversassem sobre minha situação.
Dois homens, chamados Sanemi e Kyojurok, apareceram para se unir a nós. Eles pareciam me
conhecer também, pois ficaram felizes ao me ver e me cumprimentaram. Depois de muitas
explicações, coube a mim decidir o que faria em seguida.

— Bem, eu acho que se eu quero saber mais sobre quem eu sou, eu devo ir com as pessoas que me
conhecem.

— É uma sábia escolha, Giyuu. Bem, vou deixá-los à vontade para conversar um pouco. Depois,
passe na minha cabana para pegar suas coisas. Vou organizá-las para você. — disse Himejima.

— Obrigado…

Então, fiquei sentado na mesa cercado de pessoas que eu não lembrava e o Sabito. A mulher
começou a falar.

— Então, Giyuu, eu acho que é melhor que a gente se apresente novamente. Eu me chamo Shinobu
e eu sou sua esposa. Essa garotinha aqui é a Makomo, a nossa filha.

— Shinobu… — eu a encarei. — Nossa… filha?

— Makomo, esse é seu papai Giyuu! — ela disse a garotinha.

— É meu papai?! — ela perguntou.

— Sim! O papai vai voltar para casa! — disse Shinobu.

— Papai, papai! — ela veio até mim e segurou no meu braço. — Você vai brincar comigo quando
a gente voltar para casa? — ela era tão linda, que inevitavelmente não pude deixar de sorrir com o
pedido dela.

— Sim, claro que sim.

— E você lembrou de mim, né? Lembrou que eu sou o Sabito? — perguntou o garoto ao lado.

— Sim, me lembrei de você, mas não de tudo sobre você. — expliquei.

— Legal! Olha, eu sou seu único irmão e você faz tudo que eu mando! — disse Sabito, que me
abraçou.
— Sabito! — Shinobu resmungou.

— Brincadeira! Mas estou feliz que tenha lembrado de mim! Eu senti muito sua falta, maninho! —
ele disse.

— Já eu sou o Sanemi e esse é o Kyojuro. Nós somos seus amigos desde muito jovens. Estávamos
à sua procura a muito tempo. Estamos felizes em ter te encontrado.

— Não sabe o alívio que me deu ao te ver vivo, cara! Que bom que finalmente poderemos ficar
tranquilos. — Kyojuro.

Eu não lembrava muito deles, porém pareciam pessoas confiáveis.

— Ara, ara! Acho que agora nós devemos voltar até nosso lar. Existem muitas coisas que você
deve saber, Giyuu, porém acho que podemos ir te contando aos poucos. E finalmente, eu vou poder
ter uma boa noite de sono. — ela disse e eu pude notar sua expressão de cansaço no rosto. Meu
desaparecimento deve ter causado muitos problemas para eles.

Eu os guiei até a casa de Himejima e quando eu cheguei, ele também havia organizado suas coisas.

— Acho melhor acompanhá-lo nessa viagem. Seus lapsos de memória podem trazer problemas e
eu devo estar por perto para ajudar. Além disso, faz tempo que Genya não tem folga. Acho que ele
vai gostar de relaxar um pouco. — disse o homem.

— Oh! Minhas preces foram ouvidas! Preciso mesmo de uma folga!

— Tudo bem! Não tem problema! Arranjamos um lugar onde você possa ficar! — disse Shinobu.

Durante a viagem, nós usamos duas carroças. Foi um pouco difícil para subir, porém consegui com
a ajuda dos outros. Fiquei sentado ao lado da minha esposa, de Sabito e da minha filha. Enquanto
estávamos na estrada, Makomo parecia ter me aceitado facilmente e decidiu viajar sentada no meu
colo.

— Papai! Papai! Sua perninha dói? — ela perguntou.

— Um pouco, mas está tudo bem.

— Hihihihi. Papai é tão bonito! — ela disse e me abraçou. Mesmo desconcertado, decidi retribuir o
carinho dela. Ouvi a Shinobu dar uma risadinha e eu a encarei. Nós trocamos olhares por um tempo
e ela disse:

— Você ficou muito bem de cabelo curto. Foi uma boa mudança de visual.

— Obrigado…

— Eu também mudei um pouco… — ela disse e alisou os longos cabelos.

— Papai, a mamãe é bonita, não é? — perguntou Makomo.

Eu olhei para Shinobu de novo e vi que o rosto dela ficou corado. Me deu um pouco de vergonha,
mas eu falaria apenas a verdade.

— Sim! Ela é linda! — os olhos de Shinobu brilharam e ela deu um belo sorriso. Senti um pouco
de dor de cabeça e eu tive um flash de memória um pouco constrangedor. Então, eu tive mesmo
certeza de que ela era mesmo minha esposa. Senti a mão dela tocar a minha.
— Está tudo bem, Giyuu?

— Sim, é só que… às vezes, alguns fragmentos de memória aparecem…

— Ah, sério? Então, você deve lembrar de tudo logo. — ela disse.

— Espero lembrar de tudo de uma vez…

Após a viagem demorada, chegamos em outro vilarejo. Era ainda maior do que onde nós
estávamos. Haviam muitas pessoas nas ruas, animais, barraquinhas.

— Depois da guerra, as pessoas dos templos resolveram buscar novos lugares para viver. Com
isso, surgiram grandes vilarejos como esse. Todos os sobreviventes do nosso templo estão aqui,
reunidos. Eles ficarão felizes em te ver. — disse Shinobu.

Chegamos na frente de uma casa bem simples. A carroça parou e pudemos descer. De repente, vi
um garotinho de olhos verdes e cabelos escuros correr em nossa direção.

— Sabito! Sabito! Você voltou!

— Oi, Minori! Estamos de volta! — Sabito abraçou o garotinho. Ele olhou para mim, um pouco
desconfiado.

— Ah! O irmão do Sabito — ele disse e apontou para mim.

— Sim! Meu maninho voltou! — falou Sabito.

O garotinho correu, entrou numa casa ao lado e voltou acompanhado de um homem de cabelos
escuros e olhos coloridos. Atrás dele, veio uma mulher de madeixas rosadas e que tinha uma
menina nos braços. Outras pessoas vieram e começaram a me cumprimentar. Me senti angustiado
por não conseguir reconhecê-los. Depois de explicada a minha condição, eles resolveram me dar
espaço.

— Que lugar bacana! Eu acho que vou ficar por aqui! — disse Genya.

— Parece um lugar muito agradável. Talvez eu possa ajudar as pessoas daqui. — disse Himejima.

Após tanta emoção, eu fui apresentado ao local que seria meu novo lar. Era uma casa pequena,
porém tudo estava bem limpo e organizado.

— Mano, mano! Olha, este é seu quarto e esse é o meu e da Makomo. — Sabito apontou para as
duas direções.

— Tudo bem.

— Papai, olha, eu tenho a boneca que você me deu. — Makomo me trouxe um material feito de
pano e eu o achei muito familiar. — Obrigada, papai!

— De nada! — eu acariciei os cabelos dela.

— Makomo, agora vamos deixar o papai descansar um pouco, está bem?

— Tá!

Após o jantar, eu decidi ir até o quarto. Me deitei nos lençóis e fiquei um pouco nervoso. Eu não
sabia o que esperar daquele ponto em diante, em que eu estaria com minha esposa. Quando ela
apareceu, ela tinha os cabelos longos soltos e usava uma camisola. Meu coração bateu mais rápido.
Ela deitou ao meu lado e ficamos os dois olhando para o teto, como se não soubéssemos o que
fazer.

— Bem, foi um longo dia! Teremos muito o que conversar nos próximos dias! Boa noite, Giyuu.
— ela disse e se virou para o outro lado.

— Boa noite…

Tentei dormir, porém com tantas informações novas, eu mal consegui fechar os olhos. No meio da
noite, eu ouvi Shinobu chorar. Embora eu ainda tivesse receios em tocá-la e incomodá-la, eu decidi
que deveria saber o que minha esposa estava sentindo.

— Shinobu, você está bem?

— Não se preocupe… Eu vou ficar bem…

— Desculpa. Eu sei que minha ausência deve ter te causado muitos problemas… Você deve me
odiar por isso.

— Foi muito difícil! — ela começou a chorar mais alto, o que me deixou nervoso. — Esse tempo
sem você foi horrível! Eu tive nossa filha sozinha, tive que arranjar uma forma de cuidar dela e do
Sabito sem você! E ao mesmo tempo, eu sofria sem saber onde você estava! Você não tem noção
de quanto isso foi doloroso! E agora que eu te encontrei, você nem sequer se lembra de mim!

Eu me senti muito mal com aquilo, pois tudo o que eu menos queria era ter feito Shinobu sofrer
com minha ausência. Eu não tive o que falar, apenas a abracei pelas costas, enquanto a ouvia
chorar. Assim que ela se acalmou mais, ela virou de frente para mim e me abraçou.

— Desculpa, eu acabei jogando a culpa em você…

— Tudo bem… Foi minha culpa mesmo… Você foi infeliz por conta da minha ausência.

— Eu sei que deve ter sido difícil para você também, então não quero que você pense que eu te
odeio pelo que aconteceu. Na verdade, eu passei esse tempo todo te procurando e quando eu te
encontrei, eu me senti tão aliviada! — ela me apertou com mais força. — Eu te amo muito! E
mesmo que você não se lembre totalmente de mim agora, eu estarei ao seu lado e te ajudarei a se
encontrar de novo.

— Obrigado, Shinobu.

Eu a abracei com força e aquele seu cheiro doce me fez lembrar da pequena Shinobu e de como eu
amava abraçá-la. Eu tinha muitos receios de como seria a minha vida a partir daquele ponto, porém
eu me esforçaria para ao menos ser útil para minha família. Eles precisaram de mim várias vezes
na minha ausência e o mínimo que eu poderia fazer era retribuir.
Capítulo XVII
Chapter Notes

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No dia seguinte, acordei ao sentir um toque na minha bochecha e quando abri os olhos, acordei
com a bela visão do rosto de Shinobu.

— Bom dia, Giyuu. O que acha de pegar um pouco de sol? Um banho diário ajudaria bastante na
recuperação dessa sua perna. O sol tem boas vitaminas. — ela disse.

— Tudo bem. Se você acha que isso vai me fazer bem, seguirei sua recomendação.

— Ótimo! Sabe, eu tenho que te contar uma coisa. Eu me tornei médica, então durante as manhãs,
eu vou até uma casa, me junto com outras mulheres e atendemos as pessoas que precisam. Você
quer me acompanhar até lá? Nós podemos chamar aquele seu amigo médico também.

— Sim, eu quero conhecer onde você trabalha.

— Bem, mas antes, é melhor você tomar um banho, para começar o dia bem disposto. Você quer
que eu lhe ajude? — ela perguntou.

— Eu...não sei… Não vai te incomodar?

— Claro que não! Faço questão de ajudar o meu marido! — ela disse e sorriu.

Shinobu era mesmo uma pessoa muito gentil e logo percebi um dos motivos pelo qual me
apaixonei por ela. Levantei com dificuldade com ajuda da bengala, me sentei numa cadeira de
madeira e fiquei apenas com a intimidade coberta por um pano. Ela começou a tocar na minha
perna.

— Bem, sua perna ainda está um pouco fraca. Deve ser por isso que está com dificuldade para
caminhar! Não se preocupe, eu vou te ajudar a recuperar a força dos seus músculos! — ela disse e
sorriu.

— Obrigado, Shinobu.

Eu comecei a jogar água em mim e a esfregar alguns locais, enquanto ela esfregava minhas costas.
Ela lavava meus cabelos, quando parou repentinamente e começou a rir.

— Qual a graça?!

— Você ficou com um belo penteado! Devia adotá-lo! — ela debochou.

E eu a ouvi encher alguma vasilha com água, caminhar para minhas costas e ela jogou uma boa
quantidade de água quente na minha cabeça, enquanto seus dedos massageavam meus cabelos. Até
que aquilo era extremamente relaxante. Ela deslizou os dedos pelos meus ombros. Seu toque era
tão leve, que eu senti minha coluna se arrepiar mais uma vez e meu corpo reagiu a isso. Levei a
mão até o pano.

— Você… achou isso gostoso?


— Sim…

Ela posicionou-se na minha frente e levou as mãos até meu rosto.

— Eu quero poder te tocar de novo, Giyuu. Eu sei que você perdeu suas memórias, mas eu sou sua
esposa. Será que nós podemos… tentar nos aproximar?

— Eu acho que… não tem problema. — disse a ela.

— Ah, que alívio! — ela me abraçou.

— Shinobu, você vai ficar molhada!

— Eu senti mesmo falta do seu abraço… — ela me apertou em seus braços e mesmo desajeitado,
eu retribui.

— Mamãe! Papai! Onde vocês estão?! — gritou Makomo.

— Bem, alguém já acordou com muita energia. — Shinobu me beijou no rosto. — Vista-se e
venha comer, meu marido!

Depois de algum tempo, chegou a hora do café da manhã e me sentei à mesa com Sabito, Makomo
e ela.

— Papai! Papai! Olha! Eu sei comer sozinha! — ela disse ao levar um pedaço de fruta até a boca.

— Que ótimo, Makomo!

— Mano! Mano! Eu quero te mostrar a horta depois! Eu estou cuidando dela sozinho! — disse
Sabito.

— Tudo bem. Eu vou olhá-la com você mais tarde.

— Papai! Papai! Brinca comigo mais tarde! — pediu Makomo.

— Tudo bem! Eu brinco com você!

— Mano! Mano! Você tem que ir pescar comigo também! — disse Sabito.

— Nós iremos.

— Hahahaha. Você está mesmo muito requisitado nessa casa! No entanto, o papai é todo da
mamãe hoje! Sabito, você vai cuidar da Makomo e os dois vão estudar! — determinou Shinobu.

— Ah, não… — as duas crianças resmungaram ao mesmo tempo.

De repente, eu tive um flash de memória e veio em minha mente algumas meninas que dançavam
em cima do palco. Shinobu se destacava entre elas. Havia muita música, dança e alegria.

— Giyuu, tudo bem? — perguntou Shinobu.

— Hã? O que disse?

— Perguntei se estava tudo bem...

— É que… às vezes as minhas memórias surgem...


— Ah! Que ótimo! Parecia ser uma lembrança feliz pelo sorriso que deu. — ela comentou.

— Eu lembrei de te ver dançando, juntamente com outras garotas…

— Ah! O festival! Era tão legal! Eu lembro que eu ficava toda animada para que você me visse
dançar. — ela contou e ficou corada. — Ai, eu estou tão feliz por você! Você está se recuperando!
Logo, estará com sua memória de volta! — e eu senti os braços dela me envolverem, seu torso vir
ao encontro do meu e seu rosto tocar de leve o meu. Ela me deu um abraço forte, caloroso e
perfumado. Ela tinha um perfume muito gostoso e a sua pele era macia. Senti meu rosto queimar.
Fiquei sem reação, já que o contato dos nossos corpos me fez sentir como se uma onda de choque
tivesse me atingido.

— Que tal treinarmos um pouco hoje? Precisamos fortalecer essa perna! — disse Shinobu.

— Talvez você tenha razão. É melhor eu caminhar um pouco! — eu me levantei, peguei a bengala
e dei passadas rápidas até o lado de fora.

— Nossa! Você já está todo independente! Que ótimo!

— Com sua ajuda, ficarei bom logo!

— Espero que sim!

Depois de uma breve caminhada, nós chegamos até a casa onde Shinobu atendia algumas pessoas.
Himejima e Genya nos acompanharam.

— Que lugar interessante! E quantos livros! — disse Himejima, admirado.

— Depois que Muzan caiu, alguns dos livros da biblioteca imperial foram roubados, então
pudemos ter acesso a coisas de medicina que antes seriam privilégios dos nobres. — disse
Shinobu.

— Oh! Interessante! Deveras interessante! — ele se aproximou dos livros e começou a se entreter
com eles.

Genya então resolveu se aproximar de uma mulher de cabelos longos. Por alguma razão, ela tinha
olhos parecidos com os da Shinobu.

— Oi, princesa, precisa de uma ajudinha aí? — Genya pareceu mais cortês que o normal.

— Ah, oi… — ela disse, confusa.

— Então, você chama a esposa dos outros de princesa?! — Sanemi apareceu com um caixote nas
mãos.

— Ah! Perdão! Perdão! Eu não quis ser inconveniente! — Genya se afastou dela rapidamente.

— Oh! Giyuu, é você mesmo! Sanemi havia me contado da sua volta, mas eu estava um pouco
indisposta. — quando ela se levantou, ela mostrou a barriga avantajada. — Eu sou Kanae, irmã da
Shinobu e esposa do Sanemi. Sinto muito que tenha perdido sua memória.

— Muito prazer, Kanae.

— Prazer em vê-lo de novo, Giyuu!

— Humpf… Só o que faltava… — resmungou Sanemi, ainda irritado com a apresentação de


Genya, que logo recebeu um beijo da esposa.

— Calma, está tudo bem! Não foi nada! — ela disse e sorriu.

Depois de acompanhar a rotina de Shinobu por lá, percebi que ela também era extremamente
dedicada ao que fazia, além de ajudar a todos, sem distinção. Minha esposa era mesmo uma
mulher admirável. Decidi voltar para casa para ficar com as crianças, pois assim ela poderia se
concentrar no seu trabalho. Himejima e Genya resolveram ficar por lá para conhecer os pacientes.
Assim que eu voltei, haviam gotas pretas espalhadas por todo lugar.

— Makomo, para com isso! Você não pode pintar a casa! — gritava Sabito.

— Mas eu quero que ela fique bonita para o papai! — ela gritou de volta.

Assim que entrei no quarto deles, haviam manchas de tinta por todo lugar.

— Olha, papai, fiz para você! — ela disse e sorriu.

— Oh! Que ótimo! Muito bem! — Fiquei imaginando o quanto foi complicado para Shinobu ter
que trabalhar e ainda dar conta de deixar a casa impecável. — Mas, sabe, você não pediu
permissão para a mamãe, nem para o papai para pintar a casa. Isso não pode!

— Não pode?! — ela perguntou.

— Não! Sempre que for fazer alguma coisa, tem que pedir permissão, tudo bem?

— Ah… Então, tá bom.

— Por isso, nós vamos limpar tudo isso antes da mamãe chegar! Vamos! Vamos começar!

Depois de muita luta, conseguimos deixar a casa limpa e Sabito decidiu nos levar até sua horta.

— Olha aí, que beleza! — ele disse, sentindo-se orgulhoso.

— Terra! — Makomo começou a pular em cima da areia.

— Ei, sai daí, sua bagunceira! — gritou Sabito.

Makomo tinha mesmo muita energia para gastar.

— Só não tem nenhum vegetal na sua horta, Sabito. — comentei.

— É que… elas não cresceram! — ele coçou a cabeça.

Me aproximei da terra e coloquei a mão nela.

— Sabito, isso está encharcado! Não tem como crescer assim!

— Ah, não?! Droga! — ele resmungou.

Com a vivência na casa de Himejima, aprendi muito sobre ervas e plantas, então decidi ajudar
Sabito na sua horta. Com o passar das semanas, a rotina naquele lugar tornou-se mais confortável
para mim e a convivência com os outros, mais agradável. Finalmente, algumas hortaliças
cresceram na horta de Sabito, o que o deixou feliz. Eu também passava muito tempo com minha
filha e vi como ela era uma menina muito inteligente e meiga, como a mãe dela. Aliás, cuidar dela
demandava muita energia, o que me deixava exausto no fim do dia. Depois de algumas semanas,
Shinobu e eu nos aproximamos muito, e passamos a interagir mais como um casal, o que foi um
grande alívio para mim.

Certa noite, eu estava me preparando para dormir, quando ouvi um grito alto, agudo e desesperado.
Procurei identificar a presença de algum estranho, mas eu apenas ouvia a voz de Shinobu. Eu
decidi verificar o que estava acontecendo. Eu me levantei devagar da cadeira onde estava e peguei
a minha bengala para tentar não cair por causa do equilíbrio, e para evitar os possíveis obstáculos.
Esbarrei na mesinha, algo caiu no chão, mas fiz o possível para não perder o foco. Ela parecia
estar com problemas. Me aproximei do quarto, entrei e assim que me aproximei dela, fui atingido
no rosto por um de seus braços. Para controlá-la sem cair, tive que subir na cama e segurar seus
braços para cima.

— Shinobu, acorda!

— Não! Não me machuque! Não! Eu não fiz nada! — e eu podia notar seus soluços.

— Shinobu, acorde! É um pesadelo! — eu disse, na esperança de despertá-la.

— Não! — ela gritou e de repente senti algo se chocar contra minha cabeça e eu fiquei tonto.

— Ahhh! Minha cabeça! — a ouvi reclamar.

Caí de costas na cama, levei a mão até a testa e acho que finalmente ela despertou.

— Oh, céus! Giyuu?! O que aconteceu?! — ela perguntou, assustada.

— Acho que quebrei o resto da cabeça…

— Oh, nossa! Eu te machuquei?! — ela disse, preocupada.

— Eu vou sobreviver… É que… você parecia em perigo e eu vim ajudá-la... Estava tendo um
sonho ruim?

— Ah... Sim! Não é a primeira vez que vejo os corpos deles... — disse Shinobu. E senti ela
apertar minha mão.

— Deles?! Deles quem?!

— Dos nossos amigos… — ela voltou a soluçar.

Eu poderia tentar consolá-la, dizer que aquilo não era real, porém aquilo deveria ser uma
lembrança. Meus pensamentos foram cortados quando ela me abraçou e se deitou em meu peito.
Ela estava com medo e eu não podia julgá- la. Eu a deixei liberar suas lágrimas e lhe retribui o
abraço com um suave toque de minha mão em suas costas.

— Se sente melhor? — eu sussurrei, enquanto ela lentamente se afastava de mim.

— Sim... Acho que sim... — ela dizia, soluçando.

— Por que não tenta dormir mais um pouco?

— Eu vou tentar... — ela sussurrou.

— Eu vou te vigiar um pouco. Assim, não vai se sentir sozinha...

— Você precisa descansar! — ela disse, receosa.


— Durma. Eu ficarei aqui e garantirei que nada lhe perturbe. — eu disse,

— Mas... Está bem, obrigada! — ela disse e acariciou meu rosto.

Eu me afastei devagar para tocar as costas na parede e me encostei. Ouvi ela ajeitar o travesseiro e
logo o silêncio tomou conta do quarto. Apenas ouvia a respiração dela, lenta e suave. De repente,
senti os dedos dela deslizarem no dorso da minha mão. Ela sempre tinha um toque tão gentil... E
quando dei por mim, estávamos de mãos dadas. Senti uma leve angústia. Estava no quarto de uma
mulher, sentado na cama dela e de mãos dadas com ela. Ela era minha esposa, porém eu não a
conhecia mais.

Fiquei pensando em como seria nossa vida se a guerra não tivesse acontecido. Talvez eu estaria
velando seu sono nesse momento. Eu a observaria dormir calmamente, com sua pele clara e
desnuda exposta. Eu me abraçaria a ela, pelas suas costas e a manteria aquecida com o calor do
meu corpo. Eu sussurraria duas ou três palavras bobas só para poder dizer o quanto eu a amava. Ela
me daria aquele sorriso irritante, porque certamente acordaria com o meu contato. Nós nos
beijaríamos de forma apaixonada e a paixão tomaria de conta dos nossos lençóis. Dormiríamos
abraçados como se nunca mais fossemos nos soltar. Mas, isso tudo virou apenas lágrimas
escorrendo pelo meu rosto. Por que eu não conseguia lembrar de nada?!

Assim que ela adormeceu completamente, decidi pegar um pouco de ar, pois me sentia apreensivo.
Sentei na porta de casa para olhar para o céu e perdi a noção do tempo. O dia já estava nascendo
quando, de repente, eu ouvi Shinobu me chamar.

— Giyuu! Giyuu! Onde você está?!

— Aqui fora! — eu gritei.

— Oh, minha nossa! Por que está no frio com tanta pouca roupa?! Vai pegar um resfriado! Espera,
eu vou pegar um cobertor. — ela disse.

— Não precisa! Vem, vem ver isso aqui!

— Mas, Giyuu, eu... — ela tentou protestar.

— Relaxa, Shinobu. Vem!

— Agr... Certo, eu irei. — ouvi os passos dela se aproximarem e logo senti seu corpo próximo ao
meu.

— Veja. Em nenhum outro lugar desse reino existe uma visão como essa. — e eu apontei para o
borrão laranja no horizonte.

— Oh... O nascer do sol! Que lindo! Está tão colorido! — ela disse.

E permanecemos em silêncio, apenas nos deixando levar pela onda de cores. Para mim, bem mais
vibrantes do que normal devido a encantadora presença dela. O sol já estava no céu quando ela me
pegou pela orelha.

— Nada de pegar o vento frio desse jeito! Está me ouvindo? — ela disse, em um tom bravo.

— Aiaiai! Desculpa! Eu não vou mais fazer isso!

— Hahahaha. Como você é teimoso. O que acha de tomar um banho quente e depois tomar um
belo café da manhã?
— É uma ótima ideia! — eu disse.

Depois do banho e de me vestir, entrei na cozinha silenciosamente e segurei Shinobu pela cintura.

— Ahh! Quer me matar do coração?! E você já está pronto para seu banho de sol? — ela
reclamou e eu apenas sorri.

— Hahahaha. Como você é mandona! — eu disse, para provocá-la.

— Eu sou a responsável médica por aqui, por isso deve obedecer às minhas orientações, meu caro.
— ela disse.

— Tudo bem, senhora médica! Aliás, eu sinto um cheiro muito bom. Seria o café?

— Sim, eu ia levar para você, mas já que está por aqui, acho que pode comer lá fora, enquanto
pega um pouco de sol. — ela disse.

— Sol de novo?!

— Eu já lhe disse: é uma tarefa diária.

— Tudo bem...

— Olha só! Sem reclamar. Está crescendo mesmo! Hahahaha. — ela disse.

— Engraçadinha! Só vou precisar de uma pequena ajudinha para chegar ao lado de fora… Estou
com um pouco de dor na perna.

— Tudo bem, eu te ajudo. — e ela segurou minha mão, começou a me puxar e a andar rápido.

— Ei, devagar! Vou desequilibrar desse jeito!

— Hahahaha. Não vá cair! — ela disse e me ajudou até chegar na cadeira. — Prontinho. Agora,
eu vou pegar seu café da manhã e... Ahhh... O que está fazendo?

— Eu pensei que... talvez pudéssemos fazer o banho de sol de uma forma diferente... — eu disse,
depois que a puxei para meu colo.

— Giyuu…

— Desculpe se eu estou um pouco distante de você, mas eu não quero desrespeitar seu espaço. Para
mim, é como se estivesse lhe conhecendo agora. No entanto, se você não se importar, eu quero me
aproximar de você também.

— Oh, Giyuu! — ela me abraçou com força. — Eu quero muito me aproximar de você! Você é
meu marido!

— Sério que eu escolhi me casar com uma mulher tão brava? — brinquei.

— Foi você mesmo que me pediu em casamento! — ela sorriu e eu não contive o riso. De repente,
um breve silêncio se formou entre nós. A mão dela tocou o meu rosto, enquanto eu sentia a minha
respiração encontrar com a dela. — Fico feliz que você finalmente tenha voltado a sorrir. Você
parecia muito triste... — ela disse.

— Estou melhor graças a você. Sabe, mesmo em todo esse tempo que estive sem memória, eu
nunca me esqueci do seu rosto. A cada momento, a sua expressão surgia em minha mente e eu só
tinha a certeza que eu tinha que te encontrar. Eu não lembro bem de tudo o que vivemos, mas eu
tenho certeza que meus sentimentos por você são reais. Eu posso sentir bem aqui… — eu levei a
mão dela até meu peito e ela me encarou com os olhos cheios de lágrimas.

— Eu te amo e eu sei que você também me ama! Mesmo que demore um pouco, eu sei que você
irá lembrar de tudo! Nosso destino é ficar juntos, Giyuu. — Nós nos encaramos um pouco, eu levei
a mão até o rosto de Shinobu e meus lábios se encontraram com os dela.

Minhas mãos automaticamente foram até suas costas. Aquela sensação era boa. Subi uma das mãos
até seus cabelos macios e ela deslizou os dedos em meu rosto. Sentir o toque e o calor dela. Como
eu precisava daquilo. E nos beijamos, eufóricos. Foi como se tivéssemos realmente nos
reencontrado, pois meu coração palpitou cheio de alegria.

— Caramba! O que está acontecendo?! — perguntou Sabito, surpreso.

Quando nossos lábios se distanciaram e olhamos para Sabito, eu fiquei surpreso.

— Você... está chorando?! Por quê? — eu questionei, confuso.

— Hahaha. Eu só estou feliz por vocês! — ele disse.

— Sabito é sempre tão sentimental! Sabe, nós estamos recomeçando nossa família! Vamos ser
felizes, juntos!

— Ahh! Que maravilha! — ele veio até nós, empolgado e nos abraçou.

E daquele momento em diante, fomos nos aproximando devagar e a minha memória começou a
voltar aos poucos. Eu até tive alguns flashes com o rosto da Shinobu e um deles estava relacionado
ao colar que eu usava no pescoço. Comecei a ter a certeza de que Shinobu e eu nos amávamos de
verdade. Em certo momento, eu estava no nosso quarto, quando ela entrou com um velho livro nas
mãos.

— O que é isso?

— É um velho diário que eu tenho. Eu pensei que ele ajudaria a você a lembrar de mim, apesar de
ser um pouco constrangedor. Leia ele todo e você verá que nós nos amamos desde sempre. — ela
disse.

— Tudo bem, farei como você pediu. Amanhã cedo, eu o lerei.

No dia seguinte, o sol mal havia nascido quando Shinobu saiu para atender uma mulher em
trabalho de parto. Decidi fazer o café da manhã para as crianças e depois de deixar tudo pronto, eu
me sentei numa árvore que havia no nosso quintal. O livro que eu tinha nas mãos parecia bem
antigo, porém ainda estava conservado. Depois de bem acomodado, eu decidi abri-lo e ler seu
conteúdo.

“Querido diário, tudo bem? Então, quando minha mãe me disse que você seria uma boa ideia, eu
achei que ela estava doida. Mas, agora que ela se foi, eu acredito que realmente, ter pelo menos
você para conversar, já é alguma coisa. Esse lugar novo é estranho. O alfabeto é complexo, mas
estou me virando bem com ele. Escrever em você vai me ajudar a praticar. Estou me sentindo
sozinha e sinto falta dos meus pais. Por que meu reino teve que ter um destino tão triste? Sabe,
existem muitas crianças por aqui. Devem vir mais daqui uns dias, eu acho. Será que farei algum
amigo por aqui? Espero que sim. Bem, boa noite, se é que é noite mesmo...”
“Hoje chegou um garotinho novo por aqui. Eu ainda não sei o nome dele. Levaram ele para um
quarto especial, porque ele é muito agressivo. Mas, me dá pena vê- lo gritar e chorar, enquanto se
machucava se batendo contra as grades. Tadinho! Eu fico com vontade de chorar quando eu o
vejo assim! Espero que libertem ele logo. Quero saber de onde ele veio. Tem um bebê que fica
com ele na cela. E ele, ao contrário, é bem quietinho. Bem, vou para a aula. Até mais.”

“Hoje o garotinho falou comigo. Ele disse que o nome dele era Giyuu. Acho que ele não entendeu
bem quando eu falei meu nome, pois ele agora me chama de “Eu Shinobu”. Hahaha. Que
bobinho! Aquele homem feioso do chicote vive o machucando toda hora. Eu vou ajudá- lo, pois ele
não merece sofrer.”

“Eu o salvei, mas eu apanhei por isso. E doeu muito. Aquele homem do chicote é mau. Muito mau.
Por sorte, ele já era. Giyuu o matou. Eu deveria ter medo dele, mas ele só fez isso para se
defender, foi sim! Talvez, ele estivesse cansado de sofrer. E agora eu ganhei um novo amigo. Isso
é tão legal! Estou tão feliz!”

“Amanhã eu vou dançar no festival da colheita. Será que ele vai me ver dançando?”

“Ele sempre foi como um irmão, um grande amigo... Mas, ultimamente, tudo está tão estranho...
Quando ele se aproxima, eu sinto como se meu coração balançasse dentro do peito. Meu rosto
esquenta, meu corpo treme de leve e fico ofegante. Por que eu me sinto assim?”

“Será que ele me odeia depois que me afastei? Será que ele ainda vai me aceitar como sua
amiga?”

“Meu corpo está mudando. Isso é tão estranho. Ah, mamãe, como eu queria ter você aqui ao meu
lado... Você me tiraria muitas dúvidas... Se bem que o conselho do Giyuu não foi tão ruim...
Mestra Tamayo deve me ajudar...

“Ai, nossa! Que vergonha! Hoje eu acho que eu fiz algo indecente! Bem, hoje era o aniversário
dele. Imaginei que ele deveria estar no lago e eu estava certa. E quando cheguei lá, eu o vi
desnudo. Eu fiquei envergonhada. Aquilo era... tão diferente... No entanto, eu queria ficar perto
dele no seu dia. Eu respirei fundo, arranquei o vestido e pulei na água. Eu quase o matei de susto.
Hahahaha. E então, algo mágico aconteceu. Nos beijamos. Ai, eu nem acredito. Foi tão... tão
estranho, mas tão bom ao mesmo tempo. E aí, quando dei por mim, nos beijamos de novo. E nos
beijamos mais e mais. Fiquei com a boca um pouco dormente depois! Só que aquele negócio que
ele tem cresceu do nada. Tivemos que sair do lago para que ele voltasse ao normal. Garotos são
mesmo estranhos!“

“Aquilo foi tão lindo. Primeiro, ele me levou até o lago, depois me serviu um lanche. Tudo bem, o
bolo estava queimadinho, mas eu não quis deixá- lo triste. Eu comi tudo. E depois, ele me deu um
presente tão lindo. Um anel com uma pedra ametista! Ele disse que tinha a cor dos meus olhos!.”

“Hoje ele me ensinou um juramento do reino dele e agora nós somos noivos. Nós temos um
compromisso. Eu achei isso tão lindo! De novo, trocamos sensações. Por que a cada dia parece
que isso fica mais gostoso?”

“Hoje é o dia mais triste da minha vida. Vou ter que viajar amanhã! Giyuu me apoiou. Ele disse
que eu deveria seguir o meu sonho e que me esperaria onde quer que eu estivesse. Eu tenho muita
sorte de ter alguém como ele. Sei que no fim seremos felizes.”

“Hoje foi o dia mais feliz da minha vida! Estou tão emocionada. Estamos casados! Agora Giyuu
e eu somos marido e mulher! Ah, nós fizemos amor pela primeira vez. No começo, doeu muito, mas
Giyuu foi muito carinhoso comigo e fez tudo com muita calma. Quando dei por mim, já estávamos
conectados e foi até bem gostoso. Depois, fizemos amor outras vezes naquela noite. Eu o amo. Eu
o amo muito. Não vejo a hora da guerra acabar, para que fiquemos juntos para sempre.”

“E eu achava que ia ser fácil vir para a guerra.. Eu passo mais tempo socorrendo pessoas do que
respirando. Sorte ter o Giyuu para conversar. Eu sinto que ele está mais nervoso que o normal...
Quanto tempo vai levar para a guerra acabar?”

“Eu não consigo mais escrever aqui. Sem o Giyuu na minha vida, nada faz sentido. E agora eu
tenho que cuidar da nossa filha e do Sabito, então meu tempo para escrever ficará mais escasso.
Adeus, querido diário…”

Fechei o diário dela e fiquei pensativo. Eu nem imaginava o quanto havíamos sido presentes na
vida um do outro. Diante daquilo, decidi que mesmo sem saber quem eu era, eu tentaria ser um
bom esposo para Shinobu. Se nós nos amávamos antes de eu esquecer quem eu era, certamente o
amor surgiria mais uma vez. Shinobu era uma mulher incrível, nós tínhamos uma filha maravilhosa
juntos e eu decidi que cuidaria delas pelo resto da minha vida.

De repente, senti um cheiro de fumaça e quando olhei pra frente, havia uma cor acinzentada
espalhada no ar. Decidi me levantar e ir em direção à origem da fumaça e quando cheguei, meus
olhos mal puderam acreditar. Havia fogo em várias casas.

— Giyuu! Giyuu! — Sabito correu em minha direção, com a pequena Makomo em seus braços.

— O que houve?!

— Um incêndio tomou conta das casas. Eu estava brincando na rua com a Makomo quando eu o
vi.

— E a Shinobu?! — perguntei.

— Ela deve estar lá na casa de atendimento. — ele disse.

— Não! Shinobu!

Sem pensar muito, eu corri até o local de trabalho de Shinobu e avancei pelo fogo. O calor era
insuportável. Comecei a gritar por ela, mas não ouvi nada de volta. Eu comecei a ficar com medo.
Será que o pior havia acontecido? Eu tinha que encontrá-la, o mais rápido possível. Entrei em meio
às labaredas, me encolhendo e me arrastando, e me deparei com uma porta. Tentei abrí-la, mas
parecia emperrada. Usei a força do corpo algumas vezes e consegui fazê-la abrir. Havia uma boa
quantidade de fumaça. Eu me abaixei e pude ver alguém jogado no chão. Eu me aproximei
rapidamente. Era ela. Era Shinobu. Eu a peguei dos braços.

— Shinobu! Shinobu! Acorda, por favor! – eu gritava e a sacudia, mas ela parecia desacordada e
sua respiração estava curta.

Eu a peguei nos braços e comecei a ir em direção à porta, mas parte do telhado cedeu. Eu desviei,
mas perdi o equilíbrio e caí de costas no chão. Eu senti uma fisgada forte na região da minha perna
e a dor tornou-se insuportável. Shinobu continuava desacordada e as chamas estavam nos cercando,
o que tornou o calor insuportável. A dor estava massacrante, mas eu não podia desistir. Eu não
podia desistir de nós.

Reuni minhas últimas forças, segurei Shinobu em meus braços e me concentrei em levá-la para
fora. Eu comecei a cair várias vezes, porém eu não desisti. E depois de muito esforço, finalmente
consegui sair daquele lugar com Shinobu em meus braços. Caí no chão novamente e a abracei,
enquanto assistia a destruição total da casa. Eu deitei Shinobu no chão e ela começou a tossir.
— Shinobu, aguente firme. Logo o socorro chegará.

De repente, eu ouvi vários passos. Olhei para trás e vi Sabito com Makomo em seus braços e com
Himejima atrás dele.

— Giyuu! — gritou Himejima.

— Estou aqui! Rápido, Shinobu precisa de ajuda!

Sabito correu em minha direção.

— É a Shinobu! Você a encontrou! — ele gritou.

— Mamãe! Mamãe! — gritava Makomo, desesperada.

— Caramba! Não faz uma merda dessas, cara! Quase me matou do coração! — disse Sabito.

— Sabito, leva a Makomo daqui!

— Tá! Tá bem!

— Rápido, Himejima! Ela inalou muita fumaça!

— O que aconteceu exatamente? — perguntou Himejima.

— Eu não sei! Ela estava desacordada e a respiração estava fraca. Por favor, nos ajude!

— Ela tem um hematoma na testa. Deve ter sido atingida. Vamos, vamos levá-la até sua casa. —
Himejima

Tentei levantar, mas senti muita dor e caí no chão.

— Giyuu! Está ferido! Não se esforce muito! — disse Himejima.

— Não importa. Salve a Shinobu. Ela precisa de mais ajuda do que eu nesse momento.

Himejima carregou Shinobu, enquanto eu levantei com dificuldade.

— Ei, me deixa olhar sua perna! — disse Genya, que havia se aproximado.

— Não precisa, eu tenho que ficar ao lado da Shinobu. — eu tropecei de novo e caí.

— Aff, que cara mais difícil! Vem, eu vou te ajudar! Sobe nas minhas costas! — disse Genya, que
se virou.

— Isso é um pouco ridículo, não acha?

— Quer que eu te carregue como uma princesa?! — ele perguntou, irado.

— Deixa para lá...

Genya me deu essa ajuda e me colocou numa cadeira ao lado da cama, onde Shinobu estava
desacordada. Himejima e ele saíram para pegar algumas coisas e nos deixaram sozinhos. Shinobu
parecia tão calma e tranquila em seu sono. Segurei sua mão entre as minhas e a beijei. De tudo o
que eu poderia querer naquele momento era que aquela tortura passasse e finalmente eu a tivesse
em meus braços. No entanto, ela dormiu por dois dias inteiros, o que me deixou apreensivo.
— Mana Shinobu, acorda… — disse Sabito.

— Papai, a mamãe não vai acordar? — perguntou Makomo.

— Claro que vai. Ela só está cansada. — eu disse.

E de repente, eu ouvi um movimento vindo da cama. Eu entreguei Makomo para Sabito e me


aproximei. Os dedos de Shinobu começaram a se mexer lentamente e os olhos delas estavam
apertados.

— Giyuu, olha! Ela está se mexendo! – disse Sabito, assustado.

— Shinobu!

Me sentei ao lado dela e lentamente os olhos dela se abriram. Ela ficou inicialmente assustada,
olhando para os lados e de repente os olhos violeta dela encontraram- se com os meus. Eu me senti
tão feliz, que as lágrimas começaram a descer pelo meu rosto.

— Giyuu... — ela sussurrou.

Eu não me contive e eu a abracei. Ela me abraçou de volta.

— Giyuu, meu amor... — ela sussurrou.

— Você está bem, Shinobu?

— Sim, um pouco cansada…

— Desculpa! Se eu estivesse cuidando melhor de você, nada disso teria acontecido!

— Tudo bem! Não foi sua culpa… — ela disse.

— Eu prometo que vou cuidar melhor de você e da nossa filha. Ah, e do Sabito também! — ele
havia feito um biquinho na hora e logo tratei de corrigir minha falha.

— Giyuu, fica comigo para sempre! Fica ao meu lado! — ela começou a chorar.

— Vou estar sempre ao seu lado, Shinobu!

— Ah, Giyuu! Que bom que finalmente podemos ficar juntos!

— Eu espero ser um bom marido para você, Shinobu.

E eu uni meus lábios com os dela e nosso beijo foi molhado por lágrimas. Um beijo longo e
afetuoso. E nos abraçamos mais uma vez. Sabito, que nos assistia acompanhado com Makomo,
também estava emocionado.

— Minha família, reunida novamente... — ele disse.

Depois que Shinobu se recuperou, eu pedi para que Sabito e Makomo ficassem por uma noite com
Himejima. Ele não se importou, porém Genya ficou um pouco irritado comigo. Naquela noite,
decidi ficar sozinho com Shinobu, pois queria ter a chance de aumentar nossos laços de
novo.Quando entramos no quarto, havia um grande espelho que ela havia recebido de presente de
um de seus pacientes. Shinobu fez uma expressão de surpresa. Ela se aproximou, colocou a mão no
rosto e depois soltou seus longos cabelos.
— Oh, nossa... Eu estou tão... diferente... — ela disse, enquanto se virava para se olhar no
espelho. Eu me posicionei logo atrás dela e ela olhou para o meu reflexo no espelho. — Você
também mudou, Giyuu. Nós amadurecemos.

Eu me olhei no espelho e fiquei imaginando como seria meu eu de antigamente.

— Eu perdi tanta coisa. Eu perdi tantos acontecimentos. Isso me faz querer surtar… — eu disse a
ela.

Ela me abraçou e disse:

— Não se preocupe. A partir de agora, vamos poder vivenciar tudo um ao lado do outro! Isso é
apenas um recomeço. Só estamos mais evoluídos, mas ainda somos as mesmas crianças que o
destino reuniu anos atrás...

— Agora, estamos unidos novamente, para nunca mais nos separarmos. — eu disse, enquanto
entrelaçavamos nossos dedos — Juntos por todo o sempre, Shinobu.

— Por toda vida, Giyuu. — ela disse.

Ficamos um de frente para o outro. Ela se aproximou e deslizou as mãos pelos meus ombros e
depois tocou meu rosto. Eu a puxei pela cintura e a beijei. Confesso que eu senti uma grande
euforia com aquele beijo, o que indicava que eu realmente esperava por ele a muito tempo. Ainda
de frente ao espelho, eu a virei para ver seu reflexo e enquanto beijava seu pescoço, tirei as alças de
seu vestido e o deixei cair no chão, revelando seu corpo nu. Ela era mesmo linda. Ela virou a
cabeça para o lado e nos beijamos, enquanto minhas mãos exploravam seu corpo. Como sua pele
era macia, como ela era quente. Um desejo intenso surgiu de repente. Ela virou de frente para mim,
tirou minha camisa e ela veio até a minha calça.

Ela me deu aquele sorriso, que havia se tornado a coisa mais linda de todo o mundo para mim. E
quando ela me despiu, ela me envolveu com seus braços e me beijou. E daquele beijo, eu a peguei
nos braços e nos levei até a cama. Nossos corpos unidos como um só. As peles deslizando,
banhadas de suor. Eu a ouvindo sussurrar meu nome e eu dizia o nome dela, como se entoasse um
mantra de amor. Nossas essências se reencontraram novamente, se unindo como em um nó, que
não teria como ser quebrado ou rompido outra vez.

— Eu te amo, Giyuu... Eu vou te amar para sempre... — ela disse, com a cabeça dela em meu
ombro, enquanto eu alisava suas costas.

— Eu sei que eu te amo, Shinobu. Ficarei ao seu lado até o dia que a minha existência findar...

Dois meses se passaram desde aquele dia. Decidimos renovar nossos votos de casamento, para
reafirmar nosso amor. Em um belo pôr do sol, Shinobu e eu selamos nossa união, perante as leis
do novo reino. Shinobu deu algumas ideias para que a cerimônia se parecesse com a de seu reino
também. E ela fez um corredor branco no meio das cadeiras, que estavam adornadas por várias
flores. Parecia algo bem estranho, mas eu deixei que ela fizesse de acordo com suas vontades. Eu a
esperei no que ela chamou de altar, com um juiz de união ao meu lado. Ela entrou pelo corredor
vestida de branco e carregava algumas flores nas mãos. Ela tinha o sorriso mais perfeito do
mundo. Na sua frente, Makomo jogava pétalas de flores pelo ar, enfeitando o caminho para que
sua mãe passasse. Fizemos votos de amor e fidelidade pela eternidade. Enfim, éramos marido e
mulher novamente, amantes por toda vida.

Durante a festa de comemoração, Shinobu resolveu jogar as flores para o alto e Sabito as pegou.
Ele disse que ele agora seria o próximo a se casar. Sabito olhou para as inúmeras garotas ao redor e
coçou a cabeça. Ele deu de ombros e foi beber um grande copo de suco. Acho que alguém não
estava com pressa para casamento. A festa durou até o amanhecer do sol, e enquanto eu mantinha
Shinobu em meus braços, um flash veio em minha mente e algumas lágrimas teimaram em descer.
Meu coração parou. Minha respiração congelou. Meus olhos haviam se enchido de lágrimas. Era
ela. Era Shinobu. A minha Shinobu. Finalmente! Finalmente, eu havia recordado de tudo.

— Giyuu? Você está bem? Por que está chorando? Se sente mal? – ela perguntou.

— Eu... Eu não poderia me sentir mais feliz.

Não pensei em mais nada. Eu a puxei para mim e a beijei. Eu a beijei com todo o amor que eu
havia guardado por todos esses anos.

— Shinobu, você é a minha Shinobu!

— Giyuu?! Você se lembrou?

— Eu te amo! Eu te amo, Shinobu!

— Giyuu, eu também te amo!

Ela abraçou-se a mim e chorou copiosamente. A partir daquele momento, uma nova vida
começaria para nós.

"Bem, eu poderia até escrever mais alguma coisa, mas acho que já tive demais de passado por
enquanto. Acho que o mais importante é viver o presente, não concorda comigo, diário?"

— Papai, papai! O que você está fazendo?

— Ah, oi, Makomo! Papai estava escrevendo uma coisa importante, porém eu terminei.

— Uma coisa importante? E o que é esse livro? – perguntou Makomo.

— Isso se chama diário. Papai estava escrevendo umas coisas para mamãe ler...

— E eu posso ler também?

— É... Esse aqui é só para a mamãe. Se você quiser, papai pode te dar um e você pode escrever
para o papai. O que acha?

— Ah! Eu quero, papai! Mas, eu não vou deixar a mamãe ler, só o papai. — Makomo começou a
dar pulinhos de alegria

— Tudo bem, combinado.

— E o que vocês dois estão aprontando? — perguntou Shinobu, que se aproximou.

— Mamãe, que barrigão! Irmãozinho chega quando? – perguntou a menina , ansiosa.

— Hahahaha. Calma, calma... Faltam poucos dias... — disse Shinobu.

— Venha, sente-se aqui. Deve estar cansada.

— Obrigada, meu amor. Essa barriga está pesando demais. – disse Shinobu. Eu dei um leve beijo
em seus lábios e ela se sentou em uma poltrona ao meu lado.
— Eca... Ah, eu vou procurar primo Sabito. Eu quero brincar de guerreira com ele. — disse
Makomo.

— Por favor, não bata nele de novo! Ele vai ficar com raiva de você... — recomendou Shinobu.

— Não tenho culpa dele ser um franguinho! Tchau mamãe! Tchau papai! — disse Makomo, que
saiu saltitante porta a fora.

— Isso é coisa sua, não é? Pare de ensinar esses termos para a menina... — disse Shinobu.

— Hahahaha. Não tenho culpa dela ter meu senso de humor! E enquanto a você, quando vai vir
para treinar com o papai, hein bebê? — perguntei, enquanto alisava a barriga dela.

— Estou chegando, papai! — disse Shinobu. E de repente, eu senti a barriga dela mexer.

— Nossa! Ele tem força!

— Pode ser ela também! — disse Shinobu, alisando a barriga.

— Olha, eu fiz o que te prometi. Aqui está tudo o que eu vivi durante a guerra e nos anos que
ficamos separados. Quero que você leia. — eu disse, mostrando o diário a ela e entregando em
suas mãos.

— Ah, Giyuu... Nem precisava! O importante é o que estamos construindo agora.

— Eu quero que você saiba tudo sobre mim. — eu reforcei.

— Bem, você quer ler a primeira página para nós? — ela acariciou a barriga de novo.

“Todos nós nascemos com uma linha vermelha presa em nossos dedos, que nos une diretamente a
quem somos destinados a amar. Esta linha nunca pode ser partida. Ela permanece constantemente
amarrada, apesar do tempo e da distância. Não importa o quanto demore para conhecer essa
pessoa, não importa o tempo que você passe sem vê- la e também não importa se vive no outro
lado do mundo: o fio estica- se ao infinito, mas nunca se parte. Você é a minha outra ponta da
linha Shinobu e estou amarrado a você para todo sempre."

Chapter End Notes

Obrigada a quem leu e acompanhou a história! Bjocas!


Capítulo XVIII - Epílogo
Chapter Notes

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Dois anos após tantos eventos que passamos juntos, finalmente Shinobu e eu estávamos vivendo
em paz. O pequeno Giyuu, nosso filho, havia nascido forte e saudável, e já estava correndo pela
casa toda. Nossa filha Makomo estava cada vez mais esperta e o nosso Sabito continuava sendo o
mesmo de sempre, só que agora lidando com o mundo da adolescência.

— Bom dia! — eu disse, ao cumprimentar Shinobu, que preparava o café da manhã.

— Bom dia, meu amor!

Nós trocamos um beijo amoroso.

— Finalmente, ele dormiu de novo! Sabe, eu realmente sinto falta de dormir à noite. Estou
acabado. Espero que ele melhore dessa gripe de uma vez.

— Hahahaha. Logo voltaremos a dormir. Ele ficará bem com as ervas que o Himejima preparou
para ele. Sabia que a Makomo também vivia gripada quando ela era menorzinha? Eu mal dormia
de tanta preocupação!

— Infelizmente, eu não tive como te ajudar nessa.

— Ei, não precisa ficar entristecido. — ela apoiou as mãos nas minhas bochechas. — Eu sei bem o
quanto você queria estar do nosso lado em todos esses momentos.

— Eu ainda me sinto mal de ter perdido tantas etapas que ela passou quando era bebê…

— Você ainda tem muitas etapas pela frente, não se preocupe.

De repente, ouvimos Makomo gritar:

— Sabito, vamos banhar no rio?

— Desculpa, Makomo, apenas os garotos dessa vez.

— Mas…

— Você não pode tomar banho no rio comigo, Makomo!

— Ah, não!

Makomo passou pelo corredor com uma expressão emburrada e pisando com força com os pés no
chão. Ela veio em minha direção com os olhos cheios de lágrimas.

— Paizinho, o Sabito não deixa eu ir no rio com ele.

— Oh, não fique triste, princesa! — eu a peguei no colo. — Makomo, depois o papai vai te levar,
tá bom?

— Mas eu queria ir com o Minori e o Sabito!


— Que tal a gente combinar com a Mina e a Shizu para irem com você?

— Tá bom!

Eu a abracei e beijei seu rosto.

— Quando nós vamos?

— Daqui a pouco, eu vou falar com os pais delas, tá bom?

— Eba!

— Agora vamos tomar café com o papai!

De repente, ouvi alguém bater na porta, quando a abri, me deparei com Minori, que tinha uma
cesta nas mãos.

— Bom dia, tio Giyuu! Eu vim nessa hora, porque o mano Sabito disse que a gente ia banhar no
rio hoje cedo.

— Bom dia, Minori! — eu assanhei os longos cabelos escuros dele. — Nossa, você cresceu
bastante!

— Hehehe. Cresci sim! E como o senhor está?

— Eu estou bem. E você?

— Estou bem também!

— Fico feliz em saber! Quer entrar e ir chamar o Sabito você mesmo?

— Sim! Com licença!

Minori é um garoto muito inteligente, além de gentil e educado. Ele admira muito o Sabito e o tem
como seu irmão mais velho.

— Mano Sabito, você ainda está dormindo?! — eu o ouvi gritar do quarto.

— Ah, Minori! Eu já vou! Eu só estava tirando mais um cochilo!

— Seu dorminhoco!

Enquanto organizava minha filha na cadeira, os garotos apareceram na cozinha e Sabito se


aproximou da mesa.

— Opa! Vou levar um pouco de pão para lanchar! — ele disse.

— Não precisa! Minha mãe encheu essa cesta com comida e água.

— Oba! Mitsuri sempre uma mãe maravilhosa! Aí sim! Então, estamos indo, mano!

— Tomem cuidado no rio! — recomendou Shinobu.

— Pode deixar! Tchau! — acenou Sabito.

— Tchau, tio Giyuu, tia Shinobu e Makomo.


— Até mais!

Os dois saíram e Makomo apenas os observou.

— Hahahaha. Esses dois não se desgrudam mesmo!

— Sim! Sabito é muito amado! É o irmão mais velho de todos! — comentou Shinobu.

Após tomarmos o café da manhã, Makomo pareceu pensativa.

— O que foi, filha? Está tudo bem?

— Por que o Sabito não gosta mais de mim?

— Hã? Não diga isso! Claro que ele gosta de você! — disse Shinobu, que se aproximou e alisou o
cabelo dela.

— Mas ele agora só quer saber das meninas maiores e nem brinca mais comigo… — ela disse.
Shinobu e eu trocamos olhares.

— Makomo, o Sabito é um adolescente agora. Ele vai gostar de fazer outras coisas, além de brincar
com você. Tente entender.

— Eu… não sei…

— Minha linda, o Sabito com certeza te ama! Ele só precisa ter o espaço dele, às vezes. — disse
Shinobu.

— Isso mesmo! E você precisa respeitar isso!

— Tá bom! — pareceu um pouco duro demais para Makomo, porém eu sei que ela entendeu o que
quisemos dizer. — Ele deve querer ir sozinho para beijar na boca daquela menina de novo!

— Menina?! — Shinobu e eu dissemos ao mesmo tempo.

— Aham! Aham! Uma menina que chegou na vila agora!

Eu não estava bem preparado para aquela revelação, mas isso significava que eu teria que ter uma
nova conversa com ele sobre garotas. Shinobu levou as duas mãos até as bochechas e parecia bem
preocupada.

— Ah, entendi… Bem, o que acha de irmos convidar a sua amiguinha Mina para tomar banho de
rio com você?

— Sim, paizinho! Vamos!

Eu peguei Makomo no colo, ainda dei um olhar apreensivo para Shinobu, que apenas me retribuiu
com um olhar de mesma preocupação. Sabito realmente cresceu muito mais rápido do que eu
imaginava. Saí e fui até a casa dos meus vizinhos. Assim que bati na porta, Mitsuri nos recebeu
com Mina nos braços.

— Ah, bom dia, Giyuu!

— Bom dia! Mitsuri, a Makomo quer saber se a Mina pode ir banhar no rio com ela! Claro, junto
com um de vocês.
— No rio?! Não é muito perigoso?!

— Elas estarão supervisionadas!

— Não sei…

— Deixa, mamãe! Deixa! — disse Mina.

— Humm… Ah! Eu tenho uma ideia melhor! Obanai construiu uma espécie de poço bem rasinho,
onde as crianças tomam banho. Por que não o enchemos e deixamos elas brincarem dentro dele?

— Parece uma boa ideia! O que acha, Makomo!

— Sim! Eu quero! Eu quero!

— Eu também, mamãe! Eu também! — disse Mina.

— Certo! Então, está combinado! — disse Mitsuri.

— Olha só, se não é a minha sobrinha querida!

— Tio Sanemi! — Makomo soltou-se da minha mão, correu e abraçou-se à perna dele.

— Como vai, linda?

— Vou bem! Oi, Shizu! — Makomo fez uma gracinha para a menina.

— Pliminha! — Shizu esticou os braços para baixo para descer e logo estava abraçada a Makomo.

— Olha, que bom que apareceu, Sanemi! Makomo quer convidar a Shizu para banhar com ela!

— É mesmo? Olha, filha, que legal!

— Eba! Eu quelo banhar com a pliminha! — disse Shizu.

— Ah! Que reunião de amiguinhas mais fofa! Obanai, amor! Precisamos de uma ajudinha! —
gritou Mitsuri. — Entrem, vamos até o quintal!

— Claro!

Assim que chegaram nos fundos da casa, eles encontraram com Obanai, que organizava alguns
troncos de madeira.

— Ora! Temos visitas! — ele disse, enquanto secava a testa.

— Amor meu, a Makomo veio convidar as amiguinhas para banhar no rio! Eu achei mais seguro
elas ficarem naquele local que você fez para as crianças tomarem banho.

— Ah, claro! Bem mais seguro! Eu vou só enchê-lo com água!

— Eu vou te ajudar, Obanai.

Depois de enchermos o pequeno poço, as meninas ficaram sentadas dentro da água, enquanto
Obanai, Sanemi e eu a observavamos.

— Quem diria que depois de toda aquela guerra, nós estaríamos aqui, numa manhã ensolarada,
apenas observando nossas filhas enquanto elas brincam. — comentou Sanemi.
— Ainda parece mentira que a paz finalmente chegou, mas estou feliz que possamos ter uma vida
normal.

— É verdade!

— Ah, eu tenho uma novidade! — disse Sanemi.

— Sério? E o que seria?

— Bem, Kanae e eu teremos outro filho!

— Oh! Verdade? Parabéns, Sanemi!

— Que maravilha! Parabéns! — disse Obanai.

— Obrigado!

Makomo e Mina deram as mãos e começaram a pular na água, enquanto Shizu as aplaudia,
animada.

— Oh, então é aqui que esses dois estão escondidos? — disse Kanae, que se aproximou.

— Ah, desculpa! Eu devia ter te avisado que estaríamos aqui. — falou Sanemi.

— Tudo bem! Eu queria mesmo visitar a Mitsuri! — disse Kanae.

— Soubemos da novidade, Kanae! Estou feliz por ter mais um sobrinho ou sobrinha!

— Isso mesmo, Giyuu! Temos mais um presente a caminho! — ela acariciou a barriga.

— O quê?! Mentira! — Mitsuri se aproximava com uma vasilha nas mãos, recheada de bolo.

— Verdade! Teremos mais um bebê!

— Que alegria! Ah, a Shinobu já sabe?

— Ainda não! Vamos na casa dela para contar a novidade?

— Sim! Amor, você pode cuidar das coisas por aqui? — perguntou Mitsuri.

— Claro! Deixa comigo! — respondeu Obanai.

Ainda ficamos um bom tempo conversando, até que decidimos que as meninas haviam ficado
tempo demais na água e eu retornei para casa.

— Voltamos!

— Ah, que bom, meus amores! Vejam, nós temos visitas!

— Hã? Quem é? — de repente, eu observei que havia um homem de cabelos loiros sentado na sala.
Makomo foi o primeiro a reconhecê-lo.

— Tio Kyo!

— Oi, minha linda!

Makomo pulou do meu colo e correu para abraçá-lo.


— Que saudades da minha bonequinha!

— Tio Kyo, você demorou a voltar!

— Desculpa, Makomo, o tio teve que ir bem longe dessa vez! No entanto, eu vou ficar por aqui
por um tempo. Olha, trouxe esses doces para você! — ele entregou uma grande sacola para ela.

— Aaah! Que legal!

— Como se diz, Makomo?

— Obrigada!! — ela sentou no chão e não demorou muito para devorar os doces.

— Bem, que bom que voltou, Kyo. Estava preocupado com você. — eu o abracei e depois
sentamos ao lado um do outro.

— Eu estou bem, não precisa se preocupar. E depois de tanto vagar por aí, eu finalmente decidi
que vou recomeçar minha vida. Acho que a Makomo ficaria feliz com isso…

— Eu vou ficar feliz sim! — Minha filha não havia assimilado que seu nome era o mesmo da
minha prima, então ela sempre achava que estávamos falando sobre ela. Ela levantou e o abraçou
novamente.

— Ah! O tio fica feliz que você queira ele por perto! — ela o abraçou com força e eu vi Kyo sorrir,
o que era algo raro de acontecer desde que minha prima havia nos deixado.

— Fico feliz que tenha decidido por isso. Você merece ser feliz, Kyo. — disse Shinobu.

— Kyo, você tem notícias do Yushiro?

— Ah! Bem, ele deve continuar no monastério. Ele disse que seguiria o resto da sua vida como
monge, assim como já pretendia antes de conhecer a senhora Tamayo.

— Entendo. Ele bem que poderia vir nos visitar…

— Ele deve vir algum dia, amor! — Shinobu alisou meu rosto e sorriu.

— Bem, eu vou visitar o resto do pessoal, agora. Nos vemos depois! Até mais, minha linda! — ele
deu um beijo na cabeça de Makomo, nos cumprimentou e saiu.

— Tchau, tio Kyo!

— Você acha que ele vai ficar bem? — perguntou Shinobu.

— Espero que sim…

De repente, ouvimos um choro que vinha de um dos quartos.

— Parece que nosso menino acordou!

— Pode deixar, amor, eu vou buscá-lo. Makomo, está na hora de ir estudar. Papai vai te ajudar,
não é, amor?

— Claro! Vou te ajudar com a leitura.

— Ah, não! Estudar de novo? — Makomo fez beicinho, porém não fez resistência.
Durante a tarde, Sabito retornou do seu passeio com Minori e eu resolvi investigar sobre a tal
garota que Makomo havia comentado. Ele parecia distante enquanto olhava pela janela, quando eu
me sentei ao lado dele.

— Oi, Sabito! E então, como foi o passeio?

— Foi legal! A gente se divertiu bastante com o restante do pessoal.

— Então, sobre o pessoal… Makomo contou algo interessante…

— A Makomo? E… o que ela disse?

— Bem, ela disse que você beijou uma garota.

Sabito ficou com o rosto todo vermelho.

— Aaaah! Eu não acredito que ela viu! Eu pensei que a gente estava bem escondido!

— Então, é verdade mesmo? Caramba…

Me senti um pouco estranho, pois aquilo significava que o Sabito não era mais meu irmãozinho
inocente de antes. Eu parei para observá-lo um pouco e finalmente percebi o quanto ele estava
crescendo.

— É que… foi só uma brincadeira! Nada demais!

— Brincadeira?

— Sim! Ela disse que eu não teria coragem de beijá-la e eu fui lá, e fiz.

— E… você sentiu alguma coisa?!

— Assim, foi bom! Mas nada demais!

— Sabito, e quem era a garota?

— É… segredo! Eu não posso te contar!

— Por que não? Eu não sou seu irmão?

— Claro que é, mas… eu não quero que saibam sobre isso, pois se as outras garotas que eu estou
conversando souberem, elas vão ficar zangadas.

— Outras… garotas?!

Quem é você e o que você fez com meu irmãozinho?!

Resolvi não me aprofundar muito no assunto, mas acredito que a Shinobu não vai deixar essa
história passar tão fácil assim. Mais tarde, fui dar uma volta com meu pequeno Giyuu, que já
estava sem febre, e com a minha Makomo. Após uma breve caminhada até um mercadinho
próximo, nós nos sentamos embaixo de uma árvore, para que as crianças pudessem brincar na
sombra.

— Olha, Giyuuzinho, uma borboleta! Não é linda? — disse Makomo.

— É linda a boboieta! — ele disse.


— Você gosta de borboletas, filho?

— Goto sim!

De repente, vi Shinobu se aproximar acompanhada de um homem bem alto e demorou um pouco


para que eu o reconhecesse.

— Olá, Giyuu! Como está?

— Uzui? O que faz aqui?

— Bem, eu tenho assuntos para lidar com você. Você já deve imaginar do que se trata.

— Creio que sim…

— Nossa! É seu filho mais novo?

— Sim!

— Ele parece muito com você! Tem até seus olhos azuis! — ele acariciou os cabelos do meu
filho. — Bem, podemos conversar num lugar mais reservado?

— Claro, Uzui.

— Eu fico com as crianças. Pode ir tranquilamente.

— Obrigado, Shinobu. Papai já volta!

— Tá bom, paizinho! — disse Makomo.

— Tá papaizinho! — disse o pequeno Giyuu.

Retornei para minha casa, convidei Uzui para sentar-se na sala e começamos a conversar.

— Uzui, você quer falar sobre a sucessão certo?

— Isso mesmo. Você pensou sobre minha proposta do mês passado?

— Eu pensei bastante sobre tudo isso. Eu realmente acho que o reino precisa de um líder, mas eu
não acredito que eu seja o mais indicado.

— Giyuu, tem certeza? Eu realmente acho que você seria um grande imperador, assim como seu
pai.

— Eu apenas quero ter uma vida tranquila com minha família. Sem pressões políticas, guerras ou
qualquer coisa do tipo.

— Bem, se é seu desejo, só resta acatá-lo. Apenas acho que haverá uma longa disputa pelo trono
sem um herdeiro legítimo.

— Uzui, na realidade, há outro herdeiro que você deveria considerar. — Sabito se aproximou de
nós.

— Outro?

Meu irmão se aproximou de mim e sentou ao meu lado.


— Sim! Eu sou sobrinho do antigo imperador, que era um dos nobres do reino. Então, eu também
tenho o sangue da linhagem imperial.

— Interessante, mas você não é muito jovem para assumir tanta responsabilidade?

— Eu dou conta! — disse Sabito.

— Sabito?! — aquilo realmente me pegou de surpresa.

— Você entende o peso que carregará nas costas se aceitar essa tarefa? Acha mesmo que pode lidar
com o que vem por aí? — questionou Uzui.

— Eu farei o meu melhor! Esse era o sonho da minha irmã. Ela queria unificar o reino e trazer a
paz de volta. Eu quero que o desejo dela se torne realidade, já que ela não teve a chance de fazer
isso acontecer.

— Talvez você esteja se preciptando um pouco, Sabito. Você não tem ideia de como o imperador
tem que trabalhar e nem quanta responsabilidade ele carrega.

— Sabe… Eu quero que minha irmã tenha orgulho de mim onde ela estiver. Então, acho que é
justo realizar o sonho dela.

— Você tem certeza, Sabito? A pressão que cairá sobre seus ombros é muito grande, quase
insuportável. Ser imperador vai te demandar bastante tempo. Além disso, você terá que lidar com
questões diplomáticas o tempo todo. Qualquer decisão sua pode custar a vida de várias pessoas.
Está certo que consegue viver diariamente com esse peso?

— Sim, eu vou conseguir! Eu farei o meu melhor! Claramente, haverão coisas que eu não sei, mas
eu posso aprender. — disse Sabito.

Uzui cruzou os braços e suspirou.

— Certo. Se você confia tanto que conseguirá, eu farei como me pede. Vamos transformá-lo num
grande imperador. No entanto, partiremos amanhã, o mais tardar.

— Já?! — Sabito ficou surpreso.

— Isso mesmo. Já estamos há muito tempo sem um líder. Não podemos deixar uma guerra de
sucessão ao trono acontecer. Então, amanhã eu virei lhe buscar. Aproveite para curtir com sua
família e amigos. Bem, preciso resolver algumas coisas antes da minha partida. Nos encontramos
amanhã.

— Tudo bem. — disse Sabito.

— Estaremos lhe aguardando, Uzui.

Após a saída de Uzui, aproveitei para conversar mais um pouco com Sabito sobre o assunto. Eu
realmente fui pego de surpresa e não consegui processar tudo aquilo.

— Espera, Sabito! Desde quando você estava pensando sobre isso?

— Bem, antes de morrer, minha irmã me falou sobre a importância de manter o reino unificado e
de como ela sonhava em ver Mizu em paz. Eu não consegui tirar isso da minha cabeça desde
então.

— Você entende a sua escolha? Você sabe o que ser um imperador vai te causar?
— Eu estou pronto, Giyuu. Você me criou para ser um homem forte e corajoso, não foi? — ele
disse e sorriu.

— Sabito…

Me senti tão aflito com aquela situação. Eu não sabia se estava preocupado com o papel que ele
teria que cumprir futuramente ou com o fato de que meu irmãozinho iria embora de casa.

— Giyuu, meu irmão, sei que foi repentina minha decisão e que eu deveria ter conversado com
você sobre isso. No entanto, eu quero que saiba que eu farei o melhor, pois eu desejo uma vida
próspera e feliz para minha família e para todo reino de Mizu.

Mesmo ao ver a empolgação de Sabito, foi inevitável eu me sentir culpado. Se eu tivesse aceitado,
meu irmãozinho não teria que passar por tantas dificuldades no futuro.

— Me perdoa, Sabito. Se eu tivesse aceitado o convite, esse fardo tão pesado não teria que ficar
nas suas costas…

— Mano… — Sabito segurou minha mão entre as suas mãos. — Você carregou fardos demais.
Você já lutou e se feriu várias vezes, enquanto protegia a todos. Você merece descansar e curtir
uma vida de paz. É a minha vez de proteger você.

— Sabito… — eu abracei meu irmão com força. Se eu pudesse, eu jamais o soltaria, nem o
deixaria enfrentar tantas dificuldades. No entanto, eu tinha que encarar a realidade: Sabito não era
mais aquele garotinho que eu precisava proteger. Ele havia criado asas e eu teria que deixá-lo ir em
busca do seu destino. — Já que é isso que deseja, eu vou te apoiar, Sabito. Se torne um imperador
que nos traga orgulho e que ama seu povo acima de qualquer coisa.

— Eu farei o meu melhor. Eu prometo. — ele sorriu, enquanto limpava algumas lágrimas que
desciam por suas bochechas. — Nossa, a parte ruim disso é que não achei que teria que ir embora
tão rápido assim… —

— Bem, a questão da sucessão já tomou muito tempo por minha culpa, então é natural que tenham
pressa.

Mesmo preocupado, me convenci de que Sabito já havia tomado sua decisão. Eu apoiei minhas
mãos em seus ombros e o encarei.

— Você tem meu apoio para o que precisar! E se mudar de ideia, você pode voltar para sua casa
quando quiser.

— Obrigado, mano! Por tudo, na verdade! Eu tive muita sorte em ter um irmão tão incrível como
você! E eu prometo fazer o meu melhor para te dar orgulho!

— Você já é meu orgulho, Sabito.

Nós nos abraçamos com força e aguardamos Shinobu voltar para contarmos sobre a decisão de
Sabito. Para facilitar as coisas para ele, meu irmão pediu que reunissemos as pessoas mais
próximas. Ficaram todos reunidos na frente da minha casa.

— Pessoal, nós temos um anúncio importante. Na verdade, o Sabito que tem.

— Um anúncio, amor? — murmurou Shinobu ao meu ouvido.

— É melhor você se sentar, pois é uma notícia bem inesperada.


Os demais pareciam confusos com aquela reunião repentina. Assim que Sabito deu a notícia, todos
ficaram em choque. Apesar do susto inicial, todos apoiaram a decisão de Sabito. No entanto,
Minori não reagiu bem à notícia.

— E você vai para longe?! Por quê?!

— Tenho uma missão muito importante para cumprir, Minori. E para isso, eu preciso sair daqui.
Então, nós vamos ficar um tempo sem nos ver.

— Não! Você não pode ir, não pode! — gritou Minori.

— Calma, filho! Não fique assim...— Obanai tentou confortá-lo.

— Mas, Minori, eu…realmente preciso ir!

— Não! Eu não quero que você vá! — o garotinho começou a chorar.

— Não fique assim, Minori! Eu vou ficar triste, desse jeito! — disse Sabito, que tentou abraça-lo.
O garotinho correu antes que ele conseguisse se aproximar.

— Minori, filho! — Mitsuri tentou detê-lo, mas não conseguiu.

— Deixa, a gente fala com ele daqui a pouco. — Obanai falou para ela.

Sabito recebeu o abraço e o cumprimento de todos, e depois voltamos para casa. Shinobu também
não recebeu bem a notícia.

— Giyuu, o Sabito é muito jovem! Ele não pode assumir tamanha responsabilidade! — contestou
Shinobu.

— Eu concordo com você, meu amor! No entanto, foi o próprio Sabito que tomou essa decisão.

— Eu sei que eu ainda sou jovem, mana. No entanto, eu quero fazer todas as pessoas de Mizu
felizes! Eu quero ajudar o nosso reino a se reconstruir, como minha irmã queria quando era viva.

— Oh, nossa! Eu não esperava por uma dessas, logo agora que estávamos vivendo tão felizes… —
Shinobu começou a chorar e Sabito a abraçou.

— Calma, maninha, eu vou ficar bem. — ele acariciou os cabelos dela por um tempo.

Eu imaginei que a parte difícil seria contar para Makomo que seu amado irmão iria embora, mas
aquilo era algo inevitável. Após o jantar, ele decidiu conversar a sós com ela. Não sei o que ele
chegou a explicar para ela, porém Makomo não ficou entristecida, nem chorou. Na verdade, ela
parecia bem tranquila. Eu resolvi não perguntar o que ele havia dito, pois aquilo era algo apenas
deles.

Depois de colocar as crianças para dormir, Shinobu e eu fomos para cama. Enquanto ela estava
com a cabeça no meu peito, eu acariciava seus longos cabelos escuros.

— Eu ainda não acredito que o nosso garotinho vai embora amanhã. — disse Shinobu.

— Nem eu… Eu me sinto estranho. Como se uma parte de mim estivesse indo embora.

— Eu sinto o mesmo, meu amor. Estou tão preocupada com ele! Eu espero que ele não sofra por
conta dessa escolha…
— Só podemos orar por ele e esperar pelo melhor. Eu sei que ele tem determinação suficiente para
ser um grande imperador.

— Eu acredito que ele se tornará um grande homem! — ela disse.

De repente, alguém bateu na porta do quarto.

— Mano, eu posso entrar?

— Sabito? Pode! Entra!

Ele se aproximou da nossa cama e se jogou em cima de mim.

— Ai, Sabito! O que é isso?

— Como hoje é meu último dia aqui com vocês, eu achei que seria legal se a gente dormisse junto,
como nos velhos tempos!

— O quê?! Você não está grandinho demais para isso?!

— Por favor, mano!

— Acho que não faz mal, já que é sua última noite por aqui! — disse Shinobu.

— Aff… Tudo bem…

Ele deitou no meio de nós dois e segurou em nossas mãos.

— Você está com medo, Sabito?

— Se eu estou com medo? Eu estou morrendo de medo!

— Você ainda pode ficar. — disse Shinobu.

— Um homem não deve voltar atrás em sua palavra. Mesmo que eu ainda me sinto inseguro
quanto ao que vai acontecer, eu sempre vou lembrar que vocês estarão aqui por mim. — ele levou
nossas mãos até o peito dele e começou a chorar. — Obrigado! Obrigado por tudo! Eu sempre fui
feliz graças a vocês! Eu amo vocês!

Shinobu e eu o abraçamos.

— Hahahaha. Você será imperador futuramente, mas sempre será nosso irmãozinho Sabito. Eu te
amo muito! — disse Shinobu.

— Pode contar com a gente para o que precisar. Eu também amo você, meu irmãozinho querido!

Sabito demorou um pouco para adormecer, porém Shinobu e eu não conseguimos dormir. Nós o
deixamos coberto na nossa cama e fomos pegar um pouco de ar no lado de fora da casa. Sentamos
no batente e ficamos admirando as estrelas.

— Será que ele vai ficar bem, meu amor?

— Não sei, Shinobu. Sabito terá muitos desafios pela frente. Eu só desejo que ele seja feliz na sua
decisão.

— Eu também. Também espero que ele encontre alguém que o faça feliz.
— Sobre isso… Eu não te contei, mas parece que o Sabito vai deixar mais de uma namorada para
trás…

— O quê?! Ah, aquele garotinho…

— Hahahaha. Então, acho mesmo que ele não vai ter problema em encontrar alguém de quem ele
goste…

— Espero que ele não monte um harém! — Shinobu comentou.

— Bem, os imperadores em geral tem algumas concubinas…

— O quê?! Então, se você fosse o imperador, eu teria que aguentar isso?! Você sabe que eu lhe
arrancaria as tripas fora, não é?

— Hahahaha. Não seja boba! Eu só tenho olhos e coração para você. — eu a puxei para perto e a
beijei.

— É bom mesmo! Eu tenho uma espada afiada ali dentro e eu sei tudo de anatomia!

— Você sabe mesmo como convencer alguém! — eu ri.

— Bem, vamos dormir ou não vamos estar bem para nos despedir do Sabito.

— Sim, é verdade!

No dia seguinte, Uzui voltou a nos visitar no fim da manhã. Ele estava com uma carruagem, que os
levaria até o castelo de Mizu. Após se despedir de parte de seus amigos e de algumas garotas, ele
foi até nosso grupo de amigos.

— Tio Sanemi, tia Kanae, que o filho de vocês venha com saúde. Obrigado por serem meus amigos
e por me acolherem como o sobrinho de vocês de verdade.

— Boa viagem, garoto! Sei que será um grande imperador. — disse Sanemi, que o abraçou.

— Se cuide, Sabito! Lembre-se de se alimentar direito! — recomendou Kanae.

— Pode deixar! — disse Sabito. — Senhor Himejima, obrigado por todos os curativos que você
fez em mim! Sei que lhe dei muito trabalho!

— Hahahaha. Nada além do esperado para um jovem tão cheio de vitalidade! Genya lhe desejou
boa viagem! Ele não pode vir porque está auxiliando num parto.

— Mande um abraço para ele por mim. Minha mãe Mitsuri e meu pai Obanai, muito obrigado por
me adotarem e por me darem tanto carinho. Eu vou retribuir o cuidado que tiveram comigo. Eu
prometo.

— Uahh! Meu filhinho Sabito! Eu vou morrer de saudades! — Mitsuri chorava, abraçado a ele.

— Sabito, se você precisar de qualquer coisa, basta nos procurar. Faça uma boa viagem e tenha
uma vida feliz! — Obanai o abraçou em seguida.

— Mina, minha princesa! Seja uma boa garota e cuide dos nossos pais, tá?

— Tá bom! — ele a beijou no rosto.


— E onde está o Minori? — perguntou Sabito.

— Ele não quis vir… No entanto, eu sei que ele te deseja o melhor, Sabito. Ele te ama muito. —
disse Obanai.

— Eu também… Amo muito o Minori! — Sabito começou a chorar. — Diga a ele, que eu desejo
que ele seja feliz!

— Pode deixar! — falou Obanai.

Sabito se abraçou a Makomo e ao pequeno Giyuu.

— Vocês dois, cuidem bem dos pais de vocês! Makomo, lembra do que eu te disse, não é?

— Sim! Que se eu ficar mais forte, eu vou poder ir morar com você! Eu vou ficar muito, muito
forte!

— Isso aí! Minha garotinha valente! Shinobu, obrigada por cuidar de mim com tanto amor! Eu te
amo, minha irmãzona!

— Eu também amo você, Sabito! Saiba que eu acredito em você e que eu sei que você é capaz do
que quiser! Será um grande imperador.

— Assim que eu me tornar o imperador de verdade, eu venho buscar todos vocês! Eu prometo!

— Tudo bem! Estaremos esperando!

Finalmente, chegou a minha vez de me despedir dele e eu senti meu peito apertado. Eu o abracei
com força e ele retribuiu com o mesmo entusiasmo.

— Que você seja feliz, Sabito! E se precisar voltar para casa, estaremos aqui lhe esperando.

— Obrigado por tudo, meu irmão!

Após tantas despedidas, Sabito finalmente direcionou-se até a carruagem. No entanto, antes que ele
subisse, ele ouviu alguém gritar.

— Sabito!

Assim que ele olhou para o lado, ele viu que Minori corria em sua direção. Sabito jogou as coisas
no chão e correu até o garoto. Os dois se abraçaram.

— Sabito, eu não quero que vá embora! Eu quero que você fique aqui!

— Eu sei, Minori, mas eu tenho que ir. Eu preciso cuidar de umas coisas.

— Eu vou sentir sua falta!

— Eu também vou sentir a sua! Muita falta! Minori, eu prometo que eu venho te buscar! Quando
você estiver maior, eu venho te buscar para ficar comigo!

— Promete? Promete mesmo, Sabito?

— Sim! Eu prometo! Quando você fizer seus quinze anos, eu venho te buscar e você será meu
braço direito!
— Tá bom! Eu vou!

Após o abraço dos dois, Minori foi acolhido pelos braços de Obanai e Sabito acenou uma última
vez antes de entrar na carruagem.

— Até breve, minha família querida! — disse Sabito.

— Bem, pessoal! Foi uma honra revê-los! Não se preocupe, Giyuu! Eu cuidarei bem de Sabito por
vocês! Hora de partir! — determinou Uzui.

Aos poucos, a carruagem desapareceu pela estrada e os outros foram para suas casas. Shinobu e eu
ficamos abraçados, enquanto Makomo e o pequeno Giyuu brincavam com algumas pedrinhas que
estavam no chão.

— Então, é isso… Nosso amado Sabito foi atrás de seu destino. — comentou Shinobu.

— Pois é… E eu me sinto um pouco solitário agora sem ele por aqui…

Shinobu e eu nos abraçamos, e nos beijamos algumas vezes.

— Vai ficar tudo bem, meu amor. Sabe, já que nós vamos ter um filho a menos, talvez a gente
devesse providenciar o terceiro para logo. Assim a casa não ficará tão vazia. — ela disse.

— Eu acho uma ótima ideia! Vamos começar a providenciar hoje mesmo! — ela riu e nós nos
abraçamos de novo.

— Bem, hora do banho! Makomo e Giyuuzinho, já para dentro!

— Banho não! Vem, maninho! — Makomo segurou na mão do irmão e começou a correr.

— Volte já aqui, senhorita! Giyuu, me ajuda! — gritou Shinobu, que correu atrás deles.

Naquele momento, eu olhei para o céu azulado acima de mim e fiquei imaginando como seria o
futuro dali em diante. Quando olhei para frente, vi os sorrisos da minha família e obtive a resposta:
uma vida feliz.

Chapter End Notes

This is the end! Thanks for your kudos and comments!


Kisses!

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