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7 Obras da literatura japonesa que você

precisa conhecer
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por Vilto Reis do Homo Literatus

Mishima, Kawabata, Yoshikawa, Okakura e Murakami – autores do


Japão que enriquecerão seu universo literário.

Certo, falemos sobre 日本文学 (literatura japonesa).

Por mais que a literatura do Japão cubra um período de mais de dois milênios,
trataremos apenas de obras mais recentes e, desta forma, mais acessíveis a você.
Primeiramente influenciada pela China, até o período Edo, com a abertura dos portos e
trocas comerciais, no século XIX, passou a ser influenciada pela literatura ocidental,
mesclando sua tradição com as estruturas europeias.

Se você já conhece a literatura japonesa, provavelmente as indicações abaixo não lhe


serão estranhas, mas se ainda não leu nenhum autor da “Terra do Sol Nascente”,
funcionará como os pratos de entrada para um jantar um tanto diferente.

***

Mar da Fertilidade (tetralogia), de Yukio Mishima


Nobel de literatura em 1968, Yasunari Kawabata se mostrou inconformado por
preferirem premiá-lo em lugar de Yukio Mishima. Segundo ele, Mishima era um
acontecimento, um ser humano que a humanidade só vê de trezentos em trezentos anos.

A própria vida de Yukio Mishima é um capítulo à parte – ele cometeu o sepukku


(suicídio dos samurais) após um golpe de estado mal-sucedido –, mas sua obra tem
força por si só. Uma das partes mais impressionantes dela é a tetralogia Mar da
Fertilidade, composta de quatro volumes: Neve de Primavera, Cavalo Selvagem, O
Templo da Aurora e A Queda do Anjo.

Embora possam ser lidos individualmente, os quatro livros têm no advogado Honda
uma espécie de “observador” de como o mundo se comporta, desde sua adolescência até
a velhice. A temática reencarnação se debate contra seu ceticismo, assim como a
resistência à ocidentalização do Japão. Mas é nas metáforas poderosas e personagens
complexos que se esconde a riqueza desta obra.
A Casa das Belas Adormecidas, de Yasunari Kawabata
Além de amigo e mentor de Yukio Mishima, Yasunari Kawabata é considerado um dos
mais importantes romancistas japoneses. Aplicado em estudar a “técnica do romance”,
ele mesclou as influências de seu país ao gênero que se popularizou pelo mundo inteiro.
No começo, Kawabata utilizou um pouco do surrealismo em suas obras, porém aos
poucos foi se tornando expressionista, construindo narrativas de complexidade
psicológica e erótica. A leveza com que escreve acabou tornando-o conhecido como
alguém que “pinta as palavras” de branco irradiante.

A Casa das Belas Adormecidas é uma de suas obras mais apreciadas, que inclusive
influenciou Gabriel García Márquez a escrever Memórias de minhas putas tristes.

O livro de Kawabata tem Eguchi, um velho de sessenta e sete anos, como seu
protagonista. E a história se desenrola a partir do fato de ele descobrir que há uma casa
onde meninas são adormecidas para divertimento dos clientes, de forma com que eles
possam passar a noite com elas.

O que pode parecer “grosseiro”, na verdade se mostra um intenso ensaio emocional


sobre a velhice e o declínio do homem.

Musashi, de Eiji Yoshikawa


A obra literária mais vendida da história do Japão, com mais de 120 milhões de
exemplares e cerca de quinze versões cinematográficas ou televisivas, Musashi, escrito
por Eiji Yoshikawa, foi publicado como um folhetim, em pequenos capítulos diários, no
jornal Asahi Shimbun, entre os anos de 1935 e 1939.

Miyamoto Musashi é um personagem verídico da história japonesa, contudo, nesta obra


Yoshikawa romanceou a trajetória do samurai mais famosos do Japão. No começo do
livro, o jovem não passa de um provinciano rebelde, que se deixa levar pela ideia de
participar da batalha de Sekigahara, em 1600. No entanto, após as duras lições que
recebe do Monge Takuan – entre elas um confinamento de três anos, onde apenas se
dedicou à leitura –, Musashi passa a seguir o Bushido, o caminho do guerreiro.

O obra é dividida em sete partes: A Terra, A Água, O Fogo, O Vento, O Céu, As Duas
Forças e A Harmonia Final. As cinco primeiras são uma referência ao Gorin, os cinco
elementos básicos que, segundo o budismo, compõem a matéria. Desta forma, a história
é uma metáfora para o autodesenvolvimento.

Vale acrescentar que tudo que você já viu – seja em filmes, HQs, outras mídias – de
pessoas lutando com duas espadas, na verdade se deve a Miyamoto Musashi.
Kafka à beira-mar, de Haruki Murakami
Atualmente, quando se fala em literatura japonesa, é impossível não mencionar Haruki
Murakami. Até mesmo porque nos últimos anos seu nome está sempre entre os
favoritos ao Nobel de Literatura, embora o prêmio ainda não lhe tenha sido concedido.
Em seu país é, muitas das vezes, desprezado pela crítica, por sua popularidade, digna de
um verdadeiro best-seller.

Kafka à beira-mar é uma de suas obras mais complexas, um romance em que o leitor
acompanha as trajetórias de dois personagens, Kafka Tamura e Nakata. O primeiro é um
jovem de quinze anos que foge de casa e de tudo, viajando pelo Japão até chegar a uma
pequena cidade do interior, onde trava amizade com um personagem curioso, Oshima,
cujas características surpreendem o leitor. Já Nakata é um senhor analfabeto, mas
digamos que um analfabeto nada convencional. Ele tem a habilidade de falar com gatos
e dormir por mais de trinta horas sem se mexer.

Neste romance, o absurdo se dissolve em habilidosas metáforas. Murakami parece


escolher cada palavra de forma a compor uma melodia, afiada e melancólica.

O livro do chá, de Kakuzo Okakura


Nenhum ocidental que deseja compreender a cultura do oriente deveria prosseguir sem
ler O livro do chá. Embora não seja uma obra de ficção, o livro aproxima o leitor do
ocidente a este mundo que nos parece tão diferente. Cada gesto, representação e, até
mesmo, decoração pode ter um sentido profundo, que nos escapa à primeira vista.

Em 1906, o japonês Kakuro Okakura escreveu este tratado que explica os significados
ocultos na cerimônia do chá, a chanoyu. Mistura de princípios do taoismo e do zen-
budismo, este importante rito no cotidiano dos japoneses possui a força de imiscuir em
seus participantes uma consciência da brevidade e simplicidade do mundo, algo que,
convenhamos, falta muito a nós ocidentais.

Ao terminar esta leitura, fica-se com a sensação de que, com uma xícara de chá, pode-se
redimir o mundo.

O marinheiro que perdeu as graças do mar, de Yukio


Mishima
Depois de concordarmos que o título é péssimo (algum deslize de tradução?), vale
acrescentar que se você receia encarar a tetralogia Mar da Fertilidade, indicada neste
post, O marinheiro que perdeu as graças do mar é uma boa pedida.

O romance, curtinho, conta a história de um garoto de treze anos que odeia o mundo
adulto, juntamente com uma gangue de garotos da mesma idade. Quando sua mãe se
envolve com um marinheiro, ao qual o menino admira, seus sentimentos se confundem.
O que pode parecer simples e bobo, nas mãos de Mishima se torna um romance de
profundidade psicológica, com um final que choca por sua crueldade.

Neste livro, assim como na maioria das obras de Yukio Mishima, é exposto o que há de
mais brutal e erótico nos seres humanos.

Do que eu falo quando eu falo de corrida, de Haruki


Murakami
Esta é uma obra que difere muito das demais desta lista. Ela consiste de uma mescla de
ensaio sobre correr e ser escritor.

No ano de 1982, Murakami vendeu o bar de jazz que tinha em Tóquio e se dedicou
integralmente a escrever, além de começar a correr em maratonas. Em 1983, cobriu o
trajeto entre Atenas e a cidade de Maratona, na Grécia, e a partir daí se dedicou a correr
longas distâncias. “O trabalho no bar me obrigava a ficar acordado todos os dias até
muito tarde, respirando um ar poluído. A excitação com o meu novo cotidiano,
dedicado exclusivamente a escrever, me impulsionou a adotar um estilo de vida
saudável: acordar às cinco da manhã e correr passou a ser um exercício de renovação
pra mim”.

O que chama a atenção nesta obra não-ficcional de Murakami é o quanto uma atividade
física, a prática de correr, relaciona-se com o ato criativo de escrever. O japonês parece
não ver diferenças entre uma coisa e outra, quebrando o paradigma de que os escritores
são sedentários.

“Tento não pensar em nada de especial enquanto estou correndo. Na verdade, corro com
a minha cabeça totalmente vazia. Mesmo assim, acho que exatamente por estar me
concentrando em nada, alguma coisa surge naturalmente e, como um susto, de repente
já está no meu pensamento. Essas coisas, eventualmente, acabam virando ideias que
participam da minha criação literária.”

***

Além de ser uma das literaturas mais importantes do mundo, a literatura japonesa é
muito rica. A leitura no Japão é uma prática que transcende o tempo – hoje em dia, por
exemplo, o povo dos olhinhos puxados é um dos que mais consome ebooks para
celulares.

Inúmeros outros autores poderiam estar nesta lista – como: Matsuô Bashô, Junichiro
Tanizaki, Ryunosuke Akutagawa, Hisashi Inoue, Kenzaburo Oe, Ryu Murakami –, mas
as obras aqui apresentadas são suficientes para um roteiro de iniciação na literatura
japonesa.

Além do mais, fica aqui uma dica: quem quiser conhecer mais das obras literárias do
Japão, encontra no Bungaku um material de encher os olhos, tanto de clássicos como de
contemporâneos. Vale à pena!

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