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O Prisioneiro

16:23h. Brasil, 2019.


...Ele caminhava junto ao seu semelhante. As paredes eram estreitas, o
piso de madeira rangia emitindo os sons de seus passos, ruídos estes que
dificultaria para se esconder de seus algozes. Ambos respiravam de forma em
que era impossível qualquer menção de silêncio. Provavelmente os predadores
sabiam onde eles estavam, levando em consideração que o pequeno casebre de
madeira onde se encontravam não oferecia um bom esconderijo.
A cada passada naquele lugar era como tentar se esquivar do inevitável.
Toda via, os dois companheiros pareciam não se importar muito com o barulho
que produziam, na verdade pareciam imitar os caçadores, afinal o cheiro dos
inimigos era sentido a quilômetros, apesar dos dois estarem em menor número,
talvez tivessem sorte em um confronto direto, neutralizando um por um.
Portanto, logo ao cruzar a esquina do corredor, ambos gritaram e partiram para
cima de um de seus opositores que se encontrava isolado, berrando e atacando
como podiam eles investiram com tudo contra o alvo, era apenas um, seria fácil
e rápido. Pois no fim das contas quando separados eles não tinham a menor
chance. A silhueta da vítima de costas havia cabelos longos e vestes escuras.
Mas com os berros dos dois a figura se virou, revelando uma jovem mulher,
portando uma pistola. Sua feição era de espanto, seu olhar emanava pavor.
Porém, antes que os dois pudessem tocar na mulher, eles foram surpreendidos
por sons de tiro vindo da lateral, junto a uma dor indescritível na costela. Eles
foram alvejados, pois diferente da arma da jovem, um de seus aliados carregava
um rifle de assalto, as balas atingiam com precisão o corpo dos dois, pegando os
desprevenidos num disparo quase à queima-roupa. Ambos caíram na hora, seus
corpos estavam completamente pintados de sangue, Ele observava seu amigo
estrebuchando, quando de outro corredor surgiu o autor dos tiros, um homem de
jaqueta e cabelo raspado, se aproximando apontado o rifle para a cabeça de sua
presa.
— Espere! Não mate estes. — Disse a mulher segurando a arma de seu
amigo.
— Do que está falando Ivy? — O homem perguntou olhando para a
mulher.
— Confie em mim.
O homem encarou os dois no chão agonizando.
— Você vai ter que convencer os outros. — Ele disse golpeando um dos
caídos, o apagando na hora.
— Não vai ser muito difícil. — Foi as últimas palavras que o outro
derrubado ouviu antes de receber um chute no rosto.

Alguns dias após o conflito...


O ambiente estava escuro, iluminado pela única lâmpada no teto que se
mantinha inconstante piscando as vezes, revelando o local desagradável e hostil.
Tendo em vista que as paredes avermelhadas daquele quarto, pareciam se
envolver em uma espécie de lodo carminado, junto a um mal cheiro de causar
náuseas, o recinto parecia está carregado de uma lufada podre interrupta. Claro.
Já que os cadáveres em decomposição, e os corpos dilacerados de animais
contribuíam para que lugar ficasse assim: horrível e apavorante.
No entanto, Ele já estava ali a muito tempo, havia presenciado muita
coisa, vivido algumas situações. Ele se encontrava como seu parceiro: nu e
enjaulado, presos a correntes sem comer a dias. Desde que foram capturados,
ambos foram submetidos a situações desumanas como tortura, experimentos e
até mesmo mutilação gratuita. Os dois viveram o inferno nos últimos dias.
Porém hoje só ele vivia, já que seu colega não suportou as descargas de choque,
os cortes e nem sequer conseguiu presenciar por completo algum ritual. Seu
compadre havia morrido no dia anterior, entretanto, lá estava seu corpo
completamente dilacerado e aberto, o que restou de seus órgãos se encontrava
jogado no chão, e seu corpo permanência pendurado pelas correntes, seu rosto
estava inteiramente desfigurado, impossível de associar qualquer humanidade, e
seu sangue gotejava até este momento. Sua voz, estava fraca e levemente rouca,
após horas esganiçando contra seus agressores. Estes que ao praticarem tais
atos, pareciam sentir certo prazer.
Tudo que Ele viu foi brutal e cruel. digno de dar pena.

Mais tarde naquele mesmo dia...


Ele não sabia o que mais poderia esperar daquelas pessoas, na verdade
ninguém poderia, afinal qual seria a intenção de mantê-lo ali?
Porém, está resposta ficaria para depois. Uma vez que a porta se abrira,
seu sangue fervia, e o coração pulsava. Adentrando o local, Ele se deparava com
um homem de idade um pouco elevada, de passos firmes e postura alinhada, o
sujeito vestia um terno escuro pouco amarrotado e com algumas manchas de
sangue nas mangas, seu rosto marcado pelo tempo estampava um olhar sério e
decisivo.
— Espero que isto dê certo Agatha. — Disse o Senhor Verissímo
erguendo um grimório enquanto fitava o prisioneiro.
— Não tenho dúvidas de que vai funcionar. — Disse uma voz jovial
descendo as escadas.
— Nós não podemos perder mais um.
— Relaxa, pode confiar. — Disse uma jovem entrando no quarto, de
cabelos raspados na lateral, roupa preta, ostentando um sorriso no rosto envolto
de gotas de sangue.
Assim que os dois se aproximavam da cela, Ele começou a berrar, e
tentar acerta-los de alguma forma, ainda sim, em vão, as correntes não
permitiam quaisquer que fosse a intenção do preso. O acorrentado se debatia,
mas nada acontecia, o velho olhava para a cela com a mesma expressão fria e
antipática. Já a garota se animava a cada momento ali dentro.
— Vou fazer todos vocês pagarem! — Disse o homem vendo a jovem
apontar sua palma aberta para a cela, encarando seu prisioneiro zumbi de
sangue.

Conto por Guilherme Henrique

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