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São Paulo, Brasil
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Epílogo
A Lock of Death –Livro 2
Posfácio
Nota do Autor
PASSADO
Vinte anos de idade.
PRESENTE
Uma semana depois
Driss Khalil
1985 - 2019
Amado Filho, Marido e Pai
CONFIDENCIAL
PASSADO
Vinte anos de idade.
PRESENTE
10
ATIREI
Não uma vez.
Não duas.
Não três.
Mas seis vezes.
Disparei todas as minhas balas em seu peito.
E continuei pressionando o gatilho mesmo quando a arma estava
vazia.
O som clicando de novo e de novo.
Aqueles olhos azuis colidiram com os meus, boquiabertos,
quando o choque invadiu seu rosto confuso. Não senti nenhuma
presunção em meu coração, mas estava contente que meu rosto
seria a última coisa de que ele se lembraria. Eu segurando uma
arma apontada para ele.
Seu corpo caiu no chão. O sangue escureceu contra o tecido de
sua roupa, manchando o azul-marinho permanentemente. Seu terno
não era mais bonito. Meu chefe Cyrus respirou fundo e seu corpo
parou de se mover. Ele ficou flácido, de olhos fechados e imóvel no
chão. Não pude deixar de pensar que agora ele ficará em coma
para sempre. Eu ainda estava olhando para seu corpo morto,
quando o homem misterioso de blazer preto lentamente se virou e
me encarou, revelando-se por completo.
Tirando meus olhos de Cyrus, encarei olhos escuros que eram
frios e duros como aço. Não podia dizer o que ele estava sentindo.
Descrença? Ele compôs bem suas expressões. Seus olhos se
estreitaram antes de olhar para minha arma. Seu corpo se virou
completamente, vindo em minha direção, e, por instinto, apontei
para ele.
Ele não parou os passos, muito menos abrandou.
Eu tinha usado todas as minhas balas. Todas as minhas seis
balas.
E ele sabia.
Eu não tinha minha Glock 9M comigo. Aquela metralhadora
carregava dezesseis balas, a que usava para trabalho de campo,
mas eu estava no escritório hoje. Estava sempre de plantão.
Meus dedos tremiam, e minhas pálpebras tremiam para o homem
que apareceu na minha frente. Eu ainda estava no chão, ainda com
os joelhos pressionados contra o peito, ainda apontando uma arma
para ele.
Ele achava que era o próximo, que poderia me machucar
também?
Era a vez dele agora? Ele começaria a me bater?
Meu lábio inferior tremeu, mas meus olhos não lacrimejaram
novamente. Eles eram como uma lixa agora. Eu não tinha mais
lágrimas para chorar, e a dormência estava voltando. Encostei-me
na parede, percebendo que não havia outro lugar para ir.
Estava enjaulada contra os tijolos. Eu não tinha balas
sobressalentes. Eu só carregava sobressalentes quando estava
trabalhando em campo.
Hoje foi apenas mais um dia no escritório. Também não trouxe
meu canivete, porque usava saltos estúpidos hoje. Talvez pudesse
usar o cano da minha arma. Virei meus olhos para o chão,
procurando por possíveis pedras que eu pudesse jogar nele, mas
estava limpo. Meus botões estavam espalhados ao meu redor, mas
esses eram inúteis.
Balancei minha cabeça descontroladamente, com protestos
querendo sair da minha boca, mas minha língua estava muito
pesada. O homem se agachou ao meu lado, e meus ombros se
ergueram em tensão. Não importava que ele estivesse ajoelhado
diante de mim. Estendi meus braços cansados, e meus membros
doeram quando me inclinei para frente e enfiei o cano da arma em
seu peito. Exalando, empurrei mais fundo em seu peito, não me
importando se eu o machucasse.
Encontrei os olhos escuros do Pakhan.
Era Alexander Nikolaev o tempo todo.
— Abaixe sua arma, Olhos Tristes — ele murmurou.
Apenas balancei minha cabeça, meu cabelo voando com o vento.
Ele estendeu a mão e, em um movimento rápido, arrancou a arma
das minhas mãos. Deixou cair ao meu lado, e eu olhei para ele com
os lábios ressecados.
— Minha — murmurei baixinho.
Alexander inclinou a cabeça enquanto passava a mão pela barba
imaculada, me estudando. Seu olhar se fixou em meu queixo
machucado e seus olhos se estreitaram. Sua beleza sombria se
misturava com a noite escura. Seus olhos eram como duas vastas
massas de escuridão. No entanto, sua pele era tão pálida e
luminosa, que ele brilhava no escuro.
Ele sangrava. Deve ter sido a luta que deixou aqueles cortes
acima das sobrancelhas e bochecha. Mas não eram muito terríveis.
Eu ainda tinha meus joelhos dobrados contra mim. Seu olhar foi
do meu rosto até minha camisa rasgada. Ele não podia ver muito,
porque meus braços estavam no caminho, mas ele podia ver as
protuberâncias dos meus seios.
Engoli em seco e, com dedos trêmulos, estendi a mão para cobri-
los de sua vista. Baixei a cabeça de vergonha e funguei. Suas mãos
grandes alcançaram-me desta vez, e eu as afastei. Isso não o
impediu, e ele alcançou a barra da minha camisa, puxando-a para
fora da minha saia.
Eu vacilei. Seria a vez dele também.
Meu coração batia forte no meu peito. Meus membros doloridos
empurraram contra ele, mas ele se aproximou ainda mais. Sua mão
fria estendeu-se e segurou meu queixo, me forçando a ficar parada.
Assustada, meus olhos pesados encontraram seu olhar duro.
Seus olhos se suavizaram, perdendo o nervosismo.
— Confie em mim — ele sussurrou.
Sua voz era rouca e sedutora enquanto falava.
Um chefe da máfia do submundo estava me pedindo isso.
Um gângster notório.
Um assassino a sangue frio que vendia mulheres para viver.
Um criminoso que era o caso número um do FBI.
Ele se inclinou em minha direção, chegando cada vez mais perto,
até ficar a apenas alguns centímetros de distância. Sua cabeça
pairava acima de mim, seus longos dedos nunca soltando meu
rosto. Ficamos assim por alguns segundos. Depois de um momento,
eu não sabia mais o que fazer além de assentir.
Seus dedos deixaram minha mandíbula, e minha pele aquecida
perdeu a frieza da dele. Soltei meus joelhos, e suas mãos puxaram
minha camisa rasgada sobre minha cabeça. O ar frio da noite
atingiu minha pele nua. Olhei para o meu sutiã branco. Sangue
cobria as bordas externas. Os arranhões de Cyrus estavam em
mim, mas não acho que fossem tão ruins. A dor havia diminuído.
Eu ainda estava olhando para o meu peito quando Alexander se
inclinou para frente e tirou meu cabelo do caminho. Assustada, eu
olhei para ele, atordoada. Ele alcançou atrás de suas calças e tirou
um pequeno lenço quadrado. Seus olhos encontraram os meus
novamente. Não havia luxúria em seu olhar, ou talvez ele fosse
apenas bom em escondê-la. Eu não sabia dizer. Ele colocou o lenço
no meu pescoço.
— Para o sangue — ele disse suavemente.
Assenti lentamente, a compreensão surgindo em mim. Estendi a
mão e coloquei minha mão ali, cobrindo a dele. O toque era suave.
Seus olhos colidiram com os meus novamente, antes que ele tirasse
a mão.
Sem aviso, ele tirou o blazer.
Fascinada, mergulhei em seus movimentos. Ele era um enigma
misterioso. Um homem que eu tinha visto duas vezes e com quem
só falei uma vez antes. Sua camisa de botão saiu em seguida.
Olhei, perplexa, para ele se despindo. Talvez ele tivesse perdido a
cabeça como eu também. Uma risadinha histérica queria deixar
meus lábios. Ele se esticou em um pequeno sorriso, mas congelou
quando meus olhos caíram em seu peito nu pela primeira vez. Tão
pálido e assustador. Uma tez diferente da minha profunda e
dourada.
Tatuagens cobriam seu corpo, marcando seu peito e braços. Ele
tinha uma na mão também, mas eu não conseguia ver bem. Elas
estavam por toda pele dele. Eu nunca tinha visto algo assim antes,
apenas em fotos. Meu marido nunca fez nenhuma tatuagem. Eu
conhecia outros agentes que gostavam de manter os prisioneiros
nus e os puniam durante os interrogatórios. Eles provavelmente
viram tatuagens todas as vezes. Eu era uma agente, mas meus
métodos eram diferentes em comparação com os outros. Sabia que
Miran gostava de torturá-los. Era um fato bem conhecido em nossas
jurisdições.
Eu só falava com criminosos.
Apenas interrogatório verbal.
Eu só via seus braços, rosto e tatuagens no pescoço.
Nunca o peito e as pernas.
Não acreditava em tortura e assassinato de pessoas. Mas, então,
olhei para o corpo de Cyrus Drakos.
Pelo menos eu acreditei nisso uma vez.
Concentrei-me em Alexander novamente. Eu não conseguia ver
sua arte no escuro, mas o contraste nítido se destacava em sua
pele clara. Ele era esguio, forte e musculoso. Inclinando-se para
frente, ele puxou sua camisa por sobre minha cabeça. Movi minha
mão do meu pescoço, e meus membros se moveram e empurrei
meus braços no tecido quente. Ele puxou a camisa sobre o meu
estômago, cobrindo-me.
Algo desconhecido agitou em meu coração que ele tinha dado um
de seus pertences para mim. Suas mãos puxaram meu cabelo de
dentro da camisa, e agora eles estavam soltos e livres atrás de mim.
Meus braços envolveram o tecido de cetim, e eu me abracei. Era
muito longo e muito grande, praticamente me afogando nele. Eu
inalei o cheiro calmante dele. Escuridão e couro. Cheirava como ele.
Apertei o lenço contra meu pescoço novamente. O tecido branco
tinha manchas de sangue.
— Você parece uma myshka com minhas roupas — ele
murmurou.
Meus olhos curiosos se voltaram em sua direção, sem entender o
idioma russo.
Ele estendeu a mão e sacudiu meu nariz.
— Ratinho.
Estendi a mão e toquei o local em que seu dedo estava.
— Vem.
Isso foi tudo que ele disse. Ele colocou o blazer de volta em seu
corpo, embora o tenha deixado desabotoado. Ainda podia ver seus
peitorais duros.
Um suspiro ofegante deixou minha garganta, e me inclinei contra
a parede para me levantar. Minhas pernas vacilaram e caí de volta.
Franzindo o cenho, tentei ficar de pé novamente, mas meus
membros ainda pareciam bolo de carne, completamente sem
energia. Fiquei no chão e olhei pateticamente para os meus pés.
— Pegue sua bolsa e roupas — disse Alexander, entregando-me
meus itens. Agarrei-os com força contra o meu corpo.
Ele pegou seu celular e escreveu algo nele antes de guardá-lo
novamente. Sem aviso, ele passou as mãos por baixo das minhas
pernas e me pegou no colo, como se eu fosse sua noiva prometida.
Atordoada, observei cada movimento seu como um falcão. Ele me
carregou sem esforço, como se eu não tivesse peso. Pressionei um
braço contra seu peito, meus dedos roçando seu peito nu, e o outro
braço ainda agarrado ao meu pescoço, segurando o lenço. Levantei
meus olhos nervosamente, e ele olhou diretamente para mim com
aqueles olhos profundos.
Meu coração parou. Parei de respirar, e seu lábio se contraiu.
Acho que ele já sabia disso.
Minha pele corou, cada centímetro em mim ficando quente. Seus
olhos escuros suavizaram, o brilho neles retornando. Seus olhos
pareciam as próprias estrelas escuras. Pisquei, olhando para ele
com fascinação, como se ele fosse um experimento científico. Não
sabia por que ele estava fazendo isso. Não sabia por que ele não
deixou Cyrus me agredir.
Eu não o entendia, muito menos o conhecia.
Ele era o inimigo público.
Inimigo da lei, o que o tornava meu inimigo.
Um perigo vivo, ambulante e falante para a humanidade.
E, ainda assim, me senti livre em seus braços.
— Para onde estamos indo? — eu murmurei finalmente.
— Casa.
Ele estava me dando respostas de uma palavra.
Meus olhos caíram, por cima do ombro de Alexander, para o
cadáver de Cyrus.
— Temos que chamar a polícia. — Eu quase quis rir. Eu era a
maldita polícia. — Eu... atirei em um homem.
Alexander apenas me ignorou e continuou andando pela rua,
deixando o corpo de Cyrus para trás. Olhei para ele e protestei:
— Não podemos deixá-lo aqui. Preciso falar com a polícia. —
Tentei me contorcer um pouco, mas era inútil contra esse tirano. —
Alexander... — assobiei.
Seus olhos caíram sobre mim novamente.
— Ele está morto... Preciso me entregar — murmurei.
Não gostava da ideia, mas era a coisa certa a fazer.
Depois de um tempo, ele respondeu:
— Não.
Pisquei algumas vezes, sem entender.
— Você vai simplesmente deixar o corpo dele lá? As pessoas vão
encontrá-lo — argumentei.
— Meus homens virão — ele apenas respondeu. — Eles estão
por perto.
Olhei para ele, perplexa e me perguntando sobre suas intenções
pela segunda vez. Fiquei em silêncio, pensando no que mais podia
fazer para fazê-lo mudar de ideia. Ele não ia simplesmente me jogar
no chão, e meu corpo precisava de mais tempo para despertar
completamente antes que eu pudesse usá-lo corretamente.
Ficamos assim por alguns minutos, ele andando e me carregando
em silêncio. Não havia ninguém andando por este beco. Estava
vazio. Eu me perguntei: era por isso que Cyrus tinha me trazido
aqui? Fiquei feliz por ter um silenciador na minha arma. Ninguém
dentro dos apartamentos pôde ouvir os tiros.
Seu corpo estava quente contra mim, e eu o encarei o tempo
todo. Ele não me deu atenção e olhou para frente.
Alguns momentos depois, luzes fracas se aproximaram na direção
oposta.
Dois carros pretos.
Um se moveu em direção ao cadáver de Cyrus, e eu olhei para
trás enquanto três homens saíam do carro todos de preto, usando
máscaras e luvas pretas. Eu ainda podia vê-los do final do
quarteirão.
Eles pegaram o corpo de Cyrus e o jogaram no porta-malas. Uma
limpeza. Eles estavam limpando minha bagunça. Eu olhei enquanto
eles borrifavam algo no chão ensanguentado, antes de puxar baldes
de água do carro. Onde diabos eles conseguiram isso e tão rápido?
Esses homens faziam trabalhos profissionais melhores em limpezas
do que em filmes. Nunca tinha visto isso ao vivo, e meus olhos
gananciosos absorveram tudo. Criminosos. Criminosos treinados.
Fiz uma careta para mim mesma.
Agora, eu também era uma criminosa.
Desviando o olhar da cena do crime, olhei para o carro preto para
o qual Alexander estava indo. Uma percepção surpreendente me
atingiu, e eu falei.
— Você é um cúmplice agora. Você é parte do meu crime.
Os olhos escuros de Alexander se voltaram para mim novamente.
— Parceiros — ele sussurrou, seus lábios se contraindo
novamente.
Isso tocou meu coração partido. Desviei o olhar rapidamente e me
concentrei na minha bolsa de couro.
— Você não teve nada a ver com isso — minha voz vacilou. —
Ainda posso me entregar. Eu posso explicar o que aconteceu...
que... ele... ele... — minha voz sumiu.
— Não foi legítima defesa, Olhos Tristes — Alexander sussurrou,
reconhecendo a verdade que eu estava com muito medo de admitir.
Meus olhos saltaram para ele.
— Ele não tinha a arma dele.
Meu lábio inferior tremeu, e a água pinicou meus olhos.
— Eu poderia tê-lo matado facilmente. — Sua mandíbula
tiquetaqueou. — Ele mereceu... E eu não vou deixar você cair por
isso.
Este era o mesmo homem que continuou a escravidão moderna.
Uma das principais razões pelas quais o FBI o estava
investigando.
Eu não sabia o que pensar sobre ele. Era muito contraditório.
Perplexa demais para dizer qualquer coisa, chegamos ao carro dele.
Ele me colocou dentro e entrou, fechando a porta. Sem saber
mais o que fazer, sentei-me ali no banco de couro, ainda confusa e
perdida, não mais me segurando. O sangue havia parado. Eu não
sabia o que fazer com o lenço, até que ele o pegou de mim e o
jogou no chão.
Um momento depois, o motorista acelerou. Estava escuro demais
para ver quem estava dirigindo. Levantando meus olhos, encontrei
os de Alexander.
Eu não estava mais em seus braços, e isso inquietou meus ossos.
Olhei para o chão, pensando no que mais dizer. Antes que eu
pudesse, ele alcançou minha cintura novamente e me puxou sobre
sua coxa, mas não fiquei totalmente em seu colo. Minha cabeça
descansou em seu peito, de lado, e eu apertei minhas mãos, me
sentindo um pouco contente agora. Tentei ignorar seus músculos
definidos contra os quais me encostei. Mas seu calor ajudava. Olhei
para aqueles olhos assombrosos dele. Ele não desviou o olhar de
mim.
— Você sabe onde eu moro? — perguntei finalmente.
— Sim.
Novamente, com essas respostas monossilábicas.
Olhei para ele com desconfiança, exigindo respostas com os
olhos.
— Você me seguiu? — eu acusei, minha mandíbula ainda doía
enquanto eu falava.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Sim — ele repetiu, descaradamente.
Meus lábios se separaram, e eu fiquei intrigada. Bem, sabia onde
ele morava também. Seu endereço estava praticamente escrito no
arquivo. Falando do arquivo, olhei para a bolsa de couro no banco,
onde ela estava segura. Desviei o olhar e o encarei.
Por que ele sabia onde eu morava? Eu era apenas mais uma
agente.
— Isso é assustador como o inferno — murmurei.
Seu lábio se contraiu.
— Você veio de carro para o trabalho?
Balancei minha cabeça.
— Não, peguei o trem. — O trânsito de Manhattan era horrível e
raramente havia estacionamento por perto.
Ele apenas assentiu.
Minhas mãos roçaram meu cinto, e percebi que não tinha minha
arma comigo. Todo o ar deixou meus pulmões.
— Minha arma? — perguntei, olhando para cima.
Ainda estava na cena do crime.
Ele se inclinou um pouco, me empurrou com ele e puxou minha
arma de trás de suas costas, presa na sua calça. Suspirei de alívio.
Ele deve ter pegado do chão quando eu não estava olhando.
Agradecida, peguei-a de suas mãos e a prendi de volta ao meu
cinto. Eu ainda estava pensando quando falei novamente:
— As balas são marcadas com números de série. Elas podem ser
rastreadas até mim. — Fui um idiota por falar quando sabia que o
motorista provavelmente estava ouvindo nossa conversa. Talvez ele
já soubesse. Mais um cúmplice do meu crime.
Eu ainda não sabia quem dirigia.
— Não é tarde demais — continuei. — Eu ainda posso me
entregar... Estou... errada... Eu... Eu... — minha voz sumiu, e me
inclinei para me afastar dele. — Vire o carro.
Ninguém atendeu meu pedido.
Alexander apenas passou o braço em volta da minha cintura, me
impedindo de sair.
Pisquei para ele.
— Eu lhe dei uma ordem como oficial do Federal Bureau of
Investigation.
Por fim, ele olhou para mim com aqueles olhos brilhantes e
inclinou-se em minha direção. Minha cabeça afundou em seu peito
e, seguindo meus instintos, tentei me afastar. Quanto mais perto ele
chegava, mais eu afundava.
Sua respiração estava em meus lábios enquanto ele falava:
— Você acha que você pode me assustar, Passarinho?
Com uma voz tão baixa, ele me tirou o fôlego novamente.
Meu coração acelerou com o apelido. Esse apelido me lembrou
os pássaros que eu tinha em casa. Mastigando a parte interna da
bochecha, percebi que ele deve ter me seguido até em casa... Eu
deveria estar com mais medo, mas estava muito focada no cadáver
que deixamos para trás.
Olhei para o meu parceiro no crime, para o meu cúmplice.
Um Bonnie e Clyde modernos.
Eu estava tendo pensamentos histéricos novamente, e desejei
que eles calassem a boca.
— Você tem que me ouvir — protestei, minha respiração
pousando em seus lábios. Apenas alguns centímetros entre nós. —
Preciso me entregar à polícia. É a coisa certa a fazer. A coisa moral
a fazer — continuei, brincando com meus dedos. Eu não sabia se
estava tentando convencer a ele ou a mim mesma. — Não posso
tirar uma vida e me safar. Não podemos fugir de um crime. Essa não
é a minha causa. — Talvez a sua. Eu não disse isso em voz alta. —
A lei vai entender… Temos um sistema de justiça. — Eu me encolhi.
— Ok… Um sistema de justiça falido às vezes, mas os tribunais vão
entender… Talvez não, mas desde que eu tente… Você não pode
fazer o diretor do FBI desaparecer tão facilmente. Ele é um homem
de alto nível. Isso voltará para você. Você vai ter problemas por
minha causa.
Eu não queria que isso acontecesse com ele.
Ele era um criminoso, sim, mas era injusto que ele fosse punido
pelo meu crime.
— Pare — ele rosnou.
Eu imediatamente obedeci.
— Ele machucou você — Alexander ferveu, seus olhos brilhando.
Sua respiração saiu rápida e forte, e sua voz se aprofundou. —
Aquele filho da puta se atreveu a tocar em você com as mãos sujas.
Ele bateu em você. — Seus olhos vagaram no meu maxilar, que
provavelmente estava ostentando uma cor vermelha — Mesmo
quando ele não estava te tocando, ele estava te machucando. Você
reagiu. Você surtou. Isso acontece.
Eu nunca o tinha ouvido falar tão cruelmente antes.
Era estranho... E eu queria que ele me defendesse novamente.
Quando não falei, ele me lembrou:
— Pense em Noura. Pense na sua família. O que elas vão fazer
se você apodrecer na cadeia? Elas acabaram de te trazer de volta.
— Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele acrescentou: —
Se você não o tivesse matado, eu o teria feito, de qualquer maneira.
E não colocaria seis malditas balas nele, eu teria colocado doze.
Meus lábios se separaram enquanto eu olhava para o tirano
acima de mim.
— Doze? — repeti em um sussurro.
Sua mandíbula tensionou na escuridão.
— Eu carrego duas armas.
Desta vez, meu lábio superior se curvou. Eu queria rir. Um oficial
da lei, um homem da lei, me agrediu e eu o matei, mas esse tirano,
chefe da máfia e criminoso, me defendeu.
Mesmo se eu dissesse a verdade, duvidava que alguém ficasse
do meu lado. Era inacreditável.
Tentei controlar a risada, mas ela escapou mesmo assim. Minha
risada saiu pelo ar, a tensão deixando meu corpo. Minha mandíbula
doía, porém, e eu parei de rir.
Ele perdeu o nervosismo em seus olhos e olhou para mim
incrédulo.
— Você está rindo? — ele questionou.
Isso só me fez rir de novo, desta vez mais forte. Eu ainda não
tinha chorado completamente. Mas o riso era melhor agora. Ajudava
a diminuir a dor. Eu tinha perdido oficialmente.
— Não ouvi esse som antes — ele murmurou.
Meu sorriso congelou, e meus olhos encontraram os dele. Meu
coração acelerou do jeito que ele estava olhando para mim. Virei
meu rosto para longe, porque ele estava muito perto. Seu cheiro de
couro estava em mim novamente. Eu estava coberta por isso. Sua
camisa grudada na minha pele. Eu estava no carro dele. Tudo
girava em torno dele.
— Quando chegaremos à minha casa? — perguntei calmamente.
— Minha casa.
Eu me virei para encontrar seu olhar novamente, sem perder sua
nitidez. O brilho neles se foi tão logo apareceu. Ele se afastou de
mim e olhou para frente.
— Por que vamos para lá? — perguntei com hesitação.
Seus olhos caíram antes de olhar para frente novamente.
— Porque tenho a sensação de que você entrará em pânico e
revelará a verdade para sua família.
Perplexa, eu pisquei. Ele estava meio certo. Isso parecia algo que
eu faria.
— Sua casa em Old Westbury? — perguntei, engolindo em seco.
Ele teria muitas pessoas por lá.
— Não — ele respondeu. — Tenho uma cobertura na cidade.
Estamos quase lá. — Seus olhos caíram para o meu rosto. — Você
pode partir amanhã quando estiver calma. Você está falando como
uma tagarela e também está rindo. Está lidando de forma diferente,
e não é normal.
Eu queria rir novamente.
Ele estava questionando meu comportamento anormal?
Ele era um psicopata sádico.
Interrompi o olhar e brinquei com meus dedos. Ainda não tinha
me incomodado em tirar minha cabeça de seu colo. Fiz uma pausa.
Ainda estava no colo dele. Claramente, eu tinha ficado muito
confortável. Eu me movi para mudar, mas seu braço desceu na
minha testa, me empurrando de volta para seu colo. Soltando um
gemido frustrado, eu queria rugir para ele. Alexander apenas olhou
para mim, divertido.
— Eu deveria deixar minha família saber então.
Ele arqueou uma sobrancelha e virou o rosto em direção à minha
bolsa, suas mãos estendendo-se para abri-la. Percebendo que o
arquivo CONFIDENCIAL estava lá, fiz uma pausa, mas acabei
caindo de volta em seu colo. Meus membros ainda estavam fracos e
doloridos.
Ele fez uma pausa, olhando para o meu comportamento louco.
— Vou pegar meu telefone — respirei.
Ele deu de ombros e entregou minha bolsa para mim. Coloquei
sobre a barriga e procurei pelo meu telefone. Encontrei e estava
prestes a discar o número da tia Sabrina quando a voz profunda de
Alexander me interrompeu:
— O que você está fazendo?
Olhei para cima e disse o óbvio:
— Ligando para minha tia Sabrina.
Ele pegou o telefone de mim. Depois de alguns momentos, ele
devolveu. Olhei para a mensagem que ele enviou.
Fiquei presa no trabalho. Vou terminar e irei
amanhã.
Estreitei meus olhos para o texto antes de olhar para Alexander.
— Você não conhece minhas tias — protestei. — Uma mensagem
não é bom o suficiente para elas. Elas vão me perseguir e me ligar
dez vezes se eu não ligar quando estiver atrasada. Não importa se
você tem trinta anos, elas ainda te tratam como um bebê.
Como se fosse uma deixa, o telefone começou a tocar.
Assustada, deixei cair no meu rosto já dolorido. Gemendo, peguei
o telefone ainda tocando. Olhei para Alexander, e ele estava
sorrindo. Eu estava prestes a pressionar o botão verde na tela, mas
fui interrompida novamente.
— Essa é uma ideia terrível — ele zombou. — Elas são sua
família. As pessoas ficam fracas quando se trata delas. Ela
reconhecerá seu pânico.
Tentei não revirar os olhos.
— Eu sou do FBI. Dou conta disso.
Eu menti. Não poderia lidar com merda agora.
Limpando minha garganta, atendi a chamada e a pressionei no
meu ouvido.
— Aaama — falei ao telefone.
— Por que você está trabalhando até tão tarde? — a voz de tia
Sabrina veio.
— Tenho que terminar o arquivamento de notas — menti.
Os olhos de Alexander estavam grudados no meu rosto.
— Você pode fazer isso amanhã. Venha para casa, querida.
Sua voz atingiu meu coração.
Engoli em seco.
— Logo. Eu irei amanhã.
— Por que você está falando tão baixo? — ela exigiu.
Limpei a garganta e lágrimas pinicaram meus olhos.
— É apenas uma conexão telefônica ruim — tentei explicar.
— Tem certeza de que esse é o único motivo?
Eu congelei, e meu lábio tremeu.
— S... Sim — minha voz vacilou.
— Tudo bem — ela respondeu finalmente. — Você já comeu,
habibiti? — Querida. — Você quase não come nada. Parece um
galho hoje em dia. Um espantalho. Um dia, você pode simplesmente
desaparecer no ar. Puf.
Preocupações depositadas em seus insultos.
Além disso, algo comum na minha casa. Minha respiração
engatou, e isso me fez sorrir. Olhei na direção de Alexander, que
estava ouvindo a conversa como um perseguidor intrometido. Fiz
uma careta, achando seu barulho rude, mas ele apenas sorriu
sarcasticamente.
— Eu... Eu vou... Em breve — prometi ao telefone.
— Ok. Eu te amo, venha logo para casa.
Fechei os olhos com força e soltei um suspiro raso. Um nó se
formou na minha garganta.
— Ana Bahibek. — Amo Você. — Diga a Noura que a mamãe
disse boa noite — eu engasguei.
Um choro saiu da minha boca, e uma mão grande apertou meus
lábios, abafando meu soluço. Meus olhos se abriram e encontraram
os olhos escuros de Alexander. Ele não estava mais sorrindo e
pegou meu telefone. A chamada terminou antes que minha tia
pudesse ouvir qualquer coisa.
— Eu não disse que isso era uma má ideia? — Alexander ferveu.
Eu chorei ainda mais.
Seu rosto estava perto novamente na escuridão, com a mão ainda
pressionada contra minha boca. Eu podia sentir o leve sabor
salgado de sua pele áspera. Suas sobrancelhas franzidas, seus
olhos estavam mais duros e nervosos. Minha respiração saiu mais
forte e mais rápida. Minha boca se moveu contra sua mão, minha
visão turva a cada segundo. Estava ficando mais difícil respirar, e
meus gritos se transformaram em soluços.
— Ah... Caralho... — ele sussurrou. Ele olhou para fora da janela.
— E estamos em casa.
ALEXANDER
11
CARALHO...
Ela estava chorando.
O tipo de choro que era agonizante para os ouvidos.
O tipo de choro que te matava.
Caralho em dobro.
Alexander havia ordenado que ela não falasse na porra do
telefone, e ela ainda o fez, de qualquer maneira.
Malditas fêmeas.
Você diz a elas algo para fazer para o bem delas, e elas fazem o
oposto. Sua mão ainda apertada contra sua boca. Ele não tinha
imaginado fazer isso de primeira.
Aquelas lágrimas em seus malditos olhos tristes não pertenciam a
esse lugar. Uma dor excruciante estava nelas. Aquele filho da puta
do Cyrus Drakos teve coragem de tocá-la. Seus homens o levaram
para o armazém vazio. Seu corpo estaria lá amanhã até que ele
decidisse o que fazer com ele. Ele ordenou especificamente que
eles não jogassem seu corpo em qualquer lugar. Ele queria trazer
aquele policial corrupto de volta à vida, apenas para lhe dar uma
segunda morte. Olhando para o motorista, ele encarou Dimitri,
escondido nas sombras.
— Dê-me alguns minutos, e nós vamos.
Ele não podia entrar no hotel com uma mulher chorando.
Dimitri não respondeu e saiu do carro, deixando o estacionamento
pago com manobrista. Alexander tomou isso como um sim. Seu
irmão pegaria uma carona com seus outros homens e voltaria para
casa.
Agora, ele estava sozinho com Ghislaine.
Olhando de volta para ela, seu rosto ficou vermelho e sua linda
pele ficou manchada. Kohl borrou os olhos dela, dando lhe uma
aparência de guaxinim. O rímel se misturou com suas lágrimas,
deixando seus olhos castanhos avermelhados e injetados.
Segurando um suspiro, ele retirou a mão que cobria a boca de
Ghislaine, e seu soluço rasgou o ar. Olhou para os dedos trêmulos
dela antes de colocar a mão sobre eles e pressioná-los. Com a mão
livre, empurrou o cabelo dela para trás, acariciando sua testa de um
lado ao outro. Não havia como parar o choro agora. Ela tinha que
parar antes de ficar mais agitada.
Eles ficaram assim por alguns minutos, e ele não sabia quanto
tempo se passou. Ele se acalmou enquanto observava seu rosto
aflito. Seus olhos selvagens. Aquelas bochechas rosadas
misturadas com o resíduo cinza de sua maquiagem derretida. Sua
mandíbula roxa.
Um belo desastre.
Ele ainda olhava para baixo, mas os olhos dela eram como um
andarilho, perdido e angustiado, como se não pudesse navegar no
escuro. Alguns momentos depois, seus soluços diminuíram. Seu
choro parou, mas pequenos gemidos ainda deixavam seus lábios
rosados. Ele não tinha lenços de papel para limpar o rosto dela.
Usou seu único lenço.
— Sente-se — ele ordenou.
Aqueles olhos castanhos dispararam e seus lábios se separaram.
Ela piscou lentamente, o tipo de inocência que recém-nascidos
piscavam quando pressentiam um estranho e estavam curiosos.
Seus olhos ainda lacrimejavam, mas pelo menos ela parou de
chorar.
Um segundo depois, ela levantou a cabeça do colo dele e, com
movimentos vacilantes, ela se sentou no banco de couro. Bom. Ela
poderia se mover sozinha. Ele não se importava de carregá-la para
o hotel, mas isso chamaria muita atenção, e agora, eles precisavam
manter a cabeça baixa e se misturar. Ele segurou as mãos dela, e o
calor e a suavidade delas ainda queimavam em sua palma. Ele
olhou por alguns segundos, sua língua correndo pelos dentes,
esperando que ela limpasse o rosto. Mas ela ficou parada como
uma estátua, como se estivesse permanentemente congelada no
tempo.
— Limpe seu rosto.
Ghislaine piscou novamente antes de suas mãos alcançarem seu
rosto. Ela estava obedecendo suas ordens. Ela esfregou a parte de
trás dos dedos no rosto, marcando a pele imaculada com kohl.
Agora, suas mãos estavam cobertas de maquiagem também. Ela
continuou, alcançando seu rosto sem rumo, e ele simplesmente
olhou, estudando cada pequeno movimento confuso,
descoordenado e perdido dela.
— Use minha camisa.
Ele fez uma pausa na ordem, e a compreensão pareceu surgir em
seus olhos, como por que ela não tinha pensado na ideia. Ele
inclinou a cabeça enquanto ela usava a camisa de cetim branca
limpa que ela vestia.
O tecido já foi limpo e sem rugas. Agora, estava manchado com
ela. Sua feminilidade suave e elegante estava coberta por ele,
substituindo sua masculinidade. A bainha da camisa grande
terminava no meio das coxas, e ela ainda usava a saia preta por
baixo. Levantando o olhar para o rosto dela, ele arrastou os olhos
sobre o decote. Os dois primeiros botões estavam abertos,
destacando sua pele morena, e suas curvas redondas eram visíveis
novamente. Ele não estava duro antes, mas agora ele estava tão
duro, que seria uma luta andar com a porra do tesão.
Uma vez que ela terminou de limpar, ela olhou para cima, seus
grandes olhos amendoados procurando por ele. Uma curiosidade
espreitava em seu corpo. Uma fome por aprovação em seus olhos.
Uma dor profunda e inquietante percorreu seu corpo. Era algo que
ela estava fazendo apenas uma vez ou ela sempre foi assim?
Ele gostava quando as mulheres se submetiam a ele. Quando ele
as fodia. Quando ele as dominava. Controlava. Isso, por outro lado...
era estranho.
Ele não podia acreditar que esta era a mesma mulher que
assumiu o controle e atirou seis balas em um homem.
Ele não a salvou.
Ela se salvou.
Ele assentiu, e a satisfação encheu os olhos dela.
Um suspiro ofegante deixou seus lábios enquanto ela pegava a
sua bolsa. Ela apertou aquela bolsa de couro preto contra o peito
como se fosse fundamental para sua vida. Isso atraiu seus olhos
para o movimento. O que havia de tão importante nisso? Desviando
o olhar, ele abriu a porta e saiu. Deu um passo para trás e Ghislaine
o seguiu.
Seus passos se moveram em direção à entrada.
Eles caminharam lado a lado, talvez um passo atrás, mas ela
ficou perto dele, perto de seu corpo, demorando-se ao lado dele,
como se ele pudesse abandoná-la a qualquer segundo. Seus olhos
estavam grudados no chão enquanto ela fazia movimentos tímidos.
Suas pernas ainda vacilaram naqueles saltos da porra batendo
contra o chão, mas ela podia se mover.
Ela não parecia nada com uma agente do FBI agora.
Não parecia mais uma mãe forte.
Ele só via um ser humano perdido.
— Mantenha sua cabeça baixa — ele murmurou. — E não faça
contato visual com ninguém.
Sem lhe dar um olhar, ele continuou andando. Juntos, eles
entraram no saguão dourado e vermelho do hotel, e ele não perdeu
os olhares curiosos lançados em seu caminho.
Ele não se preocupou em abotoar o blazer, que balançava
enquanto ele avançava. No elevador, ele apertou o botão SUBIR e
cruzou os braços sobre o peito enquanto esperava. Um bipe o
alertou e a porta se abriu.
Algumas pessoas saíram antes de ele entrar. Um casal apareceu
atrás dele, e ele apenas olhou para eles com seus olhos escuros,
desafiando-os a entrar no elevador.
— Pakhan — o homem sussurrou.
O rosto do estranho ficou vermelho antes que ele se afastasse
com a mulher. Alexander sabia que era um homem reconhecível.
O noticiário da manhã muitas vezes exibia sua fotografia como
suspeito de outro assassinato, e depois, estava nas capas de
revistas de seus últimos encontros. Seu disfarce para o mundo era
que ele possuía sua própria linha de negócios de carros, NIKO.
Ele apertou o botão do elevador para o último andar, o
quadragésimo, e tirou o cartão-chave do bolso. Apenas ele, Dimitri e
membros selecionados da equipe do hotel tinham acesso.
Ghislaine se inclinou para mais perto, e seus dedos se agarraram
à bainha do blazer dele. Ele olhou para baixo quando eles
descansaram em sua pele. Ele segurou um suspiro. Agora, seu
toque não estava ajudando seu corpo aquecido. Como se
percebesse que ela estava segurando seu peito nu, seus dedos
pequenos e finos se afastaram e caíram em sua boca trêmula. Suas
suaves bochechas rosadas ficaram vermelhas como cerejas. A cor
era proeminente em seu tom de pele. Seu lábio se contraiu para a
pequena criatura. Ela não era baixa, exatamente, de estatura média,
mas ele ainda se elevava sobre ela por alguns bons centímetros.
Tomado em seu nervosismo, ele agarrou seus dedos
escorregadios de sua boca e os colocou de volta em seu peito.
Os olhos de Ghislaine se voltaram para ele, como uma pequena
myshka surpresa, e o encararam com a boca aberta. Os dedos dela
estavam molhados com a saliva, roçando a pele seca dele, e isso o
tentou a colocá-los na boca, para ver qual era o sabor. Que gosto
ela tinha. Seu cheiro era limpo, como a terra orvalhada. Mãe sol.
Ela parecia o sol, mas, ao invés disso, ela era o luar. Seu lábio
superior se contraiu novamente, e os olhos dela seguiram aquele
movimento, franzindo a testa com a visão.
— Você está sorrindo — ela murmurou por fim.
Ele sorriu.
— Não estou.
Uma carranca substituiu entre suas sobrancelhas.
— Você comeu? — ele perguntou.
Ele ouviu sua conversa telefônica com sua tia.
Ela balançou a cabeça.
Primeiro de tudo, um banho quente seria bom para ela, então, ela
iria comer.
O elevador apitou e eles chegaram ao seu andar.
— Oh — Ghislaine murmurou baixinho.
Ele inclinou o rosto, verificando seu olhar curioso enquanto ela
observava a mansão. Sim, esse andar inteiro era sua cobertura.
Ele deu um passo à frente, e o elevador se fechou. Pegando seu
telefone, ele pediu serviço de quarto enquanto a olhava. Passos
pequenos e tímidos se moveram ao redor de seu lugar. Se alguém
lhe tivesse dito sete meses atrás que ele teria um agente do FBI em
sua casa, ele os teria abatido. Ele não tinha mais certeza do que
pensar.
Ela observou o piso de mármore feito sob medida sob seus saltos.
Seus olhos se ergueram e pousaram nos lustres dourados
luminosos que pendiam do teto. Grandes sofás brancos com
puxadores de ouro puro os cercavam. Fotografias de trabalhos
abstratos em preto e branco emolduravam as paredes. Assim que
ela terminou de olhar, seus olhos os encararam.
— Chuveiro.
Ela respondia a seus comandos únicos.
Sua pequena cabeça balançou para cima e para baixo antes de ir
em direção a ele. Ele se virou e foi em direção ao banheiro de seu
quarto. Olhando para trás, ele notou que ela olhou para sua cama
branca giratória coberta com lençóis de cetim sem rugas. Ela parou
na porta, e aqueles grandes olhos castanhos líquidos encontraram
os dele, perturbando suas entranhas.
Marrom era uma cor simples.
Subestimado. Eloquente. Amável.
Como os carvalhos em sua casa ancestral.
Como o outono que vinha todos os anos.
Nutrindo. Caloroso. Lindo.
Ela era o outono que vinha todos os anos, deixando o inverno
para trás em seu rastro.
— Você já confiou em mim para chegar tão longe — ele falou.
Ela estendeu a mão e colocou uma mecha atrás da orelha.
Depois de expirar, ela avançou. Em movimentos rápidos, ele se
moveu em direção ao banheiro. Dirigindo-se ao box do chuveiro, ele
abriu as torneiras quentes e frias e tamborilou os dedos até que a
água ficasse levemente morna. Seus passos se moveram atrás
dele. Ele olhou por cima do ombro. Ela ainda segurava o blazer e a
bolsa com ela.
Ele se virou para sair, mas ela estava no meio da porta, parada e
não entrando. Ele caminhou até ela, e seus olhos permaneceram
em seu rosto o tempo todo. Ela levantou o queixo, inclinando a
cabeça para trás, absorvendo-o.
— Vou colocar roupas novas na cama. Você pode colocar seu
blazer e bolsa do lado de fora — ele sugeriu.
Seu lábio inferior tremeu.
— Quero minhas coisas comigo.
Arqueando uma sobrancelha, seu olhar captou como ela agarrou
a alça de sua bolsa. Levantando os olhos novamente, ele apenas
assentiu. Ele deu um passo à frente, mas ela não saiu do caminho.
Outro passo mais perto, e parecia que ela parou de respirar
novamente. Seu lábio superior se curvou, satisfeito. Era bom saber
que ele a deixava sem fôlego.
— Você está bloqueando minha saída — disse Alexander quando
ela não saiu do caminho. — A menos que você queira que eu pule
no chuveiro também. — Diga sim, ele ordenou silenciosamente. Em
vez disso, ela se contorceu, movendo-se para a direita, e ele sorriu
pela sua pressa.
Pelo menos isso a fez se afastar.
Ele fechou a porta e passou a mão pelo cabelo que um dia esteve
arrumado. Agora ele estava bagunçado, desgrenhado, e seu cabelo
comprido caía sobre os olhos. Estremecendo, ele estendeu a mão
para tocar o corte acima de sua sobrancelha. O sangue secou,
deixando-o duro. Ele tirou uma camiseta branca e fina de seu
armário e uma cueca preta e as deixou na cama para ela. Suas
calças de moletom não caberiam nela, e uma parte doente dele
queria ver suas pernas ‘lindas de matar’ novamente.
Tirando uma calça de moletom preta para si mesmo, ele foi para o
banheiro extra nas dependências da sala de estar. Depois de tirar os
sapatos de couro, as meias e se despir por completo, entrou no
chuveiro e abriu a torneira fria, e imediatamente, a água gelada o
encharcou. Ele piscou e respirou com dificuldade. A água grudava
em seus cílios enquanto pensava na viúva.
A viúva negra.
Ele passou a mão pelo cabelo grosso e descansou um antebraço
na frente dele, contra a parede. Ele se lembrou daquele olhar
quando ela explodiu as balas.
Selvagem. Feral. Sombrio.
Como uma borboleta fora de seu casulo.
Como uma leoa solta de sua jaula.
Não mais tão triste.
Não mais uma maldita policial moralista.
Mas alguém capaz de um assassinato, como ele.
Isso se repetia em sua mente como uma música no rádio.
Olhando para baixo, ele notou que seu membro havia se
alongado. Ele se perguntou o que mais seria necessário para tirá-la
de sua concha.
Uma vez, ela foi suave e quieta... Mas, agora, ele não tinha tanta
certeza. O que mais se escondia naqueles olhos enigmáticos dela?
Alcançando abaixo, ele enrolou os dedos em sua masculinidade
grossa e fez movimentos para cima e para baixo. Observando as
veias no comprimento de seu pênis, sua mente se desviou para
Ghislaine.
Hoje não era um dia para ser um homem melhor.
Mas, de qualquer forma, agora, ele não dava a mínima.
Ele estava apenas alguns momentos de explodir.
Gemendo, ele aumentou a velocidade, fechando os olhos, e
lembrou-se daquele olhar insano dela. Estava fodendo tudo. A
camisa dela estava rasgada, mas ele deu uma boa olhada antes de
desviar os olhos. A forma como o sangue escorria por seus seios
cheios, cobertos por seu sutiã branco. Mesmo o tecido modesto não
conseguia esconder sua exuberância. A maneira como ela se sentia
em seus braços quando ele a pegou. Suave e delicada como a
chuva, mas como um relâmpago quando aceso. Algumas faíscas
provocaram uma tempestade. Ela era a tempestade da década,
ameaçando inundar qualquer coisa em seu caminho.
Ele se lembrou de seus sorrisos e risadas no carro. Apenas para
seus olhos e ouvidos. Ele a tinha visto, vulnerável, mas resiliente.
Agora, ela não sairia de sua mente, e ele nunca a deixaria ir.
Alexander bombeou mais forte, e imagens vívidas de seus lábios
rosados e carnudos tocaram em sua mente. A maneira como ela
olhava para ele pedindo aprovação, instruções, qualquer coisa.
Porra, ela seria tão submissa sob seu comando em sua cama.
Um líquido espesso e um grunhido saíram dele, salpicando as
paredes.
Ele exalou e descansou a testa contra a parede. Dando-se um
momento, ele fechou os olhos antes de terminar a limpeza. Odiava
quando seu cabelo estava bagunçado, então, ele rapidamente
esfregou uma toalha no cabelo e escovou atrás das orelhas para
mantê-los no lugar de sempre.
Saindo do banheiro, vestindo sua confortável calça de moletom,
seus olhos se desviaram para a comida na área de jantar. O serviço
de quarto devia ter aparecido. Seus pés descalços deslizaram pelo
chão, indo até a geladeira da cozinha para pegar um pacote de gelo.
Então, ele se moveu em direção ao assento principal. Fez uma
pausa quando passos vieram atrás dele. Virando o corpo para a
direita, seus olhos colidiram com os de Ghislaine.
Ela estava com o rosto nu, sua maquiagem completamente
desaparecida. Seu cabelo castanho tinha escurecido, e os fios
molhados grudavam na fina camisa branca. A camiseta dele. Ele a
encontrou poucas vezes, e ela já estava vestindo as roupas dele.
Um privilégio que ele não concedia a nenhuma outra mulher em sua
vida. A camisa com decote em V era longa e folgada nela, chegando
ao meio das coxas. Seus olhos foram até suas pernas nuas e lisas.
A cueca escondida sob a camisa grande. Deslizando o olhar para
cima, seus olhos congelaram quando pousaram em seu peito.
Porra. Posso ver seus seios.
Ela não estava mais usando sutiã.
Bem, ele se lembrava que estava manchado de sangue. Seus
olhos foram diretamente para o pescoço dela. Ela ainda estava
sangrando? Nenhum sangue grudado na camiseta. Devia ter
parado. Seus olhos foram atraídos por seus seios bem
arredondados. Cheios e firmes. Sem o sutiã, eles estavam
ligeiramente mais baixos. Ainda impecáveis. Os mamilos se
projetavam como pequenas pedrinhas duras, e ele queria colocá-los
em sua boca e fazê-la se contorcer embaixo dele, implorando por
mais. Ele endureceu novamente. Parte de seu cabelo caía na frente
de sua camisa, molhando a área, e ele podia ver as sombras
escuras de sua pele nua. Sua mandíbula ficou tensa e ele engoliu
em seco, levantando o olhar.
Ela estava olhando diretamente para ele, olhando abertamente
para seu peito nu, para as tatuagens pretas e azul-marinho em sua
pele. Suas bochechas recém-rosadas do chuveiro eram agora de
um vermelho escarlate fumegante. Seu queixo estava escurecendo,
ficando roxo. Não parecia quebrado, apenas machucado.
A fúria se agitou em sua alma quanto mais ele olhava para ela.
Forçando-se a voltar sua atenção para o rosto dela, ele encontrou
seus olhos novamente. Ela cruzou as pernas trêmulas na frente dela
e mordeu o lábio inferior exuberante.
Tomando um segundo para organizar seus pensamentos, ele
falou:
— Pegue o gelo e ponha no maxilar.
Ele entregou a ela, seus dedos roçando um no outro. Raios de
eletricidade disparavam cada vez que se tocavam. Seus olhos
seguiram o movimento antes de acrescentar:
— A comida está aqui.
Ele se virou e foi em direção à sua cadeira.
Uma vez sentado, ele olhou para ela. Ghislaine o seguiu, mas não
se sentou. Ela olhou para os assentos ao redor, provavelmente
confusa com as múltiplas opções.
— Sente-se do meu lado.
…Ou no meu colo.
Sua cabeça virou em sua direção, e seus olhos brilharam. Dando
um passo à frente, ela se sentou na cadeira ao lado dele.
Porra, ela era muito obediente, e ele gostava muito disso.
Ele culpava sua submissão ao seu trauma.
Ligando-se a um homem do Submundo que a estava
perseguindo.
Não era assim que ele imaginava que sua noite terminaria.
Olhando para o banquete, ele estendeu a mão e despejou arroz
em seu prato. Olhando de lado para ela, ele esperou para ver se ela
o seguia.
Ela pegou alguns pedaços de carne assada, purê de batatas e
pão para si mesma. Satisfeito, ele terminou de empilhar comida em
seu prato, e eles comeram em silêncio. Os únicos sons na
atmosfera eram deles mastigando, bebendo e seus garfos batendo
no prato. Ele a observava de vez em quando.
Seus lábios se moviam enquanto ela mastigava. O movimento de
sua garganta enquanto ela engolia. Ela lambendo o canto do lábio
para limpar o molho. Sua mão pressionando o gelo contra sua
mandíbula. Uma vez que ele terminou de comer, ele olhou para o
prato dela.
Ela estava perto de terminar também.
Alcançando a garrafa de vidro, ele a trouxe para perto dele e se
serviu de uma bebida. Ghislaine olhou curiosamente para o tom
caramelo do líquido saindo da garrafa. Ela parou com o gelo na
bochecha. Ele serviu-lhe uma bebida também e colocou-a na frente
dela.
— Beba isso.
Desta vez, ela não obedeceu e olhou para ele com olhos
cautelosos.
— O que é isso? — saiu de sua linda boquinha.
— Veneno — ele respondeu com um sorriso. Ela fez uma careta.
— É tequila.
Franzindo a testa, ela respondeu:
— Eu não bebo.
— Você teve uma... noite difícil. Pegue.
Ela torceu o nariz.
— Por que você está me dando ordens?
— Por que você está me ouvindo? — ele respondeu, inclinando a
cabeça.
Abrindo os lábios, seus olhos frenéticos olhavam para a comida
na frente dela. Seu sorriso se alargou.
Peguei você.
— Qual o sabor disso? — ela respirou depois de um momento.
Seus olhos se iluminaram e ele murmurou:
— Prove você mesma.
Depois de um segundo, seus olhos encontraram os dele mais
uma vez.
— Você está tentando me embebedar?
Sim.
— Vai ajudá-la a relaxar — ele respondeu em vez disso.
— Acho que você está tentando me embebedar.
Um sorriso se formou em seus lábios novamente.
— Talvez — ele sussurrou.
— Por quê? — ela exigiu, sua carranca se aprofundando.
Assim, poderei saber todos os seus segredos.
Ele apenas deu de ombros em resposta.
— Faça o que você achar melhor.
Ele pegou sua bebida e pressionou o copo de borda fria em seus
lábios. Agradou suas entranhas quando seus olhos curiosos
seguiram o movimento.
Inclinando o copo, ele engoliu o líquido áspero e terroso. Era
levemente doce. Ele fechou os olhos e bebeu a bebida rapidamente.
Então, se serviu de outra.
Ghislaine apenas observava seu consumo. Tomou um gole, que
esvaziou em seu estômago também. Seus membros afrouxaram, e
a tensão em seus ombros foi embora. Sentindo-se mais leve, serviu-
se de outra bebida, mas bebeu lentamente.
Não era ele que ia ficar bêbado esta noite.
Ainda bebendo sua bebida, ele sorriu, satisfeito contra o copo
quando ela pegou seu copo e cheirou. Fazendo uma careta, ela
tomou um gole e quase cuspiu.
— É horrível! — ela desabafou.
Ele parou de beber e abaixou o copo.
Seus olhos estavam lacrimejantes enquanto ele observava sua
beleza dourada.
A água do chuveiro ainda escorria de seu cabelo, pousando em
seus seios, que pareciam muito macios em sua camisa. Todo o
sangue correu para sua virilha. Ele tomou outro gole e falou:
— É, no começo… Depois você se acostuma com o sabor.
Ela fez beicinho, e seus lábios ficaram mais cheios. Ele queria
beliscá-los. Ela tomou um gole de sua bebida novamente. Seus
olhos se fecharam, uma lágrima deixando seu rosto, provavelmente
pela queimadura em suas papilas gustativas. Ele quase quis
parabenizá-la quando ela terminou a bebida.
— Isso é nojento — ela falou, um pouco embriagada quando ela
se virou para olhar para ele, olhos vidrados e lábios cheios cobertos
de tequila. — Coloca mais.
Ele queria rir, mas deu a ela mais uma.
Logo, ela havia consumido mais doses do que ele. Dois copos
abaixo, e ela estava agora no terceiro. Ele a deixou beber até a
metade antes de se inclinar e arrancá-lo de suas mãos.
— Ei! — ela balbuciou, estendendo a mão para a bebida, mas ele
a segurou no comprimento do braço.
— Você teve o suficiente. Mais, e você vai vomitar. Não tenho
interesse em limpar isso e, além disso, é sua primeira vez. — Ele
colocou a bebida perto dele, onde ela não podia alcançar.
— Você é tão mandão — ela argumentou com olhos selvagens.
Ele gostava dessa selvageria neles.
A loucura. A imprudência.
Era viciante. Ela era viciante de se olhar.
Ele ergueu uma sobrancelha sutil.
— Sou um chefe da máfia. O que você esperava? — ele
respondeu com uma pitada de sarcasmo.
Sua boca caiu aberta.
— Você acabou de confessar ser Pakhan!
Seus olhos brilhantes a encararam com diversão.
— Você está bêbada. Eu nunca disse isso — brincou.
Ela se levantou e quase caiu de volta. Ele disparou para frente de
seu assento, agarrando seus braços antes que ela causasse
qualquer caos.
— Não estou bêbada — ela protestou, seus olhos ferozes
brilhando.
Ela perdeu toda a ferocidade quando pareceu perceber o quão
perto o rosto dele estava dela. Alarmada, seu olhar sombrio
desmoronou, e ela olhou para o peito dele. Ele soltou seus braços,
mas ela não deu um passo para trás, apenas olhou fascinada para
suas tatuagens. Seus dedos longos e finos se ergueram e pairaram
acima de seu juramento.
Não tenho corpo, nem alma, nem nome. Eu sou Bratva.
— Você é Bratva — ela murmurou baixinho. — Como isso não é
evidência suficiente para prendê-lo? — Quando sua voz saiu tão
baixa, seu insulto diminuiu.
— Qualquer um pode ter tatuagens do juramento — ele
respondeu, divertindo-se com a criatura feminina. — Os fanáticos
têm isso o tempo todo.
— Não tenho nenhuma tatuagem — ela falou sem fôlego e olhou
para cima para encontrar seus olhos.
Agora, ele queria verificar sua maciez sedosa apenas para ter
certeza de que ela não era tatuada. Seus olhos caíram para os
lábios dela. Eles formavam o arco de cupido perfeito.
— Hora de você dormir.
Ela torceu o nariz empinado novamente.
— Tão mandão — ela protestou. — Chefão.
Seus olhos brilharam com sua própria piada, e ela riu como uma
criança. Ela era uma tagarela mais uma vez. Ele culparia a tequila
por isso agora. Isso a estava tirando de sua concha.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela se virou e
deslizou pela casa dele como se fosse dela, como se pertencesse a
ela. Seus olhos caíram para sua bunda redonda antes de fazer
buracos em sua camisa. O que ele já queria tirar.
Sua ereção estava piorando, e outro banho frio não resolveria.
Silenciosamente, ele a seguiu.
Às vezes, ela cambaleava, mas se segurava antes de cair.
Batendo a porta aberta, ela bateu contra a parede.
Agora, ela pensa que é supermulher.
Ele observou seus movimentos tontos. Permanecendo na entrada
da porta, seus olhos seguiram Ghislaine enquanto sua bunda
atrevida se jogava na cama. Cama dele. Ele se inclinou contra a
porta e cruzou os braços sobre o peito.
Ghislaine olhou em sua direção, e seus olhos se deslocaram até
seus braços musculosos e definidos. Suas bochechas ficaram
rosadas. Quando ela olhou para cima novamente, a curiosidade
encheu seus olhos:
— O que você estava fazendo lá no meio da noite?
Observando você.
— Eu estava no bairro.
Ele a estava observando no quartel-general. Recebeu um
telefonema relacionado ao trabalho e, quando terminou de atender,
sentiu falta dela quando ela saiu do prédio com o diretor. Ele não
sabia em que direção ela tinha ido, então vagou por becos e
quarteirões, procurando por ela. Quando a encontrou, era um pouco
tarde demais. Ele nunca deveria tê-la perdido de vista.
Depois de algumas batidas, ela soluçou e disse:
— O-obrigada.
Alexander descruzou os braços e enfiou as mãos nos bolsos do
moletom. Moveu-se em direção a ela até que pairou na beirada da
cama.
— Eu deveria ter mais medo de v-você — ela murmurou,
soluçando novamente. — A lei me avisou sobre você.
Seus olhos curiosos a observaram.
— Por que você não está com medo?
Intrigada, ela encontrou seus olhos novamente.
— Não sei — admitiu. — Eu mal te conheço. Você ainda é um
estranho... Este é apenas o nosso segundo encontro.
— Terceiro — ele corrigiu.
Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios exuberantes.
Lentamente, o sorriso desapareceu tão logo surgiu.
— Por que você me ajudou?
Ty moya. Você é minha.
— Você nem me conhece — ela murmurou.
Mas conheço.
— Quando isso começou? — ele perguntou depois de um
momento.
Confusa, suas sobrancelhas franziram em resposta.
— Já que ele atacou você — ele esclareceu.
Seu lábio inferior tremeu novamente, e seus olhos se encheram
de água. Fungando, ela olhou para a cama.
— Ele nunca gostou de mim desde que éramos parceiros na força
— ela admitiu entre soluços. — Mas ele nunca me deu tanto
trabalho, porque meu marido era o diretor naquela época.
Ela deu um sorriso amargo.
— Todo mundo odiava o privilégio que eu tinha… Desde que
voltei ao trabalho, todos me odeiam. Me intimidavam. Disseram
coisas terríveis sobre mim. Cyrus era o pior atormentador. Ele fez de
sua m-missão me deixar infeliz desde o primeiro dia.
Ele ficou em silêncio enquanto ouvia.
— E-Ele me disse para usar saias em vez de calça — sua voz
caiu. — Eu odiava usar saias… Não posso trabalhar no campo com
elas. São mais difíceis de correr ou perseguir alguém. Para lutar.
Elas não são... e-eu. Ele queria me mudar.
Ela olhou para cima com uma expressão esmaecida, a luz extinta
em seus olhos mais uma vez.
— E-ele sempre me chamava de Ghislaine e nunca pelo meu
sobrenome no trabalho. Mesmo que eu o corrigisse muitas vezes,
ele sempre me pegava. Ficou pior, então, ele começou a me
chantagear dizendo que se eu não saísse para jantar hoje, ele iria
me demitir.
— Por que você nunca reclamou dele? — Alexander questionou.
Seus lábios formaram um sorriso de partir o coração.
— Quem acreditaria-a em uma agente sobre o diretor, um homem
respeitado e de alto perfil em vez de em uma mulher que está
usando — ela estremeceu e continuou — antipsicóticos?
Lembrou-se de que Cyrus havia dito isso.
— Por que você está tomando isso?
Ela parou de falar. Ele se perguntou qual era a história ali.
— Você acha que eu sou louca? — ela desabafou. — Não sou l-
louca.
Seu lábio se contraiu.
— Sim, mas não o tipo de loucura que você está pensando.
Ela fez uma careta, seu rosto deprimido.
— Eu sou estranha como v-você? — ela perguntou com os olhos
arregalados e apontando um dedo para ele.
Ele sorriu.
— Você ainda não viu nada.
Ela torceu o nariz. Ele gostava de suas pequenas expressões
faciais. Era melhor do que olhar para seus malditos olhos tristes. Ela
estava piscando lentamente como se suas pálpebras estivessem
pesando.
— Acho que estou bêbada — ela balbuciou, seus soluços
desapareceram agora. Ela olhou para sua camisa. — Esta camisa é
enorme…. bem enorme, enorme. — Ela pegou o decote e olhou
para os seios. — Você tem o dobro do meu tamanho. Muito... muito
grande.
Clássica bêbada. A diversão encheu seus olhos, ela verificando
seus seios enquanto falava sobre ele. Ele a pegou olhando as linhas
vermelhas em sua pele lisa.
— Você precisa de pomada para o pescoço?
Depois de um momento, ela respondeu:
— Nããão.
Agora, sua voz estava ficando chorosa. Ela parou de checar a si
mesma e olhou para ele, seus olhos brilhando. Ela caiu
dramaticamente na cama, seus olhos piscando para o teto. Depois
de um momento, ela falou novamente:
— Estou feliz que... ele está morto — ela admitiu, sussurrando
como se estivesse compartilhando um pequeno segredo sujo. —
Todos os dias… morria um pouco por causa dele. Ele não pode
mais me machucar.
Depois de um instante, ela fechou os olhos, e pequenas
respirações deixaram sua boca. Percebendo que ela estava
desmaiada, foi como um déjà vu novamente. Ele se aproximou,
olhando para seu rosto angelical.
As aparências enganavam, no entanto.
Ela mostrou a ele sua escuridão, do tipo que deixa as boas
garotas ruins, e ele ansiava por vê-la novamente.
Ela respirou, feliz em seu sono. Todas as suas preocupações
tinham desaparecido, e ela parecia em paz.
Agora, ele estava bem acima dela. Ele esperou que ela se
mexesse novamente, mas ela estava nocauteada. Seus olhos se
demoraram sobre as três marcas longas e rosadas que iam de seu
pescoço até os ombros. Ele cerrou os dentes, estreitando os olhos.
Estendendo a mão, ele manteve seu toque leve como uma pena
enquanto ele seguia aquelas pequenas marcas que não pertenciam
à pele dela. Olhando para ela para ver se acordaria, ele percebeu
que não. Seus olhos se fixaram em suas pálpebras fechadas, e ele
estendeu a mão e sacudiu o resíduo de uma lágrima deixada para
trás antes de levar a ponta do dedo à boca e saboreá-la.
Doce e amargo. Assim como ela.
Afastando-se, olhou para seu quarto, até que seu olhar caiu na
bolsa de couro preta sobre a mesa. Estreitando os olhos, seus
passos avançaram. Ele olhou por cima do ombro, mas ela não se
mexeu. Satisfeito, voltou seu foco para a bolsa dela.
Ela estava muito apegada a isso.
O que havia de tão especial?
Pegando a bolsa, ele abriu o zíper. Olhou para os pertences —
carteira, batom, perfume, smartphone, absorventes e as chaves
dela. Ele cavou mais fundo e encontrou luvas de látex e algemas.
Ele sorriu que ela curtisse certas safadezas.
Isso deve ser divertido.
Mas então, ele se lembrou que ela era uma agente, e ela
carregava algemas consigo.
Deixa para lá.
Colocando-os de volta na bolsa, seu olhar caiu em uma pasta
estranha. Curioso, ele a puxou.
CONFIDENCIAL
As palavras gritaram.
Ele abriu o arquivo preto, e sua fotografia olhou para ele. Sua
mandíbula se apertou, e ele olhou para Ghislaine adormecida.
Voltando seu olhar para o arquivo, ele o folheou, anotando e
memorizando os detalhes e as evidências sutis que eles tinham
sobre ele. Não era muito. Principalmente só especulação.
Responsável Principal: Ghislaine Khalil
Então, era ela quem o investigava.
Bom saber.
Olhando para ela, ele devolveu o arquivo em sua bolsa e fechou-
a, colocando-a na mesma posição em que o encontrou.
Virando as costas para ela, ele apagou as luzes e fechou a porta.
Alexander olhou para a mensagem anterior que recebeu de Dimitr
Ele ainda está respirando.
Cyrus Drakos ainda estava vivo.
Ela havia atirado no filho da puta, mas ele ainda vivia.
Ele era um filho da puta sortudo.
Alexander mandou uma mensagem.
Mande-o ao médico.
A resposta de Dimitri veio quase imediatamente.
Você está bêbado?
Ele bufou uma risada.
Em vez de responder, ordenou:
Prepare a pirâmide.
GHISLAINE
12
13
14
PASSADO
Seis anos atrás, vinte anos de idade.
15
Eram dez da noite quando saí do escritório e fui para casa. Muito
mais tarde do que eu costumava sair.
Saí da entrada e deixei a porta se fechar atrás de mim. Comecei a
caminhar até a estação de trem. Menos pessoas estavam ao meu
redor, e mantive minha cabeça baixa enquanto descia o quarteirão,
me misturando com as sombras da escuridão.
Não pude deixar de olhar de vez em quando por cima do ombro
como se alguém estivesse me seguindo. Eu me perguntei se era
ele. Ele admitiu me perseguir... Mas por que ele me seguiria?
Abracei-me, tremendo.
Era setembro agora.
O outono estava aqui.
O vento ganhou velocidade enquanto me movia mais rápido. A
sensação assustadora nunca ia embora. Caminhei ao longo do
quarteirão antes de ter que atravessar o beco escondido ao longo
do caminho para a estação de trem. Arranha-céus haviam
desaparecido, substituídos por prédios de apartamentos. Tentei
ouvir os passos, mas não havia ninguém andando atrás de mim.
Estava sozinha nesta rua. Os cabelos da minha nuca se eriçavam
toda vez que ouvia um farfalhar atrás de mim. Um arrepio percorreu
minha espinha.
Parando, eu me virei.
— Revele-se — eu ordenei a quem estava à espreita nas
sombras. Soei como uma idiota, mas esperei por ele.
Meus olhos procuraram, buscando por qualquer sinal de uma
pessoa, mas havia apenas o vento soprando em meus tímpanos.
Estava prestes a me virar quando meus olhos se viraram para a
esquina do prédio. Uma sombra escura à espreita descansava ali,
então essa pessoa se adiantou.
Meus olhos colidiram com Alexander Nikolaev.
Cansada demais para questioná-lo, mantive contato visual
enquanto ele caminhava em minha direção. Suas roupas eram
escuras como as sombras ao seu redor. Mas sua camisa era
branca. As duas cores seguras às quais ele se agarrava. Seus
blazers eram sempre mais ajustados e aconchegados em seu corpo
em comparação com um paletó normal. Os punhos deles eram
roxos ou bordô. Eu os havia notado todas as vezes. Roupas justas
que mostravam cada centímetro de seu corpo magro e duro. Um
sopro frio de medo invadiu meu corpo. Varrendo meu olhar sobre ele
mais uma vez, encontrei aqueles olhos profundos.
— Por que você está me seguindo? — perguntei finalmente.
Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça e deu de ombros, como
um menino.
— Estou de olho em você.
Meu coração disparou com sua voz suave. Não ouvia isso há
duas semanas. Franzindo o cenho, perguntei:
— Me perseguindo?
Seus olhos negros se iluminaram com malícia, lembrando aquele
olhar familiar que tinha visto antes. Ele não respondeu minha
pergunta. Certificando-me de que não havia mais ninguém ao nosso
redor, perguntei em um sussurro abafado:
— O que você fez com... o corpo dele?
— Livrei-me dele. — ele respondeu brevemente.
Franzindo as sobrancelhas, perguntei:
— Onde?
A diversão encheu seus olhos novamente.
— Ninguém nunca vai encontrá-lo. — Acreditei nele, mas a
hesitação encheu meu coração. — Não que haja muito para
encontrar dele, de qualquer maneira.
Meus olhos brilharam.
— O-o quê? — Gaguejei.
Ele disfarçou um sorriso.
— Eu estou brincando.
Queria fazer mais perguntas a ele. Duvidava que ele estivesse
brincando. Mordi o interior da minha bochecha, esperando por mais
informações, esclarecimentos, qualquer coisa, mas ele permaneceu
quieto.
Agora, nós dois estávamos sem palavras.
Dois estranhos presos no mesmo barco.
Dois cúmplices de assassinato.
Parceiros. Foi assim que ele nos chamou.
Nós nos encaramos por alguns momentos, desafiando o outro a
desviar o olhar. Seu olhar aquecido me inquietou desde o primeiro
dia. Ele olhou com uma curiosidade feroz, como se eu fosse o
centro de sua atenção. O seu mundo. Isso sacudiu minhas
entranhas, e meu coração bateu contra minha caixa torácica. Fui
primeiro a desviar o olhar.
Por fim, eu disse:
— Vá para casa, Alexander.
Eu me virei e me afastei dele, passando pelos grandes prédios de
apartamentos com parques embutidos perto de nós. Depois de
alguns segundos, olhei para trás e ele ainda estava no mesmo lugar.
Ele não se moveu.
Fiz uma pausa e não pude deixar de rir
— Você está grudado no chão?
Ele apenas continuou olhando para mim, e eu balancei minha
cabeça.
— Por que você não vai para casa? — exigi. — Nenhuma lista de
mortes hoje? — Congelei. Não podia acreditar no que tinha acabado
de escorregar.
Com os olhos arregalados, olhei enquanto seu corpo se movia em
minha direção. Seu passo era confiante, seguro e letal. Mais uma
vez, eu estava prendendo a respiração. Metade de seu corpo na
escuridão e metade na luz.
Ele estava na minha frente agora, apenas alguns metros de
distância. A diversão encheu seus olhos.
— Cuidado aí — ele cantarolou. — Sei o seu pequeno segredo.
Todo o ar saiu dos meus pulmões com a ameaça. Uma sensação
fria se arrastou por mim. Medo. Lágrimas pinicaram meus olhos, e
eu me afastei dele imediatamente. Olhei para ele incrédula, a dor
clara em meu rosto.
Ele percebeu e ergueu as sobrancelhas.
— Não me olhe assim.
Abri a boca para gritar com ele, mas nada saiu.
— Você está me ameaçando? — Engasguei em vez disso.
Seus olhos escuros nunca deixaram meu rosto.
— Você é uma garota inteligente. Deveria saber.
Idiota. O que havia de errado com ele?
Balancei minha cabeça antes de apontar um dedo em sua
direção.
— Nunca me ameace — rosnei.
Seus olhos escuros brilharam.
— Ou o quê? — ele desafiou, se aproximando e invadindo
propositalmente meu espaço pessoal.
Quando eu não respondi, ele provocou:
— Você vai me prender? Mas não serei eu o algemado.
Meus ombros tensos relaxaram, inspirei e expirei. Olhei para o
chão, para qualquer lugar, menos para ele. Com as pernas bambas,
voltei novamente em passos rápidos e pequenos, meus passos
correndo para os jardins da frente do apartamento. Eu precisava me
afastar dele.
Ele era muito traiçoeiro e imprudente. Era o Pakhan, um
criminoso, e eu estava sozinha com ele no meio da noite.
Era como Cyrus de novo.
Tenebroso. Ameaçador. Vil.
— Vá embora! — protestei por cima do ombro, meus passos indo
na direção errada.
Ele simplesmente me seguiu como um predador, me observando.
Vibrações arrepiantes vieram dele, e não gostei nada.
— Por que você está fugindo de mim, Passarinho? — ele
sussurrou. Quando não respondi, ele acrescentou: — Você pode se
defender, lutar e atirar.
Fiz uma pausa.
Certo. Eu era uma completa idiota.
Virei meu corpo para ele.
— O que você quer? — respirei.
Ele não respondeu e apenas passou a mão pela barba.
— Por que você está aqui?
Erguendo as sobrancelhas, ele disse zombeteiramente:
— Como eu disse, para ficar de olho em você.
Revirei os olhos.
— Eu não sou uma criança.
Seus familiares olhos brilhantes voltaram, e eles varreram da
cabeça aos pés sobre o meu corpo, demorando-se sobre meus
seios e quadris. Arrepios elétricos percorreram minha espinha,
arrepiando tudo entre minhas pernas. Meu batimento cardíaco
errático martelava enquanto ele me observava o tempo todo. Queria
esconder meu corpo de seu olhar, mas minhas mãos estavam moles
ao meu lado. Uma parte de mim gostava de seu lado voyeur.
— Posso ver isso — ele murmurou.
Meu coração martelava no meu peito, e minha garganta secou.
Relâmpagos explodiram em minha alma e chiaram em minhas
veias. Ele não estava planejando ir a lugar nenhum. Eu não queria
saber o que ele estava pensando agora. Limpei a garganta e mudei
de assunto.
— A esposa dele esteve aqui hoje.
Eu acalmei. Merda, por que diabos eu diria isso a ele?
Os olhos de Alexander ficaram surpresos.
— Oh? — ele só disse isso.
Agarrei minhas mãos, brincando com meus dedos. Ele era o único
que sabia a verdade. Não podia compartilhar com mais ninguém. Eu
não encontrei seus olhos.
— Ela está grávida — murmurei baixinho. Uma risada amarga
deixou meus lábios. — Ela está grávida do filho dele.
Meus olhos incrédulos encontraram os de Alexander novamente,
mas sua expressão não mudou. Este homem ainda estava calmo,
sereno e seguro de si. Como ele fazia isso? Como ele poderia ficar
ali enquanto meu eu retorcido era uma bagunça se desenrolando?
Queria me mascarar como ele.
Gostaria de poder parar de me sentir da mesma maneira que ele.
— Como você desliga isso? — perguntei finalmente.
Ele apenas piscou, provavelmente querendo que eu esclarecesse.
— Sentimento — sussurrei. Meus olhos brilharam. — Como você
desliga o sentimento? Como me tornar como você? — perguntei
com um tom de urgência na voz.
Seus olhos se estreitaram, como se ele estivesse pensando
muito.
— Você quer ser como eu? — ele disse, sua voz como seda.
Com uma respiração trêmula, eu balancei a cabeça ferozmente.
— Sim. Você é um psicopata. — Eu me encolhi com a forma
como tinha dito isso. Não queria ser uma psicopata como ele, mas
queria parar de sentir. Queria parar de me sentir culpada o tempo
todo.
Seus olhos estavam risonhos novamente.
— Como você sabe que eu não sinto?
Dei de ombros, exausta.
— Sente? — zombei.
Ele permaneceu mudo novamente. Odiava quando ele ficava
assim, como se estivesse me desligando propositalmente.
Frustrada, olhei para ele, inspirando e expirando até perder a
cabeça.
— Ela está grávida! — exclamei, lágrimas enchendo meus olhos.
— E eu falei com ela hoje. Tive a coragem de olhá-la nos olhos e
dizer-lhe que tudo ficaria bem. Eu menti.
Alexander ficou quieto o tempo todo, e seus olhos se estreitaram
nas bordas.
— Menti para ela, na cara dela. Que tipo de pessoa eu sou? Você
deveria ter me deixado levar a culpa por isso! — acusei, apontando
um dedo em sua direção.
Ele estreitou os olhos, o rosto tenso e os olhos aquecidos.
— Você não deveria ter acobertado o meu crime. Mereço ir para a
cadeia. Eu mereço... mereço... — minha voz sumiu, e eu solucei. —
Destruí uma família! — gritei, um soluço ameaçando sair da minha
boca. Lágrimas escorriam pelo meu rosto. — Ela nunca saberá o
que aconteceu com seu marido. Nunca terá paz em seu coração,
porque eu roubei! Todos os dias, ela se perguntará se hoje é o dia
em que ouvirá falar de seu marido. Ela acha que ele está
desaparecido! — exclamei. — Você tem alguma ideia de como isso
é terrível para uma família com um membro desaparecido? —
acusei, então eu ri amargamente. — Claro que não, Sr. Pakhan —
cuspi.
Eu tinha perdido a cabeça e estava gritando.
— Você arruína famílias o tempo todo, não é? — rosnei.
Minha visão ficou turva e eu não conseguia mais distinguir suas
feições. Gostaria de poder ver sua expressão. Para ver a dor em
seus olhos como eu estava sofrendo. Não era justo como ele
conseguia se desapegar de tudo. Por que ele não estava reagindo
como eu estava?
— Você faz as pessoas desaparecerem o tempo todo! — acusei.
Eu não sabia quando isso se tornou mais sobre ele e menos
sobre mim. Não me reconheci mais.
— Você é um assassino sem consciência. Você mata pessoas
sem piscar um olho. Você não dá a mínima se elas têm uma família
ou não — protestei. Minha voz estava rouca, e eu não a reconheci.
Parecia uma criança perdida e chorando. — Desde que você esteja
feliz, certo? Você é tão egoísta! — rugi.
Deus. Eu estava louca, mas minha boca se recusava a parar.
— E-eu nunca deveria ter acordado do coma! Todo mundo teria
sido muito mais feliz se eu não tivesse feito isso. Isso não teria
acontecido então. É tão triste... — acrescentei, ainda chorando.
Lágrimas inundaram meus olhos, e estendi a mão
apressadamente para enxugá-las.
— Você não tem ideia de como é ruim mentir para todo mundo e
ser solidária. Você provavelmente nunca sentiu simpatia por
ninguém em sua vida... Como posso simpatizar com o homem que
me machucou? Droga. Gostaria de nunca mais voltar a trabalhar.
Minha voz ficou rouca, e eu ainda estava gritando, mas não fazia
mais sentido. Limpei meus olhos, clareando minha visão, e olhei
para a figura perigosa de Alexander. Não notei quando ele chegou
tão perto de mim.
— Vou me entregar à polícia — declarei.
Seus olhos brilharam e sua mandíbula travou, mas eu não lhe dei
a chance de dizer nada.
— E você não pode fazer nada sobre isso! O que você vai fazer?
Grampear minha boca? — Então, eu zombei de horror: — Ou talvez
costurar? Você gosta de tortura, não é?
Oh, Deus... Alguém precisava me calar.
Agora, eu estava apenas divagando, mas não conseguia parar.
— Você é um tirano! — declarei: — Psicopata! E um perseguidor.
Você me persegue, seu homem assustador e terrível!
Gostava mais de mim quando estava quieta.
Não poderia nem culpar a tequila por isso.
— Eu vou... me render — minha voz sumiu, e meus dedos
trêmulos cavaram na minha bolsa para pegar meu telefone. — Eu
vou ligar... — murmurei, pressionando o botão número nove.
Ele derrubou meu telefone das minhas mãos, que caiu no chão
antes que eu pudesse discar os outros dois. Assustada, olhei para o
meu telefone quebrado, a tela quebrada. Inclinei-me para pegá-lo.
— Chamar a polícia — murmurei histericamente como se essa
fosse minha última missão.
Sua mão firme agarrou meu braço, me puxando para cima.
— Não! — protestei. — Estou fazendo a coisa certa! — disse,
tentando pegar meu telefone novamente. Talvez ainda estivesse
funcionando. Afastei suas mãos descontroladamente enquanto
tentava dar uma estocada. As lágrimas ainda rolaram pelo meu
rosto.
— Cala a boca — o rosnado baixo de Alexander veio. Sua voz
suave.
Por que ele estava sendo um idiota tão pomposo? Tentei me livrar
dele, mas ele era muito forte. Meus olhos ainda estavam no meu
telefone, como se fosse um prêmio de ouro.
— Por que você encobriu meu crime? — exigi.
Eu lhe dei uma cotovelada no estômago. Com um grunhido, seu
aperto afrouxou, e eu corri para o meu telefone, mas ele me agarrou
novamente. Lágrimas escorriam dos meus olhos, e eu me virei para
encará-lo. Eu o empurrei com meus membros trêmulos. Ele se
moveu. Um pouco. Mais determinada, estendi a mão para empurrá-
lo novamente. Sua mão grande e suave desceu na minha garganta,
envolvendo os dedos ao redor dela.
— Para — sua voz profunda retumbou.
Meu olhar lacrimejante encontrou o dele, e fiquei encarando seus
olhos negros selvagens. Com a mandíbula tensa, ele olhou para
mim, seus olhos ardentes. A chama neles se espalhando por mim
como um incêndio. Suas pequenas respirações duras e rápidas
pousaram no meu rosto.
Dei um chute na perna dele. Ele fez uma careta, mas, então, se
inclinou para mais perto, seus longos dedos apertando meu
pescoço. Minha cabeça inclinou, lágrimas ainda caindo dos meus
olhos. Estendi a mão para empurrá-lo novamente, mas ele os
empurrou com a outra mão.
Ele se aproximou, me empurrando para trás, e eu o deixei,
minhas pernas andando para trás. Ele olhava nos meus olhos o
tempo todo. Ele avançou e eu recuei. Um passo à frente. Um passo
para trás. Seu aperto nunca deixou minha garganta, segurando-a
permanentemente como se ele fosse uma parte do meu corpo,
minhas articulações.
Um sussurro rouco deixou meus lábios molhados.
— O filho dele será como minha Noura... Órfão de pai.
Não podia acreditar que acabei de dizer isso.
Meu peito arfou novamente, e um soluço saiu de mim.
Sua mão imediatamente deixou minha garganta e apertou com
força minha boca, pressionando contra ela. Eu me movi para trás e
bati em uma parede de tijolos. Os apartamentos.
— Você está piorando as coisas para si mesma.
Desobedeci novamente e chorei. Minhas lágrimas corriam
livremente pelo meu rosto, manchando sua mão. Balancei minha
cabeça como uma lunática. Eu nunca me senti assim antes, como
uma tempestade furiosa.
Condenada. Desesperada. Privada.
— Ghislaine — ele ferveu. — Pare.
Foi a primeira vez que ele falou meu nome.
Sua voz estava tão rouca enquanto falava como as ondas baixas
na praia à noite. Gritei, sua mão sufocando meus gritos todas as
vezes. Seus olhos negros se concentraram em mim, e ele tirou a
mão e a substituiu por seus lábios.
Me acalmei.
Pega de surpresa, eu pisquei.
Seus olhos encararam os meus arregalados.
Sua boca estava tocando a minha.
Alexander Nikolaev estava me beijando.
Na mesma velocidade em que seus lábios pousaram nos meus,
ele se afastou uns centímetros, seu rosto ainda pairando sobre mim.
Agora de boca aberta, meus olhos se fixaram em seus lábios. Eles
eram macios. Encontrei seu olhar novamente.
Seus olhos escuros e quentes pareciam querer me devorar. Isso
me queimou como brasas, e um arrepio me percorreu. Minha pele
corou sob seu olhar perscrutador. Pequenos gemidos ofegantes
deixaram minha boca. Eu não estava mais soluçando.
Confie em mim.
Não sabia quem deu o primeiro passo, ele ou eu. Não achei que
isso importasse, mas nossos lábios estavam um no outro
novamente. Fechei os olhos com o impacto e um suspiro satisfeito
deixou meus lábios.
Ele era um completo estranho.
Mal sabia sobre ele, só o que estava no arquivo, mas eu o estava
beijando.
Eu o estava beijando como se não houvesse amanhã.
A única coisa que tínhamos em comum era Cyrus.
Eu realmente precisava saber alguma coisa sobre ele além do
fato de que estávamos ligados?
Presa pelo assassinato. Dor. Trauma.
Tudo o que eu conseguia pensar agora era como sua boca se
sentia contra a minha, áspera e pesada. Meus lábios se moveram
contra os dele, não lutando mais contra ele. Os pelos de sua barba,
esfregando contra a minha pele. Ele mordeu meu lábio inferior com
força, e eu choraminguei contra ele.
Sua mão agarrou minha cintura, e ele chupou meu lábio desta
vez. Gemi contra sua boca, minha respiração caindo sobre ele. Sua
outra mão agarrou a parte de trás da minha nuca, me puxando para
ele. Não conversamos mais. Nós não precisávamos. Não tínhamos
mais nada a dizer. Ele estava me beijando uma, duas vezes, e eu
perdi a conta de quantas vezes seus lábios tocaram os meus. Seu
cheiro como homem, suor limpo e couro. O cheiro se infiltrou
profundamente em minha pele.
Eu não cheirava mais a mim mesma. Eu era como ele.
Seus beijos se tornaram mais duros, e eu estava cheia de uma
necessidade urgente que não sentia há muito tempo. Minha
respiração ficou presa no meu peito. Sensações rastejaram sobre
mim, e meu corpo formigou sob ele. Cruzei minhas pernas juntas
para parar a dor entre elas.
Sua boca estava em todos os lugares — na cavidade da minha
têmpora, minha bochecha, meu pescoço e minhas clavículas, antes
de rastejar de volta à minha boca. Sua presença consumiu a minha,
até que eu me dissolvi em uma névoa.
Sua mão afundou ainda mais nos meus cabelos, e eu arqueei
minhas costas contra a parede, de encontro a ele, com meus seios
colidindo em seu peito quente e duro. Eu estava muito mais alta do
que com a tequila. Seu gosto era tudo.
Agarrei seu blazer em meus punhos, minha boca se movendo
ferozmente contra a dele, puxando-o mais forte contra mim. Ele
gemeu, o som baixo e retumbante em sua garganta que eu podia
sentir no fundo do meu estômago. Apenas para os meus ouvidos. O
mundo borrou ao meu redor.
Uma onda de impotência me encheu quando me rendi a ele. Não
estava mais afundando, não mais me afogando, a maré deixando
meu corpo mole. Estava na costa intensa.
Sua língua exigiu entrada em minha boca, sondando-a aberta,
enviando tremores selvagens pelo meu corpo. Um rosnado baixo
soou do fundo de seu peito. Balancei enquanto corria minhas mãos
pelo cabelo dele, não me importando que eu estivesse bagunçando
tudo. Não sabia por quanto tempo ficamos assim. Cada centímetro
do meu corpo se dissolveu contra ele quando ele me beijou.
Apenas beijando. Somente beijando. Não foi como o primeiro
beijo que ele me deu no hospital. Isso era muito mais. Não sabia
que um beijo poderia ser tão caótico.
Não era apenas um beijo.
Era um beijo venenoso.
Um beijo cheio de veneno.
Um beijo que não tinha final feliz.
Só tragédia.
Meus olhos se abriram, e eu o empurrei de volta.
Ele não esperava isso. Afastou-se alguns metros de mim, mas se
conteve para não cair. Seus olhos escuros e vidrados caíram sobre
mim. Sua boca ainda estava rosada e molhada.
O que eu estava fazendo?
Nunca havia tocado em outro homem além do meu marido.
Ele sempre foi meu primeiro.
O primeiro homem por quem me apaixonei. O primeiro homem
com quem dormi. O primeiro homem com quem me casei. O
primeiro homem com quem tive um filho.
Estendendo a mão trêmula, toquei meus lábios inchados, ásperos
e completamente beijados. O veneno de Alexander se espalhou
pelo meu sangue e o ressentimento doeu no meu peito.
Gostaria de poder voltar os últimos dez minutos. Respirando com
dificuldade, fechei os olhos e olhei para o chão. O vento soprava ao
nosso redor no meio da noite. No meio do nada. Meus lábios
tremeram, e eu os mordi para impedi-los de tremer. Isso nunca mais
poderia acontecer. Nunca.
Encontrei seus olhos intensos novamente.
— Passarinho... — Alexander respirou, com a voz áspera e
estranha do nosso beijo.
Olhei para seus lábios antes de encontrar seus olhos, que
estavam com as pálpebras pesadas, embriagados. Ele parecia o
luar e tinha me provado como se eu fosse sua obsessão mais
profunda.
Fechei meus olhos. Minha alma doeu ao som de sua voz. Como
poderia eu mal conhecê-lo, e essas palavras por si só serem
suficientes para me quebrar?
Abri os olhos e balancei a cabeça.
Ele nunca se moveu do lugar onde estava e apenas olhou para
mim, perplexo, assim como eu. Sua máscara se fora. A fachada fria
desapareceu de sua expressão. Ele passou a mão pelo rosto antes
de descansar em seus lábios. Seus intensos olhos negros estavam
no meu rosto novamente.
Atormentada, fugi dele com minhas pernas bambas sem olhar
para trás. Meu corpo tremia o tempo todo na escuridão da noite.
Seus passos não vieram atrás de mim.
Uma parte de mim desejou que ele tivesse me perseguido.
ALEXANDER
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GHISLAINE
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Isso é Guerra1.
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Epílogo