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O Mês da Bíblia: vestir-se da Nova Humanidade

O lema do Mês da Bíblia de 2023, “Vestir-se da nova humanidade”, é extraído de Ef 4,24 e está
inserido numa exortação da carta, na qual o autor apresenta aos batizados e batizadas, no que
consiste assumir a vida nova, após a adesão a Cristo pelo batismo.
Mês da Bíblia 2023
O Mês da Bíblia começou a ser celebrado em 1971, na Arquidiocese de Belo Horizonte.
Promovido com o auxílio do Serviço de Animação Bíblica – Paulinas (SAB), o Mês da Bíblia
ganhou alcance nacional, sendo incorporado ao calendário da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB). Assim, a cada mês de setembro, a Igreja no Brasil intensifica ainda mais as
ações que buscam aproximar os fiéis da Palavra de Deus, por meio de subsídios, formações e
outras iniciativas que objetivam aprofundar o dialogo criativo entre a Palavra, as comunidades e
as pessoas.
O Mês da Bíblia é comemorado em setembro devido à Festa de São Jerônimo, celebrada no dia
30. Foi ele quem traduziu os textos bíblicos originais – do hebraico e do grego para o latim. A
cada ano, o Mês da Bíblia apresenta uma temática para inspirar as reflexões dos fiéis. Em 2023,
o convite é para que todos se dediquem ao aprofundamento dos estudos sobre a Carta aos
Efésios, a partir do tema: “Vestir-se da nova humanidade! (cf. Ef 4,24)”.
Zuleica Silvano – Religiosa Paulina
O Mês da Bíblia, comemorado pela Igreja do Brasil em setembro, objetiva aprofundar o
conhecimento de um determinado livro bíblico e é motivado pela celebração da memória de S.
Jerônimo, tradutor da Bíblia das línguas originais (hebraico, aramaico e grego) para o latim. O
livro, o tema e o lema do estudo reflexivo são escolhidos pela Comissão Bíblico-Catequética da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outras instituições bíblicas, entre as quais
o Serviço de Animação Bíblica-Paulinas (SAB). Em 2023, será trabalhada a Carta aos Efésios
(Ef). Essa carta foi escolhida por tratar da Igreja, e estar em sintonia com o Sínodo convocado
pelo papa Francisco, que será ser desenvolvido de outubro de 2023 a outubro de 2024, com o
tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Outro motivo da escolha é a
ênfase dada ao batismo, por ser um aspecto fundamental da Iniciação à Vida Cristã, temática
esta, vinculada à vocação batismal a ser discípulo(a) missionário(a), como sublinha o documento
da Conferência Episcopal dos bispos da América Latina e do Caribe que ocorreu na cidade de
Aparecida (SP), em 2005.
O lema do Mês da Bíblia de 2023, “Vestir-se da nova humanidade”, é extraído de Ef 4,24 e está
inserido numa exortação da carta, na qual o autor apresenta aos batizados e batizadas, no que
consiste assumir a vida nova, após a adesão a Cristo pelo batismo, sobretudo, o seguimento a
Jesus e o testemunho no contexto tão diversificado como era o da Ásia no início da Igreja.
A Carta aos Efésios é um dos livros do Novo Testamento pertencente à tradição paulina, mas
não está entre os escritos autênticos do Apóstolo, sendo, portanto, uma carta deuteropaulina.
Não há consenso quanto a sua datação, a mais provável seria entre os anos 80 e 90 d.C., e,
provavelmente, foi escrita para as comunidades seguidoras de Jesus localizadas na Ásia. A Carta
estrutura-se em seis capítulos que formam dois grandes blocos. O primeiro contém um conteúdo
teológico, sobressaindo os aspectos cristológico e eclesiológico (Ef 1–3), sendo a Igreja o Corpo
de Cristo, e Cristo a “cabeça” do corpo eclesial. A segunda parte é exortativa, e dirige-se à
comunidade, formada por pessoas batizadas, oriundas da religião judaica e por outras da cultura
gentílica, exortando-as a manterem a unidade na diversidade; a agirem eticamente, tendo Cristo
como o princípio normativo; a comportarem-se como filhos e filhas da luz; a revestirem-se da
“nova humanidade” em Cristo; a mudarem as relações familiares e sociais; a serem imitadores
de Deus, deixando-se guiar pelo Espírito (Ef 4–6). A carta conclui-se com um convite a
prepararem-se para um “combate espiritual” a todas as potências do mal, contra o antirreino.
A Carta aos Efésios destaca-se pela sua densidade teológica, cristológica e pneumatológica, e,
de forma especial, pela concepção de Igreja (eclesiologia). Para o autor de Ef, Deus, o criador de
todas as coisas (visíveis e invisíveis), e seu filho Jesus Cristo, reinam sobre as esferas terrestre e
celeste. Nessa visão, o autor desenvolve uma cristologia do senhorio de Jesus Cristo
Ressuscitado, aquele que está sentado à direita de Deus (Ef 1,20; 4,8.10), e enfatiza a autoridade
cósmica de Cristo. Deus colocou tudo sob seus pés e Cristo enche o cosmo com sua plenitude de
vida (Ef 1,22-23). A cruz é compreendida como um ato de reconciliação entre judeus e gentios,
constituindo um só corpo, a Igreja (Ef 2,13.16). O autor emprega o termo “mistério” para
designar o segredo de Deus, preestabelecido antes da Criação e revelado à humanidade por
iniciativa divina, por meio de Jesus Cristo. Esse mistério é desvelado a toda a humanidade, de
forma especial aos gentios, integrando-os ao corpo eclesial. Apesar de uma ênfase cristológica, a
carta traz vários elementos sobre Deus-Pai e o Espírito Santo, e as funções de cada uma das três
pessoas divinas no plano salvífico.
O tema central de Efésios é o eclesiológico, sendo a Igreja uma realidade universal. A Igreja é
entendida como um ser em Cristo, por isso sua visão universal não consiste na soma de todas as
comunidades locais situadas nas mais diversas partes do mundo, mas no fato de ter como
fundamento, Cristo. A Igreja se torna mediadora entre o mundo terrestre e o celeste. Desse
modo, tem uma função soteriológica, isto é: baseada nos profetas e apóstolos, ela é o espaço no
qual a salvação é oferecida ao mundo. No entanto, o autor de Ef defende a primazia cristológica
em relação à eclesiológica. De fato, Cristo reconciliou os dois grupos da humanidade, judeus e
gentios, e fez deles um só povo, um só ser humano novo: a Igreja (2,11-22), que tem como
fundamento os apóstolos e os profetas (2,20a); porém Cristo é a pedra angular (2,20b).
Outro tema teológico importante é sobre a vida após a morte e a ressurreição, ou seja, sobre a
esperança e a escatologia. Para o autor de Ef, se aderimos a Cristo, acreditamos que Jesus
ressuscitou e carregamos a certeza de que já experimentamos com o batismo, o mistério pascal
(morte e ressurreição), assim, após o batismo já vivemos como ressuscitados, sendo marcados
pela comunhão com Deus e com as pessoas. Porém, mesmo já experimentando a ressurreição, é
necessário comprometer-se com o Reino de Deus aqui na terra, mantendo-se no seguimento de
Jesus, por meio da unidade (4,1-16), do empenho em viver como pessoas novas (4,17–5,20),
com novas relações familiares (5,21–6,9) e a luta constante contra tudo aquilo que seja contrário
ao Reino de Deus, isto é, o pecado (6,10-20).
Assim, ao mergulharmos no estudo de Ef, nos deparamos com um escrito perpassado pela
presença amorosa de Deus, que se revela no decorrer de toda a História da Salvação. O Deus
Criador que desvela seu amor no Filho Cristo Jesus, e nos garante a presença constante do
Espírito Santo.
Zuleica Silvano: é irmã Paulina, é mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício
Instituto Bíblico de Roma e é doutora em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e
Teologia (FAJE), em Belo Horizonte. Assessora do Serviço de Animação Bíblica
(SAB/Paulinas) e Professora no Departamento de Teologia na Faculdade Jesuíta de Filosofia e
Teologia (FAJE) em Belo Horizonte. Co-autora do Livro: Carta aos Efésios: ‘É pela graça que
fostes salvos” (lançamento Paulinas).

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