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SÍNTESE DAS LIÇÕES DA LITERATURA INFANTO JUVENIL.

ENSINO BÁSICO 4° ANO


EAD.UR-MONTEPUEZ AGOSTO/2023

UNIDADE I: VISÃO HISTÓRICA DA ARTE E DA LITERATURA

0. INTRODUÇÃO
Arte e Literatura devem ser entendidas como formas de manifestação da cultura:
 Cultura (em sentido lato) – os seus significados variam dependentemente do
contexto: produção agrícola, conhecimento;
 Cultura (em sentido restrito) – conjunto de valores e práticas que caracterizam
um grupo de pessoas, comunidade ou sociedade.

Enquadra-se nesta visão de cultura:


 a maneira como os seres humanos se relacionam entre si, com a natureza e com o
imaginário;
 as manifestações de ideias e de sentimentos como: a música, a dança, a literatura, a
pintura, a escultura (artes?).

Portanto, a cultura é importante para compreender:


 valores (morais, éticos, etc.) que guiam os comportamentos dos seres humanos numa
sociedade.

Áreas Científicas do saber humano


A – Antropologia: estuda o homem através da observação das técnicas, dos usos e
costumes, das crenças (religiosas e não religiosas), regras de conduta e do
comportamento de um grupo social.
B – Sociologia: estuda o homem através dos grupos que compõem a sociedade, isto é,
analisa o comportamento humano de harmonia com o seu contexto social e os laços que
interligam os indivíduos dentro da família, clã e tribo, associação, grupo, instituição.
C – Literatura (expressão oral ou escrita): estuda as formas de expressão artística do
homem através da palavra.

1. CONCEITOS DE ARTE E DE LITERATURA

1.1. Arte
Como ficou expresso na parte introdutória, caro estudante, as diversas manifestações da
cultura podem constituir-se como meios de expressão artística de um povo e revestem-se de
capital importância para a vida material e espiritual de todos nós.
As artes surgem da necessidade de o homem explicar o que se passa à sua volta através das
formas de comunicação como: a pintura, a escultura, a dança, o contar histórias, as adivinhas,
os provérbios, as fábulas, os mitos, a música, a poesia, o teatro, etc.

Reflectindo
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a) Que valores contêm as pinturas rupestres que encontramos nas cavernas?


b) Em que partes de Moçambique encontramos as pinturas rupestres?

Ao longo da vida o homem sempre sentiu a necessidade de interpretar o mundo real ou


tangível que o rodeava, do mundo imaginado, recriado ou inventado, o mundo
intangível, em busca de conhecimentos que lhe trouxessem a melhoria de vida.
Assim, ARTE implica uma actividade de construção, de expressão, de conhecimento ou
de tentativa de conhecimento e explicação desses mundos tangíveis e intangíveis; a arte
manifesta-se de diversas formas, de harmonia com os materiais que usa para o seu
suporte.

Reflectindo
a) O suporte material das seguintes formas de arte foi trocado.
Reoriente o suporte material à forma de arte adequada1:
(i) Pintura; usa movimentos e dos adereços dos artistas.
(ii) Música – usa palavras de forma artística (oral ou escrita).
(iii) Dança – usa as formas e dos volumes.
(iv) Literatura – usa sons suportados pelas caixas de
ressonâncias que a natureza nos oferece.
(v) Arquitectura – usa tinta, cores e as formas.

1.1.2. CONCEITOS DE ARTE E ESTÉTICA (abordagem Universitária)

Qualquer intenção de se abordar estes dois termos (arte e estética) deve, primeiro,
relacionar-se com as questões de criação (entendendo esta como algo” inventado” e
que foge do comum), com a imaginação (acto individual ou colectivo, que pode ser
resumido no poder de criar algo novo e único), com a forma, com a matéria (material
usado na produção de qualquer obra).

Em segundo lugar, a abordagem deve orientar-nos a relacioná-los com as noções de


Belo, Modelo, Norma, Valor, Obra.

1
Correcção: (i) usa tintas, cores e as formas; (ii) usa sons suportados pelas caixas de ressonâncias que a natureza nos oferece;
(iii) usa movimentos e adereços dos artistas (iv) usa palavras de forma artística (oral ou escrita); (v) usa as formas e dos volumes.
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 O CONCEITO DE ARTE varia conforme a emergência de novos valores


(modelos e normas), ao longo dos tempos.
Ou seja, reconhece-se a existência de valores em desuso (rejeitados ou
apagados) e de valores ou estilos novos, emergentes. Estes valores instauram a
renovação, inovação e transcendência (é a variação diacrónica).

O conceito de arte pode variar de uma comunidade para outra comunidade, de um


espaço geográfico para outro, da visão e do interesse de cada pessoa, ou
conformemente às influências linguísticas e o meio sociocultural onde as pessoas
vivem (é a variação sincrónica).

 ESTÉTICA deve ser entendida como a ciência que se ocupa do BELO artístico
e dos sentimentos que ele em nós desperta, estimula ou provoca (enciclopédia
luso-brasileira).
A percepção estética ou a experiência estética designa a capacidade de apreciar
e valorar algo observado ou visto, ouvido ou escutado e compreende o “Bom
Gosto”.

Nas artes exige-se que o observador tenha um “bom gosto”: conhecimento


mínimo que lhe permita “penetrar” na obra de arte para poder apreciá-la
esteticamente.

Para isso, requer que o observador relacione, ainda que de forma inconsciente ou
intuitivamente, as noções do belo, modelo, norma, valor, criação, imaginação,
matéria, forma, técnicas, conteúdo, que é mensagem peculiar utilizada pelo artista
ou criador na sua expressão.

 COMO SE PROCESSA A PERCEPÇÃO ESTÉTICA?


Primeiro, reiteremos que a estética, ou o belo artístico, relaciona-se com um modelo
e com as normas (gerais e particulares, mais ou menos universais) advogados por um
grupo de pessoas, uma comunidade social (artistas, público, críticos, agentes do
ensino, comerciantes, etc.).

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Além disso, este conceito exige que se dê conta de três factores interligados: a obra de
arte, o observador e a mensagem.

Por outro lado, é importante que se entenda que o modelo e a norma representam o
ideal de perfeição/o padrão (de referência/de prestígio imposto pelo poder instituído:
intelectuais, professores, críticos).

Portanto, a norma é uma construção intelectual, actualizável de acordo com a


evolução da própria sociedade e dos indivíduos (artistas e consumidores). Faz-se
lembrar ainda que ao nível da linguagem existem muitas normas de onde se destacam:
- a norma culta - usada na imprensa, no ensino e na administração estatal e noutras
organizações;

- a norma dos jovens, dos artistas, etc.

 A percepção do belo artístico ou a experiência estética, exige o contacto ou


a observação e o reconhecimento ou apreensão de algo agradável, algo
elevado, algo nobre e maior, que desperta em nós algum sentimento de beleza,
de grandeza.

De acordo com WELLEK & WARREN (1949) na “obra de arte existe uma mensagem
e existe o prazer estético, sendo esta última definida como “a finalidade sem fim, ou
ainda a finalidade não dirigida à acção”; a mensagem e o prazer estético mobilizam a
atenção do sujeito apreciador. Esta operação é o que se pode designar por
“transacção estética” ou processo de intercomunicação artística, no qual o
receptor actua como um pólo indispensável para a aferição e legitimação da obra
artística.

A percepção estética varia de harmonia com os factores como educação, cultura, meio,
sócio-económico, contingências epocais, apreciação individual, etc. Esta variação é
reforçada pelo facto do próprio belo artístico (algo nobre que agrada à vista, ao
ouvido, ao espírito) ser uma construção intelectiva humana: o belo artístico não se
define, sente-se; é algo que deleita e “brilha” na mente de quem aprecia e
“vive/penetra” as coisas observadas.

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2. Em síntese, pode-se reter as seguintes linhas de ideias:


 A obra de arte é um objecto susceptível de provocar uma experiência
estética;
 A problemática do belo artístico sugere algo agradável, grandeza, algo
elevado, maior, nobre, etc.;
 A experiência estética é uma percepção da qualidade intrinsecamente
agradável e interessante, que oferece um valor final e serve de amostra
de pré-degustação de outros valores finais;
 A percepção estética está relacionada com o sentimento (prazer-dor) e
os sentidos: é uma contemplação, uma atenção amorosa a qualidades e
a estruturas qualitativas (WELLEK & WARREN, 1 949:301);
 Para que, efectivamente, se realize a experiência estética (na literatura,
música, pintura, escultura, dança, etc.), exige-se do
observador/contemplador:
- uma determinada educação/conhecimentos;

- uma determinada visão adequada, moldada e apurada, de


harmonia com os princípios comunitários (mais/menos homogéneos), que
permitam despertar nele o prazer estético, quer dizer, uma visão e uma
educação que lhe possibilitam “penetrar” na obra objecto da sua “atenção
amorosa” para se deleitar.

1.2.1. CONCEITOS DA LITERATURA

A literatura é a arte da palavra, arte de criar recriar textos, de compor ou estudar escritos
artísticos (LIJ/EaD, p. 14).

A literatura é ficção, ilusão ou simulação da realidade objectiva. A literatura é fuga da realidade,


uma realidade imaginária. A literatura é uma forma de conhecimento do mundo e do ser humano.
A literatura não tem vínculo com a realidade; contenta-se consigo mesma.

Nos finais do séc.VII surge a chamada Era Moderna e a nova classe social: a burguesia e com
a ideologia do movimento romântico europeu, consequência da decadência do feudalismo.

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A partir dessa altura a arte e a literatura passam incluir a componente ideológica, mas sem
despir-se da sua característica mágica.

Por enquanto interessa-nos caracterizar o Romantismo de duas formas:

 Estado de espírito: o romantismo é intrínseco à natureza humana, por isso os homens


expressam a sua natureza através dos traços como: o amor, paixão, sentimento de alegria
e tristeza, fuga da realidade através da imaginação, fé, liberdade, emoção, idealização da
realidade.

 Estilo de época literária: enquanto movimento artístico, o romantismo compreende a


tendência geral da vida e da arte predominante na 1ª metade do século XIX, na Europa:
uma visão centrada no individualismo.

O individualismo resulta do progresso político, económico e social da burguesia,


consequência directa da queda do absolutismo e ascensão do Liberalismo implantado
pela Revolução Francesa (1789), a qual defendia três princípios básicos: a Liberdade, a
Fraternidade e a Igualdade.

 Características principais do Romantismo:

 Sentimento de amor e de tristeza;

 Liberdade de criação;

 Evasão através do sonho e da morte;

 Gosto pelo misterioso, pelas noites;

 Valorização do amor ideal, dos sentimentos do “eu”, etc.

Toda a obra de arte está vinculada ao contexto em que é produzida e cumpre uma prática ética e
social, logo contém marcas ideológicas e o seu compromisso com o mundo referencial apresenta-
se em graus diversificados.

Por ser produto social, a arte estabelece conexões com a ideologia dominante numa dada
sociedade, o que pode provocar determinado impacto público. É em razão disso que uma das
funções da arte seja, hoje, a formação do Homem novo/nova visão do mundo/nova realidade
história.

A arte é uma forma especial de apropriação do mundo, uma apropriação diferente da apropriação
técnico-científica, pois a arte combina elementos do prazer intelectual, com a transmissão de
ideias, de normas, de valores socioculturais.

E é a partir do nível básico, que o professor da escola primária deve iniciar de modo didáctico e
metodológico, a transmissão de ideias, de normas, de valores socioculturais aos meninos e às
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meninas, desenvolvendo em cada criança, de harmonia com a sua faixa etária, capacidades,
conhecimentos, habilidades, bem como o sentimento de pertença à uma família, à comunidade, à
Pátria moçambicana.

Em síntese, podemos destacar seis formas tradicionais e clássicas de arte: a escultura, a pitura, a
dança (artes não verbais); a música (arte verbal e não verbal), teatro (arte verbal e não verbal);
poesia/literatura (artes verbais); o cinema (sétima arte), o design e a Banda Desenhada (nona
arte).

 Afinal, de tudo o que se disse, o que é LITERATURA?


Em sentido geral, e apoiando-nos na teoria da literatura de Vitor Manuel
de Agiar e Silva (1988), Literatura é tudo o que se encontra sob a forma
escrita (literatura médica, da física, química, história, etc).
Uma explicação etimológica refere que o termo literatura deriva do
termo latino litteratura, por via erudita ou clássica.
A palavra latina, por sua vez, deriva do radical latino littera (letra,
caracter alfabético), o que significa “saber relativo à arte de escrever e
de ler; refere-se ao conhecimento da gramática, à instrução, à
erudição”.
Por sua vez, o adjectivo latino litteratus deu origem a duas palavras:
 letrado, por via popular;
 literato, por via erudita ou clássica.
Assim, o literato “era o homem conhecedor da gramática, aquele que
sabia desenhar e decifrar as letras e que, por isso mesmo, fruía de um
privilegiado estatuto sociocultural”(AGUIAR e SILVA, 1988:p.2)
De acordo com WELLEK & WARREN (1949: p.22) “Outro modo de
definir a literatura é limitá-la aos ‘grandes livros’, aos livros que, seja

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qual for o seu tema, sejam ‘notáveis pela sua forma ou expressão
literária”.
Que critérios seriam seguidos na selecção de tais ‘grandes livros’? E
que entidade teria a incumbência de fazer tais escolhas num
universo de milhões e milhões de livros cabíveis no âmbito da
literatura?
Claro que é uma tarefa difícil, complexa e longe de ser transparente e
imparcial.
- O melhor critério seria a própria valia estética, ou a valia estética
combinada com uma distinção intelectual geral.
Estes critérios até podem ser aceites, ainda que revelem maior dose de
subjectividade…
Pois, a classe social que chamou para si essa tarefa é a dominante, o
grupo no poder em defesa e promoção da sua ideologia e sua língua, sua
cultura, em detrimento das obras literárias, línguas e culturas das
maiorias dominadas.
Reflectindo
Mas a quem caberia a tarefa de definir/selecionar/escolher, de entre
milhares de livros literários, os tais ‘grandes livros’?
Defende-se, igualmente, que a literatura, como arte de palavra, é toda
aquela que põe em evidência o modo particular de utilização da
linguagem verbal, explorando as potencialidades da linguagem
humana nas suas diversas vertentes.
Das três definições aqui apresentadas, consideremos esta última como a
que melhor define a literatura, dada a sua relativa abrangência e
actualidade.
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 Quando, acima, falamos de origem latina do termo literatura,


estávamos definir a literatura segundo a perspectiva etimológica.
Agora vejamos, com brevidade, como os autores cristãos
encaravam o termo literatura.
A perspetiva cristã, através dos autores cristãos (como Tertuliano, Cassiano e S. Jerónimo),
definia a literatura como “um corpus de textos seculares e pagãos, contrapondo-se a scriptura,
lexema que designa um corpus sagrados”.

A visão cristã de literatura é depreciativa, pois encara os textos literários como algo não sério e
marginal, por não fazer parte do mundo sagrado, e ao catalogá-los com o termo pagãos, esta
corrente considera os textos literários como sendo subversivos e refratários e infieis ao
ordenamento divino.

Retomando a perspectiva etimológica, segundo AGUIAR e SILVA (1988: p.1-2), e na esteira da


Antiguidade clássica, o termo Literatura era entendido como “Saber referente à arte de
escrever e ler gramática, instrução, erudição. E a partir do século XVIII, passou a significar
“belas letras, conhecimento, doutrina e erudição.”

O conceito etimológico da literatura apresenta, igualmente, alguns defeitos.

 Antes da 2ª metade do séc. XVIII, eram usados os sintagmas poesia, eloquência, verso,
prosa, para designar aquilo que hoje chamamos Literatura.

 Na 2ª metade do século XVIII, o termo literatura adquire novos valores semânticos em


conexão com as transformações da cultura europeia, mas subsistem no seu uso por força
da tradição linguística e cultural, os significados já mencionados, a par do surgimento de
novos conteúdos semânticos que divergem dos anteriores e divergem também entre si.
Assim, Literatura se configura como um termo polissémico:

 VOLTAIRE, depois de recordar que Littéraure equivalia à gramática dos Gregos


e Latinos, caracteriza Literatura como forma particular de conhecimento; valores
estéticos e relação com letras, mas não como uma arte específica.

No entanto, VOLTAIRE avalia este conhecimento em termos depreciativos,


contrapondo o conceito de génio, com todas as suas positivas implicações pré-
románticas no domínio da criatividade artística, aos conceitos de literatura e de
literato a que associa às ideias de saber e de actividade crítica com estatuto de
subalternidade em relação à grandeza de génio.

 DIDEROT: O termo littérature aparece num texto escrito por DIDEROT em


1751, com o significado de “específica actividade criadora que se consubstancia
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em obras caracterizadas por uma particular categoria do belo. Portanto, para


DIDEROT APUD AGUIAR e SILVA (1988:p.6) Literatura é uma arte e é
também o conjunto das manifestações dessa arte, isto é, um conjunto de textos
que se singulariza pela presença de determinados valores estéticos. Este texto de
DIDEROT, documenta dois novos significados que serão conferidos ao lexema
literatura e utilizados crescentemente a partir da 2ª metade do século XVIII:

 Específico fenómeno estético, específica forma de produção e de


expressão e de comunicação artística;

 Corpus de objectos (textos literários) resultante daquela particular


actividade de criação estética.

Eis as linhas fundamentais da evolução semântica do lexema Literatura desde então, passando
pelo limiar do Romantismo até ao século XX (AGUIAR e SILVA, 1988:p.7-8):

 Conjunto da produção literária de uma época (literatura da Idade Média) ou de uma


região (literatura do Sul, literatura do Norte);

 Conjunto de obras que se particularizam e ganham feição especial quer pela sua origem,
quer pela sua temática ou pela sua intenção (literatura feminina, literatura de terror,
literatura revolucionária, literatura de evasão, etc.);

 Bibliografia existente acerca de um determinado assunto (sobre a fauna bravia, sobre


pobreza urbana, sobre o jornalismo investigativo);

 Retórica, expressão artificial;

 Por Elipse, emprega -se simplesmente Literatura em vez de História da Literatura;

 Por Metonímia: significa também manual de História da Literatura;

 Literatura pode significar ainda conhecimento sistematizado, científico do fenômeno


literário (literatura comparada, literatura geral).

No entanto, a partir do século XVIII, de acordo com AGUIAR e SILVA(1988), o termo


literatura passa a ser encarada como “uma arte particular, uma específica categoria da criação
artística; um conjunto de textos resultantes da atividade criadora”, agregado aos gêneros
literários como epopéia, drama e lírica.

Características do texto Literário

 Ficcionalidade;

 Função estética;
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 Plurissignificação;

 Subjetividade.

Em reacção contra o conceito positivista de literatura (2ª metade do século XIX e 1ªs déadas do
século XX), “os três movimentos mais influentes da teoria e crítica literárias, o Formalismo
russo, o new criticism anglo-norte-americano e a estilística advogam o princípio de que os textos
literários possuem caracteres estruturais que os diferenciam inequivocamente dos textos não-
literários, daí procedendo a validade e a legitimidade da definição referencial de Literatura.”

Por isso, correlativamente, à especificidade objectiva dos textos literários deverá coprrsponder a
especificidade dos métodos e processos de análise desses mesmos textos.

Para designar a especificidade da literatura, ROMAN JAKOBSON criou, num dos seus
primeiros estudos, o vocábulo russo “literaturnost”, isto é, Literariedade, que é o objecto de
estudo da ciência literatura. JAKOBSON apud AGUIAR e SILVA (1988:p.15) definiu a
literariedade como “aquilo que faz de uma determinada obra uma obra literária”.

Entretanto, alguns usos especiais de linguagem que caracterizam os textos literários também
podem ser encontrados em textos não-literários, como confirma JONATHAN CULLER, falando
sobre a Literariedade ao declarar que “Devemos confessar que não chegamos a uma definição
satisfatória da literariedade.”

ANTÓNIO CÂNDIDO explica que

“A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do
espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os
quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do
autor e da experiência de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram, às vezes, origem
perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos
de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo
social.”

ANTÓNIO CÂNDIDO assevera ainda que

“O artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos
padrões das verdades factuais. Os fatos que manipula não têm comparação com os da realidade
concreta. São as verdades humanas, gerais, que traduzem antes um sentimento de experiência,
uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um sentido da vida, e que fornecem um
retrato vivo e insinuante da vida, o qual sugere antes que esgota o quadro”.

A Literatura é, assim, a vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e
outra. Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas,
comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana.”

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PEDRO LYRA no seu trabalho intitulado Para um conceito de Crítica refere que “O autor é,
antes de mais nada, um indivíduo histórico concreto, nascido numa determinada época, numa
determinada sociedade, com uma estrutura econômica, uma organização política, um sistema
jurídico que condicionam sua existência desde antes do seu nascimento e aos quais ele não pode
fugir.”

Ele pode modificar esses elementos, mas qualquer ação nesse sentido já está previamente
condicionada pela própria ação que esses elementos exerceram/exercem sobre ele. Noutras
palavras: “ele tem que agir sobre a sua sociedade com os instrumentos fornecidos por essa
própria sociedade, ou seja, por seu momento histórico”.

Ela [a obra] organiza três macro -elementos internos desdobrados em diversos micro -
elementos que se potencializam em múltiplas relações:

 um tema – sempre referido a um problema humano, ponto de partida da criação,


fornecido pelo meio;

 uma forma – estruturação estetizante desse problema, conferida pelo autor;

 a linguagem – instrumento literário de abordagem do problema do humano, recebida e


modificada pelo escritor, e que, por isso, participa da natureza comunitária do tema e da
natureza individual da forma.

Para tanto, a arte exige de toda obra pelo menos 3 requisitos indispensáveis:

 interesse – que está em seu conteúdo: a importância que este apresenta para atrair e
prender sucessivas gerações de leitores por tempo indeterminado, e que será tanto mais
interessador quanto mais atual for o problema humano que o consubstancia;

 eficácia – que está na sua forma: o poder necessário para reproduzir o interesse,
diretamente vinculado ao talento do escritor;

 permanência – que resulta da união do interesse do conteúdo e da eficácia da forma,


para superar os limites originais e originários de tempo e espaço da obra, já que nenhum
escritor se afirma como agente cultural se sua obra morrer com ele.

1.2. 2. LITERATURA CANONIZADA E NÃO CANONIZADA

Leia o texto que se segue para distinguir literatura canónica e literatura não canónica

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A questão da literatura infanto-juvenil passa, necessariamente, por aquilo que se atribui como
literário e não-literário, de acordo com a tradição ocidental, no qual estão incluídas as obras tidas
como canônicas, ancoradas em pressupostos que vem desde a Grécia antiga.
Nesse sentido, por um lado, essa literatura reedita a velha fórmula, que vem de Platão do Docere
cum delectare (= ensinar deleitando).
Entretanto, desde o seu início, padeceu de uma espécie de menos valia; talvez não tanto por seu
vínculo aos valores correntes, mas por sua origem, isto é, os contos populares apresentavam
domesticidade e função propedêutica, em que a figura da mãe era chamada como a primeira
preceptora do filho.

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O conceito de cânone literário esteve presente desde os gregos, como algo a ser seguido pelos
escritores.
- O termo cânone deriva da palavra grega “kanon”, a qual designava uma espécie de vara com
funções de instrumento de medida;

- Mais tarde, o seu significado evoluiu para o de padrão ou modelo a ser aplicado como norma.

No século IV encontramos a primeira utilização generalizada do termo cânone: significando a


lista de Livros Sagrados, que a Igreja cristã homologou como transmitindo a palavra de Deus,
logo representando a verdade e a lei que devia alicerçar a fé e reger o comportamento da
comunidade de crentes.

Após a rejeição de certos livros, denominados apócrifos, o cânone bíblico tornou-se fechado,
inalterável, distinguindo-se nesse aspecto do outro, referente ao cânone teológico, que é o
conjunto de Santos Padres a que a Igreja Católica periodicamente acrescenta novos indivíduos,
através de um processo chamado canonização.

Assim, chama-se canónica uma seleção (materializada numa lista) de textos e/ ou indivíduos
adotados como lei por uma comunidade e que lhe permitem a produção e reprodução de valores
(normalmente ditos universais) e a imposição de critérios de medida que lhe possibilitem, num
movimento de inclusão/ exclusão, distinguir o legítimo do marginal, do heterodoxo, do herético
ou do proibido.

Neste sentido, torna-se claro que um cânone veicula o discurso normativo e dominante num
determinado contexto, teológico ou outro, e é isso que subjaz a expressões como “o cânone
aristotélico”, “cânones da crítica” etc.

Acompanhando o processo de secularização da cultura em marcha desde o Renascimento, o


conceito e o termo vieram progressivamente a ser aplicados ao domínio da literatura, muitas
vezes, sob a forma de expressões como “os clássicos” ou “as obras-primas”.

O cânone literário é, assim, o corpo de obras (e seus autores) social e institucionalmente


consideradas “grandes”, “geniais”, perenes, comunicando valores humanos essenciais, por
isso, dignas de serem estudadas e transmitidas de geração em geração.

Tal definição é válida, quer se trate de um cânone nacional, presumindo-se que o povo se
reconhece nas suas características específicas, quer se trate do cânone universal, o que significa
de fato, dada à própria origem histórica da categoria literatura, um cânone eurocêntrico ou,
quanto muito, ocidental.

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