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Tae 1. Conceitos de Arte e Literatura. Lij - Ead
Tae 1. Conceitos de Arte e Literatura. Lij - Ead
0. INTRODUÇÃO
Arte e Literatura devem ser entendidas como formas de manifestação da cultura:
Cultura (em sentido lato) – os seus significados variam dependentemente do
contexto: produção agrícola, conhecimento;
Cultura (em sentido restrito) – conjunto de valores e práticas que caracterizam
um grupo de pessoas, comunidade ou sociedade.
1.1. Arte
Como ficou expresso na parte introdutória, caro estudante, as diversas manifestações da
cultura podem constituir-se como meios de expressão artística de um povo e revestem-se de
capital importância para a vida material e espiritual de todos nós.
As artes surgem da necessidade de o homem explicar o que se passa à sua volta através das
formas de comunicação como: a pintura, a escultura, a dança, o contar histórias, as adivinhas,
os provérbios, as fábulas, os mitos, a música, a poesia, o teatro, etc.
Reflectindo
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Reflectindo
a) O suporte material das seguintes formas de arte foi trocado.
Reoriente o suporte material à forma de arte adequada1:
(i) Pintura; usa movimentos e dos adereços dos artistas.
(ii) Música – usa palavras de forma artística (oral ou escrita).
(iii) Dança – usa as formas e dos volumes.
(iv) Literatura – usa sons suportados pelas caixas de
ressonâncias que a natureza nos oferece.
(v) Arquitectura – usa tinta, cores e as formas.
Qualquer intenção de se abordar estes dois termos (arte e estética) deve, primeiro,
relacionar-se com as questões de criação (entendendo esta como algo” inventado” e
que foge do comum), com a imaginação (acto individual ou colectivo, que pode ser
resumido no poder de criar algo novo e único), com a forma, com a matéria (material
usado na produção de qualquer obra).
1
Correcção: (i) usa tintas, cores e as formas; (ii) usa sons suportados pelas caixas de ressonâncias que a natureza nos oferece;
(iii) usa movimentos e adereços dos artistas (iv) usa palavras de forma artística (oral ou escrita); (v) usa as formas e dos volumes.
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ESTÉTICA deve ser entendida como a ciência que se ocupa do BELO artístico
e dos sentimentos que ele em nós desperta, estimula ou provoca (enciclopédia
luso-brasileira).
A percepção estética ou a experiência estética designa a capacidade de apreciar
e valorar algo observado ou visto, ouvido ou escutado e compreende o “Bom
Gosto”.
Para isso, requer que o observador relacione, ainda que de forma inconsciente ou
intuitivamente, as noções do belo, modelo, norma, valor, criação, imaginação,
matéria, forma, técnicas, conteúdo, que é mensagem peculiar utilizada pelo artista
ou criador na sua expressão.
Além disso, este conceito exige que se dê conta de três factores interligados: a obra de
arte, o observador e a mensagem.
Por outro lado, é importante que se entenda que o modelo e a norma representam o
ideal de perfeição/o padrão (de referência/de prestígio imposto pelo poder instituído:
intelectuais, professores, críticos).
De acordo com WELLEK & WARREN (1949) na “obra de arte existe uma mensagem
e existe o prazer estético, sendo esta última definida como “a finalidade sem fim, ou
ainda a finalidade não dirigida à acção”; a mensagem e o prazer estético mobilizam a
atenção do sujeito apreciador. Esta operação é o que se pode designar por
“transacção estética” ou processo de intercomunicação artística, no qual o
receptor actua como um pólo indispensável para a aferição e legitimação da obra
artística.
A percepção estética varia de harmonia com os factores como educação, cultura, meio,
sócio-económico, contingências epocais, apreciação individual, etc. Esta variação é
reforçada pelo facto do próprio belo artístico (algo nobre que agrada à vista, ao
ouvido, ao espírito) ser uma construção intelectiva humana: o belo artístico não se
define, sente-se; é algo que deleita e “brilha” na mente de quem aprecia e
“vive/penetra” as coisas observadas.
A literatura é a arte da palavra, arte de criar recriar textos, de compor ou estudar escritos
artísticos (LIJ/EaD, p. 14).
Nos finais do séc.VII surge a chamada Era Moderna e a nova classe social: a burguesia e com
a ideologia do movimento romântico europeu, consequência da decadência do feudalismo.
A partir dessa altura a arte e a literatura passam incluir a componente ideológica, mas sem
despir-se da sua característica mágica.
Liberdade de criação;
Toda a obra de arte está vinculada ao contexto em que é produzida e cumpre uma prática ética e
social, logo contém marcas ideológicas e o seu compromisso com o mundo referencial apresenta-
se em graus diversificados.
Por ser produto social, a arte estabelece conexões com a ideologia dominante numa dada
sociedade, o que pode provocar determinado impacto público. É em razão disso que uma das
funções da arte seja, hoje, a formação do Homem novo/nova visão do mundo/nova realidade
história.
A arte é uma forma especial de apropriação do mundo, uma apropriação diferente da apropriação
técnico-científica, pois a arte combina elementos do prazer intelectual, com a transmissão de
ideias, de normas, de valores socioculturais.
E é a partir do nível básico, que o professor da escola primária deve iniciar de modo didáctico e
metodológico, a transmissão de ideias, de normas, de valores socioculturais aos meninos e às
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meninas, desenvolvendo em cada criança, de harmonia com a sua faixa etária, capacidades,
conhecimentos, habilidades, bem como o sentimento de pertença à uma família, à comunidade, à
Pátria moçambicana.
Em síntese, podemos destacar seis formas tradicionais e clássicas de arte: a escultura, a pitura, a
dança (artes não verbais); a música (arte verbal e não verbal), teatro (arte verbal e não verbal);
poesia/literatura (artes verbais); o cinema (sétima arte), o design e a Banda Desenhada (nona
arte).
qual for o seu tema, sejam ‘notáveis pela sua forma ou expressão
literária”.
Que critérios seriam seguidos na selecção de tais ‘grandes livros’? E
que entidade teria a incumbência de fazer tais escolhas num
universo de milhões e milhões de livros cabíveis no âmbito da
literatura?
Claro que é uma tarefa difícil, complexa e longe de ser transparente e
imparcial.
- O melhor critério seria a própria valia estética, ou a valia estética
combinada com uma distinção intelectual geral.
Estes critérios até podem ser aceites, ainda que revelem maior dose de
subjectividade…
Pois, a classe social que chamou para si essa tarefa é a dominante, o
grupo no poder em defesa e promoção da sua ideologia e sua língua, sua
cultura, em detrimento das obras literárias, línguas e culturas das
maiorias dominadas.
Reflectindo
Mas a quem caberia a tarefa de definir/selecionar/escolher, de entre
milhares de livros literários, os tais ‘grandes livros’?
Defende-se, igualmente, que a literatura, como arte de palavra, é toda
aquela que põe em evidência o modo particular de utilização da
linguagem verbal, explorando as potencialidades da linguagem
humana nas suas diversas vertentes.
Das três definições aqui apresentadas, consideremos esta última como a
que melhor define a literatura, dada a sua relativa abrangência e
actualidade.
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A visão cristã de literatura é depreciativa, pois encara os textos literários como algo não sério e
marginal, por não fazer parte do mundo sagrado, e ao catalogá-los com o termo pagãos, esta
corrente considera os textos literários como sendo subversivos e refratários e infieis ao
ordenamento divino.
Antes da 2ª metade do séc. XVIII, eram usados os sintagmas poesia, eloquência, verso,
prosa, para designar aquilo que hoje chamamos Literatura.
Eis as linhas fundamentais da evolução semântica do lexema Literatura desde então, passando
pelo limiar do Romantismo até ao século XX (AGUIAR e SILVA, 1988:p.7-8):
Conjunto de obras que se particularizam e ganham feição especial quer pela sua origem,
quer pela sua temática ou pela sua intenção (literatura feminina, literatura de terror,
literatura revolucionária, literatura de evasão, etc.);
Ficcionalidade;
Função estética;
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Plurissignificação;
Subjetividade.
Em reacção contra o conceito positivista de literatura (2ª metade do século XIX e 1ªs déadas do
século XX), “os três movimentos mais influentes da teoria e crítica literárias, o Formalismo
russo, o new criticism anglo-norte-americano e a estilística advogam o princípio de que os textos
literários possuem caracteres estruturais que os diferenciam inequivocamente dos textos não-
literários, daí procedendo a validade e a legitimidade da definição referencial de Literatura.”
Por isso, correlativamente, à especificidade objectiva dos textos literários deverá coprrsponder a
especificidade dos métodos e processos de análise desses mesmos textos.
Para designar a especificidade da literatura, ROMAN JAKOBSON criou, num dos seus
primeiros estudos, o vocábulo russo “literaturnost”, isto é, Literariedade, que é o objecto de
estudo da ciência literatura. JAKOBSON apud AGUIAR e SILVA (1988:p.15) definiu a
literariedade como “aquilo que faz de uma determinada obra uma obra literária”.
Entretanto, alguns usos especiais de linguagem que caracterizam os textos literários também
podem ser encontrados em textos não-literários, como confirma JONATHAN CULLER, falando
sobre a Literariedade ao declarar que “Devemos confessar que não chegamos a uma definição
satisfatória da literariedade.”
“A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do
espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os
quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do
autor e da experiência de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram, às vezes, origem
perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos
de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo
social.”
“O artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos
padrões das verdades factuais. Os fatos que manipula não têm comparação com os da realidade
concreta. São as verdades humanas, gerais, que traduzem antes um sentimento de experiência,
uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um sentido da vida, e que fornecem um
retrato vivo e insinuante da vida, o qual sugere antes que esgota o quadro”.
A Literatura é, assim, a vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e
outra. Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas,
comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana.”
PEDRO LYRA no seu trabalho intitulado Para um conceito de Crítica refere que “O autor é,
antes de mais nada, um indivíduo histórico concreto, nascido numa determinada época, numa
determinada sociedade, com uma estrutura econômica, uma organização política, um sistema
jurídico que condicionam sua existência desde antes do seu nascimento e aos quais ele não pode
fugir.”
Ele pode modificar esses elementos, mas qualquer ação nesse sentido já está previamente
condicionada pela própria ação que esses elementos exerceram/exercem sobre ele. Noutras
palavras: “ele tem que agir sobre a sua sociedade com os instrumentos fornecidos por essa
própria sociedade, ou seja, por seu momento histórico”.
Ela [a obra] organiza três macro -elementos internos desdobrados em diversos micro -
elementos que se potencializam em múltiplas relações:
Para tanto, a arte exige de toda obra pelo menos 3 requisitos indispensáveis:
interesse – que está em seu conteúdo: a importância que este apresenta para atrair e
prender sucessivas gerações de leitores por tempo indeterminado, e que será tanto mais
interessador quanto mais atual for o problema humano que o consubstancia;
eficácia – que está na sua forma: o poder necessário para reproduzir o interesse,
diretamente vinculado ao talento do escritor;
Leia o texto que se segue para distinguir literatura canónica e literatura não canónica
A questão da literatura infanto-juvenil passa, necessariamente, por aquilo que se atribui como
literário e não-literário, de acordo com a tradição ocidental, no qual estão incluídas as obras tidas
como canônicas, ancoradas em pressupostos que vem desde a Grécia antiga.
Nesse sentido, por um lado, essa literatura reedita a velha fórmula, que vem de Platão do Docere
cum delectare (= ensinar deleitando).
Entretanto, desde o seu início, padeceu de uma espécie de menos valia; talvez não tanto por seu
vínculo aos valores correntes, mas por sua origem, isto é, os contos populares apresentavam
domesticidade e função propedêutica, em que a figura da mãe era chamada como a primeira
preceptora do filho.
O conceito de cânone literário esteve presente desde os gregos, como algo a ser seguido pelos
escritores.
- O termo cânone deriva da palavra grega “kanon”, a qual designava uma espécie de vara com
funções de instrumento de medida;
- Mais tarde, o seu significado evoluiu para o de padrão ou modelo a ser aplicado como norma.
Após a rejeição de certos livros, denominados apócrifos, o cânone bíblico tornou-se fechado,
inalterável, distinguindo-se nesse aspecto do outro, referente ao cânone teológico, que é o
conjunto de Santos Padres a que a Igreja Católica periodicamente acrescenta novos indivíduos,
através de um processo chamado canonização.
Assim, chama-se canónica uma seleção (materializada numa lista) de textos e/ ou indivíduos
adotados como lei por uma comunidade e que lhe permitem a produção e reprodução de valores
(normalmente ditos universais) e a imposição de critérios de medida que lhe possibilitem, num
movimento de inclusão/ exclusão, distinguir o legítimo do marginal, do heterodoxo, do herético
ou do proibido.
Neste sentido, torna-se claro que um cânone veicula o discurso normativo e dominante num
determinado contexto, teológico ou outro, e é isso que subjaz a expressões como “o cânone
aristotélico”, “cânones da crítica” etc.
Tal definição é válida, quer se trate de um cânone nacional, presumindo-se que o povo se
reconhece nas suas características específicas, quer se trate do cânone universal, o que significa
de fato, dada à própria origem histórica da categoria literatura, um cânone eurocêntrico ou,
quanto muito, ocidental.