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Sistema Renal

Prof. Dr. Arthur Sacramento

19/2/2007
 Nosso sistema urinário é formado por dois rins, dois
ureteres, uma bexiga e uma uretra.
 Dos cerca de 5 litros de sangue bombeados pelo
coração a cada minuto, aproximadamente 1.200 ml,
ou seja, pouco mais de 20% deste volume flui, neste
mesmo minuto, através dos nossos rins.
 Trata-se de um grande fluxo se considerarmos as
dimensões anatômicas destes órgãos.
Rim
 O rim possui 2 funções básicas: endócrina (apesar
de não ser uma glândula endócrina) e homeostática
(que é a principal).
 Não se sabe até hoje quais as estruturas renais
responsáveis pela função endócrina do rim mas os
pesquisadores acham que a porção secretora
encontra-se no complexo justaglomerular (córtex
renal), principalmente:
 O sangue entra em cada rim através da artéria
renal. No interior de cada rim, cada artéria renal se
ramifica em diversas artérias interlobares. Estas se
ramificam em artérias arqueadas que, por sua vez,
ramificam-se então em numerosas artérias
interlobulares. Cada artéria interlobular, no córtex
renal, ramifica-se em numerosas arteríolas aferentes.
Cada arteríola aferente ramifica-se num tufo de
pequenos capilares denominados, em conjunto,
glomérulos.
 Os glomérulos, milhares em cada rim, são
formados, portanto, por pequenos enovelados de
capilares
Glomérulo
 Na medida em que o sangue flui no interior de tais
capilares, uma parte filtra-se através da parede
dos mesmos. O volume de filtrado a cada minuto
corresponde a, aproximadamente, 125 ml. Este
filtrado acumula-se, então, no interior de uma
cápsula que envolve os capilares glomerulares
(cápsula de Bowmann).
 A cápsula de Bowmann é formada por 2
membranas: uma interna, que envolve
intimamente os capilares glomerulares e uma
externa, separada da interna. Entre as membranas
interna e externa existe uma cavidade, por onde
se acumula o filtrado glomerular.
Cápsula de Bowmann
 O filtrado glomerular tem o aspecto aproximado de
um plasma: um líquido claro, sem células. Porém,
diferente do plasma, tal filtrado contém uma
quantidade muito reduzida de proteínas
(aproximadamente 200 vezes menos proteínas), pois
as mesmas dificilmente atravessam a parede dos
capilares glomerulares.
 O filtrado passa a circular, então, através de um
sistema tubular contendo diversos distintos
segmentos: Túbulo Contorcido Proximal, Alça de
Henle, Túbulo Contorcido Distal e Ducto Coletor.
 Na medida em que o filtrado flui através destes
túbulos, diversas substâncias são reabsorvidas
através da parede tubular, enquanto que, ao mesmo
tempo, outras são excretadas para o interior dos
mesmos.
Túbulo Contorcido Proximal

 Ao passar pelo interior deste segmento, cerca de 100%


da glicose é reabsorvida (transporte ativo) através da
parede tubular e retornando, portanto, ao sangue que
circula no interior dos capilares peritubulares,
externamente aos túbulos.
 Ocorre também, neste segmento, reabsorção de 100%
dos aminoácidos e das proteínas que porventura
tenham passado através da parede dos capilares
glomerulares.
 Neste mesmo segmento ainda são reabsorvidos
aproximadamente 70% das moléculas de Na+ e de Cl-
(estes últimos por atração iônica, acompanhando os
cátions). A reabsorção de NaCl faz com que um
considerável volume de água, por mecanismo de
osmose, seja também reabsorvido.

 Desta forma, num volume já bastante reduzido, o


filtrado deixa o túbulo contorcido proximal e atinge o
segmento seguinte: a Alça de Henle.
Alça de Henle
 Esta se divide em dois ramos: um descendente e um
ascendente. No ramo descendente a membrana é
bastante permeável à água e ao sal NaCl. Já o
mesmo não ocorre com relação à membrana do
ramo ascendente, que é impermeável à água e, além
disso, apresenta um sistema de transporte ativo que
promove um bombeamento constante de íons sódio
do interior para o exterior da alça, carregando
consigo íons cloreto (por atração iônica).
 Devido às características descritas acima, enquanto o
filtrado glomerular flui através do ramo ascendente da
alça de Henle, uma grande quantidade de íons sódio
é bombeada ativamente do interior para o exterior da
alça, carregando consigo íons cloreto. Este fenômeno
provoca um acúmulo de sal (NaCl) no interstício
medular renal que, então, se torna hiperconcentrado
em sal, com uma osmolaridade um tanto elevada,
quando comparada aos outros compartimentos
corporais. Essa osmolaridade elevada faz com que
uma considerável quantidade de água
constantemente flua do interior para o exterior do
ramo descendente da alça de Henle (lembre-se que
este segmento é permeável à água e ao NaCl)
enquanto, ao mesmo tempo, NaCl flui em sentido
contrário, no mesmo ramo.
 Portanto, o seguinte fluxo de íons e de água se
verifica através da parede da alça de Henle:

 No ramo descendente da alça de Henle flui, por


difusão simples, NaCl do exterior para o interior da
alça, enquanto que a água, por osmose, flui em
sentido contrário (do interior para o exterior da alça).

 No ramo ascendente da alça de Henle flui, por


transporte ativo, NaCl do interior para o exterior da
alça.
Túbulo contorcido distal
 Neste segmento ocorre um bombeamento constante de
íons sódio do interior para o exterior do túbulo. Tal
bombeamento se deve a uma bomba de sódio e potássio
que, ao mesmo tempo em que transporta ativamente
sódio do interior para o exterior do túbulo, faz o contrário
com íons potássio. Esta bomba de sódio e potássio é
mais eficiente ao sódio do que ao potássio, de maneira
que bombeia muito mais sódio do interior para o exterior
do túbulo do que o faz com relação ao potássio em
sentido contrário. O transporte de íons sódio do interior
para o exterior do túbulo atrai íons cloreto (por atração
iônica). Sódio com cloreto formam sal que, por sua vez,
atrai água. Portanto, no túbulo contorcido distal do néfron,
observamos um fluxo de sal e água do lúmen tubular
para o interstício circunvizinho.
 A quantidade de sal + água reabsorvidos no túbulo
distal depende bastante do nível plasmático do
hormônio aldosterona, secretado pelas glândulas
supra-renais. Quanto maior for o nível de
aldosterona, maior será a reabsorção de NaCl + H2O
e maior também será a excreção de potássio.
 O transporte de água, acompanhando o sal, depende
também de um outro hormônio: ADH (hormônio anti
diurético), secretado pela neuro-hipófise. Na
presença do ADH a membrana do túbulo distal se
torna bastante permeável à água, possibilitando sua
reabsorção. Já na sua ausência, uma quantidade
muito pequena de água acompanha o sal, devido a
uma acentuada redução na permeabilidade à mesma
neste segmento.
Ducto coletor
 Neste segmento ocorre também reabsorção de NaCl
acompanhado de água, como ocorre no túbulo
contorcido distal.
 Da mesma forma como no segmento anterior, a
reabsorção de sal depende muito do nível do hormônio
aldosterona e a reabsorção de água depende do nível
do ADH.
Filtração Glomerular
 Na região cortical do rim existem milhares de
glomérulos. Cada glomérulo é formado de um
conjunto de capilares. O sangue que flui no interior de
tais capilares, chega aos mesmos proveniente de uma
arteríola denominada arteríola aferente. Este mesmo
sangue, após fluir pelos capilares glomerulares, se
dirige para a arteríola eferente, que forma uma rede
de capilares peritubulares, que envolvem os túbulos
renais.
 No interior dos capilares glomerulares existe uma
considerável pressão hidrostática (60 mmHg), que
força o sangue a fluir para frente, em direção à
arteríola eferente, e também contra a parede dos
capilares. No interior da cápsula de Bowmann existe
também uma pressão hidrostática, mas esta é
menor (18 mmHg). Outra pressão que não podemos
deixar de mencionar é uma pressão denominada
oncótica ou coloidosmótica (32 mmHg) no interior
dos capilares glomerulares, devido à grande
concentração de proteínas no interior dos tais vasos.
Este tipo de pressão atrai água do exterior para o
interior dos capilares glomerulares.
 Analisando-se as três pressões citadas acima, conclui-
se que existe realmente uma pressão resultante da
ordem de 10 mmHg., que pode ser considerada como
Pressão de Filtração, que favorece a saída de líquidos
do interior para o exterior dos capilares glomerulares e,
com isso, proporcionar uma boa filtração do sangue.
 A cada minuto, aproximadamente, cerca de 125 ml de
filtrado se formam no interior da cápsula de Bowmann.
Tal filtrado é denominado filtrado glomerular.
 É fácil imaginar que, se houver uma queda
significativa na pressão sangüínea haverá também,
como conseqüência, uma queda na pressão
hidrostática no interior dos capilares glomerulares.
Isso provocará uma queda acentuada na pressão de
filtração, o que reduzirá a filtração glomerular,
poupando líquido (volume) para o corpo, numa
tentativa de se corrigir a queda da pressão.
 O contrário se verificaria num caso de aumento da
pressão sangüínea.
 A angiotensina,
angiotensina potente vasoconstritor, produzida a
partir da ação da renina sobre o
angiotensinogênio,
angiotensinogênio exerce importante poder
vasoconstritor especialmente sobre a arteríola
eferente. Portanto, um aumento na produção de
angiotensina ocasiona uma vasoconstrição mais
acentuada nesta arteríola e, como conseqüência, um
aumento da pressão de filtração e da filtração
glomerular.
 A noradrenalina,
noradrenalina mediador químico liberado pelas
terminações nervosas simpáticas, exerce
importante efeito vasoconstritor especialmente
sobre a arteríola aferente. Portanto, um predomínio
da atividade simpática do sistema nervoso
autônomo tem o poder de aumentar a
vasoconstrição nesta arteríola e, como
conseqüência, provocar uma redução da pressão
de filtração e da filtração glomerular.
Aparelho Justaglomerular
 Em numerosos nefrons, observamos algo muito
interessante: Um pequeno segmento do túbulo
contorcido distal aproxima-se intimamente a um
segmento de uma ou ambas as arteríolas (aferente
e/ou eferente). Onde isso ocorre, observamos uma
diferenciação tanto na parede do túbulo contorcido
distal quanto na parede da arteríola. A parede do
túbulo, que normalmente é constituída por um
epitélio cubóide, se torna neste segmento com um
epitélio diferente, com grande número de células
cilíndricas, umas bem próximas às outras. Tal
região recebe o nome de mácula densa. Já na
parede da arteríola, verificamos uma grande
quantidade de células, neste segmento, com
aspecto bem diferente daquelas que formam o
restante da parede do vaso.
 Tais células apresentam em seu citoplasma uma
grande quantidade de grânulos de secreção,
demonstrando que são células produtoras de alguma
substância. A substância produzida nestas células,
chamadas de justaglomerulares, é exatamente a
famosa renina.

 O segmento descrito acima, formado por células


justaglomerulares (na parede das arteríolas) mais a
mácula densa (na parede do túbulo contorcido distal)
é conhecido como aparelho justaglomerular. Portanto,
podemos dizer que a renina é produzida por este
aparelho.
Renina - Angiotensina - Aldosterona
 A renina, ao entrar em contato com o
angiotensinogênio, transforma-o em angiotensina-1.
Esta, sob ação de enzimas encontradas
principalmente em capilares pulmonares, transforma-
se em angiotensina-2.
 A angiotensina-2 é um potente vasoconstritor.
Fazendo vasoconstrição, aumenta a resistência ao
fluxo sangüíneo e, portanto, eleva a pressão arterial.
 Além do poder vasoconstritor, a angiotensina é um
dos fatores que provocam, na glândula supra-renal,
um aumento na secreção do hormônio aldosterona.
 A aldosterona aumenta a reabsorção de sal + água
no túbulo contorcido distal. Consequentemente
aumenta o volume do compartimento vascular
(volemia). Aumentando o volume sangüíneo, o
coração aumenta seu débito (débito cardíaco). O
aumento do débito cardíaco faz com que também
ocorra um aumento na pressão arterial.
 Portanto, é fácil concluir que um aumento na secreção
de renina determina um aumento na pressão arterial.
Já uma redução em sua secreção, o efeito inverso se
verifica.
Controle da micção
 Aproximadamente 1 ml. de urina, a cada minuto,
escoa através dos ureteres em direção à bexiga. A
partir de um volume de aproximadamente 400 ml. de
urina na bexiga, com a distensão da mesma devido a
um aumento de pressão em seu interior, receptores
de estiramento localizados em sua parede se excitam
cada vez mais. Com a excitação dos receptores de
estiramento impulsos nervosos são enviados em
direção ao segmento sacral da medula espinhal onde,
a partir de um certo grau de excitação, provocarão o
surgimento de uma resposta motora através de
nervos parassimpáticos (n. pélvicos) em direção ao
músculo detrussor da bexiga (forçando-o a contrair-
se) e ao esfincter interno da uretra (relaxando-o).
 Desta forma ocorre o reflexo da micção.ão Para que,
de fato, a micção ocorra, ainda torna-se necessário
o relaxamento de um outro esfincter, o esfinter
externo da uretra. Porém este esfincter externo é
constituído de fibras musculares esqueléticas e,
portanto, são controladas por neurônios motores
localizados nos cornos anteriores da medula. Estes
neurônios recebem comando do córtex motor (no
cérebro). Sendo assim, não sendo o momento
adequado à micção diante de um reflexo, nosso
cortex motor, área consciente de nosso cérebro,
manterá o esfincter externo contraído e a micção, ao
menos por enquanto, não se fará acontecer.
Cálculo Renal
 Substâncias na urina (ácido úrico e cálcio em
particular) podem cristalizar dentro do rim e
formar particular pedregosas (cálculo)
chamadas “pedras”. O termo médico para esta
condição é nefrolitíase.

 Cálculos renais podem ser tão pequenos quanto


um grão de areia ou tão grandes quanto uma
bola de golfe. Podem ser lisas, aredondadas
pontiagudas ou assimétricas, dependendo de
sua composição.
 As mais diferentes alterações na composição
da urina produzem cálculos com composições
químicas e formas diferentes. As mais comuns
são sais de cálcio (70 a 80% dos casos),
estruvita (20% dos casos. São formas
cristalizadas de magnésio e amônia), ácido
úrico (5 a 13%) e cisteína (1 a 2% dos
casos).

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