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FACULDADE DE ENGENHARIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

POTENCIALIDADES DA DESSALINIZAÇÃO COMO


HIPÓTESE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM
MOÇAMBIQUE
Caso de estudo: Cidade De Pemba
Autor: Géssica Fernandes

Supervisores:
Nelson Matsinhe, PhD
Yazalde Tayob, MSc

Maputo, Julho de 2017


FACULDADE DE ENGENHARIA
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

POTENCIALIDADES DA DESSALINIZAÇÃO COMO


HIPÓTESE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM
MOÇAMBIQUE
Caso de estudo: Cidade De Pemba
Autor: Géssica Fernandes

Supervisores:
Nelson Matsinhe, PhD
Yazalde Tayob, MSc

Maputo, Julho de 2017


i

A caminhada começou no dia 1 de


Março de 2011 e acabou no dia 18
de Novembro de 2015. Foram longos
753 dias de ”Operação_Lhanguene”.
Deu vontade de chorar e até de
desistir, mas algo dentro de mim me
dizia que eu era capaz e hoje estou
aqui para provar que as dificuldades
nunca serão maiores que os nossos
sonhos.

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AGRADECIMENTOS ii

AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares em geral e de uma forma mais especial à minha Mãe, não sei
por onde começar este especial agradecimento, obrigada por não me ter deixado desistir
deste curso no momento que saiu o resultado, por sempre entender a minha ausência
em casa como filha e em nenhum momento ter-se oposto a isso, por cada alimentação
especial para compensar as noites sem dormir, a atenção, o amor e aos puxões de
orelha. Eu prometi no primeiro dia que entrei e hoje vou-te tornar a mãe mais orgulhosa
deste mundo. Te Amo muito.
Aos meus colegas da faculdade Valter Macie, Shelton Paulino, Mário Chaúque,
Nicolau Nhantumbo, Eugénio Chirrime, Osvaldo Cabral e Nalda Damião, minha “dream
team”, pena que não posso descrever todas nossas histórias aqui, mas foram muitas
noites sem dormir, livros lidos, testes feitos, horas de estudo, projectos errados e
rectificados. Através de vocês me torno uma engenheira mais curiosa, sábia, séria e
parva ao mesmo tempo. Obrigada pelas explicações (que não foram poucas), ajudas e
colaborações ao longo dos meus 5 anos de formação, isto é uma pequena parte do que
posso fazer para agradecer e demonstrar meu enorme carinho por vocês. Aos meus
“afilhados” Valter Mateus, Muneer Nair e Deise Cabral, sei que sou vosso exemplo e
espero ser a inspiração e exemplo de estudante que precisem para que sigam os vossos
passos e atinjam vossos objectivos e sonhos (Foco, Forca e Fé).
Ao Wagner Amuza, sabes o quão especial foste para eu alcançar este sonho, foste
meu braço mais que direito, me inspiraste mesmo sem saber. Obrigada por todas vezes
que desde teu tempo para me ajudar e ser meu escrivão. Aos meus melhores amigos
Edmilson Matavele, Jéssica Lemos e Neiva Banze, definitivamente tudo que sou
emocionalmente hoje, meu ombro amigo, meu colo e meu refúgio, é tudo que vocês são
para mim. Ao Claudino Kuntuela, Tuahiri de Melo, e aos demais amigos durante a minha
longa caminhada pela FENG.
Ao FIPAG Pemba, em especial ao Novais Brito Soca, pela paciência e os
ensinamentos, e especialmente por ter sido o “supervisor” da minha visita ao campo.
Aos meus supervisores Dr. Nelson Pedro Matsinhe e Eng. Yazalde Tayob pela
paciência e pelo conhecimento transmitido ao longo da minha jornada.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


RESUMO iii

RESUMO
O crescimento da demanda em cidades costeiras devido a turismo ou oportunidades
de negócio tem resultado na sobre-exploração das soluções tradicionais de
abastecimento de água, como aquíferos e rios, obrigando a escolha de soluções
alternativas imediatas e económicas. Apesar de o processo de dessalinização, de
maneira geral, ser considerado como oneroso, é necessário se fazer estudos para
melhor analisar, quantificar e comparar com as alternativas já existentes.
Neste sentido, a presente pesquisa tem como objectivo fazer uma análise
comparativa da potência instalada e da energia específica no sistema actual de
abastecimento de água da cidade de Pemba (campo de furos de Metuge) e numa
estação de dessalinização por osmose reversa (OR) da água do mar e salobra, ao longo
da baía de Pemba, bem como analisar o seu potencial para Moçambique.
Para investigar e quantificar a potência e energia específica necessária para
dessalinizar foi realizado o dimensionamento das estações de tratamento de água
(ETA’s) por OR usando o software IMSDesign, que requer a introdução de dados de
qualidade de água e dados de projecto, que incluem o caudal, taxa de recuperação,
número de estágios do sistema, e outros.
As ETA’s dimensionadas para água do mar e salobra tem a capacidade de
15.000m3/d, que é equivalente à do campo de furos de Metuge, possuem 52 vasos com
6 elementos, membranas do tipo SWC5-1640 e um estágio de tratamento, e 217 vasos
com 6 elementos, membranas do tipo CP3 e dois estágios de tratamento,
respectivamente. As potências e energias específicas foram de 3.385,2 kW e
5,42kWh/m3 para água do mar e 560,8kW e 0,9 kWh/m3 para água salobra. Por que em
ETA’s de água do mar, o concentrado ser eliminado com uma pressão alta usou-se um
sistema de recuperação de energia (ERD), que consiste na troca de pressão do
concentrado para a água de alimentação. Com isto, os valores de potência e energia
específica sofreram uma redução para 1.622,5kW e 2,6 kWh/m3 que correspondem a
uma redução de 57%.
A presente pesquisa sugeriu então que o sistema OR de água do mar é cerca de
28% menos dispendioso em termos de custos operacionais, se for incluído um ERD, que
a fonte actual de abastecimento de água em Pemba. Caso não seja incluído um ERD
pode haver um aumento de 41% nos custos de energia.

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RESUMO iv

Para Moçambique, a dessalinização de água do mar ainda é uma solução muito


onerosa, por o seu consumo energético equivaler a um sistema com fonte de captação
superficial ou subterrânea e tratamento convencional que se localiza a 380km do centro
distribuidor. Mesmo que se empregue um ERD a escolha desta alternativa ainda não
seria sustentável, reduzindo a distância para 160km. Porém, a dessalinização de água
salobra é uma alternativa a se considerar em caso de cidades costeiras com fontes de
captação que se situam a mais de 30km, por o seu consumo energético ser equiparável.
Uma vez que 63% das cidades costeiras moçambicanas se abastecem de fontes que
distam a mais de 30km, a dessalinização dessas fontes salobras pode ser considerada
como uma nova alternativa para o reforço total ou parcial aos sistemas de abastecimento
de água de Moçambique.

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Índice v

Índice

.........................................................................................................................................i
AGRADECIMENTOS ......................................................................................................ii
RESUMO .......................................................................................................................iii
Índice ..............................................................................................................................v
LISTA DE ANEXOS .....................................................................................................viii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................ix
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................x
LISTA DE TABELAS ....................................................................................................xii
Capítulo 1 – Introdução ................................................................................................1

1.1. Generalidades ................................................................................................... 1

1.2. Justificativa da Escolha ........................................................................................ 3

1.3. Objectivos Geral e Específicos ............................................................................ 4

1.4. Metodologia ......................................................................................................... 4

1.5. Limitações do estudo ........................................................................................... 6

1.6. Estrutura do relatório............................................................................................ 6

Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica...............................................................................7

2.1. Conceitos Teóricos .............................................................................................. 7

2.1.1. Destilação Térmica ........................................................................................ 7

2.1.2. Dessalinização por Membranas ................................................................... 10

2.2. Dessalinização por Osmose Reversa ................................................................ 14

2.2.1. Princípio de funcionamento ......................................................................... 14

2.2.2 Unidades complementares ........................................................................... 16

2.2.3. Eficiência de Tratamento ............................................................................. 17

2.2.4. Consumo de Energia ................................................................................... 18

2.2.5. Pré-tratamento ............................................................................................. 19

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Índice vi

2.2.6. Pós – Tratamento ........................................................................................ 20

2.2.7. Configuração da Membrana ........................................................................ 20

2.3. Variáveis de dimensionamento de um sistema OR ........................................... 21

2.4. O IMS-design ..................................................................................................... 27

Capítulo 3 – Caso de Estudo: Cidade de Pemba ......................................................29

3.1. Breve História .................................................................................................... 29

3.2. Descrição do Sistema Actual de Abastecimento de Água ................................. 29

3.2.1. Fonte De Captação – Campo De Furos De Metuge .................................... 30

3.2.2. Estação de Tratamento de Água ................................................................. 31

3.2.3. Bombagem, Transmissão e Reserva ........................................................... 32

3.2.4. Centros Distribuidores e Rede de Distribuição ............................................ 32

3.2.5. Perdas de Água ........................................................................................... 33

3.2.6. Operação e Manutenção ............................................................................. 33

Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização .....................................34

4.1. Localização da ETA ........................................................................................... 34

4.2. Caudal de Dimensionamento ............................................................................. 36

4.3. Qualidade da Água Bruta ................................................................................... 36

4.3.1. Água do mar ................................................................................................ 36

4.3.1.2. Balanço Iónico .......................................................................................... 38

4.4. Apresentação dos Resultados do Dimensionamento ........................................ 42

Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados ...............................................................49

5.1. Validação dos resultados obtidos ...................................................................... 49

5.2. Influência de um ERD ........................................................................................ 50

5.3. Aplicabilidade da Dessalinização para a cidade de Pemba ............................... 53

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vii

5.4. Aplicabilidade em outras situações de AA no contexto Moçambicano .............. 58

Capítulo 6 - Conclusões e Recomendações .............................................................62

Referências Bibliográficas .........................................................................................66

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LISTA DE ANEXOS viii

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 – Protocolo de visita ao campo.


Anexo 2 – Boletim laboratorial de qualidade de água bruta.
Anexo 3 – Especificação técnica da Membrana SWC5-1640.
Anexo 4 – Especificação técnica da Membrana CP3.
Anexo 5 –Dimensionamento de Sistemas OR por IMSDesign.
Anexo 5.1 – Balanço iónico de água do mar.
Anexo 5.2 – Algoritmo de cálculo manual e etapas OR de água do mar sem ERD.
Anexo 5.3 – Etapas OR de água do mar com ERD.
Anexo 5.4 – Algoritmo de cálculo manual e etapas OR de água salobra sem ERD.
Anexo 5.5 – Etapas OR de água salobra com ERD.
Anexo 6 – Resultados de Projecto de dessalinização para água do mar com e sem ERD.
Anexo 7 – Resultados de Projecto de dessalinização para água salobra com e sem ERD.
Anexo 8 – Especificação da bomba da conduta adutora (da fonte de captação à ETA)
para o sistema proposto de abastecimento de água em Pemba.
Anexo 9 – Especificação da bomba da conduta adutora (da ETA à estação F) para o
sistema proposto de abastecimento de água em Pemba.
Anexo 10 – Potências das bombas para o sistema proposto de abastecimento de água
em Pemba.
Anexo 11 – Cálculo de energia específica vs. comprimento da conduta.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AA – Abastecimento de água.
DCV – Destilação Por Compressão De Vapor.
DME – Destilação Por Múltiplo Efeito.
ED – Electrodiálise.
EDR – Electrodiálise Reversa.
ERD – Energy Recovery Device (Dispositivo de Recuperação de Energia).
ETA – Estação de Tratamento de Água.
ETA’s – Estações de Tratamento de Água.
FIPAG – Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água.
IL – Índice de Langelier.
IMSDesign – Integrated Membrane Solution Design.
MEF – Destilação por Multiestágio flash.
MF – Microfiltração.
NF – Nanofiltração.
O&M – Operação e Manutenção.
OR – Osmose Reversa.
pH – pontes de Hidrogénio.
RSPDADAR – Regulamento De Sistemas Públicos De Distribuição De Água E De
Drenagem De Águas Residuais
SAA – Sistema De Abastecimento De Água
UF – Ultrafiltração

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LISTA DE FIGURAS x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ilustração do princípio de funcionamento da deslitação DME. ...................... 8

Figura 2 - Ilustração do princípio de funcionamento da deslitação por MEF. ................ 9

Figura 3 - Ilustração do princípio de funcionamento da deslitação DCV. ..................... 10

Figura 4 - Representação do fluxo frontal e tangencial. ............................................... 11

Figura 5 - Ilustração do princípio de funcionamento de um sistema EDR. .................. 12

Figura 6 - Representação do princípio de funcionamento da OR. .............................. 14

Figura 7 - Gráfico de relacção fluxo vs. Tempo e pressão vs. Tempo em sistema OR 15

Figura 8 - Representação de sistema de OR e unidades complementares. ............... 17

Figura 9 - Eficiência dos diferentes tipos de membrana na remoção de impurezas


diversas ........................................................................................................................ 18

Figura 10 - Representação de membrana com configuração em espiral. .................... 21

Figura 11 – Representação da Lei de continuidade num sistema de membrana ......... 23

Figura 12 - Mapa de Localização da Cidade de Pemba............................................... 29

Figura 13 - Esquema do SAA da cidade de Pemba .................................................... 30

Figura 14 – Imagem ilustrativa da estação de tratamento de água de Pemba ............ 31

Figura 15 - Mapa de localização das opções para a ETA de dessalinização, com foco
para solução escolhida................................................................................................. 35

Figura 16 - Balanco Iónico equilibrado para água do mar. ........................................... 39

Figura 17 - Cálculo do balanço iónico pelo IMSDesign para água salobra. ................. 41

Figura 18 - Ilustração do campo de selecção do tipo de membrana pelo IMS Design. 45

Figura 19 - Diagrama de fluxo para sistema de OR tratando água salobra e sem ERD.
..................................................................................................................................... 46

Figura 20 - Diagrama de fluxo para sistema OR tratando água do mar com ERD. ...... 47

Figura 21 - Diagrama de fluxo para sistema OR tratando água do mar sem ERD. ...... 47

Figura 22 – Ilustração do princípio de funcionamento de um trocador de pressão. ..... 51

Figura 23 - Diagrama de fluxo em OR de água salobra com ERD ............................... 52

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LISTA DE FIGURAS xi

Figura 24 - Gráfico de energia específica vs. km conduta adutora. ............................. 59

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LISTA DE TABELAS xii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Comparação da eficiência entre NF e OR................................................... 13

Tabela 2 - Vantagens e desvantagens dos processos de dessalinização. .................. 13

Tabela 3 - Pressão e energia típicas nos processos de dessalinização por OR ......... 18

Tabela 4 – Intervalos típicos de taxas de filtração recomendadas para dimensionamento.


..................................................................................................................................... 25

Tabela 5 - Resultados laboratoriais de caracterização de qualidade da água do mar. 37

Tabela 6 - Composição Padrão da água do mar. ......................................................... 38

Tabela 7 - Dados de qualidade de água bruta salobra. ............................................... 40

Tabela 8 - Taxa de Recuperação de acordo com a fonte de água. ............................. 43

Tabela 9 - Valores típicos de Fluxo de declínio e aumento de passagem de sal por ano.
..................................................................................................................................... 44

Tabela 10 - Resumo de resultados de dessalinização. ................................................ 46

Tabela 11 - Valores esperados de pressão e energia. ................................................. 49

Tabela 12 - Resultado de pressão de alimentação e energia específica pelo IMS Design.


..................................................................................................................................... 49

Tabela 13 - Influência de ERD em sistemas de água do mar. ..................................... 51

Tabela 14 - Resultado de dimensionamento de sistema OR em água salobra com ERD.


..................................................................................................................................... 52

Tabela 15 - Influência de um ERD em sistemas de água salobra. ............................... 52

Tabela 16 – Resultados de dimensionamento dos sistemas OR comparado ao campo


de furos de Metuge. ..................................................................................................... 53

Tabela 17 - Vantagens e Desvantagens das alternativas estudadas. .......................... 57

Tabela 18 – Descrição de sistemas de AA em zonas costeiras. .................................. 60

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xiii

[Página deixada em branco intencionalmente]

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Capítulo 1 – Introdução 1

Capítulo 1 – Introdução
1.1. Generalidades
“Moçambique é um país com um número considerável de cidades e vilas localizadas
na zona costeira (casos de Maputo, Beira, Quelimane e Pemba) e que recorrem à
captação subterrânea para o abastecimento de água, seja como fonte única ou em
complemento aos sistemas baseados na captação superficial. Em algumas cidades
como é o caso de Pemba, a sobre-exploração dos aquíferos e consequente
contaminação das fontes por intrusão salina, é apontada como factor que, nalguns casos
leva ao abandono temporário ou definitivo das referidas fontes por se tornarem
inadequadas para produção de água potável (ex: campos de furos de Chuiba na cidade
de Pemba).
Casos há também de cidades costeiras que dependem exclusivamente de fontes
superficiais, mas que, devido ao efeito da intrusão salina as fontes tradicionais têm que
ser abandonadas ou em alternativa, deslocadas para pontos mais à montante (casos da
Beira-Mutua) e/ou a construção de obras de contenção da intrusão salina e/ou represas
(caso de Maputo-Umbeluzi, Marracuene-Incomáti). “

A Cidade de Pemba com cerca de 88,2 Km 2 é actualmente servida por um sistema


de abastecimento de água (SAA) que tem como fonte, água subterrânea captada num
campo de furos localizado à mais de 40 km do centro da cidade. Devido a localização
distante da fonte e as características do sistema de adução (adutora mista com pelo
menos 2 estações elevatórias no percurso) este sistema é caracterizado por custos
elevados de exploração e, manutenção complexa, facto que constitui até aos dias de
hoje uma das principais preocupações da entidade gestora do sistema.
Em consequência do rápido desenvolvimento económico que resultará, de entre
outros, do surgimento da actividade petrolífera naquela região, a cidade de Pemba irá
experimentar nos próximos anos um crescimento acelerado tanto da população como
da demanda de água que exigirá das entidades gestoras a identificação e
implementação de medidas de reforço da actual capacidade de produção de água para
a cidade. Apesar de existirem já alternativas concebidas (Megaruma) e/ou em
implementação (construção de um novo campo de furos e ETA para uma produção
adicional de 15000 m3/dia) a identificação de alternativas localizadas com menores
encargos agregados de produção e transporte da água constitui-se ainda numa
prioridade da entidade gestora. Uma vez que ao redor da cidade não existem aquíferos

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Capítulo 1 – Introdução 2

ou fontes superficiais com capacidade para suprir o reforço necessário na produção de


água potável, a dessalinização da água apresenta-se assim como uma alternativa a
considerar em estudos futuros visando encontrar respostas para o reforço da
capacidade de produção de água para a cidade de Pemba.

Segundo Silveira et al (2015), a dessalinização como método de produção de água


potável é uma tecnologia que tem vindo a ganhar espaço no domínio da engenharia do
abastecimento de água graças aos recentes desenvolvimentos verificados a nível
mundial, principalmente na tecnologia de membranas1. Estações de tratamento
baseadas na filtração por membranas são hoje empregues em várias partes de Mundo
com usos que vão desde a produção de água potável ao tratamento de efluentes
domésticos e industriais.
A presente pesquisa tem como objectivo principal, explorar as potencialidades
oferecidas pela dessalinização por membranas de osmose reversa (OR) na produção
de água potável em Moçambique a partir de fontes com elevados níveis de salinidade.
Para o efeito, faz-se uso do sistema de abastecimento de água à cidade de Pemba como
caso de estudo com base no qual estuda-se o potencial da dessalinização por
membranas como alternativa de reforço da produção de água tratada para a cidade
comparando o consumo energético de uma estação de tratamento de água por
dessalinização com o correspondente consumo energético do actual sistema de
produção e transporte de água a partir do campo de furos de Metuge 2. A análise
comparativa é feita considerando a mesma capacidade de produção nos dois sistemas.

1 Membrana é uma estrutura (ou material) fina, tipicamente plana, que separa dois ambientes .
2 Metuge é um distrito da província de Cabo Delgado, em Moçambique, com sede na povoação de Metuge.

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Capítulo 1 – Introdução 3

1.2. Justificativa da Escolha


Em Moçambique, a dessalinização é um tema sobre o qual existe pouco
conhecimento tanto teórico como de implementação ao nível do sector de águas
moçambicano. Obras literárias sobre o assunto são dificilmente encontradas nas
bibliotecas nacionais e quando existem, estas constituem-se em relatórios de teses de
licenciatura realizadas por finalistas de várias instituições de ensino superior que
somente fazem menção ao tema.
A existência de um número cada vez maior de cidades moçambicanas onde a
disponibilidade de água começa a ser problemática devido a deterioração da qualidade
da água das fontes (intrusão salina devido à influência de marés e/ou sobre-exploração
de aquíferos) e limitações das técnicas tradicionais de tratamento para a sua correcção
constitui um dos factores que justifica a introdução do conceito de dessalinização da
água como uma das alternativas a considerar para o aumento da disponibilidade do
recurso em algumas cidades. Acresce a isto o facto de existirem já casos pontuais de
ETA’s baseadas na dessalinização (ex. Nacala), que demonstra haver já por parte do
sector de águas nacional, abertura para que a tecnologia seja explorada como
alternativa de provisão de água potável em algumas cidades.

A escolha da cidade de Pemba como caso de estudo resulta do facto de a mesma


localizar-se numa zona costeira, ter um SAA que na sua concepção actual é
problemático do ponto de vista de operação e manutenção (O&M), caracterizar-se por
custos operacionais consideravelmente altos devido essencialmente ao consumo
energético e, existirem já alternativas identificadas alternativas de reforço da capacidade
actual de produção que no entanto apresentam desafios equiparáveis aos do sistema
actual no que diz respeito à complexidade e custos de operação e manutenção. Acresce
a isto o facto de o sistema oferecer uma base de comparação das soluções de produção
actualmente em uso e as projectadas para o reforço da capacidade de produção com a
solução de dessalinização para além de que existem ainda algumas incertezas quanto
a capacidade máxima que se pode explorar do campo de furos de Metuge que é uma
das alternativas identificadas para o reforço da produção actual. Não menos importante,
está prevista para a cidade de Pemba um incremento considerável da demanda de água
nos próximos anos cuja satisfação irá certamente exigir novas fontes de captação de
água para além do campo de furos de Metuge (na sua máxima capacidade).

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Capítulo 1 – Introdução 4

1.3. Objectivos Geral e Específicos


O estudo tem como objectivo geral analisar as potencialidades oferecidas pela
dessalinização no tratamento de águas de abastecimento em Moçambique, usando
como caso de estudo o sistema da cidade de Pemba.

Os objectivos específicos da pesquisa foram assim definidos para compreenderem


o seguinte:

1. Desenhar e dimensionar uma ETA de dessalinização por membranas de


OR desenhada para a mesma capacidade de produção do sistema actual e tendo
como fonte, água do mar (cenário 1) e água salobra (cenário 2). Na definição do
segundo cenário foram considerados níveis de salinidade de cerca de
11,300mg/l. Inclui-se neste objectivo a aplicação de um programa automático
(software) de dimensionamento de ETA’s de dessalinização na base de
membranas;
2. Fazer uma análise comparativa baseada nos resultados de energia
específica (kWh/m3) calculados para o sistema actual e para o sistema baseado
numa ETA de dessalinização concebida a partir do cenário mais desfavorável;
3. Analisar os resultados e tecer recomendações sobre as potencialidades
oferecidas pela dessalinização no tratamento de água potável em Moçambique.

A realização destes objectivos pressupôs ainda uma revisão de conceitos


relacionados com a técnica de dessalinização, com enfoque para a dessalinização por
membranas de OR, a revisão documental sobre os desenvolvimentos e as projecções
relacionadas com o SAA actual da cidade de Pemba e, a condução de uma campanha
de recolha, análise e validação de dados operacionais para concepção do sistema de
dessalinização por OR (ETA e órgãos complementares).

1.4. Metodologia
Para além da pesquisa documental/revisão bibliográfica, realizada com o intuito de
obter conhecimentos teóricos sobre a tecnologia de tratamento de água por
dessalinização e informação sobre o sistema actual de abastecimento de água à cidade,
foi realizada ao longo desta pesquisa uma visita de campo que serviu para obter e
confirmar informação relevante para a pesquisa designadamente, dados operacionais

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 1 – Introdução 5

do sistema existente (qualidade de água bruta, consumos energéticos, problemas


operacionais correntes etc.), identificação do local para localização da ETA de
dessalinização e, dados de qualidade da água bruta (água do mar). A visita ao campo
seguiu o roteiro apresentado no protocolo em anexo. (Vide Anexo 1).

Para o dimensionamento da ETA de dessalinização fez-se uso de um programa de


cálculo automático (Integrated Membrane Solution - IMSDesign) desenvolvido pela
Hydranautics que é um fabricante considerado como um dos líderes mundiais no que
concerne a tecnologia de membranas.

Para o presente caso, o dimensionamento foi efectuado para água do mar


(salinidade acima de 35,000mg/l), e água salobra (salinidade entre 500 e 30,000mg/l) e
um caudal correspondente à capacidade de produção da ETA existente (15,000m3/d)
dado que para esta, existem dados históricos de consumo energético para a análise
comparativa com os resultados obtidos do dimensionamento da ETA de dessalinização.

A escolha de água do mar como fonte de água bruta deveu-se ao facto de não haver
registo da existência de aquíferos próximos da cidade de Pemba (exceptuando o campo
de furos de Chuiba) que permitiriam a exploração de um caudal equivalente ao
actualmente produzido no campo de furos de Metuge e muito menos para caudais
maiores. O recurso à uma potencial fonte de água salobra (salinidade na ordem dos
11,300mg/l) teve como propósito, inferir sobre a eficiência e o consumo energético de
uma ETA de dessalinização hipoteticamente construída para o efeito, caso existisse nas
proximidades da cidade uma fonte de água com características similares.

Para o cenário de análise usando água do mar, o local de captação bem como o de
localização da ETA foi escolhido durante a visita de campo. Para este cenário de fonte
foram ainda determinados (amostragem e análise) parâmetros de qualidade da água
relevantes para o dimensionamento da ETA designadamente: temperatura, pH,
Alcalinidade, Condutividade eléctrica-EC, Sólidos Totais Dissolvidos (STD), Turvação,
Cloretos (Cl-), Fosfato (PO43-), Cálcio (Ca2+), Magnésio (Mg2+), Sódio (Na+), Potássio
(K+), Dureza total, Nitrato (NO3-), Nitrito (NO2-), Amónio (NH4+), Ferro (Fe3+), Sílica (SiO2),
Bicarbonato (HCO3-), Carbonato (CO32-) e Matéria orgânica. As amostras para este

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


6

propósito colhidas em quatro campanhas designadamente amostras 06/09, 08/09, 10/09


e 29/09.

Para a análise comparativa dos cenários foram consideradas as seguintes variáveis


de dimensionamento: potência instalada (Pinst) e energia específica (Eesp), medidas em
quilowatts (kW) e quilowatts hora por metro cúbico de água produzida (kWh/m3),
respectivamente.

1.5. Limitações do estudo


A presente pesquisa apresentou algumas limitações que impediram e embarreiram
o aprofundamento deste tema. Dentre elas, as principais limitações foram: a falta de
material bibliográfico sobre o tema em bibliotecas nacionais, o conhecimento limitado do
sector de águas sobre o tema, a não recolha de um número significativo de amostras
para uma melhor análise da qualidade da água bruta do local escolhido como fonte de
captação, as limitações dos laboratórios nacionais no que refere a realização de alguns
testes de parâmetros de qualidade de água, e limitações do programa de
dimensionamento de sistemas de dessalinização por membranas OR, o IMSDesign,
como por exemplo, previsão um estágio de pré-tratamento da água bruta.

1.6. Estrutura do relatório


O presente relatório é constituído por 6 capítulos designadamente: Uma introdução
contendo a justificativa de escolha do tema, os objectivos da pesquisa, a metodologia e
as limitações encontradas para conduzir a pesquisa; Um capítulo de revisão bibliográfica
contendo os elementos teóricos de dimensionamento de processos de dessalinização
incluindo a descrição detalhada de alguns métodos com destaque para a dessalinização
por membranas de OR; Um capítulo de descrição do caso de estudo; Um capítulo
dedicado ao dimensionamento da ETA de dessalinização; Um capítulo de interpretação
e discussão dos resultados e Um capítulo de conclusões e Recomendações.
O relatório contém igualmente um conjunto de onze (11) anexos e as referências
bibliográficas.

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 7

Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.1. Conceitos Teóricos


A dessalinização refere-se a vários processos físico-químicos de retirada de
excesso de sal e outros minerais da água ou do solo.
Segundo Silveira et al (2015), as duas principais tecnologias de dessalinizações
aplicadas mundialmente e em grande escala são a destilação térmica e a dessalinização
por membranas. Existem contudo, outros métodos menos comuns como a
dessalinização por congelamento e o processo que combina destilação e membranas.

2.1.1. Destilação Térmica


A dessalinização por destilação térmica baseia-se na transferência de calor. No
processo de destilação os sais não voláteis permanecem em solução sendo a água
vaporizada quando a solução salina é fervida. A água que se forma quando o vapor de
água condensa numa superfície mais fria é quase pura e fica praticamente livre de
sólidos dissolvidos, os quais permanecem no concentrado (Silveira et al, 2015). Por este
método recorrer a consumo excessivo de energia eléctrica, Silveira et al (2015) descreve
três diferentes processos de destilação que foram desenvolvidos com o objectivo de
baixar o consumo de energia, designadamente:

2.1.1.1. Destilação por Múltiplo Efeito


Neste processo, uma série de fases de evaporação com pressões de vapor
progressivamente menores, produz água potável a partir de fontes mineralizadas. A
água produzida é obtida da condensação do vapor em cada fase e do condensador
principal. É importante mencionar que, quanto mais fases de evaporação existirem,
melhor o desempenho do processo pois o efeito do vapor de água do primeiro
evaporador actua como agente de aquecimento do segundo evaporador e assim por
diante. (Silveira et al, 2015)

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 8

Figura 1 – Ilustração do princípio de funcionamento da deslitação DME.3

2.1.1.2. Destilação por Multiestágio Flash


O processo começa com a circulação da água salgada fria por um sistema de tubos
envolvidos em vapor quente. O diferencial térmico existente faz com que a água salgada
aqueça enquanto esta transita pelos tubos, após ter passado pelos tubos, a água entra
no chamado “aquecedor de concentrado” onde passa para a primeira fase. A fase não
é mais do que a designação de cada câmara, a elevada temperatura no interior da fase
faz com que uma parte da água vaporize instantaneamente. O vapor de água condensa
e precipita numa calha dentro da fase que conduz a água doce para o exterior da
câmara. O concentrado restante passa para a fase seguinte, onde o processo ocorre em
temperatura de operação inferior à anterior. Esta diminuição da temperatura deve-se à
diminuição de pressão entre fases consecutivas. As fases seguintes processam-se de
um modo análogo até que a salmoura atinja valores de concentração de sais muito
elevados, sendo esta enviada para o meio receptor. (Silveira et al, 2015).

3Fonte: https://pt.slideshare.net/douglaspul/evaporao-douglas-e-pedro-augusto. Acessado a: 26 de


Março de 2017.

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 9

Figura 2 - Ilustração do princípio de funcionamento da deslitação por MEF. 4

2.1.1.3. Destilação por Compressão de Vapor


Neste processo, a compressão é feita no próprio vapor gerado no sistema. Na
prática, usam-se dois métodos de compressão do vapor nomeadamente: compressão
mecânica do vapor (em que o vapor é comprimido mecanicamente) e, termocompressão
do vapor com base (no qual o vapor é comprimido termicamente). A água de alimentação
entra para o processo através de um trocador de calor e é misturada com uma pequena
quantidade de concentrado proveniente da recirculação do sistema. A água de
alimentação é então borrifada sobre a superfície de feixe de tubos ou distribuída nas
extremidades dos tubos. Neste caso parte do concentrado desce pela superfície interna
dos tubos e evapora pela acção do calor existente na sua superfície externa. A
compressão do vapor eleva a sua temperatura a um valor suficiente para servir como
fonte de calor. O concentrado é removido do vaso evaporador com apoio de bombas de
recirculação do concentrado. Esse fluxo é então dividido e uma parte misturada com
água de alimentação após esta ter passado pela bomba enquanto o restante do
concentrado troca calor com a água de alimentação antes de ser bombado para o
destino final. O vapor, ao ceder calor condensa-se, formando um fluxo de destilado que

4 Fonte: https://sites.google.com/site/sensoresedessalinizacao/home/tipos-de-dessalinizacao. Acessado


a: 26 de Março de 2017

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 10

é bombado para o trocador de calor e em seguida para o sistema de pós-tratamento


caso exista (Silveira et al, 2015).

Figura 3 - Ilustração do princípio de funcionamento da deslitação DCV.5

2.1.2. Dessalinização por Membranas


De um modo geral, “membrana” é uma barreira que restringe total ou parcialmente,
o transporte de uma ou várias espécies químicas de uma fase para a outra resultando
em dois fluxos distintos (concentrado e permeado).
O permeado é a corrente que passa pela membrana e nela são encontradas poucas
ou nenhuma partícula maior que o tamanho médio dos poros da membrana. O
concentrado é a corrente rica em partículas maiores que são incapazes de atravessar a
membrana (Cheremisinoff, 1998; Mulder, 1991)
Estudos apresentados por Nogueira (2013) sugerem que existem dois métodos
clássicos de operar processos de separação por membranas que se distinguem pela
direcção do fluxo em relação a membrana sendo estes: a operação frontal clássica e a
operação por fluxo cruzado ou tangencial.

5 Adaptado de: https://www.youtube.com/watch?v=TWY4dTkfdh0. Acessado a: 26 de Março de 2017.

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 11

Na operação frontal a alimentação dá-se perpendicularmente à posição do meio de


separação e, com o decorrer do processo observa-se uma diminuição do fluxo permeado
devido ao aumento da resistência à transferência de massa que resulta da deposição
de material na superfície da membrana (Cheremisinoff, 1998).
Na operação tangencial ou de fluxo cruzado, a alimentação é feita da forma paralela
à superfície da membrana, o que minimiza a acumulação de impurezas na superfície e
no interior do meio filtrante e, por conseguinte, menor resistência à transferência de
massa que é característico das camaras filtrantes (Mulder, 1991).

Figura 4 - Representação do fluxo frontal e tangencial (Fonte: Maxwell, 2006).

Segundo Cheremisinoff (2002), existem cinco (5) processos de tratamento de água


potável e água residual por meio de membranas designadamente: Electrodiálise (ED),
Microfiltração (MF), Ultrafiltração (UF), Nanofiltração (UF) e Osmose Reversa.

2.1.2.1. Dessalinização por Electrodiálise e por Electrodiálise Reversa


A dessalinização por ED é baseada no movimento selectivo de iões numa solução
aquosa. Neste processo, utiliza-se corrente eléctrica contínua para transferir iões
através de uma membrana que possui grupos de iões fixos quimicamente ligados a
estrutura da membrana. A dessalinização por EDR é baseada nos mesmos princípios
electroquímicos da ED com a diferença de que na operação da EDR há possibilidade de
reversão periódica e automática da polaridade e da função das células que se traduz na
inversão do fluxo dos iões através da membrana. Essa inversão de fluxo, melhora a

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 12

tolerância das membranas ao tratamento de águas propensas à incrustação e também


para águas mais turvas (Silveira et al, 2015).

Figura 5 - Ilustração do princípio de funcionamento de um sistema EDR.6

2.1.2.2. Dessalinização por Microfiltração e por Ultrafiltração


Estes métodos usam uma pressão diferencial menor que a da OR e não dependem
da superação do efeito osmótico. São mais efectivos para o tratamento de efluentes
quando comparado ao tratamento de água salobre ou água do mar. Uma das aplicações
mais notáveis é a retenção de proteínas e gorduras nas respectivas membranas daí o
seu uso intensivo na indústria química. A MF e a UF são também usadas para remover
materiais que causam turbidez em águas de abastecimento bem como, partículas
coloidais incluindo bactérias coliformes, vírus, macromoléculas e microrganismos.
Segundo dados obtidos da literatura, a qualidade do permeado e a evolução da queda
de pressão na MF operada com fluxo frontal é similar ou superior àquela obtida com as
mesmas membranas operadas com fluxo tangencial. Contrariamente, a UF opera
melhor com fluxo tangencial (Cheremisinoff, 1998).

2.1.2.3. Dessalinização por Nanofiltração e por Osmose Reversa


A NF e a OR são processos que utilizam a pressão hidráulica para forçar a
passagem de água de alimentação atrás de uma membrana semipermeável formando
dois fluxos: um de água pura (permeado) e outro do concentrado.

6 Fonte: http://www.hidrodex.com.br/desmineralizadores/. Acessado a: 27 de Março de 2017

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 13

A osmose é um processo natural através do qual a água atravessa uma membrana


semipermeável por acção da diferença de concentração de dois meios separados por
uma membrana (geralmente da fase de menor concentração para a fase com maior
concentração). As plantas usam este mecanismo para extrair água do solo. A força
motriz para sua ocorrência é conhecida como pressão osmótica, que depende da
diferença na concentração de sais de dois meios separados por uma membrana
permeável selectiva. Se uma pressão superior à pressão osmótica da solução for
aplicada no lado da solução concentrada, a água pura atravessa a membrana permeável
selectiva a partir da solução concentrada. A eficiência do processo de OR é maior que
a NF conforme se pode apurar da tabela a seguir extraída da literatura.

Tabela 1 - Comparação da eficiência entre NF e OR (Fonte: Meer, 2013)


Percentagem Removida NF OR

Pesticidas >90% >95%

Dureza (Ca2+, Mg2+) >90% >99%

Sais (Na+, Cl-, NO3-) 50% - 70% >90%

Bactéria, vírus >99,99% >99,99%

Giardia >99,99% >99,99%

Vários processos de dessalinização foram descritos e, em jeito de resumo,


encontram-se abaixo algumas vantagens e desvantagens de algum destes.

Tabela 2 - Vantagens e desvantagens dos processos de dessalinização. (Fonte: Autor)

Processos de dessalinização Vantagens Desvantagens

Destilação por Múltiplo Efeito - Investimento capital reduzido

- Menor consumo de energia que


outros métodos de destilação.
Destilação por Multiestágio Flash - Investimento capital, e
custos de operação e
manutenção mais elevados
que os outros métodos.
Destilação por Compressão de - Custo de capital reduzido
Vapor - Menor consumo de energia que
outros métodos de destilação.

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 14

Dessalinização por electrodiálise - Maior consumo de energia,


e por electrodiálise reversa quanto maior a
concentração de sólidos
suspensos
Dessalinização por Osmose - Menores custos de
Reversa e por Nanofiltração investimento e operação que os
processos de destilação

O processo baseado na OR foi escolhido como ideal para a presente pesquisa pela
sua eficiência na remoção de sais e por acarretar menos custos de investimento
comparando com a destilação. Este processo é descrito em mais detalhes no próximo
capítulo.

2.2. Dessalinização por Osmose Reversa

2.2.1. Princípio de funcionamento

A OR é usada para vários fins que incluem: a dessalinização da água; remoção de


compostos dissolvidos como o arsénico; desinfecção de água; remoção de matéria
orgânica natural dissolvida e a remoção parcial de micros poluentes orgânicos
(hormonas e pesticidas). (Silveira et al,2015).

O princípio de funcionamento de sistemas baseados na OR, é conforme resumido


na figura abaixo:

Figura 6 - Representação do princípio de funcionamento da OR.7

7 Fonte: http://www.wikiartigos.com.br/osmose-reversa-ja-ouviu-falar/. Acessado em: Maio de 2016.

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 15

Na configuração típica de um processo de dessalinização por OR para produção de


água potável, é comum prever-se um estágio de pré-tratamento da água de alimentação
e um estágio de bombagem que tem a finalidade de aumentar a pressão de alimentação
nos vasos que contêm as membranas. Nos vasos de pressão contendo o permeado,
instalam-se tubos que têm a finalidade de conduzir a água que atravessou a membrana
para o(s) reservatório(s), onde sofrerá o pós-tratamento, caso seja necessário. Os vasos
de pressão são geralmente agrupados em paralelo para formar estágios, e os estágios
dispostos em série para manter o fluxo cruzado e um fluxo mínimo adequado de
concentrado. (Silveira et al,2015).

A operação de um sistema de OR pode ser feita de duas maneiras: (i) pressão de


alimentação constante com consequente redução gradual do fluxo de permeado devido
ao aumento da resistência à passagem do líquido pela membrana ou (ii) fluxo de
permeado constante e consequente variação na pressão de alimentação. A recuperação
das condições iniciais de operação (fluxo ou pressão) exige, portanto, que se realize o
backwash (descrito em 2.2.7.2.) das membranas conforme ilustram as figuras a seguir.

Figura 7 - Gráfico de relacção fluxo vs. Tempo e pressão vs. Tempo em sistema OR (fonte: Desalination and
Membrane related technology, 2014)

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 16

2.2.2 Unidades complementares


Como unidades complementares ao sistema OR propriamente dito pode-se recorrer
ao seguinte:

(i) Sistema de Filtração Fina: geralmente na base de filtros que actuam como
unidades de pré-tratamento e têm a finalidade de remover partículas (sólidos e outros)
de dimensão média na faixa dos 5 a 10 μm. A sua inclusão depende de caso para caso
sendo, contudo obrigatória nos casos em que há variações acentuadas na qualidade da
água de alimentação que possam vir a causar danos às bombas de alimentação e/ou
membranas. Nalguns casos, instalam-se filtros à jusante das bombas de alimentação,
devendo-se nesses casos prever-se peneiras de malhas finas para proteger as bombas.

(ii) Controlo da Incrustação: a maioria dos sistemas OR inclui inibidores de


incrustação como unidades complementares e, por vezes, sistemas de adição de
químicos (e.g. poliacrilatos, organofosfatos, polisulfanato, etc.) para o
controlo/prevenção da incrustação (concentração-polarização) na matriz da membrana.
Nestes casos, é obrigatória a inclusão de instalações e equipamentos de
armazenamento e Injecção dos produtos químicos designadamente tanques para o
armazenamento dos produtos a granel (dimensionados para uso diário) e bombas
injectoras das soluções de produto químico. Um dos pontos a ter em consideração na
configuração de um projecto de dessalinização por membranas é o fenómeno de
concentração-polarização. Como a água pura é forçada pela bomba de alta pressão a
atravessar a membrana, uma camada com alta concentração de sais vai se acumulando
do lado da alimentação (fenómeno designado concentração-polarização) criando uma
camada de gel (cake formation) na superfície da membrana cuja concentração de sais
pode atingir níveis várias vezes superiores aos do fluxo de alimentação. Essa camada
que resulta da acumulação de sais pode causar vários problemas operacionais dentre
os quais: a redução da pressão que promove a passagem do líquido através da
membrana; o aumento do transporte de sais através da membrana devido ao aumento
do gradiente de concentração de sais; a precipitação de compostos químicos como o
sulfato de cálcio (CaSO4) e o carbonato de cálcio (CaCO3) por estes tornam-se mais
concentrados na zona de alimentação.
As medidas para controlar a ocorrência deste fenómeno incluem, dentre outros,
manter valores adequados de velocidades do fluxo através da membrana e da

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 17

velocidade e fluxo do concentrado através da unidade, obedecendo obviamente às


recomendações dos fabricantes das membranas no que se refere a vazões mínimas e
queda máxima de pressão máximas durante a operação (Silveira et al, 2015).

Figura 8 - Representação de sistema de OR e unidades complementares.8

2.2.3. Eficiência de Tratamento

Depois de apresentados no subcapítulo 2.1.2. os cinco métodos de tratamento por


membranas, conclui-se que o primeiro método descrito (ED/EDR) é baseado no princípio
de troca iónica, enquanto os restantes usam o diferencial de pressão.
Na ordem descrita em 2.1.2., as membranas utilizadas em cada método apresentam
poros de diâmetros progressivamente menores. A principal diferença entre a MF, UF,
OR e NF reside no tamanho dos poros das membranas, facto que obriga ao uso de
pressões distintas em cada processo e por causa disso, aplicações distintas para cada
método. A medida que se diminui os tamanhos dos poros a pressão necessária para
que se obtenha um fluxo viável é proporcionalmente maior sendo igualmente maior a

8 Adaptado de: https://portuguese.alibaba.com/product-detail/reverse-osmosis-purify-water-system-ro-


drinking-water-treatment-plant-drinking-water-treatment-ro-system-60157976923.html. Acessado a: 27 de
Março de 2017.

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 18

eficiência de remoção de partículas através da membrana conforme ilustra a figura a


seguir (Cheremisinoff, 1998).

Figura 9 - Eficiência dos diferentes tipos de membrana na remoção de impurezas diversas (Fonte: Meer, 2013)

2.2.4. Consumo de Energia


Os processos de dessalinização por membranas requerem muita energia para o seu
funcionamento. No processo de dessalinização por ED, usa-se energia eléctrica para a
transferência de iões através da membrana e também para o bombear a água. Já nos
outros sistemas, o consumo de energia eléctrica está directamente ligado ao sistema de
bombagem. Na OR, são usadas bombas de alta pressão para transmitir a água por tratar
aos vasos que contém as membranas (Silveira et al, 2015)

Valores típicos de pressão e consumo de energia por m 3 de caudal tratado são


indicados na tabela abaixo.

Tabela 3 - Pressão e energia típicas nos processos de dessalinização por OR (Fonte: Kennedy, 2014)

Processo de Dessalinização Pressão (bar) Energia


Específica
(KWh/m3)
OR (em água salobra) 10-20 0.5 - 1
Membranas
OR (em água do mar) 50 - 90 2-4

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 19

2.2.5. Pré-tratamento
A inclusão de unidades de pré-tratamento depende das características da água a
tratar e é essencialmente concebido para minimizar o potencial de ocorrência de
incrustação e a rápida colmatação das membranas por uma camada com alta
concentração de sais que se forma do lado da alimentação.
Vários modelos de pré-tratamento podem ser usados, contudo, os mais comuns são:
a MF, UF, filtros de carbono ou carvão activado, filtros rápidos de areia e filtros lentos. A
MF e UF são usadas com o intuito de reduzir por retenção o conteúdo de sólidos
suspensos. Os filtros de carbono ou carvão activado nas várias formas são usados para
reduzir o índice de cloretos pois a longo prazo a presença de cloretos danifica as
membranas.
Os filtros rápidos de areia e os filtros lentos são usados para promover a remoção
de sólidos e material em suspensão, matéria coloidal e/ou dissolvida, remoção/oxidação
de matéria inorgânica/orgânica e, remoção de microrganismos.

Já no que diz respeito ao potencial de incrustação das membranas, a avaliação da


agressividade da água bruta é um dos factores determinantes para a eficiência e
dimensionamento de uma estação de dessalinização.

Agressividade da água bruta


A determinação da agressividade da água bruta é considerada importante, pois
elevados níveis de Carbonato de Cálcio podem levar a incrustação rápida da membrana.
A agressividade da água tem influência directa no tipo de membrana a ser usada. Esta
agressividade é avaliada através dos índices de Langelier e Ryznar segundo as
expressões abaixo:
𝐼𝐿 = 𝑝𝐻𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜 − 𝑝𝐻𝑆𝑎𝑡 (1)
Onde:
𝐾
𝑝𝐻𝑆𝑎𝑡 = − log 𝐶𝑎2+ − log 𝐻𝐶𝑂3 − − log 𝐾 2 (2)
𝑠𝑝

Quando:
-1 < IL < 1 água encontra-se em equilíbrio;
IL > 1 água irá precipitar pelo elevado teor de carbonato de cálcio (agua
incrustante);

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 20

IL < -1 água é agressiva.

2.2.6. Pós – Tratamento


O permeado de estações de tratamento por OR pode exigir tratamento posterior
cujo propósito é garantir segurança do ponto de vista microbiológico e, controlar o
potencial de corrosão dos materiais, tubagens e válvulas, colocadas a jusante do
tratamento.
A falta de cálcio e hidrogenocarbonato e o baixo pH, podem tornar a água agressiva
que tem como consequências a corrosão de condutas de adução e/ou distribuição de
materiais como o betão ou Aço (PVC não se aplica a regra). (Kennedy et al, 2014).
Outros factores que podem causar ou intensificar a corrosão são: altas
temperaturas, baixos teores de sílica, elevado teor de oxigénio dissolvido, dióxido de
carbono livre e baixa taxa de alcalinidade ao cloreto e ao sulfato (Silveira et al, 2015).

Para garantir a estabilização do permeado no que se refere à agressividade, Silveira


et al, 2015, sugerem os seguintes métodos:
• Estabilização com produtos químicos, onde é usado por exemplo o hidróxido de
cálcio (CaOH) ou dióxido de carbono (CO2).
• Mistura com águas que contém concentrações significativas de Cálcio (Ca 2+) ou
Bicarbonato de Cálcio (CaCO3).

2.2.7. Configuração da Membrana

2.2.7.1. Material

Existem dois tipos de membranas que se distinguem pelo tipo de material: orgânico
e inorgânico. As membranas de material orgânico são produzidas na base de material
polimérico e podem ser: policarbonatos, polipropileno, polissulfona, politetrafluoretileno
ou fluoreto de polivinilideno.
As membranas de material inorgânico podem ser: cerâmicas, vidradas ou metálicas.
As membranas podem ainda apresentar diferentes configurações designadamente:
espiral, fibras ocas finas, tubular e placas planas. As configurações, tubular e placas
planas são pouco usuais em processos de dessalinização, mas são amplamente usadas
no processamento de alimentos e em outros sectores industriais (e.g. produção de

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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 21

produtos lacticínios). As outras configurações são as mais comuns nos dias de hoje
quando se trata de OR e NF (Silveira et al, 2015).

Figura 10 - Representação de membrana com configuração em espiral. (Fonte: Silveira et al,2015)

2.2.7.2. Limpeza de Membranas


A lavagem de uma membrana é normalmente feita por injecção de água tratada e
químicos para limpeza das mesmas por contra corrente (backwash), e com caudais
muito superiores aos caudais de filtração. Este princípio de lavagem tem dois objectivos
principais: retirar as impurezas aderidas à superfície da membrana por acção do esforço
cortante resultante da elevação do fluxo, ao que se seguem maiores velocidades de
passagem de água pelos poros, o que permite que as impurezas sejam mais facilmente
removidas e drenadas com água de lavagem. (Adaptado de: Manual Académico de
Abastecimento de Agua – UEM, 1992)

2.3. Variáveis de dimensionamento de um sistema OR

A recuperação do permeado é a principal variável de dimensionamento de um


sistema de tratamento por OR sendo, as outras variáveis, em grande medida dela
dependentes. Esta recuperação é limitada pela composição química da água de
alimentação.
Segundo Silveira et al (2015), outras variáveis, que jogam papel preponderante no
dimensionamento de sistemas do género são:

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 22

- Vazão: o seu valor determinará a área da membrana a ser utilizada e a pressão de


alimentação necessária. A vazão também influencia a taxa de incrustação.
- Taxa de alimentação por vaso: tem impacto na fixação da pressão de alimentação
por causa da queda de pressão do sistema. Ela estabelece a velocidade de fluxo
cruzado e afecta o fenómeno concentração-polarização.
- Qualidade da água produzida: é influenciada pela selecção do tipo de membrana
e pela vazão.
- Temperatura: parâmetro importante na fase de concepção do processo, pois tem
impacto significativo na viscosidade da água, consequentemente na vazão e, portanto,
nos custos operacionais. A temperatura das águas subterrâneas é relativamente
constante, enquanto a temperatura da água obtida de fontes expostas à atmosfera pode
variar muito.

De igual importância para o dimensionamento é a pressão de alimentação do


sistema, sabido que é que toda a energia induzida ao sistema de OR usada para forçar
a água bruta (água de alimentação) a atravessar as membranas. O algoritmo de
dimensionamento abaixo descreve os passos de determinação da pressão de
alimentação necessária e por conseguinte da pressão de elevação necessária nas
bombas de alimentação. O mesmo foi extraído do manual académico da Organização
Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas (UNESCO 9) de Kennedy et al,
elaborado em 2014.
O algorítmo é baseado na verificação da lei de continuidade, equação do balanço
de massas e na pressão osmótica conforme demostram os passos a seguir:

Lei de Continuidade e Recuperação


A lei de continuidade num sistema de membrana diz que a quantidade de água que
entra deve ser igual a quantidade que sai.

9 UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 23

Figura 11 – Representação da Lei de continuidade num sistema de membrana (fonte: Meer, 2013)

Disto resulta:
𝑄𝑓 = 𝑄𝑝 + 𝑄𝑐 (3)
Onde,
Qf – Caudal de alimentação (m3/h)
Qp – caudal do permeado (m3/h)
Qc – caudal do concentrado (m3/h)

A recuperação (𝛾) é dada por:


𝑄𝑝
𝛾= (4)
𝑄𝑓

Equilíbrio de Concentração
A equação de equilíbrio da concentração de sais é dada pela expressão:

𝑄𝑓 ×𝑐𝑓 = 𝑄𝑝 ×𝑐𝑝 + 𝑄𝑐 ×𝑐𝑐 (5)


Sendo:
𝐶
𝑓
𝐶𝑐 = 1−𝛾 (6)
𝐶𝑓 +𝐶𝑐
𝐶𝑓𝑐 = (7)
2

𝐶𝑝 = 𝐶𝑓𝑐 ×(1 − 𝑅𝑒𝑡) (8)


Ou
𝐶𝑓𝑐 ×𝐾𝑠
𝐶𝑝 = (9)
𝐽𝑤
Onde:
Cf – concentração de sal na água de alimentação (mg/l)
Cp – concentração de sal no permeado (mg/l)

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 24

Cc – concentração de sal no concentrado (mg/l)


Cfc – concentração média entre a água de alimentação e o concentrado (mg/l)
Ret – retenção/rejeição de sal (%)
Jw – taxa de filtração ou fluxo. (l/m2.h)
Ks – coeficiente de permeabilidade para o sal (l/m2.h)

Caudal e Fluxo
O caudal de água (Qw) representa a quantidade de água que atravessa uma
membrana e é obtida pelo produto da diferença entre a pressão da água de alimentação
e a do permeado (ΔP), área superficial da membrana (A) e a permeabilidade da mesma
(Kw) segundo a expressão.
𝑄𝑤 = ∆𝑃×𝐴× 𝐾𝑤 (10)
Onde:
Qw – caudal (m3/h) ou (l/h)
ΔP – diferença de pressão (bar)
A – área da membrana (m2)
Kw – permeabilidade da membrana (m3/m2. h. bar) ou (l/m2. h. bar)

O fluxo de água ou taxa de filtração (Jw) por sua vez, corresponde ao caudal que
atravessa a membrana por unidade de área (m 3/m2.h ou l/m2.h) e calcula-se pela
expressão:
𝑄𝑤 ∆𝑃×𝐴× 𝐾𝑤
𝐽𝑤= = (11)
𝐴 𝐴
𝐽𝑤 = ∆𝑃× 𝐾𝑤 (12)

Onde as grandezas foram descritas acima.

Na tabela 4 são apresentados intervalos com valores típicos de taxas de filtração,


fornecidos pela Hydranautics obtidos de experiências conduzidas em estações piloto e
que são recomendados para o pré-dimensionamento de sistemas OR em função do tipo
de fonte de água.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 25

Tabela 4 – Intervalos típicos de taxas de filtração recomendadas para dimensionamento. (Fonte: Manual de
instrução IMSDesign, 2014)

Fluxo
Água de alimentação
(l/m2.h)

Água do mar/superficial 14-24

Água do Poço 24-31

Permeado de OR 34-51

Número de Membranas
Para determinar o número de membranas num sistema de OR usa-se a expressão:
𝑄𝑝
𝑛°𝑚𝑒𝑚𝑏𝑟𝑎𝑛𝑎𝑠 = (13)
𝑄𝑤
e,
𝑛°𝑚𝑒𝑚𝑏𝑟𝑎𝑛𝑎𝑠
𝑛°𝑣𝑎𝑠𝑜𝑠 = (14)
𝑛°𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑣𝑎𝑠𝑜

Onde o número de membranas e número de vasos são grandezas adimensionais.


Onde o número de elementos por vaso para o IMSDesign (no elementos por vaso)
varia de 6 a 8.

Efeito de Temperatura
A permeabilidade das membranas depende da viscosidade da água e como
consequência da temperatura também. As equações de Arrhenius para ajustar estas
grandezas à temperatura de água diferentes de 20 graus são:
𝐾𝑤𝑡 = 𝐾𝑤20 × (1,03)(𝑇−20) (15)
Onde:
Kwt - permeabilidade da membrana à temperatura de alimentação (m3/m2.h.bar)
Kw20 – permeabilidade da membrana a 20oC (m3/m2.h.bar)
T – Temperatura (oC)

Rejeição de sal do permeado


A salinidade da água de alimentação determina as características das membranas
a usar. Estas características influenciam no nível de salinidade do permeado.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 26

Para simplificação dos cálculos, é comum assumir-se que a rejeição de sal é


constante e corresponde a 99,7% de acordo com a experiência dos fabricantes de
membrana. Porém esta grandeza pode ser calculada.
A rejeição é dada por:
𝑐𝑝
𝑅𝑒𝑡 = 1 − (16)
𝑐𝑓
Onde:
Ret – retenção/rejeição de sal (adimensional ou %)
Cp e Cf – descritas na equação 5.

Factor de Incrustação
Como mencionado anteriormente, um dos pontos a ter em consideração na
configuração de um projecto de dessalinização por membranas é o fenómeno de
concentração-polarização, por causa da formação da camada com alta concentração de
sais que se acumula do lado da alimentação na superfície da membrana.
O factor de incrustação é dado por:
𝑄𝑝
𝛽 = 𝐾𝑃 × 𝑒 𝑄𝑐 (17)
Onde:
β – factor de incrustação (adimensional);
KP – constante dependente da geometria da membrana (adimensional).
QP e QC – Caudais do permeado e concentrado, respectivamente.

Energia Necessária
Para o cálculo da energia necessária num sistema por OR, é necessário determinar
a pressão efectiva (NDP) para possibilitar a passagem da água através da membrana
(NDP) que é dada pela expressão:

∆𝑃
𝑁𝐷𝑃 = 𝑃𝑓 − − ∆𝜋𝑎𝑣𝑔 − 𝑃𝑝 (18)
2
Onde:
NDP – pressão efectiva (Net Driving Pressure) (bar)
Pf – pressão da água de alimentação (unidades) (bar)
ΔP – diferença de pressão na entrada e saída do vaso (~0,2bar)
Pp – pressão do permeado (bar)

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 27

Δπavg – média da pressão osmótica do permeado e da água alimentação (bar) que é


dada por:
∅×𝑅×𝑇×𝑐
𝜋= (19)
𝑀
Onde:
π – Pressão osmótica (N/m2)
c – concentração (g/m3)
M – massa molecular (g/mol)
R – constante universal de gás [8,3143J/ (K.mol)]
T – temperatura (K)
ϕ – Número de iões

Porém, o IMSDesign considera para o cálculo da pressão osmótica que 0,76 bars
corresponde a 1000 ppm ou mg/l. (Rule of Thumb)

0,76
𝜋 = 𝐶× (20)
1000
Onde:
C – concentração (mg/l)

2.4. O IMSDesign

Conforme mencionado na introdução, para o dimensionamento da ETA de


dessalinização recorreu-se a um programa de cálculo automático IMSDesign que é um
programa desenvolvido pela Hydranautics, um dos maiores fabricantes de membranas
a nível mundial, para o dimensionamento de sistemas de dessalinização por OR.
O uso do programa requer a introdução de dados de qualidade de água bruta da
fonte escolhida e de características referentes a fonte de captação (definição do tipo de
água a usar). Uma vez introduzidos os dados de qualidade da água bruta, o programa
faz uma análise no balanço iónico e a partir desta, são seleccionadas automaticamente
as membranas ideais para o caso em estudo. Posteriormente o programa corre rotinas
que permitem o cálculo da pressão de alimentação necessária na bomba de alta pressão
e a energia específica requerida no sistema.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 28

O software IMSDesign faz o dimensionamento em três etapas o dimensionamento


dos sistemas em três etapas. O algoritmo de cálculo é iterativo pois o programa assume
inicialmente uma pressão de alimentação para satisfazer uma recuperação de permeado
pré-estabelecida. Depois é calculado o desempenho do primeiro elemento do sistema,
o concentrado do primeiro elemento torna-se a alimentação para o segundo elemento,
e é feito um segundo cálculo do desempenho do elemento, e assim sucessivamente, de
elemento para elemento através da disposição completa do desenho proposto. O
programa então soma o fluxo de permeado de todos os elementos e compara esse valor
com o valor pré-estabelecido. O programa ajusta a pressão de alimentação com base
nesta comparação, e volta a calcular a pressão em cada elemento até convergir na
pressão de alimentação requerida para conseguir a recuperação de permeado
pretendida dados os parâmetros de sistema definidos pelo utilizador.

A primeira etapa consiste na introdução da temperatura, tipo de água bruta, dados


de qualidade de água bruta e o pH. Posteriormente o programa verifica a fiabilidade dos
dados de entrada, corrigindo-os se necessário, com base no balanço de iões
(apresentada no subcapítulo 4.3), calcula a pressão osmótica com base na equação (20)
e outros parâmetros de saturação apresentados na figura abaixo.

A segunda etapa é referente à introdução dos dados do projecto que incluem: o fluxo
do permeado pretendido, a taxa de recuperação pretendida, a idade das membranas, o
factor de incrustação, declínio do fluxo e o aumento da passagem de sais por ano.

A terceira etapa é a execução do projecto onde são apresentados os resultados da


qualidade do permeado e do concentrado e posteriormente são calculados a potência
da bomba, o consumo de energia e os custos do sistema.

Os resultados parciais e totais são apresentados na forma de imagem retirada da


interface do software algumas das quais ilustradas nos capítulos asseguir e em anexo.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 3 – Caso de Estudo: Cidade de Pemba 29

Capítulo 3 – Caso de Estudo: Cidade de Pemba

3.1. Breve História

O caso de estudo da presente pesquisa é sistema de abastecimento de água a


cidade de Pemba que é a cidade capital da província de Cabo Delgado, Norte de
Moçambique. Até 1976 a cidade tinha o nome de Porto Amélia.
A cidade está dividida em 10 Bairros nomeadamente, Paquitiquete, Ingonane,
Cimento, Natite, Cariacó, Alto-Gingone, Eduardo Mondlane, Mahate, Chuiba e Muxara.

Figura 12 - Mapa de Localização da Cidade de Pemba. (Fonte: Relatório sobre a capacidade


institucional do Distrito de Pemba – Metuge, 2012)

3.2. Descrição do Sistema Actual de Abastecimento de Água

Pemba obtém água na planície de inundação do rio Muaguide, localizada a 42 km


Oeste da cidade, mais precisamente no sistema aquífero de Metuge. O rio principal é

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 3 – Caso de Estudo: Cidade de Pemba 30

um rio intermitente com caudais durante 5-6 meses do ano da estação húmida. O campo
de furos que alimenta o sistema de abastecimento de água compreende 13 furos dos
quais apenas 10 operacionais. O sistema de captação comporta para além do campo
de furos, uma estação de tratamento de água concebida para a remoção de ferro e
manganês constituída por uma unidade de aeração por cascatas, 3 câmaras de contacto
paralelas e 3 filtros rápidos de areia. Existem igualmente neste complexo de tratamento
unidades de tratamento de lamas na base de leitos de secagem.

Figura 13 - Esquema do SAA da cidade de Pemba (FIPAG, 2016)

3.2.1. Fonte De Captação – Campo De Furos De Metuge


Conforme mencionado anteriormente, o campo de furos existente compreende 13
furos, dos quais 10 estão operacionais. Dados obtidos da revisão documental e
posteriormente confirmados durante a visita ao campo efectuada ao longo desta
pesquisa sugerem que a capacidade de exploração dos furos operacionais é em média
de 15.000m3/d, podendo contundo chegar aos 16.700m 3/d. Os furos em serviço são de
diâmetro nominal de 8 e 10 polegadas que se ligam através de colectores individuais à
uma conduta de recalque de aço inoxidável com cerca de 5,7 km e diâmetro nominal

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 3 – Caso de Estudo: Cidade de Pemba 31

450mm que se liga à estação de tratamento. Os furos são revestidos com paredes de
PVC e filtros de areia com profundidades entre 40 e 50m.
Actualmente (2016), o sistema de abastecimento foi reforçado com a inclusão de
água extraída em 4 furos reabertos no antigo campo de furos de Chuiba que garantem
um caudal adicional de cerca de 1.505m3/d segundo dados fornecidos pelo FIPAG. Esta
água é conduzida pela conduta directamente para os reservatórios instalados na
estação F.

3.2.2. Estação de Tratamento de Água


A estação de tratamento de água construída em 2007 é uma estação para remoção
de ferro e manganês, que consiste em aeração por cascata, 3 câmaras de contacto
paralelo (floculadores) e 3 filtros rápidos de areia e um reservatório de água tratada com
cerca de 300m3 de capacidade. A mesma localiza-se na Estacão A, e foi projectada para
uma capacidade nominal de 15.000 m3/d, contudo no presente produz-se cerca de
7.327m3/d. A água tratada é posteriormente transferida por recalque para dois
reservatórios de 500m3 localizados no mesmo recinto da ETA onde é misturada com o
caudal (cerca de 7.585m3/d) proveniente de alguns dos furos de captação e que não
passa pela ETA pelo facto de a água extraída não conter teores elevados de ferro.

Floculador

Filtros
rápidos

Aeração
em
cascata

Figura 14 – Imagem ilustrativa da estação de tratamento de água de Pemba. (Fonte: Autor)

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 3 – Caso de Estudo: Cidade de Pemba 32

3.2.3. Bombagem, Transmissão e Reserva

A distância entre a estação A e o principal centro de distribuição da cidade (estação


F), é de aproximadamente 42km. Ao longo do percurso existe uma estação de
bombagem (Estação D) que permite a transição entre o troço gravítico (Estação C-
Estação D) e o troço por recalque que vai desta à estação F. A adutora principal da
estação A à estação F (diâmetro nominal de 450mm) é em ferro fundido.
A estação A (também chamado de Ponto A) localiza-se na estação de tratamento e
consiste de uma cisterna de 300m3, dois reservatórios apoiados de 500m3 e uma
estação elevatória com 3 bombas, que funcionam alternadamente durante o dia. O troço
entre a estação A e a estação C é por recalque e consiste de uma adutora de 450mm
em ferro fundido. A estação C (Ponto C) consiste de 3 reservatórios em balanço com
300m3 em cada um deles. Esta estação não apresenta bombas. Da estação C a água
corre por gravidade para a estação D (Ponto D), que é a estação elevatória, equipada
com 3 bombas, de onde a água é levada para a estação F (Ponto F). Antes da estação
F, encontra-se a subestação E (Ponto E), que consiste de uma torre de 100m3 e asseguir
a subestação Mahate/Muxara, que consiste de uma cisterna de 100m 3, que através de
2 bombas, bomba a água para uma torre de 50m 3. A estação F consiste em 4
reservatórios apoiados em balanço de 2500m3 que abastecem a cidade e os
reservatórios da estação F1 (Ponto F1) por gravidade. A estação F1 consiste em uma
cisterna de 800m3 e uma torre de 80m3 com uma estação elevatória equipada de 3
bombas.

3.2.4. Centros Distribuidores e Rede de Distribuição

O armazenamento de água principal na cidade de Pemba é feito nas estações F e


F1. O armazenamento total de todas as estações é de 14.080 m 3 que é
aproximadamente 100% da actual capacidade diária da estação de tratamento de água.
Existem também 5 localidades ao longo do curso da adutora principal que tem
acesso a água através de fontenários, nomeadamente Nangua, Mieze, Murrebué,
Muxara e Mahate. As localidades de Murrebué e Metuge, eram também beneficiados
por essa distribuição, até que foram feitos 2 furos em cada uma das regiões, e a
população passou a ser abastecida directamente pela água dos furos.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 3 – Caso de Estudo: Cidade de Pemba 33

O serviço de distribuição na cidade de Pemba funcionava em média durante 20h por


dia em 2009, com frequentes interrupções e racionalização devido as limitações do
fornecimento água. Actualmente, este funciona em média 14h todos os dias, e sofre
algumas interrupções em alguns bairros.
A rede de abastecimento de água foi construída em 1986, porém, é verídico assumir
que a maioria das condutas de água na rede foram construídas depois disso (1992). Os
vários tipos de serviço em Pemba incluem ligações a porta do quintal, ligações
domiciliárias e fontenárias.
Existem algumas zonas críticas com dificuldade de receber água do sistema. Para
estas zonas, a água é abastecida em horários alternativos (durante a noite) e de forma
racionalizada.

3.2.5. Perdas de Água


Os dados fornecidos pelo FIPAG indicam que as perdas de totais água 7,716m 3 por
dia que representavam 53.8% da média de água diária de água captada nos campos de
furos em Metuge e Chuiba. Estas perdas, contabilizadas para o ano de 2016, foram
definidas como perdas na produção, na adução e na distribuição. As perdas totais
incluem a perda de água em fugas na adutora e/ou na rede, lavagem de filtros na ETA
e limpeza dos furos.

3.2.6. Operação e Manutenção


A manutenção dos furos é feita de 6 em 6 meses, preferencialmente antes da época
chuvosa, e no fim da mesma. Isto porque alguns furos se localizam em lugares de difícil
acesso e durante a época chuvosa este acesso é ainda mais dificultado. As actividades
de manutenção dos furos consistem em limpeza e manutenção de Postos de
Transformação (PTs) dos furos.
Na estação de tratamento de água, os filtros rápidos de areia são lavados através
do backwash ou do compressor de ar duas a três vezes por semana. Essa lavagem dura
em média 15 minutos.
Há nas principais estações (estações A, C, D e F) operadores que registam
diariamente leituras feitas nos contadores de entrada e saída das estacoes, bem como
notificar a existência de qualquer problema na conduta adutora ou em algum dos
equipamentos.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 34

Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização

4.1. Localização da ETA

A ETA proposta, baseia no tratamento de água do mar com recurso a membranas


de OR. Para a sua localização, foram estudados três locais possíveis conforme ilustrado
na figura 15.
A opção 1 localiza-se a cerca de 2.5 km da estação F, que é uma zona não habitada
e também sem actividade turística de realce.
A opção 2 localiza-se na região de Chuiba, próximo do campo de furos que outrora
alimentou a cidade e que presentemente tem ainda alguns furos em exploração para
reforço do caudal produzido no campo de furos de Metuge. O local proposto é uma zona
que para além de habitações tem também algumas instâncias turísticas construídas.
A opção 3 localiza-se no bairro de Paquitequeteque e é a zona mais baixa da cidade,
o que significa que para além da construção da ETA há necessidade de construção de
uma estação elevatória para elevar o caudal tratado até à estação F que se localiza a
cerca de 6km de distância. A localização da ETA neste local pressupõe ainda a
demolição de algumas habitações dado que a zona é densamente povoada.
Das 3 opções de localização estudadas a opção 1 foi escolhida como a ideal pelas
seguintes razões:
• Proximidade da estação F e, por conseguinte, exigir menor extensão de adutora;
• Localizar-se numa zona pouco habitada e sem actividade turística e, por
conseguinte, sem necessidades de demolição de habitações.
• Acesso fácil até a ponto proposto de captação.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 35

Opção 3

Opção 2
Opção 1

Figura 15 - Mapa de localização das opções para a ETA de dessalinização, com foco para solução escolhida.
(Fonte: Autor)

Do ponto de vista conceptual, o sistema proposto compreenderá uma única adutora


de água bruta com cerca de 320 m de extensão, dois reservatórios de água bruta de
150m3 de capacidade individual (capacidade total equivalente ao armazenamento na
estação A), a ETA propriamente dita, uma adutora de água tratada (permeado) ligada a
dois tanques de armazenamento de 500m3 de capacidade individual (equivalente ao
armazenamento na estação A). Prevê-se ainda uma estação elevatória de água tratada
e respectiva adutora, com aproximadamente 2,1 km), de ligação à estação F onde
poderá sofrer posteriormente a clorinação.

Para a componente de tratamento prevê-se um sistema composto por: sistema de


controlo de incrustação (injeção de tratamento químico, caso necessário), sistema de
pré filtração para a redução da turvação (caso necessário), bomba de alta pressão,
sistema de membrana OR e um sistema de limpeza de membranas. O sistema de
membrana OR engloba os vasos que contém as membranas.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 36

4.2. Caudal de Dimensionamento

A ETA de dessalinização será dimensionada para a mesma capacidade de


produção do campo de furos de Metuge, que corresponde em média a 15,000m 3/d,
segundo dados do FIPAG, recolhidos em visita ao campo.

4.3. Qualidade da Água Bruta

4.3.1. Água do mar


4.3.1.1. Análises e Resultados

Para o correcto dimensionamento da ETA foram realizados testes de caracterização


da qualidade de água com base em amostras de água bruta colhidas no local escolhido
para a instalação da ETA.
Os testes conduzidos permitiram determinar as características físicas,
organolépticas e químicas da água naquele ponto. Os testes realizados compreenderam
a determinação/medição de: cor, turvação, temperatura, pH, condutividade eléctrica,
Cálcio (Ca2+), Alcalinidade total, Alcalinidade com Fenolftaleína como indicador
(Alcalinidade P), Alcalinidade com Alaranjado de Metila como Indicador (Alcalinidade M)
Ferro (Fe3+), Magnésio (Mg2+), Sódio (Na+), Potássio (K+), Sílica (SiO2), Ião Sulfato
(SO42-), Fosfatos (P4+), Amónia (NH4), Cloreto (Cl-), Nitratos (NO3-), Nitritos (NO2-) e
matéria orgânica. Os testes foram realizados em dois laboratórios distintos
designadamente, o laboratório de qualidade de água do FIPAG em Pemba e o
laboratório de qualidade de água da Faculdade de Engenharia da Universidade Eduardo
Mondlane (FEUEM) em Maputo.

No laboratório de qualidade de água no FIPAG-Pemba foram realizados testes de:


turvação, pH, temperatura, condutividade, alcalinidade total, cálcio e dureza total. Para
o efeito foram colhidas amostras nos dias 6 de Setembro de 2016 as 12:21 e 8 de
Setembro de 2016 às 11:56. Os resultados dos testes são apresentados na tabela 5 a
seguir.
No laboratório de qualidade da água da FEUEM foram realizados testes de cor,
turvação, Condutividade Eléctrica, Fosfatos, Nitrito, Nitrato, Amónia, Cloreto, Cálcio,

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 37

Ferro, Alcalinidade M e P, Magnésio e Sulfatos. Para o efeito foi enviada uma amostra
colhida no dia 10 de Setembro de 2016 às 14:40 e 29 de Setembro as 10:50. Os
resultados obtidos são também apresentados na tabela 5.

Devido a discrepância entre os valores e a não homogeneidade dos testes


realizados, foram realizados testes adicionais (parâmetros físico-químicos) no
laboratório da Águas da Região de Maputo, a fim de apurar valores mais realísticos. Os
resultados obtidos são também apresentados na tabela a seguir e no Anexo 2. Por terem
sido considerados como os mais fiáveis, os estes resultados foram os usados no
dimensionamento da ETA.

Tabela 5 - Resultados laboratoriais de caracterização de qualidade da água do mar. (Fonte: Autor)


Parâmetro Unidades Amostra Amostra Amostra Amostra Resultados
Físico-Químico 06/09/16 08/09/16 10/09/16 29/09/16 AdeM
Temperatura °C 31,50 30,00 - - 23,50
pH - 8,08 8,26 - - 8,14
Alcalinidade mg/l 150,00 140,00 - - 128,00
Alcalinidade P mgCaCO3/l - - 37,00 83,00 -
Alcalinidade M mgCaCO3/l - - 165,00 130,00 -
Condutividade μMho/cm 54.800,00 56.600,00 51.500,00 - 64.000,00
eléctrica
STD mg/l - - - - 44.032,00
Turvação mg/l 4,13 4,19 2,77 - 6,79
Cloretos mg/l - - 797 - 20.383,75
Fosfato mg/l - - 0,00 - <0.05
Sulfato Mg/l - - 130,00 130,00 -
Cálcio mg/l 152,30 129,86 431,08 500,00 460,92
Magnésio mg/l 170,24 158,63 12,50 24,00 1.427,40
Sódio mg/l - - - - 14.400.00
Potássio mg/l - - - - 440,00
Dureza total mg/l 850,00 780,00 - - 7.000,00
Nitrato mg/l - - 0,00 - 0,00
Nitrito mg/l - - 0,00 0,01 0,01
Amónio mg/l - - 0,00 0,23 10,15
Ferro mg/l - - 0,02 0,08 0,21
Sílica mg/l - - - - 1,10
Bicarbonato mg/l - - - - 156,21

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 38

Parâmetro Unidades Amostra Amostra Amostra Amostra Resultados


Físico-Químico 06/09/16 08/09/16 10/09/16 29/09/16 AdeM
Carbonato mg/l - - - - 0,00

4.3.1.2. Balanço Iónico


O balanço iónico foi realizado com o intuito de verificar a precisão das
determinações. Este é um procedimento padrão de verificação da fiabilidade dos dados
onde o somatório de catiões (espécies na solução com carga positiva) e aniões
(espécies na solução com carga negativa) deve ser igual. A existência de uma margem
de erro até 10% significa que os dados colhidos são fiáveis.

Para o presente caso recorreu-se à uma das sub-rotinas de cálculo do programa


IMSDesign cujo resultado indicou uma diferença de 26% entre catiões e aniões (vide
fig.1 em anexo 5.1.), para um limite máximo admitido segundo o manual do IMSDesign
de 10%. Como forma de corrigir esta discrepância, recorreu-se às características padrão
de qualidade de água do mar (salgada) obtidos da literatura e que são apresentadas na
tabela 6, e assumiu-se tais valores para os parâmetros que não tinham sido testados
nomeadamente, Bário, Estrôncio, Sulfatos, Fluor, Fosfatos e Boro.

Tabela 6 - Composição Padrão da água do mar. (Fonte: Millero, 2008)


Ião Unidades Concentração
Cálcio mg/l 420
Magnésio mg/l 1,320
Sódio mg/l 10,880
Potássio mg/l 400
Bário mg/l 0.05
Estrôncio mg/l 13
Ferro mg/l < 0.02
Manganês mg/l < 0.01
Sílica mg/l 2.0
Cloreto mg/l 19,800
Sulfato mg/l 2,740
Fluor mg/l 1.3
Brometo mg/l 65
Nitrato mg/l < 0.7
Bicarbonato mg/l 150

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 39

Ião Unidades Concentração


Boro mg/l 4-5
STD mg/l ≈35,000
pH - 8.1 – 8.2 (-)

Uma vez que os resultados do balanço iónico realizado mostravam que os valores
ainda não se encontravam em equilíbrio (vide figura 2 do anexo 5.1), o IMSDesign
sugeriu uma correcção sublinhando os parâmetros cujas concentrações podem ser
ajustadas. Os resultados finais apresentam-se na figura abaixo.

Figura 16 - Balanco Iónico equilibrado para água do mar. (Fonte: IMSDesign)

4.3.1.3. Determinação parâmetros/características globais

Dureza Total

A determinação da dureza da água foi feita com o intuito de verificar o potencial de


incrustação das membranas devido à presença de concentração elevadas de catiões
multivalentes (tais como Magnésio e Cálcio), tendo-se recorrido à seguinte expressão:

𝐷𝑇 = [𝐶𝑎2+ ] + [𝑀𝑔2+ ] = 140,48 𝑒𝑞/𝑚3


Agressividade
Calculada a partir das equações 1 e 2 e os dados relevantes de qualidade da água
bruta determinados anteriormente, produziu os seguintes resultados:

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 40

𝑝𝐻𝑆𝑎𝑡 = 4,43
𝑝𝐻𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜 = 8,17
𝐼𝐿 = 3,71 (água incrustante)

4.3.2. Água salobra


4.3.2.1. Análises e Resultados

As análises de qualidade desta fonte de água bruta foram adquiridas de um estudo


científico10, para que se possa simular uma ETA com fonte de água sendo salobra, por
não existir uma fonte na cidade do caso em estudo ou arredores com grande capacidade
de exploração. Os testes conduzidos na amostra colhida foram: Cor, pH, Condutividade,
Bicarbonato, Boro (B3+), Cálcio (Ca2+), Carbonato(CO32-), Cloro (Cl-), Fluor (Fl-),
Hidróxido (OH-), Magnésio (Mg2+), Nitrato (NO3-), Potássio (K+), Sílica (Si2+), Sódio (Na+),
Sulfato (SO42-) e Ferro (Fe3+).

Tabela 7 - Dados de qualidade de água bruta salobra.

Parâmetro
Unidades Resultados
Físico-Químico
pH - 7,6
Condutividade mS/cm 12,62
Alcalinidade mg/l 213
Bicarbonato mgCaCO3/l 212
Boro mg/l 23,5
Cálcio mg/l 462
Carbonato mgCaCO3/l 1
Cloreto mg/l 1060
Fluor mg/l 10
Hidróxido mgCaCO3/l 1
Magnésio mg/l 284
Nitrato mg/l 47
Potássio mg/l 5

10McCool, Brian Carey. High Recovery Desalination of Brackish Water by Chemically-Enhanced Seeded
Precipitation. Dissertation. University of California. 2012.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 41

Parâmetro
Unidades Resultados
Físico-Químico
Sílica mg/l 31
Sódio mg/l 2780
Sulfato mg/l 6360
Ferro mg/l 0,05
STD mg/l 11.276

4.3.2.2. Balanço Iónico


De forma similar foi realizado o balanço iónico para a amostra de água salobra.

Figura 17 - Cálculo do balanço iónico pelo IMSDesign para água salobra. (Fonte: IMSDesign)

O resultado da verificação mostra que a diferença entre os catiões e aniões da


amostra acima foi de 0,1%, pelo que se conclui então a fiabilidade dos dados inseridos
para o dimensionamento da ETA de dessalinização.

4.3.2.3. Determinação de parâmetros/características globais

Dureza Total
A determinação da dureza da água resultou em:
𝐷𝑇 = 46,43 𝑒𝑞/𝑚3

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 42

Agressividade
Calculada a partir das equações 1 e 2 e os dados relevantes de qualidade da água
bruta determinados anteriormente, produziu os seguintes resultados:

𝑝𝐻𝑆𝑎𝑡 = 6,39
𝑝𝐻𝑚𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜 = 7,6
𝐼𝐿 = 1,21 (água incrustante)

4.4. Apresentação dos Resultados do Dimensionamento

A pesquisa pretende comparar a potência instalada e a energia específica do


sistema actual com um sistema de dessalinização de água do mar e água salobra. Para
isso a ETA de dessalinização foi dimensionada para uma capacidade de 15,000m 3/d
que corresponde a capacidade do sistema de abastecimento a cidade de Pemba para o
ano de 2016, como mencionado anteriormente.

Conforme mencionado anteriormente, para o dimensionamento da ETA recorreu-


se à um programa de cálculo automático IMSDesign desenvolvido pela Hydranautics,
que faz o dimensionamento dos sistemas em três etapas. O algoritmo de cálculo é
iterativo pois o programa assume inicialmente uma pressão de alimentação para
satisfazer uma recuperação de permeado pré-estabelecida.

Para o presente caso, o fluxo do permeado foi definido como sendo correspondente
à produção nominal da ETA que actualmente serve o sistema e que opera durante
24h/dia segundo dados do FIPAG. Assim, o caudal de necessário de permeado foi
calculado como:
Qp = 15,000m3/d = 625m3/h

As taxas de recuperação foram escolhidas através de tentativas onde o primeiro


valor assumido foi o máximo de recuperação recomentado pela “Guia de projecção de
sistema de membranas por OR de Lewabrane que sugere taxas de recuperação
menores que 50% para sistemas tratando água do mar e, com um único estágio de
tratamento e de menores que 80% para sistemas tratando água salobra e, com dois

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 43

estágios de tratamento. No caso presente reduzindo-se hipoteticamente em 1% (valor


mínimo possível), a taxa de recuperação em cada etapa de tratamento obteve-se os
valores finais para sistema OR tratando água salgada de 45% e para sistema OR
tratando água salobra de 60%.

Tabela 8 - Taxa de Recuperação de acordo com a fonte de água. (Adaptado de: Guia de Projecção de sistema de
membranas por OR de Lewabrane)
No de
Fonte/Tipo de Água Recuperação
Estágios
SWRO11 1 <50%
BWRO12 2 <80%
SWRO (alta recuperação) 2 <60%

SWRO (Alta recuperação 2 <90%


com recirculação)
BWRO (alta recuperação) 3 <90%

BWRO (Alta recuperação 3 <95%


com recirculação)

A idade das membranas foi escolhida com base nas recomendações contidas em
Silveira et al (2015) que sugerem 3 a 5 anos para membranas celulósicas13 e 5 a 7 anos
para membranas não celulósicas. Sendo as membranas escolhidas para o
dimensionamento, membranas de poliamida14 do fabricante Hydranautics, tratando
através do sistema OR água do mar e, água salobra o valor adoptado para idade das
membranas foi de 3 anos.
O factor de incrustação foi calculado pelo programa com base na equação 17 tendo
se assumido um valor de 1.1 para a variável Kp para membranas em espiral. O declínio
do fluxo e o aumento da passagem de sais por ano são definidos pelo programa de
acordo com o tipo de fonte de água. Na tabela a seguir são resumidos os valores

11 SWRO – Sea Water Reverse Osmosis/ Osmose reversa de Água do mar.


12 BWRO – Brackwish Water Reverse Osmosis/ Osmose Reversa de Água salobra.
13 Membrana Celulósica – é a estrutura de revestimento e proteção da célula vegetal, constituída

principalmente de celulose.
14 Poliamida – é um polímero termoplástico.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 44

recomendados em função do tipo de fonte. No caso presente foi adoptado um valor de


7% para fluxo de declínio por ano.

Tabela 9 - Valores típicos de Fluxo de declínio e aumento de passagem de sal por ano. (Fonte: IMSDesign)
Fluxo de Aumento de
Parâmetro Declínio por passagem de sal
Ano por Ano
Unidade % %
Nível Típico Típico
Poço Salobre sem Incrustação 5 7
Poço Salobre Alta Incrustação 7 7
Superfície Salobre Convencional 7 10
Superfície Salobre MF/UF 7 7
Mar Poço Convencional 5 7
Mar Superfície Convencional 7 10
Mar Superfície MF/UF 5 7

Para a escolha da membrana a usar o programa dá três opções de escolha


designadamente: membranas consideradas ideais, todas as membranas do fabricante
Hydranautics e, membranas seleccionadas de acordo com o tipo de água. No caso
presente, após a definição da produção do sistema e do tipo de fonte de água, foram
seleccionadas como melhor opção, as membranas com a designação, SWC5-1640 e
CP3 para água do mar e salobra, respectivamente (vide Anexos 3 e 4).

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 45

Figura 18 - Ilustração do campo de selecção do tipo de membrana pelo IMS Design. (Fonte: IMSDesign)

Para definir o número de elementos a usar na primeira iteração, recorreu-se ao


algoritmo proposto por Kennedy et al (2014) que consiste no cálculo da pressão de
alimentação do sistema OR, em duas fases. A primeira fase calcula a pressão requerida
no sistema na seguinte sequência: Cálculo do número de elementos e vasos, cálculo da
concentração do permeado e concentrado, cálculo da permeabilidade da membrana e,
cálculo da pressão líquida necessária. A segunda fase calcula a pressão requerida no
sistema em cada um dos elementos do projecto cujo somatório é posteriormente
comparado com a pressão calculada na primeira fase. Este calculo só termina quando
as pressões calculadas nas duas fases convergem.
Como mencionado no subcapítulo 2.2.4., em sistemas OR tratando água do mar, os
valores típicos de pressão de alimentação variam de 50 a 90 bars (valores elevados
devido a concentração de sal na água de alimentação) e como forma de evitar a perda
de energia do concentrado, são usados dispositivos de recuperação de energia (ERD).
Por este motivo no dimensionamento do sistema OR para água do mar foi considerada
a inclusão de um ERD.
Os cálculos apresentados em anexo (vide anexos 5.1. e 5.2.) referem-se à primeira
fase do algoritmo e foram realizados pelo autor. Pela complexidade existente para
calcular a segunda fase do algoritmo, estes cálculos foram realizados recorrendo-se às
sub-rotinas específicas do IMSDesign e são apresentados nas fichas de projecto
apresentadas em anexo (Vide anexo 6 e 7).

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 46

Na tabela abaixo são apresentados os resultados do dimensionamento para água


salobra e do mar, respectivamente. Os resultados detalhados (somente para primeira
fase) de cada etapa de cálculo encontram-se em anexo (vide anexos 5.2-5.4).

Tabela 10 - Resumo de resultados de dessalinização. (Fonte: Autor)

Potência Instalada(kW) Energia Específica(kWh/m3)


Água salobra 560,8 0,9
Água do mar com ERD 1622,5 2,6
Água do mar sem ERD 3385,2 5,42

Os diagramas de fluxo resultantes do dimensionamento realizado pelo IMSDesign


para o sistema OR tratando água do mar e água salobra respectivamente são ilustrados
nas figuras que se seguem.

Figura 19 - Diagrama de fluxo para sistema de OR tratando água salobra e sem ERD. (Fonte: IMSDesign)

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 47

Figura 20 - Diagrama de fluxo para sistema OR tratando água do mar com ERD. (Fonte: IMS Design)

Figura 21 - Diagrama de fluxo para sistema OR tratando água do mar sem ERD. (Fonte: IMS Design)

Aos valores de potência total de bombeamento obtido na ETA de dessalinização


para sistemas OR tratando água do mar e água salobra respectivamente devem ser
adicionados os valores das potências das bombas de sucção do ponto de captação aos
reservatórios de água bruta e de elevação dos reservatórios de água tratada à estação
F. O dimensionamento destas duas bombas fez-se com recurso ao programa de
Grundfos Product Center do fornecedor GRUNDFOS15, com base nos valores de
elevação das duas condutas (correspondentes a 16 e 96m do ponto de captação à ETA

15 Dimensionamento de bombas: http://pt.grundfos.com/produtos.html. Acessado a: 9 de Julho de 2017.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 4 – Dimensionamento da ETA de Dessalinização 48

e da ETA à estação F, respectivamente) obtidas através de perfis de terreno disponível


no Google Earth.
Para o dimensionamento das bombas são introduzidos no programa os dados de
caudal, altura manométrica e as especificações da bomba (função/finalidade). As
bombas resultantes deste dimensionamento foram NK 150-315/282 e NK 150-400/438
cujas potências instaladas foram de 42,03kW e 195,9kW para as bombas da captação
à ETA e da ETA à estação F, respectivamente. As curvas das bombas e especificações
técnicas encontram-se em anexo (Vide anexos 8 e 9).

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 49

Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados


5.1. Validação dos resultados obtidos
Segundo Kennedy et al (2014) baseado em resultados de monitoramento de
sistemas de dessalinização por OR tratando água do mar ou água salobra, os valores
de pressão e energia específica por m3 de água produzida recomendados para efeitos
de dimensionamento e propósitos operacionais devem situar-se nos intervalos indicados
na tabela a seguir.

Tabela 11 - Valores esperados de pressão e energia. (Fonte: Kennedy et al, 2014)


Pressão de Energia
Processo de
alimentação específica
Dessalinização
(bar) (kWh/m3)
OR (em água salobra) 10-20 0.5-1
OR (em água do mar) 50-90 2-4

Para o sistema de dessalinização em consideração, os resultados obtidos para


condições de funcionamento (caudais de produção) iguais às do sistema que
actualmente serve a cidade de Pemba são resumidos na tabela a seguir.

Tabela 12 - Resultado de pressão de alimentação e energia específica pelo IMS Design. (Fonte: Autor)
Pressão de Energia
Processo de
alimentação Específica
Dessalinização
(bar) (kWh/m3)
OR tratando água
14,8 0,9
salobra sem ERD
OR em água do mar
68,4 2,58
com ERD
OR em água do mar
66,5 5,38
sem ERD

Conforme se observa na tabela 12, os valores de pressão de alimentação e energia


específica obtidos para o sistema OR tratando água do mar com ERD e os
correspondentes do mesmo sistema tratando água salobra e sem ERD apresentam-se
dentro dos limites recomendados segundo Kennedy et al (2014). Já o mesmo sistema
tratando água do mar sem ERD apresenta valores de energia específica fora do intervalo
recomendado o que se pode dever ao facto de a concentração de STD da água de

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 50

alimentação considerada para o dimensionamento ter sido de 45.216mg/l, quando a


concentração usada para derivar os valores da tabela 12 foi de 35.000mg/l.

Os valores obtidos são assim considerados válidos para a discussão que se segue.

5.2. Influência de um ERD


Segundo Silveira et al (2015), a recuperação de energia tem-se tornado bastante
comum em projectos de sistemas de dessalinização de água do mar por OR dado que
a sua inclusão permite recuperar entre 25% a 35% da energia de entrada.

Os dispositivos de recuperação de energia (ERD) são dispositivos que aproveitam


a pressão de retorno do concentrado devolvendo-a à alimentação. Há quatro tipos
básicos de dispositivos de recuperação de energia (Silveira et al, 2015):

• Roda Pelton;
• Permutador de Trabalho;
• Permutador de Pressão;
• Turbocompressor Hidráulico.

Segundo o mesmo autor, baseado em dados de pesquisa, na dessalinização de


água do mar por OR atingem-se actualmente consumos de energia é em geral menores
que 3kWh/m3 se utilizados ERD.

O dispositivo usado pelo IMSDesign é o permutador de pressão, onde a sua


principal função é melhorar a eficiência do sistema em relação ao consumo de energia,
aproveitando a energia gasta do concentrado e devolvendo-a à alimentação.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 51

Figura 22 – Ilustração do princípio de funcionamento de um trocador de pressão.16

Conforme se observa dos resultados da tabela 14, o sistema concebido sem ERD
apresenta uma energia específica no tratamento que é cerca de 52% maior que a do
sistema com ERD. O sistema concebido com ERD apresenta uma energia específica
bastante menor (cerca de 48% do sistema sem ERD) o que sugere ser fundamental
incluir-se unidades ERD em sistemas de dessalinização da água do mar e assim,
fornecer água potável com custos operacionais mais baixos. A tabela a seguir mostra
para o caso em análise, a influência de um ERD na redução na energia específica por
m3 de água produzida e, por conseguinte, da redução esperada no custo de produção.

Tabela 13 - Influência de ERD em sistemas de água do mar. (Fonte: Autor)


Energia Energia
Energia poupada
Fonte de água bruta específica sem específica com
com ERD (%)
ERD (kWh/m3) ERD (kWh/m3)
OR em água do mar 5,42 2,60 52,03

Já para o caso de águas salobras (índices de salinidade medida pela concentração


de STD até cerca de 11.300 mg/l) o uso de unidades de ERD torna-se desnecessário
dado que sistemas OR tratando água salobra funcionam normalmente com pressões

16 Fonte : https://de.wikipedia.org/wiki/Druckaustauscher. Acessado a: 16 de Julho de 2017.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 52

muito mais baixas (inferiores a 20 bar) que as necessárias no caso da água do mar e,
portanto, com energias específicas próximas dos limites recomendados na literatura.

Este facto foi verificado pelo IMSDesign, ao simular o sistema OR de água salobra
com o ERD (vide anexo 5.5). Casos em que se tem mais de um estágio de tratamento,
o programa define que a energia recuperada vai sempre para o último estágio de
tratamento, passando este a um turbo inter-estágio. Abaixo apresenta-se o diagrama de
fluxo do dimensionamento do sistema em água salobra por OR com EDR, assumindo
os mesmos dados de qualidade de água (cerca de 11.300mg/l STD).

Figura 23 - Diagrama de fluxo em OR de água salobra com ERD (Fonte: Autor).

Tabela 14 - Resultado de dimensionamento de sistema OR em água salobra com ERD. (Fonte: Autor)

Fonte de água bruta Potência Instalada (kW) Energia Específica (kWh/m3)


OR de água salobra 409,3 0,65

Pelo resultado acima apresentado nota-se que, a redução do consumo energético


é de cerca de 28%, e que apesar de ser uma percentagem significativa não representa
uma redução significativa em termos de valor numérico de energia específica.

Tabela 15 - Influência de um ERD em sistemas de água salobra. (Fonte: Autor)


Energia específica Energia específica Energia poupada com
Fonte de água bruta
sem ERD (kWh/m3) com ERD (kWh/m3) ERD (%)
OR de água salobra 0,90 0,65 27,78

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 53

Os resultados da pesquisa sugerem, portanto que no caso da dessalinização da


água do mar o uso de ERD é extremamente essencial e reduz consideravelmente os
custos de operação referentes ao consumo energético. Em sistemas de água salobra o
uso de ERD não reduz significativamente o valor de energia específica e, portanto, o uso
de ERD pode ser dispensado.

5.3. Aplicabilidade da Dessalinização para a cidade de Pemba

Nesta pesquisa, pretendia-se avaliar o potencial oferecido pela dessalinização por


membranas como alternativa de produção de água para consumo humano a partir de
fontes salobras e salgadas. Para se alcançar tal objectivo fez-se um estudo comparativo
tendo como caso de estudo a cidade de Pemba com base no qual compara-se o
consumo energético por m3 de água produzida no sistema actual com o correspondente
de uma solução de igual capacidade, mas baseada na dessalinização (água do mar e
água salobra).

O sistema alternativo em questão é baseado na dessalinização por membranas e,


para a análise comparativa, foram consideradas a potência nominal e a energia
específica cujos resultados obtidos para condições de funcionamento (caudais de
dimensionamento) iguais aos do sistema de Metuge são resumidos na tabela a seguir.
Esta tabela inclui para efeitos comparativos os dados operacionais do sistema actual
obtidos em visita ao campo efectuada em 2016.

Tabela 16 – Resultados de dimensionamento dos sistemas OR comparado ao campo de furos de Metuge. (Fonte:
Autor)

Produção Produção Energia específica


Solução Potência Nominal (kW)
3 3
(m /d) (m /h) (kWh/m3)

Campo de furos
15.000 625 2.555,8817 4.09
de Metuge
OR água salobra 15.000 625 798,73 1,28

17 Valor obtido pela soma das potências encontradas na folha de anexo 10. (Fonte: Fipag-Pemba)

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 54

OR água do mar
15.000 625 1.849,53 2,96
c/ ERD
OR água do mar
15.000 625 3.359,90 5,76
s/ ERD

Conforme se depreende o recurso à dessalinização, como alternativa ao sistema


existente, sugere uma redução em cerca de 28% nos custos operacionais relacionados
com energia caso se recorra a dessalinização da água do mar com sistema ERD incluso.

Esta redução potencial nos custos operacionais resulta essencialmente da redução


que se conseguiria nos custos de transporte de água da captação aos centros
distribuidores uma vez que a fonte para a ETA de dessalinização poderia ser localizada
próximo do centro de consumo (reservatórios da estação F). Para além da redução
potencial dos custos operacionais, a alternativa de dessalinização traz vantagens
adicionais como, a redução da complexidade operacional derivada dos processos de
manutenção da adutora, menor número de estações elevatórias (estação A e D), a
facilidade no registo de dados operacionais no sistema em épocas chuvosas como em
secas e, redução substancial de perdas na adução dado que a mesma seria de menor
extensão e com menos dispositivos de controlo e regulação.

Esta opção tem, no entanto, como desvantagens a necessidade de quadros


qualificados e com novas competências para a operação e manutenção das unidades
de tratamento. Adicionalmente questões relacionadas com a logística de
aquisição/substituição das membranas bem como os inerentes ao tratamento/deposição
final do concentrado, necessidade de treinamento de quadros técnicos com domínio em
dessalinização por sistemas OR teriam que ser equacionadas.

A mesma análise feita com consideração de uma fonte alternativa ao sistema de


Metuge, mas com menores índices de salinidade (água salobra) sugere resultados mais
animadores. O cálculo foi efectuado considerando uma fonte de água com níveis de
salinidade (medida pelo conteúdo de STD) de 11.276mg/l, isto é, uma concentração

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 55

superior em cerca de 5 vezes a concentração limite de STD recomendado para água


potável (2.000 mg/l) segundo o RSPDADAR18.

Conforme se observa na tabela 17, os resultados obtidos para a dessalinização de


água salobra sugerem uma redução de cerca de 69% nos custos de operação (consumo
de energia) o que significa que caso fosse encontrada uma fonte alternativa com
capacidade idêntica ou superior à do sistema de Metuge a dessalinização seria uma
solução viável mesmo numa situação de água salobra. Os resultados da pesquisa
mostram igualmente que tratando água salobra com os níveis de salinidade indicados
anteriormente o custo operacional é cerca de 57% menor que na alternativa de tratar
água do mar mesmo com um ERD o que significa que dentre as duas opções o
tratamento de água salobra é mais viável. A complexidade de operação e também o
investimento capital seriam igualmente menores uma vez que no caso de água salobra
o sistema de tratamento não precisaria de sistemas ERD.

A limitante à esta alternativa prende-se a disponibilidade de uma fonte do género


com potencial suficiente (i.e. equivalente a produção de Metuge) nas proximidades da
cidade dado que mesmo o campo de furos de Chuiba que actualmente serve de
complemento ao abastecimento de água na cidade, não oferece condições de
exploração (potencial) que se equipare à do sistema de Metuge.

A mistura de água obtida do campo de furos de Chuiba com água extraída do mar
poderia ser vista como solução, contudo os níveis de salinidade resultantes da referida
diluição seriam ainda elevados o que eventualmente tornaria a operação do sistema
híbrido equiparável a solução de tratar água do mar.
Assumindo que a concentração de sais dissolvidos em Chuiba é de 4.000mg/l e a
capacidade de produção actual corresponde a 1.505m 3/d, como mencionado em 3.2.1.,
pela equação de balanco de massa (1) é possível calcular a concentração que teria uma

18O nível de STD máximo encontrado em fontes de água salobra em Pemba ronda cerca de 4.000mg/l,
de acordo com dados obtidos em visita ao campo.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 56

água proveniente da mistura de águas de Chuiba e do mar para uma quantidade total
de 15.000m3/d.

45.216𝑥13.495 + 4.000𝑥1.505
𝐶𝑇 = = 41.080,66𝑚𝑔/𝑙
15.000

Pela concentração encontrada nota-se que os níveis de salinidade ainda seriam


elevados e que não seria possível diluir a água do mar em salobra.
Uma outra alternativa à solução de tratamento de água salobra seria a mistura de
água do mar com a água tratada proveniente da ETA de Metuge de cuja diluição
resultaria uma água salobra com níveis de salinidade ainda mais baixos e, portanto,
associada à custos de operação de sistemas OR ainda mais baixos. Sobre esta
alternativa importa realçar que embora o campo de furos de Metuge seja a principal fonte
de abastecimento de água à cidade de Pemba e, até ao presente ter-se mostrado
eficiente, as incertezas quanto a sua capacidade máxima de exploração têm levado a
necessidade de estudos de alternativas para abastecer completamente ou parcialmente
a cidade (novo campo de furos localizado à mais de 50 km do campo de furos de Metuge
ou através de água trazida de Megaruma).

Uma vez que não há registos de dados de qualidade de água do sistema actual da
cidade de Pemba, assumisse que o nível de STD é de 1.500mg/l, equivalente ao de uma
água dentro dos padrões para o consumo humano segundo o RSPDADAR. Para melhor
estudar o comportamento da mistura, três níveis de diluição serão usados 50/50, 33/67
e 23/77. Os resultados encontram-se abaixo.

45.216𝑥7.500 + 1.500𝑥7.500
𝐶𝑇 = = 23.358𝑚𝑔/𝑙( 50/50)
15.000

45.216𝑥5.000 + 1.500𝑥10.000
𝐶𝑇 = = 16.072𝑚𝑔/𝑙 (33/67)
15.000

45.216𝑥3.500 + 1.500𝑥11.500
𝐶𝑇 = = 11.700,4𝑚𝑔/𝑙 (23/77)
15.000

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 57

A partir de um nível de diluição 23/77 nota-se que a concentração da água de


alimentação passa a ser similar a da água usada no dimensionamento do sistema de
tratamento de água salobra por OR. Entretanto, se os níveis de diluição forem 50/50 já
encontramos uma água salobra e com isso há redução na pressão de alimentação e
consequentemente na energia específica do sistema.

Assim, esta alternativa pode ser equacionada para dar resposta ao projecto de
aumento da capacidade de produção de água para a cidade de Pemba (visando o
horizonte 2030). Nesta alternativa o local da captação/ETA de dessalinização seria o
mesmo que o selecionado em 4.1. Tendo em conta os caudais actualmente produzidos
em Metuge e o reforço necessário para cobrir a demanda do horizonte, a água resultante
apresentaria níveis de salinidade (medida pelos STD) da ordem dos 11.700mg/l com
níveis de diluição 23/77, segundo sugere o cálculo acima, podendo o seu tratamento ser
realizado numa ETA de dessalinização sem EDR e com custos operacionais
equiparáveis aos da actual ETA de Metuge. Para além da redução dos custos de
operação, esta solução apresenta vantagens como o facto de a fonte ser inesgotável,
reduzir o intervalo de manutenção uma vez que água seria menos concentrada, e pode
ser usada no futuro para o reforço de abastecimento de água para a cidade de Pemba.
As desvantagens para estes sistemas continuariam a ser a falta de quadros qualificados
para operar e manter os sistemas.

Sumarizando, os resultados da presente pesquisa sugerem que dessalinizar água


do mar ou salobra pode ser uma opção viável, em termos de custos de operação. No
caso da dessalinização da água do mar, pelos resultados apresentados na tabela 17
nota-se a influência de um ERD em sistemas OR.

A tabela 18 sumariza as vantagens e desvantagens das alternativas de intervenção


discutidas anteriormente:

Tabela 17 - Vantagens e Desvantagens das alternativas estudadas. (Fonte: Autor)


Alternativas Vantagens Desvantagens

Campo de Furos de - Baixo consumo - Dificuldade de acesso na


Metuge energético. época chuvosa;

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 58

Alternativas Vantagens Desvantagens

- Dificuldade na manutenção.

- Incerteza na capacidade de
exploração máxima.
- Fonte mais distante da cidade.

Dessalinização (OR de - Facilidade de acesso - Necessidade de mão-de-obra


água do mar) em todos períodos. especializada para instalação e
manutenção.
- Menores perdas de - Elevado consumo energético.
água na adução.
- Fonte mais próxima a
cidade.
- Fonte com capacidade
de exploração ilimitada.

Dessalinização (OR de - Baixo consumo - Necessidade de mão-de-obra


agua salobra) energético. especializada para instalação e
manutenção.

5.4. Aplicabilidade em outras situações de AA no contexto Moçambicano

A necessidade de se estudar novas formas de abastecimento de água em


Moçambique levou ao surgimento de alternativas que até então eram consideradas
inadequadas para o contexto Moçambicano pelo seu elevado custo e a tecnologia
envolvida.

Dado que muitas outras cidades e vilas costeiras moçambicanas apresentam


também constrangimentos relacionados com a disponibilidade de fontes adequadas
para a produção de água para consumo devido aos problemas de salinidade (intrusão
salina, sobre-exploração de aquíferos, características geológicas, entre outros) na
presente pesquisa foi igualmente estudado o potencial oferecido pela dessalinização no
abastecimento de água, assumindo que se trata de um sistema com a fonte de captação
e a ETA convencional idênticas as existentes na cidade de Pemba. Esta análise foi feita
com o objectivo de saber até que ponto vale a pena investir/considerar a hipótese de
dessalinização.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 59

Para a análise comparativa foram considerados dois cenários hipotéticos de


fornecimento de água potável através da dessalinização, o de água do mar e salobra, e
foi elaborado um gráfico que relaciona o comprimento da conduta adutora e a energia
específica necessária desde a fonte de captação até o centro distribuidor. O modelo de
sistema considerado para análise foi o mesmo que o de Pemba por se enquadrar no
grupo de sistemas de AA convencionais em Moçambique, que são aqueles com fonte
de captação subterrânea ou superficial e com tratamento convencional.

Os dados de entrada no gráfico que se segue foram calculados considerando que o


caudal, a altura geométrica, o diâmetro da conduta adutora, o coeficiente de rugosidade,
a potência da bomba e a potência no tratamento são iguais ao do sistema de Pemba,
diferindo apenas na potência de elevação e nas perdas de carga localizadas e contínuas.
As fórmulas e cálculos detalhados encontram-se em anexo. (Vide anexo 11)

Relação entre Energia Específica e


Comprimento da Conduta
7.00
Energia Especíífica (kWh/m3)

6.00
5.00
4.00
3.00
2.00
1.00
0.00
0 100 200 300 400 500
Comprimento da conduta (km)

Figura 24 - Gráfico de energia específica vs. km conduta adutora. (Fonte: Autor)

Os pontos destacados no gráfico a azul e roxo, representam os pontos onde a


energia específica equivale ao de uma ETA tratando água salobra e água do mar,
respectivamente.
Para que um sistema convencional tivesse a mesma energia específica que a de
uma ETA de água salobra e de água do mar, a sua fonte de captação deveria se localizar
a cerca de 33km e 380km, respectivamente, do centro distribuidor. Contudo, se a ETA

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 60

de água do mar possuir um sistema ERD, o comprimento da adutora baixa para cerca
de 160km (ponto vermelho no gráfico).
Estes resultados sugerem que comparado a um sistema convencional, a
dessalinização da água do mar é uma alternativa pouco viável pelo seu elevado custo
energético. Porém, se for a única fonte de água dentro de um raio de 160km da cidade,
esta alternativa pode ser considerada válida.

A maioria das fontes próximas as cidades costeiras a longo prazo tendem a ser
contaminadas por intrusão salina, tornando a água doce em salobra, e obrigando a
escolha de fontes mais longe da cidade. A escolha de opções mais distantes do centro
da cidade implica um aumento considerável nos custos de transporte da água. Em certos
casos, a dessalinização dessa água salobra pode ser uma solução mais sustentável.

Em Moçambique, segundo dados colhidos em análise documental no FIPAG, cerca


de 63% (vide tabela abaixo) dos sistemas geridos por esta entidade que pertencem as
cidades costeiras tem as fontes a mais ou igual a 30km do centro da cidade. Alguns
desses sistemas apresentam também fontes sem fiabilidade ou com capacidade de
exploração máxima desconhecida.

Tabela 18 – Descrição de sistemas de AA em zonas costeiras. (Fonte: FIPAG)


Cidade Fonte de Captação Capacidade Distância Aproximada
ao centro da cidade
Maputo e Barragens dos Pequenos
240.000 m3/d 50km
Matola Libombos

Katembe - 760 m3/d -

Campo de furos de
Xai-xai 12.900m3/d 4km
Tavene
Campo situado no vale do
Maxixe 1.900 m3/d 8km
Rio Nhanombe

Beira Campo de Dinge-Dinge 32.400m3/d 30km

Nacala Barragem de Nacala 6.000m3/d 30km

Campo de furos de Licuari


Quelimane 7.200 m3/d 50km
e Nicoadala

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 5 – Interpretação dos Resultados 61

Cidade Fonte de Captação Capacidade Distância Aproximada


ao centro da cidade
Campo de furos de
Pemba 15.000m3/d 42km
Metuge e Chuiba

No caso de dessalinização de água salobra, esta pesquisa sugere haver potencial


para Moçambique e pode ser um melhor investimento em termos de custo de operação
referentes a energia, em zonas costeiras onde as fontes de água doce se localizam
muito distantes da cidade, as fontes estejam a esgotar, não sejam fiáveis, ou sejam de
certa forma impróprias para o consumo humano.

A dessalinização como forma de tratamento de água é um método que pode ser


aplicável. No caso de cidades costeiras onde a fonte de captação esta muito longe do
centro distribuidor, cidades onde os aquíferos e/ou fontes superficiais mais próximos a
cidade foram contaminados por intrusão salina são situações onde a dessalinização
pode ser aplicada.

Contudo, para se considerar a dessalinização como um método de produção de


água de abastecimento em Moçambique é necessária uma pesquisa mais abrangente
que englobe factores como: os custos de operação (incluindo gastos como pessoal),
manutenção e investimento, onde encontrar mão-de-obra especializada, como fazer a
aquisição das membranas e onde depositar o concentrado.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 6 - Conclusões e Recomendações 62

Capítulo 6 - Conclusões e Recomendações

A presente pesquisa pretendia analisar a potencialidade e aplicabilidade da


dessalinização em Moçambique tendo como caso de estudo a cidade de Pemba. Para
uma melhor análise, uma fonte de água do mar (extraída próxima ao centro da cidade
de Pemba) e uma fonte de água salobra foram definidas como fontes de captação para
o dimensionamento das ETA’s de dessalinização.

Para atingir o objectivo da pesquisa, foi usado o software IMSDesign que é um


software de cálculo automático usado para o dimensionamento de ETA’s de
dessalinização por OR. Este software é considerado pelo autor viável para Moçambique
por ser de acesso gratuito, fácil uso com instruções claras e perceptíveis, simplicidade
das etapas de cálculo e disponibilidade do software em língua portuguesa. Porém há
parâmetros de qualidade de água que dificilmente são analisados em laboratórios
nacionais que são importantes para o dimensionamento dos sistemas de dessalinização
por OR, tais como Boro(B), Bário (Ba), Fluor (F) e Estanho (Sr), que podem comprometer
os resultados extraídos desde software.

Contudo, os resultados obtidos pelo dimensionamento através do software


encontravam-se dentro do intervalo dos valores esperados de acordo com a bibliografia,
sugerindo deste modo a validade dos resultados e do programa.

Para o caso da cidade de Pemba, os resultados desta pesquisa sugerem que a


dessalinização de água do mar com ERD é cerca de 28% mais barato que o sistema
actualmente existente (Metuge), o que pode levar a conclusão que há potencial para a
dessalinização nesta cidade caso a fonte de água seja uma fonte de água do mar.
No caso de sistemas de OR tratando água do mar sem ERD, a pesquisa aponta
para um aumento no custo de energia de cerca de 41% em relação ao sistema actual.
Este aumento pode dever-se ao elevado consumo energético que as bombas de alta
pressão usadas em OR necessitam. Razões como a inesgotabilidade da fonte de
captação, proximidade do sistema ao centro da cidade, redução considerável no custo
de energia e da complexidade de O&M e, redução de perdas por transporte são factores
que concorrem para tornar o recurso a esta tecnologia uma alternativa viável de reforço
da capacidade actual de produção de água para a cidade.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 6 - Conclusões e Recomendações 63

Conforme mencionado anteriormente, caso fossem encontradas fontes de água


salobra com a mesma capacidade de exploração que o sistema de Metuge, a
dessalinização seria uma opção ainda mais viável que a de água do mar, por a sua
concentração de STD ser menor e isso implicar menor consumo energético. Uma das
soluções para obtenção de água salobra seria a mistura de águas, água do mar e água
doce, com objectivo de diluir os sais existentes e gerar uma fonte de água salobra. No
caso de Pemba para que a diluição se encontrasse próximo ao valor de STD
considerado na pesquisa (cerca de 11.300mg/l) seria necessária uma diluição de 23%
de água de mar e 77% de água doce que é uma opção inviável, visto que não se
encontram estas fontes próximas a cidade e que recorrerá muito pouco à água do mar.
Desde modo, caso se considere a dessalinização em estudos futuros para o
abastecimento total ou parcial da cidade de Pemba, sugere-se o emprego de sistemas
ERD na fase de definição de projecto.

Uma fonte de captação de água salobra aleatória foi considerada para análise,
embora não se encontrem na cidade de Pemba fontes com a mesma capacidade de
exploração, com o objectivo de dar a conhecer o potencial e a aplicabilidade da
dessalinização para Moçambique. Os dados de fonte aleatória continham o nível de STD
aproximado a 11.300mg/l e os resultados obtidos do dimensionamento de uma ETA de
dessalinização por OR apontam que dessalinizar água salobra é cerca de 57% e 78%
mais económico que dessalinizar água do mar sem e com ERD, respectivamente.

A análise sugere ainda que, para que o consumo energético de uma ETA de
dessalinização por OR de água do mar ou salobra seja equivalente aos sistemas com
fontes e tratamentos convencionais (superficiais/subterrâneas), que representam mais
de 95% do total encontrado em Moçambique, estes devem distar a 380km e 33km,
respectivamente, do centro da cidade. No caso de sistemas OR de água do mar com
ERD a distância pode ser reduzida para cerca de 160km do centro da cidade.

Uma vez que, cerca de 63% dos sistemas de AA localizados em regiões costeiras
geridos pelo FIPAG distam a mais de 30km do centro da cidade, a dessalinização de
água salobra mostra-se como uma alternativa a ser considerada pelos órgãos decisores
do sector de águas como solução para casos de contaminação das fontes por intrusão
salina.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 6 - Conclusões e Recomendações 64

Deste modo, a pesquisa indica que embora a dessalinização de água do mar seja
uma alternativa ainda muito dispendiosa para a realidade moçambicana, há um potencial
para a dessalinização de água salobra em Moçambique.

A presente pesquisa mostra o potencial da dessalinização através do


dimensionamento de duas ETA’s, uma para água do mar e uma para água salobra. Os
resultados desses dimensionamentos sugerem que dessalinizar pode ser mais viável
que sistemas com fontes de captação muito distantes do centro distribuidor, em relação
aos custos de operação (consumo de energia).

A dessalinização de água do mar pode ser considerada uma alternativa mais viável
quando esta recorre à sistemas de recuperação de energia, que englobam além de
outros elementos, o ERD. Em casos onde haja abundância de águas salobras, esta
torna-se a alternativa mais viável no círculo da dessalinização. Isto deve-se a baixa
concentração de sais dissolvidos que torna a pressão de alimentação mais reduzida. Em
casos onde não há fontes de água salobra, pode-se recorrer a mistura de águas, como
mencionado em 5.3.

A dessalinização vem resolver o problema de fontes de captação longe das cidades,


reduzindo os custos de transporte da água, em caso da água do mar esta apresenta
uma fonte inesgotável. Uma das principais preocupações nesta tecnologia é o depósito
do rejeito ou concentrado, em alguns países onde é empregue a dessalinização há
algumas alternativas para o uso do concentrado como: produção de sal, produção de
cloro ou plantio de culturas com tolerância a salinidade.

Durante a realização do relatório e da pesquisa encontrou-se algumas limitações


como a bibliográfica diminuta sobre o tema nas bibliotecas nacionais, que se deve
provavelmente ao facto de a dessalinização ser considerada ainda uma alternativa muito
onerosa para a nossa realidade económica. A dificuldade para testar certos parâmetros
de qualidade de água, porque não são feitos regularmente nos laboratórios do nosso
País, a falta alguns documentos sobre a capacidade máxima de exploração do campo
de furos de Metuge e Chuiba também limitaram de certa forma a pesquisa e a falta de
registos constantes dos dados de qualidade de água nos sistemas de AA nacionais.

Outra limitação é o facto de o IMSDesign não prever um estágio de pré-tratamento,


mas, supõe que os parâmetros de análise química inseridos correspondem a uma água
de alimentação com 1 NTU de turvação. Deste modo recomenda-se que para estudos

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Capítulo 6 - Conclusões e Recomendações 65

futuros um estágio de pré-tratamento seja previsto e que ETA’s de teste sejam montadas
como forma de apurar dados de qualidade de água mais realísticos. Para melhor
comparar a dessalinização às outras opções, é importante e recomendado a realização
de uma análise aos custos de manutenção, operação e investimento, uma análise aos
impactos ambientais que advém dela, estudo de método de obtenção de matéria-prima
e formação de pessoal técnico.

Recomenda-se também a execução de um estudo geofísico nos campos de furos


de Metuge e Chuiba, como forma de se apurar as suas capacidades máximas de
produção; uma estação de tratamento teste, em dimensões menores, para verificar a
eficiência das membranas escolhidas para o sistema; um estudo de impacto ambiental
detalhado, com vista a determinar o melhor método de tratamento para o concentrado,
caso pretenda se implementar uma usina de dessalinização.

Em jeito de conclusão, a dessalinização é um método de tratamento de água que


pode ser eficiente para Moçambique, desde que seja escolhido o tipo de água, local de
captação, os métodos de pré-tratamento (caso haja) e as membranas mais indicadas.

POTENCIALIDADE DA DESSALINIZAÇÃO EM MOÇAMBIQUE GÉSSICA FERNANDES


Referências Bibliográficas 66

Referências Bibliográficas

Livros

Cheremisinoff, Nicholas P., Handbook of Water and Wastewater Treatment


Technologies. Woburn. Butterworth-Heinemann.1998.

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Manuais e Estudos científicos

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De Oliveira, Fernando F., Avaliação de filtros lentos de areia com pré-tratamento para o
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Referências Bibliográficas 67

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e Reuso de Efluentes de Refinaria de Petróleo. Rio de Janeiro. Tese de mestrado.
COPPE. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2013.

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