Você está na página 1de 64

UNIVERSIDADE TECNOLOGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

BÁRBARA FERNANDA KLAUMANN LUCAS

VITOR JOSÉ FAVERI

OBTENÇÃO DO ÂNGULO DE ATRITO INTERNO E COESÃO DO SOLO A


PARTIR DE SONDAGENS SPT REALIZADAS NA UTFPR – CAMPUS PATO
BRANCO - PR

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

PATO BRANCO

2021
BÁRBARA FERNANDA KLAUMANN LUCAS
VITOR JOSÉ FAVERI

OBTENÇÃO DO ÂNGULO DE ATRITO INTERNO E COESÃO DO SOLO A


PARTIR DE SONDAGENS SPT REALIZADAS NA UTFPR – CAMPUS PATO
BRANCO - PR

Trabalho de Conclusão de Curso de


Graduação de Engenharia Civil do
Departamento Acadêmico de Construção
Civil da Universidade Tecnológica Federal
do Paraná – Campus Pato Branco como
requisito Parcial para obtenção do Título
de Engenheiro Civil.

Orientador: Prof. Esp. Sérgio Tarsicio


Rambo
Coorientador: Prof. Dr. Ney Lyzandro
Tabalipa

PATO BRANCO
2021
AGRADECIMENTOS

À Deus, que com sua infinita bondade nos permitiu chegar até aqui e realizar este
sonho.
Aos nossos pais, pelo amor, incentivo e apoio incondicional em todos os momentos.
Aos amigos, pelo companheirismo e apoio constante para a conclusão desta etapa.
Ao professor Sérgio Tarsício Rambo, pela orientação e incentivo ao longo da
realização deste trabalho.
Ao professor Ney Lyzandro Tabalipa, pelas orientações, tanto nos trabalhos de campo
que foram realizados, quanto nas demais etapas desta pesquisa.
À banca de defesa por terem aceito o convite e pela grande contribuição para a
conclusão deste trabalho.
À equipe de profissionais do laboratório de mecânica dos solos, pelo auxílio na
execução de diversas etapas desta pesquisa.
Aos demais professores do curso pelo apoio e pelos conhecimentos repassados que
foram fundamentais para nossa trajetória e contribuíram para nossa formação.
E a todos aqueles que direta ou indiretamente, de alguma maneira, contribuíram para
que este trabalho fosse realizado.
Que todos os nossos esforços estejam
sempre focados no desafio à impossibilidade.
Todas as grandes conquistas humanas
vieram daquilo que parecia impossível.
(Charles Chaplin)
RESUMO

FAVERI, Vitor José; LUCAS, Bárbara Fernanda Klaumann - OBTENÇÃO DO


ÂNGULO DE ATRITO INTERNO E COESÃO DO SOLO A PARTIR DE
SONDAGENS SPT REALIZADAS NA UTFPR – CAMPUS PATO BRANCO - PR –
2021 (51). Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Engenharia Civil),
Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Departamento Acadêmico de
Construção Civil – UTFPR, Pato Branco, PR, 2021.

A busca por conhecer variáveis que influenciam no comportamento do solo pode


contribuir para que grandes desastres sejam evitados dentro da engenharia civil.
Dados de índices físicos como ângulo de atrito interno e coesão do solo possuem
grande importância quando o assunto se trata do comportamento do solo sujeito a
cargas. Existem diferentes métodos para se obter esses dados, sendo que um dos
mais utilizados é o ensaio de cisalhamento direto em laboratório. Outro método para
obtenção de valores de ângulo de atrito interno e coesão dá-se através de cálculos
baseados em dados de sondagens do tipo Standart Penetration Test (SPT). O
presente trabalho teve como objetivo analisar a relação entre os parâmetros de ângulo
de atrito interno e coesão do solo, obtidos por meio de ensaios de cisalhamento direto
com amostras indeformadas, e os determinados através de correlações utilizando
dados obtidos em sondagens SPT realizadas na UTFPR – Campus Pato Branco em
locais destinados à construção de novos blocos. Os pontos de retirada das amostras
indeformadas foram em locais próximos aos pontos onde as sondagens foram
executadas, buscando garantir que o solo analisado fosse semelhante, e assim as
comparações se tornassem confiáveis. Através dos valores obtidos por meio do
ensaio de cisalhamento, não foi possível determinar correlações para o solo local, pois
os resultados mostraram-se incompatíveis com os valores obtidos por outros autores
em regiões próximas à desta pesquisa.

Palavras Chaves: Ensaio de Cisalhamento, Ângulo de Atrito Interno, Coesão.


ABSTRACT

FAVERI, Vitor José; LUCAS, Bárbara Fernanda Klaumann - OBTENTION OF


INTERNAL FRICTION ANGLE AND SOIL COHESION FROM SPT PROBING
EXECUTED AT UTFPR – CAMPUS PATO BRANCO – PR - 2021 (51). Civil
Engineering Undergraduate Thesis (Bachelor’s Degree) – Department of Building
Construction, Federal Technological University of Paraná – UTFPR, Pato Branco, PR,
2021.

The search for knowledge of variables that have influence on the soil behavior can
contribute to avoid disasters inside civil engineering. Physical index data such as soil
cohesion and internal friction angle are very important to help understand the soil
behavior when under charge. There are different methods to obtain theses data and
one of the most spread is the direct shear test in laboratory. Other method to obtain
these values for internal friction angle and cohesion it is given by calculation based on
data from the Standart Penetration Test (SPT). The present research had as a goal to
analyse the relation between data from Standart Penetration Tests, executed at
UTFPR - Campus Pato Branco to the construction of new buildings for the university
along with data acquired from the direct shear test of intact specimens. The specimens
were taken from places near the point of where the probing was made, to try and
guarantee that the soil being analysed was similar, and in that way the comparison
between data would be more reliable. The values obtained with the direct shear test
turn out to be unusable to the goal of this research seeing that these values were to
distinct from the expected and from values obtained by other authors in nearby regions
from this research

Key Words: Probing. Direct Shear Test. Internal Friction Angle. Cohesion.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modelos de equipamentos de investigação geotécnica disponíveis


no mercado. Da esquerda para a direita: método DMT, método SPT, método
CPTU, método MPM e Vane Test. ............................................................................ 6
Figura 2 - Aplicabilidade e uso de ensaios in situ. ................................................. 7
Figura 3 - Esquema ilustrativo do equipamento de execução da sondagem à
percussão SPT. ....................................................................................................... 10
Figura 4 - Principais componentes e geometrias do equipamento de cone. ..... 11
Figura 5 - Partículas de argila: formato lamelar. .................................................. 16
Figura 6 - Partícula de areia: formato poligonal. .................................................. 16
Figura 7 - Moldes em PVC para retirada das amostras. ....................................... 20
Figura 8 - Conferência da profundida de retirada das amostras. ....................... 20
Figura 9 - Mini Escavadeira Hidráulica usada na escavação. do poço .............. 21
Figura 10 – Escavação manual da amostra antes de ser removida com o molde
cilíndrico. ................................................................................................................. 22
Figura 11 - Amostra envolvida com talagarça recebendo camada de parafina
líquida. ...................................................................................................................... 22
Figura 12 - Cápsula com solo para execução do ensaio de determinação de
umidade.................................................................................................................... 23
Figura 13 - Equipamento de ensaio de cisalhamento direto de solo usado. ..... 24
Figura 14 - Amostra de teste no aparato para cisalhamento simples. ............... 24
Figura 15 - Componentes da célula de ensaio...................................................... 25
Figura 16 - Corpo de prova sendo retirado da amostra. ...................................... 26
Figura 18 - Célula de ensaio montada no equipamento de cisalhamento direto.
.................................................................................................................................. 28
Figura 19 - Corpo de prova rompido ao fim do ensaio. ....................................... 29
Figura 20 - Influência do tipo de martelo, para composição de 14 m de
comprimento, martelo com coxim de madeira e cabeça de bater de 3,6 kg. ..... 30
Figura 21 - Gráficos resultantes de um ensaio de cisalhamento direto. ............ 35
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Coesão das argilas. ............................................................................... 33


Tabela 2 – Resultados correlações SPT................................................................ 34
Tabela 3 – Resultados Ensaio de Cisalhamento Direto....................................... 35
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


ASTM American Society for Testing and Materials
cm² Centímetros Quadrados
CP Corpo de Prova
kgf Quilograma força
kPa QuiloPascal
mm Milímetros
NBR Norma Brasileira Regulamentadora
NSPT Resistência à penetração do amostrador de sondagem
SPT Standart Penetration Test
UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1
1.1. OBJETIVOS ...................................................................................................... 3
1.1.1. OBJETIVO GERAL ........................................................................................ 3
1.1.2. OBJETIVO ESPECÍFICOS ............................................................................ 3
1.2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................ 3
2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 5
2.1. O SOLO ............................................................................................................. 5
2.2. INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS .................................................................. 5
2.2.1. Sondagem à Percussão SPT ......................................................................... 7
2.2.2. Ensaio de Cone e Piezocone ....................................................................... 10
2.2.3. Ensaio de Pressiômetro ............................................................................... 11
2.2.4. Ensaio de Palheta ........................................................................................ 11
2.2.5. Ensaio de Dilatômetro .................................................................................. 12
2.3. ENSAIOS DE LABORATÓRIO PARA SOLOS ................................................ 12
2.3.1. Ensaio de cisalhamento direto ..................................................................... 12
2.3.2. Ensaio de compressão triaxial ..................................................................... 13
2.3.3. Ensaio de adensamento, expansibilidade e colapsabilidade ....................... 13
2.3.4. Ensaios de permeabilidade e químicos ........................................................ 13
2.4. PARÂMETROS E PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOLO .............................. 14
2.4.1. Cisalhamento do solo ................................................................................... 14
2.4.2. Coesão do solo ............................................................................................ 15
2.4.3. Ângulo de atrito interno ................................................................................ 16
3. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 17
3.1. ÁREA DE ESTUDO ......................................................................................... 18
3.1.1. Aspectos climáticos, físicos e geotécnicos................................................... 18
3.2. EXTRAÇÃO DE AMOSTRAS PARA ENSAIO DE CISALHAMENTO ............. 19
3.3. ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO ......................................................... 23
3.4. EQUAÇÕES DE CORRELAÇÃO .................................................................... 29
3.4.1. Correção do NSPT ....................................................................................... 29
3.4.2. Estimativa de Parâmetros de Resistência a partir do NSPT ........................ 31
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................... 34
4.1. RESULTADOS OBTIDOS POR CORRELAÇÕES EMPÍRICAS ..................... 34
4.2. RESULTADOS OBTIDOS PELO ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO .... 34
4.3. COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS ............................................................. 35
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 38
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39
ANEXO A .................................................................................................................. 44
ANEXO B .................................................................................................................. 45
ANEXO C .................................................................................................................. 46
ANEXO D .................................................................................................................. 47
ANEXO E .................................................................................................................. 48
ANEXO F................................................................................................................... 49
APÊNDICE A............................................................................................................. 50
APÊNDICE B............................................................................................................. 51
APÊNDICE C ............................................................................................................ 52
APÊNCIDE D ............................................................................................................ 53
1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, os movimentos de massa de grandes proporções ocorridos


no Brasil, principalmente em áreas habitadas, ganharam contextos de desastres
naturais devido aos prejuízos significativos causados à população. Segundo Pinto; et
al (2012), estudos desses fenômenos tiveram avanços a partir de meados do século
XX, após os ocorridos no Vale do Itajaí, em Santa Catarina (2008), na região serrana
do Rio de Janeiro (2011) e no litoral paranaense (2011), que deixaram milhares de
pessoas desabrigadas e centenas de vítimas fatais.

O estudo aprofundado das condicionantes que resultam nesses


deslizamentos se torna uma ferramenta de suma importância para órgãos públicos,
que tem como objetivo prevenir e evitar acidentes dessa proporção, uma vez que
prevenir se torna economicamente mais viável que remediar (VAZ; et al, 2018). Um
dos estudos que vêm contribuindo para o aumento da segurança é a utilização de
modelos determinísticos para elaboração de mapas de riscos de acordo com áreas
susceptíveis a movimentos de massa, o qual permite uma avaliação dos locais onde
possuem edificações implantadas e dos que podem ser edificados.

Para que se conheça as variáveis que influenciam na susceptibilidade do solo


a movimentos de massa, deve-se conhecer primeiramente as propriedades físicas
deste. Para Guidicini & Nible (1983), se tratando de problemas de estabilidade, as
propriedades mais significativas são o ângulo de atrito interno e a coesão do solo.
Essas propriedades são parâmetros utilizados para determinar a resistência do solo
ao cisalhamento, o qual consiste na capacidade do solo em suportar carregamento
sem perder estabilidade ou sofrer ruptura.

Almeida & Oliveira (2018) afirmam que é comum na geotecnia utilizar-se de


dados provenientes de sondagem à percussão SPT (Standard Penetration Test) para
determinar parâmetros do solo através de correlações, dado que o custo envolvido é
relativamente baixo, comparado ao número de informações que ele fornece. Para
Quaresma et al (1998), a sondagem de simples reconhecimento SPT é o ensaio de
campo mais executado no Brasil, assim como na maioria dos países do mundo.

1
Na maioria dos casos, a sondagem à percussão SPT é a única forma de
reconhecimento do subsolo utilizada, devido à facilidade de contratação, rapidez na
execução e custo relativamente baixo. Quando aplicado corretamente as expressões
de correlação, seus resultados permitem a obtenção de importantes índices da
mecânica do solo, como tensões admissíveis e parâmetros de resistência ao
cisalhamento. Embora os resultados possam ser muito próximos, Pinto (2006) ressalta
que tais correlações podem não apresentar parâmetros condizentes com a realidade,
pois o solo possui características heterogêneas, levando diversos autores a buscar
correlações em regiões diferentes, além de melhorar as já existentes.

Em contrapartida, sabe-se que os ensaios laboratoriais utilizando amostras


indeformadas do solo revelam uma maior representatividade nos resultados, devido a
metodologia, equipamento e qualidade da amostra utilizada. Porém, o custo e a
dificuldade da coleta das amostras de acordo com a profundidade e o tempo para
realização desses ensaios se elevam, devendo assim ser avaliada a precisão
necessária dos resultados e buscar a alternativa mais viável para a situação desejada.
Dentre os ensaios laboratoriais de solo disponíveis, destaca-se o ensaio de
cisalhamento direto utilizado para determinar a resistência ao cisalhamento. Esse
ensaio exige equipamentos eletrônicos ligados a softwares para determinar os
parâmetros de resistência, além de exigir um tempo de execução de até seis horas.
Outro fator que interfere na execução desse ensaio é o fato de não existirem normas
brasileiras referente ao assunto, sendo necessário então a utilização de normas
americanas.

Esses motivos despertaram então o interesse de determinar expressões que


possam correlacionar os dados obtidos na sondagem de simples reconhecimento com
o ensaio de cisalhamento direto, tornando mais prática a determinação dos
parâmetros de resistência ao cisalhamento de um solo localizado na região de Pato
Branco. O presente trabalho se estrutura da seguinte forma: Capítulo 1, que
compreende a introdução, os objetivos, tanto geral quanto específicos, e a justificativa;
Capítulo 2, no qual se faz a revisão bibliográfica do tema proposto; Capítulo 3, onde
são apresentados métodos e equipamentos utilizados na análise e obtenção das
amostras; Capítulo 4, no qual é feita uma análise dos resultados obtidos; Capítulo 5,
que aborda as considerações finais, e por fim, são elencadas as referências
bibliográficas utilizadas no desenvolvimento da pesquisa.
2
1.1. OBJETIVOS

Abaixo estão descritos os objetivos do trabalho, geral e específicos.

1.1.1. OBJETIVO GERAL

Determinar correlações que permitam a obtenção do ângulo de atrito interno


e coesão do solo para a região de Pato Branco, através de ensaios de sondagem
SPT.

1.1.2. OBJETIVO ESPECÍFICOS

● Analisar a correlação dos dados obtidos em ensaio de laboratório,


considerando os parâmetros de ângulo de atrito interno e coesão do solo, com
os relatórios de sondagem SPT.

● Verificar se os resultados guardam coerência com os resultados de outros


estudos.

1.2. JUSTIFICATIVA

Pensando na elaboração de projetos que envolvem a mecânica dos solos, os


parâmetros de resistência podem ser obtidos a partir de ensaios de análise do solo,
estes podendo ser diretos ou indiretos com amostras deformadas ou indeformadas.
Os ensaios diretos e os de obtenção de amostras deformadas são os mais utilizados,
devido a facilidade de realização e por questões financeiras. Se for possível encontrar
uma relação entre os resultados extraídos de uma sondagem à percussão SPT e os
resultados de uma análise de amostra indeformada obtida por cisalhamento direto, os
projetos poderão ser elaborados com dados mais acessíveis de forma a alcançar mais
facilmente os objetivos da engenharia de projetar e gerenciar com menores custos,
maior eficiência e segurança.

Busca-se encontrar boas relações entre os resultados das sondagens à


percussão SPT e do ensaio de cisalhamento direto para que assim, o acesso às
informações de ângulo de atrito interno e coesão do solo sejam de mais fácil acesso
3
aos profissionais da engenharia civil em geral. Atualmente o ensaio de sondagem à
percussão SPT é largamente usado pela construção civil no Brasil e tem normatização
brasileira a disposição dos engenheiros (NBR 6484 - Solo - Sondagens de simples
reconhecimento com SPT - Método de ensaio), ao passo que o ensaio de
cisalhamento direto exige equipamentos mais sofisticados e sua norma
regulamentadora é americana (ASTM D3080 – Standart Test Method for Direct Shear
of Soils Under Consolidated Drained Conditions).

A pesquisa tem sua viabilidade visto que para a execução da mesma serão
necessários os relatórios de sondagens executadas no interior do campus, bem como
o acesso aos pontos sondados para extração de amostras indeformadas e aos
equipamentos para realização do ensaio de cisalhamento direto. Os ensaios de
sondagem foram realizados na Universidade Tecnológica Federal do Paraná -
Campus Pato Branco, devido a necessidade de implantação de novos blocos e
ampliação de alguns existentes. O acesso a cópias desses relatórios de sondagem foi
permitido pela universidade, assim como foi permitida a coleta de amostras
indeformadas de solo nas regiões de estudo, para posteriores ensaios. Para
realização do ensaio de cisalhamento, a norma e os equipamentos necessários
estavam disponíveis no laboratório de solos da Universidade.

4
2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. O SOLO

O solo pode apresentar diversas definições, variando de acordo com o


objetivo de quem o utilizará. De modo geral, define-se como solo a camada superficial
formada por rocha desagregada, misturada com matéria orgânica em decomposição,
podendo conter proporções de água, ar e organismos vivos (BRAGA, 2005).
A NBR 6502 (1995, p. 17) define solo como “material proveniente da
decomposição das rochas pela ação de agentes físicos ou químicos, podendo ou não
ter matéria orgânica”. Caputo (1996) também discorre que os solos são materiais
resultantes do intemperismo ou meteorização das rochas por desintegração mecânica
ou decomposição química.
A EMBRAPA (2006, p. 27) define o solo como:
Uma coleção de corpos naturais, constituídos por partes sólidas,
líquidas e gasosas, tridimensionais, dinâmicos, formados por materiais
minerais e orgânicos que ocupam a maior parte do manto superficial
das extensões continentais do nosso planeta, contêm matéria viva e
podem ser vegetados na natureza onde ocorrem e, eventualmente,
terem sido modificados por interferências antrópicas.

Para Kertzman & Diniz (1995), os solos são resultados da interação entre as
rochas, o relevo e o clima, e apresentam as principais características desses
elementos. Sendo assim, ao investigar o solo, é possível deduzir seu material de
origem, o relevo, o comportamento hídrico e a susceptibilidade aos processos do meio
físico.

2.2. INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS

A NBR 6122 (2019, p. 10) preconiza que “para qualquer edificação deve ser
feita uma campanha de investigação geotécnica preliminar, constituída no mínimo por
sondagens à percussão (com SPT)”. No Brasil, Odebrecht & Schnaid (2012) estimam
que o custo empregado na execução de uma sondagem de simples reconhecimento
varia normalmente entre 0,2% e 0,5% do custo total da obra, podendo se elevar em
5
obras especiais e condições adversas do solo. Esse valor é praticamente
insignificante comparado ao custo de reparo de uma fundação, por exemplo.
Existem diversos métodos de investigação do subsolo e a escolha do método
mais adequado se dá pelo tipo de obra que será executada, pelas características do
terreno, pelos dados disponíveis de investigações antigas e pelas observações das
estruturas próximas (CAPUTO, 1996). Para fins de simplesmente conhecer as
principais características do solo, utiliza-se o método da sondagem à percussão SPT,
comumente utilizada no território nacional. Esse método permite a obtenção de um
perfil com a descrição das camadas do solo, a resistência à penetração oferecida pelo
solo a cada metro perfurado, além da existência ou não do nível de lençol freático. Em
casos de necessidade de uma investigação mais aprofundada ou da ocorrência de
blocos de rocha que necessitem ser ultrapassados, deve-se buscar uma sondagem
rotativa ou mista (VELLOSO & LOPES, 2004).
Nas últimas décadas, segundo Odebrecht & Schnaid (2012), novos e modernos
equipamentos chegaram ao mercado com o intuito de ampliar o uso de tecnologias
nas investigações do subsolo. Dentre esses equipamentos, alguns consistem na
simples cravação de um elemento no solo, determinando a resistência à penetração,
enquanto outros utilizam-se de sensores elétricos para medir grandezas como força e
poropressão. Alguns desses equipamentos podem ser observados na figura 1.

Figura 1 - Modelos de equipamentos de investigação geotécnica disponíveis no mercado. Da


esquerda para a direita: método DMT, método SPT, método CPTU, método MPM e Vane Test.
Fonte: Odebrech & Schinaid (2012)
6
Atualmente, encontram-se disponíveis no Brasil para fins de investigações os
ensaios de sondagem à percussão SPT, cone, piezocone, pressiômetro, palheta e
dilatômetro (ODEBRECHT & SCHNAID, 2012). A figura 2 apresenta de forma
resumida os métodos de ensaios de campo adotados na prática e os parâmetros
possíveis de serem obtidos em cada método.

Figura 2 - Aplicabilidade e uso de ensaios in situ.


Fonte: Lunne, et al (1997) apud Odebrech & Schinaid (2012)

2.2.1. Sondagem à Percussão SPT

Reconhecido como o método de investigação geotécnico mais popular,


rotineiro e econômico em praticamente todo o mundo, a sondagem à percussão SPT
indica a densidade de solos granulares e pode também identificar a consistência de
solos coesivos (ODEBRECHT & SCHNAID, 2012). Seus resultados permitem a
classificação do solo de acordo com a sua resistência à penetração, pela
compacidade, em casos de areias ou siltes arenosos, ou pela consistência, quando
se tratar de argilas ou siltes argilosos (NBR 6484, 2001).
A NBR 6484 (2001, p. 11) preconiza que:

7
A sondagem deve ser iniciada com emprego do trado-concha ou
cavadeira manual até a profundidade de 1 metro, seguindo-se a
instalação até essa profundidade, do primeiro segmento do tubo de
revestimento dotado de sapata cortante. Nas operações
subsequentes de perfuração, intercaladas às de ensaio e
amostragem, deve ser utilizado trado helicoidal até se atingir o nível
d’água freático.
O ensaio consiste na cravação de um amostrador padrão bipartido através da
queda de um peso de 65 kg de uma altura de 75 cm, retirando amostras
representativas de solo a cada metro de profundidade. O número de golpes
necessários para a cravação de 30 cm do amostrador padrão, após a cravação inicial
de 15 cm, é denominado como índice de resistência à penetração NSPT (NBR 6484,
2001). De acordo com ABEF (2012, p. 10 e 11), o equipamento necessário para a
realização do ensaio é basicamente composto por:
a) Tripé ou torre (cavalete) de sondagem com escada, dotado de
roldana e moitão duplo;
b) Hastes retilíneas emendadas por luvas, em segmentos de 1,0 m
e/ou 2,0 m, em tubo de aço, com diâmetro nominal de 1”, SCH 80 (Dext
= 33,4 mm ± 2,5 mm e Dint = 24,3 mm ± 2,5 mm), e com massa teórica
de 3,23 kg/m;
c)Tubos de revestimento emendados por luvas, em comprimento de
1,0 m e/ou 2,0 m, em tubo de aço DIN 2440, com diâmetro nominal de
2 ½” (Dext = 76,1 mm ± 5 mm e Dint = 68,8 mm ± 5 mm);
d) Amostrador padrão com diâmetro externo de 50,8 mm ± 2 mm;
e) Peça de lavagem ou trépano de lavagem com ponta e bisel, largura
de 62 mm ± 5 mm;
f) Trado cavadeira ou concha;
g) Trado espiral ou helicoidal com diâmetro mínimo de 53 mm;
h) Peso de bater de 650 N ± 1,5% ou martelo conforme NBR 6484
para cravação do amostrador;
i) Corda de sisal com 25 mm (1”) para o peso de bater;
j) Corda de sisal com 19 mm (3/4”) para o moitão;
k) Medidor de nível d’água (ou pio);
l) Baldinho para esgotamento de água;
m) Caixa de lavagem;
n) Moto-bomba e conjunto para circulação de água;
8
o) Camelongo;
p) Chaves pesadas, para tubo de 457 mm (18”) e 610 mm (24”);
q) Metro;
r) Giz para marcação;
s) Copinhos com tampas herméticas ou sacos plásticos para
acondicionar amostras;
t) Etiquetas;
u) Folhas de sondagem e nivelamento;
v) Demais ferramentas e materiais necessários;
w) Materiais de reposição, tais como graxa para rosca, bentonita ou
fluido estabilizante;
x) 2 bicos de reserva;
y) Sapata de revestimento;
z) Saca-tubo;
aa) Cabeça de bater da haste de penetração e do tubo de revestimento
constituída de um tarugo de aço com massa compreendida entre 3,5
kg e 4,5 kg;
bb) Torquímetro de relógio com capacidade mínima de 500 Nm e
conjunto adaptador;
cc) Chifre de bode (alçador de hastes ou gancho alçador);
dd) Bolacha – disco de aço para uso com o saca-tubo; e
ee) Cachimbo de lavagem ou cruzeta de lavagem com alça e
manoplas.
Na figura 3, é possível observar um esquema do equipamento utilizado para o
ensaio.

9
Figura 3 - Esquema ilustrativo do equipamento de execução da sondagem à percussão SPT.
Fonte: Higashi (2016) apud Thiesen (2016)

2.2.2. Ensaio de Cone e Piezocone

De acordo com a NBR 6122 (2019) – Projeto e execução de fundações, o


ensaio de cone deve ser executado conforme as normas americanas ASTM
D2435/D2435M - Standard Test Methods for One-Dimensional Consolidation
Properties of Soils Using Incremental Loading e ASTM D5778 - Standard Test Method
for Electronic Friction Cone and Piezocone Penetration Testing of Soils.

Essa mesma norma ainda discorre sobre o ensaio de cone (NBR 6122, 2019,
p. 11):

Este ensaio consiste na cravação contínua de uma ponteira composta


de cone e luva de atrito. É usado para determinação da estratigrafia e
pode dar indicação da classificação do solo. Propriedades dos
materiais ensaiados podem ser obtidas por correlações, sobretudo em
depósitos de argilas moles e areias sedimentares.

Os equipamentos de ensaio de cone podem ser classificados em cone


mecânico, cone elétrico e piezocone. A figura 4 mostra as geometrias mais vistas

10
destes equipamentos. O ensaio de piezocone pode medir ainda a poropressão do solo
e até mesmo sua dissipação em alguns casos.

Figura 4 - Principais componentes e geometrias do equipamento de cone.


Fonte: Odebrech & Schinaid (2012)

2.2.3. Ensaio de Pressiômetro

O ensaio com pressiômetro consiste, conforme NBR 6122 (2019), na


expansão de uma sonda com formato de cilindro no interior do solo em profundidades
estabelecidas no projeto de sondagem.
Esse ensaio é usado para obter dados de propriedades de resistência e
tensão-deformação do solo.

2.2.4. Ensaio de Palheta

Também chamado de Vane Test, é normatizado pela NBR 10905 (1989) –


Solo – Ensaios de palheta in situ – Método de ensaio. É usado basicamente para
determinar a resistência ao cisalhamento, não drenada, de solos moles.

11
2.2.5. Ensaio de Dilatômetro

Nesse ensaio, utiliza-se uma lâmina com diafragma aplicado no solo com
auxílio de gás. Ele é usado para determinação da estratigrafia e pode indicar a
classificação do solo através de correlações específicas do dilatômetro.

2.3. ENSAIOS DE LABORATÓRIO PARA SOLOS

Buscando caracterizar melhor o solo, é possível fazer uso de ensaios em


laboratório. Esses ensaios são úteis para determinar parâmetros de resistência, de
deformabilidade, de permeabilidade e demais aspectos físicos do solo como ângulo
de atrito interno, coesão, limite de liquidez, entre outros. Em sua maioria, os testes de
laboratório são feitos com amostras não deformadas de solo, que tem sua extração
normatizada pela NBR 9820 (1997) – Coleta de amostras indeformadas de solos em
furos de sondagem e a NBR 9604 (2016) – Abertura de poço e trincheira de inspeção
em solo, com retirada de amostras deformadas e indeformadas – Procedimento.

A NBR 6122 (2019) traz como principais ensaios o ensaio de caracterização,


ensaio de cisalhamento direto, ensaio triaxial, ensaio de adensamento, ensaios de
expansibilidade, ensaio de colapsabilidade, ensaio de permeabilidade e ensaios
químicos.

2.3.1. Ensaio de cisalhamento direto

Ensaio onde uma amostra de solo é inserida numa caixa composta por duas
partes que se deslocam entre si, permitindo determinar sob uma tensão normal, a
tensão de cisalhamento capaz de provocar a ruptura dessa amostra. O ensaio pode
ser realizado sob tensão controlada ou sob deformação controlada (CAPUTO, 1996).

A norma mais atual de regulamentação do ensaio é a ASTM D3080/D3080M


– 11 (ASTM D3080, 2011). Ela determina os objetivos do ensaio assim como os
passos a serem seguidos para coleta e preparação de amostras, calibração do
equipamento, execução do ensaio e cálculos.

12
Esse ensaio pode ser realizado para qualquer tipo de solo e contempla
amostras indeformadas, remoldadas ou deformadas e ainda reconstituídas em
laboratório (ASTM D3080, 2011).

2.3.2. Ensaio de compressão triaxial

Este ensaio visa a determinação dos parâmetros de resistência e de


deformabilidade do solo (NBR 6122, 2019).

Segundo Caputo (1996), o ensaio triaxial é mais preciso que o de


cisalhamento direto e atualmente é o mais usado. Ele é realizado em aparelhos que
se constituem de uma câmera cilíndrica transparente, que recebe a amostra envolta
em uma membrana de borracha. A parte superior dessa câmera recebe um pistão que
aplica pressão na amostra.

2.3.3. Ensaio de adensamento, expansibilidade e colapsabilidade

O ensaio de adensamento é regido pela norma americana ASTM D2435 /


D2435M e determina as características de compressibilidade dos solos, já o de
expansibilidade, regido pela norma DNIT 160/2012, mede sua expansão. De acordo
com a norma de projeto e execução de fundações (NBR 6122, 2019), geralmente
estes ensaios são realizados no mesmo tipo de equipamento.

Ensaios de colapsabilidade também podem ser executados com o mesmo


equipamento do ensaio de adensamento, e são realizados apenas no caso de solos
não saturados que mostrem tendência a colapsar.

2.3.4. Ensaios de permeabilidade e químicos

A NBR 6122 (2019) descreve de forma bem simples a definição destes


ensaios. O ensaio de permeabilidade permite determinar coeficientes de
permeabilidade, e os ensaios químicos avaliam o nível de contaminação do solo e da
água presente nele.

13
2.4. PARÂMETROS E PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOLO

A forma como cada elemento presente no solo se porta, ajuda a definir o


comportamento do solo. Esses elementos são a água, o ar e as partículas que compõe
a camada de solo (VAZ, 2014).

Os principais parâmetros citados na literatura para determinar a resistência do


solo são atrito interno e coesão. Esses parâmetros são importantes pois a propriedade
do solo de suportar as mais diversas cargas e de conseguir conservar sua estabilidade
depende da sua resistência ao cisalhamento (CAPUTO, 1996).

O princípio da pressão efetiva, de Terzaghi, foi uma das maiores contribuições


à engenharia e é considerado o marco fundamental do estabelecimento da Mecânica
dos Solos com bases científicas independentes (ORTIGÃO, 2007). Na sua publicação
Erdbaumechanik auf der Bodenphysikalischen Grundlage (A Mecânica dos Solos com
Base na Física dos Solos), ele estabeleceu o princípio da pressão efetiva e, de acordo
com Pinto (1983) apud Vaz (2014), uma de suas constatações que mais contribuiu
para a mecânica do solo foi de que a pressão efetiva é igual a diferença entre a
pressão total e a pressão neutra em um solo saturado. Vaz (2014) ainda oferece uma
breve explicação dos conceitos das pressões neutra e total, onde a pressão total
representada por δ, é a força total transmitida em uma seção de um determinado
plano, dividida pela área desta seção. Já a pressão neutra, representada por μ, é a
pressão da água em um ponto determinado no plano. A pressão efetiva, representada
por δ’, é a parcela da pressão total resistida pela estrutura das partículas do solo.

Outra propriedade importante para se ressaltar é a do índice de vazios. Esse


índice é definido pela relação do volume de vazios pelo volume de sólidos da amostra.
O índice de vazios altera a permeabilidade, compressibilidade e resistência a ruptura
dos solos e, por isso, Vaz (2014) afirma ser um fator que deve ser levado em
consideração nos estudos do solo.

2.4.1. Cisalhamento do solo

O cisalhamento é a propriedade dos solos da qual depende sua capacidade


de suportar as cargas aplicadas e conservar sua estabilidade (CAPUTO,1996). Em

14
outras palavras, trata-se da máxima capacidade de carga que o solo suporta sem
romper.

As tensões que geram cisalhamento no solo em qualquer um dos planos


cisalhantes são independentes da chamada tensão neutra, pois a forma de atuação
das pressões segundo Ortigão (2007) segue a conclusão da teoria de Terzaghi de que
a água não transmite esforço de cisalhamento.

A tensão de cisalhamento da ruptura é considerada como a maior tensão de


cisalhamento resistida pelo corpo, mas em alguns casos pode ser considerada como
a tensão necessária para uma certa deformação ou a tensão residual após um longo
deslocamento (PINTO, 1983 apud VAZ, 2014).

A umidade do corpo de prova ensaiado muda a tensão cisalhante necessária


para rompimento por cisalhamento. Assim, sugere-se que os ensaios de cisalhamento
sejam realizados com amostras saturadas.

2.4.2. Coesão do solo

A coesão do solo é a força de atração entre as superfícies de suas partículas,


podendo ela ser real ou aparente. A coesão aparente é dada como a tensão superficial
da água capilar, que tende a aproximar as partículas do solo. Essa coesão influencia
na resistência ao cisalhamento de solos que estão parcialmente saturados
(FREDLUND & RAHARDIO, 1993 apud SILVA & CARVALHO, 2007). Já a coesão real
ou verdadeira, vem das forças eletroquímicas que atraem as partículas de argila
(CAPUTO, 1986). Se tratando da coesão verdadeira, Vaz (2014) explana que ela deve
resultar da aderência entre as partículas, na ausência de qualquer força externamente
aplicada ou forças de próprio peso.

A definição do parâmetro da coesão é derivada principalmente do critério de


Mohr Coulomb e é usado para descrever a parcela sem fricção da resistência de
cisalhamento, que é independente da tensão normal (VAZ, 2014).

Os solos mais coesivos têm, geralmente, maior concentração de argila, afirma


Borchardt (2005). Ela explica que isso ocorre devido as partículas de argila terem

15
formato lamelar e a sua carga elétrica negativa favorecer a atuação da adesão
molecular. Na figura 5 está representada a estrutura das partículas.

Figura 5 - Partículas de argila: formato lamelar.


Fonte: Borchart (2005, p. 47)

2.4.3. Ângulo de atrito interno

O parâmetro ângulo de atrito interno é a característica de fricção entre as


partículas que compõe o solo. Esse ângulo pode ser definido como o ângulo máximo
em que se pode aplicar uma força ao solo (força normal à superfície de cisalhamento)
sem que ele cisalhe no plano de ruptura (SILVA & CARVALHO, 2007).

Os solos com maior ângulo de atrito interno, geralmente tem maior


concentração de partículas de areia. Borchardt (2005) cita que a superfície específica
das partículas de areia é menor do que a das argilas, pois ela tem um formato
poligonal, o que favorece a um atrito interno elevado. Na figura 6 estão representados
as estruturas dessas partículas.

Figura 6 - Partícula de areia: formato poligonal.


Fonte: Borchardt (2005, p. 47)

16
3. MATERIAIS E MÉTODOS

Neste item, serão descritos os materiais e métodos utilizados para obtenção


dos resultados necessários, assim como o delineamento e classificação do trabalho.

O trabalho tem por objetivo encontrar expressões que possam correlacionar


os dados obtidos em sondagens à percussão SPT com os resultados de ensaio de
cisalhamento, visando tornar mais prática a determinação dos parâmetros de
resistência ao cisalhamento do solo. Para Lakatos & Marconi (2001) apud Oliveira
(2011), uma pesquisa explicativa visa estabelecer uma relação de causa e efeito com
a manipulação das variáveis que são objeto do estudo. A manipulação com as
variáveis é feita de forma direta e sempre se busca identificar as causas dos
fenômenos que ocorrem. Os autores comentam também que esse tipo de pesquisa
envolve processo em laboratório mais do que em campo. Como neste trabalho será
levantado um questionamento de possível relação entre dados e a extração destes
dados se dá por análise de ensaios, a pesquisa é classificada como explicativa.

Na classificação quanto aos procedimentos técnicos, foram usados os


seguintes itens: (1) Pesquisa bibliográfica, elaborada através de materiais publicados
principalmente através de livros, artigos e teses, normas e matérias disponíveis na
internet; (2) Pesquisa experimental, que envolve análise de amostras em laboratório
e (3) Pesquisa documental, onde alguns dos dados usados para as comparações e
obtenção dos resultados são dados em relatórios de serviços de sondagens.

Quanto a abordagem a pesquisa quantitativa para Mattar (2001) apud Oliveira


(2011, p. 25) é classificada como a pesquisa que:

busca a validação das hipóteses mediante a utilização de dados


estruturados, estatísticos, com análise de um grande número de casos
representativos, recomendando um curso final da ação. Ela quantifica
os dados e generaliza os resultados da amostra para os interessados.

Outra abordagem seria a pesquisa qualitativa, que segundo Triviños (1987)


apud Oliveira (2011, p. 24):

trabalha os dados buscando seu significado, tendo como base a


percepção do fenômeno dentro do seu contexto. O uso da descrição

17
qualitativa procura captar não só a aparência do fenômeno como
também suas essências, procurando explicar sua origem, relações e
mudanças, e tentando intuir as consequências.

Mesmo com dados quantitativos na pesquisa, Oliveira (2011) ainda comenta


que se pode utilizar uma pesquisa qualitativa para se explicar os resultados da
pesquisa quantitativa. Este trabalho pretende não só analisar os resultados numéricos
obtidos pelos ensaios, mas também analisar e discorrer sobre a utilidade das relações.
É dito na literatura que pode ser ruim separar os estudos qualitativos e quantitativos.
Sendo assim, pode-se dizer que ambas as pesquisas são vistas como
complementares e não opostas. Posto isto, o presente estudo pode ser classificado
como quantitativo-qualitativo.

3.1. ÁREA DE ESTUDO

A pesquisa foi conduzida no Campus da Universidade Tecnológica Federal do


Paraná, situada no município de Pato Branco, região sudoeste do Paraná, a uma
distância de aproximadamente 433,53 km de Curitiba, capital do estado. O município
está distribuído em uma área territorial de 539,029 km² e possui como coordenadas
geográficas Latitude de 26° 13′ 46″ S e Longitude de 52° 40′ 14″ W, com uma altitude
de 760 metros em relação ao nível do mar (PREFEITURA MUNICIPAL DE PATO
BRANCO, 2020).

3.1.1. Aspectos climáticos, físicos e geotécnicos

O solo da cidade de Pato Branco é classificado, segundo a Embrapa (1984),


como um solo residual de comportamento laterítico, proveniente da meteorização de
rochas do derrame do Trapp, como o basalto. Tabalipa (2002) discorre que a cidade
está localizada no Terceiro Planalto Paranaense, também conhecido como planalto
do Trapp do Paraná, sendo caracterizado pela vasta uniformidade do solo e pelos
grandes lençóis de lavas provenientes de erupções.

Melfi (1997) apud Almeida e Oliveira (2018) destaca que em regiões tropicais
de climas quentes e úmidos e de invernos secos, é comum a predominância de solos
lateríticos. Para a Prefeitura Municipal de Pato Branco (2020), o clima típico do
18
município se enquadra como Subtropical Úmido Mesotérmico, sujeito a verões
quentes com temperatura média superior a 22ºC e tendência de concentração de
chuvas, além de invernos com geadas pouco frequentes e temperatura média inferior
a 18ºC, sem estação seca definida.

A caracterização do solo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná –


Campus Pato Branco realizada por Rambo (2009) em relatórios de sondagem à
percussão SPT, nos mostra que o subsolo da área investigada é constituído por duas
camadas. A primeira camada seria composta por argila de cor vermelha, consistência
muito mole à média, até a profundidade média de 7 metros, e a segunda, em
profundidades superiores a 7 metros, composta por argila pouco siltosa de cor
avermelhada, consistência média a dura, podendo apresentar nas cotas próximas ao
nível do lençol freático pigmentação de cores variegadas.

3.2. EXTRAÇÃO DE AMOSTRAS PARA ENSAIO DE CISALHAMENTO

A extração das amostras indeformadas foi realizada de acordo com as


recomendações da norma NBR 9604 (2016). Já os corpos de prova foram extraídos
conforme preconiza a norma americana ASTM D3080 (2011), além das
recomendações presentes no manual do equipamento de ensaio.

A extração dessas amostras deve ser realizada em forma de blocos ou


cilindros. Para tal extração, utilizaram-se moldes de PVC em formato cilíndrico com
diâmetro externo de 200 milímetros e altura de 300 milímetros, como mostra a figura
7.

19
Figura 7 - Moldes em PVC para retirada das amostras.
Fonte: Autores (2021)

Os locais de extração das amostras indeformadas foram escolhidos próximos


onde foram executados os furos de sondagem à percussão SPT, conforme
apresentado no Anexo A e Anexo B. As amostras foram extraídas de uma
profundidade entre 1,00 e 1,45 metro (Figura 8), profundidade necessária para que as
amostras estivessem abaixo da camada orgânica do solo, livres de raízes e
pedregulhos.

Figura 8 - Conferência da profundida de retirada das amostras.


Fonte: Autores (2021)

20
Para que essa profundidade fosse alcançada, foi necessária a escavação de
um poço utilizando-se da ajuda de uma mini escavadeira hidráulica, observada na
figura 9.

Figura 9 - Mini Escavadeira Hidráulica usada na escavação.


do poço
Fonte: Autores (2021)

Ao atingir uma profundidade próxima à desejada, a escavação mecânica era


substituída pela escavação manual, garantindo assim a integridade da amostra. Para
isso, foi necessário o uso de espátulas e pás de jardinagem (Figura 10). Após a
moldagem da amostra, o cilindro de PVC era cravado cuidadosamente ao redor da
amostra com o intuito de protegê-la e facilitar o seu transporte.

21
Figura 10 – Escavação manual da amostra antes de ser removida com o
molde cilíndrico.
Fonte: Autores (2021)

Após as extrações, cada amostra era envolvida com talagarça fina e então
coberta de parafina líquida afim de evitar que a umidade do solo sofresse alterações
significantes até o momento da execução do ensaio (Figura 11). Em seguida, as
amostras eram conservadas em câmara úmida para que não ocorresse perda da
umidade para o ambiente com a variação de temperatura.

Figura 11 - Amostra envolvida com talagarça recebendo camada de parafina líquida.


Fonte: Autores (2021)

22
Para cada amostra extraída, coletaram-se 03 cápsulas com solo do mesmo
local a fim de realizar o ensaio de determinação da umidade, dado necessário para
realização do ensaio de cisalhamento direto (Figura 12).

Figura 12 - Cápsula com solo para execução do ensaio de determinação de


umidade.
Fonte: Autores (2021)

3.3. ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO

O equipamento utilizado para a realização ensaio de cisalhamento direto


disponível no laboratório de solos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná é
da marca PAVITEST, fabricado pela Contenco (Figura 13). Para a realização do
ensaio, seguiu-se as recomendações da norma regulamentadora do ensaio ASTM
D3080 (2011) e o manual do equipamento fornecido pela Contenco - fabricante de
equipamentos para laboratório de solo, asfalto, aço, concreto, rocha e mineração.

23
Figura 13 - Equipamento de ensaio de cisalhamento direto de solo usado.
Fonte: Autores (2021)

De forma concisa, o manual explica que o ensaio consiste em uma aplicação


de carga normal e de uma força horizontal em uma das semicaixas que são utilizadas,
provocando um deslocamento de metade da semicaixa em relação a sua outra
metade. A norma ASTM D3080 (2011) dispõe de uma ilustração das partes
necessárias do aparato de realização do ensaio que contém a amostra (Figura 14),
composta pelas semicaixas superior e inferior (na imagem Upper e Lower Frame),
pedras porosas (Porous Stone), Pistão (Piston) e a amostra (Specimen), sendo que o
manual do equipamento traz uma imagem contendo os componentes da célula de
ensaio (Figura 15).

Figura 14 - Amostra de teste no aparato para cisalhamento simples.


Fonte: ASTM D3080 (2011), p. 2

24
Figura 15 - Componentes da célula de ensaio.
Fonte: Contenco (2020), p. 14

A ASTM D3080 (2011) recomenda a realização de no mínimo 03 ensaios com


cargas diferentes para cada amostra de solo a fim de ser possível, a partir das três
curvas, gerar uma reta dos resultados. Assim, cada amostra de solo retirada deve ter
material suficiente para a confecção de 03 corpos de prova. Ao final do ensaio, cada
corpo de prova gera um par de valores que dizem respeito aos parâmetros de tensão
normal e da tensão cisalhante. Utilizando-se desses pares de valores, o sistema
interligado no equipamento gera um gráfico Tensão Cisalhante x Tensão Normal. Com
a reta gerada pelo gráfico, torna-se possível a obtenção dos valores de coesão da
amostra, expresso pelo coeficiente linear, e do ângulo de atrito interno, representado
pelo coeficiente angular.

Antes de iniciar o ensaio, a ASTM D3080 (2011) propõe que se faça uma
conferência nas dimensões do equipamento, a fim de constatar se elas estão
condizentes. A caixa de cisalhamento deve ter largura mínima de 2 polegadas (50
mm) ou no mínimo 10 vezes o diâmetro da partícula de solo, prevalecendo o maior
dentre os dois valores. A espessura da amostra deve ser de no mínimo 0,5 polegadas
(13 mm) e nunca ser menor que 6 vezes o tamanho máximo do diâmetro da partícula
de solo. A relação mínima entre largura e espessura deve ser de 2:1.

25
Após as dimensões conferidas, inicia-se a moldagem dos corpos de prova
que, neste caso, utiliza-se de amostras indeformadas. Os corpos de prova são
moldados com a cravação do molde de corte, chamado vazador. Com o uso de
ferramentas apropriadas, retira-se o excesso de amostra das laterais tomando
cuidado para que o molde fique totalmente preenchido. A manipulação da amostra
indeformada deve ser feita cautelosamente a fim de não modificar a estrutura natural
do solo, sendo que o local onde a manipulação ocorre também deve ser preparado de
forma que não favoreça o ganho ou perda da umidade da amostra. A figura 16 mostra
um corpo de prova sendo retirado de uma das amostras.

Figura 16 - Corpo de prova sendo retirado da amostra.


Fonte: Autores (2021)

Com a amostra preparada, prende-se as duas partes (inferior e superior) da


célula de ensaio, que são fixadas com os parafusos recartilhados dispostos na
diagonal. Na parte inferior coloca-se um fundo removível, cuidando sempre para que
os pinos de sustentação fixos da célula se encaixem com o fundo. Sobre o fundo é
colocado a pedra porosa e sobre essa, coloca-se um filtro.

26
A preparação das pedras porosas segue a instrução do manual Contenco
(2020, p. 08):

No caso de solos saturados, as pedras porosas devem ser


previamente fervidas e mantidas imersas em água, até o instante
de entrar em contato com o CP; para solos parcialmente
saturados, as pedras porosas devem ser simplesmente
umedecidas; e para solos altamente expansivos, colapsíveis ou
muito seco, utilizar pedras porosas secas.

A norma ASTM D3080 (2011) determina que a água utilizada nas pedras
porosas seja especificada pelo requerente do ensaio, podendo ser usada água
retirada dos poros do solo de origem das amostras, água desmineralizada, água salina
ou água potável proveniente de torneira. No presente estudo utilizou-se água potável
de torneira.

Realizados os passos anteriores, uma placa furada e com ranhuras é inserido


na célula de ensaio, de forma que estas fiquem voltadas para cima e no sentido
transversal ao cisalhamento. Sobre essa placa, posiciona-se o vazador com o corpo
de prova e transfere-se ele totalmente para a célula de ensaio, com o auxílio de um
tarugo de madeira. Com o corpo de prova posicionado, insere-se outra placa furada e
com ranhuras, porém, esta com as ranhuras para baixo, também no sentido
transversal ao cisalhamento e coloca-se, por fim, o filtro e a pedra porosa faltante.
Esse conjunto preparado é chamado de célula. A figura 17 mostra a célula de ensaio
devidamente preparada para ensaio.

27
Figura 17 - Célula de ensaio montada e pronta para ser colocada
no equipamento de cisalhamento direto.
Fonte: Autores (2021)

Com a célula devidamente preparada, a mesma é transferida para a caixa de


cisalhamento, de modo que ela fique no fundo e totalmente encostada à esquerda da
caixa (Figura 18). Feito este posicionamento, insere-se os dados necessários no
software referente ao corpo de prova que se encontra na célula, e após realizada uma
conferência, aciona-se o motor da prensa.

Figura 178 - Célula de ensaio montada no equipamento de cisalhamento direto.


Fonte: Autores (2021)
28
Ao final de cada ensaio, deve-se desmontar o sistema e retornar a caixa de
cisalhamento para a posição inicial. Na figura 19 é possível observar um corpo de
prova retirado da célula de ensaio após seu rompimento.

Figura 1918 - Corpo de prova rompido ao fim do ensaio.


Fonte: Autores (2021)

3.4. EQUAÇÕES DE CORRELAÇÃO

Segundo Odebrech & Schinaid (2012), é possível a utilização de valores de


NSPT para determinação de parâmetros característicos do solo. Entretanto, as
abordagens modernas recomendam que o valor medido do NSPT seja corrigido,
levando em consideração o efeito da energia de cravação e do nível de tensões.

3.4.1. Correção do NSPT

Considera-se que no processo de cravação a energia nominal transferida à


composição das hastes não é a energia de queda livre teórica transmitida pelo
martelo, sendo que “A eficiência do golpe do martelo é função das perdas por atrito
entre cabo e roldana, do sistema de elevação e liberação do martelo e da sua
geometria” (ODEBRECH & SCHINAID, 2012, p. 33).

29
No Brasil, a liberação de queda do martelo com sistema manual ainda é
predominante, onde a energia aplicada varia entre 70% e 80% da energia teórica. Nos
Estados Unidos e na Europa, a sondagem à percussão é automatizada, liberando uma
energia de aproximadamente 60%. Sendo assim, a prática internacional sugere
normalizar o número de golpes com base no padrão internacional de N60, majorando
o valor de NSPT em 15% a 30% quando obtido a partir de uma sondagem realizada
em sistemas manuais (DÉCOURT, 1989).
A utilização de coxim e cabeça de bater, o acionamento com corda de sisal ou
cabo de aço e o tipo de martelo utilizado no ensaio, podem influenciar de alguma
maneira nos resultados da sondagem. Belincanta (1998) buscou quantificar a
influência desses fatores relacionados aos ensaios realizados no Brasil e seus
resultados podem ser observados na figura 20.

Figura 190 - Influência do tipo de martelo, para composição de 14 m de comprimento, martelo


com coxim de madeira e cabeça de bater de 3,6 kg.
Fonte: Belincanta (1998 apud Odebrech & Schinaid, 2012)

“A correção para um valor de penetração de referência, normalizado com base


no padrão internacional de N60, é realizada simplesmente por meio de uma relação
linear entre a energia empregada e a energia de referência” (ODEBRECH &
SCHINAID, 2012, p. 34). Assim:

𝑁60 =
𝑁𝑆𝑃𝑇 𝑥 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝐴𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑑𝑎 (1)
0,60

30
Considerando que a sondagem à percussão que originou o relatório utilizado
no atual estudo foi executada com martelo cilíndrico com pino guia, acionado por cabo
de aço em estado de composição considerado novo, baseando-se na figura 21,
assume-se que a média de eficiência da energia é de 73,9%. Portanto, a equação do
cálculo da correção é expressa por:

𝑁60 =
𝑁𝑆𝑃𝑇 𝑥 0,739 (2)
0,60

3.4.2. Estimativa de Parâmetros de Resistência a partir do NSPT

Para a determinação do ângulo de atrito (∅), através de dados de relatórios de


sondagem à percussão SPT, Godoy (1983) apresenta a seguinte equação:

∅ = 28° + 0,4𝑁60 (3)

Por outro lado, Teixeira (1996) utiliza para a mesma finalidade a equação 04.

∅ = √20𝑁60 + 15° (4)

Para estimar a coesão (𝑐) não drenada de argilas saturadas, Teixeira e Godoy
(1996) sugerem a utilização da equação 05, em kPa.

𝑐 = 10𝑁60 (5)

Berberian (2015) sugere que a coesão para solos não saturados na situação
drenada, seja estimada em kPa por:

𝑐=
𝑁60 (6)
0,35

331
Outra maneira de se obter a coesão de argilas se dá por uma tabela
desenvolvida por Alonso (1983), encontrada na Tabela 1.

Tabela 1 - Coesão das argilas.

N (golpes) Consistência Coesão (kPa)


<2 Muito Mole < 10
2–4 Mole 10 - 25
5–8 Média 25 – 50
9 – 15 Rija 50 – 100
16 - 30 Muito Rija 100 – 200
> 30 Dura > 200
Fonte: (Alonso, 1983)

33
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. RESULTADOS OBTIDOS POR CORRELAÇÕES EMPÍRICAS

Na tabela 2 constam os resultados obtidos com as equações de correlação


das sondagens à percussão SPT (Sondagens seguem no Anexo C, Anexo D, Anexo
E e Anexo F).

Tabela 2 – Resultados obtidos pelas correlações usando dados da sondagem SPT.

Coesão não ∅ por


Coesão ∅ por Godoy
Sondagem saturada Teixeira
saturada (kPa) (1983)
(kPa) (1996)
SP 02 24,63 7,04 28,98 22,02
SP 03 24,63 7,04 28,98 22,02
SP 04 24,63 7,04 28,98 22,02
SP 05 24,63 7,04 28,98 22,02
Fonte: Autores (2021)

4.2. RESULTADOS OBTIDOS PELO ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO

Os valores obtidos para a coesão do solo encontram-se na média de -0,64


kgf/cm² ou -64 kPa, e os valores do ângulo de atrito na média de 66,76º, como pode
ser visto na tabela 3.

Tabela 3 – Resultados obtidos pelos ensaios de cisalhamento direto.

Amostra Coesão (kgf/cm²) Ângulo de Atrito


UTFPR 02 – 28/04 -0,49 61,01º
UTFPR 03 – 12/05 -1,33 72,47º
UTFPR 04 – 13/05 -0,17 66,38º
UTFPR 05 – 14/05 -0,57 67,20º
Fonte: Autores (2021)

34
4.3. COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS

Nesta etapa, com os dados obtidos pelos ensaios de laboratórios e pelas


correlações utilizando dados das sondagens à percussão SPT, deve-se fazer uma
análise comparativa sobre os gráficos e valores encontrados. O principal objetivo
desta fase, é definir se os dados obtidos pelas correlações são suficientemente fiéis
aos resultados dos ensaios, para permitir que as equações usadas sejam aplicadas
em projetos de engenharia.

Os resultados esperados pelos ensaios em laboratório deveriam se


assemelhar em gráficos como os mostrados na figura 21.

Figura 201 - Gráficos resultantes de um ensaio de cisalhamento direto.


Fonte: Tabalipa (2008)

Porém, os gráficos obtidos pelos ensaios de cisalhamento foram discrepantes,


como podem ser vistos no Apêndice A, Apêndice B, Apêndice C e Apêndice D. Ao
analisar os resultados, é possível observar que todas as amostras apresentaram um
ângulo de atrito interno de valor elevado, além de uma coesão de valor negativo.

Em um trabalho realizado por Almeida e Oliveira (2018) recentemente na


cidade de Cascavel-PR, região próxima à desta pesquisa, o valor obtido para coesão
35
do solo a 1 metro de profundidade foi de 2 kPa, enquanto ao ângulo de atrito interno,
o valor foi de 14,2º. Em outro trabalho realizado por Vaz, et al (2018) ao longo da
rodovia BR 376 entre os municípios de Curitiba-PR e Garuva-SC, os valores obtidos
para a coesão do solo através do ensaio de cisalhamento direto encontram-se na
média de 6,17 kPa. Ainda, em relação ao mesmo trabalho, obtiveram por meio do
ensaio de cisalhamento direto um valor médio de 34,02º para ângulo de atrito interno.

Tomando como base os valores encontrados pelos pesquisadores Almeida e


Oliveira (2018) conclui-se que resultados encontrados no ensaio de cisalhamento
direto não podem serem aceitos para que a comparação com os dados obtidos pelas
correlações da sondagem à percussão seja válida.

Buscando uma solução para os resultados inesperados, realizou-se uma


investigação do que poderia ter interferido nos resultados dos ensaios realizados.
Questionados os profissionais responsáveis pelo laboratório de mecânica dos solos,
os quais possuem experiência em realizar o ensaio, estes não souberam apontar o
motivo para tais resultados. Técnicos da empresa fabricante Contenco também foram
contatados a fim de se obter informações que pudessem esclarecer os valores
obtidos. Por fim, concluiu-se que o equipamento não havia recebido calibragem anual
conforme instruções da fabricante.

Além disso, ao executar um ensaio teste em 2020, o equipamento apresentou


problemas mecânicos no dispositivo que auxilia no nivelamento dos pesos. Após esse
ensaio, o equipamento foi desmontado com o intuito de corrigir o problema, porém,
sem êxito. Mesmo com o equipamento danificado e sem ser calibrado após a
manutenção, os ensaios foram retomados, o que possivelmente pode ter ocasionado
os resultados dispersos.

Por motivos de força maior, os autores não poderiam extrair novas amostras
de solo e realizar assim novos ensaios, além de que o problema no equipamento não
teria sido solucionado e posteriormente calibrado. Sendo assim, o estudo de
comparação entre as sondagens à percussão e os dados de ensaio, objetivo principal
deste trabalho, não foi possível, pois resultariam em equações equivocadas.

36
37
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O principal objetivo desta pesquisa foi determinar correlações que auxiliassem


na obtenção do ângulo de atrito interno e coesão do solo para a região de Pato Branco,
através da realização de ensaios de cisalhamento direto, além de comparar os
resultados com correlações existentes na literatura, utilizando-se do índice de
resistência à penetração (NSPT), corrigido para a eficiência medida no equipamento
de sondagem à percussão SPT de 60% como descrito no item 3.4.1. deste trabalho.

Ao analisar os dados obtidos no ensaio de cisalhamento direto, verificou-se


que os valores não correspondem com os esperados. Desta forma, como os
resultados apresentaram um comportamento não esperado em relação aos obtidos
por outros pesquisadores, não foi possível determinar correlações válidas para
estimar o valor de ângulo de atrito interno e coesão do solo através de relatórios de
sondagem à percussão SPT, uma vez que o equipamento utilizado não passou por
revisões preventivas.

Ressalta-se que pesquisas futuras devem ser realizadas no mesmo tema,


com o equipamento devidamente calibrado, para que o método possa ser comprovado
e aplicado na região estudada, possibilitando assim um acesso mais facilitado aos
parâmetros importantes para o estudo do comportamento do solo.

38
REFERÊNCIAS

ABEF. Manual de execução de fundações e geotecnia: práticas


recomendadas. São Paulo: Pini, 2012.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122:


Projeto e Execução de Fundações. Rio de Janeiro, Set. 2019. 108 p.

______. NBR 6484: Solo – Sondagens de simples reconhecimento com SPT –


Método de ensaio. Rio de Janeiro, Fev. 2001. 17 p.

______. NBR 6502: Rochas e solos – Terminologia. Rio de Janeiro, Set. 1995. 18
p.

______. NBR 9604: Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com


retirada de amostras deformadas e indeformadas – Procedimento. Rio de Janeiro,
Jan. 2016. 9 p.

ALMEIDA, Maycon André de; OLIVEIRA, Rafael Magrini Marques de. Estimativa
do Ângulo de Atrito e Coesão Através de Índices de Resistência Obtidos pela
Sondagem SPT em Solo Laterítico e Colapsível Característico da Cidade de
Cascavel no Estado do Paraná. 2018. Disponível em:
https://revistas2.uepg.br/index.php/ret/article/download/13282/209209212556/.
Acesso em: setembro 2020.

ALONSO, Urbano Rodriguez, 1943 - Exercícios de fundações / Urbano


Rodriguez Alonso. São Paulo: Edgard Blucher, 1983.

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM D3080/D3080M


– 11 - Standart Test Method for Direct Shear of Soils Under Consolidated
Drained Conditions. United States, 2011.

BELINCANTA, A. Avaliação dos fatores intervenientes no índice de


resistência à penetração do SPT. Tese (Doutorado) – Universidade de São
Paulo, São Carlos, 1998.

BERBERIAN, Dickran (2015). Engenharia de fundações. Brasília, DF.


INFRASOLO, 2ª EDIÇÃO. Vol único, 906p.
39
BRAGA, Benedito.; HESPANHOL, Ivanildo.; CONEJO, João.G.L.; MIERZWA,
José.C.; BARROS, Marta. T. L.; SPENCER, Milton.; PORTO, Mônica.; NUCCI,
Nelson.; JULIANO, Neusa.; EIGER, Sérgio. Introdução à Engenharia Ambiental.
São Paulo, PEARSON PRENTICE HALL, 2ª. Ed., 2005. 336 p.

BORCHARDT, N. Diagnóstico geológico-geotécnico na estabilidade de


vertentes do alto e médio curso da bacia do rio Sagrado, PR. 2005. Disponível
em:
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/3174/Dissertacao%20Nicole%2
0Borchardt.pdf?sequence=2&isAllowed=y. Acesso em: outubro 2020.

CAPUTO, Homero Pinto. Mecânica dos solos e suas aplicaçãoes -


Fundamentos. 6ª ed. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora
S.A. 1996. 231 p. Volume 1.

CONTENCO. Manual do Equipamento para cisalhamento direto em solos da


marca PAVITEST. Minas Gerais. 2020.

EMBRAPA, IAPAR. Levantamento de Reconhecimento dos Solos do estado


do Paraná – Tomo I e II. Londrina, 1984.

EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2ª ed. Rio de Janeiro,


2006.

FREDLUND, D.G. & RAHARDJO, H. Soil mechanics for unsaturated soils. New
York, John Wiley, 1993. 517p.

GODOY, N. S. Estimativa da capacidade de carga de estacas a partir de


resultados de penetrômetro estático. Escola de Engenharia de São Carlos –
USP. 1983.

GUIDICINI, G.; NIEBLE, C M. Estabilidade de taludes naturais e de escavação.


São Paulo: Edgard Blucher LTDA. 1983. 196p.

KERTZMAN, Fernando F; DINIZ, Nóriz Costa. As abordagens de solos


utilizadas na geologia aplicada ao meio ambiente, In: Curso de Geologia
aplicada ao meio ambiente, São Paulo, Associação Brasileira de Geologia, Instituto
de Pesquisa Tecnológica, Divisão de Geologia. Cap. 3.1. p. 19-30. 1995.

40
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos metodologia científica. 4.ed.
São Paulo: Atlas, 2001.

MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2001.

MELFI, A. J. (1997). Lateritas e Processos de Laterização (Aula Inaugural de


655 1994). São Carlos: Escola de Engenharia de São Carlos. USP.

ODEBRECHT, Edgar. SCHNAID, Fernando. Ensaios de Campo e suas


Aplicações à engenharia de Fundações. 2ª ed. São Paulo: Oficina de Textos.
254 p. 2012.

OLIVEIRA, Maxwell Ferreira de. METODOLOGIA CIENTÍFICA: um manual para


a realização de pesquisas em administração. 2011. Disponível em:
https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/567/o/Manual_de_metodologia_cientifica_-
_Prof_Maxwell.pdf. Acesso em: setembro 2020

ORTIGÃO, J. A. R. Introdução à mecânica dos solos dos estados Críticos. 3ª.


Ed. Terratek, 2007.

PINTO, C. S. Curso básico de mecânica dos solos. 3ª ed. São Paulo: Oficina de
Textos. 2006.

PINTO, R. C.; PASSOS, E.; CANEPARO, S. C. Classificação dos Movimentos de


Massa ocorridos em março de 2011 na Serra da Prata, Estado do Paraná. In:
Geoingá: Revista do programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Estadual de Maringá, v.4, n.1, p. 3-27, 2012.

PREFEITURA MUNICIPAL DE PATO BRANCO. Informações gerais. Disponível


em: http://patobranco.pr.gov.br/omunicipio/informacoes-gerais/. Acesso em:
setembro 2020.

QUARESMA, A. R., DÉCOURT, L., QUARESMA FILHO, Artur R., ALMEIDA, M. S.


S. e DANZIGER, F. Investigações geotécnicas, Fundações – Teoria e prática,
2ª ed. São Paulo: Pini, 758 p. 1998.

41
RAMBO, Sergio Tarsicio. Relatório de Sondagem: Ampliação Blocos “V”, “L”, “M”
e “N”, Construção Biblioteca e Bloco J1. UTFPR – Universidade Tecnológica
Federal do Paraná. Jan. 2009.

SILVA, A. J. N. da; CARVALHO, F. G. de. Coesão e resistência ao cisalhamento


relacionadas a atributos físicos e químicos de um Latossolo Amarelo de
tabuleiro costeiro In: Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.31, n. 5. Viçosa.
seção I - física do solo. Setembro/outubro 2007.

TABALIPA, Ney Lyzandro. Estudo da estabilidade de vertentes da Bacia do Rio


Ligeiro, Pato Branco, Paraná. 2008. 243 f. Tese (Doutorado) – Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, 2008.

TABALIPA, Ney Lyzandro. Proposta para o desenvolvimento urbano do


município de Pato Branco, Paraná, baseada em critérios geológicos e
geomorfológicos. 2002. 147 f. Dissertação (Pós Graduação em Geologia) –
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2002.

TEIXEIRA, A. H. Projeto e execução de fundações. In: SEMINÁRIO DE


ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES ESPECIAIS E GEOTECNIA [SEMINAR OF
ENGINEERING OF SPECIAL AND GEOTECHNICAL FOUNDATIONS], 3. Anais...
São Paulo, 1996. v.1. p. 33-50.

TEIXEIRA, A. T.; GODOY, N. S. Análise, Projeto e Execução de Fundações


Rasas. Fundação: Teoria e Prática. São Paulo, SP, PINI, 1996.

THIESEN, Stephanie. Aplicação de ferramenta SIG para mapeamento


geotécnico e cartas de aptidão para fundação a partir de ensaios SPT: um
estudo de caso em Blumenau/SC. Florianópolis, SC, 2016, 207 p.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa


qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. 175 p.

VAZ, Ana Paula de Melo e Silva. Estudo de áreas suscetíveis a escorregamento


em sub-bacia do Rio São João, Br 376 entre os km 665 e 668. 2014. Disponível
em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/36533. Acesso em: setembro 2020.

42
VAZ, Ana Paula de Melo e Silva; FIORI, Alberto Pio; SILVEIRA, Claudinei Taborda
da. Métodos de obtenção de valores de ângulo de atrito e coesão:
comparação entre o ensaio de cisalhamento direto e cálculo baseado no SPT.
BOLETIM PARANAENSE DE GEOCIÊNCIAS, v. 74, p. 1-10, 2018.

VELLOSO, Dirceu A.; LOPES, Francisco R.. Fundações: critérios de projeto -


investigação do subsolo - fundações superficiais. São Paulo: Oficina de
Textos, 2004. v.1. 226 p.

43
ANEXO A

44
ANEXO B

45
ANEXO C

46
ANEXO D

47
ANEXO E

48
ANEXO F

49
APÊNDICE A

50
APÊNDICE B

51
APÊNDICE C

52
APÊNCIDE D

53

Você também pode gostar