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A história de Pêssach

A história de Pêssach inicia nos dias do patriarca Avraham (Abraão). Quando D'us prometeu
um herdeiro a Avraham, cujas sementes seriam tão numerosas como as estrelas, D'us também
informou-o do longo período de escravidão que seus descendentes sofreriam por 400 anos, até
que fossem libertados.

O primeiro dos descendentes de Avraham a chegar ao Egito foi seu bisneto Yossef (José), cuja
miraculosa ascensão de escravo à quase realeza é uma das mais inspiradoras narrativas da
Torá. Na dramática história de Yossef e seus irmãos, podemos ver claramente a mão
condutora da Divina Providência que levou Yaacov (Jacó) e sua família ao Egito.

A chegada de Yaacov e sua família no Egito foi uma marcha triunfal. Assim foi também a
partida, 210 anos depois, de seus filhos, os filhos de Israel, do Egito. Esta era a diferença: a
pequena família de setenta pessoas havia se tornado uma nação grandiosa e unificada de três
milhões de almas, das quais, 600.000 homens adultos.

A história de Pêssach, termina no seu ponto alto em Shavuot, (festa da Outorga da Torá no
Monte Sinai), é a história do nascimento de um "reino de sacerdotes e nação sagrada": O povo
judeu.

A escravidão de Israel

Yossef e seus irmãos faleceram, e os filhos de Israel se multiplicaram na terra do Egito. Logo
após o faraó também morreu, e um novo rei ascendeu ao trono. Ele não nutria simpatia alguma
pelos judeus, e preferiu esquecer tudo o que Yossef havia feito pelo Egito.

Reuniu o conselho, e decidiu escravizar o povo e a oprimi-lo antes que se tornasse muito
poderoso. O faraó lançou uma política que limitava a liberdade pessoal dos hebreus, impondo
pesados impostos sobre eles, e recrutando os homens para trabalhos forçados, sob a
supervisão de severos capatazes. Um dos atos mais atrozes foi a tortura das crianças judias. O
faraó mandava embuti-las vivas entre as paredes das construções e tomava banho com seu
sangue. Porém, quanto mais os Egípcios os oprimiam, quanto mais duras as restrições
impostas sobre eles, mais os filhos de Israel cresciam e se multiplicavam.

Finalmente, quando o faraó percebeu que apenas escravizar os hebreus de nada adiantaria,
decretou que todos seus bebês recém-nascidos do sexo masculino fossem jogados no rio Nilo.
Apenas filhas tinham permissão para viver. Desta maneira, ele esperava acabar com o
aumento da população judaica, e ao mesmo tempo, eliminar um perigo que, de acordo com as
previsões dos astrólogos, ameaçava sua própria vida.

O divino embaixador

Os filhos de Israel não podiam mais suportar o terrível sofrimento e a perseguição nas mãos de
seus cruéis opressores. Seu sofrimento e suas preces penetraram os céus. D'us lembrou-Se
de Seu acordo com Avraham, Yitschac e Yaacov, e decidiu libertar seus descendentes do
cativeiro.

Moshê tinha a idade de oitenta anos, e seu irmão Aharon oitenta e três, quando entraram no
palácio do faraó. Este perguntou aos dois irmãos o que desejavam. A mensagem soou como
uma ordem: "Assim disse o Senhor D'us de Israel: 'Deixe Meu povo ir, que eles Me oferecerão
uma festa no deserto.'"

O faraó recusou desdenhosamente, dizendo que nunca tinha ouvido falar do D'us dos
Israelitas, e que Seu nome não estava registrado na sua lista de deuses de todas as nações.
Acusou ainda Moshê e Aharon de uma conspiração contra o governo, e de interferirem com o
trabalho dos escravos hebreus. A um sinal de Moshê, Aharon então realizou os sinais
milagrosos que D'us lhe tinha permitido realizar, mas o faraó não se impressionou muito, pois
seus mágicos podiam fazer quase o mesmo.

No mesmo dia o faraó ordenou que seus capatazes aumentassem a opressão sobre os filhos
de Israel, e sofreram ainda mais que antes. Em seu desespero, os filhos de Israel reprovaram
Moshê amargamente, por piorar ainda mais a sua situação.

Profundamente ferido e desapontado, Moshê rezou a D'us que o consolou e assegurou-lhe que
sua missão teria sucesso, mas não antes que o faraó e todos do Egito fossem assolados por
terríveis pragas, para que fossem punidos. Todos então veriam e reconheceriam D'us fiel e
verdadeiro.

Az dez pragas

Quando o faraó continuou recusando-se a libertar os filhos de Israel, Moshê e Aharon


avisaram-no de que D'us puniria tanto a ele como ao povo egípcio. Primeiro, as águas do Egito
se transformariam em sangue. Moshê caminhou com Aharon até o rio. Lá chegando, Aharon
levantou seu cajado, golpeou as águas e transformou-as em torrentes de sangue. Foi
impossível para eles beberem da água do Nilo. Infelizmente para os egípcios, não apenas as
águas do Nilo mas todas as águas do Egito transformaram-se em sangue. Os peixes morreram
nos rios e lagos, e por uma semana inteira homens e animais sofreram horrível sede. Nem
assim o faraó cedeu.

Após o devido aviso, a segunda praga chegou. Aharon estendeu a mão sobre as águas do
Egito, que ficaram apinhadas de sapos. Cobriram cada pedaço do solo, entrando nas casas e
nos quartos! Para onde quer que um egípcio se voltasse, qualquer coisa que tocasse, lá se
deparava com escorregadios corpos de sapos, cujo coaxar enchia os ares. Desta vez o Faraó
amedrontou-se, e pediu a Moshê e Aharon que rezassem a D'us para que o incômodo fosse
removido, prometendo libertar imediatamente o povo judeu. Porém, assim que os sapos
desapareceram, quebrou a promessa e recusou-se a deixar os filhos de Israel irem embora.

Então D'us ordenou a Aharon que golpeasse o pó da terra com seu cajado, e assim que ele o
fez, piolhos vindos do solo rastejaram até cobrirem todo o chão. Homens e animais tiveram
indizível sofrimento com esta praga terrível, mas o faraó endureceu o coração e permaneceu
incansável na sua determinação de manter os filhos de Israel no cativeiro.

A quarta praga a atormentar os egípcios consistiu de bandos de animais selvagens


perambulando por todo o país, destruindo tudo que havia em seu caminho. Novamente o faraó
prometeu deixar os judeus irem para o deserto, com a condição que não fossem muito longe.
Moshê rezou a D'us, e os animais selvagens desapareceram. Mas, assim que eles sumiram, o
faraó retirou sua promessa e recusou-se a atender ao pedido. Então D'us mandou uma peste
fatal que matou a maioria dos animais domésticos dos egípcios. todos os rebanhos dos
campos foram golpeados e até os animais que eles adoravam como deuses derrotados pela
praga! Tinham, além disso, a humilhação de ver os animais dos israelitas totalmente imunes.
Apesar disso, o faraó ainda não se comovera, e não quis deixá-los livres.

Seguiu-se a sexta praga, que foi tão dolorosa e abominável que atingiu o povo do Egito com
horror e agonia. D'us ordenou a Moshê que pegasse cinza da fornalha, e a jogasse em direção
ao céu: então bolhas estouraram na pele dos homens e animais do Egito.

Moshê anunciou ao rei que uma tempestade de granizo com violência nunca vista assolaria a
terra; nenhum ser vivo, nenhuma árvore ou arbusto escaparia incólume à tamanha fúria; o
único lugar para se proteger seria dentro das casas; aqueles, portanto, que acreditassem e
estivessem temerosos deveriam ficar sob a proteção de seus tetos, e abrigar o gado nos
estábulos. Ao estender seu cajado para a frente, o granizo caiu com violência; e choveu fogo
sobre o chão destruindo tudo. Então o faraó mandou chamar Moshê e reconheceu que tinha
pecado. "O Senhor é justo," disse ele, "Suplique ao Senhor, pois isso já é demais, para que não
haja mais granizo; e eu o deixarei sair." Moshê replicou: "Quando eu sair da cidade, elevarei
minhas mãos ao Senhor; o trovão cessará, e não haverá mais granizo, e você saberá que D'us
é o Senhor da terra." Assim ocorreu, mas logo após, o faraó permaneceu irredutível.

Da próxima vez que Moshê e Aharon foram ao faraó, este pareceu ter abrandado de certa
forma, e perguntou-lhes quem iria participar no culto que os israelitas fariam no deserto.
Quando lhe disseram que todos sem exceção, jovens e idosos, homens, mulheres e animais
iriam, o faraó sugeriu que apenas os homens deveriam ir, e que as mulheres e crianças, bem
como seus pertences, deveriam ficar no Egito. Moshê e Aharon não podiam aceitar esta oferta,
e o faraó enfureceu-se, ordenando-lhes que deixassem o palácio. Antes de sair, Moshê
advertiu-o sobre novos sofrimentos e punições. Porém o faraó permaneceu inflexível.

Tão logo Moshê deixou o palácio, levantou os braços aos céus. Um vento leste trouxe nuvens
de gafanhotos ao Egito, cobrindo o sol, e devorando cada folha verde que porventura tivesse
escapado ao granizo e às pragas anteriores. Nunca na história da humanidade houvera uma
praga de gafanhotos tão devastadora como esta. Trouxe ruína total ao Egito, o qual já tinha
sido totalmente destruído pelas catástrofes precedentes. Novamente o faraó mandou chamar
Moshê e Aharon, implorando a eles que orassem a D'us para que cessasse esta praga. Moshê
assentiu, e D'us mandou um forte vento oeste que levou os gafanhotos para o mar. Quando
tudo amainou, a obstinação do faraó voltou, e recusou-se a liberar o povo de Israel.

Então seguiu-se a nona praga. Por seis dias, todos no Egito foram envoltos num véu
impenetrável de escuridão e que até extinguia todas as luzes que se acendessem. Os egípcios
foram tomados de pavor, permanecendo presos aos lugares em que se achavam sentados ou
de pé.

Novamente o faraó tentou barganhar com Moshê e Aharon, permitindo que partissem com todo
o povo, deixando para trás apenas os rebanhos como penhor. Moshê e Aharon o informaram,
entretanto, que não aceitariam nada menos que liberdade total, para os homens, mulheres,
animais e crianças, e que levariam todos os pertences com eles. Novamente o faraó se
enfureceu e ordenou a Moshê e Aharon que fossem embora para nunca mais voltar. Avisou-os
de que se tentassem novamente aparecer diante dele, morreriam. Moshê replicou que não
seria necessário para eles procurar o faraó, pois D'us mandaria ainda uma praga ao Egito,
após a qual o faraó daria permissão incondicional para que os filhos de Israel deixassem o
Egito.

Exatamente à meia-noite, continuou Moshê, D'us passaria sobre o Egito e golpearia todos os
primogênitos, homens e animais. Quanto aos filhos de Israel, no entanto, nenhum seria tocado.
Um grito amargo percorreu o Egito, e todos os egípcios foram tomados pelo terror, pois tinham
medo de morrer. Então o próprio faraó procurou os líderes dos hebreus, e implorou que
abandonassem o Egito sem mais demora!

Com estas palavras, Moshê e Aharon deixaram o faraó.

Pêssach: um mandamento divino

No primeiro dia do mês de Nissan, duas semanas antes do Êxodo do Egito,

D'us disse a Moshê e Aharon: "Este mês será para vocês o começo dos meses; será o primeiro
mês do ano para vocês. Vão e falem à toda a congregação de Israel: no décimo dia deste mês,
cada homem deverá tomar um cordeiro, conforme a casa de seus pais, um cordeiro para cada
família; e deverá mantê-lo até o décimo quarto dia do mesmo mês; e toda a assembléia da
congregação de Israel deve abatê-lo ao anoitecer. Deverão pegar o sangue e transportá-lo
para as casas onde deverão comê-lo. Comerão a carne naquela noite, tostada ao fogo, com
pão ázimo; comê-lo-ão com ervas amargas... E não deixarão sobrar nada até a manhã; mas
aquilo que sobrar até a manhã deverá ser queimado com fogo. E assim deverão comê-lo: com
a cintura cingida, com sapatos nos pés e o cajado na mão; e devem comê-lo com pressa, - é o
Pêssach do Senhor. E quando Eu vir o sangue, passarei sobre vocês, e não haverá praga que
os destrua, quando Eu golpear a terra do Egito. E este dia será para vocês um memorial, e
deverão celebrá-lo como uma festa do Senhor, através de todas as gerações.

".... vocês deverão comer pão ázimo, e jogar fora todo fermento de suas casas. E seus filhos
dirão a vocês: O que isto significa? Vocês dirão: É o sacrifício de Pêssach a D'us, que passou
sobre as casas dos filhos de Israel no Egito quando Ele golpeou os egípcios e poupou nossas
moradas."

Tudo isso foi dito por Moshê aos filhos de Israel, e eles fizeram como D'us lhes ordenara.

Veio a meia-noite de quatorze para quinze de Nissan, e D'us golpeou todos os primogênitos na
terra do Egito, do primeiro filho do faraó ao do prisioneiro nas masmorras; e todos os
primogênitos dos animais, como Moshê havia avisado. Houve um lamento pungente e
ensurdecedor, pois em cada casa um ente amado caíra golpeado de morte. Então o faraó
procurou Moshê e Aharon naquela mesma noite, e lhes disse: "Levantem-se, saiam de perto de
meu povo, vocês e os filhos de Israel; vão, sirvam ao Senhor como desejam; tomem seus
rebanhos, como disseram, e vão, e me abençoem também." Finalmente o orgulho do Faraó
fora quebrado.

Enquanto isso, os hebreus estavam se preparando para sua apressada partida. Com os
corações batendo, reuniram-se em grupos para comer o cordeiro pascal. Participaram da
refeição da meia-noite, preparada conforme as instruções de Moshê. As mulheres tiraram dos
fornos os pães ázimos, que foram comidos com a carne grelhadas dos cordeiros. O sol já havia
se erguido no horizonte quando, à palavra de comando, toda a nação dos hebreus avançou.
Mas nem mesmo em meio ao perigo, esqueceram o penhor dado por seus ancestrais a Yossef,
e carregaram seus restos mortais com eles, para enterrá-los mais tarde na Terra Prometida.

Dessa maneira os filhos de Israel foram libertados do jugo de seus opressores no dia 15 de
Nissan, no ano 2448 após a criação do mundo. Havia 600.000 homens acima de 20 anos de
idade que, com suas mulheres, crianças e rebanhos, cruzaram a fronteira do Egito para serem
uma nação livre. Muitos egípcios e outros não-judeus juntaram-se aos triunfantes filhos de
Israel, esperando partilhar de seu glorioso futuro. Os filhos de Israel não deixaram o Egito de
mãos vazias. Além de seus próprios bens, os aterrorizados egípcios haviam entregado a eles
seus valores em prata e ouro, vestimentas, num esforço de apressar sua partida. Dessa
maneira D'us cumpriu em cada detalhe Sua promessa a Avraham de que seus descendentes
deixariam o exílio com grandes riquezas em recompensa aos 210 anos de trabalhos forçados.

Liderando o povo judeu na sua jornada durante o dia havia uma coluna de nuvem, e à noite,
uma coluna de fogo iluminando o caminho. Estes mensageiros Divinos não apenas guiavam os
filhos de Israel, como também preparava o caminho à sua frente, tornando-o fácil e seguro.

A Travessia do Mar Vermelho


A rota mais curta dos filhos de Israel para a terra Prometida teria sido através do país dos
filisteus, mas isto teria envolvido o povo numa guerra contra os filisteus e talvez os filhos de
Israel, que haviam acabado de se livrar de séculos de escravidão, não estivessem
suficientemente fortes para lutarem como homens livres; poderiam resolver pela volta ao Egito,
para não enfrentarem uma guerra sangrenta. Por isso, D'us levou-os por um caminho através
do deserto em direção ao Mar Vermelho.

Em três dias, o faraó recebeu notícias do progresso dos filhos de Israel. Agora arrependia-se
por ter permitido que se fossem. Por esse motivo, mobilizou seu exército e liderou
pessoalmente a cavalaria e os carros de guerra mais selecionados, em furiosa perseguição a
seus antigos escravos. Alcançou-os perto das margens do mar Vermelho, e pressionou-os
contra a água, num esforço para impedir-lhes de escapar.
Alguns grupos do povo judeu estavam prontos a combater os egípcios: outros preferiam afogar-
se no mar ou fugir para o deserto, que arriscar-se a uma derrota e a volta à escravidão. Outras
começaram a reclamar contra Moshê, temendo que ele os tivesse tirado da segurança do Egito
para morrer no deserto. "Porque não havia túmulos no Egito," exclamaram, "você nos tirou de
lá às pressas para morrermos no deserto? Por que motivo nos tirou de lá? Por acaso não lhe
dissemos no Egito: 'Deixe-nos em paz, que serviremos aos egípcios? Pois é melhor para nós
servirmos aos egípcios do que morrermos no deserto'".

Porém Moshê, calmo e firme num dos mais difíceis momentos de sua vida, disse: "Não tenham
medo, fiquem firmes e vejam a salvação do Senhor, que Ele mostrará hoje a vocês".

Moshê liderou os israelitas até que chegaram bem às margens do mar Vermelho. A coluna de
nuvens então trocou de posição: mudando da frente para trás das hostes hebraicas, flutuou
entre os dois exércitos.

Então D'us falou a Moshê: "Levante seu cajado, estenda a mão sobre o mar, e o divida; e os
filhos de Israel caminharão sobre o fundo do mar como em terra seca." Moshê fez como D'us
lhe ordenara. Levantou o bastão, estendendo a mão sobre o mar; levantou-se um forte vento
leste que soprou por toda a noite. Com aquela tempestade, as águas do Mar Vermelho se
dividiram, formando doze passagens, uma para cada tribo, juntando-se em paredes de água de
cada lado, deixando doze trilhas secas no meio. Os israelitas marcharam ao longo destes
caminhos secos que se estendiam de uma praia à outra.

Os egípcios continuaram sua perseguição, sem hesitar, pela mesma trilha. Porém as rodas de
suas carruagens ficaram bloqueadas no fundo do mar. Não puderam continuar; sentiram que
mais uma vez, estavam lutando em vão contra o Senhor. Voltaram-se para fugir, mas era tarde
demais; a um comando de D'us, Moshê estendeu o cajado e as águas retomaram seu curso
normal, fechando-se sobre os carros, cavalos e guerreiros, sobre todo o exército do faraó.
Dessa maneira D'us salvou os filhos de Israel dos egípcios naquele dia. Israel testemunhou
Seus grandes poderes; reconheceram D'us e acreditaram n'Ele e no seu servo Moshê. Então
Moshê e toda a congregação cantou a Canção de Louvor a D'us pelo seu resgate maravilhoso.

Pessach na época do Templo


Todo judeu tinha de oferecer o sacrifício pascal no Templo de Jerusalém por ocasião de três
festas - Pêssach, Shavuot e Sucot. Pêssach era aquela que reunia o maior número de
peregrinos: milhões de judeus vindos de todas as partes. Um mês antes de Pêssach todas as
estradas levando a Jerusalém eram reparadas e todos os poços reabastecidos, para que os
peregrinos pudessem ter todo o conforto possível. A alegria e o entusiasmo espiritual da
população não tinha limites. O clímax acontecia no dia antes de Pêssach, quando a oferenda
do cordeiro pascal iniciava-se, ao entardecer. Todos os sacrifícios pascais eram oferecidos
durante uma única tarde!

Durante o tempo da oferenda, todos os devotos reunidos, liderados pelos levitas, entoavam
salmos de agradecimento. Então os cordeiros pascais eram tostados, pois não era permitido
fervê-los. À noite, o grupo familiar que se havia cotizado para trazer uma oferenda pascal,
reunia-se em uma casa e celebrava o "sêder" junto, da mesma maneira que fazemos agora,
exceto, é claro, que no lugar do "Zêroa" (osso do antebraço) que colocamos na travessa do
sêder em lembrança do sacrifício pascal, partilhavam realmente do próprio cordeiro pascal.

Jerusalém era uma cidade jubilosa durante aqueles dias de Pêssach, e muitos não-judeus
costumavam se dirigir para lá, vindos de perto e de longe, para testemunhar a maravilhosa
celebração de Pêssach.

Nos tempos de hoje, celebrando o sêder no exílio e relembrando aqueles dias gloriosos na
nossa pátria, quando o Templo estava em seu total esplendor, exclamamos ao iniciar o sêder:
"Este ano nós estamos aqui, mas que no próximo ano possamos celebrar na Terra de Israel," e
concluímos o sêder com as palavras:

"No próximo ano em Jerusalém!"

Linha do Tempo

Os anos são contados a partir da Criação do Mundo.

Ano Era
judaico comum
1948 Nascimento de Avraham (Abraão) no mês de Nissan -1813

1958 Nascimento de Sara -1803

A aliança com Avraham foi feita no dia 15 de Nissan


2018 -1743
D-us falou para Avraham que lhe descendentes numerosos, estariam no
Exílio por 400 anos e lhes daria a Terra de Israel por herança.

2048 Nascimento de Yitschac (Isaac) no dia 15 de Nissan -1713

2084 Yitschac estava pronto para ser sacrificado em Nissan -1677

2108 Nascimento de Yaacov (Jacó) -1653

2123 Falecimento de Avraham -1638

2171 Yitschac abençoou Yaacov no dia 15 de Nissan -1590

2199 Nascimento de Yossef (José) -1562

2216 Yossef foi vendido como escravo e levado para o Egito -1545

2228 Falecimento de Yitschac -1533

2229 Yossef torna-se vice-rei do Egito -1533

Yaacov com toda sua família composta por 70 almas se estabelecem na


2238 -1523
Terra de Goshen, Egito

Yaacov falece aos 147 anos e é levado por seus filhos para Hebron onde
2448 -1506
é enterrado na Caverna de Machpelá

2309 Falecimento de Yossef aos 110 anos. Seu caixão é afundado no -1452
Nilo.

2361 Nascimento de Míriam, irmã de Moshê (Moisés) -1400

2362/63 Início da escravidão dos judeus no Egito -1399

2365 Nasce Aharon, irmão de Moshê -1396

2368 Nasce Moshê, dia 7 de Adar -1393

Moshê vê o arbusto em chamas no dia 15 de Nissan. Neste mesmo ano,


2447 -1314
vai ao Faraó pedir que deixe seu povo partir do Egito.

Rosh Chôdesh Nissan. Moshê fala ao Povo de Israel sobre o Sacrifício


2448
Pascal.

10 de Nissan Por ordem Divina, os judeus separam carneiros para o


2448
Sacrifício Pascal.

Dia 14 de Nissan, o sacrifício do Cordeiro Pascal é realizado pela


2448 -1313
primeira vez.

2448 14 de Nissan, à tarde. O Sacrifício Pascal é realizado pela primeira vez.

Dia 14 de Nissan, o sacrifício do Cordeiro Pascal é realizado pela


2448 -1313
primeira vez.

2448 Meia noite, entre 14-15 de Nissan. Praga dos Primogênitos.

O povo judeu saiu do Egito dia 15 de Nissan, ao alvorecer. Isto ocorreu


2448 430 anos depois que o pacto foi feito e 400 anos após o nascimento de -1313
Yitschac.

2448 Manhã de 15 de Nissan. Saída do Egito.

2448 21 de Nissan. Travessia do Mar Vermelho (Sétimo dia de Pêssach)

2448 Travessia do Mar Vermelho, dia 21 de Nissan -1313

2448 lyar. Guerra contra os amekitas em Refidim.

2448 16 de lyar. O Maná começa a cair.


2448 Rosh Chodesh Sivan. O Povo judeu chega no deserto do Sinai.

5 de Sivan. O Povo de Israel declara: "Naassê Ve'Nishmáa." "Faremos e


2448
então escutaremos!"

2448 6 de Sivan. Recebimento da Torá no Monte Sinai (Shavuot).

O Sêder de Shmerl

Professor, músico e popular contador de histórias, Rabi Tuvia Bolton é co-


diretor e palestrante veterano na Yeshivá Ohr Temimim em Kfar Chabad,
Israel.Passava bastante da meia-noite na primeira noite de Pêssach, e o
grande mestre chassídico Rabi Levi Yitschac de Berdichev tinha terminado o
relato do Sêder de Pêssach na presença dos seus discípulos. Eles tinham
recitado a Hagadá, relatado a história do Êxodo e discutido o significado
profundo implícito em cada uma das passagens; eles tomaram quatro copos de
vinho, mergulharam o carpás na água salgada e as ervas amargas no
charosset, comeram a matsá, o korech e o aficoman, entoaram os salmos de
louvor e gratidão – tudo de acordo com o Shulchan Aruch (Código da Lei
Judaica) e os princípios esotéricos encontrados nas obras místicas do santo
“Ari”.

Os discípulos de Rabi Levi Yitschac tinham participado em muitos sedarim do


Rebe no passado, mas este superava todos eles. O Rebe e todos os presentes
sentiram-se transportados a um mundo diferente, como se tivessem se elevado
acima das suas limitações corpóreas e entrado num mundo de pura Santidade.

De repente a sala se encheu com o som de um ribombar profundo, como


trovão, e dentro do trovão uma voz impressionante anunciou: “O Sêder de Levi
Yitschac agradou a D’us, mas há um judeu em Berdichev chamado Shmerl, o
Alfaiate, cujo Sêder foi ainda mais elevado!”

O Rebe olhou em torno. Era óbvio que somente ele escutara o anúncio
celestial.

“Alguém já ouviu falar de um tsadic (justo) chamado Shmerl, o Alfaiate?”


perguntou ele aos chassidim. Ninguém tinha ouvido falar.

Após vários minutos de silêncio, um dos chassidim sugeriu: “Há um Shmerl


aqui em Berdichev que eu conheço, e há trinta anos ele era alfaiate, mas com
certeza não é um tsadic. Na verdade, está muito longe disso. Eles o chamam
agora de ‘Shmerl o Shiker’ (bêbado), e mora com a esposa num barraco de
madeira perto dos trilhos de trem.”

Mas Rabi Levi Yitschac estava pensando consigo mesmo: “Ah! Este deve ser
um dos tsadikim ocultos. E ele mora bem aqui, em Berdichev, embora eu nada
saiba a seu respeito.”

Eram duas horas da manhã quando o Rebe chegou à porta do velho barraco
de Shmerl. Uma senhora idosa atendeu à sua batida. “Bom Yom Tov!” disse
Rabi Levi Yitschac baixinho. “Por favor, desculpe-me pelo adiantado da hora.
Seu marido Shmerl está em casa?” Ela respondeu. “Bom Yom Tov. Espere um
instante, por favor, Rebe, espere aqui mesmo.”

Ela desapareceu dentro da casa, e pôde se ouvir o som inconfundível de um


balde sendo enchido lá dentro. Então um minuto de silêncio e de repente…
Splash! Ela atirou o balde de água sobre o marido adormecido.

“Aaahh! Oyyy! Onde estou? Que é isso?” gritou ele, e então ouviu-se a voz da
mulher gritando: “Levanta, seu bêbado! O Rebe veio aqui para castigar você!
Acorda, seu inútil!”

O pobre Shmerl arrastou-se, pingando água, até a porta. Quando ele viu que
era realmente o Rebe ali de pé no meio da noite, ele caiu aos pés de Rabi Levi
Yitschac e começou a lamentar-se: “Por favor, Rebe, não me castigue. Não é
culpa minha… Eu não sabia… Por favor, tenha piedade…”

O Rebe estava perplexo perante esta cena bizarra. Seria possível que o Sêder
deste homem fosse superior ao seu?

Ele inclinou-se, ajudou o pobre Shmerl a levantar-se e disse: “Escute, Shmerl,


não vim aqui para puni-lo. Na verdade, nem mesmo sei sobre o que você está
falando. Deixe-me entrar, vamos sentar e bater um papo. Quero apenas fazer-
lhe uma pergunta. Vá vestir uma camisa seca e conversaremos.”

Minutos depois estavam sentados à pequena mesa de Shmerl. O Rebe


contemplou-o bondosamente e disse:” Shmerl, escute, quero que me diga
como conduziu o seu Sêder na noite passada. Não se preocupe, não vou puni-
lo.”

“Oy!” gemeu Shmerl e começou a lamentar-se novamente. “Meu Sêder! Mas


Rebe, eu realmente não sabia… Oyyy!”

Gradualmente, ele começou a acalmar-se e a falar. “Cedinho nesta manhã, isto


é, ontem pela manhã, eu estava caminhando pela rua e de repente vi as
pessoas correndo pra cá e pra lá. Uma tinha uma vassoura nos ombros, aquela
carregava uma caixa, a outra carregava não sei o quê, enfim todos corriam
atarefados – exceto eu. Então parei alguém que eu conhecia e perguntei: ‘Por
que todos estão correndo? Para onde estão indo?’

“Ele me respondeu: ‘Ora, Shmerl, está tão bêbado que se esqueceu que
Pêssach é esta noite? Esta noite é Pêssach! Lembra-se o que é Pêssach?’

“Tentei pensar, mas minha mente não funcionava. Pêssach, Pêssach. Eu…
não consigo lembrar. Parece muito importante, porém; lembro-me de alguma
coisa sobre matsá… e Egito. ‘Por favor!’ Eu implorei ao homem: ‘Faça-me um
favor e me diga do que se trata, pois esqueci.’

“O homem olhou-me de maneira estranha, e respondeu: ‘Escute, Shmerl, hoje


à noite você tem de fazer um Sêder. Você sabe, recite a a Hagadá, coma as
três matsot, ervas amargas, quatro copos de vinho. Você gostará do vinho,
Shmerl’ – disse ele com um sorriso triste.

“’Oito dias!’ gritei. ‘Por quê? Por que não posso beber durante oito dias?’ Eu
estava tremendo e comecei a me lembrar vagamente de tudo.

“Porque esta é a lei!’ respondeu ele. ‘Durante oito dias, se você é judeu, nada
de chamets (fermento) passa através dos seus lábios. A vodca é chamets. Se
você não consegue se segurar por oito dias, então vá para Israel’ – riu-se ele.
‘Ali o chamets é proibido somente por sete dias…’

“Eu fiquei perplexo. Sem vodca durante oito dias! Corri para casa, juntei todo o
dinheiro que havia, comprei uma garrafa grande de vodca, servi-me de oito
copos, um depois do outro, e bebi todos eles… esperando que aquilo me
ajudasse a resistir ao feriado. A próxima lembrança que tenho é que eu estava
dormindo em minha cama quando de repente minha mulher jogou um balde de
água em cima de mim – você sabe como ela faz – e começou a gritar: ‘Shmerl,
seu bêbado! Seu inútil! Todos os judeus do mundo inteiro estão fazendo o
Sêder esta noite, e você está deitado aí como um boi bêbado. Levante e faça
um Sêder!’

“Então levantei-me cambaleando, vesti algumas roupas secas e sentei-me à


mesa lindamente arrumada. As velas estavam acesas, brilhando e fazendo os
pratos e talheres reluzirem. Tudo estava limpo e novo. Senti-me diferente,
quase sagrado. O vinho e as matsot estavam sobre a mesa, a Hagadá aberta à
minha frente. Minha mulher colocara até a travessa do Sêder com todos os
itens, como se lembrava de ter feito quando o pai era vivo. Ela própria estava
sentada à minha frente, como uma rainha, e estava até sorrindo. Tudo estava
tão bonito.

“Mas então – olhei em volta e eu não sabia o que fazer. A vodca ainda estava
girando na minha cabeça mas, para ser franco, Rabi, nem mesmo sóbrio eu
saberia o que fazer num Sêder.

“Então peguei uma tigela grande e coloquei tudo ali dentro. As três matsot, as
ervas amargas, a bandeja de charosset, todos aqueles pequenos itens que
minha mulher arrumara na travessa do Sêder, e despejei os quatro copos de
vinho por cima de tudo, e misturei bem.

“Então ergui minha tigela do Sêder e comecei a falar com D’us. Assim mesmo,
como estou falando com você agora. Comecei a conversar com D’us e disse:
‘D’us, escuta… Eu não Te conheço, mas Tu me conheces. Sabes que depois
que meu pai foi morto, eu precisei trabalhar o tempo todo e nunca tive uma
chance de aprender, certo? Portanto, não sei como ler este livro, na verdade
não sei ler coisa alguma! E também não sei o que tenho de fazer com todo este
negócio aqui. Mas uma coisa eu sei… Eu sei que há muito tempo Tu enviaste
Moshê para nos tirar do Egito, e estou certo de que Tu enviarás Mashiach para
nos livrar de todos os nossos problemas agora!
“E então, de um gole só, engoli aquilo tudo.”

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