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Represent A Coes Sociai SC Ogni Cao
Represent A Coes Sociai SC Ogni Cao
RESUMO: Neste artigo se discutem duas das perspectivas mais importantes da psicologia social.
A perspectiva da cognição social (CS) e a perspectiva da sociocognição, representada pela sua
teoria mais emblemática, a Teoria das Representações Sociais (TRS). Adotando como postulado
fundamental a necessidade de articulação dos diversos níveis de análise dos fenômenos,
consideramos os planos intrapsíquico, interpessoal, posicional e ideológico das explicações das
duas perspectivas referidas. Nosso objetivo é colaborar para a discussão de um novo campo de
pesquisa, centrado no estudo da articulação entre o funcionamento cognitivo e as regulações
sociais. Para tal, discorreremos sobre a TRS e a CS, apresentando alguns dos seus princípios
fundamentais e limitações analíticas, para propor uma integração/tensionamento entre as
perspectivas que permita, por um lado ampliar a teoria das representações sociais, dando conta
de algumas das limitações apontadas por seus críticos, especialmente sua fraqueza conceitual e
por outro, complementar vários aspectos da cognição social, especificamente mostrando a
importância das ancoragens sociais.
Palavras-chave: representações sociais; cognição social; atitudes; estereótipos.
ABSTRACT: In the present article we discuss two of the most important social psychology
perspectives: social cognition (SC) perspective and socio-cognition perspective. Represented by
its most emblematic theory, the Social Representations Theory (SRT). Embracing as fundamental
postulate the need to link phenomena analyses several levels, we consider the intrapsychical,
interpersonal, positional and ideological plans of both perspectives explanations. Our aim is to
assist in a new research field discussion, centered at the link between the cognitive process and
social regulations researches. For that we will discourse about SRT and SC, presenting some
fundamental principles and analytical limitations, to propose an integration/tension between
possible perspectives, on one hand broaden the Social Representations Theory, realizing some
limitations pointed by its critics, especially its conceptual weakness and on the other hand
complement several social cognition aspects, specifically showing the social anchors importance.
Keywords: social representations; social cognition; attitudes; stereotypes.
Neste artigo se discutem duas das perspectivas mais importantes da psicologia social,
tão importantes que até se pode dizer que são emblemáticas dos dois paradigmas
dominantes no campo; de um lado a psicologia social psicológica,; de outro a psicologia
social sociológica, considerando as inter-relações entre os níveis de análise intrapsíquico,
interpessoal, posicional e ideológico entre as duas orientações referidas (Doise, 1982),
Pretende-se verificar as possibilidades do estudo da teoria das representações sociais (TRS)
em articulação com outras áreas da psicologia social, especialmente os modelos cognição
social e suas análises sobre as atitudes e os estereótipos.
Como refere Valentim (2013) a ideia de um novo campo de pesquisa, centrado no
estudo da articulação entre regulações sociais e funcionamento cognitivo, não encontra
1 Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de
Janeiro, Brasil. E-mail: anderson.p.mendonca@hotmail.com.
2 Professor Associado do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe - Sergipe, Brasil.
Mendonça, A. P. & Lima, M. E. O. 192
expressão, nem espaço, nos atuais modelos dominantes de pesquisa, o que muito prejudica
o desenvolvimento das teorias.
As análises da cognição social, especificamente dos conceitos de crenças e atitudes,
podem ser muito úteis para ampliar a teoria das representações sociais, dando conta de
algumas das limitações apontadas por seus críticos, especialmente sua fraqueza conceitual.
Por outro lado, a TRS complementa vários aspectos da cognição social, especificamente
mostrando a importância das ancoragens sociais. Não podemos perder de vista que o solo
onde se formam as representações e as cognições é o mesmo: o dos julgamentos sociais
(Doise, 1972). Com efeito, representações e cognições se formam nos e para os julgamentos
sociais.
A partir do entendimento de Doise (1984), o estudo das representações sociais
envolve diferentes níveis de análise, o que facilita essa articulação. Segundo Cabecinhas
(2004) é justamente a articulação desses níveis de análise que constitui o objeto próprio da
psicologia social, orientando o seu projeto de desenvolvimento. Corroborando com a ideia,
Vala (2004) sugere que a articulação entre os conceitos de representação social e cognição
social pode ser muito positiva, segundo ele, os mesmos atribuem um papel determinante às
estruturas cognitivas na produção do conhecimento social, formando estruturas de
conhecimento que guiam e facilitam o processamento da informação social, ressaltando que
esta articulação não deve ser confundida com uma submissão da teoria das representações
sociais aos modelos da cognição social e sim uma complementação vislumbrando um maior
entendimento dos fenômenos psicossociais.
Destaca-se também a construção do conhecimento socialmente compartilhado,
considerando a relação com as atitudes e estereótipos na formação do pensamento social,
partindo dos conteúdos mais explícitos até os menos acessíveis das representações sociais
construídas, reforçando a importância do estudo do fenômeno por parte da Psicologia, mais
precisamente a Psicologia Social Cognitiva, entendendo que a mesma tem como domínio
privilegiado o estudo da interação do sujeito com o meio que se insere.
A separação ou mesmo cisão entre as abordagens cognitivistas e as sociocognitivistas
tem uma história recente na psicologia social. Como refere Fraser (1994), a teorização sobre
atitudes na psicologia social começa no livro “The Polish Peasant” de Thomas e Znaniecki
ainda na segunda década do século XX (1918-20). Para estes autores a atitude seria a
internalização por parte dos indivíduos de algo socialmente valorizado, tornando-se
largamente compartilhada nos grupos sociais. A partir da década de 1930, no entanto, a
psicologia social começa a passar nos Estados Unidos por um processo de individuação (Farr,
1991), ocorre um amplo desenvolvimento de escalas de atitudes, o conceito passa por um
processo de revisão a fim de referir não mais as visões compartilhadas de um grupo sobre
um fenômeno, e sim as visões diferentes de cada indivíduo dentro de um grupo sobre o
fenômeno (Fraser, 1994).
Serge Moscovici formula sua teoria na década de 1960 tomando como contraste o
conceito de atitudes individualizado da psicologia social norte-americana. A TRS começa a
ter impacto na década de 1970 e, sobretudo, nos anos 80. No texto “O início da era das
representações sociais”, Moscovici (1982) afirma o caráter complementar da TRS em relação
às abordagens cognitivistas. Para ele o problema central da psicologia a partir da segunda
metade do século XX foi a redescoberta da mente social. Três fases ou períodos conceituais
ocorrem na psicologia para responder a esse problema: as atitudes sociais, a cognição social
e as representações sociais. O que muda nestas fases é a ênfase nos conceitos e abordagens,
o que era periférico numa poderia se tornar central na outra. Quando propõe fases,
Moscovici de alguma maneira aceita os postulados gerais do positivismo que afirma a
superação de uma forma de pensar por outra, numa espécie de cadeia evolutiva do
conhecimento. Contudo, não é isso que ocorre e neste texto procuramos mostrar que as
duas abordagens, da cognição social e das representações sociais, ganham mais com a
articulação dos seus níveis de análise que com a ideia de superação.
As representações sociais surgem da necessidade de ajustamento das pessoas, que
precisam identificar, conduzir e resolver problemas que lhes são apresentados,
transformando o desconhecido em conhecido: “surgem do nosso desejo de familiarizar o
não familiar” (Moscovici, 2003, p, 203). Nesse processo de ajustamento, de superação do
“vago” os sujeitos desenvolvem modos de promover a compreensão sobre os grupos
externos aos seus grupos de pertença, realizando uma “economia” cognitiva. Segundo
Torres (2010), em um contexto social mais amplo, torna-se mais comum o comportamento
intergrupal (baseado nas afiliações) do que o comportamento interpessoal (baseado nas
características individuais), estimulando o desenvolvimento de estereótipos, que orientam
as atitudes e comportamentos dos grupos. Tanto as representações sociais quanto os
estereótipos referem-se ao saber elaborado pelos indivíduos, e em ambos os casos, as
cognições permeiam a compreensão e avaliação, participando da construção da identidade
das pessoas (Moliner & Vidal, 2003; Tajfel & Turner, 1979).
A integração e/ou o tensionamento entre os níveis de análise dos fenômenos é a cada
dia uma necessidade mais premente na psicologia social. Tanto que, até os olhares externos
à nossa disciplina são capazes de perceber essa urgência, a exemplo do antropólogo Clifford
Geertz que, comentando a obra de Jerome Bruner, refere:
O trajeto de nossa compreensão da mente não consiste numa marcha decidida em direção a um
ponto ômega onde tudo enfim se encaixa alegremente; consiste na exposição repetida de
investigações distintas, de tal modo que, vez após outra, de maneira aparentemente interminável,
elas imponham reconsiderações profundas umas às outras. (...) o que parece necessário é o
desenvolvimento de estratégias que permitam as diferentes construções da realidade mental, nas
palavras de Bruner, confrontar, decompor, energizar e desprovincializar umas às outras levando a
empreitada erraticamente adiante (Geertz, 2001, p. 176).
A abordagem societal proposta por Doise (2002) adota uma perspectiva mais
sociológica, enfatizando a inserção social dos indivíduos como fonte de variação dessas
representações. Nesta direção, de acordo com Almeida (2009) o objetivo dessa abordagem é
conectar o individual ao coletivo, na tentativa de articular explicações de ordem individual
com explicações de ordem societal, entendendo que os processos de que os indivíduos
dispõem para funcionar em sociedade são orientados por dinâmicas sociais (interacionais,
posicionais ou de valores e de crenças gerais).
Doise (1982) entende que uma representação é formada através dos julgamentos de
um grupo sobre os outros. Desse modo o posicionamento do sujeito em relação ao meio
social interfere na forma como o indivíduo compreende a realidade. Para Camino (1996, p.
24), esse tensionamento torna-se importante para a compreensão da sociedade,
considerando as interações entre dois níveis (o psicológico e o sociológico) como fenômenos
de mão dupla. Com isso, “formações sociais são construídas dinamicamente pelo conjunto
de representações e ações dos indivíduos que as constituem”.
Farr (1991) sustenta que a teoria das representações sociais não privilegia nenhum
método de pesquisa em especial. Para Sá (1998), a adoção de diferentes quadros teóricos de
referência nas teorias complementares resulta em opções preferenciais por diferentes
métodos, de modo que o campo como um todo não se vincula exclusivamente a nenhum
deles, esquematizando da seguinte forma: para a abordagem processual correspondem,
sobretudo, os métodos qualitativos e: para as abordagens estrutural e societal predominam
os métodos quantitativos, com destaque para a pesquisa experimental no caso da primeira.
Para explicar o processo de formação das representações, Moscovici (1978) salienta
dois aspectos importantes: ancoragem e objetivação. A ancoragem refere-se ao fato de tudo
o que se pensa sobre alguma coisa ter um embasamento na realidade. Quando pensa sobre
um objeto, o sujeito usa como referência experiências e esquemas de pensamento já
estabelecidos, assemelhando-se a um processo de categorização, uma vez que atribui aos
objetos um local dentro de uma malha de significados (Moscovici, 1978; Vala, 2004).
Portanto, permite integrar o objeto da representação em um sistema de valores próprios
aos indivíduos, denominando-o e classificando-o em função da inserção social dos mesmos.
Assim, Almeida e Santos (2011) entendem que um novo objeto é ancorado quando ele passa
a fazer parte de um sistema de categorias já existentes mediantes alguns ajustes. A
objetivação corresponde à forma como se organizam os elementos de uma representação
social e o percurso através do qual adquirem materialidade, processo que envolve três
momentos. Primeiramente as informações, ideias e crenças acerca de um objeto são
selecionadas e descontextualizadas e estes são reorganizados em torno de um esquema
estruturante. A última etapa deste processo consiste na naturalização, de modo que as
relações estabelecidas se constituam como categorias naturais e adquiram materialidade, ou
seja, a objetivação torna concreto aquilo que é abstrato. Ela transforma um conceito em
imagens, retirando-o de seu marco conceitual científico, trata-se de privilegiar certas
informações em detrimento de outras, simplificando-as e dissociando-as de seu contexto
original de produção (Almeida & Santos, 2011).
O desenvolvimento da TRS resulta, como vimos, da renovação dos interesses pelos
fenômenos coletivos, especificamente pelas regras que regem o pensamento social. Com
isso, o “senso comum” aparece como essencial, sendo a identificação da “visão de mundo”
que os indivíduos ou os grupos têm e utilizam para tomar posição, indispensável para
compreender a dinâmica das interações e práticas sociais (Abric, 1998).
As atitudes têm sido por muito tempo foco de vários estudos desenvolvidos no
contexto da Psicologia Social (Greenwald, et al., 2002; Krüger, 2011; Neiva & Mauro, 2011,
Reich & Adcock, 1976; Rodrigues, Assmar & Jablonski, 1999; Salesses, 2005; Visser &
Rosnick, 1998). Para Lima (1996), por ser um dos mais antigos e mais pesquisados conceitos
em Psicologia Social, o mesmo se mostra bastante flexível, pois sobrevive a diferentes
paradigmas e níveis de explicação dos mais diversos.
Alguns autores (Ibañez, 1988; Álvaro & Garrido, 2007) apresentam alguma
dificuldade em estabelecer uma diferença entre o conceito de representação social e o
conceito de atitude. Tais autores acreditam que um conceito agrega valor ao outro, de modo
que são indissociáveis. De fato, as semelhanças entre os conceitos são muitas, já que,
historicamente, pesquisadores recorrem ao conceito de atitude para dar conta de contextos
bem próximos aos que invocam hoje os teóricos das representações sociais, posto que as
atitudes segundo Ibañez (1988, p. 61), “fazem referência a disposições cognitivas adquiridas
pelas pessoas em relação a certos objetos sociais”, sugerindo que as atitudes se exprimem
em relação ao objeto da representação. O conhecimento das atitudes permite saber como
os indivíduos pensam, sentem ou reagem a certos eventos.
Segundo Neiva e Mauro (2011) as definições sobre o tema existem desde 1920 e
desde então tem gerado várias implicações para as medidas e seu desenvolvimento teórico.
Allport (1935) entendia a atitude como as maneiras que um organismo reage, enfatizando as
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Apresentação: 02/08/2014
Aprovação: 02/10/2014