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Pe.

Fábio Vanderlei, IVE

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA

MEDITAÇÃO DA MISERICÓRDIA

A parábola do filho pródigo

Para conhecermos melhor o que é a Misericórdia de Deus meditemos a parábola do filho


pródigo. Esta parábola é a obra mestra da literatura e onde se mostra verdadeiramente como é o
Coração de Deus (Lc 15,11-24). Dizia São Gregório de Nissa: "O Espírito Santo nos deu a conhecer
a parábola deste filho pródigo, para que compreendamos como devemos chorar os extravios de nosso
coração".
* O filho mais novo. Era um jovem, portanto não tinha experiência, cheio de vontade de
conhecer e de fazer coisas novas de aventurar-se no mundo.
* Pediu ao pai a sua parte da herança. Normalmente se fala de herança mediante uma situação
de morte ou depois dela, mas o pai ainda vivo.
* Juntou o que era seu, e partiu a um lugar distante. Afastou-se de seu pai, do lugar onde
tinha tudo, onde tinha realmente proteção e era realmente feliz. É o que fazemos quando pecamos,
nos afastamos de nosso Pai do Céu, nos afastamos de sua proteção, da verdadeira felicidade para
buscar as “felicidades do mundo”. É o que dizia Santo Agostinho falando do pecado mortal: uma
aversão a Deus e uma conversão as criaturas.
* E aí dissipou toda a fortuna, vivendo dissolutamente. Todos os dons que são perdidos pelo
pecador... vejamos como ficou Adão nu, porque tinha querido viver sem depender de Deus... É o que
o mundo oferece, uma vida cheia de prazeres mundanos, uma vida de falsa felicidade, de felicidade
que dura pouco tempo, um mundo que convida a todos para abraçar as grandes “felicidades”, que
oferece: poder, fama, vaidade, sexo, promiscuidade, droga, álcool, injustiças, comodismo, ídolos
humanos (cantores, jogadores de futebol, artistas, etc.), violência. Geralmente o que oferece o mundo
pode ser visto na televisão e nas novelas.
* Quando gastou tudo, começou a passar necessidade. É o resultado do que o mundo oferece.
É o gosto amargo da felicidade que não pode saciar ninguém, isto é uma coisa que o mundo nunca
diz e que nos custa entender.

Perto de morrer, Alexandre, o grande, fez 3 pedidos aos seus ministros:


1) Que seu caixão fosse carregado pelos melhores médicos da época.
2) Que os tesouros que tinha, fossem espalhados pelo caminho até seu tumulo.
3) Que suas mãos ficassem fora do caixão e a vista de todos.

Os ministros surpresos perguntaram quais são os motivos? Ele respondeu:


1) Eu quero que os melhores médicos carreguem meu caixão, para mostrar que eles não têm
poder nenhum sobre a morte.

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2) Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros, para que todos possam ver que os bens
materiais aqui conquistados, aqui ficam.
3) Eu quero que minhas mãos fiquem para fora do caixão, de modo que as pessoas possam
ver que viemos com as mãos vazias, e de mãos vazias voltamos.

* O rapaz da parábola queria matar a fome com a comida dos porcos, mas nem isso lhe
davam. A busca da felicidade e da paz longe de Deus é inútil, as criaturas não podem saciar a alma.
"O manjar que come não é de homens, mas sim de animais imundos, e assim não basta para lhe fartar"
(La Puente). Dizia Santo Agostinho: “Senhor, nos criaste para ti, e o nosso coração não repousa senão
em ti”.
O porco é considerado pelos judeus como um animal impuro. O que a parábola quer acentuar
é a impureza e a baixeza do pecador que se coloca em uma situação abaixo a dos animais. "Tendo
passado da mais elevada altura da primeira nobreza, ao mais baixa da humilhação" (Crisóstomo).

Tudo isto representa a queda do pecador. Agora vejamos o processo de conversão.

* Então, “caindo em si, disse...”. É um momento decisivo na vida da pessoa: dar-se conta do
pecado e da insatisfação que ele nos traz, a insatisfação do mundo. Vem então o processo de
conversão descrito em vários passos: cair em si, levantar-se, ir para o Pai.
Cair em si: despertar, sair de um sonho, de uma ilusão. "Adão, onde estás?". Entrar dentro de
si, escutar a voz da consciência.
Levantar-se e ir para Deus: o pecado é aversio a Deo et conversio ad creaturas, aqui é o
movimento inverso.
É o momento quando começa a refletir e a se converter, a reconhecer o pecado e voltar para
Deus: “Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me ao
menos como a um dos teus empregados”. E depois de refletir sobre si mesmo, levantou-se e foi ter
com seu pai.
* Ainda longe, o pai o viu e ficou comovido: ainda longe, ou seja, que podemos pensar que o
pai sempre saia para ver se seu filho voltava, nosso Pai está todos os dias olhando para ver se seus
filhos voltam, se seus filhos estão arrependidos, todos os dias sai ao nosso encontro. E esse Pai ficará
comovido se nós voltamos.
* Correu-lhe ao encontro e o abraçou, cobrindo-o de beijos: essa é a atitude do verdadeiro
pai, atitude de amor para com seu filho, atitude de alegria, atitude de felicidade, também nosso Pai
nos cobrirá de beijos se voltamos arrependidos. Temos que ver a alegria desse Pai. É aqui onde se
mostra a Misericórdia de Deus, na felicidade e na alegria porque seu filho que estava afastado voltou
novamente a casa.
O discurso do filho...
* O pai falou para os escravos: “Trazei depressa e veste nele a túnica mais preciosa, ponde-
lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei um bezerro bem gordo e matai-o. Vamos comer e
nos alegrar, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado”. O
Pai não somente nos perdoa todos os pecados, se não que também nos enche de presentes, de dons,
nos deixa como pessoas novas, e faz uma grande festa para nós.

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Os presentes
Túnica: símbolo da graça, do revestir-se de Cristo, do traje de festa, do homem novo, das
armas da luz, couraça da justiça...
Anel: símbolo da comunhão = comum união, do amor, etc.
Sandália: símbolo do início de uma nova caminhada...

E o motivo principal da festa: “porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava
perdido e foi encontrado”.
Estava morto: o pecado mortal; agora está vivo: a graça.
Estava perdido: o afastamento de Deus; agora foi reencontrado: a amizade com Deus.

A Misericórdia de Deus é infinita, Ele sempre nos perdoa, mas o necessário e principal para
alcançar o perdão é o arrependimento. Nós somos esse filho que se afastou de seu Pai, mas temos de
refletir e voltar a nossa casa. Não tenhamos medo desse Pai que está no Céu, Ele não quer nos castigar,
Ele nos quer perdoar, Ele não veio para buscar os sãos, mas aos doentes. Temos que ter muita
confiança na Misericórdia Divina e assim poderemos alcançar o perdão de nossos pecados.

ADIÇÕES
PARA MELHOR FAZER OS EXERCÍCIOS E PARA MELHOR O EXERCITANTE
ENCONTRAR O QUE DESEJA

73 1ª Adição. Depois de deitado e antes de adormecer, pensarei pelo espaço de uma Ave Maria,
a que horas tenho de me levantar e para que, e resumirei o exercício que tenho de fazer.

74 2ª Adição. Quando acordar, sem me deter em pensamentos distrativos, pensarei logo no


assunto de contemplação do exercício da meia-noite, excitando-me à confusão por meus pecados tão
numerosos. Propor-me-ei algumas com-parações, como, por exemplo, a de um cavaleiro que se
encontrasse diante do seu rei, e de toda a corte, envergonhado e confundido, por haver ofendido
enormemente aquele de quem antes recebera numerosos benefícios e favores.
Do mesmo modo, no segundo exercício, consi-derar-me-ei como um grande pecador,
carregado de grilhões, prestes a comparecer diante do Su-premo e Etemo Juiz, tal como os
encarcerados e já condenados à morte comparecem diante do seu juiz temporal.
Com estes pensamentos me irei vestindo, ou com outros semelhantes, conforme a matéria a
meditar.

75 3ª Adição. A um ou dois passos do lugar onde farei a contemplação ou meditação, ficarei de


pé, por espaço de um Pai Nosso, e levantan-do ao alto o pensamento, considerarei como Deus nosso
Senhor me vê etc., e farei um ato de reverencia ou de humildade.

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76 4ª Adição. Começarei a contemplação, ora de joelhos, ora prostrado em terra, ora deitado, ora
sentado, ora de pé, procurando sempre en-contrar aquilo que quero.
Observarei duas coisas: a 1ª é que se acho o que quero, de joelhos, não mudarei de posição, e,
do mesmo modo, se prostrado etc. A 2ª, no ponto da meditação em que achar o que quero, aí para-
rei, sem ter ânsia de passar adiante, até que me satisfaça.

77 5ª Adição. Acabada a contemplação ou me-ditação, examinarei por espaço de um quarto de


hora, sentado ou passeando, como é que nelas me saí. Se mal, indagarei a causa, e depois de a
descobrir, me arrependerei, para me corrigir no futuro. E se bem, darei graças a Deus nosso Se-nhor
e continuarei a proceder do mesmo modo.

78 6ª Adição. Não me deterei em nenhum pen-samento capaz de me causar prazer ou alegria,


como a lembrança do céu ou da Ressurreição, porque toda consideração de gozo e alegria me
impediria de sentir pena e dor e de derramar lágrimas pelos meus pecados. Pelo contrário, procurarei
alimentar o desejo de sentir dor e arrependimento, tendo presente na memória a lembrança da morte
e do juízo.

79 7ª Adição. Para o mesmo efeito, privar-me-ei inteiramente da luz, fechando janelas e portas,
quando estiver no quarto, a não ser para rezar (o ofício divino), ler ou tomar a refeição.

80 8ª Adição. Abster-me-ei de rir ou de proferir qualquer palavra que provoque o riso.

81 9ª Adição. Refrearei os olhos, não os levan-tando senão para receber ou despedir as pessoas
com quem falar.

82 10ª Adição. Penitência. Ela pode ser interior e exterior. A penitência interior consiste na dor
dos próprios pecados, com o firme propósito de nunca mais cometer esses, nem quaisquer outros.
A penitência exterior, fruto da primeira, consiste em se castigar pelos pecados cometidos.
Pratica-se principalmente de três modos:

83 1º) Com respeito a alimentação. Subtrair o supérfluo não é penitência, mas temperança. Há
penitência quando nos privamos do convenien-te. E tanto melhor e maior será a penitência, quanto
mais nos privarmos, contanto que não se prejudique a pessoa, nem se siga nenhuma en-fermidade
notável.

84 2º) Com respeito ao modo de dormir. Ainda aqui, não é penitência subtrair do supérfluo em
coisas delicadas e moles. Mas há penitência quando, no modo de dormir, tira-se alguma coi-sa do que
convém. E quanto mais tirarmos, tan-to melhor é a penitência, contanto que não se prejudique a
pessoa, nem se siga nenhuma do-ença notável.

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Do sono conveniente, porém, não se deve tirar nada, a não ser que se tenha o mau hábito de
dormir demasiado, para assim se chegar a uma justa medida.

85 3º) Castigando a came, isto é, causando-lhe dor sensível, por meio de cilícios ou cadeias de
ferro sobre a pele, flagelando-se, ferindo-se ou praticando outros gêneros de austeridades.

86 Notas. O que parece mais conveniente e prudente é que a dor seja sensível na came, mas não
penetre nos ossos, de forma que a penitên-cia cause dor, mas não enfermidade. E assim, parece
preferível flagelar-se com cordas finas que magoem superficialmente, a fazê-lo de ou-tro modo, que
possa produzir lesões internas notáveis.

87 1ª Nota. As penitências exteriores praticam-se por três motivos principais:


O primeiro, para satisfazer pelos pecados passa-dos.
O segundo, para vencer-se a si mesmo, isto é, para obrigar a sensualidade a obedecer à ra-zão,
e as tendências inferiores estarem mais su-jeitas às superiores.
O terceiro, para solicitar e obter de Deus alguma graça ou dom que a pessoa quer e deseja, por
exemplo, a de sentir contrição íntima de seus pecados, de os chorar amargamente, de derra-mar
lágrimas pelas penas e dores que Cristo nos-so Senhor padeceu na sua paixão, ou enfim, para achar a
solução de alguma dúvida em que se encontra.

88 2ª Nota. A primeira e a segunda adições só dizem respeito aos exercícios da meia-noite e da


manhã, e não aos que se fazem em outros tem-pos. E a quarta adição não se fará nunca na igre-ja, em
presença de outras pessoas, mas unica-mente quando se está só, por exemplo, na pró-pria casa etc.

89 3ª Nota. Quando o exercitante ainda não obteve o que deseja, como lágrimas, consolações
etc., é muitas vezes vantajoso introduzir alguma mudança na alimentação, no sono, e em outras
espécies de penitências. Varie, pois, fazendo penitência dois ou três dias, e outros dois ou três, não,
porque a alguns convém fazer mais penitência, e a outros, menos. Muitas vezes, também, omitimos
as práticas de penitência, por causa do nosso comodismo, ou por um juízo errôneo que nos faz crer
que não poderemos suportá-las sem dano notável para a saúde.
Outras vezes, pelo contrário, fazemos demasia-da penitência, persuadindo-nos de que a pode-
mos suportar. E como Deus nosso Senhor co-nhece infinitamente melhor a nossa natureza, muitas
vezes, nas tais mudanças, dá-nos a sentir o que nos convém.

90 4ª Nota. O exame particular faça-se para corrigir defeitos e negligências nos exercícios e
adições. E do mesmo modo na 2ª, 3ª e 4ª sema-nas.

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