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Unipinhal junho de 2022

Curso de Letras

Literatura Brasileira: Origens ao Barroco e Arcadismo (nível III)

Estudante: Ronaldo Trevizan Cordeiro Gouveia RA: 200037

(Esta avaliação tem como prazo de envio o dia 20 de junho de 2022. Endereço para
envio: prof.flavio.costa@unipinhal.edu.br)

1) A partir da leitura dos dois excertos de Gabriel Soares de Sousa (Caps. XIII, Que
trata da vida e costumes do gentio potiguar, e XVI, Do tamanho da Vila de Olinda e da
Grandeza de seu termo, quem foi o primeiro povoador dela, de sua obra “Tratado
Descritivo do Brasil em 1587”) comente a respeito dessa diferença nos modos de vida
do indígena nativo (o chamado “gentio”) e no estabelecimento e modo de vida social
dos colonos.

Que trata da vida e costumes do gentio potiguar.


Não é bem que passemos já do rio da Paraíba, onde se acaba o limite por onde
reside o gentio potiguar, que tanto mal tem feito aos moradores das capitanias
de Pernambuco e Itamaracá, e a gente dos navios que se perderam pela costa da
Paraíba até o rio do Maranhão. Este gentio senhoreia esta costa do rio Grande
até o da Paraíba, onde se confinaram antigamente com outro gentio, que
chamam os caetés, que são seus contrários, e se faziam crudelíssima guerra uns
aos outros, e se fazem ainda agora pela banda do sertão onde agora vivem os
caetés, e pela banda do rio Grande são fronteiros dos tapuias, que é a gente
mais doméstica, com quem estão às vezes de guerra e às vezes de paz, e se
ajudam uns aos outros contra os tabajaras, que vizinham com eles pela parte do
sertão. Costumam estes potiguares não perdoarem a nenhum dos contrários que
cativam, porque os matam e comem logo. Êste gentio é de má estatura, baços
de cor, como todo o outro gentio; não deixam crescer nenhuns cabelos no
corpo senão os da cabeça, porque em eles nascendo os arrancam logo. Falam a
língua dos tupinambás e caetés; têm os mesmos costumes e gentilidades, o que
declaramos ao diante no capítulo dos tupinambás. Este gentio é muito belicoso,
guerreiro e atraiçoado, e amigo dos franceses, a quem faz sempre boa
companhia, e, industriado deles, inimigo dos portugueses. São grandes
lavradores dos seus mantimentos, de que estão sempre mui providos, e são
caçadores bons e tais flecheiros que não erram flechada que atirem. São
grandes pescadores de linha, assim no mar como nos rios de água doce.
Cantam, bailam, comem e bebem pela ordem dos tupinambás, onde se
declarará miudamente sua vida e costumes, que é quase o geral de todo o
gentio da costa do Brasil.
E

Do tamanho da vila de Olinda e da grandeza de seu termo, quem foi o


primeiro povoador dela.
A vila de Olinda é a cabeça da capitania de Pernambuco, a qual povoou
Duarte Coelho, que foi um fidalgo, de cujo esforço e cavalaria escusaremos
tratar aqui em particular, por não escurecer muito que dele dizem os livros da
Índia, de cujos feitos estão cheios. Depois que Duarte Coelho veio da Índia a
Portugal, a buscar satisfação de seus serviços, pediu a S. A. que lhe fizesse
mercê de uma capitania nesta costa, que logo lhe concedeu, aba-lizando-lha da
boca do Rio de São Francisco da banda do noroeste e correndo dela pela costa
cincoenta léguas contra Itamaracá que se acabam no rio de Igaruçu, como já
fica dito; e como a este valoroso capitão sobravam sempre espíritos para
cometer grandes feitos, não lhe faltaram para vir em pessoa povoar e
conquistar esta sua capitania, onde veio com uma frota de navios que armou à
sua custa, na qual trouxe sua mulher e filhos e muitos parentes de ambos, e
outros moradores com a qual tomou este porto que se diz de Pernambuco por
uma pedra que junto dele está furada no mar, que quer dizer pela língua do
gentio mar furado. Chegando Duarte Coelho a este porto desembarcou nele e
fortificou-se, onde agora está a vila em um alto livre de padrastos, da melhor
maneira que foi possível, onde fez uma torre de pedra e cal, que ainda agora
está na praça da vila, onde muitos anos teve grandes trabalhos de guerra com o
gentio e franceses que em sua companhia andavam, dos quais foi cercado
muitas vezes, mal-ferido e mui apertado, onde lhe mataram muita gente; mas
ele, com a constância de seu esforço, não desistiu nunca da sua pretensão, e
não tão-somente se defendeu valorosamente, mas ofendeu e resistiu aos
inimigos, de maneira que os fez afastar da povoação e despejar as terras
vizinhas aos moradores delas, onde depois seu filho, do mesmo nome, lhe fez
guerra, maltratando e cativando neste gentio, que é o que se chama caeté, que o
fez despejar a costa toda, como esta o é hoje em dia, e afastar mais de
cincoenta léguas pelo sertão. Nestes trabalhos gastou Duarte, o velho, muitos
mil cruzados, que adquiriu na Índia, a qual despesa foi bem empregada, pois
dela resultou ter hoje seu filho Jorge de Albuquerque Coelho dez mil cruzados
de renda, que tanto lhe importa a sua redízima e dízima do pescado e os foros
que lhe pagam os engenhos, dos quais estão feitos em Pernambuco cincoenta,
que fazem tanto açúcar que estão os dízimos dele arrendados em dezenove mil
cruzados cada ano. Esta vila de Olinda terá setecentos vizinhos, pouco mais ou
menos, mas tem muitos mais no seu termo, porque em cada um destes
engenhos vivem vinte e trinta vizinhos, fora os que vivem nas roças, afastados
deles, que é muita gente; de maneira que, quando fôr necessário ajuntar-se a
esta gente com armas, pôr-se-ão em campo mais de três mil homens de peleja
com os moradores da vila de Cosmos, entre os quais haverá quatrocentos
homens de cavalo. Esta gente pode trazer de suas fazendas quatro ou cinco mil
escravos da Guiné e muitos do gentio da terra. É tão poderosa esta capitania
que há nela mais de cem homens que têm de mil até cinco mil cruzados de
renda, e alguns de oito, dez mil cruzados. Desta terra saíram muitos homens
ricos para estes reinos que foram a ela muito pobres, com os quais entram cada
ano desta capitania quarenta e cincoenta navios carregados de açúcar e pau-
brasil, o qual é o mais fino que se acha em toda a costa; e importa tanto este
pau a Sua Majestade que o tem agora novamente arrendado por tempo de dez
anos por vinte mil cruzados cada ano. E parece que será tão rica e tão poderosa,
de onde saem tantos provimentos para estes reinos, que se devia de ter mais em
conta a fortificação dela, e não consentir que esteja arriscada a um corsário a
saquear e destruir, o que se pode atalhar com pouca despesa e menos trabalho.

2) Dada a leitura dos dois poemas de Gregório de Matos (“Define a sua cidade” e
“Soneto”), comente a respeito de ambas composições poéticas. Em sua resposta,
contemple a relativa diversificação de seu fazer poético, isto é, onde uma poesia porta o
sentido de louvor, e outra de reprovação e escárnio.

DEFINE A SUA CIDADE

De dois ff se compõe
Esta cidade a meu ver,
Um furtar, outro foder.
I
Recopilou-se o direito,
E quem o recopilou
Com dois ff o explicou
Por estar feito e bem feito:
Por bem digesto e colheito,
Só com dois ff o expõe,
E assim quem os olhos põe
No trato, que aqui se encerra,
Há de dizer que esta terra
De dois ff se compõe.
II
Se de dous ff composta
Está a nossa Bahia,
Errada a ortografia
A grande dano está posta:
Eu quero fazer aposta,
E quero um tostão perder,
Que isso a há de perverter,
Se o furtar e o foder bem
Não são os ff que tem
Esta cidade a meu ver.
III
Provo a conjetura já
Prontamente com um brinco:
Bahia tem letras cinco
Que são B A H I A,
Logo ninguém me dirá
Que dois ff chega a ter
Pois nenhum contém sequer,
Salvo se em boa verdade
São os ff da cidade
Um furtar, outro foder.
(p. 102-3).

SONETO
Esse espelho, senhora, cristalino,
Em que vossa beleza ontem se via,
Já se quebrou nas mãos da tirania;
Quem pode duvidar, que foi por fino.

Esse amoroso rosto peregrino,


De quem o belo todo dependia,
Junto ao vosso se vê, bela Maria,
Sem parecer por parecer divino.

A esse filho, que amor firme venera,


Vossa alma, quem em si tem, hoje estimara
Restituir-lhe a vida, se pudera.

E ele a vós sem dor ver-vos tomara,


Que se a vossa alma alento hoje lhe dera,
Por vós a ressurgir se antecipara.

RESPOSTAS:
1. Dito que se os gentios do cap XIII são povos familiarias que alternam entre a
guerra e a paz. Eles são baixos, bronzeados iguais o resto de seu povo, sem
cabelo no corpo todo além do da cabeça, é amigo dos franceses e inimigo dos
portugueses. São bons caçadores e não erram flechadas, além de pescarem tanto
nos rios quanto nos mares, festejam pela ordem dos tupinambás onde fica
evidente seus costumes. Esses são os gentios da costa do Brasil.
Já no cap XVI, era uma vila de povos ricos e fartos, sempre haviam trabalhos
para colonos, essa vila teve setecentos vizinhos aproximadamente, além dos que
viviam nas roças, e os afastados deles, que era muita gente, eram mais de três
mil homens em campo quando se precisava juntar esse povo com armas, junto
dos aproximados quatrocentos homens a cavalo que essa gente traz de suas
fazendas, quatro ou cinco mil escravos da Guiné e muitos do gentio da terra.

2. Gregório de Matos enfatiza a letra “f” e seus significados sobre o crime e a


promiscuidade em suas criticas e a convicção da parte boa da Bahia sem os dois
“f” apresentados no poema.
No soneto é apresentado poesia religiosa, a Maria, mãe de Jesus, que o tem no
braço depois de morto, expressa seu amor ao filho, preferindo que fosse ela no
lugar, sofrendo toda a dor dele, pra não precisar vê-lo assim

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