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Resumo: Este trabalho é parte dos resultados parciais da minha pesquisa de mestrado
em andamento de cunho etnográfico com as alunas de um projeto de Educação de Jovens
e Adultos que acontece em Campinas -SP, no Núcleo de Ação Educativa
Descentralizada região noroeste, no qual é um espaço geograficamente de expansão
recente, contando com muitos moradores de baixa renda, menor escolarização e marcada
racialmente. Assim, estou construindo um campo de pesquisa de observação participante,
em que eu como observadora, participo das aulas, das atividades, dos eventos, das
ocasiões, dos interesses e dos afetos com minhas interlocutoras, aprofundando essa
observação por meio da realização de entrevistas objetivando compreender o movimento
de evasão e retorno aos bancos escolares de modo a analisar as manifestações das
desigualdades educacionais e de gênero em suas experiências a partir de uma análise
interseccional insistindo na natureza discursiva da experiência e na política da sua
construção.
Palavras-Chave: Interseccionalidade; Educação de Jovens e Adultos; Mulheres;
Referencial Teórico
Em consequência desse cenário estabelecido para as pessoas que não tiveram
acesso a educação na idade convencional percebemos que elas se encontram em
processos de exclusão, e que muitos direitos fundamentais foram negados a essas pessoas
porque em suas trajetórias de vida precisaram trabalhar na adolescência, passaram por
gravidez, dificuldades de aprendizagem, deficiências e preconceitos e por causa disso
precisaram deixar a escola.
Além disso, muitas dessas pessoas são pessoas negras, pobres, indígenas,
sem-terra, mulheres, trabalhadoras empobrecidas que tem uma tensa negação de
reconhecimento dos seus direitos humanos explicitando desigualdades de gênero, raça,
classe, entre outros no acesso e no percurso escolar (ARROYO, Miguel, 2017, p.106) de
modo que estão em uma situação agudizada de opressão, mas que por necessidade ou
interesse pessoal procuram a Educação de Jovens e Adultos em busca de escolarização.
Tendo como primeira referência os trabalhos de Paulo Freire e Elza Freire, nos
quais além de terem como base fundamental a educação dialógica - quando educadores e
educandos podem em um exercício de troca serem ouvidos e exprimir suas ideias, temos
como referência a Pedagogia da Convivência inserindo na pedagogia da libertação os
traços de se levar a importância de conhecer os educandos e seus contextos (SPIGOLON,
Nima, 2016) de forma que o diálogo com os “oprimidos” abre espaço para a narrativa
existencial, contribuindo para pensar a Educação de Jovens e Adultos vinculado a
estudos feministas e de gênero (hooks, bell, 2017, p.75), no sentido de que todas as
pessoas têm o direito de teorizar sua subjetividade, e como sujeitos de resistências definir
a realidade.
Vale dizer, que esse trabalho toma como definição de gênero a fornecida por Joan
Scott (1995), na qual podemos entender o gênero como um elemento constitutivo de
relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos e como uma forma
primária de dar significado às relações de poder. Isso quer dizer que o gênero está ligado
às noções socialmente construídas de masculinidade e feminilidade e baseado nas
relações de poder, já que essas não são neutras.
Ainda dentro da reflexão sobre os conceitos envolvendo corporalidade e gênero,
Linda Nicholson (2000) nos ajuda a compreender os sentidos que os termos definem que
são essenciais para o projeto, como as definições da palavra “mulher”. É comum
pensarmos em significados específicos, mas a autora elucida que é importante
considerarmos uma rede complexa de características e contextos que nos ajudem a
referenciar as multiplicidades de ser mulher que envolvam inclusive pessoas transexuais,
contribuindo para pensar em práticas de pesquisa que “nos permitam pensar em termos
de pluralidades e diversidades, em lugar de unidades universais” (MARIANO, Aparecida
2005).
Mais do que isso, este trabalho visa não só olhar para apenas um eixo de opressão.
mas procura compreender as mulheres da EJA a partir da ótica da Interseccionalidade:
A interseccionalidade investiga como as relações interseccionais de poder
influenciam as relações sociais em sociedades marcadas pela diversidade, bem
como as experiências individuais na vida cotidiana. Como ferramenta analítica,
a interseccionalidade considera que as categorias de raça, classe, gênero,
orientação sexual, nacionalidade, capacidade, etnia e faixa etária – entre outras
– são inter-relacionais e moldam-se mutuamente. A interseccionalidade é uma
forma de entender e explicar a complexidade do mundo, das pessoas e das
experiências humanas (COLLINS, Patricia; BILGE, Sirma, 2021, p.15).
Metodologia
Esse trabalho é de cunho etnográfico, a partir de observação participante, no qual
o Campo acontece na cidade de Campinas, em um projeto formal de Educação de Jovens
e Adultos de Ensino Fundamental II sediado no distrito do Campo Grande no Núcleo de
Ação Educativa Descentralizada (Naed) noroeste.1
A região Noroeste de Campinas é um espaço geograficamente de expansão
recente, marcada por uma segregação socioespacial, contando com muitos moradores de
baixa renda, menor escolarização e marcada racialmente (MARQUESIM, Dejanira,
2019) recebendo a focalização de projetos de políticas públicas por parte do Estado de
São Paulo e da prefeitura, como a ampliação de vias rodoviárias, universidades,
construções de hospitais, centros de saúde e escolas.
Por dentro do cenário do território da região noroeste, dados sobre educação se
mostram essenciais para compreender também a importância da Educação de Jovens e
Adultos na região, conforme Sergio Stoco e Luana Costa Almeida (2011) demonstram no
artigo que escreveram sobre desigualdade sociodemográfica em Campinas, as regiões
abrangidas pelo Campo Grande tem um elevado índice de analfabetismo e ciclos
incompletos das fases educacionais, demandando ações efetivas que realmente
1
A Secretaria municipal de Educação atua de modo descentralizado por meio de cincos Naeds divididos
geograficamente em Norte, Sul, Leste, Sudoeste e Noroeste, e compreendem as Escolas Municipais de
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA), além das Escolas
Particulares e Instituições, situadas em suas áreas de abrangência. Esses núcleos têm representantes
regionais que são facilitadores na supervisão e aplicação das políticas públicas na Rede Municipal de
Ensino de Campinas.
contemplem essa população.
De maneira a lidar com essas questões e evitar uma oferta de EJA de base
reducionista e simplificada para esse público, o projeto que acompanho na região
noroeste de Campinas vincula os processos educacionais ao reconhecimento dessas
pessoas como cidadãos, portadoras de direitos humanos e políticos (ARROYO, 2017
p.108).
Os princípios do projeto envolvem trabalhar sem hierarquização de disciplinas e
com docência compartilhada em turmas multisseriadas e agrupadas, com cadeiras e
carteiras em formato circular que contribua para a visibilidade, participação, coletividade
e dialogicidade.
Além disso, todas as decisões do projeto são tomadas de forma coletiva e o
trabalho pedagógico organizado pelo TDEP (Tempo Docente Entre Pares) para
organização da vida escolar - definido os temas geradores do semestre e organizado entre
pares a preparação de aulas públicas e docências compartilhadas (SANTOS, Nelton,
2020). Também é oferecido os TDIs (Trabalho Docente Individual) que se trata de
tempo pedagógico que os professores/ tutores utilizam para atendimento individualizado
aos estudantes.
Além do mais, o processo educacional não se restringe a sala de aula, mas é
organizado durante os semestres variadas ações pedagógicas como as assembleias, aulas
públicas, estudo do meio e passeios, avaliações coletivas, oficinas artísticas, bazares,
cafés pedagógicos, rodas de conversas e até mesmo acompanhamento psicológico
gratuito com parceria de projetos de extensão das universidades da região.
Assim, durante o trabalho de campo, tive a oportunidade de participar das aulas,
das atividades, dos eventos, das ocasiões, dos interesses e dos afetos com minhas
interlocutoras e estou aprofundando essa observação participante por meio da realização
de entrevistas com elas.
Por isso ela decidiu voltar para a escola mesmo contrariando as vontades do seu
marido e o que a mantém na escola é a vontade de ter um trabalho melhor e se mostrar
capaz.
Cleide
Eu conversei também com Cleide, ela tem 44 anos e se autodetermina uma
mulher branca, mas tem dúvidas se também poderia se reconhecer como mulher parda:
Eu sempre coloquei branca, então, hoje foi o que eu tô aprendendo, distinguir
o que somos. porque pardo é um papel, Aí negro é negro aí eh então está bem
complicado, então sei lá, não sei distinguir, talvez uma cor branca? ou parda?
não sei.
Cleide é do Mato Grosso do Sul, evangélica e tem 3 filhas, mas só uma é menor
de idade.
Quando Cleide era bem pequena, seus pais mudaram para Campinas e colocou ela
e os irmãos na escola, mas por problemas de saúde ela não conseguia ter frequência na
presença e acabou sendo retida algumas vezes de série. Quando ela estava perto dos 12
anos de idade, os pais voltaram para o Mato Grosso do Sul para fazer parte de um
assentamento, no qual ela teve oportunidade de ir em uma escola dos movimentos sem
terra do local, apesar disso, ela relata que tinha que conciliar os estudos com as atividades
de trabalho rural:
mas lá ou era trabalhar para comer ou era estudar né? Então, quando era
tempo de colheita que tinha safra, a gente ia trabalhar na roça, mas a gente
gostava de estudar, aí eu estudei até a quarta série.
Um pouco depois, ela casou, e não pode frequentar a escola porque o marido não
gostava. Após 20 anos de casamento, aconteceu um divorcio e ela decidiu voltar para a
escola porque viu na escola uma oportunidade de abrir os horizontes, conhecer pessoas e
aprender coisas novas e é isso o que a motiva nos estudos:
Geisa
Geisa tem 42 anos, é uma mulher parda, nascida no sertão de Pernambuco, tem 4
filhos e hoje frequenta uma igreja evangélica. Ela não pode ir na escola quando era
criança porque seu pai não permitia que mulheres estudassem, mas quando ela tinha 14
anos, a mãe organizou um plano para Geisa e suas duas irmãs irem na escola escondido
dos pais, por isso, elas iam bem cedo para roça, se trocavam por lá mesmo e iam para
escola, depois, voltavam e fingiam que estavam trabalhando o tempo todo. Isso
permaneceu até a Quarta-série, mas como a partir da quinta-série a escola ficava em outra
cidade, Geisa e suas irmãs precisaram descontinuar a escolarização:
Já casada, com 25 anos de idade, tentou voltar mais uma vez para escola na
modalidade EJA em Pernambuco, mas não conseguia frequentar a escola com
regularidade pela alta demanda que se tinha no casamento e no cuidado com os filhos, ela
comenta:
ele se queixava (o marido). ele não gostava de deixar eu ir na rua sozinha. Uma
vez eu fui fazer um curso de espanhol lá na EJA, aí a gente começou a brigar,
ele começou a brigar por ciúme, e foi por causa disso que desisti.
Paola é uma mulher de 35 anos, preta e tem 2 filhos, ela é de Campinas e teve
oportunidade de entrar na escola com 7 anos e estudou até os 15 anos, mas como teve
retenções foi até a sétima série (oitavo ano). Paola me contou que sempre teve
dificuldades de aprendizagem e que não gostava de ir na escola porque sofria muito
bullying por suas características físicas, por isso ela parou de ir na escola. Com 22 anos,
ela se matriculou em um supletivo, mas tinha muita vergonha porque estava grávida
Fiquei grávida com 22 anos e não quis mais ir pra escola, porque era só eu que
estava grávida da sala inteira, fiquei com muita vergonha. Aí parei totalmente.
Márcia
Márcia é uma senhora de 61 anos de idade, parda, e é de Valinhos - cidade
próxima a Campinas, tem 4 filhos, todos maiores de idade, mas tem a guarda de um neto.
É importante dizer que, como as outras mulheres, Márcia também é evangélica. Quando
pequena ela pode estudar dos 7 aos 10 anos até a quarta série (quinto ano), mas seus pais
não tinham dinheiro para comprar material e uniforme para todos os irmãos e irmãs, por
isso, quando terminavam o Ensino Fundamental I precisavam passar a vez para a/o
irmã(o) mais nova(o).
Com 17 anos, Márcia se casou e passou a cuidar da casa e dos filhos, seu marido
não deixava ela trabalhar, nem estudar. Foram anos assim, até que em 2019 ele faleceu.
Três meses depois, Márcia já estava matriculada na EJA, porque gosta muito de aprender
e encontrou naquele momento a oportunidade de fazer isso livremente:
Eu vim procurar o projeto logo que eu fiquei viúva, fazia uns três quatro
meses que eu fiquei sabendo - eu já tinha visto perto da minha casa que tinha
o EJA mas aí meu marido também era ciumento, né? Ele não gostava dessas
coisas e também sabe? Eu olhava assim às vezes, passava pela cabeça mas
nunca fui atrás, mas depois que ele faleceu, eu vim.
Dora
Dora é uma aluna idosa do projeto, tem 67 anos, se identifica como uma mulher
parda, também é evangélica e nasceu em Minas Gerais. Nas conversas e na entrevista
com Dora, ela nos contou que estudou em uma escola de campo multisseriada com 9
anos de idade e foi até a terceira série com 13 anos de idade, porém sua trajetória escolar
foi marcada por duas retenções, de modo que ela passou a ter uma grande diferença de
idade dos outros alunos e alunas, isso fez com que ela passasse a sentir muita vergonha e
resolveu sair da escola:
como a gente era pobre, humilde, meu pai ficava um ano em cada lugar, em
cada cidade ou sítio, na mesma cidade, mas sítios diferentes, e escola diferente.
e a gente ficava com muita dificuldade na escola porque eles não sabiam
ensinar a gente. minha mãe também não sabe nada, nem pegar num lápis. Ai
como eu já fui para escola grande, já com 9 anos, então eu tinha dificuldade, eu
repeti um ano ou dois. nem lembro mais, eu sei que eu repeti porque não
parava e não tinha como aprender. se eu estudasse no período da tarde, de
manhã eu ia para roça ajudar, ou então, se eu estudasse de manhã, chegava da
escola no meio do cafezal e ficava lá trabalhando com ele.
Eu fiz o primeiro,o segundo, o terceiro, eu nem cheguei a fazer o terceiro
porque eu não quis, porque eu já estava com 13 anos e falava assim para o meu
pai “ eu não, as crianças tudo pequena”. e eu já era moça, mocinha, “já sou
grande, no meio das crianças pequena, eu grandona, eu não vou não".
Com 16 anos, Dora se casou e ao longo do tempo teve três filhos. Infelizmente, o
relacionamento foi muito conturbado, marcado por violências físicas e psicológicas, mas
por sempre acreditar que o divórcio era errado e também pelo fato de não ter trabalhado
fez com que ela permanecesse no relacionamento, mas em meados dos anos 2000, com
apoio dos filhos e da filha, ela definitivamente pôs fim ao relacionamento e se divorciou.
Mesmo assim, o sentimento de se sentir incapaz e não ter um motivo para estudar
permaneceu, porém em 2020, Dora se matriculou no projeto porque queria aprender mais
e ter amigos e é isso que a motiva a ir todos os dias na escola.
Silvia
Por último, trazemos a trajetória de Silvia, uma mulher de 49 anos, branca,
oriunda da região rural do Paraná. Ela é umbandista, já foi casada duas vezes com
homens, tem três filhos, mas se questiona sobre sua orientação sexual e pensa que pode
ser bissexual.
Silvia estudou apenas até o Ensino Fundamental I em sua idade, mas não
continuou com o seu processo educacional porque seu pai não permitia que suas filhas
tivessem aula com homens, e na cidade em que ela morava, o Ensino Fundamental II era
ministrado somente por professores.
O seu primeiro casamento foi marcado pela violência, em que ela apanhava do
marido sempre depois de chegar do trabalho ou quando não cumpria corretamente
alguma tarefa doméstica. Inclusive, ela trabalhou com profissões braçais muito pesadas,
como servente de obras, por exemplo. Nesse período, ela nunca nem sequer se atreveu a
pensar em voltar para escola. Por volta dos anos 2000, ela ficou viúva e veio depois a
constituir outro casamento, mas não deu certo por incompatibilidades de personalidade e
interesses.
Após criar os filhos, em 2020, Silvia resolveu que era a vez dela de voltar a
estudar em busca do seu sonho de ser veterinária
Considerações Finais
Nas experiências das estudantes de Educação de Jovens e Adultos observamos em
suas trajetórias que muitas vezes as pessoas conseguem ingressar na escola durante a
infância ou adolescência, mas esse processo é descontinuado por diversos motivos,
desde proibição dos pais, problemas financeiros, casamento e gravidez, dificuldade de
aprendizagem, problemas de saúde, preconceito,etc.
Verificamos também padrões sexistas e machistas nos relacionamentos das
entrevistadas, nas quais as mesmas não recebiam os mesmos direitos de acesso ao estudo
e ao trabalho que seus maridos, configurado por relações de poder que colocavam a
tarefa de cuidar da casa e dos filhos como papel destinado a elas. Ainda, para reafirmar
essa dominação, a violência em suas diferentes facetas eram demonstradas, tanto a
violência física, a psicológica como a moral sempre em manifestações que estabelecem
uma relação de submissão e poder, implicando em medo, isolamento, dependência e
intimidação da mulher (BANDEIRA, Maria, 2019, p.304):
Percebemos também nos perfis das entrevistadas que muitas são evangélicas ou
gostam de frequentar igrejas evangélicas, e isso vai de acordo com diversas pesquisas
que apontam que mulheres de baixa renda tendem a se aproximar desses grupos
religiosos por ser uma forma de lazer, relaxamento e sociabilidade já que essas religiões
se mostram preocupados com as aflições das pessoas de camadas populares, como
pessoas empobrecidas, negras,idosas, mulheres, mas também pela estrutura
organizacional da doutrina que promovem uma maneira de vida e comportamento,
principalmente no que se refere aos relacionamentos conjugais (VILHENA, Valéria
Cristina, 2009, p. 90; MENDES, Mary, 2004, p.7).
Outra questão importante a se analisar é a questão raça/cor. Entre as minhas
interlocutoras, apenas duas se autodeclararam brancas, enquanto uma se declarou uma
mulher preta, outras três se declararam pardas e uma tem dúvida se é parda ou branca.
Isso contribuiu para problematizar a relação entre as desigualdades raciais, em específico
o racismo estrutural e a evasão escolar de pessoas negras. Verificamos que na questão da
cor da pele se reproduziu no espaço escolar o racismo, colaborando para o fracasso
escolar e consequentemente o abandono escolar (RODRIGUES, João, 2014).
Outra informação relevante que obtemos através das entrevistas é que um dos
motivos de evasão escolar dado pelas interlocutoras está relacionado às questões
financeiras. Todas as mulheres relatam ser de famílias com bastante dificuldade
financeira e de precisar trabalhar enquanto eram crianças e adolescentes - e isso
demonstra como o trabalho infantil no Brasil é invisivel e naturalizado, além do mais,
explicita como grupos que passaram por essa experiência apresenta altos niveis de
defasagem escolar, submetidos a longas jornadas de trabalho, sem tempo para dedicar-se
ao lazer e aos estudos, sendo subemetidas a privação ou exclusão de lugares
educacionais, sociais e culturais (Alberto, Maria de Fátima; Santos, Denise; Leite,
Fernanda; Lima, José Wilson; Wanderley, José Carlos. 2011).
Sobre o retorno, percebemos que as mulheres retornam a EJA por dois motivos
principais - o primeiro está relacionado a exigências das vagas de trabalho que pedem
maior escolaridade, e o segundo motivo é realmente o desejo de aprender, a vontade de
estudar. Para essas mulheres, esse retorno é facilitado após o divórcio ou depois de terem
ficado viúvas, mas para outras, esse retorno é marcado por crises no casamento, tripla
jornada de trabalho e muita determinação para continuarem na escola.
Portanto, assim como outras pesquisadoras já investigaram o tema sobre os
percursos escolares de mulheres da EJA (BASTOS, Ludmilla; EITERER, Carmem,
2017; RUAS, Thatiane; QUIRINO, Raquel, 2019) trabalho, gravidez, maternidade, e
outras, na maioria das vezes, são colocadas como motivos principais do abandono
escolar. Além disso, é exposto que as sujeitas da EJA são marcadas por lugares sociais,
geracionais, de raça, de religião, de orientação sexual, tecendo, assim, marcas múltiplas
que podem interferir na trajetória educacional, mas que veem na EJA, por necessidade ou
interesse pessoal a oportunidade de retornarem aos bancos escolares.
Além disso, percebemos que analisar a Educação de Jovens e Adultos por meio
da interseccionalidade permite abordar como as desigualdades educacionais se dão, mas
também ampliar para pensar em que direção ir para desenvolver iniciativas nos campos
educacionais, sociais, e culturais para lidar com as violações desses direitos humanos:
Agradecimentos
Agradeço a Fundação de Apoio Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP) pelo fomento à pesquisa via processo nº2021/08064-4.
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