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Ela acordou em um quarto escuro e frio.

Tentou se levantar, mas ao


que parecia estava presa. Sua cabeça doía e suas mãos estavam
formigando. O cheiro de sangue enxia o ar e podia ouvir um
gemido torturado ao longe. Sentiu um frio na barriga e pediu para
qualquer deus que pudesse existir que a ajudasse. "Eles" estavam
vindo ela podia sentir. O medo a fazia tremer, as lagrimas
escorriam pelo seu rosto, ela morreria. Seus sonhos, planos e desejos,
todos encontrariam um final naquele lugar horrível. Pediu
novamente para que alguém a ajudasse. Aos poucos a sua
consciência começava a se apagar novamente. Isso era bom,
morreria em breve e estar inconsciente quando a hora chegasse era
o máximo consolo que poderia esperar dessa jornada tão curta que
havia sido sua vida.
Capitulo 1
Any estava preocupada. O quarto do orfanato a cada minuto ficava mais frio. As janelas
rangiam e as portas mexiam. As "sombras" (assim era como chamava as criaturas que
via desde criança) corriam de um lado para o outro assustadas. Isso não era um bom
sinal. Normalmente as sombras eram quietas e ficavam alheias ao que acontecia ali.
Porém, nessa noite o medo nelas era evidente. Any sentia algo ruim. Uma presença
estranha. Nessas horas ser uma jovem normal era tudo que gostaria. Desde criança
sempre viu o que as outras pessoas não viam: Sombras, duendes, fadas, e
recentemente, demônios. Vivia em um orfanato desde que conseguia se lembrar e não
sabia quem eram seus pais. Estava sempre sozinha pois era a única de sua idade. O
orfanato era cheio de crianças mais velhas. As sombras então se tornaram suas
únicas companheiras. Any não tinha medo, pois sabia que elas não lhe fariam mal. Ao
que parecia as sombras eram o que as pessoas normais conheciam como fantasmas.
Elas existiam de todos os tamanhos e formas. Algumas se assemelhavam muito aos
humanos e Henry era um desses. Seu único amigo verdadeiro. Conheceu-o quando
tinha cinco anos de idade e ele era o fantasma de um homem jovem. Encantou-se no
instante que o viu, com aqueles olhos claros e sorriso brilhante, Henry com certeza
deveria ter sido um homem maravilhoso. Any se pegava lamentando que alguém tão
bonito tivesse morrido e foi assim que aos poucos se aproximou dele. Agora anos
depois ainda estavam juntos. E naquele momento Henry não estava com uma cara
boa. Ele estava calado demais, quieto demais, olhava para a janela como se não a
estivesse vendo realmente, o que confirmava que o que Any sentia era um mal sinal.

.......
Any emanava uma estranha força e seu cheiro parecia atrair todo tipo de seres que
não deveriam seguir um humano. Foi assim que Henry ficou ao seu lado, para que as
coisas ruins que a cercavam não lhe fizessem mal. Naquela noite ele olhava pensativo
para as janelas de vidro, algo muito ruim estava se aproximando, ele podia sentir.
Diferente dos outros fantasmas, Henry não estava realmente morto, estava enfeitiçado.
Isso era um segredo que somente ele e a bruxa que o havia feito isso sabiam. Ele
olhou para Any que parecia assustada. Pelo visto também podia sentir a presença de
algo ruim. Ela já não era a criança que conheceu, seus olhos não tinham mais aquele
brilho inocente, seu cabelo era grande e seu modo tímido de ser só havia piorado com
o tempo. Afastou os olhos dela, ultimamente isso era cada vez mais difícil. Sentia que
tinha que proteger aquela menina e era exatamente o que havia feito nos últimos anos.
Henry não era realmente um humano. Era metade homem, metade demônio. Seus
cabelos e olhos claros eram herança de sua mãe, seu corpo alto e forte, de seu pai.
Tinha certo medo de ficar muito próximo a Any por ela ser humana, não que ele
odiasse os humanos como muitos demônios odiavam, mas sim porque os seres
humanos eram uma luz que apagava rápido, Uma vida que passava em um piscar de
olhos, e se apegar a algo tão fugaz não é certo quando se vive para sempre. Olhou
para além da janela, tinha que parar de pensar nessas coisas e se concentrar na
presença maligna que sentia. Esse sim era o problema importante.

.......
Luna olhava para o céu, seus cabelos compridos eram levados pelo vento que era
muito forte ali no topo daquela árvore. Sentia o cheiro da bruxa. Estava muito próxima.
Seus lábios esticaram em um sorriso malvado. Seus planos para acabar com a vida
daquela que não deveria existir estavam quase completos. Vigiava a pequena bruxa
havia algum tempo. Descobrira que seu nome era Any e que ela não sabia nada de
como havia chegado ali nem a sua origem. O que a tornava uma presa fácil. Não que
encontrar Any tivesse sido fácil, na realidade procurara por ela nos últimos dezesseis
anos. A bruxinha estava protegida por um feitiço de proteção que somente as bruxas
mais poderosas eram capazes de fazer e que apenas bruxas ainda mais poderosas
seriam capazes de encontrar. Luna era conhecida por todos como uma caçadora sem
igual. Demorara tanto tempo procurando Any e mesmo assim não poderia matar a
menina agora. Esperaria o momento certo, mas, a frustração dos últimos dezesseis
anos seria compensada com uma morte lenta e dolorosa. Sorriu mais uma vez.
Observando a garota tinha encontrado outra presença interessante: Henry. Seu amado
Henry. Aquele que não tinha retribuído seu amor e em troca recebeu uma maldição
feita para ser eterna caso ele não a aceitasse como mulher. Henry conheceria seu
poder e seu cheiro se Luna se aproximasse mais. Então, observaria de certa distancia.
Seu parceiro não queria erros e a pequena Any não poderia fugir. Os olhos de Luna
brilhavam de excitação, seus lábios insistiam em sorrir. Sua felicidade seria completa
quando aquela maldita híbrida sumisse da face da terra.

......
Any tremia. Dormir era impossível. Sentia como se estivesse sendo observada. Henry
a havia alertado que algo ruim estava próximo. Não era como se precisasse ser
alertada, sentia na pele que alguém estava vigiando o orfanato. nessa noite ele não
vagou como nas outras, ficou no quarto para se algo acontecesse. Any se sentia
melhor assim, ao menos nao estaria sozinha. Aos poucos relaxou e caiu em sono
profundo.

Any finalmente havia dormido e Henry ainda estava inquieto. A força que sentia vinda
do longe lhe parecia familiar. Sentiu um frio na barriga somente de pensar que poderia
ser aquela bruxa louca. Não podia ser. Ela havia morrido. Ou será que não?

.....
Lucan estava no telhado do orfanato. Ocultar sua energia era algo que tinha aprendido
ao longo dos anos. Luna estava muito próxima, o que lhe irritava profundamente.
Sentia vergonha de ser irmão daquela louca desvairada. Lucan era amigo de Rose, a
bruxa mais poderosa que já colocou os pés na terra. Rose havia sumido pouco depois
de deixar Any aos cuidados de seu amigo. Pôs todo seu empenho em um incrível
feitiço que havia guardado e protegido Any todos esses anos. Não fosse pelo despertar
da bruxa, Any estaria protegida para sempre. Mas, aos 17 anos seus poderes
aumentariam incrivelmente e o feitiço de proteção não conseguiria esconder seu
paradeiro durante muito tempo. Lucan a havia vigiado nos últimos dezesseis anos. A
criança que não deveria existir, filha de uma desobediência a uma lei suprema. Any era
filha de uma bruxa com um demônio e isso era extremamente proibido no mundo das
poderosas criaturas desconhecidas pelo homem. Um filho de bruxa e demônio seria o
mais poderoso, capaz de destruir qualquer ser que se lhe opusesse. Any era uma
menina, embora tamanho poder fosse caso nascesse um filho homem, os lideres das
forças ocultas não dariam uma chance ao desconhecido. O que deixava a garota em
perigo. Estava sendo caçada por seres que habitavam os piores pesadelos dos seres
viventes.

*****

Pela manhã tudo estava quieto e tranquilo. As sombras pareciam ter voltado ao seu
normal, Rodavam brincando pelo pátio. Any estava sentada em um banco e brincava
com o gato da Dona Elisa (a administradora do orfanato) Se sentia estranha.
Ultimamente seu corpo parecia o de outra pessoa. Tentava ignorar que estava cada
vez menos normal. Naquela manhã conseguira desligar o despertador com um olhar e
isso a estava assustando. Sua cabeça palpitava. E seus olhos doíam. Deus a ajudasse,
mas, parecia ouvir os pensamentos das crianças. Era demais para suportar. O que ela
era? Com certeza não acreditava mais ser uma humana. Não poderia. Embora isso
fosse tudo o que queria ser.

......
Julian sentado no trono ouvia aquele bando de inúteis dizer que não haviam
encontrado seu filho. Essa era a causa de todo o seu desgosto no momento. Seu filho.
Desde que descobrira ter um, não parara de procurar. Sua amada Rose havia sumido
há muitos anos e isso ainda doía. Dor essa que havia aliviado um pouco dois anos
atrás quando em uma de suas investigações descobriu que havia tido um filho. Filho
que bem poderia estar morto, dado a sua origem. Julian não podia pensar nisso. Seu
filho estava vivo. Tinha de estar. Ele era o rei dos demônios e quem ousasse ferir seu
filho estaria condenado a morte. Pouco lhe importava as regras. Havia amado Rose e
ela retribuiu seu amor. O filho não era um erro. Era algo que ele ousava desejar com o
mais profundo do seu ser. E lá estava ele, perdido em algum lugar, correndo perigo e
sem a ajuda do pai. Julian não podia entender Por que Rose ocultara a existência do
filho. Mas isso era algo que ficaria para depois. Seu foco agora era salvar seu menino e
mantê-lo seguro de qualquer ameaça que pudesse existir. Que certamente eram
muitas. Só esperava ser capaz de encontra-lo antes delas.

......
Anthony deitado fitava o céu cinzento com uma expressão tensa. Seus planos teriam
de ser apressados se quisesse governar o mundo dos demônios. O rei demônio sabia
da existência de um filho. O que complicaria seu plano se demorasse a executa-lo. O
que o rei Não imaginava era que se tratava de uma filha e que ela estava em um lugar
tão desprotegido. Rose pensara em tudo. Quem procuraria uma híbrida poderosa em
um orfanato humano? Mas Anthony a havia encontrado. Luna demorara, mas ali estava
o resultado. A bruxa louca que enfeitiçou seu irmão se mostrara útil. Luna tinha um
amor doentio por Henry e foi assim que Anthony descobriu uma poderosa aliada. Henry
estava no mesmo lugar que Any. Coincidência ou destino? Quem sabe. O importante
era que devido a isso Anthony poderia respirar tranquilo porque enquanto Henry
estivesse ali, Luna não ousaria matar Any tão rápido. A bruxa não queria mostrar que
estava viva. E Anthony a utilizaria como espiã enquanto lhe fosse útil, depois disso
seria descartada. Como sempre fazia com as coisas que perdiam a utilidade.

*****
18 anos antes

Rose caminhava pelo jardim do palácio. O príncipe Julian a observava de longe. Seus
lindos cabelos negros voavam com a brisa e seu vestido azul destacava sua pele. Rose
era uma bruxa, Julian não deveria estar encantado com ela, mas estava. Desde o
momento em que seu pai trouxera a linda bruxa para o palácio, Julian não conseguia
parar de segui-la. Estava comprometido com uma nobre que ainda não conhecia e
pouco lhe importava. Ali na sua frente estava a mulher que seria sua rainha. Rose
havia sido trazida como amostra de poder. Para que o atual rei mostrasse para os
demais seres ocultos que podia controlar a mais poderosa bruxa. Coisa que os
demônios faziam com frequência. Todas as casas nobres tinham uma bruxa particular.
Rose não parecia se importar. Passava seus dias caminhando pelos jardins e
escrevendo em um caderno. Julian não conseguia acreditar que alguém tão frágil
poderia ser tão poderosa como todos diziam. Naquela tarde Rose se sentou na sombra
de uma arvore e Julian se aproximou.

- pareces gostar das plantas do castelo.

- odeio ficar presa. E o velho mandão não é o que poderíamos chamar de "bom
anfitrião"

- entendo. O rei é complicado. Sinto muito que tenha que estar presa aqui.

- não sinta. Não tinha para onde ir. Ficar aqui não é tão ruim.

Julian arqueou as sobrancelhas.

- então veio por vontade própria?

- sim. Acha que aquele velho rabugento conseguiria me pegar? Não. Eu decido o que
quero. Uma bruxa sem família tem que procurar seus meios de se proteger.

- é preciso inteligência para transformar fraqueza em força.

- é preciso força para que não haja fraqueza.

- não acho que ser fraco seja ruim.

- não acho que ser fraco seja útil para sobreviver no nosso mundo.

- a fraqueza e a debilidade se tornam nossas forças quando assim precisamos.


Ninguém é tão fraco que seja inútil e ninguém é tão forte que não tenha uma fraqueza.
Somos seres imperfeitos. Faz parte da vida e do que somos. Não precisamos nos
envergonhar.

- não tenho fraqueza!

- hum. Sim você tem. A morte.

- não me importo com ela. É algo natural na vida.

- você poderia fazer um pacto com um demônio e ser imortal. Não é isso que muitos
querem?! A imortalidade.

- nunca quis ser imortal. Isso vai contra o fluxo correto da vida. Uns morrem e outros
nascem. A vida segue e novos seres tomam lugar. Assim que deve ser.

- não sei bem o que pensar sobre isso. Afinal, nunca tive escolha. Se não for morto,
viverei para sempre.
- acho que cada um tem que ver as coisas de acordo com as próprias condições.

- sim. Isso é verdade, espero que fique bem. Agora tenho uma sala cheia de homens
estressados cheios de ideias fortes para acalmar. Então, estou indo.

- ate mais príncipe.

Julian acenou com a cabeça e caminhou em direção ao castelo. conteve o sorriso. Ela
sabia quem ele era. Menos mal. Isso poderia ser interesse? Assim esperava.

*****

Dias atuais

Luna remexia na cama. Sua sede por sangue era algo que a deixava nervosa. O pacto
de vida eterna a fazia ter que beber regularmente. E não de qualquer um. Tinha que
ser de um demônio. Anthony a estava alimentando, Mas não era o suficiente. Ela
queria Henry. Passar os últimos dezoito anos sem ele havia sido uma tortura. Luna era
originalmente uma bruxa da casa do Duque pai de Henry e Anthony. Crescera
fascinada pelo filho mais novo, de um modo que não era normal. Os gêmeos eram
metade humanos e isso envergonhava a família que tentava a todo custo esconder
suas origens dos demais. O duque como o grande homem que era, não se importava.
Sua paixão pela pequena humana havia resultado em seus dois filhos mais velhos. A
humana morrera há muito tempo e seus filhos por terem sangue de demônio eram
imortais como o pai. Depois da morte da humana o duque se casou com a atual
esposa. Eram basicamente felizes, mas os filhos desse casamento não tinham o
mesmo tratamento dos dois primeiros. Henry e Anthony eram os maiores tesouros do
pai. Embora o duque não fosse um homem carinhoso, tratava os filhos muito bem e
isso causava o ódio da esposa. A duquesa tinha ciúme dos primogênitos e queria que
seus filhos fossem os únicos a terem o amor do duque e futuramente receber o titulo do
pai, e foi assim que ajudou Luna quando esta decidiu amaldiçoar Henry. O que ela não
sabia era que ele, todavia estava vivo. O pai de Henry ainda sofria a morte do filho e
com isso passou todo o seu amor para Anthony, o filho mais velho mimado e cheio de
ambição. Os gêmeos eram muito diferentes, Henry sempre foi despreocupado e era
bom com os outros. Anthony era frio e calculista, só faria algo que lhe trouxesse
beneficio de alguma forma. O duque era cego quando se tratava dos filhos e Anthony
se tornou um homem perigoso. O homem que agora queria a mulher supostamente
mais poderosa para ajuda-lo a tomar o reino. Mas, isso não aconteceria. No momento
que Henry se afastasse da menina, Luna daria um fim na bruxinha e tudo acabaria.

.....
Henry caminhava de um lado para o outro em frente a porta do quarto de Any. Ela
estava emitindo uma estranha força. Agora ele sabia com certeza que ela não era
humana. Seu cheiro mudara completamente. Ele podia sentir que era próximo ao de
uma bruxa. Mas era sutilmente diferente. Any nos últimos dias não havia se sentido
bem. Se ela era realmente uma bruxa, Henry já sabia o motivo: O despertar. As bruxas
normalmente eram normais até os dezessete anos. Antes disso não conseguem usar
magia propriamente. Ele agora se sentia um idiota, ela podia ver ele e os outros seres
do mundo oculto, obviamente não poderia ser humana. Ele desconsiderou isso por ela
não ter a presença que os seres do mundo oculto tinham. Os seres que habitavam
esse outro mundo, que era na verdade apenas um plano acima do plano dos humanos,
podiam ser terríveis. Salve alguns que ainda seguiam o conselho oculto ou que
queriam apenas viver suas vidas em paz. O conselho era chamado de as forças
ocultas ou conselho oculto, algo como os juízes e a policia do mundo humano. Eles
criavam as leis, as executavam e puniam quem não as seguisse. Tinham um exercito
aterrador e quem ousasse desafia-los seria morto ou teria uma punição tão severa que
seria preferível a morte. O mundo oculto tinha alguma ordem devido ao conselho e por
eles forçarem as criaturas a "andarem na linha”. Os habitantes de lá consideravam o
conselho algo bom. Henry sempre fora indiferente ao conselho, nunca quis quebrar
regras, então as punições severas e valores ditados não lhe incomodavam. O pai de
Henry os chamava de conselho ancião devido a que nesse conselho ainda existirem
anjos do inicio. Era estranho pensar nisso, parecia que havia se passado toda uma vida
desde que Henry estava no mundo humano. Ele apenas seguiria nessa forma de
fantasma para sempre. Por quê? Porque o feitiço em que estava preso só seria
quebrado se a bruxa que o colocou o desfizesse ou se a bruxa fosse morta por as
mãos de uma bruxa mais poderosa - isso desfaria todos os feitiços feitos por ela -
Porém, a bruxa, Luna, já havia sido morta por Anthony. Que ao ver o irmão em tal
situação acabou dando um fim na bruxa sem antes saber dos detalhes, o que anulou
as chances de Henry voltar ao que era. Ele já estava conformado havia muito tempo. O
que ainda doía era saber que ele nunca poderia ter ou desejar algo. Estava condenado
a passar eternidade sem saber como eram as únicas coisas que ele já quis ter na vida.
Mas, de que valia ficar triste? A vida seguia.

...

A pequena Jane corria pelo pátio da mansão do duque. O duque apenas seguia a filha.
Anthony estava para algum lado e Jane era seu único consolo no momento.
- pai! Pai! Por que você não é rei? A mamãe diz que a nossa família descende de
sangue real. Disse que poderíamos ser os governantes daqui.

- não deve ouvir essas coisas da sua mãe menina. Ela diz coisas que não deveriam ser
ditas. Nós somos sim descendentes do primeiro rei demônio. Mas seu tio Julian é o
descendente da família principal. Somos apenas uma rama dessa família.

- não entendo. Como isso funciona papai?

- somos descendentes de um dos anjos caídos meu bem. Ele foi o primeiro a pegar um
grande território e chamar de seu. Diferente do dono da dimensão profunda, nosso
antepassado apenas queria um lugar para descansar e fazer família. Então, escolheu
esse reino. Muitos outros caídos o seguiram, esses caídos se misturaram entre si e
com outras criaturas, dando assim inicio ao reino que temos hoje.

- que dimensão profunda papai? O que aconteceu com os caídos? Por que nosso
antepassado não existe mais? Não vivemos para sempre?

- a dimensão profunda é o que os humanos chamam de inferno. O dono de lá foi o anjo


que fez com que vários se rebelassem do plano superior e fossem jogados aqui. E,
respondendo à outra pergunta, nosso antepassado foi morto em uma das batalhas de
proteção do reino. Quando caídos de outros territórios quiseram tomar este reino ao ver
que ele estava prosperando. Você sabe que vivemos para sempre se nada atentar
contra nossa vida. Caso nos machuquem gravemente somos tão mortais quanto os
outros seres.

- mas papai, ainda não entendo. Se ele é o mesmo antepassado de todos, nós não
deveríamos todos ser reis?

O duque teve de rir. Sua filha mais nova tinha uma curiosidade acima do normal.

- não Jane. Ele teve varias esposas. A família de Julian é descendente da primeira
esposa. Somos descendentes da segunda.

- e qual a diferença?

- por regras o titulo é passado para o primeiro filho. E quando a segunda esposa teve
um menino, o da primeira já tinha cinco anos. Então, nossa família nunca teve chance.
Você não gosta de ser o que é, minha pequena?

- papai eu vou viajar e conhecer lugares. Vou encontrar um lindo homem e me casar.
Não quero um reino. Isso é trabalho demais.
O duque riu. Sua menina era doce. Além dela somente Henry tinha sido assim. Nessa
família somente eles dois não eram ambiciosos. Seu filho não estava mais aqui. Então
ele protegeria Jane, a única luz nesse lugar, e ela não teria um fim como o seu filho.

*****
17 anos antes

- Julian! Me espera!

O príncipe apenas olhava Rose e sorria. Não parava seu passo rápido e a moça já
parecia muito cansada.

- Julian, se isso que você for me mostrar não for no mínimo interessante eu vou te
matar!

- calma Rose. Estamos chegando.

Os dois haviam fugido do castelo. Era tarde da noite e Julian sabia os caminhos certos
para saírem sem serem notados. Eles caminhavam por um caminho de mata fechada
que estava muito escuro. Rose por mais que odiasse demonstrar fraqueza, estava
tremendo. Os barulhos na mata e a pouca visão a estavam assustando. Julian
ofereceu-se a segurar sua mão, o que ela recusou veementemente. Eles seguiam uma
trilha que aos poucos se tornou uma subida. Rose estava muito cansada. Mas não
poderia usar seus truques, pois isso os denunciaria. Continuaram caminhando até que
encontraram uma clareira. Mais a frente um penhasco se formava. Ela olhou em sua
volta admirada. Dali daquela altura a sensação era de estar no céu. As estrelas os
rodeavam e a brisa fez com que seus cabelos lhe cobrissem o rosto. Quando colocou a
mecha teimosa atrás da orelha, olhou para frente e seus olhos se encontraram com os
de Julian. Nesse momento tudo parecia girar. Ele se aproximou dela e a magia
aconteceu. Eles estavam juntos há um tempo e isso era proibido. O conselho tinha
imposto há séculos a regra de que demônios não poderiam ter um relacionamento
assim com bruxas. Elas poderiam ser suas serventes e trabalhar em diversas áreas na
vida do seu patrão. Mas, nunca uma relação que pudesse dar frutos. Rose amava
Julian. E esse amor os uniu aquela noite. Ele era a pessoa mais especial na sua vida e
sabia que ele também a amava. Quando se tem amor uma regra não pode impedir a
felicidade dos dois. Ou foi isso que ela pensou.

*****
Dias atuais
Anthony estava em frente ao orfanato. Sua energia escondida habilmente, ninguém
poderia detecta-lo. Ele passaria perfeitamente por um humano normal. Estava com um
terno que lhe dava um ar de riqueza. A dona do orfanato o deixou entrar facilmente,
sem ao menos perguntar o que fazia ali. Mesmo assim ele lhe disse que estava a
procura de uma menina chamada Any. A senhora idosa apenas lhe disse para procurar
pela menina, pois ela provavelmente estaria no jardim. Anthony sabia que seu irmão
não estava ali pois a ameaça tinha desaparecido. Henry tinha uma capacidade incrível
de sentir energia de bruxas. Então, ele havia dispensado Luna temporariamente do
trabalho de vigiar a bruxinha dizendo que faria isso pessoalmente. O que Luna não
sabia era que Anthony apenas estava tirando a energia escura que deixava Henry
alerta. Com seu irmão sempre presente ele não poderia se aproximar de Any. Agora
que Henry não sentia perigo se sentiu livre para deixar o orfanato. Exatamente como
Anthony havia previsto. E isso era bom. Any estava mesmo no jardim. Anthony nunca a
viu tão de perto e isso o assustou. Ela tinha longos cabelos castanho-avermelhados,
seu corpo não era o de uma menina como ele havia imaginado. Algo nela era
terrivelmente atraente, o que lhe fez pensar que era parte do poder desconhecido de
hibrida. Sorriu. Isso seria interessante.

.....
Any olhava uma luz estranha na flor e nem viu aquele homem se aproximar. Quando o
olhou ela ficou paralisada. Ele era lindo. Seus olhos azuis eram incríveis e seu cabelo
preto impecavelmente penteado o dava um ar de realeza. Não que Any visse um
príncipe todos os dias, mas pelo que havia visto nos livros, esse se parecia muito. Até
mais. Ele era mais bonito que qualquer um que ela havia visto e isso a deixou sem
atitude.

Ela estava impressionada. Isso ele podia ver. Seu rosto ficou incrivelmente vermelho e
ela baixou o olhar. Seu cabelo cobria seu rosto e isso a fazia ser, de alguma forma,
adorável. Ele escondeu um sorriso. Ao que parecia seu plano teria outros ganhos que
ele não previra. Casar com ela não seria tão ruim afinal de contas.

- Any?

- sim?
- eu me chamo - Anthony fez uma pausa, talvez não fosse seguro dizer seu nome real -
Tony.

- ah. Eh. Oi Tony. Você precisa de algo?

- não exatamente. A verdade é que eu apenas queria te conhecer.

Any o olhou confusa.

- me conhecer?

- sim. Eu já passei algumas vezes aqui por perto e te vi sozinha. Queria ser seu amigo.

- e por que isso?

- porque você.. Bem, vou ser sincero, Você é uma linda mulher. De algum modo
gostaria de ficar próximo a você.

A moça corou e encarou os próprios pés. Não estava acostumada a que homens lhe
dissessem que era bonita. Na verdade nunca lhe tinham dito isso. E o que mais lhe
afetou foi que quem lhe disse isso foi alguém tão bonito. Então, o olhou timidamente
com um sorriso no rosto. Essa foi a primeira de muitas outras visitas.

*****
17 anos atrás

Rose não se sentia bem. Suas tonturas frequentes e enjoos a estavam assustando.
Escondeu isso. Julian não podia saber. Continuavam seus encontros e depois daquela
primeira vez, vieram muitas outras. Isso era a causa do seu maior medo: Ela talvez
estivesse grávida. E isso era assustador de muitas maneiras. Sabia que por lei o filho
deveria ser morto. E os que lhe conceberam seriam punidos. Mas, não permitiria que
matassem seu filho, nem que isso prejudicasse Julian. Ela morreria antes. Assim,
Começou a planejar sua fuga. Procurou em todos os grimórios de sua família até
encontrar um feitiço que escondesse a presença de qualquer ser mágico, que fazia sua
presença ser igual a de um ser humano. Era um feitiço poderoso que requeria
preparação e grande poder. Rose sabia que poderia fazer isso. Enquanto o tempo
passava ela fez todas as preparações necessárias. Partiria para o mundo humano e
criaria o seu filho lá, Longe de tudo e de todos. Somente seu amigo Lucan sabia do
plano. O único bruxo em quem confiava. Ele a ajudaria a proteger seu filho. O que lhe
tirava uma parte do peso que levava.
Os dias passavam e o corpo de Rose já começava a dar sinais da gravidez. Julian
estava ao seu lado sempre que conseguia. Mas, ela não podia lhe contar seu segredo,
pois, isso atrapalharia sua sucessão ao trono e ela desejava que o seu querido Julian
tivesse o melhor. O que Rose não sabia era que o atual rei era mais esperto do que
parecia e sua gravidez não passou despercebida. O conselho foi avisado e foi onde os
planos da jovem bruxa sofreram imprevistos.

Dias atuais

Any estava habituada à presença de Tony. Ele era engraçado e charmoso. Seus dias
solitários tiveram um fim. Estranhamente Henry havia sumido e não sabia para onde
ele havia ido. Tony chegava todos os dias pela manhã e lhe acompanhava todo o dia.
Contava-lhe historias sobre os lugares que viajou e as comidas que provou. Seus dias
agora eram felizes. Com o tempo ele começou a leva-la a passeios longos pela cidade.
Any nunca havia visto tantas cores nem ouvido tantos sons. Estava radiante. Aquela
tarde eles caminhavam pela praça da cidade enquanto pássaros voavam em todas as
direções. A jovem encantada segurou a mão do amigo e ele encaixou seus dedos. Ela
sentiu algo estranho com esse toque. Um arrepio percorreu seu corpo e um sorriso lhe
veio aos lábios. Como era bom estar com ele.

......
Henry procurava pistas. Luna não estava morta. Ele sentia isso mais forte que nunca.
Seu cheiro estava por todas as partes na região que cercava a cidade. O que levou ele
a não voltar para o orfanato. Deixar uma bruxa perto de sua doce Any era impensável.
Se Luna o estava procurando, ele a levaria para longe. Essa era a decisão correta.

.....
Luna sorria enquanto observava Henry caminhar de um lugar para o outro. Ela o via
através de os olhos de um pássaro que voava por ali. Ele provavelmente já sabia que
ela estava viva. E de algum modo se afastou do orfanato. A bruxinha já estaria morta,
não fosse o outro irmão atrapalhando seu plano. Luna queria desesperadamente a
bruxa demônio. Ela e Anthony se juntaram inicialmente por um objetivo em comum:
Achar a híbrida. Mas, seus motivos eram diferentes. Luna queria a menina morta e
Anthony não lhe havia dito para que a queria. Luna só sabia que ele usaria a bruxinha
como ferramenta para tomar o trono. O importante era que o conselho oculto, todavia
procurava a garota e oferecia uma recompensa para quem a matasse. A recompensa?
Bem, um pedido seria atendido. Qualquer um. E Luna tinha apenas um pedido: Henry.
Se ela conseguisse matar a hibrida pediria uma exceção à lei que proibia uma bruxa e
um demônio de se casarem. Assim, poderia ter seu Henry. Era a oportunidade perfeita
e ela não a deixaria passar.

Capitulo 2
O concelho estava em um silêncio apavorante. Os seres seculares que ali se
encontravam estavam analisando as ultimas noticias, a filha do rei demônio havia sido
encontrada. Os anos de procura os havia feito crer que a criança não havia
sobrevivido. A mãe depois de todo o trabalho que os havia dado, tinha sido capturada
dezesseis anos atrás. A bruxa tinha conseguido algo inédito até então, esconder do
conselho a existência de alguém. Isso os estava causando algo entre admiração e
raiva. O que aconteceria quando a população do mundo oculto acreditasse que
poderiam quebrar as regras e saírem livres disso? Porque era isso que aconteceria se
descobrissem que aquela criança ainda estava viva. Medidas teriam que ser tomadas:
Pessoas seriam apagadas e a historia seria enterrada antes mesmo de se espalhar.
Esse era o caminho certo.

Os membros discutiam o modo mais seguro de encerrar esse assunto e avaliavam as


formas em que deveriam proceder. Seus servos iam e vinham daquele quarto escuro.
Como era todo o lugar. O castelo onde o concelho se reunia era temido por todos os
seres. Um lugar escuro cheio de armadilhas e soldados. Cheirava a sangue e morte.
Os membros eram onze, sendo esses, seis caídos - os únicos que ainda restavam-,
três demônios da segunda geração, o líder das feras e o líder das sombras.
Anteriormente eram doze. Mas o atual rei demônio não quis continuar no lugar que
pertencia ao pai. Seus esforços para ser diferente do pai só o haviam feito perder a
mulher que amava e a filha que sequer conhecera. O rei merecia um castigo também.
Pena que seu pai depois de contar para o conselho a verdade sobre a relação do filho
com bruxa havia usado seu poder como membro para que o atual rei não fosse punido.
Usando a própria vida como moeda de troca. Talvez na tentativa de reparar um pouco
a dor do filho. Uma atitude inesperada que havia pegado a todos de surpresa. O
conselho lhe havia feito uma exceção por a amizade de tantos anos. E disso se
arrependiam agora. O rei atual merecia a morte por colocar no mundo algo que o
conselho proibira. Suas regras eram a lei absoluta. Não que os seres ocultos realmente
soubessem o motivo dessa regra específica. Mas, a menina morreria.
***

17 anos atrás

- Lucan eles estão vindo!

- nós conseguiremos Rose! Agora vamos! Vou abrir o portal para o mundo humano!

- você não pode! Eles sentirão sua magia! Eu faço isso!

O mundo se distorceu a sua volta e de repente eles estavam em uma rua escura e
deserta. Correram o máximo que puderam para não usar magia. Pois isso denunciaria
sua posição. Lucan levava Rose que já estava em um período avançado da gravidez.
Pegaram uma carroça que estava na beira da estrada com um cavalo. Os donos que
os desculpassem mas eles precisavam muito daquilo no momento.

Depois de dias viajando finalmente chegaram a uma pequena vila. Era muito escondida
e sua população parecia acolhedora. Rose precisava de um lugar para ter o bebe e ali
era o escolhido. As pessoas ali pensaram que ela e Julian eram casados. Para evitar
problemas desnecessários os dois deixaram que acreditassem nisso. Julian olhava
sua amiga que estava muito pálida. Seus lindos cabelos haviam perdido o brilho
radiante que tinham antes e embaixo de seus olhos estavam incríveis olheiras que a
faziam parecer sempre exausta. Faltava pouco para que nascesse o seu filho e isso
era de certa forma um alívio.

........

- ela é linda Lucan! Olhe esse cabelinho! E os dedinhos? É perfeita! Parece tanto com
o pai!

Lucan olhou o pequeno embrulho que estava no colo de Rose. Até que era
engraçadinha. Tão pequena. Impossível acreditar que um ser tão frágil pudesse causar
tanta confusão.

- eu acho que sim.


- não seja malvado Lucan! Minha filha é o bebe mais lindo que já vi!

Lucan apenas sorriu. Rose parecia uma mãe boba. O que não teria dado para que
aquele bebe fosse seu também? Lucan amava Rose. E agora amaria e cuidaria de sua
filha. Pois esta era a continuação de Rose. Ele olhou para a janela...

- Rose! Tem algo errado! O tempo está estranho... Essa força... Eles estão perto!

Rose o olhou em choque.

- não!

- o que vamos fazer?

Sua Rose o olhou desolada. Era claro que eles sempre seriam encontrados.

- temos que escondê-la

- como faremos isso?

- um feitiço

- e existe...?

- sim. Eu sei de um. Pensei que poderia nos esconder sem usar ele. Mas vejo que fui
tola.

- mas...

- Lucan, eu vou esconder a existência dela. Vou fazer com que seja como qualquer
humana. E você... Prometa-me que vai proteger ela!

- prometer? E você...?

- eu não posso Lucan. Eles sempre me encontrarão.

- mas, como farei isso?

- eu já planejei tudo. Escute com atenção: Ao norte está uma vila muito grande. Lá
existe o que os humanos chamam de orfanato, onde estão muitas crianças. Você
levará ela para lá. Você deixará que minha filha tenha uma vida normal e a protegerá o
máximo que puder.

- e você o que vai fazer?

- eu vou ficar aqui

- você o que? Isso é loucura! Eles vão te matar!


- eu sei Lucan. Mas isso vai te dar tempo.

- eu não posso!

- você pode! Você vai!

Rose o olhava com olhos desesperados. Lucan se sentia sem saída e seu peito
apertava. Ela morreria. A única mulher que havia amado morreria e ele tinha que salvar
a causa de sua morte. Ele teria que manter aquele bebe seguro. Seus olhos encararam
o pequeno ser que Rose segurava. Rose reconheceu o olhar do amigo e sabia que ele
estava ressentido com sua filha. Ela tentou sorrir.

- Lucan. Ela não tem culpa. É apenas um bebe.

- mas se...

- não. Eu amo o pai dela. E eu a amo mais que tudo. Ela é linda Lucan. E merece
apenas amor. Não a culpe por meus erros. A culpa é minha.

- eu não posso!

- você pode. Eu confio em você

- e o que farei? Deixar a mulher que eu amo morrer? Eu não posso!

Ele abaixou a cabeça. Nunca havia admitido abertamente que a amava e esse não era
o momento certo. Sabia disso.

- eu sei Lucan. E eu também te amo. Sempre amei. Você é o irmão que não tive. E
confio que o amor que você me tem pode se transformar em amor por ela.

Lucan se sentia miserável. Seus ombros estavam caídos. E as lagrimas se


acumulavam em seus olhos. Eles estavam perto. E por seu amor ele teria que cuidar
da menina, por seu amor ele teria que proteger o maior tesouro de Rose, por seu amor
ele viveria para transformar o desejo de Rose em realidade. Pois isso era somente o
que seu amor poderia fazer. Pegou o bebe e sentiu seu calor. Parecia tão frágil e
indefeso. Que de certa forma sabia que poderia fazer o que ELA lhe pedia. Então fez o
que sempre quis fazer: Beijou Rose. O beijo mais desejado e doloroso que teve em sua
vida. Encostou sua testa na dela e lhe dirigiu um pequeno sorriso.

- o que eu não faço por você Rose?

Dito isso abriu a porta e entrou na escuridão da noite. Deixando atrás Rose e seu
coração.

...
Rose estava sentada. Seus sentidos lhe alertavam que eles estavam chegando. Ouviu
um pequeno rangido e de repente a porta estava quebrada no chão.

- finalmente te achei bruxa!

A voz do buscador parecia um trovão. Seu sorriso era arrepiante e Rose sentiu medo.
Suas mãos tremiam. Ela temia por sua filha, temia por Lucan e sabia que sua vida
estava no fim. Restava-lhe apenas confiar que tudo daria certo.

- sabe bruxa, eu te procurei por muito tempo. Onde esta seu filho?

- não tem filho.

- oh minha criança. Não tente me enganar. Eu sei que você estava grávida.

- disse certo: Estava.

- e onde esta...?

- eu não o tive

Ele sorriu. Obviamente não acreditava em Rose. A raiva dele aumentava e ela podia
sentir.

- vamos! Seja boazinha e me diga onde esta ele!

- eu não o tive!

Ele pegou a jovem pelo cabelo e aproximou seu rosto do dela. Ela via aqueles olhos
completamente negros de tão perto que sentia como se fosse puxada para a escuridão.

- diga meu bem. Diga onde ela esta

- eu não a tive. Sabia que o bebe seria o mal para o nosso mundo

- não minha querida. Você não se importa com isso ou não teria sequer se metido com
um demônio

- eu...

- shhhh. Quietinha. Vamos nos divertir um pouco

Rose ouviu outros rangidos no chão de madeira. Um cão negro enorme a observava.
Seus olhos pediam sangue. O buscador sorriu.

- ora vamos bruxa! Não esta com medo de um simples cachorrinho.. Ou esta? Se sim,
olhe bem a sua volta.
Rose olhou. Mas preferia não ter olhado, haviam quatro cães muito grandes. Como se
já não lhe aterrorizasse somente aquele buscador horrendo. Os buscadores eram
terríveis. Criados pelo conselho oculto para se desfazer dos seres que os
desobedeciam. Eles eram altos e fortes, sua voz era horrível, seus olhos negros
sugavam a consciência de quem eles prendiam. Além daquele monstro, o conselho
havia mandado cães demoníacos. Realmente queriam acabar com ela. Rose se sentia
sufocar. Os cães começaram a rodear os dois.

Na noite escura um alto estrondo se ouviu. Seguido por gritos desesperados e depois
apenas silêncio.

***

Dias atuais
Anthony se encontrava na mansão do pai. Seus cabelos em uma bagunça arrumada
lhe conferiam um ar suave. Seu pai estava impressionado com a mudança do filho. O
ar arrogante ainda estava presente. Mas agora competia com um mais calmo. Seu filho
estava bem animado, ao que parecia. Havia perguntado o que lhe deixava tão feliz e
ele apenas sorriu e disse que não tinha motivo especial. O Duque duvidava disso.
Estava animado. Será que era alguma moça que estava operando milagres em seu
filho? Assim esperava.

...

Any sentia falta de Henry. Seu amigo não aparecia há mais de um mês. Seu
aniversario seria em poucos dias e ele estava sumido. Devia ter ido embora. O que a
deixava extremamente triste. Os fantasmas geralmente não passavam muito tempo em
um lugar. Henry havia sido a exceção. Talvez tivesse decidido que era hora de seguir a
diante. Anthony também não estava lá e ela se sentia sozinha. Eles dois de certa forma
eram parecidos. Embora Anthony fosse mais aberto que Henry. Eles eram lindos. Any
passou muitos anos vendo apenas as mesmas pessoas e sentindo um grande vazio.
Como se não fizesse parte daquilo tudo. Os seres sobrenaturais de certa forma a
deixavam mais a vontade. O que era estranho vindo de uma jovem de dezesseis anos.
Ela aceitara mais sobre seus dons nos últimos dias. Anthony que também via aqueles
seres a fizera ver que ela não precisava ser uma humana normal. Ele a estava
ajudando com os fatos estranhos de sua vida. E isso aliviava o peso que sentia desde
que podia se lembrar.
***
17 anos atrás

A bebê chorava. Julian não sabia o que fazer. Estavam bem próximos do lugar que
Rose havia dito. Ele a colocaria na porta do orfanato e esperaria que alguém
aparecesse para pega-la. Ele não havia perguntado para Rose como deveria se
chamar o bebe. Quando eles eram pequenos ela dizia que quando tivesse um filho ele
se chamaria Any. Então esse seria seu nome. Colocou um pequeno pedaço de papel
com o nome e a deixou ali na porta do lugar que seria seu lar durante um bom tempo.

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