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Julho/Agosto/Setembro 2009 • Ano 8 • Nº 39

Entrevista com o Presidente da


Sociedade Brasileira de Eubiose

V. HÉLIO JEFFERSON DE SOUZA


realizada na cidade de Curitiba,
Estado do Paraná, em 31 de março de 2008
Julho/Agosto/Setembro 2009
V. Hélio: Você falou em 31 de março... e, como haverá
uma pergunta sobre política, inclusive, vou começar
falando um pouquinho sobre política. Primeiro quero
dizer que é muito bom estar aqui com vocês e conversar
abertamente. Gravando... isto pode servir para alguma
coisa, para distribuir para outros Departamentos... a
vivência da gente. Costumo dizer que sou o segundo
mais antigo da Sociedade, porque mais antigo do que
eu, só a Verinha (referindo-se à irmã Valéria Vera
de Souza Reis). Não sou o mais velho, mas sou o
segundo mais antigo. Não tem ninguém com 70 anos
de Sociedade, a não ser a Vera.
Mas, no dia 31 de março de 1964, eu tinha uma
revista, chamada “Atualidades Brasileiras” e havia
feito uma edição especial sobre Porto Alegre. E o
Brizola (referindo-se ao político Leonel de Moura
Brizola), candidato a Deputado Federal pelo Rio de
janeiro, pagou toda a reportagem. Na revista tem um
discurso do Brizola, num comício no Rio, e ele pediu
É com grande alegria que apresentamos aos irmãos para que nós publicássemos, em troca do pagamento
da S.B.E. a entrevista concedida pelo nosso Presiden- que fez da reportagem sobre Porto Alegre. E o título
da matéria era “Um discurso é igual a 300 mil votos”.
te, Venerável Hélio Jefferson de Souza, quando de
Naquela época foi a quantidade de votos que ele teve
Sua visita ao Departamento de Curitiba, no período
lá no Rio para Deputado Federal. E uma fotografia
de 28 de março a 1º de abril de 2008, acompanhado
grande do Brizola e embaixo uma legenda “O irrequieto
de Sua esposa, Dona Nízia Oliveira Costa Jefferson
Deputado Leonel Brizola”.
de Souza.
E no dia primeiro de abril de 1964, saí de Belo Horizonte
Apesar do formalismo que a palavra “entrevista”
com o porta-malas do carro cheio de revistas, indo
nos sugere, pudemos desfrutar de uma conversa
para o Rio, para levá-las aos meus anunciantes.
amigável, informal e descontraída, realizada no
Saí de casa às 5 horas da manhã. Na saída de Belo
salão de eventos do hotel Bourbon, nesta cidade.
Horizonte eu vi tanques, muitas metralhadoras, ainda
Por mais de duas horas convivemos, de perto, com
estava escuro. Fizeram-me parar numa barreira:
a simplicidade e a sapiência do nosso Presidente
- Documentos!
e agora oferecemos aos irmãos o produto desta
Entreguei.
realização. Boa leitura a todos!
- O senhor tem uma arma?
- Tenho! – eu tinha uma arma.
- Porte?
Entrevista concedida pelo Presidente da SBE, - Tenho, registro, tudo.
V. Hélio Jefferson de Souza, em 31 de março de Veio um Tenente... passaram o espelho por baixo
2008, segunda-feira, no salão de eventos do Hotel do carro, revistaram o carro todo e pediram a arma.
Bourbon, em Curitiba. Peguei a arma e entreguei. Eles tomaram a arma, o
porte e o meu registro. E na mesma hora – eu não
Sérgio Adir Tambosi – Administrador do estava entendendo nada! – abriram o porta-malas e
Departamento: Bom dia a todos... Hoje, 31 de março perguntaram:
de 2008, estamos reunidos no hotel onde o Presidente - O que é isso?
da Sociedade Brasileira de Eubiose, Venerável Hélio - Eu sou editor de uma revista e estou levando-as para
Jefferson de Souza, está hospedado. Conosco os o Rio, para os meus anunciantes.
irmãos Albino Ribeiro da Silva, Judson Marcolino, - Nós podemos ficar com uma?
Paulo Roberto Sotto Maior e Sueli do Rocio Mann - Perfeitamente.
Sotto Maior, todos membros deste Departamento. Tiraram uma revista. Logo que eu saí dali liguei o rádio
Dada a feliz oportunidade de Sua estada em nossa do carro e descobri que Minas estava marchando em
cidade, vamos fazer-lhe algumas perguntas. Com a direção ao Rio para depor João Goulart (referindo-
palavra a irmã Sueli para iniciar esta entrevista... se ao Presidente do Brasil João Belchior Marques
Goulart). Houve uma precipitação, porque não era
V. Hélio Jefferson de Souza – Presidente da SBE: isso o combinado, mas Magalhães Pinto, junto com o
Antes de iniciarmos, posso falar uma coisa? General Mourão Filho, resolveram antecipar o Golpe.
Todos chamam de Revolução o que foi um Golpe.
Sueli do Rocio Mann Sotto Maior: Certamente... Revolução tem sangue, tem tiro, e tal. Golpe é golpe.
Depõe o Presidente. Coisa de Terceiro Mundo. Mas,

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quando eu cheguei a Juiz de Fora, numa outra base fazê-lo. Porque foi muito interessante a maneira
militar, com muitos carros de combate e milhares de como nós começamos, com 31 de março, inclusive o
soldados bem armados, me pararam novamente: Senhor nos avivou a memória. Temos aqui algumas
- O senhor tem uma arma? perguntas que a Secretaria de Divulgação propôs
Eu disse: “Tinha. Já me tomaram na saída lá de Belo com o objetivo de oportunizar aos nossos irmãos do
Horizonte”. Brasil inteiro, quiçá, do mundo, a conhecer palavras
Revistaram e perguntaram: “O que é isso?”, eu disse: de pessoa tão ilustre, quanto as suas, Venerável Hélio
“Revistas.” Jefferson de Souza. Então é um prazer tê-lo conosco
- Posso ficar com uma? e se o Senhor nos permite e nos der a oportunidade
Eu disse: “Pode!” de fazer essas perguntas, nós iniciaremos com a
E eu fui embora para o Rio. E no Rio, tarde já, pois nossa “colinha” na mão.
viajei quase o dia inteiro, porque estava um tráfego
horrível, cheguei e não fui trabalhar, mas vi pela V. Hélio: Podemos começar.
televisão e ouvi no rádio que estavam tentando depor
o Presidente da República. No dia seguinte fui a um Sueli: As primeiras perguntas versam sobre a política
anunciante, Construtora Rabelo. Diziam que Juscelino em relação ao mundo. Qual a opinião do Senhor sobre
(referindo-se a Juscelino Kubitschek de Oliveira, ex- os dois governos do atual Presidente Lula (referindo-se
presidente do Brasil) era sócio desta construtora. E ao Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva) até
eu fui lá, entregar a revista ao Marco Paulo Rabelo, o presente momento? Ele está em equilíbrio com as
que era muito meu amigo, por causa do Juscelino, e necessidades vigentes e urgentes da pátria do Avatara
receber o meu dinheiro. Não consegui entrar. Tinham e o trabalho temporal para sua manifestação?
destruído o escritório dele todo, era um andar inteiro,
um prédio na Avenida Rio Branco, tentando achar
alguma coisa que incriminasse JK. E assim foi durante
muito tempo, até que um dia, já seis meses depois,
nós fomos chamados no DOPS para depor a respeito
de um artigo publicado na nossa revista. Eu nem
imaginava qual... Chegamos lá, era o do Brizola:
- Por que o senhor publicou isso?
- Porque ele pagou.
- Mas pagou como?
- O senhor está vendo isto aqui? Esta revista é
dedicada ao estado do Rio Grande do Sul e a Porto
Alegre (ele já não era mais governador, era candidato
a deputado pelo Rio de Janeiro). E conseguiu com o
Governador que pagasse isso para nós publicarmos
e em troca nós demos a ele esta matéria do discurso
que ele fez lá no Rio, que o elegeu Deputado, de modo
que não tem problema nenhum, foi isso que ele falou
da República.
- E vocês gostam dele?
- Eu gostava quando ele era Governador, tanto que ele
me pagou para fazer isso e eu fiquei muito feliz. Agora
não tenho nada com ele. Nem gosto nem desgosto, é
um Deputado. V. Hélio: Bem, sexta feira eu tive a oportunidade de
E rapaz assinou lá o depoimento. dizer lá no Departamento (referindo-se à reunião do dia
28, no Departamento de Curitiba) que o Presidente Lula
Mas, conversando sobre 31 de março, hoje é 31 é um homem de muita sorte. Seu índice de aprovação
de março e eu me lembrei dessa história. E agora popular é algo que nunca havia acontecido no Brasil.
podemos continuar. Nem Juscelino Kubitschek nem Getúlio Vargas tiveram
o índice de aprovação que o Lula tem. Ele é uma
Sueli: Em nosso Departamento temos por hábito pessoa simples, fala a linguagem que o povo gosta de
usar a assertiva “Além do Amor, além da Alegria e ouvir, nem sempre fala o que é certo, mas é o que
da Amizade” de tê-lo aqui hoje. E o Departamento de ele pensa. E pegou, aquilo que se chama em aviação,
Curitiba sente-se muito honrado de tê-los (referindo- de céu de Brigadeiro. Como diz o marinheiro, de maré
se também à sua esposa, Dona Nízia) em Curitiba e calma, tudo calmo. De modo que foi uma sorte muito
agradecemos a oportunidade que temos de conversar grande. Não sei se soube aproveitar. Eu acho que se
um pouquinho. Caso o Senhor queira inserir uma ele tivesse uma estrutura melhor de assessoramento,
narrativa, fatos históricos, nós também podemos poderia ter feito muito mais do que fez. Mas acho que

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foi o suficiente para tirar o Brasil, também, do marasmo política econômica, é tudo amarrado e tem que
em que estava. Agora, quero dizer, não que eu sou ter patrocinadores. Tudo tem que ter patrocinador.
contra o Lula, mas qualquer um faria o que ele fez. Patrocinador da Colômbia são os Estados Unidos.
Pela condição da política mundial, com a estrutura da O Brasil hoje é um país totalmente independente
política mundial de hoje, então qualquer um faria. É dessas coisas. Não se liga muito, não faz guerra com
aquela condição de andar sozinho. Agora, tem sorte, ninguém... Nosso armamento é todo obsoleto. Nós
tem estrela e talvez não tenha conseguido fazer tudo temos uma arma muito grande aqui no Brasil. O único
o que pensou, porque é quase impossível, o que país que o Brasil sempre teve medo de uma guerra era
prometeu, por exemplo, em campanha. Mas melhorou a Argentina. Nunca o Brasil se preocupou com outros
muito a situação do povo, reconheço. Acho também países, mas com a Argentina se preocupava. Essa
que esses programas de governo como o Bolsa preocupação acabou com a construção de Itaipu. E
Família e outros, ele explorou muito bem, porque isso depois de Itaipu pronta, a Argentina descobriu que,
já existia, com outro nome. Foi muito bem explorado numa pretensa guerra, era só abrir as comportas que
por ele. Ele é muitíssimo inteligente, uma pessoa de inundaria aquilo tudo. Então, antes de dar um tiro,
uma inteligência rara. O que lhe falta de cultura, sobra inundaria a Argentina.
em inteligência. Acho até que vai terminar muito bem E até, me desculpem, mas eu vou ser obrigado a
o governo dele, desde que o mundo continue do jeito contar uma piada. Diz que Fernando Henrique era
que está. Presidente da República e estava lá com o Menen,
Presidente da Argentina, e de repente apareceu um
Sueli: E os Anjos do Brasil continuem a ajudá-lo... gênio da lâmpada. E disse:
- Eu aceito um pedido de cada um. Primeiro você,
V. Hélio: Bom, os Devas estão aí prá isso! (risos) Presidente Menen.
Daí o Menen disse: “Eu... posso
Sueli: E o que o Senhor acha da pedir qualquer coisa?”
situação política e econômica atual - Qualquer coisa.
da América do Sul? - Eu quero cercar a Argentina
toda com um muro bem alto,
V. Hélio: Isso não é só da América indestrutível, para nunca mais
do Sul. O mundo todo é amarrado, entrar brasileiro nenhum na
tanto politicamente como Argentina.
economicamente. Isso tudo é uma PLIM...
amarração. Acho que quando o - Agora o senhor, Presidente
Lula assumiu a Presidência da Fernando Henrique.
República, ele era o grande líder - Não entra e nem sai ninguém de
da América do Sul. Incontestável, lá?
sem fazer força. Hoje tem uma - Não, não.
pessoa, que o Lula diz que é amigo - Bem seguro aquele muro?
dele, e que quer ser o grande líder - É.
da América do Sul à força, que é o Chávez (referindo- - Enche de água! (risos)
se ao Presidente da Venezuela, Hugo Rafael Chávez
Frías). E que é uma pessoa muito pior do que qualquer Sueli: Bom, a alegria é nossa tônica e o patrocinador
presidente que tem por aí. Não conheço ninguém que do Brasil é a paz.
é pior do que ele. Uma pessoa que o Lula chama
de pacificador e que está pregando guerra entre a V. Hélio: Sem dúvida. O patrocinador do Brasil é toda
Colômbia e o Equador, quer tomar partido. Eu acho a proteção que nós temos, mesmo, dos Devas que
que é uma pessoa nociva a tudo o que se passa nas andam por aí. O Brasil lutou. Por isso que o país só é
Américas, especialmente aqui na nossa casa que é grande quando luta. O Brasil nunca sofreu. Nós nunca
a América do Sul, onde a gente deve viver em paz tivemos uma guerra, tirando a Guerra do Paraguai que
com os vizinhos. Veja uma coisa, a Colômbia tem um é brincadeira. Nunca tivemos uma revolução. Tivemos
poderio de armamento muito maior do que eu sabia, e a de 32 aí (1932), de revolução constitucionalista.
do que acho que vocês todos sabiam, patrocinado pelo Mais, agora, essa coisa de 64 (1964), de golpe dizem
governo americano para combater o narcotráfico. E a que é revolução. Não é revolução, é golpe. Tomaram
Venezuela tem um poderio militar muito grande para o poder, mais nada. Então, proteção é natural.
combater o narcotráfico, comprou armamentos, etc.
Assim mesmo, se tivesse uma guerra entre Colômbia, Sueli: Senhor Hélio, sinteticamente, como foi sua
Venezuela e Equador juntos, a Colômbia ganharia, experiência na área da política?
porque, além do poderio militar ser maior, eles teriam
o apoio americano na mesma hora. Então na verdade V. Hélio: Bom, eu tive a fase boa e a fase ruim. A fase
esse negócio de política, tanto política-política quanto boa foi no início. Eu entrei nisso meio sem querer. Eu

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estava na fazenda de um ex-irmão nosso, falecido, muito dele. E eles sentiram muito não ter podido
Cláudio Machado de Miranda. Ele tinha uma fazenda me nomear prefeito de São Lourenço, por questões
e tirava ardósia, em Sete Lagoas, próxima a Belo políticas. Eu fui vereador. Dizem que fui ótimo
Horizonte. E vizinho dele tinha um político muito vereador. Falava muito com o presidente da Câmara
conceituado em Minas Gerais, Renato Azeredo, pai do e falava muito na Felícia (referindo-se à V. Felícia,
Senador Eduardo Azeredo, que já foi Governador de esposa do V. Jefferson), minha cunhada, ela dava
Minas. O Renato era Deputado há 32 anos, e esteve na aulas numa escola. Numa terça-feira as professoras
fazenda do Cláudio, que eram vizinhos, muito amigos, todas chegaram lá em casa. Ela disse:
e eu era amigo dele porque ele tinha sido subchefe - As professoras estão todas alvoroçadas. Que foi que
da casa civil de Juscelino. E eu conheci o Renato, e você falou ontem?
conversa vai e conversa vem, eu perguntei: - Não me lembro o que foi que eu falei ontem.
- Você tem votos de São Lourenço? Elas diziam:
Ele disse: “Não, nunca tive”. - Cadê aquele seu cunhado com voz bonita? (nem
- Vou te arrumar uns votos lá. sabia que tinha voz bonita - risos).
- Você tem votos lá?
Eu disse: “Tenho!” E fui um bom vereador, mas vi que não tinha muita
- Quantos votos você acha que tem lá? paciência para ser político. Brigava muito. Achei que eu
- Uns 500 votos. não deveria me meter mais em política. Mas, em 1986
- Por que você não se elege vereador e eu te faço havia uma chance e achei que era importante para a
prefeito? Se o Tancredo (referindo-se ao eleito presi- Sociedade ter um candidato à Constituinte que tivesse
dente do Brasil, Tancredo de Almeida Neves) ganhar chance de se eleger. E achei que eu tinha chance de
a eleição (o Tancredo era candidato a Governador em me eleger. Eu tinha feito um trabalho na região. Eu
Minas, em 1982 e o Renato, se o Tancredo ganhasse, tinha 130 vereadores trabalhando em plenária, em
seria o dono do governo, pois o prefeito era nomeado) diversas cidades. São Lourenço, naquela época, tinha
eu te faço prefeito de São Lourenço. 12.800 eleitores. Eu tive quase nove mil votos em São
Lourenço. Absoluto na cidade, não é? Tive mais de
Foi assim que eu entrei para a política. Eu cumpri 80% dos votos válidos em São Lourenço. E urnas em
minha parte com um grande colégio eleitoral, tive 579 que foram votados assim, 80 candidatos. Então, tinha
votos, fui o segundo mais votado da cidade; e o Renato 78 candidatos com um voto, um candidato com dois e
teve 513 votos e outro deputado estadual, que veio eu com 130. Em todas as urnas da cidade foi assim.
agregado a ele, teve 508 votos. Então, o negócio foi
fechado e eu fui cobrar a fatura dos votos. E o Renato, Mas antes disso aconteceu o fim da minha carreira
muito animado: política. Porque na véspera da Convenção do partido,
- Eu vou te nomear, estou só esperando... (... não sei que se realizou no Minas Tênis Clube, em frente à
o que, e tal...) minha casa, em Belo Horizonte, em frente ao meu
apartamento, eu saí da Sede do PMDB à meia noite
A política é algo muito complicado. O PMDB, na com o meu nome sendo o 19º na lista de candidatos
época, o partido de Tancredo, tinha a maioria de um a Deputado Federal. No dia seguinte eu atravessei a
Deputado na Assembléia. E o Deputado Estadual, que rua para ir à Convenção do partido e tinham tirado
fora o mais votado em São Lourenço, era a pessoa meu nome da lista e puseram alguém sem nenhuma
que deveria indicar o prefeito. Era meu amigo, mas chance de ser eleito. Isso foi em julho, a eleição era
havia outro candidato que já tinha se comprometido em novembro e eu tinha até o dia 15 de setembro
com ele. Então, me passaram para trás. Eu deveria ter para conseguir registrar minha candidatura. Briguei,
desistido ali, naquele momento. Mas me ofereceram briguei e consegui, mas consegui por meus méritos
outras coisas: porque ninguém fez força. Tinha um amigo, que era
- Vou te arranjar uma coisa melhor, você vai ser diretor o Ulisses Guimarães (referindo-se ao político Ulysses
do BMG, Banco do Estado de Minas Gerais. Silveira Guimarães), que fez força para eu conseguir,
- Não quero nada disso. Então me arranje alguma mas lá em Minas, não sei por que, a cúpula do PMDB
coisa na área de turismo. Eu quero ser presidente da ficou contra mim. Depois eu fiquei sabendo por quê.
TurMinas (que era o órgão de turismo do Estado). Porque tinha candidato na região mais interessante
- Ah, já tem gente. para eles do que eu. Chegaram a dizer assim: “Um
- Então não quero nada. vereadorzinho de cidade do interior!”.
- Ah, você ficou com raiva?
- Não, não fiquei com raiva, não. Está bem. Mas, no dia 15 de setembro, o Ulisses disse para mim:
“Você vai ao TRE...” (Quando eu digo Ulisses, parece
Logo depois o Renato morreu; ficou três meses no liberdade, mas eu o tratava por Dr. Ulisses. Político,
governo e teve uma pancreatite e morreu. Eu fui uma todo mundo chamava pelo nome. Então quando falo
das últimas pessoas a falar com ele, porque gostava Ulisses, é Dr. Ulisses Guimarães). E eu fui ao Tribunal

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Regional Eleitoral com a assistência do Dr. Ulisses. todo mundo, mas todo mundo me conhece. E a
Minas tinha 53 vagas de Deputado Federal. Então Sociedade tem um nome muito bom em São Lourenço.
você podia registrar 53, mais a metade. Seriam 26 e Acontece que... desculpem-me nós vamos demorar
meio. Então, no total, seriam 79 candidatos e meio. E porque eu tenho que desviar a conversa...
o partido registrou 79. E eu fui ao Tribunal, quase na
hora de fechar e perguntei: Sueli: Sinta-se à vontade...
- Pode arredondar para cima?
- Pode! V. Hélio: Eu fui ao médico, um ortopedista. O conhecia,
Como arredondaram para baixo, corri ao partido e mas nunca tive grandes contatos com ele. Seu nome
fui pegar uma carta, e eles foram obrigados a dar. E é Henrique, um excelente ortopedista. E eu estava na
consegui registrar a minha candidatura, só que quando sala de espera e começou a chegar gente. Chegou
registrei já era tarde... tinha perdido dois meses de um moço que faz música, toca violão, Guará.
campanha e os vereadores já tinham assumido outros - Oi, Seu Hélio, o Senhor por aqui, é?
compromissos. Assim mesmo eu tive 19 mil votos e Começa a conversa, vai chegando gente, e tal.
precisava de 30. - O Senhor não é o Presidente da Eubiose?
Então aí eu resolvi encerrar. Hoje a Sociedade não Eu digo: “Sou! Poxa, que coisa bonita você fez, tocar
permite. Eu tenho dois filhos candidatos a vereador, violão. Está todo mundo aqui na sala de espera. Já
um em São Lourenço e outro em Três Corações. virou comício eubiótico”.
Gosto de política, mas hoje, mesmo que eu quisesse, Aí eu entrei para a consulta e ao tirar a camisa, algo
me dessem de presente um mandato de Deputado, eu caiu no chão. Tentei apanhar e o médico disse:
não poderia aceitar. Eu não tenho
tempo mais para essas coisas. - Está tudo errado, o Senhor sabe
que não pode abaixar assim! Não
Sueli: Lembro o que o Senhor está doendo?
falou sobre as professorinhas... Eu digo: “Está. Dói bastante”.
e também o que disseram, - Eu vou lhe dar uma injeção para
“um vereadorzinho...”, “uma parar a dor. Porque o Senhor não
pessoinha...” Aquela “pessoinha” tem o direito de sentir dor.
traz dentro de si um coração. E - Por que não?
esse coração está na semeadura - Porque o Senhor, em minha
que hoje está nos seus filhos. opinião, é a pessoa mais
Quiçá sejam eles eleitos. importante desta cidade. Por
aquilo que o Senhor representa
V. Hélio: Bom, todos eles gostam como Presidente da Sociedade
de política. Eu, há pouco tempo, Brasileira de Eubiose.
encontrei numa quitanda lá em - Obrigado.
São Lourenço um ex-juiz de Tomei a injeção. No dia seguinte
direito. Dr. Francisco de Andrade Bastos, que foi juiz já não estava doendo. Mas eu fui pagar, tinha feito um
em São Lourenço por mais de 30 anos. Aposentou-se, raios-X. Lá estavam duas mocinhas e uma virou para
está velhinho. É um perigo na rua dirigindo o carro. mim e disse:
Quando vêem o doutor, saem da frente porque ele - O Senhor já foi Deputado?
não enxerga nada. Não sei como é que deixam ele - Eu já fui suplente, mas você não se lembra disso
dirigir. Eu estava na quitanda e ele estava com sua porque não é do seu tempo. Você não tinha nem
esposa. Ele ficou me olhando... nascido.
- Bom dia Doutor! - Eu não, mas meu pai fala muito do Senhor.
- Bom dia!
- Sabe quem eu sou? Então, São Lourenço é assim, sabe? No dia que eu
- Não estou me lembrando, mas eu sei quem é o saí de São Lourenço, depois da OA, segunda-feira
senhor. passada, parei num posto na saída da cidade para
- Eu sou Hélio Jefferson de Souza, Presidente da abastecer o carro. Abasteci, peguei o cartão de crédito
Sociedade Brasileira de Eubiose. e dei. O moço do posto voltou e disse:
E ele disse: “E excelente vereador!” (risos) - O Senhor não é o Fundador da Eubiose?
- Não – eu disse – o Fundador foi meu Pai, eu sou o
Sueli: Então o importante é semear, não é? Presidente!

V. Hélio: Eu acho que se me candidatasse a vereador Mas todo mundo me conhece. De modo que não seria
em São Lourenço, hoje, daqui a dois anos, daqui a uma coisa muito difícil eu fazer campanha ali, não é?
quatro anos, seria Prefeito. Porque eu não conheço Prefeito, então, é pior que Deputado porque ele não

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pode viajar, não pode sair da cidade, não pode fazer Sueli: Senhor Hélio, nós vamos passar para o lado da
nada... espiritualidade, que está ligada a tudo... separamos
aqui as perguntas, didaticamente em blocos. Qual
Sueli: Dizem que o brasileiro não tem memória, a sua visão como Mestre sobre o papel atual e
acabamos de ver que sim, as boas coisas ficaram, também futuro do Oriente no contexto mundial, após
e a menina conseguiu expressar aquilo que o pai a transferência de seus valores Espirituais para a
vivenciou, então a história é muito importante. Dentro América do Sul?
da história, como o Senhor vê a ciência? Ontem
(referindo-se a uma conversa do dia anterior, do V. Hélio: Olha... lá no museu do Templo tem aquele
V. Hélio com os irmãos do Departamento) nós já quadro muito bonito, os Dois vindos do Oriente para
tivemos algumas explicações, mas nós gostaríamos o Ocidente, mostra tudo isso muito bem... aquele
que o Senhor passasse para todos que não tiveram a quadro é uma preciosidade... não sei se já apareceu
oportunidade de ouvir as suas considerações, sobre na televisão... já viram aquele quadro? ... e aí para
as pesquisas com células-tronco embrionárias, que frente tem uma pergunta que nós vamos, já com essa
tem gerado repetidas discussões no mundo científico primeira resposta, chegando perto. Eu acho que os
e religioso, principalmente com foco de discussão valores da Índia, por exemplo, filosofia indiana, são
na questão de “quando a vida se inicia”. O Senhor é coisas que precisam ser preservadas. Tudo que veio
contra ou a favor? para cá continua lá. Eu conheci uma pessoa na Índia...
Eu estive na Índia em 1999, cem
V. Hélio: Olha, eu não vou anos depois da viagem do meu
responder hoje o que já foi Pai, com um grupo de pessoas, na
respondido ontem e minhas pior época do conflito entre a Índia
palavras de ontem são as mesmas e o Paquistão, lá na Caxemira. No
de hoje... eu sou apegado ao que dia em que nós pousamos o nosso
Ele disse (referindo-se ao Seu avião lá, estavam retornando os
Pai, Professor Henrique José caças que foram bombardear uma
de Souza), devem ter Cartas- posição paquistanesa há trinta
Revelação falando sobre isso, quilômetros dali. Nós ficamos em
não há necessidade de repetir. Srinagar protegidos pelo Exército
E com isso eu já vou responder Indiano. Num lago... do outro lado
a segunda pergunta... que é o do lago, numas casas flutuantes...
tema da clonagem. Nós tivemos uma sujeira, uma coisa horrorosa.
na Sociedade uma irmã, ela foi Mas ali nós estávamos protegidos.
a primeira procuradora do grão Ninguém teve medo de nada, nós
Conselho da Ordem do Santo sabíamos que podia cair uma
Graal, no meu tempo, Irmã Jaci, bomba sobre nossas cabeças,
Jaci Silva. Advogada, brilhante. A mas ninguém teve medo. Nós
Jaci morreu, ela precisava fazer não fomos ali para passear. Nós
um transplante e não quis fazer. fomos comemorar uma data e
Tinha que colocar uma tripa de visitar um Posto Representativo,
carneiro, que era o que se usava que era o último que faltava. Nós
na época. Ela disse que não, emendamos com os mais difíceis,
porque Papai era contra. Então ela não quis fazer, não que eram Sidney, Austrália e Srinagar na Índia, para
fez o transplante, porque quis dizer que o Professor fazer a última viagem das dez que nós fizemos
José Henrique de Souza era contra. A gente precisa visitando os postos Representativos e as Catedrais,
saber a época em que vive. Se você vive numa época ligadas ao Santo Graal. Então, os valores inerentes ao
em que não tem chance de sobreviver e vão botar um povo, continuam lá.
negócio para você viver mais três meses, mais quatro Espiritualidade... tem uma fala do Ritual, lá de Srinagar,
meses, eu acho que não vale à pena. Mas, se você é que diz mais ou menos o seguinte... “que terminando
uma pessoa útil à sociedade e sabe que é útil, que as aquela peregrinação, nós tínhamos que começar um
pessoas precisam de você, dependem de você, então trabalho”. A partir dali – nós não tínhamos terminado
eu acho que vale a pena. Você não pode ser contra nada – nós tínhamos que começar um trabalho,
uma coisa dessas. principalmente por estarmos na Índia, e porque é um
povo tão sofrido e tão dócil.
Sueli: Então, como Fernando Pessoa diz... tudo vale Eles são muito mais sofridos do que nós e muito mais
à pena quando a alma não é pequena... dóceis do que nós, tem um olhar assim, de resignação.
São coisas que se a gente contar, ninguém acredita.
V. Hélio: Perfeitamente. Você não pode andar no meio da rua... nós descíamos

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do nosso ônibus, quando vimos do outro lado um você precisa me arranjar um gelo”. E ele veio com
táxi... haviam umas cinquenta crianças ajoelhadas de umas pedrinhas de gelo, botou no copo, e eu saí com
mãos postas, pedindo dinheiro. Você não podia enfiar o copo, lá na varanda... estava cheio de gente lá me
a mão no bolso para tirar uma nota, para dar a um, esperando e eu disse: “Olha, tem uísque lá em cima da
porque os outros “comiam” seus dedos. Era a fome mesa...” e eu olhei o gelo e disse: “De onde será que
delas. É uma coisa horrível. Mas aquele olhar doce, veio esse gelo?” Na mesma hora disseram: “Do lago”.
aquela coisa assim de... “a vida é assim, e é assim E eu voltei correndo, fui lá ao meu quarto, despejei
que eu vou viver”. na pia, voltei, coloquei uísque, enchi bastante, joguei
A Índia tem um bilhão de habitantes... eles acham que fora, e disse para ele: “Você tem uma coca-cola aí...
tem um bilhão, não sabem, porque não tem censo, gelada?” Ele disse: “Coca eu não tenho, mas tenho
não fazem recenseamento. Só nas castas... o povo, Pepsi.” E eu fiquei lá cinco dias tomando uísque com
as pessoas, não tem documento, não tem registro de Pepsi-cola. Olha, todo mundo passou mal. Quer dizer,
nascimento, só vão tirar um quando querem sair do uma sujeira, que a gente não tem a mínima vontade
país. Quando, por qualquer razão, precisam tirar um de ficar sentado.
documento de identidade, um passaporte, uma coisa Onde existe muita espiritualidade, existe muita
qualquer, eles se registram com dezoito anos, com bandalheira. São Lourenço é o lugar certo para se
dezenove anos, com vinte anos. O governo não tem dizer isso. São Lourenço, hoje, é um grande antro de
interesse nenhum em registrar ninguém. drogas. E droga importada. Olha a cidade de turismo,
Então o que você tem?... aí vem a grande polaridade: quer dizer, a alta espiritualidade que tem na cidade,
todos os valores espirituais com todos os desvalores tem também a alta bandalheira, alta porcaria, não
materiais, não é? Eu nunca vi nada tão polar, como a é?... de coisas importadas... que vem de fora. São
Índia. Então essa história é uma história muito triste, Lourenço hoje tem assalto em casa... você não pode
mas, eu vejo assim. deixar a casa vazia. Nunca. Em hora nenhuma.

Olha, nessas casas flutuantes, no primeiro dia, nós Albino Ribeiro da Silva: Em São Lourenço há que se
éramos vinte e oito pessoas. Ocupamos três casas. Na que tomar cuidado para andar sozinho na Montanha.
minha casa nós éramos em oito pessoas. Estávamos
eu, a Nízia, Confúcio, Marília, Luiz Duarte com o
Sérgio, filho do Albino, o Albino e dona Linda. Éramos
oito ali. Chegamos. O meu quarto era o último. Era uma
casa flutuante de madeira, tinha uma varanda, uma
sala, tudo ajardinado, um trabalho de madeira lindo,
muito bonito. Uma sala, onde mais nos divertimos.
Depois passava para uma sala de jantar, tinha uma
geladeira, não tinha fogão, e depois um corredor com
acesso a quatro quartos. O meu era o último. Levadas
as malas para lá, fui abri-las, pois ficaríamos cinco
dias em Srinagar. Um calor de 44 graus no dia em
que chegamos e a primeira coisa que eu fiz foi tomar
um banho. Entrei na banheira, a água caía no lago.
A descarga do vaso sanitário também. Caía no lago.
Quando eu saí dali, para me vestir... cada casa tinha
um mordomo... um rosto assim... de um... sei lá... um
príncipe. Eu não podia olhar para baixo... que o resto
era uma sujeira só. Ele é quem limpava os nossos
quartos, servia a mesa e as refeições, para esses oito V. Hélio: É verdade! Então, é isso a polaridade.
membros, para essas oito pessoas. Eles falam um
inglês muito enrolado... e meu inglês não é nenhuma Sueli: O Professor Henrique, em uma de suas Cartas,
maravilha... mas dá para entender, não morro de fome fala da necessidade da espiritualização de todos os
por causa disso, então eu aceitei ali um uísque, ele seres da face da terra. Focando na juventude, como o
ia arranjar um uísque para mim ali e tal... e ele disse: Senhor vê a relação dos jovens e das crianças com os
“Escocês nem pensar”. Eu disse: “Então deixe...” e eu valores de espiritualidade do homem?
saí; dali a pouco voltei, tinha duas garrafas de uísque
em cima da mesa. Um eu não conhecia, o outro era V. Hélio: Olha, eu vou dizer uma coisa muito difícil,
engarrafado pela Seagram’s. Seagram’s é marca mas... Nós temos um projeto feito pela irmã Nazareth
mundial. Eu olhei... “Vou provar este aqui”, pensei... Bizutti, lá de Nova Xavantina, é Eubiose Universidade
abri... nem perguntei para ele se era meu ou não... Aberta. Isso já correu o Brasil inteiro. Já passou por
abri... coloquei no copo, e ele chegou. Eu disse: “Agora palpites e tal. Eu acho que um passo, seria, nós

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conseguirmos colocar uma cadeira de Eubiose nas as leis brasileiras determinaram que nós somos uma
escolas. Eles não podem fazer isso porque a própria entidade religiosa. Coisa que nós não queríamos. O
Lei da Constituição Brasileira não permite hoje ordens estatuto da Sociedade dizia, no seu artigo primeiro:
religiosas, etc., e a Sociedade hoje é uma religião. Mas Sociedade Brasileira de Eubiose é uma Sociedade
não precisava ser uma cadeira de Eubiose. A gente Cultural Espiritualista. Acabou isso. Hoje a gente fala
propôs que professores eubiotas pudessem falar a em entidade religiosa porque a Secretaria da Receita
linguagem eubiótica para as crianças, sem dizer que Federal me determinou como entidade religiosa e nós
era Eubiose, mais para dar noção de espiritualidade temos que seguir à risca o que as leis brasileiras dizem.
para as crianças, ensinar coisas simples, mentalizar Então hoje nós somos uma entidade religiosa. Tem
coisas boas, criar um princípio, coisas assim. uma série de vantagens e uma série de desvantagens.
Se fosse para colocar, “entidade religiosa”, eu não
Sueli: O pensador Rubem Alves coloca que devíamos teria mudado, à época, o nome da Sociedade. Eu só
ter a cadeira chamada “Amor” nas escolas... mudei porque Teosofia dá um cunho religioso. Coisa
que eu não queria.
V. Hélio: Essa Constituição Brasileira de 1988 acabou Aliás, eu não mudei o nome da Sociedade, eu fui
com as aulas de religião de qualquer escola. Até acho veículo de mudança. Porque foi uma idéia da minha
bom, porque você não pode obrigar uma criança a Mãe, conversando com um grupo de pessoas, em
estudar uma coisa que não professa, não é? Tinha que eu estava presente. A Sociedade tinha um diretor,
aula de catolicismo. E o evangélico hoje, o espírita? à época se chamava Diretor Social, que era Diretor
Você obrigava a fazer uma coisa que não ia exercer. Geral da Sociedade, um médico, Dr. Otávio Marcondes
Não está certo. Agora, você levar pessoas capazes, Pereira. E Ela disse: “Eu estou com vontade de
sutilmente, ensinar a criança a viver melhor, pensar mudar o nome da Sociedade para Eubiose porque o
melhor etc., esse acho que é o nosso caminho. Professor dizia que Eubiose era a ciência da vida, que
Porque esse assunto da Eubiose Universidade Aberta é o futuro e tal, o resto é passado”. E nós saímos dali,
é algo muito amplo, e falta gente, eu não vi nos irmãos eu, o Dr. Otávio e perguntamos: “Podemos divulgar
da Sociedade o interesse devido a esse projeto da isso?” e Ela: “Pois é, pode divulgar...”. Então o Dr.
Nazareth, que não é da Nazareth, é de um grupo de Otávio disse: “Podemos fazer uma assembléia geral
pessoas. extraordinária em setembro – isso foi mais ou menos
em junho – convocar essa assembléia para mudar o
Sérgio: Nós, de Curitiba, estamos interessados, nome da Sociedade”.
desde que o Senhor esteve aqui pela última vez. A Só que nesse meio tempo a informação vazou e
partir de então temos mantido contatos com o irmão dezoito irmãos do Rio de Janeiro fizeram um abaixo-
Expedito... ele é proprietário de uma Faculdade na assinado pedindo para não mudar mais o nome da
região de Tubarão, em Santa Catarina e aguardamos Sociedade. E não sei por que, também uma pessoa
um retorno dele, para tratar desse assunto. Estamos muito chegada da minha Mãe. E Ela concordou em
caminhando com alguma coisa nesse sentido já, para não mudar mais o nome. Mas eu não gostei. Não
levar até a Universidade esse conhecimento. gostei porque eu tinha divulgado. E Ela disse: “Ó meu
filho, eu quero que você venha antes para cá, porque
eu não quero mais mudar o nome”. E eu fui para São
Lourenço uns três dias antes, não estava pensando
em ser Presidente da Sociedade, nem Grão-Mestre,
ainda. Cheguei a São Lourenço dia 24 de setembro
de 1969. Não estava pensando em absolutamente
nada. E Ela me disse: “No dia da assembléia você
vai lá e diz que não quer mais mudar o nome. Eu nem
vou lá, porque daí encerra-se logo a assembléia.” Eu
disse: “Olha, eu sinto muito minha Mãe, mas eu não
vou lá não. Eu posso ser uma porção de coisas na
vida, menos menino de recado! Você é Presidente da
Sociedade. Você vai lá e diz, acabou.”
Mamãe disse: “Ah, você está magoado?”
Eu disse: “Magoado? Eu estou envenenado!”
Ela disse: “O que você acha que eu posso fazer?
Prometi que não ia mudar o nome...”
Eu disse: “Olha, eu tenho uma excelente sugestão. Está
na hora de você passar a Presidência da Sociedade
V. Hélio: Você sabe que não pode dizer na para mim e a Grã-Mestria da Ordem do Santo Graal,
Universidade, que é a linha da Eubiose, porque hoje, estou aceitando hoje.”

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E Ela fez, com data do dia 27 de setembro, data Ele foi lá fora. Voltou: “Venerável, aí fora estão dois
marcada da assembléia, uma carta muito bonita que irmãos do Rio, com uma pessoa que se diz Maitréia.
vocês devem conhecer. E eu fui para lá, foi lida a carta Está pedindo para abrir a Porta do Templo, formar a
e eu tomei posse. Tomei posse e o primeiro ato foi a Guarda para ele ser recebido com todas as honras.”
mudança do nome, já com estatuto pronto. Eu disse: “Vieram interromper a reunião para uma
Então, a resposta está um pouco fora do contexto, conversa dessas? Mandem todos para casa, pois
mas eu estou contando a história. essa pessoa deve ser maluca”.
Pergunta o Almeida, nosso irmão já falecido, que era
Sueli: Mas dentro do contexto, porque o contexto está membro do Grão conselho: “E se for Maitréia?”
onde o amor está! Toda história faz a História. Senhor Eu disse: “Se for, carma meu. Não vi, não quero ver,
Hélio, a realidade atual e visível, palpável do mundo, não acredito, não vou perder tempo com isso, de modo
caminha em equilíbrio com os desígnios da Obra do que os dispense e volte porque a reunião está parada
Eterno? aqui por causa dele”.
Muito bem. Foram embora para o Rio. Esse rapaz,
V. Hélio: Não. Está muito misturado, muito misturado. Alex, o “Maitréia”, chegou ao Rio, deu uma surra na
Nós precisamos, ainda, de mais algum tempo. O sua mãe, internaram ele no hospício e ele ali morreu.
desequilíbrio no mundo é muito grande, muito grande. Maitréia?
A história que eu acabei de contar, nessa viagem que Então, está cheio... Então eu acho que a minha
nós fizemos à Índia, estivemos na Missão, é essa. Olhar... é Aquele
Austrália também, são duas coisas ali. E nesse dia começa uma
completamente diferentes. É o Nova Era, e tal, e eu vou embora,
novo e o velho. É o muito novo e o sei lá o que é que eu vou fazer,
muito velho. A gente precisa tentar ou definitivamente eu vou embora
equilibrar essas coisas todas, com para casa.
mentalidade. Não é prédio velho e
prédio novo. É mentalidade nova e Sueli: O Senhor já fez uma
velha. Nós precisamos chegar perto canção... “vou embora para casa”.
do equilíbrio para que realmente a A volta à casa do Pai. O que o
gente alcance as coisas. Senhor espera do trabalho atual
da Ordem do Ararat?
Sueli: A manifestação mais
objetiva do Avatara Maitréia na V. Hélio: Bom, tive a oportunidade
face da Terra é vislumbrada de de dizer na reunião de
que maneira pelo Senhor? encerramento do Cinquentenário
da Ordem do Ararat, que a
V. Hélio: Mais ou menos dessa Sociedade hoje é a Ordem do
mesma maneira. Primeiro nós Ararat. E sem contar que hoje, na
precisamos desse “quase” Sociedade, não tem 50 pessoas
equilíbrio, e ter uma coisa mais que não sejam da ordem do Ararat.
objetiva. Eu costumo dizer que Nós todos aqui somos da Ordem
acho que minha Missão... não acho, tenho certeza, que do Ararat. Todos que nasceram de 10 de fevereiro de
minha Missão, é um dia reconhecer o Avatara e dizer: 1935 para cá pertencem à Ordem do Ararat. E de 10
“É Aquele ali”. E aí não é mais comigo. Eu não sei que de fevereiro de 1935 para lá, no dia da reunião, só
dia será esse. Não existe um lugar escrito em todo tinha um, que era o irmão Elielson. Todos os outros
o mundo que diz que esse dia seria 28 de setembro eram da Ordem do Ararat. Então não são 98%, são
de 2005. Não existe nada escrito que o Avatara se 99% da Sociedade que são da Ordem do Ararat.
manifestaria no dia 28 de setembro de 2005. Meu Pai Portanto, a pergunta é assim: Que se espera hoje da
nunca escreveu isso. Ele chegou a falar em setembro Sociedade, que é a Ordem do Ararat? Eu espero que
de 2005, numa mudança. Deu a entender que seria a Ordem do Ararat continue desenvolvendo o trabalho
isso. Mas não está escrito. que vem desenvolvendo. Eles têm trabalhado muito.
Então o prazo, eu falei várias vezes, dia 28 de Existem falhas, existem em todo lugar. São falhas
setembro de 2005, falta tão pouco, faltam cinco anos, superáveis, não é? Mas o contexto está bem montado.
quatro anos... – fiz uma contagem regressiva não é? São pessoas que estudam muito. Por exemplo: tem
E nessa contagem regressiva eu passei por coisas pessoas no grupo, às vezes, de quem eu não gosto.
inacreditáveis. Um dia eu estava numa reunião do Mas, como irmão da Sociedade, eu gosto, porque
Grão-Conselho, na sala do Graal, no Templo, lá em estou vendo que a pessoa está trabalhando, ele está
São Lourenço e interromperam a reunião. Chamaram fazendo o máximo, está divulgando a Sociedade. Eu
o Irmão Almeida, que é Mestre de Armas. Era urgente. tenho o direito de não gostar da pessoa. Posso não

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gostar da pessoa fora da Sociedade. Na Sociedade Muita gente entrou na Sociedade, na época do golpe.
eu sou obrigado a gostar. Pessoas que entraram na Sociedade e ficaram.
Então eu acho que nós estamos desenvolvendo um Agentes do DOPS, Polícia Federal, entraram para ver
trabalho sério, de muito estudo... e só posso dizer que o que era a Sociedade, e ficaram na Sociedade. Têm
tem todo meu apoio para continuar com o trabalho que vários. Ficaram na Sociedade. Entraram para ver, para
está sendo feito. Se algum dia tiver um desvio de Obra, ir lá delatar. Gostaram, ficaram, só fizeram elogios. Em
será corrigido com certeza. A única coisa que faltava compensação tem gente que é curiosa (o irmão Eurênio
eu dizer é o seguinte: Todas as Ordens Iniciáticas, se anteontem falou sobre curiosidade). “Quero só ver o
derivam da Ordem do Santo Graal. Primeiro a Ordem que é isso!”. Vai lá, fica um pouco e tal, muitas vezes
do Santo Graal. Depois vêm as outras Ordens. Então passa para Série Interna, faz os graus direitinho, tudo
existe uma Hierarquia nesta história, não é? certinho, bonitinho, porque é obrigado a fazer. Passou
para Série Interna, não tem tantas obrigações assim.
Sueli: O que sobra aos eubiotas e o que nos falta? Então ele pensa: “Bom, já estou iluminado, não tenho
mais o que fazer...”, e vai embora.
V. Hélio: Não posso dizer, é melhor não. Tem muitas Já vi várias coisas. Eu já vi gente sair da Sociedade,
pessoas, acabei de dizer, tem muita gente estudando fez os Graus diretinho, saiu da Sociedade, rodou,
e sobra muita vontade. E falta muita vontade para rodou, rodou. Foi conhecer outros lugares e voltou.
outras pessoas. Então é aquele caso do equilíbrio. Falou: “Eu estou pesquisando, não encontrei nada
Papai dizia que isso aqui era, no bom sentido, um melhor”, voltou.
balaio de gatos. Tem gente de todos os níveis, de
todos os tipos, dentro da Sociedade. A Sociedade é Sueli: O Trigo, a Pomba e a Balança da Justiça, são,
um lugar diferente da Maçonaria, por exemplo, não é a nosso ver, um veículo poderoso dado pelo Mestre,
Sérgio? Nós não fazemos nenhum tipo de pesquisa capaz de modificar inclusive as questões econômicas,
para aceitar o Irmão ou o discípulo. climáticas, a violência, etc., podendo transformar o
contexto mundial. É isso mesmo?
Sérgio: É um lugar aberto.
V. Hélio: É isso mesmo. Agora...
V. Hélio: Maçonaria, é mais a pergunta é a seguinte: será que
fechado, faz pesquisa para evitar todos estão fazendo isso? Estão
pessoas, evita mulheres, alguns fazendo essas mentalizações?
homens. Nós não temos nada Estou perguntando isso porque
disso. Então, é um balaio de nós não somos muito unidos. Nós
gatos. Naquela época, na época somos um grupo grande, mas não
do meu Pai, ele dizia assim: “Este somos um grupo muito unido. Se
aqui, amanhã vai me trair... etc...”. todos, todo eubiota mentalizar
Eu não posso dizer isso. Eu sou escuro-vidente, não isso... é uma força tão grande que todo o mundo vai
tenho nenhuma clarividência (risos). Eu tenho vivência notar. Precisa-se saber se todos estão fazendo.
de uma encarnação só, e aquilo que eu chamo que eu
tenho é “180 mil horas de sereno”. Ninguém me passa Sueli: Então, vamos nos unir!
para trás. Só se eu estiver dormindo ou deixar. Vejo até
onde chega. Eu costumo dizer assim: “Está tentando V. Hélio: O eubiota tem uma coisa diferente. Nós,
me passar para trás. Vou ver até onde vai. Estou dando aqui, eubiotas... Presume-se que o eubiota tenha
corda”. Então falta muita coisa e sobra muita coisa. outro estado de consciência, tenha mais força do que
Tem muita gente com vontade e muita gente que não o mental do pobre coitado que está passando ali na
tem vontade alguma e está aqui para trabalhar e fazer rua. Esse grupo, unido, fechado, todo dia, fazendo
parte lá do fundo do balaio de gatos. Estão lá... a mesma coisa, muda. Agora, se temos cinquenta
Esse é um reflexo do mundo. A Sociedade é o mundo. pessoas, vinte fazem e trinta não fazem, esqueceram...
O que acontece em qualquer lugar, acontece aqui não adianta, vai quebrando a corrente de pensamento.
em Curitiba, na Prefeitura de Curitiba, na cidade de Então, todos precisam fazer! Não está escrito que é
Curitiba, acontece dentro da Sociedade. Tem gente obrigatório, mas quando eu dei... imaginava que todos
boa, tem gente mais ou menos, tem gente ruim. Isso é fossem fazer. Não sei, nunca averiguei isso. Como
uma depuração que é feita através dos Graus. Quando eu acho, também, que está demorando a mudar
nós retornamos os Graus para um ano de duração, foi o processo histórico, creio que tem gente que não
para dar mais tempo para a pessoa se mostrar. Para está fazendo. Já faz quase três anos (referindo-se à
passar para a Série Interna, então não fica aí perdendo orientação para as mentalizações).
tempo. Nós temos centenas de pessoas na Série
Interna e dos tantos que entraram, tantos já foram Sueli: A assertiva “é com amor, alegria e amizade”,
embora. iniciou muitas reuniões no Departamento de Curitiba.

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Posteriormente mudou-se para “além do Amor, da pessoa soubesse o trabalho que dá dirigir qualquer
alegria, da amizade”, que continua ainda vibrando. Departamento, qualquer Ordem, ninguém queria ser
Quando nós realmente vivenciaremos isso? nada nesses Departamentos. Mas tem gente que
fica cobiçando o lugar do outro desde lá de baixo,
V. Hélio: Todo mundo pensando da mesma maneira... do primeiro dia. “Seu Hélio nomeou esse cara de
não são as palavras que você diz. Deve-se vivenciar, novo? Por que não eu?” Um dia vieram com uma
vivenciar. Não só falar, falar, falar. Vivenciar. Eu sugestão: “Vamos fazer lista tríplice?”. Nomear um,
costumo dizer que é uma das coisas mais difíceis na já é difícil, imaginem com três... Não, eu assumo a
Sociedade. Por exemplo, num Departamento grande responsabilidade, é um. É um direito meu. Escolhi,
como o de São Paulo, Lacerda Franco: você passa está escolhido. Ninguém sabe se eu cogitei outro nome
quatro anos fazendo graus com uma pessoa do seu ou não. Nunca mencionei isso. A única pessoa na
lado. Passam juntos para a Série Interna. Um dia se Sociedade Brasileira de Eubiose que sabe dos nomes
pergunta a um dos dois: “O que é que aquele moço que vão ser nomeados para qualquer função, antes
faz aqui?”. “Ah não sei. Que irmão é esse?”. dos demais irmãos, é o irmão José Coimbra, porque
Eu sempre digo: “Mais importante que ser irmão é ser ele faz parte do Grão-Conselho. Só ele, ninguém mais,
amigo, é saber ser amigo do outro, saber da vida do nem meus Irmãos sabem.
outro”. E o irmão às vezes não se interessa, nem pela
família... família eu nasço onde eu tenho que nascer, Sueli: O Senhor possui pessoas que lhe inspiram?
é muito diferente. A gente tem que ser mais amigo. É Quem são, quem foram?
vivenciar a questão, não é só falar...
V. Hélio: Bem, minha grande inspiração foram os
Sueli: Agora o pessoal se reúne meus Pais, não é? Duas fases
mais num bate-bola, como diz o completamente diferentes. Meu
nosso irmão Gabriel, que não está Pai... Nós fomos criados assim:
aqui, mas está junto conosco – nós fomos criados pela minha
onde um está, estamos todos... O Mãe. Ele não tinha muito tempo e
que mais lhe agrada em sua vida nem dava muita atenção às coisas
atual, e o que mais lhe desagrada, – aparentemente. Quando, em
Senhor Hélio? 1960 – nós morávamos juntos, eu
casei e morei com eles – eu fui para
V. Hélio: Olha, tudo que diz respeito Belo Horizonte. Saí de casa. Fui
à Sociedade me dá prazer. O que fazer uma revista numa agência
me desagrada são algumas coisas de publicidade e em três anos,
da própria Sociedade. A Sociedade de dezembro de 1960 a setembro
me agrada e me desagrada. Eu de 1963, meu Pai foi o melhor
sou uma pessoa aparentemente amigo que eu já tive, morando
calma. Não sou calmo, sou muito longe. Porque Ele escrevia para
agitado. Eu posso ter minhas a revista e me telefonava e me
humildades, mas não sou tão humilde assim. Eu não dizia: “Acabei de escrever um artigo e quero que você
tenho vaidade de ser Presidente da Sociedade e ser venha aqui!”. Eu pegava o avião em Belo Horizonte e
Grão Mestre da Ordem do Santo Graal. Eu não pedi chegava a São Paulo às 10 horas da manhã, passava
nada para ninguém, eu nasci assim. Não posso ter o dia com Ele e às 5 horas da tarde saía, pegava o
vaidade de uma coisa para a qual eu nasci determinado avião e voltava para Belo Horizonte. Fazia isso duas
a ser. Desagrada-me na Sociedade, ainda existirem vezes por semana. Conversávamos sem parar por
“fofoquinhas”, brigas entre irmãos, o que na vida, no sete horas, coisa que eu nunca havia feito antes.
cotidiano da vida, é normal de todo mundo. Agora, Quando eu era menino, tirava notas baixas no colégio
dentro de uma Sociedade como a nossa, termos e levava o boletim para o meu Pai assinar. Ele estava
esses problemas... não gosta daquele irmão, briga lá, batendo à máquina e (eu pensava) “ele não vai
com outro, e tal. Isso me desagrada. Então, o que ver”... assinava e pronto. Quando eu chegava a casa,
mais me agrada é presidir a Sociedade, me dá muito à noite, minha Mãe me chamava e dizia assim: “Seu
prazer e o que mais me desagrada são as rasteiras, as Pai disse que você tirou cinco em Matemática”. Ele
coisas rasteiras, como funcionam em qualquer lugar. não viu! (risos). Quer dizer, santa ignorância! Então,
A Sociedade é reflexo do mundo. Só que não deveria são meus grandes inspiradores. E minha Mãe me deu
ser assim dentro da Sociedade. Mas existe. a paciência, não deu o suficiente, mas deu o bastante.
Olhe, antigamente existia eleição na Sociedade. Você Me deu amor. Eu sou uma pessoa extremamente
já imaginou se tivesse eleição hoje? Alguém teria sido amorosa, sou de fácil convívio, eu tenho muitos
eleito para ser Administrador do Departamento... no amigos, amigos de fora da Sociedade, amigos da
dia seguinte outro estaria fazendo campanha. Se a Sociedade. Então minha Mãe me deu isso.

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Meu Pai me deu a noção de justiça, para não errar. E inspiradores: meu Pai e minha Mãe, cada um na sua
eu achando que ele não desse “a mínima” para mim e área.
tal. Alguns anos depois da descida Dele, minha Irmã,
limpando Seu escritório, achou um livro, Livro do Bebê, Sueli: O sentimento de um pai escrevendo para seu
e lá tinha uma dedicatória... tem várias fotos, tem várias filho é maravilhoso, independentemente do pai que
coisas, mas a dedicatória diz tudo o que Ele quis dizer, seja, não é?... mas Ele deixar uma homenagem em
tudo o que eu passei a sentir por Ele. Ele diz: “Hélio, forma de verso, de poesia e de arte... é maravilhoso
este é o diário que lhe oferecem teus Pais. Semelhante um pai olhar para seu filho dessa maneira. Que todos
aos demais seres da Terra, no entanto pairas acima de os pais possam olhar seus filhos dessa maneira. O
todos eles como estrela bendita a luzir. Por isso serás Senhor tem algum tempo livre para um passatempo
sempre o incompreendido. Peregrinaste... ... ... ... ... ... preferido? Ou não sobra tempo?
... ... ... ... ... ... Rio, 9 de março de 1938.”
Ele fez isso oito dias depois de eu ter nascido. E mostra V. Hélio: Tenho. Eu sou um bom televisivo. Eu assisto
todo o amor que Ele não tinha tempo de demonstrar novelas. Eu vejo programas que passam futebol.
e tudo aquilo que Ele sabia que eu ia viver. Ele diz Assisto futebol em casa, na televisão. E gosto... E o
“o Enigmático, não dando muito valor às coisas...” eu meu grande prazer no final do ano é fazer um cruzeiro
realmente não sou uma pessoa que se apega a coisas, de navio. Todo ano eu vou para a Itália e venho da
mas a isso sim, me dá um negócio aqui (apontando Itália para cá, de navio. Eu faço isso há muito tempo...
para a própria garganta), um nó... dou valor a estas Sou mesmo conhecido na Companhia Costa Cruzeiro,
coisas... que tem os melhores navios que vem para o Brasil,
Uma vez – lido com construções desde 1974 – eu ficam aqui quatro meses. As pessoas me conhecem:
estava fazendo umas casas lá em São Lourenço, na os mâitres, os garçons... sou muito bem tratado, sou
entrada da cidade. Eu vendi uma casa – naquela época aquilo que eles chamam de passageiro “vip”. Isto,
era uma mina de ouro construir uma casa, vendia-se para mim, são as minhas férias, quando eu não penso
uma casa e construíam-se duas e meia, agora não é em nada, lá no meio do oceano... nem que queira
mais assim – à vista para um irmão da Sociedade, lá sair dali, eu posso. Só se mandarem um helicóptero
em São Paulo, por sessenta mil cruzeiros. Ele pagou para me tirarem dali. Então são meus momentos
em dinheiro, numa sexta-feira, dentro da Sociedade: de descanso... eu tenho tempo para estas coisas.
120 notas de Cr$ 500,00. Eu saí da Sociedade, A minha vida é muito simples, no sentido do que eu
levando uma pasta com o dinheiro dentro e fui dormir faço, é uma rotina: eu acordo muito cedo, escrevo
na casa do irmão Eurênio. Meu carro estava em São umas coisas, respondo as cartas, telefono para umas
Lourenço. Dormimos, no sábado de manhã acordei, pessoas a partir das 7 horas, recebo telefonemas a
abri a pasta, porque tinha roupa suja e a gente sempre partir das 7 horas. O primeiro a ligar sempre é o irmão
escondia o dinheiro... Eu fechei a pasta e fomos para José Coimbra. Liga sempre às sete, em ponto, de
a rodoviária. O irmão Eurênio me deixou na porta do São Paulo, de São Lourenço, onde ele estiver, liga às
ônibus. Eu comprei uma revista e um jornal e fui lendo, 7 horas. Quando ele não liga, ligo para ele às 7:05
com a pasta em cima do assento. Mas antes de sentar, horas, para ver se aconteceu alguma coisa com ele.
vi um senhor do meu lado e duas freiras atrás de mim. Eu espero a Nízia levantar-se e saio. E vou cuidar
A pasta ali. Aí o ônibus parou em Roseira. Aquele da minha vida particular: vou ao banco, lá em casa
senhor disse para mim: “O Senhor vai descer?” Eu quem faz compras de supermercado sou eu, porque
disse: ”Não”. Ele disse: “Então, dá licença”. Quarenta gosto. Depois, venho para casa... meio dia, quinze
minutos para o almoço, onze e pouco da manhã, eu para meio dia, almoço. Normalmente não saio à tarde,
não quis descer, iria almoçar em São Lourenço. Mas quem sai à tarde é a Nízia, ela não dirige, o motorista
estava muito quente dentro do ônibus e apareceu um a leva. Ela sai e eu fico em casa, atendo telefonemas
menino dentro do ônibus tomando um sorvete. Pensei: e verifico coisas da Sociedade. Às 17:30 horas estou
“Vou tomar um sorvete”. Olhei para trás, vi as duas encerrando meu expediente. Agora eu estou fazendo
freiras, deixei a pasta ali. Ninguém saiu do ônibus, ginástica. Cinco e meia eu encerro o meu expediente,
ninguém entrou. Quando voltei – tinha colocado a tomo banho e aí eu vejo todas as novelas. Deito às
revista e o jornal em cima da pasta – não estavam mais onze horas, onze e meia e a televisão fica ligada... A
em cima, estavam ao lado. Eu olhei a pasta, estava Nízia não gosta de filmes porque ela detesta violência.
aberta, e o dinheiro havia sumido. Entrevistei todo Se ela estiver vendo um filme... se a pessoa der um
mundo, chamei a polícia... então, o dinheiro sumiu. Eu soco no outro, ela perde a voz, ela fica nervosa. Eu
fiquei desarvorado porque era uma casa, perdi. E tinha não vejo filmes, vejo outras coisas que me interessam,
que pagar muita gente em São Lourenço: material de às vezes. Talvez dormir com a televisão ligada... seja
construção, empregados, estas coisas todas... Eu só um sonífero. Mais ou menos, meus hábitos.
pensava nisto... mas... acabou. Fez uma falta enorme.
No dia seguinte, já não pensava mais no assunto.
Mas, sobre a pergunta, sempre foram meus grandes
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Sueli: Bom, meu marido também faz compras de equilibrado, é perito criminal, professor de Biologia,
supermercado. Estou vendo que a vida é... a Sua vida ele faz acupuntura vegetal, tem tratados na Alemanha.
é uma vida igual à nossa vida... O senhor tem sonhos? Mora em Três Corações, é candidato a vereador lá. O
Quais? Sérgio trabalha comigo, este ainda está comigo. E a
Ana, muito chegada à mãe, me dou muito bem com
V. Hélio: Sonhos eu tenho, muitos. Eu tenho o sonho ela. E depois, tem a Nízia. Nós estamos juntos há
de ver meus filhos bem; de ver a Sociedade com um dezoito anos, parece que foi outro dia. E eu adoro fazer
número expressivo de gente; de ver o Brasil como declarações de amor à minha mulher... nós formamos
Pátria do Avatara, como país forte, vibrante, cheio de um casal muito bonito... sem brigas, muito respeito;
paz, com dinheiro e que todos estejam bem, com uma só o fato da idade também ajuda... Se tivéssemos nos
vida melhor – sem demagogia. Eu acho que é o que a conhecido antes, talvez não tivesse dado certo.
gente pensa para o Brasil. Estes são os meus sonhos.
Não são muitos, não. A minha vida já é razoável. Não Sueli: Bom, é tão gostoso ver um homem fazendo
tenho queixas da minha vida. Já passei coisas ruins, declaração de amor à sua mulher... voltando à
coisas boas, coisas... normais de qualquer pessoa. pergunta... Que os seus sonhos se realizem porque
Sou assim, simples. Principalmente com meus filhos, segundo dizem todos...
ultimamente... eu acho que a gente vai ficando velho,
a gente vai dirigindo mais atenção aos filhos... estão V. Hélio: ...melhorando a situação do Brasil, melhora
todos criados, mas cada um com seus problemas. toda a situação da Sociedade.
Hoje minha grande alegria é o Hélinho, ele mudou
muito, um grande homem. E o Sueli: Senhor Hélio, muitos ou
Sérgio, que me ajuda muito lá poucos amigos?
em São Lourenço, porque eu não
posso ficar lá direto. E aí ele fica, V. Hélio: Muitos, muitos. Eu sou
atendendo às coisas. uma pessoa muito feliz. Eu tenho
Eu já tive muitos empregados mais amigos do que qualquer
lá em São Lourenço. Hoje está outra pessoa no mundo. Duvido
tudo muito devagar. O comércio que alguém tenha mais amigos
está muito ruim. A situação geral do que eu. Há alguns anos atrás,
ressente-se de que o dinheiro pela Câmara Municipal de São
sumiu. E o Sérgio fica lá aflito Lourenço, recebi o título de cidadão
porque tem contas a pagar... honorário de São Lourenço. Eu
Então, também, me dá grandes vivi diversas situações. Eu tenho
alegrias. amigos fora da Sociedade há
Eu tenho uma filha, Glória, que mais de 60 anos. Amigos da
vocês já conhecem, mora no Rio. época das calças curtas, de fora
Completamente independente, da Sociedade. E tenho amigos na
uma moça brilhante, foi assessora Sociedade há mais de 60 anos. Lá
da presidência de uma empresa em São Lourenço tem um rapaz,
de seguros por 20 anos. Trabalhou um senhor, o “Gatto”, José Carlos
no banco Itaú, saiu e voltou. Queria ser gerente. Ela é Gatto Cerqueira, conviveu com o Papai, jogou futebol
brilhante. E montou uma firma de eventos. Está muito comigo e tal. O Gatto tem 68 anos, nós temos 60 anos
bem. Casada com um cirurgião plástico, tem a vida de amizade. Ele é da Sociedade. Ele vai a minha casa
bem controlada. todo dia, às 7 horas da manhã ele está lá, quando
Tem a Neusa, que está lá em São Lourenço, trabalhava estou. Eu tenho o Adriano, que está morando lá no
comigo, na minha empresa. Mas eu a desmanchei e meu Condomínio, em São Lourenço. Fizemos revistas
mandei todos embora, inclusive a Neusa. Dei a ela juntos, publicidade. Trabalhamos juntos mais de 20
um terreno, lá no Condomínio. Ela construiu uma casa anos. “Brigamos” 20 anos. Eu “brigava” muito com ele,
boa, seu marido é engenheiro. e “brigo” até hoje. Mas é uma preciosidade (bate no
O Hélinho resolveu fazer faculdade de novo, está peito, na região do coração). Está velho, tá velhinho.
estudando e trabalha na área de seguros, que já No ano passado, no dia do hasteamento da bandeira
conhecia. O Sérgio trabalha comigo. São dois filhos, lá na Vila Helena, eu vi o Adriano lá embaixo, sem
duas pessoas diferentes, duas mães diferentes. Da óculos. Ele, sem os óculos, não enxerga nada. Após
primeira, o Hélio, a Glória e a Neuza. Filhos da Sindoca o hasteamento eu desci para pegar o carro e ir ao
(sua primeira esposa, Dona Eudosinda Jefferson de Templo, e ele ainda estava por ali meio em dificuldades,
Souza), que foi uma grande criatura, foi extraordinária. grudado na Vera, mulher dele. Aí eu disse: “Adriano,
Nós nos separamos porque casamos muito cedo. Uma cadê o óculos”. E ele: “Tanto faz, com óculos ou sem
pessoa maravilhosa. E da segunda, mais três filhos, óculos, eu não enxergo nada mesmo”. (risos).
o Alexandre, o Sérgio e a Ana. O Alexandre, muito Tem o Albino, lá em Santo André, um grande amigo,

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grande amigo. Tem uma turma em Brasília, irmãos da de alguém. Citei alguns, assim, os mais antigos. Tem
Sociedade, muito amigos meus, o Militão e a Célia. Fui essa turma do Grão Conselho, o Coimbra. O irmão
ao casamento deles, estão com 35 anos de casado. Coimbra foi sempre amigo e companheiro, viajou
Militão entrou para a Sociedade menino também. muito comigo. Todos... E tem as amizades novas, que
Confúcio e a Marília, Riuzzi e a Iloka que tem viajado são vocês, que estamos nos relacionando mais agora
muito comigo, viajaram muito comigo. e tal, que considero como amigos. Qualquer irmão
da Sociedade que esteja trabalhando, eu gosto e são
Sérgio: Seu Elielson... meus amigos verdadeiros. Eu sempre digo que espero
que exista reciprocidade porque eu gosto realmente,
V. Hélio: Elielson, Eurênio. O Elielson e o Eurênio têm gosto da pessoa e procuro ser amigo. Por isso que eu
uma particularidade. Eu conversei com eles uma vez, conservo as amizades. De vez em quando, a Nízia tem
nós estávamos em Londres. Eu estava no meu quarto umas amigas antigas, e eu digo para ela: “Liga para a
de hotel, na hora do almoço, e nós estávamos tomando fulana” e ela diz: “Ah, eu liguei para ela no outro dia”.
uísque, os três. E estávamos falando exatamente de Eu digo: “Liga para ela, ela é sua amiga. Conserve
amizade. E eu estava falando que “dizem que quem suas amizades”. Daí ela liga.
tem cinco amigos, como os dedos das mãos, é um Conheci um sujeito dois anos atrás, num navio, dono
felizardo”. Eu tenho como das mãos, dos pés, das de uma indústria ótica em Niterói. Jorge e a mulher
orelhas, dos dentes. E comecei a citar nomes. E citei o Sandra. Jorge Fernandes. À noite assistimos a um
nome dos dois. E disse: “Vocês tem uma particularidade. show, era uma noite de gala, todo mundo de terno.
Vocês são meus amigos e eu sou amigo de vocês, Sentei, ele chegou perto de mim, fez um comentário
mas vocês não são meus companheiros. Porque qualquer. Peguei-me ali batendo papo. “Vamos tomar
vocês gostam de tudo que eu não gosto” (risos). E é um uísque?”. “Vamos”. Saímos os dois, as mulheres
verdade, eles são amigos, amigos mesmo, mas não vieram atrás, com um grupo. “O que você faz?”. “Ah,
são companheiros. eu tenho uma indústria ótica”.
Tem o Aguimael lá em Itaparica Aí eu disse: “Eu tenho uma
que não é da Sociedade, mas é grande amiga, uma senhora,
um eubiota. Amigo extraordinário. está velhinha, que tinha a maior
Muita gente fora da sociedade; indústria ótica da América Latina”.
eu tenho dois casais de amigos E ele disse o nome dela. Aí eu
em São Paulo. Um deles vocês disse: “É essa mesmo”. Era uma
conhecem de nome, já viram na irmã da Sociedade. Ele trabalhou
televisão. É o Marcos Plonka, que com ela e hoje tem uma indústria
fazia a escolinha do professor enorme. Ficamos amigos.
Raimundo, no papel do judeu, No ano passado ele viajou
Samuel Blaunstein. É um grande conosco, fomos juntos para a
amigo, grande amigo. Tem a Itália para tomar o navio. Ele ficou
mulher dele, a Olívia, e tem outro tão feliz. Ele ia conosco este ano,
amigo que é muito chegado ao Marcos que foi quem nós já compramos o Cruzeiro, para novembro. Ele me
me apresentou o Marcos, que é o Zezo, Zé Calaface. ligou outro dia e disse: “Oh, Hélio, sinto muito, mas eu
Esse moço está muito bem de vida, talvez seja, entre não posso ir. Eu tenho uma sobrinha que criei e que
os meus amigos, o que está na melhor situação vai casar no dia 5 de dezembro”.
financeira. Entre os melhores do Brasil. Era dono da Tem mais um amigo que fiz há pouco tempo e que
Editora Ática, a maior editora do Brasil, que venderam é um grande amigo, o Sebastião. O irmão Sebastião
aos franceses, que venderam para a editora Abril. eu conheci através de um amigo desembargador
Não que venderam para a editora Abril que vendeu lá no Rio de Janeiro, é meu amigo também, mas
para os franceses. Fizeram um acerto lá com os não é grande quanto ele. Não é da Sociedade. São
diretores, os diretores então ficaram lá mais um ano e céticos, ele a mulher e os filhos. Apresentaram-me o
depois deram um dinheiro, acertaram as contas com Sebastião. Por telefone, a mulher desse meu amigo
os proprietários da editora. E para o Zezo sobrou a desembargador, uma juíza, disse: “Vai conosco numa
representação da editora, de livros didáticos, que são viagem num cruzeiro de navio, o doutor Sebastião”.
vendidos para o governo Federal. É um grande amigo. Fizemos amizade, começamos a falar de Eubiose,
Está sempre ligando, “vamos sair, vamos almoçar”. Lá e ele interessado. Comecei a conhecer o Sebastião,
em São Lourenço tem o dono de um cartório, Cecil. ele é advogado, coronel do exército, reformado,
É um excepcional amigo. Eu chego ao cartório dele, engenheiro, perito judicial. Sua mulher é professora
está atendendo gente lá dentro, eu paro na porta, ele de Letras, advogada. São dois leõezinhos. Eu dei
larga tudo, vai lá fora, me dá dois beijos, e tal... um curso de correspondência de presente para eles,
Tem muita gente. Na Sociedade tem muita gente. passaram para a Série Interna em Itaparica.
Gente espalhada pelo Brasil todo. Não vale a pena
nem listar nomes, pois às vezes acaba esquecendo-se

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Sueli: Que bom que o Senhor nos acolheu a todos, de Eubiose e que sou obrigado a aprender mais, é
como amigos, e nós agradecemos. Olha Seu Hélio, toda a estrutura da Sociedade, não é a Obra. A Obra
creio que o Senhor já respondeu a esta pergunta, mas, é intuitiva, para mim. A Sociedade eu preciso estudar
quando o Senhor quer ir a um lugar para descansar mais; tem toda a parte política, social, material. Isso
qual o lugar que lhe vem à cabeça? aí eu preciso cuidar mais. Todo dia a gente está
aprendendo.
V. Hélio: Navio, navio, navio...
Sueli: O tulkuismo parece ser natural às hierarquias
Sueli: Navio mesmo, não é? Senhor Hélio, o Senhor mais evoluídas de seres, aos grandes Mestres, como
continua aprendendo muito sobre a Obra? HPB assim como vossos Pais, nossos Mestres, que
possuíam uma linhagem de tulkus.
V. Hélio: Eu acho que esse é um aprendizado O APTA continua a representar essas hierarquias na
constante. Eu não sou um grande estudioso de Eubiose. face da Terra e é certo afirmar que o Senhor e seus
Eu tenho a intuição eubiótica. Eu pego um Livro de dois Irmãos possuem também seus tulkus, assim
Revelação, leio, de vez em quando levo para ca sa e como vossos Pais, os Gêmeos Espirituais?
começo a intuir, começo a ver as coisas diferentes. Eu
não fico lendo, lendo, lendo. Porque tudo que eu ouvi V. Hélio: Vou contar só uma história para você,
e vi é mais do que suficiente, mas é um aprendizado uma só. Eu estava em pé, com o irmão Confúcio,
constante porque todo dia eu estou vendo coisas que em Casa Blanca, lá em Marrocos, indo da Itália, de
meu Pai falou lá atrás. Se Ele estivesse aqui seria navio, ano retrasado, em 2006. O navio foi parando
uma maravilha porque nós aproveitamos muito pouco e nós descemos e as mulheres entraram numa loja,
daquilo que Ele deixou escrito. e eu estava com o Confúcio em
Hoje a ciência está comprovando pé... Fiquei até arrepiado agora,
uma série de coisas aí, mas todos ó (aponta o braço com o dedo), o
ficam calados, ninguém diz nada, Jefferson passou assim na minha
parece que é segredo. É segredo cara. E eu saí atrás dele, falei:
nada. “Confúcio, Confúcio, vem cá, é
o Jefferson” e saí correndo atrás
Sueli: O seu exercício não tem a dele, parei à sua frente, ele queria
ver com o nosso. Nossa realidade até me bater. Olhou-me assim,
é a de contar com os instrutores... assustado, mas era ele, idêntico.
Só uma história, chega. (risos).
V. Hélio: Não, eu acho que a pes-
soa, eu digo isso há muito tempo, Sueli: Obrigado por ter nos
passou para a Série Interna, eu contado...
acho que deve ler Revelações. Ler
Revelações o tempo que puder ler V. Hélio: E o Confúcio viu também.
porque cada vez você vai entender Ele estava junto comigo. Não foi
de um jeito. Esse trabalho de estu- nenhuma visão não.
do, de pesquisa de Revelações é a melhor coisa que a
pessoa pode fazer, até para se preparar para poder di- Sueli: Onde dois ou mais vêem a mesma coisa...
vulgar a Eubiose da maneira que a gente espera que O Senhor tem lembrança total de sua última vida e
ela possa ser divulgada; aproveitar essas brechas que primeira encarnação em El Moro?
a ciência está comprovando aí agora, porque nós es-
tamos aqui calados. Agora, no meu caso, realmente V. Hélio: Eu vou até contar outra história. Eu li a
é um caso diferente porque eu nasci, é aquilo que eu pergunta aí e você fala até da minha Irmã. Quando nós
dizia, eu sou o segundo mais antigo. Vivo, só tem a fomos para El Moro, em 1995, Ela foi também. Mas o
Verinha, que estava no meu nascimento. Todos os ou- americano é muito engraçado. Você aluga o espaço
tros já foram embora. Então eu tenho 70 anos de So- – agora não existe mais, é um parque nacional – e
ciedade e eu devo ter aprendido alguma coisa. Pelo nós reservamos um espaço, pagamos por um espaço
menos eu convivi com meu Pai 25 anos, com a minha para fazer um ritual lá. Quando era um pouquinho
Mãe 62, alguma coisa eu aprendi. mais de meio dia, e nós estávamos indo para o local
do ritual, minha Irmã disse para mim: “Você está
Sueli: Dá uma vontade de ler um Livro de Revelações sentindo alguma coisa?” e eu disse para ela: “Estou.
em casa, não é isso a vontade que a gente tem? Fome.” (risos). Fizemos o ritual. Contei essa história
agora lá em São Lourenço, na OA. A irmã Libby estava
V. Hélio: É, a vontade é essa. Mas é um aprendizado lá, nos Estados Unidos, é americana, nasceu lá. E
constante. Eubiose é algo que todo dia a gente está nesse ritual lá em El Moro, isso para falar do Brasil,
aprendendo alguma coisa. O que eu aprendo muito estava, no ritual, a bandeira da Obra no Centro, do

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lado esquerdo a bandeira do Brasil e do lado direito a Eu tinha muita facilidade para aprender línguas. Eu
bandeira dos Estados Unidos. A bandeira dos Estados estudei num colégio onde aprendi a cantar em inglês.
Unidos estava sendo segura pela Libby, americana, Eu tinha muita facilidade. Depois a gente vai largando,
nascida no Texas e tal. A bandeira do Brasil estava, eu nunca fiz curso de inglês. Mas eu não morro de
não sei se com o Fernando Camposano, ou se ele fome em lugar nenhum do mundo. Falo inglês o
estava com a bandeira suficiente para que as
da OFA. Isso não pessoas me entendam
importa muito, importa e sei entender o que
o resultado. Durante o as pessoas falam,
ritual não tinha vento. A suficientemente. A
bandeira dos Estados Nízia, ela fica brincando
Unidos caiu ao chão, comigo. Uma vez
sozinha; a Libby estava nós estávamos nos
segurando a bandeira. Estados Unidos, eu
Juntou a bandeira, não gosto de ir lá,
encaixou, não tinha mas estávamos lá
vento. Lá do outro lado e ela disse assim
a bandeira do Brasil para mim: “Você é
começou... pá, pá, pá, engraçado, você
pá, pá... (faz o gesto da ainda está estudando.
bandeira do Brasil se Você está estudando
agitando pelo vento), escondido. Está há
sem vento. A bandeira dos Estados Unidos caiu ao dois dias num lugar e começa a falar fluentemente.
chão e a bandeira da Obra parada, sem se mexer, Você está estudando escondido.” Eu disse: “Não
mostrando ali o equilíbrio e a justiça; o outro mostrando estou estudando”. Mas eu faço umas coisas que são
o buraco que cavou e que vai embora e aqui (aponta interessantes de se fazer; você pega um dicionário
de seu lado esquerdo) mostrando o futuro tremulando, inglês-português, português-inglês e lê. Você só
e sem vento. Estava fazendo um arco-íris ao redor do aumenta seu vocabulário e mais nada. E aí, quando
você vai falar com um americano,
um inglês, ou seja lá quem for,
você fala como eles falam aqui:
”Eu querer uma caipirinha”. O
meu inglês é esse. Todo mundo
me entende e eu entendo todo
mundo. Então, para mim está
bom.
Mas o assunto desses sete anos
em El Moro, eu não me lembro
de nada. Tem esses pontos que
o Papai deixou nesse Livro do
Bebê, de várias vezes falar em
inglês, pessoas falarem inglês
comigo e eu responder, antes de
falar português. Mas só. Não me
lembro de nada, absolutamente
nada. Até eu brinco, e digo,
“depois que nós saímos de lá,
aquilo tudo acabou, não tem
mais nada”.
Sueli: Dona Selene, em vários
sol, e tem fotografia disso. Rituais, já disse das várias encarnações futuras
Nesse ritual em El Moro, não senti absolutamente necessárias, do Senhor e dela juntos. Serão todas no
nada, não me lembro de absolutamente nada. Meu Pai, Brasil?
nesse Livro do Bebê, diz que quando eu era menino,
estava começando a falar, não falava nada, ele se
despedia de mim, eu dizia “good mornin”, ele dizia V. Hélio: Acredito que sim. Mas acredito também
“morning” – referindo-se, aparentemente, à maneira numa coisa: isso só vai acontecer se realmente
correta de pronunciar, e Ele escreve lá: “remember El houver necessidade porque se Maitréia se manifestar
Moro”. e mudar tudo isso aqui, eu não vejo muita razão para

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reencarnarmos. Acabou nossa missão. Eu acho que manifestou vontade nem coisa nenhuma. Freqüenta
nossa missão é o presente, não é o futuro. Eu acho assiduamente. Há pouco tempo eu estava em Brasília,
que acaba, mas lógico, se continuar o mundo do jeito e sempre que eu vou lá... o Departamento de Brasília
como anda, provavelmente, não sei quantas mais. é um Departamento festeiro. Tem festa para tudo.
Não sei, não posso prever, mas provavelmente no E é o Departamento mais horizontal da Sociedade,
Brasil, que é o que interessa; nesse contexto todo é o porque são todos funcionários públicos, então todos
que interessa. tem mais ou menos a mesma vida. Um Departamento
muito igual. E eu estava lá numa festa dessas e minha
Sueli: Então retorno àquela pergunta das mesa estava na entrada... um terreno lindo, cinco
mentalizações. Se juntos fizermos, não teremos... mil metros quadrados e eu estava de costas para a
rua, para a entrada. O Ariel chegou, antes de mim,
V. Hélio: Eu não vejo, eu já comentei isso com Ela. Ela e perguntou: “Onde é que o tio Hélio vai sentar?”.
disse assim: “Nós vamos ter que voltar tantas vezes”. “Aqui”. “Aqui, de jeito nenhum. Ele vai ficar de costas
Outro dia estava em São Lourenço, ou São Paulo, para a rua, qualquer um entra aqui e chega perto dele.
nem sei... e estava dizendo para Ela: “Eu quero ficar Não, tem que pôr Ele de frente para a rua. Troca essa
livre de você (em tom de brincadeira)”. Ela disse: “Ih, mesa”. Começa a perceber as coisas. E agora no
nós vamos ficar juntos tantas vezes”. Disse: “Sei lá. outro dia ele disse para mim: “Tio, o que eu preciso
Ninguém sabe”. Acho que isso é uma necessidade. fazer para ser Tributário? (foi em novembro de 2007,
Se tiver necessidade, outro estado de consciência... quando eu estive em Brasília, no casamento da filha
Mas se não tiver a manifestação de Maitréia, se não do Confúcio). “Você quer ser Tributário”? “Eu quero”.
for agora, se o povo não merecer isso, se o Brasil não “Já fez, mas antes vai fazer um cursinho”. “Ah, mas eu
merecer, aí vamos sacar contra o futuro. Hoje eu tenho não tenho dinheiro”. “Vai fazer o cursinho”. Está lá. E
um pé atrás com essa história de voltar aqui. Se puder eu já disse para ele, disse lá em Brasília, na frente de
não voltar, melhor. todo o mundo: “Você se prepare muito que você vai
ser o Mestre da Ordem dos Tributários. Ocupar o lugar
Sueli: O APTA representa três gerações a partir do do seu Pai, que eu estou aqui emprestado”.
Professor e Dona Helena. Poderia falar um pouco de Sérgio: Acabamos de ter uma Revelação...
como foi e ainda é a iniciação para estas gerações do
APTA? Sueli: O que mudou para o Senhor, para a SBE e para
o Brasil após o ritual de 28 de Setembro de 2005?
V. Hélio: Papai deixou dizendo o que é APTA: Henrique
e Helena, Hélio, Selene, Jefferson e Hermés, seus V. Hélio: Acho que a pergunta deveria ser diferente:
contrapartes, e seus descendentes diretos. Então são O que deveria mudar? Tudo o que nós falamos no
os meus filhos, filhos da Seleninha, filhos do Hermés, início. Porque está muito devagar, está muito devagar.
o Jefferson não teve. Daí para frente é sub-APTA, não Eu não sei se todo mundo está fazendo a mesma
é APTA. Meus netos já não são APTA, meus filhos são. coisa (referindo-se às mentalizações). Eu acho que
Descendentes diretos, então, daí, já é outra geração. essa era uma coisa que precisava ser batida nos
Então vai até aí. Eu, da minha parte, nunca fiz força Departamentos: “Olha, aquela mentalização que foi
nenhuma para levar meus filhos para a Sociedade. pedida para ser feita em 28 de Setembro de 2005 é
Nunca peguei pelo braço, levei, “você tem que ir”, para ser feita, não acabou não, viu? É para ser feita”.
nunca fiz isso. Todos eles foram porque quiseram. Só Então, acho que até agora a única coisa que mudou é
tem duas exceções: o Alexandre e a Glória. A Glória que umas cem pessoas saíram da Sociedade. Porque
saiu de casa muito cedo, e ela diz que não tem tempo. Maitréia não chegou lá no dia, com disco voador, num
Ela foi ao Templo há pouco tempo, não lembro que jato de luz... não aconteceu isso e eles foram embora.
dia foi. O Alexandre não. Como ele é policial, perito Pelas minhas contas mais ou menos cem pessoas.
criminal, vive num ambiente meio esquisito... mas é Estavam lá também emprestadas, não perderam nada.
professor de Biologia. Mas ele acha que não deve. O Mudanças não houve nenhuma. Porque está sendo
dia que ele quiser, vai lá, nunca forcei. Foi consagrado mal feito. Ou, ao contrario: não está sendo bem feito.
no templo, todos eles foram. O Hélinho é um grande
estudioso, lê muito, lê tudo, sabe tudo. A Neusa é Sueli: O senhor já falou bastante para nós da viagem
grande estudiosa. A Ana é estudiosa. E o Sérgio é um à Índia, mas tem uma pergunta aqui que diz assim:
sensitivo, ele sente tudo, é muito sensível. De vez em poderia nos relatar um pouco ou algum trecho do que
quando você está conversando e ele começa a chorar. sabe da viagem de vosso Pai ao norte da Índia em
“Que foi filho?”. “Ah, Pai, estava tão bonito...”. (risos). 1899?
Com os da Selene, é a mesma coisa, do Hermés
também. Alina e o Ariel. Agora mesmo tiveram na OA V. Hélio: Nós lemos muito a respeito da viagem do
também. Estudam. O Ariel vai ser Tributário agora. Mas meu Pai antes de viajar para a Índia. Cheguei a fazer
tive que perguntar se ele queria. O Pai foi Mestre da uma comparação do que Ele passou naquela época e
Ordem dos Tributários. Ele tinha todo o direito. Nunca do que nós passamos agora. Mas eu fico imaginando

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agora o que nós passamos, e imagina isso cem que eu volto já”. Queria ver onde estava o ônibus. Ela
anos antes. Mas aquilo tudo era diferente, era outra disse: “Você não vai me deixar sozinha aqui, eu vou
dimensão. Nós chegamos à conclusão que aquilo com você”. Desceu do carro. Quando eu desci e ela
era em outra dimensão; porque Ele conta que foi de desceu do carro também, veio esse Kay. Ele já tinha
trem, tem escrito isso em Revelação. Ele foi de trem conversado comigo na saída do aeroporto, e veio todo
para Srinagar. Um trem, onde tinham dois jovens, com educado: “Seu Hélio, agora nós vamos levar o Senhor
pés de cabrito, e tal... (pausa). Nunca teve trem em de carro para o Senhor chegar antes. Nós vamos até
Srinagar. E Ele conta toda a viagem de trem. Porque o lago, vamos pegar os barcos para atravessar. Só
se Ele tivesse que ir a Srinagar, seria num lombo de atravessa de dois em dois, são quatro barcos”. E eu
elefante, porque não tinha nenhuma condução para fiquei mais calmo. Pois, se você entra em um táxi e te
chegar lá. E Ele foi a Srinagar e não foi num lombo de seqüestram, ninguém nunca mais vai te ver.
elefante. Então Ele foi de trem, mas noutra dimensão... Sérgio: São quase duas horas de conversa... parece
nós, não. Nós fomos de avião. Sofremos bastante, mesmo que o tempo não passa, parece que estamos
cem anos depois. Imagine o que era naquela época. aqui há uns cinco minutos... mas, se os irmãos tiverem
Eu, no inicio dessa conversa, falei que conheci um alguma pergunta final, vamos aproveitar agora porque
cidadão lá, Kay Punnet. O pai dele foi presidente da temos que encerrar...
Federação das Indústrias da Índia. Um sujeito de uma
espiritualidade fantástica. Ele foi nosso anjo da guarda Albino: Tive a oportunidade de conhecer o Gatto e
lá na Índia, tanto em Nova Delhi como em Srinagar. ficar amigo dele agora, na última Convenção...
O nosso Deva era o Kay. Ele arranjou ônibus do
exército para nos transportar; esse camarada, aos 13 V. Hélio: Todo mundo diz “gato” e pensa que é apelido,
anos de idade, foi fazer uma escalada no Himalaia e mas é o nome dele. Com dois “tes”. José Carlos Gatto
quebrou a perna. Ficou perdido na neve, uns monges Franqueira. Família Gatto. Ele é de Maria da Fé. O
o recolheram e o levaram para um mosteiro. Ele ficou Gatto nasceu em Maria da Fé. Toda a família dele é
no mosteiro dois anos, todo mundo procurando por de Maria da Fé.
ele, ele não aparecia, foi dado como morto. Dois anos
depois ele apareceu, de um mosteiro, lá no Himalaia. Albino: Então ele falou para mim: “Albino, quando
Trabalhou depois de adulto com a Madre Tereza de você vier a São Lourenço, não deixe de me chamar
Calcutá, e era o nosso guia que foi nos esperar em para almoçarmos juntos”.
Nova Délhi para nos levar para Srinagar. Eu tenho um
tape, da nossa despedida, nós em Gôa, porque nós V. Hélio: Ele é uma pessoa boníssima. Fez agora uma
fomos até Gôa também, e nós dois abraçados e os cirurgia, está meio fraco, mas está ficando bom. É um
dois chorando. Nós fomos a Gôa, onde o Papai foi. grande amigo. O tio dele – por acaso, a rua em frente
O caminho que ele fez, nós fizemos, só que fizemos à minha casa, lá em São Lourenço, tem o nome do tio
tudo de avião. dele, Joaquim Franqueira – era farmacêutico. E um dia,
ainda menino, eu lhe disse: “Você precisa entrar para
Sérgio: Acho que isso é uma lei de causalidade... a Sociedade Teosófica” “Estou muito velho para isso”.
“Mas você tem cabeça para isso”. E ele começou a
V. Hélio: Olha, nós temos uma agência de viagens freqüentar a Sociedade, ia lá em casa. Naquele tempo
que é de Portugal, o dono é muito meu amigo, seu de menino, entrava, brincava comigo, e aí ficava um
Sarmento. Ele que montava todas essas viagens, pelo tempo lá atrás. Meu Pai gostava dele. O primeiro
mapa. Ele tem relacionamento pelo mundo inteiro. Ele emprego que teve na vida foi meu Pai que arranjou.
tem uma agência de viagens muito conceituada lá em E tem uma maya nessa história... meu Pai não tinha
Portugal. Tem duas. E esse Kay tem uma agência lá conta em banco, nem nada. O gerente do banco era
em Nova Delhi e é o agente do seu Sarmento. O Kay uma pessoa maravilhosa, seu Henrique Sarmento.
já tinha ido a Portugal, me deu uma chaleirazinha para Todo mundo gostava dele em São Lourenço. Aí meu
levar para o Sarmento. Pai foi falar com ele, e ele perguntou: “Professor, o
No primeiro dia, quando nós chegamos a Nova Delhi, Senhor está precisando de alguma coisa?”, e Ele
íamos todos para um ônibus, me tiraram, até fiquei disse: “Preciso sim. Preciso que o senhor me arranje
com medo depois... medo, entre aspas, porque um emprego para um menino. Menino bom”. Foi lá e
gosto muito de plagiar uma frase de JK que diz: “Os empregou o Gatto. Anos depois, o Gatto ficou muito
deuses me privaram do sentimento do medo”. Não bem de vida, tinha um monte de lojas lá em São
tenho medo de nada não. Mas me levaram para um Lourenço. Certa vez, viu o senhor Henrique Sarnento,
carro, o grupo todo foi para o ônibus, me levaram para que lhe disse: “Olhe Gatto, eu não entendo esse
um carro, eu e a Nízia. Um motorista mal encarado, negócio. Eu conheci o Professor, já tinha ouvido falar
aquilo tudo muito estranho, caças decolando para dele, mas nunca tinha conversado com ele. Não era
bombardear ali perto... pensei: “Ihhhh...”. Ficamos correntista do banco, não era nada. Ele vem aqui e
sentados ali no carro, um calor de 44 graus... “Vou me pede um favor e eu não sei por que é que eu fiz”.
sair daqui – pensei”. Daí falei com a Nízia: “Espere aí (risos).

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Paulo Roberto Sotto Maior: Senhor Hélio, uma
questão: há tempos atrás o irmão Jorge veio ao nosso
Departamento e comentou que ele sofreu um acidente,
caiu e bateu a cabeça. Demorou um tempo para ele
se recuperar. Após esse momento de recuperação, ele
diz que abriu a mente. Ele é uma pessoa que conhece
a Obra mais do que muita gente...

Sérgio: O nosso Departamento passou a ter existência


legal em Curitiba, pois obtivemos recentemente o
alvará de funcionamento. Estamos agora trabalhando
para conseguir a nossa sede própria, aliás, um anseio
de todos nós, de longa data...

V. Hélio: Olha, Sérgio, de minha parte, farei o possível


para ajudar o Departamento a ter sua sede própria.
Mas, o mais importante, é a união de todos vocês em
torno desta idéia.
Aliás, a cidade de Curitiba possui um grande potencial
V. Hélio: Cada caso é um caso. Isso tudo depende
para se levar já, para a Universidade, os trabalhos e
muito do Karma também. Tem gente que bate a cabeça
pesquisas que a Eubiose vem realizando através da
e fica doido. Isso depende muito do Karma e depende
Uneubiótica.
muito do merecimento também. Porque, o segredo é...
Revelações. O segredo é esse. Não tem outro caminho.
É expandir o mental. O Jorge é uma pessoa maravilhosa. Sérgio: Bem, meus irmãos, parece-me que é chegado
Adoro ele. Esse é outro que me beija. (risos). o momento do encerramento, apesar da vontade de
continuarmos aqui... só temos a agradecer, Venerável
Sueli: Ah, é tão bom beijar e abraçar... Hélio, pela sua disposição em nos atender, de maneira
tão gentil. Esta conversa ficará gravada, certamente,
Paulo: Eu só gostaria de ressaltar a importância que em nossos corações, pelo resto de nossas existências.
vejo em que todos os irmãos façam as mentalizações Muito obrigado!
da espiga de trigo, da pomba e da balança da justiça
diariamente e não apenas durante a realização do V. Hélio: Eu é que agradeço pela oportunidade. Eu
ritual... gosto de gente, gosto de estar perto das pessoas. E
aqui estamos entre irmãos e amigos. Sempre digo
Judson Marcolino: Ouvi palestras do irmão Eurênio, que deveriam me seguir com um gravador ao lado,
inclusive falando que há algumas divergências em para registrar momentos assim, momentos especiais.
temas da Eubiose. O Senhor teria alguma coisa a Boa sorte a todos vocês.
dizer sobre isso?

V. Hélio: Os ensinamentos dados e que estão escritos, E assim terminamos por contar um pouco do que
devem ser seguidos à risca. Meu Pai deixou gravado, foi e representou para nós a visita do Presidente da
de viva voz, a ioga de Akbel e há alguns que a fazem Sociedade Brasileira de Eubiose, V. Hélio Jefferson de
de maneira diferente. Isto está errado. Salvo se Ele a Souza e esposa, Dona Nízia Oliveira Costa Jefferson
deu individualmente, especialmente para aquela de Souza, à nossa cidade e ao nosso Departamento.
pessoa. Caso contrário, vale o que está escrito. E isto Esperamos que todos os irmãos que a este relato tiverem
se aplica a todos os ensinamentos da Eubiose. acesso, o apreciem, tanto quanto nós o apreciamos.

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