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com

PA HILLAIRE
Ex-professor do Seminário Superior Mende dos
Missionários de SC

RELIGIÃO
DEMONSTRAD
A

OS FUNDAMENTOS DA FÉ CATÓLICA ANTES


DA RAZÃO E DA CIÊNCIA

9ª EDIÇÃO ARGENTINA
BAF
Edições
ÍNDICE GERAL
Índice Geral ........................................................................................ 3
1. Introdução ....................................................................................... 5
Plano de trabalho ................................................................................ 9
Primeira Verdade ............................................................................. 13
Deus existe ...................................................................................... 13
Segunda verdade ............................................................................... 61
Tememos a Alma ............................................................................ 61
Terceira Verdade .............................................................................. 97
O homem precisa de uma religião .................................................... 97
Quarta Verdade .............................................................................. 171
A Religião Cristã é a única Religião Divina ................................... 171
Quinta Verdade............................................................................... 329
A Igreja Católica é o único repositório da religião cristã ................. 329
Por que somos católicos? ................................................................ 559
Compêndio de Doutrina Cristã....................................................... 605
Índice ............................................................................................... 715

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1. INTRODUÇÃO.
Pablo Bert disse em 1879, em seu relatório sobre a instrução pública
“Nossa vontade é levantar diante do templo onde é afirmado, a escola
onde é demonstrado”.
Neste trabalho propomos demonstrar cabalmente que o templo onde se
afirma é também o templo onde se demonstra, e que a religião não é
simplesmente um postulado, mas uma ciência, no sentido estrito da palavra.
Ciência é entendida como “qualquer conjunto de conhecimentos
fundamentados, deduzidos logicamente uns dos outros e baseados, em
última análise, em certos fatos e princípios evidentes.
Ora, a Religião Católica baseia-se em factos positivos e certos e em
princípios evidentes, dos quais se deduzem logicamente as restantes
verdades teóricas e práticas que ensina.
Sua Santidade Leão (Encíclica Aeterni Patris).
O Catecismo da Doutrina Cristã é tão científico e racional quanto
qualquer livro profano pode ser, por mais exigente que seja.
Ao tentar oferecer uma demonstração completa e documentada sobre a
origem divina de nossa religião, não é nosso propósito apresentar tesouros
de erudição e ciência apologética que estão profusamente espalhados em
outras obras, longe do alcance da inteligência e das possibilidades de muitos
leitores. .

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O tema deste livro é uma explicação do Concílio Vaticano
segundo as normas da Teologia fundamental.
Destina-se a jovens escolares. O seu objetivo é fazer com que os jovens
de ambos os sexos compreendam que a religião não é um problema
sentimental, mas sim uma imposição da razão e da consciência. Hoje, mais
do que nunca, devem conhecer em profundidade as verdadeiras razões da
credibilidade, para se firmarem mais na sua fé e estarem mais dispostos a
defendê-la e propagá-la adequadamente.
Grande é hoje o desejo de conhecer as ciências seculares, sejam elas
teóricas ou aplicadas; mas há um abandono quase total do estudo da
Religião, que, afinal, é a única coisa que pode tornar os homens felizes nesta
vida e na próxima.
Este livro dirige-se também aos idosos que, impedidos pela ocupação de
se dedicar ao estudo aprofundado das verdades religiosas, poderão nele
encontrar resumidos os ensinamentos de obras mais extensas e árduas.
É um dever de cada católico estar preparado para defender a sua religião.
Hoje, princípios fundamentais como a existência de Deus, a imortalidade e
espiritualidade da alma, a necessidade e divindade da religião, os direitos e
prerrogativas da Igreja, etc., etc., são ignorados ou negados. É, portanto, de
capital importância que o católico saiba responder corretamente aos ataques
infundados da falsa ciência.
Isto foi reconhecido por Leão para defendê-lo contra os sofismas dos
incrédulos. Para este fim acreditamos que muito contribuirá que cada
pessoa, na medida em que os seus meios e a sua inteligência o permitam, se
esforce por alcançar o conhecimento mais perfeito possível daquelas
verdades religiosas que é dado ao homem abranger com a sua compreensão.
Depois de demonstrar que Deus confiou à Igreja Católica a missão de
ensinar aos homens o que acreditar e o que praticar para serem salvos,
oferecemos uma breve síntese do dogma, da moralidade e do culto católico.
É um memorial resumido, mas bastante completo, da doutrina cristã. A
leitura será suficiente para relembrar os ensinamentos fundamentais da
Religião.

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O método que seguimos na composição desta obra é o mesmo que São
Tomás de Aquino utilizou na sua Summa Theologica. O Santo Doutor
primeiro coloca a questão, resolve-a e depois dá as explicações e
demonstrações correspondentes.
O método tem a tripla vantagem de despertar o interesse, especificar a
doutrina e oferecer uma demonstração clara e concreta da verdade em
questão.
Talvez pareça a alguns que acumulamos argumentos e demonstrações
excessivas.
É comum na Filosofia e na Teologia que um único argumento não
alcance plenamente o assentimento do entendimento. Portanto, a
demonstração deve ser como um feixe de raios direcionado a um único
objeto. Se tiver apenas uma superfície, um único raio será suficiente para
iluminá-lo; Mas se houver muitos, serão necessários tantos raios quantas
forem as superfícies.
Da mesma forma, em matéria religiosa, muitas verdades, para serem
compreendidas em todos os seus aspectos, necessitam de múltiplas
demonstrações; Cada argumento serve para esclarecer um aspecto parcial, e
a soma de tudo nos dá uma ideia completa de todo o pensamento. Além
disso, é sabido que nem todas as razões convencem a todos e o que é claro
para uns é obscuro para outros.
Também seremos censurados, talvez, pelo uso excessivo do silogismo.
Mas a quem pensa assim, alertamos que esta é a forma de argumentação
mais segura e eficaz, além de mais curta e didática. Ainda mais porque
pretendemos instruir e não encantar o leitor.
Foi na Gruta de Lourdes que concebemos a ideia de publicar esta obra. É
por isso que a Virgem Imaculada tem sido, através de muitos anos de
pesquisa e estudo, o que tem sustentado a nossa força. Através das suas
mãos abençoadas ousamos apresentar ao seu Divino Filho, verdadeiro
Mestre das almas, o fruto do nosso trabalho. Que Ele misericordiosamente
se digne torná-la fecunda em frutos de salvação, que é a única glória que
aspiramos e que será a nossa recompensa mais preciosa.
Mende, 8 de dezembro de 1900
Festa da Imaculada Conceição.
A. Hillaire.

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PLANO DE TRABALHO
O estudo da religiãoÉ um dever de todo homem, porque pela
sublimidade do seu objeto, pelas alegrias que proporciona ao espírito e pelas
consequências que pode ter nos nossos destinos eternos, supera em
dignidade e importância todos os outros estudos de ordem puramente
terrena. Ele deve, portanto, ser objeto de nossas preferências, pois estes são
nossos primeiros deveres e nossos destinos eternos.
Nestes tempos, não basta um conhecimento superficial da religião; É
necessário possuir a ciência dela, esta ciência luminosa que gera convicções
firmes e nos torna capazes de refletir sobre as nossas crenças. Ora, esta
ciência não é possuída quando não se está em condições de responder a esta
pergunta: Por que sou cristão e católico? São Pedro disse aos primeiros
discípulos: “Estejam sempre prontos para responder a quem lhe pedir a
razão das suas esperanças”.
O ato de fénas verdades religiosas, deve basear-se na razão. Portanto, a
razão deve preparar-nos para aceitar as verdades da fé, através de razões de
credibilidade. A apologética é a ciência que estabelece com certeza os
fundamentos ou preâmbulos da fé; demonstrando o quão racional, legítimo e
indispensável é acreditar.
Os preâmbulos da fé consistem em algumas verdades preliminares que
servem de base para o estudo da religião. Estas verdades são, na verdade,
artigos da nossa fé; mas aqui os consideramos apenas à luz da razão, para
demonstrar àqueles que não acreditam na conformidade dos nossos dogmas
com os princípios da razão e da ciência.
Estas verdades podem ser reduzidas a cinco principais

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1º Existe um Deus que é o criador de todas as coisas.
2ªO homem, criado por Deus, possui uma alma espiritual, livre e
imortal.
3º O homem é obrigado a admitir alguma religião, só uma religião é
boa e só uma é verdadeira.
4º A única religião verdadeira é o Cristianismo.
5º A verdadeira religião cristã é a católica.
Todas essas verdades estão ligadas entre si como os elos de uma corrente.
1) A existência de Deus e a criação do homem por Deus provam a
necessidade de uma religião.
2) A necessidade de uma religião obriga-nos a procurar a verdadeira,
desejada e imposta por Deus aos homens.
3) A única religião imposta por Deus é a religião cristã.
4) A religião cristã não se encontra, inteira e verdadeiramente, exceto na
Igreja Católica, a única e verdadeira Igreja fundada por Cristo.
5) A Igreja Católica é uma Mestra infalível de fé, que com autoridade
recebida de Deus nos ensina o que devemos acreditar e o que devemos
praticar para ir para o céu.
Bastará, então, demonstrar estas cinco verdades fundamentais, e
todas as outras fluirão delas como um rio da sua nascente, como as
consequências de um princípio. Uma vez demonstrados, podemos
concluir que a Religião Católica é a única verdadeira, e que só
abjurando a razão e o bom senso os seus dogmas podem ser
questionados ou negados.
Desta forma todos os adversários da Igreja serão refutados.
1) Ateus, que não admitem a existência de Deus.
2) Os materialistas e positivistas, que apenas admitem a matéria e negam
Deus, a alma humana e a vida futura.
3) Os indiferentes, que não acreditam na necessidade de uma religião ou
que, pelo menos, não praticam nenhuma.
4) Odeístas, racionalistas, judeus, maometanos e pagãos
que não admitem a divindade do Cristianismo.
5) Os cismáticos, hereges e protestantes que negam a divindade e a
necessidade da Igreja Católica.

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6) os maçons, finalmente, que são os piores inimigos da Igreja, da
família e da sociedade.

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PRIMEIRA VERDADE
DEUS EXISTE

EXISTE UM DEUS SUPREMO E ETERNO, CRIADOR E


PRESERVADOR DO UNIVERSO
1. P. -Qual é a primeira verdade que nenhum homem deve
ignorar?
R. -A existência de Deus, isto é, de um ser eterno, necessário e
infinitamente perfeito, Criador do céu e da terra, Senhor absoluto de todas as
coisas, que Ele governa com a Sua Providência. Esta é a verdade
fundamental, sobre a qual repousa o augusto edifício da religião, da moral,
da família e de toda a ordem social.
Se não existe Deus, a religião é completamente inútil.
A moralidade não tem fundamento se Deus, em virtude da sua santidade,
não estabelece uma diferença entre o bem e o mal; se com a sua autoridade
suprema ele não torna obrigatórias as normas dessa moral, e se com a sua
justiça perfeita ele não recompensa o bem e pune o mal.
É impossível conceber a família e a sociedade sem leis, sem deveres,
sem as virtudes da caridade, etc., e todas estas virtudes, se Deus não
existisse, seriam puras quimeras.
2. P. -Podemos ter certeza da existência de Deus?
R. -Sim, podemos ter tanta certeza de que Deus existe quanto temos de
que o sol existe. É verdade que não vemos Deus com os olhos do corpo,
porque ele é um espírito puro; mas há tantos testes

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que nos demonstram, sem dúvida, a sua existência, que seria necessário ter
perdido completamente a inteligência para afirmar que Deus não existe.
A mente humana não consegue compreender a natureza íntima
de Deus ou os mistérios da vida divina; mas ele pode estabelecer
com total certeza o fato de sua existência e conhecer algumas de
suas perfeições. Não podemos ver Deus, certamente, com os olhos
do corpo, mas podemos contemplar as suas obras. Assim como ao
olharmos para uma pintura deduzimos a existência do pintor, de
quem ela é obra - já que a existência do efeito pressupõe a
existência da causa que a produziu -, também podemos retroceder
dos seres criados ao Criador, a causa primeira de tudo, quanto
existe. Isto é o que afirma o Concílio Vaticano I: “Com a luz natural
da razão humana, o único Deus verdadeiro, nosso Criador e Senhor,
pode ser conhecido com certeza através de causas criadas”.

Ordem da nossa exposição


I. Principais provas da existência de Deus
II. Falsos sistemas inventados pelos ímpios para explicar a
origem do mundo. - Sua refutação
III. Bondade recebida de Deus e efeitos de sua Providência.

I. PROVA DA EXISTÊNCIA DE DEUS


3. P. -Quais são as principais provas da existência de Deus?
R. -Podemos citar sete, que a nossa razão nos dita, e que se baseiam
1º Na existência do universo;
2º No movimento, na ordem e na vida dos seres criados;
3º Na existência do homem, dotado de inteligência e liberdade; 4º Na
existência da lei moral;
5º No consentimento universal da raça humana; 6º Nos
fatos determinados da História;
7º Na necessidade de um ser eterno.

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Esses testes podem ser agrupados em três categorias: físicos, morais e
metafísicos.
Os testes físicos são aqueles que se baseiam na existência, ordem e vida
dos seres criados (1º e 2º).
Os testes morais são aqueles que se baseiam no testemunho da nossa
consciência, da raça humana e nos fatos conhecidos da história (3º ao 6º).
Como prova metafísica - por serem menos acessíveis às inteligências
comuns - daremos apenas aquela que se baseia na necessidade de um ser
eterno (7º).
Todos estes testes têm um fundamento comum, que é um postulado ou
princípio inconclusivo, que todos admitem: não há efeito sem causa.
Qualquer um deles, tomado isoladamente, demonstra plenamente a
existência de Deus; mas considerados em conjunto constituem uma
demonstração irrefutável, capaz de convencer o mais obstinado incrédulo.

I.1. A existência do universo


4. P. -Como a existência de Deus é demonstrada pela
existência do universo?
R. -A razão nos diz que não há efeito sem causa. Vemos um
edifício, uma pintura, uma estátua; Temos imediatamente a ideia de
um construtor, um pintor, um escultor, que fez aquelas obras. Da
mesma forma, quando contemplamos o céu, a terra e tudo o que
existe, pensamos que tudo deve ter alguma causa; e chamamos
essa causa primeira do mundo de Deus. Portanto, pela existência do
universo podemos demonstrar a existência de Deus.
Em efeito
1º O universo não foi capaz de se criar. 2º Não é fruto
do acaso.
3º Nem sempre existiu.
Portanto, deve sua existência a um Ser Supremo distinto dele.
1º O universo não foi capaz de se fazer, porque o que não existe não
pode agir e, consequentemente, a existência não pode ocorrer. O ser que não
existe não é nada e nada produz nada.
2º O universo não é fruto do acaso, porque acaso é uma palavra que o
homem inventou para esconder a sua ignorância e para explicar factos cujas
causas desconhece.

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3º O universo nem sempre existiu. Isto é o que todas as ciências
reconhecem juntas. Geologia, ou ciência da Terra; astronomia, ou ciência
das estrelas; biologia, ou ciências da vida, etc., todas sustentam que o mundo
teve que ter um começo. “Não há nada eterno na Terra”, disse um homem
sábio, “e tudo o que está contido nas entranhas das estrelas, ou na sua
superfície, teve um começo e deve ter algum fim”.
A filosofia indica três personagens quando ser eterno é necessário,
imutável e infinito. Contudo
1º O mundo é material, e ser material não pode ser necessário. Nenhuma
de suas partes existe necessariamente, pois esta ou aquela pode ser
perfeitamente dispensada. O que importa, por exemplo, um rio ou uma
montanha mais ou menos?... Portanto, se nenhuma das partes for necessária
em si, o todo também não será necessário.
2º O mundo não é imutável. Se contemplarmos a natureza material que
nos rodeia, vemos que nela tudo nasce, tudo perece, tudo se renova: as
plantas, os animais, o homem...
3º O mundo não é infinito, pois sempre é possível supor um mundo mais
belo e mais perfeito que o que existe. Conseqüentemente, também não é
eterno, porque a eternidade – que é uma perfeição infinita – só pode ser
encontrada em um ser infinito.
Se, então, o mundo nem sempre existiu, é uma obra que supõe um
trabalhador, da mesma forma que o relógio supõe um relojoeiro, a casa um
pedreiro, a pintura um pintor, a estátua um escultor.
ConclusãoA existência do universo demonstra a existência de
um Ser supremo, a causa primeira de todos os seres. Esse ser
supremo é Deus.
NarraçãoDurante a revolução de 1793, o ímpio Transportador
disse a um camponês de Nantes
-Em breve vamos transformar seus campanários e suas escolas em
ruínas.
“É muito possível”, respondeu o camponês, “mas você nos deixará as
estrelas; e enquanto existirem, serão como um alfabeto do bom Deus, no
qual nossos filhos poderão soletrar seu augusto nome.
Não são necessários longos discursos para provar que Deus existe, basta
abrir os olhos e contemplar as maravilhas do mundo exterior.

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I.2. Movimento, ordem e vida dos seres criados
5. P. -A existência de Deus pode ser demonstrada pelo
movimento dos seres criados?
R. -Sim, porque não há movimento sem motor, isto é, sem alguma causa
que o produza. Ora, tudo o que existe no mundo obedece a algum
movimento que deve ser produzido por algum motor. E como não é possível
que exista realmente uma série infinita de motores, dependentes uns dos
outros, é necessário que cheguemos a um primeiro motor, eterno e
necessário, causa primeira do movimento de todos os outros. Chamamos
esse primeiro motor de Deus.
A 1ª Mecânica, que faz parte da Física, afirma que a matéria não pode se
mover sozinha. Uma estátua não pode sair do seu pedestal; uma máquina
não pode mover-se sem força motriz; Um corpo em repouso não pode por si
só ser posto em movimento. Este é o chamado princípio da inércia. Portanto,
para produzir movimento é necessário um motor.
2º Agora, a Terra, o Sol, a Lua, as estrelas, percorrem continuamente
órbitas imensas sem nunca colidirem entre si. A Terra é uma esfera colossal,
com 40 mil quilômetros de circunferência, que, segundo os astrônomos,
realiza uma rotação completa sobre si mesma a cada 24 horas,
movimentando os pontos localizados no equador a uma velocidade de 28
quilômetros por minuto. Num ano faz uma revolução completa em torno do
Sol, viajando a uma velocidade de cerca de 30 quilómetros por segundo.
Todos os outros planetas realizam movimentos semelhantes. E se olharmos
para a nossa Terra, vemos que tudo nela é movimento: os ventos, os rios, as
marés, a germinação das plantas...
3º Todo movimento supõe um motor; e como não podemos supor uma
série infinita de motores que comuniquem movimento entre si, como um
determinado número infinito é tão impossível quanto uma vara sem pontas,
devemos necessariamente chegar a um primeiro ser que comunique
movimento sem tê-lo recebido. em um primeiro motor que não é movido.
Ora, este primeiro ser, esta primeira causa do movimento, é Deus, a quem
podemos corretamente chamar de primeiro motor do universo.
Digno de admiração foi, sem dúvida, o gênio de Newton, que descobriu
as leis dos movimentos estelares; mas que inteligência era necessária para
criar e aplicar essas leis, lançando

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os espaços, esses mundos inumeráveis e velozes que percorrem o universo
com tanta regularidade e harmonia?
Napoleão disse ao General Bertrand, no rochedo de Santa Helena:
“Minhas vitórias fizeram você acreditar em meu gênio; "O universo me faz
acreditar em Deus... Qual é a manobra militar de maior sucesso, comparada
ao movimento das estrelas?"
6. P. -A ordem que reina no mundo prova a existência de
Deus?
R. -Sim; Tudo o que é feito com ordem supõe uma inteligência
ordenadora; e quanto maior o trabalho e mais perfeita a ordem, maior e mais
poderosa é essa inteligência.
Agora, em todo o universo e nos seus mínimos detalhes existe uma
ordem surpreendente. Então podemos deduzir que existe um computador
supremo e uma inteligência suprema, a quem chamamos de Deus.
1º Não há efeito sem causa, nem ordem sem inteligência ordenadora.
Jogue uma pilha de letras misturadas no chão.
Serão capazes de produzir um livro se não houver inteligência que os
ordene? De maneira nenhuma. Reúna todas as peças de um relógio numa
caixa; Conseguirão se colocar no seu devido lugar, iniciar o movimento e
marcar as horas?
Nunca!
2º A ordem que reina no universo é perfeita, cada coisa tem um lugar. O
dia sucede à noite, e esta depois daquela; As estações se sucedem. A Terra,
os céus, as estrelas, os vários elementos do universo, tudo está interligado,
tudo contribui para a maravilhosa harmonia do todo1. A consequência é
esta, a ordem admirável que um computador representa.
Mas alguns dirão: Esta ordem do mundo, as suas
combinações complicadas, esta harmonia que admiramos são
efeitos do acaso.. Nada mais absurdo e irracional. O acaso nada mais é
do que uma palavra, filha da ignorância, que tenta explicar aquilo cuja causa
é desconhecida.
Hoje ninguém ousa atribuir a ordem do cosmos ao acaso; mas muitas
vezes recorre-se a forças ou

1 Leia para este propósito o belo tratado de Fénelon sobre a existência de Deus.

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leis naturais. Existem, sem dúvida, leis admiráveis que regem o mundo
visível, como a da atração, da gravidade, da força centrífuga, etc., bem
conhecidas e demonstradas. Mas, precisamente, a existência destas leis
pressupõe a existência de Deus, uma vez que não há lei se não houver
legislador. Quem os dirige?... a matéria é, em si, inerte; então, há um ser
diferente que o move. A matéria é cega; Então, existe um ser inteligente para
orientá-lo, já que tudo está em perfeita ordem.
Independentemente desses motivos, basta explicar corretamente os
termos para desfazer o mal-entendido. Se por natureza se entende um ser
real, vivo e pessoal, que dirige e governa todas as coisas, então é Deus. Seria
então uma questão de nome, pois na verdade equivaleria a admitir a sua
existência. Mas se por natureza entendemos um ser imaginário, uma
entidade da razão, algo irreal e inexistente, então é o mesmo que o acaso, e
mudar a palavra não nos impedirá de cair no mesmo absurdo.
resumindoTodo efeito deve ter uma causa proporcional, a ordem
e a harmonia pressupõem um ser inteligente; o mundo assume a
existência de Deus.
Para Newton, o melhor argumento para demonstrar a existência de Deus
era a ordem do universo; Por isso repetiu as palavras de Platão: “Você deduz
que tenho um lama inteligente, porque observa ordem em minhas palavras e
ações; conclua, portanto, ao contemplar a ordem que reina no universo, que
existe também um ser soberanamente inteligente, que existe um Deus.”
O próprio Voltaire não conseguiu resistir à força deste argumento.
Afirmava que era necessário ter perdido completamente a cabeça para não
deduzir a existência de Deus da existência do mundo, da mesma forma que,
a partir da visão de um relógio, deduzimos a existência de um relojoeiro.
Um dia houve uma discussão na sua presença sobre a existência de um
Deus; e ele, apontando com o dedo para um relógio de parede da sala,
exclamou
-“Quanto mais reflito, menos consigo entender como aquele relógio
poderia funcionar se não tivesse sido construído por um relojoeiro!”
7. P. - Podemos deduzir a existência de Deus contemplando
os seres vivos?
R. -Sim, a razão, a ciência e a experiência obrigam-nos a admitir
um Criador de todos os seres vivos espalhados pela Terra. E uma
vez que esse Criador não pode ser outro senão Deus, segue-se que
do

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existência de seres vivos, podemos concluir a existência de Deus.
Em efeito
As ciências físicas e naturais nos ensinam que antigamente não existia
nenhum ser vivo na terra. De onde vem a vida que agora existe nele, a vida
das plantas, a vida dos animais, a vida do homem?
A razão nos diz que nem a vida intelectiva do homem, nem a vida
sensível dos animais, nem mesmo a vida vegetativa das plantas poderiam ter
surgido da matéria. Razão? Porque ninguém dá o que não tem; e como a
matéria carece de vida, também não poderia dá-la.
Os ateus não sabem o que responder a este dilema ou então a vida nasceu
espontaneamente na Terra, fruto da matéria através da geração espontânea;
ou então devemos admitir uma causa diferente do mundo, que fecunda a
matéria e faz germinar a vida nela. Agora, depois das experiências
conclusivas de Pasteur, não há mais verdadeiros estudiosos que ousem
defender a hipótese da geração espontânea; A verdadeira ciência estabelece
que um ser vivo nunca nasce se não houver germe, semente, ovo ou rebento
vital, proveniente de outro ser vivo da mesma espécie.
E qual a origem do primeiro ser vivo de cada uma das espécies? Volte o
quanto quiser, de geração em geração; Você sempre alcançará um primeiro
criador de todos os seres vivos, a primeira causa de todas as coisas, que é
Deus. Este é o argumento do ovo e da galinha; Mas só porque é velho, ele
não para de preocupar seriamente os ateus.
NarraçãoNuma casa de família cristã, duas das filhas, depois do
jantar, estavam ambas lendo a História Sagrada junto a uma janela.
Um jovem se aproximou e, em tom de zombaria, disse-lhes
-Como! Você lê História Sagrada? Você não sabe que Deus não existe?
-se você estiver lá "Com certeza", respondeu o mais novo, "responda-nos
esta pergunta, já que você sabe tanto. O que existiu primeiro, a galinha ou o
ovo?"
-O ovo!
-E de onde veio esse primeiro ovo?

20
-Ah, me enganei, a galinha veio primeiro!
-Então de onde veio a primeira galinha?
-A primeira galinha... a primeira galinha... A primeira galinha?
-Sim, a primeira galinha. De onde ele veio?
Que galinha, não que galinha! Já estou farto de tantas galinhas.
-Diga antes, Sr. Sabe-tudo, que você não sabe a resposta, e reconheça
que sem Deus é impossível explicar a existência do ovo e da galinha.
Nosso bom homem fugiu, repetindo para si mesmo baixinho
O que teria sido o primeiro?
8. P. -Todos os seres do universo provam a existência de
Deus?
R. -Sim, todos os seres que existem no universo são tantas
provas da existência de Deus, porque todos eles são efeito de uma
causa que lhes deu existência, de um Deus que os criou a todos.
Os sábios conhecem muito bem os elementos que constituem cada um
desses seres; e ainda assim eles não são capazes de produzir um único; Eles
não podem criar uma folha de árvore ou uma folha de grama.
Lamartine perguntou a um pedreiro de S. Pont: Como você pode saber a
existência de Deus, se você nunca frequentou a escola, nem a doutrina, nem
lhe foi ensinado nada na sua infância, nem leu nenhum dos livros que tratam
de Deus ?Deus?
O pedreiro respondeu: Ah, senhor! Minha mãe, em primeiro lugar,
já me contou muitas vezes; Além disso, quando cresci, conheci
muitas almas boas que me levaram às casas de oração, onde se
reúnem para adorá-lo e servi-lo em comum, e para ouvir as palavras
que Ele revelou aos santos para o ensino de todos. homens. Mas
mesmo que a minha mãe nunca me tivesse contado nada sobre Ele,
e mesmo que eu nunca tivesse frequentado o catecismo ensinado
nas paróquias, não existe outro catecismo em tudo o que nos rodeia,
que fala muito alto aos olhos da alma, mesmo dos mais ignorantes?
É necessário conhecer o alfabeto para ler o nome de Deus? A sua
ideia não penetra o nosso espírito com a primeira reflexão, o nosso
coração com o primeiro bater? Não sei o que os outros homens
pensam, senhor, mas quanto a mim, não consegui ver, não digo uma
estrela, mas não uma estrela.

21
formiga, nem uma folha, nem um grão de areia, sem dizer: Quem é
que te criou?
Lamartine respondeu -Deus, você mesmo responderá.
“Isso mesmo, senhor”, acrescentou o pedreiro, “essas coisas não
poderiam ser feitas sozinhas, porque antes de fazer alguma coisa é preciso
existir; e se existissem, não poderiam ser feitos novamente. É assim que
explico a mim mesmo que Deus criou todas as coisas. Você conhecerá
outras formas mais científicas de explicar isso.
“Não”, respondeu Lamartine; todas as formas de expressá-lo coincidem
com as suas. Mais palavras podem ser usadas, mas não com mais precisão.

I.3. A existência do homem, inteligente e livre.


9. P. -Podemos demonstrar particularmente a existência de
Deus, através da existência do homem?
R. -Sim; Pela existência do homem, inteligente e livre, chegamos a
deduzir a existência de Deus, pois não há efeito sem causa capaz de produzi-
lo.
Um ser que pensa, reflete, raciocina e quer só pode vir de uma causa
inteligente e criativa; e visto que essa causa inteligente e criativa é Deus,
segue-se que a existência do homem demonstra a existência de Deus.
Podemos dizer, portanto penso, logo existo, logo Deus existe.
É indubitável que nem sempre existi, que os anos e os dias da minha vida
podem ser contados; Se, então, comecei a existir num dado momento, quem
me deu a vida?
Por acaso fui eu mesmo? Foram meus pais?
Algum ser visível da criação? Foi um espírito criativo?
1º Eu não fui eu mesmo. Antes de existir eu não era nada, não tinha ser;
e o que não existe não produz nada.
2º Nem foram só os meus pais que me deram a vida. O verdadeiro autor
de uma obra pode repará-la quando ela se deteriorar, ou refazê-la quando for
destruída. Agora, meus pais não podem me curar quando estou doente, nem
me reviver depois que eu morrer. Se meus pais fossem os autores da minha
vida, que perfeições eu não teria! Que pai, que mãe, não tentaria tornar os
filhos perfeitos em tudo?

22
Há também outro motivo. Minha alma, que é uma substância simples e
espiritual, não pode vir de meus pais ou de seu corpo, porque então seria
material; não da sua alma, porque a alma é invisível; nem, finalmente, do
seu poder criativo, já que nenhum ser criado pode criar.
3º Não devo minha existência a nenhum ser visível da criação. O ser
humano possui entendimento e vontade, ou seja, é inteligente e livre.
Portanto, ele é superior a todos os seres irracionais. Um mineral não pode
produzir um vegetal; Um vegetal não pode produzir um animal, nem um
animal um homem.
4º Devo, portanto, meu ser a um Espírito Criativo. De onde você tirou
minha alma? Ele não o tirou da matéria, porque então seria material. Nem o
tirou de outro espírito, porque o espírito que é simples não pode ser dividido.
Então, ele necessariamente o tirou do nada, ou seja, ele o criou. E como o
único que pode criar é Deus, isto é, o único que pode dar existência com um
simples ato de sua vontade, segue-se que a existência de Deus é
demonstrada pela existência do homem.

I.4. A existência da lei moral.


10. P. - O fato da lei moral prova a existência de Deus?
R. -Sim, a existência da lei moral prova irrefutavelmente que Deus existe.
Existe, de facto, uma lei moral absoluta, universal e imutável que
ordena o bem, proíbe o mal e domina a consciência de todos os
homens. Quem obedece a esta lei sente a satisfação de ter
cumprido o seu dever; Quem a desobedece é vítima de remorso.
Ora, como não há efeito sem causa, nem lei sem legislador, da lei moral
deduzimos a existência de Deus.
Ele é o Legislador supremo que nos impõe o dever inevitável de
praticar o bem e evitar o mal; o testemunho de todas as nossas
ações; o juiz inapelável que recompensa ou pune, com tranquilidade
ou remorso de consciência.
Nossa consciência nos diz
1º que entre o bem e o mal existe uma diferença essencial; 2º que
devemos praticar o bem e evitar o mal;

23
3º que toda má ação merece punição, assim como toda boa obra merece
recompensa;
4º essa mesma consciência se alegra e se aprova quando age bem, e se
reprova e se condena quando age mal.
Portanto existe em nós uma lei moral, naturalmente impressa e gravada
na nossa consciência.
Qual é a origem dessa lei? Obviamente deve haver um legislador que a
promulgou, assim como não há efeito sem causa. Esta lei moral é imutável
nos seus princípios, independente da nossa vontade, obrigatória para todos
os homens, e não pode ter outro autor senão um ser soberano e supremo, que
não é outro senão Deus.
Além do que foi dito, é preciso ter presente que, se não houver
legislador, a lei moral não pode ter qualquer sanção; pode ser quebrado
impunemente. Portanto, um dos dois ou Deus é o autor dessa lei, e então ela
existe; ou a lei moral é uma quimera e, nesse caso, não há diferença entre o
bem e o mal, entre a virtude e o vício, a justiça e a iniquidade, e a sociedade
é impossível.
O sentimento íntimo manifesta a cada homem a existência de
Deus. Por instinto natural, principalmente em momentos de
ansiedade ou perigo, este grito nos escapa: Meu Deus!... É o grito da
natureza. “O mais popular de todos os seres é Deus - disse
Lacordaire - Os pobres o chamam, os moribundos o invocam, o
pecador o teme, o homem bom o abençoa. Não há lugar, momento,
circunstância, sentimento, onde Deus não seja encontrado e
nomeado. A raiva acredita que só atingiu sua expressão suprema
depois de ter amaldiçoado este adorável Nome; e a blasfêmia é
também a homenagem de uma fé que se rebela esquecendo-se de
si mesma”. Ninguém blasfema o que não existe. A ira dos ímpios,
assim como as bênçãos dos bons, testificam da existência de Deus.

I.5. A crença universal da raça humana


11. P. - O consentimento de todas as pessoas prova a
existência de Deus?
R. -Sim; A crença de todas as pessoas é uma prova evidente da
existência de Deus.
Todos os povos, cultos ou bárbaros, em todas as áreas e em todos os
tempos, admitiram a existência de um Ser supremo.

24
Ora, como é impossível que todos se tenham enganado sobre uma verdade
tão transcendental e tão contrária às paixões, devemos exclamar com toda a
humanidade: creio em Deus!
Não há dúvida de que as pessoas se enganaram sobre a
natureza de Deus; alguns adoraram pedras e animais, outros o sol.
Muitos atribuíram as suas próprias qualidades, boas ou más, aos
seus ídolos; mas todos reconheceram a existência de uma divindade
a quem adoraram. Isto é demonstrado pelos templos, pelos altares,
pelos sacrifícios, cujos vestígios se encontram por toda parte, tanto
entre os povos antigos como entre os modernos.
“Dê uma olhada na superfície da terra-disse Plutarco, historiador da
antiguidade- e encontrareis cidades sem muros, sem letras, sem magistrados,
cidades sem casas, sem dinheiro; mas ninguém jamais viu um povo sem
Deus, sem sacerdotes, sem ritos, sem sacrifícios”.
O grande sábio Quatrefages escreveu: “Procurei o ateísmo ou a falta de
crença em Deus entre as raças humanas, das mais baixas às mais altas. O
ateísmo não existe em parte alguma, e todos os povos da terra, os selvagens,
da América e os negros da África, acreditam na existência de Deus.
Ora, o consentimento unânime de todos os homens num ponto tão
importante é necessariamente a expressão da verdade. Porque qual seria a
causa desse consentimento? Os sacerdotes? Pelo contrário, a origem do
sacerdócio está na crença de que existe um Deus, porque se o género
humano não estivesse convencido dessa verdade, ninguém teria sonhado
consagrar-se ao seu serviço, e o povo nunca teria homens escolhidos para
adoração.
-As paixões poderiam ser a causa de tal crença? As paixões tendem antes
a apagar a ideia de Deus, o que as contradiz e condena.
Os preconceitos? Um preconceito não se estende a todos os tempos, a
todos os povos, a todos os homens; mais cedo ou mais tarde, a ciência e o
bom senso o dissipam.
-A ignorância? Os maiores sábios sempre foram os crentes mais
fervorosos em Deus.

25
-A política dos governantes? Nenhum príncipe decretou a existência de
Deus, pelo contrário, todos quiseram confirmar as suas leis com autoridade
divina, esta é a prova de que essa autoridade foi aceite pelos seus súbditos.
A crença de todos os povos só pode ter origem no próprio Deus, que se
deu a conhecer, desde o início do mundo, aos nossos primeiros pais, ou no
espetáculo do universo, que demonstra a existência de Deus, como um
relógio .comprova a existência de um relojoeiro.
Diante de toda a humanidade, o que podem representar alguns ateus que
ousam contradizer? O bom senso os refutou; a causa falhou. É preciso não
ter razão para acreditar que se tem razão contra todos. Em vez de presumir
que todos estão errados, é preciso acreditar que todos estão certos.
Narração-Em uma reunião bastante grande, um incrédulo falou
contra a existência de Deus; e vendo que todos estavam em silêncio,
acrescentou
-Eu nunca teria acreditado que era o único que não acredita em Deus,
entre tantas pessoas inteligentes.
“Você está errado, senhor”, respondeu a dona da casa; Você não é o
único; meus cavalos, meu cachorro e meu gato compartilham essa honra
com você; Só esses bons animais têm o talento de não se gabar disso.

I. 6. -Os verdadeiros fatos da história comprovam a


existência de Deus?
R. -Sim; porque num ser pode manifestar-se de três maneiras:
pode mostrar-se, falar e agir. Agora, Deus se mostrou aos nossos
primeiros pais no Éden, a Moisés no Sinai... -Ele falou aos patriarcas
e aos profetas-. Ele fez sentir a sua ação ao longo dos séculos, e os
milagres do Antigo e do Novo Testamento, comprovados pela
história, são fatos que demonstram a ação e a existência de Deus.
Existem duas maneiras de conhecer a
verdade: 1ª descubra você mesmo;
2º receba de outro.
O homem sabe ou acredita. Ele sabe quando alcança a verdade com o
faculdades únicasde sua alma, inteligência, razão, consciência,

26
o sentido íntimo, os órgãos do corpo; acredita, quando adere ao testemunho
dos outros.
A maneira mais fácil de conhecer a Deus é o testemunho da história. A
Bíblia, considerada um simples livro histórico, está revestida de todas as
características de veracidade exigidas pela consciência. Não importa o
quanto os racionalistas chorem, é tão impossível duvidar dos factos
históricos da Bíblia como negar as vitórias de Alexandre o Grande ou de
Napoleão.
Ora, segundo a Bíblia, Deus se mostrou de diversas maneiras, falando
aos nossos primeiros pais, a Noé, aos patriarcas, aos profetas... Mas é
evidente que para se mostrar e falar é preciso existir. As milagrosas obras
sensíveis que nenhum agente criado pode realizar por si só nada mais são do
que obras de Deus. Consequentemente, os milagres que a Bíblia nos conta
são muitas provas da existência de Deus...

1. 7. -Como a existência de Deus é comprovada pela


necessidade de um ser eterno?
R. -Há algo no mundo; Agora, se não existisse um ser eterno, nada
poderia existir; Portanto, existe um ser eterno. Assim, este ser eterno é Deus;
Portanto, Deus existe.
1º Que algo existe é evidente.
2º Se desde toda a eternidade nada tivesse existido, também nada
existiria agora. Os seres não poderiam dar existência a si mesmos, pois não
existiam. Eles não poderiam recebê-lo do nada, porque nada é nada e não
produz nada. Conseqüentemente, era necessário que existisse um ser
primeiro e eterno para dar existência aos outros.
3º Este ser eterno é Deus. O ser eterno, pelo fato de existir desde toda a
eternidade, possui um atributo, uma perfeição infinita, a eternidade, que é
uma duração sem começo nem fim. Mas, como os atributos de um ser não
podem ser superiores à sua natureza, à sua essência, da mesma forma que o
braço de um homem não pode ser maior que o próprio homem, segue-se daí
que o ser eterno, pelo fato de possuir uma atributo infinito, possui também
uma natureza, uma essência infinita; Portanto, é infinito em todos os tipos de
perfeições. -O que é infinito sob um aspecto é infinito sob todos. - Assim, o
ser infinito é Deus. Portanto, Deus existe.

27
4º Como este ser eterno sempre existiu, não pôde receber a existência
através de outro, estava sozinho. Nem foi capaz de dar a si mesmo, porque
ninguém pode criar a si mesmo; Portanto é necessário que este primeiro ser
exista por necessidade de sua própria natureza; É o ser que chamamos de
necessário. Deus é o ser necessário, que existe porque a existência lhe é
essencial, assim como é essencial que o círculo seja redondo e que o
triângulo tenha três ângulos.
14. P. -Podemos compreender um ser eterno e necessário?
R. -Não; Não podemos compreender a sua natureza, porque ela é infinita
e, portanto, é acima de tudo compreensão finita. É tão impossível
compreendê-lo como é impossível encerrar a imensidão do mar na cavidade
da mão. Porém, temos certeza da necessidade de sua existência.
Como já vimos, um ser não pode existir senão por si mesmo ou
produzido por outros; Não há meio termo entre essas duas formas de existir.
Ora, os seres que povoam o universo não podem existir por si próprios,
porque existir por si mesmo é existir necessariamente e desde toda a
eternidade. Mas quem não vê que seria absurdo supor que todos os seres do
universo existam necessariamente?
Fora isso, não é possível que todos os seres sejam produzidos, porque se
todos fossem produzidos, não seria encontrado ninguém que lhes desse
existência, e então nenhum existiria. Portanto há um ser que não recebeu a
existência de outro, que a tem para si, que é necessário, eterno; e este ser
eterno e necessário é aquele a quem todos chamam de Deus.
NB -O mesmo argumento pode ser apresentado de uma forma
mais científica, como segue
15. P. -A existência de Deus pode ser provada pela
existência de um Ser necessário?
R. -Sim; a existência de Deus pode ser provada cientificamente com este
simples argumento
a) Existe um ser necessário; b) este ser necessário é Deus;
Portanto, Deus existe.
A. EXISTE UM SER NECESSÁRIO
1º Que algo existe é evidente, e os próprios ateus não negam isso
Nós existimos...

28
2º Um ser não pode existir sem razão suficiente para a sua existência.
Este princípio é tão evidente que prová-lo, além de ridículo, seria inútil, pois
ninguém o contesta.
3º A razão suficiente da existência pode ser de dois tipos: ou a natureza
do próprio ser, ou uma causa externa. Portanto, todo ser existe ou em virtude
de sua própria natureza, por si mesmo, ou é produzido por outro. Este
princípio também é evidente, pois não há outra forma possível de existir.
4º O ser que existe por si é uma virtude da sua própria natureza, existe
necessariamente, não pode deixar de existir; e como a existência faz parte da
natureza desse ser, não pode faltar. É evidente que um ser não pode deixar
de ter a sua natureza, a sua essência, que o torna o que é.
Portanto, se a existência faz parte de sua natureza, ela existe
necessariamente e, por isso, é chamada de Ser necessário.
Pelo contrário, se deve a sua existência a uma causa estranha, só existe
independentemente desta causa, na medida em que foi produzido por ela.
Não poderia existir, por isso é chamada de entidade contingente ou
produzida por outra.
5º Não é possível que todos os seres sejam contingentes ou produzidos.
E, na verdade, a entidade produzida não existe apenas pela sua natureza,
nunca existiria se não fosse chamada à existência por uma causa que lhe é
estranha. Portanto, se todos os seres fossem produzidos, não haveria nenhum
que lhes desse existência. Portanto, se não existisse o Ser necessário, nada
existiria. -É para que algo exista; Portanto existe também um Ser necessário.
B. O SER NECESSÁRIO É DEUS
Aqui estão os personagens principais do Ser Necessário
1ºO Ser necessário é infinitamente perfeito.
O Ser necessário, pelo simples fato de existir em virtude de sua própria
natureza, possui todas as perfeições possíveis em grau eminente; Tem a
plenitude do ser, e o ser inclui todas as perfeições; portanto, é infinitamente
perfeito.
Da mesma forma que um círculo possui essencialmente uma redondeza
perfeita, o Ser necessário possui essencialmente uma existência perfeita, a
plenitude do ser; e haveria uma contradição em dizer que o Ser necessário
não é infinito, como haveria em dizer que o

29
círculo não é redondo.Portanto, o Ser necessário possui todas as
perfeições, e em tal grau que excluem toda medida, todo limite.
2ºExiste apenas um Ser necessário.
O Ser necessário é infinito; e dois infinitos não podem existir ao mesmo
tempo. Se forem diferentes, não são infinitos nem perfeitos, porque nenhum
deles possui o que pertence ao outro. Se não forem distintos, nada mais
formam do que um único ser.
3º O Ser necessário é eterno.
Se não tivesse existido sempre, ou se tivesse que deixar de existir,
evidentemente não existiria em virtude da sua própria natureza. Como existe
por si mesmo, não pode ter começo, nem fim, nem sucessão.
4ºO Ser necessário é imutável.
O Ser necessário não pode mudar, porque nunca muda a sua razão de ser
e a causa da sua existência, que é a sua própria natureza. Por outro lado,
mudar é adquirir ou perder algo, enquanto o Ser perfeito não pode adquirir
nada, pois possui todas as perfeições; e ele não pode perder nada, porque
então deixaria de ser perfeito. É, portanto, imutável.
5 ªO Ser necessário é um espírito.
O espírito é um ser inteligente, capaz de pensar, compreender e amar; um
ser que não pode ser visto ou tocado com os sentidos corporais. Todos os
homens distinguiram naturalmente a substância viva, ativa e inteligente da
substância morta, passiva, incapaz de movimento. Eles chamaram o primeiro
de espírito e o segundo de corpo ou matéria.
O Ser necessário é um espírito essencialmente diferente da matéria. E, na
verdade, se fosse corpóreo, seria limitado no seu ser como todos os corpos.
Se fosse material, seria divisível e não seria infinito. Nem seria infinitamente
perfeito, porque a matéria não pode ser o princípio da inteligência e da vida,
que são grandes perfeições. Portanto, o Ser necessário é uma substância
espiritual, absolutamente simples.
Mas como essas características do Ser necessário são idênticas aos
atributos de Deus, devemos concluir que o Ser necessário é aquele a quem
todos chamam de Deus, e que Deus existe.

30
N.B. -Com este argumento a existência de Deus é
comprovada cientificamente, da mesma forma que um teorema
da geometria é demonstrado.
Narração-Um certo jovem que acabava de sair de uma escola
moderna, permitiu-se numa reunião de amigos negar a existência de
Deus. Um notário falou. “Vamos ver, meu amigo”, disse ele; o
universo existe. Quem o criou? O homem? Obviamente não. Ele se
criou? Nem uma casa, por mais modesta que seja, se constrói
sozinha; Um trabalhador é obrigado a reunir os materiais e colocá-
los em ordem.
“Permita-me”, respondeu o jovem; Os seres que compõem o mundo
deram existência uns aos outros.
“Muito bem”, insistiu o notário; Imagine uma longa corrente vertical que
vai da terra ao céu e cujos últimos elos se perdem nas nuvens. Eu pergunto
quem está segurando essa corrente e onde ela está pendurada? Você acha
que seria suficiente responder que o primeiro dos elos, começando de baixo,
pende do segundo, o segundo do terceiro e assim por diante, subindo até as
nuvens?
Você acha que, quando chegarmos lá, será possível admitir que a
extremidade superior fica pendurada nas nuvens sem que ninguém a apoie?
Obviamente não. É necessário ter um primeiro link fixo em algum lugar que
suporte os demais. Da mesma forma, devemos necessariamente voltar a um
primeiro Ser necessário que subsiste por si mesmo, que possui em si o
princípio de sua existência e pode dá-lo a outros sem tê-lo recebido de
ninguém.
"Mas", respondeu o jovem por sua vez, "se você supõe um número
infinito de toques, a dificuldade desaparece."
“Meu amigo”, disse o tabelião, “é claro que você é bem versado em
matemática; Você não sabe que o número infinito é impossível? Onde há
série há número; Você pode dizer o primeiro, o segundo..., onde há um
número, há um começo, um ponto de partida, um primeiro termo, que é a
unidade. Assim, dez significa nove, etc.; dois significa um. As séries dos
seres têm, portanto, um começo, não são eternas.
E mesmo que se voltasse ao infinito porque isso era impossível, seria
sempre necessário chegar a um primeiro Ser Auto-subsistente, porque uma
infinidade de seres produzidos é tão capaz de se produzir como o último dos
efeitos. Multiplique zeros ao infinito e você nunca terá nenhum valor; zeros
infinitos não valem mais que um único zero. Multiplique os cegos ao infinito
e você não terá

31
único que vê. Tochas apagadas nunca darão luz, não importa quantas você
suponha. Se nenhum ser existe em virtude da sua própria natureza, se
nenhum ser tem o princípio da sua existência por si mesmo, nenhum ser
pode existir. Ora, o ser que tem em si, na sua natureza, a razão da sua
existência, é o Ser necessário, aquele a quem todos chamam de Deus.
Portanto existe um Deus, já que algo existe neste mundo.
O pobre jovem, envergonhado, não teve o que responder.

ENSINO DO CATECISMO DA IGREJA

Primeiro capítulo. O homem é capaz de Deus.


I. O DESEJO DE DEUS (27-49).
O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, porque o
homem foi criado por Deus e para Deus; e Deus nunca deixa de
atrair o homem para si, e só em Deus o homem encontrará a
verdade e a felicidade que nunca deixa de procurar.A razão mais
elevada da dignidade humana consiste na vocação do homem à
comunhão com Deus. O homem é convidado a dialogar com Deus
desde o nascimento; pois não existe senão porque, criado por Deus
por amor, é sempre preservado por amor; e não vive plenamente
segundo a verdade se não reconhece livremente esse amor e não se
entrega ao seu Criador (GS 19, 1).
De múltiplas maneiras, ao longo da história e até hoje, os homens
expressaram a sua busca por Deus através das suas crenças e
comportamentos religiosos (orações, sacrifícios, cultos, meditações,
etc.). Apesar das ambiguidades que possam implicar, estas formas
de expressão são tão universais que o homem pode ser chamado de
ser religioso.Ele criou, a partir de um único começo, toda a linhagem
humana, para que habitasse toda a face da terra e determinou com
exatidão o tempo e os limites do lugar onde deveriam habitar, para
que buscassem a Deus, para ver se o procuravam e o encontravam;
mesmo que não esteja longe de cada um de nós; pois nele vivemos,
nos movemos e existimos (Atos 17, 26_28).
Mas esta união íntima e vital com Deus (GS 19, 1) pode ser
esquecida, desconhecida e até explicitamente rejeitada pelo homem.
Tais atitudes podem ter origens muito diversas (cf. GS 19_21):
rebelião contra o mal no mundo, ignorância ou

32
a indiferença religiosa, os desejos do mundo e as riquezas (cf. Mt
13,22), o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento
hostis à religião e, finalmente, aquela atitude do homem pecador
que, por medo, se esconde de Deus (cf. Gn. 3, 8_10) e foge ao seu
chamado (cf. Jn 1, 3).
Alegrem-se os corações daqueles que buscam a Deus (Sl 105,
3). Se o homem pode esquecer ou rejeitar Deus, Deus não deixa de
chamar cada homem a buscá-lo para que possa viver e encontrar a
alegria. Mas esta busca exige do homem todo o esforço da sua
inteligência, a retidão da sua vontade, um coração recto e também o
testemunho de outros que o ensinam a procurar a Deus. Tu és
grande, Senhor, e muito digno de louvor, grande é o teu poder e a
tua sabedoria é sem medida. E o homem, uma pequena parte da tua
criação, procura louvar-te, precisamente o homem que, revestido da
sua condição mortal, traz dentro de si o testemunho do seu pecado e
o testemunho de que resistes aos orgulhosos. Apesar de tudo,
homem, uma pequena parte da sua criação quer te elogiar. Tu
mesmo o incitas a isso, fazendo-o deleitar-se no teu louvor, porque
tu nos fizeste para ti e o nosso coração fica inquieto enquanto não
repousa em ti (Santo Agostinho, conf. 1, 1, 1) .
II. AS VIAS DE ACESSO AO CONHECIMENTO DE DEUS.
Criado à imagem de Deus, chamado a conhecer e amar a Deus,
o homem que busca a Deus descobre certos caminhos para acessar
o conhecimento de Deus. São também chamadas de provas da
existência de Deus, não no sentido das provas típicas das ciências
naturais, mas no sentido de argumentos convergentes e
convincentes que nos permitem chegar a verdadeiras certezas.
Estas formas de aproximação a Deus têm como ponto de partida a
criação, o mundo material e a pessoa humana.
O mundo Do movimento e do devir, da contingência, da ordem e
da beleza do mundo, Deus pode ser conhecido como a origem e o
fim do universo. São Paulo afirma, referindo-se aos pagãos, que o
que se pode conhecer de Deus se manifesta neles. Deus
manifestou-o a eles. Porque o invisível de Deus, desde a criação do
mundo, faz com que a inteligência veja através das suas obras o seu
eterno poder e divindade (Rm 1, 19_20; cf. At 14, 15,17; 17, 27_28;
Sb 13, 1_9). e S. Agustín Questione a beleza da terra, questione a
beleza do mar, questione a beleza do ar que se expande e se
difunda, questione a beleza do céu... questione todas estas
realidades. Todos eles respondem. Veja, nós somos

33
lindo Sua beleza é uma profissão (confessio). Essas belezas estão
sujeitas a mudanças, quem as fez senão a Beleza Suprema (Pulcro),
não sujeitas a mudanças? (serm. 241, 2).
O homem Com a sua abertura à verdade e à beleza, com o seu
sentido do bem moral, com a sua liberdade e a voz da sua
consciência, com a sua aspiração ao infinito e à felicidade, o homem
questiona a existência de Deus. Nessas aberturas você percebe
sinais de sua alma espiritual. A semente de eternidade que ele
carrega dentro de si, sendo irredutível apenas à matéria (GS 18, 1; cf
14, 2), a sua alma, só pode ter origem em Deus.
O mundo e o homem testemunham que não têm em si nem o seu
primeiro começo nem o seu fim último, mas antes participam
d'Aquele que é o Ser em si, sem origem e sem fim. Assim, através
destas diversas vias, o homem pode aceder ao conhecimento da
existência de uma realidade que é a causa primeira e o fim último de
tudo, e que todos chamam de Deus (S. Tomás de A., s. th. 1, 2 3).
As faculdades do homem tornam-no capaz de conhecer a
existência de um Deus pessoal. Mas para que o homem possa
entrar na sua intimidade, Deus quis revelar-se ao homem e dar-lhe a
graça de poder acolher com fé aquela revelação. Contudo, a prova
da existência de Deus pode dispor a fé e ajudar a ver que a fé não
se opõe à razão humana.
III. O CONHECIMENTO DE DEUS SEGUNDO A IGREJA
A santa Igreja, nossa mãe, ensina que Deus, princípio e fim de
todas as coisas, pode ser conhecido com certeza através da luz
natural da razão humana a partir das coisas criadas (Cc. Vaticano I
DS 3004; cf. 3026; Vaticano II, DV 6). Sem esta capacidade, o
homem não poderia receber a revelação de Deus. O homem tem
esta capacidade porque foi criado à imagem de Deus (cf. Gn 1, 26).
Contudo, nas condições históricas em que se encontra, o homem
experimenta muitas dificuldades em conhecer Deus apenas com a
luz da sua razão. Embora a razão humana, simplesmente falando,
possa verdadeiramente, pelas suas forças e luz naturais, alcançar
um verdadeiro e certo conhecimento de um Deus pessoal, que
protege e governa o mundo pela sua providência, bem como de uma
lei natural colocada pelo Criador em nossas almas, porém existem
muitos obstáculos que impedem esta mesma razão de usar de forma
eficaz e com frutos o seu poder natural; porque o

34
As verdades que se referem a Deus e aos homens ultrapassam
absolutamente a ordem das coisas sensíveis e quando devem ser
traduzidas em atos e projetadas na vida, exigem que o homem se
entregue e renuncie a si mesmo. O espírito humano, para adquirir
tais verdades, sofre dificuldades provenientes dos sentidos e da
imaginação, bem como dos maus desejos nascidos do pecado
original. Daí resulta que em tais assuntos os homens são facilmente
persuadidos da falsidade ou pelo menos da incerteza das coisas que
não gostariam que fossem verdadeiras (Pio XII, enc. Humani generis
DS 3875).
Por isso o homem precisa ser iluminado pela revelação de Deus,
não só sobre o que ultrapassa a sua compreensão, mas também
sobre verdades religiosas e morais que não são em si inacessíveis à
razão, para que possa sê-lo, no estado atual da raça humana,
conhecida por todos sem dificuldade, com firme certeza e sem
mistura de erros (ibid., DS 3876; cf. Concílio Vaticano I DS 3005; DV
6; São Tomás de A., s. th. 1, 1 , 1).
IV COMO FALAR DE DEUS?
Ao defender a capacidade da razão humana de conhecer Deus, a
Igreja manifesta a sua confiança na possibilidade de falar de Deus a
todos os homens e com todos os homens. Esta convicção está na
base do seu diálogo com outras religiões, com a filosofia e a ciência,
e também com os não-crentes e os ateus.
Visto que o nosso conhecimento de Deus é limitado, a nossa
linguagem sobre Deus também é limitada. Não podemos nomear
Deus exceto a partir das criaturas e de acordo com a nossa limitada
maneira humana de conhecer e pensar.
Todas as criaturas possuem uma certa semelhança com Deus,
especialmente o homem criado à imagem e semelhança de Deus. As
múltiplas perfeições das criaturas (a sua verdade, a sua bondade, a
sua beleza) refletem, portanto, a perfeição infinita de Deus. Portanto,
podemos nomear Deus a partir das perfeições das suas criaturas,
pois da grandeza e da beleza das criaturas passamos, por analogia,
a contemplar o seu Autor (Sb 13,5).
Deus transcende todas as criaturas. É necessário, portanto,
purificar constantemente a nossa linguagem de tudo o que é
limitado, de expressão através de imagens, de imperfeição, para não
confundir o Deus inefável, incompreensível, invisível, inatingível
(Anáfora da Liturgia de São João Crisóstomo) com nossas
representações
35
humano. As nossas palavras humanas permanecem sempre mais
próximas do Mistério de Deus.
Ao falar assim de Deus, a nossa linguagem exprime-se
certamente de forma humana, mas capta realmente o próprio Deus,
sem, no entanto, poder exprimi-lo na sua infinita simplicidade. É
preciso lembrar, de fato, que entre o Criador e a criatura não se pode
apontar tal semelhança, que a diferença entre eles não seja ainda
maior (Cc. Latrão IV DS 806), e que não podemos captar de Deus o
que Ele é, mas apenas o que não é e como os outros seres se
situam em relação a Ele (São Tomás de A., s. gent. 1, 30).
RESUMO.
O homem é por natureza e por vocação um ser religioso. Vindo
de Deus e caminhando para Deus, o homem não vive uma vida
plenamente humana se não viver livremente o seu vínculo com
Deus.
O homem é feito para viver em comunhão com Deus, em quem
encontra a sua felicidade. Quando eu aderir a ti com todo o meu ser,
não haverá mais dores nem provações para mim, e a minha vida,
toda repleta de ti, será plena (Santo Agostinho, conf. 10, 28, 39).
Quando o homem escuta a mensagem das criaturas e a voz da
sua consciência, então pode alcançar a certeza da existência de
Deus, causa e fim de tudo.
A Igreja ensina que o único Deus verdadeiro, nosso Criador e
Senhor, pode ser conhecido com certeza pelas suas obras, graças à
luz natural da razão humana (cf. Concílio Vaticano I DS 3026).
Podemos realmente nomear Deus com base nas múltiplas
perfeições das criaturas, semelhanças do Deus infinitamente
perfeito, embora a nossa linguagem limitada não esgote o seu
mistério.
Sem o Criador a criatura se dilui (GS 36). É por isso que os
crentes sabem que são movidos pelo amor de Cristo para levar a luz
do Deus vivo àqueles que não O conhecem ou O rejeitam.

II. REFUTAÇÃO DO ATEÍSMO.

Materialismo - Panteísmo - Positivismo - Darwinismo


16. P. -A origem do mundo e dos seres que o compõem pode
ser explicada sem Deus?

36
R. -Não; é impossível. Todos os sistemas inventados para explicar a
origem dos seres, o movimento e a ordem que reinam no mundo, a vida das
plantas e dos animais, a vida intelectual do homem, são absurdos,
impossíveis. É necessário recorrer a Deus todo-poderoso, criador do mundo
e de tudo o que existe. Devemos dizer com a Igreja “Creio em Deus, Criador
do céu e da terra”.
É fácil afirmar que Deus não existe; Basta ser tolo Dixit insipiens. Mas
nem tudo termina com esta afirmação; o mundo deve ser explicado, o
mundo existe... É possível deslumbrar-se com as palavras bombásticas da
imanência, dos períodos atómicos, dos gases em combustão, das quantidades
puras, etc., mas estas palavras não explicam nada .
A prova da existência de Deus refuta o ateísmo; Resta-nos demonstrar o
absurdo dos sistemas imaginados para explicar 1º, a existência da matéria;
2º, a organização do mundo; 3º, a origem dos seres vivos. Estes sistemas
podem ser reduzidos a quatro: 1º, materialismo; 2º, panteísmo; 3º,
positivismo, e 4º, transformismo ou darwinismo.
MATERIALISMO
17. P. -O que é o materialismo?
R. -O materialismo é o erro grosseiro que só admite uma coisa: a
matéria, cujos átomos, originalmente separados, se uniram e formaram o
mundo. Segundo este sistema, a matéria é eterna e existe por si mesma, com
as suas forças e as suas leis. Tal sistema é impossível; e é uma vergonha
para a nossa época ter renovado estes erros pagãos.
Os incrédulos modernos, ao negarem a Deus, não podem escapar de
admitir as perfeições que este augusto Nome representa. Eles os atribuem à
matéria, cuja existência única proclamam fazendo dela um ídolo. Dizem que
é necessário, eterno, incriado e criador da ordem e da vida.
Mas nada mais falso, nem mais impossível
1º O Ser necessário não pode deixar de existir; e é muito evidente que a
matéria não poderia existir. Que ser, considerado individualmente, é
necessário neste mundo? O que importa mais ou menos uma pedra, uma
árvore, uma montanha? O que é verdadeiro quando falamos das diversas
partes é necessariamente verdadeiro quando falamos do todo; Portanto, a
matéria não é o Ser necessário.

37
2º O Ser necessário é infinito. Pode-se dizer, por acaso, que a matéria é
infinita? Não é toda a matéria limitada? A matéria não tem vida nem
inteligência; Não é, portanto, infinitamente perfeito; Portanto, a matéria não
é o Ser necessário.
3º O Ser necessário é imutável; e pelo contrário, a matéria está sujeita a
todo tipo de mudanças; as combinações físicas e químicas modificam sua
forma e modo de ser diariamente. Então, mais uma vez, a matéria não pode
ser necessária.
Na verdade, o ateu deve ter pena dos absurdos que é forçado a admitir. E
assim
a) Admite uma matéria, por sua própria natureza soberanamente
imperfeita, e que, no entanto, teria uma perfeição infinita, a
eternidade.
b) Admite uma matéria absolutamente inerte, que se daria um
movimento que não possui.
c) Admite uma matéria desprovida de inteligência e que produz obras-
primas de inteligência, como a organização do universo, aquele imenso e
complicado relógio que não quebra, que não para, que não se desgasta, que
nunca se decompõe.
d) Admite uma matéria que não tem vida e que produz seres vivos como
a planta, o animal, o homem.
e) Admite uma matéria que não pensa, que não raciocina, que não é livre
e que produz seres capazes de pensar, de raciocinar, de querer livremente,
como o homem.
Os ímpios modernos liderados por Renan renovaram o sistema
de Epicuro. Eles assumem um número infinito de átomos movendo-
se no vácuo. Um dia, esses átomos se encontraram por acaso, se
uniram e formaram massas que resultaram na terra, no sol, na lua,
nas estrelas, ou seja, no mundo.
Seu sistema é infantil e absurdo. Eles assumem inúmeros átomos, mas
não dizem de onde vêm. Supõem que estejam em movimento, mas
esquecem de dizer quem os move. Supõem que o seu encontro casual
produziu o mundo, mas não dizem quem é o autor da admirável ordem que
reina no mundo.
Esses incrédulos baseiam seu sistema em três coisas
impossíveis: 1ª É impossível que os átomos existam sem um
criador;
2º É impossível que os átomos se movam sem motor;

38
3º É impossível que o encontro dos átomos tenha produzido ordem sem
um computador inteligente.
É preciso um Deus para criar esses átomos famosos, um Deus para
colocá-los em movimento, um Deus para formar aqueles globos admiráveis
que rolam sobre nossas cabeças com ordem e harmonia sublimes.
O que se diz sobre os átomos também pode ser aplicado às
substâncias gasosas ou líquidas, à matéria primária que serviu para
construir o mundo.
PANTEÍSMO
18. P. -O que é o panteísmo?
R. -O panteísmo é um erro monstruoso que não admite um Deus pessoal
distinto do mundo; Deus seria o conjunto de todos os seres do universo. Este
sistema nada mais é do que um ateísmo hipócrita; É repugnante e desastroso
nas suas consequências.
O segundo sistema inventado para explicar o mundo, independentemente
de Deus, é chamado de panteísmo. Esta palavra significa que tudo é Deus.
Aparece em formas muito diversas, mas o seu dogma constitutivo consiste
em admitir uma substância única, da qual os seres visíveis nada mais são do
que modificações ou evoluções. É a natureza de Deus, a força de Deus, o
Grande Tudo; É a identidade de Deus e do universo. Pode-se dizer do
panteísmo o que Bossuet disse do paganismo: tudo é Deus, exceto o próprio
Deus.
“De acordo com esse sistema ridículo, você é deus e eu sou
deus. Uma cabra e um todo que rumina são nossos irmãos na
divindade. Mas o que eu digo? Um repolho, um nabo, uma cebola,
são deuses como nós. O cogumelo que você colhe pela manhã é um
deus que brotou durante a noite. Quando uma raposa pega uma
galinha, é um deus pegando outro deus. Quando um lobo devora um
cordeiro, é um deus que devora a si mesmo. O cardo e o burro que o
come são o mesmo deus. Se eu corto a garganta de um homem,
executo uma ação divina... Você vê como tudo isso é razoável e,
acima de tudo, como é moral. Com este sistema não há mais crimes.
Roubo, assassinato, parricídio são caprichos de um deus... Você
consegue imaginar algo mais absurdo?... Parece um sonho ver
homens que se autodenominam filósofos escreverem e ensinarem
tais bobagens!”2.

2Maunoury, Noites de Outono.

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1º O Panteísmo destrói a ideia de Deus;porque Deus é imutável,
infinito, perfeito e necessário, e não pode, portanto, ser variável, finito,
limitado, imperfeito como a matéria. É um ateísmo hipócrita.
2º Admite efeitos sem causa; porque se Deus é um ser pessoal distinto do
mundo, não existem seres necessários, uma vez que o Ser necessário é
único, e então onde está a causa que produziu o universo?...
3º É contrário ao sentido íntimo (ou consciência). Sinto (ou sei), sem
dúvida, que sou eu e não outro.
4º Contradiz as afirmações da razão, que descobre em Deus e no mundo
atributos contraditórios.
5º O panteísmo é uma verdadeira loucura, mas uma loucura criminosa,
porque abre a porta aos vícios e aniquila a virtude, porque destrói toda ideia
de legislador, de direito, de consciência, de dever, de punição e de
recompensa.
N. B.Existem duas formas principais de panteísmo: o naturalista,
que é um materialismo disfarçado, e o panteísmo idealista do judeu
holandês Espinosa e Hegel, popularizado na França por Renan,
Taine e Wacherot.
POSITIVISMO
19. P. -O que é positivismo?
R. -A positividade é um sistema que não admite nada de real e positivo
se não for matéria; Reconhece apenas o que pode ser verificado com a
experiência e considera hipotético tudo o que não cai no domínio dos
sentidos: Deus, a alma, a vida futura. Este sistema degradante nada mais é
do que materialismo hipócrita.
O positivismo é o último progresso da razão humana, o último termo das
evoluções científicas. Os positivistas reconhecem Comte como seu líder e
Littré, Renán, Robinet como professores... Não querem procurar a causa
primeira dos seres, declarando-a desconhecida, e afirmam que não há
necessidade de lidar com ela... Segundo eles, “não há nada mais real e
positivo do que a matéria, as forças que lhe são próprias e as leis que dela
emanam. Tudo o que não se encontra nos fatos é inacessível à razão; os
factos, e apenas os factos analisados e coordenados; o resto é uma quimera.
O infinito nada mais é do que um ideal e, conseqüentemente, Deus não
existe. Deus é uma ficção, ou, no máximo, uma hipótese, hoje

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completamente inútil. Não existe alma espiritual, a ideia, o
pensamento nada mais são do que produtos, secreções do cérebro.
Em uma palavra, só existe uma coisa, e esta é a matéria.”
Tal é o resumo da doutrina positivista, a negação de Deus e da alma
espiritual; moralidade independente ou moralidade sem Deus, que não tem
outro princípio ou regra de conduta além do sentimento de honra. Este
sistema abjeto é reduzido a uma forma disfarçada de ateísmo e é um
materialismo hipócrita.
A refutação deste erro grosseiro encontra-se nas diversas provas que
apresentamos da existência de Deus. Esses ditos sábios limitam-se a negar,
sem provar nada. Mas é preciso mais do que uma simples negação para
destruir as nossas provas. Negar a Deus não é suprimir a sua existência.
Depois de milhares de anos, o mundo acredita em Deus e tem o direito de rir
de tais negações gratuitas. Por mais que o cego negue a existência do sol, o
sol não deixará de brilhar.
Os positivistas rejeitam a lei do bom senso e da razão, que nos obriga a
admitir uma causa que produz os fenômenos que vemos. Além desta
abóbada estrelada, diz Pasteur,
o que há? -Outros céus estrelados-. Seja. E além?... O espírito humano,
movido por uma força invencível, não deixará de se perguntar: O que há
além? Devemos alcançar o infinito, e só Deus é infinito.
Devemos alcançar o Ser necessário, pois, como vimos, nem todos os
seres podem ser produzidos; e só existe um Ser necessário, e esse Ser
necessário é o próprio Deus.

Gerações espontâneas. - Transformismo ou Darwinismo.


20. P. -Quais são as hipóteses imaginadas pelos incrédulos
para explicar, com exclusão de Deus, a origem dos seres vivos?
R. -Eles conceberam a hipótese da geração espontânea e a do
transformismo ou darwinismo. Estes dois sistemas, que adquiriram grande
fama, são contrários às experiências científicas; Chegam a supor efeitos sem
causa e, pela mesma razão, a ciência e o bom senso os condenam e rejeitam.
1º Alguns naturalistas, para ignorar Deus, atribuem a origem dos seres
vivos às gerações espontâneas. Então

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É denominado nascimento de um ser vivo sem germe anterior, devido ao
único jogo das forças inerentes à matéria.
2º Chama-se transformismo ao sistema segundo o qual os seres vivos
mais perfeitos derivam de outros menos perfeitos, através de uma série
indefinida, do ser mais rudimentar ao homem. De acordo com este sistema,
os ímpios afirmam que o homem descende do macaco. O inglês Darwin, em
particular, dedicou-se a explicar essas sucessivas transformações através de
dois agentes que chama de seleção natural e luta pela existência. Darwin deu
seu nome ao transformismo, e isso também é chamado de darwinismo.
Estes dois sistemas, a geração espontânea e o transformismo, deixam
sempre sem solução a questão de quem criou os primeiros seres e quem lhes
deu a sua energia vital...
Após as experiências de Pasteur e de outros cientistas, o sistema de
gerações espontâneas foi definitivamente refutado. O ar e a água estão
cheios de germes, para cujo desenvolvimento só é necessário um ambiente
favorável. Uma vez destruídos esses germes, só existe uma lei: eles não
existem se não forem produzidos por outros seres vivos da mesma espécie.
O darwinismo tem como base fundamental a transformação das espécies.
Pois bem, se há algo bem comprovado é que as espécies são fixas e não se
transformam. É possível aperfeiçoar raças, mas as espécies não mudam; Eles
são e permanecem eternamente diferentes. Produzir uma nova espécie, disse
Leibnitz, é um salto que a natureza nunca dá; Os sábios naturalistas afirmam
o mesmo. Portanto, tal sistema está em flagrante contradição com as leis da
natureza.
Estas afirmações, resultados da experiência e da ciência, também são
confirmadas pela história e pela geologia. Quando as espécies animais e
vegetais coletadas em tumbas e sítios fósseis egípcios são examinadas,
descobre-se que são absolutamente as mesmas que vivem hoje. As sementes
encontradas nessas mesmas tumbas não deixaram de produzir vegetais
idênticos aos nossos.
Este sistema é contrário à razão; admite efeitos sem causa,
e que efeitos! Todo o mundo vivo. A razão pela qual uma causa pode
produzir o seu efeito é porque ela o contém de alguma forma. Como dar o
que você não tem? É impossível.

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Mas uma coisa pode estar contida em outra, de três maneiras: a)
Formalmente com todo o seu ser; assim, um pedaço de mármore fica contido
na pedreira. b) Eminentemente, isto é, de forma superior; Assim, a
autoridade soberana contém a de um prefeito, de um governador provincial.
c) Virtualmente, em germe, e é a forma como todos os seres vivos estão
contidos no germe que os produz.
Pois bem, esses seres vivos não estão de forma alguma contidos na
matéria bruta; portanto, eles existiriam sem causa.
Além disso, nenhuma causa pode produzir um efeito ou um ser de
espécie superior a ela, porque esse grau superior de ser não teria, como tal,
uma causa positiva. Ora, os seres vivos são de natureza superior à matéria
bruta; Portanto, estes seres vivos não podem provir dela, porque seriam
efeitos sem causa.
Pelas mesmas razões, os seres vivos superiores não podem provir dos
inferiores. Assim, o homem não pode provir do macaco, seria um efeito sem
causa. “Nenhum ser”, diz São Tomás, “pode agir além da sua espécie, tendo
em conta que a causa deve ser mais poderosa que o efeito e que o efeito não
pode ser mais nobre que a causa”.
Em resumo, o bom senso nos diz que você não pode dar o que
não tem; Se você não tem dinheiro, você não pode dar dinheiro.
Agora, a matéria não tem movimento, nem vida, nem inteligência,
portanto não pode dar movimento, vida ou inteligência. Mas no
universo existe movimento, existem seres vivos, existem seres
inteligentes; Então existe fora do mundo um ser superior que deu ao
mundo movimento, vida, inteligência. Este ser é Deus.
Conclusão.-Para explicar a origem do mundo é preciso admitir o
dogma da criação. Criar é tirar partido do nada; Criar é produzir
seres por um simples ato de vontade. Deus, por um simples ato de
vontade onipotente, criou o mundo.
A criação não é repugnante para a criatura, que é possível sem ser
necessária; pode, portanto, começar a existir; e, de fato, vemos muitas coisas
que nascem e começam...
A criação não é repugnante para Deus, porque o seu poder é infinito;
Pode, portanto, produzir qualquer efeito que não seja repugnante.

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A criação não é repugnante no que diz respeito à criatura, cuja
independência não depende, na sua acção, de qualquer matéria ou de
qualquer instrumento. Então a criação é possível.
O dogma da criação prevalece. Não há outro meio fora dele para
explicar a origem dos seres que compõem o universo.
O mundo é finito, limitado, sujeito a mudanças e, portanto, não pode ser
a entidade necessária. Depois foi produzido por outra pessoa. Não pode ser
uma emanação da substância divina, porque o Ser divino é absolutamente
simples, indivisível, imutável. Não há outro recurso para explicar a sua
existência senão dizer que foi criado pela onipotência de Deus. Aqui a razão,
tal como a fé, é obrigada a exclamar: creio em Deus, Criador do céu e da
terra!

Consequências desastrosas do ateísmo


21. P. -Quais são as terríveis consequências do ateísmo?
R. -O ateísmo leva às mais terríveis consequências 1º Tira do
homem todo consolo nas misérias da vida.
2º Destrói a moralidade e entrega o homem às suas paixões perversas.
3º Torna a sociedade impossível.
1º O ateísmo tira todo o conforto do homem.- O coração do
homem precisa de Deus quando a dor o machuca. Ao lado de um
caixão, à beira de uma sepultura, só há um consolo eficaz. Suprimir
Deus,
E que consolação oferecereis ao homem que chora a perda de uma
mãe, de uma esposa, de filhos ternamente amados? Para ser ateu
você não deve ter coração.
O que seriam dos pobres, dos doentes, dos fracos, dos deserdados da
vida sem Deus? Deus é o amigo dos sem amigos, o refúgio dos perseguidos,
o vingador dos caluniados, o tesouro dos desamparados. Sem Deus, o
mundo seria um inferno para três quartos da humanidade.
Se Deus não existe, de que adianta nascer para trabalhar, sofrer, sofrer
quarenta ou sessenta anos, definhar alguns meses numa cama de hospital e
depois morrer e virar alimento de vermes? O que nos dão os cruéis sofistas
que dizem que Deus não existe? Embriaguez e libertinagem, é isso que nos
propõem em vez do céu. Miseráveis!...

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Não é melhor olhar para o céu e dizer a Deus “Pai, não se esqueça dos
seus filhos que trabalham, que sofrem e esperam pelo seu reino”?...
2º O ateísmo destrói a moralidade.- Se não existe Deus, nenhuma
autoridade soberana impõe o dever, nenhuma justiça infinita recompensa os
bons e pune os maus conforme apropriado; O homem sem deveres, livre do
medo do castigo e sem esperança de recompensa, não tem razão para não
dar rédea solta às suas paixões. Toda moralidade é destruída.
Uma moralidade é essencialmente uma regra de vida que obriga um ser
livre, prescrevendo certos atos e proibindo outros. Esta norma, obrigatória
como qualquer lei, exige que um legislador a dite, um juiz que a aplique, um
remunerador que recompense quem a observa e puna quem a viola. Se falta
Deus, não há legislador, nem juiz, nem recompensador da virtude, nem
punidor do vício; o homem é deixado sozinho e com suas inclinações
distorcidas. A lei moral sem sanção carece de autoridade e será desprezada
sempre que exigir esforços e sacrifícios dolorosos.
-Seremos informados, e a consciência?...
-Se a consciência, que ordena ou proíbe, não for o eco da voz de Deus,
abafaremos seus gritos e não lhe obedeceremos. A consciência não significa
nada se não falar em nome de um superior. Se Deus não existe, desafio a
todos que me mostrem uma lei que me prenda em consciência. Quem me
impede de satisfazer todas as minhas paixões? Com que direito um homem
vem impor-me a sua vontade?... Deus é o princípio do qual surgem todos os
direitos e todos os deveres. Sem Deus, uma criança será, com o tempo, um
mau filho, um mau pai, um mau marido, um mau cidadão, o primeiro dos
ímpios, o último dos homens. Será um jovem sem bons hábitos, um homem
maduro sem consciência, um velho sem remorsos, um moribundo sem
esperança.
3º Se não existe Deus, a sociedade é impossível.- Uma
sociedade não pode subsistir se não existirem a autoridade que
impõe as leis, a obediência que as cumpre e as virtudes sociais.
Agora, por falta de crença em Deus, os governantes do povo não têm
espírito de justiça, tornam-se tiranos e no poder procuram apenas uma forma
de satisfazer as suas paixões. Os súditos perdem o respeito pela autoridade,
o espírito de submissão às leis, e não têm outra aspiração senão o prazer,
nem qualquer outra restrição senão o prazer.

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medo, não há mais regra de conduta do que utilidade ou capricho. Uma
sociedade de ateus seria ingovernável.
Se não admitirmos Deus, não podemos conceber virtudes sociais, justiça,
caridade, espírito de sacrifício ou patriotismo.
Se a justiça não for imposta por Deus, ninguém a praticará. Dois
comerciantes liquidam uma conta - Quer um recibo? -Entre pessoas honestas
não é necessário, Deus nos vê e isso basta. -Você acredita em Deus? -Sim
estou e você? -Eu não. -Então, me dê um recibo logo...
Para viver em sociedade é preciso dedicar-se ao bem geral, às vezes até
com o sacrifício da própria vida. Soldado negro, colocado como sentinela
nos postos avançados, e surpreendido pelo inimigo, se eu der o sinal de
alarme, cairá em pedaços; A consciência me diz para dar o sinal e morrer. Se
Deus quiser recompensar minha abnegação, aceito a morte. Mas se Deus
não existe, posso sacrificar a minha vida, único bem que possuo, sem ter
qualquer esperança?... Devemos morrer pelo nosso país, diz-se; mas,
Que me importa o país, se Deus não existe?...
Onde não há crença em Deus, não só não existem virtudes sociais, mas,
pelo contrário, todos os crimes se multiplicam, e os homens nada mais são
do que animais selvagens, que se devoram uns aos outros. -Mas você vai se
opor. E a prisão, e a polícia?... - De cada cem assassinatos, apenas dez são
descobertos; Noventa por cento dos crimes permanecem ocultos e impunes.
Se não existe um Deus a quem devemos prestar contas, apenas evite a
polícia ou compre-a. Tal sociedade logo seria um matadouro.
Todas as sociedades, desde a origem do mundo até agora, basearam-se
em três verdades fundamentais: a existência de Deus, a existência da alma e
a existência da vida futura. Remova estas três bases morais e você lançará as
sociedades no abismo das revoluções e as condenará à morte.
Os horrores e massacres da Revolução de 1893 e da Comuna de Paris em
1871 nada mais foram do que o ateísmo posto em prática. Sem mencionar a
primeira e a segunda guerras. O socialismo, que quer destruir a sociedade
até aos seus alicerces, é o fruto natural do ateísmo, como o declaram os
próprios positivistas nos seus livros e revistas. Portanto, para a fundação e o
fundamento estável das sociedades humanas, um Deus todo-poderoso, bom
e justo, criador de todas as coisas e governador do mundo material através
das leis físicas, e o

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homens através de leis morais. Tudo se baseia nesta base.
22. P. -Existem mesmo ateus?
R. -Aqueles que negam a existência de Deus são chamados de ateus.
Eles são classificados em três categorias. Ateus práticos, que se comportam
como se Deus não existisse. Os ateus de coração, que gostariam que Deus
não existisse, para poder satisfazer livremente as suas paixões. Ateus de
espírito, aqueles que, enganados por sofismas, acreditam que Deus não
existe.
Existem, infelizmente, muitos ateus práticos que vivem sem Deus e não
prestam homenagem a Ele.
Existem também, para vergonha da raça humana, ateus de coração, que
desejam que Deus não exista, que se atrevem a dizê-lo e a escrevê-lo nos
seus livros e jornais, porque temem um Deus que pune o mal.
Mas não existem verdadeiros ateus que neguem a sangue frio e com
convicção a existência de Deus. Só o coração do tolo é aquele que deseja
que Deus não exista. O tolo disse no seu coração, não na sua inteligência.
Deus não existe!
As principais causas do ateísmo são, em primeiro lugar, o orgulho que
obscurece a razão; 2º, a corrupção do coração, que se incomoda e se assusta
com a existência de Deus. Um dia perguntaram a um homem de gênio: qual
é a razão pela qual existem ateus? -A coisa é muito fácil de explicar,
respondeu ele; para fazer uma civeta3, pegue uma lebre, diz The Perfect
Cook; Fazer com que um indivíduo que nega a existência de Deus tome
consciência e a manche com tantos crimes que não consiga mais se
contemplar sem exclamar “Ai de mim, se Deus existe!” Aí está o segredo do
ateísmo.
Aqueles que não acreditam ou fingem não acreditar em Deus são, via de
regra, pobres ignorantes que nunca estudaram religião; ou pessoas más,
orgulhosas, ladrões, libertinos, interessadas em que Deus não exista para que
não os castigue como merecem. Deus é um pesadelo de malfeitores, muito
mais odiosos que a polícia, e sua existência é negada para caminhar com
maior liberdade... “Gostaria de ver”, diz La Bruyère, “um homem sóbrio,
moderado, casto e justo o homem, negando a existência de Deus; esse
homem, pelo menos,

3Molho feito com carne de lebre.

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Conversava sem interesse; mas tal indivíduo não pode ser
encontrado.” “Tenham suas almas em um estado de desejo de que
Deus exista e vocês não duvidarão Dele.”(JJ Rousseau).

Objetos do ateísmo
Todos os argumentos que os falsos sábios apresentam para se libertarem
de Deus, e particularmente para não fazerem o que Ele ordena, resumem-se
a dois seguintes: 1º Deus não pode ser visto. 2º Você não é compreendido.
1ºEu só acredito no que vejo. Mas eu não vi Deus.
Portanto, Deus não existe.
RESPONDER.-Você poderia perguntar a eles: você viu a Ásia, a África, a
Oceania? Você viu Napoleão ou Carlos V?
Você viu o trabalhador que construiu o relógio que você usa? Você vê o ar
que você respira e que te faz viver? O fluido elétrico que passa rapidamente
como um raio pelo fio telegráfico para transmitir o pensamento aos últimos
cantos do mundo? Você vê a força que na pólvora ou na dinamite quebra as
maiores rochas em pedaços? Quantas coisas você admite sem vê-las, só
porque vê seus efeitos!
Bem, nós, de nossa parte, acreditamos em Deus porque vemos no mundo
os efeitos do poder e da sabedoria infinitos. É verdade que Deus não pode
ser visto com os olhos do corpo, porque Ele é um espírito puro que não pode
ser visto, tocado ou percebido pelos sentidos. Mas o homem não tem meios
diferentes de saber o que existe?
Não existe inteligência que veja a verdade com evidência, quer ela se
manifeste ao espírito como a luz se manifesta aos olhos, quer resulte de uma
demonstração ou de um raciocínio? Quem só quer acreditar no que vê,
rebaixa a dignidade do homem e se coloca num patamar inferior aos brutos.
Você ousaria negar a luz porque não consegue percebê-la através da
audição? Pode um cego negar a existência do sol porque não o vê? Pois
bem, da mesma forma, se Deus não é visto com os olhos do corpo, é visto
com a razão, é conhecido pelas suas obras.
Um missionário perguntou a um árabe no deserto “Por que você acredita
em Deus? “Quando percebo”, respondeu ele, “pegadas na areia, digo a mim
mesmo que alguém passou por aqui”. Da mesma forma, quando vejo as
maravilhas da natureza, digo a mim mesmo que uma grande inteligência
passou por aqui, e esta inteligência infinita é Deus.

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Um dos naturalistas mais famosos, Linnaeus, disse: “Em meio às
maravilhas do mundo, vi a sombra de um Deus eterno, imenso, todo-
poderoso e soberanamente inteligente, e me prostrei para adorá-lo”.
NARRAÇÃO. -Há pouco tempo vivia um velho que não tinha menos de
cem anos; e este velho, que estudou toda a vida, era um dos homens mais
sábios da França e do mundo inteiro. Seu nome era Chevreul.
Um dia, quando ele orava em público, um jovem de vinte anos, tonto,
disse-lhe: “Então, você acredita em Deus? Você o viu? -Claro que sim,
jovem, tenho visto Deus não em si mesmo, porque Ele é um espírito puro,
mas em Suas obras.
"Sim; Vi sua onipotência na magnitude das estrelas e em seu
rápido movimento.
“Vi sua infinita inteligência e sabedoria na admirável ordem que
reina no universo.
“Vi sua infinita bondade nos inúmeros favores com que me
concedeu.
“E você, meu jovem, não viu tudo isso?
“Você não vê o pintor divino no magnífico quadro da criação?
“Você não vê a mecânica celeste nesta admirável máquina do
mundo?
Você não vê o artista em seu trabalho?
“Jovem, você é muito lamentável; "Você está cego." O
jovem, confuso, abaixou a cabeça e foi embora.
2º Os incrédulos também dizem -Não posso acreditar naquilo que
não entendo; e como não entendo Deus, ele não existe.
“Você acredita na tortilha?disse, em 1846, o Padre Lacordaire a um
burguês incrédulo. -Certamente. -E você entende como o mesmo fogo que
derrete a manteiga endurece os ovos?
-Os burgueses não sabiam o que responder. Quantas coisas devem ser
admitidas sem compreendê-las! Como é que uma mesma terra, sem cor nem
sabor, produz flores e frutos de nuances e sabores tão variados? Como o
grão de trigo vira um talo e depois uma espiga de 30, 40, 50 gramas? Como
o pão se torna nossa carne e sangue? O que é a luz, o vapor, a eletricidade?...
O que é o corpo? Qual é a alma? O que é a vida? Mistério! Tudo é

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mistério que nos rodeia, e a cada momento devemos curvar a nossa pobre
razão diante de muitas coisas que somos obrigados a admitir.
Não há dúvida de que não podemos compreender Deus, porque
compreender é conter, e o nosso espírito é demasiado pequeno, demasiado
limitado para conter Deus, que não tem limites. Para compreender o infinito,
é necessária inteligência infinita; Se o homem pudesse compreender Deus,
Deus não seria Deus, porque não seria infinito. Mas podemos conceber
Deus, isto é, ter conhecimento suficiente do seu ser, dos seus atributos e
principalmente da sua existência.
Deus é, aqui embaixo, o que há de mais claro e de mais escuro ao mesmo
tempo; mais leve em sua existência, mais escuro em sua natureza. É
invisível em suas obras, que são como tantos espelhos onde se refletem suas
adoráveis perfeições, e está oculto pelas sombras que cercam sua infinita
grandeza, é o sol escondido atrás de uma nuvem. Mas o véu que nos esconde
a divindade será rasgado e, semelhante ao crepúsculo que o sol anuncia, o
tempo presente nada mais é do que o amanhecer do dia inteiro.
Narração.O famoso orador Combalot pregava um dia em Lyon.
Ele acabara de expor ao seu encantado público as provas da
existência de Deus; e, numa conclusão contundente, atacou o
sacrilégio audacioso daqueles infelizes que sofrem a loucura de se
rebelarem contra o seu Criador.
O pai, agitado, suando muito, desce do púlpito. Ao chegar aos últimos
degraus, ele para, bate na testa e sobe novamente como se fosse iniciar um
novo sermão. Não demorou muito.
“Lionenses”, disse ele, “vocês podem ver a Montanha Branca de
sua cidade”. Bem, os ratos não vão comer!...
O público ficou surpreso e convencido. Na verdade, uma conspiração de
ratos que jurassem arrasar a Montanha Branca seria eminentemente ridícula.
Mas nunca será mais do que aquele punhado de ateus que atacam Deus e
que prometeram destruí-lo. Pobres ratos, que querem destruir uma montanha
milhões de vezes maior que a Montanha Branca dos Alpes!
Tudo de um Deus anuncia a existência eterna;
Deus não pode ser compreendido ou ignorado. A
voz do universo prova sua onipotência,
A voz de nossas almas nos ordena a adorá-lo.

50
III. DEUS É O CRIADOR, PRESERVADOR E SENHOR DE
TODAS AS COISAS. ELE GOVERNA TUDO COM SUA
PROVIDÊNCIA.
A visão do universo nos mostrou a existência de uma causa
primeira, de um Deus, um Ser necessário, eterno, infinito,
dotado de todas as perfeições possíveis. Este mesmo
espetáculo também nos mostra o que Deus é em relação a nós.
Deus é o Criador de todas as coisas e seu Senhor soberano. Ele
preserva e governa tudo com a sua Providência.
23. P. -Por que Deus é chamado de Criador do céu e da
terra?
R. -Porque Deus tirou do nada o céu, a terra, os anjos, os homens e tudo
o que existe.
CriarÉ fazer algo do nada por um único ato de vontade. Somente Deus é
criador; A criação requer um poder infinito, porque do nada ao ser existe
uma distância infinita que só Deus pode transpor. Mesmo que os homens
unissem todos os seus esforços, não conseguiriam criar um grão de areia.
24. P. -Por que Deus criou o mundo?
R. -Deus criou o mundo para sua própria glória, único fim
verdadeiramente digno de suas ações; e também satisfazer a Sua bondade
comunicando aos seres criados a vida e a felicidade das quais Ele é o
começo.
Deus não poderia criar senão para a sua glória.Ele deve ser o único fim
de todas as coisas, pela razão do seu único começo. Deus não poderia
trabalhar por outro, porque Ele existiu sozinho desde toda a eternidade.
Além disso, nenhum trabalhador trabalha senão em benefício próprio. Se
você trabalha para outra pessoa, é porque espera ser pago. Dios,
comunicando el ser, cuya fuente y plenitud posee, no podía proponerse otra
cosa que grabar en sus criaturas la imagen de sus perfecciones, manifestarse
a ellas, ser reconocido, adorado, glorificado por ellas como un padre es
bendecido, amado, alabado por seus filhos.
25. P. -Como as criaturas inanimadas ou pouco inteligentes
buscam a glória de Deus?
R. - Manifestar aos homens o poder, a sabedoria e a bondade do seu
Criador. Essas criaturas existem para o homem e o homem para Deus.

51
Ao contemplar a magnificência do universo, o homem aprende a
conhecer as perfeições divinas que brilham por toda parte, e sente-se
obrigado a prestar plena homenagem ao Autor de todas as coisas, não apenas
em seu próprio nome, mas também em nome de todos os seres inanimados.
ou privado da razão, da qual se vê tornar-se, e de quem deve
necessariamente ser intérprete e mediador. Assim, as criaturas materiais
abençoam e adoram o seu Criador, não por si mesmas, mas através do
homem, que, como pontífice de toda a natureza, presta homenagem à
divindade.
26. P. Deus é o Dono ou Senhor de todas as coisas?
R. -Sim; Deus é o Dono de todas as coisas, porque Ele as criou e as
preserva.
Se o trabalhador é o dono da sua obra, mais ainda Deus é o Senhor do
universo, porque Ele o fez, não só dando forma à sua obra como o artista,
mas também comunicando o ser à sua matéria, à sua substância. E isto não é
tudo, mas Deus preserva; de modo que, se por um único momento eu
parasse de segurá-lo, o mundo voltaria imediatamente ao nada.
O domínio de Deus é universal, porque tudo o que existe deve o seu ser e
a sua preservação. É absoluto e ninguém pode resistir ao seu poder soberano.
É necessário, isto é, que Deus não possa abdicar dele, porque nada é
independente de Deus. Portanto, se o homem é livre, não é independente.
Ele pode negar a sua obediência a Deus, mas apesar da sua rebelião,
permanece sujeito a este dever.
27. P. -O mundo precisa de Deus para continuar existindo?
R. -Sim; O mundo, que surgiu do nada pela vontade de Deus, existe
apenas pela mesma vontade. É necessário que Deus preserve os seres de
forma direta e positiva através de uma espécie de criação contínua.
Foi necessário que Deus não tirasse nada do mundo para que ele
existisse. Também é necessário que você o preserve para que não volte a
nada. Para que um ser contingente ou produzido seja preservado em todos os
momentos de sua existência, ele necessita do mesmo poder e da mesma ação
que foi necessária para que fosse produzido, pois não contém em si o poder
de existir. Se a ação de Deus parar, a entidade cai no nada.
Imagine um objeto segurado pela mão, se a mão for retirada o objeto cai.
Veja um riacho alimentado por uma fonte; se a fonte

52
Fica cego, o riacho seca. Estas duas imagens representam a situação das
coisas contingentes, tiradas do nada pela mão divina, e por existirem
receberam existência de Deus através do ato criativo. O mundo dura, porque
Deus o faz durar; Se Deus suspendesse a sua ação, o mundo seria
aniquilado.
Deus, que preserva as suas criaturas, também participa na sua ação de
forma positiva e imediata. E não é que Ele atue em seu lugar, mas que Ele
lhes dá o poder de agir e os ajuda a exercer esse poder. Isto é o que se chama
concordância divina; as causas secundárias sempre agem sujeitas à
influência da causa primeira.
28. P. Deus governa o mundo?
R. -Sim; Deus governa o mundo com infinita sabedoria e poder. Governa
o mundo material e o mundo espiritual; a atual sociedade civil e sociedade
religiosa; nações, família, indivíduos; Ele dirige todos os eventos e nada
acontece sem Sua ordem ou permissão. Este governo que Deus exerce sobre
o mundo chama-se Providência.
Deus, depois de ter criado o mundo, não o deixa entregue a si mesmo;
Ele não apenas a preserva, mas a governa com a sua Providência. Deus
governa todas as coisas, isto é, ele as direciona para o seu próprio fim, e
nada acontece no mundo sem a sua ordem ou sem a sua permissão.
O fim das criaturas é o objeto para o qual Deus as criou; É a função para
a qual o Criador os destinou. Deus fornece a todos os seres os meios
necessários para atingir esse fim, para desempenhar suas funções.
29. P. -Por que dizemos que nada acontece sem ordem ou
sem permissão de Deus?
R. -Porque há coisas que Deus positivamente quer e ordena, e outras que
Ele só permite. Deus quer tudo o que resulta das leis por Ele estabelecidas;
mas o pecado apenas permite isso. Ele não a autoriza, mas a tolera por
respeito à liberdade com que dotou o homem.
30. P. -O que é a Providência divina?
R. -No seu sentido mais amplo, Providência é o cuidado que Deus tem
por todas as suas criaturas.
Em sentido estrito, a Providência é a ação cheia de sabedoria e de
bondade pela qual Deus guia cada criatura para o fim particular que

53
Ele apontou a todos eles um propósito geral, que é a sua própria
glorificação.
A palavra Providência significa prever e prover; É uma operação divina
pela qual Deus prevê o fim de todas as suas criaturas e lhes fornece os meios
necessários para alcançá-lo. Deus dirige assim todas as coisas para a
realização de seus desígnios eternos.
31. P. -Como provamos a existência da Providência divina?
R. -Deus não seria infinitamente sábio, poderoso, bom e justo, se não
zelasse por todas as suas criaturas, particularmente pelo homem. Negar a
Providência é negar a Deus.
A história ensina que todos os homens, em todos os tempos e em todos
os lugares, acreditaram na Providência; Sua existência é, portanto, uma
verdade do bom senso.
Além disso, a negação da Providência implica as mesmas consequências
terríveis que o ateísmo.
A ideia de Deus, bem compreendida, demonstra a necessidade absoluta
da Providência. Deus é infinitamente sábio, portanto, ao chamar cada coisa à
existência, teve que dar-lhe um fim especial e fornecer-lhe todos os meios
para alcançá-lo; infinitamente indigente, conhece todas as necessidades das
suas criaturas; infinitamente poderoso, tem todos os meios para ajudá-los;
infinitamente bom, ama-os como a crianças, e é-lhe impossível não cuidar
da sua perfeição e da sua felicidade; infinitamente justo, ele deve
recompensá-los e puni-los de acordo com seus próprios méritos.
Negar esses atributos é negar a Deus.
A ordem e a harmonia que reinam no universo são uma prova da
Providência divina; Se Deus não governasse o mundo, a confusão e o caos
reinariam nele há muito tempo. A ordem que nele brilha proclama que o
Ordenador não abandona o seu trabalho; assim como o funcionamento
seguro do trem nos avisa que o maquinista está sempre em sua estação.
Todos os povos da terra admitiram a Providência, os sacrifícios e as
orações são uma prova conclusiva. Esses atos de voltar-se para Deus nas
calamidades não teriam razão de existir se não se acreditasse na intervenção
divina nas coisas humanas.
A sabedoria popular exprimiu a sua fé na Providência em dois
provérbios: o homem move-se e Deus leva-o. -O homem propõe e Deus
dispõe.

54
Essa é a verdade. Falar sobre o acaso é tolice. Nada funciona sozinho,
porque nada foi feito sozinho. Nada acontece por acaso, porque nada
acontece sem a vontade de quem tudo fez.
Atribuir tudo ao acaso ou às leis da natureza, fingir que Deus não se
importa conosco, é o mesmo que negar a existência do Deus verdadeiro. As
consequências desta negação seriam tão devastadoras para toda a sociedade
humana como as do ateísmo.
32. P. -Como Deus governa o mundo com sua Providência?
R. -Deus normalmente não opera exceto por trás do véu das causas
secundárias, isto é, das leis estabelecidas por Ele. Ele governa os seres
privados de razão por meio de leis físicas e inflexíveis que nunca revoga
sem razões especiais, mesmo que daí resultem algumas desordens parciais.
Deus dirige os homens, seres racionais e livres, através de leis morais;
Impõe a obrigação ou dever de observá-los, mas não os obriga a fazê-lo, por
respeito ao seu livre arbítrio.
Os seres privados de razão alcançam necessariamente o seu fim
particular e, portanto, o seu fim geral, que é a glorificação de Deus. De
acordo com as leis que Deus estabeleceu e que Ele dirige, todos os dias o sol
brilha sobre nós; A terra nos sustenta, o fogo nos aquece, a água nos
refresca; cada criatura, cada elemento é mantido e funciona segundo regras
constantes, cujo autor e guardião é o próprio Deus.
Ele ditou aos homens leis morais, cuja observância deve conduzi-los ao
seu fim particular, que é a salvação, e ao fim geral da criação, que é a
glorificação de Deus. O homem, faça o que fizer, procura sempre a glória de
Deus, mas nem sempre alcança a sua salvação; porque Deus o deixa livre,
tanto para o bem como para o mal. Deus dá a todos os homens os meios
necessários para alcançar o seu fim; e eles são os culpados se não
entenderem. Deus subordina as coisas do tempo às da eternidade; Por
exemplo, se o justo não for recompensado neste mundo, será recompensado
no próximo.
33. P. -Não é indigno de Deus cuidar de todos os seres,
mesmo dos menores?
R. -Não; Se Deus acreditou que era digno Dele criá-los, por que seria
indigno Dele zelar por eles? Precisamente porque o Sol é muito grande e
muito alto, os seus raios transportam luz e

55
vida. Porque Deus é infinitamente grande, não há pequeno nem grande em
sua presença. Existem criaturas que Ele fez por um ato de bondade de Seu
coração, e que Ele preserva, sustenta e nutre como um pai e uma mãe.
Ele alimenta os passarinhos
E a sua bondade sustenta a criação.
Deus fez tudo; nada é retirado do seu poder; É necessário também que
nada deixe de estar sujeito à sua sabedoria, à sua ciência, à sua Providência.
Todos os cabelos da nossa cabeça estão contados e nenhum deles cai sem a
vontade do Pai celestial. A Providência de Deus não deixa nada fora dos
seus cálculos mais sábios e infalíveis. “Onde a sabedoria é infinita não há
espaço para o acaso.”
Aqueles que imaginam que seu cuidado com as criaturas lhe causa
cansaço, como causaria ao homem, formam uma falsa ideia de Deus. Deus
governa e dirige tudo sem esforço e por um único ato de sua vontade
soberana; da mesma forma que o sol, com uma única radiação, ilumina o
universo e espalha calor e vida por toda parte.
34. P. -Se Deus cuida de nós, por que há diferença de
condições? Por que existem ricos e pobres?
R. -A desigualdade de condições provém necessariamente da
desigualdade de aptidões, das qualidades físicas, intelectuais e morais dos
homens. Deus não deve a cada um de nós mais do que os meios necessários
para atingir o nosso fim, e não é obrigado a dar a todos os mesmos dons de
força, inteligência, etc.
Além disso, esta desigualdade contribui para a harmonia do universo e
torna-se fonte das mais belas virtudes e vínculo de união entre os homens.
1º A desigualdade de condições é frequentemente devida ao homem, e
não ao próprio Deus. É o resultado da atividade de alguns e da negligência
de outros. Se tal homem é mais rico do que você, não será talvez porque ele
tem mais ordem, mais economia, maior amor ao trabalho? E se você é
pobre, não será porque é preguiçoso ou pródigo?
2º A desigualdade de condições proporciona a oportunidade de praticar a
caridade. É lindo ver os ricos despojarem-se dos seus bens para ajudar os
pobres; como é ver os pobres suportarem

56
privações com paciência e resignação à vontade de Deus... É por isso que
esta desigualdade contribui para a harmonia do universo; Aproxima os ricos
dos pobres, os fracos dos poderosos e, através das belas virtudes da
caridade, da bondade e da gratidão, estabelece entre eles os doces laços da
verdadeira fraternidade.
3º Por fim, é a vida após a morte que restaurará o equilíbrio.Os últimos,
ou seja, os pobres, serão os primeiros, porque com suas dores e sofrimentos
terão adquirido maiores méritos.
35. P. -Se Deus cuida de nós, por que existem sofrimentos
neste mundo?
R. - O sofrimento muitas vezes provém das nossas próprias faltas:
teríamos menos que sofrer se fôssemos mais moderados nos nossos desejos,
mais razoáveis nos nossos projectos, mais sóbrios e temperantes nas nossas
vidas.
Deus permite a dor, seja para nos fazer expiar os nossos pecados, seja
para provar a nossa fidelidade, tanto na desgraça como na felicidade; e,
finalmente, libertar-nos deste mundo de exílio e obrigar-nos a considerar o
céu como a nossa verdadeira pátria.
1º Os males do corpo são, geralmente, devidos às faltas do homem.
Quantas doenças são fruto da sensualidade e da intemperança! São uma
expiação que a natureza impõe àqueles que infringem as leis.
2º Existem outros males que são consequência de leis gerais
estabelecidas por Deus para governar o mundo: um homem cai no fogo e
queima. Deus é obrigado a realizar um milagre para evitar este acidente?...
3º Por fim, os males físicos também podem vir até nós diretamente de
Deus, seja como punições por erros cometidos; seja como testes para nos
fazer adquirir méritos; seja como meio que Deus usa para nos converter e
nos separar dos bens terrenos.
Quantos homens estariam perdidos, embriagados de prazeres! Deus os
detém através da provação, da ruína, dos infortúnios. O sofrimento é para
eles o que a palmada é para uma criança. Com dor eles se convertem. Nada
aproxima o homem de Deus do que o sofrimento.
36. P. Se Deus cuida de nós, por que existe o mal moral ou o
pecado?

57
R. -Porque Deus não é a causa. Pelo contrário, ele o detesta e o pune;
mas ele permite que o homem use seu livre arbítrio e tire o bem do mal.
Deus não é a causa do mal moral: Deus nos deu a liberdade, que é um
bem; O pecado é o abuso da nossa liberdade, e é nisso que consiste o mal.
Sem dúvida Deus teria um meio radical para prevenir o mal, e isso seria
tirar a nossa liberdade; mas então não haveria mérito. Agora, há mais glória
para Deus em ter criaturas que O servem voluntariamente do que em ter
máquinas dirigidas por uma força irresistível. “Para evitar que o homem seja
mau, será necessário reduzi-lo ao instinto e transformá-lo numa fera?” Não;
Deus o libertou, para que ele fosse bom e feliz.
Além disso, Deus permite que o mal produza um bem maior; Assim
permitiu o pecado original, para repará-lo com a Encarnação; permitiu que a
malícia dos judeus contra nosso Senhor Jesus Cristo salvasse o mundo;
permite perseguições, para fazer brilhar o heroísmo dos mártires... O mundo
ficaria privado de grandes bens se o mal não existisse.
37. P. - Em que consiste o bem que Deus tira do pecado?
R. - Consiste em 1º, que ele o faça servir à execução dos destinos de sua
Providência; 2º, na medida em que faz brilhar a sua bondade, atraindo
novamente o pecador, ou a sua misericórdia, perdoando-o quando se
arrepende, ou a sua justiça, punindo os seus crimes; 3º, em que o pecador, ao
se converter, repara os ultrajes cometidos a Deus com a sua penitência e
humilhação voluntária e, às vezes, tornando-se mais virtuoso e afirmando-se
mais no bem.
38. P. - A prosperidade dos ímpios e as provações dos
justos não depõem contra a Providência?
R. -Não; porque não é verdade que todos os ímpios prosperem e todos os
justos sofram tribulações; Os bens e os males deste mundo são, em geral,
comuns a todos os homens.
Além disso, não há homem no mundo tão mau que não faça um bom
trabalho durante a sua vida; e Deus a recompensa dando-lhe prosperidade
aqui embaixo, reservando-se para punir seus pecados no inferno. Da mesma
forma, não existe homem tão justo que não cometa algumas faltas. Deus os
faz expiar por eles na terra, reservando-se para recompensar suas virtudes no
céu.

58
Há pecadores que chegam em prosperidade, porque Deus quer atraí-los
através da gratidão, ou recompensá-los aqui na terra pelo pouco bem que
fizeram, caso mais tarde tenham de ser condenados eternamente. Às vezes,
porém, Deus pune mesmo aqui, e de forma exemplar, os escandalosos e os
perseguidores da Igreja.
Também existem pessoas justas em prosperidade, como atestam os fatos;
mas não estão isentos de sofrimento, porque os sofrimentos e provações
desta vida estão destinados
1º Separar os justos de todos os bens falsos da terra; 2º Para fazê-los
entrar em si mesmos, para melhorá-los e
aperfeiçoe-os;
3º Para que ganhem mais méritos e, conseqüentemente, maior felicidade
eterna;
4º Torná-los mais semelhantes a Jesus Cristo, modelo dos escolhidos;
5º Para fazê-los expiar os seus pecados neste mundo, onde as dívidas à
justiça divina são pagas de forma muito menos dolorosa do que no
purgatório.
Além disso, o justo é, normalmente, mais feliz do que o ímpio, porque
goza de paz de alma, enquanto o ímpio é vítima de seu remorso e de suas
paixões tirânicas.
Costuma-se dizer: Por que Deus não pune imediatamente os ímpios?
Deus é paciente, porque é eterno; porque quer suscitar o arrependimento;
porque se o vício fosse sempre punido aqui neste mundo, e a virtude aqui
também recompensada, o homem não praticaria o bem senão por interesse.
Finalmente, não conhecemos o plano divino e devemos acreditar que Deus
tem boas razões para proceder como o faz.
39. P. -Quais são os nossos deveres para com a Providência
divina?
R. -1º Adore com humildade, em tudo, as disposições da Providência
divina.
2º Dar graças a Deus pelos bens concedidos e utilizá-los para a nossa
salvação.
3º Receber com alegria, ou pelo menos com paciência, os males que Ele
nos envia, convencidos de que, vivendo de um Pai tão bom, devem ser para
o nosso bem.

59
4º Colocar-nos nas suas mãos com confiança e entrega absoluta de nós
mesmos, segundo esta regra dos santos: cada um deve agir e trabalhar como
se devesse esperar tudo de si mesmo, e quando tiver feito tudo o que foi da
sua parte, não espere nada do seu trabalho, mas espere tudo de Deus.
Objeção. - O que fiz a Deus para me enviar tantos males?...
R. - Quase sempre Deus pôde reduzir-te ao silêncio, colocando diante
dos teus olhos assustados a longa série de pecados que só a indiferença
religiosa esconde dos teus olhos, e as dores eternas do inferno a que são
creditáveis essas faltas.
Deus sempre poderia responder-lhe, lembrando-lhe os terríveis castigos
do purgatório, destinados a expiar os pecados veniais. As dores da vida
presente são muito pouco comparadas com as expiações do futuro.
O que você tem feito a Deus? Você pergunta. Os mártires e santos que
tanto sofreram fizeram alguma coisa com ele? Seus sofrimentos não foram
para eles um castigo, mas uma prova; e porque saíram vitoriosos dessas
provações, Deus os coroou com uma coroa imortal no céu.
Deus não fez da dor, introduzida na terra pelo pecado, a causa de todos
os males sofridos nesta vida ou na próxima. Mas Deus traz à tona o mal e
usa o sofrimento para nos salvar. O sofrimento serve para nos converter,
para nos fazer expiar os nossos pecados, para nos fazer adquirir méritos.

60
SEGUNDA VERDADE
TEMOS A ALMA

O HOMEM, CRIATURA DE DEUS, POSSUI UMA ALMA


INTELIGENTE, ESPIRITUAL, LIVRE E IMORTAL.
40. P. -O que é o homem?
R. -O homem é uma criatura racional composta de corpo e alma.
O homem é uma criatura, isto é, um ser que surge do nada pelo poder de
Deus. Ele é uma criatura racional, isto é, inteligente, capaz de discernir o
bem do mal, o verdadeiro do falso, o justo do injusto. É a razão que
distingue eminentemente o homem do animal e de todas as outras criaturas
do mundo visível.
O homem é composto de um corpo e de uma alma. O corpo é esse
invólucro externo, essa substância material que vemos, que tocamos; É
composto por várias partes, são os nossos membros e os nossos diversos
órgãos. A alma é esta substância invisível que vive, sente, pensa, julga,
raciocina, age livremente e dá ao corpo ser, movimento e vida.
A união da alma com o corpoConstitui o homem e faz dele um ser
intermediário entre os anjos, que são espíritos puros, e as criaturas sem
inteligência ou sem vida, que são matéria.
Assim, então, o corpo e a alma são duas substâncias diferentes, e sua
união íntima, substancial e pessoal constitui o homem. Nas questões a seguir
provaremos a diferença entre essas duas substâncias.

61
41. P. -É verdade que temos alma?
R. -Sim, é bem verdade que temos alma, porque há algo em nós que vive
e dá movimento aos nossos membros; algo que sente, conhece, pensa,
raciocina e age livremente. Mas como o próprio corpo é inerte, sem vida,
sem sentimento, sem inteligência e sem vontade, um cadáver, devemos
concluir que existe algo em nós diferente do corpo, e esse algo é a alma.
O princípio vital que dá vida aos seres vivos deste mundo sensível
chama-se alma, em geral; a planta, o animal, o homem. Mas como a alma do
homem é infinitamente superior aos outros princípios da vida, na linguagem
comum a palavra alma designa a alma humana.
Nós temos uma alma. Todo efeito supõe uma causa; Todo ser vivo supõe
um princípio de vida. A matéria não vive.
Temos três faculdades principais em nós e essas faculdades são muitas
provas da existência da alma.
1º Somos dotados de sensibilidade. Agora toque em um cadáver; não
sinta nada. Porque? Porque a alma já saiu daquele corpo.
2º Somos inteligentes. Temos o poder de pensar ou ter ideias. Mas a
ideia é algo simples e indivisível. Seria um absurdo dizer que o pensamento
é longo ou grosso, redondo ou quadrado, verde ou vermelho... Portanto, o
pensamento não pode ser produzido por um princípio composto de partes,
como tudo o que é matéria. Há, portanto, em nós uma alma distinta do
corpo, simples e indivisível como o pensamento.
3º Temos vontade ativa; enquanto a matéria carece de movimento e ação
próprios. Se o nosso corpo se move por impulso da nossa vontade, significa
que está sujeito ao poder de uma alma que o anima.

APÊNDICE
Breve lição de filosofia
Para conhecer melhor o homem é conveniente conhecer também os
outros seres que o rodeiam e que o servem.

62
Neste mundo visível existem apenas três tipos de seres vivos: plantas,
animais e homem. A distinção é admitida entre as três coisas seguintes
1º O princípio vital nas plantas. 2º A
alma sensível nos animais. 3ºA alma
inteligente do homem.
1º Princípio vital das plantas. -Os atos da vida vegetativa são três: 1) a
planta é nutrida; 2) cresce e se desenvolve; 3) propaga-se, ou seja, reproduz
outra planta semelhante.
A matéria prima não vive; Então, a planta precisa de um princípio de
vida. Qual é a natureza do princípio vital da planta? Os sentidos não
percebem isso; Só a razão, face aos fenómenos que este princípio produz,
determina as suas características essenciais.
É produzido pela virtude da semente, só atua em união com o corpo
organizado e desaparece quando a planta morre.
Nós, cristãos, sabemos que este princípio vital vem da palavra criativa de
Deus, que deu vida aos seres vivos da terra e com ela o poder de se
reproduzir. Deixe a terra produzir grama verde e produzir sementes, e
árvores frutíferas, que cada um dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente
esteja em si mesmo na terra. E assim foi feito4.
2ª Alma das feras.-O animal tem uma vida superior à da planta, goza
de vida vegetativa e sensível. Sua alma, mais nobre e poderosa que a das
plantas, produz seis atos, os três da vida vegetativa: nutrir, crescer e
reproduzir-se como a planta, e os três atos da vida sensitiva.
Com efeito, esta vida também se nutre de três atos: 1) sensação, o animal
conhece e experimenta as sensações de frio, de fome, de prazer ou de dor; 2)
movimento espontâneo o animal se desloca de um lugar para outro; 3) a
força estimativa e o instinto, que confere ao animal o poder de escolher o
que é útil e evitar o que seria prejudicial.
Só existe um e único princípio de vida em cada animal, em cada corpo
orgânico temos a prova na unidade indivisível de cada ser vivo; na harmonia
de suas funções, que

4Geração 1, 11.

63
tendem para um objetivo comum; na identidade persistente do ser, apesar da
mudança contínua dos seus elementos materiais.
O que devemos pensar da alma dos animais?A alma dos
animais é uma realidade que não é corpo nem espírito, é um princípio
intermediário entre o corpo e o espírito; Aparece com vida no animal, é nele
um princípio de vida e se extingue com a própria vida.
A alma dos animais é simples, imaterial, indivisível; Se assim não fosse,
não seria capaz de experimentar sensações; a matéria bruta não sente e a
planta também não. É a alma sensível que dá aos animais a capacidade de
sentir impressões externas, o que os dota de sentidos externos, como visão,
audição, olfato, paladar e tato, e dos sentidos internos: imaginação sensível e
memória.
Contudo, a alma dos brutos só pode agir na medida em que forma o
mesmo princípio de funcionamento dos órgãos; Sem a ajuda do corpo não
pode produzir nenhum ato. Por isso depende absolutamente do corpo e é
impossível viver sem ele. Esta alma é produzida por geração, vem com o
corpo e desaparece com ele.
Somente pela voz e ordem de Deus, o Criador, a terra produziu animais
vivos, cada um de acordo com sua espécie. Deus também disse: Deixe a
terra produzir uma alma vivente conforme sua espécie5. -A palavra de Deus
é eficaz desde que fale para que todas as coisas existam. Assim, a Sagrada
Escritura afirma da forma mais explícita que todos os animais têm uma alma
que não é o seu corpo. Esta alma não é criada diretamente por Deus, mas
engendrada pela virtude que o Criador dá aos primeiros animais para se
reproduzirem.
A forma como Moisés narra a criação dos animais e do homem mostra a
diferença essencial que existe entre eles. A alma sensível, deixando a terra
junto com o corpo, desaparece com ele na terra; enquanto a alma do homem,
sopro de vida infundido por Deus em seu corpo, é obra imediata de Deus,
recebe o ser por meio da criação e deve retornar a Deus, seu Criador e Pai.
3ª alma inteligente do homem. -O mais nobre dos seres vivos neste
mundo sensível é o homem. Possui vida vegetativa como as plantas, nutre-
se, cresce e sobrevive em seu

5Geração 1, 24.

64
crianças. Tem uma vida sensível como a dos animais, sente, desloca-se de
um lugar para outro e escolhe o que lhe convém. Mas, além disso, possui a
vida intelectual, que estabelece uma distância quase infinita entre o homem
e os seres inferiores.
No homem existe apenas um e único princípio de vida, a alma
inteligente; É o mesmo ser que vive, que sente, que pensa, que age
livremente. A unidade do homem é o fato mais íntimo e profundo da
consciência. Aqui, como sempre, razão e fé marcham em perfeito acordo6.
A alma humana contém de forma superior as forçasdo
princípio vital e da alma sensível, da mesma forma que uma moeda de
grande valor contém em si muitas outras de menor valor. Produz, em relação
ao corpo e de forma muito mais perfeita, tudo o que os princípios inferiores
produzem nas plantas e nos animais; e além disso exerce em si e por si os
atos da vida intelectual.
Esta vida intelectual também se manifesta por três atos,
eminentemente superior aos demais
1ºO ato de pensar, de formar ideias;
2ºO ato de raciocinar, de inventar, de progredir;
3ºO ato de amar livremente.
Uma breve explicação de cada um destes atos nos mostrará a diferença
essencial que existe entre o homem e o animal.
1º O homem pensa, abstrai, extrai das imagens materiais fornecidas pelos
sentidos, o universal, isto é, ideias universais, gerais, absolutas; concebe
verdades intelectuais e eternas. Conhece coisas que os sentidos não
percebem, objetos puramente espirituais, como o verdadeiro, o bom, o belo,
o justo, o injusto. Ele sabe distinguir causas e seus efeitos, substâncias e
acidentes, etc.
O mesmo não acontece com o bruto. Sem dúvida o animal vê, ouve e
sabe encontrar o seu caminho, reconhecer o seu dono, lembrar que algo o
machucou, etc. Mas o conhecimento do animal é limitado ao

6O Concílio de Viena, de 1311, definiu que a alma era a forma substancial do corpo. Como forma substancial, a alma humana torna-se seu corpo,
transformando os elementos materiais em carne humana e comunicando-lhes a vida vegetativa, a vida sensível e a vida do homem.

65
coisas sensíveis, para objetos específicos. Ele não tem ideias gerais, só
sabe o que lhe cabe nos sentidos, o concreto, o particular, o material. Ele vê,
por exemplo, tal árvore, tal flor, mas não consegue chegar à ideia geral de
uma árvore, de uma flor; Assim, o cachorro se aquece com prazer pelo amor
ao fogo, mas nunca terá a ideia de acender o fogo ou mesmo levar
combustível para ele para que não se apague.
O homem conhece o bem e o mal moral. -O homem gosta do bem
que faz e sente remorso se fizer algo errado. O animal só conhece o bem que
é agradável e o mal que é prejudicial aos seus sentidos. Nunca encontrarás
vestígios de remorso num animal. Assim como não conhece a verdade, este
alimento dos espíritos, não conhece o dever, esta força de vontade, esta
alegria austera do coração. O bem e o mal moral não podem ser conhecidos
exceto pela inteligência.
2º O homem raciocina, inventa, progride, fala. -O homem analisa,
compra, julga suas ideias e deduz consequências dos princípios ou axiomas
que conhece. Calcula, realiza coisas; Ele sabe o que faz e por que o faz.
Descubra as leis e as forças ocultas da natureza e saiba como usá-las para
invenções maravilhosas. Através da sua faculdade de raciocínio, ele inventa
ciências, artes, indústrias e todos os dias descobre algo admirável.
Quanto progresso, apenas no nosso século!...
O animal não raciocina, não calcula, não tem consciência das suas ações,
é guiado apenas pelo instinto. Ele nunca aprenderá escrita, ou cálculo, ou
história, ou geografia, ou ciência, ou artes, ou mesmo o alfabeto. Não
inventam nada, nem avançam, os pássaros constroem seu ninho hoje como
no dia seguinte após terem sido criados.
Não há dúvida de que o homem, utilizando os sentidos sensíveis, a
memória e a imaginação do animal, pode corrigir certos defeitos e fazê-lo
aprender algumas habilidades; mas por si só o animal é incapaz de progredir.
O homem pode treiná-lo, mas ele, por si só, não tem iniciativa.
Só o homem fala. -Pela razão, o homem possui a palavra falada e a
palavra escrita. Só o homem tem a intenção explícita e formal de comunicar
o que pensa, capta o pensamento dos outros e diz coisas que aconteceram
em outros tempos e que não têm relação com a sua natureza.

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O animal apenas grita para expressar, a despeito de si mesmo, o prazer
ou a dor que sente; mas não tem linguagem, porque não tem pensamento. O
papagaio mais bem treinado nada mais é do que uma máquina de repetição;
enquanto o selvagem, mesmo o mais ignorante, sempre pode expressar o que
pensa.
3º Só o homem age livremente. -Você é livre para escolher entre as
várias coisas que lhe são apresentadas. Quando você faz alguma coisa, você
diz para si mesmo: eu poderia muito bem não fazer.
O animal não é livre e é guiado por um instinto cego que não lhe permite
deliberar ou escolher. É por isso que ele não é responsável pelas suas ações;
e, se for punido depois de ter feito algo inconveniente, é para que não o
repita, lembrando-se da dolorosa impressão que o castigo lhe causa.
Por fim, o homem tem o sentimento da divindade, eleva-se a Deus, seu
Criador, e O adora; Ele tem a esperança de uma vida futura, e esse
sentimento religioso é tão exclusivo dele que os pagãos definiam o homem
como um animal religioso.
Assim, o homem, apesar da sua inferioridade física, domina os animais,
domestica-os, domestica-os, faz com que sirvam as suas necessidades ou
prazeres e dispõe deles como dono, como dispõe de toda a criação. Basta
uma criança para conduzir um grande rebanho de bois, cada um dos quais,
tomado separadamente, é cem vezes mais forte que ele. De onde vem esse
domínio? A propósito, não é do corpo dele; Vem de sua alma inteligente,
porque ela é espiritual, criada à imagem de Deus.
O homem é o ser único da criação que une em si a natureza corpórea e a
natureza espiritual, e se comunica com o mundo material através dos
sentidos, e com o mundo espiritual através da inteligência.
42. P. -Qual é a alma do homem?
R. -A alma do homem é uma substância espiritual, livre, imortal, criada
à semelhança de Deus e destinada a ser unida a um corpo.
1º A alma é uma substância. -Uma substância, como a própria palavra
indica, é uma coisa, uma realidade que subsiste sem precisar estar em outra
para existir.
2º A alma é um espírito. -Um espírito é um ser vivo simples, imaterial,
substancial, capaz de existir, conhecer, amar e agir independentemente da
matéria. Um espírito é imaterial, é

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isto é, inextensível, indivisível, que não possui nenhuma das propriedades
sensíveis da matéria e não pode ser percebido pelos sentidos.
Duas condições são necessárias para constituir um espírito
a) É necessário que um ser seja simples; imaterial, indivisível;
b) Isso é independente da matéria em sua existência e em sua
principais operações.
3º A alma é livre, ou seja, a alma tem a capacidade de determinar-se por
sua própria escolha, de fazer algo preferencialmente pela ação, de fazer o
bem ou de fazer o mal. Essa faculdade é chamada de livre arbítrio.
4º A alma é imortal, ou seja, a natureza da alma exige uma existência
que não tem fim, deve sobreviver ao corpo e nunca deixar de viver.
5º A alma é criada à imagem de Deus, porque é capaz, como Ele, de
conhecer, amar e agir livremente. Deus é um espírito, nossa alma é um
espírito; Deus é inteligente, nossa alma é inteligente; Deus é eterno, nossa
alma é imortal; Deus é imenso, está presente em todos os lugares e em tudo
em todos os lugares do mundo; Nossa alma está presente em todo o nosso
corpo e completamente em cada parte do corpo que ela anima. A alma é a
imagem de Deus.
6º A alma está destinada a unir-se ao corpo para formar com ele uma
única natureza humana, uma única pessoa com um eu único. A alma
comunica ser, movimento, vida ao corpo; e o corpo, animado pela alma,
completa a natureza humana de tal maneira que o homem resulta da união
destas duas substâncias.
43. P. -Quais são as principais qualidades da alma?
R. -Três, a alma é espiritual, livre e imortal.
Estas três grandes prerrogativas, espiritualidade, liberdade e
imortalidade, constituem a natureza da alma humana, distinguindo-a
essencialmente de todos os seres inferiores e tornando-a semelhante aos
anjos e ao próprio Deus.

1ª ESPIRITUALIDADE DA ALMA
44. P. -Como provamos que nossa alma é um espírito?
R. - Está provado que a alma do homem é espírito pelas suas ações,
assim como a existência de Deus é provada pelas suas obras. É um princípio
evidente que as operações de um ser são sempre

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conforme sua natureza O operador é conhecido por suas obras. É assim que
a nossa alma produz atos espirituais, como pensamentos, julgamentos,
volições; portanto, nossa alma é espiritual.
Já provamos que a alma existe, que é simples e distinta do corpo. Resta-
nos agora demonstrar que se trata de um espírito, isto é, de uma substância
espiritual capaz de existir e exercer, sem o corpo, atos que lhe são próprios.
1) Todos reconhecem que a natureza de um ser pode ser julgada pelas
suas ações e pelo trabalho que o operador conhece. Os atos de um ser estão
de acordo com a sua natureza; O efeito não pode ser de natureza superior à
sua causa, assim falam a razão e a ciência em todos os séculos. Se, então,
um ser produz atos espirituais, independentes da matéria, ele próprio deve
ser espiritual, independente da matéria.
2) Nossa alma produz atos espirituais. A inteligência conhece objetos
invisíveis, incorpóreos, eternos, que o corpo não consegue alcançar, como o
verdadeiro, o belo, o bom, o dever, o justo, o injusto... Julgamos o bem e o
mal; discernimos o verdadeiro do falso; Pela razão, passamos das verdades
conhecidas às desconhecidas e estabelecemos os princípios de diversas
ciências... Ora, essas operações não podem depender de um órgão material,
porque seu objeto é completamente imaterial; Portanto, para produzi-los é
necessária uma substância espiritual. Assim, os atos da nossa inteligência
provam que a nossa alma é um espírito; Pois se assim não fosse, o efeito
seria superior à sua causa, e o ato não estaria de acordo com a natureza do
ser que o produz.
3) A vontade, por sua vez, tende para bens inacessíveis aos sentidos e
aos apetites. Precisa do bem infinito, do bem moral, da virtude, da ordem, da
honra, da ciência... Às vezes, para alcançar esses bens, chega a sacrificar os
bens sensíveis, os únicos que deveriam movê-lo, se fosse uma faculdade. .
Portanto, a vontade, tão apaixonada pelos bens espirituais e desprezando os
objetos materiais, é uma faculdade espiritual que não pode ser encontrada
exceto em seu espírito.
A vontade é dona absoluta de suas operaçõesEla se determina
agir ou não, a vontade é livre. Minha consciência me diz que quando meu
corpo busca prazer, posso resistir; quando meu estômago sente fome, posso
recusá-lo.

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satisfazê-lo; Além disso, posso infligir castigos e austeridades ao meu corpo,
apesar dos sofrimentos dos sentidos. Ora, como poderíamos ter império e
livre arbítrio sobre nossas tendências instintivas, se a inteligência e a
vontade não tivessem atos próprios independentes do corpo; se a nossa alma
não fosse um espírito? Isso seria impossível.
Nossa alma é, portanto, espiritual.
45. P. -Quem nega a espiritualidade da alma?
R. -Os materialistas e os positivistas. Afirmam que nada existe fora da
matéria e das forças que lhe são inerentes. Seu sistema é chamado de
materialismo. É uma doutrina absurda e degradante, contrária ao bom senso,
à consciência, à filosofia saudável, não menos que à religião.
Na verdade, se não há nada além de matéria, não há inteligência, nem
liberdade, nem lei moral, nem Deus. O homem pode seguir os seus instintos,
mesmo os mais perversos; A sociedade fica sem base e não existe outra lei
senão a do mais forte.
A opinião dominante entre os incrédulos hoje é que o homem nada mais
é do que um animal transformado e aperfeiçoado. Assim, estes chamados
sábios, que falam apenas da dignidade do homem, do respeito pelos direitos
do homem, não têm medo de atribuir-lhe uma origem bestial e reduzi-lo a
um nível inferior ao dos brutos.
A raça humana sempre viu duas coisas no homem: a alma e o corpo, o
espírito e a matéria. A raça humana sempre viu uma diferença essencial
entre o homem e o animal, porque o homem é dotado de uma alma
inteligente e espiritual. Epicuro foi o primeiro a ensinar o materialismo. O
mundo pagão rejeitou horrorizado o seu sistema e não hesitou em descrever
os poucos discípulos de Epicuro com o expressivo epíteto de porcos. Será
possível que, depois de dezenove séculos de cristianismo, os materialistas
modernos ousem renová-lo?... Só as paixões e o desejo de libertar-se da
justiça de Deus podem levá-los a erros tão grosseiros.
46. P. -Que razões dão os positivistas para negar a
espiritualidade da alma?
Eles dizem
1) A alma não é vista.
2) Não se entende o que é uma substância espiritual.

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3) A alma sofre as vicissitudes do corpo, envelhece com ele. Quando o
cérebro está doente, não se pensa, ou se pensa mal; então é o cérebro que
pensa.
R. - 1) A alma não se vê, porque é espiritual; mas ela é conhecida por
suas ações. Manifesta a sua existência através de efeitos sensíveis, e esses
efeitos são tais que requerem uma causa espiritual. Os atos da inteligência e
da vontade não são efeitos espirituais e, conseqüentemente, não reivindicam
uma causa da mesma natureza? Isto é evidente.
2) Não se entende o que é um espírito.Mas então devemos
também negar a existência da matéria, porque ela também não é
compreendida. De resto, já respondemos a estas duas objeções quando
falamos de Deus.
3) A alma sofre as vicissitudes do corpo... Sem dúvida, existe
uma relação entre o corpo e a alma, e principalmente entre o cérebro e o
exercício da inteligência. O que essa relação prova? Prova que a alma utiliza
o corpo como instrumento, muitas vezes necessário na vida presente, para
exercer as suas funções; mas isso não prova que a alma não seja diferente do
corpo. Quando a alma é mal servida por órgãos doentes ou desgastados,
como poderá exercer toda a sua atividade e energia? Se a corda de um
instrumento está quebrada ou desafinada, o músico só obtém dela sons
fracos ou discordantes; mas isso não diminui de forma alguma a habilidade
do artista.
Muitas vezes uma grande alma está encerrada num corpo fraco e doente;
tantas vezes uma alma mesquinha anima um corpo robusto. Pascal expressa
os seus pensamentos mais sublimes no momento da sua morte e quantos
homens, enfraquecidos pela idade, não demonstraram que uma alma viril era
a rainha do corpo que animava?
Os positivistas acrescentam: Quando o cérebro está doente, o homem
não pensa; então é o cérebro que pensa.
Esta é uma objeção muito antiga e que foi refutada há séculos. É como se
dissesse que quando uma caneta se quebra, o aluno não consegue mais
escrever; então é a caneta que compõe os exercícios escolares. -A língua
fala; então é ela quem faz a palavra. Animais que têm uma linguagem como
a nossa,
Eles falam, por acaso? -O ar é necessário para viver, então o ar é vida? -O
relógio marca as horas, depois ele marca as horas? -Não há dúvida de que,
na vida atual, as operações do cérebro são

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condição para o exercício da memória e da inteligência, mas não são a sua
causa. É preciso um cérebro para pensar, como uma caneta para escrever,
mas o cérebro não pensa, nada mais é do que o instrumento da inteligência.
O cérebro é material e o pensamento é espiritual; portanto, o cérebro não
pode produzir pensamento; Caso contrário, o efeito seria maior que a causa.
Um positivista esforçou-se para provar que a alma era matéria como o
corpo. Um homem sábio respondeu: Quanta engenhosidade você gastou,
senhor, para provar que é uma fera!... Como este é um fato pessoal,
acreditamos em sua palavra...

2ª LIBERDADE DA ALMA
47. P. - Nossa alma é livre?
R. -Sim; Nossa alma é livre, tem o poder de determinar-se pela sua
livre escolha, de fazer ou omitir, de escolher o bem ou o mal. O livre arbítrio
é testado
1) Através do sentido íntimo e da consciência.
2) Pela crença universal de todos os povos.
3) Por causa das terríveis consequências que resultariam do erro oposto.
1) Sentido íntimo e consciência.Temos o sentido íntimo da nossa
liberdade, sinto que sou livre, como sinto que existo. Sinto em mim a
liberdade de seguir a voz do dever ou a bajulação das paixões. Esta é uma
verdade tão apodítica que basta entrar em si mesmo para dela se converter.
A nossa liberdade é tão grande que podemos ir contra os nossos gostos, os
nossos instintos, os nossos interesses, mesmo os mais queridos. O homem,
na plenitude do seu livre arbítrio, sacrificará a sua propriedade, a sua
liberdade, a sua família, a sua vida, tudo, pela verdade que não vê, pela
virtude que contradiz os seus apetites.
Você me ordena, com a faca no pescoço, que negue meu Deus, que
abjure minha fé... Sinto que nenhum poder me fará cometer tamanha vileza.
Encontrei um saco de moedas de ouro no caminho e pude pegá-lo, pois
ninguém me viu pegá-lo. Mas se a tentação me assalta, eu rapidamente a
rejeito e devolvo a sacola ao seu dono; Prefiro viver na minha pobreza do
que sair com um roubo aos olhos de Deus. Não é necessário multiplicar os
exemplos.

72
Ouço muito falar contra a liberdade do homem, e desprezo todos
esses sofismas, porque, por mais que um raciocinador tente me
provar que não sou livre, o sentimento interior, mais forte que todos
os raciocínios, os nega constantemente. .(JJ Rousseau).
2) A crença universal de todas as pessoas.Em todos os tempos e
em todos os países, os homens sentiram, falaram e agiram como seres livres.
Deliberam, fazem promessas e contratos, aprovam boas ações e condenam
as más. Tudo isso significa liberdade. Será que alguém delibera, talvez,
sobre aquilo que não depende de si mesmo, a morte, por exemplo? É
prometido ressuscitar os mortos? Nada se projeta, nada se promete, mas o
que se acredita pode-se fazer ou omitir.
Por que aprovar o bom e desaprovar o mau, se o homem não é livre nas
suas ações?
Todos os povos estabeleceram leis, de que adianta se o homem não for
livre? Nenhuma lei é ditada a uma máquina que executa mecanicamente
suas funções.
3) Consequências terríveis que resultariam do erro oposto.
Se o homem não é livre, não é dono de suas ações e, conseqüentemente, não
é responsável por elas, porque não se pode ser responsável exceto por
aqueles atos dos quais ele é realmente a causa, e se a vontade não é. é livre,
não é a causa dos atos que produz.
Se o homem não for responsável, não há dever, porque não se pode ser
obrigado a querer o bem, exceto quando se é livre para escolhê-lo.
Se o homem não for livre, se não for responsável pelas suas ações, não
há virtude nem vício, assim como não há bem nem mal para os brutos.
Portanto, o assassino não é mais culpado do que a sua vítima.
Não há consciência, pois não tem o direito de impor o bem e proibir o
mal se estes não existirem. O remorso é absurdo.
Não há justiça, porque os juízes não poderiam condenar um criminoso
que não seja responsável pelos seus actos. Estas consequências monstruosas,
tão condenadas pelo bom senso, são suficientes para mostrar a falsidade do
fatalismo.
48. P. -Quem nega a liberdade da alma?
R. -Os fatalistas, os positivistas e certos hereges.
Os antigos fatalistas atribuíam a uma divindade cega, chamada
destino(em latim fatum), todas as ações do homem. Ainda hoje o

73
Os maometanos dizem que foi escrito; Ou seja, tudo o que acontece deve
necessariamente acontecer.
Nos nossos dias, os positivistas caem no mesmo erro quando dizem que
a nossa vontade é determinada a agir pela influência irregular dos motivos
que a solicitam; e assim atribuem os atos do homem às influências do medo,
do clima, do caráter, do temperamento.
Certos hereges ousaram afirmar que, através do pecado de Adão, o
homem perdeu a faculdade de fazer o bem e foi levado pela concupiscência.
Aceitar estes erros equivale a dizer que não existe bem nem mal, que as
leis são absurdas, que o homem é uma simples máquina, etc.

3ª IMORTALIDADE DA ALMA
49. P. -A alma do homem é imortal?
R. -Sim; A alma do homem nunca deixará de existir. Tudo prova de uma
forma óbvia
1º A natureza da alma.
2º As aspirações e desejos do homem. 3º As
perfeições de Deus.
4º A crença de todos os povos.
5º As consequências desastrosas que resultariam da negação desta verdade
fundamental.
50. P. -Como provamos pela natureza da alma que ela é
imortal?
R. -Um ser naturalmente imortal quando é incorruptível e pode viver e
agir independentemente de outro. Ora, a alma é incorruptível, porque é
simples, indivisível; Pode viver e agir independentemente do corpo, porque
é espírito; portanto ele é imortal por natureza. um espírito não pode morrer.
Se a nossa alma perecesse, seria
1) Ou por conter em si princípios de corrupção;
2) Ou por ter outra razão de existir que não seja dar vida ao corpo;
3) Ou, finalmente, por Deus aniquilando-o. Bem, nenhuma destas três
hipóteses pode ser admitida.

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1º Nossa alma é incorruptível, ou seja, não contém em si nenhum
princípio de dissolução ou morte. O que é a morte? A morte é a
decomposição, a separação das partes de um ser.Assim, a alma não tem
partes, pois é simples e indivisível; então não pode decompor-se, dissolver-
se ou morrer.
2º A vida da alma não depende da vida do corpo, daí decorre que, em
virtude da sua própria natureza, a nossa alma sobrevive ao corpo. A vida dos
sentidos, única que os animais possuem, não pode ser exercida senão através
do corpo, razão pela qual a alma dos animais, uma vez morto o corpo, é
incapaz de exercer qualquer função; porque esta espécie de alma, que é uma
substância imperfeita, como substância, morre com o corpo.
Mas o mesmo não acontece com a alma do homem. Já demonstramos
que é espiritual, isto é, que tem uma vida, a vida da inteligência, que é
completamente independente dos nossos órgãos corporais, nas suas
operações e nos seus princípios. Esta vida não cessa, portanto, no momento
da morte, em virtude da sua natureza espiritual, a nossa alma sobrevive ao
corpo.
Mas o mesmo não acontece com a alma do homem. Já mostramos que é
espiritual, isto é, que tem uma vida, a vida da inteligência, que é
completamente independente dos nossos órgãos corporais, nas suas
operações e no seu princípio. Esta vida não cessa, portanto, no momento da
morte, em virtude da sua natureza espiritual, a nossa alma sobrevive ao
corpo.
Além disso, as aspirações da nossa alma à plena posse da verdade, à
felicidade da vida sem fim, cuja sombra só temos aqui, não poderiam existir
nela se não fosse por natureza imortal. Isto é o que a próxima pergunta
prova.
3º Nenhum ser pode aniquilar a alma, exceto Deus, mas não o fará, como
provaremos imediatamente. Portanto, a alma é imortal, não por favor ou
privilégio, mas porque possui, em sua natureza espiritual, os princípios de
uma vida imutável.
51. P. -Os desejos e aspirações da alma provam que ela é
imortal?
R. -Sim; O desejo natural e irresistível que temos de felicidade perfeita e
de vida sem fim prova a imortalidade da alma; porque este desejo não pode
ser satisfeito na vida presente e, portanto, deve ser satisfeito na vida futura;
Caso contrário, Deus, o autor da nossa natureza, teria zombado de nós,

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dando-nos aspirações e desejos que são sempre frustrados, nunca satisfeitos;
o que não pode ser.
Se o desejo de felicidade não fosse satisfeito, Deus não o teria colocado
em nós.
1º Todo homem que penetra no seu coração encontrará nele um imenso
desejo de felicidade. Este desejo não é um efeito da sua imaginação, pois
não foi ele quem o deu a ele, e não está em seu poder descartá-lo. Este
desejo não é algo individual, pois todos os homens, em todos os climas e sob
todas as condições, experimentaram-no e experimentam-no diariamente.
Esta aspiração brota, portanto, do mais profundo do nosso ser e com ele se
identifica. A felicidade é a meta designada por Deus à natureza humana.
Agora, é possível que Deus tenha colocado em nós um desejo tão ardente
que não podemos satisfazer? Ele nos criou para a felicidade e tornou
impossível alcançá-la? Obviamente não; que nesse caso Deus não seria o
verdadeiro Deus. Deus não engana o instinto de um inseto, e enganaria o
desejo que instilou em nossa alma? Portanto é necessário que, mais cedo ou
mais tarde, o homem alcance a felicidade perfeita, se ele, por sua própria
culpa, não se opuser a ela.
2º Mas esta felicidade perfeita não se encontra na terra, nada nesta vida
pode satisfazer os nossos desejos; Todos os bens finitos não podem
preencher o vazio do nosso coração: a ciência, a fortuna, a honra, as
satisfações de todos os tipos, caem nele como num abismo sem fundo, que
se alarga constantemente. Coisa estranha! Os animais, que não têm ideia de
uma felicidade superior aos bens sensíveis, estão contentes com a sua sorte.
E o homem, só o homem, procura em vão a felicidade, cuja necessidade
imperiosa carrega na alma. Ele nunca está satisfeito, porque aspira à
felicidade completa e infinita. Como ele não é feliz neste mundo, é
necessário que encontre a felicidade na vida futura.
Este raciocínio também se aplica às nossas aspirações intelectuais; o
homem tem sede de verdade e de ciência; quer saber tudo; Isso nunca poderá
satisfazer seu desejo de saber. Foi criado, portanto, para encontrar em Deus
toda verdade e todo conhecimento. Assim como o corpo tende para a terra, a
alma tende para Deus e para a imortalidade.
52. P. - Deus não poderia aniquilar a alma?
R. -Sim; absolutamente falando, Deus poderia aniquilá-lo em virtude de
sua Onipotência; mas ele não fará isso, porque ele não o criou

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imortal por naturezapara destruí-lo mais tarde. Além disso, seus
atributos divinos, sua sabedoria e sua justiça se opõem a isso.
A alma não existe necessariamente; Deus o criou livremente e, portanto,
poderia destruí-lo simplesmente suspendendo sua ação conservadora, que
nada mais é do que uma criação prolongada. Contudo, esta aniquilação
requer nada menos que a intervenção de toda onipotência divina. Aniquilar e
criar são dois atos que exigem igual poder, e somente Deus pode produzi-
los.
Ora, a ciência mostra que nada se destrói na natureza; nada se perde,
tudo se transforma. O corpo é evidentemente menos perfeito que a alma; e o
corpo não é aniquilado, mas continua a existir nos seus átomos. Por que,
então, a alma, a parte mais nobre de nós mesmos, seria aniquilada?... Temos
todo o direito de supor que a alma do homem não está em pior condição do
que um átomo de matéria.
Deus é livre para não criar um ser, isso é sem dúvida; mas uma vez
criado, ele deve a si mesmo tratá-lo de acordo com a natureza que o deu.
Deus deu à alma uma natureza espiritual e uma constituição imortal;
Portanto, Ele não anulará esta provisão providencial. Deus deve a Si mesmo
não se contradizer. Além disso, como veremos imediatamente, os atributos
de Deus exigem que a alma seja imortal.
53. P. - A sabedoria de Deus exige que a nossa alma seja
imortal?
R. -Sim; A sabedoria de Deus pede que a nossa alma seja imortal, pois
um legislador sábio deve impor uma sanção à sua lei, ou seja, deve
estabelecer recompensas para quem a observa e punições para quem a viola.
Esta sanção da lei divina deve necessariamente ser encontrada nesta vida ou
no futuro.
Mas não vemos na vida presente uma sanção eficaz da lei de Deus;
Portanto é necessário que ele exista na vida futura, sob pena de dizer que
Deus é um legislador sem sabedoria.
Deus criou o homem livre, mas não independente. Todos os seres criados
são governados por leis de acordo com a sua natureza. Seres inteligentes e
livres receberam de Deus a lei moral para direcioná-los ao seu objetivo final.
Esta lei, conhecida e promulgada pela consciência, resume-se em duas
palavras: fazer o bem e evitar o mal.

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Um legislador sábio, ao impor leis, deve tomar os meios necessários para
garantir que elas sejam observadas. Os únicos meios eficazes são as
recompensas e as punições são o que se chama de sanção de uma lei. Na
vida presente não vemos nenhuma sanção eficaz para a lei de Deus.
Onde eu estaria? No remorso ou na alegria da consciência? Mas os
ímpios afogam o remorso, e a alegria da consciência é muito pequena
comparada aos sofrimentos e lutas que a virtude exige.
Estaria ele no desprezo público, na estima dos homens? Ah, muitas vezes
vemos que são precisamente os grandes culpados que gozam da estima dos
homens, enquanto os justos são alvo de todo o ridículo.
Seria na justiça humana? Não; porque não atinge nem mesmo os
pensamentos e desejos, fontes do mal; não tem recompensas pela virtude;
ela não consegue descobrir todos os crimes; ela pode ser enganada pela
habilidade, comprada pelo dinheiro, intimidada pelo medo; e se, às vezes,
reivindica os direitos dos homens, não reivindica os direitos de Deus.
Fora disso, qual seria a recompensa neste mundo para quem morre no
próprio ato do sacrifício, como o soldado no campo de batalha; ou a punição
para o suicida?
Portanto, a sanção efetiva da lei de Deus só pode ser encontrada nas
punições ou recompensas que nos aguardam após a morte.
54. P. - A justiça de Deus exige também que a alma seja
imortal?
R. -Sim; A justiça pede que Deus dê a cada um segundo os seus méritos;
Que ele recompense os bons e puna os maus. Mas é nesta vida que os bons
são recompensados e os maus punidos? Não nesta vida, os bons muitas
vezes se encontram afligidos, perseguidos e oprimidos, enquanto os maus
prosperam e triunfam. Então a justiça de Deus pede que haja outra vida onde
os bons sejam recompensados e os maus punidos, caso contrário não haveria
justiça. Então você poderia dizer que Deus não existe, porque Deus não
existe se não for justo.
É necessário que haja justiça pela mesma razão que existe Deus. Se Deus
não é justo, ele não é infinitamente perfeito, ele não é Deus. Um Deus

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justamente deve recompensar cada um de acordo com suas obras. Seria
impossível para ele olhar da mesma forma para o bom e o mau, o parricida e
o filho obediente, o trabalhador honesto e o usurário pérfido.
E o que acontece com frequência? Acontece que o homem mau triunfa e
o homem bom sofre, que a virtude é ignorada ou desprezada e o vício
honrado. Existem tribunais para malfeitores comuns (e nem todos
conseguem!); mas não há nenhum para canalhas de primeira classe. Nero,
corrupto, cruel, perjúrio, sentado no trono do mundo. E nas masmorras de
Nero, de São Pedro, de São Paulo... E onde está a justiça de Deus?...
Por toda parte vemos tiranos lisonjeados, coroados, vivendo entre
delícias, enquanto os justos são perseguidos, torturados, martirizados... Onde
está a justiça de Deus?... Quantos despotismos, proscrições, perjúrios e
iniquidades sobre a terra! Mas o que aconteceu com a justiça de Deus?
Garanto-vos que ela não abdicou, que conta todas as gotas de sangue e todas
as lágrimas que os ímpios fazem derramar tão certamente como Deus é
Deus, Ele recompensará cada um segundo as suas obras.
E, como tudo isso certamente não se faz nesta vida, o será em outra;
Portanto é necessário que a alma sobreviva ao corpo, é necessário que seja
imortal.
Assim, Deus permite os sofrimentos dos justos porque existe outra vida
na qual restaurar o equilíbrio. As dores desta vida são provas que santificam,
são batalhas que levam à glória, são avisos do céu para que não saiamos do
caminho da vida. Mas estes sofrimentos não são nada comparados com a
felicidade eterna que Deus reservou para os justos.
-Você acredita no inferno? -perguntaram os juízes revolucionários de
Lyon a um padre.
-E como eu poderia duvidar, vendo o que está acontecendo! Ah! Se eu
fosse incrédulo, hoje seria crente...
É o raciocínio do próprio JJ Rousseau: “Se eu não tivesse mais provas da
imortalidade da alma do que o triunfo dos ímpios e a opressão dos justos,
esta injustiça flagrante me obrigaria a dizer: “Tudo não termina com vida,
tudo volta à ordem com a morte".
55. P.- Todos os povos da terra sempre admitiram a
imortalidade da alma?
R. -Sim; É um facto atestado pela história antiga e moderna que os povos
do mundo inteiro admitiram a imortalidade do

79
ma, como comprova o culto aos mortos, o respeito religioso dos homens
pelas cinzas dos seus pais e pelos monumentos que ergueram sobre os seus
túmulos.
Esta crença universal e constante só pode provir da razão, que admite a
necessidade da vida futura, ou da revelação primitiva, feita por Deus aos
nossos primeiros pais e transmitida por eles aos seus descendentes. Ora, o
testemunho, seja da razão ou da revelação, só pode ser a expressão da
verdade; Portanto, a crença do povo é uma nova prova da imortalidade da
alma.
Todos os povos acreditaram na existência de um lugar de deleite, onde
os bons eram recompensados, e de um lugar de tormento, onde os maus
eram punidos. Quem não conhece os Campos Elísios e o Tártaro negro dos
gregos e romanos?... Basta ler a história do povo.
Como explicar esta fé universal na vida futura? Esta fé não é fruto da
experiência, porque toda a vida parece extinguir-se com a morte, e os mortos
não regressam para nos assegurar a realidade da vida após a morte.
Não é uma invenção de reis ou de poderosos, porque muitos daqueles
que os antigos acreditavam condenados a castigos futuros eram
precisamente reis como Sísifo, Tântalo... Também não é o ensinamento de
uma seita religiosa, porque a crença numa vida após a morte é a base de
todas as religiões.
Não pode ser atribuído às paixões humanas, porque é o seu castigo; nem
à ignorância, porque também existe nos povos civilizados; e, de acordo com
uma lei da história, um povo é tanto maior quanto mais firme e pura for a
sua fé na imortalidade.
Este fato só pode reconhecer duas causas
1º A revelação primitiva, infalível como o próprio Deus.
2º O instinto irresistível da razão humana, que em toda parte e sempre,
pelo simples bom senso, é obrigada a reconhecer as mesmas verdades
fundamentais. Segundo a frase de Cícero, aquilo em que concorda a
persuasão natural de todos os homens deve necessariamente ser verdadeiro.
É um axioma do bom senso contra o qual alguns materialistas modernos
protestam em vão.
56. P. -O que devemos pensar daqueles que dizem que uma
vez mortos está tudo acabado?

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R. -Aqueles que se atrevem a dizer que tudo termina com a morte são
tolos que têm o orgulho louco de contradizer toda a raça humana e violar a
razão e a consciência.
Eles são criminosos e não desejam o destino do bruto, exceto poder viver
como ele, sem medo e sem remorso.
São infelizes porque, longe de conseguirem o que desejam, não poderão
escapar da justiça divina, e aprenderão às suas próprias custas como é
terrível cair nas mãos de um Deus vingador.
1º Se fosse verdade que com a morte tudo acaba, teríamos que dizer: a)
Que Deus zombou de nós dando-nos o desejo irresistível de felicidade e de
imortalidade. b) Que todos os povos do mundo viveram no erro até agora,
enquanto um punhado de libertinos são os únicos que têm razão. c) Que a
morte do assassino seria igual à da sua vítima; que os justos que praticam a
virtude e os ímpios que se entregam ao crime serão tratados da mesma
maneira, etc. Isso não é inaceitável? Isso não significa tornar o mundo um
covil de ladrões e feras ferozes? E, no entanto, tal é a loucura dos
materialistas.
2º Aqueles que negam a imortalidade da alma são os ateus, os
materialistas, os positivistas, os livres pensadores, todos aqueles que têm
interesse em não se acreditarem superiores às bestas. Este dogma tem os
mesmos adversários que o da existência de Deus: homens que, para silenciar
os seus remorsos ou para evitar serem forçados a lutar contra as suas
paixões, gostariam de se convencer de que não há nada a temer, nada a
esperar depois. essa vida. Mas quando o tolo fecha os olhos e declara que o
sol não existe, ele se engana e não impede que o sol brilhe.
3º Aqueles que negam a imortalidade da alma são semelhantes ao filho
pródigo, que desejou, sem obtê-lo, a comida suja da manada de porcos que
tinha aos seus cuidados. Esses homens reivindicam em vão o nada do bruto
que estão interessados em obter; ninguém vai dar a você; Eles não serão
aniquilados e o inferno os espera. Como são lamentáveis!...
57. P. -Quais são as consequências práticas da imortalidade
da alma?
R. - Assim como a árvore é conhecida pelos seus frutos, os verdadeiros
dogmas são conhecidos pelos bons frutos que produzem. A crença na
imortalidade da alma produz excelentes frutos é para o

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homem de consolação na desgraça, motivo de virtude, fonte dos maiores
heroísmos.
Pelo contrário, a negação da imortalidade da alma produz frutos de
morte. Se a alma deve morrer, não há virtude, nem dever, nem religião, nem
sociedade possível. Tudo desmorona. Julgue a árvore, então, pelos frutos de
morte que ela produz.
1º O dogma da imortalidade da alma sustenta, encoraja e consola o
homem virtuoso, pois o faz esperar uma recompensa e uma felicidade que
não terá fim.
Se suprimirmos a vida após a morte, a morte não terá consolo nem
esperança. O que um incrédulo pode dizer ao lado de um caixão? São
amigos que se separam com a certeza de nunca mais se verem!...
Veja aquela mãe, louca de dor, ao lado de um berço, ferida de morte; os
ímpios só podem dizer: Você tem que ser razoável; Isso acontece com
outros também, nós também morreremos. Por outro lado, uma Irmã da
Caridade dirá àquela pobre mãe Você encontrará seu filhinho no céu; Ele
está com os anjos e um dia você irá se juntar a ele. Essa doutrina
reconfortante vem de Deus. Vocês que choram a morte de seus entes
queridos, consolem-se; Você os encontrará em uma vida melhor. Não, nem
tudo acaba quando a laje fria do túmulo se fecha.
A crença na imortalidade da alma é a única que pode formar o homem,
levá-lo à prática de grandes virtudes, despertar neles nobres abnegações por
Deus, pela sociedade, pela pátria, pois esta crença nos faz esperar alegrias
que são maiores quanto maiores forem os sacrifícios feitos por nós. Faz-nos
desprezar tudo o que é transitório para valorizar apenas o que é eterno.
2º Dizer, ao contrário, que quando alguém morre, tudo morre com ele, é
suprimir toda virtude, todo dever, toda religião. E verdadeiramente, se não
há nada a esperar, nada a temer depois desta vida, que interesse podemos ter
em praticar o bem, o dever, a religião, muitas vezes tão dolorosa? Que digo?
O bem e o mal, a virtude e o vício nada mais são do que preocupações vãs e
mentiras odiosas.
A virtude custa grandes sacrifícios, enquanto o vício agrada a nossa
natureza decaída. Ora, se a nossa existência se limita a esta terra, se a virtude
não produz frutos de felicidade eterna, se o vício não traz dores
inconsoláveis para a vida futura, é tolice sofrer tanto para praticar a virtude e
preservar-se do vício. Então virtude, família, religião,

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sociedade. Se fosse verdade que com a morte tudo morre, o mundo seria
inundado por um dilúvio de crimes. O roubo, o homicídio, as paixões mais
vergonhosas não teriam barreiras porque muitas vezes é fácil escapar dos
gendarmes e das prisões.
“Uma sociedade que não acredita em Deus, nem na alma, nem
na vida futura, não respeita a justiça nem a moralidade. Na verdade,
se tudo se limita à vida presente, por que a autoridade, a fortuna e os
prazeres deveriam ser permitidos aos poderosos? Por que a
submissão, a pobreza, a miséria e o sofrimento deveriam ser
reservados às classes mais baixas?... Se a vida futura é um sonho, o
homem tem todos os motivos para buscar sua alegria, sua felicidade
na vida presente. Se não os encontrar, tem todos os motivos para
conquistá-los com força, armas e revolução. E se ele falhar, ninguém
poderá culpá-lo por se abandonar ao desespero e buscar o suicídio
como único remédio possível que lhe resta.
“Foi visto que a ausência de qualquer crença na vida futura é o caminho
fechado para toda virtude, todo heroísmo, toda abnegação. É o caminho
aberto a todas as paixões, a todos os crimes, a todas as revoluções. O
materialismo, propagado pela Maçonaria, é a causa de todos os infortúnios,
das ruínas e dos crimes que desolam, na atualidade, a nossa bela França”
(Cauly).
Narração.-Um trabalhador que ganhava a vida trabalhando estava feliz
com sua sorte. Sua esposa tinha um amor excessivo pelo dinheiro e até pelo
dinheiro dos outros. Uma noite, esse homem voltou para casa e disse
misteriosamente para sua esposa - sabe? Um cara veio nos ver na oficina e
zombou de nós porque contamos a ele sobre a vida após a morte. Ele nos
contou que esta é uma história inventada pelos padres. Engraçado!
VERDADEIRO? E ainda assim dizem que este homem é um homem sábio;
e vi um quarto de sua casa de campo cheio de livros... -Mas - respondeu a
esposa -, se assim é, somos muito tolos em sofrer tanto... quem nos impede
de roubar e matar para enriquecer ? -E a prisão e a guilhotina? -Como você é
sincero!-insistiu a esposa- se nos descobrirem vão nos matar, mas tudo
acabará e não teremos mais que sofrer. Mas se não nos descobrirem...
seremos ricos para o resto da vida.
A mulher estava certa. Na sua maneira de pensar, era perfeitamente
lógico. Sem a imortalidade da alma não há barreiras ao crime (Mullois).

83
58. P. -A imortalidade da alma prova a eternidade do céu e a
eternidade do inferno?
R. -Sim; As mesmas razões que provam que a alma é imortal também
provam que ela será eternamente feliz no céu ou eternamente infeliz no
inferno. A vida presente, de fato, é o tempo da prova, e a vida futura é a
meta, o prazo onde o homem inteligente e livre deve chegar.
Após a morte, não haverá tempo para mérito ou demérito, nem haverá
espaço para arrependimento. Conseqüentemente, o bom sempre
permanecerá bom e o mau sempre permanecerá mau; É certo, então, que a
recompensa do primeiro, bem como a punição do segundo, seja eterna.
Um ser livre e responsável deverá ser chamado, mais cedo ou mais tarde,
a prestar contas dos seus atos. Portanto, o seu destino está dividido em duas
partes: a primeira é a da prova, da tentação, da luta; a segunda é a da
recompensa ou punição.
Para o homem, o tempo da provação termina com a morte. Tal é o
sentimento de todos os povos e da própria razão. Porque se a morte não
atinge a alma, destrói, no entanto, o composto humano que constitui o
homem. Mas como é precisamente ao homem que se dirige a lei moral e a
quem se impõe o dever, cabe ao composto humano atingir ou não o seu fim
último.
O céu é eterno.-Deus necessariamente ama o justo e é amado por ele.
Por que então esse amor deveria ser morto, já que o justo sempre
permanecerá justo? Por outro lado, a felicidade da vida futura deve ser
perfeita, e uma felicidade que não fosse eterna não seria perfeita. Portanto, a
recompensa dos justos deve ser eterna.
O inferno é eterno.-Considerações semelhantes provam que a punição
dos culpados deve ser eterna. A alma entra na vida futura no estado e com os
efeitos que teve no momento da morte; e este estado e afetos são
irrevogáveis, porque as mudanças não podem pertencer senão à vida
presente, que é uma vida de provação, após a qual todo ser é fixado para
sempre. O culpado, portanto, persevera no mal permanece eternamente
culpado, e por isso não deixa de merecer punição. A árvore permanece onde
caiu, à direita se caiu à direita, à esquerda se caiu à esquerda.
59. P. -Existem outras provas da eternidade do inferno?

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R. -Sim, a razão nos fornece diversas outras provas decisivas da
eternidadedo inferno.
1º A crença de todos os povos o afirma.
2º A sabedoria de Deus exige isso como sanção de suas leis.
3º A justiça divina exige punir o homem que morre culpado de delito
grave.
4. Finalmente, a soberania de Deus exige que ele tenha a última palavra
na luta sacrílega do homem contra o seu Criador e o seu Senhor soberano.
1º A crença de todos os povos o afirma. -Em todos os tempos, desde o
início do mundo até os dias atuais, as pessoas acreditaram na existência de
um inferno eterno. Notamos esta crença quando falamos da imortalidade da
alma. Coisa incrível!
O dogma do inferno eterno, que revolta contra ele todas as paixões e
causa horror à natureza humana, é o único que os homens não discutiram.
Consulte os poetas, os filósofos, os escritores da antiguidade, e todos eles,
sem exceção, falam do inferno eterno.
Hesíodo e Homero pintam-no para os habitantes da Grécia; Virgílio e
Ovídio descrevem-no na Roma idólatra. Quem não se lembra das torturas de
Prometeu, Tântalo, Sísifo, Ixion e das Danaides? Sócrates, citado por Platão,
fala de almas incuráveis que são lançadas no negro Tártaro, de onde nunca
sairão.
Um pagão, grande desprezador dos deuses, o ímpio Lucrécio, tentou
destruir esta crença, porque, segundo ele, não há descanso e é impossível
dormir em paz se formos forçados a temer a tortura eterna depois desta vida.
Seus esforços foram inúteis. A crença no inferno eterno sempre foi o dogma
fundamental da religião de todos os povos.
Celso, filósofo pagão, inimigo ferrenho do cristianismo, confirma isto no
segundo século da Igreja. Os cristãos estão certos, diz ele, ao pensar que os
ímpios sofrerão tortura eterna. Além disso, este sentimento é comum a todos
os povos da terra.
Leia a história de todas as raças, Egípcios, Caldeus, Persas, Indianos,
Chineses, Japoneses, Gauleses, Alemães, etc., e verá que todos eles
acreditavam num inferno eterno, como na existência de Deus.

85
Quando Colombo descobriu as Índias Ocidentais, descobriu que os
habitantes do Novo Mundo tinham a mesma crença. Um velho patrão o
ameaça com o inferno, dizendo-lhe para saber que quando você sai da vida
existem dois caminhos, um brilhando de luz e outro imerso em trevas; O
homem bom fica com o primeiro, enquanto o ímpio começa a caminhar pelo
caminho escuro em direção ao lugar da tortura eterna.
Qual é a origem desta crença de todos os povos? Não podem ser os
sentidos, nem as preocupações, nem as paixões, porque um castigo eterno é
uma dor horrível que aterroriza o espírito e o desola, tortura o coração e o
despedaça. Esta crença só pode ter origem na razão, que reconhece a
necessidade de um inferno eterno para prevenir o mal ou puni-lo; Ou este
dogma remonta ao próprio Deus e faz parte da revelação primitiva, que é a
base da religião e da moralidade da raça humana. Mas, em ambos os casos,
esta crença só pode ser a expressão da verdade.
2º a sabedoria de Deus pede a eternidade das penas como sanção
preventiva.- Todo legislador sábio deve dar às suas leis uma sanção eficaz; e
a única sanção eficaz para as leis de Deus é a eternidade das penas. Porque,
para que tenha o efeito desejado, é necessário que toda sanção seja capaz de
neutralizar as seduções do vício e determinar o homem a observar a lei
divina, mesmo com perda da fortuna e da vida. Agora, a única esperança de
um dia escapar à justiça de Deus tornaria ineficazes todas as sanções
temporárias. Tudo o que tem fim não é nada para o homem, que se sente
imortal. O que constitui a eficácia da sanção não é o inferno, é a sua
eternidade. Isto é comprovado pelo fato de que os ímpios aceitam sem
dificuldade que haja castigo depois desta vida, desde que não seja eterno.
Um inferno que não é eterno é apenas um purgatório qualquer. E a ideia
do purgatório restringe os ímpios? Esse pensamento dificilmente incomoda
os justos, porque o purgatório tem fim. Um certo sujeito concordou em
passar dois milhões de anos no purgatório para desfrutar do prazer da
vingança. É, portanto, a eternidade que constitui a eficácia da sanção. Sem a
eternidade dos castigos, Deus nada mais seria do que um legislador
imprudente, incapaz de fazer cumprir as suas leis ou de punir aqueles que as
violam.

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3º A justiça de Deus exige a eternidade do inferno, como pena vingativa
para punir o mal.- É um princípio aceito por todos, que deve haver uma
proporção entre culpa e castigo, entre crime e castigo... Agora, se for se não
fosse a eternidade do inferno, não haveria proporção entre culpa e castigo...
E, na verdade, a gravidade da culpa é deduzida da dignidade da pessoa
ofendida. O pecado, ofendendo uma Majestade infinita, tem portanto uma
malícia infinita, tornando-o merecedor de punição infinita.
Mas como o homem é limitado e finito em seu ser, ele não pode ser
suscetível a uma dor de intensidade infinita; mas pode ser punido com pena
de duração infinita, isto é, eterna. É certo, portanto, que ele seja condenado
ao fogo eterno, para que a punição seja proporcional à culpa.
4º A soberania de Deus pede a eternidade dos castigos.- Se o inferno
tivesse um fim, cada um de nós poderia falar com Deus desta forma - “Sei
que Tu podes me punir, mas também sei que, mais cedo ou mais tarde, Você
será forçado a me perdoar ou me aniquilar. Eu rio, então, de você e de suas
leis; Eu também rio do inferno, ao qual vocês vão me condenar, porque sei
que um dia sairei de lá.” É concebível que uma criatura possa corretamente
falar desta forma sobre o seu Criador? Deus é o Senhor do homem e a sua
soberania não pode ser desprezada impunemente. O homem, pecando
mortalmente, declara guerra a Deus. Quem será o vencedor? Deve
necessariamente ser Deus quem pronuncia a última palavra através da
eternidade dos castigos. Portanto, a soberania de Deus exige que o inferno
seja eterno.
Conclusão. _Ou existe o inferno eterno ou Deus não existe; porque
Deus não é Deus se não for Senhor sábio, justo e soberano. Mas assim como
é impossível, a menos que alguém seja louco, negar a existência de Deus,
também seria necessário ser louco para negar a existência de um inferno
eterno. A existência do inferno é um dogma da razão e um artigo de fé.
Com o dogma do inferno acontece o que acontece com o dogma da
existência de Deus, o ímpio pode negá-lo com palavras, seu coração pode
desejar que não exista, mas sua razão o obriga a admiti-lo. A mesma raiva
com que o incrédulo nega este dogma prova claramente que ninguém pode
arrancá-lo do seu espírito: ninguém luta contra o que não existe; ninguém se
enfurece contra quimeras.

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É tão difícil não acreditar no inferno, que o próprio Voltaire não poderia
isentar-se desta crença. A um de seus discípulos, que se vangloriava de ter
encontrado um argumento contra a eternidade dos castigos, ele respondeu:
“Parabenizo-o pela sua sorte; estou muito longe disso”. Voltaire tremia em
seu leito de morte, agitado pela ideia do inferno, e a morte daquele homem
ímpio o fez dizer “O inferno existe”.
JJ Rousseau, um sofista mil vezes mais perigoso que Voltaire, não ousou
contradizer a tradição universal, e contentou-se em virar a cabeça para não
ver o abismo. _Não me pergunte se os tormentos dos ímpios são eternos, eu
não sabe. Ele não teve a audácia de negar. Há tanta autoridade e força nessas
tradições primitivas que Platão conheceu, que Homero e Virgílio cantaram e
que são encontradas em todos os povos do Velho e do Novo Mundo; É tão
impossível derrubar um dogma aceite em toda a parte, apesar dos sentidos,
apesar das paixões unidas durante tantos séculos para o combater!
60. P. _Qual o valor das suposições elaboradas pelos
incrédulos para suprimir a eternidade do inferno?
A. _Contra a eternidade do inferno, apenas as três hipóteses seguintes
podem ser estabelecidas
1º, ou o pecador repara as suas faltas e é reabilitado;
2º, ou Deus o perdoa sem arrependimento;
3º, ou Deus o aniquila.
Estas suposições são contrárias aos vários atributos de Deus e são
condenadas pela razão sã.
1º. Para explicar o que acontecerá além do túmulo, certos incrédulos
modernos propõem teorias absurdas. Juan Reynaud (Terra e Céu), Luis
Figuier (A Manhã da Morte) e Flammarion (Pluralidade dos Mundos
Habitados) renovam o velho erro da metempsicose e supõem que as almas
migram para as estrelas para se purificarem e se aperfeiçoarem cada vez
mais. .
Todas estas teorias nada mais são do que afirmações gratuitas, ilusões e
quimeras que afastam a dificuldade sem resolvê-la.
Sim. É possível ser reabilitado depois desta vida, não há sanção da lei divina
na terra! Por que se preocupar nesta vida?
Nós nos tornaremos as estrelas! E se, depois de várias peregrinações
sucessivas, o homem continuar perverso, estará condenado a vagar
eternamente de estrela em estrela, de planeta em planeta?

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planeta?...Mas, neste caso, o homem nunca alcançaria seu objetivo, o que
contraria o bom senso.
Além disso, se após a morte houvesse um segundo período experimental,
nada impediria que houvesse um terceiro, um quarto e assim por diante. Para
onde iríamos? Chegaríamos a este ponto onde os ímpios poderiam pisotear
indefinidamente as leis de Deus e zombar da sua justiça... Isto não pode ser a
morte, é o fim da prova, a eternidade será o seu fim.
2º. Deus pode perdoar o pensador na vida após a morte? Não; isto é
impossível. O perdão não é imposto; É concedido e não é concedido exceto
ao arrependimento. Ora, os réprobos não podem arrepender-se, porque a
morte impôs a sua vontade ao mal, para
_toda a eternidade. Ele não está mais livre. O inferno é para ele um centro de
atração irresistível, e é tão impossível para o infeliz subir a Deus por um
bom movimento, quanto é para a pedra subir sozinha ao ar. Os ponteiros de
um relógio cujo movimento está parado mostrarão sempre a mesma hora;
Uma alma detida pela morte no mal continuará a marcar a mesma coisa por
toda a eternidade.
Além disso, o perdão concedido por Deus na vida futura destruiria toda a
eficácia da sanção da lei divina. O que poderia deter um homem no
momento da tentação, se ele tivesse alguma esperança de obter o perdão na
eternidade? Quantos pervertidos se entregariam de bom grado à prática do
mal, se o inferno não fosse eterno! e se o medo do castigo eterno não sujeita
todos ao caminho do dever; a ideia de punições temporárias não teria
influência sobre eles.
3ºCPode Deus aniquilar os culpados? Não; Deus não pode aniquilá-lo
sem ir contra os seus atributos divinos, e isto por várias razões.
1) A aniquilaçãoOpõe-se a todo o plano da criação: Deus criou o
homem por amor e o criou livre e imortal; Mas ele quer que o homem o
glorifique por toda a eternidade. Deus não pode, por mais que o homem
tenha abusado da sua liberdade, mudar o seu plano divino, porque então ele
se tornaria escravo da malícia do pecador. Deus quer ser glorificado pela sua
criatura e não poderia ser de outra forma. O homem é livre para escolher a
sua felicidade ou o seu infortúnio; mas, voluntariamente ou por mal, a
criatura deve prestar homenagem à sabedoria de Deus, que é o seu Senhor,
quer celebrando a sua glória no céu, quer proclamando a sua justiça no
inferno.

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2) Se Deus aniquilasse os culpados, sua lei careceria de sanção efetiva.
Para o pecador, a aniquilação, longe de ser um mal, seria um bem. É
precisamente isso que ele pede: o seu desejo é desfrutar de todos os prazeres
sensíveis e depois morrer completamente, para escapar de Deus e da sua
justiça; Ele chama essa morte completa de descanso eterno. A aniquilação,
portanto, não seria uma sanção eficaz da lei moral, uma vez que Deus
pareceria impotente e seria derrotado pelo homem rebelde.
3) Além disso, o número e a gravidade das faltas exigem que haja graus
de punição, e seria impossível para Deus aplicar este princípio se não tivesse
outra arma além da aniquilação para punir o culpado. A aniquilação não tem
graus, pesa de maneira uniforme, pesa indiscriminadamente sobre todos
aqueles a quem pune, confundindo no mesmo demérito todas as vidas
criminosas. Esta monstruosa igualdade destruiria a justiça. Portanto, depois
desta vida, o pecador não poderá obter perdão nem ser aniquilado; Ele deve
sofrer o tormento eterno.
Objeções _ 1ª Não é injusto punir um pecado de um momento com uma
eternidade de tortura?
R. _ Não; porque a pena de um crime não se mede pela duração do ato
criminoso, mas pela sua malícia. Quanto tempo leva para matar um homem?
Apenas um momento é suficiente; e ainda assim a justiça humana condena o
assassino à morte; punição que é uma punição eterna, por assim dizer, já que
o culpado é eliminado para sempre da sociedade.
Quanto tempo leva para iniciar um incêndio, um instante. Pois bem, o
incendiário é condenado à prisão por tempo indeterminado, ou seja,
separado para sempre dos seus concidadãos e da sua família.
A duração da pena não se mede, portanto, pela duração da culpa, mas
pela sua gravidade.
Devemos também considerar que o crime de um momento tornou-se um
crime eterno. A ação do pecado é temporária, fugidia; mas seus efeitos
duram, e a vontade perversa do pecador é eterna; porque é preciso ter
presente que só é condenado quem morre no pecado, com uma afeição
persistente pelo mal. Mas como depois da morte a vontade não muda,
permanecendo eternamente má, é compreensível que deva ser punida
eternamente. O homem que arranca os olhos fica cego para sempre.

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2º Pode um Deus infinitamente bom condenar o homem à tortura eterna?
R. -Sim; porque se Deus é infinitamente bom, ele também é
infinitamente justo, e sua justiça exige punição infinita por um pecado de
maldade infinita.
Pergunto por sua vez: seria bom para um pai não impedir que um de seus
filhos prejudicasse os outros irmãos? _Não, seria cruel e injusto. - Seria bom
se você perdoasse seus filhos maus que ousam insultar e machucar seus
irmãos? -Não, seria um ato de fraqueza imperdoável_. Que remédio um bom
pai tem para evitar que filhos maus se voltem para o crime? _Ele não tem
escolha a não ser trancar aquelas crianças más em uma prisão e mantê-las lá
até que se convertam_. Quanto tempo deve durar a separação dos maus da
companhia dos bons? _Até que os bandidos sejam corrigidos_. E se eles
sempre permanecerem ruins?
_A separação deve ser para sempre... Agora, os maus continuarão sempre
maus, porque para eles já passou o tempo do arrependimento; Eles
amaldiçoam a Deus e desejam aniquilá-Lo. Quando, então, eles serão
libertados da prisão? _Nunca! _Sim, a bondade de Deus nunca exige a
eternidade do inferno_. (Extraído de Gridel).
Por outro lado, quando um homem comete um pecado mortal,
Ele não consentiu livremente com o castigo eterno? Não lhe consentiu, na
hora da morte, não querendo arrepender-se das suas faltas?... Não quis saber
nada de Deus na terra; Não é justo que Deus não queira nada com ele na
eternidade?...
Finalmente, o inferno eterno é o maior benefício da bondade divina. Às
vezes imaginamos que Deus criou o inferno para nos forçar a merecer o céu.
Deus, infinitamente bom, quer proporcionar ao homem a maior felicidade
possível pelos meios mais eficazes. A maior felicidade do homem é o céu
adquirido gratuitamente pelos seus méritos. Bem, o meio mais eficaz que
Deus pode usar para forçar o homem a fazer bom uso da sua liberdade é o
medo da infelicidade eterna. O medo do inferno povoa o céu. “O inferno”,
disse Dante, “é obra do amor eterno”.
3ºDeus é bom demais para me condenar.
R. _Você tem razão, mil vezes razão, Deus é bom demais para nos
condenar. Por isso mesmo não é Deus quem vos condena, são vós mesmos
que vos condenais.

91
A prova de que Deus não te condena é que ele fez tudo pela sua
salvação; É que, apesar dos seus crimes, Ele está pronto a nos conceder um
perdão generoso no dia em que você apresentar um coração contrito e
arrependido.
O que te condena é a tua obstinação no mal, a tua teimosia em
desrespeitar os mandamentos divinos; Portanto, são vocês mesmos que se
condenam por causa de sua própria culpa.
Deus nos deixa completamente livres na escolha da nossa eternidade. Se
insistirmos em escolher o inferno, pior para nós. Na hora da morte; Deus dá
a cada um o que cada um escolheu livremente durante sua vida ou no céu ou
no inferno. Deus não pode nos salvar contra a nossa vontade. Ele nos criou
livres e não quer destruir a nossa liberdade.
Apesar do inferno eterno, a bondade de Deus permanece intacta, assim
como a sua justiça; e o dogma da eternidade dos castigos é a última palavra
da razão e da fé; sobre Deus, sobre o homem, sobre a moralidade e sobre a
religião é a sanção necessária da nossa vida atual.
4ºNinguém voltou do inferno para nos testemunhar sobre sua
existência.
R -Não, ninguém voltou do inferno, e se você entrar nele também não
retornará. Se você pudesse voltar, mesmo que apenas uma vez, eu lhe diria:
Vá e veja se isso existe. Mas precisamente porque uma vez dentro não se
pode sair, é uma loucura expor-se a um infortúnio horrível, sem fim e sem
remédio.
Ninguém voltou do infernoE como voltar, se o inferno é eterno?
Você não percebe que está apelando para testemunhas que nunca poderão
vir e lhe dar uma resposta? Eles não estão no inferno para testemunhar sua
existência, estão lá como forçados, condenados a galeras perpétuas para
expiar seus crimes. Se você entrar no inferno, nunca sairá dele.
E, além disso, é necessário esse testemunho do inferno? Acabamos de
ouvir o depoimento de toda a raça humana; Ouvimos as mais justas
conclusões da razão... Não é isso suficiente para provar a existência do
inferno? Quantas verdades conhecemos apenas através do testemunho dos
nossos semelhantes, e quantas outras aprendemos apenas com a luz da
razão! Você diz que dois e dois são quatro... dez vezes dez são cem... Como
você sabe? _Um raciocínio simples, você me responde, é suficiente para nos
dar essas convicções. _Muito bem!. Razão, então, e você chegará facilmente
a

92
convençam-se de que Deus é justo e que a sua justiça exige que os ímpios
sejam punidos... O castigo dos ímpios é o inferno, e o inferno eterno.
Nós, cristãos, temos outra resposta a dar: o Filho de Deus em pessoa veio
do outro mundo para nos certificar da exigência de um inferno eterno; Você
pode ler seus testemunhos infalíveis nos sagrados Evangelhos...
Além disso, nosso Senhor Jesus Cristo é a prova viva da eternidade do
inferno. Por que ele se tornou um homem? Por que ele morreu numa cruz?
Um Deus deve proceder de motivos dignos de sua infinita grandeza. Se o
pecado não merecesse um castigo infinito, pelo menos em duração, isto é,
eterno, os sofrimentos de um Deus não seriam necessários.
Seria necessário, talvez, que o Filho de Deus encarnasse e morresse
numa cruz para salvar o homem de alguns milhões de anos de purgatório?
Não, a propósito.
Se a malícia do pecado explica o Calvário, o Calvário, por sua vez,
explica o inferno. O Calvário nos mostra uma Redenção infinita; o inferno
deve nos mostrar uma expiação sem limites. O Calvário é a expiação de um
Deus; o inferno é a expiação do homem, ambos infinitos; um em dignidade,
o outro em duração. Assim, tudo se coordena na religião, o dogma da
eternidade do castigo se explica perfeitamente pelo dogma da Encarnação do
Filho de Deus e da Redenção do mundo.
Em resumoo testemunho de todo o género humano e das suas tradições
mais antigas; o testemunho da razão e, especialmente, o testemunho infalível
do próprio Deus, unem-se para afirmar, com absoluta certeza, que existe um
inferno eterno para o castigo dos pecadores impenitentes. Se não quisermos
cair nele, temos que evitar o caminho que leva até ele, na certeza de que,
uma vez dentro do inferno, nunca mais sairemos.
Narração. _Uma enfermeira religiosa estava ao lado da cama onde,
mortalmente doente, jazia um velho capitão que não queria se converter. O
doente pede água; A freira, no zelo pela salvação daquela alma, diz-lhe ao
servir-lhe a taça: “Bebe, capitão, bebe até ficar satisfeito, porque vais para o
inferno, e por toda a eternidade pedirás uma gota. de água sem conseguir...
_Já te disse mil vezes que inferno não existe.

93
_Sim, você me disse, capitão; mas ele provou isso?...
Negar o inferno não é destruí-lo.
_Você provou isso? Ele provou isso?...- repetiu o doente em voz
baixa, virando-se na cama. Vamos, não... não provei... E se fosse verdade?
Depois de alguns momentos, acrescentou: “Deus é bom demais, sim,
bom demais para jogar um homem no inferno”.
_Deus não pune porque é bom, mas porque é justo O simples
bom senso nos diz que Deus não pode tratar aqueles que o servem
da mesma forma que aqueles que violam suas santas leis, seus
servos fiéis como seus servos negligentes.
_Por outro lado _acrescenta a Irmã com muita calma_ logo você verá,
capitão, se o inferno existe...
A freira permanece em silêncio e continua sua oração. Depois de
algumas horas de reflexão, o doente pede um padre. Ele disse a si mesmo,
falando consigo mesmo: Você tem que decidir qual é a parte mais segura;
Não é aconselhável ir vê-lo; Quando você entra, você não sai.
61. P. _Qual é o destino do homem?
R. _O homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus na terra, e
então desfrutá-Lo na eternidade.
É chamado de destino de um ser, o fim que ele deve procurar obter e
para o qual Deus lhe deu existência.
O homem tem um duplo fim, o próximo fim, que deve cumprir na terra;
e o fim último, isto é, a meta que deve ser alcançada depois desta vida, a
bem-aventurança eterna.
1º Deus criou o homem para sua glória. _Todo ser inteligente age com
um fim, agir sem fim é um absurdo. Deus, sabedoria infinita, não poderia
criar sem ter um fim, e um fim digno Dele, esse fim digno de Deus não é
outro senão o próprio Deus. Nada que esteja fora Dele é digno de Sua
infinita grandeza... _O que Ele tira da criação? Deus é um bem infinito e não
pode ser mais perfeito ou mais feliz. Mas Deus pode manifestar a sua
bondade, as suas infinitas perfeições. E desta forma busque a sua glória.
Devemos distinguir em Deus a glória interior, essencial, e a glória exterior,
acidental. A glória interior é o conjunto de suas infinitas perfeições e não é
suscetível de aumento.
Deus glorifica-se externamente quando manifesta as suas perfeições com
os bens que dá às suas criaturas, cada uma das quais é como um espelho no
qual se refletem, em maior ou menor grau.

94
brilho, perfeições divinas. Quando o homem conhece, estima, louva e
abençoa com amor estas perfeições divinas, que lhe são manifestadas pelas
criaturas, então ele glorifica a Deus, e para receber esta homenagem, este
louvor, esta glória externa, Deus criou o homem. Deus não poderia ter
criado, pois a criação nada acrescenta à sua glória interior ou essencial; Mas
ao criar, Deus teve que colocar seres inteligentes e livres em seu trabalho;
inteligente para que conhecessem suas perfeições; livre, para dar-lhe glória
com homenagens voluntárias.
2º O homem busca a glória de Deus consagrando sua vida para conhecê-
lo, amá-lo e servi-lo. Este é o seu fim próximo. _ Deus deu ao homem três
faculdades principais: uma inteligência para conhecer, uma vontade, um
coração para amar e os órgãos do corpo para agir. É certo, então, que o
homem consagre sua inteligência à glória de Deus para conhecê-Lo cada vez
mais; seu coração para amá-lo intensamente; seu corpo para servi-lo com
auto-sacrifício. O homem é o servo de Deus; Ele não deveria viver para si
mesmo, porque não se deu a vida, não é seu próprio dono, não pertence a si
mesmo. O homem recebeu tudo de Deus, foi criado para Deus e não tem
outra razão de ser senão buscar a glória de Deus. Assim como o sol foi
criado para iluminar e aquecer, a água para lavar e refrescar, a terra para nos
sustentar e nutrir, o homem foi criado para glorificar a Deus. Tudo em meus
pensamentos, palavras ou ações que não serve à glória de Deus, não tem
utilidade e é completamente inútil. Conhecer, amar e servir a Deus, tal é,
portanto, o fim próximo do homem.
3º Só Deus é o fim último do homem._Deus não poderia ter me
criado; Se o fez, foi por pura bondade, o primeiro ato de amor. _Deus
poderia me criar unicamente para sua glória, sem reservar para mim
nenhuma felicidade temporal ou eterna. Mas a sua infinita bondade quis unir
a sua glória e a felicidade do homem ao segundo ato de amor. A felicidade
do homem, tal é o fim secundário da criação. Portanto, o homem foi criado
para ser feliz.
Somente em Deus o homem pode encontrar sua felicidade. A felicidade é
a satisfação dos desejos do homem, o resto das suas faculdades no objeto
que as preenche e satisfaz. A inteligência do homem tem sede de verdade, a
verdade infinita é Deus. _A vontade, o coração do homem ama o bem; a
beleza; e Deus é infinito bem e beleza. _O corpo do homem anseia pela
plenitude da existência e da vida, e só em Deus se encontra essa plenitude.

95
A experiência nos diz que nem a ciência, nem a glória, nem a fortuna,
nem qualquer coisa criada pode satisfazer o homem. Ele sente desejos de um
bem infinito. Portanto, somente no conhecimento e na posse de Deus o
homem pode encontrar a sua felicidade.
Na vida futuraDeus pode ser a felicidade do homem de duas maneiras,
dependendo se ele é conhecido direta ou indiretamente.
1) Deus é conhecido indiretamente através de suas obras. Contemplando
as criaturas de Deus, vemos nelas brilhar perfeições divinas, como num
espelho. É assim que a criança reconhece o pai ao ver seu retrato mais ou
menos semelhante. Conhecer Deus desta forma, amá-lo com um amor
proporcional a este conhecimento indireto, é o que constitui o fim natural do
homem.
2) Deus é conhecido diretamente, quando é visto em sua própria
essência, contemplado face a face. Uma criança conhece melhor seu pai e o
ama muito mais quando o vê pessoalmente do que quando vê apenas seu
retrato. Ver Deus face a face, amá-lo com um amor correspondente a esta
visão inefável é o que constitui o fim sobrenatural do homem e dos anjos.
Deus poderia conter-se propondo-nos um fim puramente natural; mas
por excesso de amor, como veremos mais tarde, elevou-nos a esse fim
sobrenatural, infinitamente maior e mais excelente.

96
TERCEIRA
VERDADE
O HOMEM PRECISA DE UMA
RELIGIÃO

62. P. _ O que o conhecimento de Deus e do homem nos


obriga a fazer?
R. _Este conhecimento obriga-nos à prática da religião, que une o
homem a Deus como princípio e fim último.
Conhecemos Deus e o homem Deus, com seus infinitos atributos, com
sua Providência que tudo rege; ao homem, criatura de Deus, com sua alma
espiritual, livre e imortal. Disto resultam as relações naturais, essenciais e
obrigatórias do homem com Deus.
63. P. _O que é religião?
R. _A religião é o vínculo que une o homem a Deus. Este vínculo é
constituído por deveres que o homem deve cumprir para com o Ser
Supremo, seu Criador, seu Benfeitor e seu Senhor.
Esses deveres contêm verdades para acreditar, preceitos para praticar,
uma adoração para prestar a Deus.
A palavra religião vem, segundo alguns, de religare, ligar fortemente;
segundo outros, de religere, reeleger Deus; Isto é, que o homem deve
vincular-se livremente a Deus como seu começo e deve escolher Deus como
seu fim último.
Assim como existem laços ou relações naturais e sagradas entre pais e
filhos, da mesma forma existem entre Deus Criador e Pai do homem e o
homem, criatura e filho de Deus. O vínculo que une o homem a Deus é mais
97
forte do que aquele que une o filho ao Pai. Porquê? Porque devemos muito
mais a Deus do que

98
o que um filho deve ao pai. Deus é nosso Criador e nosso objetivo final, mas
não nossos pais. Assim, nossos deveres para com Deus são muito mais
santos do que os dos filhos para com os pais.
A religião, considerada como reside na alma, é uma virtude que nos leva
a cumprir os nossos deveres para com Deus, a prestar-lhe o culto que lhe
devemos. Considerado no seu objeto, contém as verdades que devem ser
acreditadas, os preceitos que devem ser praticados, e o culto, isto é, a
veneração, o respeito, a homenagem que devemos prestar ao nosso Criador.
Existem duas religiões: a religião natural e a religião sobrenatural.
ou revelado.
A primeira é aquela que é conhecida pelas luzes naturais da razão e se
baseia nas relações necessárias entre o Criador e a criatura. Esta religião
natural obriga absolutamente todos os homens, em todos os tempos e em
todos os lugares, porque emana da natureza de Deus e da natureza do
homem. Contém em si as verdades e os preceitos que o homem pode
conhecer pela razão, embora na verdade os tenha conhecido por revelação: a
existência de Deus, a espiritualidade, a liberdade e a imortalidade da alma,
os primeiros princípios da lei natural, a existência de uma vida futura, suas
recompensas ou punições.
A religião sobrenatural ou revelada é aquela que Deus deu a conhecer ao
homem desde a origem do mundo. O Criador impôs ao primeiro homem
verdades para acreditar, como o destino sobrenatural do homem, a
necessidade da graça para chegar a este fim sublime, a esperança de um
Redentor... E deveres positivos a cumprir, como o descanso, a oferta de
sacrifícios, etc.
Em primeiro lugar, vamos provar que, mesmo que não existisse a
religião revelada, a própria natureza do homem e as relações essenciais que
o unem ao Criador, impõem-lhe uma religião pelo menos natural. Veremos
mais tarde que o homem é obrigado a abraçar a religião revelada.
Temos, portanto, que lidar com seis questões
que necessito para uma religião.
II. _Natureza da religião.
III. _Futilidade dos pretextos dados pelos indiferentes.
IV. _Só existe uma boa religião.
V. _A boa religião é aquela que Deus revelou.

99
VI. _Sinais ou notas da verdadeira religião.

I. Necessidade de uma religião.


A) É UM DEVER DO HOMEM
64. P. _A religião é necessária ao homem?
R. _Sim, porque se baseia na natureza de Deus e na natureza do homem,
e se baseia nas relações necessárias entre Deus e o homem. Impor uma
religião é direito de Deus; Praticá-lo é dever do homem.
Deus é o Criador, o homem deve adorá-Lo. Deus é
Senhor, o homem deve servi-lo.
Deus é o Benfeitor, a fome deve agradecer-Lhe. Deus é o
Pai, o homem deve amá-lo.
Deus é o Legislador, o homem deve guardar suas leis.
Deus é a fonte de todo bem, o homem deve dirigir suas orações a ele.
Todos estes deveres do homem para com Deus são necessários e
obrigatórios, e a combinação de todos eles constitui a religião. Portanto, a
religião é necessária.
Deus é o Criador; o homem deve adorá-lo.-Deus é o Criador do
homem, ele tirou tudo do nada e preserva sua existência. E na realidade o
homem tende para o nada, como uma pedra que cai tende para o centro da
terra, e a cada momento cairia no nada se a mão de Deus não o apoiasse. O
homem, sem a ajuda de Deus, nada pode fazer, porque os seres criados não
podem agir sem a ajuda da Causa Primeira.
Portanto, o homem, em todo o seu ser e em todas as suas ações, depende
de Deus, seu Criador e seu Senhor. Ser criado e ser independente é
quimérico e contraditório. O homem, criatura inteligente, conhece esta
dependência; criatura livre, deve proclamá-lo. Quando ele proclama isso, ele
adora a Deus. A palavra adorar significa prestar o culto supremo, a honra
soberana, que consiste em reconhecer a mais alta soberania em Deus e a
mais completa dependência de nós mesmos. A lei natural nos diz: Visto que
Deus é seu Criador, seu Senhor e Dono, você deve reconhecer sua majestade
suprema e seu domínio soberano; você deve se prostrar na presença dele

100
e aniquilar você como seu servo mais dedicado e sua criatura mais humilde.
Adorar a Deus é, portanto, o primeiro dever do homem.
Deus é o Benfeitor, o homem deve agradecê-Lo._É admitido
por todos que, em relação a um benfeitor, a gratidão é um dever, a ingratidão
um crime. Deus é o benfeitor soberano do homem; Tudo em nós é um favor
de Deus, recebemos tudo Dele corpo, alma, vida. Fora de nós, tudo também
é favor de Deus, o pão que nos alimenta, a água que sacia a sede, as roupas,
enfim, todas as criaturas que nos servem. Então, deva a Deus a homenagem
da nossa gratidão. Este é um dever rigoroso de todos.
Deus é o Pai, o homem deve amá-lo._Na família o filho deve ao
pai respeito, submissão e amor; É um dever inegável. E
Por que o filho é obrigado a honrar o pai assim? Talvez porque o pai seja
rico? Não. Porque ele é sábio? Não... Mesmo que seja pobre, ignorante,
doente, tem sempre direito à veneração e ao amor do filho, pela única razão
de ser seu pai.
Agora, Deus é mais que pai e mãe para nós. Deus modelou o corpo do
homem com suas mãos divinas; Ele lhe deu a alma e a vida todos os dias,
cuidando dele e enchendo-o dos benefícios da sua Providência. Portanto, é
dever do homem amar seu pai celestial. O filho que se esquece dos deveres
que tem para com o pai é um filho desnaturalizado, um ser degradado, um
monstro de ingratidão. Que diremos então do homem que se esquece dos
seus deveres para com Deus, seu Benfeitor e seu Pai?
Deus é o Legislador, o homem deve observar suas leis.
_Ninguém pode negar a existência da lei natural que Deus impõe ao homem
como consequência da natureza que ele lhe deu; Esta lei natural está escrita
no coração de cada homem pela mão do próprio Deus, para que tenhamos
dentro de nós uma voz, a voz da consciência, que nos faz conhecer as
prescrições desta lei divina. Se o homem não seguir os princípios de
moralidade gravados na sua consciência, torna-se culpado perante o
Legislador soberano. Deus, infinitamente justo e santo, deve puni-lo.
Conseqüentemente, o homem que violou a lei de Deus deve fazer penitência,
sob pena de cair nas mãos de um juiz inexorável. Daí a obrigação do homem
de satisfazer a justiça divina e de oferecer a Deus expiação pelas suas faltas.
Deus é a fonte de todos os bens; O homem deve elevar suas
orações a Ele._Deus é o oceano infinito de tudo que é bom e gratuito

101
dispensador de todos os presentes; e, pelo contrário, o homem não possui
nada em si mesmo e deve, portanto, pedir tudo a Deus. Daí para o homem o
grande dever da oração; É uma necessidade absoluta.
Assim, a adoração, a submissão, a gratidão, o amor, a expiação, a oração
são os principais deveres do homem, deveres que fluem da natureza de Deus
e do seu relacionamento conosco. Todos esses deveres são obrigatórios,
necessários e constituem os atos essenciais da religião. Portanto, a religião é
obrigatória e necessária... _Deus tem direito a esses diversos tributos do
homem, e os exige, porque Ele criou tudo para Sua glória; e são
precisamente os seres inteligentes e livres que se encarregam de adorá-lo,
amá-lo, agradecê-lo, louvá-lo em seu nome e no de toda a criação.
65. P. _Deus precisa da homenagem dos homens?
R. _Deus não precisa de nada; Ele é completamente autossuficiente e
nossas homenagens não o tornam mais perfeito ou mais feliz. Mas Deus nos
dotou de inteligência e amor, para sermos conhecidos e amados por nós; tal
é o propósito da nossa criação.
A religião é, portanto, um dever de justiça estrita; o homem é obrigado a
praticar a religião para respeitar os direitos de Deus e assim obter o seu
objetivo último.
Sem dúvida Deus não precisa da nossa adoração. Esta palavra
necessidade só pode ser usada em relação às criaturas, nunca em relação a
Deus... Mas será que Deus precisa de nos criar?
Você precisa nos manter? A nossa existência te deixa mais feliz?... Sim,
porque Deus nos criou. Se ele nos preserva, mesmo que não precise de nós,
não devemos apreciar o que ele nos pede pelo benefício que daí resulta.
O Ser necessário, sendo necessariamente tudo o que é e tudo o que pode
ser, é autossuficiente. Mas é necessário determinar o que devemos a Deus,
tomando como ponto de partida o que exige o nosso relacionamento
essencial com Ele. Deus certamente não precisa que honremos e amemos
nossos pais; No entanto, ele ordena isso porque os deveres dos filhos surgem
das relações que os ligam aos pais. _Deus não exige que respeitemos as
regras da justiça; No entanto, ele ordena isso porque essas regras são
baseadas em nossos relacionamentos com nossos pares. _Assim, mesmo
quando Deus não precisa de nossas homenagens, ele as exige porque são a
expressão de relacionamentos

102
do homem com Deus. A religião quer que sejamos religiosos para com
Deus, assim como a moral quer que sejamos justos para com os homens.
A todo direito corresponde um dever; aos direitos de Deus correspondem
os deveres dos homens. Os direitos de Deus sobre o homem são evidentes,
eternos, essenciais, mais do que os direitos de um pai sobre o filho; Portanto,
tais são também os deveres do homem para com Deus. A religião é para nós
um dever de justiça que deve ser cumprido sob pena de violação dos direitos
essenciais de Deus.
66. P. _Deus pode isentar o homem da religião?
A _Não; porque Deus não pode renunciar aos seus direitos de Criador,
cada um segundo a sua natureza. A ordem exige que os pais não possam
dispensar aos filhos o respeito, a submissão e o amor que devem como tais;
Assim, Deus não pode nos isentar de praticar a religião.
Deus, sabedoria infinita e justiça suprema, deve necessariamente
prescrever a ordem. Mas a ordem exige que os seres inferiores estejam
subordinados ao Ser supremo; Que as criaturas glorifiquem o seu Criador,
cada urna segundo a sua natureza. Portanto, a ordem exige que o homem
inteligente e livre preste a Deus, em primeiro lugar, a homenagem da sua
dependência, porque Ele é o seu Criador e o seu Senhor; 2º, a homenagem às
suas submissões, porque Ele é seu legislador e seu juiz; 3º, o do seu amor,
porque Ele é seu Pai e seu Bem Soberano; 4º, o tributo das suas expiações,
porque Ele é seu legislador e seu juiz; 5º, a homenagem de suas orações,
porque Ele é a fonte e o oceano infinito de todos os bens. Deus não pode,
portanto, renunciar a este direito essencial de exigir os nossos tributos,
porque ele não seria Deus, pois não amaria a ordem e a justiça.
Deus não poderia nos criar, mas a partir do momento em que somos obra
de suas mãos, seu domínio sobre nós é inalienável. Devemos usar a nossa
inteligência para reconhecer o seu domínio soberano; nossa vontade, de
obedecer às suas santas leis; o nosso coração, em amá-lo acima de todas as
coisas e em dirigir a nossa vida para Ele, pois é o nosso objetivo último.

B) A RELIGIÃO É NECESSÁRIA AO HOMEM


67. P. _O homem pode ser feliz sem religião?
R. _Não, sem religião o homem não pode ser feliz nem neste mundo nem
no outro.

103
O homem não é feliz neste mundo exceto quando as suas faculdades
estão plenamente satisfeitas; Assim, só a religião pode dar tranquilidade ao
espírito, paz ao coração, retidão e força à vontade. Portanto, sem religião o
homem não pode ser feliz neste mundo.
Ele não pode sê-lo na vida futura, porque sem religião não pode alcançar
a felicidade, que é posse de Deus, o Bem Soberano.
Assim, tudo o que a religião pede ao homem para conduzi-lo à felicidade
eterna é a permissão para fazê-lo feliz na terra.
O homem nasceu para ser abençoado e aspira, de forma natural e
irresistível, à felicidade como objetivo último. Mas o homem não pode ser
feliz exceto através da religião, e o homem recebeu do seu Criador a
faculdade de conhecer, amar e agir; a faculdade de conhecer a verdade, que
é o objeto da sua inteligência; a faculdade de amar o Bem supremo, que é o
objeto do seu coração; o poder de agir, isto é, de aspirar livremente à
realização da verdade e do Bem supremo, que deve ser obra do livre arbítrio.
1º, a Inteligência precisa da verdade e de toda a verdade, as partículas de
verdade espalhadas pelas criaturas não podem ser suficientes para ela;
Precisa da verdade infinita, que só se encontra em Deus. Portanto, acima de
tudo, a inteligência precisa do conhecimento de Deus, do seu começo e do
seu fim. Mas como a religião é a única que oferece soluções claras, precisas
e plenamente satisfatórias para todas as questões que o homem não pode
ignorar, devemos concluir que a religião é necessária . É por isso que todos
os sábios, verdadeiramente dignos desse nome, se mostraram profundamente
religiosos. A frase de Bacon será sempre a expressão da verdade: a pouca
ciência se distancia da religião; muita ciência leva a isso.
2º, O coração do homem necessita do amor de Deus, porque foi feito
para Deus, e não pode encontrar descanso ou felicidade exceto amando a
Deus, seu Bem supremo. Nem o ouro, nem os prazeres, nem a glória jamais
poderão satisfazer o coração do homem; seus desejos são tão vastos que
todas essas coisas finitas e passageiras não são suficientes para satisfazê-los.
É por isso que todos os santos, todos os corações nobres, todos os homens
encontram na religião uma alegria, uma plenitude de contentamento que
todos os prazeres dos sentidos e todas as alegrias do mundo nunca poderão
proporcionar.
3º, A vontade do homem necessita de uma regra segura para se orientar
para o bem e de motivos capazes de sustentar o seu valor

104
enfrentando as paixões que devem ser superadas, os deveres que devem ser
cumpridos, os sacrifícios que devem ser feitos. Pois bem, só a religião pode
dar à vontade esta firmeza, esta energia soberana, mostrando Deus como
recompensador da virtude e punidor do crime. Se não fosse a saudável
restrição do temor de Deus, o homem abandonar-se-ia a todas as paixões e
cairia num abismo de miséria...
Enfim, a religião te dá consolação na oração, na esperança, no remédio,
no amor de Deus, na alegria santa, na resignação, na ajuda e na força; e,
além disso, nos faz vislumbrar, depois desta vida, uma felicidade completa e
sem fim. O homem religioso é sempre o mais feliz ou, pelo menos, o mais
consolado.
O homem sem religião não é apenas um grande criminoso para com
Deus, mas também um grande desgraçado, mesmo neste mundo. É evidente
que ele será ainda mais miserável na vida futura, porque sem a prática da
religião o bem supremo, que é propriedade de Deus, não pode ser alcançado.

C) A RELIGIÃO É NECESSÁRIA PARA A SOCIEDADE.


68. P. _A religião é necessária para a sociedade?
R_Sim; A religião é absolutamente necessária para que o homem viva em
sociedade com seus semelhantes.
Necessidades da sociedade
1º, Nos superiores que governam, a justiçae
incitar
disposição para servir e favorecer os outros.
2º, Nas matérias, obediência às leis. 3º, Em todos os
associados, as virtudes sociais.
Agora, só a religião pode inspirar os superiores, a justiça e a vontade de
se sacrificarem pelo bem dos seus súbditos; a estes, respeito pelo poder e
obediência; a todos, as virtudes sociais, a justiça, a caridade, a unção, a
concórdia e o espírito de sacrifício pelo bem dos outros. Portanto, a religião
é necessária para a sociedade. O fundamento, a base de toda sociedade, é o
direito de comandar daqueles que governam e o dever de obedecer daqueles
que são governados. De onde vem esse direito de comando, que constitui
autoridade social? Não pode vir do homem, mesmo tomado coletivamente,
pois todos os homens são iguais por natureza, ninguém é superior aos seus
semelhantes. Esse

105
O direito só pode vir de Deus, que, criando o homem sociável, criou de fato
a sociedade. Então, para justificar este direito, devemos voltar a Deus, a
autoridade suprema, de quem emana toda autoridade.
1º As autoridades devem ser justas e dedicadas ao bem público. _ A
sociedade precisa de boas autoridades que governem com justiça, que dêem
tudo de si para garantir a felicidade dos seus súditos e que sejam para eles
verdadeiros pais de família. Agora, governantes sem religião não podem
garantir a felicidade do povo, como o próprio Voltaire reconhece: “Eu não
gostaria, disse ele, de ter nada a ver com um príncipe ateu, que teria
interesse em me esmagar num pilão; Ele teria certeza de ser esmagado... E
acrescenta: “Se o mundo fosse governado por ateus, seria o mesmo que estar
sob o domínio dos espíritos infernais que eles nos mostram atacando suas
vítimas”.
A religião, por outro lado, ensina aos que têm o poder nas mãos que são
ministros de Deus para o bem dos homens, seus irmãos; Ensina-lhes que a
autoridade é um depósito pelo qual prestarão contas ao Juiz supremo. Não
será este pensamento soberanamente eficaz para forçar as autoridades a
praticarem a justiça e a dedicarem-se à felicidade do seu povo?
2º Os sujeitos devem respeitar e obedecer à autoridade. - O espírito de
revolta e insurreição é incompatível com a tranquilidade e felicidade do
povo. Sujeitos sem religião estarão sempre prontos para fazer revoluções, e
não desistirão de nenhum crime para satisfazer os seus apetites de
testemunhas, os anarquistas modernos. Só a religião mostra no poder
legítimo uma autoridade estabelecida por Deus, só ela ensina o respeito e a
obediência de forma eficaz; Só ela enobrece a submissão e nos ensina que o
legislador recebeu de Deus o seu poder e que os súditos são obrigados a
obedecer a leis justas e honestas como o próprio Deus. Ao dar a Deus o que
é de Deus, os súditos aprendem a dar a César o que é de César.
3º Todos necessitam de virtudes sociais. _Os direitos e bens de cada
pessoa, bens, honra, vida, devem ser respeitados. A felicidade não pode
existir onde prevalecem o roubo, a calúnia, o homicídio... Mas é impossível
obter de um Povo sem religião o respeito pelos direitos e propriedades de
todos os associados. A única lei do homem sem religião é sofrer o mínimo
possível e desfrutar o máximo que puder. Este homem será, portanto,
sempre

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pronto para roubar, caluniar, matar; se o seu interesse pessoal aconselhar. E
que segurança, que felicidade pode a sociedade esperar então de tais
cidadãos? “O homem sem religião é um animal selvagem que só sente a sua
força quando morde e devora” (Montesquieu).
A moralidade sem Deus, a moralidade independente, é uma moralidade
sem base e sem cume, uma moralidade quimérica, que carece de força
vinculativa e de sanção eficaz. Deus deve ser a base fundamental da
moralidade. É por isso que a moral sem religião é justiça sem tribunais, ou
seja, nula.
Quando a consciência não é dirigida pelo temor e pelo amor de Deus,
não tem outra norma senão as suas paixões, os seus desejos, os seus
caprichos, sem outro motivo senão o capricho, o egoísmo, a astúcia, a
fraude.
É, portanto, manifesto que sem Deus não existem virtudes sociais. O
mesmo Rousseau, incrédulo, confessa: “Não consigo compreender como se
pode ser virtuoso sem religião. Há muito tempo professo esta falsa opinião,
da qual me desenganei”. O heroísmo e o auto-sacrifício não são encontrados
exceto na religião que os inspira.
Conclusão. _“Se a religião é necessária à sociedade, ela deve, tal como
o indivíduo, reconhecer, através do culto público e solene, o domínio
soberano de Deus; tanto mais que, sobretudo através das suas cerimónias
religiosas, eleva os pensamentos, purifica os sentimentos das pessoas e
melhora-as. Foi necessário chegar aos nossos tempos para encontrar homens
que pedissem a separação entre Igreja e Estado; Esta concepção é um
produto do ateísmo moderno” (Guyot).

D) A EXPERIÊNCIA COMPROVA A NECESSIDADE DA


RELIGIÃO
Além do que foi dito, podemos recorrer às lições da experiência neste
ponto. As cidades e nações mais religiosas sempre foram as mais pacíficas e
prósperas. “Em todas as épocas da história”, diz Le Play, “notou-se que os
povos imbuídos das crenças mais firmes em Deus e na vida futura
ascenderam rapidamente acima dos outros, tanto pela virtude e pelo talento
como pela habilidade”. ”
Os crimes multiplicam-se numa nação à medida que a religião declina.
Por esta razão, aqueles que tentam destruir a religião em

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Um povo é o pior inimigo da sociedade, cujos fundamentos eles minam.
“Seria mais fácil construir uma cidade no ar do que estabelecer uma
sociedade sem templos, sem altares, sem Deus” (Plutarco). “Aquele que
destrói a religião, destrói os fundamentos de toda a sociedade humana,
porque sem religião não há sociedade possível” (Platão).
Maquiavel disse com razão: “A adesão à religião é a garantia mais
segura da grandeza de um Estado; o desprezo pela religião é a causa mais
certa do seu declínio. Se o nosso século está cambaleando, se o mundo está
ameaçado de morte, não devemos procurar a origem deste mal senão na falta
de religião; A velha sociedade pereceu porque Deus foi expulso dela; O
novo é sofrimento, porque Deus ainda não entrou nele”. A revolução, ao
reconstruir a sociedade sobre novas bases, esqueceu que Deus deveria ser a
pedra angular da construção e nesse esquecimento reside a fonte do mal.
Nem as mudanças políticas nem as revoluções conseguirão nada. Só existe
um remédio para estabelecer os direitos dos homens, os direitos de Deus;
reconhecer, de uma vez por todas, que se o homem é o rei da criação, ele
não é o seu criador. A este preço só a salvação pode ser alcançada. Privado
de Deus, o edifício social não pode permanecer de pé por muito tempo.
Devolva a religião à sociedade, então, você a quem seus destinos estão
confiados, se quiser que ela viva. Em vez de tratar a religião como inimiga,
saibam que ela é a sua ajuda indispensável e que o primeiro dever de todo
governante é professar, proteger e defender a religião.
Napoleão I, que viu de perto o homem sem religião, disse: “Você não
governa esse homem, você metralha-o. Ah, você quer que aquele homem
saia das minhas escolas!..._ Não, não; Para formar o homem colocarei Deus
comigo”. Em outra ocasião ele disse: “Sem religião, os homens cortariam a
garganta uns dos outros por qualquer ninharia”.
69. P. _Todos os povos reconheceram a necessidade da
religião?
_Sim, e está comprovado pela existência de templos e altares em todos
os tempos e em todos os povos.
Tal como as escolas demonstram que as pessoas reconheceram a
necessidade da educação, e os tribunais reconheceram a necessidade da
educação.

108
justiça, assim os templos e os altares mostram que reconheceram a
necessidade da religião.
Assim como é impossível encontrar um povo que não reconheça a
existência de um Deus, também é impossível encontrar um povo que não o
honre. “Nunca foi fundado um Estado sem que a religião lhe servisse de
base.
Encontre uma cidade
sem religião, e se você o encontrar, tenha certeza de que ele não
é diferente dos animais.”(Hume).

II Natureza da religião CFINAL

INTERNO,EXTERNO E PÚBLICO
70. P. _Quais são os elementos essenciais de cada religião?
R. _Existem três elementos essenciais que constituem a base de toda
religião. Todos eles têm verdades para acreditar, leis para guardar e um culto
para prestar a Deus. Três palavras expressam esses três elementos: dogma,
moralidade e adoração.
A religião é o conjunto de deveres do homem para com Deus. O homem
deve ao seu Criador o tributo das suas diversas faculdades. Você deve usar
sua inteligência para conhecê-lo, sua vontade para observar suas leis, seu
coração e seu corpo para honrá-lo com uma adoração adequada. Tal é a
razão íntima destes três elementos essenciais de toda religião.
71. P_Como o homem manifesta sua religião?
R. _As relações do homem com Deus devem ser traduzidas por
sentimentos internos e atos externos, que levam o nome de adoração.
Adoração é a homenagem que uma criatura racional presta a Deus.
Consiste no cumprimento de todos os seus deveres religiosos.
Existem três tipos de cultos: o culto interno, o culto externo e o culto
público ou social. Esses três cultos são necessários.
A religião não é uma crença puramente teórica; Não basta reconhecer a
grandeza de Deus e os laços que nos unem a Ele, é preciso que haja, por
parte do homem, uma verdadeira homenagem de adoração, respeito e amor.
para com Deus que é adoração.
Devemos honrar e respeitar todas as pessoas que nos são superiores, seja
pelos seus méritos, seja pela sua dignidade, ou pela

109
seu poder. Adoração é a honra, o respeito, o louvor que devemos a Deus. A
adoração nada mais é do que o exercício ou prática da religião, que certos
autores definem como Adoração a Deus.
1º O culto interno consiste nas homenagens de adoração, amor e
submissão que nossa alma oferece a Deus, sem manifestá-las externamente
por meio de atos sensíveis.
Este culto interno constitui a própria essência da religião; Portanto, é tão
necessário e obrigatório quanto a própria religião. Qualquer homenagem
externa que não venha dos sentimentos da alma não passaria de uma
demonstração hipócrita, de um insulto, mais que de uma homenagem. Deus
é espírito e, acima de tudo, quer adoradores em espírito e em verdade.
O primeiro ato de adoração interna é fazer todas as coisas pelo amor de
Deus; Remeter tudo a Deus é um dever, não só das almas piedosas, mas
também de todos os homens que querem proceder de acordo com as leis da
razão, porque a razão nos diz que, sendo servos de Deus, devemos fazer
tudo para a sua glória. .
2º O culto externo consiste em manifestar, através de atos religiosos e
sensíveis, os sentimentos que temos para com Deus. É a adoração do corpo,
que junta as mãos, se curva, se prostra, se ajoelha, etc., para proclamar que
Deus é seu Senhor e Dono. Assim, a oração vocal, o canto de salmos e
hinos, as posturas e gestos suplicantes, as cerimônias religiosas, os
sacrifícios, são atos de adoração externa. Esses atos representam os
sentimentos da alma e são, em relação a Deus, os sinais de respeito e amor
que um filho dá ao pai.
3º O culto público nada mais é do que o culto externo prestado a Deus,
não por um simples indivíduo, mas por uma família, por uma sociedade, por
uma nação. Isto é adoração social.
Certos deístas procuram elevar-se acima das preocupações populares,
não aceitando outro culto senão o do pensamento e do sentimento, nem
qualquer templo que não seja o da natureza. Eles têm, segundo eles, religião
em seus corações e rejeitam todo culto externo e público como inútil. Nada é
mais falso do que esta teoria, como será comprovado nas duas questões
seguintes.
72. P. _ A adoração externa é necessária?
R. _Sim, a adoração externa é absolutamente necessária por vários motivos

110
1º O corpo é obra de Deus, assim como a alma; É justo, portanto, que o
corpo participe na homenagem que o homem presta a Deus.
2º O homem deve prestar culto a Deus de acordo com a sua natureza; e
como é natural ao homem expressar, através de sinais sensíveis, os
sentimentos interiores que experimenta, o culto externo é a expressão
necessária do culto interno.
3ºO culto externo é um meio de sustentar e desenvolver o interno. Se não
fossem as externalidades da religião e das suas práticas, a piedade interior
desapareceria e a nossa alma nunca se reuniria com Deus.
a) Através da adoração externa, o homem presta a Deus a homenagem
de toda a criação; de quem ele é pontífice. Prostrando-se para adorá-Lo,
construindo igrejas, decorando santuários, o homem associa a matéria ao
culto do espírito e, por meio dele, a criação material presta ao seu Criador
uma legítima homenagem.
b) A adoração externa é natural ao homem. Este, como vimos, é um
composto de duas substâncias, tão intimamente ligadas entre si, que ele não
pode experimentar sentimentos íntimos sem manifestá-los externamente. A
palavra, as linhas do rosto, os gestos, expressam naturalmente o que
acontece em seu alma. O homem não pode, portanto, ter verdadeiros
sentimentos religiosos direcionados a Deus se não os manifestar por meio de
orações, cantos e outros atos sensíveis. O homem que vive sem religião
externa demonstra, por isso mesmo, que carece dela no coração. Que
criança, cheia de amor e respeito pelos pais, não demonstra a sua piedade
filial?...
e) Há ainda mais, a adoração externa é um meio eficaz para desenvolver
a adoração interna. A alma unida ao corpo luta com grandes dificuldades
para ascender às coisas espirituais sem a ajuda das coisas sensíveis. Ela
recebe impressões de fora através dos sentidos. A beleza das cerimônias, dos
emblemas, dos cantos, etc., contribuem para despertar e avivar os
sentimentos da religião. Deixe um homem parar de se ajoelhar diante de
Deus, deixe-o omitir a oração vocal, deixe-o não frequentar a igreja, e logo
deixará de ter religião em sua alma. A experiência descobre. Foi dito com
razão: “Querer reduzir a religião ao puramente espiritual é querer relegá-la a
um mundo imaginário”.
73. P. _É necessário o culto público?
R. _Sim; o culto público é necessário.

111
1º Deus é o Criador, o Preservador e o Dono das sociedades e dos
indivíduos. Por estes títulos, as sociedades devem-lhe a homenagem social
e, portanto, pública, da sua submissão.
2º O culto público é necessário para dar às pessoas uma ideia elevada da
religião e dos deveres que ela impõe.
3º É um meio poderoso para preservar e aumentar em todos os homens o
amor à religião. O exemplo se arrasta, e nada é tão eficaz quanto o culto
público para tornar a religião popular.
Além disso, a raça humana sempre reconheceu a necessidade do culto
público, como comprovam as festas, os templos e os altares estabelecidos
em todas as cidades.
1º Deus tornou a fome sociável; Não vive, nem cresce, nem é preservado
exceto na sociedade. As suas necessidades, as suas faculdades, as suas
inclinações, tudo no homem justifica estas palavras do Criador: não é bom
que o homem esteja só. Daí a instituição da família ou da sociedade
doméstica; e também o da sociedade civil, que nada mais é do que a
extensão da família. Um indivíduo deve adorar a Deus em seu coração e
expressar, através de atos externos, os sentimentos de sua alma, sua natureza
assim o exige. Cada sociedade, composta por um certo número de
indivíduos unidos, constitui uma pessoa moral, que tem seus deveres para
com Deus, pois depende Dele, como o indivíduo. É a Providência divina que
forma e dirige as famílias e as sociedades, e as eleva ou deprime, conforme
sejam fiéis ou não às leis divinas. Portanto, a sociedade necessita de um
culto público ou social para dar graças a Deus pelos bens que os seus
membros recebem em comum: o estado social do homem assim o exige.
2º Sem o culto público, Deus não recebe a devida honra, e os homens
não compreendem a importância da religião. Na sociedade civil, o culto civil
é usado para incutir respeito pela autoridade. Quando o Chefe de Estado
passa por uma cidade, são erguidos arcos triunfais; As bandeiras flutuam no
ar, as bandas fazem marchas, os chefes militares, vestidos com uniformes
brilhantes, vão cumprimentar o governante, e a multidão o aclama... Pois
bem, o primeiro Chefe de Estado, o Soberano dos soberanos, é Deus. Pode o
homem negar as homenagens públicas e solenes que presta aos seus
representantes na terra? Não não; o culto público é necessário.

112
3º O culto público é o meio mais eficaz de desenvolver sentimentos
religiosos. Suprimam no lar doméstico a oração comum, as boas leituras, o
canto de orações, alegrias e hinos, imagens sagradas, etc., e muito em breve
os membros da família deixarão de pensar em Deus. Aí o filho perde o
respeito pelo pai; a filha para a mãe; a união, os afetos e a atenção mútua
deixam de existir... Como é triste e desagradável uma família sem religião!...
Na sociedade civil, há algo mais comovente do que ver os governantes e
os governados, os grandes e os pequenos, os ricos e os pobres, reunidos em
torno do mesmo altar, formando uma única família, ajoelhados diante do
mesmo Pai?... Exemplo exerce uma grande influência e é extremamente
eficaz em estimular o pensamento e o amor de Deus na alma.
Suprimam as igrejas, as assembleias, as festas, a voz solene dos sinos, as
cruzes erguidas nas praças, e milhões de homens não verão mais nada que os
obrigue a dizer: Eis os vossos irmãos que pensam em Deus; É necessário
que vocês também pensem Nele. Quão diferente é uma paróquia piedosa de
um bairro ímpio, onde nada lembra Deus e seu culto!...
Se você dispensar o culto público, que meios usará para moralizar as
massas? Do teatro, das discotecas, dos cafés, dos locais de orgias... Fechai as
igrejas e capelas, e imediatamente sereis obrigados a construir prisões. Banir
a religião das ruas e vias públicas, proibindo as procissões, e não demorará
muito para que sejam frequentadas por outras procissões de pessoas que,
aliás, não são santas... _O culto público, portanto, não é apenas um dever ,
mas também uma questão de vida ou morte para toda sociedade nacional ou
civil.
74. P. -O que é necessário para o culto externo e público?
R. _Para o culto externo e público são necessários orações, edifícios
sagrados, cerimônias, sacerdote e dias dedicados ao culto. Esses cinco
elementos são encontrados em todas as cidades.
1º É necessária oração. _Ela é parte essencial do culto com a oração,
você adora a Deus, você dá, você agradece, você o ama, você implora. Desta
forma, a oração inclui o exercício das mais excelentes virtudes da fé, da
esperança, da caridade, da humildade, da confiança. A oração honra todas as
perfeições divinas, o poder, a sabedoria, a bondade de Deus. A oração é a
primeira necessidade da nossa fraqueza, o primeiro grito de dor e

113
a desgraça. É um instinto que Deus colocou em nós; O mundo sempre rezou
e, apesar do sofisma da impiedade, o mundo nunca deixará de orar. O
homem nunca é tão grande como quando se humilha diante do Criador para
Lhe prestar homenagem e implorar a Sua ajuda.
"Eu creio,Donoso Cortés escreveu que quem reza faz mais pelo mundo
do que quem luta, e que se o mundo vai de mal a pior é porque há mais
batalhas do que orações. Se pudéssemos penetrar nos segredos de Deus e da
história, ficaríamos maravilhados com os efeitos prodigiosos da oração,
mesmo nas coisas humanas. Para que a sociedade seja pacífica é necessário
um certo equilíbrio que só Deus conhece, entre orações e ações, entre a vida
contemplativa e a vida ativa. Se houvesse uma única hora de um único dia
em que a terra não enviasse alguma oração ao céu, esse dia e aquela hora
seriam o último dia e a última hora do universo.”
2º São necessárias igrejas. _Os edifícios sagrados não são necessários
para Deus, porque o universo inteiro é um templo; mas são para o homem e
os encontramos em todos os povos. No templo estamos mais recolhidos, nos
sentimos mais próximos de Deus, rezamos em comum, somos instruídos e
estimulados à piedade pelas cerimônias. São necessárias casas especiais para
os vários serviços públicos, ministérios, tribunais, câmaras municipais,
escolas, etc., e não serão necessárias igrejas onde as pessoas possam reunir-
se para prestar a Deus um culto conveniente? Os edifícios sagrados são tão
necessários ao culto que os ímpios começam a destruí-los, assim que têm em
suas mãos o poder de perseguir a religião. Se vocês decoram seus palácios,
suas casas, seus monumentos públicos, terão muito mais motivos para
decorar os edifícios sagrados. igrejas., porque nada é bonito demais para
Deus.
3º Cerimônias são necessárias. _Eles dão aos homens uma ideia elevada
da majestade divina; Eles estimulam e despertam uma piedade enfraquecida
ou adormecida e simbolizam os nossos deveres para com Deus e para com
os nossos semelhantes.
4º É necessário um sacerdócio, isto é, sacerdotes escolhidos entre os
homens para assegurar o exercício do culto. O que acontece com o culto é o
que acontece com as leis: para garantir o cumprimento e aplicação das
mesmas são necessários juízes e magistrados; Assim, os sacerdotes também
são obrigados a zelar pela preservação do culto e da

114
as leis morais. O sacerdote instrui, dirige, adverte e preside os
acontecimentos mais importantes da vida; É ele quem, em nome de todos,
oferece o sacrifício, ato mais importante do culto.
Existem sacerdotes em todas as religiões, um sinal claro de que todas as
pessoas os reconheceram como necessários.
Se existe alguma religião que deveria prescindir de sacerdotes,
certamente seria a religião protestante, pois não há necessidade de sacerdote
quando não há altar e quando cada cristão tem o poder de interpretar a Bíblia
à sua maneira. Contudo, os protestantes têm os seus ministros, que, mesmo
desprovidos de todos os mandatos e autoridade, comentam o Evangelho.
Os maçons têm suas lojas, que se tornam seu templo. Ali, com a
espetacular majestade de um pontífice, o venerável, vestido de ornamentos
simbólicos, preside ritos e juramentos que seriam ridículos se não fossem
satânicos.
E os livres-pensadores!... Proclamam ferozmente a todos os ventos que
não querem culto nem padres, e depois inventam o baptismo civil, o
casamento civil, o enterro civil, o funeral civil, etc., onde em vez do padre
católico, há é o sacerdote do ateísmo, que parodia a liturgia e as orações da
Igreja.
É verdade que os homens não podem mudar a natureza das coisas! Não
há sociedade sem religião, não há religião sem culto, não há culto sem
sacerdotes. Se você não adora a Deus, você adora Satanás ou seus ídolos; Se
você não obedece ao sacerdote de Deus, você obedece ao sacerdote de
Lúcifer.
5 ªSão necessários dias especialmente dedicados à adoração.
_Assim como o homem deve a Deus uma porção de espaço, que lhe
consagra construindo templos, também lhe deve uma porção de tempo, que
lhe dá consagrando alguns dias de celebração ao culto. Todos os povos
tiveram feriados em homenagem à divindade, um fato estranho que só pode
ser explicado pela revelação primitiva. A divisão do tempo em semanas, a
santificação de um dia em cada sete, é um costume constantemente
observado em todos os povos. “A semana”, diz o incrédulo Laplace, “circula
através dos séculos; e algo muito digno de nota é que é o mesmo em toda a
terra.” O sétimo dia torna-se assim o dia de Deus e o dia do homem. Os
povos cristãos chamam isso de domingo. É o dia em que Deus e o homem se
encontram aos pés dos altares e quando

115
estabelece entre eles um comércio sagrado através da troca de orações e
graças.
Se o domingo não existisse, o homem esqueceria que existe um céu
eterno que devemos conquistar, uma alma que devemos salvar, um inferno
que devemos evitar... Será demais pensar nisso um dia por semana?
Sem a instituição do domingo, os habitantes de uma cidade nunca se
reuniriam para louvar a Deus e prestar-lhe culto público e social.
O domingo traz outras vantagens: 1º É necessário para o corpo humano,
pois ficaria deprimido sem um dia de descanso por semana. 2º É necessário
que a família, cujos membros não possam reunir-se fora desse dia, desfrute
das vantagens e doçuras da vida. 3º É necessária para a felicidade social,
porque a Igreja é a única escola de fraternidade, harmonia e união de classes.
Por isso, obrigar o trabalhador a trabalhar no domingo não é apenas um
crime contra Deus, mas também um ultraje à liberdade de consciência e à
fraternidade social.
A não prática do culto público equivale a professar o ateísmo e a
impiedade, além de constituir um grave escândalo para a própria família e
para os concidadãos de quem não cumpre tal dever sagrado.

III. Futilidade dos pretextos alegados pelos


indiferentes, para se eximirem da prática da religião
75. P. -O que a religião importa para mim? Eu posso passar
sem isso.
R. _É o mesmo que se você dissesse: O que me importa com as leis
civis? Posso passar sem eles; Quero seguir o meu capricho... Se você não
observar as leis do seu país, você se expõe ao confinamento na prisão. Se
você não observar as leis de Deus, Ele infalivelmente o trancará numa prisão
eterna, da qual você nunca mais sairá.
Você pode viver sem religião, assim como pode viver sem o céu. Mas se
você não for para o céu, terá que ir para o inferno. Não existe meio termo,
céu ou inferno. Os servos fiéis de Deus vão para o céu, e aqueles que se
recusam a servi-lo vão para o inferno. Ora, o serviço a Deus consiste na
prática da religião. Você pode protestar tanto quanto você

116
por favor, mas você não poderá mudar os decretos eternos de Deus, seu
Criador e Senhor.
Um homem sem religião é rebelde e ingrato para com Deus e tolo
consigo mesmo; escandaloso para com seus semelhantes.
1º Um rebelde. _Deus nos criou. Pertencemos a ele como o trabalho
pertence ao trabalhador que o realizou. Recusar-se a cumprir o propósito
para o qual as mãos divinas nos formaram é negar a relação incontestável da
criatura com o Criador; É a destruição da ordem, a rebelião.
Uma criança é um rebelde que desobedece aos seus pais, que nada mais
são do que os instrumentos que Deus usou para lhe dar o seu ser.
Qual será então o crime de quem desobedece a Deus, a quem tudo é devido:
o seu corpo, a sua alma, o seu coração e a promessa de felicidade sem fim?...
2º Uma pessoa ingrata. _Um homem sem religião é ingrato. Marcamos
com este estigma a testa do filho que despreza o pai, a testa do favorecido
que se esquece do seu benfeitor. Pois bem, Deus é o Pai por excelência, e
tudo o que temos, tudo o que somos, tudo nos vem de Deus.
Escusado será dizer que a gratidão é o primeiro dos deveres. A criança
sabe disso: as mãozinhas que saem do berço dizem: Mãe, eu te amo. A voz
comovida do pobre, as lágrimas caindo sobre a mão que o alimentou ou
vestiu, traduzem os sentimentos do seu coração; e nós, filhos d’Aquele que
tudo nos deu; nós, mendigos infelizes, que Deus tirou do nada
Teremos o direito de percorrer o caminho da vida sem dizer: “obrigado”
Àquele a quem tudo devemos?... Não, não é possível... O dia em que o
homem poderá dizer sem mentir: Eu não devo nada a Deus, sou suficiente
para mim mesmo... nesse dia você será independente e isento de todo dever.
Mas esse dia nunca chegará: seremos eternamente as criaturas, os devedores
do Altíssimo e, por isso, lhe deveremos o testemunho da nossa eterna
gratidão.
3º Tolo _É considerado tolo quem destrói seus bens, quebra os pertences
de sua casa e joga seu dinheiro na rua. E o que devemos pensar daquele que
destrói deliberadamente os seus bens espirituais, fecha o céu e lança a sua
alma para sempre no inferno? Tal é o homem sem religião. Ele se perde
completamente, e sua perda é irreparável, eterna.

117
4º Um escandaloso. _O maior escândalo que o homem pode causar é
mostrar-se indiferente a Deus. Sem dúvida você dirá: não ofendo ninguém.
Eu pergunto: E você não insulta a Deus por não glorificá-lo?
Você não insulta sua alma, que você lança no fogo eterno? Você não insulta
sua família, seus semelhantes com o grande escândalo de sua indiferença?
Você não pode causar-lhes maior dano do que arrastá-los com seu exemplo
ao desprezo pela religião e à condenação eterna.
76. P. _Para que serve a religião?
R. _1º Esta é uma pergunta impertinente, beirando a impiedade. Não se
trata de saber se a religião nos é útil e agradável; Basta que o seu exercício
seja um dever para nós. Provamos que a religião é um dever estrito do
homem; Sabemos, por outro lado, que é bom quem cumpre os seus deveres,
e mau quem não os cumpre. Não importa se o dever é agradável ou
desagradável para nós, ele deve ser cumprido. Então é necessário praticar a
religião.
Mas não há nada mais doce do que praticar a religião, pois responde às
aspirações mais nobres da alma humana.
O que é Deus? O que é o homem? Deus é luz, beleza, grandeza, amor e vida.
O homem, inteligência e coração, aspira com todos os seus desejos à luz, à
beleza, à vida; Com as suas fraquezas, indigências e dores, ele chama em seu
auxílio o poder, a bondade e a paternidade de Deus.
Se tal é Deus e tal é o homem, você não vê que tudo os une? Deus se
curva com a sua bondade e os seus tesouros, e a fome aumenta com as suas
aspirações e necessidades: a religião é o templo onde ambos se encontram e
se abraçam. Deus, amando o homem e descendo até ele; o homem,
carregado nas asas da fé, da esperança e do amor, elevando-se em direção a
Deus e repousando no coração do Pai: isso é religião; aqui está a sua
grandeza, a sua beleza, a sua harmonia.
A religião serve a Deus e serve ao homem; e aí está a razão que explica
por que a religião nunca será destruída. Para isso seria necessário aniquilar
ao mesmo tempo o amor infinito de Deus e o coração do homem, que se
procuram e sempre se encontrarão.
Muitos volumes foram escritos e poderiam ser escritos sobre os
benefícios da religião, e o assunto nunca se esgotaria.
2º Para que serve a religião? Distinguir o homem do animal; É a ciência
moderna que o diz e o prova. Quatrefages, em seu belo livro da Unidade das
Espécies

118
humano, demonstra que duas características caracterizam o reino humano:
a ciência, fundada na distinção entre o bem e o mal, e a noção de Deus e da
vida futura, que ele chama de faculdade religiosa. Esses dois traços
característicos exclusivamente do homem são completamente estranhos ao
animal. Um homem não é um homem exceto porque é religioso. Então
aqueles que vivem sem religião separam-se da humanidade, descem um
degrau na escala dos seres e classificam-se entre os macacos mais ou menos
perfeitos: tal é a conclusão lógica da ciência.
Um dia, o ilustre Newton, presidindo um banquete de sábios, levantou-se
e disse: “Proponho um brinde solene e honroso a todos os homens que
acreditam em Deus e que o adoram: bebo à saúde da raça humana! ”
_O instinto religioso é o mais profundo e universal da natureza humana.
Onde há vestígios de homem, há vestígios de religião.
3º Para que serve a religião? Pergunte antes, para que não serve? Um
grande filósofo declara que a religião é o aroma da ciência e não é o aroma
de toda a vida? Sem religião só há uma felicidade: a de não ter nascido. Qual
é o propósito da religião? Pergunte aos pobres, aos aflitos, que nela
encontram a sua consolação; ao jovem, a quem ele preserva das paixões; à
jovem, que ele transforma em anjo; ao soldado a quem ele inspira coragem;
aos trabalhadores, que ele torna honestos e económicos; aos habitantes das
cidades, a quem protege da corrupção; aos agricultores, aos quais procura a
felicidade na sua vida simples e laboriosa.
Um grande criminoso seria executado. Sentado no catre de sua
masmorra, ele ouvia um sacerdote que tentava fazer com que o
arrependimento e a esperança penetrassem em sua alma. "Pai! -grita o
prisioneiro de repente- Eu sou culpado, mas conheço outros que são mais
criminosos do que eu; Foram eles que me fizeram ignorar o que você está
me dizendo. A religião teria me salvado: sem ela, me tornei um monstro, e
agora me vejo diante do cadafalso”. Na manhã seguinte, já no cadafalso,
abraçou o padre e o crucifixo e, mostrando-os à multidão emocionada,
gritou:
Cidade! Aqui você tem seus verdadeiros amigos. Acredite no homem
que vai morrer porque soube disso tarde demais.”
4º Para que serve a religião? Ela é a égide da família: inspira dignidade e
ternura no marido e pai; para a mãe, o

119
respeito e altruísmo; aos filhos, o sentimento de dever e piedade filial.
A religião é a salvaguarda da sociedade: inspira justiça aos governantes
nas suas resoluções; Impõe ao povo o respeito pela lei e o amor pela pátria.
O que seria da sociedade sem religião? Um famoso socialista, Pedro Leroux,
vai nos dizer: “Já que não há nada na terra senão coisas materiais, bens
materiais, ouro e estrume, dê-me a minha parte desse ouro e esterco - cada
homem que tem o direito de lhe dizer que respira. -“Você fez a sua parte”,
responde o fantasma social que temos hoje. “_Julgo que foi mal feito”,
responde o homem por sua vez. “Você estava satisfeito com ela antes”, diz o
fantasma. “Antes, insiste o homem, havia um Deus no céu, uma glória a ser
conquistada e um inferno a temer. Houve também uma saciedade na terra
em que tive a minha parte, pois sendo vassalo tinha pelo menos o direito do
vassalo: obedecer sem me rebaixar. Meu mestre não me comandou sem
direito ou em nome de seu egoísmo, porque seu poder voltou para Deus, que
permitiu a desigualdade na terra. Tínhamos a mesma moral e a mesma
religião; Em nome dessa moralidade e dessa religião, servir era meu destino,
comandar era dele; Mas servir era obedecer a Deus e pagar com a minha
abnegação a um protetor na terra. E se eu era inferior na sociedade secular,
era igual a todos na sociedade espiritual, que se chamava Igreja. E mesmo
esta Igreja não era mais que o vestíbulo e a imagem da Igreja verdadeira, da
Igreja celeste, para a qual se dirigiam as minhas esperanças e os meus
olhares... sofri para merecer, sofri para gozar da bem-aventurança... tive a
oração, os sacramentos, o santo sacrifício. Ele tinha o arrependimento e o
perdão de Deus. Agora perdi tudo isso. Mal posso esperar por um paraíso;
Não existe mais uma Igreja. Você me ensinou que Cristo reza como um
impostor; Não sei se Deus existe, mas sei que quem faz as leis acredita
pouco nelas, e as faz como se não acreditasse nem pouco nem muito na sua
eficácia. Você reduziu tudo a ouro e esterco.
Por que obedecer?... Se não existe Deus, não há patrões; Se não
existe paraíso lá em cima, quero a minha parte na terra..."
A religião alerta contra o luxo, os prazeres e as despesas inúteis.
Promove o amor ao trabalho, hábitos de ordem e economia, paciência nas
adversidades e tristezas.
Um eminente pensador, Le Play, que viajou por todo o mundo para
estudar a questão social, após longas observações, declara:

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1º. Que onde quer que a religião fosse honrada e os dez mandamentos da
lei de Deus fossem observados, a família, o trabalho, a força física, os
costumes, a prosperidade pública e a felicidade social florescessem.
2º Que onde, pelo contrário, declinou a fé religiosa e a observância do
Decálogo, ali se alteraram a moralidade, o amor ao trabalho, o vigor das
raças, a fertilidade das famílias. Germinaram as discórdias sociais que
provocam a ruína das cidades. E Le Play fala aqui, não como cristão, mas
como um observador imparcial muito calmo, com colunas de números e
com evidências palpáveis de todos os tipos.
Conclusão: Nada é mais útil que a religião.
77. P. _A religião é boa para as mulheres.
R._1º E porque não para os homens? Homens e mulheres não são iguais
diante de Deus? Não têm eles a mesma natureza, os mesmos deveres, os
mesmos destinos? Os homens não são criaturas de Deus e não deveriam, tal
como as mulheres, proclamar a sua adesão ao Criador? Se Deus tem direito
à adoração das mulheres
Por que ele não deveria ter o mesmo direito à adoração dos homens? Ou será
que por ter barba você acredita que tem o direito de tratar Deus como
igual?...
2º “0 a religião é verdadeira ou é falsa. Se for verdade, é tão verdadeiro
e, portanto, tão bom para os homens como para as mulheres. Se for falsa, é
tão ruim para as mulheres quanto para os homens, porque a mentira não faz
bem a ninguém.”
3º A religião é necessária para as mulheres mas é ainda mais para os
homens. Ele é o chefe da família e recebeu a missão de guiá-la ao seu
destino, que é Deus. Poderá fazê-lo se não lhe der um exemplo de piedade,
se não marchar primeiro, como um capitão à frente da sua companhia, sob a
bandeira da religião?
4º Você dirá: Religião é uma questão de sentimento. A mulher vive com
o coração, ela precisa de emoções; o homem é mais positivista.
E o que é mais positivo que a religião? O que é mais real do que a sua
existência? Você vive, isso é positivo e você deve se perguntar por que está
na terra. Sua razão lhe responderá: você vem de Deus, você é seu servo,
você mora em sua mansão, você se aquece nos raios de seu sol, você se
alimenta de seus dons e existe apenas para executar suas ordens. Ele é seu
Senhor e Dono. Mas

121
Você quer cumprir as leis deles, sair da casa deles... Mas para onde você irá
se não estiver na casa deles?...
5º O que você quer de mais positivo do que sua alma salvar, o céu
merecer, o inferno evitar? Para conseguir,
Não é necessário superar as paixões, praticar as virtudes, cumprir todos os
seus deveres? Agora, você não pode fazer nada disso sem a ajuda da
religião.
Conclusão:A religião é boa e necessária para todos. Ela nos ensina a
conhecer, amar e servir a Deus, que é o Deus de todos. Ela garante a
salvação da nossa alma, que é assunto de todos. Ela nos conduz ao céu, que
é a pátria de todos. E como na raça humana o homem ocupa sempre o
primeiro lugar como responsável máximo pela família, ele deve também ser
o primeiro na prática da religião.
Um dia perguntaram a um velho magistrado: _Por que há menos
mulheres do que homens nas prisões? _A razão é, respondeu ele, porque há
mais mulheres do que homens nas igrejas.
78. P._Basta ser honesto.
R. -1º Sim; Basta evitar o cadafalso, mas não ir para o céu. Chega antes
dos homens, talvez; mas não é suficiente diante de Deus, Juiz Soberano.
2º Todos, hoje, fingem ser honestos: O jovem que se entrega às suas
paixões desenfreadas lhe dirá com toda a seriedade:
Eu sou um homem honesto! O patrão que maltrata os seus trabalhadores diz-
te: sou um homem honesto!; O trabalhador que não utiliza bem o seu tempo
ousa dizer que é um homem honesto; Todos os comerciantes se
autodenominam honestos. E, no entanto, vocês os ouvirão dizer, reclamando
uns com os outros: Em todo lugar vocês não veem nada além de fraude,
injustiça, engano... Homens honestos que só temem os gendarmes são os
defensores desta bela religião.
Que religião confortável, a religião do homem honesto!...
3º Você não tem nada, você diz, que te repreenda; Você domina suas
paixões e vive, como Bayardo, sem medo e sem mácula. Pois então você é
um milagre vivo, uma verdadeira maravilha: é tão difícil vencer as paixões,
sem a ajuda da religião!... Se as suas fraquezas e as suas quedas não
aparecem à luz do sol, é porque você sabe como escondê-los sob o manto da
hipocrisia repugnante.

122
Quantos homens honestos no mundo (que não julgo, exceto por fora),
são grandes criminosos aos olhos de Deus, que penetra nos pensamentos
mais íntimos da alma!... Mas mesmo que o que você afirma fosse correto ,
mesmo que você fosse casto, justo, bom filho, bom pai, bom cidadão, etc.,
não seria o homem honesto que a consciência exige.
4º _Você não é honesto quando não pratica religião. A honestidade é
acima de tudo justiça, que consiste em dar a cada um o que é seu. Agora, a
religião nada mais é do que justiça para com Deus. Portanto, quem não
pratica a religião não é honesto, porque não é justo com Deus. O que você
deve a Deus? Todos. O que você dá a Deus? Nada, ou quase nada. Portanto,
você não é honesto. Pode uma pessoa ingrata, um rebelde, dizer: não tenho
nada do que me censurar, sou um homem honesto?...
5º Devemos reprovar a condescendência temerária que alguns cristãos
têm para com os homens sem religião. Muitas vezes acontece que, depois de
ter feito elogios imerecidos a estes infelizes, se acrescenta: Eles só precisam
de um pouco de religião! Como!
Você tem coragem de chamar de honesto um homem que não tem religião?
Mas então o Senhor nosso Deus merece tão pouca estima dos homens que
negligenciar o seu serviço não é aos seus olhos uma falta digna de
censura?... Violando os direitos do Criador, do Pai celestial, do nosso
Soberano Senhor, não é? Deixará de ser um crime suficientemente grave
para prejudicar a boa reputação de um homem e impedi-lo de gozar da
reputação de bom e honesto? Que escândalo!
Os ladrões, os assassinos, são menos culpados que os ímpios, ou que os
homens que vivem sem religião, porque as nossas obrigações para com Deus
são mil vezes mais importantes do que as nossas obrigações para com o
próximo.
Não devemos esquecer que Deus nos criou e nos colocou neste mundo
para conhecê-lo, amá-lo e servi-lo. O homem que não serve a Deus é um
monstro da natureza, assim como seria o sol se não brilhasse nem aquecesse.
O homem que não tem religião não se comporta como homem; Ele é um ser
degradado, uma afronta à criação.
Tenho a minha religião: sirvo a Deus à minha maneira.
A. _1º Você teria razão se Deus tivesse dito: Cada um pode me servir
como quiser...; mas não é assim. Deus é o único que tem o direito de dizer
ao seu servo como servi-lo.

123
2º O trabalhador que quisesse fazer o trabalho a seu bel-prazer seria
demitido imediatamente. Um soldado que dissesse: eu faço o exercício do
meu jeito, não escaparia do castigo. Julguemos por estes exemplos o castigo
que seria merecido pelo homem que teve a insolência de dizer a Deus: tenho
a minha religião, sirvo-te à minha maneira. Se Deus é Senhor, não está claro
que cabe a Ele regular a adoração que lhe convém e ordenar a maneira como
Ele deseja ser honrado e receber oração?
3º Se cada um se arrogasse o direito de criar uma religião à sua maneira,
nasceriam milhares de religiões, ridículas e contraditórias, como comprova a
história dos povos pagãos e das seitas protestantes.

IV. Existe apenas uma boa religião


79. P. -Pode haver várias religiões boas?
R. _Não; pois só pode haver uma religião verdadeira.
Assim como só existe um Deus, só existe uma maneira verdadeira de
honrá-Lo; e esta religião une todos os homens que a conhecem.
1º Uma religião, para ser boa, deve agradar a Deus. Mas visto que Deus
é a verdade, e uma religião falsa não poderia agradá-lo, ele não pode aprovar
uma religião fundada em mentiras e erros.
2º Só pode haver uma religião verdadeira, pois a religião é o conjunto
dos nossos deveres para com Deus e esses deveres são iguais para todos os
homens. E, na verdade, estes deveres surgem das relações existentes entre a
natureza de Deus e a natureza do homem. Mas visto que a natureza de Deus
é una e a natureza humana é a mesma em todos os homens, é evidente que
os deveres devem ser os mesmos para todos. Portanto, a verdadeira religião
é una e não pode ser múltipla. As formas sensatas de adoração podem variar;
a essência do culto, não.
3º Toda religião inclui três coisas: dogmas para acreditar, uma moral
para praticar e um culto para prestar a Deus. Se duas religiões são
igualmente verdadeiras, têm o mesmo dogma, a mesma moralidade, o
mesmo culto; e então eles não são mais diferentes.
Se forem diferentes, não o poderão ser senão ensinando doutrinas
diferentes sobre um destes assuntos e, neste caso, já não o são.

124
Eles são igualmente verdadeiros. Por exemplo, para esta pergunta:
Jesus Cristo é Deus?Sim, diz um católico; Pode ser, diz um protestante
racionalista; Não, responde um judeu; Ele é um profeta como Maomé,
acrescenta um muçulmano... Estes quatro homens não podem estar certos ao
mesmo tempo; Obviamente, apenas um diz a verdade. Portanto, as religiões
que admitem, mesmo que apenas uma verdade dogmática diferente, não
podem ser igualmente verdadeiras.
O que dizemos sobre o dogma deve ser afirmado também sobre a
moralidade, só existe uma moralidade, pois deve se basear na mesma
natureza de Deus e do homem que não muda. O mesmo deve ser dito do
culto, pelo menos em termos das suas práticas essenciais.
Quando os protestantes dizem: Servimos ao mesmo Deus que os
católicos, portanto a nossa religião é tão boa quanto a deles, respondemos:
_Certamente, vocês servem ao mesmo Deus, pois só existe um, mas vocês
não o servem da mesma maneira. Você não o serve da maneira que ele quer
ser servido. É aí que reside a diferença... Deus é Senhor, e o homem deve
submeter-se à sua vontade. Aqueles que dizem que todas as religiões são
boas não veem na religião nada mais do que uma homenagem prestada a
Deus, e pensam erroneamente que qualquer homenagem Lhe agrada.
Esquecem-se de que a religião contém verdades para acreditar, deveres a
cumprir e um culto ao qual prestar homenagem. E é claro que não pode
haver várias religiões com crenças contraditórias e práticas opostas, porque
só existe uma verdade, e Deus não pode aprovar o erro.
Objeção: 1º Todas as religiões são boas.
R. _Todas as moedas são boas? Não deveríamos distinguir entre
verdadeiro e falso? Bem, a mesma coisa acontece com a religião. Mas, a
moeda falsa supõe a moeda boa que nada mais é que uma imitação
criminosa; Assim, as falsas religiões supõem a verdadeira.
Se todas as religiões forem boas, você pode ser católico em Roma,
anglicano em Londres, protestante em Genebra, muçulmano em
Constantinopla, idólatra em Pequim e budista na Índia. Isso não é ridículo?
Não é afirmar que sim e não são igualmente verdadeiros no mesmo caso?
Dizer que todas as religiões são boas é um absurdo palpável, uma blasfêmia
contra Deus, um erro fatal para o homem.
1º Um absurdo. _É verdade que nas diferentes religiões existem algumas
verdades aceitas por todos, como a existência de

125
Deus, a espiritualidade da alma, a vida após a morte com suas recompensas
e punições eternas. Mas eles se contradizem em outros pontos fundamentais.
O católico, por exemplo, afirma que a missão da Igreja é explicar-nos a
palavra de Deus contida na Bíblia, enquanto o protestante declara que cada
cristão deve interpretar por si mesmo a palavra divina e forjar uma religião à
sua maneira...
Poderíamos citar indefinidamente as divergências contraditórias das
diversas religiões. Mas é evidente que duas coisas contraditórias não podem
ser verdadeiras, porque a verdade é uma só, como Deus, e não se contradiz.
Se a Igreja recebeu de Jesus Cristo a missão de nos explicar a Bíblia, não
cabe à vontade de cada cristão interpretá-la à sua maneira... É um absurdo
dizer que sim e não podem ser igualmente verdadeiros no mesmo ponto...
Mas como o que não é verdade não é bom, porque mentiras e erros não
servem para nada, devemos concluir que, como nem todas as religiões
podem ser verdadeiras, nem todas podem ser boas.
2º Uma blasfêmia contra Deus. _Dizer que todas as religiões são boas
não é apenas contradizer o bom senso, mas blasfemar contra Deus. É tomar
Deus por um ser indiferente à verdade e ao erro. Supõe-se que Deus pode
amar com o mesmo amor de complacência o cristão que adora o seu Filho
Jesus Cristo como o muçulmano que o insulta; que ele deve aprovar o Papa,
que condena a heresia, e Lutero, Calvino e Henrique VIII, que se rebelam
contra a Igreja; isso abençoa o católico que adora Jesus Cristo presente na
Eucaristia e sorri para o calvinista que zomba desse mistério... Mas atribuir
tal comportamento a Deus é negar seus atributos divinos; Isto é, trata a
mentira como verdade, o mal como bem, e aceita homenagens e insultos
com igual complacência... Isso não é blasfêmia?
3º Um erro fatal para o homem. _Para alcançar a felicidade eterna, o
homem deve seguir o caminho que leva a ela, e só a verdadeira religião é o
caminho que leva ao céu. Não é uma grande desgraça perder o caminho? E
se pelo menos uma vez chegado ao fim pudéssemos refazer o que fizemos!...
Mas se alguém erra por culpa própria, estará perdido para toda a eternidade.
A indiferença em ensinar que todas as religiões podem ser seguidas
tende a distanciar o homem da verdadeira religião, do único meio de atingir
o seu objetivo. É, portanto, um erro fatal.

126
Objeção: 2º Um homem honesto não deve mudar de religião, deve seguir
a religião de seus pais.
R. _Todos podem e devem seguir a religião de seus pais se esta religião
for verdadeira; mas se for falso, existe a obrigação de renunciar a ele para
abraçar o verdadeiro.
Assim, quando alguém teve a alegria de nascer na religião verdadeira,
não precisa mudar as suas crenças e deve estar pronto para derramar a última
gota do seu sangue em vez de apostatar. Mas quando alguém não teve a
felicidade de nascer na religião verdadeira, se alguém a conhecer, é
absolutamente necessário, sob pena de grave má conduta, abandonar a
religião falsa e abraçar a verdadeira.
O dever mais sagrado do homem é seguir a verdade desde o momento
em que a conhece: acima de tudo, devemos obedecer a Deus. Abandonar a
religião falsa para seguir a verdadeira é obedecer à vontade de Deus e,
conseqüentemente, cumprir o mais sagrado dos deveres. Sem dúvida nada
merece tanto respeito como as crenças dos nossos pais; mas este respeito
tem os seus limites, os limites da verdade. Ninguém é obrigado a copiar os
defeitos dos pais. Se seus pais são ignorantes, é necessário que, por respeito,
você permaneça ignorante como eles? A salvação é um assunto pessoal e
individual, pelo qual cada pessoa é responsável diante de Deus.
As causas para negligenciar a adoção da religião verdadeira são o
respeito humano, os interesses temporais, o desejo de seguir as próprias
paixões; Mas, obviamente, estas causas são más e, portanto, devem ser
sacrificadas para cumprir a vontade de Deus e salvar a alma.
80. P. _O homem é obrigado a buscar a verdadeira religião?
R. _Sim, o homem é estritamente obrigado a buscar a verdadeira religião
quando duvida seriamente de não professar a verdadeira religião.
1º É fato que há homens que acreditam professar a verdadeira religião, e
outros que têm dúvidas sobre o assunto. Agora, aqueles que sinceramente
acreditam possuir a verdadeira religião não têm obrigação de perguntar qual
é a verdadeira religião. Se de facto não o possuem, a sua boa-fé desculpa-os,
desde que não tenham suspeita de estar errados.

127
2º Quem tiver dúvidas graves tem a estrita obrigação de esclarecer as
suas dúvidas. O homem deve praticar uma religião: só uma religião agrada a
Deus; Então, o homem é obrigado a investigar a sua vontade para executá-
la.
3º O bom senso ensina que, quando estão em jogo interesses sérios,
deve-se informar-se sobre os meios de os assegurar.
E que interesse é mais sério que o da alma e do seu destino eterno? Não
posso enfrentar a sangue frio esta terrível alternativa que terei de enfrentar
do outro lado do túmulo: uma eternidade de tormento ou uma eternidade de
felicidade. Devo saber por que meios e em que religião posso salvar a minha
alma. Se eu permanecer indiferente, meu comportamento será o de um tolo.
Pode-se dizer da religião o que Pascal disse de Deus: “Só existem dois
tipos de homens razoáveis: aqueles que amam a Deus de todo o coração,
porque o conhecem, e aqueles que O buscam de todo o coração, porque não
o fazem. conhecê-lo”.

V. A verdadeira religião é a religião revelada


81. P. _Qual é a verdadeira religião?
R. _A verdadeira religião é aquela que vem de Deus, aquela que o
próprio Deus nos revelou.
1º A verdadeira religião deve vir de Deus. _Numa casa, o pai, o chefe da
família, é quem deve governar, é ele quem deve ditar as leis para sua
família. O estrangeiro que quisesse se arrogar esse direito seria um
usurpador. O soberano é quem deve impor o cerimonial que deve reger a sua
corte. Ora, Deus é o Pai e Rei da família humana, portanto Deus só tem o
direito de regular o culto que o homem é obrigado a prestar-lhe; Só ele
determina a forma como deseja ser homenageado; Só ele tem o direito de
nos dizer quais orações e sacrifícios serão agradáveis à sua divindade. Todos
os fundadores de religiões nada mais são do que aventureiros ou usurpadores
de um poder essencialmente divino.
2º Deus nos ensina de duas maneiras: pela razão e pela revelação.
a) A razão. _O homem, pela inteligência que recebeu, convence-se
com certeza de que Deus é seu Criador, seu Benfeitor e seu Senhor. A partir
desse conhecimento, que

128
deixa claro à razão do homem que é dever dele praticar uma religião.
A religião assim estabelecida pelo fato da criação do homem é chamada
de religião natural porque resulta das relações necessárias do homem com
Deus. Pode-se dizer que Deus é o Autor desta religião porque Ele é o autor
da razão e da vontade na qual os princípios e sentimentos religiosos têm sua
origem. Assim, a religião existe por direito natural e, como provamos, a falta
de religião é, ao mesmo tempo, um crime contra a natureza e uma rebelião
contra Deus.
b) A revelação._O pai de família não abandona os filhos sem lhes dar
educação e instrução adequadas. Quem pode dizer que Deus, depois de ter
criado os primeiros homens, os deixou entregues às luzes da sua razão, sem
lhes ensinar as verdades e os mandamentos da religião? Tal suposição carece
de toda probabilidade.
É evidente que Deus pode nos ensinar as verdades e os preceitos da
religião natural. -Mas Deus não poderia nos revelar novas verdades,
verdades que a criação não manifesta, e nos impor novos deveres?...
Ninguém pode razoavelmente duvidar disso. A religião revelada é aquela
que contém as verdades e os preceitos que Deus nos dá a conhecer de forma
sobrenatural, externa, expressa e positiva.
Deístas, racionalistas, materialistas, livres-pensadores e modernistas
sustentam que a revelação é impossível e, além disso, inútil. Para todos estes
incrédulos, a razão humana é o único árbitro do que é verdadeiro e do que é
falso, do que é bom e do que é mau. Ela é sua própria lei; Não precisa de
ajuda externa para garantir o bem das pessoas. Para refutar todos esses erros,
vamos provar:
1º Essa revelação é possível. 2º O
que é necessário.
3º Que Deus, de fato, revelou uma religião.
4º Esse homem é obrigado a praticar esta religião revelada.

1ª NATUREZA E POSSIBILIDADE DE REVELAÇÃO


82. P. -O que é revelação?

129
R. _Revelação é a manifestação de verdades religiosas que Deus faz ao
homem fora das leis ordinárias da natureza.
A palavra revelar significa retirar o véu que cobre um objeto; Ou seja,
contar a alguém algo que ele desconhecia ou que havia esquecido. Deus
revela quando manifesta à nossa inteligência verdades até então
desconhecidas, esquecidas ou mal compreendidas.
A revelação é a manifestação das verdades religiosas, porque Deus só
revela verdades ou fatos históricos úteis para a salvação dos homens. Deixe
de lado as artes e as ciências que servem apenas à vida temporária.
Acrescenta-se: fora das leis ordinárias da natureza, para distinguir a
revelação aqui em questão da revelação natural, que é feita pela luz da razão,
e pelos outros meios naturais dados ao homem para adquirir conhecimento.
A revelação é um ato sobrenatural de Deus, por meio do qual Ele manifesta
aos homens as verdades da religião, quer Ele mesmo nos fale diretamente,
quer Ele nos fale indiretamente por meio de mensageiros. No primeiro caso,
a revelação é imediata; e mediar quando Deus nos fala através dos seus
embaixadores ou legados.
83. P. _Deus pode falar com os homens?
R. _Sim; Deus pode falar aos homens, porque sabe e pode fazer tudo.
Não se pode negar a possibilidade da revelação sem negar a ciência ou o
poder de Deus; sua ciência, supondo que ela não tenha nada a nos ensinar;
seu poder, negando-lhe uma faculdade que até o próprio homem possui.
Uma simples observação de bom senso é suficiente para provar a
possibilidade de revelação:
1º É evidente que Deus, possuindo inteligência infinita, deve conhecer
verdades inacessíveis à nossa, que é limitada; da mesma forma que o
firmamento contém estrelas que a nossa visão não consegue alcançar. Seria
tolice dizer que o homem sabe tudo o que Deus sabe, vê tudo o que Ele vê e
entende tudo o que Ele entende. É natural, portanto, que Deus tenha muitas
verdades para ensinar aos homens.
2º É evidente também que Deus deve ser capaz de fazer o que o homem
pode. Agora, o homem recebeu de Deus o poder de comunicar seus
pensamentos aos seus semelhantes. O pai instrui

130
seus filhos, o professor seus discípulos, e por que seria difícil para Deus
instruir o homem, sua criatura inteligente?... O homem sábio pode transmitir
aos ignorantes os segredos da ciência, e será possível que Deus não tenha os
meios necessário para nos fazer conhecer os mistérios da sua vida divina e
os decretos da sua vontade? O homem aceita a ciência profana, baseada no
testemunho dos sábios
e por que ele se recusará a aceitar a ciência da religião, baseada no
testemunho de Deus?
3º É também evidente que a revelação está tão longe de aniquilar ou
inutilizar a razão que, pelo contrário, a pressupõe e exige. Pode-se dizer que
o telescópio destrói a visão, porque aumenta seu alcance e faz ver estrelas
até então escondidas nas profundezas do céu? O telescópio assume o olho e
o aperfeiçoa; e a revelação envolve a razão, aperfeiçoa-a e enriquece-a,
revelando verdades sublimes e importantes que ela não consegue descobrir
com as suas próprias forças.

2ª NECESSIDADE DA REVELAÇÃO
84. P. _É necessário que Deus revele a religião?
R. _Sim; A revelação é moralmente necessária para que a raça humana
conheça prontamente, com certeza e sem erros, as verdades e preceitos da
religião natural.
2º Se Deus quer elevar o homem a um fim sobrenatural, a revelação
torna-se absolutamente necessária para conhecer esse fim e os meios para
alcançá-lo.
A necessidade moral representa uma dificuldade muito grande, mas não
invencível, para o homem alcançar o conhecimento completo e certo das
verdades da religião natural.
A necessidade absoluta supõe a impossibilidade, a impotência radical de
conhecer as verdades da religião sobrenatural.
1ºNecessidade moral de revelação para a religião natural.
_Não há dúvida de que a razão pode, com suas próprias luzes, conhecer a
existência e a unidade de Deus, a imortalidade da alma, a obrigação da lei
moral sancionada na vida... Mas a grande maioria da raça humana não pode,
sem revelação, pode-se facilmente chegar ao conhecimento rápido, certo e
completo das verdades e preceitos da religião natural.
Está comprovado pela razão. 1º Sem revelação poucos homens
alcançariam esse conhecimento. Na verdade, alguns são de um

131
inteligência muito limitada; os outros estão demasiado distraídos com as
tarefas domésticas, com as necessidades da vida, com cuidados temporários;
outros, finalmente, são preguiçosos, indolentes, inimigos do estudo: a
maioria não pôde ou não quis empreender o trabalho árduo necessário para
encontrar essas verdades que são, no entanto, tão transcendentais.
2º Se faltasse o auxílio da revelação, os homens, mesmo os mais
inteligentes, os mais bem dispostos, não seriam suficientemente instruídos
senão depois de um estudo prolongado, e apenas na idade em que as
paixões, agora mais calmas, deixam tudo ao espírito. seu vigor. Eles
passariam, pelo menos todo o tempo de sua juventude, na ignorância das
verdades mais necessárias ao governo da vida.
3º Se faltar revelação, os homens não poderão conhecer as verdades
religiosas com certeza e sem mistura de erros. A razão, mesmo a dos
homens mais sábios, é muito fraca; dúvida sobre muitas coisas. De boa fé,
ou maliciosamente, ele mistura sofismas com seu raciocínio. Um grande
número de filósofos; antigos e modernos, cometeram erros da forma mais
grosseira e se contradisseram; Depois de ouvi-los, não se sabe o que esperar.
Ninguém forneceu um código completo de lei moral, claro, certo em suas
regras e sanções; e portanto: eficaz. É, portanto, moralmente necessário que
Deus fale, para que o conhecimento da religião seja certo, rápido e comum a
todos os homens.
Também é demonstrado pela história.A história confirma a
relativa impotência da razão humana. Vinte séculos de paganismo mostram-
nos a que está reduzido o homem privado da ajuda da revelação. Os povos
mais sábios: os egípcios, os caldeus, os gregos e os romanos, admitiram os
erros mais monstruosos. Deuses absurdos, animais, árvores, plantas eram
adorados; os vícios foram deificados; vítimas humanas foram imoladas; As
leis autorizavam a morte de crianças, escravos e gladiadores. O culto aos
falsos deuses estava manchado de infâmias indescritíveis; a injustiça, a
tirania e a corrupção eram profundas, e somente o Deus verdadeiro carecia
de templos e altares.
Conclusão._A revelação está, portanto, muito de acordo com a
sabedoria e a bondade divinas, porque um Deus sábio e bom não deixa as
suas criaturas privadas dos meios adequados para o cumprimento dos seus
destinos. Está tão longe de ser inútil

132
a revelação - como sustentam os racionalistas - que, pelo contrário, é
extremamente necessária para que as verdades religiosas e morais sejam
conhecidas por todos; com facilidade e rapidez, com certeza e sem mistura
de erros.
Objeção: Os filósofos, os sábios, não poderiam instruir o povo?
R. -Não; porque isso exigiria 1º que concordassem com a formação de
um corpo de doutrina; 2º e que estavam dispostos a instruir os ignorantes; 3º
que tinham a autoridade necessária para se fazerem ouvir e reprimir os
vícios.
Mas isso não acontece assim:
1. A história prova que os próprios sábios caíram nos erros mais
grosseiros no que diz respeito às verdades da religião e aos deveres que ela
impõe. Eles não concordam nem mesmo nas verdades mais essenciais... Não
se pode citar um único filósofo, seja da antiguidade pagã ou dos tempos
modernos, que tenha conseguido compilar um código satisfatório de religião
e moral. Demonstraram algumas verdades, mas quantas outras, não menos
importantes, passaram despercebidas, e quantos erros grosseiros não
misturaram com as poucas verdades conhecidas!
Os mais ilustres filósofos da antiguidade: Platão, Aristóteles, Cícero,
Sêneca, que nunca deixaram de levar em conta os restos da revelação
primitiva, apenas nos deixaram noções incompletas e frequentemente falsas
sobre as questões que mais interessam à nossa conduta e aos nossos
destinos.
Muitos dos nossos sábios modernos desceram a um nível inferior ao dos
antigos. Em nome da razão ensinaram os erros mais monstruosos e
degradantes como o ateísmo, o panteísmo, o materialismo.
Se os filósofos espíritas modernos não admitiram erros tão graves, é
porque viveram no cristianismo pleno e aprenderam o catecismo na infância.
“Não sei por que a bela moralidade dos nossos livros é atribuída ao
progresso da filosofia. Esta moral, tirada do Evangelho, foi cristã antes de
ser filosófica”. (JJ Rousseau).
2º Os filósofos nunca quiseram instruir o povo. Eles se cercaram de
alguns discípulos escolhidos, desprezando a plebe. Pelo contrário, apenas a
desviaram da verdade, prestando publicamente um culto hipócrita aos falsos
deuses, dos quais mais tarde zombaram com os seus seguidores. Nossos
filósofos modernos confessam

133
essa filosofia dirige-se a um pequeno número e corre o risco de ser ineficaz
nas alfândegas.
3º Por fim, mesmo que quisessem instruir o povo, ver-se-iam impotentes
para o fazer. Suas doutrinas eram contraditórias, tantas escolas, tantos
sistemas. Sua vida desmentiu sua doutrina. E que missão, que autoridade
tinham fora disso, para impor os seus ensinamentos a outros homens? "Eu
não conheço
_diz Voltaire_ um filósofo que reformou os costumes, não estou falando de
uma cidade, nem mesmo os da rua onde mora. A revelação da religião
natural era, portanto, moralmente necessária.
Também se diz: Minha razão me basta; Não sei o que fazer com a
revelação.
R. _1º A razão não tem sido suficiente para que os maiores gênios do
universo conheçam o conjunto de verdades e deveres religiosos, como
poderia ser suficiente para você?
2º A razão não é sequer capaz de resolver todas as questões que
necessariamente devem fazer parte de uma religião: a) Devemos um culto a
Deus, mas qual a forma desse culto?; _b) Quando violamos a lei moral,
temos uma conta a prestar à justiça divina, mas podemos esperar perdão? e
em que condições? _c) Existe uma vida futura com recompensas e
penalidades, qual a natureza dessas recompensas e dessas penalidades?
_A razão por si só não pode responder a essas grandes questões e outras
semelhantes.
3º A razão também não basta, se Deus revela mistérios para acreditar e
se dita preceitos positivos; Nesse caso devemos acreditar na sua palavra
divina, cumprir as suas leis, nada mais justo.
Mas tudo isto não prova que a razão seja inútil; Está tão longe de ser
assim, que se deduz antes a sua necessidade essencial, porque é ela quem
deve examinar se a religião que lhe é apresentada como vinda de Deus, na
realidade o é. Embora a fé esteja acima da razão, nunca pode haver qualquer
contradição real entre eles, porque ambos vêm do próprio Deus, fonte
imutável da verdade eterna, e assim se ajudam mutuamente. A razão testa,
protege e defende a verdade da fé; A fé, por sua vez, liberta a razão de todos
os erros, ilumina-a no conhecimento das coisas divinas, revigora-a e
aperfeiçoa-a.
2ª Necessidade absoluta de revelação para a religião sobrenatural. A
religião sobrenatural inclui: 1º mistérios, isto é, verdades para acreditar, que
a nossa razão não consegue alcançar; 2º

134
preceitos positivos, que dependem do livre arbítrio de Deus; 3º um fim
sobrenatural, que supera todos os recursos e todas as exigências da natureza
humana, e mesmo de toda a natureza criada; 4º meio conveniente para
atingir este fim sublime.
Ora, é evidente que, sem revelação, o homem não pode descobrir estes
mistérios, nem as ordens de Deus, nem o fim sobrenatural, nem os meios
para alcançá-lo. Nossa razão não tem mais luzes do que aquelas que brotam
da criação, e na natureza não há nada que possa nos revelar coisas
sobrenaturais. Se for do agrado de Deus impor-nos esta religião sublime, Ele
deve torná-la conhecida e o homem deve acreditar nesta palavra infalível de
Deus e submeter-se ao seu domínio soberano.

3º O FATO DA REVELAÇÃO.
85. P. _Deus falou aos homens?
R. _Sim; e é tão certo que Deus falou aos homens, como é que o sol
brilha ao meio-dia num céu sem nuvens. A revelação é um fato histórico mil
vezes mais verdadeiro que todos aqueles que a história nos apresenta.
Temos como prova a história de dois grandes povos, o povo judeu e o
povo cristão, que contam com mais de 500 milhões de homens espalhados
pelo mundo.
A revelação é um facto histórico e, como todos os factos, deve ser
comprovada por testemunhos e monumentos autênticos. Pelo contrário, a
divindade da revelação é demonstrada pelos sinais divinos que a
acompanharam, isto é, pelos milagres e profecias.
1º O primeiro testemunho do fato da revelação é o povo judeu, um dos
povos mais antigos do mundo. Os judeus afirmam que Deus falou ao povo
de Israel através do ministério de Moisés, e prometeu enviar outro profeta, o
Messias, a quem ainda aguardam. Toda a história do povo judeu envolve
revelação divina.
2º Como segundo testemunho do fato da revelação, olhem ao seu redor e
vejam a humanidade civilizada no mundo inteiro: mais de 500 milhões de
homens, católicos, cismáticos, protestantes, gritam para vocês: Deus falou,
particularmente através de Jesus Cristo, seu divino Filho feito homem, a
quem adoramos,

135
e por isso somos cristãos: Jesus Cristo é o Messias prometido a Moisés e aos
profetas.
Esta incontável geração dos nossos dias foi precedida por outra geração
anterior; isto, por outro, e assim por diante durante dezenove séculos.
Contando apenas três gerações de
500 milhões de cristãos por século; Temos mais de vinte bilhões de homens
que acreditaram e ainda acreditam que Deus falou aos homens. A
humanidade cristã é para nós um testemunho perpétuo e irrefutável da
revelação divina.
3º Existe um livro admirável, o mais antigo, o mais venerável, o mais
importante que se conhece no mundo: chama-se Bíblia, ou seja, o livro por
excelência.
A Bíblia, mais do que um livro, é uma coleção de livros que se dividem
em duas grandes categorias: os do Antigo Testamento, anteriores à vinda de
Jesus Cristo, e os do Novo Testamento, escritos depois de Jesus Cristo. Estes
livros compostos em diferentes épocas e lugares e por diferentes autores,
formam um todo, ligam-se, explicam-se e complementam-se.
Os primeiros cinco livros da Bíblia, chamados Pentateuco, têm nada
menos que 3.400 anos de existência: são, portanto, mais de 500 anos mais
antigos que os anais escritos dos povos mais antigos. Moisés, autor dos
primeiros cinco livros, viveu mais de mil anos antes de Heródoto, o mais
antigo historiador leigo cujos escritos sobreviveram até nós. O que dá
autoridade incomparável a Moisés é que, passados 4.000 anos, a própria
ciência vem confirmar suas narrativas, apesar de ter tentado mil e mil vezes
negá-las. As recentes descobertas feitas pelos sábios no Egipto, na Caldéia,
na Palestina, evidenciam ainda mais a veracidade da Bíblia.
O Antigo Testamento contém 40 livros, divididos em três classes: livros
históricos, livros didáticos e livros proféticos.
Os últimos livros da Bíblia, que compõem o Novo Testamento, datam de
2.000 anos e nos contam sobre o nascimento, a vida, as obras e a sublime
doutrina de Jesus Cristo, o Messias prometido e anunciado nos primeiros
livros da Bíblia. O Novo Testamento contém os quatro Evangelhos, os Atos
dos Apóstolos, vinte e uma Cartas ou Epístolas e o Apocalipse.
Ninguém pode duvidar da autoridade, do valor histórico e da veracidade
da Bíblia: são proclamados pela voz de dois grandes povos: o povo judeu e o
povo cristão, cuja existência sucessiva

136
Eles cobrem um período de mais de 3.500 anos. Milhões de judeus e cristãos
deram as suas vidas para defender a veracidade deste livro, e outros milhões
estão prontos a morrer pela mesma causa. Onde existe um livro, fora da
Bíblia, cuja veracidade foi testemunhada por milhões de mártires?
Este livro rodeado do maior respeito, guardado com cuidado religioso,
como um tesouro divino que contém a palavra de Deus, transmitida através
dos séculos, seja pelos judeus, seja pelos cristãos, não poderia sofrer
qualquer alteração. Era tão impossível alterar a Bíblia, como seria
impossível, hoje, alterar o Código Civil de uma nação cujas cópias estão na
posse de todos.
Podemos, portanto, concluir que os acontecimentos narrados na Bíblia
são absolutamente verdadeiros. É assim que a Bíblia nos conta as obras de
Deus, a sua aliança com o homem. E suas revelações divinas. Portanto, é
verdade que Deus falou aos homens.

Religião sobrenatural e positiva


86. P. _Deus se contentou em revelar uma religião
meramente natural?
R. _Não; Deus ama tanto o homem, sua criatura privilegiada, que quis
estabelecer com ele relações mais íntimas, relações sobrenaturais e divinas,
chamando-o para uma meta sobrenatural, que nada mais é do que a visão
intuitiva do próprio Deus no céu. Esta religião sobrenatural não é outra
senão a religião cristã.
1º O homem, por sua origem e natureza, é apenas criatura e servo de
Deus. Deus, através de uma bondade inefável e totalmente gratuita, quis
elevá-lo a uma dignidade superior, a de filho adotivo.
Mais de uma vez um nobre e rico príncipe foi visto escolhendo uma
criança pobre para tomar como filho adotivo e herdeiro de seu nome, de sua
dignidade e de seus bens. Mais poderoso que estes senhores da terra, Deus
não se contenta em conceder, aos que adota, títulos e esperanças; Ele lhes
comunica uma participação de sua própria natureza, enobrece e transforma
suas almas pela graça santificadora. Assim como o ferro na forja adquire o
brilho e o calor do fogo; Assim como o globo de cristal que encerra uma luz
brilha com suas claridades, assim também, pela graça santificadora, que
acompanha a adoção divina, a alma recebe uma participação na natureza e
na beleza de Deus.

137
2º Tal é a graça da adoção divina. Esse favor traz consigo outro: o filho
adotivo torna-se herdeiro. Adotando-nos como filhos, Deus nos dá por
herança a participação na sua própria felicidade, a visão, face a face, da sua
essência infinita no céu.
3ºEsses benefícios são devidos à natureza humana? A própria palavra
adoção nos diz que esses favores são dádivas gratuitas às quais o homem
não tem direito. A adoção, por sua natureza, é um ato de livre generosidade.
O estrangeiro e o servo, por mais que o façam, não podem adquirir o direito
de serem recebidos entre os filhos. Com razão ainda maior, o homem não
poderia naturalmente reivindicar a filiação divina, porque em relação a Deus
toda criatura é infinitamente inferior, essencialmente escrava e dependente.
A herança celestial, então, é uma participação na felicidade íntima de Deus,
e nem as exigências de nossa alma nem os méritos naturais de suas
faculdades podem nos dar qualquer direito a ela. São benefícios superiores à
sua natureza, e seu conjunto constitui uma ordem que se chama: ordem
sobrenatural, em oposição à ordem natural.
Esclarecimentos:1º A religião natural e a religião revelada são
diferentes, uma não é a outra mas são inseparáveis. A religião natural é o
fundamento e o suporte da construção; a religião sobrenatural é perfeição e
coroação. 2º A religião revelada contém todos os dogmas e todos os deveres
da religião natural; No entanto, esta última nunca existiu sem a primeira
porque Deus, desde o início, quis submeter o homem a uma religião
revelada com propósito e meios sobrenaturais. 3º Não só não pode haver
contradição entre eles; mas reina a harmonia perfeita, porque ambos são
obra de Deus, autor da ordem natural e também da ordem sobrenatural.

Ordem natural e ordem sobrenatural.


Cada um dos seres da Criação tem uma função designada no universo;
Tem o seu destino e recebe, com a sua natureza, os meios que lhe permitem
chegar ao seu fim com facilidade e segurança.
A ordemÉ a proporção entre a natureza de um ser, o propósito para o
qual foi criado por Deus e os meios que ele dá para alcançá-lo.

138
O natural é o que provém da natureza, o que um ser traz consigo ao
nascer e que deve possuir rigorosamente, seja para existir, seja para exercer
a sua atividade em vista do seu próprio fim.
O sobrenatural é algo que se acrescenta, se sobrepõe ao natural para
aperfeiçoá-lo, elevá-lo e fazê-lo passar a uma ordem superior. Assim, o
sobrenatural é o que está acima do poder e das exigências da natureza: é
como o enxerto que faz o porta-enxerto produzir frutos de espécie superior.
A ordem natural do homem é o estado de ser racional, dotado dos meios
necessários para atingir o fim de acordo com a sua natureza.
A ordem sobrenatural é o estado ao qual Deus eleva o homem, dando-lhe
um fim superior à sua natureza e meios proporcionais para alcançar este
novo destino.
I. ordem natural._Uma ordem supõe três coisas: 1ª, um ser ativo; 2º
fim; Terceiro, os meios para atingir esse fim.
Na ordem natural, o homem agiria apenas com as forças de sua natureza.
Teria como fim, como destino, a Verdade suprema e o Bem absoluto, isto é,
Deus; Um ser inteligente não pode encontrar a sua felicidade perfeita em
outro lugar. Como meio natural, o homem possui faculdades proporcionais
ao fim que sua natureza exige; uma inteligência capaz de conhecer toda a
verdade; um livre arbítrio capaz de tender para o bem. Estas duas faculdades
permitem ao homem conhecer e amar a Deus, que é a verdade e o bem por
excelência.
Mas, na vida futura, Deus poderá ser conhecido e possuído de duas
maneiras: direta e indiretamente; Deus é conhecido diretamente, quando é
visto face a face; e indiretamente, quando é percebido em suas obras. Ao ver
as obras de Deus, o homem vê refletida nelas, como num espelho, a imagem
das perfeições divinas.Assim, uma pessoa é conhecida ao ver o seu retrato.
Nenhuma inteligência criada pode, com as suas forças naturais, ver Deus
diretamente. Ver Deus face a face, como Ele é em Si mesmo, é vê-Lo como
Ele se vê, é conhecê-Lo como Ele se conhece, é tornar-se participante de um
atributo que pertence apenas à natureza divina. Portanto, se Deus tivesse se
limitado a nos deixar no estado natural, o homem fiel, durante o tempo da
prova, ao observar os preceitos da lei natural, teria merecido uma felicidade
conforme a sua natureza. Eu teria conhecido a Deus de uma forma mais
perfeita do que nesta vida, mas sempre

139
sob o véu das criaturas. Ele teria amado a Deus com um amor proporcional a
esse conhecimento indireto, como um servo ama seu senhor, uma pessoa
favorecida, seu benfeitor. Neste conhecimento e neste amor o homem teria
encontrado a satisfação dos seus desejos. Eu não poderia exigir mais.
Essa é a ordem natural. Esta ordem nunca existiu porque o primeiro
homem foi criado para um propósito sobrenatural. Mas foi possível.
Segundo a opinião comum dos teólogos, as crianças que morrem sem
batismo obtêm este fim natural... Gozam de uma felicidade conforme à
natureza humana; Conhecem a Deus pelas suas obras, mas não podem vê-lo
face a face: não contemplam a sua beleza imortal senão através do véu das
criaturas.
II. Ordem sobrenatural._Nesta ordem, o ser ativo é sempre o homem,
mas o homem transformado pela graça divina, da mesma forma que o
padrão rústico é transformado pela enxertia.
A finalidade sobrenatural do homem consiste em ver Deus face a face,
em contemplar a essência divina na plenitude das suas perfeições. Uma
criança sabe que seu pai é muito melhor quando o vê pessoalmente, quando
desfruta de suas carícias, do que quando vê seu retrato. Esta visão intuitiva
de Deus proporciona à alma um amor mais elevado e uma alegria
infinitamente maior. Ver assim Deus face a face na sua essência e na sua
vida íntima, amando-o com um amor correspondente a esta visão inefável,
desfrutando-o, possuindo-o de forma imediata, daí o fim sobrenatural dos
homens e dos anjos. Nada mais sublime...
O fim requer meios, que devem ser proporcionais a ele. Um fim
sobrenatural requer meios sobrenaturais. Para atingir este objetivo superior,
o homem necessita de luzes que elevem a sua inteligência acima das suas
forças naturais; de ajuda que fortaleça a sua vontade de fazê-lo amar o Bem
Supremo, como Ele merece ser amado. Essas luzes e esses socorros são
chamados, aqui na terra, de graça real e graça santificadora; no céu, luz da
glória.
A graça santificante é uma participação na natureza de Deus, segundo as
belas palavras de São Pedro: Divinae consortes naturae; É uma qualidade
verdadeiramente divina que transforma a natureza da alma e das suas
faculdades e se torna nela o início de virtudes e hábitos sobrenaturais,
levando-a a realizar atos que merecem uma recompensa infinita: a
participação na felicidade de Deus. Pela graça santifica-te,

140
o homem deixa de ser mera criatura e servo de Deus para se tornar seu filho
adotivo e possuidor de uma vida divina.
Assim como o fogo penetra no ferro e lhe comunica suas propriedades, e
então o ferro, sem perder sua essência, ilumina como o fogo, aquece como o
fogo, brilha como o fogo; Assim também a alma, transformada pela graça de
se santificar, sem perder nada da sua própria natureza, não tem apenas uma
vida humana ou uma vida angélica, mas uma vida divina. Veja como Deus,
ame como Deus, aja como Deus, mas não tanto como Deus. Não existe mais
apenas um vínculo de amizade entre ela e Deus, mas uma verdadeira união.
A natureza divina penetra nele e lhe comunica algo de suas perfeições.
Porém, o homem não se deixa absorver por essa transformação, ele preserva
sua natureza, sua individualidade, sua personalidade. A graça não destrói a
natureza, mas a pressupõe e a aperfeiçoa.
Essa é a ordem sobrenatural. Depois disso, fica bem entendido que todas
as obras feitas sem a graça de santificar não valem nada para merecer o fim
sobrenatural.

4ª OBRIGAÇÃO DE ABRAÇAR A RELIGIÃO


REVELADA.
87. P. _Somos obrigados a aceitar a religião revelada por
Deus?
R. _Sim; Todos os homens são obrigados a aceitar a religião revelada, a
acreditar nos seus dogmas, a cumprir os seus preceitos e a praticar o seu
culto.
Visto que Deus é a verdade última e a autoridade suprema, temos o dever
de acreditar na sua palavra e obedecer às suas leis.
Não há liberdade de consciência diante de Deus. Todo homem nasce
sujeito da verdade e é obrigado a professá-la na medida do seu
conhecimento.
Deus, como Criador, tem domínio soberano sobre todas as suas criaturas.
Ao criá-los, você não abre mão do direito de aperfeiçoá-los. Depois de ter
dotado o homem de uma natureza excelente, pode elevá-lo, se assim o
desejar, a um destino ainda mais excelente, com o qual exerce não só um ato
de amor, mas também um ato de autoridade: dá, mas quer. é aceitar o que ele
dá. Se o barro não tem o direito de dizer ao oleiro: Por que me fazes um vaso
de ignomínia?, menos ainda pode dizer: Por que me fazes um vaso?

141
honorário? A obra não pode recusar a perfeição que o trabalhador lhe quer
dar.
A nobreza obrigaÉ um axioma. Ora, para o homem, a qualidade de
ser filho de Deus, a vocação à glória do céu, é a maior da nobreza; Quem
cometer um crime contra ela torna-se culpado perante o Senhor Soberano, e
será tratado como escravo, pois não quis ser tratado como filho.
Além disso, uma vez estabelecido e provado o fato da revelação e da
vinda do Filho de Deus a este mundo, seríamos infiéis à própria razão e à
filosofia sólida se não acreditássemos na revelação. O pecado contra a
religião revelada torna-se um pecado contra a religião natural, que ensina
claramente que o homem tem a obrigação de submeter a sua razão à palavra
de Deus, acreditando no que ela ensina e praticando o que ela exige.
88. P._Para nos ensinar a verdadeira religião, é necessário
que Deus fale diretamente a cada um de nós?
A._Não; Isto não é necessário nem mesmo conveniente. Basta que Deus
instrua alguns homens e lhes confie a missão de ensinar aos seus irmãos a
verdadeira religião e de provar a divindade da sua própria missão com sinais
evidentes.
Para nos fazer conhecer a religião, Deus pode falar diretamente com cada
um de nós, ou pode encomendar alguns embaixadores para falar conosco em
seu nome. O primeiro método é chamado de revelação imediata e o segundo
é chamado de revelação mediata.
O primeiro método traz consigo sérias desvantagens, e esta é a razão pela
qual Deus não pôde usá-lo convenientemente.
1º Se a revelação divina fosse feita imediatamente a cada homem, os
impostores poderiam tomar como revelados por Deus os dogmas e preceitos
que mais gostassem de seguir, sem poder serem convencidos de uma
mentira pela autoridade de uma revelação pública e comum, já que não
existiria. Muito em breve haveria tantas religiões quanto homens; com todos
os males que podem resultar da ilusão e do fanatismo.
2º O tipo de revelação através do ensino e da autoridade é mais simples,
porque requer menos da intervenção sobrenatural de Deus. É igualmente
eficaz quando os mensageiros de Deus falam conosco, temos tanta certeza
da verdade como se Ele mesmo tivesse falado conosco.

142
Basta que o homem tenha certos sinais para verificar que aqueles que
receberam de Deus a missão de nos transmitir suas posições não se
enganaram, nem nos enganam. Não seria aquele súdito considerado tolo e
rebelde se se recusasse a executar as ordens do seu soberano, alegando que
não as tinha recebido do próprio príncipe, mas do seu intermediário?
3º Também não é necessário que cada homem testemunhe os sinais
divinos dados pelos legados de Deus para provar a sua missão. Se assim
fosse, teríamos de rejeitar todo o testemunho histórico, mesmo que ele nos
ofereça a verdadeira certeza, a certeza moral, que exclui qualquer dúvida e
mesmo a mais ligeira suspeita de erro.
Objeção: Por que existem homens que são intermediários entre Deus e
nós?
R. _Você rejeita a religião revelada porque ela foi transmitida a você
através de intermediários entre Deus e você. Mas então, se você for
coerente, deverá rejeitar tudo o que recebeu de Deus através dos homens: a
vida, a alimentação, o vestuário, a educação, a língua que fala, o nome que
leva e os direitos que goza na sociedade... afirmação é absurda.
Você não precisa que os homens nasçam, sejam alimentados e
instruídos? Bem, o que é verdade para a vida natural também deve ser
verdade para a religião. Entre Deus e nós mediamos, na ordem natural,
nossos pais, nossos professores de ciências seculares; Entre Deus e nós, na
ordem da religião, estão os patriarcas, os profetas, os apóstolos, os
sacerdotes, os embaixadores de Deus...
Tudo o que se pode justamente exigir destes embaixadores são as suas
credenciais: os sinais evidentes que comprovam a sua missão divina. Nada
mais.

Decretos do Concílio Vaticano I sobre a revelação


Para nos convencermos de que a doutrina da Igreja sobre a necessidade
da revelação é a mesma que acabamos de explicar, vejamos o que ensina o
Concílio Vaticano I:
“A santa Igreja, nossa Mãe, afirma e ensina que Deus, princípio e fim de
todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pelas luzes naturais da
razão humana, através das coisas criadas; porque as perfeições invisíveis de
Deus se tornaram

143
visível, após a criação do mundo, pelo conhecimento Dele que Suas obras
proporcionam.
“No entanto, é mais típico da sabedoria e da bondade de Deus revelar-se
a nós e revelar-nos os decretos eternos de Sua vontade por outro meio, por
um meio sobrenatural. Assim diz o Apóstolo: Deus, que muitas vezes falou
aos nossos pais e de muitas maneiras através dos profetas, falou-nos nestes
últimos tempos e nos nossos dias através do seu Filho.
“E graças a esta revelação divina, todos os homens podem, mesmo no
estado atual da raça humana, conhecer rapidamente, com certeza absoluta e
sem mistura de erro, as verdades divinas que não são em si acessíveis à
razão humana.
“Mas não é por isso que a revelação é absolutamente necessária, mas
porque Deus, na sua infinita bondade, destinou o homem a um fim
sobrenatural, isto é, a participar nos bens divinos que ultrapassam
inteiramente a inteligência humana, já que nem o olho do homem não tem
viu, nem o seu ouvido ouviu, nem o seu entendimento jamais foi capaz de
compreender o que Deus preparou para aqueles que o amam”.
Cânones. _1º Se alguém ousar dizer que o único Deus verdadeiro,
nosso Criador e Senhor, não pode ser conhecido com certeza pela luz natural
da razão humana, através dos seres criados, permanece fora da Igreja.
2º Se alguém disser que não é possível, ou que não convém ao homem
ser instruído pela revelação divina sobre Deus e o culto que lhe é devido,
está fora da Igreja.
3. Se alguém diz que o homem não pode ser elevado a um conhecimento
e a uma perfeição que supere o conhecimento natural, mas que por si mesmo
pode e deve, através de um progresso perpétuo, chegar finalmente à posse de
toda a verdade e de todo o bem, está fora da Igreja.

VI. Sinais ou notas de revelação divina


89. P. -Podemos conhecer a religião revelada por Deus
através de certos sinais?
R. -Sim: podemos conhecê-lo por sinais certos e infalíveis, e os principais
deles são os milagres e as profecias.

144
Se Deus nos impõe uma religião, deve dar sinais ou notas para a
distinguir das falsas religiões: a religião revelada deve levar a assinatura do
seu autor. Um rei possui um selo real para autorizar seus decretos; Um
homem tem sua assinatura com a qual assina suas cartas. Dois também
podem ter um selo, uma forma que ninguém pode falsificar. O selo de Deus,
a assinatura de Deus, é o milagre e a profecia.
Em relação ao milagre e à profecia, temos que considerar três coisas:
1º A sua natureza e a sua
possibilidade. 2º Sua verificação.
3º seu valor probatório.

PRIMEIRO SINAL DE REVELAÇÃO: O MILAGRE


1ª Natureza e possibilidade do Milagre
90. P. _O que é um milagre?
R. -O milagre é um fato sensível, que suspende as leis ordinárias da
natureza, excede sua força e não pode ser produzido senão por uma
intervenção especial de Deus, como a ressurreição de um morto; a cura de
um homem cego de nascença.
A palavra milagre designa um acontecimento extraordinário que suscita
admiração e causa surpresa. E neste sentido falamos dos milagres do gênio,
da eloqüência, da ciência, etc. Tomado neste sentido geral, o termo milagre é
completamente inapropriado. O milagre é um fato divino que vence as
forças da natureza e suspende as suas leis.
Para um verdadeiro milagre são necessárias três condições:
1º Fato sensível, capaz de ser visto ou percebido pelos sentidos; Se esta
condição estiver faltando, ela não poderá servir como prova de revelação.
2º Fato contrário às leis da natureza. O mundo é governado por leis que
Deus estabeleceu: o fogo queima; as águas correm; Os mortos não voltam à
vida. Se o fogo parar de arder, se a água parar, se um morto voltar à vida, há
uma suspensão dessas leis e, consequentemente, há um milagre.
3º Este fato requer uma intervenção particular de Deus, porque nenhum
ser criado, por mais poderoso que seja, pode mudar

145
nada nas leis estabelecidas pelo Criador. Somente Deus tem o poder de
realizar milagres.
Estamos falando aqui apenas de milagres de primeira ordem,
absolutamente divinos; seja na sua substância, seja na sua maneira. Estes
milagres, estes factos, que pela sua natureza, ou pela forma como são
realizados, ultrapassam verdadeiramente o poder de todos os seres visíveis e
invisíveis.
Sem dúvida, Deus é capaz de executá-los, desde o ministério de anjos ou
de homens; mas eles não agem nem em seu próprio nome nem por seu
próprio poder; mas em nome e pelo poder de Deus, de quem nada mais são
do que simples instrumentos. Deus é sempre o agente principal, a causa
eficiente do milagre.
Alguns autores também dão o nome de milagres a acontecimentos que
ultrapassam o poder dos seres visíveis, mas não o dos espíritos. Para
diferenciá-los dos primeiros, eles os chamam de milagres de segunda ordem.
Anjos e demônios têm um poder muito grande e podem utilizá-lo; mas
apenas com a permissão de Deus. Portanto, os anjos não realizam milagres
nem prodígios demoníacos, exceto quando Deus ordena ou permite por
razões dignas de sua sabedoria.
Deus não pode permitir que o diabo engane os homens; É por isso que é
relativamente fácil conhecer os prodígios dos demônios. Os teólogos
fornecem regras para discernir esses prodígios dos verdadeiros milagres.
91. P. _Deus pode fazer milagres?
R. _Sim; Deus pode realizar milagres porque criou livremente o mundo e
estabeleceu livremente as leis que o governam. Ele pode, portanto,
suspender essas leis sempre que desejar.
Dizer que o milagre é impossível equivale a negar a onipotência de
Deus; É contradizer o bom senso de todos os povos; é negar os fatos
históricos mais certos.
Os racionalistas não querem que o milagre seja possível, porque o
milagre aniquila os seus falsos sistemas. É por isso que gritam: Não há
milagres! milagre não existe! milagre é impossível! Esse é o seu slogan; mas
quanto às razões, não acrescentam nenhuma. Quando lhes mostramos
milagres óbvios, eles nem sequer se dignam a concentrar a sua atenção
neles. Ah, o fato é que, admitindo o milagre, teriam que desistir e acreditar
na existência de Deus, numa religião revelada, em toda a ordem
sobrenatural, e é justamente isso que eles não querem fazer, não importa o
que aconteça. qual o custo. Eles não querem ouvir sobre religião, então

146
tenha total liberdade na satisfação de suas paixões. Pobres cegos! O que
ganham enganando a si mesmos?... O bom senso, mais clarividente que
todas as ciências críticas do mundo, persiste em sustentar que um milagre é
possível.
O que a razão proclama? Ela nos diz que Deus estabeleceu livremente as
leis do mundo físico e que, portanto, pode modificá-las a seu gosto, abrir
exceções ou suspender seu curso. Ele criou o mundo; Ele não é, portanto,
seu dono? Deus criou o olho do homem e seus outros órgãos, e não pode ele
refazer esse olho, ou qualquer outro órgão destruído? Quem se atreverá a
afirmar que Deus não pode curar um coxo, curar um doente, ressuscitar um
morto? Um oftalmologista cura uma catarata;
Deus não poderia fazer o mesmo, sem usar um bisturi, ou estancar a febre
sem administrar quinino? Uma força mais poderosa pode anular uma
inferior: assim, a força do meu braço anula a força do peso. E por que Deus
não deveria ter o poder de parar e dominar as forças da natureza?...
“Se alguém, diz o incrédulo Rousseau, imaginar negar a Deus o
poder de realizar milagres, de revogar as leis que ele estabeleceu,
seria muito honrado ao puni-lo; "Seria o suficiente para trancá-lo em
um hospício.". Por esta razão, todos os povos do mundo admitiram a
possibilidade de milagres. Mais tarde veremos que existem verdadeiros
milagres, perfeitamente atestados e comprovados.
Além disso, o milagre não só é possível pelo poder de Deus, mas está
muito de acordo com a sua sabedoria. “Não seria conveniente, diz
Lactâncio, que Deus falasse como um filósofo que dá palestras: ele deve
falar como um senhor que ordena. Ele deve apoiar a sua religião, não em
argumentos, mas nas obras da sua Onipotência.”
Objeções: 1º O milagre perturba as leis e a ordem da
natureza; Assim, Deus quis que essas leis fossem invariáveis:
portanto, um milagre é impossível.
A. a) Supondo que o milagre perturbe essas leis
Devemos concluir que isso é impossível? Não; porque quem teve poder
suficiente para estabelecê-los, deve também ter poder suficiente para
suspendê-los, alterá-los e até mesmo aboli-los, se tiver boas razões para
fazê-lo. As leis da natureza estão sempre sujeitas à vontade onipotente de
Deus. Estas leis não são de forma alguma necessárias por si mesmas: Deus
poderia ter ditado outras. Se as leis matemáticas e as leis morais são

147
imutávelPor natureza, porque se baseiam na essência de Deus, que é
sempre a mesma, as leis físicas não o são, porque Deus as estabeleceu
livremente, pois poderia ter criado outra ordem de coisas.
b) O milagre não destrói nem as leis nem a harmonia da natureza. É uma
simples suspensão de uma lei particular e num caso particular. Esta
suspensão não destrói essas leis ou outras; em todos os lugares e sempre a
exceção apenas confirma a regra. Se o diretor de uma escola conceder folga,
o regulamento é abolido? Se um soberano, por boas razões, perdoa uma
pessoa condenada, isso impede o curso regular da justiça? A mesma coisa
acontece na natureza. Não se trata de multiplicar milagres e substituir a regra
pela exceção em tudo. O facto de um paralítico andar, de um cego ver, de
um morto ressuscitar, não impede a natureza de seguir o seu curso habitual e
de os homens permanecerem sujeitos à doença e à morte. Portanto o milagre
não destrói as leis nem a harmonia do universo.
2º Diz-se também que os decretos de Deus são imutáveis;
Assim, uma suspensão das leis gerais implica uma mudança de
vontade em Deus: portanto, um milagre é impossível.
R. _Esta objeção é infantil e fruto de verdadeira ignorância. O milagre
não implica nenhuma mudança nos decretos divinos: pelo mesmo ato de
vontade eterna, Deus decreta as leis e as exceções a essas leis que deseja
produzir no decorrer dos séculos. Desde toda a eternidade Deus concebeu o
plano da criação, e o milagre faz parte desse plano divino. Assim, Deus
decretou que em tal momento, por ocasião de tal súplica, por uma razão
digna de sua sabedoria, ele suspenderá as leis ordinárias da natureza. Ao
realizar milagres, Deus não muda os seus decretos, mas antes os cumpre.

2ª Verificação do milagre
92. P. Podemos verificar um milagre?
R. -Sim; Podemos verificar o fato milagroso e saber com certeza se este
fato é causado pela Onipotência de Deus.
Em todo milagre há duas coisas: o fato externo e sensível e a causa que o
produz.

148
1º O facto verifica-se como todos os outros factos naturais: se for facto
presente, pelo testemunho dos sentidos; Se for um fato passado, pelo
testemunho da história.
2º Se o fato sensível revoga as leis naturais e é superior às forças dos
seres criados, deve necessariamente ser atribuído ao Criador, pois não há
efeito sem causa capaz de produzi-lo. Neste caso, o evento ocorrido é um
milagre. Somente Deus é o dono da natureza; Isto não obedece aos
impostores.
Os racionalistas, derrotados pela possibilidade de um milagre, alegam a
impossibilidade de prová-lo, caso existisse. Esta afirmação é tão irracional
quanto a primeira.
Em cada milagre deve-se distinguir o fato em si e seu caráter milagroso;
coisas que são muito fáceis de verificar.
a) O feitoVerifica-se como qualquer outro fato sensível, seja pelos
sentidos, seja pelo testemunho de quem o presenciou. Suponhamos que um
homem cego seja reconhecido como incurável pelos médicos e que de
repente recupere a visão. É difícil provar que esse indivíduo era cego e agora
vê? Não é necessário recorrer aos sábios; O simples bom senso é suficiente.
Se não sou testemunha ocular do milagre, ainda é possível saber com
certeza. Todo homem razoável acredita num fato quando este é confirmado
por numerosos, constantes e uniformes testemunhos de homens dignos de fé,
isto é, de pessoas que não puderam ser enganadas e que não querem
enganar. Estas são as condições de todo testemunho e aplicam-se tanto a
eventos milagrosos como a todos os outros. Aplicando estes princípios,
posso ter certeza da ressurreição de um morto que remonta a dezenove
séculos, como se tivesse acontecido diante dos meus olhos; tanto quanto
posso ser sobre a batalha de Waterloo ou a existência de Paris. Negar isso é
negar a certeza da história.
b) A natureza milagrosa do evento pode ser verificada como o próprio
evento. Suponha que um homem morto seja ressuscitado. Onde está a causa
de sua ressurreição? Tudo o que acontece no mundo pressupõe uma causa
capaz de produzi-lo. Um homem falou estas palavras sobre o homem morto.
Levantar! Obviamente esta simples expressão não poderia reanimá-lo. É
uma lei comprovada que a palavra humana nada pode fazer sobre um
cadáver. Portanto, se a ressurreição ocorreu, é em virtude de um poder
superior. O que é esse poder? Todos os seres criados,

149
visível e invisível, são incapazes de destruir as leis estabelecidas pelo
Criador. Ressuscitar uma pessoa morta requer poder infinito. Portanto, só
Deus foi capaz de dar à palavra humana uma eficácia tão grande. Não é
necessário ter uma comissão de sábios para verificá-lo até que se tenha olhos
e uma pequena dose de bom senso.
Se há casos em que as leis da natureza não parecem evidentemente
revogadas, ou se é duvidoso que o facto exceda todas as forças criadas,
então a prudência obriga-nos a suspender todo o julgamento.
NB _Para comprovar a revelação, Deus usa milagres tão
óbvios que é impossível não distingui-los com certeza.
Objeções: 1º Como saber se um fato comprovado supera todas as forças
da natureza? Não seria necessário para isso conhecer todas as forças e todas
as suas leis?
R. _Não, não é necessário, e manter a afirmativa nos levaria à destruição
de todas as ciências naturais. É verdade que conhecemos algumas dessas
leis. Sabemos, sem dúvida, que um morto não ressuscita, que o fogo tem o
poder de queimar, que uma ferida antiga não cicatriza repentinamente e
milhares de outras leis semelhantes. Qualquer coisa que se manifeste em
oposição direta a uma lei conhecida da natureza nunca poderá ser produzida
por forças naturais. Portanto, existem alguns casos em que podemos julgar
com certeza a natureza milagrosa de um evento. Quando esse caráter não é
evidente, devemos abster-nos de fazer julgamentos; mas este caso duvidoso
não prejudica de forma alguma os casos certos.
Há olhos que não são capazes de especificar o limite exato entre a cor
amarela de um arco-íris e, ainda assim, todo olho saudável consegue
reconhecer linhas indiscutivelmente vermelhas e outras amarelas. A mesma
coisa acontece com os milagres. Nem sempre se pode afirmar se um dado
facto é realmente um milagre; porém, indicam fatos que são, com toda
certeza, verdadeiros milagres.
“Não é necessário conhecer todas as leis da nação, nem todos os
artigos do código, para garantir que o homicídio culposo constitui
uma violação da lei. Também não é necessário conhecer todos os
recursos da medicina para saber que uma simples palavra não faz
sair um cadáver da sepultura.

150
“Hoje em dia há quem oponha os efeitos do hipnotismo e da auto-
sugestão aos verdadeiros milagres. É indubitável que o poder da sugestão
produz fenômenos nervosos mais ou menos extraordinários. Também se
sabe que pode acalmar e até curar doenças nervosas. Mas dar visão aos
cegos de nascença, ouvir aos surdos e mudos, curar feridas e úlceras, é isso
que não pode fazer. A imaginação e a vontade são impotentes para renovar
os órgãos, destruí-los, bem como dar-lhes vida.”7
2º As descobertas da ciência moderna se opõem. Se os
nossos avós, dizem, ressuscitassem, ficariam deslumbrados
com as actuais invenções tecnológicas.
R. _É fácil distinguir entre o verdadeiro milagre e os
prodígios da ciência. Não há dúvida de que muitos fenómenos,
extraordinários noutros tempos, tornaram-se comuns à medida
que a natureza e as suas forças se tornaram mais conhecidas;
Muitas coisas, impossíveis para nós hoje, não serão
impossíveis para os nossos netos. Mas dois personagens
sempre distinguirão o acontecimento milagroso e o
diferenciarão de outros prodígios.
a) Em todos estes procedimentos da ciência há sempre um intermediário
entre causa e efeito; aquecer água em máquina a vapor; o fio e o dispositivo
nos telégrafos e nos telefones... A ciência está comprometida com a
descoberta desses intermediários. Nada semelhante acontece com o milagre:
Jesus chama Lázaro e ele, morto há quatro dias, sai do túmulo. Onde está o
intermediário? Uma coisa é realizar este ou aquele fato através do uso
engenhoso das forças da natureza, e outra bem diferente é fazê-lo sem a
ajuda de uma força natural.
b) Você pode repetir fenômenos científicos quantas vezes quiser; Basta
indicar a causa e o efeito necessariamente se seguirá. O milagre, porém, não
se renova; Ninguém tentará ressuscitar nem mesmo os mortos com a
palavra; Tão convencidos estão todos de que o prodígio de Betânia é um
acontecimento excepcional, fora das constantes leis da natureza. Esses dois
caracteres são suficientes para distinguir o milagre de todas as invenções
presentes e futuras.

7R. P. LODIEL, SJ Nossas razões de croire.

151
3ª Prova do milagre
93. P. _Os verdadeiros milagres provam de certa forma a
divindade da religião?
R. _Sim; porque são o sinal, o selo, a assinatura que Deus coloca em
todas as suas revelações para mostrar que Ele é o seu autor. Portanto, uma
religião confirmada por verdadeiros milagres só pode vir de Deus.
Um único milagre perfeitamente comprovado demonstra a divindade de
uma religião, porque Deus não pode aprovar o erro, nem favorecê-lo através
de milagres: caso contrário, enganará os homens testemunhando uma falsa
doutrina.
O milagre de primeira ordem não pode ter outro autor senão Deus. Se
esse milagre foi feito na confirmação de uma doutrina, é o próprio Deus
quem o confirma e lhe aplica o seu selo divino. Assim, a suposição de que
Deus confirma o erro é repugnante, porque enganaria os homens. Portanto,
quando um homem propõe uma doutrina como divina e a apoia com um
verdadeiro milagre, é o próprio Deus quem marca esta doutrina com o selo
da sua autoridade. Este homem não pode ser um impostor, e a doutrina que
ensina é necessariamente divina.
1º Um único milagre prova, em primeiro lugar, a existência de Deus,
porque o milagre é um fato divino; então supõe uma causa divina.
2º Um único milagre realizado em favor de uma religião comprova a
veracidade de tudo isso. Deus é a verdade por essência e não pode autorizar
uma falsa religião entre os homens, dando-lhe, mesmo que apenas uma vez,
o menor sinal externo de divindade. Caso contrário, os homens seriam
inevitavelmente enganados por culpa de Deus, em vista de um sinal divino
que, por natureza, é o verdadeiro selo da religião divina. Portanto, se vejo
um milagre, um único milagre numa religião, posso exclamar com certeza:
esta é a verdadeira religião!
3º O milagre é um autêntico título de fé para a missão de quem o produz.
É uma demonstração clara, breve e peremptória que Deus lhe envia. O que
faz um governante deste mundo quando envia um embaixador a outro
príncipe? Dá a você uma credencial autenticada com o selo real. Deus
procede como os príncipes deste mundo: quando envia os seus
embaixadores aos homens, dá-lhes a credencial mais certa, mais segura,
mais autêntica: o milagre.

152
“O milagre, diz o Cardeal Pie, é o verdadeiro eixo e fundamento da
religião cristã. Nem na pessoa de seus profetas nem na pessoa de seu Filho,
Deus tentou demonstrar, por qualquer tipo de raciocínio, a possibilidade das
verdades que ele ensinou ou a conveniência dos preceitos que ele insinuou
ao mundo. Ele falou, ordenou e, como garantia de sua doutrina, como
justificativa de sua autoridade, fez o milagre... Não nos é permitido,
portanto, de forma alguma, abandoná-lo ou enfraquecê-lo, relegando-o a
segundo plano , uma ordem de provas que ocupa o primeiro lugar na
economia e na história do establishment cristão. O milagre, que pertence à
ordem dos fatos, é, para as multidões, infinitamente mais probatório do que
todos os outros tipos de argumentos: através dele, uma religião revelada é
imposta e popularizada.” (Instruções sinodais).

SEGUNDO SINAL DE REVELAÇÃO: PROFECIA

1ª Natureza e possibilidade de profecia


94. P _O que é uma profecia?
R. -É a previsão certa de um acontecimento futuro, cujo conhecimento
não pode ser deduzido de causas naturais. Tais são, por exemplo, o
nascimento de um certo homem, os atos deste homem anunciados muitos
séculos antes.
A profecia difere essencialmente da conjectura; É certo e absolutamente
independente de causas naturais. Assim, as previsões do astrônomo que
anuncia eclipses; as do médico que prevê os resultados de uma doença; as de
um estadista que prevê uma mudança política não são profecias: são
deduções de causas naturais conhecidas. O diabo, superior ao homem em
inteligência, pode fazer conjecturas mais sérias que as do homem, mas não
pode fazer profecias, porque não conhece o futuro.
O que é necessário para a verdadeira profecia?É necessário: 1º,
que a previsão seja feita antes do acontecimento e com tal certeza que não
haja dúvidas quanto à sua existência; 2º, que o facto anunciado é de tal
natureza que nenhuma inteligência criada o pode prever através de causas
naturais; 3º, que o acontecimento se cumpra conforme a predição, porque a
profecia é prova, na medida em que o acontecimento anunciado a justifica.

153
Quais são os eventos que não podem ser conhecidos pela
ciência?_São aqueles que dependem do livre arbítrio de Deus ou do livre
arbítrio do homem. E como essas coisas não dependem de causas naturais, o
profeta não pode vê-las nelas. Ele não pode vê-los exceto onde estão, na
inteligência de Deus, que é o único que conhece o futuro. Portanto, a
profecia é um milagre de ordem intelectual, uma palavra divina.
92. P._Deus pode fazer profecias?
R._Sim; Deus pode fazer profecias, seja por si mesmo ou por seus
mensageiros, porque Ele conhece o futuro e pode manifestá-lo aos homens.
Os homens que recebem estas comunicações divinas e predizem o futuro são
chamados de profetas.
1º Deus conhece o futuro. A ciência de Deus é infinita. Abrange
simultaneamente o passado, o presente e o futuro. Assim, Deus conhece as
coisas futuras tanto quanto as coisas presentes, os atos futuros de causas
livres bem como os de causas necessárias. Se Deus não conhecesse os
eventos exceto quando eles ocorrem, sua ciência não seria infinita, Deus não
seria Deus. Para Ele não há passado nem futuro, mas um presente eterno.
2º, Deus pode manifestar aos homens o conhecimento desses
acontecimentos futuros, pois se Deus nos deu o dom de falar, por que Ele
teria se reduzido ao silêncio? Portanto, Deus pode fazer profecias e levantar
uma ponta do véu que esconde o futuro dos homens.
Essa é a crença de todos os povos. Todos: pagãos, judeus, cristãos,
acreditaram nas profecias; todos preservaram a memória dos oráculos que
anunciaram o Libertador do mundo, o Desejo das nações; o que prova que
todas as pessoas atribuíram o conhecimento do futuro a Deus.
Objeção: Como a presença de Deus pode ser reconciliada com a
liberdade do homem?
A. _1º A razão nos diz que Deus conhece o futuro e que somos livres:
isso nos basta. Na ordem natural há muitas coisas que não podemos
compreender, e fingiríamos querer compreender os infinitos atributos de
Deus? A criatura, limitada e finita, não consegue compreender o infinito.
2º A ciência de Deus não destrói a nossa liberdade, porque Deus vê as
nossas ações como elas são, ou seja, livres. Do alto de uma torre vejo um
homem que vai se jogar de um penhasco: Meu

154
Seu olhar pode influenciar a liberdade de sua ação? Obviamente não. Não há
dúvida de que o homem executa as ações que Deus previu, mas não as faz
porque Deus as previu; pelo contrário, Deus não as teria previsto se o
homem não as tivesse feito livremente sob o olhar divino.
Toda a dificuldade vem da palavra prever: coloque em seu lugar a
palavra ver, que é a exata, e a dificuldade desaparece. Deus vê com uma
visão simples e eterna, tudo o que ainda é futuro para nós. Mas a visão de
Deus não muda a natureza das coisas futuras. Deus vê tudo o que as
criaturas livres farão, sem influenciar de forma alguma a sua liberdade. Pois
assim como Deus, porque é imenso, está presente em todos os espaços, da
mesma forma está presente em todos os tempos, porque é eterno e imutável.

2ª Verificação da profecia
93. P. _Como você sabe que uma profecia é realmente
divina?
R. _Uma profecia é verdadeiramente divina, se for feita em nome de
Deus antes do evento que prediz; se o evento for verificado de acordo com a
previsão; se não for efeito do acaso; se não pudesse ser previsto por causas
naturais.
Previsão e realizaçãodo evento são fatos sensíveis aos quais as regras
ordinárias da ciência histórica podem ser aplicadas. O exame do
acontecimento e das suas circunstâncias permite-nos julgar se a previsão
pode ser atribuída a causas naturais e o cumprimento ao acaso.
Geralmente, para fazer com que as pessoas aceitassem uma profecia
relacionada ao Messias e com um cumprimento distante, os profetas
realizavam um milagre, ou acrescentavam uma profecia relacionada ao povo
judeu, cujo cumprimento deveria se cumprir diante de seus olhos. “Os livros
dos profetas contêm profecias particulares misturadas com as do Messias,
para que as profecias do Messias não ficassem sem provas e as profecias
particulares não ficassem sem frutos.” (Pascal).

3º valor probatório da profecia


94. P. - A profecia é prova da divindade da religião?

155
R._Sim; A profecia é a palavra de Deus, assim como o milagre é sua
obra. Assim, Deus não pode confirmar o erro com a autoridade da sua
palavra. Portanto uma religião que se baseia em profecias verdadeiras tem
um testemunho divino a seu favor.
A profecia é, sem dúvida, um verdadeiro milagre na ordem intelectual e,
portanto, tem a mesma força demonstrativa do milagre. É um selo divino,
um sinal infalível da revelação divina. Todos os povos deram este sentido às
profecias, que, como os milagres, são um meio certo para conhecer a
verdadeira religião.
DECRETOS DO CONCÍLIO VATICANO I
“Visto que o homem depende inteiramente de Deus, seu Criador
e Senhor, e visto que a razão criada está completamente sujeita à
Verdade incriada, quando Deus se revela, somos obrigados a
submeter-lhe plenamente a nossa inteligência e a nossa vontade
pela fé. Mas a fé, de acordo com os ensinamentos da Igreja Católica,
é umavirtude sobrenatural, pela qual, avisados e ajudados pela
graça de Deus, acreditamos serem verdadeiras as coisas que
Ele revelou,não para eleevidênciaintrínseca percebida diante da luz
natural da razão, maspor causa da autoridade do próprio Deus,
que revela e que não pode enganar a si mesmo nem nos
enganar.A fé é, segundo o Apóstolo, a substância daquilo que
esperamos e a convicção daquilo que não vemos.
“No entanto, para que a homenagem da nossa fé fosse conforme
à razão, Deus quis acrescentar à ajuda interior do Espírito Santo,
provasexterioresda sua revelação, ou seja,fatos divinos,e
particularmentemilagres e profecias. Essesfatos, mostrando
luminosamente oonipotênciae aciência infinitade Deus, eles
sãosinaismuito certo da revelação divina eapropriadoà inteligência
de todos. Por esta razão, tanto Moisés como os profetas, e
especialmente nosso Senhor Jesus Cristo, fizeram tantos milagres e
profecias manifestas. Lemos sobre os Apóstolos: '...e eles saíram e
pregaram por toda parte, cooperando o Senhor e confirmando a sua
doutrina com os milagres que se seguiram'8. Também está escrito:
'Temos também uma palavra profética que é mais forte do que o
testemunho de

8Mc 16, 20.

156
nossos sentidos, e aos quais você fará bem em estar atento,
como a uma tocha que brilha em um lugar escuro.'9
CÂNONES.1º Se alguém diz que a razão humana é independente de tal
forma que Deus não lhe pode impor a fé, está fora da Igreja.
2. Se alguém disser que a fé divina não se distingue da ciência natural de
Deus e das coisas morais e, conseqüentemente, que não é necessário para a
fé divina que uma verdade revelada seja crida por causa da autoridade de
Deus que revela, está fora do Igreja.
3º Se alguém disser que a revelação divina não pode ser credível por
sinais externos, e que os homens não devem ser levados à fé senão por uma
experiência interna e pessoal ou por inspiração privada, está fora da Igreja.
4º Se alguém disser que não há milagres possíveis e que,
consequentemente, todas as narrações de milagres, mesmo as da Sagrada
Escritura, devem ser rejeitadas como fábulas e mitos; ou que os milagres
nunca podem ser conhecidos com certeza e que não constituem uma prova
verdadeira da origem divina da religião cristã, permanece fora da Igreja.

Apêndice

euOS MISTÉRIOS DA RELIGIÃO


O que o racionalismo rejeita na religião revelada são os mistérios. Esta
palavra serve, ao mesmo tempo, como arma para combater a revelação e
como pretexto para não admiti-la. Admite apenas verdades de ordem
natural; Ele quer entender tudo. Ele afirma que a fé nos mistérios não é
razoável. Refutemos estas afirmações absurdas do racionalismo moderno.
Quatro coisas a considerar sobre os mistérios:
1º A sua natureza; 2º A sua existência; 3º A sua
racionalidade; 4º A sua utilidade.

1ª Natureza do mistério
95. P. _O que é um mistério?

9 Mal 3, 1.

157
R. _Um mistério, em geral, é uma verdade que a fome
conhecido, mas ele não entende.
Um mistério da religião é uma verdade revelada por Deus, na qual
devemos acreditar porque Ele o diz, mas que a nossa razão não consegue
compreender.
A palavra mistério significa algo oculto; É uma verdade conhecida, mas
não compreendida. O mistério não é algo impossível, pois existe.
Também não é algo ininteligível, pois os mistérios têm um significado
perfeitamente inteligível, e se não entendemos o como dessas verdades,
entendemos o que elas significam. O mistério não é contrário à razão; É
simplesmente superior à razão, que não consegue compreender como o que
é dito existe dessa maneira. O mistério não é algo em que se acredita sem
razão: desde que seja admitido assim que a razão veja claramente que deve
ser admitido.
O mistério é uma verdade verdadeira, mas oculta; uma verdade cuja
existência conhecemos, mas cuja natureza está oculta à nossa inteligência.
Mas, visto que uma verdade pode estar escondida em Deus ou na natureza
criada, devemos concluir que existem mistérios de Deus e mistérios da
natureza.
Os mistérios da naturezaSão fatos ou leis que a experiência nos faz
conhecer, mas cuja essência íntima a razão ainda não consegue explicar ou
compreender: assim são a eletricidade, a luz, a vida...
Os mistérios da religião são verdades escondidas em Deus que a razão
não pode conhecer se Deus não as revelar, e que, mesmo reveladas, o
homem não pode compreendê-las: tais são os mistérios da Santíssima
Trindade, da Encarnação, da Eucaristia...
96. P. -Não há diferença entre os mistérios da natureza e os
da religião?
R. _Existem duas grandes diferenças entre esses dois tipos de mistérios:
um vem do seu objeto, o outro da forma como conhecemos a existência de
ambos.
1ºOs mistérios da natureza têm por objeto os seres criados e
as leis que os regem. Os mistérios da religião têm como objeto
a natureza de Deus e seus desígnios sobre o homem.

158
2º Os mistérios da natureza nos são conhecidos pela experiência ou pela
razão. O trabalho da ciência é desvendar esses mistérios da criação.
Os mistérios da religião não podem ser conhecidos exceto através do
testemunho de Deus que os revela. Este testemunho divino é para nós na
ordem religiosa, o que é a experiência na ordem material; É um facto visível
que prova algo invisível: dá-nos testemunho dos mistérios de Deus. A
virtude da fé nos faz acreditar nos mistérios revelados pela autoridade e
veracidade de Deus que os revela.
3º Os mistérios da natureza podem ser mais ou menos compreendidos
por certas inteligências criadas, especialmente pelos anjos; que pode ler os
pensamentos de Deus manifestados e, por assim dizer, escritos na criação.
Os mistérios da religião não podem ser perfeitamente compreendidos por
nenhuma inteligência criada. São segredos escondidos na essência divina;
Eles ultrapassam o alcance das forças naturais de todo entendimento finito.
Sem dúvida, existem muitas verdades ocultas em Deus, cuja existência
desconhecemos, mas que, uma vez que Deus as revelou, são por nós
compreendidas; A esta classe pertenceria a instituição da Igreja, o primado
do Papa, etc. Essas verdades não são verdadeiros mistérios. Os mistérios são
verdades escondidas no infinito de Deus, e mesmo assim, quando esses
segredos divinos nos são revelados, não podemos ter uma noção clara deles;
Eles estão sempre envoltos em trevas.
A revelação de um mistério por Deus nos mostra que uma coisa existe;
sem nos ensinar como ele existe. Da mesma forma, revelamos aos cegos de
nascença os fenômenos da visão, dos quais eles não duvidam, mas dos quais
nunca compreenderão. Quando entrarmos no céu, Deus tornará a nossa
inteligência capaz de ver o que agora somos obrigados a acreditar sem
compreender...

2º Existência do mistério
97. P. _Existem mistérios na natureza?
R. _Sim; Na natureza há um grande número de coisas ocultas, cuja
existência é muito certa, mas que os homens não conseguem

159
entender, porque a inteligência humana é imperfeita. A razão, como o olho,
tem limites além dos quais não pode ver.
Além disso, como nem todas as inteligências têm a mesma extensão,
verifica-se que existem verdades compreendidas por alguns que
permanecem ocultas a outros, que acreditam nelas sem as compreender. Só
Deus, inteligência infinita, vê todas as coisas com clareza e só para Ele não
há mistérios.
1º O mistério encontra-se em toda a criação. O homem, por mais sábio
que seja, não sabe tudo sobre nada: a essência das coisas é impenetrável para
ele. O que é matéria, atração, luz, calor, eletricidade? Mistério. O que é a
vida? Como um grão de trigo produz uma espiga, uma pequena semente vira
sangue, nervos, ossos? Mistério. Como nossa alma está unida ao nosso
corpo? Como a vontade tem domínio sobre os órgãos? Como as palavras
comunicam ideias? Existem outros mistérios que escapam à penetração dos
sábios.
A ciência verifica os fatos e as leis da natureza, mas não os explica; Ele
confessa seu desamparo. “É preciso reconhecer que, sem voltar à origem das
coisas, a ciência só tem diante de si mistérios: atração, calor; “a constituição
dos corpos, da luz, da eletricidade, do magnetismo, da vida... O
conhecimento humano tropeça a cada momento em segredos impenetráveis,
tanto no mundo físico como no próprio homem.” (Masquart, membro do
Instituto de Física).
2º Existem verdades que são evidentes para alguns e mistérios para
outros. A razão do sábio compreende certas verdades científicas que são
mistérios para o comum dos mortais, por exemplo, que o sol está imóvel,
que a terra gira, que é possível medir a distância da terra ao sol... Se entre
Por causa dos sábios e dos ignorantes, a desigualdade é tal que o que é
evidente para um é um mistério para o outro. Quanto mais razão não deveria
existir esta desigualdade entre a inteligência do homem e a de Deus?
Quem está no sopé da montanha não vê o que vê quem está no alto; vê-
se de acordo com o grau de sua elevação. Só Deus está no topo da montanha
e tudo envolve com o seu olhar. O que Deus nos diz que existe é uma
evidência para Ele, que vê, e um mistério para nós, que não vemos.
98. P -É surpreendente que existam mistérios na religião?
R._Pelo contrário, seria mais surpreendente se não houvesse. A religião
tem como autor e objeto Deus, um Ser infinito. Mas como

160
infinito é incompreensível para toda inteligência criada e limitada, não
deveríamos nos surpreender que existam mistérios na religião.
Além disso, como o próprio mundo está cheio de mistérios, ninguém
deveria ficar surpreso ao encontrar mistérios na religião, que nos fala de
Deus, Criador do mundo.
Além disso, uma religião sem mistérios só pode ser uma religião falsa ou
muito imperfeita; porque Deus, ao nos revelar a verdadeira religião, deve ter
manifestado suas infinitas perfeições, perfeições cuja natureza ultrapassa o
alcance de nossa inteligência; daí se segue que os mistérios são um selo, um
sinal de uma religião divina.
1º Os mistérios da religião estão na natureza das coisas. O Ser eterno é
necessariamente infinito e, portanto, incompreensível para toda inteligência
criada. A revelação é a expressão do pensamento divino que é comunicado à
inteligência do homem. Ora, este pensamento infinito, caindo na menor
capacidade da inteligência humana, deve necessariamente transbordar por
toda parte. É o oceano que derrama a sua imensidão num buraco nas suas
margens; Uma gota d'água o enche, a imensidão transborda. E qual é a culpa
do oceano se o buraco não encerra sua imensidão, não pode contê-la? Essa é
a razão do mistério.
Por mais generoso que Deus seja conosco, Ele não pode fazer com que
nos tornemos um com Ele. Deus dilata o vidro da nossa inteligência, mas
não pode torná-la igual à verdade infinita que se encontra Nele. Assim como
há objetos que estão fora do alcance de nossas mãos e estrelas fora do
alcance de nossos telescópios, assim também há na imensidão da essência
divina verdades que estão fora do alcance de nossas inteligências limitadas:
essas verdades inacessíveis são chamadas de mistérios.
2º Como já provamos, existe na ordem da natureza criada visível,
palpável, finita, uma multidão de mistérios, isto é, de fatos e leis cuja
essência, causa e modo de ser até os sábios ignoram. Mais razão, então, é
que deve existir na natureza divina, incriada, invisível, impalpável, infinita,
uma multidão de mistérios que ultrapassam a inteligência criada. Se o
homem pudesse compreender Deus perfeitamente, seria necessário concluir
que ele é igual a Deus, ou que Deus não é infinito, o que é um absurdo.
O homem que rejeita a verdade religiosa porque não consegue
compreendê-la plenamente seria como o tolo que negou a

161
existência do sol, porque, ao abrir a janela do seu quarto, não conseguiu
encerrar nela toda a luz do astro rei.
Além disso, os mistérios em que Deus nos obriga a acreditar são muito
poucos, comparados com os da natureza. Isto significa que a ciência impõe
mais sacrifícios à nossa inteligência do que a religião.
3º Os mistérios constituem o lado divino do Cristianismo, porque a razão
humana não inventa o que não compreende. Nunca o homem teria sido
capaz de sequer suspeitar dos mistérios da Santíssima Trindade, da
Encarnação, da Redenção e da Eucaristia. Só Deus foi capaz de revelar
verdades tão sublimes e tão incompreensíveis ao homem. Portanto, a religião
que ensina tais coisas não é obra do homem, mas sim obra de Deus. Pela
mesma razão, em vez de rejeitar a religião por causa dos seus mistérios,
devemos aceitá-la com maior prazer, porque estes mistérios a marcam com o
selo da divindade.
Um homem sábio disse com grande sabedoria: “Se eu entendesse os
mistérios, seria mais difícil acreditar neles. Desconfio de um sistema
religioso demasiado humano e que o homem é capaz de imaginar. Deus fala:
fala de Deus: o que ele me ensina deve ser superior à minha razão. Uma luz
finita não é suficiente para compreender o infinito.”

3º Racionalidade dos mistérios


99. P. _É razoável acreditar em mistérios?
R. _Sim; Nada é mais razoável do que acreditar nos mistérios da
religião, pois foi Deus, a verdade por essência, quem os revelou a nós.
Se é razoável que um filho acredite, com base na palavra do pai, em
coisas que não entende; que um ignorante aceita, baseado na palavra dos
sábios; as verdades científicas que a sua inteligência não alcança: não é
muito mais razoável acreditar nos mistérios através da palavra de Deus, que
nunca poderá ser enganada ou nos enganar?
1º Pela fé acreditamos nos mistérios, baseando-nos na autoridade da
palavra de Deus. Não há dúvida de que, para acreditar, podemos exigir uma
demonstração adequada da revelação divina. Mas se for provado pela
história que Deus falou e revelou mistérios, devemos acreditar neles sem
hesitação. A partir do momento em que a sua palavra é conhecida, pouco
importa que Deus nos revele as coisas

162
compreensível ou não; Sua palavra é sempre infalível. A razão nos diz que a
inteligência finita deve submeter-se à inteligência infinita.
Admitimos diariamente, sem medo de nos enganarmos, mistérios da
natureza e das ciências, porque nos são atestados pela experiência ou pelos
sábios. Com ainda mais razão devemos admitir os mistérios da religião
atestados pela infalível palavra de Deus.
2º A fé nos mistérios não é uma submissão cega; Tem suas razões que
dão uma certeza igual e até superior à da ciência. Se o cristão fiel não pode
dizer: creio porque entendo, diz com certeza, fazendo um ato de fé: creio
porque tenho certeza de que Deus ele mesmo revelou os mistérios, e Deus
não pode enganar a si mesmo nem me enganar.
“O homem está tão longe de se humilhar acreditando na palavra de Deus
que, pelo contrário, realiza um ato glorioso e fecundo. Assim como o
telescópio amplia o campo de visão, assim a fé alarga o horizonte natural do
espírito e permite-lhe penetrar, extasiado, num mundo superior, cujas
maravilhas vislumbra. (Portais).
100. P. _Os mistérios são contrários à razão?
R. _Não; Os mistérios estão acima da razão, mas não lhe são contrários.
Deus é quem dá razão ao homem; Deus é quem nos revela os mistérios. Mas
como Deus não pode contradizer-se, e iria contradizer-se se nos obrigasse a
acreditar em coisas contrárias à razão que Ele nos deu, devemos concluir
que, entre estas duas luzes que partem do mesmo centro, a razão e a fé, pode
haver não haja oposição. alguns.
Por outro lado, a ciência teológica demonstrou que todos os dogmas
cristãos estão tão longe de contradizer a razão do homem que, pelo
contrário, estão de acordo com ela e correspondem às necessidades da sua
natureza.
O que é contrário à razão é absurdo, repugnante ao bom senso, é
radicalmente impossível; embora o que está simplesmente acima da razão
seja muito possível, pode muito bem existir, embora a nossa razão não possa
compreender.
Se fosse possível encontrar contradição nos mistérios revelados, resta-
nos explicar o mais surpreendente de todos. Como é que, passados quase
dois mil anos, tantas inteligências superiores, tantos engenhosos penetrantes
abraçaram os nossos mistérios, sem se considerarem obrigados a renunciar à
razão e a repudiar a ciência? Se o nosso

163
Os mistérios são absurdos: como espíritos tão zelosos como Santo
Agostinho, São Tomás de Aquino, Bonuet, Pascal, Descartes, Leibnitz,
Newton, Chevreul, Pasteur, etc., puderam acreditar em coisas absurdas e
contraditórias? Isso não é possível. Além disso, para compreender quão
luminosos e fecundos são os nossos mistérios cristãos, basta ler a Summa
theologica de São Tomás de Aquino, ou a obra de Bossuet, Elevação sobre
os Mistérios.
As alegadas contradições que os incrédulos querem encontrar nos
mistérios reconhecem duas causas:
1º Os incrédulos não expõem os dogmas da fé de acordo com o
pensamento da Igreja; e assim vemos que em relação ao mistério da
Santíssima Trindade, os incrédulos dizem que Deus não pode ser um e três.
Isto é totalmente verdade, mas a Igreja nunca disse que três são um; Ela diz
que em Deus existem três pessoas e uma natureza divina; três em relação às
pessoas e um em relação à natureza. Onde está, então, a contradição? Um
triângulo tem três ângulos; Nossa alma tem três poderes diferentes e ainda
assim é um só.
2º Querem comparar objetos completamente heterogêneos. Se uma
pessoa cega de nascença quiser comparar os fenômenos da visão que lhe são
explicados com as sensações do tato, não poderá deixar de encontrar uma
contradição entre os dois. Não conhecemos os atributos de Deus exceto por
analogia. Analogia é um tipo de semelhança que existe em certos aspectos
entre dois objetos diferentes. Mas semelhança não significa identidade e
comparação não é razão. Se formarmos a mesma ideia da natureza e das
pessoas divinas que temos da natureza e das pessoas humanas,
descobriremos que há uma contradição em dizer que três pessoas divinas
nada mais são do que um Deus. Mas a comparação entre uma natureza
infinita e uma natureza limitada é evidentemente falsa.

4º Utilidade dos mistérios


101. P. _Por que Deus nos revela mistérios?
R. _Deus nos revela mistérios, primeiro, para nos pedir a submissão
humilde do nosso espírito através da fé, assim como nos pede a submissão
do nosso coração através do amor e da nossa vontade através da submissão
às suas leis.
Mas fá-lo, sobretudo, para nos instruir sobre a nossa
destino sobrenaturale nos ensina verdades admiráveis, cujas

164
O conhecimento santifica nossa vida. A revelação dos mistérios é, portanto,
muito útil para a glória de Deus e para a nossa salvação.
1º A revelação dos mistérios nos dá a oportunidade de oferecer a Deus a
maior homenagem que podemos oferecer-lhe. Ao curvarmos a nossa razão
diante da palavra de Deus, submetemos a ele o que de melhor possuímos, o
que nos diferencia do bruto e nos aproxima do anjo: a inteligência. É por
isso que o ato de fé nos mistérios aumenta o mérito do homem, pois não há
mérito em acreditar no que se vê ou se compreende.
2º A principal razão pela qual Deus nos revela mistérios é para nos
instruir sobre nosso destino sobrenatural e os meios necessários para
alcançá-lo. Porque todos os mistérios estão orientados para um único fim: a
salvação da raça humana através da mediação de Jesus Cristo. O mistério da
Redenção é, portanto, o dogma essencial da religião cristã. Este mistério
supõe o da Encarnação do Filho de Deus, que, revestido de nossa natureza,
era a runa que poderia satisfazer a justiça divina pelos pecados dos homens.
Ora, como poderíamos conceber o mistério da Encarnação, se não nos
dissessem previamente que em Deus há três pessoas? O mistério da
Santíssima Trindade, que parece o mais difícil de acreditar, foi-nos revelado
para nos dar a chave dos outros. Assim, todos os mistérios revelados
convergem para o nosso fim último, fim sobrenatural ao qual Deus se
dignou chamar-nos. O Criador tem muita consideração pela razão humana e
apenas nos revela os mistérios necessários para a salvação.
3º Os mistérios cristãos são como o sol: impenetrável em si mesmo,
ilumina e aquece a terra e deslumbra apenas o olhar ousado que quer sondar
o seu esplendor. Assim, os mistérios insondáveis em sua natureza para a
inteligência criada iluminam a razão e queimam o coração do homem com o
amor de Deus.
a) A revelação do mistério da Santíssima Trindade dá-nos uma ideia
elevada de Deus. Nunca o oceano nos parece mais vasto, nem o céu mais
alto, do que quando o vemos estender-se para além dos espaços limitados
que a nossa visão pode alcançar; O sol nunca parece brilhar tanto como
quando o seu brilho nos obriga a fechar os olhos: da mesma forma, quanto
mais a imensa grandeza de Deus ultrapassa os estreitos limites do nosso
pensamento, mais infinitamente grande O concebemos.

165
b) O mistério da Encarnação, isto é, a união da natureza divina e
humana na pessoa do Filho de Deus; Mostra-nos a dignidade, a grandeza do
homem, o amor infinito de Deus pela sua criatura: Deus amou tanto o
mundo que lhe deu o seu Filho unigénito. Este mistério conduz o homem à
prática das virtudes mais nobres e encoraja e sustenta os seus esforços com o
exemplo comovente do Homem Deus.
c) O mistério da Redenção, isto é, da morte de cruz sofrida pelo Filho de
Deus feito homem, é infinitamente eficaz para nos fazer compreender os
atributos divinos, a justiça e a misericórdia, a malícia do pecado e o valor da
nossa alma. Para apagar o pecado, um Deus derrama seu sangue e morre nas
mais terríveis dores. Quão grande deve ser o valor da minha alma se o
sangue de um Deus foi necessário para resgatá-la!
O mesmo se diz dos outros mistérios. Veja, então, qual é o propósito da
revelação dos mistérios. Isto nos ensina, com certeza inabalável, certas
verdades que são a luz e a felicidade da vida.
102. P. _O que devemos pensar dos incrédulos que dizem:
Só acredito naquilo que entendo?
R. _Esses incrédulos nada mais são do que rebeldes, ímpios e
mentirosos: 1º São rebeldes, por se recusarem a acreditar nos mistérios
revelados por Deus, porque Deus tem o direito de comandar tanto a nossa
inteligência como a nossa vontade.
2º São ímpios, porque a sua recusa em acreditar nos mistérios revelados
por Deus é um insulto atroz que fazem ao próprio Deus, pois põem em causa
a sua infinita ciência e veracidade.
3º São mentirosos, porque diariamente admitem uma infinidade de coisas
que não entendem: ou mentem com conhecimento de causa, ou são imbecis:
a) Deus é nosso Senhor; Ele pode comandar a nossa inteligência para
acreditar nos mistérios, assim como pode comandar a nossa vontade para
observar os seus mandamentos. Não podemos, portanto, recusar-nos a
acreditar na palavra de Deus sem nos levantarmos contra o seu domínio
soberano, sem violarmos os seus direitos divinos sobre a nossa inteligência.
b) Deus, que é a própria verdade, pode, com mais autoridade do que
qualquer homem honesto, exigir que se acredite na sua palavra, mesmo que
a inteligência criada não veja a razão da afirmação divina. Em

166
Neste caso, recusar acreditar em Deus, que nos revela os mistérios, é
ofender a sua infinita veracidade: é impiedade.
e) É ridículo dizer: só acredito no que entendo... Mas o homem passa a
vida acreditando e fazendo o que não entende! Existe um homem sábio que
tenha conhecimento completo de todos os fenômenos naturais, dos mais
simples e comuns? Quem já penetrou na natureza íntima do calor, do frio, da
fome, da sede, do sono, da vida e da morte?... E, no entanto, são verdades
que todos admitem, embora a sua natureza escape à nossa penetração.
Você que não quer mistérios na religião, o que pensaria do homem cego
de nascença que negou a luz e as cores porque não consegue formar
nenhuma ideia sobre o assunto? Do ignorante que nega as maravilhas da
eletricidade porque não as compreende? Do selvagem africano que negou a
existência do gelo porque nunca o tinha visto? Vocês os chamariam de
tolos... Bem, vocês mesmos são ainda mais tolos!...
“Por uma anomalia deplorável, os homens que são arrogantes
para com os mistérios de Deus acham natural que existam na sua
inteligência verdades comprovadas que são mistérios para um
camponês. Mas eles acham inadmissível que existam verdades em
Deus que sejam obscuridades para eles. Para agradá-los, seria
necessário que Deus tivesse a bondade de deixar de ser infinito, de
se reduzir à capacidade de um espírito que não é infinito. Se isso se
chama filosofia, considere-me feliz em ver que não é nem razão nem
bom senso.(Caussete).
Os incrédulos recusam-se a acreditar nos mistérios da religião sob o
pretexto de que não os compreendem e, em vez disso, admitem os absurdos
do ateísmo, do materialismo, do panteísmo, do darwinismo, etc., que
compreendem ainda menos. Entre as várias hipóteses que imaginaram para
explicar o mundo sem Deus, haverá alguma em que não sejamos obrigados a
admitir os mistérios mais repugnantes e absurdos?... Eles cumprem assim a
frase de Bossuet: “Para não admitem verdades incompreensíveis, “caem em
erros incompreensíveis”.
Conclusão:“Deus, que odeia antes de tudo o orgulho, quer nos lembrar
incessantemente, através dos mistérios da natureza, que a nossa inteligência
depende Dele, assim como todo o nosso ser; que Ele é maior do que nós e
que, portanto, devemos nos submeter humildemente à Sua palavra e

167
à sua vontade. Essa submissão se chama fé e bom senso. Um homem que se
recusasse a acreditar nos mistérios da natureza seria um louco; um homem
que se recusasse a acreditar nos mistérios da religião seria não apenas louco,
mas ímpio. Não sejamos nem um nem outro.” (Monsenhor De Segur).
DECRETO DO CONCÍLIO VATICANO I

De fé e razão
“A Igreja Católica sempre admitiu e admite que existem duas ordens
diferentes de conhecimento no seu princípio e no seu objeto: no seu
princípio, porque naquele conhecemos pela razão natural, e no outro, pela fé
divina; em seu objeto, porque, fora das coisas que a razão pode alcançar,
existem mistérios escondidos em Deus que são pressupostos da nossa
crença, e que não podem ser conhecidos por nós, se não forem divinamente
revelados.
“Por isso o Apóstolo, que afirma que Deus era conhecido pelos
gentios através das suas obras, quando discursa sobre a graça e a
verdade trazidas por Jesus Cristo, diz: 'Pregamos a sabedoria de
Deus encerrada no mistério, esta sabedoria escondida , que Deus
predestinou, antes dos tempos, para nossa glória, que nenhum dos
príncipes deste mundo conheceu, mas Deus nos revelou pelo seu
Espírito, porque o Espírito tudo sonda, até as profundezas de Deus.
E o Filho Unigénito de Deus dá este testemunho ao seu Pai: que
escondeu estes mistérios aos sábios e prudentes e os revelou aos
pequeninos.
“A razão, sem dúvida, iluminada pela fé, quando busca com diligência,
piedade e moderação, adquire, com a ajuda de Deus, uma certa inteligência
dos mistérios, e essa inteligência lhe é muito benéfica. A razão adquire esta
inteligência, quer por analogia com as coisas que conhece naturalmente,
quer pelos vínculos que os mistérios mantêm entre si e com a meta última do
homem.
“No entanto, a razão nunca consegue penetrar nos mistérios da
mesma forma que nas verdades que constituem o seu próprio objeto.
Pois os mistérios divinos, pela sua própria natureza, ultrapassam de
tal modo a inteligência criada que, embora transmitidos por
revelação e recebidos pela fé, ainda permanecem envoltos como
numa nuvem, enquanto viajamos nesta vida mortal, longe do Senhor:
'Marchamos. para com Ele pela fé, e não O vemos descoberto.'

168
“Mas mesmo que a fé esteja acima da razão, ela nunca poderá
existirentre fé e razão, o menor desacordo ou oposição.O próprio
DeusÉ ele quem revela os mistérios e quem infunde a fé, quem deu
ao espírito do homem a luz da razão. Contudo,Deus não pode
contradizer-se,e a verdade nunca estará em contradição com a
verdade.
“As vãs aparências de tal contradição surgem particularmente do
facto de os dogmas da fé não terem sido compreendidos e expostos
no sentido da Igreja, ou do facto de as opiniões falsas serem
tomadas como declarações da razão. Definimos, portanto, que
qualquer afirmação contrária à verdade conhecida pela féé
absolutamente falso. A Igreja, que recebeu com a missão
apostólica do ensino, a ordem de guardaro depósito da fé, também
tem a missão e o direito divino de proscrever toda falsa ciência, para
que ninguém se deixe enganar pela filosofia e por vãs sutilezas...
“E não só a fé e a razão não podemnuncaestar em conflito,
maseles fornecem apoio mútuo, Sendo quea razão demonstra os
fundamentos da fé, e iluminado pela luz,cultiva e desenvolve a
ciência das coisas divinas. A fé, por sua vez,liberta e preserva a
razão dos erros e enriquece-a com amplo conhecimento. A Igreja
está tão longe de se opor ao estudo das artes e das ciências que,
pelo contrário,favoreseste estudo efaz progredirde mil maneiras.
“A Igreja não ignora nem despreza as vantagens que as ciências
e as artes proporcionam ao homem. Além disso, ele reconhece que,
assim como estas grandes coisas vêm de Deus, Senhor das
ciências, também se forem cultivadas adequadamente, devem, com
a ajuda da graça, conduzir-nos a Deus. A Igreja não proíbe de forma
alguma que cada uma destas ciências utilize os seus próprios
princípios e métodos no seu âmbito; Mas reconhecendo esta
liberdade legítima, garante que as ciências não adotem erros que as
coloquem em oposição à doutrina divina.”
A revelação não foi proposta ao espírito humano como uma descoberta
filosófica suscetível de perfeição, mas como um depósito que deve ser
guardado fielmente. O significado atribuído a cada dogma por uma primeira
definição da Igreja é infalível e invariável. A inteligência, a ciência e a
sabedoria de cada um e de todos podem progredir indefinidamente, mas sem
se afastar da unidade do dogma.

169
Cânones:1º Se alguém disser que a revelação divina não contém
mistério algum e que a razão devidamente cultivada pode, através dos
princípios naturais, compreender e demonstrar todos os dogmas da fé, está
fora da Igreja.
2º Se alguém disser que as ciências humanas devem ser tratadas
com tal independência que as suas afirmações, mesmo que sejam
contrárias à doutrina revelada, possam ser consideradas verdadeiras
e que a Igreja não tem o direito de condená-las, está fora do âmbito
da a Igreja.
3º Se alguém disser que, considerando o progresso da ciência,
pode surgir o caso em que aos dogmas revelados deva ser atribuído
um significado diferente daquele que foi entendido pela Igreja, ele
está fora da Igreja.

170
171
QUARTA VERDADE
A RELIGIÃO CRISTÃ É A ÚNICA RELIGIÃO
DIVINA

O viajante, ao chegar ao cume de uma montanha, olha para trás para


perceber o caminho que percorreu, e outro olhar para frente para ver o
caminho que ainda tem a percorrer. É conveniente para nós fazermos o
mesmo.
A religião cristã é a religião revelada por Deus e, portanto, a
única religião verdadeira, obrigatória para todos.
Verificamos as seguintes verdades:
1º Existe um Deus eterno, criador e Senhor soberano de todas as coisas.
A razão e a consciência proclamam irresistivelmente a existência deste Ser
supremo e infinitamente perfeito.
Para os cristãos, a este testemunho acrescenta-se o da Revelação, que é
ainda mais certo porque é divino. Deus se manifestou, falou, fez milagres.
2. Deus, com a sua Providência, cuida das suas criaturas, particularmente
do homem, seu filho predileto.
3º O homem, composto de corpo e alma espiritual, livre, imortal, foi
criado por Deus para que possa conhecê-lo, amá-lo e servi-lo nesta vida e
desfrutá-lo, depois, na vida futura. Ele tem, portanto, deveres a cumprir para
com seu Criador e seu Pai.
4º O conjunto desses deveres chama-se religião. Isto é absolutamente
necessário para o homem, a família e a sociedade.

172
A história atesta que em todos os lugares e sempre a religião foi
considerada pelos homens como um dever e uma virtude e a impiedade
como um vício detestável. O homem que vive sem religião é um ser
incompleto, um pobre ignorante que não sabe por que existe, um mau servo,
um mau filho que esquece e insulta o pai.
Não basta, então, ser um homem honrado segundo o mundo, isto é, levar
uma vida diante dos outros que mereça o título de honrado; Devemos orar,
adorar a Deus como Ele quer ser servido por nós. Viver na indiferença como
se não existisse Deus, nem julgamento, nem céu, nem inferno, nem
eternidade, é mais que um pecado, é uma monstruosidade...
Todos nós, quem quer que sejamos, ricos e pobres, jovens e velhos,
fomos criados e colocados no mundo, não para nos divertirmos, não para
acumularmos dinheiro, não para desfrutarmos, mas, acima de tudo, para
servirmos a Deus. Aqueles que não servem a Deus, longe de serem honestos,
são três vezes loucos e grandes criminosos, mais criminosos que ladrões e
assassinos, porque os deveres para com Deus são mais importantes do que
os deveres para com os nossos semelhantes.
Mais ainda, a religião foi considerada, em todos os tempos e em todos os
povos, como intrinsecamente ligada aos interesses do homem, à conservação
e à felicidade da família e da sociedade.
Confiando na crença em Deus e na sua Providência, os legisladores
estabeleceram as suas instituições e fundaram o edifício social. Sem religião
não há sociedade possível.
5º Explicamos a natureza da religião e os elementos essenciais que a
constituem. Cada religião contém um dogma, uma moralidade, um culto. A
adoração, ou seja, o conjunto de práticas pelas quais Deus é honrado, deve
ser ao mesmo tempo: interna, externa e social. É impossível ao homem viver
como um ser animal sem prestar esta tripla adoração a Deus. A religião,
portanto, tem suas raízes na natureza do homem e nos atributos de Deus.
6º Só pode haver uma religião verdadeira, porque a verdade é uma só e
rejeita todo erro. Portanto, pela mesma razão, só pode haver uma religião
boa, porque só o que é verdadeiro é bom; e Deus não pode ser honrado por
erros e mentiras.
7º Conhecemos a religião de duas maneiras: 1º, pelos meios naturais da
razão; 2º, pelos meios sobrenaturais de revelação. A religião conhecida pela
razão chama-se religião natural; A religião conhecida por revelação é
chamada de religião sobrenatural. Todos os

173
Os homens têm a grave obrigação de descobrir se Deus revelou
positivamente uma religião e de abraçar a religião revelada, se ela existir;
porque Deus é Senhor, e tem o direito de determinar a religião através da
qual quer ser honrado e servido pelo homem, sua criatura.
8º A revelação não só é possível, mas é moralmente necessária para nos
dar a conhecer os dogmas e preceitos da religião natural. Sem ela, a raça
humana, tomada como um todo, não poderia conhecer, com certeza e sem
uma mistura de erros, todas as verdades religiosas e morais necessárias para
honrar a Deus e viver bem. A experiência de seis mil anos prova isso.
9º Deus também pode revelar uma religião sobrenatural, no seu dogma e
na sua moral; e se Deus o revela, todo homem tem a grave obrigação de
abraçá-lo, porque Deus, como Criador, tem domínio soberano sobre todas as
suas criaturas, e o homem é obrigado a submeter-se inteiramente à vontade
do seu Criador.
10º Na realidade, a história nos ensina que Deus revelou uma religião
sobrenatural e positiva. Temos como prova disso: 1º o testemunho do povo
judeu; 2º o do povo cristão espalhado pela terra; 3º podemos acrescentar a
estes o testemunho de todos os povos; porque, como veremos muito em
breve, as tradições de todos os povos provam-nos que Deus falou aos
homens para lhes dar a conhecer as verdades em que deveriam acreditar e os
deveres que deveriam cumprir.
Os monumentosde revelação são os livros do Antigo e do Novo
Testamento, cujo conjunto forma o livro mais bonito que existe no mundo: a
Bíblia. A Bíblia, que continua a ser a mais antiga e séria das histórias,
mesmo independentemente da sua autoridade divina, diz-nos que Deus,
desde o início do mundo, instruiu os homens sobre a religião; primeiro para
si mesmo, depois para Moisés e os Profetas e, finalmente, para o seu próprio
Filho feito homem: nosso Senhor Jesus Cristo.
11º Por quais sinais se pode conhecer a religião divina? Através de dois
infalíveis: o milagre e a profecia. Provámos, contra os racionalistas
modernos, que os milagres são possíveis, que podem ser verificados e que
são o sinal, o selo infalível de uma religião divina. Eles são a assinatura de
Deus.
12º Resta-nos demonstrar que a religião cristã é aquela revelada por
Deus; o único confirmado e autenticado pela assinatura divina, milagres e
profecias.

174
Visto que a verdadeira religião é necessária ao homem, a sua origem
deve remontar ao berço da raça humana. Isso acontece com a religião cristã.
Não começou com a vinda de Jesus Cristo, mas com a criação do homem.
Esta religião divina tem três fases distintas: 1ª o período patriarcal; 2º o
período mosaico; 3º o período cristão.

I. A REVELAÇÃO DIANTE DE JESUS CRISTO


103. P. _Quais são as principais revelações que Deus fez aos
homens?
A. - Distinguem-se três:
1a A revelação, feita aos nossos primeiros pais e aos
patriarcas; É chamada de revelação ou religião primitiva.
2a A segunda, feita aos judeus através do ministério de Moisés e dos
profetas; É chamada de revelação ou religião mosaica.
3a A terceira, feita a todos os homens por Nosso Senhor Jesus Cristo,
chamada revelação ou religião cristã.
Para se ter uma ideia justa e completa da religião cristã é necessário
tomá-la na sua origem e segui-la nas suas três etapas progressivas até ao seu
desenvolvimento final.
Deus falou aos homens desde o início do mundo para ensiná-los e
lembrá-los das verdades em que deveriam acreditar e dos deveres que
deveriam praticar. Estas primeiras comunicações feitas ao homem pelo
Criador foram transmitidas de pais para filhos através da tradição oral. Eles
são designados pelo nome geral de revelação primitiva.
Mais tarde, Deus escolheu o povo judeu para ser o depositário e guardião
da verdade religiosa, e deu-lhes a lei escrita através de Moisés. O conjunto
de verdades comunicadas ao povo de Deus é chamado de revelação mosaica.
Finalmente, a plenitude da revelação foi trazida à terra por nosso Senhor
Jesus Cristo. Assim, a religião cristã não é uma religião nova, mas tão antiga
quanto o mundo.

lº Revelação ou religião primitiva


104. P. -O que é a religião primitiva?

175
R. _A religião primitiva é a religião sobrenatural ou positiva que Deus
impôs aos nossos primeiros pais para que a transmitissem aos seus
descendentes.
A religião primitiva, praticada pelos patriarcas, foi obrigatória desde
Adão até Moisés, para o povo hebreu, e para todos os demais povos, até
Jesus Cristo.
A religião primitiva produziu santos, como os patriarcas, Santo Jó,
Melquisedeque, rei de Salém, etc.

NARRATIVA HISTÓRICA DA RELIGIÃO PRIMITIVA


Toda a história da revelação primitiva pode ser resumida em alguns
fatos: criação; a queda; a promessa de um Salvador; A inundação; a
dispersão dos homens; A vocação de Abraão.
A CRIAÇÃO._No início dos tempos, Deus criou o céu e a terra: coisas
visíveis e invisíveis. Deus ordenou que todos os elementos primitivos
surgissem do nada. Mas esses primeiros elementos das coisas ainda estavam
confusos, sem ordem e misturados entre si. A Bíblia nos ensina isso com
estas palavras: “A terra era informe e vazia; as trevas cobriram a face do
abismo, e o espírito de Deus moveu-se sobre as águas.” A terra estava vazia
de árvores, de plantas, de criaturas vivas; Era um abismo de coisas ainda por
formar, mas o espírito de Deus, isto é, a virtude onipotente do Criador,
estava pronto para dar calor, movimento, forma e vida a todas as coisas.
Deus queria usar seis dias ou seis etapas na formação do mundo. Este
ensino da Bíblia está em perfeito acordo com as ciências modernas. A
sucessão cronológica do aparecimento dos vários reinos da natureza é
estabelecida exatamente por Moisés 3.500 anos antes das descobertas
científicas do nosso século. Ao final do sexto dia ou etapa, Deus criou o
primeiro homem e a primeira mulher, de quem descendem todas as fomes, e
a quem, por isso mesmo, chamamos de primeiros pais. Deus pegou um
pouco de terra e formou o corpo do primeiro homem, a quem chamou de
Adão, e inspirou nele uma alma espiritual e imortal. Então Deus tirou uma
costela de Adão e formou Eva, a primeira mulher. Abençoou a união de
Adão e Eva, que declarou indissolúvel, instituindo assim o casamento e a
família.
Adão e Eva saíram das mãos de Deus, adultos já não só com todos os
dons do espírito e do corpo, mas também com graça santificadora, virtudes
infundidas e uma

176
destino sobrenatural. O próprio Deus lhes ensinou através de revelação
positiva como deveriam servi-lo.
O Criador, para obrigar o homem a reconhecer o seu domínio soberano,
proibiu Adão e Eva, sob pena de morte, de comerem do fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal. Este ato de obediência teria conquistado
para eles o céu e para seus descendentes todos os privilégios sobrenaturais
que receberam de Deus.
A queda. _Adão e Eva, enganados pelo diabo, anjo prevaricador,
invejoso da sua felicidade, desobedeceram a Deus e comeram do fruto
proibido. Imediatamente uma mudança terrível ocorreu em todo o seu ser.
Despojados dos magníficos privilégios que Deus lhes havia concedido,
ficaram sujeitos à ignorância, à luxúria, ao sofrimento, à doença, à morte e,
acima de tudo, privados da graça santificadora e dos seus direitos ao céu.
Desta forma, só poderiam legar aos seus filhos a ruína espiritual com o seu
triste cortejo de misérias e paixões.
PROMESSA DE UM SALVADOR._Deus teve compaixão de sua
débil criatura, e ao pronunciar a sentença de condenação contra nossos
primeiros pais, prometeu-lhes um Redentor ou Messias que os libertaria da
escravidão do diabo, restituindo-lhes, ao mesmo tempo, seus direitos ao céu.
Graças a esta misericórdia totalmente gratuita, eles não perderam o céu para
sempre. Mas, se antes da queda o tinham conquistado facilmente e sem
passar pela morte, agora deve ser comprado ao custo de mil sacrifícios.
O Messias foi mantido à espera durante vários séculos, para que o
homem, que pecou por orgulho, fosse humilhado pela experiência das suas
misérias, e para que a Redenção fosse preparada por uma longa sucessão de
acontecimentos maravilhosos.
Primeiros filhos de Adão.-Adão transmitiu a fé no Redentor aos seus
filhos. O Senhor aceitou os sacrifícios que Abel lhe ofereceu com espírito de
fé e penitência e rejeitou os de Caim. Abel morreu vítima do ciúme do
irmão; Ele foi substituído por Seth, que imitou sua justiça. Os descendentes
de Sete foram chamados filhos de Deus, em oposição aos de Caim, a quem a
Sagrada Escritura chama de filhos dos homens. Estes primeiros patriarcas
viveram mais de novecentos anos; O propósito desta longevidade era, nos
desígnios de Deus, facilitar a multiplicação da espécie humana e,
particularmente, preservar o depósito das verdades reveladas.

177
A INUNDAÇÃO._Os filhos de Deus fizeram amizade com os filhos dos
homens, e como estes se corromperam, caindo na impureza. Enoque previu
um tremendo castigo para eles se não se convertessem. Mas, apesar desta
ameaça, a corrupção tornou-se universal, e Deus resolveu destruir o homem
através do dilúvio, exceto Noé, que foi considerado justo.
Deus ordenou a Noé que construísse uma arca, na qual Noé trabalhou
durante cem anos. Durante este longo período ele não parou de pregar a
penitência aos homens, mas sem sucesso. O dilúvio fez com que todos os
homens perecessem, exceto Noé e sua família. Esta arca era uma figura da
Igreja, fora da qual não há salvação.
Ao sair da Arca, Noé oferece sacrifícios ao Senhor. Deus faz então uma
aliança com o homem, da qual o arco-íris é sinal. Noé, como Adão,
transmite a fé no Redentor aos seus filhos.
Dispersão dos homens._Noé viveu 950 anos; Mas depois do
dilúvio, os homens viveram menos do que antes, quer por causa do castigo
de Deus, quer porque a catástrofe causou graves perturbações na atmosfera.
Estabelecidos na Mesopotâmia, nas férteis planícies do Senaar, os
descendentes de Noé multiplicaram-se tanto que tiveram que se separar.
Mas antes de o fazer, queriam construir uma torre para perpetuar a sua
memória. O Senhor puniu o orgulho deles confundindo suas línguas. Eles
não conseguiam se entender, foram obrigados a deixar esta torre chamada
Babel ou confusão inacabada. Eles foram, portanto, divididos de acordo com
a língua, mas todos carregavam a mesma religião primitiva.
VOCAÇÃO DE ABRAÃO (ano mundial 2083). _Cerca de 500 anos
depois, os homens, ouvindo apenas a voz dos seus sentidos, abandonaram o
Deus verdadeiro para cair na idolatria. A Providência decidiu então escolher
uma cidade para preservar intacta a verdadeira religião até a vinda do
Messias.
Deus escolheu Abraão, da raça de Sem, para ser o pai daquele povo. Ele
prometeu dar à sua posteridade a terra de Canaã e que o Messias nasceria de
seus descendentes. Abraão respondeu à vocação divina com fé admirável e
obediência heróica.
Nessa época, os habitantes de Sodoma e Gomorra entregavam-se a todo
tipo de impurezas. Deus quis mostrar com um novo castigo o quanto
detestava esse vício. Abraão recebeu

178
sua tenda, a visita dos três anjos que executam os decretos da justiça divina.
Aqui é revelado o maravilhoso poder da oração dos justos. Abraão
intercedeu pelas cidades e teria obtido graça se tivesse encontrado nelas dez
justos... Mas não havia nenhum. O único inocente foi Ló, sobrinho de
Abraão, e ele foi o único que foi salvo com sua esposa e duas filhas. O fogo
do céu devorou estas cidades, e o lugar que ocupavam tornou-se um lago
infectado, chamado Mar Morto, um monumento perene da maldição divina.
O SACRIFÍCIO DE ABRAÃO.-Deus querendo testar a fé de Abraão, disse-
lhe um dia: “Pegue o seu filho unigênito e sacrifique-o para mim no Monte
Moriá”. Abraão não hesita um só momento; Ele carrega um feixe de lenha e
a faca nos ombros do filho e segue em direção à montanha designada por
Deus.
Durante a marcha, Isaac diz ao pai: -“Temos lenha e fogo mas não vejo a
vítima que deve ser sacrificada”. _“Deus proverá, meu filho”, responde
Abraão.
Chegando ao Monte Moriá, Abraão constrói um altar, coloca a lenha,
pega Isaque, amarra-o na pira e pega a faca para sacrificar a vítima. Mas
Deus, feliz com a sua obediência, detém-lhe a mão e diz-lhe: Já que me
obedecendo não hesitaste em sacrificar-me o teu único filho, eu te
abençoarei; Multiplicarei a tua posteridade como as estrelas do céu e as
areias do mar; todas as gerações serão abençoadas naquele que virá de seus
descendentes.
O exemplo de Abraão nos ensina como amar a Deus acima de todas as
coisas. Isaac é uma figura de Nosso Senhor Jesus Cristo subindo ao Calvário
(Monte Moria), carregando o lenho de sua cruz. Deus quis, no sacrifício de
Abraão, representar, com muitos séculos de antecedência, o mistério do
Calvário.
Isaque e seus filhos: Esaú e Jacó. _Isaque teve dois filhos gêmeos
de Rebeca, sua esposa: Você carrega dois povos em você; um triunfará sobre
o outro e o primeiro será servo do segundo.
O primeiroDos filhos recebeu o nome de Esaú, e o segundo de Jacó,
que significa suplantador, porque houve um dia em que ele suplantaria seu
irmão. Na verdade, Esaú vendeu a Jacó o seu direito de primogenitura por
uma tigela de lentilhas. Jacó, ouvindo o conselho de sua mãe Rebeca, vestiu-
se com as roupas de Esaú e obteve, desta forma, Isaque, morrendo

179
e cego, a bênção paterna, que lhe concedeu o direito de ser pai do povo de
Deus e do Messias.
Desta forma, mais tarde, o povo cristão teve que suplantar o povo judeu,
ou seja, teve que se tornar o povo de Deus. Jacó, coberto com as vestes de
Esaú, é a imagem de nosso Senhor Jesus Cristo aparecendo diante de seu
Pai, carregado com os nossos pecados. Rebeca é uma figura de Maria.
Jacó, herdeiro das promessas divinas feitas a Abraão e Isaque; Ele foi
como eles guiado no seu caminho pela ação sobrenatural de Deus. Jacó,
apelidado pelo próprio Deus de Israel, teve doze filhos, chamados de doze
patriarcas ou pais das doze tribos de Israel.
Um deles, José, o preferido do pai, despertou o ciúme dos irmãos, de
modo que o venderam a alguns mercadores, que o levaram para o Egito. A
admirável castidade de José trouxe sobre ele as bênçãos de Deus. Tendo
explicado dois sonhos do Faraó, ele foi nomeado vice-rei. Enquanto a fome
devastou a Palestina durante sete anos, a abundância reinou no Egito, graças
à visão de José. Então ele trouxe Jacó e sua família para o seu lado e os
estabeleceu na terra fértil de Gesen.
Jacó, antes de morrer, abençoou seus filhos. Ele predisse a Judá que o
Messias, o desejado das nações, nasceria em sua raça assim que o cetro
deixasse sua família. Tal é, em resumo, a história da revelação primitiva e
patriarcal.
105. P. _Em que consistia a religião primitiva?
R. _Na religião primitiva existem os três elementos constitutivos de toda
religião: dogma, moralidade e adoração.
1º Dogma._As principais verdades que foram objeto da revelação
primitiva são:
_A existência de um só Deus, Criador de todas as coisas.
-O governo do mundo por sua Providência.
_A existência de anjos bons e maus.
-A criação do homem à imagem de Deus.
_A imortalidade da alma, a recompensa dos justos e o castigo dos ímpios
na vida futura.
_O destino sobrenatural do homem.
_A ajuda da graça; meios para atingir esse fim sublime.
_A queda do primeiro homem e o pecado original.

180
_Finalmente, a esperança de um Redentor ou Messias.
2ª Moral._A moralidade da religião primitiva incluía:
_A lei natural, formulada posteriormente no Decálogo.
_O obrigação de tratar na direção Deus por
virtudespoderes sobrenaturais de fé, esperança e caridade.
_Alguns preceitos positivos, como os sacrifícios oferecidos como figura
de Redenção; a santificação do sétimo dia; a instituição da família e a
indissolubilidade do casamento.
3°Culto._O culto da religião primitiva consistia em oração e sacrifício.
Em honra de Deus, foram erguidos altares, nos quais eram oferecidos
sacrifícios sangrentos e incruentos, para representar o grande sacrifício com
o qual o Salvador redimiria o mundo.
Os sacerdotes da religião primitiva eram os pais da família ou os
primogênitos. Tiveram o cuidado de preservar a religião, de ensiná-la à
família e de cumprir as funções do sacerdócio.
Tanto nas crianças como nos adultos, o pecado original foi apagado com
algum sinal de fé, pelo menos implícita, no futuro Redentor. O perdão dos
pecados reais foi obtido através da contrição perfeita.
N. B.-A revelação primitiva não difere realmente da religião natural,
exceto na esperança do Messias, no destino do homem para um fim
sobrenatural e nos meios convenientes para alcançá-lo. Este meio é a graça
santificadora, que não poderia ser obtida senão pela crença no Messias e
pelos seus méritos futuros.
106. P _Como é comprovada a divindade da religião
primitiva?
R. _A divindade da religião primitiva é comprovada pela narrativa
bíblica, pelos acontecimentos milagrosos que a confirmaram e pela tradição
de todos os povos.
1º A Bíblia nos mostra Deus falando com Adão, Noé, Abraão, Isaque,
Jacó, e em circunstâncias tais que estes patriarcas não podiam duvidar da
palavra de Deus. Estas comunicações divinas são eventos sobrenaturais e
divinos que comprovam a revelação.
2º Entre os acontecimentos milagrosos que demonstram a divindade da
religião primitiva, estão o dilúvio, previsto com cem anos de antecedência, a
maldição de Cam, a confusão de línguas no

181
Torre de Babel; a previsão e cumprimento da destruição de Sodoma, etc.
Deus freqüentemente interveio de maneira sobrenatural para lembrar os
homens de observarem suas leis.
3º Todos os povos admitiram as seguintes verdades como base de suas
religiões:
_A existência de um Deus eterno, Senhor soberano de todas as coisas.
_A providência divina que governa o mundo.
_A distinção entre bons e maus gênios.
_A idade de ouro, a queda do primeiro homem e sua fatídica
consequênciaspara a raça humana.
_A necessidade de honrar a Deus com sacrifícios expiatórios.
_A esperança de um libertador que teve que salvar o mundo.
_A existência de outra vida feliz para os bons e infeliz para os maus.
Estas verdades foram mais ou menos alteradas nos seus detalhes, mas em
essência são as mesmas em todos os lugares. Ora, se dentre essas verdades
há algumas que podem ser descobertas pela razão, há, porém, outras que são
inacessíveis às investigações da inteligência humana. Tais são a existência
dos anjos, as consequências do pecado original, a esperança de um
Libertador, etc.
Estas verdades são de ordem sobrenatural e não poderiam ser conhecidas
exceto pela tradição. Mas como poderiam os primeiros homens conhecê-los?
Somente por revelação divina.
Além disso, todos os povos pagãos tiveram, de facto, a convicção de que
nos tempos primitivos Deus tinha falado aos homens e que a religião tinha
vindo do céu.
Não existe um único ponto de revelação primitiva cujos vestígios não
possamos encontrar facilmente nas falsas religiões da antiguidade.

2ª Revelação Mosaica
107. P. -Qual é a religião mosaica?

182
R. -A religião mosaica ou judaica é o conjunto de dogmas e preceitos
revelados ao povo hebreu através do ministério de Moisés.
Esta religião nada mais era do que a religião primitiva aperfeiçoada. Não
se destinava ao mundo inteiro como o primeiro, mas apenas ao povo judeu,
e não deveria subsistir até a chegada do Messias.
A religião que Deus deu ao povo hebreu é chamada Mosaica, porque
Deus a publicou solenemente através do ministério de Moisés. E se chama
Judaica, porque Deus a deu ao povo judeu10.
1º As verdades da revelação primitiva foram alteradas pela ignorância e
pela corrupção; Deus resolveu restaurá-los em toda a sua pureza,
despertando nos homens a sua memória e tornando inviolável a sua
confiança. Para isso escolheu para si uma determinada cidade, que cercou de
proteção especial e preservou da corrupção universal.
Ele fez com que Moisés libertasse os descendentes de Jacó do cativeiro
do Egito e os formou em uma nação. A este povo privilegiado foi confiado o
depósito da revelação e a promessa de um futuro Redentor, esperado sob o
nome de Messias. Esta promessa teve que ser transmitida até ao advento do
Salvador, época em que a lei judaica, tendo cumprido a sua missão, teve que
ser revogada.
2º A revelação mosaica tinha um triplo propósito: a) preservar as
verdades da religião natural e os dogmas da revelação primitiva; b)
confirmar e especificar os preceitos da moralidade natural; c) desdobrar as
profecias do Messias, dando detalhes da sua vida, das suas obras e do seu
reino.
Escravidão dos Hebreus (por volta de 1600 AC).Os
descendentes de Jacó multiplicaram-se tão rapidamente no Egito que, dois
séculos depois da morte de José, formaram um verdadeiro povo. Este
crescimento alarmou os egípcios e um dos seus reis, Ramsés II, condenou os
hebreus ao trabalho mais árduo, para construir barragens no Nilo, muros em
torno das cidades e pirâmides de prodigiosa elevação. Por último, o

10Os descendentes de Abraão são chamados: 1o HEBREUS, de Éber, neto de Sem e avô de Abraão; 2º ISRAELITAS por causa de Jacó, de
sobrenome Israel; 3o JUDEUS, de Judá, pai da tribo que leva seu nome e que tinha supremacia sobre toda a nação.

183
O Faraó ordenou que todas as crianças do sexo masculino desta cidade
fossem lançadas nas águas do Nilo assim que nascessem.
Tudo o que aconteceu aos judeus foi uma figura do que aconteceria mais
tarde à Igreja. O crescimento prodigioso dos filhos de Jacó foi a figura da
multiplicação dos cristãos no meio das perseguições.
Nascimento de Moisés (1571 aC)._Naquele momento, Moisés, o
maior personagem do Antigo Testamento, nasceu na família de Amram, da
tribo de Levi, aquele que, entre todos os homens, tinha a comunicação mais
familiar e contínua com Deus. Sua história está dividida em três períodos de
quarenta anos cada. Exposto no Nilo, é providencialmente salvo da morte
pela filha do Faraó, que o adota e lhe dá o nome de Moisés, ou seja, salvo
das águas. A princesa fez com que ele fosse instruído na corte do rei em
todas as ciências cultivadas no Egito.
Aos quarenta anos, Moisés deixou o palácio do rei para ir consolar seus
irmãos, os hebreus, que gemiam sob o jugo de uma cruel escravidão.
Circunstâncias graves obrigaram-no a fugir para a terra de Midiã, cujo chefe,
chamado Jetro, o acolheu e lhe deu como esposa sua própria filha, Zípora.
Missão de Moisés.Durante quarenta anos Moisés cuidou do gado de
seu sogro. Um dia ele notou uma sarça no monte Horebe que queimava sem
se consumir; e, ao aproximar-se para contemplar de perto o estranho
fenômeno, ouviu uma voz que saía da sarça e lhe dizia: “Eu sou o Deus de
Abraão, de Isaque e de Jacó; Eu vi a aflição do meu povo e escolhi você
para tirá-los do Egito e levá-los à Terra Prometida.”
Moisés, aterrorizado com as dificuldades de tal missão, disse a Deus:
_“Quem sou eu, Senhor, para fazer tais maravilhas? Então, Deus, para
encorajá-lo, deu-lhe o poder de fazer milagres e associou Aarão, seu irmão
mais velho, a ele como colaborador e assistente.
As dez pragas do Egito._Moisés e seu irmão Arão vão até o rei e
pedem-lhe, em nome do Senhor, que deixe os filhos de Israel partirem.
_“Não conheço o Senhor”, _responde o Faraó. E a partir deste momento ele
redobra as suas crueldades para com os pobres hebreus, para irritá-los contra
Moisés. Ele, armado com sua vara, pune o país com dez grandes flagelos,
conhecidos como as dez pragas do Egito. Somente no décimo, o Faraó,
aterrorizado, consente na saída dos hebreus.

184
A décima praga foi a mais terrível. Na véspera do dia em que aconteceu,
Moisés disse aos Filhos de Israel, da parte do Senhor: “Amanhã é o dia da
vossa liberdade. Esta noite, em cada família, vocês sacrificarão um cordeiro
imaculado; cujos ossos você não quebrará; Vocês comerão em pé, com a
cintura cingida, os pés calçados e com um cajado na mão, como viajantes
apressados. Marcareis as portas das vossas casas com o seu sangue: é
Páscoa, isto é, passagem do Senhor. Você celebrará perpetuamente este dia
em memória de sua liberdade.”
Na noite seguinte, o anjo exterminador passou e matou todos os
primogênitos dos egípcios, poupando apenas as casas dos hebreus marcadas
com o sangue do cordeiro. Pela manhã, quando os egípcios viram tantos
mortos, ficaram consternados e os hebreus puderam partir sem que ninguém
os incomodasse. Tal foi a origem da grande festa da Páscoa entre os judeus.
A escravidão do Egito é uma figura da escravidão à qual o pecado nos
reduziu; A libertação dos israelitas por Moisés representa a libertação dos
cristãos por nosso Senhor Jesus Cristo.
O Cordeiro Pascal é uma figura do Salvador, o Cordeiro de Deus
que nos salvou com seu sangue da morte eterna. A Páscoa dos judeus era
uma figura da Páscoa dos cristãos, na qual comemos o verdadeiro cordeiro
pascal.
Partida do Egito (1499 aC)._ Os hebreus saíram da cidade de
Ramsés ou Ramsés (hoje Tell_es_Maschuta), em número de seiscentos mil,
sem contar os idosos, mulheres e crianças (menores de vinte anos). Irão
rumo à terra de Canaã, prometida aos seus pais Abraão, Isaque e Jacó, e por
isso chamada: Terra Prometida. A primeira maravilha que Deus realizou
para o seu povo foi guiá-lo no seu caminho através de uma coluna de nuvens
luminosas durante a noite e opacas durante o dia, para protegê-los do calor
do sol. Este milagre continuou por quarenta anos, durante toda a estada dos
judeus no deserto. Do seio desta nuvem, Deus falou com Moisés.
Passagem do Mar Vermelho.O segundo milagre do Senhor em
favor do seu povo foi a travessia do Mar Vermelho. Faraó logo se
arrependeu de ter deixado partir os hebreus, cujo trabalho era tão útil à sua
nação. Então ele saiu em perseguição com um grande exército e os alcançou
nas margens do Mar Vermelho. O terror tomou conta dos judeus;

185
Mas Deus disse a Moisés: “Estende a mão sobre o mar, e as águas se
dividirão para dar lugar aos filhos de Israel”.
Moisés obedeceu e as águas se dividiram, formando à direita e à
esquerda duas grandes muralhas que permitiam aos hebreus passar a pé seco
pelo fundo do mar.
Os egípcios, por sua vez, entraram no mar, perseguindo os hebreus; mas
Moisés, obedecendo novamente a Deus, estendeu novamente a mão, e
imediatamente as águas tomaram o seu lugar original, envolvendo os
egípcios, com os seus carros e cavalos.
Diante de testemunhos tão claros de proteção divina, Moisés e os
hebreus cantaram um hino de ação de graças.
O Deserto Árabe.Os israelitas, após cruzarem o Mar Vermelho,
encontraram-se no meio de um vasto deserto, onde logo sentiram a falta das
coisas mais necessárias para a vida, por isso começaram a murmurar.
Moisés orou ao Senhor, que ouviu suas orações e naquela mesma noite
inúmeras codornizes caíram no campo. Moisés previu outra refeição para
eles no dia seguinte.
Ao amanhecer, a terra apareceu coberta por uma espécie de geada
branca, cujos grãos semelhantes a granizo, tinham gosto de farinha amassada
com mel. Foi maná. Este alimento prodigioso caiu do céu todas as manhãs
durante quarenta anos, e cada um recolheu uma medida completa. Na
véspera do sábado, a medida tinha que ser dobrada, pois o maná não caía em
dia de descanso. Deus quis desta forma ensinar o seu povo a santificar o
sétimo dia,
Em Rafidim, as pessoas são atormentadas por uma sede ardente. Moisés,
guiado pelo Senhor, aproximou-se da rocha de Horebe, bateu-lhe com o seu
bordão e fez jorrar dela uma copiosa fonte.
Os amalequitas, um povo do deserto, atacam os hebreus para se oporem
à sua marcha. Moisés envia Josué, com um corpo de tropas escolhidas, para
repelir o ataque, enquanto ele se retira para o topo de uma montanha e ali
ora durante o combate. Quando Moisés ergueu as mãos ao céu, os
amalequitas foram derrotados; enquanto quando ele os deixou cair devido ao
cansaço, os amalequitas triunfaram. Ele, portanto, ordenou que suas armas
ficassem erguidas até a noite, e os israelitas obtiveram uma vitória completa.
O poder da oração é tão grande!

186
A passagem do Mar VermelhoRepresenta o batismo, necessário
para que os homens possam entrar na verdadeira Terra Prometida.
O deserto, que os judeus tiveram que passar, é uma imagem desta vida
que deve ser vivida antes de chegar ao céu.
manaÉ uma figura da Eucaristia, pão vivo descido do céu e destinado a
sustentar as almas fiéis durante a sua peregrinação rumo à Terra Prometida
da eternidade.
Os AmalequitasSão uma figura do diabo e de todos aqueles que ele
usa para impedir a salvação dos cristãos. Devemos lutar como Josué e orar
como Moisés em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo que, pelos méritos de
sua cruz, dá vitória a todos que hoje o invocam.
Sinai: Promulgação da lei.Quarenta e sete dias após a sua partida do
Egito, os hebreus armaram as suas tendas ao pé do Monte Sinai. Deus
chamou Moisés ao topo da montanha e ordenou-lhe que repetisse suas
palavras aos filhos de Israel.
Aqui está o que o Senhor diz: “Vocês viram como eu os livrei dos
egípcios; Portanto, se vocês ouvirem a minha voz e guardarem a minha
aliança, vocês serão o meu povo”.
Os filhos de Israel responderam como um só homem: “Obedeceremos ao
Senhor”.
“Purifiquem-se, então, insistiu Moisés, porque dentro de três dias Deus
descerá diante de vocês ao monte e vocês ouvirão a sua voz.”
Amanheceu no terceiro dia, quando, de repente, uma densa nuvem
cobriu a montanha. Em meio a relâmpagos e trovões, o povo aterrorizado
ouve a voz do Senhor publicando o Decálogo ou os dez mandamentos.
1º Eu sou o Senhor teu Deus, que te libertou da escravidão do
Egito. Você não terá outro Deus além de mim. Pois eu sou o Senhor
teu Deus, o Deus forte e zeloso; Castigo a iniquidade dos pais sobre
os filhos até a terceira e quarta geração, com aqueles que não me
amam e não guardam os meus mandamentos.
2º Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.
3º Lembre-se de santificar o sábado. Você trabalhará seis dias,
mas o sétimo é o dia de descanso, consagrado ao Senhor seu Deus.
Naquele dia você não fará nenhum trabalho, nem você, nem seu
filho, nem sua filha, nem seu servo, nem sua serva, nem

187
vossos animais de trabalho, nem o estrangeiro que se acha dentro
dos muros das vossas cidades.
Pois em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que
eles contêm, e no sétimo dia descansou. Por isso o Senhor
abençoou o dia de sábado e o santificou, isto é, o consagrou ao seu
culto.
4º Honre seu pai e sua mãe, para que você viva longa e feliz na
terra.
5º Você não vai matar.
6º Você não cometerá nenhuma
impureza. 7º Você não roubará.
8º Não levantarás falsos testemunhos.
9º Você não desejará a esposa do seu próximo.
10º Não cobiçarás a sua casa, nem nenhuma das coisas que lhe
pertencem.
As tabelas da lei._Depois desta promulgação solene da lei divina,
Moisés subiu ao Sinai. No seu cume conversou com o Senhor durante
quarenta dias e quarenta noites, recebendo suas ordens sobre o culto que
precisava ser estabelecido e as leis religiosas e civis que seu povo deveria
observar até a chegada do Messias.
Depois, envolvido no esplendor da glória de Deus, Moisés desceu do
monte trazendo duas tábuas de pedra, nas quais o próprio Deus havia
gravado a sua lei. Na primeira tábua estavam escritos os três primeiros
mandamentos, que contêm os deveres do homem para com Deus; na
segunda, os sete últimos que se referem aos deveres do homem para com os
seus semelhantes e consigo mesmo.
O bezerro de ouro.Como Moisés permaneceu quarenta dias
conversando com o Senhor, os hebreus, acreditando que nunca mais o
veriam, ergueram um ídolo, o bezerro de ouro, em memória do boi Ápis dos
egípcios, e prostraram-se diante da obra de suas mãos, sem cuidar das
promessas que haviam feito a Deus. Naquele momento Moisés, descendo do
monte, apareceu entre o seu povo. Quando ele viu o ídolo, uma ira santa se
apoderou dele e, jogando as tábuas da lei contra a montanha, ele as quebrou
em pedaços; Ele imediatamente pegou o bezerro de ouro e o quebrou em
pedaços.

188
Ele imediatamente ordenou à tribo de Levi, que havia permanecido fiel,
que, com a espada na mão, atravessasse o campo e exterminasse os mais
culpados que pereceram em número de vinte e três mil.
Moisés voltou ao topo do Sinai e pediu perdão a Deus pelo povo infiel.
O Senhor ouviu o seu pedido e ordenou-lhe que esculpisse duas novas
tábuas, onde o próprio Deus escreveu o Decálogo. Quando Moisés desceu
do monte pela segunda vez, seu rosto estava adornado com dois raios de luz,
cujo brilho os hebreus não podiam suportar.
A inconstância do povo judeu é uma imagem da inconsciência dos
cristãos. Ai, quantos fiéis, no tempo pascal, prometem a Deus não cometer
mais pecados mortais, e quantos caem novamente, antes de quarenta
dias!...Eles não se prostram, é verdade, diante dos ídolos materiais, mas em
seus corações adoram os ídolos do orgulho, da ambição, da ganância e da
luxúria. Pois bem, a idolatria espiritual não é menos culpada, pois nos faz
adiar Deus pelo prazer encontrado no mal.
A tribo de Levi mereceu, pela sua fidelidade, ser escolhida por Deus para
o sacerdócio, e de forma análoga as famílias cristãs merecem de Deus o
benefício de dar filhos para o sacerdócio.
Morte de Moisés._ Você pode ler na História Sagrada a série de
milagres realizados por Moisés no deserto, enquanto ele guiava os israelitas
por ele durante quarenta anos. Como sua confiança em Deus vacilou,
atingindo a rocha de Horebe duas vezes em vez de uma, Moisés, como
punição, só viu a Terra Prometida de longe. Antes de morrer, fez com que os
filhos de Israel renovassem o juramento de fidelidade à aliança com Deus.
Ele predisse-lhes que, se permanecessem fiéis à lei divina, seriam
vitoriosos sobre seus inimigos e receberiam bênçãos. Ele também anunciou-
lhes as maiores calamidades caso fossem infiéis. Depois disso, Moisés
retirou-se para o Monte Nebo, em frente à Terra Prometida, e morreu aos
cento e vinte anos, cheio de virtudes e méritos, sendo pranteado por todo o
Israel durante trinta dias.
A Profecia de Moisés foi cumprida ao pé da letra na sucessão de séculos.
Sempre que os judeus violavam a lei de Deus, eram esmagados pelas nações
vizinhas. E quando eles se converteram, Deus levantou líderes libertadores
dentre eles. A História Sagrada demonstra de forma surpreendente duas
verdades importantes:

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1) Deus pune, mais cedo ou mais tarde e sem piedade, as nações
culpadas, especialmente aquelas que profanam os dias que Ele reservou para
o seu culto.
2) O homem, seja qual for a forma de governo em que vive, e apesar de
todas as revoluções políticas, deve sempre, acima de tudo e a qualquer custo,
permanecer inviolavelmente ligado a Deus, que não muda, e à sua religião
santa.
108. P. Qual era a religião mosaica?
R. _A religião mosaica era composta por duas partes, muito diferentes
entre si: a geral, obrigatória para todo o gênero humano; o outro especial
aplicável apenas ao povo de Israel.
A primeira parte incluiu:
1) Os mesmos dogmas da religião primitiva, mas desenvolvidos e
escritos por Moisés sob a inspiração de Deus.
2) Os preceitos da lei natural resumidos pelo próprio Deus no Decálogo.
A segunda parte, especial para o povo judeu, continha:
1) As leis religiosas, que regulamentavam todas as cerimônias de culto.
2) Leis civis e políticas, relacionadas com a constituição social do povo
judeu.
1º Dogma.Deus não revelou novos dogmas a Moisés; Ele apenas
confirmou e explicou o que a revelação primitiva havia ensinado aos
patriarcas: a unidade de Deus, a sua providência, a sua perfeição infinita; a
criação do mundo; a formação do homem à imagem de Deus; seu destino
sobrenatural; a queda original do primeiro homem; a desgraça da raça
humana e a promessa de um Redentor que viria para estabelecer uma nova
aliança entre Deus e os homens.
A religião mosaica destaca de modo especial a unidade de Deus e a
expectativa de um Messias. Embora em torno de Israel todos os povos
antigos estivessem entregues à idolatria, eles adoraram um só Deus, do
início ao fim da sua história. Este fato por si só prova a existência e a
divindade de uma revelação. Além disso, Israel é um povo de expectativa e
esperança. Espera um libertador, que deve ser ao mesmo tempo Rei, Profeta
e Pontífice, para restaurar o reino de Deus na terra. De

190
De Moisés a Malaquias, as previsões nacionais caracterizam a sua missão. A
ideia messiânica é a alma do povo judeu.
Estas pessoas, depositárias do tesouro da revelação, foram encarregadas
de lembrar às nações idólatras a unidade de um Deus criador e de preservar
no mundo a promessa do Redentor. Ele não soube reconhecer o Messias que
lhe trouxe a salvação, mas guardou cuidadosamente os seus livros
inspirados, para testemunhar, diante de todos os homens, a unidade de Deus
e, contra si mesmo, a vinda do Messias.
2ª Moral.O Decálogo nada mais é do que um código de direito natural
reduzido a dez artigos. Fundada nas relações essenciais do homem com
Deus e com os seus semelhantes, une todos os homens sem distinção. Deus
o promulga solenemente e o grava em duas tábuas de pedra, porque a
ignorância e a corrupção apagaram ou obscureceram os preceitos naturais no
coração dos homens. Ele também dá ao seu povo outras leis, que podem ser
consideradas uma explicação e comentário ao Decálogo. Moisés os escreve
na mesma ordem em que os recebeu de Deus, e eles estão contidos em seus
livros.
3º Culto.A religião mosaica mantém as prescrições essenciais do culto
primitivo: oração, sacrifícios, descanso sabático. Mas Deus indica a Moisés
o número, a natureza das vítimas e as cerimônias que deveriam ser
realizadas para sacrificá-las. Através destas leis, o culto alcança maior
ordem e esplendor.
Legislação religiosa relativa ao culto._O culto mosaico inclui o
templo, o sacerdócio, os sacrifícios, as festas e algumas outras prescrições
religiosas. Vê-se bem que este culto foi a preparação e a figura do culto
católico, ainda mais perfeito.
1º O tabernáculo.Como imagem da unidade de Deus, Moisés
estabeleceu, como em todo culto, aguardando a construção do templo em
Jerusalém, um único tabernáculo. Tratava-se de um pavilhão portátil
retangular, com cerca de 16 metros de comprimento por 5 metros de largura,
coberto com tecidos preciosos. Um véu dividiu-o em duas partes:
a) o Santo, e b) o Santo dos Santos.
Ao entrar, encontrava-se no Santo, onde se via, à esquerda, o candelabro
dourado com sete luzes, que devia arder durante a noite. E à direita, a mesa
dos pães da proposição, onde eram colocados doze pães todas as semanas,
como oferta das doze tribos de Israel. No meio ficava o altar dos perfumes,
onde pela manhã e à tarde o

191
timiama _um incenso precioso_ em honra de Deus. Esta cerimónia era a
imagem da oração matinal e vespertina que nunca deveria ser omitida.
No fundo do tabernáculo estava, escondido pelo véu, o Santo dos Santos,
que encerrava a Arca da Aliança. Só o grande sacerdote podia entrar ali,
uma vez por ano.
O Átrio.O tabernáculo era cercado por um pórtico, ou pátio fechado, de
50 por 26 metros, reservado ao povo, denominado Átrio. Havia, em frente
ao sacrário, o altar dos holocaustos, onde eram imoladas as vítimas, e no
qual se mantinha sempre aceso o fogo sagrado, imagem do amor de Deus
que deve sempre arder em nossos corações. Havia também o mar de bronze,
uma grande fonte, onde os sacerdotes lavavam as mãos antes de iniciarem as
cerimónias religiosas, como sinal da pureza que deveria adornar as suas
almas. No culto católico esta fonte é lembrada pelas fontes de água benta
que se encontram à entrada das igrejas.
A Arca da Aliança.Era um grande baú feito de madeira de setim,
forrado com folhas de ouro, com 1,75 metros de comprimento por 0,80 de
largura; dois querubins de ouro colocados frente a frente nas extremidades
da tampa, chamada propiciatório, cobriram-na com suas asas abertas. O
propiciatório era como o trono de Deus; Foi lá que ele manifestou sua
presença e deu seus oráculos a Moisés e ao sumo sacerdote.
O Senhor tinha dado ao povo hebreu a Arca da Aliança para satisfazer o
desejo legítimo do homem de ter um sinal sensível da presença divina. Foi
chamada de Arca da Aliança, porque continha dentro dela as duas tábuas da
lei, um resumo das condições da aliança de Deus com o seu povo. Ele
também guardou uma urna com maná e a vara de Arão, para perpetuar a
memória desses dois milagres.
O sacrário era uma figura das nossas igrejas católicas: o Átrio
corresponde à nave ocupada pelos fiéis; o Santo, ao presbitério, destinado
aos ministros de Deus; O Santo dos Santos representa o tabernáculo, a
verdadeira Arca da Aliança, onde Deus realmente está; presente em nosso
meio. Moisés consagrou o tabernáculo e os altares com óleo sagrado, como
hoje em dia o bispo consagra os altares e as igrejas.
De acordo com a planta do tabernáculo dada por Deus, mais tarde foi
construído o templo de Salomão, uma das sete maravilhas do mundo antigo.
A Arca da Aliança foi depositada nele; lá

192
Permaneceu até a ruína do templo, quando os judeus foram levados cativos
para a Babilônia.
2º O sacerdócio.Deus escolheu a tribo de Levi para confiar-lhes o
desempenho das funções de adoração. A ordem sacerdotal compreendia três
graus: o sumo sacerdote, os sacerdotes e os levitas simples.
AarãoEle foi nomeado sumo sacerdote por Deus, e Moisés o consagrou
com óleo sagrado e o vestiu com ornamentos esplêndidos. O sacerdócio era
hereditário em sua família, cujo chefe deveria ser um soberano pontífice, e
seus filhos eram sacerdotes. Os outros membros da tribo de Levi, chamados
levitas, eram seus ministros.
O grande sacerdoteEle tinha a administração geral do culto e presidia
as festas. Os sacerdotes tinham que oferecer sacrifícios, estudar a lei e
explicá-la ao povo. Os simples levitas, sujeitos aos sacerdotes, eram os
guardiões e servos do santuário.
Quando foi realizada a divisão da Terra Prometida, a tribo de Levi não
tinha território, para que pudessem dedicar-se mais livremente ao serviço de
Deus. Os levitas viviam em quarenta e oito cidades escolhidas entre as
diferentes tribos, e viviam do dízimo que todos os israelitas eram obrigados
a oferecer-lhes todos os anos, e do qual deviam reservar um décimo para o
sustento dos sacerdotes.
Esta subordinação dos ministros do culto era uma figura do sacerdócio
católico. O próprio Jesus Cristo estabeleceu uma hierarquia sagrada: o Papa,
os bispos, os sacerdotes, os diáconos, etc. O divino fundador da Igreja
mostrou assim que não veio para destruir a lei, mas para complementá-la e
aperfeiçoá-la.
3º Os sacrifícios._Eram de dois tipos: os sangrentos, e consistiam na
imolação de certos animais domésticos, como bois, ovelhas, cabras, rolas;
outros eram exangues e consistiam na oblação de pão, vinho e frutas.
Os sacrifícios tinham uma tripla finalidade: a) prestar culto externo a
Deus;
b) separar o povo da idolatria; c) retratar o sacrifício do Calvário e o altar.
Entre os sacrifícios sangrentos, destacaram-se o holocausto, o sacrifício
pacífico e o sacrifício expiatório.

193
No holocausto, a vítima era inteiramente consumida pelo fogo,
reconhecendo assim o domínio soberano de Deus, diante do qual a criatura
nada é.
O sacrifício pacífico era oferecido para agradecer a Deus por um
benefício ou para obter um favor. Neste sacrifício, uma parte da vítima era
queimada, outra parte era reservada aos sacerdotes e uma terceira parte era
dada a quem mandasse oferecer o sacrifício.
O sacrifício de expiação era oferecido para implorar o perdão dos
pecados das pessoas ou indivíduos. Uma parte da vítima foi queimada e o
restante foi reservado aos sacerdotes.
Todos os sacrifícios antigos eram apenas sombras e figuras. A imolação
de Jesus Cristo no Calvário é o único sacrifício capaz de pagar todas as
nossas dívidas: a missa é a sua renovação e a sua continuação através dos
séculos.
4º Sábado e feriados.Todos os dias, de manhã e à noite, os hebreus
ofereciam a Deus um cordeiro como holocausto com dois sacrifícios
incruentos. Eles santificaram o sábado abstendo-se de todo trabalho servil;
b) oferecer holocausto especial entre os sacrifícios da manhã e da tarde; e
também reunindo-se nas sinagogas para orar, ler os Livros sagrados e ouvir
a explicação da lei.
A cada sete anos, os judeus santificavam o ano sabático, e ao final de
sete vezes sete anos, ou seja, a cada cinquenta anos, o ano do jubileu; Quatro
grandes festivais foram celebrados durante o ano:
a) A Pascoa, em memória da libertação do povo hebreu da escravidão
aos egípcios. Esta solenidade foi marcada para o 14º dia da lua de março e
durou oito dias. No primeiro dia, cada família comia o cordeiro pascal.
b) A festa de Pentecostes, em memória da promulgação da lei no Monte
Sinai; cinquenta dias após a saída do Egito. As primícias da colheita foram
oferecidas a Deus.
c) A Festa dos Tabernáculos, em memória dos quarenta anos passados
no deserto. Era comemorado no outono e durava oito dias, durante os quais
os hebreus viviam em tendas de galhos e folhagens. Sacrifícios de ação de
graças eram oferecidos a Deus pelas colheitas obtidas.
Estas três festas principais obrigavam todo judeu a comparecer diante do
Senhor no tabernáculo e, mais tarde, no templo em Jerusalém.

194
d) A Festa da Expiação, celebrada cinco dias antes da Festa dos
Tabernáculos, era um dia de penitência e jejum geral, que durava desde o dia
anterior até o pôr do sol do dia seguinte. O sumo sacerdote expulsava do
campo um bode, chamado bode emissário, carregado com os pecados de
Israel.
5º Prescrições religiosas.As demais prescrições religiosas referem-
se à circuncisão, à oferta dos primogênitos, à proibição de certos alimentos,
ao pagamento do dízimo, à purificação das impurezas legais, etc. Todas
essas leis foram ditadas pelo próprio Deus e escritas por Moisés no
Pentateuco.
A legislação política e social do povo hebreu pode ser vista na História
Sagrada: a constituição única da família; a proteção concedida às mulheres e
ao vestuário; autoridade política, contida nas suas ambições de autoridade
religiosa; igualdade civil entre todos os cidadãos; o equilíbrio patrimonial
mantido pela proibição de alienação definitiva de bens e pela remissão de
dívidas no ano jubilar; a ordem absoluta de preservar as leis sem mudar
nada, para que o código hebraico governe o povo de Israel durante quinze
séculos: tais são as principais características da legislação civil.
A lei punia com a morte a idolatria, a blasfêmia, a magia e a violação do
shad; homicídios, adultérios e crimes contra a natureza. Puniu as ofensas aos
costumes, a rebelião contra a autoridade paterna, os golpes e feridas, a
difamação e o falso testemunho com flagelação ou outras penas aflitivas.
É evidente que Moisés, vivendo entre nações pagãs, não poderia ter
criado, sem inspiração divina, este maravilhoso conjunto de instituições,
infinitamente superiores a todas as legislações antigas.
109. P. _Como é comprovada a divindade da religião
mosaica?
R. _As provas infalíveis da divindade de uma religião são o milagre e a
profecia, esses dois selos de Deus, esses dois sinais da sua intervenção
divina. Agora, Moisés realizou numerosos milagres e profecias verdadeiras
para testemunhar a divindade de sua missão; Portanto Moisés foi enviado
por Deus e a religião que ele ensinou em nome de Deus é divina.
1º Moisés confirmou sua missão com verdadeiros milagres.
_Tal como as dez pragas do Egito, a passagem do Mar Vermelho; a aparição

195
da coluna de fogo; o maná do deserto; as fontes que ele fez fluir das rochas
de Horebe e Cades; a promulgação solene da lei entre relâmpagos e trovões;
Corá, Datã e Abiron engolidos pela terra, etc. Moisés deu a todos esses fatos
o caráter de Milagres, ou seja, de atos divinos, quando falou ao povo nestes
termos: “Reconhece hoje o que teus filhos não sabem, porque não viram os
castigos do Senhor teu Deus, seu maravilhas, sua mão poderosa, seu braço
estendido; os prodígios e as obras que Ele fez no meio do Egito sobre o rei
Faraó e sobre todo o seu povo; especialmente o exército dos egípcios; como
as águas do Mar Vermelho os engoliram quando te perseguiam e como o
Senhor os destruiu. Lembre-se também de tudo o que Deus fez por você no
deserto até a sua chegada neste lugar; como Ele puniu Datã e Abiron, que a
terra engoliu junto com suas famílias. Os teus olhos observaram todas estas
obras maravilhosas que o Senhor tem feito, para que guardes todos os seus
mandamentos que hoje te ordeno”11.
Como Moisés ousaria apresentar acontecimentos comuns como milagres
a um povo que acabara de vê-los? Se os fatos apresentados como milagres
não são milagres, como Moisés poderia basear sua lei neles? ...A confiança
com que ele se lembra deles prova que estes acontecimentos foram
verdadeiros milagres. Além disso, todo um povo composto por vários
milhões de homens não se deixa enganar. A docilidade do povo hebreu em
submeter-se ao pesado jugo da lei demonstra também claramente que este
povo não tinha dúvidas sobre o carácter milagroso dos acontecimentos
recordados por Moisés.
2º Moisés fez profecias verdadeiras.Ele previu cada uma das dez
pragas do Egito, determinando com precisão o seu início e o seu fim12. Ele
previu a travessia do Mar Vermelho e o milagre do maná13. Ele anunciou
aos hebreus que, como punição pela sua revolta contra Deus, nenhum dos
que tinham vinte anos quando saíram do Egito entrará na Terra Prometida,
exceto Calebe e Josué; A previsão foi cumprida14. Ele previu um legislador
semelhante a ele,

11Deuteronômio onze.

12Ex. 8ss.

13Ex. 14 e 16.

14Não. 14.

196
mas maior que ele, isto é, o Messias. Agora, 1.500 anos depois, Jesus Cristo,
único profeta semelhante a Moisés pelos seus numerosos milagres, pela sua
qualidade de legislador e libertador do seu povo, cumpriu esta profecia15.
Moisés assegura aos israelitas que, se forem fiéis à sua lei, Deus realizará
milagres em seu favor, semelhantes aos que realizou no Egito; e isso é
verificado nas façanhas de Josué, Sansão, Gideão, etc. Advirto-vos também
que se relutardes, todos os flagelos cairão sobre vós, que sereis reduzidos à
escravidão, transportados para fora da vossa pátria e espalhados por todo o
país. O cativeiro de Nínive, da Babilônia e o estado atual dos judeus são o
cumprimento desta ameaça16. Moisés profetiza a sua própria morte e esta se
cumpre no tempo determinado, sem doença prévia17.
Todas essas profecias tinham como objeto acontecimentos futuros,
eminentemente livres, dependentes da vontade humana ou da vontade
divina. Seu cumprimento é um fato muito certo e atestado pela história,
portanto estas aqui são profecias verdadeiras.
3º Moisés fez estes milagres e estas profecias para provar a
divindade da sua missão.Isto é o que ele declara em nome de Deus ao
Faraó quando diz: “Nisto sabereis que eu sou o Senhor: ferirei as águas deste
rio com a máquina de lavar que tenho na mão, e a água se transformará em
sangue.” Uma afirmação análoga é feita ao prever cada uma das dez pragas
do Egito18.
Moisés o repete muitas vezes ao seu povo, de maneira especial quando
prediz o castigo de Corá, Datã e Abiron: “Nisto sabereis que o Senhor me
enviou para fazer o que vedes, e que não inventei nada sobre meu próprio. .
Se esses homens morrem de maneira normal, o Senhor faz algo inédito; Se a
terra os engolir e tudo o que lhes pertence, vocês sabem que eles
blasfemaram contra o Senhor ao se rebelarem contra o seu governante”19.
Imediatamente a terra se abriu e os engoliu vivos.
Conclusão.Os factos são estes: Moisés apresenta-se em nome de Deus
ao povo judeu; Ele anuncia sua missão e como prova de

15Deuteronômio 18.

16Deuteronômio 28.

17Deuteronômio 31.

18Ex. 7-9.

19Não. 14, 28-30.

197
Promete, em nome de Deus, certos milagres e profecias claras. E como Deus
está encarregado de fazer e realizar esses milagres e profecias diante de todo
um povo, devemos concluir que Moisés é realmente enviado por Deus e que
a religião ensinada por ele é divina.
110. P. _Que meios Deus usou para manter intacta a
verdadeira religião entre o povo judeu?
A. _Deus usou três meios principais:
1º Ele tinha as verdades e os preceitos revelados escritos por Moisés em
um livro, para que as gerações futuras pudessem encontrá-los sem mistura
de erros.
2º Estabeleceu uma hierarquia sacerdotal na tribo de Levi, encarregada
de verificar a veracidade das cópias deste livro, interpretá-lo e explicá-lo ao
povo.
3º Enviava, de tempos em tempos, profetas a quem inspirava, para
transmitir ao seu povo os seus mandamentos, as suas promessas, as suas
ameaças e, sobretudo, para mantê-los na expectativa do Messias.
Deus teve sua lei escrita por Moisés e, por isso, a religião mosaica foi
chamada de Lei escrita, em oposição à lei natural, que Deus apenas gravou
no coração dos homens.
1º Deus mandou escrever a sua lei._A revelação primitiva foi
preservada na memória dos homens pela tradição oral. A coisa não foi
difícil, quer pela simplicidade da religião composta por um pequeno número
de dogmas e preceitos, quase todos ditados pela lei natural, quer
particularmente pela longa vida dos patriarcas, encarregados de instruir os
seus descendentes. .
O considerável crescimento da população dificultou a transmissão das
verdades e preceitos revelados. Deus os mandou escrever por Moisés em
cinco livros chamados, por esta razão, de Pentateuco. Esses livros são
divinos. Os livros escritos por alguém enviado por Deus, por ordem de Deus
e sob sua inspiração, são chamados de divinos. Agora, Moisés confirmou
com os milagres mais surpreendentes que ele era um mensageiro de Deus; e
por sua ordem, e ditado pelo próprio Deus, ele escreveu os livros que levam
seu nome. Portanto os livros de Moisés eram livros divinos.
Em Gênesis, Moisés narra a criação do mundo, a origem do homem,
sua queda, a história dos primeiros homens; o dilúvio, a vida dos patriarcas
até José. Este livro cobre um período de 2.500 anos.

198
O êxodoRefere-se à libertação do povo de Deus, à sua saída do Egipto,
à sua permanência no deserto até à promulgação da lei no Sinai.
LevíticoEle contém todas as prescrições de Deus relacionadas à
adoração. Era o ritual da religião mosaica.
Os númerosSão uma enumeração do povo hebreu após sua saída do
Egito e sua classificação por famílias. Complete a história dos judeus até a
morte de Moisés.
DeuteronômioÉ o código do povo judeu, o comentário sobre a lei
promulgada por Deus.
Depois de Moisés, novos hagiógrafos, historiadores, moralistas e
profetas também escreveram outros livros sob inspiração divina, que
formam o Antigo Testamento.
2º Deus estabeleceu um sacerdócio.Na religião primitiva são os
chefes de família que desempenham funções religiosas. Deus tira-lhes este
ministério, por causa da sua negligência, e confia-o a um corpo sacerdotal
hierarquicamente organizado. Todas as cópias dos Livros Sagrados deviam
ser apresentadas aos sacerdotes para verificar a sua conformidade com o
original depositado no tabernáculo. Assim, estes livros divinos foram
protegidos de qualquer alteração e foram transmitidos intactos à posteridade.
Os sacerdotes também eram encarregados de explicar as leis divinas e
garantir o seu cumprimento.
3º Deus enviou profetas ao seu povo.Antes de Moisés, os
patriarcas: Enoque, Noé, Abraão, Jacó, receberam o dom de profecia.
Moisés foi o grande profeta do Antigo Testamento. Depois dele, Deus
muitas vezes levanta homens inspirados.
A posição do profeta era a de mediador entre Deus e o seu povo: a) Para
o presente, o profeta devia preservar, com as suas pregações, repressões e
ameaças, muitas vezes comprovadas com milagres, a integridade e a pureza
da religião. b) Para o futuro, devia manter viva no coração do povo a
esperança e a fé no Messias prometido, designando-o antecipadamente e
apontando as diversas circunstâncias da sua vida.
111. P. Quem foram os principais profetas?
A. _Existem dezesseis profetas principais: quatro profetas principais:
Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel; e doze profetas menores, assim
chamados por causa da curta extensão de seus escritos.

199
O nome de profeta também é dado ao Rei Davi, cujos Salmos contêm
numerosas profecias.
A palavra profeta significa aquele que prevê o futuro. O homem a quem
Deus revelou, de forma sobrenatural, a sua vontade, com a missão de
comunicá-la aos homens, é chamado de profeta.
Os profetas levaram uma vida pobre, errante e perseguida, e alguns deles
sofreram o martírio.
Entre as suas profecias, algumas referem-se ao povo judeu, outras a
povos estrangeiros e as mais importantes referem-se ao Messias.
1º Em relação aos judeus, previram a divisão do reino de Saloinã, a
destruição de Israel, os setenta anos de cativeiro da Babilônia, a libertação
dos judeus por Ciro, a ruína definitiva da nação judaica.
2º Em relação aos povos estrangeiros, previu a destruição do
império de Nabucodonosor; a ruína de Nínive, de Tiro, de Mênfis; a
sucessão dos quatro grandes impérios: Assírio, Medo, Grego, Romano, que
preparariam o reinado do Messias.
A realização destas profecias, bem como os vários milagres que estes
homens de Deus realizaram para provar a sua missão, são também provas
convincentes da divindade da religião mosaica.
112. P. _Qual é a coisa mais notável que os profetas
disseram sobre o Messias?
R. _Os profetas previram, com muita antecedência, a origem de Mecía; a
hora de sua vinda; o nascimento de uma Virgem em Belém; os seus
milagres, a sua paixão, a sua morte, a sua ressurreição; a reprovação dos
judeus, a vocação dos gentios, o estabelecimento e perpetuidade da Igreja.
As profecias relacionadas ao Messias são chamadas:
messiânico
De acordo com as promessas feitas por Deus aos patriarcas, o Messias
nasceria da raça de Abraão, Isaque, Jacó, da tribo de Judá e da família de
Davi.
Moisés, 1.500 anos antes de Jesus Cristo, manifesta a missão do Messias,
ordenando ao povo judeu que ouça o novo legislador que Deus lhe enviará.

200
1.050 anos antes de Jesus Cristo, Davi canta em seus Salmos a vinda do
Redentor, seus sofrimentos, sua morte, sua ressurreição, seu império eterno.
Do ano 700 a 400 a.C., outros profetas se sucederam e, por sua vez,
acrescentaram outras características à figura do Messias.
Isaíasprediz o nascimento milagroso de uma Virgem; Ele descreve sua
vida, seus milagres, sua paixão, seu reino, com tal riqueza de detalhes que
seu livro é justamente chamado de Quinto Evangelho.
Jeremiasprofetiza os sofrimentos do Salvador e o estabelecimento de
sua Igreja.
Ezequieldescreve com imagens pitorescas o glorioso reino do Messias e
seus triunfos.
Danilofixada em setenta semanas de anos (490 anos), a duração da
expectativa do Messias, começando com o retorno do cativeiro babilônico.
Ageuanuncia que o Messias visitará o segundo templo em Jerusalém,
construído por Zorobabel.
Miquéiasindica o local de seu nascimento, Belém.
Zacariasprevê o tipo de morte que ele deve sofrer.
Malaquias, o último dos profetas, anuncia que os sacrifícios da nova
lei, oferecidos até então apenas no templo de Jerusalém, serão substituídos
por uma oblação completamente pura, que será oferecida em todos os
lugares e em todos os povos.
Deus teve o prazer de pintar, no Antigo Testamento, a imagem do
Messias, de tal forma que, quando aparecesse na terra, pudesse ser
reconhecido sem dificuldade. Promessas, profecias, números nos dão a
conhecer gradualmente: um termina o que o primeiro começou, para que a
precisão e a clareza aumentem sempre e preparem insensivelmente o mundo
para receber o seu Redentor.
113. P. _A expectativa de um Messias era exclusiva do povo
judeu?
R. _Não; A expectativa de um Messias era comum a todos os povos do
universo. Todas as nações se lembravam de uma grande falta cometida
desde o início e esperavam pela reparação através de um futuro Libertador.

201
Este facto é tão verdadeiro que até os inimigos da religião são obrigados
a confessar que, no momento do nascimento de Jesus Cristo, o universo
inteiro esperava por um grande Mediador, que iria renovar a idade de ouro
do mundo, para libertar do domínio do mal e restaurar a paz e a felicidade
aos homens.
Este desejo universal não pode ter a sua razão de ser senão numa
promessa primitiva mantida pelas profecias e cujos ecos chegaram às mais
diversas nações. Todos os olhos estavam voltados para a Judeia, que se
tornara o pólo de esperança para todos os povos.
Fora do povo judeu, esta esperança de um Redentor foi desfigurada pela
ignorância ou pelas paixões, e cada povo formou uma ideia diferente deste
Libertador, de acordo com o seu modo de ser; Mas em toda parte, tanto no
Oriente como no Ocidente, esperava-se um personagem extraordinário que
reinasse sobre o mundo e lhe restaurasse a justiça.
1º No Ocidente.Eis o que se lê em dois historiadores romanos, Tácito
e Suetônio: Era universal a crença nas antigas profecias, segundo as quais o
Oriente iria prevalecer e os senhores do mundo surgiriam da Judéia20.
Todo o Oriente,Suetônio diz que isso ressoava com a opinião antiga e
constante de que o destino havia decretado que, nesta época, a Judéia daria
senhores ao universo21.
O grande poeta de Roma, Virgílio, intérprete da expectativa geral, cantou
numa écloga a chegada iminente do Menino abençoado que devolveria à
terra a idade de ouro. Cícero afirma a mesma tradição, atribuindo-a aos
oráculos das Sibilas.
Na Gália, seus antigos habitantes adoravam, nos bosques sagrados, uma
virgem de quem nasceria um filho tão esperado. Esta tradição é confirmada
pelos altares descobertos em Chartres, em Châlons-sur-Marne em 1883, com
esta inscrição: “Virgini, pariturae Druides”: Os Druidas à Virgem mãe.
Na Grécia, Platão coloca estas palavras surpreendentes na boca de
Sócrates: “Devemos esperar que alguém venha e nos instrua sobre a forma
como devemos nos comportar em relação aos deuses e aos deuses”.

20Tácito, Hist., 1, V. no. 13.

21Em Vespas., não. 4.

202
homens"P. Alcibíades responde: “Tenho um desejo ardente de conhecer
esse personagem... venha, então, e quando ele vier, faremos a nossa oferta a
Deus”22.
2º No Oriente. Entre os persas lê-se no Zend_Avesta, escrito por
Zoroastro 600 anos antes de Jesus Cristo, que um mediador chamado Mitra
intervém entre Ormuzd, o Deus criador, e o homem culpado; esse mediador
vem abolir o império de Ahriman, o espírito do mal.
A China, nos tempos de Confúcio, 500 anos antes de Jesus Cristo,
alimenta as mesmas esperanças; e os Reis, os livros sagrados da nação,
dizem que o esperado Libertador virá do Ocidente.
A Índia, com suas antigas encarnações de Wischnú, fala como a China e
a Pérsia na narrativa dos Vedas, a parábola do filho pródigo nada mais é do
que a alegoria do mundo à espera de um Salvador.
3º Os incrédulos modernos que estudaram as tradições antigas são
obrigados a concordar que todos os povos esperavam por um médico, um
sábio, um conquistador, um Deus.
“Desde tempos imemoriais houve uma crença entre os indianos e
chineses de que o Sábio viria do Ocidente. A Europa, pelo contrário, disse
que o Sábio viria do Oriente.” (Voltaire).
Outro grande incrédulo escreve: “As tradições sagradas e mitológicas
dos tempos antigos espalharam por toda parte a crença num grande
mediador que deveria vir, de um futuro Salvador, rei, Deus, conquistador e
legislador, que retornaria à terra a era de ouro e libertaria os homens do
império do mal ”(Volney).
Conclusão:A expectativa do Messias não era, portanto, apenas dos
judeus. Todos os povos antigos tinham as mesmas tradições; Não admira
que os profetas chamassem o Messias de o Desejo das nações. Esta crença
estranha e universal prova claramente o fato da revelação primitiva. O que
também deve ser observado é que, após a vinda de Jesus Cristo, todas as
pessoas deixaram de esperar pelo Messias, circunstância que nos leva à
seguinte conclusão: ou todas as pessoas foram enganadas esperando um
Libertador ou Nosso Senhor Jesus Cristo.

22II Diálogo de Alcibíades.

203
verdadeiramente o Messias prometido pelos profetas e esperado pelas
nações23.
114. P. _Por que Deus demorou tanto para enviar o Messias?
R._Deus esperou quarenta séculos antes de enviar o Messias à terra,
porque tal era a sua santíssima vontade. Ele é mestre em seus dons e livre
em sua dispensação. Os segredos da sabedoria divina são insondáveis. São
Tomás apresenta várias razões para este atraso:
1) Para humilhar o homem que pecou por orgulho. Esta expectativa
prolongada fê-lo conhecer toda a extensão da sua miséria e compreender a
necessidade de um Libertador.
2) Preparar a vinda do Messias e atrair gradualmente os homens ao
mistério da Redenção. Não foi necessária uma longa série de milagres para
prepará-los a acreditar no maior de todos: a Encarnação do Filho de Deus?
Contudo, aqueles que viveram antes da chegada do Redentor puderam
ser salvos pelos méritos do Redentor. Eles tinham apenas três coisas a fazer:
a) conhecer, amar e servir a Deus; b) observar a lei natural; c) acreditar no
Messias prometido e esperar pela sua ajuda. Assim, desde o momento da sua
queda, o homem pôde aproveitar os benefícios da futura Redenção.
1º Como o homem teria pecado por orgulho, Deus o abandona a si
mesmo por um certo tempo, para que reconheça a sua própria miséria.
Sabemos muito bem em que ignorância e em que desordens caiu a raça
humana durante os séculos que precederam a chegada do Messias. Era
necessário que o homem soubesse por experiência própria que só Deus
poderia salvá-lo, pois todos os esforços dos filósofos e dos sábios da terra
não conseguiram tirá-lo do duplo abismo de ignorância e corrupção em que
havia caído. caído.
2º Na ordem da graça, como na da natureza, tudo se faz suavemente e
por graus. Jesus Cristo é o sol do mundo espiritual, e o sol é anunciado por
uma gradação de luz que prepara nossos olhos para sustentar seu brilho
deslumbrante. Da mesma forma, Deus, tendo em conta a fraqueza humana,
conduziu-a gradualmente ao mistério da Redenção. Para isso, multiplicou,
durante muitos séculos, milagres e profecias relativas ao maior
acontecimento da história: a Encarnação do seu divino Filho. O

23Você pode ver Nicolás, localização. acima mencionado.

203
Os fatos da vida do Redentor foram prometidos, imaginados, preditos e
preparados...
Essa demora, porém, não serviu de obstáculo à salvação das gerações
anteriores à chegada do Salvador. Ele morreu por todos os homens, sem
exceção, e os efeitos da Redenção estendem-se a todos os séculos. Aqueles
que viveram antes da sua chegada poderiam ser salvos crendo nele, pelo
menos com uma fé implícita: Deus aplicou-lhes antecipadamente os méritos
satisfatórios do seu Filho encarnado24.
115. P. Quanto tempo durou a religião mosaica?
R. _A religião mosaica durou aproximadamente mil e quinhentos anos.
Seu propósito era preparar o povo para a vinda do Messias, e então teve que
ser revogado.
Foi substituída por uma terceira religião, mais perfeita que as duas
primeiras: a religião cristã.
N. B.A parte dogmática e moral da religião mosaica, aquele conjunto de
verdades e preceitos que constituem a religião natural e primitiva, não
poderia ser revogada, porque se baseia nas relações essenciais que unem os
homens entre si e com o seu Criador.
Mas a parte positiva, o conjunto de leis rituais e civis, isto é, o que
constituía propriamente a religião mosaica, referia-se apenas aos judeus e
teve de desaparecer com a chegada do Messias.
1º A lei mosaica deveria ser suprimida.Muitas profecias do
Antigo Testamento anunciavam: a) a abolição dos sacrifícios da lei mosaica,
bem como do sacerdócio levítico; b) o estabelecimento de um novo
sacerdócio e sacrifício. Bem, a abolição do antigo sacerdócio e do sacrifício
foi a abolição da própria lei, da qual eram partes essenciais.
Os profetas haviam predito: a) a destruição da cidade e do templo,
Jerusalém; b) a desaprovação do povo judeu; c) o chamado dos gentios à
verdadeira religião. Tudo isso anunciava que a lei mosaica, dada
exclusivamente aos judeus, um dia seria abolida.
Segundo os profetas, o Messias tinha que ser um legislador como
Moisés, dar uma nova lei, concordar com os homens sobre uma nova lei.

24São Tomás, III, q. 1, 5 e 2a, q. 2, 7.

204
aliança, destinada a incluir todas as nações e a durar até ao fim dos séculos.
Ora, uma nova lei destrói a antiga, tal como um novo testamento anula
os anteriores; Portanto o Judaísmo, de acordo com os seus próprios
ensinamentos, não duraria até a chegada do Messias.
2º A lei mosaica foi revogada há muito tempo.A religião mosaica
faz do sacrifício o ponto capital do culto dos judeus: proíbe-os de oferecê-lo
fora do templo de Jerusalém; reserva funções sacerdotais à família de Aarão.
Pois bem, durante quase dois mil anos o templo de Jerusalém foi destruído,
as genealogias confundidas e o sacerdócio não pode ser restabelecido na
tribo de Levi. Portanto, os judeus não podem cumprir as ordenanças
essenciais do seu culto.
A interrupção é maior que a duração do próprio Mosaico. Portanto, uma
de duas: ou Deus pede o impossível aos judeus, ou a sua lei foi revogada.
Nunca os fatos forneceram uma demonstração mais clara.
A religião mosaica era profética e figurativa; Prefigurou o reino do
Messias. Os antigos médicos judeus admitiam ao pé da letra o princípio
estabelecido por São Paulo. Tudo o que aconteceu aos hebreus foram figuras
do futuro. Agora, as figuras desaparecem com a chegada de quem as
executa; as sombras passageiras da lei antiga tiveram de dar lugar à
realidade da nova lei. Consequentemente, o Judaísmo foi abolido pela
fundação do Cristianismo25.

II. A REVELAÇÃO CRISTÃ


116. P. _Qual é a religião cristã?
R. É a religião fundada por Jesus Cristo.
Os cristãos reconhecem Jesus de Nazaré, filho da Virgem Maria, como o
Messias esperado por todos os povos, e adoram-no como o Filho de Deus
feito homem.
Jesus Cristo estabeleceu a religião cristã na Judéia há vinte séculos, e fez
com que ela fosse espalhada por seus apóstolos a todas as partes do globo. A
palavra hebraica Messias tem o mesmo significado da palavra Cristo, da
língua grega: significa ungido ou sagrado.

25Ver: Monsenhor Freppe, Os Apologistas Cristãos no Segundo Século.

205
Entre os hebreus foram consagrados reis, sacerdotes e profetas. O Redentor
prometido no paraíso terrestre chamava-se Messias, porque seria por
excelência: Rei, Sacerdote e Profeta. O nome de Jesus, que significa
Salvador, foi trazido do céu pelo arcanjo Gabriel, encarregado de anunciar a
Maria a encarnação do Filho de Deus. A este nome divino os apóstolos
acrescentaram o de Cristo, e a Igreja Católica preservou o costume de
chamar Jesus Cristo Aquele que reconhece como o Messias e Salvador da
raça humana. A ela se acrescenta Nosso Senhor, isto é, Nosso Dono, porque
acreditou em nós e nos redimiu.

Narrativa histórica da Revelação Cristã


Para conhecer a história da revelação cristã é necessário ler a História
Sagrada e a História da Igreja. Nada mais interessante ou mais útil.
Relembraremos aqui os principais acontecimentos da vida de nosso Senhor
Jesus Cristo.
A EXPECTATIVA UNIVERSAL. Todos os profetas anunciaram o Messias
como o Salvador da raça humana. Mas antes da sua chegada, foi necessário
que o homem caído reconhecesse a sua impotência para se levantar sem a
graça de Deus. Agora, depois de 4.000 anos de existência, e apesar das duas
primeiras revelações, o mundo caiu miseravelmente na ignorância religiosa
e no lamaçal do paganismo.
O mundo pagão atingiu o ápice da grandeza material. A Grécia e a Itália
deram ao mundo homens ilustres: oradores, poetas, filósofos, capitães. O
Império Romano, o maior que já existiu, apresentou um espetáculo de luxo
sem precedentes.
Pelo contrário, a religião e os costumes estavam em completo declínio. O
sol, a lua, os animais e as plantas eram objetos de adoração; O demônio era
adorado sob os nomes das mil divindades do Olimpo. Tudo era Deus, exceto
o próprio Deus. Somente a nação judaica proclamou a unidade de Deus e
recusou-se a adorar a criatura. A opressão era universal: o escravo tremia na
presença do senhor; a esposa e os filhos na presença do pai; o cidadão
perante o Estado. A corrupção era profunda, incurável.
Entre os próprios judeus, privados do ensino infalível dos profetas
durante mais de 400 anos, tudo estava desmoronando. Eles caíram sob o
domínio dos romanos que lhes impuseram um rei

206
estrangeiro, o idumeu Herodes. Os fariseus alteraram a lei mosaica e
introduziram uma infinidade de práticas inúteis, para subjugar o povo.
O mundo, neste estado, ansiava pela chegada do Redentor. Não só na
Judeia, mas em todo o universo, o sentimento unânime era que o Messias
não podia esperar mais para trazer luz, salvação e vida.
A VINDA DE CRISTO.Finalmente, na hora marcada pelos profetas,
quando o cetro deixou a tribo de Judá, sob o reinado de Herodes, apareceu o
Salvador prometido, o Desejo das nações.
Segundo as profecias, sua mãe era uma virgem, a Virgem Maria, do
sangue real de Davi. Nasceu pobre, abandonado, num estábulo de Belém, à
meia-noite do dia 24 de dezembro. Mas os anjos cantaram sobre o berço
desta criança: Gloria in excelsis Deo!...e os pastores vieram adorá-lo. Uma
estrela extraordinária brilhou no firmamento e guiou os Magos do Oriente,
que lhe ofereceram ouro, incenso e mirra, para reconhecê-lo como seu Rei,
seu Deus e seu Redentor.
Com o nascimento de Jesus Cristo começa a era cristã. Naquele dia, o
primeiro dos novos tempos, César Augusto, o imperador romano, senhor do
rei Herodes, teria ficado muito surpreso ao saber que em seus registros,
numa pequena cidade da Judéia, seus oficiais iriam escrever mais um nome
maior que o seu; que o estábulo de Belém seria mais venerado que o palácio
dos Césares; que el reino del pobre Niño del pesebre superaría, en extensión,
a su inmenso imperio y que, finalmente, el género humano, prosternado a las
plantas de este niño contaría sus años, no ya desde la fundación de Roma,
sino desde el Nacimiento de Cristo Redentor. Este fato por si só confirma a
divindade de Jesus Cristo.
Vida escondida em Nazaré.Jesus permaneceu em Nazaré, uma
pequena cidade da Galiléia, até os trinta anos. Sobre um período de tempo
tão longo, o Evangelho nada mais diz do que estas duas frases: Ele estava
sujeito a Maria e José; Ele mostrava cada vez mais a graça e a sabedoria que
habitavam Nele. A tradição nos ensina que ele ajudou seu Pai adotivo, José,
em seu humilde trabalho como carpinteiro. Os primeiros cristãos mostraram
os jugos e arados feitos pelo divino obreiro (São Justino).
Porquê estes trinta anos de vida oculta?

207
Jesus quis ensinar-nos os grandes deveres do homem: humildade,
obediência, trabalho, amor à vida sombria, esquecimento de si mesmo e
desprezo pelas riquezas. O orgulho e a ambição perderam o homem;
humildade e obediência deveriam salvá-lo.
Jesus Cristo, com o seu exemplo, reabilita o trabalho manual, tão
desprezado pelos pagãos que o deixaram aos escravos. Ao longo dos
séculos, os trabalhadores encontrariam o seu título de nobreza na oficina de
Nazaré, perto de Jesus operário. Em Nazaré, como no Calvário, Jesus
mostra-se o verdadeiro salvador dos homens.
PALÍVIO DA VIDA PÚBLICA DEJ.Jesus Cristo.Quando os antigos reis
percorriam as suas províncias, eram precedidos por arautos, que anunciavam
a sua chegada e preparavam os caminhos por onde passaria a procissão real.
Deus havia predito pelos seus profetas que o Messias teria um precursor que
anunciaria a sua chegada. “Enviarei”, disse ele a Malaquias, “um
mensageiro para preparar as estradas para mim; e logo em seguida aparecerá
em seu templo o Dominador que você espera, o Anjo da aliança que você
deseja”26.
No 15º ano do reinado de Tibério, quando Pôncio Pilotos e Herodes da
Galiléia eram governadores da Judéia, um profeta extraordinário foi visto
aparecendo às margens do Jordão: era João Batista. Menino milagroso,
nascido de Zacarias e Isabel, prima de Maria, Mãe de Jesus, preparou-se
para a missão com uma vida austera no deserto. Aos trinta anos apareceu,
enviado do céu, para pregar o advento do reino de Deus. Ele batiza os
pecadores nas águas do rio e, por isso, o povo o chama de: Batista.
Multidões vêm ouvir este profeta e se perguntam se ele não é o Messias.
“Não”, ele responde, “eu não sou Cristo, mas Aquele cujas correias dos
sapatos não sou digno de desatar logo virá atrás de mim. Ele vos batizará no
Espírito Santo.”27
Há seis meses, João Batista anunciou aos judeus a vinda do Messias. No
dia 6 de janeiro, Jesus, depois de completar trinta anos, saiu de Nazaré e
veio pedir o batismo ao seu precursor. Quando ele saiu da água, o céu se
abriu, o Espírito Santo

26 Ruim. 3, 1.

27Mc. 1, 7-9.

208
desceu em forma de pomba sobre a cabeça de Jesus, e ouviu-se uma voz
dizendo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”28. Foi a
manifestação do mistério da Trindade.
Jesus retirou-se para o deserto para se preparar para cumprir sua missão
com quarenta dias de jejum e oração. Durante este tempo, João Batista
anuncia isso a Israel. Declarai aos que foram enviados da sinagoga: Eu não
sou outro senão a voz anunciada pelo profeta Isaías... Mas entre vós há
alguém que não conheceis: Ele é o Cristo, o Filho de Deus.”29
Poucos dias depois, João o viu vindo do deserto e deu testemunho dele,
dizendo ao povo: “Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira os pecados do
mundo... Eu não o conhecia, mas Eu o vi descer sobre Ele o Espírito Santo e
garanto-vos que Ele é o Filho de Deus”30. Desta forma, Jesus de Nazaré foi
apresentado aos judeus como o Messias esperado e como o Filho de Deus.
PREGAÇÃO DO EVANGELHO.Saindo do deserto, Jesus entra na Galiléia e
começa a pregar o Evangelho ou a boa nova do reino de Deus e da
Redenção, prometida após a queda do homem. Sem fixar residência em
lugar nenhum, permanecendo indiferentemente nas casas dos pobres e dos
ricos que lhe ofereciam hospitalidade, a princípio caminhava sozinho, como
os profetas, pelas cidades e vilas, pregando ora ao ar livre, ora nas
sinagogas. . A ideia fundamental de sua pregação é que o reino de Deus é
um reino espiritual e não temporal, como esperado pela maioria dos judeus,
homens rudes e materiais.
Ele não tem um plano específico em seus ensinamentos, mas aproveita
todas as circunstâncias para fazer sua doutrina penetrar nas almas. Ele fala
pronunciando frases simples e sublimes ao mesmo tempo em que usa
parábolas comoventes; Sua palavra simples está cheia de unção. Ele não
tenta, como um homem sábio, provar o que ensina; Ele não discute: afirma
com autoridade, em virtude da sua missão divina.
Ele manifesta que é o Messias prometido e o Filho de Deus enviado por
seu Pai para a salvação dos homens. Ele tem em seu

28Mt. 3, 16-17.

29Jn. 1, 23-26.

30Jn. 1, 29-32.

209
linguagem um encanto divino, que faz com que quem o ouve diga:
Não, nenhum homem jamais falou assim!
Ele confirma os seus ensinamentos com a santidade da sua vida, a
sublimidade da sua doutrina e, particularmente, com numerosos milagres,
que atestam a sua missão e a sua divindade. Ele exerce sua ação dominadora
sobre toda a criação, como Senhor de todas as coisas. Tudo lhe obedece:
céu, terra, inferno. Os anjos vêm ao deserto para servi-lo, Moisés e Elias
acompanham-no no Tabor. Ele multiplica os pães, acalma as tempestades,
caminha sobre as ondas, realiza inúmeras curas, ressuscita os mortos,
expulsa demônios do corpo dos possuídos. Para realizar estes milagres basta
uma palavra, um gesto, um simples contato.
FORMAÇÃO DA IGREJA.Depois das suas primeiras pregações, um
grande número de homens começa a segui-lo para ouvir a sua palavra de
vida e testemunhar os seus milagres. Entre estes primeiros seguidores, Jesus
Cristo escolhe doze, em memória dos doze patriarcas de Israel, e dá-lhes o
nome de apóstolos, isto é, enviados, porque queria enviá-los para pregar a
sua doutrina a todos os povos da terra. . Ele os leva consigo, os instrui com
especial cuidado e, durante três anos, viaja com eles pela Galiléia, pela
Judéia, pela Samaria e pelo próprio deserto, onde multidões ansiosas por
ouvi-lo o seguem.
De vez em quando ele envia seus apóstolos, dois a dois, para pregar o
Evangelho. Como prova de sua missão, ele lhes concede o poder de expulsar
demônios e curar doenças, como ele mesmo fez.
No terceiro ano do seu apostolado, Jesus Cristo escolhe também setenta e
dois discípulos, em memória dos setenta e dois conselheiros de Moisés, para
ajudar os apóstolos na pregação do Evangelho nas cidades e nos campos.
Desta forma, ele lançou os fundamentos da sua Igreja, que deveria continuar
o seu trabalho na terra.
Um dia, dirigindo-se a Simão, cujo nome já havia mudado para Pedro,
nomeou-o chefe da sua Igreja, dizendo-lhe: Tu és Pedro e sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja e as portas (ou seja, os poderes do inferno ), não
Eles prevalecerão contra isso. E confiou-lhe as chaves do reino dos céus
para transmitir aos seus sucessores.

210
Os inimigos de Jesus Cristo.Durante os três anos da sua vida
pública, Jesus Cristo teve que combater a incredulidade dos judeus e a
hostilidade ciumenta dos líderes da nação. Israel esperava um Messias
poderoso, para restaurar o trono de Davi e dar aos judeus o império sobre
outros povos. Esperava uma revolução política e não uma mudança
religiosa, interpretando neste sentido material as profecias que anunciavam o
reino glorioso do Messias. Este povo carnal e terreno não reconheceu o
conquistador dos seus sonhos neste profeta de Nazaré, pobre e sombrio, que
pregava a guerra às paixões, o desprezo pelas riquezas e o reino de Deus nas
almas.
O povo, porém, levado pela doçura e pelos milagres de Jesus, acreditou;
mas os líderes da nação declararam-se inimigos de Jesus Cristo e atribuíram
os seus milagres ao poder do diabo.
Naquela época, duas seitas fatais dominavam a Judéia: os saduceus e os
fariseus. Os primeiros, filósofos materialistas, pensavam apenas na vida
presente, buscando exclusivamente prazeres sensuais. Os fariseus, hipócritas
e perversos, sob a prática externa da lei de Moisés escondiam orgulho
excessivo e vícios infames. A alta sociedade estava dividida entre esses dois
partidos e exerciam grande influência sobre o povo. A maioria dos membros
da famosa corte chamada Sinédrio formava as fileiras de ambas as seitas.
O Sinédrio, presidido pelo sumo sacerdote, era o grande tribunal da
nação, responsável por governar e julgar assuntos religiosos. Era composto
por setenta e dois membros, divididos em três câmaras: os príncipes dos
sacerdotes ou chefes das vinte e quatro famílias sacerdotais; os escribas ou
doutores da lei; os anciãos da cidade ou chefes das tribos e as famílias
principais. O Sinédrio tinha o direito de punir os transgressores da lei, mas
como os romanos impuseram seu domínio aos judeus, foi proibido
pronunciar a sentença de morte.
Os fariseus eram os inimigos mais ferrenhos de Jesus Cristo. Ciumentos
da sua popularidade, feridos no orgulho pela superioridade da sua doutrina,
exasperados pela liberdade com que condenava os seus erros e expunha a
sua hipocrisia, conceberam contra ele tal aversão que esta rapidamente se
transformou em ódio mortal. A sabedoria de Deus que governa o mundo
usou este ódio para realizar a redenção da linhagem humana.

211
A PAIXÃO DE CRISTO REDENTOR.Jesus Cristo veio a este mundo, não
apenas para instruí-lo e trazer-lhe uma religião mais perfeita, mas também
para salvar a humanidade culpada. Agora, esta redenção tinha que ser
cumprida através do sacrifício da sua vida e do derramamento do seu
sangue. Na metade do terceiro ano de sua pregação, Jesus Cristo subiu a
Jerusalém para celebrar ali a Páscoa com seus apóstolos.
Cristo, verdadeiro rei de Israel, quis entrar triunfalmente na Cidade
Santa. O povo, que ao saber que Jesus estava chegando, correu ao seu
encontro, carregando palmeiras e ramos de oliveira, forrando com folhas o
caminho que ele deveria percorrer, enquanto gritava cheio de alegria:
Hosana ao Filho de Davi! Glória ao Messias!
Estas aclamações enfureceram os fariseus, que procuraram uma forma de
prendê-lo, sem agitar a multidão. Aceitaram de bom grado a oferta de Judas
Iscariotes que se ofereceu para entregá-los pelo pagamento de trinta moedas
de prata. Esta venda repete-se ao longo dos séculos contra Cristo e a sua
Igreja. Seus inimigos compram a imprensa, compram os votos e a traição de
Judas se repete no mundo.
JESUS NO JARDIM DAS OLIVEIRAS.Na noite de Quinta-feira
Santa, o Salvador reuniu seus doze apóstolos em Jerusalém para comerem o
cordeiro pascal, segundo a cerimônia prescrita por Moisés. Depois da
instituição da divina Eucaristia, grande Páscoa da nova Lei, Jesus dirigiu-se
ao Horto das Oliveiras. Ali, considerando os sofrimentos que O aguardavam
e a sua inutilidade para muitos, o Salvador foi oprimido por amarga tristeza
e caiu em agonia e, das oito horas da noite até cerca das onze horas, chorou
pelos pecados dos homens.
À meia-noite Judas chega liderando os soldados do Sinédrio, Jesus
pronuncia esta única frase: Eu sou Jesus de Nazaré, e as tropas caem de
costas. Ele quer mostrar com este prodígio que vai se entregar livremente ao
sofrimento. Deixa-se amarrar e levar para Jerusalém, enquanto os seus
discípulos o abandonam.
Jesus na presença de Caifás. Contra todas as regras de
procedimento, o sumo sacerdote reúne o Sinédrio à meia-noite para
condenar o Salvador. Estes juízes procuram testemunhas falsas, mas as suas
declarações são ineficazes para justificar a sentença de morte. Para
pronunciá-lo contra Jesus, o Sinédrio não encontra outro pretexto senão a
solene afirmação de Jesus: “Sim, eu sou o Cristo, o Filho de Deus”.

212
Caifás diz que tal afirmação é uma blasfêmia horrenda; e como, segundo
a lei mosaica, a blasfémia era punível com a morte, Jesus é condenado e
entretanto entregue à brutalidade dos lacaios e dos soldados.
JESUS DIANTE DE PILATOS.Na Sexta-feira Santa, por volta das sete da
manhã, Jesus é levado ao tribunal de Pilatos, o governador romano, para
ratificar e executar a sentença. O governador convida os inimigos de Jesus a
exporem as suas acusações contra Ele; e depois, os do Sinédrio, deixando de
lado a acusação de blasfêmia, apresentam-no como culpado de crimes
políticos. Este homem, dizem, revolta o povo e proíbe pagar tributo a César
e chama-se Cristo Rei.
Pilatos questiona Jesus, reconhece a sua inocência e procura uma forma
de libertá-lo; mas ele não quer incomodar os judeus por medo de ser
denunciado ao imperador Tibério e perder sua posição. Ao ouvir que Jesus é
galileu, envia-o, sem demora, a Herodes, que está em Jerusalém por ocasião
das festividades da Páscoa.
Jesus antes de Herodes.Herodes, orgulhoso de ver este homem
extraordinário comparecer perante a sua corte, pede-lhe que realize um
milagre. Na presença daquele príncipe atrevido, Jesus permanece em
silêncio, então Herodes, rancoroso, faz com que ele se vista com um terno
zombeteiro como um louco e o devolve a Pilotos.
Durante esse tempo, os fariseus espalharam todo tipo de calúnia contra o
Salvador entre o povo; A aparente fraqueza e desânimo de Jesus, o
julgamento do Sinédrio e de Herodes, levam-nos a acreditar que o que foi
afirmado pelos fariseus não é calúnia, mas verdade. O povo judeu, que cinco
dias antes gritava: Hosana ao Filho de David! Em breve ele pedirá sua
morte. De forma análoga, o povo católico da Argentina e de outros países
vota nos inimigos de Deus e permite-lhes forjar todo o tipo de leis contrárias
à liberdade da Igreja e ao bem do país.
Jesus volta à presença dos Pilotos.O governador, vendo o ódio
dos fariseus, deseja salvar Jesus. Ele espera encontrar mais justiça na cidade
e seguindo o costume de perdoar um prisioneiro na época da Páscoa,
compara Jesus a um assassino chamado Barrabás. Quem vocês querem que
eu liberte, pergunta à multidão, Jesus ou Barrabás? O povo, seduzido pelos
fariseus, pede a liberdade de Barrabás e a morte de Jesus.

213
Os pilotos estão indignados; e para levar o povo à compaixão, condena
Jesus ao castigo da chicotada, apesar de o ter declarado inocente. Esta
tortura, reservada aos escravos, era, segundo a lei romana, terrivelmente
cruel. O condenado, completamente nu, foi amarrado a uma coluna baixa
para que apresentasse as costas curvadas aos terríveis golpes dos algozes
treinados na arte da tortura.
Os galhos de couro terminavam em colchetes para rasgar a carne, ou em
bolas de chumbo para machucar as feridas. Cada golpe arrancou pedaços de
carne e o sangue escorria de todas as partes do corpo. Logo a vítima,
curvada para o lado, deixou todo o corpo exposto aos golpes dolorosos; Não
era incomum ver os condenados morrerem nesta tortura. A divina paciência
de Jesus surpreendeu os algozes e despertou a sua ira; e desde a planta dos
pés até o alto da cabeça não há Nele nenhum ponto são, e todos eles podem
ser contados, cumprindo assim a profecia de Isaías: “Dinumeraverunt omnia
ossa mea”. Desta forma, a pureza pagou essencialmente pelas impurezas dos
homens.
Depois de tão horrível tormento material, os soldados romanos quiseram
zombar deste Rei dos Judeus. Fizeram-no sentar-se num fragmento de
coluna como se estivesse num trono; Jogaram-lhe nas costas um pano
púrpura, como se fosse um manto real; Colocaram-lhe nas mãos uma cana
como cetro e cingiram-lhe as têmporas com uma coroa de espirais afiadas,
adaptando-a à força dos golpes; Então, como homenagem, cuspiram em seu
rosto e lhe deram um tapa. Para expiar o orgulho do homem, o Salvador
sofre estas cruéis ignomínias com paciência divina.
Pilotos mostra ao povo Jesus em um estado capaz de mover as próprias
pedras. O corpo da vítima está dilacerado, sua cabeça está coroada de
espinhos, seu rosto está encharcado de sangue; e, quando o coloca assim
diante do povo, o juiz diz: “Eis o homem!” Os judeus gritam furiosos:
“Crucifica-o!”... Temos uma lei e segundo ela ele deve morrer, porque se
tornou Filho de Deus.
Os romanos respeitavam as leis religiosas dos povos conquistados e por
isso os fariseus substituem o crime de Estado, que Pilatos se recusa a
admitir, pelo crime de religião. No entanto, o governador ainda hesita.
Então, eles lhe desferem o último golpe: Se você o libertar, você não é
amigo de César, pois todo aquele que se torna rei se declara contrário a
César.

214
Ao ouvir essas palavras, Pilatos estremece de medo de perder o cargo, e
lava as mãos dizendo: sou inocente do sangue deste justo; você responderá
por isso.
Os judeus clamam: Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos
filhos! O governador pronuncia a sentença e condena Jesus à morte na cruz.
Jesus no Calvário.O castigo da cruz estava reservado aos escravos e
criminosos. O Salvador do mundo, sobrecarregado com as nossas
iniquidades, quer passar por esta tortura humilhante e cruel. Os algozes
colocaram sobre Seus ombros uma pesada cruz, que Ele abraça com amor e
carrega dolorosamente até o Calvário, local designado para as execuções. A
estrada que levava até lá tinha 750 metros de extensão. Ao percorrer este
caminho doloroso, Jesus, exausto por tantos sofrimentos, cai três vezes. Ao
sair de Jerusalém, ele se vê incapaz de dar um passo, carregando a cruz nas
costas; Os soldados obrigam um cireneu a ajudar a vítima. Jesus encontra
sua Mãe Santíssima e seu coração fica dilacerado pela tristeza. Mais tarde,
uma mulher piedosa, chamada Verônica, enxuga o seu rosto divino, e o
Senhor, agradecido, deixa impresso o seu santo rosto no sudário.
Na subida ao Calvário, o Salvador falou apenas uma vez, mas falou
como médico e como profeta. Anunciou às mulheres de Jerusalém que o
seguiam chorando, o testemunho futuro da sua pátria e o destino do pecador
que não quer aproveitar os frutos da redenção.
Chegando ao Calvário, Jesus, despojado de suas vestes, é pregado na
cruz por quatro pregos, que com golpes de martelo cravam enormes pregos
em seus pés e mãos. Quando a vítima é pregada, em meio a um sofrimento
atroz, os algozes erguem a cruz e a deixam cair repentinamente no buraco
previamente preparado. Cada choque produz um arrepio de dor horrível em
todos os membros de Jesus... Era meio-dia.
Dois ladrões também foram crucificados com Ele, um à direita e outro à
esquerda. Isto cumpriu a profecia que diz: Ele foi contado entre os
malfeitores.
Na cruz, o Salvador, elevado entre a terra e o céu, pronuncia sete
palavras. Ore por seus algozes; promete o Paraíso ao ladrão arrependido; Ele
dá Maria como mãe para Juan e depois permanece em silêncio por três
horas. Nesse momento, o sol escurece e

215
densas trevas cobrem a terra. Jesus ora diante da justiça divina pelos
pecadores. Vendo a quantidade de réprobos que não quererão aproveitar-se
dos seus méritos, ele solta um grito de desconsolação ao seu Pai: Meu Deus,
meu Deus! Por que você me abandonou? Depois dirige-se aos homens para
lhes dizer: Tenho sede... Tenho sede da salvação das vossas almas...
Finalmente anuncia que tudo se consumou: as profecias cumpriram-se; O
preço do nosso resgate está pago. O Redentor deu um grande grito, colocou
a sua alma nas mãos do Pai e, inclinando a cabeça, expirou... Eram três da
tarde.
Toda a natureza parecia chorar a morte do seu Criador: a terra tremeu, as
rochas do Calvário partiram-se, o véu do Templo rasgou-se, os túmulos
abriram-se... O centurião romano, que guardava os executados, exclamou:
Que homem! Ele era realmente o Filho de Deus!
Enterro de Jesus.Poucas horas depois, um soldado, ao testemunhar a
morte de Jesus, abre o lado da vítima com uma lança, e sangue e água saem
da ferida. José de Arimatéia e Nicodemos obtiveram permissão de Pilatos
para enterrar o corpo sagrado. Depois de o terem arrancado da cruz,
colocaram-no num novo túmulo escavado numa rocha. Os judeus, sabendo
que Jesus havia predito a sua ressurreição, e temendo que viessem roubar o
corpo, selaram o túmulo com o selo da nação e designaram vários soldados
para guardá-lo. Esta precaução, totalmente providencial, servirá apenas para
tornar mais autêntica a ressurreição de Jesus Cristo.
Ressurreição de Jesus Cristo.No domingo, de madrugada, Jesus
sai do túmulo cheio de glória sem tocar na pedra. A terra treme, um anjo
desce do céu, rola a pedra, senta-se sobre ela e espalha o terror entre os
guardiões do túmulo. Estes, vendo o túmulo vazio, correm para anunciar ao
Sinédrio a ressurreição do crucificado. Os principais sacerdotes dão-lhes
uma quantia em dinheiro para que possam espalhar a notícia de que,
enquanto dormiam, os discípulos de Jesus vieram e roubaram o corpo.
No mesmo dia, o divino Jesus aparece pela manhã a Maria Madalena, às
santas mulheres e a Pedro. À tarde, são apresentados dois discípulos no
caminho de Emaús, e depois os seus apóstolos, reunidos no Cenáculo.

216
Durante quarenta dias ele aparece aos seus apóstolos em diversas
circunstâncias; Ele os instrui a ensinar e batizar todas as nações e,
finalmente, dá-lhes as instruções finais para estabelecer a sua Igreja, da qual
nomeia definitivamente Pedro como primeiro pastor e seu líder.
Ascensão.No quadragésimo dia, Jesus, seguido por cento e vinte
discípulos, dirige-se ao Monte das Oliveiras. Ali, depois de ter prometido
aos seus apóstolos que lhes enviaria o Espírito Santo, abençoa pela última
vez e na presença deles vai para o céu.
117. P. _Como conhecemos a vida de Nosso Senhor Jesus
Cristo?
R. _Conhecemos a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo particularmente
através dos Evangelhos.
Os quatro livros que narram a vida, os milagres e as principais palavras
de Jesus Cristo são chamados de Evangelhos.
Os autores dos Evangelhos são: os apóstolos São Mateus e São João, e
dois discípulos: São Marcos, discípulo de São Pedro e São Lucas, discípulo
de São Paulo.
Os três primeiros evangelistas: São Mateus, São Marcos e São Lucas,
escreveram o seu Evangelho do ano 40 ao ano 70 da era cristã; San Juan, no
final do primeiro século.
A palavra Evangelho é o mesmo que boas novas. É a notícia da redenção
dos homens, a notícia mais grande e mais feliz, acima de todas as outras.
Este nome é dado à doutrina de Cristo ou aos livros em que está contida.
Quatro homens escolhidos por Deus, dois apóstolos e dois discípulos,
escreveram, sob a inspiração do Espírito Santo, a história divina daquilo que
Jesus disse e fez entre os homens. As narrativas destas quatro testemunhas,
embora diversas em forma, intenção e origem, explicam-se e confirmam-se
mutuamente, de modo que constituem nada mais do que um único
Evangelho.
1º O Evangelho de São Mateus: Foi escrito por volta do ano 42,
oito anos após a ascensão do Salvador. São Mateus, de sobrenome Levi,
quando estava prestes a deixar a Palestina para ir levar a boa nova a outras
nações, escreveu em hebraico, para os judeus convertidos de Jerusalém, os
principais acontecimentos da vida de Jesus. Sua tentativa foi demonstrar aos
judeus incrédulos que Jesus de Nazaré era realmente o Messias anunciado
pelos profetas. É o mais antigo dos quatro Evangelhos.

217
2º O Evangelho de São MarcosFoi escrito cinco ou seis anos
depois, em Roma, por João Marcos, discípulo e secretário de São Pedro.
Marcos seguiu o seu mestre até Roma, recolheu as suas histórias e, tendo em
vista delas, escreveu o seu Evangelho, a pedido dos romanos, desejosos de
ter por escrito o compêndio dos ensinamentos dados pelo Apóstolo. Este
Evangelho, aprovado por São Pedro, destinava-se especialmente aos gentios,
tal como o de São Mateus o destinava aos judeus convertidos. É o mais
resumido.
3º São LucasEle compôs o Terceiro Evangelho e os Atos dos
Apóstolos por volta do ano 60 DC. Natural de Antioquia; médico, pintor e
ilustre escritor. São Lucas foi convertido por São Paulo e tornou-se seu
companheiro nas viagens a Éfeso, Jerusalém, Grécia e Roma. Ele tirou os
elementos para o seu Evangelho da pregação do seu mestre, das suas
relações com os outros apóstolos e dos ensinamentos que recolheu dos
lábios da própria Virgem Maria31.
São Lucas propôs-se organizar, da melhor maneira possível, a narração
dos acontecimentos evangélicos, e por isso o seu livro tem mais forma de
história do que os outros: é o mais completo, o mais metódico dos
Evangelhos. São Lucas escreveu para os gregos, cuja língua falava
admiravelmente. Apresenta o Deus Homem como o Salvador da raça
humana.
4º O Evangelho de São JoãoFoi composto no final do primeiro
século. São João, o discípulo preferido de Jesus, o último sobrevivente dos
apóstolos, escreveu o seu Evangelho em grego a pedido dos bispos da Ásia,
para combater as primeiras heresias sobre a divindade de Jesus Cristo. Ele
coloca todos os seus esforços para tornar mais conhecido o Salvador, a sua
existência eterna no seio de Deus, a sua união substancial com o Pai, a sua
encarnação e o mistério da vida que Jesus veio comunicar aos homens.
Os três primeiros evangelistas narram a vida externa do Salvador e seus
ensinamentos populares. São João cala-se sobre o que se encontra nos
primeiros Evangelhos, aprofunda mais do que os outros hagiógrafos os
segredos de Jesus e o sublime da sua doutrina. Ele é o único que reproduz
seu discurso do Jantar, do

31Segundo a tradição, São Lucas reproduziu sete vezes o retrato da Santíssima Virgem; e algumas cópias ainda estão preservadas em Roma.

218
belíssima página dos nossos Livros Sagrados, onde se respira um aroma de
divindade e de amor divino32.
118. P. _Devemos acreditar em tudo o que está contido nos
Evangelhos?
R. _Sim; porque se deve acreditar num livro histórico quando é
autêntico, completo e verdadeiro.
Os Evangelhos possuem estas três qualidades de um cesto de pão muito
mais perfeitas do que todos os outros livros históricos. Escritos pelos
apóstolos e pelos discípulos cujos nomes levam, chegaram até nós intactos e
os seus autores são verdadeiras testemunhas dignas de fé; Eles não foram
capazes de ser enganados ou enganados. É impossível, portanto, questionar
os acontecimentos narrados nos Evangelhos, sem ao mesmo tempo negar
toda a ciência histórica.
N. B.-Os Evangelhos podem ser considerados de duas maneiras: 1º,
como livros inspirados; 2º simplesmente como livros históricos. Nós,
cristãos, acreditamos que os Evangelhos são livros inspirados, ou seja, que
os apóstolos e seus discípulos os escreveram seguindo o impulso do Espírito
Santo, que os moveu internamente a escrever tudo e somente o que Deus
queria, usando, porém, as qualidades de cada escritor. Como livros
inspirados, merecem a fé divina, ou seja, a fé absoluta que a palavra de Deus
merece. Mas aqui não precisamos discutir sobre inspiração.
Consideraremos os santos Evangelhos como livros de história segundo o
conceito puramente histórico. De acordo com a crítica sólida e o bom senso,
um livro de história tem plena autoridade e merece a fé humana quando é
autêntico.
Um livro é autêntico quando foi escrito na época e pelo autor que lhe foi
atribuído.
Um livro está completo quando chega até nós sem alterações, tal como
foi escrito pelo seu autor.

1ª AUTENTICIDADE DOS EVANGELHOS.


Os quatro Evangelhos têm como autores os escritores cujos nomes
levam. É assim que eles demonstram:

32Os capítulos XIII e XVII podem ser lidos.

219
A) EO TESTEMUNHO DO POVO CRISTÃO . Sempre considerou autênticos os
Evangelhos, leu-os nos serviços divinos e preservou-os com veneração
religiosa.
B) EO TESTEMUNHO DOS PRÓPRIOS PAGÕES, que os atribuem aos
discípulos de Jesus.
C) euA IMPOSSIBILIDADE DE ATRIBUÍ-LOS A OUTROS AUTORES, ser
contemporâneos dos apóstolos, porque teriam protestado, seja após a sua
morte, que os cristãos não os teriam admitido.
D) euAS CARACTERÍSTICAS INTRÍNSECASdos Evangelhos exigem que seus
autores sejam testemunhas oculares e contemporâneos de Jesus Cristo.
E) A AUTENTICIDADE DOS NOSSOS LIVROS SAGRADOS EXIGE PROVAS
MAIS FORTES DO QUE AS EXIGIDAS PARA OUTROS LIVROS HISTÓRICOS,
testes acessíveis a todas as inteligências. Deus providenciou para esta
necessidade. Ele nos dá uma prova única no mundo e adequada a todas as
inteligências, como nenhum livro tem: refiro-me ao testemunho do povo
judeu para o Antigo Testamento e do povo cristão para o Novo.
Os evangelhos são, para os cristãos, uma herança de família cuja origem
eles deveriam conhecer melhor do que ninguém. O povo cristão encontrou a
sua origem, a razão da sua existência, da sua fé, da sua vida, na pregação dos
apóstolos que o sensibilizaram para as obras, milagres e ensinamentos de
Jesus Cristo. Ora, os Evangelhos nada mais são do que o resumo escrito da
pregação apostólica. Os primeiros cristãos aceitaram estes livros: a) porque
conheciam os seus autores e sabiam que eram dignos de fé, e b) porque
encontraram nestes escritos apenas aquilo em que já acreditavam. Sempre e
em toda parte os cristãos consideraram os quatro Evangelhos como obra dos
apóstolos e discípulos; Diante deste testemunho constante e universal, todas
as objeções dos incrédulos passados, presentes e futuros são dissolvidas.
Os racionalistas acreditam encontrar, no que chamam de ciência crítica,
armas contra nós. Os cristãos sábios seguiram-nos neste âmbito e vêem aqui
os testemunhos que a crítica mais sábia apresenta dos escritos dos primeiros
séculos da Igreja, em favor da autenticidade dos Evangelhos.
a) Testemunho de Cristãos:
São Justino, apologista e mártir em 106, afirma que os Evangelhos
eram lidos nos cultos dominicais, e fala disso

220
costume como uso geral que existe há muito tempo33. Este filósofo pagão
abraçou o cristianismo, depois de ter recolhido os dados mais precisos sobre
todos os factos evangélicos.
Seu discípulo Taciano escreveu uma harmonia dos quatro Evangelhos,
ou seja, uma concordância.
Os Padres Apostólicos, contemporâneos dos evangelistas, como São
Clemente Romano, discípulo de São Pedro e Papa de 91 a 100; São
Barnabé, companheiro de São Paulo, morreu no ano 104; Santo Inácio de
Antioquia, discípulo de São João martirizado no prego 107, etc., cita nas
suas cartas uma grande multidão de passagens tiradas do Evangelho, prova
evidente de que os Padres contemporâneos dos apóstolos tinham os
Evangelhos à mão e conheciam a sua verdadeira significado. origem.
Santo Irineu, o sábio bispo de Lyon, discípulo de Policarpo, este amigo
de São João, do ano 120 ao 202, invoca contra os hereges os nossos quatro
Evangelhos, que compara aos quatro pontos cardeais e às quatro figuras de
querubins. Em sua famosa obra Adversus haereses ele nos informa a época
de sua escrita. Citaremos as suas palavras: “Mateus publicou o seu
Evangelho entre os hebreus e na sua língua, no tempo em que Pedro e Paulo
pregavam o Evangelho em Roma e fundavam a Igreja. Mais tarde, Marcos,
discípulo e secretário de Pedro, comunica-nos por escrito as verdades que
aquele apóstolo ensinou. Lucas, discípulo de Paulo, escreveu num livro o
Evangelho que seu professor pregava. Finalmente, João, o discípulo favorito
do Senhor, publicou um Evangelho enquanto residia em Éfeso, na Ásia...
Tal é a certeza dos nossos Evangelhos, que até os próprios hereges a
reconhecem e testemunham.” As palavras de Irineu, primaz da Gália e
discípulo de Policarpo, são de capital importância; que une na sua Pessoa a
autoridade da Igreja do Oriente e do Ocidente.
Origens,que viveu de 185 a 254, afirma que existem quatro
Evangelhos, que são os únicos recebidos sem dificuldade em toda a Igreja
de Deus. Este grande médico não se contenta em citar os autores, mas os
comenta e explica.
Tertuliano,anos 145-230, é tão explícito como Orígenes: com ele temos
o testemunho da Igreja da África.

33Apol. 1, 67.

221
É inútil reproduzir testemunhos posteriores ao século II, são demasiado
numerosos. Portanto, não há dúvida possível: os quatro Evangelhos foram
escritos pelos autores cujos nomes levam.
b) Testemunho dos pagãos.Ao testemunho dos cristãos podemos
acrescentar o dos filósofos pagãos, ferrenhos inimigos da Igreja. Celso, que
escreveu entre os anos 115 e 140, vê nos Evangelhos os escritos dos
discípulos de Jesus. Porfírio, no segundo século, e Juliano, o Apóstata, no
quarto, chamam os evangelistas pelos seus nomes. Se tivessem conseguido
negar a verdadeira origem dos nossos Evangelhos, não teriam deixado de o
fazer, porque este era, evidentemente, o meio mais rápido e eficaz de
combater a Igreja de Cristo.
c) Impossibilidade de toda fraude. Nenhum impostor poderia ter
composto os Evangelhos durante a vida dos Apóstolos, ou a única religião
divina após sua morte. 1º Era impossível aos Apóstolos viverem, porque
eles, extremamente atentos à preservação da fé, de forma alguma
permitiriam que o seu nome fosse abusado para enganar os fiéis. 2º Foi
impossível após a morte dos Apóstolos, porque os cristãos não teriam
recebido os Evangelhos, e teriam protestado contra os impostores, como
fizeram contra os Evangelhos apócrifos desde o momento do seu
aparecimento. Se os nossos quatro Evangelhos foram os únicos recebidos, é
porque são os únicos autênticos. Os falsos Evangelhos são imitações e,
portanto, depõem-se em favor dos verdadeiros, como a moeda falsificada
atesta a existência do verdadeiro.

2ª INTEGRIDADE DOS EVANGELHOS.


Os Evangelhos chegaram até nós intactos
a) Na verdade, eles não foram alterados e o texto atual está totalmente
de acordo com os manuscritos antigos.
b) Qualquer alteração sempre foi impossível.
a) Nossos Evangelhos não foram modificados.Os estudiosos
modernos, protestantes e católicos, compararam os manuscritos mais
antigos, as diversas traduções em todas as línguas; Estudaram até os antigos
pergaminhos dos mosteiros gregos do Sinai e do Monte Athos, e em todos
estes manuscritos não encontraram nenhuma divergência que merecesse ser
notada. O texto que temos hoje é o mesmo citado pelos Santos Padres; está
satisfeito com os 500 manuscritos antigos cujos

222
a existência foi verificada pelos sábios; Também está de acordo com as
versões antigas ou traduções feitas em diversas épocas. Consequentemente,
a integridade dos Evangelhos é rigorosamente testada. Não há dúvida de que
existem inúmeras variantes entre os vários manuscritos, e não poderia ser de
outra forma: nenhum livro jamais foi tão copiado e traduzido em todos os
tempos e lugares. Mas essas variedades são devidas unicamente a erros de
copistas ou tradutores, deixam intactas as partes essenciais de cada frase e
não alteram nenhum fato importante, nenhum ponto de dogma ou
moralidade.
b) Qualquer alteração substancial era impossível. Esses livros,
respeitados como divinos, lidos todos os domingos nos cultos, foram
preservados com cuidado religioso por todos os cristãos. Seria impossível
hoje falsificá-los, porque são conhecidos ao mesmo tempo pelos católicos,
hereges e incrédulos: um, na ausência do outro, protestaria contra isso;
Portanto, o que é impossível hoje foi impossível em tempos passados. .
3ª Veracidade dos Evangelhos.Os autores do Evangelho são
verdadeiros:
a) Eles não podiam se enganar sobre os acontecimentos que narravam:
estes acontecimentos eram recentes, sensíveis e importantes.
b) Eles não quiseram nos enganar, eram homens simples, honestos,
francos e publicaram a sua história arriscando a vida.
c) Também não poderiam enganar, mesmo que quisessem, porque
numerosas testemunhas oculares dos factos do Evangelho ainda estavam
vivas, e não teriam deixado de descobrir a fraude. Por outro lado, os judeus
estavam muito interessados em provar que os evangelistas estavam
mentindo.
a) Eles não podiam se enganar, porque apenas narraram o que
viram ou receberam da boca de testemunhas oculares dignas de fé. Foram
acontecimentos recentes, sensíveis, materiais, realizados à luz do sol, na
presença de uma multidão de testemunhas, por vezes hostis. Estes factos
foram de capital importância para a religião do povo judeu; Finalmente,
muitas vezes eram maravilhosos e, portanto, de tal natureza que deveriam
atrair a atenção. Cremos que ninguém ousará afirmar que todos os
evangelistas eram cegos, surdos ou iludidos. Neste caso, o mesmo teria de
ser afirmado em relação a uma multidão de outras testemunhas
contemporâneas, mesmo entre os inimigos de Jesus, que receberam as
narrativas evangélicas sem protesto.

223
b) Eles não queriam enganar.Sua narração tem um selo de verdade,
simplicidade e franqueza tal que nada semelhante é encontrado no livro de
um impostor. Apontam os fatos, apontam os locais onde ocorreram, citam
testemunhas ainda vivas e confessam humildemente os próprios defeitos e
faltas.
Ninguém engana, exceto quando prevê, como resultado desse engano,
alguma utilidade, como glória, fortuna, bem-estar. E que interesse eles
poderiam ter em nos enganar? Tão longe estavam eles de poder esperar
qualquer benefício de sua fraude, não menos prejudicial para os judeus do
que para os gentios, que só tinham que esperar, por parte dos homens,
desprezo, perseguição, morte, e por parte de Deus, os castigos reservados
aos impostores sacrílegos. Mentir, portanto, nessas condições era uma
loucura. Pascal tem razão quando diz: “Acredito facilmente na história cujas
testemunhas deixaram que lhes cortassem a garganta para verificar o seu
depoimento”.
c) Finalmente, não teriam conseguido enganar: os acontecimentos que
narram ocorreram na presença de milhares de testemunhas ainda vivas. Os
inimigos do Cristianismo não teriam deixado de descobrir a impostura. Os
judeus incrédulos, chefes da sinagoga, fizeram todo o possível para sufocar
a nova religião, impondo silêncio aos apóstolos, mas confessaram-se
impotentes para negar os factos do Evangelho.
Eles não poderiam ter enganado, porque os apóstolos foram
completamente incapazes de inventar por si próprios, sendo homens simples
e humildes, uma doutrina tão sublime, superior a todas as doutrinas
filosóficas; Eles não teriam sido capazes de criar um tipo de virtude como
Jesus Cristo, nem conceber um Messias que não fosse nada parecido com
aquele que os judeus esperavam. O retrato que fazem de Jesus não tem
nenhuma analogia com os heróis do mundo; nenhum ser humano poderia
dar-lhes a ideia de um modelo tão sublime de perfeição.
Conclusão.Portanto, os Evangelhos são o livro histórico de maior
autoridade, o mais completo e o mais verdadeiro de todos os livros.
Estamos, portanto, tão certos dos milagres de Jesus Cristo quanto dos seus
ensinamentos. As testemunhas que os narram os viram; Estas testemunhas
não estão enganadas, as suas narrativas chegaram até nós em toda a sua
integridade. Como, diz o ímpio Rousseau, podemos contestar o testemunho
de um livro escrito por testemunhas oculares que o selaram com o seu
sangue, recebido em confiança por outras testemunhas que nunca deixaram
de o divulgar em toda a terra, e pelas quais morreram? mais mártires do que
cartas têm suas páginas?

224
Se os factos do Evangelho não fossem verdadeiros, o Cristianismo nunca
teria sido capaz de ser estabelecido e preservado na terra.
Terminaremos esta questão citando uma conhecida página que a
evidência da divindade dos Evangelhos extraiu do próprio Rousseau:
“Confesso que a majestade das Escrituras me surpreende; A santidade do
Evangelho fala ao meu coração. Vejam os livros dos filósofos com toda a
sua pompa, quão pequenos são comparados a isso! Será possível que um
livro tão sublime e tão simples ao mesmo tempo seja obra de homens? Será
possível que Aquele cuja história ele narra também não seja mais que um
homem?... Diremos que a história do Evangelho foi inventada por capricho?
Não foi assim que foi inventado; e os atos de Sócrates, dos quais ninguém
duvida; Eles são menos atestados do que os de Jesus Cristo. Basicamente é
evitar a dificuldade sem destruí-la. Seria mais inconcebível que vários
homens, de comum acordo, tivessem forjado este livro, do que apenas um só
tivesse fornecido o tema. Nunca os autores judeus teriam encontrado este
tom ou esta moralidade. O Evangelho tem personagens de verdade tão
grandes, tão surpreendentes, tão perfeitamente inimitáveis, que o inventor
seria maior que o próprio herói.
119. P._A religião cristã difere muito da religião primitiva e
da religião mosaica?
R. -Não; Não difere deles na sua essência, pois tem os mesmos dogmas,
a mesma moral e o mesmo culto essencial.
Estas três religiões têm o mesmo autor: Deus; o mesmo fim sobrenatural
para o homem: o céu; o mesmo meio para alcançá-lo: a graça. Todos os três
repousam no mesmo Redentor esperado ou chegado. Jesus Cristo é sempre o
fundamento da verdadeira religião. A salvação nunca foi possível exceto
através Dele e através de Seus méritos.
Contudo, a religião cristã é mais desenvolvida, mais perfeita e mais rica
em graças.
Assim como o sol se anuncia com o amanhecer, descobre a sua luz ao
nascer e brilha em todo o seu esplendor ao meio-dia, assim a religião
revelada desenvolve-se gradualmente: começa na religião primitiva,
desenvolve-se na religião mosaica e brilha em tudo. a religião cristã. Depois
da revelação cristã nada resta senão a revelação do céu: a Visão Beatífica.

225
La revelación hecha por Jesucristo es antigua y moderna a la vez:
antigua, porque reproduce todas las revelaciones anteriores; moderna,
porque las esclarece y completa: Yo no he venido, dice Él, a abrogar la ley o
los profetas; no he venido a abrogar, sino a dar cumplimiento34.
1º Estas tres revelaciones o religiones: primitiva, mosaica y cristiana, no
son sino los diversos estados de una sola y misma religión; desarrollada por
Dios en la sucesión de los siglos y que recibe su perfección por Jesucristo.
Semejante al hombre a quien se dirige, la religión revelada ha tenido
diversas edades: a) su infancia, desde Adán hasta Moisés; b) su
adolescencia, desde Moisés hasta Jesucristo; c) su estad perfecta, desde
Jesucristo hasta el fin del mundo. Pero no por eso ha dejado de ser la misma,
así como el hombre, pasando por las diversas edades de la vida, no deja de
ser la misma persona.
Y, a la verdad, las tres religiones tienen el mismo nacimiento: las tres
vienen de Dios; el mismo fin y las mismas ayudas, puesto que el objeto de
todas ellas es conducir al hombre al cielo mediante la gracia. Los dogmas,
aunque revelados progresivamente, se encuentran, por lo menos en germen,
en las tres religiones. Así el misterio de la Encarnación es anunciado por los
profetas, que llaman al Mesías: ya Hijo de David, ya Hijo de Dios,
Emmanuel, es decir: Dios con nosotros.
Un mismo decálogo, manda siempre las mismas virtudes. Para con Dios
la fe, la esperanza, la caridad, la adoración; para con el prójimo _ la justicia,
la caridad, la verdad; para con nosotros mismos la humildad, la castidad, el
desinterés.
Uno mismo es el culto, por lo menos en sus actos esenciales: la oración,
el sacrificio, la santificación de un día por semana.
2º Las tres religiones descansan sobre el Redentor. El punto culminante
de la historia de la religión como el de la historia del mundo, es la venida del
Mesías. Colocado entre el pueblo judío, que le llamaba con todos sus deseos,
el pueblo cristiano, que le ha saludado por su Dios, Jesucristo une los dos
Testamentos o las dos alianzas de Dios con los hombres. Todo lo que le ha
precedido dice relación a Él como a Salvador esperado: todo lo que le ha
seguido se une a Él como a Salvador llegado. Jesucristo es el punto adonde
convergen todas las cosas. Él es objeto de la fe de todos los siglos

34Mat. 5, 17.

226
desde el nacimiento del mundo, el fiel ha debido creer en Jesucristo
prometido, como el cristiano debe creer en Jesucristo venido. Él era ayer, Él
es hoy, Él será en los siglos de los siglos.
La religión cristiana ha comenzado, pues, con el primer hombre y no
terminará sino con el mundo. Nosotros creemos hoy y se creerán en todos
los siglos las mismas verdades fundamentales; nosotros observamos los
mismos preceptos que nuestros primeros padres: los patriarcas y los
profetas.
“Assim, a religião, depois da queda do homem, sempre foi uma e
idêntica no seu autor, no seu mediador, no seu dogma, na sua moralidade, no
seu culto. Portanto nunca houve mais do que uma religião verdadeira: a
religião cristã; Ela remonta aos primeiros dias do mundo e durará até o fim
dos séculos. Semelhante a uma árvore magnífica, plantada no início dos
tempos pela mão do próprio Deus, foi aos poucos desenvolvendo o seu
tronco robusto, espalhando os seus ramos benéficos, alimentando-se com os
seus frutos saudáveis e cobrindo com a sua folhagem imortal todas as
gerações que passaram, estão passando e passarão pela terra” (Mons
Gaume).
120. P. _Qual é a perfeição da religião cristã?
A. _1º Jesus Cristo explicou melhor as verdades já conhecidas e revelou
novos mistérios.
2º Interpretou com mais clareza as leis morais.
3º Estabeleceu os sacramentos, fonte eficaz de graça, e aboliu as
cerimônias figurativas do culto mosaico.
4º Substituiu os antigos sacrifícios, de pouco valor, pelo santo Sacrifício
da Missa, de valor infinito.
5º Ele reuniu os que praticam sua religião na sociedade visível, com
autoridade infalível para instruir os homens, governá-los e administrar-lhes
os sacramentos.
6º Tornou a religião cristã obrigatória para toda a raça humana.
1º Jesus Cristo aperfeiçoou o dogma.Ele lançou luz abundante
sobre as verdades já reveladas, como a unidade e as perfeições de Deus, a
espiritualidade, a liberdade e a imortalidade da alma, as recompensas e
punições da vida futura. Ele nos revelou claramente os grandes mistérios da
Trindade, da Encarnação e da Redenção; que nos fazem vislumbrar a
natureza íntima

227
Deus e mostra-nos o amor infinito do criador pelo homem, sua criatura.
2º Jesus Cristo aperfeiçoou a moralidade.Ditou com mais clareza
o decálogo, que reduziu aos dois grandes preceitos do amor de Deus sobre
todas as coisas e do amor ao próximo como a nós mesmos pelo amor de
Deus. Ele ordenou aos homens como dever rigoroso observar as leis da
penitência e usar os meios por ele estabelecidos para lhes dar a graça, ou
seja, o dever de receber os sacramentos. Que dão, preservam ou restauram a
vida sobrenatural. Ele nos mostrou a fonte de todas as virtudes no espírito de
sacrifício: se alguém quiser me seguir até o céu, disse-nos, negue-se a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Sem renunciar a si mesmo é impossível
amar a Deus e ao próximo.
3º Jesus Cristo aperfeiçoou o culto.Substituiu os ritos simbólicos
da antiga lei por sinais eficazes: os sacramentos, que funcionam por si
próprios e conferem graça a todos os cristãos bem-intencionados.
4º Institui o sacrifício da Missa, de valor infinito, porque é a
reprodução incruenta do grande sacrifício do Calvário: através da Missa
podemos prestar a Deus todas as nossas homenagens de adoração, ação de
graças, expiação e oração. Ele estabeleceu um novo sacerdócio, que não se
limita aos chefes de família, como na religião primitiva, nem aos membros
de uma única tribo, como na religião mosaica, mas foi confiado com poderes
maravilhosos a todos aqueles que respondem a A vocação de Deus.
Finalmente, ele nos deu uma fórmula de oração, o Pai Nosso, um
compêndio de tudo que devemos desejar e pedir a Deus.
5º Jesus Cristo garantiu a preservação da religião cristã.Ele
estabeleceu uma sociedade, a Igreja, com uma autoridade infalível, que tem
uma jurisdição mais ampla, mais manifesta e mais firme do que a sinagoga
judaica. Esta autoridade está no soberano Pontífice, sucessor de São Pedro,
designado por Jesus Cristo como cabeça da Igreja e nos bispos, sucessores
dos apóstolos.
6º Jesus Cristo tornou a religião cristã obrigatória para todos
os homens.Jesus disse aos apóstolos: vão e ensinem todas as nações e
preguem o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo;
quem não acredita será

228
condenado. Eis que estou convosco até o fim dos tempos35.
A religião cristã é, portanto, destinada a todas as nações e a todos os
indivíduos, e todos são obrigados a aceitá-la, sob pena de serem condenados.
121. P. _Que coisas inclui a religião cristã?
A. A religião cristã contém:
lº As verdades que devemos acreditar.
2º Os deveres que devemos praticar.
3º Os meios que devemos utilizar para dar glória a Deus e nos santificar.
1º As verdades em que devemos crer estão resumidas no símbolo dos
apóstolos.
2º Os deveres que devemos praticar estão contidos nos mandamentos de
Deus e da Igreja.
3º Os meios estabelecidos para glorificar a Deus são o santo Sacrifício da
Missa, a santificação do domingo e dos feriados; Os meios de nos
santificarmos são os sacramentos e a oração, que nos dão a graça necessária
para a salvação. Tal é, em resumo, a doutrina cristã, a doutrina de Cristo,
que os apóstolos pregaram e que a Igreja nos ensina.
N. B.Mais tarde explicaremos estas diversas partes da religião cristã de
uma forma mais extensa. Por enquanto, basta-nos recordar as principais
verdades que devemos acreditar sobre Nosso Senhor Jesus Cristo, se
quisermos verdadeiramente ser seus discípulos.
Crenças dos cristãos.1º nós, cristãos, acreditamos que Deus criador
ressuscitou na sua misericórdia a humanidade caída e perdida pelo pecado
do primeiro homem.
2º Cremos que para isso enviou à terra o Messias, prometido aos
patriarcas e anunciado pelos profetas. Este Salvador nos ensinou o que
devemos acreditar e o que devemos fazer para agradar a Deus.
3º Cremos que este Redentor é o Filho de Deus, a segunda pessoa da
Santíssima Trindade que tomou a natureza humana para uni-la à sua Pessoa
Divina e, após a sua Encarnação, foi chamado Jesus Cristo.

35Mt. 28, 19-20; Mc. 16, 15-16.

229
4º Cremos que o Filho de Deus feito homem, ou o homem Deus, deu
satisfação pelo pecado de Adão e pelos nossos pecados pessoais à justiça
divina, para que, aplicando-nos os seus méritos sob certas condições,
sejamos novamente elevados à o estado sobrenatural e somos feitos filhos
adotivos de Deus e herdeiros do céu.
5º Cremos que Jesus Cristo instituiu uma sociedade religiosa que ele
chama de Igreja, para continuar a sua obra e garantir a salvação aos homens
que professam a sua doutrina, obedecem às suas leis e recebem os seus
sacramentos.
6º Cremos que entre todas as sociedades que desejam ser igrejas de Jesus
Cristo, a Igreja Católica, Apostólica e Romana é a única Igreja verdadeira
fundada por ele, e fora da qual não há salvação.
7º Cremos que Jesus Cristo colocou na Igreja Católica uma autoridade
infalível, um tribunal supremo, cuja missão é ensinar, propagar e praticar a
religião cristã: esta autoridade é exercida pelo soberano pontífice, sucessor
de São Pedro, e pelo corpo de Bispos unidos ao Papa.
Tais são os pontos do nosso símbolo que vamos explicar, provar e
defender contra aqueles que os atacam. Estes inimigos são de três tipos: os
judeus, os racionalistas e os hereges.
Demonstrando a divindade da religião, provaremos:
1) Os judeus acreditam que Jesus Cristo é o verdadeiro Messias
prometido e esperado em Israel.
2) Contra os racionalistas, que Jesus Cristo é verdadeiramente aquele
enviado por Deus e pelo próprio Deus.
3) Contra os hereges, que a Igreja Católica é a única Igreja fundada por
Jesus Cristo.

III. DIVINDADE DA RELIGIÃO CRISTÃ


122. P. -Como sabemos que a religião cristã é divina?
R. _Nós o conhecemos pelos sinais certos e infalíveis, como os seguintes:
1º O cumprimento das antigas profecias na pessoa de Jesus Cristo.
2º Os magníficos milagres realizados pelo salvador. 3º O
grande milagre da Ressurreição.

230
4º As profecias feitas por Jesus Cristo e perfeitamente cumpridas.
5º O estabelecimento milagroso da religião cristã. 6º A
fidelidade e o número dos seus mártires.
7º Os admiráveis frutos produzidos pelo Cristianismo.
8º A excelência verdadeiramente divina da doutrina de Jesus Cristo.
Já vimos que o milagre e a profecia são o selo divino, a marca, o sinal
infalível de uma religião divina. Toda religião autorizada por milagres e
profecias é uma religião divina, uma religião revelada pelo próprio Deus.
Agora, veremos nas questões seguintes que a religião cristã é autorizada pela
dupla marca do milagre e da profecia; Portanto, a religião cristã é
verdadeiramente revelada por Deus, é a única religião verdadeira, a única
divina.
Deus dá a sua religião aos homens através de enviados divinos
encarregados de falar em seu nome; mas investi estes embaixadores de todos
os sinais necessários, para que os homens os conheçam e aceitem o seu
testemunho sem medo de engano. Pois bem, os dois principais sinais que
caracterizam um enviado divino são: o poder de realizar milagres e
profecias.

I. Profecias feitas em nosso Senhor Jesus Cristo.


123. P. -Jesus Cristo, ele é o messias?
R. Sim; Jesus Cristo é verdadeiramente o messias. Ele
é o salvador prometido no paraíso terrestre. O enviado
divino esperado pelos patriarcas.
O novo legislador anunciado por Moisés. O
Emanuel predito pelos profetas.
O desejado Redentor das nações.
Ele cumpriu em sua pessoa todas as profecias do Antigo Testamento
relativas: 1) à origem do messias; 2) no momento da sua chegada; 3) às
diversas circunstâncias da sua vida.
Portanto, Jesus Cristo é o messias, aquele enviado por Deus para fundar
a nova religião que sucederia à religião mosaica. Mas uma religião
estabelecida por um mensageiro de Deus é

231
necessariamente uma religião divina; Portanto a religião cristã, fundada por
Jesus Cristo, é divina.

1ª PROFECIAS SOBRE A ORIGEM DO MESSIAS


No paraíso terrestre, depois da queda, Deus promete um Salvador aos
nossos primeiros pais, que transmitem esta esperança aos seus descendentes,
de tal forma que ela se encontra em todos os povos.
Deus renova esta promessa aos Patriarcas Abraão, Isaque e Jacó,
prometendo-lhes que todas as nações serão abençoadas naquele que sairá da
sua raça.
Jacó, iluminado por um espírito profético, anuncia a Judá, seu quarto
filho, que dele descerá o libertador. Na tribo de Judá, Deus escolhe a família
de Davi. Ele diz a este rei: “Colocarei no teu trono um filho que procederá
de ti, mas cujo reinado será eterno; Eu serei seu Pai e ele será meu Filho.” O
messias, então, tinha que ser filho de Davi e filho de Deus.
Estas condições só se combinam em Jesus Cristo, porque ele é
descendente de Abraão da tribo de Judá, da família de Davi, como comprova
sua genealogia; e ele é o único cujo reinado é eterno. Portanto, ele é o
messias.

2ª PROFECIAS RELATIVAS AO TEMPO DA


VINDA DO MESSIAS.
1) A profecia de Jacó.No seu leito de morte, este patriarca, prevendo
a cada um dos seus filhos o destino que lhe estava reservado, disse a Judá: o
cetro não sairá de Judá, nem o líder da sua raça, até que venha aquele que
deve ser enviado, e que será a esperança de todas as nações36. De acordo
com esta profecia, o Messias deverá vir quando a tribo de Judá perder a
autoridade, representada pelo cetro. Agora, quando Jesus Cristo chegou, a
autoridade acabara de passar para as mãos de Herodes, um príncipe idumeu,
que governava em nome dos romanos; Os próprios judeus atestaram a perda
da sua autoridade nacional, quando disseram a Pilatos: não temos o direito
de condenar à morte... então, é verdade que Jesus Cristo veio no tempo
determinado por Jacó.

36Gen. 49, 10.

232
2) Profecia do profeta Daniel.Durante o cativeiro babilônico,
Daniel orou fervorosamente ao Senhor para que diminuísse o sofrimento do
seu povo e enviasse o Messias. O Arcanjo Gabriel anunciou-lhe: “O tempo
foi reduzido para setenta semanas para o seu povo e para a sua cidade santa.
Depois disso, a iniquidade será abolida e o pecado terá um fim; a iniquidade
será apagada e dará lugar à justiça Eterna; as visões e profecias terão o seu
cumprimento; o Santo dos Santos receberá a unção. “Grave bem no seu
espírito: desde a ordem que será dada para reconstruir Jerusalém até Cristo,
líder do povo, haverá sete semanas e sessenta e duas semanas; muros e
edifícios públicos serão erguidos apesar de muitas dificuldades. “Depois das
sessenta e duas semanas, o Cristo será condenado à morte; e as pessoas que
O terão renunciado deixarão de ser Seu povo. Outro povo virá com o seu
líder, que destruirá a cidade e o Templo; Esta ruína será o fim de Jerusalém;
O fim da guerra consumará a desolação anunciada. “Em uma semana (a que
resta), o Cristo selará sua aliança com muitos. No meio da semana, as
vítimas e os sacrifícios serão abolidos; “A abominação da desolação reinará
no Templo, e a desolação não terá fim”37.
De acordo com esta famosa profecia, o objetivo da vinda do Messias é a
remissão dos pecados e o reinado eterno da justiça. Em setenta semanas
todas as profecias tiveram que ser cumpridas.
Estas são semanas de anos, segundo o cálculo comum dos judeus: as
setenta semanas consistem, portanto, em quatrocentos e noventa anos.
O profeta indica o ponto em que começam as semanas: é a publicação do
decreto para a reconstrução de Jerusalém. Este édito foi dado por Artaxerxes
Longímano, no vigésimo ano de seu reinado, 454 anos antes de Jesus Cristo.
O profeta divide as setenta semanas entre períodos muito desiguais: sete,
sessenta e duas e uma; vamos ver:
a) em primeiro, que são sete semanas, ou quarenta e nove anos, os
muros de Jerusalém deverão ser erguidos com grande dificuldade. A história
prova que este foi realmente o caso.
b) o segundo período,composto de sessenta e duas semanas, ou
quatrocentos e trinta e quatro anos, deve passar antes que Cristo seja
condenado à morte. Estes quatrocentos e trinta e quatro anos

37Dan. 9, 24-27.

233
somados aos quarenta e nove do primeiro período, encerram o 29º ano da
era cristã, o décimo quinto ano do reinado de Tibério, o ano da pregação de
São João Batista.
c) o último períodoInclui apenas uma semana, durante a qual o
Messias deve confirmar a sua aliança, isto é, estabelecer a sua lei, ser
rejeitado pelo seu povo e condenado à morte; ofertas e sacrifícios devem ser
abolidos. Um povo estrangeiro deve vir vingar esse crime, dispersando os
judeus e destruindo a cidade e o templo.
Agora, tudo o que aconteceu:No início da septuagésima semana,
trigésimo ano da nossa era, Jesus inicia a sua pregação, que dura três anos e
três meses. No meio da mesma semana, ano 34, Jesus é condenado à morte
pelos judeus, e os sacrifícios da antiga aliança são substituídos pelo
sacrifício da cruz. Cerca de trinta e seis anos depois da morte de Jesus
Cristo, no ano 70, o exército romano, com o seu general Tito, reduziu a
ruínas a cidade de Jerusalém e o seu Templo: a partir desse dia, reinou uma
desolação sem fim entre o povo judeu, porque eles renunciaram a Cristo. Em
Jesus Cristo, então, e somente nele, a profecia do profeta Daniel teve seu
cumprimento e cumprimento mais exato. Portanto Jesus é o santo dos santos
anunciado pelo profeta.
3ª Profecias do profeta Ageu e Malaquias.Ao retornar do
cativeiro babilônico, os anciãos de Israel, que tinham visto a magnificência
de Salomão, choraram ao contemplarem o novo Templo construído por
Neemias. Para consolá-los, Ageu diz-lhes que o Desejado de todas as nações
virá ao novo Templo e o encherá de glória38.
Malaquias anuncia que o Messias, o dominador, o Anjo da Aliança, virá
ao seu Templo assim que o seu Precursor lhe preparar o caminho39.
Ora, Jesus visitava frequentemente este Templo, destruído para sempre
trinta e sete anos depois da sua morte; Este Templo não recebeu, além de
Jesus Cristo, a visita de qualquer personagem ilustre. João Batista foi seu
precursor e o apresentou ao povo dizendo: “eis o Cordeiro de Deus. Em
Jesus Cristo, então, e somente nele, as profecias de Ageu e Malaquias foram
cumpridas.

38 Ageu 2, 8.

39 Ruim. 3, 1.

2. 3.
4
As profecias de Jacó, Daniel, Ageu e Malaquias são as que colocaram
em maiores dificuldades os judeus, que não reconheceram Jesus Cristo
como mensageiro de Deus. No seu Talmud eles confessam que todos os
tempos designados para a vinda do Messias já passaram. Portanto,
desesperados com a sua causa, pronunciaram esta maldição: “Malditos
aqueles que calculam o tempo do Messias! "Pobres cegos!"

3ª PROFECIAS RELATIVAS À VIDA DO MESSIAS


1) Seu nascimento.O profeta Isaías anunciou que o Messias deveria
nascer de uma Virgem: “eis que uma virgem conceberá e dará à luz um
filho, que se chamará Emanuel, isto é, Deus conosco”40. E Jesus nasceu da
Virgem Maria, como nos contam São Mateus e São Lucas no início dos seus
Evangelhos. São Mateus ainda toma cuidado especial ao observar que isso
foi o cumprimento da profecia de Isaías. Isto, sem dúvida, é um milagre;
mas como disse o Arcanjo Gabriel a Maria, para Deus não há nada
impossível41.
Miquéias anuncia que o Messias nascerá em Belém, e esta previsão é tão
conhecida do povo judeu que os doutores da lei, solicitados por Herodes,
designam a cidade de Belém aos Magos como o local do seu nascimento. E
em Belém, precisamente, Jesus nasceu.
Balaão tinha dito: “uma estrela surgirá de Jacó, um ramo surgirá de
Israel…” 42. A memória desta profecia é o que move os Magos do Oriente e
os leva a Jerusalém. E os Magos, guiados por uma estrela milagrosa, vieram
e adoraram Jesus na manjedoura.
2) Personagens do Messias.O profeta Isaías assim nos descreve:
“um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; Ele levará sobre os ombros o
sinal do seu principado; Ele será chamado de admirável, de conselheiro, de
Deus poderoso, de pai do século futuro, de príncipe da paz. Seu império se
expandirá cada vez mais e a paz que ele estabelecerá não terá fim. Ele
ocupará o trono de David... e o seu reinado durará para sempre”43.

40Is. 7, 14; Matt. 1, 23.

41Mat. 1, 22; Lc. 1, 37.

42Não. 24, 17.

43Is. 9, 6-7.

235
Por outro lado, o Arcanjo Gabriel anuncia o nascimento de Jesus Cristo
nestes termos: “Não tenha medo, Maria, você conceberá e dará à luz um
filho e lhe chamará Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do
Altíssimo, e Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, reinará para sempre na
casa de Jacó e seu reino não terá fim”44.
A comparação destes dois textos mostra claramente que o Menino Jesus
de que fala o Arcanjo Gabriel é o mesmo Messias de que fala Isaías.
Somente Jesus Cristo possui os personagens preditos pelo profeta.
Ele é o Menino que nos foi dado por Deus; Ele carrega nos ombros a
Cruz, cetro do seu império: é o Admirável no seu nascimento e na sua vida;
o Deus forte em seus milagres; o conselheiro cheio de sabedoria em sua
doutrina; o Pai do século futuro pela vida sobrenatural que nos dá; o príncipe
da paz que ele traz ao mundo, e o seu reinado, a Igreja, durará para sempre.
3) Milagres do Messias.De acordo com a profecia de Isaías, Cristo
confirmaria sua doutrina com milagres: “O próprio Deus virá e vos salvará.
Então os olhos dos cegos serão abertos; Os surdos ouvirão, os coxos saltarão
como um cervo, e a língua dos mudos será solta.”45 E tais foram os
milagres de Jesus Cristo.
4) A paixão de Cristo.Todos os detalhes da Paixão foram anunciados
com bastante antecedência: indicando até as principais profecias.
O profeta Zacarias prediz a entrada triunfal do Messias em Jerusalém e
as trinta moedas dadas ao traidor46.
Davi, no Salmo 21, descreve a paixão do Messias, e apresenta-o
oprimido por ultrajes, rodeado por uma turba que o insulta; tão quebrado
pelos golpes recebidos, que você pode contar todos os seus ossos; Ele vê
suas mãos e pés perfurados, suas vestes divididas, sua túnica puxada, etc.
O profeta IsaíasMostra o Messias coberto de injúrias, convertido em
homem de dores, levado à tortura como um cordeiro sem se queixar... o
profeta tem o cuidado de afirmar até doze vezes que Cristo sofre para expiar
os pecados dos homens. Ele é nosso Resgate, nossa Vítima, nosso Redentor.

44Lc. 1, 30-33.

45Is. 25, 4-6; 42.

46Zac. 10, 9; XI, 13.

236
O capítulo 53 de Isaías, como o salmo 21, não tem aplicação exceto a nosso
Senhor Jesus Cristo; portanto, Ele é o Redentor prometido.
5) A ressurreição do Messias é anunciada por Davi e
Isaías:“Não permitirá, senhor, que o seu Santo seja sujeito à corrupção”47.
“O ramo de José, filho de Davi, será dado como sinal a todas as nações. O
povo o invocará e o seu túmulo será glorioso”48.
6) Isaías, Jeremias e Daniel profetizam a reprovação do povo judeu e a
conversão dos gentios destinada a formar o reino do Messias.
Todos esses oráculos foram preservados, explicados e ensinados pelos
antigos doutores da sinagoga, como indicadores dos personagens do futuro
Messias. Assim, todos concordam perfeitamente em Jesus Cristo e formam
um retrato tão semelhante de toda a sua vida que é impossível não
reconhecê-lo Nele; Portanto Jesus Cristo é o verdadeiro Messias descrito
pelos profetas.
Conclusão.Deus, no Antigo Testamento, falando sucessivamente
através dos Patriarcas e dos Profetas, desde Adão até Malaquias, prometeu
ao mundo um Messias, um Redentor. Este Messias é sempre anunciado
como enviado de Deus, possuidor de todos os poderes e do próprio Deus.
Assim, tudo o que acabamos de dizer prova que este Messias prometido não
pode ser outro senão Jesus Cristo, porque em Jesus Cristo, e só Nele, se
realizaram as notas distintivas do Messias. Portanto Jesus Cristo é realmente
o Messias e, conseqüentemente, o mensageiro de Deus, investido de todos
os poderes de Deus e, ao mesmo tempo, de Deus.
Por esta razão, todos os Padres e Doutores da Igreja apresentaram o
cumprimento das profecias em Jesus Cristo como prova decisiva da sua
missão divina.
Depois de ter recordado as principais profecias que São Justino citou ao
judeu Trifão, Monsenhor Freppel conclui assim: “Contra os judeus, este
argumento é esmagador; e não é menos decisiva contra os racionalistas.
“É impossível negar: Israel esperava um Messias, rei, sumo
sacerdote, profeta; Seus livros sagrados marcavam antecipadamente
todas as características deste prometido Libertador. Por outro lado, é
verdade que

47 Sal. 15, 10.

48Is. 11, 10.

237
só Jesus de Nazaré realizou o tipo messiânico descrito no Antigo
Testamento.
“Querer explicar este fato por uma coincidência completamente
coincidente é imitar aqueles que atribuem ao acaso a formação do
mundo. Será dito que Jesus Cristo aplicou as predições das
Escrituras? Mas não depende do poder de um homem escolher o
local do seu nascimento, nascer em Belém e não em Roma, nascer
da raça de Abraão, da família de David; aparecer na hora marcada
por Jacó, Daniel, Ageu; faça milagres; ressuscitar após a morte; ser
glorificado como Deus todo-poderoso e eterno, e isso porque foi
predito... Somente Deus foi capaz de organizar o curso dos
acontecimentos para alcançar este grande resultado, e sua
realização é suficiente para demonstrar a divindade do
Cristianismo"49.
Terminaremos esta pergunta com uma magnífica página do Padre
Lacordaire, depois de ter recordado as principais profecias messiânicas,
exclama: “Agora, senhores, o que acham? Aqui você tem dois fatos
paralelos e correspondentes, ambos verdadeiros, ambos de proporção
colossal: um, que durou dois mil anos antes de Jesus Cristo; a outra, que
perdurou dezoito séculos depois de Jesus Cristo; aquela que anuncia uma
revolução considerável e impossível de prever; a outra que é o seu
cumprimento; Ambos têm Jesus Cristo como início, como fim e como
vínculo de união.
“Mais uma vez, o que você acha disso? Você quer negar? Mas
o que você nega? Seria a existência da ideia messiânica? Mas ela
está no povo judeu, que ainda vive, em toda a série de Monumentos
da sua história; nas tradições universais da raça humana, nas
confissões mais explícitas da mais profunda descrença.
“Poderia ser a prioridade dos detalhes proféticos? Mas o povo
judeu, que crucificou Jesus Cristo, e que tem um interesse nacional e
secular em tirar a prova da sua divindade, assegura-vos que as suas
Escrituras foram anteriores ao que são hoje e, para maior segurança,
250 anos antes de Jesus Cristo, sob Ptolomeu Filadelfo, rei do Egito,
e por sua ordem, todo o Antigo Testamento, traduzido para o grego,
se espalhou por todo o mundo grego, pelo mundo romano, por todo
o mundo civilizado.

49Extrato de Monsenhor Freppel, San Justino.

238
“Você se inclinará para o outro pólo da questão e negará o
cumprimento da ideia messiânica? Mas a Igreja Católica, filha desta
ideia, está à nossa vista: ela baptizou-vos.
“Será na união desses dois eventos formidáveis que você
buscará sua posição? Você negará que Jesus Cristo verificou em
sua pessoa a ideia messiânica, de que ele é judeu da tribo de Judá,
da família de Davi, e fundador da Igreja Católica, no que diz respeito
à dupla ruína da sinagoga e da idolatria? Mas tanto as partes
interessadas como os inimigos irreconciliáveis concordam em tudo
isto. O judeu diz: sim, e o cristão diz: sim.
“Direis que este encontro de acontecimentos prodigiosos no
ponto preciso de Jesus Cristo é efeito do acaso? Mas o acaso, se
existir, nada mais é do que um acidente breve e fortuito; A sua
definição exclui a ideia de série; Não há coincidência de dois mil e
mil e oitocentos anos.
“Senhores, quando Deus trabalha, não há nada a fazer contra
ele; Jesus Cristo mostra-nos o motivo do passado, bem como o
motivo do futuro, a alma dos tempos anteriores a ele e, ao mesmo
tempo, a alma dos tempos depois dele.
“Ele mostra-se-nos nos seus antepassados, apoiados pelo povo
judeu, que é o maior monumento social e religioso dos tempos
antigos, e na sua posteridade apoiada pela Igreja Católica, que é a
maior obra social e religiosa dos tempos. .
“Ele nos é mostrado tendo na mão esquerda o Antigo Testamento, o
maior livro dos tempos que o precederam, e na mão direita o Evangelho, o
maior livro dos tempos que o seguiram. E, no entanto, assim precedido e
seguido, ele ainda é maior que seus descendentes e sua posteridade, que os
Patriarcas e os Profetas, que os Apóstolos e os Mártires: carregado por tudo
o que há de mais ilustre depois e antes disso, ele, sua fisionomia pessoal
ainda destaca-se nesse contexto sublime e revela-nos o Deus que não tem
modelo e que não tem igual”50.

50 Palestra 41, 1846.

239
II. Milagres de Jesus Cristo
124. P. _Os milagres de Jesus Cristo provam a divindade da
religião cristã?
R. _Sim; Os milagres de Jesus Cristo provam a divindade da religião
cristã.
um único milagreProva a divindade de uma religião, porque só Deus
pode realizar verdadeiros milagres, por si mesmo ou pelos seus mensageiros.
Assim, Jesus Cristo realizou numerosos milagres; Portanto Jesus Cristo é
Deus ou pelo menos aquele enviado por Deus.
Mas uma religião fundada por um mensageiro de Deus é verdadeira e
divina; Portanto a religião cristã é divina.
O poder de realizar milagres é a credencial que Deus dá aos seus
embaixadores para dar-lhes autoridade diante dos homens.
N. B.Nosso Senhor Jesus Cristo não é apenas um mensageiro de Deus,
como Moisés; Ele é o próprio filho de Deus; Demonstraremos isso mais
tarde: mas para provar a divindade da religião cristã, basta provar que Jesus
Cristo é o enviado de Deus: se isso for verdade, a religião que Ele ensina é
necessariamente divina.
1) Somente Deus pode fazer milagres.O milagre é um fato
sensível que ultrapassa todas as forças criadas e não é realizado exceto por
uma intervenção especial de Deus. Um verdadeiro milagre requer a
intervenção do poder divino. A partir do momento em que um homem
realiza milagres, segue-se que este homem age e fala em nome de Deus, que
lhe delegou o seu poder. Deus não pode colocar o seu poder ao serviço do
erro ou da mentira, porque enganaria os homens, o que não é possível. Um
único milagre prova, portanto, que quem o realiza é o enviado, o agente de
Deus.
2) Jesus Cristo realizou numerosos milagres. Milagres na
natureza inanimada:Jesus Cristo transforma água em vinho nas bodas de
Caná; Ele multiplica o pão duas vezes para alimentar as multidões; Com sua
palavra ele acalma as tempestades, etc.
Milagres nas doenças:Jesus Cristo cura todos os tipos de doentes;
Ele restaura a visão aos cegos, a audição aos surdos, a fala aos mudos, o uso
dos membros aos paralíticos, etc.
Milagres em demônios:Ao ouvir a palavra de Jesus Cristo, os
demônios saem do corpo do possuído e proclamam que Ele é o Filho de
Deus.

240
Milagres sobre a morte:Jesus Cristo ressuscita a filha de Jairo, filho
da viúva de Naim, e de Lázaro, que estava morto há quatro dias:
Os milagres de Jesus Cristo são perfeitamente comprovados.
1º Os evangelhos os narram, e vimos que os evangelhos são livros
históricos de autoridade incontestável.
2º Jesus Cristo realizou os seus milagres na presença de grande número
de pessoas, nos lugares públicos, nas praças das grandes cidades, à vista dos
judeus advertidos contra ele, à vista dos escribas e dos fariseus, o seu
amargo inimigos., homens habilidosos interessados em descobrir uma
impostura. Fê-los instantaneamente, sem qualquer preparação, sem recurso a
meios naturais, com uma simples palavra, por um acto da sua vontade, por
vezes até ausente.
3º Os judeus, testemunhas destes prodígios, nunca os questionaram. Eles
ficaram confusos e, na sua obstinação, disseram: “O que devemos fazer?
Este homem faz muitos milagres; Se o deixarmos fazer isso, ele atrairá todas
as pessoas atrás dele.”51
No seu Talmud, ou coleção de tradições judaicas, os rabinos confessam
os milagres de Jesus de Nazaré, atribuindo-os à magia. Portanto os milagres
de Jesus Cristo são verdadeiros, visto que são reconhecidos pelos próprios
inimigos.
As maravilhas operadas por Jesus Cristo são verdadeiros milagres. Eles
não vêm do diabo nem das forças da natureza.
a) Eles não podem ser atribuídos ao diabo:Se o diabo tivesse
operado por milagres, ele teria atuado na ruína de seu império. Além disso, o
demônio, obedecendo ao Salvador, reconheceu que Jesus Cristo era o seu
Senhor.
Além disso, a maioria dos milagres de Jesus Cristo superam os poderes
dos espíritos malignos e exigem poder infinito. Assim, por exemplo, a
ressurreição dos mortos não pode ser realizada exceto pela força divina.
Nem anjo nem demônio podem afastar as almas da recompensa ou castigo
que recebem de Deus ao abandonarem este mundo, nem devolvê-las ao
estado de provação, nem restabelecer entre a alma e o corpo as relações
íntimas que constituem a vida: A ressurreição exige um poder igual à
criação.

51Jn. 11, 47-48.

241
Além disso, Deus não dá ao diabo o poder de mudar as leis da natureza,
nem o poder de enganar os homens fazendo obras divinas.
b) Nem as maravilhas de Jesus Cristo podem ser atribuídas às forças da
natureza. A maioria desses milagres supera todas as forças criadas. Passados
1900 anos, e apesar do progresso da ciência e das descobertas dos sábios,
estes milagres não foram explicados por causas naturais.
Hoje, como antes, a voz do homem é impotente para acalmar as
tempestades, multiplicar o pão, dar visão aos cegos de nascença, ressuscitar
os mortos. Tais maravilhas estão e sempre estarão acima das forças da
natureza. Reúna todos os recursos da medicina, todas as combinações
químicas e magnéticas das ciências e você nunca conseguirá ressuscitar um
morto.
Durante dezenove séculos, os milagres de Jesus Cristo resistiram
vitoriosamente às mais minuciosas críticas de cristãos, judeus e pagãos. As
tentativas dos racionalistas modernos para explicar estes prodígios são tão
ridículas e tão miseráveis que tudo o que conseguiram foi demonstrar a sua
impotência e má-fé.
3) Jesus Cristo operou seus milagres para provar sua missão
divina e a veracidade de sua doutrina.Questionado pelos discípulos
de São João Baptista, que queriam saber se Ele era o Messias, Jesus dá a
única resposta à evidência dos seus milagres: Vai e conta a João o que viste:
os cegos vêem, os coxos andam, os os leprosos são purificados, os surdos
ouvem, os mortos ressuscitam52.
Certa ocasião, os judeus lhe disseram: “Se tu és o Cristo, dize-o
claramente.” E Jesus respondeu: “Eu já vos disse e não acreditais; As obras
que faço em nome de meu Pai dão testemunho de mim. Se você não acredita
em mim, acredite nas minhas obras”53.
Na ressurreição de Lázaro, Jesus afirma que realiza este milagre para que
o povo acredite na sua missão divina: Ut credant quia tu me misisti54.

52Lc. 7, 22.

53Jn. 10, 24-25; 38.

54Jn. 11, 42.

242
Em todas estas ocasiões, Jesus declara-se enviado por Deus e, para o
provar, apela aos milagres que realiza.
Conclusão.1º O milagre é como a assinatura de Deus, e só a religião
cristã leva essa assinatura. O seu fundador, Jesus Cristo, não realizou apenas
um milagre, o que seria suficiente, mas uma infinidade de milagres.
De cada uma delas podemos inferir: a religião cristã é divina, Jesus
devolveu a visão ao cego de Jericó; Portanto a religião cristã é divina. Jesus
libertou o possuído de Cafarnaum; Portanto a religião cristã é divina. Jesus
ressuscitou Lázaro de Betânia, que havia morrido há quatro dias, portanto a
religião cristã é divina.
Estes factos e outros são incontestáveis; Estes factos são verdadeiros
milagres; Estes milagres provam que Jesus é o enviado de Deus; Portanto a
religião católica é divina.
2º Os Apóstolos de Jesus Cristo, encarregados de pregar a religião cristã,
realizaram numerosos milagres, entre os narrados no livro dos atos dos
apóstolos, mencionamos em particular a cura do coxo, à porta do templo (
cap. 2), a do paralítico (cap. 9), as curas realizadas apenas pela sombra de
São Pedro (cap. 5), a ressurreição de Tabita (cap. 9), a libertação milagrosa
de São Pedro (cap. 2). 12), etc Encontramos também um grande número de
milagres realizados por São Paulo em Éfeso, até pelo simples contato de
suas roupas (cap. 14), a ressurreição de uma criança de Troad (cap. 20), sem
falar no milagre de sua conversão ... São Paulo, que poderia bastar, ainda
que fosse o único, para que um homem de boa fé se convertesse.
Estes factos são verdadeiros e incontestáveis, são verdadeiros milagres;
Portanto os Apóstolos são enviados por Deus, e a religião que pregam é
divina.
3º A história da Igreja oferece, em cada século, um grande número de
milagres perfeitamente autênticos, tanto que se pode dizer que os atos dos
santos são uma continuação digna dos atos apostólicos. Para nos convencer,
basta percorrer a “Acta Sanctorum” dos Bollandistas, ou As Vidas dos
Santos.
Um único milagre verdadeiro é suficiente para provar a divindade de
uma religião em cujo favor foi operado. E como tais eventos ocorreram em
cada século, em favor da religião de Jesus Cristo, seria necessário, para
destruir as evidências presentes, negar os testemunhos históricos de todos os
séculos passados, bem como os do século atual. . Sem falar dos milagres de
Lourdes, o nosso

243
século viu muitos santos colocados em altares. Mas a Igreja não canoniza
nenhum santo sem antes ter verificado vários milagres realizados por sua
intercessão55.
Cura de cegos de nascença.Os incrédulos costumam dizer: é
lamentável que os milagres de Jesus Cristo não tenham sido verificados por
homens sábios; Teria sido conveniente iniciar um processo relativo a cada
um deles. Pois bem, os desejos dos incrédulos são satisfeitos no mesmo
Evangelho, que narra um milagre verificado pelos juízes oficiais, que são, ao
mesmo tempo, inimigos do Salvador.
Jesus encontra em Jerusalém um mendigo cego de nascença, com um
pouco de pó umedecido em saliva, Jesus esfrega os olhos deste cego e lhe
diz: “Vá, lave-se no tanque de Siloé”.
Vale ressaltar que aqui se trata de alguém cego de nascença e, portanto,
incurável. A lama utilizada não tem virtude curativa. O local onde ocorre a
cura é um local frequentado, o que impossibilita qualquer fraude.
O cego sai, lava-se e volta curado. Muitos dos que o conheceram quando
ele era cego se perguntam: será ele o mesmo mendigo que estava sentado
aqui? alguns dizem: é ele; outros: não, é aquele que se parece com ele.
Mas o cego responde: eu sou o mesmo. Eles perguntam a ele: como seus
olhos foram abertos? Ele lhes diz: Aquele homem que eles chamam de Jesus
pegou barro, esfregou meus olhos com ele e me disse: vai lavar-se no tanque
de Siloé. Eu fui, lavei-me e vejo.
Que simplicidade no modo de falar! que acento de verdade!
... vai começar um processo, o famoso processo que os racionalistas pedem:
os fariseus são os encarregados dessa formalidade.
O cego é trazido à sua presença e perguntam-lhe: como foram abertos os
teus olhos?O interrogado responde: o homem chamado Jesus fez lama e
ungiu-me os olhos e disse-me: vai ao tanque de Siloé e lava-te e eu fui e
lavei-me e recuperei a visão.
A mesma afirmação que fez perante o público e sem incorrer em
qualquer contradição. Ao ouvir esta narração, alguns ficam indignados
porque Jesus fez esta obra no sábado, enquanto outros, mais

55Você pode ver Moigno, Os esplendores da fé, t. V; Devivier, Curso de Apologética Cristã, T. I, cap. III.

244
sinceros, dizem: como poderia um pecador fazer tais maravilhas?; e as
opiniões estavam divididas. Para resolver a questão, dirigiram-se ao mesmo
cego e perguntaram-lhe a opinião, como se isso tivesse tido alguma
influência na sua cura.
E vocês, que são do Sinédrio, perguntam: o que dizem daquele
que lhes abriu os olhos?E ele responde sem hesitar: creio que ele é um
profeta.
Assim, os fariseus não queriam acreditar que ele fosse cego; E para ter
certeza, ligaram para os pais dele e perguntaram:
Este é seu filho, aquele que você diz que nasceu cego? Como então
você vê agora?
Os pais responderam: sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego;
Mas como ele vê agora, ou quem lhe abriu os olhos, não sabemos. Ele está
velho, pergunte a ele e ele falará por si mesmo.
Dessa forma, o processo comprova que a pessoa favorecida pelo milagre
era realmente cega de nascença. Os pais testemunham a doença, mas como
não presenciaram a cura, não conseguem explicá-la.
Estas boas pessoas dizem aos fariseus que interroguem o seu filho,
porque temem ser expulsos da sinagoga, pois não ignoram que o Sinédrio
excomungou todos aqueles que reconheceram Jesus como o Messias.
Os principais sacerdotes não queriam saber nada sobre o milagre, porque
a doutrina de Jesus os contradizia. Iniciaram então outro processo para
obrigar o cego a dizer que o autor da sua cura era um pecador.
Dê glória a Deus, disseram-lhe, sabemos que o homem é pecador. Ao
que ele respondeu: se ele é pecador não sei; Uma coisa eu sei: tendo sido
cego, agora vejo.
Eles insistiram: mas, afinal, o que ele fez com você? Como isso
abriu seus olhos?O cego respondeu: Já te disse; por que você quer ouvir
de novo? Vocês também se tornarão seus discípulos?
Estas palavras os irritaram e amaldiçoaram o cego curado: Seja seu
discípulo, pois somos discípulos de Moisés. Sabemos que Deus falou com
Moisés; mas não sabemos de onde é esse. O herói desta história respondeu
com uma certa ironia: A propósito, é uma coisa maravilhosa que você não
saiba de onde ele é, e ainda assim isso abriu meus olhos. Sabemos que Deus
não ouve pecadores; mas aquele que teme a Deus e faz o seu

245
will, ouça esta. Em nenhum momento se ouviu falar em abrir os
olhos de alguém que nasceu cego. Se este não fosse um
mensageiro de Deus, ele não poderia fazer nada.Estas palavras
exasperaram os fariseus: você nasceu em pecado e quer nos ensinar? E eles
o expulsaram. Foi assim que o processo terminou. Diante das afirmações
enérgicas do cego, diante da razão clara como o sol que prova que Jesus é
enviado de Deus; os incrédulos não encontram outra resposta além dos
insultos. Eles não querem se render às evidências, porque o seu coração é
pervertido como o dos fariseus.
Jesus procura este homem perseguido pela sua causa e diz-lhe:
Você acredita no filho de Deus? Quem é ele, Senhor, para que eu
acredite nele? Jesus lhe diz: você o viu e é ele quem fala com você.
Eu creio, Senhor,disse o cego, e prostrado no chão o adora.
E assim, este pobre cego, fiel à primeira graça, acredita na palavra
daquele que lhe deu a visão. Jesus se declara Deus, e o curado o adora como
seu Deus, muito certo de que Jesus não pode enganá-lo, porque Deus não dá
aos impostores o poder de fazer milagres.

III. Milagre da ressurreição de Jesus Cristo.


125. P. _Qual é o maior milagre de nosso Senhor Jesus
Cristo?
R. _O maior milagre de Nosso Senhor Jesus Cristo é o da sua
Ressurreição. Ele a anunciou como a prova mais evidente de sua missão
divina e a cumpriu no terceiro dia após sua morte.
É verdade: 1) que Jesus Cristo morreu na tarde de sexta-feira e 2) que
saiu vivo do túmulo no dia de Páscoa.
Esta Ressurreição é um fato inegável. Tudo é comprovado: a) pelo
testemunho dos Apóstolos; b) as confissões implícitas dos chefes da
sinagoga; c) os inúmeros milagres realizados em nome de Jesus
ressuscitado; d) monumentos públicos erguidos em memória da
Ressurreição; e) finalmente, a conversão do mundo à religião cristã.
Mas só Deus, Senhor da vida, pode tirá-lo ou dá-lo; Portanto Jesus Cristo
é Deus, ou pelo menos, o Mensageiro de Deus, e sua religião é divina.

246
N. B._1º A palavra Páscoa, tirada do hebraico, significa passagem. Jesus
Cristo passou da morte para a vida e nos faz passar da morte do pecado para
a vida da graça.
2º Jesus Cristo apresenta a sua Ressurreição como sinal manifesto da sua
missão divina. A geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum outro
sinal lhe será dado senão o do profeta Jonas. Porque assim como Jonas
esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do
Homem três dias e três noites no seio da terra56. Portanto, o Salvador dá a
sua Ressurreição como resumo de todas as provas da sua missão divina.
3º Na verdade, o milagre da Ressurreição é suficiente para provar a
divindade da religião cristã. Se Jesus Cristo ressuscitou, sinal seguro de que
ele é Deus, dono da vida e da morte; Se Deus o ressuscitou, a sua missão é
divina, porque Deus a confirma com o mais surpreendente dos milagres.
A ressurreição é um fato que deve ser comprovado como outros fatos
históricos; para o testemunho. É necessário, portanto, estabelecer: 1) que
Jesus estava realmente morto quando foi colocado no túmulo; 2) que mais
tarde se mostrou realmente vivo.
1) Jesus Cristo estava realmente morto.1º São João, testemunha
ocular, afirma isso. 2º Os prolongados e atrozes tormentos sofridos pelo
Salvador antes de ser crucificado, e a crucificação, não puderam deixar de
causar-lhe a morte. 3º Os soldados não quebraram suas pernas como os
demais condenados, pois ele já estava morto. 4º A lança que perfurou seu
lado teria sido suficiente para tirar o último suspiro de vida. 5º Pilatos não
concede a José de Arimatéia o corpo de Jesus, senão após a verificação
oficial de sua morte. 6º Finalmente, o ódio dos judeus contra Jesus nos dá
certas provas de que devem ter verificado que Jesus estava muito morto,
quando fecharam e selaram o túmulo.
2) Jesus Cristo mais tarde mostrou-se vivo.El Salvador,
mostrado ao vivo: 1º A Maria Madalena. 2º Às santas mulheres que
regressaram do túmulo. 3º a Tiago e São Pedro, príncipe dos apóstolos. 4º
Aos dois discípulos de Emaús, no dia da Páscoa. 5º Na noite do mesmo dia,
aos Apóstolos reunidos no Cenáculo com a ausência de Tomé. 6º Oito dias
depois, aos mesmos Apóstolos, todos reunidos no Cenáculo com São Tomé.
7º Aos cinco Apóstolos agora

56Mt. 12, 39-40.

247
dois discípulos no Lago Genezareth. 8º Na Galileia, mais de quinhentas
pessoas reuniram-se no Tabor. 9º Aos Apóstolos reunidos em Jerusalém
com muitos discípulos. Com eles sobe ao Monte das Oliveiras, de onde sobe
ao céu na presença de cento e vinte testemunhas. 10º Finalmente Saulo é
apresentado no caminho de Damasco, e este ardente perseguidor da Igreja
torna-se São Paulo, o Apóstolo das nações.

1º Os apóstolos e numerosas testemunhas viram Jesus vivo


após a sua morte
Um facto é absolutamente verdadeiro quando é afirmado por numerosas
testemunhas que: a) não conseguiram enganar-se; b) eles não queriam
enganar ec) não teriam sido capazes de fazê-lo. Tal é o fato da ressurreição
de Jesus Cristo.
a) Os apóstolos não podiam ser enganados.Jesus Cristo
mostrou-se, não uma, mas muitas vezes, e durante um período de quarenta
dias. Mostrou-se a muitas pessoas: aos seus onze Apóstolos, aos discípulos e
a mais de quinhentos fiéis. Foi apresentada em plena luz do dia e em
circunstâncias muito diversas: num jardim, numa rua, no Cenáculo, à beira
de um lago, nas montanhas do Tabor e das Oliveiras. Admitir que em tais
circunstâncias todas as testemunhas da ressurreição foram enganadas seria
admitir um fenómeno de ilusão impossível.
Finalmente, Jesus Cristo mostrou-se não a pessoas crédulas, mas a
pessoas desconfiadas, lentas em acreditar... que descrevem a narrativa das
santas mulheres como um sonho. .. São Tomé nem sequer quer aceitar o
testemunho dos outros Apóstolos; Quer ver com os olhos, tocar com as mãos
as chagas de Jesus... como, então, pode supor erro, ilusão, em numerosas
testemunhas, de diferentes personagens, e que foram asseguradas do fato
com a tríplice evidência dos olhos, dos ouvidos e das mãos?...
b) Os apóstolos não queriam enganar.Eles não tinham interesse
nisso. A única coisa que podiam esperar da sua mentira eram castigos
terríveis: de Deus, que pune o crime, as penas rigorosas reservadas pela sua
justiça à impostura; dos judeus, assassinos de Jesus, uma morte inevitável e
cruel. Além disso, tinham a certeza de fracassar no seu empreendimento:
como poderiam fazer os seus contemporâneos acreditar num facto tão
extraordinário como a ressurreição de um homem morto, publicamente
crucificado por ordem da autoridade religiosa e civil? Assumir tal
compromisso contra o seu interesse

248
A equipe estava evidentemente louca. E, no entanto, os Apóstolos deram a
vida na confirmação da Ressurreição de Cristo.
c) Os apóstolos não podiam enganar.Para enganar foi
necessário, antes de tudo, sequestrar o corpo de Jesus Cristo. Mas para isso
era preciso surpreender os guardas, forçá-los ou corrompê-los: três coisas
absolutamente impossíveis para a timidez e a pobreza dos Apóstolos. E
então, roubar um cadáver não é ressuscitá-lo. Estamos sempre na presença
deste facto milagroso: o Cristo morto foi visto novamente vivo. As
quinhentas testemunhas que o viram não concordaram em afirmar uma
mentira, pois estavam espalhadas pela Judéia e Galiléia. Se Jesus Cristo não
tivesse ressuscitado, teria sido impossível para os apóstolos convencer os
judeus e os gentios de que o tinham visto vivo.

2º Testemunho dos inimigos de Jesus


Os membros do Sinédrio estavam convencidos da Ressurreição de Cristo
Jesus. Para negar, recorreram à corrupção e à mentira. Deram aos guardas
uma quantia em dinheiro para espalharem a notícia de que, enquanto
dormiam, os discípulos de Jesus roubaram o corpo do Mestre. Mas se não
tivessem acreditado na Ressurreição de Cristo, o seu dever, bem como o seu
próprio interesse, era punir os soldados por terem violado a disciplina militar
e perseguir os Apóstolos por terem quebrado os selos da autoridade. não
iniciar um sumário para apurar responsabilidades e procurar o corpo
desaparecido?... já que os membros do Sinédrio se contentaram em subornar
os soldados e tentaram resolver a questão, ao preço do ouro, como sempre
fizeram, é evidente que eles não podiam negar a ressurreição de Jesus
Cristo.

3º Milagres realizados em nome de Jesus ressuscitado.


Os apóstolos fizeram milagres em nome de Jesus ressuscitado: então
disseram a verdade, porque Deus não pode fazer milagres para confirmar o
erro ou a impostura. É por isso que um grande número de judeus, feridos
pelo brilho destes milagres, converteram-se à pregação dos Apóstolos e
adoraram como Deus aquele que tinham recentemente crucificado. O dia de
Pentecostes, São Pedro

249
Ele prega Jesus crucificado e ressuscitado, e três mil judeus abraçam a
religião de Jesus Cristo.
São Pedro curou um coxo conhecido em toda Jerusalém na porta do
templo. Ou prega, pela segunda vez, e cinco mil judeus se convertem e
creem em Cristo, Salvador de Israel57.

4º Monumentos públicos erigidos em memória da


Ressurreição.
Os Apóstolos deixaram duas memórias permanentes da ressurreição do
seu divino mestre: 1ª a festa da Páscoa, celebrada por todos os cristãos do
mundo: católicos, cismáticos e protestantes. 2º o feriado transferido do
sábado para o primeiro dia da semana, desde então denominado domingo,
ou Dia do Senhor. A festa da Páscoa e a transferência do sábado para o
domingo, instituída pelos Apóstolos, não têm mais razão de ser do que a
Ressurreição de Jesus Cristo.

5º A conversão do mundo à religião cristã


A incrédula Strauss descobre que nada é tão impossível de acreditar
quanto a ressurreição de uma pessoa morta. Ele está enganado: há algo mais
impossível, que é a transformação religiosa e moral do mundo por uma
pessoa crucificada, se esta pessoa crucificada não tiver sido ressuscitada. O
túmulo de um morto não é o lugar onde a gigantesca árvore do cristianismo
poderia criar raízes.
Será porventura admissível que alguns iludidos ou alguns impostores
tenham feito crer a milhares de milhões de homens na ressurreição de Jesus
Cristo, e que tenham fundado neste facto a única religião digna de respeito e
amor?..., isto seria um milagre maior que o milagre da própria Ressurreição,
ou melhor, um fenômeno tão estranho que se opõe a todos os princípios do
bom senso.
Devemos, portanto, concluir que a Ressurreição de nosso Senhor Jesus
Cristo é um fato inegável, mais brilhante que o Sol, e cuja certeza os
incrédulos nunca poderão destruir. Cai aos pés de Jesus para dizer-lhe, com
São Tomé:
Meu Senhor e meu Deus!

57 Atos. Indivíduo. 2 e 3.

250
IV. Profecias feitas por Jesus Cristo e
perfeitamente cumpridas.
126. P. As profecias de nosso Senhor Jesus Cristo provam a
divindade da religião cristã?
R. Sim; As profecias de nosso Senhor Jesus Cristo mostram
perfeitamente a divindade da religião cristã.
A profecia, como o milagre, é o testemunho de Deus: só Deus, por si
mesmo ou através dos seus mensageiros, pode nos revelar o que está por vir
e fazer profecias verdadeiras.
Bem, Jesus Cristo fez muitas profecias perfeitamente cumpridas. Ele
profetizou:
1º Quanto à sua pessoa, à sua paixão, à sua morte e à sua ressurreição. 2º
Quanto aos seus discípulos, a traição de Judas, a tripla negação de Pedro, a
vinda do Espírito Santo sobre os seus Apóstolos, os seus futuros milagres, os
seus sofrimentos e o seu martírio. 3º Em relação aos judeus, a ruína de
Jerusalém, a destruição do Templo e a dispersão do povo judeu. 4º Sobre a
sua Igreja, a publicação do Evangelho em todo o universo, a conversão das
pessoas e a duração da Igreja até o fim dos tempos.
O anúncio destes acontecimentos, impossíveis de prever, demonstra em
Jesus Cristo uma ciência divina. Portanto Jesus Cristo é Deus ou, pelo
menos, o mensageiro de Deus, e sua religião é divina.
Vimos que Jesus Cristo cumpriu perfeitamente as profecias messiânicas
em sua pessoa, demonstrando assim que ele era o Messias prometido. Mas
ele próprio também fez profecias, e as suas previsões cumpridas oferecem-
nos uma nova prova da sua missão divina.

1) A PROFECIA É A PROVA DA DIVINDADE DE UMA


RELIGIÃO
A profecia, assim como o milagre, é uma obra divina. Supõe a
participação da ciência de Deus, como o milagre supõe a participação do seu
poder, só Deus conhece e pode revelar os acontecimentos que dependem da
vontade de Deus e da liberdade do homem. Portanto, se Jesus Cristo fez
profecias verdadeiras e

251
Eles foram realizados, Ele é certamente o enviado de Deus; e a religião cristã
que ele fundou é divina.

2) JESUS CRISTO FEZ MUITAS PREVISÕES


1ª Profecias de Jesus Cristo a respeito de sua pessoa.Ele
profetizou um dia aos seus discípulos: “Eis que subimos a Jerusalém, e o
Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas, e
eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios para ser zombaram e
açoitaram e crucificaram-no, mas ao terceiro dia ele ressuscitará”58.
2ª Profecias de Jesus Cristo sobre seus discípulos.Anunciou a
traição de Judas59; a tríplice negação de São Pedro60, a vinda do Espírito
Santo sobre os apóstolos61, profetizou-lhes os seus sofrimentos: “Eis que
vos envio como ovelhas ao meio de lobos... e guardai-vos dos homens,
porque eles entregarão vós, aos concílios, e às suas sinagogas vos
açoitarão... sereis odiados e perseguidos por causa do meu nome..."62.
Ele também lhes anuncia que farão milagres em seu nome, que
expulsarão demônios e curarão todo tipo de doenças63. “Em verdade vos
digo: quem crê em mim também fará as obras que eu faço, e obras ainda
maiores”64. _
3ª Profecias de Jesus Cristo a respeito dos Judeus.Em
diversas ocasiões, Jesus previu as desgraças que ameaçavam Jerusalém, o
cerco desta cidade, a destruição do seu Templo e a dispersão do povo judeu.
Ele disse chorando pela cidade santa: “Virão sobre ti dias em que os teus
inimigos te cercarão com um baluarte, e te cercarão, e te cercarão por todos
os lados; e eles te derrubarão no chão, e não deixarão pedra sobre pedra…
seus filhos serão passados à espada, serão levados cativos para todos os
povos, e os gentios deixarão suas pegadas em Jerusalém”.
Seus discípulos lhe perguntaram: “Mestre, quando isso acontecerá?”
“Em verdade vos digo que esta geração não passará sem que todos

58Mt. 20, 18-19.

59Jn. 23.

60Mt. 26.

61Jo 24.

62Mt. 10; Lc. vinte e um; Jo.15.

63Mc. 16.

64Jn. 14, 12.

252
essas coisas sejam feitas. Quando você vir um exército cercando
Jerusalém, tenha certeza de que a desolação está se
aproximando.”65.
4ª Profecias de Jesus Cristo sobre sua Igreja._Jesus anuncia que
o Evangelho será pregado em todo o mundo para servir de testemunho a
todas as nações66. Ele prediz o seu reinado universal: “Quando eu for
elevado da terra, atrairei tudo para mim”67. Ele anuncia a perpetuidade da
sua Igreja: “Tu és Pedro, disse a Simão, e sobre esta Pedra edificarei a
minha Igreja; e as portas do inferno não prevalecerão contra ela: eis que
estou convosco, sempre, até o fim dos tempos68.

3) ESSAS PREVISÕES DE JESUS CRISTO SÃO


VERDADEIRAS PROFECIAS
Estas pregações têm os três caracteres das profecias divinas. Em efeito:
1º, Foram feitos antes dos acontecimentos, e temos como prova
o testemunho dos evangelistas. Eles eram conhecidos dos fariseus desde que
disseram aos Pilotos: “Sabemos que este sedutor disse quando estava vivo:
depois de três dias ressuscitarei”. Além disso, os Evangelhos foram escritos
antes do cumprimento das profecias que se referem a Jerusalém e ao seu
templo, ao povo judeu e à Igreja.
2º, Era impossível prever os acontecimentos preditos por
Jesus Cristo.Esses eventos dependeram da livre vontade de Deus e dos
homens. Muitos deles tinham como objeto verdadeiros milagres que,
dependendo da onipotência divina, não poderiam ser conhecidos senão
somente por Ele, como a ressurreição de Jesus, a vinda do Espírito Santo e
os frutos sobrenaturais que ele produziu no mundo.
3º, Estas profecias se realizam plenamente.a) O Evangelho
mostra-nos as profecias de Jesus Cristo relativas à sua pessoa, realizadas nos
mínimos detalhes.
b) O Evangelho, os atos dos apóstolos e a história da Igreja atestam o
cumprimento das profecias relativas ao

65Mt. 24; Mc. 13; Lc. 19.

66Mt. 24.

67Jn. 12, 12.

68Mt. 16, 18 e 27, 20.

253
discípulos de Jesus: Judas o traiu; Pedro o negou três vezes; os Apóstolos
receberam o Espírito Santo; Pregaram o Evangelho, fizeram milagres;
Foram açoitados e perseguidos e, cheios de alegria, sofreram o martírio.
Mesmo nos nossos dias, os discípulos de Cristo são odiados e perseguidos:
muitos morrem como mártires, e não poucos, como os santos canonizados,
continuam a fazer milagres.
c) Trinta e seis anos depois de Jesus Cristo, no ano 70, se cumpriu a
profecia a respeito de Jerusalém, do seu Templo e da dispersão do povo
judeu, dois historiadores, o judeu Josefo e o romano Tácito, ambos
contemporâneos da catástrofe, transmitiram a nos os detalhes da destruição
de Jerusalém. Durante um cerco de sete meses, um milhão e cem mil judeus
morreram a ferro, fogo ou fome, e cem mil foram vendidos como escravos.
O General Titus recomendou que o Templo fosse respeitado; Mas foi em
vão. Um soldado, comovido, diz Josefo, por inspiração divina, jogou um
tição ardente no templo, e o templo foi reduzido a cinzas. E ainda há mais.
Era necessário que a palavra do Salvador se cumprisse ao pé da letra. Três
séculos mais tarde, Juliano, o apóstata, querendo refutar a profecia de Jesus,
empreendeu a tarefa de reconstruir o templo em Jerusalém. Para lançar os
novos alicerces, os antigos foram arrancados até a última pedra; Mas quando
quiseram reconstruir, foram vistos balões de fogo emergindo da terra,
tornando o trabalho impossível. Este prodígio repetiu-se diversas vezes na
presença de judeus e pagãos, e o empreendimento teve de ser abandonado.
Este fato é narrado por Amiano Marcelino, grande admirador de Juliano, o
apóstata, e outros historiadores da época. A profecia sobre a dispersão do
povo judeu foi verificada, e está sendo verificada ainda hoje aos nossos
olhos. Quando um povo emigra para todas as nações, logo se confunde com
elas. Contrariamente a esta lei da história, o povo judeu, dispersando-se por
toda a superfície da terra, continua a formar uma raça separada; Permanece
mau em seu grau, o testemunho eterno do cumprimento das profecias.
d) Quanto às profecias relativas à Igreja, elas se cumpriram e se
cumprem diariamente o Evangelho é pregado em todo o universo; Jesus
Cristo, elevado na cruz, atrai tudo para si: os indivíduos e os povos apoiam a
sua Igreja contra todos os ataques do inferno; Pedro revive no Papa e
continua a confirmar os irmãos na fé e a alimentar os cordeiros e as ovelhas,
ou seja, os fiéis e os seus pastores.

254
O cumprimento destas profecias é um conjunto de fatos permanentes,
que a história registra em cada uma de suas páginas. Cada geração os viu
realizados diante de seus olhos. Somente os incrédulos se recusam a vê-los
para não se sentirem obrigados a praticar a religião69. Santo Agostinho põe
nos lábios de Jesus Cristo as seguintes palavras, dirigidas aos corações
endurecidos: “Vamos conversar sobre isso, se quiseres: tens nas mãos as
minhas profecias; Você vê tudo o que fiz e em que detalhes mantive minha
palavra:
“Eu prometi aos pescadores rudes que os tornaria pescadores do
Espírito Santo: eu cumpri.
“Eu prometi aos rudes pescadores que os tornaria pescadores de
homens e que lhes daria o poder de fazer o mundo aceitar uma
Doutrina tão incrível como a da cruz: eu fiz isso.
“Eu tinha prometido que os judeus deveriam emigrar novamente e
que sua terra natal seria destruída, para que eles vagassem e se
espalhassem pelo mundo: eu fiz isso.
“Eu prometi atrair para mim todas as nações da terra: eu fiz isso.
“Eu prometi construir minha Igreja sobre rocha firme e fazê-la durar para
sempre; Existe, veja bem, durou apesar de três séculos de perseguição;
Sempre permanece e durará até o fim dos tempos: eu profetizei isso e o
cumprirei.”
CONCLUSÃO.Jesus Cristo fez profecias verdadeiras; Suas profecias
foram cumpridas e se cumprem todos os dias; Portanto Jesus Cristo é o
enviado de Deus e sua religião é divina.
Esta conclusão é ainda mais convincente porque Jesus fez estas profecias
para provar a divindade da sua missão. Anuncio-vos com antecedência, diz
ele, para que, quando as coisas acontecerem, acrediteis que Eu Sou: credatis
quia Ego Sum. A religião cristã traz o selo divino: profecia cumprida.
127. P. O estabelecimento da religião cristã prova a sua
divindade?
Todo efeito requer uma causa capaz de produzi-lo. Em virtude deste
princípio, devemos considerar como divina uma religião cujo
estabelecimento e difusão precoce no mundo não podem ser atribuídos a

69Ver a magnífica obra do sábio Moigno, Os esplendores da fé, tomo IV.

255
meios naturais, mas apenas ao poder divino. E este é precisamente o caso da
religião cristã.
Apesar dos maiores obstáculos, e sem quaisquer meios naturais para
superá-los, rapidamente se estabeleceu em todo o universo. O
estabelecimento do Cristianismo é, portanto, uma obra divina que não pode
ser explicada exceto por uma intervenção especial de Deus.
1º Obstáculos a superar.Os judeus tiveram que ser forçados a
renunciar à lei de Moisés e a reconhecer como Messias Jesus que tinham
crucificado; Os pagãos tiveram que ser movidos a vencer os seus vícios,
destruir os seus ídolos, a renunciar à religião dos seus pais apoiada por todos
os poderes públicos e, finalmente, sobre estas ruínas teve que se estabelecer
uma nova religião, com mistérios incompreensíveis e uma moralidade
contrária. a todas as paixões.
2º Insuficiência de meios.Os obstáculos eram imensos e os meios
naturais completamente insuficientes. Os apóstolos encarregados de
estabelecer a religião cristã não possuíam a força das armas, nem a atração
das riquezas e dos prazeres, nem mesmo o prestígio das palavras e da
ciência. Eram doze pescadores da Galiléia, pobres, ignorantes e de uma
nação desprezada por todos os povos.
3º Sucesso rápido e geral.E, no entanto, apesar da sublimidade do
empreendimento e da fraqueza dos instrumentos, a religião cristã foi
estabelecida em todo o Império Romano e espalhou-se tão rapidamente pela
Índia, Pérsia, África, Espanha, Gália, Germânia, Bretânia, etc., que em
direção a no final do primeiro século, com a morte do apóstolo São João,
dificilmente se poderia citar um país que não tivesse recebido a pregação do
Evangelho. Depois de três séculos de perseguição, a cruz de Cristo brilha
por toda parte e do alto do Capitólio domina o universo.
Portanto, o estabelecimento do Cristianismo é um fato divino, um
verdadeiro milagre de Deus, o único que pode mudar corações e vontades.
N. B._Até agora comprovamos a divindade da religião cristã, apoiando-
nos, sobretudo, na autoridade dos nossos Livros Sagrados considerados
históricos. Mas os Livros Sagrados não são o único fundamento da nossa fé,
nem contêm toda a doutrina cristã, nem todas as provas da sua divindade.

256
Assim como os milagres nos quais os apoiamos não são os únicos que
Deus operou em favor da religião, também existem outros milagres de
ordem moral. Se os primeiros manifestam intervenção divina, por serem
contrários às leis físicas, os últimos também o fazem. Manifestam-no como
tal, porque revogam as leis morais.
A ordem moral tem as suas leis, tal como a ordem física. É uma lei de
ordem moral que uma grande multidão: não mude as suas convicções, o seu
comportamento, os seus costumes em alguns dias, especialmente quando
todos
Dois motivos de paixão e interesse se unem para se opor à mudança. O
milagre na ordem moral é, portanto, um facto contrário ao curso normal das
coisas humanas e não pode ser explicado senão por uma intervenção
especial de Deus. O estabelecimento do Cristianismo é um destes milagres:
1) Grandeza da empresa.A importância da empresa era grande? Foi
necessário: a) abolir a religião mosaica; b) suprimir a adoração de ídolos; c)
fundar a religião cristã sobre estas ruínas: três coisas naturalmente
impossíveis.
a) Obstáculo do Judaísmo.Trata-se de forçar os judeus a renunciar
à lei de Moisés. Mas estavam fortemente apegados à sua religião, que
acreditavam ter sido fundada por Deus, confirmada com numerosos milagres
e pela qual os seus antepassados tinham morrido nos campos de batalha ou
em tormento. Os judeus glorificavam-se em ser o povo de Deus e esperavam
um Messias que os tornaria a mais poderosa e gloriosa das nações.
Como convencê-los de que a sua religião nada mais era do que uma
figura da verdadeira; que o seu título de povo de Deus deveria ser o título de
todos os povos? Como fazê-los aceitar como Messias aquele que
crucificaram?... Que escândalo para o seu orgulho e preconceitos! Não foi
este um obstáculo intransponível?... Explica-se, portanto, que os judeus
foram os primeiros a perseguir os cristãos.
b) Obstáculos do paganismo.Tratava-se de destruir a idolatria
espalhada pelo mundo: a idolatria reinava há séculos, era a religião dos
antepassados, estava como que incorporada em todos os atos da vida pública
e privada, e também era apoiada por todos os poderes públicos . Além disso,
ao deixar os homens livres para acreditar e agir como bem entendessem, ele
lisonjeou as tendências mais agradáveis à natureza. Abolir este culto tão
confortável;

257
tão fácil, tão agradável; derrubar os deuses protetores do império para adorar
um judeu crucificado...: que loucura!
É por isso que o Cristianismo se levantou contra si: 1º os sacerdotes dos
ídolos, cujo crédito e interesses estavam em perigo; 2º aos sábios, aos
filósofos, cujo orgulho desprezava os mistérios cristãos; 3º ao poder público,
que via com indignação um novo culto que se instaurava com independência
dele; 4º por fim, à multidão ignorante e rude, que rejeitou furiosamente uma
religião que condena a sua vida de prazeres e gozos ilícitos.
Nada foi poupado para matar a religião nascente em seu berço; Os
primeiros cristãos foram alvo de todo desprezo, ódio, calúnia e perseguição.
Por não adorarem ídolos, foram acusados de serem a causa de todos os
infortúnios públicos; Eles foram chamados de ímpios, sacrílegos, inimigos
do país. Os próprios dogmas do cristianismo, distorcidos pela ignorância,
serviram de pretexto para as mais absurdas calúnias; Durante trezentos anos,
os imperadores romanos, donos e senhores do mundo, empregaram todo o
seu poder e crueldade para afogar em sangue os discípulos de Cristo.
c) Obstáculos da doutrina cristã.Era necessário fazer com que as
pessoas aceitassem a religião cristã, que, longe de oferecer qualquer atração
natural ao espírito e ao coração do homem, era, pela sua perfeição e pela sua
severidade, de natureza a provocar uma repulsa invencível. Através dos seus
dogmas, o Cristianismo impõe a crença em mistérios que a razão não
compreende: um Deus em três Pessoas: um Deus nascido de uma Virgem
Mãe e concebido sem recurso a um homem, por obra do Espírito Santo; um
Deus que nasce pobre, vive humildemente e morre na cruz como o último
dos criminosos...
Devido à sua moralidade severa, a religião cristã combate as paixões,
condena todos os vícios e prescreve todas as virtudes. Que contraste entre a
vida dos pagãos e a imposta aos cristãos! Seja humilde, modesto, doce,
paciente, caridoso a ponto de amar os próprios inimigos; desapegado dos
bens da terra a ponto de preferir a miséria à injustiça; casto a ponto de
rejeitar o pensamento do mal; fiel à sua religião até o martírio. Isto é o que o
cristianismo pedia aos homens que, sob o patrocínio dos deuses do
paganismo, pudessem, sem remorso, satisfazer todas as suas necessidades.

258
inclinações e entrega a todas as desordens. A religião cristã era, portanto, em
si mesma, um obstáculo naturalmente invencível.
2) Impotência da mídia.Quais foram os meios utilizados para
propagar a religião cristã? A principal delas foi a pregação dos Apóstolos.
Pois bem, tudo conspirou para desacreditar a sua doutrina, para levar ao
fracasso o seu projecto: os Apóstolos são doze, doze judeus desprezados
pelos outros povos; doze pescadores da Galiléia, desprezados pelos demais
judeus e não possuindo nada que pudesse dar autoridade à sua pregação.
O homem possui três poderes neste mundo: a espada, o ouro e a palavra.
Os Apóstolos não têm nenhum deles: nem são poderosos, nem ricos, nem
sábios, nem oradores. Eles fazem prosélitos não pegando em armas, mas
sendo vítimas delas. Eles não têm outra arma senão a confiança em Deus e a
oração. Pobres e obrigados a viver de esmolas ou do trabalho das suas mãos,
não podem oferecer o ouro que traz prazer e honras; Eles prometem aos seus
discípulos nada mais do que perseguições, torturas e, às vezes, martírios
cruéis para a vida presente; Ignorantes e sem prestígio, só conseguem
provocar o riso do público pregando em linguagem grosseira, dogmas
incompreensíveis, morais aterrorizantes e o culto à cruz.
E não se diga que o Cristianismo se espalhou sob o manto da ignorância.
Porque a difusão do Evangelho ocorreu no século Augusto; no século mais
culto e mais esclarecido, quando o Império Romano estava repleto de
filósofos, oradores, poetas, historiadores; A estes gênios da Roma antiga, a
estes homens orgulhosos do seu conhecimento e da sua eloquência, os
pobres pescadores da Galileia vêm ensinar dogmas que a razão não
consegue compreender. A época também é a mais corrupta, o vício reina em
todas as suas formas; E a estes homens podres de sensualidade, os Apóstolos
vêm pregar humildade, pureza e mortificação.
Deus escolheu os tolos de acordo com o mundo para envergonhar os
sábios, e escolheu os fracos do mundo para envergonhar os fortes; e o que
não é para desfazer o que é, para que ninguém se glorie na sua presença70.
Se Deus tivesse usado o poder dos césares, ou a ciência dos filósofos, ou a
eloqüência dos oradores para converter o mundo, os césares, os filósofos, os
oradores teriam reivindicado a glória do empreendimento.

70 Cor. 1, 27-29.

259
Mas como Deus só usou a simplicidade de doze pobres pescadores, é mais
claro do que a luz do meridiano que a glória desta grande revolução pertence
somente a Ele. É a obra-prima do poder e da sabedoria divinos.
3) Velocidade e generalidade do sucesso.Qual foi o sucesso da
empresa? A difusão do cristianismo foi tão rápida quanto geral: depois de
Pentecostes, os apóstolos fundaram uma Igreja florescente em Jerusalém:
evangelizaram a Judéia, a Galiléia e a Samaria: uma multidão de judeus, e
até vários sacerdotes da lei antiga, abraçaram a Lei Nova71 .
Os apóstolos dispersaram-se por diversas regiões: Ásia, Egipto, Grécia,
Itália, Alemanha, Gália, etc., ouviram os mensageiros de Deus e fundaram
Igrejas por toda a parte, e enviaram missionários às regiões mais distantes.
São Pedro funda a de Antioquia; capital da Ásia Menor, onde pela
primeira vez os discípulos de Cristo são chamados cristãos; Posteriormente
transferiu sua sede para Roma, capital do Império Romano, tornando o foco
do paganismo, o centro, a Igreja Matriz do Cristianismo.
São Paulo evangeliza a Ásia Menor, a Macedônia, a Grécia e a Itália;
Santiago el Mayor, Espanha; Santo André, Cítia e Trácia; São Tomás, o país
dos partos e da China; São Bartolomeu, as Índias, etc.
Chega à Gália São Dionísio, o Areopagita, que prega em Paris, São
Marcial, em Mende e em Limoges; São Trófimo, em Arles; São Lázaro, o
ressuscitado, em Marcela, etc. Assim o Oriente e o Ocidente recebem o
Evangelho.
São Paulo, vinte e quatro anos depois da morte de Jesus Cristo, pôde
escrever aos romanos: a vossa fé é anunciada ao mundo inteiro. San Justino,
menos de cien años después de la muerte de Jesucristo, puede decir en su
diálogo con Trifón: no hay nación, civilizada o bárbara, en la que no se haya
ofrecido, en nombre de Jesús crucificado, oraciones al Padre y Creador de
todas as coisas.
Os escritores pagãos da época manifestam a sua admiração: o historiador
Tácito conta-nos que, sob o reinado de Nero, foi surpreendente descobrir um
número tão grande de cristãos em Roma. Sêneca, preceptor deste príncipe,
acrescenta: “O cristianismo

71 Atos. 6, 7.

260
fortalecido de tal forma que se espalhou por todos os países: os
vencidos ditaram a lei aos vencedores”..
Todos conhecem as altivas palavras de Tertuliano aos magistrados
romanos: “Somos de ontem e já enchemos tudo: as vossas cidades, as vossas
ilhas, os vossos castelos, as vossas aldeias, os vossos campos, as vossas
tribos; suas decúrias, o palácio, o senado, o fórum; Deixamos-vos apenas os
vossos templos... se nos separássemos de vós, teríeis medo da vossa
solidão”72.
O triunfo da religião de Jesus Cristo foi tal que depois de três séculos o
paganismo caiu, e Constantino, o primeiro imperador cristão, colocou a cruz
no Capitólio.
Será que uma propagação tão rápida pode ser explicada sem a
intervenção de Deus? Pode-se citar um fato mais contrário a todas as leis da
natureza? Não é um milagre de primeira ordem, um milagre tão evidente
como a ressurreição de um morto, a conversão do mundo pagão realizada,
apesar dos obstáculos, por um grupo de homens do povo? Esta não é uma
obra humana, é uma obra divina: A Domino factum est.
4) Causa da conversão do mundo.Para estabelecer a crença nos
fatos positivos do Evangelho, a crença numa doutrina que ultrapassa a
inteligência humana, foi necessário que Deus interviesse sobrenaturalmente,
dentro dos corações, com a sua graça onipotente, e fora deles, com o
milagre. O milagre compensou a fraqueza dos Apóstolos; ele representava a
ciência, o gênio, a eloqüência; Trouxe-lhes o respeito e a admiração do
povo; Foi o sinal incontestável da sua missão divina. É claro que se os
Apóstolos não tivessem sido enviados por Deus, cujo poder era o único
capaz de fazê-los triunfar, hoje, no lugar desta Igreja que se estende até aos
confins da terra, nada restaria da sua tentativa senão a memória da loucura
sublime.
Conclusão.-Esta demonstração pode terminar com o famoso dilema
que Santo Agostinho propôs aos incrédulos do seu tempo. Como ainda não
foi refutado, propomos-o a todos os incrédulos modernos:

72Desculpas 37.

261
A religião foi estabelecida por milagres ou sem a ajuda de
milagres
Pense cuidadosamente na sua resposta e escolha livremente.
1º Se você confessa os milagres de Jesus Cristo e dos Apóstolos, ao fazê-
lo você confessa que a religião cristã é obra de Deus, porque só Deus pode
fazer verdadeiros milagres, e ele não pode fazê-los senão em favor de uma
religião verdadeira e divina .
2º Se você negar esses milagres, você atesta ainda melhor a divindade da
religião cristã. Porque se é uma religião, inimiga de todas as paixões,
incompreensível nos seus dogmas; severo em sua moral, foi estabelecido
sem a ajuda de milagres, este fato é o maior e mais sem precedentes dos
milagres.
Dê todas as voltas e reviravoltas que desejar: esse dilema é um círculo de
ferro do qual você não pode sair.
Objeção.Para escapar à força esmagadora desta prova invencível, os
incrédulos modernos dizem: O maometismo e o protestantismo também se
espalharam rapidamente e, no entanto, estas religiões não são divinas.
R.-A comparação não é possível: tudo favorece essas falsas religiões,
enquanto tudo era contrário à religião cristã. 1º O Maometismo, fundado por
Maomé no século VII, entre os povos ignorantes da Arábia, é uma mistura
de Mosaísmo e sensualismo, muito de acordo com as aspirações da natureza
corrupta. É uma religião muito confortável. Um único dogma resume tudo:
Deus é Deus e Maomé é o seu profeta. A sua moralidade é muito fácil:
algumas purificações, algumas práticas externas, e com esta liberdade
completa a todos os maus instintos da carne através da poligamia e do
divórcio.
1) O meio de propaganda usado por Maomé e seus apoiadores é a força
das armas. Acredite ou morra, esse é o seu lema. O instrumento de
conversão é a cimitarra.
Assim, o islamismo se espalha suprimindo todo mistério, enquanto a
religião de Cristo se espalha apesar dos dogmas incompreensíveis que impõe
à razão; um, graças às paixões que lisonjeia, às desordens que permite, e o
outro, apesar das paixões que combate e das leis severas que impõe. O
islamismo faz prosélitos à força; O cristianismo se espalha apesar da força,
das perseguições mais violentas e do martírio dos seus seguidores.

262
Pascal tinha razão quando afirmou: “Maomé estabeleceu-se matando;
Jesus Cristo, permitindo que matassem os seus... Jesus Cristo e Maomé
seguiram caminhos e métodos tão opostos que, assumindo o triunfo da
doutrina de Maomé, Jesus deveria fracassar, e o Cristianismo perecer, se não
tivesse sido sustentado por uma força divina. . Não há, portanto, nenhuma
comparação possível entre a difusão do Islão e a religião cristã.
2) A difusão do protestantismo entre algumas nações católicas é obra de
paixões humanas. Foi apresentada, a princípio, não como uma nova religião,
mas como uma reforma e retorno ao cristianismo primitivo. Os protestantes
se autodenominam reformados - a voz dos séculos os chama de
deformados!Curiosa reforma que abole toda autoridade religiosa, abole leis
irritantes: confissão, jejum, abstinência e, finalmente, dá total liberdade para
acreditar e agir como desejado.
Narração.Chegada de São Pedro a Roma. No reinado de Cláudio, no
ano 42 d.C., um viajante, coberto de poeira e oprimido pelo cansaço de uma
longa viagem, chegou à entrada de Roma, próximo ao portão naval. Um
filósofo romano, amante de novidades, impressionado ao observar a
vestimenta do estranho e a expressão séria e inteligente de seu rosto, dirigiu-
se a ele, travando o seguinte diálogo:
O filósofo. _Estrangeiro, de onde você vem? qual é o seu país,?
Pedro. -Eu venho do Oriente e pertenço a uma raça que você odeia, que
você expulsou de Roma: meus compatriotas estão relegados para o outro
lado do Tibre. Sou judeu de nação, nascido em Betsaida da Galiléia.
O filósofo: _O que te traz a Roma?
Pedro. _Venho destruir o culto aos deuses que vocês adoram e dar-lhes a
conhecer o único Deus verdadeiro que vocês não conhecem. Venho
estabelecer uma nova religião, a única boa, a única divina.
O filósofo. _Pela fé isso é algo novo! dar a conhecer um novo Deus,
estabelecer uma nova religião!... O empreendimento é grande! Mas qual é o
Deus desconhecido do qual você fala?
Pedro. _Foi Deus quem criou o céu e a terra: é um só Deus em três
Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Deus Pai enviou ao mundo o seu Filho
único, Jesus Cristo, que se fez homem sem deixar de ser Deus. Quando
homem, ele foi inicialmente carpinteiro em uma

263
pequena aldeia: Nazaré; Ele viveu pobre, morreu numa cruz em Jerusalém
para expiar os pecados do mundo, mas ressuscitou ao terceiro dia. Como
Deus, ele tem todo o poder no céu e na terra, e me envia para lhe dizer que
todos os deuses do Império nada mais são do que falsas divindades trazidas
pelo diabo. Ele é o único Deus verdadeiro que deve ser adorado em todo o
mundo.
O filósofo. _Por Júpiter, você está delirando!... você gostaria de derrubar
os altares dos nossos deuses, que deram aos romanos o império do mundo,
para que em seu lugar fosse adorado um Deus crucificado! Mas
Você consegue imaginar algo mais absurdo, mais ímpio?
Pedro. _Não, não estou delirando. Em breve seus templos serão um
amontoado de ruínas; e em Roma haverá um só Deus, o Deus crucificado
em Jerusalém.
O filósofo. _E o que você vem nos anunciar em nome de um Deus tão
estranho?... certamente sua religião deve ser confortável, fácil e atraente, já
que você espera substituir por ela a religião do império.
Pedro. _A religião que prego parece uma loucura para os homens. Força
a inteligência a acreditar em mistérios insondáveis e o coração a domar
todas as suas paixões. Condenem todos os vícios que têm templos nesta
cidade; Impõe a prática das virtudes mais caras: humildade, castidade,
caridade, penitência.
O filósofo. _E o que você promete aos seguidores da sua religião? Pedro.
_Aqui na terra eles terão que suportar lutas incessantes,
privação e sofrimento. Eles devem estar prontos para sacrificar tudo, até
mesmo as suas próprias vidas, em vez de apostatarem da sua fé. Mas no céu,
após a sua morte, prometo-lhe um trono de glória mais bonito que todos os
tronos do mundo.
O filósofo. _Se os romanos renunciarem às delícias da vida para abraçar
a sua religião austera; Se eles trocarem os bens presentes pelos tronos que
você lhes promete acima das nuvens, olharei para você como um deus.
Pedro. _Eu não sou nada sozinho, mas quem me envia é todo-poderoso.
Venho em seu nome para ensinar todas as nações e estabelecer sua religião
em todo o universo.
O filósofo. _Deuses imortais! Nenhum homem jamais sonhou com tal
projeto!... estabelecer uma religião de tal natureza em Roma, no centro da
civilização e do esclarecimento; querer fazer

264
adorar um Galileu crucificado é uma loucura!... quem é você para sonhar
com tal empreendimento?
Pedro. -Você vê aqueles pescadores aí na praia? Bem, esse é o meu
trabalho. Para ganhar o pão passei boa parte da minha vida consertando
redes e pescando em um pequeno lago da minha terra.
O filósofo. _Que meios você dispõe para impor suas ideias ao mundo?
Você, por acaso, tem soldados mais numerosos e mais valentes que os de
César?
Pedro. _Somos doze, espalhados por todas as cidades, e meu Deus me
proíbe de usar a violência. Ele nos enviou como ovelhas entre lobos. Não
tenho outras armas além desta cruz de madeira...
O filósofo. _Você pelo menos possui imensos tesouros para ganhar
discípulos?
Pedro. _Não tenho ouro nem prata. No mundo não tenho nada além deste
vestido que me cobre.
O filósofo: _Nesse caso você confiará na sua eloquência. Há quanto
tempo você estuda com os retóricos de Atenas ou de Alexandria a arte de
persuadir os homens?
Pedro. _Ignoro os artifícios da linguagem. Não frequentei nenhuma
escola além da do Carpinteiro, meu Mestre; e não sei nada fora da religião
sagrada que ele me ensinou.
O filósofo. _Mas você espera então que os imperadores, os magistrados,
os governadores provinciais, os ricos e os sábios favoreçam o seu
empreendimento?
Pedro. _Não; Toda a minha esperança está em Deus. Como poderia
contar com os ricos, com os sábios e com os césares?... Ordeno aos ricos que
desprezem as suas riquezas; aos sábios que submetem a sua razão ao jugo da
fé, a César que renuncia à sua dignidade de grande Pontífice e obedece às
ordens daquele que me envia.
O filósofo. _Nessas condições é fácil prever que tudo estará contra você. O
que você tenta fazer quando isso acontece?
Pedro. _Morrer na cruz: meu divino Mestre me profetizou.
O filósofo. _Na verdade isso é o mais implausível de tudo que você acabou
de me contar: estrangeiro, sua empresa é uma loucura...
Bye Bye!

265
O romano sai enquanto fala consigo mesmo e diz: “Pobre tolo! É uma
pena que este judeu tenha perdido a cabeça; “Ele parece uma pessoa
respeitável.”
Pedro beija sua cruz de madeira e entra em Roma. Lá, apesar dos padres,
apesar dos filósofos; Apesar dos Césares, fundou a religião de Jesus Cristo;
faz com que aqueles orgulhosos romanos adorem um judeu crucificado; Ele
convence os voluptuosos a praticar a penitência e povoa aquela cidade
pecadora de virgens: o pescador ignorante prova tão plenamente a sua
doutrina que aqueles que a abraçam alegremente derramam o seu sangue em
defesa dela.
Alguns anos depois, o apóstolo estende os braços sobre a cruz que havia
pregado. Sua morte fixa para sempre a sede de seu império em Roma.
Depois do seu martírio, a cadeira onde ensinou nunca fica vazia. Durante
trezentos anos a espada dos Césares fere todos os que a usam. Mas o seu
trigésimo segundo sucessor batiza César e ergue a Cruz. No Capitólio, a
partir de agora, a cruz de madeira levada a Roma por Pedro dominará o
mundo; Stat crux dum volvitur orbis.
Isso não é um milagre? Um pescador triunfa sobre todo o poder romano
determinado a destruir a sua obra, e o mundo adora um judeu crucificado,
sob a palavra de doze pescadores da Galileia! Esse. Ainda não era
humanamente possível; aconteceu!... a loucura da cruz triunfou sobre todo o
universo: eis o monumento imortal da divindade do cristianismo: O dedo de
Deus está aí!...
Narração._O carpinteiro de Nevers. _Senhor. Gaume argumenta desta
forma para um livre-pensador: “Já que você afirma que a conversão do
mundo por um judeu crucificado é uma coisa muito natural e muito lógica,
por que depois de tantos séculos ninguém jamais repetiu a experiência?
Experimente você mesmo, eu imploro. Nunca houve empreendimento mais
digno de um grande coração: a sua filantropia, a sua compaixão pela raça
humana, curvada sob o jugo da superstição, proíbem-no de recusar a
experiência proposta; Você conhece os elementos do problema e os tem ao
seu alcance.
“Um dia você desce às margens do Loire, chama doze
marinheiros e diz-lhes: meus amigos, deixem seus barcos e suas
redes, sigam-me. Eles seguem você; Você sobe com eles até o
morro próximo e, afastando-se um pouco, os faz sentar na grama e
falar da seguinte maneira:

266
“Você me conhece, você sabe que sou carpinteiro e filho de
carpinteiro. Trabalho na oficina do meu pai há trinta anos.
pois bem! Você está errado; Eu não sou o que você pensa. Aqui
onde você me vê, eu sou Deus; Eu sou aquele que criou o céu e a
terra. Resolvi me tornar conhecido e adorado em todo o universo até
o fim dos tempos. Quero associar você à minha glória, aqui está meu
projeto; Começarei viajando, por algum tempo, pela zona rural do
campo de gelo, pregando e mendigando. Sou acusado de diversos
crimes e sou tão esperto que fui condenado à morte e levado ao
cadafalso. Esse é o meu triunfo.
“Poucos dias depois da minha morte vocês caminharão pelas
ruas de Nevers, pararão quem passar e lhes dirá: ouçam a grande
notícia. Aquele carpinteiro que você conheceu, que foi condenado à
morte pelo tribunal e guilhotinado nestes últimos dias, é o Filho de
Deus. Ele nos encarregou de contar a você; e ordenar que vocês o
adorem conosco, caso contrário irão para o inferno: para ter a alegria
e o prazer de adorá-lo, todos vocês, homens e mulheres, pobres e
ricos, devem começar por reconhecer que você e seus pais e todos
povos civilizados Até agora vocês não passaram de idiotas e se
enganaram adorando grosseiramente o Deus dos cristãos.
“Então você deve se ajoelhar aos nossos pés, contar-nos todos
os seus pecados, mesmo os mais secretos, e fazer todas as
penitências que acharmos convenientes impor-lhe. Então você ficará
feliz em deixá-los zombar de você e insultá-lo, sem dizer uma
palavra; Você consentirá em ser preso, sem oferecer a menor
resistência e, por fim, se entregará para ser decapitado em praça
pública, acreditando do fundo do seu coração que nada mais
agradável poderia lhe acontecer.
“Não devo esconder isso de você: todos vão zombar de você;
Não importa, você sempre falará. O comissário de polícia proibirá
você de pregar minha divindade: você não prestará atenção nele e
continuará a pregá-la com duplo fervor. Vão prender-vos de novo,
vão açoitar-vos: deixem-se açoitar. Finalmente, para vos impor o
silêncio, cortar-vos-ão as cabeças: que sejam cortadas as vossas
cabeças; então tudo correrá bem.
“Quando isso acontecer, teremos obtido um triunfo completo,
todos quererão converter-se, serei reconhecido como o verdadeiro
Deus; Serei adorado em Nevers, em Paris, em

267
Roma, em Londres, em São Petersburgo, em Constantinopla, em
Pequim.
“Em breve a oficina do meu pai será transformada numa bela
capela, para onde virão multidões de peregrinos dos quatro pontos
cardeais. Quanto a vocês, serão meus doze apóstolos, doze santos,
cuja proteção será invocada em todo o mundo: Que glória para
vocês! Converter o mundo não é mais difícil do que acabei de dizer,
e esse é o meu projeto. Como você pode ver é muito simples, muito
fácil, muito de acordo com as leis da natureza e da lógica, posso
contar com você, certo?
“É fácil adivinhar como tal proposta seria recebida. Parece-me
ouvir os bons marinheiros, furiosos com a zombaria a que são
submetidos, repreendendo o autor entre ameaças; Acho que os vejo
descendo sobre a cidade e anunciando por toda parte que o
carpinteiro fulano perdeu a cabeça... e não me surpreenderia saber
que, naquele mesmo dia, o novo deus foi levado para Charetón ,
onde, em vez de homenagens divinas, gozaria do privilégio
indiscutível de ocupar o primeiro lugar entre os loucos.
“No entanto, notemos bem, o projeto do carpinteiro de Nevers,
que é, sem dúvida, o sublime da loucura, não é mais tolo que o de
Jesus de Nazaré, se Jesus não for mais que um simples mortal: o
que dizer? É ainda menos absurdo. Um carpinteiro de Nevers não
está em desvantagem em relação a um carpinteiro de Nazaré; um
francês guilhotinado não é inferior a um judeu crucificado; Doze
marinheiros do Loire valem tanto, senão mais, do que doze
pescadores dos pequenos lagos da Galileia. “Fazer culto a um
cidadão francês do século XIX é menos fácil do que fazer culto a um
judeu no século de Augusto. No primeiro caso, seria necessário
apenas afastar o povo de uma religião contrária a todas as paixões;
no segundo caso, seria necessário afastar o povo de uma religião
que lisonjeava todos os maus instintos do homem.
“Assim, quando se quer explicar o estabelecimento do cristianismo por
causas humanas, chega-se com a maior facilidade ao último grau de absurdo.
E, no entanto, não existe efeito sem causa; Seja o que for que o incrédulo
queira, o cristianismo é um fato, e esse fato importuno está diante dele em
toda a sua sublimidade. Se, então, não existe uma causa humana que possa
explicar o restabelecimento do cristianismo, uma causa divina deve ser
reconhecida” (trecho de Monsenhor Gaume).

268
V. Número e registro de mártires cristãos
128. P. _O número e a constância dos mártires provam a
divindade da religião cristã?
R. _Sim; O número de mártires durante os três primeiros séculos da
Igreja, a sua perseverança nos tormentos, os frutos maravilhosos do seu
heroísmo, atestam claramente a divindade da religião cristã.
1º A história testemunha que milhões de homens; Testemunhas dos
milagres de Jesus Cristo ou dos apóstolos, enfrentaram tortura e morte antes
de renunciarem à sua religião. Não poderiam proceder desta forma sem
estarem convencidos da realidade dos factos que servem de fundamento ao
Cristianismo. Assim, as testemunhas que deixaram que lhes cortassem a
garganta por apoiarem a veracidade do seu depoimento devem ser
acreditadas; Portanto, o testemunho dos mártires é uma prova luminosa da
divindade da religião cristã.
2º A constância dos mártires nas torturas é superior às forças humanas. O
seu valor só pode vir de Deus: eles o declaram, os pagãos o reconhecem, e
Deus o confirma com milagres: mas como Deus não pode colocar a sua
força ao serviço do erro e da mentira, devemos concluir que a religião
professada pelos Mártires é uma religião divina.
3º O martírio dos cristãos foi a causa da prodigiosa difusão do
cristianismo. As conversões dos pagãos, testemunhas do seu heroísmo,
aumentaram a tal ponto que Tertuliano pôde dizer: o sangue dos mártires é a
semente dos cristãos. Pois bem, estas conversões, tanto pelo seu número
como pela sua rapidez e perseverança, constituem um facto sobrenatural e
divino, que prova também a divindade da religião cristã.
A palavra Mártir significa testemunha; Os Mártires deram à Igreja o
testemunho do seu sangue. Os Mártires da Igreja primitiva podem ser
considerados de duas maneiras diferentes:
1) No seu aspecto puramente natural;e então são testemunhas
oculares dos milagres de Jesus Cristo, como os Apóstolos e os discípulos, ou
dos milagres realizados pelos Apóstolos. O seu testemunho é uma prova
humana invencível da realidade dos factos que servem de fundamento ao
Cristianismo.
2) No seu aspecto sobrenatural;Os Mártires mostram um valor que
ultrapassa a força humana. Sua perseverança é um milagre

269
de ordem moral, assim como a profecia é um milagre de ordem intelectual, e
a ressurreição de um morto é um milagre de ordem física. Considerada desta
forma, a sua constância é prova da autoridade divina em favor da religião
cristã, porque Deus não ajuda a sustentar a mentira.
1º Número dos mártires.A história dos primeiros séculos da Igreja;
Relata que houve uma multidão incontável de mártires. O fato não é
afirmado apenas por autores cristãos, mas também por Tácito, Libânio,
Plínio, o Jovem e outros historiadores pagãos. De Nero (64 d.C.) a
Constantino (312 d.C.), ocorrem dez perseguições gerais, além das
perseguições locais. Segundo documentos da maior autenticidade, o número
de mártires é estimado em onze e doze milhões, durante os três primeiros
séculos da Igreja. A última perseguição, ordenada por Diocleciano, foi tão
severa que este imperador acreditou ter extinto o nome cristão da redondeza
da terra, como prova o facto de possuir um berço de medalha com esta
inscrição. Nomine christianorum deleto73.
A barbárie de suas torturas._Os Mártires sofreram tudo o que a
barbárie pode inventar de mais cruel. Eram estendidos na tortura, açoitados
com chicotes de couro com pontas de chumbo, esfolados vivos, rasgados
com tenazes ou ganchos de ferro, queimados com tochas, crucificados,
devorados por tigres e leões, cobertos com placas de metal em brasa,
imersos em óleo fervente. , assado em fogo baixo na grelha; em suma,
segundo a frase de Tácito: “torturado com os mais refinados tormentos”,
exquisitissimis paenis74.
Valor do testemunho dos Mártires._O testemunho dos Mártires é
uma demonstração evidente da divindade do Cristianismo. E é fácil
convencer-se disto simplesmente considerando o significado da palavra
mártir, que significa testemunho, e a natureza das provas que uma religião
revelada deve ter.
Tal religião deve ser demonstrada com fatos, porque se trata de saber se
Deus falou aos homens e se os mensageiros de Deus verificaram a sua
missão divina através de milagres.

73“Eliminou o nome cristão.” Veja Atos dos Mártires, editado com sábia crítica pelo Padre Ruinard.

74Ver Vidas dos Santos do Bolandistgas.

270
Agora, em todos os tribunais do mundo, os fatos só podem ser provados
pelo depoimento imediato ou mediato de pessoas confiáveis. Bastam várias
testemunhas dignas de fé para estabelecer a certeza de um fato.
Para provar que o Cristianismo é uma religião revelada por Deus, foi
necessário demonstrar que Jesus Cristo, seu fundador, havia pregado na
Judéia, que havia realizado milagres e profecias, que havia morrido,
ressuscitado e ascendido ao céu, em prova de sua missão.divina. Estes são os
factos que Jesus Cristo tinha encarregado de testemunhar os seus Apóstolos,
quando lhes disse: «dareis testemunho de mim em Jerusalém, em toda a
Judeia e Samaria, e até aos confins da terra»75.
Entre os Mártires, alguns foram testemunhas oculares dos milagres de
Jesus Cristo e outros dos milagres dos Apóstolos. Estas testemunhas não são
vinte, trinta ou cem, mas milhões, que, durante mais de trezentos anos,
testemunharam estes acontecimentos em todas as partes do mundo, não só
com juramento, mas também: com o sacrifício da sua própria existência em
no meio das mais horríveis torturas.
Não há dúvida de que uma testemunha diz a verdade quando o seu
depoimento está tão longe de lhe proporcionar qualquer vantagem que, pelo
contrário, lhe causa a perda dos seus bens e da própria vida. Portanto, o
testemunho dos Mártires, a favor dos factos que fundamentam a religião
cristã, é superior a todas as provas legais e ultrapassa mesmo os limites da
lei e da natureza.
2º Registro dos mártires.Uma imensa multidão de cristãos de todas
as nacionalidades e condições, de todas as idades e sexos, aceita livremente
as mais horríveis torturas em vez de renunciar à sua religião. Esta multidão é
pacífica; Nele não se descobre nada que nos lembre o fanatismo dos partidos
políticos, das seitas secretas, das revoltas populares. Seus tormentos são
atrozes; seus algozes, implacáveis; seus juízes, inflexíveis; e nada é capaz de
enfraquecer a sua perseverança, nada pode esgotar a sua paciência, nada é
capaz de alterar a sua doce e modesta resignação. Questionados, eles falam
com tanta prudência, firmeza e oportunidade, que justificam a promessa que
o Salvador lhes fez de

75 Lei. 1, 8.

271
sua assistência divina76. Serenos e sorridentes, com os olhos fixos no céu,
expiram rezando pelos seus algozes.
Não é isto um grande milagre? Será por acaso natural que crianças,
jovens, mulheres e velhos decrépitos aceitem as mais horríveis torturas sem
medo e até com alegria? Oh! De jeito nenhum. Não é a natureza que pode
dar ao homem esta coragem serena, perseverante, heróica, que enfrenta
destemidamente as mais horríveis torturas: não é a natureza que faz com que
o sofrimento seja aceite como um bem, quando uma única palavra, um único
gesto de apostasia pode libertar tortura e morte. Para isso, é necessário que
uma força sobrenatural venha em auxílio da fraqueza humana.
Não se pode invocar o amor à glória, a vã esperança dos bens futuros e
muito menos o fanatismo.
a) A constância dos Mártires não pode ser atribuída ao amor
à glória:Os cristãos sabiam que o seu nome era objeto de execração da
sociedade pagã e que, ao aceitarem o martírio, estavam cheios de infâmia.
Muitos mártires sacrificados em massa tinham plena certeza de que seu
nome e túmulo permaneceriam desconhecidos dos homens e seriam
conhecidos apenas por Deus.
b) Nem pode ser atribuído à vã esperança de bens
futuros:porque se esta esperança não tivesse sido fundada em evidências
sólidas, não teria sido capaz de mover uma imensa multidão de homens
notáveis pela sua prudência e aprendizagem à aceitação do martírio. Os
cristãos não podiam deixar de raciocinar como o Apóstolo: “Se Jesus não
ressuscitou, a nossa fé é vã, assim como a nossa pregação é vã. Se os mortos
não ressuscitam, somos os mais infelizes dos homens, e se assim for,
comamos e bebamos, pois amanhã morreremos.”
c) Menos ainda é possível atribuir a constância dos mártires
ao fanatismo.Não há sombra de analogia entre o fanatismo e a coragem
dos Mártires. O fanatismo é fruto da ignorância e do erro; A coragem é filha
da luz e da verdade. O fanático morre por uma crença que não foi
suficientemente refletida ou por opiniões pessoais desprovidas de provas; O
Mártir, pelo contrário, dá a vida para testemunhar certos factos ou a favor de
crenças das quais tem provas decisivas.

76 Mat. 10, 19.

272
Para o fanático, a tortura nada mais é do que um infortúnio inevitável,
um impulso de desespero, o incidente de uma luta; O mártir, pelo contrário,
abraça a tortura por escolha espontânea e ponderada. No fanatismo, a
coragem tem origem na exaltação e na vaidade: é um leopardo que, ao cair,
quer desfrutar do prazer de rasgar a carne do seu agressor; O Mártir Católico
traz o perdão no coração, a ternura nos olhos, a bênção nos lábios: a sua
coragem nasce do seu amor ardente a Deus, a Jesus Cristo e à sua Igreja.
Finalmente, o fanatismo nada mais é do que uma fraqueza temporária ou
local; Nunca contou mais do que um pequeno número de vítimas, enquanto
a Igreja Católica produziu, em dezanove séculos, quase trinta milhões de
mártires.
A constância e a coragem dos mártires vêm de Deus. _ Isto fica evidente:
a) pela declaração dos próprios Mártires, que foram claros ao afirmar que,
sem a ajuda de Deus, não suportariam a tortura. Por isso se confiaram às
orações dos fiéis para obter a graça de sair vitoriosos do combate. Além
disso, mais de uma vez foram vistos alguns que, confiando demais nas
próprias forças, se entregavam à atrocidade dos tormentos.
b) Os pagãos confessaram a impossibilidade de os mártires suportarem
tais torturas sem a ajuda especial de Deus. É por isso que exclamavam
frequentemente: Quão grande é o Deus dos cristãos, visto que dá tanta força
aos seus adoradores!
c) Finalmente, provam-no também: os inúmeros milagres
realizados em favor dos mártires.Quantas vezes as feras, em vez de
destruí-los, prostraram-se a seus pés, as fogueiras apagaram-se e os
instrumentos de tortura quebraram-se! Em muitos casos eles caminharam
sobre brasas como sobre rosas; Devido à influência da sua mera presença, os
templos pagãos ruíram, os ídolos foram quebrados e os próprios tiranos
ficaram ora cegos, ora paralisados, ora mortos à vista de um povo inteiro que
atribuía estes acontecimentos prodigiosos à magia, ou que eram eles.
convertido ao cristianismo. Diante destes milagres públicos e perfeitamente
comprovados, é impossível questionar que a coragem e a perseverança dos
Mártires vieram de Deus.
N. B._Este argumento não se baseia apenas na constância dos mártires
da Igreja primitiva, mas também recebe nova força no valor heróico de
dezoito ou vinte milhões de mártires que, depois do século II, morreram pela
fé em diversas partes do mundo. .

273
mundo. Um valor tão extraordinário numa multidão tão enorme de Mártires
não pode ser explicado por causas naturais; Deve ser atribuído à virtude
divina, a única que pode realizar tais maravilhas nas suas fracas criaturas.
3º Maravilhosos frutos do martírio._ As torturas dos Mártires
foram a causa da maravilhosa multiplicação dos cristãos. Temos como
testemunha Tertuliano, que repreende desta forma os governadores:
“Sujeitem-nos à tortura, atormentem-nos, condenem-nos, esmaguem-nos... o
nosso número aumenta sempre que nos colhem; "O sangue dos cristãos é
uma semente que produz mais cristãos... e a sua crueldade mais refinada não
consegue nada além de aumentar o nosso número." Arnobio e Lactâncio
dizem a mesma coisa. Teodoreto acrescenta a seguinte comparação:
“Quando o lenhador derruba as árvores de uma floresta, os troncos
produzem mais brotos do que aqueles que brotariam dos galhos cortados; Da
mesma forma, quanto maior for o número de vítimas piedosas por vós
sacrificadas, maior será o número daqueles que abraçam a doutrina do
Evangelho”.
Libânio, autor pagão, confessa que o cristianismo havia feito grandes
avanços pelo martírio de seus fiéis, e declara que foi isso que impediu
Juliano, o Apóstata, de renovar os éditos sanguinários publicados contra eles
nos séculos anteriores.
Ora, este fato não pode ser efeito de uma causa natural ou humana; É
impossível que os homens não se sintam relutantes em abraçar uma religião
que os expõe a uma morte certa e cruel, se não forem movidos a abraçá-la
por inspiração divina.
Conclusão:“O valor milagroso dos Mártires é evidentemente uma
prova irrefutável da verdade do Cristianismo e da sua origem divina. Deus
não pode usar um milagre para encorajar um crente a perseverar numa
religião falsa. O valor sobrenatural dos mártires e, consequentemente, a
própria acção de Deus, fortaleceu e aumentou a religião cristã, fazendo com
que milhares de discípulos, atraídos pelo exemplo dos Mártires, vissem no
Cristianismo uma religião divina. Este efeito foi desejado por Deus.
Concluamos, então, que o próprio Deus atestou a verdade do Cristianismo e,
assim, confirmou a realidade dos fatos sobrenaturais sobre os quais repousa
a evidência da religião cristã” (Wilmers).
Objeção._Às vezes se opõe a esta prova da divindade da religião cristã,
de que todas as religiões têm mártires.

274
R. _Os alegados mártires do islamismo, do budismo e do protestantismo
não se parecem em nada com os nossos mártires cristãos:
1) Seu número é muito pequeno.
2) A maioria deles não morreu livremente por apoiar a sua religião.
3) Na maioria dos casos, estes alegados mártires foram condenados à
morte, não pela sua fé, mas por crimes punidos por lei: motins, roubos,
incêndios criminosos.
4) Tais mártires não morreram por presenciarem fatos fáceis de
conhecer, mas apenas por manterem opiniões e doutrinas cuja comprovação
não puderam dar.
As características que distinguem os mártires cristãos dos alegados
mártires das falsas religiões são: a) a morte livremente aceite pela fé; b) a
inocência da vida; c) uma convicção esclarecida; d) os milagres que
acompanharam ou se seguiram ao seu martírio.
a) Morte aceita livremente pela fé.Morrer pela sua religião
quando, renunciando a ela, a morte poderia ser evitada, esse é o verdadeiro
caráter do martírio. Os cristãos foram convidados a renunciar à sua religião
ou morrer; Se apostatassem, lhes seriam prometidas recompensas e
honras...eles escolheriam o tormento e a morte. Consequentemente, a
comparação estabelecida entre os nossos mártires e os muçulmanos ou
sectários apanhados com armas nas mãos, sacrificados em massacres como o
de São Bartolomeu, ou condenados pelas leis civis sem liberdade de
retratação, carece de qualquer valor ou fundamento. Fora disso, as falsas
religiões, como o islamismo, autorizam a abjuração por medo.
b) A inocência da vida.“O que pode ser atribuído aos mártires?”
Tertuliano perguntou; “São os homens mais puros, virgens imaculadas, fiéis
piedosos, a flor da sociedade. Não foi possível apontar neles vestígios de
desordem. E não é preciso admirar-se, pois não ultrapassaram nem um olhar
indiscreto nem um desejo ilícito. Eles são chamados de inimigos de César, e
oram por ele em seus templos e são os únicos que o fazem! São acusados de
serem inimigos do país e, com maior abnegação e ardor que os outros,
derramam o seu sangue por ele nos campos de batalha! Eles são
proclamados inimigos das leis, e desafiamos encontrar um único cristão que
não as cumpra!

275
cumprir, quando forem compatíveis com os da consciência! "Nada é punido
contra eles além do nome que carregam."
Estude os procedimentos de seus julgamentos, as ordenanças dos
imperadores, e você verá que eles prestam homenagem à inocência dos
Mártires. Eles estão condenados ao castigo final apenas porque são
discípulos de Cristo. O mesmo não acontece com os alegados mártires das
falsas religiões. Consulte a história e ela lhe dirá que os incrédulos
freqüentemente dão o nome de Mártires aos malfeitores, aos criminosos
executados como punição pelos seus próprios crimes. Assim, por exemplo,
os huguenotes não sofreram tormento por testemunharem a verdade da sua
doutrina, mas porque foram culpados de rebelião, sedição, assassinatos e
incêndios criminosos.
c) Convicção esclarecida.Este é o terceiro carácter que distingue os
nossos Mártires. Quando os das falsas religiões não são rebeldes capturados
com armas nas mãos, são pessoas ignorantes, exaltadas, que morrem por
opiniões pessoais que não são capazes de provar. Tal é o fanatismo dos
muçulmanos, protestantes e budistas da Índia. O que os protestantes viram?
O que eles poderiam testemunhar? Eles tinham visto Lutero, Calvino ou os
seus discípulos rebelarem-se contra a Igreja, enchendo a Europa de sedição e
massacres. Eles acreditaram na palavra deles e abraçaram as mesmas
opiniões. Mas eles não tinham visto pregadores realizarem milagres; nem
dar sinais de uma missão divina.
A coragem dos Mártires, pelo contrário, é fruto de uma convicção
baseada em evidências evidentes. Durante três séculos, em diversas partes
do mundo, os Mártires morrem para testemunhar factos cuja certeza
conhecem. Pode-se dar a vida por opiniões falsas consideradas verdadeiras;
mas é inédito que o mesmo seja feito em relação a factos cuja falsidade não
é ignorada.
Os apóstolos e discípulos morrem para testemunhar os milagres de Jesus
Cristo, a sua morte, a sua ressurreição, que eles testemunharam. Assim
diziam os primeiros cristãos: “Nós vos anunciamos o que vimos com os
nossos olhos, o que ouvimos, o que as nossas mãos tocaram sobre a palavra
da vida, que foi mostrada entre nós”. E os apóstolos deram suas vidas para
confirmar a veracidade deste testemunho.
Os fiéis, convertidos pelos Apóstolos, não tinham visto Jesus Cristo, mas
tinham visto os Apóstolos realizando maravilhas para confirmar a sua
missão divina. Estes fiéis poderiam, portanto, atestar tais fatos; Eles tinham
certeza de que não haviam sido enganados.

276
Finalmente, aqueles que sofreram pela fé na sucessão dos séculos não
viram milagres nem mártires; mas morreram por uma religião que sabiam
ser comprovada por factos incontestáveis. Por esta sucessão ininterrupta de
testemunhas, temos a certeza de que Jesus Cristo é Deus e que a sua religião
é divina.
d) prodígios.Já falamos dos numerosos milagres realizados por
ocasião do martírio dos primeiros cristãos. Você pode ler na vida dos santos
os prodígios realizados por suas veneradas relíquias. Estas maravilhas não
podem ser negadas, tal como não o podem ser os factos mais verdadeiros da
história. Assim Deus intervém para honrar os seus mártires, fecundar o seu
sangue e glorificar as suas relíquias:
Conclusão.Somente a religião católica tem verdadeiros mártires, e o
seu martírio prova a divindade da religião de Jesus Cristo. A força desta
evidência baseia-se num conjunto de factos absolutamente certos.
Devemos considerar, ao mesmo tempo: 1º, a multidão de mártires; 2º, a
sua aceitação voluntária dos sofrimentos; 3º, o prolongamento e a crueldade
das torturas; 4º, a coragem heróica demonstrada nos mais terríveis
tormentos; 5º, por fim, os frutos maravilhosos que vieram do seu sacrifício:
A religião católica é a única que pode ter verdadeiros
mártires,testemunhas verdadeiras, porque é a única que se baseia em fatos
demonstrados pelo testemunho e pela Tradição. Aqueles que falam de
mártires de falsas religiões mostram que não compreenderam a essência do
assunto.
A constância dos Mártires é um sinal divino ainda mais
admirável que o milagre.O milagre é obra exclusivamente de Deus; O
martírio é a obra de Deus realizada através de homens fracos, virgens
delicadas, filhos ternos.

VII. Frutos admiráveis produzidos pela religião cristã


129. P._Os frutos da religião cristã são prova da sua divindade?

277
R. _Sim; Como a árvore é conhecida pelos seus frutos, e como a religião
de Jesus Cristo produziu frutos divinos em toda parte, segue-se que ela é
divina.
E na verdade, a religião cristã iluminou os homens, melhorou-os, tornou-
os mais felizes.
1º Ele iluminou os homens.A primeira necessidade do homem é
conhecer com facilidade e certeza a sua origem, a sua natureza, os seus
deveres, o seu destino, o que deve esperar ou temer depois desta vida. E
você não pode saber tudo isso sem conhecer a Deus, que é seu criador e fim
último; Agora, enquanto outras filosofias e religiões deixam os homens
atolados na ignorância, só o Cristianismo oferece soluções claras e precisas
para todos os problemas que interessam à humanidade. Uma criança cristã
sabe mais sobre os problemas da vida do que todos os sábios da antiguidade
e todos os filósofos modernos.
2º A religião cristã melhorou os homens.Ele não apenas
popularizou no comando as virtudes ditadas pela lei natural ou prescritas
pela lei de Moisés, mas também fez surgir muitas outras virtudes, superiores
à natureza humana, como a humildade, a castidade perfeita, a caridade, o
amor aos inimigos, etc. . Pois bem, todas as filosofias e religiões, exceto o
Cristianismo, sempre foram impotentes para fazer os homens praticarem
estas excelentes virtudes prescritas pelo Evangelho; Existe, portanto, no
Cristianismo um princípio sobrenatural de vida, uma força divina.
3º A religião cristã tornou os homens mais felizes.Eliminou os
principais males do paganismo: a escravidão, o despotismo da autoridade
paterna, a tirania do Estado e a barbárie das relações entre os povos. Em
todo o lado e sempre, a religião melhora a vida do indivíduo, regenera a
família, reforma a sociedade e promove a fraternidade dos povos.
Uma religião que realiza tais maravilhas, superiores ao poder humano,
não pode provir do homem: os frutos divinos revelam uma seiva divina.
Então os benefícios do Cristianismo provam a sua divindade.
N. B._Acostumados a viver num mundo saturado de ideias cristãs,
atribuímos ao progresso do espírito humano o que há de bom nos nossos
conhecimentos, nos nossos costumes, nas nossas leis, na nossa civilização: é
uma ilusão. cair em

278
Para dizer a verdade, basta considerar como era o mundo antes da vinda de
Jesus Cristo, depois de quatro mil anos de razão, filosofia e progresso
humano.
1º A religião cristã iluminou os homens._As verdades da
revelação primitiva foram obscurecidas ao longo dos séculos devido à
ignorância e às paixões. “Em todos os lugares, exceto entre o povo judeu,
reinaram os erros mais grosseiros em relação às verdades que o homem está
mais interessado em conhecer e que constituem a base de sua vida
intelectual e moral. Apenas uma nação adorava o Deus verdadeiro; Os
outros prostravam-se diante dos outros, das plantas, dos animais e dos ídolos
de pedra ou de madeira. A terra nada mais era do que um imenso templo de
ídolos..."
Pois bem, hoje, até as próprias pessoas, se forem cristãs, estão
perfeitamente esclarecidas sobre todos os problemas interessantes da vida. A
religião de Jesus Cristo tornou acessíveis a todos, tanto aos ignorantes como
aos sábios, as verdades mais sublimes sobre Deus, a sua natureza, as suas
perfeições, a sua vida e as suas obras; em relação ao homem, sua origem e
destino, em relação aos nossos deveres para com Deus criador, para com o
próximo e para com nós mesmos. Pergunte ao mais simples dos camponeses
e você o descobrirá muito mais educado do que todos os sábios de Roma e
da Grécia.
Há um livrinho que as crianças são obrigadas a aprender e sobre o qual
são questionadas na Igreja; Leia aquele livrinho que é o catecismo e nele
encontrará a solução para todas as questões, sem exceção:
“Pergunte ao Cristianismo de onde vem a espécie humana, ele
sabe; para onde ele está indo, ele sabe; como ele caminha em
direção ao seu fim, ele sabe. Pergunte àquela criança, que ainda não
conseguiu pensar nas grandes questões relativas à sua vida, por que
está neste mundo e o que será após a sua morte e ela lhe dará uma
resposta sublime, pergunte-lhe como era o mundo criado e com que
fim; por que Deus colocou animais e plantas nele; como a terra foi
povoada; quer tenha sido para uma única família ou para muitas; Por
que os homens falam várias línguas, por que sofrem, por que brigam
entre si e como tudo isso vai acabar: ele sabe.
“Origem do mundo, origem das espécies, origem das raças e unidade das
espécies, destino do homem nesta vida e na próxima, relações de fome com
Deus, deveres do homem para com os seus semelhantes, direitos do homem
sobre a criação, ele não ignora nada;

279
E quando crescer, não hesitará nem no direito natural, nem no direito
político, nem no direito das gentes, porque tudo isto sai, tudo isto emana
claramente e como que da sua própria fonte do cristianismo. Aqui está o que
chamo de uma grande religião; Reconheço-o nisto: que não deixa sem
solução nenhum dos problemas que interessam à humanidade” (T. Jouffroy).
2º A religião cristã melhorou os homens.Sem dúvida, o homem
sempre foi capaz de distinguir entre o bem e o mal. Ele tem os princípios da
lei natural escritos no fundo de sua consciência. Mas as paixões, o orgulho, a
avareza, a sensualidade e a ignorância religiosa alteraram essas luzes da
razão. Assim, esta profunda corrupção reinou na sociedade pagã, justificada
pelo exemplo das divindades do Olimpo, personificação de todos os vícios.
A religião cristã substitui o culto aos ídolos pelo culto ao Deus
verdadeiro desde a sua aparência, transforma os costumes e produz uma rica
florescência das virtudes mais heróicas. Esta transformação moral é
atestada: 1º, pelos escritores pagãos, que são obrigados a reconhecer a
inocência dos cristãos; 2º pelos imperadores romanos, que não podem basear
os seus decretos senão na recusa dos cristãos em sacrificar aos ídolos; 3º,
pelos apologistas, que ousam repetir aos príncipes, aos magistrados e ao
povo, sem medo de serem negados, a frase de Tertuliano: “Os cristãos são
conhecidos pela pureza da sua vida”77.
A religião cristã produziu o florescimento de virtudes heróicas
desconhecidas pelos pagãos. Ela convence a humildade aos grandes; aos
orgulhosos, a modéstia; aos ricos, caridade; para os avarentos, a pobreza;
aos voluptuosos, a castidade; aos vingativos, perdão aos inimigos; a todos,
em suma, caridade, penitência, abnegação e desprezo de si mesmo. A pág.
Lacordaire explicou e elucidou este argumento nas suas conferências de
1844, sobre as virtudes reservadas ao cristianismo: humildade, castidade,
caridade, etc.
Pois bem, a religião de Jesus Cristo operou esta transformação moral em
pouco tempo e produziu o florescimento destas virtudes, não apenas num
pequeno número de indivíduos, mas em numerosas multidões. A prática
dessas virtudes forma o caráter

77Ver Monsenhor Freppel, São Clemente, São Justino, Orígenes, etc.

280
característico da sociedade cristã. Estes efeitos ocorrem, ainda hoje, em
povos selvagens, onde quer que a religião católica penetre.
Esta mudança é o resultado não só da fé nas verdades reveladas, mas
também das graças interiores que Deus comunica às almas.É fácil elogiar e
admirar um plano moral, mas é necessária a ajuda divina para ajustar o
comportamento a esse plano. É por isso que nenhuma seita, nenhuma
doutrina, nenhum sistema filosófico foi capaz de triunfar sobre as paixões e
os vícios enraizados no coração humano, nem de suscitar virtudes heróicas
como as virtudes cristãs. Os poucos sábios do paganismo não são
comparáveis à imensa multidão de santos produzidos pelo cristianismo. Para
cada homem que reflete, assim como a criação prova a existência de Deus,
também os frutos do Cristianismo provam a sua origem divina.
Este argumento foi tratado de forma luminosa por todos os Padres da
Igreja. São João Crisóstomo prova aos pagãos a divindade da religião cristã
pela maravilhosa conversão do mundo. “Seria”, diz ele, “uma grande obra,
ou melhor, uma certa prova do poder de Deus, ter sido capaz, mesmo com a
ajuda e o favor dos poderes humanos, de separar alguns milhares de homens
da corrupção e de fizeram-nos passar de uma licença nojenta para uma vida
austera e difícil...
“Bem, Jesus Cristo os transportou da corrupção para uma vida pura; da
ganância ao amor à pobreza; da raiva à mansidão; da inveja à benevolência;
da vida ampla e fácil à vida estreita e dolorosa. E quantos homens isso
convenceu? Não a algumas centenas ou milhares, mas a uma grande parte da
humanidade... e fê-lo através de doze Apóstolos sem instrução e ignorantes,
sem eloquência, sem riqueza, desprovidos de toda a ajuda humana. E ele fez
isso quando todos os poderes deste mundo se uniram contra seus discípulos”
(Tratado sobre a Divindade de Jesus).
3º A religião cristã tornou os homens mais felizes.
Ela fez desaparecer as vergonhosas misérias do paganismo.
a) a escravatura.Antes de Jesus Cristo, dois terços da raça humana,
privada dos seus direitos naturais, não passavam de um rebanho miserável.
O proprietário poderia, de acordo com seus caprichos, vendê-los, chicoteá-
los, torturá-los, matá-los. No Império Romano,

281
cento e cinquenta milhõesdos escravos viviam inteiramente sujeitos
aos caprichos de dez milhões de cidadãos.
b) a degradação da família.O pai era um tirano. A mulher estava
degradada, era escrava do marido e não sua companheira; a poligamia e o
divórcio tornaram o casamento um contrato ilusório. A criança pode ser
exposta, vendida ou morta pelo pai.
c) a tirania do estado.O príncipe dispunha da vida dos cidadãos a seu
critério: seu capricho era a lei suprema. Os grandes rastejaram a seus pés; O
povo vegetava na preguiça e na devassidão; Os pobres foram desprezados e
abandonados à sua triste sorte.
d) a barbárie das lutas entre os povos.As guerras terminavam
sempre com o massacre ou a escravização dos derrotados78.
Agora, o cristianismo trouxe melhorias sociais aos poucos.
a) Os escravos são emancipados, certamente não por uma revolução
social repentina, mas pela crescente influência da doutrina cristã. A religião
declara que todos os homens são iguais e que não há distinção entre
escravos e livres. Senhores e servos, santificados pela mesma fé, animados
pela mesma caridade, logo vivem a mesma vida.
b) a família é regenerada.O Cristianismo, honrando as mulheres na
Virgem Maria, declara-as iguais aos homens na origem e no destino, nos
deveres e na participação nas mesmas graças. A mulher recupera a sua
influência e a sua posição legítima no lar doméstico. A poligamia e o
divórcio são abolidos; O casamento é elevado à dignidade de sacramento,
isto é, de contrato santo e sagrado e, portanto, inviolável.
A criança torna-se objeto dos mais ternos cuidados: para o cristão que
adora o Menino Jesus da Manjedoura, o abandono e a morte das crianças são
crimes impossíveis.
c) O Estado torna-se uma grande família na qual o chefe governa apenas
em nome de Deus e para o bem dos súditos, que lhe devem obediência em
todas as coisas, como ao próprio Deus. A sociedade pagã não se importava
com os desafortunados; A religião cristã os coloca sob a sua poderosa
proteção, e a ela devemos o

78Ver Champagny, Os Césares; Monsenhor Gaume, História da família.

282
hospitais, todos os abrigos abertos ao sofrimento físico e moral.
d) As relações entre os povos inspiram-se no espírito de
fraternidade.O Cristianismo cria o direito das nações, suaviza as relações
internacionais, regula as condições de guerra e substitui a força bruta pela
justiça.
O cristianismo, então, tornou os homens mais felizes: “Uma coisa
admirável”, diz Montesquieu, “a religião cristã, que parece não ter outro
objetivo senão a felicidade da outra vida, também nos torna felizes nesta!”
“Sem dúvida que todas estas reformas benéficas não foram realizadas sem
esforço. O Cristianismo teve que lutar durante vários séculos contra o
paganismo. Mas, pouco a pouco, a sua força moral fez com que a sua
doutrina penetrasse nos corações e nas mentes, e muito em breve a mudança
nas doutrinas trouxe uma mudança nos costumes e nas leis” (Gourad).
Basta acrescentar algumas observações a estes factos incontestáveis para
realçar a força desta prova.
1º Esta transformação maravilhosa e naturalmente impossível foi
realizada em todos os lugares onde o Cristianismo se estabeleceu. Nações
incivilizadas ou cultas, antigas ou em desenvolvimento, todas
experimentaram o efeito da doutrina do Evangelho e da graça celestial que o
acompanha.
2º Onde quer que o Cristianismo não penetrou, os mesmos erros, a
mesma idolatria, a mesma perversão moral foram perpetuados e ainda hoje
persistem. Isto acontece tanto em povos selvagens como em povos que
seguem o Budismo ou o Maometismo, etc.
3º Certas regiões, regeneradas em outros tempos pelo Cristianismo,
voltaram à sua degradação primitiva desde que deixaram de seguir as leis
cristãs. É por isso que se vê a África e a Ásia regressarem ao seu anterior
estado de degradação, afastando-se da religião verdadeira. Nas nações ainda
católicas, vemos todos os dias que as inteligências recuam para erros
antigos, ao rejeitarem os ensinamentos do Cristianismo: as testemunhas, os
positivistas e os racionalistas modernos79.
CONCLUSÃO.Estes são os factos certos: o Cristianismo civilizou o
mundo pagão, gangrenado e podre. Onde não está

79Ver Devivier, Curso de Apologética.

283
coloca obstáculos à sua acção, produz efeitos muito eficazes e largamente
saudáveis, mesmo no que diz respeito ao interesse temporal, tanto nos
indivíduos como nas famílias e nas sociedades. É uma obra única, colossal e
sobre-humana. Só Deus poderia dar-lhe tal eficácia e, portanto, testemunha
de forma permanente e sensível a divindade de Jesus Cristo e da sua
religião...
O positivista Taine é obrigado a reconhecer estes efeitos do
Cristianismo: na Revue des Deux_Mondes, de 1 de junho de 1892, escreveu
as seguintes palavras: “Hoje, depois de dezoito séculos, em ambos os
continentes... O Cristianismo funciona como em outra época em os artesãos
da Galileia, e da mesma forma, substituir o amor de si pelo amor ao
próximo; Nem a sua substância nem a sua utilização mudaram. Sob um
invólucro grego ou católico; É ainda para quatrocentos milhões de criaturas
humanas o órgão espiritual, o grande par de asas essencial para elevar o
homem acima de si mesmo, acima da sua vida baixa e dos seus horizontes
limitados; conduzi-lo, através da paciência, da resignação e da esperança, até
à serenidade; levá-lo além da temperança, da pureza e da bondade, para a
abnegação e o sacrifício.
“Sempre e em todo lugar, durante mil e oitocentos anos, assim
que essas asas se cansam ou se quebram, os costumes públicos e
privados se degradam. Na Itália, durante o Renascimento; na
Inglaterra durante a Restauração; Na França, sob a Convenção e o
Diretório, o homem foi visto como se tornando pagão, como no
primeiro século, e imediatamente, ele foi visto como nos tempos de
Augusto e Tibério, isto é, sensual e duro, abusando dos outros e ele
mesmo. O egoísmo brutal e calculista voltou a prevalecer: a
crueldade e a sensualidade entronizaram-se nos corações e a
sociedade tornou-se um matadouro e um bordel. Quando este
espetáculo ocorreu e foi visto de perto, pode-se apreciar o que o
cristianismo trouxe às nossas sociedades modernas, o que
introduziu em modéstia, doçura e humanidade, o que manteve em
honestidade, em boa fé, fé e justiça. Nem razão filosófica, nem
cultura artística e literária, nem mesmo honra feudal, militar e
cavalheiresca; Nenhum código, nenhuma administração, nenhum
governo é suficiente para fornecer este serviço.
“Não há nada fora dela capaz de nos manter na nossa inclinação natural e
deter o deslizamento insensível com que,

284
incessantemente e com todo o seu peso original, nossa raça retrocede em
direção ao submundo.”
Tais são as confissões do homem que estudou a história à luz dos fatos.
Depois disso, o que deveríamos pensar das mentiras dos maçons que querem
aniquilar o Cristianismo para estabelecer, dizem eles, o progresso e a
virtude? A sua audácia só pode ser igualada pela sua hipocrisia.
Ouviremos outro acadêmico, Pablo Bourget:
“Veja uma regra que tenho verificado constantemente e que não admite
exceções: onde quer que o cristianismo esteja vivo, os costumes aumentam;
onde quer que definhem, eles decaem. O cristianismo é a árvore onde
florescem as virtudes humanas, sem cuja prática as sociedades estão
condenadas a perecer. Permita-me, se me fizer falar, proclamar em voz alta:
a França está desmoralizada ao tirar-lhe a fé; Ao descristianizá-lo, ele é
assassinado. Não há salvaguarda social fora das verdades do Decálogo. Tal
foi a convicção de Le Play; tal foi também o de Taine. Eu me junto a
eles”80.
“Combater a religião é, portanto, combater a sociedade na sua base... a
primeira coisa que a França tem de fazer para se salvar não é uma república,
nem um império, nem uma monarquia; é ser cristão novamente” (Luis
Veuillot)

VIII. Excelência da doutrina cristã


130. P._A excelência da doutrina cristã prova sua divindade?
R._Sim, porque a sublimidade dos seus dogmas, a pureza da sua moral e
a perfeição do seu culto manifestam uma origem divina.
1º O dogma da religião cristã expõe claramente as verdades de ordem
natural; Dá-nos as noções mais claras e elevadas sobre Deus, o homem e o
seu destino. Não há dúvida de que a razão pode descobrir estas verdades,
mas com menos luz, perfeição e certeza.
O cristianismo propõe então à nossa fé verdades sobrenaturais que a
razão não pode alcançar, mas que reconhece como razoáveis e luminosas,
desde o momento em que

80La Croix, 12 de novembro de 1899.

285
São propostas; tais são: os mistérios da Trindade, da Encarnação, da
Redenção e da Graça, um maravilhoso conjunto de verdades mais elevadas
que nos revelam a vida íntima de Deus e o destino sobrenatural do homem.
2º A moral cristã explica perfeitamente toda a lei natural e acrescenta-lhe
alguns preceitos positivos muito importantes. Regula todos os deveres do
homem para com Deus, para com o próximo e para consigo mesmo. Ela
proíbe todas as falhas, até mesmo os maus pensamentos voluntários; Impõe
todas as virtudes e dá conselhos muito apropriados para alcançar a mais alta
perfeição.
3º O culto cristão é, ao mesmo tempo, o mais simples e o mais sublime,
o mais digno de Deus e o mais adequado ao homem. É fácil praticar em
todas as cidades e em todos os lugares.
Ora, uma doutrina tão perfeita na sua forma, na sua moral e no seu culto,
só pode vir de Deus. Durante quatro mil anos de pesquisa assídua, os
maiores gênios não conseguiram encontrar uma doutrina semelhante.
Portanto, o homem que veio ensiná-la e fazê-la prevalecer no mundo é mais
que um homem: é Deus.
A doutrina de Jesus Cristo está contida no Evangelho e nos demais livros
do Novo Testamento, e também nos foi transmitida através da Tradição: o
ensinamento dos Apóstolos não pode ser separado do ensinamento do seu
Mestre, cujos intérpretes são:
1ºSimUBLIMIDADE DOS DOGMAS CRISTÃOS.“O dogma cristão é
composto por dois tipos de verdades: algumas já conhecidas,
acessíveis à razão e ensinadas pela filosofia; outros inteiramente
novos e inesperados. Os primeiros constituem a ordem natural; a
segunda, a ordem sobrenatural, que o homem não consegue
alcançar sozinho. “As verdades fundamentais da ordem natural, a
existência de Deus, a sua natureza, a sua perfeição e a existência da
alma espiritual, livre e imortal, foram ensinadas pela revelação
primitiva, e melhor, explicadas posteriormente pela revelação
mosaica. Mas devemos sobretudo à revelação cristã as noções mais
precisas sobre Deus, sobre a vida futura, sobre a ressurreição do
corpo, sobre a natureza e a eternidade dos castigos e das
recompensas.(Cauli).
Jesus Cristo deleita-se em explicar o dogma da Providência. Deus zela,
diz-nos ele, por todos os seres, até pelos pássaros; Ele supre todas as
necessidades de suas criaturas, e nem um fio de cabelo cai

286
de nossas cabeças sem o consentimento de nosso Pai Celestial81.
Ele também insiste na bondade e na misericórdia de Deus, dois atributos
desconhecidos pelos pagãos e pouco compreendidos pelos judeus. Para eles,
Deus era, acima de tudo, Yahweh, o Senhor, a quem deveriam adorar e
temer. Para os discípulos de Jesus, Ele é principalmente o Pai que deve ser
amado; Ele é bondade por essência: Deus é amor.
Às crenças da religião natural, Jesus Cristo acrescenta as verdades da
ordem sobrenatural. O homem sente que além deste mundo existe uma
região ilimitada na qual a razão não pode penetrar.
Jesus Cristo sacia a sua sede de desconhecido: levanta o véu que cobre
os mistérios da vida íntima de Deus e do seu amor pelo homem. Revelai ao
mundo os dogmas mais elevados da Santíssima Trindade, da Encarnação, da
Redenção, da vida sobrenatural da Graça e da Glória Eterna, que é o seu
fruto. Para comunicar aos homens esta graça divina, fruto dos seus méritos,
fundou a Igreja, que a confere através dos Sacramentos. Cada uma dessas
palavras contém uma novidade divina e cria uma nova ordem de crenças e
de vida.
Esses maravilhosos mistérios ultrapassam a razão humana sem nunca
contradizê-la. Dezenove séculos depois, dois sábios ainda discutem sobre
essas verdades: podem achá-las excessivamente sublimes pela sua orgulhosa
pretensão de querer compreender tudo, mas não podem aniquilá-las. Os
maiores gênios: Orígenes, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Bossuet,
Leibnitz, Pascal, etc., etc., curvam-se diante da sublimidade destes
ensinamentos.
Esses mistérios lançam uma luz vívida sobre a natureza de Deus e sobre
o destino eterno do homem. Por que Jesus Cristo nos revela isso? Para nos
mostrar o amor que Deus tem pelo homem, a quem ele eleva à vida
sobrenatural. Acreditar neste amor infinito de Deus é acreditar no
Cristianismo82.
O Credo Cristão nada mais é do que a história do amor que Deus tem por
nós; e da mesma forma o Decálogo deve ser a história do nosso amor a
Deus: Deus charitas est.

81Mt. 6.

82I Jo. 4, 16.

287
2ª Santidade da moral cristã.A moral do Evangelho é a mais
perfeita que se pode imaginar: os próprios ímpios são obrigados a
reconhecê-la. O código de Jesus Cristo inclui toda a lei natural, que explica e
põe à disposição de todos os espíritos: os ignorantes acham-no simples e
compreendem-no; O sábio admira a sua fecundidade, a sua profundidade e
adora-a.
A moral cristã é perfeita: a) nos deveres que impõe; b) nas razões que
propõe para nos obrigar ao exercício daqueles deveres.

A) PERFEITO NOS DEVERES QUE IMPÕE:


1) Para Deus:Ele ordena que lhe seja prestado um culto interno,
externo e público de adoração, amor, confiança e ação de graças.
2) Em relação aos outros:Ordena que se observe com ele uma
justiça estrita, que seja amado com uma caridade eficaz e universal que se
estende até aos seus inimigos.
3) Para a sociedade:mantém a paz nas famílias, o amor mútuo entre
os cônjuges; consagra a autoridade paterna, por um lado, e o amor filial, por
outro; Ele recomenda aos senhores bondade para com seus servos e para
com eles, submissão aos seus senhores. Garante a ordem e a paz na
sociedade civil, apresentando os governantes como ministros de Deus e
impondo respeito e obediência aos seus superiores aos seus súbditos.
4) Para ele mesmo:Intima ao homem o cuidado de sua alma imortal,
a luta contra as paixões, a fuga do mal, do qual ele proíbe até mesmo o
pensamento e o desejo. Ordena a prática de todas as virtudes e
especialmente das virtudes teologais, necessárias para alcançar o nosso
destino sobrenatural.
A estes princípios da lei natural, tão bem explicados e completados,
Jesus Cristo acrescenta outros preceitos positivos, que se referem à
penitência e à recepção dos sacramentos, estabelecidos para dar, aumentar e
preservar em nós a vida sobrenatural. E deixou à sua Igreja o cuidado de
formular e determinar o tempo em que devemos cumpri-los. Tais são os
preceitos relativos à confissão anual, à comunhão pascal, etc.
Finalmente, para aqueles que não se contentam com o dever estrito, mas
que sentem dentro de si aspirações de maior perfeição,

288
O Evangelho contém conselhos que se resumem na pobreza voluntária, na
obediência absoluta e na castidade perfeita: tal é o fundamento da vida
religiosa.
Assim como o dogma cristão está resumido nesta frase: acreditamos no
amor que Deus tem por nós, da mesma forma a lei cristã está toda contida
nesta outra expressão: amarás a Deus acima de todas as coisas e ao próximo
como a ti mesmo.
O amor de Deus consiste em preferir Deus a tudo o mais, porque Ele é o
bem supremo, em querer o que Deus quer, em amar o que ele ama, em dar
tudo o que Deus pede, em fazer tudo o que ele manda: “Amarás o Senhor
teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e acima de todas as
coisas”.
O amor ao próximo consiste em amar todos os homens pelo amor de
Deus, em desejar o bem de todos, em fazer-lhes todo o bem que gostaríamos
que nos fizessem, em não fazer ao próximo nada que não faríamos quer que
nos seja feito. fez: amarás o teu próximo como a ti mesmo83.
O ideal de perfeição proposto por Jesus Cristo nada mais é do que a
perfeição do próprio Deus: seja perfeito como seu pai celestial. O Filho de
Deus tornou esta perfeição mais fácil de imitar, mostrando-se-nos em forma
humana. Para sermos perfeitos basta reproduzir as virtudes cujo preceito e
exemplo Jesus Cristo nos deu. Exemplum dedi vobis: ut quemadmodum ego
feci, ita et vos faciatis84, segundo a enérgica expressão de Tertuliano, todo
cristão deve ser outro Cristo: christianus, alter Christus.

B) A MORAL CRISTÃ É PERFEITA NOS SEUS MOTIVOS E


NA SANÇÃO QUE ESTABELECE:
Ela nos propõe como motivo, não apenas a beleza natural da virtude e a
satisfação do dever cumprido, mas a soberana

83A caridade para com o próximo não nos impede de rejeitar os ataques dos ímpios. “É necessário dar a conhecer os inimigos declarados de
Deus... Não cobriu o Salvador os hipócritas fariseus com maldições e injúrias?... Não excluamos ninguém das nossas orações ou dos nossos possíveis
serviços, mas desmascararemos a hipocrisia dos inimigos de Deus e da Igreja” (São Francisco de Sales).

84Jn. 13, 15.

289
vontade de Deus, nosso Criador e Senhor, que tem o direito de nos impor
preceitos.
Como sanção, mostra-nos, na perspectiva da eternidade, o céu, a
magnífica recompensa dos justos, e o inferno eterno, o terrível castigo do
pecador.
A estes motivos, por si só poderosos para nos induzir a perseverar no
caminho do bem, Jesus Cristo acrescenta um ainda mais poderoso e mais
digno das almas nobres: o do amor de Deus.
O amor de DeusÉ a principal razão que nos deveria levar a observar
as suas leis; Pelo amor de Deus devemos amar o próximo; Pelo amor de
Deus você tem que amar a si mesmo. Princípio admirável, o mais digno do
homem, a quem ele eleva, e de Deus, a quem o homem dá o seu coração;
princípio eficaz e fecundo acima de todos os outros, porque se trabalha mais
e melhor por amor do que por medo ou esperança.
Por fim, com a oração, o sacrifício da Missa e dos Sacramentos, ou seja,
com as práticas de culto, a religião cristã coloca à disposição do homem a
força da graça, que o sustenta nas batalhas da virtude e sobrenaturaliza todas
as suas ações. .
3ºPEFEITO DO CULTO CRISTÃO."Chegou o momento,Jesus Cristo disse
à mulher samaritana que Deus não será mais adorado apenas no Templo de
Jerusalém, nem no topo de Garitzim, mas será adorado em todos os lugares,
em espírito e em verdade”85. Isto equivalia a marcar o fim do culto mosaico
e a inaugurar o culto cristão. Este culto espiritual e ao mesmo tempo
sensível responde admiravelmente às exigências da nossa natureza; É
infinitamente mais perfeito do que todas as religiões antigas e modernas,
adapta-se a todos os povos e é fácil de praticar em todos os climas.
Jesus Cristo recomenda, acima de tudo, a adoração interna: Deus é
Espírito, diz ele, e devemos adorá-lo em espírito e em verdade. Mas como o
culto interno não pode ser separado do culto externo ou do culto público,
Jesus Cristo lança os fundamentos e determina os principais atos do culto
social externo. Ensina a oração, simples e sublime ao mesmo tempo,
conhecida como oração dominical. Prescreve que um dia da semana seja
consagrado a

85Jn. 4, 21-23.

290
serviço de deus, e institui o sacrifício da Missa, dos Sacramentos e das
cerimônias principais.
A Missa é o mais augusto dos sacrifícios: é a renovação do sacrifício da
Cruz (morte e ressurreição de Jesus Cristo). Todas as boas obras possíveis
não podem dar tanta glória a Deus e alcançar os homens tantas graças como
uma única missa.
Os Sacramentos estabelecem uma comunicação divina entre o céu e a
terra, entre o homem e Deus. O Baptismo confere ao homem a vida
sobrenatural, a Confirmação faz-lhe crescer, a Eucaristia dá-lhe o pão do céu
necessário à sua vida divina; Se ele cair novamente no pecado, a penitência
o eleva; Se ele estiver doente, a extrema unção o prepara para a morte dos
justos. A ordem confere poderes a favor dos fiéis e atribui ministros e
pastores à Igreja; O casamento santifica a união dos cônjuges e contribui
para a felicidade dos filhos e da família.
As cerimônias de adoração honram a Deus, atraem graça, lembram aos
ignorantes os dogmas e deveres da religião e despertam emoções doces e
saudáveis na alma. Que sentimentos de amor, de humildade, de desapego,
provoca na alma cristã a noite de Natal, quando se adora um Deus feito
homem, que nasce num estábulo e jaz numa manjedoura! Quão tristes e que
contrição são os dias da Semana Santa, que nos lembram os sofrimentos do
homem_Deus! Que consolação e que esperança no dia de Páscoa!...
Filósofos, onde encontrareis um culto tão simples e tão perfeito, um culto
que resume e expressa tão bem as nossas relações com Deus, as
necessidades do espírito e do coração do homem? A Domino Factum est
istud.
4ºeuÀ DOUTRINA DEJ.Jesus Cristo NÃO PODE VIR, MAS DEdiOS.A
de dois: ou Jesus Cristo é Deus, ou é apenas homem. Se Jesus Cristo é Deus,
a questão está resolvida: a sua doutrina é divina.
Se for considerado apenas como homem, surgem três hipóteses: a) ou
extraiu sua doutrina de seu próprio engenho; b) ou copiou-o dos sábios que
o precederam; c) ou recebeu de Deus.
Contudo:
a) Jesus Cristo não poderia tirar a sua doutrina do seu próprio engenho:
a história mostra-nos que nasceu de pais pobres, sem instrução, e trabalhou
até aos trinta anos no trabalho de carpinteiro.
Será possível que este simples trabalhador tenha inventado uma religião tão
bela, tão perfeita, tão santa, infinitamente superior à

291
os devaneios dos filósofos e legisladores da antiguidade? Além disso, o
próprio Jesus Cristo nos declara: “a minha doutrina não é minha, foi aquele
que me enviou”.
b) Nem poderia Jesus Cristo derivar a sua história daquela dos sábios da
antiguidade ou da lei de Moisés, porque essa doutrina não existia. A religião
cristã inclui, é verdade, tudo o que há de bom e santo em outros lugares, mas
difere de todas as outras religiões, mesmo da Lei de Moisés, em vários
pontos essenciais. Finalmente, presumindo que existisse, Jesus não poderia
usá-lo. Se Jesus nada mais fosse do que um homem, ele não poderia ter
possuído mais do que uma educação elementar. Agora, tendo começado a
lecionar aos trinta anos, como, com tão pouca cultura e tão poucos anos, se
pode presumir que ele leu, mergulhou e plagiou os livros da Grécia e de
Roma ou das Índias? É impossível!...
c) Então, evidentemente, Jesus Cristo é Deus ou, pelo menos, a sua
doutrina lhe foi revelada por Deus; portanto é divino86.
Conclusão.Comparado com outras religiões e com todos os sistemas
filosóficos, tanto em termos de doutrina como em termos da influência
exercida sobre a humanidade, o Cristianismo não tem igual. Nenhuma
contradição na doutrina, nenhum erro, nenhuma mancha; Pelo contrário,
unidade e harmonia, que são o selo da verdade. Na sua acção sobre o
mundo, não encontramos nada de prejudicial; antes, uma influência
saudável, duradoura e profunda. É a única religião que responde
perfeitamente a todas as necessidades e a todas as aspirações legítimas da
natureza humana. E como o espírito humano nunca produziu ou pode
produzir algo semelhante, concluímos que o cristianismo é a revelação de
Deus” (Moulin).
Conclusão geral.Tomadas isoladamente, todas as evidências que
acabamos de apresentar demonstram claramente a divindade da religião
cristã; Consideradas no seu conjunto, têm uma força incontestável e levam a
demonstração até à última evidência. Quem os estudar sem prevenção
chegará necessariamente a esta conclusão: o cristianismo é obra de Deus.
Como duvidar razoavelmente da divindade de uma religião a favor da
qual se pode afirmar ao mesmo tempo: a expectativa universal dos séculos
anteriores à era cristã; toda a história do povo judeu; o cumprimento de
promessas, profecias e

86Ver Cursus Theologiae, de Alberto Negre.

292
figuras; a eminência da doutrina evangélica; a santidade da vida do seu
autor; a autoridade e grande número de seus milagres e profecias; sua
ressurreição incontestável; as obras não menos prodigiosas dos seus
Apóstolos e dos seus discípulos, aos quais prometeu o poder de as realizar; o
estabelecimento, propagação e preservação humanamente inexplicável da
religião que ele fundou; a conversão do mundo a esta religião, que
contrariava todas as paixões e todas as ideias prevalecentes; a transformação
das sociedades, das leis, dos costumes; o testemunho sempre subsistente dos
mártires; o consentimento dos maiores gênios que a terra já produziu; a
adoração e o amor dos corações mais nobres; os frutos de vida produzidos
nas almas pela influência do Evangelho; inúmeros prodígios de humildade,
de caridade, de pureza, de abnegação, que o mundo nunca imaginou; a
derrota sucessiva de todos os homens e de todos os sistemas opostos; o
aumento da fé e da piedade em meio a todas as batalhas e todas as negações;
O Cristianismo sempre mais vivo, no dia seguinte aos assaltos e
perseguições: um retorno inesperado dos espíritos a ele, cada vez que uma
causa parecia perdida?...
“Todo este conjunto de personagens não constitui a prova mais evidente
dos fundamentos da nossa fé e não justifica a crença das inúmeras gerações
que marcham sob a bandeira da cruz?”87.
"Oh, meu Deus_diremos com Santo Agostinho_, se nos enganamos, é
você mesmo quem nos engana, porque é impossível que uma falsa religião
possa oferecer tantos sinais divinos!
Nada mais fizemos do que comentar o texto do Concílio Vaticano I,
acima citado, e que temos o prazer de apresentar novamente ao leitor. Para
que a homenagem da nossa fé fosse conforme à razão, Deus quis acrescentar
aos auxílios interiores do Espírito Santo as provas exteriores da sua
revelação, isto é, os actos divinos e, particularmente, os milagres e as
profecias. Estes fatos que fazem brilhar a onipotência e a ciência infinita de
Deus são sinais muito certos da revelação divina e sinais adaptados à
inteligência de todos. É por isso que Moisés e os Profetas e principalmente
nosso Senhor Jesus Cristo, fizeram tantos milagres e profecias evidentes
para o mundo inteiro, e é por isso que foi dito dos Apóstolos: Eles foram

87Seg. Pé, instruções do Sínodo.

293
e pregaram por toda parte com a cooperação do Senhor, que
confirmou suas palavras com milagres..
O santo Concílio acrescenta:
“Para que possamos cumprir o dever de abraçar a verdadeira fé e
de mantê-la constantemente, Deus, através do seu Filho Unigênito,
estabeleceu a Igreja e dotou-a de notas visíveis que atestam a sua
origem divina, para que possa ser reconhecido por todos como o
guardião da palavra revelada.
“Pois não só estes numerosos e admiráveis personagens, estabelecidos
por Deus para tornar evidente a credibilidade da fé cristã, pertencem
exclusivamente à Igreja Católica, mas a Igreja, por si só, com a sua
maravilhosa propagação, a sua sublime santidade e a sua inesgotável
fertilidade para todo o bem, com a sua unidade católica e a sua estabilidade
imutável, é um grande e perpétuo argumento de credibilidade, um
testemunho irrefutável da sua missão divina. E por isso, como um sinal
elevado entre as nações, atrai para si aqueles que ainda acreditam e dá aos
seus filhos a certeza de que a fé católica que professam assenta sobre
fundamentos inabaláveis.
Assim, a Igreja, mesmo considerada em si mesma, aparece-nos como
uma obra divina. Portanto a religião que a Igreja ensina vem de Deus. Este
será o objeto da nossa quinta questão.

ApêndicedIVINDADE

DO NOSSOSimEÑORJ.Jesus Cristo
Os argumentos anteriores demonstram a divindade da religião cristã,
porque uma religião promulgada por um mensageiro de Deus é, portanto,
divina. Mas a divindade da nossa religião aparece ainda mais evidente
quando se prova que o seu fundador não é apenas o mensageiro de Deus,
mas o próprio Filho de Deus. A divindade de Jesus Cristo é o dogma básico
da religião cristã, e por esta razão os racionalistas modernos combatem-na
de uma forma que é ainda mais perigosa porque escondem o seu ódio sob
pretensões da ciência. Pretendem reconhecer em Nosso Senhor Jesus Cristo
um homem sábio, um filósofo profundo, um grande benfeitor da
humanidade, mas não querem reconhecê-lo como o Filho de Deus feito
homem.

294
131. P. _Por que devemos acreditar que nosso Senhor
Jesus Cristo é Deus?
R. _Devemos acreditar que Jesus Cristo é Deus, porque ele o revela com
as suas palavras e o prova com as suas obras.
1º, Jesus Cristo nasceu como Deus; 2º, ele falou como Deus; 3º, ele agiu
como Deus; 4º, ele morreu como Deus; 5º, ele ressuscitou como Deus; 6º,
reina como Deus; 7º, sobrevive-se como Deus.
Para saber o que é um homem, parece natural começar por perguntar-lhe,
como os judeus a São João Baptista: quem és tu?
O que você diz sobre você?Reservando para ver mais tarde se suas
obras e sua vida estão de acordo com sua resposta.
A esta pergunta, Jesus responde categoricamente: não sou apenas
enviado por Deus para revelar à terra a vontade do céu, mas sou o Cristo, o
Filho de Deus feito homem. Ele disse isso aos seus discípulos, aos seus
inimigos, ao povo judeu, ao mundo inteiro através dos seus apóstolos e aos
séculos vindouros através da sua Igreja.
1º Já provamos que Jesus Cristo é um mensageiro de Deus, encarregado
de instruir os homens. Que alguém deva acreditar na palavra de alguém
enviado por Deus é, sem dúvida; mas visto que Jesus Cristo nos revela
formalmente que ele é o Filho de Deus, não apenas por adoção como nós,
mas por natureza, devemos inferir que ele verdadeiramente é Deus.
2º Como se não bastasse esta afirmação, Jesus Cristo prova-o com as
suas obras:
a) com os seus milagres tão numerosos e tão certos. b) com as profecias
perfeitamente cumpridas. c) com a santidade da sua doutrina e da sua vida.
d) Com o seu reinado imortal sobre as almas. e) com o estabelecimento e
preservação da sua Igreja.
Tal é o argumento geral que iremos desenvolver, seguindo as famosas
conferências do Bispo Freppel sobre a divindade de Jesus Cristo.
Aviso importante:Jesus Cristo é Deus perfeito e homem perfeito.
Igual a Deus Pai em sua divindade, ele é inferior ao Pai em sua humanidade
(isto é, como homem). A natureza divina e a natureza humana, embora
muito diferentes, estão intimamente unidas na única Pessoa do Verbo.
Assim, de certa forma, assim como a alma racional e o corpo constituem um
só homem, assim Deus e o homem são um só Jesus Cristo. Há,

295
Portanto, em Jesus Cristo duas naturezas diferentes: a natureza divina e a
natureza humana, unidas numa única Pessoa, a do Verbo, Filho único de
Deus. Conseqüentemente, todas as propriedades que ele possui e todas as
ações que ele realiza em ambas as naturezas devem ser atribuídas a Jesus
Cristo, o homem-Deus. Pode-se dizer, então, com a mesma verdade: Jesus
Cristo é Eterno e Jesus Cristo nasceu...
E porque a mesma Pessoa é, ao mesmo tempo, Deus e homem, pôde
chamar-se Filho do Homem, pôde declarar que seu Pai é maior que ele, que
ignora o dia do julgamento; etc. Nisto Jesus fala como homem.
Depois de cada uma das humilhações do Deus-Homem, acontece um
prodígio que nos lembra a sua divina majestade: Ele queria nascer numa
família pobre, mas foi concebido pelo Espírito Santo, sem a ajuda de um
homem, e foi é um anjo que revela esse mistério.
Nascer; mas nasceu de uma Virgem: ecce Virgo concipiet et pariet
filium.
Ele foi colocado na palha de uma manjedoura, mas vozes celestiais
cantaram ao redor daquela manjedoura e uma estrela milagrosa convidou os
Magos do Oriente a virem adorá-lo.
Ele foi apresentado no Templo, mas o profeta Simeão o proclamou luz
do mundo.
Ele recebeu o batismo do arrependimento, mas o Espírito Santo desceu
sobre ele em forma de pomba, e a voz do Pai celestial o proclamou seu Filho
muito amado.
Ele come, mas quando tem vontade vive sem comida, ou chama os anjos
para servi-lo.
Ele dorme, mas durante o sono faz com que o barco vire e, ao acordar,
com uma única palavra acalma a tempestade.
Ele anda, mas quando dá o comando, a água se solidifica sob suas solas.
Ele morre, mas quando expira, as estrelas são eclipsadas em sinal de
luto, a terra estremece e as rochas se quebram...
Ele é sepultado, mas três dias depois sai vivo do túmulo: os anjos
publicam sua ressurreição.
Sua aparição na terra é o clímax da história mundial. Todos os eventos
giram em torno Dele como os planetas ao redor do sol. O mundo civilizado
considera todos os fatos da história desde o dia do seu nascimento.

296
Memorial de Santa HelenaDiz-nos que a questão da divindade de
Jesus Cristo foi objecto de repetidas discussões entre Napoleão e um dos
seus fiéis companheiros de exílio, o general Bertrand. O grande
conquistador caído pergunta ao general: _O que você acha de Jesus Cristo?
quem é Jesus Cristo?
O soldado pede licença; Ele tinha tido muito que fazer desde que estava
no mundo para ser capaz de pensar sobre tal questão.
_Bem, _Napoleão insiste_, eu vou te contar.
E então, abrindo o Evangelho, não com a mão, mas com o coração cheio
dela, começou a comparar Jesus Cristo com ele e com todos os grandes
homens da história. Ele notou as diferenças características que dão a Jesus
um lugar especial na humanidade; e depois de uma torrente de eloquência
que qualquer Padre da Igreja teria assinado de bom grado, terminou com
esta frase: “Acredite, conheço os homens e digo-lhe que Jesus Cristo não foi
apenas um homem!”
O ilustre poeta Victor Hugo escreveu estes belos versos ao pé do seu
Crucifixo:
“Você que chora, venha a este Deus que chora.
Aqueles que sofrem, venham a Ele porque Ele dá
saúde. Você que treme, venha até Ele porque Ele
sorri. Você que falece, venha a Ele, pois Ele
permanece.”
132. P. _Jesus Cristo nasceu como Deus?
R: _Sim; porque as circunstâncias do nascimento de Jesus Cristo não
poderiam ser mais apropriadas do que o nascimento de um Deus_Homem.
1º Durante quatro mil anos, antes de nascer, ele é esperado, desejado,
adorado por todos os povos da terra como o Salvador, o Emanuel, o Filho de
Deus...
2º Seu nascimento é anunciado com milagres que manifestam sua
divindade.
1º O homem não pode falar de si mesmo antes de existir. Nascer é
começar a viver e, conseqüentemente, nada precede o nascimento, porque
nada precede a vida. Esta é a lei para todos os homens. Quem, então, faz
falar de si mesmo antes de nascer é mais que um homem.
Agora, Jesus Cristo é o único que fez as pessoas falarem sobre si mesmo
antes de nascer; Só ele viveu quatro mil anos na memória dos homens. Ele
se fez esperar, desejar, amar, adorar por

297
todas as cidades. E não são quatro mil anos de vida humana que Jesus Cristo
passou, antes de nascer, na memória dos homens: são quatro mil anos de
vida divina. Porque o povo judeu, como os povos pagãos, não tinha o olhar
fixo no berço de um homem; Foi um Deus que os gentios pediram do
Oriente pela boca dos sábios, e um Deus foi também o que o povo judeu
pediu de Belém pela boca dos seus profetas. Portanto, antes de nascer, Jesus
Cristo viveu como Deus na memória do povo.
Você dirá, por acaso, que Jesus Cristo não é aquele que viveu na
memória dos homens? Mas provamos que ele é verdadeiramente o Messias
(ver nº 123). Desde o seu nascimento realizou tudo o que os profetas tinham
anunciado sobre o Messias: saiu do povo judeu, da tribo de Judá, da família
de David; Ele nasceu de uma Virgem em Belém, na época anunciada com
muita antecedência...
Além disso, quem mais, além de Jesus Cristo, veio no tempo indicado
pela expectativa universal para apresentar-se aos homens como o Messias, o
desejado das nações? Por que razão, depois do seu nascimento, salvo um
punhado de judeus, a humanidade deixou de esperar por este Messias?...
então é realmente Jesus Cristo quem viveu como Deus na memória dos
homens.
Ora, nascer com um passado de quatro mil anos, nascer depois de ter
vivido na memória do mundo inteiro, nascer esperado, desejado, previsto,
nascer depois de ter sido amado e adorado por todos os povos, é não nascer
como nascem as crianças, os homens, é nascer como Deus.
2º É verdade que Nosso Senhor, para realizar a nossa salvação, quis
nascer num estábulo, ter uma manjedoura como berço; mas o céu
manifestou sua divindade com milagres. Os anjos cantaram o seu
nascimento nas planícies de Belém, uma estrela milagrosa anunciou-o aos
Três Reis Magos. O bebê na manjedoura foi adorado como Deus pelos
Pastores e pelos Reis Magos. Então Jesus Cristo nasceu como Deus.
133. P. _Jesus Cristo falou como Deus?
R. -1º Sim; Jesus Cristo se declara Filho de Deus, igual ao Pai, Deus
Criador, Todo-Poderoso, Eterno. Afirma que é Deus diante dos seus
Apóstolos, diante do povo, na corte de Caifás e na Cruz. Atribui poderes,
direitos e honras divinos.
Ora, se Jesus Cristo se proclama Deus sem o ser, é um tolo ou um
impostor. Mas os maiores inimigos da religião

298
Eles são obrigados a confessar que nunca houve um homem tão sábio e
virtuoso como Ele. Portanto, visto que este homem, incomparável por sua
sabedoria e virtude, afirma que ele é Deus, há nisso uma prova certa de que
ele realmente é. Nenhum homem sensato ousaria dizer que é Deus; Um
Santo nunca cometeria o crime de se tornar igual a Deus.
2º Por outro lado, provamos que Jesus Cristo é, pelo menos, aquele
enviado por Deus para estabelecer a religião cristã; Conseqüentemente, seus
ensinamentos têm em seu crédito a própria autoridade de Deus, que os
confirma com maravilhas.
Agora, Jesus Cristo apresenta a sua divindade como o dogma
fundamental do Cristianismo: ele afirma que é Deus, e Deus permite-lhe
provar a sua afirmação com milagres. Portanto a sua afirmação é verdadeira,
a sua divindade é certa; Caso contrário, o próprio Deus, contra os interesses
da sua glória, teria enganado o mundo, revelando-se uma impostura com
milagres.
Devemos concluir, portanto: Jesus Cristo é Deus.
N. B._Houve alguns loucos, como Nabucodonosor, Nero, Tibério, etc.,
que tentaram ser honrados como semideuses, mas nenhum homem, exceto
Jesus Cristo, jamais ousou proclamar-se o Criador, Todo-Poderoso, Deus
Eterno; Este é um facto singular, sem precedentes na história do mundo.
Esta afirmação de Jesus Cristo em si, abstração feita dos milagres que a
confirmaram, é tão extraordinária na sua forma e nas suas circunstâncias,
que exige a atenção e o estudo de todo espírito sério que queira conhecer a
verdade. Não é, portanto, permitido a ninguém, sob pena de renunciar à sua
razão e comprometer o seu destino eterno, não dar importância a este grande
facto: a afirmação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
1º Jesus Cristo afirma que é Deus diante dos seus
apóstolos.“Um dia, em Cesaréia, ele pergunta aos seus discípulos: _o que
os homens dizem de mim? _Alguns dizem que você é João Batista, outros
que você é Elias ou Jeremias, ou um dos profetas. _E você, o que diz que eu
sou? _Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.”
O que Jesus vai fazer, Aquele que é o Messias enviado por Deus para
ensinar a verdade aos homens? Não se pode errar num assunto tão
importante: seria perfídia. Se ele não é o verdadeiro Filho de Deus, ele deve
declarar isso. Pois bem, Jesus elogia Pedro pelo seu testemunho, diz-lhe:
bem-aventurado és, Simão, filho de João,

299
pois nem carne nem sangue te revelou isso, mas meu Pai Celestial, que está
nos Céus...
E para recompensar o seu Apóstolo pela sua fé viva e provar, ao mesmo
tempo, que tem Onipotência, Jesus o escolhe como fundamento da sua
Igreja e promete-lhe as chaves do Reino dos Céus.
2º Jesus Cristo afirma que é Deus diante do povo.Certo dia,
enquanto ele caminhava pelo Templo, sob o pórtico de Salomão, a multidão
o cercou e lhe disse: “Até quando você quer nos manter em suspense? Se
você é o Cristo, diga isso abertamente. Jesus responde: Já vos disse isto há
muito tempo e não acreditais; Contudo, as obras que faço em nome de meu
Pai dão testemunho de Mim. “Eu e meu Pai somos um.” Ego e Pater unum
sumos.
Aí você tem sua divindade claramente expressa: o Pai e o Filho nada
mais são do que um só Deus, Jesus Cristo, o Filho de Deus, é consubstancial
ao Pai. Exasperados ao verem um homem pobre e sem brilho aparecer diante
deles como o Cristo_Deus, os judeus procuram pedras para apedrejá-lo.
Jesus lhes diz calmamente: “por que vocês querem me apedrejar? Por causa
da sua blasfêmia, porque sendo homem, você finge ser Deus.”
O que Jesus responde? Se realmente não é Deus, este é o momento
oportuno para explicar, para retratar-se. Jesus não se retrata, pelo contrário,
confirma o que acaba de dizer: “Se não faço as obras de meu Pai, não
acrediteis em mim; Mas se eu as fizer, mesmo que vocês não acreditem em
mim, acreditem nas obras para que saibam e acreditem que o Pai está em
mim e eu no Pai”88.
3º Jesus Cristo afirma que é Deus no Tribunal do Sumo
Sacerdote.A afirmação mais solene da sua atividade foi feita por Jesus
perante os Magistrados, no Tribunal de Caifás. O Sumo Sacerdote desafia
Jesus e diz: “Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo,
Filho de Deus.” O Salvador responde: “Tu disseste, eu sou”: tu dixisti, ego
sum. E para confirmar esta afirmação categórica acrescenta: «Deveis ver o
Filho do Homem, sentado à direita de Deus, vindo nas nuvens do céu para
julgar os vivos e os mortos»89.

88Jn. 10, 37-38.

89Mt. 26, 64; Mc. 14, 62.

300
Ao ouvirem essas palavras, Caifás e os membros do Sinédrio rasgaram
as roupas, como se tivessem acabado de ouvir uma blasfêmia, e o
condenaram à morte. Então disseram a Pilatos: “Temos uma lei e, de acordo
com ela, ele deve morrer, porque se tornou Filho de Deus.”90 Então Jesus
Cristo foi condenado porque afirmou ser Deus.
4º Jesus Cristo afirma que é Deus na cruz.Ressuscitado na cruz,
Jesus Cristo também fala como Deus. Ele diz ao bom ladrão: “Hoje você
estará comigo no Paraíso”. Isso não é declarar-se Deus e declarar-se dono do
Reino dos céus?
5º Jesus Cristo atribui a si mesmo poderes, direitos e honras
divinos.É evidente que atribuir a si mesmo as perfeições de Deus, os
poderes, os direitos e as honras divinas, é declarar-se Deus. Bem, é assim
que Jesus procede. A Criação do mundo e a Eternidade são atribuídas. Um
dia, os judeus lhe perguntaram: _Quem é você? _Eu sou, responda, o
princípio de todas as coisas... Abraão, seu Pai, desejou ver o dia da minha
vinda à terra; Ele viu e se alegrou com isso. Por que, respondem os judeus,
você ainda não tem cinquenta anos e viu Abraão? (Este patriarca viveu vinte
séculos antes de Jesus Cristo). Jesus lhes responde: Em verdade, em verdade
vos digo: antes que Abraão existisse, eu sou.
Que palavras! Jesus não diz: eu era, mas sou: antequam Abraham firet,
ego sum. Antes de dizer passado: eu sou diz presente, porque em Deus não
há passado nem futuro, mas apenas presente. Estas palavras trazem à mente
a sublime definição que Deus dá de si mesmo a Moisés: “Eu Sou o que
Sou”. Ego soma qui soma. Jesus manifesta assim: o Ser único, Eterno,
Necessário91.
O poder de Deus também é atribuído; Ele disse aos judeus: “Tudo o que
o Pai faz, o Filho também o faz. Assim como o Pai ressuscita os mortos e
lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem ele deseja. O Pai não
julga ninguém, mas deu o poder de julgar o seu Filho, para que todos
honrassem o Filho como honram o Pai”, etc.92. Ele atribui a si mesmo o
poder de perdoar os pecados, exerce-o em seu próprio nome com o
paralítico, com Madalena, etc., e comunica esse poder aos seus Apóstolos...
Jesus Cristo reivindica para si o culto divino: um culto de fé, de
esperança, de caridade, de adoração. "Você acredita em Deus, então

90Jn. 19, 7.

91Jn. 8, 56-58.

92Jn. 5, 21-22.

301
bem, acredite também em mim”93. “Tenha confiança, eu venci o
mundo…” “Se você me pedir alguma coisa, eu farei.” Ele exige amor
supremo para si mesmo: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a Mim
não é digno de Mim”94. Ao proclamar o preceito: “Adorarás o Senhor teu
Deus e só a Ele servirás”, ele se deixa adorar pelo cego de nascença, pelas
santas mulheres, pelos seus discípulos.
Poderiam ser citados um grande número de testemunhos de Jesus tão
claros e conclusivos quanto os anteriores. Ele revela sua divindade com suas
palavras, como o sol revela sua clareza com seus raios. A mera leitura do
Evangelho gera no espírito de cada homem sincero a convicção de que Jesus
se proclamava Deus, um só Deus com o Pai. São João escreveu o seu
Evangelho com o propósito especial de provar a divindade de Cristo. Assim
o anuncia desde o início e no final do seu livro: “No princípio era o Verbo, e
o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com
Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele e sem Ele nada do que foi feito se
fez... e o Verbo se fez carne e habitou entre nós”95.
O final não é menos explícito: “E Jesus também realizou muitos outros
milagres na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome e pelos seus
méritos96.

Jesus Cristo afirma que é Deus: portanto é Deus.


PRIMEIRO TESTE. _Jesus afirma que é Deus, bom, aqui o raciocínio é
muito simples: Jesus diz a verdade ou não: não existe meio-termo.
1º Se ele fala a verdade, ele é o que diz ser, ele é Deus. Ele é o Filho
Eterno do Deus Vivo: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu
Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna”97. Assim, todas as suas palavras, suas ações, seus milagres,
seus triunfos são facilmente explicados; nada é impossível para Deus.

93Jn. 14, 1.

94Mt. 10, 37.

95Jn. 1, 1ss.

96Jn. 20, 30-31.

97Jn. 3, 16.

302
2º Se Jesus não fala a verdade é uma blasfêmia difícil de escrever,
mesmo que seja para confundi-lo_um louco ou um impostor.
Um louco, se acredita erroneamente no que afirma; um impostor, se
mentir conscientemente.
Mas ninguém ousa dizer que Jesus Cristo, o Sábio por excelência, é um
louco, um iludido, capaz de se enganar sobre a sua própria natureza; Nem
ninguém se atreve a dizer que Jesus Cristo, o mais santo dos homens, é um
impostor culpado de se apropriar das honras divinas e de eternizar a idolatria
que veio destruir. Portanto Jesus Cristo é verdadeiramente Deus. Além
disso, Ele prova isso com Suas obras.
1º É impossível admitir a hipótese de loucura em Nosso Senhor Jesus
Cristo: um louco não ensina constantemente a Sabedoria, e Jesus Cristo a
ensina em todas as suas palavras. Um louco não pratica constantemente a
Sabedoria, e Jesus Cristo a pratica em todas as suas ações. Um louco não
estabelece um Código de Leis, o mais completo e mais sábio de todos os
Códigos, adaptável a todas as pessoas, a todas as situações, e Jesus Cristo
tem escrito o Evangelho, que pode substituir todas as leis e é suficiente para
fazer nós felizes.
2º Também não é possível admitir a hipótese de impostura: um impostor
não observa ao longo de sua vida um comportamento de santidade, de
abnegação, de esquecimento de si; e Jesus Cristo não negou nem por um
momento esse comportamento, que faz Dele o homem mais santo do
mundo. Fora disso, as pessoas mentem por interesse.
E o que Jesus Cristo poderia esperar dessa mentira senão uma morte
terrível? De todas as imposturas, chamar-se Deus seria a mais louca, porque
o engano é o mais óbvio.
A conclusão é imposta como a de um teorema. Jesus Cristo proclamou-
se Deus: não mentiu, então acreditou ser Deus; Ele não era louco, portanto,
era Deus, verdadeiramente Deus e homem ao mesmo tempo. Ninguém pode
fugir a esta conclusão.
Segundo teste.Deus dá aos seus enviados, aos seus embaixadores
junto aos homens, como sinal da sua missão, o poder de realizar milagres e
profecias. Jesus Cristo recebeu esse poder; Ele foi, portanto, pelo menos, um
mensageiro de Deus para instruir os homens e ensinar-lhes a verdade.
Mas Jesus Cristo se autodenomina Deus, se declara Deus no sentido
estrito da palavra; então, ou ele é realmente Deus, ou Deus, permitindo-lhe
provar sua divindade com milagres, torna-se cúmplice do

303
mais culpado de impostores. Mas é impossível que Deus permita que os seus
mensageiros enganem os homens, provando as suas mentiras ou erros com
milagres: portanto, Jesus Cristo, enviado por Deus, não poderia falar ou agir
de uma forma que provasse que ele era Deus, se é que certamente o era. não.
“Não há Deus no céu”, disse o grande Napoleão, “se um homem foi
capaz de conceber e executar com sucesso o gigantesco desígnio de ser
adorado na terra usurpando o nome de Deus: só Jesus ousou dizer: eu sou
Deus.” . Portanto, é realmente Deus.”
134. _Jesus Cristo agiu como Deus?
R. _Sim; Jesus Cristo agiu como Deus, porque fez obras divinas. O
homem é dono de um triplo poder: a força externa para agir, a inteligência
para saber, a vontade de fazer o bem. A sua atividade estende-se à ordem
física, intelectual e moral. Nestas três ordens, Jesus Cristo realizou obras que
superam todas as forças criadas:
1º Na ordem física, Jesus Cristo realiza, em seu próprio nome,
numerosos milagres.
2º Na ordem intelectual, manifesta uma ciência divina, seja pela
sublimidade de sua doutrina, seja pela clareza de suas profecias.
3º Na ordem moral, vive numa santidade infinitamente superior a toda
perfeição humana e pratica virtudes naturalmente inacessíveis ao homem.
Assim, só Deus pode fazer obras divinas; então Cristo agiu como Deus;
então é Deus.
1. OS MILAGRES DE JESUS CRISTO PROVAM QUE ELE É DEUS
Já provamos que Jesus Cristo realizou numerosos milagres perfeitamente
comprovados (ver nº 124). Estes milagres não só provam a sua missão
divina, mas também provam que ele é Deus, porque ele os fez em seu
próprio nome como Filho de Deus, e os deu como prova da sua divindade.
Ele disse aos judeus: “Se vocês não querem acreditar nas minhas palavras,
acreditem nas minhas obras”.
Certamente, antes de Jesus Cristo, Moisés e os Profetas, como depois de
Jesus Cristo, os Apóstolos e Santos, receberam o poder de realizar milagres:
mas todos esses milagreiros não tiveram nada mais do que poder
emprestado: eles nada mais foram do que delegados de Deus, seus ministros;
Eles agiram apenas em nome de Deus.

304
Só Jesus Cristo atua como Senhor: exerce uma ação divina e ilimitada
sobre toda a natureza. Ele governa como soberano e em seu próprio nome.
Diz ao leproso: “Quero que ele fique limpo”; ao paralítico: “Levante-se,
pegue a sua cama e ande”; ao cego de Jericó: “Vai, a tua fé te salvou”; ao
centurião: “Vai, o teu servo está com saúde”; ao filho da viúva de Naim:
“Jovem, eu te ordeno: levante-se”. Ele pode fazer tudo o que quiser. Este
não é certamente um poder delegado, um poder emprestado.
Mais ainda: Jesus comunica aos seus Apóstolos e aos seus discípulos o
poder de realizar milagres em seu nome e pelo seu próprio poder: “Em
verdade vos digo que quem crê em mim também as fará, e obras maiores. do
que estes.” o que estes farão”98. “Aqueles que acreditaram em mim, diz
outro lugar, expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas... e,
impondo as mãos sobre os enfermos, os curarão”99. E de facto, os
Apóstolos, em nome de Jesus, realizaram uma multidão de milagres.
Finalmente, o milagre é um fato divino. Sendo um facto divino, prova
que Deus colocou o seu poder à disposição de quem o faz, e prova, por isso
mesmo, que quem o faz não é um impostor; Se Jesus, que se
autodenominava Deus, não o fosse, teríamos que chegar a esta conclusão:
que Deus, dando-lhe o poder de realizar milagres, protegeu um falso profeta
e provou uma mentira. Mas como é impossível a Deus, a Verdade por
essência, enganar os homens desta forma, segue-se que Jesus Cristo, que se
chama Deus e que faz milagres para provar isso, é realmente Deus: este é o
Deus-Homem, o Emanuel desejado por todas as cidades.
2. JESUS CRISTO AGE COMO DEUS NA ORDEM INTELECTUAL
a) Ele prova que é Deus com a doutrina que
ensina.Demonstramos (ver nº 131) a excelência da doutrina de Cristo e
provamos que ela não poderia vir senão de Deus. A maneira como Jesus
Cristo ensina isso também mostra que Ele é Deus.
Jesus ensina isso em seu próprio nome. Ele está colocado entre os
Doutores, os Legisladores, os Profetas; ensina como Deus. Ele diz: “Eu sou
o Caminho, a Verdade e a Vida. "Quem me segue não anda nas trevas."
“Ele não diz como os moralistas: vou mostrar-vos o caminho, mas diz:
eu sou o caminho. Não como os sábios: vou te ensinar o

98Jn. 14, 12.

99Mc. 14, 17-18.

305
verdade, mas diz: a verdade sou eu. Ele não afirma como os legisladores e os
profetas: encontrareis vida nas minhas leis ou nas minhas relações, mas diz:
Eu sou a vida. Não é um caminho, mas o único Caminho de salvação; Não é
uma verdade, mas toda a Verdade; Não é uma vida que passa, mas a Vida
que dura para sempre. Os judeus tinham razão ao dizer: “Nenhum homem
jamais falou sobre este”100.
A ciência de Jesus Cristo não se parece em nada com a ciência do
homem ou com a ciência dos Profetas. Ele fala da Trindade como qualquer
outro falaria de sua própria família; do Paraíso como da própria casa. Sua
ciência não é erudita nem inspirada, pois nela não se encontram nem o
esforço pessoal nem os transportes causados pela iluminação celestial. É
evidente que a sua ciência é fruto natural do seu pensamento; a verdade lhe é
familiar; É visível que Ele nasceu em meio aos segredos que revela. Isto
explica porque o espírito que se cansa das obras-primas dos homens
encontra sempre prazer na leitura do Evangelho. Diante da majestade do
Evangelho, como antes da criação, o espírito reconhece o divino.
Jesus é, ao mesmo tempo, o Médico mais elevado e mais humilde: sabe
cativar as crianças, as mulheres pobres da cidade, assim como os médicos de
Israel. Quando ele ensina, todos os homens o reconhecem como seu Mestre.
E a Palavra de Jesus permanece sempre a Luz do mundo: “O céu e a terra
passarão, mas as Minhas palavras não passarão”. Só Deus feito homem, e
dirigindo-se aos homens, pode falar desta forma.
“Creio em Cristo porque ele trouxe à terra a Doutrina mais santa, mais
fecunda e mais divina que já brilhou na inteligência humana. Tal doutrina
celestial não pode ser resultado de erros e mentiras. Cristo o disse, como diz
a razão: as doutrinas são conhecidas pela sua moral; como a árvore pelos
seus frutos; Os frutos do Cristianismo são infinitos, perfeitos e divinos;
portanto, a própria doutrina é divina; portanto o autor é uma Palavra divina,
como ele se autodenomina. Veja por que sou cristão; essa é toda a minha
controvérsia religiosa” (Lamartine).
b) Jesus Cristo prova que ele é Deus por meio de suas
profecias.Deus deixa-nos a ciência do passado, a ciência do presente, mas
reserva para si a ciência do futuro. O futuro não pertence a nenhum homem,
o futuro pertence a Deus. A profecia é a ciência do futuro:

100 seg. Besson, O Homem Deus.

306
Portanto, somente Deus é o começo e a fonte de toda profecia. Os profetas
anunciaram o futuro, mas não em seu próprio nome ou através do seu
próprio conhecimento.
Jesus Cristo fez um grande número de profecias em seu próprio nome e
com base em seu próprio conhecimento (ver nº 126). Ao contrário dos
outros profetas, ele nunca usa a fórmula bíblica: “O Senhor disse”. E ele não
apenas fala em seu próprio nome, mas promete cumprir as profecias que ele
mesmo anuncia.
Ele prometeu ressuscitar após sua morte, ascender ao céu e enviar o
Espírito Santo à sua Igreja.
Prometeu que, uma vez ressuscitado da terra, isto é, crucificado, atrairia
tudo para si, homens e povos.
Ele prometeu que o seu Evangelho seria pregado ao mundo inteiro e que
a sua Igreja, fundada em Pedro, subsistiria sempre, apesar das heresias,
cismas e perseguições de todos os tipos.
Estas promessas ele cumpriu, porque a ressurreição de Jesus Cristo, a sua
ascensão, a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, a conversão do
mundo ao Evangelho, a instituição e a duração da sua Igreja, apesar dos
obstáculos humanamente intransponíveis, são absolutamente fatos
históricos, verdade.
Assim, é responsabilidade exclusiva de Deus fazer tais promessas e,
acima de tudo, cumpri-las. Portanto Jesus Cristo é Deus.
3. A SANTIDADE DE JESUS CRISTO PROVA QUE ELE É DEUS
A santidade consiste no cumprimento de todos os deveres para com
Deus, para com o próximo, para consigo mesmo e, em particular, com todas
as virtudes. Renunciar a si mesmo, consagrar-se à glória de Deus e ao bem
do próximo, expandir o coração com a caridade para com todos os homens:
tais são as três características da santidade heróica. Pois bem, nestes três
aspectos, a santidade de Jesus Cristo é de uma perfeição incomparável e
impecável.
Apresentou-se ao mundo como modelo perfeito e universal: modelo de
todos os homens, modelo de todas as virtudes. A humanidade não produziu
nenhum santo cuja beleza moral não desapareça na presença da santidade de
Jesus Cristo. Ele foi o único no mundo que soube dizer aos seus inimigos,
sem medo de ser negado: “Qual de vocês pode me convencer do pecado?”
De Jesus não se diz: é um santo, mas sim: é o santo dos santos.

307
E, no entanto, Cristo não tem nada de extravagante em sua virtude, nem
mesmo um excesso de perfeição. Se for colocado ao lado dos santos
formados em sua escola, o adorável modelo assusta menos que seus
discípulos. A sua santidade exige antes a nossa imitação, o que gera
desconfiança em poder tomá-la como modelo. Se a natureza divina se
manifesta na sublimidade das suas perfeições, a natureza humana se
manifesta na verdade das suas emoções legítimas. Era necessário um Deus
para revelar uma moralidade divina ao mundo, era necessário também um
Deus para oferecer o exemplo perfeito dela.
A incomparável santidade de Jesus Cristo é a única santidade fecunda e
criativa, isto é, a única que produziu imitadores na terra. “Nenhum homem
sábio, diz Voltaire, teve a menor influência nos costumes da rua em que
viveu, e Jesus Cristo influenciou o mundo inteiro.”
Jesus pronuncia algumas palavras e faz surgir do seio da humanidade
novidades tão surpreendentes quanto a fecundação do nada. Assim como no
início cada palavra do Verbo criador chamou à existência os mundos, assim
também cada palavra do Verbo Redentor é um decreto Todo-Poderoso que
suscita prodígios ainda maiores.
Jesus diz: “Vende tudo o que tens e dá-o aos pobres…”, e com estas
palavras semeia inúmeros religiosos para o futuro. O Mestre acrescenta:
“Não temas os que matam o corpo…”; e milhões de mártires nascem no
calor destas palavras. O Mestre continua: “Ame o próximo... tudo o que
você fizer ao menor destes pequeninos, você faz a mim...”, e uma multidão
de heróis da caridade cristã foi gerada com estas palavras divinas.
Certamente foi lindo quando os mundos, obedientes à voz do Criador,
surgiram do nada e tomaram seus lugares em suas respectivas órbitas. Mas
não foi menos solene o momento em que as virtudes cristãs, brotadas no
calor de uma palavra divina, surgiram na terra até então estéril e infértil.
Embora a criação material tenha durado apenas seis dias, a criação espiritual
é incessante. Quando chegar a hora da destruição para o primeiro, o
segundo, composto de todas as virtudes dos Santos, brilhará com esplendor
divino no firmamento da Eternidade101.

101Extrato do Padre Causette, O bom senso da fé.

308
O que devemos deduzir? que a santidade de Jesus Cristo é uma santidade
divina, a santidade do Deus_Homem. Os próprios ímpios entenderam isso.
JJ Rousseau disse: “Se a vida e a morte de Sócrates são as de um homem, a
vida e a morte de Jesus Cristo são as de um Deus”. Somente a verdade clara
e evidente pode extrair tais palavras da boca de um incrédulo.
Conclusão.Jesus Cristo agiu como Deus. O poder infinito aparece em
seus milagres.
A ciência infinita caracteriza sua doutrina e suas profecias.
Uma santidade divina brilha durante toda a sua vida. Portanto Jesus
Cristo é Deus.
Jesus Cristo é Deus, porque fere os sentidos com o brilho dos seus
milagres: é o milagreiro dos milagreiros.
Jesus Cristo é Deus, porque penetra nos espíritos com a profundidade
infinita da sua doutrina: é o médico dos médicos.
Jesus Cristo é Deus, porque conhece e revela o futuro com uma certeza e
uma clareza que não são típicas dos homens: é o profeta dos profetas.
Jesus Cristo é Deus, porque comove os corações com a santidade infinita
da sua vida: é o santo dos santos.
135. P. _Jesus Cristo morreu como Deus?
R. _Sim; Jesus Cristo morreu como Deus, porque só ele dominou a
morte, que domina todas as criaturas. Ele morreu porque quis morrer,
quando quis e como quis.
Além disso, os numerosos milagres que foram realizados no momento
em que ele deu seu último suspiro testificam que a morte de Jesus Cristo é a
morte de um Deus. Ao vê-los, o centurião romano exclamou: “Este era
verdadeiramente o filho de Deus!”
Se Jesus Cristo permite que a morte o fira, é para expiar mais
completamente o pecado do homem; Com a sua morte na cruz ele realiza a
Redenção do mundo.
Ele quis morrer na cruz, para nos provar o seu excesso de amor por nós e
para nos fazer compreender melhor a tragédia do pecado mortal.
1º Jesus Cristo morreu porque quis morrer.“O homem, depois
do pecado original, está destinado a morrer: não pode escapar dessa
sentença. Mas Jesus morre porque quer morrer: “Ninguém tira a minha vida;
Deixo-o livremente; Eu tenho o poder de deixá-la e

309
pegue de novo”102. Senhor da morte, Jesus fala dela com toda a
tranquilidade, como de uma circunstância da sua vida, desejada e prevista:
“Eis que subimos para Jerusalém, onde o Filho do Homem será entregue aos
principais sacerdotes para ser crucificado” 103.
2º Jesus Cristo morreu quando quis morrer.Ele marca o tempo.
Mais de uma vez, os judeus conspiraram a sua morte e, apesar da sua
vontade, não ousaram deitar-lhe as mãos, «porque a sua hora ainda não tinha
chegado»104. Quando chegou a Hora, Jesus Cristo indicou-a: “Esta é a tua
hora e a hora do poder das trevas”105.
3º Jesus Cristo morreu como quis morrer.Ele nomeia seus
algozes com antecedência. Descubra o traidor que deve entregá-lo. Indica o
tipo de morte com todas as circunstâncias da sua paixão. Se Jesus Cristo não
tivesse escolhido livremente esta morte infame e prevista, poderia
facilmente escapar dela.
4ºFinalmente, a morte de nosso Senhor é acompanhada de milagres que
não ocorrem quando um homem morre. O véu do Templo rasga-se, a terra
treme, as rochas fendem-se, os mortos levantam-se, o sol escurece e as
trevas cobrem toda a terra: tudo mostra que o universo está de luto pela
morte do Deus-Homem.
Diante deste prodígio, o sábio Dionísio Areopagita exclamou: “Ou o
autor da natureza sofre, ou a máquina do mundo perece.” Este fenômeno
sobrenatural foi registrado nos arquivos públicos do Império Romano.
Tertuliano, 160 anos depois, invocou o seu Precioso Testemunho, e o Mártir
Luciano disse aos imperadores: “Sim, acredito na divindade de Jesus Cristo,
e vós deveis acreditar também, segundo os vossos próprios anais. Abra-os e
descobrirá que no tempo de Pilatos, quando Cristo sofreu ao meio-dia, as
trevas expulsaram a luz” (Mons. Besson).
136. P. -Jesus Cristo ressuscitou como Deus?

102Jn. 10.

103Mt. vinte.

104Jn. 8, 20.

105Lc. 22, 53.

310
R. _Sim; Jesus Cristo ressuscitou como Deus, porque ressuscitou por sua
própria virtude. Um homem é impotente para ressuscitar outro, e ainda mais
para ressuscitar a si mesmo; só Deus pode dar vida.
Assim, Jesus Cristo voltou a dar-se vida pelo seu próprio poder, como
ele mesmo afirma: “Tenho o poder de me dar vida novamente106.
Além disso, ele previu mais de uma vez sua ressurreição, dando-a como
prova de sua divindade. Portanto Jesus Cristo é Deus, já que ressuscitou a si
mesmo.
Já provamos anteriormente (n. 125) que o fato da ressurreição de Jesus
Cristo é de certeza incontestável. Resta-nos demonstrar que o milagre da
ressurreição prova de forma invencível a divindade de Jesus Cristo; Os dois
fatos a seguir estabelecem esta prova:
1º Jesus Cristo anunciou claramente a sua ressurreição aos
judeus, para provar que Ele era Deus.
2º A crença na ressurreição de Jesus Cristo é o que mais contribuiu para
o estabelecimento e difusão do Cristianismo. Os primeiros cristãos
chamavam à ressurreição: o testemunho, isto é, a garantia por excelência da
divindade de Jesus e da sua religião.
1ºJesus Cristo anuncia a sua ressurreição em prova da sua
divindade.Os escribas e os fariseus disseram um dia a Jesus: “Mestre,
gostaríamos de ver-te fazer um milagre, para saber se és realmente o
Messias anunciado pelos Profetas. Jesus respondeu-lhes: esta geração má e
adúltera pede um sinal; mas não lhe será dado, exceto o do profeta Jonas.
Pois assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia,
assim estará o Filho do Homem três dias e três noites no seio da terra”107.
Ou seja, assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia e
saiu vivo, assim eu estarei três dias e três noites no coração da terra e sairei
vivo.
Em outra ocasião, os judeus também disseram a Jesus: “Que sinal você
nos mostra para nos provar que tem o direito de fazer o que faz? Destruam
este templo, disse Jesus falando de seu corpo, e em

106Jn. 10, 18.

107Mt. 12, 39-40.

311
três dias vou reconstruí-lo”108. De fato, quando o Salvador ressuscitou,
seus discípulos lembraram-se do que ele havia predito sobre sua
permanência no túmulo e acreditaram nele. Jesus Cristo, então, escolheu o
milagre de sua ressurreição para testemunhar que ele era o Filho de Deus. , e
Deus como seu Pai. Só um Deus pode dizer como Ele: “Tenho o poder de
dar a vida e retomá-la”109.
2º O milagre da ressurreição serviu mais do que qualquer
outro para o estabelecimento do Cristianismo.Quando os Apóstolos
tentaram encontrar um substituto para o traidor Judas que tirou a própria
vida, São Pedro, inspirado pelo Espírito Santo, anunciou que a escolha
deveria recair sobre uma das testemunhas da ressurreição de Jesus. Esta
condição mostra claramente a ligação entre o apostolado e a ressurreição de
Cristo: de facto, desde o dia de Pentecostes o ministério apostólico consiste,
sobretudo, na pregação de Cristo ressuscitado, isto é, Cristo Deus, fundador
da única religião verdadeira, a religião cristã.
Não há dúvida de que os Apóstolos pregaram o Cristianismo e que uma
multidão de gentios e judeus abraçou esta religião. Mas
É concebível que os apóstolos pregassem a doutrina de Jesus Cristo se ele
não tivesse ressuscitado, se nada pudesse fazer a favor deles? Que benefício
poderia lhes trazer tal pregação?
Por que judeus e gentios se submeteriam à adoração de um homem
morto? Por que converter-se a uma religião tão austera e difícil? Se não
fosse pela ressurreição de Jesus Cristo, estes dois acontecimentos
permaneceriam inexplicáveis. O que os explica é que Jesus Cristo está vivo,
ressuscitou; então é Deus.
137. P. _Jesus Cristo reina como Deus?
R. _Sim; Mesmo após a sua morte, Jesus Cristo reina como Deus sobre
as inteligências, os corações e as almas:
1º Ele reina sobre as inteligências pela fé dos seus discípulos nos
mistérios revelados, apesar da oposição da razão, inclinada a acreditar
apenas naquilo que entende: o cristão acredita nestas verdades, não pelas
suas evidências, mas porque a palavra de Jesus Cristo .
2º Reina sobre os corações pelo amor soberano que inspira. Um homem
só pode ser amado por algumas pessoas e durante sua vida. Jesus Cristo, ao
contrário, ainda se faz amado

108Jn. 2, 39.

109Jn. 10, 18.

312
dezenove séculos após sua morte e por milhões e milhões de pessoas, que
fazem os mais heróicos sacrifícios em sua dádiva.
3º Ele reina sobre as almas pela adoração que lhe prestam. O culto é um
tributo reservado apenas a Deus: o homem em sã consciência não pode
reivindicá-lo, e Deus não pode dividi-lo com ninguém, sem negar a si
mesmo. Mas Jesus Cristo tem sido adorado em todo o mundo há dezenove
séculos; então ele reina verdadeiramente como Deus; então é Deus.
“Aquele que conseguiu fazer com que o mundo corrupto de Roma ou
Atenas adorasse uma cruz, que, juramos, só pode ser um Deus”
(Chateaubriand).
1º Jesus Cristo reina sobre as inteligências.Dobre sua
inteligência à palavra de quem fala, não porque essa palavra seja evidente,
mas, e somente, porque é Sua palavra e vem Dele; Fazê-los aceitar os
mistérios sem lhes permitir a menor dúvida, não é reinar como Deus sobre
as inteligências? Pois esta é precisamente a autoridade que Jesus Cristo
possui sobre a inteligência humana. Jesus Cristo o disse: bastam estas
palavras para que sejam aceitos os dogmas mais incompreensíveis, os
preceitos morais mais duros para a natureza corrompida.
Durante dezenove séculos, Jesus Cristo dirigiu os espíritos com
autoridade absoluta através das luzes da fé. A doutrina cristã tem recebido
homenagens dos maiores gênios, daqueles que mais honraram a ciência, a
filosofia e a literatura. A fé em Cristo e nos seus mistérios é a fé de Dante e
Tasso, de Corneille e Racine; É a fé de Santo Agostinho e de São Tomás de
Aquino, de Bossuet e Fenelón, de Descartes e Malebranche; É a fé de
Galileu, Euler, Pascal e Bacon, Copérnico e Newton; É a fé dos homens
superiores de todas as épocas. Durante dezenove séculos, mais de vinte
bilhões de homens, os mais esclarecidos, os mais civilizados de todos,
disseram a Jesus: “Cremos em Ti e na Tua Palavra…” Se isso não é divino,
não há nada de divino na terra.
2º Jesus Cristo reina sobre os corações através do
amor.Reinar sobre os corações é fazer-se amar; Reinar como Deus sobre os
corações é ser amado acima de todas as coisas. Porque apoderar-se deste
tipo de corações, dominá-los, uni-los até ao sacrifício, até ao martírio, só
pode ser obra de Deus.

313
Pois bem, Jesus Cristo exerce uma influência nos corações: 1ª, imensa
em sua extensão; 2º, imortal pela sua duração; 3º, de profundidade
incomparável.
a) O amor por um homem não ultrapassa os limites da sua família, de
um pequeno número de amigos e, quando muito, de um povo, de uma
Nação: Jesus Cristo reinou sobre bilhões de corações e ainda reina sobre
mais de trezentos milhões …homens: existe alguma idade, alguma condição
que poderia ter sido abstraída do império que Jesus Cristo exerce sobre os
corações?
b) Nenhum homem consegue fazer-se amado depois da morte, no
máximo, além de uma ou duas gerações. Houve muitos grandes homens na
terra: enquanto viveram, foram amados, foram lisonjeados; Agora que estão
mortos não há ninguém que pense neles ou os ame. Alexandre, César,
Napoleão, etc.
Você tem muitos fiéis que vão lhe dizer: eu te amo, quero viver, sofrer e, se
for preciso, morrer por você...? Não, a propósito. Os mortos são logo
esquecidos. E, no entanto, um homem que nasceu numa manjedoura, que
viveu trinta anos numa carpintaria, que terminou os seus dias num cadafalso,
um homem que morreu há dezanove séculos, recebe todas estas
homenagens. O amor que ele inspirou não perdeu nada de sua força e
energia. Aqueles que o conheceram morreram por seu amor; Aqueles que
não O conheceram ainda morrem por amor a Ele. Centenas de milhões e
milhões de homens dizem a este morto: “Nós te amamos!” Quando um
homem ou um povo fecha o seu coração a Jesus Cristo; outros se abrem ao
seu amor; O que uma época tira, a próxima devolve cem vezes mais: o amor
de Jesus Cristo atravessou os séculos, sempre imortal, sempre florescente.
c) Como você pode medir a profundidade do amor? Obviamente, pelo
seu efeito, pela força da sua adesão, pela grandeza do seu sacrifício. Pois
bem, milhões de milhões de homens amaram Jesus Cristo ao ponto de
sacrificar os seus bens, a sua família, a sua vida. Basta olhar para a história
do cristianismo: quantos homens, depois de São Pedro; Lançaram este grito
de amor que se sacrifica sem reservas!: “Deixamos tudo para te seguir!” Há
quase trinta milhões de mártires, e
Quantos santos anacoretas, quantas freiras, quantas virgens, quantos
homens, finalmente, fizeram, e ainda fazem hoje, os sacrifícios mais
heróicos por amor de Jesus Cristo!

314
Esta é uma das provas da divindade de Jesus Cristo que mais
impressionou Napoleão, cativo em Santa Helena. "Jesus Cristo,
-diz- por um prodígio que supera todos os prodígios, exige o amor dos
homens, ou seja, o que é mais difícil de obter, o que um sábio pede em vão a
alguns amigos, um pai aos filhos, uma esposa aos seus marido, numa
palavra, o coração; Ele o reivindica absolutamente e o alcança... Ele subjuga
a humanidade por um amor imenso, imortal, todo-poderoso... Daí deduzo
que ele é Deus”.
Como explicar este estranho fenômeno de um pobre crucificado que
reina sobre milhões de corações, enquanto homens como Alexandre, César e
Napoleão são esquecidos?... Acontece que eles nada mais eram do que
homens e Jesus Cristo é Deus. Essa é a explicação; Não vamos procurar
outro.
3º Jesus Cristo reina como Deus sobre as almas.Acreditar na
sua palavra é muito; ser amado é ainda mais; Ser adorado é o cúmulo da
soberania, pois o culto é uma homenagem reservada apenas a Deus. Pois
bem, Jesus Cristo tem sido adorado há dezenove séculos, e ainda é adorado,
pelo menos, por quinhentos milhões de homens, por todos aqueles que se
dizem cristãos.
Se Jesus Cristo não é Deus, ele nada mais é do que um judeu crucificado,
condenado à morte; e então a religião cristã é uma impiedade, e o mundo
inteiro viveu até agora numa idolatria grosseira... Mas como então explicar
que o heroísmo da humanidade, da caridade, da castidade provém desta
impiedade? Como explicar que um crime tão enorme como a adoração de
um crucificado tenha gerado dezenove séculos de fé, abnegação, honra,
generosidade, civilização, progresso, perfeição moral?... Isto é naturalmente
impossível e, no entanto, é impossível. existe; então é divino.
Por outro lado, se Deus tivesse conseguido fazer surgir um mundo de
virtudes desta idolatria colossal, já não seria possível pronunciar o nome do
próprio Deus. A frase de Napoleão é exata: “Não há Deus no céu se um
homem foi capaz de executar o desígnio de usurpar sua autoridade e sua
adoração em toda a terra”.
138. P. - Jesus Cristo sobrevive como Deus?
R. -Sim, Jesus Cristo sobrevive como Deus no seu Evangelho e na sua
Igreja.

315
1º O Evangelho é a palavra sempre viva, sempre presente, sempre eficaz
do Deus-Homem. A leitura do Evangelho opera maravilhas de santidade nos
corações sinceros que não podem emanar senão de Deus.
2º A Igreja, com a sua difusão admirável, a sua santidade eminente, a sua
fecundidade inesgotável para tudo o que é bom, a sua unidade católica e a
sua estabilidade imutável, apresenta ao mundo sinais manifestos de uma
obra divina: assim, Jesus Cristo é o fundador da Igreja; então é Deus.
Mas a Igreja é a manifestação sempre viva, a encarnação prolongada de
Jesus Cristo, cuja obra continua através dos séculos: então Jesus Cristo
sobrevive como Deus na sua Igreja, que é o testemunho perene da sua
divindade.
É evidente que é a Igreja Católica; É a única sociedade cristã que
remonta de século em século, sem alteração, a Jesus Cristo e aos seus
Apóstolos. Ela é aquela que foi fundada e propagada por todo o universo,
apesar das dificuldades humanamente intransponíveis; Ela é aquela que foi
selada com o sangue dos Mártires; aquele que transformou o mundo com a
prática das virtudes cristãs. Ela é a única em que se perpetuam os prodígios
dos santos e dos milagreiros; Só ela converte e civiliza os povos bárbaros.
Portanto, somente Ela tem o direito de invocar, como prova de Sua
divindade, os atos divinos, milagres e profecias do Antigo e do Novo
Testamento.
1º A Igreja Católica é divina.O estabelecimento e a perpetuidade da
Igreja provam claramente a divindade de Jesus Cristo. Ordenou aos seus
Apóstolos que fossem em seu nome ensinar a todos os povos uma doutrina
surpreendente pelos seus mistérios, uma moral contrária a todas as paixões,
exigir a obediência à sua autoridade e a utilização dos meios por ele
estabelecidos para alcançar a salvação eterna: Ele profetizou-lhes
perseguições incalculáveis, mas também lhes prometeu o Espírito Santo e
que, através da sua ajuda, triunfariam sobre todas as dificuldades e que a sua
obra permaneceria sempre de pé, apesar do inferno. Ele estará com eles até o
fim dos tempos.
Jesus morreu na cruz; Na opinião dos seus inimigos, a ignomínia daquela
tortura deveria aniquilar para sempre os projetos do Salvador; mas, pelo
contrário, essa mesma Cruz torna-se símbolo de triunfo. Sem mais ciência
que a de Jesus crucificado, sem mais apoio que a virtude da Cruz, apesar do
poder dos Césares e dos

316
sofismas dos filósofos, apesar da corrupção da sociedade e da austeridade
das leis cristãs, doze judeus desconhecidos dirigem-se aos poderosos, aos
ricos, aos filósofos, para lhes impor o culto a um homem crucificado, a
crença em mistérios incompreensíveis e a prática de práticas sobre-humanas
virtudes; projeto tolo, se não vier de Deus.
A) O triunfo dos pescadores da Galiléia é bem conhecido. O
Cristianismo é pregado pelos ignorantes e acreditado pelos sábios. A Igreja,
apesar da fragilidade dos meios e da magnitude dos obstáculos, espalha-se
rapidamente pelo mundo. Sucesso semelhante seria impossível sem a
intervenção de Deus (ver nº 127).
B) A fecundidade da Igreja manifesta-se imediatamente pelos seus frutos
divinos. Arranca as pessoas da idolatria, transforma os costumes, infunde o
espírito cristão na família e na sociedade civil e levanta uma nova
civilização no mundo. Esta imensa transformação não poderia ser realizada
sem a ajuda de Deus (ver nº 129).
C) Depois de dezenove séculos, a Igreja permanece firme e imutável,
preservando uma juventude imortal no meio da fraqueza das instituições
humanas, as ruínas se acumulam ao seu redor, os séculos passam, as
tempestades políticas desarraigam os grandes impérios: a Igreja permanece
sempre de pé. O homem luta contra isso há muitos séculos, mas a Igreja
sempre vive. Apesar dos poderes infernais unidos contra a Igreja, ela
continua o seu trabalho civilizador. Assim se cumpre a profecia de David:
“O império de Cristo se estenderá a todas as gerações... ele reinará de um
mar a outro... todos os reis da terra o adorarão e todas as gerações lhe
estarão sujeitas. ”110.
D) Todas essas maravilhas são facilmente explicadas se Cristo for Deus.
Mas se for apenas um homem, não há explicação possível para os triunfos
da Igreja, para a sua maravilhosa fecundidade para tudo o que é bom, para a
sua estabilidade imutável ou para a sua duração imortal. Chame tudo o que
muda, tudo o que cai, tudo o que desaparece no abismo do tempo, de obras
do homem; Mas tudo o que vive, tudo o que cresce através das tempestades
dos séculos, tudo o que nunca envelhece nem morre, não pode ser obra do
homem: é obra de Deus.

110 Sal. 71.

317
O Concílio Vaticano I tem razão quando diz: “A Igreja, por si só, com a
sua propagação admirável, a sua santidade eminente e a sua fecundidade
inesgotável para tudo o que é bom, com uma unidade católica e a sua
estabilidade imutável, é um grande motivo de credibilidade : “A Igreja traz
consigo o testemunho irrefutável da sua missão divina.”
O ato quintessencial do poder divino é a Criação. Ao contemplar a
majestade da natureza, a harmonia do universo, a fecundidade da vida, não
podemos deixar de reconhecer uma causa suprema, um Deus criador.
E da mesma forma, contemplando a Igreja, o mundo das inteligências, o
reino das almas, com os seus personagens divinos, é fácil verificar que só
pode ser uma criação divina. A Igreja demonstra a existência de um Deus
Redentor, assim como o universo demonstra a existência de um Deus
Criador.
Para criar o mundo material, uma palavra foi suficiente para Deus; E de
forma análoga, Jesus Cristo só precisou usar as seguintes palavras para gerar
a sua Igreja: “Vem, segue-me”, e estas palavras lhe deram discípulos. Ele
disse a estes: “Ide, ensinai”, e esta segunda expressão formou o apostolado,
a hierarquia, a infalibilidade, ou seja, a Igreja.
Jesus Cristo formou a Igreja à sua imagem: deu-lhe a unidade, porque
Ele é Um; santidade, porque Ele é santo; a autoridade, porque Ele é o
Senhor; catolicidade, porque Ele é imenso; perpetuidade, porque Ele é
eterno.
Deus, ao criar os mundos, produziu a força de atração para fazê-los
gravitar em direção a um centro comum: é daí que vem a harmonia do
universo. Da mesma forma, na criação da Igreja, Jesus Cristo colocou a sua
Graça, atração espiritual que faz as almas gravitarem em direção a Deus,
centro comum das inteligências.
2º Jesus Cristo sobrevive na Igreja.Jesus Cristo continua na Igreja
e através da Igreja o triplo ministério que veio exercer na terra: a) É sempre
aquele que, como médico, ensina pela voz da Igreja; b) É quem, como
Pontífice, administra os sacramentos; c) É ele quem, como rei, lidera e dirige
os fiéis através do Papa e dos Bispos. A Igreja nada mais faz do que receber
o movimento e a vida do espírito de Jesus Cristo, que a anima e atua através
dela exatamente como o corpo, que nada mais é do que o instrumento que a
alma utiliza para as suas operações externas.

318
É, então, certamente a Igreja, a manifestação sempre viva de Jesus
Cristo, a sua encarnação prolongada através da sucessão do tempo.
Conclusão geral.1º Jesus Cristo afirma que é Deus. 2º Jesus Cristo
prova que é Deus com seus atos: seus milagres; com seu livro: o Evangelho;
com uma Instituição: a Igreja. 3º Ele se impõe como Deus ao mundo: reina
sobre as inteligências, os corações e as almas.
Existe algo mais incrível e mais divino? Uma criança nasce na palha,
entre um boi e uma mula: esta criança cresce numa oficina; Aos trinta e três
anos morreu numa cruz entre dois ladrões; Depois de sorte ele consegue
conquistar o mundo. para que? Pela doutrina do sacrifício: humildade,
pureza, caridade. Que mundo? O Império Romano cético, corrupto e egoísta.
Como? Com a pregação de doze pescadores judeus. E depois de dezenove
séculos, seguindo os Mártires, os Médicos, as Virgens, o mundo civilizado
ainda está ajoelhado aos pés desta criança nascida na palha, diante deste
homem morto na cruz.
Aí está um fato, positivistas; Todas as hipóteses e evasivas dos ímpios
são inúteis: quando um incrédulo nos confronta com sua objeção
insignificante como químico ou astrônomo, podemos dizer-lhe: você é tarde
demais; A demonstração da divindade de Cristo é feita de forma irrefutável.
É feito pela evidente inspiração dos profetas, pela autenticidade dos
milagres; É feito pelo sangue de trinta milhões de mártires; É feita pela
regeneração da vida moral no mundo, por tantas renúncias voluntárias, por
tantos heroísmos diários e ocultos; por tantas virgindades, por tantas
santidades; É feita por todas as harmonias do Cristianismo com a alma, pela
solução completa que dá a todos os problemas humanos, pelo sentido
sublime que dá à vida e à dor, pelo esplendor dos seus dogmas, superiores a
todas as doutrinas filosóficas.
É feita pela impotência dos seus perseguidores, pela conversão final de
alguns, pela morte desesperada de outros e pelo grito, de todos os Julianos
moribundos: “Venceste, Galileu!” É finalmente feito pela existência secular
da Igreja Católica.
Em vão os racionalistas negam toda religião revelada e positiva; A
revelação divina feita por Jesus Cristo, Filho de Deus, é atestada por um fato
evidente, gigantesco, incontestável, mais

319
mais brilhante que o sol: A existência da Igreja Católica, a existência do
Cristianismo. É o maior acontecimento da história do mundo; Quarenta
séculos a prepararam, vinte séculos vivem da sua influência.
O mundo é testemunha permanente da existência de Deus. A Igreja
Católica é também testemunha permanente da divindade de Jesus Cristo.
Somente a Ele toda honra e toda glória para todo o sempre!
139. P. _Quais são as consequências que decorrem da
divindade de Jesus Cristo?
A. _Existem três principais:
1a Sendo Jesus Cristo Deus, é evidente que a religião por Ele
estabelecida é divina, a única verdadeira, a única desejada por Deus, a única
que Ele exige de todos os homens, a única que pode nos levar ao céu.
2a Todos os ensinamentos de Jesus Cristo, dogmas e preceitos, devem
ser aceitos na sua totalidade, pois são manifestamente divinos. “O céu e a
terra passarão, mas as minhas Palavras não deixarão de se cumprir”111.
3a Devemos acreditar, sem sequer hesitar, nos Mistérios que fazem parte
da Revelação Cristã, mesmo que não os compreendamos, porque estes
Mistérios se baseiam na autoridade infalível da Palavra de Deus.
N. B._Para provar que a religião cristã é revelada por Deus, dois
métodos podem ser utilizados. Pela primeira, que seguimos, fica
comprovado que Jesus Cristo é um mensageiro de Deus; Portanto a religião
que ele veio revelar ao mundo é uma religião divina.
A divindade do Cristianismo também é confirmada por uma série de
eventos históricos que ocorreram após a morte do seu Fundador, a saber:
1º A difusão milagrosa da religião cristã. 2º A sua
conservação perpétua ao longo dos séculos. 3º A
constância e o número dos seus Mártires.
4º Os frutos maravilhosos que tem produzido no mundo.

111Mt. 24, 35.

320
O segundo método, mais curto, consiste em provar a divindade de
Jesus Cristo. Uma vez demonstrado que Jesus Cristo é Deus, segue-se que a
religião cristã fundada por Ele é divina.
A religião cristã é obrigatória para todos os homens até o fim dos
séculos. Deus, Senhor soberano, tem o direito de ser servido como lhe
agrada; Ora, o legislador divino obriga todos os homens a praticar a religião
cristã porque disse aos seus Apóstolos: “Pregai o Evangelho a todas as
criaturas: quem crer e for baptizado será salvo; "Aquele que não acredita
será condenado." Portanto, quem não acredita na religião ensinada pelos
Apóstolos, ou não a pratica, certamente será condenado.
Na verdade, o homem não é livre para rejeitar a ordem sobrenatural e
aderir apenas à ordem natural. Assim como o homem não tem o poder de
rejeitar os seus destinos naturais porque eles vêm de Deus, também ele não
pode rejeitar os seus destinos sobrenaturais, que têm a mesma origem.
Assim como lhe falta o direito de dizer: não quero ser homem, mas apenas
um animal, também lhe falta o direito de dizer: não quero ser cristão, mas
apenas homem. Não foi deixado ao nosso critério escolher e assumir a
posição que nos agrada, mas é direito exclusivo de Deus atribuí-la a nós.
Pois bem, Deus elevou o homem à ordem sobrenatural, e somente
através de Jesus Cristo o homem pode alcançar sua vida sobrenatural. Jesus
Cristo é o único e necessário Mediador entre Deus e o homem. Ele se
proclama a Vida, a Verdade, o Caminho; e diz expressamente que ninguém
vem ao Pai senão por Ele112. Os Apóstolos repetem que “não há outro
nome no céu que nos possa salvar”113.
Assim como para fazer amadurecer a uva é necessária a luz e o calor do
sol, também para fazer amadurecer um escolhido é necessária a ação direta
do sol da justiça, Jesus Cristo. Tudo o que é afastado de sua influência está
condenado a nunca amadurecer para o céu. Ninguém pode ser salvo exceto
pela graça, e a graça não pode ser adquirida exceto através do Mediador,
nosso Senhor Jesus Cristo.
“Para iluminar o mundo, Jesus Cristo deixou um símbolo; para orientá-
lo, preceitos; para santificá-lo, sacramentos, um sacrifício, um sacerdócio;
Para governá-lo até o fim dos tempos, ele estabeleceu seus vigários. Trinta e
três anos foram dedicados a esta grande obra,

112Jo. 14, 6.

113 Atos. 4, 12.

321
isso não terminou senão no madeiro da Cruz. E seria-nos permitido,
preservando sempre os nossos direitos ao céu, isentar-nos de ver naquele
símbolo um dogma, uma regra naquele decálogo, um sacrifício naquela
cruz, uma instituição divina naquela Igreja? Tal afirmação seria a mais
insustentável que se possa imaginar”114.
A nossa regeneração sobrenatural custou tão caro ao Filho de Deus que a
religião que nos aplica os méritos do seu Sangue derramado no Calvário não
pode ser uma instituição livre para ser aceita ou rejeitada, conforme o caso.
Que! O Verbo Eterno desceu à terra, assumiu a nossa humanidade,
sofreu, morreu na cruz, e seria possível pensar em alcançar o céu sem
recorrer a este divino Mediador? Será lícito dizer a Cristo: morreste por
mim; Mas eu rio da sua morte e posso passar sem ela? Ah, não, isso não
pode ser! Se Deus fez tanto que elevou o homem à ordem sobrenatural, o
homem tem o dever de sobrenaturalizar-se. Se Deus fez tanto que enviou o
seu Filho à terra, o homem deve unir-se a esse Filho divino para se tornar ele
próprio um Filho de Deus (ver nº 87).
2º Você deve aceitar todos os ensinamentos de Jesus
Cristo.Visto que Jesus Cristo é Deus, devemos aceitar toda a sua doutrina,
sem acrescentar ou subtrair nada dela. Quem o altera comete um ataque
contra Deus. Depois de Jesus Cristo já não se trata de inventar, mas de
preservar a sua palavra, perpetuada de século em século; Deve ressoar até o
fim em sua integridade inviolável. Portanto, não é permitido a ninguém
tomar uma parte e deixar outra na religião cristã; é necessário aceitá-la na
sua totalidade.
3º Você deve acreditar nos mistérios da religião cristã.Quando
Deus fala, você tem que acreditar, porque Deus é a própria Verdade. Os
mistérios do cristianismo não são mais absurdos ou contraditórios do que os
mistérios da ciência; Apenas algumas as superam pela sua natureza, pela
nossa inteligência limitada, da mesma forma que muitas estrelas escapam ao
alcance dos mais poderosos telescópios. O homem sábio conhece e
compreende uma infinidade de verdades que são mistérios para os outros.
Essas verdades são menos reais por essa razão? Deus, inteligência infinita,
também conhece e compreende uma infinidade de verdades que não podem
ser conhecidas ou compreendidas pelos homens mais sábios. O que Deus
conhece e entende tem direito

114Seg. Besson, A Igreja.

322
dizê-lo, e se ele o diz, pode e deve obrigar-nos a acreditar na sua palavra.
Existe algo mais legítimo? (Ver nº 101).

A CRUZ POR SI SÓ É SUFICIENTE PARA PROVAR O


CREDO CATÓLICO
Na sua obra O Credo ou o Refúgio do Cristianismo, Monsenhor Gaume
mostra como uma jovem de quinze anos que conhece um pouco de história
pode, com a cruz na mão, obrigar qualquer incrédulo a declarar-se católico
ou a negar a razão.
“O estabelecimento do Cristianismo é a mais surpreendente das
revoluções. Esta revolução implica os seguintes factos, que não podem ser
negados sem negar toda a certeza histórica:
1º Há dois mil anos, o mundo civilizado era pagão. Hoje o mundo
civilizado é cristão.
2º A transição do paganismo para o cristianismo é obra de Jesus de
Nazaré, ajudado por doze pescadores da Galiléia.
Jesus de Nazaré é um judeu crucificado; Os judeus eram então, como
hoje, odiados por todos os povos. Somente os maiores criminosos foram
condenados ao castigo da cruz. Um judeu crucificado era, portanto, a coisa
mais odiosa que poderia acontecer no mundo.
3º Durante dezenove séculos, o mundo civilizado adorou Jesus
crucificado: fê-lo e fá-lo livremente, sem ser forçado a fazê-lo pela força ou
levado pela atração dos prazeres e das riquezas.
4º Por terem a alegria de adorar aquele Jesus crucificado, doze milhões
de Mártires de todas as condições e de todas as nações, durante trezentos
anos, aceitaram com alegria a morte, no meio dos mais assustadores
tormentos.
Depois desse tempo, quase vinte milhões de outros mártires seguiram o
seu exemplo. E esse exemplo ainda é seguido hoje, quando a ocasião se
apresenta.
Para terem a felicidade de adorar Jesus Cristo, homens e mulheres de
todas as idades, de todas as condições, de todas as nacionalidades, em
números incalculáveis, combatem constantemente os seus afetos mais caros,
dedicam-se a duras austeridades, abandonam os seus lares, entreguem os
seus bens aos pobres e consagrem gratuitamente as suas pessoas ao serviço
das misérias mais repugnantes.

323
5º Ao adorar Jesus crucificado, o mundo avançou em luzes, em virtudes,
em liberdades, em civilização, de forma surpreendente.
Testemunha, o mais pequeno dos filhos cristãos que, relativamente aos
problemas que mais interessam ao género humano: Deus, a Providência, o
homem, a sua natureza, os seus deveres, o seu destino, é mais sábio que os
maiores filósofos da antiguidade: Sócrates, Platão, Aristóteles, Cícero,
Sêneca.
Testemunha, a aldeia cristã mais sombria, onde há mais dignidade para
os homens, mais liberdade para as mulheres, mais segurança para as
crianças, que eram conhecidas em todo o mundo pagão.
Testemunhas, todos os povos da Europa e da América que, bárbaros em
outros tempos, se tornaram, adorando Jesus crucificado, príncipes da
civilização.
Testemunhe numa palavra o mapa mundial, onde vemos brilhar a luz, a
civilização e o progresso em todos os povos que adoram Jesus crucificado.
6º Todas as nações que não adoram Jesus crucificado permanecem na
barbárie, na escravidão, ainda aguardam a verdadeira civilização: tais são os
negros, os chineses, os turcos, os árabes, os indianos, etc.
7º Nenhuma nação surgiu ou sai da barbárie ignorante ou alfabetizada,
não se liberta da escravidão nem entra no progresso, mas adorando Jesus
crucificado, e na proporção da vivacidade da sua fé: testemunho, história
universal.
8º Qualquer nação que deixa de adorar Jesus crucificado perde, é claro,
os seus bons costumes, a sua paz, a sua prosperidade; depois desaparece ou
cai novamente na escravidão e regride à barbárie como razão direta para o
abandono de Jesus crucificado.
Testemunhas, todas as nações da Ásia e da África, onde a ignorância
contesta o primeiro fruto da degradação.
Testemunhas, as nações da Europa moderna, onde a lama é agitação,
agitação, ódio, confusão, revoluções e comoções.
9º Jesus Cristo crucificado permanece, depois de vinte séculos, nos
altares do mundo civilizado, apesar dos ataques formidáveis e
continuamente renovados dos tiranos, dos ímpios, dos sofistas e dos
perversos.

324
Por uma exceção, única na história, permanece ali no meio das
convulsões que, vinte vezes, mudaram a face do mundo, devastaram
impérios, dinastias, repúblicas e as instituições mais consolidadas. Ali ele
permanece amado e adorado, apesar da inflexível lei da morte que pesa
sobre todas as obras humanas. Tais são os factos visíveis, palpáveis,
permanentes, dos quais ninguém pode duvidar sem negar a história.
Como explicar esses fatos incríveis? Não há efeito sem causa. 0 Jesus
crucificado é Deus, ou não é.
1º Se for Deus, tudo se explica. O mundo adora Jesus crucificado porque
os milagres realizados por Ele e pelos Seus discípulos evidenciaram a Sua
divindade e forçaram a raça humana a acreditar Nela. Não há nada de
estranho no facto de uma religião divina ter se espalhado milagrosamente e
produzido frutos admiráveis de virtude, civilização e progresso no mundo.
Neste caso, sendo o Cristianismo obra de Deus, é verdadeiro,
completamente verdadeiro, eternamente verdadeiro, e nada tem um
fundamento mais sólido do que o credo do Cristianismo.
2º Mas se Jesus Cristo não é Deus, o mundo inteiro, o mundo civilizado,
está possuído pela loucura.
Não é verdadeiramente uma loucura que o mundo, em pleno século de
Augusto, acreditando na palavra de doze pescadores da Galileia, tenha
destruído os seus ídolos, queimado os seus templos, mudado as suas leis e
purificado os seus costumes, para adorar como o único Deus ?do céu e da
terra para um judeu crucificado? Isso é natural? Isto é possivel? Será
possível que milhões de homens ricos, homens pobres, senadores, cônsules,
príncipes, na Ásia, em África, na Grécia, em Roma, se tenham deixado
dilacerar, queimados, afogados por terem a alegria e a honra de adorarem
como o Criador do mundo? para um judeu crucificado se este judeu não for
Deus?...
Será possível que, durante dezanove séculos, o mundo, em vez de
abandonar a sua vergonhosa idolatria, tenha persistido na adoração de Jesus
crucificado, e que centenas de milhões de homens o amem até ao ponto de
sacrificarem a sua riqueza, a sua liberdade, a sua família? , seus afetos e suas
esperanças?...
Será possível que o mundo tenha melhorado, se tornado mais livre, mais
civilizado, mais feliz em todos os sentidos, professando o maior absurdo,
isto é, adorando, como criador e Deus do céu e da terra, um judeu
crucificado, a Jesus de Nazaré, se ele não é verdadeiramente Deus?

325
Como explicar que a parte da raça humana que se recusa a adorar Jesus
crucificado permaneça atolada na barbárie, na escravidão, num vergonhoso
abismo de miséria? Como explicar que esta parte degradada da raça humana
emerge da barbárie, da escravidão, da corrupção e marcha pelo caminho da
civilização e da felicidade assim que adora Jesus crucificado?...
Este facto, comprovado pela história de todos os povos que se convertem
à religião cristã, é natural e humanamente possível?
Será possível que este Jesus crucificado, se não passa de um judeu, tenha
subido num só salto do cadafalso, onde acabava de morrer, aos altares do
mundo inteiro, e ali permaneceu durante vinte séculos, apesar de de todos os
esforços de astúcia, de violência da força, de desencadeamento de paixões,
unidos para derrubá-lo; E isto no meio das ruínas acumuladas dos impérios,
das instituições humanas?
Será possível, finalmente, que Deus, Verdade e Poder infinitos, tenha
permitido que este judeu crucificado assumisse, para seu próprio benefício, a
fé e a adoração da raça humana?
Admitir efeitos sem causa é uma loucura, uma loucura tanto maior
quanto mais admiráveis forem os efeitos.
Pretender que a raça humana se converteu à religião cristã sem, por outro
lado, ser levada a fazê-lo pela força irresistível dos milagres e, por outro
lado, pela ajuda onipotente da graça de Deus; É uma loucura enorme.
Consequentemente, o incrédulo fica encerrado num círculo de ferro, do
qual só pode escapar por uma destas duas saídas: ou a fé na plenitude do seu
vigor, ou a loucura levada aos seus últimos limites.
Os positivistas não se cansam de objetar que a religião não é científica,
que não é demonstrada por fatos, como as outras ciências. É falso.
Acabamos de recordar certos factos históricos permanentes. Os positivistas
podem, sem hesitação, recusar-se a vê-los; Mas assim como o cego que nega
o sol não o impede de brilhar, também não impedirão que a divindade de
Jesus Cristo, sol da justiça, brilhe no mundo.
Aos olhos do bom senso, o projeto de adorar um homem morto numa
cruz é o cúmulo da loucura. Ele só poderia triunfar se aquele homem fosse
verdadeiramente Deus.

326
Mas esse projeto teve sucesso; portanto, Jesus Cristo é Deus. O Credo
Cristão baseia-se neste facto, subsistindo sempre.
Se Jesus Cristo é Deus, o Cristianismo é verdadeiro, apenas verdadeiro,
completamente verdadeiro. A todos os dogmas que ensina, a todos os
deveres que impõe, resta apenas dizer: Credo, eu creio.
1º A religião cristã me diz:
O homem foi criado na ordem sobrenatural para um propósito
sobrenatural: Credo.
Mas o homem caiu por causa de Adão: Credo.
Foi resgatado por Jesus Cristo, filho de Deus feito homem: Credo. O
homem tem uma alma livre e imortal: Creed.
Ela me diz para amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como
a mim mesmo por amor de Deus: Credo.
Existe um inferno eterno: Creed. Um paraíso eterno: Credo.
Jesus Cristo fundou uma Igreja infalível, encarregada de ensinar o que
deve ser acreditado e feito para ir para o céu: o Credo.
Esta Igreja subsistirá até o fim do mundo: Credo. 2º a Igreja
me diz:
A única maneira de evitar o inferno e merecer o céu é acreditar no que
ela me ensina; faça o que ela me ordena: Creed.
Deixe-o viver humildemente, castamente, mortificado: Credo.
Que ele respeite a propriedade, a honra e a reputação de meus irmãos:
Creed.
Posso confessar e comungar, pelo menos durante o tempo da Páscoa:
Credo.
3º E sendo o Cristianismo verdadeiro, absolutamente verdadeiro, todos
os sistemas contrários à religião cristã são falsos; todas as objeções são
nulas, uma vez que não pode haver verdades contraditórias.
Então, na presença do mero fato do estabelecimento do Cristianismo e da
mudança maravilhosa que ele operou no mundo, todos os sistemas:
materialismo, panteísmo, ateísmo, naturalismo, racionalismo, positivismo,
maçonismo, satanismo, espiritualismo, socialismo, etc. . que hoje levantam o
pescoço nojento contra a Igreja Católica, como a hidra da fábula ou a besta
do Apocalipse, são falsos, completamente falsos.

327
“Todos os sofismas dirigidos contra o dogma e a moralidade e o culto da
religião cristã são esmagados como a bala que o árabe fugitivo dispara
contra a pirâmide do deserto” (excerto de Mons. Gaume)115.
NARRAÇÃO.Foi em França, no dia seguinte às façanhas do
93. Um dos líderes da república, que testemunhou o saque das Igrejas e o
massacre dos sacerdotes, disse consigo mesmo: “Chegou a hora de substituir
Jesus Cristo; "Vou fundar uma religião inteiramente nova, de acordo com o
progresso."
Depois de alguns meses, o inventor, Reveillere_Lépaux, dirige-se
desconsolado a Bonaparte, primeiro cônsul, e diz: _“Acreditaria, senhor?
Minha religião, tão bela, não pega..." _"Concidadão, responde Bonaparte,
você pretende seriamente competir com Jesus Cristo? Só há um caminho:
fazer o que Ele faz: crucificar-se na sexta-feira e tentar ressuscitar no
domingo”.
Lépaux não considerou aconselhável aventurar-se em tal experiência e a
nova religião passou, em meio ao ridículo, para a região das utopias.

115Ver também Bohrbacher, História da Igreja, livro 24.

328
QUINTA VERDADE
A IGREJA CATÓLICA É A ÚNICA
DEPOSITÓRIA DA RELIGIÃO
CRISTÃ

A Igreja é o meio estabelecido por Jesus Cristo para


preservar, propagar e praticar a religião cristã.
_Fora da Igreja Católica não existe verdadeiro Cristianismo.
Acreditamos ser útil relembrar aqui as verdades já
demonstradas: 1º Existe um Deus que é o Criador de todas as
coisas.
2º O homem criado por Deus possui alma espiritual, livre e imortal.
3º É necessária uma religião, porque o homem, criatura de Deus, deve
prestar vassalagem ao seu Criador. A religião natural não é suficiente ao
homem, pois Deus, Senhor Soberano, dignou-se revelar-lhe uma religião
sobrenatural.
4º Deus fez três revelações ao homem, que são chamadas: primitiva;
mosaico; Cristão. Os dois primeiros nada mais serão do que a preparação da
revelação cristã, que é o seu complemento definitivo e permanente, sendo a
única verdadeira, a única obrigatória. Já expusemos as provas da divindade
da religião cristã, que tem como fundador nosso Senhor Jesus Cristo, Filho
de Deus feito homem; Estas evidências são numerosas e irrefutáveis.
5º Não querendo que Jesus Cristo permanecesse visivelmente na terra,
teve que escolher um meio para transmitir a sua religião a todos os homens
até o fim dos séculos. É evidente que quando Deus se manifestou ao mundo
na forma de homem, sua vinda deve ter como objetivo
329
a salvação de toda a linhagem humana. Este meio estabelecido por nosso
Senhor Jesus Cristo é a Igreja. Tal é a verdade última, que nos resta
demonstrar.
Podemos concluir imediatamente:
1º Que todo homem razoável deve acreditar em Deus.
2º Que todo homem que acredita em Deus deve ser cristão. 3º Que
todo cristão deve ser católico.
Neste tratado, nosso raciocínio será baseado em princípios já
demonstrados:
1º No fato da divindade do Cristianismo.
2º Na verdade das palavras divinas de nosso Senhor Jesus Cristo.
3º Na autenticidade dos Evangelhos que citam essas palavras. A Igreja é
na verdade uma instituição que depende inteiramente da vontade de Jesus
Cristo, seu fundador. Esta vontade nos foi manifestada: 1º, através dos
Evangelhos, cujo valor histórico já comprovamos; 2º, pela Tradição ou
ensinamento oral dos Apóstolos.
Após sua ressurreição, Jesus Cristo permaneceu na terra quarenta dias;
Aparecia frequentemente aos seus discípulos para lhes dar as instruções
sobre a fundação da Igreja: Loquens de Regno Dei116. Os Apóstolos não
escreveram estes ensinamentos do seu divino Mestre, mas transmitiram-nos
oralmente aos seus sucessores. É nisso que consiste a Tradição, cujas
principais instruções foram posteriormente escritas pelos primeiros Padres
da Igreja.
Ainda temos que responder às seguintes questões:
I. _ Natureza, fundamento, propósito e constituição da Igreja de Jesus
Cristo.
II. _ Identidade da Igreja Católica com a Igreja de Jesus Cristo.
III. _ Organização da Igreja Católica.
IV. _ Relações da Igreja com as sociedades civis.
V. _ Benefícios que a Igreja proporciona ao mundo.
VI. _ Nossos deveres para com a Igreja, verdadeira regra de fé e moral.

116 Atos. 1, 3.

330
I. A IGREJA ESTABELECIDA POR
JESUS CRISTO
140. P. _Que meios nosso Senhor Jesus Cristo estabeleceu
para preservar e propagar a religião cristã?
R. _O meio estabelecido por Jesus Cristo é a Igreja.
Jesus Cristo quis unir os homens e os povos; Ele queria uni-los a Ele e,
através dele, uni-los ao seu Pai. Para isso fundou uma sociedade religiosa a
fim de reunir os que Nele acreditavam e, para governá-la, estabeleceu um
sacerdócio ou corpo de pastores encarregados de pregar a sua Palavra e
administrar os seus Sacramentos. Ele escolheu doze apóstolos, instruiu-os
durante três anos, comunicou-lhes os seus poderes e enviou-os por todo o
mundo para pregar o Evangelho.
O povo hebreu foi escolhido para preservar a verdadeira religião até a
chegada do Messias. A Igreja foi estabelecida para se propagar até o fim dos
tempos.
Jesus Cristo veio trazer ao homem os únicos bens necessários: a verdade
e a graça. Ao deixar a terra para retornar ao céu, deixou: 1º, as verdades
reveladas e as leis morais que deveriam ser transmitidas aos homens de
todos os tempos e de todas as nações; 2º, os tesouros da graça que seriam
distribuídos às gerações subsequentes. Para continuar a obra da Redenção no
mundo, Jesus Cristo fundou a Igreja, a sociedade religiosa, repositório da
sua doutrina e das suas graças.
Nada maior do que a Igreja, aquele Reino do Messias anunciado com
tanta frequência no Antigo Testamento. Davi, Isaías, Ezequiel cantaram suas
glórias e suas vitórias. Daniel previu a sua duração imortal ao explicar o
sonho do rei Nabucodonosor. O plano de Deus é verdadeiramente
esplêndido: quer divinizar todos os homens, uni-los a Cristo e, através da
mediação do seu Cristo, à Santíssima Trindade, para torná-los participantes
da bem-aventurança infinita das três Pessoas divinas117.

1ª Natureza da Igreja de Jesus Cristo


141. P. _O que é a Igreja?

117Ver Bispo Besson, A Igreja; Lamennais, Ensaio sobre Indiferentismo.

331
R. _A palavra Igreja, derivada do grego, significa a assembleia dos
chamados. Às vezes designa o local onde os fiéis se reúnem para orar, e
outras vezes a sociedade dos fiéis adoradores do verdadeiro Deus.
A Igreja, como sociedade, no seu sentido mais amplo, inclui o conjunto
dos fiéis na terra, os Justos no purgatório e os Santos no céu: daí a conhecida
divisão da Igreja em militante, purgativa e triunfante.
A Igreja Militante, considerada historicamente, compreende todos os
verdadeiros adoradores de Deus, desde o início do mundo até o fim dos
tempos: todos, na verdade, acreditaram ou acreditarão na religião revelada,
essencialmente a mesma em suas diferentes formas. fases; Neste sentido a
Igreja subdivide-se em patriarcal, mosaica e cristã ou católica.
A Igreja Católica é a sociedade de todos os discípulos de Jesus Cristo
unidos entre si pela profissão da fé cristã, pela participação nos mesmos
Sacramentos, pela submissão aos pastores legítimos, principalmente à
mesma Cabeça Visível, o Vigário de Jesus Cristo. Está dividida em duas
partes: a Igreja docente: os pastores e a Igreja docente: os fiéis em geral. O
nome Igreja designa frequentemente a Igreja docente. Neste sentido se diz: a
Igreja ensina, a Igreja ordena, a Igreja é infalível, etc.
Este tratado da Igreja pretende estabelecer a legitimidade dessa
definição. Para pertencer a esta sociedade externa e visível são necessárias
três condições: 1a, ser batizado; 2a, acreditar na doutrina de Jesus Cristo; 3a,
para ser submetido aos pastores que governam a Igreja em nome do Filho de
Deus e, sobretudo, ao chefe supremo da Igreja que é o Vigário de Jesus
Cristo.
A Igreja e a religião.Com a palavra religião designamos o conjunto de
relações entre o homem e Deus; A palavra Igreja designa a sociedade de
pessoas que têm essas relações com Deus. A religião é o conhecimento, o
serviço, o amor e a adoração do Deus verdadeiro; A Igreja é a sociedade de
homens fiéis que conhecem e praticam a religião.
A Igreja e a religião são instituições divinas e a sua união constitui o
Cristianismo. Não há Cristianismo sem Igreja. Assim como a humanidade
não atua nem existe na ordem real exceto no homem; Nem o Cristianismo é
realizado exceto na Igreja. Podemos estabelecer uma distinção entre isto e
aquilo, mas na realidade

332
Eles são idênticos. Jesus Cristo, com um único ato, fundou a religião cristã e
a Igreja.
142. P. _A Igreja é uma verdadeira sociedade?
R._Sim; A Igreja é uma verdadeira sociedade, porque reúne todos os
elementos constitutivos dela.
Uma sociedade é um grupo de homens unidos sob a mesma autoridade
para alcançar o mesmo objetivo através de meios comuns.
Assim, a Igreja compreende: 1º, pluralidade de membros unidos entre si;
2º, autoridade que comanda; 3º, um objetivo comum para os associados; 4º,
meios comuns para atingir esse fim. Portanto a Igreja é uma verdadeira
sociedade.
Os chefes da Igreja são os pastores: São Pedro, os Apóstolos.
Os sujeitos são os fiéis que acreditam nas verdades reveladas.
O fimÉ uma felicidade eterna.
Os meiosSão a profissão da mesma fé, a participação nos mesmos
Sacramentos, a obediência aos legítimos pastores.
Toda sociedade envolve quatro elementos essenciais: 1º, pluralidade de
membros; 2º, autoridade que forma o vínculo moral dos associados e os
direciona para o objetivo comum; 3º, unidade do objetivo a ser alcançado;
4º, utilização dos mesmos meios.
Os dois primeiros elementos são comuns a todas as
sociedades; os outros dois os especificam. Assim, em toda sociedade civil
existem necessariamente duas classes de cidadãos: os que comandam em
virtude da autoridade da qual são depositários e os que obedecem; Se isso
faltar, pode-se ter uma multidão de homens, mas não uma sociedade.
O terceiro elemento é o fim, o objeto que os associados pretendem
alcançar; o quarto, os meios; que deve ser sempre proporcional ao fim. Este
fim, este objeto, determina a natureza de cada sociedade, porque em razão
do fim e do objeto os associados estão unidos, e o poder governante é
investido de tais e tais prerrogativas.

2ª Fundação da Igreja
143. P. _Jesus Cristo fundou diretamente a Igreja?

333
R. _Sim, o próprio Jesus Cristo estabeleceu a Igreja na forma de uma
sociedade visível, externa como as outras sociedades humanas, e governada
por autoridades legítimas.
Ele reuniu todos os seus discípulos sob a autoridade dos seus Apóstolos
para ajudá-los a alcançar um objetivo comum, a sua salvação eterna através
do uso dos mesmos meios, a prática da religião cristã.
Temos como evidência:
1º As palavras de Jesus Cristo referidas no Evangelho. 2º O
testemunho secular dezenove vezes da história.
3º A própria existência desta sociedade fundada por Jesus Cristo.
1º As palavras de Jesus Cristo comprovam o fundamento da
Igreja.
a) Jesus Cristo promete formalmente fundar uma Igreja, distinta da
sinagoga, quando diz a Pedro: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. As
imagens ou emblemas com que Nosso Senhor Jesus Cristo se agradou em
descrever a sua futura Igreja são os de uma sociedade: a Igreja, na boca de
Jesus Cristo, é um rebanho, uma família, o reino de Deus.
b) Durante três anos de sua vida pública; Jesus Cristo preparou os
elementos da sua Igreja. Da multidão que o seguia escolheu, naturalmente,
doze discípulos, aos quais chamou Apóstolos ou mensageiros; Ensinou-os
de modo particular e consagrou-os Bispos. Escolheu também discípulos de
categoria inferior, setenta e dois, e enviou-os dois a dois para pregar o
Evangelho: finalmente, à frente dos seus Apóstolos, colocou São Pedro
como fundamento da sua Igreja e Pastor dos cordeiros ... e as ovelhas.
c) Antes de subir ao céu disse aos seus Apóstolos: “Assim como meu
Pai me enviou, eu também vos envio... todo o poder no céu e na terra me foi
dado; Ide, portanto, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e
do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo o que vos
ordenei, e estarei convosco até o fim dos tempos. ”118.

118Mt. 28, 18-20.

334
E noutro lugar: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda
criatura: quem crer e for batizado será salvo; Quem não acreditar será
condenado”119.
Com estas palavras, por um lado, Jesus Cristo dá triplo poder aos seus
apóstolos:
a) O poder do ensino: “Vá, ensine todas as nações…pregue o
Evangelho…”
b) O poder de santificar: “Batizar as pessoas em nome do Pai…”, o
batismo é a porta para os outros Sacramentos.
e) O poder de governar: ou de ditar leis: “Ensina as nações a observar tudo
o que te ordenei.”
Jesus Cristo acrescenta: “Estou sempre convosco até ao fim dos tempos;
com a qual imprime nos poderes dos Apóstolos o carácter divino da
infalibilidade e da perpetuidade até ao fim dos séculos.
Por outro lado, Jesus Cristo impõe a todos os homens a estrita
obrigação de submissão aos seus Apóstolos, quando diz: “Pregai o
Evangelho... quem crer será salvo; "Aquele que não acredita será
condenado." Portanto, todos os homens que desejam obter a verdade, a
graça, a salvação eterna, devem acreditar na palavra dos Apóstolos, receber
das suas mãos os Sacramentos e obedecer às suas leis... a Igreja está aí
inteiramente com os seus poderes e as suas prerrogativas.
Encontramos, de facto, nas palavras do Salvador, os quatro elementos
constitutivos de uma verdadeira sociedade: a pluralidade dos fiéis
moralmente unidos entre si pela autoridade dos Apóstolos para um fim
comum, a salvação eterna, através do uso do mesmos meios, a fé na doutrina
de Jesus Cristo, a recepção dos Sacramentos e a obediência às suas leis.
Os Apóstolos são os governantes; e os fiéis, os governados: a união de
cada um constitui uma verdadeira sociedade, que Jesus Cristo chama de sua
Igreja.
2º O testemunho da história.No dia de Pentecostes, os Apóstolos
pregam Jesus Cristo: a princípio três mil judeus; cinco mil no dia seguinte,
acredite em sua palavra e todos se submetam à sua autoridade.

119Mc. 16, 15-16.

335
O número de fiéis se multiplica, os Apóstolos escolhem ministros
inferiores, presbíteros e diáconos, sobre os quais impõem as mãos para
consagrá-los com o sacramento da ordem. Os Apóstolos separam-se e vão
pregar o Evangelho nas diversas partes da terra, consagram Bispos,
estabelecem-nos como Pastores nas Igrejas recentemente fundadas. Após a
sua morte, eles deixam sucessores em todos os lugares, herdeiros da sua
autoridade e do seu ministério. Estes, por sua vez, consagram outros
sucessores, que fazem o mesmo ao longo dos séculos. Assim, a organização
primitiva da sociedade cristã estabelecida por Jesus Cristo permanece
indefectível120.

3º A existência da Igreja prova que Jesus Cristo é o


seu fundador.
A existência da Igreja é um fato. Nós o encontramos vivo em todos os
períodos da história durante vinte séculos. Pois bem, sempre, seja pelo seu
nome, seja pelas suas instituições, seja pela sucessão ininterrupta dos seus
pastores, aquela Igreja reconhece Jesus Cristo como seu fundador. Portanto,
a própria existência da Igreja, mesmo à parte dos Evangelhos, prova que
Jesus Cristo a fundou121.
144. P. _Por que nosso Senhor Jesus Cristo escolheu a
Igreja para preservar sua religião?
R. _Jesus Cristo escolheu a Igreja porque a sociedade é o meio mais
adequado para preservar a religião e o mais conforme à natureza do homem,
essencialmente sociável.
Uma religião revelada deve ser ensinada ou pelo próprio Deus, ou por
homens delegados para esse fim: mas não convém à Majestade divina
ensinar cada indivíduo em particular através de uma revelação particular,
pois isso seria multiplicar milagres sem necessidade.
Portanto, Jesus Cristo teve que confiar a homens escolhidos o cuidado de
transmitir a religião cristã aos outros.
1º Para preservar a religião primitiva, Deus não fundou uma sociedade
religiosa diferente da família. O pai era, ao mesmo tempo, rei e sacerdote:
como rei, cuidava da felicidade temporária da família; Como sacerdote,
oferecia sacrifícios a Deus e transmitia aos seus

120Veja a história da Igreja.

121Ver Bossuet, Discurso sobre a História Universal.

336
descendentes as verdades reveladas. E isto foi tanto mais fácil porque estas
verdades não eram muito numerosas e os Patriarcas viveram muito mais
tempo do que nós agora: foi assim que a religião primitiva foi preservada.
2º A terra é povoada, as antigas virtudes desaparecem, os homens
pervertem-se, e não tendo mais a vida secular dos Patriarcas como guardiã, a
família é incapaz de manter intacto o depósito da revelação. Para preservá-
lo, Deus escolhe o povo judeu. No Monte Sinai, ele dá a esse povo a lei
escrita, complemento da revelação primitiva. Ele estabelece uma verdadeira
Igreja naquela nação, criando um sacerdócio, distinto do poder paterno e do
poder político. Este sacerdócio, encarregado das funções de culto e da
guarda dos Livros Sagrados, perpetua-se de geração em geração, e preserva
até a vinda do Messias, o depósito da religião revelada. É a sinagoga que,
pela sua constituição, é figura da Igreja de Cristo, como anunciam as
profecias.
Deus faz uma aliança particular com a nação judaica, porque ali deve
nascer o Messias. Mas isso não significa que as outras cidades estejam
abandonadas. Eles também receberam a revelação primitiva; Através das
suas relações com o povo judeu e da divulgação dos Livros Sagrados, eles
participam, mais ou menos, nas luzes da revelação mosaica: se são
pervertidos e corrompidos, a culpa é deles. Além disso, Deus pretende
chamá-lo de volta ao conhecimento da verdade plena.
3º Os Profetas anunciam que o Redentor unirá os judeus e os gentios no
seu Reino; O Reino do Messias é a Igreja, que sucede à Igreja Mosaica. O
Antigo Testamento era sombra e figura do Novo... então no tempo de
Moisés havia uma Sinagoga encarregada de preservar o depósito da
revelação; Por isso foi conveniente a Jesus Cristo fundar uma Igreja,
encarregada do depósito da doutrina cristã e com a finalidade de comunicar
a todos os povos os frutos da Redenção consumada no Calvário.
A nova Igreja é mais perfeita que a velha Igreja...possui a
perfeição da verdade mais clara enriquecida com novas revelações; a
perfeição da Lei incentivando a prática de virtudes mais sublimes; a
perfeição dos Sacramentos, constituídos como sinais causadores de graça; a
perfeição do sacerdócio, marcado por um caráter mais divino, investido de
funções mais nobres e de autoridade mais forte; a perfeição

337
de expansão e duração; Os seus limites são os do universo e a sua duração é a
do mundo.
1º Por que Jesus Cristo escolheu homens para ensinarem
sua religião?
a) Uma religião revelada deve ser ensinada, porque inclui verdades para
acreditar, leis para observar e adoração para prestar a Deus. Mas para que o
homem acredite nas verdades, observe as leis ou adore, ele deve primeiro
conhecê-las.
Como você os conhecerá? O homem pode ser instruído por Deus ou por
seus semelhantes. Não é conveniente que Deus renove a revelação para cada
homem individualmente; Portanto é necessário que o homem seja ensinado
pelos seus semelhantes.
O homem pode ser instruído oralmente ou por escrito. O ensino oral é o
que está mais de acordo com a sua natureza: adapta-se a todos. É o único
possível para as crianças, para os homens que não sabem ler e para todos
aqueles, e são muitos, que não têm gosto nem tempo para estudar Livros.
Mesmo os homens instruídos precisam de uma autoridade segura para
lhes ensinar o verdadeiro significado dos ensinamentos escritos. Um livro é
letra morta: alguém precisa explicá-lo. “O livro é silencioso, diz Platão, é
uma criança que é obrigada a dizer tudo o que quer, porque o pai não está lá
para defendê-la.”
A razão exige para o conhecimento da religião, como para todas as
outras ciências, um sistema de ensino acessível a todos, proporcional à idade
e à inteligência de todos. Somente o ensino oral, ministrado com autoridade,
satisfaz estas condições.
Além disso, a revelação consiste numa dupla lei: lei para a inteligência,
as verdades em que se deve acreditar; lei para a vontade, os deveres que
devem ser praticados. Bem, essas leis precisam de interpretação. Todas as
sociedades instituíram órgãos de magistrados encarregados de interpretar os
códigos: uma lei que deixasse de ser explicada, uma lei cuja observância não
fosse mantida por uma autoridade visível, deixaria de ser uma lei. E visto
que Deus não pode ser inferior em sabedoria aos homens, Ele deve tomar as
mesmas precauções.
b) Além disso, de fato, Deus agiu assim ao longo dos séculos.

338
1º A revelação primitiva, feita a Adão no Paraíso terrestre, é transmitida
pelos homens, de geração em geração, até Moisés.
2º No Monte Sinai, Deus promulga a lei escrita. Quem ficará
encarregado de guardá-lo, de interpretá-lo até a vinda do Messias? Eles
serão homens. Aarão e seus descendentes preservaram este precioso
depósito durante quinze séculos.
3º Jesus Cristo vem explicar, desenvolver e aperfeiçoar a religião. Em
quem você confiaria para guardar esse tesouro? Aos seus Apóstolos, dando-
lhes autoridade infalível para ensinar a sua doutrina, promulgar as suas leis e
conferir a sua graça. Antes de regressar ao céu, reúne os seus Apóstolos e
diz-lhes: «Assim como meu Pai me enviou, eu vos envio a vós. Portanto,
vão e ensinem o mundo inteiro, preguem o Evangelho a toda criatura... Eu
estou com vocês, todos os dias, até o fim do mundo”. Com estas palavras
Jesus Cristo dá aos seus Apóstolos o poder de ensinar a sua religião de
forma infalível e perpétua.
2º Por que Jesus Cristo reuniu seus apóstolos e discípulos em uma
sociedade religiosa? Para se conformar à natureza humana. O homem é um
ser essencialmente sociável. Ele não pode nascer sem a sociedade da
família, não pode ser criado exceto dentro da sociedade e não pode viver
sem a sociedade dos seus semelhantes. Duas sociedades diferentes são
adequadas ao homem, compostas de corpo e alma: uma que cuida dos
interesses do corpo, e é a sociedade temporal, o estado, a nação; e outra para
cuidar dos interesses da alma, que é a sociedade espiritual e religiosa.
Além disso, veremos esta necessidade natural do homem traduzida na
prática ao longo de todos os séculos e em todos os povos. Em todos os
lugares o homem acreditou em Deus e em todos os lugares ele se associou
com seus semelhantes para prestar-lhe adoração pública e social. Portanto,
se Deus não tivesse organizado a sua religião na forma de uma sociedade,
essa religião não estaria de acordo com as tendências da natureza humana.
O Redentor opera na ordem da graça, como o Criador opera na ordem da
natureza. No início, o próprio Deus criou o primeiro homem e a primeira
mulher, uniu-os numa sociedade íntima: a família, e disse-lhes: “Sede
fecundos e multiplicai-vos, e povoai a terra”. Com estas palavras, Deus
providenciou a conservação da espécie humana até o fim dos tempos.

339
Da mesma forma, quando Jesus Cristo quis gerar os seus escolhidos,
disse aos seus Apóstolos: “Ide pelo universo, pregai o Evangelho a todas as
criaturas... Estarei convosco até ao fim dos tempos”. Com estas palavras, o
Salvador cria a Igreja e assegura aos homens, até ao fim do mundo, a
transmissão da vida sobrenatural.
Desta forma, Deus Criador, com uma única ordem de sua vontade, funda
a família; e a criança recebe vida natural nesta sociedade. Deus Redentor
também, com uma única provisão, cria a Igreja, e nesta sociedade religiosa e
divina a própria criança recebe a vida sobrenatural.
Em virtude destas duas frases criativas, a ordem de Deus cumpre-se sem
cessar: há homens que se unem para povoar a terra, e outros que se associam
para evangelizá-la: Deus, princípio da vida, fez dela fluir duas fontes: a
família, que dá vida natural e povoa o mundo, e a Igreja: que comunica a sua
vida sobrenatural e povoa o céu. Existe uma analogia perfeita entre a ordem
da natureza e a da graça.
145. P. _Que missão Jesus Cristo dá à Igreja?
R. _Jesus Cristo confere à Igreja a missão de conduzir os homens à
salvação eterna, através da prática da religião cristã.
O Filho de Deus fundou a Igreja para continuar nela e através dela, até o
fim dos tempos, a obra da Redenção. Ele veio à terra para instruir os
homens, santificá-los com a sua graça e levá-los ao céu. Tal é também a
missão que ele confiou à Igreja, quando disse aos seus Apóstolos: “Assim
como meu Pai me enviou, eu também vos envio”. Os médicos chamam a
Igreja de manifestação sempre viva de Jesus Cristo, sua encarnação
prolongada através dos tempos.
Quando o Filho de Deus veio à terra, tinha um duplo propósito: primeiro
de tudo, resgatar o mundo perdido pelo pecado de Adão; É a obra da sua
morte na cruz; depois, fazer com que todos os homens participem dos frutos
da Redenção e lhes apliquem os seus méritos. Pois bem, esse é precisamente
o trabalho da Igreja até ao fim do mundo.
1º O objetivo imediato ou imediato da Igreja é ensinar aos homens as
verdades reveladas, administrar os Sacramentos que conferem a graça,
observar os mandamentos de Deus, promovendo assim a prática da religião
cristã.

340
A prática da religião produz santidade, que leva ao céu. É por isso que o
objetivo remoto da Igreja é conduzir os homens à vida eterna, à visão
sobrenatural e imediata de Deus.
A Igreja, como todas as obras divinas, tem como objetivo supremo
buscar a glória de Deus. E na verdade, Ela com a sua extensão, a sua
estabilidade, a sua doutrina, cujas graças e benefícios é fonte, revela o poder,
a providência, a bondade e a sabedoria de Deus. E a cada dia ele espalha na
terra o conhecimento do ser supremo, espalha seu culto e faz brotar as mais
belas virtudes. Os numerosos Santos que ela gera louvarão e bendizerão o
Senhor por toda a eternidade.
2º A Igreja nada mais é do que uma coisa com Jesus Cristo. É o próprio
Jesus Cristo prolongando a sua encarnação entre os homens. E é por isso que
os nossos livros sagrados chamam a Igreja de Corpo Místico de Jesus Cristo,
o complemento de Cristo, o seu desenvolvimento, uma vez que os fiéis,
filhos da Igreja, são incorporados a Cristo através da vida divina que dele
recebem.” Eu sou a videira, disse o Salvador aos seus apóstolos, e vocês são
os ramos”.
Jesus Cristo é Médico, Santificador e Rei da humanidade. Através da
Igreja continua o seu triplo ministério: como Doutor, ensina pela voz da
Igreja; como Santificador ou Pontífice, vivifica com os seus Sacramentos;
Como Rei, ele guia e governa os homens com a autoridade dos Pastores:
trabalha através da sua Igreja, como a alma trabalha através do corpo. A
Igreja é, portanto, Jesus Cristo ensinando, santificando e governando os
homens.
A missão da Igreja é continuar de forma visível a missão de Jesus Cristo.
O Salvador confiou aos seus Apóstolos a tarefa de ensinar todos os povos,
de administrar os Sacramentos, de promulgar a Lei Cristã, e isto até ao fim
dos séculos. E acrescentou: “Eis que estou convosco…”, portanto, Ele
assegura Seu atendimento perpétuo; daí um duplo dever: dever dos
Apóstolos e dos seus sucessores de instruir, santificar e governar; dever dos
fiéis de acreditar na doutrina ensinada, de receber os Sacramentos, de
obedecer à Lei Cristã.
Corolário.É, portanto, necessário fazer parte da Igreja se quisermos ir
para o céu, não só porque o Filho de Deus, seu Fundador, impôs a todos os
homens o preceito formal de entrar na sua Igreja, mas também porque,
seguindo o ordem estabelecida Pela Providência divina, somente nela
podemos alcançar a vida eterna; Ela é a única guardiã dos meios de

341
santificação: fora da Igreja não há salvação. Posteriormente, explicaremos o
significado e a extensão desta máxima fundamental.
“Jesus Cristo, o Deus-Homem, é aquele enviado por seu Pai para dar aos
homens a verdade e a vida sobrenatural122. Pelo fato de sua missão, recebeu
todo o poder para instruir, santificar e governar todo o gênero humano, para
conduzir os homens à visão sobrenatural e intuitiva de Deus; à posse direta
da bem-aventurança divina; fim último e supremo da natureza humana.
Jesus Cristo, o homem_Deus, o enviado de seu Pai, é o Salvador e
Redentor da raça humana; então toda a linhagem de Adão, resgatada com o
preço do seu sangue, é sua conquista, sua propriedade. Sua missão é
incorporar a raça humana para oferecê-la consigo como holocausto a Deus,
seu Pai.
A Igreja é o Enviado de Jesus Cristo; É a Voz e o Órgão de Jesus Cristo;
Ela é a Esposa de Jesus Cristo, é o seu Corpo Místico, o seu
Desenvolvimento, a sua Plenitude...
Enviada por Jesus Cristo, assim como Jesus Cristo é enviado pelo Pai, a
Igreja está associada à sua missão e, consequentemente, à sua autoridade
suprema.
Voz e Órgão de Jesus Cristo, a Igreja instrui e governa as multidões em
nome de Jesus Cristo; É o próprio Jesus Cristo quem vive, fala e trabalha
nele.
“Esposa de Jesus Cristo à semelhança de Eva, mãe dos vivos, a Igreja
nasceu do lado do Novo Adão, durante o seu sono na Cruz. Ela reúne a
humanidade manchada pela culpa do primeiro homem, através da virtude
fecunda do seu Marido, faz nascer uma nova vida, alimenta-a com o pão da
verdade e da graça, e governa aqueles que ela regenerou com a doce
autoridade da uma Mãe e com o poder soberano de uma Rainha. Corpo
Místico de Jesus Cristo, a Igreja incorpora os homens em Jesus Cristo,
incorporando-os em Si mesma, fazendo-os participar da vida do seu Cabeça,
fazendo-os viver da sua própria vida, e chamando todos os homens, porque
Deus quer a salvação de todos, trabalha com determinação inesgotável para
fazer com que todos entrem no seu seio, para torná-los todos membros de
Jesus Cristo e conduzi-los todos para o céu” (trecho de D. Benoit, Les
erreurs modernes).

122Jn. 14, 6.

342
4ª Constituição da Igreja
146. P. _Como Jesus Cristo estabeleceu sua Igreja?
A. -1º Jesus Cristo estabeleceu a sua Igreja segundo o modelo de uma
sociedade, de um estado, de um reino; onde se distinguem duas classes de
cidadãos: os governantes e os governados.
Ele estabeleceu duas classes de membros em sua Igreja: os superiores ou
autoridades que ensinam e governam, e os súditos, que ouvem e obedecem.
Os primeiros constituem a Igreja docente e são chamados de Pastores, o
clero, a hierarquia. Estes últimos formam a Igreja docente e são chamados
de fiéis, leigos.
2º Jesus Cristo conferiu autoridade aos seus Apóstolos através do
sacramento da Ordem e através da missão expressa de ensinar e governar a
Igreja. Os pastores distinguem-se dos fiéis por esta consagração e missão
divina.
3º Além disso, Jesus Cristo estabeleceu uma hierarquia entre os Pastores
com diferentes poderes subordinados entre si.
No lugar mais alto, Simão Pedro é constituído chefe supremo da Igreja
com plenos poderes. Sob sua dependência, os demais Apóstolos são
encarregados de ensinar, santificar e governar os fiéis. Eles têm sacerdotes e
diáconos como auxiliares.
Desta forma, a Igreja aparece organizada como um exército com o seu
general-chefe, os seus generais de divisão, os seus oficiais e os seus
soldados: é o exército de Cristo marchando para a conquista do céu.
1º Não há sociedade possível sem autoridade que governe; Uma
sociedade em que ninguém tivesse o direito de governar não seria uma
organização social, mas sim desordem e anarquia. Além disso, a autoridade
nunca vem de baixo: mesmo nas sociedades civis, a autoridade não tem a
sua origem na vontade do povo, como afirmam os filósofos materialistas,
embora o povo seja o seu primeiro sujeito. Toda autoridade vem de Deus,
porque os homens são iguais entre si; e somente Deus tem o direito de
comandá-los. Assim como é necessária uma autoridade na família e na
sociedade civil, também é necessário que Jesus Cristo dê à sua Igreja uma
autoridade que ensine o que deve ser acreditado e o que deve ser feito para
alcançar a vida eterna.
São Roberto Belarmino demonstra as seguintes verdades:

343
A) O governo da Igreja não pertence ao povo.Os Apóstolos, que
foram os primeiros Pastores, receberam a sua autoridade não da Igreja, que
ainda não existia, mas do próprio Jesus Cristo. “Vá, pregue o Evangelho…”
Desafiamos os protestantes, que confiam apenas na Bíblia, a dizer-nos o
tempo e o lugar em que Jesus Cristo confere aos simples fiéis o poder de
ensinar e governar a Igreja. Os Pastores não são, portanto, os líderes do povo
cristão, mas sim os enviados por Deus.
B) O governo da Igreja não pertence aos príncipes
seculares.A autoridade que governa a Igreja é uma autoridade
sobrenatural e não pode pertencer senão àqueles que a receberam de Deus:
foi assim que Jesus Cristo deu este poder a Pedro, aos Apóstolos e aos seus
sucessores, e não aos príncipes. Portanto reis e imperadores não têm poder
na Igreja.
C) O governo da Igreja pertence principalmente a Simão
Pedro e, sob sua dependência, aos Apóstolos.Jesus Cristo já havia
colocado São Pedro à frente do colégio apostólico, como veremos mais
adiante; e ao deixar a Terra, ele disse aos seus apóstolos reunidos: “Todo o
poder me foi dado no céu e na terra. Vá, portanto, e ensine todas as
nações”123. Com estas palavras solenes, Jesus Cristo concede aos seus
apóstolos autoridade para ensinar a sua doutrina, santificar as nações e
governar as consciências.
Cristo possui autoridade porque é enviado pelo Pai; os Apóstolos
recebem-no porque são os enviados de Cristo: «Assim como meu Pai me
enviou, eu também vos envio... quem vos ouve, a mim me ouve; e quem te
despreza, me despreza...” A autoridade dos Apóstolos é a do próprio Jesus
Cristo.
São Paulo assinala a necessidade de receber de Deus o poder de ensinar
os homens... “Quomodo prcedicabunt nisi mittantur?” Ninguém pode pregar
sem ser enviado por Deus. O próprio Cristo é enviado por seu Pai; Cristo
envia os seus Apóstolos, e eles, por sua vez, enviarão os seus sucessores.
Os poderes destes enviados divinos provêm de uma origem nobre do
Sacramento da Ordem e da sua missão. A primeira lhes dá a

123Mt. 28, 18-19.

344
poder de santificar os fiéis com os Sacramentos; o segundo, o direito de
instruí-los e governá-los124.
A palavra hierarquia significa: autoridade sagrada. Designa a ordem dos
ministros da Igreja, as respectivas funções e os diferentes graus de
autoridade que subordinam entre si.
Aqui falamos apenas dos superiores instituídos por direito divino, isto é,
instituídos diretamente pelo Filho de Deus.
Jesus Cristo fundou sua Igreja para salvar os homens. O que é necessário
para isso? A graça de Deus e a cooperação dos próprios homens.
Contudo:
1º Para dar graça aos homens, o Salvador estabeleceu na sua Igreja o
poder de conferir os Sacramentos: é o que se chama hierarquia da ordem, ou
os vários poderes sagrados que o sacramento da ordem confere. A hierarquia
inclui, por direito divino, três graus: o episcopado, o sacerdócio e o
diaconado. O poder da Ordem, uma vez conferido, nunca se perde (imprime
caráter, ou seja, um selo espiritual); Os sacerdotes, mesmo os hereges,
administram validamente os Sacramentos que não requerem jurisdição.
2º Para ajudar os homens a corresponderem à graça de Deus, Jesus Cristo
estabeleceu na sua Igreja o poder de ensinar e governar: é o que se chama
hierarquia de jurisdição. Isto inclui, por direito divino, dois graus: o primado
de Pedro e o episcopado: no entanto, o sacerdócio também participa de uma
determinada jurisdição: a de transmitir os ensinamentos e os fiéis aos fiéis.

124Jesus Cristo, sacerdote eterno, quis sobreviver na pessoa dos seus ministros. Na véspera da sua paixão ele consagra os seus Apóstolos. Com o
Sacramento da Ordem e confere o poder de consagrar também os seus sucessores, através da imposição das mãos.

Esta imposição de mãos é declarada em nossos Livros Sagrados como um sinal que produz
graça. Encontramos a prova disso nos Atos dos Apóstolos, capítulo 13, a respeito de dois
Apóstolos escolhidos entre os doze, e que não haviam sido escolhidos por nosso Senhor Jesus
Cristo. No meio de uma santa assembleia aparece o Espírito Santo e diz: “Separai-me Barnabé
e Saulo para a obra para a qual os chamei. Os apóstolos, tendo jejuado e orado, impuseram-lhes
as mãos e enviaram-nos a pregar.
Assim, o chamado de Deus, mesmo o mais óbvio, não é suficiente para ser Pastor da Igreja:
a ordenação é indispensável. É necessário um poder divino para consagrar a hóstia e realizar o
Sacramento da Sagrada Eucaristia, perdoar pecados, etc., este poder que nosso Senhor
comunica através do Sacramento da Ordem (ver Concílio de Trento, sessão 23).

345
ordens dos pastores. Toda a antiguidade cristã atesta a ordem divina, esta
ordem hierárquica.
147. P. _Que forma de governo Jesus Cristo deu à sua Igreja?
A. _Jesus Cristo estabeleceu o governo de sua Igreja na forma de uma
monarquia eletiva.
Ele escolheu Simão Pedro como Pastor Supremo, com plenos poderes
para ensinar e governar os demais pastores e os fiéis.
Queria que a Igreja, o seu Reino terreno, fosse a imagem do Reino dos
céus, onde ele reina pessoalmente rodeado dos Anjos e dos Santos.
Ele também queria garantir a unidade mais perfeita da Igreja e ter um só
rebanho com um só Pastor.
A Igreja é a família dos filhos de Deus: numa família só há um Pai; A
Igreja é o Reino de Jesus Cristo: num reino só há um rei; A Igreja é o Corpo
Místico de Jesus Cristo, um corpo só deve ter uma Cabeça. Sem esta
unidade, a divisão poderia facilmente penetrar na Igreja, como prova o
testemunho inalterável da história.
Esta forma de governar não pode ser alterada, porque é uma instituição
divina. Estabelecido pelo próprio Filho de Deus, deve permanecer enquanto
a Igreja existir.
Existem três formas principais de governo: Monarquia, o governo de um,
que leva o nome de rei ou imperador; aristocracia, o governo de uma classe
eleita de cidadãos; a república, o governo dos eleitos pelo povo. Estas três
formas de governo são boas, quando a lei de Deus é cumprida, mantida
nelas, caso contrário, todas as três degeneram em tirania.
1º O verdadeiro cabeça da Igreja é Jesus Cristo: Ele a preserva, protege,
governa e santifica. Mas é invisível na terra e a Igreja, composta por
homens, é uma sociedade visível que exige uma autoridade visível suprema.
Por isso, antes de subir ao céu, o Salvador fez de Simão Pedro seu Vigário,
seu representante, Pastor Supremo da Igreja.
2º Por que Jesus Cristo escolheu o governo monárquico para sua Igreja?
Para preservar a unidade perfeita. Ele queria que todos os membros da Igreja
estivessem intimamente unidos: fossem um e o mesmo: “Como tu, ó Pai! Tu
estás em mim e eu em ti”125.

125Jn. 17, 21.

346
Se houvesse vários sumo pontífices na Igreja, eles discordariam, e a divisão
logo se espalharia entre os fiéis, com a qual a unidade necessária
desapareceria da Igreja.
Além disso, como geralmente acreditam os filósofos, a monarquia é a
forma mais perfeita de governo, uma forma que regula o funcionamento do
mundo, da família e do exército. A antiga Igreja, a sinagoga, era governada
pelo Sumo Sacerdote na forma de governo monárquico. E Deus não poderia
mostrar mais cuidado pela Sinagoga, que seria repudiada por Jesus Cristo,
do que pela Igreja, cuja duração deve durar até o fim do mundo.
Ninguém pode mudar o regime monárquico estabelecido por Jesus
Cristo. Em nenhuma sociedade o poder pode ser alterado sem alterar a
própria sociedade e modificar a sua natureza. Assim, mudar a natureza de
uma sociedade divina seria destruí-la; daí se segue que deve permanecer
como Deus o estabeleceu, ou desaparecer.

5º Primaz de São Pedro


148. -Jesus Cristo realmente conferiu a São Pedro o poder
soberano sobre toda a Igreja?
R. -Sim; Jesus Cristo concedeu a São Pedro a supremacia sobre toda a
Igreja: nada é mais verdadeiro.
1ºJesus Cristo disse a Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja, e as portas do inferno nada poderão fazer contra Ela”. Com
isso ele quis dizer que Pedro será o alicerce sobre o qual a construção da
Igreja será construída. Mas como o fundamento de uma sociedade, o que
preserva a sua unidade e estabilidade, é a autoridade suprema, segue-se que,
com estas palavras, Jesus Cristo promete a Pedro a supremacia sobre toda a
Igreja.
O Salvador acrescenta: “Eu te darei as chaves do Reino dos céus”. Mas,
segundo o modo de falar comum, dar a alguém as chaves de uma cidade é
torná-lo Senhor dela: portanto, Pedro deve ser o Cabeça Supremo na terra, o
soberano do Reino de Jesus Cristo.
2º Após a sua ressurreição, Jesus Cristo dá a Pedro a primazia prometida.
Ele lhe diz: “Alimente meus cordeiros, apascente minhas ovelhas”. Os
cordeiros significam os fiéis; as ovelhas, os pastores. Então Pedro fica
encarregado de alimentar e governar o mundo inteiro.

347
rebanho de Jesus Cristo. Ele é nomeado Pastor dos fiéis e Pastor dos
pastores; Estes últimos são pastores em relação ao povo, são ovelhas em
relação a Pedro.
E é sabido que desde o início São Pedro exerce esta autoridade suprema,
que os Apóstolos respeitavam como os simples fiéis: o poder supremo
concedido por Jesus Cristo a São Pedro chama-se: Primado; É feita uma
distinção entre primado de honra e primado de jurisdição. O primeiro é o
direito de ocupar sempre o primeiro lugar na Igreja; O segundo é o direito de
governar toda a Igreja com plenos poderes. Jesus Cristo deu a São Pedro esta
dupla primazia de honra e jurisdição.
1ºJesus Cristo promete autoridade soberana a Pedro.Pela
primeira Providência, Jesus Cristo muda o nome para aquele que escolheu
para príncipe dos Apóstolos: “Tu és Simão, filho de João; De agora em
diante você se chamará Pedro.” Da mesma forma vemos no Antigo
Testamento que Deus mudou os nomes de Abraão e Jacó quando quis fazer
destes Patriarcas os líderes do seu povo.
Um dia, o Salvador, nos campos de Cesaréia, questiona os Apóstolos: o
que pensam Dele. Pedro responde: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.
Ao ouvir estas palavras, Jesus olha para Pedro com uma bondade
inefável e diz-lhe: “Bem-aventurado és, Simão, filho de João; porque isto
não vos foi revelado pela carne e pelo sangue, mas por meu Pai que está nos
céus. E eu te digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela. E eu te darei as
chaves do Reino dos Céus e tudo o que ligares na terra será ligado no Céu, e
tudo o que desligares na terra será desligado no céu”126.
Essa é a promessa. Tal como um edifício assenta e ergue-se sobre os seus
alicerces, sobre a sua pedra fundamental, também uma sociedade assenta no
poder que a governa. Sendo São Pedro a pedra fundamental sobre a qual
Jesus Cristo estabeleceu a sua Igreja, nele também deve residir o Poder
Supremo.
“Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus…”As chaves de uma
casa são entregues ao proprietário, as chaves de uma cidade ao Soberano.
Nos Livros Sagrados, as chaves são o símbolo do poder supremo. PARA

126Mt. 16, 17-19.

348
Pedro então, e somente Pedro, é aquele a quem Jesus Cristo promete Poder
Soberano.
O poder de vincular é o poder de vincular outros por meio de leis; e
como ninguém na terra será capaz de libertar o que Pedro amarrou, segue-se
que o seu poder será soberano e independente.
2º Jesus Cristo dá a Pedro o poder supremo.Após sua
ressurreição; Jesus Cristo cumpre a promessa feita a Pedro e concede-lhe a
supremacia. Pedro e os outros Apóstolos estão reunidos às margens do Lago
Genesaré. Jesus aparece-lhes e diz a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu
amas-me mais do que estes?” Simão responde: “Sim, Senhor, tu sabes que
eu te amo”. Jesus responde: “Apascenta os meus cordeiros”.
Jesus lhe pergunta novamente: “Simão, filho de João, você me ama?”
Pedro responde: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus lhe diz: “Eu
alimento meus cordeiros”. Jesus lhe pergunta pela terceira vez: “Simão,
filho de João, você me ama?” Entristecido, Pedro responde a esta terceira
pergunta: “Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo”. Jesus
diz-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas»127.
Assim, Nosso Senhor constituiu Pedro como Pastor, não só dos
cordeiros, mas das suas mães, não só dos fiéis, mas dos próprios pastores.
Pedro, então, é o Pastor dos pastores, e a Igreja está fundada sobre uma só
cabeça. Aí você tem a instituição da primazia.
Não há dúvida de que, se Pedro é chamado de fundamento da Igreja,
deve sustentar toda a Igreja; Se só ele recebe as chaves do céu, só ele deve
possuí-las de maneira soberana: se ele recebe separadamente, e antes de
todos os outros, o poder de ligar e desligar, isso significa que ele não deve
possuí-lo, da mesma forma que os outros apóstolos.; Se lhe é dada a função
de apascentar os cordeiros e ovelhas, significa que pelo mesmo fato ele é
constituído como Pastor supremo do rebanho.
3º A rima de Pedro é reconhecida pelos demais Apóstolos.Em
todas as ocasiões, Pedro é nomeado primeiro e apresentado como superior
do colégio apostólico. “O primeiro em todos os sentidos, diz Bossuet, o
primeiro na confissão da fé, o primeiro na obrigação de praticar a caridade;
o primeiro dos Apóstolos que viu Jesus Cristo ressuscitado dentre os mortos,
pois devia ser a primeira testemunha daquela ressurreição diante do povo;
ele

127Jn. 21, 15-17.

349
primeiro quando se tratou de completar o número dos Apóstolos; o
primeiro a corroborar a fé com um milagre; o primeiro a obter a
conversão dos judeus, o primeiro a receber os idólatras; o primeiro a
falar nas assembleias; Se estiver preso, toda a Igreja reza por ele;
Se ele fala, pastores e fiéis, todos o ouvem e obedecem às suas
ordens. O próprio São Paulo, embora instruído diretamente por
Jesus Cristo, veio propositalmente a Jerusalém para ver Pedro e
obter dele a confirmação de seu ministério, para que todos
entendessem que, por mais culto, por mais santo que seja, mesmo
que fosse outro São Paulo, é necessário ver Pedro e receber dele a
missão e os poderes”128.
149. P. _O poder supremo concedido, concedido por Jesus
Cristo a Pedro, deverá passar aos seus legítimos sucessores?
R. _Sim; porque segundo as palavras de Jesus Cristo, a autoridade de
Pedro é o fundamento da Igreja; e a fundação de um edifício deve durar
tanto quanto o próprio edifício.
Por outro lado, a Igreja é um reino e precisa de um rei; uma casa e
precisa de dono; uma família e precisa de um pai; um navio e precisa de um
piloto; um corpo e precisa de uma cabeça; um edifício, e precisa de uma
fundação, e isto até ao fim dos séculos.
Se Pedro morrer, seu poder supremo permanecerá. Uma vez instituído
este poder para a Igreja, ele deverá durar tanto quanto Ela durar. O sucessor
de Pedro o sucede em poder e prerrogativas.
Por isso, desde os Apóstolos até hoje, o Bispo de Roma sempre
foi reconhecido como o Pastor Supremo da Igreja, porque é o
sucessor de Pedro.
1º A razão exige que o primado de Pedro seja transmitido aos
seus sucessores.Bossuet resume a Tradição Católica desta forma: “Não
se diga que este ministério de São Pedro morre com ele: o que deve servir de
fundamento e base de uma Igreja eterna não pode ter fim. Pedro viverá nos
seus sucessores; Pedro falará sempre na sua Cátedra”129.
Jesus Cristo instituiu a primazia de uma autoridade suprema para manter
a unidade da fé e do governo na Igreja. Mas esta unidade deve durar
enquanto a própria Igreja, isto é, até ao fim do

128 Bossuet, Sermão sobre a unidade da Igreja.

129Idem.

350
as eras. Por isso é necessário que haja sempre uma autoridade suprema, um
chefe na Igreja.
2ª A história prova isso.De São Pedro a Paulo VI130, vemos o
Papa falar e agir como Chefe dos Bispos e dos fiéis, convocar
concílios, anatematizar as heresias, julgar com pleno direito e, em
última instância, os casos contenciosos, sempre levados ao seu
tribunal. Portanto, Pedro vive sempre nos seus sucessores.

6º Poderes que Jesus Cristo deu à sua


Igreja
Demonstramos que a Igreja é uma verdadeira sociedade e que por isso
necessita de uma autoridade. Esta autoridade é o que une as forças
individuais dos membros e os direciona para o objetivo comum. Sem
autoridade não há sociedade possível.
Provámos também que a Igreja é uma sociedade organizada
hierarquicamente e a partir daí verificamos a existência desta autoridade
nela. Hierarquia é a subordinação de poderes.
Resta-nos demonstrar em que consiste a autoridade da Igreja. A natureza
dos poderes é determinada pela sua finalidade. Jesus Cristo, o Redentor,
veio ao mundo para mostrar aos homens o caminho da salvação; santificá-
los pela graça e pelo perdão dos pecados; governar ele mesmo sua Igreja
durante sua vida apostólica. Então Ele exerceu neste mundo a tríplice
autoridade de Doutor, Pontífice e Rei.
O propósito da Igreja é perpetuar visivelmente na terra a missão de
Cristo, que é a salvação dos homens. É necessário que ele herde a tríplice
autoridade indispensável para esse fim. A Igreja recebeu, portanto, de Jesus
Cristo, seu fundador, os poderes necessários para ensinar, santificar e
governar os homens.
Nosso Senhor Jesus Cristo conferiu a Pedro a plenitude destes três
poderes: Pedro é médico infalível, soberano pontífice, vice-rei do reino de
Jesus Cristo.
Os outros Apóstolos participam da autoridade de Pedro; Eles também
são pastores da Igreja. Unido ao hierarca supremo;

130Até João Paulo II, diríamos hoje.

351
Constituem a Igreja docente, encarregada de ensinar, santificar e governar os
fiéis.
150. P. _Que poderes Jesus Cristo deu aos pastores da
Igreja?
A. _Jesus Cristo deu aos seus Apóstolos poderes correspondentes à sua
missão divina:
A religião que o Salvador confia aos cuidados da sua Igreja docente
inclui três coisas: as verdades que devem ser cridas, a graça que deve ser
recebida, os preceitos que devem ser cumpridos para alcançar a salvação.
Portanto, é necessário um triplo poder aos Apóstolos:
1º. Um poder doutrinário para ensinar as verdades nas quais devemos
acreditar.
2º Um poder sacerdotal para conferir graça. 3º Um
poder pastoral para governar os fiéis. Além disso,
Jesus Cristo é ambos:
A) Médico: Contém as palavras de Vida Eterna.
B) Pontífice: é o sacerdote da Nova Aliança.
C) Rei: seu reino durará para sempre.
Este triplo poder de ensinar, de santificar, de governar, que Jesus Cristo
possui em toda a sua plenitude, ele confere aos seus Apóstolos com estas
palavras: “Todo o poder me foi dado no céu e na terra... Como meu Pai me
deu. me deu enviou, então eu te envio... Quem te despreza, me despreza..."
Quem quiser ser salvo deve obedecer a este triplo poder: acreditar na
palavra da Igreja, receber os seus Sacramentos, cumprir os seus preceitos.
Os teólogos chamam o poder de ensinar de magistério; o de santificação,
ministério, e o de governo, autoridade ou jurisdição.
1º Jesus Cristo dá à sua Igreja o poder de ensinar.Jesus Cristo
confere à sua Igreja o direito de pregar, em nome de Deus, o dogma e a
moral, e impõe aos homens o dever de acreditar na sua palavra. A ordem de
Nosso Senhor não admite resposta: “Vai, diz ele, prega o Evangelho... Quem
crê será salvo; Quem não crer será condenado”. Portanto, a voz da Igreja é a
voz do próprio Deus; Acreditar na Igreja é acreditar em Jesus Cristo.

352
Imediatamente após a vinda do Espírito Santo, os Apóstolos usaram este
poder divino. Responderam aos que queriam proibir a pregação com aquela
frase que deveria tornar-se famosa e tornar-se o lema do cristianismo contra
os perseguidores. “É necessário obedecer a Deus diante dos homens: não
podemos ficar calados”131.
Mas porquê esta autoridade absoluta dos pastores da Igreja em matéria
de ensino? Se todos pudessem interpretar a doutrina do Evangelho à sua
maneira, em breve haveria tantas religiões quantos indivíduos. Visto que
Jesus Cristo veio para ensinar a verdade aos homens, ele teve que, sob pena
de não cumprir a sua missão, providenciar a preservação desta verdade e
afastá-la dos caprichos da razão humana. É por isso que ele estabeleceu uma
autoridade encarregada de guardá-lo intacto. Jesus Cristo ordena aos seus
apóstolos que ensinem e aos fiéis que creiam. Se alguém não escuta a Igreja,
seja considerado gentio e publicano.
A autoridade docente inclui o direito:
1º Propor à nossa fé as verdades em que devemos acreditar. 2º
Declarar o significado das Sagradas Escrituras.
3º Emitir parecer sobre a divindade das tradições.
4º Decidir, sem recurso, sobre todas as questões doutrinárias relativas ao
dogma, à moral e ao culto.
5º Julgar as doutrinas e livros que tratam destes assuntos, aprová-los ou
condená-los conforme estejam ou não de acordo com a revelação.
2º Jesus Cristo dá à sua Igreja o poder de santificar.O Salvador
dá aos Apóstolos o poder de batizar as pessoas, de perdoar os pecados, de
celebrar a Missa em memória Dele, de administrar os Sacramentos. Mas tal
como os Sacramentos, o Santo Sacrifício, as cerimónias de adoração são os
meios de santificação; então Jesus Cristo dá à sua Igreja o poder de
santificar.
Os Apóstolos exercem este poder, como se lê nos Atos dos Apóstolos, e
testemunham que o receberam do Senhor. “Nós, diz São Paulo, devemos ser
considerados ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de
Deus”132.

131 Atos. 5, 29.

132I Cor. 4, 1.

353
O poder sacerdotal é necessário para a Igreja. Não basta ao homem ser
instruído na verdade: é preciso coragem para praticá-la; e este valor não
pode ser encontrado em suas próprias forças, ele deve buscá-lo em Deus. É
Deus quem dá a vida sobrenatural, a ajuda da graça, e quer dá-la através dos
Sacramentos. Portanto, sem o poder divino e soberano para administrar os
Sacramentos, a Igreja não poderia cumprir a sua missão de salvar os
homens, pois sem a graça é impossível entrar no céu.
A Igreja não pode aumentar o número nem mudar a natureza dos
Sacramentos; Só pode regular o que diz respeito à sua administração.
Ela também determina as cerimônias de adoração, o Santo Sacrifício e a
oração pública.
3º Jesus Cristo dá à sua Igreja o poder de governar.Este poder
confere o direito de promulgar leis, impor aos fiéis a obrigação de cumpri-
las e punir aqueles que as violam. O direito de ditar leis inclui os poderes
legislativo, judicial e coercivo, porque toda lei implica o direito de ditá-la,
de julgar e de punir quem não a observa.
Jesus Cristo dá este poder aos seus Apóstolos: “Tudo o que ligardes na
terra será ligado no céu…” Depois dá-lhes o direito de vincular as
consciências com leis.
O poder legislativo é necessário para toda sociedade. Na família, na
cidade; No exército, em qualquer sociedade, é necessária uma autoridade
que tenha o direito de ser obedecida. O poder é a alma, é a vida da
sociedade.
A Igreja é uma sociedade espiritual e religiosa e, segundo o plano de
Jesus Cristo, a mais extensa de todas as sociedades. Portanto, tem o poder de
fazer leis. Se este poder não fosse dado, cada um quereria comportar-se de
acordo com a sua vontade, forjando um culto à sua maneira: do qual a
anarquia não poderia deixar de decorrer. Nesse caso, a que se reduziria a
doutrina do Evangelho, a santificação das almas, a prática do bem?... Não, a
Sabedoria Encarnada não soube abandonar ao acaso a sua Igreja, depositária
de todas as verdades. desta forma., de todos os preceitos, de todas as graças
necessárias ao homem.
O poder de ditar leis é necessário para que a Igreja explique
o Evangelho.E certamente, a lei do Evangelho não é, como a lei de
Moisés, local, transitória. Por se destinar a todos os povos até o fim dos
tempos, não contém

354
mas preceitos gerais cuja aplicação prática deve ser determinada, segundo as
circunstâncias, pelos pastores da Igreja. Assim, por exemplo, o Evangelho
ordena fazer penitência: Que penitência deve ser feita? A Igreja se encarrega
de ensiná-lo, indicá-lo.
Finalmente, os Apóstolos, que são os mais fiéis intérpretes das Palavras
do seu Divino Mestre, desde o início atribuem a si mesmos autoridade
legislativa: elaboram leis, emitem sentenças e punem os culpados133.
A autoridade governante inclui o direito:
1º Ditar leis sobre tudo o que se relacione com religião. 2º Forçar
conscientemente o cumprimento destas leis.
3º Dispensar-se delas quando as circunstâncias o exigirem. 4º Impor
penalidades a quem se recusar a obedecer.
5º Expulsar da sociedade aqueles que não querem se submeter.
151. P. -Devem os Apóstolos conceder aos seus sucessores
os poderes que receberam de Jesus Cristo?
R. _Sim; Esses poderes deveriam passar para os sucessores dos
apóstolos. Jesus Cristo disse-lhes: “Estarei convosco até o fim dos tempos.”
Esta promessa não podia referir-se apenas aos Apóstolos, porque eles tinham
que morrer; depois teve que ser estendido aos sucessores do seu ministério,
então os poderes dos Apóstolos foram transmitidos aos seus sucessores de
todos os séculos.
Além disso, Jesus Cristo confere estes poderes à Igreja para a salvação
dos homens; Portanto a Igreja deve preservá-los enquanto houver homens na
terra.
1º A Igreja é imortal; não pode acabar com os Apóstolos. Assim, não
poderia existir sem autoridade, que é o seu fundamento. Depois os
Apóstolos, depositários desta autoridade, tiveram que transmiti-la aos seus
sucessores e assim sucessivamente, de geração em geração, até ao fim dos
séculos.
2º A transmissão dos poderes apostólicos é um facto testemunhado pela
história. Nos primeiros tempos do Cristianismo, os Apóstolos estabeleceram
Bispos em todos os lugares, consagrando-os com a imposição das mãos e
dando-lhes a missão

133 Atos. 5; Eu Cor. 5, etc

355
de pregar o Evangelho. Os Bispos ensinaram em nome de Jesus Cristo,
condenaram os erros, ditaram leis. Os fiéis admitiram a sua autoridade sem
discussão: prova evidente de que acreditavam na transmissão dos poderes
apostólicos.
A transferência de poderes é realizada através do
sacramento da ordeme através da missão canônica:

7. Prerrogativas inerentes aos poderes da Igreja


152. P. _Quais são as prerrogativas que Jesus Cristo
concedeu à Igreja docente?
R. _Jesus Cristo concedeu à sua Igreja docente três prerrogativas
principais:
a) Infalibilidade para libertá-la do erro em seus ensinamentos.
b) Independência para poder exercer livremente seus poderes na terra.
C) A perpetuidade para permanecer sempre o mesmo e continuar a sua
missão de salvar os homens até ao fim dos séculos...
A autoridade da Igreja não pode ser preservada ou desenvolvida sem
estas três grandes prerrogativas.
Se não tivesse infalibilidade, poderia se enganar sobre a verdadeira
doutrina de Jesus Cristo e enganar os fiéis.
Se lhe faltasse independência, ficaria inibido no desempenho da sua
missão:
Privada de perpetuidade, não poderia estender a sua ação aos homens de
todos os tempos, cuja salvação deveria procurar.

A) INFALIBILIDADE DA IGREJA
153. P._A Igreja docente, é infalível?
R. _Sim; A Igreja é infalível: não pode cometer erros quando ensina as
verdades que devem ser acreditadas, os deveres que devem ser cumpridos e
o culto que deve ser prestado a Deus.
Nosso Senhor Jesus Cristo disse a Pedro e aos Apóstolos: “Ide, ensinai
todas as nações... Eu estarei sempre convosco, até ao fim dos tempos”. Com
estas palavras, Jesus Cristo prometeu aos seus Apóstolos, até ao fim do
mundo, a sua assistência particular no exercício do seu ensino e esta

356
a assistência divina traz consigo a infalibilidade; Caso contrário,
Jesus Cristo seria responsável pelo erro134.
Temos a obrigação de ouvir a Igreja como o próprio Jesus Cristo: quem
nos ouve, ouve-Me. Mas como é impossível que Deus nos obrigue a ouvir
uma autoridade que pode ser enganada, é necessário que a Igreja seja
infalível.
A infalibilidade é necessária para que a Igreja exerça a sua missão. Ela é
a Mãe dos cristãos e deve saber alimentá-los com o pão da verdade, sem se
expor a dar-lhes o veneno do erro.
A prerrogativa de não poder enganar a si mesmo ou aos outros com seus
ensinamentos é chamada de infalibilidade.
Não consiste: 1º em ser preservado do pecado; 2º nem em receber uma
nova revelação; 3º nem na descoberta de novas verdades; 4º nem em
conhecer o futuro como os profetas.
A infalibilidade é para a Igreja o privilégio de não poder ensinar o erro,
quando propõe aos fiéis a doutrina de Jesus Cristo.
Este privilégio não provém da experiência nem da ciência dos pastores
da Igreja, mas da assistência especial do Espírito Santo.
Somente Deus é infalível por natureza, mas ele pode, com assistência
especial, tornar infalíveis aqueles a quem ele comissionou a ensinar em seu
nome. A infalibilidade é a graça do estado que preserva a Igreja de todo
erro.
1º A Igreja docente é infalível.Jesus Cristo disse ao Colégio dos
Apóstolos, reunido sob a autoridade de Pedro: “Assim como meu Pai me
enviou, eu também vos envio”. Mas Jesus Cristo foi enviado com o
privilégio da infalibilidade; depois envia o Colégio dos Apóstolos com a
mesma prerrogativa.

134“Estou com você.” Não há ajuda ou poder que não esteja contido nestas poucas palavras. Isso significa que Deus estende sua mão protetora
sobre o homem; que cuida dele, que o ajuda e que garante o seu sucesso. Muitas passagens da Bíblia apoiam esta interpretação. Deus diz a Isaque: fique
neste país. Eu estarei com você e Jacó: volte para a terra de seus pais, eu estarei com você.

No livro do Êxodo, Deus ordena que Moisés se apresente ao Faraó. Moisés teme; Deus lhe
responde: estarei contigo, etc., esta expressão familiar de Deus revela a sua presença e a sua
proteção. Jesus Cristo promete estar todos os dias com seus apóstolos para ensinar com eles,
governar com eles, etc., para que não possam se enganar.

357
Jesus Cristo acrescenta: «Eu vos enviarei o Espírito Santo, Ele vos
ensinará toda a verdade»135. Assim, o Espírito Santo não pode ensinar à
Igreja toda a verdade sem preservá-la de todo erro; Portanto a Igreja é
infalível.
Jesus Cristo também diz: “Tudo o que ligares na terra será ligado no céu;
Tudo o que você desligar na terra será desligado no céu. Segundo esta
promessa, as sentenças da Igreja devem ser aprovadas no céu. Assim, Deus
não pode aprovar o engano, portanto as sentenças da Igreja devem ser
infalíveis.
Finalmente, Jesus Cristo promete que as portas do inferno não
prevalecerão contra a Igreja. Mas se Ela não for infalível, o inferno poderá
prevalecer contra Ela; que se oporia à promessa do seu Fundador.
Uma autoridade com a qual Jesus Cristo está sempre presente não pode
ser enganada sem que o próprio Jesus Cristo seja enganado; um poder cujos
atos o céu deve confirmar não pode cair em erro sem comprometer a
responsabilidade de Deus; um oráculo doutrinário cujas decisões devem ser
admitidas sob pena de condenação, não pode ensinar o erro porque Deus nos
imporia a obrigação de acreditar no erro.
2º É necessário que a Igreja seja infalível.Jesus Cristo deu à sua
Igreja o depósito da revelação para transmitir em toda a sua integridade a
todas as gerações. Mas ela não poderia transmiti-lo intacto ao povo se fosse
exposta ao engano, e ao nunca negar a Deus a ajuda necessária ao
cumprimento de um dever, ele confere à Igreja a infalibilidade, que é a graça
do Estado indispensável para que possa sempre sede fiel custódia do
depósito sagrado. Portanto a Igreja é Infalível. Toda autoridade, para
ensinar, julgar e governar, pressupõe infalibilidade, suposta ou real. Assim,
por exemplo, não há autoridade na família sem a suposta infalibilidade do
Pai; não há autoridade na escola sem a suposta infalibilidade do professor;
não há autoridade nos tribunais sem a suposta infalibilidade dos
magistrados; Não há autoridade na sociedade civil sem a suposta
infalibilidade do legislador. Esta é a base essencial e fundamental da ordem
social: todo poder é necessariamente considerado infalível.
Ora, a Igreja não é uma academia que expõe, emite opiniões: é um
soberano que dita sentenças. Ela envia o

135Jn. 16, 13.

358
consciência, exige a aprovação interior do espírito. Uma suposta
infalibilidade, suficiente para obter atos externos, não é suficiente para a
Igreja, sociedade religiosa e sobrenatural; Para subjugar as inteligências é
necessária uma verdadeira infalibilidade. A consciência não pode submeter-
se exceto à verdade certa. Para ter o direito de impor fé na sua palavra, sob
pena de condenação eterna, um poder deve ter a certeza de que não está
errado; caso contrário, ele exerceria uma tirania estúpida. A verdadeira
infalibilidade é uma necessidade lógica para toda autoridade que fala em
nome de Deus. Malebranche diz isso com muita razão: “Uma autoridade
divinamente instituída não pode ser concebida sem infalibilidade”.
"EntãoLacordaire acrescenta que qualquer religião que não se declare
infalível está, portanto, condenada por erro; porque confessa que pode ser
enganado, o que é o cúmulo do absurdo e da desonra numa autoridade que
ensina em nome de Deus.”
Qual é o objeto da infalibilidade da Igreja? O objecto da infalibilidade é
claramente determinado pelo propósito pelo qual a Igreja recebeu este
privilégio. Ela não está encarregada de ensinar aos homens tudo o que lhes
possa interessar, mas apenas as coisas úteis para a salvação eterna. Tudo o
que se refere à fé ou aos costumes constitui o círculo de sua autoridade
infalível.
EntãoO objeto da infalibilidade inclui:
1º Todas as verdades reveladas contidas na Sagrada Escritura e na
Tradição.
2º Todos as verdades necessariamente vinculado com o
Revelação.
3º As questões da ciência humana que se relacionam imediatamente com
o dogma ou a moralidade.
4º A condenação dos erros contrários à doutrina de Jesus Cristo.
5º Tudo o que diz respeito à disciplina geral, à aprovação de ordens
religiosas, à canonização de santos, etc.
A própria infalibilidade nos dá a segurança de que a Igreja não
ultrapassará esses limites. Portanto, as ciências humanas nada têm a temer
pela sua independência, desde que permaneçam dentro da sua própria esfera.
A Igreja, então, simplesmente ensina tudo o que deve ser acreditado e feito
para ir para o céu. Alimenta as almas com o pão da doutrina e as preserva do
veneno do erro.

359
A) INDEPENDÊNCIA DA IGREJA
153. P. _A Igreja, no desempenho de seus poderes, é
independente de toda autoridade terrena?
R. _Sim, porque Jesus Cristo confiou aos Apóstolos e aos seus
sucessores a missão divina que tinha recebido do seu Pai: “Todo o poder me
foi dado no céu e na terra... Assim como meu Pai me enviou, assim eu envio
você.” . Assim, a missão de Jesus Cristo era soberanamente independente de
todo governo civil. Portanto, a Igreja, que atua como Salvador, goza da
mesma independência.
A Igreja é uma sociedade perfeita e, como tal, possui tudo o que é
necessário para a sua conservação e desenvolvimento; Portanto, não pode
depender de nenhuma outra sociedade.
1º A independência é necessária para a Igreja.Se o poder da
Igreja não fosse independente, faltar-lhe-ia força e unidade, porque cada
Estado poderia impor obstáculos à sua disciplina, restringir ou suprimir as
suas relações com os fiéis. Seria ilusório e ridículo o poder eclesiástico, que
se opõe à vontade do seu fundador. A Igreja não teria unidade, porque os
Estados, em virtude da sua alegada supremacia, poderiam retirar dos seus
ensinamentos ou das suas leis tudo o que os desagrada e estabelecer tantas
Igrejas nacionais diferentes, cujos chefes seriam, não os Apóstolos, mas os
governantes. civis. Desta forma a Igreja de Jesus Cristo seria aniquilada.
2º Jesus Cristo dá realmente independência à sua Igreja.Jesus
Cristo não obteve licença dos príncipes para pregar a sua doutrina, reunir os
seus discípulos, fundar e organizar a sua Igreja. Ele agiu em virtude do seu
poder divino, independente de qualquer criatura. “Todo o poder, disse Ele,
me foi dado no céu e na terra.” Ele enviou seus apóstolos com o mesmo
poder divino, soberano e independente. Mais ainda: previu-lhes que teriam
que lutar contra os poderes da terra, que seriam perseguidos e maltratados
pelos príncipes, e não o seriam, sem dúvida, se os consultassem e
obedecessem; Não deveriam, portanto, consultá-los nem obedecê-los.
Jesus Cristo não ignora a autoridade civil e política, mas restringe-a ao
seu próprio objecto. O Estado é soberano na ordem temporal e Jesus paga o
seu tributo. É por isso que ele diz: “Dai a César o que é de César”. Mas ele
acrescenta: “Dai a Deus o que é de Deus”. O poder espiritual da Igreja é de
direito divino, soberano e independente dos poderes seculares.

360
Assim, os Apóstolos não solicitaram autorização à Sinagoga para pregar
em Jerusalém, nem aos Césares para evangelizar Roma e o universo. A
Igreja deve elevar-se acima de todos os tronos e de todas as fronteiras. Só
assim poderá responder à sua missão e cobrir a grande família das nações
com a sua sombra protectora.

B) PERPETUIDADE DA IGREJA
154. P. _A Igreja deveria existir sempre?
R. _Sim; A Igreja deve existir até o fim dos séculos. A promessa de
Cristo é solene: “Estou convosco até o fim dos tempos”. “Sobre ti, Pedro,
edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela.”
A Igreja existe para a salvação dos homens; Portanto, deve durar
enquanto houver homens para salvar.
A perpetuidade ou indefectibilidade da Igreja consiste no facto de que os
seus elementos essenciais, os seus órgãos constitutivos, a sua fé, a sua vida
social, a sua hierarquia devem durar até ao fim do mundo. Ele poderá
perder, o que já lhe aconteceu, uma parte de seus súditos; mas nunca deixará
de ser a Igreja de Jesus Cristo, fundada em Pedro, apoiada pelo Episcopado
e possuidora da verdadeira fé e da vida sobrenatural.
1º A Igreja é o Reino de Jesus Cristo. Bem, de acordo com os profetas,
este reino deve durar até o fim do mundo. Daniel profetizou, o anjo Gabriel
anunciou a Maria que o Reino de Jesus Cristo não terá fim136.
2º Segundo a profecia de Jeremias, a Igreja, em contraste com a
Sinagoga, é uma Aliança Eterna, um Testamento Eterno. O Deus do céu
levantará um reino que nunca será destruído e durará eternamente137.
A história nos atesta que a Igreja, desde o seu nascimento, sempre foi
perseguida. Mas resistiu a todas estas tempestades e as portas do inferno não
prevaleceram contra ela. Nem o ódio aos judeus deicidas; nem a barbárie
dos imperadores pagãos; nem a violência do cisma e da heresia; nem os
esforços de filósofos incrédulos; nem a sabedoria dos revolucionários; nem a
amargura

136Lc. 1, 33.

137 Jer. 22, 40.

361
O satanismo dos maçons... nada foi capaz de prevalecer contra a Igreja, e o
resultado da fúria dos ímpios será provar, mais uma vez, a sua divindade, e
ao mesmo tempo contribuir para a realização das profecias que consulte-o.

II. A IGREJA CATÓLICA É A VERDADEIRA


IGREJA DE JESUS CRISTO
155. P. _Jesus Cristo fundou várias igrejas?
R. _Não; Jesus Cristo fundou apenas uma Igreja, que ele compara a um
rebanho liderado por um único pastor.
Portanto, entre as diferentes Igrejas que se autodenominam cristãs,
apenas uma pode ser a verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
O Filho de Deus construiu a sua única Igreja sobre um único
fundamento, sobre Simão Pedro; Ele é aquele a quem deu o poder das
chaves, aquele a quem confiou todo o seu rebanho como único pastor dos
cordeiros e das ovelhas. Portanto, Jesus Cristo reconhece apenas um
edifício, um reino, um rebanho, uma Igreja.
Três sociedades religiosas se autodenominam cristãs:
1º A Igreja Católica é a mais antiga e difundida. É também chamada de
Igreja Romana, porque seu Chefe é o Papa, Bispo de Roma. Os outros se
afastaram disso.
2º As Igrejas Grega e Russa, separadas há muitos séculos da Igreja
Romana: estas professam quase toda a doutrina cristã, mas não reconhecem
a supremacia do Papa.
3º As Igrejas Protestantes, separadas da Igreja Católica no século XVI.
Estão divididos em três ramos principais: na Alemanha, os luteranos, cujo
fundador é Lutero; na Suíça e na França, os calvinistas, cuja criação se deve
a Calvino; e finalmente os anglicanos, fundados por Henrique VIII, rei da
Inglaterra. O protestantismo, por sua vez, está subdividido em inúmeras
seitas.
Todos os sistemas gregos e protestantes se resumem a três:
a) Primeiro sistema.É o dos liberais. Estes confessam que Jesus
Cristo estabeleceu uma religião, mas não uma sociedade religiosa. Portanto,
todos são livres de fazer parte de uma Igreja ou de permanecer fora dela,
bem como de pertencer àquela Igreja que mais lhe agrade. É o sistema que
mais agrada aos protestantes modernos, porque os isenta de toda autoridade
religiosa.

362
b) Segundo sistema.Seus seguidores acreditam que Jesus Cristo
estabeleceu uma sociedade religiosa, chamada Igreja; mas sem determinar a
sua natureza, a sua constituição e o seu governo. Alguns atribuem autoridade
religiosa ao Estado: é o cesarismo. Tais são os anglicanos e os luteranos,
sujeitos aos príncipes civis. Outros reconhecem uma autoridade religiosa não
sujeita à autoridade civil, mas colocam-na na multidão: é a democracia. Tais
são os calvinistas, que atribuem autoridade aos mais velhos.
c) Terceiro sistema.Os seus apoiantes afirmam que Jesus Cristo não
deu autoridade religiosa a todos os cristãos, mas aos Apóstolos e aos seus
sucessores. Depois disso, todos os Bispos são iguais por direito divino, e o
Romano Pontífice nada mais tem do que um primado de honra e
precedência. Assim são certos anglicanos, os episcopais dos Estados Unidos
da América e os gregos cismáticos.
O erro destes vários sistemas manifesta-se depois de Jesus Cristo ter
estabelecido a Igreja na forma de uma sociedade perfeita, com Bispos para
governá-la e um hierarca supremo para preservar a unidade da fé e do
governo.
156. P. Qual é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo?
A._A verdadeira Igreja de Jesus Cristo é a Igreja Católica, Apostólica e
Romana.
1º Ela é a única que possui a Constituição estabelecida por Cristo em sua
Igreja.
2ª Ela é a única que se baseia em Pedro, primeiro Bispo de Roma.
3º Ela é, finalmente, a única que reúne as notas da verdadeira Igreja de
Jesus Cristo.
De acordo com as promessas divinas, a Igreja de Jesus Cristo deve ser
perpétua e infalível. É o mesmo hoje que Jesus Cristo estabeleceu desde o
princípio: os homens não podem mudar o plano de Deus. Portanto, qualquer
Igreja que não tenha a Constituição estabelecida por Cristo, que não seja
construída sobre Pedro, ou que não tenha as propriedades determinadas pelo
Salvador, não é a verdadeira Igreja.

363
1º A Igreja Católica tem a mesma Constituição da
Igreja de Jesus Cristo
157. P. _A Constituição da Igreja Católica, é a constituição
estabelecida por Cristo na sua Igreja?
R. _Sim; A atual Constituição da Igreja Católica é a mesma que foi
estabelecida por Jesus Cristo.
Em todas as sériesNa hierarquia encontramos o Papa, sucessor de
São Pedro, que governa os pastores e os fiéis.
Na série inferior, aos Bispos, sucessores dos Apóstolos, encarregados
do governo das dioceses, assistidos pelos Padres como os Apóstolos pelos
setenta e dois discípulos.
Finalmente, os simples fiéis formam, como antes, o rebanho confiado ao
cuidado atento dos pastores.
Pois bem, esta Constituição estabelecida por Jesus Cristo é encontrada
apenas na Igreja Católica.
Fora da Igreja Católica nada semelhante é encontrado; nada, portanto,
que se assemelhe à obra de Jesus Cristo.
Os protestantes,Os luteranos, calvinistas, não têm sacerdotes nem
bispos: os seus ministros são simples funcionários, enviados por um
consistório, como seria um professor enviado por um conselho escolar para
dirigir uma classe.
Os anglicanos, afirmam ter sacerdotes e verdadeiros bispos; suposição
completamente falsa, mas estes supostos bispos não têm outro líder senão o
rei da Inglaterra: quando o trono é ocupado por uma mulher, ela está à frente
do episcopado do seu país; que, aliás, não se parece muito com o Colégio
Apostólico.
Os cismáticos gregos e os russos, que se autodenominam
ortodoxos, têm Bispos que não estão em comunhão com o Papa. Não têm
um líder legítimo para ocupar o lugar de São Pedro e dependem de
soberanos temporais. Desde quando Jesus Cristo sujeitou o ministério de
seus pastores aos príncipes da terra?...
Portanto, nenhuma destas Igrejas é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
Este título pertence apenas à Igreja Católica Romana. Ela é a única que
preserva intacta a constituição primitiva estabelecida pelo seu Divino
Fundador e perfeitamente conservada ao longo dos séculos.

364
2º A Igreja sujeita ao Papa é a verdadeira Igreja de
Jesus Cristo
158. P. -O Papa, Hierarca Supremo da Igreja, é o sucessor de
São Pedro?
R. _Sim; O Papa é o sucessor de São Pedro.
Ele, como Pedro, ocupa a Sé de Roma, remonta a Pedro. Através de uma
série ininterrupta de predecessores, ele, como Pedro, é o Soberano de toda a
Igreja, e a sua primazia tem sido reconhecida há dezenove séculos. O Papa é
o sucessor de Pedro em todos os seus direitos. Ora, é assim que onde está
Pedro, aí está a Igreja; Portanto a Igreja Católica é a verdadeira Igreja de
Jesus Cristo.
Só o primado do Romano Pontífice é suficiente para discernir a
verdadeira Igreja de Jesus Cristo. Quando o Filho de Deus fundou o seu
Império Espiritual sob Pedro, fez do príncipe dos Apóstolos o tronco de uma
dinastia de Pontífices, que se perpetuou sem interrupção, até Paulo VI (hoje
João Paulo II), através dos seus duzentos e sessenta anos. -cinco sucessores
de Pedro. Esta sucessão de Papas, na Igreja Romana, constitui o tronco da
árvore mística plantada por Jesus Cristo, e cujos ramos espalhados por toda
a terra são as Igrejas particulares. Os ramos destacados deste tronco divino
são as seitas heréticas e cismáticas.
1º O Papa ocupa a cadeira de Pedro.O Príncipe dos Apóstolos
estabeleceu a sua Sé em Roma no tempo do Imperador Cláudio, no ano 42
da nossa era; Após vinte e cinco anos de reinado, sofreu, sob o império de
Nero, um glorioso martírio, em 29 de junho de 67. Enquanto Pedro viveu,
não transferiu sua Sé para nenhum outro lugar: morreu como Bispo de
Roma. A história, as tradições, os monumentos atestam isso. Além disso,
nenhuma seita jamais reivindicou para si este privilégio da Igreja Romana.
Então São Pedro uniu o poder supremo que havia recebido de Nosso Senhor
Jesus Cristo à Sé de Roma e o deixou em herança aos seus sucessores.
2º Em todos os séculos o Papa exerceu soberania
indiscutível sobre toda a Igreja.Desde os primeiros séculos até hoje, o
Bispo de Roma foi reconhecido como o Vigário de Jesus Cristo, o Bispo dos
Bispos, o Sumo Pontífice, o Supremo Hierarca da Igreja. Eles vêm até ele do
leste e do oeste, e suas decisões se tornam lei.

365
No primeiro século, os coríntios não recorreram ao Apóstolo São João,
que vivia em Éfeso, para resolver as divergências que surgiam entre eles,
mas consultaram o Papa São Clemente, terceiro sucessor de São Pedro. No
ano de 197, o Papa São Vítor pôs fim a uma prolongada discussão sobre a
data da festa da Páscoa. O Papa Estêvão elimina a questão do batismo dos
hereges, etc.
Assim, desde a origem da Igreja e ao longo da sucessão dos séculos, os
factos mais positivos e os testemunhos mais seguros testemunham a fé dos
pastores e dos fiéis no Primaz da Sé de Roma. Cremos que é supérfluo
aprofundar estes factos que podem ser lidos na história da Igreja.
De resto, todos os Santos Padres, por unanimidade, reconhecem o
Primado da Jurisdição conferido a São Pedro. Daí o princípio de Santo
Agostinho: “Roma falou, a causa acabou”138. À autoridade dos Padres da
Igreja junta-se a dos Concílios. Os primeiros quatro Concílios Ecumênicos:
Nicéia, em 325; Constantinopla, em 381; Éfeso, em 431; Calcedônia, em
451, sempre venerada quase tanto quanto os quatro Evangelhos pela Igreja
universal, testemunha a supremacia do Papa.
Um facto que por si só demonstra a primazia dos Papas pelo seu
exercício é que nunca, nem no Oriente nem no Ocidente, houve um único
Concílio que tenha sido reconhecido como Ecuménico, isto é, como
representante da Igreja universal. ., a menos que tenha sido convocado,
presidido pelo Papa ou pelos seus delegados e por ele confirmado. E como a
participação dos Papas era considerada essencial pela Igreja, toda a Igreja
reconhecia, de facto, o seu Primado de poder e de jurisdição.
No Concílio Geral de Florença, em 1439, tanto gregos como latinos
subscreveram o seguinte decreto:
“Definimos que o Pontífice tem o primado sobre todo o universo: que
este mesmo Romano Pontífice é o sucessor do bem-aventurado Pedro,
príncipe dos Apóstolos: que ele é o Vigário de Jesus Cristo e o Hierarca
Supremo de toda a Igreja, o Pai e o Doutor de todos os cristãos: que recebeu
de Nosso Senhor, na pessoa do bem-aventurado Pedro, todo o poder para
alimentar, governar e governar a Igreja universal, está declarado nos atos
dos Concílios Ecumênicos e nos Cânones Sagrados .

138Vê-se: Monsenhor De Segur, Sumo Pontífice.

366
Desta forma, no Concílio de Florença, os gregos, hoje cismáticos,
reconheceram o Papa, Bispo de Roma, como sucessor de Pedro e Chefe da
Igreja. Ora, naquela época ainda não existiam protestantes, só havia uma
Igreja no mundo: a Igreja Romana. Mas esta Igreja não deixou de existir;
Portanto ela é hoje, como em 1439, a única Igreja verdadeira.
Conclusão: A Igreja Católica é a verdadeira Igreja de Jesus
Cristo.Provamos que Nosso Senhor Jesus Cristo conferiu a Pedro, para que
transmitisse aos seus sucessores, o primado da jurisdição sobre a Igreja
universal. Mas está provado que esta primazia pertence ao Papa, sucessor de
São Pedro; Portanto a Igreja que tem o Papa como Cabeça é a verdadeira
Igreja de Jesus Cristo.
Daí esta máxima dos Santos Padres: “Onde está Pedro, aí está a Igreja”.
É como se dissesse: onde está o tronco vivo, aí está a árvore; onde está o
centro, aí está o círculo; onde está o alicerce, aí está o edifício; Onde está o
trono, aí está o Império. Pois bem, é assim que Pedro está na sede de Roma
na pessoa de Paulo VI (hoje João Paulo II); depois há a Igreja de Cristo.
Monsenhor Besson, na sua segunda conferência sobre a Igreja,
desenvolve este argumento de uma forma tão profunda quanto atraente:
“Agora vou a cada cristão, seja qual for a comunhão a que
pertençam; Apelo à sua boa fé e enceto com ele o seguinte diálogo:
-Você acredita no Evangelho? _Sim, eu acredito nele.
_Você acredita que o Evangelho foi escrito para todos os tempos,
para todos os lugares, e que cada página desse livro divino deveria
ter sua representação na Igreja fundada por Jesus Cristo?
_Sim; assumindo que Jesus Cristo é Deus.
_Bom, esse fundamento, essas chaves, esse pastor único, infalível,
eterno, esse Pedro, deve estar em algum lugar, certo?
_Não se pode negar, se você acredita no Evangelho.
_Procure agora em Constantinopla, em Londres, em Genebra,
em Berlim, nesta ou naquela Igreja separada, no que quiser, o traço
deste fundamento, a sombra destas chaves, o nome deste Pastor.
Você encontrará alguma autoridade que se assemelhe à de Pedro?
-Não, não há nada disso.

367
_Vocês se consideram, então, obrigados a reconhecer que onde
Pedro não foi encontrado, uma página do Evangelho foi rasgada?
_Você tem que reconhecer, se não quiser fechar os olhos para as
evidências.
_E se Pedro estiver em algum lugar, sentado na sua rocha, com
as chaves na mão, com a palavra nos lábios, com o cajado sobre o
rebanho de Cristo espalhado pelo mundo, o que você concluirá
disso?
_Concluirei que ali o Evangelho foi preservado intacto. Aceito a sua
proposta e vou provar-lhe com a história que Pedro vive em Roma”.

DECRETOS DO CONCÍLIO VATICANO I

Primeira constituição dogmática sobre a Igreja


O Concílio Vaticano I, na sua constituição “Pastor Aeternus”, comprova
pelo Evangelho e pela Tradição, a instituição do primado conferido por
Nosso Senhor Jesus Cristo ao bem-aventurado Pedro, e encerra o primeiro
capítulo com o seguinte decreto:
“Se alguém disser que o bem-aventurado Apóstolo Pedro não foi
instituído por Cristo Nosso Senhor Príncipe dos Apóstolos e Cabeça visível
de toda a Igreja Militante, ou que o próprio Pedro recebeu apenas um
primado de honra e não um primado próprio e de jurisdição verdadeira,
direta e imediatamente conferido pelo próprio Jesus Cristo, seja
anatematizado”.
O mesmo Concílio, no segundo capítulo, comprova a perpetuidade do
primado de Pedro nos Romanos Pontífices.
“É facto notável em todos os séculos, que, até aos nossos tempos e
sempre, o Santo e Beato Pedro, Príncipe e Cabeça dos Apóstolos, coluna da
fé e fundamento da Igreja, que recebeu de Nosso Senhor Jesus Cristo,
Salvador e Redentor do género humano, chaves do Reino, vive, reina e julga
nos seus sucessores os Bispos desta Santa Sé de Roma, por ele fundada e
consagrada com o seu sangue. Por isso, cada um dos sucessores de Pedro
nesta Cátedra possui, em virtude da instituição do próprio Jesus Cristo, o
primado de Pedro sobre a Igreja universal”.
O Santo Concílio encerra esse capítulo com o seguinte decreto:

368
“Se alguém disser que não é por instituição de Nosso Senhor Jesus
Cristo, ou por direito divino, que o Beato Pedro tem sucessores perpétuos no
seu primado sobre toda a Igreja; ou que o Romano Pontífice não seja o
sucessor do Beato Pedro neste mesmo primado, seja anatematizado.”
No terceiro capítulo, SOBRE O PODER E A NATUREZA DO
PRIMAZ DO PONTÍFICE ROMANO, o Santo Concílio recorda, no início,
a definição dada pelo Concílio de Florença; ele renova e explica:
“Ensinamos, portanto, e declaramos que a Igreja Romana, pela vontade
de Nosso Senhor, possui sobre todas as outras Igrejas o principado com
poder de jurisdição ordinária, e que este poder de jurisdição
verdadeiramente episcopal que o Romano Pontífice possui, é um poder
imediato, que todos, pastores e fiéis, qualquer que seja o seu rito e
dignidade, lhe estejam sujeitos pelo dever de subordinação hierárquica e de
verdadeira obediência, não só em matéria de fé e costumes, mas também no
que diz respeito à disciplina e ao governo da Igreja estendida por todo o
universo, para que, preservando a unidade na comunhão e a profissão da
mesma fé com o Romano Pontífice, a Igreja de Cristo seja um único rebanho
sob um único Pastor supremo. Tal é o ensinamento da verdade católica, do
qual ninguém pode afastar-se sem perder a fé e a salvação”.
“Se alguém dissesse que o Romano Pontífice não tem mais do que um
cargo de supervisão ou direção, e não o pleno e supremo poder de jurisdição
sobre toda a Igreja, não só no que diz respeito à fé e aos costumes, mas
também no que se refere a a disciplina e o governo da Igreja que se estende
por todo o mundo ou que detém apenas a parte principal e não a totalidade
deste poder; ou que o poder que possui não é ordinário e imediato, tanto
sobre todas as Igrejas e sobre cada uma delas, como sobre todos os pastores
e sobre todos os fiéis e sobre cada um deles, seja anatematizado.
No quarto e último capítulo, o Concílio trata da infalibilidade doutrinária
do Romano Pontífice. Mais tarde veremos as provas deste dogma e do
decreto do Concílio.

369
3º Notas da verdadeira Igreja de Jesus Cristo
A primazia de São Pedro é suficiente para provar que a Igreja Romana é
a de Jesus Cristo; mas a Providência divina multiplicou os sinais distintivos
da verdadeira Igreja, para nos permitir adaptar os meios de demonstração à
diversidade das inteligências. Entre os homens, alguns são mais sensíveis a
um determinado argumento e outros a outro. Pois bem, é necessário que
todos possam, sem dificuldade, conhecer a Igreja de Jesus Cristo, porque só
nela se encontra a religião verdadeira e obrigatória.
As notas que distinguem a Igreja de Jesus Cristo das Igrejas fundadas
por homens são chamadas de sinais.
Esses sinais são propriedades essenciais da Igreja de Cristo,
manifestados exteriormente por personagens sensíveis e permanentes.
Cada sinal deve ser:
1º Mais fácil de conhecer do que a própria Igreja.
2º Essencial à verdadeira Igreja.
3º Incompatível com uma falsa Igreja.
159. P. _Quais são os sinais da verdadeira Igreja?
R. _Existem quatro sinais da verdadeira Igreja. Deve ser: Uno, Santo,
Católico e Apostólico.
Estas são as notas da Igreja de Jesus Cristo, reconhecida pelo Concílio de
Nicéia, o primeiro Concílio Ecuménico.
A unidadeconstitui a forma da Igreja; Santidade, sua vida;
Catolicidade, a extensão do seu domínio; Apostolicidade, sua idade.
A Igreja é o Corpo Místico de Jesus Cristo, sua Encarnação permanente
entre os homens; Portanto, a marca das perfeições do Deus-Homem deve ser
encontrada na Igreja.
1º Só existe um Cristo; Nele, a natureza divina e a natureza humana
estão unidas por uma união hipostática ou pessoal. Da mesma forma, existe
uma só Igreja, onde o divino e o humano, o visível e o invisível, estão
unidos139.

139No Verbo Encarnado há o invisível e o visível; Deus invisível e o Homem que vive e se manifesta aos nossos sentidos e nos revela com as
suas ações o princípio divino que o anima: Ele é o Deus_Homem.

370
2º Jesus Cristo é a própria Santidade. Ele manifestou esta santidade,
vivendo em carne mortal, através de suas virtudes e milagres. A sua Igreja é
Santa e Imaculada, apesar dos pecados dos seus membros, e manifesta a sua
santidade externamente e pelas suas obras e milagres. A santidade é a sua
vida.
3º Jesus Cristo é o Salvador do mundo; Ele morreu por todos e quer a
salvação de todos. É necessário que a sua Igreja seja como Ele, católica ou
universal.
4º Enviado por seu Pai, Jesus Cristo envia seus Apóstolos, que, por sua
vez, enviam seus sucessores. Assim, a Igreja, na sucessão dos séculos, é
sempre católica.
A verdadeira Igreja de Jesus Cristo, feita à sua imagem e semelhança, é
uma sociedade, ao mesmo tempo, humana e divina, que Ele vivifica com o
seu espírito e na qual se refletem a sua unidade, a sua santidade, a sua
imensidão e a sua missão divina. .

1ºOUNIDADE.
O que é necessário para que a Igreja seja uma?
Seus membros estão obrigados a: 1º professar a mesma fé; 2º, participar
dos mesmos Sacramentos, 3º, obedecer ao mesmo Hierarca Supremo: isso é
o que se chama unidade de fé, unidade de culto, unidade de governo.
Por que é necessário que a Igreja seja uma?
É necessário que a Igreja seja uma só na sua fé, porque Jesus Cristo
ensinou apenas uma e a mesma doutrina. A verdade é uma só: Deus, que é a
própria Verdade, não foi capaz de revelar os prós e os contras, o sim e o não.
É necessário que a Igreja seja una no seu culto, porque Jesus Cristo
estabeleceu a mesma verdade para todos os homens, forma de honrar a Deus
e o mesmo meio de salvação: um único sacrifício e os mesmos Sacramentos.
É necessário que a Igreja seja una no seu governo; porque Jesus Cristo
fundou na sua Igreja um corpo de pastores colocados sob a autoridade de um
único Governador supremo. A unidade é a

Assim, na Igreja o invisível é o que se chama alma: os dons do Espírito Santo, a fé, a
graça; O que é visível é o corpo, a sociedade externa dos pastores e dos fiéis, que com as suas
obras manifestam a vida divina que o Espírito Santo lhes comunica.

371
caráter essencial do Cristianismo: um só Deus, uma só Fé, um só Batismo,
etc.
Não admitir um só ponto da doutrina de Jesus Cristo é quebrar a unidade
da fé: é heresia. Rejeitar a autoridade dos pastores legítimos, e
particularmente a do Pastor Supremo, é quebrar a unidade do governo: é
cisma.

2ºSimANTIDADE.
O que é necessário para que a Igreja seja Santa?
É necessário: 1º, que tenha Jesus Cristo como fundador, fonte de toda
santidade; 2º, que ele propõe aos homens na sua Doutrina, nos seus
Sacramentos, nas suas Leis, o meio mais perfeito de santificação; 3º, que
produz sempre Santos, cuja virtude eminente se manifesta pelo dom de fazer
milagres.
Por que é necessário que a Igreja seja Santa?
É necessário, porque o propósito da Igreja é conduzir os homens à
salvação eterna, através da prática da Santidade. É por isso que ele não pode
alcançar este fim sem lhes proporcionar os meios de santificação. A eficácia
destes meios deve ser demonstrada pela santidade heróica dos filhos da
Igreja que seguem fielmente os seus conselhos. Além disso, esta santidade
deve ser afirmada de tempos em tempos com verdadeiros milagres. Os
milagres não são algo acidental e passageiro na verdadeira Igreja; São o
cumprimento das promessas de Jesus Cristo que não se limitaram a nenhum
momento. “Se alguém crê em Mim, também fará as obras que Eu faço, e
ainda maiores”140.
Contudo, não é necessário que todos os membros da Igreja sejam santos;
Jesus Cristo deixa-lhes a liberdade de escapar da eficácia da sua religião. Ele
nos avisa que no campo do dono da casa o joio cresce junto com o trigo.
Basta que a doutrina, a moral, o culto e a legislação da Igreja reúnam
condições de extraordinária eficácia para santificar os seus membros.

3ª CATOLICIDADE.
O que é necessário para que a Igreja seja católica?

140Jn. 14, 12; Mc. 16, 17-18.

372
É necessário: 1º, que tenha força expansiva universal; 2º, que está
espalhado pela maioria dos países conhecidos; 3º, que em número supera as
seitas heréticas ou cismáticas.
Por que é necessário que a Igreja seja católica?
É porque Jesus Cristo quer que todos os homens sejam salvos, e eles não
podem ser salvos exceto através da Igreja. É necessário, portanto, que em
todos os momentos a Igreja esteja aberta a todos, para que possam entrar
neste barco da salvação. Deus pretende que sua religião, como o sol, ilumine
todos os homens. Jesus Cristo, Mediador comum, confiou aos seus
Apóstolos a tarefa de pregar o Evangelho a todos os povos; A sua Igreja
deve, portanto, encontrar-se em todos os tempos e em todos os lugares para
abrir as portas do céu aos homens.
São os mesmos Apóstolos que, no seu Símbolo, dão à Igreja o nome de
Católica: “Creio na Santa Igreja Católica” (Credo dos Apóstolos). Deve,
portanto, ser moralmente difundido em todo o mundo.
A catolicidade supõe a unidade de doutrina e governo. É necessário que
a Igreja seja a mesma em todos os lugares. Um conjunto de seitas que nada
mais tinham em comum do que o nome não poderia ser chamado de Igreja
Católica.
A catolicidade não exige que a Igreja exista em todas as partes do
mundo, sem exceção, muito menos que compreenda a universalidade dos
homens. Basta que exista na maioria das cidades conhecidas e que abranja
um número maior de membros do que outras seitas cristãs.

4ª APOSTOLICIDADE.
O que é necessário para que a Igreja seja Apostólica?
É necessário: 1º, que a sua origem remonte aos Apóstolos; 2º, que ensina
a mesma doutrina dos Apóstolos; 3º, que seja sempre governada por pastores
cuja missão tem origem nos Apóstolos, com o consentimento do sucessor de
Pedro, Cabeça da Igreja.
Por que é necessário que a Igreja seja apostólica?
É: 1º, porque a Igreja deve manter intacta a doutrina revelada aos
Apóstolos; 2º, porque deve preservar, através de uma série ininterrupta de
pastores, o ministério e a missão apostólica. Jesus Cristo confiou apenas aos
Apóstolos a missão de pregar o

373
Evangelho a toda criatura. Qualquer pessoa que não seja enviada por eles
não tem autoridade para pregar a doutrina de Jesus Cristo.
Para que os pastores sejam legítimos, devem, por transmissão sucessiva,
receber os seus poderes dos Apóstolos e permanecer sujeitos ao sucessor de
Pedro, como os Apóstolos estavam ao próprio Pedro.
É necessário, portanto, que a Igreja seja Apostólica em razão da sua
origem, da sua doutrina, do seu ministério. “O caráter infalível e indelével
de todas as seitas, sem exceção de uma única, é que sua origem sempre pode
ser rastreada até uma data tão precisa que não será possível negá-la”
(Bossuet). Assim, a história regista o momento do nascimento, por vezes
escandaloso, mas sempre ilegítimo, de todas as seitas cismáticas e heréticas.

4º A Igreja Romana tem estas quatro notas


160. P. _Em qual Igreja encontramos essas quatro notas?
R. _Somente na Igreja Romana essas quatro notas podem ser
encontradas. Ela é: 1ª, Um; 2º, Papai Noel; 3º, católico e 4º, apostólico.
1º É Um:Todos os seus membros professam a mesma fé, participam dos
mesmos Sacramentos e obedecem ao mesmo Hierarca Supremo: o Papa.
2º Ela é Santa:O seu fundador é Jesus Cristo, fonte de toda a
Santidade; oferece-nos todos os meios para nos santificarmos; Por último,
sempre formou Santos, cuja santidade foi comprovada com milagres.
3º É católico ou universal:Abrange todos os tempos e é sempre
igual, em todos os lugares. Só ela tem o privilégio de ser conhecida e ter
assuntos em todas as partes do mundo.

1º A IGREJA CATÓLICA ROMANA É UMA.


a) Um em sua fé.Todos os católicos admitem as mesmas verdades, os
mesmos preceitos, os mesmos conselhos evangélicos. Viaje pela terra de um
extremo ao outro e em todas as partes do globo, você ouvirá o filho da Igreja
Romana cantar o mesmo Credo. Volte através dos tempos até os tempos
apostólicos e você verá dezenove séculos professando o mesmo símbolo. O
princípio que mantém esta unidade da fé é a Autoridade da Igreja: todo
católico deve aceitar os dogmas por ela ensinados, sob pena de

374
ser excluído como herege. Negar um único artigo de fé é afastar-se da
comunhão da Igreja Católica. Quanto ao que está definido, a Igreja deixa a
liberdade de opinião, segundo o axioma de Santo Agostinho: “Naquilo que é
verdadeiro: unidade; no que é duvidoso: liberdade; em todas as coisas:
caridade”.
b) Um em seu culto.As partes essenciais do culto: oração, sacrifício,
Sacramentos, são idênticas em todos os lugares. As variações do rito são
puramente acessórias.
Quer se trate da Basílica de São Pedro, ou da última capela da aldeia,
encontrará sempre um Altar, uma mesa eucarística, pias baptismais,
confessionários, um púlpito, etc. Em todas as Igrejas existe o mesmo Missal,
recitam-se as mesmas orações, oferece-se o mesmo Sacrifício, os sete
Sacramentos são administrados da mesma forma. As armas do culto externo
são essencialmente as mesmas.
c) Um em seu governo.Todos os membros da Igreja estão unidos
entre si por uma Hierarquia completa. Os fiéis estão sujeitos aos seus
sacerdotes; os sacerdotes, aos seus bispos; os Bispos, ao Papa, reconhecido
por todos como Chefe Supremo. A Igreja Católica é como um vasto círculo
cujo centro está em Roma; e cujos raios alcançam os confins da terra141.
Aquele que se recusa a submeter-se à autoridade dos pastores legítimos é
excluído da Igreja como cismático. Tal é a regra que mantém nela perfeita
unidade; Esta regra está de acordo com as palavras do Salvador: «Aquele
que não ouvir a Igreja, seja-vos como publicano gentio»142.
Graças a esta tríplice unidade, cada católico, seja qual for o país em que
se encontre, está entre os católicos e está sempre na sua família; participe do
mesmo sacrifício; recite as mesmas orações; obedecer ao mesmo Chefe;
acredite nas mesmas verdades.

2º A IGREJA CATÓLICA ROMANA É SANTA.


a) Em seu Fundador.Não tem outro fundador senão Jesus Cristo, o
Santo dos Santos, o Filho de Deus feito homem, modelo e fonte de toda a
santidade. Foi necessário todo o poder de Deus para fundar a Igreja nas
condições em que foi estabelecida, assim como

141Ver Bispo Besson, Conferência sobre a Ordem da Igreja.

142Mt. 18, 17.

375
preservá-lo através dos séculos, apesar das perseguições, das heresias e dos
cismas.
b) Nos meios que proporciona aos homens para alcançar a
santidade.A sua doutrina, os seus preceitos, os seus conselhos, os seus
Sacramentos, tudo combate o mal, tudo conduz à virtude, tudo conduz à
santidade mais heróica. Basta que a nossa vontade preste assistência fiel e
perseverante à graça de Deus. A Igreja Romana produz santidade com a sua
doutrina, que trava uma guerra total contra todos os vícios e nos encoraja a
praticar todas as virtudes. Ela comunica a santidade, particularmente através
dos Sacramentos, que conferem ou aumentam a Graça Santificante.
c) Nos numerosos Santos que produziu e que produz
continuamente.Só Deus é Juiz da santidade interior: os olhos do corpo
não podem percebê-la. Mas a santidade se manifesta através de obras e,
sobretudo, através de milagres. Os santos abundam entre os membros da
Igreja: encontram-se em todas as condições; em todos os climas e em todos
os séculos. São contados em milhões... Deus deu testemunho da sua
santidade com numerosos milagres, ruidosos e autênticos.
Os milagres nunca cessaram na Igreja Romana. Em todos os séculos,
Deus deu-lhe este poder sobrenatural. Os prodígios que Santo Antônio,
Santo Hilário, São Martinho operaram no século IV, São Domingos, São
Francisco de Assis, São Vicente Ferrer, Santo Antônio de Pádua, São
Francisco Xavier, Santa Teresa e muitos outros trabalharam posteriormente,
demonstrando com isto significa que Deus aprovou as virtudes praticadas
dentro da Igreja Romana. Esta perpetuidade dos milagres é demonstrada
pelos processos legais de canonização dos santos. O sábio Abate Moigno
publicou, em seus Esplendores da Fé, a ata do processo de beatificação e
canonização de São Benito José Labre. Podem ver-se nesse volume os
inúmeros cuidados com que a Igreja se rodeia e os milagres que exige antes
de canonizar aqueles que coloca nos altares. Hoje e sob os nossos olhos
acontecem também maravilhas que a impiedade teima em negar, mas cuja
realidade evidente nunca poderá destruir. Entre estas maravilhas
mencionaremos, sempre com o devido respeito à autoridade da Igreja, as
curas realizadas em Lourdes e os prodígios da vida do Cura d'Ars (Ver Dr.
Boissarie, As grandes curas de Lourdes).

376
d) A Igreja é Santa nas suas obras.Foi ela quem tirou o mundo do
paganismo e quem lhe trouxe os benefícios que discutimos antes.
Nada poderia igualar o zelo que ele demonstra em tornar os homens mais
cristãos e mais fiéis. Fundou asilos, escolas, hospitais, abrigos para aliviar
todos os sofrimentos. Ela é a única que inspira a abnegação caritativa das
Irmãs da Caridade e das Irmãs de Enfermagem, das Irmãzinhas dos Pobres,
das Sociedades de São Vicente de Paulo, de São Francisco de Regis, etc.
Diariamente, os seus valentes missionários abandonam tudo: o descanso,
a família e a pátria, para irem, arriscando a vida, levar a Boa Nova do
Evangelho aos povos idólatras. Os missionários: os católicos, apesar das
diversas dificuldades e obstáculos, são coroados com o sucesso mais
lisonjeiro. Devemos contar milhões de pagãos convertidos na China, em
Tonkin, na África, na América, na Oceania.
A inesgotável fertilidade da Igreja Romana para tudo o que há de bom, o
seu extraordinário poder de converter as nações mais bárbaras, bem como os
pecadores mais empedernidos, são verdadeiros milagres de ordem moral que
comprovam a sua santidade e divindade. Por mais abomináveis que sejam os
obstáculos e as restrições impostas à sua acção, por mais sangrentas que
sejam as perseguições de que por vezes é vítima, a Igreja Romana amplia o
seu império e prossegue imperturbavelmente o trabalho sempre fecundo do
seu apostolado.
Não há dúvida de que a Igreja Romana não santificou e não santifica
todos os seus membros. Existem, existiram e sempre existirão pecadores na
Igreja. O joio, segundo a parábola de Nosso Senhor Jesus Cristo, cresce
junto com o trigo, mas onde quer que apareça, sempre se mostra nascido do
abuso da liberdade humana. Se muitos cristãos desonram a Igreja com a sua
conduta indigna, é porque repudiam a sua doutrina e a sua moral. Sob o
domínio das paixões, fazem o oposto do que a Igreja lhes prescreve e
aconselha. Todo aquele que se conforma às normas da Igreja Romana leva
uma vida exemplar, cheia de méritos, como a dos Santos que ela canoniza.

377
3º A IGREJA ROMANA É CATÓLICA.
Supera de tal forma as outras sociedades cristãs, pela sua difusão e pelo
seu brilho, que o título de católica permaneceu como um nome próprio que a
distingue de todas as outras.
A Igreja Romana é católica ou universal:
a) Pelo tempo.Segundo a confissão de todos, tem a sua origem em
Jesus Cristo. Mas não basta dar-lhe dezenove séculos de existência: é tão
antigo quanto o mundo, pois abrange a revelação primitiva, a mosaica e a
cristã; A Igreja Católica é o coroamento de um edifício iniciado no dia da
criação.
b) Por causa da extensão.A Igreja Romana está espalhada pelas
cinco partes do mundo. Nas aldeias mais remotas, nas ilhas menos
conhecidas do oceano, os católicos estão por toda parte.
e) Pelo número.Tem cerca de trezentos milhões de súditos: cem
milhões a mais do que todas as outras seitas juntas. Desde o dia de
Pentecostes, ele nunca deixou de ampliar as suas conquistas, de multiplicar
os seus filhos; O que ele perde numa nação, ele mais do que ganha em outra.
A catolicidade da Igreja Romana não é apenas um nome, é um facto vivo,
autêntico, que atrai todos os olhares e se impõe pela sua grandeza e pela sua
duração de dezanove séculos.
A catolicidade da Igreja manifestou-se desde o dia de Pentecostes. As
línguas de fogo que desceram sobre a cabeça dos Apóstolos simbolizavam a
difusão da doutrina que eles tinham como missão pregar. O dom das línguas
que lhes foi concedido permitiu-lhes fazer compreender o Evangelho a todas
as nações representadas em Jerusalém143.
Todo católico romano pode repetir a frase de São Paciano, bispo de
Barcelona: “Cristão é meu nome, católico meu sobrenome”.

4º A IGREJA ROMANA É APOSTÓLICA.


a) Por causa de sua origem.Fundada por Jesus Cristo, foi
propagada pelos seus Apóstolos, particularmente por São Pedro, que
estabeleceu a sua Sé em Roma, capital do Império Romano. A Igreja
Romana é, portanto, a

143 Atos. 2.

378
Igreja Primitiva, a única que sempre existiu desde os Apóstolos até nós.
b) Pela sucessão ininterrupta de seus pastores.Os seus
pastores são os únicos no mundo que podem, do sacerdote ao
bispo, do bispo ao papa, traçar a sua missão através dos tempos até
aquela que os apóstolos receberam do próprio Jesus Cristo. É
conhecida a sucessão ininterrupta dos Romanos Pontífices,
começando pelo Papa Paulo VI (hoje João Paulo II) e remontando a
São Pedro. “O que me mantém na Igreja Católica”, diz Santo
Agostinho, “é a sucessão dos Bispos, desde São Pedro até aquele
que ocupa o seu trono. Que outra sociedade pode apresentar uma
sucessão tão clara e admirável?..." O protestantismo não existia
antes de Lutero; o cisma grego, antes de Fócio; Somente a Igreja
Romana chega a São Pedro e através dele a Jesus Cristo.
c) Por sua doutrina.A doutrina da Igreja Romana é sempre a
doutrina dos Apóstolos. Entre os Símbolos mais antigos, os escritos
e decisões dos primeiros séculos e os da atualidade, existe uma
identidade completa. Recitamos o Credo dos Apóstolos e cantamos
na Missa o Credo do Primeiro Concílio Geral, o símbolo niceno.
Objeção._Os protestantes afirmam que a Igreja Católica, ao
impor novos dogmas, afastou-se do Evangelho puro que os
Apóstolos nos legaram.
R._A Igreja nunca definiu um artigo de fé sem ter provado que os
Apóstolos o ensinaram, seja por escrito ou oralmente. Seu princípio
não é inovar em nada, mas sim aderir às verdades contidas no
depósito das Escrituras e da Tradição Apostólica. A todos os ataques
dos hereges ele opõe vitoriosamente os escritos dos Padres e os
monumentos da história.
É, portanto, incorreto afirmar que a Igreja inventou novos dogmas. A
novidade é um conhecimento mais preciso, uma definição mais solene de
certas verdades reveladas.
O que Ela faz nos decretos dos seus Conselhos? Apresenta de forma mais
clara verdades não suficientemente conhecidas pelos fiéis; Ensina de forma
mais precisa o que foi ensinado de forma vaga. Quando os ataques dos
hereges assim o exigem, Ela forma uma nova palavra para facilitar a
compreensão da doutrina e

379
determinar o antigo significado da fé. Assim, aos poucos, resume uma
imensa ciência em breves fórmulas.
Com a doutrina católica acontece o mesmo que com a criação material:
Deus escondeu na terra e nas leis da natureza tesouros admiráveis que o
homem descobre todos os dias e utiliza de acordo com as necessidades do
momento. Ele sabe encontrar o ferro necessário para os instrumentos de
trabalho, o carvão para produzir vapor, a eletricidade para transmitir seus
pensamentos a enormes distâncias... Da mesma forma, Deus colocou no
depósito da revelação, confiada à Igreja, todas as verdades destinado a
iluminar a inteligência e fortalecer o coração do homem. E cabe à Igreja
retirar deste depósito sagrado, de acordo com as necessidades do momento,
as verdades reveladas. Portanto, ao proclamar no século passado o dogma da
Imaculada Conceição e o da Infalibilidade do Papa, a Igreja não inventou
novos dogmas, como foi dito, mas apenas declarou que esses dogmas estão
contidos na revelação divina. e na Tradição Apostólica.
Sem dúvida, a Igreja ainda pode fazer mudanças na sua disciplina,
estabelecer novas leis, modificá-las ou aboli-las; mas estas mudanças não
alteram em nada a doutrina católica.
Conclusão. _Só existe uma Igreja fundada por Nosso Senhor
Jesus Cristo. É assim que a Igreja Romana possui todas as notas da
verdadeira Igreja. Portanto a Igreja Romana é a Igreja Católica.

5º As notas da verdadeira Igreja não se encontram em


nenhuma sociedade herética ou cismática
N. B._Depois da demonstração anterior, este artigo pode parecer
inútil; Acrescentamos isso para uma superabundância de provas e
particularmente para facilitar o retorno dos perdidos ao rebanho de
Jesus Cristo. O Divino Mestre, que é o Caminho, a Verdade e a Vida,
não quer nada mais do que um único rebanho sob o cajado de um
único pastor.
161. P. _Podem as Igrejas, protestantes e cismáticas,
orgulhar-se de ter as notas da verdadeira Igreja?

380
R. _Não; Eles não têm unidade, nem santidade, nem catolicidade, nem
apostolicidade. É fácil convencer-se disso estudando a sua origem, a sua
constituição e a sua história.
1º Nos nossos dias só existe uma heresia importante: o protestantismo,
assim chamado porque protesta contra a autoridade da Igreja Católica. O
protestantismo inclui um número infinito de seitas heréticas, separadas umas
das outras e nascidas sucessivamente dos falsos princípios dos três supostos
reformadores do século XVI: Lutero, Calvino e Henrique VIII. Seus três
ramos principais são: Luteranismo, Calvinismo, Anglicanismo. Mas destes
três ramos principais emergem um número incontável de ramos menores,
sem qualquer elo de ligação.
2º A sociedade religiosa separada da Igreja Romana pelo grande cisma
oriental é chamada de Igreja Grega Cismática. O cisma grego está hoje
dividido em três Igrejas independentes, que se encontram nos Balcãs e na
Turquia, na Grécia e na Rússia. A Igreja Grega cismática não deve ser
confundida com a Igreja Grega unida: faz parte da Igreja Católica, embora
tenha uma liturgia própria em língua grega e alguns usos disciplinares
diferentes dos da Igreja Latina.

1ª ORIGEM DO PROTESTANTISMO
1º Lutero.Martinho Lutero nasceu em Eisleben, Saxônia, no ano de
1483, filho de pais católicos pobres, mas bons. Educado às custas da
caridade pública, ingressou no mosteiro agostiniano de Erfurt em 1503, onde
foi ordenado sacerdote e doutorou-se. Em 1508, enviado pelos seus
superiores à Universidade de Wittenberg como professor de teologia,
destacou-se pelo seu amor pelas novidades e pelo seu orgulho indomável.
Em 1517, Leão Lutero ficou magoado ao ver que os dominicanos eram
preferidos aos agostinianos. O Padre Tetzel atraiu um grande público para
seus sermões, e a Igreja Agostiniana ficou deserta. Cheio de rancor, Lutero
lutou contra o pregador, depois contra as indulgências e, finalmente, contra
o poder da Igreja. Em 31 de outubro de 1517, ele afixou noventa e cinco
artigos contrários à doutrina católica na porta da Catedral de Wittenberg.

381
Chamado à ordem pelos seus superiores, derrotado numa conferência
pública pelos teólogos, condenado pelas universidades de Paris, Lovaina e
Colónia, Lutero apela ao Papa, numa carta onde diz: “Aprove ou desaprove
como quiser. Ouvirei a sua voz como a de Jesus Cristo.” Aos primeiros
avisos de Leão X, Lutero apela do Papa mal informado ao Papa mais bem
informado; depois, ao futuro Conselho. E enquanto isso, ele continua a
espalhar seus erros.
Em 1520, Leão X, depois de ter esgotado todos os meios de conciliação,
condenou Lutero. Em vez de se submeter, o orgulhoso monge mandou
queimar a Bula do Papa na praça de Wittenberg. Ele foi seguido em sua
rebelião por seus dois colegas: Carlosstadio e Melancton.
Carlos V, imperador da Alemanha, convocou o inovador para a dieta de
Worms. Lutero, cheio de orgulho e obstinação, declarou que não submetia
sua doutrina a ninguém. Banido do império, refugiou-se no Castelo de
Wartenburg, ao lado de Frederico da Saxônia, seu protetor, e desse local
inundou a Alemanha com panfletos incendiários.
Para impor os seus erros ao povo, ele alegou a autoridade da palavra de
Deus e não reconheceu nenhuma regra de fé além da Bíblia interpretada pela
razão individual.
Todas as seitas protestantes admitiram este famoso princípio de Lutero,
ou melhor, esta grande heresia: a Bíblia, e nada mais do que a Bíblia
interpretada por livre exame; princípio absurdo e destrutivo de toda religião
e de toda moralidade, como comprovado pela experiência de três séculos.
Em 1528, na dieta de Speyer, os discípulos de Lutero deram-se o nome de
protestantes para indicar a sua rebelião contra a autoridade da Igreja.
Lutero ampliou e facilitou o caminho para o céu, que Jesus Cristo
declarou estreito e difícil. Ele inventou a fé justificadora, que deve substituir
todas as obras dolorosas prescritas pela religião.
Levado pelo rigor das consequências de um falso princípio, Lutero
passou de um erro a outro. Se somente a fé justifica, as boas obras são
inúteis; os Sacramentos são inúteis; e o monge saxão negou a utilidade das
boas obras, negou os Sacramentos. Porém, por uma evidente contradição,
conservou três deles: o Batismo, a Eucaristia e a Penitência; apenas que isso
os desnaturava. Ele suprimiu a Confissão; e para a Eucaristia admitiu a
impanação ou a presença real de Jesus Cristo no pão.

382
Ele aboliu a abstinência e o jejum; autorizou o divórcio; Ele pregou o
casamento dos sacerdotes; Aboliu os votos dos religiosos e deu o exemplo
pessoalmente ao casar-se sacrilegamente com Catalina Bora, freira que
retirou do seu claustro.
Lutero terminou a sua obra de destruição tentando idolatrar o culto dos
Santos e da Mãe de Deus, bem como a veneração de relíquias e imagens.
Finalmente, negou o Purgatório e, consequentemente, a utilidade da oração
pelos mortos.
Contudo, o desespero devorou a alma de Lutero. Uma noite, Catalina
mostrou-lhe as estrelas que brilhavam no céu. “Veja como o céu está lindo”,
disse ele. _Sim, respondeu Lutero, mas não é para nós. _"Porque?" _“Porque
falhamos em nossos deveres.” -“Então, voltemos ao convento.”
_"Não; é muito tarde. O carro está tão preso que não consegue sair
do engarrafamento...
Luther foi deixado no pântano. Ele continuou sua vida de prazeres,
orgias e escândalos. Não teve vergonha de escrever as suas Conversas de
Mesa, nem de compor um volume que a modéstia se recusa a folhear. Os
seus livros são uma mancha que denigre eternamente a literatura alemã e os
anais da raça humana. Beber bem, comer bem, disse ele, é o verdadeiro
caminho para não ficar entediado.
Depois de ter bebido bem, comido suculentamente e blasfemado contra o
seu paladar, Lutero morreu empanturrando-se de iguarias e vinho no final de
um banquete, em 1546. Muitos historiadores afirmam que ele se enforcou,
encerrando a sua triste vida com o suicídio144.
2º Calvino. Nasceu em Noyón, em 1503, filho de pais não muito ricos;
A poderosa família Monmorts cobriu as despesas de sua educação. Sem
ainda ser ordenado, Calvino era dono do curato de Marteville e mais tarde de
Pont-Leveque. Amigo das novidades, devorou secretamente os escritos de
Lutero.
Os escândalos da sua vida foram tais que foi obrigado a abandonar a sua
terra natal, com as costas marcadas, segundo alguns escritores protestantes,
com ferro quente como castigo ou crime abominável contra os bons
costumes. Depois de ter levado uma vida errante, estabeleceu-se em
Genebra, cidade que mais tarde se tornaria o principal reduto da heresia
calvinista.

144Você pode ver: Audin, Vida de Lutero; LG Lorrenz: O fim de Lutero; etc.

383
Sectário frio e vingativo, mais metódico que Lutero, Calvino soube dar
uma organização sólida à heresia. Durante trinta anos ele exerceu a tirania
mais absoluta e draconiana em Genebra. Ai daqueles que não pensam como
ele! Por sua ordem, Miguel Servet, um aragonês, foi queimado vivo apenas
para professar as suas opiniões particulares sobre a Trindade; Boizec foi
banido; Gentilis e Jacobo Gruet, decapitados, etc. Nos dois anos: 1558 e
1559, mandou executar mais de quatrocentas pessoas. Ele ordenou que
fossem erguidos postes em praça pública com esta inscrição: “Para quem
fala mal de Calvino”.
Embora fosse tão severo com os outros, sempre buscou todos os dons
para si. Para ele deviam existir as comidas mais delicadas, os vinhos mais
requintados, um pão feito de farinha fina que se chamasse pão do Senhor; e
com o pão do Senhor e o seu vinho particular participava em todos os
banquetes e entregava-se a todos os prazeres.
Afligido por uma doença vergonhosa, em 1564, Calvino viu-se roído por
milhares de vermes; uma úlcera repugnante cresceu em seus intestinos e lhe
causou uma dor terrível. Assim ferido pela mão de Deus, ele cedeu ao
desespero, chamou os demônios em seu auxílio e expirou vomitando
blasfêmias contra Deus e maldições contra si mesmo.
Em 1537, Calvino imprimiu seu livro Instituição Cristã em Basileia, que
contém um resumo da heresia calvinista. Assim como Lutero, Calvino
ensina que o homem não é livre, mas acrescenta que a predestinação e a
reprovação são absolutas, e acaba sendo fatalista. Segundo ele, ninguém
pode perder o estado de graça.
Calvino admite dois Sacramentos: o Batismo e a Ceia, que nada mais é
do que uma simples cerimônia. Lutero não ousou negar a presença real de
Jesus Cristo na Eucaristia; Calvino a rejeita e não vê nada além de uma
lembrança na Ceia; e na Comunhão, uma refeição para a fé.
Calvino suprime todo culto externo e até mesmo o próprio sacerdócio;
Reconhece ministros e pregadores, mas sem qualquer caráter de ordem:
qualquer um pode ser ministro e deixar de sê-lo; Basta uma delegação dos
mais velhos. Será necessário acrescentar que no sistema de predestinação
admitido por Calvino as boas obras são inúteis? É a destruição de toda
moralidade.

384
Os principais assistentes de Calvino foram Viret, Farel e Teodoro de
Beza. Este último foi quem introduziu o protestantismo na França145.
3º Henrique VIII.Na época em que Lutero inaugurou sua reforma na
Alemanha, Henrique VIII reinava na Inglaterra. Este príncipe, cheio de zelo
pela religião católica, havia escrito um livro contra a heresia, que lhe valeu
de Leão X, em 1521, o título de “defensor da fé”. Mas levado pelas paixões,
Henrique VIII não deixou nada para a história a não ser a memória da sua
luxúria, da sua tirania e das suas crueldades.
Após vinte anos de casamento com Catarina de Aragão, pediu o divórcio
à corte de Roma para poder casar-se com Ana Bolens, por quem se
apaixonara perdidamente. O Papa Clemente VII opôs-se às reivindicações
do monarca, admoestando-o paternalmente no início, depois ameaçando-o
com a excomunhão. O rei, obedecendo por um lado aos impulsos da paixão
e, por outro, às pérfidas instigações do seu chanceler Thomas Cromwell,
ousou usurpar o título de Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra (ano 1532).
Consistente com tal determinação, ele declarou nulas e sem efeito as
censuras da Santa Sé, e teve seu novo casamento com sua concubina
sancionado por seu indigno capelão Crammer, a quem ele próprio nomeou
bispo de Canterbury.
O cisma ocorreu no reino. Os bispos ingleses pareciam fracos e tímidos;
O Parlamento aprovou a apostasia do soberano: os decretos de confisco
foram imediatamente emitidos. Mais de quatrocentos mosteiros foram
fechados e seus bens distribuídos entre os senhores. A prisão, o exílio e a
morte foram a recompensa por permanecer fiel a Deus e à sua Igreja. Entre
as vítimas desta perseguição estão vinte e um Bispos, quinhentos sacerdotes
e setenta e dois mil fiéis. Os dois mártires mais ilustres são o Cardeal Fisher
e o Chanceler Thomas More.
Henrique VIII traz à mente a memória dos tiranos mais odiosos da Roma
pagã. Casou-se seis vezes, repudiou duas esposas e mandou outras duas para
o cadafalso. Conta-se que antes de morrer, em 27 de janeiro de 1547, ele
disse aos seus cortesãos: “Perdemos tudo: o trono, a alma e o céu”.

145Ver Audin, Vida de Calvino.

385
Apesar de tudo, Henrique VIII só queria livrar-se do Papa: inaugurou o
cisma sem querer estabelecer a heresia. O calvinismo foi introduzido na
Inglaterra, durante a juventude de Eduardo VI, por Crammer; Sob o reinado
da cruel Elizabeth, assassina de Maria Stuart, o calvinismo, apoiado e
sustentado pelo carrasco, tornou-se a religião do Estado; chamada religião
anglicana (1571).
Tais são os grandes fundadores do protestantismo, a quem um famoso
protestante, Cobbett, julga nos seguintes termos: “Talvez o mundo nunca
tenha visto, no mesmo século, um grupo de canalhas miseráveis como o
formado por Lotero, Calvino, Zwingli, Beza e os outros corifeus da
Reforma. O único ponto da doutrina em que concordaram foi a futilidade
das boas obras, e as suas vidas servem para confirmar a sinceridade com que
abraçaram este princípio.”146
O protestantismo cobriu o solo da Europa com sangue e ruínas. A
Alemanha iniciou a guerra civil e armou o braço dos camponeses, que
Lutero mais tarde fez com que os nobres exterminassem. Na Inglaterra,
provocou as mesmas lutas religiosas: com a Rainha Elizabeth submeteu a
antiga Ilha dos Santos às mais terríveis perseguições, levando tudo ao
sangue e ao fogo. A França foi palco de guerras sangrentas promovidas
pelas desordens dos huguenotes, ou seja, confederados, que queriam
implementar a heresia pela força, decapitaram sacerdotes e queimaram
igrejas e aldeias. “Não”, disse Leibnitz, “todas as lágrimas dos homens não
seriam suficientes para lamentar o grande cisma do século XVI”.

2º O PROTESTANTISMO NÃO TEM AS NOTAS DA


IGREJA VERDADEIRA
I. O protestantismo não tem unidade:
1º Nem na doutrina, porque o seu primeiro princípio, o livre exame,
só pode produzir inúmeras variações. Se for assumido que cada pessoa,
sábia ou ignorante, pode interpretar a Bíblia de acordo com a sua própria luz
ou de acordo com o seu próprio interesse, haverá tantas crenças quantos
indivíduos: Quot capita, tot sensus. Os protestantes nunca foram capazes de
formular um símbolo aceito por todos. Contudo, a verdade é uma só, e Deus
não pode revelar coisas contraditórias.

146 Gobbett, História da Reforma.

386
Portanto, entre os protestantes, os homens criteriosos e lógicos ou se
convertem ao catolicismo ou caem no racionalismo.
Não existe meio termo: ou Jesus Cristo é Deus ou não é.
a) Se Jesus Cristo é Deus, sua doutrina é necessariamente uma só:
Deus não muda, Deus não varia; sua verdade permanece eternamente.
Assim, o protestantismo professa as mais diversas e contraditórias crenças;
portanto, não é divino.
b) Se Jesus Cristo não é Deus, toda religião sobrenatural cai por
terra; e não resta nada além do racionalismo e do ateísmo.
Em vão Jurieu tenta sustentar que a unidade necessária da Igreja consiste
em compreender-se nos artigos fundamentais. Este sistema é arbitrário,
contraditório, impraticável.
Arbitrário, porque numa religião revelada tudo é fundamental; Em
nenhum lugar das Escrituras se lê que cada indivíduo pode escolher entre
seus dogmas e preceitos.
Contraditório, porque, segundo este sistema, os protestantes são
obrigados a receber na sua comunhão todas as sociedades cristãs e até
mesmo a Igreja Católica: então é inútil rebelar-se contra ela.
Impraticável: Se existem artigos fundamentais, quais são? As verdades
claramente expressas na Bíblia. Quais?... Os protestantes da França,
reunidos em sínodo em 1873, não conseguiam concordar, nem mesmo sobre
a verdade fundamental da divindade de Jesus Cristo. E, no entanto, o que é
mais claro no Evangelho?...
2º Nem no culto. Os protestantes carecem de adoração: por enquanto
não têm sacrifício. Os povos mais bárbaros têm os seus sacrifícios; Os
protestantes constroem templos, mas não erguem altares. O templo sem altar
não é um edifício consagrado a Deus. Quanto aos Sacramentos, algumas
seitas não admitem outra coisa senão o Batismo; outros acrescentam a Ceia,
uma falsificação monótona da Eucaristia.
3º Nem mesmo o governo. Desde o início, o protestantismo rejeitou
toda autoridade de ensino, toda hierarquia. Está dividido numa multidão de
seitas independentes, separadas por crenças e muitas vezes ferozmente
empenhadas na sua destruição.
No protestantismo não existem Igrejas, ou seja, sociedades religiosas.
Para uma sociedade, é necessária uma autoridade que ligue inteligências,
vontades e corações. Se não existir

387
autoridade de um chefe, só existem membros dispersos e, portanto, não
existe corpo moral, não existe sociedade. O protestantismo é uma torre de
Babel, onde reinam a confusão e a anarquia.
II. O protestantismo não tem santidade:
1º Nem nos seus fundadores, que eram todos homens de conduta
infame e escandalosa. Este personagem é suficiente para julgar aquela
religião. Deus não usa pessoas corruptas para cumprir uma missão tão
importante como reformar a sua Igreja.
2º Nem na sua doutrina. Os princípios do protestantismo levam a
todos os crimes e justificam todos eles. Existe algo mais imoral do que os
primeiros princípios dos seus fundadores: o homem não é livre; boas obras
são inúteis; A fé é suficiente para nos salvar, não importa quão grandes
sejam os crimes cometidos, etc.? A consciência se revolta contra essas
teorias abomináveis. Por esta razão, os protestantes são indefinidamente
melhores que os seus princípios, porque não foram capazes de extinguir
neles as luzes da lei natural. O protestantismo, tal como lhe falta unidade nas
suas crenças; Nem tem uma moral comum e obrigatória para todos: cada
pessoa, interpretando a Bíblia segundo as luzes da sua própria razão,
desenha e modifica a sua moral de acordo com os seus desejos. E isto
explica porque alguns protestantes chegaram ao ponto de negar as verdades
que servem de base à moralidade, como a imortalidade da alma, a existência
do inferno eterno... Além disso, o protestantismo rejeitou todos os meios de
santificação: o jejum , a abstinência, as mortificações, os conselhos do
Evangelho, o culto à Santíssima Virgem, etc. Ao negar a presença real de
Jesus Cristo na Eucaristia, ele bloqueou a fonte de grande abnegação e
virtudes heróicas. No seu campo não crescem as três belas flores da vida
cristã: humildade, virgindade, pobreza voluntária. Em toda a parte baixou o
nível de moralidade do povo, eliminando a restrição da confissão e a ajuda
ao culto.
3º Nem em seus membros. Não produziu nenhum santo cuja
santidade seja comprovada por milagres. A afirmação de Erasmo é sempre
verdadeira: “Há cristãos que fizeram pior aos protestantes: mas não
encontramos nenhum que tenha feito melhor. Somente os maus católicos se
convertem ao protestantismo; e pelo contrário, os melhores protestantes
tornam-se católicos. O vício atrai como a virtude, e cada um vai para a
religião que se assemelha a ele.”

388
Segundo o provérbio inglês, quando o Papa escava o seu jardim, atira as
ervas daninhas aos protestantes; O protestantismo é o desperdício do
catolicismo. É um fato confirmado pela experiência.
Lutero e Calvino teriam gostado de realizar milagres para provar a sua
missão, mas os milagres não são realizados como os cismas são realizados.
Erasmo zombou desses chamados reformadores; todos juntos incapazes de
curar um cavalo manco.
“Certa vez, Lutero tentou exorcizar um homem possuído, e o demônio
estava prestes a estrangulá-lo. Calvino queria um dia realizar um pequeno
milagre. Ele pagou um homem chamado Brule para se fingir de morto e
ressuscitar quando ele comandasse. Calvino, seguido por uma multidão
curiosa, chega ao lado do pretenso morto, e diz em voz alta: “Brule, em
nome de Jesus Cristo, levante-se!” O compadre não responde. A esposa de
Brule se aproxima para sacudi-lo, mas ele morre, punido pela Justiça divina.
A pobre mulher grita desesperadamente e conta o que aconteceu. Calvino
fugiu tremendo de medo e vergonha. Este fato foi espalhado por toda parte.”
(Santo Afonso Maria Ligório).
III. O protestantismo não tem catolicidade:
1º Nem a do tempo. Remonta ao século XVI.
2º Nem o dos lugares. Estende-se apenas aos países onde foi imposto
com violência e está dividido em numerosas seitas. Cada um, considerado
isoladamente, não ocupa mais do que um pequeno canto do globo: os
luteranos, na Alemanha; os calvinistas, na Suíça e na França; os anglicanos,
na Inglaterra; os presbiterianos, na Escócia, etc. O protestantismo não está
difundido em todo o mundo.
3º Nem o do número.Só a Igreja Romana é cinco vezes mais
numerosa do que todas as seitas protestantes juntas. É o mesmo em toda
parte e, pelo contrário, o protestantismo é diferente em toda parte. Impotente
para constituir uma sociedade universal, não pode reivindicar com justiça o
título de católico.
IV. O protestantismo não tem apostolicidade:
1º Nem mesmo o de origem. Seus autores Lutero, Calvino, etc. Eles
estão separados dos Apóstolos por um intervalo de quinze séculos.
2º Nem a doutrina. Os Apóstolos transmitiram apenas uma doutrina
única e idêntica, os mesmos Sacramentos, o mesmo culto; Em tudo isso, o
protestantismo oferece divergências infinitas. Nenhum homem de bom
senso jamais acreditará que os apóstolos ensinaram crenças contraditórias.
Doutrinas protestantes

389
Variam diariamente e poder-se-ia continuar a obra imortal de Bossuet:
“História das Variações Protestantes”. A doutrina dos Apóstolos, como a de
Jesus Cristo, é imutável.
3º Nem mesmo a missão. Os fundadores do protestantismo não
receberam a sua missão nem dos sucessores dos Apóstolos nem diretamente
de Jesus Cristo. Quem então lhes deu o poder de pregar o Evangelho? Para
refutar todos os protestantes do passado, do presente e do futuro, basta fazer-
lhes a pergunta que Tertuliano fez aos inovadores do seu tempo: “Quem são
vocês e de onde vêm? No início você estava dentro da Igreja Romana;
Quando você saiu, quem lhe deu a missão de pregar essas novas doutrinas?
Qualquer pessoa que fala em nome de Deus deve ser enviada por Deus.
Então tente sua missão.”
Existem dois tipos de missão: uma ordinária e outra extraordinária. A
missão ordinária é aquela em virtude da qual os sacerdotes são enviados
pelo Papa em todo o mundo, ou pelos Bispos nas suas dioceses, para
propagar a fé.
Os inovadores não podem reivindicar a missão ordinária, porque foram
excomungados pelo Papa e condenados pelos Bispos.
Será que eles receberam uma missão extraordinária? Tal missão não é
legítima se não for comprovada com uma eminente santidade de vida e de
milagres. Foi assim que São Paulo provou a sua missão: «Embora eu não
seja nada, dei-vos sinais claros do meu apostolado, manifestando uma
paciência que é testada contra todas as probabilidades, por milagres, por
prodígios e por maravilhas do poder divino»147 .
Pois bem, onde estão os milagres realizados pelos fundadores do
protestantismo?...
Não tendo recebido missão ordinária nem missão extraordinária, não são
pastores legítimos; São intrusos, lobos predadores introduzidos no
rebanho148.

147II Cor., 12, 11-12.

148Os incrédulos e racionalistas dos nossos dias têm prazeres particulares para os protestantes. A descrença que assola a nossa sociedade
moderna é a consequência lógica e fatal da rebelião religiosa do século XVI.

O protestante, em nome do livre exame, rejeita uma parte das verdades cristãs que a Igreja
ensina ao mundo em virtude da autorização de Cristo. O incrédulo, em nome do exame
gratuito, vai mais longe e rejeita todas estas verdades. O princípio é o mesmo em ambos os
lados; É a razão individual que ocupa o lugar da fé, isto é, a submissão do espírito à autoridade
de Deus. _Ed. Quinet.

390
3ºEM SUA REGRA DE FÉ, O PROTESTANTISMO
CONTRADIZ NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
É fácil convencer o protestantismo do erro, mostrando-lhe que a sua
regra de fé é contrária à vontade de Jesus Cristo. A regra de fé protestante é
esta: “A Bíblia, e nada além da Bíblia, livremente interpretada por cada
indivíduo”.
1º Esta regra de fé é condenada pela própria Bíblia. Nosso Senhor Jesus
Cristo pregou, mas não deixou nada escrito. Ele não disse aos seus
apóstolos: vão, escrevam, vendam Bíblias nas ruas, mas disse-lhes: “Vão,
ensinem todas as nações, preguem o Evangelho... Quem acreditar será salvo:
quem não acreditar será maldito... "Quem vos ouve, a Mim ouve..." Portanto
a Bíblia não é uma regra de fé estabelecida por Jesus Cristo; Ele não manda
ler a Bíblia, mas ouvir os Apóstolos.
Os apóstolos pregaram: através da pregação eles espalham a fé no
mundo. Só mais tarde alguns deles escreveram os livros do Novo
Testamento. A Igreja existia muito antes dos Evangelhos. Qual era então a
regra de fé dos primeiros cristãos?... Além disso, a Bíblia não pode ser uma
regra de fé porque os livros que a compõem não são um catecismo, um
ensinamento religioso claro e completo. Os Evangelhos, os Atos dos
Apóstolos, são narrativas simples apresentadas aos fiéis para a sua
edificação. As Epístolas são fragmentos soltos, respostas a questões
específicas. Os Apóstolos nunca pretenderam fornecer nesses fragmentos
escritos um código completo de ensino, uma fórmula de fé.
Além disso, os escritores sagrados colocaram o ensino escrito e o ensino
oral na mesma categoria. Declaram que escreveram apenas uma pequena
parte dos ensinamentos do Salvador,149 e exigem o mesmo respeito pelo
que ensinam oralmente e pelo que registraram em seus escritos. “Conserva,
diz São Paulo, a doutrina que aprendeste, quer por palavra, quer por carta
nossa”150. E a Timóteo: “E o que de mim ouviste diante de muitas
testemunhas, confia-o a homens fiéis e capazes de ensinar os outros151.
Portanto, a Sagrada Escritura não contém

149Jn. 20, 25.

150II Tes. 2, 14.

151 II Tm. 2, 2.

391
todoso que deve ser acreditado e praticado, pois os Apóstolos nos ordenam
preservar as Tradições.
2º A regra de fé dos protestantes é impossível. Antes da
invenção da imprensa, os manuscritos bíblicos eram raros e caros. Durante
estes quatorze séculos, a grande maioria dos fiéis foi instruída mais pela
pregação do que pela Bíblia. Se a Bíblia for necessária, estes cristãos não
tinham nenhuma regra de fé. Bem, a história certifica que aqueles cristãos
certamente não valiam menos do que os protestantes de hoje.
Mesmo hoje, a Bíblia não pode ser a única regra de fé. Alguns não
sabem ler; outros não têm oportunidade para isso. Os ignorantes e os pobres
não poderiam ser salvos se a salvação estivesse ligada à leitura da Bíblia. E
está muito longe de ser o que Jesus Cristo deu como sinal da sua missão
divina, precisamente a Evangelização dos pobres.
Entre os protestantes, os fatos estão em oposição à teoria. Entre eles,
como entre nós, os filhos recebem a instrução religiosa na família, através
dos pais; nas escolas, pelos professores; nos templos, pelos pastores. Entre
eles, como entre nós, as crianças, antes de saberem ler, aprendem os
primeiros rudimentos da doutrina cristã, o Credo Apostólico e o Decálogo.
A sua crença baseia-se nestes ensinamentos recebidos e não na leitura da
Bíblia. A maioria deles acreditará durante toda a vida no que acreditavam na
infância... Além disso, os protestantes não têm ministros para explicar a
Bíblia em seus templos? Portanto, entre eles, a Bíblia não é a única regra de
fé.
3º O protestantismo não vem de Deus.Qualquer religião que não
produza algum Santo, que não seja confirmada por algum milagre, não pode
vir de Deus. O milagre, como mostramos, é o selo, a assinatura que Deus
imprime na sua religião. Pois bem, o protestantismo, nos seus três séculos de
existência, não conseguiu produzir um único santo nem pode apresentar
nenhum milagre. Portanto, não vem de Deus.
“O protestantismo rejeita tudo o que há de reconfortante, terno e afetuoso
na religião: a presença adorável de Jesus Cristo no Sacramento do seu amor;
o tribunal da misericórdia e do perdão; devoção à Bem-Aventurada Virgem
Maria, esta doce Mãe do Salvador que Ele nos deu como Mãe no momento
supremo da sua morte; a invocação dos Santos, nossos irmãos mais velhos,
nossos amigos, que já estão na pátria, onde nos chamam e

392
onde eles esperam por nós; oração pelos mortos, etc.” (Mons. De Ségur). É
por isso que os protestantes que conhecem e amam a Deus tornam-se
católicos.
Objeção.Os protestantes dizem: Não queremos como regra de fé nada
mais do que a palavra de Deus, a Bíblia, a Bíblia inteira, nada além da
Bíblia...
A. _1º Como você sabe que a Bíblia é a Palavra de Deus? Desafiamos
você a saber disso sem recorrer à autoridade da Igreja Católica. Não há
dúvida de que você demonstrará, como nós fizemos, que os livros do Antigo
e do Novo Testamento são autênticos e verdadeiros; mas como você prova
que eles são divinos, escritos por inspiração divina? Não se pode fazer isso
sem recorrer à autoridade da Igreja; Santo Agostinho tinha razão quando
disse: “Eu não acreditaria no Evangelho se a autoridade da Igreja Católica
não me levasse a isso”.
2º Admitamos que a Bíblia é a palavra de Deus; E como você provará
que a tradução dos Livros Sagrados é fiel e livre de erros? A Bíblia original
está escrita em duas línguas: hebraico e grego. Várias traduções foram feitas,
qual será a verdadeira? Quem lhe provará que a sua Bíblia está bem
traduzida e que reproduz fielmente a Palavra de Deus? Um provérbio diz:
“Os tradutores são geralmente traidores: traduttore, tradittore”.
Você não pode, portanto, saber se a sua Bíblia está bem traduzida, sem
autoridade infalível e não há autoridade infalível exceto na Igreja Romana.
Você está errado em culpar os católicos por acreditarem na palavra dos
sacerdotes enviados por Deus para ensinar, quando você acredita na palavra
de um tradutor sem mandato, sem missão; quando você recebe sua palavra
humana como uma palavra divina....
3º Mesmo que admitamos que a sua Bíblia esteja traduzida fielmente,
como você provará que interpreta corretamente o verdadeiro significado das
Escrituras?... Tenha isto em mente: uma falsa interpretação da Palavra
Sagrada faz do Evangelho de Cristo o Evangelho de homem. A Bíblia é
obscura em muitos lugares; A inteligência humana está sujeita a erros e, de
facto, comete erros frequentemente. Assim, para citar apenas um exemplo,
estas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Este é o meu corpo”, Lutero
as entende a partir do corpo de Jesus Cristo, enquanto Calvino não as vê.

393
mais que uma figura. Qual dos dois encontrou o verdadeiro significado da
Palavra divina?
Não se pode ter certeza de possuir o verdadeiro significado da Bíblia sem
a decisão de um juiz infalível. Se esse juiz estiver faltando, você sempre terá
tantas crenças quantas forem as interpretações individuais, e nunca terá
certeza de compreender a Palavra de Deus.
4º Você me dirá, finalmente:“Somos iluminados pela luz interior
do Espírito Santo…”. Não até que você afirme, você terá que provar. Se o
Espírito Santo inspira você, por que alguns entendem as palavras da Bíblia
em um sentido e outros em outro? O Espírito Santo pode ser contradito?
Você culpa os católicos por acreditarem na infalibilidade de um Papa e,
ao mesmo tempo, você se transforma em tantos Papas infalíveis para
interpretar a palavra de Deus... Não, nem todos podem interpretar a Bíblia,
porque, São Paulo diz: “Deus concedeu a alguns serem Apóstolos, a outros
serem Profetas, a outros serem Evangelistas, a outros serem Pastores e
Médicos”152. Deve-se perguntar a quem tem a missão de ensinar o sentido
da Bíblia: “Os lábios do sacerdote serão os depositários do conhecimento, e
a sua palavra dará o conhecimento da lei”153.
5º Você finge aceitar a Bíblia, a Bíblia inteira, etc.Agradaria a
Deus que assim fosse, pois então vocês seriam católicos. A Bíblia ensina
que Jesus Cristo estabeleceu uma Igreja, e que nessa Igreja constituiu uma
autoridade doutrinária infalível à qual devemos obedecer: “Ide, disse Nosso
Senhor Jesus Cristo aos seus Apóstolos, ensinai todas as nações... Quem crê,
seja salvo.” e quem não crer será condenado...” Portanto, todo aquele que
não obedece aos Apóstolos e aos seus sucessores deve ser considerado
gentio e publicano...
Conclusão.Gostaria que os nossos irmãos desviados tivessem em
mente que os seus antepassados eram católicos e que, tornando-se eles
próprios católicos, não mudariam de religião, apenas regressariam ao seio da
Igreja, da qual um dia, infelizmente, seus pais desertaram154.

152Ef. 4, 11.

153 Ruim. 2, 7.

154Para todas as objeções, você pode consultar o Bispo de Segur, Diálogos sobre o Protestantismo.

394
4º A IGREJA CISMÁTICA GREGA NÃO TEM AS
NOTAS DA IGREJA VERDADEIRA
Origem do Cisma Oriental.Em 857, o imperador grego Miguel,
chamado de Bêbado, e Bardas expulsaram Santo Inácio de sua sé em
Constantinopla, que repreendeu seus crimes. Eles o substituíram por um
homem criado por eles mesmos, Fócio, que em seis dias recebeu,
sacrilegamente, todas as ordens da Igreja. Este indigno usurpador revoltou-
se contra o Papa e declarou-se Patriarca Universal. “Ele foi o homem mais
astuto e sagaz de seu tempo; “Ele falava como um santo e agia como um
demônio.” Sua tentativa falhou. Ele foi preso em um mosteiro, onde morreu
em 886.
Os seus sucessores, encorajados pelos imperadores de Constantinopla,
não deixaram de aspirar ao título de Patriarca Universal. Finalmente, um
deles, Miguel Cerulário, rebelou-se abertamente contra a autoridade do Papa
que o excomungou em 1054. O cisma foi consumado.
Mais tarde, a reconciliação ocorreu, e foi proclamada solenemente no
Concílio de Florença, realizado no ano de 1439; mas a má vontade do clero
de Constantinopla tornou o resultado desta união quase nulo e sem efeito.
Desde então, a Igreja cismática dividiu-se em três ramos principais: a
Igreja de Constantinopla, a Igreja Grega e a Igreja Russa, a mais importante
de todas. Às primeiras foram acrescentadas, pelo menos aparentemente, as
Igrejas de Antioquia, Jerusalém e Alexandria.
A Rússia recebeu a fé cristã sob o reinado da Princesa Olga, regente do
reino de 945 a 955, e foi definitivamente convertida no tempo de Vladimir,
o Apostólico, em 986, por São Cirilo e São Metódio. A Igreja Russa
dependeu por muito tempo do Patriarca de Constantinopla, que em 1589
elevou o Bispo de Moscou à dignidade patriarcal. Mais tarde, Pedro, o
Grande, assumiu a autoridade religiosa, declarou-se chefe espiritual de todas
as Rússias e fundou o Santo Sínodo para governar a Igreja nacional.
Toda a Igreja cismática ainda preserva inalterados os dogmas de fé que
tinham antes da separação e que são quase os mesmos que os professados
pela Igreja Romana.
As principais divergências são estas:

395
a) Os gregos sustentam que o Espírito Santo procede do Pai e não do
Filho, e rejeitam a palavra Filioque (que significa: e do Filho).
b) Eles não reconhecem a autoridade suprema do Papa.
c) Os seus patriarcas e bispos estão sujeitos à lei do celibato, mas aos
sacerdotes é permitido casar, desde que tenha sido contratado antes de
receberem as ordens sagradas.
Há mais do que o necessário para declará-los, ao mesmo tempo,
cismáticos e hereges.
1º A Igreja cismática grega não é uma só.Não tem unidade de
governo, uma vez que os seus vários patriarcas são iguais entre si e
independentes uns dos outros. Cada patriarcado hoje forma uma Igreja
diferente. A dependência dos patriarcas de Jerusalém, Antioquia e
Alexandria em relação à de Constantinopla não é mais do que nominal. A
Igreja Russa estava sujeita ao Czar e agora está sujeita ao governo soviético,
como se os soberanos seculares pudessem ser os pastores da Igreja de Cristo.
O clero cismático não quer obedecer ao Papa, sucessor de São Pedro, mas
não tem vergonha de ser escravo do sultão ou do czar. Terrível, mas justo
castigo da justiça divina!
2º A Igreja Grega cismática não é santa.
a) Nem mesmo em seus fundadores.Phocio e Miguel Cerulario
quo eram mais que intrigantes e ambiciosos.
b) Não em seus membros.Os santos que ele venera foram
canonizados antes do cisma. A terra que produziu Santo Atanásio; São
Cirilo, São João Crisóstomo, São Basílio, São Gregório de Nazianzo, é
estéril nos Santos e nas grandes obras. Os milagres pararam de manifestar a
existência divina.
O clero, completamente sujeito ao poder civil, desprovido de ciência,
autorizado a casar, perdeu todo o seu prestígio. A sua influência é nula;
Populações ignorantes vegetam em decadência moral. Estas Igrejas, que
caíram num estado tão miserável depois de saírem de Roma, são falsas
manifestações. O cisma grego, separado do tronco vivo da Igreja Católica, é
um ramo cortado, infrutífero e morto.
3º Não é católico.
a) Nem mesmo durante a duração.O cisma começou no século IX
e só foi consumado em meados do século XI, no ano de 1054.

396
b) Nem mesmo por causa da extensão.Está confinado à Ásia
Menor e aos Balcãs, Grécia e Rússia.
4º Não é apostólico.
a) Nem por causa da doutrina nem porque mudou na
féherdado dos Apóstolos ao rejeitar o primado do Papa e a processão do
Espírito Santo, dois dogmas admitidos há mais de dez séculos.
b) Nem mesmo para a missão.Depois do cisma, os seus pastores
perderam toda a missão e toda a jurisdição: deixaram de ser os legítimos
sucessores dos Apóstolos.
O Papa Leão XIII (e hoje, particularmente João Paulo II), fez apelos
frequentes às pobres Igrejas cismáticas, para as trazer de volta à vida. O seu
amor pela Santíssima Virgem e pela Eucaristia é o penhor de esperança para
o seu regresso à unidade. Os gregos têm grande devoção à “Panagia”, ou
seja, à Santa Mãe de Deus. Seu ícone ou imagem sagrada está pintado em
todos os templos, e eles oram a ele com fervor. A Eucaristia é consagrada
pelos sacerdotes e conservada nos altares. Jesus e Maria, não terão pena
destas pobres almas? cuja memória, especialmente na cidade, é de boa fé?
Nada mais é do que um regresso à doutrina dos grandes Doutores do
Oriente, de Santo Atanásio, de São Gregório, de São João Crisóstomo, de
São Cirilo, todos os quais permaneceram inviolavelmente unidos à Sé
Romana.
Conclusão geral.A verdadeira Igreja de Jesus Cristo, segundo o
Evangelho e a Tradição, deve ser Una, Santa, Católica, Apostólica. Isto é
declarado pelo Concílio Geral de Nicéia, aceito por todas as Igrejas que se
autodenominam cristãs. As seitas protestantes e as igrejas cismáticas não
têm nenhuma destas qualidades. Portanto eles não são e não podem ser a
verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
Pelo contrário, a Igreja Católica é estritamente una na sua fé, no seu
culto, no seu governo; Santo no seu fundador, na sua doutrina, nos seus
membros; Católico no tempo e no espaço; Apostólico em sua doutrina,
missão e sacerdócio. Portanto é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
“Bem-aventurados os cristãos que a Providência fez nascer num país
católico! É uma graça que não pode ser apreciada senão colocando-se no
lugar das infelizes vítimas do cisma e da heresia. O que você quer que eles
sejam, naquelas religiões com tão poucas ajudas espirituais, mesmo almas
honestas e boas? Vamos orar para

397
Que estes irmãos, separados de nós por circunstâncias infelizes, conheçam a
verdade e tenham a coragem de segui-la” (Portais).

PRECISA PERTENCER À IGREJA CATÓLICA


162. P. _É necessário pertencer à Igreja Católica para ser
salvo?
R. _Sim, porque Jesus Cristo ordena que todos os homens façam parte da
sua Igreja, sob pena de condenação eterna.
1º Disse aos Príncipes da sua Igreja; “Ide por todo o mundo e pregai o
Evangelho a toda criatura; Quem crê será salvo, e quem não crê será
condenado... Quem te ouve, me ouve; “Quem vos despreza, despreza-me a
mim e também despreza meu Pai que me enviou... Se alguém não escuta a
Igreja, seja-vos como gentio e publicano”.
Segundo estas palavras, a Igreja é a autoridade viva, instituída por Jesus
Cristo para representá-lo no mundo. Assim, todo homem deve submeter-se à
autoridade estabelecida por Deus para representá-lo na terra, assim como um
súdito é obrigado a obedecer aos representantes do seu soberano. Portanto,
todos os homens são obrigados a submeter-se à Igreja.
2º Para ser salvo você deve acreditar no que Jesus Cristo ensina, fazer o
que ele ordena e receber Dele a vida da graça. Assim, somente na Igreja
Católica se acredita na doutrina de Cristo, se praticam os seus Preceitos e se
recebe a sua Graça. Portanto é necessário ser salvo para pertencer à Igreja
Católica. É o caminho estabelecido por Deus para conduzir os homens à
salvação. Todos que recusam este Caminho estão perdidos.
3º Jesus Cristo é o Único mediador entre seu Pai e nós; A Igreja é a única
mediadora entre nós e Jesus Cristo. É, portanto, necessário entrar na Igreja
para ir a Jesus Cristo, para ir a Deus.
Portanto, quem permanece voluntariamente fora da Igreja Católica não
pode alcançar a salvação. “Quem não tem a Igreja como Mãe não pode ter
Deus como Pai”.
Esta necessidade de pertencer à Igreja Católica nada mais é do que uma
consequência das manifestações anteriores.
Uma religião é necessária ao homem: uma religião é verdadeira; A
religião cristã é esta religião verdadeira e divina; então você tem que seguir
e praticar a religião cristã.

398
Assim, a religião cristã só se encontra na verdadeira Igreja de Jesus
Cristo, na Igreja Católica, visto que recebeu o depósito dos dogmas e
preceitos revelados por Jesus Cristo, e que só ela tem o direito e o poder de
comunicar a graça fruto dos méritos do Redentor. Por isso é necessário, sob
pena de morte eterna, entrar na Igreja Católica tão logo sejam conhecidas a
sua origem, a sua missão e a sua autoridade divina.
1º Jesus Cristo ordena aos seus Apóstolos que iluminem os homens com
a pregação do Evangelho, que os santifiquem com os Sacramentos e os
orientem através de leis. Ao mesmo tempo, impõe aos homens a obrigação
de obedecer aos Pastores da Igreja e a si mesmo: “Quem vos ouve, a Mim
ouve”; etc. Todos os homens, portanto, são obrigados por um preceito
formal de Jesus Cristo, a ouvir aqueles que ensinam em seu nome, a receber
de suas mãos a vida de graça contida nos Sacramentos, a obedecer aos seus
preceitos sob pena de desprezar o Filho de Deus e seu Pai, que o enviou à
terra para salvar os homens. Todo aquele que acreditar na palavra dos
Apóstolos e for batizado será salvo: todo aquele que não acreditar será
condenado.
2º Para ir para o céu é preciso seguir o caminho traçado por Deus.
Ouçamos um ilustre orador moderno: “Para entrar na posse da felicidade
sobrenatural, Deus pode mostrar-nos um caminho especial e único.Ele tem o
direito de subordinar a conquista dessa felicidade a um determinado
conjunto de condições obrigatórias; Se não os cumprirmos, se não
percorrermos o caminho que eles traçam para nós, ele terá todo o direito de
nos deserdar do trono que nos prometeu no céu.
Existe algo mais legítimo? Eu pergunto. _Soldados, vocês estão vendo
aquele forte? Amanhã você terá que aproveitá-lo por assalto. _De que lado,
capitão? _No Norte é a única parte onde é acessível e, além disso, essa é a
minha vontade. _Entendido. _E os soldados obedecem. “Aí você tem o
poder de um general, aí você tem a obrigação de um exército. Vocês já
devem ter entendido, senhores; o exército somos nós; o forte é a meta
imortal a que aspiramos; O geral é Deus. Ele tem domínio absoluto sobre
nossos destinos. Livre para definir nossas glórias e alegrias futuras, ele não é
menos livre para definir o caminho que deve nos levar até elas. Se lhe
agrada dizer-nos: Você passará por lá e somente por lá, assim que seus
planos forem anunciados. para nós não temos que responder nem uma
palavra. Não podemos dizer-lhe: não posso; Ele não comanda o impossível.
Não podemos dizer-lhe: não gosto disso; você não

399
Cabe a Ele acomodar nossos caprichos, mas cabe a nós obedecer
à Sua vontade.”155.
Agora, a Igreja Católica é o único caminho traçado por Deus para ir ao
céu. Qualquer pessoa que se recuse a acreditar nos seus dogmas, a receber os
seus Sacramentos, a seguir os seus preceitos, será condenada. O triplo poder
conferido por Nosso Senhor Jesus Cristo à sua Igreja é uma prova evidente
da vontade divina. Ele deu-lhe um poder doutrinal para ensinar as verdades
reveladas, um poder sacerdotal para conferir a graça, um poder pastoral para
governar a sociedade das almas. Aqueles que se recusam a submeter-se a
este triplo poder da Igreja vivem longe da salvação, como os pagãos ou
idólatras e os publicanos ou pecadores impenitentes.
3º “A nossa salvação não vem senão de Jesus: “Eu sou o caminho, a
verdade e a vida, diz Ele; ninguém vem ao Pai senão por mim”156. “Aquele
que não está em Mim será lançado fora como um ramo e murchará, será
lançado no fogo e queimado”157. “E a salvação não se encontra em nenhum
outro (a não ser em Jesus), pois não há outro Nome debaixo do céu, dado
entre os homens, pelo qual possamos ser salvos”158. Portanto, Jesus Cristo
é o Único Mediador entre seu Pai e nós.
A Igreja nada mais é do que uma coisa com Jesus Cristo. É o próprio
Jesus Cristo prolongando a sua encarnação entre os homens.
A Igreja continua a missão de Jesus Cristo na terra. “Assim como meu
Pai me enviou, eu também vos envio; Meu Pai me enviou para salvar o
mundo, eu também te envio para salvar os homens de todos os tempos e de
todas as nações.” Não há, portanto, nenhuma salvação possível fora da
Igreja.
A Igreja é o corpo de Jesus Cristo, o complemento de Cristo, o seu
desenvolvimento através dos séculos. “Ninguém, diz Santo Agostinho, pode
obter a vida eterna se não tiver Cristo como cabeça, se não pertencer ao seu
corpo, que é a Igreja. Mas assim como num corpo apenas os membros que o
constituem estão sujeitos à influência do chefe, enquanto os membros
estrangeiros não podem participar na sua vida, também os membros
estranhos à Igreja

155Seg. Plantier, Advento de 1847.

156Jn. 14, 6.

157Jn. 15, 6.

158 Atos. 4, 12.

400
Traduzido do Espanhol para o Português - www.onlinedoctranslator.com

“Eles não podem receber a graça e a vida que Jesus Cristo, Cabeça
da Igreja, comunica aos seus membros”.
A Igreja é a esposa de Jesus Cristo, assim como Eva, a esposa
do primeiro Adão, é a mãe de todos os homens; A Igreja, esposa do
segundo Adão, deve ser a mãe de todos os eleitos. Este é o
ensinamento de todos os Santos Padres. “Se alguém vive fora da
Igreja, diz Santo Agostinho, não é entre os filhos; e não querendo ter
a Igreja como Mãe, não terá Deus como Pai: Nec habebit Deum
Patrem qui Ecclesiam noluerit habere matrem”. “Aquele, diz São
Cipriano, que abandona a Igreja de Jesus Cristo não alcançará as
recompensas de Jesus Cristo. Não, não pode ter Deus como Pai
quem não tem a Igreja como Mãe”.
Além disso, todos os Santos Padres usam a comparação com a
Arca de Noé. Nenhum dos que não entraram na Arca de Noé foi
salvo; Nem será salvo ninguém que não entre na Igreja Católica.
A máxima, então, “fora da Igreja não há salvação”, resulta das
palavras do Evangelho, dos escritos dos Santos Padres e de toda a
tradição cristã.
Conclusão.O homem não é livre de escolher entre as diversas
seitas cristãs e a Igreja Católica. Manter o contrário seria afirmar ou
que Jesus Cristo ao fundar a sua Igreja fez uma obra perfeitamente
inútil, o que é uma blasfêmia, ou que todas as religiões são boas, o
que é um manifesto absurdo, pois de duas crenças opostas uma é
necessariamente a verdadeira; e seria ímpio supor que Deus possa
permanecer indiferente entre o erro e a verdade.
163. P. _O que significa a máxima: Fora da Igreja não há
salvação?
A. _1º Esta máxima não significa: Todo aquele que não for
católico será condenado; mas, como a religião católica é obrigatória
para todos, quem se recusa a aprender sobre ela, ou a abraçá-la
uma vez conhecida, peca gravemente e torna-se credor da
condenação eterna.
2º Quanto aos que não conhecem a Igreja, se observarem a lei
natural gravada nos seus corações, se cumprirem os deveres
ditados pela sua consciência, Deus, que quer a salvação de todos,
lhes dará as luzes e as graças necessárias para obter a salvação.
Estes serão salvos pelo desejo implícito de pertencer à Igreja.

401
Contudo, é uma grande desgraça não conhecer a Igreja, porque
esta ignorância implica a privação dos meios eficazes que esta boa
Mãe oferece aos seus filhos para que possam chegar facilmente ao
céu.
Você pode pertencer à Igreja: seja na realidade, ou por desejo,
pelo menos implicitamente. Chamamos isso de implícito: o desejo
contido na vontade expressa e geral de utilizar os meios e observar
as leis estabelecidas por Deus para alcançar a salvação.
É uma necessidade de preceito pertencer à Igreja na realidade, e
uma necessidade de meios pertencer a Ela, pelo menos, num desejo
implícito. A necessidade da Igreja, portanto, não é diferente da do
Batismo. Para ser salvo, é necessário receber o Batismo na
realidade ou no desejo: da mesma forma, é necessário pertencer à
Igreja Católica, na realidade ou no desejo.
Esta doutrina pode ser explicada em outros termos: É necessário
como preceito pertencer ao corpo da Igreja, e como necessário
pertencer à sua alma. O corpo ou parte visível da Igreja é a
sociedade dos fiéis batizados, visivelmente unidos entre si pela
profissão da mesma fé, pela participação dos mesmos Sacramentos
e pela submissão aos legítimos pastores.
A alma, ou parte invisível da Igreja, é a graça santificadora, o
princípio da vida sobrenatural. As almas que o possuem, unidas
invisivelmente a Jesus Cristo pela fé, pela esperança e, sobretudo,
pela caridade, estão unidas entre si como os ramos da árvore que
recebem do mesmo tronco a mesma seiva e a mesma vida. Para
pertencer à alma da Igreja basta estar em estado de graça e possuir
a vida divina que Jesus Cristo nos mereceu com a sua morte e que
Ele nos comunica através do Espírito Santo.
1º Quem reconhece Jesus Cristo como Deus e a Igreja Católica
como o único divino, e que esta, porém, permanece fora do seu seio,
não pode ser salvo, porque se recusa a cumprir o grande preceito
imposto por Jesus Cristo a todos os homens de que eles são
membros de sua Igreja. Será injusto excluir da salvação os hereges
e cismáticos de má fé que, caprichosa e obstinadamente, se
recusam a procurar a verdade, ou que, mesmo vendo a luz,
permanecem voluntariamente nas trevas? Não é justo que aqueles
que se recusam a entrar na Arca da salvação pereçam num
naufrágio? Podem aqueles que não querem pertencer à casa de
Deus na terra ser excluídos da Jerusalém celestial?

402
Aqueles que duvidam da verdade da sua religião devem procurar
a verdadeira Igreja. O herege, o fiel que, atormentado pela dúvida,
negligencia a oração, deixa de se consultar e de se esclarecer,
torna-se culpado de pecado grave.
2º Quem não conhece a Igreja pode ser salvo? Esta questão
pode referir-se a crianças e adultos.
A) Os filhos dos hereges, cismáticos e infiéis, se forem
validamente batizados, recebem a graça santificadora com o
batismo, e não a perdem, exceto quando, com plena advertência,
caem em grave falta.
As crianças que morrem sem batismo e, portanto, fora da Igreja,
são privadas da felicidade sobrenatural e da visão beatífica. Mas
esta felicidade não lhes é devida, porque excede as exigências da
natureza humana. Segundo o ensinamento comum dos teólogos,
estas crianças não sofrem a pena do sentido; nem sofrem, segundo
Santo Tomás, o sentimento de tristeza que a perda da visão de Deus
poderia lhes causar. Eles desfrutam da felicidade natural, que teria
sido herança da natureza humana, se Deus não nos tivesse elevado
à ordem sobrenatural, e abençoarão eternamente o Criador por tê-
los tirado do nada.
B)A salvação também não é impossível para adultos que vivem
em seitas heréticas, cismáticas ou em nações infiéis.
1º Uma lei desconhecida não pode vincular. Quem ignora o
Evangelho desconhece a Igreja de Jesus Cristo e, portanto, está
involuntariamente fora dela; Eles não podem ser condenados por
este simples fato: ninguém é condenado exceto por sua própria
culpa. Desculpas de boa fé: Deus não imputará àqueles que estão
fora da Igreja, sem culpa própria e por ignorância invencível, um
estado pelo qual eles não são responsáveis. Estes só são obrigados
a servir a Deus cumprindo os deveres que lhes são impostos pela
consciência.
2º Se estes homens, os infiéis, observarem fielmente a lei natural
gravada em todos os corações, e os hereges e cismáticos, além da
lei natural, as positivas, na parte que chegou ao seu conhecimento;
se você está disposto a abraçar a verdade que chega ao seu
conhecimento; Em suma, se você fizer a sua parte tanto quanto
possível, Deus lhe dará as graças que você precisa. A quem faz da
sua parte tudo o que é possível, Deus não nega a sua graça: Facenti
quod est in se, Deus non denegat gratiam, dizem os teólogos. Ele
quer salvação

403
a todos, para todos, ele proporciona e concede graças suficientes
para que possam alcançar a justificação e a salvação.
Se Deus não os faz conhecer externamente, através da
pregação, as verdades necessárias para serem salvos, ele o fará
internamente, por si mesmo ou através do ministério dos anjos.
“Deus, diz São Tomás, enviará um anjo para introduzir na Igreja os
homens de boa vontade, em vez de os deixar perder”159.
Escutemos o imortal Pontífice Pio IX, na sua Encíclica de 10 de
agosto de 1863: “Sabemos que aqueles que vivem numa ignorância
invencível da nossa religião e que seguem fielmente os preceitos da
lei natural impressionam todos os corações; que, dispostos a seguir
a vontade de Deus, levam uma vida ordenada e honesta, sabemos
que podem, com a ajuda da luz e da graça divina, obter a vida
eterna; porque Deus, que penetra e vê perfeitamente os
pensamentos e as disposições de todos os espíritos, na sua
clemência e bondade soberana, não permite que ninguém seja
punido com castigos eternos sem ter sido culpado de uma falta
voluntária.
3º O que foi dito significa que estes infiéis, estes hereges, estes
cismáticos de boa fé, serão salvos fora da Igreja? Não, certamente,
só porque têm o desejo sincero de fazer a vontade de Deus para
abraçar a verdade, pertencem à Igreja de coração, pois nela
estariam se a conhecessem; Tendo uma caridade perfeita, desejam
implicitamente pertencer à Igreja, e este desejo fornece a
incorporação real, como o desejo implícito do batismo fornece o
próprio batismo. Pertencem, se não ao corpo, pelo menos à alma da
Igreja.
Conclusão.Esses homens de boa fé e boa vontade,
são muitos? Será que as Igrejas Grega e Russa, as seitas
Protestantes da Alemanha, Inglaterra, Suíça e América, escondem
muitos eleitos? Este é um mistério que só Deus pode conhecer. Se
nada é mais verdadeiro do que este princípio: Fora da Igreja não há
salvação, nada é mais misterioso do que a sua aplicação, porque
contém três elementos insondáveis160: a graça de Deus, a
consciência do homem e a hora da morte161.

159Suma Teológica, III, q. 1.

160Ver: Monsenhor Besson, A Igreja.

161Cremos útil chamar a atenção do leitor para as palavras de um escritor muito sério, o Abade Pirene, nos seus Estudos Filosóficos
sobre as principais questões da

404
Destes princípios incontestáveis segue-se que, relativamente à
salvação, as seguintes classes podem ser distinguidas entre os
homens:
1º, O católico em estado de graça:Ele pertence, ao mesmo
tempo, ao corpo e à alma da Igreja e, se morrer nesse estado, a sua
salvação está assegurada.
2º O pecador católico:Isto é, no pecado mortal real, não
pertence à alma da Igreja, exceto através dos laços da fé e da
esperança; É um membro paralisado que ainda pode ser reanimado,
mas que, por enquanto, está privado de vida. Se a morte o
surpreende em pecado mortal, a sua desgraça é irremediável. Mas
como pertence ao corpo da Igreja, tem mil meios para voltar a Deus.
3º O apóstata:que se distanciou do seio da Igreja.
4º O incrédulo, o herege, o cismático ocultoque não romperam
abertamente com a Igreja, pertencem ao seu corpo; mas eles estão
separados de sua alma e no caminho da perdição.

Religião Revelada. Podem contribuir para salvar, no momento da morte, uma grande
multidão de almas.
“Suponhamos que o pagão, e o mesmo se diz dos hereges, dos cismáticos e dos
pecadores, morra amando a Deus por si mesmo e acima de todas as coisas com
caridade perfeita; por si só. E note que o grau mais fraco de caridade é suficiente:
porque a essência de uma virtude não consiste em sua intensidade (uma gota de
água é tanta água quanto o oceano inteiro), e a quantidade de uma coisa não
influencia sua natureza: portanto, a caridade subsiste com o apego ao pecado venial
e, particularmente, subsiste sem qualquer devoção sensata.
"Você está, portanto, salvo, a partir do momento em que deixa esta vida amando
a Deus por si mesmo e acima de todas as coisas. Você está salvo, quaisquer que
sejam as circunstâncias em que se encontre. Que no momento supremo, pagão,
herege ou pecador, seu a vontade, movida pela graça de Deus, produz um ato de
caridade perfeita, ainda que muito fraca, e a vossa salvação está assegurada, porque
a caridade torna perfeita a contrição; a caridade e a contrição perfeita contêm o
desejo, portanto menos implícito, do batismo e da confissão.
“Se queres saber como a caridade se comunica aos homens, aqui está a resposta
dos teólogos: Deus dará o que for necessário a todos aqueles que fazem o que
humanamente depende deles, mesmo que para isso tenha que realizar um milagre.
As pessoas que estão perto dos moribundos, mesmo que sejam hereges, podem
facilmente induzi-los a praticar atos de perfeita caridade, falando-lhes da infinita
excelência, bondade, bondade e beleza de Deus; em comparação com a qual todos
os bens criados não passam de pó...

405
5º O herege, o cismático de boa fé, o penitente excomungado
(arrependido) não pertencem ao corpo da Igreja, mas podem unir-se
à sua alma pelos laços da fé e da caridade divina: se morrerem sem
falta grave no consciência, ou com perfeita contrição, serão salvos.
6º Por fim, os incrédulos, aqueles que não ouviram falar do
Evangelho, eles estão no estado em que os gentios estavam antes
da vinda do Messias; Não têm mais deveres a cumprir do que
aqueles que conhecem através da lei natural e da educação, que
lhes transmitiu, embora alterada, as tradições primitivas sobre Deus,
a existência de outra vida. O infiel que acredita que tudo o que sabe
sobre a verdadeira religião vem de Deus, que nada mais pede do
que ser instruído sobre as verdades da fé, que observa a lei divina
tal como a conhece; Será salvo porque pertence à alma da Igreja
através dos dons interiores da graça.
Não haverá, portanto, mais irremediavelmente perdidos do que os
apóstatas, os incrédulos, os hereges, os cismáticos e os infiéis de
má-fé, os impenitentes excomungados e os católicos mortos em
pecado mortal162.

III. ORGANIZAÇÃO DA IGREJA


CATÓLICA
A Igreja Católica é a sociedade de fiéis unidos pela profissão da
mesma fé, pela participação dos mesmos Sacramentos, pela
submissão aos legítimos pastores, cujo chefe visível é o Papa,
sucessor de São Pedro e Vigário de Jesus Cristo na terra .
O corpo social da Igreja inclui todos os pastores e fiéis.
Quem são os legítimos pastores da Igreja?
São o Papa, os Bispos, os sacerdotes consagrados e instituídos
segundo as regras estabelecidas.
O PapaEle é o Vigário de Jesus Cristo, o sucessor de São Pedro
e o pastor supremo da Igreja. Ele é escolhido pelos Cardeais: uma
vez nomeado, depende apenas de Deus, que lhe comunica
diretamente seus poderes. Ninguém pode julgá-lo ou privá-lo da sua
dignidade.
Os cardeais, nomeados pelo Papa e revogáveis por sua vontade,
constituem o Conselho ordinário do Sumo Pontífice: são colocados à
frente das diversas Congregações Romanas,

162Extrato de Portais, Doutrina Católica.

406
que todos os negócios do governo da Igreja sejam distribuídos, sob
as ordens do Papa. Actualmente são eles os únicos que têm o direito
de eleger o novo Papa.
2º Os Bispos são os sucessores dos Apóstolos, ou encarregados
pelo Espírito Santo do governo espiritual das dioceses sob a
autoridade do Papa, que lhes confere a instituição canónica.
Os PatriarcasPrimazes e Arcebispos são simplesmente Bispos
com maior dignidade e jurisdição mais ampla. Tal como o Papa,
cada Bispo tem um conselho para o ajudar no governo da diocese.
Os vigários gerais são os auxiliares do Bispo na administração da
diocese.
3º Os sacerdotes são os cooperadores dos Bispos. Assim como o
universo católico está dividido em circunscrições denominadas
dioceses, estas, por sua vez, estão subdivididas em Paróquias. Os
sacerdotes são nomeados pelos Bispos para o governo das
paróquias; Às vezes contam com assistentes, chamados tenentes,
coadjutores.
O Papa e os Bispos formam o alto clero, a Igreja docente; Os
sacerdotes simples formam o baixo clero. Os primeiros têm a missão
de definir a verdadeira doutrina e condenar o erro; Aos simples
sacerdotes cabe o ofício de pregar aos fiéis o que é definido e
proposto pela Igreja docente.
4º Para ser pastor legítimo é necessário: O poder de Ordem,
conferido ao Bispo pela Consagração Episcopal e ao Sacerdote pela
Consagração Sacerdotal; o poder de jurisdição, conferido pelo
superior para exercer funções espirituais. Estes dois poderes,
recebidos por meio do Sacramento e por meio de Missão, nada mais
são do que os poderes de Jesus Cristo comunicados aos seus
ministros. Desta forma, Jesus Cristo governa a sua Igreja, mesmo
nas paróquias mais pequenas, através dos seus legítimos pastores.
A cada um deles disse: “Quem vos escuta, a Mim ouve…”.
Os simples sacerdotes recebem a jurisdição do Bispo, o Bispo do
Papa, o Papa de Jesus Cristo, que a conferiu diretamente a São
Pedro e a todos os seus sucessores. O simples sacerdote não tem
jurisdição diferente da sua Paróquia e está diretamente sujeito ao
seu Bispo; Um Bispo não tem jurisdição exceto sobre a sua diocese
e depende do Papa. O Papa tem plena jurisdição sobre a Igreja
universal e depende apenas de Deus. Tal é o

407
hierarquia ou subordinação de poderes que produz a unidade efetiva
do governo.
Consequentemente, um sacerdote não constituído pelo seu
bispo, um bispo não reconhecido e aprovado pelo Papa, não são
pastores legítimos: são intrusos, e os fiéis devem evitá-los como
falsos pastores, como sempre foi praticado na Igreja.
5º Os membros da Igreja são todos homens batizados, sujeitos
ao Papa através dos párocos subordinados; São chamados de
crentes fiéis ou verdadeiros, porque professam a verdadeira religião
de Jesus Cristo.
Estudaremos essa organização nos três artigos a seguir:
1º O Papa, suas prerrogativas, seus poderes.
2º Os Bispos, os Presbíteros, as suas diversas
atribuições. 3º Os simples fiéis.

1º O Papa, suas prerrogativas, seus poderes


164. P. _Quem é o Papa?
R. _O Papa é o Vigário de Jesus Cristo, o sucessor de São
Pedro, o médico infalível, o Pai comum dos pastores e dos fiéis, o
Chefe Supremo e visível da Igreja.
Ele também é chamado de Sumo Pontífice porque é o príncipe
dos pontífices, o Bispo dos Bispos.
1º O Papa é o Vigário de Jesus Cristo.Ser Vigário de Jesus
Cristo é ocupar o seu lugar. Nosso Senhor Jesus Cristo é a cabeça
invisível da Igreja, nunca deixa de dirigi-la, assisti-la, vivificá-la e
governá-la. Mas a Igreja, uma sociedade visível, precisa de um
governador visível: esse governador supremo é o Papa, que
representa Jesus Cristo e o representa na terra.
2º O Papa é o sucessor de São Pedro.Sucessor de São Pedro,
na Sé de Roma, o Papa herdou a autoridade do Príncipe dos
Apóstolos, primeiro Chefe da Igreja universal. Ele é, portanto, como
São Pedro, o Bispo de Roma e o Hierarca Supremo de toda a Igreja.
3º O Papa é o médico infalível da Igreja.Recebeu de Jesus
Cristo a missão de ensinar a todos, pastores e fiéis, as verdades da
fé. Os Bispos são obrigados a submeter-se às suas

408
ensinamentos, e eles não podem ensinar nada sem a sua aprovação
expressa ou tácita. Ele é infalível, ou seja, não pode cometer erros
no cumprimento das funções de seu cargo.
4º O Papa é o Pai comum dos pastores e dos fiéis.Depois de
Deus, ele é a fonte da vida sobrenatural; a Cabeça que dá à Igreja,
corpo místico de Jesus Cristo, movimento, força e vida.
5º O Papa é o Pastor Supremo da Igreja.Recebeu diretamente
de Nosso Senhor Jesus Cristo, na pessoa de Pedro, a plenitude da
autoridade sobre a Igreja universal.
165. P. _Quais são as prerrogativas do Papa?
R. _O Papa, legítimo sucessor de São Pedro, recebe diretamente
de Jesus Cristo, como recebeu o Príncipe dos Apóstolos, Autoridade
soberana sobre toda a Igreja.
Ele tem o primado da honra e da jurisdição, o pleno poder para
alimentar e governar os pastores e os fiéis.
“O primado do Papa é o princípio permanente e o fundamento
visível da unidade da Igreja” (Concílio Vaticano I).
O Filho de Deus, para garantir a perfeita unidade da sua Igreja,
constituiu-a em forma de monarquia. Para isso, estabeleceu aqui na
terra, na pessoa de Pedro, um representante, um Vigário, a quem
conferiu autoridade soberana na ordem espiritual. Sucessor de
Pedro, o Papa é, como ele, verdadeiro Vigário de Jesus Cristo,
autoridade suprema da monarquia, monarca da Igreja. Esta
autoridade soberana do Papa decorre claramente das três verdades
seguintes, já demonstradas:
1a Jesus Cristo deu a São Pedro uma primazia de honra e
jurisdição soberana sobre toda a Igreja. Portanto, depois da
Ascensão, vemos o Príncipe dos Apóstolos exercer o poder
soberano na Igreja primitiva: ele é o primeiro em tudo e em tudo atua
como o líder supremo. É assim que o Papa aparece no Evangelho e
nos Atos dos Apóstolos (cf. n. 143).
2a Jesus Cristo quis que este primado fosse perpétuo e passasse
aos sucessores de Pedro. O Salvador instituiu o primado de São
Pedro para manter na Igreja a unidade de fé e de governo, uma
unidade de crença e de regime que deve durar tanto quanto a
própria Igreja. Portanto, é necessário que a Igreja tenha sempre uma
cabeça; que o edifício tenha sempre o seu alicerce; o rebanho, seu
pastor. Caso contrário, as promessas divinas não serão cumpridas.

409
eles se cumpririam e a obra de Jesus Cristo seria mortalmente
ferida. Portanto, o poder de São Pedro não é um poder pessoal:
deve passar aos seus sucessores.
3a Finalmente, provamos ao longo da história que o Romano
Pontífice é o legítimo sucessor de São Pedro na Sé de Roma. Assim,
a forma de governo estabelecida por Jesus Cristo na sua Igreja deve
durar tanto quanto a própria Igreja; isto é, até a consumação dos
tempos. Então o Papa, sucessor de São Pedro, herda todos os
direitos e todos os poderes do Príncipe dos Apóstolos para o
governo da Igreja universal. É assim que o Papa aparece na história
e na tradição cristã.
Estas três verdades são de fé, segundo as definições do Concílio
Vaticano I:
a) “Se alguém disser que o Apóstolo Pedro não foi constituído por
Nosso Senhor Jesus Cristo como cabeça visível de toda a Igreja
militante; ou quem não recebeu diretamente de Nosso Senhor Jesus
Cristo mais que um primado de honra, e não de verdadeira
jurisdição, seja anatematizado.”
b) “Se alguém disser que não é por instituição de Jesus Cristo ou
por direito divino que o apóstolo Pedro tem sucessores perpétuos do
seu primado sobre toda a Igreja; ou que o Romano Pontífice não
seja o sucessor do Apóstolo Pedro neste primado, seja
anatematizado”.
166. P _Quais são os poderes que o Papa possui em virtude
da sua primazia sobre a Igreja?
R. _Em virtude do seu primado, o Papa tem a plenitude dos três
poderes que Jesus Cristo deu à sua Igreja: o poder de ensinar, o
poder de santificar e o poder de governar pastores e fiéis. Ele exerce
estes três poderes por si mesmo ou através dos seus delegados na
Igreja universal.
O Papa é o Doutor infalível, o Sumo Pontífice, o Pastor supremo
da Igreja de Jesus Cristo.
Na resposta à pergunta do número anterior comprovamos a
primazia do Papa; Resta explicar a natureza desta primazia e os
poderes que ela compreende. Esta é a ordem seguida pelo Concílio
Vaticano I na sua constituição Pastao Aeternus sobre a Igreja. Este
será o objeto das seguintes questões. Vamos explicar aqui as
Características dos poderes da Igreja.
1º São poderes divinos.O Papa não recebe o seu poder
soberano da Igreja, nem dos príncipes temporais, nem dos Cardeais.
410
que o escolheu, mas os recebe diretamente de Jesus Cristo, que os
deu a Pedro e aos seus sucessores. Uma coisa é nomear ou eleger
um indivíduo como sucessor do príncipe, e outra coisa é conferir-lhe
poder: um vem do homem, o outro de Deus. Os Cardeais designam
apenas a pessoa que deve governar a Igreja, mas Jesus Cristo é
quem deu todos os poderes na pessoa de Pedro.
2º Os poderes do Papa são supremos.O primado ou cargo de
Pastor Supremo que cabe ao Papa não consiste num simples direito
de supervisão e direção, como pode ter um presidente da república,
mas na plenitude da autoridade espiritual. São Pedro foi estabelecido
como único fundamento da Igreja, recebeu sem restrições as Chaves
do Reino dos Céus, foi nomeado Pastor de todo o rebanho; portanto,
o poder soberano concedido a São Pedro contém a plenitude da
autoridade espiritual necessária ao governo da Igreja. O Papa,
portanto, não tem superior na terra: depende apenas de Deus.
3º Os poderes do Papa são universais.Estendem-se a todos os
membros da Igreja, pastores e fiéis, reis e súditos. Todo cristão, seja
bispo, imperador ou presidente da república, está sujeito à
autoridade espiritual do Papa.
4º Os poderes do Papa são ordinários,isto é, inerente à
dignidade do Sumo Pontífice. O Papa possui estes poderes, não por
delegação, mas em virtude do seu cargo, como sucessor de São
Pedro e vigário de Jesus Cristo.
5º Os poderes do Papa são imediatos.O Papa pode exercê-los
sem intermediário e em todos os casos possíveis, sobre todos os
pastores, sobre todos os fiéis de toda a Igreja. Pastor de todos, o
Papa tem o direito de cuidar diretamente de todos. Tal é a doutrina
do Concílio Vaticano I.
“Consequentemente, se alguém dissesse que o Romano
Pontífice tem apenas um cargo de fiscalização e direção e não um
poder pleno e supremo de jurisdição sobre a Igreja universal, não só
nas coisas que se referem à fé e aos costumes, mas também
naquelas que pertencem à disciplina e ao governo da Igreja
espalhada por todo o universo; ou que ele tenha apenas a parte
principal e não toda a plenitude deste poder; ou que o poder que lhe
pertence não seja ordinário e imediato, tanto sobre cada uma e todas
as Igrejas, como sobre todos os pastores e sobre todos os fiéis e
sobre cada um deles, seja anatematizado.

411
Aqui, segundo as decisões do Concílio Vaticano I, estão as
principais consequências do primado do Sumo Pontífice:
1º O Papa pode e deve comunicar-se livremente com os pastores
e com os rebanhos de toda a Igreja, não estando sujeito à
conformidade do poder civil.
2º O Papa é o Juiz supremo dos fiéis: todos têm o direito de
recorrer para o seu tribunal em todas as causas que caibam na
jurisdição eclesiástica.
3º O julgamento do Papa não pode ser reformado por ninguém, e
não é permitido recorrer de suas decisões ao Concílio Ecumênico,
como autoridade superior ao Papa. O Conselho reprova e condena
teorias contrárias163.
É a condenação de erros antigos, que tanto barulho e tantos
danos causaram à Igreja sob os nomes: Galicanismo na França,
Josefismo na Alemanha, Regalismo na Itália.
167. P. _Quais são os poderes do Papa como médico
infalível da Igreja universal?
R. _O Papa tem o poder soberano de ensinar tudo o que diz
respeito ao dogma, à moralidade e ao culto da religião cristã.
O Papa explica tudo o que Jesus Cristo prescreveu para se
acreditar que deve ser feito ou evitado para ir para o céu.
Ele aponta e condena todos os erros contrários à revelação, e
todos os homens são obrigados a acreditar na sua palavra como na
palavra do próprio Deus.
1º O Papa é o guardião do depósito sagrado das verdades da fé,
encarregado de nos repetir os ensinamentos divinos, de nos explicar
o seu significado e, assim, de manter a unidade da crença em todos
os lugares. O Papa possui, no mais alto grau, poder doutrinário: ele
tem o direito e o poder de ensinar à Igreja universal todos os pontos
da doutrina cristã.
2º Para guardar eficazmente o depósito das verdades reveladas,
o Papa deve ser capaz de eliminar o erro. É impossível que
controvérsias sobre fé ou moral não surjam na Igreja. Pois bem,
essas discussões não poderiam chegar ao fim se não houvesse um
Juiz Supremo para resolvê-las com sentença transitada em julgado.
O Papa é este Juiz soberano e infalível. Se este poder do Papa não
existisse, o

163 Const. Pastor Aeternus, III.

412
a unidade de doutrina e crença seria impossível, como prova a
história do protestantismo.
168. _P. _O Papa é infalível?
R._Sim; O Papa é infalível quando ensina, como doutor da Igreja
universal, tudo o que se refere à fé ou aos costumes. Jesus Cristo
prometeu ao Papa a sua ajuda para a preservar do erro. Ele disse a
Pedro: “Orei por ti para que a tua fé não desfaleça e para que tu, por
sua vez, fortaleças os teus irmãos.” Mas Pedro não poderia
confirmar seus irmãos na fé se ele próprio estivesse sujeito ao erro.
O Papa deve, como Pedro, ser o fundamento da Igreja; Mas se
não fosse infalível, este fundamento poderia ser minado pelo erro, e
com ele cairia a Igreja, o que vai contra as promessas de Jesus
Cristo. Portanto, o Papa é infalível.
Tal como Pedro, o Papa está encarregado de alimentar os
cordeiros e ovelhas de Jesus Cristo; mas, se não fosse infalível, não
poderia alimentar seu rebanho com a sã doutrina.
A infalibilidade do Papa é, portanto, necessária para que os
cristãos tenham a certeza de segui-lo no caminho da salvação. A
infalibilidade do Papa não é impecabilidade pessoal, nem inspiração
profética, nem revelação particular; É uma assistência divina que
preserva o Papa de todo erro quando expõe as verdades reveladas.
O Papa, portanto, não é impecável na sua vida e na sua conduta.
Ele também não é infalível quando fala como indivíduo, como
estudioso, como teólogo e sobre temas estranhos à religião. Ele só é
infalível quando, como Doutor Supremo da Igreja, define, impondo a
todos a obrigação de aceitá-lo, um ensinamento relativo ao dogma
ou à moralidade.
Para que o Papa seja infalível, são necessárias três
condições:
1º Que o seu decreto incida sobre uma questão relativa à fé, aos
costumes ou à disciplina da Igreja.
2º Que emita um julgamento definitivo com o desejo formal de
compelir as consciências.
3º Que fale como Pastor e Doutor de todos os cristãos, em
virtude da sua autoridade apostólica.
Diz-se então que o Papa fala “ex cathedra”, isto é, sentado na sé
de Pedro, pois todo juiz que profere sentença deve estar sentado.

413
1º O Papa é infalível.As três sentenças de Jesus Cristo que
comprovam a primazia do Papa também comprovam a sua
infalibilidade.
a) Primeira sentença.“Tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão
contra ela.”. Desta forma, Jesus Cristo fez de Pedro o fundamento
firme, sólido e inabalável da Igreja, uma vez que o inferno não pode
prevalecer contra ela. Pois bem, Pedro não seria uma base sólida e
firme se pudesse cometer erros. Portanto, deve ser infalível. Assim,
a promessa de Jesus Cristo é geral e abrange todos os tempos.
Depois, a infalibilidade de Pedro deve ser transmitida aos seus
sucessores.
Jesus Cristo acrescenta: “Tudo o que ligares na terra será ligado
no céu.” Segundo estas palavras, os julgamentos de Pedro devem
ser ratificados no céu. Assim, Deus não pode aprovar o erro; então,
os julgamentos de Pedro serão infalíveis.
b) Segunda frase.Jesus Cristo, na véspera da sua Paixão, disse
a Pedro: “Simão, Simão, Satanás vem atrás de vós para vos peneirar
a todos como o trigo quando é peneirado; mas eu orei por você para
que sua fé não desfaleça; e você, por sua vez, confirma seus
irmãos.” Jesus Cristo, cuja oração é necessariamente ouvida, pediu,
e de facto obteve, que a fé de Pedro nunca falhasse. Mas um
homem cuja fé não pode falhar é infalível. Portanto, Pedro é infalível.
Mas é também evidente que estas palavras do Salvador se dirigem
também a todos os sucessores de Pedro, porque herdam com o
ofício a sua missão de confirmar na fé os seus irmãos, isto é, os fiéis
de todos os tempos. Portanto, todos os Papas são infalíveis.
c) Terceira frase.Jesus disse a Pedro: “Apascenta os meus
cordeiros, apascenta as minhas ovelhas”. O alimento do rebanho
espiritual é, antes de tudo, a verdade para as inteligências, o bem
para os corações: É necessário, portanto, que os pastores e os fiéis
tenham a certeza de encontrar, junto à Sé de Pedro, a verdadeira
doutrina da salvação. Portanto, ao receber a missão de apascentar
os cordeiros e ovelhas de Cristo, Pedro recebeu, ao mesmo tempo, a
graça de estado necessária para preservá-los das pastagens do erro
e do vício. O mesmo deve ser dito de todos os sucessores de Pedro,
isto é, de todos os Papas.

414
2. A infalibilidade pontifícia é uma necessidade.
a) É necessário para o Papa.Deus sempre distribui seus dons
proporcionalmente aos deveres e responsabilidades que impõe. O
Papa, Doutor dos Cristãos, deve ensinar a verdade a toda a Igreja e
condenar todos os erros. Mas, para que possa desempenhar
adequadamente essas funções, ele deve ter certeza de não se
enganar; e não poderia ser se não fosse infalível. Coube a Deus,
portanto, na sua Sabedoria e na sua Justiça, conceder a
infalibilidade ao Papa.
b) A infalibilidade do Papa é necessária para os Bispos.Eles
são obrigados a ensinar o que o Papa ensina. Portanto, se este
Mestre supremo não fosse infalível, eles poderiam ser forçados a
ensinar o erro e a enganar a Igreja.
c) A infalibilidade do Papa é necessária para os fiéis.Estes
devem obedecer aos Bispos e ao Papa. Se estes últimos pudessem
estar errados, seriam forçados a desviar-se do caminho da verdade,
seguindo-o, como são obrigados a segui-lo. E, na verdade,
suponhamos que o Papa possa ensinar o erro: se os fiéis o
seguirem, perder-se-ão com ele, e a Igreja deixaria de ser a guardiã
da verdade. Se não o seguirem, teremos a divisão do cisma, a
destruição da unidade da Igreja. É, portanto, necessário que o Papa
seja infalível. Podemos acrescentar que a infalibilidade dos Concílios
ecuménicos não seria suficiente para salvaguardar os interesses da
Igreja. Dadas as grandes dificuldades que se opõem à convocação
destes Concílios, a Igreja ficaria privada, na maior parte do tempo,
de um juiz infalível, capaz de remediar prontamente os cismas e
heresias que possam surgir a qualquer momento164.

dDEFINIÇÃO DEcONCILIUSVÁTICOEu (1870 _ 1871)


“Por esta razão, aderindo fielmente aoTradiçãoque remonta aos
primórdios da fé cristã, para a glória de Deus, para a exaltação da
religião católica e a salvação dos povos cristãos. Ensinamos e
definimos, com a aprovação do santo Concílio, que é um dogma
divinamente revelado, que o Romano Pontífice, quando fala“ex
cátedra”, isto é, no desempenho da missão de Pastor e Doutor de
todos os cristãos, em virtude da sua suprema

164Santo Afonso M. de Ligório, Verdade da Igreja Católica.

415
autoridade apostólica, define que uma doutrina relativaà fé ou aos
costumesdeve ser acreditada pela Igreja universal, ela goza
plenamente, através da assistência divina que lhe foi prometida na
pessoa do bem-aventurado Pedro, da infalibilidade com que o divino
Redentor quis que a sua Igreja fosse dotada ao definir a sua doutrina
relativa à fé .ou aos costumes e, consequentemente, que tais
definições do Romano Pontífice são em si irreformáveis e não em
virtude do consentimento da Igreja.
“E se alguém, o que Deus não quer, tiver a ousadia de
contradizer a nossa definição, seja anatematizado”165.
Consequências desta definição do Conselho.1º, O Papa goza
absolutamente da mesma infalibilidade que a Igreja em questões de
fé e moral.
2º Os seus ensinamentos, para serem irreformáveis, não
necessitam do consentimento dos Bispos.
3º Não é possível recorrer de uma definição pontifícia para um
Concílio geral, pois o Sumo Pontífice goza pessoalmente da mesma
prerrogativa da Igreja docente, separada ou reunida em Concílio.
Objeções.Talvez nos digam que a palavra infalível não se
encontra no Evangelho. Garantido; mas o que se expressa com essa
palavra se encontra, e de forma evidente, no Evangelho.
O Concílio Vaticano I não inventou a infalibilidade pontifícia:
encontrou-a no Evangelho, na história e na Tradição da Igreja.
Todos os Concílios Ecuménicos do Oriente e do Ocidente
admitiram a infalibilidade papal, uma vez que pediram ao Papa que
confirmasse os seus decretos.
Os Padres e Doutores dos primeiros séculos sempre receberam
as decisões dos Papas como sentenças definitivas. Todas as épocas
adotaram o lema de Santo Agostinho: “Roma falou, a causa acabou”.
Todas as nações católicas, sem exceção de uma, reconheceram
a infalibilidade do Papa. O galicanismo, inventado por Luís XVI, foi
uma novidade na Igreja da França. Foi aceite apenas à força e
apenas por trinta e cinco Bispos, dos cento e trinta que a Igreja de
França contava então. Esta Igreja tem

165Conc. Vat. I, Pastor aeternus, IV.

416
Sempre rejeitou, com a sua forma de agir, as heresias dos quatro
artigos. Por exemplo, quando a constituição civil do clero foi votada
pela Assembleia Constituinte no final do século XVII, houve divisão
entre os clérigos e os Bispos. Mas de repente chega a notícia de que
o Papa o condena e, imediatamente, aqueles Bispos, aqueles
Padres, ontem divididos, estão de acordo; Eles expatriam ou morrem
no cadafalso, em vez de se oporem à palavra do Papa.
É por isso que o Papa Pio VII aplicou à França a parábola dos
dois filhos: “Há povos, disse ele, que me respondem: sim,
Santíssimo Padre; e eles não fazem nada do que eu prescrevo. Os
franceses começam por me dizer: Não; mas então eles se
esforçaram muito para obedecer escrupulosamente à minha
palavra.”
A infalibilidade do Papa não tem nada que possa perturbar as
pessoas. Às vezes ouve-se dizer: o Papa não poderia abusar deste
poder exorbitante? É uma objeção infantil. O Papa não pode abusar
da sua infalibilidade. Porque? Precisamente porque é infalível. O
privilégio da infalibilidade é Deus que o concede e que o guarda e
preserva de todo abuso. A infalibilidade do Papa não é a
infalibilidade do homem; mas a infalibilidade de Deus presente no
Papa, iluminando o Papa, para que não possa enganar o mundo que
ele, por sua vez, ilumina. Portanto, acreditar no ensinamento do
Papa não é acreditar num homem, mas em Deus, que fala pela sua
boca.
169. _P. _Quais são os poderes do Papa como Soberano
Pontífice da Igreja?
R. _O Papa, como Sumo Pontífice, possui no grau mais eminente
o poder de santificar, concedido por Nosso Senhor Jesus Cristo à
sua Igreja.
Goza da plenitude do sacerdócio, que pode exercer em todos os
pontos do globo; Ele regula tudo o que se refere ao culto, à
administração dos Sacramentos, e abre aos fiéis o tesouro das
indulgências.
O poder de santificar é o poder mais divino que Jesus Cristo já
concedeu à Igreja. A santidade é a semelhança com Deus através
da graça santificadora, que é a vida sobrenatural da nossa alma.
Esta vida divina nos é dada através dos Sacramentos. Mas quem
dá aos Bispos e aos Sacerdotes o poder de baptizar, confirmar,
perdoar pecados, consagrar a Eucaristia, abençoar o matrimónio,
etc.? O Papa: Todos os Sacramentos nos chegam de Jesus Cristo,
417
através do Papa, que é o seu Vigário.

418
O Papa é, portanto, o Pai de todos os cristãos, pois através dele
recebemos a graça de Deus, a vida divina encerrada nos
Sacramentos, da qual ele é o supremo dispensador. Sem o Papa
não há Bispos; sem Bispos não há Sacerdotes; Sem Sacerdotes não
há Sacramentos, não há vida divina nas almas. É, portanto, o Papa
quem detém a chave das fontes da graça.
É também o Papa quem abre, através das indulgências, o
tesouro das satisfações superabundantes de Cristo e dos Santos.
170. P. _Quais são os poderes do Papa como Pastor
Supremo da Igreja?
A. _O Papa, como Pastor Supremo, possui todo o poder de
jurisdição no governoda Igreja.
Tem o poder de governar a Igreja universal, de ditar leis, de julgar
e punir os culpados.
O Papa recebeu de Jesus Cristo, na pessoa de Pedro, as Chaves
do Reino dos Céus, o poder de ligar e desligar na terra; o poder de
alimentar, governar e governar os cordeiros e ovelhas. Ele pode,
portanto, ditar leis que vinculam todos os cristãos. Não existe
sociedade perfeita sem a autoridade necessária para governar os
seus membros.
A autoridade do Papa inclui os três poderes: administrativo,
legislativo e judicial-coercitivo.
1º Em virtude do poder administrativo, o Papa pode criar
dioceses, modificar os seus limites e até suprimi-las, se o bem da
Igreja o exigir. Ele nomeia e estabelece Bispos, Patriarcas, Cardeais
e os depõe se considerar apropriado. Ele convoca conselhos gerais,
preside-os e confirma seus decretos.
2º Em virtude do poder legislativo, o Papa pode ditar leis
obrigatórias para todos; modificar ou revogar os existentes; conceder
ou revogar renúncias e privilégios.
3º Em virtude do poder judicial_coercitivo, o Papa pode julgar, por
si mesmo ou por meio de seus delegados, aqueles que violarem as
leis da Igreja, e infligir-lhes punições, sejam espirituais ou temporais.
Todas as questões religiosas em disputa estão sob sua jurisdição; as
causas mais importantes estão reservadas a ele.
Todo cristão pode recorrer de qualquer tribunal ao do Papa. Em
Roma, diferentes tribunais tratam, por sua ordem, dos assuntos
contenciosos do mundo católico. A jurisdição do Papa estende-se a
todos os membros da Igreja, independentemente da sua

419
dignidade civil ou religiosa. O Papa é o Chefe Supremo, o vice-rei do
reino de Jesus Cristo, bem como o seu legislador soberano e juiz
supremo. Ninguém tem o direito de restringir ou impedir o poder do
Papa, porque é uma instituição divina.
A Roma antiga e pagã concebeu a ambição de submeter o
mundo inteiro às suas leis. Esta ambição era uma utopia e o seu
realismo não está nas mãos do homem. Só uma sociedade divina
pode realizar este sonho, porque só ela fala em nome de Deus, que
é o único que tem o direito e o poder de governar o universo.
Conclusão geral.
1º Quem não acredita no que o Papa ensina é herege: não está
mais com a Igreja nem com Jesus Cristo e se afasta do caminho da
salvação.
2º Quem desobedece ao Papa e se recusa a reconhecer a sua
autoridade legítima, desobedece ao próprio Jesus Cristo e é culpado
da sua rebelião, é cismático.
3º Quem exerce funções eclesiásticas sem ter recebido do Papa
o poder para o fazer, mediata ou imediatamente, é usurpador e
sacrílego.
171. P. _Quem são os auxiliares do Papa no governo da
Igreja?
R. _São os Cardeais, cujo corpo leva o nome de Sacro Colégio.
Formam o conselho ordinário do Sumo Pontífice e estão à frente das
diversas Congregações Romanas, que partilham, sob a autoridade
do Papa, a gestão dos assuntos relativos ao governo da Igreja.
Assim que o Papa morre, os Cardeais reúnem-se em Conclave para
eleger o seu sucessor.
A palavra Cardeal vem do latim, cardo, cardinis, que significa a
dobradiça sobre a qual gira uma porta, em alusão à importante
função dos Cardeais, sobre os quais gira o governo da Igreja.
Os Cardeais ocupam o primeiro lugar depois do Papa como
dignitários da Igreja, mas não como pastores; São uma instituição
eclesiástica, ao contrário dos Bispos, que existem por direito divino.
Numa bula publicada em 1586, Sisto V fixou em setenta o
número de dois Cardeais, divididos em três ordens, para lembrar os
três graus da hierarquia sagrada, seis Cardeais-Bispos, cinquenta

420
cardinals_Priests e quatorze Cardinals_Deacons. O Papa os escolhe
entre todas as nações, mas a maioria deles tem residência em
Roma.
A reunião do Sacro Colégio, presidida pelo Papa, chama-se
consistório, e atende aos grandes interesses da Igreja, e o Sumo
Pontífice recomenda, ou seja, estabelece canonicamente os Bispos.

3º Os Bispos, os Sacerdotes; seus vários poderes


172. P. _Quem são, junto com o Papa, os legítimos pastores
da Igreja?
R. _São os Bispos, instituídos canonicamente. Os Bispos são os
sucessores dos Apóstolos, encarregados por Jesus Cristo do
governo espiritual das dioceses, sob a autoridade do Sumo Pontífice.
São nomeados pelo Papa, que é o seu príncipe supremo, assim
como São Pedro era o príncipe dos Apóstolos. A palavra Bispo
significa vigia, inspetor, superintendente; e recebem este nome
porque os Bispos devem zelar pelos fiéis e guardá-los como um bom
pastor guarda o seu rebanho.
Governo da Igreja.O governo da Igreja é monárquico e a
autoridade suprema reside no Papa. Mas como a Igreja ocupa toda a
terra, seria impossível que o Sumo Pontífice exercesse sozinho as
funções do ministério pastoral. Por isso necessita de auxiliares para
administrar, sob a sua supremacia, as diversas regiões da terra. Os
primeiros coadjutores do Governador Supremo da Igreja foram os
Apóstolos, escolhidos e nomeados por Jesus Cristo. Um rei não se
contenta em ter ministros, mas divide o seu reino em províncias, à
frente das quais coloca governadores que os governam sob a sua
alta autoridade.

I. euVOCÊQUALQUERBISPOS
Os Bispos são os sucessores dos Apóstolos; já que o Papa é o
sucessor de São Pedro. Não são simples representantes do Papa,
mas verdadeiros príncipes, verdadeiros pastores, instituídos por
direito divino. O próprio Jesus Cristo instituiu os Bispos para ajudar e
apoiar o Papa no governo da Igreja: posuit episcopos regere
Ecclesiam Dei166. Os Apóstolos, encarregados de propagar o
166 Atos. 20, 28.

421
Igreja em toda a terra, eles tinham jurisdição universal. Os Bispos,
sucessores dos Apóstolos, não herdaram este privilégio: a sua
jurisdição está limitada a um território. Mas isto não os impede de se
revestirem do mesmo carácter e de exercerem, nas respectivas
dioceses, a mesma autoridade que os Apóstolos em todo o mundo:
são os chefes e os pastores dos fiéis sujeitos à sua jurisdição.
Nomeação e missão dos Bispos.Os Bispos recebem de Deus o
seu poder de ordem e do Papa o seu poder de jurisdição. Para ser
pastor legítimo não basta ser consagrado pelo sacramento da
Ordem; é preciso também ser enviado a uma diocese pelo Papa,
único que possui o poder das chaves, conferido por Jesus Cristo a
Santo Padre. Peter. Consequentemente, só o Papa tem o direito de
estabelecer Bispos, de lhes atribuir jurisdição, e é a ele que devem
reportar a sua administração. O governo que obteve do Papa, por
concordata, o privilégio de nomear súditos para o episcopado,
simplesmente os apresenta ao Papa para que sejam eleitos, mas
não lhes confere qualquer jurisdição espiritual e não pode retirar-lhes
os poderes.
Hierarquia episcopal.Todos os Bispos são iguais entre si, no
que diz respeito ao carácter episcopal, tal como o foram os
Apóstolos. No entanto, a Igreja atribuiu a certas Sés títulos que lhes
conferem uma jurisdição mais extensa, ou que são apenas
honoríficos. Assim são os Arcebispos, os Primazes e os Patriarcas.
O Arcebispo ou Metropolita é o Bispo da principal cidade de uma
província eclesiástica. Ele tem certa jurisdição sobre os bispos de
sua província, chamados sufragâneos. Pode convocar e presidir os
conselhos da sua província, julgar casos de recurso e, em certos
casos, visitar as dioceses.
O Primaz tinha certa autoridade sobre todos os Bispos de uma
nação; mas hoje este título é puramente honorífico.
O Patriarca preside todos os Bispos de uma cidade ou região;
Hoje não tem autoridade efetiva, exceto nas Igrejas Orientais. Os
patriarcas são muito poucos.
Os Bispos das missões são chamados Vigários Apostólicos;
Bispos titulares são aqueles que carregam o título de uma Igreja que
foi católica em outros tempos, mas agora é herege ou infiel.
Os Prefeitos Apostólicos são juízes de missão que, sem serem
Bispos, podem conferir ordens menores, administrar o sacramento
da confirmação e exercer certa jurisdição. O

422
AbadesSão superiores de um mosteiro erguido em abadia; Eles
podem servir como pontifícios e conferir ordens menores sobre seus
súditos.
173. P _Quais são os poderes do Bispo?
R. -O Bispo é o chefe espiritual da sua diocese: possui, como o
Papa, e sob a sua dependência, o triplo poder de ensinar, santificar e
governar o seu povo.
Exerce jurisdição ordinária e imediata sobre cada um dos seus
diocesanos. O Espírito Santo o estabeleceu para governar esta parte
da Igreja de Cristo.
Na sua diocese, o Bispo tem:
1º O magistério doutrinário para ensinar o seu
povo; 2º O ministério sacerdotal para santificá-lo;
3º O ministério pastoral ou a autoridade governamental que o
direcione para o céu.
1º Magistério Doutrinário.Em virtude do seu magistério, o Bispo
é juiz e doutor da fé; Participa nos Concílios como testemunha e juiz
do ensinamento tradicional da Igreja. Na sua diocese ensina a
doutrina revelada, e ninguém pode dedicar-se ao ministério da
pregação: sem a sua autorização. Embora o Bispo não seja infalível,
os fiéis têm a obrigação de aderir, com inteligência e coração, ao seu
ensinamento: o seu ensinamento e a sua união com a Santa Sé
obrigam-nos a fazê-lo. Contudo, se se descobrir que ele cometeu um
erro, é permitido, não combatê-lo, mas apelar ao Papa. O Bispo vela
para que o erro não se infiltre nos fiéis confiantes ou nos seus
cuidados; inspeciona livros e jornais, para condenar os ruins e
recomendar os bons. Ele garante que a educação ministrada nas
escolas públicas ou privadas seja profundamente cristã.
2º Ministério Sacerdotal.O Bispo possui a plenitude do
sacerdócio, portanto, administra o Sacramento da Confirmação, que
torna o cristão perfeito, e o da Ordem, que consagra Bispos,
Presbíteros, Diáconos, etc. É, na sua diocese, o primeiro ministro
dos Sacramentos. Também consagra os Óleos Sagrados, os
Templos, os Altares, os Vasos Sagrados.
3º Ministério Pastoral.O Bispo tem autoridade de governo
imediata e ordinária sobre toda a diocese. Para chegar aos seus
fiéis, você não precisa passar por intermediários; ele é o verdadeiro
pastor de

423
seus diocesanos: não atua como delegado ou vigário do Papa, mas
seus poderes são inerentes ao seu cargo.
A autoridade espiritual dos Bispos compreende um triplo poder:
a) Poder administrativo:Os Bispos erigem e suprimem as
paróquias; Nomeiam aqueles que gozarão de dignidades e
benefícios eclesiásticos; eles dão os poderes aos sacerdotes;
Supervisionam a administração temporária das fábricas, a execução
de legados piedosos; Visitam as suas dioceses, celebram Sínodos,
educam e formam o clero.
b) O poder legislativo:No Sínodo ou fora dele, os Bispos têm o
direito de ditar leis, de estabelecer regulamentos estáveis relativos à
disciplina e à vida dos clérigos e dos fiéis. Podem, portanto, proibir a
leitura de jornais nocivos, a frequência de crianças em escolas
ímpias, e a venda de bebidas em estalagens, tabernas e cafés
durante os serviços paroquiais, etc.
c) Poder judicial e coercitivo:O Bispo pode julgar os culpados e
puni-los com penas espirituais, separando-os até da comunhão da
Igreja; e assim como pode impor censuras, também pode reservar-
lhes a absolvição.
Este triplo poder, tendo origem em Deus, é independente do
poder civil e do povo cristão; mas isso não significa que seja
arbitrário, mas deva ser exercido de acordo com os cânones e as
constituições pontifícias.
Os Conselhos.Uma assembleia de Bispos legitimamente
convocada e reunida para julgar coisas relativas à fé, aos costumes
ou à disciplina da Igreja chama-se Concílio.
Existem dois tipos de Concílios: o Concílio geral ou ecuménico,
que representa toda a Igreja, e o Concílio particular, que representa
uma ou várias províncias.
Para um Concílio Geral são necessárias cinco
coisas: 1º Deve ser convocado pelo Papa.
2º Todos os Bispos devem ser convidados, mas não é necessário
que todos compareçam: basta que o seu número seja
suficientemente grande para representar a Igreja universal.
3º O Concílio deve ser presidido pelo Papa ou pelos seus
legados. 4º O Conselho deve ser livre em suas deliberações.
5º Suas decisões deverão ser confirmadas pelo Papa.

424
Qual é a autoridade do Conselho Geral?O Conselho Geral é a
Igreja docente, composta pelo Papa e pelos Bispos. Mas já
provamos antes que a Igreja assim considerada é infalível (ver nº
148). Portanto o Conselho Geral é infalível. Os seus cânones e
decretos ou definições dogmáticas constituem leis na Igreja universal
e devem ser venerados como palavras do próprio Deus: O Conselho
Geral também possui autoridade legislativa: negar a obediência às
leis por ele ditadas seria desobedecer ao próprio Deus.
Qual é a utilidade dos Conselhos?Não são absolutamente
necessários, uma vez que Jesus Cristo não os tornou obrigatórios, e
um Concílio geral não tem maior autoridade do que apenas o
Papa167. No entanto, eles são muito úteis:
1º A doutrina católica é neles proclamada de forma mais solene;
2º O povo sente-se melhor que a doutrina definida é a de toda a
Igreja;
3º O Papa rodeia-se de mais luz humana, e os Bispos são mais
zelosos na aplicação das leis ditadas pelo Concílio.
Quantos concílios ecumênicos existiram?Sem contar o
Concílio de Jerusalém, celebrado pelos Apóstolos sob a presidência
de São Pedro, existem até hoje dezenove Concílios ecumênicos: os
primeiros oito, no Oriente; e o resto, no Ocidente (hoje dizemos vinte,
tendo em conta o Concílio Vaticano II realizado naquela cidade).

167O Papa é superior aos Concílios? _Sim; O Papa é superior ao Conselho Geral como a cabeça é superior ao corpo, ou melhor:
não há Concílio sem o Papa, assim como não há corpo sem a cabeça.

É uma verdade de fé definida pelo Concílio Vaticano I. Veja como o grande


filósofo De Maestri refuta as afirmações do Galicanismo: “Onde quer que haja um
soberano e na Igreja Católica o soberano seja incontestável, não pode haver
assembleias nacionais e legítimas sem ele. . A partir do ponto que ele diz: Veto, a
assembleia está dissolvida; Se for teimoso, há uma revolução.
“Esta noção, tão simples, tão incontestável e que nunca será destruída, mostra
claramente quão imensamente ridícula é a questão dos galicanos. A questão não é se
o Papa é superior ao Concílio, ou se o Concílio é superior ao Papa, mas se um
Concílio geral pode existir sem o Papa. Esta é a questão. Proclamar em voz alta a
superioridade do Concílio sobre o Papa, sem saber, sem querer, sem ousar dizer o
que é um Concílio ecuménico, não é apenas um erro de dialética, é um pecado contra
a probidade. Para dissolver um Concílio, basta o Papa sair da sala dizendo: Aqui não
continua” (Do Papa).

425
A primeira foi realizada em Nicéia, em 325, para condenar Ário,
que negou a divindade de Jesus Cristo; A última foi a do Vaticano I,
celebrada em 1870 e que definiu a infalibilidade do Papa como um
dogma de fé. O Concílio Vaticano II está atualmente sendo realizado
em Roma.
Os Concílios Particulares não são infalíveis, a menos que sejam
expressamente confirmados pelo Papa. Os Bispos de uma província
ou de uma nação têm o direito de reunir-se em Conselho, porque o
direito de reunião é um direito natural e, se pertence a todos, ainda
mais aos pastores de almas.

2. AUXILIARES E COOPERADORES DOS BISPOS


174. P. _Quem são os auxiliares do Bispo no governo da sua
diocese?
R. _São os Vigários Gerais e os Cônegos da Igreja Catedral.
1º Os Vigários Gerais são os auxiliares e delegados do Bispo, e
com ele constituem apenas uma pessoa moral. Eles são nomeados
pelo Bispo, que pode destituí-los quando quiser.
2º São chamados de cânones, da palavra grega “kanon”: regra,
os conselheiros do Bispo, e o auxiliam nas cerimônias pontifícias
(hoje chamados de consultores). O corpo dos cânones forma o
capítulo da catedral, cujo primeiro dignitário é o Decano. Com a
morte do Bispo, a jurisdição passa para o capítulo, que, no prazo de
oito dias, deve nomear Vigário Capitular, cuja função é administrar a
diocese enquanto a sé estiver vaga.
175. P_Quem são os cooperadores dos Bispos?
A. Os cooperadores dos Bispos são os Presbíteros ou
Presbíteros.
Estes pastores de segunda ordem, sucessores dos setenta e dois
discípulos escolhidos por Jesus Cristo, são consagrados e enviados
pelo Bispo, que lhes comunica uma parte dos seus poderes.
Os sacerdotes propostos sob a autoridade do Bispo ao governo
das paróquias são denominados sacerdotes; Em paróquias
importantes têm sacerdotes chamados coadjutores como auxiliares.
Os sacerdotes são os representantes do Bispo, do Papa e do
próprio Jesus Cristo nas paróquias.

426
A palavra Presbítero significa presbítero, homem de experiência:
indica a seriedade e a sabedoria que devem distinguir os ministros
de Deus. A palavra sacerdote, do latim “curador”, designa o
sacerdote encarregado do cuidado das almas.
Todos os sacerdotes são iguais em carácter, mas nem todos
estão investidos dos mesmos poderes de jurisdição ou investidos
das mesmas dignidades.
1º Como o Bispo não pode estar ao mesmo tempo em todos os
lugares da sua diocese para pregar, explicar o catecismo, celebrar a
Missa, baptizar, confessar, abençoar os casamentos, administrar os
últimos socorros espirituais aos moribundos, etc., ele divide a sua
diocese em várias paróquias, e confia-as a um sacerdote para nelas
exercer esses ministérios.
2º Os sacerdotes são consagrados, nomeados e enviados pelo
Bispo da diocese, assim como o Bispo é enviado pelo Papa, como o
Papa é enviado por Jesus Cristo.
O Padre não é um funcionário, um funcionário do Estado; Não
recebe a sua autoridade, direitos ou poderes dos homens. Nenhum
poder civil pode revogá-lo ou retirar-lhe os poderes. Os Bispos
nomeados sem o Papa, assim como os Sacerdotes nomeados sem o
Bispo, são intrusos dos quais os verdadeiros fiéis se separam.
176. P. _Quais são os poderes dos sacerdotes?
R. _Os sacerdotes têm o poder de instruir os fiéis, de santificá-los
com a oração e os Sacramentos e de guiá-los para o céu.
O sacerdote é o homem de Deus e o homem do povo, o
mediador entre o céu e a terra.
O Sacerdote é o doutor da verdadeira ciência, o dispensador dos
dons divinos e o guia do caminho para o céu.
1º Os sacerdotes ensinam religião.Preparados para este
ministério por longos anos de estudo, os sacerdotes são
encarregados de ensinar aos seus paroquianos a mais importante e
mais necessária de todas as ciências: a religião. Para não esquecer
esta ciência, lembram aos fiéis, deste instruções frequentes. O
sacerdote é o doutor da verdadeira ciência.
2º A missão do sacerdote é santificar os fiéis. Existem três meios
de santificação: a oração, o Santo Sacrifício e os Sacramentos.

427
O sacerdote reza:sete vezes ao dia, recite as horas canônicas
do Breviário, aquela grande oração da Igreja; Todos os dias ele
oferece o Santo Sacrifício da Missa... Reze por aqueles que não
rezam, e pare o braço de Deus causado pelos crimes da terra. O
sacerdote é o homem de oração.
O Sacerdote, como o próprio nome diz, “sacerdotes”, é o
dispensador dos Sacramentos. Ele gera a alma para a vida
sobrenatural pelo Batismo; Ele a alimenta com a Eucaristia; Ele a
eleva com a Penitência e a prepara com a Extrema Unção para
comparecer diante de Deus.
3º O Sacerdote guia os seus fiéis para o céu.O sacerdote é o
intermediário entre Deus e o povo. Assim como não se pode ir a
Deus senão através de Jesus Cristo, também não se pode ir a Jesus
Cristo senão através do sacerdote. Novo Moisés, o Sacerdote
recebeu a missão de guiar as almas, através do deserto da vida
presente, até a terra prometida da eternidade.
“Cabe ao sacerdote explicar a lei divina, dizer o que é ordenado,
permitido ou proibido. A ele corresponde a missão de dirigir a vida,
de santificar a morte, de abrir e fechar as portas do céu. Cabe a ele
fazer com que a raça humana chegue aos seus destinos. A
dignidade do mais humilde dos sacerdotes - sei que digo isto com
grande escândalo do século, mas não importa - é superior à
dignidade do maior dos monarcas, porque o menor dos bens da
ordem sobrenatural infinitamente supera o maior dos bens na ordem
natural.”
Por que o Padre é combatido em nossos aliados?
1º Porque incomoda quem faz o mal, lembrando-lhe que existe
um Deus, um inferno, um paraíso, uma eternidade.
“Todos os bandidos, diz Monsenhor de Ségur, todos os bêbados,
todos os bandidos, todos os ladrões, todos os demagogos, todos os
incendiários, são inimigos dos padres. O fato é verdade. Por outro
lado, gente boa, homens bons, gente honesta, estimável, delicada,
todos olham com simpatia para o padre. Este fato também é
verdade. Devemos concluir então que se está em péssima
companhia quando se luta contra os sacerdotes.”
2º A segunda causa da inimizade contra o Padre é o ódio à
Maçonaria. Esta seita infernal pretende destruir o sacerdote e a
religião católica. Por isso, os maçons difamam o sacerdote,
caluniam-no nos clubes, nas

428
diariamente e de mil outras maneiras. Como odeiam Nosso Senhor
Jesus Cristo, é natural que amaldiçoem o Sacerdote, encarregado
de continuar a missão do Deus_Homem.
Nunca os veremos lutando contra os rabinos judeus, nem contra
os ministros protestantes, nem contra o marabu, nem contra os
sacerdotes de outros cultos. Sentem instintivamente que nenhum
carácter divino realça os representantes destas seitas religiosas.
Mas diante do sacerdote católico, as calúnias e as perseguições
exasperam-se e multiplicam-se. Estes ataques não devem
surpreender-nos: Jesus Cristo anunciou-os aos seus Apóstolos: «O
servo não é maior do que o seu Senhor; se me perseguiram,
também perseguirão a vós»168. Estas palavras, como todas as de
Cristo, devem cumprir-se; As calúnias que se espalham contra os
sacerdotes estão tão longe de nos escandalizar que, pelo contrário,
nos fornecem uma nova prova da divindade da religião católica.
Respeito, amor e adesão ao Sacerdote!
1. Respeito ao Sacerdote.Ele é o homem de Deus, seu
representante, seu embaixador junto aos homens.
1º O Sacerdote é grande na sua missão:Ele está encarregado
de continuar a obra de Nosso Senhor Jesus Cristo que veio à terra
para glorificar a Deus e salvar almas: “Assim como meu Pai me
enviou, eu também vos envio”. O embaixador de um príncipe é tanto
mais respeitado quanto maior for o soberano que representa. Nele
não são consideradas suas qualidades nem seus méritos pessoais,
mas sim seu título. Pois bem, o Sacerdote representa o Rei dos reis,
Aquele em cuja presença todos os reis da terra são pó e nada. O
sacerdote é o embaixador de Deus: “Pro Christo legatione fungimur”.
2º O Sacerdote é grande nos poderes que possui.Moisés
mostrou-se grande quando com um golpe de seu cajado dividiu as
águas do Mar Vermelho para salvar seu povo. Josué foi ótimo
quando, com uma palavra, fez o sol parar. Mas maior ainda é o
sacerdote no altar, onde todos os dias ordena ao seu Deus: diz ao
Filho de Deus: “Venha habitar entre nós”, e dócil a esta voz, a
Palavra de Deus, o Todo-Poderoso, o Criador de dos mundos, desce
ao altar para encarnar nas mãos do Sacerdote.
3º O Padre é grande no tribunal da penitência.
Ele tem em suas mãos as Chaves do Reino dos Céus. uma alma é

168Jn. 15, 20.

429
morto para a vida divina; os anjos não podem ressuscitá-la; O
sacerdote fala e diz: “Eu te absolvo”, e aquela alma ressuscita e
seus pecados são apagados para sempre.
4º O Padre no púlpito é ótimo.Ele fala em nome de Deus e diz:
“Não vos trago a minha doutrina, mas a doutrina de Deus que me
envia”. A Palavra divina ilumina o espírito, consola o coração e
penetra como uma espada nas consciências endurecidas.
5º O Padre fica ótimo ao lado do leito dos enfermos.Ele lhes
dá o certificado para entrar no céu. Todos rejeitam os condenados à
morte, todos os abandonam... Chega um sacerdote; Toma nas suas
mãos sacerdotais as mãos daquele criminoso, ainda manchado de
sangue, pressiona aquele coração culpado contra o seu coração
puro, no momento terrível, diz-lhe: “Meu filho, sobe ao céu!”... E o
céu não pode rejeitar aquele a quem a terra rejeita, mas a quem o
sacerdote o envia.
Este é o sacerdote:Ele é outro Jesus Cristo, e com Jesus Cristo
ele é o mediador entre o homem e Deus.
2. Amor e adesão ao Sacerdote.Ele é o homem do povo, o
grande benfeitor da humanidade. Ele, como o seu divino Mestre, traz
ao mundo os dois bens mais necessários: a verdade e a graça.
1º O Sacerdote dá a verdade ao mundo.A verdade é necessária
ao homem, como o sol ao universo. Sem o Sacerdote, a raça
humana cai nos erros mais grosseiros e repugnantes... Testemunha,
o mundo pagão; testemunhas, muitos dos nossos sábios modernos
que se rebaixam a ponto de afirmar que o homem descende do
macaco. O sacerdote é a luz do mundo. Ensina ao homem a ciência
da vida, a solução de todos os problemas que lhe interessam e os
meios para ser feliz, também nesta terra, mas particularmente na
vida futura. Ele mostra o caminho da honra e da virtude, o caminho
para o céu.
O que o sacerdote sempre fez nos países civilizados, faz-o
também nos povos selvagens, aos quais evangeliza à custa do seu
sangue e da sua vida.
2º O Sacerdote traz ao mundo a graça, essencial para a
prática do bem.A graça fortalece a vontade, remove os vícios, faz
nascer e florescer as virtudes. Pela graça, a caridade se espalha em
todos os corações e alivia as misérias humanas em todos os lugares.
Quase não há obra de caridade da qual o sacerdote não seja o
fundador, o inspirador ou o apoiador. O livre-pensamento já produziu
um São Vicente de Paulo, um

430
Irmã da Caridade (Teresa de Calcutá), Irmã Enfermeira? Foram
necessários volumes para narrar os benefícios do Sacerdote: ele é o
grande benfeitor da humanidade.
Os ímpios perguntam: Para que servem os sacerdotes? Não são
necessários homens tolos ou maus para livrar a sociedade dos erros
que vocês espalham com seus jornais pestilentos e aberrações
televisivas?
Não são necessários para que vocês mesmos possam desfrutar em
paz dos seus bens?... Quando o sacerdote deixar de estar presente
para pregar a verdade, para proclamar os mandamentos de Deus,
para conferir a graça, então será o triunfo da anarquia. Os inimigos
da ordem sabem bem disso: por isso fazem todo o possível e
impossível para suprimir o Padre ou aniquilar a sua influência.
O sacerdote é o homem mais necessário, o mais indispensável: é
mais necessário que os juízes, os generais do exército, os
deputados, os senadores, etc. O indivíduo pode viver sem eles, mas
as sociedades não podem viver sem religião, nem a religião sem
sacerdotes. O homem é essencialmente religioso.
O Bispo de Ségur, no seu livrinho “Os Inimigos dos Padres”,
refuta as objecções levantadas contra os Padres. “Há em cada
paróquia um homem que não tem família, mas que faz parte da
família de todos, que é chamado como testemunha ou conselheiro
de todos os atos solenes da vida; sem o qual você não pode nascer
nem morrer; que leva o homem ao ventre da mãe e o deixa apenas
na sepultura; que abençoa ou consagra o berço, o leito nupcial, o
leito de morte e o caixão; um homem a quem as crianças se
acostumam a amar e a temer; a quem os mesmos estranhos
chamam de pai; a cujos pés o cristão faz as confissões mais íntimas
e derrama as lágrimas mais secretas; um homem que, pelo seu
estado, é o consolador de todas as dores da alma e do corpo; o
intermediário obrigatório entre a riqueza e a pobreza; que vê pela
sua porta entrar alternadamente pobres e ricos: aos ricos para dar
esmolas secretas, aos pobres para recebê-las sem corar; que, não
sendo de nenhuma categoria social, pertence igualmente a todas as
classes inferiores pela sua vida pobre e, às vezes, pela humildade do
seu nascimento e às classes elevadas pela educação, pela ciência e
pela nobreza dos sentimentos que a religião inspira e impõe; um
homem, em suma, que tudo sabe, que tem o direito de dizer tudo, e
cuja palavra cai do alto sobre as inteligências e sobre os

431
corações, com a autoridade de uma missão divina e a regra da fé
absoluta. Este homem é o padre!(Lamartine).
N. B._Os fiéis não têm participação na autoridade da Igreja, mas
são chamados a cooperar com a Hierarquia na difusão do Reino de
Deus. Participam também nas opiniões e discussões teológicas, nas
pesquisas científicas, contribuindo assim com o seu talento para a
Igreja universal.
178. P. _Quem são aqueles que não pertencem à Igreja?
A. _1º Os incrédulos, que não receberam o
batismo. 2º Hereges, que rejeitam qualquer artigo
de fé. 3º Os cismáticos, que negam obediência ao
Papa.
4º Os excomungados, que a Igreja rejeitou do seu seio por causa
dos seus crimes.
5º Os apóstatas, que renunciaram à fé de Jesus Cristo depois de
a terem professado.
Nenhum destes pertence ao corpo da Igreja, embora alguns deles
possam pertencer à alma dela, que é, nomeadamente, possuidora
da graça santificadora.
1º Os infiéisSão aqueles que não receberam o batismo. Tais são
os judeus, que não querem reconhecer Jesus Cristo como o Filho de
Deus; espalhados por todo o mundo, que travam uma guerra amarga
contra a Igreja Católica e os povos cristãos. Os maometanos,
também chamados de muçulmanos, espalharam-se pela Ásia e pela
África: observam a falsa religião inventada por Maomé, chefe árabe
que viveu no início do século VII. Budistas ou discípulos de Buda,
muito numerosos na China e na Índia. Os Brahmanistas ou
discípulos de Brahma se espalharam por todo o Hindustão. Os
idólatras, que adoram o sol, os animais, as plantas. Aqueles que, nos
países cristãos, não foram batizados por negligência ou impiedade
dos pais, também são infiéis.
2º HeregesSão homens batizados que se recusam tenazmente a
acreditar em qualquer verdade revelada por Deus e ensinada pela
Igreja como artigo de fé. O nome herege deriva de uma palavra
grega que significa escolher, e designa aquele que na religião
distingue entre as verdades nas quais consente em acreditar e as
rejeita. Deus permite heresias: 1º, para testar a fé dos fiéis; 2º, retirar
da Igreja os ramos secos que a desfiguram; 3º, comunicar maior
brilho às verdades da fé. Cada heresia é, para os médicos católicos,
432
uma oportunidade de dar mais relevo aos dogmas que estão sendo
combatidos,

433
e para a Igreja, os meios de estabelecê-los com maior precisão. O
orgulho do espírito e a corrupção do coração são a fonte de todas as
heresias. O espírito humano recusa curvar-se diante da ciência
infinita de Deus, que nos revela os seus mistérios; O coração
corrompido rebela-se contra uma moralidade que parece demasiado
severa.
3º Os cismáticosSão aqueles que se separam da Igreja,
recusando-se a obedecer aos seus legítimos pastores, acreditando
mesmo no que ela ensina. Assim são os gregos e os russos.
4º Os excomungadosSão aqueles que a Igreja expulsou do seu
seio por causa dos seus crimes. Tais são os maçons, os duelistas,
etc. A excomunhão é a pena mais terrível que a Igreja inflige. Um
galho podre é cortado para não infectar a árvore inteira. É por isso
que a Igreja, quando um dos seus membros se torna, devido aos
seus escândalos, perigoso para os outros, excomunga-o, isto é,
arranca-o do seu corpo, como um membro gangrenado. O
excomungado é muito digno de compaixão, porque ao deixar de
pertencer à Igreja, deixa de participar dos seus bens espirituais: fica
excluído da comunhão dos Santos e privado da sepultura
eclesiástica.
5º Os apóstatasSão aqueles que negam a fé católica, depois de
a terem professado. Deixam de fazer parte da Igreja quando a sua
apostasia é pública ou manifestada por atos anticatólicos. Então eles
são excomungados. Tais são os racionalistas, que se
autodenominam livres-pensadores. A apostasia é um crime enorme.
Quem são aqueles que pertencem à alma da Igreja?
1º Bebês que acabaram de receber o batismo.
2º Os fiéis que conservaram ou readquiriram a graça batismal.
3º Todos aqueles que se encontram em estado de graça.
Portanto, os pagãos, os hereges e os cismáticos de boa fé
podem, com a ajuda de Deus, realizar um ato de caridade perfeita
que lhes proporcione a graça santificadora necessária para
pertencer à alma da Igreja.
Conclusão geral.Tal é a organização da Igreja Católica:
admirável pela ordem e pela unidade.
1º Todo o catolicismo, cada diocese, cada paróquia, tem o
mesmo nome: o da Igreja. O Papa, o Bispo, o simples Sacerdote têm
todos o mesmo título: o de Pastores.

434
2º A jurisdição do Papa não tem limites: abrange o mundo inteiro;
A do Bispo só se estende à sua diocese, a do simples sacerdote, à
sua paróquia.
Jesus Cristo envia o Papa, o Papa envia o Bispo, o Bispo envia o
Sacerdote. Mas o Papa, o Bispo e o Padre, embora difiram entre si
nas honras e na jurisdição, têm o mesmo poder no altar e realizam o
mesmo milagre; eles dão Jesus Cristo ao mundo.
3º O Papa, em virtude de sua instituição divina, dispensa a toda a
Igreja o triplo benefício da doutrina, dos sacramentos e da direção
espiritual: instrui, santifica, governa o universo.
O Bispo, em virtude da mesma instituição divina e sob a
dependência do Papa, assegura os mesmos benefícios às suas
dioceses.
O sacerdote, em virtude da instituição eclesiástica, instrui,
santifica e governa a sua paróquia.
4º Assim organizada, a Igreja, diz o Concílio de Trento, é um
exército posicionado em ordem de batalha, onde os soldados estão
sob a obediência dos capitães, os sacerdotes; os capitães sob a
obediência dos generais, os Bispos; e os generais sob a obediência
do general-chefe, o Papa: fiéis, sacerdotes, bispos, Papa, isto é, toda
a Igreja com Jesus Cristo como seu fundador. Concepção divina,
organização maravilhosa, sociedade imóvel e imortal, cujo tesouro é
o sangue e os méritos do Salvador e, por fim, a aquisição da vida
eterna.
Se você deseja alcançar essa vida, permaneça em uma
sociedade tão admirável; mas para nela permaneceres eficazmente
é necessário que sejais submissos aos sacerdotes, como os
sacerdotes o são aos Bispos e os Bispos ao Papa, que Jesus Cristo
colocou na terra para ocupar o seu lugar e ser o seu Vigário. Sem
esta submissão, não pertencereis de coração e alma à Igreja, que
sem vós ascenderia ao céu; porque está escrito: “Quem por orgulho
não quiser ouvir o sacerdote, morra”169.
5º A hierarquia da Igreja dá aos fiéis a firme garantia de que
estão na verdadeira religião. Todo católico, mesmo o menos
instruído, pode dizer:

169 Deut. XVII, 12.

435
“Aprendi a minha religião com o meu padre, que me pôs nas
mãos e me explicou um livrinho chamado Catecismo. O que ele me
ensina remonta ao meu bispo, que o enviou com aquele livrinho;
para o meu Bispo, este ensinamento remonta ao Papa, que enviou o
meu Bispo; pelo Papa, este mesmo ensinamento vai de Papa em
Papa, até São Pedro, que o recebeu de Jesus Cristo.
“Minha religião é a mesma que São Pedro ensinou e que recebeu
de Jesus Cristo. Porque se o padre que me instrui mudasse alguma
coisa na doutrina católica, os outros padres e até os fiéis o
denunciariam ao bispo; e se o meu Bispo alterasse alguma coisa, os
outros Bispos e até os simples sacerdotes e fiéis o denunciariam ao
Papa, e o Papa, guardião vigilante e infalível da fé, o separaria da
Igreja.
“Uma alteração na fé é, portanto, impossível hoje, e também foi
impossível em todos os tempos pelas mesmas razões. Minha
religião é, portanto, aquela que Jesus Cristo ensinou.”

4. RELAÇÕES ENTRE OSEiGlésia e aEESTADO


Tendo desejado que Jesus Cristo reunisse todos os homens
numa mesma família, estabeleceu a sua Igreja na forma rigorosa de
uma sociedade perfeita, independente e perpetuamente visível. Os
homens que desejam ser salvos devem entrar nesta sociedade
divina e observar as suas leis. Já demonstramos essas duas
verdades essenciais.
Por outro lado, o cristão como ser social pertence a uma
sociedade civil, igualmente amada por Deus. Que relações existem
entre estas duas sociedades, compostas pelos mesmos membros?
Quais são os direitos e deveres recíprocos da Igreja e do Estado?
Esta questão é realmente uma oportunidade nestes tempos e de
importância capital.
Para resolvê-lo, seguiremos os ensinamentos dados por Leão XIII
na sua admirável Encíclica “Immortale Dei”, sobre a constituição
cristã dos Estados.
Dividiremos este tratado em sete artigos:
1ª Distinção entre as duas sociedades: a Igreja e o Estado. 2ª
Independência da Igreja dos poderes civis.
3ª União mútua entre a Igreja e o Estado.
4º Subordinação do Estado à Igreja.

436
5º Direitos da Igreja.
6º Deveres da Igreja e deveres do Estado. 7º
Erros modernos.

1ª Distinção entre as duas sociedades


179. P. _A Igreja e o Estado, são duas sociedades diferentes?
R. _Sim; A Igreja e o Estado são duas sociedades perfeitamente
diferentes, pois diferem na sua origem, na sua constituição e na sua
finalidade.
1) Na sua origem.Ambos vêm de Deus, mas a Igreja é fundada
por um ato positivo da vontade de Jesus Cristo, e a sociedade civil
nasceu das inclinações dadas por Deus à natureza humana. A
primeira tem origem no Autor da graça, a segunda, no Autor da
natureza. Um é religioso e sobrenatural, o outro é temporal e
puramente natural.
2) Na sua constituição.Deus constituiu pessoalmente o poder
da Igreja, determinando a sua forma, os seus limites e o modo de
exercê-lo. Na sociedade civil, pelo contrário, as condições e a forma
de soberania são dadas à escolha dos indivíduos.
3) No seu final.O propósito da Igreja é proporcionar aos homens
os bens celestiais e eternos, e o Estado é cuidar dos interesses
terrenos. Assim, o fim em particular é o que determina a natureza de
uma sociedade. Portanto, a Igreja e o Estado são duas sociedades
perfeitamente diferentes.
Outras poderiam ser acrescentadas a essas diferenças
essenciais. Assim, por exemplo, a sociedade religiosa é anterior à
sociedade civil. Além disso, a Igreja, sociedade religiosa, é católica
ou universal que se estende a todos os tempos e a todos os lugares
e povos; As sociedades civis têm limites específicos de cada nação.
Fatos e monumentos escritos provam que a distinção entre poder
civil e poder espiritual era conhecida e praticada na maioria das
nações pagãs. Sempre e em todo lugar o templo está ao lado do
fórum, ao lado do trono, ao altar, ao lado do magistrado, ao
sacerdote, ao lado do rei, ao pontífice. Preside à religião e ao culto
um sacerdócio distinto da magistratura civil e perfeitamente livre nos
seus actos e funções.

437
O Sacerdote, considerado o representante visível da divindade,
era o intérprete da Justiça eterna. Acreditava-se geralmente que o
poder religioso emanava diretamente dos próprios deuses. O poder
do Sacerdote era grande e respeitado entre os gregos, egípcios,
romanos e outros povos do paganismo, como atestam os
historiadores e filósofos da antiguidade.
É verdade que os Césares, para centralizar a autoridade,
apoderaram-se da suprema dignidade sacerdotal e acrescentaram
ao seu título de imperador o de Sumo Pontífice; Mas não é menos
verdade que esta centralização de poderes sempre foi considerada
pelos espíritos sérios como um abuso e, de facto, tornou-se, nas
mãos dos Césares, um instrumento de despotismo. Ao fundar a sua
Igreja, Jesus Cristo traçou uma linha divisória clara e profunda entre
as duas sociedades, que sempre distinguirá os dois poderes.
Esta distinção é como o ponto fundamental da civilização cristã. É
obra de Deus e é digna Dele. Estabelece e mantém a liberdade da
consciência humana170.
176. P. _A Igreja e o Estado são soberanos nos seus
respectivos domínios?
R. _ Sim. “A Igreja e o Estado têm soberania própria; São,
portanto, independentes entre si na sua esfera especial, com a
condição, porém, de não ultrapassarem os limites fixados pelo seu
respectivo destino” (Leão XIII).
A soberania da Igreja e do Estado consiste no facto de cada um
dos dois poderes poder ditar leis que vinculam os seus respectivos
súbditos. Portanto, os cristãos, sejam superiores ou súditos, estão
sujeitos às leis da Igreja; e, reciprocamente, os sacerdotes, como os
simples fiéis, devem obedecer às leis civis do seu país quando estas
estiverem de acordo com a lei divina.
A demarcaçãoA característica de cada poder é determinada pelo
seu propósito especial. A Igreja tem como meta a bem-aventurança
eterna do homem: cabe-lhe, portanto, zelar pelos seus interesses
espirituais. O Estado tem como meta a felicidade temporária; deve,
portanto, salvaguardar os seus interesses materiais.
Contudo, como os interesses materiais estão subordinados aos
interesses espirituais, a finalidade do Estado está subordinada à da
Igreja. Consequentemente, o Estado não pode fazer nada que seja

170Pode ser visto: Moulart, A Igreja e o Estado.

438
contrário às leis divinas e eclesiásticas: a sua independência nada
mais é do que relativa.
Existem três tipos de objetos sujeitos aos dois poderes
estabelecidos por Deus: 1º, interesses puramente temporais; 2º,
interesses espirituais; Terceiro, coisas misturadas.
1. Interesses exclusivamente temporáriosEstão sujeitos à
autoridade civil, desde que esta guarde as leis da justiça. Com efeito,
o Estado deve respeitar os direitos dos cidadãos, especialmente
aqueles que precedem os seus, como os direitos que a natureza e a
consciência conferem ao indivíduo e à família. O Estado existe para
proteger e não para absorver os direitos dos outros; salvaguardar e
não centralizar a liberdade individual; favorecer iniciativas e não
monopolizar tudo em favor de uma facção ou partido171.
2º Interesses espirituaisEles são confiados à Igreja pela
vontade de Deus e pela instituição de Jesus Cristo. Ela tem direito
exclusivo sobre tudo o que se refere ao serviço de Deus e à
salvação das almas. Tem o direito de ditar leis e aplicá-las, tendo
sempre como objetivo a salvação dos seus membros. O Estado nada
pode fazer sobre as coisas sagradas, nem sobre a doutrina revelada,
nem sobre os Sacramentos, nem mesmo sobre o contrato de
casamento dos cristãos, porque este contrato foi elevado por Jesus
Cristo à dignidade de Sacramento.
3º Em assuntos mistos, que entram tanto no domínio da Igreja
como no do Estado, o poder da Igreja deve prevalecer sobre o da
sociedade civil, como provaremos mais tarde. Contudo, a história
diz-nos que nestas questões mútuas, a Igreja tenta sempre chegar a
um entendimento com o Estado através de Concordatas para
resolver tudo de comum acordo. Antes de resolvê-lo por sua própria
autoridade, ele prefere levar sua indulgência até onde pode. Na
Encíclica Immortale Dei, Leão XIII explicou a respectiva soberania da
Igreja e do Estado com as seguintes palavras:
“Deus dividiu o governo da raça humana entre dois poderes, o
poder eclesiástico e o poder civil: o primeiro, colocado à frente das
coisas divinas; o segundo, encarregado dos assuntos humanos.
Cada um deles é soberano na sua ordem; cada um tem seus limites
perfeitamente determinados por sua natureza e por

171Pode ser visto: Moulart.

439
seu fim imediato; cada um tem, portanto, sua esfera particular na qual
se move e exerce sua ação, jure proprio...”.
Um pouco mais tarde, o Papa determina o domínio próprio da
Igreja e do Estado:
“Tudo o que nas coisas humanas é sagrado a qualquer título,
tudo o que se relaciona com a salvação das almas e com o culto a
Deus, seja pela sua natureza, seja em relação ao seu fim, tudo isto é
da competência da autoridade do Igreja.
“Quanto às demais coisas que a ordem civil e política abrange, é
justo que estejam sujeitas à autoridade civil, visto que Jesus Cristo
ordenou que se desse a César o que é de César e a Deus o que é
de Deus.”

2ª Independência da Igreja
181. P. _A Igreja é absolutamente independente do Estado?
R. _Sim, porque tem a sua origem, a sua autoridade, a sua missão
de Jesus Cristo, não do Estado.
Como prova de sua independência temos:
1) A vontade formal de Jesus Cristo Nosso Senhor.
2) A prática dos Apóstolos.
3) O testemunho da história eclesiástica.
4) O fim sobrenatural da sociedade religiosa.
5) A unidade e universalidade da Igreja.
É um dogma da fé católica que Jesus Cristo deu à sua Igreja um
poder soberano independente do poder civil. Assim, toda Igreja
nacional, pelo próprio facto de reconhecer a dominação religiosa do
Estado, não é a Igreja de Jesus Cristo.
1) Vontade formal de Nosso Senhor Jesus Cristo.Em virtude
de seu poder divino, independente e soberano, Jesus Cristo envia
seus Apóstolos: “Todo o poder me foi dado no céu e na terra, ide,
portanto, e ensinai todas as nações... Assim como meu Pai me
enviou, assim eu envio você”, com o mesmo poder divino, soberano
e independente.
A Pedro e aos Apóstolos, e não aos poderes civis, ele confere a
ordem de apascentar os seus cordeiros e as suas ovelhas, e
confirma os seus irmãos na lei.

440
A Pedro e aos Apóstolos, e não aos poderes civis, ele confere o
poder de ligar e desligar; É aos Apóstolos da Igreja e não aos chefes
de Estado que ele diz: “Quem vos escuta, a Mim ouve, e quem vos
despreza, a Mim despreza...”, etc.
Ele nunca ordenou aos seus apóstolos que pedissem permissão
aos príncipes para pregar, fazer prosélitos e estabelecer igrejas. Ele
os exorta a cumprir o seu ministério apesar das perseguições dos
governos civis. Consequentemente, Jesus Cristo confere à sua Igreja
um poder distinto de todos os outros, independente de qualquer
outro e dependente apenas do mesmo poder que o confere.
Portanto, o poder da Igreja é completamente independente do poder
temporal do Estado172.
2) Prática dos Apóstolos.Os Apóstolos, formados na escola do
divino Mestre, compreenderam a sua vontade e ajustaram-se a ela.
Pregaram o Evangelho por toda parte, fundaram Igrejas,
estabeleceram Bispos, Sacerdotes, Diáconos, ditaram leis
obrigatórias sem cuidar dos poderes civis. Foram expulsos de um
lugar, foram para outro; Eles foram injuriados, perseguidos e
glorificaram-se no sofrimento pelo nome de Jesus. Eles queriam
calar a boca e responderam: “Devemos obedecer a Deus antes dos
homens”.
3) O testemunho da história.Desde os Apóstolos até hoje, os
seus sucessores imitaram o seu comportamento. A Igreja, em todo o
lado e sempre, proclamou-se independente e nunca deixou de
reivindicar essa independência e de exercê-la em todos os
povos173.
4) Fim sobrenatural da Igreja.A finalidade do Estado é garantir a
felicidade temporal dos seus súbditos; A Igreja busca diretamente a
bem-aventurança eterna do homem que busca a glória de Deus,
objetivo último da criação. Seu fim, então, é o fim supremo, ao qual
todos os outros fins devem estar subordinados. “Como o fim da
Igreja é o mais nobre de todos, o seu poder é superior a todos os
outros, e não pode de forma alguma ser inferior ou subordinado ao
poder civil” (Immortale Dei).
5) A unidade e universalidade da Igreja.A Igreja deve ser una
no seu governo e católica na sua extensão. Mas se a Igreja não
fosse independente do poder civil, este poderia quebrar a sua
unidade formando uma Igreja nacional, e haveria tantas Igrejas
quantas existem.

172Ver: Olivier, SJ, Palestras Teológicas.

441
173 Atos. 4.

442
Existem nações no mundo: a verdadeira não seria mais una e
católica. Portanto, todo governo que quer submeter a Igreja ao
Estado tende a afastar a nação da união da Igreja, cuja unidade
destrói. Um acontecimento muito doloroso nos prova isso: o Cisma
Oriental.
A doutrina que procura submeter a Igreja ao Estado chama-se
cesarismo, em homenagem aos césares da Roma pagã, que
reivindicavam o poder supremo sobre todas as coisas, tanto na
religião como na política.
O poder civil praticado pelo cesarismo é:
1º Injusto, porque priva de liberdade um poder soberano superior
à autoridade civil.
2º Ímpio, porque ao lutar contra a Igreja, obra de Deus, ele luta
contra o próprio Deus.
3º tolo, porque priva a sociedade de imensos benefícios e
trabalha para diminuir uma autoridade que é a sua melhor
salvaguarda.

3ª União Mútua da Igreja e do Estado


182. P. -A Igreja e o Estado devem estar unidos e apoiar-se
mutuamente?
R._Sim, porque ambos vêm de Deus. Assim, tudo o que vem de
Deus está em ordem e harmonia. Portanto, a Igreja e o Estado
devem viver em harmonia mútua.
Por outro lado, estes dois poderes, embora essencialmente
diferentes, têm muitos pontos de contacto, uma vez que a sua acção
é exercida sobre os mesmos assuntos. Depois, devem proporcionar
apoio mútuo para o bem dos governantes e dos governados.
Consequentemente, a separação entre Igreja e Estado é
absolutamente contrária à vontade de Deus e aos interesses de
ambas as sociedades.
A doutrina que sustenta que o Estado não tem o direito nem o
dever de aderir à Igreja para protegê-la chama-se liberalismo. Este
erro foi justamente condenado pelos Papas Pio IX e Leão XIII,
porque ignora os direitos de Deus e o reinado social de Jesus Cristo.
Segundo o desígnio de Deus, os dois poderes devem aliar-se: cada
um deve prestar ao outro a ajuda das suas forças e das suas
capacidades.

443
meios de acção, e cada um encontra a sua própria vantagem nesta
protecção recíproca.
1º Não há poder que não venha de Deus, e Deus fez tudo com
ordem, peso e medida. Unidade e harmonia são as marcas de suas
obras. É verdade, portanto, que Deus, na sua infinita sabedoria, quis
que ambos os poderes, o poder religioso e o poder civil, se unissem
para conduzir, de comum acordo, a humanidade ao seu duplo
destino da vida presente e da vida eterna. . Esse é o plano de Deus.
2º A separação entre Igreja e Estado é, aos olhos do bom senso
e da mais vulgar equidade, injusta e, ao mesmo tempo, praticamente
impossível. Injusto, porque ignora os direitos divinos da Igreja e os
interesses religiosos dos cidadãos; praticamente impossível, porque
não se pode conceber que a Igreja e o Estado governem
soberanamente os mesmos assuntos no mesmo lugar, sem acordo
mútuo, se quiserem evitar ferir-se mutuamente.
“Foi digno da sábia Providência de Deus, que estabeleceu ambas
as sociedades, indicar os seus caminhos e as suas relações mútuas:
Que a Deo sunt, ordinata sunt. Se assim não fosse, surgiriam causas
frequentes de conflitos desastrosos; Os homens hesitariam
perplexos diante de um duplo caminho, sem saber o que fazer diante
de ordens contrárias de dois poderes diferentes, cujo jugo não
podem, conseqüentemente, abalar... É necessário, portanto, que
haja um sistema bem ordenado de relações entre ambos os
poderes., análoga àquela que no homem constitui a união da alma e
do corpo” (Immortale Dei).
3º Na página mestra da mesma encíclica, o Papa Leão XIII
assinala as numerosas e incomparáveis vantagens que resultam de
uma constituição política baseada na distinção e aliança de ambos
os poderes. Nela ele nos mostra os excelentes frutos que se
seguem: Primeiro, para os indivíduos, os direitos de cada um são
assegurados pela dupla proteção das leis divinas e humanas;
deveres, sabiamente indicados e a negligência punida. Depois, para
a família: a sociedade doméstica encontra a sua estabilidade;
autoridade paterna, respeito; a mulher, sua honra; a criança, sua
proteção. Finalmente, para a sociedade: as leis são ditadas pela
verdade e pela justiça; o poder, deificado de certa forma, está
circunscrito nos limites da justiça e da moderação; a obediência
santificada torna-se um título de honra

444
e torna a desordem impossível; Os cidadãos podem cumprir os seus
deveres: sem medo de serem perturbados por leis incompatíveis.
O Papa confirma então, com a história dos povos, estes
postulados da razão: a Europa fez tão grandes progressos no
domínio da ciência, da civilização e do progresso, atingiu uma
superioridade intelectual e moral, que inquestionavelmente pertence
acima das outras partes do mundo. mundo, precisamente porque é
cristão, e aproveitou mais que os outros os imensos benefícios da
Igreja Católica.
4º O comportamento dos nossos próprios inimigos demonstra a
necessidade da união de ambos os poderes. Aqueles que
consideram intolerável a aliança do poder civil com a religião,
esforçam-se por concretizar a aliança deste mesmo poder com o
ateísmo. Os hereges de todos os tempos, os filósofos do século
XVIII, os revolucionários de 1793 e os livres-pensadores modernos
fizeram de tudo para criar um Estado que defendesse a heresia, o
cisma e o ateísmo. Assim, os mesmos adversários, buscando com
erro a união do Estado, prestam homenagem ao princípio da união
do Estado com a Igreja.

4ª Subordinação do Estado à Igreja


183. P. _O Estado deve estar subordinado à Igreja?
R. _Sim; O Estado, sociedade temporal e natural, deve estar
subordinado à Igreja, sociedade espiritual e sobrenatural, como a
natureza à graça, o corpo à alma, a terra ao céu, a vida presente à
vida futura.
A situação de um poder em relação aos outros é determinada
pelo fim: aquele que tende a um fim superior é superior. Assim, a
felicidade eterna do homem, procurada pela Igreja, é superior ao
bem-estar temporal a que aspira o Estado. Portanto, o Estado deve
estar subordinado à Igreja.
Além disso, o poder civil deve conformar-se à lei moral, seja ela
natural ou revelada. Mas cabe à Igreja definir a lei moral, impô-la aos
cristãos e julgar as suas infrações. Portanto, o Estado está
indiretamente subordinado à autoridade da Igreja.
N. B._Na ordem espiritual, em todos os assuntos religiosos, o
poder civil está diretamente subordinado à Igreja. Em questões
políticas, o poder civil está indiretamente subordinado à Igreja.

445
A Igreja tem supremacia sobre o Estado. Em virtude desta
supremacia, o Papa tem o direito de anular leis ou actos de um
Governo que sejam prejudiciais à salvação das almas ou lesem os
direitos naturais dos cidadãos.
1º A sociedade que tem uma finalidade mais perfeita é superior
àquela cuja finalidade é inferior, e ainda mais quando essa
sociedade é infalível na determinação dos seus direitos. E como a
Igreja infalível propõe uma meta superior à do Estado, ela tem
supremacia sobre a sociedade civil. O simples sentido nos diz; e é
também a doutrina de todos os Padres da Igreja e dos Papas174.
2º O objeto próprio e direto do poder da Igreja é o bem espiritual;
mas por consequência, e indiretamente, pode intervir por sua própria
autoridade e sem qualquer usurpação nas coisas temporais, quando
com elas se misturam interesses espirituais. Podeis levantar a voz
para condenar a tirania dos príncipes e as revoltas populares, para
estigmatizar e anular leis injustas e ataques à moralidade e à
consciência cristãs.
Se, quando os governantes são avisados, se recusarem a
obedecer, o Papa tem o direito de excomungar e absolver os seus
súbditos do juramento de fidelidade175.
O poder indireto é puramente espiritual e tem como objeto direto
algo completamente espiritual: a moralidade dos atos, a salvação
das almas, o bem da religião. Porém, por recair sobre as relações
dos atos públicos do Soberano com a moral e a religião, esse poder
afeta indiretamente a ordem política. Mas fá-lo sem prejuízo da
legítima independência do poder civil. Quando isto viola as leis de
Deus ou da Igreja, excede os seus limites e usurpa os direitos do
poder espiritual.
Objeção._Dar esses direitos à Igreja não é introduzir confusão de
poderes? De modo algum: coordenação não é confusão. A
autoridade parental, por exemplo, é muito diferente do poder civil e,
no entanto, não chega por vezes ao caso em que o Estado deve
invadir o lar através da acção da justiça para impor o respeito?

174Pode ser visto: Moulart, A Igreja e o Estado.

175Bula: Unam Sanctam e V Concílio de Latrão.

446
nele as leis naturais? Da mesma forma, a Igreja pode intervir para
defender os direitos de Deus e do povo contra a tirania.
A subordinação, então, do Estado à Igreja não tem nada de
impróprio ou perturbador para o Estado. Tal subordinação significa
simplesmente que o mundo é inferior a Deus, o corpo, inferior à
alma, o tempo, inferior à eternidade... Jesus Cristo é o Rei das
nações e dos seus líderes, bem como dos simples cidadãos.
3º Qual a natureza desta subordinação do poder civil ao Poder da
Igreja? O Cardeal Antonelli explicou isso ao governo francês na
época do Concílio (1870):
“A Igreja nunca pensou nem planeia exercer poder direto e
absoluto sobre os direitos políticos do Estado.
“Ela recebeu a sublime missão de guiar os homens, sejam eles
individualmente ou reunidos em sociedade, para um fim
sobrenatural. Ela tem, portanto, por isso mesmo, o poder e o direito
de julgar a moralidade e a justiça de todos os atos.” seja interna ou
externa, em suas relações com as leis naturais e divinas. Mas como
toda ação, seja prescrita por um dever supremo, seja emanada da
liberdade do indivíduo, não pode ser isenta desse caráter de
moralidade e justiça, causa esse julgamento de a Igreja se estenda
indiretamente a todas as coisas a que está ligada esta moralidade,
mas isso não significa interferir diretamente nos assuntos políticos,
que, segundo a ordem estabelecida por Deus e de acordo com os
ensinamentos da Igreja, são do domínio da Igreja. poder temporal.”
A doutrina da subordinação do Estado à Igreja contradiz o
primeiro artigo da declaração galicana de 1682, que afirma que os
reis não estão sujeitos, por direito divino, a qualquer autoridade
eclesiástica nas coisas temporais. Também contradiz os erros
naturalistas, que negam a instituição divina da Igreja. Finalmente,
contradiz a teoria, tão clara para os liberais, da Igreja livre no Estado
livre, isto é, do Estado e da Igreja respectivamente independentes
um do outro.
O próprio Voltaire reconheceu a legitimidade do poder indireto da
Igreja: “O interesse da raça humana”, diz ele, “requer um freio que
pare os soberanos e salve a vida das pessoas. Esta restrição da
religião estava, por convenção universal, nas mãos dos Papas. Os
primeiros Pontífices, misturando-se nos assuntos temporais apenas
para acalmá-los, lembrando aos reis e ao povo os seus deveres,
repreendendo os seus crimes,

447
Reservando a excomunhão para ataques maiores, eram
considerados a imagem de Deus na terra. Mas hoje os homens
estão reduzidos a não ter nada em sua defesa a não ser as leis e os
costumes do seu país, leis frequentemente violadas, costumes
frequentemente corrompidos”176.

5º Os direitos da Igreja
184. P. _Quais são os direitos da Igreja?
R. _A Igreja possui todos os direitos cujo exercício é necessário
ao cumprimento da sua missão, que é ensinar, santificar e governar
os fiéis para conduzi-los ao céu.
Estes direitos, tal como a autoridade da qual derivam, são
universais, soberanos e independentes.
I. A Igreja tem a missão de ensinar; então, tem:
1º O direito de pregar livremente o Evangelho em todos os
lugares. 2º O direito de se espalhar por toda a terra e de
estabelecer
dioceses e paróquias.
3º O direito de escolher livremente os ministros da palavra divina,
de recrutá-los, de treiná-los e instruí-los sem impedimentos.
4º O direito de reivindicar a livre comunicação dos Bispos e dos
fiéis com o seu Pastor Supremo, o Papa.
5º O direito de convocar Concílios, Sínodos e outras assembleias
religiosas.
6º O direito de ensinar todas as ciências, de abrir escolas e
faculdades, de escolher professores e programas, de fundar
universidades e de conferir graus.
7º O direito de introdução do ensino religioso em escolas
secundárias, faculdades, escolas públicas e privadas; o direito de
fiscalizar o ensino profano nestas escolas, de retirar delas tudo o que
seja contrário à doutrina revelada. Ela deu vida sobrenatural às
crianças católicas e, portanto, tem o direito de garantir a sua
preservação.
8º O direito de utilizar todos os meios apropriados para preservar
a doutrina cristã e, consequentemente, o direito de condenar erros
contrários.

448
176Ensaio sobre costumes.

449
II. A Igreja tem a missão de santificar; Então, cabe a você:
1º O direito de regular o culto, de estabelecer festas e procissões,
de conferir sacramentos, de determinar as condições de validade do
casamento, de consagrar templos e cemitérios e de os afastar de
todo uso profano.
2º O direito de possuir bens temporais, móveis e imóveis, de
construir as suas Igrejas, de manter os seus ministros, de fundar
escolas, asilos e outros estabelecimentos de caridade.
3º O direito de estabelecer ordens religiosas dedicadas a uma
vida cristã mais perfeita, à oração, à pregação, à educação dos
jovens e ao cuidado dos enfermos.
III. A Igreja tem a missão de governar; Então, cabe a você:
1º O direito de ditar leis para a direção dos fiéis e das
congregações religiosas.
2º O direito de proibir a leitura de publicações e livros contrários à
fé e à moral.
3º O direito de condenar as escolas que julgar más ou perigosas.
4º O direito de obrigar seus fiéis a observar suas leis, através de
penas espirituais e temporais.
Finalmente, para dizer tudo de uma vez, a Igreja, sociedade
perfeita, independente e divina, tem o direito de governar-se com as
suas próprias leis e de estabelecer todas as instituições necessárias
e úteis para o cumprimento da sua missão.
Nenhum poder civil pode impedir a Igreja na sua tripla missão,
sem espezinhar os direitos de Deus e tornar-se um perseguidor.
Todos os direitos listados acima lhe pertencem como sociedade
divina, perfeita, independente e superior a todas as outras. A
violação de um destes direitos da Igreja é uma usurpação do poder
civil e um sacrilégio. Todas as leis aprovadas contra ela são injustas
e, portanto, nulas: os católicos têm sempre o direito, e por vezes o
dever, de não as cumprir.
Quando algum governo usurpa os seus direitos, seja um César
ou uma Convenção, a Igreja resiste, pelo menos passivamente, e
confia em Deus que a protege, para que Ele faça justiça aos seus
perseguidores. Os factos de dezanove séculos são claros para
atestar que a sua confiança não foi decepcionada.

450
N. B._Os argumentos a favor de todos os direitos da Igreja podem
ser vistos na obra do Padre Liberatore: A Igreja e o Estado.

6º Deveres recíprocos da Igreja e do Estado


185. P. -Quais são os deveres da Igreja para com o Estado e
os do Estado para com a Igreja?
R. -EU. A Igreja deve ao Estado:
1º A ajuda das suas orações, a fim de obter para governantes e
súditos a graça de que necessitam para o cumprimento dos seus
deveres cívicos.
2º A ajuda de seu ensino, que delineia regras infalíveis de justiça
para os legisladores e exige que os súditos obedeçam às leis.
3º A assistência material dos seus recursos em calamidades
públicas.
II. Os deveres do Estado são os seguintes:
1º Respeito por todos os direitos da Igreja.
2º A proteção efetiva que uma sociedade divina merece.
3º Auxílio material à manutenção do culto, quando os rendimentos
dos bens eclesiásticos não lhe forem suficientes.

1. euPARAEiGLESIA SEMPRE CUMPRIU SEUS


DEVERES PARA COMEESTADO
A Igreja, com as suas orações públicas, com as virtudes e boas
obras que promove, atrai as bênçãos de Deus sobre toda a
sociedade e sobre cada um dos seus membros. As suas ordens
religiosas são os pára-raios que detêm os flagelos da justiça divina.
Jesus Cristo e os apóstolos ensinaram aos cristãos o dever de
obedecer à autoridade civil e prestar tributo. Ao longo dos séculos, o
Papa e os Bispos recordaram estes ensinamentos divinos. E algo
digno de nota, nos nossos dias, num momento em que todos os
poderes a traem e abandonam, a Igreja não deixa de lembrar aos
cidadãos o dever de submissão religiosa aos governantes que eles
próprios se entregaram177.
Nas desgraças públicas, a Igreja sempre veio em auxílio do
Estado, cedendo uma parte do seu património. Santo Ambrósio

177Pode ser visto: o Syllabus.

451
e Santo Agostinho chegou a vender os vasos sagrados para resgatar
os cativos e obter a liberdade dos escravos. O direito canónico
permite-nos seguir este exemplo. São Leão I e São Gregório I
dedicaram os rendimentos da Igreja para reparar os males causados
pelas invasões dos bárbaros. Em França, a Igreja ajudou
frequentemente o Estado vendendo as suas propriedades: isto foi
feito, por exemplo, para pagar o resgate de D. João, de São Luís e
de Francisco I. No final do século XVIII, o clero ofereceu uma quantia
de quatrocentos milhões, adquirida com a venda de bens
eclesiásticos, para evitar a catástrofe financeira que ameaçava a
nação.

2. DEVERES DO ESTADO
Você deve respeitar os direitos da Igreja.Toda sociedade
independente tem direito ao respeito pelos seus direitos. Assim, a
Igreja é uma sociedade independente do Estado. Então, o Estado
deve respeitar os direitos da Igreja. Será um crime e um sacrilégio
por parte do Estado, sociedade natural e temporal, atacar os direitos
de uma sociedade sobrenatural e divina.
O Estado deve proteger eficazmente a Igreja.A verdade deve
ser protegida contra o erro, a virtude contra o vício e a ordem contra
a desordem. O Estado tem, portanto, a obrigação de proteger em
justa medida a Igreja, que propaga a verdade, e de prevenir o erro:
esta obrigação é um direito natural e divino.
Se castigan los atentados contra los gobernantes, los asesinatos,
los robos a los particulares, cte., ¿por qué pues, no se ha de castigar
a aquellos que combaten a Dios, la religión, la moral, las verdades
que sirven de fundamento a a sociedade? Não é Deus o primeiro
Soberano e sua lei mais respeitável que todas? Por esta razão, os
Sumos Pontífices não deixaram de recordar aos príncipes cristãos o
seu papel de protectores e defensores da Igreja. Escutemos Leão
XIII: “Os Chefes de Estado devem colocar entre os seus principais
deveres o de favorecer a religião, protegendo-a com a sua
benevolência e protegendo-a com a autoridade tutelar das suas leis”.
Carlos Magno teve prazer em proclamar-se o defensor armado da
Igreja.
Como o Estado deve proteger a Igreja?
O Estado deve proteger a liberdade da Igreja de pregar o
Evangelho, administrar os Sacramentos e exercer o culto. Ele deve
harmonizar as suas leis com as da Igreja; fornecer o apoio de sua
autoridade para observar as leis
452
religioso, por exemplo, o do domingo santificador; reprimir todos os
atos hostis contra a Igreja e os seus ministros. Ele também deve, se
solicitado, unir-se à Igreja no combate à heresia, apostasia e cisma.
Compete à Igreja ensinar ao Estado as suas obrigações para com a
religião.
O Estado deve contribuir para as despesas do culto.Não há
dúvida de que o Estado deve prover todos os serviços públicos,
educação, empregos, guerra, marinha, etc., com o produto dos
impostos. Mas o primeiro dos serviços públicos deve ser o apoio ao
culto. A religião e só a religião pode manter os bons costumes, a
ordem e a paz: sem ela não há sociedade possível. Portanto, o
primeiro dever de um Estado é contribuir para a manutenção do
culto.
Costuma-se dizer: Aqueles que querem religião deveriam pagar
pelos seus ministros e pela sua adoração. A estes poderíamos
responder: aqueles que querem teatros, que paguem por eles;
Aqueles que querem missões científicas, deixem-nos pagar por elas;
Aqueles que querem escolas, comboios, etc., etc., deveriam pagá-
los... Esta teoria do imposto facultativo é absurda. Todos os cidadãos
são obrigados a pagar impostos por coisas das quais não
aproveitam. Não buscamos o que agrada a um ou outro, mas sim o
que convém ao interesse comum da sociedade e isso é muito justo.
Esta é uma das desvantagens inevitáveis do Estado social, mas
deve ser suportada se se quiser usufruir das suas vantagens. Bem,
repetimos, a religião é do maior interesse para a sociedade; Portanto
é justo que o Estado contribua para a manutenção do culto, bem
como para todos os outros serviços públicos.
Em França178, o orçamento para os cultos é o pagamento de
uma dívida: é a restituição de um roubo perpetrado pelo Estado
contra a Igreja em 1789. Aqui estão as provas.
Durante quinze séculos, a Igreja da França adquiriu propriedades
consideráveis, por todos os meios pelos quais a propriedade é
adquirida: trabalho, contrato, doações, fundações onerosas.
Com o seu trabalho limpou terrenos não cultivados, drenou
pântanos, cultivou cereais, construiu igrejas, mosteiros, escolas,
hospitais, etc.; por este capítulo ele possuía os ativos

178O que o autor diz sobre a França também pode ser dito sobre a Espanha, onde a usurpação de bens da Igreja foi chamada de
confisco, descrita pelo eminente Menéndez y Pelayo como um imenso furto.

453
eclesiásticos com o mesmo título, pelo menos, com os quais o
trabalhador é dono da sua casa, do seu campo e do seu jardim.
Ela havia recebido em seu seio homens que possuíam fortuna e
que a levaram consigo, e não conheço nenhuma lei francesa que
prive um cidadão de sua renda pelo simples fato de receber Ordens
Sagradas, e por este capítulo, o clero possuidor do mesmo título
com o qual todos os proprietários legítimos possuem.
A Igreja recebeu doações, legados e, por este capítulo, é
propriedade como os herdeiros. Ela havia aceitado fundações com o
ônus de cumprir certas condições estipuladas, e neste capítulo ela
possuía como todas as partes contratantes.
A menos que se diga que não há propriedade segura, deve
reconhecer-se que a propriedade do clero era real e legitimamente
sua. Ele possuía como todos os outros possuem, e não poderia tocar
em sua propriedade sem destruir o próprio princípio de toda
propriedade.
Em 2 de novembro de 1789, a Assembleia Constituinte confiscou
as propriedades da Igreja e, por 568 votos a 344, promulgou a
seguinte lei:
“Todos os bens eclesiásticos permanecem à disposição da nação
com a obrigação de prover, de forma adequada, as despesas do
culto, a manutenção dos seus ministros e o socorro aos pobres...
“De acordo com as disposições que serão tomadas em relação
aos ministros da religião, nenhum valor inferior a 1.200 libras
(francos) poderá ser destinado à dotação dos sacerdotes, não
incluindo o quarto e o jardim.”
Esta lei decretou um roubo, e um roubo sacrílego: um roubo
porque o Estado confiscou bens alheios; um sacrilégio, porque se
apoderou de algo consagrado a Deus e destinado a usos sagrados.
No entanto, lançaram as bases para o direito do clero católico ao
orçamento para o culto.
De acordo com esta lei, a nação assume o direito de dispor dos
bens eclesiásticos com a obrigação de prever as despesas
necessárias: 1.º para as despesas de culto: construção e
conservação de igrejas, casas paroquiais, seminários, etc.; 2º à
manutenção dos ministros do culto: Bispos, Cônegos, Presbíteros,
Tenentes-presbíteros, Religiosos e Religiosas; 3º ao socorro aos
pobres: até então a Igreja detinha o monopólio da caridade;
consequentemente, das mercadorias

454
eclesiásticos, nasceu a Assistência Pública, e o Estado contratou
com o clero a obrigação de ajudar os pobres em nome da Igreja e
com os bens da Igreja.
E tudo isto deve ser feito, não de qualquer forma, mas de maneira
conveniente, segundo as tradições, os costumes e o número de fiéis.
A Assembleia Constituinte votou, como primeiro orçamento, uma
soma de 55.700.000 francos. Com isso ela se declarou devedora ao
clero. É credor do Estado, pelo menos com o mesmo título daqueles
que estão inscritos no grande Livro da dívida nacional.
Quando Napoleão pensou em restabelecer o culto católico,
arranjou esta situação, de acordo com o Papa. Os seus bens já não
podiam ser devolvidos à Igreja: estes bens foram vendidos e
passados para outras mãos: O Papa comprometeu-se a não
perturbar os detentores de bens eclesiásticos, sob a condição de que
o Estado pagasse ao clero os rendimentos dos bens. bens roubados,
em vez da restituição do capital. Este acordo entre Pio VII e
Napoleão é denominado Concordata de 1801, um contrato solene
que vincula o governo francês.
Consequentemente, o apoio consistente estipulado pela
Concordata e pago pelo Estado ao clero não é um favor e muito
menos um salário; É o rendimento pago ao credor legítimo. O clero
francês não é, portanto, funcionário do Estado, mas recenseador
como os que constam do grande Livro.
O primeiro orçamento votado pela Assembleia Constituinte foi de
55 milhões. Dado que o valor do dinheiro caiu posteriormente numa
proporção de cinco para um, esta soma representava hoje 278
milhões.
O Estado, em vez de aumentar, segundo esta progressão, o
apoio consistente dos eclesiásticos, reduziu o orçamento para o
culto de 55 para 44 milhões e deste valor quatro milhões são dados
aos protestantes. Este orçamento não representa, portanto, sequer
um por cento de receita; Que credor ficaria satisfeito com isso?
Além disso, o Estado preservou alguns bens do clero, terrenos ou
edifícios que não foram alienados e dos quais retira recursos

455
um rendimento que oscila em torno dos 40 milhões, igual à parte do
orçamento que corresponde aos católicos179.
Conclusão.O orçamento do culto católico nada mais é do que o
pagamento de uma dívida de justiça estrita. Consequentemente,
nem a votação do Parlamento nem qualquer plebiscito poderiam,
sem cometer um novo sacrilégio, suprimi-lo. Uma nação, tal como
um indivíduo, não pode eximir-se do peso das suas dívidas, sob
pena de merecer o título de ladrão.
186. P. - Deve o Estado professar a religião católica?
R. Sim; Este é o seu dever, e o seu próprio interesse o impõe.
1º Seu dever,porque as nações, tal como os indivíduos,
dependem do Criador e, como tal, devem-Lhe a adoração, o amor, a
obediência e a adoração que lhes é própria.
2º Seu interesse,porque nenhuma sociedade pode existir sem
religião. Assim, somente a verdadeira religião pode efetivamente
inspirar justiça nos príncipes, obediência nos súditos e virtudes
sociais em todos, então...
Cada sociedade, assim como cada indivíduo, é obrigada a
reconhecer Jesus Cristo como Deus, a Igreja como seu embaixador
e o Evangelho como lei universal e obrigatória.
1º Provamos (n. 64) que o Estado deve professar uma religião...
O que seria de uma nação sem Deus? Não seria de modo algum
superior a uma reunião de brutos que procuram a satisfação dos
seus interesses sensuais. O desprezo pelos direitos de Deus
provocaria o desprezo por todos os direitos e geraria tirania e
anarquia. A religião é o primeiro fundamento da ordem social. Resta-
nos agora demonstrar que o Estado deve professar a religião
católica.
2º A sociedade, como indivíduo, deve praticar a religião
promulgada por Deus. Assim, o culto exigido por Deus é o da religião
verdadeira, o da religião católica. Portanto o Estado, como tal, tem a
obrigação de ser católico.
Tais são os ensinamentos do Papa Leão, mas o que Deus tem

179O mesmo se pode dizer no nosso país relativamente ao artigo 2.º da Constituição e à usurpação dos bens da Igreja em 1822 pelo
Estado.

456
prescrito e cuja evidência certa e indubitável prova ser a única
verdadeira, do mesmo modo que as sociedades políticas não
podem, sem cometer um crime, proceder como se Deus não
existisse, ou dispensar a religião como algo estranho e inútil, ou
admiti-la indiferentemente, de acordo com seu próprio gosto. Ao
honrar a divindade devem seguir rigorosamente as regras e a
maneira segundo a qual Deus declarou que quer ser honrado…”
(Immortale Dei).

7º Erros modernos sobre as relações entre Igreja e


Estado

RACCIONALISMO,NATURALISMO, EU.IBERALISMO

a) Noções gerais
Os erros modernos têm nomes diferentes, mas todos surgem da
mesma fonte: racionalismo.
Os católicos admitem duas ordens de verdades: aquelas que são
conhecidas pela razão e aquelas que Deus ensina por revelação.
1º O Racionalismo não admite mais do que as verdades
demonstradas pela razãoe rejeita verdades reveladas. Para ele, a
razão é a única fonte do que é verdadeiro e do que é falso, do bem e
do mal; ela é suficiente para que o homem alcance seu objetivo final.
O racionalismo produziu outro erro, ou melhor, desenvolveu-se
sob outro nome: naturalismo.
2º O Naturalismo nega o sobrenatural e não reconhece nada
além da naturezae suas forças. No fundo, estes dois erros são
idênticos: consistem em divinizar a razão humana, negar a ordem
sobrenatural, a revelação, o milagre, a divindade de Jesus Cristo e
da sua Igreja.
Assim como o carvalho vem da semente, o protestantismo
nasceu do racionalismo. Depois de ter negado a autoridade da
Igreja. Lutero admitiu, como única fonte de verdade, a Bíblia
submetida ao livre exame, que é interpretada pela razão individual.
Mas as interpretações arbitrárias das Escrituras, a multiplicação de
seitas, as discussões incansáveis e sem esperança fizeram com que
a própria Bíblia fosse rejeitada como um Livro Divino. Assim, toda a
revelação foi negada.

457
Nos séculos XVI e XVII, os racionalistas eram chamados de
incrédulos e céticos: incrédulos, porque se recusavam a acreditar na
palavra de Deus; céticos, porque depois de terem negado a
revelação, questionaram as verdades naturais. Eles se descreviam
como espíritos fortes, porque procuravam elevar-se acima das
crenças das pessoas comuns...
No século 18, esses incrédulos se autodenominavam filósofos.
Os sofistas Voltaire, Rousseau, Diderot, d'Alembert, Helvetius, etc.,
declamam em voz alta contra a superstição, o fanatismo, a
ignorância, os preconceitos... Nos seus lábios, estas palavras
indicam a religião revelada, a Igreja, os seus dogmas, a sua moral,
etc.
A filosofia do século XVIII nada mais foi do que o racionalismo
teórico, a Revolução foi o racionalismo prático.
A declaração dos direitos do homem foi: 1º, uma apostasia social;
2º, a negação dos direitos de Deus, do seu Cristo e da sua Igreja; 3º,
a substituição da autoridade de Deus pela autoridade do homem...
Os princípios imortais de 89, as ideias modernas, a nova lei, nada
mais são do que as doutrinas do racionalismo.
Alguns católicos ingénuos persistem em não querer ver na
Revolução mais do que o colapso das monarquias absolutas e o
estabelecimento do sufrágio popular, a introdução da igualdade
política e civil, etc. Todas estas coisas nada mais são do que
acessórios da Revolução, cuja essência é a apostasia social. “A
Revolução, disse de Maistre, é essencialmente satânica.”
Durante a Restauração, os nomes da Filosofia e da Revolução
perderam prestígio. Eles odiavam o poder porque se lembravam dos
infortúnios da Casa da França. O Racionalismo assumiu então um
novo nome: foi chamado de Liberalismo.
3º O liberalismo, no seu sentido mais geral, exagera a liberdade
humana em detrimento da autoridade divina, a liberdade do povo em
detrimento da autoridade soberana.
O liberalismo, no sentido mais vulgar, é o sistema que proclama o
homem essencialmente livre, independente de toda autoridade
divina e religiosa.
“Aqueles que são os defensores do naturalismo e do racionalismo
na filosofia são os mesmos autores do liberalismo na ordem moral e
civil, porque introduzem nos costumes e na prática dos

458
princípios de vida estabelecidos por apoiadores
donaturalismo180.

b) Refutação do liberalismo
A palavra liberalismo tem vários significados:
1º Chama-se liberalismo, em oposição ao conservadorismo, aos
partidos políticos e aos sistemas económicos que promovem a
liberdade comercial, industrial ou civil.
2º Liberalismo é também denominado, em relação ao
absolutismo, os sistemas de governo em que o poder soberano é
limitado por uma: Constituição.
É-nos impossível fazer uma lista completa daquilo que, com ou
sem razão, se chama liberalismo. O que é importante sabermos é o
liberalismo condenado pela Igreja.
O liberalismo é uma doutrina moral que consiste em excluir do
governo civil toda influência religiosa, particularmente a da
verdadeira religião, a Igreja Católica.
É a independência absoluta do Estado em relação à Igreja no
sentido da opressão do segundo pela primeira.
É a separação entre Igreja e Estado. O princípio liberal também
pode ser expresso desta forma: o homem, em tudo o que é
legislação e administração civil, deve prescindir completamente da
Igreja e de Jesus Cristo.
O liberalismo contemporâneo tem três graus principais:
1º O liberalismo radical ou absoluto quer a supremacia do Estado e
a opressão da Igreja.
2º O liberalismo moderado quer a separação completa entre Igreja
e Estado.
3º O liberalismo “católico” admite esta separação, não como
princípio, mas como método prático.
1. Liberalismo absolutoNada mais é do que naturalismo ou livre
pensamento. Rejeita a ordem sobrenatural e toda religião positiva.
Consideremos a revelação divina, a intervenção direta de Deus nos
nossos destinos, como um ataque à dignidade humana e à razão.
Ele não admite nada além da ordem natural: para ele Deus não
existe, ele não se preocupa com o mundo. O homem pode, com a
sua única

180Leão XIII, Encíclica: Libertas.

459
forças da natureza, conheçam toda a verdade. A razão lhe basta: ela
é a única árbitro do que é verdadeiro e do que é falso, do bem e do
mal; é uma lei por si mesma e conduz o homem ao seu fim, tão
certamente quanto o instinto conduz o animal ao seu. Tal é a
doutrina do naturalismo.
O liberalismo aplica esses princípios à ordem social. Se o
indivíduo é, na realidade, independente de Deus e da religião, o
homem colectivo deve sê-lo igualmente, e as leis civis, tal como as
ciências, devem ser removidas de todas as regras religiosas. Os
homens, por natureza, nascem livres e pelo contrato social criam a
sociedade. O Estado, representação e personificação de todas as
vontades individuais, é investido de onipotência. O Estado não
reconhece nenhum direito que seja obrigado a respeitar, nem o
direito natural, nem o direito positivo divino, nem o direito
eclesiástico: todas as suas determinações, quaisquer que sejam, são
vinculativas por direito próprio: o direito civil cria o direito.
A razão humana era, antes do pacto social, absolutamente livre e
autônoma no indivíduo. Preserva no coletivo, com o nome de
Estado, a mesma independência, a mesma autonomia: é o Estado
que se substitui a Deus: é o Estado-Deus. Os autores mais
modernos designam este sistema com o nome de estatallatria, o
culto ao Estado. É o paganismo com todos os seus horrores.
Este sistema é um verdadeiro ateísmo prático e social. É a
negação social de Deus e da sua lei, uma negação que é encoberta
sob o nome enganador de secularização ou secularismo e que se
aplica a todos os elementos da organização social. O Estado deve
ser essencialmente laico, isto é, ateu. As escolas, as instituições de
caridade, a ciência, a legislação e até a própria família devem ser
afastadas da influência da religião. É secularização ou secularização
universal181.
Refutação deste sistema.Baseia-se no ateísmo, na
independência do homem, na negação da ordem sobrenatural e de
tudo o que está relacionado com ela: divindade de Jesus Cristo,
instituição divina da Igreja, etc. Pois bem, já comprovamos a
existência de Deus, da revelação, da religião positiva e a obrigação
que o homem e a sociedade têm de professar esta religião divina,
que nos é ensinada pelo Magistério infalível do

181Pode ser visto: Benoit, Erros Modernos.

460
Igreja. Finalmente, demonstramos que a Igreja é uma sociedade
perfeita, independente, infinitamente superior ao Estado, que está
subordinado e deve respeitar os seus direitos.
O liberalismo é, portanto, um crime contra Deus, cujo domínio,
direitos e até existência ele nega; um crime contra a sociedade,
cujos fundamentos mina; um crime contra indivíduos, que retornam à
antiga escravidão182.
Objetos.
1º A Igreja está no Estado; Portanto, o Estado tem o direito de
governar a Igreja.
R. -Deveria dizer-se, mais apropriadamente, que o Estado está
na Igreja porque salva todas as fronteiras e todas as nações estão
na Igreja como as partes no todo. Ou, se preferir, a Igreja está no
Estado como a alma está no corpo, com uma vida superior
independente do corpo nas suas funções próprias.
2º O Estado é inibido pela Igreja se não tiver ação sobre ele e
não puder impor-lhe as suas leis.
R. - A acção de Constantino, de Carlos Magno, de São Luís, de
Santo Estêvão foi inibida pela Igreja?... Não há dúvida de que se o
Estado permitir que os direitos da justiça sejam violados, encontrará
a Igreja no seu caminho, e isso pode perturbá-lo. Mas de quem é a
culpa? A injustiça é um direito? Não são os chefes de estado, tal
como os seus súbditos, obrigados a obedecer às leis de Deus? Se a
Igreja deve a César o que é de César, César deve a Deus o que é
de César.

182Nunca é demais enfatizar que a religião é a base da sociedade. “Se não se acredita que Deus é o Criador do homem e da
sociedade, o Autor das relações entre os vários seres; se não se acredita que é a Providência que tudo preserva com o seu poder e tudo
governa com a sua Sabedoria; mas acredita-se que Ele é o Senhor absoluto com o direito de ordenar ao homem, criatura livre, que
observe as leis da criação e a ordem moral; Se não se acreditar que toda legislação deve ter Deus como princípio eterno, é impossível
estabelecer qualquer sociedade.

“Fora destes dogmas fundamentais da religião, todos os homens são


independentes uns dos outros. Este é o princípio fundamental da filosofia incrédula; É
por isso que é incapaz de dar conta das leis fundamentais do ser social. Uma vez
admitido este princípio de independência, não há nada que possa fazer desaparecer a
igualdade original dos homens. Eles podem muito bem recorrer, com Hobbes e
Rousseau, ao Contrato Social; Este contrato, sem base moral, sem princípio de
autoridade, será sempre inútil. “Não reconheço em ninguém o direito de me
comandar, se não tiver recebido de Deus a autoridade necessária.”(Trecho de
Moulart).

461
Deus, e é a Igreja que se encarrega de lembrá-lo dos seus deveres,
como recorda aos seus súbditos.
O liberalismo moderado deixa aos indivíduos a liberdade de
serem cristãos na vida privada, mas não na vida pública. Afirma que
o Estado não deve levar em conta a Igreja e que é independente de
toda autoridade sobrenatural.
“Segundo este sistema”, diz Leão XIII, as leis divinas devem
regular a vida e a conduta dos indivíduos, mas não a dos Estados. É
permitido nos assuntos públicos desviar-se das ordens de Deus e
legislar sem levar Deus em conta. Daí surge esta consequência
perniciosa: a separação entre Igreja e Estado”. Para este liberalismo,
a Igreja e o Estado constituem duas sociedades estranhas e
separadas uma da outra. Muitos liberais querem que a Igreja seja
livre, mas a maioria não reconhece os direitos da Igreja como uma
sociedade perfeita e independente. Vêem-na como uma sociedade
espiritual restrita ao domínio exclusivo da consciência, e que
internamente não pode gozar de verdadeira autoridade legislativa,
judicial e repressiva. É a negação do reinado social de Jesus Cristo e
dos direitos da Igreja.
Refutação deste liberalismo.
1º É contrário aos direitos de Deus, porque a sociedade, assim
como o indivíduo, não pode se livrar da obrigação que o Criador lhe
impôs de praticar a verdadeira religião.
2º É contrário aos direitos de Jesus Cristo, porque é a negação
do reinado social de Cristo, a quem o Pai deu todas as nações como
herança.
3º É contrário aos direitos da Igreja, cujo império se estende não
só aos indivíduos, mas também aos povos e aos seus dirigentes...
Estes últimos têm a obrigação de reconhecer a autoridade espiritual
da Igreja e devem-lhe ajuda e protecção para os desempenho de
sua missão. Tal é o plano de Deus, e é um crime ir contra ele...
4º É contrário aos direitos dos súditos, porque se o Estado é o
responsável direto pela garantia dos interesses materiais dos seus
súditos, deve também proteger os seus direitos e interesses
religiosos para ajudá-los a alcançar o objetivo final.
5º É desastroso para a sociedade, porque tende a destruir a
religião e o sentimento religioso do povo, através

462
igualdade de cultos. Pois bem, uma sociedade sem religião é uma
sociedade sem bons costumes, sem princípios de justiça, entregue
aos caprichos dos mais fortes, às más paixões, a todas as
desordens e a todas as revoluções.
Objeção.Nos Estados Unidos da América do Norte, o Estado
está separado da Igreja e ainda assim o catolicismo prospera.
R. -É falso que nos Estados Unidos haja separação entre religião
e Estado, no sentido dos nossos revolucionários. Se o Estado
americano não adere a nenhuma Igreja (católica ou protestante),
também não ignora a religião. Longe de ser ateu, ele é religioso,
ainda mais cristão, pois sua ordem social é baseada nas crenças do
cristianismo.
A legislação proclama o respeito devido a Jesus Cristo e os
tribunais punem a blasfémia pública. Até hoje, todos os anos o
Presidente prescreve um dia de jejum e abstinência para todos os
seus súditos; Marque outro dia para agradecer à Providência pelos
seus benefícios. Antes de iniciar a sessão no Parlamento, o capelão
recita uma oração.
A lei do descanso dominical ou dominical é rigorosamente
observada.
Se o clero não é pago, é porque o Estado não lhes roubou, como
em França e noutros lugares, as suas propriedades. O Estado
respeita os fundamentos feitos em favor das Igrejas. Os membros do
clero, pelas suas funções, estão isentos do serviço militar. O poder
repressivo de cada Igreja é reconhecido pelos tribunais. As ordens
religiosas e os estabelecimentos católicos gozam de maior liberdade
e obtêm facilmente estatuto jurídico. Esta separação, portanto, é
precisamente o oposto de tudo o que desejam os liberais das nações
latinas.
O liberalismo “católico”, que mais propriamente pode ser
chamado de liberalismo prático, admite em princípio a subordinação
do Estado à Igreja, mas na prática prefere a separação com a
independência mútua de ambos os poderes. Ele não exige, portanto,
a separação entre Igreja e Estado como princípio, mas como
determinação de prudência; aconselhado pelos interesses da
religião. Os católicos liberais convidam a Igreja a aceitar as
liberdades modernas; porque, dizem eles, a verdade é forte o
suficiente em si mesma para triunfar sobre o erro. Este liberalismo
tem como alvo a famosa fórmula: “A Igreja livre no Estado livre”.

463
Refutação do Liberalismo Católico. A subordinação da ordem
natural à ordem sobrenatural, do Estado à Igreja, é uma verdade
prática que impõe deveres destinados a regular os atos do homem, e
não é permitido fugir às obrigações que Deus impõe. Dever acima de
tudo.
Por outro lado, a sabedoria de Deus não seria bem servida se ele
tivesse feito uma lei cuja aplicação fosse mais prejudicial do que útil
à religião e aos interesses espirituais da humanidade.
Finalmente, a separação não é benéfica para a Igreja nem para o
Estado: a história prova-o, e o século actual tem uma triste
experiência disso. Com toda a razão, portanto, este liberalismo foi
condenado por Pio IX no Syllabus e por Leão XIII na Encíclica
Libertas.
Combatendo o liberalismo, a Igreja mostra-se a verdadeira
protetora da sociedade e das pessoas.
N. B.. Este erro deu origem a uma moral muito confortável: a do
homem duplo.
Em casa, o homem duplo finge ser cristão, mas em público não
sabe se Cristo existe. Como paroquiano, ele cumprimenta
constantemente o seu sacerdote; Como vereador, expulsa religiosos
e crucifixos das escolas. Na sexta-feira, sua esposa serve iguarias
de vigília; Na casa de um amigo ele come carne. Cumpre o preceito
pascal, mas continua assinando o jornal materialista.
Padrinho, reze o seu Credo sem tropeçar; eleitor, vote em um
liberal ou em um homem sem religião, etc.
O homem duplo sempre existiu; O que é novo é a doutrina que
procura justificá-lo. Antes, ele era desprezado como covarde e
hipócrita; Hoje ele é considerado um homem habilidoso. Esses são
os frutos do liberalismo.
Mas o homem duplo não é cristão, nem sequer é honesto. O
homem honesto tem apenas uma palavra, o cristianismo tem apenas
uma consequência.
O cristão, em sua casa, é cristão; em público, ele é cristão;
professor, é cristão; conselheiro, é cristão; deputado, é cristão;
advogado, médico, notário, é cristão. Ele nunca chamará o Papa,
Vigário de Jesus Cristo, de estrangeiro; nunca aceitará um duelo; Ele
não elogiará o divórcio, não comparecerá a um enterro civil. As
vossas ações e palavras nunca estarão em contradição com o
Evangelho; e se cometer um erro, ele se humilhará e confessará.

464
c) A Igreja e as liberdades modernas
O liberalismo é o pai e o autor das alegadas liberdades
modernas, que proclama como grandes e imortais conquistas do
nosso século. Infelizmente, ele confunde liberdade com licença. É
por isso que acreditamos que é necessário dar uma verdadeira
noção de liberdade; Assim será mais fácil, depois de refutar os erros
que se escondem sob o nome de liberdades modernas.
A liberdade, em geral, é o poder que a vontade possui de se
determinar, de querer ou não querer, de querer uma coisa ou outra.
Vamos considerar a liberdade na sua natureza íntima e no seu
objeto.
I. Três obstáculos podem impedir o exercício da vontade:
1º uma causa intrínseca; 2º uma causa física extrínseca; 3º uma
causa moral extrínseca. De onde se originam, por oposição, três
tipos de liberdade.
1º Liberdade natural ou livre arbítrioÉ, para a vontade, o poder
intrínseco de determinar-se espontaneamente, de escolher uma
coisa em preferência a outra, sem ser forçada pelas inclinações da
natureza. O livre arbítrio é a condição e a razão de todas as outras
liberdades. Esta liberdade do fórum interno existe, mesmo no fundo
de uma masmorra, embora a liberdade externa seja restringida. Você
pode forçar o corpo, mas não a vontade. O próprio Deus respeita
isso: ajuda o homem, mas não o força. O livre arbítrio é o princípio
do mérito ou demérito de nossas ações.
Na vida temporal o homem tem a liberdade de escolher entre o
bem e o mal; Contudo, o que constitui a essência da liberdade é o
poder de determinar por si mesmo, e não o poder de escolher o que
é mau. Deus é livre e não pode escolher nada além do bem. O poder
de fazer o mal é uma imperfeição; assim como a possibilidade de
adoecer para o corpo e a possibilidade de erro para a inteligência. O
que constitui a nobreza do homem é o poder de fazer o bem
livremente.
2º Liberdade física ou corporalÉ a isenção de todo
constrangimento ou violência externa que força o homem, mas não o
impede de agir como lhe agrada. Esta liberdade é a disposição plena
e integral do seu corpo e dos seus órgãos: o preso e o paralítico não
gozam desta liberdade.

465
3º Liberdade moralÉ o poder e o direito de fazê-lo que não é
contrário nem ao direito natural nem ao direito positivo. Toda lei justa
é uma necessidade moral que acorrenta a vontade pelas ordens ou
proibições que impõe. Na verdade, liberdade não é independência;
somente Deus é independente. O homem é livre, mas deve
submeter-se a Deus e a todo poder que emana Dele. Ele deve
conformar suas ações à lei moral ou então desviar-se de seu objetivo
final.
Portanto, não devemos confundir liberdade física com liberdade
moral, poder com direito. Criatura dependente, devo conformar-me à
lei natural e à vontade do meu Criador.
II. Vários tipos de liberdade também são diferenciados por
objeto:
1ª Liberdade religiosaConsiste na faculdade de poder cumprir,
sem impedimentos, todos os nossos deveres para com Deus. É a
verdadeira liberdade de consciência que os Mártires selaram com o
seu sangue.
2º Liberdade civil ou socialÉ o direito de exercer todos os
direitos da natureza humana, sem ser inibido pelo poder ou pelos
concidadãos. Inclui a liberdade da pessoa e das suas ações, o direito
de possuir, de querer, de fundar e governar pela constituição do
Estado.
Em virtude desta liberdade, os cidadãos de uma nação têm o
direito de nomear os seus representantes por voto; escolher a forma
de governo que melhor lhes convém e supervisionar e discutir os
atos de seu governo.
A Igreja não condena esta liberdade; Ensina que o poder vem de
Deus, mas que cabe aos homens nomear representantes. Aceita
todas as formas de governo, desde que os direitos sagrados da
religião sejam respeitados.
A Igreja é a primeira a impor aos cidadãos, como dever de
consciência, o exercício do seu direito de voto; mas ele os adverte
que eles serão responsáveis diante de Deus pelo voto colocado nas
urnas. O destino do país, o futuro das crianças, a paz pública, a boa
administração dos negócios do Estado, o livre exercício da religião
dependem deste voto.
As liberdades anteriores, aprovadas e defendidas pela Igreja, são
espezinhadas pelos Estados liberais, que tendem a absorver, numa
centralização universal, os mais invioláveis

466
direitos dos indivíduos, das famílias, dos municípios e das
sociedades privadas.
Para os liberais, a palavra liberdade é sinônimo de independência
absoluta, especialmente nas relações com Deus e com a religião.
“Segundo estes incrédulos não existe, na prática, nenhum poder
divino ao qual haja obrigação de obedecer, mas cada um é lei de si
mesmo” (Leão XIII).
O erro do liberalismo baseia-se na confusão entre poder e lei;
confunde o poder que é a liberdade física, com o direito, que
constitui a liberdade moral. Se o homem fosse independente do seu
Criador e das suas leis divinas, teria o direito de pensar tudo, de
fazer tudo, de dizer tudo, de escrever tudo; Nesse caso, as
liberdades modernas seriam legítimas. Mas não é assim.
As principais liberdades modernas são:
a) Liberdade de consciência; b) Liberdade religiosa; e) Liberdade
de expressão e de imprensa.
a) Segundo os liberais, a liberdade de consciênciaÉ de cada
pessoa o direito de pensar e agir como quiser em tudo o que se
relaciona com Deus e com a religião: é o Livre Pensamento. Esta
liberdade de consciência supõe que ou não existe lei para a direção
da consciência, ou que o homem tem o direito de se tornar
independente dela. Estas afirmações são absurdas porque a
primeira se baseia na negação da ordem moral; A segunda se
resolve no direito ao erro e ao mal. Mas ninguém pode negar a lei
moral ou admitir ao homem o direito de se enganar e de praticar o
mal; Portanto, a liberdade de consciência nada mais é do que uma
loucura, e o Papa Pio IX tinha razão quando a chamou de ilusão do
homem e de liberdade de perdição183.
b) Segundo os liberais, a liberdade de religiãoÉ do indivíduo
o direito de abraçar e propagar a religião que mais lhe agrada,
verdadeira ou falsa, ou de não professar nenhuma.
Cabe ao Estado o direito de não prestar qualquer culto social a
Deus. Daí que os liberais atribuam ao Estado a obrigação de
proteger igualmente todas as religiões.
Esta liberdade religiosa é ruim:

183Pode ser visto: Liberatore, A Igreja e o Estado.

467
1º, Porque nega a dependência do indivíduo e da sociedade em
relação a Deus, o que é um absurdo.
2º, Nega a existência de religião positiva e sobrenatural. Mas é
um facto histórico que Deus falou e impôs um certo culto ao homem:
que ele estabeleceu uma Igreja com o poder de ensinar a verdadeira
religião.
Consequentemente, o único culto que pode ser aprovado é o
culto sancionado pela Igreja e imposto por Deus. Os racionalistas
podem negar estas verdades, mas nunca poderão destruí-las, assim
como não podem eclipsar a luz do sol.
c) Liberdade de expressão e imprensaÉ o suposto direito que
cada um tem de dizer e publicar tudo o que quiser, bom ou ruim.
Esta falsa liberdade é contrária à lei natural, que não permite que o
erro seja equiparado à verdade, o bem ao mal.
Perverte a inteligência porque poucos homens têm a capacidade
de se dedicar ao estudo e distinguir o raciocínio do sofisma.
Corrompe o coração, porque os homens tendem a aceitar
prontamente teorias que favorecem ou lisonjeiam as suas paixões.
A liberdade de imprensa, concedida aos inimigos da religião, da
moral e da ordem pública, é um terrível flagelo para a sociedade. O
jornal é um professor cuja tirania o leitor sofre fatalmente; Ele é um
advogado desleal, que seduz o povo com mentiras e calamidades.
Sem falar na televisão hoje. A autoridade tem o dever de não
abandonar o povo à mercê de mentirosos hábeis.
Conclusão: A tese e a hipótese.
1º As liberdades modernas são, portanto, más em si mesmas e
fatais nos seus resultados. São um ataque ao direito à verdade e ao
bem, um veneno para a inteligência e a vontade, um perigo para a
própria existência da sociedade. Os anarquistas em todos os países
nada mais fazem do que colocar em prática os princípios do
liberalismo.
2º Estas liberdades modernas, condenadas pela Igreja, são,
portanto, más; Tal é o princípio, tal é a tese. Mas há circunstâncias
de tempo ou de lugar que permitem, em consciência, tolerar,
preservar e até defender estas liberdades; tal pode ser a aplicação
do princípio, tal é a hipótese.
Esta distinção entre o princípio e a sua aplicação é muito comum
na vida prática. Assim, por exemplo, corrigir um filho é dever do pai:
tal é a tese. Corrigi-lo em tal circunstância pode ser

468
imprudência: tal é a hipótese. A comida é necessária à vida: é a
tese; Poderiam ser um veneno para o paciente: essa é a hipótese. A
verdade tem direitos imprescritíveis, mas poderia ser imprudente
exigir sempre o seu exercício rigoroso.
3º O Papa Leão XIII (Encíclica Libertas) admite esta distinção
entre tese e hipótese, e permite que as liberdades modernas sejam
toleradas.
Não há dúvida de que entre os males devemos escolher o menor,
e que se pode legitimamente tolerar um mal menor para evitar um
maior. Numa nação onde estas liberdades estão escritas na
Constituição e passaram para a vida prática, querer aboli-las seria
expor o Estado a perigos terríveis. Deve ser lembrado que poderia
ser fatal aplicar o regime saudável a uma pessoa doente. Portanto,
às vezes é necessária tolerância ao mal.
cONCLUSÕES PRÁTICAS.

I. Deveres dos governantes.


1º Num país exclusivamente católico, o governo deve proteger a
religião e manter a unidade da fé entre os seus súditos, que é o
fundamento da unidade social. Ele deve, portanto, agir contra os
desordeiros que tentam introduzir cisma ou heresia.
2º Num país onde o catolicismo tem que coexistir com seitas
dissidentes, o governo deve favorecer a religião católica; mas pode,
em vista de um bem maior, ou para evitar um mal maior, tolerar a
existência de falsos cultos, desde que sejam inofensivos. Isto é o
que se chama tolerância civil.
3º Nem nos países infiéis, nem mesmo nos países heréticos, a
autoridade civil tem o direito de impedir a propagação da religião
católica através da persuasão.
“Os infiéis que resistem à Igreja e aqueles que proíbem a
pregação do Evangelho não cometem qualquer culpa, desde que
estejam convencidos de boa fé da verdade do seu culto e acreditem
que são obrigados a defendê-lo. Mas tornam-se culpados a partir do
momento em que, quando surge a dúvida, em vez de tentarem
sinceramente resolvê-la, continuam na sua resistência, fechando
obstinadamente os olhos à luz da verdade que lhes é oferecida”
(Rutten).

469
II. Deveres dos católicos.
1º Se tens a sorte de viver num país onde a Igreja Católica é a
religião do Estado, com exclusão dos falsos cultos, deves manter
esta situação como a melhor de todas; Eles devem aceitar apenas
as leis católicas. Numa casa onde reina a pureza dos costumes,
toma-se muito cuidado para fechar a porta aos homens perversos.
2º Se os católicos são uma grande maioria, a sua religião deve
ser favorecida; Caso contrário, se todas as religiões reconhecidas
gozarem de igual consideração perante a lei, como em França desde
1830, os católicos estarão sujeitos às necessidades dos tempos em
que vivem. Mas terão muito cuidado para não pensar ou dizer que tal
situação é a melhor; Proclamarão francamente os verdadeiros
princípios, a verdade integral, e não negligenciarão nada que possa
contribuir para melhorar esta situação por meios legais. É um dever
estrito para eles eleger verdadeiros católicos como senadores e
deputados.
3º Sob o poder de um governo em que a verdadeira religião é
oprimida, os católicos devem exigir a liberdade e preferir a liberdade
de religião à perseguição: é um mal menor.
Todas estas conclusões baseiam-se no princípio de que só a
verdade tem direitos e o erro não. Uma sociedade será tanto mais
perfeita quanto mais liberdade deixar ao bem e quanto mais
restringir, dentro dos limites do possível, a liberdade do mal.

Apêndice

OS INIMIGOS DA IGREJA: A MAÇONARIA


Existem duas cidades no mundo: a Cidade de Deus e a Cidade
de Satanás. Uma luta implacável reina entre os dois, e o homem
deve lutar por Deus ou por Satanás, pelo bem ou pelo mal, pela
verdade ou pelas mentiras.
Em todos os tempos, a cidade de Satanás se opôs à Igreja, à
cidade de Deus, aos erros e aos exércitos; A mesma coisa acontece
nos tempos modernos.
A cidade de Satanás tem uma doutrina que se opõe ao
Evangelho: é a doutrina que o Concílio Vaticano I chama de
racionalismo ou naturalismo com todos os erros relacionados.
Refutamos estes erros, disfarçados sob o nome mais moderno de
liberalismo.

470
Em todos os tempos, a cidade de Satanás opôs-se à Igreja, opôs-
se ao sacerdócio católico, um corpo de homens militantes que lutam
pelo naturalismo; São as sociedades secretas incluídas na
denominação geral da MAÇONARIA.
187. P. _Quais são os principais inimigos da Igreja?
R. _Atualmente, os principais inimigos da Igreja são os maçons.
Para combater a Igreja, Satanás formou um exército que durante
três séculos foi chamado de Maçonaria.
Disfarçada com uma máscara de filantropia, esta sociedade
sombria é o ponto de encontro de todas as impiedades.
Os mistérios da iniquidade dos gnósticos, dos maniqueístas, dos
albigenses, etc., são reproduzidos hoje nos quartos dos fundos das
lojas. A Maçonaria é, na realidade, nas palavras do Papa Pio IX: “a
Sinagoga de Satanás”.
Esta sociedade secreta, organizada sob a direção de líderes
ocultos, visa destruir a Igreja, a família e a sociedade cristã, para
fundar uma nova sociedade sobre os princípios do naturalismo (sem
Deus, sem Igreja, sem família).
A Maçonaria foi condenada por nove Sumos Pontífices, desde
Clemente XII, em 1738, até Pio X.
Os Papas pronunciaram a pena de excomunhão contra membros
de sociedades secretas. Esta pena é incorrida não só por aqueles
que dão o seu nome à seita, mas também por todos aqueles que
favorecem os maçons e as suas empresas; por exemplo, aqueles
que lhes proporcionam espaço para as suas reuniões, aqueles que
votam neles, etc.
Todo católico, portanto, é obrigado a combater a Maçonaria.
Vamos explicar: 1°, a origem da Maçonaria; 2º; Sua organização;
3°, suas finalidades; 4°, suas devastações; 5°, suas armas; 6°, os
deveres dos católicos.

1ª ORIGEM DA MAÇONARIA
1° “A cidade da terra, diz Santo Agostinho, nasceu do amor de
si levado ao ódio de Deus, e a cidade do céu nasceu do amor de
Deus levado ao ódio de si”.

471
Não há dúvida de que todos os homens gostariam de entrar na
cidade de Deus e lutar pela verdade e pelo bem; Mas é preciso ir
contra a sua própria natureza, reprimir as suas más paixões... muitos
não têm coragem de fazê-lo, o diabo os arrasta para a cidade do
mal, onde se faz tudo o que agrada à natureza. Esta é a primeira
origem da Maçonaria, como a de todas as seitas hostis à Igreja.
2° O sábio P. Benoit, no seu magistral livro A Cidade Anti-Cristã,
explica amplamente a origem das seitas. “A Maçonaria”, diz ele na
sua forma atual, “é moderna; mas na substância das suas doutrinas
e das suas práticas provém dos Templários, dos Albigenses da
Idade Média e, através deles, dos Maniqueus e dos Gnósticos e,
através destes últimos, dos cultos e mistérios pagãos.
O Papa Gregório XVI tinha razão quando disse: “A Maçonaria é o
esgoto onde se acumularam as doutrinas ímpias, as práticas
sacrílegas e abomináveis de todas as seitas desde os tempos mais
remotos para nós” (Mirari vos).
A Maçonaria, na sua forma actual, segundo a opinião mais
provável, remonta à ordem dos Templários. Depois que o Papa
Clemente V e o Rei da França, Filipe, o Belo, aboliram a Ordem dos
Templários, muitos deles procuraram refúgio na Escócia e lá
formaram sociedades secretas, jurando um ódio implacável ao
Papado, à realeza e às forças armadas, tais como seria o significado
dos três pontos com os quais assinam. Para melhor disfarçar as
suas tentativas secretas juntaram-se a sociedades de maçons
(mason, em inglês, maçon, em francês); Eles pegaram suas
insígnias e se espalharam, mais tarde, por toda a Europa,
favorecidos pelo protestantismo.
“O seu nome é uma primeira mentira, porque, apesar do avental
de couro que usam nas suas cerimónias e apesar da colher, do nível
e do esquadro simbólico, os maçons não são maçons, nem são
francos.
“Eles não são pedreiros, nem mesmo operários. Se há alguns
trabalhadores na sua sociedade, eles foram levados pelos livres-
pensadores burgueses, que vivem às suas custas, e os usam como
trampolins para alcançar honras e empregos esplendidamente
remunerados.

472
“Eles não são francos, isto é, sinceros. Em breve
demonstraremos sob que mentiras humanitárias eles escondem as
suas manobras odiosas contra a religião.
“Eles não são francos, isto é, livres, porque os maçons aceitam
e suportam uma direção oculta; “Eles recebem ordens cuja origem e
consequências desconhecem”.(Pequeno Catéchisme).

2ª ORGANIZAÇÃO DA MAÇONARIA
É uma sociedade secreta, cujos membros, sujeitos a juramentos
terríveis, obedecem a líderes desconhecidos; O segredo envolve as
suas origens, protege os seus chefes, o seu fim e os seus meios. Os
membros estão dispostos a sofrer a pena de morte se violarem os
seus juramentos.
“Bem, este juramento é indigno de um homem livre, de um
homem honesto, de um cristão.
“É indigno de um homem livre obrigar-se a servir senhores que
não conhece e que não têm direito sobre ele.
“É indigno de um homem honesto jurar obediência ilimitada: o
dever e a honra são limites que se deve sempre reservar para si
mesmo.
“É indigno de um cristão pronunciar um juramento que ignore os
direitos soberanos de Deus (Petit Catéchisme).
Por esta razão, os Sumos Pontífices condenaram este juramento
criminoso.
A Maçonaria é constituída hierarquicamente. Satanás quis formar
a sua sinagoga à semelhança da Igreja de Jesus Cristo. A loja é uma
reunião de maçons. Um certo número de lojas reunidas formam um
centro ou federação com o nome de Rito. Em cada parte do mundo
existem várias federações estabelecidas.
Tal é a organização externa da Maçonaria; Seus membros são,
em sua maioria, enganados, pouco iniciados nos segredos da seita,
se não estiverem nos altos escalões. A verdadeira Maçonaria
encontra-se nos fundos das lojas, mais ou menos unidas entre si por
um Conselho supremo e oculto, cujo chefe dá o comando a todas as
lojas do mundo. Um denso véu cobre esta Maçonaria secreta; É
verdadeiramente a sinagoga de Satanás184.

473
184Pode ser visto: P. Benoit.

474
Existem quatro ramos ou federações da ordem maçônica na
França: o Grande Oriente, o Rito Escocês; o Rito Misraim e a
Maçonaria mista.
A federaçãodo Grande Oriente é muito mais difundido que os
outros; Sua sede fica em Paris; Seus integrantes se reúnem em
grupos que levam o nome de Workshops.
As Oficinas dedicadas aos três primeiros graus (Aprendiz,
Acompanhante e Mestre) são chamadas de Lojas; O mestre que os
preside é denominado Venerável.
As Oficinas consagradas aos maçons do 18º grau, ou Rosacruz,
são chamadas de Capítulos; e aqueles que são compostos por
Maçons investidos no 30º grau, ou Cavaleiros Kadosk, são
chamados de Conselhos ou Areópagos.
Existem 33 graus reconhecidos pelo Grande Oriente. A oficina
superior, composta por maçons do 33º grau, é chamada de Grande
Colégio de Ritos.
Junto a esse Grande Colégio encontra-se o Conselho da Ordem,
composto por 33 membros eleitos pela Assembleia Geral do Grande
Oriente e renováveis anualmente por terços. É ele quem administra a
federação, zela pela execução das leis maçônicas, cria as lojas e
estabelece relações com as demais potências maçônicas da França
e do mundo inteiro.
Todos os anos reúne-se a assembleia geral do Grande Oriente,
denominada Convento, composta por todos os delegados das Lojas
da Federação e pelos membros do Conselho da Ordem. O convento
exerce o Poder Legislativo.

3º PROPÓSITO DA MAÇONARIA
A Maçonaria é repreensível no seu fim e nos seus meios.
Aparentemente o seu propósito é a filantropia: “A nossa Sociedade,
dizem os maçons, estabelece entre nós uma solidariedade fraterna
que nos leva a ajudar-nos uns aos outros”.
Os maçons são chamados de irmãos; mas é uma irmandade de
interesse, eles se amam quando lhes convém se amarem. É uma
fraternidade sem coração, que rejeita os pobres devido aos fardos
que impõem, e estende a mão aos burgueses ingénuos que se
deixam explorar. Eles não são verdadeiros irmãos, exceto na sua
oposição a Cristo e à sua Igreja. Se a Maçonaria nada mais fosse do

475
que uma sociedade

476
de ajuda mútua, ela não esconderia as suas reuniões, nem os
nomes dos seus seguidores, nem as suas obras, e os Papas nunca
a teriam condenado com palavras tão drásticas...
Seu aparente fimServe apenas para disfarçar o seu objectivo
final, para povoar as suas lojas e para enganar os ingénuos.
O verdadeiro fimda Maçonaria é substituir a religião de Jesus
Cristo, a Igreja Católica, pelo naturalismo e substituir-se pela Igreja,
colocar-se no lugar dela.
Reduzir toda religião, toda autoridade, toda propriedade e sobre
estas ruínas, estabelecer o pensamento livre, a moralidade
independente, o naturalismo puro na família e na sociedade: isto é o
que a Maçonaria chama de liberdade, igualdade, fraternidade.
Você quer algo mais pernicioso do que um fim semelhante?
Meios empregados.A Maçonaria usa hipocrisia e mentiras,
corrupção e violência.
1º Hipocrisia e mentiras.É hipócrita: tenta aparecer como uma
sociedade de caridade, quando na realidade o seu propósito é o
extermínio do catolicismo. É hipócrita: sob os nomes da liberdade, da
igualdade, da fraternidade, do progresso, da civilização, esconde a
rebelião contra todas as leis divinas e humanas. Pratica a liberdade
submetendo os seus seguidores à mais cega obediência. Pratique a
igualdade atraindo almas fracas com a lisonja de graus, títulos,
insígnias. Pratique a fraternidade professando o mais soberano
desprezo pela classe trabalhadora.
Ele mente quando seus líderes, escondendo seus propósitos
perversos, fazem os adeptos acreditarem que trabalham para
iluminar o homem e libertá-lo. Ele mente quando distorce o dogma
cristão para torná-lo odioso, quando altera a história para esconder
os benefícios e as glórias da Igreja. Com mentiras, a Maçonaria
engana o povo. Os líderes preparam leis contra a Igreja nas
sombras; Ele então dá às Oficinas o comando para apoiar tal
determinação ou propagar tais notícias falsas. Este slogan circula em
todas as lojas e em todos os jornais da seita. Os Maçons patrocinam
estas leis e estas medidas em todo o lado, para moldar a opinião
pública. Depois dizem: Quem pode ir contra o voto popular? A
opinião pública exige isso, etc. E essa opinião é filha de

477
lojas, e as pessoas enganadas encontram-se, sem saber, sob o seu
domínio185.
2º Corrupção e violência.Um maçom divulgou o princípio da
seita: “A melhor adaga, diz ele, para ferir a Igreja no meio do coração
é a corrupção... Faça corpos cruéis e os católicos estarão
acabados”. É por isso que a seita multiplica livros ruins, jornais ruins,
romances, seriados, impressos obscenos, pornografia, para saturar
o povo de libertinagem e vícios.
“Satanás foi um assassino desde o início”, diz o Apóstolo São
João. O mesmo é a Maçonaria. Mais de uma vez ele mandou
assassinar irmãos que violaram o segredo ou se recusaram a
cumprir suas ordens; muitos de seus adversários tiveram o mesmo
destino: Luís XVI, García Moreno, etc.
“A Maçonaria organizou a revolução de 89 e todas as do nosso
século; produziu o socialismo, a internacional, o niilismo, etc.,
derramou torrentes de sangue e perpetrou numerosos atos
condenados pelas leis”186.

4º AS DEVASTAÇÕES DA MAÇONARIA
A) Ela é inimiga da Igreja Católica.O objetivo da Maçonaria é a
destruição do catolicismo e de todas as ideias religiosas, recorrendo
à mais pérfida das perseguições: a perseguição legal. Isto é
demonstrado por muitas leis aprovadas na França e em outros
Estados, que foram preparadas nas lojas e impostas ao país pelos
maçons, que se vangloriam disso.
Tais foram as resoluções tomadas num Convento realizado em
11 de junho de 1879; “É necessário descristianizar a França por
todos os meios possíveis, mas, sobretudo, estrangulando o
catolicismo, pouco a pouco; todos os anos, com novas leis contra o
clero, até que as igrejas sejam fechadas.”
Para enganar os homens de bem, a Maçonaria esconde os seus
propósitos sob as palavras bombásticas da secularização, da
laicização, e dá a liberdade de consciência como pretexto para as
suas leis.

185Pode ser visto: P. Benoit.

186Extrato de Moulin, Doutrina Católica.

478
1º Já vimos (n. 186) que o Estado deve ser cristão, reconhecendo
Jesus Cristo como Rei, a Igreja como Mãe e o Evangelho como
norma das leis. A Maçonaria quer que o Estado seja ateu e
completamente hostil à Igreja. Secularizou os poderes públicos em
muitas nações, proclamando o ateísmo oficial com a supressão da
lei dominical, das orações públicas e até das procissões. Todo ato
público de religião é visto por ela como crime, o que o torna indigno
dos favores do Estado.
2º A escola deve ser cristã e ensinar religião às crianças sob a
supervisão da Igreja. A Maçonaria seculariza as escolas para torná-
las o seminário do livre pensamento: chega de orações, chega de
catecismo, chega de professores religiosos, chega de crucifixos. A
educação privada católica é combatida, se não suprimida, em todos
os lugares onde prevalece.
3º O exército na Espanha, na Inglaterra, na América (Estados
Unidos), assiste aos cultos públicos divinos em formação todos os
domingos. A Maçonaria, na França, proíbe o exército de entrar nas
igrejas e suprime os capelães militares... (1900)
4º A legislação que regula a família deve estar de acordo com o
Evangelho; A Maçonaria descristianiza a família com a lei do
casamento civil e do divórcio.
5º A Igreja deve intervir nas grandes circunstâncias da vida:
nascimento, morte, funerais. A Maçonaria seculariza todos estes
atos: daí nascimentos sem batismos, multiplicação de festas
profanas, mortes sem sacerdote, enterros civis...
6º Até aos nossos dias, o cuidado do exercício da caridade
pública foi deixado à Igreja: ela fundou hospícios, lares de órfãos,
etc. A Maçonaria expulsa padres de comissões administrativas e
religiosas de estabelecimentos de caridade. Os pobres, os doentes,
os administradores, em toda parte pedem freiras; A seita opõe-se
inexoravelmente a estas exigências... Antes de deixar vestígios de
religião nessas casas, prefere que afundem.
7º A Igreja tem o direito de estabelecer ordens religiosas para
atingir mais facilmente o seu fim. A Maçonaria, atropelando os
direitos da Igreja, trava uma guerra total contra as ordens religiosas.
Em 1880, em França, expulsou dez mil religiosos das suas casas,
fechou as suas capelas, forçou-os ao serviço militar, negou-lhes o
direito de ensinar e assediou-os com impostos injustos. Mais tarde
ele tem

479
atingiu a mais iníqua expulsão total. A expulsão dos jesuítas de toda
a América se deve a eles.
8º A Igreja, sociedade independente, tem o direito de governar a
si mesma... Quando a Maçonaria consegue influenciar efetivamente
o governo, abusa da Concordata; torna difícil para o Papa eleger
bispos e para os bispos escolherem padres; suprime a liberdade dos
Conselhos; Rouba o sustento dos padres, persegue-os sem razão
perante os tribunais e tenta acabar com o sacerdócio enviando os
seminaristas para os quartéis.
9º A Igreja tem direito de possuir os bens temporais necessários à
sua subsistência, e os seus bens são sagrados porque pertencem a
Jesus Cristo; É o único que tem o direito de administrá-los; privá-la
deles é roubo e sacrilégio. A Maçonaria, sempre que pode, põe a
mão na administração dos bens da Igreja e trabalha para os
confiscar, sem dar atenção às injustiças ou às infâmias.
A Maçonaria propõe alcançar nas nações católicas a destruição
completa das ordens religiosas, a supressão do orçamento do culto,
o encerramento das Igrejas com leis opressivas para a proibição de
todo o culto, numa palavra; a supressão da Igreja no Estado.
Com isso, concretizar-se-ia o programa do americano A. Pike,
chefe supremo da Maçonaria: “A descristianização do país através
do pensamento livre”.
A infâmia desta guerra é agravada pela circunstância de que ela
acaba por fazer das suas vítimas os pobres e os pequenos, dos
quais a Igreja é a protectora natural. Quem sofre as consequências
da perseguição religiosa nas escolas?
Será talvez o homem rico, que tem meios para que o seu filho seja
educado onde bem entender? Não; Para ele, de cuja pensão o
Estado necessita, mantém os capelães nos Liceus! Ele é o
trabalhador, o camponês, obrigado a enviar o filho para escolas
públicas, mesmo quando a educação religiosa que ele exige não é
ministrada ali.
Quem sofre com a monstruosa determinação chamada
secularização dos hospitais? É o rico? Ele não pode chamar uma
freira ao seu lado ou de seus entes queridos para cuidar deles. Ele é
o pobre, obrigado a entrar naquele hospital do qual foram expulsas
as Irmãs que ele pede em vão.
Quem sofre com as perseguições fiscais movidas contra as
congregações? Os órfãos, os doentes, os idosos, cujos

480
o património está a ficar mais pobre de dia para dia. E estes órfãos,
estes doentes, estes idosos, por quem serão acolhidos no dia da
destruição total das congregações?... São factos que deveriam abrir
os olhos até aos cegos. É necessário um ódio satânico, o ódio dos
judeus contra os cristãos, ou dos burgueses egoístas, para perpetrar
tais crimes: O que supera este ódio é a estupidez dos cristãos que
votam nos maçons e nos seus amigos!187.
B) A Maçonaria é destruidora da família.Combater a família na
sua base essencial: o casamento. Assim que a Maçonaria chega ao
poder, em qualquer país, ela tenta abolir o casamento religioso para
estabelecer o casamento civil. Esta é a sua primeira etapa.
O casamento civil leva ao divórcio.A seita vê o casamento não
como um sacramento, mas como um contrato que depende da
vontade do homem: daí aquela deplorável lei do divórcio, que causa
a ruptura de numerosas famílias: é a sua segunda etapa.
Finalmente, priva os pais de todos os direitos sobre a educação dos
seus filhos, que entrega completamente ao Estado nas suas escolas
sem Deus.
A Maçonaria desmoraliza a família: distancia cada um dos seus
membros dos princípios da religião e da virtude.
“O pai da família.A Maçonaria oferece ao chefe de família mil
oportunidades de sair de casa e viver fora da influência que sua
esposa e filhos teriam sobre ele. Fora de casa proporciona-lhe
diversão e prazeres, a tal ponto que ficar em casa seria insuportável,
e ele abandona-a pela discoteca ou pelos cafés.
“A mãe da família.Para as mulheres, a Maçonaria também
multiplica as oportunidades de exibição, lisonjeia a sua vaidade,
fazendo-as esperar pela revelação de segredos importantes e
prometendo-lhes uma influência que as tornará grandes na
sociedade.
“Acima de tudo, tenta separar as mulheres dos sacramentos e
das práticas religiosas que as protegeriam contra as fraquezas.
"O menino.Mas o que a Maçonaria busca com maior cucarização
na família é a criança.

187Você pode ver: Maçonaria, de Pablo Nourrisson.

481
Quem multiplica os obstáculos colocados à sua educação cristã?
Quem põe em suas mãos livros ímpios e gravuras obscenas, a
preços ridículos ou gratuitamente?
“Quem cerca a criança com mil seduções antes ignoradas?
Quem pisoteia o respeito devido à criança e que os próprios pagãos
impõem?
“Quem chama e conduz os jovens confiados pelas famílias aos
estabelecimentos públicos de ensino para ouvirem lições imundas de
impiedade e da chamada moralidade positivista?
“Maçonaria.” (Pequeno Catéchisme).
C) A Maçonaria é destruidora da sociedade.O que toda
sociedade precisa para viver? Duas coisas essenciais: religião e
autoridade.
Não existe sociedade sem moralidade e não existe moralidade
sem religião. É um fato comprovado pela experiência.
A sociedade sem autoridade seria uma reunião de selvagens, e
algo pior, porque os selvagens reconhecem superiores ou líderes.
Pois bem, a Maçonaria destrói toda a religião e toda a moral:
nega a existência de Deus, a imortalidade da alma, para apenas
admitir uma moral cívica, independente, sem legislador e sem
sanção.
Também destrói toda a autoridade, porque afirma que o poder
reside inteiramente nas pessoas livres, que dão autoridade a quem
querem e a retiram quando querem. É a revolução permanente. Por
outro lado, a declaração dos direitos do homem confessa que a
insurreição é o mais sagrado dos deveres. A Maçonaria é, portanto,
destrutiva da sociedade.
A última evolução dos erros sociais da Maçonaria é o socialismo
e a anarquia. Tal é o abismo para o qual conduz o povo.
É o perigo que o Papa Leão XIII aponta: “A Revolução e a ruína
universal são o mesmo objectivo procurado pelos comunistas e
socialistas. A seita dos maçons não tem o direito de se proclamar
estranha aos seus empreendimentos, porque favorece os seus
desígnios e está de pleno acordo com eles no que diz respeito ao
conjunto dos princípios.”
D) Maçonaria, inimiga da França.Desde Carlos Magno, a
França tem a missão providencial de defender a Igreja

482
e ao Papa, proteja a fé católica e divulgue-a com os seus
missionários em todo o mundo.
Lutar, enfraquecer a França, era lutar e enfraquecer a Igreja; daí
o ódio da Maçonaria com a França188.
A Maçonaria fez a Revolução de 89 e orgulha-se dela através da
pena dos seus seguidores. A França apenas pediu reformas; mas os
maçons tornaram infrutíferos os esforços generosos de Luís.
XVI. As reformas pacíficas não eram convenientes para eles;
Queriam a desordem, a anarquia, a destruição violenta do
catolicismo.
A Maçonaria vinha preparando o seu trabalho há muito tempo:
havia produzido filosofia: Voltaire, Rousseau, Helvetius, Diderot,
d'Alembert, etc., eram maçons.
Os grandes revolucionários Mirabeau, Sieyes, Lafayette,
Desmoulins, Dantón, Robespierre, Marat, Petión, Felipe_Igualdad,
etc., pertenciam à seita. Em 1781, a Maçonaria tinha duzentas e
cinquenta e sete lojas na França, das quais quarenta e uma estavam
em Paris, onde foi aceso o fogo no qual todo o reino iria queimar. A
Maçonaria iria aplicar a apostasia nacional: A declaração dos direitos
do homem é um extrato do jargão das lojas, cujos erros e hipocrisias
ela reproduz.
A maior parte dos excessos e crimes da Revolução, como a
morte de Luís XVI, foram decretados pelas lojas189. É à Maçonaria
que a França deve todas as suas revoluções e infortúnios, desde há
um século. Os revolucionários tão profundamente ímpios em 1830
eram maçons, como os da Comuna de 1871.
Em 1846, num convento maçônico realizado em Londres, Lord
Palmerston, chefe supremo da Maçonaria, fez aprovar o seguinte
projeto: “Enfraquecer a França católica até torná-la completamente
impotente”. O Convento decretou os meios mais adequados para
atingir esse fim.
Durante a Guerra da Crimeia travada em favor da Inglaterra, a
França foi separada da Rússia; Com a guerra na Itália, ficou isolado
da Áustria. A unidade italiana foi criada para destruir os Estados

188Adrián Lemmni, chefe da Maçonaria, disse: “Tenho dois ódios no meu coração: Deus e a França!…” E os maçons franceses
receberam ordens daquele líder!!!...

189Pode ser visto: Cláudio Jannet.

483
Os pontifícios foram apoiados pela França e a Itália tornou-se uma
nação rival. A unidade alemã foi criada para que a minoria católica
fosse esmagada pela maioria protestante. Então a França, cercada
por vizinhos invejosos, separada dos seus aliados naturais, foi
esmagada pela Alemanha. Em poucos meses perdeu duas
províncias, trezentos mil homens e dez mil milhões de francos. O
plano de Lord Palmerston foi parcialmente realizado. O Papa Leão
XIII veio perturbá-lo um pouco, através da aliança franco-russa, em
oposição à tríplice aliança, obra da Maçonaria.
Por dentro, a Maçonaria cobre o solo da França de ruínas: Ruína
religiosa, a mais grave, a mais deplorável de todas; perda de fé e de
vida sobrenatural em milhões de almas francesas. Ruína moral,
consequência da crescente irreligião, da ação corruptora das lojas,
da sua imprensa imunda, das leis maçônicas, das escolas neutras. A
criminalidade desenvolve-se de uma forma sem precedentes; a
infância, educada sem Deus, constitui a maior parte deste
contingente do exército do vício que ameaça a desordem pública.
Ruína moral, consequência da crescente irreligião; de aumento de
ações, impostos avassaladores como não são conhecidos em
nenhum outro país, agonia da agricultura, especulação, extorsão,
fraudes gigantescas.

5º AS ARMAS DA MAÇONARIA
Quais são as armas da Maçonaria contra a Igreja?
Utiliza cinco principais: 1º, a imprensa; 2º, a tribuna; 3º, as
associações; 4º, o poder civil; 5º, escolas neutras.
A imprensa. A Maçonaria divulga profusamente as suas
monografias, os seus livros, particularmente os seus maus diários e
os seus romances e seriados. Se acreditarmos nestes escritos, o
liberalismo representa tudo o que há de mais belo, de mais nobre, de
maior: liberdade, igualdade, fraternidade, progresso, civilização,
ciência, etc. A Igreja, pelo contrário, representa apenas o que há de
menor, mais estreito e mais ignóbil, a tirania, a escravidão, a
intolerância, a barbárie, etc. Com estas mentiras, a má imprensa
perverte a inteligência e corrompe os corações.
Todos os dias ele explora nos jornais as faltas reais ou
imaginárias dos pastores da Igreja, para fazê-las cair sobre a própria
Igreja e torná-la odiosa. Quanto aos seus benefícios, às suas obras
de caridade, aos numerosos exemplos de virtude dados pelos seus

484
sacerdotes e seus fiéis, a imprensa franciscana mantém o mais
profundo silêncio e, se houve, é para negá-los, diminuí-los ou
ridicularizá-los.
Sob o pretexto da ciência, ataca incansavelmente as doutrinas da
Igreja, quer negando-as, quer tentando ridicularizá-las com ironia e
sarcasmo. No espírito dos fracos e dos ignorantes, todo o edifício da
fé católica está a ser destruído, pedaço por pedaço.
A Maçonaria lisonjeia os maus instintos com produções imorais e
os incita à fúria contra a Igreja que os condena. É moralmente
impossível para um leitor regular de tal imprensa não ser preenchido,
a longo prazo, com todos os tipos de erros e prevenções190.
O que dizemos sobre a imprensa aplica-se ao teatro, cuja
influência para o mal é ainda mais temível.
A tribuna.A Maçonaria envia conferencistas para espalhar erros.
Nas assembleias públicas, nas reuniões populares nas escolas, em
todos os lugares, a Maçonaria semeia as mesmas ideias. Se variam
na forma, é apenas para atingir mais facilmente o objectivo proposto,
passando sucessivamente, nos seus ataques, da violência à
hipocrisia.
As associações.Os maçons, para aumentar sua força e
influência, usam associações. Disfarçam o real propósito de suas
associações com um suposto objetivo moral e filantrópico. Assim,
por exemplo, as ligas educativas em todo o mundo favorecem a
criação de bibliotecas populares, de obras pós-escolares, de cursos
para adultos, de sociedades de professores, etc. A tática da seita é
interferir em todas as sociedades literárias, artísticas, industriais,
comerciais... para perverter o seu espírito e transformá-las em
instrumentos da sua política191.
O poder civil.A Maçonaria é uma organização eleitoral
formidável. Em todas as nações, as suas lojas servem como comités
para impor a sua vontade aos candidatos. Ele aspira a tomar o poder
civil para garantir a execução do seu programa: assim, ele votou as
seguintes leis em França:
1ª Lei que suprime o descanso dominical legal. 2º
Restaurar o divórcio.
3º Decreto-Lei de 1880 que dispersa as Ordens religiosas.

190Pode ser visto: Rutten.

191P. Benoit.

485
4ª Lei que suprime o ensino religioso nas escolas. 5ª Lei
que expulsa religiosos das escolas públicas. 6ª Lei
mandando os seminaristas para o quartel.
7ª Lei que sujeita as fábricas ou juntas de construção da Igreja à
intervenção do Estado.
8ª Leis chamadas de acréscimo e ajuste, organizando o saque
das comunidades religiosas.
9° A Maçonaria preparou um projeto de lei sobre associações
para reprimir as congregações religiosas e as obras que elas
apoiam.
10º Mais um projeto de lei contra a liberdade do ensino
secundário.
11º Finalmente, completou o exílio e o saque total das Ordens
religiosas, e a separação da Igreja do Estado.
As escolas.Em 1871, Albert Dike, chefe supremo da Maçonaria,
escreveu a todas as lojas: “O trabalho principal é aquele que visa
transformar os católicos romanos em livres-pensadores deístas:
devemos nos dedicar a isso com todas as nossas forças…”.
E que meios indica para atingir esse fim?
“Antes de mais nada é preciso conquistar a sede do governo
dessas cidades: está tudo nisso. Depois, promulgar leis que
destruam a influência dos padres em todos os lugares... Fazer
desaparecer todos os frades e freiras... em particular, a neutralidade
da escola deve ser obtida dos poderes públicos, para que o padre A
partir de agora, não penetre mais... a neutralidade não é
suficiente...". Não temos coragem de transcrever a continuação
desta circular satânica.
Assim, por confissão dos próprios maçons, o propósito da escola
neutra é aniquilar a fé religiosa: “A suposta neutralidade é uma
imbecilidade, diz o Irmão Enrique Maret, não há neutralidade
possível. A partir do momento em que um professor não ensina
religião, ele ensina, portanto, a descrença. Fingir que se quer apenas
neutralidade é hipocrisia elevada ao 17º grau” (Radical, 1884).
Esse maçom tem, em relação à escola neutra, as mesmas ideias
do Papa e dos bispos. É por isso que os maçons em todos os
lugares tentam com ódio infernal estabelecer estas escolas.

486
6° DEVERES DOS CATÓLICOS
CONTRA A MAÇONARIA
188. P. _Quais são os deveres dos católicos em relação à
Maçonaria?
R. _Filhos da Igreja, os católicos devem proteger a sua honra e
os seus direitos; cidadãos, eles têm de zelar pelos interesses do seu
país.
Assim, o maior inimigo da Igreja e do país é a Maçonaria.
Portanto, todo católico tem o dever de combatê-lo, tanto como
homem privado como como homem público.
1º Na vida privada.Os católicos devem dar a conhecer as
doutrinas e os homens da seita entre os seus parentes. “Rasgue, diz
o Papa Leão XIII, a máscara com que se cobre e mostre-a tal como
é.” O que ele mais teme é a luz. Às vezes basta publicar o nome de
um maçom para fazê-lo sair da loja.
2º Na vida pública.As armas que utiliza contra a Igreja devem
ser utilizadas contra a Maçonaria:
a) A imprensa.Nunca compre jornais ruins e, acima de tudo, não
os assine. Mantenha uma boa imprensa com influência, recursos,
etc.
b) A tribuna.Nas conferências públicas e nas conversas
privadas, apoiai a ação da boa imprensa, contribuindo assim para
esclarecer o povo sobre os seus verdadeiros interesses e afastá-lo
dos falsos médicos que o pervertem.
c) As associações.Os católicos devem opor sociedade a
sociedade, liga a liga, círculo a círculo. A União faz a força. O poder
das vossas associações dependerá da energia e da actividade dos
membros.
d) O poder civil.Os maçons, embora às vezes apenas um
punhado, monopolizam o poder em muitas nações. Por que não
conseguem os católicos, cem vezes mais numerosos, arrancar esta
arma do cogumelo e utilizá-la para o bem da Igreja e do país? É
preciso formar comissões para as eleições, eleger candidatos
seriamente cristãos, unir-se, enfim, para derrotar o inimigo de Deus e
da sociedade.
e) As escolas.Nunca mande seus filhos para escolas sem Deus;
apoiar com todos os esforços, e mesmo com sacrifícios heróicos, o

487
Escolas cristãs. As almas das crianças devem ser salvas, custe o
que custar. Hoje este é o primeiro dos deveres e a melhor das boas
obras192.

V. B.BENEFÍCIOS QUEEiGLESIA DISPENSA PARA


O MUNDO OUeuPARAEiGLESIA E CIVILIZAÇÃO
“Obra imortal do Deus da Misericórdia, a Igreja, embora por sua
própria natureza tenha como meta a salvação das almas e a
felicidade eterna, ainda é, no âmbito das coisas humanas, fonte de
tantas vantagens que não será poder proporcionar outras mais
numerosas ou maiores, ainda que tenha sido fundada diretamente
com o propósito de garantir a felicidade desta vida. E na verdade,
onde quer que a Igreja tenha penetrado, mudou imediatamente a
face das coisas e encheu os costumes públicos, não apenas com
virtudes até então desconhecidas; mas também de uma civilização
inteiramente nova” (Immortale Dei).
189. P. _Quais são os benefícios da Igreja?
R. A Igreja, como o seu divino Fundador, percorre a terra fazendo
o bem, tanto na ordem sobrenatural como na ordem natural.
I. Na ordem sobrenatural, a Igreja ensina as verdades
reveladas, explica os mandamentos de Deus, administra os
Sacramentos e assim conduz os homens à salvação eterna. Fornece
ao homem os bens mais necessários, a verdade e a graça.
II. Na ordem natural, os benefícios da Igreja são tão grandes
quanto numerosos:
1º A Igreja é a grande promotora da civilização e do progresso.
Ela trouxe progresso material com a reabilitação do trabalho manual,
fonte de toda riqueza; o progresso intelectual com a educação do
povo, a fundação de escolas e universidades e o incentivo aos
sábios; progresso moral com a transformação dos costumes
individuais e sociais.

192Por fim, tenhamos em mente que o Leone Club e o Rotary Club são dois braços da Maçonaria para atrair seguidores através de
obras puramente filantrópicas “obras do bem”, sem Deus e sem Igreja. Uma vez capturados, eles começam a subir e entrar no segredo e
de onde não podem mais sair. Nem quem trabalha nessas organizações sabe disso, mas apenas os patrões e quem está recrutando
(Juan María de la Cruz).

488
2º A Igreja é a primeira a proclamar a liberdade e a fraternidade.
Os escravos devem a sua liberdade à Igreja; os fracos, o respeito
pelos seus direitos; aos pobres, a caridade que lhes é demonstrada;
os doentes, os órfãos, os idosos, aqueles numerosos hospitais onde
encontram asilo e servos altruístas. A Igreja é na verdade a grande
benfeitora da raça humana.
3º Em todos os lugares e sempre, a Igreja proporciona ao
homem, à família e à sociedade que segue os seus princípios, toda a
felicidade compatível com a vida presente.
Portanto, para tornar o homem feliz por toda a eternidade, a
Igreja nada mais pede do que permissão para fazê-lo feliz na terra.
“Coisa admirável! A religião cristã, que parece não ter outro objetivo
senão a nossa felicidade na vida após a morte, também garante a
nossa felicidade na terra.” Estas palavras de Montesquieu são um
comentário à profunda frase de São Paulo: “A piedade é útil para
tudo: tem as promessas da vida presente e as da vida futura”193.

1° Benefícios da Igreja na ordem sobrenatural


Jesus Cristo veio à terra para que os homens tenham vida e vida
abundante194. Ele fundou a Igreja para continuar a sua obra, para
fazer com que os homens participem dos frutos da Redenção e os
conduzam à vida eterna.
A Igreja não falhou na sua missão divina. Há dezenove séculos
multiplica seus esforços e seus sacrifícios para instruir, santificar e
salvar almas.
Ensina ao povo as verdades mais elevadas sobre Deus e o
homem, as regras da mais pura moralidade. Faz com que o orgulho
seja humilde, o avarento seja generoso com os pobres, o usurário e
o ladrão devolvam o que foi mal adquirido, cte.

193Todos estes vários pontos exigem uma longa explicação, que não podemos dar sem ultrapassar os limites do nosso modesto
volume. Pode-se ver: Devivier: Curso de Apologética Cristã; Rutten, Curso Elementar de Apologética; Lachaud: Onde está a felicidade do
povo, esta obra, que traz muitos fatos históricos, pode ser muito útil para conferências.

194Pode-se ver: Balmes, o protestantismo comparado ao catolicismo.

489
Os filhos fiéis da Igreja seguem o caminho do paraíso e alcançam
infalivelmente a felicidade eterna195.

2º Benefícios da Igreja na ordem natural

A IGREJA DEU A VERDADEIRA


CIVILIZAÇÃO AO MUNDO
Todo ser vivo é chamado a desenvolver-se, a aperfeiçoar-se para
alcançar o seu objetivo. É por isso que os homens e as sociedades
têm uma propensão essencial e contínua para aumentar o seu bem-
estar, a sua iluminação, a sua perfeição. Quando alcançam um
progresso adequado, são chamados de povos civilizados.
O que é civilização? Na vida atual, é o bem-estar e a perfeição,
mais ou menos grande, do homem, da família e da sociedade. Esta
civilização é mais ou menos avançada, dependendo se os indivíduos
e os povos dispõem de meios mais numerosos e variados para
atingir o seu objectivo final.
A civilização é alcançada através do progresso.
O progresso é uma marcha para frente, uma ascensão do menos
perfeito ao mais perfeito, um aperfeiçoamento do ser. O verdadeiro
progresso é a perfeição do homem inteiro, no seu corpo e na sua
alma. Portanto, a civilização inclui o progresso material, intelectual e
moral.
O progresso material é o bem-estar razoável do corpo, a melhoria
das condições de vida.
O progresso intelectual consiste na difusão da verdade, das
ciências e das artes.
O progresso moral é a realização contínua da perfeição da alma,
através do distanciamento dos vícios e da prática das virtudes.
Assim como o corpo deve estar subordinado à alma, também na
verdadeira civilização o progresso material deve estar subordinado
ao progresso intelectual e, particularmente, ao progresso moral, que
é o mais necessário.
Se esta subordinação existir, ela produz a verdadeira felicidade
do povo. Se o progresso material dominar, isso resultará em

195Idem.

490
luxo, sensualismo, espírito de desordem e revolução. A civilização
deve ser, acima de tudo, a cultura da alma.
“A história da civilização é a história do cristianismo: escrevendo
um escreve o outro” (Donoso Cortés). A Igreja foi, em todos os
tempos, a grande promotora de todo o progresso.
1° A Igreja e o progresso material.O trabalho é a fonte de toda
riqueza. Fornece os materiais e sugere descobertas úteis. Portanto,
incentivar o trabalho é promover enormemente o progresso material.
Pois bem, entre os pagãos, o trabalho manual era objeto de
desprezo. Segundo Aristóteles e Platão, o trabalho degradava o
homem livre. Os gregos e romanos negaram aos trabalhadores o
título de cidadãos.
Por outro lado, a Igreja exalta a honra e a dignidade do trabalho,
reabilitando o trabalhador, e realiza a revolução social mais profunda
que a história alguma vez recordou.
Em primeiro lugar, a Igreja proclama a grande lei imposta por
Deus à posteridade de Adão: “Ganharás o teu pão com o suor do teu
rosto”. Ninguém, seja rico ou pobre, pode escapar desta lei. “Quem
não trabalha, diz São Paulo, não merece comer.”
Depois mostra-nos o Filho de Deus na oficina de Nazaré; onde
dedica a maior parte da sua vida à humilde profissão de carpinteiro.
Alegrem-se os trabalhadores: a Palavra de Deus viveu como eles
com o trabalho das suas mãos! Jesus Cristo escolheu os primeiros
pastores da sua Igreja entre os artesãos e os pescadores. São Pedro
lembra aos Tessalonicenses que trabalha dia e noite: “Não comi, diz
ele, o pão de outro, mas o que ganhei com o meu suor e o meu
trabalho”.
Todos os Padres da Igreja primitiva afirmam resolutamente, na
presença da sociedade pagã que desprezava o trabalhador, a
necessidade e a dignidade do trabalho.
A instituição monástica completa a reabilitação do trabalho
manual. Os monges do Oriente dedicam-se à oração e ao estudo,
mas tecem a lã, fazem os seus hábitos e cultivam a terra que os
alimentará196. Nestes mosteiros, que reuniam até seis mil homens
sob a direção de um mesmo abade, todos os cargos eram
homenageados. Os monges de La Tebaida eram agricultores,
tecelões de

196Santo Agostinho: De Moribus.

491
assuntos, carpinteiros, alfaiates, fullers; sapateiros. Eles estavam
continuamente engajados em três coisas: trabalho manual,
meditação nos salmos e oração. Em tempos de escassez de
alimentos, viam-se navios a sair dos portos do Egipto: transportavam
para as regiões desoladas pela fome, as esmolas destes heróicos
trabalhadores, que tanto produziam e consumiam tão pouco197.
O mesmo pensamento inspira os legisladores monásticos do
Ocidente. Os filhos de São Bento vão da oração ao estudo, do
estudo ao trabalho manual. Eles cultivam e cultivam os desertos,
limpam as florestas, represam os rios, cobrem as terras pantanosas
e os vales não cultivados com gramíneas e cereais.
Esta grande Ordem produziu o desenvolvimento da agricultura,
do comércio e da indústria. “Três oitavos das cidades e empresas da
França devem a sua existência aos monges” (Montalembert).
Os historiadores, mesmo os mais hostis à Igreja, são forçados a
reconhecer que os monges limparam as florestas da Europa, criaram
o património nacional e elevaram na estima do povo o trabalho,
desprezado pelos últimos representantes do poder romano.
negligenciado pelos bárbaros, que foram seus herdeiros do domínio
do mundo.
Na Idade Média, a Igreja prestou um grande serviço aos
trabalhadores, estabelecendo corporações ou sindicatos operários.
Esta organização do trabalho, berço das liberdades locais, refúgio
dos fracos contra os fortes, estabeleceu a fraternidade cristã entre os
trabalhadores, que é um dos elementos do bem-estar social.
No século XVIII, a Revolução destruiu todas as obras da Igreja.
Mas a ternura de uma mãe nunca falha. O Papa Leão XIII, na sua
Encíclica: Sobre a Condição dos Trabalhadores, aponta, com
admirável sabedoria, os remédios para os sofrimentos dos
trabalhadores. Ele delineia um programa de economia cristã que
contrasta com as doutrinas anarquistas do socialismo. Mais uma vez
a sociedade deverá a sua felicidade ao pedido da Igreja.
Vamos concluir:“A primeira causa da prosperidade é o trabalho,
de onde provêm as riquezas públicas e privadas, as transformações
vantajosas das matérias-primas e

197Pode ser visto: Pablo Allard, Os Escravos Cristãos.

486
descobertas engenhosas. Agora, quem já incentivou tanto o trabalho
quanto a Igreja Católica?
“O trabalho sempre foi desprezado e ainda é onde o cristianismo
não estende o seu império benéfico... Portanto, se o trabalho é fonte
de riqueza, se a riqueza pública é sinal de civilização e de perfeição
humana no que olha para o exterior e bem-estar físico, não há
dúvida de que a Igreja tem direitos indiscutíveis à gratidão das
sociedades”. Ela contribuiu para o progresso material das pessoas
mais do que todos os utópicos e sonhadores198.
2° A Igreja e o progresso intelectual.A Igreja tem favorecido
grandemente a difusão da verdade, através da instrução popular,
das belas letras, das ciências e das artes.
Os maçons e os livres-pensadores afirmam que a Igreja se opõe
ao ensino, à ciência e ao progresso; que quer que o povo mergulhe
na ignorância e nas trevas. É uma calúnia infame, contra a qual
protesta toda a história. Em todos os lugares onde a Igreja
conseguiu estabelecer-se, desde a sua origem até aos nossos dias,
difundiu o ensinamento, segundo os tempos e as circunstâncias.
Vejamos o que ele fez pela educação religiosa e profana do povo.
A) Instrução popular.Antes de Jesus Cristo, a instrução
religiosa era reservada a uma classe privilegiada de indivíduos e
negada ao povo. O paganismo não pregava às massas nos templos.
A Igreja, obedecendo ao mandato formal do seu Divino Fundador:
“Vá e ensine…”, difundiu a verdade por toda parte, sem distinção de
casta.
Este ensino da religião contribuiu singularmente para o
desenvolvimento da inteligência popular. Foi dito com razão que o
Catecismo é a filosofia do povo. Esta filosofia luminosa oferece a
solução para todos os problemas da vida e ilumina magnificamente a
razão humana.
Instrução primária.A Igreja não se contentou em ensinar ao
povo a ciência da religião; Ele fez maravilhas para também lhe dar
instruções profanas. A partir do momento em que ficou livre da
perseguição, estabeleceu-se em cada mosteiro e em

198Extrato de uma pastoral de Dom Pecci, mais tarde Leão XIII.

487
cada freguesia, escolas onde as crianças recebiam instrução
gratuita199.
“Muitos estudiosos ilustres verificaram documentos históricos
para conhecer o estado da educação popular antes da Revolução.
Aqui estão suas conclusões:
1º Em quase todas as freguesias de França existiam escolas onde
as crianças eram ensinadas gratuitamente.
2º Estas escolas devem a sua existência aos decretos dos bispos
e dos Concílios.
3º Do século V ao XII: apenas o clero era responsável pelo ensino.
4° A França Antiga não tinha menos de sessenta mil escolas
primárias.
5º A maior parte destas escolas foram destruídas pela Revolução.
A prova desses fatos pode ser vista no trabalho acadêmico de
M. Allain, Educação primária na França (Revue des questions
historiques, 1875).
Foi a Igreja quem fundou na França, para difundir por toda parte a
educação popular, o Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs,
quando o líder dos livres pensadores, Voltaire, declarou que era uma
tolice instruir o povo200.
Leiam hoje os Anais da Propagação da Fé e verão que, ao lado
dos missionários que vão levar a verdade aos pagãos, há religiosos
e religiosas que fundaram escolas e difundiram a

199A educação gratuita de outros tempos era o resultado de doações espontâneas: não era a ridícula educação gratuita dos
nossos dias, baseada em impostos avassaladores, onde os pobres são vistos pagando pelos ricos. “O valor do orçamento da educa ção
pública em França ultrapassa os duzentos milhões. Esses milhões de impostos são uma das principa is causas da miséria do povo, porque
quem paga os impostos? É sempre o pobre. O comerciante compensa-se aumentando o preço dos seus bens, o proprietário aumentando
a renda, mas o trabalhador e o camponês não podem fazer com que outros paguem pelo aumento dos impostos” (Abbe Garnier).

200Vale a pena recordar, a propósito da obra da Igreja, o pensamento íntimo do maçom Voltaire. Eis alguns trechos de suas car tas:
“O agricultor e o trabalhador não merecem ser instruídos: basta-lhes manejar a enxada, a lima e a escova”. “É fundamental que existam
pessoas ignorantes. “Não é necessário instruir o trabalhador, mas sim o bom burguês... O povo será sempre estúpido e bárbaro” . “Os
camponeses são bois que precisam de canga, aguilhão e feno... Nunca houve tentativa de esclarecer os camponeses, os lacaios ou os
criados; Isto é típico dos Apóstolos”. Tal é o amor que Voltaire tinha pelo povo.

488
instrução popular. Assim, em todos os lugares, em todos os
momentos e em todas as direções, a Igreja difunde a instrução. O
que ela teme é a ignorância e a falsa ciência.
B) Instrução secundária.A Igreja e a literatura. A Igreja
estimulou poderosamente a literatura, sempre e em toda parte. Se o
paganismo tem os séculos de Péricles e de Augusto, a Igreja
produziu os de Leão X e de Luís XV, muito superiores, aliás, aos
dois primeiros.
Desde o século IV, a Igreja fundou, para instruir o seu clero, um
colégio junto a cada residência episcopal e a cada mosteiro. Estas
escolas, fundadas por bispos e monges, estavam abertas a todas as
crianças, tanto aos jovens clérigos como aos jovens leigos: inúmeros
factos testemunham-no201.
O número de escolas só aumentou ao longo dos séculos. Muitos
desses vastos edifícios erguidos pela Igreja ainda existem.
A Igreja salvou os tesouros literários da Grécia e de Roma das
invasões bárbaras. Foram os monges que copiaram e preservaram
as obras da literatura antiga.
“Se não fosse pelos Papas”, diz J. Müller, historiador protestante,
“saberíamos tão pouco sobre o conhecimento dos antigos como eles
sabem sobre as artes e ciências dos gregos, dos turcos que ocupam
o seu território”.
Antes de 1789, havia 562 escolas com 72 mil alunos na França,
para uma população de vinte e cinco milhões de habitantes. Destes,
40 mil receberam educação gratuita; A caridade cristã fundou bolsas
de estudo para esse fim.
Em 1908, para trinta e oito milhões de habitantes, os documentos
apresentavam apenas 81 escolas secundárias e 325 escolas, com
70.000 alunos; apenas 5.000 tinham bolsas de estudo às custas dos
contribuintes202.
C) Ensino superior. A Igreja e as ciências.A Igreja sempre
favoreceu, com todas as suas forças; o ensino de

201Pode ser visto: Montalembert, Os Monges do Ocidente.

202Ver Duruy, Instrução Pública e a Revolução.

489
as ciências, porque estas conduzem naturalmente a Deus; que se
autodenomina o Deus das ciências203.
Durante os primeiros séculos, os apologistas usaram as ciências
humanas para expor e defender dogmas. Orígenes, São Justino,
Tertuliano, etc.; Mais tarde, São João Crisóstomo, São Basílio, São
Gregório de Nazianzo, São Jerônimo, Santo Ambrósio, Santo
Agostinho, etc., compuseram obras-primas de filosofia e eloqüência.
Na Idade Média, uma prodigiosa atividade intelectual
desenvolveu-se nos mosteiros de Fulda, Sannt_Gall, Cluny, etc.; nas
escolas de Paris, Orleans, Cambrai, Chartres, Toul. A Igreja
estabeleceu então três graus acadêmicos: bacharelado, bacharelado
e doutorado.
A partir do século XII, os Papas fundaram as universidades, onde
se ensinam todas as ciências conhecidas, e que exibem com
legítimo orgulho os seus ilustres professores: Santo Anselmo, São
Boaventura, Alexandre de Hales, Alberto Magno, Duns Escoto, São
Tomás de Aquino , o maior gênio que já apareceu na terra.
No século XIV, a Europa tinha sessenta e quatro grandes
universidades, das quais vinte e quatro estavam em França. A
universidade de Paris tinha vinte mil estudantes; o de Pádua,
quarenta mil; o de Oxford, trinta mil; o de Praga, trinta e seis mil, etc.
Sob a égide e o incentivo dos Papas, estes estudantes cultivaram
não só a teologia e a filosofia, mas também a história, a linguística, a
arqueologia e a numismática. As ciências naturais progrediram
notavelmente no final da Idade Média, muito antes de Bacon ter
exposto o método para o seu ensino.

203O que é ciência? É o conhecimento racional dos seres. Existem apenas dois tipos de seres, o Ser infinito e os seres finitos que
têm sua origem no primeiro. Tudo converge, então, para o Ser Criador, a quem todos os povos aclamam, a quem os mundos revelam, a
quem as forças e as leis do universo manifestam, a quem as estrelas e o sol glorificam, a quem a razão admira até na criação do inseto e
do flores, cuja ideia imortal carregamos dentro de nós. Deus é o começo e o fim de toda ciência. Não deveríamos sur preender-nos,
portanto, se a Igreja for responsável por fazer com que o mundo conheça Deus e as suas perfeições, Deus e as suas obras, e se ela
sempre cultivou a ciência.

490
À Igreja deve-se, então, no passado, a honra exclusiva de ter
contribuído para o progresso intelectual da humanidade. Durante
mais de quinze séculos foi o único que cultivou as letras e as
ciências.
A maioria das descobertas úteis se deve aos membros da Igreja.
A descoberta da pólvora se deve a Frei Roger Bacon; o diácono
Flávio de Amalfi inventou a bússola; o monge Despina, os óculos;
Papa Silvestre II, os relógios de roda; Gutenberg, a imprensa; Cânon
Copérnico, a rotação da Terra; Cristóvão Colombo descobriu a
América, etc.204.
O mesmo pode ser dito das Belas Artes. Estes nunca foram mais
seguros do que igrejas e mosteiros. No meio das lutas incessantes
dos séculos XII e XIII, existiram arquitectos capazes de construir as
nossas majestosas catedrais, e pintores e escultores que o nosso
século ainda não igualou. Graças à influência dos Papas, a Itália
torna-se a pátria das belas artes, o museu universal da pintura e da
escultura, o país dos magníficos monumentos da arte cristã.
O que a Revolução Francesa fez pela educação e pela ciência?
Em 1792 aboliu todas as escolas primárias, 562 colégios e 23
universidades, preservando apenas a de Estrasburgo, por ser
protestante.
Os bens e rendimentos destes estabelecimentos foram
confiscados e o pessoal foi despedido ou reduzido à apostasia. Em
1801, Chaptal, Ministro do Interior, disse: “A educação pública é
quase nula em todo o lado; a geração que está na casa dos vinte
anos é irremediavelmente sacrificada à ignorância; As escolas
primárias não existem em quase lado nenhum”205.
Depois de tudo isto, terão os nossos livres-pensadores o direito
de insultar a Igreja e acusá-la de ter favorecido a ignorância? Se hoje
parecem promover a educação, pode-se dizer que o fazem mais por
rivalidade com a Igreja do que por amor ao povo. Se o interesse pelo
povo é o seu motivo, por que procuram a destruição das escolas
católicas? Se você deseja instrução, deixe a todos os homens a
liberdade de divulgá-la.
3° A Igreja e o progresso moral.Já falamos antes (n. 124) da
transformação moral operada pela Igreja no mundo

204Ver: P. Nemours, Le Progrés par l'Eglise.

205Ver: Revue des questions historiques, abril de 1880.

491
pagão O indivíduo, a família e a sociedade transformaram-se de
forma tão radical em ideias e costumes que o paganismo, nem
mesmo nos seus homens mais ilustres, alguma vez ofereceu o
espetáculo de virtudes semelhantes. Para quem tenta compreender
os fatos da história, a influência da Igreja revela a ação de uma
causa superior e divina.
a) A Igreja regenerou o indivíduo.A Igreja combateu
incansavelmente todos os vícios que degradam o homem e o tornam
miserável: o orgulho, a ganância, o sensualismo.
Ele veio praticar todas as virtudes que elevam a alma,
enobrecem-na, aproximam-na de Jesus Cristo, o grande modelo de
toda a santidade. É por isso que se viram florescer na Igreja virtudes
cristãs desconhecidas pelos pagãos e bárbaros: humildade,
desapego dos bens terrenos, castidade, caridade fraterna206.
b) A Igreja regenerou a família.O mundo pagão não conhecia a
compaixão pelos fracos. A mulher era considerada um ser inferior,
um vil instrumento de prazer. Jovem, ela foi vendida pelo pai;
esposa, era propriedade pessoal de quem o adquiriu; mãe, foi
degradada pela poligamia e pelo divórcio.
A criança ficou a critério do autor de seus dias. Em Roma, quando
uma criança nascia, ela era colocada aos pés do pai. Se ele o
pegasse nos braços, ele poderia viver; Caso contrário, a criança era
jogada no esgoto. O infanticídio foi universalmente aceito e praticado
nas nações pagãs.
O que a Igreja faz? Proclama a santidade do casamento e as
suas duas leis fundamentais: a unidade e a indissolubilidade. Estes
três factos, a elevação do casamento à dignidade de Sacramento, a
abolição da poligamia e do divórcio, a condenação do poder
arbitrário do marido, restauram às mulheres a sua dignidade moral.
Ela é mais uma vez companheira do homem, carne da sua carne,
osso dos seus ossos; Ele mais uma vez ocupa seu lugar de honra no
lar doméstico, onde reina pela virtude e pelo amor, como um marido
por uma doce autoridade.
Que diferença entre a situação humilhante da mulher pagã e o
papel tão puro, tão nobre, tão delicado que os nossos costumes
atribuem à mãe de família! Bem, aí está o fruto do Cristianismo.

206Ver: P. Felix, Progresso através do Cristianismo.

492
Quantas lutas a Igreja teve de travar contra as paixões dos
imperadores e dos reis para manter a unidade e a indissolubilidade
do matrimónio! Ele preferiu perder nações inteiras como a Inglaterra,
em vez de falhar no seu dever.
A criança, convertida pelo batismo em filho de Deus, é objeto dos
mais ternos cuidados: para ela os presépios, os asilos, os orfanatos,
os colégios, as escolas; para ele as atenções mais solícitas da mais
delicada caridade.
As ignomínias do paganismo: poligamia, divórcio, escravidão;
Ainda pesam sobre as mulheres em nações cujos costumes a Igreja
não transformou: entre muçulmanos, árabes, chineses, etc., as
mulheres vivem como nos tempos do paganismo.
A dignidade da esposa diminui sempre que diminui a influência da
Igreja. As paixões clamam pela liberdade do divórcio. A partir do
momento em que o casamento se torna dissolvível, perde o seu
carácter mais venerável.
Diga o mesmo sobre a criança. Ainda hoje, o infanticídio está a
aumentar em países fora da Igreja. Mais ainda: as estatísticas
apontam para um aumento prodigioso dos infanticídios em todas as
cidades onde, sob a influência da impiedade, a moral católica está a
desaparecer.
c) A Igreja regenerou a sociedade.A Igreja transformou a
sociedade civil. Antes de Jesus Cristo, o Estado absorvia tudo:
reinava como déspota e não tinha que prestar contas dos seus atos.
O chefe de estado era tudo, os súditos não eram nada.
A Igreja definiu claramente os direitos e deveres dos governantes
e súditos. Ela proclama que todo o poder vem de Deus e que, ao
sentarem-se num trono, os príncipes não são menos obrigados a
obedecer às leis de Deus e a governar o seu povo com leis justas e
sábias. Com isto a Igreja pôs fim à tirania do Estado. Que distância
entre Nero e São Luís, Rei da França!...
Segundo o princípio de Jesus Cristo: “Dai a César o que é de
César”; o sujeito submete-se voluntariamente à autoridade legítima;
mas esta obediência não o rebaixa, porque ele se presta ao
representante de Deus. Por outro lado, preserva sempre uma
independência nobre. Quando o poder humano, nas suas ordens ou
nas suas leis, contradiz a lei divina, o sujeito repete com altivez a

493
palavras dos apóstolos: Impossível; não podemos: “devemos
obedecer a Deus diante dos homens”.
d) A Igreja transformou as relações entre as pessoas.A lei
das nações antes de Jesus Cristo tinha apenas uma lei: Voe victis! Ai
dos perdedores! A guerra deu saques e escravos. A piedade era
desconhecida dos vencedores.
A Igreja ensina ao povo que todos os homens são irmãos, filhos
de Deus, resgatados por Jesus Cristo. Com os costumes cristãos, o
direito das gentes foi transformado; a piedade penetrou nos
corações; os inimigos feridos já não são liquidados nos campos de
batalha: já não são feitos escravos; os beligerantes não são tratados
como bárbaros.
A guerra tem sempre os seus rigores; mas a fraternidade cristã
impõe deveres que as pessoas não podem ignorar. A Igreja
substituiu o direito à força pelo direito à justiça.
Quantas guerras evitadas pela intervenção dos Papas!
Conclusão.O progresso moral consiste no aperfeiçoamento dos
costumes, no enobrecimento das almas, na cultura dos costumes, na
doçura das relações privadas e sociais. E é à Igreja a quem se
devem estes frutos da verdadeira civilização.
Graças à influência da Igreja, não teremos mais aquela
repugnante praga da escravidão, que condenou dois terços dos
homens a uma vida dolorosa de trabalho indescritível e ultrajes.
Nunca mais teremos os jogos sangrentos dos gladiadores, onde
milhares de infelizes foram massacrados, e outros foram jogados,
como alimento, às feras ferozes para que o espetáculo servisse de
distração aos ociosos e saciasse sua sede de sangue ._
Deixamos de contemplar o desprezo e o ódio pelos pobres, que a
religião elevou ao primeiro lugar na família cristã. Os divórcios fáceis,
as tiranias conjugais, a degradação jurídica dos cônjuges, o
assassinato de crianças deixaram de existir: desordens vergonhosas
que a impiedade moderna se esforça por renovar cada vez mais com
o aborto e a venda de crianças.
Esses monstruosos Césares, cujos caprichos eram leis, não
existem mais nas nações católicas.
O atroz direito à guerra, que destruiu, com massacres, nações
inteiras ou as reduziu à escravatura, desapareceu.
E se algum dia os nossos crimes nos aproximarem da barbárie,
saberemos dar-lhes o seu nome próprio; não vamos a

494
buscar nos vícios do Olimpo a justificativa para nossas desordens.
Devemos temer, é verdade, a apostasia dos governos; Mas ao
lado destas autoridades perversas está o mundo cristão, composto
de almas puras, de caráter nobre e de corações cheios de caridade
ardente.
Quais são os meios utilizados pela Igreja para regenerar o
mundo?
São três:
1° A Igreja ensina a moralidade prática, contido nos Livros
Sagrados e resumido no Catecismo.
2º Mostrar aos homens o exemplar divino de todas as
virtudes,Nosso Senhor Jesus Cristo e os seus fiéis imitadores, os
Santos de todos os países e de todos os séculos.
3° Com os Sacramentos confere graça interior,que dá força
para superar as paixões e praticar a virtude.
Estas fontes estão sempre dentro da Igreja para produzir os
mesmos frutos de progresso moral e de verdadeira civilização.

A IGREJA DEU LIBERDADE, IGUALDADE E


FRATERNIDADE AO MUNDO207
Desde o início, a Igreja fez penetrar na sociedade ideias
generosas de liberdade, igualdade e fraternidade, corrompidas pelo
paganismo. Estas três palavras, que hoje estão em todos os lábios,
estas três aspirações, que estão em todos os corações, expressam
as três grandes ideias fundamentais da religião católica. Vejo-os
gravados no berço do Menino de Belém, na Árvore da Cruz e na
porta dos nossos sacrários.

A Igreja e a liberdade.
a) A primeira liberdade é o livre arbítrio.A Igreja defendeu-a
corajosamente contra o fatalismo dos pagãos, dos maniqueístas, dos
maometanos; contra Lutero, Calvino e os

207O autor situa estas virtudes porque a Revolução Francesa, que causou estragos, afirma tê-las trazido aos homens como se
fosse um novo messias. Mas essas virtudes são cristãs. Além disso, a Revolução Francesa não deixou nada além do oposto: a
escravidão das próprias paixões, a desigualdade na sociedade que distancia ricos e pobres e lutas constantes ent re os homens.

495
Jansenistas. Protege-o hoje contra os positivistas contemporâneos,
que atribuem as nossas ações a influências externas. Diante dos
erros passados e presentes, a Igreja afirma, como dogma de fé, a
liberdade do homem no governo da sua vida.
b) A segunda liberdade é a liberdade religiosa.Em todos os
momentos, a Igreja defendeu corajosamente o direito de conhecer,
de purificar, de servir a Deus como Ele quer ser servido. Para
alcançar a verdadeira liberdade de consciência, os mártires
derramaram o seu sangue.
c) Depois da liberdade religiosa, o mais necessário é a
liberdade civil:É o que assegura ao homem a sua legítima
independência nos actos da sua vida. Bem, foi a Igreja que acabou
com a escravidão.
Ninguém pode negar: antes de Jesus Cristo existia em todo o
mundo pagão. Dois terços da raça humana eram escravos: algumas
pessoas ricas tinham centenas; milhares de outros... O que mais
surpreende é ver os grandes filósofos: Aristóteles, Platão, Cícero,
etc., concordarem na tarefa de justificar a escravidão.
E que sofrimento!... O escravo era bem móvel como qualquer
animal doméstico. Seu dono poderia espancá-lo, torturá-lo, matá-lo
ou alimentá-lo aos peixes impunemente. Uma lei cruel estabelecia
que todos os escravos de um proprietário assassinado deveriam ser
crucificados. Após o assassinato do senador Petani, o Senado teve
seus quatrocentos escravos crucificados. A lei condenava qualquer
pessoa que matasse um animal de carga à mesma pena que
qualquer pessoa que matasse um escravo. Tão grande foi o
desprezo do paganismo por este!
Faz estremecer de horror ler nas histórias os maus tratos de que
foram vítimas dois terços dos homens. Durante o dia o escravo
trabalhava; Para ele são todos trabalhos ou tarefas dolorosas: ele só
tem um alimento grosseiro, a polenta, que mal dá para sustentar sua
vida. Durante a noite é mandado apodrecer nas ergástulas, com a
pele lívida das pestanas, as costas feridas, a testa marcada, por
vezes com ferro quente, os pés no cepo...
Pela ofensa mais insignificante, os escravos eram terrivelmente
açoitados; um foi crucificado por Augusto por ter comido uma
codorna; Outra, por ter quebrado um copo, Pólio jogou no lago para
servir de alimento aos seus murenas. Não havia festas em

496
que alguns escravos não eram despedaçados com chicotes para
entreter os convidados...208.
O que a Igreja fez? Ele não poderia proclamar a liberdade em
massa dos escravos sem dar origem a massacres horríveis e sem
entregar à fome uma multidão de homens despreparados para a
liberdade. Era necessário proceder com cautela e devagar.
A Igreja ensinava que o escravo tem a mesma origem, a mesma
natureza e o mesmo destino do seu senhor, e que, como ele, o
escravo é chamado aos benefícios da Redenção. Ela reabilita o
escravo, devolve-lhe a dignidade de homem, afasta-o da tirania, dita
penas a quem o maltrata e admite-o, com os mesmos direitos do
proprietário, nas cerimónias sagradas.
Consequentemente, à medida que os ricos se tornaram cristãos,
honraram e amaram os seus escravos, permitiram-lhes constituir
famílias e, por vezes, libertaram-nos eles próprios. São Hermes
libertou 1.250; Cromácio, 1.400; Santa Melânia, 8.000, etc.
Os imperadores cristãos deram todo o seu apoio aos Bispos para
a libertação dos escravos. Todas as leis promulgadas no século IV,
sob a influência da Igreja, exalam compaixão pelos escravos e ódio
à escravatura, que em breve serão apagadas do direito civil e do
direito das nações209.
É um facto histórico inegável: a Igreja destruiu a escravatura. A
primeira árvore da liberdade plantada no mundo foi a Cruz do
Calvário. Jesus Cristo regou-a com o seu sangue para dar aos
homens a liberdade dos filhos de Deus.
d) Depois de ter banido dos países católicos a escravidão
decorrente dos costumes da sociedade antiga, a Igreja deplorou
outra escravidão que não estava em seu poder destruir. Foi o que os
sarracenos impuseram aos cativos cristãos.
Contra esta escravidão a Igreja só poderia usar resgate. Mas com
que ardor favoreceu esta forma de ajudar tantas vítimas do
fanatismo! Foram instituídas ordens religiosas especiais, como a dos
Trinitarianos e a da Misericórdia. Esses pedidos forneceram menos
serviços. Em 1665, os irmãos Merced levaram mais de doze mil
escravos só de Argel, que entregaram às respectivas famílias.

208Ver: De Champagny, História dos Césares.

209Ver Balmes, Protestantismo comparado ao Catolicismo.

497
Nos tempos modernos, a Igreja estendeu a sua caridade ao
tráfico de negros em África. Todos conhecem as admiráveis obras
do Cardeal Lavigerie para libertar os pobres negros.
e) Liberdade Política.É também à Igreja que os povos modernos
devem o direito de participar na gestão dos assuntos do Estado.
Durante muitos séculos antes da Revolução, a Igreja trabalhou
poderosamente para pôr em vigor este sistema de liberdades no seio
dos povos cristãos210.
Quando a Igreja perde a sua influência numa nação, o povo cai
na servidão. As justas reivindicações dos trabalhadores são ouvidas
diariamente; Onde a Igreja não reina, o trabalhador torna-se uma
máquina explorada.
E a liberdade religiosa, o que ela se torna? Quando a Maçonaria
governa, ela prega a liberdade e impõe a mais tirânica servidão:
Proibição dos padres de reivindicarem os seus direitos como
cidadãos.
Proibição aos professores de ensinar o Catecismo.
Proibição dos funcionários de escolherem escolas católicas para
os seus filhos e de votarem de acordo com a sua consciência.
Proibição aos religiosos e religiosas de se dedicarem à educação
dos filhos e ao cuidado dos enfermos, etc.

A Igreja e a igualdade.
Antes da vinda de Jesus Cristo, a igualdade era desconhecida.
Os homens foram divididos em duas castas: escravos e livres. A
escravidão estava na terrível proporção de duzentos escravos para
um homem livre.
E para o escravo não havia casamento, nem estado civil, nem
família, nem direitos, nem justiça. Ele foi até excluído dos sacrifícios
e das festividades do templo. Estes milhões de homens foram
amordaçados, chicoteados, torturados e pisoteados por um punhado
de pessoas ricas. Esses ricos insolentes negaram uma alma ao
escravo; Eles não viam nele nada mais do que um simples animal
destinado ao seu serviço.
Que desigualdade também entre o orgulho patrício e o orgulho
plebeu! Para um, todas as dignidades, todos os cargos, todos

210Ver: Guibe, SJ, L'Eglise et les reformes socieales.

498
as honras; para o outro, o pão e os prazeres do circo: panem et
circenses.
Nesta sociedade, os apóstolos Pedro e Paulo pregarão a
igualdade dos homens perante Deus. São Paulo proclama-o
categoricamente: “Não há distinção, diz ele, entre o homem livre e o
escravo: somos todos irmãos em Jesus Cristo”.
Os apóstolos logo converteram homens de todas as categorias,
senadores como Pudente, soldados como Sebastião, patrícios como
Inês e Cecília, libertos como Nereu e Aquiles, escravos como
Emerenciana, e não fizeram distinção entre dois discípulos.
Os grandes convivem com os escravos na Igreja: ajoelham-se no
mesmo confessionário, na mesma Mesa Eucarística; Recebem os
mesmos sacramentos, recitam as mesmas orações, participam do
mesmo sepultamento.
Até as fileiras do clero estão abertas, tanto para escravos como
para homens livres. Os papas São Cornélio e São Sisto foram
escravos. Este último trazia na testa a marca do ferro quente
glorificado por suas augustas funções.
A Igreja nunca deixou de ensinar ao mundo a verdadeira
igualdade dos homens:
a) Igualdade de origem:todos os homens descendem do mesmo
Pai; Todos eles têm o mesmo Deus como seu Criador.
b) Igualdade da natureza:Todos os homens têm uma alma
igualmente espiritual, igualmente imortal, igualmente criada à
imagem e semelhança de Deus e resgatada pelo Sangue de um
Deus.
c) Igualdade de destino:todos os homens estão igualmente
sujeitos à morte; Eles têm o mesmo inferno a temer e o mesmo Céu
a merecer.
Na presença destas três igualdades magníficas, essenciais,
fundamentais, afirmadas pela Igreja, quais são todas as
desigualdades de talento, de condição, de fortuna? Absolutamente
nada.
Aliás, a Igreja reconhece e respeita todas as superioridades
legítimas. Deus criou o homem para viver em sociedade; Toda
sociedade precisa de uma autoridade... Entre governantes e
governados, a igualdade social é impossível. Alguns têm o direito de
comandar, outros têm o direito de obedecer. Esta desigualdade

499
Surge da natureza das coisas: não pode ser destruído sem cair na
anarquia.
É também verdade que a Igreja não destruiu, nem poderia
destruir, a desigualdade das condições sociais. Os homens vivem
numa sociedade com poderes desiguais: alguns são fortes, outros
fracos; alguns são inteligentes, outros sem talento; alguns são
virtuosos, outros cruéis. Estas desigualdades físicas, intelectuais e
morais são factos evidentes que resistirão a todos os esforços
revolucionários. Pois bem, destas desigualdades físicas, intelectuais
e morais surgem as desigualdades de condições sociais.
E, na verdade, numa sociedade são necessários engenheiros,
arquitetos, diretores, etc. Quem será? Serão aqueles cuja
superioridade intelectual os torna capazes de ocupar esses
empregos. Os demais executarão seus planos: serão operários,
pedreiros, operários, etc.
Uma sociedade civilizatória não pode existir sem diversidade de
condições. Para obter essa igualdade perfeita, da qual se apresenta
um quadro tão sedutor, teremos que regressar à vida selvagem. Lá
todos são iguais. Vive-se da pesca ou da caça; Cada um sai pela
manhã e vai até as margens dos lagos para pescar, ou para a
floresta comprar carne. À noite, cada um colhe o fruto do seu dia, e
mesmo assim nem todos têm a mesma sorte, seja na caça ou na
pesca... Veja aonde a quimera da igualdade absoluta nos levaria.
Algo muito diferente acontece nos povos civilizados: a hierarquia
e a diversidade de classes são absolutamente necessárias. O que
importa, o que é justo, é que cada um possa melhorar a sua
situação. Essa é a verdade, é isso que você tem que entender.
A Igreja não engana o povo com o incentivo da igualdade de
bens. Esta igualdade é impossível. Que terras e fortunas sejam
divididas hoje; Amanhã, os preguiçosos, os aproveitadores, os tolos
terão dissipado a sua parte; os económicos, os sóbrios e os
habilidosos terão aumentado os seus bens. A distribuição terá que
recomeçar todos os dias?...211

211É verdade que nos nossos dias existem acumuladores ricos que oprimem o mundo dos trabalhadores. O Papa Leão XIII falou
sobre eles na sua admirável Encíclica e os Papas seguintes fizeram o mesmo até João XXIII (e hoje João Paulo II).

500
Não importa o que os sofistas modernos digam e façam, eles
nunca destruirão as desigualdades sociais; Estas estão na própria
natureza das coisas: abolidas num dia, renascidas no dia seguinte.
(Vamos pensar no comunismo).
Só a Igreja estabelece a verdadeira igualdade, a única possível: a
igualdade perante Deus, a igualdade perante a lei, a igualdade
perante o respeito e a estima mútuos, a admissão igual de todos ao
emprego, segundo os talentos e virtudes de cada um.
Ela condena as fraudes, as injustiças que empobrecem uns para
enriquecer outros. Ele condena severamente o luxo e as despesas
inúteis; Ordena aos ricos que gastem os seus bens supérfluos em
favor dos necessitados e, assim, preenche o abismo da
desigualdade social com a caridade cristã.

A Igreja e a fraternidade.
_O que é fraternidade? É o amor dos homens levado até à
renúncia aos próprios bens e à autoimolação. A verdadeira
fraternidade requer três condições:
1º Ame o seu próximo como a si mesmo.
2º Desfazer-se de bens próprios para ajudar os outros.
3º Sacrifício até a morte quando o interesse do próximo assim o
exigir212.
1º A fraternidade não era conhecida no paganismo: havia
desaparecido com o dogma da unidade de Deus. O egoísmo reinou
em todos os lugares. Antes do Calvário, a história nos ensina, o
homem não amava o homem.
Testemunhe os combates de gladiadores, obrigados a cortar a
garganta para entreter o povo. Testemunhas, as torturas atrozes
infligidas durante trezentos anos aos mártires cristãos.
Testemunhas, o desprezo, o desamparo dos pobres. Era visto como
crime ajudar os desafortunados. Um dia, Trajano, apelidado de
Piedoso, mandou afundar no mar três navios carregados de pobres
para limpar as ruas de Roma.
Como a fraternidade poderia ser estabelecida no mundo?

212Vamos pensar se a Revolução Francesa teve estas três características e o espírito que deixou prese nte até hoje.

501
Para estabelecer a fraternidade eram necessários o exemplo e os
ensinamentos de um Deus. Deus é Caridade e esta caridade o leva
a dar o seu Filho único para salvar os homens... E o Filho de Deus
se sacrifica por nós... Que exemplo!
O primeiro mandamento da lei divina é amar a Deus... O segundo
é amar os irmãos. “Este é o meu mandamento”, diz o Filho de Deus
feito homem; e a realmente nova para o mundo: “Amai-vos uns aos
outros, como eu vos amei... “Tudo o que fizerdes ao menor dos
meus, terás como feito a mim mesmo...”.
O que pode ser negado a um Deus que morreu na cruz por nós?
Tal é a origem divina da fraternidade. O amor de Deus é o único
motor eficaz do amor ao próximo. Nosso Senhor Jesus Cristo
diviniza, por assim dizer, o seu próximo, pois considera feito à sua
pessoa divina o que é feito ao último dos seus filhos.
Os primeiros cristãos puseram em prática os ensinamentos
divinos, o mundo pagão, ao contemplá-los, foi obrigado a exclamar:
Vejam como eles se amam!
2º O amor é comprovado pelas obras. O primeiro trabalho de amor
é
a doação de seus bens.
Despojar os outros para enriquecer era típico do paganismo.
Despojar-se para enriquecer os outros é típico do cristianismo.
É por isso que a Igreja exige que os cristãos amem os seus
irmãos, não só com palavras, mas com verdade e com obras. O uso
de coletas para os pobres remonta à Igreja primitiva. Isto é atestado
pela Epístola de São Paulo aos Coríntios, pelos Atos do Martírio de
São Lourenço e pela Apologia de Tertuliano. Uma espécie de ensaio
das Conferências de São Vicente de Paulo também se encontra nas
sete diaconias de Roma, que formavam outras tantas comissões de
caridade, que funcionavam sob a autoridade do Bispo.
Para restaurar a popularidade do paganismo, Juliano, o Apóstata,
fez imitar a caridade cristã; mas não encontrou eco nos corações
dos pagãos. O amor pelos pobres sempre foi uma das
características distintivas dos verdadeiros cristãos.
O pobre homem precisava de comida e abrigo. Para o qual
fundou o hospital, instituição exclusivamente cristã. O paganismo até
ignorou o nome dessas casas de caridade. Na Roma pagã

502
A cada esquina encontravam teatros, balneários, locais de lazer,
mas nenhum estabelecimento de caridade.
Assim que a Igreja pôde gozar da liberdade, construiu, ao mesmo
tempo que as basílicas consagradas à glória de Deus, hospícios
para os pobres. O primeiro hospital foi construído às margens do
Tibre e recebeu o nome de Vila dos Enfermos.
No final do século IV, os hospícios eram muito numerosos. As de
Lyon, Autun, Reims e Paris datam do século V. Os bispos queriam
que os pobres tivessem as suas casas como os ricos. Estes asilos
para os pobres, os doentes, os órfãos, os idosos, chamavam-se
Casas de Deus, nome sublime que recorda aos cristãos que Jesus
Cristo vê como feito a si mesmo o que se faz ao próximo213.
Na Idade Média, cada cidade do Ocidente tinha o seu hospital tão
vasto como um palácio. Em 1792, a França cristã tinha mil e
oitocentos hospícios, com quarenta milhões de rendimentos, que
foram levados pela Revolução, animada pelo espírito pagão.
Para cuidar dos desafortunados, nestes asilos de caridade eram
necessárias almas generosas. Deus suscitou em sua Igreja as
abnegações necessárias. Almas consagradas (que a Revolução
Francesa apagou com um golpe de caneta).
3° A obra mais perfeita do amor fraternal é o auto-sacrifício.
Matar para viver melhor era típico do paganismo; Dar a vida pelos
irmãos é típico do cristianismo. O filho da Igreja não só dá os seus
bens para ajudar os irmãos, mas dá-se a si mesmo.
Para servir os desafortunados, a Igreja escolheu servidores
especiais. Tem homens e mulheres religiosos que, por todo o ouro
do mundo, não serviriam aos reis nos seus palácios, e que se
trancam durante toda a vida num hospital para servir os pobres, os
deficientes, os doentes. Não há infortúnio na humanidade que não
tenha uma legião de almas para aliviá-lo.
A ordem de São Lázaro é dedicada aos leprosos. A de San
Jerónimo Emiliano educa órfãos. A de San Juan de Dios cuida dos
alienados. A de San Camilo de Lelis atende os enfermos. A dos
Irmãos de São Vicente de Paulo serve a

213De Champagny, La Charité chrétienne.

503
incurável, etc Uma multidão de congregações de mulheres tem por
objetivo cuidar dos desafortunados de todas as classes; tais são as
Filhas de São Vicente de Paulo, as Filhas da Sabedoria, as Irmãs de
Santo Agostinho, São Carlos, São Paulo, São José, São Francisco
de Régis, as Trinitarianas, as Irmãzinhas dos Pobres, etc. Estas
inúmeras congregações dão enfermeiras aos doentes, mães aos
órfãos, filhas dedicadas aos idosos indefesos.
“Só na França”, disse Taine, “mais de 28.000 homens e
123.00 As mulheres são, por instituição dos benfeitores da
humanidade, vassalas voluntárias, dedicadas, por escolha própria, a
trabalhos perigosos, repugnantes ou, pelo menos, ingrato; missões
entre selvagens e bárbaros; cuidar dos doentes, dos idiotas, dos
alienados, dos deficientes, dos incuráveis; cuidar de idosos, crianças
pobres ou abandonadas; atendimento de orfanatos, hospícios,
asilos, oficinas, abrigos e presídios. E tudo isso gratuitamente ou por
uma remuneração mínima, graças à redução das necessidades
físicas de cada religioso levada ao extremo. Nestes homens, nestas
mulheres, já não é o amor próprio que supera o amor dos outros; É o
amor aos outros que supera o amor a si mesmo”214.
Conclusão.Amar o homem, ou melhor, fingir amá-lo, quando o
interesse o exigir; ame-o enquanto um raio de beleza brilha em sua
testa; amar alguns seres escolhidos, abrir o coração para alguns
amigos, tudo isso foi visto no paganismo. Mas amar o homem com
um amor gratuito, em todo lugar e sempre; inclui no teu amor o
grego e o romano, o civilizado e o bárbaro, abraça um e outro e dize:
Irmão, eu amo você! Isso nunca tinha sido visto antes.
Amar o homem deformado, fraco, manchado, degradado por
todos os seus vícios, por mais repulsa que inspire; e fazer de todos
os infelizes, como a Irmãzinha dos Pobres, uma família apegada e
amada, isso é algo que nunca se viu e nunca se verá fora da Igreja
Católica.
A mais bela criação da Igreja é a Irmã da Caridade, seja qual for
o nome que leva, qualquer que seja a cor do seu véu. O próprio
Voltaire não pôde deixar de reconhecê-lo: “Talvez, diz ele, não haja
nada na terra maior do que o sacrifício que

214 Revue des deux mondes, junho de 1891.

504
“faz com que o sexo mais fraco, de beleza, de juventude, e às vezes
de nascimento mais elevado, cuide daquele amontoado de todas as
misérias humanas, cuja visão é tão humilhante para o orgulho
humano e tão repugnante para nossa delicadeza”..
A história da caridade católica atravessa os séculos e estende-se
a todos os povos. Este espírito da Igreja é sempre o mesmo, e se foi
admirável no passado, é admirável no presente e será admirável
também no futuro.
Fora da Igreja, o que é fraternidade? A diversão dos
revolucionários consistia em ver cabeças caírem sob o cepo da
guilhotina ou ver pessoas boas se afogarem.
Em 1871, durante a Comuna de Paris, os pregadores da
fraternidade atiraram nos reféns: padres, magistrados, soldados. Em
nossos dias ouvem-se palavras sonoras, lêem-se inscrições
pomposas; Mas de todos os direitos que estas inscrições e ditos
implicam, não há nenhum que os incrédulos não pisem, zombando
dos ingénuos que se deixam enganar pelas suas declamações.
O que os livres-pensadores fazem pelos pobres e
desafortunados? Onde estão aqueles que sacrificam a sua liberdade
e a sua vida para socorrer os miseráveis?... Fora da Igreja, onde
estão as Irmãs da Caridade?... Vejam como os inimigos da religião
estão empenhados na destruição das Congregações religiosas, sem
medo de lançar na rua os órfãos, os infelizes, os deficientes, os
idosos... Que crime!
Terminemos com as palavras de um grande orador:
“O cristianismo cria todos os elementos essenciais do progresso
social: liberdade, igualdade, fraternidade. Ouço dizer que estas três
coisas são fruto da Revolução. Ela era, acima de tudo, fértil em
ruínas. Surpreende-me em certos cristãos este milagre de ingratidão,
que nega a Jesus Cristo os dons do seu amor e à Igreja este
ensinamento social trazido do céu pelo divino Autor das sociedades
cristãs.
Eu sei, os revolucionários assumem resolutamente o crédito pela
invenção das ideias expressas com estas três palavras: liberdade,
igualdade, fraternidade. É a estratégia eterna de Satanás: reivindicar
para si o prestígio das palavras, enquanto trabalha para aniquilar as
ideias que elas expressam.

505
Revolucionários falam muitoda liberdade, e impor servidão;da
igualdade, e aspiram à dominação;da fraternidadee eles querem
assassinar irmãos. Falam de liberdade como um sem-vergonha fala
de probidade; da igualdade como um homem de ontem fala da sua
nobreza; de fraternidade como um homem ímpio fala de sua
bondade. A Igreja Católica, ao longo dos seus longos séculos, fala
pouco destas grandes coisas, mas pratica-as. Se ele não faz em
torno destas grandes palavras o mesmo barulho que os sofistas
modernos, é porque as realidades que elas exprimem não faltaram
nos séculos verdadeiramente cristãos, como faltam nas sociedades
modernas, que tendem a apostatar do verdadeiro cristianismo. E se
hoje viemos falar-vos delas, nada mais é do que reivindicar, em
nome de Jesus Cristo, palavras que Jesus Cristo nos legou, e
particularmente para restituir, às ideias que elas contêm, um brilho
obscurecido pelas nuvens do erro e pela poeira das filosofias.
Sim, a liberdade, a igualdade e a fraternidade nos pertencem,
porque são, na Igreja de Deus, a tradição viva de Jesus Cristo; e se
você quer que o mundo marche através deles e com eles para o
progresso social, volte para Jesus Cristo, Jesus Cristo é estas três
coisas ao mesmo tempo: só Nele somos iguais; somente Nele
somos livres; somente Nele somos irmãos”215.

euPARAEiGlésia,COM SEUS ENSINAMENTOS,BUSQUE


SEMPRE A VERDADEIRA FELICIDADE TEMPORÁRIA PARA
O HOMEM,À FAMÍLIA E À SOCIEDADE
Certos incrédulos confessam os benefícios da Igreja em tempos
passados; Além disso, seria impossível negá-los, a menos que a
história fosse completamente falsificada. Mas afirmam que,
actualmente, a Igreja nada pode fazer pela felicidade temporal dos
homens. Segundo estes sofistas, as doutrinas liberais aplicadas à
sociedade devem conduzi-la, de progresso em progresso, a uma
felicidade terrena da qual não há exemplo nos séculos passados.
Com esta invenção desastrosa o povo é enganado e arrastado para
o socialismo ou o comunismo, fruto natural do liberalismo.
Não será fácil demonstrar que a doutrina e a moral da Igreja
estão tão longe de ser um obstáculo ao legítimo desenvolvimento da
Igreja.

215P. Félix, Progresso através do Cristianismo, ano 1860.

506
civilização que, pelo contrário, são eminentemente adequadas para
criar a verdadeira felicidade temporal do homem, da família e da
sociedade.

1° A Igreja busca a felicidade do homem.


Para o homem, a felicidade consiste na satisfação das legítimas
exigências da sua alma e do seu corpo.
Muitas coisas, diz Bossuet, devem se unir para a felicidade do
homem, porque ele é composto de diversos elementos, e cada um
deles exige satisfação em harmonia com suas necessidades.
A alma possui duas grandes faculdades: o entendimento e a
vontade. O entendimento quer saber e não pode encontrar a sua
felicidade senão na Verdade; A vontade quer amar e não pode
encontrar a sua felicidade senão no Bem. Estas duas faculdades,
embora limitadas em sua natureza, são infinitas em seus desejos:
necessitam da Verdade completa e do Bem infinito.
Isso não é tudo. Nossa alma está unida a um corpo, e tão
intimamente que essas duas substâncias, formando uma só pessoa,
comunicam entre si todas as suas impressões. Sempre que o corpo
sofre a alma também sofre.
A nossa felicidade exige simultaneamente a Verdade para a
inteligência, o Bem para a vontade e um certo bem-estar para o
corpo.
Agora, a Igreja ensina a Verdade integral, a verdade sobre Deus
e as suas perfeições, sobre o homem, a sua origem, os seus
deveres, os seus destinos e sobre o mundo que nos rodeia.
Apresenta ao homem soluções certas para todos os problemas da
vida, salva-o de investigações infrutíferas e preserva-o de todos os
erros. Portanto, a Igreja satisfaz todas as exigências legítimas da
compreensão humana.
Com a sua moralidade, a Igreja propõe à vontade o Verdadeiro
Bem do homem e fornece-lhe os meios para o alcançar.
O verdadeiro bem do homem não pode ser encontrado em
nenhum bem criado, porque todos os bens criados, separados ou
reunidos, serão sempre o que são, essencialmente finitos e limitados
e, consequentemente, serão sempre incapazes de preencher o
coração do homem , que aspira à posse do Bem infinito.
Somente Deus é o verdadeiro bem do homem. A união com Deus
começa nesta vida com a prática da virtude, sendo, por

507
Conseqüentemente, a única felicidade que aqui na terra pode
satisfazer o coração do homem. Sempre será verdade o que disse
Santo Agostinho: “Tu nos criaste, Senhor, para Ti, e o nosso coração
está inquieto até que descanse em Ti”.
A Igreja ensina ao homem o meio infalível de ir a Deus: a prática
das virtudes cristãs. Além disso, a Graça comunica-se
abundantemente com ele através dos Sacramentos, aquela força
divina que eleva o homem, o diviniza e o torna capaz de praticar as
virtudes mais heróicas. O homem desmaia no meio da estrada? A
Igreja o eleva e o perdoa. Ele orienta e sustenta você em sua
jornada rumo à felicidade eterna.
O verdadeiro bem do corpo está perfeitamente reconciliado e
harmonizado com o bem da alma. O primeiro bem do corpo é a
saúde, e nada proporciona e preserva tanto a saúde quanto a vitória
sobre as más paixões. Portanto, ao condenar as paixões e ajudar-
nos a superá-las, a Igreja liberta-nos da maioria das causas que
destroem o nosso bem-estar corporal.
Suprimam a ambição, a avareza, a impureza, a embriaguez, a
preguiça, com todos os males que estes vícios degradantes trazem
consigo, e a maioria dos homens desfrutará do doce bem-estar e da
verdadeira felicidade. Por outro lado, é fácil demonstrar que a
fortaleza, a prudência, a justiça, a temperança e as demais virtudes
que delas decorrem proporcionam ao cristão alegrias puras e
delicadas, infinitamente superiores aos grosseiros prazeres dos
sentidos.
O homem é tanto mais feliz quanto mais trabalhador, mais sóbrio
e mais caridoso; quanto menos desejos ele tiver e maior será a paz
que ele desfruta. Noutros tempos, quando a religião era praticada
melhor do que hoje, havia muitos cidadãos que desfrutavam desta
felicidade.
Quanto aos sofrimentos, inseparáveis da vida humana, a Igreja
os reduz e alivia. Ele os diminui com a resignação e a paciência que
inspira; Ele os alivia com todos os meios da sua caridade
inesgotável.
Portanto, a Igreja proporciona felicidade ao homem que pratica os
seus ensinamentos divinos mesmo na terra.

508
2º A Igreja garante a felicidade da família.
O que constitui, acima de tudo, a felicidade de uma família é a
união dos seus membros entre si e a disponibilidade para servir e
favorecer uns aos outros.
O pai cristão sabe que deve exercer autoridade para o bem dos
membros da família. Ele sabe que a mulher foi tirada do lado do
homem para ser sua ajudante e não sua escrava e sabendo disso
ele cerca a companheira de sua vida com respeito e amor. Ele sabe
que, através do batismo, os seus filhos se tornaram filhos de Deus e
herdeiros do céu; Sabendo disso, considera-se cooperador de Deus
na educação e na salvação da sua posteridade. Ele ganha o pão de
cada dia com o suor do seu rosto ou com a sua atividade inteligente.
Ele está feliz, dedicando-se à felicidade de quem ama mais do que a
si mesmo.
A esposa, por sua vez, deve obediência, amor e desempenho ao
marido, que representa para ela a autoridade de Deus. Ela divide a
vida entre o marido e os filhos: sustenta o valor de um, ajuda-o no
trabalho, consola-o nas dores e dedica aos outros os cuidados mais
afetuosos. Depositai nessas ternas almas a semente de todas as
virtudes. Esses germes abençoados, desenvolvidos durante a vida,
produzirão os frutos mais preciosos. Tal é a mulher forte, cujo retrato
o Espírito Santo nos faz na Bíblia.
Os filhos aprendem, desde a mais tenra idade, a respeitar e a
amar os pais: não vêem neles as imagens vivas da bondade divina?
A religião, ainda melhor que a natureza, faz com que cumpram todos
os deveres da verdadeira piedade infantil. Acostumam-se, através de
uma educação sábia, a manter a disciplina, a respeitar a autoridade,
a observar leis justas. Na escola desses pais se formam
personagens enérgicos, cristãos sem medo e sem mácula.
Tais são os deveres que a Igreja infunde nos diversos membros
da família; mas também lhes proporciona os meios necessários para
cumpri-los. Para este fim, ele usa dois meios principais para ajudá-
los a cumprir as suas obrigações sagradas.
a) Com o Sacramento do Matrimónio, imagem da união de Jesus
Cristo com a sua Igreja, ele confere aos cônjuges cristãos as graças
necessárias ao seu estado.

509
b) Propõe como modelo a Sagrada Família de Nazaré, na qual
todos os membros da família cristã encontram um exemplo a imitar e
um ideal a alcançar.

3° A Igreja busca a felicidade da sociedade.


A ação benéfica da Igreja ganha ainda mais destaque na
sociedade. Torna o poder paternal e a obediência honrosa e inspira
virtudes sociais.
a) A Igreja diz aos representantes do poder: “Vocês são
delegados de Deus para o bem dos seus subordinados, deverão
prestar contas da sua administração. Você será recompensado ou
punido de acordo com a medida da alta posição que ocupou na
terra.” Se o poder escuta os ensinamentos da Igreja, governa como
um bom pai de família.
b) A Igreja diz aos seus súditos: “Toda autoridade vem de Deus;
na pessoa dos representantes de Deus você obedece ao próprio
Deus. Em todas as suas justas ordens, você lhes deve o mesmo
respeito e a mesma obediência que deve a Deus.”
Durante mais de cento e cinquenta anos foram feitas tentativas
de organizar a sociedade separadamente da Igreja; os governos são
feitos e desfeitos; As Constituições são revistas, sem conseguir
conciliar autoridade com liberdade. Esta luta permanente e terrível
entre governantes e governados só pode ter duas soluções: ou a
rebelião vence, e os poderes caem nos braços da anarquia, ou o
despotismo triunfa, e um dia, quando menos se espera, um soldado
anuncia que ele acabou de estrangular a liberdade. Só a Igreja,
colocando a origem da autoridade em Deus, protege o poder contra
a tentação do despotismo e contra os assaltos da anarquia.
c) Por fim, a Igreja prega o respeito pelas leis de Deus, que tem
nas mãos toda a felicidade. Ela inspira a todos o amor ao trabalho, o
espírito de economia, justiça, caridade, etc. Pois bem, estas virtudes
não podem deixar de enriquecer um povo e determinar a distribuição
equitativa da riqueza. É por isso que as nações verdadeiramente
católicas foram sempre as mais felizes e as menos castigadas pelo
flagelo do pauperismo (ver nº 64).
O sábio economista Le Play prova isso com números. Aqui estão
as suas conclusões: “O estudo metódico das sociedades europeias
ensinou-me que o bem-estar material e moral e, em geral, o bem-
estar

510
condições essenciais para a prosperidade são encontradas em
relação ao vigor e à pureza das convicções religiosas” (Réfarme
sociale).

PARAPÊNDICE

Principais objeções contra a Igreja


1° A Igreja é a mãe do despotismo, da superstição e do
fanatismo.
R. Esta é a opinião daqueles que entendem por despotismo todo
poder que emana de Deus; pela superstição, a verdadeira religião;
pelo fanatismo a convicção na fé que leva o cristão a dar a vida por
Jesus Cristo. Parece que lhes é conveniente distorcer o significado
das palavras. Da mesma forma, acreditar nos ensinamentos da
Igreja é, no seu jargão, ignorância e estupidez.
2° A Igreja não é do seu tempo: é inimiga do progresso e da
civilização moderna.
R. A igreja não é inimiga, mas sim do vício e da barbárie. Ela
civilizou o mundo e inaugurou todo o progresso, como testemunha a
história.
a) Para os livres-pensadores e os maçons, a civilização consiste
no bem-estar material, no progresso da ciência positiva e na
independência de toda autoridade e de toda hierarquia.
Em questões de dogma, negação de Deus e da alma,
secularização da sociedade; nada de Deus no governo, nem nas
leis, nem nas escolas, nem nos hospitais, nem em lugar nenhum...
Em questões de moralidade individual, supressão de todos os
deveres, amor a todos os prazeres, direito a toda licença. Essa é a
moralidade independente. Em matéria de direito social, negação da
soberania de Deus, falsa noção de autoridade, direito à insurreição,
isto é, revolução permanente, desordem, anarquia.
A Igreja não quer saber nada sobre estas doutrinas subversivas.
E ele tem toda a razão, porque esta falsa civilização produz a
brutalização dos indivíduos e a ruína das sociedades.
b) O que você entende por civilização moderna? O progresso
material alcançado em nosso século? A Igreja aplaude este
progresso. Por que ela deveria ser uma inimiga? O vapor, o gás, a
eletricidade, as ferrovias, o telefone, etc., etc., são de alguma forma
opostos ao dogma e à moralidade? A Igreja tem bênçãos especiais
511
para todas as manifestações da atividade humana. Desafio-vos a
encontrar uma grande e bela invenção, um empreendimento
inteligente e útil, um verdadeiro progresso em tudo o que pode servir
para aumentar o bem-estar e a fortuna social que a Igreja não
aplaudiu e encorajou com todas as suas forças.
Deus deu o mundo à atividade laboriosa dos homens. Cabe a
eles vasculhar a terra e os mares; A Igreja abençoa suas obras. Ela
sabe muito bem que quanto mais se penetra nos segredos da
natureza, mais claro será descoberto o selo do Criador, mais se verá
brilhar o seu poder, a sua sabedoria e a sua bondade.
Em 1851, na primeira Exposição Universal de Londres, os
ingleses, conhecedores do progresso material, escreveram em letras
gigantescas na cúpula mais alta do Palácio de Cristal, este magnífico
ato de fé: “Gloria in excelsis Deo”. E quando chegou a distribuição
dos prêmios aos laureados do progresso, um imenso coro cantou,
para dar glória a Deus, a bela canção: Laudate Dominum omites
gentes!...
Você chama o progresso intelectual, a educação do povo, de
civilização moderna? Mas a Igreja ama-o mais do que vós: depois de
dezenove séculos economizando, copiando, compondo e
distribuindo livros, formando professores, fundando escolas, ela tem
o direito de dizer que ama a educação do povo. Ela apenas declara
que a instrução sem Deus é tolice e crime; que acima da instrução
profana, que é útil, está a instrução moral e religiosa, que é
necessária e a única capaz de garantir a salvação das almas, a
honra das famílias e o bem-estar da sociedade: É uma questão de
simples bem sentido. Uma nação onde a instrução e a educação
fossem anticristãs em breve também seria anticristã. Nações sem
religião estão maduras para a corrupção, a decadência e a morte. É
o ensino da história. Você entende o progresso moral da civilização
moderna? Mas este progresso é, acima de tudo, obra da Igreja.
A Igreja trouxe virtude ao mundo, atolado na corrupção. Recolheu
e salvou a criança condenada à morte como Moisés no Nilo,
reabilitou a mulher aviltada e degradada. Ele devolveu a liberdade
civil e política aos povos escravistas. Proíbe todos os vícios e inspira
todas as virtudes.
A doutrina católica torna o trabalho um dever; da justiça uma lei;
da caridade fraterna, virtude sincera; de esmola, um

512
obrigação; de temperança, um preceito. Esta doutrina fere
mortalmente a preguiça, o egoísmo, o luxo, a ganância, o
pauperismo. Conseqüentemente, os cristãos possuem, na doutrina
da Igreja, todas as condições de progresso, paz e felicidade.
c) Portanto, a Igreja não é inimiga da verdadeira civilização: não
condena nenhuma aspiração legítima.
1. Os homens deste século amam a liberdade. A Igreja também a
ama, com que energia a defende contra aqueles que a negam ou
oprimem. Mas acima da liberdade ele coloca Deus, a verdade, o
dever, a ordem pública; declara que nada que não seja justo e
honesto é permitido; elogia a liberdade e proíbe a licença. Não tem
razão?...
2. Os homens deste século amam a igualdade. A Igreja também
adora e é quem melhor o pratica. Mas declara que, sob o pretexto da
equiparação, não devem ser suprimidas as superioridades legítimas,
nascidas da natureza, do talento, do trabalho e do mérito. Não tem
razão?...
3. Os homens deste século amam a fraternidade. A Igreja
também a ama e, o que é mais importante, pratica-a. A palavra e o
conceito pertencem ao dicionário do Evangelho: Jesus Cristo é o seu
autor; a Igreja, guardiã. Isto é o que a história afirma.
A Igreja, então, é do seu tempo: ama no nosso século tudo o que
é verdadeiro, tudo o que é bom, tudo o que é grande. Mas condena
tudo o que é falso, tudo o que é mau, tudo o que degrada o homem.
É seu dever e também sua glória guardar para os homens um
símbolo de fé, uma regra de costumes e esperanças de vida e de
imortalidade.
O mundo orgulha-se da civilização moderna e esquece a sua
origem. Ela não vê que, ainda hoje, o que a sustenta, o que a
mantém, é o que resta de Christian em suas veias. À medida que a
religião católica vai embora, a barbárie retorna, assim como a noite
chega quando o sol se põe.
3° A Igreja é inimiga da ciência: impõe o jugo da fé cega às
inteligências. Diante das luzes e dos gênios modernos, os
velhos dogmas se dissipam.
R. -A Igreja não é inimiga, mas sim da ignorância e do erro.
a) A Igreja sempre foi a alma e a promotora das ciências: a
história o atesta.

513
Ela fundou as escolas, os colégios, as universidades da Europa,
onde a educação dos estudantes era gratuita.
Ela preservou os livros da Grécia e de Roma, que tiveram que ser
copiados e transcritos: trabalho colossal realizado pelos monges.
Ela, em todos os momentos, favoreceu, honrou e recompensou os
sábios, os poetas, os artistas.
Durante mais de quinze séculos, tudo o que o mundo produziu na
ciência, na literatura, na história, na geografia, na eloquência, na
filosofia, é obra da Igreja.
Não existe um único ramo do conhecimento humano que lhe seja
estranho; Não houve um gênio que não tenha prestado homenagem
de simpatia. Não são os verdadeiros sábios que atacam a Igreja;
Eles são os estudiosos violetas: “Pouca ciência nos distancia de
Deus, disse Bacon, muita ciência nos aproxima Dele”.
Aqueles que dizem que a Igreja é inimiga da ciência são
mentirosos descarados; É a mentira inventada e propagada por
quem quer afastar o povo da influência da Igreja; para degradá-lo e
explorá-lo a seu gosto.
b) A fé não é cega: existe algo mais razoável do que acreditar na
palavra de Deus? (Ver nº 94). Se o ignorante deve apelar para a
palavra dos sábios, por que o homem se recusará a acreditar na
Palavra de Deus, que é a mesma verdade?
A oposição entre fé e ciência é uma quimera: o que é a fé? O que
é ciência?
A fé ou os dogmas da fé são verdades reveladas por Deus; a
ciência ou os verdadeiros ensinamentos da ciência são verdades
conhecidas pela razão. De um lado e de outro está a verdade;
portanto não há oposição, porque o verdadeiro não pode ser oposto
ao verdadeiro.
Estas duas ordens de verdades fluem da mesma fonte, que é
Deus. E Deus nos faz conhecer verdades científicas através da luz
da razão, e verdades religiosas sobrenaturais através da luz do
Apocalipse. Nenhuma oposição é possível entre estas duas ordens
de verdades...
Trabalhadores científicos: vão em frente, investiguem,
investiguem, descubram. O Deus da religião também se
autodenomina Deus das Ciências, e devemos presumir que ele
conhece o seu nome. O Deus que fez a luz não pode temê-la. O
Deus que ditou a Bíblia e o Evangelho é o Criador da natureza; você
quer o
514
A natureza refuta a Bíblia e o Evangelho? Todos os três narram a
glória do Altíssimo. Ciência e fé são dois raios do sol divino:
Como você deseja que eles não estejam em harmonia?
c) A grande e verdadeira ciência moderna não tem medo de dar à
religião os testemunhos mais belos e inesperados. Ele está tão longe
de dissipar os antigos dogmas, como vos agrada afirmar, que, pelo
contrário, apresentou a Bíblia e o Evangelho, a verdade e a história,
sob uma luz que enche de admiração todo verdadeiro sábio. Todos
os ataques modernos contra a religião católica serviram apenas para
lhe fornecer novas provas da sua divindade216.
Os livres-pensadores não querem saber nada sobre velhos
dogmas.
Apoie a Igreja!, Eles gritam. A Igreja é inimiga da liberdade de
pensamento. Em 1849, na Câmara de França, alguém se atreveu a
atirar aquele balão cheio de fumo em Thiers, enquanto o ilustre
homem defendia a liberdade de educação. “Tenho orgulho de
pertencer à sociedade moderna”, respondeu ele; Estudei muito o que
chamam de liberdade de pensar e vi que a religião católica não
impede o pensamento, exceto para aqueles que não são obrigados a
pensar!..."
Eu sou um pensador livre, significa: “Aprendo a pensar, todas as
manhãs, no meu diário; “Eu sou a ovelha devotada da minha loja
maçônica.”
Aí estão os livres e os pensadores! Como Deus se vinga daqueles
pequeninos arrogantes que não O querem como Senhor! Isso os
deixa à mercê de toda escravidão e de toda baixeza. Acredita na
religião com os mais seletos da humanidade? Impossível! É
humilhante. Mas acreditar no primeiro charlatão que aparece em
nosso caminho, acreditar no primeiro folicularista que vende
blasfêmia a preços tão altos,
Ah, sim... É a maneira deles de serem pensadores livres. Quando o
povo de Israel se tornou livre-pensador e rejeitou o seu grande Deus,
imediatamente correu para se atirar aos pés de um bezerro... É mais
ou menos a mesma coisa que acontece hoje.
4º A Igreja é intolerante.
R. _"Sim; a Igreja é intolerante em questões de doutrina, e deve
ser, porque a verdade é uma ou não é verdadeira; a verdade não
pode admitir a transação com o erro, assim como a luz não pode
admiti-la com as trevas.
Mas se a Igreja é intolerante com o erro e o vício, está cheia de
indulgências para com as pessoas.
515
216Ver: Os esplendores da fé, do sábio Moigno.

516
A Igreja nunca admitiu, nem pode admitir, tolerância às doutrinas.
Existem dois tipos de tolerância: tolerância às doutrinas e
tolerância às pessoas.
a) É um dever para ela.Repositório do ensinamento divino, ela
deve mantê-lo intangível e protegê-lo contra aqueles que o alteram
ou negam, sob pena de trair a missão que Jesus Cristo lhe confiou.
A Igreja não pode sacrificar a verdade de que é responsável perante
Deus. Pela mesma razão que a Igreja não tolera nada que seja
contrário à fé e aos bons costumes, demonstra que guarda fielmente
o depósito divino: o dogma e a moralidade.
b) Sua intolerância é um benefício para o mundo.Se Ela
tivesse tolerado as aberrações do paganismo, ainda estaríamos
prostrados diante de ídolos imundos. Se ele tivesse tolerado
heresias, a verdade sobrenatural de há muito tempo teria
desaparecido da terra. Se ele tivesse tolerado o filosofismo do século
XVIII, as mesmas verdades naturais teriam dado lugar aos erros
mais monstruosos. Se nos nossos dias tolerasse os abusos da má
imprensa, do luxo, da roleta, do trabalho dominical, todas fontes de
desmoralização, o mundo cairia rapidamente na sua velha
corrupção.
c) A intolerância é uma lei geral que se encontra sempre e
em toda parte:O poder civil é intolerante quando manda fuzilar
certos malfeitores e prender ladrões; o licitante é intolerante, quando
sacrifica uma ovelha doente para que não infecte as outras, etc.
Qual é a razão desta intolerância? Toda sociedade, se quiser
viver, deve ser intolerante na aplicação dos seus estatutos, que são
a sua razão de ser. Ele deve rejeitar todo membro insubordinado ou
corrupto. Pela mesma razão, a Igreja tem o direito de excluir ou
excomungar qualquer pessoa que se recuse a submeter-se aos seus
preceitos.
Intolerante nos seus princípios, a Igreja sempre foi muito tolerante
com as pessoas. Ele sempre disse aos seus discípulos: sejam
vítimas; mas nunca: sejam algozes. A doçura das ovelhas, a
simplicidade da pomba, a prudência da serpente, estas são as armas
dos Apóstolos. O Conde de Maistre soube dizer com a história em
mãos: “Nunca o padre levantou um cadafalso; Por outro lado, ele
ascendeu muitas vezes a ela como mártir; Ele não prega nada além
de misericórdia e clemência, e em todas as partes do globo, ele não
tem

517
derramou mais sangue do que o dele. A Igreja usou a sua autoridade
para reprimir o erro; Ele recorreu à caridade para trazer aqueles que
se desviaram dela de volta ao caminho certo; não invocou o apoio
secular e apelou à força ao serviço da verdade, excepto quando teve
de se defender contra hereges furiosos que o atacaram com armas,
perturbaram a paz pública e puseram em perigo a sociedade civil e a
sociedade religiosa. Aí está, em poucas palavras, o resumo do que
ele fez contra as heresias desde a sua origem.
a) Quem são aqueles que acusam a Igreja de intolerância?
Os protestantes...E, no entanto, Lutero matou mais de cem mil
homens na Guerra dos Camponeses; Calvino, em Genebra, mandou
queimar aqueles que não pensavam como ele. Henrique VIII e a
malvada Elizabeth, na Inglaterra e na Irlanda; Christian II, o Nero do
Norte, na Dinamarca; Gustavo Vasa, na Suécia, realizou todo tipo de
perseguições contra seus súditos católicos.
Os huguenotes cobriram a França de sangue e ruínas...
Tal é a tolerância protestante!... E são eles que acusam a Igreja de
ter promovido guerras religiosas! A Igreja nada fez senão defender-
se: nunca tentou, como os protestantes, impor a sua doutrina com
violência.
b) Quem acusa a Igreja de intolerância?
Os filósofos do século XVIII.Pois bem, Voltaire tinha como
lema: “Esmagar os infames…”. Diderot queria enforcar o último rei
com as entranhas do último sacerdote. Rousseau condena à morte
quem não se comporta de acordo com os dogmas da religião do
país, etc.
c) Quem acusa a Igreja de intolerância?
Os liberais modernos.Em 1793 a sua fórmula era: Liberdade,
igualdade ou morte; e despojaram as igrejas, assassinaram os
padres e guilhotinaram as pessoas honestas, gritando: Viva a
liberdade!...
Paris testemunhou o mesmo espetáculo em 1871, durante a
época da Comuna...
5º As nações católicas são menos prósperas que as
protestantes.
R. _Mas, mesmo que se admitisse o declínio momentâneo das
nações católicas, o fato seria perfeitamente explicável.
A Igreja Católica civilizou o mundo antes do aparecimento do
cisma e da heresia. O que preservou as nações
518
herético é que eles mantiveram a maior parte das leis sociais do
catolicismo: descanso dominical, oração pública, respeito ao Santo
Nome de Deus, respeito à autoridade paterna, etc. Vistas sob essa
luz, estas cidades são, de certa forma, católicas.
As nações católicas, pelo contrário, atormentadas pelo espírito
revolucionário, permitiram que o desprezo pela autoridade divina, o
desprezo pela autoridade civil e o desprezo pela autoridade paterna
se desenvolvessem dentro delas.
Não é surpreendente, então, que as nações protestantes
prosperem com as suas leis inspiradas no catolicismo, e que as
nações católicas tenham parado no seu progresso natural graças ao
espírito pagão, que está a minar a sua existência.
As doutrinas ímpias e anti-sociais impostas ao povo católico são
causa de ruína.
“Mas censurar o catolicismo pelas desordens que condena
_desordens nascidas de princípios que anatematiza-, responsabilizar
o catolicismo pelos males que se esforça por deter com todos os
seus meios de influência, ou prevenir com os seus mais sérios
ensinamentos e mais severas advertências, não é o cúmulo da
injustiça e do irracionalidade? Certamente não são os católicos que,
em nome da fé que professam, ameaçam a paz pública, organizam
revoltas populares, erguem barricadas, derrubam governos. Os seus
inimigos mais ferrenhos reconheceram frequentemente a sua
prudência, a sua moderação, o seu espírito de abnegação e
sacrifício. Certamente não é entre eles que serão recrutados factores
de anarquia. E quando querem arrancar do coração do povo as
últimas raízes da sua velha fé católica, quando são empurrados por
um caminho que termina fatalmente no abismo, os mesmos que
preparam e precipitam as catástrofes com as suas doutrinas,
aqueles mesmos, ousarão dizer que o catolicismo torna as pessoas
ingovernáveis, degrada-as e arruína-as!... Tal é a sua boa fé! Essa é
a sua lógica!...
A Igreja de Jesus Cristo foi, desde a sua origem, e será até o fim
do mundo, a grande civilizadora dos povos. Lutá-lo é lutar contra o
verdadeiro bem-estar temporal do povo; É querer a desgraça do
pobre, do trabalhador, da criança, do idoso, da mulher, do doente, de
todos aqueles, numa palavra, que não têm meios de oprimir os
outros” (Rutten).

519
Conclusão.Tudo está errado na sociedade atual porque ela se
distanciou de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Igreja.
E, no entanto, quantos esforços, quantos projetos, quantas leis,
quantos empreendimentos filantrópicos dignos de mais sorte! Talvez
nunca tenha surgido um maior número de sistemas que aspiram à
melhoria moral, material e social da humanidade.
O que foi alcançado com tudo isso? Abrindo um abismo no qual
toda a sociedade corre o risco de cair.
Por que isso acontece assim? Porque Jesus Cristo está ausente
de todos esses sistemas, de todas essas leis, de todas essas
empresas. Eles queriam viver sem Ele; A religião que Ele trouxe aos
homens não foi considerada de forma alguma; A escuta da Igreja,
que é a sua representante, tem sido desprezada.
Agora, Jesus Cristo nos disse expressamente no Evangelho:
“Sem mim nada podeis fazer”. Veja por que todos estes esforços
ameaçam terminar numa última e irremediável catástrofe.
O mal não é novo: remonta ao Renascimento. Há trezentos anos,
a educação, a legislação, a filosofia, as próprias artes, tudo era
paganizado. Eles substituíram o Evangelho. Santo Agostinho, São
Tomás de Aquino e os Padres da Igreja foram expulsos das escolas
e universidades. A liberdade cristã foi substituída pelo antigo
cesarismo.
O paganismo na educação e nas leis trouxe consigo o paganismo
nos costumes e o declínio da fé. O resultado foi a terrível revolta
chamada Revolução.
Hoje, como consequência de causas idênticas, estamos
condenados a uma catástrofe do mesmo tipo. Devemos, portanto,
voltar resolutamente a Jesus Cristo, à Igreja: fora dela não há
salvação.
“Muitos acreditam que a sociedade dos nossos dias está
irremediavelmente perdida... Mas estará a sociedade de hoje mais
doente do que a sociedade pagã era há dezanove séculos? O
mundo estava então podre e Satanás reinava nele como senhor
absoluto.
“Na sociedade antiga não havia amor, nem caridade, nem
compaixão pelos desafortunados. Um egoísmo brutal dividiu a
sociedade em duas grandes categorias: os senhores e os escravos.

520
“E esses mesmos senhores rastejaram aos pés de aventureiros
afortunados, que revoluções contínuas e sangrentas levaram ao
poder... Não foi, então, mais difícil converter aquela sociedade pagã
do que a nossa, que ainda conta com católicos fervorosos?
“O que os apóstolos fizeram? Pregaram Jesus Cristo, pregaram o
Evangelho e, apesar de todos os obstáculos, de todas as
perseguições, aquela sociedade foi salva e tornou-se cristã. Leiamos
o Evangelho, vamos a Jesus Cristo e à sua Igreja, e a felicidade e a
paz reinarão no mundo” (Abbé Garnier).

SERRA. NNOSSOS DEVERES PARA COMEiGlésia


190. P. _Quais são os nossos deveres para com a Igreja?
R. -Temos três grandes deveres para com a Igreja, derivados da
tríplice autoridade que Jesus Cristo lhe conferiu.
Deve:
1° Acredite em seus ensinamentos,porque ele recebeu
autoridade doutrinária para nos ensinar verdades reveladas.
2° Obedeça aos seus preceitos,porque ele tem autoridade
pastoral para governar os cristãos.
3° Receber seus sacramentos e participar de seu culto,visto
que está investido de autoridade sacerdotal para conferir graça.
Provamos (n. 145) que Jesus Cristo deu à sua Igreja docente esta
tríplice autoridade. Resta-nos explicar quais são os nossos deveres
práticos para com a Igreja, encarregada por Deus de nos ensinar, de
nos governar, de nos santificar.

1ºDDEVEMOS OBEDECER AOS PRECEITOS DA


AUTORIDADE DOUTRINÁRIA DOEiGlésia
O Concílio Vaticano I resume o nosso primeiro dever para com a
Igreja com estas palavras:
“Devemos acreditar com fé divina e católica em todas as
verdades que estão contidas na palavra escrita de Deus ou na
tradição, e que a Igreja, quer por sentença solene, quer pelo seu
Magistério ordinário e universal, propõe à nossa crença como
divinamente revelada ”217.

217De Fide, VIII.

521
Este texto contém três proposições diferentes, três grandes
princípios dogmáticos:
1º A fé divina e católica tem por objeto as verdades divinamente
reveladas, contidas na Sagrada Escritura e na Tradição218.
2° Somente para a IgrejaCabe à fé católica propor as verdades
contidas nas Escrituras e na Tradição.
3º A Igreja pode propor estas verdades, quer por sentença
solene, isto é, pela definição de um Concílio geral ou pelo Papa
falando ex Cathedra, quer pelo seu Magistério ordinário, isto é, pelo
ensinamento comum e universal dos seus Pastores .
Daí as seguintes proposições:
1° As fontes do ensinamento da Igreja são: Sagrada Escritura e
Tradição.
2º A Regra da fé católica é o Magistério da Igreja.
3° O Magistério da Igreja, seja ordinário ou extraordinário, é
infalível.

Fontes de ensino da Igreja


191. P. _O que a Igreja ensina aos cristãos?
R. _A Igreja ensina aos cristãos as verdades que Nosso Senhor
Jesus Cristo revelou, por Ele mesmo ou pelo Espírito Santo, aos
Apóstolos.
Nosso Senhor instruiu os seus Apóstolos durante três anos e
prometeu enviar-lhes o Espírito da verdade para aperfeiçoar a sua
instrução: na véspera da sua Paixão disse-lhes: “Ainda tenho muitas
coisas para vos dizer, mas agora não as compreendeis. Mas quando
vier esse Espírito da verdade, Ele vos ensinará toda a verdade”219.
A Igreja é o eco de Jesus Cristo: repete ao mundo as verdades
anunciadas pelo divino Mestre e difunde-se por todos

218Distinção: entre fé divina e fé católica:

1° Fé divinaSeu objeto é toda verdade revelada por Deus.


2º A fé católicaSua finalidade é tudo o que é proposto pela igreja como
revelado por deuse conteúdo no Escritura e Tradição.
219Jn. 16, 12-13.

522
ensinamentos divinos dos povos. Isto é o que constitui a sua
grandeza.
Um procônsul romano perguntou a um jovem mártir: “Jesus Cristo
é Deus? _Sim, Jesus Cristo é Deus. _Quem te contou isso? _Minha
mãe me contou e Deus contou para minha mãe.” “Mihi mater, et
matri meae Deus dixit.” Esta é a resposta que todo católico deve dar.
192. P _De que fonte bebe a Igreja as verdades que Jesus
Cristo ensinou aos Apóstolos?
R._A Igreja baseia-se nos ensinamentos que Jesus Cristo
ensinou aos seus Apóstolos, nas Sagradas Escrituras e na Tradição.
Estas duas fontes de fé contêm aquilo em que devemos acreditar
e o que devemos fazer para sermos salvos.
Deus falou aos homens através dos seus Profetas e do seu Filho
divino. Com a revelação cristã fechou-se o ciclo das revelações
divinas. Mas onde está o depósito da revelação? Nas Sagradas
Escrituras e Tradição; e este depósito Deus confiou à guarda da sua
Igreja.
A Igreja não inventa novas verdades: nada mais faz do que
testemunhar e esclarecer dogmas. Não os define para que existam,
mas os define porque existem.
As verdades que constituem o depósito da fé são como pedras
preciosas que a Igreja mostra sucessivamente às gerações que as
não conhecem. Mas o número destes diamantes marcados com a
efígie de Cristo não pode ser aumentado ou diminuído.
A) euPARASimSATISFEITOEESCRITA
193. P. -O que é a Sagrada Escritura?
R._A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus escrita sob a
inspiração do Espírito Santo.
Inclui os livros do Antigo e do Novo Testamento. Muitos outros
livros, por exemplo os catecismos, contêm a palavra de Deus; mas
eles não são esta Palavra. Uma carta pode conter as palavras de um
soberano, sem ser uma carta do soberano. Mas uma carta escrita
por um secretário, sob o ditado do rei, é verdadeiramente uma carta
e uma palavra real. Da mesma forma, as Sagradas Escrituras,
escritas sob a inspiração do Espírito Santo, são verdadeiramente os
escritos de Deus, a palavra de Deus.

523
1ª Noção de Sagrada Escritura.A Sagrada Escritura é a coleção
de livros escritos sob a inspiração do Espírito Santo e reconhecidos
pela Igreja como repositório da palavra de Deus. Esta coleção é
chamada de Bíblia.
A Bíblia é, ao mesmo tempo, obra do homem e obra de Deus.
Materialmente, nossos Livros Sagrados são indistinguíveis dos livros
comuns. Conhecemos seus autores: Moisés, Davi, Salomão; São
Mateus, São João, São Paulo, etc. Foram escritos como os demais,
em pergaminho ou papiro, numa língua específica, hebraico, grego,
e de acordo com as regras de sintaxe e as gramáticas particulares
dessas línguas.
Assim considerados, são livros cuja autoridade humana se baseia
na crítica. Provamos (n. 77 e 113) a sua autenticidade, a sua
integridade e a sua veracidade.
Mas formalmente, e no seu carácter essencial, os nossos Livros
Sagrados são, acima de tudo, obra de Deus, porque foram escritos
sob a inspiração do Espírito Santo. O homem que as escreveu nada
mais era do que um instrumento nas mãos de uma causa superior:
para que as Escrituras não contenham nada, nem pensamentos,
nem doutrinas, nem narrativas, fora daquilo que o Espírito Santo quis
colocar nelas.
Portanto, os Livros Sagrados diferem essencialmente dos livros
humanos; não pelo argumento, mas pelo seu autor principal, que é o
próprio Deus: “Spiritu Sancto conscripti Deum habent auctorem”
(Concílio Vaticano I). Os Livros Sagrados são obra de Deus, porque
foi Ele mesmo quem os inspirou220.
2º Natureza da inspiração.O que é inspiração? É uma ação, um
impulso sobrenatural do Espírito Santo que determina a vontade do
escritor sagrado, ilumina a sua inteligência, a sua imaginação a sua
memória, dirige a sua pena, preserva-a de todo erro e faz-lhe
escrever o que Deus quer e nada mais.
Na inspiração a função principal pertence a Deus; para o homem,
o secundário.
A ação de Deus sobre o escritor sagrado é traduzida por uma
tripla influência:

220A Dei Verbum do Concílio Vaticano II pode ser lida com muitos frutos. Os docume ntos do Concílio Vaticano II obviamente não
estão incluídos aqui, porque quando o autor escreveu este livro o Concílio ainda não tinha terminado.

524
1ª Determinação sobrenatural da vontade de escrever;
2º Iluminação da inteligência sobre as verdades que devem ser
escritas;
3º Direção positiva e assistência do Espírito Santo nos
pensamentos e nas palavras, para preservar o escritor de todo erro e
fazê-lo escrever tudo o que Deus quer e nada mais.
Esta influência do Espírito Santo, deixando cada escritor com o
seu génio, o seu modo de conceber, o seu estilo, etc., ilumina-o e
orienta-o na escolha dos mais pequenos detalhes; e não só o
impede de cometer erros, mas até de usar qualquer expressão que
não reflita exatamente o pensamento divino.
Assim, a ação de Deus e a cooperação do homem estão
associadas no mesmo ato. A escrita das Escrituras é obra de ambos:
de Deus, que foi o autor principal, e do homem que serviu de
instrumento. _“Spiritus Sanctus est auctor, homo vero instrumentum”
(São Tomás).
Ouçamos o Concílio Vaticano I:
“A Revelação Sobrenatural_diz_ está contida nos Livros escritos
e nas tradições não escritas, que, recebidas da própria boca de
Jesus Cristo pelos Apóstolos, e transmitidas como que por suas
mãos, sob a inspiração do Espírito Santo, chegaram até nós.
“A Igreja considera estes livrosSantos e Cânones, não porque,
compostos apenas pela habilidade humana, tenham sido
posteriormente aprovados pela Igreja, nem porque contenham
revelação sem erros, mas porque, escritos sob a inspiração do
Espírito Santo,Eles têm Deus como autor, e foram entregues como
tais à mesma Igreja”221.
3° Certeza do fato da inspiração.Como sabemos quais livros
sagrados são inspirados? Isto não pode ser conhecido exceto
através do testemunho formal do próprio Deus. Somente Deus, que
é o autor principal dos Livros inspirados e que é a própria verdade,
pode certificar de forma autêntica e segura a inspiração de um livro.
No Antigo Testamento, Deus formulou o seu testemunho através
dos seus profetas e mensageiros, cuja veracidade ele confirmou
através de milagres. Jesus Cristo e os Apóstolos confirmaram o
testemunho dos profetas da antiga lei.

221 De Fide, II.

525
O testemunho de Deus sobre a inspiração dos Livros do Novo
Testamento chegou-nos através de dois Apóstolos que o
transmitiram aos seus discípulos. Os primeiros cristãos não puderam
conhecer a inspiração dos Livros Sagrados, senão através do
testemunho dos Apóstolos, testemunhas dignas de fé, pois, enviados
por Deus, comprovaram a sua missão com milagres. De sua boca os
fiéis tiveram que aprender a doutrina da salvação e,
conseqüentemente, a inspiração dos livros que continham esta
doutrina. Este testemunho dos Apóstolos nos é transmitido pela
Tradição Católica, isto é, pelo Magistério infalível da Igreja.
E, de facto, uma afirmação tão séria, que nos obriga a acreditar
na inspiração de um livro, deve emanar de uma autoridade divina,
universal e infalível. Agora, apenas a Igreja Católica, fundada por
Jesus Cristo, está investida de tal autoridade. Consequentemente, o
Papa, ou o Concílio Ecuménico, são os únicos que podem distinguir
e dar a conhecer quais são os livros inspirados. Isto é o que Papas e
Concílios fizeram ao longo dos séculos.
Em última análise, o Concílio de Trento designou todos os nossos
Livros Sagrados, como um todo e nas suas partes, como inspirados
pelo Espírito Santo.
O Concílio Vaticano I, renovando esta definição, termina-a com
esta frase: “Se alguém não receber na sua totalidade, com todas as
suas partes, como Sagrados e Canônicos os Livros da Escritura, tais
como enumerados pelo Sagrado Concílio de Trento, ou negar que
sejam divinamente inspirados, ser anatematizados”222.
Objeção._Os protestantes nos acusam de basear nosso
raciocínio em um círculo vicioso. Você prova, dizem eles, a
autoridade da Igreja pelo testemunho das Escrituras, e então prova a
inspiração das Escrituras pela autoridade da Igreja.
R. Os Livros Sagrados têm autoridade humana e autoridade
divina. A sua autoridade humana, como os livros puramente
históricos, é comprovada não pelo testemunho da Igreja, mas pelos
argumentos que estabelecem o valor de cada monumento histórico.
Com estas provas demonstramos que os Evangelhos e os Atos dos
Apóstolos são livros históricos, perfeitamente autênticos, completos
e verdadeiros (n. 113).

222Cap. II, cânone 4.

526
Os Evangelhos narram a vida de Jesus; dão prova da sua missão
divina e da sua divindade; Ele nos mostra isso afirmando que é Deus
e provando isso com seus milagres. Mais tarde, vemos este Deus-
Homem dar à Igreja, investi-la da autoridade divina e do privilégio da
infalibilidade, para lhe permitir impor a sua doutrina e a sua fé à raça
humana.
Assim, começamos por estabelecer a existência e a autoridade
infalível da Igreja através dos Evangelhos considerados livros
históricos. Feito isso, podemos imediatamente, sem recorrer a um
círculo vicioso, saber, através da Igreja encarregada por Jesus Cristo
de ensinar todas as verdades reveladas, quais são os livros
inspirados e a extensão da sua inspiração.
N. B._De resto, assinalaremos com o Concílio Vaticano I que,
sem recorrer às Escrituras, a divindade da Igreja Católica pode ser
provada.
“A Igreja, diz ele, é em si, pela sua propagação admirável, pela
sua santidade eminente, pela sua fertilidade inesgotável em todos os
tipos de bens, pela sua unidade católica, pela sua estabilidade
invencível, um grande e perpétuo motivo de credibilidade e uma
prova irrefutável de sua missão divina”.
4º Cânon e tradução dos Livros Sagrados.O autêntico catálogo
de Livros Inspirados é chamado de cânone; e os livros que estão
registrados neste catálogo são chamados de canônicos.
Os livros do Antigo Testamento, em número de quarenta e cinco,
eram conhecidos pelos judeus; os do Novo Testamento, em número
de vinte e sete, eram conhecidos pelos cristãos desde a época dos
apóstolos, que os escreveram. Ambos nos foram transmitidos
fielmente pela Tradição. O catálogo ou cânone foi formado, desde os
primeiros tempos do Cristianismo, pelos Concílios e pelos Papas.
O Concílio de Trento lista todos os livros canônicos do Antigo e do
Novo Testamento:
1° É de origem divina; isto é, escrito sob a inspiração de Deus.
2º A sua inspiração é verificada pela autoridade competente: a
Igreja.
3° Este livro deve ser considerado infalível e isento de todos os
erros.

527
A tradução da Sagrada Escrituraaceita pela Igreja é a Vulgata,
em língua latina, da qual uma parte foi feita e a outra corrigida por
São Jerônimo. O Concílio de Trento declarou que é autêntico, isto é,
está em conformidade com o texto original.
Este decreto do Concílio de Trento; corroborada e confirmada
pela do Vaticano I, prova-nos: 1°, que a Vulgata não contém nenhum
erro quanto à fé e aos costumes; 2°, que deve ser considerado
absolutamente fiel em todas as suas partes substanciais, mesmo nas
partes não dogmáticas e morais; Terceiro, que os cristãos possam
usá-lo com total confiança.
B) euPARATRADIAÇÃO
194. _O que é Tradição?
R. _Tradição é a Palavra de Deus não escrita, mas transmitida
pela voz pelos Apóstolos e que nos chegou através do ensinamento
dos Pastores da Igreja.
A Segunda Escritura não é o único repositório da revelação cristã.
Os Apóstolos não escreveram todas as verdades que aprenderam
da boca do seu divino Mestre. Há muitos que foram ensinados
oralmente aos primeiros Bispos, e estes, por sua vez, os
transmitiram aos seus sucessores.
O conjunto destas verdades assim transmitidas chama-se
Tradição, tradição objetiva; agora ao órgão, de transmissão destas
verdades, tradição subjetiva.
O órgão de transmissão dos verdes não escritos não é outro
senão o Magistério da Igreja.
1° Os Apóstolos não escreveram toda a doutrina de Jesus
Cristo.
a) A pregação foi o meio indicado pelo próprio Jesus Cristo para
a propagação do Evangelho. Os Apóstolos não receberam a missão
de escrever a doutrina de Jesus Cristo, mas sim de pregá-la a todo o
universo. Eles nem sequer escreveram um resumo sucinto da
doutrina cristã: seu símbolo foi ensinado em voz alta e recitado de
cor até o século VI. Por isso fazem depender a fé, não da leitura da
Bíblia, mas da escuta da palavra de Deus: Fidex ex auditu, auditus
autem per verbum Dei (São Paulo).
b) Contudo, alguns Apóstolos escreveram uma parte dos
ensinamentos do divino Mestre; mas eles não nos apresentam seus
escritos

528
como um corpo completo da doutrina cristã: Os evangelistas apenas
relatam alguns ensinamentos de Jesus Cristo e os principais fatos da
vida: os autores das Epístolas limitam-se a explicar certos pontos do
dogma ou da moralidade.
São Lucas conta-nos que Jesus Cristo, depois da sua
ressurreição, passou quarenta dias com os seus Apóstolos, dando-
lhes instruções sobre o Reino de Deus, isto é, sobre a sua Igreja e o
Evangelho. Não diz uma palavra sobre estas instruções.
São João, o último dos evangelistas, faz esta nobre advertência:
“E há também muitas outras coisas que Jesus fez, que se fossem
escritas uma a uma, creio que nem no mundo haveria lugar para os
livros isso estaria escrito”223.
c) Além disso, a existência da Tradição é comprovada pelo
próprio uso daqueles que a rejeitam. Os protestantes aceitam a
inspiração divina da Bíblia, a substituição do domingo pelo sábado, o
batismo de crianças, etc. Mas estas verdades e práticas não são
conhecidas exceto pela Tradição: os Livros Sagrados não falam
delas. A Palavra de Deus não está, portanto, contida exclusivamente
na Bíblia.
Entre as verdades que não são conhecidas exceto pela Tradição,
podemos citar a inspiração dos Livros do Antigo e do Novo
Testamento, a designação dos Livros canônicos, o número exato dos
Sacramentos, a obrigação de batizar as crianças antes do uso da
razão ., a da santificação do domingo em vez do sábado, a validade
do batismo conferido pelos hereges, o culto aos santos e às
relíquias, a doutrina das indulgências, a Assunção de Maria
Santíssima em corpo e alma ao céu, etc. Desta forma, a Tradição se
completa, explica as Sagradas Escrituras.
2º Onde estão registrados os ensinamentos da Tradição?As
verdades ensinadas oralmente pelos Apóstolos foram posteriormente
escritas e transmitidas através dos vários meios que a Igreja utiliza
para expressar as suas crenças.
A Tradição Apostólica foi registrada sucessivamente nos
Símbolos (Credos), nos decretos dos Concílios, nos escritos dos
Santos Padres e Doutores da Igreja, nos livros litúrgicos, nos Atos
dos Mártires e nos monumentos de arte ... Cristão.
223Jn. 21, 25.

529
a) Símbolos.Os símbolos dos Apóstolos, de Nicéia, de Santo
Atanásio, demonstram a origem apostólica dos dogmas que contêm.
b) Conselhos.Os Conselhos Gerais são a voz da Igreja
universal. Todos basearam as suas decisões em ensinamentos
anteriores e, particularmente, nos dos primeiros séculos. A sua
doutrina não pode diferir da dos Apóstolos.
c) Escritos dos Santos Padres.Os escritos dos Santos Padres
são o grande canal da Tradição divina. Os escritores eclesiásticos
dos primeiros séculos, reconhecidos como testemunhos da Tradição,
são chamados de Padres da Igreja. Para ter direito a este título são
necessárias quatro condições: doutrina eminente, santidade notável,
antiguidade remota e o testemunho da Igreja.
Os primeiros Padres que registraram por escrito as Tradições
Apostólicas são: São Clemente de Roma, no ano 100. Santo Inácio
de Antioquia, martirizado no ano 107. São Policarpo, Mártir (166).
São Justino, filósofo e mártir (166). Santo Irineu, Bispo de Lyon
(202). São Clemente de Alexandria (217), etc.
Seus contemporâneos, Tertuliano, Orígenes, Eusébio, etc., nada
mais são do que escritores eclesiásticos, porque sua santidade não
foi provada. Se às vezes são chamados de Padres, é devido à sua
antiguidade e ao brilho da sua doutrina.
Os Padres da Igreja estão divididos em duas categorias: Padres
Gregos e Padres Latinos.
Os principais Padres Gregos são: Santo Atanásio, patriarca de
Alexandria (296_373). São Basílio, Arcebispo de Cesaréia
(329_379). São Gregório, Arcebispo de Nazianzo (329_389). São
João Crisóstomo, Arcebispo de Constantinopla (347_407).
Os principais Padres Latinos são: Santo Ambrósio, Arcebispo de
Milão (340_397). São Hilarus, Bispo de Poitiers, morreu em 367. São
Jerônimo, sacerdote, tradutor da Bíblia (346_429). Santo Agostinho,
Bispo de Nippon (358_430). São Gregório Magno, Papa (543_604).
Os Padres podem ser considerados testemunhas da Tradição e
doutores da Igreja. Como testemunhas, possuem autoridade
especial. Quando todos, e mesmo vários, apresentam uma doutrina
como pertencente à Tradição Apostólica, merecem o assentimento
da nossa fé. E, na verdade, é impossível

530
Autores de diferentes países, de diferentes nacionalidades, de
diferentes séculos, concordaram em registar as mesmas crenças
nas suas obras, caso não as tivessem recebido da Tradição
Apostólica.
Quando os Santos Padres falam simplesmente como médicos,
expondo as suas próprias ideias ou tentando provar a doutrina cristã,
merecem um grande respeito, mas não um sentimento incondicional,
porque o seu ensino não está identificado com o da Igreja.
Doutores da Igreja.Entre os Padres, os mais ilustres pela
doutrina e pelos serviços prestados à Ciência Sagrada levam o título
de Doutores. A Igreja também confere este título a certos escritores
eminentes na santidade e na doutrina que não podem ser listados
entre os Padres porque viveram num tempo muito distante dos
tempos apostólicos. Os mais sábios são: São Tomás de Aquino, São
Boaventura, Santo Afonso Maria de Ligório, São Francisco de Sales,
etc. Atualmente são 33 Doutores da Igreja, são três mulheres: Santa
Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila e Santa Teresinha do
Menino Jesus.
Livros litúrgicos.As verdades ensinadas pelos Apóstolos
também são encontradas nos livros litúrgicos. O Missal, o Pontifício,
o Ritual, o Breviário, etc., contêm as orações, as cerimônias
utilizadas para o Santo Sacrifício, a administração dos Sacramentos,
a celebração das festas. Estes livros, que datam dos primeiros
séculos, são de extrema importância porque são testemunho, não da
opinião de alguns homens, mas da fé de toda a Igreja.
Registros dos mártires.Estes Atos, ao nos revelarem as
verdades que os mártires selaram com o seu sangue, fornecem-nos
uma prova incontestável da fé primitiva da Igreja.
Monumentos públicos.As inscrições, gravadas em túmulos ou
monumentos públicos, atestam as crenças dos primeiros cristãos
sobre o batismo das crianças, a invocação dos santos, o culto às
imagens e relíquias, a oração pelos mortos, etc. Assim, os
confessionários encontrados nas Catacumbas de Roma comprovam
a instituição divina da confissão sacramental. Estes testemunhos são
tanto mais valiosos porque a sua antiguidade não pode ser posta em
dúvida.

3ª Autoridade da Tradição.A Tradição tem a mesma autoridade


que a Sagrada Escritura? Sim; A tradição tem a mesma

531
autoridade, porque é também a Palavra de Deus. E com razão, pois
consiste nas verdades que Deus revelou e que nos preserva através
do ensinamento infalível da Igreja.
É por isso que o Concílio de Trento “recebe com igual respeito e
amor todos os Livros do Antigo e do Novo Testamento, cujo autor é
Deus, e todas as Tradições que se referem à fé e aos costumes
ditados pela boca de Jesus Cristo ou pelo Espírito Santo e
constantemente preservado na Igreja Católica.
“É fácil distinguir, através das seguintes regras, as Tradições
divinas daquelas que têm origem puramente humana:
a) Toda doutrina não contida nas Escrituras e aceita como fé pela
Igreja pertence à Tradição divina. De acordo com esta regra,
reconhecemos todos os livros canônicos como inspirados por Deus.
b) Todos os costumes da Igreja encontrados em todos os séculos
passados, sem que a sua instituição tenha sido atribuída a qualquer
Concílio ou Papa, devem ser considerados como instituídos pelos
Apóstolos. De acordo com esta regra, consideramos o jejum
quaresmal, o sinal da cruz, etc., como uma instituição apostólica.
e) O consentimento unânime, ou quase unânime, dos Padres a
respeito de um dogma ou de uma lei de que não se fala na Sagrada
Escritura, é sinal infalível de que este dogma ou esta lei pertence à
Tradição Divina e do que os Apóstolos ensinaram depois de ter
aprendido com Jesus Cristo” (Marotte).
195. P. _Jesus Cristo deu à sua Igreja o poder de determinar
em que devemos acreditar e o que devemos fazer para ir para o
céu?
R. _Sim; Jesus Cristo deu à Igreja docente, isto é, ao Papa e aos
Bispos unidos ao Papa, o poder de estabelecer as verdades que
devem ser acreditadas e os preceitos que devem ser observados
para ir para o céu.
Por esta razão, o Magistério da Igreja é chamado: a regra de fé e
de moral. Chamamos de regra de fé o meio infalível pelo qual Deus
nos ensina as verdades que Ele revelou e os deveres que Ele nos
impõe. Isto significa que é o Magistério da Igreja.
Ninguém é livre de explicar a Sagrada Escritura e a Tradição à
sua maneira; Devemos nos submeter ao ensino da Igreja,
estabelecida para nos dizer em que devemos acreditar e como
devemos agir.
O Magistério da Igreja é a regra de fé e de moral.Somente
aqueles que receberam a missão oficial para fazê-lo são aqueles que
532
têm o direito de regular a nossa fé e a nossa moral. Foi assim que só
aos Apóstolos Cristo disse: «Ide e ensinai todas as nações... quem
não

533
acredito que será condenado". Portanto, o Magistério da Igreja é a
regra de fé e de moral.
De resto, a razão mostra-nos a necessidade de uma regra que dê
aos fiéis a noção das verdades em que devem acreditar; dos
deveres que devem ser explicados. Exigir que cada homem, sábio e
ignorante, estude as Escrituras e a Tradição por si mesmo para
conhecer o dogma e a moralidade revelados, o significado e as
consequências desta revelação, é pedir o impossível. O divino
Salvador não poderia fazer depender a salvação de tal meio: por isso
confiou apenas aos Apóstolos, e por meio deles à autoridade
docente da Igreja, a missão de ensinar a doutrina que ele havia
trazido do céu.
Além disso, a autoridade da Igreja não é menos necessária para
preservar intactas as verdades outrora conhecidas e para resolver as
controvérsias que surgem sobre elas. Os ensinamentos contidos nas
Sagradas Escrituras e nas Tradições Apostólicas são muitas vezes
obscuros e difíceis de compreender. Por isso dão origem a
interpretações contrárias; O protestantismo nos oferece numerosos
exemplos disso. Era portanto necessário um juiz vivo, um intérprete
autêntico, para estabelecer o sentido da revelação divina e condenar
os erros. Jesus Cristo instituiu o Magistério da Igreja, diz São Paulo,
para que não vacilemos, como crianças levadas por qualquer vento
de doutrina. Por esta razão, o Governador Supremo da Igreja e os
Bispos em comunhão com Ele são os únicos intérpretes legítimos e
infalíveis das Escrituras e da Tradição, única regra viva de fé e
moral.

196. P. _O Magistério da Igreja possui as qualidades


necessárias para regular a fé e os costumes dos cristãos?
R._Sim, o Magistério da Igreja possui todas as qualidades
necessárias para estabelecer as verdades que devem ser
acreditadas e os deveres que devem ser cumpridos.
Uma regra de fé deve ser:
1º No seu princípio, de instituição divina;
2° Pela sua natureza, acessível a todos, clara e infalível;
3° E seus efeitos, apropriados para manter em todos os lugares a
unidade das crenças e da moral.
E estas três qualidades são reunidas pelo Magistério da Igreja.

534
Qualidades exigidas para uma regra de fé. A regra de fé deve ser:
1° Instituído por Deus:porque só Deus tem o direito de nos impor
a fé.
2° Acessível a todos:Deus quer a salvação de todos: a salvação
dos ignorantes, bem como a dos sábios.
Claro:Ele deve dissipar as dúvidas, acabar com todas as
controvérsias e dizer claramente o que deve ser acreditado e o que
deve ser feito.
Infalível:Para acreditar é preciso ter certeza da verdade, e
para agir é preciso conhecer com certeza o próprio dever: uma lei
duvidosa não é obrigatória.
3º Adequado para manter a unidade da fé e da moral:Esta
unidade não pode ser mantida senão pela crença nas mesmas
verdades reveladas e pela prática dos mesmos deveres, impostos
em nome da autoridade de Jesus Cristo.
O Magistério da Igreja possui todas estas qualidades:
1° É de instituição divina, já que Jesus Cristo comissionou seus
apóstolos a ensinar todas as nações.
2° É acessível a todos:Resolve as dúvidas dos sábios e poupa
aos ignorantes o trabalho de um exame do qual não serão capazes.
Seus ensinamentos são claros, porque a Igreja sempre
especifica o sentido em que a palavra de Deus deve ser entendida.
Eles são infalíveis, porque Jesus Cristo preserva a sua
Igreja de todo erro.
3º Este Magistério mantém a unidade de crença entre os
cristãos,porque ele tem o direito de impor suas decisões. Quando
um juiz infalível fala, não há espaço para dúvidas ou controvérsias.
197. P. _Por que a Bíblia não é, como afirmam os
protestantes, a regra de fé e moral?
A. _A Bíblia não é a regra de fé e moral por três razões principais:
1° Jesus Cristo não estabeleceu a Bíblia como regra de fé, mas
sim o Magistério vivo, infalível e perpétuo da Igreja.
2° A verdade revelada não está contida, inteiramente, na Bíblia;
Também é encontrado na Tradição.

535
3° Nem todos os fiéis são capazes de ler, compreender e
interpretar a Bíblia de forma infalível.
A Bíblia, como todos os códigos, precisava de um tribunal infalível
para interpretá-la em última instância, sob pena de ter tantas
interpretações quantos fossem os indivíduos.
1° Como regra de fé, Jesus Cristo instituiu um Magistério vivo,
infalível e perpétuo.
Um Magistério vivo,porque conferiu aos enviados vivos a
missão de ensinar todas as nações.
Um Magistério infalível, porque Jesus Cristo promete ajudar os
seus apóstolos: “Estou sempre convosco até ao fim dos tempos”.
Um Magistério perpétuo, já que deve durar até o fim do mundo.
Mas Jesus Cristo era livre para escolher os meios que lhe
parecessem melhores para ensinar às gerações futuras as verdades
que ele trouxera à Terra e os deveres que impôs aos homens.
Então, quem não acreditar neste Magistério instituído por Cristo será
condenado: “qui non crediderit condenaabitur”.
2º A revelação não está inteiramente contida na Sagrada
Escritura.Um grande número de verdades reveladas foram
conhecidas pela tradição oral, transmitidas pelos Apóstolos às
gerações do seu tempo e por eles às gerações seguintes até nós.
Tal como Jesus Cristo, os Apóstolos ensinaram de boca em boca, e
os Evangelhos e Epístolas não contêm todos os ensinamentos
divinos (ver nº 194).
3° Os protestantes têm como regra de fé a interpretação
individual da Bíblia, ou seja, o exame gratuito. Mas o exame gratuito
não é a regra da fé.
a) O exame gratuito não é uma instituição divina:Jesus Cristo
não disse: Leia a Bíblia, mas ouça a Igreja: “Aquele que não escuta a
Igreja, seja para vocês como gentio e publicano”; ... “quem te ouve,
me ouve”.
b) Não é acessível a todos:Alguns não sabem ler, outros não
têm tempo, outros não têm gosto para isso e a humanidade, como
um todo, é incapaz de buscar a religião na Bíblia.
Não é uma regra de fé clara e precisa, e isso é comprovado pelo
fato de os protestantes não concordarem entre si, nem sobre o
número

536
dos Livros Sagrados, nem sobre a interpretação dos textos: eles não
possuem um símbolo único ou regra fixa de moralidade.
Não é infalível, porque Jesus Cristo prometeu infalibilidade
apenas aos Apóstolos e seus sucessores, e não aos simples fiéis.
c) O exame gratuito abre a porta para todas as dúvidas,a
todas as contradições, à anarquia religiosa. A experiência de três
séculos prova isso com todas as evidências.
Anotações importantes.
1º A Igreja foi fundada e propagada pelo ensinamento oral dos
Apóstolos antes do aparecimento dos Livros do Novo Testamento,
que só foram concluídos no final do século I. Portanto, a Igreja é
anterior a esses livros, e portanto Da mesma forma , a Bíblia não
poderia ser a regra de fé para os primeiros cristãos
Como será então para os cristãos dos séculos seguintes?... A
religião de Jesus Cristo não muda.
2º A Bíblia, como regra de fé, é um meio contrário à natureza da
religião revelada e à natureza do homem.
a) Essencialmente positiva nos seus dogmas e na sua
moral, a religião revelada deve ser imposta à inteligência e à vontade
do homem por uma autoridade externa que fala em nome de Deus.
b) Por outro lado, uma religião divina deve estar em
harmonia com as necessidades da natureza humana. Assim, o
homem é um ser instruído, que sempre recebeu educação religiosa e
moral através do ensino oral da sociedade da qual faz parte.
Portanto, a Bíblia não pode ser a regra da fé cristã.
3º O simples bom senso condena o sistema protestante. De
acordo com todos os povos civilizados, todo código exige um tribunal
para interpretá-lo e aplicá-lo; e isto apesar de um código de leis, que
é a regra de ação, ser claro, coordenado, escrito na língua do povo
que deve governar. Com tudo isso, é sempre objeto de inúmeras
polêmicas, que só podem ser resolvidas por um tribunal supremo.
A Sagrada Escritura, que é o código dos cristãos, não possui
essas qualidades enumeradas: tanto mais razão, então, que precisa
de um tribunal para explicá-la.

537
A Bíblia não é clara. Segundo o próprio São Pedro, contém
coisas difíceis de compreender224.
Não é uma coleção coordenada de dogmas e preceitos. Os seus
setenta e dois livros são muito diferentes: alguns são históricos,
outros morais... e outros poéticos.
Está escrito em hebraico e grego, duas línguas mortas,
inacessíveis ao povo comum.
Não basta, então, conhecer a Bíblia; Você deve ter certeza de
que possui o verdadeiro texto das escrituras, de que conhece o
verdadeiro significado das palavras divinas. E esta certeza só nos
pode chegar a partir do Magistério vivo da Igreja Católica.
É, portanto, impossível que a Bíblia seja a regra de fé. Se Deus
tivesse estabelecido a Bíblia como regra de fé, ele teria excluído
quase todos os homens da salvação eterna: o que é blasfêmia e na
qual ninguém jamais acreditará.
Então, o protestantismo que vem nos dizer “Passem sem a Igreja
e os sacerdotes: contentem-se apenas com a palavra de Deus
contida na Bíblia” não pode ser e não é o verdadeiro cristianismo,
porque não é a religião do povo, a religião de todos225.
Conclusão.Os protestantes reconhecem tanto a insuficiência da
leitura da Bíblia como regra de fé que se submetem ao ensino dos
seus pastores. Têm catecismo, sermões, sínodos e até símbolos. No
entanto, recusam-se a reconhecer o Magistério infalível da Igreja
instituída pessoalmente por Nosso Senhor Jesus Cristo.
C) EiNFALIBILIDADE DEMAGISTÉRIO DOEiGlésia
198: P. _Pode a Igreja ser enganada no seu ensino?
R. _Não, a Igreja não pode ser enganada no seu ensino, porque
Jesus Cristo prometeu estar sempre com Ela para preservá-la de
todo erro; É por isso que é infalível.
Infalibilidade é o privilégio de não poder cometer erros. Deste
privilégio resulta que os fiéis tenham a segurança de nunca cair em
erro quando acreditam nos ensinamentos da Igreja.

224II Animal de Estimação. 3, 16.

225Você pode ver: Mons. de Segur, Causeries sur le Protestantisme.

538
A Igreja é o sol que nos ilumina e nos guia; Quem ouve a sua voz
não se desvia.
Já comprovamos a infalibilidade da Igreja docente (ver n.148).
Também demonstramos a infalibilidade do Papa quando fala ex
cathedra (ver nº 164). Cremos ser útil resumir aqui tudo o que diz
respeito à autoridade doutrinal ou ao Magistério infalível da Igreja,
nas três questões seguintes:

199. P._A quem Jesus Cristo conferiu infalibilidade?


A. _Jesus Cristo conferiu infalibilidade:
1° A Pedro e na sua pessoa, a todos os Papas, seus sucessores
no governo da Igreja.
2° Ao Colégio Apostólico e, consequentemente, ao corpo dos
Bispos unidos ao Papa, quer reunidos em Concílio, quer dispersos
nas suas dioceses.
O Papa e os Bispos unidos ao Papa são fontes de fé; Eles
constituem a Igreja docente.
Os párocos de segunda ordem: os párocos, os sacerdotes,
colaboradores dos Bispos, não são juízes da fé, recebem do Papa e
dos Bispos o ensinamento que transmitem aos fiéis.
1º Pedro é o fundamento sobre o qual Jesus Cristo edificou a sua
Igreja, e este fundamento é inalterável. Mas se Pedro pudesse errar,
os alicerces seriam abalados e a Igreja cairia. Portanto, o Cabeça da
Igreja é infalível em virtude das promessas de Jesus Cristo (ver nº
164).
2° Jesus Cristo disse aos seus Apóstolos, unido a Pedro: “Ide e
ensinai todas as nações... Eu estarei convosco sempre até o fim dos
tempos”. O Colégio Apostólico deve durar, portanto, até o fim dos
séculos e ser infalível, pois o Salvador está com ele todos os dias até
o fim do mundo. Assim, o sucessor do Colégio Apostólico só pode
ser o Corpo Episcopal, ou seja, o Corpo dos Pastores, o Corpo
Episcopal. Os Bispos Apóstolos estavam unidos e subordinados a
Pedro. Portanto, o Corpo Episcopal em união com o Papa é infalível,
como o Colégio Apostólico, em virtude da assistência permanente de
Jesus Cristo.
Isso significa que cada Bispo é infalível? Não; isso não é
necessário. O erro de alguns Bispos pode ser facilmente corrigido
pelo Chefe da Igreja ou pelo Concílio geral. Mas se todo o corpo da
Igreja docente pudesse errar, o mal seria
539
irreparável, e a promessa de Cristo não teria valor, o que é
impossível. Portanto, a infalibilidade reside:
a) No Sumo Pontífice,quando fala ex cathedra, isto é, como
Pastor e Doutor da Igreja universal.
b) No Corpo Episcopal, ou o grupo dos Bispos, mas unidos ao
Papa. Esta união dos Bispos com o Papa forma o que se chama
Corpo de Pastores, o Corpo Episcopal; Sem o Papa, os Bispos
formam um corpo sem cabeça.
c) O corpo episcopal é infalível (com o Papa),quer esteja
reunido num Conselho geral, quer esteja disperso pelo mundo.
Embora o Corpo dos Bispos esteja disperso, unido à sua cabeça,
continua a ser a Igreja docente.
O Papa e o Concílio não são duas autoridades infalíveis
diferentes: uma é a cabeça, as outras são membros de um corpo
único e indivisível. Os bispos são juízes infalíveis da fé, não como
pastores particulares, mas como membros do corpo episcopal, cujo
chefe e chefe necessário é o Papa. A infalibilidade divina que é
ensinada, portanto, é sempre única, seja apenas pelo Papa, seja
pelo Episcopado sob a autoridade do Papa226.
Os padres nas suas paróquias, os teólogos nos seus livros, os
médicos nas suas cátedras, não são infalíveis. Contudo, os fiéis não
devem ter medo da verdadeira doutrina. Porque, 1°, cada pastor
prega, não as suas próprias opiniões, mas os dogmas proclamados
pela Igreja; 2°, se cometer um erro, será imediatamente descoberto e
excluído pelo seu Bispo; 3°, o Bispo, por sua vez, seria
imediatamente condenado pelo Papa infalível.
200. P. _Em que a Igreja é infalível?
R. _A Igreja é infalível em tudo o que nos ensina sobre as
verdades que devemos acreditar e os deveres que devemos praticar
para ir para o céu.
Visto que a Igreja substitui Nosso Senhor Jesus Cristo na
instrução dos homens, ela deve ser infalível no seu ensino como o
próprio Filho de Deus.
A Igreja, então, é infalível:

226 Embora todos os Bispos do mundo se reúnam para afirmar algo de fé e de moral diferente do Papa, a infalibilidade cabe ao
Papa e não aos Bispos reunidos. E se o Papa dissesse algo na fé e na moral diferente de todos os Bispos do mundo e de qualque r
Concílio, o Papa tem infalibilidade e teríamos que obedecê-lo, mesmo que ele esteja sozinho.

540
1º Definir as verdades em que se deve acreditar;
2º Delinear para os cristãos as regras da
moralidade;
3º Estabelecer o que diz respeito ao culto e à disciplina
eclesiástico.
1° A Igreja é infalível quanto à fé.Estabelecer o Cânon dos
Livros Sagrados; interpretar o verdadeiro significado das Escrituras;
discernir as verdadeiras Tradições divinas; definir os artigos de fé;
formular os símbolos; resolver controvérsias religiosas; condenar
heresias e livros heréticos.
O objeto da infalibilidade da Igreja abrange na sua extensão, não
só todos os pontos de fé e de moral contidos na Sagrada Escritura e
na Tradição, mas também tudo o que é necessário para a
conservação e para o ensino integral da doutrina de Jesus Cristo :
tais são os fatos dogmáticos, como a legitimidade deste ou daquele
Concílio, etc. Se a Igreja não fosse infalível nisso, não poderia
preservar e defender o depósito sagrado das verdades reveladas.
A Igreja não é infalível em questões de doutrinas puramente
naturais. A sua missão não é ensinar história, geologia, astronomia e
outras ciências. Por isso nada está definido sobre esses assuntos,
deixando ao espírito humano total liberdade em suas investigações.
Mas quando os chamados homens sábios estabelecem princípios
ou tiram conclusões contrárias à fé ou à moralidade, as suas
proposições já não são puramente científicas; Eles penetram no
domínio da revelação, onde a Igreja infalível tem, a partir desse
momento, o dever de julgá-los e condená-los. Estas chamadas
proposições científicas, quando contradizem a revelação, são falsas,
porque a verdade não pode ser oposta à verdade. Com justiça,
então, a Igreja condenou o materialismo e os seus princípios
desastrosos.
2º A Igreja é infalível no que diz respeito à moralidade.A
Igreja, fundada para demonstrar aos homens o caminho da
santidade, deve ser infalível na interpretação da lei natural e na
promulgação dos preceitos do Evangelho.
Consequentemente, a Igreja é infalível naquilo que hoje chamam
de doutrinas da ordem social, porque se referem às verdades
reveladas e à santificação dos povos cristãos.
3° A Igreja é infalível quando se trata de disciplina.
O nome da disciplina inclui as leis e os

541
regulamentos relacionados com o governo externo da Igreja: tudo o
que a Igreja decreta ou aprova, em matéria de disciplina ou liturgia,
está de acordo com a fé, a piedade e a moral sã. A Igreja é, portanto,
infalível na promulgação de leis, na aprovação das regras e
constituições das ordens religiosas, na prescrição de cerimónias
litúrgicas, etc.
Finalmente, a Igreja é infalível na Canonização dos
Santos.Ele não pode declarar, através de um julgamento solene e
definitivo, que tal pessoa goza de bem-aventurança eterna no céu se
tiver morrido na desgraça de Deus.
Tal erro seria contrário aos bons costumes, pois a Igreja propõe
santos canonizados para veneração e imitação dos seus fiéis.
N. B._Há uma grande diferença entre os artigos de fé e as leis da
Igreja. O Papa não pode mudar os artigos de fé, porque estes
artigos, definidos pela autoridade infalível de Deus, são verdades
imutáveis e eternas: o Papa deve acreditar neles com a mesma
submissão com que cada cristão acredita neles.
Mas o Papa, sozinho ou em Concílio, pode modificar e mudar as
leis disciplinares, de acordo com as necessidades dos tempos, a
utilidade das almas. Ele é sempre assistido pelo Espírito Santo para
governar a Igreja, e Jesus Cristo nunca permitirá que o seu vigário
comande algo contrário à glória de Deus e à salvação dos homens.
201. P. _Como a Igreja propõe verdades reveladas à fé dos
cristãos?
R. _A Igreja propõe verdades reveladas à fé dos cristãos de duas
maneiras: uma ordinária e universal, e outra extraordinária e solene.
1° O Magistério ordinárioConsiste na pregação unânime e
constante dos Pastores da Igreja, no ensino dos Catecismos e nas
prescrições das práticas de culto.
2º O Magistério extraordinárioÉ exercido com as definições ex
cathedra dos Sumos Pontífices e com os decretos dos Concílios
Ecumênicos.
A igreja docente é ativamente infalível, ou seja, ensina sem nunca
conseguir enganar a si mesma. A Igreja ensinada ou dissidente é
passivamente infalível, isto é, ao ouvir o Papa e os bispos unidos ao
Papa, nunca pode ser levada ao erro; O

542
Toda a Igreja é, portanto, infalível, una no ensino; o outro em
obediência.
1) O Magistério ordinárioÉ o que os Bispos ou os seus
delegados exercem ao instruir os fiéis sobre as verdades da fé, quer
através do Catecismo, da pregação, do ensino da teologia, quer
através da prática da religião e das cerimónias de culto. Esta forma
de ensinar é a mais utilizada, geralmente é suficiente para preservar
a fé de todo erro.
A Igreja não pode cometer erros no seu ensinamento constante e
universal; Caso contrário, Jesus Cristo não estaria com a Sua Igreja
todos os dias até o fim dos tempos, e as portas do inferno
prevaleceriam contra Ela.
Seria um erro, então, pretender que não se deve acreditar com fé
católica exceto naquilo que é apenas proposto ou definido. Se assim
fosse, muito poucos artigos teriam sido impostos à fé dos primeiros
cristãos. A maior parte dos dogmas não foram propostos pelo
Magistério extraordinário da Igreja, mas sucessivamente, à medida
que se tornou necessário defendê-los contra os ataques da heresia.
Devemos, portanto, acreditar com fé católica em tudo o que os
Pastores comumente propõem como verdades reveladas, nas suas
instruções pastorais, pregações, catecismos, etc. Este Magistério
ordinário da Igreja é infalível: um Pastor pode errar, mas o erro não
pode ser comum, universal. O que foi professado e ensinado como
dogma de fé em todos os tempos, em todos os lugares e por todos
os pastores, é evidentemente revelado por Deus.
2) Ensino extraordinário.Mas pode acontecer que o erro
encontre adeptos entre os fiéis e até entre os Pastores. A verdade,
para triunfar, pede então definições mais claras que dissipem as
dúvidas e ponham fim a todas as controvérsias. Frequentemente, o
Papa, Chefe da Igreja, pronuncia estas definições dogmáticas ou
morais ex cathedra e decide solenemente sobre as questões em
disputa. Já vimos antes as condições de infalibilidade destas
sentenças (n. 164). Outras vezes, o Papa convoca todos os Bispos
do universo para um Concílio: eles formulam decretos ou cânones
sobre dogma, moralidade e disciplina. Esses decretos são infalíveis
porque são ditados pelo ensino da Igreja.

543
No entanto, as definições dogmáticas têm por objeto apenas os
pontos de doutrina diretamente definidos, e não as consequências
que deles decorrem227: apenas estes pontos são de fé católica.
Suas consequências serão simplesmente a fé divina para quem as
vê claramente nas instalações.
202. P. _Todos os católicos são obrigados a acreditar nos
ensinamentos da Igreja?
R. _Sim; Todos os cristãos são obrigados a acreditar nos
ensinamentos da Igreja, porque Jesus Cristo disse aos seus
apóstolos e aos seus sucessores: “Quem vos ouve, ouve-me; Quem
te despreza, me despreza.”
Acreditar em todas as verdades reveladas por Cristo e ensinadas
pela Igreja: tal é o dever sagrado imposto a todos os membros desta
sociedade espiritual.
Quem se recusa a acreditar na palavra de Deus interpretada pela
igreja, deixa de ser cristão, deixa de estar no caminho da salvação:
“...quem não acreditar será condenado”.
A Igreja é uma sociedade espiritual que tem como objetivo
principal manter a pureza da fé e a interpretação sã da palavra de
Deus, contida nas Sagradas Escrituras e na Tradição. A lei
fundamental que une os membros da Igreja é acreditar no que Ela
ensina como se o próprio Deus falasse. “Quem vos escuta, ouve-
me”, disse Cristo aos seus Apóstolos, nos quais estava a Igreja
nascente. São Paulo declara que se Jesus Cristo estabeleceu
Pastores e Médicos é para que os homens não fiquem à mercê de
todos os ventos de doutrina e para que alcancem a unidade da fé:
“Um só Deus, uma só fé, um só batismo” 228. É por isso que ele
chamou a Igreja de coluna e fundamento da verdade.

2ºdDEVEMOS OBEDECER OS PRECEITOS DA


AUTORIDADE PASTORAL DOEiGlésia
203. P. _Jesus Cristo deu à sua Igreja autoridade pastoral
para governar os cristãos?
R. _Sim; Jesus Cristo deu à Igreja autoridade pastoral para
governar os cristãos. Ele disse aos Apóstolos: “Todo o poder me deu

227Isto é, não as verdades que alguns dela deduzem, a menos que a Igreja aprove posteriormente tal interpretação.

228Ef. Quatro cinco.

544
foi dado no céu e na terra...; “Assim como meu Pai me enviou, eu
também vos envio…”Portanto, a Igreja recebeu de Jesus Cristo,
como Jesus Cristo recebeu de Deus Pai, pleno poder para governar
os homens.
O poder governamental da Igreja inclui o poder de fazer leis,
pronunciar sentenças, punir os culpados. Ou seja, o poder
legislativo, judicial e coercitivo ou executivo (ver nº 145).
Jesus Cristo deu à sua Igreja o poder de fazer leis, quando disse
aos Apóstolos: “Tudo o que ligardes na terra será ligado no céu…”. É
por isso que em todos os momentos a igreja usou esse poder. No
Concílio de Jerusalém, os Apóstolos promulgaram leis. São Paulo
percorreu a Síria e a Cilícia recomendando que fossem observados
os preceitos dos Apóstolos. Os cristãos da Igreja nascente
santificavam o domingo, praticavam o jejum, etc. Eles obedeceram
às leis dos apóstolos.
Uma sociedade perfeita tem o poder de direcionar os seus
membros, através de leis, para o objetivo comum. Mas a Igreja é
uma sociedade não só perfeita e independente, mas também
superior a todas as outras. Então, com razão ainda maior, tem o
poder de ditar leis para orientar os seus membros para o seu fim
sobrenatural.
O poder legislativo da Igreja tem por objeto a pregação e o ensino
da Palavra de Deus, a observância dos preceitos e conselhos do
Evangelho, a administração dos Sacramentos e o exercício do culto
divino.
204. P. _Por que a Igreja nos impõe leis?
R. -A Igreja nos impõe leis para nos orientar na observância dos
mandamentos de Deus e para nos facilitar a prática do Evangelho.
Os mandamentos da IgrejaNão são um fardo novo: pelo
contrário, facilitam-nos a observância dos mandamentos de Deus.
Aqui está a evidência:
1º Nas Sagradas Escrituras, Deus ordena que nos lembremos
dos dias em que ele nos concedeu favores. A Igreja, mais
explicitamente, determina estes dias e fixa a sua data no decorrer do
ano: Santificareis as festas.
2º Nas Escrituras, Deus ordena-nos que santifiquemos os dias
que foram reservados para o seu culto. Por quais obras eles devem
ser santificados? A Igreja explica-nos isto: prescreve que
frequentemos

545
ao ato religioso mais augusto e sagrado: ouvireis toda a missa no dia
Domingos e outros feriadossalvar.
3º No Evangelho, Deus ordena que nos apresentemos aos
sacerdotes, investidos por Ele para podermos perdoar os pecados.
Quando você deve confessar para cumprir esse preceito? A Igreja nos
diz: Pelo menos uma vez por ano.
4° No Evangelho, Jesus Cristo ordena que nos alimentemos com o
seu Corpo, sob pena de sermos excluídos da vida eterna.
Quando você deve comungar? A Igreja diz-nos: Pelo menos na
Páscoa e quando se prevê perigo de morte.
5º Nos nossos Livros Sagrados, Deus muitas vezes nos ordena a
fazer penitência, a mortificar as nossas paixões, a expiar os nossos
pecados. Que penitência deve ser feita? A Igreja marca certos dias
de jejum e abstinência.
Assim, os mandamentos da Igreja não nos impõem novas
obrigações: apenas determinam a forma de cumprir os preceitos
divinos. Ao ditar-nos estes mandamentos, a Igreja age como uma
Mãe amorosa que indica precisamente aos seus filhos as ordens do
pai de família.
N. B._Não devemos esquecer, porém, que a Igreja, em virtude da
autoridade legislativa que recebeu de Jesus Cristo, pode ditar todas
as leis que considere úteis para a glória de Deus e a salvação das
almas.
205; P. -Os cristãos são estritamente obrigados a obedecer
às leis da Igreja?
R. _Sim; Os cristãos são estritamente obrigados a obedecer às
leis da Igreja, porque quem desobedece à Igreja desobedece ao
próprio Jesus Cristo, e deve ser considerado gentio e publicano.
Além disso, o simples facto de Jesus Cristo ter dado à sua Igreja
o poder de ditar leis é suficiente para demonstrar a obrigação que
todos os cristãos têm de obedecê-las; Caso contrário, esse poder
seria inútil.
Os mandamentos da Igreja são obrigatórios para todos os
cristãos, assim como os mandamentos das leis de uma nação são
obrigatórios para todos os seus cidadãos.
Os mandamentos da Igreja são vinculativos como os
mandamentos de Deus, pois emanam da mesma autoridade; mas
eles não têm o mesmo caráter.

546
Os mandamentos de Deus são de lei natural e imutáveis; Os da
Igreja são direito positivo e podem ser alterados, modificados e até
revogados.
Você nunca poderá estar isento dos mandamentos de Deus,
porque eles são baseados na lei natural; mas pode-se estar isento
dos mandamentos da Igreja, quando a sua observância causa sérios
danos.
Esta resposta refuta a objeção vulgar: estou pronto a obedecer a
Deus, mas não aos sacerdotes, que são homens como eu.
R. _Os padres não são homens como você:O homem privado
não é o homem público. Obedecer ao pai, como pai, não é obedecer
à fome, mas sim ao representante de Deus, que é o autor de toda
paternidade. Obedecer ao Chefe de Estado, como Chefe de Estado,
não é obedecer ao homem, mas obedecer ao lugar-tenente de Deus,
de quem emana toda a autoridade. Obedecer ao sacerdote, como
sacerdote, não é obedecer ao homem, mas sim ao mensageiro de
Deus, autor da paternidade e autoridade na ordem sobrenatural.
Você diz: os sacerdotes são homens como os outros. Já que
você raciocina dessa maneira, conceda aos outros o direito de fazer
o mesmo. Então a criança dirá: Meus pais são homens como os
outros, e ela os considerará estranhos. O soldado dirá: meus líderes
são homens como os outros e não os respeitará. O sujeito dirá: Os
governantes são homens como os demais e ele violará todas as leis.
O trabalhador dirá: domingo é um dia como qualquer outro, e ele vai
trabalhar de manhã, ficar bêbado à tarde e acabar sendo brutalizado.
Veja aonde isso leva, seu raciocínio muito engraçado...
“Resista à autoridade,São Paulo diz, é resistir à ordem de Deus.
“Aqueles que resistem atraem condenação.” O Papa e os Bispos são
os representantes de Deus; eles falam e ordenam em seu nome;
desobedecer às suas leis é desobedecer ao próprio Deus. Quem os
despreza, despreza a Deus.
206. P. _Todos os cristãos também são obrigados a
obedecer às ordens do Papa, Cabeça da Igreja?
R. _Sim; Todos os cristãos são obrigados a obedecer às ordens e
orientações do Sumo Pontífice.
Devemos obedecer ao Papa, não só quando ele define em
virtude da sua infalibilidade, mas também quando governa e dirige.
Se o Papa for

547
Doutor infalível, é também o Governador supremo e permanente da
Igreja e tem direito à nossa obediência.
O Pastor dirige e governa seu rebanho. Jesus Cristo nomeou São
Pedro para apascentar, dirigir e governar os cordeiros e ovelhas do
seu rebanho.Felizes os homens que se deixam dirigir e guiar pelo
Vigário de Jesus Cristo!
É um dever de todo cristão obedecer ao Papa. O Concílio
Vaticano I, cujo decreto citamos, lembra aos cristãos o dever de
obediência ao Hierarca Supremo da Igreja: “Anátema, diz ele, para
quem afirma que o Romano Pontífice não tem o poder plano e
supremo de jurisdição sobre toda a Igreja, não só no que diz respeito
à fé, ou aos costumes, mas também no que se refere à disciplina e
ao governo da Igreja universal.” É, portanto, um dever obedecer ao
Papa. É também uma honra, porque o Papa ocupa o lugar de Jesus
Cristo na terra: é o seu Vigário, o seu representante oficial. Obedecer
ao Papa é obedecer ao próprio Jesus Cristo.
Pelo contrário, desobedecer ao Papa é uma ofensa grave.
Desobedecer ao Papa, discutindo a natureza e a importância das
suas ações, não é tornar-se juiz das suas ordens, da sua extensão,
da sua oportunidade? Isto não abre a porta à crítica, ao desprezo
pela autoridade papal, ao livre exame? Discutir as ordens do Papa é
perturbar a ordem estabelecida por Jesus Cristo na sua Igreja.
Então, quem deve ser guiado quer guiar, quem deve obedecer
quer comandar. Se tais princípios fossem introduzidos na Igreja,
seria anarquia, seria ruína. É, portanto, uma ofensa grave
desobedecer ao Papa, porque é desobedecer a Deus. Esta
desobediência é frequentemente agravada pelo pecado do
escândalo. No nosso tempo, qualquer rebelião contra a Igreja é
imediatamente conhecida e difundida pela má imprensa. Esta
notoriedade produz escândalos por toda parte.
Cada ordem do Papa, qualquer que seja a sua forma, vincula a
consciência do cristão. Um Concílio geral tem mais brilho, uma
definição dogmática é mais solene; mas, para um verdadeiro filho da
Igreja, estes atos supremos não têm maior autoridade do que uma
Constituição, uma Encíclica, uma decisão proferida numa
circunstância grave. Tudo o que vem do Papa deve ser objeto da
nossa obediência respeitosa, pronta e completa.

548
Embora as ordens do Papa se oponham às nossas ideias, às
nossas preferências e até aos próprios interesses da Igreja, tal como
os imaginamos, o nosso dever é obedecer com simplicidade e
confiança. O Papa será sempre mais prudente e mais esclarecido e
mais inspirado do que nós sobre os graves problemas religiosos,
morais e sociais.

207. P. _A Igreja tem o direito de julgar e condenar os


transgressores das suas leis?
R. _Sim, Jesus Cristo deu à sua Igreja o poder de julgar e punir
os transgressores de suas leis com penas espirituais e até corporais.
As penas espirituais utilizadas pela Igreja são: Excomunhão,
Suspensão e Interdito.
O poder legislativo implica poder judicial e coercitivo. Em todas as
sociedades, os juízes são necessários para interpretar as leis e
aplicá-las a casos particulares e infligir punições aos culpados.
Nosso Senhor investiu a sua Igreja com este duplo poder, e os seus
apóstolos exerceram-no desde o início.
São Pedro puniu a mentira de Ananias e Safira com morte súbita:
São Paulo puniu o mago Elimas com a perda da visão, etc.229.
Direito Canônicodetermina o procedimento da Igreja e os
poderes dos juízes eclesiásticos.
Objeção.A Igreja é uma sociedade espiritual;
Conseqüentemente, ele só pode usar punições espirituais.
R. _A Igreja é uma sociedade espiritual na sua finalidade, mas
não nos seus membros. Seus súditos são homens que têm espírito e
corpo. Deve ser capaz de punir o homem inteiro, tanto o corpo como
a alma. Se você não tiver força material à sua disposição, você pode

229N. B. _Estas palavras do autor não devem ser entendidas em sentido material, como se São Pedro e São Paulo tivessem
realmente causado diretamente os graves danos indicados. Note-se, com São Jerônimo, que São Pedro nem mesmo ameaçou os
mentirosos Ananias e Safira, mas que eles, ao verem publicamente sua mentira descoberta, cheios de vergonha e tristeza pela
inesperada repressão de São Pedro, caíram mortos. Assim, São Pedro foi apenas a ocasião ou causa instrumental, não física, mas moral,
de sua morte. (Ver A. LAIDE, em c. V. Act.) Quanto a São Paulo, sentiu-se movido pelo Espírito Santo a refutar os erros de Elimas, e a
converter o procônsul Sérgio Paulo, sendo também instrumentos de Deus no castigo de o mágico.Elymas (Ver ibidem, em c. XIII.) _ (N.
del T.).

549
recebê-lo da autoridade civil que, segundo o desígnio divino, lhe está
subordinada e deve prestar-lhe a sua ajuda.

3° DEVEMOS RECEBER OS PRESENTES DA


AUTORIDADE SACERDOTAL DA IGREJA
208. P. _Jesus Cristo conferiu à Igreja a autoridade
sacerdotal para nos santificar?
R. Sim, Jesus Cristo conferiu à sua Igreja o poder sacerdotal de
nos santificar, através da remissão dos pecados, da graça dos
Sacramentos, da virtude do Sacrifício e das cerimónias de Adoração.
O poder sacerdotal purifica os homens dos seus pecados e
confere-lhes a graça, que os torna santos e agradáveis a Deus. A
santidade consiste na isenção do pecado e na união com Deus pela
Graça santifica-me.
1° A Igreja recebeu o poder de perdoar pecados. O pecado é uma
ofensa feita a Deus. Só Ele pode perdoá-la, Jesus Cristo pode fazê-
lo como o Deus que é, igual ao seu Pai e como Salvador. Ele
comunicou este poder aos seus Apóstolos: «Assim como meu Pai
me enviou, eu também vos envio: cujos pecados perdoardes, serão
perdoados, e cujos pecados reterdes, serão retidos».230
“Eu te dou as chaves do reino dos céus: tudo o que você desligar
na terra será desligado nos céus.”. Estas palavras são claras: não há
crime, por maior que seja, que a Igreja não possa perdoar. Como
você o perdoa? Através dos Sacramentos do Batismo e da
Penitência.
2º A Igreja é o repositório dos Sacramentos. Jesus Cristo
encarregou os seus Apóstolos e os seus sucessores no sacerdócio
de administrar os Sacramentos231. Os Apóstolos proclamam-se
ministros de Jesus Cristo e dispensadores dos mistérios de
Deus232.
A Igreja é, portanto, a guardiã e dispensadora dos meios
estabelecidos por Deus para santificar os homens.

230Jn. 20, 21-23.

231Mt. 28, 19.

232I Co. 4, 1.

550
3º Somente a Igreja tem o poder de oferecer o Santo
Sacrifício.Depois de ter oferecido o seu Corpo e o seu Sangue sob
as espécies do pão e do vinho, Jesus Cristo disse aos seus
Apóstolos: “Fazei isto em memória de mim”. Com estas palavras, o
Salvador deu aos Apóstolos e aos Sacerdotes, que deveriam
ordenar, o poder de consagrar o pão e o vinho e de os converter no
seu Corpo e Sangue. É por isso que os sacerdotes oferecerão até o
fim dos séculos o grande Sacrifício da Nova Lei: a Santa Missa.
O poder sacerdotal é transmitido através do Sacramento da
Ordem. Ninguém a tem na Igreja, exceto aqueles que a receberam
pela imposição de mãos: os Bispos, que dela têm a plenitude e que
podem, por sua vez, conferi-la a outros, e os sacerdotes, que dela
participam para na medida que lhes é dada pelos Bispos. Portanto,
os leigos estão excluídos.
209. P. _Somos obrigados a receber os Sacramentos da
Igreja?
R. _Sim; Somos obrigados a receber os Sacramentos da Igreja,
se quisermos obter, preservar e aumentar em nós a vida
sobrenatural, que é a única que nos abre o céu.
Os Sacramentos são “sinais sensíveis, instituídos por Nosso
Senhor Jesus Cristo para significar e produzir graça invisível.
O Filho de Deus quis conferir a Graça por meios materiais: 1°, dar
um objeto sensível à piedade dos fiéis e elevá-los através das coisas
visíveis às coisas invisíveis; 2°, tornar pública e solene a profissão
da religião cristã.

a) A graça é necessária ao homem


O homem, por sua natureza, é apenas criatura e servo de Deus,
colocado na terra para servi-Lo e louvá-Lo. Mas Deus, na sua
misericórdia, tira-o da sua humildade, adopta-o como filho e destina-
o a participar na sua felicidade infinita. Isto é o que constitui para o
homem a sua elevação da ordem natural à ordem sobrenatural (ver
nº 78).
A ordem sobrenatural inclui um fim sobrenatural e os meios para
alcançá-lo:
O fim sobrenatural do homem é a bem-aventurança celestial, a
visão beatífica de Deus no céu: Este fim é sobrenatural porque é
superior à natureza humana e a toda a natureza criada.

551
Para alcançar este fim sobrenatural é necessário um meio
sobrenatural, e este meio é a Graça. Assim, assim como um pobre
adoptado por um soberano deve mudar de roupa e de modo de vida,
também a criatura humana, chamada a participar na glória de Deus,
deve passar por uma transformação que a divinize. Em outras
palavras: para ser admitido à glória sobrenatural, o homem deve
assumir uma nova forma, uma forma sobrenatural, uma nova
natureza.
Esta transformação renova-o completamente: a sua alma, o seu
corpo e as suas obras são enobrecidos e iluminados com uma
beleza divina, reflexo do esplendor de Deus.
Esta transformação é obra da Graça, que purifica, eleva,
aperfeiçoa o homem e o torna capaz de desfrutar da glória do céu.
A graça é um dom sobrenatural e gratuitoque Deus concede
às suas criaturas racionais para a sua salvação eterna, em atenção
aos méritos de Jesus Cristo.
A graça, dom exclusivo de Deus, é fruto da Paixão de Jesus
Cristo, que a mereceu para nós com o seu Sangue: brota das suas
chagas como de fontes inesgotáveis.

b) Que meios Jesus Cristo estabeleceu para conferir


Graça? Os sacramentos

Os meios de santificação tinham de estar em harmonia com a


natureza de Jesus Cristo, o santificador, e com a natureza do
homem, o santificado. Entre o Filho de Deus, tornado visível pela sua
humanidade, e o homem, criatura visível, era necessário um meio de
união de acordo com a natureza dos dois seres unidos, isto é,
sensíveis. Era oportuno, portanto, que a Graça fosse dada ao
homem através de sinais sensíveis: os Sacramentos.
Além disso, o homem, composto de alma e corpo, não é elevado
às coisas espirituais senão através de imagens sensíveis. E Deus
satisfaz esta condição da nossa natureza com os Sacramentos.
Estes sinais mostram ao homem os efeitos maravilhosos da Graça:
tal sinal diz-lhe que os seus pecados estão perdoados; outro, que
recebe o Corpo de Jesus Cristo, etc.
“Se você fosse um espírito puro”, diz São João Crisóstomo, “Deus
teria se contentado em lhe dar dons exclusivamente espirituais. Mas,
porque a tua alma está unida a um corpo, ela te dá a sua Graça
espiritual sob sinais sensíveis e corporais.”
552
Conclusão._Deus nos elevou à ordem sobrenatural e não temos
liberdade para recusar esta honra (Ver nº 79). Mas como não
podemos alcançar o nosso objetivo sobrenatural senão através da
Graça, e esta não nos é dada senão através dos Sacramentos, é por
isso que somos obrigados a receber os Sacramentos que Jesus
Cristo confiou à sua Igreja.
Não há dúvida de que somente Deus é a causa eficiente e
principal da Graça; mas os Sacramentos são a sua causa
instrumental, e eles a produzem por vontade própria, ou ex opere
operato, em todos aqueles que não colocam obstáculos no seu
caminho.

c) Número de Sacramentos Instituídos por Jesus Cristo

Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu sete Sacramentos


correspondentes às necessidades da nossa vida sobrenatural.
A vida da alma é análoga à vida do corpo: as leis da primeira
correspondem às do segundo.
O homem, na sua vida natural, pode ser considerado como ser
individual e como ser social.
como um indivíduo, tem que nascer, crescer, fortificar,
alimentar; poder curar, caso adoeça; ter, em caso de morte, todas as
ajudas desejáveis. Como ser social, é necessário que você tenha
autoridades que o governem, e que a sociedade em que você vive
se perpetue através dos séculos. A mesma coisa acontece na vida
sobrenatural:
1º Como indivíduo, o homem nasce para a vida da Graça
através do Batismo; fortalece-o com a Confirmação; Ele a alimenta
com a Eucaristia; encontra na Penitência o meio de cura ou
ressurreição; Em caso de morte, as últimas relíquias do pecado são
removidas na Extrema Unção.
2º Como ser social, é governado pelas autoridades que lhe são
conferidas pelo Sacramento da Ordem; e a sociedade espiritual, da
qual é membro, perpetua-se através do sacramento do Matrimônio.
Objeção._Diz-se: Para receber os Sacramentos é preciso ir aos
sacerdotes. Bem, não quero que padres se intrometam nos meus
assuntos.
R. _Mesmo que pese sobre você, é Deus quem quer e você tem
que se submeter aos sacerdotes se quiser ir para o céu. Jesus Cristo
553
comissionado

554
disse expressamente aos seus sacerdotes que interviessem nos
assuntos dos homens, quando se referissem ao serviço de Deus.
Os fariseus queriam ir diretamente a Deus sem passar por Jesus
Cristo. O Salvador respondeu-lhes: “Ninguém vem ao Pai senão por
mim”. Os protestantes e os incrédulos também querem ir a Jesus
Cristo sem passar pelo sacerdote; e o sacerdote lhes responde em
nome de Deus: “Ninguém vem a Cristo senão por mim”.
O sacerdote representa Jesus Cristo na terra. Ele é um homem,
como Jesus Cristo foi um homem; e se não é Deus, como Jesus
Cristo, está revestido da autoridade divina de Jesus Cristo para
salvar seus irmãos. É por isso que você não pode ir a Jesus Cristo
exceto através do sacerdote. Ele é o mediador entre a terra e o
céu233.
210. P. _Somos obrigados a participar do culto da Igreja?
R. _Sim; debemos a Dios, como Creador y Soberano Señor de
todas las cosas, un culto interno, externo y público, y no podemos
cumplir con este deber sino mediante las prácticas del culto católico:
la oración, la asistencia a la Santa Misa ya los oficios de a Igreja.
Mas Deus ama tanto o homem que não podemos honrá-Lo sem
que Ele imediatamente nos dê os benefícios de Sua Graça. Como
consequência, as práticas de culto são identificadas com os meios
de salvação.

a) As práticas do Culto Católico são obrigatórias


A necessidade de adoração divina resulta:
1° Da natureza do homem; criado para glorificar a Deus, e da
natureza de Deus, sendo infinitamente perfeita, segue-se que Deus
é credor de toda a homenagem de toda criatura inteligente.
2º Em vários períodos, Deus determinou, com ordens positivas, o
culto particular que exige do homem. Devemos adoração interna a
Deus, pelo bem da nossa alma; adoração externa, pelo bem do
nosso corpo; o culto privado, como indivíduo, e o culto público, como
membros de uma sociedade (n. 67 e seguintes).
É impossível unir os homens numa mesma religião se eles não
estiverem unidos por sinais externos, divinamente instituídos.
Através das práticas de Culto Público, os cristãos formam um único
corpo

233Ver: Monsenhor De Segur, A Confissão.

555
religioso: a Igreja de Jesus Cristo. Desta forma fazem profissão
externa e pública da sua fé e encorajam-se mutuamente à caridade
(n.70).
Os principais atos de culto privado são: adoração, oferenda
e oração.
A adoraçãoConsiste em venerar a Deus como Criador de todas
as casas; Senhor Supremo a quem devemos servir com perfeita
submissão ao seu domínio soberano.
A oferta de siConsiste em oferecer a Deus a nossa alma e o
nosso corpo, e fazer tudo para a sua maior glória. O homem não é
senhor de si mesmo; pertence a Deus e é seu servo.
A oraçãoÉ uma conversa com Deus. É uma elevação da alma a
Deus apresentar nossos louvores, nossos pedidos e todos os
sentimentos do nosso coração. Orar é um dever estrito do homem,
que deve necessariamente manter relações com Deus de acordo
com a sua natureza de ser inteligente. É também uma necessidade
imperiosa, pois segundo as leis ordinárias da Providência divina,
Deus não concede as suas graças senão a quem as pede.
Os principais atos de culto externo e social são: orações públicas,
participação na Santa Missa e serviços religiosos.

b) A principal prática do Culto Católico é o Santo


Sacrifício da Missa
SacrifícioÉ a oblação de uma coisa externa e sensível, feita a
Deus por um ministro legítimo, com destruição, ou pelo menos,
mudança da coisa oferecida, com a intenção de reconhecer o
domínio soberano de Deus sobre todas as criaturas e render-se à
sua majestade. .as homenagens que lhe são devidas.
O sacrifício é a base de toda religião, porque o homem, criatura
de Deus, deve prestar homenagem ao seu Criador; culpado, ele
deve expiar seus pecados da melhor maneira possível.
A obrigação de oferecer sacrifícios é, portanto, de lei natural,
porque se baseia no domínio soberano de Deus. Esta obrigação é
também de direito divino: o próprio Deus a impôs aos homens.
Segundo o ensinamento comum dos Doutores, baseado nas
Sagradas Escrituras, nossos primeiros pais aprenderam do próprio
Deus a necessidade de oferecer sacrifícios. São

556
Os sacrifícios de Abel, Caim, Noé, Abraão, Isaque e Jacó são
conhecidos.
A revelação primitiva a respeito dos sacrifícios espalhou-se pelo
mundo com a dispersão dos povos. E, certamente, a prática de
oferecer sacrifícios sangrentos não poderia ser conhecida exceto por
revelação.
Os sacrifícios da antiga Lei não agradavam a Deus, exceto na
medida em que eram figuras do sacrifício do Calvário.
O sacrifício da cruz é o único sacrifício verdadeiro, porque é o
único que presta honra infinita a Deus e, portanto, digno de sua
majestade soberana.
O sacrifício da Missa é a representação e renovação do sacrifício
da cruz. Aplica-nos as satisfações e méritos de Jesus Cristo e
produz no mais alto grau os efeitos representados pelos sacrifícios
do Antigo Testamento.
Somente participando da Santa Missa o homem pode cumprir
adequadamente junto a Deus os seus grandes deveres de adoração,
ação de graças, súplicas e oração. O homem que não quer assistir à
Santa Missa com as devidas disposições é pior que os pagãos e
infiéis que, pelo menos, oferecem sacrifícios a Deus.
Conclusão. A IgrejaEla é a Mensageira de Jesus Cristo, a
Continuadora da sua obra, a sua Encarnação viva ao longo dos
séculos; Estes títulos resumem a sua história, os seus destinos, a
sua grandeza e estabelecem os seus direitos sobre nós e os nossos
deveres para com Ela. A Igreja, depositária dos poderes de Jesus
Cristo, tem direito ao nosso respeito e à nossa submissão. A Igreja,
Mãe de todos os cristãos, tem direito à nossa gratidão, ao nosso
amor e à nossa devoção. A Igreja, imagem fiel de Jesus Cristo nas
suas lutas e triunfos; Ele tem direito à nossa confiança.
Credo Sanctam Ecclesiam Catholicam:Submissão respeitosa
do espírito à doutrina da Igreja:Tudo o que ela ensina, é Deus
quem ensina. Aceitação firme e total de todos os seus dogmas,
porque tudo está interligado na construção do seu ensino. Mover ou
derrubar uma pedra deste edifício sagrado seria mover ou jogar
todas elas no chão. Tudo ou nada, esse é o lema do homem
autoconsistente.

557
Credo Sanctam Ecclesiam Catolicam:Obediência respeitosa da
vontade às leis da Igreja.Dizer: aceito os mandamentos de Deus,
mas não os da Igreja, seria uma incoerência tão fatal quanto infantil:
quando a Igreja ordena, é Deus quem ordena. Desobedecer à Igreja
é desobedecer ao próprio Deus: “Quem te despreza, a mim
despreza”.
Credo Sanctam Ecclesiam Catholicam:Pedido respeitoso do
coração na recepção dos Sacramentos. A Igreja os administra,
mas é Deus quem os confere. É um dever para nós recebê-los, é
também uma necessidade se quisermos alcançar o nosso objetivo
final.
Credo Sanctam Ecclesiam Catholicam:Demonstremos
afectuosa gratidão à Igreja.Amor e devoção a esta Mãe que
sempre, fiel à sua missão, nos gera para a vida sobrenatural, nos
consola nas nossas dores, nos sustenta nas nossas fraquezas e é a
única que um dia poderá abrir-nos as portas do Paraíso. Amor e
devoção eternos à Igreja, mas amor e devoção úteis, práticos e
eficazes. Amor e devoção com palavras que não têm medo de
proclamar seus direitos, rejeitar calúnias, estigmatizar a ingratidão.
Amor e devoção com o ouro esbanjado para satisfazer suas
necessidades, enfrentar seus fardos e permitir-lhe criar escolas,
seminários e obras apostólicas de todos os tipos. Amor e devoção
até a morte, se necessário, pela causa da Igreja, que é a causa de
Deus.
Credo Sanctam Ecclesiam Catholicam:Confiança absoluta na
Igreja. Ela é imortal, durará até o fim do mundo: Do que você teme?
O barco da Igreja leva Jesus Cristo e as suas promessas...
Quaisquer que sejam os perigos da viagem, não virará: o seu Piloto
infalível nos fará chegar sãos e salvos ao porto. A Igreja Católica
triunfará sobre todos os esforços do inferno, porque Jesus Cristo
disse aos seus Apóstolos: “Estou convosco até ao fim dos tempos”.
Disse a Pedro: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela»234.
E de facto, a Igreja resistiu até hoje à espada dos tiranos, às
perseguições dos sectários, aos sofismas dos ímpios, a toda a fúria
das paixões. A Igreja é, na terra,

234Mt. 16, 18.

558
o Reino de Jesus Cristo. Está na terra, mas vem do céu: Non est de
hoc mundo, Não é deste mundo.
Nada se compara ao seu vigor incomparável, porque Jesus disse:
“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão.” O
que Jesus predisse, isso acontecerá... As portas do inferno não
prevalecerão: Non praevalebunt. A Igreja sobreviverá, apesar dos
esforços do diabo para destruí-la.
As instituições humanas mudam e desaparecem: a Igreja de
Jesus Cristo está sempre de pé, sempre a mesma. O que o homem
construiu, ele pode destruir. Mas nem o tempo nem os homens
foram capazes, nem jamais poderão, destruir a Igreja Católica,
porque é obra de Deus.
Nos primeiros dias do cristianismo, um procônsul escreveu a
Trajano: “Em breve, esta seita será afogada e não se ouvirá mais
falar do Deus crucificado.” E Trajano morreu, e o Deus crucificado
ainda reina no mundo!
Três séculos depois, Juliano, o Apóstata, orgulha-se de preparar
o caixão de Galileu. E Juliano morreu, e Galileu e sua Igreja ainda
vivem.
No século XVI, Lutero falou do Papado como algo antigo que iria
desaparecer. “Oh, papai”, disse ele, “eu serei sua destruição!” E
Lutero está morto há mais de trezentos anos, mas o Papado ainda
vive.
No século XVIII, o infame Voltaire escreveu a um dos seus
amigos: “Quero mostrar que um homem é suficiente para destruir a
religião católica: dentro de vinte anos isso será visto”. E vinte anos
depois, dia após dia, Voltaire morreu no mais terrível desespero,
como um condenado, e a Igreja ainda vive, triunfando através dos
séculos e exibindo a sua bandeira, na qual o dedo de Deus escreveu
estas palavras: “O portas do inferno não poderão contra Ela!
euCOMO AS PERSEGUIÇÕES PROVAM A DIVINDADE DOEiGlésia.
Nosso Senhor previu estas perseguições: disse aos seus
Apóstolos: “Assim como Me perseguiram, também vos
perseguirão,... Mas tende confiança, Eu venci o mundo”: Confidite,
ego vinci mundum.”
Sim; Tenhamos confiança: Satanás não prevalecerá: Non
praevalebunt. O passado nos fornece o futuro: os perseguidores

559
Eles faleceram, já morreram: defuncti sunt!, faleceram e a Igreja
permanece.
Stat crux dum volvitur orbis!
Sim; As promessas divinas autorizam-nos a olhar para o futuro
sem medo: a Igreja pode ser perseguida como o seu divino
Fundador.
Não é uma Igreja militante? Nações inteiras podem afastar-se dela e
perder a fé; Mas o que ele perde por um lado, a Providência devolve
por outro, e em abundância.
A Igreja sai sempre vitoriosa: Portae inferi non praevalebunt!
E se não, o que acontece hoje? Enquanto a perseguição citada
pelas seitas maçónicas se desencadeou contra Ela em toda a parte,
a Igreja Católica vê como se fortalecem os laços da unidade
indestrutível: a voz do Papa é ouvida com mais veneração e amor do
que nunca pelos pastores e pelos fiéis.
O Evangelho espalha as suas conquistas por todo o mundo. O
trabalho das missões recebeu, nos nossos tempos, um impulso novo
e poderoso. Aqui estão os Anais da Propagação da Fé para
testemunhar as maravilhas do apostolado contemporâneo.
Por outro lado, os sofrimentos da Igreja são mais um motivo para
garantir o seu triunfo no futuro; A Igreja é a imagem viva de Jesus
Cristo. E o Salvador teve que passar pela agonia do Getsêmani, mas
foi para alcançar a glória da sua ressurreição: Oportitu pati Christum
et ita intrare in gloriam.
A vida da Igreja será, portanto, no futuro, como no passado, uma
alternativa perpétua de combates e triunfos, até que brilhe o dia em
que, abandonando finalmente a arena, testemunha de tantas lutas
gloriosas, introduza os últimos escolhidos no céu. Jerusalém.
Nesse grande dia de glória e regozijo, estaremos entre os filhos
da Igreja triunfante? Sim, enquanto durante esta breve peregrinação
permanecemos fiéis à Igreja, nossa Mãe, pela fé e pelas obras; sim,
desde que possamos dizer com o Apóstolo São Paulo: “Combati o
bom combate, terminei a minha carreira, não me resta senão receber
do justo Juiz a recompensa que ele prometeu”. Amém.

560
561
PO QUE SOMOScATÓLICOS?235
Somos e continuaremos a ser católicos, porque o catolicismo se
impõe à nossa razão através da cadeia de cinco verdades
irrefutáveis:
I. Todo homem razoável deve acreditar na imortalidade da alma,
destinada a glorificar o seu Criador.
II. Todo homem razoável deve acreditar em Deus, Criador do
mundo.
III. Todo homem que acredita em Deus e na imortalidade da alma
deve praticar religiãoexigida e imposta por Deus.
IV. A religião imposta por Deus é a religião cristã: portanto, todo
homem que acredita em Deus deve ser cristão.
V. A religião cristã só se encontra na Igreja Católica: portanto,
todo cristão deve ser católico.
Portanto, todo homem razoável deve ser católico.
Cremos que é útil recordar, em poucas palavras, algumas provas
destas verdades fundamentais: na ordem moral, a força das provas
resulta frequentemente de uma visão global.

I. TODO HOMEM RAZOÁVEL DEVE


ACREDITAR
diOS, C.LEITOR DO MUNDO
Deus é um ser pessoal e vivo, distinto da matéria, infinitamente
perfeito e a primeira causa de todos os seres.

235Este é um super resumo de tudo o que foi visto com algumas novidades. Muito útil para revisão.

562
1° A existência do mundo.O mundo não é eterno: teve um
começo.
Os filósofos provam isso, fundamentado no fato de que a
matéria imperfeita e mutável não é o Ser eterno, necessariamente
perfeito e imutável.
Os matemáticos provam issobaseado no fato de que se o
mundo fosse eterno teria passado por uma série infinita de estados:
o que é impossível. O grande matemático Cauchy comprometeu-se a
prová-lo de mil maneiras.
Filósofos e naturalistas estabelecem issopara o estudo dos
seres que compõem o universo. “Os elementos do mundo físico
passaram a existir num determinado momento e a partir desse
momento data a formação gradual dos mundos. Esta afirmação da
ciência moderna permanece sempre de pé, irrefutável236.
Portanto, este mundo teve um começo. Mas como não há efeito
sem causa, era necessário que alguém existisse para lhe dar
existência. Esse alguém é o Criador, a quem chamamos de Deus.
Portanto, Deus existe.
2° A necessidade de um primeiro motor.Os corpos celestes
estão em movimento: o sol gira sobre si mesmo; a terra e os demais
planetas, ao redor do sol; a lua, ao redor da terra, etc. Este é um fato
certo. Um segundo facto, não menos verdadeiro, é que a matéria é
inerte e, portanto, incapaz de se colocar em movimento. Portanto, os
mundos receberam o movimento de uma causa externa; mas como
não se pode assumir uma série infinita de motores, é necessário
chegar a um primeiro motor que não seja movido por outro.
Chamamos esse primeiro motor de Deus.
Ele certamente seria considerado tolo se afirmasse que uma
carruagem pode andar sozinha e viajar sozinha, e o que diremos
daqueles que afirmam que o mundo se move por si só? Os
astrônomos contaram bilhões de estrelas no céu. Esses mundos
viajam por espaços imensuráveis, sem colidir e em perfeita ordem.
Quem lhes deu o movimento? Quem os dirige?... Só Deus pode
fazê-lo.
3º A origem da vida.Existem seres vivos: plantas, animais,
homens. Os botânicos nos apresentam mais de cem mil

236A. Hirn, Constituição do espaço.

563
espécies de plantas; O reino animal, ainda mais rico, contém
quatrocentas mil espécies. Bem, a existência de seres vivos prova
irrefutavelmente a existência de Deus.
E, realmente, de onde vem o vivente?
a) ou o ser vivo origina-se da matéria por geração espontânea;
b) ou recebeu a vida de outro. Este dilema não admite meio
termo.
A primeira hipótese é definitivamente condenada pela ciência.
Después de los experimentos de Pasteur y de otros grandes sabios,
no hay hecho mejor probado, no hay conclusión más cierta que la
imposibilidad de una generación espontánea: Ningún ser viviente
puede provenir de la materia sin germen preexistente: la vida no
puede salir sino: da vida.
Portanto, resta apenas a segunda hipótese, e esta proclama a
necessidade científica: de um Ser vivo que não começou e que
existe por si mesmo desde toda a eternidade.
Tracemos a genealogia de qualquer ser vivo: de unidade em
unidade, devemos chegar a um primeiro ser, pois um número infinito
é uma impossibilidade manifesta. Quem diz número diz
necessariamente algo limitado; Quem diz série supõe uma primeira e
uma última unidade. É necessário, então, regressar a um primeiro
Ser vivo, o princípio da vida, que tem vida própria e que é
suficientemente poderoso para dar vida aos outros e garantir a
perpetuidade da sua espécie.
Este primeiro Criador de toda a vida não pode ser outro senão
Deus. Tomemos por exemplo um grão de trigo: de onde ele vem? De
um pico. E o pico? De um caule. E o caule? De um grão. Você tem
que chegar ao primeiro grão. De onde vem o primeiro grão ou a
primeira espiga?... Só pode vir de um primeiro Ser Criativo, pois a
natureza tem como lei fixa nunca produzir um grão de trigo sem
espiga; nem espigas sem grão.
Basta um passarinho para convencer até os mais incrédulos. De
onde vem o passarinho que se esconde na floresta, enchendo-a de
seus trinados? De um ovo. E esse ovo, de onde vem? De outro
passarinho que colocou. Quem existiu primeiro, o ovo ou o pássaro?
O pássaro Mas este pássaro teve a sua origem, de onde veio?...
Você é obrigado a confessar que este primeiro pássaro não pode ter
outra origem senão um Ser, o primeiro dos seres, que não provém
de outro e

564
existe por si sódesde toda a eternidade. Este Ser eterno, que existe
por si mesmo; É aquele que chamamos de Deus.
4° A existência da lei moral.Todo homem carrega na
consciência uma lei escrita que lhe ordena fazer o bem e evitar o
mal. Quando você obedece a esta lei, você sente alegria; quando ele
a quebra, ele sente remorso. Esta lei é universal, imutável, absoluta,
eterna: não pode ser revogada e não admite exceção. “Nem o
Senado nem o povo, diz Cícero, podem dispensar o cumprimento
desta lei. Ela não é uma em Atenas, outra em Roma; um hoje, outro
amanhã: abrange todas as nações e todos os séculos.”
Pois bem, esta lei não pode existir por si só: ela pressupõe um
Legislador supremo, Imutável, Eterno, Árbitro soberano do bem e do
mal, remunerador da virtude e punidor do crime. Mas este Legislador
soberano não pode ser nada além de Deus, o Ser Eterno e
Necessário. Portanto, a existência da lei moral prova a existência de
Deus.
Fora da ideia de Deus, que está na base e no ápice de toda a
ordem moral, o dever repousa sobre o nada. A moralidade sem Deus
é uma moralidade sem fundamento, sem regras, sem sanção, isto é,
uma moralidade inútil. Mas o fundamento da ordem moral não pode
ser um erro; Portanto, a existência de Deus é certa.
5° O testemunho da raça humana.Todos os povos sempre
reconheceram a existência de Deus. A história e os monumentos de
todos os séculos testemunham esta crença universal. As pessoas
cometeram erros muitas vezes, às vezes admitindo muitos deuses,
às vezes considerando seres como deuses que não eram deuses.
Mas sempre admitiram a existência de um Ser Supremo, dono do
universo. Mesmo entre as nações que admitiam muitos deuses,
sempre foi reconhecido um deus superior a outras divindades.
É impossível que algo afirmado por todos os povos da terra seja
falso. Uma crença contrária às paixões e encontrada em todos os
povos, apesar das diferenças de educação, de costumes, etc., só
pode provir da razão, que reconhece a necessidade de uma causa
primeira de todos os seres, ou de uma Revelação feita pelo próprio
Deus aos primeiros. pais da raça humana. A crença dos homens na
existência de Deus é, portanto, baseada na verdade.
Hoje, confesso, há homens que professam o ateísmo; mas
O que são eles em comparação com todas as pessoas e todos os
sábios que adoram a Deus?... E além disso, são sinceros? se eles
estivessem convencidos

565
que Deus não existe, eles o odiariam tanto? O ódio diabólico que os
ateus frequentemente manifestam contra Deus mostra claramente
que eles acreditam na sua existência. Você não odeia o que não
existe; Seria muito absurdo ficar com raiva de nada.
A maioria dos ateus são aproveitadores que gostariam de evitar a
justiça divina. Na sua loucura dizem: Deus não existe!, mas esta
blasfémia significa nos seus lábios: O meu desejo seria que Deus
não existisse porque temo a sua Justiça e o inferno!
6º A necessidade de um Ser eterno.A melhor prova da
existência de Deus é aquela que provém da necessidade de um Ser
eterno e necessário; Infelizmente, este teste não é adequado para
todas as inteligências.
Que algo existe hoje é evidente, já que existimos. Mas se não
existisse um Ser eterno, nada teria existido e nada existiria. Os seres
não podem dar-se existência ou recebê-la do nada; o que não existe,
nada pode produzir. E como este Ser eterno não pode provir de
outro, visto que é o primeiro de tudo, portanto é o Ser necessário.
A partir deste fato, todo ser tem existência de si mesmo e de
outro. O ser que existe em virtude de sua própria natureza é
denominado necessário, e o ser que recebeu a existência de outro é
denominado contingente ou produzido. Ora, nem todos os seres
podem ser contingentes ou produzidos por outro. É necessário que
exista um Ser necessário que encontre na sua natureza a razão da
sua existência. Em vão você tentaria prolongar indefinidamente a
série de seres que vêm uns dos outros; A explicação do mundo leva
você, voluntária ou involuntariamente, a uma causa primeira, a um
Ser eterno que, tendo existência a partir de Si mesmo, a dá a todos
os outros seres. Mas o Ser eterno, o Ser necessário, é Aquele a
quem todos chamam de Deus. Então...
Ele é um Ser infinitamente perfeito.E, na verdade, quem
poderia ter estabelecido limites à sua perfeição? Não Ele mesmo,
porque para isso Ele teria que existir antes de Si mesmo; nenhum
outro, porque ninguém existiria antes Dele. Portanto, Deus possui a
plenitude do ser, o oceano infinito de todas as perfeições.
Os seres produzidos não existem por si mesmos: são
relativamente à existência o que os zeros são para o valor absoluto.
Multiplique zeros infinitamente e você nunca obterá nenhum valor.
Multiplique infinitamente os cegos e não terá um só que veja.

566
Mesmo que os seres produzidos se multiplicassem ao infinito,
seria sempre necessário chegar a um primeiro Ser subsistente por si
mesmo. Sem nenhum ser existindo em virtude de sua própria
natureza, nenhum outro poderia existir. Os seres contingentes
supõem, portanto, a existência de um Ser necessário. Portanto,
como algo existe hoje, também existe um tal Ser eterno, um Ser
necessário.
7° Os diversos sistemas inventados para explicar, sem a
intervenção de Deus, a origem do mundo, não explicam nada e são
contrários à ciência. Tudo se explica com Deus, e sem Ele tudo é
inexplicável. É fácil dizer: Deus não existe; Qualquer idiota pode
fazer isso: Dixit insipiens. Mas quando isso foi dito, nem tudo o que
precisava ser dito foi dito. O mundo existe e está diante dos nossos
olhos. Um instinto teimoso leva a inteligência humana a perguntar:
de onde vem isso?
Os positivistasEles não respondem à pergunta porque não
querem lidar com as causas primeiras, repudiando assim toda
ciência verdadeira.
Os panteístasTambém não explicam nada: limitam-se a dizer
que Deus é o conjunto de seres que constituem o universo; mas a
inteligência ainda se pergunta: de onde vêm esses seres?...
O sistemaO que os nossos descrentes modernos opõem ao
dogma da criação é o evolucionismo ou transformismo, também
chamado de darwinismo, do inglês: Darwin, que o popularizou. Nada
mais é do que uma forma do velho materialismo. Segundo este
sistema, a matéria seria eterna; A organização deste vasto universo
se daria pelas forças e leis que se encontravam na matéria em
estado de caos ou nebulosa primitiva. Pouco importa discutir se a
primeira matéria consistiria em átomos, substâncias gasosas ou
líquidas, pois sempre restam três coisas essenciais a serem
conhecidas:
1° De onde vem essa primeira questão?
2° Quem o pôs em movimento e em ordem?
3° De onde vêm os seres vivos que povoam a terra?
I. De onde vem esse assunto?
Não é eterno; então, vem de Deus. Os incrédulos são forçados,
como nós, a admitir um Ser eterno. Não querendo Deus, atribuem à
matéria todas as perfeições que este augusto nome representa; Eles
fazem dela um ídolo.

567
Para quebrar esse ídoloBasta provar que a matéria não é
eterna. Nada mais fácil. É finito, isto é, limitado e imperfeito, pois
está sujeito a alterações. Aí foi preciso que alguém limitasse; e como
muda, sua existência depende da causa que o limitou e lhe impôs
suas mudanças. Mas quem limita a matéria, quem muda, deve existir
antes dela; Portanto, a matéria não é eterna.
Em que argumento os materialistas se baseiam? Numa delas, o
que é puro sofisma. Dizem: O que não pode ser destruído não pode
ter sido criado; mas a matéria é indestrutível, portanto não pode ter
sido criada.
R. O que não pode ser destruído por nada não pode ter sido
criado, sem dúvida, porque é o Ser necessário, é Deus. Mas só
porque nem você nem eu podemos destruir a matéria, não significa
que ela seja indestrutível. Podemos supor uma causa fora de nós
capaz de reduzi-la a nada, portanto, não podemos afirmar que seja
indestrutível. E se não temos uma razão, somos obrigados a
confessar que com isso não provamos que a matéria é eterna.
Não há dúvida de que o homem não pode aniquilar a matéria,
pois isso requer um poder infinito para criá-la; mas disso não se
segue que a onipotência de Deus não possa destruí-lo e não poderia
tê-lo criado. O argumento dos materialistas, então, nada mais é do
que sofisma.
Para quem sabe relacionar duas ideias, a matéria não pode ser
eterna, não pode existir por si mesma, porque é imperfeita. É
imperfeito porque muda, adquire o que não tinha ou deixa de ter o
que tinha e isso é imperfeição porque nem sempre tem tudo.
Conseqüentemente, é um efeito que não pode ser explicado exceto
por uma causa criativa. Esta causa criativa não pode ser outra coisa
senão Deus. Portanto, sem Deus a origem da matéria não pode ser
explicada.
II. Quem o pôs em movimento e o organizou de maneira
ordenada?Duas explicações são possíveis: ou o movimento é
inerente à matéria, ou foi-lhe impresso por uma causa intrínseca.
Agora, o bom senso e a ciência rejeitam a primeira explicação. Não
só é fácil demonstrar que um corpo material precisa de um impulso
para passar do repouso ao movimento, mas a mecânica nos ensina
que a matéria é inerentemente inerte. Se algum agente não colocar

568
movimento, permanece em estado de repouso. Negar esta lei da
inércia da matéria é negar a mecânica, é negar a ciência.
Quem então agitou os átomos ou as nebulosas. Era necessária
uma força estranha: esta força não pode ser outra senão a
Onipotência de Deus.
Mais ainda: a matéria é cega, e então, como explicar a admirável
ordem e harmonia que reina no universo? A terra percorre
regularmente a sua órbita, fazendo com que o dia se transforme em
noite e a primavera em inverno, as estrelas continuam o seu curso
sem nunca colidirem... No nosso globo tudo tem um destino
marcado: assim, o corpo humano tem os seus membros
maravilhosamente dispostos para o bem. do homem. Quem, então,
chamou cada partícula, cada átomo da matéria para colocá-lo em
seu lugar correspondente? Certamente não é a matéria que chama
matéria, pois por si só é incapaz de se mover. Se a ordem
engenhosa de um relógio não pode ser atribuída às partes que o
compõem, a ordem muito mais admirável do universo não pode ser
atribuída à matéria que constitui as partes do universo. Portanto,
deve ser atribuído a um Computador estranho ao universo. Sem
Deus nem a ordem nem o movimento do mundo podem ser
explicados.
Ninguém se atreve a invocar o acaso, porque o acaso não é
nada. E também não nos falem das leis que regem as forças da
matéria e que dela surgiriam como a flor do caule. Não há dúvida de
que existem leis admiráveis que regem os seres visíveis: a lei da
atração, a da força centrífuga, etc. Mas estas leis pressupõem um
legislador, e um legislador estranho à matéria. Esta é inerte e
carente de inteligência: como poderia então combinar leis tão sábias
e fecundas? Seria um absurdo pensar nisso! A matéria obedece aos
reis: não os faz. A matéria fica onde eles a colocam e vai para onde
eles a empurram. A matéria é cega; então, é um espírito, uma
inteligência que o dirige.
O sistema de incrédulos tem três coisas impossíveis contra si:
É impossível que a matéria exista sem um criador. Impossível
que os átomos se movam sem um motor... Impossível que a ordem
exista sem um computador.
O sábio Balmes tinha razão quando dizia que sempre carregava
no bolso um argumento invencível para provar a existência de Deus:
tirou o relógio. O relógio supõe um relojoeiro, a ordem do mundo
exige um Deus.

569
III. De onde vêm os seres vivos que povoam a terra?Os
darwinistas procuram explicar a origem dos seres vivos, admitindo a
geração espontânea de um primeiro rudimento de organismo
denominado monera. Esta primeira célula viva seria o resultado de
uma combinação química dos elementos da matéria: A primeira
célula formada seria submetida a uma longa série de evoluções e
transformações lentas, que aperfeiçoariam os organismos inferiores
e os levariam a constituir a gradação do espécies, da minhoca ao
homem.
Existem dois erros capitais neste sistema: a) geração
espontânea; b) a transformação das espécies.
a) Sem entrar em outros detalhes, basta dizer que numerosas e
conclusivas experiências comprovaram cientificamente que não
existem gerações espontâneas. Todo ser vivo, por mais rudimentar
que seja seu organismo, provém de outro ser vivo da mesma
espécie e não de matéria pura.
b) Quanto à transformação das espécies, é uma hipótese livre.
Observações geológicas e fisiológicas provam que, ao longo dos
tempos, as espécies permaneceram inalteradas. É absolutamente
contrário à ciência sustentar que uma espécie evoluiu a partir de
outra237. Quando o darwinismo afirma que os seres vivos provêm
da matéria, ou que os seres superiores provêm, por simples
transformação, de seres inferiores, ensina um erro filosófico
monstruoso: assume que o mínimo, o ser inferior, contém o máximo,
o ser superior.
“Não sendo,Diz São Tomás: “pode agir além de sua espécie, pois
o efeito não pode ser mais nobre que a causa”. Portanto, é
impossível que espécies inferiores se transformem em espécies
superiores.
“O absurdo deste sistema é mais flagrante quando se trata de
passar do animal ao homem, de fazer surgir a alma, inteligente e
livre, de uma espécie animal, seja ela qual for; e para transpor o
imenso abismo que separa a matéria do espírito” (Rutten).
Conclusão.-O bom senso diz: ninguém dá o que não tem. A
matéria não tem vida nem inteligência; Portanto, não pode dar vida
nem inteligência. Assim, no mundo existem seres vivos e seres
inteligentes. Portanto, existe fora do mundo um Ser superior, que
tem
237Hoje está comprovada a impossibilidade de salto de espécies devido à genética.

570
deu vida às plantas e aos animais, vida e inteligência aos homens.
Sem Deus, então, é impossível explicar a origem dos seres vivos.
“A existência de Deus é uma verdade matemática: é a última
palavra da ciência moderna para todo espírito reto e independente”
(A. Hirn).
“Negar a Deus é cegueira e loucura” (Victor Hugo). “Os ateus só
podem ser loucos ou canalhas” (Voltaire). “Ninguém nega a Deus,
exceto aqueles para quem lhe convém não existir” (Santo
Agostinho).
Objeção.Assediados nas suas últimas trincheiras, os incrédulos
dizem: Se Deus existe, ele deve ser infinitamente bom; E se Deus é
bom, por que permite o mal?
R. O mal aparece para nós em duas formas: o mal que
suportamos e o mal que causamos.
1º O primeiro, o mal que suportamos, é o sofrimento.
Quem introduziu o sofrimento no mundo? Não é Deus, é certamente
o homem. O sofrimento é consequência do pecado original.
Portanto, é o homem quem deve ser culpado.
Por outro lado, seja mais moderado nos seus desejos, mais
sóbrio, mais amigo da temperança e, sobretudo, mais casto, e verá
como a maior parte da sua dor desaparece. Pai, você reclama dos
distúrbios do seu filho: ele desperdiça vida, tempo, dinheiro...
Lembre-se de como você o criou... Seu caráter detestável o
entristece, mas o que você fez para corrigi-los?... Mil casos
semelhantes poderiam ser citado. Consequentemente, muitas vezes
somos a causa dos nossos males.
Mas há outras dores que não dependem da nossa imprudência:
uma criança morre no berço; um pai, uma mãe, são levados pela
morte de filhos que ficam órfãos... e inúmeros acontecimentos
semelhantes. Esses infortúnios resultam das leis gerais que
governam o mundo. Essa criança, esse pai, essa mãe, carregam
dentro de si um germe mortal, cuja evolução deve ter um fim
doloroso. É triste, sem dúvida, mas Deus não é obrigado a realizar
milagres contínuos para impedir o curso dessas leis, necessárias ao
equilíbrio do universo. A oração pode obter a revogação dessas leis,
mas a oração é tão rara e tão pouco fervorosa...
Além disso, Deus não permite o sofrimento, exceto por razões
dignas de sua bondade. A dor purifica a alma justa, torna-a doce,

571
paciente e maduro para o céu. Os sofrimentos um dia terão uma
recompensa que Deus não reserva para conforto, indulgência ou
prazeres desordenados.
Às vezes a fortuna intoxica e corre-se o risco de se perder no
orgulho ou nos prazeres: mas Deus nos detém na encosta do mal
com provações, ruína, dor. Então, o sofrimento é para nós o que o
chicote é para uma criança: na dor a pessoa se torna ou se torna
cristão.
2° O mal que fazemos é o pecado.De onde vem? Quanto ao
abuso da nossa liberdade, “Deus não é o autor do mal que acontece,
assim como o trabalhador não é o autor quando se comete um
homicídio com a faca feita por ele”.
“Deus nos criou livres; o que é bom. O pecado é o abuso desta
liberdade. A liberdade vem de Deus; o abuso de nós. Eu abriria mão
dessa liberdade com prazer, dizem alguns. Mas, nesse caso, vocês
não seriam mais homens, mas uma simples máquina. Deus, ao nos
criar, quis fazer de nós criaturas inteligentes e livres e não simples
bonecos. Deus deu-nos liberdade para o nosso bem maior: tanto pior
para aqueles que abusam dela.

II. CADA HOMEM QUE ACREDITA EM


DEUS É OBRIGADO A ACREDITAR NA
IMORTALIDADE DA ALMA,
PRETENDIDO GLORIFICAR OcLEITOR

Depois de ter provado a existência de Deus Criador, devemos


falar do homem, sua criatura. O homem é um ser composto de corpo
e alma imortal.
Para destruir a religião, os ímpios afirmam que a alma humana é
material, que perece com o corpo e que, portanto, não há nada a
esperar e nada a temer depois desta vida. Uma vez admitido isto, a
religião, privada de base e sanção, torna-se completamente inútil.
Contrariamente a estes erros degradantes, a razão demonstra
que a alma humana é um espírito livre e imortal, criado para glorificar
a Deus.

572
1° Temos alma.A palavra alma, no seu sentido mais amplo:
significa princípio de vida. Existem três tipos de seres vivos na terra:
a planta, o animal e o homem.
A planta se nutre, cresce e se reproduz. Tem alma vegetativa. O
animal tem, acima da planta, sensibilidade e movimento autônomo:
tem alma sensível.
O homem tem três vidas; vida física ou vegetativa, como a planta;
o sensível, como o animal; mas, além disso, tem vida intelectual:
pensa, raciocina, compreende; Possui, portanto, uma alma
inteligente238.
Isso não quer dizer que existam três almas diferentes no homem.
Uma única alma, a intelectiva, é o início destas três vidas e dos
fenômenos que lhes são próprios. “Porque, diz São Tomás, o
perfeito contém tudo o que há de poder no imperfeito e as almas
superiores agem, por um único princípio, tudo o que as almas
inferiores podem fazer com a ajuda de muitos princípios.”
Ninguém pode negar aos seres vivos o princípio de vida que os
anima. Resta saber qual é a sua natureza no homem.
2° A alma racional é um espírito.Devemos distinguir
cuidadosamente na alma a sua simplicidade ou imaterialidade da
sua espiritualidade.
Todo princípio de vida é simples, indivisível, imaterial, ativo. E
assim é a alma vegetativa nas plantas, e a alma sensível nos
animais, assim como a alma humana.
Mas como a alma vegetativa e a alma sensitiva não possuem
inteligência, nem vontade, nem qualquer poder superior aos
exercidos na matéria e pela matéria, estas almas não são espíritos.
Eles não podem existir exceto num corpo e desaparecem no
momento em que a planta e o animal deixam de viver. Esta é a
solução para o problema da alma dos animais.
O espírito não é apenas um ser simples, imaterial e indivisível; é
também um ser subsistente, dotado de inteligência e livre

238Além destas três vidas, o verdadeiro cristão possui a vida sobrenatural que vem da Graça. O homem foi criado para um
propósito sobrenatural e organizado para atingir esse fim. Os privilégios e a vida da ordem sobrenatural, perdidos na queda do primeiro
homem, foram restaurados pelos méritos infinitos de Jesus Cristo. O homem completo, tal como Deus o criou e o quer, é o homem que
possui vida sobrenatural.

573
força de vontade. É um ser independente da matéria, portanto nas
suas principais operações.
A alma do homem é um espírito que pode subsistir fora do corpo
e viver sem ele. É invisível aos nossos olhos corporais. Mas se não
for visto diretamente, será visto indiretamente, através da
consciência; Sua presença é percebida através do corpo que ele
anima, e sua natureza espiritual é comprovada por suas ações,
assim como a existência de Deus é comprovada por suas obras.
As operações de um ser estão sempre de acordo com sua
natureza: o artista é conhecido pela obra. Pois bem, nossa alma
produz atos espirituais, independentes do corpo como pensamentos,
julgamentos, atos livres. Exerce os seus poderes sobre objetos
incorpóreos, como o verdadeiro, o belo, o bom, o justo, o injusto, que
não podem ser percebidos pela matéria, porque a sua natureza a
exclui. Estas operações espirituais só podem ter como causa uma
substância espiritual. A alma, então, é um espírito independente do
corpo, no modo de existir e no modo de agir239.
O homem está acima do animal com toda a altura da sua razão e
consciência. Temos uma inteligência que conhece a verdade: uma
vontade que ama o bem; uma liberdade que comanda e escolhe. A
substância que produz esses atos em nós é uma substância
espiritual e não corpórea, pois percebe coisas que o olho não pode
ver, que o ouvido não pode ouvir, que o corpo não pode alcançar. O
animal é incapaz de se elevar através do raciocínio: às ideias gerais,
às ideias religiosas, aos princípios morais, aos desejos de progresso.
Por exemplo, um animal não pode ditar uma lei. É isto que coloca o
homem a uma distância imensa do animal, privado da alma
espiritual240.

239Está comprovado que uma pessoa, ao morrer, emagrece e conclui-se que seria a alma. Se fosse a alma não pesaria, porque o
espiritual não pesa. Se tivesse peso seria material e a matéria não poderia animar a matéria (o cadáver), e não poderia realizar operações
espirituais como as mencionadas. Na verdade, o que o corpo perde são substâncias gasosas do corpo e pronto.

240Os positivistas negam a espiritualidade da alma, porque não admitem nada fora dos seres materiais, corpóreos e visíveis. Sua
doutrina é absurda e degradante:

a) Absurdo, porque a matéria é incapaz de pensar, de raciocinar, de amar... O


macaco gosta de se aquecer junto ao fogo aceso pelo homem; mas para preservar
aquele fogo ele nem pensa na ideia de trazer a lenha...
b) É degradante, porque se o homem não tiver alma espiritual, ele é rebaixado ao
mesmo nível do bruto... Os positivistas podem, se quiserem, colocar-se no mesmo
nível

574
3° A alma do homem é livre.Liberdade é a capacidade de
escolher, de determinar entre duas coisas possíveis, uma ou outra.
a) A existência da liberdade no homem é comprovada pela
consciência, que nos diz que podemos fazer ou deixar de fazer o
mal.
b) Negar que a alma é livre é negar que o homem seja
responsável pelas suas ações. Sem liberdade o homem não pode
merecer recompensa ou punição.
c) Se a alma não fosse livre, não haveria virtude ou vício, assim
como não existe bem ou mal para os brutos. Então, todas as leis
feitas para reprimir crimes seriam injustas e cruéis. Estas
consequências são absurdas; Portanto, ninguém pode negar a
liberdade da alma.
4° A alma humana é imortal.A alma é imortal, ou seja, nunca
deixará de existir ou de viver. Tudo prova esta verdade fundamental:
a) A natureza da alma.A morte é a dissolução dos elementos de
um composto; mas como a alma humana é una, simples, indivisível,
ela não pode ser dissolvida. A sua separação do corpo não pode
fazê-lo morrer, pois a partir do momento em que age
independentemente do corpo, é certo que pode subsistir sem ele. A
sua natureza é diferente da do corpo; diferentes, portanto, devem ser
seus destinos.
Talvez você diga: Deus pode aniquilá-lo.
Ele poderia, sem dúvida, fazê-lo, dada a sua onipotência
absoluta; mas seria repugnante à Sabedoria de Deus aniquilar um
ser dotado por Ele mesmo de uma natureza que exige uma
existência imortal. Deus se contradiria e isso é uma imperfeição e
não diz respeito a Deus.
Isto está tão longe de ser o caso que as tendências com as quais
Deus dotou a alma provam que Ele não quer aniquilá-la.
b) As tendências da alma.O homem deseja ardentemente a
felicidade; este desejo, que Deus recebeu com o ser e a vida, deverá
ser satisfeito, mais cedo ou mais tarde, se o homem não lhe colocar
obstáculos. E como esse desejo não pode ser satisfeito na terra,
deverá ser satisfeito numa vida futura.

de patos ou gansos; Mas nós, com bom senso, sempre diremos que o homem tem
alma racional. O homem não é um bruto; Ele caminha ereto, olhando para o céu, para
onde o chamam seus destinos imortais, enquanto o animal, chamado a servir o
homem, caminha inclinado em direção à terra.
575
Mas a felicidade não é perfeita se não for possuída sem medo de
perdê-la. A palavra sempre na posse da felicidade é a única que
pode eliminar todo o medo. Portanto, existe no homem uma
tendência à felicidade eterna. E como Deus não pode deixar esta
tendência insatisfeita, é necessário que a alma seja imortal.
c) A Sabedoria de Deus.Deus deve fornecer os meios para
garantir que as suas leis sejam observadas e, portanto, dar-lhes uma
sanção capaz de dominar a nossa inclinação para o mal. O que
pensaríamos de um legislador que escrevesse no seu código:
Qualquer pessoa que derramar o sangue dos seus semelhantes
incorrerá numa multa de... cinco cêntimos? Diríamos que ele é um
tolo... Pois bem, Deus seria um legislador desajeitado se depois da
morte não existisse senão o nada, ou simples penas temporais. A
única sanção capaz de controlar nossas paixões consiste em
punições sem fim. O coração do homem é feito de tal maneira que
aquilo que não é eterno o deixa insensível. Os tormentos do
purgatório são terríveis; mas, como não deveriam durar para sempre,
não inspiram preocupação a ninguém. Portanto, a Sabedoria de
Deus exige que a alma seja imortal.
d) A justiça de Deus.Deus é justo; deve recompensar o bem
punir o mal; mas como não é neste mundo que Deus recompensa
um e pune o outro, visto que muitas vezes vemos que são
precisamente os ímpios que prosperam neste mundo, enquanto os
justos gemem na desgraça e na aflição, então, após a morte, é
quando Deus exerce os direitos essenciais da justiça. O simples fato
da opressão dos justos e do triunfo dos ímpios prova a existência de
uma vida futura.
Mas se, depois de milhões e milhões de séculos, os justos e os
ímpios sofressem o mesmo destino, não haveria distinção essencial
entre o bem e o mal. O mártir e o carrasco teriam o mesmo destino,
o que é absolutamente contrário à justiça e à bondade divinas. É
necessário, portanto, que a alma seja imortal para receber uma
recompensa eterna no céu, ou um castigo eterno no inferno.
e) Todos os povos sempre admitiram a imortalidade da
alma.Testemunha, o culto dos mortos. Pois bem, quando todos os
homens, em todos os tempos e em todos os lugares, afirmam algo
muito importante e contrário às paixões, isso é verdade, pois não se
pode razoavelmente admitir que todos os homens, em todos os
tempos, afirmam cometer um erro Por outro lado, uma crença
universal e constante requer uma causa da mesma

576
natureza. Esta causa só pode ser a razão ou a revelação primitiva,
ambas dignas de fé.
Os próprios pagãos compreenderam as tristes consequências do
materialismo: se tudo terminava para nós no dia da morte, por que
não deveríamos buscar a nossa felicidade aqui na terra, mesmo que
para isso tivéssemos que transgredir todas as leis divinas e
humanas? De que forma São Vicente de Paulo seria mais estimável
que um criminoso? Sem a imortalidade da alma, somos como brutos,
e toda distinção entre o bem e o mal, a virtude e o vício cessa, e
então o mundo se tornaria um matadouro universal. É, portanto,
impossível negar a imortalidade da alma. O bem deve ser
recompensado e o mal deve ser punido. A justiça de Deus exige
isso.
5º A alma está destinada a glorificar o seu Criador.Todo ser
inteligente trabalha com um propósito. Deus, sabedoria infinita, não
poderia criar sem ter um fim digno de Ele. Ele criou o mundo para
manifestar Sua infinita bondade e perfeições, fazendo com que Suas
criaturas participassem de sua própria felicidade. Ele teve, portanto,
que colocar no mundo seres inteligentes e livres: inteligentes, para
que conhecessem suas perfeições; livre, para glorificá-lo com
homenagens voluntárias.
O homem recebeu de Deus uma inteligência para conhecê-lo, um
coração para amá-lo, um corpo para servi-lo: portanto, o homem
deve usar todas as suas faculdades na glória e no serviço de Deus.
Ele atinge esse objetivo com as práticas da religião.

III. CADA HOMEM QUE ACREDITA EM


DEUS E NA IMORTALIDADE DA ALMA
DEVE PRATICAR O
RELIGIÃO IMPOSTA PORdiOS
A religião é o vínculo moral que une o homem a Deus. “Deus,
Criador e Providência; Ele tem direitos imprescritíveis sobre o
homem, sua criatura; e o homem, dotado de uma alma racional, livre
e imortal, tem deveres essenciais para com Deus, seu Criador; Estas
duas verdades correlativas são o fundamento necessário de toda
religião.” É definido como “a adoração que o homem deve a Deus”.
Ou “o conjunto de deveres do homem para com Deus”.

577
1ª Necessidade de uma religião

A) O HOMEM PRECISA DE UMA RELIGIÃO.


Para quem acredita num Deus Criador e na imortalidade da alma,
a necessidade de uma religião é evidente, pelas relações
necessárias entre o homem e Deus.
a) Deus é meu Criador, Ele me fez do nada; Portanto, ele
também é meu Dono, como todo artista é dono de sua obra. Sou,
portanto, sua propriedade, seu trabalho, seu servo; enquanto Ele é
para mim e para sempre meu único começo e único fim. Portanto,
um vínculo estreito me une ao meu Criador. Reconhecer esta
dependência radical de todo o meu ser em relação a este único
Senhor é o mais essencial dos meus deveres: é o dever de
adoração.
b) Deus, depois de ter me criado, preserva minha vida; Portanto,
ele é meu Benfeitor essencial e estou agradecido a ele. Meu ser,
minha vida, são um presente de seu amor. Tudo o que sou pertence
a ele; tudo o que possuo vem Dele; Tudo o que faço seria impossível
sem Ele. Ser um dom de Deus é comum para mim com todas as
criaturas; mas saber disso é meu privilégio e confessá-lo é meu
dever absoluto. É um princípio admitido que toda ingratidão é um
crime e a gratidão um dever para com o benfeitor. Então, devo a
Deus o serviço de ação de graças.
c) Deus é a fonte de todos os bens, o livre dispensador de todos
os dons, e o homem é o pobre necessitado que nada possui, por si
mesmo; Portanto, ele deve pedir tudo a Deus: o pobre implora ao
rico, o doente implora ao médico. Mas Deus é o rico, o homem é o
pobre; Deus é o médico, o homem é o doente. Portanto, o homem
tem o dever de suplicar a Deus. Daí o grande dever da oração.
d) Deus é infinitamente justo: dará a cada um segundo as suas
obras. O homem é livre, ele pode pecar. Se você desobedecer à lei
divina, Deus não poderá deixar de censurar sua culpa e exigir uma
retratação e decretar uma penalidade. Daí uma nova relação entre o
homem e Deus; a relação do criminoso com o juiz. Portanto, o
homem tem a obrigação de implorar perdão pelas suas faltas.
Destas relações naturais e necessárias surgem os direitos de
Deus e os deveres do homem. Quatro palavras expressam estes
direitos e estes deveres: adoração, acção de graças, oração e
penitência. Todas estas relações com Deus são reais: é bem
verdade que sou o servo, o obrigado, o pobre e o culpado em
578
relação a

579
Deus, porque, na realidade, Deus é meu Senhor, meu Benfeitor, meu
Protetor e meu Juiz. Portanto, a adoração, a ação de graças, a
oração e a penitência são deveres essenciais para nós. E esses
deveres constituem religião.
O homem deve conhecer, amar e praticar estes deveres para
com Deus; Consequentemente, a religião é absolutamente
necessária, tão obrigatória quanto as relações do homem com Deus
são inevitáveis e essenciais.
A religião é o direito de Deus sobre o homem. A religião é dever e
necessidade do homem.
Este direito de Deus e esta necessidade do homem são
comprovados e reconhecidos pelo sufrágio da raça humana.
A história atesta que, em todos os lugares e sempre, a religião foi
considerada pelos homens como um dever e uma virtude, e a
impiedade ou a indiferença como um vício detestável.
O homem que vive sem religião é um ser incompleto, um mau
servo, um mau filho, uma pessoa ingrata que se esquece do seu
Benfeitor e Pai. Não basta, então, ser honesto segundo o mundo,
isto é, levar uma vida irrepreensível perante a sociedade: é preciso
rezar, adorar a Deus todos os dias, obedecer a todas as suas leis;
Em uma palavra, pratique a religião e sirva a Deus como Ele deseja
ser servido. Viver na indiferença é mais que um pecado: é uma
monstruosidade...
Todos nós, quem quer que sejamos, ricos e pobres, jovens e
velhos, fomos criados e colocados no mundo, não para desfrutar ou
acumular dinheiro, nem para descansar depois de ter feito fortuna,
mas, antes de mais nada, para servir a Deus , nosso Criador.
Aqueles que não servem a Deus, longe de serem honestos, são
loucos e criminosos, mais culpados que ladrões, porque os deveres
para com Deus são mais importantes do que os deveres para com
os nossos semelhantes.
Portanto, é verdade que o homem está estritamente obrigado a
cumprir os seus deveres para com Deus, e que lhe é impossível
viver como ser racional sem a prática de uma religião.

B) II A RELIGIÃO É NECESSÁRIA PARA A


FAMÍLIA.
Se existem obras divinas no mundo, uma delas é a família. Deus
a criou para que fosse imagem viva da sua fertilidade no mundo;

580
uma manifestação perpétua de sua providência e uma prova
palpável de seu amor. A existência e felicidade da família

581
Eles dependem de Deus. Portanto, o culto a Deus no seio da família
é um dever de estrita justiça.
O pai recebeu do céu uma missão sacerdotal: deve adorar,
agradecer, suplicar, pedir perdão em nome daqueles cujo líder é
responsável. Ensinar os seus filhos, com as suas lições e com os
seus exemplos, a conhecer, servir e amar a Deus, tal é o dever
primordial do pai de família. A felicidade de todos reside no
cumprimento deste dever. A adoração a Deus no lar doméstico é
necessária para educar os filhos. Aos joelhos de uma mãe piedosa,
na escola de um pai religioso, é onde a criança recebe a
inesquecível revelação da bondade e do poder divinos. Como pode
esse Deus que criou o coração da própria mãe não ser bom? Como
você pode duvidar do poder ilimitado dAquele a quem seu pai adora?
É assim que a criança raciocina. Um ensinamento que começou com
a lição e terminou com o exemplo nunca se apaga; sempre vive nas
profundezas da alma.
A criança é essencialmente um imitador: se acredita no que se
diz, é apenas porque vê o que se faz. O filho de pai indiferente logo
abandona toda prática religiosa; O filho de um homem perverso logo
se torna um pervertido. A experiência é aqui mais decisiva do que o
raciocínio241.
O principal ato do culto doméstico é a oração familiar. Seriam
necessários volumes para explicar a necessidade e os frutos
admiráveis desta oração comum. Nada é mais apropriado para
comover o coração de Deus do que trazer as bênçãos do céu sobre
uma casa inteira! A oração, o catecismo, a leitura de bons livros, o
canto religioso, etc., constituíram, durante muitos séculos, a
salvaguarda, a força e a felicidade do lar cristão. Ah sim! Uma família
sem oração é um corpo sem alma; Uma casa sem altar nada mais é
do que um túmulo. Tudo está morto numa família sem Deus.
“A sabedoria antiga proclamou a necessidade da religião no lar
doméstico. Se nos transportarmos com o pensamento entre as
famílias antigas, encontraremos em cada uma delas um altar, e em
torno desse altar a família reunida. Eles se reuniam todas as noites
para invocá-lo pela última vez. Durante o dia; A família também se
reunia para comer, que sempre começava e terminava com oração.

241 Ver Gondal, Religião.

582
Em todos essesatos solenes “Cantava em comum os hinos
religiosos que os seus pais lhe tinham deixado”242.

C) A RELIGIÃO É NECESSÁRIA À SOCIEDADE.


Deus tem direito ao culto público e social. Ele é o Senhor da
sociedade assim como do indivíduo. Ambos são obra sua, e ele os
proclama como sua propriedade, com o título de Criador, Benfeitor e
Juiz.
Deus criou a sociedade pelo simples facto de ter criado o homem
essencialmente sociável. Unindo-se aos seus semelhantes, o
homem nada mais faz do que seguir as tendências irresistíveis de
uma natureza que recebeu do próprio Deus. Portanto, Deus é o
Criador da Sociedade e, portanto, seu Senhor.
Deus preserva e governa a sociedade que criou, dando a alguns
dos seus membros o direito de comandar e impondo a outros o
direito de obedecer: sem autoridade não há sociedade possível. Mas
Deus é a Fonte de todo poder; Somente em Seu nome os superiores
podem dar ordens. E, na verdade, os homens são iguais; ninguém
tem autoridade sobre seus semelhantes. Portanto, somente Deus
pode dar a alguns o direito de comandar outros. Os governantes,
sejam eles quem forem, são os delegados, os ministros, os
representantes de Deus. Todo repositório de autoridade tem,
portanto, o dever imperativo de comportar-se como servo, como
auxiliar do Rei dos reis e Senhor dos que dominam.
Deus não é apenas o Criador e Cabeça da sociedade e das
pessoas; Ele é também seu Protetor e Juiz soberano: Ele é aquele
que eleva e abençoa as nações, que as faz prosperar e florescer: Ele
é o único que recompensa os nobres empreendimentos do povo,
pois é somente Ele quem pune suas prevaricações .
Agora: um Senhor como Deus tem direito à adoração da sua
criatura; Um Benfeitor exige, com toda a justiça, a homenagem de
ação de graças; O Dispensador de todos os bens espera dos seus
favorecidos a oferta de uma oração, e o Juiz pede ao culpado um ato
de arrependimento, pelo menos. A sociedade, portanto, está em
dívida com Deus por todos os atos constitutivos da religião.
Prestar todas essas homenagens ao Criador em nome da
sociedade é um dever rigoroso dos líderes; negligenciar ninguém

242Fustel de Coulanges, A cidade antiga.

583
destas homenagens é uma injustiça; proibindo-os, uma iniqüidade
repugnante. Deus punirá terrivelmente tais crimes.
Todos os povos sempre acreditaram que deveriam celebrar com
solenidades religiosas as grandes memórias da sua história nacional;
Eles sempre ofereceram solenes ações de graças a Deus após suas
vitórias; e em horas de crise imploraram a ajuda do árbitro dos
destinos.
Só pode haver uma religião boa, porque só uma pode ser
verdadeira. Tudo o que não é verdade não é bom: a matéria e o erro
são essencialmente maus. Deus, que é a verdade substancial, ama
necessariamente a verdade com todo o amor com que se ama, isto
é, infinitamente, e por isso detesta infinitamente o erro.
Agora, a verdade é uma só e não se contradiz. Duas proposições
contraditórias não podem ser verdadeiras. Mas as diferentes
religiões contradizem-se; um rejeita o que o outro admite; o primeiro
adora o que o segundo blasfema. Portanto, nem todos eles podem
ser verdadeiros. Só um é bom, porque só um é verdadeiro.
Fingir que todas as religiões são igualmente boas é o mesmo que
dizer que sim e não, prós e contras são igualmente verdadeiros; Isso
é engolir o maior absurdo.
Se todas as religiões fossem boas, seria bom para o católico
acreditar na Igreja e bom para o protestante não acreditar na Igreja;
Seria bom para o protestante acreditar em Jesus Cristo, Deus e
homem, e bom para Maomé negar a sua divindade... que absurdo!...
E no entanto, estas são as teorias que nos são apresentadas, como
uma das as grandes conquistas do espírito moderno.

2º A única boa religião é aquela exigida e imposta por


Deus
Deus é Senhor e ele tem o direito de ser servido como quiser.
Assim como cada soberano regula o cerimonial do seu palácio, cada
homem a ordem da sua casa, cada empregador o trabalho dos seus
domésticos, assim também, e com maior razão, Deus tem o direito
de nos impor a forma como deseja ser servido, a religião com a qual
quiser, ser honrado pelo homem, sua criatura.

584
Portanto, se aprouve a Deus revelar-nos uma religião, o homem
tem o estrito dever de abraçá-la e segui-la com exclusão de todas as
outras. É falso que todos sejam livres para servir a Deus à sua
maneira e para criar uma religião conforme sua vontade.
A religião compreende três elementos: dogma, moralidade e
adoração.
O homem não é dono de forjar um dogma ou uma crença, porque
não é livre para acreditar em Deus o que quiser e para rejeitá-lo se
não quiser. Ele não tem a verdade à sua vontade, não pode esperar
que Deus seja honesto com seus erros.
O mesmo se pode dizer da moralidade: não cabe ao homem criar
uma regra de moralidade: é necessário que esta regra lhe seja
ditada por Deus, seu Criador e seu Senhor.
O cultoContém os atos internos, externos e públicos, através dos
quais o homem pretende honrar a Deus e agradá-Lo... Seria absurdo
afirmar que Deus é obrigado a aceitar os atos de um culto inventado
pelo homem. Seria fazer de Deus um humilde tributário de todas as
práticas supersticiosas e de todas as extravagâncias dos mortais.
É por isso que todos os povos da terra sempre acreditaram que a
religião só pode vir de Deus. Os impostores que introduziram falsos
cultos, alterando a religião primitiva, fingiram estar em relação com o
céu, para terem aceitação.

3º Deus revelou a verdadeira religião


Deus falou aos homens para lhes ensinar a religião que ele exigia
deles.
A revelação é, acima de tudo, um facto histórico que deve ser
comprovado, como todos os outros factos da história, por
testemunhas e documentos autênticos.
A) Testemunhas da revelaçãosão todos os povos da terra:
a) Os judeus, a cidade mais antiga que existe.
b) Os povos cristãos, que são os mais civilizados.
c) Finalmente, os próprios povos pagãos, pois seus anais
preservam a memória e os vestígios de uma religião que veio do
céu.

585
B) Os documentos históricos da revelaçãoSão eles: os Livros
do Antigo e do Novo Testamento e, particularmente, os cinco livros
de Moisés e os Evangelhos.
Você deve acreditar em um livro histórico quando ele é autêntico,
completo e verdadeiro. Este princípio é aceito pela ciência crítica
mais exigente. Pois bem, os cinco livros de Moisés, chamados
Pentateuco, são verdadeiramente autênticos, completos e
verdadeiros, devemos portanto acreditar nos fatos que eles narram.
Mas nestes livros vemos que Deus falou aos homens para lhes
revelar a religião que exigia deles; então, Deus revelou a verdadeira
religião.
Além disso, os Evangelhos, de cuja autenticidade, integridade e
veracidade ninguém pode duvidar, comprovam, com certeza, a
revelação divina. Deus revelou-nos a verdadeira religião, através do
seu divino Filho feito homem.

Autenticidade do Pentateuco
O Pentateuco chega até nós dos judeus que, durante uma longa
série de séculos, sempre o consideraram como escrito pelo seu
legislador Moisés, exceto os últimos oito versículos, que o Talmud
declara escritos por Josué243. Não precisamos então provar a sua
autenticidade, uma vez que a possuímos como autêntica desde
tempos imemoriais, e a posse é um título. Cabe àqueles que negam
a sua origem mosaica provar que não foi Moisés quem o escreveu.
Agora, por mais que a crítica racionalista nos últimos tempos se
esforce, com verdadeira ferocidade, para relegar Moisés aos mitos,
ela não apresentou uma única evidência em apoio às suas
negações. Tudo o que conseguiu foi imaginar hipóteses, mais ou
menos engenhosas, mas que, na maioria das vezes, se destroem.
Não é lícito negar, com base em hipóteses, as tradições nacionais de
todo um povo.
Mas, além da tradição constante e de mais de três mil anos,
contra a qual todas essas miseráveis artimanhas vêm se chocar,
temos outras provas apodíticas. Não é possível encontrar uma
época em que esses livros tenham sido fabricados por um
falsificador. As dez tribos de Israel que se separaram dos judeus
após a morte

243São Jerônimo acredita que foram escritos por Esdras: o que não admite dúvida é que foram inspirados por Deus (N. del T.).

586
de Salomão, no ano 975 antes de Jesus Cristo, eles guardaram
fielmente os livros de Moisés. Os samaritanos, que os receberam
das dez tribos cismáticas, preservaram-nos e ainda os preservam
tão religiosamente quanto os judeus. É impossível que dois povos
tão opostos pudessem tê-los tirado um do outro; Ambos, portanto, os
têm da mesma origem. Sabemos que no tempo de Salomão e David,
mais de mil anos antes de Jesus Cristo, toda a família israelita lia,
copiava e venerava o Pentateuco como obra de Moisés.
Mas David é contemporâneo de Samuel, que nos leva aos juízes;
Estas chegam a Josué e Josué, sucessor de Moisés, cita-o
continuamente, à sua lei e aos seus livros. Não há, portanto, nada
mais certo do que a origem mosaica do Pentateuco.
O Pentateuco Samaritano é idêntico ao dos judeus. Esta seita
muito fraca não parece ter durado tanto tempo na Palestina, exceto
para atestar a antiguidade e integridade dos livros de Moisés.
O povo judeu sempre olhou para Moisés como um enviado de
Deus, e para os seus livros como divinamente inspirados, como
livros divinos. Este povo não poderia ser enganado sobre a origem
dos livros que contêm a sua história, as suas leis civis e religiosas,
nem sobre a missão de Moisés, pois tinham testemunhado os
numerosos prodígios realizados pelo seu líder (Ver nº 107).
De resto, os historiadores seculares, e particularmente as
tradições de todos os povos antigos, atestam os principais factos
narrados por Moisés, tais como:
1º O caos que antecedeu o estado atual do mundo.
2º Um estado de felicidade e inocência denominado idade de
ouro. 3° A queda do primeiro homem enganado pela serpente.
4º A longa vida dos primeiros homens. 5°
O dilúvio universal; Torre de Babel. 6° A
promessa de um libertador, etc.244.

244Ver Nicolás, Estudos sobre o Cristianismo; Quatrefages, Unidade da espécie humana.

587
IV. A RELIGIÃO IMPOSTA POR DEUS
É A RELIGIÃO CRISTÃ; ENTÃO, CADA
HOMEM QUE
ACREDITEdIOS DEVE SER CRISTÃO.

Sinais ou notas da religião divina


Os sinais distintivos de uma religião divina são: milagre e
profecia.
O milagreÉ um facto sensível que ultrapassa as forças da
natureza e que não acontece senão através de uma intervenção
especial de Deus245.
A profeciaÉ a previsão certa de um evento futuro cujo
conhecimento não pode ser deduzido de causas naturais. A profecia
constitui um verdadeiro milagre na ordem intelectual.
Somente Deus pode fazer verdadeiros milagres e verdadeiras
profecias. Os milagres são a assinatura de Deus, assim como o selo
real é a marca do rei para certificar a autenticidade dos seus
decretos. Deus não pode realizar milagres para provar as mentiras
de um impostor; Caso contrário, ele enganaria os homens e se
tornaria cúmplice do erro.

245O que devemos pensar daqueles que negam os milagres ou os ridicularizam?:

1) Devemos considerá-los como tolos que ousam medir o poder infinito de Deus
com o poder miserável do homem, ou como mentirosos, que falam contra a sua
consciência; Eles não rejeitam os milagres, exceto para poder negar a religião, que
condena os seus vícios. Eles dizem:
a) Eu nunca vi nenhum milagre. Quantos fatos existem na história que você
admitiu como verdadeiros e ainda assim não viu... O testemunho dos homens,
revestidos das condições exigidas pela crítica, é um meio infalível de conhecer a
verdade. Portanto, não se pode negar os milagres afirmados por numerosas
testemunhas e em condições de publicidade que eliminam todas as dúvidas.
b) Por que não há milagres nestes tempos?E que outro tempo foi mais fértil
em milagres? Nos nossos dias os santos são canonizados, como se viu em todos os
séculos. E sabe-se que ninguém é canonizado sem antes ter verificado vários
milagres verdadeiros realizados por sua intercessão e verificados por uma equipe de
cientistas de diferentes confissões. Na verdade, para verificação, a crítica moderna
requer uma comissão. Esta comissão existe e opera com um rigor e escrupulosidade
que os incrédulos não seriam capazes de imitar. Essa comissão está em Roma para a
canonização dos Santos. Lá, os milagres são expostos, combatidos, discutidos e, no
588
final, comprovados de forma tão científica quanto todas as academias do mundo
poderiam fazer.

589
Portanto, uma religião testada e confirmada por verdadeiros
milagres é uma religião divina, porque traz o selo de Deus.
Assim, a religião cristã é comprovada com milagres e profecias.
Então, é divino.
Três tipos de fatos comprovam a divindade do Cristianismo: os
que precederam, os que acompanharam e os que se seguiram à
vinda de Jesus Cristo à terra.

1º FATOS ANTES DA VINDA DE JESUS CRISTO


A verdadeira religião deve remontar ao berço da raça humana,
porque é necessária para todos os homens. Isto é o que acontece
com a religião cristã. Não começou com a vinda de Jesus Cristo,
mas com a criação do homem. Teve três fases diferentes: a
revelação primitiva, a revelação mosaica e a revelação cristã.
A) A revelação primitiva, feita aos nossos primeiros pais e aos
patriarcas, era obrigatória para toda a raça humana.
B) A Revelação Mosaica, feita a Moisés e aos demais profetas,
nada mais foi do que o desenvolvimento do primeiro. Seu culto,
figurativo da Nova Lei, referia-se apenas ao Povo Judeu e teve que
ser abolido com a vinda do Messias.
C) A revelação cristã, feita por Jesus Cristo e pelo Espírito
Santo aos Apóstolos, une o mundo inteiro.
A) Revelação primitiva.Três verdades da maior importância
emergem da leitura dos cinco livros escritos por Moisés.
1) Deus realmente falou aos homens; Ele falou a Adão, a Noé, a
Abraão, a Jacó, a Moisés, e revelou-lhes as verdades que deveriam
ser cridas, os deveres que deveriam ser praticados e o culto que
deveria ser prestado a ele.
2) Deus criou Adão, o primeiro homem, num estado de inocência
e santidade; Ele o colocou no Paraíso terrestre e lhe impôs um
preceito, Adão violou a ordem de Deus, e por sua desobediência
mereceu o castigo do Criador, arrastando toda a sua posteridade
para a sua desgraça.
3) Deus prometeu enviar à raça humana um Redentor, chamado
o Messias, o Desejo das nações.

590
Estes são os três eventos narrados no primeiro livro da Bíblia:
Gênesis. Estes três factos são o fundamento da religião revelada:
contêm em germe todo o cristianismo, tal como foi posteriormente
revelado por Jesus Cristo na sua forma definitiva.
Mas é evidente que as revelações feitas aos nossos primeiros
pais e a promessa de um Redentor são fatos divinos. Estes factos,
narrados nos livros de Moisés, são verdadeiros e estão
comprovados pelas tradições, mais ou menos veladas, de todos os
povos. Portanto, o Cristianismo é divino em seu primeiro período.
B) Revelação mosaica.Após a dispersão dos povos, a
revelação primitiva se altera no mundo. Para preservar o precioso
depósito, Deus escolhe um povo que deveria preparar os homens
para a vinda do Redentor prometido.
Deus preside milagrosamente à formação deste povo; separa-o
de outras nações; dá-lhe leis, instituições religiosas e políticas;
nomeia seus chefes e seus reis; Guia-o para a vitória quando é fiel e
pune as suas infidelidades com as derrotas mais tristes; Em suma,
Deus intervém nos mínimos detalhes da sua vida, e o conduz, pelos
caminhos mais surpreendentes, ao seu grande destino.
Qual foi o destino do povo judeu? Anuncie, apareça, espere o
Messias. O Libertador é indicado antecipadamente dentro deste
povo, com promessas, números e profecias. Este último especifica a
família da qual deve partir, o momento da sua vinda, a cidade onde
nascerá, os milagres que deverá realizar e até as particularidades da
sua vida, da sua morte, do seu triunfo final. Assim os homens
poderão conhecer facilmente o Mensageiro de Deus, o Redentor da
raça humana.
A história do povo judeu é uma longa série de milagres e
profecias perfeitamente cumpridas, que comprovam a divindade da
revelação mosaica.
Assim como o sol se anuncia com o amanhecer, mostra a sua luz
ao nascer, e brilha com todo o seu esplendor quando atinge o zénite,
assim a religião revelada desenvolve-se gradualmente: começa na
religião primitiva, desenvolve-se na religião mosaica e brilha
intensamente em toda a sua extensão. esplendor da religião cristã.
Este é o complemento dos dois primeiros.

591
2ºJJesus Cristo,SUA MISSÃO,SUA DIVINDADE
O Redentor prometido, Aquele cuja vinda Moisés e os profetas
anunciaram claramente, Aquele que foi durante longos séculos o
Desejo das nações, não é outro senão Jesus de Nazaré.
Depois de trinta anos de vida oculta, Jesus manifesta-se ao
mundo.
Ele declara abertamente que é Cristo ou o Messias, enviado por
Deus para salvar o patrimônio e restaurar a vida sobrenatural,
perdida pelo pecado original: Ego veni ut vitam habeant...
Como Jesus Cristo prova ser o Mensageiro de Deus, o
Redentor esperado por todas as pessoas? Prove:
1° Com as profecias do Antigo Testamento que se cumprem na
sua pessoa.
2° Com a sublimidade da sua doutrina e a santidade da sua
vida. 3° Com os inúmeros milagres que ele faz.
Toda a natureza obedece à sua voz: ele comanda o mar, os
ventos e as tempestades; Ele transforma água em vinho, multiplica
pães, expulsa demônios, liberta os possuídos, cura os enfermos,
ressuscita os mortos... Em suma, ele pode dizer aos seus
adversários: “Se vocês não querem acreditar nas minhas palavras,
acreditem, pelo menos pelo menos, em meus trabalhos.” Os
milagres de Jesus Cristo provam que ele fala em nome de Deus246.
Conclusão.Visto que Jesus Cristo é o Mensageiro de Deus, a
religião cristã é divina.
JESUS CRISTO NÃO É SÓ UM ENVIADO DE DEUS, ELE É O
FILHO VIVO DE DEUS, O HOMEM_DEUS

246Conhecemos a vida e os milagres de Nosso Senhor Jesus Cristo através dos Evangelhos. Provamos em outro lugar a
autenticidade, integridade e veracidade dos livros do Novo Testamento. O racionalista mais apaixonado dos tempos modernos, o ímpio
Renan, é forçado a admitir que os Evangelhos são autênticos. Ao escreverem estes livros, os Apóstolos ou os discípulos de Jesus não
podiam ser enganados, porque só escreviam o que tinham visto, ouvido e tocado. Não quiseram enganar, pois selaram com o sangue os
fatos que presenciaram. “É preciso acreditar em testemunhas que deixaram que suas gargantas fossem cortadas para confirmar seu
depoimento.” Mesmo que quisessem enganar, não o teriam conseguido, porque falavam diante de pessoas que tinham testemunhado a s
maravilhas que anunciavam. Além disso, muitos dos acontecimentos narrados pelos Evangelhos também são afirmados por autores
seculares, como Tácito, Plinto, o Jovem, Josefo e outros historiadores que escreveram logo após a morte de Jesus Cristo.

592
A divindade da religião cristã é demonstrada, independentemente
de todas as outras evidências, pelo testemunho que Jesus Cristo dá
de si mesmo.
1° Jesus Cristo se autodenomina Deus, na presença dos seus
discípulos, na presença das multidões, na presença dos seus juízes;
e ele prefere morrer num cadafalso proclamando sua divindade, em
vez de escapar da morte reconhecendo o oposto. Bem, o simples
fato de Jesus Cristo ter se autoproclamado Deus nos obriga a
concluir que ele realmente é.
E, certamente, um de dois: ou ele acreditou no que disse, ou não
acreditou. Se ele acreditava ser Deus sem o ser, ele era, e perdoe a
palavra, um tolo. Se você não acreditou no que ele disse, você era
mau e blasfemador. Chamando-se Deus sem o ser, tornou-se
culpado da mais audaciosa impiedade e da maior impostura. Um
homem que fizesse o mesmo hoje seria confinado a um asilo.
Mas a Sabedoria de Jesus é provada pela excelência da sua
doutrina, e a sua santidade é proclamada por todas as testemunhas
da sua vida: Portanto, Jesus Cristo é verdadeiramente o Deus-
Homem.
Além disso, Jesus Cristo não se contenta em afirmar que é Deus;
prova suas afirmações por meio de milagres; O milagre é um fato
divino: só Deus pode fazer milagres, por si mesmo ou por seus
delegados. Prove, então, o milagre de que Deus colocou seu poder à
disposição daquele que o opera. Mas Deus não pode colocar o seu
poder à disposição de um impostor, porque isso seria enganar
indignamente os homens. Portanto, Jesus Cristo que afirma ser
Deus e que faz milagres para prová-lo, é realmente Deus: é o
Homem-Deus, o Emanuel desejado por todas as nações.
2° Jesus Cristo viveu como Deus_Homem.A pessoa de Cristo
não se assemelha a nenhum dos grandes personagens cujo retrato a
história preservou para nós. A sua vida sem mácula, sem qualquer
afetação, não nos permite vislumbrar nenhuma das mil misérias
morais comuns à humanidade. Caridade compassiva e universal,
perdão das injúrias, amor aos inimigos, doçura e pureza de
costumes incomparáveis, paciência invencível nas derrotas
duradouras, modéstia suprema nas honras, coragem indomável para
enfrentar as perseguições por justiça, etc.; Estas foram as principais
virtudes que brilharam em sua pessoa. Toda a sua vida é o tipo mais
perfeito de santidade. O próprio Rousseau confessa: “A vida de
Jesus Cristo é a vida de um Deus”.

593
3° Jesus Cristo morreu como Deus_Homem.Jesus Cristo
morreu na Cruz, mas a sua morte é uma prova da sua divindade,
ainda mais brilhante do que a sua vida milagrosa.
Jesus morre, mas a sua morte foi decretada, prevista desde a
origem do mundo, como o grande ato da sua missão de Redentor:
essa morte estava figurada em todos os sacrifícios, predita pelos
profetas e anunciada por Ele mesmo com todos os seus detalhes.
Ele morreu, mas livremente, voluntariamente, no dia e na hora
que havia marcado. Ele morreu, mas por ter afirmado na presença
de seus juízes que era o Filho de Deus. Ele morreu, mas como um
vencedor que deu um reino a outro sofredor. Ele morreu, mas como
Deus que comanda a natureza... O véu do templo foi rasgado, as
rochas foram fendidas, os túmulos foram abertos, o sol foi eclipsado,
e a terra tremeu até os seus alicerces e alguns mortos saíram de
seus túmulos . Esses prodígios são atestados pelos próprios autores
pagãos. Ele morreu, mas quando morreu obrigou os autores de sua
morte a confessarem sua divindade: “Ele era verdadeiramente o
Filho de Deus”. Ele escolheu a cruz como cetro do seu reino, como
carro do triunfo e como arma da vitória sobre o inferno e sobre o
mundo.
4° Jesus Cristo ressuscitou como Deus_Homem.O
cristianismo assenta num facto sério, solene e fácil de verificar: a
ressurreição de Jesus Cristo. Ressuscitar um morto é provar que ele
é o Mensageiro de Deus; mas ressuscitar é mostrar que se é dono
da Vida e da morte, é provar que se é Deus247.
Jesus Cristo ressuscitou: portanto, ele é o Filho de Deus e o
próprio Deus. O simples bom senso justifica esse raciocínio. Jesus
Cristo disse que ele era igual ao seu Pai, Deus como seu Pai, e
porque ele havia atribuído o

247O fato da Ressurreição é narrado nos Evangelhos. Três evidências tornam isso absolutamente verdadeiro:

1º A impossibilidade em que se encontravam os Apóstolos de


roubar o corpo de Jesus Cristo para fazê-lo acreditar que ele havia ressuscitado. O
corpo foi encerrado em uma tumba escavada na rocha: a entrada foi bloqueada por
uma pedra grossa e selada com o selo do Estado, e um grupo de guardas fazia vigília
ao lado dela.
2º O testemunho dos Apóstolos, dos discípulos e de mais de
quinhentas pessoas que o viram e tocaram depois da sua Ressurreição.
3º Se ele não tivesse ressuscitado, os Apóstolos não teriam
podido realizar milagres em seu nome. Mas visto que é verdade que eles os fizeram,
então é verdade que Cristo ressuscitou.

594
divindade, seus inimigos o condenaram à morte. Se ele não fosse
realmente Deus, teria cometido uma fraude, uma usurpação
sacrílega que lhe teria valido todas as maldições do céu. Mas vemos
que o Todo-Poderoso o chama de volta à vida e o mostra ao mundo
o vencedor da morte e do inferno. Então Deus confirma todos os
seus ensinamentos, aprova todas as suas palavras, proclama a sua
divindade. Jesus Cristo ressuscitou; Portanto a religião que ele
fundou é divina.
5º Podemos ir mais longe e dizer:Se Deus existe, como
demonstramos, Jesus Cristo é Deus. Deus, pelo simples fato de
existir por si mesmo, é infinitamente perfeito: não pode, portanto, de
forma alguma, tornar-se autor ou cúmplice do mal; Ele seria cúmplice
do mal e do grande mal, se Jesus Cristo não fosse Deus.
Nada poderia ser mais fácil de provar:Jesus Cristo ressuscitou;
Então, a religião que fundou é divina e, para provar isso, ele realiza
numerosos e extraordinários milagres. Mas o milagre é obra de
Deus: ninguém pode realizar milagres se não forem feitos em nome
e pelo poder de Deus. Pois bem, diante das declarações e dos
milagres de Jesus, surge um dilema: ou Jesus Cristo diz a verdade
quando afirma que é Deus, e então realmente o é, ou não. Mas se
ele não é Deus, ele mentiu, é um impostor e o maior de todos os
impostores. Se ele é um impostor, Deus é seu cúmplice, cúmplice de
suas mentiras. Porque? Porque lhe emprestou o seu poder para
fazer milagres, para provar a sua impostura e assim enganar a raça
humana. Mas um Deus infinitamente perfeito não pode emprestar o
seu poder para enganar os homens; Então, visto que Jesus Cristo
afirma ser Deus e realiza milagres para provar as suas afirmações, é
preciso acreditar na sua divindade, ou dizer que Deus não existe.
“Não existe Deus no céu, disse o grande Napoleão, se um
homem foi capaz de levar a cabo com sucesso o gigantesco
desígnio de ser adorado na terra, usurpando o nome de Deus. Só
Jesus ousou dizer: eu sou Deus; Portanto, é realmente Deus.”
Conclusão.Visto que Jesus Cristo é Deus, verifica-se que a
religião cristã por Ele fundada é a única divina, a única obrigatória
para todos. Devemos acreditar em todos os dogmas que Ela ensina,
praticar todos os deveres que Ela impõe.

3º FATOS APÓS A VINDA DE JESUS CRISTO


Cremos ser desnecessário recordar aqui os numerosos e
famosos milagres que cercaram o berço do Cristianismo de uma
aura divina: tais
595
como o milagre de Pentecostes, a conversão de Saulo, a libertação
de São Pedro, diversas curas e ressurreições realizadas pelos
Apóstolos.
Também é inútil lembrar os terríveis infortúnios que se abateram
sobre a nação judaica. Esses infortúnios, sem precedentes na
história, cumpriram ao pé da letra as profecias de Jesus Cristo.
Todos os milagres podem ser negados; Mas há um facto certo e
inegável em que a intervenção de Deus a favor da religião cristã se
manifesta de forma mais evidente do que na ressurreição de um
morto: é o estabelecimento e a rápida difusão do cristianismo no
mundo.
Aos ateus, aos deístas, aos panteístas, a todos os incrédulos
finalmente, que ousam negar os milagres de Jesus Cristo e dos
Apóstolos, propomos o dilema que Santo Agostinho propôs aos
incrédulos do seu tempo:
A religião cristã foi estabelecida com ou sem a ajuda de milagres.
Pense bem na sua resposta e escolha:
1° Se você confessar milagresde Jesus Cristo e dos Apóstolos,
vós confessais com isso mesmo que a religião cristã é obra de Deus:
uma religião confirmada com milagres é uma religião divina.
2º Se você negar esses milagres, você ainda constitui a
divindade do Cristianismo. Porque se uma religião inimiga de todas
as paixões, incompreensível nos seus dogmas, severa na sua moral,
se estabeleceu sem milagres, o seu estabelecimento no mundo é o
maior e mais estupendo dos prodígios.
Doze pescadores da Galileia, ignorantes, sem fortuna, sem
eloquência, pregam dogmas incompreensíveis, uma moral de
austeridade chocante, propõem à adoração do universo um homem
morto numa cruz, e o mundo cai de joelhos diante da cruz de Jesus
Cristo. Este acontecimento seria impossível se não fosse obra da
Onipotência de Deus: A Domino factum est istud.
a) A empresa.Jesus escolheu doze homens, instruiu-os durante
três anos e revelou-lhes o seu plano: “Vão de um extremo ao outro
do mundo, disse-lhes, destruam todas as divindades que os mortais
adoram; joguem de seus altares o Apolo da Grécia, o Júpiter de
Roma; Destrua, sobretudo, os ídolos do coração: o orgulho, a
ganância, a volúpia. Quero ser o único adorado na terra como Todo-
Poderoso, Criador, Redentor, Juiz Soberano dos vivos e dos
mortos.”

596
Que empresa! Derrubar os altares dos deuses, defendidos por
todas as forças do Império Romano, e adorar em seu lugar um
homem crucificado entre dois ladrões248!... Não é este projecto
impossível e humanamente absurdo?
b) Os meios.Jesus Cristo despreza os meios humanos: riqueza,
força, eloquência. Escolha doze homens tímidos, fracos, pobres e
ignorantes. O pescador Simão Pedro, o publicano Mateus, humildes
e obscuros pescadores do lago de Genesaré: estes são os homens
que Jesus manda proclamar e fazer reconhecer a sua divindade. “Eu
vos envio, diz ele, como ovelhas no meio de lobos; mas não tema,
pois eu lhe darei a vitória.” Estranha promessa! Se Jesus Cristo não
é Deus, o seu projeto é a loucura mais famosa que já surgiu de uma
cabeça humana; e os Apóstolos tiveram que sucumbir desde o
primeiro dia, não sob o peso da perseguição, mas sob o peso do
ridículo.
c) O exito.Bem, o que aconteceu? Esses homens ignorantes,
esses pescadores rudes vão de cidade em cidade pregando a
loucura da cruz aos sábios e aos filósofos. E sábios e ignorantes,
ricos e pobres, alistem-se sob esta bandeira da ignomínia. Eles
renunciam às suas antigas crenças; desprezam as riquezas, as
honras, os prazeres; Deixam-se destruir, queimar, afogar, pelo amor
de um homem que morreu num infame cadafalso!
Uma cruz de madeira, plantada no meio do mundo, de repente
opera uma revolução imensa e incrível.
E ainda assim, quantos obstáculos! Os preconceitos religiosos e
nacionais, o despotismo ciumento dos imperadores, o orgulho dos
filósofos, a corrupção inveterada das massas, as paixões rebeldes
opõem-se a uma resistência tenaz e terrível. Tudo deve ser mudado,
tudo deve ser transformado: o culto, as leis, os costumes e até a
língua. No meio de tantas resistências, e com tais meios, o
Cristianismo não conseguiu estabelecer-se no mundo: era
impossível. E ainda assim foi rapidamente estabelecido249.

248Quando todo o Império Romano considerava os que morriam crucificados como os mais infelizes dos homens, pois era o
castigo mais humilhante e vergonhoso.

249Está provado que, enquanto os Apóstolos ainda estavam vivos, o Evangelho foi pregado em todas as cidade s, desde as
margens do Ganges até ao Oceano Atlântico. E que menos de três séculos foram suficientes para fazê -lo triunfar na maioria dessas
cidades.

597
O Cristianismo não poderia sustentar-se vinte e quatro horas
entre tantos inimigos ferrenhos; e existe há mais de dezenove
séculos. Mil vezes o mundo inteiro, lançando-se contra a cruz, teria
querido pulverizá-la, aniquilá-la; mas ela permanece sempre de pé, e
o universo, prostrado, adora Aquele que triunfou na cruz: regnavit a
ligno Deus.
Você não vê o dedo de Deus aí? E você ainda pede milagres! Mas,
Que milagres você exige, se isso não for suficiente para você? Os
doentes curados, os mortos ressuscitados, o sol interrompido no seu
curso, serão prodígios maiores do que ver o mundo prostrado aos
pés de um judeu crucificado?... Sim; O mundo civilizado que aceita,
sob a palavra de doze pescadores da Galileia, os mistérios
incompreensíveis e a moral severa do cristianismo, é um fenómeno
que a razão nunca explicará se não recorrer à omnipotência de
Deus.
N. B._Quando um impostor quer seduzir as pessoas, tem muito
cuidado para não impor sacrifícios à razão e às paixões. Proclamar
liberdade, independência; encoraja todos os maus instintos do
coração; Abre um amplo caminho para o orgulho, a ganância e a
sensualidade. Esse é o segredo do sucesso de todos os falsos
inventores das religiões humanas. Está explicado.
Pelo contrário, é natural que, não por alguns indivíduos, mas por
toda a raça humana, aceite uma doutrina estranha que entra em
conflito com a razão, que vai contra todas as tendências mais vivas
do coração? É explicado sem intervenção divina?
O Cristianismo é uma criação mais incrível que a do universo. O
mundo não existia; Deus falou e o mundo foi feito: dixit, et facta sunt.
O mundo não acreditou, tudo se opôs a que o mundo acreditasse;
Jesus Cristo ordenou e o mundo acreditou: Jussit el creditum est, diz
Santo Agostinho.
Este é o maior de todos os milagres e prova irrefutavelmente a
divindade da religião cristã.
A estas provas podemos ainda acrescentar: 1°, o número e a
constância dos Mártires; 2º, os frutos maravilhosos que o

Nossos adversários o confessam: “Quando São Paulo, diz Vacherot, morre, a


semente da palavra cristã germina em todos os lugares, na Ásia; na Grécia, em
Roma. Ela só precisa se desenvolver para se tornar a árvore que cobrirá o mundo.”
Um século e meio depois, um Constantino errante ascendeu ao trono, o
paganismo estava morrendo e todo o Império estava cheio de cristãos.

598
O cristianismo produziu e produz todos os dias, no mundo; 3º, a
excelência da doutrina cristã, etc.
Conclusão:
1° É necessária uma religião: a lei natural nos impõe isso.
2° Não pode haver mais de uma boa religião: aquela que Deus
impôs.
3° Já faz muito tempo que a razão correta não deu um julgamento
definitivo sobre todas as religiões que existem fora do Cristianismo.
Eles nem sequer são discutidos hoje; não resistamos ao exame; tais
são: paganismo, budismo, fetichismo e islamismo.
4° A religião cristã é a única que tem provas: a descrença a
reconhece, porque sem ela os esforços feitos para destruí-los não
seriam explicados. Muitas dessas provas são tão poderosas que
cada uma delas, tomada isoladamente, seria suficiente para
convencer qualquer espírito íntegro e leal. Por que não podem ser
considerados todos como um todo?... Se o cristianismo não fosse a
única religião verdadeira, seria o próprio Deus quem nos teria
enganado.
5º Portanto, a religião cristã é absolutamente necessária e
obrigatória. Jesus Cristo disse: “Todo aquele que crer e receber o
batismo será salvo; “Todo aquele que não acreditar será
condenado.” Portanto, todo homem que acredita em Deus deve ser
cristão.

V. euA RELIGIÃO CRISTÃ NÃO SE ENCONTRA MAS


NOEiGlésiacATÓLICO:ENTÃO,TODOS CRISTÃOS
DEVE SERcATÓLICO
Nosso Senhor Jesus Cristo veio à terra para salvar todos os
homens de todos os tempos e de todos os países. Ele não queria
permanecer na terra de forma visível; mas, por outro lado, era
necessário que a sua religião fosse preservada e propagada por
todos os povos, através dos séculos, até ao fim do mundo.
Qual meio você escolheu para preservar, propagar e praticar sua
religião? A Igreja.
A Igreja é a sociedade religiosa estabelecida por Jesus Cristo
para conduzir os homens à salvação eterna, através da prática da
religião cristã.

599
1° JESUS CRISTO FUNDA UMA IGREJA.
Uma sociedade é uma agregação de homens que, de comum
acordo, tendem para o mesmo e idêntico objetivo. Este comum
acordo só é possível através da acção de uma autoridade que
direcciona os esforços individuais para o objectivo comum.
Não há, portanto, em nenhuma sociedade duas partes
constitutivas: os governantes, que comandam, e os governados, que
obedecem. Eles se unem para alcançar um objetivo comum, um
objetivo que é determinado pela natureza da sociedade.
Jesus Cristo fundou a sociedade religiosa. Antes de deixar este
mundo, ele disse aos Apóstolos: “Todo o poder me foi dado no céu e
na terra. Ide, portanto, instrui todas as nações, batizando-as em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Ensine-os a observar
tudo o que eu lhe ordenei. E eis que estou convosco sempre, até ao
fim dos tempos”250.
I. Por um lado, Jesus Cristo escolhe doze Apóstolos, aos
quais confere tripla autoridade:
a) O poder de ensinar: “Vá, ensine todas as nações...pregue o
Evangelho a todas as criaturas.”
b) O poder de santificar:“Batize-os em nome do Pai e do Filho e
do Espírito Santo.”
c) O poder de comandar:“Ensina-os a observar todas as coisas
que te ordenei.”
II Por outro lado, Jesus Cristo impõe a todos os homens a estrita
obrigação de se submeterem à autoridade dos Apóstolos. Ele
acrescenta: “Quem crê será salvo; mas quem não acreditar será
condenado”251.
Com estas palavras, Nosso Senhor impõe a todos os homens a
obrigação de acreditar na palavra dos Apóstolos, de guardar os seus
mandamentos, de receber, por meio deles, a graça, para alcançar a
salvação eterna.
O Salvador funda assim uma verdadeira sociedade: os Apóstolos
são os governantes; os fiéis, os governados; O objetivo comum é a
felicidade eterna que deve ser alcançada através da profissão de

250Mt. 28, 18-20; Mc. 16, 15-16.

251Mc. 16, 16.

600
mesma fé, a observância dos mesmos preceitos, a participação dos
mesmos Sacramentos.

2º GOVERNO DA IGREJA.
Jesus Cristo estabelece o governo da Igreja na forma de uma
monarquia. Numa monarquia existe um único chefe soberano: o rei
ou imperador, e chefes subordinados: os governadores provinciais.
O Senhor escolhe um dos seus Apóstolos para ser monarca da
sua Igreja. Desde o início ele promete a Pedro poder soberano: “Tu
és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do reino
dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o
que desligares na terra também será desligado nos céus.”252
Estas palavras de Cristo expressam o poder soberano dado a
Pedro sob uma figura tripla.
Pedro será o fundamento da Igreja, e o fundamento de uma
sociedade é a autoridade suprema; Ele receberá as Chaves do
Reino dos Céus, e dar a alguém as chaves de uma cidade é torná-lo
seu dono.
Finalmente, Pedro terá o poder de ligar e desligar, isto é, o poder
de impor leis que vinculam a consciência e de dispensar delas, etc.
Então, Pedro possuirá poder pleno e ilimitado: ele será o Monarca
visível do reino de Jesus Cristo.
Cumprimento da promessa.Jesus ressuscitou; Ele acaba de
exigir uma tripla confissão de amor de Pedro e lhe diz: “Apascenta os
meus cordeiros... apascenta as minhas ovelhas”.
Estas palavras apresentam a Igreja como um rebanho; Neste
rebanho, Jesus Cristo distingue os cordeiros das ovelhas, indicando
com a palavra cordeiros os simples fiéis, e com a palavra ovelhas
aqueles que dão a vida sobrenatural: os sacerdotes e os bispos.
Assim, Jesus Cristo coloca Pedro à frente de todos eles e o incumbe
de alimentar e governar, com pleno poder, o seu rebanho; então, a
Pedro ele confere autoridade suprema.
Esta forma de governo não pode ser alterada, porque é uma
instituição divina. A Igreja deve persistir até o fim dos silos porque as
portas do inferno não prevalecerão contra Ela, a

252Mt. 16, 18-19.

601
A prerrogativa de São Pedro de ser a pedra fundamental da Igreja
não pode terminar com ele, mas deve ser perpetuada nos seus
sucessores até ao fim do mundo, pois um edifício não pode subsistir
sem o fundamento que o sustenta: “A um edifício eterno corresponde
um edifício eterno”. Fundação." Portanto, o sucessor de Pedro deve
ser o herdeiro do seu poder soberano.
Tal é, aliás, o ensinamento persistente e unânime da Tradição e
dos Santos Padres.
Há, portanto, na Igreja de Cristo, uma Cabeça suprema e única: o
Papa, sucessor de São Pedro; e os governadores provinciais, os
Bispos das diversas dioceses, que estão subordinados ao Papa,
como os Apóstolos estavam subordinados a São Pedro.

3º NNATUREZA DOEiGlésia.
A Igreja é uma verdadeira sociedade. Qual é a sua natureza?
Como se distingue de outras sociedades humanas?
a) A Igreja é uma sociedade humana, pois é constituída por
homens unidos por laços externos e visíveis. Os Chefes da Igreja
são homens, os seus membros são homens, os meios utilizados
para os unir: Pregação, Leis, Culto, Sacramentos, são elos externos
e visíveis. Portanto, a Igreja é antes de tudo uma sociedade visível,
como outras sociedades humanas. Uma Igreja invisível não seria
capaz de preservar a religião de Jesus Cristo. Contudo, a Igreja é
também uma sociedade espiritual que se dirige à alma através do
corpo: é a sociedade das almas, como o Estado é a sociedade dos
corpos. Portanto, os membros da Igreja não estão unidos apenas por
laços externos, mas também por laços espirituais, invisíveis, que são
a Fé, a Graça, as Virtudes infundidas e os Dons do Espírito Santo.
Esses laços espirituais constituem o que se chama de alma da
Igreja.
b) A Igreja é uma sociedade sobrenatural em seu fimque é
proporcionar aos homens a visão beatífica; nos meios de que dispõe:
a Palavra de Deus, os Sacramentos; nos bens que proporciona:
Graça, Virtudes infundidas, Dons sobrenaturais por excelência...
c) A Igreja é uma sociedade divina:Jesus Cristo, que o fundou
e que o governa, é Deus; o Espírito Santo, que o anima, é Deus;
Seus poderes vêm de Deus; Sua missão é comunicar a virtude
divina às almas.

602
d) A Igreja é uma Sociedade Perfeita:Possui em si todos os
elementos de uma sociedade completa e independente: 1°, um fim
completamente diferente dos fins almejados por outras sociedades;
2º, uma autoridade independente de todos os outros poderes; 3°,
meios convenientes para atingir o seu fim. É incomparavelmente
superior a todas as outras sociedades, pela sua origem, pela sua
finalidade, pela sua constituição e pela assistência divina que lhe é
prometida até ao fim dos séculos.
Conclusão.En todas partes, la historia nos muestra a la Iglesia
como una sociedad divinamente instituida para gobernar a las almas,
como una sociedad que subsiste por sí misma, viviendo en paz con
las repúblicas como con las monarquías, pero libre e independiente
de los gobiernos de a terra.

4º DESTINO DA IGREJA.
Com que propósito Jesus Cristo fundou a Igreja? O fim do
Salvador está perfeitamente indicado na tríplice missão que ele
confere aos Apóstolos:
a) O poder de ensinarou a missão doutrinária, visa
evidentemente preservar e pregar a doutrina de Jesus Cristo.
b) O poder de santificarou a missão pastoral, destina-se a
aplicar a Graça de Cristo aos homens, a purificá-los do pecado e a
santificá-los.
c) O poder de governar, visa fazer com que os homens,
membros da Igreja, pratiquem os preceitos e virtudes de Jesus
Cristo que os tornam dignos do céu.
Esse é o fim próximo da Igreja. O seu objetivo final é: a glória de
Deus e a salvação dos homens.
Portanto, a Igreja deve continuar a obra de Jesus Cristo na terra:
“Assim como meu Pai me enviou, disse o Salvador aos seus
apóstolos, também eu vos envio” com o mesmo poder e com a
mesma missão.
Portanto, abraçar a religião de Jesus Cristo é o mesmo que entrar
na sua Igreja. Portanto, como todo homem é obrigado, se não quiser
condenar-se, a abraçar a religião de Jesus Cristo, é portanto
obrigado a entrar na sua Igreja.

603
5º A VERDADEIRA IGREJA DE JESUS CRISTO É A
EiGlésiacATÓLICO.
Três sociedades religiosas se autodenominam cristãs:
a) A Igreja Católica, a mais antiga e difundida.
b) As Igrejas Grega e Russa, separadas há muitos séculos, da
Igreja Católica.
c) As Igrejas Protestantes, separadas da Igreja Católica no
século XVI, e subdivididas em inúmeras seitas.
Pois bem, só uma Igreja pode ser a verdadeira Igreja de Jesus
Cristo, porque Ele fundou uma só Igreja. Esta Igreja de Cristo é a
Igreja Católica, como vamos demonstrar.
1º Teste.A verdadeira Igreja de Jesus Cristo é aquela onde se
encontra o legítimo sucessor de Pedro, porque foi a Pedro a quem
Jesus deu as chaves do céu e a quem ele nomeou Pastor supremo
dos seus cordeiros e ovelhas. Assim, o legítimo sucessor de Pedro é
o Bispo de Roma. Então...
A história diz-nos que Pedro foi para Roma, que ali estabeleceu a
sua Sé e que ali faleceu, depois de ter ocupado a Cátedra Pontifícia
durante vinte e cinco anos. Estes factos são atestados por um
grande número de monumentos.
O Apóstolo São Pedro obteve a coroa do martírio, durante o
império de Nero, no ano 67; e a cadeia dos legítimos sucessores de
Pedro estende-se sem interrupção até Paulo VI (João Paulo II,
diríamos agora), hoje Bispo de Roma e Chefe Supremo da Igreja
Católica. Portanto, a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo é a Igreja
do Papa: onde está Pedro, aí está a Igreja.
Consequentemente, toda Igreja ou todo homem que se separa do
Papa, seja por heresia ou rebelião, não pratica a verdadeira religião
de Jesus Cristo.
2º Teste.Cristo, para a preservação e difusão da sua doutrina,
que é a base de toda religião, instituiu uma autoridade viva, infalível
e perpétua.
Uma autoridade viva,porque aos mensageiros vivos que foram
seus apóstolos, ele deu esta missão: “Ide, ensinai todas as nações,
etc.”
Uma autoridade infalível,porque Jesus Cristo promete sua
assistência: “Ensina, diz Ele, estou convosco todos os dias”.

604
dias...".E como Jesus Cristo ensina através dos seus apóstolos, eles
não podem enganar a si mesmos nem a nós; El Salvador garante
seu ensino.
Uma autoridade perpétua,porque Jesus Cristo acrescenta:
“Estou convosco até o fim dos tempos”. Portanto, os Apóstolos
tiveram que ter sucessores, porque não poderiam viver até o fim do
mundo. Esta autoridade viva, infalível e perpétua só pode ser
encontrada nos sucessores de Pedro e dos Apóstolos. Assim, o
Papa e os seus Bispos unidos ao Papa são os sucessores dos
Apóstolos. Portanto, a autoridade estabelecida por Jesus Cristo é
encontrada apenas na Igreja Romana.
3º Teste.A Igreja, fundada por Jesus Cristo, deve ser una, santa,
católica e apostólica. Estas são as quatro notas distintivas da
verdadeira Igreja: Estas notas ou sinais, evidentemente traçados no
Evangelho, inseridos no Credo dos Apóstolos e no Credo Niceno,
correspondem exatamente à Igreja Católica e apenas à Igreja
Católica.
E certamente, a Igreja Romana é Uma; Tem apenas um Chefe, o
Papa, ao qual obedecem os pastores e os fiéis; uma fé, uma lei e
uma adoração. Os seus fiéis, espalhados por todas as partes do
mundo, recitam o mesmo símbolo (ou Credo), observam os mesmos
preceitos e participam dos mesmos Sacramentos.
As diferentes opiniões sobre pontos que a Igreja não definiu,
certas divergências toleradas pelo Papa nos costumes e nos ritos
eclesiásticos, não estão em contradição com a unidade necessária.
É o caso de repetir a frase de Santo Agostinho: “Nas coisas
necessárias, unidade; nos duvidosos, liberdade; em tudo, caridade.
A Igreja Romana é Santa: tem uma doutrina santa e santificadora,
o Evangelho em toda a sua integridade; meios de santificação
verdadeiramente eficazes: os Sacramentos; Em suma, não cessa de
gerar Santos, a quem Deus glorifica com milagres manifestos. Os
grandes Santos são um sinal muito seguro pelo qual se reconhece a
santidade da Igreja, porque é evidente que aqueles que se
distinguem pela sua santidade são animados e dirigidos pelo Espírito
de Deus, e o caminho que seguem não pode ser o mesmo. caminho
do erro...
A Igreja Romana é católica, ou universal, no tempo e no espaço:
onde Cristo persevera através dos séculos; Está espalhado por
todas as partes do mundo; em todos os momentos foi

605
É fácil reconhecê-la por este sinal, porque sempre foi a Grande
Igreja. Atualmente, a catolicidade da Igreja Romana manifesta-se
tanto pela sua difusão em todas as partes do globo como pelo
grande número dos seus membros: Só ela tem mais fiéis do que
todas as seitas heréticas juntas.
Finalmente, a Igreja Romana é Apostólica por origem: foi fundada
nos Apóstolos; pela sua doutrina: preservou todos os seus
ensinamentos com o Símbolo dos Apóstolos; pela sucessão
ininterrupta dos seus Pontífices: os Papas remontam a São Pedro. A
apostolicidade é a nota mais alta da Igreja de Jesus Cristo. Para ter
o direito de ensinar religião aos homens é preciso ser enviado por
Deus. O Salvador envia os seus Apóstolos dando-lhes o poder de
enviar os seus sucessores; Portanto, quem não recebe a sua missão
dos Apóstolos não pode ser enviado por Deus; Não merece
nenhuma fé. Nestas condições estão: Fócio, Lutero, Calvino e os
demais chamados reformadores, separados dos Apóstolos por um
espaço de muitos séculos.
Conclusão.
1º A Igreja Romana é a única Igreja verdadeira de Jesus
Cristo, porque Cristo fundou apenas uma Igreja, assim como
ensinou apenas uma doutrina e estabeleceu apenas uma Cabeça.
Nenhuma das sociedades religiosas separadas dela possui a
unidade de doutrina e governo; ninguém produz santos cuja
santidade é confirmada por milagres; ninguém remonta a Jesus
Cristo, e ninguém tem os sucessores dos Apóstolos como superiores
legítimos. Estas sociedades religiosas nem sequer têm a pretensão
de possuir dentro delas o legítimo sucessor de Pedro, Cabeça e
Centro de toda a Igreja. Portanto, eles não são a Igreja de Jesus
Cristo.
2º A religião cristã encontra-se apenas na Igreja Católica
Romana.Cristo deu apenas à sua Igreja os poderes de ensinar
religião, de conferir graça e de guiar os homens à felicidade eterna.
Consequentemente, quem permanece voluntariamente fora da Igreja
Católica não pratica a religião de Jesus Cristo em toda a sua
integridade; Ele não pode ser salvo, pois desobedece a Jesus Cristo.
Em outras palavras: todo cristão deve ser católico.
Divindade da Igreja Católica comprovada por seus personagens.
A Igreja Católica é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo, como
acabamos de demonstrar. Portanto, é divino.

606
Mas, além destas provas, a Igreja traz em si os sinais infalíveis da
sua divindade; Isto é o que afirma o Concílio Vaticano I:
“A Igreja, por si só, com a sua propagação admirável, a sua
santidade eminente, a sua fecundidade inesgotável para tudo o que
é bom, com a sua unidade católica, e a sua estabilidade imutável, é
um grande e perpétuo argumento de credibilidade, um testemunho
irrefutável da sua divina missão.
«E é por isso que a Igreja Católica, como um sinal no meio das
nações, atrai para si aqueles que ainda não têm fé e dá aos seus
filhos a certeza de que a fé que professam assenta sobre um
fundamento inabalável»253.
Uma palavra sobre cada um desses sinais.
1ª Propagação admirável da Igreja.A Igreja Católica e a religião
cristã foram identificadas, pelo menos até o século X, quando
surgiram as Igrejas cismáticas. Mas mostramos que a propagação
da religião cristã, e na verdade da Igreja Católica, não pode ser
senão obra de Deus; Portanto, a Igreja Católica é divina.
A Igreja Católica converteu povos idólatras, transformou os
costumes pagãos e fez brotar no mundo as virtudes cristãs. A Igreja
Católica durante os primeiros três séculos produziu milhões de
Mártires, testemunhas heróicas da sua fé e da sua missão divina.
2ª Eminente Santidade da Igreja Católica.Deus estabeleceu a
Igreja para iluminar os homens, aperfeiçoá-los, torná-los melhores e
conduzi-los ao céu; Por esta razão, a verdadeira Igreja deve ser
Santa. A Igreja Católica é Santa na sua doutrina, que prescreve
todas as virtudes e condena todos os vícios; Santa nos seus
Sacramentos, que produzem santidade e dão força divina para
praticar as mais belas virtudes.
O verdadeiro católico possui o que não se encontra em nenhum
outro lugar: o medo de ofender a Deus, o arrependimento levado à
confissão voluntária da sua culpa, o amor à oração e à comunicação
com Deus.
O padre católico oferece o Santo Sacrifício; Ele não tem família,
pertence à família de todos e se sacrifica por todos. Ele é, numa
palavra, o homem de Deus e o homem do povo. Santidade é

253De Fide, III.

607
de maneira tão inerente que seus menores defeitos causam
escândalo. Porque? Porque as manchas são sempre visíveis em um
vestido branco. Os religiosos alcançam a perfeição evangélica
através dos três votos de pobreza, castidade e obediência.
Finalmente, só a Igreja Católica tem o privilégio de produzir
Santos, cuja santidade heróica se manifesta com esplêndidos
milagres. Ele sempre os contou em seu peito. Para se convencer,
basta ler as Vidas dos Santos escritas pelos Padres Bollandistas
com uma surpreendente coleção de documentos e críticas
admiráveis.
3º Fertilidade inesgotável da Igreja Católica.A árvore é julgada
pelos seus frutos. Pois bem, por toda parte a Igreja Católica se
espalhou, produziu frutos admiráveis, que manifestam uma seiva
divina. Transformou os homens, as ideias, os costumes, as
instituições, toda a sociedade. Iluminou as inteligências sobre as
verdades que é mais importante para nós sabermos. Ele enobreceu
personagens com a prática das virtudes mais sublimes e elevou o
nível de consciência pública. Finalmente, a Igreja deu ao povo a
verdadeira civilização e dotou-o de bens inestimáveis.
Só ela suscitou, em todos os séculos, milhares de homens e
mulheres, dedicados até à morte ao serviço dos pobres, dos
doentes, dos atormentados, dos leprosos e de todas as misérias da
humanidade. Basta reler o que dissemos sobre os benefícios na
Igreja: Ela é verdadeiramente de fecundidade inesgotável para tudo
o que há de bom na ordem material, intelectual e moral... Estes fatos
são milagres de ordem moral; e, além disso, nada tão divino foi visto
em qualquer outro lugar.
4ª Unidade Católica da Igreja.A unidade é o selo das obras de
Deus. A verdadeira religião deve unir os homens entre si, uni-los a
Deus; Deve unir as inteligências na verdade, os corações na
caridade. Deve possuir esta força unitiva que faz de toda a raça
humana uma sociedade única. Uma religião que divide não pode vir
de Deus. Pois bem, só a Igreja Católica apresenta, na sua
universalidade, a perfeita unidade de inteligência através da
profissão da mesma fé, a unidade de vontade através da submissão
de todos os fiéis ao mesmo Hierarca supremo, e a unidade dos
corações. mesma esperança e no mesmo amor.

608
Já explicamos anteriormente esta unidade e esta universalidade da
Igreja Católica.
5º Estabilidade imutável da Igreja.Jesus Cristo disse um dia a
Simão Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
Igreja e as portas do inferno nunca prevalecerão contra Ela”.
Estranha promessa! Um homem que não tem onde reclinar a
cabeça escolhe um pobre pescador para ser o fundador e
governante de um imenso e imperecível Império.
Pedro sai de Jerusalém com a sua cruz de madeira, fixa a sua
estadia em Roma e faz dela a capital de um Império que existe há
mais de dezanove séculos, no meio de todas as revoluções do globo
e apesar dos esforços do mundo e do inferno conspiraram para
destruí-lo.
Qual é, então, o segredo deste poder maravilhoso e desta
duração surpreendente? Pedro não tinha exércitos; Seu sucessor
também não os tem: é um velho fraco e indefeso.
E, no entanto, como atesta a história, os imperadores mais
poderosos atacaram-no com todas as suas forças e foram
derrotados: caíram e o sucessor de Pedro ficou de pé; Ele está em
Roma, para onde Jesus Cristo o enviou; Lá está ele com a sua cruz,
lá ele reina e dita leis a mais de quatrocentos milhões de católicos e,
quando fala, a sua voz reverbera por todo o universo.
Isso não é tudo. O que é humano participa da fraqueza e da
inconstância do homem. Opiniões, modas, costumes, formas de
governo, tudo isso é instável, é uma roda que gira incessantemente.
Mas no meio de todas estas vicissitudes, uma coisa permanece
inalterada: a Igreja Católica. Não varia, não se modifica, não
envelhece, não morre, permanece sempre o mesmo.
Todo homem sensato, diante deste espetáculo, é obrigado a
exclamar: Isto é divino!

SERRA. NOSSOS DEVERES PARA COM A


IGREJA
Jesus Cristo deu à sua Igreja autoridade tripla:
1° Uma autoridade doutrináriapara ensinar verdades reveladas.
2° Uma autoridade pastoralgovernar os homens e direcioná-los
para o céu.

609
3° Uma autoridade sacerdotalpara purificá-los dos seus
pecados, santificá-los e torná-los dignos da visão beatífica de Deus.
Daí três grandes deveres a cumprir com a Igreja:
1º Devemos acreditar nos ensinamentos da Igreja.A
submissão à autoridade doutrinária da Igreja Católica é a única
verdadeira regra de fé, isto é, o único meio infalível de saber em que
acreditar e o que agir. Não cabe a cada pessoa criar uma religião ao
seu gosto, nem escolher o que mais lhe agrada na verdadeira
religião, deixando de lado o resto. Não é o servo, mas o senhor
quem deve comandar. O homem, criatura de Deus, deve servir ao
seu Senhor da maneira que Ele deseja ser servido. Assim, a Igreja
Católica está encarregada de Deus de nos ensinar a verdadeira
religião. Então é preciso acreditar na Igreja. Todo católico acredita
em todas as verdades que Deus nos ensina através de sua Igreja;
caso contrário, ele não é mais católico.
N. B.O ensinamento da Igreja vem do próprio Deus; Acreditamos
nas verdades da religião porque elas são reveladas por Deus, que é
a própria verdade, e não pode ser enganada nem nos enganar. A
ciência e a veracidade de Deus são a razão da nossa fé e a razão
última da nossa crença. A Igreja é apenas o instrumento de Deus
para nos ensinar as verdades divinas.
2º Devemos obedecer aos preceitos da Igreja.Os cristãos são
estritamente obrigados a obedecer às leis da Igreja, porque quem
desobedece à Igreja desobedece ao próprio Jesus Cristo;
Conseqüentemente, os preceitos da Igreja são vinculativos como os
mandamentos de Deus, pois emanam da mesma autoridade.
3º Devemos receber os Sacramentos da Igreja e participar do
culto católico.Sem a Graça santificadora é impossível entrarmos no
céu; Mas só através dos Sacramentos e da oração podemos obter
este dom divino de graças reais, necessárias para fugir do mal e
praticar o bem.

610
COMPÊNDIO DE
DOUTRINA
CRISTÃ254
A doutrina cristã é aquela que Jesus Cristo revelou aos Apóstolos
e que nos ensina através da Igreja Católica.
Esta doutrina inclui: 1°, as verdades nas quais devemos acreditar;
2º, os deveres que devem ser praticados; 3°, os meios que devem
ser adotados para alcançar a salvação eterna.

I. DOGMA OU VERDADES QUE DEVEM


SER ACREDITADAS
As verdades em que devemos acreditar estão contidas, em
resumo, no Credo ou Símbolo dos Apóstolos255.
O símbolo dos Apóstolos está dividido em três partes e inclui
doze artigos. A primeira parte refere-se a Deus Pai e à obra da
Criação. A segunda refere-se a Deus Filho e à obra do

254Este compêndio foi corrigido e ampliado de acordo com o atual Código de Direito Canônico. (N. del T.).

255 Existem três Símbolos ou Credos principais na Igreja:

1º O dos Apóstolos, que é rezado fora da Santa Missa e regularmente nas


orações da manhã e da noite. É a mais antiga profissão de fé. Os Apóstolos o
compuseram antes de se separarem para pregar o Evangelho.
2º O Símbolo Niceno, que é rezado ou cantado na Santa Missa. Foi
composto no ano 325 no Concílio de Nicéia, o primeiro Concílio geral, para afirmar
mais solenemente a divindade de Jesus Cristo.
3º O Símbolo de Santo Atanásioque os sacerdotes devem rezar no Ofício
Divino em certos domingos: expõe detalhadamente os mistérios da Santíssima
Trindade e da Encarnação.
611
Esses vários Símbolos não diferem entre si, exceto na forma de expor os
mistérios da Religião, com mais ou menos detalhes.

612
Redenção. A terceira refere-se ao Espírito Santo e à obra de
santificação dos homens que ele realiza através da Igreja. O Credo é
a história dos benefícios que Deus concedeu ao homem. Façamos
uma breve: explicação dos seus artigos256.

1º Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu


e da terra
1º Eu acredito em Deus.Considero uma verdade certa que existe
um Deus e que existe apenas um. Deus é eterno: ele existiu e
sempre existirá. Deus é um Espírito puro: não tem corpo, e é por isso
que os nossos olhos não podem vê-lo. Está presente em todos os
lugares, tudo vê e tudo sabe, até os pensamentos mais ocultos, até
os sentimentos mais íntimos. Ele é infinitamente Bom, Justo e Santo;
Possui, numa palavra, todas as perfeições, todas as boas
qualidades, num grau infinito.
A natureza dele, delaÉ o oceano, a plenitude de tudo o que é
Bom e Perfeito, a plenitude do Ser, da Vida, do Bem, da Beleza, da
Sabedoria e de todas as coisas boas: ou melhor, é o Ser, a Vida., a
Verdade, a Beleza, o próprio Bem, porque é tudo isso por essência.
Uma coisa boa pode deixar de ser boa; mas a bondade é sempre
boa; É a sua própria essência.
Deus governa todas as coisas com a sua Providência e nada
acontece neste mundo sem a sua ordem ou permissão. Ele é Senhor
absoluto de todas as coisas, e o primeiro dever do homem é
conhecê-lo, amá-lo e servi-lo na terra, vê-lo e possuí-lo um dia no
céu.
2º Acredito em Deus Pai.Existe um só Deus, mas este Deus
subsiste em três Pessoas verdadeiramente distintas: o Pai, o Filho e
o Espírito Santo. O Pai é o começo; o Filho é gerado pelo Pai; e o
Espírito Santo procede do Pai e do Filho. O Pai é Deus, o Filho é
Deus, o Espírito Santo é Deus, mas eles não são três deuses, mas
um Deus verdadeiro em três Pessoas, perfeitamente iguais, tendo os
três apenas uma e a mesma natureza ou substância. Acredite,
então, que Deus, um em essência, subsiste em três pessoas: é isso
que se chama o mistério da Santíssima Trindade.

256A explicação do Credo pode ser vista no Catecismo da Igreja Católica.

613
Não vemos como isso é possível, porque não entendemos os
termos: natureza divina e pessoa divina; Sabemos apenas que a
natureza não é a pessoa; o que é suficiente para vermos que não há
contradição neste mistério de um só Deus em três pessoas.
Na nossa alma temos uma imagem da Trindade Augusta. Nossa
alma existe; Ele produz seu pensamento e ama esse pensamento.
Assim, nossa alma é, ao mesmo tempo, princípio, pensamento e
amor, e essas três coisas diferentes permanecem unidas e nada
mais formam do que um único eu indivisível. Pois o mesmo acontece
na natureza divina: o Pai existe desde toda a eternidade, conhece a
si mesmo e este conhecimento produz o Verbo ou o Filho. O Pai
conhece e ama o seu Filho, e é conhecido e amado por ele; Desse
amor eterno do Pai e do Filho vem o Espírito Santo, que é Deus
como o Pai e o Filho.
3º Acredito em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da
terra.Todas as obras que Deus faz fora Dele são obra de toda a
Trindade: Contudo, a Sagrada Escritura atribui a Criação ao Pai, a
Redenção ao Filho, a Santificação ao Espírito Santo.
Deus criou o céu e a terra e tudo o que neles há. Para fazer uma
obra o homem precisa de materiais: tijolos ou pedras, o pedreiro;
madeira, o carpinteiro, etc. Deus tirou tudo do nada com a sua
onipotência: este é o mistério da Criação.
O poder de Deus é infinito. Nada é impossível para Deus; exceto
o que implica pecado ou contradição. Ele criou o universo com uma
única palavra; e da mesma forma poderia criar milhares de novos
mundos; preserva a existência das criaturas, que cairiam no nada
sem a ajuda da onipotência. Tudo lhe é igualmente fácil, tanto na
ordem da graça como na da natureza. Ele usa esse poder como lhe
agrada, com perfeita liberdade; de acordo com os objetivos de sua
infinita sabedoria e santidade.
Criação dos Anjos.As criaturas mais perfeitas de Deus são os
anjos e os homens. Os Anjos são espíritos puros, livres e imortais,
que Deus criou para a sua glória e para o seu serviço: Criou-os em
estado de santidade: deu-lhes, com vida natural, a vida sobrenatural
da graça, através da qual deveriam, depois de uma breve prova,
para chegar ao seu fim sobrenatural: a visão beatífica.
Alguns, abusando da sua liberdade, rebelaram-se contra Deus
por orgulho: estes anjos maus, ou demónios, foram expulsos do céu

614
e precipitado no inferno; Seu negócio é tentar os homens na terra e
atormentar os réprobos no inferno.
Outros, os Anjos bons, foram colocados para sempre na posse do
céu, onde estão ocupados adorando a Deus, abençoando-O e
executando Suas ordens. Deus dá a cada um de nós um anjo da
guarda que ora por nós e cuida de nossa alma e corpo. Devemos
respeitá-lo, honrá-lo, invocá-lo, agradecê-lo e seguir suas
inspirações.
Criação do homem.O homem é uma criatura racional composta
de corpo e alma: Deus o criou com o mesmo destino dos Anjos;
conhecer, amar e servir a Deus para merecer a felicidade do céu.
Ao criar Adão e Eva, primeiro homem e primeira mulher, pais do
género humano, Deus deu-lhes uma vida dupla: a vida natural, típica
da natureza humana, e a vida sobrenatural da graça. Esta vida
tornou o homem filho de Deus por adoção, elevou-o à ordem
sobrenatural e tornou-o capaz de alcançar a sua meta sobrenatural:
a visão intuitiva de Deus ou a participação na bem-aventurança
infinita do próprio Deus257.
Queda do homem. Pecado original.Deus colocou Adão e Eva
em um Jardim de delícias, chamado Paraíso Terrestre. Eles
deveriam viver ali em inocência até o momento em que, sem morrer,
ascendessem ao céu. Porém, eles tinham que merecê-lo, como os
Anjos, pela sua fidelidade.
Para tanto, Deus impôs-lhes um preceito severo, mas fácil:
proibiu-os, sob pena de morte, de comer os frutos da árvore do
conhecimento do bem e do mal. O diabo, escondido sob

257Além dos dons próprios da natureza humana, Deus concedeu aos nossos primeiros pais dois tipos de privilégios puramente
gratuitos. Alguns, sobrenaturais, serviram para aperfeiçoar a natureza e tornar o homem mais feliz; Esses bens que não eram devidos à
natureza humana eram quatro: 1º, ciência infundida (domínio da criação completa); 2º, a retidão da vontade, ou seja, a inclinação do
coração para o bem (integridade); 3º, isenção do sofrimento (impassibilidade); 4º, a isenção da morte (imortalidade).

Os outros privilégios eram sobrenaturais, não só não se deviam à nossa natureza


humana, mas a elevavam acima de si mesma; tais são: a Graça Santificante, as
Virtudes Infundidas, os Dons do Espírito Santo.
A Redenção de Jesus Cristo nos rendeu os bens sobrenaturais necessários para
entrar no céu; mas ele não nos devolveu os dons sobrenaturais concedidos a Adão e
Eva no Paraíso terrestre.

615
na forma de uma serpente, induziu-os a desobedecer a Deus. Eles
comeram o fruto proibido, cometendo assim um pecado muito grave
em si mesmos e nas suas circunstâncias.
Através da sua desobediência, Adão e Eva perderam a vida
sobrenatural da graça e todos os dons sobrenaturais que a
acompanhavam: foram reduzidos à condição de escravos do diabo,
sujeitos à condenação eterna e a uma infinidade de misérias do
corpo e da alma. Essas misérias são: ignorância, concupiscência,
sofrimento e morte.
Mas Adão não perdeu a graça e a felicidade apenas para si, ele
as perdeu para todos os seus descendentes. Adão, chefe físico e
moral da humanidade, tinha a missão de transmitir aos seus
descendentes, juntamente com a vida natural, o sobrenatural, como
bem familiar cuja administração lhe foi confiada. Infelizmente, o pai e
representante da raça humana pecou, e através do pecado ele
perdeu para si e para a sua posteridade a vida da graça. Privado
desta herança comum, já não a podia transmitir aos seus
descendentes.
Nascemos, portanto, privados da graça de Deus, deserdados do
céu e sujeitos a inúmeras misérias. Este estado de infortúnio, no qual
nascemos por causa do pecado de Adão, é chamado de pecado
original, que não é um pecado real, mas um estado de pecado e de
infortúnio, resultante da rebelião do nosso primeiro pai contra Deus.
Os únicos entre os descendentes de Adão que não contraíram o
pecado original são Jesus e sua Mãe Santíssima, Maria Santíssima.
O Filho de Deus, a própria santidade, não poderia unir-se a uma
natureza manchada. Maria, destinada a ser Mãe de Deus, foi
excluída da lei universal, por privilégio e em virtude dos méritos
futuros do Redentor.
Nada é mais fácil de justificar do que este dogma do pecado. O
que teria acontecido se, antes de ter filhos, Adam tivesse cometido
suicídio? Ele teria matado toda a raça humana em sua pessoa.
Sendo nada mais do que um cadáver, ele não poderia ter dado vida
corporal àqueles que nasceriam dele. A raça humana foi, portanto,
sepultada na morte eterna, enquanto Deus, o autor da vida, não
interveio para ressuscitar Adão.
Da mesma forma, ao cometer o suicídio espiritual do pecado, o
líder da humanidade atingiu toda a raça com a morte espiritual. Seus
filhos ainda poderiam nascer segundo a Carne e receber dele a vida
corporal, mas não a vida espiritual, perdida em sua fonte.

616
No entanto, Deus teve pena da raça humana e prometeu a Adão
um Redentor que expiaria a sua culpa e restauraria a sua graça
perdida. Ele preservou na humanidade a esperança deste Redentor,
através de promessas, números e profecias.

2º Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso


Senhor
Quem será esse Redentor? Jesus Cristo, o Filho de Deus feito
homem por nosso amor.
Jesus significa: Salvador, porque o Filho de Deus veio para nos
salvar e resgatar.
Cristo significa: Ungido ou consagrado, porque o Filho de Deus
foi consagrado pela sua divindade como Rei, Sacerdote e Profeta.
Ele é Nosso Senhor, ou seja, nosso Dono soberano: como
Criador, ele nos criou; como Salvador, resgatou-nos e pagou-nos
com o preço infinito do seu divino Sangue.
Depois do pecado, Deus estava perfeitamente livre para nos
deixar perecer; nada o obrigava a salvar o homem perdido por sua
própria culpa. Deus também poderia contentar-se com uma
satisfação incompleta, como aquela que a criatura poderia dar; então
apenas a misericórdia teria sido exercida e a justiça teria de
renunciar aos seus direitos.
Mas Deus quis dar igual satisfação à sua justiça e à sua
misericórdia.
A reparação plena e integral do pecado declamou a Encarnação
de uma Pessoa divina. O dano causado a Deus pelo pecado do
homem é infinito, pois a gravidade da ofensa é medida pela
dignidade da pessoa ofendida, e Deus possui dignidade infinita.
Conseqüentemente, para oferecer a Deus uma satisfação igual à
ofensa, isto é, infinita, era necessário um mediador que fosse Deus e
homem. Cara, ele poderia sofrer e expiar por nós; Deus poderia dar
aos seus sofrimentos e à sua expiação um valor infinito, um valor
capaz de reparar as nossas faltas, saldar as nossas dívidas, pagar o
nosso resgate e recuperar a graça: por isso o Filho de Deus se fez
homem.
A Uniãoda natureza divina e da natureza humana na mesma e
única pessoa do Filho de Deus é chamado o mistério da
Encarnação: Et Verbum caro factum est. E o Verbo se fez Carne (Jo
1, 14).
617
Encarnar é tomar corpo e alma, é tornar-se homem. Antes da
Encarnação, a Segunda Pessoa do Bem-Aventurado
Trindade é chamada de Filho de Deus ou Palavra de Deus. Depois
da sua Encarnação, também o chamamos de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Ele é Deus e homem juntos. Como Deus, ele possui a mesma
natureza divina do Pai e do Espírito Santo e como Deus se fez
homem, ele também possui a natureza humana, ou seja, corpo e
alma semelhantes aos nossos.
O Filho de Deus tornou-se homem sem deixar de ser Deus. Ele
não perdeu nada de sua divindade ao encarnar, assim como um rei
não perderia nada de sua realeza se vestindo trapos para ir mais
facilmente ajudar os pobres. Ele é, então, verdadeiramente Deus
como o Pai e o Espírito Santo.
Jesus Cristo também é verdadeiramente homem como nós. Ele
assumiu um corpo semelhante ao nosso, nasceu como as outras
crianças, cresceu como elas e como os outros descendentes de
Adão, teve fome e sede, sofreu e morreu...
Ele levou uma alma semelhante à nossa, mas muito mais
perfeita. A alma de Jesus Cristo é uma criatura espiritual, inteligente,
livre e imortal: nela residem todos os tesouros da graça, da
sabedoria e da ciência. Nunca foi manchado pelo pecado nem
perturbado pela luxúria; Sua beleza encanta os Anjos e os
escolhidos.
Há portanto, em Jesus Cristo, duas naturezas: a natureza divina e
a natureza humana; duas inteligências: uma divina e outra humana;
duas vontades: a vontade divina e a vontade humana; duas
operações: a divina e a humana. Estas duas naturezas,
perfeitamente distintas, estão indissoluvelmente unidas e pertencem
a uma mesma pessoa, a pessoa divina do Filho de Deus.
A união dessas duas naturezas em Jesus Cristo é chamada de
hipostática ou pessoal. Chama-se pessoa o que funciona em nós, o
que comanda; ao que é responsável, ao que diz: I. Em todos os
outros homens, a natureza humana é dotada de personalidade: cada
um tem o seu próprio eu independente.
Em Jesus Cristo, a natureza humana tem o privilégio de não ter
personalidade própria e de ser governada pela pessoa do Filho de
Deus. É por isso que há apenas uma pessoa em Jesus Cristo, uma

618
princípio de responsabilidade, um único sujeito, um único eu, um eu
divino, o eu do Filho de Deus.
Temos no homem uma imagem surpreendente desta união de
duas naturezas numa só Pessoa. O homem é composto de duas
coisas: o corpo e a alma, que são duas substâncias diferentes. O
corpo e a alma reunidos formam um só homem, pois têm apenas
uma pessoa para ambos. Da mesma forma, a natureza divina e a
natureza humana, unidas na pessoa do Verbo, nada mais fazem do
que um único Jesus Cristo.
O homem leva o crédito pelas operações de sua alma e de seu
corpo; Assim se diz: o homem pensa, ele digere, embora seja só o
corpo que digere e só a alma que pensa. Assim, as operações da
natureza divina e as da natureza humana também são atribuídas a
Jesus Cristo. Diz-se, por exemplo: Deus sofreu, morreu, ou: em
Jesus Cristo o homem é Deus, o homem é Todo-Poderoso, Eterno,
etc., visto que Jesus Cristo é Deus e homem ao mesmo tempo,
numa só Pessoa , pode-se afirmar coisas sobre Ele que parecem
contraditórias, mas na realidade não o são, porque expressam as
propriedades de Suas duas naturezas diferentes. Assim como atuo
espiritualmente através da minha alma e materialmente através do
meu corpo, Jesus Cristo age divinamente através da sua natureza
divina e humanamente através da sua natureza humana.
Três consequências derivam da Encarnação do Filho de Deus:
1º A natureza humana em Jesus Cristo é adorável, porque é a
humanidade do Filho de Deus.
2º Todas as ações de Jesus Cristo têm valor infinito porque são
realizadas por uma pessoa divina: são ações de um Deus.
3º A Virgem Mãe é realmente Mãe de Deus, porque é a Mãe de
Jesus Cristo que é Deus.
Conclusão.O filho de Deus assumiu a natureza humana e,
permanecendo Deus como seu Pai, é um homem como nós, é um
dos Filhos da grande família de Adão, incorporado à nossa raça.
Este homem_Deus pode lidar com Deus, pode reparar os pecados
dos seus irmãos adotivos e resgatar a vida divina perdida.
Desta forma, a vida espiritual da Graça é devolvida à raça
humana. O Deus_Homem, o Cristo, o novo Adão,

619
torna-se Pai e Cabeça da linhagem humana, em termos de graça e
em termos de glória: “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho
único... E o Verbo se fez carne e habitou entre nós... E ele veio para
que tenhamos vida, e uma vida mais abundante” (Jo 3, 16; 1, 14; X,
10).
Resultados.Da Encarnação do Filho de Deus resultam: a
confusão do diabo, a honra do homem e a glória de Deus.
1º A confusão do diaboque depois de ter triunfado sobre o
primeiro homem vê o seu império desfeito pelo Messias.
2º A honra da natureza humanaque ela seja reabilitada diante
de Deus _reintegrada em seus direitos_, unida à divindade na
pessoa de Cristo e, graças a esta união, adornada Nele com todas
as perfeições divinas, repleta de todas as graças que é capaz de
receber.
3º A glória de Deus, já que a Encarnação é uma obra mais
admirável que a criação do universo. A Encarnação manifesta de
forma mais luminosa as perfeições divinas e nos lembra a
Onipotência de Deus, a Sua Justiça e a Sua Misericórdia.
Além disso, como Jesus Cristo resume em si todos os seres
criados: o mundo dos espíritos através da sua alma, o mundo
material através do seu corpo, ele oferece a Deus, em nome de toda
a criação, homenagens de adoração, gratidão e amor que são
plenamente digno da majestade do Criador. Cada uma dessas
homenagens agrada mais a Deus do que todos os atos de virtude
dos Anjos e dos Santos juntos.

3º Creio em Jesus Cristo, que foi concebido por


obra e graça do Espírito Santo, e nasceu da Virgem
Maria
Como se realizou o mistério da Encarnação? Este mistério foi
realizado, por obra do Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria, ou
seja, por um milagre da Onipotência de Deus.
O Filho de Deus, para se tornar homem, escolheu uma Mãe. A
honra inefável de tal maternidade foi conferida à Virgem Maria, da
tribo de Judá, da família de David, filho de São Joaquim e de Santa
Ana, esposa de São José258.

258Deus quis esconder, sob o véu do casamento virginal, a Encarnação do seu Filho, protegendo ao mesmo tempo a honra da sua

620
Mãe, a vida do Menino, o segredo da sua

621
Desde toda a eternidade, Deus predestinou Maria Santíssima
para esta sublime missão. Ele não lhe deu bens terrenos, pois Maria
era pobre, mas preservou-a do pecado original, libertou-a da
concupiscência, tornou-a Imaculada na sua concepção e encheu-a
de graças.
No dia fixado nos decretos divinos, o Anjo Gabriel apareceu a
Maria em sua humilde casinha de Nazaré, e anunciou-lhe que Deus
a havia escolhido para ser a Mãe do Messias: Maria pergunta como
será? desde que ela fez voto perpétuo de virgindade. O mensageiro
celeste esclarece dizendo-lhe: “O Espírito Santo descerá sobre ti e te
cobrirá com a sua sombra” (Lucas 1, 35). A Santíssima Virgem
respondeu: “Eis que sou escrava do Senhor, faça-se em mim
segundo a tua palavra.
Assim que a Santíssima Virgem deu o seu consentimento, o
Espírito Santo, por um prodígio incomparável, contrário às leis da
natureza, formou do puríssimo Sangue de Maria um corpo humano
puríssimo; Deus Pai formou do nada uma alma semelhante à nossa,
mas mais bela, santíssima, imaculada, e uniu-a a esse corpo e, no
mesmo instante, o Filho de Deus uniu-se a esse corpo e a essa alma
com uma alma indissolúvel. vínculo.: Et Verbum caro factum est, e
aquele que era Deus, sem deixar de sê-lo, tornou-se homem. A
Encarnação, então, foi realizada pela abertura milagrosa do Espírito
Santo, sem que Maria deixasse de ser virgem. Foi assim que se
cumpriu a famosa profecia de Isaías: “Uma virgem conceberá e dará
à luz um filho” (Is, 7, 14).
Todos os anos a Igreja celebra o aniversário da Encarnação do
Filho de Deus no dia 25 de março, festa da Anunciação259.
Jesus Cristo, como Deus, tem o Pai eterno como pai e não tem
mãe; Como homem, Jesus Cristo não tem pai e tem a Virgem Maria
como mãe. Jesus Cristo é, portanto, Filho de Deus e filho da Virgem
Maria. A Santíssima Virgem tornou-se Mãe de Deus porque Jesus
Cristo, seu Filho, é Deus: ela é a Mãe de Deus,

Projetos. Por isso Maria casou-se com São José, descendente de David, e unido a
Deus, como ela, pelo voto de virgindade. (Ver: Bossuet, Discursos sobre São José).
259A Encarnação do Filho de Deus ocupa um lugar tão importante nos anais do género humano que todos os povos cristãos datam
os acontecimentos da história a partir desse acontecimento. Assim, no momento em que escrevo estas linhas, já se passaram mai s de mil
e novecentos anos desde que o Filho de Deus se tornou homem. Três vezes por dia, o Angelus, tocado por todos os sinos da cris tandade,
lembra ao mundo católico este grande mistério.

622
embora não lhe tenha dado a divindade, assim como a mãe de um
rei é a mãe do rei, embora não lhe tenha dado a realeza; ou como
nossas mães são mães de um homem, embora não intervenham de
forma alguma na criação de nossas almas.
Deus conferiu a Maria a honra de ser Mãe sem deixar de ser
Virgem; e este grande milagre Deus renova no nascimento do
Salvador. Assim como o sol atravessa um vidro sem o partir nem
manchar, assim o Filho de Deus feito homem saiu do ventre de
Maria sem alterar em nada a virgindade da sua Mãe. Portanto,
durante o parto, a Santíssima Virgem não sentiu dor. A virgindade
perpétua de Maria, antes do parto, no parto e depois do parto, é um
artigo de fé.
A Maternidade Divina é para Maria o fundamento de todos os
seus privilégios. Esta dignidade incomparável da Mãe de Deus
confere-lhe uma santidade perfeita, um poder de intercessão
ilimitado e dá-lhe direito a um culto especial.
a) Uma santidade perfeita.Como Mãe de Deus, Maria é
evidentemente uma criatura separada e única, com quem nada pode
ser comparado. Como poderia Deus não santificar a sua Mãe e
acumular sobre ela os favores mais excepcionais? O amor que ele
professava por ela, o respeito que devia a si mesmo, eram dois
motivos suficientes para cobri-la de graças sem limite e sem medida.
Por isso:
1ª Maria é Imaculada na sua Conceição, ou seja, isenta do
pecado original desde o primeiro momento da sua existência.
2º Foi para preservá-la de todo pecado real, mesmo o menor, e
de toda imperfeição ao longo de sua vida.
3º Ela recebeu todos os dons sobrenaturais da graça em grau
supremo, graça que ela retribuiu sem cessar pelos seus méritos;
graça, em suma, mais abundante, segundo o sentimento dos mais
ilustres teólogos, do que a de todos os Anjos e de todos os Santos
reunidos.
4º O seu próprio corpo não conheceu a corrupção da sepultura,
mas, ressuscitado por uma ressurreição antecipada, foi transportado
para o céu.
5º Finalmente, Maria foi elevada acima de todas as criaturas,
mesmo as mais perfeitas, e instituída Rainha dos Anjos e dos
Santos.

623
b) Poder ilimitado de intercessão.Maria goza de uma
onipotência suplicante no céu, porque tem a certeza de obter de
Deus, seu Filho, tudo o que pede em nome dos homens. E para
honrar sua bendita Mãe, Jesus Cristo depositou nas mãos de Maria
todos os frutos da Redenção; Todas as graças necessárias para a
salvação chegam até nós através de Maria. É o canal, o dispensador
dos favores divinos.
c) Um culto especial deve ser prestado a Maria.É impossível
honrar Jesus Cristo e não honrar Maria Santíssima. Adorar a Virgem
Mãe é proclamar a divindade do Deus-Homem. E é por isso que a
Igreja honra Maria com um culto especial, chamado Hiperdulia, e
coloca na sua poderosa intercessão uma confiança universal e
ilimitada, confiança recompensada com inúmeros milagres.
Jesus Cristo nasceu em Belém, na noite de 25 de dezembro. Ele
tinha um estábulo como refúgio e uma manjedoura como berço. O
seu nascimento foi anunciado pelos Anjos e pelos Pastores e aos
Magos do Oriente por uma estrela milagrosa. Oito dias depois ele foi
circuncidado e chamado de Jesus, ou seja, Salvador.
Viveu no trabalho, na pobreza, na humildade e na prática de
todas as virtudes. Após trinta anos de vida oculta, iniciou sua vida
pública. Durante três anos exerceu seu apostolado na Judéia e na
Galiléia. Ele anunciou o Evangelho, provou a sua divindade com
grandes e evidentes milagres e formou os Apóstolos, que
continuariam a sua obra na terra.

4º Creio em Jesus Cristo, que sofreu sob o poder


de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morreu e
sepultado
Jesus Cristo veio para resgatar o mundo, perdido pelo pecado.
No tempo em que Pôncio Pilatos era governador romano da Judeia,
o Filho de Deus feito homem sofreu, no corpo e na alma, os mais
cruéis tormentos para expiar os nossos pecados. Sofreu agonia no
Horto das Oliveiras e depois flagelação e coroação de espinhos no
pretório de Pilatos. Depois de ter suportado todo tipo de humilhações
e ultrajes, foi pregado de pés e mãos numa cruz. Finalmente, depois
de três horas de sofrimento atroz, morreu na Sexta-Feira Santa, por
volta das três da tarde.

624
O mistério de Jesus Cristo que morreu na cruz para resgatar os
homens, libertá-los da escravidão do diabo e abrir-lhes o céu é o
mistério da Redenção. Jesus Cristo satisfez a justiça divina pelos
nossos pecados e mereceu a glória do céu e as graças necessárias
para alcançá-la.
A palavra Redenção significa a ação de resgatar mediante o
pagamento de uma determinada quantia.
Em que consiste a obra da Redenção? A obra de Redenção
realizada por Jesus Cristo é, ao mesmo tempo, uma libertação, uma
reconciliação e uma restauração.
1º Uma libertação. Já que:
a) A raça humana, como resultado do pecado original,
permaneceu sob o domínio do espírito maligno.
b) Cada homem, escravo do pecado e do diabo, privado da ajuda
da graça, não poderia, pelas suas próprias forças, quebrar as
cadeias da sua escravidão, nem merecer o céu.
2º Uma reconciliação, porque o pecado original atraiu a ira
divina sobre toda a humanidade, representada e contida na pessoa
de Adão. É por isso que Jesus Cristo é o Mediador entre Deus e os
homens: Ele está entre o céu e a terra culpada para reconciliá-los;
Com o seu Sangue divino apagou a sentença de condenação
emitida contra a humanidade pela justiça divina.
3º A redenção é também uma restauração, pois a natureza
humana, despojada dos seus dons sobrenaturais, viciada pelo
pecado dos nossos primeiros pais, nada mais ofereceu aos olhos do
Criador do que o lamentável espetáculo de um edifício em ruínas.
A redenção é obra de um Deus-Homem.Um homem não
poderia reparar o mal que a natureza humana sofreu, nem satisfazê-
lo completamente. Por outro lado, um Deus não pode sofrer nem
morrer. Somente Jesus Cristo, Deus e o homem juntos, poderiam
resgatá-los. Ele sofre como homem e como Deus dá aos seus
sofrimentos um valor infinito, capaz de pagar além de toda a dívida
da raça humana.
Qualidades da Redenção de Jesus Cristo.Esta satisfação tem
três características: é gratuita, superabundante e universal.
1º É grátis.Jesus Cristo ofereceu-se voluntariamente em
sacrifício: não tendo nada de seu que expiasse, deu o seu sangue e
a sua vida pelos culpados, apenas porque quis.

625
2º É superabundante.Jesus Cristo, sendo Deus, poderia realizar
a redenção dos homens com uma única gota de Sangue, etc.; a
menor de suas ações foi de valor infinito e suficiente para nosso
resgate. Mas este bondoso e generoso Salvador não se contentou
com o estritamente necessário; Ele quis fazer mais: sofrer tudo o que
é possível sofrer, para nos provar o excesso de amor que Ele tem
por nós, para merecer graças mais abundantes, para inspirar em nós
um maior horror ao pecado e para nos tornar melhores conhecer o
valor da nossa alma.
3º É universal.Jesus Cristo morreu por cada um de nós, sem
exceção; tanto para os justos como para os pecadores, tanto para os
réprobos como para os eleitos. Ele assumiu a responsabilidade e
expiou os pecados do mundo inteiro. A sua Redenção, aceite pelo
seu Pai, estende-se a todos os tempos, a todos os povos, a todas as
raças, sem distinção.
Aplicação individual dos frutos da Redenção.Não basta que
Jesus Cristo tenha morrido por todos os homens; É necessário que
as satisfações e os méritos do Redentor sejam aplicados a nós. Para
isso, também são necessárias certas condições da nossa parte.
Deus, que nos criou sem nós, não quer nos salvar sem nós. A
Redenção de Cristo é um remédio infalível contra a morte eterna;
mas para curar, cada um deve voluntariamente tomá-lo para si. É um
tesouro inesgotável de graças, mas também é preciso ir e levá-las
pessoalmente.
Portanto verifica-se que:
1º O sacrifício expiatório, oferecido por Jesus Cristo na Cruz, não
nos exime de nos satisfazermos pelos nossos pecados; Só a nossa
penitência, que por si só seria estéril e ineficaz, unida pela fé aos
sofrimentos do Salvador, adquire a virtude de acalmar a justa cólera
de Deus.
2º Os méritos adquiridos por Jesus Cristo não nos dispensam de
adquiri-los para nós mesmos, através da observância dos
mandamentos e da prática das virtudes cristãs. Devemos trabalhar
pessoalmente para merecer a recompensa eterna pelas nossas boas
obras. Estes, por si só, não têm valor sobrenatural e,
conseqüentemente, não podem merecer a felicidade do céu; mas
quando são feitas no espírito de fé, em união com Jesus Cristo,
participam do valor infinito das obras do Redentor (Servais, Resumo
da Doutrina Cristã).

626
Jesus Cristo, após a sua morte, foi desencravado da cruz, envolto
em lençóis e sepultado num túmulo novo, escavado na rocha do
Calvário. Os príncipes dos sacerdotes mandaram selar a pedra que
fechava o túmulo e confiaram a sua guarda a um piquete de
soldados: Estas medidas de precaução tornaram-se benéficas para a
nossa fé: os guardas estacionados junto ao túmulo foram mais tarde
as primeiras testemunhas da ressurreição do Homem-Deus .

5º Creio em Jesus Cristo, que desceu ao inferno e ao


terceiro dia ressuscitou dos mortos
Quando Nosso Senhor morreu, sua alma foi separada de seu
corpo, mas a divindade sempre permaneceu unida ao seu corpo e à
sua alma. Seu corpo foi colocado no túmulo e sua alma desceu ao
inferno, ou seja, ao Limbo dos justos, para visitar as almas desses
mortos antes de sua vinda e anunciar-lhes sua próxima libertação.
Desde o pecado de Adão, o céu estava fechado; Jesus Cristo
acabava de abri-la com a sua paixão e morte na cruz, e assim
anunciava a estas almas santas, que ansiavam pela sua vinda, que,
depois de quarenta dias, entrariam triunfantes com ele no céu.
Os profetas previram que o corpo do Messias não permaneceria
no túmulo, e o próprio Jesus garantiu que ressuscitaria no terceiro
dia após a sua morte. Apenas começando neste terceiro dia, Jesus
Cristo mais uma vez uniu sua alma ao seu corpo e emergiu do
túmulo, vivo, glorioso e imortal. Ele saiu sem quebrar ou mover a
pedra, em virtude de seu poder divino, como só Deus pode fazer,
provando desta forma mais evidente que Ele era Deus e que,
conseqüentemente, sua religião é verdadeira e divina.
No momento em que Jesus saiu do túmulo, a terra sofreu um
violento abalo; Um anjo, brilhante como um raio, apareceu entre os
soldados que guardavam e eles, assustados, caíram de costas. O
anjo rolou a pedra selada do túmulo e sentou-se sobre ela, enquanto
os soldados, não totalmente recuperados do medo, correram
apressadamente para anunciar a notícia aos fariseus e aos principais
sacerdotes. A Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo foi
celebrada no Dia da Páscoa, que é a maior festa do ano.

627
A Ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento da nossa fé, o
modelo da nossa vida espiritual e a causa da nossa futura
ressurreição.

6º Creio em Jesus Cristo, que subiu ao céu e está


sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso
Depois da sua Ressurreição, Jesus Cristo permaneceu na terra
quarenta dias para mostrar que realmente havia ressuscitado e para
continuar a instrução dos seus Apóstolos. Durante este tempo,
aparece frequentemente aos seus discípulos para lhes falar do Reino
de Deus; coloca Pedro à frente de sua Igreja; Ele dá aos apóstolos o
poder de perdoar pecados e os envia para pregar e batizar as
nações.
Terminada a obra da nossa Redenção, Jesus reuniu os seus
Apóstolos e um grande número dos seus discípulos no Monte das
Oliveiras. Ali, ao meio-dia, depois de lhes ter prometido novamente
que lhes enviaria o Espírito Santo, estende as mãos para abençoá-
los e sobe glorioso e triunfante aos céus. O aniversário do dia em
que Jesus Cristo ascendeu ao céu é chamado de Festa da
Ascensão. Desde então, Jesus Cristo está sentado à direita de Deus;
Esta expressão figurativa significa que Jesus Cristo, como Deus, é
igual ao seu Pai em poder e glória, e que como homem, ele participa
da autoridade, glória e felicidade de Deus. Ele é Rei e Juiz: um rei
está sentado em seu trono; um juiz, em seu tribunal.
E agora, onde está Jesus Cristo? Como Deus, Jesus Cristo está
em toda parte; como Deus e o homem estão no Céu e no Santíssimo
Sacramento do altar, em todas as hóstias consagradas.

7º Creio em Jesus Cristo, que virá julgar os vivos e os


mortos
Jesus Cristo retornará ao mundo, no fim dos tempos, para
exercer seu poder de Juiz soberano. Este julgamento, denominado
público, universal, final, é necessário para justificar a Providência
divina, glorificar Jesus Cristo, alegrar os justos e confundir os ímpios.

628
O Salvador virá como o Filho de Deus feito homem, com todo o
esplendor da sua majestade e glória, para julgar os vivos e os
mortos, isto é, os justos e os pecadores.
Jesus Cristo é nosso Redentor, nosso Advogado, nosso Juiz; A
primeira destas funções foi desempenhada na cruz; a segunda é
exercida atualmente no céu; A terceira será cumprida na terra, no fim
do mundo.
O primeiro dos adventos ou vindas de Jesus Cristo à terra
ocorreu na humildade, na pobreza, no sofrimento: a sua finalidade
era salvar os homens. A segunda será verificada com glória,
majestade e poder, e sua finalidade é julgar e dar a cada pessoa a
recompensa ou punição de acordo com suas obras. Voltaremos mais
tarde a este segundo advento do Filho de Deus.

8º Eu creio no Espírito Santo


Aqui está a terceira parte do Símbolo. Deus Pai é o Criador;
Deus, o Filho, o Redentor; Deus, o Espírito Santo, o Santificador.
A obra da nossa santificação, como todas as obras externas de
Deus, é comum às três pessoas da Santíssima Trindade; mas é
especialmente atribuído ao Espírito Santo, porque Ele é o amor
recíproco do Pai e do Filho e porque a santificação nada mais é do
que a difusão do amor divino em nós.
O Espírito Santo é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
Ele possui a natureza divina completamente como o Pai e o Filho, de
quem procede como de um mesmo princípio, na forma de um sopro
ou expiração, pelo qual é chamado o Espírito de Deus; Santo é
acrescentado porque é infinitamente santo por sua natureza e
porque nos santifica. Devemos adorar o Espírito Santo, invocá-lo
com súplicas ardentes e seguir docilmente as suas inspirações.
No momento da subida ao céu, Jesus Cristo recomenda aos seus
apóstolos que não saiam de Jerusalém: «Recebereis, diz-lhes, o
poder do Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas em
Jerusalém, na Judeia e até aos confins. da terra” (Atos 1, 8). No dia
de Pentecostes, dez dias depois da Ascensão, o Espírito Santo
desceu visivelmente sobre os Apóstolos, em forma de línguas de
fogo; Ele transformou aqueles homens fracos, ignorantes e tímidos;
Iluminou-os, fortaleceu-os e tornou-os capazes de anunciar o
Evangelho e de propagar a Igreja.

629
Missão do Espírito Santo na Igreja.O Espírito Santo foi enviado
pelo Pai e pelo Filho para verificar e fecundar a Igreja. É Ele quem a
governa, a inspira, a assiste, para que seja infalível nos seus
ensinamentos e fecunda em santos e boas obras. Ele a torna
invencível contra os ataques de seus inimigos.
Operações do Espírito Santo nas almas.O Espírito Santo é a
vida de cada alma individual, assim como a vida da sociedade cristã.
É por isso que é chamado de Espírito que dá vida. Habita nas almas
em estado de Graça como num templo, e é para elas o início da vida
sobrenatural, de certo modo como a alma é o início da vida corporal;
Por isso se poderia dizer que, se o homem é composto de corpo e
alma, o cristão é composto de corpo, alma e Espírito Santo.
O Espírito Santo é concedido aos fiéis, em particular, através dos
Sacramentos do Baptismo e da Confirmação e aos sacerdotes,
através das Ordens Sagradas. Comunica vida sobrenatural às
almas, desenvolve-a, aperfeiçoa-a e conduz os fiéis à prática das
boas obras. Para isso, enriquece-os com os seus dons que, em
número de sete, produzem na alma atos eminentes de virtude,
chamados os doze frutos do Espírito Santo. Numa palavra, aplica a
cada um a Redenção realizada por Cristo, e para isso utiliza o
mistério da Igreja.

9º Acredito na Santa Igreja Católica, na Comunhão


dos Santos
Jesus Cristo fundou uma Igreja para continuar a sua missão
divina no mundo: instruir, santificar e salvar os homens. Ele reuniu
seus discípulos na sociedade sob o governo dos Apóstolos, à frente
dos quais colocou São Pedro para ser seu Vigário ou representante.
Deu-lhe as chaves do reino dos céus, encarregou-o de pastorear ou
governar todo o rebanho, pastores e fiéis (Mt. 16, 19; Jo, 21, 15-
17).
No dia seguinte ao Pentecostes, graças às numerosas
conversões realizadas pela pregação de São Pedro, a Igreja contava
com oito mil fiéis em Jerusalém e foi fundada com todas as
condições de uma verdadeira sociedade bem estabelecida.
Nele se descobre uma hierarquia perfeita: no topo, Pedro, que é o
líder supremo; depois os Apóstolos, que administram e

630
Governam auxiliados por auxiliares; e, finalmente, a multidão de fiéis
que ouvem e obedecem.
Hoje, a constituição da Igreja é idêntica: no topo, o Papa,
sucessor de São Pedro, chefe supremo da Igreja; Mais tarde, os
Bispos, sucessores dos Apóstolos, encarregados do governo
espiritual da diocese, são auxiliados nas suas tarefas pelos
Sacerdotes que trabalham pela salvação das almas; Finalmente, os
fiéis formam, como antes, o rebanho confiado aos cuidados dos
Pastores.
Jesus Cristo fundou apenas uma Igreja e nela imprimiu certos
caracteres ou notas que permitem reconhecê-la com certeza. A
verdadeira Igreja de Jesus Cristo deve ser: Una na sua cabeça, na
sua doutrina, na sua moral, nos seus meios de salvação; Santa na
sua bandeira, nas suas leis, nas suas práticas, nos seus membros,
nas suas obras; Católica fundada em todas as partes do mundo;
Apostólico, governado pelos legítimos sucessores dos Apóstolos, os
únicos encarregados do Divino Mestre de pregar o Evangelho ao
mundo.
A verdadeira Igreja de Jesus Cristo é a Igreja Católica Romana. É
a Igreja do Papa, sucessor de São Pedro, a Igreja Única, Santa,
Católica e Apostólica.
Jesus Cristo fez da sua Igreja depositária da sua doutrina, dos
seus poderes e das suas graças. Portanto, fora da Igreja de Jesus
Cristo não há salvação possível. Todo aquele que deseja ser salvo
deve:
1º, ingressar na Igreja Católica através do Batismo;
2º, acreditar nos seus ensinamentos, obedecer aos seus chefes e
receber os seus Sacramentos. Qualquer pessoa que permaneça
voluntariamente fora da Igreja de Jesus Cristo nunca poderá
alcançar a salvação eterna.
“Mas a salvação é possível para aqueles que estão
involuntariamente fora da Igreja. Ignorando irrepreensivelmente a
sua existência ou a sua divindade, não têm outra obrigação senão
servir a Deus da melhor maneira possível, cumprindo os deveres
prescritos pela sua própria consciência... Se o fizerem, em plena boa
fé, estando dispostos a abraçar a verdade quando a conhecem, é
por isso que querem pertencer à Igreja. Este desejo substitui a
incorporação real. Eles são vivificados pelo Espírito Santo e
pertencem à alma da Igreja” (Moulin).
A Igreja tem três propriedades essenciais: visibilidade,
631
perpetuidade, infalibilidade.

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1ª VisibilidadeÉ que a Igreja possa ser vista e reconhecida pelos
homens como uma sociedade religiosa fundada por Jesus Cristo. Se
Ela fosse invisível, os homens não poderiam receber dela nem a
doutrina de Jesus Cristo, nem as Suas leis, nem a Sua graça;
Portanto, não seriam obrigados a fazer parte dela, pois não poderiam
vê-la nem conhecê-la.
2º Perpetuidade ou indefectibilidadeÉ que a Igreja deve durar
sem interrupção, até ao fim do mundo, e preservar inalteradas a sua
doutrina, a sua moral e o seu culto. Jesus Cristo estabeleceu a sua
Igreja para todos os homens e para todos os tempos.
3º InfalibilidadeÉ o privilégio concedido à Igreja de não poder
enganar a si mesma, nem enganar quando ensina a doutrina de
Jesus Cristo. É a assistência particular do Espírito Santo que evita
que a Igreja caia no erro.
Só são infalíveis aqueles que, em nome da Igreja, têm a missão e
o direito de declarar qual é a verdade revelada por Deus e de
condenar o erro oposto; isto é, o Papa e os Bispos unidos ao Papa.
Pedro é aquele a quem Jesus Cristo conferiu autoridade infalível (Lc
22, 32).
Acredito na Comunhão dos Santos.Os membros da Igreja
formam uma única e mesma família. Numa família existe uma
comunidade de bens entre o pai, a mãe e os filhos: todos trabalham
para a família e o trabalho de cada um beneficia a todos. Da mesma
forma, na grande família de Jesus Cristo todos os cristãos
aproveitam os tesouros, que são como o rendimento espiritual da
Igreja. Esses bens espirituais são:
1º, os méritos infinitos de Jesus Cristo; 2º, os da Santíssima
Virgem e dos Santos; 3º, o Santo Sacrifício da Missa e dos
Sacramentos; 4º, as orações e boas obras de todos os fiéis.
Esta comunicação de bens existe, não só entre os fiéis da Igreja
Militante, mas também entre os Santos da Igreja Triunfante e as
almas da Igreja Purgativa. Estamos em comunicação com os Santos
do céu através das orações que lhes dirigimos e das graças que nos
obtêm. Estamos em comunhão com as almas do purgatório através
das orações e boas obras que fazemos para alcançar a sua
liberdade.

633
10º Acredito no perdão dos pecados
Acreditar no perdão dos pecados é acreditar que Jesus Cristo
deu à sua Igreja o poder de perdoar todos os pecados, de apagá-los.
Somente Deus pode perdoar pecados, pois é responsabilidade do
ofendido perdoar a ofensa recebida. Jesus Cristo possui este poder
como Deus e como Salvador da humanidade culpada. Ele delegou
este poder à sua Igreja, que o exerce através dos Sacramentos.
Através do Batismo, a Igreja perdoa o pecado original e, nos adultos,
os pecados reais cometidos antes de recebê-lo; e pela Penitência,
todos os pecados reais cometidos após o Batismo.
Jesus Cristo instituiu o Sacramento da Penitência no mesmo dia
da sua Ressurreição, quando disse aos Apóstolos: “Recebei o
Espírito Santo: assim como meu Pai me enviou, eu também vos
envio. Aqueles cujos pecados você perdoa serão perdoados; a quem
você os retém, eles serão retidos”260.
O Salvador deu este poder aos seus Apóstolos, para que os
pecadores, seguros do seu perdão, pudessem viver em paz e
alegria. O Sacramento da Penitência é um dos maiores benefícios de
Deus, um dos frutos mais preciosos da paixão de Jesus Cristo. Mas
é um meio necessário, visto que Jesus Cristo não estabeleceu outro.
Aqueles que não podem receber este Sacramento devem ter, pelo
menos, o desejo de recebê-lo e a contrição perfeita.

11º Acredito na ressurreição da Carne


A morte é a separação da alma e do corpo. Depois desta
separação, a alma, que é espiritual, imortal, incorruptível, continua a
viver; o corpo do qual está separado se corrompe e vira pó. Mas a
separação entre alma e corpo não será eterna. No fim do mundo,
todos os mortos serão ressuscitados com os mesmos corpos e
almas que tinham em vida.
O corpo foi para a alma e a alma para o corpo. É por isso que é
apropriado que um dia ambos se reencontrem, para que

260Jn. 20, 21-23.

634
a obra de Deus, desfeita por um momento por causa do pecado e da
morte, seja definitivamente restaurada.
Além disso, é o homem inteiro que faz o bem ou o mal, e o corpo
contribuiu tanto para a salvação como para a condenação. O homem
deve ser recompensado ou punido inteiramente em seu corpo e
alma. Seremos ressuscitados, portanto, para receber em corpo e
alma a recompensa das nossas boas obras ou o castigo dos nossos
pecados. Não é mais difícil para Deus refazer nosso corpo do que
fazê-lo pela primeira vez. O grão que se deposita no solo e apodrece
produz um talo que produz muitos grãos. É isso que acontecerá com
o nosso corpo, seja qual for a transformação pela qual a nossa
Carne passar, ela sempre terá um germe que Deus irá reavivar.
Todos os homens serão ressuscitados, mas os seus corpos não
serão iguais. Os corpos dos réprobos voltarão à vida horrivelmente
desfigurados e estarão sujeitos a sofrimentos terríveis. Os corpos
dos eleitos, ao contrário, serão: 1) impassíveis, e estarão isentos de
toda dor; 2), resplandecente como o sol e radiante de beleza; 3), ágil,
isto é, rápido como a luz e o pensamento; 4), sutil, isto é,
espiritualizado e capaz de penetrar em todos os lugares, da mesma
forma que a luz atravessa o vidro.
A ressurreição da carne! Que estímulo para o bem, que fonte de
força nas doenças e na prática da mortificação cristã! A Carne,
crucificada com Jesus Cristo, será glorificada com Ele.

12º Acredito na vida duradoura


A última verdade ensinada pelos Apóstolos no Credo é a
existência de uma vida futura, eternamente feliz pelos bons,
eternamente infeliz pelos maus.
Os ressuscitados não voltarão a morrer: os bons viverão numa
felicidade eterna, e os réprobos num tormento que não terá fim. Feliz
eternidade no céu, infeliz eternidade no inferno... Qual será a nossa?
Está em nossas mãos escolhê-lo
Pensamos nisso seriamente?
Fins do homem.O dogma da vida eterna supõe outras cinco
verdades, que são chamadas de novos ou últimos momentos do
homem: Morte, Julgamento, Céu, Purgatório, Inferno e a
consumação dos séculos.

635
1ª Morte.A morte é a separação da alma e do corpo. O corpo é
devolvido à terra, de onde veio; A alma retorna a Deus, que a criou,
para receber a sentença do seu destino eterno. É verdade que todos
temos de morrer, mas as circunstâncias da morte são absolutamente
incertas. Deus nos deixa nesta incerteza para nos obrigar a viver
bem e estar sempre preparados para morrer.
2º O Julgamento.A morte é o fim dos testes e das obras
meritórias. Assim que a Alma é separada do corpo, ela aparece
diante de Deus para ser julgada por todos os seus pensamentos,
palavras, ações e omissões; esse é o julgamento privado.
Pronunciada a sentença, ela é executada sem demora, e a alma vai
para o Céu, o Inferno ou o Purgatório por um tempo mais ou menos
longo; para o Paraíso ou para o Inferno, para sempre.
3º O Paraíso ou Céu é um lugar de deleite onde o homem está
destinado a desfrutar da bem-aventurança eterna.
Essa felicidade inclui:
1) Isenção de todos os males, tanto da alma como do corpo.
2) A posse de todos os bens para a alma e o corpo.
3) E a deliciosa segurança de possuir esta felicidade infinita por
toda a eternidade: acredito na vida eterna.
A felicidade do céu é proporcional aos méritos pessoais. Além da
glória essencial, reservada a todos os eleitos, há glórias acidentais
no céu, que são chamadas de halos, concedidas como recompensa
aos Santos que alcançaram vitórias notáveis. Distinguem-se três: a
auréola dos Mártires, que conquistaram o mundo; a dos Médicos,
que derrotaram o diabo, pai da mentira; o das Virgens, que
conquistaram a Carne e seus prazeres.
4º Purgatório.O Purgatório é um lugar de sofrimento, onde as
almas justas acabaram de expiar seus pecados antes de serem
admitidas no céu.
Existem apenas dois pontos de fé sobre o Purgatório: 1º, existe
um lugar de expiação; 2º, as almas ali encontradas podem ser
socorridas pelos sufrágios da Igreja militante, especialmente pelo
Santo Sacrifício da Missa.
“É um pensamento santo e saudável orar pelos mortos”, diz a
Sagrada Escritura (II Macab. 16, 46). A própria razão reconhece a
existência do Purgatório como necessária. Porque: 1º, é

636
impossível que Deus envie para o Inferno uma alma adornada com a
graça santificadora e, em segundo lugar, é igualmente impossível
que esta alma, manchada de uma falha, por mais leve que seja, seja
imediatamente admitida para ver Deus, que é a Santidade Infinita. É
necessário, portanto, que esta alma seja purificada para entrar no
Céu. É por isso que os próprios pagãos compreenderam e admitiram
a existência de um lugar de expiação temporária para os mortos.
No Purgatório existem dois tipos de punições:
a) A privação da visão beatífica ou pena de dano.
b) O castigo do sentido, que segundo o sentimento comum dos
teólogos, consiste no fogo e em outros tormentos mais rigorosos que
todos os sofrimentos da vida presente. A intensidade e a duração
destas penas são proporcionais à culpa de cada alma.
5º Inferno.O inferno é um lugar de tortura onde os condenados
estão para sempre separados de Deus e atormentados por
demônios no fogo eterno. Existem três pontos de fé em relação ao
Inferno: 1º, existe um Inferno; 2º, o Inferno é eterno; 3º, as almas
daqueles que morrem em pecado mortal vão para ele imediatamente
após a morte. Estas verdades são repetidas em cada página das
Escrituras.
A eternidade do castigo não se opõe à bondade de Deus e à sua
justiça, porque o homem, pecando mortalmente, renuncia a Deus e
adere à criatura, da qual faz o seu fim último. Ele consente, portanto,
em ficar separado de Deus para sempre: um homem que arranca os
olhos consente em ficar cego para sempre. Além disso, a existência
do Inferno é tão consistente com a razão que é aceite em todas as
religiões pagãs: veja-se o Tártaro dos gregos e romanos. As
penalidades do Inferno consistem em:
1) Em estar separado de Deus para sempre. Esta pena de dano
é, sem comparação, o maior tormento do Inferno. Porque? Porque
Deus é o Bem infinito; mas a privação do bem infinito e necessário
causa uma pena tão grande quanto o próprio Deus. Que vergonha,
quantus ille.
2) Ao ser atormentado por demônios no fogo eterno. Essa
penalidade é chamada de significado. Cada sentido será
atormentado por diferentes torturas, especialmente pelo fogo
devorador. Este fogo, dizem os teólogos, é um fogo material, real,
mais violento que o fogo deste mundo, porque Deus o acendeu em
sua ira para punir seus inimigos e deu-lhe propriedades para
atormentar diretamente os espíritos e também os corpos.

637
3) E essas torturas durarão para sempre!!!
Estas penas do Inferno não são as mesmas para todos os
condenados; São proporcionais à natureza e ao número de pecados
de cada um: quanto mais culpado é, mais sofre. Os condenados
retêm todas as suas faculdades naturais no Inferno e, após a
ressurreição, também terão seus corpos nas chamas.
O que aumenta o horror destas torturas é a companhia dos
demônios e de tudo o que a terra contém de mais corrupto e
perverso. As relações dos condenados entre si são uma nova e
inesgotável fonte de sofrimento.
6º A consumação dos séculos.A consumação dos séculos é
entendida como os últimos acontecimentos que porão fim ao estado
temporário do mundo e determinarão para sempre o destino da
humanidade. Esta consumação inclui: 1º, o fim do mundo; 2º, a
ressurreição universal; 3º, o julgamento universal.
É verdade que este mundo visível deixará de existir na forma que
tem hoje; Será purificado e transformado pelo fogo, e haverá um
novo céu e uma nova terra. Mas ninguém sabe quando chegará o
fim do mundo: é um segredo de Deus.
No entanto, Jesus Cristo indicou-nos alguns sinais precursores
que darão a conhecer a proximidade daquele grande dia: a pregação
do Evangelho em todo o universo, uma apostasia quase geral, a
conversão dos judeus, a vinda do Anticristo e a convulsão da
natureza. .
Quando todos os homens tiverem morrido, Jesus Cristo enviará
os seus anjos para tocarem as trombetas. Uma grande voz será
ouvida: Surgite, mortui!: “Levanta-te, morto!”, e esta voz ressoará até
nos abismos mais profundos.
A este chamado, todas as almas partirão, umas do céu, outras do
inferno, outras do purgatório, e virão se reunir com seus corpos para
fazê-los viver novamente. E os mortos, ressuscitando em todas as
partes do globo, serão encontrados inicialmente misturados, justos e
pecadores. Muito em breve os Anjos, ministros do Juiz Supremo, os
reunirão no local designado para o Julgamento.
julgamento universal.Deus, para glorificar a humanidade de seu
divino Filho, confiou-lhe o julgamento dos homens: todos devemos
simpatizar diante do tribunal de Cristo (II Cor. 14, 14).

638
A Sabedoria, a Justiça e a Providência de Deus, publicamente
desprezadas na terra, devem ser publicamente glorificadas na
presença de todos os homens.
Jesus Cristo foi voluntariamente desconhecido, condenado na
sua pessoa e na pessoa dos membros da sua Igreja, é justo,
portanto, que apareça como o Juiz soberano e Rei dos séculos.
Os justos foram desprezados e tratados como tolos: é justo que
sejam glorificados e reconhecidos como os únicos sábios.
Os ímpios foram, alguns, arrogantes e insolentes nos seus
crimes, os outros esconderam as suas iniqüidades e a sua falta de
jeito: é certo que os primeiros sejam humilhados e abatidos, e os
segundos cobertos de confusão e vergonha.
Quando todos os homens estiverem reunidos no vale do
julgamento, Jesus Cristo descerá visivelmente do céu, numa nuvem
resplandecente, com todo o brilho do seu poder e majestade.
Sentado num trono de glória, rodeado dos seus Anjos e dos seus
Apóstolos, que serão os seus conselheiros, manifestará a todos os
atos, as palavras, os pensamentos, mesmo os mais ocultos, dos
vivos e dos mortos, ou seja, dos justos e dos pecadores.
Terminado o julgamento, o Juiz soberano pronunciará a
sentença: dirá aos bons: “Vinde, benditos de meu Pai, possuir o
reino que vos está preparado desde o princípio do mundo”. E aos
maus: “Afastai-vos de mim, malditos, entrai no fogo eterno que foi
preparado para Satanás e seus anjos” (Mt. 25, 34-41).
Então o inferno, abrindo os seus abismos, engolirá os corpos e as
almas, a multidão dos réprobos, e fechar-se-á sobre eles para
sempre. E os eleitos, com seus corpos espiritualizados e
glorificados, ascenderão ao céu depois de Jesus Cristo para ali
desfrutarem a felicidade eterna.
CONCLUSÃO FINAL.Tais são as verdades contidas no Credo
dos Apóstolos. Devemos acreditar neles com fé sincera, não por
causa da palavra dos homens, mas porque foram revelados por
Deus e não são ensinados pela sua Igreja infalível.

639
II. euPARAMORAL OU OS DEVERES QUE
DEVEM SER CUMPRIDOS PARA MERECER
O CÉU
Para ser salvo é necessário não só acreditar em todas as
verdades contidas no Símbolo, mas também viver cristãmente, ou
seja, observar os mandamentos de Deus e da Igreja, evitar o pecado
e praticar a virtude: “A fé sem obras é uma morte fé” (Tiago 2, 11).
O Símbolo é o compêndio de tudo em que devemos acreditar; o
Decálogo, o compêndio de tudo o que devemos praticar para nos
salvar. Os três primeiros mandamentos, escritos na primeira tabela,
contêm todos os deveres para com Deus. Os outros sete, escritos na
segunda tabela, prescrevem nossos deveres para com nós mesmos
e com o próximo.
Os mandamentos positivos são aqueles que prescrevem algum
bem a ser feito: nem sempre obrigam, nem em todas as
circunstâncias. Os mandamentos negativos são aqueles que nos
proíbem de fazer o mal. Eles sempre atendem e em todas as
circunstâncias, porque o mal não pode ser permitido.
Em cada mandamento existe: uma parte positiva e outra
negativa, ou seja, uma ordem e uma proibição.

1º Não terão outro Deus senão Eu.


O primeiro mandamento nos obriga: 1) a acreditar em Deus; 2),
esperar Nele; 3), amá-lo de todo o coração; 4), para adorá-Lo
somente.
Cumprimos estas quatro obrigações através da prática das três
virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade, e através da virtude da
Religião; isso nos faz prestar a Deus o culto que lhe é devido.
1º Você tem que acreditar em Deus.Sem fé é impossível
agradar a Deus: ela é o fundamento e a razão da nossa justificação.
a) Objeto de fé.Em que devemos acreditar? Devemos acreditar
em todas as verdades reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja. O
objeto da fé é o conjunto das verdades reveladas. Mas não somos
obrigados a acreditar em todas as verdades da fé da mesma
maneira. Há alguns em que se deve acreditar explicitamente, isto é,
em particular e nos seus detalhes, e outros em que basta acreditar
implicitamente.

640
mente, isto é, em geral, dizer: acredito em tudo o que a Igreja
acredita e ensina.
I) Todo cristão, se quiser ser salvo, deve conhecer e crer de
forma explícita com necessidade das seguintes verdades:
a) A existência de um Deus único, Criador de todas as coisas que
ele preserva com a sua Providência.
b) A imortalidade da alma e a existência de outra vida, onde
Deus recompensa os bons e pune os maus.
e) A estas duas verdades devemos acrescentar, segundo a
maioria dos teólogos, desde a promulgação do Evangelho, os três
mistérios principais: da Trindade, da Encarnação e da Redenção.
II) É necessário, com a necessidade de um preceito, conhecer,
pelo menos em termos de substância e acreditar explicitamente, nos
artigos do Símbolo, nos preceitos do Decálogo, na doutrina da Igreja
sobre os Sacramentos que cada pessoa deve receber. : Batismo,
Eucaristia e Penitência.
a) Não basta ter fé interior; Muitas vezes temos que professá-
lo externamente com nossas palavras e ações. Nosso Senhor
negará, na presença do Pai celestial, aqueles que O negaram na
presença dos homens.
b) Razões para a fé.Por que deveríamos acreditar? A razão da
nossa fé é a veracidade soberana de Deus, que não pode enganar a
si mesmo nem nos enganar: acreditamos nas verdades reveladas
pelo testemunho de Deus. O testemunho de um homem está sujeito
ao erro, o de Deus é infalível e é Ele quem engendra a certeza
absoluta da fé dos cristãos.
c) Pecados contra a fé.Negligenciar o estudo das verdades da
fé. Duvidando voluntariamente de alguma verdade revelada.
Recusando-se a acreditar no que a Igreja ensina: infidelidade,
heresia. Renunciar formalmente à fé: apostasia. Ter vergonha de
parecer cristão: respeito humano. Exponha-se a perder a fé com
leituras, programas de televisão ou companhias perigosas.
2º Espere em Deus.A esperança é necessária como a fé, ora
necessitada de um meio, ora necessitada de um preceito: “Pela
esperança, diz São Paulo, somos salvos” (Rm 8, 24).
a) Objeto de esperança.Por que deveríamos esperar? Os
motivos da esperança são: a Bondade de Deus, a sua Onipotência,
a sua Fidelidade às suas promessas e os méritos infinitos de Jesus
Cristo. Deus comprometeu-se, em vista dos méritos de Jesus Cristo,
a
641
dar a vida eterna a todos os homens, desde que observem a lei
divina, particularmente o preceito da oração: as promessas de Deus
são condicionais.
Não ter esperança é fazer o maior insulto a Deus, porque é
duvidar do seu amor por nós; do seu poder para nos ajudar, ou da
sua fidelidade no cumprimento das suas promessas, ou do valor dos
Méritos do Salvador que, com os seus sofrimentos e a sua morte,
nos conquistou graças infinitas.
b) Pecados contra a esperança.Pecamos contra a esperança
de duas maneiras: por desespero ou por presunção.
I) Você peca por desespero, quando desespera da salvação,
do perdão dos pecados, das vitórias sobre as paixões; quando a
Providência desconfia das necessidades da vida.
II) É pecado por presunçãoquando se abusa da Misericórdia de
Deus para cometer pecado e adiar a conversão; quando você
pretende chegar ao céu sem fazer nada para merecê-lo; ou ter graça
sem recorrer aos sacramentos e à oração; ou quando, confiando nas
próprias forças, alguém se expõe voluntariamente ao perigo de
ofender a Deus.
3º Amar a Deus de todo o coração.Sem caridade ninguém é
justificado diante de Deus e não pode merecer a vida eterna. O
preceito da caridade é formal: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o
teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças. Este é o
primeiro e maior dos mandamentos” (Mt. 22, 37-38).
a) Motivos de caridade.Por que devemos amar a Deus?
Devemos amar a Deus por vários motivos: Pelos bens recebidos
Dele: é o amor da gratidão; pelos bens que dele esperamos: é o
amor da esperança; pela sua infinita bondade: é a própria caridade.
Amar a Deus com amor de gratidão e esperança é amar a Deus
porque ele é bom para nós. Este amor interessado, denominado
caridade imperfeita, é bom e louvável, mas não basta: Deus deve ser
amado por si mesmo e acima de todas as coisas.
Para si mesmo, pelas suas infinitas perfeições que o tornam
soberanamente amável. Devemos amar a Deus acima de todas as
coisas, mais do que os nossos bens, mais do que os nossos pais,
mais do que todas as criaturas, mais do que a nós mesmos. O amor
deve ser proporcional ao objeto amado. Assim Deus é o Supremo

642
Pois bem: então, ele deve ser amado e estimado acima de todas as
coisas. “Aquele, diz Jesus Cristo, que ama seu pai e sua mãe mais
do que a mim, não é digno de mim” (Mt. 10, 37).
O ato de amor de Deus consiste em amar a Deus acima de todas
as coisas, porque Ele é infinitamente perfeito, infinitamente bom,
infinitamente amável.
Não é necessário que o nosso amor seja supremo na sua
intensidade, isto é, que desperte na nossa sensibilidade um afeto
superior a todos os outros afetos; Basta que seja supremo no seu
apreço, isto é, que ame a Deus mais do que todas as coisas e que O
prefira acima de tudo, a ponto de preferir perder tudo a ofender a
Deus. Assim, Abraão amou seu filho com maior intensidade
emocional do que Deus: porém, ele o teria sacrificado porque
valorizava mais a vontade de Deus do que a vida de Isaque.
b) Sinais de caridade.Como podemos ter certeza de que
amamos a Deus? Temos a certeza de amar a Deus: 1º Se
observarmos os seus mandamentos e os da sua Igreja; 2º Se
estivermos dispostos a sacrificar tudo ao invés de ofendê-lo. 3º Se
executarmos todas as nossas ações com o objetivo de agradá-Lo. A
prova do amor são as obras: “Aquele, diz Cristo, que cumpre os
meus mandamentos, me ama” (Jo 14, 15).
c) Pecados contra a caridade.Todo pecado mortal destrói a
caridade. Os pecados que mais se opõem ao amor de Deus são:
1º Ódio contra Deus: Pecado inconcebível porque Deus é
bondade por essência.
2º Pecados de superstição. A superstição em geral é a omissão
voluntária de deveres religiosos. É atribuir poderes a quem não os
possui.
3º A preferência dada à criatura: amar as pessoas ou as coisas
tanto ou mais que a Deus. O nosso amor pelas criaturas deve referir-
se a Deus, como ao seu fim último.
4º Adore somente a Deus. A adoração consiste em reconhecer
Deus como Criador e Senhor de todas as coisas e em ser humilhado
diante da Majestade divina. O culto é denominado culto de Latria:
este culto é devido apenas a Deus, visto que ele é o único Criador e
o único Senhor.
Não basta adorar a Deus com atos interiores de fé, esperança,
caridade, submissão, etc.; Devemos também prestar adoração
externa e pública a Deus: Prestamos adoração externa a Deus com
oração.
643
vocal, com os diversos atos externos de religião e culto público,
assistindo com recolhimento aos serviços da Igreja, particularmente
ao Santo Sacrifício da Missa.
Devemos adorar a Deus: todos os domingos, participando da
missa; todos os dias, com orações matinais, diurnas e noturnas, e
frequentemente com orações ejaculatórias.
Pecados contrários à adoração:Alguns se opõem à virtude da
religião por padrão e são os pecados da irreligião; os outros por
excesso, e são os pecados da superstição.
1º Os principais pecados da irreligião são a negligência na
oração; indiferença quanto aos deveres do cristão: desprezo pelas
coisas santas; e, finalmente, sacrilégio.
sacrilégio é cometidoquando as coisas sagradas, como os
Sacramentos, são profanadas; lugares sagrados, como igrejas,
cemitérios; ou quando pessoas consagradas a Deus, como
sacerdotes, religiosos, etc., são insultadas.
2º Pecados de superstição. A superstição, em geral, consiste em
prestar culto ilegítimo a Deus, ou culto divino à criatura.
a) O culto é ilegítimoquando for falso ou supérfluo: imagine
falsos milagres, falsas revelações; acrescentar práticas vãs aos atos
religiosos aprovados pela Igreja.
b) A adoração divina é prestada à criatura com: idolatria,
adivinhação, vã observância, magia, azaração (jogar fora as cartas,
consultar o futuro, pedir a um curandeiro sucesso no amor, no
trabalho ou infortúnio para os outros, etc.).
IdolatriaÉ a adoração da criatura, normalmente representada por
um ídolo. Na antiguidade pagã, o ídolo era a forma sob a qual os
demônios eram adorados, dando, através deles, oráculos, e fazendo
coisas maravilhosas. Este tipo de idolatria continua a ser praticado
nos templos maçônicos.
Adivinhação é uma invocação tácita ou expressa do diabo para
saber coisas que não são humanamente cognoscíveis. Supõe um
pacto com o diabo: um pacto explícito quando ele é invocado;
implícito, quando são utilizados meios que são naturalmente
impotentes para revelar o que é desejado.
O Espiritismo está relacionado à adivinhação, que invoca os
espíritos para consultá-los.

644
N. B.Também não é permitido jogar fora as cartas e consultar os
que adivinham o futuro e os curandeiros que curam com supostos
segredos. A intervenção do diabo é verdadeira quando os resultados
obtidos não são proporcionais aos meios utilizados. A vã
observância consiste em atribuir a certas práticas e observâncias um
efeito e um significado que Deus não lhes atribuiu. São eles: usar
certos amuletos chamados animais de estimação; atribuir resultados
desastrosos a certos números, à queda de um saleiro, a encontros
com certas pessoas ou animais; acredite que os sonhos predizem o
futuro; que sexta ou terça são dias de azar, etc.
Magia é a arte de operar, com a ajuda do diabo, coisas
maravilhosas: esta é a magia negra ou diabólica (também a
chamada magia branca operada pelas macumbas e alguns
curandeiros).
Quando a magia visa prejudicar alguém, ela leva o nome de
feitiço, azar lançado sobre homens ou animais. Você não deve
acreditar facilmente em maldições, nem acusar levianamente alguém
de bruxaria.
Conclusão.“Noutra época, Deus proibiu severamente o seu povo
de recorrer ao diabo: a Igreja não é menos rigorosa nas suas
proibições hoje, e a experiência diz-nos que tem razão. Essas
superstições, essencialmente más, levam à ruína da religião e da
moralidade, perturbam a paz das famílias e facilmente levam à
loucura, ao crime e ao suicídio” (Cauly).

2º Você não usará o nome de Deus em vão


O segundo mandamento ordena-nos honrar o Santo Nome de
Deus, porque o Nome de Deus merece o respeito que devemos ao
próprio Deus.
Este mandamento nos proíbe de: 1º, jurar em vão; 2º, blasfemar;
3º, imprecações absolutas; 4º, violar nossos votos.
1º Jurar em vão é prestar juramento:
a) contra a verdade, afirmar algo que se sabe ser falso: é
perjúrio; É sempre um pecado mortal;
b) contra a justiça, quando alguém se compromete a cometer
uma má ação;
c) não há necessidade, quando você jura por coisas
insignificantes.

645
As promessas juramentadas devem ser cumpridas, se o que
foi prometido não for mau ou proibido.
Não é permitido cumprir o juramento de cometer uma má ação;
pecou-se pelo juramento, e um novo pecado seria cometido pelo
cumprimento do juramento; O juramento que não deveria ter sido
feito também não deveria ser cumprido.
2º Blasfêmia é uma palavra insultuosa contra Deus, os Santos ou
a Religião. A indignação feita aos Santos ou à Religião recai sobre o
próprio Deus. Deus é blasfemado de três maneiras:
a) negando as perfeições de Deus, como sua justiça, sua
providência, ou atribuir-lhe o que é contrário à sua natureza;
b) amaldiçoando a Deus e desejando-lhe o mal;
c) falando de Deus ou de seus atributos com desprezo ou
ridículo.
Todas as blasfêmias contra Deus, se pronunciadas com
advertência, são pecados mortais, porque ultrajam a Majestade
divina. Na Lei Antiga, o Senhor ordenou que os blasfemadores
fossem apedrejados. São Luís, rei da França, fez com que furassem
a língua com um ferro quente261. A blasfêmia é um pecado sem
desculpa e sem lucro; É o crime dos demônios; Aqueles que são
como eles nesta vida merecem participar dos mesmos castigos no
inferno.
Certas expressões usando o nome de Deus diante do infortúnio
ou também contando histórias e nomeando coisas sagradas para
fazer rir os outros devem ser evitadas a todo custo.
3º Imprecações são palavras de raiva ou raiva para desejar mal
ao próximo ou a si mesmo. São maldições que impelem a vingança
divina sobre si mesmo ou sobre os outros; Ferem o coração de
Deus, sempre pronto a abençoar e a fazer o bem.
4º O voto é uma promessa feita a Deus de realizar alguma boa
obra, com a intenção de ser obrigado sob pena de pecado. O voto é
um ato de culto à latria, que só é devido a Deus: o

261O libertador argentino, general D. José de San Martín, ao formar, no sopé dos Andes, aquele exército que daria liberdade a
metade do continente; Renovou as antigas ordenações espanholas e fez com que os órgãos fossem notificados do seguinte: 1º Quem
blasfemar o nome de Deus ou de sua adorável Mãe, e insultar a religião, pela primeira vez sofrerá quatro horas de mordaça ama rrada a
um poste em público, pelo período de oito dias” (Arquivo Geral da República Argentina, Documentos referentes à guerra de
independência e emancipação da República Argentina, etc., página 442). (N. del T.).

646
a disposição de ser obrigado sob a pena do pecado distingue o voto
da simples promessa. Votar é algo útil e sagrado, desde que seja
feito com discrição e prudência. Se for uma votação importante, é
aconselhável rezar bastante antes e consultar o próprio confessor. É
sempre um pecado quebrar seus votos ou as chamadas promessas.
A Igreja, em virtude do poder de ligar e desligar que recebeu de
Jesus Cristo, pode, por justas razões, dispensar votos ou comutá-los
por outras boas obras. Este poder pertence ao Papa e aos Bispos,
que o exercem por si próprios ou pelos seus delegados.

3º Lembre-se de santificar as férias


O terceiro mandamento nos ordena a santificar o dia do Senhor.
Proíbe-nos profaná-lo.
A lei naturalPrescreve ao homem consagrar, de tempos em
tempos, um dia à adoração de Deus, mas não o determina:
Na Lei Antiga era sábado, em memória do descanso de Deus
após a criação; Na Nova Lei é domingo em homenagem à
Ressurreição de Jesus Cristo e à vinda do Espírito Santo sobre os
Apóstolos.
Este dia de descanso semanal nos lembra as três grandes
maravilhas de Deus: Criação, Redenção e Santificação. O domingo é
a homenagem do Senhor: Deus é dono dos homens e escolhe os
sacerdotes consagrados ao seu culto. Deus é o dono do espaço e
exige edifícios sagrados. Deus é o dono do tempo e reservou um dia
por semana, o domingo. Deus deu seis dias ao homem para seu
trabalho e reserva o sétimo para sua adoração. Nada mais justo ou
razoável.
O que deve ser feito para santificar o domingo? 1º Deve-se
abster-se de obras servis e 2º dedicar-se às obras de religião.
I. Os trabalhos braçaisSão os trabalhos em que o corpo tem
mais participação que o espírito. São proibidos mesmo que tenham
sido realizados sem juros ou para praticar uma boa ação.
Deus nos proíbe de trabalhos servis aos domingos:a) para
que possamos ocupar-nos dos nossos deveres religiosos e da
salvação das nossas almas; b) dar ao corpo o descanso necessário.
A ciência mostra que descansar um dia a cada sete dias é exigido
pela nossa constituição física. Deus, portanto, ordena

647
homem, o santo descanso do domingo para o bem da sua alma e do
seu corpo.
Aqueles que obrigam os outros a trabalhar, ou deixam os seus
subordinados trabalhar, são tão culpados como se eles próprios
trabalhassem: são responsáveis pelo pecado dos outros e pelo
escândalo que causam.
Existem causas que podem dispensar o trabalho no domingo:
1º A necessidade, quando se trata de parar, apagar ou localizar
um incêndio, prevenir uma inundação, reparar estradas necessárias
ao serviço público, fazer uma colheita em perigo ou realizar qualquer
outro trabalho que não possa ser omitido sem danos notáveis, (por
exemplo, um Carneo ).
2º O serviço divino permite certos trabalhos servis de culto, como
preparar a liteira para uma procissão, etc.
3º A caridade autoriza o trabalho em favor dos doentes e dos
pobres em extrema necessidade.
4º A dispensa, concedida com justa causa pelos superiores
eclesiásticos, o Bispo, o Pároco.
II. A obra da religião que devemos santificar o domingo é a
participação na Santa Missa. Neste Sacrifício se encontra a
essência do culto cristão, a adoração perfeita de Deus e a
santificação dos homens.
É pecado mortal não assistir à Missa aos domingos, a menos que
se esteja doente ou impedido por uma causa grave: uma viagem, um
trabalho essencial não dispensa a participação na Missa, quando é
possível assisti-la.
É preciso ouvir a missa inteira, com respeito, atenção e devoção
e de preferência a missa paroquial (de uma paróquia), porque é
celebrada para os fiéis e ali se faz a pregação.
Para santificar o domingo, recomenda-se a participação na
catequese e na adoração e bênção do Santíssimo Sacramento à
tarde.
Não é apropriado consagrar uma parte notável deste dia santo ao
serviço de Deus e às boas obras?
O lazer é permitido ao domingo, desde que sejam evitados
entretenimentos perigosos, como certas danças, frequência
prolongada a tabernas, cafés, confraternizações nocturnas, etc.
Domingo é o dia do Senhor, o dia dos homens, o dia da família, o
dia da sociedade. O preceito de santificar o domingo é muito
648
importante, muito fácil, muito vantajoso.

649
Por outro lado, a profanação do Domingo é um grande crime aos
olhos de Deus, um grande mal para o homem, uma causa de ruína
para a sociedade, que não pode viver sem a Religião. É por isso que
Deus pune, mesmo neste mundo, os profanadores do domingo e,
pelo contrário, derrama as suas bênçãos mais abundantes sobre os
homens, as famílias e as nações fiéis na santificação deste dia.

4º Honre seu pai e sua mãe


Os três primeiros mandamentos regulam nosso relacionamento
com Deus. A quarta, as relações do homem com os representantes
de Deus: os pais e os superiores espirituais ou temporais.
Este mandamento tem por objeto direto os deveres dos inferiores
para com os seus superiores, e como objeto indireto os deveres
destes para com os seus superiores. Direitos e deveres são
correlativos.
As relações dos superiores com os inferiores resultam da ordem
social estabelecida por Deus. As principais sociedades são: a
família, a sociedade doméstica, a sociedade religiosa; sociedade
civil.

I. A FAMÍLIA

1º DEVERES DAS CRIANÇAS PARA COM OS PAIS


O quarto mandamento nos ordena: 1º, amar nosso pai e nossa
mãe; 2º, respeite-os; 3º, obedeça-os; 4º auxiliá-los em suas
necessidades.
1º Amar os pais é ter sincera disposição de servi-los,
sacrificando-se no dom deles; cuja disposição nos leva a desejar-
lhes e a fazer-lhes todo o bem possível. Devemos amar o nosso pai
e a nossa mãe, porque Deus nos ordena que o façamos e porque,
depois de Deus, devemos a nossa vida a eles. Nada pode nos
isentar do amor filial.
2º Respeitar os pais é tratá-los com toda atenção, suportar suas
doenças e defeitos: eles são para nós os representantes de Deus. A
falta de respeito pelo pai trouxe a maldição divina sobre a raça de
Cam. É uma prática sagrada e cristã pedir a bênção de seus pais.
3º Obedecer aos seus pais é cumprir as suas ordens, seguir os
seus conselhos, cumprir fielmente os seus últimos desejos: os pais
são
650
os repositórios da autoridade de Deus, e obedecê-los em tudo o que
é certo é obedecer ao próprio Deus.
4º Assistir seus pais é proporcionar-lhes a ajuda espiritual e física
de que necessitam: durante a vida, e rezar por eles após a morte: é
justo que cuidemos deles como eles cuidaram de nós.
Esses quatro deveres de piedade filial obrigam os filhos, netos e
pupilos.

2º DEVERES DOS PAIS PARA COM OS FILHOS


O pai e a mãe têm a obrigação de prover às necessidades dos
filhos, de educá-los cristãmente, de corrigir os seus defeitos e de
lhes dar o bom exemplo.
Os pais são obrigados, numa palavra, a dar aos filhos educação
física e educação moral e religiosa.
A educação física inclui três deveres: 1º, zelar pela vida e saúde
das crianças; 2º, proporcionar-lhes alimentação, habitação e
vestuário adequados à sua condição; 3º, providencie a sua sorte
futura, sem colocar obstáculos à sua vocação.
A educação moral compreende duas partes: a formação do
espírito, ou instrução religiosa e secular, e a formação do coração,
ou correção dos defeitos e exercício das virtudes.
A educação deve ser cristã, ou seja, deve estar baseada na
doutrina e na moral de Jesus Cristo. Sob a lei positiva de Deus,
todos os homens são obrigados a viver de acordo com a doutrina do
Evangelho. Uma educação que não é cristã não é uma educação
verdadeira, mas uma educação falsa e má. Sem instrução religiosa é
impossível orientar o homem para o seu objectivo último; e sem
Religião também é impossível domar as paixões do coração humano
e fazer o homem feliz.
Os deveres dos pais em relação à educação incluem: instrução,
supervisão, correção e bom exemplo.
A educação cristã começa na família e se completa nas escolas.
Os pais têm o estrito dever e o direito inviolável de confiar os seus
filhos a escolas cristãs que os formem nas virtudes e nas ciências
seculares.

651
N. B.Os pais que falham neste grande dever da educação cristã
são normalmente punidos, mesmo nesta vida; e a sua punição é
ainda mais cruel porque os seus próprios filhos são muitas vezes os
seus algozes. (Há um ditado que diz: “Crie corvos e eles arrancarão
seus olhos.”)

II. DEVERES DA SOCIEDADE DOMÉSTICA DE


SERVOS E MESTRES
Os inferiores (trabalhadores, empregados, subordinados) devem
aos seus superiores (empregadores, diretores, chefes, etc.): 1º,
respeito; 2º, obediência em tudo o que diz respeito ao seu serviço e
boa conduta; 3º, fidelidade no uso do tempo, no cuidado dos
interesses, na discrição sobre os segredos de família.
Os superiores devem: 1º, tratar os seus inferiores como
gostariam de ser tratados; 2º, induzi-los a uma vida honesta e cristã;
Terceiro, pague-lhes exatamente o salário devido pelos seus
serviços.

III. DEVERES DA SOCIEDADE RELIGIOSA


DOS FIÉIS PARA COM OS SACERDOTES
Os superiores eclesiásticos são para os fiéis, na ordem espiritual,
o que os pais são para os filhos na ordem natural. Os superiores
espirituais são: o Papa, Cabeça universal da Igreja; o Bispo da
diocese, o pároco e os sacerdotes encarregados de dirigir as nossas
almas.
Os fiéis devem aos seus superiores eclesiásticos: 1º, respeito
pelo seu caráter sagrado; 2º, amor por todos os bens recebidos
através do seu ministério; 3º, obediência em razão de sua autoridade
divina; 4º, ajuda material, porque São Paulo diz: “Quem serve o altar
deve viver do altar” (1 Cor. 9, 13).
As principais atribuições dos superiores eclesiásticos são:
Ensinar Religião; exortar à virtude; combater erros, abusos,
escândalos; administrar os Sacramentos; visitar os enfermos;
Assistir os moribundos, mesmo arriscando a própria vida.

IV. DEVERES DA SOCIEDADE CIVIL DE


SUJEITOS E GOVERNANTES
Todo homem é, na terra, membro de uma nação ou pátria,
652
governada por um poder soberano. A Pátria é chamada assim
porque é

653
como a extensão do domínio paterno; O chefe do Estado é o pai
do país, os cidadãos são os filhos.
É dever comum dos governantes venerar e honrar a Pátria, amá-
la, dedicar-se à sua defesa e à sua glória: O amor de Deus inspira o
amor à Pátria; Em todos os lugares, homens sem Deus são homens
sem pátria.
Os governados devem: 1º Honrar o chefe do Estado e os seus
representantes. “Eles são ministros de Deus para o bem” (Rom. 13,
4).
2º Obedecer aos depositários da autoridade civil em tudo o que é
justo e de acordo com as leis de Deus e da Igreja: “Toda autoridade
vem de Deus” (Rm 13, 1).
3º Contribuir para despesas do Estado com o pagamento de
impostos.
4º Exercer fielmente os direitos que lhe são conferidos pela
Constituição do Estado, especialmente o direito de voto para a
eleição dos melhores candidatos.
Os governantes devem: 1. Proteger os cidadãos na sua vida, nos
seus bens, na sua liberdade, na sua honra: fazer e ordenar que seja
feita justiça a todos, sem distinção de pessoas.
2º Respeitar e fazer cumprir as leis da Religião e os princípios da
moralidade.
3º Não confiem funções, cargos, empregos públicos, mas sim a
homens capazes, dignos, íntegros e virtuosos.
4º Favorecer as obras de caridade, as fundações de utilidade
pública de assistência aos pobres, moralizar o povo, ajudar os pais
no trabalho de educação, mas sem nunca usurpar os seus direitos
parentais.
O poder civil foi instituído por Deus para o bem do Estado, como
a autoridade paterna para o bem da família.

APÊNDICE

O dever de votar
1º Você tem que votar.O meio pelo qual os súditos podem ser
bem governados é votar em homens honestos, conscienciosos,
capazes e determinados para defender os interesses da nação.

654
Religião, família e sociedade. Votar é o dever mais importante da
vida civil.
Ninguém tem o direito de se abster: muitas vezes, a abstenção
favorece o triunfo de um candidato hostil aos interesses da religião e
da Pátria.
Diz-se: Um voto a mais ou a menos, o que importa? Se todos
dissessem a mesma coisa e tivessem os mesmos direitos que você,
não haveria escolha possível. São os votos acumulados que formam
as maiorias. Dever acima de tudo: devemos evitar que Deus nos
persiga por termos deixado o campo aberto aos inimigos da ordem.
2º Tem que votar bem.Votar é uma coisa muito séria: os
interesses da Religião, da família e da sociedade dependem dos
nossos votos. Os eleitores fazem os eleitos. Pois bem, os senadores,
deputados nacionais, deputados provinciais ou vereadores eleitos
podem, com as suas leis ou decretos, colocar obstáculos à liberdade
da Igreja, violar os direitos dos pais, comprometer a segurança e a
prosperidade da Pátria.
O eleitor é responsável pelo mal cometido por seus escolhidos,
assim como seria responsável pelo roubo aquele que
conscientemente emprestou uma escada ao ladrão para arrombar a
casa do vizinho. Diz o provérbio popular: “Quem mata a vaca alheia
é tão ladrão quanto quem a segura pela perna”.
Deus pedirá aos eleitores uma contabilização mais rigorosa dos
seus votos do que das suas ações privadas. Votar, na realidade, é
um acto público que afecta não só o interesse do indivíduo, mas o de
todos os seus concidadãos. Existe a obrigação de votar bem, assim
como existe a obrigação de guardar os mandamentos de Deus e da
Igreja.
3º Como distinguir os bons candidatos dos maus? Eles são
diferenciados:
a) Para sua vida privada:Se você teme a Deus; se ele cumpre e
faz cumprir seus mandamentos; se você tem uma família bem
estabelecida; se você viver sua fé; se cumpre os Mandamentos e
recebe os Sacramentos da Igreja; se ele fala pouco; se ele promete
pouco; se estiver destacado; se você tem uma família grande (isso é
fundamental); se você ama o país; Se ele respeita e cuida dos seus
próprios pais sem os ter abandonado num asilo, então quem não se
interessa pelos seus próprios pais, que interesse poderá ter pelos
outros? etc..
b) Para seus apoiadores:Bons candidatos são defendidos por
655
pessoas honestas, por amigos da ordem e da liberdade. O

656
Os maus candidatos são patrocinados por pessoas más, pelos
inimigos declarados dos padres e da Religião...
c) Para seus votos anteriores, caso já tenham cumprido
mandato eletivo.
d) Pelos jornais, jornalistas, programas ou pessoas em geral
que o defendem: os bons candidatos são apoiados por bons jornais,
e os maus, por jornais ímpios, sectários, destruidores da ordem
social.
N. B.-O eleitor incapaz de formar opinião própria deve consultar
uma pessoa prudente e educada. Votar conscientemente em um
mau candidato por interesse pessoal, vender seu voto, são infâmias
que devem ser respondidas perante o tribunal de Deus.
“O voto, diz Larousse, deve ser livre, ou seja, ao votar não se
deve obedecer a qualquer tentativa de intimidação ou corrupção.
“Consciente, isto é, devemos votar naqueles que acreditamos
serem mais capazes e mais dignos de estar à frente dos assuntos
públicos.
“Ilustrado, ou seja, devemos procurar conhecer bem os
sentimentos e as aptidões dos candidatos.
“Finalmente desinteressados, isto é, devemos votar naqueles
que, em nossa opinião, serão mais úteis ao bem geral, e não
naqueles que não nos parecem servir o nosso interesse pessoal,
porque são nossos familiares ou nossos amigos, ou porque nos
fizeram promessas” (Memento Larousse, página 604).

5º Você não vai matar262


O quinto mandamento ordena a prática da caridade cristã consigo
mesmo e com o próximo. Proíbe-nos de tudo que possa prejudicar o
corpo e a alma do próximo ou de nós mesmos.
I. Caridade cristã.
1º Com ele mesmo.Você deve amar a si mesmo com um amor
cristão, que sujeita o corpo à alma e a alma a Deus. Somos
obrigados a cuidar razoavelmente da nossa saúde e a garantir a

262A tradução exata é: Não matarás, o que não é o mesmo que Não matar. Você nunca pode assassinar, entretanto, às vezes é
legal matar, como veremos. O mandamento diz: Não matarás.

657
preservação da nossa vida: é um depósito que Deus confiou para
buscar a sua glória.
Devemos preservar a nossa alma do pecado, que lhe tira a vida
divina, e fazê-la progredir na virtude para garantir a sua salvação
eterna. “De que adianta ganhar o mundo inteiro se você perder a
alma?” (Mt. 16, 26). O amor desordenado por si mesmo é chamado
de egoísmo.
2º Caridade fraterna.Devemos amar o próximo como a nós
mesmos, pelo amor de Deus. Com o nome do próximo devemos
compreender todos os homens, até os nossos próprios inimigos.
Amar o próximo como a si mesmo é desejar e proporcionar-lhe,
na medida do possível, os mesmos bens que a si mesmo:
a) a felicidade eterna e as graças necessárias para merecê-la;
b) bens temporais suficientes para viver a vida.
Ame o próximo com um amor semelhante, mas não igual: a
caridade bem ordenada começa por si mesmo.
Motivo de caridade.Por que você tem que amar o seu próximo?
Você pode amar o seu próximo:
- para si mesmo, graças às suas qualidades físicas ou morais;
- para nós mesmos, por interesse, porque nos é útil ou por
simpatia, porque nos agrada;
-Você pode amá-lo por Deus, para agradar Sua divina
Majestade.
Amar o próximo por si mesmo ou por nós mesmos não é caridade
cristã: é um afeto natural, que facilmente se torna um afeto carnal.
A caridade consiste em amar o próximo pelo amor de
Deus263. 1º Para agradar a Deus, que de nós o ordena.
2º Imitando Jesus Cristo, que nos ensina com seus exemplos e
suas palavras.
Por causa das relações íntimas do nosso próximo com Deus; Ele
é a criatura de Deus, a imagem de Deus, o filho de Deus, resgatado
pelo

263Não podemos amar o próximo pelo amor de Deus se não amarmos primeiro o próprio Deus.

658
Sangue de Jesus Cristo e chamado, como nós, à herança do céu.
Como devemos amar o nosso próximo? É preciso amá-lo com um
amor universal, sobrenatural e eficaz. Aqui estão as principais regras
da caridade fraterna:
1º Não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a você.
2º Faça aos outros o que você razoavelmente gostaria que
fizessem a você.
3º Esforce-se para amar o próximo como Jesus Cristo nos amou.
Ame seus inimigos pelo amor de Deus; faça o bem àqueles que te
odeiam; Ore por aqueles que o perseguem e caluniam.
A caridade para com o próximo exerce-se através de obras de
misericórdia espirituais e corporais.
As obras espirituais de misericórdia são sete: 1) Ensinar aos
que não sabem as coisas necessárias à salvação: propagação da fé,
instituições catequéticas, missões, escolas cristãs, etc. 2) Corrigir os
pecadores, adverti-los dos seus defeitos e dos seus pecados, como
advertiu a um cego quem vai cair no abismo.
3) Dê bons conselhos a quem precisa. 4) Perdoe as injúrias, pois
queremos que Deus nos perdoe. 5) Conforte os aflitos. 6) Suportar
pacientemente os aborrecimentos e fraquezas do próximo. 7) Ore a
Deus pelos vivos e pelos mortos. Estas diversas obras de
misericórdia estão mais ou menos ao alcance de todos. Não significa
que sejam os únicos, apenas são citados alguns, os principais.
As sete obras de misericórdia corporais resumem-se no dever de
esmola. A esmola é obrigatória para todos aqueles que podem fazê-
lo. Jesus Cristo dirá, no dia do Juízo: “Afastai-vos de mim, malditos,
para o fogo eterno preparado para o Diabo e seus anjos. Porque tive
fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes nada de
beber; eu era um estranho e vocês não me acolheram; eu estava nu
e você não me vestiu; enfermo e na prisão, e não me visitastes” (Mt.
25, 41-43).
Quem possui bens supérfluos é obrigado a ajudar os indigentes.
Devem abster-se de todas as despesas vãs e frívolas, especialmente
em calamidades públicas ou quando os pobres estão em extrema
necessidade. Aqueles que mal têm o suficiente para si não são
obrigados a ajudar, mas são convidados a fazê-lo, como a viúva

659
do evangelho que colocou apenas um ovolo, a única coisa que tinha
e foi louvado por Cristo diante dos Apóstolos.
A esmola é fonte de bênçãos: é um empréstimo a juros feito a
Deus... Cobre uma multidão de pecados e obtém para nós as
riquezas do céu (Pv 19, 17; 1 Pd 4, 8).
II. Homicídio corporal:O Quinto Mandamento nos proíbe de
causar a nossa própria morte ou a do próximo. Portanto, condena:
1, suicídio; 2, homicídio; 3, tristeza; 4, tudo que fere a integridade
da... vida corporal.
1) O suicídio.É proibido atacar a própria vida, por mais infeliz
que seja, porque a nossa vida pertence a Deus. O suicídio é um
crime contra Deus, cujos direitos são usurpados pela covardia,
porque é o mesmo que confessar-se incapaz de suportar as dores
da vida; uma loucura, porque se alguém se liberta dos males
presentes, apenas cairá na desgraça eterna.
Também é proibido mutilar-se; encurtar a vida com excesso de
trabalho, intemperança ou ganância; expor a existência, senão por
motivos de caridade, e desejar que a morte deixe para trás o peso da
vida.
2º Homicídio é a morte voluntária e injusta do próximo: chama-se
parricídio, fratricídio, infanticídio, consoante o assassinado seja pai,
irmão ou filho. O homicídio é um crime horrível, um atentado ao
domínio soberano de Deus, uma injustiça contra a vítima, a família e
a sociedade.
Você é culpado de homicídio culposo quando tem o desejo ou a
intenção de matar, mesmo que não se mate, todos os crimes vêm do
coração, ou desejam que você morra.
Você é culpado de homicídio imprudente quando mata outra
pessoa involuntariamente. A infração é mais ou menos grave,
dependendo da imprudência cometida.
Existem três casos em que matar é permitido (mas nunca matar):
a) Em caso de legítima defesa, se não tivermos outros meios
para nos livrarmos de um agressor injusto que atenta contra a nossa
vida, ou contra a do nosso próximo, ou contra a nossa modéstia.
b) No caso da guerra, desde que seja justo (cai na legítima
defesa, não só pessoal, como a anterior, mas também a minha e da
minha família e dos meus irmãos compatriotas).

660
c) Na aplicação da pena de morte proferida contra um criminoso
pela justiça pública264.
3º O dueloÉ um combate premeditado entre duas pessoas. Os
duelistas cometem um triplo crime: uma usurpação dos direitos de
Deus, um ataque à própria vida e um ataque à vida do próximo. É
por isso que a Igreja pune com excomunhão aqueles que travam um
duelo e todos aqueles que efetivamente cooperam neste ato, como
padrinhos, etc.
O luto é um absurdo, porque uma facada ou um tiro não pode
lavar uma afronta, reparar a honra ou dar razão a quem não a tem.
Honra é cumprir seu dever. Ele nos ordena esquecer e perdoar
as injúrias. “A honra não deve ser confundida com aquele
preconceito feroz que faz com que todas as virtudes dependam da
ponta de uma espada, quando na realidade só serve para formar
bravos homens maus” (JJ Rousseau).
4º O quinto mandamento também proíbe tudo que prejudique a
vida do corpo: golpes, feridas, maus-tratos, etc. (poderíamos
acrescentar: drogas, tabaco e álcool, sendo estes dois últimos
desproporcionais); e tudo o que leva ao homicídio: ódio, raiva,
insultos, altercações, desejos de vingança, (poderíamos acrescentar:
desportos onde a vida é arriscada ou a saúde física ou mental está
gravemente ameaçada).
III. Assassinato espiritual, escândalo.Escândalo é qualquer
palavra, ação ou omissão, má em si ou aparentemente, que induza
outros a ofender a Deus.
O escândalo é ativo para quem o causa e passivo para quem o
recebe.
O escândalo ativo é direto se quem o dá tem a intenção de
causar a queda do próximo: ocorre quando o mal é ensinado,
ordenado ou aconselhado. É indireto quando são dados maus
exemplos sem a intenção de perverter os outros.

264Só porque não é pecado não significa que a pena de morte seja apropriada. Hoje há tanta injustiça por falta de ética (por se
afastar de Deus) que os justos cairiam nesta pena e os injustos seriam livres. Devido à corrupção global da sociedade, a pena de morte
não parece apropriada. Mas não seria pecado usá-lo corretamente. O Catecismo da Igreja Católica pode ser consultado neste momento.

661
O escândalo passivo é o escândalo dos fracos, se provém da
fraqueza ou da ignorância de quem o recebe; Se vier da maldade
deles, o escândalo é farisaico, em homenagem aos fariseus, que se
escandalizaram com as melhores ações de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Não devemos prestar qualquer atenção ao escândalo
hipócrita.
Na verdade, tal escândalo, direto ou indireto, acrescenta nova
maldade ao pecado cometido e constitui uma circunstância que deve
ser declarada na confissão.
Gravidade do escândalo.1º O escandaloso trabalha com o diabo
na perdição das almas, resgatadas pelo Sangue de Jesus Cristo. E
se é crime tirar a vida do corpo de outra pessoa,
Quanto maior será tirar a vida da alma?
2º O escandaloso causa frequentemente danos imensos e
irreparáveis. O escandalizado pode, por sua vez, fazer outras vítimas
e determinar uma infinidade de pecados que decorrem do primeiro
escândalo. Como parar o mal?
3º É por isso que Jesus Cristo condena o escandaloso com estas
palavras terríveis: Ai daquele por quem vier o escândalo (Mt. 18, 8).
Eles são gravemente culpados de escândalo:
a) Aqueles que ostentam a impiedade e trabalham para arrancar
a fé das almas.
b) Aqueles que publicam, vendem ou emprestam filmes, livros,
revistas, jornais, ruins.
c) Aqueles que compõem ou cantam músicas ruins265.
d) Aqueles que fazem ou exibem estátuas, pinturas ou desenhos
imorais (pornografia nas bancas de jornal, na televisão, em anúncios,
etc.).
e) Aqueles que espalham a depravação e violam as leis do
decência em suas roupasou em seu porte.

6º Você não cometerá ações impuras.

9º Você não desejará a esposa do seu próximo.


Estes dois mandamentos destinam-se a salvaguardar a virtude
angélica da castidade. Eles proíbem pecados contrários

265Quem os ouve e os faz ouvir também peca.

662
ela. A castidade é obrigatória para todos, quer seja considerada
segundo os princípios da ordem natural, quer à luz do que exige a
ordem sobrenatural.
1º Considerada da primeira forma, a castidade sujeita a Carne ao
espírito; preserva seu poder nas faculdades da alma; confere vigor e
beleza ao corpo; à família, honra e prosperidade; à sociedade, à
união e à paz.
2º Segundo os princípios da ordem sobrenatural, a castidade
obriga-nos, como filhos de Deus, membros de Jesus Cristo, templos
do Espírito Santo, chamados à herança do Reino dos Céus.
O sexto mandamento condena os pecados externos de impureza;
o nono, pecados internos; ambos proíbem a exposição às ocasiões
próximas desses pecados.
Pecados contra a pureza. Pecamos contra esta virtude com
pensamentos, desejos, olhares, palavras e ações.
1) Você peca com o pensamentoquando, cautelosamente e
com prazer, nos detemos em representações imaginativas
desonestas. O pensamento é o olhar da alma: assim como é proibido
olhar com os olhos do corpo, voluntariamente e com complacência,
para um objeto desonesto, também é proibido olhar para ele com os
olhos da alma, representando-o para si mesmo com a imaginação.
Maus pensamentos geram maus desejos e más ações. Você pode
ter 80 anos e pecar com seus pensamentos.
2) Você peca com desejosquando se aproxima a ideia de
buscar alguns prazeres desonestos, embora na verdade eles não
sejam buscados. No mal, o desejo, quando é deliberado e voluntário,
já é mau, já é pecado: do desejo à ação há apenas um passo. Você
pode envelhecer e pecar com desejo, mas também com olhares,
palavras e ações (você pode ler a história de Susana na Bíblia:
capítulo 13 do profeta Daniel).
3) Você peca com a aparênciaquando o olhar se detém,
desnecessariamente e com prazer, em pessoas ou objetos
indecentes. Os olhos são as janelas da alma e através da visão a
morte frequentemente entra nela.
4) Você peca com palavrasquando você tem conversas
impuras ou canta músicas ruins. As más conversas corrompem os
bons costumes (I Cor. 15, 33).

663
5) Você peca com açõesquando alguém se entrega a atos ou
liberdades desonestas, sozinho ou com outras pessoas. Nossos
corpos são consagrados a Deus pelo batismo: devemos tratá-los
como vasos sagrados.
Qualquer coisa que envergonhe um anjo deve envergonhar um
cristão.
II. Gravidade da impureza e suas terríveis consequências. O
pecado da impureza é abominável aos olhos de Deus:
1) , degrada o homem, submetendo sua alma aos instintos mais
vergonhosos do corpo.
2) , profana nossos corpos, convertidos pelo batismo em membros
de Jesus Cristo e templos do Espírito Santo.
3) , traz consequências desastrosas e castigos terríveis.
As consequências da impureza são as recaídas, os maus hábitos,
os sacrilégios, causados pela vergonha de confessar este vício, os
escândalos e uma multidão de pecados. Em suma, este vício produz
cegueira do espírito, endurecimento do coração, desespero,
impenitência final.
Os castigos da impureza são, nesta vida, a perda da honra, da
riqueza, da saúde e, frequentemente, a morte prematura; após a
morte, fogo eterno. A impureza, diz Santo Afonso Maria de Ligório, é
a porta mais larga para o inferno; De cada cem condenados, noventa
e nove caem nele por causa deste vício.
Os pecados diretamente contrários à pureza são mortais por sua
própria natureza; somente o defeito da advertência total e do
consentimento total pode torná-los veniais.
III_ Ocasiões ou causas de impureza.As ocasiões mais comuns
de impureza são: bailes, teatros, modas indecentes, leitura de
romances pecaminosos, intemperança, más companhias e
conhecidos entre pessoas de sexo diferente266.

266Hoje devemos colocar em primeiro lugar: a televisão, tanto nos seus programas como nos seus anúncios, pois é um
bombardeamento impossível de rejeitar quando se está diante dele durante três, quatro ou mais horas; Válido também para inter net. Em
segundo lugar, os clubes que os pais “cristãos” tão facilmente permitem aos seus filhos. A Virgem de São Nicolau, numa das suas
mensagens, diz: “Nenhum pai cristão deve permitir que os seus filhos estejam nesses lugares; Deus não é amado lá.”

664
As causas da impureza devem ser evitadas como o próprio
pecado. Nosso Senhor disse: “Se o seu olho direito – uma pessoa ou
coisa tão querida quanto o seu olho direito – é uma ocasião de
pecado para você, arranque-o e jogue-o fora de você, pois é melhor
ir para o céu com um só. olho do que cair no céu, tendo o inferno
ambos” (Mateus 18, 9).
Por conseguinte, colocar-se voluntariamente na oportunidade de
cometer pecados de impureza já é uma falta, uma falta mais ou
menos grave, dependendo se a ocasião está mais ou menos
próxima: o que depende das pessoas e das circunstâncias.
Quando a ocasião for necessária, o próprio confessor deve ser
consultado sobre os meios a utilizar para afastar o perigo. Não é
legal vender, emprestar ou guardar livros de má qualidade ou
fotografias indecentes, sem ser culpado dos delitos a que esses
objectos dão origem.
4. Preventivos e remédios.Para evitar pecados de impureza
você deve:
1) , evite ocasiões; 2), dedicar-se à penitência e ao trabalho; 3),
ore com fervor; 4), viva na presença de Deus; 5), frequenta os
Sacramentos; 6), têm grande devoção à Santíssima Virgem, Mãe da
pureza.
Carregamos o tesouro da pureza em vasos muito frágeis e
estamos rodeados de laços e inimigos. Para não cair em tentação,
disse Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos vigiar, jejuar e orar (Mc
9, 28 e 14, 3 e seguintes). a) A vigilância remove as causas do mal;
as causas internas: orgulho, intemperança, ociosidade; causas
externas: ocasiões próximas, como televisão, leitura,
relacionamentos perigosos, etc. b) O jejum, a mortificação, dá à alma
a força necessária para dominar o corpo e governar os seus sentidos
de acordo com o pudor. c) A oração, bem feita, obtém de Deus a
graça, sem a qual ninguém pode ser casto. O exercício da oração
inclui: o recurso humilde a Deus nas tentações; o pensamento da
presença de Deus e dos Fins Mais Novos ou Últimos; A confissão,
que purifica a alma e a fortalece contra as recaídas; Sagrada
Comunhão, que enfraquece a tendência para o mal. Finalmente, a
devoção à Santa Virgem Imaculada, que foi incumbida por Deus de
esmagar a cabeça dos

E em quarto lugar, as provocações de modas indecentes que tentam até entrar nos
templos onde Deus vive.

665
a serpente tentadora: Recite de manhã e à noite alguma ejaculação
pedindo proteção contra este tipo de tentações, como, por exemplo,
Bendita seja a tua pureza, as três Ave-Marias, em particular a oração
do Santo Rosário.
Estes remédios são necessários por causa da grande corrupção
da nossa natureza, da perversidade do mundo e das contínuas
tentações do diabo. E são infalíveis, se usadas com perseverança;
Não há, portanto, desculpa para cair ou permanecer na impureza.

7º Não roube.

10º Não cobiçar bens alheios.


Deus quis que os bens terrenos fossem distribuídos entre os
homens, para que a sociedade pudesse viver no trabalho, na ordem
e na paz. Porque se os bens fossem comuns, muitos homens não
trabalhariam, ignorariam os negócios e passariam a vida litigando. A
humanidade viveria num estado selvagem, sem agricultura, sem
indústria, na miséria e na degradação.
“Assim, olhando para o bem geral, o homem recebeu de Deus o
direito de propriedade, isto é, o direito de tornar seu algo e de dispor
dele à vontade.”(Moulin).
Deus garante o direito de propriedade com dois mandamentos: o
sétimo e o décimo.
Nos proíbe:1º, tomar injustamente bens alheios; 2º, guardá-lo
quando sabemos que não nos pertence; 3º, causar danos a
terceiros. Consequentemente, ordena-nos restituir o que foi mal
adquirido ou reparar o dano injusto por nós causado.
O décimo mandamento, de cortar o mal pela raiz, proíbe qualquer
desejo voluntário de tomar posse da propriedade de outra pessoa
por meios injustos.
I. O roubo.Alguém toma posse injustamente da propriedade de
outro: 1), por roubo; 2), por fraude; 3), por usura.
1º Se você é culpado de rouboquando algo é tirado de outra
pessoa contra sua vontade presumida e razoável.
2º Se você é culpado de fraudequando os contratos são
enganados; por exemplo, na qualidade, peso e medição das
mercadorias.

666
3º Ser culpado de usuraquando forem exigidos juros ilegítimos
ou superiores aos juros legais para o empréstimo.
II. Retenção injusta.Bens alheios são retidos injustamente: 1)
Não devolução do que foi levado.
2) Escondendo o que outro tomou. 3) Não pagar dívidas.
4) Negação de salários a trabalhadores e servos. 5) Aproveitar,
conscientemente, um erro nas contas. 6) Não cumprimento das
cláusulas do testamento. 7) Fazer uma falência fraudulenta. 8)
Apropriar-se dos objetos encontrados sem saber quem é o
proprietário.
III. Dano injusto.1) Deteriorar ou destruir propriedade de outras
pessoas.
2) Tentar um processo injusto contra ele. 3) Privar um funcionário de
seu cargo, um comerciante de seu crédito, com denúncias
imprudentes ou calúnias, ou iniciar uma ação judicial contra outro
sabendo que é inocente para tentar extrair-lhe dinheiro. 4)
Negligenciar o cumprimento das obrigações inerentes à condição
individual de cada um: juízes, advogados; notários, médicos,
professores, empregadores, trabalhadores, etc., podem causar
danos graves. 5) Cooperar com as injustiças cometidas por outros,
ordená-las, aconselhá-las, permitir, quando for obrigado a preveni-
las.
IV. Gravidade do roubo.A injustiça rompe todos os laços e
todos os deveres que unem os homens entre si; Quebra e destrói, no
fundo da consciência, a regra da justiça eterna, gravada pela mão do
Criador e reconhecida por todos os povos, mesmo os mais bárbaros.
Sem justiça não pode haver laços sociais nem fraternidade entre os
homens.
É por isso que a sociedade, fundada na justiça e estabelecida
para fazê-la reinar, pune o roubo como seu primeiro inimigo, como
um ataque anti-social. Não há nome mais ignominioso do que o de
ladrão. Se a injustiça rebaixa o homem, quanto mais o cristão! ...Ser
um homem perfeitamente honesto é começar a ser cristão.
Roubo ou injustiça é pecado mortalquando o assunto é sério.
O que geralmente é considerado grave é o que seria suficiente para
manter vivo o assaltado e sua família por um dia. Deve-se também
ter em conta que se se rouba o que custa um quilo de pão a uma
pessoa que tem muito dinheiro, não é a mesma coisa que se rouba a
um pobre; o prejuízo é maior neste último, embora com o mesmo
dinheiro.

667
V. Reparação por esta injustiça.Aqueles que violaram o sétimo
mandamento são obrigados: 1) A confessar o pecado cometido.

668
2) Para restaurar o que eles possuem injustamente. 3) Reparar os
danos causados a terceiros.
Com a confissão Deus fica satisfeito; com restituição a outros. A
obrigação de restituir é pela lei natural e pela lei divina. Esta
obrigação é séria em assuntos sérios, leve em assuntos leves.
“O pecado não é perdoado,“Diz Santo Agostinho, se o que foi
roubado não for restituído.” Restituição ou condenação. Quem
precisa ser restaurado? Para quem sofreu o dano. E se ele não
estiver mais vivo? Aos seus herdeiros. E se for impossível descobri-
los? Você tem que dar aos pobres o que mal adquiriu ou usá-lo para
boas obras. Não é permitido ficar com bens de outras pessoas.
Como devo reembolsar? Imediatamente. Qualquer atraso agrava
a injustiça cometida contra os outros e expõe o falecido à morte sem
ter cumprido esta grave obrigação. Se alguém achar impossível fazer
a restituição, deverá, é claro, dar tudo o que puder; esteja disposto a
devolver o que está faltando, o mais rápido possível, e coloque-se
em posição de fazê-lo o mais rápido possível.
Todos os cúmplices de uma injustiça são obrigados a repará-la e
estão solidariamente obrigados, isto é, um na falta do outro: primeiro,
a cada um a sua parte de reparação; depois, a parte dos outros que
pode nos restaurar ou reparar; O vizinho tem direito à indenização
integral.
Socialismo ou comunismo.O direito à propriedade,
salvaguardado no sétimo mandamento, é combatido por socialistas,
comunistas e coletivistas. Divididos entre si sobre os meios de
organizar a sociedade com que sonham, concordam na abolição da
propriedade individual e hereditária, para que desapareça toda a
distinção entre ricos e pobres.
Esta doutrina: 1º, é tão repreensível quanto as paixões que a
inspiram, porque tem a sua origem na ganância, na inveja e na
preguiça. 2º, É irrealizável, porque para estabelecer a igualdade de
bens seria necessário tornar todos os homens igualmente fortes,
robustos, inteligentes, industriosos e económicos. 3º Seria
desastroso nos seus resultados porque cada pessoa trabalharia o
mínimo possível se não tivesse a esperança de um dia usufruir do
fruto do seu trabalho, e a negligência no trabalho traria a miséria
universal. (Hoje podemos ver como acabaram os países comunistas,
especialmente a Rússia).

669
8º Você não prestará falso testemunho ou mentirá
O oitavo mandamento completa os nossos deveres para com o
próximo: ordena-nos respeitar a verdade das nossas palavras,
porque a sinceridade e a franqueza são os alicerces da sociedade.
Proíbe diretamente o falso testemunho, ou a mentira em
julgamentos, e indiretamente tudo o que possa prejudicar a
reputação e a honra de outrem.
1. Deveres relativos à verdade.Nunca é permitido deixar de
dizer a verdade, mas, em alguns casos, não há obrigação de dizê-la,
em outros, deve-se calar absolutamente.
A verdade é quebrada de três maneiras: 1) com falsos
testemunhos; 2) com mentiras; 3) violar segredos.
1) O falso testemunhoÉ um depoimento em julgamento contra a
verdade. Quando alguém é chamado como testemunha em tribunal,
deve dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade;
Você deve responder conscientemente às perguntas feitas.
Estão dispensados de testemunhar: a) Os confessores
relativamente aos seus penitentes; b) Os parentes consanguíneos
ascendentes e descendentes, irmãos, irmãs, parentes de primeiro
grau do arguido; c) Pessoas obrigadas a guardar sigilo profissional,
tais como médicos, advogados, etc., relativamente aos seus clientes.
O falso testemunho é um pecado grave contra a verdade, a
religião e a justiça.
A falsa testemunha é obrigada: 1) a retratar-se do seu
depoimento, se este tiver sido gravemente prejudicial; 2), para
reparar todos os danos causados pelo seu perjúrio.
2) A mentiraÉ uma palavra, qualquer sinal pelo qual se implique
o oposto do que se pensa, com a intenção de enganar. Para que
haja mentira são necessárias duas coisas: 1) que se queira fazer as
pessoas acreditarem naquilo que elas mesmas não acreditam; 2),
que a intenção é enganar, portanto não se mente quando parece
com total clareza que o que se diz não pode ser levado a sério.
Mentir é sempre ruim. O mentiroso ofende a verdade e,
consequentemente, a Deus, que é a própria verdade; perverte o
propósito da linguagem, dada por Deus ao homem para comunicar
seus pensamentos e não para enganar o próximo; Ele perturba a
ordem social, que se baseia na confiança mútua e, finalmente,
rebaixa-se no seu próprio conceito e no conceito dos seus

670
semelhantes.

671
Existem três tipos de mentira: 1) a mentira festiva, que se conta
para se divertir; 2), a mentira oficiosa, que é proferida para prestar
um serviço a si mesmo ou ao próximo; 3), a mentira perniciosa, que
causa danos aos outros.
O primeiro, cuidado, quando a mesma mentira é tal que você está
dizendo que é uma mentira com a mesma piada, não é pecado, mas
é uma imperfeição e um perigo para se acostumar e usar em
ocasiões sérias, portanto não é aconselhável mentir enquanto joga; a
segunda é prestar um serviço a si mesmo e causar danos ao
próximo267; A terceira é fatal quando causa danos consideráveis e
implica a obrigação de reparar os danos.
Mentir através das ações é chamado de hipocrisia: consiste em
vestir-se com aparência de virtude para ganhar a estima dos outros.
Casos em que a verdade pode ser escondida.Há casos em
que não se é obrigado a dizer a verdade, pelo menos na sua
totalidade (o que não significa mentir, o que nunca deve ser feito).
Quando uma pessoa faz uma pergunta indiscreta, é permitido
responder: não sei, o que significa que ela não pode te contar (o que
não é mentira, mas que ela não quer falar). A intenção então não é
enganar os outros, mas apenas esconder algo que não há obrigação
de dizer. O erro, se ocorrer, é atribuível à falta de reflexão de quem
fez a pergunta. Por exemplo, um gerente está preso no trabalho e diz
à secretária: “Esta manhã não estou presente para ninguém” (mas
ele está no escritório), e uma pessoa chega e pergunta por ele, ela
pode dizer, o gerente está' lá. É durante a manhã (entende-se que
não está disponível).
Assim, a obrigação de guardar segredo, a necessidade de não
prejudicar os outros, a segurança pessoal, etc., justificam o uso
destas restrições e destes mal-entendidos.
No entanto, você nunca deve usar estas restrições:
a) Em matéria de Religião, quando existe a obrigação de
confessar a fé.

267A chamada mentira inocente não é PIEDADE, pois o pecado nunca é um ato de misericórdia. Uma mentira é uma mentira e é
sempre um pecado. Portanto, quem não busca corrigir o hábito de mentir para salvar, além de mentir, comete o pecado da negligência e
esse pecado de mentir crescerá até mentir sobre coisas graves.

Como você se corrige após esse mau hábito?

672
b) Na Confissão Sacramental.
e) Nos contratos onerosos, compras, vendas, etc.
d) Em interrogatório legitimamente realizado por juiz ou superior
hierárquico.
3ª Violação de segredos.Qualquer verdade que seja objeto de
segredo deve ser escondida. Distinguem-se cinco tipos de segredos:
1), o segredo sacramental; 2), o segredo natural; 3), o segredo
prometido; 4), o segredo confiado; 5), o segredo da correspondência
epistolar.
1) O segredo sacramental, relativo ao Sacramento da
Penitência ou da Confissão, absolutamente inviolável. Obriga, sob
pena de pecado mortal, qualquer pessoa que ouça alguma coisa
sobre a confissão de outra pessoa. Uma pessoa que está
confessando e outra que está esperando para ouvir. Continuar
ouvindo já é pecado, ainda mais se você falar.
2) O segredo naturalSeu objetivo é tudo o que não pode ser
revelado sem prejudicar, mais ou menos gravemente, os outros.
3) O segredo prometidoresulta do compromisso assumido de
permanecer em silêncio. A obrigação de manter este segredo cessa
quando implicar graves inconvenientes para si ou para outrem.
4) O segredo confiadoTem por finalidade as confidências
recebidas sob a condição expressa ou tácita de não revelá-las. Tal é
o sigilo profissional de médicos, advogados, notários, etc.
A obrigação de mantê-lo é gravíssima e não cessa se o bem
público não o exigir.
5) O segredo da correspondência epistolar.É proibido violar
segredos alheios com extorsão, sem justa causa, ou ler cartas ou
outros escritos privados.
Dependendo da importância destes segredos, existe um pecado
mais ou menos grave na extorsão ou na sua divulgação.
II. Deveres relativos à reputação de terceiros.A reputação do
próximo é prejudicada, primeiro, externamente pela depreciação; 2º,
internamente com julgamento imprudente.
1) A depreciaçãoÉ a difamação injusta do próximo: realiza-se
através de fofocas e calúnias. É sempre um pecado e nas coisas
graves é um pecado mortal.
O murmúrioConsiste em revelar, sem necessidade, os defeitos
ou falhas secretas dos outros. Não há murmuração

673
quando o mal é público, nem quando há motivo justo para revelar
uma falta secreta.
A calúniaConsiste em dizer ao próximo o que é mentira ou o que
não foi cometido: A calúnia acrescenta a fofoca à mentira: opõe-se
simultaneamente à verdade, à caridade e à justiça. É sempre um
pecado e nas coisas graves é um pecado mortal.
Fofocas ou histórias consistem em revelar a uma pessoa os
conceitos desfavoráveis que outra expressou sobre ela. Este
procedimento detestável semeia a discórdia entre amigos e a paz,
introduzindo divisão nas famílias.
Gravidade da depreciação. A depreciação é em si um pecado
mortal, porque o bem que tira do próximo é mais precioso do que
outros bens terrenos. A depreciação não é venial, mas por falta de
aviso ou pela falta de importância do assunto.
Nunca é lícito murmurar; Mas há casos em que é permitido e às
vezes obrigatório revelar os vícios e defeitos dos outros (atenção,
desde que seja verdade):
a) Quando o interesse público está envolvido, para evitar que
alguém prejudique a religião ou a sociedade.
b) Em caso de interesse de terceiros, a fim de protegê-los do
perigo.
c) Em caso de interesse pessoal, seja para pedir conselho ou
ajuda em assunto grave, seja para justificar falsa acusação.
d) No interesse do próprio culpado, por caridade fraterna.
Nestes casos, a difamação não é injusta, porque o direito à
reputação cede lugar a um direito superior: muitas vezes é até um
dever de caridade, mas só se deve falar com pessoas competentes
e discretas, e impor-lhes segredo.
É necessário ouvir os detratores? A caridade obriga-nos a
defender a reputação do próximo. Portanto, quem escuta
murmurações ou calúnias peca: 1), se puder, se não impedir; 2), se
você gosta de ouvir; 3), se nele cooperar eficazmente. São os
ouvintes curiosos e pouco caridosos que fazem os fofoqueiros; Se
não houvesse ouvintes, não haveria murmuradores.
Obrigação de reparar a depreciação.O detrator é obrigado a
reparar o mal causado ao próximo. O fofoqueiro é obrigado: 1) a não
se retratar (já que o que disse é verdade, mas não é conveniente

674
diga-o), mas restaurar, na medida do possível, a reputação do
próximo, dizendo-lhe o maior bem possível; 2), reparar os males
causados por sua culpa. O caluniador é obrigado: 1) a retratar-se
das suas mentiras, mesmo em seu próprio prejuízo; 2), para reparar
o mal causado aos outros com a sua calúnia.
2) O julgamento imprudenteConsiste em formar uma opinião
negativa sobre os outros sem provas suficientes. É uma detração
mental que priva injustamente os outros da nossa estima. O
julgamento imprudente é proibido pela lei divina: “Não julgueis, diz
Nosso Senhor Jesus Cristo, e não sereis julgados” (Lucas 6, 36). O
julgamento imprudente fere a caridade que nos manda pensar do
próximo o que gostaríamos que ele pensasse de nós; Dói a justiça,
que dá a cada pessoa o direito à estima dos outros, desde que nada
tenha feito para perdê-la.
As dúvidas e suspeitas dos superiores, dos pais, encarregados
de supervisionar os seus inferiores, não são injustas nem
repreensíveis: são atos de prudência: Também é permitido tomar
precauções razoáveis em relação a pessoas desconhecidas: a
prudência é a mãe da segurança.
III. Deveres relacionados com a honra dos outros.A honra do
próximo é o testemunho exterior da estima que se tem por si mesmo.
A honra do próximo é prejudicada ao insultá-lo em sua presença
com palavras ou ações. Com palavras: repreendendo-o pelas suas
faltas e defeitos, e dirigindo-lhe epítetos insultuosos e escárnios
ofensivos; com ações: fazê-lo de bobo, fazer gestos de desprezo,
etc. O insulto é um pecado mortal em si; mas nada mais é do que um
delito menor quando não há intenção de causar danos graves.
As afrontas infligidas pelos superiores com prudência e caridade,
para corrigir os culpados, são lícitas e por vezes necessárias.
Conclusão.Jesus Cristo resumiu todos os mandamentos nestes
dois: 1), Ame a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e
de todas as suas forças. 2), Ame o próximo como a si mesmo (Mt.
22, 37-39).
E quando você ama a Deus, você o adora, você respeita o seu
Santo Nome, você santifica o dia que foi reservado para sua
adoração, conforme ordenado pelos três primeiros mandamentos.

675
Quando você ama o seu próximo, você honra primeiro o seu pai e
a sua mãe; Nenhum dano é causado a qualquer pessoa, nem ao seu
corpo, nem à sua alma, nem aos seus bens, nem à sua reputação,
nem à sua honra, conforme prescrito pelos sete últimos
mandamentos.
Desta forma, o Decálogo torna-se o código necessário, universal
e imutável da raça humana. Contém, em resumo, todos os deveres e
todos os direitos naturais. A sua observância cria a felicidade dos
homens e a prosperidade das pessoas e garante a salvação eterna
para cada um. Se você deseja entrar na vida eterna, guarde os
mandamentos (Mt. 19, 17).

Os mandamentos ou preceitos da Igreja


Há cincoprincipais mandamentos da Igreja que vinculam todos
os cristãos católicos, e são eles:
Io Ouvir missa todos os domingos e outros dias santos de
observância. O preceito de ouvir missa aos domingos e feriados
exige quatro coisas para o seu bom cumprimento, que são: 1)
presença física; 2), atenção da mente; 3), devido rito; 4), local
conveniente.
1) A presença corporalDeve ser moral e contínuo. a) Moral, isto
é, que se possa dizer que quem ouve faz parte do auditório. Para
isso, basta distinguir as partes da Missa, ou pelo menos ver os
participantes, mantendo-se a uma distância razoável do templo; b) A
presença deve ser contínua durante toda a Missa, para que não falte
a parte notável dela, quer por tempo, quer por importância e
dignidade. A parte mais digna e principal da Missa é aquela que se
estende do Sanctus à Comunhão.
2) A atenção da menteDeve ser tal que perceba, pelo menos de
forma confusa, o Sacrifício que é oferecido, e não realize nenhuma
ação que exclua a atenção interna. Por isso, quem começa a pensar
em outra coisa não cumpre o preceito; quem começa a falar, quem
começa a ler algo que não tem nada a ver com a missa, ou quem
começa a olhar a roupa dos outros, ou o quadro na parede, etc.
3) Sobre o Rito da Missa, o preceito é satisfeito com qualquer
rito católico. Maronita, Ucraniana, etc.
4) Então olhe para o lugar, a Missa é válida, seja ao ar livre,
seja em igreja ou oratório público ou semipúblico, ou em capelas
privadas
676
do cemitério; mas não é válido nas capelas privadas das casas, se
não se tiver a autorização concedida à pessoa ou família, na
concessão de oratória doméstica ou privada.
Os dias de festa,com a obrigação de assistir missa e abster-se
de trabalhos servis são, além de todos os domingos do ano, os
seguintes:
1º de janeiro: Santa Maria Mãe de Deus, celebra-se a
maternidade divina de Maria.
15 de agosto: Assunção da Santíssima Virgem.
8 de dezembro: Imaculada Conceição da Santíssima Virgem.
25 de dezembro: Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
II. Não coma carne nos dias proibidos (ou de abstinência) e
jejue nos dias ordenados.
Os dias de abstinência são todas as sextas-feiras do ano.,
exceto se essa sexta-feira for dia de solenidade.
São dias de jejum e abstinência: Quarta-feira de Cinzas e Sexta-
feira Santa268.
O próprio confessor pode dispensar a lei da abstinência e do
jejum, com razão justa e racional.
III. Confesse e comungue, pelo menos uma vez por ano,
durante o tempo da Páscoa.
O tempo pascal, em que deve ser cumprido o preceito da
confissão e comunhão anuais, embora pelo direito comum seja
apenas do Domingo de Ramos à oitava da Páscoa, por privilégio
concedido à América Latina e às Ilhas Filipinas, estende-se desde a
Septuagésima (três domingos antes da Quaresma) até a festa do
Sagrado Coração de Jesus (sexta-feira após a oitava de Corpus
Christi).
IV. Contribuir para o sustento da Igreja (culto; clero, escolas
católicas, etc.), contribuindo de acordo com as leis ou costumes
do próprio país.

268Este preceito do jejum, obrigatório nos casos de pecado grave, não significa que o jejum não possa ser feito nos outros di as do
ano. Recomenda-se jejum periódico, como às sextas-feiras em homenagem à paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou às
terças-feiras (quando se rezam os mistérios dolorosos do Rosário), ou em ambos os dias, etc. Cada um na medida do seu amor a Deus.

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V. Celebrar casamentos de acordo com as leis da Igreja, e
não considerar verdadeiro ou legítimo o chamado casamento civil,
enquanto não for celebrado o eclesiástico.

O que evitar e o que fazer


A moralidade inclui: 1) a observância dos mandamentos de Deus
e da Igreja; 2), a fuga do pecado; 3) a prática das virtudes cristãs.
Resta-nos dizer uma palavra sobre estes dois últimos artigos.

1º O QUE EVITAR.
O pecado deve ser evitado. O pecado é uma desobediência
voluntária à lei de Deus. É um pensamento, um desejo, uma palavra,
uma ação ou omissão contrária aos mandamentos de Deus ou aos
da Igreja.
Existem dois tipos de pecados: pecado original e pecado
atual.
O pecado original é aquele que nos chega desde a nossa origem,
como consequência da desobediência de Adão, e que todos
trazemos quando viemos ao mundo. Este pecado consiste na
privação da graça santificante, que teríamos recebido de Deus, não
fosse a desobediência dos nossos Primeiros Pais. Quando um pai
perde sua herança, ele a perde para si e para seus filhos. Adão
perdeu a herança da graça para si e para nós.
O pecado real é aquele que é cometido por um ato livre da nossa
vontade quando alcançamos o uso da razão. Todos os pecados
atuais não são igualmente graves: alguns são mortais e outros são
veniais.
a) Um pecado é mortalquando com isso Deus é
desobedecido em assuntos sérios, com plena advertência e pleno
consentimento. É chamado de mortal porque causa a morte da alma,
tirando a vida da graça. Para que haja pecado mortal são
necessárias três condições: 1) Gravidade da matéria que deve ser
apreciada quer em si, nas suas circunstâncias ou nas suas
consequências, ou no final proposto pelo legislador; 2) Advertência
plena e conhecimento perfeito do espírito; 3) Consentimento de livre
arbítrio, que também deve ser pleno e perfeito. O pecado mortal é o
maior de todos os males: a) Com

678
a relação com Deus é uma rebelião aberta, um ultraje gravíssimo,
uma feia falta de gratidão; b) Em relação a nós produz os efeitos
mais desastrosos: tira-nos a vida de graça, torna-nos inimigos de
Deus e credores dos castigos eternos do inferno. Para ser
condenado basta morrer com um único pecado mortal na
consciência.
b) Um pecado é venial:1) quando Deus é desobedecido em
coisas menores; 2) quando você está gravemente ofendido, mas
sem aviso prévio ou sem consentimento total.
Embora o pecado venial seja um mal menor que o pecado mortal,
é um grande mal em si mesmo, um mal maior que todos os males
temporais. Pecado venial: a) ofende a Deus; b) torna-nos mornos e
preguiçosos no seu serviço; c) nos dispõe ao pecado mortal, pois a
doença leva à morte; d) expõe-nos a castigos temporários nesta vida
e na próxima. Os pecados veniais premeditados e habituais devem
ser particularmente temidos.
As fontes de todos os nossos pecadosSão certas inclinações
malignas chamadas de sete vícios ou pecados capitais: orgulho,
avareza, luxúria, raiva, gula, inveja, preguiça. Devemos combatê-los
sem cessar, praticando as virtudes opostas.
Para evitar o pecado, devemos lembrar que Deus nos vê, rezar
com todo fervor, rejeitar todo mau pensamento assim que ele ocorre,
frequentar os Sacramentos da Penitência e da Eucaristia e pensar
frequentemente nos Novos ou Últimos Dias.

2º O QUE PRECISA SER FEITO.


Você tem que praticar as virtudes. A virtude, em geral, é um bom
hábito da alma, que nos leva a fazer o bem. A virtude é o oposto do
vício. O vício é uma inclinação da alma que nos leva ao mal.
É feita uma distinção entre virtudes naturais ou adquiridas e
virtudes sobrenaturais ou infundidas, também chamadas de virtudes
cristãs.
A) As virtudes naturaisSão aqueles que se adquirem apenas
com a força: da natureza e da repetição dos mesmos atos. Estas
virtudes aperfeiçoam o homem na ordem natural. Os atos destas
virtudes humanas são naturalmente bons e têm sua recompensa na
terra; mas eles são estéreis para o céu. Eles não terminaram

679
úteis para a salvação, mas quando são praticadas com a ajuda da
graça e por motivos de fé: então, são sobrenaturais.
B) As virtudes cristãsSão disposições ou habilidades
sobrenaturais que Deus nos dá para nos aperfeiçoarmos e nos fazer
realizar atos dignos do céu. As virtudes cristãs nos são dadas no
Batismo com a graça de vos santificar. Eles crescem e se
desenvolvem com o exercício, a oração e os Sacramentos. Estão
enfraquecidos pela negligência em praticá-los; e eles são perdidos
pelos atos de vícios opostos. Eles se recuperam com a graça de
santificar você.
C) Existem dois tipos de virtudes cristãs: virtudes
teológicas e virtudes morais.
I. Eles são chamados de virtudes teológicasaquelas que se
referem imediatamente a Deus; moral, aquela que rege a nossa
conduta de acordo com os preceitos do Evangelho.
Existem três virtudes teológicas:Fé, esperança e caridade.
Eles são absolutamente necessários para a salvação. a) A fé é uma
virtude sobrenatural que nos faz acreditar firmemente em todas as
verdades que Deus revelou e que a Igreja nos ensina. A fé é um dom
de Deus, uma luz interior e sobrenatural, análoga, mas superior, à da
razão. Distinguem-se três tipos de luzes: a luz corporal, que nos faz
ver os corpos; a luz ou razão intelectual, que nos faz conhecer as
verdades da ordem natural; a luz da Fé, que nos mostra verdades
sobrenaturais.
A féSeu objeto são verdades reveladas. A razão da Fé é a
veracidade suprema de Deus que revelou essas verdades.
Como sabemos que essas verdades vêm de Deus, que são
reveladas por Deus? Sabemos disso pela Igreja, a regra infalível da
nossa fé. E sabemos que a Igreja é o órgão de Deus por razões de
credibilidade.
A esperançaÉ uma virtude sobrenatural que nos faz esperar de
Deus, com firme confiança, a vida eterna e as graças para merecê-
la. O objeto da Esperança é o céu e as graças necessárias para
alcançá-lo. As razões da Esperança são: 1) os méritos de Jesus
Cristo; 2), a infinita bondade de Deus; 3), sua onipotência; 4),
fidelidade às suas promessas. A firmeza da Esperança mede-se pela
confiança em Deus.
A caridadeÉ uma virtude sobrenatural que nos faz amar a Deus
acima de todas as coisas, por ser quem Ele é, e ao nosso próximo
amar a nós mesmos, pelo amor de Deus. O objeto da caridade é

680
Deus

681
e o vizinho. Deus amou por ser quem é e o próximo de Deus. A
caridade é como uma árvore com dois ramos que brotam da mesma
seiva divina. O motivo da Caridade é Deus, considerado em si
mesmo: infinitamente digno de todo amor. Amamos a Deus
soberanamente e acima de todas as coisas quando estamos
dispostos, através da sua santa graça, a perder e sofrer tudo em vez
de ofendê-lo com um pecado mortal.
II. Virtudes morais.Existe um grande número de virtudes morais;
Todas estão relacionadas às quatro virtudes cardeais: prudência,
justiça, fortaleza e temperança.
PrudênciaFaz-nos discernir o que devemos fazer ou evitar para ir
para o céu.
A JustiçaFaz-nos dar a cada um o que lhe é devido e nos move
a cumprir todos os nossos deveres.
A FortalezaFaz-nos superar, com coragem, todos os obstáculos
que se opõem à nossa salvação.
Temperançamodera nossos apetites sensuais de acordo com a
razão e a lei de Deus.
A moral cristã inclui também os Conselhos evangélicos: pobreza
voluntária, castidade perpétua e obediência perfeita. A prática destes
conselhos constitui o estado religioso, o mais sagrado e sublime de
todos os estados.

III. EeucULTO OU MEIOS ESTABELECIDOS POR


dIOS PARA NOS SANTIFICAR
O DogmaEnsina-nos as verdades em que devemos acreditar;
Moralidade os deveres que devem ser cumpridos para ir para o céu;
A adoração inclui os meios de honrar a Deus e de nos santificar. É a
terceira parte da doutrina cristã.
O fim atribuído ao homem é a felicidade de ver Deus na vida
futura. Mas como esta meta é sobrenatural, isto é, superior à
natureza humana, o homem não pode alcançá-la apenas com as
suas próprias forças; ele precisa da ajuda divina chamada Graça.
Os meios devem ser proporcionais ao fim. Se o objetivo do
homem é sobrenatural, é necessário também que os seus atos, que
são para ele o meio para alcançá-lo, sejam sobrenaturais, isto é,
informados por um princípio superior à natureza. Este princípio é a
Graça. Através dela, Deus eleva o homem a si mesmo e o torna

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capaz de participar da sua vida, da sua glória e da sua felicidade
infinita. A graça é o meio indispensável para a salvação: a graça é a
semente da glória.
Os meios ordinários estabelecidos por Jesus Cristo para conferir
graça são: os Sacramentos e a oração, que constituem o culto
católico.
Então, nos resta estudar:1º, Graça; 2º, os Sacramentos; 3º,
Oração.

I. A graça

1ª NATUREZA DA GRAÇA.
A graça é um dom sobrenatural, ou ajuda que Deus nos dá
gratuitamente, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, para nos
ajudar a alcançar a nossa salvação.
a) A graça é um dom gratuito que Deus nos concede por sua
bondade. Não é um dom natural, como a vida, a saúde, a
inteligência, etc., mas um dom sobrenatural, que nos eleva acima da
nossa natureza; Como o enxerto que dá à árvore uma nova natureza
e vida.
b) A graça nos é dada em consideração aos méritos de Jesus
Cristo: o pecado de Adão privou a natureza humana desta graça;
Jesus Cristo, morrendo por nós na cruz, mereceu que este bem
sobrenatural nos fosse retribuído pela bondade divina.
e) A graça nos é dada para nos ajudar a salvar-nos: sem a graça
não podemos merecer nada para a vida eterna. A graça é para a
alma o que as asas são para o pássaro, o vento para o navio.
Deus nos dá a sua graça, reza para nos ajudar a fazer o bem,
reza para que vivamos a sua própria vida. Daí dois tipos de graças: a
graça real e a graça habitual.

2ª GRAÇA ATUAL.
A graça real é assim chamada porque nos é dada para que
possamos fazer boas obras. É uma ajuda sobrenatural e interior que
Deus nos dá para que possamos praticar obras de salvação.
A graça atual é transitória, uma ajuda temporária, que Deus nos
dá em atenção aos méritos de Jesus Cristo, para fazer o bem e
evitar o mal. É uma luz que ilumina a inteligência, uma força

683
que excita a vontade; mas precisa da nossa cooperação. Se
correspondermos à graça, adquirimos mérito; Se resistirmos,
seremos culpados. A graça real tende a estabelecer vida
sobrenatural em nós, a desenvolvê-la fazendo-a funcionar; mas não
é vida: a vida da alma é a graça santificadora.
Necessidade de Graça atual.A graça real é absolutamente
necessária para que o homem realize obras úteis para a salvação.
As palavras de Jesus Cristo e a própria razão nos provam isso.
1º Jesus Cristo disse: “Sem Mim nada podeis fazer” que seja
válido para o céu (Jo 15, 5).
2º Os meios devem ser proporcionais ao fim; mas o céu é um fim
sobrenatural; Portanto, para obtê-lo são necessários meios
sobrenaturais. Esses meios são nossas boas obras. Portanto, é
necessário que nossas obras sejam sobrenaturalizadas pela Graça.
O pássaro sem asas não pode subir ao ar, e o homem sem graça
não pode subir ao céu.
Ninguém pode fazer uma boa obra para a vida eterna, sem o
impulso da Graça atual269.
Eficácia da Graça.A graça de Deus é onipotente. Sim, não
podemos fazer nada sozinhos, com ela podemos fazer tudo.
“Posso todas as coisas, diz São Paulo, naquele que me fortalece”
(Filipenses 4, 13).
Com a ajuda da Graça, os maiores pecadores podem se
converter, quebrar as cadeias dos seus maus hábitos, afastar-se das
ocasiões de pecado e retornar à Graça de Deus. Os justos,
fortalecidos pela Graça, triunfam sobre todas as tentações, todas as
perseguições, todos os obstáculos ao bem, e praticam

269A graça real é necessária até na ordem natural, como graça medicinal, porque, por causa do pecado original, a nossa
inteligência está sujeita à ignorância e a nossa vontade está enfraquecida. O homem, caído e violado pela culpa de origem, po de, sem a
ajuda da graça, conhecer algumas verdades da ordem natural, como a existência de Deus; mas apenas com a sua razão ele não pode
conhecer moralmente todas as verdades da ordem natural, cujo conhecimento é absolutamente necessário para alcançar o seu dest ino. O
homem caído pode, sem a ajuda da graça, praticar algumas ações naturalmente boas, por exemplo, amar os pais, dar esmolas aos
pobres; mas ele não pode observar moralmente todos os preceitos da lei natural, nem vencer todas as tentações.

684
aquelas grandes virtudes que admiramos nos Mártires e Santos.
Apesar do seu poder, a Graça deixa o homem no pleno exercício
da sua liberdade; Ele pode aceitá-la, se quiser, assim como pode
rejeitá-la ou torná-la estéril.
Distribuição da Graça."Deus,São Paulo diz (I Tim. 2, 44), “ele
quer a salvação de todos os homens”. É por isso que ele dá a todos
graças verdadeiramente suficientes para serem salvos. Para aqueles
que fazem tudo o que podem da sua parte, Deus não nega a Sua
Graça.
“Os maiores pecadores, mesmo aqueles que estão endurecidos
no mal, enquanto estão neste mundo recebem em intervalos graças
suficientes para se converterem a Deus.”
Deus, porém, se concede a todos as Graças necessárias para
chegar ao céu, não as dá na mesma medida. Na ordem sobrenatural
ele dá mais a alguns do que a outros, para que haja variedade em
suas obras. E não há injustiça nisso, porque Ele é o dono dos Seus
dons e não deve nada a ninguém.
A bondade de Deus adverte as almas e dá a todos,
gratuitamente, uma primeira Graça com a qual podem fazer obras de
vida eterna e obter Graças mais abundantes. A primeira Graça é,
normalmente, a Graça de orar. A Graça da oração é como a moeda
que permite a cada um comprar o que deseja. Isto nos diz o quão
necessária é a oração, mesmo sem o preceito de Jesus Cristo.
Ninguém será condenado por falta de Graça, mas por não ter
cooperado com a Graça.
Cooperação para a Graça.Cada um é livre para cooperar ou
resistir à Graça, assim como é livre para abrir ou fechar os olhos
para a luz. Deus nos trata com respeito, como seres racionais e
livres; Ele não gosta de ser servido à força, nem de nos salvar sem
mérito de nossa parte. Chama-se Graça Eficiente aquela com a qual
se coopera, porque produz o seu efeito; e Graça Suficiente, aquela
com a qual não se coopera, mas que é suficiente por si só para nos
levar a fazer o bem.
É absolutamente importante nunca resistir à Graça, porque esta
resistência fecha a fonte. “A terra, diz São Paulo, que muitas vezes
recebe chuva do céu e não produz nada, não está longe de ser
amaldiçoada” (Hb 6, 7-8). A graça é fruto do amor de Deus e do
Sangue de Jesus Cristo. Recusá-lo é desprezar o dom de Deus, que
acaba por abandonar quem não quer a sua ajuda.

685
3ª GRAÇA HABITUAL.
Graça habitual ou santificante: é um dom sobrenatural que,
permanecendo na nossa alma, nos torna justos, santos, agradáveis
a Deus e dignos da vida eterna.
A Graça Santificante é chamada habitual, porque permanece na
alma como um hábito (isto é, permanentemente, enquanto não se
perde pelo pecado mortal); justificar, porque apaga todos os pecados
que nos tornaram inimigos de Deus; santificante, porque nos torna:
Santos e agradáveis a Deus.
A Graça Santificante é uma Graça divina que transforma a alma.
Assim como o ferro na forja participa das propriedades do fogo;
Assim como o cristal atravessado pelos raios solares participa das
propriedades da luz, assim a alma, adornada com a Graça, participa
da natureza divina: permanece divinizada; Viva da vida de Deus.
A Graça Santificadora difere da Graça real particularmente em
dois caracteres: 1) é uma qualidade que permanece na alma e não
uma ajuda transitória; 2), o seu propósito não é ajudar-nos a produzir
atos de virtude, mas sim dar-nos vida sobrenatural, como a alma dá
vida natural ao corpo.
Efeitos da Graça Santificadora.a) Apagar o pecado das nossas
almas, pois a luz dissipa as trevas; b) Torna-nos justos, santos e
amigos de Deus; c) Torna-nos participantes da natureza divina, tão
semelhantes a Deus quanto a criatura pode ser com respeito ao
Criador aqui na terra; d) Torna-nos filhos de Deus por adoção,
irmãos de Jesus Cristo, templos do Espírito Santo; e) nos torna
herdeiros do céu; f) Torna-nos capazes de produzir obras meritórias
para a vida eterna.
Os teólogos ensinam que todos os bens deste mundo não são
nada comparados ao menor grau de Graça santificadora.
"DeusSão Tomás diz: “prefere uma alma em estado de graça a
todos os mundos, como um pai prefere seu filho a todas as
riquezas”.
O homem, pela Graça, faz obras divinas. Uma ação deste tipo,
por mais insignificante que seja, vale mais do que as obras mais
brilhantes de um homem que não possui a Graça e que age a partir
de um princípio natural.

686
Como a Graça santificadora é adquirida?Adquire-se pela
primeira vez pelo Batismo, ou pela Caridade perfeita com o desejo
do Batismo.
Está melhoradopela oração, pela recepção dos Sacramentos e
por todas as boas obras.
Está preservadopela fiel observância da lei de Deus.
Se perdepelo pecado mortal, que causa a morte da alma.
Esta morte da alma é a maior das desgraças.
Ele se recuperaGraça santificadora através de uma boa
Confissão ou de um ato de contrição perfeita com desejo de
confessar. Todo homem que pratica um ato de caridade perfeita com
o desejo, pelo menos implícito, de receber os Sacramentos, é
justificado no mesmo instante, como o foi o bom ladrão na cruz.
Incerteza da Graça.Sem a revelação particular de Deus,
ninguém pode saber com certeza se possui a Graça santificadora.
“Ninguém sabe, diz o Espírito Santo (Ectes. 9, 1), se é digno de amor
ou de ódio.” Deus quer que esta incerteza nos mantenha humildes e
nos faça trabalhar arduamente pela nossa salvação.
Temos, porém, a segurança moral de possuir o diploma se a
nossa consciência não nos repreender por nada, se amarmos a
Deus, a Santa Igreja, o próximo e se observarmos fielmente todos os
mandamentos.

4ºEMÉRITO.
Entende-se por trabalho meritório aquele que é digno de
recompensa. A Igreja nos ensina que o homem pode, com a graça
de Deus, adquirir méritos para o céu. “Alegrai-vos”, diz Jesus Cristo
aos seus apóstolos, “porque o vosso galardão é abundante nos
céus” (Mt 5,12).
Toda recompensa implica mérito. Existem dois tipos de mérito: o
mérito da justiça e o mérito da conveniência. A primeira, baseada
numa promessa de Deus, dá direito estrito à recompensa: assim, por
exemplo, o trabalhador, o servo, tem direito ao salário prometido. A
conveniência não confere nenhum direito, mas dispõe
favoravelmente a bondade de Deus para nos conceder as suas
graças, como a súplica do pobre... dispõe o rico para lhe dar esmola.
Condições de Mérito.Para todo mérito, é necessária a Graça
atual; Contudo, esta condição, que depende de Deus, nunca falta.
Aqui tratamos apenas das condições exigidas por

687
parte do homem. Portanto, todo mérito requer três condições. É
necessário:
1) Que aquele que merece esteja vivo. Ninguém pode merecer
depois da morte.
2) Que o ato meritório seja voluntário e gratuito.
3) Que o trabalho é bom em si mesmo e feito por uma razão
sobrenatural.
Estas três condições são suficientes para o mérito da
conveniência. Para o mérito da justiça você deve estar na Graça.
“Assim como o ramo, diz Jesus Cristo, não pode dar fruto se não
permanecer unido à videira, assim também vós, se não
permanecerdes em Mim” (Jo 15, 4). A grandeza do mérito depende:
a) Da santidade de quem age. Assim, o mérito de Jesus Cristo é
infinito, e o mérito de um santo é maior que o de um cristão morno e
negligente.
b) Da excelência e dificuldade do trabalho. Uma grande esmola é
mais meritória do que uma pequena esmola dada pela mesma
pessoa; mas o dinheiro da viúva vale mais do que o ouro dado pelo
rico.
c) Da pureza de intenção, do fervor e sobretudo da caridade que
inspiram a ação. As disposições do coração podem tornar o ato mais
indiferente um ato muito meritório aos olhos de Deus.
N. B.1) Uma ação é tanto mais meritória quanto mais perfeito for
o motivo que a inspira. Agir pelo amor de Deus é o mais perfeito dos
motivos; e quanto mais fervoroso for esse amor, mais meritória será
a ação.
2) O motivo de uma ação pode ser atual ou virtude. Atual,
quando no momento de realizar a ação você pensa nela; virtual
quando já foi pensado antes e a intenção não foi retratada. Para que
a nossa intenção de influenciar os nossos trabalhos tem que ser,
pelo menos virtual. Um trabalho feito por hábito e de forma mecânica
não tem valor. Por isso é tão recomendado oferecer obras a Deus
pela manhã e várias vezes ao dia que se o fizer obterá:
a) A glória e felicidade do céu; b) Um aumento de Graça
santifica-te; c) Um aumento na glória e na felicidade.
Estas recompensas estão interligadas: a cada grau de Graça
nesta vida corresponde um grau de glória na próxima.

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Objeto de mérito.1) Os justos, em virtude das promessas de
Deus, podem merecer em estrita justiça; 2) O pecador não pode
merecer nada pela justiça, mas pode, pela misericórdia, merecer
com as suas orações, as suas boas obras e as suas penitências a
Graça de deixar o pecado e voltar para Deus; 3) Todos os homens
podem merecer, especialmente através da oração e por mérito de
conveniência, as próprias Graças necessárias para evitar o pecado e
avançar na virtude.
O que não pode ser merecido.1) Ninguém pode merecer
sozinho a primeira Graça atual. Antes de receber esta Graça, as
obras nada mais têm do que um mérito natural, que não pode dar o
menor direito a uma recompensa sobrenatural; 2) Ninguém pode
merecer com razão a preciosa Graça da perseverança final. Os
justos podem alcançá-lo com mérito de comodidade através da
oração e da fidelidade às Graças recebidas.
Pode ser merecido por outro? Só Jesus Cristo foi capaz de
merecer, em justiça, pelos outros. Os justos podem, com mérito de
conveniência, merecer, para os pecadores e incrédulos, abundantes
Graças de conversão. Esta verdade repousa no dogma da
Comunhão dos Santos. Assim, São Paulo foi convertido pelas
orações de Santo Estêvão, e Santo Agostinho pelas de Santa
Mônica.

II. Os Sacramentos, meio de obter Graça


Os meios comuns para obter a Graça são os Sacramentos e a
Oração.
Os Sacramentos são sinais sensíveis, instituídos por Nosso
Senhor Jesus Cristo para nos dar Graça através deles.
Para um Sacramento são necessárias três coisas:
1) Um sinal ou sinal sensível.Sinal é algo que vemos ou
ouvimos e que nos faz conhecer outra coisa que não vemos: assim,
a fumaça que se vê é o sinal do fogo que não se vê. Nos
Sacramentos, o sinal sensível é composto por duas partes
essenciais: uma chamada matéria, e é o elemento material sensível
que se utiliza: água, óleo, pão; etc.; outra chamada forma, que
consiste nas palavras que o ministro pronuncia, ao aplicar a matéria.
2) A instituição divina.Jesus Cristo foi o único que poderia,
como Deus, dar a uma coisa material a virtude de produzir Graça.

689
3) Um sinal eficaz de Graça.Os Sacramentos não são sinais
sensíveis de Graça invisível, mas sinais eficazes que realmente
produzem Graça, isto é, produzem o que significam, em virtude da
onipotência de Deus usando-os como seus instrumentos.
Jesus Cristo instituiu sete Sacramentos. Batismo, Confirmação,
Eucaristia, Penitência ou Confissão, Extrema Unção ou Unção dos
Enfermos, Ordens Sagradas e Casamento.
Por que sete Sacramentos? Para a vida espiritual, como para a
vida material, são necessárias sete coisas ao homem: 1) nascer: o
Batismo dá à luz; 2), crescer e se fortalecer: A confirmação te faz
crescer e te fortalece; 3), alimentar: a Eucaristia serve de alimento;
4), se adoecer, remédios: A Penitência ou a Confissão curam as
feridas da alma; 5), depois da doença, repara-lhe as forças: a
Extrema Unção ou Unção dos Enfermos fortalece-o no transe da
morte; 6), para governar a sociedade, as autoridades cristãs: a
Ordem Sagrada as cria; 7), finalmente esta sociedade deve ser
perpetuada até a consumação dos séculos: o casamento cristão a
perpetua.

DIVISÃO DOS SACRAMENTOS:


1º Os Sacramentos dividem-se em Sacramentos dos mortos
(mortos espirituais) e Sacramentos dos vivos (ou seja, dos que estão
na graça).
Os Sacramentos dos mortos são:Batismo e Penitência,
instituídos para dar ou restaurar a Graça aos que estão mortos para
a vida espiritual.
Os outros cinco são chamados Sacramentos da Vida, porque,
para recebê-los com frutos, é preciso possuir a vida da Graça. Eles
servem para aumentar essa vida divina em nós.
2º Há sacramentos necessários com necessidade de meio e
outros com necessidade de preceito.
Os Sacramentos absolutamente necessários, que devem ser
recebidos de fato ou por desejo, são: o Batismo para todos e a
Penitência para aqueles que cometeram pecado mortal depois do
Batismo.
3º Os Sacramentos necessários com necessidade de preceito
São elas: a Confirmação, a Eucaristia e a Unção dos Enfermos. Ele

690
As Ordens Sagradas e o Casamento são necessários para a
sociedade cristã, mas não para os indivíduos.
O primeiro Sacramento que deve ser recebido é o Batismo: sem
ele os outros não podem ser recebidos validamente.
O maior é a Eucaristia, porque contém Jesus Cristo, autor da
Graça.

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DOS


SACRAMENTOS.
Os elementos de um Sacramento são: 1) a matéria e a forma, que
constituem o sinal sensível; 2), o ministro que o confere; 3), o sujeito
que o recebe. Sem estes quatro elementos não há Sacramento.
1) A matériaÉ o elemento sensível ou ato externo que, pela
instituição de Jesus Cristo, pode transformá-lo em Sacramento:
como a água, o óleo, o pão, a acusação dos pecados, a imposição
das mãos, o contrato de casamento.
2) A formade um Sacramento consiste nas palavras que o
ministro aplica à matéria sacramental para convertê-la em sinal
eficaz de Graça. A união da matéria e da forma constitui o
Sacramento, assim como a união do corpo e da alma constitui o
homem.
3) O ministroÉ a pessoa que recebeu de Jesus Cristo o poder
de conferir o Sacramento: é necessário e suficiente que tenha a
intenção de fazer o que a Igreja faz. Não é necessário para a
validade do Sacramento que quem o administra esteja na Graça, ou
mesmo tenha fé (mas deve ter a intenção de fazer o que a Igreja
faz); já que os Sacramentos não dependem de forma alguma das
disposições do ministro. Isso nada mais é do que um simples
instrumento que Jesus Cristo usa. Na realidade, é o próprio Jesus
Cristo quem batiza, quem confirma, quem absolve, etc.
4) Sujeitodo Sacramento é todo aquele que é capaz de recebê-
lo.

Disposições Necessárias.
a) Para receber validamente os Sacramentos, é necessária nos
adultos a vontade, pelo menos implícita, de recebê-los, porque Deus
não quer santificar os adultos sem o seu consentimento. b) Para
recebê-los com dignidade, as disposições variam segundo a
natureza dos Sacramentos.
691
Para os Sacramentos dos mortos, as disposições consistem
em fé, esperança e arrependimento dos pecados, com princípio de
amor a Deus.
Para os Sacramentos dos vivos, a disposição principal, é o
estado de Graça.

Efeitos dos Sacramentos.


Todos os Sacramentos bem recebidos:
1) Eles dão ou aumentamGraça Santificadora.
2) Eles conferem uma Graça sacramental especial em cada
Sacramento.
3) Os Três Sacramentos imprimem um caráter indelével na alma.
a) Graça santificadora.Alguns nos dão a Graça santificante: tais
são o Batismo e a Penitência; outros aumentam-no mais ou menos,
dependendo das disposições com que são recebidos.
b) Graça Sacramento.Cada Sacramento confere uma Graça
especial chamada sacramental. É o direito de receber, em tempo
oportuno, as Graças atuais correspondentes ao fim do Sacramento.
c) Personagem.Os Três Sacramentos, o Batismo, a Confirmação
e a Ordem sagrada imprimem na alma um caráter ou marca
espiritual que nunca poderá ser apagada. Assim, um cristão não
pode deixar de ser cristão; Um confirmado não pode deixar de ser
confirmado; um sacerdote não pode deixar de ser sacerdote. Por
esta razão, estes Sacramentos só podem ser recebidos uma vez.
Esse caráter não se perde nem com o pecado mortal e permanecerá
até no céu ou no inferno, pois é uma marca espiritual que vai para a
alma.

Como os Sacramentos produzem efeitos?


a) Os Sacramentos produzem Graça pela sua própria virtude, ex
opere operato, como o fogo produz calor; b) independentemente das
disposições do ministro, pois Jesus Cristo é sempre o ministro
principal; c) mas independentemente das disposições do sujeito,
como o selo que só pode ser impresso em cera macia.
Disposiçõesdo sujeito determinam a medida da Graça conferida
pelos Sacramentos. Recebidos com disposições perfeitas produzem
Graça abundante; com provisões

692
imperfeita, a graça é diminuída; Com más disposições, a recepção
dos Sacramentos é uma profanação, um sacrilégio.

I. O BATISMO
O Batismo é um Sacramento que apaga o pecado original e os
pecados atuais, se houver (por exemplo, se você tiver o uso da
razão), tornando-nos cristãos, filhos de Deus e da Igreja, herdeiros
do céu.

Necessidade do Batismo
O batismo é absolutamente necessário para a salvação. As
palavras de Jesus Cristo são conclusivas: “Em verdade vos digo que,
se alguém não renascer para a vida espiritual pela água e pelo
Espírito Santo, não pode entrar no reino dos céus” (Jo 3, 5).
O Batismo pode ser suprido ou substituído pelo martírio que é o
Batismo de Sangue; ou por um amor perfeito a Deus, com o desejo,
pelo menos implícito, de ser batizado: é o Batismo de desejo.
1) A matériado Batismo é a água natural, símbolo da purificação
da alma.
2) A formaConsiste nestas palavras: “Eu te batizo em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”.
3) O ministro: os Bispos, os Sacerdotes. Mas em caso de
necessidade todos podem e devem batizar. Porque o Batismo é
essencial para a salvação. Deus queria que sua recepção fosse fácil.
El que bautiza en caso de necesidad debe derramar agua natural
sobre la cabeza de la criatura, diciendo, al mismo tiempo, con
intención de hacer lo que hace la Iglesia: “Yo te bautizo en el nombre
del Padre, y del Hijo, y del Espirito Santo". A água deve ser
derramada na cabeça; se possível, e se não, em outro membro
principal.
4) AssuntoO batismo é toda criatura humana sem distinção:
Jesus Cristo não excluiu ninguém. “Ide, diz Ele aos Seus apóstolos,
e ensinai todas as nações, e batiza-as em nome do Pai, e do Filho, e
do Espírito Santo” (Mt. 28, l9).
5) Os efeitosdo Batismo. O efeito geral do Batismo é a
regeneração espiritual: o homem renasce para uma vida nova; a vida
dos filhos de Deus. Em particular, o Batismo produz três

693
efeitos: a)A remissão do pecado original, dos pecados atuais e
das penalidades devidas ao pecado.
b) A infusão da Graça santificadora acompanhada das três
virtudes teologais: fé, esperança e caridade; das demais virtudes
infundidas (prudência, justiça, fortaleza e temperança) e dos dons do
Espírito Santo.
c) A impressão do caráter que faz do batizado filho de Deus e da
Igreja, irmão de Jesus Cristo e herdeiro do céu.

Obrigações dos batizados.


Quem recebe o Batismo compromete-se a renunciar ao diabo, à
sua pompa, às suas obras, a acreditar em Jesus Cristo e a praticar a
lei evangélica.
Objeção.Os pais, perguntam os livres-pensadores, eles têm o
direito de tornar seus filhos cristãos sem o seu consentimento?
R. -Por que não deveriam ter o direito de lhes fazer bem?
Será que eles esperam pelo seu consentimento para curá-los se
estiverem doentes ou para realizar uma intervenção cirúrgica para
salvá-los?
Esperam que tenham o uso da razão para serem inscritos como
cidadãos no registo civil do país? Eles pedem seu consentimento
para ir à escola? E por que seria necessário o seu consentimento
para torná-los membros da sociedade de Jesus Cristo?

II. A CONFIRMAÇÃO
A Confirmação é um Sacramento através do qual o Espírito Santo
nos é dado com toda a abundância dos seus dons e nos tornamos
cristãos perfeitos.
O batismo dá vida espiritual: a confirmação a fortalece. O Batismo
dá à luz os filhos de Deus; A Confirmação os transforma em
soldados de Cristo.
O batizado difere do confirmado, assim como na ordem natural a
criança difere do homem maduro. A vida aos trinta não é diferente da
dos cinco, mas é muito mais intensa. É por isso que o Espírito Santo
dá ao confirmado uma força inteiramente viril, seja para crer
espiritualmente, seja para professar sua fé com atos externos.
1) A matériadeste Sacramento é a imposição das mãos do Bispo
e a unção com o Santo Crisma na testa do

694
confirmado. O Santo Crisma é uma mistura de óleo e bálsamo
consagrado pelo Bispo na Quinta-feira Santa. O óleo significa a
doçura e a força que a Graça comunica à alma; e o bálsamo, o
cheiro bom das virtudes que os confirmados devem praticar.
2) A formadeste Sacramento consiste nas palavras que o Bispo
pronuncia ao colocar as mãos na testa e fazer o sinal da cruz com o
polegar e dizer: “N:... Receba através deste sinal o dom do Espírito
Santo”.
3) O ministro ordinárioda Confirmação é o Bispo. Um sacerdote
delegado pelo Bispo pode ser ministro extraordinário, mas deve
sempre usar o Crisma abençoado pelo Bispo. Em caso de perigo de
morte de uma pessoa, o sacerdote pode confirmar sem ter de pedir
autorização ao Bispo.
É oportuno que o bispo, que possui a plenitude do sacerdócio,
administre o Sacramento que dá aos fiéis a plenitude da vida cristã.
4) Assunto de confirmaçãoSão todos cristãos batizados. Este
Sacramento não é absolutamente necessário para a salvação, mas
quem não o recebe por sua causa comete um pecado e priva-se de
muitas Graças. Para receber dignamente a Confirmação é
necessário: a) estar em estado de Graça; b) conhecer
suficientemente as verdades eternas e o que se relaciona com o
Sacramento.
5) Efeitos da Confirmação: a) Este Sacramento dá-nos o Espírito
Santo com a plenitude dos seus dons; b) aumenta a Graça
santificadora; c) imprime na alma um carácter indelével, o carácter
do soldado de Jesus Cristo.
Os dons do Espírito Santo são Graças particulares que iluminam,
fortalecem e aperfeiçoam a alma, ajudando-nos a praticar as virtudes
e facilitando a nossa salvação.
Esses Dons são sete: Sabedoria (nos faz “provar” as coisas
divinas e vê-las como Deus as vê), Compreensão (nos faz penetrar
no mistério das coisas sagradas, compreender coisas que não
poderíamos com nossas próprias forças), Ciência (nos ajuda
relacionar todas as coisas naturais com Deus e ver a mão da
Providência em tudo), Conselho (ajuda-nos a ter razão no
julgamento), Força (dá-nos a capacidade de sofrer por Deus e pelo
próximo, superando as nossas capacidades naturais), Piedade (nos
faz ver Deus como Pai e a Igreja como Mãe, despertando em nós um
profundo amor por tudo o que representa Deus e suas coisas) e
Temor de Deus (nos dá

695
uma reverência amorosa para com Deus, tão grande que nos move
a não ofendê-lo por nada no mundo).

III. A EUCARISTIA
A Eucaristia é o maior e o mais santo de todos os Sacramentos:
na Igreja de Cristo representa o que o sol faz no mundo, o que o
coração faz no homem.
As principais figuras da Eucaristia no Antigo Testamento são as
seguintes:
1) A árvore da Vida, plantado no Paraíso terrestre, cujos frutos
deram a imortalidade.
2) O pão e o vinho, oferecido em sacrifício por Melquisedeque.
3) O Cordeiro Pascal; cujo sangue preservou os israelitas da
morte no Egito.
4) manaque Deus fez chover do céu para alimentar o seu povo
no deserto.
5) O pão da proposição, que os sacerdotes colocavam no
Tabernáculo e que não podiam ser comidos exceto por homens
santificados.
6) O pão costurado sob as cinzas, o que deu forças ao profeta
Elias para chegar ao Monte Horebe.
7) O milagre das bodas de Caná.
8) O pão multiplicadopelo Salvador para alimentar a multidão
faminta no deserto.
O que contém a Eucaristia? A Eucaristia contém, verdadeira, real
e substancialmente, o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de
Nosso Senhor Jesus Cristo, sob as espécies ou aparências do pão e
do vinho.
Jesus Cristo instituiu a Eucaristia na Quinta-feira Santa, véspera
de sua morte. Com a sua omnipotência fez do pão o seu Corpo e do
vinho o seu Sangue, como noutra ocasião transformou a água em
vinho, nas bodas de Caná.
Por que Jesus Cristo instituiu a Eucaristia? Jesus Cristo instituiu a
Eucaristia: 1) Para perpetuar a sua presença entre os homens; 2)
Para alimentar nossas almas; 3º) Renovar o sacrifício da cruz e
aplicar-nos os seus méritos.

696
Portanto, a Eucaristia é, ao mesmo tempo, Sacramento e
Sacrifício; Sacramento quando conservado no Tabernáculo ou dado
em comunhão aos fiéis; Sacrifício quando oferecido na Santa Santa
Missa.
Pode-se considerar na Eucaristia: a) a Presença Real de Jesus
Cristo; b) o Sacramento; c) o Sacrifício.

a) Presença Real de Jesus Cristo na Eucaristia.


Na Eucaristia, sob as espécies ou aparências do pão e do vinho,
está o corpo, o Sangue, a alma e a divindade de Jesus Cristo, e não
uma imagem ou símbolo que O represente. Tal é o dogma da
Presença Real.
Este dogma é apoiado por várias provas inabaláveis:
1) As palavras da promessa e instituição da Eucaristia proferidas
por Jesus Cristo.
2) O ensinamento tradicional da Igreja, intérprete infalível da
Palavra de Deus.
3) A autoridade dos milagres funcionou ao longo dos séculos.
4) A mesma razão natural.
1) Palavras de Jesus Cristo.
a) A promessa. No dia seguinte à primeira multiplicação dos
pães, Jesus Cristo disse à multidão que o seguia: “Eu sou o pão vivo
que desceu do céu: todo aquele que comer deste pão viverá para
sempre... E o pão que eu darei vós, és a minha carne…” “Os judeus,
atônitos, perguntaram-se: Como pode Ele dar-nos a sua carne como
alimento?” Em vez de descartar a ideia do consumo real da sua
carne com uma explicação fácil, que teria imediatamente suprimido o
escândalo, Jesus Cristo insiste: “Em verdade, em verdade vos digo:
se não comerdes a carne do Filho de Homem e não Se beberes o
seu Sangue, não terás vida em ti... A Minha Carne é verdadeiro
alimento e o meu Sangue é verdadeira bebida” (Jo 6, 51-54 e 56).
E Jesus não deixa outra escolha aos seus discípulos senão
acreditar nele ou separar-se Dele. Ele prometeu, portanto, dar o seu
Corpo como alimento e o seu Sangue como bebida.
b) A instituição.Na véspera da sua morte, depois de ter comido
o cordeiro pascal, Jesus Cristo cumpre a sua promessa. Ele pegou o
pão, abençoou-o, partiu-o e deu-o aos seus Apóstolos, disse-lhes:
“Isto é

697
meu Corpo que será entregue por você". “Tomou também o cálice
cheio de vinho, abençoou-o e disse-lhes: “Bebei dele, todos vós,
porque este é o meu Sangue, o Sangue de uma Nova Aliança, que
será derramado por vós e por muitos , na remissão dos pecados” (
Mt. 26, 26_28).
Os meios estabelecidos por
Estas palavras: Este é o meu Corpo, este é o meu Sangue,
significavam, no seu sentido natural, que, pela Sua Onipotência, o
que era pão se tornou o Corpo de Jesus Cristo, e o que era vinho, o
seu Sangue.
Pois bem, estas palavras, que devem ser interpretadas
literalmente:
1) Expressam um milagre fácil, pela onipotência de Deus.
2) Eles concordam com as palavras da promessa.
3) Foram pronunciadas por Jesus Cristo em hora solene, na
véspera de sua morte.
4) O seu propósito era criar um dogma e estabelecer um
Sacramento. Se Jesus Cristo naquela hora tivesse usado um erro ou
uma cifra, teria enganado a Igreja e os fiéis de todos os séculos...
E, como se não bastasse, permitir a adoração do pão e do vinho
teria consagrado a idolatria que Ele veio destruir.
Portanto, é impossível não interpretar as palavras de Jesus Cristo
no seu sentido literal. Você tem que acreditar na Presença Real.
2) O ensino tradicional da Igreja.Os apóstolos entenderam as
palavras de Jesus Cristo literalmente. Testemunha, São Paulo, que
disse aos fiéis de Corinto: “Quem come este pão ou quem bebe o
cálice do Senhor indignamente come e bebe a sua própria
condenação, não discernindo o Corpo do Senhor” (I Cor. 11, 27- 29).
São Paulo não poderia ter falado desta forma de uma imagem
figurativa de Jesus Cristo.
Além disso, de São Paulo até nós, toda a Tradição Católica, os
ensinamentos dos Santos Padres e dos Doutores, os monumentos
dos séculos cristãos: catacumbas, igrejas, altares, esculturas,
pinturas, etc., proclamam a mesma crença. Devemos ir a Berengário
de Tours e, sobretudo, ao protestantismo do século XVI para
encontrar as primeiras negações do dogma católico. É o caso de
repetir com Tertuliano que aquilo em que sempre se acreditou

698
em todos os lugares e por todos, deve ser preservado: “Quod
sempre, quod ubique, quod ad omnibus... servandum est” (Ver
Cauly, Christian Apologetics).
3) A autoridade do milagre.Frequentemente, ao longo dos
séculos, Deus tem falado a favor do dogma eucarístico: aparições
visíveis de Jesus Cristo na Hóstia; profanadores punidos;
hospedeiros que gotejam Sangue; Eucaristia preservada nas
chamas; etc. (Ver Bispo De Ségur, A Presença Real).
Os frutos da vida cristã e da santidade produzidos na Igreja pela
Eucaristia são um milagre perpétuo na ordem moral.
4) O Dogma da Presença Real impõe-se à razão.Por um lado,
este dogma é tão extraordinário e tão incompreensível que não
poderia ter sido inventado ou imposto ao mundo por um homem. Por
outro lado, sempre foi admitido; há mais de dezenove séculos, por
toda a Igreja e pelos maiores Doutores e pelos mais vastos e
profundos gênios. O bom senso conclui que a presença real de
Jesus Cristo na Eucaristia é um fato divino que se impõe à nossa
crença: incredibile, ergo divinum.
EEXPLICAÇÕES DA PRESENÇA REAL.
1) Em virtude das palavras de consagração pronunciadas pelo
sacerdote, a substância do pão torna-se milagrosamente o Corpo de
Jesus Cristo, e a substância do vinho, o seu Sangue, e nada
permanece no altar exceto as espécies ou aparências do pão. e de
vinho. Este primeiro milagre chama-se transubstanciação, ou seja,
conversão de uma substância em outra.
Não há nada impossível neste primeiro milagre: uma
transformação análoga ocorre diariamente na vegetação das
plantas. A água do céu, o suco da terra, etc., tornam-se a substância
da planta. Esta conversão de substâncias também opera em nós. Os
vários alimentos que comemos transformam-se em carne, ossos,
nervos, etc. Como é feita essa transformação? Os sábios verificam
isso, mas não conseguem explicar. É um mistério da natureza.
E, no entanto, isso deve ser admitido. Por que, então, deveria ser
mais difícil acreditar no mistério da Transubstanciação na Eucaristia?
Ousamos afirmar que o poder de Deus é incapaz de fazer com o pão
e o vinho o que o estômago faz com os alimentos e o sol com as
plantas?...

699
2) Sob as espécies do pão e do vinho está o Corpo substancial e
real de Jesus Cristo, o seu Sangue, a sua Alma e a sua Divindade.
Jesus Cristo, porque está presente na sua totalidade, verdadeiro
Deus e verdadeiro homem, em cada hóstia consagrada. Este é o
segundo milagre da Eucaristia. Que Jesus Cristo está numa pequena
hoste pode ser explicado sem suprimir o mistério. E, na verdade,
Jesus Cristo está presente na Eucaristia por causa da sua
substância. Assim, a substância de um Corpo é diferente da
extensão desse Corpo, isto é, das suas dimensões: comprimento,
latitude, espessura, e também diferente das suas qualidades
sensíveis, chamadas cor, sabor, cheiro, etc. Portanto, a substância
da água é encontrada tanto na gota quanto no oceano; A substância
do trigo é encontrada tanto no grão quanto no monte de espigas; A
substância do pão é encontrada tanto na migalha quanto no pão
inteiro. “Então, conclui São Tomás, visto que o Corpo de Cristo está
na Eucaristia do mesmo modo que a substância está sob as
dimensões, per modum substantiae (à maneira da substância), é
evidente que Cristo está contido inteiramente sob todas as
dimensões. as dimensões das partes das espécies do pão e do
vinho” (III, q. 76, art. 3)270.
3) Embora, em virtude das palavras sacramentais, sob as
espécies do pão não haja nada senão o Corpo, e sob as espécies do
vinho senão o Sangue do Salvador, ainda assim Jesus Cristo é
inteiro sob cada espécie e sob cada uma de suas partes. estão
divididos, como depois da sua ressurreição, o Corpo e o Sangue, a
Alma e a Divindade do Salvador estão inseparavelmente unidos, por
isso Jesus Cristo, vivo e imortal, se encontra inteiramente onde está
o seu Corpo e inteiramente onde está o seu Sangue.
Quando o sacerdote quebra a hóstia, Jesus Cristo não se divide
nem se divide, mas permanece inteiro em cada parte da mesma
hóstia. Da mesma forma, a nossa alma está inteiramente no nosso
Corpo e em cada um dos seus membros; e de um

270A ciência mostra-nos todos os dias, na natureza, fenómenos análogos ao que a fé católica admite na Eucaristia. O físico
Roberto Hook contou em uma gota d'água, o volume de um grão de milho, 45 mil animais com seus organismos completos. A fotogra fia
concentra todos os pontos de uma imensa paisagem numa superfície extraordinariamente pequena. Recordando as maravilhas da
natureza, o Abade Moigno pôde dizer: “Todos os átomos do Corpo e Sangue de Jesus Cristo estão onde está a substância do pão e do
vinho e, embora reunidos num espaço quase invisível, estão todos ali sem confusão. . , perfeitamente diferentes um do outro”

700
Da mesma forma, um objeto é refletido na sua totalidade num
espelho e, se quebrar, em cada um dos fragmentos.
4) Jesus Cristo está presente, ao mesmo tempo, no céu e em
todos os lugares onde se encontram as Hóstias Consagradas. “Não
é que o Corpo de Jesus Cristo se multiplique, mas sim a Sua
Presença. Não existem muitos Jesus Cristos; mas um e único. Jesus
Cristo está presente em várias hostes, em vários lugares, como o
sol, o que faz com que todos os habitantes do globo desfrutem da
sua presença.
“A presença do sol em determinados locais nada mais é do que
uma presença virtual; já que permanece no topo do firmamento; mas
a presença de Jesus Cristo é uma presença Real, pois Ele desce
aos altares para ali permanecer no Sacramento, tão
verdadeiramente como está à direita de Deus Pai nos mais altos
céus.
Esta presença simultânea do Corpo de Jesus Cristo em vários
lugares ao mesmo tempo é o terceiro milagre que os incrédulos
proclamam impossível. Algo análogo nos é oferecido em nossa alma,
que, sendo simples e indivisível, é inteiramente inteira onde se
encontra e, portanto, se encontra em todas as partes do Corpo,
porque comunica vida a todas elas.
Para nos dar uma ideia desta presença simultânea, Santo
Agostinho recorre à comparação da palavra humana. “Tenho em
meu espírito, diz o Santo, um pensamento, encaro-o na palavra e
transmito-o a cada um de vocês na sua totalidade. Desta forma, o
meu pensamento, o meu verbo, reside tanto na minha inteligência
como na de todos os meus ouvintes. Se eu pudesse fazer-me ouvir
por todos os homens que vivem na terra, os meus pensamentos,
sem abandonar o meu espírito, estariam ao mesmo tempo no
espírito de todos os homens. Mas se tal é o poder do pensamento,
da palavra do homem, deveríamos nos maravilhar que o Verbo de
Deus encarnado em um Corpo possa ser encontrado no céu e em
todas as Hóstias Consagradas. É sem dúvida um milagre, um
mistério, mas este mistério não é mais impossível do que o da
palavra humana”.
5) Jesus Cristo está presente na Eucaristia de forma
permanente, e não apenas no momento da consagração ou da
comunhão, mas permanece presente na Santa Hóstia até que as
espécies sagradas sejam alteradas.
A lâmpada que arde noite e dia diante do Tabernáculo alerta os
homens sobre a presença de Jesus Cristo.
701
Consequência.“A consequência da Presença Real de Jesus
Cristo na Eucaristia é que lhe devemos o culto da latria ou adoração:
Daí a exposição do Santíssimo Sacramento, a bênção e as
procissões que com Ele acontecem; daí o respeito e a magnificência
com que o Tabernáculo e os vasos sagrados são circundados na
Igreja; daí também as visitas ao Santíssimo Sacramento para prestar
homenagem a Jesus Cristo e pedir Sua Graça” (Cauly).
Conclusão:Todas estas verdades são dogmas católicos
definidos pelo Concílio de Trento e não podem ser rejeitadas sem
incorrer em heresia. O resumo de tudo isso se encontra na bela
sequência da Lauda Sion, fruto da genialidade de São Tomás de
Aquino. A quem pergunta o como desses mistérios que Deus impõe
à nossa fé, basta responder: Deus é todo-poderoso; Ele pode fazer
isso, Ele quer, Ele disse: portanto, você tem que acreditar Nele.

b) A Eucaristia como Sacramento


A Eucaristia é o Sacramento do Corpo e Sangue de Jesus Cristo,
sob as espécies do pão e do vinho.
1) A matériada Eucaristia é o pão de trigo e o vinho de uva:
Jesus Cristo escolheu esta questão para demonstrar que a
Eucaristia é o alimento da nossa alma, assim como o pão e o vinho
são o alimento do nosso Corpo.
2) A formada Eucaristia consiste nas palavras de consagração
usadas por Jesus Cristo no Cenáculo: "Este é o meu Corpo... este é
o meu Sangue..." Estas palavras têm uma virtude divina, porque
Jesus Cristo as pronuncia pela boca do Padre.
3) Ministros da EucaristiaEles são os Bispos, os Sacerdotes.
Só eles, na pessoa dos Apóstolos, receberam de Jesus Cristo o
poder de consagrar, em virtude destas palavras do Salvador: “Fazei
isto em memória de mim” (Lc 22, 19).
4) O tema da Eucaristia.Todo baptizado pode receber
validamente este Sacramento. A recepção da Eucaristia chama-se
Comunhão, porque existe uma União comum entre Jesus Cristo e
quem O recebe.
Obrigação de Comunhão.A comunhão é um preceito necessário
para todos os fiéis que atingiram o uso da razão:

702
Jesus Cristo disse: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e
não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos” (Jo
6:64).
Existe a obrigação de comungar:1), na era da discrição; 2),
pelo menos uma vez por ano; na época da Páscoa; 3), em perigo de
morte.
A Igreja quer que os fiéis comunguem sempre que assistem à
Santa Missa, ou seja, pelo menos aos domingos e feriados. Os
primeiros cristãos comungavam todos os dias, e este costume
perdurou durante muitos séculos... Nos nossos dias é rara a
frequência com que se toma a comunhão, e é por isso que a vida
cristã nas almas está tão debilitada...271.
dDISPOSIÇÕES NECESSÁRIAS.
1) Disposições do corpo.a) A lei do jejum atualmente
determina que nenhum alimento ou bebida sólida (exceto água) seja
ingerida até uma hora antes da comunhão. Para os enfermos que
devem se alimentar, são estabelecidos 15 minutos de abstenção
antes da comunhão.
Em perigo de morte você pode comungar sem jejuar. Esta
Comunhão (em perigo de morte) chama-se viático, ou provisão para
a viagem do tempo para a eternidade. b) É aconselhável estar
vestido decentemente, sem luxo, mas não com negligência.
2) Disposições da alma.A disposição essencial para comungar
é o estado de graça: a Eucaristia é um sacramento dos vivos, e
comungar conscientemente, com um pecado mortal na consciência,
é um sacrilégio horrível.
Aqueles que estão em pecado mortal devem confessar antes de
comungar: assim ordena o Concílio de Trento.
Nem os pecados veniais, nem mesmo os pecados mortais, se
estes forem lembrados antes da comunhão, involuntariamente
esquecidos na confissão, impedem a comunhão; mas é bom fazer
um ato de contrição para não colocar obstáculos aos frutos da
Comunhão. Se houve um pecado mortal esquecido
involuntariamente na Confissão, há então uma séria obrigação de
dizê-lo na próxima, mas permaneceu na graça.

271Papa São Pio.

703
As outras disposições da alma são uma fé viva, uma esperança
firme, uma caridade ardente e uma humildade profunda com o
desejo de estar unida a Jesus Cristo. Quanto mais perfeitas forem
estas disposições, mais abundantes serão os frutos da Comunhão.
O que fazer depois da Comunhão? Você deve passar pelo menos
um quarto de hora adorando Jesus Cristo, oferecendo-se a Ele,
agradecendo-lhe, suplicando-lhe e conversando com Ele, passando
o resto do dia em meditação:
5) Efeitos da Comunhão. A Sagrada Comunhão preserva e
fortifica a vida da alma, assim como o pão material preserva e
fortifica a vida do Corpo. a) Une-nos intimamente a Jesus Cristo e
aumenta a Graça santificadora. b) Dá à alma Graças atuais que a
alimentam e fortalecem para resistir ao mal e praticar a virtude; c)
Perdoa os pecados veniais e preserva-os dos mortais; d) Santificar o
nosso Corpo e depositar na nossa carne um princípio de
ressurreição gloriosa. e) Ele nos dá o penhor da vida eterna: “Quem
come a minha Carne, diz Jesus Cristo, e bebe mil Sangue tem a vida
eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 55).
O apego ao pecado venial, a negligência na boa preparação, a
tibieza no serviço de Deus diminuem os frutos da Comunhão.
Fazer a Comunhão espiritual é despertar no coração um desejo
vivo de Comunhão sacramental, acompanhando este desejo com
atos de fé, humildade e contrição. Nada é mais agradável a Jesus
Cristo, nem mais vantajoso para a alma do que esta bela e piedosa
prática.

c) A Eucaristia como Sacrifício


A Eucaristia, como Sacramento, foi instituída para a nossa
santificação; Como sacrifício, está diretamente relacionado à
adoração a Deus. Nenhuma religião pode existir sem sacrifício nem
sem oração. A oração está nas palavras, assim como o sacrifício nas
ações, a manifestação natural do nosso relacionamento com Deus.
Sacrifício é a oferta feita a Deus, por um ministro legítimo, de
coisa sensível que é destruída ou alterada, em sua honra, para
reconhecer o seu domínio soberano.
Santa Missa.É o sacrifício do Corpo e Sangue de Jesus Cristo,
oferecido no altar sob as espécies do pão e do vinho, para
representar e continuar o sacrifício da cruz e aplicar-nos os seus
méritos.

704
A Santa Missa é um verdadeiro sacrifício, pois reúne todos os
seus elementos:
1) Oferta feita a Deus: somente a Santa Missa é oferecida a Ele e
não aos Santos (Sim em honra dos Santos mas não para os santos).
2) De uma coisa sensível: o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor,
tornados sensíveis pelas espécies do pão e do vinho.
3) que é destruído ou alterado: Jesus Cristo está no Altar como
em estado de morte. Ele é misticamente imolado pelas palavras da
Consagração, em virtude das quais seu Corpo parece separado de
seu Sangue, (sensivelmente) e realmente o seria se Jesus Cristo
ressuscitado não fosse imortal; Esta imolação é completada pela
Comunhão, que consome sacramentalmente a vítima.
4) Para confessar seu domínio soberano: A Santa Missa é o
ato de adoração por excelência.
O sacrifício da Santa Missa é o mesmo sacrifício da cruz, porque
dela participam o mesmo sacerdote e a mesma vítima, ou seja, o
mesmo Jesus Cristo que se oferece e se imola por nós.
Qual é a diferença entre esses dois sacrifícios? Existem várias
diferenças: 1) na Cruz Jesus Cristo ofereceu-se diretamente a Deus;
no altar é oferecido pelo ministério dos sacerdotes; 2), o seu Sangue
realmente correu (ou seja, de forma sangrenta), na Cruz; embora
não corra realmente, mas misticamente (de uma forma incruenta) no
Altar; 3), Ele sofreu na Cruz; no Altar ele não sofre. Jesus Cristo
ofereceu-se de forma sangrenta no Calvário, e no Altar oferece-se de
forma não sangrenta, mas incruenta.
A Santa Missa representa e perpetua o sacrifício da cruz, para
aplicar-nos os Méritos da Redenção.
O ministro-chefedo sacrifício da Santa Missa é o próprio Jesus
Cristo porque só Ele pode dizer: “Isto é o meu Corpo, isto é o meu
Sangue”. Os ministros visíveis são: os Bispos e os sacerdotes
legitimamente ordenados. Os fiéis devem unir-se em espírito e
coração ao Sacerdote, delegado da Igreja, para oferecer a Santa
Vítima em seu nome.
A Igreja oferece o sacrifício da Santa Missa a Deus: a) para
adorá-Lo; b) obrigado pelos seus benefícios; e) satisfazer a sua
justiça; d) obter o seu agradecimento.
A Santa Missa em si, como o sacrifício da cruz, tem um valor
infinito pela infinita dignidade oferecida à Vítima.

705
Mas o fruto aplicado aos fiéis não é infinito, mas proporcional às
suas disposições de fé, confiança e fervor.
Nos frutos da Santa Missa distinguem-se três partes: 1) o fruto
geral é para todos os fiéis vivos e falecidos, e particularmente para
aqueles que assistem ao Santo Sacrifício; 2), o fruto principal
pertence àquele para quem se celebra a Santa Missa; 3), o fruto
pessoal do celebrante.
A Santa Missa é oferecida somente a Deus, porque o sacrifício é
um ato de adoração devido somente a Deus.
Mas você pode oferecê-lo a Deus em honra da Santíssima
Virgem e dos Santos, para agradecer-lhe pelos favores que lhe fez e
para obter graças por sua intercessão.
A Santa Missa é oferecida pelos vivos e pelos falecidos. Deus
lhes aplica os méritos de seu Filho, segundo as leis de sua Justiça e
de Sua Misericórdia.
É necessário ter na mais alta estima o Santo Sacrifício da Santa
Missa e, se possível, assisti-lo todos os dias. É o grande exercício da
Religião, a melhor de todas as orações, um tesouro escondido de
graças e bênçãos.
Uma excelente forma de evitar distrações é ter um livro da Santa
Missa e acompanhar o Padre na celebração.

IV. O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA OU


CONFISSÃO.
A palavra penitência significa arrependimento; expiação e
designa ora uma virtude, ora um Sacramento.
1) Virtude da Penitência.A penitência é uma virtude
sobrenatural que leva o pecador a detestar seus pecados e a punir-
se para reparar o dano causado a Deus.
O ato interno desta virtude chama-se contrição: os atos externos
são os castigos corporais que o penitente se inflige em satisfação
dos pecados cometidos.
Esta virtude, então, inclui: 1) ódio e detestação pelos pecados
cometidos; 2), o firme propósito de uma vida melhor; 3º, a expiação
dos pecados passados.
A penitência é necessária como meio de obter o perdão dos
pecados. Jesus Cristo disse: “Se não fizerdes penitência, todos
perecereis” (Lc 13, 5).

706
Como a virtude da Penitência difere do Sacramento? a) A virtude
da Penitência sempre foi necessária para obter o perdão dos
pecados: o Sacramento só é necessário depois da sua instituição por
Nosso Senhor Jesus Cristo, e só produz o seu efeito no que diz
respeito aos pecados cometidos depois do Baptismo. b) A virtude da
penitência nada mais é do que uma parte do Sacramento, que inclui
também a confissão do penitente e a absolvição do sacerdote. c) A
virtude da Penitência pode existir sem o Sacramento, mas o
Sacramento não pode existir sem a virtude da Penitência.
2) Sacramento da Penitência._ A Penitência é um Sacramento
instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo para perdoar os pecados
cometidos após o Batismo.

Necessidade do Sacramento da Penitência.


_O Sacramento da Penitência é absolutamente necessário para
quem cometeu um pecado mortal após o Batismo. Em caso de
necessidade, pode ser suprida pela contrição perfeita, unida ao
desejo de recebê-la. Mas, alguém dirá: por que este Sacramento, se
antes de Jesus Cristo o perdão dos pecados era obtido pela virtude
da penitência?
Sem dúvida; mas este Sacramento nos proporciona imensas
vantagens: 1) requer menos disposições por parte do pecador; 2º,
nos dá Graças especiais para não cairmos novamente; 3), nos dá a
certeza moral do nosso perdão, etc.
1) A matériado Sacramento da Penitência. A questão remota
consiste nos pecados que devem ser perdoados. A questão
seguinte, nos três atos do penitente: contrição, confissão e
satisfação...
2) A formaEstá na absolvição do sacerdote: “Eu te absolvo dos
teus pecados, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”.
Estas palavras, juntamente com os três atos do penitente, são o
sinal sensível do Sacramento da Penitência.
3) O ministrode Penitência é qualquer Sacerdote aprovado ou
investido do duplo poder da Sagrada Ordem e de Jurisdição. O
Poder das Ordens Sagradas é o poder de perdoar os pecados,
conferido por Jesus Cristo aos sacerdotes: é inerente ao caráter
sacerdotal.

707
O poder de jurisdição, conferido pelo Bispo, indica aos sacerdotes
os súditos que podem legitimamente absolver e os lugares onde
podem ouvir confissões; tal como os juízes civis têm a sua própria
jurisdição pelas fronteiras locais. Em princípio ele pode confessar-se
em qualquer lugar do mundo sem autorização expressa, a menos
que por algum motivo o Bispo o impeça de fazê-lo.
4) O sujeito da Penitência é quem cometeu um pecado mortal ou
venial após o Batismo.

Disposições necessárias.
Para receber bem o Sacramento da Penitência são necessárias
cinco coisas: a) O exame de consciência: 2) A dor dos pecados.
3) O propósito de não cometê-los no futuro. 4) A Confissão. 5)
Satisfação ou penitência.
Três tipos de pessoas profanam este Sacramento:!) Aqueles que
não sentem verdadeira tristeza pelos seus pecados. 2) Aqueles que
escondem ou disfarçam algum pecado mortal. 3) Aqueles que não
têm intenção de alterar, nem de se afastar das ocasiões futuras, nem
de restaurar o que foi mal adquirido, nem de perdoar os seus
inimigos, ou de cumprir a penitência que o confessor impõe.
5) Efeitosdo Sacramento da Penitência. 1) Apagar todos os
pecados cometidos após o Batismo, por mais numerosos e enormes
que sejam. 2) Perdoa a pena eterna e uma parte mais ou menos
grande da pena temporal, segundo as disposições com que é
recebida. 3) Produz Graça santificadora ou aumenta-a. 4) Reaviva
virtudes infundidas e méritos perdidos. 5) Ele nos dá graças
sacramentais para nos fortalecer contra as recaídas, perseverar no
bem e praticar as virtudes cristãs. 6) Dá paz à consciência e, às
vezes, grande conforto.

Partes essenciais do Sacramento da Penitência.


As partes essenciais do Sacramento da Penitência são: contrição,
confissão, satisfação, que se referem ao penitente, e absolvição pelo
sacerdote.
Acreditamos que seja útil dizer algumas palavras sobre estas
diversas partes:

708
Atos do Penitente:
1) euEM CONTRIÇÃO
1) A contrição é a dor de ter ofendido a Deus e a aversão aos
pecados cometidos com a firme intenção de não cometê-los
novamente. A contrição inclui duas coisas essenciais: em relação ao
passado, o arrependimento pelos pecados cometidos; Quanto ao
futuro, a firme intenção de não cair novamente neles.
2) A contrição é absolutamente necessária para obter o perdão.
Através do pecado mortal, a vontade do homem foi separada de
Deus para aderir a um bem criado. Para que Deus perdoe esta
ofensa é necessário que a vontade se converta a Deus; deteste o
seu pecado e decida não cometê-lo novamente; este é o efeito da
contrição. Portanto, sem contrição não há perdão. Alguém pode ser
salvo sem confissão quando isso é impossível; sem satisfação,
quando se morre antes de ter expiado os pecados, mas nunca sem
contrição.
3) Existem dois tipos de contrição: contrição perfeita ou contrição
ou desgaste imperfeito. Eles diferem em seus motivos e efeitos. a) A
contrição perfeita é a dor de ter ofendido a Deus por ser quem ele é,
por ser infinitamente bom, e porque o pecado lhe desagrada. Esta
contrição esta contrição está fundada no amor de Deus. b) O atrito
(com contrição imperfeita) é a dor de ter ofendido a Deus pela
vergonha que o pecado traz consigo ou pelo medo das penas com
que Deus o castiga. Esta contrição imperfeita baseia-se na feiúra do
pecado e no medo do inferno. Tais motivos são imperfeitos porque,
em última análise, baseiam-se no amor próprio.
O efeito da contrição perfeitaÉ apagar todos os pecados,
mesmo antes de confessar, desde que se tenha o desejo sincero de
fazê-lo. Apaga o pecado, porque inclui um ato de caridade perfeita, e
o ato perfeito de amor a Deus justifica o pecador. Deus ama aqueles
que o amam: “Sou diligente e diligente” (Pv 8. 17).
O atrito é suficiente para receber o Sacramento da
Penitência. Não justifica o pecador, mas o prepara para receber o
perdão dos seus pecados, através da absolvição. O atrito deve ser
acompanhado pela esperança do perdão e por um princípio de amor
a Deus. O penitente deve estar sempre animado à contrição perfeita,
porque é mais meritória e mais agradável a Deus.

709
4) Contrição, seja perfeita, seja imperfeita,requer quatro
qualidades essenciais; Deve ser interno, sobrenatural, supremo e
universal.
A verdadeira contrição inclui necessariamente um propósito firme,
isto é, uma resolução sincera e uma vontade determinada de não
pecar novamente. Ninguém pode arrepender-se dos pecados
cometidos se não estiver disposto a não cometê-los novamente.
A contrição é interna quando está no coração, e não apenas na
imaginação ou nos lábios. Visto que o coração é aquele que pecou,
é ele quem deve se arrepender. A contrição é sobrenatural quando é
despertada em nós pelo Espírito Santo e fundada em razões de fé. O
início da contrição é a Graça de Deus. As razões da fé são: a) a
bondade de Deus, a quem o pecado ultraja; b) a paixão de Jesus
Cristo, que o pecado renova;
c) o paraíso, que o pecado nos faz perder; d) inferno, para onde o
pecado nos leva.
A contrição é suprema quando se sente mais pena de ter
ofendido a Deus do que todos os males que poderiam nos sobrevir.
O pecado é o mal supremo; É certo, então, que ele seja odiado mais
que os outros. A contrição é universal quando o arrependimento se
refere a todos os pecados, pelo menos os mortais, que foram
cometidos. As razões que nos fazem detestar um pecado mortal
devem levar-nos a detestar todos eles: permanecer afetuoso com um
deles é permanecer inimigo de Deus.
5º O que fazer para ter contrição? Tem que:
1) Peça isso a Deus com orações fervorosas.
2) Pense no céu que nossos pecados nos fizeram perder e no
inferno que eles nos conquistaram.
3) Considere que nossos pecados são a causa da paixão e morte
de Nosso Senhor Jesus Cristo.
4) Pensar, finalmente, que com os nossos pecados ultrajamos um
Deus que é infinitamente bom e infinitamente digno do nosso amor.
Um filho bem-nascido lamenta ter desagradado ao pai; da mesma
forma, devemos nos arrepender de ter causado tristeza ao nosso Pai
Celestial.
Sinais de verdadeira contrição:1), mudança de vida; 2) corrija
suas falhas; 3), evitar ocasiões de ofender a Deus como foi feito
anteriormente; 4), trabalhar na destruição de maus hábitos; 5),
proporcionam os meios necessários para viver cristãmente.

710
Quando devemos fazer atos de contrição? Devem ser feitas com
frequência, mas de maneira especial: a) quando nos confessamos;
b)_quando tivemos a infelicidade de cair em pecado mortal; e)
quando corremos perigo de morte.
É extremamente útil fazer um ato de contrição todas as noites
antes de ir para a cama, para estar pronto para comparecer diante
de Deus.
2)EUÀ CONFISSÃO.
1) A confissão é a acusação dos próprios pecados: feita a um
sacerdote aprovado, para dele receber a absolvição.
A confissão é de instituição divina. Disto temos três provas
absolutamente convincentes: a) as palavras de Jesus Cristo no
Evangelho; b) o ensinamento unânime da Tradição e Prática
Universal da Igreja; c) a própria razão e o bom senso.
A) Palavras de Jesus Cristo.Jesus Cristo instituiu a confissão
quando disse aos seus apóstolos: “Aqueles pecados que vocês
perdoarem serão perdoados, e aqueles cujos pecados vocês
retiverem serão retidos” (João 20:23). Com estas palavras dá-lhes
um duplo poder: o poder de perdoar e o poder de reter os pecados.
Portanto, ele os estabeleceu como juízes no tribunal da Penitência.
Assim, um juiz não pode ditar uma sentença sem conhecer a
causa... E como o sacerdote, por outro lado, não pode ler as
consciências, não pode conhecer os pecados senão através da
confissão do penitente. Então, é necessário que ele faça uma
confissão completa e precisa de suas faltas. É por isso que o
Concílio de Trento declara que a confissão é necessária, por direito
divino.
b) Ensino e prática da Igreja.A confissão é tão antiga quanto a
Igreja. O livro dos Atos dos Apóstolos nos conta que aqueles que se
convertiam vinham confessar as suas faltas (19, 18). Desde então, a
confissão é praticada por todos os cristãos: imperadores, reis,
bispos, sacerdotes, bem como pelos simples fiéis (ver Bispo De
Ségur, Confissão).
O historiador protestante Gibbon, apesar das suas disposições
hostis, confessa que “o homem erudito não consegue resistir ao
peso da evidência histórica que estabelece que a confissão tem sido
um dos principais pontos da doutrina papista ao longo do período
dos quatro primeiros séculos”.
Nos nossos dias, os confessionários que os primeiros cristãos

711
usaram foram encontrados nas catacumbas de Roma.

712
Não foi, portanto, o Papa Inocêncio III, como afirmam os
protestantes, quem estabeleceu a Confissão no Concílio de Latrão
no ano de 1215. Este Concílio, ao prescrever a confissão anual,
nada mais fez do que especificar o preceito divino para estimular os
cristãos negligentes. .
c) Prova de razão e bom senso.A confissão não pode ser uma
invenção humana. O inventor teria despertado uma oposição
formidável dos mocinhos, sempre atentos às inovações; dos maus,
determinados a livrar-se deste jugo intolerável; por parte, em
particular, dos sacerdotes, que o teriam abolido como um fardo
demasiado pesado, se não fosse uma instituição divina. Somente
Deus poderia impor uma lei desta natureza aos homens, e nenhum
poder humano poderia tê-la introduzido.
A confissão, portanto, é uma instituição, uma lei divina.
Estabelecido por Jesus Cristo, foi promulgado pelos Apóstolos e
fielmente preservado na Igreja.
Por que Jesus Cristo estabeleceu a confissão?
Nosso Senhor Jesus Cristo estabeleceu a confissão para nos
trazer inúmeros benefícios. Entre outros: 1) A confissão faz-nos
expiar o nosso orgulho, fonte e raiz de todo o mal, e praticar a
humildade, princípio de todo o bem. Dá-nos conhecimento de nós
mesmos, através do exame de consciência e da orientação do
confessor. 3) É uma ajuda para não pecar, daquilo que nos faz fugir
para evitar a vergonha de confessá-lo. 4) Acalma o coração, que
naturalmente precisa de um confidente que o ajude a carregar os
segredos que o oprimem. Este confidente está obrigado ao segredo;
Está especialmente preparado para as suas funções, através do
estudo, e é tanto mais bondoso porque também está sujeito às
fraquezas humanas e deve confessar (O Código de Direito Canónico
aconselha o Bispo, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas e
todos os leigos que quero levar uma vida espiritual séria, Confissão
semanal). 5) Acalma as perturbações, as preocupações, os
arrependimentos... É luz, força e consolo.
Conclusão.O bem que a Confissão produz mostra a sua origem
divina: através dela renascem na alma purificada a calma e a
felicidade, a paz volta ao lar, a honra é recuperada, as injustiças são
reparadas, as inimizades são esquecidas, os suicídios são evitados.
Em suma, através dela todos os crimes são prevenidos e os danos
são reparados, para que

713
felizmente, como testemunham os seus próprios inimigos, a
confissão sacramental é verdadeiramente a salvaguarda dos
indivíduos, das famílias e da sociedade.
2) Exame de Consciência.Antes de confessar é preciso
examinar seriamente a consciência: a) sobre os mandamentos de
Deus e da Igreja; b) sobre os pecados capitais; e) sobre os deveres
do próprio Estado. Este exame indispensável deve ser mais ou
menos sério, dependendo do maior ou menor tempo decorrido desde
a última confissão.
3) Qualidades da Confissão.A confissão deve ser humilde,
simples, prudente e, sobretudo, completa ou completa.
É necessário declarar, pelo menos, o número de pecados mortais
e as circunstâncias que variam as espécies. Segundo o Concílio de
Trento, o sacerdote no tribunal da Penitência é, ao mesmo tempo,
juiz e médico; Como juiz, ele deve conhecer todo o caso para proferir
sentença sobre todas as doenças. Prescrever os remédios
apropriados que você deve administrar como médico.
A confissão dos pecados veniais não é necessária, mas é muito
útil: a) para aumentar em nós a Graça; b) dar a conhecer melhor o
estado da nossa alma; para não nos expormos a considerar venial o
que é mortal.
4) Confissão sacrílega.Quem esconde voluntariamente um
pecado mortal na confissão faz uma confissão nula (não é perdoado)
e comete sacrilégio.
Quem escondeu um pecado mortal é obrigado a repetir a sua
confissão; acusar-se do sacrilégio cometido ao ocultar o pecado;
confessar novamente todos os pecados mortais cometidos após a
última confissão bem feita; declarar o número de confissões ou
comunhões feitas naquele triste estado.
As más confissões são reparadas com uma confissão geral de
toda a vida, ou com uma revisão que inclua todos os pecados
cometidos desde a última confissão feita com as disposições
exigidas.
“Jamais devemos deixar-nos dominar pela maldita astúcia do
diabo, que se esforça para nos fazer cometer um sacrilégio por uma
vergonha incompreendida. O confessor tem sempre para os seus
penitentes, e particularmente para os mais culpados, a doçura e a
caridade de Jesus Cristo, cujo lugar ocupa.

714
Deveríamos temer que o confessor revele os pecados
confessados? Não: porque o Padre, no confessionário, age como
Jesus Cristo e Deus nunca permitiu que nenhum dos seus ministros
revelasse o segredo da confissão. Todos os sacerdotes, se
necessário, saberiam, como São João Nepomuk, morrer em vez de
violar o segredo sacramental.
Aquele que se esqueceu de confessar um pecado mortal deve
declará-lo na próxima confissão, para obedecer à ordem de Jesus
Cristo.
3)EUPARA A SATISFAÇÃO.
A satisfação é a reparação da ofensa feita a Deus e do dano
causado ao próximo.
a) Necessidade de satisfação. Somos obrigados a satisfazer a
Deus, porque a absolvição que perdoa o pecado e o castigo eterno,
normalmente deixa um castigo oral, que deve ser satisfeito neste
mundo ou no próximo.
A Sagrada Escritura mostra-nos Adão perdoado e expulso do
Paraíso; a Moisés, perdoado e excluído da Terra Prometida; a Davi,
perdoado e punido com a morte de seu filho, etc.
O desejo de satisfazer a Deus é tão necessário quanto a
contrição: sem ele não se pode obter o perdão dos pecados.
b) Satisfação Sacramento.A primeira satisfação que Deus pede
é a penitência sacramental. O Concílio de Trento obriga o confessor
a impor ao penitente uma penitência satisfatória e medicinal. É
essencial para a validade do Sacramento aceitá-lo: quem recebe a
absolvição com a intenção de não cumprir a penitência imposta
comete um sacrilégio; Para a integridade do Sacramento é
necessário cumpri-lo; mas esta conformidade não é necessária para
a validade; Negligenciar é uma ofensa grave se a satisfação tiver
sido imposta devido a faltas graves.
Somos obrigados a cumprir a penitência sem grande demora e na
forma prescrita, sem mudar nada e sem substituí-la por outra.
c) Satisfação extra-sacramental.Os outros meios de satisfazer
a Deus são: 1) oração, jejum e esmola, que são chamados de obras
satisfatórias; 2), as dores e os trabalhos desta vida, aceitos com
paciência e resignação à santa vontade de Deus.
A Igreja também nos oferece um meio mais fácil de expiar as
penas temporais devidas ao pecado, e estas são as indulgências.

715
A indulgência é a remissão da pena temporal devida pelo pecado já
perdoado: A Igreja perdoa-nos esta pena aplicando-nos os méritos
superabundantes de Jesus Cristo, da Santíssima Virgem e dos
Santos.
Para ganhar indulgências é necessário estar na Graça de Deus e
fazer as obras que a Igreja ordena.
d) Você também deve satisfazer seu vizinho.1), reparar os
danos causados à sua honra ou ao seu patrimônio; 2), reconciliando-
se com ele; 3), reparando os escândalos dados.
Um coração verdadeiramente contrito não se considera
completamente livre porque obteve o perdão: compreende que a
misericórdia não pode suprimir a justiça e esforça-se por reparar as
suas faltas e as suas terríveis consequências.
4)EUPARAPARASOLUÇÃO DESimPADRE
A absolvição do sacerdote, que é a forma do sacramento, deve
ser acrescentada aos atos do penitente.
A absolvição é uma sentença que o sacerdote pronuncia em
nome de Jesus Cristo para perdoar os pecados do penitente bem-
intencionado. O sacerdote não pode dar absolvição senão àqueles
que considera dignos de recebê-la, e é obrigado a negá-la aos
penitentes relutantes: se a pronunciar sobre assunto indigno, é
inválida.
Além disso, o sacerdote é pessoalmente responsável diante de
Deus pelo uso que faz do seu poder; Se ele trai o seu ministério,
querendo perdoar os pecados que deveria reter, traz sobre si os
mais terríveis castigos.
Quem é indigno de receber a absolvição? 1) Aqueles que
ignoram as verdades necessárias para serem salvos; 2) Aqueles que
estão em pecado habitual e não fazem nenhum esforço para se
corrigirem; 3º Aqueles que não querem sair das próximas ocasiões
de pecado mortal; 4) Aqueles que não querem retribuir o que foi
injustiçado ou reparar o dano causado ao próximo; 5º Aqueles que
se recusam a perdoar os seus inimigos...

V. A EXTREMA UNÇÃO OU UNÇÃO DOS


DOENTES
A Unção dos Enfermos é um Sacramento instituído por Nosso
Senhor Jesus Cristo para o alívio espiritual e corporal dos enfermos.

716
Este Sacramento é necessariamente um preceito, dispõe a
morrer bem.
1) A matériaÉ o azeite abençoado pelo Bispo para os enfermos.
Com ela, o sacerdote faz unções em forma de cruz na testa e nas
mãos do enfermo.
2) A formaConsiste na oração que acompanha cada unção: “Por
esta santa unção e pela sua bondosa misericórdia, que o Senhor te
ajude com a graça do Espírito Santo. Amém. Para que, livre dos
seus pecados, ele lhe conceda a salvação e o console na sua
doença. Amém".
3) O ministroda Unção dos Enfermos é qualquer sacerdote.
4) Sujeitoda Unção dos Enfermos é todo cristão gravemente
doente.
O perigo de morte imediata não é necessário, basta que a
doença em si seja grave.
Disposições necessárias.a) Você deve estar em estado de
Graça; Portanto, antes de recebê-lo, o doente confessa. Caso,
estando em pecado mortal, não se possa: Confessar, o atrito pode
ser suficiente; b) Tenham a intenção, pelo menos presumida, de
receber este Sacramento; e) Grande confiança em Deus e
submissão à vontade divina.
5) Efeitos da Unção dos Enfermos.Este Sacramento produz
dois tipos de efeitos, um relativo: à alma; os outros, para o corpo.
Relativa à alma, a Unção dos Enfermos; a) Perdoa os pecados
veniais, e mesmo os pecados mortais, quando o doente não os
possa confessar, desde que tenha pelo menos desgaste no coração;
b) Apaga as relíquias do pecado, ou seja, uma parte das tristezas
temporais, do langor da alma e da tristeza causada pelo pecado; c)
Fortalece o doente contra as lutas supremas, ajuda-o a suportar com
paciência a sua dor e a oferecer o sacrifício da sua vida a Deus.
Relativo ao corpo, a Unção dos Enfermos atenua os sofrimentos
dos enfermos e até restaura a saúde do Corpo, se lhes convém.
N. B.-“Não há necessidade de esperar para administrar a Unção
dos Enfermos ao enfermo até que ele ou ela chegue ao último
extremo. Não se participa amplamente das preciosas Graças que ela
confere, exceto quando se está plenamente consciente e pode se
unir

717
de coração às orações da Igreja com sentimentos de verdadeira
compunção.
“No que diz respeito, em particular, à saúde do corpo, o
Sacramento não terá nenhum efeito se for adiado até que não haja
esperança. Porque não tem uma virtude milagrosa, mas uma virtude
sobrenatural que vem em auxílio dos esforços da natureza, quando o
corpo é capaz de sentir a sua ação benéfica” (Moulyn).
Em muitos lares que se dizem cristãos, existe um preconceito
fatal e culposo a esse respeito. Sob o pretexto de poupar ao doente
uma emoção violenta, deixam de lhe lembrar os seus deveres e de
chamar o sacerdote. É um medo absurdo:
Deste deplorável abuso resulta que o doente seja privado dos
benefícios da Unção dos Enfermos, ou que receba este Sacramento
num estado de tal fraqueza que não lhe permite aproveitar todos os
seus frutos.
Ao proceder desta forma, a família torna-se o pior inimigo
daqueles que acredita amar.

VI. O ÓRDENSimGOSTO
A Ordem Sagrada é um Sacramento que confere o poder de
desempenhar funções sagradas e a graça de exercê-las santamente.
Este Sacramento chama-se Ordem Sagrada: 1) porque quem o
recebe forma uma Ordem na Igreja, uma classe à parte; 2), porque
inclui graus ou ordens parciais. Esses vários graus constituem a
hierarquia da Ordem Sagrada.
As principais funções sagradas são: oferecer o Santo Sacrifício
da Santa Missa, administrar os Sacramentos e pregar a Palavra de
Deus.
Necessidade de Ordens Sagradas.A Ordem Sagrada é um
Sacramento de livre escolha: ninguém é obrigado a recebê-lo.
Além disso, nem todos podem aspirar a isso. Além disso, além
dos impedimentos estabelecidos por Deus e pela Igreja, para afastar
os indignos é necessária uma vocação superior, um chamado divino.
Ninguém pode, se não tiver sido chamado por Deus, exercer estas
funções divinas, que seriam sublimes até para os próprios Anjos.

718
Os pais pecam se obrigam um filho a ser sacerdote sem vocação,
assim como também pecam se o impedem de seguir esta vocação
quando esta está claramente manifestada.
Diferentes níveis da Ordem Sagrada. Embora única na sua
essência, a Ordem Sagrada compreende sete graus diferentes de
poderes, correspondentes às diferentes funções sagradas exercidas
na Igreja. Este Sacramento dá graus ou ordens parciais.
As sete ordens dividem-se em ordens menores e ordens maiores,
até antes do Concílio eram:
1) As quatro ordens menores: ostiário, leitor, exorcista, acólito,
iniciam o jovem clérigo no exercício do culto. Destes, o Concílio
deixou o leitorado e o acólito. O exorcismo estava reservado ao
Bispo e ao sacerdote por ele delegado.
2) As três ordens principais são: o subdiaconado, o diaconado e
o presbiterado, que encontra a sua plenitude no episcopado. Destes,
o subdiaconato foi eliminado.
O diaconado confere o poder de assistir o sacerdote no altar, de
pregar, de batizar, de expor o Santíssimo Sacramento e até, em
caso de necessidade, de dar a Comunhão.
O sacerdócio tem dois graus: a) o presbitério, que confere o
poder de exercer funções sagradas; b) o episcopado; plenitude do
sacerdócio, que confere o poder de administrar todos os
Sacramentos, de ensinar a Igreja e de governá-la.
Os Bispos são, por direito divino, superiores aos Sacerdotes; Os
seus poderes são mais extensos, são juízes da fé, pastores da
Igreja, etc.
1) A matériada Ordem Sagrada consiste na imposição das mãos
do ministro à Ordem ordenada e na entrega dos instrumentos
próprios para as funções de cada ordem.
2) A formaÉ composto pelas palavras que o ministro pronuncia
ao impor as mãos e entregar instrumentos.
3) O ministroda Ordem Sagrada. Somente o Bispo pode conferir
este Sacramento. Um simples sacerdote poderia, por delegação do
Papa, conferir Ordens Sagradas menores.
4) Sujeitoda Ordem Sagrada. Todo baptizado pode receber
validamente este Sacramento. As mulheres são incapazes de
Ordem, porque a sua condição de dependência não lhes permite
exercer o comando na Igreja. Mas acima de tudo é por direito divino.
Por
719
expressa a vontade de Deus manifestada em Cristo. É assim que
João Paulo II se lembra.
Para receber licitamente este Sacramento são necessárias três
condições: vocação divina, ciência necessária e virtude comprovada.
Além disso, é necessário: 1) estar em estado de graça; 2) ser
confirmado; 3) isento de todas as irregularidades.
Os principais sinais de uma vocação divina são: 1) a atração, o
gosto constante pelas funções sagradas, 2) a aptidão suficiente para
desempenhá-las, 3) o espírito eclesiástico, ou seja, o amor ao retiro,
à oração, ao estudo; 4) uma intenção recta, ou o desejo de trabalhar
para a glória de Deus e a salvação das almas, 5) a vocação dos
superiores eclesiásticos.
5) Efeitosdo Sacramento da Ordem Sagrada. Conferências:
a) Um aumento da graça santificadora.
b) Os poderes especiais de cada Ordem Sagrada.
c) As Graças sacramentais para desempenhar dignamente as
funções sagradas.
d) Imprima um caractere indelével. A Ordem Sagrada, uma vez
recebida, nunca se perde. O Sacerdote será sempre Sacerdote:
Sacerdos in eternum.
6) Obrigaçõesda Ordem Sagrada. celibato O sacerdote está
estritamente obrigado a manter o celibato, isto é, a castidade
perpétua; Esta é uma lei eclesiástica fundada em razões muito
sérias.
1) Para dedicar-se sem reservas à salvação das almas, é preciso
estar livre dos cuidados da família. Então é possível dedicar-se
inteiramente aos pobres, aos doentes, aos que sofrem: não há medo
de expor a própria vida em tempos de peste, etc.
2) Para tratar os Santos Mistérios com dignidade é necessária a
maior pureza. Esta é a virtude que aproxima de Deus a Incorruptio
facit esse proximum Deo.
3) Jesus Cristo, modelo dos sacerdotes, era virgem, e os
apóstolos logo romperam todos os laços para seguir seus passos.
Dignidade do Sacerdote. A dignidade sacerdotal é a mais
elevada e sublime de todas. Se o Sacerdote é inferior aos Anjos por
natureza, tem, porém, funções e poderes superiores. O sacerdote é
o mediador entre Deus e os homens.

720
Representante e continuador de Jesus Cristo na terra, tem pleno
poder sobre o seu corpo natural, que consagra no altar, e sobre o
seu corpo místico, as almas, a quem tem a missão de iluminar,
dirigir, perdoar e consolar. para santificar e conduzir ao céu.
Os cristãos que, fingindo respeitar a religião, não têm medo de
caluniar os sacerdotes e desacreditá-los, incorrem em grave culpa.
Insultam a sua Mãe, a Igreja, desprezam Jesus Cristo, que disse,
falando dos seus ministros: “Quem vos escuta, a mim ouve, e quem
vos despreza, a mim despreza” (Lucas 10)., 16).

VII:EeuMATRIMÔNIO
O casamento é um sacramento que santifica a aliança do homem
com a mulher e lhes dá as graças necessárias para cumprirem os
seus deveres de maridos e pais cristãos.
1) Como união natural entre homem e mulher, o casamento
existe desde o início do mundo. O próprio Deus a estabeleceu no
Paraíso terrestre, quando abençoou Adão e Eva, dizendo-lhes:
“Sede fecundos e multiplicai-vos na terra.”
2) Como Sacramento, foi instituído por Jesus Cristo, que elevou o
contrato de casamento à dignidade de Sacramento, conferindo-lhe a
virtude de produzir graça.
3) Em virtude desta instituição, o casamento entre cônjuges
cristãos deve ser um sacramento, caso contrário não é um contrato
válido ou um casamento verdadeiro.
“O casamento”, diz Pio IX, “não é uma qualidade acidental
acrescentada ao contrato, mas a própria essência do contrato, fora
do qual não existe nada além do puro concubinato” (“Breve” ao Rei
da Sardenha).
O contrato puramente natural só existe para os infiéis, para
aqueles que não receberam o Batismo.
Casamento civil. Para os cristãos, o casamento civil nada mais é
do que uma simples formalidade jurídica, que assegura aos cônjuges
os privilégios estabelecidos pelas leis civis. Sem o casamento
religioso, o casamento civil é um concubinato vergonhoso. Os dois
cônjuges vivem habitualmente em pecado mortal, são indignos dos
Sacramentos e os seus filhos, perante a Igreja, são ilegítimos.

721
E, na verdade, é uma questão de fé que o casamento seja um
sacramento imposto aos cristãos por Jesus Cristo. Ora, os
Sacramentos não são da responsabilidade da autoridade civil; Jesus
Cristo não escolheu funcionários do Estado para conferir os
Sacramentos.
Montesquieu prova que, em todos os tempos e em todos os
lugares, a Religião sempre interveio no Casamento” e na autoridade
civil, que é o maior ataque do poder público ao poder religioso.
1) Matéria e forma. A questão do Sacramento do Matrimônio
consiste na doação recíproca que os dois cônjuges fazem um ao
outro. Este consentimento mútuo deve ser formalmente expresso
perante o próprio pároco, ou um sacerdote por ele delegado, e duas
testemunhas.
O sinal sensível do Matrimônio representa: a união indissolúvel
de Jesus Cristo com a sua Igreja. E esta é a razão pela qual São
Paulo disse: “Este Sacramento é grande em Jesus Cristo e na sua
Igreja”. Disto o Apóstolo deduz que as mulheres devem estar
sujeitas aos seus maridos, como a Igreja está sujeita a Jesus Cristo.
E que os maridos amem as suas esposas, como Jesus Cristo ama a
Igreja (Ef 5, 22-25).
2) Os ministrosdeste Sacramento são os dois contratantes: o
Sacerdote é a testemunha indispensável do contrato, delegado pela
Igreja para abençoar a união das duas esposas, contratadas diante
de Deus e diante dos homens.
3) Sujeitodo Matrimônio é toda pessoa batizada, livre de
impedimento.
4) Condiçõesobrigatório. 1) Para receber validamente o
Sacramento do Matrimônio é necessário: a) ser batizado; b) não
possuir qualquer dirimme de impedimento; c) tenham a intenção de
contrair efetivamente um Casamento verdadeiro (indissolúvel); d)
verificar o contrato de casamento perante o pároco, ou perante um
sacerdote por ele autorizado e duas testemunhas. Sem estas quatro
condições o Casamento é nulo. (Em caso de perigo de morte ou
onde o sacerdote não chegue há muitos anos, um leigo pode casar,
sendo testemunha do contrato e seria um verdadeiro Sacramento).
2) Casar legalmentese precisa:
a) Conhecei suficientemente as verdades da fé para poder
ensiná-las aos vossos filhos.

722
b) Cumprir as prescrições da Igreja relativas
proclamações, ao tempo e às pessoas.
c) Receba este Sacramento em estado de graça e com reta
intenção.
Como você deve se preparar para o casamento?
Você deve se preparar: 1) com comportamento ordeiro; 2) com
prudência na escolha da pessoa; 3) com orações fervorosas;
4) com uma Confissão geral e uma Sagrada Comunhão. Com estes
meios, os cônjuges podem atrair as bênçãos de Deus para a sua
futura família.
5) Impedimentos ao casamento.Impedimentos são obstáculos
que impedem que um casamento seja legítimo. Alguns, impedidos,
tornam-no ilegal; os outros, decisivos, anulam-no.
Alguns impedimentos existem pela lei natural, e outros, por
direito eclesiástico.
A Igreja, sociedade visível e divina, estabelecida por Jesus Cristo
como diretora da humanidade, tem o duplo poder de decretar
impedimentos e de dispensar aqueles que estabeleceu quando
considerar apropriado. Este é um dogma de fé. A Igreja não pode
prescindir de impedimentos de direito natural ou divino, como os do
parentesco nos seus primeiros graus.
O estabelecimento dos impedimentos decretados pela Igreja é
uma obra muito sábia. Sua finalidade é: 1) preservar os bons
costumes nas famílias; 2) manter a santidade do Casamento;
3) garantir a saúde das crianças. A renúncia a determinados
impedimentos pode ser obtida quando existam motivos graves para
tal; mas a Igreja não a concede sem penalidade e, neste caso, impõe
a esmola como penitência, mais ou menos considerável, segundo as
faculdades dos requerentes.
Impedimentos de casamento: Para este tema é necessária a
leitura do Código de Direito Canônico. O mesmo acontece com
Dirimentes e casamentos mistos.

723
APÊNDICE

Virgindade cristã
A Igreja, no Concílio de Trento, definiu como dogma de fé que a
virgindade ou o celibato é um estado, ao mesmo tempo mais perfeito
e mais feliz, que o estado do Matrimônio, e que com a Graça de
Deus uma castidade inviolável em toda parte. vida.
O estado de virgindade é mais perfeito, porque: 1) Nos torna mais
parecidos com Jesus Cristo. 2) Imitar mais a vida dos Santos no céu.
3) Nos dá maior liberdade para servir a Deus e ao próximo.
Portanto: um grande número de Santos renunciou ao Casamento
para não se preocuparem, segundo o conselho do Apóstolo, senão
com as coisas de Deus e com o cuidado de se tornarem agradáveis
aos Seus olhos (1 Cor. 7).
Quão bela é a legião de almas castas que dedicaram a sua
virgindade a Deus!
Anjos de oração, alguns oferecem a Deus, na solidão do claustro,
as suas vigílias, as suas súplicas, as suas expiações voluntárias,
para desviar os raios da sua justiça do mundo culpado.
Anjos da caridade, os outros são os instrumentos ativos e
altruístas da misericórdia: aliviam todas as misérias, consolam todas
as desgraças, cuidam de todas as doenças...

III. Oração, segundo meio para obter Graça


Deus pode comunicar-nos Suas Graças, diretamente por Si
mesmo, e às vezes Ele o faz. Mas como Ele não quer nos salvar
sem a nossa cooperação, Ele exige que utilizemos os meios por Ele
estabelecidos para nos conferir a Sua Graça. Esses meios são os
Sacramentos e a oração. Os Sacramentos são os canais que nos
transmitem isso; A oração é a força que o atrai.
1) Natureza. A oração é uma elevação da nossa alma a Deus
para cumprirmos os nossos deveres para com Ele e pedirmos as
Suas Graças. A oração vocal e a oração mental são diferenciadas.
A oração mental é aquela que se faz no espírito e no coração,
sem recorrer às palavras. É a aplicação do nosso espírito e do nosso
coração a Deus e às verdades divinas.

724
A oração eleva a alma do nada da criatura a Deus, o Criador. É
uma conversa entre o homem e Deus para homenageá-lo e pedir
agradecimentos.
O que o homem deve a Deus?A homenagem da adoração, que
consiste em aniquilar-se diante de Deus e reconhecê-Lo como
Primeiro Princípio, Ser Soberano e Fim Último de todas as coisas. O
que o homem deve a Deus? A homenagem de Ação de Graças por
tudo o que nos foi dado nas Ordens Sagradas naturais e
sobrenaturais. Através da oração prestamos a Deus estas duas
grandes homenagens de toda criatura racional.
A oração, como súplica, pede perdão pelas faltas cometidas,
solicita as Graças necessárias para nós e para o próximo. A oração
é o pedido, por nós mesmos e pelo próximo.
A oração é o pedido de um filho a um pai. Nada mais doce, nada
mais suave, nada mais poderoso que a oração.
2) Necessidade de oração.A oração é necessária para os
adultos que necessitam de um preceito e de um meio.
A) A oração é necessária com a necessidade de um
preceito,visto que Deus nos ordena orar no primeiro mandamento:
“Adorarás o Senhor teu Deus”, etc. Jesus Cristo promulgou a grande
lei da oração: “Pedi, diz ele, e ser-vos-á dado, procurai e
encontrareis”, etc. Devemos orar sempre e nunca vacilar na oração:
Oportet sempre orare. (Lc. 18, 1). E o Salvador não deixa de incutir
em nós a obrigação de orar, através de seus ensinamentos e
exemplos.
Como você pode orar sempre? Oramos sempre: 1), elevando
frequentemente o espírito e o coração a Deus; 2), fazendo todas as
coisas com a intenção de agradá-Lo.
B) A oração é necessária com necessidade de meios.Não
podemos observar a lei de Deus sem a ajuda da Graça: agora,
normalmente não podemos obter Graça exceto pela oração. Tal é,
de facto, a disposição da Providência divina, que regularmente
concede os seus dons apenas às humildes súplicas das suas
criaturas. A oração é a moeda que deve ser usada para adquirir a
Graça de Deus.
Às vezes é dito:Deus conhece minhas necessidades, por que
devo orar a ele? Deus sabe perfeitamente do que necessitamos,
mas, não querendo nos tratar como seres irracionais, que recebem
sem pedir, estabeleceu a lei da oração, Peça e lhe será dado... Ele
estabeleceu
725
esta lei, para nos forçar a comunicar com Ele, a adorá-Lo, a
agradecer-Lhe, a amá-Lo, a falar com Ele. Nestas conversas íntimas
a nossa alma eleva-se acima das coisas terrenas, purifica-se e
torna-se cada vez mais semelhante a Deus. A oração é o que os
santos fazem.
B) Eficácia e poder da oração.A oração é todo-poderosa: pode
obter tudo de Deus, não só porque glorifica as suas perfeições
divinas, mas também porque se baseia na promessa de Deus e nos
méritos de Jesus Cristo. Podemos esperar tudo de Deus porque Ele
mereceu todas as coisas boas para nós: “Em verdade, em verdade
vos digo: tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, Ele vo-lo
dará” (Jo 16, 23). . “Tudo o que pedirdes a meu Pai, orando com fé,
você o obterá” (Mt. 21, 22). Quem diz tudo, nada exceto. Santo
Afonso Maria de Ligório conclui: “Quem reza é salvo, quem não reza
é condenado”.
Deus às vezes adia nos ouvir, para testar a nossa fé, para punir a
nossa tibieza e para nos tornar mais humildes e mais fervorosos.
Acontece também que quem pede uma graça obtém outra melhor do
que desejava. Deus se comporta conosco como uma mãe que nega
ao filho, mesmo que chore, uma arma perigosa e o acalma dando-
lhe algo melhor.
Conseqüentemente, se nem sempre conseguimos o que
pedimos, ou é porque rezamos mal, ou porque pedimos o que não é
conveniente para a nossa salvação, ou, finalmente, porque não
temos perseverança.
C) Qualidades da oração.Para merecer ser ouvida, a oração
deve atender às seguintes condições. Você deve orar: a) com
atenção, ou seja, pensar em Deus e no que lhe é pedido; remova as
distrações para não focar nas coisas de Deus. distrações voluntárias
são pecados veniais. b) Com humildade, isto é, com o sentimento
profundo da nossa indigência e da nossa indignidade: “Deus resiste
aos soberbos e dá graças aos humildes” (Tiago 4, 6). c) Com
confiança, isto é, com a certeza de que Deus pode nos conceder o
que lhe pedimos, e que ele quer conceder. A confiança, fundamento
da oração, baseia-se nas promessas de Deus e nos méritos de
Jesus Cristo. d) Com perseverança, isto é, com o sentimento
profundo das nossas razões, mesmo que a escuta seja diferente.
Deus prometeu tudo à oração e concede tudo à perseverança. e) Em
nome de Jesus Cristo. Como filhos de Adão, não somos dignos de
sermos ouvidos. Através de Jesus Cristo, Deus nos ouve e nos ama;
por seus
726
méritos, podemos obter graça. Jesus Cristo é nosso Mediador, nosso
Advogado diante de Deus. “Em verdade, em verdade vos digo: o Pai
vos dará tudo o que pedirdes em meu nome” (Jo 16, 23).
D) Quando você deve orar?O preceito da oração obriga:
a) Mal cheguei ao uso da razão.
b) Quando alguém é fortemente tentado contra alguma virtude.
c) Quando um Sacramento deve ser recebido.
d) Quando você está em perigo de morte.
e) Frequentemente durante a vida.
Os bons cristãos rezam frequentemente, mas sobretudo ao
levantarem-se e ao deitarem-se, aos domingos e feriados, antes e
depois das refeições, nas tentações e perigos, e no início das suas
obras principais. E nunca param de rezar o Rosário diário e de ler a
Bíblia, mesmo que seja 15 minutos por dia.
Deixar passar vários dias consecutivos sem orar pela manhã e à
noite nos expõe ao perigo de perder todo o sentimento de devoção e
de cair rapidamente em alguma culpa grave.
E) Por quem devemos orar?Devemos orar por todos aqueles
que ainda não possuem a bem-aventurança eterna, porque devemos
desejar a salvação de todos e buscá-la na medida das nossas
forças. Devemos orar, particularmente, por nós mesmos, pelos
nossos pais e parentes, pelos nossos benfeitores, pelos nossos
amigos, inimigos, vivos e falecidos; Devemos rezar pela Igreja e pelo
país.
Oração pelos falecidos.Numerosos motivos nos convidam a
rezar pelos defuntos:
a) A caridade impõe-nos o dever de ajudar aquelas almas tão
amadas por Deus e muitas vezes esquecidas.
a) A justiça obriga-nos a aliviar aqueles que sofrem por nossa
causa: os nossos pais que nos criaram, as vítimas dos nossos
escândalos, etc.
c) A gratidão nos prescreve ajudar nossos benfeitores.
d) O interesse nos dita isso, porque, ao orarmos pelos falecidos,
ganhamos poderosos intercessores no céu.
“É, portanto, um pensamento santo e louvável rezar pelos mortos”
(Il Macab. 12, 46).

727
F) Que bens devem ser pedidos em oração?Devemos pedir a
Deus os bens que resultem na sua glória, no nosso bem e no do
próximo. “Buscai primeiro o reino de Deus, e o resto vos será dado
por acréscimo” (Mt. 6, 33).
Bens temporários como saúde, sucesso nos negócios, etc.
também podem ser solicitados, desde que seja para um bom
propósito, tendo em vista a glória de Deus e com submissão à
vontade divina.
G) Fórmulas principais.As melhores orações vocais são: o Pai
Nosso, a Ave Maria, os Atos de Fé, Esperança, Caridade e
Contrição, as orações litúrgicas da Igreja... A Santa Missa, a Liturgia
das Horas e o Santo Rosário, a Via Crucis, etc.
A oração individual não é suficiente; você tem que orar em
família; a oração nacional é necessária...
"A porçãoem comum, a oração na igreja, tem uma eficácia
particular. Jesus Cristo prometeu estar entre aqueles que rezam
juntos: a união faz força, e o fervor de uns compensa a tibieza de
outros.
“A oração é a rainha do mundo. Coberta com roupas humildes,
ela abaixa a testa, estende a mão, protege o mundo com sua
majestade suplicante. Já, sem cessar, do coração dos fracos para o
coração dos fortes; Quanto mais baixa for a sua súplica, mais seguro
estará o seu império. Se um inseto pudesse nos implorar quando
vamos esmagá-lo, ficaríamos intensamente comovidos: E como não
há nada tão elevado quanto Deus, nenhuma oração é tão vitoriosa
quanto aquela que sobe até Ele.(Lacordaire).

CONCLUSÃO FINAL
Retiramos da obra do Abade Moigno, Os Esplendores da Fé, a
conclusão que ele tira da simples exposição da religião católica.
Registo o facto de esta exposição simples e séria ser em si um
dos mais brilhantes esplendores da fé, uma prova da divindade da
Religião Católica.
Esses mistérios tão sublimes para a razão, dos quais a
inteligência mais elevada, a imaginação mais ativa não teria, por si
só, ideia alguma: o Ser divino, Simples, e ao mesmo tempo, Infinito,
Imenso!, a Trindade das pessoas em a Unidade da natureza!, uma e
a mesma pessoa, Deus e o homem juntos!,

728
o Corpo, o Sangue, a Alma, a Divindade de Jesus Cristo, realmente
presente sob as aparências do pão e do vinho!, etc., estes sublimes
mistérios foram acreditados e ainda são, há dezenove séculos, pelos
maiores gênios. A fé dos grandes homens dos séculos mais
iluminados da história foi e é a fé ingénua do carvoeiro: uma coisa
verdadeiramente divina: A Domino, factum est istud.
“Estes preceitos tão rigorosos, estas leis tão severas, estes
concílios tão superiores à natureza, foram aceites, observados e
praticados, durante dezanove séculos, por uma multidão incontável
de cristãos, muitas vezes santos até ao heroísmo. E ainda hoje,
apesar da flexibilização dos costumes, milhões e milhões de cristãos
carregam este pesado jugo com prazer e santa arrogância. Não é
divino? A Domino, factum est istud.
"Essas orações tão ingênuas foram repetidas, durante dezenove
séculos, pelos lábios mais eloqüentes, mais puros, mais doces da
linhagem humana. Isso não é divino?...
“Esta fé cristã e católica, tão formidável nos seus mistérios, tão
sublime nos seus dogmas, tão austera na sua moral, tão heróica nas
suas virtudes, conquistou o mundo apesar dos esforços conspirados
da força bruta; de paixões desencadeadas, de vício triunfante, de
filosofia e ciência orgulhosas, e, ainda hoje, enche a terra;
Permanece de pé e absolutamente um, quando ao seu redor cai e se
divide ao infinito... Aí está o selo da divindade."

729
730
ÍNDICE
1. Introdução5 .....................................................................................
Plano doTrabalho9 .............................................................................
PrimeiroVerdade13 ..........................................................................
DeusExiste13 ..................................................................................
Existe um Deus supremo e eterno, criador e preservador douniverso
......................................................................................................... 13
Ordem do nossoexposição14 .....................................................
I. Prova da existência deDeus14 ............................................
I.1. A existência deuniverso15 ...........................................
I.2. Movimento, ordem e vida dos serescriado17 ................
I.3. A existência do homem, inteligente egrátis22 ..............
I.4. A existência da leimoral23 ..........................................
I.5. A crença universal de gênerohumano24 .......................
I. 6. -Os verdadeiros fatos da história comprovam a
existência deDeus? .................................................................. 26
1. 7. -Como a existência de Deus é comprovada pela
necessidade de um sereterno? .................................................. 27
A. Existe um sernecessário28 .........................................
B. O ser necessário éDeus29 ..........................................
Ensino da IgrejaCatecismo32 ................................................
Primeiro capítulo. O homem é capaz deDeus32..................
I. O desejo de Deus(27-49).32 ........................................
II. As vias de acesso ao conhecimentoDeus33 .................
III. O conhecimento de Deus segundoIgreja34 ................
IV Como falar sobreDeus?35 ..........................................
Resumo36 ......................................................................
II. Refutação deateísmo36 .....................................................
Materialismo - Panteísmo - Positivismo -Darwinismo36.....

731
Materialismo37 ..............................................................
Panteísmo39...................................................................
Positivismo40.................................................................
Gerações espontâneas. - Transformismo ou Darwinismo.41
Consequências desastrosas daateísmo................................. 44
Objetos doateísmo48 .........................................................
III. Deus é o Criador, Preservador e Senhor de todas as coisas.
Ele governa tudo comsua Providência ......................................... 51
SegundoVerdade61 ...........................................................................
Tememos Alma61 ...........................................................................
O homem, criatura de Deus, possui uma personalidade inteligente,
espiritual, livre eimortal ..................................................................... 61
Apêndice 62.................................................................................
Breve lição defilosofia62 ..........................................................
1ª Espiritualidade dealma68...................................................
2ª Liberdade dealma72 ..........................................................
3ª Imortalidade dealma74 ......................................................
TerceiroVerdade97 ...........................................................................
O homem precisa de umReligião97..................................................
I. Necessidade de umreligião99.................................................
a) É um dever para elehomem99 ...........................................
b) A religião é necessáriahomem102 ...................................
c) A religião é necessáriasociedade.104 ...............................
d) A experiência comprova a necessidade dereligião106 ......
II Natureza dereligião108 .......................................................
Interno, externo e adoraçãopúblico108.................................
III. Futilidade dos pretextos alegados pelos indiferentes, para se
eximirem de praticarreligião......................................................... 115
IV. Existe apenas uma religiãobom123 ...................................
V. A verdadeira religião é a religiãorevelado127 .....................
1ª Natureza e possibilidade derevelação128 .........................
2ª Necessidade dorevelação130 ...........................................
3º O fato dorevelação134 ....................................................
religião sobrenatural epositivo136 ....................................
ordem natural eordem sobrenatural 137 ............................
4ª Obrigação de abraçarreligião revelada 140 .......................
Decretos do Concílio Vaticano I sobrerevelação142 .........
VI. Sinais ou notas de revelaçãodivino143 ..............................
Primeiro sinal de revelação: OMILAGRE144 ......................
1ª Natureza e possibilidade deMilagre144 ........................

732
2ª Verificação domilagre147 ............................................
3ª força probatória demilagre151......................................
Segundo sinal de revelação:A PROFECIA152 .....................
1ª Natureza e possibilidade deprofecia152 ........................
2ª Verificação doprofecia154 ...........................................
3º valor probatório doprofecia154 ....................................
Decretos do Concílio VaticanoI155 ..............................
Apêndice 156 .........................................................................
Os mistérios dereligião156 ..................................................
1ª Natureza demistério156 ...............................................
2ª Existência demistério158 .............................................
3º Racionalidade domistérios161......................................
4ª Utilidade demistérios163 .............................................
Decreto do Concílio Vaticanoi167 ................................
TrimestreVerdade171 .....................................................................
A religião cristã é a únicaReligião Divina 171 ................................
I. A revelação antesJesus Cristo174 ............................................
lº Revelação ou religiãoprimitivo174 ......................................
Narrativa histórica da religiãoPrimitiva175 ..........................
2ºRevelação Mosaica 181 .......................................................
II. A revelaçãoCristão205 ..........................................................
Narrativa histórica do ApocalipseCristiane206 ........................
1ª Autenticidadedos Evangelhos219 ....................................
2ª Integridade deos Evangelhos222 ......................................
III. Divindade da religiãoCristão230...........................................
I. Profecias feitas em nosso SenhorJesus Cristo231 .................
1ª Profecias sobre a origem doMessias232 ...........................
2ª Profecias relativas ao tempo da vinda do Messias.
.................................................. ................................................232
3º Profecias relativas à vida doMessias235 ..........................
II. Milagres deJesus Cristo240 ................................................
III. Milagre da ressurreição deJesus Cristo246 ........................
1º Os apóstolos e numerosas testemunhas viram Jesus vivo
depois da suamorte................................................................ 248
2º Testemunho dos inimigos deJesus249 ..........................
3º Milagres realizados em nome de Jesusressuscitado249 .
4º Monumentos públicos erigidos em memória
doRessurreição...................................................................... 250
5º A conversão do mundo à religiãoCristão250.................
IV. Profecias feitas por Jesus Cristo e perfeitamente cumpridas.
.................................................. .................................................. 251

733
1) A profecia é a prova da divindade de uma religião.251 2)
Jesus Cristo fez muitosprevisões .......................................... 252
3) Estas previsões de Jesus Cristo são profecias verdadeiras 253
A religião foi estabelecida por milagres ou sem
ajuda domilagres262 .............................................................
V. Número e registro de mártiresCristãos269 ..........................
VII. Frutos admiráveis produzidos pela religiãoCristão277 ......
VIII. Excelência DoutrináriaCristão285 ..................................
A) perfeito nas funções queimpõe288 .................................
B) A moralidade cristã é perfeita nos seus motivos e na sanção
queestabelece ........................................................................... 289
Apêndice 294 .........................................................................
Divindade de nosso SenhorJesus Cristo294..........................
Jesus Cristo afirma que é Deus: portanto éDeus302 .........
1. Os milagres de Jesus Cristo provam que éDeus304 ...
2. Jesus Cristo trabalha como Deus paraintelectual305 ..
3. A santidade de Jesus Cristo prova que éDeus307 ......
A Cruz por si só é suficiente para provar o CredoCatólico323
...........................................................................................
QuintoVerdade329 ..........................................................................
A Igreja Católica é o único repositório da religiãoCristão329 .........
I. A Igreja estabelecida porJesus Cristo331 .................................
1ª Natureza da Igreja deJesus Cristo331 ..................................
2ª Fundação daIgreja333.........................................................
3º A existência da Igreja prova que Jesus Cristo é o seu fundador.
.................................................. .................................................. 336
4ª Constituição da Igreja ........................................... . .......343
5º Primaz de SantoPedro347 ...................................................
6º Poderes que Jesus Cristo deu aos seusIgreja351 ..................
7º Prerrogativas inerentes às atribuições doIgreja356 ...............
a) Infalibilidade doIgreja356 ...............................................
B) Independência doIgreja360.............................................
C) Perpetuidade doIgreja361 ...............................................
II. A Igreja Católica é a verdadeira Igreja daJesus Cristo362 .......
1º A Igreja Católica tem a mesma Constituição da Igreja deJesus
Cristo .......................................................................................... 364
2º A Igreja sujeita ao Papa é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo
.................................................. .................................................. 365
Decretos do Concílio VaticanoI368 .....................................
Primeira constituição dogmática sobreIgreja368 ...............
3º Notas da verdadeira Igreja deJesus Cristo370 ......................

734
1ºUnidade371......................................................................
2ºSantidade372 ...................................................................
3ºCatolicidade.372 ..............................................................
4ºApostolicidade373 ...........................................................
4º A Igreja Romana tem estes quatronotas374 .........................
1º A Igreja Católica Romanaé um374 ..................................
2º A Igreja Católica RomanaÉ o Papai Noel375 ...................
3º A Igreja Romanaé católico378 .........................................
4º A Igreja RomanaÉ Apostólico378 ...................................
5º As notas da verdadeira Igreja não se encontram em nenhum
documento herético oucismático................................................... 380
1ª Origem deprotestantismo381 ...........................................
2º O Protestantismo não tem as notas da verdadeira Igreja
.................................................. ................................................386
3º Na sua regra de fé, o protestantismo contradiz Nosso
SenhorJesus Cristo ................................................................... 391
4º A Igreja Grega cismática não possui as notas da
verdadeiraIgreja........................................................................ 395
Precisa pertencer à IgrejaCatólico398 ..................................
III. Organização da IgrejaCatólico406 ........................................
1º O Papa as suas prerrogativas, a suapoderes408 ....................
2. A infalibilidade pontifícia é umanecessidade.415 ................
Definição do Concílio Vaticano I (1870 _1871)415 .............
3º Os Bispos, os Sacerdotes; seus váriospoderes420 ................
Eu. OBispos420 ..................................................................
2. Auxiliares e colaboradores deos Bispos425 ......................
IV. As relações entre a Igreja e oStatus434 .................................
1ª Distinção entre os doissociedades435 ..................................
2ª Independência doIgreja438 .................................................
3ª União mútua da Igreja e doStatus440 ..................................
4ª Subordinação do Estado aoIgreja442...................................
5º Os direitos doIgreja445.......................................................
6º Deveres recíprocos da Igreja e doStatus447.........................
1. A Igreja sempre cumpriu os seus deveres para com o Estado
447
2. Deveres doStatus448 .......................................................
7º Erros modernos sobre as relações entre a Igreja e o Estado .. 453
Racionalismo, Naturalismo,Liberalismo453.........................
a) Noçõesgeral453..........................................................
b) Refutação deliberalismo455 .........................................
c) A Igreja e as liberdadesmoderno461 .............................

735
Conclusões práticas465 ................................................
Apêndice 466 .........................................................................
Os inimigos da Igreja: OsMaçonaria466 ..............................
1ª Origem domaçonaria467 .................................................
2ª Organização domaçonaria469 ..........................................
3º Objetivo domaçonaria470................................................
4º Os estragos demaçonaria472 ...........................................
5º As armas domaçonaria478...............................................
6° Deveres dos católicos contramaçonaria481 ......................
V. Benefícios que a Igreja distribui ao mundo ou A Igreja e o
civilização ....................................................................................... 482
1º Benefícios da Igreja em ordemsobrenatural483 ...................
2º Benefícios da Igreja noordem natural484 ............................
A Igreja deu ao mundo a verdadeiracivilização484 ..............
A Igreja deu ao mundo liberdade, igualdade e fraternidade... 495
A Igreja e oliberdade495 ..................................................
A Igreja e oigualdade498 .................................................
A Igreja e ofraternidade.501.............................................
A Igreja, com os seus ensinamentos, procura sempre a
verdadeira felicidade temporária para o homem, família esociedade
................................................................................................ 506
1° A Igreja procura a felicidade doshomem507 ................
2º A Igreja zela pela felicidade dosfamília509 ..................
3° A Igreja procura a felicidade dossociedade.510 ............
Apêndice 511 ......................................................................
Principais objeções contraIgreja511 .................................
VI. Nossos deveres para comIgreja520 .......................................
1° Devemos obedecer aos preceitos da autoridade doutrinária de
a Igreja ..................................................................................... 520
Fontes de ensinoIgreja521................................................
a) O sagradoEscrita522.................................................
b) Tradição527 .............................................................
c) Infalibilidade do Magistério doIgreja536 ..................
2º Devemos obedecer aos preceitos da autoridade pastoral de a
Igreja........................................................................................ 542
3° Devemos receber os dons da autoridade sacerdotal do Igreja
................................................................................................ 548
a) A graça é necessáriahomem549 ..................................
b) Que meios Jesus Cristo estabeleceu para conferir Graça?
OSacramentos ....................................................................... 550
c) Número de Sacramentos Instituídospor Jesus Cristo551

736
a) As práticas do Culto Católico sãoobrigatório552 ..........
b) A principal prática do culto católico é o Santo Sacrifício
doMassa ............................................................................... 553
As perseguições provam a divindade doIgreja556 .........
Por que estamosCatólicos?559 ........................................................
I. Todo homem razoável deve acreditar em Deus, Criador do mundo
.................................................. .................................................. ...559
II. Todo homem que acredita em Deus é obrigado a acreditar no
imortalidade da alma, destinada a glorificar oO Criador ................... 569
III. Todo homem que acredita em Deus e na imortalidade da alma
deve praticar a religião impostapor Deus .......................................... 574
1ª Necessidade de umreligião575 ............................................
A) O homem precisa de umreligião.575 ...............................
B) A religião é necessáriafamília576 ...................................
C) A religião é necessáriasociedade.578 ..............................
2º A única boa religião é aquela exigida e impostapor Deus579
..............................................................................................
3º Deus revelou a verdadereligião580 .....................................
Autenticidade dePentateuco581 .......................................
IV. A religião imposta por Deus é a religião cristã; então, todo
homem que acredita em Deus deve sercristão................................... 583
Sinais ou notas de religiãodivino583 .......................................
1º Eventos anteriores à vinda deJesus Cristo584...................
2° Jesus Cristo, sua missão, suadivindade586 ......................
3º Eventos após a vinda deJesus Cristo589...........................
V. A religião cristã é encontrada apenas na Igreja Católica: portanto,
todo cristão deveria sercatólico ........................................................ 593
1° Jesus Cristo funda umaIgreja594 .....................................
2º Governo doIgreja595 ......................................................
3° NaturezaIgreja596 ..........................................................
4º Destino doIgreja597 ........................................................
5º A verdadeira Igreja de Jesus Cristo é a IgrejaCatólico598
VI. Nossos deveres para comIgreja603 .......................................
Compêndio de DoutrinaCristiane605 .............................................
I. Dogma ou verdades que devem seracredite605 ........................
1º Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra
terra ............................................................................................. 606
2º Creio em Jesus Cristo, seu Filho único, NossoSr610............
3º Creio em Jesus Cristo, que foi concebido por obra e graça de
Espírito Santo, e nasceu da VirgemMaria ..................................... 613

737
4º Creio em Jesus Cristo, que sofreu sob o poder de Pôncio
Pilatos, foi crucificado, morreu eenterrado .................................... 616
5º Creio em Jesus Cristo, que desceu ao inferno e ao terceiro dia
surgiu dentre osmorto .................................................................. 619
6º Creio em Jesus Cristo, que subiu ao céu e está sentado à mão
direita de Deus PaiTodo Poderoso ................................................ 620
7º Creio em Jesus Cristo, que virá julgar os vivos e os morto ... 620
8º Acredito no EspíritoSanto621 .............................................
9º Acredito na Santa Igreja Católica, na Comunhão dos Santos
.................................................. .................................................. 622
10º Eu acredito no perdãoos pecados625 .................................
11º Creio na ressurreição doCarne625 .....................................
12º Eu acredito na vidaduradouro626 ......................................
II. Moralidade ou os deveres que devem ser cumpridos para merecer o céu
.................................................. .................................................. ...631
1º Eles não terão outro Deus senãoEu631 ................................
2º Você não usará o nome de Deus emvaidoso636...................
3º Lembre-se de santificaras férias638 ....................................
4º Honre seu pai e você mesmomãe640 ...................................
I. OFamília640....................................................................
1º deveres dos filhos para com os seuspais640 .....................
2º Deveres dos pais para com os filhoscrianças641 ..............
II. Sociedade Doméstica Deveres dos servos e senhores
.................................................. ................................................642
III. Sociedade Religiosa Deveres dos fiéis para com o
Sacerdotes ................................................................................ 642
IV. Deveres da Sociedade Civil de súditos e governantes
.................................................. ................................................642
Apêndice 643 ......................................................................
O dever devote643 ...........................................................
5º Nãovocê vai matar645 ........................................................
6º Você não cometerá açõesimpuro650 ...................................
9º Você não desejará sua esposavizinho650.............................
7º Nãoroubar.654....................................................................
10º Não cobiçar bensalienígenas654 .......................................
8º Você não prestará falso testemunho ouvocê vai mentir657 ..
Os mandamentos ou preceitos doIgreja662..............................
O que evitar e o que fazerdo664 ..............................................
1º O que háo que evitar664 ..................................................
2º O que você precisafazer.665 ............................................

III. O Culto ou os meios estabelecidos por Deus para nos santificar

738
.................................................. .................................................. ...667
I. Ograça668...........................................................................
1ª Natureza degraça668 .......................................................
2ª Graçaatual668 .................................................................
3ª Graçahabitual671 ............................................................
4º Omérito672 .....................................................................
II. Os Sacramentos, meio de obter oGraça674 .........................
Divisão deos Sacramentos675 .............................................
Elementos constituintes, doSacramentos676 ........................
DisposiçõesObrigatório676 .............................................
Efeitos deos Sacramentos677 ...........................................
Como eles produzem efeitos?Sacramentos?677 ................
I. EleBatismo678 ................................................................
Necessidade deBatismo678 ..............................................
Obrigações dobatizado679...............................................
II. OConfirmação679 ..........................................................
III. OEucaristia681 ..............................................................
a) Presença Real de Jesus Cristo noEucaristia682 .............
Explicações da presençareal684 ...................................
b) A Eucaristia comoSacramento687 ................................
Disposiçõesobrigatório688...........................................
c) A Eucaristia comoSacrifício 689 ..................................
IV. O Sacramento da Penitência ouConfissão691 .................
Necessidade do Sacramento dePenitência692...................
Disposiçõesobrigatório693 ..............................................
Partes essenciais do Sacramento doPenitência693 ............
Atos doPenitente694 ........................................................
1) Ocontrição694 .........................................................
2) Oconfissão696 .........................................................
3) Osatisfação699 .........................................................
4) A Absolvição dePadre700 ........................................
V. A Extrema Unção ou Unção doDoente700 ......................
VI. A ordemSagrado702......................................................
VII: OCasamento705 ..........................................................
Apêndice 708 ......................................................................
VirgindadeCristão708 .....................................................
III. A oração, segundo meio de obterGraça708 ........................
Conclusãofinal712 .....................................................................

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