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NÃO CONCORDO
NEM DISCORDO
MUITO PELO CONTRÁRIO!
T R A ND O SENTIDO
ENCON
NDO QUE
EM UM MU POTA
CA
NÃO GIRA,
PRÓLOGO
“Hey Google; um homem pode engravidar?”. Essa foi a
pergunta que fiz após assistir ao vídeo de um youtuber britâ-
nico que tirava o sarro da capacidade da internet de oferecer
respostas inimagináveis - e um tanto quanto bizarras - a per-
guntas aparentemente hilárias. Já faz cerca de cinco anos que
fiz esse questionamento, e na época, a resposta do meu ami-
go Google me arrancou algumas gargalhadas: ele respondeu
que sim, um homem poderia engravidar! Imediatamente, eu
tirei um print da tela como quem salva um meme ou um bug
do sistema para compartilhar com os amigos. Afinal, cinco
anos atrás, aquela resposta que me parecia absurda, poderia
ser facilmente identificada como prank ou falha da máqui-
na. Entretanto, hoje é diferente. Eu não posso classificar a
afirmação de que um homem pode engravidar como falha do
sistema de respostas, pois caso discorde do que o Google me
contou, eu poderei ser processado, e em muitos lugares, até
perder o emprego.
Para os nascidos de uma mulher, isso pode parecer confuso.
Também é muito nebuloso o como as pessoas LGBTQIAPN+,
especificamente, se sentem com a complexidade desse assunto.
Alguns dias atrás, eu me deparei com uma discussão entre um
bissexual e um não-binário. O homem bissexual se queixava, e
expunha uma confusão em relação a sua sexualidade: como ele
poderia se considerar bissexual, se a existência de pessoas não-
-binárias pressupõe a existência de mais do que dois gêneros?
Ora, essa é uma resposta que duvido até mesmo as maiores
mentes científicas conseguirem dar.
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Talvez, você esteja se perguntando sobre o que me levou
a começar a introdução de um livro abordando esse assunto.
Então, eu te devolvo com outra pergunta: de qual outra forma
eu poderia começar senão por meio de um assunto que está
entre os mais abordados na atualidade? Enquanto escrevo este
texto, acabamos de sair do Pride Month, que é o mês no qual
se comemora a diversidade de sexualidade. Na cidade em que
vivo, praticamente todas as grandes lojas aderiram à comemo-
ração, e em muitos lugares os logos das lojas foram pintados
nas cores do orgulho LGBTQIAPN+, ou substituídos por arco-
-íris. Em uma das principais avenidas de Londres, a bandeira
da Grã-Bretanha também deu lugar a Rainbow Flag (Bandeira
do Arco-Íris). Aliás, é possível que enquanto você lê esse livro,
a bandeira já tenha mudado de nome. Então, me desculpe, mas
o que posso fazer se as coisas estão mudando rápido demais,
e a cada dia se adiciona uma letra aos gêneros? Entendo caso
você fique ofendido com minha sinceridade, mas acredite, não
digo essas coisas por mal, é que realmente, como já disse: para
os nascidos de mulher, esse assunto ainda está muito confuso.
Está tão confuso, que encontra-se complexidade até na tenta-
tiva de responder à simples pergunta: “O que é uma mulher?”.
Seria esse o novo normal, e por isso devo fingir norma-
lidade? À custo de que eu faria isso? Com muita sinceridade,
olhando de fora, as coisas parecem cada vez mais confusas para
quem diz finalmente ter se encontrado. O que de fato torna-se
um grande paradoxo, pois como apontou Carl R. Trueman:
“Enquanto o sexo pode ser apresentado hoje como pouco mais
do que uma atividade recreativa, a sexualidade é apresentada
como aquilo que está no cerne do que significa ser uma pessoa
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autêntica”1. Desprezamos, e ao mesmo tempo, “divinizamos”,
aquilo que talvez nós pouco compreendemos de fato.
Não acredito que era exatamente isso que Rousseau tinha
em mente quando começou a apontar a verdade de si para seu
eu interior. Porém, é para esse lugar que estamos caminhando,
o da religião do mundo, que por mais que possa parecer, não é a
sexual, mas a do Self. Descartamos a religião como aquela que
antes nos religava a um ser superior a nós mesmos, pois agora,
encontramos no self a mais alta compreensão da realidade.
Sendo assim, não poderia começar um livro que sugere
uma busca por sentido, sem partir do lugar que nos encontra-
mos hoje. Seria injusto com a realidade não apontar fatos como
esses, principalmente no período em que vivemos, no qual até
mesmo o nosso vocabulário é constantemente atualizado para
se adequar às pautas identitárias. Se isso é uma coisa boa? Res-
pondo por mim: está cada vez mais confuso.
Talvez você ache que estou exagerando, mas eu discordo.
Imagine se alguém, vinte anos atrás, dissesse a um médico que em
seu interior se sente alguém diferente do que aparenta ser exterior-
mente? O que esse médico faria? Na melhor das intenções, bus-
caria ajudar a pessoa a se adequar à realidade exterior. Hoje, pelo
contrário, em casos mais extremos porém reais, médicos, na me-
lhor das intenções também, prescrevem tratamentos e até mesmo
cirurgias para alterar o exterior, assim se adequando ao interior.
Não quero aqui subestimar o longo caminho que a comunidade
LGBTQIAPN+ percorreu para o reconhecimento de alguns de
seus direitos fundamentais, e vitória sobre preconceitos desuma-
1. TRUEMAN R. CARL. The Rise and Triumph of Modern Self. 2020. Crossway
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nos, mesmo que ainda de forma parcial. No entanto o que enfatizo
aqui é que para as pessoas comuns que não lêem os grandes pen-
sadores das academias, tais mudanças sobre o entendimento do
eu, se deram drasticamente em um curto espaço de tempo, como
exemplo temos o próprio Barack Obama, hoje grande defensor de
pautas semelhantes às citadas, que até o ano de 2012 nem mesmo
apoiava o casamento homoafetivo, pelo contrário.
Com isso quero dizer que o passado era melhor do que o
presente? Qual passado seria esse? Aqueles gloriosos do século
XIX em que a Igreja crescia, os casamentos eram entre homens
e mulheres e as crianças trabalhavam nas minas de carvão? Ou o
passado de duas guerras mundiais? Fica claro que todos os perí-
odos da História tiveram suas dificuldades, e por isso não penso
que no passado encontraremos o que buscamos. Na realidade,
o que vivemos hoje é resultado do passado, pois o princípio é
esse: nenhum fenômeno histórico individual é resultado de sua
própria causa. Ou seja, não foi a Primeira Guerra Mundial que
causou a Primeira Guerra Mundial. O mundo se desenrolou até
ali. Por isso, não é por acidente que hoje estamos discutindo se
uma criança de 8 anos tem a capacidade de decidir se deve co-
meçar a tomar medicamentos bloqueadores da puberdade para
então passar por uma futura cirurgia de mudança de sexo.
Se está pensando que este livro é sobre sexualidade e suas
possíveis e constantes variações, você se enganou. Eu sei que
dei motivos para que essa seja sua impressão inicial ao ler este
prefácio. Mas, na verdade, não acredito que experiências sexu-
ais são o caminho para a descoberta do eu. Por isso, te convido
a avançar para as próximas páginas e perceber a verdadeira
reflexão que quero propor por meio desta obra.
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01.
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CONHECIMENTO
“CONHECE-TE
A TI MESMO.”
SÓCRATES
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Penso que aqui será o único ponto que irei concordar com
a maioria, eu não posso responder por outra pessoa, cada um
responde por si mesmo, cada um deve se descobrir. Ora, se é
assim, deixe-me então contar sobre a minha própria descober-
ta. A pergunta que fica é: ela será aceita? Ou serei excluído dos
debates sociais por pensar diferente da maioria?
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2. ‘I’ve gone back to being a child’: Husband and father-of-seven, 52, leaves his wife and
kids to live as a transgender SIX-YEAR-OLD girl named Stefonknee: https://www.dailymail.
co.uk/femail/article-3356084/I-ve-gone-child-Husband-father-seven-52-leaves-wife-kids-
-live-transgender-SIX-YEAR-OLD-girl-named-Stefonknee.html
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seria possível. Não por se tornar sem sentido, mas sim, porque
é a única base plausível para tudo o que será exposto.
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5. Verba volant, scripta manent é um provérbio em latim. Traduzido literalmente como “pa-
lavras faladas voam para longe, palavras escritas permanecem” ou “as palavras voam, os
escritos ficam” ou simplesmente “as palavras voam, mas permanecem quando escritas”.
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