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FACULDADE DE HISTÓRIA
GOIÂNIA - GO
2022
ÁLVARO ANTÔNIO ALVES DA SILVA
BÁRBARA DEZEMBRINA BARROS DA SILVA
FÉLIX AZEVEDO DE OLIVEIRA
HEITOR GONDIM DE ANDRADE
MARIA EDUARDA ALVES DE OLIVEIRA
RAFAELA CAMELLO DA MATA
THIAGO ALECRIM DE SOUZA
ANÁLISE DOCUMENTAL: O "De excidio Vrbis" e outros sermões sobre a queda de Roma
GOIÂNIA - GO
2022
SUMÁRIO
4. Bibliografia………………………………………………………………………………. 15
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associa a jovens que se vangloriavam de suas aventuras sexuais com mulheres e homens. É
deste período uma famosa oração de Agostinho: "Senhor, conceda-me castidade e
continência, mas não ainda" (AGOSTINHO. Confissões. 2004.)
Algum tempo depois, creia-se que dois anos, Agostinho inicia um romance com uma
jovem cartaginesa, da qual mantém uma relação de concubinato. Dessa relação nasce seu filho
Adeodato. Por volta de seus 30 anos de idade, Agostinho assume como professor de retórica
na corte imperial em Mediolano.
Sobre sua conversão ao cristianismo, Agostinho se converte no verão de 386, depois
de ouvir a história da vida de Santo Antão do Deserto por Placiano e seus amigos, ele nos
conta em uma das suas confissões, que ouviu uma voz infantil dizendo “tolle, lege” que seria
"tomar e ler", o que ele entendeu ser um comando divino para abrir a Bíblia, e ler a primeira
coisa que encontrasse, foi então que ele encontra o seguinte trecho: “Andemos honestamente
como de dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em
contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não vos preocupeis com a
carne para não excitardes as suas cobiças.” (Romanos 13:13-14). Esse trecho é conhecido
como "transformação dos crentes".
Agostinho é batizado em 387 d. C. por Ambrósio um dos mais importantes membros
do clero no século IV, junto ao seu filho Adeodato.
Em 391, Agostinho é ordenado sacerdote em Hipona, e em 395, foi nomeado bispo
coadjutor de Hipona, logo depois, assume o trono episcopal, motivo pelo qual é conhecido
como "Agostinho de Hipona", uma posição que manteve até sua morte.
Sobre seus últimos dias de vida temos apenas relatos de Possídio, o bispo de Calama
que seria melhor amigo de Agostinho. Na primavera de 430, os vândalos, uma tribo
germânica convertida ao arianismo, invadiram a África romana e cercaram Hipona, mas essa
não é a razão de sua morte, a verdade é que Agostinho já estava muito doente, segundo
Possídio, Agostinho passa seus últimos dias em oração e penitência, com salmos pendurados
nas paredes de seu quarto e antes de morrer, ordena que a biblioteca da igreja de Hipona e
todos os seus livros fossem cuidadosamente preservados, e então falece em 28 de agosto de
430 d.C.
Há duas obras que podem ser consideradas as principais desenvolvidas pelo intelectual
durante sua vida. A primeira delas é “Confissões” (397-400), a qual retrata a sua vida antes
de ser membro da Igreja Católica (focando no pecado, no maniqueísmo e no hedonismo)e o
seu processo de conversão. A segunda é “A Cidade de Deus”, em que vai tratar dos dogmas
cristãos, iniciando um movimento de filosofia cristã.
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II. Como a ideia de um fim do mundo já definido, de uma consequente morte de todos,
um final certo relacionado ao fim da humanidade, exposta no sermão 81, pode nos
ajudar a entender a visão de história desse período?
III. Como, por meio da perspectiva apresentada por Agostinho, podemos entender a
relação entre as religiosidades tradicionais romanas, consideradas pagãs, e o
catolicismo?
IV. De que forma, por meio dos sermões, Santo Agostinho de Hipona se coloca em
contra-resposta aos pagãos que atribuíram o declínio do Império Romano ao
cristianismo e eram favoráveis ao culto dos deuses romanos?
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Prestai atenção às palavras deste varão forte e fiel. Prestai ouvidos às palavras de um
homem que apodrece por fora mas é íntegro no seu íntimo. “Falaste como a mais
insensata das mulheres. Se recebemos das mãos do Senhor os bens, porque não
havemos então de suportar os males? Ele é Pai. Porventura deve ser amado quando
acarinha e repudiado quando corrige? Não é Ele Pai, tanto quando promete a vida,
como quando impõe a disciplina?” (AGOSTINHO, 2013, P.47).
Franco Júnior ainda afirma que essa linearidade não seria infinita, mas que teria um
fim definido por Deus: destacando, assim, a escatologia. Essa ideia se baseava na própria
Bíblia, a qual estabelecera o início (Gênesis) e o fim (Apocalipse) da história dos homens na
Terra. Aparecido Manoel complementa, ao afirmar que a história humana teria se iniciado
com Adão e acabaria com o retorno de Cristo, no Juízo Final. Além disso, durante esse
processo os homens "deverão buscar o seu aperfeiçoamento moral visando à salvação e a vida
eterna”. (APARECIDO MANOEL, 2007, P. 110).
Esse ideal de finalidade apresentado por Agostinho também pode ser notado em sua
obra “A cidade de Deus”, ao criticar a visão de uma história cíclica, ele afirma que:
Os filósofos pagãos introduziram ciclos de tempo em que as mesmas coisas seriam
restauradas e repetidas pela ordem da natureza e afirmaram que esses rodopios de
idades passadas e futuras prosseguirão incessantemente … A partir dessa zombaria,
são incapazes de por em liberdade a alma imortal, mesmo depois que ela atingiu a
sabedoria, e acreditam que ela está incessantemente caminhando para uma bem –
aventurança falsa e incessantemente retornando a uma miséria verdadeira … É
apenas através da sólida doutrina de um curso retilinear que podemos escapar de não
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sei quantos falsos ciclos descobertos por sábios falsos e enganosos. (AGOSTINHO.
1990, p.79).
Corroborando com essa ideia, o teólogo Pedro Paulo Alves dos Santos, na obra “ ‘De
Civitate Dei’: História e ‘eschatologia’ em Santo Agostinho. Poder e Religião no Cristianismo
‘latino’ e (Proto) Medieval”, define a escatologia como sendo a teologia do tempo histórico.
O autor, utilizando o pensamento do historiador italiano Arnaldo Momigliano, relaciona a
construção histórica proposta pelo historiador grego Políbio com a de Santo Agostinho.
Políbio, a princípio, trouxe a ideia do desenvolvimento de uma história universal, haja visto
que todos os eventos que já haviam ocorrido na história teriam seu fim no Império Romano,
devido à sua grande expansão no período. Desse modo, segundo o historiador José Moran
(1958), a perspectiva de construção histórico-política e teológica de Agostinho se insere nessa
perspectiva. Entretanto, ela seria adaptada à ideia de uma finalidade ligada ao próprio fim do
mundo e, consequentemente, ao fim da humanidade. Por fim, Dos Santos conclui que “O
pensamento apocalíptico era um estímulo à observação histórica.” (DOS SANTOS, 2008, p.6)
Nessa perspectiva, podemos realizar uma reflexão sobre os objetivos da Igreja ao
propagar essa ideia e o que ela afirmava que viria após o fim do mundo. Primeiramente, é
importante reconhecer a religião como um instrumento de controle usado na Idade Média,
uma vez que justificava fenômenos sociais por meio do discurso, tendo um papel notadamente
coesivo e integrativo. Assim, a Igreja buscava uma imutabilidade social através do campo
ideológico, já que os homens encontrariam compensação para a situação presente, na
esperança de uma salvação futura (GOMES, 2002, p.222).
Esse controle e força coercitiva da religião no medievo era fundado no medo, na culpa
e na esperança do fiel de alcançar o Reino de Deus no futuro através da obediência à Igreja –
detentora do poder religioso e da fé – e das boas obras feitas no presente. Nesse contexto, é
correto afirmar que a influência religiosa no campo social estava inserida em uma lógica
escatológica, ou seja, voltada para o fim, seja ele do indivíduo ou dos homens e a vida terrena
seria algo provisório. Tal afirmação pode ser observada no sermão 81 de Santo Agostinho:
Vamos, cristãos, raça celestial, peregrinos nesta terra que procurais a vossa cidade no
céu, que ansiais por vos juntardes aos santos anjos, compreendei que vós viestes a
este mundo para partir. (AGOSTINHO, 2013, p.75).
da obediência à Igreja. Dessarte, fica evidente que o objetivo da Igreja e, portanto, de Santo
Agostinho, ao propagar a ideia do fim do mundo já definido era exercer um controle social,
evitando fazer com que as pessoas desfavorecidas pelo sistema se revoltassem em busca de
mudanças, com o entendimento que sua condição no presente é temporária e sua aceitação
garantiria um lugar no Reino de Deus. Como é citado em “A Cristandade medieval entre o
mito e a utopia”:
Cada recriação recapitula a criação primordial e todos os começos são,
pois,recomeços, conjugando-se o mito do começo com o do fim último, a protologia
com a escatologia. Resumindo, a escatologia cristã, na Bíblia, relaciona-se com as
categorias de “memória” e “promessa” do discurso histórico-salvífico, com a
profecia e com discurso mítico.(GOMES, 2002, p.227).
Constantino (272 d.C. - 337 d.C) como adepto ao cristianismo e de Juliano (331 d.C. - 363
d.C.) como atuante na tentativa de reabilitar o paganismo. Já no final do século IV d.C., o
imperador Teodósio (347 d.C. - 395 d.C.) vai consolidar a dominação do cristianismo por
meio, principalmente, do edito de Tessalônica (380 d.C.), que declara o cristianismo como
religião oficial do Império. Além disso, em 392 d.C ele promulga a lei que proíbe a oferenda
de sacrifícios, a adoração de ídolos e a elevação de altares, bases das religiões politeístas
romanas. Concluindo suas ações anti pagãs mais representativas, o imperador declara o fim do
financiamento estatal dos ritos politeístas. Assim, a perseguição contra esses indivíduos
aumenta e eles passam à clandestinidade:
Não obstante, além das medidas legais, os pagãos tinham que lidar com uma
ascendente violência contra seus locais religiosos e suas pessoas. Contando com a
cumplicidade do Império Romano, os clérigos da Igreja cristã representados pelos
bispos, padres e monges motivavam os cristãos a atacarem e destruírem os templos e
as estátuas dos deuses, tidos como manifestações de ordem demoníaca (COELHO,
2011, p. 79).
Por fim, a partir dos inícios do século V, o paganismo vai ser considerado como um
superstitio, ou seja, é desconsiderado como religião, sendo encarado como uma mera
superstição (COELHO, 2011, p. 72-78). Tal menosprezo já podia ser visto anteriormente com
Constantino, pois como é citado em seus primeiros editos, os pagãos poderiam cultuar seus
deuses e seus ritos, os quais foram considerados obsoletos, caso não fizessem com que os
Cristãos colaborassem, evidenciando uma tolerância do Estado ao paganismo apenas na
condição de inferioridade, julgando o politeísmo como uma crença vazia de significado e
importância. (COELHO, 2011, p.80)
As disputas travadas entre pagãos e cristãos não se desenvolveram apenas por meio de
perseguições, agressões e destruição de templos, mas também foram levadas para o campo
intelectual, com o Bispo Agostinho de Hipona se opondo ao pagão Volusiano, que era de uma
antiga e importante família romana. Assim, Agostinho, que tinha muitos conhecimentos
acerca da cultura politeísta romana, troca correspondências com Volusiano e seu grupo de
pagãos:
Diante dos questionamentos, Agostinho produziu de forma sistemática os seus
discursos contra os pagãos, utilizou todo seu conhecimento sobre a cultura clássica,
retórica e a própria história dos romanos interpretada numa perspectiva cristã, para
apresentar uma resposta sólida aos pagãos. (COELHO, 2011, p. 107).
Após essa breve análise do cenário das relações entre cristãos e “pagãos” romanos, e
da exposição da visão crítica de Santo Agostinho acerca dessa temática, presente,
principalmente, no sermão 105, faz-se necessário o entendimento acerca da maneira a qual
Agostinho de Hipona lidou com a culpabilização do cristianismo realizada por esses
descrentes da fé cristã, associando-o à crise e à consequente queda de Roma.
O saque de Roma em 410 d.C, realizado pelos “bárbaros” liderados por seu rei,
Alarico, para muitos representava não só o declínio de uma civilização, mas, também, o “fim
do mundo”, levando em consideração toda a conjuntura social, política e cultural da época.
Por sua vez, os pagãos, por não compartilharem da mesma fé que os cristãos, logo, atribuíram
todas as desventuras vividas por Roma aos mesmos. Onde, para os pagãos, seria justamente
no tempo do cristianismo que Roma teria sido devastada, pois quando se oferecia sacrifícios
aos deuses (romanos), Roma florescia. Em contra - resposta aos que “blasfemavam”, e,
culpavam o cristianismo pelo enfraquecimento do Império Romano, Agostinho de Hipona em
412 d.C, pôs-se a refutá-los em seus sermões sobre a queda de Roma:
Isto que dizem, não é verdade: que Roma foi tomada e humilhada assim que os
deuses foram destruídos. De todo, não é verdade. Não tinham sido já destruídas
essas imagens quando Radagásio e os godos foram vencidos? […] Esses que
blasfemam, que correm atrás dos bens terrenos, que desejam os bens mundanos, que
põem a sua esperança nos bens da terra, quando, querendo ou não querendo, os
perderem, o que lhes resta? Para onde irão eles? Não terão nada por fora nem nada
por dentro. (Sermão 105, Agostinho de Hipona: 104-105) .
Para o Santo, as acusações dos pagãos contra a religião cristã por causa da devastação
de Roma, seria justamente um castigo àqueles que blasfemavam, desacreditavam, da figura de
Deus. Chegando a citar exemplos de pessoas que conseguiram escapar do saque antes que lhe
acontecessem algo, Agostinho defendia que não se trataria da queda de Roma, pois “muito”
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teria sido poupado: suas ruínas ainda estavam de pé, os templos cristãos e a cidade não teria
se “acabado em chamas como Sodoma”.
Ora, dizem por aí que foi nestes tempos cristãos que Roma caiu. Mas talvez
Roma não tenha caído. Talvez tenha sido castigada em vez de aniquilada, talvez
emendada em vez de destruída. Talvez Roma não morra, se os romanos não
morrerem. E na verdade não morrerão, se louvarem a Deus. Morrerão, sim, se O
blasfemarem. Pois que é Roma senão os Romanos? (Sermão 81, Agostinho de
Hipona: 79) .
4. Bibliografia
AGOSTINHO, Santo. O "De excídio Vrbis" e outros sermões sobre a queda de Roma. Trad.
Carlota Miranda Urbano. 3o ed. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013.
DOS SANTOS, Pedro Paulo Alves. ‘DE CIVITATE DEI’: HISTÓRIA E ‘ESCHATOLOGIA’
EM SANTO AGOSTINHO. PODER E RELIGIÃO NO CRISTIANISMO ‘LATINO’E
(PROTO) MEDIEVAL. PRINCIPIA, n. 16, p. 1-10, 2008.
FRANCO JR., Hilário. Introdução. O (pré)conceito de Idade Média. In: A Idade Média,
nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense: 2001, p. 9-20.
GOMES, Francisco José Silva. A Cristandade medieval entre o mito e a utopia. Topoi (Rio de
Janeiro), v. 3, p. 221-231, 2002.
MANOEL, Ivan Ap. História, religião e religiosidade. Revista de Cultura Teológica, n. 59,
p. 105-128, 2007.