Encontre sua própria medida

Que o Senhor te abençoe!

É um enorme prazer e alegria me dirigir aos jovens das diversas igrejas da Associação
Brasileira,

jovens tão especiais e estimados. Jovens que possuem uma reputação cristã versada na Bíblia
e

que corrobora para o aperfeiçoamento de um caráter juvenil firme e impoluto, como deve ser

o caráter dos santos. Os jovens tem capacidades que os tornam incríveis e com uma fortaleza

capaz de fazer o diabo “pôr o rabo entre as pernas”1 e fugir, já disse João, “sois fortes [...]
vocês

venceram o maligno.” No entanto, em determinadas ocasiões se portam com uma firmeza de

gelatina2

, que diante da mais leve tentação tremelicam3 até derreterem; esquecem-se quem

são, o que possuem e de quem são filhos, e que basta um mínimo acenar de mãos ou um olhar

clamante para que todo o céu venha em seu auxílio.

Satanás fica histérico e bolado4

, pois teme o jovem que reconhece a si mesmo como um filho de

Deus; satanás sabe que um jovem que possui uma relação interpessoal com Deus vai brocar5

,e

ele (satanás) fará de tudo para botar catinga6 e fazer com que a piazada7

fique moscando8

, e se

pá9

consiga “devorar” a um ou outro jovem, Pedro advertiu: “O diabo [...] anda ao redor, rugindo

e procurando a quem devorar.”

A relação interpessoal com Deus é sumamente importante, porém, não devemos nos esquecer

que há um aspecto relacional que deve fazer parte de nosso desenvolvimento cristão, falo-vos

do relacionamento com um mesmo, que recebe o nome de Relacionamento Intrapessoal.

Permita-me fazer uma breve definição e mencionar algumas características.

Relacionamento Intrapessoal é a “capacidade e grau de autoconhecimento e a habilidade de

perceber e formar uma imagem pessoal verídica.” Quais são as implicações disto? Implica que
a
pessoa é capaz de ter consciência de suas motivações, desejos, emoções, capacidades e

intenções, em outras palavras é conhecer a si mesmo e o que deseja. Consegue analisar os

próprios pensamentos e sentimentos, abordando as necessidades emocionais positivamente,

gerando um bem estar emocional e propicio para um viver coerente e adequado.

De forma suscinta em três palavras Relacionamento Intrapessoal é:

• Autoconsciência/autoconhecimento – compreende a consciência que a pessoa tem da

capacidade emocional, autoavaliativa das forças e fraquezas, e autoconfiança.

• Autorregulação - Capacidade para exercer autocontrole, de adaptação, confiança e

inovação, gerado pelo conhecimento prévio das próprias emoções.

• Automotivação – É a capacidade para alcançar os objetivos ou compromissos, realizado

o processo com otimismo e iniciativa.

O Relacionamento Intrapessoal faz com que as pessoas sejam capazes de identificar as

próprias

emoções e consigam subjugar o manter o controle delas, pois de forma apropriada se

autoobserva introspectivamente aprimorando a consciência analítica para aprender de suas
próprias

ações evitando erros futuros. Não se trata de conhecimento inchado, senão um

autoconhecimento equilibrado sobre a própria personalidade, temperamentos e caráter, um

autoconceito ajustado a realidade e que repercutem no momento de uma decisão. Tal pessoa

consegue entender seus limites, tem a capacidade de se perdoar, consegue tratar a si mesma

com amabilidade sem cair no buraco do derrotismo (não posso, não consigo, não tenho, não
sei,

etc.)

A Bíblia corrobora esta definição e características deste tipo de relacionamento. Pablo

escreveu:

“Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, pelo contrário,

tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu.”

Romanos 12:3.

Superestimar o subestimar a si mesmo é contrário a Palavra de Deus, a expressão Bíblica

exorta

a cada pessoa, a cada jovem, que tenha um Relacionamento Intrapessoal equilibrado, que

desenvolva a capacidade do autoconhecimento, autorregulação e automotivação, pois serão

chaves importantes para um viver pleno e que ajude na harmonia entre os santos.
Quantos se comparam com outros, e se consideram superiores ou mesmo inferiores gerando

pensamentos poluídos que menoscabam a autoestima, causando problemas intrapessoais e

interpessoais.

Que problemas decorrem quando há ineficiência no Relacionamento Intrapessoal? Suicídio,

sim

o suicídio pode ser a consequência final da falta de equilíbrio no conhecimento próprio. Antes

de chegar a este drástico fim, a pessoa passa por um processo doloroso e em muitos casos

silencioso onde ela não consegue reconhecer nem entender suas próprias emoções e

sentimentos, não conseguem entender as próprias ações, e quando comente um erro se

martiriza, já que não se perdoa, a debilidade em identificar as emoções e gerenciá-las a

predispõe a reter tudo o que é negativo e nocivo para si mesma. A estima própria passa a ser

baixa estima e vivem como 10emos, dentro de uma bolha de tristeza, melancolia, com

comportamento depressivo e atitudes de auto lesão chegando a pior delas, tirar a própria vida.

Não trato de minimizar ou mesmo relativizar o processo suicida, pelo contrário, desejo mostrar

aos jovens, que é necessário que cada um tenha consciência própria de sua importância, que
há

a necessidade deste “conceito equilibrado” sobre as próprias emoções, pensamentos e ações.

Ao pensar sobre nós mesmo devemos deixar de lado o egocentrismo, que nos leva a

superestimação, faz-se necessário aderir ao teocentrismo bíblico, e entender que cada um

desempenha um papel, crucial dentro da engrenagem familiar e eclesiológica. Você é único,

você é excepcional, você é singular, dentro da pluralidade da família e da igreja você tem algo

que apenas você poderá fazer.

Te proponho um exercício fácil: coloque-se diante de um espelho, por alguns minutos se olhe,

veja quem é você, pense em como está a sua estima; tenha estima própria (autoestima). Diga a

pessoa que aparece no espelho: seja forte, seja valente, seja confiante, tenha bom animo,

esforce-se, não temas, você pode crer, você pode tudo, quem contra você ... todas estas são

porções de trechos bíblicos, foi Deus quem disse isso sobre você e se Ele disse, entenda é

verdade. Tenha um conceito equilibrado sobre si mesmo, “Mas, a exaltação própria não pode

ter lugar [...] as próprias funções da mente que seriam uma benção, contamina-se quando o

orgulho é nutrido.” Ms. 47, 1896.

Ainda sobre o texto de Paulo (Romanos 12:3) EGW, escreveu: “Deveriam cultivar a autoestima,

vivendo de tal forma que sejam aprovados por sua própria consciência [...] ainda que não
devamos pensar em nós mesmo, mais que o devido, a Palavra de Deus não condena um
devido

respeito próprio [...] deveríamos ter uma consciência digna, na qual o orgulho não tenha
parte.”

R&H, 27.03.1888.

O erro de muitos

Atenção, perigo! Atentos ao que segue! O grande erro de muitos é esperar aplausos, elogios e

reconhecimento, desde logo que isso afaga nosso ser e outras vezes mima nosso orgulho; mas

uma pessoa que consegue ter consciência madura sobre si mesma, não será carente de

aplausos, elogios, reconhecimento menos ainda ser o centro das atenções, já que consegue

entender que suas atitudes, ações e proatividade não tem como combustível um alago ou as

ovações alheias, mas, quando as recebe entende que se trata de um brinde que deve vir

acompanhado de espontaneidade. Menciono este aspecto pelo fato que vivemos em uma

sociedade que tem características 11narcisistas. O jovem que pensa sobre si mesmo com
cordura,

que possui um profícuo relacionamento intrapessoal e com uma “medida de fé” agraciada por

Deus, não se acomodará no pensamento do que outros possam pensar sobre ele, pois, pode
ser

que esta comodidade sirva para o fazer tropeçar, senão que estimar-se-á como valioso para

Deus e para Seu Cristo quem deu a vida por ele.

Contudo, você pergunta: Pr. Wesley, o que eu poderia fazer para vencer os problemas

intrapessoais?

Gostaria de dar uma fórmula tal qual a de bhaskara que quando usada ajuda a encontrar as

raízes reais de uma equação de segundo grau, no entanto, para o aspecto relacional, não
existe

uma fórmula estabelecida, pois, estamos falando de pessoas, que devem ser vistas em toda
sua

complexidade holística, como únicas e que, portanto, devem ser acompanhadas segundo as
suas

singularidades. Mas, a modo orientativo segue algumas pautas praticas:

• Não se compare com outras pessoas – a comparação é maléfica, prejudica, diminui ...

comparar o que incomparável é autoflagelação. O texto sagrado diz: “Não temos a

pretensão de nos igualar ou de nos comparar com alguns que se recomendam a si

mesmos. Quando eles se medem e se comparam consigo mesmos, agem sem

entendimento. 2 Corintios 10:12.

• Liste suas características positivas – escreva suas boas qualidades e valorize-as.

• Faça coisas boas para você – “amar ao próximo como a si mesmo é mais importante do

que todos os sacrifícios e ofertas". Marcos 12:33. Tenha atividades recreativas, cuide sua

alimentação, converse com um bom amigo (a), não fique pensando no que você ainda

não conseguiu, senão valorize o que conseguiu até aqui. Veja o que Deus disse da obra

que havia criado: “E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom.”

Gênesis 1:31

• Aceite um reconhecimento – ainda que você não seja movido pelos elogios ou

reconhecimento, há pessoas que o fazem de boa intenção. Não se deprecie dizendo:

que é isso, não foi pra tanto, não achei que cantei tão bem. Pelo contrário agradeça, e

valorize o que você fez. Veja o que diz o seguinte verso: “[...] a jovem (e o jovem também)

que teme ao Senhor será elogiada. Provérbios 31:30

• Evite pensamentos de autopiedade – Tais pensamentos poderiam ser: eu não sirvo para

nada, ninguém gosta de mim, tudo de ruim acontece comigo, não sei fazer nada. Estes

pensamentos são falsos, irreais, trate de identificar e evitar tais pensamentos, corte-os

pela raiz quando vierem a sua mente. Jeremias disse de sim mesmo: “Eu não sei falar, pois

ainda sou muito jovem.” Muito similar as frases anteriores, porém, veja o que O senhor

lhe disse: “Não diga que é muito jovem [...] não tenha medo, estou com você [...]” Jeremias

1:6-8.

• Conheça a si mesmo – preocupamo-nos muito sobre o que as pessoas pensam sobre nós,

e passamos a viver em base a isso. Não deveríamos nos preocupar com que as pessoas

pensam a nosso respeito, você tem que buscar saber quem você é, descobrir qual a sua

medida, pois se você deseja a aprovação de todos, lamento te dizer, você vai se perder e

sempre viverás a medida alheia; descubra-se, encontre a sua própria medida, conheça a

si mesmo para que você possa ter uma vida plena. Conhecer a si mesmo e qual seu limite

é importante (até parece psicologia barata), mas veja o que encontramos sobre Jesus nos

evangelhos: “Eu sou o pão da vida, aquele que vem a mim não terá fome; Eu sou a luz do

mundo, quem me segue não andará em trevas; Eu sou o pão vido do céu, se alguém comer

deste pão viverá para sempre.” Joao 6:35; 8:12; 6:51. Por citar alguns exemplos! Jesus

sabia quem era, Ele se conhecia.

Em caminho a conclusão, afirmo que o Relacionamento Intrapessoal é saudável quando é
realista,

sem ir aos extremos, tendo um “conceito equilibrado”. Pensar que somos mais do que somos,

pode nos catapultar a pensar que temos direitos que não temos; ou ainda, pensar que somos

menos do que somos pode gerar pensamentos e ações autodepreciativas.

O seu padrão deve ser Deus, você foi criado a imagem e semelhança de Deus, você é a “coroa
da

criação”, você é o jovem “segundo o coração de Deus”; escreveu o poeta: “não há outro igual a

você, nenhum outro igual a você, Deus o ama assim como e você” (leu cantado ne?).

Encerro com o seguinte verso e fazendo ênfase (falando bem alto na parte final): “A fim de que

nós, os que primeiro esperamos em Cristo, sejamos PARA O LOUVOR DA SUA GLÓRIA.” Efésios

1:12

Amo a todos, bençãos!

Pr. Wesley Alves Gomes

Obs: No primeiro parágrafo recorri ao uso de jargões (gírias) populares e regionais como uma

ponte para captar a atenção do jovem leitor. Ressalto que tais jargões estão inseridos em

dicionários populares e regionais. Para uma melhor compressão dos mesmos deixo a seguir

seus significados.

1Pôr o rabo entre as pernas – Este termo é usado quando uma pessoa se acovarda ou

quando tem medo de alguém.

Firme como gelatina – expressão eufêmica que indica uma firmeza relativa. Outras

expressões similares seriam: firme igual prego no angu ou firme igual prego na gelatina.

3Tremelicar – Não estar firme ou seguro, movimento de convulsão, tremer.

4Bolado – enfadado, molesto, indignado. A expressão também é usada no superlativo

boladão ou boladaço que serve para intensificar o que se está sentindo.

5Brocar – progredir, vencer, ter sucesso.

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6Botar catinga – atrapalhar, emaranhar, embaraçar, enredar, estorvar.

7Piazada – é o plural da palavra Piá de onde surgem outras variações: piazinho, piazote

que não necessariamente significam um aumentativo ou diminutivo.

8Moscando – a expressão moscando ou moscar, representa a uma pessoa que está

desatenta e distraída. Também pode ser aplicada quando uma pessoa é descuidada.

Se pá – expressão utilizada quando a pessoa deseja expressar possibilidade. Talvez,

quem sabe, se der.

10Emos – grupo de pessoas que se sentem incompreendidos, e que possuem por

característica peculiar a tendencia a tristeza, melancolia e que tendem a fazer danos a

si mesma o que se conhece como autoagressão ou automutilação.

11Narcisistas – são as pessoas que se superestimam, considerando suas capacidades

superiores à dos demais; também possui a excessiva necessidade de admiração e

aplausos.