Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/357186732
Introdução ao Antropoceno
CITATIONS READS
0 2,029
2 authors, including:
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Ulysses Paulino de Albuquerque on 20 December 2021.
ANTROPOCENO
ANTROPOCENO
ULYSSES PAULINO DE ALBUQUERQUE
THIAGO GONÇALVES-SOUZA
[EDITORES]
INTRODUÇÃO AO
ANTROPOCENO
1ª edição - 2022
Recife/PE
Primeira edição publicada em 2022 por NUPEEA
www.nupeea.com
Copyright© Os autores, 2022
Editor-chefe Diagramação
Ulysses Paulino de Albuquerque Erika Woelke | www.canal6.com.br
Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-88020-10-4 (e-book)
ISBN 978-65-88020-09-8 (impresso)
NUPEEA
Recife – Pernambuco – Brasil
APRESENTAÇÃO
1. O QUE É O ANTROPOCENO?..............................................................9
Paulo Wanderley de Melo, Mirela Natália Santos,
Ezequiel Leandro da Silva Júnior, Paulo Henrique Gonçalves
SOBRE OS AUTORES...........................................................................97
10 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
e a mudança na composição da atmosfera” (Lewis & Maslin
2015).
Um dos aspectos mais importantes do Antropoceno são
as mudanças ambientais que geram o aquecimento global e
os impactos desse aquecimento sobre as espécies e os ecos-
sistemas. Desde o início da Revolução Industrial (na metade
do século XVIII), várias atividades humanas como o uso de
combustíveis fósseis, a agricultura, a pecuária bovina e o des-
matamento resultaram no aumento da emissão de gases que
intensificam o efeito estufa (IPCC 2014; Lewis & Maslin 2015).
Nos últimos 150 anos, por exemplo, os níveis de gás carbôni-
co na atmosfera aumentaram em aproximadamente um terço
(IPCC 2014). Em termos gerais, as principais consequências
do aquecimento global são as mudanças de temperatura em
todas as regiões (afetando as práticas agrícolas e a distribui-
ção geográfica das espécies), o aumento na pluviosidade (mas
não em todas as regiões) e o aumento nos níveis dos oceanos
(US 2016).
Além das mudanças climáticas atmosféricas, os seres
humanos têm alterado a paisagem e afetado diretamente os
ecossistemas terrestres e aquáticos por meio do desmata-
mento. Estima-se que três quartos da área desses ecossiste-
mas foram completamente modificados pelos seres humanos,
a tal ponto que alguns cientistas estão propondo uma nova
classificação para os biomas terrestres, chamada antroma
(Ellis et al. 2010; Ellis, 2011; 2015). Além dos efeitos diretos da
degradação dos ecossistemas sobre as paisagens transforma-
das, como a perda de hábitats e a fragmentação de florestas,
O QUE É O ANTROPOCENO 11
existem efeitos indiretos que contribuem para a emissão de
gases causadores do efeito estufa (Vitousek et al. 1997).
Os ecossistemas marinhos também têm sido afeta-
dos pela ação humana. Estudos sugerem que, nos últimos
anos, houve um declínio consistente de biomassa pesquei-
ra, principalmente em locais onde não há gestão eficaz da
pesca (Hilborn et al. 2020; Palomares et al. 2020). Também já
é possível constatar algumas consequências do aquecimen-
to global sobre a biota marinha, a exemplo do aquecimen-
to das águas oceânicas, que pode ocasionar redução ou até
perda total de dinoflagelados simbiontes de corais que, por
sua vez, aumenta a frequência de eventos conhecidos como
branqueamento de corais (Glynn 1996; Hughes et al. 2017).
Além dos efeitos diretos drásticos sobre ecossistemas
aquáticos e terrestres, as atividades humanas geram diver-
sos tipos de poluição que afetam direta e indiretamente os
ecossistemas e a própria população humana. Por exemplo,
cerca de oito milhões de toneladas de plástico chegam aos
oceanos do mundo todo (Häder et al. 2020), gerando impac-
tos negativos sobre a biota marinha e o fornecimento de ser-
viços ecossistêmicos como o estoque pesqueiro, a recreação
e, consequentemente, o bem-estar humano (Beaumont et al.
2019).
12 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
a ponto de declarar que nós estamos em uma nova época
(Crutzen 2006) ou novo evento geológico (Gibbard et al.
2021). Entretanto, há diferentes visões (veja Tabela 1) sobre
os limites temporais do Antropoceno. Em uma das primei-
ras proposições para essa delimitação, Crutzen & Stoermer
(2000) sugeriram que o Antropoceno teve início no final do
século XVIII, porque os efeitos globais de atividades huma-
nas se tornaram notáveis a partir da Revolução Industrial.
Foi a partir desse evento histórico que houve um aumento
consistente nos níveis de gases causadores do efeito estufa,
como o gás carbônico e o metano.
Perspectiva Descrição
O QUE É O ANTROPOCENO 13
Perspectiva Descrição
14 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Perspectiva Descrição
O QUE É O ANTROPOCENO 15
Outra visão sobre a origem do Antropoceno foi chamada
de Hipótese do Antropoceno Inicial, Precoce ou Antecipado
(Early Anthropocene Hypothesis, em inglês), visto que versa
sobre datações muito anteriores às propostas pelos autores
mencionados até então (Ruddiman 2003; 2007). Segundo essa
hipótese, existem diversas evidências que associam flutua-
ções do gás carbônico na atmosfera à derrubada de flores-
tas (cerca de oito mil anos atrás) e, mais adiante, a sinais de
agricultura, com plantações de arroz (cerca de cinco mil anos
atrás) (Ruddiman 2007). Além disso, o cultivo de arroz pode-
ria explicar o aumento da emissão de metano, posto que é
cultivado em solos inundados, nos quais bactérias anaeróbias
produzem esse gás (Ruddiman 2007). Ressalta-se, ainda, a re-
dução de gás carbônico percebida há dois mil anos, que pode
ser explicada pela elevada mortalidade humana nesse perío-
do em decorrência de eventos como epidemias, pandemias e
declínios de impérios e da conquista do continente america-
no pelos europeus (Ruddiman 2007).
Posteriormente, Doughty et al. (2010) sugeriram um
limite ainda mais antigo para o Antropoceno. Segundo os
autores, há indícios de que atividades de caça de povos que
viviam na região entre a Sibéria e a América do Norte (entre
16 e 13 mil anos atrás) foram responsáveis pela extinção de
várias espécies de mamíferos de elevado tamanho corporal,
incluindo os mamutes. Os autores argumentam que os seres
humanos contribuíram com a expansão de florestas de bé-
tulas, que, por sua vez, reduziram o albedo (capacidade de
refletir a energia luminosa) e aumentaram a temperatura da
16 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
superfície terrestre em um grau. De fato, os registros fósseis
indicam que a extensão dessas florestas aumentou 26% após
a extinção dos mamíferos (Doughty et al. 2010).
Apesar das diferentes hipóteses sobre o início do
Antropoceno, as atividades humanas muito antigas tiveram
apenas um efeito localizado em algumas regiões da super-
fície terrestre (Certini & Scalenghe 2011; Malhi 2017). Visões
mais recentes sugerem que esse efeito se alastrou somente
por volta de dois mil anos atrás, quando as sociedades huma-
nas estavam mais estruturadas em consequência de terem
começado a substituir a caça-coleta pela agricultura. Nessa
época, em que o Império Romano, por exemplo, abran-
gia grande parte da Europa, do Oriente Médio e do norte
do continente africano (Certini & Scalenghe 2011), estima-
-se que as paisagens das províncias do norte do continente
africano tenham sido altamente modificadas visando à pro-
dução de trigo para sustentar a capital do Império Romano.
Além disso, sociedades em diferentes regiões da superfície
terrestre empreendiam modificações notáveis do ambiente
com vistas à produção agrícola e à construção dos impérios,
como os maias (na Guatemala e em Belize), os incas (no norte
do Peru) e os mesopotâmios (onde hoje é o Iraque) (Certini &
Scalenghe 2011).
Em 2011, diferentes pesquisadores declararam proposi-
ções semelhantes à de Crutzer & Stoermer (2000), afirmando
que o Antropoceno teve início com o advento da Revolução
Industrial (Ellis 2011; Steffen et al. 2011; Zalasiewicz et al. 2011).
Adicionalmente, eles argumentaram que os efeitos da ação
O QUE É O ANTROPOCENO 17
humana sobre a biosfera se intensificaram ainda mais após o
término da Segunda Guerra Mundial (em 1945), dando início
a um período denominado de a Grande Aceleração. Ao en-
contro disso, nos últimos 50 anos, por exemplo, a população
humana saltou de três bilhões para seis bilhões, resultando
em taxas de consumo de recursos naturais muito maiores,
especialmente no que concerne ao uso de combustíveis fós-
seis (Steffen et al. 2011).
Distinta das propostas anteriores, há outra perspectiva
que sugere que as datações do início do Antropoceno deve-
riam ser baseadas em evidências do comportamento humano
de modificação do ambiente, e não apenas nas consequências
desse comportamento (Smith & Zeder 2013). Esses pesquisa-
dores entendem que o Antropoceno iniciou a partir do mo-
mento em que os seres humanos começaram a domesticar
espécies de animais e plantas. Os primeiros indícios de plan-
tas e animais em processo de domesticação datam de cerca
de nove a 11 mil anos atrás (o que, praticamente, coincide com
o início da época do Holoceno). Assim, os autores propõem
que o Antropoceno e o Holoceno sejam reconhecidos como
uma única época, sem a necessidade de estabelecer uma no-
menclatura formal para o Antropoceno (Smith & Zeder 2013).
Finalmente, em 2016, o Grupo de Trabalho sobre o
Antropoceno reconheceu que há indícios suficientes para
compreender o Antropoceno como uma fase funcional e es-
tratigraficamente distinta do Holoceno, o que influenciou
parte dos cientistas a defender o Antropoceno como uma
época distinta do Holoceno (Malhi 2017; Zalasiewicz et al.
18 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
2017). Segundo essa linha de pensamento, o Antropoceno
seria funcional e estratigraficamente distinto do Holoceno
porque atividades antrópicas (i) ampliaram a disseminação
de combustíveis fósseis na atmosfera (ii) e depositaram nela
novos minerais como alumínio, concreto e plástico (conhe-
cidos como tecnofósseis) (Waters et al. 2016; veja também
Gibbard et al. 2021). Desse modo, a visão mais recente (e mais
aceita pelos cientistas) sugere que o Antropoceno iniciou por
volta de 1950, coincidindo com o período conhecido como a
Grande Aceleração (Waters et al. 2016; Malhi 2017).
O QUE É O ANTROPOCENO 19
e os ecossistemas. Por outro lado, de uma perspectiva práti-
ca, autoridades políticas do mundo todo precisam planejar,
urgentemente, estratégias que possam mitigar os efeitos de-
letérios das nossas atividades sobre a superfície terrestre.
O restante do livro está organizado em cinco temas (e,
consequentemente, em cinco capítulos) que fornecem supor-
te para compreender o papel primordial da espécie humana
na transformação climática do planeta. No segundo capítu-
lo, Camilo et al. apresentam o papel da domesticação como
marco da transição de comportamento caçador-coletor para
uma capacidade de produção do alimento por intermédio da
agricultura. No terceiro capítulo, Magalhães e colaboradores
expõem as evidências que conectam a extinção da megafauna
com atividades humanas. No quarto capítulo, Souza e cola-
boradores discutem as ações humanas contemporâneas que
representam as principais transformações na biosfera, com
destaque para o marco da Revolução Industrial. No quinto
capítulo, Pinto e colaboradores comparam os efeitos antró-
picos sobre a biosfera em diferentes escalas espaciais. E, por
último, no sexto capítulo, Souza e colaboradores destacam os
padrões de biodiversidade no Antropoceno e apresentam as
regiões da superfície terrestre que são dominadas por ação
humana (conhecidas como antromas).
Referências
Beaumont NJ, Aanesen M, Austen MC, at al. 2019. Global ecological, social and
economic impacts of marine plastic. Marine Pollution Bulletin 142: 189-195.
20 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Certini G, Scalenghe R. 2011. Anthropogenic soils are the golden spikes for the
Anthropocene. The Holocene 21: 1269-1274.
Crutzen PJ, Stoermer EF. 2000. The Anthropocene. IGBP Global Change Newsletter
41:17–18.
Crutzen PJ. 2006. The Anthropocene. In: Ehlers E, Krafft T. (eds.). Earth system
science in the Anthropocene. Basingstoke, Springer. p. 13-18.
Doughty CE, Wolf A, Field CB. 2010. Biophysical feedbacks between the Pleistocene
megafauna extinction and climate: The first human-induced global warming?
Geophysical Research Letters 37: L15703.
Gibbard PLA, et al. 2021. A practical solution: The Anthropocene is a geological event,
not a formal epoch. Episodes. https://doi.org/10.18814/epiiugs/2021/021029
Glynn PW. 1996. Coral reef bleaching: facts, hypotheses and implications. Global
Change Biology 2: 495-509.
Häder D-P, Banaszak AT, Villafañe, VE, Narvarte MA, González RA, Helbling EW.
2020. Anthropogenic pollution of aquatic ecosystems: Emerging problems with
global implications. Science of the Total Environment 713: 136586.
Hilborn R, Amoroso RO, Anderson CM, et al. 2020. Effective fisheries management
instrumental in improving fish stock status. Proceedings of the National Academy
of Sciences 117: 2218-2224.
Hughes TP, Kerry JT, Álvarez-Noriega M, et al. 2017. Global warming and recurrent
mass bleaching of corals. Nature 543: 373-377.
IPCC. 2014. Summary for Policymakers. In: Edenhofer OR, Pichs-Madruga Y, Sokona
E, et al. 2014. Climate Change 2014: Mitigation of Climate Change. Contribution of
Working Group III to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel
on Climate Change. Cambridge, Cambridge University Press. p. 1-30.
O QUE É O ANTROPOCENO 21
Lewis SL, Maslin MA. 2015. Defining the Anthropocene. Nature 519: 171-180.
Malhi Y. 2017. The concept of the Anthropocene. Annual Review of Environment and
Resources 42: 77-104.
Palomares MLD, Froese R, Derrick B, et al. 2020. Fishery biomass trends of exploited
fish populations in marine ecoregions, climatic zones and ocean basins. Estuarine,
Coastal and Shelf Science 243: 106896.
Ruddiman WF. 2003. The anthropogenic greenhouse era began thousands of years
ago. Climatic Change 61: 261-293.
Ruddiman WF. 2007. The early anthropogenic hypothesis: Challenges and responses.
Reviews of Geophysics 45: 4001.
Smith BD, Zeder MA. 2013. The onset of the Anthropocene. Anthropocene 4: 8-13.
US. Environmental Protection Agency. 2016. Climate change indicators in the United
States. www.epa.gov/climate-indicators. 12 Oct. 2021.
Vitousek PM, Mooney HA, Lubchenco J, Melillo, JM. 1997. Human domination of
Earth’s ecosystems. Science 277: 494-499.
Zalasiewicz J, Waters CN, Summerhayes CP, et al. 2017. The Working Group
on the Anthropocene: Summary of evidence and interim recommendations.
Anthropocene 19: 55-60.
22 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
2
A DOMESTICAÇÃO DA NATUREZA
COMO MARCO DA HISTÓRIA HUMANA
24 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Entre aproximadamente cinco e 11 mil anos atrás, as so-
ciedades humanas, em muitas regiões diferentes do mundo,
domesticaram diversas espécies distintas de animais e plan-
tas, marcando o surgimento das economias de produção de
alimentos e o início de uma das principais transições na his-
tória dos seres humanos (Smith 2006a,b). Essa transição,
muitas vezes descrita como “Revolução Neolítica” ou “Origens
da Agricultura”, tem constituído, há mais de um século, uma
área duradoura de investigação em Arqueologia e Biologia
(Smith 2006a,b) (ver Figura 1).
Domesticação de plantas
26 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Figura 1. Origem da agricultura e o processo de domesticação do milho (Zea mays).
28 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
precisão o país de início de sua domesticação (Pereira 2002).
Alguns estudos sugerem que existem fortes evidências de que
sua origem tenha sido no sudeste asiático, mais precisamen-
te na região compreendida entre a Índia e Mianmar (antiga
Birmânia), em virtude da rica diversidade de formas cultiva-
das desse arroz nessa região (Pereira 2002).
Outra planta domesticada há milhares de anos atrás e
com grande uso moderno é a batata (Solanum tuberosum, fa-
mília Solanaceae) (Castro 2008), cuja origem da domestica-
ção permanece desconhecida. Com base em dados arqueo-
lógicos, estima-se que tenha ocorrido provavelmente entre
5.000 e 2.000 anos a.C., simultaneamente com a domesti-
cação da lhama (Castro 2008). As primeiras batatas cultiva-
das provavelmente foram selecionadas de populações silves-
tres na região central dos Andes, englobando o sul do Peru e
o norte da Bolívia, de seis a 10 mil anos atrás (Castro 2008).
No processo de domesticação da batata, além da redução da
concentração de glicoalcaloides, visou-se à seleção de plan-
tas com estolões mais curtos e tubérculos maiores, frequen-
temente coloridos e com várias formas (Castro 2008).
Outra espécie que também passou por esse processo,
uma das mais antigas hortaliças cultivadas, é a cebola (Allium
cepa, família Liliaceae) (Fritsch & Friesen 2002), provavelmen-
te domesticada inicialmente nas regiões montanhosas da Ásia
Central (Fritsch & Friesen 2002). Nos estágios primitivos da
domesticação, além da coleta das plantas na forma silvestre,
é provável que tenha ocorrido a transferência das mudas para
as hortas primitivas (Fritsch & Friesen 2002). Possivelmente,
30 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
& Bianchi 2008). A uva é considerada a fruta de domesticação
mais antiga de que se tem conhecimento, graças ao fato de
muitas civilizações terem deixado algum registro a ela rela-
cionado (Radmann & Bianchi 2008). A principal razão dessa
popularidade é seu produto, o vinho, que faz da uva uma
das frutas de maior produção mundial (Radmann & Bianchi
2008).
Domesticação de animais
32 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
domesticadas, destacam-se as apresentadas nas seções a
seguir.
Animais de estimação
34 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
período, tendiam a ser utilizados apenas por populações que
possuíam assentamentos permanentes, propriedade da terra
e excedentes agrícolas (Lear & Harris 2012).
A domesticação do cavalo (Equus sp.) ocorreu após a
das ovelhas, das cabras, do gado e dos porcos (Orlando 2020).
Há relatos de que o cavalo tenha sido domesticado nos anos
5.000 a.C. no Cazaquistão e nos anos 4.000 a.C. nas estepes da
Eurásia (ver Outram et al. 2009; Lear & Harris 2012). Evidências
arqueológicas sugerem que os cavalos foram usados inicial-
mente para a alimentação (carne e leite) e apenas posterior-
mente para a locomoção (Lear & Harris 2012). O cavalo trouxe
importantes benefícios às sociedades humanas, pois permi-
tiu que pessoas se locomovessem rapidamente por longas ex-
tensões territoriais, levando consigo um maior número de
artefatos, bem como possibilitou a exploração de paisagens
maiores e diversificadas, o mantimento de famílias maiores e
um maior alcance de contatos comerciais (Levine 2012).
36 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
a novas pressões seletivas, modificando sua história evolutiva
e a de outros seres vivos (Laland & O’Brien 2012). Um exem-
plo disso é a associação entre as práticas culturais de domes-
ticação de plantas e animais e a expressão de determinados
genes em seres humanos, como demonstrado nesta seção, o
que pode ocasionar maior adaptabilidade a ambientes criados
ou modificados por esses poderosos construtores de nicho.
Referências
Albuquerque UP, Ferreira Junior WS, Santoro FR, Torrez-Avilez WM, Sousa Junior JR.
2015. Niche construction theory and Ethnobiology. In: Albuquerque UP, Medeiros
PM, Casas A. (eds.). Evolutionary Ethnobiology. New York, Springer. p. 73-87.
Barbieri RL. 2008. Cebola: das lágrimas ao sabor. In: Barbieri R. (ed.). Origem e
evolução de plantas cultivadas. Brasília, Embrapa Informação Tecnológica. p. 253-
265.
Castro CM. 2008. Batata: o pão nosso das Américas. In: Castro C. (ed.). Origem e
evolução de plantas cultivadas. Brasília, Embrapa Informação Tecnológica. p. 219-
234.
Clement C. 1999. 1492 and the loss of Amazonian crop genetic resources. I. The
relation between domestication and human population decline. The Society for
Economic Botany 53: 188-202.
Clutton-Brock J. 1995. Origins of the dog: domestication and early history. In: Serpell
J. (ed.). The domestic dog, its evolution, behaviour, and interactions with people.
Cambridge, Cambridge University Press. p. 7-20.
Doebley JF, Gaut BS, Smith BD. 2006. The molecular genetics of crop domestication.
Cell 127: 1309-1321.
Driscoll CA, Macdonald DW, O’Brien SJ. 2009a. From wild animals to domestic pets,
an evolutionary view of domestication. Proceedings of the National Academy of
Sciences 106: 9971-9978.
Driscoll CA, Clutton-Brock J, Kitchener AC, O’Brien SJ. 2009b. The taming of the cat.
Scientific American 300: 68-75.
Faris J. 2014. Wheat domestication: Key to agricultural revolutions past and future.
In: Tuberosa R, Graner A, Frison E. (eds.). Genomics of plant genetic resources.
Dordrecht, Springer. p. 439-464.
Fávero AP, Veiga RFA. 2008. Amendoim: domesticação pelos indígenas. In: Veiga
R. (ed.). Origem e evolução de plantas cultivadas. Brasília, Embrapa Informação
Tecnológica. p. 121-148.
Ferreira MAJF. 2008. Abóboras e morangas: das Américas para o mundo. In: Ferreira
MAJF. Origem e evolução de plantas cultivadas. Brasília, Embrapa Informação
Tecnológica. p. 60-88.
Flynn EG, Laland KN, Kendal RL, Kendal JR. 2013. Developmental niche construction.
Developmental Science 16: 296-313.
Fritsch RM, Friesen N. 2002. Evolution, domestication and taxonomy. In: Rabinowitch
HD, Currah, L. (eds.). Allium crop science recent advances. Wallingford, CABI. p. 5-30.
Fuller DQ, Allaby RG, Stevens C. 2010. Domestication as innovation: the entanglement
of techniques, technology and chance in the domestication of cereal crops. World
Archaeology 42:13-28.
Hale EB. 1969. Domestication and the evolution of behavior. In: Hafez ESE. (ed.). The
behavior of domestic animals. London, Bailliere, Tindall, and Cassell. p. 22-42.
Ingram CJE, Mulcare CA, Itan Y, Thomas MG, Swallow DM. 2009. Lactose digestion and
the evolutionary genetics of lactase persistence. Human Genetics 124: 579-591.
Laland KN, O’Brien MJ. 2012. Cultural niche construction: An introduction. Biology
Theory 6: 191-202.
38 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Lear J, Harris M. 2012. Our furry friends: The history of animal domestication. Journal
of Young Investigators 23: 1-3.
Levine MA. 2012. Domestication of the horse. In: Silberman NA. (ed.). The Oxford
Companion to Archaeology. Oxford, Oxford University Press.
Marliave JB, Gergits WF, Aota S. 1993. F10 pandalid shrimp: Sex determination. DNA
and dopamine as indicators of domestication and outcrossing for wild pigment
pattern. Zoo Biology 12: 435-51.
Meyer RS, Duval AE, Jensen HR. 2012. Patterns and processes in crop domestication: an
historical review and quantitative analysis of 203 global food crops. New Phytologist
196: 29-48.
Meyer RS, Purugganan MD. 2013. Evolution of crop species: genetics of domestication
and diversification. Nature Reviews Genetics 14: 840-852.
Milla R, Bastida JM, Turcotte MM, et al. 2018. Phylogenetic patterns and phenotypic
profiles of the species of plants and mammals farmed for food. Nature Ecology &
Evolution 2: 1808-1817.
Murphy MR. 1985. History of the capture and domestication of the Syrian Golden
hamster (Mesocricetus auratus Waterhouse). In: Siegel H. (ed.). The hamster:
Reproduction and behavior. New York, Plenum. p. 3-20.
Odling-Smee FJ, Laland KN, Feldman MW. 2003. Niche construction: The neglected
process in evolution. Princeton, Princeton University Press.
Orlando L. 2020. The evolutionary and historical foundation of the modern horse:
Lessons from ancient genomics. Annual Review of Genetics 54: 563-581.
Outram AK, Stear NA, Bendrey R, et al. 2009. The earliest horse harnessing and milking.
Science 6: 1332-1335.
Pereira JA. 2002. Cultura do arroz no Brasil: subsídios para a sua história. Teresina,
Embrapa Meio-Norte.
Perry GH, Dominy NJ, Claw KG, et al. 2007. Diet and the evolution of human amylase
gene copy number variation. Nature 39: 1256-1260.
Piana CFB, Carvalho FIF. 2008. Trigo: a cultura que deu suporte à civilização. In:
Carvalho F. Origem e evolução de plantas cultivadas. Brasília, Embrapa Informação
Tecnológica. p. 819-852.
Price EO. 2002. Animal domestication and behavior. Wallingford, CABI Publishing.
Radmann EB, Bianchi VJ. 2008. Uva: da antiguidade à mesa de nossos dias. In: Bianchi V.
Origem e evolução de plantas cultivadas. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica.
p. 891-909.
Rosenthal JP, Dirzo R. 1997. Effects of life history, domestication and agronomic
selection on plant defense against insects: evidence from maizes and wild relatives.
Evolutionary Ecology Research 11: 337-355.
Sereno MJCM, Wiethölter P, Terra TF. 2008. Domesticação das plantas: a síndrome que
deu certo. In: Terra F. Origem e evolução de plantas cultivadas. Brasília, Embrapa
Informação Tecnológica. p. 37-58.
Trut LN. 1999. Early canid domestication: The farm-fox experiment. Advanced
Manufacturing Supply Chain Initiative 87: 160-69.
Udell MA, Wynne CD. 2008. A review of domestic dogs’ (Canis familiaris) human-
like behaviors: Or why behavior analysts should stop worrying and love their
dogs. Journal of the Experimental Analysis of Behavior 89: 247‐261.
Waples RS. 1991. Dispelling some myths about hatcheries. Fisheries 24: 12-21.
Zeder MA. 2012. Pathways to animal domestication. In: (Eds) Gepts P, et al. Biodiversity
in agriculture: Domestication, evolution and sustainability. Cambridge: Cambridge
University Press. p. 227-259.
40 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
3
A EXTINÇÃO DA MEGAFAUNA
NO ANTROPOCENO
42 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Cretáceo-Paleógeno (K-Pg), especialmente de dinossauros
não avianos (Smith et al. 2010). Durante os primeiros 140 mi-
lhões de anos, os mamíferos existentes ocupavam uma faixa
restrita de nichos e tamanhos corporais (Luo 2007). De fato,
alguns estudos sugerem que esses mamíferos tinham tama-
nho corporal reduzido (abaixo de 15 kg), alimentação gene-
ralista e ocorrência predominante em ambientes terrestres
(Luo 2007).
Com um palco vazio deixado pelos dinossauros, o pe-
ríodo após a extinção desses organismos foi marcado por
uma intensa diversificação filogenética, ecológica e fisioló-
gica, que permitiu o surgimento de grandes mamíferos de
até quatro ordens de magnitude maiores do que os grupos
comuns no Cretáceo (Luo 2007; Smith et al. 2010). Os megah-
erbívoros desenvolveram maiores tamanhos com altas taxas
de crescimento em diferentes ecossistemas, configurando
uma estratégia comum e eficaz de defesa contra predadores,
influenciada por limites mecânicos, térmicos, demográficos
e de recursos disponíveis (Malhi et al. 2016). Os megacarní-
voros, por sua vez, tinham crescimento restrito por limita-
ções energéticas, pois dependiam do suprimento de comida
gerada pelos herbívoros (Malhi et al. 2016). O surgimento de
organismos cada vez maiores foi um padrão presente em di-
ferentes continentes e ecossistemas (aquáticos e terrestres)
(Smith et al. 2010)
44 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Grandes vertebrados representavam massas ricas em
nutrientes e partes vitais de ecossistemas dos quais inúme-
ras espécies dependiam. Adicionalmente, a megafauna apre-
sentava um papel essencial na ciclagem de nutrientes, rein-
serindo de forma abrupta nutrientes antes retidos em caules,
folhas, troncos e outras formas de matéria vegetal, que, do
contrário, não ficariam disponíveis para os sistemas (Malhi
et al. 2016; Galetti et al. 2018). Assim, herbívoros constituíam
verdadeiras máquinas de renovação bioquímica, possuindo
intestinos longos e bem compartimentados, que lhes pos-
sibilitavam manter dentro de si temperaturas ideais para a
proliferação de bactérias decompositoras de matéria vegetal
mesmo em ambientes temperados (Malhi et al. 2016; Galetti
et al. 2018). Como tinham intestinos longos e digestão lenta,
esses animais promoviam movimento de nutrientes entre
locais e até ecossistemas, por meio de fezes e urina, aumen-
tando no mínimo em 10 vezes as taxas de difusão de nutrien-
tes (Malhi et al. 2016).
Com o aumento de tamanho, alguns megaherbívoros
adultos praticamente escapavam da possibilidade de serem
caçados por qualquer predador em potencial (Smith et al.
2010; Malhi et. al 2016; Galetti et. al 2018). Já no que concer-
ne aos carnívoros, novas pressões seletivas, que envolviam
o processo de capturar, abater e consumir animais cada vez
maiores, foram um fator-chave para o surgimento de espe-
cializações (Valkenburgh 2007). Exemplos envolvem o apare-
cimento independente de animais “dentes-de-sabre” em di-
ferentes espécies, como os tigres-dentes-de-sabre (Smilodon
Extinção da megafauna
46 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
disponibilidade de alimentos; e (2) declínio da massa corpó-
rea da fauna, o que, por sua vez, reduziu o recurso forrageiro
e a densidade da vegetação (Barnosky et al. 2004).
O H. sapiens surgiu há cerca de 200 mil anos atrás
na África do Sul (Richter et al. 2017)3. A hipótese de que os
seres humanos tiveram forte influência negativa sobre as
extinções da megafauna sugere que, por volta de 70 mil
anos atrás, dominaram todo o planeta e, por meio da caça,
levaram as espécies à extinção. À medida que os grupos
humanos se expandiram, milhares de animais desapare-
ceram, sendo essa a primeira marca significativa que o H.
sapiens deixou no planeta (Harari 2019). A extinção pelos
efeitos da chegada da espécie humana tem sido atribuída
ao desenvolvimento de técnicas aprimoradas para captu-
ra dos animais, o que propiciou a expansão da caça. Além
disso, as perturbações ambientais em decorrência das mu-
danças climáticas facilitaram a captura da fauna pelos hu-
manos, principalmente após o aumento da densidade po-
pulacional desses grupos (Fariña et al. 2014).
A coincidência entre o registro fóssil de mamíferos e
de alterações do clima e a estimativa da chegada de popu-
lações humanas é particularmente acentuada no continen-
te americano. Acredita-se que a chegada dos seres humanos
nesse continente tenha ocorrido entre 12,5 e 18,5 mil anos
48 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Extinção de grandes herbívoros
50 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
dos herbívoros”, e sugere que grandes herbívoros atuaram
como modificadores da paisagem e que, como consequência,
o fogo assumiu papel fundamental após sua extinção.
Janzen & Martin (1982), por sua vez, propuseram a
hipótese de que, com a extinção dos grandes herbívoros,
as plantas que possuíam frutos dependentes de sua dis-
persão foram extintas e, como resultado, a pressão sele-
tiva favoreceu a sobrevivência e a manutenção de espécies
de plantas com sementes menores. Doughty et al. (2016)
corroboraram esta hipótese por meio de modelos mate-
máticos, indicando que as sementes dispersadas pela me-
gafauna sofreram uma redução de cerca de 26% em seu
tamanho e que a abundância de sementes é menor atual-
mente (em torno de 50%). A diminuição da abundância das
sementes provavelmente ocorreu porque sementes que
alcançam uma menor distância de dispersão têm menores
chances de encontrar espaço para germinar do que se-
mentes com maior alcance de dispersão. Ademais, o papel
funcional dos grandes herbívoros para garantir essa dis-
persão de longa distância foi confirmado por simulações
(Pires et al. 2018).
Doughty et al. (2016) também demonstraram que a re-
dução teve impactos não apenas na variedade de tamanhos
e na abundância das espécies, mas também na capacidade
de sequestro de carbono nas florestas da América do Sul. As
estimativas dos modelos indicaram uma correlação positiva
entre os tamanhos das sementes dispersadas pelos animais e
a densidade da madeira de suas respectivas árvores. Uma vez
52 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
associados ao aumento de árvores em regiões de neve são
muito próximos aos valores da redução de temperatura rela-
cionados à redução de emissão de gás metano. Dessa forma,
não há um consenso sobre as consequências climáticas da
extinção da megafauna em nível global, e estudos precisam
levar em consideração diferentes fontes do efeito estufa e de
reflexão da luz para não focar apenas uma faceta do fenôme-
no (Malhi et al. 2016).
54 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
passou a favorecer corpos menores (Galetti et al. 2018). Como
resultado, estudos sugerem que carnívoros maiores e especia-
listas que foram incapazes de se adaptar à ausência de presas
grandes desapareceram. Essa extinção de grandes predado-
res ocorreu antes mesmo do desaparecimento total de gran-
des herbívoros em muitas localidades, como mostra o registro
fóssil (Galetti et al. 2018). A diversidade de grandes mamíferos
predadores, até então especializados em consumir grandes
quantidades de carne, foi drasticamente reduzida durante o
fim do Pleistoceno e o início do Antropoceno/Holoceno.
Considerações finais
Referências
Bakker ES, Gill JL, Johnson CN, et al. 2016. Combining paleo-data and modern
exclosure experiments to assess the impact of megafauna extinctions on woody
vegetation. National Academy of Sciences 14: 847-855.
Barnosky AD, Koch PL, Feranec RS, Wing SL, Shabel AB. 2004. Assessing the causes
of late Pleistocene extinctions on the continents. American Association for the
Advancement of Science 306: 70-75.
56 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Bisso-Machado R, Fagundes NJR. 2019. Homo sapiens dispersal and the peopling of
the Americas. In: O’Rourke Hs. (ed.). A Companion to Anthropological Genetics.
New York, John Wiley & Sons Inc. p. 165-185.
Estes JA, Heithaus M, McCauley DJ, Rasher DB, Worm B. 2016. Megafaunal impacts
on structure and function of ocean ecosystems. Annual Review of Environment
and Resources 41: 83-116.
Fariña RA, Tambusso PS, Varela L, et al. 2014. Arroyo del Vizcaíno, Uruguay: A fossil-
rich 30-ka-old megafaunal locality with cut-marked bones. Proceedings of the
Royal Society B: Biological Sciences 281: 20132211-20132211.
Flannery TF. 1990. Pleistocene faunal loss: Implications of the aftershock for
Australia’s past and future. Archaeology in Oceania 25: 45-55.
Gill JL, Williams JW, Jackson ST, Lininger KB, Robinson GS. 2009. Pleistocene
megafaunal collapse, novel plant communities, and enhanced fire regimes in North
America. Science 326: 1100-1103.
Hansen DM, Galetti M. 2009. The forgotten megafauna. Science 324: 42-43.
Harari YN. 2019. Sapiens – uma breve história da humanidade. Porto Alegre, L&PM.
Hublin JJ, Ben-Ncer A, Bailey SE, et al. 2017. New fossils from Jebel Irhoud, Morocco
and the pan-African origin of Homo sapiens. Nature 546: 289-92.
Janzen DH, Martin PS. 1982. Neotropical anachronisms: The fruits the Gomphoteres
ate. Science 215: 19-27.
Lewison RL, Crowder LB, Wallace BP, et al. 2014. Global patterns of marine mammal,
seabird, and sea turtle bycatch reveal taxa-specific and cumulative megafauna
hotspots. Proceedings of the National Academy of Sciences 111: 5271-5276.
Malhi Y, Doughty CE, Galetti M, Smith FA, Svenning JC, Terborgh JW. 2016.
Megafauna and ecosystem function from the Pleistocene to the Anthropocene.
Proceedings of the National Academy of Sciences: 838-846.
Richter D, Grün R, Joannes-Boyau R, et al. 2017. The age of the hominin fossils from
Jebel Irhoud, Morocco, and the origins of the middle stone age. Nature 546: 293-
296.
Smith FA, Boyer AG, Brown JH, et al. 2010. The evolution of maximum body size of
terrestrial mammals. Science 330: 1216.
Teh LSL, Teh LCL, Hines E, Junchompoo C, Lewison RL. 2015. Contextualising the
coupled socioecological conditions of marine megafauna bycatch. Ocean and
Coastal Management 116: 449-465.
Yeakel JD, et al. 2014. Collapse of an ecological network in Ancient Egypt. Proceedings
of the National Academy of Sciences 111:14472–14477.
Valkenburgh BV. 2007. Deja vu: The evolution of feeding morphologies in the
carnivora. Integrative and Comparative Biology 47: 147-163.
58 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
4
O ANTROPOCENO E A EMERGÊNCIA
DAS AÇÕES HUMANAS
60 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
tornaram-se claramente perceptíveis, tais como (i) inten-
sificação do crescimento urbano, (ii) aumento significativo
da produção de bens de consumo e (iii) sobrecarga no uso
dos recursos naturais (Waters et al. 2016). Na Figura 1, a
seguir, ilustram-se as características mais marcantes de
cada época, desde o surgimento do ser humano até dos
dias atuais.
Evidências estratigráficas
62 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
no ambiente de materiais totalmente novos, sem registros
anteriores na história do planeta, como concreto, vidro,
alumínio e plástico, também exercem influência nessa mu-
dança. Esses novos materiais ocupam grande espaço na
vida moderna e se espalham pelos ambientes terrestres
e marinhos, formando camadas que funcionam como um
sinal geológico persistente e generalizado da atividade
humana (Dong et al. 2020). Ademais, a resistência desses
materiais à decomposição, principalmente o plástico,
transforma-os em verdadeiros fósseis (tecnofósseis) que,
tal como os fósseis biológicos, fornecem um registro es-
tratigráfico dessa época (Elias 2018).
Existem evidências de assinaturas quimioestratigráfi-
cas, referentes a alterações globais nos ciclos biogeoquímicos
e no clima devido ao aumento sem precedentes da produção
e liberação de gases do efeito estufa. Esse aumento se encon-
tra registrado na Antártida e na Groenlândia, em pequenas
bolhas de ar que se solidificaram no gelo e, desse modo, pre-
servaram as características presentes na atmosfera em dado
período (Zalasiewicz et al. 2011). Registros atmosféricos do
século passado evidenciam que as concentrações de gás car-
bônico anteriores à Revolução Industrial são 40% menores do
que os níveis atuais e indicam que a concentração de metano
apresenta atualmente taxas que representam o dobro dos va-
lores pré-industriais (Elias 2018).
Para Syvitski et al. (2020), o extraordinário aumen-
to do consumo e da produtividade provocado pelos seres
humanos forçou mudanças físicas, químicas e biológicas
Mudanças biológicas
64 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
e rebaixamento dos níveis dos lençóis freáticos.
As mudanças no ciclo da água envolvem, também,
uma maior variação nos períodos de chuva e seca,
bem como elevação dos níveis do mar e mudanças
nas linhas de costa. Os impactos dessas mudanças
atingem toda a população do planeta, mesmo que
as atividades transformadoras sejam realizadas em
nível local (Cirilo 2015; Rick & Sandweiss 2020).
Mudanças Sociais
66 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
global (Luke 2017). Para Hornborg (2019), o Antropoceno, em
termos de energia, clima e ambiente, teve implicações pro-
fundas em questões de justiça e desigualdades globais, de
tal forma que é preciso repensar as noções convencionais de
desenvolvimento econômico e progresso tecnológico, mais
especificamente a tendência contemporânea de idealizar a
economia de maneira separada da natureza e a tecnologia de
modo cindido da sociedade. Para Dasgupta (2008), faz-se ne-
cessário considerar a natureza como um fator essencial para
o progresso econômico. Todavia, pouco se tem feito nesse
aspecto, e as políticas econômicas ainda insistem em estra-
tégias que afastam cada vez mais a natureza de suas pautas
(Dasgupta 2008).
Uma pergunta que pode ser colocada agora é se os seres
humanos já atingiram um ponto de transformação evolutiva
que coincida com o Antropoceno, já que populações huma-
nas e não humanas evoluíram juntas e continuamente modi-
ficam umas às outras (Russel 2011; Albuquerque et al. 2019).
Devido a processos de aceleração química, o corpo humano
atual é provavelmente muito distinto fisiologicamente do
corpo anterior ao ano de 1945 (Thomas 2014). Alguns enten-
dem que os avanços em neurologia, biotecnologia e fisiologia
humana criaram o “corpo tóxico”, mas também produziram
um ser humano muito diferente daquele que viveu alguns sé-
culos atrás no que concerne à saúde, longevidade e capacida-
de cognitiva (ver Thomas 2014).
Vive-se, hoje, um enfrentamento conjugado da crise
ambiental e da realidade desigual das sociedades humanas
Referências
Albuquerque UP, Nascimento ALB, Chaves LS, et al. 2019. A brief introduction to niche
construction theory for ecologists and conservationists. Biological Conservation
237: 50-56.
Archer W. 2021 Carrying capacity, population density and the later Pleistocene
expression of backed artefact manufacturing traditions in Africa. Philosophical
Transactions of the Royal Society B 376: 20190716.
Artaxo P. 2014. Uma nova era geológica em nosso planeta: o Antropoceno. Revista
USP 103: 13-24.
Cirilo JA. 2015. Crise hídrica: desafios e superações. Revista USP 106: 45-58.
Cooke SJ, Twardek WM, Reid AJ, et al. 2019. Searching for responsible and sustainable
recreational fisheries in the Anthropocene. Journal of Fish Biology 94: 845-856.
Crutzen PJ, Stoermer EF. 2000. The Anthropocene. Global Change Newsletter 41: 17-
18.
68 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Dong M, Luo Z, Jiang Q, Xing X, Zhang Q, Sun Y. 2020. The rapid increases in
microplastics in urban lake sediments. Scientific Reports 10: 1-10.
Elias SA. 2018. Finding a “Golden Spike” to mark the Anthropocene. In: DellaSala DA,
Goldstein M. (eds.). Amsterdam, Elsevier. p. 19-28.
Gurevitch J, Padilla DK. 2004. Are invasive species a major cause of extinctions?
Trends in Ecology & Evolution 19: 470-474.
Holmes TP, Aukema JE, Von Holle B, Liebhold A, Sills E. 2009. Economic impacts of
invasive species in forests. Annals of the New York Academy of Sciences 1162: 18-
38.
Hublin JJ, Ben-Ncer A, Bailey SE. 2017. New fossils from Jebel Irhoud, Morocco and
the pan-African origin of Homo sapiens. Nature 546: 289-292.
Le Roux JJ, Hui C, Castillo ML, et al. 2019. Recent anthropogenic plant extinctions
differ in biodiversity hotspots and coldspots. Current Biology 29: 2912-2918.
Luke T. 2017. Reconstructing social theory and the Anthropocene. European Journal
of Social Theory 20: 80-94.
Nuñez MA, Pauchard A, Ricciardi A. 2020. Invasion Science and the Global Spread of
SARS-CoV-2. Trends in Ecology & Evolution 35: 642-645.
Ricciard A. 2004. Assessing species invasions as a cause of extinction. Letters 19: 619.
Rick TC, Sandweiss DH. 2020. Archaeology, climate, and global change in the Age of
Humans. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of
America 117: 8250-8253.
Schweiger AH, Boulangeat I, Conradi T, Davis M, Svenning JC. 2019. The importance
of ecological memory for trophic rewilding as an ecosystem restoration approach.
Biological Reviews 94: 1-15.
Syvitski J, Waters CN, Day J, et al. 2020. Extraordinary human energy consumption
and resultant geological impacts beginning around 1950 CE initiated the proposed
Anthropocene Epoch. Communications Earth & Environment 1: 32.
Thomas JA. 2014. History and biology in the Anthropocene: Problems of scale,
problems of value. American Historical Review 119: 1587-1607.
Thomaz EL, Nunes DD, Watanabe M. 2020. Effects of tropical forest conversion
on soil and aquatic systems in southwestern Brazilian Amazonia: A synthesis.
Environmental Research 183: 109-220.
70 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
5
ASPECTOS ECOLÓGICOS, EVOLUTIVOS
E SOCIAIS DO ANTROPOCENO:
DO ADVENTO DA AGRICULTURA
ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
72 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
assentada dos seres humanos aumenta a dependência que
estes possuem de plantas e animais domesticados. A manu-
tenção de um estoque estável (seja de plantas ou animais) ao
longo do ano requer o desenvolvimento de estratégias e prá-
ticas de manejo do ambiente que modificam a relação entre
humanos e natureza (ver Koster 2008; Santos et al. 2009).
Como resultado, as práticas agrícolas estimularam grandes
mudanças na paisagem, uma vez que a necessidade de espaço
livre para plantações e pastagens levou ao desmatamento e
à conversão da vegetação natural (Ucko & Dimbleby 2007).
Assim, a modificação constante da paisagem ao longo de mi-
lhares de anos tem impulsionado mudanças evolutivas sobre
outras espécies (ver Sullivan et al. 2017).
Neste capítulo, iremos discutir como as atividades hu-
manas podem representar uma pressão seletiva sobre a bio-
diversidade e, desse modo, explicar os padrões atuais de di-
versidade no planeta. Além disso, debateremos uma das
principais causas da perda de biodiversidade – as mudanças
climáticas – e a forma como elas também afetam questões
evolutivas e sociais.
74 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
de outras espécies, a exemplo da fragmentação da paisagem
no Parque Nacional de Doñana e na Serra Morena (Espanha),
que reduziu a diversidade genética da águia-imperial espanho-
la (Aquila adalberti) (Martínez-Cruz et al. 2004). No Brasil, a
fragmentação da Mata Atlântica resultou na redução da diver-
sidade genética da onça-pintada (Panthera onca) (Valdez et al.
2015). De maneira semelhante, em sistemas aquáticos, a pesca
intensa reduziu a diversidade genética de peixes do gênero
Merluccius (Henriques et al. 2016).
Uma vez que tais atividades são capazes de afetar a
diversidade genética, a manutenção dessas pressões seleti-
vas pode gerar também modificações fenotípicas nas espé-
cies. Por exemplo, Law & Salick (2005) demonstraram que
o extrativismo vegetal de lótus-da-neve (Saussurea lani-
ceps) propiciou, em longo prazo, a redução do tamanho das
plantas. Tais evidências foram encontradas também em ani-
mais. A construção de uma ponte em Nebraska, nos Estados
Unidos, causou a fragmentação da paisagem e a diminui-
ção no comprimento das asas das andorinhas-do-penhasco
(Petrochelidon pyrrhonota), provavelmente porque asas mais
curtas auxiliaram na agilidade do voo e reduziram o risco
de colisão com veículos que transitavam no local (Brown &
Brown 2013). Nesse caso, as aves mortas por carros possuíam
asas mais longas do que a população geral, e a frequência de
aves mortas na estrada declinava constantemente, apesar do
crescente aumento de veículos.
Além dos efeitos ecológicos e evolutivos causados
pela domesticação, fragmentação e sobre-exploração, as
76 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
toda a sua organização social. O aperfeiçoamento das técni-
cas agrícolas é um bom exemplo de como a espécie humana
modificou significativamente o ambiente ao seu redor e, de
modo simultâneo, alterou drasticamente suas características
sociais. A implementação de técnicas agrícolas possibilitaram
uma produção de alimentos cada vez maior e culturas agríco-
las diversificadas e progressivamente mais adaptadas às con-
dições ambientais locais. Como resultado, a agricultura pro-
piciou o aumento de assentamentos humanos e a criação de
vilas e cidades em que as relações comerciais, econômicas,
religiosas e políticas eram cada vez mais comuns (Bocquet-
Appel 2011).
Outro fator impulsionador do grande crescimento po-
pulacional humano e de sua diversificação cultural foi a
Revolução Industrial, que possibilitou a exploração de ter-
ritórios cada vez mais distantes e a produção em massa de
produtos antes inacessíveis para a maior parte da popula-
ção. Com a construção das ferrovias e a criação da máquina
a vapor, territórios inacessíveis até então puderam ser alte-
rados em velocidade nunca antes vista, e um dos principais
fatores de alteração das mudanças do equilíbrio global co-
meçou a ganhar força: o aumento das emissões de gás carbô-
nico na atmosfera (Crutzen & Steffen 2003). O gás carbônico
constitui um dos principais gases responsáveis por mudanças
na temperatura da atmosfera e dos oceanos e, consequen-
temente, pelas mudanças climáticas do planeta. Embora seja
sabido que a Terra passe por eventos naturais e periódicos de
resfriamento e aquecimento ao longo do tempo, acredita-se
78 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
mudança na temperatura poderia causar perdas irreversíveis.
Estão em risco, por exemplo, a Corrente do Golfo (que contri-
bui para o clima ameno da Europa), o degelo de regiões do he-
misfério norte (Groelândia), o derretimento de parte do gelo da
Antártica, a mudança no ciclo de monções na Ásia e o aumen-
to do nível do mar entre 50 e 100 metros em diversas partes do
mundo. Nesse sentido, algumas abordagens de práticas sus-
tentáveis, como as fronteiras planetárias4, podem auxiliar na
elaboração de práticas humanas mais sustentáveis, uma vez
que estipulam os limites físicos dentro dos quais a humanidade
pode operar com segurança (Rockström et al. 2009).
Além de ser uma mudança ambiental significativa, o au-
mento do nível dos mares configura uma mudança que pode
ter consequências políticas catastróficas. Considerando que
10% da população mundial vive em áreas costeiras a menos
de 10 metros acima do nível do mar, os efeitos adversos do au-
mento do nível do mar nessas áreas constituem uma grande
ameaça, podendo, nos próximos anos, impactar milhões de
pessoas (ver Cazenave & Le Cozannet 2013). Brown (2007)
Considerações finais
80 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
dedicar mais atenção a questões imediatas do que a questões
futuras (Death 2013). Moore et al. (2019) utilizam a metáfora
do sapo fervente para ilustrar esse cenário. A metáfora fala de
um sapo que pode morrer se for colocado em água que ferve
lentamente, mas que pode viver, apesar de ferido, se for colo-
cado em uma água que já está fervida. Para GonçalvesSouza
et al. (2020), essa metáfora serve como alerta para as socieda-
des humanas, que costumam responder rapidamente a even-
tos climáticos extremos e riscos ambientais, como o surto de
Covid-19, mas não percebem que esses problemas que aco-
metem o mundo podem estar correlacionados. Inclusive, po-
líticas conservacionistas que lidam com ameaças ambientais
de longo prazo são difíceis de serem implementadas justa-
mente pela dificuldade de os seres humanos se preocupa-
rem com problemas ambientais que podem acontecer em um
futuro distante (Penn 2003; Henry et al. 2017).
Esse cenário já pode ser observado atualmente quando
países desenvolvidos e em desenvolvimento, temendo sofrer
prejuízos econômicos em curto prazo, entram em desacor-
do sobre suas metas e obrigações acerca das questões cli-
máticas. Nessa perspectiva, se não houver uma mudança de
atitude no presente, o futuro talvez testemunhe a humani-
dade conquistando novos materiais e fontes de energia e, ao
mesmo tempo, destruindo o que resta do hábitat natural e le-
vando a maior parte das outras espécies (e quem sabe inclu-
sive a nossa) à extinção.
Brown CR, Brown MB. 2013. Where has all the road-kill gone? Current Biology 23:
R233-R234.
Brown O. 2007. Climate change and forced migration: Observations, projections and
implications. Geneva, Human Development Report Office (HDRO).
Cazenave A, Le Cozannet G. 2013. Sea level rise and its coastal impacts. Earth’s Future
2: 15-34.
Crutzen PJ, Steffen W. 2003. How long have we been in the Anthropocene era?
Climatic Change 61: 251-257.
Ellis EC. 2019. Evolution: Biodiversity in the Anthropocene. Current Biology 29:
R829-R850.
Henriques R, Von der Heyden S, Lipinski MR. 2016. Spatio-temporal genetic structure
and the effects of long-term fishing in two partially sympatric offshore demersal
fishes. Molecular Ecology 25: 5843-5861.
Henry AD, Christensen AE, Hofmann R, et al. 2017. Influence of sea level rise on
discounting, resource use and migration in small-island communities: An agent-
based modelling approach. Environmental Conservation 44: 381-88.
Hublin JJ, Ben-Ncer A, Bailey SE, Freidline SE, et al. 2017. New fossils from Jebel
Irhoud, Morocco and the pan-African origin of Homo sapiens. Nature 546: 289-292.
Koster J. 2008. The impact of hunting with dogs on wildlife harvests in the Bosawas
Reserve, Nicaragua. Environmental Conservation 35: 211-220.
Laland KN, Odling-Smee FJ, Feldman MW. 1996. The evolutionary consequences of
niche construction: A theoretical investigation using two-locus theory. Journal of
Evolutionary Biology 9: 293-316.
Laland KN, Brown GR. 2006. Niche construction, human behavior, and the adaptive-
lag hypothesis. Evolutionary Anthropology 15: 95-104.
82 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Law W, Salick J. 2005. Human-induced dwarfing of Himalayan snow lotus, Saussurea
laniceps (Asteraceae). Proceedings of the National Academy of Sciences of the
United States of America 102: 1-3.
Lenton TM. 2011. Early warning of climate tipping points. Nature Climate Change 1:
201-209.
Levis C, Costa FRC, Bongers F, et al. 2017. Persistent effects of pre-Columbian plant
domestication on Amazonian Forest composition. Science 355: 925-931.
MacLean HJ, Nielsen ME, Kingsolver JG, Buckley LB. 2018. Using museum specimens
to track morphological shifts through climate change. Philosophical Transactions
of the Royal Society B 374: 20170404.
Martínez-Cruz B, Godoy JA, Negro JJ. 2004. Population genetics after fragmentation:
the case of the endangered Spanish imperial eagle (Aquila adalberti). Molecular
Ecology 13: 2243-2255.
Penn DJ. 2003. The evolutionary roots of our environmental problems: Toward a
Darwinian ecology. The Quarterly Review of Biology 78: 275-301.
Pires MM, Guimarães PR, Galetti M, et al. 2018. Pleistocene megafaunal extinctions
and the functional loss of long-distance seed-dispersal services. Ecography 41:
153-163.
Raczka MF, Mosblech NA, Giosan L, et al. 2019. A human role in Andean megafaunal
extinction? Quaternary Science Reviews 205: 154-165.
Santos KL, Peroni N, Guries RP, et al. 2009. Traditional knowledge and management of
Feijoa (Acca sellowiana) in Southern Brazil. Economic botany 63: 204-214.
Sullivan AP, Bird DW, Perry GW. 2017. Human behavior as a long-term ecological
driver of non-human evolution. Nature Ecology & Evolution 1: 1-11.
Tierney JE, Demenocal PB, Zander PD. 2017. A climatic context for the out-of-Africa
migration. Geology 45: 1023-1026.
Ucko PJ, Dimbleby GW. 2017. The domestication and exploitation of plants and
animals. New Jersey, Transaction Publishers.
Valdez FP, Haag T, Azevedo FCC, et al. 2015. Population Genetics of Jaguars (Panthera
onca) in the Brazilian Pantanal: Molecular evidence for demographic connectivity
on a regional scale. Journal of Heredity 106: 503-511.
Weeks BC, Willard DE, Zimova M, et al. 2019. Shared morphological consequences of
global warming in North American migratory birds. Ecology Letters 23: 316-325.
84 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
6
PADRÕES DE DIVERSIDADE
NO ANTROPOCENO
86 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
maior riqueza de espécies. Em sua origem, essa teoria re-
presenta basicamente um processo neutro associado com
a distribuição das abundâncias das espécies (Volkov et al.
2003). Contudo, o desenvolvimento da proposta original de
MacArthur & Wilson (1967) acrescentou mecanismos bioló-
gicos que podem explicar esse padrão de diversidade. Por
exemplo, Chase et al. (2019) sugerem que ilhas maiores pos-
suem maior heterogeneidade de hábitats, o que, por sua vez,
favorece a agregação de mais indivíduos da mesma espécie e
aumenta a dissimilaridade da composição de espécies (isto é,
a diversidade beta).
Historicamente, biogeógrafos e ecólogos utilizam dados
sobre a riqueza e a composição da flora e da fauna (como
número de espécies endêmicas) para produzir mapas de clas-
sificação de biomas e ecorregiões (Olson et al. 2001; Spalding
et al. 2007; Abell et al. 2008). A partir de uma perspectiva teó-
rica, esses sistemas de classificação podem auxiliar a enten-
der os fatores ambientais que afetam a biodiversidade (Olson
et al. 2001), mas sua principal aplicabilidade é contribuir para
identificar áreas prioritárias para conservação, a exemplo das
extensas áreas de proteção ambiental estabelecidas no Indo-
Pacífico Central, conhecido por sua elevada biodiversidade
(Brander et al. 2020).
Neoecossistemas e antromas
88 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
• Lavouras – ambientes de baixa densidade popula-
cional extensivamente utilizados para a agricultura.
Grande parte das florestas temperadas decíduas da
Europa e das pradarias dos Estados Unidos foi con-
vertida nesse antroma.
90 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
enfrentam riscos ao passarem de um fragmento ao outro ou
ao locomoverem-se nas bordas das florestas (faixas de tran-
sição entre as florestas e as paisagens antrópicas) (Thornton
& Branch 2011).
As atividades humanas desenvolvidas no entorno de
ecossistemas naturais afetam a biodiversidade. Fragmentos
de florestas tropicais que possuem em sua adjacência centros
urbanos ou campos de mineração podem ter menor número
de espécies de aves do que fragmentos que possuem campos
agrícolas na sua cercania (Kennedy et al. 2011). Isso aconte-
ce porque as áreas urbanas e de mineração funcionam como
uma barreira que dificulta a dispersão das aves (Kennedy et
al. 2011). Da mesma forma, os ecossistemas de rios e lagos
são afetados por efluentes domésticos ou agrícolas advindos
das ocupações humanas dos seus entornos. As comunida-
des de diatomáceas, por exemplo, são muito sensíveis a mu-
danças físico-químicas da água, sendo, por isso, empregadas
como bioindicadores de poluição aquática (Duong et al. 2007;
Tornés et al. 2018).
É importante salientar que há cada vez mais evidências
de que áreas identificadas como ecossistemas naturais (in-
cluindo aquelas classificadas dessa forma por Ellis et al. 2010)
podem ter sido alteradas por atividades humanas pretéritas
ou muito antigas (Levis et al. 2017, Wright 2017; Robinson et al.
2018). Nesse sentido, na Bacia Amazônica, durante o século
XX, a caça comercial pode ter sido responsável pelo declí-
nio das populações de várias espécies de animais aquáticos,
como o peixe-boi, a ariranha e o jacaré-açu (Antunes et al.
92 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
destaca-se como a área com maior intensidade de pesca do
mundo (Worm et al. 2009). As indústrias pesqueiras do leste
do Canadá, por exemplo, enfrentam colapso na biomassa de
mais de 50% das espécies pescadas na região (Worm et al.
2009), o que tem alterado drasticamente a cadeia alimentar.
A redução da abundância de populações de peixes bentôni-
cos (os principais alvos da atividade pesqueira local) resultou
no aumento da abundância de peixes pelágicos pequenos e
de macroinvertebrados (Frank et al. 2005). Como consequên-
cia, a comunidade de zooplâncton passou a ser dominada por
organismos menores, o que pode ter acarretado um aumen-
to da produtividade primária na região (Frank et al. 2005).
Assim, torna-se claro como a atividade pesqueira pode afetar
todo o funcionamento dos ecossistemas marinhos.
Uma vez que as mudanças climáticas são uma das al-
terações ambientais mais graves do Antropoceno, cientistas
têm usado ferramentas computacionais para predizer de que
forma o aumento na emissão de gases de efeito estufa afeta-
rá os padrões de diversidade (Borzée et al. 2019; Lourenço-
de-Moraes et al. 2019; Oliveira et al. 2019). Com base nessas
ferramentas, há evidências, por exemplo, de que o coral-cé-
rebro (Mussismilia harttii), comum na costa nordeste e su-
deste do Brasil, apresentará substancial mudança em sua
área de distribuição (Oliveira et al. 2019). Estima-se que, até
o final do século XXI, as mudanças climáticas podem fazer
com que esse coral perca aproximadamente 50% do seu há-
bitat atual e migre para zonas mais profundas no sudeste do
Brasil (Oliveira et al. 2019). Tais achados reforçam, assim, a
Referências
Abell R, Thieme ML, Revenga C, et al. 2008. Freshwater ecoregions of the world: A new
map of biogeographic units for freshwater biodiversity conservation. Bioscience
58: 403-414.
Antunes AP, Fewster RM, Venticinque EM, et al. 2016. Empty forest or empty rivers? A
century of commercial hunting in Amazonia. Science Advances 2: e1600936.
Barros MUG, Wilson AE, Leitão JIR, et al. 2019. Environmental factors associated with
toxic cyanobacterial blooms across 20 drinking water reservoirs in a semi-arid
region of Brazil. Harmful Algae 86: 128-137.
Borzée A, Andersen D, Groffen J, Kim HT, Bae Y, Jang Y. 2019. Climate change-based
models predict range shifts in the distribution of the only Asian plethodontid
salamander: Karsenia koreana. Scientific Reports 9: 1-9.
Brander LM, Van Beukering P, Nijsten L, et al. 2020. The global costs and benefits of
expanding Marine Protected Areas. Marine Policy 116: 103953.
Brown JH. 2014. Why are there so many species in the tropics? Journal of Biogeography
41: 8-22.
Buckley HL, Miller TE, Ellison AM, Gotelli NJ. 2003. Reverse latitudinal trends in
species richness of pitcher‐plant food webs. Ecology Letters 6: 825-829.
Chase JM, Gooriah L, May F, et al. 2019. A framework for disentangling ecological
mechanisms underlying the island species– area relationship. Frontiers of
Biogeography 11: e40844.
94 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Duong TT, Feurtet-Mazel A, Coste M, Dang DK, Boudou A. 2007. Dynamics of
diatom colonization process in some rivers influenced by urban pollution
(Hanoi, Vietnam). Ecological Indicators 7: 839-851.
Fahrig L. 2013. Rethinking patch size and isolation effects: The habitat amount
hypothesis. Journal of Biogeography 40: 1649-1663.
Frank KT, Petrie B, Choi JS, Leggett WC. 2005. Trophic cascades in a formerly cod-
dominated ecosystem. Science 308: 1621-1623.
Gray JS. 1997. Marine biodiversity: Patterns, threats and conservation needs.
Biodiversity & Conservation 6: 153-175.
Kennedy CM, Grant EHC, Neel MC, Fagan WF, Marra PP. 2011. Landscape matrix
mediates occupancy dynamics of Neotropical avian insectivores. Ecological
Applications 21: 1837-1850.
Levis C, Costa FRC, Bongers F, et al. 2017. Persistent effects of pre-Columbian plant
domestication on Amazonian Forest composition. Science 355: 925-931.
O’neil JM, Davis TW, Burford MA, Gobler CJ. 2012. The rise of harmful cyanobacteria
blooms: The potential roles of eutrophication and climate change. Harmful Algae
14: 313-334.
Robinson M, Souza JG, Maezumi SY, et al. 2018. Uncoupling human and climate drivers
of late Holocene vegetation change in southern Brazil. Scientific Reports 8: 7800.
Spalding MD, Fox HE, Allen GR, et al. 2007. Marine ecoregions of the world: A
bioregionalization of coastal and shelf areas. Bioscience 57: 573-583.
Thornton D, Branch L. 2011. The relative influence of habitat loss and fragmentation:
Do tropical mammals meet the temperate paradigm? Ecological Applications 21:
2324-2333.
Tornés E, Mor JR, Mandaric L, Sabater S. 2018. Diatom responses to sewage inputs
and hydrological alteration in Mediterranean streams. Environmental Pollution
238: 369-378.
Volkov I, Banavar JR, Hubbell SP, Maritan A. 2003. Neutral theory and relative species
abundance in ecology. Nature 424: 1035-1037.
Willig MR, Kaufman DM, Stevens RD. 2003. Latitudinal gradients of biodiversity:
Pattern, process, scale, and synthesis. Annual Review of Ecology, Evolution, and
Systematics 34: 273-309.
Worm B, Hilborn R, Baum JK, et al. 2009. Rebuilding Global Fisheries. Science 5940:
578-585.
Wright DK. 2017. Humans as agents in the termination of the African Humid Period.
Frontiers in Earth Sciences 5: 4.
96 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
SOBRE OS AUTORES
SOBRE OS AUTORES 97
ambientais e climáticas influenciam o risco de doenças em
diferentes escalas.
98 INTRODUÇÃO AO ANTROPOCENO
Ezequiel Leandro da Silva Júnior - Graduado em Ciências
Biológicas (Licenciatura) pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco.
SOBRE OS AUTORES 99
Julimery Gonçalves Ferreira Macedo – Doutoranda pelo
Programa de Pós-Graduação em Etnobiologia e Conservação
da Natureza da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Mestra em Bioprospecção Molecular pela Universidade
Regional do Cariri. Bacharela em Ciências Biológicas
pela Universidade Regional do Cariri. É colaboradora no
Laboratório de Ecologia Vegetal da Universidade Regional
do Cariri, desenvolvendo pesquisas na área de Etnobiologia e
Química de Produtos Naturais, com ênfase em etnobotânica
de plantas medicinais e metabólicos secundários com ativi-
dades biológicas.
Breve introdução à
Etnobiologia Evolutiva
https://drive.google.com/file/d/1P3J5lrZOeq4hM8
NGdAzMwJwvDJY446J4/view?usp=sharing
ANOS ANOS
1992 2022 1992 2022
1992 2022
Programa de Pós-graduação em
Etnobiologia e Conservação da Natureza
10 ANOS • 2012-2022
ISBN 978-65-88020-09-8
9 7 8 6 5 8 8 0 2 0 0 9 8
www.nupeea.com