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LIVRO DE GENÉTICA

UNIDADE 1

DOCENTE RESPONSÁVEL: DRA. ELIANE PATRÍCIA

CERVELATTI MENDONÇA

UniSALESIANO – ARAÇATUBA/LINS
Apresentação da Unidade Curricular 1

Olá pessoal!!! Bem-vindos à Unidade 1 da disciplina Genética!

O DNA teve sua estrutura descrita a menos de 100 anos e desde então a

comunidade científica tem dedicado um grande esforço para compreender sua

função nas células, sua transmissão ao longo das gerações e as consequências

de alterações nessa molécula para o corpo humano. É justamente sobre isso

que falaremos nessa disciplina...

Vamos começar conhecendo melhor essa molécula (estrutura e função)

e então falar sobre as alterações (mutações) no DNA e suas consequências.

Você vai se surpreender e se encantar ao aprofundar o seu conhecimento sobre

o DNA! Bem-vindo ao maravilhoso mundo da Genética!!


SUMÁRIO

1. DNA: estrutura e função.

2. Mutação gênica.
1. DNA: ESTRUTURA E FUNÇÃO

1.1 - OBJETIVOS

 Compreender a composição e estrutura do DNA.

 Discutir o papel do DNA na produção de proteínas.

 Comparar a organização do DNA ao longo do ciclo celular (intérfase e

mitose).

1.2 - INTRODUÇÃO

Cada órgão do nosso organismo é formado por diferentes tipos de tecidos

(como o tecido muscular, por exemplo), cada tecido é formado por células (que

são nosso foco de estudo nessa disciplina), e cada célula, por sua vez, é formada

por várias moléculas (ou macromoléculas, como DNA e proteínas, por exemplo).

Aliás, você certamente já ouviu falar sobre o DNA, mas agora é importante

conhecer um pouco mais sobre essa molécula. Esse ‘banco de informação

genética’ contém a informação necessária para a produção de todas as proteínas

presentes em uma célula, mas como ele é formado e qual a sua estrutura?

Vamos lá responder a cada uma dessas perguntas!

1.3 - DNA: composição e estrutura

O DNA é uma longa molécula formada por 4 diferentes tipos de nucleotídeos:

adenina (A), timina (T), citosina (C) e guanina (G). Cada nucleotídeo, por sua

vez, é formado por: 1) ácido fosfórico; 2) um açúcar (desoxirribose) chamada


pentose (porque possui 5 ‘carbonos’) e 3) uma base nitrogenada (que pode ser

a adenina, timina, citosina ou guanina). A figura 1.1 abaixo mostra a estrutura de

cada nucleotídeo, fique atento aos 5 carbonos da pentose (a posição de cada

um deles é indicada pelos números 1 a 5) pois essa é uma informação que

vamos voltar a usar ao longo da nossa discussão sobre DNA.

Ácido
fosfórico Base nitrogenada
5
4 1
pentose
3 2
A B

Ácido Ácido
fosfórico ADENINA fosfórico TIMINA
5 5
4 1 4 1
pentose pentose
3 2 3 2

Ácido Ácido
fosfórico CITOSINA fosfórico GUANINA
5 5
4 1 4 1
pentose pentose
3 2 3 2
C

Figura 1.1: A) Estrutura química básica dos nucleotídeos. Fonte: adaptado de VOET, Donald;
VOET, Judith G. Bioquímica. Disponível em: Minha biblioteca, Editora: Artmed. 2013; B)
Ilustração simplificada da estrutura química básica dos nucleotídeos e C) Ilustração simplificada
da estrutura química de cada um dos nucleotídeos.

Agora que já sabemos como são os nucleotídeos que formam o DNA, vamos

entender como é a estrutura dessa molécula. O DNA é formado por 2 cadeias


de nucleotídeos (complementares e antiparalelas), que formam uma dupla-

hélice. Parece confuso? Que nada... vamos detalhar tudo isso e perceber o

quanto essa molécula é incrível!

Para formar o DNA, é preciso unir um nucleotídeo ao outro, formando assim

uma cadeia de nucleotídeos. A ligação entre cada nucleotídeo é acontece em

um local específico: no carbono 3’ (lê-se ‘três linha’). Por exemplo, vamos unir

os seguintes nucleotídeos: ADENINA-GUANINA-GUANINA-TIMINA para formar

uma cadeia de nucleotídeos (figura 1.2). Note que: 1) a união entre eles sempre

é feita no carbono 3’; 2) quando se observa as extremidades dessa cadeia de

nucleotídeos, é possível saber onde é o seu começo e o seu fim (o começo é

onde se observa o carbono 5’ e o fim onde se encontra o carbono 3’).


Carbono 5’ = começo
Ácido
fosfórico ADENINA Ácido
5 fosfórico ADENINA
5
4 1
pentose
4 1
3 2 pentose
3 2

Ácido
fosfórico GUANINA
A união do próximo 5
nucleotídeo será 4 1
aqui! pentose
3 2

Ácido
fosfórico GUANINA
5
4 1
pentose
3 2

Ácido
fosfórico TIMINA
5
4 1
pentose
3 2

Carbono 3’ = fim

Figura 1.2: Ilustração de uma cadeia de nucleotídeos do DNA.

Muitas vezes, uma cadeia de nucleotídeos é representada de maneira

mais simples, indicando apenas a base nitrogenada, conforme demonstrado na

figura 1.3 abaixo.

5’ A
G
5’ A G G T 3’
G
b
3’ T
a

Figura 1.3: Ilustração demonstrando a maneira simplificada de se representar uma cadeia de


nucleotídeos do DNA.
Já sabemos como se forma uma cadeia de nucleotídeos no DNA, mas

como chegar a estrutura final dessa molécula. Para isso, é preciso ter em mente

algumas características fundamentais das cadeias de nucleotídeos que formam

essa molécula. 1) As cadeias são complementares, ou seja, sempre se formam

pares de nucleotídeos específicos: adenina com timina (ou vice-versa) e citosina

com guanina (ou vice-versa). Dessa maneira, se tivermos apenas uma cadeia

de nucleotídeos, é possível saber como será a outra. 2) As cadeias são

antiparalelas, ou seja, estão uma ao lado da outra mas em direções opostas. 3)

Finalmente, as cadeias são unidas por um tipo de ligação química chamada

‘ponte de hidrogênio’. Entre o par guanina / citosina formam-se 3 pontes de

hidrogênio e entre o par timina / adenina formam-se duas (representadas por

traços ‘-‘) (figura 1.4).

5’ A Início 5’ A T 3’ Fim
G G C
G Como será a outra G C
T cadeia??? T A
G É só colocar o G C
G nucleotídeo G C
G complementar ao G C
A lado! A T
T T A
A A T
3’ C Fim 3’ C G 5’ Início
Figura 1.4: Ilustração das principais características das duas cadeias de nucleotídeos do DNA
(são complementares, antiparalelas e unidas por pontes de hidrogênio).
Por fim, as duas cadeias de nucleotídeos se ‘enrolam’ formando uma

dupla hélice (figura 1.5).

Figura 1.5: Estrutura da molécula de DNA (dupla-hélice). Fonte: ROBERTIS, DE. De Robertis
Biologi.a Celular e Molecular. Disponível em: Minha Biblioteca, (16ª edição). Grupo GEN, 2014.

SAIBA MAIS

Desde sua descoberta, a molécula de DNA tem sido alvo de grande interesse, o que

é justificado pela sua importância para célula e para o corpo humano como um

todo. Atualmente, existem técnicas modernas que analisam o DNA e permitem a

identificação de alterações (mutações) associadas a doenças como o câncer, por

exemplo. Em alguns casos, é possível detectar a presença da mutação antes mesmo

do desenvolvimento do câncer, e isso sem sombra de dúvida representa um grande

avanço científico!
Mas como o DNA armazena a informação para a produção das proteínas?

Na verdade, ao longo do DNA humano, por exemplo, existem milhares de genes.

Gene é uma região do DNA, uma sequência de nucleotídeos do DNA, onde se

encontra a informação necessária para a produção de uma proteína (figura 1.6).

Figura 1.6: Genes ao longo da estrutura da molécula de DNA (dupla-hélice). Fonte adaptado de:
ROBERTIS, DE. De Robertis Biologia Celular e Molecular. Disponível em: Minha Biblioteca, (16ª
edição). Grupo GEN, 2014.

1.4 – DNA e síntese protéica

Sempre que a célula precisa produzir uma proteína, ela terá a sua disposição

o ‘molde’ para sua produção no DNA. A questão é que o DNA tem em sua

estrutura a informação para produzir as mais diversas proteínas das células

humanas. Quando for preciso produzir uma delas, a célula primeiro fará uma

‘cópia’ do molde que ela precisa, e aí então a produção da proteína será possível.

Essa ‘cópia’ corresponde a uma molécula de RNA, e é sobre essa molécula que

começaremos a falar a partir de agora.


 RNA

Assim como o DNA, o RNA também é um ‘ácido nucléico’ e é formado por

nucleotídeos. Porém, essa molécula apresenta as seguintes diferenças: 1) é

formada por apenas uma cadeia de nucleotídeos; 2) não tem o nucleotídeo

‘timina’, em seu lugar existe a ‘uracila (U)’ e 3) na estrutura dos seus nucleotídeos

a pentose é uma ribose (no DNA, é uma desoxirribose) (figura 1.7).

Ácido Ácido
fosfórico ADENINA fosfórico URACILA
5 5
4 1 4 1
Pentose Pentose
3 (ribose) 2 3 (ribose) 2

Ácido Ácido
fosfórico CITOSINA fosfórico GUANINA
5 5
4 1 4 1
Pentose Pentose
3 (ribose) 2 3 (ribose) 2
(C)

Figura 1.7: A e B) Estrutura química básica dos nucleotídeos presentes no RNA e DNA,
respectivamente. Fonte: adaptado de VOET, Donald; VOET, Judith G. Bioquímica. Disponível
em: Minha biblioteca, Editora: Artmed. 2013; C) Ilustração simplificada da estrutura química de
cada um dos nucleotídeos presentes no RNA.

Para a produção de uma proteína, observa-se a participação de 3 tipos de

RNA: mensageiro (RNAm), transportador ou de transferência (RNAt) e

ribossômico (RNAr). No entanto, vamos focar apenas no RNA mensageiro, ok?


 RNAm (mensageiro)

Esse tipo de RNA é uma transcrição exata do gene presente no DNA. Dessa

maneira, é ele quem transporta para a célula a informação necessária para a

produção da proteína.

Como isso é feito exatamente? Esse processo é chamado ‘transcrição’ e

pode ser resumido da seguinte forma: a célula analisa o nucleotídeo presente no

DNA, e coloca o complementar para formar o RNAm (observação: lembre-se que

o RNA não tem o nucleotídeo timina, portanto em seu lugar coloque a uracila!).

Um exemplo de como esse processo deve ser feito é apresentado na figura 1.8

abaixo.

DNA coloque o nucleotídeo RNA


complementar
Guanina Citosina
Citosina Guanina
Timina Adenina
Adenina Uracila

Essa será a cadeia de nucleotídeos usada


como molde para produção do RNAm
Gene presente no 5’ A T G C C A G G G T A A 3´
DNA 3´ T A C G G T C C C A T T 5´

RNAm 5’ A U G C C A G G G U A A 3´

Figura 1.8: Ilustração simplificada da transcrição (produção do RNAm a partir de um molde de


DNA).
SAIBA MAIS!

Quando a célula está produzindo o RNAm a partir de um gene, dizemos que ela

está ‘expressando esse gene’. Esse é um processo muito importante e a célula

controla quando o gene deve ser expresso e também o nível de expressão gênica (ou

seja, ela só produz determinado RNAm quando e na quantidade necessária).

Lembre-se que esse RNAm é quem levará para a célula a informação para que ela

produzir a proteína, que por fim executará uma função. Isso permite que a célula se

adapte às alterações no ambiente em que se encontra, pois ela pode ajustar seu

padrão de expressão gênica, e assim produzir as proteínas (operárias que executam

várias funções celulares) de acordo com a sua necessidade.

 RNAm e a produção de uma proteína

Já conhecemos o RNAm, mas como associar essa molécula a produção de

uma proteína? Vamos lá a uma dificuldade a ser superada: você já parou para

pensar que o RNAm, que contém a informação necessária para a produção da

proteína é formado por nucleotídeos, e as proteínas são formadas por

aminoácidos? É como se uma molécula estivesse ‘escrita em português’ e a

outra ‘em inglês’. Como então usar a informação contida no RNAm???? Essa

informação será ‘interpretada’ da seguinte maneira: cada 3 nucleotídeos do

RNAm formam um códon, ou código genético, que determina o aminoácido que

deve ser colocado na proteína (figura 1.9).


RNAm 5’ A U G C C A G G G U A A 3´
Códon 1 Códon 2 Códon 3 Códon 4

Figura 1.9: Ilustração de uma molécula de RNA mensageiro e seus códons.

Mas qual aminoácido cada um desses códons especifica? Para saber

isso, basta usar a ‘tabela do código genético’ (figura 1.10). Note que você

encontra o código genético e o aminoácido que ele especifica logo ao lado

(exemplo: AUG especifica o aminoácido metionina). É dessa maneira que a

informação contida no RNAm é utilizada para a formação da proteína. Incrível,

não?
A

Figura 1.10: Tabela do código genético. Fonte: McInnes, Roderick R. Thompson & Thompson
Genética Médica. Disponível em: Minha Biblioteca, (8ª edição). Grupo GEN, 2016.
1.5 - DNA, cromatina e cromossomo

Até agora já discutimos aspectos fundamentais da estrutura e função do

DNA. Mas você sabia que o DNA humano tem quase 2 metros de comprimento...

isso mesmo quase 2 metros!!!! A grande questão é: como essa molécula cabe

no interior de uma célula microscópica? Pois bem, a célula ‘compacta / enrola’ o

DNA, assim ele reduz e pode então ser armazenado no núcleo celular. Mas

como isso é feito exatamente? Vamos lá...

A célula ‘enrola’ ao DNA ao redor de um suporte formado por proteínas

chamadas histonas (como se fosse um ‘carretel de linha’). Como apenas uma

pequena parte do DNA pode ser enrolada ao redor desse ‘suporte’ a célula forma

vários deles e ao redor de cada um vai ‘enrolando’ o DNA. O DNA associado a

proteínas é chamado cromatina (figura 1.11).

Figura 1.11 : Ilustração mostrando a associação do DNA a proteínas, formando a cromatina.


Dessa forma, o DNA é então armazenado no núcleo de uma célula que não

está em divisão celular, ou seja, está em intérfase. Nesse momento, a célula

desempenha normalmente suas funções no corpo humano, e usa a informação

contida no DNA para a produção de proteínas de acordo com a sua necessidade.

No entanto, como veremos ao longo dessa disciplina, a maioria das nossas

células é capaz de se dividir por mitose e gerar duas células filhas com a mesma

quantidade de DNA (que no caso das células humanas corresponde a 46

cromossomos). Como uma célula se divide em duas partes e mantém a

quantidade de DNA? Isso é possível porque, antes de entrar em divisão, ela se

prepara, duplicando a sua quantidade de DNA, que será dividido em duas partes

iguais durante a mitose. Para que isso seja possível, o DNA deve ser novamente

compactado, pois na forma de cromatina essa molécula pode ser armazenada

no núcleo, mas para separá-la em duas partes iguais na forma de cromatina isso

não será possível (figura 1.12).

DNA na forma de cromatina no interior


no núcleo celular. Como separar esse
‘emaranhado’ de DNA em duas partes
iguais? Será preciso ‘compactar’ a
cromatina!

Figura 1.12: Ilustração mostrando a cromatina no interior do núcleo celular.


Portanto, antes que a célula entre em divisão celular, ela duplica o seu DNA,

que será então totalmente compactado até a forma de cromossomo (figura 1.12).

Figura 1.12: Ilustração mostrando a duplicação do DNA antes da divisão celular. Durante a
divisão, haverá a compactação total da cromatina, formando o cromossomo. Para facilitar a
compreensão, cada molécula de DNA foi identificada com os números ‘1’ e ‘2’.

Agora, é importante conhecermos como exatamente é um cromossomo.

Bem, ele é formado por 2 moléculas idênticas de DNA, as cromátides-irmã, que

estão unidas no centrômero. Por fim, as extremidades do cromossomo são

chamadas telômeros (figura 1.13).


Figura 1.13: Ilustração mostrando a estrutura de um cromossomo.

Por fim, é importante ressaltar que não temos apenas um cromossomo

em nossas células e sim 46. Esse ‘conjunto’ de cromossomos forma o cariótipo

humano. Cariótipo é justamente o termo usado para definir o conjunto das

características dos cromossomos de uma espécie, como por exemplo o tamanho

dos cromossomos e a sua quantidade. O cariótipo da espécie humana tem ao

todo 46 cromossomos, sendo que 23 foram herdados da mãe e 23 herdados do

pai. Portanto, nosso cariótipo tem 2 conjuntos cromossômicos, um materno e

outro paterno: é um cariótipo diploide (2n). Há alguma célula em nosso corpo

com apenas 1 conjunto cromossômico? Sim, nossos gametas. Nesse caso, eles

possuem apenas 23 cromossomos (são haploides – ‘n’). O cariótipo humano é

apresentado na figura 1.14.


Figura 1.14: Cariótipo humano A) Masculino e B) Feminino. Fonte: ROBERTIS, DE. De Robertis.
Biologia Celular e Molecular. Disponível em: Minha Biblioteca, (16ª edição). Grupo GEN, 2014.

 BIBLIOGRAFIA

Uchoa, JUNQUEIRA, Luiz, C. e CARNEIRO, José. Biologia Celular e Molecular,

9ª edição. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2012.

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Junqueira, Luiz Carlos, U. e José Carneiro. Histologia Básica - Texto e Atlas.

Disponível em: Minha Biblioteca, (13ª edição). Grupo GEN, 2017.

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Alberts, Bruce. Fundamentos da Biologia Celular. Disponível em: Minha

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ROBERTIS, DE. De Robertis Biologia Celular e Molecular. Disponível em: Minha

Biblioteca, (16ª edição). Grupo GEN, 2014.

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Lodish, Harvey, et al. Biologia celular e molecular. Disponível em: Minha

Biblioteca, (7ª edição). Grupo A, 2014.

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Pires, Carlos Eduardo de Barros, M. e Lara Mendes de Almeida. Biologia Celular

- Estrutura e Organização Molecular. Disponível em: Minha Biblioteca, Editora

Saraiva, 2014.

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McInnes, Roderick R. Thompson & Thompson Genética Médica. Disponível em:

Minha Biblioteca, (8ª edição). Grupo GEN, 2016.

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5D
2. MUTAÇÕES GÊNICAS

2.1 - OBJETIVOS

 Compreender como surge uma mutação gênica.

 Discutir as consequências da mutação gênica na proteína produzida.

 Compreender a herdabilidade das alterações genéticas.

2.2 - INTRODUÇÃO

Agora que já conhecemos a estrutura e DNA e sua importância para a

produção de proteínas, podemos avançar para discutirmos outros aspectos

fundamentais dessa molécula. Se considerarmos a espécie humana, por

exemplo, percebemos que não somos iguais (exceto os gêmeos monozigóticos).

Nosso fenótipo (aparência) é determinado por dois fatores: DNA e

ambiente, o que nos faz então levantar a seguinte questão: será que se

analisarmos o DNA de duas pessoas (sem nenhum grau de parentesco), sua

informação genética será idêntica? A resposta é não! Embora o DNA da espécie

humana como um todo seja muito parecido, há uma pequena variação entre as

pessoas (99,5% do DNA será idêntica), e é essa diferença que dá a cada ser

humano a sua ‘individualidade’.

Mas por que nosso DNA não é idêntico? Essas pequenas variações no

DNA surgem através de mutações gênicas, que acabam alterando um ou alguns

nucleotídeos na molécula. É assim que surgem os alelos de um gene (formas

alternativas de um gene, o que significa que há uma pequena diferença entre a


sequencia de nucleotídeos entre os alelos), o que está exemplificado na figura

2.1 abaixo.

Figura 2.1: Três polimorfismos no DNA genômico a partir de um segmento do conjunto de


referência do genoma humano são demonstrados na parte superior. SNP = polimorfismo de
nucleotídeo único (lê-se ‘snip’); Indel = inserção / deleção. Fonte: McInnes, Roderick R.
Thompson & Thompson Genética Médica . Disponível em: Minha Biblioteca, (8ª edição). Grupo
GEN, 2016.

Como essas diferenças surgem? E o que acontece uma vez que o DNA

foi alterado? Bem, vamos começar a responder cada uma dessas perguntas

agora.

2.3 SURGIMENTO DAS MUTAÇÕES GÊNICAS

Bem, incialmente é preciso deixar bem claro que a frequência com que

essas alterações no DNA acontecem é muito baixa. Isso porque nossas células

possuem um sistema muito eficiente para produzir cópias idênticas de DNA,


além de ser capaz de detectar a presença de pequenos erros ou danos na

molécula e corrigi-los imediatamente.

Ainda assim, podem haver falhas nesse processo, de modo que a

mutação pode surgir: I) devido a um erro cometido durante a replicação do DNA

que não foi corrigido; II) graças a uma falha no processo de reparo a um dano

no DNA e III) pode ser induzida por um mutágeno (um agente químico, por

exemplo, que aumenta a frequência de mutações) (figura 2.2).

Diferentes agentes que podem gerar lesões (danos) no DNA

Erro durante a
cópia do DNA

Figura 2.2: Ilustração mostrando as possíveis causas do surgimento de uma mutação gênica
Fonte:. Adaptado de Menck, Carlos FM Genética Molecular Básica. Disponível em: Minha
Biblioteca, Grupo GEN, 2017.

Apenas para exemplificar, uma ilustração das etapas do surgimento de

uma mutação devido a um erro durante a cópia do DNA é apresentada na figura

2.3. Vamos falar um pouco sobre o que está apresentado nessa ilustração...

bem, sempre que uma célula vai copiar o seu DNA, a primeira etapa é a

separação das duas cadeias de nucleotídeos. Agora temos duas cadeias de


nucleotídeos isoladas, e isso acontece por um simples motivo: as cadeias são

complementares, dessa maneira, a célula usa cada uma delas como molde para

colocar o nucleotídeo complementar, produzindo assim uma nova cadeia

(incrível não?). Como já havíamos comentado, esse processo é muito preciso,

mas há raros momentos em que a célula comete um erro (exemplo: na cadeia

molde temos uma guanina e ela coloca uma timina como se esse fosse o par

correto). Vamos considerar que esse erro não foi corrigido. Futuramente, quando

essa molécula onde se encontra o erro for duplicada, teremos o mesmo passo-

a-passo. Separamos as cadeias de nucleotídeos e cada uma será usada como

molde para produzir a cadeia complementar. Agora, nenhum erro será cometido!

Mas, ao final do processo, ao compararmos as duas moléculas de DNA

formadas, encontramos uma pequena variação entre elas: o par original guanina

/ citosina foi trocado por par timina / adenina em uma delas. Dessa maneira,

agora esse gene existe em ‘duas versões’, ou seja, agora existem dois alelos

desse gene.
Separação das
5’ 3’ cadeias de 5’ 3’
A T nucleotídeos A T
T A T A
C G C G
G C G C
G C G C
C G C G
T A T A
3’ 5’ 3’ 5’

Cada cadeia será usada


5’ 3’
5’ 3’ como molde para produzir A T
A T T
a cadeia complementar A
T A T G
C G G C
G C G C
G C Par incorreto: Duplicação dessa molécula
C G
C G erro
T A de DNA
T A 3’ 5’
3’ 5’

5’ 3’
A T
T Separação das A
T cadeias de G
G nucleotídeos C
G C
C G
T A
3’ 5’

5’ 3’ 5’ 3’
A T A T
T A T A
Produção da C G
T A cadeia
G C complementar
G C
G C G C
Alelo 1 Alelo 2
C G C G
T A T A
3’ 5’ 3’ 5’

Há uma diferença entre as duas sequencias: o par original C / G foi


trocado pelo par T / A. Agora existem 2 alelos desse gene.

Figura 2.3: Ilustração das etapas do surgimento de uma mutação devido a um erro durante a
cópia do DNA.
SAIBA MAIS

O DNA humano já foi completamente sequenciado, ou seja, atualmente já se

conhece toda a sua sequência de nucleotídeos. Isso representou um avanço enorme

para a área da saúde, pois foi possível identificar alterações genéticas associadas a

diversas doenças. Um avanço ainda maior foi o desenvolvimento de testes genéticos

capazes de identificar essas mutações antes mesmo do surgimento da doença (o que

é válido especialmente no caso do câncer). Acesse o site https://genoma.ib.usp.br/ e

obtenha maiores informações sobre toda essa revolução científica!

2.4 Consequências das mutações na proteína produzida.

Uma vez que essa mudança no DNA aconteceu a pergunta agora é: qual

a consequência dessa alteração? Isso resulta em uma doença para o indivíduo?

Bem, a resposta não é tão simples assim... inicialmente temos que analisar em

qual gene essa mutação aconteceu. Outro aspecto muito importante é que nem

sempre as mutações gênicas são prejudiciais, algumas podem ser benéficas ou

não ter efeito algum. O que podemos analisar é como essa mutação afeta a

proteína que será codificada pelo gene que foi alterado... então vamos lá!
 Mutações sinônimas (ou silenciosas)

Nesse caso, a mutação que aconteceu no DNA altera o códon que será

observado no RNAm. No entanto, o novo códon gerado continua especificando

o mesmo aminoácido... isso mesmo! A explicação para esse fato é uma

característica muito importante do código genético (ou simplesmente códon): ele

é degenerado, ou seja, mais um códon pode especificar o mesmo aminoácido.

Por exemplo, no RNAm os códons GUA, GUC, GUG e GUU especificam

o aminoácido valina. Assim, é possível que ocorra uma mutação em um gene e

isso não altere em nada a proteína produzida (figura 2.4).

Figura 2.4: Mutação silenciosa (sinônima). Fonte: Griffiths, Anthony J., F. et aL. Introdução à
Genética. Disponível em: Minha Biblioteca, (12ª edição). Grupo GEN, 2022.
 Mutações de troca de sentido (ou não sinônimas)

Agora, a alteração que aconteceu no DNA faz com que o novo códon

presente no RNAm especifique um aminoácido diferente do original. Esse tipo

de mutação pode ser conservadora (ou seja, o novo aminoácido é quimicamente

similar ao aminoácido original) e não conservadora (quando o aminoácido é

substituído por um outro quimicamente diferente) (figura 2.5).

Figura 2.5: Mutações de troca de sentido. Fonte: Griffiths, Anthony J., F. et aL. Introdução à
Genética. Disponível em: Minha Biblioteca, (12ª edição). Grupo GEN, 2022.
 Mutações sem sentido

A mutação observada no DNA cria no RNAm um código de parada (UAA,

UAG ou UGA). O problema é que sempre que um código de parada é

encontrado, a produção da proteína é interrompida, nenhum outro aminoácido

será colocado desse ponto em diante (normalmente, o código de parada é o

último a ser encontrado, finalizando assim a síntese protéica). Como

consequência, a proteína produzida será menor que a normal (figura 2.6).

Figura 2.6: Mutações sem sentido. Fonte: Griffiths, Anthony J., F. et aL. Introdução à Genética.
Disponível em: Minha Biblioteca, (12ª edição). Grupo GEN, 2022.
 Mutações com mudança no quadro de leitura (inserções / deleções

– INDEL)

A mutação nesse caso não resultou na troca de nucleotídeos, mas sim na

inserção ou na deleção. Quando um ou dois nucleotídeos estiverem envolvidos,

podemos ter como consequência: I) mudança de todos os aminoácidos a partir

do local onde houve a inserção ou a deleção e II) criação de um código de parada

precoce. Por outro lado, quando essa mutação envolver três nucleotídeos (ou

múltiplos de três), teremos o ganho ou a perda de um ou alguns aminoácidos

(sem que todos sem alterados) (figura 2.7).

Figura 2.7: Mutações com mudança no quadro de leitura. Fonte: Griffiths, Anthony J., F. et aL.
Introdução à Genética. Disponível em: Minha Biblioteca, (12ª edição). Grupo GEN, 2022.
SAIBA MAIS

Muitas vezes, a mutação genética está associada a efeitos prejudiciais, resultando


em doenças como anemia falciforme, fenilcetonúria, fibrose cística, etc. No entanto,
a resultado de uma mutação também pode ser benéfico. Um exemplo disso é uma
mutação presente no gene CCR5 de alguns indivíduos, que os torna resistentes ao
vírus HIV. A partir desse gene, é produzida uma proteína que funciona como um
receptor de membrana ao qual o HIV se liga para infectar a célula. A mutação
nesse gene faz com que essa proteína não funcione normalmente, impedindo a
entrada do vírus na célula.

2.5 Mutações somáticas e germinativas.

Uma vez que o DNA foi alterado, uma preocupação é: será que essa

mutação será transmitida as futuras gerações? Na verdade, isso depende se

essa alteração ocorreu em uma célula somática ou em uma célula germinativa.

Vamos analisar cada possibilidade a partir de agora, ok?


 Mutações somáticas

Acontecem em células somáticas (soma = corpo), ou seja, em qualquer

célula do corpo humano, exceto os gametas (oócitos e espermatozóides). Nesse

caso, a mutação pode ou não trazer sérias consequências ao seu portador, mas

ela não será herdável (figura 2.8). Isso porque o DNA de uma pessoa é

transmitido para seus descendentes através dos seus gametas. Dessa maneira,

se a mutação não afetou os gametas, ela não será transmitida.

Mutação

Células mutadas Células normais


Figura 2.8: Ilustração representado duas populações de células somáticas (mutadas e normais)
presentes em um mesmo indivíduo.

 Mutações germinativas

Ocorrem em células da linhagem germinativa, aquelas que darão origem

aos gametas. Caso o gameta portador da mutação participe da fecundação, a

alteração genética será transmitida a próxima geração. O mais preocupante

nessa situação é que uma pessoa normal, com ancestrais também normais,

pode ter células sexuais mutantes não detectadas.


BIBLIOGRAFIA

Griffiths, Anthony J., F. et aL. Introdução à Genética. Disponível em: Minha

Biblioteca, (12ª edição). Grupo GEN, 2022.

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